prÁticas museais de preservaÇÃo: digitalizaÇÃo das imagens e ... · 3 professora orientadora...
TRANSCRIPT
1
PRÁTICAS MUSEAIS DE PRESERVAÇÃO:
DIGITALIZAÇÃO DAS IMAGENS E VALORIZAÇÃO DAS MEMÓRIAS
(MHIF)
Carla Thaís Rodrigues Rosa1
Centro Universitário Franciscano
Franciele Roveda Maffi2
Museu Histórico e Cultural Irmãs Franciscanas
Roselâine Casanova Corrêa 3
Centro Universitário Franciscano
RESUMO
Abrangendo os vários momentos do cotidiano e a representação da cultura material, a
fotografia nos permite ‘congelar’ um fragmento do tempo em um pedaço de papel.
Atualmente, este processo pode ocorrer por meio de um dispositivo eletrônico, como as
câmeras digitais e os telefones celulares. Por meio destes instrumentos, se permitirá
momentos que reavivam ou instigam nossas memórias. Propõe-se neste artigo,
demonstrar a importância que as imagens têm para a história, sobretudo enquanto fonte
primária em pesquisas de diversas áreas. Pretende-se, ainda, demonstrar a preservação
de objetos e memórias no Museu Histórico e Cultural das Irmãs Franciscanas (MHIF),
no município de Santa Maria (RS). Neste acervo se aplicou a metodologia de
informatização das coleções imagéticas e o acesso pelos recursos digitais.
Palavras-chave: Fotografia; Acervo; Preservação.
INTRODUÇÃO
Ao longo de sua história, o Museu Histórico e Cultural das Irmãs Franciscanas
(MHIF) acumulou um acervo fotográfico significativo, pelo conteúdo representado nas
imagens. Também se destacou pela importância qualitativa e diversidade de temas.
1 Acadêmica do Curso de História do Centro do Centro Universitário Franciscano. 2 Diretora Técnica do Museu Histórico e Cultural das Irmãs Franciscanas (MHIF). 3 Professora Orientadora do Curso de História do Centro Universitário Franciscano.
2
Deste acervo formou-se um tripé construído pelas religiosas, que estão associados aos
eixos: educação, saúde e assistência social.
No que se refere às imagens, buscou-se registrar os lugares que acolheram a
proposta das missões franciscanas, os trabalhos executados nas áreas profissionais e as
construções arquitetônicas. Na arquitetura destacam-se prédios públicos e privados.
Neste caso, se enfatiza os empreendimentos, como: o Hospital de Caridade Dr.
Astrogildo de Azevedo4 e a Faculdade Imaculada Conceição (FIC), atualmente o prédio
que abriga as instalações do Centro Universitário Franciscano (UNIFRA). Ainda,
menciona-se a relevância da Faculdade de Enfermagem intitulada de Nossa Senhora
Medianeira (FACEM), fundada em 1955, sendo a primeira do interior do estado
dedicada à formação do enfermeiro de “alto padrão”, como era conhecido
cientificamente à época.
Para esta produção, utilizou-se como referencial teórico, Reisewitz (2004),
autora que discute conceitos do direito ambiental e patrimônio cultural, tratando-se da
preservação da memória. Esta, considerada um elo para a construção da identidade do
povo brasileiro.
Sob a organização de Silva (1999), a obra intitulada Arquivos, Patrimônio e
Memória: trajetórias e perspectivas se tornou base para as atividades do projeto, tanto
no processo de acondicionamento dos acervos - sobretudo o fotográfico - quanto às
preposições de digitalização. Corroborando com as pesquisas, Telles (1977) em sua
obra, Manual do Patrimônio Histórico, auxilia na contextualização de memória, cultura
e monumentos, em especial na significação das fotografias, em conjunto com a memória
como um bem a priori cultural e material.
Primou-se por uma metodologia de trabalho baseada em diversas pesquisas
bibliográficas e eletrônicas que sugerem ensaios sobre a importância das fotografias
como fontes primárias e a valorização da memória de um determinado grupo ou
4 Hospital de Caridade Dr. Astrogildo de Azevedo (HCAA): A fundação do Hospital ocorreu em 17 de
Julho de 1798. As obras da construção iniciaram em 1899. O precursor do processo de criação foi o
Doutor Astrogildo de Azevedo, que, com o auxílio de doações da Comunidade de Santa Maria, construiu
o complexo hospitalar. As Irmãs Franciscanas foram convidadas a fazer parte da gestão do Hospital, onde
firmaram um contrato com cláusulas estabelecidas para que pudessem desempenhar a missão junto aos
pacientes e os setores que correspondem à organização do hospital. Foi inaugurado em 07 de Setembro de
1903 com grandes festividades, e aclamação do povo da Comarca (DALPIAN; MARQUES, 2008).
3
sociedade. Além disso, como construção de um bem material, sobretudo enquanto
patrimônio, o legado deixado à sociedade. Em se tratando da preservação do
patrimônio, o MHIF incentivou - por meio de sua gestão - o processo de informatização
do acervo imagético, utilizando-se de ferramentas tecnológicas, que visam prolongar a
vida útil das imagens, sem danificá-las. Preocupou-se também em não interferir na
estrutura física das coleções, contribuindo com ações museais de conservação e a
perpetuação da história religiosa da instituição.
Por meio da conservação das coleções, foi possível manter as imagens
higienizadas e preservadas no que compete à estrutura física, e foram acondicionadas
em invólucros de papel de pH neutro, bem como separadas por temáticas. A
transferência do suporte manual para o digital facilitou o acesso ao acervo e permitiu
pesquisas acadêmicas, em cursos de graduação e pós-graduação, no Centro
Universitário Franciscano e no Programa de Patrimônio Cultural da Universidade
Federal de Santa Maria (UFSM).
1. O USO DAS FOTOGRAFIAS COMO FONTES PRIMÁRIAS: ABORDAGENS
TEÓRICAS
A pesquisa por meio de imagens ainda tem sofrido resistência por parte dos
pesquisadores, em especial no campo acadêmico-científico da História. A sua utilização
como fonte primária não é de toda aceita, uma vez que, para alguns, apresenta realidade
duvidosa. Segundo Burke,
num determinado nível, [...] imagens são fontes não confiáveis, distorcendo
espelhos. Contudo, elas compensam essa desvantagem ao oferecer
substancial evidência num outro nível, de tal forma que historiadores possam
transformar um defeito em uma qualidade (2004, p. 37).
Considerando que as fotografias com o recorte temporal da segunda metade do
século XX, sofreram uma interferência externa, seja pelo viés do fotógrafo ou da pessoa
que as encomendou. De fato, as fotografias não apresentam a realidade propriamente
dita, mas por meio de suas nuances e dos questionamentos acerca da fonte imagética, é
possível problematizá-la. Assim, o historiador tem por ofício levantar informações
sobre os aspectos da vida material, do período histórico, da sociedade em geral e suas
mazelas.
4
Entretanto, segundo Burke as “imagens são feitas para comunicar” (2004, p. 43),
mas não propriamente em palavras, pois elas por si só são apenas imagens mudas. É
pertinente compreender e analisar as fotografias como um documento, uma fonte de
pesquisa primária e não como um anexo ou material de apoio. Ao analisar as imagens,
considera-se relevante destacar dois estudos bases: a iconografia e iconologia.
Na perspectiva empírica do conhecimento artístico, Paiva menciona iconografia,
como [...] “uma fonte histórica das mais ricas, que traz imbutida as escolhas do produtor
e todo o contexto no qual foi concebida, idealizada, forjada ou inventada” (2015, p. 17).
Também é o estudo em que se acham reproduzido as obras desta natureza: o conjunto
de imagens relativas a um assunto determinado. Por outro, viés é considerada a análise
descritiva da representação visual de símbolos e imagens, sem levar em consideração o
valor estético que possam ter. Em contrapartida, Panofsky apud Burke, afirma que na
iconografia, “as imagens são parte de toda uma cultura e não podem ser compreendidas
sem o conhecimento prévio daquela cultura” (2004, p. 46). Cultura por definição é todo
aquele complexo que implica o conhecimento, as artes, as leis, a moral, as crenças, os
costumes e hábitos adquiridos pelo indivíduo através da família ou do convívio em
sociedade. Para Telles,
cultura significa o cultivo ou aperfeiçoamento das faculdades físicas,
intelectuais e morais do homem, tudo aquilo que representa o domínio do
homem sobre si mesmo, toda a criação do homem que alcança autonomia em
relação a seu criador. Além disso, inseriríamos outro conceito: cultura seria a
aquisição e realização de ideais de verdade, de beleza e de realização (1997,
p. 09).
Ainda nesse contexto, Panofsky apud Burke (2004), afirma que na pintura da
‘Santa Ceia’ – Leonardo da Vinci em 1495, tendo um conhecimento prévio sobre o
tema, a maioria das pessoas saberá interpretar a obra pictórica. Entretanto, o mesmo não
ocorreria com aquele indivíduo que nunca esteve em contato com histórias bíblicas.
Neste caso, a pintura representaria apenas um alegre jantar festivo. Assim, ocorre com
as fotografias quando são utilizadas como fontes de pesquisa: se faz necessário possuir
uma informação primária acerca do tema tratado, direcionando claramente as perguntas
e a sua problematização. Para Panofsky
quando se trata da representação de temas outros que relatos bíblicos ou
cenas da história ou mitologia que, normalmente, são conhecidos pela media
5
das "pessoas educadas", todos nós somos bosquímanos australianos. Nesses
casos, devemos também nós, tentar nos familiarizar com aquilo que os
autores das representações liam ou sabiam. No entanto, mais uma vez,
embora o conhecimento dos temas e conceitos específicos transmitidos
através de fontes literárias seja indispensável e suficiente para uma análise
iconográfica, não garante sua exatidão. É tão impossível, para nós, fornecer
uma análise iconográfica correta aplicando, indiscriminadamente, nosso
conhecimento literário aos motivos, quanto fornecer uma descrição pré-
iconográfica certa aplicando, indiscriminadamente, nossa experiência prática
às formas (1955. p. 59).
A utilização das fotografias como fontes de pesquisas é entendida sobre um
mesmo prisma, onde os teóricos Panofsky (1955) e Mauad (2008) concordam em alguns
aspectos. Para eles, é imprescindível o conhecimento empírico do tema (as) que permeia
a imagem. É fundamental que os elementos culturais conversem com as imagens, bem
como o conhecimento literário. Entretanto, dispor destes instrumentos não garante a
certeza de uma análise propriamente correta. Porém, é papel do historiador saber
problematizar a pesquisa através de elementos culturais, literários e iconográficos. Ou
seja, é o conjunto dos três elementos que transformará a fotografia em uma fonte
histórica. Nas palavras de Mauad,
[...] a compreensão da fotografia como uma mensagem significativa que se
processa através do tempo, dialogando reiteradamente com os elementos da
cultura material que a produz, demanda, por parte do historiador, um aparato
teórico-metodológico que a crítica tradicional não habilitava, obrigando-o ao
desenvolvimento de novos questionamentos e procedimentos em perfeita
coordenação com outros saberes (2008, p. 20).
É relevante analisar as fotografias, enquanto fontes primárias nas pesquisas
historiográficas, sobretudo na construção de uma identidade cultural, daí implicam-se as
várias temáticas abordadas no acervo imagético do MHIF.
Outro ponto consiste em dominar conceitos ligados a conservação preventiva,
pois as fotografias passaram pelo tratamento adequado, sendo que ao acondicioná-las e
preservá-las se estará garantindo a integridade física da coleção do MHIF. Portanto,
adotou-se uma metodologia com base na substituição do suporte manual para o
informatizado, alcançando um total de 771 imagens digitalizadas.
2. INFORMATIZAÇÃO DO ACERVO IMAGÉTICO NO MHIF: PRÁTICAS DE
PRESERVAÇÃO MUSEAL
6
As fotografias são mais do que simples fragmentos do tempo eternizados em
um papel, consistem em documentos que nos remetem à (re) significação do passado,
sob um olhar do presente e o uso como fonte para pesquisas. Então, se torna
fundamental, a definição de padrões de qualidade na organização e conservação do
acervo imagético, sobretudo o fotográfico. Corroborando a preservação, o Museu
Histórico e Cultural das Irmãs Franciscanas (MHIF), adotou uma metodologia de
escaneamento das imagens fotográficas, onde se realizou a transferência do suporte
impresso para o digital. Isso é viável em decorrência do uso de um equipamento
tecnológico, intitulado de scanner modelo Epson Perfection V550. No aparelho
digitalizou-se uma quantidade de 737 fotografias e postais (figura 01; 02 e 03).
Figura 01- Estagiária preparando
fotografia para digitalização.
Fonte: Acervo Fotográfico MHIF, 2015.
Figura 02- Processo de escaneamento
Aparelho Epson Perfection V550.
Fonte: Acervo Fotográfico MHIF, 2015.
7
O processo de informatização do acervo fotográfico é definido por Dollar,
como um método apropriado que visa prever medidas de acesso. Assim, entende-se por
[...] digitalização a tecnologia que torna uma fotografia eletrônica de um
documento em papel (textos, mapas, desenhos de engenharia, e outros
semelhantes) e armazena digitalmente num sistema computacional. Após sua
conversão em imagens eletrônicas, através de um scanner, esses documentos
são indexados, comprimidos e armazenados em discos digitais ópticos (1994,
p.14).
Após o processo de digitalização, as fotografias foram armazenadas em pastas
informatizadas e catalogadas, juntamente ao servidor da instituição, na mantenedora do
Museu, a SCALIFRA-ZN5, posteriormente divididas por áreas de atuação profissional:
assistência social; educação e saúde. Com isso, evidenciam-se as diversas temáticas
registradas por meio da fotografia ao longo do trabalho de evangelização das irmãs.
5 SCALIFRA- ZN: A mantenedora de educação Sociedade Caritativa e Literária São Francisco de Assis,
iniciou no Brasil em 16 de Maio de 1872, tendo inicialmente sua primeira sede situada em Porto Alegre e
posteriormente mudando-se para São Leopoldo. Sua fundadora e primeira presidente foi Madre Ludgera
Hellwig (DALPIAN; MARQUES, 2008).
Figura 03- Fotografia digitalizada e
informatizada.
Fonte: Acervo Fotográfico – MHIF, 2015.
8
Posteriormente ao processo, realizou-se a higienização mecânica e o
acondicionamento do acervo fotográfico, utilizando-se de luvas tipo látex, máscara de
pó modelo 3M, avental de mangas longas, pincéis macios, pó de borracha ralada e
swab6. Para o acondicionamento adequado, realizou-se a confecção de invólucros de pH
neutro e se revestiu as caixas do mesmo material, que corresponde a 140 de gramatura.
Sucessivamente a essa etapa, se executou o tratamento das fotografias digitalizadas com
o apoio da ferramenta tecnológica chamada photoshop®, um programa de edição de
imagens. Para a correção digital, aplicou-se o uso das ferramentas de seleção
(laço/corte) e dos recursos que o programa disponibiliza: a pintura e edição
(carimbo/nitidez)7.
A mudança do suporte manual para o digital tem por principal finalidade corrigir
as imperfeições encontradas nas imagens e reavivar a nitidez das tonalidades.
O programa de photoshop® é elemento de apoio em pesquisas historiográficas e
iconográficas, pois as fotografias, ao serem tratadas, possibilitarão uma interpretação e
acesso ao acervo pelo recurso digital. Então, o tratamento digital consiste no processo
que visa realizar o aperfeiçoamento das imagens, por meio de ajustes do contraste,
nitidez e imperfeições contidas no suporte. Em virtude deste recurso foi possível
executar o preenchimento das manchas apresentadas, permitindo um emparelhamento
da imagem na integridade. A metodologia adotada pelo MHIF facilitará o acesso do
acervo à comunidade religiosa e acadêmica, por meio da mídia digital. Evidencia-se a
importância das fotografias não somente como documento, mas sim como um legado
passado de geração para geração. Este é o caso do acervo aqui tratado (MHIF), que visa
aprimorar o campo das pesquisas e a construção da memória institucional das Irmãs
Franciscanas.
3. MEMÓRIA E PATRIMÔNIO CULTURAL: DOIS CONCEITOS EM DISCUSSÃO
6 Swab: Haste em madeira com algodão na extremidade. Costuma-se utilizar o palito de churrasco ou
talher oriental (MANUAL DE HIGIENIZAÇÃO E ACONDICIONAMENTO - SDM, 2006). 7 A ferramenta carimbo é útil para duplicar objetos ou remover defeitos em imagens. O ajuste da nitidez
melhora a definição das arestas de uma imagem, independente se vem de uma câmera ou scanner
(VIEIRA, 2003).
9
Considerando as correntes filosóficas, segundo Nicola Abbagnano (apud
REISEWITZ, 2004, p. 51), o ‘bem’ “[...] é a palavra tradicional para indicar o que, na
linguagem moderna, se chama valor”. Um livro, um documento, uma carta e mesmo
uma fotografia são considerados bens; os objetos adquirem essa definição agregados ao
conjunto de valores que atribuímos a eles. No acervo imagético do MHIF, sobretudo
com as fotografias, ocorre o mesmo. Portanto, a preservação torna-se essencial, quanto à
manutenção física das coleções. Na Constituição Federal8, Art. 216, o patrimônio
cultural brasileiro é definido por
[...] bens de natureza material e imaterial, tomados individualmente ou em
conjunto, portadores de referência à identidade, à ação, à memória dos
diferentes grupos formadores da sociedade brasileira, nos quais se incluem: I
– as formas de expressão; II – os modos de criar, fazer e viver; III – as
criações científicas, artísticas e tecnológicas; IV – as obras, objetos,
documentos, edificações e demais espaços destinados às manifestações
artístico-culturais; V – os conjuntos urbanos e sítios de valor histórico,
paisagístico, artístico, arqueológico, paleontológico, ecológico e científico.
Com referência ao acervo fotográfico do MHIF, pode-se incluí-lo no grupo II do
artigo supracitado, uma vez que nas imagens registradas nas missões franciscanas, foi
possível compreender o trabalho das religiosas, previamente a estrutura da comunidade
cristã. As fotografias são mais que simples imagens, são comunicações. Para Foucault
(apud BURKE, 2004, p. 43), “o que vemos nunca está no que dizemos”.
No cenário teórico, as fotografias são compreendidas como imagens-documentos e
imagens-monumentos. Assim, possuem uma historicidade, na qual esboçam formas de
conhecer e imaginar. A fotografia enquanto documento, assume o papel de fonte de
pesquisa, porém torna-se monumento enquanto patrimônio histórico. No MHIF, o
acervo passa a desempenhar uma função dúbia, de imagem documento e imagem
monumento, pois a fotografia é fonte primária (documento) e patrimônio (monumento).
Quando se trata do patrimônio monumento, destaca-se no acervo a representação
dos empreendimentos arquitetônicos, as missões em nível de Brasil e internacional9, em
8 Constituição Federal5: “A constituição Federal brasileira, promulgada em cinco de outubro de 1988,
positivou o direito à preservação ambiental considerando-o essencial à sadia qualidade de vida humana e
à manutenção da vida em todas as suas formas” (REISEWITZ, 2004, p. 03).
9 Guatemala: É o 3º maior país da América Central, com área de 108,8 quilômetros quadrados. A língua
oficial é o espanhol, mas há outros dialetos maias. Com quase quarenta anos vivendo os horrores de uma
10
especial no município de Santa Maria (RS), onde é evidenciado o maior legado das
Irmãs Franciscanas, desde 1903. Além disso, as trajetórias e construções de valores,
tanto no âmbito social, quanto moral, religioso e ético.
As fotografias do MHIF não poderão ser classificadas como uma simples coleção
de objetos esquecidos pelo tempo. Trata-se de um patrimônio cultural que pertence à
memória das Irmãs Franciscanas. Há, portanto, a necessidade de dispor de padrões que
prime pela qualidade na guarda do acervo. Neste caso, o acondicionamento das imagens
deve obedecer às normas de preservação museológica e arquivística, respeitando e
mantendo a historicidade. O patrimônio como conceito de identidade (s) possui relações
sociais e culturais na formação de um grupo.
Dentro da sociedade contemporânea, pesquisadores e estudiosos, vem
demonstrando constante preocupação com o tema do patrimônio Cultural, onde se
introduz uma discussão reflexiva e inserida na concepção de uma nova abordagem
acerca da problemática da preservação. Portanto, na visão de Reisewitz caracteriza-se
patrimônio
o conjunto de bens de valor cultural sobre os quais recaem um
interesse difuso. A preservação, por exemplo, de um acervo cultural
pode interessar a um número indeterminado de pessoas, esteja ele sob
gerenciamento público ou privado (2004, p.100).
Diante da argumentação apresentada pela autora, pode-se constatar que o
patrimônio é definido pelos indivíduos, dentro de um processo seletivo, o que se
caracteriza bens culturais para alguns, para outros não tem importância histórica. Neste
caso, identifica-se o descaso em relação ao patrimônio da humanidade, pela falta de
conscientização em relação à preservação e manutenção por parte do poder público e às
vezes em esfera privada.
Neste contexto, tem-se outra visão de preservação, no que se refere ao patrimônio
religioso do Museu Histórico e Cultural das Irmãs Franciscanas, é definido como um
bem, no qual permite a compreensão de uma parcela significativa do cotidiano das
guerra civil, a Guatemala foi assolada pela miséria e fome. A história e vida das missionárias na
Guatemala surgem como uma tentativa de “resgate” ao povo guatemalteco que sofreram com os reflexos
pós – guerra (DALPIAN; MARQUES, 2008).
11
religiosas, inseridas no seu tempo histórico, dentro de um contexto político e social.
Considerando Araújo & Batalha,
tomando como ponto de partida a noção do que sobrevive como memória
coletiva de tempos passados não é o conjunto dos monumentos e documentos
que existiram, mas o resultado de uma escolha efetuada pelos historiadores
ou forças que operaram em cada época histórica (1999, p. 65).
Na conjuntura do saber histórico, trabalhar a memória como elemento
constitutivo de uma pesquisa é de suma relevância. Contudo, deve-se identificá-la e
compreendê-la como elemento documental, que está além da epistemologia aplicada nas
ciências do conhecimento. As lembranças são sempre coletivas, mesmo quando vividas
solitariamente: o passeio em uma cidade, ao contemplar os lugares, se lembra de
histórias contadas e revividas por outras pessoas que passaram por ali e que, de alguma
maneira, foi transmitida para outras gerações.
Memória e patrimônio remetem ao conceito da trilogia: espaço, tempo e
lembrança. Assim, para Halbwachs,
[...] é justamente a imagem do espaço que, em função de sua estabilidade, nos
dá a ilusão de não mudar pelo tempo afora e encontrar passado no presente –
mas é exatamente assim que podemos definir a memória e somente o espaço
é estável o bastante para durar sem envelhecer e sem perder nenhuma de suas
partes (2015, p. 94).
O autor se refere à imagem do espaço como uma ilusão de estabilidades sem
transformações. Acrescenta-se que no processo de pertencimento há uma identidade. O
reconhecimento não se compõe apenas do espaço. Visto com o passar da temporalidade,
inevitavelmente o modifica. Então, o historiador deverá observar durante a pesquisa,
duas medidas: o tempo cronológico e tempo espacial.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A memória no âmbito cultural visa à formação da sociedade por tratar-se de
um patrimônio. Dentro do que se acredita por patrimônio, o Museu Histórico e Cultural
das Irmãs Franciscanas de Santa Maria (MHIF), é definido como um bem patrimonial.
A atitude de guardar objetos da Irmã Elenara.... implica na preocupação em agregar
valor aos bens das religiosas franciscanas. Portanto, o museu ganha uma nova
12
conotação na contemporaneidade, quando traz ao público essa leitura dinâmica da
pesquisa, exposição e da memória institucional.
O MHIF, além de preservar a história por meio do acervo iconográfico,
possibilita a formação da identidade de um grupo social. Neste caso, das Irmãs
Franciscanas, nas suas ações profissionais; nas construções arquitetônicas; na estrutura
da clausura religiosa. Assim, as vicissitudes do tempo não são capazes de apagar a
memória desta congregação, pois está presente no cotidiano das religiosas ou
materializadas no acervo do MHIF.
Então, quando se busca reviver a memória de um grupo ou sociedade,
expressado por meio do acervo fotográfico, remete-se a um passado/presente que
permite vivenciar a história, construída por indivíduos, que participam ou participaram
direta ou indiretamente dos fatos registrados. Assim, a gestão museal do MHIF tem por
premissa manter presente nas Irmãs Franciscanas, o sentimento de pertença ao contexto
religioso, durante os 180 anos da congregação. Entretanto, é uma tarefa desafiadora e
cotidiana despertar nas Religiosas Franciscanas, o sentimento de pertencimento e que
seja reavivado, quando estas estão em contato com as coleções que compõem o acervo
iconográfico do MHIF.
É fato que as memórias puderam ser transmitidas por meio das publicações
acadêmico-científicas e em eventos de âmbitos nacional/internacional. Cita-se o
ENEIMAGEM - Encontro Nacional e Internacional de Imagem, que aconteceu entre 19
e 22 de maio de 2015, na Universidade Estadual de Londrina (UEL). Neste foi
apresentada a comunicação intitulada A fotografia como recurso de valorização em
memórias e seu uso em pesquisas historiográficas, que faz menção ao trabalho
executado acerca da digitalização do acervo iconográfico em sua fase inicial.
Destaca-se no segundo semestre de 2015, a apresentação O uso das fontes
primárias nas pesquisas historiográficas: valorização da memória por meio da
informatização do acervo imagético, durante o XVI Salão de Extensão da Universidade
Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), no eixo temático que estava associado à
preservação de acervos e memória.
O projeto executado no acervo do MHIF é um recurso baseado em práticas
que atuam na preservação museal, em uma parceria entre o Curso de História do Centro
13
Universitário Franciscano e o Museu Histórico e Cultural das Irmãs Franciscanas
(MHIF), vinculado ao Programa de Pós Graduação de Pesquisa e Extensão (PRPGPE).
O projeto propicia ações que incentivam a formação acadêmica do educando, aliando
teoria à prática, pois viabiliza pré-conhecimentos adquiridos nas disciplinas curriculares
ligadas a área da muselogia e ensino. Por outro viés, possibilita que o (a) bolsista realize
trabalhos vinculados a materialidade das coleções, bem como a preservação da memória
e pesquisa, inserindo-o ainda mais no ambiente acadêmico-científico.
A relevância de projetos como este, proporciona uma formação mais dinâmica
aos estudantes, sobretudo quanto à experiência que servirá como base para futuros
projetos nos âmbitos acadêmico e profissional das pessoas envolvidas.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ANDRADE. Ana Célia. N. Microfilmagem ou Digitalização? O Problema da
Escolha Certa. In: Arquivos, Patrimônio e Memória: trajetórias e perspectivas: São
Paulo, UNESP: FAPESP, 1999.
ARAÚJO, A. M. C; BATALHA, C.H.M. A Experiência do Arquivo Edgard
Leuenroth (AEL). In: Arquivos, Patrimônio e Memória: trajetórias e perspectivas;
Preservação da memória e pesquisa, São Paulo, UNESP: FAPESP, 1999.
BURKE, Peter. Testemunha ocular: história e imagem. Bauru. EDUSC, 2004.
DALPIAN, Laurindo; MARQUES, Maria Aparecida. Uma Trajetória de Fé,
Perseverança: Irmãs Franciscanas Penitência e Caridade Cristã. Santa Maria,
Editora UNIFRA, 2008.
DOLLAR, C. M. O Impacto das Tecnologias de Informação sobre Princípios e
Práticas de Arquivos: algumas considerações. Rio de Janeiro. Acervo: Revista do
Arquivo Nacional, 1994.
FILIPPI, Patrícia; LIMA, Solange. F; CARVALHO, Vânia. C. Como Tratar Coleções
de Fotografias, São Paulo. Arquivo do Estado: Imprensa oficial do Estado, 2002.
FOUCAULT, Michel. A Ordem do Discurso. Londres. Tavistock Publications, 1970.
MANUAL DE HIGIENIZAÇÃO E ACONDICIONAMENTO. Serviço de
Documentação da Marinha - SDM. Rio de Janeiro. 2006.
14
MAUAD, A. M. Fotografia e História: possibilidades de análise. In:____.
CIAVATTA, M; ALVES, N. A leitura de imagens na pesquisa social. 2. Ed. São Paulo:
Cortez, 2008.
PANOFSKY, Erwin. Iconografia e Iconologia: “Uma introdução ao estudo da arte da
Renascença". In: ____. Significado nas Artes Visuais. São Paulo. Perspectiva, 1955.
PAIVA, Eduardo França. História & Imagem. 2ºed. Belo Horizonte: Autêntica
Editora, 2015.
REISEWITZ, Lúcia. Direito Ambiental e Patrimônio Cultural: direito à preservação
da memória, ação e identidade do povo brasileiro. São Paulo. Editora Juarez de
Oliveira, 2004.
TELLES, Leandro. S. Manual do Patrimônio Histórico. Rio Pardo, Editora UCS/EST,
1977.
VIEIRA, Anderson. Adobe PHOTOSHOP 7: guia prático e visual para profissionais e
amadores. Rio de Janeiro, Editora Alta Books Ltda, 2003.
REFERÊNCIAS ELETRÔNICAS
MEMÓRIA COLETIVA. Disponível em: http://lelivros.website/book/a-memoria-
coletiva-maurice-halbwachs/. Acesso em: 07 dez 2015.
____________. Disponível em: http://lelivros.website/book/a-memoria-coletiva-
maurice-halbwachs/. Acesso em: 10 dez 2015.
PATRIMÔNIO CULTURAL MEMÓRIA SOCIAL E IDENTIDADES. Disponível
em: <http://www.ubimuseum.ubi.pt/n01/docs/ubimuseum-n01-pdf/CS3>Acesso em: 05
dez. 2015.