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Presidência da República
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10 DE AGOSTOPALÁCIO DO ITAMARATYBRASÍLIA — DFDISCURSO POR OCASIÃO DO JANTAROFERECIDO AO PRESIDENTE DA RE-PÚBLICA DA VENEZUELA, SENHORLUÍS HERRERA CAMPINS
Excelentíssimo Senhor Presidente da Repúblicada Venezuela, Luís Herrera Campins:
Receba Vossa Excelência os calorosos votos deboas-vindas que lhe formulam o Governo e o povo bra-sileiros.
Ao iniciar-se esta visita, que tanto nos honra, dese-jamos que Vossa Excelência, juntamente com a Senhorade Herrera e a importante comitiva que o acompanha,possam perceber, em cada uma de nossas palavras eações, o afeto, a admiração sincera de todos os brasilei-ros pela Venezuela e por seu Presidente.
Sua chegada a esta Cidade nos proporciona a ale-gria do reencontro de velhos amigos.
Recordo com carinho a visita que fiz a Caracas háquase dois anos. Apenas começava o meu mandato e eraaquela a primeira viagem oficial que eu empreendia ao
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Exterior. Não por acaso foi a Venezuela o primeiro paísque visitei. Já então a prioridade da América Latina sedesenhava nitidamente em minha agenda diplomática.
Desde aquela época, tenho procurado ser fiel a esseprojeto. Sinto que chegou finalmente, paria nós latino-americanos, a hora de unirmos o Continepte efn tornodo que somos e do que aspiramos a ser.
Devemos viver nossa própria verdade. A partir denós mesmos e de nossas experiências faremos corn quese reconheça o que valemos e podemos criar. Por isso,além de desenvolver os canais diplomáticos regulares,venho buscando expandir a dimensão do conhebimentodireto e da confiança recíproca entre os gov amantes.
Em pouco mais de dois anos, com a simplicidade devizinhos que se visitam, pude conhecer de perto a hospi-talidade de seis países latino-americanos. Recebi emBrasília Chefes-de-Estado de nações irmãs. Foram con-tatos extremamente densos, em todos os aspecjtos, osquais consolidaram minha fé no futuro que juntos esta-mos a construir.
Em cada um desses encontros, através da palavrados estadistas ou da espontaneidade do homem da rua,observei que na rica diversidade dos p0vos latino-americanos se descobrem traços comuns de grande for-ça; um ar de família, em que está presente i em<pcão, osentimento, aquela sabedoria do coração que torna oshomens mais humanos e a vida mais solidária.
Viagens de trabalho, com impressionante saldo deresultados tangíveis, essas visitas ajudaram a fazer comque, pela primeira vez em nossa história, o Brasil e osdemais países latino-americanos passassem a ser parcei-ros essenciais uns para os outros. Igualmente imtyortan-
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te, porém, foi a contribuição que deram para revelar aproximidade espiritual e humana entre os brasileiros enossos irmãos latino-americanos.
Senhor Presidente,Permita-me evocar ainda a visita que lhe fiz em
meio ao dinamismo transformador de Caracas.
Experimentei, então, a inconfundível sensação decalor e afeto populares, que transcendem ao rigor doplanejamento protocolar. Experimentei a facilidade decomunicação e a convergência de visão-do-mundo entreos homens do Continente.
Entre latino-americanos, o diálogo diplomático é, edeve ser cada vez mais, o exercício sincero de antiga esólida amizade, franca e confiante, entre países vizinhosque têm como traço comum, entre outros, a co-participação no Tratado de Cooperação Amazônica.
Para esse estilo de relacionamento, aberto e racio-nal, muito têm contribuído as qualidades pessoais deVossa Excelência, que o fazem expressão indiscutível dasvirtudes da personalidade venezuelana.
E algumas dessas virtudes apresentam afinidade no-tável com traços da alma brasileira. Falo de duas socie-dades inspiradas pelos valores do dinamismo e do pro-gresso, da mobilidade social, da igualdade. Falo de duasnacionalidades formadas de povos de origens próximasna sua diversidade, enriquecidas pela integração de cul-turas afins. Falo de personalidades otimistas, empreen-dedoras, voltadas para a edificação de um futuro me-lhor, mais eqüitativo, no contexto democrático.
Nesse sentido, a Venezuela foi, ao longo de suahistória, uma sociedade capaz de renovar-se.
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Todos reconhecemos o esplêndido papel da socieda-de venezuelana, em comecos do século dezenove, nogrande movimento que levou à emancipação da AmérciaLatina e que ajudou a mudar a face do mupdo.
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Apesar do isolamento cultural e material carac-terístico do modelo colonialista, os venezuelanos produ-ziram personalidades de uma grandeza que ultrapassoude muito as fronteira do Continente. Além do Liberta-dor Simón Bolívar, exemplo luminoso do homem latino-americano, figuras como a de Francisco de Miranda, ve-terano das Revoluções Americana, Francqsa e Latino-Americana de que nasceu o mundo moderho, d0 nobree abnegado Antônio José de Sucre, do sábio AndrésBello, de José Antônio Paéz, fizeram conji a gente daVenezuela desse ao processo da libertação do Continenteuma contribuição mais do que proporcional em talento,espírito de luta e sangue derramado.
Ao recordar essa grande geração, não podemos dei-xar de expressar nossa satisfação ante a decisão de Vos-sa Excelência de deslocar-se ao Recife, numa homena-gem do mais alto mandatário da nação Venezuela ao Ge-neral José Inácio de Abreu e Lima, companpeiro daque-les bravos no heroísmo e vínculo imperecível entre ospovos do Brasil e da Venezuela.
O gesto tão expressivo de Vossa Excelência, assimcomo a doação pelo meu Governo do retrato de Abreu eLima para o Salão Elíptico do Congresso Nacional daVenezuela, irá permitir que se atenue o desconhecimentodo caráter extraordinário desse soldado e intelectual,que encontrou seu momento de glória ao unir o Brasil àepopéia bolivariana.
Poucos meses antes de morrer, em carta dirigida aoGeneral Paéz, Abreu e Lima passava em revista sua
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existência gloriosa: «Conservo todas mis patentes deGran Colômbia, todas mis condecoraciones, me ufanode haber sido general en Ia antigua República de GranColômbia. Tengo orgullo de llamarme uno de los liber-tadores de Venezuela y de los de Ia Nueva Granada y enusar mis insígnias. Tengo garbo de mis cruces de Boyacáy de Puerto Cabello y de mi noble escudo de Carabobo.Tengo y conservo ei busto de ora dei Libertador que élmismo me ha dado con un diploma honroso».
Contemporâneo de Bolívar, San Martin, Santandere O'Higgins, Abreu e Lima espelhou, como os demais,qualidades que caracterizam a maneira de ser latino-americana.
Em sua História independente, apesar de imensasdificuldades, a América Latina permaneceu fiel à inspi-ração original, adaptando-a às exigência dos tempos.
Herdeiros do humanismo e do espírito da civiliza-ção clássica, os latino-americanos sempre se empenha-ram em fazer da lei, e não da força, o seu padrão nor-teador.
Nas relações entre os Estados, uma de nossas maisimportantes contribuições tem sido, justamente, a recusade todas as fórmulas de política baseadas no uso da for-ça. Na incansável busca de estruturas de paz e de inde-pendência, ajudamos a definir princípios básicos, hojede aceitação universal, como o da igualdade soberanados Estados, da autodeterminação dos povos e da nãointevenção.
A América Latina não se restringiu, contudo, a teo-rizar. Muito pelo contrário, soubemos viver essesprincípios.
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Somos, sem dúvida, o Continente com o menoríndice de choques entre Estados. Essa é, sem favor, umaqualidade e um privilégio a preservar num século marca-do pelas duas maiores guerras da história, além de umnúmero alarmante, inaceitável, de conflitos regionais noresto do mundo.
A prática efetiva da paz e da conciliação deve conti-nuar a permitir que a América Latina canalize, pormeios pacíficos e generosos, a solução de eventuais di-vergências. É dever de todos nós persistir no esforço in-cessante, paciente, ordenado, para superar as questõesque ainda nos dividem. Só assim asseguraremos, emnossos dias, a eficácia da presença latino-americana narenovação e modernização do sistema internacional.
Longe de se esgotar no passado a criatividadelatino-americana continua atuante nos processos de mu-dança.
Partiram, por exemplo, deste Continente o impulsooriginal e o arsenal de idéias que trouxeram o Direito doMar para o Século XX. De igual forma, tem sido mar-cante a atuação latino-americana no desenvolvimento dodiálogo Norte-Sul e na definição das características deuma nova ordem econômica internacional. Temos,pois, o mais legítimo dos interesses em qie se aceleremas atuais negociações sobre todos esses temas.
Senhor Presidente,Também através das relações econômicas diretas en-
tre países em desenvolvimento estamos buscando a eli-minação definitiva dos resquícios da economia colonialde dependência, da desigualdade entre as nações. Nesseterreno, o Brasil pode, com satisfação, verificar que par-te significativa e crescente do seu intercâmbio global serealiza hoje com países do Terceiro Mundo,
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Tem sido constante o esforço brasileiro de coopera-ção igualitária, com base numa verdadeira mutualidadede benefícios, e na transferência real de conhcimentos.
As relações entre o Brasil e a Venezuela constituemexemplo objetivo de aplicação desses princípios básicos edesse determinação em coloborar.
É este o terceiro encontro entre Chefes-de-Estadodos dois países, desde 1978. Esse fato em si, ao lado damultiplicação de visitas de ministro de estado, de em-presários, de técnicos e artistas, demonstra de formaeloqüente a aceleração que vem queimando etapas emnosso relacionamento bilateral.
Os resultados são concretos, são alentadores. O in-tercâmbio comercial venezuelano-brasileiro, já acima del bilhão de dólares, atingiu níveis que o tornam dosmais expressivos em âmbito regional. Estabeleceram-serelações bancárias diretas. Temos juntado trabalho etecnologia latino-americanos na realização de obras deinfra-estrutura. No âmbito da política de globalidade,multiplicamos mais de dez vezes nossas compras de pe-tróleo venezuelano, ao mesmo tempo que firmamosacordo para o fornecimento a longo prazo de açúcarbrasileiro à Venezuela.
Senhor Presidente,Embora impressionantes, esses resultados ainda não
permitem que abrandemos a marcha. Ao contrário, elesnos estimulam a avançar com firmeza e imaginação re-dobradas.
É com esse desafio ao trabalho duro, embora re-compensador, e com inabalável confiança no futuro co-mum a dois povos irmãos inspirados pelo ideal demo-
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crático que convido os presentes a me acompanharemnum brinde ao crescente desenvolvimento das rçlacões deamizade e cooperação entre a Venezuela e o Brasil, à con-córdia e prosperidade da nobre nação venezuelana e aoêxito e felicidade pessoais de Vossa Excelência e de suaExcelentíssima esposa.
Muito obrigado.