prÁticas voltadas À gestÃo escolar democrÁtica … · 2017-09-28 · escolar, e ,para isso ,foi...
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INTERLETRAS, ISSN Nº 1807-1597. V. 7, Edição número 25, Abril/Setembro 2017 - p
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PRÁTICAS VOLTADAS À GESTÃO ESCOLAR DEMOCRÁTICA NOS
ENTRECRUZAMENTOS CULTURAIS
Mikaela Disperati Santos Soares *
Lilia Odete Nantes de Oliveira **
Saulo França Brum***
France Ricardo Marques Gonzaga****
RESUMO: O artigo “Gestão escolar democrática, em uma escola municipal na cidade de Dourados – MS”
tem como ponto de partida um estudo que apresenta dados importantes, os quais foram coletados,
mostrando a relação coordenador/comunidade escolar. O objetivo do estudo é analisar e registrar ,através
de uma investigação observatória e sistemática, como ocorre o processo escolar democrático no âmbito
escolar, e ,para isso ,foi preciso uma pesquisa de campo realizada na Escola Municipal Professor Clori
Benedetti de Freitas, localizada à rua Alfenas no bairro, jardim jóquei clube na cidade de Dourados –
MS. A temática foi desenvolvida com base nos teóricos: Libâneo (2011), Silveira (2007), Lima e Santos
(2007), dentre outros autores que trouxeram contribuições importantes para a elaboração do artigo. A
investigação foi feita através de questionários com perguntas abertas e fechadas, e ,também, observações
do cotidiano escolar/pedagógico. O presente artigo pretende colaborar com gestores e pesquisadores da
educação que buscam conhecer mais sobre a prática e trabalho cotidiano de um coordenador pedagógico.
ABSTRACT: The article "Democratic School Management: In a municipal school in the city of Dourados
- MS" has as starting point, a study that presents important data that were collected, showing the
coordinating relationship / school community.The bjective of the study is to analyze and record through
an observatory and systematic investigation, as occurs the democratic school process in the school
environment, for that it was necessary a field research carried out in the Municipal School Professor Clori
Benedetti de Freitas, located in the street: Alfenas In the neighborhood, garden jockey club in the city of
Dourados - MS. The thematic was developed based on the theorists Libuera (2011), Silveira (2007), Lima
and Santos (2007), among other authors who brought important contributions to the elaboration of the
article. The research was done through questionnaires with open and closed questions, as well as
observations of school / pedagogical daily life.This article aims to collaborate with educational managers
and researchers who seek to know more about the daily practice and work of a pedagogical coordinator.
PALAVRAS-CHAVE: Gestão escolar democrática; Coordenador; Escola.
KEYWORDS: Democratic school management; coordinator; School.
INTRODUÇÃO
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Este artigo pretende colaborar com gestores e pesquisadores da educação que buscam
conhecer mais sobre a prática e o desenrolar do trabalho cotidiano de um coordenador
pedagógico. O texto remete a uma determinada realidade e, por isso, apresenta apenas
uma visão de mundo traçada sob a influência do reflexo das pessoas envolvidas no
ambiente pesquisado, da localidade da escola, da cultura local, da ligação com a
comunidade externa, tudo isso influencia e deixa esse ambiente rico em singularidade. O
estudo investiga como se dá o fazer do coordenador pedagógico na escola, como acontece
na prática de uma determinada escola na periferia de Dourados – MS.
O coordenador pedagógico é responsável por auxiliar na formação continuada dos
professores, por promover, dentro da escola, experiência formativa para avaliar e redefinir
estratégias a fim de melhorar as práticas pedagógicas da instituição, organizar o
planejamento para estudo do Projeto Político Pedagógico da escola.
Quando esse papel não é exercido em sua plenitude, o ambiente escolar fica marcado por
uma lacuna, uma falha que reflete no trabalho do professor em sala de aula e no
desenvolvimento do aluno. O professor precisa dialogar com o coordenador para
descobrir o que poderia ser melhor, ou qual a falha que está prejudicando o processo de
aprendizagem dos alunos. Desse modo, o coordenador precisa articular, planejar, integrar,
socializar, auxiliar e organizar o desenvolvimento pedagógico da instituição.
Para desenvolver essa temática foi necessário situar contribuições científicas a partir dos
pressupostos teóricos de Libâneo (2004), Silveira (2012), Vasconcellos (2006), Placco e
Almeida (2008) ,a respeito do tema, a fim de validar os estudos, de permitir que os
conhecimentos descritos esclareçam a problemática levantada inicialmente: como
acontece a gestão escolar democrática no fazer Pedagógico do coordenador em uma
Escola Municipal na cidade de Dourados?
O coordenador pedagógico precisa articular com o professor maneiras de melhorar as
estratégias de ensino a fim de promover o aprendizado dos alunos em sala de aula; sua
função está ligada ao auxílio de planejamento do professor e ao desenvolvimento de
formação continuada na escola. É necessário apontar, também, a função de acompanhar
o Projeto Político Pedagógico, já que é o coordenador que deve articular a atualização
desse documento e subsidiar para que se efetivem as práticas nele previstas. Para a
efetivação do estudo, foi pesquisada e acompanhada a rotina dos coordenadores de uma
escola Municipal da cidade de Dourados/MS, selecionada de acordo com os critérios do
Estudo de caso.
1.REVISÃO DA LITERATURA
1.1 GESTÃO ESCOLAR DEMOCRATICA: EM UMA ESCOLA MUNICIPAL NA
CIDADE DE DOURADOS – MS.
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Esta pesquisa aborda o cotidiano do coordenador pedagógico, suas funções e práticas
inseridas na cultura onde atua. Tem como problematização, a seguinte questão: Como
acontece o fazer pedagógico escolar em uma Escola Municipal em Dourados/MS? Tendo
em vista esse questionamento, considera-se necessário situar os elementos que nele estão
envolvidos.
Para Libâneo et al (2011, p. 300),
“A escola é uma instituição social com objetivo explícito: o desenvolvimento
das potencialidades físicas, cognitivas e afetivas dos alunos, por meio da
aprendizagem dos alunos conteúdos (conhecimentos, habilidades,
procedimentos, atitudes, valores), para tornarem-se cidadãos participativos na
sociedade em que vivem”.
A partir desse conceito pode-se entender que a escola serve como ferramenta de formação
social, permeada pela cultura, a qual visa formar pessoas com valores, conhecimentos
científicos e cidadania.
“A escola tem como função social sistematizar e disseminar os conhecimentos
historicamente elaborados e compartilhados por uma determinada sociedade.
Por isso, os processos educativos em geral e, principalmente aqueles que
ocorrem em seu interior, constituem-se em dinâmicas de socialização.”
(SILVEIRA et al, 2007 p.56).
Seguindo o raciocínio de Silveira (2007), pode-se afirmar que a escola é um meio de
perpetuar os conhecimentos históricos e culturais da sociedade. A maneira de registrar e
formalizar conhecimentos garante que nesse espaço de aprendizagens aconteça a
socialização entre as partes envolvidas e a produção científica para as gerações futuras.
Para ressaltar relação entre meio social e escola, Lima e Santos (2007, p. 83) sugerem
que:
“O conhecimento da vida escolar, de suas relações, indagações, êxitos,
fracassos, completudes e incompletudes em relação às políticas publicas para
a educação, em relação à dimensão das relações interpessoais, em relação a
organização, metas e projetos da escola; solicita uma visão de conjunto para
que seus contextos e condicionantes sejam suficientemente entendidos e
problematizados, desta maneira a educação em sua finalidade primordial
poderá encontrar encaminhamentos significativos como indicadores de seu
norteamento. Na sociedade do conhecimento em que vivemos, que se
caracteriza pelo processo ensino-aprendizagem permanente e continuado
(mundo globalizado e em processo de globalização) não é possível entender a
escola e suas relações como se estivessem desvinculadas da totalidade social,
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materializando seus esforços simplesmente como transmissora de
conhecimentos, cujo dever formal se completa na formação de sujeitos
determinados para uma sociedade impessoalizada e alienante.” (LIMA e
SANTOS, 2007, p. 83)
A escola, então, é criada a partir da educação necessária ao homem; e o que é necessário
ao homem, na atualidade, está relacionado com o conhecimento de si e o resto do mundo,
então, torna-se impossível pensar na escola sem a influência que ela recebe da sociedade,
da mesma forma que não é possível pensar a sociedade sem conhecimento resultante da
produção escolar.
É necessário que a escola mantenha a dinâmica social para mediar a comunicação e
promover ações. Moscovici (2004, p. 21) acredita que a escola deve se estruturar e depois
conhecer ambientes externos, sugerindo que:
“Um sistema de valores, ideias e práticas, com uma dupla função: primeiro,
estabelecer uma ordem que possibilitará às pessoas orientar-se em seu mundo
material e social e controlá-lo; e, em segundo lugar, possibilitar que a
comunicação seja possível entre os membros de uma comunidade, fornecendo-
lhes um código para nomear e classificar, sem ambiguidade, os vários aspectos
de seu mundo e da sua história individual e social”.
Para o bom funcionamento das atividades na escola é necessário o equilíbrio e a noção de
que todos os profissionais da escola são importantes no processo educativo. Para Libâneo
et al (2011) todos os profissionais da escola precisam atentar para uma postura educativa,
mesmo que não atuem na sala de aula, uma vez que o ambiente escolar precisa ser
pedagogicamente adequado para bem educar. Com base nessas informações este estudo
centra-se no trabalho do coordenador, o qual organiza e viabiliza maneiras de a escola
alcançar seus objetivos.
Está previsto no Art. 64 da Lei de Diretrizes e Bases da Educação – LDB (1996):
“A formação de profissionais de educação para administração, planejamento,
inspeção, supervisão e orientação educacional para a educação básica será feita
em cursos de graduação de pedagogia ou em nível de pós-graduação, a critério
da instituição de ensino, garantida, nesta formação, a base comum nacional”.
Um dos desafios posto ao coordenador de uma instituição escolar de ensino, segundo
Placco e Almeida (2008, p.47), é “[...] refletir sobre esse cotidiano, questioná-lo e
equacioná-lo podem ser importantes movimentos para que o coordenador pedagógico o
transforme e faça avançar sua ação e a dos demais educadores da escola”. Assim, pode-
se perceber a grande responsabilidade do coordenador pedagógico na escola, pois seu
trabalho, para ser bem desenvolvido, não depende unicamente dele, mas de todos os
demais atuantes no cotidiano escolar; para melhores resultados é necessário o esforço e a
dedicação de todos os envolvidos.
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Segundo Libâneo et al (2011, p. 294), existem três funções principais do coordenador,
quais sejam:
a. Prover as condições, os meios e todos os recursos necessários ao ótimo
funcionamento da escola e do trabalho em sala de aula;
b. Promover o envolvimento das pessoas no trabalho por meio da
participação, e fazer a avaliação do acompanhamento dessa
participação;
c. Garantir a realização da aprendizagem para todos os alunos.
De acordo com Placco e Almeida (2008), o coordenador pedagógico precisa conscientizar
os professores e funcionários da escola no processo de análise e diagnóstico da realidade
escolar a fim de planejar e propor projetos que vão ao encontro das necessidades e dos
objetivos da escola, de modo que o Projeto Político Pedagógico contemple ações de
importância e todos se empenhem para realizar os objetivos.
O coordenador precisa incluir todos os profissionais em prol aos objetivos educacionais
da escola e articular seu planejamento de acordo com a realidade e o meio cultural em
que a escola está inserida.
“Na constituição da coordenação pedagógica muito mais do que a
nomenclatura do cargo, deve-se primar pelo significado que tal cargo deve
exercer em nível de liderança e condução dos trabalhos pedagógicos de uma
unidade educacional. Coordenador pedagógico e professor, investidos de
papéis diferentes, de saberes diversos, podem buscar um encontro fecundo,
cujo fruto seja a construção de uma prática pedagógica mais consistente,
enriquecida e criativa.” (LIMA e SANTOS, 2007, p.87).
Fica evidente o quanto é relevante a presença de um coordenador pedagógico qualificado
nas escolas. Esse deve ser visto como apoio e ser um articulador de suma importância na
luta por uma educação de qualidade diante das dificuldades encontradas na educação,
principalmente nos dias de hoje. O objetivo dessa reflexão é focar o papel da coordenação
pedagógica no processo educativo escolar, como exposto a seguir. Segundo Vieira (2003,
p. 83),
“Para o coordenador pedagógico, o principal objetivo de sua função é garantir
um processo de ensino aprendizagem saudável e bem sucedido para os alunos
do curso em que atua. Para tanto, ele desempenha várias tarefas no seu
cotidiano: tarefas burocráticas, atendimento aos alunos e pais, cuidado e
planejamento de todo processo educativo do curso [...] com os quais trabalha”.
Como se nota, o coordenador pedagógico deve ter sua função esclarecida, seus
conhecimentos devem estar atualizados para desenvolver seu papel articulando com as
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realidades do meio e o planejamento escolar. Entre suas funções está a de mediar o
conhecimento e propiciar trocas de experiências com os profissionais da escola,
envolvendo relações com a comunidade externa à escola, levando em conta, também ,
questões pertinentes à cultura. (LIBÂNEO, 2004).
E mais:
“A função formadora, do coordenador precisa programar as ações que
viabilizam a formação do grupo para qualificação continuada desses sujeitos,
consequentemente, conduzindo mudanças dentro da sala de aula e na dinâmica
da escola, produzindo impacto bastante produtivo e atingindo as necessidades
presentes.”(CLEMENTI, 2003, p.126).
De acordo com Placco e Almeida (2008), o trabalho do coordenador pedagógico funciona
com uma formação continuada, ele precisa auxiliar o professor nas decisões e ações para
efetivar o trabalho pedagógico. É preciso promover momentos de encontros coletivos
para discutir com os professores avanços educacionais, além de colaborar com o
desenvolvimento profissional do professor. Placco et al (2012b,p.221) complementa:
“Embora reconheçam as defasagens de formação dos professores, embora
identifiquem que estes têm dificuldade não apenas de fazer a gestão da sala de
aula, mas muitas vezes, também de trabalhar seu conteúdo específico em sala
de aula, o Coordenador Pedagógico tem muita dificuldade em enfrentar esse
desafio, da formação continuada de seus professores, seja por suas dificuldades
pessoais para esse enfrentamento, seja por falhas de sua formação para serem
os promotores dessa formação, seja pelas suas limitações enquanto lideres do
coletivo de professores”.
Com base no exposto até o momento, pode-se perceber que não há como definir um
modelo de coordenador pedagógico, pois variados são os métodos que podem ser
aplicados e cada um é resultante das realidades escolar e cultural, além da formação do
profissional. Com essas características o coordenador precisa ser flexível para trabalhar e
se adaptar às diferentes realidades do meio escolar.
Cabe-lhe, inserido em cada realidade, adaptar as teorias e práticas pedagógicas a partir de
investigação para descobrir quais as reais necessidades, as que são mais emergentes.
Assim, o coordenador começa a formar sua identidade com base em suas práticas,
incluindo sua maneira de lidar com as situações recorrentes do cotidiano.
“Constituição identitária se’ revela no movimento de tensão entre as
atribuições legais, da escola e seus atores (direção, professores, pais e alunos)
e as identificações a elas relacionadas que os CP assumem. No entanto, esse
movimento é acentuado pelas contradições presentes no sistema escolar, dado
que as atribuições legais e teóricas postas se confrontam com aquelas
provenientes da trajetória da profissão, das trajetórias pessoais e profissionais
desses CP, uma vez que todos os atores envolvidos na dinâmica das escolas
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são representantes de concepções e expectativas que carregam uma
historicidade, que, necessariamente, também implica contradições”.
(PLACCO et al, 2011, p. 281).
Para Placco (2008), o coordenador pedagógico em sua função de organizar o contexto
escolar acaba assumindo a responsabilidade de conduzir os processos de ensino da escola
e se torna um dos responsáveis em efetivar, com base nas expectativas da sociedade, as
competências pertinentes ao aprendizado escolar.
“Co-ordenar’ é organizar em comum, é prever e prover momentos de
integração do trabalho entre as diversas disciplinas, numa mesma série, e na
mesma disciplina, em todas as séries, aplicando-se a diferentes atividades, a
exemplo da avaliação e da elaboração de programas, de planos de curso, de
seleção de livros didáticos, da identificação de problemas que se manifestam
no cotidiano do trabalho, solicitando estudo e definição de critérios que
fundamentam soluções.” (RANGEL, 2008, p.76)
Coordenar, então, enquadra-se no critério de sempre manter a atenção voltada para as
possíveis necessidades educacionais que podem surgir ou acontecem sem que os
professores percebam, é uma questão de organização, acima de tudo. É relativamente
importante ressaltar que não é o coordenador quem resolve todos os problemas que
surgem, mas convida os envolvidos, com as práticas pedagógicas, a sentarem e estudarem
possíveis soluções. Trata-se de um processo de análise, diálogo, sugestão, planejamento
e apoio.
2. METODOLOGIA
A pesquisa qualitativa, conforme observado por Chizzotti (2001), pode não corresponder
às expectativas que surgiram na hipótese e surpreender até mesmo o pesquisador que não
tem total conhecimento do assunto, podendo-se afirmar que os resultados podem ser
positivos e negativos.
Esta pesquisa foi realizada na Escola Municipal Professor Clori Benedetti de Freitas, por
meio de observação do ambiente de trabalho de quatro coordenadores , com a utilização
de entrevista semi estruturada e conversas informais, assim todo fator relevante foi
anotado em um caderno dedicado apenas para registro da pesquisa de campo.
Um dos métodos foi a observação durante doze horas divididas em três dias, no ambiente
de trabalho dos coordenadores, observação essa acompanhada de entrevista com
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perguntas que especificaram algumas características dos coordenadores da referida
escola.
Trata-se, portanto, de um Estudo de Caso, fato de uma determinada situação, analisado
na prática. O estudo de caso, segundo Castilho (2008), é um método de pesquisa que
investiga desde um indivíduo até mesmo um grupo ou empresa com a expectativa de
aprofundar e esclarecer um fator específico do cotidiano.
Para Fiorentini e Lorenzato (2006), o Estudo de Caso é delimitado em seu tema e sua
característica é investigar algo singular. Baseia-se em dados qualitativos, coletados a
partir de eventos reais, com o objetivo de explicar, explorar ou descrever fenômenos
atuais inseridos em seu próprio contexto. Flick (2009, p. 23) destaca que:
“As ideias centrais que orientam a pesquisa qualitativa diferem daquelas da
pesquisa quantitativa. Os aspectos essenciais da pesquisa qualitativa consistem
na escolha de métodos e teorias convenientes; no reconhecimento e na análise
de diferentes perspectivas; nas reflexões dos pesquisadores a respeito de suas
pesquisas como parte do processo de produção de conhecimento.
Se assumir como particularística, isto é, que se debruça deliberadamente sobre
uma situação específica que se supõe ser única ou especial, pelo menos em
certos aspectos, procurando descobrir a que há nela de mais essencial e
característico e, desse modo, contribuir para a compreensão global de certo
fenómeno de interesse.” (PONTE, 2006, p.107).
A pesquisa realizada deu-se na periferia da cidade de Dourados /MS, na Escola Municipal
Professor Clori Benedetti de Freitas, como já mencionado , e seu funcionamento é diurno,
com horário no período letivo, das 7 h às 11h15min, no período matutino e das 13h às
17h no período vespertino. Importante citar que os alunos têm disponível, nas
dependências da escola, o Programa Mais Educação, financiado pelo Governo Federal o
qual disponibiliza Oficinas de Judô, violão popular, dança, esporte, horta, Português,
Matemática e reforço escolar durante o contra turno escolar.
A escola está situada em área de risco e vulnerabilidade social, as crianças que a
frequentam residem nas proximidades da escola. Por vulnerabilidade entende-se o
conjunto de fatores que predispõe as famílias ao risco; por sua vez, o risco se dá quando
o vínculo foi rompido, o direito foi violado. Pode-se afirmar que o risco social envolve
uma situação mais grave que a vulnerabilidade, pois está relacionado ao rompimento de
direitos básicos, o que gera o trabalho infantil, o abuso sexual de menores, a prostituição
infantil, a prostituição de mulheres, a violência doméstica, o uso de drogas, os homicídios,
a formação de gangues, assim como a embriaguez / o alcoolismo. (RODRIGUES et al,
2010, p.5 )
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3.RESULTADOS E DISCUSSÕES
Por meio das leituras realizadas e do processo de observação como método da pesquisa,
foi possível analisar que, na escola lócus do estudo, o fazer pedagógico dos coordenadores
não condiz exatamente com o que está previsto em lei referente à função do coordenador.
Percebeu-se um fazer pedagógico que pode ser denominado “fazeção”, pois as funções
desempenhadas pela coordenação não são planejadas, há um acúmulo de funções, muitas
vezes sem que sejam da atribuição desse profissional, o que provoca desvios da função
primeira a qual deveriam desempenhar.
Todos os encargos que surgem no cotidiano do coordenador não são de responsabilidade
apenas dele; é preciso que se estude qual seria a melhor metodologia para diminuir a
incidência de tantas ocorrências. Qual é a melhor estratégia para lidar com essas
dificuldades, que estão aumentam a cada dia, ano após ano? Os mesmos problemas
surgem e não existe preocupação na origem dessas causas?
Para Lima et al. (2012, p. 7), “As políticas públicas implantadas pelas Secretarias de
Educação ainda não conseguem auxiliar as escolas e os professores, em suas reais
necessidades, pois os programas existentes são voltados para as demandas gerais do
sistema.” Pode-se dizer que falta um pouco de atenção da Secretaria de Educação
responsável por essa realidade, pois deveria conhecer e assessorar as escolas nas suas
respectivas necessidades.
Os coordenadores estão assumindo responsabilidades que não fazem parte dos afazeres
atribuídos a eles e se sobrecarregam com funções que tornam o trabalho cansativo,
inconcluso e insatisfatório, nada acrescentando à qualidade de educação em prol do
sucesso na aprendizagem do aluno que leve em consideração as questões culturais em que
está inserido . “Mas, o que podemos perceber é que os coordenadores apresentam falta de
preparo para o exercício da função e mais além, o desinteresse sobre as leis
que cercam seu papel na escola mais a falta de intervenção dos governos
estaduais e municipais para reforça esta necessidade de conhecer melhor a
profissão só dificulta o seu trabalho no dia-a-dia.” (LIMA et al , 2012, p.8)
Esses autores chamam a atenção para algo que foi observado na pesquisa em questão: constatou-
se que o Projeto Político Pedagógico, o qual seria um instrumento para “melhorar” o
desenvolvimento do ambiente escolar, está atrasado há dois anos. Para Hengemühle (2008) é
necessário reformular as práticas que não estão alcançando os resultados esperados, mesmo que,
a princípio, o processo cause estranheza para os envolvidos, mas, a longo prazo, com resultados
mais visíveis, podem acabar concordando e aderindo às transformações.
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Nesse sentido, Paro (2008, p. 80) e Luckesi (1990, p. 30), respectivamente, oferecem boas
contribuições, conforme se pode perceber a seguir:
“A ineficiência só pode ser perpetuada com a ausência de avaliação. Como
romper coma irracionalidade de um processo no qual não está previsto de fato
nenhum mecanismo de avaliação e acompanhamento de sua qualidade? Com
isto o aluno e sua família continuarão assumindo a culpa que lhes é impingida,
já que não têm condições de perceber o quanto a escola cumpre mal sua
obrigação. Mas como se pode afirmar que o aluno não aprendeu sem
reconhecer que a escola não ensinou?
[...] o ato de planejar é um ato decisório da maior importância e efetivado
dentro de um projeto coletivo institucional. O planejamento isolado e
diversificado de cada professor impossibilita a formação de um corpo senão
único ao menos semelhante de atuação dentro da mesma escola. Uma ação
isolada possibilita que cada professor aja de uma maneira e o educando fica a
mercê das variabilidades perspectivas de cada professor e a aprendizagem
torna-se esfacelada”.
Existem, é inegável, anos de trabalho com a educação por parte da equipe de
coordenadores, porém nesses anos de experiência não foram bem orientados por espaços
formativos que acompanhassem o desenvolvimento da realidade escolar com avaliações
dos resultados ao final de cada ciclo letivo.
Dessa forma o fazer pedagógico fica comprometido, por estar justamente alicerçado em
uma prática frágil que não apresenta resultados, em termos de solidificação, com a
formação continuada dos professores, com o compromisso voltado à aprendizagem e o
sucesso dos alunos na escola.
4.CONSIDERAÇOES FINAIS
Procurou-se, com este estudo, trazer uma visão sobre as atribuições da função de
coordenador escolar, além de demonstrar como é a prática de quatro coordenadores de
uma escola municipal de Dourados/MS, no desempenho de suas funções.
Os desafios são diferentes a cada dia; para quem pretende adentrar a essa área a
experiência em acompanhar o trabalho, antes de assumir a função de coordenadoria, é
importante, pois diversas situações nos confrontam, todos os dias, com o que não
aprendemos de fato durante o estudo acadêmico, ou seja, a realidade é diferente do que
se vê na teoria e para além dos muros universitários. Por isso é importante estar
esclarecido da própria função para planejar bem o trabalho e ser mais útil no
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desenvolvimento efetivo da escola, possibilitando que o mesmo respingue na sociedade
de forma positiva levando em consideração os entrecruzamentos culturais que se dão .
Valorizar o que o cerca é a maior missão do coordenador que acaba partilhando o seu
tempo com alunos, pais, professores, equipe administrativa, a comunidade escolar em
geral e toda a sociedade. O fazer pedagógico requer que esteja constantemente atento às
necessidades da escola sem deixar de lado as suas principais funções, como a de promover
a formação continuada e a de fortalecer a aprendizagem dos alunos. Entende-se que o
trabalho precisa acontecer em consonância com toda escola e com a sociedade, pois tudo
funciona melhor quando todos os envolvidos realizam bem suas respectivas tarefas.
Assim, o coordenador precisa dedicar parte de seu tempo em estudos e atualizações, para
garantir suporte para as necessidades recorrentes do cotidiano escolar. O que se considera
de maior valor nessa função está agregado ao compromisso com o processo educacional.
Não se observaram, infelizmente, muitos aspectos positivos, foram levantados
questionamentos que precisam ser reavaliados. Evidenciou-se, por exemplo, que a falta
de tempo, bem como a falta de mais profissionais que auxiliem, tem tornado o trabalho
da coordenação, na escola pesquisada, muito desgastante.
O coordenador pedagógico precisa de tempo para o desempenho de suas funções; é
necessário, portanto, que a escola disponha desse apoio para a articulação profissional do
coordenador. A escola pesquisada tem sua realidade, está envolta por questões sócio
culturais específicas, como todas as demais escolas o estão, mas é interessante lembrar
que essa pesquisa, apesar de não trazer uma verdade única para a prática pedagógica
desenvolvida pelo agente coordenador pedagógico , trouxe sua contribuição na medida
em que abre campo reflexivo para que outros estudiosos interessados em pesquisar essa
área continuem suas investigações .
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* Mikaela Disperati Santos Soares-Pedagoga
**Lilia Odete Nantes de Oliveira– Mestre em Educação
***Saulo França Brum – Mestre em Gestão e Produção Agroindustrial
****Gonzaga, France Ricardo Marques Gonzaga – Especialista em Metodologia do Ensino Superior.
INTERLETRAS, ISSN Nº 1807-1597. V. 7, Edição número 25, Abril/Setembro 2017 - p
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