português em 4
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Portuguêsem Foco 4
Luísa Coelho I Carla Oliveira
Coordenação: João Malaca Casteleiro
Livro do AlunoNíveis C1/C2
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Edição E distribuição
Lidel – Edições Técnicas, Lda.Rua D. Estefânia, 183, r/c Dto. – 1049 ‑057 LisboaTel.: +351 213 511 448 [email protected] de edição: [email protected]
Livraria Av. Praia da Vitória, 14 A – 1000 ‑247 Lisboa Tel.: +351 213 511 448 [email protected]
Copyright © 2019, Lidel – Edições Técnicas, Lda.ISBN edição impressa: 978‑989‑752‑396‑01.ª edição impressa: julho de 2019
Conceção de layout e paginação: Pedro SantosImpressão e acabamento: Cafilesa – Soluções Gráficas, Lda.Depósito Legal: 458374/19
Capa: José Manuel Reis
Fotografias e ilustrações: vários (ver páginas 230‑231)
Faixas ÁudioVozes: Ana Vieira, Paulo Espírito SantoExecução Técnica: Emanuel Lima,
&© 2019 ‑ Lidel SPA
Todos os direitos reservados
Todos os nossos livros passam por um rigoroso controlo de qualidade, no entanto aconselhamos a consulta periódica do nosso site (www.lidel.pt) para fazer o download de eventuais correções.
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A Lidel adquiriu este estatuto através da assinatura de um protocolo com o Camões – Instituto da Cooperação e da Língua, que visa destacar um conjunto de entidades que contribuem para a promoção internacional da língua portuguesa.
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Prefácio
Ao darmos a lume Português em Foco 4, disponibilizamos o último volume da coleção de manuais começada em 2015 com Português em Foco 1, elaborada para o ensinoaprendizagem da língua portuguesa, tanto nos domínios da compreensão e expressão orais, como da leitura e da composição escrita. Este volume, conforme acontece com os anteriores, dirige se a um público diversificado, adolescente ou adulto, quer europeu quer de outros continentes, e pode ser utilizado seja em regime de escolaridade seja em autoaprendizagem. Português em Foco 4, tal como sucede com os volumes precedentes, tem como orientação metodológica a abordagem comunicativa no ensino aprendizagem de línguas e guiase pelos mesmos princípios teóricos e orientações pedagógicodidáticas do Quadro Europeu Comum de Referência para as Línguas – Aprendizagem, Ensino, Avaliação (QECR), publicado, em 2001, pelo Conselho da Europa e facultado em versão portuguesa, no mesmo ano, pelo Ministério da Educação de Portugal. Este manual procura satisfazer aos Níveis C1/C2 do QECR, ou seja, aos dois últimos níveis dos seis aí descritos. Mediante a aquisição dos Níveis C1/C2, espera se que o aprendente se revele como utilizador proficiente, com autonomia e mestria, no uso da língua de Camões, tanto na comunicação oral como no domínio da escrita.
Este manual contém 12 unidades didáticas, que abrangem conteúdos programáticos relacionados com diversos aspetos da cultura portuguesa, tais como idiomatismos e provérbios de uso frequente, assuntos relevantes da educação, da saúde, do desporto, da gastronomia e alimentação, do sistema social, etc. Nos textos apresentados, deu se relevância a alguns autores das literaturas de língua portuguesa, quer clássicos quer modernos, como Luís de Camões, Almeida Garrett, Eça de Queirós, Fernando Pessoa, Ricardo Araújo Pereira, Carlos Tê, do lado de Portugal, ou Luís Fernando Veríssimo, Martha Medeiros, do Brasil, José Eduardo Agualusa, Ondjaki, Pepetela, de Angola, Germano de Almeida, de Cabo Verde, ou Mia Couto, de Moçambique. Infelizmente, o espaço disponível não permitiu incluir textos de outros escritores lusófonos igualmente relevantes.
Os conteúdos gramaticais inseridos neste manual visam facultar um domínio mais completo da gramática, sobretudo em relação ao uso adequado dos tempos e modos verbais, sempre difícil para quem tem como idioma materno uma língua pouco ou nada flexional, mas também quanto a particularidades de realização mais elaborada, como sucede com a expressão da condição, da causa, da concessão, do tempo, etc.
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Considerou se útil apresentar também as principais diferenças gramaticais, bem como algumas de natureza lexical entre Portugal e o Brasil.
Tal como em manuais anteriores, os textos presentes nas várias unidades didáticas são proferidos por falantes nativos, conforme a norma padrão do Português Europeu e a do Português do Brasil, e encontram se disponíveis em www.lidel.pt/pt/dowloadconteudos/. É seu objetivo ajudar o aprendente a melhorar a prática da oralidade, quer na compreensão quer na expressão. Será não apenas um valioso instrumento de trabalho em sala de aula para o professor não nativo, mas também um bom apoio para o discente no exercício de autoaprendizagem. Um Livro do Professor será também posto à disposição dos docentes, o qual visa ajudálos na preparação das aulas, sobretudo aqueles que tenham menos experiência didática.
Como vimos repetindo nos manuais anteriores, cremos que, também neste, a larga experiência docente das autoras com alunos de várias nacionalidades e nos vários níveis do QECR, obtida na Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, onde lecionam há muitos anos, tornou mais consistente e mais adequada ao público aqui visado a elaboração deste manual. Esperamos, pois, que ele contribua da melhor forma para levar o aprendente a atingir solidamente as metas estabelecidas pelos Níveis C1/C2 do QECR. Através do relevo que aqui damos a aspetos marcantes da cultura portuguesa, assim como a alguns importantes escritores lusófonos, esperamos contribuir também para um mais aprofundado conhecimento da sociedade lusa, por um lado, e das riquíssimas literaturas que se expressam em língua portuguesa, por outro.
O público aprendente deve ter em conta que a língua portuguesa é a quarta mais falada no mundo, sendo mesmo a primeira no Hemisfério Sul, e que o seu uso e aprendizagem se encontram em plena expansão, quer como língua materna ou segunda quer como língua estrangeira. Espera se que a breve trecho ela venha a ser considerada língua oficial da Organização das Nações Unidas. Dominar bem a língua portuguesa tornar se á, pois, uma mais valia, não só do ponto de vista cultural, mas sobretudo profissional.
Antes de terminar, queríamos deixar aqui uma palavra de agradecimento à Lidel pelo empenho e competência com que tem levado a cabo esta coleção de manuais e pela oportunidade que quis dar nos de assim contribuirmos de forma continuada e mais completa para o ensinoaprendizagem da língua portuguesa por um público diversificado e pluricontinental.
João Malaca Casteleiro
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Introdução
Português em Foco 4 é o quarto e último volume de uma coleção de manuais dirigidos a adolescentes e adultos aprendentes de Português como Língua Estrangeira e está dividido em 12 unidades de aprendizagem.
O manual que agora se apresenta foi organizado em áreas temáticas e vocabulares associadas aos Níveis C1/C2 — Níveis de Autonomia e de Mestria. Deste modo, ao continuar a aprendizagem com Português em Foco 4, o aprendente irá reforçar competências comunicativas e desenvolver um nível de reflexão sobre a língua portuguesa, a atualidade e a literatura para atingir um nível semelhante ao do falante nativo. Assim, cada uma das 12 unidades permitirá que o aprendente desenvolva estas competências, quer através do trabalho com o texto escrito (onde as situações de comunicação são evidentes) quer através de propostas para trabalho oral.
Português em Foco 4 apresenta:
Textos Escritos
• Servem de base para o trabalho com vocabulário específico relacionado com as áreas temáticas;
• Estão gravados e disponíveis em www.lidel.pt/pt/dowloadconteudos/, servindo para trabalhar a compreensão oral, a pronúncia, etc.;
• Acompanham a progressão na aprendizagem, quer no que se refere à sua temática principal quer no que se refere aos aspetos estruturais da língua;
• Os textos são atuais, reais, cumprindo sempre os objetivos propostos para o nível de aprendizagem.
Aspetos Gramaticais – Regras e Exercícios
• Este manual apresenta os aspetos gramaticais que serão explorados, quer através da explicitação de regras quer através de exercícios;
• Os exercícios permitem que os alunos utilizem as novas regras gramaticais que aprenderam e que reutilizem as anteriores.
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Exercícios de Compreensão Oral
Uma vez que a compreensão oral é tão importante como as restantes competências, em cada unidade haverá um trabalho para o desenvolvimento desta competência. Assim, ao longo do manual poder se ão encontrar diversas tipologias de exercícios, tais como:
• Textos gravados com perguntas de interpretação;
• Audição de textos lacunares para preencher com informação pertinente.
Exercícios de Expressão Oral
A expressão oral, tal como todas as outras competências, acompanha a temática de base das unidades. Assim, com os exercícios e sugestões para o trabalho da expressão oral, pretende se:
• Utilizar oralmente os conteúdos temáticos aprendidos;
• Criar um ambiente comunicativo que permita ao professor acompanhar as situações propostas.
Português em Foco 4 apresenta um Livro do Professor que está organizado conforme as unidades do Livro do Aluno. Em cada unidade existem indicações precisas sobre as atividades a desenvolver na sala de aula.
Esperamos, pois, que o presente manual seja do seu agrado.
Luísa Coelho
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Vamos rever!
Unidades Conteúdos Gramaticais Objetivos Específicos
1.Aspetos culturais portugueses
Pág. 11
•Pretérito perfeito composto do conjuntivo
•Formação e utilização
•Alguns aspetos de prosódia: reconhecer sentimentos; distinguir frases exclamativas, interrogativas e declarativas
•Revisão da colocação dos pronomes clíticos
•Conhecer algumas particularidades culturais portuguesas através de ditos populares
•Fazer comparações interculturais
•Conhecer estereótipos e desmontálos
•Conhecer alguma literatura lusófona (José Eduardo Agualusa, Sophia de Mello Breyner Andresen)
•Reconhecer expressões idiomáticas com referente a animais (engolir sapos)
2.Educação e desporto
Pág. 25
•Pretérito maisqueperfeitocomposto do conjuntivo
•Formação e utilização
•Colocação do sujeito depois do verbo
•Falar sobre desporto
•Conhecer o desenvolvimento da língua portuguesa no mundo
•Debater o efeito das tecnologias de informação nas crianças e jovens
•Reconhecer alguns inanimados culturais através de expressões idiomáticas (surdo como uma porta)
•Conhecer alguma literatura lusófona (Florbela Espanca)
3.Saúde
Pág. 39
•Futuro composto do conjuntivo
•Formação e utilização
•Revisão verbal e preposições
•Debater/falar sobre várias situações relacionadas com saúde e dietas
•Falar sobre preconceitos
•Reconhecer expressões idiomáticas com recurso a partes do corpo (ter a barriga a dar horas)
•Conhecer alguma literatura lusófona (Miguel Esteves Cardoso)
4.Bicharada
Pág. 55
•Futuro composto do indicativo
•Formação e utilização
•Condicional composto
•Formação e utilização
•Conhecer alguma literatura lusófona (José Eduardo Agualusa, Mário de Carvalho)
•Debater/falar sobre aspetos culturais relacionados com o uso de animais para entretenimento e animais domésticos
•Fazer comparações interculturais
•Reconhecer expressões idiomáticas e expressões populares relacionadas com comida e bebida (matar o bicho)
5.Gente lusófona
Pág. 71
•Uso e omissão do artigo definido e indefinido
•Gerúndio simples e composto
•Utilização do gerúndio para exprimir: tempo, causa, modo, condição, concessão
•O gerúndio com verbos auxiliares para evidenciar valor aspetual: estar + gerúndio; andar + gerúndio, ir + gerúndio, vir + gerúndio
•Conhecer alguma literatura lusófona (Mia Couto, José Saramago)
•Reconhecer /aceitar/recusar aspetos culturais diversos
•Reconhecer algumas expressões idiomáticas e populares relacionadas com morrer e morte.
•Levantamento de tabus interculturais
Índice Geral
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Unidades Conteúdos Gramaticais Objetivos Específicos
6.Portugal – agora e no futuro
Pág. 91
•Infinitivo flexionado
•Infinitivo não flexionado
•O particípio
•Conhecer dados sobre a situação familiar em Portugal
•Conhecer alguns aspetos relacionados com o sistema educativo português
•Conhecer alguns aspetos do sistema social português
•Reconhecer alguns provérbios portugueses
•Fazer o cruzamento intercultural em relação a provérbios com o mesmo significado
7.Gastronomia e alimentação
Pág. 107
•A Condição
•Orações condicionais (com indicativo, com conjuntivo, com infinitivo pessoal) – revisão geral
•Conhecer a gastronomia portuguesa e a sua presença na literatura (Eça de Queirós)
•Regras para a realização de resumo textual
•Resumir um texto de cariz informativo
•Exprimir condição
•Reconhecer algumas expressões e expressões idiomáticas da língua portuguesa com o verbo dar
8.Leituras Lusófonas
Pág. 123
•O Tempo
•Orações temporais (com indicativo, com conjuntivo, com infinitivo pessoal) – revisão geral
•Conhecer autores lusófonos – Angola (Pepetela); Cabo Verde (Germano de Almeida)
•Fazer fichas de leitura de obras literárias
•Exprimir tempo
•Reconhecer algumas expressões idiomáticas da língua portuguesa com a palavra cabeça
9.Literatura Portuguesa – Luís Vaz de Camões
Pág. 139
•A Causa
•Orações causais (com indicativo, com conjuntivo, com infinitivo pessoal) – revisão geral
•Conhecer um dos maiores vultos da literatura portuguesa – Luís de Camões
•Fazer o cruzamento intercultural no que se refere a hábitos de leitura
•Resumir um texto de cariz informativo
•Fazer fichas de leitura de obras literárias
•Exprimir causa
•Reconhecer algumas expressões idiomáticas da língua portuguesa com a palavra amigo (amigo de Peniche, amigo da onça e amigo do alheio)
10.Crónicas e outros textos
Pág. 155
•Português Europeu e Português do Brasil (comparação)
•Análise das principais diferenças entre o PE e o PB: formas de tratamento você e tu; nível ortográfico; nível fonético; nível morfológico; nível sintático e nível semântico e lexical.
•Conhecer autores lusófonos – Mia Couto (Moçambique); Ricardo Araújo Pereira (Portugal); Luís Fernando Veríssimo (Brasil); Ondjaki (Angola)
•Reconhecer algumas expressões idiomáticas da língua portuguesa formadas com o verbo fazer
•Escrever uma crónica
•Conhecer algumas diferenças entre o PE e o PB©
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Unidades Conteúdos Gramaticais Objetivos Específicos
11.Sobre o amor e outras coisas – textos lusófonos
Pág. 173
•A Concessão
•Orações concessivas (com indicativo, com conjuntivo, com infinitivo pessoal) – revisão geral
•Conhecer autores lusófonos – Almeida Garrett (Portugal); Martha Medeiros (Brasil); Carlos Tê (Portugal)
•Conhecer uma lenda tradicional portuguesa (Portalegre)
•Escrever uma carta de amor
•Reflexão/discussão sobre pensamentos relacionados com amor, fidelidade/infidelidade
•Conhecer algumas expressões idiomáticas do Português do Brasil
12.Fernando Pessoa
Pág. 187
•Expressões idiomáticas e provérbios – revisão
•Conhecer Fernando Pessoa – biografia, heterónimos
•Leitura do texto “Sr. António” de Maria José (Heterónimo de Fernando Pessoa)
•Uma perspetiva íntima de Fernando Pessoa (entrevista a Manuela Nogueira – sobrinha de Pessoa)
•Leitura e reflexão sobre dois poemas (Autopsicografia; Eu sou do tamanho do que vejo)
•Reflexão/discussão sobre pensamentos de Fernando Pessoa
•Redação de textos de reflexão
Textos áudio não transcritos
Pág. 203
Glossário Pág. 219
Lista de faixas áudio Pág. 229
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Aspetos Culturais Portugueses
UNIDADE 1
Ultimamente, o Luís tem engolido imensos sapos!
UNIDADE 1 Aspetos Culturais Portugueses
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2 TEXTO A
Os mais irritantes ditos portugueses
Os nossos conterrâneos que encontramos por
esse Portugal fora insistem em estragar ‑nos o
dia com manias que já não temos paciência para
aturar. Mas, enfim, algumas até se percebem…
“COITADINHO”
Todos em Portugal são coitadinhos: ou porque a
mulher fugiu com o leiteiro (Ai! Bons tempos em
que havia leiteiros.) ou porque o filho decidiu ser
criador de hamsters em vez de economista; cada
vida tem a sua cruz. Mas isso até nos conforta.
Imaginem um país em que se desfiassem as nossas desditas e a pessoa, em vez de suspirar “Coitadinho!”, nos olhasse
gelidamente e declarasse: “Ah!”
“SOFRO DOS NERVOS”
99% dos portugueses afirma “sofrer dos nervos”. Quem tem ataques de fúria sofre dos nervos, quem tem borbulhas
no nariz é porque sofre dos nervos e quem não tem mais nada para fazer na vida sofre imenso dos nervos,
compreensivelmente. “Sofrer dos nervos” é popular porque é uma doença mística. É o degrau abaixo de se ouvirem
vozes como, por exemplo, a de Joana d’Arc, e sempre é mais interessante do que sofrer de sinusite ou de hemorroidas.
“NEM ME FALE NISSO”
A frase inaugura mais um campeonato de doenças, que pode ocupar um passeio de várias horas com diálogos do
tipo: “Eu tenho bronquiolite crónica, deixo de respirar a meio da noite e posso morrer a qualquer momento”, “Nem
me fale nisso, eu não só deixo de respirar como fico vários minutos sem ser capaz sequer de me mexer”, “Mas olhe
que eu não durmo há mais de seis meses”, “A mim, a dor ia ‑me cá abaixo, à anca, e fazia ‑me ricochete no fígado”…
Em Portugal, só se é interessante pela desgraça. Quem está de boa saúde e é feliz não só é uma afronta aos outros
como não tem interesse algum. Aliás, todos acham que ninguém é genuinamente feliz. Se alguém “parece” feliz, de
certeza que está a disfarçar. Por fora ri, mas por dentro chora, como os palhaços.
“TU CAIS!”
As crianças portuguesas nunca são encorajadas a conquistar o mundo. Ninguém diria que alguma vez pusemos o
pé fora de Odivelas, quanto mais no Brasil. A filosofia das mães nunca é: “Vais passar esse muro e encontrar um
maravilhoso mundo novo do outro lado”. A filosofia das mães portuguesas é: “Vais ‑te estampar a tentar inutilmente
escalar esse muro absurdamente alto, vais torcer um tornozelo quando caíres cá em baixo em cima de um lobo mau
que te devia devorar até à última falanginha. Ah, e também te vais constipar”.
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UNIDADE 1Aspetos Culturais Portugueses
“MAIS OU MENOS”
Nunca nada nos corre bem. É sempre “mais ou menos” ou “vai ‑se andando”. Não se sabe se as reticências se devem
ao facto de ninguém querer ser motivo de inveja para não tentar os deuses, ou simplesmente ao pessimismo nacional.
“ESTÁS AQUI?”
Isto irrita muita gente mas não devia fazer parte da lista, porque se trata apenas de um desbloqueador de conversa.
Acordem, ofendidos! Ninguém vos está a perguntar se estão de facto aqui… O que se quer dizer é: “ O que é que
estás aqui a fazer?” E não: “Será um ET aquilo que vejo na minha frente?”.
Catarina Fonseca in Activa (texto com supressões)
VOCABULÁRIO
1. Leia o Texto A e apresente um sinónimo ou explique o significado das palavras/expressões do quadro abaixo.
coitadinho
cada um tem a sua cruz
doença mística
fazer ricochete
vais ‑te estampar
desbloqueador de conversa
2. Faça a correspondência entre as palavras da coluna da esquerda e os sinónimos da coluna da direita.
Texto A Sinónimos
1. a desdita a) a ofensa
2. gelidamente b) o azar
3. a afronta c) friamente
4. genuinamente d) subir
5. escalar e) tragar
6. devorar f) autenticamente
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ORALIDADE
3. Trabalho de pares. O Texto A é um texto humorístico sobre algumas
particularidades dos portugueses. Como texto humorístico que é,
denota também algum exagero. Discuta as seguintes questões
com o seu colega.
1. Fale com o seu colega sobre cada uma das particularidades dos
portugueses e faça um paralelo com aspetos da sua própria cultura.
Encontra alguma semelhança?
2. Que ditos o irritam mais na sua cultura?
3. Diz ‑se frequentemente que os ingleses gostam de falar do tempo e os
portugueses de doenças. E no seu país, que tipo de estereótipos são mais
comuns?
ESCRITA
3 4. Ouça o Texto B e complete os espaços.
TEXTO B
Na minha primeira morte eu não morri
Um dia, na minha anterior ________________________________________________, decidi matar ‑me. Queria morrer completamente. Tinha
esperança de que a vida eterna, o paraíso e o inferno, Deus e o Diabo, ________________________________________________, tudo isso,
fossem apenas ________________________________________________ demoradamente, ao longo de séculos, pelo vasto terror dos homens.
Comprei um revólver ________________________________________________, apenas a dois passos da minha casa, mas onde nunca tinha
entrado antes, e ________________________________________________ não me conhecia. Depois comprei um livro policial e uma garrafa de
genebra. Fui para um hotel na praia, bebi a genebra com desgosto, em largos goles (o álcool sempre
________________________________________________), e estendi ‑me na cama a ler o livro. Achava que a genebra, somada ao tédio de um
________________________________________________, me daria a coragem necessária para encostar o revólver à nuca e ________________________________________________.
O livro, porém, não era mau – e eu li ‑o até ao fim. Quando cheguei à última página começou a chover. Era
como se do céu _______________________________________________________________________ desse oceano escuro e sonolento no qual navegam as estrelas.
Fiquei à espera de as ver cair, quebrando ‑se depois, com grande brilho e clamor, _______________________________________________________________________.
Não caíram. _______________________________________________________________________. Encostei o revólver à nuca, e adormeci.
José Eduardo Agualusa, O Vendedor de Passados, 2.ª edição, Lisboa, Dom Quixote, p. 85 (2004)
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José Eduardo Agualusa
Nasceu em 1960, em Angola. Autor de uma vasta obra muito premiada, sendo que alguns dos seus livros estão traduzidos em mais de 20 línguas. A tradução inglesa de O vendedor de Passados foi distinguida com o Prémio “Independent” (2007) para a melhor ficção estrangeira.
4 5. A expressividade pode manifestar ‑se através da entoação: expressão irónica, afetuosa, zangada,
surpreendida, etc. Neste exercício vai ouvir duas frases. A partir da diferença de entoação, diga que
sentimento indica cada frase.
Frases Alegria Tristeza Surpresa Ironia
1.
2.
5 6. Vai ouvir três frases. Assinale a que tipo de frase corresponde cada uma.
Frase Exclamativa Declarativa Interrogativa
1.
2.
3.
6 7. Ouça o Texto C, tire notas e faça um resumo da história.
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GRAMÁTICA
Pretérito Perfeito Composto do Conjuntivo
Forma ‑se com o Presente do Conjuntivo do verbo auxiliar ter e o Particípio Passado do verbo principal.
Ter (Presente do Conjuntivo) + Particípio Passado do verbo principal
Eu tenha dito
Tu tenhas morado
Ele / Ela / Você tenha escrito
Nós tenhamos feito1Vós tenhais ido
Eles / Elas / Vocês tenham vindo
1 A 2.ª pessoa do plural quase que desapareceu da linguagem corrente. Usa ‑se em linguagem enfática ou literária arcaizante.
Usamos o Pretérito Perfeito Composto do Conjuntivo depois das mesmas estruturas e expressões com as quais usamos o Presente do Conjuntivo. a) É provável que ela tenha apagado as luzes antes de sair. b) Eu espero que ele tenha feito o jantar. c) Caso já tenhas visto este filme, podemos ir ao teatro d) Ainda que já tenhas ficado bom, não te esqueças de tomar o antibiótico.
Note que na frase d) o verbo da oração principal encontra ‑se no Modo Imperativo. Em todas as outras frases, o verbo da oração principal encontra ‑se no Presente do Indicativo.
O Pretérito Perfeito Composto do Conjuntivo pode exprimir anterioridade em relação a uma ação já realizada (1) no passado, (2) a decorrer no presente ou (3) a acontecer no futuro. (1) Embora tenham saído cedo de casa, não conseguiram apanhar o comboio. (2) Duvido que ela tenha percebido o que esperamos dela. (3) Na próxima semana, vou ao Algarve. Espero que a Ana já tenha chegado lá por esses dias.
Estruturas e expressões com as quais podemos usar o Pretérito Perfeito Composto do Conjuntivo:1) Depois de construções impessoais: Exemplo: É possível que ele já tenha pagado a conta.2) Em subordinadas completivas: Exemplo: Receio que já tenhas lido este livro.3) Depois de talvez (em orações independentes) para exprimir dúvida em relação a um facto passado: Exemplo: Talvez vocês já tenham ido à Madeira.4) Em orações subordinadas adverbiais: a) Condicionais (caso, sem que, desde que, a menos que, a não ser que): Exemplo: Vamos ao cinema hoje, a menos que vocês estejam cansados.
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b) Temporais (até que, logo que, mal): Exemplo: Mal tenham resolvido o problema, digam ‑me. c) Concessivas (embora, se bem que, mesmo que, ainda que): Exemplo: Mesmo que já tenham comido, podem provar este bolo. d) Causais (não porque): Exemplo: Os pais deram ‑lhe um carro, não porque ele tenha merecido, mas por pena.5) Em orações subordinadas relativas em situações indeterminadas: Exemplo: Nunca conheci ninguém que tenha ido à Namíbia.6) Em frases exclamativas de desejo: Exemplo: Oxalá eles tenham chegado bem! A viagem é tão perigosa!7) Depois de verbos de opinião na forma negativa: Exemplo: Não creio que eles tenham acertado na resposta.8) Nas orações subordinadas concessivas de intensidade (por mais que, por muito que, por pior que, etc.): Exemplo: Por pior que tenha sido a experiência, aprendi algo com ela.9) Depois de expressões indeterminadas (onde quer que, quem quer que, o que quer que, etc.): Exemplo: O que quer que eles tenham feito, ninguém descobriu nada.
ESCRITA
8. Complete as frases com as formas verbais no Pretérito Perfeito Composto do Conjuntivo.
1. É provável que elas ______________________________________________________________ (ver) o espetáculo em Londres. Estavam lá na altura em que estreou.
2. O acidente foi muito violento! Receio que os passageiros ______________________________________________________________ (ficar) gravemente feridos.
3. A nossa secretária ainda não chegou. Talvez não ______________________________________________________________ (conseguir) apanhar o comboio das 8
horas.
4. O João pediu ‑me dinheiro emprestado, mas não lho emprestarei sem que ele ______________________________________________________________ (esgotar)
primeiro todas as possibilidades junto dos bancos.
5. Meninos, logo que ______________________________________________________________ (fazer) os trabalhos de casa, venham comer gelado.
6. Embora eles ______________________________________________________________ (chegar) cedo, não conseguem arranjar lugar em frente do palco.
7. Há alguém que o ______________________________________________________________ (ver) no cinema à hora do assalto?
8. Estás chateado? Não acredito que ______________________________________________________________ (ficar) zangado comigo por causa de uma brincadeira!
9. Por muito que ele ______________________________________________________________ (esforçar ‑se) não conseguiu passar no exame de condução. Não tem
muito jeito!
10. O que quer que ela te ______________________________________________________________ (dizer), podes ter a certeza de que é mentira. Ela nunca diz a
verdade.
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9. Faça a correspondência entre as duas colunas.
Anterioridade em relação a:
1. Embora eles tenham estudado, não conseguiram passar no exame.
a) Ação já realizada no passado.
b) Ação a decorrer no presente.
c) Ação a realizar no futuro.
2. Receio que ele não tenha compreendido o que estou a explicar.
3. É provável que ela tenha chegado antes de ter começado a chover.
4. Quando a loja abrir, espero que os móveis já tenham chegado.
5. Quando tiveres acabado o quadro, compraremos a moldura.
6. Duvido que o rapaz tenha percebido o sacrifício que os pais estão a fazer para ele se formar.
7 TEXTO D
Muito, pouco ou nada?
Há uma expectativa e uma ansiedade sempre que se pede a conta. São os dois lados de uma equação que tem ao
centro a famosa gorjeta. Dar ou não dar? E quanto?
Viagem à volta do mundo do dinheiro que fica na mesa
Há momentos em que até o mais experiente diplomata é apanhado
desprevenido. Como aquele jantar que o então embaixador de Portugal
na ONU, Francisco Seixas da Costa, organizou em Nova Iorque e que
acabou com os empregados a saírem restaurante afora atrás dele. A
comida era boa, o atendimento cortês e, no fim, todo o grupo ficou
satisfeito. Em cima da mesa deixaram aquilo que qualquer português
consideraria uma “gratificação razoável”. A gorjeta, porém, perdeu ‑se
na tradução. “Vieram a correr atrás de mim a perguntar se tinha havido algum problema”, recorda Seixas da Costa.
Se em Portugal cada cliente dá quando e quanto quer, no estrangeiro há regras para todos os gostos. Nos EUA,
por exemplo, a gorjeta faz parte da conta. “Quando lá morei, andava sempre com uma tabela no bolso para saber
quanto deixar”, conta o antigo diplomata, gastrónomo amador e autor de uma crítica de comida da revista Evasões.
Por cá, a decisão toma ‑se na hora de pagar. É aquele momento de hesitação em que se olha para a carteira e
rapidamente se fazem contas de cabeça. Dar ou não gorjeta, eis a questão.
Apesar da hesitação, os portugueses lá acabam por ir deixando. Não sem antes discutir o valor. Quanto vale, afinal,
o esforço extra de quem nos atende? Sem estabelecer soluções milagrosas, o matemático Rogério Martins criou uma
fórmula para ajudar a chegar a uma gratificação razoável. Se somarmos a qualidade do serviço de mesa (de 0 a 10),
com a qualidade da comida (novamente de 0 a 10), mais a localização da mesa (de 0 a 10), dividirmos por 300 e
multiplicarmos esse valor pelo total, conseguimos chegar ao que é uma quantia “normal para um português”. Nada
de muito complicado (a fórmula está ao lado) e basta uma caneta e a calculadora do telemóvel – claro que existem
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aplicações de smartphone capazes de o fazer em segundos, mas não é tão engraçado.
Ainda assim, na hora de decidir, e matemática à parte, é provável que nas
consciências pesem os baixos salários de quem serve, num espírito que pode
ser de solidariedade ou de paternalismo. “É também uma atitude ideológica.
Antigamente, era uma forma de o empregador manter o salário baixo e de o
cliente encarar a gorjeta como uma ação de caridade e assistencialismo”, diz a
historiadora Irene Pimentel. A evolução da gorjeta não ficou imune à do país:
de ato indispensável à subsistência de profissões que dela dependiam passou
a atitude non grata após a Revolução. Em período democrático estabelecido,
e num país onde o turismo disparou, hoje é algo comum. “O turismo de luxo
está a aumentar o valor das gorjetas, há quem deixe 50 €”, conta Seixas da Costa,
que já viu nascer uma discussão, num restaurante caro da capital, depois de uma generosa gratificação que não foi
repartida por todos os empregados, ao contrário do que acontece em muitas cozinhas. Distorcido o valor da realidade,
aumenta ‑se a importância social de quem dá. Se quer um bom serviço, há que gratificar assim que se chega ao local.
Carolina Reis in A Revista do Expresso (texto com supressões)
ESCRITA
10. Responda às perguntas sobre o Texto D.
1. Porque é que os empregados foram atrás de Seixas da Costa depois do jantar que ele organizou em Nova Iorque?
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2. O que significa a frase “A gorjeta perdeu ‑se na tradução.”?
_______________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________
_______________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________
3. O que acha da fórmula para calcular as gratificações?
_______________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________
_______________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________
4. Explique o sentido da frase “Distorcido o valor da realidade, aumenta ‑se a importância social de quem dá.”?
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_______________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________
Como calcular a gorjetaUse a fórmula:
G = (S+C+M) / 300 x T
S – Qualidade do serviço de mesa (de 0 a 10)
C – Qualidade da comida (de 0 a 10)
M – Localização da mesa (de 0 a 10)
T – Valor total da contaG – Gorjeta
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11. Dê a sua opinião sobre o seguinte tema:
A gorjeta, por um lado, é arbitrária, cria incerteza no servidor e isso é negativo. Por outro lado, o cliente, ao premiar um bom serviço, dá incentivos ao trabalhador, e isso é positivo.
_______________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________
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ORALIDADE
12. Trabalho de pares. Com o seu colega, ou grupo de colegas, debata os temas
que se seguem.
1. Fale sobre o sistema de gorjetas em Portugal e em outros países que tenha visitado.
Conte as suas experiências na hora de dar gorjeta. Concorda com este sistema
de gratificações? Além dos restaurantes, onde é que é habitual dar gorjeta em
Portugal, no seu país ou em outros países que conheça?
2. Simule um debate sobre o serviço de gorjetas, no qual um grupo é a favor e
outro grupo é contra. Apresentem os vossos argumentos e defendam ‑nos.
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8 13. Ouça o Texto E e assinale se as frases são verdadeiras (V) ou falsas (F). Depois, corrija as frases falsas.
1. O André chama avarenta à Laura.
2. A Laura acha que ao dar gorjeta estamos a pagar duas vezes o mesmo serviço.
3. Segundo o André, as gorjetas permitem baixar os salários no fim do mês.
4. Na opinião do André, a gorjeta incentiva o empregado a esforçar ‑se mais.
5. A Laura diz que também lhe dão gorjetas para ser melhor no seu trabalho.
6. A Laura acha que algumas pessoas dão boas gorjetas por vaidade.
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_______________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________
_______________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________
8 14. Ouça novamente o Texto E e complete o quadro.
Na opinião do André, deve dar ‑se gorjeta porque:
1. ____________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________
2. ____________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________
3. ____________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________
Na opinião da Laura, não se deve dar gorjeta porque:
1. ____________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________
2. ____________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________
3. ____________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________
ESCRITA
15. Complete as frases de acordo com o sentido do Texto E.
1. A Laura acha que muita gente dá gorjeta apenas para _______________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________.
2. O André só não deixa gorjeta no __________________________________________________________________ e nos __________________________________________________________________.
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9 16. Ouça o poema e complete os espaços.
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TEXTO FMar
De todos os cantos do mundo
Amo com um amor _______________________________________________
Aquela praia _______________________________________________,
_______________________________________________ ao mar, ao vento e à lua.
Cheiro a terra as árvores e o vento
Que a Primavera _______________________________________________
Mas neles só quero e só procuro
_______________________________________________ das ondas
Subindo para os astros _______________________________________________.
Sophia de Mello Breyner Andresen, Cem Poemas de Sophia, 2.ª edição, Lisboa, Editorial Caminho (2004) Visão JL, p.15.
Sophia de Mello Breyner Andresen
Nasceu no Porto em 1919 e morreu em 2004. Autora de livros de poesia e de literatura infantil e um dos maiores nomes da lírica
portuguesa. A sua obra recebeu inúmeras distinções.
GRAMÁTICA
Revisão verbal e colocação dos pronomes clíticos
17. Complete o Texto G com as formas verbais corretas e os pronomes pessoais clíticos, antes ou depois da
forma verbal.
TEXTO G
A noite chegou docemente. A poente o horizonte _______________________________________________________ (tingir ‑se) de fogo, como um gigantesco
incêndio, unindo o céu e a terra.
_______________________________________________________ (eu / levantar ‑se) da cadeira onde _______________________________________________________ (sentar ‑se) uma hora antes, embalado
pelas recordações que aquele fim de dia _______________________________________________________ (trazer) à memória.
_______________________________________________________ (eu / lembrar ‑se) de ti, linda, passeando pelo jardim, mais bela do que todas as rosas que tu
_______________________________________________________ (cuidar) com tanto carinho.
_______________________________________________________ (eu / perguntar ‑se) por onde _______________________________________________________ (andar) tu agora. _______________________________________________________ (ser) que
alguma vez, mesmo que por breves instantes, _______________________________________________________ (tu / lembrar ‑se) ainda de mim? _______________________________________________________
(ser) que _______________________________________________________ (tu / esquecer ‑se) definitivamente do nosso amor, ou mesmo deste jardim que
tu tanto _______________________________________________________ (amar)?
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UNIDADE 1Aspetos Culturais Portugueses
Nunca mais _______________________________________________________ (eu / ver / tu) desde aquele dia, o mais triste, em que _______________________________________________________
(tu / ir) embora, sem um adeus, sem uma palavra de despedida, sem uma explicação.
Onde _______________________________________________________ (tu / esconder ‑se) meu amor? Por que _______________________________________________________ (tu / abandonar / eu)?
As rosas do nosso jardim _______________________________________________________ (murchar). Mais um dia morreu e a minha dor _______________________________________________________
(continuar) tão viva como no dia em que tu _______________________________________________________ (partir).
A noite chegou e eu vejo ‑te refletida em cada estrela!
DITOS E EXPRESSÕES POPULARES
Expressões idiomáticas e outros ditos populares
Uma expressão idiomática é um conjunto de palavras com um significado diferente da definição literal habitual e que
se fixou na língua através do tempo e do uso. Apesar de, geralmente, ser impossível traduzir à letra uma expressão
idiomática, não deixa de ser possível encontrar outras expressões, contendo a mesma ideia sob forma diferente.
As expressões idiomáticas representam aspetos culturais e características de diferentes grupos socioculturais e são
usadas pelos falantes nativos numa linguagem quotidiana.
Ao aprender uma língua estrangeira, devemos aprender também a sua cultura.
As expressões idiomáticas, sendo um reflexo dessa mesma cultura, representam de
forma metafórica os sentimentos, as experiências estéticas e as práticas morais
de um povo.
Frequentemente as expressões idiomáticas atribuem qualidades ou defeitos aos
animais, comparando ‑os com o comportamento do ser humano. Seguem ‑se algumas
das expressões idiomáticas mais comuns.
Expressão idiomática Significado
1. Andar às aranhas Estar desorientado, sem saber o que fazer. Não sei onde deixei o meu carro! Ando aqui às aranhas e não o encontro!
2. Passar de cavalo para burro
Regredir na vida; piorar na vida.
Coitado do Manuel! Perdeu o emprego e a casa. Está a andar de cavalo para burro!
3. Aqui há gato Mostrar ‑se desconfiado.
Quando entrei na sala, o Pedrinho estava a esconder alguma coisa debaixo do sofá. Hum! Aqui há gato!
4. Armar ‑se aos cágados
Fazer ‑se de importante.
Não vale a pena armares ‑te aos cágados porque eu já te conheço bem!
5. Armar ‑se em carapau de corrida
Fazer ‑se de esperto.
Percebeste bem o que eu disse! Não te estejas a armar em carapau de corrida!
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Expressão idiomática Significado
6. Cantar de galo Achar ‑se importante; falar de modo arrogante ou autoritário, tentando impor a sua vontade.
O Carlos é muito arrogante e acha que sabe tudo. Quando fala com os seus colegas canta de galo.
7. Cego como uma toupeira
Pessoa que vê mal.
Sem os óculos sou cego como uma toupeira.
8. Chorar lágrimas de crocodilo
Choro fingido; ser hipócrita.
Depois do que me fizeste, não venhas agora chorar lágrimas de crocodilo porque eu não acredito em ti!
9. Engolir sapos Ser obrigado a fazer algo de que não se gosta; ouvir algo desagradável e ficar calado.
Para chegar a chefe, o João teve de engolir muitos sapos.
10. Estar com olhos de carneiro mal morto
Olhos de pessoa triste, sem brilho.
Tendo perdido o jogo, o Pedro está ali sentado com olhos de carneiro mal morto. Está desolado!
11. Ser estúpido como um camelo/uma galinha
Pessoa muito estúpida.
O Pedro nunca percebe nada. É estúpido como um camelo/uma galinha.
12. Ser mudo como um peixe
Alguém que fala pouco ou não fala nada.
A Ana nunca diz nada. É muda como um peixe.
13. Parecer uma barata tonta
Estar desorientado.
Está quieto! Pareces uma barata tonta a andar de um lado para o outro!
14. Ter uma fome de lobo
Estar esfomeado.
Ainda não são horas de jantar? Estou com uma fome de lobo!
15. Estar/Ficar com a pulga atrás da orelha
Estar/Ficar desconfiado.
Depois de ver as contas da empresa, o Sr. Simões está com a pulga atrás da orelha.
16. Voltar à vaca fria Regressar ao assunto original.
Meus senhores, estamos a desconversar. Voltemos à vaca fria e continuemos a reunião!
18. Complete as frases com as expressões idiomáticas do quadro anterior.
1. Não gostei da explicação que ela deu. Fiquei com __________________________________________________________ atrás da orelha.
2. Ainda não almocei. Estou com uma fome __________________________________________________________.
3. O Sr. Fonseca é tão desorientado! Anda sempre de um lado para o outro como uma __________________________________________________________.
4. O Sr. Martins era rico, mas ficou pobre de um dia para o outro. Parece que anda __________________________________________________________.
5. O António acha que é o maior! Está sempre a cantar __________________________________________________________.
6. Meus senhores, tenham calma! Não podemos fugir do assunto que estamos a debater. Vamos lá __________________________________________________________.
UNIDADE 1Caderno de Exercícios e Aspetos Culturais
Portuguêsem Foco4
Caderno de Exercícios e Aspetos Culturais
Níveis C1/C2
Lidel – edições técnicas, lda.www.lidel.pt
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A Lidel adquiriu este estatuto através da assinatura de um protocolo com o Camões – Instituto da Cooperação e da Língua, que visa destacar um conjunto de entidades que contribuem para a promoção internacional da língua portuguesa.
Edição e DistribuiçãoLidel – Edições Técnicas, LdaRua D. Estefânia, 183, r/c Dto – 1049 ‑057 LisboaTel: +351 213 511 448 [email protected] de edição: [email protected]
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Copyright © 2021, Lidel – Edições Técnicas, Lda.ISBN edição impressa: 978‑989‑752‑505‑61.ª edição impressa: junho de 2021
Paginação: Pedro SantosImpressão e acabamento: Cafilesa ‑ Soluções Gráficas, Lda.Dep. Legal: 484287/21
Capa: José Manuel Reis
Fotografias: vários (página141)
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Unidade Conteúdos gramaticais Aspetos culturais
1pág. 5
• Pretérito perfeito composto do conjuntivo
• O adjetivo
• Correspondência entre frases – sinónimos
• Expressões com a palavra bater
• Revisões – preposições
• Interação social – convenções comportamentais e proxémica
2pág. 19
• Pretérito mais-que-perfeito composto do conjuntivo
• Colocação do sujeito depois do verbo
• Correspondência entre frases – sinónimos
• Expressões com a palavra água
• Revisões – preposições
• Valores, crenças e atitudes na sociedade portuguesa – a exposição das crianças nas redes sociais
3pág. 31
• Futuro composto do conjuntivo
• Correspondência entre frases – sinónimos
• Expressões com a palavra boca
• Revisões – preposições
• A comparação e a metáfora
• Os rituais na alimentação
• A história por detrás de algumas tradições gastronómicas (o bacalhau e o pão)
4pág. 39
• Futuro composto do indicativo
• Condicional composto
• Correspondência entre frases – sinónimos
• Expressões com a palavra braço
• Revisões – preposições
• Socialização no ciclo de vida
• Conhecer a importância que os rituais desempenham no ciclo de vida
• Reconhecer alguns rituais da sociedade portuguesa
5pág. 48
• Gerúndio simples e composto
• O gerúndio para exprimir tempo, causa, modo, condição e concessão
• O gerúndio com verbos auxiliares para evidenciar valor aspetual
• Correspondência entre frases – sinónimos
• Expressões com a palavra cara
• Tabus interculturais – vida morte
• Reconhecer a importância dos rituais de passagem na sociedade e o modo como facilitam a superação de momentos de transição imprevisíveis, como a morte
6pág. 58
• Infinitivo flexionado
• Infinitivo não flexionado
• Particípio
• Correspondência entre frases – sinónimos
• Expressões com a palavra asa
• Estereótipos culturais
• Compreender os estereótipos enquanto formas de representação social e falsa perceção da realidade
• Desmontar estereótipos
7pág. 71
• Revisões gerais – preposições e tempos e modos verbais
• Relação entre palavras – palavras homógrafas
• A Dieta Mediterrânica, Património da Humanidade
• Conhecer a Dieta Mediterrânica e compará-la com a dieta específica de outros países
Índice Geral
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8pág. 81
• Revisões gerais – preposições e tempos e modos verbais
• Questões de semântica em frases complexas
• Relação entre palavras – palavras homófonas
• Património Cultural e Natural
• Definir o conceito de património
• Identificar algumas das principais referências do património natural e cultural português
9pág. 92
• Revisões gerais – preposições e tempos e modos verbais
• A condição, o tempo e a causa – orações com indicativo, com conjuntivo, com infinitivo pessoal – revisão geral
• Conhecer duas figuras emblemáticas da cultura nacional – Camões e Saramago
10pág. 103
• Revisões Gerais – tempos e modos verbais
• Português europeu e português do Brasil – léxico, morfologia e sintaxe
• Conhecer alguns aspetos relacionados com a interculturalidade
• Conhecer a presença da cultura portuguesa no Brasil e no mundo
11pág. 111
• Revisões gerais – preposições e tempos e modos verbais
• Fado – Património Cultural Imaterial da Humanidade
• Conhecer alguns aspetos históricos relacionados com o Fado
• Conhecer alguns tipos de Fado
12pág. 120
• Revisões gerais • O Modernismo em Portugal – a revista Orpheu
• Conhecer alguns aspetos relacionados com a revista Orpheu
• Conhecer alguns artistas do primeiro modernismo português
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Caderno de Exercícios e Aspetos Culturais
GRAMÁTICA
1. Complete as frases com os verbos na forma correta.
Exemplo: Espero que eles tenham chegado bem ao destino.
1. A: Malta, há alguém que já ____________________________________________________________ (ler) as instruções da nova máquina de café?
B: Talvez a Maria ____________________________________________________________ (fazer) isso. Ela adora manuais de instrução.
2. A: Por mais que eu ____________________________________________________________ (insistir), a Ana não me contou o que se passa.
B: Talvez ela ____________________________________________________________ (zangar ‑se) com o namorado. Ultimamente ____________________________________________________________ (andar) tão
em baixo.
3. A: O que quer que lhe ____________________________________________________________ (acontecer), deve ser muito grave, mas ela não diz nada.
B: Achas que estará doente? Só espero que não ____________________________________________________________ (fazer) algum disparate.
4. A: Meus senhores, logo que ____________________________________________________________ (acabar) de preencher os questionários, entreguem ‑nos à
minha secretária, por favor.
B: Desculpe, eu ____________________________________________________________ ( gostar) de saber para que servem estes questionários. Devemos estar
preocupados com os nossos postos de trabalho?
2. Complete o texto usando as preposições da caixa.
sem / sem / durante / por / de / em / a / com
Parece que este caso se passou _______________________________________________ EUA.
Os moradores _______________________________________________ um bairro ficaram perplexos quando viram na sua rua um
carro a andar de marcha atrás e _______________________________________________ círculos _______________________________________________ uma hora.
No lugar _______________________________________________ condutor estava um cão. O dono do carro explicou
_______________________________________________ polícia que tinha deixado o carro ligado quando saiu, achava ele,
_______________________________________________ apenas uns minutos. O cão entrou _______________________________________________ veículo sem
ninguém ver e, _______________________________________________ acaso, acionou a marcha atrás.
A polícia conseguiu parar o carro e salvar o cão que, imaginamos nós, já devia
estar enjoado _______________________________________________ tanta volta.
UNIDADE 1
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UNIDADE 1 Português em Foco 4
3. Leia o texto e faça os exercícios propostos.
Com que brilho e inspiração copiosa a compusera o Divino Artista que faz as serras, e que tanto as cuidou, e tão
ricamente as dotou, neste seu Portugal bem -amado! A grandeza igualava a graça. Para os vales, poderosamente
cavados, desciam bandos de arvoredos, tão copados e redondos, de um verde tão moço, que eram como um musgo
macio onde apetecia cair e rolar. Dos pendores, sobranceiros ao carreiro fragoso, largas ramarias estendiam o seu
toldo amável, a que o esvoaçar leve dos pássaros sacudia a fragância. Através dos muros seculares, que sustêm as
terras liados pelas heras, rompiam grossas raízes coleantes a que mais hera se enroscava. Em todo o torrão, de cada
fenda, brotavam flores silvestres. Brancas rochas, pelas encostas, alastravam a sólida nudez do seu ventre polido pelo
vento e pelo sol; outras, vestidas de líquen e de silvados floridos, avançavam como proas de galeras enfeitadas: e, de
entre as que se apinhavam nos cimos, algum casebre que para lá galgara, todo amachucado e torto, espreitava pelos
postigos negros, sob as desgrenhadas farripas de verdura que o vento lhe semeara nas telhas. Por toda a parte a água
sussurrante, a água fecundante (...). Espertos regatinhos fugiam, rindo com os seixos, de entre as patas da égua e
do burro; grossos ribeiros açodados saltavam com fragor de pedra em pedra; fios direitos e luzidios como codas de
prata vibravam e faiscavam das alturas dos barrancos; e muita fonte, posta à beira de veredas, jorrava por uma bica,
beneficamente, à espera dos homens e dos gados (...). Todo um cabeço por vezes era uma seara, onde um vasto
carvalho ancestral, solitário, dominava como seu senhor e seu guarda. Em socalcos verdejavam laranjais rescendentes.
Caminhos de lajes soltas circundavam fartos prados com carneiros e vacas retouçando – ou mais estreitos, entalados
em muros, penetravam sob ramadas de parra espessa, numa penumbra de repouso e frescura. Trepávamos então
alguma ruazinha de aldeia, dez ou doze casebres, sumidos entre figueiras, onde se esgarçava, fugindo do lar pela
telha vã, o fumo branco e cheiroso das pinhas. Nos cerros remotos, por cima da negrura pensativa dos pinheirais,
branquejavam ermidas. O ar fino e puro entrava na alma, e na alma espalhava alegria e força. Um esparso tilintar de
chocalhos de guizos morria pelas quebradas (...).
Jacinto adiante, na sua égua ruça, murmurava:
– Que beleza!
E eu atrás, no burro de Sancho, murmurava:
– Que beleza!
Eça de Queiroz, A Cidade e as Serras, Livros do Brasil, edição baseada nos manuscritos e na edição de 1901 (Com supressões)
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UNIDADE 1Caderno de Exercícios e Aspetos Culturais UNIDADE 1
1. Eça de Queiroz, mestre na adjetivação, atribui, por vezes, a um substantivo concreto uma qualidade abstrata,
ou a um ser inanimado confere qualidades humanas. Procure no texto exemplos desta adjetivação.
2. Eça de Queiroz descreve a paisagem, ao estilo impressionista, através de cores, tonalidades, sons, cheiros,
sensações. Procure no texto exemplos desta adjetivação.
4. Depois de ler o texto que se segue, reescreva ‑o, substituindo as partes sublinhadas pelos adjetivos da caixa.
invisível / cabisbaixa / tímida / muda / discreta / interessada
Luísa entrou no salão de baile depois de a orquestra atacar a valsa. O olhar no chão, deslizou silenciosamente até
ao fundo da sala e sentou -se num cadeirão que se encontrava atrás de uma palmeira, evitando o olhar dos outros
convidados. Não falou com ninguém, mas olhou demoradamente os pares que rodopiavam pela sala.
À meia -noite levantou -se, passou rente à parede sem que alguém notasse a sua presença. Saiu para a rua e desapareceu
na escuridão.
5. Substitua o adjetivo aberto pela palavra ou expressão mais adequada da caixa e faça as alterações necessárias.
não cicatrizada / vasto / desabrochadas / em funcionamento / desabotoada /
sem preconceitos / calorosamente / límpido / espantado
1. Do cimo do monte avistava ‑se o campo aberto, a perder de vista.
2. Apesar do tratamento prolongado, a ferida continuava aberta.
3. Foi barrado à porta da discoteca por levar a camisa aberta até meio do peito.
4. Ela olhou, embevecida, as flores abertas e perfumadas.
5. Aos sábados o escritório não está aberto.
6. Para amanhã teremos céu aberto e temperaturas suaves.
7. A Dona Ana é uma mulher de espírito aberto, apesar da idade avançada.
8. Ela recebeu os amigos de braços abertos.
9. Quando recebeu a notícia, ficou de boca aberta.
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6. O verbo bater pode ocorrer com várias locuções. Faça a correspondência entre as frases (a ‑i) e o significado
do verbo bater + locução (1 ‑9).
1. bater o pé a. O que se passa com o Zé? Parece que não
regula bem da cabeça!
2. bater a porta b. O Antunes foi condenado por espancar o cão.
3. bater os dentes c. Ficou tão assustada que até tremia de medo
durante o interrogatório.
4. bater o terreno d. Ela saiu da empresa, furiosa, mas fazendo valer
a sua razão.
5. bater os ovos e. A Maria é muito corajosa. Ela luta ferozmente
pelas suas convicções.
6. bater as horas f. O relógio da torre fez soar o meio -dia.
7. bater em alguém g. A criança teimou e só foi para a cama quando
todos se foram deitar.
8. não bater bem h. A Sofia despejou os ovos para uma tijela e
mexeu-os com muito vigor.
9. bater -se por alguém/algo i. A polícia explorou todo o terreno, mas não
encontrou o idoso desaparecido.
SUGESTÕES DE LEITURA
1. Leia uma das obras propostas e complete a ficha de leitura.
Eça de Queiroz – A Cidade e as Serras
José Eduardo Agualusa – O Vendedor de Passados
Sophia de Mello Breyner Andresen – Cem Poemas de Sophia
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UNIDADE 1Caderno de Exercícios e Aspetos Culturais
FICHA DE LEITURA
Título da obra
Editor
Local e data de edição
Informações sobre o autor (biografia resumida)
Outras obras do autor (bibliografia)
Resumo / Sinopse da obra
Citações da obra
Comentário sobre o livro
EXPRESSÃO ESCRITA
1. Leia o poema “Mar”, de Sophia de Mello Breyner Andresen, em Cem Poemas de Sophia, e escreva um poema
com o mesmo título.
2. Escreva um texto com o título “De todos os cantos do mundo” em cerca de 180 ‑200 palavras.
3. Descreva um lugar especial para si em cerca de 180 ‑200 palavras.
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UNIDADE 1 Português em Foco 4
ASPETOS CULTURAIS E INTERCULTURALIDADE
INTERAÇÃO SOCIAL – CONVENÇÕES COMPORTAMENTAIS E PROXÉMICA
Objetivos: Identificar a importância gestual na comunicação intercultural; reconhecer gestos usados para
cumprimentar ou apresentar alguém; descodificar gestos; relacionar gestos com a comunicação verbal;
levantamento de mal ‑entendidos interculturais
1. Leia os textos sobre gestos portugueses e responda às perguntas.
1.O polegar para cima indica uma coisa boa; sucesso.Se o polegar está para baixo indica algo negativo; insucesso.É um gesto ofensivo em alguns países.
Fazer figas significa pedir sorte. É um gesto muito ofensivo em alguns países.
2.
3.Este é o gesto para significar que tudo está bem.Pode ser um gesto ofensivo em alguns países.
O V de vitória é um gesto internacional, mas pouco usadopelos portugueses. Pode ser um gesto ofensivo em alguns países. Muito usado nos países asiáticos na hora de tirar uma fotografia.
4.
5.É um gesto para chamar alguém. Também pode ser usada a mão todacom os dedos dobrados. Pode ser um gesto ofensivo em outros países.
A palma da mão aberta e dirigida para uma pessoa significa:“Parar!” Em alguns países pode ser um insulto.
6.
1. Algum destes gestos é ofensivo no seu país?
2. Para significar a mesma coisa que tipo de gestos usa no seu país?
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UNIDADE 1Caderno de Exercícios e Aspetos Culturais
2. Leia o texto e observe as imagens. De seguida, responda à pergunta.
As mãos também falam
A comunicação não -verbal compreende cerca de 50% da nossa compreensão. Os gestos reforçam a palavra ou
podem substituí -la. Por vezes, os gestos são suficientes para transmitir uma mensagem.
Convém ter em atenção, no entanto, que os gestos podem também significar o contrário da palavra. Podemos dizer
algo ao nosso interlocutor e, através de um gesto, significar o oposto.
O gesto é uma convenção cultural. O mesmo gesto pode ter significados muito diferentes em diferentes países. Um
gesto amigável num país pode significar uma ofensa noutro país. É necessário conhecer a descodificação do gesto
para evitar o mal -entendido cultural. Por exemplo, em Portugal, durante uma conversação, o contacto visual entre
dois ou mais interlocutores é bem-visto porque demonstra interesse e franqueza. No entanto, noutras culturas, é
malvisto porque é considerado impróprio e até rude. De qualquer modo, nunca se deve olhar fixamente o interlocutor,
a não ser que se queira demonstrar superioridade ou sarcasmo. Há gestos que se usam numa conversação normal,
outros são mais informais ou familiares e alguns podem ser mesmo vulgares e ofensivos.
Quando estudamos uma língua, é importante conhecer os gestos mais comuns do país -alvo para evitarmos situações
confrangedoras ou mal -entendidos culturais.
Gestos normais Gestos familiares Gestos vulgares
telefonar beijinho Vai -te lixar!
ter sono estar farto Toma!
1. Compare os gestos portugueses indicados acima com os gestos que têm o mesmo significado no seu país.
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UNIDADE 1 Português em Foco 4
3. Leia o texto e observe as imagens. De seguida, responda à pergunta.
Contar pelos dedos
Nem todos usamos os mesmos dedos para contar. Em Portugal, quando começamos a contar, começamos pelo
dedo mindinho (o mais pequeno), que é o número um, e vamos até ao polegar, que é o número cinco. No entanto,
se queremos apenas referir uma unidade, usamos o indicador apontado para cima. Se queremos só significar duas
unidades, usamos o indicador e o dedo médio.
uma unidade, em Portugal
três unidades, em Portugal
três unidades, na Alemanha
1. Como é no seu país? Conte até cinco, usando os dedos.
4. Indique o significado dos gestos nas imagens abaixo e diga se existem no seu país.
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2 ___________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________
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