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INTERLETRAS, ISSN Nº 1807-1597. V. 7, Edição número 25, Abril/Setembro 2017 - p 1 PRÁTICAS VOLTADAS À GESTÃO ESCOLAR DEMOCRÁTICA NOS ENTRECRUZAMENTOS CULTURAIS Mikaela Disperati Santos Soares * Lilia Odete Nantes de Oliveira ** Saulo França Brum*** France Ricardo Marques Gonzaga**** RESUMO: O artigo “Gestão escolar democrática, em uma escola municipal na cidade de Dourados MS” tem como ponto de partida um estudo que apresenta dados importantes, os quais foram coletados, mostrando a relação coordenador/comunidade escolar. O objetivo do estudo é analisar e registrar ,através de uma investigação observatória e sistemática, como ocorre o processo escolar democrático no âmbito escolar, e ,para isso ,foi preciso uma pesquisa de campo realizada na Escola Municipal Professor Clori Benedetti de Freitas, localizada à rua Alfenas no bairro, jardim jóquei clube na cidade de Dourados MS. A temática foi desenvolvida com base nos teóricos: Libâneo (2011), Silveira (2007), Lima e Santos (2007), dentre outros autores que trouxeram contribuições importantes para a elaboração do artigo. A investigação foi feita através de questionários com perguntas abertas e fechadas, e ,também, observações do cotidiano escolar/pedagógico. O presente artigo pretende colaborar com gestores e pesquisadores da educação que buscam conhecer mais sobre a prática e trabalho cotidiano de um coordenador pedagógico. ABSTRACT: The article "Democratic School Management: In a municipal school in the city of Dourados - MS" has as starting point, a study that presents important data that were collected, showing the coordinating relationship / school community.The bjective of the study is to analyze and record through an observatory and systematic investigation, as occurs the democratic school process in the school environment, for that it was necessary a field research carried out in the Municipal School Professor Clori Benedetti de Freitas, located in the street: Alfenas In the neighborhood, garden jockey club in the city of Dourados - MS. The thematic was developed based on the theorists Libuera (2011), Silveira (2007), Lima and Santos (2007), among other authors who brought important contributions to the elaboration of the article. The research was done through questionnaires with open and closed questions, as well as observations of school / pedagogical daily life.This article aims to collaborate with educational managers and researchers who seek to know more about the daily practice and work of a pedagogical coordinator. PALAVRAS-CHAVE: Gestão escolar democrática; Coordenador; Escola. KEYWORDS: Democratic school management; coordinator; School. INTRODUÇÃO

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Page 1: PRÁTICAS VOLTADAS À GESTÃO ESCOLAR DEMOCRÁTICA … · 2017-09-28 · escolar, e ,para isso ,foi preciso uma pesquisa de campo realizada na Escola Municipal Professor Clori

INTERLETRAS, ISSN Nº 1807-1597. V. 7, Edição número 25, Abril/Setembro 2017 - p

1

PRÁTICAS VOLTADAS À GESTÃO ESCOLAR DEMOCRÁTICA NOS

ENTRECRUZAMENTOS CULTURAIS

Mikaela Disperati Santos Soares *

Lilia Odete Nantes de Oliveira **

Saulo França Brum***

France Ricardo Marques Gonzaga****

RESUMO: O artigo “Gestão escolar democrática, em uma escola municipal na cidade de Dourados – MS”

tem como ponto de partida um estudo que apresenta dados importantes, os quais foram coletados,

mostrando a relação coordenador/comunidade escolar. O objetivo do estudo é analisar e registrar ,através

de uma investigação observatória e sistemática, como ocorre o processo escolar democrático no âmbito

escolar, e ,para isso ,foi preciso uma pesquisa de campo realizada na Escola Municipal Professor Clori

Benedetti de Freitas, localizada à rua Alfenas no bairro, jardim jóquei clube na cidade de Dourados –

MS. A temática foi desenvolvida com base nos teóricos: Libâneo (2011), Silveira (2007), Lima e Santos

(2007), dentre outros autores que trouxeram contribuições importantes para a elaboração do artigo. A

investigação foi feita através de questionários com perguntas abertas e fechadas, e ,também, observações

do cotidiano escolar/pedagógico. O presente artigo pretende colaborar com gestores e pesquisadores da

educação que buscam conhecer mais sobre a prática e trabalho cotidiano de um coordenador pedagógico.

ABSTRACT: The article "Democratic School Management: In a municipal school in the city of Dourados

- MS" has as starting point, a study that presents important data that were collected, showing the

coordinating relationship / school community.The bjective of the study is to analyze and record through

an observatory and systematic investigation, as occurs the democratic school process in the school

environment, for that it was necessary a field research carried out in the Municipal School Professor Clori

Benedetti de Freitas, located in the street: Alfenas In the neighborhood, garden jockey club in the city of

Dourados - MS. The thematic was developed based on the theorists Libuera (2011), Silveira (2007), Lima

and Santos (2007), among other authors who brought important contributions to the elaboration of the

article. The research was done through questionnaires with open and closed questions, as well as

observations of school / pedagogical daily life.This article aims to collaborate with educational managers

and researchers who seek to know more about the daily practice and work of a pedagogical coordinator.

PALAVRAS-CHAVE: Gestão escolar democrática; Coordenador; Escola.

KEYWORDS: Democratic school management; coordinator; School.

INTRODUÇÃO

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Este artigo pretende colaborar com gestores e pesquisadores da educação que buscam

conhecer mais sobre a prática e o desenrolar do trabalho cotidiano de um coordenador

pedagógico. O texto remete a uma determinada realidade e, por isso, apresenta apenas

uma visão de mundo traçada sob a influência do reflexo das pessoas envolvidas no

ambiente pesquisado, da localidade da escola, da cultura local, da ligação com a

comunidade externa, tudo isso influencia e deixa esse ambiente rico em singularidade. O

estudo investiga como se dá o fazer do coordenador pedagógico na escola, como acontece

na prática de uma determinada escola na periferia de Dourados – MS.

O coordenador pedagógico é responsável por auxiliar na formação continuada dos

professores, por promover, dentro da escola, experiência formativa para avaliar e redefinir

estratégias a fim de melhorar as práticas pedagógicas da instituição, organizar o

planejamento para estudo do Projeto Político Pedagógico da escola.

Quando esse papel não é exercido em sua plenitude, o ambiente escolar fica marcado por

uma lacuna, uma falha que reflete no trabalho do professor em sala de aula e no

desenvolvimento do aluno. O professor precisa dialogar com o coordenador para

descobrir o que poderia ser melhor, ou qual a falha que está prejudicando o processo de

aprendizagem dos alunos. Desse modo, o coordenador precisa articular, planejar, integrar,

socializar, auxiliar e organizar o desenvolvimento pedagógico da instituição.

Para desenvolver essa temática foi necessário situar contribuições científicas a partir dos

pressupostos teóricos de Libâneo (2004), Silveira (2012), Vasconcellos (2006), Placco e

Almeida (2008) ,a respeito do tema, a fim de validar os estudos, de permitir que os

conhecimentos descritos esclareçam a problemática levantada inicialmente: como

acontece a gestão escolar democrática no fazer Pedagógico do coordenador em uma

Escola Municipal na cidade de Dourados?

O coordenador pedagógico precisa articular com o professor maneiras de melhorar as

estratégias de ensino a fim de promover o aprendizado dos alunos em sala de aula; sua

função está ligada ao auxílio de planejamento do professor e ao desenvolvimento de

formação continuada na escola. É necessário apontar, também, a função de acompanhar

o Projeto Político Pedagógico, já que é o coordenador que deve articular a atualização

desse documento e subsidiar para que se efetivem as práticas nele previstas. Para a

efetivação do estudo, foi pesquisada e acompanhada a rotina dos coordenadores de uma

escola Municipal da cidade de Dourados/MS, selecionada de acordo com os critérios do

Estudo de caso.

1.REVISÃO DA LITERATURA

1.1 GESTÃO ESCOLAR DEMOCRATICA: EM UMA ESCOLA MUNICIPAL NA

CIDADE DE DOURADOS – MS.

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Esta pesquisa aborda o cotidiano do coordenador pedagógico, suas funções e práticas

inseridas na cultura onde atua. Tem como problematização, a seguinte questão: Como

acontece o fazer pedagógico escolar em uma Escola Municipal em Dourados/MS? Tendo

em vista esse questionamento, considera-se necessário situar os elementos que nele estão

envolvidos.

Para Libâneo et al (2011, p. 300),

“A escola é uma instituição social com objetivo explícito: o desenvolvimento

das potencialidades físicas, cognitivas e afetivas dos alunos, por meio da

aprendizagem dos alunos conteúdos (conhecimentos, habilidades,

procedimentos, atitudes, valores), para tornarem-se cidadãos participativos na

sociedade em que vivem”.

A partir desse conceito pode-se entender que a escola serve como ferramenta de formação

social, permeada pela cultura, a qual visa formar pessoas com valores, conhecimentos

científicos e cidadania.

“A escola tem como função social sistematizar e disseminar os conhecimentos

historicamente elaborados e compartilhados por uma determinada sociedade.

Por isso, os processos educativos em geral e, principalmente aqueles que

ocorrem em seu interior, constituem-se em dinâmicas de socialização.”

(SILVEIRA et al, 2007 p.56).

Seguindo o raciocínio de Silveira (2007), pode-se afirmar que a escola é um meio de

perpetuar os conhecimentos históricos e culturais da sociedade. A maneira de registrar e

formalizar conhecimentos garante que nesse espaço de aprendizagens aconteça a

socialização entre as partes envolvidas e a produção científica para as gerações futuras.

Para ressaltar relação entre meio social e escola, Lima e Santos (2007, p. 83) sugerem

que:

“O conhecimento da vida escolar, de suas relações, indagações, êxitos,

fracassos, completudes e incompletudes em relação às políticas publicas para

a educação, em relação à dimensão das relações interpessoais, em relação a

organização, metas e projetos da escola; solicita uma visão de conjunto para

que seus contextos e condicionantes sejam suficientemente entendidos e

problematizados, desta maneira a educação em sua finalidade primordial

poderá encontrar encaminhamentos significativos como indicadores de seu

norteamento. Na sociedade do conhecimento em que vivemos, que se

caracteriza pelo processo ensino-aprendizagem permanente e continuado

(mundo globalizado e em processo de globalização) não é possível entender a

escola e suas relações como se estivessem desvinculadas da totalidade social,

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materializando seus esforços simplesmente como transmissora de

conhecimentos, cujo dever formal se completa na formação de sujeitos

determinados para uma sociedade impessoalizada e alienante.” (LIMA e

SANTOS, 2007, p. 83)

A escola, então, é criada a partir da educação necessária ao homem; e o que é necessário

ao homem, na atualidade, está relacionado com o conhecimento de si e o resto do mundo,

então, torna-se impossível pensar na escola sem a influência que ela recebe da sociedade,

da mesma forma que não é possível pensar a sociedade sem conhecimento resultante da

produção escolar.

É necessário que a escola mantenha a dinâmica social para mediar a comunicação e

promover ações. Moscovici (2004, p. 21) acredita que a escola deve se estruturar e depois

conhecer ambientes externos, sugerindo que:

“Um sistema de valores, ideias e práticas, com uma dupla função: primeiro,

estabelecer uma ordem que possibilitará às pessoas orientar-se em seu mundo

material e social e controlá-lo; e, em segundo lugar, possibilitar que a

comunicação seja possível entre os membros de uma comunidade, fornecendo-

lhes um código para nomear e classificar, sem ambiguidade, os vários aspectos

de seu mundo e da sua história individual e social”.

Para o bom funcionamento das atividades na escola é necessário o equilíbrio e a noção de

que todos os profissionais da escola são importantes no processo educativo. Para Libâneo

et al (2011) todos os profissionais da escola precisam atentar para uma postura educativa,

mesmo que não atuem na sala de aula, uma vez que o ambiente escolar precisa ser

pedagogicamente adequado para bem educar. Com base nessas informações este estudo

centra-se no trabalho do coordenador, o qual organiza e viabiliza maneiras de a escola

alcançar seus objetivos.

Está previsto no Art. 64 da Lei de Diretrizes e Bases da Educação – LDB (1996):

“A formação de profissionais de educação para administração, planejamento,

inspeção, supervisão e orientação educacional para a educação básica será feita

em cursos de graduação de pedagogia ou em nível de pós-graduação, a critério

da instituição de ensino, garantida, nesta formação, a base comum nacional”.

Um dos desafios posto ao coordenador de uma instituição escolar de ensino, segundo

Placco e Almeida (2008, p.47), é “[...] refletir sobre esse cotidiano, questioná-lo e

equacioná-lo podem ser importantes movimentos para que o coordenador pedagógico o

transforme e faça avançar sua ação e a dos demais educadores da escola”. Assim, pode-

se perceber a grande responsabilidade do coordenador pedagógico na escola, pois seu

trabalho, para ser bem desenvolvido, não depende unicamente dele, mas de todos os

demais atuantes no cotidiano escolar; para melhores resultados é necessário o esforço e a

dedicação de todos os envolvidos.

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Segundo Libâneo et al (2011, p. 294), existem três funções principais do coordenador,

quais sejam:

a. Prover as condições, os meios e todos os recursos necessários ao ótimo

funcionamento da escola e do trabalho em sala de aula;

b. Promover o envolvimento das pessoas no trabalho por meio da

participação, e fazer a avaliação do acompanhamento dessa

participação;

c. Garantir a realização da aprendizagem para todos os alunos.

De acordo com Placco e Almeida (2008), o coordenador pedagógico precisa conscientizar

os professores e funcionários da escola no processo de análise e diagnóstico da realidade

escolar a fim de planejar e propor projetos que vão ao encontro das necessidades e dos

objetivos da escola, de modo que o Projeto Político Pedagógico contemple ações de

importância e todos se empenhem para realizar os objetivos.

O coordenador precisa incluir todos os profissionais em prol aos objetivos educacionais

da escola e articular seu planejamento de acordo com a realidade e o meio cultural em

que a escola está inserida.

“Na constituição da coordenação pedagógica muito mais do que a

nomenclatura do cargo, deve-se primar pelo significado que tal cargo deve

exercer em nível de liderança e condução dos trabalhos pedagógicos de uma

unidade educacional. Coordenador pedagógico e professor, investidos de

papéis diferentes, de saberes diversos, podem buscar um encontro fecundo,

cujo fruto seja a construção de uma prática pedagógica mais consistente,

enriquecida e criativa.” (LIMA e SANTOS, 2007, p.87).

Fica evidente o quanto é relevante a presença de um coordenador pedagógico qualificado

nas escolas. Esse deve ser visto como apoio e ser um articulador de suma importância na

luta por uma educação de qualidade diante das dificuldades encontradas na educação,

principalmente nos dias de hoje. O objetivo dessa reflexão é focar o papel da coordenação

pedagógica no processo educativo escolar, como exposto a seguir. Segundo Vieira (2003,

p. 83),

“Para o coordenador pedagógico, o principal objetivo de sua função é garantir

um processo de ensino aprendizagem saudável e bem sucedido para os alunos

do curso em que atua. Para tanto, ele desempenha várias tarefas no seu

cotidiano: tarefas burocráticas, atendimento aos alunos e pais, cuidado e

planejamento de todo processo educativo do curso [...] com os quais trabalha”.

Como se nota, o coordenador pedagógico deve ter sua função esclarecida, seus

conhecimentos devem estar atualizados para desenvolver seu papel articulando com as

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realidades do meio e o planejamento escolar. Entre suas funções está a de mediar o

conhecimento e propiciar trocas de experiências com os profissionais da escola,

envolvendo relações com a comunidade externa à escola, levando em conta, também ,

questões pertinentes à cultura. (LIBÂNEO, 2004).

E mais:

“A função formadora, do coordenador precisa programar as ações que

viabilizam a formação do grupo para qualificação continuada desses sujeitos,

consequentemente, conduzindo mudanças dentro da sala de aula e na dinâmica

da escola, produzindo impacto bastante produtivo e atingindo as necessidades

presentes.”(CLEMENTI, 2003, p.126).

De acordo com Placco e Almeida (2008), o trabalho do coordenador pedagógico funciona

com uma formação continuada, ele precisa auxiliar o professor nas decisões e ações para

efetivar o trabalho pedagógico. É preciso promover momentos de encontros coletivos

para discutir com os professores avanços educacionais, além de colaborar com o

desenvolvimento profissional do professor. Placco et al (2012b,p.221) complementa:

“Embora reconheçam as defasagens de formação dos professores, embora

identifiquem que estes têm dificuldade não apenas de fazer a gestão da sala de

aula, mas muitas vezes, também de trabalhar seu conteúdo específico em sala

de aula, o Coordenador Pedagógico tem muita dificuldade em enfrentar esse

desafio, da formação continuada de seus professores, seja por suas dificuldades

pessoais para esse enfrentamento, seja por falhas de sua formação para serem

os promotores dessa formação, seja pelas suas limitações enquanto lideres do

coletivo de professores”.

Com base no exposto até o momento, pode-se perceber que não há como definir um

modelo de coordenador pedagógico, pois variados são os métodos que podem ser

aplicados e cada um é resultante das realidades escolar e cultural, além da formação do

profissional. Com essas características o coordenador precisa ser flexível para trabalhar e

se adaptar às diferentes realidades do meio escolar.

Cabe-lhe, inserido em cada realidade, adaptar as teorias e práticas pedagógicas a partir de

investigação para descobrir quais as reais necessidades, as que são mais emergentes.

Assim, o coordenador começa a formar sua identidade com base em suas práticas,

incluindo sua maneira de lidar com as situações recorrentes do cotidiano.

“Constituição identitária se’ revela no movimento de tensão entre as

atribuições legais, da escola e seus atores (direção, professores, pais e alunos)

e as identificações a elas relacionadas que os CP assumem. No entanto, esse

movimento é acentuado pelas contradições presentes no sistema escolar, dado

que as atribuições legais e teóricas postas se confrontam com aquelas

provenientes da trajetória da profissão, das trajetórias pessoais e profissionais

desses CP, uma vez que todos os atores envolvidos na dinâmica das escolas

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são representantes de concepções e expectativas que carregam uma

historicidade, que, necessariamente, também implica contradições”.

(PLACCO et al, 2011, p. 281).

Para Placco (2008), o coordenador pedagógico em sua função de organizar o contexto

escolar acaba assumindo a responsabilidade de conduzir os processos de ensino da escola

e se torna um dos responsáveis em efetivar, com base nas expectativas da sociedade, as

competências pertinentes ao aprendizado escolar.

“Co-ordenar’ é organizar em comum, é prever e prover momentos de

integração do trabalho entre as diversas disciplinas, numa mesma série, e na

mesma disciplina, em todas as séries, aplicando-se a diferentes atividades, a

exemplo da avaliação e da elaboração de programas, de planos de curso, de

seleção de livros didáticos, da identificação de problemas que se manifestam

no cotidiano do trabalho, solicitando estudo e definição de critérios que

fundamentam soluções.” (RANGEL, 2008, p.76)

Coordenar, então, enquadra-se no critério de sempre manter a atenção voltada para as

possíveis necessidades educacionais que podem surgir ou acontecem sem que os

professores percebam, é uma questão de organização, acima de tudo. É relativamente

importante ressaltar que não é o coordenador quem resolve todos os problemas que

surgem, mas convida os envolvidos, com as práticas pedagógicas, a sentarem e estudarem

possíveis soluções. Trata-se de um processo de análise, diálogo, sugestão, planejamento

e apoio.

2. METODOLOGIA

A pesquisa qualitativa, conforme observado por Chizzotti (2001), pode não corresponder

às expectativas que surgiram na hipótese e surpreender até mesmo o pesquisador que não

tem total conhecimento do assunto, podendo-se afirmar que os resultados podem ser

positivos e negativos.

Esta pesquisa foi realizada na Escola Municipal Professor Clori Benedetti de Freitas, por

meio de observação do ambiente de trabalho de quatro coordenadores , com a utilização

de entrevista semi estruturada e conversas informais, assim todo fator relevante foi

anotado em um caderno dedicado apenas para registro da pesquisa de campo.

Um dos métodos foi a observação durante doze horas divididas em três dias, no ambiente

de trabalho dos coordenadores, observação essa acompanhada de entrevista com

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perguntas que especificaram algumas características dos coordenadores da referida

escola.

Trata-se, portanto, de um Estudo de Caso, fato de uma determinada situação, analisado

na prática. O estudo de caso, segundo Castilho (2008), é um método de pesquisa que

investiga desde um indivíduo até mesmo um grupo ou empresa com a expectativa de

aprofundar e esclarecer um fator específico do cotidiano.

Para Fiorentini e Lorenzato (2006), o Estudo de Caso é delimitado em seu tema e sua

característica é investigar algo singular. Baseia-se em dados qualitativos, coletados a

partir de eventos reais, com o objetivo de explicar, explorar ou descrever fenômenos

atuais inseridos em seu próprio contexto. Flick (2009, p. 23) destaca que:

“As ideias centrais que orientam a pesquisa qualitativa diferem daquelas da

pesquisa quantitativa. Os aspectos essenciais da pesquisa qualitativa consistem

na escolha de métodos e teorias convenientes; no reconhecimento e na análise

de diferentes perspectivas; nas reflexões dos pesquisadores a respeito de suas

pesquisas como parte do processo de produção de conhecimento.

Se assumir como particularística, isto é, que se debruça deliberadamente sobre

uma situação específica que se supõe ser única ou especial, pelo menos em

certos aspectos, procurando descobrir a que há nela de mais essencial e

característico e, desse modo, contribuir para a compreensão global de certo

fenómeno de interesse.” (PONTE, 2006, p.107).

A pesquisa realizada deu-se na periferia da cidade de Dourados /MS, na Escola Municipal

Professor Clori Benedetti de Freitas, como já mencionado , e seu funcionamento é diurno,

com horário no período letivo, das 7 h às 11h15min, no período matutino e das 13h às

17h no período vespertino. Importante citar que os alunos têm disponível, nas

dependências da escola, o Programa Mais Educação, financiado pelo Governo Federal o

qual disponibiliza Oficinas de Judô, violão popular, dança, esporte, horta, Português,

Matemática e reforço escolar durante o contra turno escolar.

A escola está situada em área de risco e vulnerabilidade social, as crianças que a

frequentam residem nas proximidades da escola. Por vulnerabilidade entende-se o

conjunto de fatores que predispõe as famílias ao risco; por sua vez, o risco se dá quando

o vínculo foi rompido, o direito foi violado. Pode-se afirmar que o risco social envolve

uma situação mais grave que a vulnerabilidade, pois está relacionado ao rompimento de

direitos básicos, o que gera o trabalho infantil, o abuso sexual de menores, a prostituição

infantil, a prostituição de mulheres, a violência doméstica, o uso de drogas, os homicídios,

a formação de gangues, assim como a embriaguez / o alcoolismo. (RODRIGUES et al,

2010, p.5 )

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3.RESULTADOS E DISCUSSÕES

Por meio das leituras realizadas e do processo de observação como método da pesquisa,

foi possível analisar que, na escola lócus do estudo, o fazer pedagógico dos coordenadores

não condiz exatamente com o que está previsto em lei referente à função do coordenador.

Percebeu-se um fazer pedagógico que pode ser denominado “fazeção”, pois as funções

desempenhadas pela coordenação não são planejadas, há um acúmulo de funções, muitas

vezes sem que sejam da atribuição desse profissional, o que provoca desvios da função

primeira a qual deveriam desempenhar.

Todos os encargos que surgem no cotidiano do coordenador não são de responsabilidade

apenas dele; é preciso que se estude qual seria a melhor metodologia para diminuir a

incidência de tantas ocorrências. Qual é a melhor estratégia para lidar com essas

dificuldades, que estão aumentam a cada dia, ano após ano? Os mesmos problemas

surgem e não existe preocupação na origem dessas causas?

Para Lima et al. (2012, p. 7), “As políticas públicas implantadas pelas Secretarias de

Educação ainda não conseguem auxiliar as escolas e os professores, em suas reais

necessidades, pois os programas existentes são voltados para as demandas gerais do

sistema.” Pode-se dizer que falta um pouco de atenção da Secretaria de Educação

responsável por essa realidade, pois deveria conhecer e assessorar as escolas nas suas

respectivas necessidades.

Os coordenadores estão assumindo responsabilidades que não fazem parte dos afazeres

atribuídos a eles e se sobrecarregam com funções que tornam o trabalho cansativo,

inconcluso e insatisfatório, nada acrescentando à qualidade de educação em prol do

sucesso na aprendizagem do aluno que leve em consideração as questões culturais em que

está inserido . “Mas, o que podemos perceber é que os coordenadores apresentam falta de

preparo para o exercício da função e mais além, o desinteresse sobre as leis

que cercam seu papel na escola mais a falta de intervenção dos governos

estaduais e municipais para reforça esta necessidade de conhecer melhor a

profissão só dificulta o seu trabalho no dia-a-dia.” (LIMA et al , 2012, p.8)

Esses autores chamam a atenção para algo que foi observado na pesquisa em questão: constatou-

se que o Projeto Político Pedagógico, o qual seria um instrumento para “melhorar” o

desenvolvimento do ambiente escolar, está atrasado há dois anos. Para Hengemühle (2008) é

necessário reformular as práticas que não estão alcançando os resultados esperados, mesmo que,

a princípio, o processo cause estranheza para os envolvidos, mas, a longo prazo, com resultados

mais visíveis, podem acabar concordando e aderindo às transformações.

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Nesse sentido, Paro (2008, p. 80) e Luckesi (1990, p. 30), respectivamente, oferecem boas

contribuições, conforme se pode perceber a seguir:

“A ineficiência só pode ser perpetuada com a ausência de avaliação. Como

romper coma irracionalidade de um processo no qual não está previsto de fato

nenhum mecanismo de avaliação e acompanhamento de sua qualidade? Com

isto o aluno e sua família continuarão assumindo a culpa que lhes é impingida,

já que não têm condições de perceber o quanto a escola cumpre mal sua

obrigação. Mas como se pode afirmar que o aluno não aprendeu sem

reconhecer que a escola não ensinou?

[...] o ato de planejar é um ato decisório da maior importância e efetivado

dentro de um projeto coletivo institucional. O planejamento isolado e

diversificado de cada professor impossibilita a formação de um corpo senão

único ao menos semelhante de atuação dentro da mesma escola. Uma ação

isolada possibilita que cada professor aja de uma maneira e o educando fica a

mercê das variabilidades perspectivas de cada professor e a aprendizagem

torna-se esfacelada”.

Existem, é inegável, anos de trabalho com a educação por parte da equipe de

coordenadores, porém nesses anos de experiência não foram bem orientados por espaços

formativos que acompanhassem o desenvolvimento da realidade escolar com avaliações

dos resultados ao final de cada ciclo letivo.

Dessa forma o fazer pedagógico fica comprometido, por estar justamente alicerçado em

uma prática frágil que não apresenta resultados, em termos de solidificação, com a

formação continuada dos professores, com o compromisso voltado à aprendizagem e o

sucesso dos alunos na escola.

4.CONSIDERAÇOES FINAIS

Procurou-se, com este estudo, trazer uma visão sobre as atribuições da função de

coordenador escolar, além de demonstrar como é a prática de quatro coordenadores de

uma escola municipal de Dourados/MS, no desempenho de suas funções.

Os desafios são diferentes a cada dia; para quem pretende adentrar a essa área a

experiência em acompanhar o trabalho, antes de assumir a função de coordenadoria, é

importante, pois diversas situações nos confrontam, todos os dias, com o que não

aprendemos de fato durante o estudo acadêmico, ou seja, a realidade é diferente do que

se vê na teoria e para além dos muros universitários. Por isso é importante estar

esclarecido da própria função para planejar bem o trabalho e ser mais útil no

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desenvolvimento efetivo da escola, possibilitando que o mesmo respingue na sociedade

de forma positiva levando em consideração os entrecruzamentos culturais que se dão .

Valorizar o que o cerca é a maior missão do coordenador que acaba partilhando o seu

tempo com alunos, pais, professores, equipe administrativa, a comunidade escolar em

geral e toda a sociedade. O fazer pedagógico requer que esteja constantemente atento às

necessidades da escola sem deixar de lado as suas principais funções, como a de promover

a formação continuada e a de fortalecer a aprendizagem dos alunos. Entende-se que o

trabalho precisa acontecer em consonância com toda escola e com a sociedade, pois tudo

funciona melhor quando todos os envolvidos realizam bem suas respectivas tarefas.

Assim, o coordenador precisa dedicar parte de seu tempo em estudos e atualizações, para

garantir suporte para as necessidades recorrentes do cotidiano escolar. O que se considera

de maior valor nessa função está agregado ao compromisso com o processo educacional.

Não se observaram, infelizmente, muitos aspectos positivos, foram levantados

questionamentos que precisam ser reavaliados. Evidenciou-se, por exemplo, que a falta

de tempo, bem como a falta de mais profissionais que auxiliem, tem tornado o trabalho

da coordenação, na escola pesquisada, muito desgastante.

O coordenador pedagógico precisa de tempo para o desempenho de suas funções; é

necessário, portanto, que a escola disponha desse apoio para a articulação profissional do

coordenador. A escola pesquisada tem sua realidade, está envolta por questões sócio

culturais específicas, como todas as demais escolas o estão, mas é interessante lembrar

que essa pesquisa, apesar de não trazer uma verdade única para a prática pedagógica

desenvolvida pelo agente coordenador pedagógico , trouxe sua contribuição na medida

em que abre campo reflexivo para que outros estudiosos interessados em pesquisar essa

área continuem suas investigações .

5.REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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* Mikaela Disperati Santos Soares-Pedagoga

**Lilia Odete Nantes de Oliveira– Mestre em Educação

***Saulo França Brum – Mestre em Gestão e Produção Agroindustrial

****Gonzaga, France Ricardo Marques Gonzaga – Especialista em Metodologia do Ensino Superior.

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