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histórias Texto Bruno Contreiras Mateus e Isabel Faria
Vendas principescasNO PAIS ESTÃO A VENDA PALÁCIOS QUE CHEGARAMAO SÉC. XXI PARA SEREM VENDIDOS POR MILHÕES
"Para evitarconflitos,inevitáveisse pensarmosque 12 adultoso terão deherança,vamosvender agora"Norton de Matoshab. palácio do Mitelo
"Os imóveisnobres sãoadquiridos porportugueses noestrangeiro ouestrangeirosdo centro daEuropa eda Rússia"Teresa Serranoagente imobiliária
ák sparedesdoPalã-
g\ cio do Mitelocontam histórias
que valem quatroi^Leuros. Este é o preço pedido peloimóvel no Campo Mártires da
Pátria, em Lisboa, com três milmetros quadrados e construído
na 1- metade do séc. XVII; umdos muitos espaços majestososà venda em Portugal.
Do edifício que recebeu no-bres e burgueses, os livros de
História contam que "no séc.
XVII , quando a zona era conhe -cida como o Curral" - pelo nú-mero de ovelhas que ali pasta-vam - era habitado porD. Guiomar Nunes Coronel,
passou em 1672 para as mãos de
um marchante da Casa Real erecebeu melhoramentos em
1737, ao ser comprado pelo de-sembargador Alexandre Metelode Sousa e Meneses, homem
próximo de D. João V, cujo ape -lido por corruptela deu lugar ao
Mitelo, "peloqualéconhecidoopalácio e o largo fronteiro" fren-te ao Paço da Rainha.
Àépocadoterramotode 1755,
o palácio pertencia a Laureano
da Câmara Coutinho; em 1865foi última morada do conde de
Vimioso e mais tarde da mar-quesa de Pomares. Em 1925 foi
comprado por uma senhoraabastada que deixou a casa
às sobrinhas.É com gosto indisfarçável que
o engenheiro Norton de Matos,um dos habitantes do palácio,abre as portas da construçãoseiscentista. Nas mais de 50 as-soalhadas há ombreiras seme-lhantes às do Palácio de Maf ra,tectos em masseira e painéis de
azulejos. O palácio inclui dois
amplos apartamentos reserva-dos à família, capela - onde to-dos os anos, pelo Natal, o único
filho homem, padre jesuíta, ce -
lebra missa aberta ao público -,
um pátio tido como dos mais
antigos da cidade, salão de baile
e um enorme espaço, que ainda
guarda quadros, cadeiras e se-bentas das alunas do Institutode Serviço Social, que ali fun-cionou de 194132005.
"Neste momento, o palácio é
da minha mulher e da irmã, mas
os herdeiros serão seis rapari-gas, três de cada lado, casadas e
com vida noutros locais. Para
evitar conflitos, inevitáveis se
pensarmos que 12 adultos terão
de resolver a herança, optámos
por vender agora", explica Nor-ton de Matos.
O momento é oportuno, já quea procura por imóveis nobres
tem aumentado, explica Teresa
Serrano, da Remax Collection,
que negoceia este e outros pala -cios. "São adquiridos por por-tugueses que estão no estran-
geiro e pretendem investir no
país de origem oupor estrangei-ros " do centro da Europa e Rús -sia. Empresários e construtores,
"que compram para reconver-
ter em apartamentos de luxo e
hotéis de charme" são os invés -tidores do momento e "ofere-cem logo 80 a 90% do valor à
cabeça" adianta André Azeve-
do, da mesma imobiliária, que
aposta no segmento que está
em fase ascendente. "Recente-
mente, começam a aparecer fa-mílias .Vendi um palácio a umasenhora que pretende juntar no
mesmo espaço filhos e netos,mas é raro. A maioria quer ren -
tabilizar o investimento."
Apesar de por palácio se en-tender a casa de nobres ou de
chefes de Estado, o dinheiro da
burguesia fez nascer, a partir do
séc. XVII, verdadeiras jóiasda arquitectura.
No bairro da Graça, o palacete
que acolheu a embaixada alemã
na I Guerra Mundial, recebendo
espiões e várias filmagens,está à venda. "O preço é de
I ÓSO 000 euros, negociáveis. Os
herdeiros, pai e filho, da família
que o habita desde os anos 1930
pretendem vender e o mais certo
é vir a ser adquirido para hotel de
charme"notaoagente imobiliá-rio António Pedro.
Em Sintra, um palacete Art
Déco, cuja fachada ostenta um
florão - obrigatório a todas as
casas da rua - está no mercado
por 860 mil euros. Na vila, a
Quinta da Princesa, que D. Fer -
nando II mandou construir paraa amante, pode ser adquirida
por cinco milhões de euros.
"Vendi umpalácio a umasenhora quepretendejuntar noespaço filhose netos"André Azevedoagente imobiliário
Manoel Caroça enriqueceucomo dentista em Lisboa - vin-do de uma aldeia da Guarda e
tendo estudado na Suíça. Em
I9iBquis uma vinha. Ecomprou
parte da herança dos condes da
funqueira. A Quinta da Aloma,emAlmeirim, eraaproprieda- ?
? de que queria. Mas com ela fez
a escritura de um terreno na ca -
pitai, na rua da Junqueira -des-conhecendo do que se tratava.Numa bela tarde, passeando na
Junqueira com o irmão, percor-reram o gradeamento do nume -
ro 138, delimitado por dois tor-reões com uma águia de pedra
sobrepujada. Para lá dos jardins
elevava-seopalácioque Manoel
comprara - tinha o nome de
Quinta das Águias, mandada
construir por Manuel Lopes Bi-cudo e adquirida em 1731 porD. Diogo de Mendonça Corte-Real, secretário de Estado da
Marinha e dos Negócios Ultra-marinos do rei D. José I .
O palácio ficou para a filha de
Manoel viver com o marido, o
professor Lopo de Carvalho, fi-siologista. Foi lá que a escritora
Maria João Lopo de Carvalho
passou a infância. "Era a casa daminha avó e, na parte de trás,
depois da horta, ficava a casa do
meupai- quehojeestá arrenda-
da, sendo a residência oficial doembaixador do Reino Unido." O
palácioimpunha-se.Dois anda-
res de fachada. "Por baixo tinhaa casa da lenha, onde nós, as
crianças, nos escondíamos."
Hoje esta desabitado. Quatro
pisos, com 24 quartos e dez ca-sas de banho. Quando faleceu,em 1994, a avó da escritora, a
propriedade foi vendida a Ri-cardo Oliveira, um dos accio-
nistas do BPN - constituído ar -
guido no âmbito da investiga-ção à instituição bancária - e
está à vendapor 17,5 milhões de
euros, pela Sotheby's.
"Era a casada minha avó.Por baixo era acasa da lenha,onde nós, ascrianças, nosescondíamos"Maria João Lopode Carvalhoescritora
No concelho de Ponte de Limaestá um castelo à venda. Tem o
nome de Paço do Curutelo. Naverdade,éumacasa-fortaleza.Aconstrução da torre poderá ser
anterior à fundação de Portugal-mandada construir por um fi-dalgo asturiano dalinhagem dos
Godos, por volta do ano 800. Àtorre adicionou -se na épocamedieval uma construção emgranito, que corresponde à zonaresidencial. Já no século XVI foiedificada uma capela, junto dela
ergue-se um dos oito marcos da
Casa de Bragança. Conta Ma-nuel Assunção, sócio -gerenteda Solares Ibéricos, que castelo
de dois milhões e 245 mil euros
"estájáemfasedevendaaespa-nhóis, que estão interessados
principalmente na vinha"Perto de Coimbra, no Luso, a
mediadora imobiliária Portu-galßur tem à venda - por três
milhões de euros - a Quinta da
Tone do Viso, com um palacetede 1894 situado no meio de umvalioso parque botânico, muito
"frequentado pelo rei D. Carlos
e pelarainhaD. Amélia, amigosda família" - explica Francisco
Grácio, da Portugalßur.Não foi este o caso, mas há
imobiliárias que falam de es-trangeiros a comprar palacetes
pagando com malas de dinheiro.
No entanto, nem só os parti-culares vendem patrimóniocom História. A Estamo, res-ponsável pelas vendas de imó-veis do Estado, publicita dois
palacetes, na Lapa e na Junquei-ra. Este, conhecido como Palá-cio Pessanha, do séc. XX, tem
4240 m2, amplo jardim e base
de licitação de 5 500 000 euros.De fisionomia oitocentista, o
palácio foi encomenda de D.
João da Silva Pessanha, passou
para a condessa de Porto Bran-dão e para o marquês de Vaiada,
que ali deu festas opulentas.ÀEstamoas propostas deverão
ser entregues em carta fechada.
"O valor global das vendas efec-tuadas em2oil"de imóveis anti-gos e outros, "foi de cerca de 70milhões de euros"frisa.
A Câmara de Lisboa colocou à
venda, em 2008, seis edifícioshistóricos destinados ao mer-
cado dos hotéis de luxo, cujo va-lor-base de licitação totalizava
I2,723milhõesdeeuros. OPalá-cio Braamcamp (Príncipe Real)foi o único vendido em 2009,por 2,4 milhões de euros, numnegócio adjudicado ao grupo 3KHotéis. Para trás fica a históriado espaço que foi da família do
político Anselmo JoséBraamcamp, morada de Fontes
Pereira de Melo e local da École
Française de Lisbonne . Em 1945foi adquirido pela Câmara.
Da lista constam ainda o Palá-cio Visconde do Rio Seco, noBairro Alto, cujo valor de licita-ção era, em 2008, de 424 mileuros; o Palácio Panças Palha,em Santa Apolónia (4,083 mi-lhões); o Edifício Passo da Pro-cissão do Senhor dos Passos da
Graça, Castelo, (1,554); o Palácio
Benagazil, nos Olivais, por 1,405milhões de euros; e o Palácio
Machadinho, antiga proprieda-de de José Pinto Machado, fi-dalgo da Casa Real, na Madra-
goa (3,373 milhões). Todos elesimóveis com História. ©
"0 valor globaldas vendasde 2011 deimóveisantigos eoutros foi de70 milhõesde euros"Imobiliária Estamo(negoceia imóveisdo Estado)