portal de formação a distância sujeitos, contextos e drogas · 2019-03-25 · 5 eixo práticas...

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sujeitos, contextos e drogas Portal de formação a distância aberta.senad.gov.br O CONCEITO AMPLIADO DE SAÚDE E A QUESTÃO DAS DROGAS Eixo Práticas

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  • sujeitos, contextos e drogasPortal de formação a distância

    aberta.senad.gov.br

    O CONCEITO AMPLIADO DE SAÚDE E A QUESTÃO DAS DROGAS

    Eixo Práticas

  • ORIENTAÇÕES SOBRE A VERSÃO EM PDF DOS MÓDULOS

    Atualmente as novas tecnologias, sobretudo aquelas ligadasà internet (como computadores e celulares), têm estado cadavez mais presentes em variados aspectos das nossas vidas,entre eles a educação. Contudo, sabemos que o acesso a essastecnologias é bastante desigual em nosso país, dificultando aimplementação da educação a distância e, por consequência,a democratização do conhecimento.

    Pensando nisso, disponibilizamos uma versão de apoio, emformato PDF, de todos os módulos publicados no Aberta:portal de formação a distância – sujeitos, contextos e drogas,para que você possa fazer a leitura do conteúdo em modooff-line, possibilitando ainda a impressão em tamanho A4(formato horizontal).

    Aberta: portal de formação a distância – sujeitos, contextos e drogas

    Nessa versão, aparecem sinalizados os endereços eletrônicos paraos vídeos, as animações e os hiperlinks existentes no texto. Os recursos como o “Glossário” e o “Saiba mais” podem ser lidos logo após o parágrafo ao qual foram vinculados.

    Enfatizamos, no entanto, a importância do acesso aos materiaisdidáticos em sua versão on-line, uma vez que eles apresentamuma série de recursos multimídia desenvolvidos especialmentepara este formato e que não podem ser visualizados em suatotalidade na versão em PDF.

    Por fim, lembramos a importância de referenciar adequadamenteos módulos sempre que seu conteúdo for citado. Para isso,disponibilizamos a ficha catalográfica na capa dos materiais comos dados referentes a cada módulo.

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    APRESENTAÇÃO

    O presente módulo tem como sujeitos prioritários todos aqueles que constroem ou executam processos de gestão, assim como agentes sociais que formulam políticas públicas e sociais, de uma forma geral, e atuam nelas. Almejamos, com este material, contribuir para a construção de uma perspectiva ampliada de saúde na qual os gestores, agentes e formuladores de políticas públicas e sociais possam construir conhecimentos teórico-práticos para aperfeiçoar experiências de articulação e de gestão de redes, problematizando a análise da situação das políticas sobre drogas a partir da realidade dos territórios.

    CONTEUDISTA

    Paulo Duarte de Carvalho Amarantehttp://lattes.cnpq.br/5548618710308950

    Todo o conteúdo deste trabalho, exceto quando houver ressalva, é publica-do sob a Licença Creative Commons - Atribuição-NãoComercial-Comparti-lha Igual 4.0 Internacional. Podem estar disponíveis autorizações adicionais às concedidas no âmbito desta licença em http://aberta.senad.gov.br/.

    http://lattes.cnpq.br/5548618710308950http://www.aberta.senad.gov.br/

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    Eixo Práticas

    Aberta: portal de formação a distância – sujeitos, contextos e drogas

    O CONCEITO AMPLIADO DE SAÚDE E A QUESTÃO DAS DROGAS

    SITUAÇÃO PROBLEMATIZADORA

    Veja abaixo um recorte de um documentário lançado em maio de 2017 e dirigido pela antropóloga e pesquisadora da Anis – Instituto de Bioética, Débora Diniz, que apresenta um relato da jovem Angélica (24), nova moradora do Hotel Laide, um dos mais importantes hotéis sociais da política de redução de danos do programa De Braços Abertos, estratégia de inclusão social de pessoas que usam drogas por meio de ações assistência social, saúde, moradia e trabalho.

    AS DROGAS E A CIDADE

    De um momento para outro, a sociedade passou a conviver com as cenas da cracolândia, expressão que, literalmente significa “terra do crack”.

    Os canais de televisão passaram a repetir imagens de pessoas que mais se parecem zumbis. Andando de um lado para outro, parecem não ter um outro objetivo na vida que não aquele de consumir a “maldita droga”. Os jornais repetem as mesmas cenas inúmeras vezes numa mesma edição. A impressão, para o telespectador, é que está ocorrendo um reality show que impregna de pavor a sociedade.

    A partir destas alarmantes cenas de uso, parte dos gestores públicos tende a apontar para soluções consideradas rápidas e eficazes: guerra às drogas, guerra ao tráfico! Tropas de choque, mutirões de limpeza, higienização, expulsão dos “drogados” para longe dali. A solução que pareceria ser fácil – expulsar as pessoas daqueles lugares e dar fim a sua existência – não o é!

    CONTEÚDO INTERATIVOhttps://www.youtube.com/watch?v=_rzNAqA9s5U

    A partir do relato dado por Angélica, que tipo de experiência de saúde a clínica ofereceu a ela? Procure refletir um instante sobre isso antes de continuar seus estudos.

    https://www.youtube.com/watch?v=_rzNAqA9s5U

  • O conceito ampliado de saúde e a questão das drogas

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    Por outro lado, alguns proclamam que a solução estaria na necessidade das internações compulsórias dos usuários em clínicas onde supostamente seriam desintoxicados. Equipes de funcionários públicos, muitos deles policiais, correm atrás dos usuários, caçando-os como verdadeiros animais. Levados à força para instituições de tratamento em regime de internação integral, poucos dias depois, lá estão eles nas mesmas cenas.

    Outras medidas, menos invasivas, pautam-se nos princípios da Redução de Danos, através da qual as pessoas aderem voluntariamente, abrindo-se então um caminho mais viável e possível para seu tratamento. Nessa linha de orientação, foram criados os Centros de Atenção Psicossocial para álcool e outras drogas (CAPS-AD), equipes de Consultórios na Rua, orientação e distribuição de cachimbos ou outros apetrechos e muitas práticas centradas no protagonismo do usuário e na sua possibilidade de adesão voluntária. Apesar de apresentar melhores resultados, a Redução de Danos não é a solução completa. Não existem fórmulas mágicas neste campo.

    Saiba mais (Centros de Atenção Psicossocial para álcool e outras drogas (CAPS-AD))

    Acesse o módulo Rede de atenção psicossocial e o sistema único de saúde (SUS) para saber mais sobre um dos serviços que compõem a Rede de Atenção Psicossocial (RAPS): o Centro de Atenção Psicossocial (CAPS).potencial como práticas de cuidado aos usuários de álcool e de outras drogas. Acesse o material para conhecer mais informações a respeito.

    Poucos são os gestores, profissionais e agentes sociais dedicados ao campo das drogas que apontam para soluções que buscam atuar nas origens e bases do problema, em vez de focar apenas nas soluções corretivas ou paliativas ligadas à ideia do tratamento.

    Nesse campo, é importante refletir sobre aspectos relacionados a condições sociais, psicossociais, políticas, culturais, as quais não se restringem unicamente à dimensão do tratamento clínico, com o qual estamos habituados a lidar.

    Glossário (cenas de uso)

    A expressão cenas de uso é utilizada para designar um espaço coletivo onde as pessoas utilizam alguma substância.

    http://www.aberta.senad.gov.br/modulos/capa/rede-de-atencao-psicossocial-e-o-sistema-unico-de-saude-sus-1

    http://www.aberta.senad.gov.br/modulos/capa/rede-de-atencao-psicossocial-e-o-sistema-unico-de-saude-sus-1

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    Eixo Práticas

    Aberta: portal de formação a distância – sujeitos, contextos e drogas

    Glossário (uso de drogas)

    CONTEÚDO INTERATIVOhttps://www.youtube.com/watch?v=h0gpN6blDAM

    Glossário (políticas públicas)

    CONTEÚDO INTERATIVOhttps://www.youtube.com/watch?v=si0m-EzzS5c

    Para problematizar essas questões, é importante refletir sobre o conceito de saúde, não simplesmente como ausência de doença, nem idealizado como perfeito bem-estar, mas como uma concepção ampliada, como um processo civilizatório, relacionado a outras áreas e dimensões da vida, o que pode se constituir em novas perspectivas de atuação para o campo das políticas públicas sobre drogas.

    REPENSAR O CAMPO E O CONCEITO DE SAÚDE

    Como observado anteriormente, para poder transformar a situação apresentada é preciso redefinir o campo da saúde e, de uma forma geral, repensar muita coisa.

    Quando falamos de saúde, na verdade estamos falando de saúde mesmo ou de doença? O que você acha?

    Pode parecer confuso, mas quando uma pessoa diz que trabalha no campo ou na área da saúde, em geral ela está dizendo que trabalha com doença, com pessoas doentes. E, se perguntarmos para ela como é esse trabalho, ela normalmente responde que trabalha em um hospital ou ambulatório ou em alguma atividade de prevenção de doenças.

    O uso de drogas, como se sabe, tem uma forte dimensão individual, não como escolha de cada um, mas como consequência de determinadas características da biografia de cada um, de suas demandas e experiências vividas. Mas a questão do uso de drogas se torna efetivamente um problema, se torna objeto de políticas públicas, quando é associada à vulnerabilidade social, a condições precárias de vida, à violência estrutural, à fragilidade ou pobreza acentuadas de determinados territórios.

    https://www.youtube.com/watch?v=h0gpN6blDAMhttps://www.youtube.com/watch?v=si0m-EzzS5c

  • O conceito ampliado de saúde e a questão das drogas

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    Poderíamos dizer, provocativamente, que os departamentos, as secretarias ou os demais órgãos “de saúde” estão voltados mesmo é para a doença. Oferecem consultas, internações, remédios, exames e uma série de outras medidas com o objetivo de fazer diagnósticos e tratamentos de doenças. Outro exemplo claro são os planos de saúde, que também estão voltados para o tratamento de doenças. É claro que tais iniciativas, tanto assistenciais quanto preventivas, são muito importantes. Sem sombra de dúvidas! Mas poderíamos levantar aqui uma outra concepção:

    As secretarias e os órgãos de cultura produzem saúde? Participar de um coral, de uma atividade teatral, uma companhia de dança, um festival de música e tantas outras atividades artístico-culturais não nos produzem alegria e bem-estar? Num sentido geral e amplo, não nos produzem “saúde”?

    Da mesma forma, certas atividades ligadas à educação, à formação, ao nos propiciarem informação, habilidades e aptidões diversas, autonomia e autoconfiança, produzem bem-estar, aumentando nosso “amor próprio”, nossa dignidade e nosso reconhecimento pelas demais pessoas. Dessa forma, também podem ser incluídas as atividades esportivas, que requerem exercícios, dedicação, autodeterminação, testam nossos limites e tantas outras possibilidades.

    Por outro lado, existem muitas outras questões relacionadas ao campo da saúde que, efetivamente, produzem saúde, no sentido tanto individual quanto coletivo: saneamento, transporte, habitação, trabalho... Poderíamos nos deter em muitos outros exemplos encontrados em muitos outros campos do conhecimento e da vida cotidiana que estão relacionadas à nossa saúde física-mental-espiritual-individual-e-coletiva. Assim mesmo, com hífen, articulando tudo num só sentido, pois não há como pensar tais conceitos separadamente.

    Assim, em primeiro lugar, é importante então destacar que não há um lado oposto ao outro: numa extremidade a saúde e na outra a doença. A saúde, de um lado, reivindica um estado de equilíbrio, uma certa ideia de normalidade e perfeição, de ausência de sofrimento, dor e distúrbios; de outro, a doença, como sinônimo de erro, alteração, incompletude. A saúde e a doença fazem parte de um processo dinâmico, de interações de nosso corpo/mente com o ambiente social, político, cultural, ambiental etc.

    Por isso, podemos pensar o campo da saúde como um processo. Um processo que é social, no sentido de que o termo social se refere a todas as relações que mantemos com as várias inter-relações da vida, mas que, mais ainda, é um processo social complexo.

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    Eixo Práticas

    Aberta: portal de formação a distância – sujeitos, contextos e drogas

    SAÚDE COMO PROCESSO SOCIAL COMPLEXO

    Figura 1: Saúde como processo social complexo. Fonte: SEAD-UFSC (2017).

    À primeira vista, a expressão processo social complexo parece ser uma noção redundante. Mas ela nos obriga a reforçar a interpelação entre os termos que compõem esse dispositivo.

    O termo “processo” remete à uma ideia de dinâmica, movimento, pluralidade e articulação de várias dimensões que são simultâneas e que se comunicam entre si. Portanto, dimensões que se complementam, que se retroalimentam. Esse termo implica também que se conceba uma possibilidade de indeterminação, de ausência de uma definição precisa, ideal, ou seja, indica algo que está em permanente desenvolvimento.

    Pensar o campo da saúde como um processo nos remete à tarefa e necessidade de estarmos sempre atentos, de maneira regular e permanente, às transformações que sofrem os atores (as pessoas), os conceitos, os métodos, as práticas. No âmbito das questões relativas à saúde como processo, nada deve ser considerado definitivo, universal, inquestionável ou permanente. Assim como em todas as áreas de conhecimento que compõem as ciências sociais e humanas.

    Por mais que o campo da saúde dependa de conhecimentos científicos da medicina e de seus saberes afins (como a bioquímica, fisiologia, genética, farmacologia, psicologia e tantos outros), ele depende também dos conhecimentos de outros campos das ciências, em particular das ciências sociais e humanas (antropologia, sociologia, direito, filosofia, história, ciência política...).

    Ora, qualquer pessoa sabe que as concepções sobre saúde e doença mudam de acordo com as épocas, as culturas, as regiões, as tradições. Enfim, temos aqui mais dois elementos importantes: as ciências sociais e humanas sobre os homens e seus coletivos e as próprias concepções dos sujeitos e das culturas sobre si próprios.

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    Durante muito tempo, acreditou-se que as políticas públicas deveriam ser fundamentadas exclusivamente nas descobertas científicas, mas esse caminho se mostrou muito equivocado, pois as tradições históricas, culturais, religiosas, sociais, e assim por diante, também produzem conhecimentos, estratégias e processos que são muito eficazes e importantes para o desenvolvimento das sociedades. Dito de outra forma, as soluções fundadas nas tradições culturais são muito importantes e produzem muitos resultados. Seja porque, muitas vezes, indicam tratamentos eficientes, seja porque acolhem a pessoa em algum sofrimento, e esse acolhimento é essencial para a recuperação, a continência, o estímulo às pessoas em alguma experiência de sofrimento ou instabilidade.

    Saiba mais (políticas públicas)

    Acesse o módulo Uma breve história do cuidado dirigido a pessoas que usam álcool e outras drogas para conhecer um pouco melhor a história das políticas públicas e das técnicas de cuidado dirigidas a pessoas que usam álcool e outras drogas.

    Mas, vamos em frente com a redefinição do conceito de saúde. O processo é considerado “social” também porque envolve muitos atores, conflitos, pessoas com inserções diversas e interesses distintos e mesmo antagônicos. Se, de um lado, existem pessoas com sofrimentos e problemas que requerem atenção e cuidado, de outro, existem outras pessoas que nem sempre têm os mesmos objetivos e expectativas. Em algumas situações, até mesmo os familiares podem ser incluídos nesse exemplo. Além disso, existem os laboratórios farmacêuticos, a indústria de equipamentos médicos, as empresas de saúde, os planos de saúde, os investidores que aplicam seus recursos em empresas que atuam em saúde... São muitos os atores, os interesses e os conflitos.

    Mas esse é também um processo social e complexo porque envolve muitos saberes, muitas áreas de conhecimentos, por isso seria mais adequado falar não apenas em saúde ou em doença, mas em processo saúde-doença. Ou seja, não há um extremo que é o da saúde, em que inexiste a doença, e um outro extremo, o da doença, em que inexiste a saúde. Há, sim, um processo que oscila e articula, simultaneamente, muitos fatores, variáveis, elementos. Por isso, muitos autores do campo da saúde coletiva preferem utilizar a expressão processo saúde-enfermidade, apontando, assim, para uma dinâmica permanente entre as forças de equilíbrio e não equilíbrio que estão implicadas no processo. Esse aspecto, que pressupõe uma discussão sobre as definições existentes no campo, exemplifica o que se considera como dimensão teórico-conceitual do processo social complexo.

    http://www.aberta.senad.gov.br/modulos/capa/uma-breve-historia-do-cuidado-dirigido-a-pessoas-que-usam-alcool-e-outras-drogas-1http://www.aberta.senad.gov.br/modulos/capa/uma-breve-historia-do-cuidado-dirigido-a-pessoas-que-usam-alcool-e-outras-drogas-1

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    Eixo Práticas

    Aberta: portal de formação a distância – sujeitos, contextos e drogas

    Saiba mais (não há um extremo que é o da saúde, em que inexiste a doença, e um outro extremo, o da doença, em que inexiste a saúde)

    Acompanhe, na entrevista a seguir, uma discussão sobre o que é saúde a partir de uma retomada dos debates filosófico, teórico, metodológico e pragmático sobre o tema. No vídeo, o apresentador Renato Farias conversa com Naomar de Almeida Filho, autor do livro O que é saúde? e a pesquisadora em saúde da Fiocruz, Dina Czeresnia. A entrevista foi exibida em 2012 pelo Ciências e Letras, programa criado em uma parceria entre a Editora Fiocruz e o Canal Saúde.

    DIMENSÕESDO CAMPODA SAÚDE

    Jurídico-política

    Teórico--conceitual

    Técnico--assistencial

    Sociocultural

    Figura 2: Dimensões do campo da saúde. Fonte: SEAD-UFSC (2017).

    Mas, existem outras dimensões igualmente importantes. Na dimensão jurídico-política, por exemplo, pode-se encontrar os aspectos relacionados aos direitos sociais, civis, políticos e humanos. Aqui se destacam as questões da cidadania, da liberdade de expressão, da autonomia. Todos esses aspectos têm relação direta com o processo saúde-doença na medida em que tudo o que garante boas condições de vida contribui para uma melhor condição de saúde.

    https://www.youtube.com/watch?v=NtuyPB6DZwA

  • O conceito ampliado de saúde e a questão das drogas

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    Uma outra dimensão é a sociocultural, que, por um lado, reflete as formas de participação social no sistema e na organização das políticas públicas e não apenas naquelas específicas do campo da saúde. Por outro lado, diz respeito às tradições e concepções culturais sobre o processo saúde/doença, tais como as formas de entendimento da origem e dos tratamentos das doenças, bem como da manutenção da saúde. Mesmo as instituições oficiais de saúde, a exemplo da Organização Mundial da Saúde (OMS), reconhecem que os tratamentos tradicionais são eficazes e não devem ser desconsiderados. Ainda nessa dimensão, é importante destacar, como veremos mais adiante, que a realização ou participação em atividades artístico-culturais são elementos fundamentais de organização da vida tanto no aspecto individual quanto coletivo.

    A outra dimensão é a técnico-assistencial, que diz respeito a como as organizações e os sistemas de saúde são organizados para atender às necessidades das pessoas e da sociedade. Nessa dimensão situam-se todos os recursos para atenção às demandas sociais, desde a realização de consultas e exames diagnósticos até a realização de tratamentos sofisticados, tais como cirurgias e outros tratamentos superespecializados.

    Mas, não devemos nos esquecer de que, embora toda essa rede de recursos seja destinada à prevenção ou ao tratamento de doenças, ela também pode ser nociva. É o que ficou conhecido como iatrogenia, isto é, que pode causar danos. Dessa forma, a rede de serviços e recursos de saúde pode também ser mal utilizada e causar prejuízos. São exemplos clássicos disso algumas cirurgias e internações desnecessárias, infecções hospitalares, erros profissionais, dentre outros.

    Enfim, é importante ressaltar que a questão da saúde não se resume a prevenir ou tratar doenças, e que as doenças, como as consideramos genericamente, não são simplesmente alterações em um corpo, em uma pessoa.

    Giovanni Berlinguer considera que o que se denomina como doença é, na verdade, um conjunto de possibilidades.

    Biografia autor (Giovanni Berlinguer)

    Giovanni Berlinguer (1924-2015) foi um importante médico, cientista, político, sindicalista, acadêmico e militante da saúde pública e da bioética na Itália e no mundo no século XX. Seus trabalhos inspiraram a reforma sanitária italiana e brasileira e contribuíram para transformar concepções tradicionais no campo da saúde educacional e na determinação social das enfermidades. Para saber mais sobre o autor, acesse o artigo a seguir.

    Fonte: DIAS, B. Adeus a Giovanni Berlinguer. 2015. Disponível em: . Acesso em: 29 ago. 2017.

    http://www.scielo.br/pdf/%0D/rbem/v31n2/09.pdfhttp://cebes.org.br/site/wp-content/uploads/2013/10/A-doenca.pdfhttp://www.scielo.br/pdf/csc/v20n11/1413-8123-csc-20-11-3553.pdfhttps://www.abrasco.org.br/site/outras-noticias/institucional/adeus-a-giovanni-berlinguer/9999/https://www.abrasco.org.br/site/outras-noticias/institucional/adeus-a-giovanni-berlinguer/9999/

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    Eixo Práticas

    Aberta: portal de formação a distância – sujeitos, contextos e drogas

    Uma das expressões da doença seria o sofrimento, expresso no nível de uma experiência individual.

    DOENÇA / SOFRIMENTO

    Daí a ideia de normatividade como algo fundamental nesse processo saúde-doença.

    DOENÇA / NORMATIVIDADE

    Porém, a doença é também diversidade, como um desvio em relação a uma determinada norma, a um padrão aparentemente conhecido e estável.

    DOENÇA / DESVIO / DIVERSIDADE

    Mas a doença não seria também um sinal, um alerta de que algo está acontecendo no corpo de uma sociedade, através de um ou mais corpos individuais?

    DOENÇA / SINAL

    Vista por outro ângulo, a doença não seria também um estímulo? Na medida em que algo agride um corpo ou uma sociedade, o sintoma não aponta para uma saída, para uma alternativa, e aí novas possibilidades são criadas? A febre não é uma defesa do próprio organismo contra os ataques a ele? A doença obriga os organismos a produzirem novas normas.

    DOENÇA / DEFESA / ESTÍMULO

    O PROCESSO SOCIAL COMPLEXO E A QUESTÃO DAS DROGAS

    Como vimos, o campo da saúde foi ampliado a partir do momento em que adotamos a concepção de processo social complexo. A concepção tradicional de que o campo da saúde era um campo destinado exclusivamente a prevenir ou tratar doenças foi ultrapassada na medida em que pudemos verificar que as questões relacionadas à saúde individual e coletiva estão presentes em todas as dimensões da vida.

    No caso do uso abusivo de drogas, a opção mais recorrente é tratar a “dependência química” como um problema individual.

    Os profissionais e gestores se dividem. De um lado, estão aqueles que consideram que o problema é a droga (ou a substância) em si. Nessa linha de entendimento, propõe-se que o tratamento seja fundado no princípio da abstinência total. Considera-se, nesse caso, que a pessoa dependente não conseguiria ficar sem utilizar a droga e que não teria força de vontade ou autocontrole para suportar viver sem ela. Dessa forma, o tratamento seria a imposição de internações em instituições especializadas onde as pessoas seriam desintoxicadas, purificadas.

    Em outras palavras, não se trata apenas de oferecer e organizar uma rede eficiente e suficiente de serviços de tratamento ou diagnóstico e outras questões dessa natureza, mas de oferecer e organizar vários outros bens sociais nos aspectos da vida.

  • O conceito ampliado de saúde e a questão das drogas

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    De outro lado, estão aqueles que preconizam que o tratamento mais adequado seja inspirado nos princípios da Redução de Danos, isto é, que as pessoas devem e podem querer parar de utilizar a substância ou querer mudar a forma como as utilizam. Nesse caso, considera-se que são os sujeitos, as pessoas que utilizam as drogas, que devem expressar suas demandas de tratamento, superação, redução e administração do uso.

    Os usuários é que devem aderir ao tratamento por vontade própria.

    Momento cultural

    Assista ao trailer do documentário Em nome da Razão (1979), que trata sobre o antigo manicômio de Barbacena, no estado Minas Gerais. O documentário, além de contar sobre o manicômio, faz uma reflexão sobre sua função e apresenta algumas das pessoas internadas.

    CONTEÚDO INTERATIVOhttps://www.youtube.com/watch?v=FCaepWotmqw

    TRATAMENTO: TRATAR A DROGA OU AS PESSOAS QUE AS UTILIZAM?

    No caso anterior, na medida em que se acredita que o objeto do tratamento é a droga, e que os usuários não conseguem controlar-se, são preconizados tratamentos, especialmente a internação compulsória ou involuntária, de modo a impor o tratamento que é fundado basicamente na proposta da abstinência total, conforme relatado por Angélica no vídeo da situação problematizadora.

    Muitas situações de violência são praticadas sob essa alegação, e a prática tem demonstrado que as pessoas voltam a usar drogas com padrões muito semelhantes quando saem das internações. Existe uma bibliografia bastante rica sobre esse aspecto, mas vale a pena fazer referência a uma pesquisa muito consistente que já pode ser considerada clássica, embora muito recente, que expõe uma revisão sistemática sobre a eficácia do tratamento compulsório na questão das drogas (WERB et al., 2016).

    A proposta da Redução de Danos tem sido muito utilizada em vários países e tem dado bons resultados. Mas ainda existem poucos serviços que adotam esses princípios e, por outro lado, esses serviços sofrem muita resistência social e política, pois a predominância da noção da droga como “o mal em si” e da guerra às drogas ainda aponta para ações mais imediatistas (internação compulsória e abstinência forçada) que, supostamente, dariam mais resultados.

    https://www.youtube.com/watch?v=FCaepWotmqwhttp://www.sciencedirect.com/science/article/pii/S0955395915003588?via%3Dihub

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    Eixo Práticas

    Aberta: portal de formação a distância – sujeitos, contextos e drogas

    Na segunda metade do século XX, as drogas foram forjadas como o inimigo número um dos governos. O vídeo abaixo, Guerra ao Drugo, busca contar de uma outra forma a guerra contra o inimigo e nos faz pensar sobre esse movimento histórico de um outro ângulo.

    PARA PENSAR

    CONTEÚDO INTERATIVOhttps://www.youtube.com/watch?v=kfaGh42xZwE

    DA PREVENÇÃO AO USO DE DROGAS À PRODUÇÃO DE VIDA E SUBJETIVIDADE

    Uma outra questão importante no campo das drogas é a prevenção ao seu uso. Muito se fala nisso e, em grande medida, essa proposta é desenvolvida a partir de campanhas de prevenção.

    Saiba mais (prevenção)

    Acesse o módulo Prevenção dos problemas relacionados ao uso de drogas para conhecer mais sobre o modelo de prevenção baseado em promoção de saúde. Esse modelo prevê a redução dos fatores de risco e o aumento dos fatores de proteção, por meio da capacitação das pessoas e das comunidades, para que elas mesmas modifiquem os determinantes da saúde em benefício de sua qualidade de vida.

    Uma parte considerável das campanhas é realizada em escolas, quando os estudantes são advertidos sobre os malefícios das drogas. Em outros casos, trata-se de campanhas educativas na grande mídia, sempre enfatizando a relação das drogas com o tráfico, com a criminalidade e com o fracasso na vida familiar, estudantil e profissional.

    https://www.youtube.com/watch?v=kfaGh42xZwEhttp://www.aberta.senad.gov.br/modulos/capa/prevencao-dos-problemas-relacionados-ao-uso-de-drogashttp://www.aberta.senad.gov.br/modulos/capa/prevencao-dos-problemas-relacionados-ao-uso-de-drogas

  • O conceito ampliado de saúde e a questão das drogas

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    Saiba mais (campanhas educativas na grande mídia)

    No módulo Drogas e mídias, o autor Denis Russo Burgierman apresenta uma maneira mais crítica de se ler a mídia, em especial ao que se refere às drogas. Segundo ele, por trás do discurso midiático sobre o tema, há muita ignorância, muitos preconceitos e interesses. Por essa razão, é importante conhecê-los para ser capaz de compreender as notícias de maneira verdadeiramente complexa.

    Saiba mais (são muitos, são complexos e todas as explicações)

    No módulo Padrões de uso de drogas os autores discutem sobre os padrões de uso das substâncias psicoativas e seus efeitos no organismo humano, buscando problematizar o que é dependência. Ao longo do módulo, eles procuram ajudar a compreender como se identificam os quadros relacionados ao uso de drogas e como se realiza a interpretação dos sintomas do consumo dessas substâncias.

    Para muitos pesquisadores do campo das ciências sociais e humanas, essas campanhas não têm valor significativo e, em alguns casos, até mesmo podem despertar o interesse e a curiosidade dos jovens pelas drogas. Como se diz no senso comum: o feitiço pode virar contra o feiticeiro!

    Sem dúvida, muitos dos aspectos aqui comentados e analisados são importantes e não devem ser descartados de forma absoluta e genérica. Considerar que as campanhas de prevenção não são eficazes não significa dizer que nunca têm valor e que não devem ser realizadas. Da mesma forma que se sabe que, em algumas situações específicas, a abstinência pode ser necessária, e assim por diante.

    Se, por um lado, existem fatores individuais, relacionados à vida pessoal de cada um, por outro, existem também fatores de ordem sociocultural e econômica, tais como as condições de facilidade de acesso a substâncias, territórios dominados pelo tráfico, situações de desemprego, de violência social e tantas outras.

    Numa mesma família, dois irmãos filhos do mesmo pai e da mesma mãe podem ter relação absolutamente distinta com a questão da droga. Um pode tornar-se dependente e outro pode não fazer uso nem mesmo de um pequeno gole de bebida alcóolica.

    Mas, existe um aspecto que tem sido expressivamente valorizado e que é de interesse dos gestores de políticas públicas, assim como de lideranças sociais e comunitárias: os fatores que levam as pessoas a utilizarem drogas são muitos, são complexos e todas as explicações, teorias e pesquisas são insuficientes para explicá-los totalmente.

    http://aberta.senad.gov.br/modulos/capa/drogas-e-midiahttp://www.aberta.senad.gov.br/modulos/capa/padroes-de-uso-de-drogas

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    Eixo Práticas

    Aberta: portal de formação a distância – sujeitos, contextos e drogas

    No âmbito da saúde mental e da atenção psicossocial, há muito tempo que os profissionais perceberam que a ideia de reforma psiquiátrica não deveria ser reduzida a uma mera reforma de serviços. Os hospitais psiquiátricos, que geralmente eram instituições de isolamento, segregação e violência, deveriam ser fechados e substituídos por outras modalidades de cuidado e efetivo tratamento. Os hospitais psiquiátricos, genericamente conhecidos pela denominação de “manicômios” (mani: maníacos/loucos; cômios: lugar, casa), são locais de abandono e desassistência, mas nem por isso a reforma psiquiátrica deveria ser reduzida a simplesmente fechá-los e substituí-los por formas mais adequadas de tratamento.

    Glossário (subjetividade)

    CONTEÚDO INTERATIVOhttps://www.youtube.com/watch?v=KLeMUfYQdMY

    A medicina – com suas pesquisas sobre a genética e a hereditariedade – a psicanálise e as psicologias – com suas teorias sobre o inconsciente e a subjetividade – a antropologia – com seus estudos sobre tradições e hábitos culturais – terão explicações parciais, ou seja, sempre incompletas e provisórias; porém, ao mesmo tempo, essas áreas levantam questões importantes sobre as causas do uso abusivo de drogas e demais aspectos. Assim se apresenta o tema da complexidade tal como o abordamos, isto é, ao mesmo tempo em que demonstra a limitação dos saberes dos especialistas, abre enormes possibilidades para a atuação dos profissionais e gestores que atuam no campo.

    Saiba mais (reforma psiquiátrica)

    No módulo Política de saúde, política de saúde mental e política sobre drogas, os autores apresentam aspectos relacionados à construção da Política de Saúde e da Política de Saúde Mental que se aproximam da Política sobre Drogas no Brasil. Eles fizeram questão de destacar também um conjunto de leis, alguns fatos e acontecimentos sobre a construção e consolidação da política pública no estado brasileiro, bem como sobre a influência do contexto internacional nesse campo. Para aprofundar seus conhecimentos sobre esse tema, acesse o módulo.

    https://www.youtube.com/watch?v=KLeMUfYQdMYhttp://aberta.senad.gov.br/modulos/capa/polotica-de-saude-politica-de-saude-mental-e-politica-sobre-drogashttp://aberta.senad.gov.br/modulos/capa/polotica-de-saude-politica-de-saude-mental-e-politica-sobre-drogas

  • O conceito ampliado de saúde e a questão das drogas

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    PRÁTICA POTENCIALIZADORA

    Assista ao vídeo sobre a Rede São Bernardo do Campo (São Paulo), no qual é abordada a oferta às pessoas dependentes de álcool e outras drogas de diversos serviços do CAPS III e infantil, Núcleo de Trabalho e Arte, UPA, República Terapêutica Adulto e Infantojuvenil, Projeto Remando para a Vida.

    CONTEÚDO INTERATIVOhttps://www.youtube.com/watch?v=-kAi1GwU9Ps

    Esse tipo de iniciativa e postura é muito importante e traz excelentes resultados relativos ao campo da questão das drogas, pois o princípio é que a oferta de atividades criativas, coletivas, comunitárias, laborais, artísticas e culturais podem possibilitar a construção de projetos que abram novas perspectivas para os sujeitos envolvidos.

    Saiba mais (Centros de Atenção Psicossocial (CAPS))

    Acesse o módulo Rede de Atenção Psicossocial e o Sistema Único de Saúde (SUS) para saber mais sobre um dos serviços que compõem a Rede de Atenção Psicossocial (RAPS): o Centro de Atenção Psicossocial (CAPS).

    Com o objetivo de substituir os manicômios, foram criados os Centros de Atenção Psicossocial (CAPS) e muitas outras modalidades de cuidado. Mas, tomando como exemplo os CAPS, percebeu-se que seria importante e fundamental que tais espaços não virassem meros ambulatórios comunitários, ou hospitais-dia, ou centros de atenção diária. Sua base seria fundamentalmente territorial, isto é, deveria atuar no território onde as pessoas vivem e se relacionam para produzir mudanças nas formas como a sociedade lida com as pessoas com transtornos mentais. Dessa forma, os gestores e profissionais dos CAPS passaram a ir além do espaço e das funções aparentemente específicas dos CAPS, realizando atividades culturais na cidade, patrocinando passeios, projetos artísticos, laborais, desportivos, pedagógicos ou educacionais.

    https://www.youtube.com/watch?v=-kAi1GwU9Pshttp://www.aberta.senad.gov.br/modulos/capa/rede-de-atencao-psicossocial-e-o-sistema-unico-de-saude-sus-1

    http://www.aberta.senad.gov.br/modulos/capa/rede-de-atencao-psicossocial-e-o-sistema-unico-de-saude-sus-1

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    Eixo Práticas

    Aberta: portal de formação a distância – sujeitos, contextos e drogas

    A IMPORTÂNCIA DA PARTICIPAÇÃO EM ATIVIDADES COLETIVAS DE CUNHO ARTÍSTICO-CULTURAL, EDUCACIONAL, LABORATIVO, ESPORTIVO E COMUNITÁRIO

    As atividades coletivas de natureza artística, desportiva, laborativa, dentre outras, contribuem para a promoção da concepção ampliada de saúde, ou seja, para as relações interpessoais e intersubjetivas, para o reconhecimento do outro, para as práticas de solidariedade, coletivismo, cooperação e diálogo. Além disso, contribuem também para o autoconhecimento, para a autoestima em equilíbrio com a estima do outro e para o reconhecimento da diversidade.

    Saiba mais (promoção)

    No módulo Promoção de saúde no contexto dos problemas relacionados ao uso de drogas, a autora destaca as estratégias de promoção da saúde no contexto dos problemas relacionados ao uso de drogas. Discute, ainda, ações que objetivam atuar sobre os determinantes relacionados ao consumo de substâncias psicoativas, visando a diminuição de vulnerabilidades, em diferentes âmbitos.

    Glossário (reconhecimento)

    Baseado na terminologia de Axel Honneth, o termo reconhecimento refere-se a uma relação dialógica.

    PRÁTICA POTENCIALIZADORA

    Conheça o vídeo sobre a CERSAM, uma rede da cidade de Belo Horizonte que incorporou os princípios da Reforma Psiquiátrica e modificou sua Rede de Atenção Psicossocial para garantir que seu público pudesse ficar em liberdade enquanto recebe tratamento público, gratuito e de qualidade.

    CONTEÚDO INTERATIVOhttps://www.youtube.com/watch?time_conti-

    nue=1&v=d4pWOJnHYZs

    http://aberta.senad.gov.br/modulos/capa/promocao-da-saude-no-contexto-dos-problemas-relacionados-ao-uso-de-drogashttp://aberta.senad.gov.br/modulos/capa/promocao-da-saude-no-contexto-dos-problemas-relacionados-ao-uso-de-drogashttps://www.youtube.com/watch?time_continue=1&v=d4pWOJnHYZshttps://www.youtube.com/watch?time_continue=1&v=d4pWOJnHYZs

  • O conceito ampliado de saúde e a questão das drogas

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    Os gestores e demais profissionais de saúde e de outras políticas públicas devem perceber e ter consciência quanto à potência de suas atividades e capacidade de mobilização social e comunitária, propiciando, dessa forma, o desenvolvimento de projetos com uma maior possibilidade de participação comunitária possível.

    Saiba mais (participação comunitária)

    No Portal Aberta, você encontra vários módulos que apresentam e discutem temas relacionados à participação comunitária. Pesquise no campo da busca pela palavra “comunitário” e continue seus estudos!

    Com o advento dos Pontos de Cultura, pôde-se perceber o quanto eles foram dispositivos estratégicos de mobilização e participação social, constituindo-se como espaços de valorização de interpelações, de trocas e diálogos, de reconhecimento e respeito à diversidade das experiências individuais e coletivas.

    Saiba mais (espaços de participação)

    No módulo Conselhos e movimentos sociais: espaços de participação, as autoras discutem a importância de se garantir uma relação mais próxima entre Estado e sociedade civil, por meio de processos participativos, dando destaque aos Conselhos Municipais. Ao acessar o material, você poderá aprender, também, sobre o funcionamento dos conselhos relacionados às políticas de drogas e a sua organização no município.

    Fortalecendo as práticas de participação, de debates e o envolvimento das pessoas, não apenas os Pontos de Cultura, mas todos os espaços de participação e construção coletivas mostraram-se fundamentais também no que diz respeito à promoção da saúde, na medida em que estimulam a criação de vínculos e de exercícios de solidariedade, bem como a transformação de hábitos e as práticas de soluções negociadas entre os participantes.

    http://www.aberta.senad.gov.br/http://www.aberta.senad.gov.br/modulos/capa/conselhos-e-movimentos-sociais-espacos-de-participacao-3

    http://www.aberta.senad.gov.br/modulos/capa/conselhos-e-movimentos-sociais-espacos-de-participacao-3

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    Eixo Práticas

    Aberta: portal de formação a distância – sujeitos, contextos e drogas

    A existência de práticas coletivas também funciona como estímulo disparador para a aproximação e o envolvimento de novos sujeitos e atores, favorecendo o protagonismo e a reciprocidade entre estes.

    No caso das experiências de Educação Popular em Saúde, observou-se também que os espaços coletivos são estratégicos no estabelecimento de vínculos entre as práticas culturais e as questões de saúde. Existe uma vasta bibliografia, além de vídeos, sobre a Educação Popular em Saúde, mas a consulta ao “Caderno de Educação Popular em Saúde” do Ministério da Saúde (2014) é um bom começo para entrar e conhecer o tema, os princípios e as bases.

    Esse conjunto de aspectos é, portanto, fundamental na criação de projetos de vida que atraiam os sujeitos de diferentes inserções e que minimizem eventuais práticas que sejam nocivas a eles, tais como o uso abusivo de drogas e o envolvimento com práticas sociais indesejáveis. Embora não se possa afirmar exatamente que sejam práticas que previnam integralmente o uso de drogas, são práticas que apontam para caminhos alternativos ao uso destas.

    Outro exemplo, também emblemático, trata-se do hip-hop, cuja cultura é formada pela composição de três elementos principais: o rap, que é a expressão musical e verbal, o graffiti, que é a arte de pintar e pichar murais, e o break, que é a dança e expressão corporal. Nasceu nas periferias dos grandes centros urbanos, como desdobramento de disputas de grupos rivais que se enfrentavam com violência, e que passaram a sublimar as disputas, tornando-as desafios de improvisos de versos ritmados, passos de dança na rua e desenhos.

    O hip-hop tem importante papel nas periferias urbanas nas quais é adotado, onde os conflitos e desníveis sociais são mais evidentes. Como um movimento pautado na denúncia da exclusão social e discussão de questões relativas à história e à identidade do grupo, possibilita uma ressignificação social dos jovens que dele participam.

    Vários pesquisadores que estudaram a cultura hip-hop consideram que são atividades que propiciam a retirada de milhares de jovens de atividades marginais ou do ócio, na medida em que fortalecem as coletividades, os espaços de criação cultural e protagonismo social e a valorização do diálogo. Enfim, considera-se que tais espaços coletivos possibilitam o estreitamento dos laços entre cultura e saúde.

    Momento cultural

    CONTEÚDO INTERATIVOhttps://www.youtube.com/watch?v=vrItT3MYzSE

    http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/2_caderno_educacao_popular_saude.pdfhttp://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/2_caderno_educacao_popular_saude.pdf

  • O conceito ampliado de saúde e a questão das drogas

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    Síntese reflexiva

    A partir da adoção de uma concepção ampliada de saúde, isto é, da saúde como um processo social complexo, esperamos que os gestores, formuladores de políticas públicas, mediadores e agentes sociais identifiquem, promovam e reforcem as iniciativas de organização cultural, artística, esportiva, associativa, dentre outras, nos territórios em que atuam. Ou mesmo que deem início ou estimulem a criação de tais iniciativas, na medida em que os resultados serão visíveis, como demonstra uma ampla e bem fundamentada literatura. Tais resultados são visíveis não apenas no sentido da redução do uso abusivo de drogas por parte dos membros das comunidades, mas também na redução de conflitos e da violência social.

    A atração pelo uso de drogas por parte dos membros da comunidade, principalmente entre os jovens, pode ser fortemente esvaecida nos casos em que sejam oferecidas outras possibilidades de projetos de vida, outras referências culturais e sociais que estimulem perspectivas alternativas para a vida deles. Por que são referências culturais e sociais que propiciam transformações? Porque valorizam as características dos sujeitos envolvidos, seus protagonismos de vida no aspecto individual e social, valorizam o conhecimento e o reconhecimento do outro, o diálogo, a alteridade e a diversidade, propiciam e fortalecem a consciência da coletividade.

    A existência de tais atividades contribui ainda para potencializar as práticas assistenciais disponíveis na Rede de Atenção Psicossocial, que deve atuar predominantemente no território, contemplando uma rede rede social e comunitária, para além de uma simples rede de serviços.

    Agora, repensando a história da Angélica, abordada no começo do módulo, podemos refletir sobre algumas questões. O que poderia ter sido levado em conta no processo de recuperação da jovem Angélica? A dependência deve ser tratada, fundamentalmente, com internação e medicação?

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    Eixo Práticas

    Aberta: portal de formação a distância – sujeitos, contextos e drogas

    REFERÊNCIAS

    TExTOs

    AYRES, J. R. O jovem que buscamos e o encontro que queremos ter: a vulnerabilidade como eixo de avaliação de ações preventivas do abuso de drogas, DST/AIDS entre crianças e adolescentes. In: TOZZI, D. et al. (Org.) Papel da educação na ação preventiva ao abuso de drogas e as DST/AIDS. São Paulo: FDE, 1996. BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de gestão estratégica e participativa. Cadernos de Educação Popular e Saúde. Brasília/DF: MS, 2007.

    BERLINGUER, G. A doença. Cebes-Hucitec: São Paulo: 1988.

    FIGUEIREDO, R. M. M. D. (Org.). Prevenção ao Abuso de Drogas em Ações de Saúde e Educação – uma abordagem sócio-cultural e de redução de danos. NEPAIDS: Diadema, 2002.

    LABATE, B. C. et al. (Org.). Drogas e cultura: novas perspectivas. Edufba: Salvador, 2008.

    NERY FILHO, A. et al. (Org.). As drogas na contemporaneidade: perspectivas clínicas e culturais. EDUFBA, Salvador, 2012.

    NESPOLO, G. F. et al. Pontos de Cultura: contribuições para a Educação Popular em Saúde na perspectiva de seus coordenadores. Interface, Botucatu, v. 18, s. 2, p. 1187-1198, 2014.

    STOLTZ, E. N. Enfoques sobre Educação e Saúde. In: VALLA, V. V.; STOLTZ, E. N. (Org.). Participação popular, educação e saúde: teoria e prática. Rio de Janeiro: Relume-Dumará, 1993.

    VASCONCELOS, E. M. Educação popular e a atenção à saúde da família. Rio de Janeiro: Hucitec, 1999.

    WERB, D. et al. The effectiveness of compulsory drug treatment: a sistematic review. Int J Drug Policy, v. 28, p. 1-9, Feb. 2016. Disponível em: . Acesso em: 29 set. 2017.

    https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/26790691https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/26790691