portfolio cetaceans interview granite of the lavadores

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Ano XI • N.º 38 • 22 de dezembro a 21 de março de 2012 Esta Revista faz parte integrante da edição do Jornal de Notícias e não pode ser vendida separadamente • Distribuição gratuita Portfolio CETACEANS Interview GRANITE OF THE LAVADORES BEACH Report PALAEOZOIC PARK Portfolio CETÁCEOS NUM MUNDO AZUL Entrevista GRANITOS DE LAVADORES Reportagem PARQUE PALEOZÓICO

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Ano XI • N.º 38 • 22 de dezembro a 21 de março de 2012

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FICHA TÉCNICARevista “Parques e Vida Selvagem” ·

Diretor Nuno Gomes Oliveira · Editor

Parque Biológico de Gaia · Coordenador

da Redação Jorge Gomes · Fotografi as

Arquivo Fotográfi co do Parque Biológico

de Gaia · Propriedade Águas e Parque

Biológico de Gaia, EEM · Pessoa coletiva

504763202 · Tiragem 60 000 exemplares

· ISSN 1645-2607 · N.º Registo no

I.C.S. 123937. Dep. Legal 170787/01

· Administração e Redação Parque

Biológico de Gaia · Rua da Cunha · 4430-

681 Avintes · Portugal · Telefone 227878120

· E-mail: [email protected] · Página

na internet http://www.parquebiologico.pt ·

Conselho de Administração José Miranda

de Sousa Maciel, Nuno Gomes Oliveira,

Serafi m Silva Martins, José António Bastos

Cardoso, Brito da Silva · Publicidade

Jornal de Notícias · Impressão Lisgráfi ca -

Impressão e Artes Gráfi cas, Rua Consiglieri

Pedroso, 90 · Casal de Santa Leopoldina

· 2730 Barcarena, Portugal · Capa foto de

Pedro Ferrão Patrício

Esta revista resulta de uma parceria entre o Parque Biológico de Gaia e o “Jornal de Notícias”

Inverno 2012

SUMÁRIO 3

Os conteúdos editoriais da revista PARQUES E VIDA SELVAGEM são produzidos pelo Parque Biológico de Gaia, sendo contudo as opiniões nela publicadas da responsabilidade de quem as assina.

9 Ver e falar

11 Cartoon

14 Migrações

16 Portfolio

19 Fotonotícias

22 Contra-relógio

24 Dunas

27 Espaços verdes

42 Reportagem

50 Retratos naturais

52 Quinteiro

58 Atualidade

61 Crónica

Parques e Vida Selvagem inverno 2011-2012 • 3

SECÇÕES16 NUM MUNDO AZULportfolioNo arquipélago da Madeira Pedro Ferrão Patrício mergulhou no mundo de cachalotes, golfi nhos e baleias. Na envolvência líquida, reteve alguns momentos íntimos dos cetáceos e relembra que estes mamíferos marinhos tantas vezes esquecidos não dispensam estatuto de proteção.

38 GRANITOSDE LAVADORESentrevistaO património natural vai além do universo dos seres vivos. Com 300 milhões de anos, os granitos da praia de Lavadores, em Canidelo, são visitados pelo geólogo Narciso Ferreira. Dada a sua importância natural, integram uma lista nacional de geo-sítios que está a ser elaborada por uma equipa da especialidade.

42 PARQUE PALEOZÓICO reportagemO Parque Paleozóico de Valongo surgiu para preservar o património geológico e biológico da região, onde se incluem aspetos de grande interesse relacionados com a estratigrafi a, paleontologia, geomorfologia, recursos minerais e tectónica.

João L. TeixeiraPraia de Lavadores: formação geológica conhecida por tor

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Segundo declarações recentes à imprensa, do chefe de divisão

da unidade de Aplicação de Convenções do ICNB (Instituto de Conservação

da Natureza e da Biodiversidade), João Loureiro, o número de tartarugas

exóticas importadas (legalmente!) e vendidas em lojas portuguesas

de animais passou de 40 mil, em 2005, para 400 mil, em 2010

Por Nuno Gomes OliveiraDirector da Revista “Parques e Vida Selvagem”

4 • Parques e Vida Selvagem inverno 2011-2012

4 EDITORIAL

Espécies infestantes: é preciso dar-lhes guerra!

Muitas destas tartarugas, quando crescem, são entregues pelos seus proprietários no próprio ICNB ou em centros de recuperação ou

parque zoológicos (na melhor das hipóteses) ou, na pior das hipóteses, largadas em lagos ou rios onde vão competir a causar grandes danos à fauna autóctone.Em novembro passado, a vizinha Espanha, pelo Real Decreto 1628/2011, regulou e impediu a detenção de uma série de espécie exóticas e invasoras, tendo incluído no “Catálogo Espanhol de Espécies Exóticas Invasoras” as tartarugas das espécies Chrysemys picta e Trachemys scripta, e na lista das “Espécies potencialmente invasoras” as espécies Chelydra serpentina e todas as espécies dos géneros Graptemys, Trachemys e Pelodiscus.Entre nós, o Decreto-lei n.º 565/99, de 21 de dezembro, prevê no seu anexo III (Espécies não indígenas com risco ecológico conhecido) a proibição de detenção, apenas, das seguintes espécies de tartarugas: Chrysemys picta, Trachemys scrypta, Chelydra serpentina e Macroclemys temminckii. Para quando rever este diploma legal, e proibir a importação e detenção de todas as espécies de tartarugas exóticas? Se lhes conhecemos os problemas para a nossa fauna a para a saúde pública

(associados a salmonelas) que esperamos para proibir uma desnecessidade?E por falar em tartarugas infestantes, vem a propósito, e serve de exemplo, referir que o ICNB detetou nas ribeiras de Oeiras uma praga vinda de África, a rã-de-unhas, de seu nome científi co Xenopus laevis, que coloca em perigo as espécies europeias, nomeadamente a nossa rã-verde (Rana perezi), de que também se alimenta; mas o problema não é só a predação, mas sim a propagação de um fungo a que a rã-de-unhas é imune, mas os nossos anfíbios não. Só nas ribeiras da Laje e Barcarena já foram capturadas 241 rãs-de-unhas, segundo o ICNB. A origem desta praga pode ser a fuga de um laboratório ou, simplesmente e tal como acontece com as tartarugas-verdes, terem sido adquiridas por pessoas que, depois, as despejaram nas ribeiras.

Novas da biodiversidade As descobertas de novas espécies não para, ao ritmo que aumenta a investigação científi ca. Numa expedição da Universidade Estatal da Luisiana (EUA) à Papua-Nova Guiné foi descoberta uma espécie nova de rã, a Paedophryne amauensis, com apenas 7,7 milímetros, pelo que é, pensa-se, o vertebrado

mais pequeno que se conhece no mundo.Também a Conservation International (CI) organizou, no quadro do programa RAP (Programa de Avaliação Rápida) um expedição de três semanas ao sudoeste do Suriname, durante a qual os cientistas registaram 1 300 espécies, sendo 46 possivelmente novas para a ciência.Por cá, o botânico português César Garcia, do Jardim Botânico da Universidade de Lisboa, descobriu em São Tomé e Príncipe uma nova espécie de planta, cujo nome dedicou ao colega Jorge Paiva, da Universidade de Coimbra, um dos decanos da botânica portuguesa; trata-se da Dendroceros paivae, semelhante a um musgo, descoberta em 2008 mas só agora foi validada como espécie nova.Entretanto, soube-se há dias, que o Professor Jorge Paiva vai revisitar as viagens dos naturalista do século XVIII a África, para uma série televisiva da RTP, cujas fi lmagens começam em setembro, em São Tomé; aguarda-se ansiosamente mais esta lição do Jorge Paiva que, muito perto dos 80 anos, continua a produzir um brilhante trabalho.

Ambiente: Portugal no ranking mundialA Universidade do Yale (EUA) traçou o “Índice

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Parques e Vida Selvagem inverno 2011-2012 • 5

de performance Ambiental” dos países do Mundo, colocando Portugal em 41.º lugar; muito contribuem para esta baixa pontuação a situação das fl orestas e dos recursos hídricos. À cabeça da lista vinha a Suíça, seguida da Letónia e da Noruega.(Disponível em: http://epi.yale.edu/dataexplorer/countryprofi les?iso=095PRT)

As alterações climáticas estão cá Segundo o Instituto de Meteorologia de Portugal, o outono de 2011 foi, em Portugal Continental, o 3.º mais quente desde 1931. Segundo o Departamento de Meteorologia da Grã-Bretanha, o Met Offi ce, o ano de 2012 pode ser um dos 10 mais quentes desde 1850, registando temperaturas 0,5º C mais elevadas do que as registadas entre 1961 e 1990. A OMM – Organização Meteorológica Mundial – considera que 2010 foi o ano mais quente já registado, e os 12 anos mais quentes da história foram entre 1998 e 2011. Por outro lado, estamos numa situação de seca, segundo o site www.meteopt.com, uma vez que “Os valores de precipitação registados no mês de janeiro no continente foram muito inferiores aos respetivos valores normais (1971-2000), com um total mensal de 20.4mm, (17% do valor normal) que se traduz numa anomalia de -96.9mm e que corresponde ao 7.º menor valor registado de precipitação desde 1931 (o menor valor foi de 2.8 mm em 1935).”Segundo declarações do meteorologista Manuel Costa Alves ao jornal “Sol” de 25 de janeiro, “Portugal continental poderá enfrentar uma situação de seca extrema em fevereiro, caso se mantenha a falta de precipitação verifi cada em janeiro”, “Tudo depende de fevereiro. Mas tem que ser um fevereiro muito chuvoso para inverter a situação. Se o comportamento de fevereiro for semelhante ao de janeiro chegaremos à seca extrema.”Segundo o Instituto de Meteorologia, o território português, no fi nal de janeiro, estava “13% em seca fraca, 76% em seca moderada

e 11% em seca severa”. Seria normal uma precipitação, em janeiro, de 117,3 mm (média 1970-2000), mas apenas ocorreram 16,3 mm de precipitação. Embora já tenha havido outros anos de seca (2004/2005 foi o mais recente), o certo é que a situação está a agravar-se e, na natureza, as alterações são bem visíveis.O futuro é dos sobreiros e, talvez prevendo isso, a Assembleia da República, pela sua Resolução n.º 15/2012 de 22 de dezembro, institui o sobreiro como árvore nacional de Portugal.

Le Roi est mort, vive le Roi!A fusão do Instituto de Conservação da Natureza e da Biodiversidade com a Autoridade Florestal Nacional foi anunciada pela Ministra do Ambiente, no Gerês, em dezembro do ano passado e consubstanciada na lei orgânica do Ministério da Agricultura, do Mar, do Ambiente e do Ordenamento do Território (Decreto-lei n.º 7/2012, de 17 de janeiro, que cria o Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas, IP.O “novo” ICNF herda as tarefas dos organismos fundidos e “tem por missão propor, acompanhar e assegurar a execução das políticas de conservação da natureza e das fl orestas...”. Sendo verdade que a conservação da natureza em Portugal, a nível da Administração Pública, começou com os Serviços Florestais, este “casamento” pode dar resultados muito interessantes.Por outro lado dilui-se a notável história dos Florestais, a quem já foram retirados muitos dos poderes de autoridade e intervenção que sempre tiveram (veja-se, adiante, a recomendação do Provedor de Justiça). E a propósito de fl orestas, para comemorar o fi m do Ano Internacional das Florestas, a Ministra do Ambiente, Assunção Cristas, anunciou no Parque Nacional da Peneda-Gerês que está a ser preparada uma campanha do tipo “Vamos Plantar Portugal”,

que prevê a plantação ou sementeira de uma árvore por cada português, recorrendo ao voluntariado. É pena que não se promova essa campanha recorrendo a trabalho profi ssional (num país tão carenciado de criação de emprego) que, esse sim, daria resultados em poucos anos. No campo das anedotas “fl orestais“, registamos o projeto italiano “Bosco verticale” (Bosque vertical) que pretende plantar 900 árvores num prédio de andares com 110 m de altura, totalizando, assim – diz o arquiteto Stefano Boeli – 10 000 m2 de fl oresta. Este projeto está a ser executado no centro de Milão e está orçado em 65 milhões de euros. Esqueceram-se que a fl oresta é um ecossistema com múltiplas funções e não se reduz a 900 “arvorezinhas” enfezadas, a crescerem em fl oreiras, nos terraços de cimento armado; que o prédio pode fi car interessante (ver imagens na internet), admitimos, agora que lhe chamem “fl oresta vertical”, só pode ser brincadeira ou ignorância atrevida.Quem não acreditar no que estamos a relatar pode confi rmá-lo em http://www.stefanoboeriarchitetti.net.

O Provedor da Floresta Em fi nais de 2011 o Provedor de Justiça, Juiz Conselheiro Alfredo José de Sousa, elaborou a recomendação n.º 1/B/2011 sobre o “Regime fl orestal total e parcial – Matas Nacionais e Parque Florestal de Monsanto”, que dirigiu à Ministra do Ambiente, e cuja leitura se recomenda a todos os que se interessam pela fl oresta.Logo no início, o Provedor escreve que a fl oresta portuguesa “... se encontra sob uma proteção jurídica insufi ciente, como também é objecto de práticas administrativas irregulares que vêm favorecendo a sua delapidação.” Defende, depois as “... grandes valias ambientais e para o ordenamento do território” das iniciativas legislativas fl orestais do início do século XX, nomeadamente

“Bosco verticale” Fonte: http://ifi tshipitshere.blogspot.comAlcaravão Francisco Bernardes

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6 • Parques e Vida Selvagem inverno 2011-2012

6 EDITORIAL

o regime fl orestal, “... antecipando a salvaguarda das gerações vindouras.” De seguida refere-se a uma desafetação irregular do Regime Florestal, ocorrida no Parque de Monsanto (e que deu origem à queixa, que determinou a Recomendação) para, logo, atacar a forma simplicista e leviana como se desafetam parcelas do património fl orestal, mesmo o do Estado. O Provedor de Justiça defende a urgente entrada em vigor do Código Florestal, aprovado pelo Decreto-lei n.º 254/2009, de 23 de setembro, mas cuja entrada em vigor foi suspensa por 365 dias pela Lei n.º 116/2009, de 23 de dezembro, e por mais 365 dias pela Lei n.º 1/2011, de 14 de janeiro.Recomenda, em conclusão, que se aperfeiçoem algumas das suas disposições, reforçando os poderes de autoridade, obrigando a demonstrar a falta de alternativa de localização para pedidos de desafetação de áreas fl orestais, voltando a integrar no regime fl orestal terrenos que dele foram desafetados, e que não tenham uso, obrigando a enunciar os fi ns de interesse público que podem justifi car uma desafetação do regime fl orestal, e tornar o parecer das autoridades fl orestais e ambientais vinculativo. Finalmente, recomenda que seja repristinado (que volte a entrar em vigor) o Regime de Polícia Florestal.Esta recomendação foi, seguramente, a melhor iniciativa de comemoração do Ano Internacional da Floresta.

Reserva Natural Local do Estuário do Douro O trabalho de conservação do Estuário do Douro e o esforço de observação continuam a dar os seus frutos; a 15 de fevereiro o fotógrafo Francisco Bernardes, frequentador habitual da Reserva Natural Local, “caçou” um Alcaravão (Burhinus oedicemus), uma ave muito pouco conhecida, rara por estas paragens e considerada vulnerável (haverá em Portugal 2 500 a 10 000 casais, segundo o ICNB).

O Falcão-peregrino (Falco peregrinus) continua a ser presença regular na Reserva do Estuário do Douro, e para montante, como documenta a fotografi a captada pelo professor José Dias, no areinho de Oliveira do Douro, em 9 de fevereiro, que fi xou um Peregrino a capturar uma gaivota (Guincho, Chroicocephalus ridibundus, sinónimo de Larus ridibundus).No início de março será lançado o Guia da Reserva Natural do Estuário do Douro, uma publicação em que participaram zoólogos, botânicos, geólogos, arqueólogos, historiadores e sociólogos, e que documenta todos os aspetos naturais e culturais desta pequena reserva natural urbana.Em 3/2/2012 a Câmara Municipal de Gaia deliberou por unanimidade solicitar formalmente ao ICNB a inclusão da Reserva Natural Local do Estuário do Douro na RNAP

(Rede Nacional de Áreas Protegidas), de modo a conferir-lhe maior proteção e acesso mais facilitado a fundos comunitários.Mas o Estuário do Douro tem muitas histórias por contar: por lá terá andado, em 1751, o estudante de botânica sueco, Pehr Löfl ing (1729-1756), que saiu de Uppsala a 19 de março desse ano e chegou ao Porto a 20 de julho, a bordo de um barco da companhia Swedish East India (1731-1813), com uma passagem oferecida gratuitamente por Claës Grill, diretor daquela companhia de navegação. Ficou no Porto até 7 de agosto, tendo depois seguido para Lisboa, em setembro desse ano, e dali para Madrid, onde este cerca de dois anos, até partir numa expedição à América do Sul, de onde não regressou; morreu com malária, na Venezuela, aos 26 anos.Pehr Löfl ing era um dos “Apóstolos de Lineu” como fi cou conhecido um grupo de estudantes que correu o mundo recolhendo plantas para o seu professor, o botânico, igualmente sueco, Carl von Linné (1707-1778) que depois as classifi cava e “batizava” de acordo com a nomenclatura binominal e a classifi cação científi ca que criou, e que hoje continuamos a usar.Na região do Porto, Löfl ing recolheu muitas plantas, algumas das quais refere numa carta enviada a Lineu, a partir do Porto, em 28/9/1751. A Silene portensis foi descrita por Lineu com base em material colhido Pehr Löfl ing nas dunas a sul do Douro (nunca se saberá ao certo onde, pois o herbário de Lineu apenas indica “Habitat in Lusitania. Loefl .”). A espécie foi mais tarde estudada pelo botânico alemão Otto Buchtien (1859-1946), que no seu herbário, legenda um exemplar de Silene portensis, indicando como local de colheita ”Porto, em montes de areia”. Terá sido a Silene-do-porto “descoberta” pela primeira vez por Pehr Löfl ing nas dunas do Estuário do Douro?

Falcão-peregrino

(1) Há investigadores que dizem não haver retratos de Pehr Löfl ing,

o que é compreensível dado ter morrido muito novo. No

entanto, a “La Venciclopedia – Venezuela de la A a la Z”, num

artigo de Luis Ruiz Berti, e outros sites, apresentam esta gravura

como representando Löfl ing, mas sem referir a origem. É, pois,

de considerar apenas uma hipótese de ser Löfl ing.

José Dias Silene-do-portoPehr Löfl ing 1 (gravura com origem desconhecida)

Henrique Alves/PBG

Na região do Porto,

Löfl ing recolheu muitas

plantas, algumas

das quais refere numa

carta enviada a Lineu,

a partir do Porto,

em 28/9/1751.

A Silene portensis

foi descrita por Lineu

com base em material

colhido Pehr Löfl ing

nas dunas a sul

do Douro

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Parques e Vida Selvagem inverno 2011-2012 • 7

Por Luís Filipe MenezesPresidente da Câmara Municipalde Vila Nova de Gaia

OPINIÃO 7

Ambiente e desenvolvimento económico em Gaia A Câmara Municipal de Gaia aprovou o seu Plano e Orçamento para 2012

onde, mesmo em tempo de difi culdades, afecta mais de 5,2 milhões de euros

à protecção do ambiente e conservação da natureza

Se pensarmos que o ordenamento do território, o saneamento e a limpeza urbana são áreas de atividade complementares e fundamentais da

defesa do ambiente, então temos mais 18% do orçamento municipal dedicado à melhoria da qualidade vida, o que tem sido um objectivo permanente e uma prioridade da nossa acção.Não pode haver desenvolvimento económico nem bem-estar social sem qualidade de vida; nenhum empresário quer investir e criar empregos numa zona feia, degradada, com má qualidade do ar ou sem serviços urbanos de qualidade.Ninguém quer fazer férias em praias sem qualidade da água e com uma paisagem degradada; também o desenvolvimento turístico, pilar fundamental do nosso desenvolvimento económico, assenta na qualidade do ambiente e, naturalmente, na qualidade de um conjunto de outras ofertas, desde a gastronomia, aos espaços verdes, aos equipamentos culturais e, naturalmente, à arte de bem receber.Cientes disto, em pouco mais de uma década fez-se uma revolução completa no litoral; quem se lembra do estado das nossas praias que as fotos juntas, de fi nais da década de 80, documentam? Há muito que na Rua das Chaquedas já não se “aceita” entulho, nem convivem veraneantes, barracas de praia, carros e muito pó.Apesar dos constrangimentos orçamentais, vamos continuar a ter o ambiente como uma das prioridades de Gaia, em nome das pessoas e de desenvolvimento.

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Parques e Vida Selvagem inverno 2011-2012 • 9

VER E FALAR 9

Palavra de leitor!Ao atrasar a sua distribuição, a revista de outono

pregou um susto a muitos leitores...

Em 19 de outubro Rui Faria, do Porto, dizia no seu e-mail: «Bom dia, gostaria de saber se esta revista ainda vai sair, ou se não, é que já passou tanto tempo! É pena que uma revista com essa qualidade não seja mensal, com tanto que há para dizer sobre a natureza e vida selvagem de Portugal. Eu não sou rico e ganho muito pouco por mês, mas preferia pagar pela revista desde que a sua entrega fosse mensal, nem que fosse um preço simbólico, o sufi ciente para manter a auto-sustentabilidade da mesma».Passadas semanas, outros leitores davam nota da sua expectativa, como foi o caso de Acácio Ribeiro, de Turquel (Alcobaça), em 15 de novembro: «Boa noite, gostaria de saber se a vossa excelente revista “Parques e Vida Selvagem”, edição de inverno, já foi publicada, se não quando é que está prevista a sua edição?... Tenho estado atento ao “Jornal de Notícias” e aí não a vi, o que estranho. Será que perdi o exemplar de inverno? Aproveito a oportunidade para vos felicitar (e incentivar) pela edição desta notável revista».Em formato de ofício, Valdemar Melo pede explicações em 12 de dezembro: «Recebi com o “Jornal de Notícias” de 07 de Dezembro de 2011, o n.º 37 da revista referida em epígrafe, onde, quer na capa quer em algumas páginas interiores, constavam partes de texto escritas em língua inglesa. Tratando-se de um procedimento com o qual não concordo, venho solicitar uma explicação justifi cativa da adopção do mesmo».Nuno Gomes Oliveira, diretor da revista, elucidou: «Recebemos o seu e-mail, que agradecemos, mas que nos causou grande estranheza, na medida que não vemos qual seja o problema de colocar pequenos resumos em inglês. Fazemos isso porque a nossa revista “Parques e Vida Selvagem”, além de ser distribuída com o “Jornal de Notícias”, também é enviada por correio para várias partes do Mundo e, além disso, é muito lida entre a Comunidade Estrangeira residente no Porto».Bem, de facto atrasou-se e a sua tiragem teve de ser reduzida para 60 mil exemplares. Mas saiu dia 7 de dezembro!

PalheirosEscreve-nos José Freire: «Na revista última

de Outono/11, na sua página 28, cujo tema e fotos se relacionam com usos tradicionais, um reparo me foi dado observar, talvez por desatenção, em que na foto dos “palheiros ou medas”, julgo ter a certeza que essas duas palavras têm signifi cados diferentes, como seja: Palheiro - Abrigo aonde se guarda palha ou outros artigos/produtos relacionados com a agricultura, habitualmente feitos de palha ou outros materiais, podendo também funcionar como celeiro. Meda - Conjunto de feixes de palha, amarrados com a sua própria folha que são colocados em forma de torre cilíndrica, que servirão para alimentar os animais em períodos de seca ou invernos agrestes. Conclusão: dois substantivos com signifi cado completamente diferente. Com os melhores cumprimentos».A resposta seguiu: «Agradecemos o cuidado que teve em alertar para esse lapso.Foi dado conhecimento ao diretor da revista “Parques e Vida Selvagem” que solicitou lhe respondêssemos.Se há algo na área das letras parecido com a matemática é a capacidade de revisão de provas tipográfi cas. Embora esta revista não tenha um revisor propriamente dito, tentamos realizar com todo o cuidado essa tarefa, porém, ainda que se detetem e resolvam mil gralhas, se uma passar ou for mal emendada, aos olhos dos leitores mais exigentes pode passar a impressão de que o serviço passou ao lado.Nem sempre há o cuidado por parte dos leitores de chamar a atenção para o erro, mas ainda bem que o fez, pois temos oportunidade de lhe dar razão e de explicar que o autor do artigo nada tem a ver com este lapso. Na fotografi a em causa ele referia palheiro, sendo

meda aquilo que anota na sua mensagem eletrónica.Estamos habituados a receber nesta Redação, invariavelmente, apenas mensagens elogiosas, que tratamos de mobilizar no sentido de trabalharmos melhor. Com a sua, evidência de que os leitores estão atentos a este trabalho, temos ensejo de quebrar essa monotonia e fi car ainda mais atentos em edições futuras...».

Andorinhas Escreve Sofi a Castro: «Tenho uma questão a colocar e não consigo encontrar outro meio de obter uma resposta. Sou leitora da vossa revista que acompanha o «Jornal de Notícias», por isso me lembrei de vos colocar esta questão. Vivo numa pequena aldeia, Oliveira, no concelho da Póvoa de Lanhoso. Normalmente todos os anos temos a chegada das andorinhas, e além de as ter a fazer ninho na nossa casa, por vezes os mesmos fi cavam de um ano para o outro, acabando por ser habitados (não sei se pelo mesmo casal - se é que nas andorinhas isto acontece). Eram bastantes (posso dizer às dezenas), pois todos os fi ns de tarde, principalmente no pico do verão, as andorinhas juntavam-se todas e era uma delícia vê-las a “mergulhar” na nossa piscina.Quer o ano passado quer este ano tal não aconteceu, e os ninhos que tínhamos não foram mais habitados. O ano passado não consegui ver as andorinhas e este ano vi muito poucas, mas mesmo muito poucas. Não consigo perceber o que aconteceu. O ambiente tem-se mantido nesta terra. Tendo a sorte de poder ver várias espécies de animais em liberdade e no seu ambiente, penso que não foi por nossa intervenção que deixaram de vir. O que terá acontecido?».

VER E FALAR 9

meda aquilo que anota na sua mensagem

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10 • Parques e Vida Selvagem inverno 2011-2012

10 VER E FALAR

Quem passou o dia de 12 de novembro na baixa do Funchal não percebeu as razões do alerta amarelo difundido pelo Instituto de Meteorologia. Pelo que me informaram o sol brilhou e o vento não passou de uma brisa. Mas quem subiu pela manhã para o Pico do Areeiro entendeu facilmente que as previsões meteorológicas são muito mais fi áveis e douradoras que as dos economistas que diariamente nos traumatizam em tudo o que é meio de comunicação. A probabilidade de acertar no estado do tempo é elevada para o prazo máximo de uma semana! Vem esta conversa a propósito da atividade de plantação que a Associação dos Amigos do Parque Ecológico do Funchal realizou a cerca de 1500 metros de altitude. As rajadas de vento, os aguaceiros e o frio estiveram presentes, confi rmando o aviso que nos tinha sido feito. Mas sabíamos ao que íamos. O mau tempo para os plantadores era um refresco para as plantas. À tarde, quando o vento já se tinha cansado e o sol espreitava timidamente entre as nuvens escuras, loureiros, tis, vinháticos, sanguinhos, folhados, piornos, urzes-molares, urzes-das-vassouras, cabreiras, estreleiras e aipos-do-gado estavam carinhosamente plantados. Na Achada Grande e no Cabeço da Lenha

fi caram a viver mais seis centenas de plantas de espécies indígenas da Madeira.Esta jornada em prol da recuperação da biodiversidade foi igualmente um momento de enorme enriquecimento cultural. Dois indianos, uma indonésia, um grego e um madeirense, investigadores no Madeira Interactive Tchnologies Institute, e uma professora norte-americana da Universidade de Carnegie Mellon, substituíram por umas horas os sensíveis computadores e o ar condicionado dos gabinetes pelos duros cabos das enxadas e a revigorante atmosfera dos píncaros da Madeira. Habituados a receber de braços abertos todos os que sobem à montanha para lhe ajudar a recuperar a beleza original, os monitores da Associação não se cansaram de ensinar os segredos para o sucesso das jovens plantas. E foi reconfortante sentir o enorme entusiasmo e a competência com que os novos amigos trabalharam.A infusão de hortelã-de-cabra ajudou a suportar o frio e a aquecer os corações irmanados no princípio universal do respeito pela Natureza.

Por Raimundo Quintalhttp://bisbis.blogspot.com

Recuperação da biodiversidadeResposta: «As populações de aves não evidenciam necessariamente o mesmo número todos os anos. Podem aumentar num ano e diminuir noutro, regressando a quantitativos anteriores. Não é assim quando há uma sistemática redução como parece ser o caso que aponta.As aves que se alimentam de insetos regra geral estão em regressão. Migradoras, vão no outono para África e a maioria atravessa um enorme deserto que é o Sara. Ao invés de diminuir, o Sara aumenta progressivamente. Os sítios de repouso e alimentação de que essas viajantes necessitam para não morrer podem estar a escassear também.É por isso que a conservação dos habitats naturais é tão importante para que a diversidade da vida – a biodiversidade – se aguente.Poderá circunstancialmente também acontecer que à volta da sua casa tenham desaparecido campos agrícolas, habitats artifi ciais que ainda assim criam condições para diversa vida selvagem. Nesse caso, elas poderão ter tido de adotar outros locais de reprodução.Contudo, estas são apenas suposições que carecem de maior estudo.Dentro destas limitações é aquilo que de momento se oferece dizer, sem contudo deixar de fazer votos para que as andorinhas regressem um dia, pois são mensageiras ideais da primavera».

Sabia que o Parque Biológico de Gaia disponibiliza diversos ateliers de educação ambiental especiais para famílias? Quer participar?Basta preencher este cupão e enviar por e-mail, correio ou contactar-nos pelo telefone.Inscreva-se já. Temos 20 inscrições para oferecer, a pais e fi lhos, em cada data.

Águas e Parque Biológico de Gaia, EEM • Rua da Cunha • 4430-812 Avintes • Telefone: 227 878 137 • e-mail: [email protected]

Nome(s) dos participante(s) crianças/jovens (até três por adulto):

Nome do representante legal:

12/11/2011 > Atelier “Paparoca da bicharada” às 11h00 e às 15h00

26/11/2011 > Atelier “Dos cereais se faz a broa” às 11h00 e às 15h00

10/12/2011 > Atelier “Ninhos e comedouros para aves” às 11h00 e às 15h00

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Parques e Vida Selvagem inverno 2011-2012 • 11

CARTOON 11

Por Ernesto Brochado

Conheça as edições do Parque

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12 CONCURSO

O descanso eterno do guerreiroUm certo dia de férias, num fi m de tarde do verão de 2011 na cidade de Lichinga em Moçambique, tive oportunidade de presenciar a caça ao rato de uma gata doméstica. Quem disse que os gatos da cidade que vivem em casa sem se aventurarem pelos campos têm menos perspicácia para a caça? Pois é... E neste caso tornou-se interessante, pois eu tinha a certeza que a gata não passa fome, não sendo objetivo dela caçar para comer. Depois de uma longa brincadeira com o rato, em que este saltitava de um lado para o outro na tentativa de fuga, ela brincava com ele com as patinhas, fi ngindo que o estava quase a apanhar mas que não conseguia.Depois de pelo menos 10 minutos a observá-los nesta brincadeira, à qual o rato não parecia achar piada nenhuma, somos ambos, eu e o rato, surpreendidos por uma patada mais forte e certeira da gata, que o deixou atarantado o sufi ciente para fi car imóvel.A gata já deveria estar farta de brincar, mudando até de postura, o que me levou a pensar que iria presenciar um jantar antecipado da gata, comendo o rato como entrada do seu jantar que já estava quase a ir para o seu prato ofi cial da casa.Mas o que aconteceu foi pior, no meu ponto de vista, e também do ponto de vista do rato, com certeza... Ela pegou no rato com a boca com tanta força, abanando-o de tal modo que este pareceu-me fi car inconsciente. De seguida, a gata largou o rato e foi para perto do seu prato de comida pois a hora do jantar já se aproximava.Ao longo de alguns minutos de espera minha, a gata ignorou por completo o rato, não se importando com a sua caça mesmo depois de eu me aproximar dele. O rato fi cou fi nalmente imóvel, mas morto.

Por Sónia Abrantes

Uma caminhadaDecidi fazer uma caminhada no 1.º dia de férias e levei apenas o essencial, incluindo a companhia de dois amigos.Quanto ao local escolhido: não distava mais de 15 km da nossa cidade de Tomar, é uma zona com bosques ripícolas e elevações escarpadas que por entre os arbustos rasteiros e rochas oculta muita biodiversidade. Não tínhamos ainda dado dois passos quando presenciámos um vulto alvo rasgar o céu tão suavemente que não motivava o mais ínfi mo ruído, era, sem qualquer interrogação da nossa parte, uma coruja-das-torres (Tyto alba). Apesar de tal como surgiu ter desaparecido entre o arvoredo, graças a esta primeira observação o dia principiou da melhor forma. Assim como começou, o dia manteve-se repleto de encontros e pequenas descobertas. De máquina em punho muito houve a registar: variadíssimas espécies de borboletas, incluindo a borboleta-do-medronheiro; de gafanhotos, que saltavam em grande número da vegetação a cada passada nossa; algumas vespas como a fêmea da gigante Megascolia maculata, cujo

nome comum, vespa-mamute, faz justiça ao tamanho; um coro de rãs-verdes; dois exemplares do louva-a-deus Empusa pennata; e até uma bonita mosca pertencente à família Tachinidae, provavelmente Tachina magnicornis. Como seria de esperar, também se viram e, sobretudo, escutaram muitas aves, desde pequenos passeriformes a aves de rapina, como a águia-de-asa-redonda. De tudo o que vimos, a espécie que mais me fascinou foi a borboleta-caveira (Acherontia atropos) que mais tarde pude desenhar. É uma espécie noturna muito cativante e foi o coroar de um dia bem passado e, sem dúvida, a repetir.

Por Ana Gonçalves

No verão passado deixou-se aos leitores um desafi o: escrever um texto sobre um dos seus dias de lazer.Terminado o prazo, houve a reunião do júri, onde surgiram três concorrentes premiados. O prémio correspondente à escolha de quatro livros coube a Sónia Abrantes, com os títulos «Onde a natureza e as necessidades humanas se cruzam»* e «O descanso eterno do guerreiro». Ana Gonçalves – «Uma caminhada» – foi

premiada com a escolha de três títulos das mesmas edições e, por fi m, o outro prémio, a escolha de dois títulos, foi atribuído a Manuel Cardoso com o trabalho «A abetarda e o pára-sol».Cada um recebeu entretanto os prémios referidos e publicamos agora esses trabalhos.

* Foi publicado na edição anterior desta revista.

Num certo dia de férias

Nota: pode complementar esta história com outros dados sobre os gatos domésticos e o seu impacto na vida selvagem em http://www.parquebiologico.pt/userdata/GatosVidaSelvagemPBG-2004.pdf

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IMPAR 13

A abetardae o pára-sol

Em fi nais de julho passado, com o amigo e companheiro das fotos da natureza A. Almeida, desloquei-me à zona de Salreu para fotografar

essencialmente insetos.Finda a manhã, no regresso ao local onde estacionara a viatura apercebi-me da falta do pára-sol da lente macro, apêndice que encaixa na parte da frente da objetiva e que faz a proteção da lente contra os raios solares. A consequente busca à zona onde presumi tê-lo perdido não produziu efeitos. Havia retirado o pára-sol de modo a poder utilizar o fl ash, evitando sombras, e, no entusiasmo da fotografi a, supus que o deveria ter pousado algures, fi cando o objeto oculto entre as ervas altas. Depois de explorarmos outra zona a fotografar, pelo fi nal da tarde, antes do regresso, insistimos em efetuar uma segunda busca, que resultou também infrutífera.Desiludidos, regressámos a casa. Nessa noite o sono não foi muito repousante. Munido de algumas ferramentas de jardinagem, adequadas à busca, pelas sete e meia da manhã do dia seguinte já estava de volta ao local onde estacionara no dia anterior.Ao encarar o longo campo em frente, não cultivado, divisei uma ave que, face ao Sol que nascia de frente, me pareceu uma cegonha. Alguma coisa, porém, me alertou para a possibilidade de ser outra ave. Recorrendo à objetiva de longo alcance e abrindo a porta do carro cuidadosamente, agachei-me e disparei algumas fotos, a uma distância muito considerável. Satisfeito, constatei tratar-se de uma abetarda

que, de pescoço bem distendido, contrariou a minha aproximação com um voo para mais longe. A rastejar, parcialmente encoberto pelo milheiral ao meu lado esquerdo, ainda progredi mais alguns metros antes de a ave levantar voo, majestosa, em direcção ao Sol.Depois pairou sobre a direita e veio na minha direção, passando a cerca de quarenta metros de distância. As fotografi as em voo sucederam-se. O visor LCD da máquina mostrava uma bela abetarda fêmea num conjunto de imagens muito satisfatório — uma bela surpresa! Esta rainha das aves residentes em Portugal, pouco comum e cujo macho pode atingir os 16 quilos, utiliza como território algumas zonas do Alentejo. No verão eventualmente dispersa-se um pouco para Norte, mas a sua observação é muito rara.Uma vez mais, o intuito que me levara ali se malograra. O problema não era tanto o valor de aquisição de um novo pára-sol, que ascende a umas boas dezenas de euros, mas sobretudo encontrar um igual no mercado, pois a fabricação desta peça havia sido descontinuada.Regressei a casa bastante contente, por um lado, mas intrigado por outro, pois parecia impossível não encontrar o pára-sol, cuja dimensão é considerável.Decorreram alguns dias. A minha mente não parava de magicar sobre o possível local da perda. E, assim, tornei a investir numa nova busca, confi ante num resultado positivo.Por mais voltas que desse, era naquela zona que devia estar. Mas não estava. Entretanto,

o campo de milho miúdo ao lado, outro dos presumíveis locais onde a perda poderia ter ocorrido, já fora cortado e deixado a secar. Agora que lá estivera gente a trabalhar, certamente alguém teria encontrado o objeto e tê-lo-ia levado consigo. Urgia, portanto, descobrir o dono daquele milheiral. Era a derradeira hipótese.A caminho, no estradão de terra batida em direção ao carro, avisto um homem (possivelmente agricultor) e uma menina a caminharem em sentido contrário ao meu. Parei a uns vinte metros deles e aguardei que chegassem até mim.— Bom dia. Por favor, diga-me de quem é… – articulei.— Ah! Aquele campo ali? É do… – antes que o homem terminasse a frase, olhei para o chão.Exatamente ao meu lado direito, a trinta centímetros do meu pé, no meio das ervas meio secas e salpicado pelo pó da estrada, lá estava o meu pára-sol. Ali ao lado, nem um centímetro a mais ou a menos.Numa fração de segundo, vieram-me à memória frases batidas como “quem procura sempre alcança” ou “há males que vêm por bem”. Recordando o portefólio de fotos da maravilhosa abetarda, dei-me conta que, por vezes, pode ser uma perda a fazer-nos encontrar aquilo que mais procuramos.Voltei os olhos para o céu. Fitei o homem e agradeci.

Por Manuel CardosoMadalena/Vila Nova de Gaia

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14 MIGRAÇÕES

Baleias:migraçõesoceânicas Todos os anos entre a primavera e o início do verão assiste-se nos Açores à passagem

2 de maio de 2009Quando foi marcada encontrava-se na companhia de outras duas baleias-sardinheiras, a viajar para oeste.

3 de maioChega à ilha das Flores e muda o rumo para noroeste. Poderão as baleias utilizar as ilhas como pontos de orientação?

12 de maioChega à Frente Subártica, que separa as águas quentes da corrente do Atlântico Norte e as águas frias do mar do Labrador. Em dez dias percorreu perto de 1700 km, a uma velocidade média de 7 km/h.

12 de junhoDurante um mês explorou as águas do sul do mar do Labrador, fazendo uma incursão ao banco de pesca “Flemish Cap”, provavelmente em busca das suas presas prediletas: o pequeno crustáceo Calanus fi nmarchicus.

19 de junhoApós atravessar o mar do Labrador chega à zona costeira do Sul da Gronelândia, mantendo-se em águas profundas e deslocando-se ao longo da fria corrente da Gronelândia.

29 de junhoEnvia o último sinal. O comportamento dos últimos dez dias indica que está numa área de alimentação.

BALEIA-SARDINHEIRA Casanova

Baleia-sardinheira

Mónica Silva

Mas para além da sua presença nessa época, até muito recentemente pouco mais se sabia sobre a sua origem, destinos

e razões pelas quais visitam o arquipélago. Devido à sua vida aquática e amplitude dos movimentos na ordem dos milhares de quilómetros, só recorrendo à tecnologia de telemetria por satélite é possível obter informação detalhada sobre a movimentação dos animais ao longo de um período de tempo alargado.Assim sendo, em 2008 investigadores ligados ao Centro do Instituto do Mar e Departamento de Oceanografi a e Pescas da Universidade dos Açores deram início a um programa de telemetria por satélite, para estudar três das espécies de grandes baleias que frequentam os Açores: baleia-azul (Balaenoptera musculus), baleia-comum (Balaenoptera physalus) e baleia-sardinheira (Balaenoptera borealis).Aos poucos os resultados deste programa começam a formar padrões e permitem começar a entender melhor o papel dos Açores na ecologia destas grandes baleias. Um dos aspetos mais interessantes que já foi identifi cado: estas espécies de baleias utilizam o arquipélago de formas diferentes. Enquanto as baleias-sardinheiras parecem passar pouco tempo nas imediações das ilhas e apresentam padrões de movimentação lineares, as outras duas espécies passam mais tempo no arquipélago e têm padrões de movimentação mais complexos.Essa diferença é exemplifi cada pela história de duas baleias: Casanova, uma baleia-sardinheira marcada com um transmissor de satélite em

2009, e Cristino da Silva, uma baleia-comum marcada em 2010.A curta permanência e o padrão de movimentação das baleias-sardinheiras indiciam que para esta espécie os Açores não desempenham um papel importante na ecologia alimentar, mas poderão antes funcionar como um marco para a orientação destes animais durante a migração. Em contraste, a permanência das baleias-azuis e baleias-comuns nas imediações do arquipélago e os padrões intrincados de movimentação indicam que os animais podem estar em busca de alimento, tirando partido da maior abundância de presas durante a época em que passam nos Açores, o que é suportado por dados comportamentais registados pelos investigadores no campo.Se estas hipóteses se confi rmarem, os Açores podem desempenhar um papel duplo e diferenciado na migração de grandes predadores. O arquipélago poderá ser um

Casanova

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em de alguns dos maiores animais à face da terra: as grandes baleias

12 de maio de 2010Quando foi marcada encontrava-se acompanhada por outras baleias-comuns e baleias-azuis. O comportamento e a presença de krill (Meganictiphanes norvegica) indicam que estavam a alimentar-se.

16 de maioApós ter sido marcada permanece na imediação das ilhas, visitando os bancos submarinos a sul do Faial e Pico. Provavelmente aproveita a disponibilidade de alimento para ganhar energia antes de continuar a migração.

30 de maioDepois de percorrer quase 2500 km a uma velocidade média de 7 km/h, parece encontrar uma zona de interesse e altera o seu comportamento.

6 de junho Chega à costa Leste da Gronelândia e desloca-se para norte sobre a plataforma continental em águas pouco profundas.

5 de julhoEnvia o último sinal. O padrão de movimentos registado no último mês indica que se encontra numa zona de alimentação importante, possivelmente associada à plataforma continental e à corrente do Leste da Gronelândia.

BALEIA-COMUM Cristino da Silva

Marcação de um indivíduo Baleia-comum

Tiago Sá Rui PrietoRui Prieto

importante ponto de orientação para algumas espécies e em simultâneo poderá constituir uma paragem estratégica e fundamental, ao permitir que os animais recuperem parte da energia despendida na fase inicial da migração.Mas não é só nos Açores que os dados de telemetria contam histórias diferentes: embora se cruzem no arquipélago, os seus destinos migratórios são distintos. No caso das baleias-sardinheiras, mais uma vez, o padrão foi claro embora inesperado. Todas as baleias marcadas dirigiram-se para o mar do Labrador, entre o Canadá e a Gronelândia. Este padrão veio responder parcialmente a uma questão com mais de cem anos, relativa à origem das baleias-sardinheiras que eram avistadas naquela região durante o verão e cuja origem era desconhecida.No caso das baleias-comuns, os padrões não

são tão claros, pois a permanência prolongada nos Açores

signifi ca que em muitos casos os

transmissores deixem de

funcionar antes de chegarem ao seu destino. No entanto, os dados indicam que as baleias se deslocam para o mar de Irminger, entre a Gronelândia e a Islândia, onde voltam a evidenciar comportamentos de procura de alimento. A concentração de baleias-comuns em alimentação nessa região é conhecida e a informação de que pelo menos algumas dessas baleias passam pelos Açores durante a migração também poderá ser utilizada para entender melhor a estrutura populacional da espécie no Atlântico Norte.Os resultados já obtidos por este programa, desenvolvido no âmbito do projecto TRACE (PTDC/MAR/7401/2006), fi nanciado por Fundos FEDER através do Programa Operacional Factores de Competitividade – COMPETE e por Fundos Nacionais através da FCT – Fundação para a Ciência e a Tecnologia, são um exemplo de como a aplicação de novas tecnologias no estudo dos cetáceos e outros predadores pelágicos está a mudar profundamente a nossa perceção da utilização do espaço por estes organismos, contribuindo com conhecimento essencial para a gestão efi caz dos recursos marinhos.

Por Rui Prieto, Mónica Silva e Tiago Sá, investigadores da Universidade dos Açores

1 - Telemetria: do grego, tele – remoto – e metro –

medida –, signifi ca literalmente “medir à distância” e

aplica-se a técnicas de obtenção de dados de uma

forma remota. No caso da telemetria por satélite,

utiliza-se transmissores colocados nos animais

para seguir os seus movimentos, recebendo os

dados através de uma constelação de satélites

denominada ARGOS.

Cristino da Silva

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No arquipélago da Madeira Pedro Ferrão Patrício mergulhou no mundo de cachalotes, golfi nhos e baleias. Na envolvência líquida, reteve alguns momentos íntimos dos cetáceos e relembra que estes mamíferos marinhos não dispensam estatutos de proteção.Professor de matemática, Pedro guarda um gosto especial pelo mar e pela vida marinha. O resultado verte em fotografi as como estas, obtidas umas ao largo do Funchal, outras ao largo do Jardim do Mar e do Caniçal. Tudo se passou numa semana de agosto, há dois anos: «Os vigias em terra indicavam a posição dos cetáceos ao piloto do semi-rígido». Às vezes «havia várias espécies por perto. Conforme a distância ou a existência de outros barcos, o piloto decidia o que iríamos ver». Felizmente, «em quase todas as saídas deu para ver uma espécie diferente», escreve.O tamanho dos animais «é difícil de avaliar por não haver pontos de referência no azul». Nenhuma espécie «mostrou sinais de agressividade», mas ali «tudo impressiona: o pulsar da vida, a sua curiosidade, a fl uidez com que se deslocam...».As espécies que demonstraram maior curiosidade foram «os cachalotes e os caldeirões, sem dúvida, seguindo-se as baleias-piloto, os roazes e os golfi nhos-pintados. Um cachalote em particular – não o que está na fotografi a – deu-me o privilégio de dez minutos de contacto visual e de assistir a várias piruetas debaixo de água, havendo no entanto um cuidado mútuo de manter alguma distância». Alguns golfi nhos, «os caldeirões, nadaram com vagar, ao meu lado e por baixo, passando a apenas três metros. Já os roazes, pela experiência que tive, não resistem quase nunca a inspecionar o observador por breves momentos». Com menor frequência, «os golfi nhos-pintados comportaram-se de modo semelhante, seguindo rapidamente caminho. As baleias-piloto estavam nitidamente em descanso ou a socializar – o grupo tinha vários elementos –, pelo que talvez tenha tido a felicidade de observar progenitora e cria tão de perto».Todos de passagem, oferecem-nos o privilégio de olhar este lado da biodiversidade, em ecossistemas de cor azul, poucas vezes lembrados.

Dar à barbatananum mundo azul

16 PORTFOLIO

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Golfi nhos-pintados Stenella frontalis

Caldeirões Steno bredanensis

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Roazes Tursiops truncatus

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18 PORTFOLIO

Cachalote Physeter macrocephalus

Baleias-piloto Globicephala melas

CetaceansIn the seas off the coast of the archipelago of Madeira, Nature Photographer Pedro Ferrão Patrício plunged into the world of dolphins, sperm whales and other marine life. He captured intimate moments of cetaceans in the blue surroundings and was reminded that just because these mammals are great travellers, they do not dismiss the rule of protection.

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FOTONOTÍCIAS 19

Entre muitas ilhas,

o Atlântico imenso banha

também o arquipélago

dos Açores

Se a biodiversidade e a beleza em terra é imensa, imensa é também aquela que se encontra para lá da costa. Ao largo de São Miguel, seguimos de barco à procura de cetáceos como baleias ou golfi nhos, acompanhados pela bióloga marinha Carlota Sotelo.O primeiro avistamento dá-se poucos minutos depois. Um grupo de baleias-piloto, ou baleotes. Chegam a medir quase 9 metros, são negras e têm a cabeça arredondada. Podem pesar 3 toneladas. São muito sociáveis. É por isso normal que andem sempre em grupo. Vivem até aos 60 anos em média.A seguir, o cetáceo para muitos símbolo dos Açores, o cachalote. Este veio mesmo até perto do barco. É a maior baleia com dentes. Um macho adulto pode chegar aos 14 metros. Mergulham a profundidades de 2 mil metros à

procura do alimento favorito, lulas gigantes.Os golfi nhos são curiosos e muito velozes…Ao largo dos Açores passam 24 espécies de cetáceos como explica Carlota Sotelo:“Temos contadas 24 espécies de cetáceos que passam pelos Açores, umas são residentes como o cachalote, o golfi nho-comum, o roaz, por exemplo, e depois outras espécies que passam por cá para descansar para se reproduzirem, para ter as crias e para se alimentarem. Depois vão embora. É o caso da baleia-azul, o roqual-comum, a baleia-sardinheira, a orca, a falsa-orca, baleia-piloto… enfi m, uma grande quantidade de cetáceos.Ora uns são mais fáceis de avistar do que outros. Tudo depende do comportamento das diferentes espécies. Carlota Sotelo fala de uma de que gosta particularmente: “O golfi nho-listado, que é uma espécie migratória que vem aqui para descansar, para se alimentar e ter as crias, é um golfi nho um pouco “maluco”... (risos). Faz uma natação muito rápida, salta e depois mergulha e muda sempre de direção. Temos de prestar muita atenção para onde ele vai porque nunca sabemos onde volta a aparecer, é muito engraçado”.

Ao mergulhar, lá em baixo, os golfi nhos quase sempre nos acompanham.Mas nem só mamíferos marinhos vivem nestas águas cheias de biodiversidade. O mero aparece. Um dos peixes maiores dos oceanos. Alguns têm mais de 2,5 metros e chegam aos 300 quilos, às vezes mais.Parece fi tar-nos sem tons de ameaça. São expressivos, não há dúvida. Os meros, tal como as garoupas, gostam dos fundos rochosos. Adoram comer polvos e outros seres marinhos invertebrados.Nestes fundos marinhos há bodiões, sargos, espécies a perder de vista.Esta espécie é particularmente interessante… o peixe-balão. Quando se sente ameaçado incha e fi ca uma bola de espinhos, mas não é o caso. Este cardume está em ritual de acasalamento.A vida marinha está quase toda por descobrir… mesmo assim quem mergulha pela primeira vez neste “Mundo do Silêncio”, como lhe chamou Jacques Cousteau, não passa sem cá voltar.

Foto Pedro Ferrão PatrícioTexto Luís Henrique Pereira jornalista da RTP

Baleias-piloto

Açores: biologia marinha

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20 FOTONOTÍCIAS

Apesar da maioria das pessoas verem as moscas como insetos com uma estranha apetência por visitar locais de gosto

duvidoso, o comportamento deste grupo não se resume a isto e muitas são as espécies que não estão associadas a excrementos ou animais em decomposição. Entre estas existe uma família conhecida entre os cientistas como Empididae cujos membros são designados em inglês por “Dance fl ies”, que se pode traduzir para moscas-dançarinas. Em algumas destas moscas os machos são capazes de capturar outros insetos, não para se alimentarem eles próprios, mas para oferecer a uma fêmea. Depois de capturarem uma presa e, para atraírem as fêmeas de forma mais efi ciente, os machos reúnem-se em enxames em locais específi cos voando por vezes para cima e para baixo como se de uma dança se tratasse, daí o nome comum que lhes foi dado. De seguida, as fêmeas voam para o interior do enxame e escolhem um parceiro que imediatamente lhe oferece a prenda nupcial

anteriormente capturada e que irá ser consumida pela fêmea durante a cópula. Tanto os machos como as fêmeas visitam fl ores para se alimentarem de néctar e são importantes polinizadores destas mas as fêmeas precisam presumivelmente de um suplemento adicional de proteínas para o desenvolvimento dos ovos e, como não conseguem elas próprias caçar, dependem das presas oferecidas pelos machos. Este é o comportamento habitual nestas moscas mas são conhecidas inúmeras variações incluindo espécies em que a formação de enxames e oferta da prenda nupcial não ocorre. São também conhecidas espécies que apresentam aquilo a que se chama “comportamento com o papel sexual invertido” em que são as fêmeas que se reúnem em enxames esperando que os machos cheguem com uma presa. Nestes casos as fêmeas apresentam vários tipos de ornamentações no corpo de forma a atrair os machos.Existem também espécies cujos machos possuem glândulas produtoras de seda nas patas. A seda é usada para embrulhar

as prendas nupciais antes destas serem oferecidas às fêmeas (estas bolas de seda assemelham-se a pequenos balões pelo que estas moscas são conhecidas em inglês por “Balloon fl ies” ou moscas-balão). Curiosamente, em algumas espécies de moscas-balão os machos deixaram de capturar presas e passaram a oferecer às fêmeas prendas não comestíveis como partes de plantas ou insetos secos envoltos em seda e mesmo bolas de seda sem nada no interior. Nestes casos são as bolas de seda e não as presas o estímulo para a corte e cópula.As larvas das moscas-dançarinas são muito pouco conhecidas mas os cientistas sugerem que na maioria das espécies estas vivam no solo onde são predadoras de pequenos organismos que aí vivem.A melhor altura do ano para ver estas moscas é na primavera. Já falta pouco! É fácil vê-las a alimentarem-se em fl ores em muitos habitats diferentes como matagais de urzes, fl orestas, prados e outros.

Texto e foto Rui Andrade

A meninadança?

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Parques e Vida Selvagem inverno 2011-2012 • 21

A lontra que não é marinha

Ao solzinho da hora de almoço do passado dia 25 de janeiro, quarta-feira, aquela lontra--europeia resolveu fazer-se

convidada numa esplanada da Foz, para alvoroço de muita gente ali presente. Não é que estivesse a agredir alguém, nem tão-pouco a roubar um prego em pão ou uma perna de frango, mas não tardou a chegar a polícia. Rede em punho, a perseguição e as exclamações não estariam longe de uma intervenção de super-herói de banda desenhada, à Batman ou Flash Gordon, tal a animação do episódio.Corrida para ali, corrida para acolá, a lontra

de tamanho adulto, dir-se-ia saudável, acaba por descer a rampa, assustada, e procura o meio que mais lhe apraz, onde é senhora e acrobata: vai para o mar.Ora, diz o senso comum, se vai para o oceano, deveria ser uma autêntica lontra marinha! Pelo menos foi o que em alguns órgãos de comunicação acharam por bem chamar-lhe.E aqui estamos nós com um velho problema: marinha ou não, eis a questão.A etiqueta revela um desconhecimento do património natural português assaz crítico. Estará também ameaçado de extinção?Não será por falta de esforço.Existe noutra parte do Globo de facto uma

lontra-marinha, Enhydra lutris (Linnaeus, 1758).De género diferente mas da mesma família dos Mustelídeos, a lontra-europeia, que faz efetivamente parte do nosso património, é a Lutra lutra (Linnaeus, 1758). Ora veja se não fi ca também surpreendido! As coisas que Lineu sabia no século XVIII – sem internet nem televisão – que a maior parte de nós desconhece hoje em dia...Não é de se lhe tirar o chapéu?Destes há muitos, como se dizia no tal fi lme a preto e branco, lontras é que já não há tantas...

Texto JG Foto João L. Teixeira

A lontra-europeia pode fazer incursões em estuários e no mar, mas o seu habitat típico é dulçaquícola

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22 • Parques e Vida Selvagem inverno 2011-2012

22 CONTRA-RELÓGIO

As ameaças pendentes sobre a biodiversidade do planeta levaram as Nações Unidas a elegê-la como assunto de

campanha estendida não apenas a um único ano, como já ocorreu em 2010, mas a uma década inteira.Com esta iniciativa pretendem estimular em todo o planeta atividades que consigam levar a mudanças de atitude com vista à sustentabilidade dos recursos que garantem a diversidade da vida, incluindo a humana.Fevereiro é um mês associado às zonas húmidas, no calendário dos dias mundiais.Cada vez mais reduzidos, estes ecossistemas reúnem habitats naturais muito produtivos que ao longo da história têm sido vistos em confl ito com o ser humano.A sezão — palavra que agrega o paludismo desde registos datados do século XIII — foi argumento de peso para a drenagem destes espaços, revertendo-os, se possível em campos de cultivo. Nessa época, sem se ter a noção de que cada ser vivo desempenha um papel mais ou menos importante no ecossistema a que pertence, plantas e animais eram divididos em dois campos apenas: o dos úteis e o dos daninhos.Se fossem totalmente suprimidos os últimos nenhum mal atingiria o homem, pensava-se.A verdade é que com as práticas agrícolas no local a grande diversidade de plantas típicas das zonas húmidas desaparecia e com elas condições de habitat para inúmeras aves aquáticas, pequenos

mamíferos, répteis, anfíbios e muitos outros seres vivos.Informações vindas de estudos agregados pelas Nações Unidas afi rmam textualmente que «os ecossistemas das zonas húmidas providenciam serviços vitais ao desenvolvimento da sociedade humana e reduzem a pobreza. Esses serviços incluem alimentos, matérias-primas diversas, medicina, regulação do clima, mitigação de desastres naturais e de cheias, reciclagem de nutrientes e purifi cação da água potável. Estes ecossistemas são igualmente essenciais para

a produção de energia, transportes, lazer e turismo».Adiantam ainda que tais serviços são dados como garantidos, contudo substituí-los por sistemas artifi ciais é demasiado caro.As alterações do clima sentem-se em primeira linha através da água e é certo que toda a vida depende desse precioso líquido.O uso sensato dos ecossistemas de água doce ajudará sobremaneira nos picos de seca e de cheias do porvir.

Texto Jorge Gomes

A década da biodiversidade

A barrinha de Esmoriz é uma lagoa costeira – exemplo de zona húmida, Rede Natura 2000

As Nações Unidas,

através do seu Programa

para o Ambiente,

têm em curso a Década

da Biodiversidade,

em curso até 2020

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Parques e Vida Selvagem inverno 2011-2012 • 23

23 DUNAS

• Só 0,03% da água do planeta Terra está disponível no estado de água doce.

• Das 29 mil espécies de peixe conhecidas cerca de 30% são espécies de água doce.

• A introdução de espécies exóticas invasoras é uma causa considerável de perdas de biodiversidade.

• Cerca de 50% das maiores cidades do planeta obtêm água potável de áreas protegidas ou de fl orestas sob gestão controlada.

• As zonas húmidas, de que são exemplo os leitos de cheia e os mangais, protegem a população humana de catástrofes naturais como os tsunamis e as cheias de inverno.

• À volta de 80% da população mundial vive em locais onde não é segura a qualidade da água. Em 2025 dois terços desta população pode vir a viver em situação de seca.

• Dois milhões de toneladas de resíduos de origem humana são despejados nos cursos de água todos os dias e, nos países em vias de desenvolvimento, 70% de resíduos industriais são-lhes adicionados.

• As turfeiras cobrem entre 3 a 4% da área emersa do Globo e retêm cerca de 25 a 30% do carbono retido nos ecossistemas terrestres, pelo que armazena o dobro da quantidade de carbono acumulado pelas fl orestas da Terra.

• A perda de habitat e a sua degradação é a causa primária da extinção da biodiversidade própria dos ecossistemas de água doce.

Fonte: www.ramsar.org

ZONA HÚMIDA Área de paul, sapal, turfa ou água, natural ou

artifi cial, permanente ou temporária, que reúne

grande biodiversidade.

Admite-se que tenha água estagnada ou

corrente, doce, salobra ou salgada, incluindo

áreas de água marinha desde que com menos

de seis metros de profundidade na maré baixa.

Pode ser alimentada por água subterrânea, por

rios ou por outras zonas húmidas e pode estar

seca durante uma parte do ano, mas o período

em que se encontra inundada é sufi ciente para

manter o ecossistema vivo.

CONVENÇÃO DE RAMSARAparece em 1971, no Irão. É um tratado

intergovernamental que quer promover

a conservação e o uso sustentável dos

recursos naturais das zonas húmidas. Cerca

de 150 países assinaram esta convenção,

incluindo Portugal.

Factos & números

A Decade of BiodiversityThe United Nations, through its Environmental Program, is promoting a Biodiversity Decade. By means of this initiative they intend to stimulate activity across the entire planet that can bring changes in attitude towards the sustainability of resources and diversity of life. February is associated with wetlands in the “World celebrations” calendar and this is the theme chosen for this edition.

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24 DUNAS

No inverno o mar ganha outro lanço e apenas quando enfrenta o cordão de dunas consegue abrandar.Imagens como esta fazem pensar sobre os danos materiais contabilizáveis a partir do momento em que as dunas ali não estivessem.É assim que se compreende que quer os passadiços de madeira quer os regeneradores dunares são estruturas que incentivam estes habitats a recompor-se.

Diz o povo que «depois de casa roubada, trancas à porta». Neste contexto, equivale a dizer que normalmente um bem como este não é valorizado a não ser que se ausente e surjam danos que pela sua presença são evitados.As dunas não seriam bem utilizadas se fossem sofás, como na canção, mas protegidas continuam a prevenir estragos decorrentes do avanço do mar, sempre que este se entusiasma. A fotografi a não mente.

Parque de Dunas da Aguda

Ambientes dinâmicos, as dunas não protegem só o ser humano da atividade do mar. Com largas dezenas de espécies

de plantas nativas adaptadas a este solo difícil, feito de areia, evocam os chamados corredores verdes que sustentam a diversidade da vida.Exemplo disso é o Parque de Dunas da Aguda que, através do Parque Biológico de Gaia, e com a colaboração do Programa LIFE da União Europeia, preserva estes habitats da Diretiva Comunitária da especialidade e sensibiliza a população para a importância destes ecossistemas.

Como tudo está ligado na natureza, as plantas estabilizam a duna com as suas vastas raízes, fornecendo abrigo e alimento a numerosos animais, como invertebrados, pequenos répteis e mamíferos, embora sejam as aves selvagens que mais agarram a vista de quem ali passa a observar a paisagem.Nas deslocações das aves, uma pequena paragem dá descanso, refaz as forças, e, se não houver perturbação, até viabiliza, no tempo próprio, deixar o bando e fazer ninho, defendendo-o dos rivais. No vaivém da brisa que passa, esta parece dizer que as dunas chamam já a primavera.

Cordão dunar

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Parques e Vida Selvagem inverno 2011-2012 • 25

Em 16 de dezembro, de manhã, estiveram na RNLED 36 íbis-pretas, Plegadis falcinellus

Não se trata de uma

espécie qualquer, mas

sim de uma das aves

mais difíceis de detetar

e pouco conhecida

Com a presença, em 18 de novembro passado, da galinhola (Scolopax rusticola) na Reserva Natural Local do Estuário do Douro esta área protegida do Município de Gaia atinge as 200 espécies de aves.É uma ave da família das narcejas, mas com uma envergadura que a aproxima mais da

perdiz. A sua plumagem, em tons castanhos-arruivados, serve-lhe de camufl agem perfeita.É uma espécie invernante em Portugal continental, chegando os primeiros indivíduos em fi nal de outubro. Com a criação de condições para as aves migratórias utilizarem o espaço do estuário do Douro, a melhoria do habitat e uma menor perturbação, ao contrário do que acontecia antes da existência da Reserva, está a ser possível o retornar a episódios de vida selvagem que terão sido frequentes no passado.Em pleno século XXI estamos a devolver a biodiversidade original ao estuário do Douro.Em fi ns de 2008 o total de espécies registadas para a RNLED não ultrapassava as 160; em três anos houve um incremento de 25%.

Neste momento a RNLED apresenta-se como o espaço do concelho de Gaia com mais espécies de aves registadas e com 50% das espécies de aves de Portugal Continental (são pouquíssimos os locais do país em que isso acontece, ou pelo menos é conhecido esse facto).Signifi ca que a RNLED está colocada entre as zonas do país mais importantes em termos de ocorrência de variedade de espécies de aves, tornando-se num local de referência a nível nacional para ser visitado por quem quiser observar ou fotografar aves selvagens e ter num espaço reduzido a possibilidade de encontrar um leque de espécies abrangente representativas do país.

Por Nuno Gomes Oliveira

O pilrito-escuro (Calidris maritima (Brünnich) 1764) está considerado um invernante raro em Portugal surgindo muitas vezes isolado e com poucos efetivos. A sua rota migratória é muito interessante por ser proveniente de distantes zonas do Ártico.Trata-se de uma espécie de hábitos discretos e plumagem pouco vistosa que no nosso país frequenta praias com rochas expostas e quebra-mares, tendo sido considerada a zona costeira da RNLED uma área prioritária para a sua busca e deteção, dado que ainda não tinha registo neste sítio. Era por esse motivo uma das “espécies-alvo” a ser encontrada. Finalmente todas as condições se conjugaram para o seu registo em 24 de novembro de 2011: a altura do ano (mês de novembro)

Pilrito-escuro: espécie rara, solitária e invernante em Portugal, proveniente da tundra ártica e sub-ártica, da Eurásia e América do Norte, onde nidifi ca.Espécie de hábitos discretos, frequenta praias com rochas expostas. É a 201.ª espécie registada.

Dia 21 de outubro, deu-se o primeiro registo de coruja-do-nabal (Asio fl ammeus) de 2011.Tal como ocorreu em outubro de 2010, volta a surgir esta ave na Reserva Natural Local do Estuário do Douro, uma das aves pouco vulgares e de difícil observação de que não havia registo da sua ocorrência anterior à existência da Reserva. A primeira observação foi pouco depois das 14h00 em voo sobre o sapal. Posteriormente a Maria Rêgo passou na RNLED e fotografou-a.

Por Paulo Faria

Pilrito-escuro: um invernante raro Coruja-do-nabal

Estuário do Douro

Mais de 200 espécies

indicada para a sua observação. Esta espécie eleva para 25 espécies registadas na RNLED da família Scolopacidae.

Por Paulo Faria

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26 DUNAS

TARTARUGAS MARINHAS

As tartarugas marinhas surgiram nos oceanos há mais de 100 milhões de anos. São répteis com uma carapaça oval e pele seca, revestida por placas córneas ou escamas. Não conseguem retrair a cabeça para o interior da carapaça e respiram por pulmões. Geralmente, vivem em águas subtropicais e tropicais, onde se alimentam de moluscos, crustáceos e peixes mortos. Põem os ovos na areia das praias e após a eclosão, os juvenis vão logo para o mar onde iniciam a migração oceânica. No estado de adulto, migram quase sempre para a praia arenosa onde nasceram e acasalam.Todas as espécies estão ameaçadas de extinção e, por isso, são protegidas pela lei. Para além dos perigos naturais (predação por tubarões e orcas, doenças e parasitas, arrojamento nas praias durante tempestades e alterações climáticas) sofrem também com a ação do Homem (exploração comercial de ovos, carne, carapaça e óleo; perturbação, poluição e destruição das praias de nidifi cação; poluição dos mares – ingestão de

objectos, toxinas; pesca acidental e colisões com embarcações).A tartaruga-comum (Caretta caretta), oriunda do Continente Americano, é a tartaruga mais frequente na costa portuguesa. Pode atingir 100 cm e 200 kg de peso mas geralmente não ultrapassa 40 kg. A carapaça castanha-amarelada tem cinco placas vertebrais, cinco pares costais, 11 pares marginais e três pares inframarginais, sem poros glandulares. As praias de nidifi cação localizam-se na costa da América do Sul, nas Caraíbas, no golfo do México e na Florida, mas também existem populações no mar Mediterrâneo (Turquia, Grécia, Itália, Chipre, Líbia, Israel e Egito). Entre maio e junho, as fêmeas enterram 300 a 400 ovos. Após dois meses de incubação, nascem os juvenis com cerca de 5 cm de comprimento. A tartaruga-de-couro (Dermochelys coriacea) é a maior tartaruga marinha, atingindo 200 cm e 500 kg de peso. A carapaça é formada por uma pele grossa e elástica, de cor negra com algumas manchas esbranquiçadas. Apresenta 12 quilhas longitudinais, das quais cinco são dorsais, cinco ventrais e duas costais. Não possui unhas e o bico tem a forma de um “W”, quando visto de frente. A nidifi cação decorre

ELA - Estação Litoral da AgudaRua Alfredo Dias, Praia da Aguda,4410-475 Arcozelo • Vila Nova de Gaia

Tel.: 227 536 360 / Fax: 227 535 [email protected]

Flora e fauna marinhas do litoral de Gaiaentre o outono e inverno nas regiões tropicais das Caraíbas, América do Sul e África. A tartaruga-de-kemp (Lepidochelys kempii) é a mais pequena tartaruga marinha chegando aos 70 cm e 50 kg de peso. A carapaça tem cinco placas vertebrais, cinco pares costais e 12 pares marginais. Uma das características que a distingue da tartaruga-comum é a presença de quatro pares de placas inframarginais, cada uma com um poro glandular. A carapaça é esverdeada ou acinzentada e as escamas laterais da cabeça são amarelas. Na primavera e no verão, desovam nas praias do golfo de México. Os adultos não se afastam muito das áreas de reprodução mas os juvenis migram para longe. Aparecem na ilha da Madeira e nos Açores e muito raramente na costa portuguesa continental.

Por Mike Weber e José Pedro Oliveira

Tartaruga-de-kemp (Lepidochelys kempii)

Tartaruga-comum (Caretta caretta)

Tartaruga-de-couro (Dermochelys coriacea)

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ESPAÇOS VERDES 27

Ato simbólico mas importante, nas palavras da vereadora do Ambiente do Município de Vila Nova de Gaia, Mercês Ferrreira, esta campanha do Grupo Auchan inspirou-se na iniciativa das Nações Unidas “Plant for the Planet”. Este dia verde (“Green Day”) teve em vista comemorar no passado ano os 50 anos

de vida do grupo. Subordinado ao tema “50 anos, 50 árvores”, em 16 de novembro largas dezenas de árvores foram plantadas nos variados espaços verdes situados nas imediações das suas lojas em Portugal. Esta ação, executada em parceria com os municípios, alargou-se a outros países que contam com a presença deste grupo

empresarial. Em comunicado, informaram que «o objetivo é aumentar, incentivar e promover a participação dos colaboradores, clientes e comunidade local em iniciativas de voluntariado», salientando «a importância das árvores na preservação da biodiversidade e na adaptação das cidades às mudanças climáticas».

Meireles de Pinho propôs, Marisa Alves e Joaquim Pombal executaram.Esta dupla de ceramistas – que já em 2007 executara uma escultura no Parque da Lavandeira – voltou a reunir ceramistas e no dia 26 de novembro concretizou-se mais uma escultura de fogo. O processo consiste em criar com tijolo cru uma peça que depois é cozida com fogo feito no seu interior.A escultura pode agora ser vista por todos no Parque da Lavandeira, Oliveira do Douro, em Vila Nova de Gaia.

Por Filipe Vieira

Ateliers de educação ambientalPara público jovem. Monitorizados por técnicos do Parque Biológico: dias 11 e 18 de fevereiro às 11h00 e 15h00; dias 3, 10 e 11 de março às mesmas horas.

Cágado-de-carapaça-estriada:conhece-o?Projeto LIFE-TRACHEMYS: 12 de maio, sábado, apresentação – os nossos cágados estão em perigo, vamos protegê-los!

As mulheres do campo vêm à vilaSábados de manhã, venda de legumes sem pesticidas.

YogaA orientação é da responsabilidade da Dr.ª Luísa Bernardo, que proporciona a atividade em regime de voluntariado. Quartas e sextas-feiras às 9h45. Tai ChiSegundas e quintas-feiras, 9h30.

Parque da Lavandeira

Um dos sítios eleitos

em todo o país pelos

gestores de uma cadeia

de hipermercados, ao

comemorar meio século,

foi este parque em Oliveira

do Douro, iniciativa

a que aderiu a Escola EB1

da Afurada de Cima

com os seus alunosA área mais elevada do Parque da Lavandeira foi a escolhida para a plantação das 50 árvores.

Esculturade fogo

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Agenda

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28 • Parques e Vida Selvagem inverno 2011-2012

28 ESPAÇOS VERDES

Em Crestuma,

este parque botânico

pisca também o olho

à arqueologia, dado

os seus abundantes

vestígios romanos

O território manda no perfi l deste parque e faz com que suba encosta acima, leira a leira.Lá em baixo, o rio Douro serpenteia de olho nos carvalhos, freixos e medronheiros que acolhem outras espécies autóctones ou nativas da fl ora ibérica.Ao longo dos séculos, muitos usos do terreno terá aqui havido, mas antes do surgimento do parque era o abandono.Este espaço terá acolhido uma fortaleza e mais tarde a agricultura. Por fi m, deu a mão à vegetação primeira, que repovoou nichos e socalcos.Loureiros, sanguinhos e toda a restante vegetação acorda sob a batuta do frio e, à

primeira nesga de despedida do inverno, prepara uma festa que os visitantes olharão na primavera em camadas de fl ores silvestres. Este castelo e a sua envolvência «é um complexo arqueológico tardo-romano, suévico-visigótico (séculos IV-VII) e da reconquista (séculos X-XI)», lê-se num cartaz de natureza arqueológica, que adianta: «As escavações iniciadas em 2010 revelaram vestígios e estruturas destas épocas, bem assim como cerâmicas importadas dos confi ns do Mediterrâneo e outros produtos». Este parque fi ca junto ao clube náutico e está aberto nesta época de inverno das 10h00 às 17h00, sendo a entrada livre.

Aqu

De segunda a sexta-feira das 10h00 às 12h30 e das 14h00 às 18h00; Sábados, domingos e feriados das 10h00 às 18h00

Parque Botânico do Castelo

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Parques e Vida Selvagem inverno 2011-2012 • 29

A fl oresta atrai os audazes – foi o lugar do medo, está para além dos muros, ouve-se dizer Maria do Loreto Monteiro. E hoje, quando se evoca o fartote de serviços que estes e outros ecossistemas processam e de que todos dependemos, os bosques são vistos como um bem escasso, algo que levará depois Jorge Paiva a indagar «por que não se dá nas escolas a história da fl oresta portuguesa?».Essa é precisamente uma das partes do livro eletrónico* que foi apresentado pelos coordenadores da obra no auditório do Parque

Biológico de Gaia – João Pedro Tereso, João Pradinho Honrado, Ana Teresa Pinto e Francisco Castro Rêgo.Neste sábado de tarde, tinham-se escutado antes as conferências de Henrique Miguel Pereira e de João Bento.O seminário dedicado ao mesmo tema que se seguiu foi uma iniciativa da InBio - Rede de Investigação em Biodiversidade e Biologia Evolutiva (Laboratório Associado).O Ano Internacional das Florestas, subordinado ao lema “Florestas para todos”, terá dado o empurrão fi nal para

conclusão deste livro que os autores querem de divulgação gratuita, já a partir do início deste ano, até porque foi escrito com um compromisso duplo: rigor e linguagem acessível, a fi m de que este saber se espalhe como as sementes das árvores mais altas. Na palavra dos autores, este trabalho tem em vista «sensibilizar para a necessidade de estudar, preservar e gerir o nosso património fl orestal».

* Encontrará em breve este livro nos sites institucionais

do CIBIO-UP e do CEABN-ISA/UTL

O «Diário da Natureza», de Luísa Ferreira Nunes, e o guia de campo «Fauna e fl ora marinha de Portugal», de Vasco Ferreira, foram ambos apresentados no Parque Biológico de Gaia também em 17 de dezembro, ao fi m da tarde.Enquanto neste último livro o autor aborda 460 espécies em mais de 500 fotografi as – o que ajuda a identifi car a fauna e fl ora marinha costeira mais característica do território português –, o «Diário da Natureza» é uma agenda com apontamentos e ilustrações que ajudam mesmo quem tem um dia-a-dia de cidade a sentir a natureza mais perto de si.

Floresta do Norte de Portugal: o livro eletrónico

Esta obra dá uma visão atualizada do que é a fl oresta hoje, como evoluiu, quais são as principais ameaças e os principais desafi os para a sua gestão: da esquerda para a direita, Jorge Paiva, Maria do Loreto Monteiro, Ana Teresa Pinto, João Tereso e João Honrado

Biodiversidade marinha

A apresentação do livro “Florestas do Norte de Portugal – história, ecologia e desafi os de gestão” teve lugar no auditório do Parque Biológico de Gaia em 17 de dezembro

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30 • Parques e Vida Selvagem inverno 2011-2012

30 ESPAÇOS VERDES

Ofi cinasOfi cinasde Primavera

Quando os dias ganham

luz solar e o arvoredo se

engalana as férias da

Páscoa já vêm a caminho

e, com elas, estas

ofi cinas dirigidas aos

estudantes mais jovens

As Ofi cinas de Primavera incidem em atividades de descoberta da natureza, de contacto com alguns animais e outras experiências de ar livre. Tratadores de palmo e meio, Pequenos agricultores, Caça ao coelho traquina, Jogos na natureza ou Primavera de sabores são

alguns dos nomes sugestivos das atividades previstas nestas ofi cinas para crianças e jovens dos seis aos 15 anos.Os dias marcados para esta iniciativa são os que vão de 2 a 5 de abril e de 9 a 13 do mesmo mês, das 9h00 às 17h30.Também dentro do Parque, é o restaurante

Vale do Febros que serve as refeições aos participantes. Para que os seus fi lhos possam participar devem inscrever-se no Gabinete de Atendimento, com o e-mail [email protected], e que funciona neste horário: outubro/fevereiro, 9h00/18h00; março/setembro, 9h00/19h00.

Margaraça: percurso de descobertaSábado, 10 marçoVisita temática à mata da Margaraça. Com cerca de 50 hectares, esta área protegida está sob a alçada do Instituto de Conservação da Natureza e da Biodiversidade. Saída e regresso ao Parque Biológico de Gaia em autocarro. Inscrição obrigatória.

Anilhagem científi ca de aves selvagens Nos primeiros e terceiros sábados de cada mês, das 10h00 às 12h00, os visitantes do Parque podem assistir de passagem pelo percurso de descoberta da natureza (Quinta do Chasco) a estas atividades, se não chover.

Sábado no ParqueDia 3 de março o Parque prepara algumas atividades especiais para os seus visitantes, sem custos a não ser o bilhete de entrada habitual neste equipamento de educação ambiental. O programa inicia às 11h00 com o atelier “Construção de ninhos e comedouros”. Após o almoço, pode assistir às 14h30 à conversa do mês, que será sobre

“A nidifi cação das aves”. Às 15h30 há visita guiada pelos técnicos do Parque e percurso ornitológico. Entre as 22h00 e as 23h30, há ainda observações astronómicas, dependendo das condições meteorológicas (inscrição necessária).

Observação de aves selvagensNos domingos 4 de março e 8 de abril, entre as 10h00 e o meio-dia, leve, se tiver, um guia de campo de aves europeias e binóculos à Reserva Natural Local do Estuário do Douro. Com telescópio, estará um técnico do Parque para ajudar a identifi car as aves do Litoral.

Lousã: percurso de descobertaSábado, 14 de abril Saída e regresso ao Parque Biológico de Gaia em autocarro. Inscrição obrigatória.

Exposição coletiva de fotografi a “Aranhas: uma questão de equilíbrio” Abre dia 7 de abril às 15h00Têm poucos amigos, mas quem as fotografa de tão perto vê-as com outros olhos. Até 26

de maio, patente todos os dias no horário de abertura do Parque.

Serra de Arga: percurso de descobertaSábado, 19 de maioA serra de Arga ergue-se a 825 metros de altitude (Alto do Espinheiro) e enquadra-se no Alto Minho. Saída e regresso ao Parque Biológico de Gaia em autocarro. Inscrição obrigatória.

Receba notícias por e-mailPara os leitores saberem das suas atividades a curto prazo, o Parque Biológico sugere uma visita semanal a www.parquebiologico.pt. A alternativa será receber os destaques por e-mail. Para isso, peça-os a [email protected]

Mais informações Gabinete de [email protected] direto: 227 878 1384430-681 Avintes - Portugalwww.parquebiologico.pt

Agenda

Entre as iniciativas do Parque Biológico de Gaia aqui fi cam alguns itens que podem ser do seu interesse...

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Que será isto?

Em 7 de dezembro, quarta-feira em que a revista foi distribuída com o “Jornal de Notícias”, chegou à Redação a primeira mensagem, às

8h26, e vinha assinada por Pedro Pereira: “Bom dia, a primeira foto é uma salamandra-de-pintas-amarelas (Salamandra salamandra), a ave é um tentilhão-comum (Fringilla coelebs)”. E acrescenta: “Comecei a ser seguidor desta revista por gostar muito da natureza, tem excelentes artigos e mostra-nos um pouco o que é preciso fazer para a preservar”.Estava encontrado um dos premiados. O segundo leitor mais rápido a responder ao desafi o foi Bruno Vaz, às 9h51: “Vou tentar identifi car as imagens... O anfi bio é uma salamandra, a ave é um tentilhão. Um abraço”.Pedidas as moradas para envio dos prémios, seguiram os livros pelo correio.Outros leitores fi zeram tentativas posteriores, mas não foram tão lestos como os já referidos.Nesta nova edição, quem sabe se não chega a sua vez de alcançar algum prémio?

Para esta edição fi cam estas fotografi as de fl ora e fauna. É capaz de identifi car estes seres vivos? Se for, não deixe de nos dizer! As fotografi as publicadas são sempre de vida selvagem que já foi observada na região. As respostas mais rápidas recebem como prémio um dos livros editados pelo Parque Biológico de Gaia.As respostas devem indicar um dos nomes vulgares reconhecidos ou, melhor ainda, o nome científi co. Se acertar numa só de ambas as espécies, é igualmente considerada na lista das mais rápidas. Envie-nos o seu e-mail ([email protected]) ou carta (Parque Biológico de Gaia – Revista “Parques e Vida Selvagem” – 4430-681 Avintes)! O prazo para as respostas termina em 10 de março de 2012. Os leitores já premiados em edições anteriores só o serão se não houver outra resposta certa (este item só é válido durante um ano a partir da atribuição do prémio).Então, já sabe o nome de alguma destas duas espécies?

Reprodução em cativeiro de espécie ameaçadaA reprodução em cativeiro do cágado-de-carapaça-estriada, Emys orbicularis, espécie considerada Em Perigo de Extinção em Portugal, é um dos objetivos do Projeto LIFE - Trachemys, que se iniciou em 2011, em resultado de uma parceria entre o CIBIO, o Parque Biológico de Gaia, a associação ALDEIA/RIAS, em Portugal, e a Generalidade Valenciana e a empresa Vaersa, em Espanha. Em resultado desta ação nasceram já 41 crias de diferentes posturas desta espécie nas instalações do RIAS-Olhão (Centro de Recuperação e Investigação de Animais Selvagens) e três no Parque Biológico de Gaia, aumentando assim a esperança de fortalecer as populações em declínio desta espécie. As fêmeas grávidas tinham sido capturadas nas quatro áreas de atuação do projeto na ria Formosa, no Algarve, durante o mês de maio, no âmbito das ações de captura de tartarugas da Florida, uma espécie exótica invasora estabelecida recentemente em Portugal. Após a confi rmação das posturas em instalação desenvolvidas para esse fi m, as fêmeas foram devolvidas à natureza nos mesmos locais em que haviam sido capturadas.A libertação dos indivíduos nascidos em cativeiro está prevista após atingirem os primeiros dois anos de vida.O Projeto LIFE – Trachemys “Estratégias e técnicas demonstrativas para a erradicação de cágados invasores” é co-fi nanciado pelo Programa LIFE+ Biodiversidade, um instrumento fi nanceiro para a conservação e proteção da natureza na União Europeia, que visa desenvolver projetos inovadores ou de demonstração que contribuam para a concretização do objetivo de “travar a perda de biodiversidade”.

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Caro leitor: Como no inverno só apetece dormir, apresentamos esta novidade – musgo almofada. Não, não é um musgo que poderá servir de almofada (e que poderia ter dado jeito no Natal), nem mesmo de enchimento para almofadas (outrora um dos usos de alguma espécies de musgos). Mas não se desiluda, pois tem o seu encanto, como certamente poderá apreciar pela foto e pela descrição que se segue. Afi nal, é um musgo em forma de almofada que não foi criada pelo Homem. Não desista, leia até ao fi m!

Grimmia pulvinata é a espécie mais comum do género Grimmia, o qual pode ser encon-trado em todo o mundo (exceto no Ártico e na Antártica) e inclui cerca de 100 espécies. As espécies pertencentes a este género geral-mente formam tufos, de caules eretos com 1 a 3 cm de altura, em forma de almofada, em substrato rochoso exposto. Nas montanhas, a elevadas altitudes, algumas espécies deste género conseguem mesmo resistir a condi-ções ambientais bastante adversas, tolerando longos períodos de dessecação e de frio. Esta forma em almofada é bastante útil, pois ajuda o musgo a manter a humidade por muito mais tempo devido à proximidade dos caules.

Para além da sua forma peculiar, esta espécie é facilmente reconhecida pelos longos pêlos hialinos no ápice das pequenas folhas (fi lídeos), que podem ser vistos facilmente a olho nu e que dão a cor verde acinzentada característica destes pequenos tufos. É também uma espécie que está quase sempre fértil, apresentando bastantes esporófi tos (com cápsulas suportadas por hastes longas - sedas - em forma de gancho). Em estado inicial de desenvolvimento, as sedas são tão curvas que as cápsulas estão muitas vezes escondidas entre as folhas do musgo; no entanto, quando estão totalmente desenvolvidas, as sedas tornam-se mais retas e suportam cápsulas de cor acastanhada, com opérculo longo e caliptra em forma de capuz.Como tolera poluição moderada, é uma espécie característica de zonas urbanas, crescendo em paredes, argamassa e telhados. É, de facto, uma espécie pioneira em vários substratos, como pedras tumulares e edifícios antigos, daí já ter sido alvo de análise em estudos de deterioração de rocha, como por exemplo nas áreas arqueológicas de Roma. Fora de zonas urbanas é bastante frequente em rochas

Novidades de fauna

Novidades de fl ora

Musgo-almofadaGrimmia pulvinata (Hedw.) Sm.

expostas, sobretudo de natureza básica, podendo ocorrer ocasionalmente em troncos de árvores.No Parque Biológico pode ser facilmente encontrada em muros de granito expostos. Vá até ao Parque Biológico e procure estas mini-almofadas! E neste tempo frio aproveite para acariciá-las, vai ver que irão surpreendê-lo – os mais pequenos irão adorar! E se chuviscar,

Quando o clima tremeGarças-noturnas a nascerem em janeiro leva a crer que estão fora de tempo, sem apelo nem agravo. A fotografi a foi tirada na tarde do dia 27. No ninho está um dos progenitores com o típico penacho nupcial e duas crias já de bom tamanho.As alterações do clima são sentidas por plantas e animais sem que para isso tenham de chegar a conclusões científi cas.Não sendo caso isolado, em 7 de fevereiro

Crias de garça-noturna

Hugo Oliveira, técnico do Parque, dá nota do nascimento de um caimão. Não se trata obviamente de um crocodilo, mas de uma ave aquática que leva o nome científi co Porphirio porphirio, espécie também nativa da fauna

lusitana e que esteve quase a desaparecer da península Ibérica no século passado.Também entre aves exóticas se assinalou um nascimento em 20 de janeiro: «Apesar do frio que se faz sentir, o que penso ser um juvenil

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Este ano o observatório

astronómico arranca

com diversas iniciativas

Depois da adesão ocorrida o ano passado, o observatório astronómico em funcionamento no Parque Biológico de Gaia renova em 2012, numa segunda edição, o Curso de Iniciação à Astronomia.Composto por dois módulos, comportando cada um deles seis horas, aborda assuntos como o desenvolvimento da capacidade de efetuar observação do céu autonomamente, somando noções da localização no espaço e orientação celestial, bem como a identifi cação de constelações, objetos celestes e a exploração dos instrumentos adequados.

Binóculos, telescópios e software de astronomia, como fotografar o céu, observação com câmaras web, fotografi a e vídeo-astronomia são alguns outros itens desta iniciativa.Independentemente disto, há que saber: abril é o Mês Mundial da Astronomia... logo, haverá atividades variadas.Além dos habituais primeiros sábados de cada mês dedicados às noites de astronomia, mais tarde, em junho, as observações astronómicas juntar-se-ão às tão procuradas Noites dos Pirilampos. Este observatório abriu ao público em 11 de junho de 2010 e conta nos seus objetivos «servir os visitantes e a comunidade de astrónomos amadores, proporcionando-lhes um local adequado para observações regulares».

Observatório astronómico

não faz mal, pois talvez consiga observar pequenas gotas que fi carão como que suspensas nestes tufos tão característicos! Como vê, há sempre boas razões para sair de casa, mesmo no inverno - há que estar atento! Bom passeio!

Texto Helena Hespanhol e Cristiana Vieira (CIBIO-UP). Fotos Helena Hespanhol

Júpiter e uma das suas luas, Io

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Toucam ProCelestron SCT 9.25” + Barlow 2XAVI 1000 framesProc: RegiStax 6.0 OAPB 22 de outubro de 2011 - 23h32m

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Cria de caimão

de Vidua paradisaea conseguiu vingar na savana. Aqui vai uma fotografi a do pequeno exemplar e o mais jovem membro da equipa do Biorama», diz a engenheira zootécnica Jessica Castro.

Hugo Oliveira

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34 ESPAÇOS VERDES

Antibióticose ecossistemas

O casal mais fi el de GaiaA

cordar de madrugada ao Sábado de manhã, após uma longa semana de trabalho, parecerá quase uma heresia, mas para

o grupo de voluntários que organizam sessões de anilhagem científi ca de aves no Parque Biológico de Gaia esta é a rotina que repetem duas vezes por mês. Esta técnica de estudo de aves selvagens surgiu há já mais de um século

David Gonçalves, docente do Departamento de Biologia da Universidade do Porto, ensina a colher amostras da cavidade oral de um chapim-real para as análises necessárias a esta pesquisa

Quem consome estas substâncias não põe um ponto fi nal no seu percurso quando os ingere e os seus componentes podem disseminar-se no ecossistema. Entrando de uma ou de outra forma na cadeia alimentar, poderão levar ao aparecimento, nos animais selvagens, de bactérias resistentes a antibióticos, vários deles usados em clínica humana. Para avaliar esse contexto, uma equipa de

investigadores chefi ada por Patrícia Poeta, docente do Departamento de Ciências Veterinárias na Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro, em Vila Real, está a recolher em vários locais do país amostras orais e nasais de aves e outros animais selvagens para análise.Em 5 de novembro, durante uma sessão de anilhagem científi ca no Parque Biológico

de Gaia, David Gonçalves – docente do Departamento de Biologia da Faculdade de Ciências da Universidade do Porto – ensinou a colher amostras. A Associação Portuguesa de Anilhadores de Aves é outra organização que está a apoiar esta pesquisa.Os resultados poderão trazer uma nova luz sobre o eventual retorno dos agentes infeciosos, reforçados, à população humana.

na Dinamarca, e abriu as portas a um conhecimento íntimo da vida destes animais voadores. Deixam de ser uma incógnita os seus movimentos migratórios, monitoriza-se as suas populações, conhecem-se alguns detalhes do comportamento e podem também servir como uma ferramenta para estudar a saúde do nosso meio ambiente.Os dados recolhidos em cada sessão de anilhagem parecem, numa primeira observação, pouco mais que números associados às aves. Mas do meio da frieza dos dados saltam histórias dignas de serem contadas, como a de duas toutinegras-de-barrete que na primavera do ano passado usaram o Parque Biológico como local para construírem o seu ninho. Como elas haverá muitas histórias parecidas: esta é uma das espécies mais comuns no Parque, mas neste caso a anilhagem permite-nos ter uma excelente perspetiva da vida de casal destas aves!

O macho foi capturado pela primeira vez no dia 5 de fevereiro e determinou-se que não era uma ave jovem – a análise da plumagem e do padrão de renovação das penas permitiu determinar que esta ave nasceu, pelo menos, na Primavera de 2009, podendo até ser mais velha. A fêmea foi anilhada na sessão seguinte, no dia 21 de fevereiro e, pela

Toutinegra-de-barrete macho

O elevado consumo de antibióticos e as

resistências infeciosas emergentes leva

alguns investigadores a perguntar: como

estará a afetar as aves e outros animais

selvagens esta entrada de produtos

farmacêuticos nos ecossistemas? Jorg

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Peneireiro reabilitadoNuma tarde de quarta-feira, 21 de dezembro, no Parque da Cidade da Póvoa de Varzim, uma ave de rapina, um peneireiro, depois de recuperado de um fi m de vida que parecia certo, foi devolvido à natureza.O peneireiro tinha sido resgatado por um cidadão que, deparando-se com o animal

atordoado e a arrastar-se pelo chão decidiu, de forma sensata, levá-lo ao Museu Municipal. Feito um contacto com as entidades competentes e a ave selvagem foi levada para o Centro de Recuperação do Parque Biológico de Gaia. Restabelecido, capaz de voar e caçar pelos

seus próprios meios, foi libertado neste parque. Na mesma ocasião, houve lugar para um posterior passeio, acompanhado por crianças convidadas para o evento e pelo arqueólogo municipal, que identifi cou as aves em redor no intuito de ajudar a conhecer a vida selvagem envolvente.

mesma análise de plumagem, determinou-se que era mais jovem, tendo nascido durante o ano de 2010. Esta diferença de idades não foi entrave ao enlace, dado que estas aves começam a reproduzir-se já um ano depois da nascença e, a partir do dia 21, estes dois animais começaram a ser presença regular na mesa de anilhagem.

O mais curioso é que de todas as vezes subsequentes em que as aves foram recapturadas (seis vezes para o macho, sete para a fêmea), foram sempre no mesmo habitat, numa zona de fl oresta junto ao cercado das raposas, quase sempre à mesma hora (uma hora após o nascer do Sol), e quase sempre capturados um ao lado do outro – a anilhagem interrompeu a rotina diária das toutinegras, mas nada de grave, dada a frequência com apareceram durante as sessões. O estudo da pelada de incubação, nome que se dá à ausência de pêlos no abdómen das aves que estão a chocar ovos, permitiu também saber que até julho, data da última aparição da fêmea, o casal teve pelo menos uma ninhada, que o macho ajudou também a incubar e cuidar.A monogamia nas aves é já há muito conhecida, mas a sua complexidade ainda exige estudos mais aprofundados. Tanto é que, embora a grande maioria das aves sejam monógamas, na realidade

não o são. Como? Para desfazer esta aparente contradição temos que fazer a distinção entre os conceitos de monogamia genética, na qual os elementos do casal realmente só acasalam entre si, e monogamia social, na qual o casal forma uma parelha estável, mas à socapa lá fogem para uma… escapadela, vá. Surpreendentemente, menos de 10% das espécies que são socialmente monógamas são geneticamente monógamas! E embora se conheça melhor este comportamento em machos, sabe-se que as fêmeas não são avessas a encontrar um companheiro extraconjugal. No caso das toutinegras-de-barrete, teríamos de fazer outro tipo de estudos para saber se a sua monogamia é simultaneamente social e genética. Por enquanto, vamos considerar o nosso par como um bom exemplo de fi delidade…

Por Pedro Andrade

Fêmea da mesma espécie

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Entre as muitas histórias

que decorrem no

Centro de Recuperação

de Fauna Selvagem

escolhemos duas:

a de um ganso-patola,

uma ave marinha,

e a de uma salamandra

acidentada...

Um ganso-patola com cerca de dois anos de idade chegou em 11 de novembro ao Centro de Recuperação e reagiu bem ao esforço de reabilitação. Muito magro e debilitado quando foi encontrado próximo do castelo do Queijo, na cidade do Porto, pesava 2300 gramas. O cuidado de Henrique Winkel, um cidadão condoído, levou a que a ave chegasse até ao

Um ganso-patola recuperado foi libertado em 15 de dezembro na Reserva Natural Local do Estuário do Douro

Durosde roer

Centro de Recuperação de Fauna Selvagem do Parque Biológico de Gaia. Feito o diagnóstico, o processo de reabilitação desta ave marinha progrediu até à condição física que recomendou devolvê-lo a uma vida em liberdade.Bem alimentado, foi solto na Reserva Natural Local do Estuário do Douro em 15 de dezembro. Nesse momento, demonstrou ter uma atitude guerreira, mais interessado em primeiro dar uma bicada ao técnico que o soltou do que, regressando ao oceano, abrir asas sobre as águas acolhedoras do estuário.

Preta e amarela Na natureza a combinação das cores amarela e preta são sinais de alerta

dirigidos aos outros seres vivos, mas não colocam a salvo de todos os percalços as salamandras-de-pintas-amarelas.Foi o que aconteceu quando numa escola de Paredes um sacho inadvertidamente colheu este anfíbio e provocou uma rutura do intestino. Transportado em 29 de novembro por Jael Palhas, biólogo, até ao Centro de Recuperação de Fauna Selvagem do Parque, foi alvo de uma intervenção cirúrgica especial.Tendo a operação corrido bem, reabilitada, a salamandra foi libertada entretanto pelo mesmo grupo escolar que originou esta passagem obrigatória pelo centro de recuperação.

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Recuperation CentreAmong the many cases that have recently been brought o the Wildlife Recuperation Centre a have chosen two: A gannet, a seabird about two years old, and a salamander, which is an amphibian.

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BATER DE ASA 37

Quando em 10 de julho de 2008 Rui Brito, biólogo e anilhador científi co credenciado, aplicou a anilha K7569 numa fêmea de

gavião reabilitada para libertação pelo Centro de Recuperação de Fauna Selvagem do Parque Biológico de Gaia, estava longe de saber que em 7 de janeiro do corrente ano esta ave seria recapturada no próprio Parque, junto do rio Febros, numa normalíssima sessão de anilhagem científi ca de aves selvagens.O grupo de voluntários, a maior parte em

formação, está entusiasmado. Ver um gavião a voar não é a mesma coisa que vê-lo na mão, apesar das garras pronunciadas e do bico curvilíneo, olhos vivos a ansiarem liberdade.Além disso, o porte desta ave de rapina diurna é substancialmente maior do que o de uma toutinegra ou de um chapim-real… aves mais habituais neste serviço de educação ambiental e de conservação da biodiversidade.Com todo o cuidado, foram colhidos os dados biométricos da fêmea de gavião e de seguida foi libertada, como manda a lei.

«Três anos de sobrevivência em liberdade é a demonstração da boa recuperação», comentou-se ao verifi car-se o registo antigo.Esta espécie de ave carnívora é conhecida por ser particularmente versátil na sua capacidade de voo dentro de um bosque onde, veloz, inclui na sua ementa outras aves de menor dimensão, como pardais e melros. Na parte superior da cadeia alimentar, as aves de rapina desempenham um papel regulador importante na saúde dos ecossistemas.

Texto e foto JG

O voo das aves

José Pereira fotografou um guincho (Chroicocephalus ridibundus) no areinho

de Oliveira do Douro no passado dia 9 de fevereiro, uma quinta-feira.

Apurou-se entretanto que foi anilhado na Polónia a 8 de junho de 2010. Trata-se de uma das espécies de aves selvagens mais

fáceis de observar no nosso litoral.

Por Paulo Faria

Guincho anilhado na Polónia

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Granitos de Lavadores:

histórias com milhões de anos

38 ENTREVISTA

Nos rochedos, Narciso Ferreira aponta um dos círculos escuros no imenso bloco granítico: «A estes chamamos encraves microgranulares. O granito em volta tem um granulado médio. Este é de grão fi ninho e apresenta normalmente esta forma arredondada».Está sol num dia que amanheceu frio e, com o marulhar das ondas, aquele maciço rochoso monótono aos olhos de quem passa na rua depressa se transforma num sítio encantado: estas pedras segredam ao geólogo episódios milenares.«As rochas contam a história da Terra», sublinha, mas fi ca claro que ninguém a compreenderá se não tiver a humildade de uma formiga diante de um carvalho centenário. O tempo geológico é uma saborosa gargalhada cósmica face ao período da vida humana e os ciclos geológicos desfazem e refazem os grandes continentes sempre que necessário.Mas... que acontece aqui? Enquanto um corvo-marinho passa no céu, indiferente, Narciso Ferreira explica: «Os granitos desta região resultaram de magmas

que se instalaram na crusta terrestre há cerca de 300 milhões de anos. Os magmas instalaram-se, arrefeceram e cristalizaram ainda debaixo do solo a alguns quilómetros de profundidade». Sob o efeito da erosão as rochas à superfície vão sendo desgastadas, fazendo com que, «por equilíbro isostático, os níveis mais profundos da crusta ascendam gradualmente à superfície, até equilibrar. O processo é semelhante ao de um barco a descarregar. Conforme se vai retirando a carga o barco vai subindo». Tal processo «demora milhões de anos, mas põe a nu rochas que estavam a 5 km de profundidade — é o que estamos a ver», conclui.Junto à praia, os afl oramentos lavados pelo mar mostram a rocha praticamente fresca de onde ressaltam as características mais específi cas que permitem «a sua identifi cação com outros granitos do mesmo tipo que ocorrem noutros locais do país, a ponto de ser possível dar-lhes uma identidade. Podemos

dizer que têm um certo ar de família». Aliás, completa o geólogo, «granitos semelhantes aos de Lavadores estão cartografados e representados nas cartas geológicas de outras regiões, como o granito do Gerês e o granito de Vila Pouca de Aguiar, sendo esse explorado em grandes pedreiras e depois utilizado nas mais variadas aplicações, podendo até ser identifi cado facilmente nos tampos das bancadas de cozinha». Observando os mapas geológicos da região

Narciso Ferreira, geólogo – nos dois metros quadrados da superfície

O património natural vai além da esfera dos seres

vivos e estende-se ao mundo das rochas:

Narciso Ferreira, geólogo, explica a importância

dos granitos da praia de Lavadores

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Granite of the Lavadores BeachGeologist, Narciso Ferreira, says that in Canidelo, “On the Lavadores Beach, there is a granite outcrop that is included on a list of geo-sites of National importance”. This geo-site is used by groups of students from various levels of education and for the continuing training of Teachers. These rocks have different types of land forms of great interest.

de sair da garantia de rigor da linguagem do ofício, científi ca, para traduzir numa fala acessível a face, para nós impercetível, destes granitos.As formas arredondadas destas rochas fazem sentir que caminhamos como anões em cima de almofadas gigantes. Cuidado para não resvalar! «De notar algo curioso», salienta, «o granito tem um aspeto muito próprio: chamamos a isto um granito porfi róide. Tem uma granularidade grosseira constituída por minerais do mesmo tamanho a que chamamos “matriz” de que se destacam grandes cristais de feldspato – são estes cristais aqui, grandes», indica. «Há muitos...».As fotografi as precipitam-se, surge um alerta, sábio: «Tem de se pôr uma escala!». Vale para isso o euro, que já não serve só para pagar o café.Dois passos adiante e uma risca rosada, talvez de cinco centímetros de espessura, intromete-se, horizontal, no bojo da rocha: é um fi lão de aplito. «E olhem isto! Que engraçado, estes riscos — são uma espécie de bandado. Há minerais que se concentram aqui», assinala o geólogo. A média distância, para sul, a praia está pejada de bolas de granito e de rochas arredondadas, como os penedos das serras.Ainda que tolhida por uma constipação ferina,

«temos uma visão mais alargada da área de ocorrência deste granito e verifi camos que esta começa a norte aqui no Cabedelo e que se prolonga para sudeste, por 27 km até Caldas de S. Jorge, numa faixa de 2 a 3 km de largura. O pequeno afl oramento do castelo do Queijo parece corresponder a este tipo de granito. O estranho modo de ocorrência deste granito, em forma de uma estreita “tira”, explica-se pelo facto de este se ter instalado na zona de contacto entre duas grandes

unidades paleogeográfi cas: a zona Centro-ibérica situada a nordeste e a zona de Ossa-morena a sudoeste».

Variedade mineralógicaA maré vai baixa ao início desta tarde de janeiro e a rocha parece inabalável. Há algumas poças com água. Quem sabe se não foi ali deixada pela maré alta? Narciso Ferreira é técnico do Laboratório Nacional de Energia e Geologia (LNEG) e teve

erfície deste bloco há milhentas histórias escritas no granito: «Aqui está uma zona de contacto entre duas litologias»

Praia de Lavadores, Canidelo

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40 ENTREVISTA

a voz do geólogo comanda, apaixonada pelo assunto: «Vamos ver geomorfologia granítica!». Na superfície da rocha uma pequena “pia” cheia de água apresenta-se numa forma redonda quase perfeita.Mais perto da rebentação das ondas há uma sucessão de marmitas litorais. Ao lado, para oeste, um bloco pedunculado ergue-se, qual sentinela perante as ondas. No vão do maciço granítico, alisado pela água, uma planta que não conheço enraíza-se. O que será? Um registo de imagem: mais tarde um amigo botânico elucida, matemático – «É funcho-marítimo, Crithmum maritimum».Passo a passo deambula-se agora entre o caos de blocos. A areia embalada pelo vaivém marinho toma lugar sob os nossos pés e realça as formas esféricas deste granito de Lavadores, umas maiores que um homem, outras menores.Um magnífi co tor granítico destaca-se pelo seu tamanho e pela cor alaranjada dada pelo sol do fi m da tarde. Serve de pouso a gaivotas

que observam curiosas os intrusos que se aproximam.

Geossítio de valorNarciso Ferreira publicou vários trabalhos sobre a origem de magmas graníticos, e dos processos de interação de magmas que os originaram, sobretudo dos granitos da zona Norte e Centro do país. Não é por acaso que agora afi rma: «Este afl oramento granítico da praia de Lavadores está incluído numa lista de geossítios de importância nacional».Foi objeto de caracterização, avaliação e classifi cação, «tal como um conjunto de outros geossítios de grande importância nacional como as pedras-parideiras em Arouca, ou as pegadas de dinossauros do Cabo Mondego. Este geossítio destaca-se pelo seu valor científi co, turístico, económico, didático, sendo muito utilizado por grupos de alunos de vários graus de ensino e na formação contínua de professores».

Num dos congressos nacionais de geologia, o de 2010, a GEOTIC – Sociedade Geológica de Portugal afi rmou que «a existência de um inventário nacional de património geológico é fundamental para se poderem implementar estratégias de geoconservação». Está em curso um trabalho «que representa o mais completo inventário de geossítios realizado até ao momento em Portugal». Este inventário «irá integrar o Sistema de Informação do Património Natural e o Cadastro Nacional dos Valores Naturais Classifi cados, ambos geridos pelo Instituto de Conservação da Natureza e da Biodiversidade».

Os grandes cristais de feldspato rosado contêm com frequência inclusões de pequenos cristais de biotite

Filão aplítico: «Normalmente são mais tardios em relação ao granito — ocorrem nas fi ssuras que se vão formando com a cristalização do magma granítico; os fl uidos graníticos tardios ricos em quartzo e feldspato vão preencher essas fi ssuras e formam os fi lões»

Enxame de cristais de feldspato associados a zonas de concentração de biotite

Bloco pedunculado: a base incorpora o bloco central do maciço granítico de Lavadores

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A palavra mete respeito: geoconservação. E o património também. Refere Narciso Ferreira que, ali, um painel interpretativo faria sentido. Poderia assim quem passeia próximo compreender melhor o que vê: «Este geossítio demonstra bem – até pela diversidade que vimos – o que é o granito de Lavadores nos seus diferentes aspetos». Assinala: «Se formos para o Senhor da Pedra há um afl oramento geológico com características muito diferentes. O concelho de Vila Nova de Gaia reúne um bom conjunto de locais de interesse geológico que tem vindo a ser inventariado e caracterizado por

grupos de trabalho das áreas da geologia e de geomorfologia. Consideram-se locais de interesse geológico ou geossítios os locais onde ocorrem exemplos notáveis da geodiversidade de uma região que evidenciam importância científi ca, pedagógica, turística ou outra». O geólogo abre melhor a ideia e especifi ca: «Os afl oramentos geológicos junto às praias e aos leitos dos rios são zonas favoráveis para a observação da geologia porque têm uma boa exposição, estão lavados, e são domínio público. Também uma antiga pedreira pode constituir bom local para observação de determinado tipo de rocha, seja ele calcário, granito, gnaisse, arenito...». Estes locais «só depois de devidamente caracterizados e avaliados poderão ser considerados como geossítios. Uma primeira fase de inventariação de geossítios deve, no entanto, estar enquadrada numa estratégia de geoconservação, em que se pretende sistematizar as diversas iniciativas levadas a

cabo numa dada área com vista à conservação e gestão do património geológico», acrescenta.Um pilrito pousa a poucos metros da espuma das ondas, onde já há gaivotas a fazerem contas ao seu dia. O sol descai no horizonte. Narciso Ferreira sublinha que «os geossítos servem de testemunhos da história da Terra» e exclama: «Isto é um local cinco estrelas»!Caminhamos na areia entre os últimos blocos do maciço granítico. Aparece uma pedra diferente: um pequeno rochedo de riscas onduladas, um gnaisse, rocha metamórfi ca, que evoca uma história distinta.A alguns metros, emerge agora da areia um “ovo” gigante, perfeito, polido pelas marés. Parece desenhado por alguém com pendor artístico. O geólogo não resiste: «Olhem para as diferentes estruturas da rocha e dos encraves que contém... que espetáculo!».

Texto Jorge GomesFotos João L. Teixeira

Na superfície polida deste granito há encraves microgranulares espalhados entre coloridos cristais de feldspato

As bolas emergentes são os núcleos graníticos que resistiram à alteração química

Sucessão de marmitas litorais: as cavidades estão associadas a microfi ssuras que favorecem a alteração do granito. A energia das ondas escava as zonas mais alteradas que coalescem pela fratura que as originou

Pegmatitos: os minerais dos pegmatitos para cristalizarem terão necessitado da presença de alguns fl uidos na cavidade em que se desenvolveram

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Contos da Terra Parque Paleozóico

O sol da manhã fi cou para trás. Além do portão de segurança, a furna abre o xisto e mergulha nas entranhas da serra de Santa Justa.

Escavada há dois milénios por mão escrava, a mina quer respeito. A humidade repousa na rocha cortada em degraus de onde saiu ouro a ombros, para júbilo de césar. O capacete protege a cabeça e, assim que o breu domina, as lanternas revelam com timidez a mesma atmosfera que outros ali sentiram no século I d. C., suados, sob ameaça de açoite. Vamos no encalço de Helena Couto, geóloga e professora da Faculdade de Ciências da Universidade do Porto, que nos fala sobre esta mina romana conhecida por fojo das Pombas.Em tempos elaborou uma tese que juntou muitas das minas que o império romano explorou na região. Será por isso que afi rma: «Não estamos num

local qualquer. Este complexo mineiro romano é único no mundo». Com uma profundidade que ultrapassa os 40 metros, há registo de, quando desentulhado o fojo, se terem encontrado peças de valor. Na lista lê-se, por exemplo, uma lucerna e cerâmicas, peças especiais para os arqueólogos.Vê-se agora à direita um entalhe oval na parede de xisto: seria ali que o verdugo se sentava a controlar a passagem dos escravos? Com frequência, aparecem pequenas cavidades no túnel, onde encaixariam lucernas, artigos banais na época, no que toca a alumiar. O labor aurífero requeria efi ciência, ampliada por caleiras ao nível do chão, que drenavam escorrências.Lá fora, na superfície da serra, há buracos que se abrem, traiçoeiros, entre as urzes e a carqueja que agora estarão a botar fl or numa

Musgo do género Fissidens, no complexo mineiro do fojo das Pombas (à esquerda); fetos arbóreos (à direita)

O rio Ferreira cavou um vale entre os quartzitos das serras de Pias e Santa Justa Serra de Santa Justa, fojo das Pombas: “O ouro estava aqui, retiraram a parte mais importante e isto acabou por fi car”

O Parque Paleozóico

de Valongo existe desde

1998 e contempla

os visitantes com vários

percursos: no seu cerne,

reúne vestígios que têm

muito para revelar sobre

a história da vida na Terra

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Parques e Vida Selvagem Parques e Vida Selvagem inverno 2011-2012 • inverno 2011-2012 • 4343

Interior do complexo mineiro romano do fojo das Pombas

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44 REPORTAGEM

cavaqueira de tons lilases e amarelos. Alguns deles são bem fundos: «A maior parte dos fi lões eram verticais», diz Helena Couto, «mas entre esses buracos também há os que serviam de respiradouro das minas», até porque «o ar é um elemento crucial nestes sítios».O ditado devagar que tenho pressa aplica-se aqui, quando a vista se esgota no foco das lanternas.Súbito, adiante há luz natural. Estamos ao nível de fetos arbóreos, naturalizados, que se abrem como parabólicas, num chão vertical. Para cima, o grande poço desemboca ao ar livre, para baixo parece sem fundo. A vegetação inventa nichos e toma conta deles. Quase a tocar a cabeça, há um musgo* para nós invulgar, vestido agora de sol com meia dúzia de raios caídos da nesga de céu azul. A voz da geóloga volta-se para a textura da parede da mina: «O ouro retirava-se dos fi lões de quartzo». Helena Couto explica que numa das colisões de continentes do passado da Terra «criaram-se falhas e fraturas no interior das rochas», o que rasgou canais onde circularam «fl uidos que remobilizaram os metais e outros elementos existentes, com destaque para o ouro». Nas partes mais estreitas do complexo mineiro cabia um homem com um

cesto à cabeça, como convinha, mas a largura impunha, ali, a passagem de um indivíduo só. Enquanto se retoma outro fi lão escavado, com a lanterna apontada à parede, há gotículas mínimas de água que se condensa por cima de pequenos espaços: «Às vezes os visitantes perguntam se isto é ouro». Será?«Não! São líquenes que, com a água, brilham assim». Querem viver ali.Estas minas abandonadas são hoje duplamente favoráveis à biodiversidade. Por um lado agregam novos habitats, por outro permitem que várias espécies se excluam da incineração de frequentes incêndios e da introdução de exóticas que, como se sabe, reduzem drasticamente a diversidade da vida.

AnticlinalNas rochas destas serras, em plena Área Metropolitana do Porto, abundam vestígios de outra era, esta ainda mais antiga, que dominava muito antes da nossa espécie surgir. Entre geólogos, falar do anticlinal de Valongo é tão vulgar como adeptos da bola falarem dos seus clubes entre si, mas quem não domina a especialidade vai no mínimo estranhar. Explicada a designação, desenha-se uma referência ao efeito das forças que decompõem

e recompõem continentes e montanhas, reconfi gurando oceanos, ao longo da história do planeta Terra. Estaremos aqui no cerne de uma dobra da superfície do Globo a que se sucedeu depois uma inversão de relevo, que fez com que estratos de rochas mais antigas – antes a maior profundidade – fi cassem hoje por cima de outras, mais recentes.O vale do rio Ferreira é uma das áreas que melhor revelam os vestígios de onde emergem essas conclusões, após se impor, lentamente, entre a serra de Pias e a de Santa Justa. Os seres mais mediáticos são as trilobites. Lembram os bichos-de-conta atuais, mas eram aquáticas. Não há dúvida que viviam nos oceanos do Ordovícico: «Esta região esteve coberta por mar, desde há pelo menos cerca de 540 milhões de anos até há cerca de 390 milhões de anos», adianta Helena Couto.«São bons fósseis de idade», comenta e elucida que as trilobites ao serem encontradas facilitam a datação. Estes artrópodes tiveram uma vasta distribuição, dando-se a sua «extinção no fi nal do Paleozóico», antes de surgirem os primeiros dinossauros. As trilobites tinham entre três e dez centímetros,

Esta dobra evoca forças tectónicas de compressão lateral Nesta rocha há seixos, vindos de uma praia de outras eras

Fóssil de trilobite

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em média, mas as espécies de maiores dimensões chegavam a atingir meio metro. Há outros organismos marinhos destes mares antigos, com destaque para os graptólitos, também eles bons fósseis de idade.

PercursosO Parque Paleozóico enquadra três percursos numa área que é delimitada a norte pela cidade de Valongo, incluindo a serra de Santa Justa e uma parte da serra de Pias, com o rio Ferreira a passar entre ambas.Para visitar o parque dispõe de três entradas. A mais fácil passa por procurar a estrada nacional n.º 15 que liga Valongo a Campo. A dada altura tem de procurar a direção da aldeia de Couce.

Encontra sinalizadores para dois dos trilhos.Pode visitá-lo indo pela estrada nacional n.º 209 (Valongo-São Pedro da Cova). O sinalizador da entrada do parque está à saída de Valongo no entroncamento com a rua de Santa Helena. O centro interpretativo do Parque Paleozóico situa-se neste local. Este Parque foi criado através de uma parceria entre o Município de Valongo e a Faculdade de Ciências da Universidade do Porto. É sempre bom visitar.

* Musgos do género Fissidens.

Texto Jorge GomesFotos João L. Teixeira

Estas marcas de ondulação “em quartzitos do Ordovício inferior sugerem a presença de praias”

Há três percursos sinalizados no parque paleozóico

Centro de Interpretação Ambiental

Rua de Santa Helena4440-592 Valongo

Telemóvel 932292306

HorárioSob marcação; informe-se através do telemóvel ou no Posto de [email protected]

www.paleozoicovalongo.com

Palaeozoic ParkThe Valongo Palaeozoic Park was created, because of its signifi cant geological value, with the support of the Municipality of Valongo and the Faculty of Sciences of the University of Porto who together conserved this vulnerable and important heritage. Here, a part of the Earths’ history, representing at least 250 million years of the Palaeozoic Era, may be observed in the confi nes of the Park. The Visitor can see here a wide range of geodiversity in a comparatively restricted area.

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Num dia bom, as Berlengas estarão à vista a partir de algum promontório não

longe de Peniche – esta área protegida compreende um total de 9560 hectares

e reúne um património natural relevante centrado nos ecossistemas insulares

Se para quem visita as Berlengas o dia de sol e a brisa marinha fazem a delícia de um percurso ao ar livre, entre geólogos, este arquipélago é

visto como um verdadeiro monumento.Nas rochas há registos importantes da história da Terra e da formação dos continentes e oceanos. Com rochedos de perfi l irregular, as suas ilhas fazem-se de escarpas envolvidas pelo manto azul do oceano Atlântico.Este arquipélago reúne a Berlenga

propriamente dita, as Estelas e os Farilhões.Quem ali vai não vê senão uma área mínima, já que esta reserva natural está sobretudo debaixo do mar: conta concretamente 9456 hectares submersos.É nesse patamar que as formações rochosas dão a mão a esta parte da biodiversidade: «Dos habitats presentes merecem especial distinção os recifes de origem rochosa, bem como as grutas marinhas submersas ou semi-submersas».

Vivem aí comunidades vegetais e animais «em apreciável estado de conservação».Mais acima, emersas, as falésias costeiras fazem-se de rochedos graníticos litorais e abrigam alguma vegetação típica desses habitats, favorecida pela passagem das aves do litoral que ali se abrigam e nidifi cam por altura da primavera, aproveitando a ementa oceânica ali ao pé.Se há aves migradoras que apenas fazem escala nas Berlengas, outras observam-se

46 REPORTAGEM

Reserva Natural das

Berlengas

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Berlengas Nature Reserve The Berlengas Nature Reserve covers a surface area of 9560 hectares overall, of which only 104 hectares are land; almost 99% being the sea around the islands. Seabirds are the dominant vertebrates ashore, and many thousands of them breed in this area. The species diversity is considerable and results from contrasting climatic infl uences. Offshore and well into the realm of the ocean 9 km to the NW of Cape Carvoeiro, close to the Fishing Town of Peniche, this Nature Reserve includes all the island groups that make up the Berlengas Archipelago.

com regularidade, revelando «populações nidifi cantes estáveis. Por exemplo, a pardela-de-bico-amarelo, Calonectris diomedea, apenas ali permanece durante o período de nidifi cação, enquanto o corvo-marinho-de-crista, Phalacrocorax aristotelis, está presente todo o ano».Os visitantes das Berlengas chegam ali saindo de barco de Peniche. Ao dar o gosto ao pé, salientam-se dois percursos nesta área protegida.

Um é o trilho da Berlenga. Demora cerca de uma hora e faz-se ao longo de um quilómetro. O ponto de partida e de chegada é o Forte de S. João Baptista. Tem como pontos principais de interesse o próprio forte, o planalto do Farol e a Cova do Som.O trilho da Ilha Velha tem a mesma extensão, mas é circular. Começa no Bairro dos Pescadores. Os seus pontos de maior destaque são, entre outros, a Pedra Negra e o carreiro dos Cações.

A melhor época de visita vai de maio a setembro e há de saber que o acesso à ilha está condicionado por lei: 350 visitantes/dia. Esta reserva natural integra a rede de Reservas da Biosfera que conta cerca de 580 sítios espalhados por 140 países, sendo meia dúzia deles portugueses.

Texto Jorge GomesFotos João Luís TeixeiraFonte www.icnb.pt

Os percursos terrestres mostram uma parte mínima das Berlengas mas são uma oportunidade a não perder

Os golfi nhos são uma presença habitual nesta reserva natural

Bando de pardelas-de-bico-amarelo no arquipélago

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Avenida Mariano Calado, 572520-224 PenicheTel: (351) 262787910 Fax: (351) 262787930

Horário 9h00 - 12h30 / 14h00 - 17h30 Delegação na ilhaCasa Varella Cid, Bairro dos PescadoresTel: (351) 262750405

Site: www.icnb.pt

48 REPORTAGEM

Pardela-sombria no arquipélago das Berlengas

Armérias no dealbar do outono

Borboletas migradoras: duas almirante-vermelho

Berlenga

Furado

Pequeno

Ilha Velha

Forte de S. João Batista

Farol

Bairro dos Pescadores

Buzinas

Reserva Natural das Berlengas

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Estes compostos são usados no dia a dia nas sociedades modernas, sendo a taxa de (bio)degradação no meio aquático superada pela sua contínua introdução no meio ambiente. Este grupo de poluentes engloba uma gama alargada de substâncias que vão desde fármacos, fragrâncias, produtos de higiene pessoal, detergentes, pesticidas, toxinas das algas, etc., numa lista cada vez mais extensa. Alguns destes poluentes não são novos, mas apenas os avanços recentes da ciência têm permitido revelar a sua identidade e os seus efeitos.Apesar dos poluentes emergentes não estarem atualmente abrangidos por programas de monitorização a nível europeu, antevê-se a sua regulamentação num futuro próximo. Tem sido dada particular atenção ao grupo dos compostos farmacêuticos devido aos efeitos adversos confi rmados, como sejam o desenvolvimento de resistências em micro-organismos patogénicos pondo em risco a saúde humana (provocado por antibióticos e antivirais), a interferência com a reprodução, fi siologia e crescimento de espécies aquáticas (provocada pelos desreguladores endócrinos: esteróides, hormonas, etc.).O aumento da suscetibilidade às doenças e a difi culdade na reprodução das espécies selvagens constitui uma ameaça grave à

manutenção do equilíbrio ecológico. O uso descontrolado de antibióticos na terapêutica e a insufi ciência dos processos usados nas estações de tratamento de águas residuais, inadequados para a degradação completa destes micropoluentes, afi guram-se os principais responsáveis por este cenário.O Centro de Investigação de Poluentes Emergentes, co-fi nanciado pelo QREN ON.2, e cujos objetivos já foram mencionados, iniciou o estudo nos rios Leça e Douro, tendo-se verifi cado neste último o aparecimento de níveis mais baixos de contaminação por compostos farmacêuticos. No rio Leça foram quantifi cados diversos fármacos, entre os quais antibióticos, anti-hipertensores, diuréticos, etc. com um aumento notório nas zonas mais povoadas.Mesmo quando os níveis de contaminação possam parecer baixos convirá não desprezar os seus possíveis efeitos crónicos, resultando em efeitos nefastos e imprevisíveis a longo prazo, quer para o meio ambiente quer para o Homem.

Por Maria de Fátima Alpendurada, presidente da Direção do IAREN

(*) Com fi nanciamento pelo programa QREN ON.2

(referência NORTE-07-0162-FEDER-000022)

Poluentes emergentesCom vista a dotar a região

Norte de tecnologia

avançada para preencher

uma lacuna no nosso país

– o estudo dos poluentes

emergentes – o IAREN

– Instituto da Água

da Região Norte criou

em 2010, o CIPE

– Centro de Investigação

de Poluentes Emergentes*

Rio Douro João L. Teixeira

PESQUISA 49

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50 RETRATOS NATURAIS

Na realidade este é talvez um dos grupos de invertebrados com maior sucesso evolutivo. Por esta razão, alguns cientistas não se coíbem de avançar com uma estimativa surpreendente: existem mais de 9 milhões de espécies diferentes, distribuídos por quase todos os ecossistemas terrestres (alguns mesmo nos oceanos). A realidade é que já estão catalogadas mais de 1 milhão de espécies, de entre os quais os himenópteros (formigas, abelhas e vespas), os dípteros (moscas e mosquitos) e os lepidópteros (borboletas) ultrapassando largamente a centena de milhar de espécies. Mas são os coleópteros (escaravelhos) os recordistas, com cerca de 350 000 espécies descritas. Constituem assim um grupo de seres vivos extremamente diversifi cado e numeroso, que em qualquer lugar e a qualquer momento nos pode servir de modelo para explorarmos a nossa capacidade de observação e representação através do desenho. Ambas as ações se potenciam uma à outra: desenhar com método é saber observar e observar constitui o método e a ordem para melhor desenhar.

Vamos desenhar... um grilo

A ilustração destes artrópodes de 6 patas articuladas, dotados de forte exoesqueleto, representa um exercício interessante e uma abordagem a um novo mundo de formas, volumes e texturas — de tal forma, que é dos poucos campos de ilustração científi ca de invertebrados a possuir designação própria: Ilustração Entomológica.O exoesqueleto quitinoso ganha cores, padrões, texturas e ornamentações absolutamente extasiantes. Quando de superfície lisa e lustrosa refl ete com intensidade a luz incidente, espelhando também os objetos em seu redor e obrigando assim o ilustrador não só a ter que desenhar o próprio animal, como também as imagens especulares refl etidas nas suas estruturas. Se a este cenário de complexidade ainda adicionarmos cerdas e pelos (distribuídos geralmente pelos

O grilo-do-campo (Gryllus campestris) e a aranha-lobo (Lycosa tarentulla)Se olharmos para o lado,

vêmo-los. Se olharmos

para cima, sobrevoam-

-nos. Se escavarmos,

encontramo-los.

Se mergulharmos,

fazemos-lhes companhia.

Se sentirmos comichão

provavelmente algum

passeia pelo nosso corpo.

Na realidade, os insetos

estão por todo o lado

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3 segmentos corporais, ou tagmas; na cabeça e abdómen, mas em maior numero no tórax), então estamos perante um autêntico pesadelo da fi guração. O grupo dos pterigotas ou insetos alados, ao apresentar ainda as asas (um par ou dois bem desenvolvidos, ou um ou ambos atrofi ados/transformados, localizados no segundo e terceiro segmentos toráxicos), vem ainda adensar a perspetiva anterior.Se considerarmos o seu ciclo de vida, estes seres passam por interessantes epopéias de desenvolvimento, desde que eclodem dos ovos. Os jovens insetos para poderem crescer, passam por mudas sucessivas do seu rígido exoesqueleto: uns sofrem processos de metamorfose incompletas, e as ninfas são adultos em ponto pequeno; outros sofrem metamorfoses completas e complexas (como as borboletas, que passam pelos estádios de larva, ou lagarta e pupa, por vezes encerrada em casulo/crisálida). Assim, e numa única espécie, podemos observar várias materializações diferentes para o mesmo indivíduo – constituindo, cada uma delas, uma descoberta apaixonante. Apesar desta evidente complexidade não há motivo para desesperos, mas pelo contrário, deve servir de motivação para encetar uma maior dedicação.O nosso “amigo” grilo (macho, o único que “canta”, para atrair a fêmea), que a nós desde petizes nos encanta com o seu ruído primaveril característico (resultante do atrito das “asas”, ou élitros, a roçar uma na outra) será, pela sua vulgaridade, a porta de entrada no domínio deste campo da ilustração científi ca. Raras são as pessoas que nunca viram este simpático animal, seja no sentido fi gurado (o célebre Grilo Falante, alegoria da “consciência” e que deu origem a uma das mais famosas duplas do cinema animado, com o Pinóquio) ou na natureza. É, de facto, um dos poucos insetos que é mantido como animal de estimação (em gaiolas que fazem lembrar as dos pássaros, esses sim verdadeiros cantores pois

vocalizam) e são assim criados, ou mantidos, em cativeiro numa tradição verdadeiramente milenar, na Europa ocidental. Noutros locais do mundo constituem uma fonte alimentar rica em proteína, quer para dieta humana, quer como alimento de outros animais também de estimação (como os camaleões, por ex.).Em desenho científi co, a anatomia externa dos insetos representa-se geralmente segundo 2 normas ou vistas — lateral e dorsal (raramente ventral). Esta prática permite ao observador visualizar e interpretar com facilidade os padrões, as ornamentações e as restantes características que contribuirão para a correta diagnose e identifi cação da espécie. Por vezes torna-se necessário representar as peças que constituem a armadura bucal e a genitália, em desenhos complementares e de pormenor.Os insetos diferenciam-se de outros invertebrados terrestres de simetria bilateral, como as aranhas (aracnídeos), pelo facto de possuírem o plano corporal bastante segmentado: cabeça individualizada e articulada no tórax (composto por 3 segmentos, onde se inserem os 3 pares de patas, inferiormente, e eventualmente os dois pares de asas, superiormente; um por segmento), que por sua vez se liga ao abdômen (dividido em 11 segmentos). O grilo, não é pois diferente. Como tem uma forma sui generis e muito característica (onde sobressai a enorme cabeça e olhos) e sendo o grilo-do-campo uma espécie diurna com hábitos subterrâneos, estamos habituados a vê-los e identifi cá-los vistos de cima – ou seja, por defeito está escolhida a vista dorsal; outros ortópteros, com os gafanhotos representa-se preferencialmente em vista lateral, por causa das enormes e distintivas patas posteriores). Por outro lado, representando um adulto, com pequenas alterações, representaremos também as suas ninfas, gerindo apenas a redução da escala em que é visualizado. Como nos grilos, existe dimorfi smo sexual pode ser necessário

representar não só macho, como também a fêmea (com o seu longo órgão ovipositor no termino do abdômen).Assim, num desenho preliminar, teremos que dar especial atenção aos três planos corporais, um dos quais (abdómen) estará mascarado pelos élitros (asa rígidas, não membranosas, também presentes, por ex., nos coleópteros). As patas, apesar de articularem no tórax, seguem uma orientação espacial por forma a distribuírem e sustentarem de forma equilibrada o peso corporal. Nesta vista, apenas visualizaremos o fêmur, a tíbia, os tarsos e as unhas de cada pata (a coxa fi ca já debaixo do tórax). Na cabeça teremos apenas que representar as duas antenas (a armadura bucal está oculta).A escolha da vista é pois um passo decisivo na representação, não só por poder induzir familiaridade (facilitar a identidade e a identifi cação), como também por poder facilitar o trabalho ao ilustrador. Uma vez satisfeitos com o desenho de linhas que nos permitirá avançar para a cor, temos que ter em conta que mesmo exibindo uma tonalidade bastante escura (com exceção dos élitros), este negro-sépia constrói-se por sucessiva saturação (concentração) dos pigmentos. Assim, nas zonas identifi cadas como muito escuras iremos tonalizar de base com cinzentos (ou negro diluído) azulados, nos élitros com amarelos torrados e nos fêmures posteriores com laranja-acastanhado, antes de saturar. As zonas de brilho podem reservar-se (guardar o branco do papel), ou construir-se por adição de cores claras opacas (gouaches). Continuem a pintar e que um grilo pouse em vocês — acontecimento que na China, augura muita sorte...

Texto e ilustrações Fernando CorreiaBiólogo e Ilustrador científi coDep. Biologia, Universidade de [email protected] www.efecorreia-artstudio.com

Fases sucessivas para a tonalização de um grilo (macho) : 1. estudo de contorno;2-3. tonalização; 4. arte-fi nal

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Novos hóspedes para o jardim

Invernos mais curtos e verões mais longos estarão a infl uenciar os hábitos anuais dos morcegos. Mamíferos de características singulares,

não só conquistaram o talento de voar como dispõem de perceções fantásticas baseadas na eco-localização por ultra-sons. Agora que o tempo frio quer ir embora, estes personagens da vida selvagem estarão a aparecer como novos hóspedes do seu jardim.É normal vê-los a partir do sol-posto, num bater de asas típico.Lembra até uma pequena ave, mas se observar melhor verá que o batimento, mais lento, tem um ritmo diferente e volteiam muitas mais vezes no ar, sempre que um inseto noturno se apercebe da aproximação do predador e se deixa cair ou altera a rota subitamente.Os morcegos não são decerto ratos com asas, seja pelo ângulo da anatomia, seja pelo da

dieta, seja pelo dos sentidos que possuem.Entre as espécies mais adaptadas aos ambientes urbanos, destaca-se o morcego-anão, Pipistrellus pipistrellus. Durante o dia abriga-se em sótãos, onde penetra por pequenas fendas, ou esconde-se no forro dos telhados, e recria assim os abrigos dos seus antepassados mais remotos, que eram as grutas naturais e os buracos das árvores velhas.Hoje em dia, aproveita de noite a atração que a luz artifi cial provoca em moscas, mosquitos, escaravelhos, borboletas noturnas e afi ns para capturar as suas presas naturais. Outras espécies são comensais habituais desse detalhe da paisagem noturna criado pelo ser humano. É o caso do morcego-de-kuhl, Pipistrellus kuhli, também frequente em todo este nosso país.Juntam-se a esta espécie o morcego-hortelão, Eptesicus serotinus, ou o morcego-de-peluche,

Miniopterus schreibersii, ou o morcego-orelhudo-cinzento, Plecotus austriacus.Dando-se o caso de viver junto de um rio ou de um lago poderá ver por vezes a pescar o morcego-de-água, Myotis daubentonii, um autêntico pescador que agarra as presas na superfície com as garras das patas traseiras.

AbrigoSe os apreciar e se quiser juntar-se à campanha mundial que as Nações Unidas promovem a favor da conservação das espécies atuais de morcegos, pode construir e aplicar algumas caixas-abrigo próprias para morcegos no seu quintal.Não são só as aves que sentem falta das velhas fl orestas onde as árvores mais antigas ofereciam buracos e fendas para fazerem ninhos: também os morcegos necessitam deles para se abrigarem quando o sol nasce e

Assim que desibernam, os morcegos têm de se alimentar de insetos que apanham

em voo, afi nal, há que repor as energias gastas numa pausa cada vez mais curta...

Morcego-de-ferradura género Rhinolophus Morcego-orelhudo, género Plecotus

O Ano do Morcego2011-2012

52 QUINTEIRO

52 • Parques e Vida Selvagem inverno 2011-2012

Morcego-de-água, género Myotis

Morcego-hortelão, género Eptesicus

Morcego-anão, género PipistrellusMorcego-arborícola, género Nyctalus

João L. Teixeira João L. Teixeira Wikipedia/MNolf

Wikipedia/MNolf Wikipedia/MNolf Wikipedia/MNolf

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descansarem, antes que o seu turno comece uma dúzia de horas depois.Há vários tipos de caixas-abrigo que pode construir mas a que lhe apresentamos é o modelo divulgado por uma associação britânica da especialidade, a Bat Conservation Trust. As caixas preferidas pelos morcegos são as que têm melhor isolamento e onde quer a temperatura quer a humidade se mantêm sem grande oscilação. Por isso é de ter cuidado para que na construção as arestas fi quem bem vedadas, o que não levantará problemas, uma vez que esta caixa-abrigo não deve ser aberta para verifi cação.Há várias recomendações a sublinhar, assim que a caixa-abrigo está concluída.A aplicação da mesma deve fi car a cerca de cinco metros do chão. Isso fará com que vândalos humanos ou predadores como os

gatos não os alcancem. Aliás, toda a vida selvagem do seu jardim agradece que não deixe sair o gato de noite, se o tiver.Outro item relevante é este: a lei proíbe a manipulação de morcegos. Faz todo o sentido. Os morcegos podem ser portadores de raiva e, face aos sintomas apresentados por quem a apanha, acredite que não deseja isso nem ao seu pior inimigo. Não jogue nessa lotaria, pois basta um pequeno aranhão para poder ser infetado. Se não manipular morcegos, não vai ter nenhum problema, nem vale a pena ligar o complicador.É por isso que só mediante autorização especial da autoridade competente, geralmente para fi ns científi cos, haja quem os possa manipular, se necessário, dentro da legalidade.Por isso, pegar na caixa-abrigo e espreitar não é atitude: olhe para baixo e veja se há pequenas bolas escuras. Saberá assim que o dispositivo

está a ser utilizado pelos seus novos hóspedes e fará sentido considerar a hipótese de aplicar mais alguns abrigos. Embora possa crer que uma caixa destas destinada a morcegos pintada ou envernizada se tornará mais atrativa, as evidências descrevem o contrário – estes animais são muito sensíveis e isso poderá afastá-los.

PlantasCom este bloco de notas já está a prever: adequar o seu jardim à conservação dos morcegos vai no mesmo sentido da conservação da restante biodiversidade, como as aves selvagens, as borboletas e tudo o resto.Não se admire por isso quando este raciocínio nos traz de novo ao talento peculiar das plantas para enriquecer os ciclos da vida.Os entendidos na matéria sublinham que não é de desprezar o contributo que pode dar com a

Parques e Vida Selvagem inverno 2011-2012 • 53

O sabugueiro fl oresce a partir de março

O medronheiro fl oresce de outubro a fevereiro

olf

olf

O tomilho desabrocha no verão

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54 QUINTEIRO

orientação do seu jardim dentro desta fi losofi a de apreço pela natureza e repescam a linha de força principal: faz sentido perceber que quanto mais próxima for a fl ora escolhida das espécies nativas locais maior reforço está a dar à vida selvagem da sua região, morcegos incluídos.Isso não quer dizer que deve andar a colher espécimes selvagens em redor. Procure plantas afi ns em fornecedor adequado, com fl ores atraentes, arbustos e, se for um jardim maior, árvores.Isso vai permitir que os insetos de que se alimentam aves, morcegos e outra vida selvagem completem os ciclos de vida respetivos no equilíbrio que a vida tem de ter para que não se vá perdendo.

Flores todo o anoJá se sabe que é normal os morcegos hibernarem, pelo que ter fl ores no seu jardim

o ano inteiro poderá não fazer sentido. Mas a verdade é que, dependendo das espécies em causa, o período de hibernação encolhe com as alterações do clima e não será de estranhar que haja morcegos a hibernarem apenas entre novembro e fevereiro.Não será pior jogar pelo seguro e alargar essa preocupação de diversidade às demais fatias dos seres vivos, apoiando assim as complexas fases por que passam ao longo do seu ciclo de vida, estejamos a falar de insetos, aves, anfíbios ou de pequenos répteis e mamíferos. Numa noite amena, se se deliciar a observar os morcegos mais detalhadamente, vai sentir a sua curiosidade a despertar num novo ângulo.

Texto: Jorge Gomes

New GuestsIn order to restore the energy spent during their winter hibernation period, bats feed on the insects they catch while fl ying. Shorter winters and longer summers are also infl uencing the annual habits of bats.

54 • Parques e Vida Selvagem inverno 2011-2012

20

cm

34 cm 40 cm 23 cm 23 cm

15

cm

Vista lateral de uma caixa-abrigo de morcegos que costuma ser aplicado em paredes ou em árvores

Há vários modelos de abrigo de jardim para morcegos

Cobertura

Port

a

Pla

ca t

rase

ira

Placa traseira Cobertura PortaLaterais

pvs_38.indd 54pvs_38.indd 54 12/02/20 18:23:3112/02/20 18:23:31

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Parques e Vida Selvagem inverno 2011-2012 • 55

BIBLIOTECA 55

Desenho etnográfi co

Editada por ocasião da exposição organizada pelo Museu de Etnologia do Instituto de Investigação Científi ca Tropical de Lisboa, patente entre dezembro de 1985 e março de 1986, surge pela mão do seu autor, nascido na cidade do Porto em 1904. Fernando Galhano viveu no Porto e aí trabalhou até à criação do Museu de Etnologia, que dirigiu a convite do seu amigo de juventude Jorge Dias, seu grande companheiro de descobertas, especialmente pelas zonas serranas da raia nortenha, do Gerês ao rio Douro, e do Barroso à Estrela. Fernando Galhano caracteriza-se pelo seu verismo realista muito simples e muito límpido, feito de humildade, amor e conhecimento,

Bateira, Afurada, Vila Nova de Gaia

Por Filipe Vieira

na íntegra pureza de intenções, fi nalidades e meios, e em que transparece um entranhado amor pela natureza. A par da sua colaboração frequente com Jorge Dias, como investigador, Galhano pôs ao serviço da ciência o seu talento de pintor. Os seus desenhos documentam, hoje, o que foi a sua vida, a maneira de estar e de olhar, são ao mesmo tempo um registo ímpar de vários aspectos etnográfi cos da cultura nacional, principalmente a rural, que aos poucos se extingue.“Esta publicação é um instrumento perfeito de construção e de registo etnológico, será também um projecto estético. No limiar da poesia, estes desenhos e pinturas falam-nos da experiência do primeiro olhar e nela podemos rememorar o facto inicial de toda a Etnologia, ou seja, podemos repensá-la desde o seu princípio.” (in prefácio de Pedro Prista).Este volume I e o II, inteiramente dedicado a África, podem ser consultados no centro de documentação/biblioteca do Parque Biológico de Gaia que leva a acabo desde 2008 o projeto “Raízes Bibliográfi cas da História Natural de Portugal”, com o objetivo de reunir publicações antigas sobre história natural de Portugal e das ex-colónias portuguesas, com as quais o Parque Biológico tem protocolos de colaboração. Pode consultar o catálogo das obras já reunidas em www.parquebiologico.pt clicando em Biblioteca.

Esta obra de 1985,

“Desenho Etnográfi co

de Fernando Galhano”,

1.º volume referente

a Portugal, foi editada

pelo Instituto Nacional

de Investigação Científi ca

através do Centro

de Estudos de Etnologia

Engaços do feno, Trás-os-Montes

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56 • Parques e Vida Selvagem inverno 2011-2012

O regulamento encontra-se disponível em www.parquebiologico.pt/sequestrodocarbono

Para aderir a este projecto recorte o seguinte rectângulo e remeta para:

Junto se envia cheque para pagamento

Nome do Mecenas

Recibo emitido à ordem de

1 m2 = € 50 = menos 4 kg/ano de CO2

Telefone

Email

Endereço

N.º de Identifi cação Fiscal

O Parque Biológico pode divulgar o nosso contributo Sim Não

56

Agrupamento de Escolas Ovar Sul - Curso EFA B3

• Agrupamento Vertical de Escolas de Rio Tinto

• Alice Branco e Manuel Silva • Amigos do Zé

d’Adélia • Ana Filipa Afonso Mira • Ana Luis Alves

Sousa • Ana Luis e Pedro Miguel Teixeira Morais •

Ana Miguel Padilha de Oliveira Martins • Ana Paula

Pires • Ana Rita Alves Sousa • Ana Rita Campos,

Fátima Bateiro, Daniel Dias, João Tavares e Cláudia

Neves do 11.º A (2009/10) da Escola Secundária

de Oliveira do Douro • Ana Sofi a Magalhães Rocha

• Ana Teresa, José Pedro e Hugo Manuel Sousa •

António Miguel da Silva Santos • Arnaldo José Reis

Pinto Nunes • Artur Mário Pereira Lemos • Bárbara

Sofi a e Duarte Carvalho Pereira • Bernadete Silveira

• Carolina de Oliveira Figueiredo Martins • Carolina

Sarobe Machado • Carolina Birch • Catarina Parente

• Colaboradores da Costa & Garcia • Cónego Dr.

Francisco C. Zanger • Convidados do Casamento

de Joana Pinto e Pedro Ramos • Cursos EFA

Básicos (2009/10) da Escola Secundária Dr. Joaquim

Gomes Ferreira Alves • Deolinda da Silva Fernandes

Rodrigues • Departamento Administrativo Financeiro

da Optimus Comunicações, SA - DAF DAY 2010 •

Departamento de Ciências Sociais e Humanas da

Escola Secundária de Ermesinde • Departamento

de Matemática e Ciências Experimentais (2009/10)

da Escola Secundária de Oliveira do Douro • Dinah

Ferreira • Dinis Nicola • Dulcineia Alaminos • Eduarda

e Delfi m Brito • Eduarda Silva Giroto • Escola Básica

da Formigosa • Escola Dominical da Igreja Metodista

do Mirante • Escola EB 2,3 de Valadares • Escola EB

2,3 Dr. Manuel Pinto Vasconcelos Projecto Pegada

Rodoviária Segura, Ambiente e Inovação • Escola

EB 2,3 Escultor António Fernandes de Sá • Escola

Secundária Almeida Garrett - Projecto Europeu

Aprender a Viver de Forma Sustentável • Escola

Secundária do Castelo da Maia • Família Carvalho

Araújo • Família Lourenço • Fernando Ribeiro •

Francisco Gonçalves Fernandes • Francisco Saraiva

• Francisco Soares Magalhães • Graça Cardoso

e Pedro Cardoso • Grupo ARES - Turma 12.º B

(2009/10) da Escola Secundária dos Carvalhos •

Grupo Ciência e Saúde no Sec. XXI - Turma 12.º

B (2009/10) da Escola Secundária Dr. Joaquim

Gomes Ferreira Alves • Grupo de EMRC da Escola

Básica D. Pedro IV - Mindelo • Guilherme Moura

Paredes • Hélder, Ângela e João Manuel Cardoso

• Inês, Ricardo e Galileu Padilha • Joana Fernandes

da Silva • Joana Garcia • João Guilherme Stüve •

João Monteiro, Ricardo Tavares, Rita Mendes, Rita

Moreno, e Sofi a Teixeira, da Escola Secundária

Augusto Gomes • Joaquim Pombal e Marisa Alves

• Jorge e Dina Felício • José Afonso e Luís António

Pinto Pereira • José António da Silva Cardoso • José

António Teixeira Gomes • José Carlos Correia Presas

• José Carlos Loureiro • José da Rocha Alves • José,

Fátima e Helena Martins • Lina Sousa, Lucília Sousa

e Fernanda Gonçalves • Luana e Solange Cruz •

Manuel Mesquita • Maria Adriana Macedo Pinhal •

Maria Carlos de Moura Oliveira, Carlos Jaime Quinta

Lopes e Alexandre Oliveira Lopes • Maria de Araújo

Correia de Morais Saraiva • Maria Guilhermina

Guedes Maia da Costa, Rosa Dionísio Guedes da

Costa e Manuel da Costa Dionísio • Maria Helena

Santos Silva e Eduardo Silva • Maria Joaquina

Moura de Oliveira • Maria Manuela Esteves Martins

Alves • Maria Violante Paulinos Rosmaninho Pombo

• Mariana Diales da Rocha • Mário Garcia • Mário

Leal e Tiago Leal • Marisa Soares e Pedro Rocha

• Miguel Moura Paredes • Miguel Parente • Miguel,

Cláudia e André Barbosa • Nuno Topa • Paula Falcão

• Pedro Manuel Lima Ramos • Pedro Miguel Santos

e Paula Sousa • Professores (2010/11) da Escola

Secundária de Oliveira do Douro • Professores e

Funcionários (2009/10) da Escola Secundária de

Oliveira do Douro • Regina Oliveira e Abel Oliveira •

Ricardo Parente • Rita Nicola • Sara Pereira • Sara

Regueiras, Diana Dias, Ana Filipa Silva Ramos do

11.º A (2009/10) da Escola Secundária de Oliveira do

Douro • Serafi m Armando Rodrigues de Oliveira •

Sérgio Fernando Fangueiro • Tiago José Magalhães

Rocha • Turma A do 6.º ano (2010/11) do Colégio

Ellen Key • Turma A do 8.º ano (2008/09) da Escola

EB 2,3 de Argoncilhe • Turma A do 9.º ano (2009/10)

da Escola Secundária de Oliveira do Douro • Turma

A do 11.º ano (2010/11) da Escola Secundária de

Ermesinde • Turma A do 10.º ano e Professores

(2010/11) da Escola Secundária de Oliveira do

Douro • Turma A do 12.º ano (2010/11) da Escola

Secundária de Ermesinde • Turma C do 10.º ano

(2010/11) da Escola Secundária de Ermesinde •

Turma D do 10.º ano e Professores (2010/11) da

Escola Secundária de Oliveira do Douro • Turma

D do 11.º ano (2010/11) da Escola Secundária

de Ermesinde • Turma E do 10.º ano (2008/09)

da Escola Secundária de Ermesinde • Turma E

do 12.º ano (2010/2011) da Escola Secundária

de Ermesinde • Turma G do 12.º ano (2010/11) -

Curso Profi ssional Técnico de Gestão do Ambiente

do Agrupamento de Escolas Rodrigues de Freitas

• Turma IMSI do Curso EFA - ISLA GAIA (2008/09)

• Turmas A e C do 10.º ano (2009/10) da Escola

Secundária de Oliveira do Douro • Turmas A e C do

11.º ano; A e B do 12.º ano e Professores (2010/11)

da Escola Secundária de Oliveira do Douro •Turmas

B e C do 12.º ano - Psicologia B (2009/10) da Escola

Secundária de Oliveira do Douro • Turmas B e D do

11.º ano (2009/10) da Escola Secundária de Oliveira

do Douro • Turmas A, B e G do 12.º ano; G e H

do 11.º ano e F do 10.º ano (2010/11) da Escola

Secundária de Ermesinde • Vânia Rocha

Cada dia que passa há mais empresas e cidadãos a confi arem ao Parque Biológico de Gaia o s

Parque Biológico de Gaia • Projecto Sequestro do Carbono • 4430 681 Avintes • V. N. Gaia

apoiando a aquisição de

Procedeu-se à transferência para NIB 0033 0000 4536 7338 05305

euros.

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Parques e Vida Selvagem inverno 2011-2012 • 57

Para mais informações pode contactar pelo n.º (+351) 227 878 120 ou em [email protected]

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58 • Parques e Vida Selvagem inverno 2011-2012

58 ATUALIDADE

Entre 9 e 13 de novembro o Arouca Geopark organizou um Congresso Internacional de Geoturismo, através da Associação Geoparque Arouca e do respetivo Município. Contando com a participação de investigadores de várias nacionalidades, o certame decorreu no mosteiro de Arouca e «confi gurou-se como um espaço de refl exão sobre as inúmeras questões que se levantam neste âmbito, surgindo numa altura em que a geologia se assume como um segmento emergente do turismo, com notável expansão em todo o mundo».

O programa agrupou conferências e saídas de campo.Correspondendo à área administrativa do concelho de Arouca, o Arouca Geopark é reconhecido pelo seu excecional património geológico de relevância internacional, estando inventariados 41 geossítios (sítios de interesse geológico), com particular destaque para as trilobites gigantes de Canelas, para as pedras parideiras da Castanheira e para os icnofósseisdo vale do Paiva. Desde 2009, integra as redes Europeia e Global de Geoparques sob os auspícios da UNESCO.

O Zoomarine, no Algarve, reabilitou um réptil marinho, uma tartaruga-de-kemp, Lepidochelys kempii, que, neste grupo, é das mais ameaçadas, uma vez que «tem uma distribuição quase exclusiva ao golfo do México; 95% dos espécimes nascem nas praias de uma única região», diz Élio Vicente, diretor de ciência e educação e biólogo marinho.A história é pitoresca. Em 2008 ou 2009 o Johnny terá cruzado o oceano Atlântico, até que deu à costa na Holanda, onde necessitou de cuidados veterinários.Recolhido e reabilitado pelo Zoo de Roterdão, «foi posteriormente enviado para o Zoomarine, a 29 de julho desse ano, com o apoio do Oceanário de Lisboa. Tinha apenas 4,5 kg».Depois de reabilitada, havia que soltar a tartaruga no golfo do México. Em conjunto com a National Oceanic and Atmospheric Administration, com a Florida Fish and Wildlife Conservation Commission, o U.S. Fish and Wildlife Service, o Mote Marine Laboratory, a Força Aérea Norte-Americana, a Força Aérea Portuguesa, a Embaixada Norte-Americana em Portugal, o Instituto da Conservação da Natureza e da Biodiversidade e a TAP-CARGO Portugal, o Zoomarine conseguiu encontrar uma solução: fazer voar num avião da TAP esta tartaruga numa cabina adaptada para o efeito.O voo ocorreu em novembro passado e foi noticiado pelas várias redes televisivas, assunto agora disponível em vídeo na internet.À chegada a Miami, nos EUA, Johnny foi recebido pelas autoridades norte-americanas e por técnicos do Mote Marine Laboratory, cuja equipa reavaliou o seu estado pós-viagem e, em 27 de dezembro, o devolveu ao oceano Pacífi co.

Congresso Internacional de Geoturismo A

Surgiu em Portugal um novo símbolo da nação: a árvore portuguesa.Datada de 22 de dezembro, a qualifi cação foi atribuída ao sobreiro, a árvore da cortiça, por todos os partidos com assento parlamentar.Segundo o Inventário Florestal Nacional de 2005/2006, a fl oresta ocupa mais de 3,45 milhões de hectares. Só o sobreiro é responsável por mais de 716 mil hectares, ou seja, 23% do total nacional e 32% da área

que a espécie ocupa em todo o Mediterrâneo ocidental.Tudo começou com uma petição de 2291 assinaturas lançada por duas associações com vista a acentuar com este estatuto de símbolo nacional o nível de proteção desta árvore nativa do bosque mediterrânico.Note-se que o montado é um bosque que exige intervenção humana mas em harmonia com a conservação da biodiversidade.

Sobreiro: Árvore da Nação

Uma tartaruga chamada Johnny Vasco

As conferências decorreram simultaneamente em dois auditórios no mosteiro de Arouca

As conferências decorreram simultaneamente em dois auditórios no mosteiro de Arouca

DR

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Parques e Vida Selvagem inverno 2011-2012 • 59

A controvérsia irrompe sobre o vírus da pandemia das aves (H5N1) criado pelo homem. Duas equipas de cientistas, trabalhando separadamente, construíram uma estirpe mortal da gripe aviária (H5N1) em laboratório. Cada uma descobriu uma combinação de mutações (cinco, no caso da equipa de Fouchier) que faz com que o H5N1 se transmita pelo ar — o que permite facilmente o contágio entre humanos.

Os críticos dizem que tornar a metodologia ou as sequências de genes disponíveis equivale a dar aos bioterroristas uma receita fácil. Temem também que alguma dessas estirpes possa escapar do laboratório.Alguns dizem que os resultados nunca devem ser publicados, pois podem ser utilizados como arma biológica.

Por Henrique N. Alves

Em 21 de dezembro decorreu uma sementeira em áreas incendiadas no vale do rio Lima no derradeiro estio. Esta iniciativa de recuperação foi coordenada pelo Rotary Clube de Ponte de Lima, em consonância com o Município local. A sementeira efetuou-se por via aérea, em áreas previamente defi nidas. As espécies semeadas, recolhidas ao longo de várias semanas, foram espécies autóctones, folhosas, que conferem «maior diversidade às áreas abrangidas».

Em França, o lobo foi levado quase até à extinção nos idos de 1930. Entretanto protegido, está a fazer o seu regresso.Cerca de 20 alcateias envolvendo duas centenas de lobos estão, segundo notícia da BBC do passado outono, a recolonizar o Sul de França. Os técnicos da área presumem que terão vindo dos Alpes italianos na década de 90 e se estão a deslocar agora para norte, rumo à capital. Estas alcateias não parecerão um grande problema, mas os criadores de ovelhas da região queixam-se de 600 ataques com dois milhares de ovinos mortos, um aumento de 20% face ao ano anterior.Até 2004, ao abrigo de um acordo especial de proteção da espécie, apenas quatro lobos foram abatidos. Jean-François Darmstaedter, secretário-

geral da Ferus, uma associação francesa de proteção do lobo, afi rma que os pastores têm de se esforçar mais na salvaguarda dos seus rebanhos. Os cães de gado são uma das melhores medidas dissuasoras e recorda que «há 8 milhões de cães em França e apenas 200 lobos. É provável que os ataques aos rebanhos seja causado mais por cães assilvestrados do que por lobos». O limite à eventual expansão destes carnívoros serão as fl orestas a sul de Paris, uma vez que a região Oeste e Norte deste país não estão tão bem conservadas que consigam sustentar alcateias.Entretanto, vários itens podem explicar a expansão recente do lobo europeu, sendo um deles o vigor e a adaptabilidade da espécie, outro centra-se no êxodo rural, somando-se a rede crescente de áreas protegidas.

Situada na zona Sul do Arouca Geopark, a serra da Freita é um dos pontos obrigatórios de visita. Aqui situam-se 17 dos 41 geossítios, alguns dos quais correspondem aos pontos geoturísticos mais conhecidos e emblemáticos do Arouca Geopark. O geoturismo é um conceito emergente de turismo, que se encontra em fase de crescimento, apresentando ainda um longo caminho a percorrer no que respeita aos seus atributos e características.

Contágio: o domínio do medo

O regresso do lobo

Semear áreas ardidas

Segundo a BBC, na península Ibérica poderá haver hoje 2 mil lobos, mil na Itália e mil na Polónia, na Alemanha haverá uma dúzia de alcateias, 220 no Sul da Suécia e outros 200 nos Alpes franceses. Na foto, lobo-ibérico.

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60 BLOCO DE NOTAS

Por exibir estes ou outros adereços artifi ciais não signifi ca que uma ave observada no meio natural tenha escapado ao cativeiro.

Pode, tão-só, ter sido capturada em estado selvagem por um técnico que a analisou, marcou e devolveu à liberdade na esperança de voltar a ser encontrada com ou sem vida, revelando-nos, assim, caraterísticas importantes da sua biologia, quais os habitats que procura e ainda a sua proveniência. Chamamos a isto anilhagem científi ca, profícuo método de investigação cujos resultados têm merecido o reconhecimento das nações e dos seus decisores em matéria de ambiente e de conservação da natureza à escala transfronteiriça.Nos períodos migratórios e no inverno afl uem ao nosso país múltiplas espécies oriundas de paragens longínquas. Nestas circunstâncias, podemos dizer que nos encontramos numa região particularmente privilegiada para sermos testemunhas do amplo desenvolvimento na Europa daquele modo de estudo das populações de aves. E na última estação, mais do que nunca e mesmo

entre os mais distraídos, quase não houve no estuário do Cávado quem tivesse fi cado indiferente a esta nova realidade. À medida que os colhereiros (Platalea leucorodia), as andorinhas-do-mar-comuns (Sterna hirundo), os maçaricos-de-bico-direito (Limosa limosa), os íbis-pretos (Plegadis falcinellus), até mesmo as águias-pesqueiras (Pandion haliaetus) e sobretudo as gaivotas (Larus sp.) se iam sucedendo, repetia-se a frustração ao percebermos o efeito de intrusão visual nas nossas fotos causado pelas anilhas nas patas dos nossos “modelos”.O que fazer, então? Rejeitar a imagens, logo naquele instante? Ou levá-las para casa, tentar decifrar a inscrição na anilha e tornar aquele indesejado episódio na recaptura visual ou fotográfi ca de uma ave já marcada? Os anilhadores credenciados recorrem principalmente a redes para apanharem as aves anilhadas ou que pretendem anilhar. Nalguns casos também recolhem aquelas mais desafortunadas que jazem, por exemplo, nas praias ou nas margens dos rios, como um ganso-patola (Morus bassanus) com uma “chapa de matrícula” do Museu de Londres que

terminou a sua viagem na foz do Cávado. Se partilhássemos com a comunidade científi ca a informação alcançada pelas nossas teleobjetivas, acabaríamos por inscrever o nosso recanto natural de eleição para o birdwatching na rota dos fl uxos migratórios, prestaríamos um importante auxílio para a melhor compreensão das necessidades vitais das aves e, por essa via, para o estabelecimento de orientações de gestão que garantam a proteção dos ecossistemas e das espécies na nossa região. E com um pouco de paciência ainda poderemos ser brindados com uma resposta a contar-nos um pouco da história de vida das aves que nos visitam.Para esse efeito basta comunicar os nossos “achados” via correio eletrónico à Central Nacional de Anilhagem (ICNB), à Associação Portuguesa de Anilhadores de Aves, à Euring, todos com páginas na internet, ou ainda através de outros vários canais, entre os quais se destaca o próprio Parque Biológico de Gaia. Informe-se e ajude a Natureza. Por Jorge Silvawww.verdes-ecos.blogspot.com

Avifauna do Estuário do Cávado

Pisco-de-peito-azul (Luscinia svecica) com a anilha metálica 6616715 do Museu de Paris, capturado visualmente em Fão na margem esquerda do Cávado em 1.10.2011

O que é feito daquela

fotografi a que acabou

desvalorizada e esquecida

só porque o “passarinho”

ostentava daquelas

inestéticas anilhas

coloridas ou metálicas

nas patas?

Jorg

e S

ilva

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CRÓNICA 61

Por Jorge PaivaBiólogo, Centro de Ecologia Funcionalda Universidade de [email protected]

O ano passado (2011) foi o “Ano Internacional da Floresta” e o anterior (2010), o “Ano Internacional da Biodiversidade”.

Claro que houve um enorme aproveitamento político e efetuaram-se congressos, colóquios, seminários, conferências, palestras e plantações de árvores, mas não só a degradação das fl orestas e da biodiversidade continua inexorável, como também uma ampla maioria da população (quase a totalidade) continua a não saber que sem fl orestas e sem biodiversidade a nossa espécie não sobreviverá.Para elucidar esta inconsciência global e incompetência política basta citar o que

aconteceu ultimamente na Conferência Internacional de Durban [Durban Climate Change Conference (COP17), 28 de Novembro-09 de Dezembro de 2011] que, mais uma vez, constituiu uma prova da falta de escrúpulos de políticos de alguns países que não assinaram qualquer compromisso no sentido de minimizar as causas das alterações climáticas vigentes. A esperança de um acordo global fi cou novamente adiada para a próxima conferência. Foi assim com todas as anteriores Conferências Internacionais sobre Alterações Climáticas (Climate Change Conference) [Berlim (Alemanha, 1995), Genebra (Suíça, 1996), Quioto (Japão, 1997), Buenos Aires (Argentina, 1998), Bona (Alemanha, 1999), Hague (França,

2000), Marraquexe (Marrocos, 2001), (Nova Delhi (Índia, 2002), Milão (Itália, 2003), Buenos Aires (Argentina, 2004), Montreal (Canadá, 2005), Nairobi (Quénia, 2006), Bali (Indonésia, 2008), Poznan (Polónia, 2008), Copenhaga (Dinamarca, 2009), Cancum México, 2010), Durban (África do Sul, 2012)].Passaram-se mais de 16 anos desde a primeira destas conferências (Berlim, 1995) e os políticos, até hoje, nunca conseguiram chegar a um acordo global, o que ilustra bem a falta de consciência do conhecimento das causas reais das alterações climáticas. A maioria das pessoas (políticos incluídos) não só não tem consciência do problema, como também não acredita que está a decorrer um aquecimento

A Biodiversidade a Floresta e a Humanidade

Esquema de uma pluvisilva (macro-habitat). 1-8-minor-habitats; A-ave; E-epífi tas; L-lianas; M-mamífero; P-preguiça; S-símio.

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global da atmosfera terrestre. Enfi m, também ainda há gente que acredita que a Terra é plana e que da costela do Adão se formou a Eva!...

A relevância da BiodiversidadeDurante 2010 falou-se um pouco, escreveu-se alguma coisa e efetuaram-se bastantes atividades sobre a biodiversidade, pois foi o “Ano Internacional da Biodiversidade”. No ano seguinte ainda foi referida, embora esporadicamente, porque foi o “Ano Internacional da Floresta” e a biodiversidade está diretamente relacionada com a fl oresta. Mas, muitíssimo pouca gente sabe que estamos em plena “Década da Biodiversidade” (2010-2020). Esta década é de extrema relevância porque é urgentíssimo que toda a gente se capacite de que não conseguiremos sobreviver sem biodiversidade. Há, pois, imenso a fazer. São fundamentais programas elucidativos e bem elaborados na Rádio e Televisão públicas (pelo menos) de modo a que as pessoas percebam e se capacitem da importância da biodiversidade e que são necessárias medidas prementes e rigorosas para a respetiva preservação. Os programas sobre a Natureza que as estações de televisão transmitem nada têm de educação ambiental (excepto os da Biosfera). As pessoas gostam de os ver, particularmente os que mostram belas paisagens ou a vida dos animais selvagens. Esses programas dão “pasto à vista”, como costumo dizer, mas não elucidam que a biodiversidade que se está a ver é importantíssima para a nossa sobrevivência.Todos sabemos que precisamos de comer para viver e crescer e que a comida é constituída por material biológico (vegetal, animal ou de outros organismos).Toda a gente sabe que qualquer motor mecânico para trabalhar precisa de um combustível que, através de reações químicas exotérmicas (combustão) liberta a energia que confere movimento ao motor. Os carburantes (gasolina, gasóleo, álcool, gás, etc.) são compostos orgânicos com Carbono (C). Como em qualquer reação química, nas de combustão formam-se outros compostos químicos que nos motores mecânicos são expelidos pelos tubos de escape.Todos sabemos que o nosso corpo tem muitos motores (ex.: coração, pulmões, fígado, rins, pâncreas, cérebro e músculos). Estes motores biológicos também necessitam de combustíveis com Carbono (C). Esses

combustíveis [hidratos de carbono (farinhas, açúcares, etc.), lípidos (gorduras) e proteínas] estão na comida que ingerimos (produtos de origem vegetal, animal e de outros seres vivos, como, por exemplo, cogumelos). Estes produtos que os seres vivos (biodiversidade) nos fornecem, são transformados no nosso organismo em energia (calor), através de reações exotérmicas (digestão) semelhantes à referida combustão, que vai fazer com que os vários motores do nosso corpo trabalhem e nos mantenham vivos.Tal como acontece com os motores mecânicos, da comida que ingerimos, o que não é transformado em energia e os produtos químicos resultantes das reações de combustão (digestão) são expelidos do nosso corpo pelo nosso tubo de escape (terminal do tubo digestivo) sob a forma de fezes. Mas nós temos de ter outro escape para o azoto (uretra), que é expelido diluído na urina, pois temos de ter proteínas como nutrientes porque os seres vivos crescem e reproduzem-se por divisões celulares e as células são nucleadas e nos núcleos está o património genético (ADN), que é uma substância proteica (com azoto, portanto).Assim, qualquer pessoa entende que a biodiversidade nos fornece o nosso combustível (comida) e que se não os protegermos e eles desaparecerem do Globo Terrestre, também nós vamos desaparecer, por fi carmos sem carburante.Todos os seres vivos necessitam dessas substâncias orgânicas como nutrientes (“combustíveis”). As plantas, porém, não

precisam de comer, porque são os únicos seres vivos que são capazes de as sintetizarem através de reações químicas endotérmicas (fotossíntese e outras reações), “acumulando” no seu corpo o calor (energia) do Sol (a fonte de energia que aquece o Planeta Terra) com a ajuda de substâncias (CO2 e H2O) existentes na atmosfera. Tal como nas reações químicas de combustão, aqui também se liberta (escapa) um composto, o oxigénio (O2). Assim, as plantas além de produzirem biomassa, são despoluidoras por retirarem o gás carbónico (CO2) da atmosfera e são as fábricas naturais de oxigénio (O2), tão necessário para a nossa respiração. Como os animais não são capazes de fazer isso, têm que comer plantas (animais herbívoros) para terem produtos energéticos ou, então, comerem animais que já tenham comido plantas (animais carnívoros). Nós, espécie humana, tanto comemos plantas como animais e outros seres vivos, por isso, se diz que somos omnívoros.Mas os outros seres vivos não são apenas as nossas fontes alimentares, fornecem-nos muito mais do que isso, como, por exemplo, substâncias medicinais (mais de 80% dos medicamentos são extraídos de plantas e cerca de 90% são de origem biológica), vestuário (praticamente tudo que vestimos é de origem animal ou vegetal), energia (lenha, petróleo, ceras, resinas, etc.), materiais de construção e mobiliário (madeiras), etc. Até grande parte da energia elétrica que consumimos não seria possível sem a contribuição dos outros seres vivos pois, embora a energia elétrica possa estar a ser

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Alouatta palliata, um símio dos minor-habitats medianos, que não vem ao solo. Costa Rica. Mangal de Tamarindos.

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produzida pela água de uma albufeira, esta tem de passar pelas turbinas da barragem e as turbinas precisam de óleos lubrifi cantes. Estes óleos são extraídos do “crude” (petróleo bruto), que é de origem biológica.

A Biodiversidade e as FlorestasEntre as plantas, há enormes diferenças na quantidade de biomassa que produzem e no volume de CO2 que retiram da atmosfera e o de O2 que libertam, como, por exemplo, entre o que produz uma pequena erva anual, que só está ao Sol uma pequena parte do ano, e uma árvore, que está todo o ano ao Sol.Como as fl orestas são ecossistemas com muitas árvores, possuem maior biomassa vegetal do que, por exemplo, um prado. Assim, uma fl oresta pode alimentar uma maior quantidade de herbívoros (portanto, de carnívoros, também) e de maior porte do que uma pradaria. Por isso, as fl orestas são ecossistemas de biodiversidade elevada. Mas, entre as árvores, as maiores produtoras são as da fl oresta tropical de chuva (pluvisilva), que, por se encontrarem nas zonas equatoriais, têm o Sol não só praticamente na vertical, como tiram proveito de maior luminosidade porque os dias são praticamente iguais durante todo ano (12 horas de luminosidade diária). É, por isso, que é nestas fl orestas que não só se encontram os maiores seres vivos terrestres (árvores com 6000 toneladas), como também são as fl orestas de maior biomassa vegetal. Portanto, são essas fl orestas que podem

alimentar não só os maiores herbívoros terrestres (elefantes), como a maior quantidade de outros herbívoros (manadas de búfalos, de gnus, de zebras, etc.) e uma enorme diversidade de organismos. A biodiversidade da pluvisilva (um macro-habitat) é riquíssima porque além da elevada biomassa vegetal é constituída por minor-habitats, estratifi cados pela luminosidade (tal como nos oceanos), havendo muitas plantas e animais a viverem em cada um dos estratos (“andares”) sem nunca tocarem no solo e está repleta de micro-habitats (miríade de seres (muitos deles microscópicos) a viverem na casca e superfícies foliares das plantas, particularmente das árvores. As fl orestas tropicais são, pois, os ecossistemas terrestres de maior biodiversidade, são o “pulmão” do Globo por ser aí que se produz o maior volume de oxigénio e são a região com maior ação “purifi cadora” do ar, por ser aí que as plantas absorvem o maior volume de gás carbónico.Portanto, não foi inadvertidamente que o “Ano Internacional da Biodiversidade” e o “Ano Internacional da Floresta” tenham sido estabelecidos e comemorados um a seguir ao outro.Enfi m, sem a biodiversidade (Património Biológico) e sem as fl orestas não comíamos, não nos vestíamos, não tínhamos medicamentos, luz elétrica, energia, oxigénio para respirar e uma atmosfera não saturada de gás carbónico. A fl oresta é, pois, fundamental para a sobrevivência humana. O “Homem” não é uma espécie silvícola, como outros Primatas. Isto é,

não vive no interior da fl oresta, mas depende dela. Assim, por exemplo, os chimpanzés (Pan troglodytes e Pan paniscus) e os gorilas (Gorilla gorilla) vivem no interior das fl orestas (por isso não têm postura normal ereta), mas a espécie humana é um animal de espaços abertos (por isso, de postura normal ereta) e quando vive em áreas fl orestais (Amazónia, por exemplo), habita clareiras, indo ao interior da fl oresta caçar e colher frutos, folhas, rizomas, cogumelos e outros alimentos, assim como lenha para se aquecer e cozinhar.As fl orestas foram, e são em algumas regiões recônditas do Globo Terrestre, muito úteis em confl itos bélicos. Assim, por exemplo, a fl oresta portuguesa (silva lusitana) desde que o homem habita a Península Ibérica, foi muito importante nas lutas internas e contra invasores, como, por exemplo, ter servido para acoitar os lusitanos quando Viriato lutou contra os “invasores” romanos e para refúgio dos nossos exércitos nas pelejas contra os mouros.Os índios da Amazónia também se refugiavam na fl oresta no início da colonização. Quando os portugueses iniciaram a colonização da Amazónia na região de Manaus, os índios refugiavam-se na fl oresta densa das ilhas do rio (o Amazonas é navegável em todo o percurso brasileiro), particularmente nas do Arquipélago de Anavilhanas, situado a cerca de 70 km a montante de Manaus, que fi ca a cerca de 1800 km da foz do Amazonas. Anavilhanas é o maior arquipélago fl uvial do Globo, com cerca

Biodiversity, the Forest and HumanityLast year was declared the International Year of the Forest and the previous year was dedicated to the International Year of Biodiversity. Many Congresses, Colloquiums, Conferences, Seminars and Lectures were held and many trees were planted. However, not only does the degradation of the Forests and Biodiversity continue to advance but the majority of the Worlds’ population still do not fully appreciate that without Forests and Biodiversity our own species will not survive.

Preguiça (Bradypus variegatus), um animal dos estratos intermédios da pluvisilva, que vem ao solo defecar. Costa Rica. Puerto Viejo de Talamanca.

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de 400 ilhas, numa extensão de cerca de 90 km do rio Negro. Para os dominar os portugueses, inicialmente, bombardearam as ilhas com artilharia das naus que “subiam” perfeitamente o rio até ali, pois o rio Amazonas é navegável ao longo de milhares de quilómetros por navios de razoável calado. Mais tarde, construíram, em 1669, na margem esquerda do rio Negro, um pouco a montante da sua confl uência com o rio Solimões, onde hoje se situa Manaus, um forte (Forte, Fortim ou Fortaleza de S. José da Barra do Rio Negro) não só para se defenderem das incursões dos holandeses e dos franceses, como também dos índios. Aliás a cidade de Manaus deve o seu nome aos índios Manáos que habitavam a região conjuntamente com os Barés, Banibas e Passés até à chegada dos europeus. A tribo dos Manáos, negava-se à escravidão, entrando em confrontos com os habitantes do Forte e as outras tribos índias, com apoio dos holandeses que lhes forneciam armas e munições. Um dos líderes dos Manáos foi o indígena Huiuebene que se opôs a colonização dos portugueses e que, depois de assassinado, foi substituído pelo fi lho Ajuricaba. Este chefe índio e cerca de 200 outros foram levados para Belém. No entanto, durante a viagem, Ajuricaba conseguiu escapar e, mesmo amarrado, atirou-se ao rio, desaparecendo para sempre. Os Manáos só foram dominados quando os militares portugueses começaram a ligar-se aos Manáos através de casamentos com as respetivas fi lhas. Nas guerras coloniais os povos africanos fi zeram o mesmo nas lutas para as respetivas independências. Não deixa de ser curioso terem sido considerados “terroristas” tal como os chefes índios Huiuebene e o seu fi lho Ajuricaba, enquanto Viriato, que fez o mesmo

contra os romanos, é considerado pelos historiadores um estratega ou guerreiro e não um guerrilheiro ou terrorista.Durante a Guerra da Secessão (1861-1865) norte-americana, os confederados (sulistas) conseguiram anular parcialmente a vantagem da artilharia nortista manobrando as suas tropas de modo a travarem os combates nas regiões fl orestadas (wilderness) da Virgínia. Um outro exemplo desta utilidade defensiva das fl orestas aconteceu na última Grande Guerra (1939-1945) quando os franceses camufl aram os seus exércitos clandestinos no “maquis” na luta contra a ocupação alemã. A aviação alemã não conseguia bombardear esse exército por não o conseguir detetar no seio da fl oresta, pois não só os veículos, como também as fardas tinham as cores dominantes da fl oresta, tons de verde e de castanho, tal como ainda hoje os exércitos utilizam. Os alemães só conseguiram detetar o exército clandestino francês colocando daltónicos ao lado dos aviadores. Como os daltónicos têm uma visão distinta das cores da Natureza e das cores produzidas pelo Homem, conseguiam ter a perceção exata das posições dos franceses no seio do maquis. Quando isso aconteceu, os franceses julgaram que tinham sido traídos por patriotas seus, o que não correspondia à verdade.Foi com esta mesma intenção de defesa e camufl agem de tropas para não serem detetadas por aviação inimiga, que os Serviços Florestais, em 1939, utilizaram árvores de folhagem persistente (fundamentalmente coníferas) no povoamento fl orestal de algumas zonas fronteiriças do atual Parque Nacional da Peneda-Gerês.No longo confl ito (1955-1975) do Vietname, a partir de 1960 iniciou-se um confl ito interno entre os vietnamitas do Norte, marxistas

(vietcongues) e os dos Sul, apoiados pelos Estados Unidos. Uma vez envolvidos no confl ito, os marines norte-americanos tinham grandes baixas nos combates nas fl orestas tropicais (pluvisilva) e nos mangais (fl orestas tropicais de árvores e arbustos de folhas persistente das costas e estuários lodosos) onde os vietcongues se acoitavam. Então, o governo americano contratou as empresas Dow Chemical, Monsanto, Thompson, Uniroyal e Plastics Corporation, para produzirem um agente desfolhante (herbicida), de modo a desfolhar as fl orestas para tornar visíveis as posições dos vietcongues. Foi, então, produzido o designado “agente laranja” (dioxin kills). No período entre 1961 e 1971, foram derramados 80 milhões de litros de dioxin kills, sobre as áreas fl orestadas do Vietname do Norte. A dioxina não só contaminou a água e o solo, como também matou pessoas e comprometeu várias gerações de vietnamitas com cancro, malformações genéticas (síndrome de Down, por exemplo), comprometimento do sistema imunológico, esclerose múltipla, etc.Apesar da artilharia pesada e do desfolhamento químico das fl orestas, os americanos não conseguiram ganhar a guerra.É importante que as pessoas saibam que as fl orestas não só têm uma grande relevância na história da Humanidade, como também são os ecossistemas terrestres mais importantes para a nossa sobrevivência, pela sua enorme capacidade despoluidora ao “absorverem” quantidades incomensuráveis de anidrido carbónico (CO2), na purifi cação do ar que respiramos pelo volume de oxigénio (O2) que produzem e pela elevada Biodiversidade que albergam.Sem Biodiversidade e sem Florestas a Humanidade não sobreviverá.

Arara (Ara macao), uma ave dos minor-habitats medianos da pluvisilva, pousada num ramo pleno de micro-habitats. Costa Rica. Limonal.

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Zingiber spectabile, uma planta do estrato inferior da pluvisilva, por isso com infl orescências de brácteas avermelhadas, tal como as algas vermelhas nos oceanos. Malásia.

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Hoje mais do que nunca, a humanidade defronta-se com desafi os tão importantes como a criação de um modelo de economia que gere crescimento, crie emprego e erradique a pobreza, preservando o capital natural sobre o qual assenta a nossa sobrevivência.Vinte anos após a Cimeira da Terra-Rio 92, governos, instituições internacionais, ONG e sociedade civil de todo o mundo irão participar durante o mês de junho na conferência das Nações Unidas sobre o Desenvolvimento Sustentável (CNUDS ou Rio+20). Em 1992 quando da realização da conferência Rio-92 — também denominada Cúpula da Terra ou Conferência das Nações Unidas para o Desenvolvimento e Meio Ambiente — os participantes apresentaram um manifesto em que se lia: “o modelo de desenvolvimento hoje praticado na maior parte do mundo

apoia-se sobre o pressuposto fundamental de que a natureza é um objeto a ser dominado, apropriado, transformado, comercializado, consumido e fi nalmente, descartado.” As análises desse manifesto, lamentavelmente, são atuais. Ainda que limitado e vago, o termo Desenvolvimento Sustentável e o seu signifi cado explícito (atendimento às necessidades do presente sem prejudicar o atendimento às necessidades das gerações futuras) foram consagrados por todos os países do mundo em 1992. Depois do fracasso de Copenhaga e de 20 anos de negociações sobre o clima, o Rio+20 tornou-se o foco de convergência de um ambicioso ponto de viragem para “reinventar o mundo” e renovar a esperança.

Por Joaquim Peixoto

Rio+20: Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável

O Centro de Documentação e Biblioteca do Parque Biológico de Gaia faz um apelo aos leitores que possam colaborar.Procura, para completar uma coleção gentilmente cedida, os números 29,32, 49, 51, 55, 68, 69,162, 175 e 275 da revista “Quercus”. Trata-se de uma publicação periódica (mensal) espanhola sobre observação, estudo e defesa da natureza.A biblioteca do Parque Biológico é um espaço situado nas instalações do Parque Biológico de Gaia, Avintes, e espera a sua visita. Ali poderá encontrar várias edições e publicações periódicas de temática ambiental. Para saber mais pode consultar os catálogos de publicações no botão Biblioteca do sítio da internet www.parquebiologico.pt.

Por Filipe Vieira

Revista Quercus

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crustáceos crescem? Como é que respiram? Quais as suas estratégias de reprodução? Já pensou para onde vão os crustáceos quando os charcos secam? Venha descobrir como é que os crustáceos fi cam Presos no Charco!Esta exposição foi desenvolvida no âmbito do projeto CHARCOScomBio, fi nanciado pelo Fundo EDP Para a Biodiversidade.

Por Patrícia Garcia-Pereira

66 COLETIVISMO

MarPro é o acrónimo do novo projeto LIFE em que a SPEA é parceira e que irá, seguramente, ser um grande passo para a conservação das espécies Marinhas Protegidas em Portugal continental.Integrado no Programa Marinho da SPEA, o projeto arrancou em 2011 e contribuirá para colmatar a falta de conhecimento sobre aves e mamíferos marinhos em alto mar. A área de estudo, que compreende a zona até às 350 milhas, ultrapassa largamente a Zona Económica Exclusiva (ZEE) portuguesa, demonstrando o caráter ambicioso, do MarPro.A nossa ZEE é caracterizada por ser uma zona de invernada muito importante para a ameaçada pardela-balear Puffi nus mauretanicus e por incluir uma das maiores concentrações de roaz-corvineiro Tursiops truncatus da Europa. Apesar da importância da nossa ZEE, apenas estão classifi cados 7 Sítios de Importância Comunitária e 7 Zonas Especiais de Conservação, existindo constrangimentos políticos e logísticos à proposta de novas áreas. Por outro lado,

a necessidade de alargar a actual Rede Natura 2000 a zonas de alto mar requer um conhecimento aprofundado deste ecossistema, que possibilite a aplicação de medidas efi cazes de gestão.Os próximos 5 anos vão ser fortemente marcados por uma recolha de dados intensa e rigorosa de diversas variáveis ambientais, biológicas e antropogénicas. Censos costeiros, de barco e avião, irão permitir recolher dados de abundância e distribuição. Com o reforço da rede de monitorização de arrojamentos e das praias, pretende-se identifi car e quantifi car as espécies que dão à costa e determinar as prováveis causas de morte. O trabalho em colaboração com o setor pesqueiro será fundamental para perceber as interações entre esta atividade e as espécies em estudo. Por fi m, o melhoramento das estruturas de deteção e reabilitação de aves e mamíferos marinhos aumentará a qualidade e a efi cácia da resposta que estas emergências exigem.O MarPro assume a responsabilidade de reunir a informação que atualmente existe,

Conservação de espécies marinhas protegidas em Portugal continental

Sociedade Portuguesa para o Estudo das AvesAvenida João Crisóstomo, n.º 18 - 4.º - Dir.1000-179 [email protected] • www.spea.pt

Está patente desde 27 de janeiro na sala 7 do Museu Nacional de História Natural e da Ciência a exposição Presos no Charco. Trata-se de uma nova exposição de divulgação científi ca sobre a diversidade de crustáceos em charcos temporários com a chancela do Centro de Biologia Ambiental e do Museu Nacional de História Natural e da Ciência, e que conta com a parceria do Tagis – Centro de Conservação das Borboletas de Portugal. A biodiversidade dos charcos temporários de tipo mediterrânico faz com que este tipo de charcos seja considerado habitats de conservação prioritária, de acordo com a Diretiva Habitats e a Convenção de Ramsar. O nosso país tem uma importância estratégica para a conservação da biodiversidade europeia dos charcos temporários, uma vez que 30% dos locais da Rede Natura 2000 estão localizados em Portugal.Presos no Charco pretende divulgar a importância da preservação dos charcos

temporários e uma parcela praticamente desconhecida da sua biodiversidade: os crustáceos. Quando pensamos em crustáceos lembramo-nos de camarões, sapateiras, caranguejos, lagostas e lavagantes que vivem no mar. Mas nem todos os crustáceos vivem no mar! Nos charcos temporários há uma enorme diversidade de pequenos crustáceos, com adaptações e estratégias de sobrevivência muito particulares. Esta mostra dá a conhecer ao público a diversidade de charcos temporários em Portugal, as espécies de crustáceos comuns e mais abundantes nos charcos, as suas adaptações ao meio e a vida nos charcos ao longo do ano. Através da experiência expositiva, os visitantes serão estimulados a conhecer as respostas às questões mais relevantes sobre este tema, como por exemplo: O que são charcos temporários? Qual a dimensão real dos macro e microcrustáceos? Como é que os

Tagis – Centro de Conservação das Borboletas de PortugalMuseu Nacional de História NaturalRua da Escola Politécnica, 58 • 1250-102 LisboaTel. + Fax: 213 965 [email protected] • www.tagis.org

Presos no Charco

Recolha de rede de arrasto

disponibilizando um webgis e um repositório on-line. Sendo os mais novos responsáveis por assegurar o futuro do ambiente marinho, vão ser realizadas diversas ações de sensibilização em escolas, a par de um programa de formação e voluntariado, que permitirá a participação ativa de todos os interessados.

Saiba mais em:www.marprolife.org

Texto e foto Nuno Oliveira (SPEA)

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Page 68: Portfolio CETACEANS Interview GRANITE OF THE LAVADORES

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