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ISSN 2527-0532 João Pessoa, 2017
Artigo
Processo de construção da leitura e da escrita
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PROCESSO DE CONSTRUÇÃO DA LEITURA E DA ESCRITA
Wandeylsa Viégas Soares Romão1
Wandeyldna Barboza Viégas²
RESUMO - O presente artigo propõe uma reflexão sobre o processo da construção do
sentido da leitura e da escrita em crianças de Educação Infantil e as dificuldades que a
permeiam. Para essa análise, observou-se literaturas que versam acerca dos sentidos
produzidos pelos interlocutores durante o processo de construção de textos. Essas
discussões perpassam pelo âmbito escolar onde se analisa o processo de ensino
aprendizagem da leitura e escrita, tendo em vista que para o desenvolvimento da escrita
e para a construção do sentido da mesma é necessário que a leitura se faça presente,
porém, não nos restringimos à leitura de livros didáticos, mas a leitura de mundo, dos
mais diversos símbolos e portadores de texto. Durante o processo de leitura o educando
consegue atingir níveis de autonomia, reflexão e criticidade. Buscamos, portanto a
contribuição de diversos estudiosos que abordam a temática no âmbito da leitura/escrita
e os benefícios que a fomentação dessas práticas trazem para o desenvolvimento
cognitivo dos educandos. As teorias discutidas nesse artigo vão ao encontro de diversas
teses linguísticas que mostram a importância da leitura e escrita na formação do
educando.
Palavras-chave: leitura - escrita - sentido – aprendizagem.
ABSTRACT - This article proposes a reflection on the process of the construction of
the sense of reading and writing in children in early childhood education. For this
analysis, it was observed that literature about the meanings produced by versam
interlocutors during the construction process of texts. These discussions pertain to the
scope where it scans school teaching process learning of reading and writing, with a
1Graduada em Pedagogia pela Universidade Vale do Acaraú - UVA.
² Mestre em Educação pela Unigrendal
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view to the development of writing and the construction of meaning of same is required
reading if you do this, however, does not restrict the reading of textbooks, but the
reading world, a variety of symbols and text holders. During the process of reading the
learner can achieve levels of autonomy, reflection and criticality. We seek, so the
contribution of various scholars who discuss the topic in the context of reading/writing
and the benefits that the fomentation of such practices bring to the cognitive
development of the students. The theories discussed in this article will meet various
linguistic arguments that show the importance of reading and writing in the formation of
the learner.
Keywords: Reading – writing – sense - learning
INTRODUÇÃO
Analisando a forma como o processo de ensino aprendizagem da leitura e da
escrita na Educação Infantil vem sendo concebido, nos deparamos com diversas
dificuldades no que tange a construção do sentido, ou seja, o educando lê, porém não
consegue estabelecer uma relação entre os textos escritos e os seus significados.
Portanto, quais os mecanismos de ensino estão sendo privilegiados no âmbito escolar
que acabam por inviabilizar a prática da leitura e escrita?
A leitura e a escrita não são devidamente aproveitadas no âmbito escolar, se
perdendo durante o processo de aquisição a importância que se deve dar à construção do
sentido do texto, tornando-o significativo para os educandos.
Considerando que os processos de leitura e escrita são primordiais para o
desenvolvimento dos educandos, as relações que se estabelecem entre interlocutores e
textos precisam ser analisados cuidadosamente, visto que o processo de aquisição da
leitura tem sido pautado meramente na codificação desses textos. Portanto, este artigo
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justifica-se pela necessidade de se entender a prática da leitura e escrita como partes
indissociáveis, que são responsáveis pela autonomia e senso crítico-reflexivo dos
educandos em seu processo de letramento.
Nessa perspectiva, deve-se levar em consideração os métodos e estratégias
pedagógicas, bem como a concepção que o educador tem acerca do ato de ler e escrever
em relação a sua função social. Sendo assim, objetiva-se com essa pesquisa, analisar as
práticas pedagógicas no processo de construção da leitura e da escrita e quais os
caminhos que os educandos permeiam para dar significado ao que leem e escrevem,
compreendendo o verdadeiro valor da língua escrita ou falada para a sociedade.
A metodologia empregada para o desenvolvimento da pesquisa consiste em uma
pesquisa de cunho bibliográfico, na qual será levantado todo o referencial teórico
necessário para embasar as discussões.
FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
Sentido do ato de ler e escrever
É compreendido que o ato de escrever é uma consequência do ato de ler. É
preciso captar com os olhos as imagens das letras, guardá-las no reservatório que temos
em nossa mente e utilizá-las para compor depois as nossas próprias palavras.
(SCILIAR, 1995)
Antes mesmo de ingressar ao ambiente escolar, a criança já faz uso da
linguagem através da interação com a família e essa aprendizagem primária não deve
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ser descartada, sendo portanto, levada em consideração ao escolher os métodos e
estratégias para o desenvolvimento da leitura e escrita. O processo de aquisição da
linguagem não tem sido motivo de tantas preocupações, por parte dos estudiosos dessa
temática. O que tem chamado à atenção dos linguistas é o processo de aquisição da
linguagem escrita e consequentemente da leitura e os mecanismos que perpassam o
campo da construção do sentido.
Ferreiro e Palácios (1987), ressaltam que imersa em um mundo onde há presença
de sistemas simbólicos socialmente elaborados, a criança procura compreender a
natureza dessas marcas especiais. Para tanto, como já fez com outros tipos do objeto,
vai descobrindo as propriedades dos sistemas simbólicos através de um prolongado
processo construtivo, essa compreensão só está sendo possível, através dos estudos da
teoria psicogenética de Piaget. Os estudos de Emília Ferreiro demonstram que as
crianças constroem hipóteses a respeito da escrita e da leitura, da mesma forma que o
fizeram para a aprendizagem da língua materna, a oral. As crianças a todo o momento
que em necessitam escrever algo, são colocadas à prova, pois necessitam pensar, se
questionar, sobre os “riscos”, os sinais devem representar o que vão escrever, dentre
outros aspectos. (TFOUNI, 2000).
Alfabetizar tem se tornado um verdadeiro desafio, tendo em vista todas as
dificuldades e equívocos que permeiam esse processo. A prontidão para a leitura e a
escrita, depende muito mais das ocasiões sociais do contato com a leitura e a escrita, do
que de qualquer outro fator cognitivo, emocional ou psicológico. No ato de ler e
escrever, além de mobilizar o conjunto dessas funções intelectuais, a criança também
precisa ter vontade de expressar ou comunicar alguma experiência vivida, por tudo isso
a aprendizagem da escrita é importante para o desenvolvimento humano, e por ser
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importante a aprendizagem da escrita devemos fazer com que ela aconteça de maneira
adequada (MELLO E MILLER,2008).
A escrita constitui-se como uma representação simbólica da linguagem falada,
porém não consegue ser totalmente fiel a ela, pois as possibilidades do uso da
linguagem falada são inúmeras, e a escrita tenta apenas aproximar-se desse universo.
Ferreiro (2001), aponta algumas posturas que são de suma importância para que as
práticas pedagógicas consigam atingir resultados satisfatórios, e que permitam crianças
serem alfabetizadas.
É necessário mudar a própria concepção do objeto, para que se entenda por que a
alfabetização implica em um trabalho conceitual, que em certo sentido é similar ao caso
da matemática. A criança pode recitar o abecedário, tanto como recitar a série dos
números. Contudo, isso não basta para chegar a noção de número, nem basta para
entender o que estáescrito e qual a sua relação com a língua oral. A modificação do
objeto conceitual é imprescindível. (FERREIRO, 2001, p.22)
Diante dos problemas que perpassam a nossa sociedade, é notável que todas as
vertentes educacionais estejam empenhadas a trabalhar de forma que venham
proporcionar ao educando uma formação que lhe garanta uma autonomia, emancipação,
liberdade, responsabilidade, reflexão e criticidade. Os avanços de estudos na
compreensão da linguagem nas últimas décadas, no tocante ao estudo da língua falada, e
sua incorporação pelo discurso oficial, através dos Parâmetros Curriculares Nacionais
principalmente, têm desestabilizado a tradição escolar. O ato da aprendizagem não deve
resumir-se apenas a teoria de livros didáticos, tão pouco ficar atrelados a conhecimentos
que não poderão ser aplicados no dia a dia. A nova temática educacional tende a
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desenvolver a educação de forma que o professor possa refletir a sua realidade, o
contexto do aluno e o da escola.
No livro Psicogênese da Língua Escrita, as autoras destacam que uma das
grandes necessidades de mudança está, principalmente, a prática educativa
predominante, ainda nos dias atuais, pela maioria dos alfabetizadores, a pedagogia
tradicional. Nessa pedagogia, a escola ignora a progressão natural do desenvolvimento
da criança em relação à aquisição da língua escrita, priorizando o ingresso imediato ao
código escrito, na busca por tentar compreender o código alfabético. Parte-se do
pressuposto, que todas as crianças já conseguem compreender o código alfabético assim
que iniciam sua vida escolar, desde que o professor ensine passo a passo as partes que
integram a escrita, partindo do que ele considera o mais simples (letras e sílabas) até
chegar ao mais complexo (frases e textos), transmitindo-lhe o equivalente sonoro das
letras e exercitando-as na realização gráfica da cópia. Com isso, constata-se que há uma
distância muito grande entre o que a escola ensina e o que a criança realmente aprende.
Nessa prática, possibilita-se que a criança aprenda a função da escrita de modo
descontextualizado a partir da apropriação desse objeto, seguindo uma lenta construção
de critérios que lhe permitem compreendê-lo, critérios esses estabelecidos pelo
educador e não nos momentos de descoberta da criança a partir de suas próprias
construções na interação com o objeto de conhecimento.
As autoras destacam ainda que as principais dificuldades iniciais observadas nos
profissionais de ensino no decorrer da pesquisa foram: em primeiro lugar, a visão que o
adulto, já alfabetizado, tem do sistema de escrita; em segundo lugar, a confusão entre
escrever e desenhar letras e; em terceiro lugar, a redução do conhecimento do leitor ao
conhecimento das letras e seu valor sonoro convencional. Os professores adquirem
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essas dificuldades em sua própria alfabetização, ou seja, na forma como foram
alfabetizados. Para isso se faz necessária a busca desses profissionais pelo
conhecimento da evolução psicogenética para poder contribuir com os avanço nessa
área e abandonar a visão errônea do processo.
Surge então, o desafio da capacitação, para resgatar o professor adormecido
frente às mudanças educacionais necessárias, para resgatar os seres pensantes,
reflexivos e construtores. A importância de iniciar pelo que ele pensa se dá na
valorização e respeito das hipóteses individuais, prática que eles precisam ter com os
alunos, no entanto, isso não significa que capacitação será limitada no que ele pensa,
mas a partir daí surgirão oportunidades para refletir e construir, ampliando assim os
conhecimentos. Por essa razão, o instrumento chave desse professor é sua reflexão, pois
se o educando é um sujeito que se alfabetiza ao interagir com seu próprio processo de
alfabetização, o professor deve ser aquele a quem devem ser oferecidos instrumentos
que resgatam sua reflexão teórica sobre sua prática, para que a construção de sua
trajetória se dê em processo paralelo ao de seus educandos, dessa forma descobrirá
como e por quê modificar a sua prática. (FREIRE apud FERREIRO, 1990).
Passando por esse processo de construção, fica mais fácil para o educador
compreender que a criança precisa elaborar a língua escrita, construir e compreender as
diferenças entre sua forma de escrita e a convencionalmente aceita. Conhecer esta
diferença permite ao professor compreender o que acontece com as crianças quando,
por exemplo, tentem registrar aquilo que pensam, mas desconhecem a estrutura do
sistema alfabético. Essas produções darão ao educador a zona de desenvolvimento real
dessa criança, sendo esse o ponto de partida para o desenvolvimento do trabalho
pedagógico. (FERREIRO, 2001a).
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Ferreiro (2001) destaca que no Brasil, alguns educadores, a partir dos estudos
das obras de suas obras, realizaram algumas mudanças em suas práticas. Iniciaram um
processo onde era permitido às crianças escreverem e lerem coisas não-habituais na sala
de aula e, passaram a estimular os processos de interação entre as crianças, produções
de textos na Educação Infantil e Especial. Detectaram-se educadores entusiasmados
com os progressos dos alunos, que começaram não apenas a observar e estimular, como
também a registrar o processo de desenvolvimento dos alunos, além de que passaram a
compreender a criança como alguém que sabe e que sua aprendizagem depende
basicamente dela, e não apenas do que é oferecido pelo educador, assim como era
encarada na visão tradicional de ensino.
Etapas do processo de alfabetização
Faz parte do processo de construção da leitura e escrita, as crianças passarem por
avanços e recuos durante o seu desenvolvimento. Cada criança possui um ritmo
individual e o tempo para que possa se apossar do código linguístico é algo muito
relativo e singular. O professor (a) deve portanto respeitar esse tempo e compreender
que se trata de um processo, no qual ele é agente primordial, que através da sua didática,
proporciona meios e estímulos que servirão como aportes, os quais conduzirão a criança
à apropriação da leitura e escrita. Emília Ferreiro, diz:
O desenvolvimento da alfabetização ocorre, sem dúvida, em um
ambiente social. Mas as práticas sociais, assim como as informações
sociais, não são recebidas passivamente pelas crianças.Quando tentam
compreender, elas necessariamente transformam o conteúdo recebido
(FERREIRO, 1992, p.24).
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O processo de alfabetização é portanto um desenvolvimento interno, que
acontece diferentemente em cada individuo de acordo com os estímulos que o mesmo
recebe do meio em que está inserido. Emília Ferreio(1999)elencou algumas propostas
relevantes no processo de alfabetização inicial:
- Restituir à língua escrita seu caráter de objeto social;
- Desde o início (inclusive na pré-escola) se aceita que todos na escola podem produzir
e interpretar escritas, cada qual em seu nível;
- Permite-se e estimula-se que a criança tenha interação com a língua escrita, nos mais
variados contextos;
- Permite-se o acesso o quanto antes possível à escrita do nome próprio;
- Não se supervaloriza a criança, supondo que de imediato compreendera a relação entre
a escrita e a linguagem;
- Não se pode imediatamente, ocorrer correção gráfica nem correção ortográfica.
Como já mencionado anteriormente, o professor (a) deverá levar em
consideração o saber que a criança já traz consigo da sua vida familiar, e trazer esse
contexto cotidiano para a sala de aula, afim de dividir aprendizagens entre os (as) alunos
(as), pois de acordo com Emília Ferreiro (2001), a criança constrói o conhecimento
através de sequências de hipóteses. Segundo a teoria da Psicogênese da Língua escrita, a
criança passa por quatro níveis de escrita, são elas:
Pré-silábico: não possui a capacidade de relacionar as letras com os sons
da língua oral. Nessa fase, a criança começa a diferenciar as letras dos
números, dos desenhos ou dossímbolos e adquiri o conhecimento do
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papel das letras na escrita. Assimila que as letras são utilizadas para
escrever.
Silábico: tem a capacidade de interpretar a letra ao seu modo, atribui
valor de sílaba a cada uma.Quando a criança chega ao nível silábico,
sente-se confiante porque descobre que pode escrever com lógica. Ela
conta os “pedaços sonoros”, isto é, as sílabas, e coloca um símbolo
(letras) para cada pedaço (sílaba). Essa noção de que cada sílaba
corresponde a uma letra pode acontecer com ou sem valor sonoro
convencional.
Silábico-alfabético: é uma fase avançada da silábica, pois já compreende
a lógica da fase anterior com a identificação de algumas sílabas.
Nessafase, a criança está a um passo da escrita alfabética. O professor
deve realizar um trabalho de reflexão com o aluno sobre o sistema
linguístico partindo da observação da escrita alfabética e da reconstrução
do código. É o momento em que o valor sonoro torna-se imperioso e a
criança começa a acrescentar letras principalmente na primeira sílaba.
Alfabético: Possui o domíniodo valor das letras e das sílabas.Quando a
criança constrói e reconstrói o sistema linguístico compreendendoa sua
organização, ela ingressa no mundo das coisas escritas, conseguindo ler e
expressar na escrita o que pensa ou fala. Nesse fase, a criança escreve
foneticamente (faz a relação entre som e letra), mas não
ortograficamente. Após a concretização dessa fase, o professor irá
desenvolver a criança à correção da ortografia e gramatical.
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De acordo com Oliveira (2008) alfabetizar, vai além de ensinar ao aluno
decodificar, significa proporcionar ao aluno o conhecimento de qual utilidade e como
esses códigos estão presente no seu dia a dia. Alfabetização também significa
Letramento, processo que possibilita a criança a apropriação e o uso social das
habilidades de leitura e escrita.
Métodos de alfabetização: sintético e analítico
A psicolinguista argentina Emília Ferreiro, com uma metodologia baseada nos
princípios da abordagem construtivista, autora da Psicogênese da língua escrita
juntamente com Ana Teberosky, critica o método tradicional de alfabetização, no qual
subentende-se que a criança já é conhecedora dos códigos, utilizando palavras isoladas,
descontextualizadas que não oferecem sentido algum ao aluno. Dentre os métodos mais
conhecidos de alfabetização, estão o método sintético e o método analítico.
O método sintético corresponde a um processo mais rápido, mais tradicional de
alfabetização, o qual aplica-se à qualquer criança. O método sintético estabelece uma
correspondência entre o som e a grafia, entre o oral e a escrita, através do aprendizado
sequenciado de letra por letra, sílaba por sílaba e palavra por palavra. Esse método não
leva o aluno a perceber a palavra como um todo, apenas compreende-las por partes
isoladas, sem significação, o que impede a compreensão da leitura. Isso impossibilita o
aluno tanto na compreensão de textos quanto nas elaborações.
No que diz respeito ao método analítico, este é totalmente diferente ao sintético,
pois leva o aluno a analisar a palavra completa, para então chegar às partes isoladas que
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a compõe. Seu propósito e fazer com que as crianças possam compreender o sentido do
texto. Não é um processo que parte do aprendizado da silabação. Parte do macro para o
micro, estimulando os alunos a construção de textos, à leitura, e com isso proporciona o
desenvolvimento da capacidade de organização dos pensamentos e como expressá-los.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A psicogênese da língua escrita, não só nos possibilita ampliar nossos
conhecimentos sobre o ato de alfabetizar, como também sobre todo o processo de
construção do conhecimento do indivíduo, enquanto ser pensante e criativo, dotado de
capacidades inatas e adquiridas. Um dos principais objeto de estudo por Piaget,
Vygotsky, Wallon e Ferreiro, dentre outros autores que muito contribuíram a luz da
psicologia e pedagogia para a compreensão dos fatores cognitivos, sociais e afetivos que
influenciam diretamente nas aprendizagens desses sujeitos.
Vale ressaltar que as pesquisas realizadas e que deram origem à psicogênese da
língua escrita, foram e continuam sendo de fundamental importância para educadores e
todos os se encontram envolvidos direta ou indiretamente com o processo de
aprendizagem, para que compreendam a forma de pensar da criança ao entrar em
contato com a escrita, como ela elabora as suas hipóteses e todo o processo de
construção. Com certeza, essa é uma colaboração imensurável para o ensino e,
principalmente, para que as crianças sejam respeitadas em suas particularidades pela
escola e pelos adultos de forma geral. Possibilitar uma aprendizagem onde o respeito
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intelectual será garantido, é assegurar uma aprendizagem significativa e real, onde cada
um se expressa em sua individualidade e aprende a respeitar a individualidade do outro.
Vivemos em um momento no qual a preocupação com os sentidos atribuídos ao
que se lê e/ou escreve tem aumentado consideravelmente, tendo em vista as dificuldades
apresentadas pelos alunos.
Este artigo buscou compreender através de leituras de diversas obras que versam
sobre o tema e discussões com os professores, as reais causas para essa distorção de um
processo que deveria seguir uma linearidade natural. Visto que a escrita constitui um
instrumento do desenvolvimento cognitivo, cabe à instituição escolar utilizar a escrita
em parceria com os demais recursos expressivos que fazem parte do cotidiano da
criança e não como fazem alguns professores que acreditam só estar trabalhando à
escrita através de livros e leituras que muitas vezes possuem termos fora da realidade do
educando. Durante o processo de construção da escrita, a criança formula diversas
hipóteses sobre a representação gráfica de sua fala, mas nem sempre esta fase é
compreendida pelos educadores, o que pode acabar comprometendo a sólida formação
do educando. Com isso, percebe-se a real necessidade em abordar o assunto em questão.
Usualmente define-se leitura a partir de uma perspectiva individual, sendo
considerado o resultado de um período determinado de escolarização. Logo, ler não é
inato ao ser humano. A dimensão social se apresenta de modo mais evidente, idealizada
independentemente dos sujeitos que dela necessitam.Porém atualmente se tem uma
leitura como prática mecânica de aprendizagem se tem uma escola que se arvora no
direito de formar leitores dessa sociedade, sem que os mesmos sejam considerados
dentro do ambiente escolar. E é esta mesma escola que quer discutir a leitura como
prática social, articulada com as demais práticas que ocorrem em uma sociedade. É de
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suma importância indagar que sociedade é esta que pode aceitar ou conceber uma
programação educacional quando se observa que o exercício da leitura depende do
funcionamento e integração de pelo menos três fatores: um sistema – o da escrita, um
processo – o de alfabetização e um conjunto de valores – o que postula a importância de
a pessoa dominar o código escrito. Para interagirem, esses fatores dependem da
existência de algumas instituições, sendo a escola a instituição mais representativa e
responsável pelo processo de alfabetização do indivíduo. É ela quem consolida os
métodos de alfabetização, tornando-os, a condição necessária para a efetiva
aprendizagem da habilidade de ler.
A construção da escrita e da leitura não tem idade para iniciar, tudo depende da
maturidade dos alunos, mas essa aprendizagem sistêmica pode muito bem começar na
Educação Infantil para que posteriormente a criança consiga um maior desenvolvimento
e um melhor rendimento nas aulas e consequentemente em sua alfabetização. A escola
se incumbiu de introduzir a criança ao mundo da escrita; essa tarefa complexa envolve
mais que ensinar a codificar e decodificar signos, pois a leitura é processo muito amplo:
é atribuir significado aos sinais gráficos, conforme o sentido que o escritor lhe atribui e
conforme também a relação que o leitor estabelece com sua própria experiência. Ler
envolve reagir com os sentidos (quando se vê e se ouve os símbolos gráficos) e com a
emoção (apreciar, desgostar, concordar ou discordar, identificar-se, satisfazer-se). O
mundo dos livros não é o outro que não o mundo da comunicação e da linguagem em
seu sentido mais amplo. O livro é uma realidade interdisciplinar que em muitas de suas
manifestações está relacionada com outros modos de expressão que formam a bagagem
comunicativa da criança desde seus primeiros anos. O prazer de “ler” é antecedido pelo
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prazer da escrita e da observação e evolui para uma atitude de curiosidade leitora diante
da vida.
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