processos metodológicos para a prática de projetos de design para
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PROCESSOSMETODOLÓGICOSPARAAPRÁTICADEPROJETOSDEDESIGNPARAUMCONTEXTOSUSTENTÁVEL
AKEMIALESSIISHIHARA
BeloHorizonte2014
AKEMIALESSIISHIHARA
PROCESSOSMETODOLÓGICOSPARAAPRÁTICADEPROJETOSDEDESIGNPARAUMCONTEXTOSUSTENTÁVEL
DissertaçãoapresentadaaoProgramadePós‐GraduaçãoemDesigndaUniversidadedoEstadodeMinasGeraiscomorequisitoparcialparaaobtençãodograudeMestreemDesign,naáreadeconcentraçãoemDesign,InovaçãoeSustentabilidade.
Orientadora:Prof.ªDr.ªSebastianaLuizaBragançaLanaEscoladeDesign‐UEMG
Coorientadora:Prof.ªDr.ªMônicaCristinadeMouraUNESP – Universidade Estadual Paulista – Campus de Bauru
BeloHorizonte2014
Autorizoareproduçãoedivulgaçãototalouparcialdestetrabalho,porqualquermeioconvencionaloueletrônico,parafinsdeestudoepesquisa,
desdequecitadaafonte
I79p
Ishihara, Akemi Alessi
Processos metodológicos para a prática de projetos de design para um contexto sustentável / Akemi Alessi Ishihara. – 2014.
106 f.: il. enc. Orientadora: Profª. Drª. Sebastiana Luiza Bragança Lana Coorientadora: Profª. Drª. Mônica Cristina de Moura Dissertação (mestrado) – Universidade do Estado de Minas Gerais, Programa de Pós-Graduação em Design. Bibliografia: f. 98-103. Inclui anexos. 1. Desenho industrial – Metodologia – Teses. 2. Desenho industrial – História – Teses. 3. Desenvolvimento sustentável – Teses. I. Lana, Sebastiana Luiza Bragança. II. Moura, Mônica Cristina de. III. Universidade do Estado de Minas Gerais, Programa de Pós-Graduação. IV. Título.
CDU: 7.05
Ficha catalográfica: Fernanda Costa Rodrigues CRB 2060/6 ª
PROCESSOSMETODOLÓGICOSPARAAPRÁTICADEPROJETOSDEDESIGNPARAUMCONTEXTOSUSTENTÁVEL
Autora:AKEMIALESSIISHIHARA
EstadissertaçãofoijulgadaeaprovadaemsuaformafinalparaaobtençãodotítulodeMestreemDesignnoProgramadePós‐GraduaçãoemDesignda
UniversidadedoEstadodeMinasGerais.
BeloHorizonte,18deJulhode2014.
_____________________________________________________________Prof.ªDr.ªSebastianaLuizaBragançaLana,PhD.
CoordenadoradoPPGD
BANCAEXAMINADORA
Prof.ªDr.ªSebastianaLuizaBragançaLanaOrientadora
UniversidadedoEstadodeMinasGerais‐UEMG
Prof.ªDr.ªMônicaCristinadeMouraCoorientadora
UNESP – Universidade Estadual Paulista – Campus de Bauru
Prof.ªDr.ªMarcelinadasGraçasdeAlmeidaUniversidadedoEstadodeMinasGerais‐UEMG
Prof.ºDr.PauloMirandadeOliveiraUniversidadedoEstadodeMinasGerais‐UEMG
“Agradeçotodasasdificuldadesqueenfrentei;nãofosseporelas,eunão
teriasaídodolugar.Asfacilidadesnosimpedemdecaminhar.Mesmoas
críticasnosauxiliammuito”.ChicoXavier
AgradeçoaDeusportudoemminhavida,semEle,nadaseriapossível!Agradeçoaosmeuspais,LucieMituo,aminhabase,meueu,sãoosmaioreseosmelhoresexemplosque eu tenho. Inspiradores, exigentes, amorosos edeterminados, incríveis emaravilhosos,sempremeapoiandoevibrandocomcadaconquista,cadaetapavencida.AoKioshi,peloapoioesocorronodiaadia,idasevindasàescoladasmeninas,maisqueumirmão,umcompanheiroeamigo.AKaori,quemesmoàdistânciasemprefoisuperpresentenestacaminhada.Ao Júlio, pelo amor, apoio, dedicação, doçura, paciência, força, brilho, participação egenerosidade,meunorte,portoseguro,semeleeunãoteriaconseguido.Àsminhasfilhas,AnaMeieSofiaAimi,porseremadoçuradaminhavida,tãopacientes,tentandoentenderporqueamãevoltouparaaescolaetãocompreesivasemaindatãotenraidade.Avidaéumacaixinhadesurpresaseeutiveafelicidadedeencontrareconhecerpessoasmaravilhosas, amigas e solidárias na nossa turma e nos professores do mestrado.Principalmenteo“Chicletes”,Aline,AnaPaula,ClaúdiaePaulaGlória,oapoio,astrocas,asconversasfrenéticasnoWhatsAppforamfundamentais,terapêuticas,motivadoraseprodutivas.ÀMarcelina,peloexemplodeforça,competência,pelasaulasinspiradoraseosdeliciososmomentos de pura sabedoria. Por encontrar para mim um tempo, em meio à vidaatribulada,pelaleitura,ossábiosconselhoseconseguiracalmarmeucoraçãotãoaflito.Às “Lulu”doQui‐B, pelosmomentosdedescontração, tão importântes e revigorantes,principalmenteàIsa,minhairmãdecoração.UmagradecimentoespecialparaCris,Angelita,umverdadeiroanjo,puragenerosidade,minhaamigaquerida,quemesmoàdistância,comavidacorrida,atendeuaomeupedidodeajuda,urgenteeemcimadahora.AoAndréBorges,queridoamigo,quegentilmentefezumaleituradomeutexto.À minha orientadora, Sebastiana e à minha coorientadora, Mônica, obrigada pelaoportunidadeepelocrescimentoproporcionado.
Métodos nada mais são do que instrumentos de trabalho e, portanto, é preciso evitar o mito de que sua utilização em projetos é garantia de sucesso. O bom resultado de um projeto depende da capacidade técnica e criativa de quem o desenvolve. Métodos e técnicas podem, contudo, auxiliar na organização de tarefas tornando-as mais claras e precisas, ou seja, oferecem suporte lógico ao desenvolvimento de um projeto.
Gustavo Amarante Bonfim
RESUMO ISHIHARA,A.A.Processosmetodológicosparaapráticadeprojetosdedesignparaum contexto sustentável. 2014. 106f. Dissertação (Mestrado) ‐ Escola de Design,ProgramadePós‐GraduaçãoemDesigndaUniversidadedoEstadodeMinasGerais,BeloHorizonte,2014.Nesta dissertação focalizaram‐se algumas questões relativas a utilização de métodoscientíficosparaapráticadodesign.Pararefletirsobreousodametodologiacientíficaemmetodologias projetuais realizou‐se um levantamento histórico de alguns métodoscientíficos, visando‐se encontrar tanto os princípios que os permeiam, quanto acompreensão de suas naturezas e respectivas aplicabilidades. Para tal, a pesquisarealizadaobjetivoutraçarumparaleloentreasmudançasocorridasdesdeasociedadeindustrial até a complexidade pós‐moderna e princípios da sustentabilidade,considerandoasdiscussõeslevantadasporEdgarMorinrelativasaopensamentolinearesistêmico.Acontemporaneidade,comsuasdiversasmanifestaçõescotidianas,exigequeodesignconsidereasrelaçõesinter,multietransdisiplinaresemsuaspráticasprojetuais.Para constatar isso, elaboraram‐se entrevistas com designers atuantes em diferentesáreas afim de compreender os processos metodológicos utilizados em seusprojetos.Verificou‐seanecessidadedeestudarformalmenteosmétodos,bemcomoastécnicasdecriatividade,semfórmulasobrigatórias,mas,norteadasporumplanejamentoqueserearticulaassumindoaplenaconsciênciadoexecutar,dodesenvolveredopensarprojetual,concomitantementeàprática.Palavras‐chave:Design.Métodosemdesign.Práticaprojetual.
ABSTRACT
Inthisdissertationwasfocusedonsomequestionsregardingtheuseofscientificmethodsto the practice of design. To reflect on the use of scientificmethodology in projectivemethodstherewasahistoricalsurveyofsomescientificmethods,aimingtofindboththeprinciplesthatunderliethem,astheunderstandingoftheirnatureandtheirapplicability.Tothisend,thesurveyaimedtodrawaparallelbetweenthechangessincetheindustrialsociety to thepostmodern complexity andprinciples of sustainability, considering thediscussionsraisedbyEdgarMorinonthelinearandsystemsthinking.Thecontemporary,withitsmanydailymanifestations,requiresthedesignconsidertheinterrelations,andmulti transdisiplinares in their projective practices. To realize this, developed tointerviews with designers active in different areas in order to understand themethodologicalprocessesused in theirprojects.There isaneed to formallystudy themethodsandthetechniquesofcreativitywithoutmandatoryformulas,butguidedbyaplan that is rearticulates assuming full awareness of the run, the development andarchitecturaldesignthinking,concurrentlywithpractice.Keywords:Design.Designmethods.Projectivepractices.
LISTA DE ILUSTRAÇÕES FigurasFigura1–Modernidade/Pós‐modernidade............................................................................35
Figura2–ModelodedecomposiçãoecomposiçãodeChristopherAlexander...........42
Figura3‐ModelodoprocessoprojetualdeBruceArcher.................................................43
Figura4‐ModelodoprocessodedesigndeBürkek.............................................................44
Figura5‐ModelodeHegeleBorzak............................................................................................45
Figura6–Modelodataxonomiadosproblemas–Bonsiepe.............................................47
Figura7–MarcadocertificadoCradletocradle.....................................................................53
Figura8–CritériosdeinovaçãodocertificadoCradletocradle.....................................53
Figura9–Soluçãodedesignsustentável...................................................................................54
Figura10‐EtapasdoprocessodeDesignThinking..............................................................60
Figura11–EsquemadaabordagemdoDesignthinkingpelaempresaMJV...............62
Figura12‐Esquemarepresentativodasetapasdoprocessodedesignthinking.....63
Figura13–Basemetodológicadodesign..................................................................................73
Figura14–Analogiaarquiteturafechada..................................................................................92
Figura15–Analogiaarquiteturaaberta......................................................................................93
Figura16–AnalogiaTablet/Dispositivomóvel.....................................................................94
QuadrosQuadro1–Formaçãoetempodemercado........................................................................66
Quadro2–Processosmetodológicos...................................................................................67
Quadro3–Processosmetodológicos...................................................................................68
Quadro4–Sustentabilidadeaplicadaaosprojetos..........................................................69
Quadro5–Sustentabilidadeaplicadaaosprojetos..........................................................70
Quadro6–Observações...........................................................................................................71
Quadro7–Observações...........................................................................................................72
SUMÁRIOINTRODUÇÃO.....................................................................................................................................................12 1. HISTÓRICODOSMÉTODOSCIENTÍFICOS...............................................................................19 1.1. Bacon(1561‐1626)...........................................................................................................................19 1.2. Galileu(1564–1642).......................................................................................................................21 1.3. Descartes(1596–1650).................................................................................................................22 1.4. Locke(1632–1704).........................................................................................................................23 1.5. Newton(1643–1727).....................................................................................................................24 1.6. Hume(1711–1776).........................................................................................................................25 1.7. Hegel(1770–1831)..........................................................................................................................26 1.7.1. Carnap(1891–1970)..................................................................................................................28 1.7.2. Popper(1902–1994)..................................................................................................................29 1.7.3. Kuhn(1922–1996)......................................................................................................................30 1.7.4. Feyerabend(1924–1994)........................................................................................................31 2. OSMÉTODOSSISTÊMICOS.............................................................................................................33 2.1. Métodosedesign................................................................................................................................36 3. PROCESSOSMETODOLÓGICOSEMDESIGN...........................................................................41 3.1. Designthinking.....................................................................................................................................56 3.1.1. DesignthinkingumavisãodaempresaMJV–Tecnologiaeinovação.....................62 4. ENTREVISTAS......................................................................................................................................66 5. ANÁLISESDECASO............................................................................................................................79 5.1. ConcursoAngloGoldAshanti.........................................................................................................79 5.2. Gestãodoposicionamentodamarcaparaos50anosdoUnibh....................................85 CONSIDERAÇÕESFINAIS..............................................................................................................................91 REFERÊNCIAS....................................................................................................................................................98 ANEXOA............................................................................................................................................................104 ANEXOB............................................................................................................................................................105
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INTRODUÇÃO
Desdearevoluçãoindustrial,opapeldodesignernasociedadetemsetransformado,bem
como suas práticas metodológicas. Atualmente vivemos em uma sociedade bastante
complexa na qual a sustentabilidade é um dos principais focos, tanto social quanto
empresarial. Segundo Cardoso (2008), a pós‐modernidade na Europa rompeu vários
padrõesdaproduçãoindustrialeamassificaçãofoireduzidadevido,principalmente,a
umamudançanoshábitosdosconsumidores,assimsendo,ficoumaiscomplicadodefinir
o perfil do antigo e previsível “público‐alvo”, quem são, quais seus hábitos, não só de
consumo,mastambémdodiaadia.
Nestecenário,comocompreendereaplicarosdiferentesmétodosdedesignnãolineares
utilizadosparaapráticadodesignparaumcontextosustentável?
Projetar ficoumais complexo, os produtosque antes atendiamaumgrande grupode
consumidoresdeveriamserrepensadoseaspesquisasdemercadojánãoapontamuma
soluçãoúnica.Os consumidores se tornarammaisexigentes, a tecnologiapossibilitou‐
lhesa trocade informações– transformaram‐seem“usuários”epassaramaocuparo
centroda cadeiaprodutiva, a indústria se viu “forçada” a entendê‐los e adesenvolver
projetosparaummercadocadavezmaissegmentado.Surgeoconsumidordefinidopor
Toffler(1997),autordolivro,Aterceiraonda,comoprosumer,resultantedajunçãoentre
aspalavrasinglesasproducer+consumer.
Toffler(1997)discutesobreamudançanomodocomoaindústriainteragecomestenovo
consumidor,procurandoatenderassuasespecificidadeseentenderosconsumidores.
Nós temossidomaisbem‐sucedidosquando trabalhamos intimamentecomumoudoisfregueses”,dizogerentedosistemadeplanejamentodaTexas Instruments. “Sairmos nós mesmos por aí, para estudar umaaplicação, e depois tentarmos surgir com um produto padrão nessemercadonãotemdadocerto.”[...]Quantomaismudamosnadireçãodamanufatura avançada e quanto mais desmassificamos e maispersonalizamosaprodução,maisoenvolvimentodofreguêsnoprocessodaproduçãodevenecessariamentecrescer.(TOFFLER,1997,p.274).
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OconceitodeprosumerdeToflerpreviaumconsumidorqueproduziriaemcasa,produtos
para si, altamente personalizados, utilizando a tecnologia. Com o desenvolvimento da
interneteaacessibilidadedatecnologiadigital,asmídiassociais1tornaram‐seoprincipal
canal utilizado pelo prosumer para difundir sua opinião, após o consumo. O termo,
prosumer,ganhouamplitude,dessaforma,emmuitoscasosasinformaçõesdifundidasnas
mídiassociaisrecebemmaiorcredibilidadequeacomunicaçãooficialdasempresas,seu
hotsite,suascampanhaspublicitárias.Osusuárioscriamcomunidadesnasredessociais,
postamnainternetcomoépossívelrealizaramanutençãonosequipamentos,alémda
formacorretadeutilizá‐los,fazemtestescomparativosentreasmarcasecriamvalores
agregadosatravésdosrelatosdesuasexperiênciascomosprodutos.
Nesteprocessodeadaptaçãodaindústriaparaoprosumer,osdesignerstiveramumpapel
fundamental.Amaneiradepensardodesigner,avisãosistêmicaparaodesenvolvimento
dos projetos, os métodos utilizados serão analisados neste trabalho, que se encontra
subdivididonoscapítulosqueserãodescritosaseguir:
Históricodosmétodos– foirealizadoumbrevehistóricodosmétodoscientíficosea
apresentaçãodos seguintes pensadores:Bacon (1561 – 1626), Galileu (1564 – 1642),
Descartes(1596–1650),Locke(1632–1704),Newton(1643–1727),Hume(1711–
1831),Hegel(1770–1831),Carnap(1891–1970),Popper(1902–1996)eFeyrabend
(1924–1994)equalainfluênciadecadaumparaaconstruçãodametodologiacientífica.
Osmétodossistêmicos–apresentaçãodecomosedáarelaçãodeconsumonapassagem
damodernidadeparaapós‐modernidade,quaisasimplicaçõesparaosdesigners,comoa
formadeprojetarfoiafetadapelonovocenário.
Métodosedesign–foi feitaumareflexãosobreoiníciodaformalizaçãodoensinode
designeosreflexosnoBrasil,ainfluênciadeHfGUlmnoensinodosmétodosenaprática
1Facebook, Orkut, Twitter, Flickr, Blogeer, dentre outros.
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projetual.Tambémsãolevantadasasmudançasdeparadigmasdoatualcenáriocomplexo
ecomoosdesignersforamafetados.
ProcessosMetodológicosemdesign–foirealizadoumrecorteeapresentadoalguns
teóricoscujosmétodosnortearamapráticaprojetualdodesign, traçou‐seumparalelo
com os métodos científicos e foram elaborados esquemas gráficos. Também foram
discutidas as mudanças de paradigmas e abordadas como essas mudanças e a
sustentabilidadeafetaramapráticaprojetualdodesigner.
DesignThinking–traçouumbrevehistóricodométodo,assimcomosuarelaçãocoma
gestãododesign.Autilizaçãodeequipesmultidisciplinares,abuscapelacompreensãodo
usuário e como ele se torna determinante no processo projetual. No capítulo,Design
ThinkingumavisãodaempresaMJV–Tecnologiaeinovação,éapresentadocomoa
empresabrasileiraMJV–Tecnologiaeinovaçãoutilizaométodoparaodesenvolvimento
deseusprojetos.
Entrevistas–Foramrealizadasonzeentrevistascomdesignersdediferentesáreasde
atuaçãoeformação,apresentandoquadroscomparativoscomresumodasentrevistase
as considerações que puderam ser feitas a partir da análise dos dados coletados. Foi
realizadaumarelaçãocomosmétodospesquisados.
Análisesdecaso–sãoapresentadosdoisestudosdecasodetrabalhosdesenvolvidos
paraomercadoecomooprocessometodológicofoiutilizadopelosprofissionais.
Foirealizadoumhistóricodosmétodoscientíficos,procurandocompreenderanatureza
dosmétodoseoreflexonapráticadodesign,especialmenteemrelaçãoaosmétodosnão
lineares,natentativadecompreenderocontextohistórico,anecessidadedacriaçãode
ummétodoqueapresentasseumavisãosistêmicacontemplandooambientecomplexo
paraoqualasociedadecaminhoucomapós‐modernidadeeaomesmotempopesquisar
osmétodossistêmicosutilizadosnoBrasileoseureflexoparaapráticadodesign.
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Asquestõesquenortearamainvestigaçãorealizadapautaram‐senasseguintesquestões:
quaisosprincípioseosquestionamentosquemotivaramosdesigners,levando‐osabusca
pelo método e os processos de fazer design? Quais foram os fatores externos que
propiciaram mudanças na forma de projetar? Quais as demandas de mercado,
necessidades sociais, questões estéticas e ambientais que podem ter interferido no
processodeprojetar?
Osusuáriostêmconduzidoasprincipaismudançasocorridasnosúltimosanos.Issotende
aaumentardeformaconsiderável,especialmenteemrazãodasferramentasnainternet,
pelasquaisépossívelsugerirmudançasemserviçoseemprodutosdeformacolaborativa
entreempresaseusuários.Essainteraçãotemlevadoosdesignersareveremosmétodos
tradicionaisutilizadosnapráticaprojetual.
Avisãododesignerprecisacontemplaressastransformaçõessociaiseeconômicasque
aconteceram e irão acontecer crescentemente em nossa sociedade, mudando os
paradigmasnasrelaçõesentreconsumidoreseempresasgeradorasdebenseserviços.
ComoafirmaKruken(2009)avisãododesignvemauxiliaracomplexatarefademediar
asrelaçõesdeproduçãoeconsumo,detradiçãoe inovação,dentrodaperspectivadas
qualidadeslocaiserelaçõesglobais.
Afimdeumentendimentodessaspráticasprojetivasdodesignatual,faz‐senecessário
umestudocríticodosmétodospresentesnoDesign,sendoométodo,deacordocoma
afirmativadeCipiniukePortinari(2006),umconjuntodeprocedimentosracionais,claros
esistemáticos,colocadosemprática,visandoatingirenunciadoseresultadosteóricosou
concretos aceitos, ou considerados como verdadeiros, conforme algum critério
estabelecidocomoverdade.
Algunsdesignerstêm,nosúltimosanos,desenvolvidométodosafimdepreencheressa
lacunaentreempresaemercado,buscandomapearessasrelaçõescomplexas,atravésde
atividadesmultidisciplinares.
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Odesignéumcampodepossibilidadesimensasnomundocomplexoemque vivemos. Por ser uma área voltada, historicamente, para oplanejamentodeinterfaceseparaaotimizaçãoeinterstícios,elatendeaseampliaràmedidaqueosistemasetornamaiscomplexoeàmedidaque aumenta, por conseguinte, o número de instâncias e inter‐relaçãoentresuaspartes.Odesigntendeaoinfinito–ouseja,adialogaremalgumnívelcomquase todososoutroscamposdeconhecimento. (CARDOSO,2012,p.234)
Outropontoimportantenessenovocontextoéasustentabilidade,temaqueéumadas
principais bandeiras levantadas pelas políticas públicas e pelas organizações. O efeito
estufa,oburaconacamadadeozônio,oaquecimentoglobaleoexcessodeemissãode
gasespoluentes forampreponderantespara apreocupação coma “saúde”doplaneta.
Surge um novo consumidor atento aos processos de produção, as matérias‐primas
utilizadas,odescartedoprodutoeosimpactosambientaisprovocadospeloseupróprio
consumo.ManzinieMeroni(2009)apontamparaopapeldodesignnessecontexto,como
grandepotencializadordatransiçãoparaosmodelosprodutivosquepossamreduziro
impactoambiental.Noentanto,ponderamsobreoprocessodemudançasendonecessária
uma transformação não apenas tecnicista, mas, sobretudo, na esfera social e nas
mudançasdecomportamento.Bistagnino(2009)ressaltaa importânciadareflexãodo
designer sobre o seu papel na sociedade de consumo e na cadeia produtiva, que se
refletemnasescolhas:projetaroprodutoouprojetarohomem?Projetarumaformaoua
sociedade?Éprecisoqueosdesignersreflitamsobreoseupapelnahistóriaeopoder
transformadordodesign.
Dentro desse paradigma de sustentabilidade, a princípio, foram encontrados diversos
métodosqueconsideramessa interação,opapeldousuárioeasrelaçõesdeprodução
valorizando os processos sustentáveis, a utilização dematérias prima ecologicamente
corretas,questõesenergéticas,processosmaiseficientesemenosdispendiosos,deforma
acontribuircomasociedadecomoemsuatotalidade.
Emuma revisão bibliográfica inicial, constatou‐se uma pluralidade entre os inúmeros
métodosdepesquisaemdesign,oquepermitevárias inserçõesnosentidodeampliar
esse panorama. Nesse sentido, enfatiza‐se a importância de um aprofundamento nos
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estudossobreasmetodologiasemdesigneemnovoscontextosdeproduçãoeconsumo
nomundoatual.Estadissertaçãovisaanalisarecompreendercomoosdesignersestão
desenvolvendoseusprojetosparapráticadodesignemumcontextosustentável.
Como metodologia, foi utilizada uma combinação de observação direta e entrevistas
utilizandooprincípiodaetnografiadeBronislawMalinowskieCliffordGeertz,quede
acordocomUriarte(2012)éobservaropontodevistado“nativo”2,aprendercomele,
compreender o que intimamente lhe diz respeito e construir uma descrição em
profundidadedasculturasobservadas.Foramentrevistados11designersdediferentes
áreasdeatuação,paracompreendercomoutilizamosmétodosemsuapráticaprojetual,
traçandoumquadrocomparativoentreosmétodosdescritos.
Como forma de compensar o reducionismo extremo, algunspesquisadores e profissionais recorrem a conteúdos e métodos dasciências sociais, como a Etnografia, aAntropologia e aHistória,mas ofazemcomoaapropriaçãodeelementosúteis isolados,nãocomoumaaceitedesuaspremissas:queoconhecimentomatemáticonãoéabsoluto,que na base de todas as ciências há a Filosofia, e que o mundo éfundamentalmenteumambientenãototalmenteformalizável,sempreháumexcedentedesconhecidoincontrolável.(VASSÃO,2010,p.19)
Foirealizadoumlevantamentobibliográficocontextualizandohistóricaesinteticamente
as teorias, os principais autores e pensadores que debatem osmétodos científicos, e
tambémumrecorteeolevantamentoarespeitodosmétodosutilizadospelosdesigners,
oquepermitiuumaanálisesobreaorigemdautilizaçãodosmétodosnão‐lineares.
Foidesenvolvidooroteiroeaplicadasentrevistasregistradasemvídeo,preocupando‐se
comperguntas indiretaspara atingir as impressõesmaisprofundas e tentar fugir das
respostasprontasepadronizadas.Nestaetapaforamaindaanalisadasaposturacorporal,
entonação de voz, dentre outros. Com este procedimento, foi possível a validação da
entrevista, pois teremosmaterial que poderá ser visto e analisado por pesquisadores
2ParaMalinowski,nativoéohomemdedeterminadacomunidade,oobjetodeestudodapesquisaetnográfica,emseucontexto,nativotinhaosignificadoliteral,ouseja,própriodolugaraondenasce.
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externosquenãopossuemvínculocomapesquisaeposteriormentea transcriçãodos
dados.
Durante o processo de pesquisa foi possível perceber que ametodologia científica se
diferedametodologiaprojetual,porém,ainfluenciouaolongodaconstruçãoedefinição
dos processos metodológicos para a prática projetual. Durante a prática projetual o
designerdemonstraterpensamentosistêmico,masaindaprojetadeformalinear.
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1. HISTÓRICO DOS MÉTODOS CIENTÍFICOS
Procurou‐se,nestecapítulo,desenvolverumlevantamentohistóricodosmétodosapartir
de revisão de literatura, selecionando reflexões, textos e afirmações de alguns
importantes pensadores da humanidade que influenciaram o desenvolvimento dos
métodos científicos e propiciaram relevantes mudanças no processo da pesquisa
científica:Bacon(1561‐1626),Galileu(1564‐1642),Descartes(1596‐1650),Locke(1632‐
1704),Newton(1643‐1727),Hume(1711‐1776),Hegel(1770‐1831),Carnap(1891‐
1970),Popper(1902‐1994),Kuhn(1922‐1996)eFeyrabend(1924‐1994),tendocomo
referência, nos textos originais, os princípios e os questionamentos que os levaram a
busca pela compreensão do processo do saber humano.O como pensamos? Por onde
caminham as nossas mentes na produção do conhecimento? A partir destes
questionamentos filosóficos podemos observar o desenvolvimento dos processos
metodológicos de pesquisa. Desde a Renascença, a idade da razão, época de grande
profusão de descobertas científicas – retomada dos princípios classicistas da
racionalização, humanização e egocentrismo, passando pelo mundo moderno até a
filosofiacontemporânea,ohomemvemmudandoasuaformadepensarequestionaro
mundo, assim como osmétodos científicos foram profundamente influenciados pelas
mudançasinternasedeparadigmasdaciência.
1.1. Bacon (1561 ‐1626)
Pioneiro do empirismo britânico Francis Bacon ficou conhecido por desenvolver o
método científico a partir da experiência sensorial. Ao propor a substituição das
observaçõesporvalidaçãodasteoriasatravésdetestesembuscadeexemplosnegativos.
Priorizando assim a experiência prática na ciência, acreditavaquenão existia o saber
seguroadvindodaobservaçãoequetodateoriadeveriasertestadasemoenvolvimento
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dossentidospreconcebidos,livredasdeduçõesedaformaçãodosídolos3quedeacordo
comBacon,bloqueiamamentehumana.
Nossométodo4,contudo,étãofácildeserapresentadoquantodifícildese aplicar. Consiste no estabelecer os graus de certeza, determinar oalcanceexatodossentidoserejeitar,namaiorpartedoscasos,olabordamente, calcadomuito de perto sobre aqueles, abrindo e promovendo,assim,anovaecertaviadamente,que,deresto,provémdasprópriaspercepçõessensíveis.Foi,semdúvida,oquetambémdivisaramosquetantoconcederamàdialética.Tornaramtambémmanifestaanecessidadedeescorasparaointelecto,poiscolocaramsobsuspeitaoseuprocessonatural e o seu movimento espontâneo. Mas tal remédio vinha tardedemais,estandojáascoisasperdidaseamenteocupadapelosusosdoconvívio cotidiano pelas doutrinas viciosas e pela mais vã idolatria.(BACON,2013,p.02)
Bacon publicou, em 1597 alguns ensaios, e em 1605 o livro “O progresso do
conhecimento”. Em 1620 publicou a obra “Novum organum”, na qual descreve os
caminhospercorridosparaaapresentaçãodesuateoriacientíficaempirista.Neladestaca
aimportânciadeserealizarexperimentospráticosnosmétodoscientíficos,nãoaceitara
generalização sob fatos cotidianos da natureza, aceitando‐os simplesmente porque
ocorrem frequentemente, o cientista deve buscar as causas para a construção do
conhecimentosobreomundo.
Mas,quantoanós,quesabemosnãosepoderformularjuízosacercadascoisasraraseextraordináriasemuitomenostrazeràluzalgodenovo,antesdeseteremexaminadodevidamenteedesehaveremdescobertoascausasdascoisascomuns,eascausasdascausas,fomoscompelidos,pornecessidade,aacolheremnossahistóriaascoisasmaiscomuns.Porisso,estabelecemosquenãohánadatãoperniciosoàfilosofiacomoofatodeascoisasfamiliaresequeocorremcomfrequêncianãoatraíremenãoprenderema reflexãodoshomens,mas seremadmitidas semexameeinvestigaçãodassuascausas.(BACON,2013,p.72)
3Nateoriadosídolos,Baconafirmaqueosídolossãoilusõesoudistorçõesdamentehumana,ohomemdevelivrar‐sedeseuspreconceitosparachegaraoverdadeirosaber.4Bacon não usa, ao contrário de Descartes, o termo methodus, transcrição latina do grego, possivelmente para não se comprometer com o seu uso anterior. Prefere ratio ou via. Acompanhou‐se, no caso, a unanimidade dos tradutores modernos. José Aluysio Reis de Andrade – tradutor.
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Opensadorafirmavaqueoconhecimentocientíficoébaseadonelepróprio,queprogride
de forma constante formulando leis e permitindo que pessoas façam realizações que,
outroranãoerampossíveis,logooconhecimentoépoder.
1.2. Galileu (1564 – 1642)
Físico,matemáticoefilósofoitaliano,estabeleceuodiálogoexperimentalcomoodiálogo
da razão com a realidade, do homem com a natureza. Buscou a validação domodelo
hipotético‐quantitativo, Köche (2011) afirma que Galileu propôs a ruptura
epistemológicaquedesenvolveofazercientífico,apartirdaobservaçãodanaturezaede
evidências quantitativas deveria vir a explicação, determinando assim o método‐
quantitativo‐experimental.
Galileupublicou,emVeneza,noanode1610,olivro“SidereusNuncius”,comapenas24
páginasnoqualrelatavasuasdescobertastelescópicas.Olivrofoiumsucesso,tantoque
olevouaescrever,emRoma,noanode1613umadesuasmaisimportantesobrassobre
asmanchasqueapareciamnosol“IstoriaeDimostrazioniIntornoAlleMacchieSolari”.Em
1632publicou“Dialogosopraiduemassimisistemidelmondotolemaicoecopernicano”,a
polêmicacausadapelapublicaçãodeste livro,culminounaproibiçãodavendadolivro
pelaIgrejaCatólica.GalileutambémfoiobrigadoanegarateoriadeCopérnico.
Assimchegounodia22‐6‐1633odesfechodotristedrama,apublicaçãooficialdasentença.Oatosefeznaaulamagna(nãonaigreja!)docolégiodominicanoMaria sopraMinerva, só em presença dosmembros do S.Oficio (Inquisição). Os juízes declaram: Galilei se tornou suspeito deheresia.ExisteasuspeitadetereledefendidoadoutrinafalsaecontráriaàSagradaEscrituradequeoSolsejaimóvel,aTerramóvel,oSolenãoaTerra o centro do mundo e que se possa sustentar e defender comoprovável uma opinião ainda depois de ela ser declarada contrária àSagradaEscritura.DestaformaGalileiincorreunascensuraseclesiásticasdas quais será absolvido se fizer abjuração. Seu livro é proibido, elemesmo condenado à prisão segundo o beneplácito da Inquisição e,durante três anos, rezará semanalmente os sete salmos penitenciais.Depoisdepromulgadaasentença,Galilei leuafórmuladaabjuração.Éuma lenda, sem verdade histórica, que no fim ele tenha acrescentado:“Eppursimuove”(contudoelasemove).(BERNARDES,1954,p.53)
22
SegundoBurtt(1983),ométodopropostoporGalileupodeserdivididoem4etapas,quais
sejam:
Observarosfenômenosanalisando‐os,procurandoestabelecerrelaçõesquantitativas
entreseuselementosparaaconstruçãodehipóteses;
Realizaraverificaçãodashipótesesapartirdeexperimentos;
Elaborarresultadoscomaproposiçãodeteoriascombasenasanálisesquantitativas;
Estabelecimento de novas verdades científicas após a comprovação da proposta
teórica;
Galileuemsuateoriacolocaodiálogodohomemcomanaturezaintermediadopelalógica
matemáticaeosmétodosquantitativos.
1.3. Descartes (1596 – 1650)
DescartesviveunoiníciodoséculoXVII,deacordocomRosenfield(1996),numperíodo
derápidosavançosnasciências,publicouem1637,o livro“Discursosobreométodo”,
umadesuasobrasmaismarcantes,escritaemfrancês,consideradaumalínguavulgar.
Rosenfield (1996) aponta que na época os textos científicos eram escritos em latim,
porém,Descartestinhaoobjetivodeatingirumamplopúblico.
Depoisdisso,considereiemgeraloqueénecessárioaumaproposiçãoparaserverdadeiraecerta;pois,tendoacabadodeencontrarumaqueeusabia ser tal, pensei que eudevia tambémsaber emque consiste essacerteza. E, tendo observado que nisto, penso, logo existo, não háabsolutamentenadaquemeassegurequedigoaverdade,anãoserquevejomuitoclaramenteque,parapensar,éprecisoser,julgueiquepodiatomarcomoregrageralqueascoisasqueconcebemosdemaneiramuitoclaraedistintasãotodasverdadeiras;háapenasalgumadificuldadeemobservar bem quais são aquelas que concebemos distintamente.(DESCARTES,2005,p.71)
Nessaobra,opensadorformalizaométodocientífico,apresentandonasegundaparteseu
métododeraciocínio,noqualpondera:
Nãoaceitaralgocomoverdadeiroatéqueseesgotemtodasasprobabilidades;
23
Dividiroproblemaemquantaspartessejamnecessáriasparaasuacompreensãoe
resolução;
Hierarquizarospensamentospelomaissimplesatéosmaiscomplexos,propiciando
assimacompreensãodotodo;
Revisareenumerarmeticulosamentetodasasconclusõesparaseteracertezadenão
deixarnenhumalacuna;
Mais tarde ao escrever:Meditações sobre a filosofia primeira, em1641, abandonou a
frase:“Penso,logoexisto”;poisautilizaçãodelogoconduzaoequívocodeumaconclusão
eaintençãodeDescartesseriaadeumaintuição.
1.4. Locke (1632 – 1704)
LockefoiajudantedoquímicoRobertBoyle,oqueocolocouemcontatocomaabordagem
empírica da ciência. É incluído no grupo de filósofos conhecidos como os empiristas
britânicos, ao ladodeBerckeleyeHume.Em1690,publicouo livro “Ensaioacercado
entendimentohumano”,noqualrejeitaadoutrinadequequalquerserhumanopossater
algum tipode conhecimento inato.Entretantoapossedeatributos inatos tais comoa
percepçãoeoraciocíniosãofundamentaisparaodesenvolvimentodasuateoriasobrea
construçãodoconhecimentohumano.
A maneira pela qual adquirimos qualquer conhecimento constituisuficienteprovadequenãoéinato.Consistenumaopiniãoestabelecidaentre alguns homens que o entendimento comporta certos princípiosinatos, certas noções primárias, koinaìénoiai, caracteres, os quaisestariamestampadosnamentedohomem,cujaalmaosreceberaemseuserprimordialeos transportaconsigoaomundo.Seriasuficienteparaconvencer os leitores sem preconceito da falsidade desta hipótese sepudesseapenasmostrar[...]comooshomens,simplesmentepelousodesuas faculdades naturais, podem adquirir todo conhecimento quepossuemsemaajudadeimpressõesinatasepodemalcançaracertezasemnenhumadestasnoçõesouprincípiosoriginais.[...](LOCKE,1999,p.37)
24
Locke acreditava que através da educação todo ser humano pode ser moldado
estimulandosuamenteedesenvolvendohabilidadesindividuais,semprehaveriaoutras
explicaçõesparaauniversalidadedosconceitoscomunsatodosossereshumanos,pois
tudooquesabemoséadquiridoapartirdaexperiência.Aoquestionarsobreomecanismo
humanoparaaquisiçãodeconhecimentos,Lockedestacaqueoserhumanoaonascertem
suamentecomoumatelaembrancopodendoohomemracionalizaroseuconhecimento
apartirdasexperiênciaseelaborarnovasideias.
1.5. Newton (1643 – 1727)
Newtonimportantecientistainglês,famosopeladescriçãodaLeidaGravidadeUniversal
easTrêsLeisdeNewton,fundamentaisparaamecânicaclássica,tambémfoiastrônomo,
alquimista,filósofonaturaleteólogo.Desenvolveuomodelodeacessoàrealidadecomo
oprocedimentodoexperimentocientífico,queestipulacritériosparadefiniroserrose
acertos.Nãoaceitounenhumahipótesefísicaquenãopudesseserextraídadaexperiência
pelaindução,extraídasdosfatosexcluindoaespeculaçãohipotética.
O procedimento do experimento científico estipula quando o homemacessa plenamente a realidade – a tal ponto de dizer em exatidãoquantitativacomoéqueelafuncionaecomoelaserelaciona:seoacessoé“verdadeiro”,ou,quandonãoaacessaplenamente,seoacessoforneceumaimagem“falsa”.
Esseprocedimentopassouasechamarmétodocientíficoeobteveváriasinterpretações,principalmenteapositivista e empirista, decorrentedafísica newtoniana, expressa na obra Philosophiae Naturalis PrincipiaMathematica(1687),deNewton.(KÖCHE,2011,pp.54‐55)
Newtoncomseusprocedimentoscientíficospropõeumaleituradarealidadeapartirdo
experimento científico, determinando critérios para compreender quando o homem
realmenteatingearealidade,apartirdemétodosquantitativos.
25
1.6. Hume (1711 – 1776)
OescocêsHumenasceuemumaépocanaqualeradebatidanaEuropaqualanaturezado
conhecimento humano. O embate acontecia entre os racionalistas e os empiristas5, e
Humesetornaráumdosprincipaisempiristasbritânicos,consideradoporalgunscomoo
maisradicaldeles.Em1739,escreveolivro“Tratadodanaturezahumana”,umgolpeno
racionalismoesetornajuntocomLockeeBerkeley,oterceirodosprincipaisempiristas
britânicos, argumentando veementemente contra o conhecimento inato. Em 1748,
escreveolivro“Investigaçãoacercadoentendimentohumano”,quesegundoMarcondes
(2006),éumareelaboraçãodaobraanterior.Tendocomoprincípiooraciocínioindutivo
– nossa capacidade tirar conclusões a partir de evidências passadas, a partir das
observaçõesdepadrõeserepetições.
Humepropôsaspercepçõesdoespíritoqueseriaadivisãodoteordamenteemdoistipos
de fenômenos, impressões que são as percepções diretas que ele descreve como “a
vivênciarealdaexperiência”,como,porexemplo,quandoumhomemsequeimanofogo
esenteadornacarne,comoaltograudeintensidadeevivacidade.Eospensamentosou
asideias,queelechamadecópiaspálidasdasnossasimpressões,sãoaslembrançascom
menorgraudeintensidadeevivacidade,quesãoativadoserecriadospelaexperiência
advindadasimpressões.
Entretanto, embora nosso pensamento pareça possuir esta liberdadeilimitada,verificaremos,atravésdeumexamemaisminucioso,queeleestárealmenteconfinadodentrodelimitesmuitoreduzidosequetodopoder criador do espírito não ultrapassa a faculdade de combinar, detranspor,aumentaroudediminuirosmateriaisquenosforamfornecidospelossentidosepelaexperiência.Quandopensamosnumamontanhadeouro, apenas unimos duas ideias compatíveis, ouro emontanha, queoutrora conhecêramos. Podemos conceber um cavalo virtuoso, pois osentimentoquetemosdenósmesmosnospermiteconceberavirtudeepodemos uni‐la à figura e forma de um cavalo, que é um animal bemconhecido. Em resumo, todososmateriais dopensamentoderivamde
5Paraosracionalistasaorigemdoconhecimentoéderivadadarazãohumana,acapacidadedeestabeleceraverdadeapartirdarazãoedosconhecimentosquepodemsercomprovadosapartirdasciênciasexatas.Jáosempiristasacreditamqueaorigemdoconhecimentosedáapartirdasexperiências,porconsequênciaapartirdossentidosedapercepçãohumana,adquiridoaolongodavidacompostodetentativaseerros.
26
nossassensaçõesexternasouinternas;masamisturaecomposiçãodelesdependemdoespíritoedavontade.Oumelhor,paraexpressar‐meemlinguagemfilosófica:todasasnossasideiasoupercepçõesmaisfracassãocópiasdenossasimpressõesoupercepçõesmaisvivas.(HUME,seçãoII,spd)
ParaHumeestáclaroqueexisteumvínculoentreasimpressõeseasideias,apartirdeste
vínculo surge o fundamento para os conhecimentos humanos, mesmo que a mente
humana seja capaz de recriar cenários e situações que possam em princípio parecer
inéditasrecriaçõesespontâneas,comoimaginaravidanosolounalua,aformulaçãode
taisideiassãofeitasapartirdasimpressões.
É evidente que há um princípio de conexão entre os diferentespensamentosouideiasdoespíritohumanoeque,aoseapresentaremàmemóriaouàimaginação,seintroduzemmutuamentecomcertométodoeregularidade.Eistoétãovisívelemnossospensamentosouconversasmais sérias que qualquer pensamento particular que interrompe asequênciaregularouoencadeamentodasideiaséimediatamentenotadoe rejeitado. Até mesmo em nossos mais desordenados e errantesdevaneios, como tambémemnossos sonhos,notaremos, se refletimos,queaimaginaçãonãovagouinteiramenteaesmo,porémhaviasempreumaconexãoentreasdiferentesideiasquesesucediam.(HUME,seçãoIII,spd)
SegundoHume,asconcepçõeshumanassobrearealidadesãoresultadodasexperiências
sensíveis, ou das associações entre as ideias, sendo possível três tipos de conexões:
semelhança;contiguidade;ecausaouefeito.AaplicaçãododilemadeHume,queexistem
apenas dois tipos de raciocínio possíveis, os demonstrativos e os prováveis, levam ao
raciocínioindutivo.
1.7. Hegel (1770 – 1831)
Hegel foi o filósofo alemãomais conhecido durante a primeirametade do século XIX,
nascidoemStuttgart,estudouteologiaeconviveucomofilósofoFriedrichSchelling,com
quemtrabalhounaUniversidadedeJena.Afenomenologiahegelianadamentedeveser
27
entendidacomoaciênciadosatosdaconsciênciana fundamentaçãodoconhecimento
propostaporHegelpelaautorreflexãofenomenológicadamente.
Aciência,porseulado,exigedaconsciência‐de‐siquesetenhaelevadoaesse éter, para que possa viver nela e por ela; e para que viva. Emcontrapartida,oindivíduotemodireitodeexigirqueaciêncialheforneçapelomenos a escada para atingir esse ponto de vista, e que omostredentrodelemesmo.Seudireitofunda‐senasuaindependênciaabsoluta,quesabepossuiremcadafiguradeseusaber,poisemqualquerdelas‐seja ounão reconhecidapela ciência, sejaqual for o seu conteúdo ‐, oindivíduoéa formaabsoluta, istoé,acerteza imediatadesimesmo,eassiméoserincondicionado,sepreferemaexpressão.Paraaciência,opontodevistadaconsciência‐saberdascoisasobjetivasemoposiçãoasimesma,easimesmaemoposiçãoaelas‐valecomoOutro:esseOutroem que a consciência se sabe junto a simesma, antes como perda doespírito.Paraaconsciência,aocontrário,oelementodosaberéumLongealém, em que não se possui mais a si mesma. Cada aspecto dessesaparenta, para o outro, ser o inverso da verdade. Para a consciêncianatural,confiar‐seimediatamenteàciênciaéumatentativaqueelafazdeandardecabeçaparabaixo,semsaberoqueaimpeleaisso.AimposiçãodeassumirtalposiçãoInsólita,edemover‐senela,éumaviolênciainútilparaaqualnãoestápreparada.(HEGEL,1988,pp.34‐35)
Hegelacreditavaqueaciênciadeveriaproveraoserhumanoascondiçõesdeencontrara
verdadesobresi,atravésdeautorreflexão,queestaverdadeestavadentrodopróprio
homem,eaciênciafazpartedestarelaçãodemaneiraquasesimbiótica.
A dialética de Hegel propõe que os fenômenos da consciência são reinseridos e
modificados ao longo da vida, influenciados pelas mudanças ocorridas no mundo. O
princípio da tábua rasa, o início do pensamento imaculado, vazio, o pensamento sem
nenhuma determinação. De acordo comUtz (2005) o pensamento inicial é puro, sem
nenhumconteúdo.
Obviamente nãoqueremos ficar só com isso.Queremos algomais queessepensamentovaziodoSer.Masparaqueopensarpuroganhemaisdeterminações para então concretizar‐se, ele não pode buscardeterminações e conceitos fora de si,masdeve gerá‐los eme por simmesmo. Isso funcionanumprocessodialéticodenegar,deacrescentarnegações e com isso determinações ao seu pensamento inicial. (UTZ,2005,p.169)
28
Hegeldefendeopensamentopuroinicialmentevazio,existeatravésdoqueémanifestado
pela consciência, a partir dos sentimentos ou dos raciocínios. Que o mundo está em
constantemudançasendoassim,aprópriaexperiênciaquepropiciouaconsciênciaestá
sujeita às mudanças, que o processo é dialético. Inicialmente não existe suposição,
somenteasnoçõesabrangentessãoutilizadas,evitandoalegaçõessemfundamentos,logo
as noções abrangentes geram noções mais distintas. Todo esse processo é interno à
próprianoção,quecontémemsianegação.
Tese/Antítese/Síntese–Aafirmaçãoinicialéatese,acontradiçãodateseéaantítese,e
o problema possui as duas concomitantemente. Da conflagração entre tese e antítese
surgeasíntesequecontémoselementosdesseembate.Hegelconsideraoprocessocíclico
jáqueasíntesetorna‐seumanovatese.Apartirdesteciclotodanoçãopossuidentrode
siumacontradição,suasoluçãoéosurgimentodeumanoçãomaiscompletaerica.
1.7.1. Carnap (1891 – 1970)
CarnapnasceunonortedaAlemanhaesetornouuminfluentefilósofoalemão,emigrou
paraosEstadosUnidosdevidoaocrescimentodonazismo,trabalhounauniversidadede
Chicago, influenciando a filosofia norte‐americana. Segundo Marcondes (2004) o
positivismológico,tambémconhecidocomoempirismológico,sedesenvolveunaÁustria
entre 1920 – 1930, os filósofos desse movimento preocupavam‐se com fundamentos
lógicosdas teoriascientíficas.Paraopositivismo lógicosomenteasafirmações lógicas
passíveisdeverificaçãoempíricasãoaceitascomoverdade.Carnaputilizacomoalicerce
paraassuasinvestigaçõesalógicaeamatemáticacujapossibilidadedeveserexplicada
porumanítidadistinçãoentreverdadeformalefactual,analíticaesintética.
Uma das principais tarefas de futuros trabalhos de caráter lógico‐científico será a concretização de operações supostas possíveis pelofisicismo: a indicação das regras sintáticas para o ordenamento dosdiversosconceitosbiológicos,psicológicose sociológicosna linguagemfisicista.Pormeiodetalanálisedosconceitosdessaslinguagensparciaisé criadauma linguagemunificada. (CARNAP,1934,p.104,apudSTEIN,2004)
29
Foi durante a apresentação do trabalho: “A construção lógica do mundo”, em uma
conferência, que Carnap lecionou na Universidade de Viena, vindo posteriormente a
participardoCírculodeViena6.SegundoStein(2004)algunsatribuemaoCírculodeViena
ofatodeCarnapserpositivista,masestefato,comprovasuapredisposiçãoaopositivismo
lógico antes de fazer parte do Círculo. Os positivistas se preocupavam com os
fundamentoslógicosdasteoriascientíficas.
1.7.2. Popper (1902 – 1994)
PoppernasceuemViena,naÁustriaeestudoufilosofianaUniversidadedeViena,foipara
aNovaZelândiaem1937epermaneceuláatéofimdaSegundaGuerraMundial,depois
mudou‐separaaInglaterra,ondemorouatéofimdavida,lecionounaLondonSchoolof
EconomicsenaUniversidadedeLondres.Em1959,Popperescreveuolivro“Alógicada
pesquisacientífica”,noqualapresentaoseumétodocientífico,tendocomoprincípioque
àmedidaqueumaobservaçãocientíficatratadarealidade,eladeveserfalsificável.Em
seulivroPoppercontestaalógicadaciênciaindutivaempiristadaobservaçãoedescrição
deresultadosapartirdeexperimentosparaconfirmardeterminadashipóteses.Propondo
um sistema teórico embasado em três itens: omundo possível (sintético), eliminar o
metafísico(mundodeexperiênciapossível)eporúltimoapresentardiferençadeoutros
sistemassemelhantes.
Contudo,sóreconhecereiumsistemacomoempíricooucientíficoseelefor passível de comprovação pela experiência. Essas consideraçõessugerem que deve ser tomado como critério de demarcação, não avericabilidade,masa falseabilidadedeumsistema.Emoutraspalavras,nãoexigireiqueumsistemacientíficosejasuscetíveldeserdadocomoválido,deumavezportodas,emsentidopositivo;exigirei,porém,quesua fórmula lógica seja tal que se torne possível validá‐lo através derecursos a provas empíricas, em sentido negativo: deve ser possível
6OCírculodeVienaconsistiuemumgrupodefilósofosecientistasquesereuniramregularmenteemVienadesdeoiníciodosec.XX,sobaliderançadeMoritzSchlick(1882‐1936),OttoNeurath(1882‐1945)eRudolphCarnap(1891‐1970),comoobjetivodedesenvolverumprojetodefundamentaçãodasteoriascientíficasemumalinguagemlógica,edediscutirquestões filosóficasatravésdeumaanálise lógicaque levasseasolução,oumelhor,àdissoluçãodessasquestõestalcomoformuladastradicionalmente.(MARCONDES,1997,p.262)
30
refutar,pelaexperiência,umsistemacientíficoempírico.(POPPER,2012,p.41)
Sob o ponto de vista de Popper o critério de falseabilidade está ligado ao critério de
demarcaçãoenãodesignificado,elerefutaocritériodesignificadoutilizadocomocritério
de demarcação no contexto científico. Defende a falseabilidade em detrimento da
informaçãopositivajáquedevidoaoseucaráterlógicoexistemmuitosmaisresultados
positivosquefalsos.
1.7.3. Kuhn (1922 – 1996)
KuhnnasceuemCincinnati,Ohio,EstadosUnidos,foiumfísicoefilósofodaciêncianorte‐
americana,eledefineaciêncianormalcomoapesquisafirmementebaseadaemumaou
mais produções científicas passadas que durante algum período são confirmadas por
alguma comunidade científica específica. A ciência foi profundamente abalada pela
descobertadeCopérnicorompendooparadigmadoplanetanocentrodouniverso,para
Kuhn,osparadigmassãoumconjuntodecrenças,valores,técnicaseteoriasaceitaspelos
membrosdedeterminadacomunidadecientífica.“Apesardasambiguidadesocasionais,
osparadigmasdeumacomunidadecientíficaamadurecidapodemserdeterminadoscom
relativafacilidade”.(KUHN,2006,p.67)
Aemergênciadenovasteoriaségeralmenteprecedidaporumperíododeinsegurançaprofissionalpronunciada,poisexigeadestruiçãoemlargaescaladeparadigmasegrandesalteraçõesnosproblemasetécnicasdaciêncianormal.Comoseriadeseesperar,essainsegurançaégeradapelofracassoconstantedosquebra‐cabeçasdaciêncianormalemproduzirosresultadosesperados.Ofracassodasregrasexistenteséoprelúdioparaumabuscadenovasregras.(KUHN,2006,p.95)
Aalternânciaentreanormalidadeeacrise(mudançasnoparadigma)épré‐condiçãopara
a formulaçãodenovas teorias, as crisesprovocamprofundasmudançasnos cientistas
forçando‐os a buscarem novas informações para montar os quebra‐cabeças que são
definidosporKuhncomoaspartesdosproblemascientíficos.
31
1.7.4. Feyerabend (1924 – 1994)
Feyrabend nasceu na Áustria, estudou na London School of Economics e se tornou
discípulodePopper,mas afastou‐sedas teoriasdomestre.Mudou‐separaosEstados
UnidosondeconheceuesetornouamigodofilósofoKuhn,tendocontatocomasuateoria
sobreasmudançasdeparadigma.Comasmudançasdeparadigmastodososconceitos
científicossãoalteradosnãoexistindomaisumsistemadesentido.Feyrabendpublicou
em1975,olivro“Contraométodo”,noqualrefutaqueosprogressosdoconhecimento
nãoaconteceramdevidoaosprocessosmetodológicosnormativosesimaoprincípioda
proliferação.
Emresumo:paraondequerqueolhemos,sejamquaisforemosexemplospor nós considerados, verificamos que os princípios do racionalismocrítico (tomar os falseamentos a sério; aumentar o conteúdo; evitarhipótesesad hoc;‘serhonesto’—signifiqueissooquesignificar;eassimpordiante)e,a fortiori,osprincípiosdoempirismológico(serpreciso;apoiarasteoriasemmedições;evitarideiasvagaseimprecisas;eassimpor diante) proporcionam inadequada explicação do passadodesenvolvimento da ciência e são suscetíveis de lhe prejudicar odesenvolvimento futuro. Proporcionam inadequada versão da ciência,porque esta é muito mais ‘fugidia’ e ‘irracional’ do que sua imagemmetodológica.Esãosuscetíveisdeprejudicaraciência,porqueatentativadetorná‐lamais‘racional’emaisprecisapode,comovimos,destruí‐la.Adiferençaentreciênciaemetodologia,queéóbviofatodahistória,indica,portanto, insuficiência da metodologia e, talvez, também das ‘leis darazão’.(FEYRABEND,1977,p.279)
Feyrabend (1977) ainda reforça que o que se caracteriza como ‘fugidio’, ‘caótico’,
‘oportunista’,édefundamentalimportânciaquandocontrapostocomasleisdosmétodos
científicos,jáqueexercemafunçãodereorganizarospensamentosnodesenvolvimento
daquelas mesmas teorias que serão aceitas como partes essenciais do conhecimento
humanoacercadanatureza.Esses‘desvios’,esses‘erros’sãopré‐condiçõesdeprogresso.
Fatoresquepermitemqueoconhecimentosedesenvolvanocomplexoedifícilmundo
quehabitamospossibilitamquealiberdadedospensamentosocorrasemcensuras.
32
Feyrabend (1977) ainda argumenta que sem ‘caos’, não há conhecimento, é preciso
abdicarconstantementedarazão,poiselaimpedeoprogresso.Jáqueosconceitosque
hojesãofundamentaisnaciênciasóforampossíveis,devido‘aopreconceito,avaidade,a
paixão’; porque esses princípios se opõem à razão, e que o fator primordial para o
progressoéafrequenterenúnciaàrazão,portantoaindaqueoassuntosejaaciêncianão
sedeveconsentirquearazãosejaexclusiva,sendoconstantementedeixadadeladoou
atémesmoexcluí‐laemproldeoutrasentidades.Jáquenãoexistaumasóregraválida
paratodasassituações,nemumainstânciaaquesepossarecorreremtodasassituações.
Aanarquiaepistemológicaconsideraquenãoexistenenhumametodologiautilizadana
ciênciaquenãosejalimitada,opensamentocientíficodeveserlivreesemrestrições,logo
não existe método científico a ser seguido, “Isso é demonstrado seja pelo exame de
episódioshistóricos,sejapelaanálisedarelaçãoentreideiaeação.Oúnicoprincípioque
nãoinibeoprogressoé:tudo vale”. (FEYRABEND,1977,p.28)
33
2. OS MÉTODOS SISTÊMICOS
Oincentivoaoconsumoalmejadopelarevolução industrialse tornouaprincipal força
motrizdasociedadeeoatodeconsumir,vitalparaamanutençãodoatualsistemasocial
eeconômico.Políticaspúblicasdeincentivoaoconsumosãocomunsemnossasociedade
easpessoaspassaramacompraretrocarseusprodutoscommaiorfrequência.Termos
como “bens de consumo duráveis” não são motivos de discussão como outrora, mas
“obsolescênciaprogramada”e“obsolescênciapercebida7”estãopresentesnasdiscussões
acadêmicas,principalmentequandootemaprincipalforsustentabilidade.
Nopassadorecente,quandoobservávamosaprogressivadiminuiçãodopesoambientaldecadaumdosartefatosàdisposição,considerávamosingenuamente que o sistema de produção e consumo como um todoestivesse se desenvolvendo na direção certa, ou seja, rumo àsustentabilidade. Todavia, ampliando o alcance desta análise efocalizandonãosomentenosprodutosunitários,masnosistemacomoum todo, foi possível tomar consciência de que a situação era assazdiferente.Demo‐noscontadequeosprodutos,quandosetornamleves,menores,eficienteseeconômicos,tendemamudarseustatuseproliferar,promovendo formas de consumo mais difusas e aceleradas, sendoatraídosparadentrodosciclosdamoda(comoacontececomosrelógios)ou do mundo instantâneo dos bens descartáveis (como no caso dasmáquinasfotográficas).(MANZINI,2008,p.44)
Proveniente dos movimentos oriundos da arquitetura o termo pós‐modernidade
representaamudançadaforçadaracionalidadeparaoimproviso,apreocupaçãocomo
momento,oinstante,oaquieoagora,ohedonismoexacerbado,oliberalismoeacríticaà
rigidezdasnormasedosvalores.
[...] O pós‐modernismo é sincrético, ao mesmo tempo cool e hard,convivialevazio,psiemaximalista.Novamenteexisteaquiacoabitaçãodos contrários que caracteriza nosso tempo, não a pretensa culturadesenfreadahipdrug‐rock.Aidadeheróicadohedonismopassou;nemaspáginas de oferta e procura erótica de serviços múltiplos, nem a
7A cientista ambiental Annie Leonard lançou em 2007 o vídeo The storyofstuff, no qual discute os processos produtivos, o consumo, as origens das matérias primas e os custos de produção. No documentário a autora define como "obsolescência programada" a durabilidade dos produtos, que são fabricados para apresentar algum defeito depois de um determinado tempo e "obsolescência percebida" as questões estéticas e visuais que envolvem o produto, modelos novos que substituem os antigos que ainda funcionam bem, mas tornam‐se obsoletos devido ao design. Disponível no endereço: https://www.youtube.com/watch?v=gLBE5QAYXp8
34
importância do número de leitores de revistas sexólogas, nem apublicidade aberta da maior parte das “perversões” bastam para darcrédito a uma ideia do crescimento exponencial do hedonismo.[...]Disseminaçãodosmodosdevida,ogozonãopassadeumvalorrelativo,equivalenteàcomunicação,àpazinterior,àsaúdeouàmeditação;opós‐modernismovarreuacargasubversivadosvaloresmodernistaseagorareinaoecletismodacultura.(LIPOVETSKY,2005,p.94).
Opensamentolinearmodernofoirompidocomapós‐modernidade.Omundoprevisível
elinearidealizadopelamodernidadeearevoluçãoindustrialnãoexistemais,ocenário
dapós‐modernidadeécomplexoediversificado.Opressupostodométodoanalíticode
dividir o problema em partes, e começar a resolvê‐los é o princípio do pensamento
mecanicista, porém no mundo complexo no qual os sistemas estão interligados esse
princípionãoseadaptamaisparaasoluçãodosproblemasatuais.
Aexplicaçãonãopodemaisserumesquemaracionalizador.Aordem,adesordem,apotencialidadeorganizadora.Devemserpensadasjuntas,aomesmo tempo,emseus caracteresantagônicosbemconhecidose seuscaracteres complementares bem desconhecidos. Esses termos seremetemumaooutroeformamumaespéciedecircuitoemmovimento.Para concebê‐lo, é preciso de princípio e de método. A questão dacosmogêneseé,portanto,aomesmotempo,aquestão‐chavedagênesedométodo.(MORIN,2008,p.65)
Essamudançanaformadeprojetarfoinecessáriaparaseadaptaraonovocenário,fluido,
complexo e dinâmico (figura 1), no qual a busca pela inovação, visando satisfazer as
necessidadesdosusuários e resultou emumanova formade seprojetar, coma visão
sistêmicadetodooprocesso,observandoogastodeenergia,osmateriais,oprocesso,o
produto,acomunicaçãoeosusuários.
35
Figura1–Modernidade/Pós‐modernidadeFonte:Autoriaprópria
Nessecenário,odesignassumeumaextraordináriavisibilidade,comoapontamManzini
eMeroni(2009)eavisãosistêmicautilizadapelosdesignersaodesenvolverseusprojetos
se confronta com a complexidade dos ambientes virtuais, propiciando o aumento da
capacidadedeescuta,exercendoopapelmediadordentrodosatributosquecaracterizam
a sociedadeatual: a criatividadeeo empreendedorismo. Sendoassim,nesteambiente
diversoemconstanteseprofusasmudanças,odesigntorna‐separteativanosprocessos
detransformação.
36
2.1. Métodos e design
A revolução industrial trouxe consigo o posicionamento do design nos processos
produtivos.SegundoCardoso(2008),comaexpansãodocapitalismoindustrialocorre
tambémointeressedospaíseseminvestirnosprocessosindustriais,induzidospelabusca
porvantagemcompetitiva.
A Grã‐Bretanha, por exemplo, já contava desde meados do século XVIII com uma
organização privada voltada para a promoção industrial e a integração entre arte e
indústria,aSocietyfortheEncouragementofArts,Manufactureandcommerce(hoje,Royal
SocietyofArts).Em1837sãoinauguradasasSchoolsofdesignbritânicas,demonstrando
comoaGrã‐Bretanhavisavaoaperfeiçoamentodosprocessosprodutivos,nointuitode
melhoraraqualidadedaproduçãoindustrial,aumentandoassimacompetitividadefrente
aoutrospaíseseuropeus.
Outros exemplos de organizações surgiram na Suécia, França e em outros países
europeus,sendoumacaracterísticacomumentreelasopoucoounenhumincentivodos
governos,podendoseconstatarquenoiníciodoséculoXIXoEstadoaindanãoacreditava
nosucessodasindústrias.
OsprincípiosdaBauhaussurgiramcomoobjetivodeproporparaaindústriaumaestética
aserproduzidaemescalaindustrial,visandoatenderamassa–ocultivoàordemeao
racionalismo,àclarezaeàharmonia–ofuncionalismo,afrasequesetornoucéleredo
arquitetoLouisSullivan:“formfollowsfunction”,aformasegueafunção”.
Assim, como o movimento chamado “Die gute form” conhecido no Brasil como “bom
design”,daescolaHfGUlm,naqualométodosurgiucomodisciplinacondutoraparao
desenvolvimento de projetos de design,marca o processo de cientificismo do design,
caracterizando‐sepelabuscadeprocessoscientíficosparaofazerdesign.
37
Osprincípiosdestasduasescolaspermearamosurgimentodoprimeirocursodedesign
doBrasil na cidadedoRiode Janeiro. Fundadaem1963, aESDI–Escola Superiorde
DesenhoIndustrialteveemseucorpodocenteváriosex‐alunosdaescolaHfGUlm.
Mesmo após o seu fechamento, Ulm seguiu os padrões bauhausianos,pois,continuouexercendooseufascínioemoutrasparagens.Pelomenos,duasgrandesexperiênciasde implantaroensino formaldodesignempaísesperiféricosseinspiraramdiretamentenomodeloulmiano:aESDI,noBrasil,eoNationalInstituteofDesignemAhmedabad,Índia.Nocasobrasileiro,aligaçãosedeuatravésdointercâmbiodiretocomosdocentesulmianos e do envolvimento de ex‐alunos da escola de Ulm (Wollner,EdgarDecurtinseKarlHeinzBergmiller),nacriaçãoeconduçãodanovaescola.(CARDOSO,2008,pp.189‐190)
AmaioriadocorpodocentedaESDIeraconstituídaporprofessoresformadosnoexterior,
escolaHfGUlmouescolasdedesignamericanasquetinhamforteinfluênciadaBauhaus.
Comoresultado,oensinobrasileirodedesigniniciou‐sevoltadoparaofuncionalismoea
produçãodemassa.Foramutilizadososprincípiosulmianosparaoensinodedesign,com
fundamentostecnicistas,osquaissedistanciavamdosprincípiosartísticosdaBauhaus.
Wollner(2005),ex‐alunodeHfGUlm,ponderasobreocurrículodaescola:
Haviaocursofundamentalealgunsprogramasadesenvolver,EleseramdeterminadospeloMaxBill, que atuou comafincono tempodas duasprimeiras turmas. Vieram professores de todo o mundo para ensinarcoisas do tipo: ótica, percepção, comportamento humano. Vimos asnecessidadesdaspessoas,vimosquetodomundoenxergamaisdoquevê. Descobrimos que um curso relacionado somente à arte e aoartesanato,comoodaBauhaus,nãoresolvianada.ABauhausnãotinhaa inclinaçãocientíficadeUlm?Não,Nãohavia cursodematemática,nem de física nem nada. O que é extraordinário para mim, que nãopensavaabstratamente, foiquecomeceiaperceberarelaçãoquecadaprofissional estabelecia com o projeto. Aprendi que o projeto não erasimplesmenteumaideia,queparafazeraformaeraprecisoinformar‐se.(WOLLNER,2005,p.41)
Dessaformaoensinodemétodosparaapráticadodesigntinhacomobaseosmodelos
voltados para indústria, seguindo uma linearidade, na qual cada etapa deveria ser
cumpridaparaentãocumpriraetapaseguinte.Essemodelodepráticaprojetualatendia
38
deformasatisfatóriaomercadobrasileiro,umavezqueadefiniçãodopúblicoeoshábitos
deconsumoeramfacilmenteidentificadosapartirdeumapesquisademercado.
[...]Ouso,paraosfuncionalistas,nãoéumfatoempírico,masautilidadeabstratadoartefato,correspondenteaseutipo.Aimportânciadotiponasprimeiras teoriasque fundamo funcionalismo indicaapersistênciadeumconceitodeusoherdadodomododeproduçãoartesanal.Retomandoideias enunciadas por Muthesius em seu discurso ao Congresso doWerkbundde1911,LeCorbusier,emseulivroAartedecorativa(1924)elogiaapadronizaçãoeafirmaqueasnecessidadestípicasdoserhumanodevem corresponder objetos típicos. A nosso ver, foi ao legitimar apadronizaçãodosprodutos, indispensável ao rendimentodaproduçãoindustrial,porumapretensauniversalidadedasnecessidadeshumanas,queofuncionalismoseconstituiucomodoutrina.(KASPER,2009,p.19)
Diantedocontextoatual,ousuáriotornou‐seocentrodoprocessonaconcepçãodenovos
projetos,devidoaoseugraudeinteraçãocomosprodutoseserviços.Nestesentido,foi
necessária a criação de processos metodológicos que contemplem este panorama,
tornandoodesignumdosprotagonistasnestamudança,tantodecomportamentocomo
desuavisãosobreosprojetosexecutados.
Comaevoluçãodastecnologiasdigitaiseaconstantemutaçãodosmeiosdecomunicação,
osgrupossociaisespecíficosforamsegmentados,passandoaexistirdeformaavalorizar
a individualidade na pós‐modernidade. Lipovetsky e Roux (2005) identificam que o
individualismodapós‐modernidadeétambémumamaneiradesedestacardamassa,se
diferenciar dos outros, o homem pós‐moderno procura se afirmar através da
diferenciaçãoeassimencontraprazernosconsumosraros.
Se uma vertente da dinâmica pós‐moderna do individualismo leva apessoaa“viverparasi”,esemenosdependentedaopiniãodeoutrem,passaaprivilegiarsuasemoçõesíntimas,umaoutravertenteestimula‐aacomparar‐secomosoutrosparasesentirqueexiste“mais”,marcarsuaparticularidade, construir uma imagem positiva de si para si própria,sentir‐seprivilegiada,diferentedosoutros.(LIPOVETSKYeROUX,2005,p.52)
Bauman(2008)tambémapontaparaesteconsumidorquesepreocupaemseroprimeiro,
quebuscaadiferenciaçãodosoutros,aomesmotempoemquesepreocupaemseraceito
39
por um determinado grupo cuja identificação e aceitação tendem a ser determinadas
pelosobjetosquepossui.
O homem pós‐moderno surge com novas formas de consumo, e assim surgem novos
mercadoseprocessosdedesenvolvimentodeprodutos.Odesign,comsuacaracterística
multifacetadaetransdisciplinar,promoveaconvergênciaentrediversasáreas,taiscomo:
arte,arquitetura,engenharia,física,comunicação,gestão,dentreoutras.
Desde a escola Bauhaus, o ensino de métodos para a prática de design permeou os
modelos metodológicos artísticos. Teixeira (2011) comenta que esta
multidisciplinaridade e a forma de atuação dos designers, transitando entre outras
disciplinas, acabaram por influenciar a forma do pensamento artístico do design e
ampliaramoslimitesdosseusmétodoscientíficos.NestavertenteponderaMoraes,
O desafio dos produtores e designers na atualidade, ao atuarem emcenáriosmutantesecomplexos,deixadeseroâmbitotecnicistaelineare passa à arena ainda pouco conhecida e decodificada dos atributosintangíveise imateriaisdosbensdeprodução industrial.Tudo isso fazcomque o design haja de forma transversal, comdisciplinas cada vezmenosobjetivaseexatas.Dessaforma,ocorreaconfluênciacomoutrasáreas disciplinares que compõe o âmbito do comportamento humano,comoadosfatoresestéticosepsicológicosatéentão,poucoconsideradosnaconcepçãodosartefatosindustriais.(MORAES,2011,p.35)
Os métodos não lineares para uma sociedade complexa, com usuários exigentes e
difusoresdeinformações,quepossuemacessoàtecnologiaemummundoglobalizado,
serão fundamentais para a prática de um design inovador, eficiente, com práticas
sustentáveisequeatendaàsexpectativasdosatuaisusuários.
[...]Considerandoagoraosmétodosdeprojetos,emespecialnaáreadedesign,nãoédifícilimaginaracomplexidadedatarefadeaplicarmétodossistemáticos,jáqueaquiconcorremprocedimentosetécnicasderivadasdaquelasáreascientíficas,poisseconsideraqueodesignéumaatividadeinterdisciplinar, que, como tal, emprega no desenvolvimento de umprojeto,conhecimentosoriundosdeváriasfontesdosaber.(CIPINIUKePORTINARI,2006,p.29)
40
Acomplexidadedoambienteedasociedadeépropíciaparaanaturezamultidisciplinare
paraatransversalidadeentreasáreastípicasdodesign.Assimsendo,aformadeprojetar
dos designers se torna, analisando o ambiente e o desenvolvimentometodológico de
projetos,imprescindívelnessecontextocomplexoefluido.
41
3. PROCESSOS METODOLÓGICOS EM DESIGN
Para uma reflexão sobremetodologia deprojetodedesign foram selecionados alguns
métodosprojetuaisparaestadissertação,oquenãosignificaqueessesprocessosaqui
apresentadossãoconsideradoscomoprioritáriose/oumaisviáveis.Nossoobjetivonão
almejaconceituar juízosdevalorparaosmétodosouaclassificaçãodosmesmos,mas
umaponderaçãoentreosmétodospropostoseopensarprojetualatual.Paratalintento,
buscou‐se a relação entre a metodologia científica, a metodologia projetual e o
pensamentodedesign8.
Ametodologiaemdesigntemsuaorigemnosanos60,principalmentenaHfGUlmque
procuroucientificarodesign.FoiporinfluênciadeChristopherAlexander,considerado
comoumaespéciedepatriarcadodesign,queenumeraram‐se,deacordocomBürdek
(2010),quatroargumentosparasedesenvolverumametodologia:
1º.) O tratamento dos problemas através de uma abordagem intuitiva não é
suficienteeadequado,poisdeve‐seconsideraracomplexidadedosmesmos.
2º) Para os designers, a solução dos problemas tornou‐se inviável devido ás
dificuldades na coleta e manipulação da extensa quantidade de informações geradas
duranteoprocesso.
3º) A complexidade e quantificação que envolve os números de problemas de
projetoseampliaramrapidamente.
4º)Anaturezadosproblemasdeprojetotemsealteradoaceleradamente,oque
impossibilitaoempregodeknow‐howanteriores.
ChristopherAlexanderdesenvolveuummétodobaseadonadivisãodosproblemasem
partesmenores(Figura2)paraquefossemanalisadoseresolvidosemumaesferamenor.
Para isso, utilizou o princípio cartesiano. “O rigor metodológico da composição e
decomposiçãodeprocessosdeprojetoocasionou,nosanos70,anecessidadedousode
equipamentosdeprocessamentodedados”.(BÜRDEK,2010,p.253)
8O pensamento de design (Thomas Lockwood, Bruce Archer, Nigel Cross e Bryan Lawson), discutido por Bonsiepe, Bürdek, Nitzsche, Martins e Merino, Lupton e Tennyson.
42
Figura2–ModelodedecomposiçãoecomposiçãodeChristopherAlexanderFonte:(BÜRDEK,2010,p.253,adaptadopelaautora)
Porém,oaltocustoeaslimitaçõestécnicasdaépocainviabilizaramoprocessamentodos
dados.Essemétododedutivo,comprincípioscartesianos,foiutilizadopordiversasáreas
dodesignindustrialeatendia,atéentão,deformasatisfatória,ademandaeapráticado
design industrial. Todavia, suas limitações foram percebidas devido às mudanças
contextuais,dosusuáriosedaformadeseconsumir.
Bonsiepe(1984)identificaqueBruceArchersistematizouoprocessoprojetual(Figura
3),afirmandoqueodesignercombinaintuiçãocomcognição.Paratal,dividiuoprocesso
em três fases:Analítica – definição do problema, estabelecimento de umprograma e
obtenção de dados relevantes; Criativa – análise e síntese dos dados para preparar
propostas de desenho e desenvolvimento; Executiva– preparar e executar estudos e
experimentosquevalidemodesenho,bemcomo,documentosparaaexecução.
OmodelodeArcherpossuíaoprincípioda linearidade,ouseja,odesignersópoderia
avançar uma etapa ao terminar a anterior. Nesse modelo, mesclam‐se os princípios
indutivosnafaseanalíticaededutivosnafasecriativa.
43
Figura3‐ModelodoprocessoprojetualdeBruceArcherFonte:(BONSIEPE,1984,p.36,adaptadopelaautora)
Omodelo de Archer foi facilmente assimilado e utilizado para o desenvolvimento de
produtos, pois era compatível com a então década de 60,momento em que o design
precisavaseadaptaràslimitaçõesdosmeiosdeprodução.
AconferênciaTheDesignMethod,realizadaem1965emBirmingham,foiummarcopara
ametodologiaemdesign,poissefortaleciaumacorrentequebuscavaacientificidadedo
design,atravésdesistematizaçõeseuniformizações.Nessemomento,ocorreaproposta
dodesign‐ciência,ouseja,umúnicométodoparaodesenvolvimentodequalquerartefato.
Lessa (2011) afirma que a necessidade por métodos em design acabou por trazer
metodologiasdeoutrasáreasparaodesign.
CipiniukePortinari(2006)reforçamaindaquetodooempenhoemdaraodesignuma
característica científica levou a certos exageros, tais como substituir a intuição e a
criatividade por métodos, a habilidade por instrumentos tecnológicos e a busca por
abarcaremensurartodososaspectosenvolvidos,inclusiveosestéticos.Comoexemplo
disso, podemos citar a Estética Numérica de Max Bense. A época foi marcada pela
tentativadesistematizarasatividadesdodesigner.Convivia‐secomacrençadequetodos
os processos poderiam ser operacionalizados, analisados, quantificados e avaliados
matematicamente,gerando‐seassim,umaaproximaçãocomoracionalismo.Osmétodos
forçosamentevariavam,masasequênciadasetapasaseremseguidaseramasmesmas,
inalterada e independentemente do projeto, tornavam‐se, portanto, uma espécie de
normatização.
44
Foi na década de 1970 que diversos estudiosos, até mesmo Christopher Alexander,
questionaram os processosmetodológicos devido a esse caráter teórico e à excessiva
buscaporummodelometodológico.Asdisposiçõesmetodológicasdadécadade60são
consideradas “metodolatrias”, pois, promovem um distanciamento da teoria com a
prática.Ométododeveserpensadocomoumaorientação,umadiretrizenãocomonorma
oumodelo.
Emboraexistaumapermanênciainercialdosesquemaselaboradosnosanos1960,comsuasintençõescientificistas,investigaçõesvoltadasparaespecificidadesdeoutrasáreasdodesignvieramfortaleceraconsciênciaquanto ao caráter plural do campo da metodologia. Eé importante salientar a correspondência entre o dinamismo dessaconjunção entre amplitude e diversidade e as transformaçõestecnológicasesociaisdaatualidade.(LESSA,2011,p.23)
Ocorre,portanto,umamudançanasperspectivassobreametodologiaemdesign,devido
asuanaturezaheurística.Considera‐sequeacaracterísticainerentedesseprofissionalé
versaremdiferentesáreasedesenvolverprojetosdistintos,portanto,ficaevidenteque
umapadronizaçãoseriautópicaenãoteriaaplicaçõespráticasparaodesigner.
Em1975,Bürdek,formulouomodelodeprocessosdedesign,baseadoemfeedbacks,o
que quebra o processo linear e permite retroalimentações (Figura 4). De acordo com
Bürdek(2010),foidesenvolvidoem1975ummodelocommétodosetécnicasfáceisde
aplicar,baseadonaanáliseeverificação,pois,nadetecçãodefalhasounovasinformações
osistemapoderiaserretroalimentado.
Figura4‐ModelodoprocessodedesigndeBürkekFonte:(BÜRDEK,2010,p.255,adaptadopelaautora)
45
OmodelodeBürdekpermiteaosdesignersreavaliaçõesconstantesnodesenvolvimento
do projeto, parando e analisando cada etapa, podendo retroceder e corrigir falhas ou
inserir novos elementos.Apesarde quebrar a linearidade, omodelo ainda segueuma
linhadedesenvolvimentoquepossuifeedbacksdeterminados.Divididoemquatroetapas:
1) Problema – análise e definição; 2) Objetivos – concepção, desenvolvimento de
alternativas e a avaliação; 3) Decisão – definição; 4) Projeto – desenvolvimento e
produção.
OprincípiocíclicodadialéticadeHegel(Figura5)peloqualaausênciada inérciaeas
constantesmudançasprovocamnovosolhares,bemcomo,areavaliaçãodoestadofinal
doprojeto,estadoestequepodesetornaroiniciale,assim,determinarnovaspropostas
eestudosconsiderandonovasteseseantíteses.OmodelodeBorzakpossuisemelhanças
comadialéticahelegiana,devidoaoretornodas informaçõesdecadaetapapermitira
realimentaçãoetambémreadaptaçõesnecessáriasparaprosseguirnodesenvolvimento
doprojeto.
Figura5‐ModelodeHegeleBorzakFonte:(BÜRDEK,2010,p.230,BONSIEPE,1984,p.37adaptadospelaautora)
Aprincipalmudançadeparadigmasofridapelametodologiaemdesignfoiaalteraçãoda
perspectivadequeosmétodoseramofoco,ouseja,abuscaporummétodoqueatendesse
atodososprojetos.Todavia,odesignertendeasercapazdedesenvolvereadaptaros
46
métodosacadapráticaprojetual.Ofoco,portanto,volta‐separaaformaçãododesigner,
o qual individualmente, de acordo com sua experiência profissional, seu repertório,
formação acadêmica e conhecimentos teóricosdefinirão as escolhas e concepçõesdos
fatoresprojetuais.
ParaBürdek(2010)oprocessocriativododesignernãoéoresultadodeconfigurações
aleatóriasdeformas,coresemateriais.Osobjetosdedesignsãooresultadodecondições
e decisões, e não apenas planejamentos e reflexões. E para tal resultado, para o
profissional, parâmetros socioeconômicos, tecnológicos e, especialmente, culturais são
importantes.Asquestõestécnicasse tornamevidentescomautilizaçãodaergonomia,
análise dos fatores ambientais e dos interesses políticos, exigências artísticas e
normativaselimitaçõesprodutivas.
Naprática,asetapasdeumprojetonãoocorremdemaneiralinearesucessiva.Teorias
derivadasdacibernéticaedateoriadainformaçãocompõemosmétodosdeCaixaPreta
(Figura6).Osinputssãoconhecidoseosoutputssãoesperados,masasetapasentreos
doissãoconsideradascaliginosas,ouseja,osprocessosutilizadosparaodesenvolvimento
dosprojetosnãosãoclarosoupré‐determinados,esurgemduranteaatividadeprojetual.
OsmétodosdeCaixaPretapartemdoprincípioqueaatividadeprojetualéumprocessoquetemfases“obscuras”,nãodescritíveis,ouseja,queasatividadesdesenvolvidasentreorecebimentodeumatarefaeasoluçãofinal (produto) são realizadas sem que se possa descrever precisa eobjetivamentecadapasso.Noentanto,épossívelaprenderamanipulardeterminadosinputsparaseobterosoutputsdesejados.(BONFIM,1995,pp.24,25)
47
Figura6–Modelodataxonomiadosproblemas–BonsiepeFonte:(BONSIEPE,1984,p.34,adaptadopelaautora)
Naprática,oquesepodeobservaréqueosmétodoslineares,(tambémchamadosdeCaixa
Transparente,poispossuemtodasasetapas“claras”,determinadaseconhecidas),eos
métodosdaCaixaPretasãoutilizadosemconjunto.Odesignerseapropriadediversos
métodos,mesclandoetapaseutilizando‐asdeacordocomasdemandasdosprojetos.
Papanekescreveuem1970,aobra“Designparaomundoreal”,publicadapelaprimeira
vez na Suécia. Apresenta como parte da práxis do designer a responsabilidade social,
discutindooconsumoexcessivoedesnecessário,avaloraçãoexcessivadosobjetos,ociclo
devidadosprodutos,odesignresponsável,abiônica,acontaminaçãodomeioambiente
eaformaçãodoprofissional.Oúltimocapítulodolivroéumconviteparaareflexão:“O
quepodemosfazer?"Talvezportrazertemastãoatuaisoupelocaráterquestionadorda
obra,olivrodePapaneksejareferenciadonasbibliografiasatuais.
48
QuandoodesigneramericanoVictorPapanekpublicouem1971,Designfor the RealWorld [Design para o mundo real], o paradigma já haviamudado.Esselivrotinhaporintençãoconclamarosdesignersasairdoarcondicionado de seus escritórios envidraçados e olhar a sua volta,projetandosoluçõesparaomundoreal,quesedesintegravaemfomeemiséria, conflitos raciais e protestos políticos, guerras civis e lutas deindependência,guerrasquenteseGuerrafria.Umacorridaarmamentistanuclear que ameaçava destruir a todos, e uma crise ambiental que seanunciavapelaprimeiravezpordadosoficiaisdaONU.(CARDOSO,2011,pp.17,18)
Papanektrazatransversalidadedodesignparaocontextoprojetualjuntocomreflexões
sobreopapelsocial,econômicoeatémoraldodesigner.Éexatamenteocaráterinerente
dodesign,atransdisciplinaridadeeosentroncamentoscomoutrasáreastãodistintas,até
mesmo a naturezado surgimentododesign, que fizeram comque osmétodospara o
design se voltassem para o profissional. Aumentando assim a responsabilidade do
designer. Sobre a questão ambiental, questiona o papel do designer ao apresentar
diversoscasosdecontaminaçãodomeioambienteedesequilíbrioambientalprovocados
pelaaçãodohomem.
Porque se chega a um ponto em que nos invade uma sensação deprofundodesânimo,enossareaçãopoderiaser:“Paraque?”ou“Oquepode fazer um homem sozinho?” Se raciocinarmos dessa maneiraestaremos perdidos. Porque é precisamente quando acreditamos queindividualmente não somos capazes de alterar o coletivo e que não énossaaresponsabilidade.Emtodososproblemascitados,eemoutros,todos estão comprometidos, ainda que não no mesmo nível. Aresponsabilidadeeocompromissododesignerémuitomaior.Pois, foipreparadoparaanalisar fatos,problemas,sistemaseassimprojetardeformaconscientedosimpactosquepodeprovocar“secontinuarassim”.(PAPANEK,1997,p.2199)
AssimcomoadescobertadeCopérnicotirouaTerradocentrodouniverso,abalandoa
estrutura da ciência, também dois cientistas, Kuhn e Feyrabend questionaram as
mudançasnosparadigmaseosprincípiosdametodologiacientífica.Atualmente,nota‐se
que a crisemundial do petróleo, ocorrida no final dos anos 80 e início dos anos 90,
tambémprovocou umamudança nos processos de design, ou seja, trouxe a realidade
9Traduçãodaautora.
49
sobre a capacidade ou incapacidade regenerativa do planeta, concretizando uma
mudançadeparadigmanodesign,trazendo,deformadefinitiva,agestãodosrecursos
naturaisparaametodologiaemdesign.Acriseconsubstanciouarealidadesobreopapel
do designer no impacto ambiental do planeta, afetando também os processos
metodológicosdedesign.
Osmétodosqueenvolvemprojetarpara a complexidade, ou coma complexidade, são
propostas apresentadas a partir das preocupações sociais, culturais, econômicas e
ambientais. A visão geral do processo, assim como dos detalhes partícipes, leva ao
desenvolvimento demétodos que buscam ou criam técnicas para identificar, analisar
compreenderousuárioeomundocontemporâneo.Aglobalização,asociedadeconectada,
oprodutoquesetornamundialdevidoàsredessociaiseemmeioatodoessecontexto,o
papeldodesigner.
As preocupações com a sustentabilidadeprovocaramasmudanças nametodologia de
design,umdospreceitosdasustentabilidadedizrespeitoaonãocomprometimentodas
futurasgerações.Oqueinserenasdiscussõessobresustentabilidadeosfatoressociais,
econômicoseculturais,além,éclaro,dofatorambiental.Bistagnino(2009)defendeque
é preciso desenvolver um novo modelo econômico produtivo. Definido por ele como
design sistêmico. Este que envolve todo o processo da cadeia produtiva, evitando o
desperdíciodematériaprimaedeenergia.Odesignerdeveseroeloentreosistemade
produção e o de consumo. As reflexões de Bistagnino apontam para uma profunda
mudançanasociedadeatualecolocaodesignercomooprincipalcatalisadordamesma,
aoprojetarfuturascomunidadesecologicamentesustentáveis.
Ometadesignsurgecomoalternativa,umapropostaparaprojetarnacomplexidade,no
mundo múltiplo, variável e em constante mutação. Vassão (2010) salienta que uma
definiçãodemetadesignseriaodesigndodesign.Essaabstraçãovemdaorigemfilosófica
do termo, ou seja, a linguagem explicando, examinando, refletindo sobre simesma. O
autorsugerequeháumafastamentoentreodesignereoobjetoprojetadonometadesign,
sendoqueestenãoéummétodoouumametodologia,masumareflexãosobresuaprática.
“Como parte do Metadesign, o designer pode, como atividade criativa, propor
50
procedimentosmaisoumenosformais,osquaispermitemsertestadosedesenvolvidos
aolongodesuacarreira”.(VASSÃO,2010,p.62)
Ohomem,emsuasatividadesdiárias,provocaimpactosambientais,demaioroumenor
impacto, de acordo com as escolhas e as atitudes que assume. Em 1994, dois
pesquisadores americanos, Willian Rees e Mathis Wackernagel, desenvolveram um
estudo que denominaram como: pegada ecológica. Neste estudo é possível calcular o
impacto ambiental de cada pessoa no planeta.Aosmoradores da França foi permitido
entrarnositedaWWF(WorldWideFundforNature)ecalcularasuapegadaecológica.O
resultadodapesquisafoiquecadahabitantedoplanetanecessitade2,3hectaresdeterra
paraviver,sendoqueaTerrasóoferece1,9hectaresporpessoa.
Concretamente, vivemos em “sobrecarga” em relação aos recursos doplaneta,ecomprometemosgravementeasgeraçõesfuturas:2050,senãofizermosnada,apegadaecológicadahumanidadepoderáultrapassarem100%acapacidadebiológicadoplaneta.(KAZAZIAN,2005,p.186)
OimpactoambientalqueohomemprovocounoplanetaéenormeeThackaraapontaem
suaobra,o livro,OplanoB,osdesignerscomocausadoresdeoitentaporcentodestes
impactos.Atuandocomodeterminantesnosprocessosprodutivos,aescolhademateriais
e consumo energético, que de certa forma foram responsáveis pela situação atual.
Contudo, destaca que há uma diferença entre responsabilidade e culpa. Segundo
Thackara, o designer não é culpado pela degradação devido à ausência da sua
intencionalidadeemdegradar.Porém,atualmente,éimpensávelumdesignerqueprojete
sem refletir sobre os impactos ambientais causados por seu projeto, mais ainda, é
necessárioqueesteprofissionalplanejedeformasustentável.
Osdiasdodesignersolitárioebrilhanteestãocontados.Nósenchemosomundodecomplexossistemastécnicosdeformaqueodesigndecimapara baixo e de fora para dentro simplesmente não tem mais comofuncionar.Sistemascomplexossãomoldadosportodasaspessoasqueosutilizam–nãoapenaspelosdesigners.Issosignificaqueprofissionaisdodesign devem evoluir de criadores de objetos, ou construções, paraagentes capacitadores da mudança, envolvendo grandes grupos depessoas.(THACKARA,2008,p.26)
51
Em2002quandoaduplaMichaelBraungart,químicoeexativistadoGreenpeaceeWillian
McDonough,arquitetoedesigner,publicaramolivro,“Cradletocradle”,doberçoaoberço,
defendiamqueosresíduosdosprocessosprodutivosnãodevemserdescartadoscomo
lixoesimtornarem‐se“alimento”10paranovosprocessos.Osprincípiosdefendidospor
eles e abordados no livro possuíam um caráter subjetivo e distante dos processos
produtivosdaépoca.Naediçãode2008,opróprioBraungart,apontanaintroduçãode
seu livro que alguns conceitos que inicialmente eram complicados de serem
compreendidospelosfabricantes,agricultoreseoutrosmembrosdasociedadeprodutora,
setornarammaispalatáveisepassíveisdeseremcolocadosemprática.Braungart(2013)
ponderaqueomauusodosrecursosmateriaisdeveserentendidocomoumaameaçanão
somenteàsfuturasgerações,mastambémparaofuturodavidanoplaneta.
Oprocessoprodutivodenominadocradletograve,doberçoàcova,noqualosprodutos
sãoproduzidos commatériasprimasnobreseao fimdociclodevida, esseprodutoé
descartadonanatureza,viraliteralmentelixo.SegundoBraungarteMcDonough(2013),
odesenvolvimento industrialeprodutivodeveserplanejadoparaquehaja integração
comanaturezaereaproveitamentodosresíduosdaproduçãoedosprodutosaofimdo
ciclodevidaeumanovare‐evoluçãoindustrial.
A infraestrutura industrial dos dias de hoje é projetada para buscar oconhecimentoeconômico.Elaofazàcustadeoutraspreocupaçõesvitais,particularmente da saúde humana e ecológica, da riqueza cultural enaturaleatédoprazeredodeleite.Excetoporalgunsefeitossecundáriosgeralmente conhecidos, a maior parte dos métodos e materiaisindustriaiséinvoluntariamenteempobrecedora.
No entanto, assim como os industriais, engenheiros, designers edesenvolvedores do passado não pretendiam causar esses efeitosdevastadores,aquelesquehojeperpetuamessesparadigmascertamentenãopretendemprejudicaromundo.Olixo,apoluição,osprodutosbrutos11e outros efeitos negativos que descrevemos não são resultado decorporaçõesque fazemalgomoralmenteerrado.Sãoconsequênciasde
10Segundoosautoresosresíduosdevemser tratadoseosprocessosprodutivosdevemincluí‐loscomofonte,ouseja,matériaprimaparanovosprodutos.11BraungarteMcDonough(2013)definemprodutosbrutoscomosendoaquelesquenãosãoprojetadosparaobemestarhumano,asaúdehumanaeasustentabilidadeesãoportanto,desprovidosdeinteligênciaeelegância.
52
umdesignobsoletoepouco inteligente. (BRAUNGARTeMcDONOUGH,2013,p.47)
ParaBraungarteMcDonough,odesigneficienteéaquelequeemseuplanejamentoinsere
apreocupaçãocomasaúdehumana,quaisosimpactosqueasmatériasprimaspossuem
nossereshumanosequaisosimpactosambientaisquetodooprocessodefabricação,uso
e descarte dos produtos na natureza. Pregam uma abordagem ecoefetiva de design,
resgatar os processos produtivos que derivam das relações naturais, assim como na
naturezanada seperde, eosprocessos sãoefetivos eos resíduos se tornammatérias
primasparanovosprodutostãonobresquantoosoriginais.
Baseadosnamudançadopensamento lineardo cradle tograve,paraumaabordagem
sistêmicadocradletocradle,BraungarteMcDonough(2013)propõemcincopassospara
aecoefetividade:Passo1‐existemumainfinidadedesubstânciasquesãosabidamente
prejudiciais, elimine‐as do processo;Passo2‐ prefira a inteligência ecológica, muitos
processos e substâncias que compõem as matérias primas de um projeto são uma
incógnita,sendoassim,façaassuasescolhasprocurandoestaromaisseguropossívelde
queaquelasmatériasnão sãoprejudiciais à saúdehumanaeambiental;Passo3‐ crie
listasdefornecedoresematériasprimas.Nopasso2ficaclaraadificuldadedeconseguir
informações completas dos fornecedores, o que resulta numa verdadeira investigação
sobreaorigemdosmateriaisutilizados. Logo, épossível agrupá‐los e classificá‐losde
acordo com suas características, inertes, prejudiciais ou positivos e assim facilitar o
processo; Passo 4 ‐ Ative a lista positiva, que é aquela na qual foram colocados os
produtos, matérias primas, fornecedores e substâncias definidas como saudáveis e
segurasparaseremusadas.Projetandodoinícioaofimparaqueoprodutoretorneao
iníciodacadeiaprodutivacomoalimentoparanovosprocessos,aescolhadasmatérias
primasadequadasfaráadiferençanoprocesso;Passo5‐Reinvente,expandaotrabalho
dodesign,jápassoudahoradeprojetarapenasvisandodiminuiroueliminarosimpactos
ambientais,sociaiseeconômicososdesignersagoradeveprocurarprojetarpensandoem
comotrazerbenefíciosparaanaturezaeoshomens.
53
Braungart e McDonough criaram, nos Estados Unidos, a Cradle to Cradle Product
Innovation Institute, uma organização sem fins lucrativos e a partir de 2012, essa
organizaçãocriouacertificaçãocradletocradle(figura7)utilizando5princípios(figura
8)paraconferiracertificação.
Figura7–MarcadocertificadoCradletocradleFonte:(http://www.c2ccertified.org/products)
Figura8–CritériosdeinovaçãodocertificadoCradletocradleFonte:(http://www.epeabrasil.com/?page_id=1033)
54
A figura 9 apresenta como as questões referentes à sustentabilidade acabaram
influenciandonosprocessosmetodológicoseaformadeprojetardosdesigners.
Figura9–SoluçãodedesignsustentávelFonte:(ELER,2010,www.eler.com.br)
Foramapresentadosdiversosfatoresqueenvolvemametodologiaemdesigneatorna
umassunto tãodifícil de ser abordado, pois cadadesignerdesenvolveo seuprocesso
assimcomocadaáreadodesignpossuisuasespecificidades,poispode‐seperceberque
algumas demandam processos metodológicos mais rigorosos, com normatizações e
padrõescientíficosaseremseguidos,normastécnicasouergonomia.
Nessescasos,oprofissionaliráinseriressasquestõesnoseuprocessometodológico,nas
áreas mais intuitivas e criativas, gerando uma proximidade com o processo criativo
artístico.Nãohácomopadronizarosmétodos,contudo,deve‐seatentaroolharparaque
55
nãohajadisplicênciacomametodologiaemdesign.Trataraquestãodométodoparaque
o profissional compreenda as etapas do processometodológico na práxis do design é
abordá‐lo comoumprocesso reflexivo e não comoumamera reproduçãode regras e
normas.
Quandobuscamosemlivros,vamosencontrarasfasesdosprocessosouapenas orientações gerais e básicas de como fazer algo.Métodonão é“receitadebolo”esuacientificidadeestaránorigordareflexão,enãonamerareproduçãodetécnicas.Cientificidadedeixadeserométododasciênciasnaturaiseformais,aplicadoaoutrasáreas,paratornar‐seumapostura, uma atitude. Acreditamos que adotar o comportamentocientíficosignificaestarfazendociênciaatravésdorigordamaneiradetrabalhar.(COELHO,2006,p.40)
Nãosendopossívelcriarparaametodologiadedesign“receitasdebolo”,entãocomodar
aodesignertécnicasculináriasparaqueelepossasetornarumgrande“chef”?Comonão
háumareceitaparaserseguida,existeoriscodeseperderaconsciênciadequeparacriar
uma receita é necessário que o profissional tenha o domínio das técnicas e das
ferramentasdisponíveisparaapráticaprojetual.
Aseguir,seráabordadoométododesignthinking,queatualmenteestáemdestaqueno
mercado,talvezporquetenhasidoapropriadopelaáreadegestãoadministrativa.Propõe
umapráticaprojetualsistêmica,divididaemfases,porém,semlinearidade,comênfase
nousuárioenainovação.Porsuascaracterísticas,odesignthinking,éutilizadoporoutras
áreas de conhecimento como gestão estratégica de empresas e por diversas áreas do
design.
56
3.1. Design thinking
Osconceitosdedesignthinkingsãoabordadospordiversosautores(HerbertAlexander
Simon, PeterGorb, RichardBuchanan, Bryan Lawson, BruceArcher e PeterRowe) há
muitosanos,porém, foiapartirdosanosdadécadade90queganharamforça, sendo
amplamentedifundidosapartirde2010.Osconceitosapresentamalgumasdiferenças,
poisosautoresabordavamascaracterísticasinerentesaosdesignersesuamaneirade
pensar.Cadaautorabordouotemaapartirdoseupontodevista,somentenadécadade
2010surgeumadefiniçãomaisclara.
Foi nessa época que os primeiros escritórios de design utilizaram tais conceitos,
transformadosemmétodosprojetuais,alémdepraticaremodesignthinking,tambémo
divulgaram como uma abordagem metodológica adaptada ao universo complexo e
fragmentadodapós‐modernidade.
HerbertAlexanderSimonfoi,segundoNitzsche(2012),umdosprimeirospesquisadores
a apresentar conceitos semelhantes ao design thinking, em 1947 com sua obra,
“AdministrativeBehavior”,realizandopioneiramenteumaanálisesobreaimportânciado
design como conceito explícito na prática da administração. Simon demonstrava três
elementossequenciaisemsuateoriadetomadadedecisão:inteligência,designeescolha.
Autor de quase 100 publicações é reconhecido por inúmeros acadêmicos como um
pensadororiginalsobreopapeldodesignnapráticadaadministração,presenteemvárias
pesquisasacadêmicassobredesignthinking,comafrase:“Fazdesignquemprojetacursos
de ação com o objetivo de transformar situações existentes em outras situações
preferidas”(SIMON,2012,p25,apudNITZSCHE).
ParaSimon,opensamentoantecedeodesign,precedendodessaformaumatomadade
decisão, sendo o design uma “ponte” entre o pensamento e a decisão. Em sua obra,
“Sciencesof theArtificial” editadoem1969peloTheMITPress, o autordesenvolveuo
conceitodequeas ciênciasnaturais se “ocupamde comoas coisas são” eodesign se
57
interessapor“comoascoisasdevemser”,completandoaindaquetodasasorganizações
humanas são produtos da prática do design. Segundo Nitzsche (2012), os principais
teóricosqueescrevemsobredesign thinking abordamessas concepçõeseas ideiasde
Simoncomobaseteóricaparaoconceitodotema.Simontemsidoapontadocomoumdos
paisintelectuaisdodesignthinking,esuasideiasaindasãolembradas,principalmentena
áreadetomadadedecisões.
PeterGordéétambémoutropensadorquetambémtevesuasabstraçõesvinculadasaos
conceitosbasesparaodesenvolvimentododesignthinking.Eledefendiaqueosdesigners
eramos profissionais commaior potencial para contribuir comnegócios dos clientes.
Gorb é apontado por diversos autores como uma das maiores referências no design
management(gestãoemdesign).Eleteorizasobreosprocedimentoseanecessidadede
utilizaraeficiênciadosdesignersemumprocessometodológico.Gorbdefendiaaindaa
imprescindibilidadedosdesignersaprenderemalinguagemdouniversodosnegócios,da
contabilidade e também da gestão financeira, para que esses profissionais tivessem
relevância e voz para defender seus argumentos estratégicos com as empresas. Ele
apontou,aindanosanos1970,anecessidadedoaprendizadodeoutrasdisciplinaspelos
designers,alémdasmatériasdaprópriaprofissão.Essepensamentofazumparaleloao
pensamentomultidisciplinardodesignthinkingatual.
Outroautor,Bürdekcomentasobreaimportânciadasciênciashumanasnodesign:
Estepontodevistadasciênciashumanasnodesignfoiampliadodeformaevidente nos anos 90. Por meio do uso da gestão do design (designmanagement), ele adquiriu importância estratégica.Adiscussãoamplasobre o branding (o uso dasmarcas) está no cerne de muitos dessesprocessos.Pelooutrolado,écadavezmaisexigido,naprática,seprovar,antes da produção, que determinados conceitos de produto tenhamressonânciajuntoaosconsumidores:comissooempirismoseintroduziunametodologiadodesign.(BÜRDEK,2010,p.227)
Os princípios e a metodologia do design management seriam utilizados pela
administração,principalmenteparagerenciarasestratégiaseosprocessosdeinovação
comointuitodeimplantarumnovomodelodenegóciosparaasempresas.Gorbdefendia
58
aindaqueautilizaçãodessesprocessoserarelativamenterecente,porémtemosdiversas
escolasqueforampioneirasnoensinodeumametodologiacriativadodesignemescolas
denegócioscomo:aLondonBusinessSchoolnaInglaterraem1976,ManchesterBusiness
School,aLundUniversitynaSuécia;eaBostonUniversity,queutilizaramodesigncomo
ferramentacriativanoentendimentodosnegócios.
Nitzsche(2012)apontaqueotermoDesignthinkingapareceuformalmentepelaprimeira
veznoanode1980nolivrodeBryanLawson,“HowDesignersThink”.Olivroabordao
pensamento criativo através do design, com base na capacidade dos designers e dos
arquitetos,emfazerusodeprocessosgráficosnaformadecomunicarsuasideias.
Outraobraquetrataotermofoi“Designthinking”(1987)dePeterGRowequeanalisao
planejamentodeespaçosurbanos.ApesardeRoweeLawsonutilizaremotermodesign
thinking,osconceitosapresentadosporelesdiferemdosconceitosatuaissobreotema,
poisaabordagemdelesnaquelemomentofazumareflexãosobreapráxisdodesignem
si,edecomoseusmétodosdeveriamfluir.Atualmenteotermodesignthinkingestámais
compreendidocomoumapráticadodesignligadaaosnegócioscomprocessosinterativos
detrocadeconteúdo,comoafirmaNitzsche(2012).
Em1992otermoDesignthinkingfoimencionadoemumartigodorenomadoprofessor
Richard Buchanan, “Wicked Problems in Design Thinking”, introduzindo algumas
abordagens do design como: o design aplicado a Serviços; o design comométodo na
construçãoedesenvolvimentodeambientesparaaspessoasviveremetrabalharem;o
designdeprodutocombasenafunçãodosobjetos;eaforçadodesignnacomunicação
visual.Em1995aKISD(KolnInternationalSchoolofDesign)inauguraocursodedesignde
serviços,comointuitodeestudarasaplicaçõesdodesignthinkingnodesenvolvimentode
designdeserviços.
Em1999aIDEO,umaempresadeconsultoriaemdesigncomreconhecimentoeatuação
mundial, quepossuidiversosprojetos importantesdedesigndeproduto, tais como, a
concepçãodoprimeiromouseeopalmV,divulgaautilizaçãodométododesignthinking
emseusprojetos.
59
Em2001osdesignersBenReason,ChrisDowneLavransLovlie,fundaramemLondres
um escritório de consultoria com dedicação total a prática do design de serviços: a
live/work.DeacordocomPinheiroeAlt(2012)paraodesenvolvimentodosprojetos,os
designers utilizam diferentes disciplinas acadêmicas como base, aprofundando o
conhecimento das redes de valor, conceitos da antropologia e das relações entre os
homenseasmáquinas.ParaReason,DowneLovlie,aessamisturadeáreas,ciênciase
técnicasagregadasàspráticasdodesigndeinteraçãosurgeodesigndeserviços.
Podemos observar a utilização de vários conceitos dodesign thinking nas práticas da
live/work,emrelaçãoamultidisciplinaridadedaabordagemprojetualearelaçãoentre
usuárioeproduto,práticasbásicasdonovométodoquetemcomobasefundamentalo
foconousuárioeainovaçãodosprodutoseserviços.PinheiroeAltreforçamaindaque:
[...]adisciplinaqueestudaaaplicaçãodoDesignthinkingparaacriaçãode serviços ganhou o nome de Design de Serviços. Mencionada pelaprimeiravezemumartigode1985,deG.LynnShostack,paraaHarvardBusinessReview,denominadoDesigningServicesthatdeliver,adisciplinaganhouespaçoacadêmicoem1994eatingiuomercadoemmeadosde2001 quando Bem Reason, Chris Downs e Lavrans Lovlie abriram asportas da live/work em Londres na Inglaterra. O design de Serviçoscarregaumconjuntodeáreasdeconhecimento,métodosepráticasquepermitem que equipes multidisciplinares trabalhem na construção deofertasdeserviçosmaisadaptadasàspessoasedealtovaloragregadoparaonegócio.(PINHEIROeALT,2012,p.134)
designthinkingéumprocessocolaborativopautadonoserhumano,objetivandoinovar
para atender as necessidades dos usuários, porém considerando a exequibilidade
financeiraetécnicadosnegócios.HameleBreen(2007)afirmamquehojeosgestores
encontramdiversos paradigmas e tendem a buscar as inovações demaneira errônea,
valorizamosmodelosdenegóciosinovadores,porém,nãoabandonamosfundamentos
de suasopiniões sobregestãoe algunsque sedizem inovadores,nãoo são.Épreciso
mudaraformadagestãoempresarialebuscarsoluçõesinovadorasparaagestão,mesmo
queamaioriadelasnãoresulteemsucessofinanceiro,éumgrandeerrodeixardeinovar.
60
Nemtodaainovaçãoemgestãocriaumavantagemcompetitiva.Algumassão incrementais. Outras errôneas. E muitas nunca compensam.Naturalmente,pode‐sedizeromesmodeoutrostiposdeinovação.Comosuascongêneres,ainovaçãoemgestãoestabeleceaumaleidepotência:paracadaideiaverdadeiramenteradical,quemudaparasempreapráticadagestão,hádezenasdeoutrasdemenorvaloreinfluência.Masissonãoédesculpaparanãoinovar.Ainovaçãoésempreumjogodenúmeros:quantomaisnúmerosvocêjogar,maioresaschancesdeganharumbomprêmio.(HAMELeBREEN,2007,p.31)
Odesign thinking é aplicadoemmodelosdegestão,pois suaabordagemsebaseia em
observaçõesdecomoaspessoaspartícipesdoprocessodialogamcomosespaços,como
utilizamosserviçose interagemcomosobjetos. Identificandoosprincipaispontosde
contatoefragilidades,ondehácomplexidadeeparaalguns,confusão,odesignerpode,a
partirdetécnicas,chegarasoluçõesanalisandoosfragmentos,aausênciadeumpadrão
de comportamento, oumesmo de algo que não foi dito, mas observado, identificado,
prototipadoparatesteseconvertidoemsolução(figura10).
Figura10‐EtapasdoprocessodeDesignThinkingFonte:Autoriaprópria
ODesign thinking é uma abordagem sistêmica e vai alémda necessidade de criar um
projeto,comprincípiosnãolineares,podendotersuasetapasadaptadasemaleáveisde
acordo com os objetivos. Brown (2007) afirma que o design thinking é um método
poderosoparainovarbuscandonovasperspectivas,quebrandovelhosparadigmas,pelos
quais se identificam aspectos do comportamento humano e depois os converte em
benefícios. Além de adicionar valor ao negócio e com equipesmultidisciplinares traz
61
diferentespontosdevistacomofoconousuário,levandoagestãodedesignadiferentes
níveisdaorganização,enãosomentenoescopo.
ODesignthinkingnospermitesairdazonadeconforto,dazonadeideiassubstanciais que precisam de mais criatividade para a suapotencialização,portanto,Designthinkingnãoésóumaformadepensar,massimdeagireestábaseadoemtrêspilares:desejabilidade,viabilidadeepraticabilidade.(BROWN,2007p.58)
Brown(2007)reforçaqueométododedesignthinkingvisaincorporarnovosmétodosde
soluçãodeproblemasàgestãodeestratégiasdaempresa. Apesardonome,ométodo
acontececomainteraçãodeprofissionaisdeváriasáreasenãotem,portanto,apenasfins
estéticos.Oobjetivoétrazersoluçõesaproblemasqueafetamobem‐estardaspessoas.O
nomedesign thinking foi adotadopor gestores empresariais queobservaramcomoos
designerspercebemascoisaseagemsobreelas.
Odesign thinking está envolto emmuito entusiasmoemodismos, o termovemsendo
utilizado frequentemente como parte de uma estratégia milagrosa de design que
possibilitará resolver qualquer problema de forma criativa e inovadora. Entretanto, é
necessárioquetenhamoscautela,poisapesardeafirmarqueutilizamodesignthinking,
váriasempresasedesignersaindanãocompreendemenãoaplicamométododeforma
correta.
62
3.1.1. Design thinking uma visão da empresa MJV – Tecnologia e inovação
NoBrasil,aMJV–Tecnologiaeinovação12adotaapráticadodesignthinkingparaaprática
dodesigncomfoconousuário,deacordocomosconceitosdaempresa.Primeiramente,é
precisoentenderousuárioesabercomoelesenteoquepensaenãoapenasoquediz
sentir, como acontece em muitas pesquisas quantitativas de mercado. A figura 11
apresentaumesquemadecomoaempresaabordaseusprojetos.
Figura11–EsquemadaabordagemdoDesignthinkingpelaempresaMJVtecnologiaeinovação
Fonte:(MJV‐http://www.mjv.com.br/quem‐somos/)
Cabe observar, portanto, que as etapas do Design thinking aquiabordadas, apesar de serem apresentadas linearmente, possuem umanatureza bastante versátil e não linear. Ou seja, tais fases podem sermoldadaseconfiguradasdemodoqueseadaptemànaturezadoprojetoedoproblemaemquestão.Épossível,porexemplo,começarumprojetopelafasedeImersãoerealizarciclosdePrototipação,enquantoseestudao contexto, ou ao longo de todo o projeto. Sessões de Ideação nãoprecisam ser realizadas em um momento estanque do processo, mas
12AMJVTecnologia&Inovaçãoéumaempresadeconsultoriaeminovação,commaisde300funcionáriose18anosdeexperiêncianomercado,possuiescritóriosnaEuropaenaAméricaLatina,utilizaodesignthinkingcomométodoparadesenvolvimentodeseusprojetos.
63
podempermeá‐lodo início ao fim.Damesma forma, umnovoprojetopodecomeçarnaPrototipação.(SILVAetal,2011,p.18)
A imersão é realizada para as diretrizes iniciais do processo projetual (figura 12), e
posteriormenteparamergulharnaspeculiaridadesdosusuáriosedoproblema,chegando
aosinsightseposteriormenteàideação,possíveissoluçõesparaseremexploradas.
Figura12‐Esquemarepresentativodasetapasdoprocessodedesignthinking.
Fonte:(SILVAetal.,2012,p.18,adaptadopelaautora)
Apartirdaideaçãoqueserábalizadoraparaodesenvolvimentodosprotótipos,quesão
realizados também em diferentes níveis, os experimentais, cujo objetivo é testar o
conceito,aideia,nosquaisnãohátantapreocupaçãocomafinalizaçãoeosmateriais.
Protótiposreduzemasincertezasdoprojeto,poissãoumaformaágildeabandonaralternativasquenãosãobemrecebidase,portanto,auxiliamnaidentificaçãodeumasoluçãofinalmaisassertiva.[...]Osresultadossãoanalisadoseociclopodeserepetirinúmerasvezesatéqueaequipedeprojetochegueaumasoluçãofinal,emconsonânciacomasnecessidadesdousuárioeinteressanteparaonegóciodaempresacontratante.(SILVAetal,2011,p.124)
64
Emníveismaisprofundoscomosusuários,emambientescontroladosoureaisparatestar
ainteraçãoesendooprotótipoomaisfielpossívelaoprodutofinal;anãolinearidadedo
métododedesignthinkingfazcomqueoprocessosejamaiseficiente,podendo‐sedetectar
asfalhasantesdaimplantaçãodoprojetonomercado.Oserrossãobemvindos,poisnessa
fasepodemsercorrigidosduranteodesenvolvimento.
Odesignthinkingpodepropiciarodesenvolvimentodeumprojetoestruturado,comfoco
nousuário,noqualasetapasde imersão,análiseesíntese,porexemplo,culminamna
definiçãodoperfilmaisassertivodomesmo.Essaaproximaçãocomousuárioatravésdas
técnicas de imersão, as quais podem ser com grupos focais, entrevistas, observação e
relatosdeexperiências,permitemaodesigneravaliarfatoresimplícitoscomo:expressão
facial,entusiasmonotomdevoz,oolhar,umaanálisemaissubjetivaquepodegerarmaior
aceitação.Tornando‐seofundamentoparaasoutrasetapas:levantamentodoproblema,
ideaçãoeprototipação.
Embora o nome do método seja design thinking, ele pode ser atribuído em diversas
situações, nas quais as ações não giram em torno do design, como, por exemplo, o
marketingderelacionamento, logísticaouumadinâmicaparamelhoraroambientede
trabalho.Apesardeserummétodoeficienteéprecisoquesetenhaexperiênciapráticae
umaequipemultidisciplinar,compostaporespecialistasemáreasdiversas,trabalhando
emconjuntoequetenhanodesigner,oeloresponsávelpelatransversalidadeentreas
áreas.Esteprofissionaldeveteramploconhecimentoesaberomomentodeouviroutros
profissionais, acatar as suas opiniões ou convidar outros para aderirem ao grupo de
trabalho.
Aprimeirafase,daideaçãosemantémpermanenteduranteodesenvolvimentodoprojeto
e, ao interagir com os usuários, novas propostas podem surgir, mudar ou serem
completamenteabandonadas.Afasedeprototipaçãoseriaamaterializaçãodasideiase,
assimcomoasoutrasfasesnodesignthinking,podeacontecerduranteodesenvolvimento
elevaraoutraimersãoouideação.
65
Tornando‐se um ponto forte ao se comparar o design thinking com outros métodos
lineares, nosquais aprototipação acontece apenasna fase final doprojeto, o quepor
vezes,podelevaràrejeiçãodaideia.Consequentementeseránecessárioregressarvárias
etapas,àsvezesaoiníciodoprocesso,prejudicandooandamentodoprojetoeoalcance
deresultados.
66
4. ENTREVISTAS
Foramselecionadosonzedesignersdequatrodiferentesáreasdeatuação,comvariada
experiênciademercadoeformaçõesacadêmicasemdiferentesinstituiçõesdeensino.O
objetivo da seleção desses profissionais foi a busca pela diversidade das áreas e a
diferençadasgerações,paraquehouvesseapossibilidadederefletirsobreformaçãoea
experiênciaprofissional,comdiferentesediversificadostemposdeatuaçãonomercado,
paraentãopoderestudarotempodeatuaçãoeaexperiênciaprofissional,eseosnovos
designers desenvolveram diferenças na formação metodológica e na abordagem dos
métodoscomopassardosanos.
Doiscritérios foramadotados:quetodostivessemalgumaformaçãoemdesignsejana
graduaçãoounapós‐graduaçãoequeatuassemcomodesignersnomercado.Oroteiro
utilizadopara realizar as entrevistas (ANEXOA), possui perguntasdiretas e indiretas.
Todososentrevistadosassinaramotermodeconsentimentolivreeesclarecido(ANEXO
B).Deacordocomomesmo,todasasidentidadesdosprofissionaisserãomantidasem
sigilo,essesserãoidentificadosapenaspornúmerosde1a11.
Osquadrosaseguirforampreenchidosdeacordocomasrespostasdosentrevistados:
Quadro1‐Formaçãoetempodemercado
Fonte:Autoriaprópria
67
Quadro2–Processosmetodológicos
Fonte:Autoriaprópria
68
Quadro3–Processosmetodológicos
Fonte:Autoriaprópria
69
Quadro4–Sustentabilidadeaplicadaaosprojetos
Fonte:Autoriaprópria
70
Quadro5–Sustentabilidadeaplicadaaosprojetos
Fonte:Autoriaprópria
71
Quadro6–Observações
Fonte:Autoriaprópria
72
Quadro7–Observações
Fonte:Autoriaprópria
73
Apósaanálisedasfilmagens,dasanotaçõesedopreenchimentodosquadrosanteriores,
foipossívelelaborarumadivisãodosmétodoseagruparosdesignersdeacordocoma
proximidadedosprocessosprojetuaisdescritos.
Háasimilaridadenopensamentoprojetualparaosdesigners03,04,05,06,07,08,09,
10e11;elesseguemumabasemetodológicalinear(Figura13)
Figura13–BasemetodológicadodesignFonte:Autoriaprópria.
Jáosdesigners01e02,projetamdeformasistêmica,odesigner01atuacomdesignde
gestãoeodesigner02atuacomdesignthinking.Realizamodesenvolvimentodosprojetos
deformasistêmicanãolinear.
Outrosreagrupamentosforamrealizadosemfunçãodeoutrascaracterísticas:
Designer01trabalhacomdesignthinkingparapromoverainovaçãonasempresaspara
asquaisprestaconsultoria.Odesigner02trabalhacomgestãododesign,ebranding.Os
doisprofissionais relataramquepesquisam teorias sobredesigne sobreoutrasáreas,
administração, gestão de negócios, sociologia e antropologia; trabalham com equipes
multidisciplinares e mesclam vários métodos durante a prática projetual, utilizam
métodoslineares,cíclicos,CaixaPreta,masprincipalmenteprojetamdeformasistêmica.
Sãoexemplosdedesignersqueenxergaramanecessidadedebuscarnovosmétodospara
realizaçãodapráxisnocontextoatual.
74
São exigidos dos designers contemporâneos, portanto, outrosconhecimentos e abordagens que antes não eram necessariamenteconsiderados; necessidades tidas anteriormente como secundárias,imateriaisesubjetivas,equesãorelacionadasaosfatorespsicológicos,semânticos,semiológicos,dainterfaceedosentimentohumano.Hoje,jáseécapazdeprojetarodesejodeobteroproduto,oamor,aestimaeoconviteaoseuuso,oqueJamesGibsondenominadeaffordance.Portanto,as disciplinas humanas e sociais, uma vez que hoje falamosconstantemente de cultura do projeto e de cultura tecnológica. Odesigner,nessesentido,deveveromundoeaculturaprojetualcomumavisãomaisalargada,umaóticanãosomentevoltadaparaasquestõesdoprodutoemsi,masdeigualforma,paraadinâmicaquegiraentornodoproduto.(MORAES,2010,p.20)
Sobre sustentabilidade odesigner 01 reflete sobre o papel do governo, que deveria
promover ações de incentivo aos processos sustentáveis, e o papel do legislativo que
deveria criar eaprovar leisde incentivo.Para ele, amudançaé lentae senãohouver
iniciativa pública as ações individuais ocasionarão pouco impacto. Já oDesigner 02
enxerga o papel do designer como preponderante nas questões sustentáveis, que os
designers precisam começar a projetar os produtos e serviços para que se tenha um
comportamentosustentável.Ponderaqueoosdesignersnãoseenxergamnosprocessos
produtivose,comisso,nãoprojetamparaasustentabilidade.
Designers03,04,05e08foramagrupados,pois,apresentamsimilaridadenosprocessos
projetuais, mesmo atuando em áreas diferentes. Existem pequenas diferenças que
derivamdealgumcaráterespecíficodotrabalho.Realizamodesenvolvimentodeprojeto
apartirdadefiniçãodoproblema,análiseesolução,porémastécnicasutilizadasentre
cada etapa são configuradas e escolhidas de acordo com as especificidades de cada
designer.
Consideram as questões sustentáveis durante o processo criativo, porém, os insumos
“ecologicamentecorretos”possuemduasquestõesqueforamapontadaspelosdesigners:
algunsseintitulamecologicamentecorretos,porém,duranteoseuprocessodefabricação
gastammais insumosou energia; o outroponto levantado foi que estesmateriais são
muitocaros,oqueinviabilizaaprodução.
75
Odesigner06 apresentou uma curiosidade em sua formação. Inicialmente buscou o
conhecimento técnico, fez um curso de ourivesaria, depois buscou ampliar o
conhecimentocomdoisoutroscursosnoCanadá,umdegemologiaeoutrodeourivesaria.
Atuahádezoitoanosnomercadojoalheiro.Procurouestudareentenderasdiferençase
característicasdaproduçãoartesanaledaproduçãoindustrialnomercadojoalheiro.O
conhecimentotécnicoquepossuisobreaproduçãoartesanaldejoiaslhepermiteprojetar
ediscutirsoluçõesprodutivasparaviabilizaraproduçãoindustrialdeseusprojetos.No
desenvolvimento de seus projetos esbarra nas limitações técnicas e de viabilidade
financeira,poisamatériaprimaédealtovalor financeiro.Muitosprojetospossuema
quantidadedematériaprimadeterminada.Elerepresentaumaparceladedesignersque
projetacom limitaçõese insumospré‐determinados,porémumadiferençaperceptível
emrelaçãoaodesigner07équeapesardaslimitaçõesoprocessocriativoélivre.Projeta
de forma linear, utilizando para a definição do problema obriefing13, procura coletar
informaçõessobreousuário,paraanálisedoproblemautilizaoscadernosdetendências
demoda,realizapesquisadesk14elevantamentodereferencialimagético,édefinidoum
conceito para cada projeto. Para solução do problema realiza roughs15, renderiza o
desenhoqueseráfinalizado,porúltimo,utilizaamodelagem3Dhiper‐realista.
Asustentabilidadeéumtemapolêmicoparaaáreadedesigndejoia,afinal,osrecursos
são de natureza não renovável e a extração envolve exploração do trabalho humano,
contrabandoepolíticasdeinteresse.Masexistemempresasquerastreiamsuasgemas,
quenãoutilizamtrabalhoescravoouinfantil,porémessasmatériasprimassãobemmais
carasqueasoutras.
13[Ingl.]Resumo;sériedereferênciasfornecidasquecontéminformaçõessobreoprodutoouobjetoasertrabalhado,seumercadoeobjetivos.Obriefingsintetizaosobjetivosaseremlevadosemcontaparaodesenvolvimentodotrabalho.Muitas vezes o designer auxilia em sua delimitação.O valor do design: GuiaADGBrasil de prática profissional dodesignergráfico.14Pesquisadesk–pesquisarealizadapararecolherinformaçõesparaodesenvolvimentodosprojetos,geralmentenainternet.15[Ingl.]Design/Prop.Pronuncia‐serâf;significarascunho.1.Primeirosrascunhosfeitospordesigneroudiretordeartenacriaçãodeumanúnciopublicitário.Primeira fasedeestudosantesdo layout edaarte‐final.2.Esboço inicialnoplanejamentográficodequalquertrabalhoaserimpresso.Ovalordodesign:GuiaADGBrasildepráticaprofissionaldodesignergráfico.
76
O designer 06 ponderou que essas matérias primas rastreadas e com garantia de
procedêncianãosãoutilizadasnaindústriabrasileira,masparaalgunsclientesdiretosdo
designereparaaproduçãoartesanalsãooferecidascomoopção.Odesignerdemonstrou
umconhecimentoprofundosobreasquestõessustentáveisqueenvolvemaáreaeestá
desenvolvendoumapesquisacientíficasobreoassunto.
Odesigner07atuahátrezeanosnomercadoeditorial,principalmentecomilustraçãoe
diagramaçãodeprojetoseditoriais.Possuiodesenvolvimentodotrabalholimitadopela
editora,aescolhadoestilo,técnicasartísticaseaconcepçãovisualdoprojetoé,namaioria
dasvezes,definidapeloeditor.
Osprocessosmetodológicosseguemoesquemadefiniçãodoproblema,análiseesolução,
porémexemplificaqueemalgumasáreasdeatuaçãododesigner,oclienteinterfereno
processo criativo e metodológico e que nessas áreas o profissional atua mais com
execuçãodoquecomplanejamento.Nãopesquisasobresustentabilidade,consideraque
osprojetoseditoriaissãosustentáveisporsimesmos,jáqueospapéissãorecicláveiseos
livrosobjetosduradouros.As tintasutilizadasporelesãosolúveis,nãodemonstrando
interessepelapesquisadaorigemdosmateriaiseaformacomosãoproduzidos.
Odesigner09trabalhacomprojetosdebaixacomplexidade,paradefiniçãodoproblema
utilizaobriefing.Realizaaanáliseeadefiniçãodoproblemaatravésdepesquisadesk,
coletandodadossobreosclientes,osusuárioseaconcorrência,nessepontotambémfaz
apesquisadereferencialimagético.
Desenvolvemuitosroughsantesdefinalizarodesenhonocomputador,apósosestudosa
mão,finalizaosprojetosmodelandoemsoftwaresespecíficosdaáreagráficaodesenho
finalizado. Esse processo é repetido para diferentes projetos que não necessitam de
invençãoouinovação,sendocondizenteométodoutilizadoparaodesenvolvimentodos
mesmos.
[...] nem todos os projetos de design envolvem invenção e inovação.Existemdiferentescomplexidadesprojetuais,estejamelasassociadasa
77
áreasespecíficasdocampoounão;assimcomotambémsediferenciamasestratégiasempresariais.Ofatodeumprojetoserinventivoeoutro,mesmobemequacionadonãoapresentar inovaçõesquesedestaquem,pode resultar de diferentes competências profissionais dos designersrespectivos.Masissotambémpodesedarporqueascondiçõesdoprojetomenosinventivosãomaissimples,e/ousuacomplexidademenor,e/ouseusobjetivosmenosambiciosos.(LESSA,2011,p.24)
Comdezessete anosde atuaçãonomercadona áreadedesign gráfico, o designer09,
optouporatuarcomprojetosdebaixacomplexidade.Duranteaentrevistaelerelatouque
osprojetosdemaiorcomplexidadetrazemconsigoumníveldeestressetãoaltoquenão
compensavaovalorfinanceirorecebidopeloprojeto.Consideraasquestõessustentáveis
importantes,masnãoenxergacomoutilizá‐lasnosprojetosquedesenvolve.
Osdesigners10e11trabalhamdeformaintuitiva;osinputsdoprocessometodológico
muitasvezessãoosmateriais,ficaevidenteautilizaçãodametodologiadaCaixaPreta,o
início e o objetivo dos projetos são conhecidos, mas as etapas intermediárias são
desconhecidas.Possuemumaaproximaçãocomoprocessoartístico,oqueparaalguns
pesquisadoresprincipalmentesobainfluênciadeHfGUlm,osprocessosdedesigndevem
sedistanciardosprocessosartísticos.
As metodologias elaboradas até o momento caracterizam‐se por umatendência a afastar‐se da esfera da Arte e aproximar‐se da esfera daatividade científica. Não obstante, existe uma diferença fundamentalentre essasmanifestações da inteligência humana. O design industrialnãoénemseráumaciência,emboranãoexcluaasinteraçõesfrutíferasentrediversasáreas.(BONSIEPE,2012,p.92)
O designer 10 encara com tranquilidade o processo intuitivo e artístico. Define o
conceito,escolheosmateriais,osprojetostêmcaráterautoraleexperimental,aformação
naHolandapromoveuessaaproximaçãocomaáreaartística.Jáodesigner11possuium
processointuitivo,masnãosesenteconfortávelemrelaçãoaisso,duranteaentrevista
ficou claro como acreditava que o designer projeta de forma mais racional e menos
intuitivaoquepodelevaràsuposiçãodequeacreditaqueummétodoformalizadoecom
etapasdefinidassejapreceitoparaexerceraprofissão.
78
A partir da investigação e compreensão do trabalho dos designers notou‐se que os
mesmospossuempensamentosistêmico,umavisãogeraldoprocessoelidamcomcerta
tranquilidadecomosimprevistos.Mesmonaatuaçãolinearháainserçãodenovosinputs
geradosoraporessesimprevistos,oraporsituaçõesinerentesàproduçãoeimplantação
dos projetos. Destaca‐se que a experiência de mercado gera na visão sistêmica dos
designersacapacidadedeprevergargalosnodesenvolvimentodosprojetosemaiorjogo
decinturaparalidarcomosimprevistos.Contudo,ressalta‐sequeháumadiferençaentre
o pensamento sistêmico e o método sistêmico. Dos onze entrevistados, dois utilizam
métodossistêmicos,osoutrosdesignersatuamcommétodoslineares,mesmohavendo
momentoscircularesere‐entradadeinformações.
Mesmo entre os profissionais com diferentes tempos de atuação de mercado há
semelhanças nos processos metodológicos, o que leva a reflexão sobre a formação
profissionaldosdesignerseoensinodametodologianasescolasdedesign.Jáqueesses
profissionaisseguemoprincípiometodológicoapartirdoproblema:definir,conhecere
resolveroproblema.
79
5. ANÁLISES DE CASO
Apósarealizaçãodasentrevistaspercebeu‐seanecessidadedeaprofundarsobreapráxis
dodesign,investigardeformamaisdetalhadacomosãoosprocessosdosdesigners,para
tantoforamselecionadosdoisdesigners:umquetrabalhacommétodolineareooutro
queutilizaométodosistêmico.
A esses dois designers foi solicitado que escolhessem um projeto que haviam
desenvolvidoparaomercadoeexplicassemcomoocorreutodooprocessometodológico,
pois,aofalarsobrecomoéodiaadiadapráticaprojetual,váriosdetalhesacabamsendo
omitidos. Assim, ao descrever como foram desenvolvidos os projetos foi possível
perceber as etapas, as minúcias e os processos metodológicos que envolveram o
desenvolvimentodosprojetos.
O estudo de caso apresentado é o projeto desenvolvido pelo designer 06, que foi
escolhidoporutilizarummétodolinear,comretroalimentações,poréméumaáreacom
diversas limitações técnicas, o que leva a inserção nométodo de técnicas e exige do
designercompetênciasparaodesenvolvimentodoprojeto.
O segundo estudo apresentado é o projeto desenvolvido pelo designer 01, que foi
escolhido por utilizar ummétodo sistêmico, com equipesmultidisciplinares e foco na
gestãododesign.
5.1. Concurso AngloGold Ashanti
Umdosprincipaisconcursosdejoiadomundo,oconcursoAngloGoldAshantiéumevento
bienal e durante dois anos as joias circulam o mundo todo em feiras do segmento
joalheiro.O concurso é realizadopelamineradoraAngloGold16 quedisponibilizameio
quilodeouroparaqueodesignerpossadesenvolverumajoia.Oconcursotemalcance
mundial, e é preciso que os designers selecionados consigam patrocinadores para a
16AAngloGoldAshantiéumaempresamineradoradeouroqueiniciouaexploraçãodeouroemNovaLima,Minas Gerais, no século XIX. Possui operações em onze países, em três continentes, América, África eOceania.
80
confecçãodajoiaeelesrealizamtodooprocessodefabricaçãodasmesmasesehouver
gemasenvolvidasnoprojeto,oscustossãoarcadospelospatrocinadores.
Umfatorquelevouaseleçãodesseprojetofoiqueodesignerpossuialimitaçãodevidoa
quantidadedeinsumos,quesãomuitodispendiosos.Entretanto,paraoprojetoanalisado
ele teria até meio quilo de ouro disponível, o que lhe permitiu maior liberdade na
metodologia aplicada, pois muitas vezes, no mercado joalheiro, os processos
metodológicossãolimitadospelasespecificidadestécnicasequantidadedeinsumos.
Naediçãode2012foram1500inscritosnototal,masapenas18tiveramseusprojetos
aprovados e realizados. O concurso possui diversos desdobramentos e é considerado
pelosdesignersdejoiascomoumaoportunidaderaranacarreira,devidoànaturezado
projeto e a visibilidade provocada. O designer 06 já havia se inscrito para algumas
ediçõesanteriores,masteveseuprojetoaprovadopelaprimeiraveznestaedição.
Aseleçãodosvencedoresérealizadaemduasetapas.Naprimeirasãoselecionados100
projetoscomomesmopeso.Estesprojetossãoencaminhadosparaumsegundojúrique
faz a avaliação.Esta etapa simé classificatóriadoprimeiroao centésimo lugar, sendo
apenasdezoitoosselecionados.
Cadaediçãodoconcursopossuiumatemáticadefinidaeadessaediçãofoibrasilidades.
Para ajudar na criação das peças a mineradora disponibilizou em seu site sugestões
iniciaisparaumapesquisaiconográfica.Omaterialpostadoservecomoumstartuppara
novaspesquisas.
Apósapesquisainicialodesigneresuasóciarealizaramacriaçãoemdupla,oprimeiro
desafiofoiotemabrasilidades,poiséumtemaamplo.Omaiordesafioeracomosintetizar
omáximode informações sobre oBrasil, emapenasumconceito.Abiodiversidade, o
carnaval, a religião, a fauna e a flora, a música, cultura, o sincretismo, inúmeros
brainstormingsforamrealizadosparageraralternativasquerepresentassemopaís.
81
Apósaspesquisasrealizadas,otemadefinidofoiapersonagemCarmemMiranda,símbolo
doBrasilnoexterior.Elaincorporavaoselementosqueforamlevantadospeladuplacomo
representativosdabrasilidade:Inspiração,música,sincretismo,chapéusmalucos,afauna
eaflora.OsegundodesafiofoicomoutilizarCarmemMirandaconceitualmentesemcair
noestereótipo.Ainspiraçãofoiumafotodacantoracomumenormechapéudebananas.
Oconceitofoidefinido:exuberânciachique.Nãoeraparaseroestereótipocarnavalesco;
contudodeveria seruma joia sofisticadae inteligível,quepossuíssea síntesevisual, a
exuberância,atextura,osincretismo,asbananas,aspedrasverdeseamarelas,ouseja,
que falasse por si. Geraram‐se alternativas com o desenvolvimento de vários croquis,
rapidamentedesenhadosamão,nocalordomomentoparacaptarainspiração,aideia,a
emoção.
Posteriormente, o croqui é finalizado, colorido e depois digitalizado, então é feita a
modelagem em 3D e depois o render hiper‐realista, aperfeiçoando o modelo. Para a
escolha da tipologia da joia foi definido um conjunto de broche, pingente e brincos
modulares,permitindodezoudozeconfiguraçõesdiferentesparaouso.
Paraaseleção,foramenviadasapenasduaspranchasparaapresentaroprojeto,umaéa
inspiraçãocomumpequeno textoeaoutraodesenhoartístico, sem identificaçãodos
autores.Aavaliaçãoécega.Todooprocessoseletivo foirealizadoapartirdestasduas
pranchas.
Oconcursoévalorizadopelosdesignersdejoia,principalmentedevidoàquantidadede
ouro que pode ser utilizada. Nos projetos comerciais há o limite, principalmente da
quantidadedeinsumos,poispossuemocustoelevado,comofrisaodesigner06:“para
quemestáacostumadoatrabalharcomtrêsgramasdeouro,imaginealiberdadedepoder
criarcommeioquilo”.
AAngloGold entregameio quilo de ouro somente para os patrocinadores dos dezoito
finalistas, comumprotocolorigoroso,nota fiscaleseguro.Ummomentode tensão foi
conseguir o patrocinador, já havia se passado um mês e o designer ainda não havia
82
conseguidopatrocínio.AAngloGolddisponibilizouumaequipedemarketingparaajudar
osparticipantesaconseguirpatrocínio.DuranteaFeninjer,FeiraNacionaldaIndústria
deJoias,maiorfeiradosetornoBrasil,aequipedamineradoraestavacomaspranchas
dosoitofinalistasqueaindanãohaviamconseguidopatrocínioeemmenosdeduashoras
todosforampatrocinados.
Comoouro,oprojetoiniciouasuaetapadeprodução.Oprotótipo3Djáestavamodelado
no computador, contudo o render artístico não estava com as especificações técnicas
corretas, as peças maciças não poderiam ser produzidas, o que aumentaria muito a
quantidadedeouronecessáriaparafazerajoiae,nocaso,olimiteeramosquinhentos
gramas de ouro. Os ajustes no modelo digital foram feitos e a peça foi adequada à
produção.
Essamodelagem3Déabaseparaafabricaçãodoprotótipoemcera,osarquivospossuem
umalinguagemdigitalqueéreconhecidapelaimpressora.Comoapeçaeramuitogrande
odesignerfoiatéafábricaconversarcomosfundidoresparasabersecaberianotubode
fundição,teriaqueserdivididaemquatropartes.Entretanto,nãocaberianabandejade
prototipagem.Ocorre,então,odesdobramentodapeçadequatroparatrintaeseispeças
separadas.
Ajoiavirouumgrandequebra‐cabeça,oprocessodeprototipagemfoirealizadoemBelo
Horizonte.Aosurgiroimprevistodaprototipagem,odesignerprecisoupensaremcomo
agir,cadaumadastrintaeseispartesforamnumeradasparaposteriormontagemefoi
entãodesenvolvidoummapaparaoourives.Antesdoenviodoprotótipoparaafábrica
em São Paulo o designer fez a conferência da prototipagem juntamente com a ficha
técnica.
Odesignerdeveestarpreparadoparaagirnosimprevistoseplanejarcomprecauçãopara
evitarproblemas.Comoprotótipopronto,odesignerfoiparaSãoPaulo.Comooprojeto
estavamuitobemfinalizadoecomasquestõestécnicasrespeitadas,oprocessoprodutivo
foi muito tranquilo. Porém, é um projeto com muitas transversalidades, limitações
técnicasefinanceiras,estasdevidoaoseguro.
83
Ajoiatinhaapossibilidadedeváriosusos,obrincoquevirapingente,porexemplo.Mas
comodeixarumpinoespetandoousuário?Duranteaproduçãofoiinseridoumaspecto
inovador no projeto, o pino articulado, os ourives em conjunto com o designer
desenvolveram o pino articulado. Como pendurar um broche de cerca de seiscentos
gramasquenãorepuxassearoupa?Asoluçãofoidesenvolverváriospontosdefixação,
transversaishorizontaiseverticais.
Depois de pronta, a peça foi enviada direto para a AngloGold e os projetos foram
apresentadosemduasnoites,naprimeira,comapresençadeautoridadeseconvidados
restritos,nasegunda,osfuncionáriossãoconvidados,eafestaérepetida,osdiscursos,
desfileseasapresentações.Osdesigners foramconvidadosparaparticipardetodosos
eventos.Foramconsultadossobosmínimosaspectos,emqualorelhadamodeloseria
colocadoobrinco,porexemplo.
Osdesdobramentosdoconcurso, taiscomoadivulgaçãodo trabalho,aexperiênciade
produzir uma joia conceito, fez comque esse fosse, na opinião do designer, omelhor
concursode joiadoqualele jáhaviaparticipado.Apontouqueomaiordesafioparao
designersãoasrelaçõescomplexas,devidasàsdimensõesestipuladasparaopeso,oalto
custo,etc.Éumapeçaconceito.Desdeaproduçãoatéoresultadosão3meses,umprazo
relativamenteapertado,pois,éprecisocontarcomaimprevisibilidade.
Oconcursopossuidiversosdesdobramentos:umapublicaçãoemrevista,exposiçãodas
peçasemcirculaçãonacionaleemfeirasmundiais.Emdecorrênciadetodosessesfatores,
há a promoção do designer, projeção do profissional nacional e internacionalmente.
Duranteointervaloentreosconcursossãopromovidasdiversasaçõesparapromoçãoe
divulgaçãodosganhadores.Odesignerpodelançarumacoleçãocomercialapartirdajoia
conceito.Nãohouveinteressedopatrocinadoremlançaracoleçãododesigner,poisnão
eraaáreacomercialdomesmo,masumdeseusclientesadotouacoleçãocomercial,a
qual alcançou bons resultados de venda, muito em função da ampla divulgação do
concursoedasjoias.
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Odesignerponderaque“aáreadedesigndejoiasestáenvoltanomitodoglamour”,mas
quenarealidadeéumaáreacommuitasespecificidadesqueexigemdoprofissional“jogo
decintura”.Nodiaadiadaprofissão,elelidacomosdiretores,donosdejoalherias,do
presidente ao lapidário. “A mão de obra é composta de pessoas muito simples” e a
informalidadeéumaconstantenomercado,ouseja, fornecedorespoucosconfiáveis.O
designerevitaosfornecedoresinformais,commuitarecirculaçãodomaterialnacadeia
produtiva,oquedificultaaautenticidadedaprocedência,porexemplo,muitasjoiasde
leilãopodemserfrutoderoubo.
Odesignerde joiadevedominaros termostécnicosparadiscutircomosprofissionais
dentro da cadeia produtiva, quantomais tecnologiamais técnicas o profissional deve
dominar.“Sãocompetênciasqueodesignerdevepossuir,conhecimentosobrehistóriado
design, história das joias, os materiais, ergonomia, economia, domínio das técnicas e
ferramentas”.
85
5.2. Gestão do posicionamento da marca para os 50 anos do Unibh17
O projeto de gestão do posicionamento da marca não possui foco na instituição, na
comunicação ou na gestão da marca como um todo, mas sim nos cinquenta anos da
instituiçãoenosrelacionamentoscomosstakeholdersnodecorrerdessetempo.Oobjeto
é principalmente o relacionamento damarca nesses cinquenta anos e a narrativa da
existênciadocentrouniversitárionesseperíodo.
Foi realizado um levantamento para compreender o percurso da instituição nestes
cinquenta anos e identificar quais foram os principais acontecimentos transcorridos
duranteessetranscurso.Percebeu‐sequeexistiammarcosquesãoaessênciadocentro
universitário.Atrajetóriaacadêmica–queéofocoprincipaldainstituição.Oterritório–
o relacionamento coma cidade e seu entorno, pois, possui unidades distribuídas pela
cidadeeaentradadogrupoAnima–queassumiuainstituiçãorecentemente.
A partir da definição dos marcos com os fatos que foram importantes na trajetória
cronológica,emumalinhadetempofoipossívelcriarstorytellingsobrecomoainstituição
afetouaspessoasdentrodouniversodacidade,ecomosemantémpresenteemvários
pontos.Foipossívelestabelecerumdiscursoentreamarcaeoterritório.Odesigner01
ponderouque“tudoéfeitoemconjunto,todasasetapasdesenvolvidasinternamentecom
as pessoas, para construir o discurso com as pessoas jurídicas, mas que toda pessoa
jurídicaécompostadepessoasfísicas”.
A proposta é que todo o projeto seja desenvolvido internamente e realizado pelos
próprios laboratórios da instituição, Unibh, geradora do produto de ensino. O
gerenciamento dos projetos visava o ensino aplicado à prática, sem que nada fosse
executadoporagênciaexterna.Asdefiniçõesdasaçõesdecomunicaçãoforamdecididas
em reunião com os núcleos de comunicação, gerando, com isso, uma reestrutura do
pensamentodosprofissionaiseasrelaçõescomaprópriainstituição.
17OCentroUniversitáriodeBeloHorizonte (Unibh) foi fundadoem1964,na cidadedeBeloHorizonte,MinasGerais.Possuimaisdecentoevintecursosdegraduaçãoepós‐graduação,distribuídosemquatrounidades,situadasnosbairros:Lagoinha,Buritis,LourdeseUnião.
86
Aplataformadeestratégiademarcafoiidealizadaapartirdaconfiguraçãodocampode
golfeeadaptadaparaoconceitodocampodegolfecomdozeburacos,queserãoospontos
aseremtrabalhadosaolongodoano,começandoem2014eterminandoem2015.Este
serianocaso,oanocinquentaeum,ouseja,oanoumnoqualtambémogrupoAnima
comemorariasuainserçãonainstituição.Istosedeveaosprocessosdegestãoacadêmica
implementadospelogrupo,osquaisserãoconcluídosem2015.
01.Saladeaulaampliadaa)–oconceito:osmelhoresanosdasuavida.Serãomesmoos
melhoresanos?Comooalunopercebe?Sesãorealmenteosmelhoresanos,elesconhecem
odiaadiadoaluno?b)Ação,realizaromapeamentododiaadiadoaluno,aproveitando
pesquisasrealizadas,queestãoemprocessoeomapeamentodeveserconstante.
02. Vestibular) Conceito:–o vestibular mudou, agora são competências mínimas
necessáriasparaentrarnafaculdade,existemdiversosprocessosdevestibular,agendado,
umaprova,notadoENEM,comooUnibhseposiciona,quaissãoascompetênciasmínimas
paraentrarnainstituição?b)Ação,saladeesperaparaospaiseosalunos,contatocom
ospais,apresentaçãodosalunos,percepçãodoqueéestarcomoUnibh.
03.Diaadiadauniversidade)Conceito:–docente,discente,funcionários,administrativo,
acadêmico,direção.Sóépossívelasaladeaulaampliadaevestibulardiferenciadosseo
diaadia for interessante.b)Ação:Mapearodiaadia,entenderopassadoqueémais
importantequeofuturo.
Essestrêspontosacimamencionadosformamotriângulo,queéaprincipalestruturado
mapadeconceito.
04.Família–osalunosduranteoperíodoemqueestudamnafaculdadepassarãomais
tempo na universidade que com a própria família, assim como os funcionários, os
professores,osdiretores.Logo,existeafamíliaUnibh,eoposicionamento:“oqueuneBH”.
Opassado,opresenteeumprovávelfuturo,atravésdeposiçõesgeográficas,deumada
saladeaulaampliadaeosmelhoresanostornar‐se‐iamumagrandefamília.
87
05.Osprofessores–compreende‐sequesãoainspiração,arespiraçãoeaaspiração.São
osprofessoresqueinspiramosalunoscomsuasaulas,quemantémainstituiçãocomoum
organismovivo,respirando.Sãoelesqueproporcionamosmelhoresanosnopresentee
aspiração para o futuro. O professor precisa lidar com várias gerações diferentes ao
mesmotempo.Énecessárioquetenhaocomportamentofluxparaserelacionarcomtodas
asturmasheterogêneas.Écorpoematéria,reflexodopróprioUnibh.Umaspectoaser
salientadoéoquenemtodososprofessoressãovinculadoscomodedicaçãoexclusiva,ou
seja, trabalham em outros lugares, portanto fazem parte, parcialmente da instituição.
Eventosvoltadosparaosprofessoresestãoprevistos,agestãoacadêmicainiciadacoma
coordenação,poisoprofessoréconsideradocomopontocentraldoprocesso.
06.OscinquentaanosdoUnibh.
07. Rotinas ‐ os melhores anos, os melhores dias dessa rotina são consistentes,
verdadeirosealegres?Nãotemcomoesperarqueoprofessorestejatodososdiasdoano
inteiro com inspiração, respiração e aspiração; é utópico, então serádesenvolvidoum
programaquenãodeixearotinatãoárdua.
08.Inovação–desenvolvimentodeprogramasparainovararotina.
09.Ouviraspessoas.
10.Redes–desenvolvimentosdeaplicativosparafacilitaracomunicação.
11.Envolvimento–promoveroengajamentoentreaspessoas.
12.Anoum–daeraUnibh/Anima.
A concepção dentro dos 12 pontos gera novos insights, que proporcionam novos
conteúdos,nummovimentocíclico,entretanto,éprecisomanterofoco.Osprotótiposdos
processos e dosmeios que geram os inputs serão o foco para o desenvolvimento do
projeto, como explicita esse comentário: “é como uma bola de neve, sem fim, que só
88
aumenta”. Asaçõesparacadapontoserãodeterminadasnamedidaemqueas coisas
forem se desenvolvendo, e assim, novas leituras serão feitas, compreendidas e
sintetizadas.
É importante salientar que a construção dos pontos requer análise, descobertas,
redimensionamentodosdiscursos.Salienta‐seametodologiadeStanford,pelaqualos
elementos:verificação,análise,teste,implementaçãoseretroalimentamsucessivamente.
Segundoodesigner:"Nomundodehojevocênãoencontramaisnadapronto,nadaque
vaificarprontoeperdurar,omundoédinâmico,osprojetosquefuncionaramnãovão
durarmais”.
A gestão provoca mudanças internas influenciadas pelos diagnósticos. Estão sendo
realizadaspalestraseworkshopparaqueosfuncionáriosentendamoqueéamarcaviva;
ouseja,oprocessodegestãodamarca.Ostrabalhossãorealizadosenvolvendoossetores
decomunicação,marketingeRHparapromoveraconstruçãocoletiva,juntamentecom
osdepartamentosenvolvidos.
O evento “parada obrigatória”, que já acontecia na instituição desde quando o grupo
Animaassumiuainstituição,sofreualteraçõesapósdiagnósticorealizadopelodesigner.
Váriasquestõesquenãoseamarravamforamreestruturadasemtodoevento.Oevento
foiexecutadopelosfuncionários,noqual,aaberturadoevento,aoinvésdeserrealizado
porummembrodadiretoriafoiapresentadapeloporteiro,afinal,quemabreoportão?
Aplataformadeestratégiademarcadoscinquentaanosvisaumposicionamentoapartir
dos 51 anos de existência da instituição e acontece paralelamente, interna e
externamente,comaçõesdecomunicaçãoeapresençaemváriospontosdacidadede
Belo Horizonte/MG com o discurso para a comunidade: construir o pensamento
internamente,gerarrelacionamentodeprogramaspararefletircomacomunidade.
O PDGA, Programa de Desenvolvimento de Gestões Acadêmicas, envolveu os
coordenadoresparaque fosseosuporteparaasmudanças,assimodesignerodefiniu
89
“comoumvírusquevaicontagiandoaspessoas,nouniversodauniversidade.Odiscurso
émaisárduo,poisaspessoassãomaisqualificadas”.
Éutilizadaobservaçãoparticipativaparaidentificarospontosdecontatoepontoscríticos
do projeto executivo da instituição, para fazer um mapa de presença das relações e
promover um trabalho de gestão com os gestores; que o designer definiu como
“polinizaçãocruzada”,naqualodesigneréaabelhaqueaoentraremcontatocomumdos
gestorespoliniza,compartilhainformações,mastambémépolinizado,ousejaháatroca
de informações entre os gestores e o designer. Contudo, para que isso ocorra, é
imprescindívelqueogestorestejapropensoàstrocas.
Ao enfatizar a experiência dos setores para o desenvolvimento interno dos projetos,
perceberam‐sequeasresistênciasenfrentadasnãovieramdadireção,masdospróprios
laboratórios,poisaodesigná‐lospararealizarascampanhasdecomunicação,osprojetos
de design gráfico, os vídeos e as fotografias, resultaram em um aumento da
responsabilidadedosmesmos.Odiscursoconstruídoparaepelosindivíduosseencontra
resistência, pois, exigemudança de comportamento, performancemais competitiva. A
abordagemdadaaoerrotorna‐senecessária,pois,aosepermitirerrar,possibilita‐sea
inovação.Oerroportanto,passaaserbem‐vindo,considerando‐se,éclaro,umamargem
aceitável,ouseja,umerrocalculado,poisquemnãoerranãocorreriscos,quemnãocorre
risconãoinova.
De acordo com o designer, os trabalhos desenvolvidos internamente apresentam o
seguinte conceito: “o produto é resultado do próprio produto do Unibh, produto
construído,produtodecomunicaçãoqueéresultadodoprodutoaluno,queéresultado
doprodutoprofessor.Vocêtemumprodutoqueéconstruídoapartirdoprodutoquevocê
vende,queéumdosprodutosquevocêjáconstruiu.Váriosprofessoressãoex‐alunos,
mantendo‐se a essência do pensamento pedagógico presente na construção, na
disseminaçãoenacomunicação”.
90
Omundoédinâmico,asmudançasdomundoquedemoravamparaacontecer,hojesão
muitorápidas,entãodentrodeumanoaprópriainstituiçãonãoserámaisamesma,o
perfil do aluno vaimudar, os funcionários, os professores, a direção. Asmudanças já
ocorrerameoprojetojámudou,nãodáparadesenharumnegócio,vocêtemumprocesso
depensamentoeação.Eoprocessomudaacadadia,acadaano.Osbenefíciossãoacurto,
médio e longo prazo. Já é possível perceber os benefícios hoje,mas o resultadomais
consolidadoocorrerámaisàfrente.
91
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Apartirdolevantamentobibliográficoinicial,domapeamentohistóricosobreosmétodos
científicos permitiu‐se compreender como o ser humano desenvolveu ao longo da
história,umaformadepensar,visandoaconstruçãodeconhecimentoeacompreensão
domundo.Atravésdisso,foipossívelperceberqueexisteapossibilidadederelacionaros
métodosdedesignaosprincípiosdosmétodoscientíficos,comotambém,refletircomoos
pensamentos filosóficos influenciaram diversas áreas do saber humano, inclusive o
design. Porém, também foi possível perceber a linha que diferencia a metodologia
científicadametodologiaprojetual.
Como modelo de comparação propomos uma analogia entre as metodologias e os
aparelhos eletrônicos, computadores de arquitetura fechada, computadores de
arquiteturaabertaeostablets:
Para exemplificar, podemos comparar a metodologia científica ao computador de
arquiteturafechada(Figura14).Oqueéumcomputadordearquiteturafechada?Éum
aparelho eletrônico que já vem com a sua configuração de fábrica, sendo todos os
componentesdefinidospelofabricante,asconfiguraçõesvariamdeacordocomomodelo
quedeveserescolhidoparasuprirasdemandasnecessáriasparaousocotidiano,como
nocasodeumcomputadordaApple,noqualoconsumidorescolheomodelo,masnão
podetrocaroscomponentesinternos,ocomputadordeveseradequadoàsnecessidades
dousuário.
Nocasodametodologiacientíficaopesquisadorescolheosprocedimentosmetodológicos
deacordocomapesquisaaserrealizada.Apartirdasuanecessidade,osprocedimentos
científicosdevemserrigorosamenteseguidoseasnormasobedecidasparaavalidação,
dentrodeumaestruturadeterminada.
92
Figura14–AnalogiaarquiteturafechadaFonte:Autoriaprópria
Ametodologiaprojetualparaodesignnamodernidade,comseucaráterflexível,porém,
comvisãolinearécomparadaaquicomoscomputadoresdearquiteturaaberta(Figura
15), e o que seriam esses computadores? Eles possuem uma configuração padrão:
monitor, HD, placas de memória, processadores, placas de vídeo, dentre outros, mas
diferentedaarquiteturafechada,nocasodoscomputadoresdearquiteturaaberta,cada
componentepodeserescolhidodeacordocomouso.
Umeditordevídeoiráescolherummonitormelhor,umaplacadevídeomaispotentee
umprocessadormaisrobusto.Nocasodametodologiaprojetual,odesigneriráescolher
procedimentos a partir de uma estrutura definida, elementos que serão considerados
fundamentaisparaodesenvolvimentodoprojeto,masestruturametodológicaédefinida:
problem finding (definindo o problema) problem setting (conhecendo o problema) e
problemsolving(resolvendooproblema).Entrecadaumadessasetapas,odesignerutiliza
técnicas escolhidas de acordo com a sua formação, experiência, bagagem cultural e
porquenão,bomsenso.Assimele“monta”aestruturadoseuprocessometodológico.Essa
estruturafoiutilizadapelosdesigners03,04,05,06,07,08,09,10e11.
93
Figura15–AnalogiaarquiteturaabertaFonte:Autoriaprópria
Ostablets(Figura16)sãocomparadosaoprocessometodológicosistêmico,oprojetaré
determinadopelocenário:complexo,fluidoedinâmico.Osfundamentosdometadesign,
metaprojeto, design thinking, design sistêmico, dentre outros, os quais podem ser
comparadosaotablet,poisafinalesteéumaparelhoquepermitequeneleseinstalem
diversosapps(aplicativos)quepermitemqueosusuáriososescolhamdeacordocomas
suasnecessidades,semumpadrãopré‐determinadoaserseguido,seminíciooufim,mas
cíclicoeorganizadodeacordocomasfunçõesenecessidadesdousuário.
Odesignerquetrabalhacomgestão,queprocuraumavisãodoprocessocomoumtodo,
desdequestõesligadasaodesenvolvimentodoprodutoaquestõessociais,econômicase
ambientais,irábuscarprocedimentos,ferramentasquesirvamparaodesenvolvimento
do projeto. O tablet é o suporte, mas são os aplicativos que o caracterizarão, que
propiciarão ao dispositivo móvel sua personalidade, determinando sua função e
aplicabilidade.
Odesignerqueprojetanoambientecomplexoprecisaterrepertório,procurarsemprea
atualização profissional, para transitar e interagir com diferentes áreas. Afinal, a
transversalidadedodesignlevaànecessidadedeumprofissionalquepossuahabilidades
ecompetênciasparagerirosprojetos.Essascaracterísticasqueodesignerdaatualidade
94
devepossuiréqueserádeterminanteparaaescolhadas ferramentasedosprocessos
necessáriosparaaformataçãodapráticaprojetual.
Figura16–AnalogiaTablet/DispositivomóvelFonte:Autoriaprópria
Apartirdasentrevistasedosestudosdecasofoipossívelperceberalgumasrelaçõescoma
formadeseprojetardosprofissionaisqueatuamnomercado,dadialéticadeHegel:Tese‐
Antítese‐Síntese,opensamentocíclicoeanovaspossibilidadesquesurgemapartirda
Síntese, como também, com as mudanças de paradigmas propostas por Feyrabend,
percebe‐sequenaconstruçãodametodologiaprojetualdosdesigners,háinfluênciasda
metodologiacientífica.
Outropontoidentificadoéqueexistenomercadodemandaporprojetoscombaixonível
decomplexidadeequese findamemsimesmos, comoocasodeumconviteparaum
evento,porexemplo,assimcomoexistemdesignersqueoptaramportrabalharcomeste
nicho específico de mercado. Projetos que não envolvem necessariamente a
complexidadeeainovação.Casosnosquaisaspráticasprojetuaissãomaisdefinidaseas
etapasetécnicasutilizadasparaodesenvolvimentosãorepetidasemdiversosprojetos.
O problem finding (definindo o problema), realização de briefing – levantamento dos
dados;oproblemsetting(conhecendooproblema)pesquisa,análisedaconcorrênciae
95
referencial visual e o problem solving (resolvendo o problema) desenvolvimento de
roughs, geração de alternativas e finalização do desenho. De acordo com a analogia
apresentadaanteriormente,podemosconsiderarcomoumcomputadordearquitetura
aberta,porémcomumaconfiguraçãomaisbásica.Nãoháanecessidadedeinvestimentos
em etapas diferenciadas para atingir o resultado esperado, o que não torna o projeto
inferioroumenoseficiente,apenasadequadoaoqueelesepropõe.
Boapartedosentrevistadostrabalhacomametodologiadoprincípiolinear,mesmopara
odesenvolvimentodeprojetoscomgrausdecomplexidadesmaiores.Osprincípiosda
metodologia ulmiana, o funcionalismo linear, são claramente percebidos, porém,
constata‐se que a adaptaçãodosmétodospelos designers é uma constante naprática
individual.Nãofoipossívelidentificarumaconsciênciametodológica,essesprofissionais
entrevistados não citam nomes demetodologias, ou quando o fazem não conseguem
apresentar ametodologia citadade forma clara, demonstrandoumcerto desinteresse
pelateoriametodológica.
Levandoapossívelconclusãodequeofazerdodesigneresuanaturezaheurísticasupera
opensarfazer,osprocessossãointuitivosederivadosdemétodosutilizadosnasescolas
eadaptadosparaapráticaprofissional.Encaixam‐setambémnaanalogiadocomputador
dearquiteturaaberta,porémcomumaconfiguraçãomaisespecífica,comnovasetapase
componentesadequadosaosprojetosdesenvolvidos.
Umaminoriadosprofissionaisentrevistadostrabalhacomumametodologiasistêmica,
duranteseusrelatosfoipossívelperceberque,paraessesprofissionais,osmétodossão
tratadosformalmente.Nomearamosmétodos,assimcomocitaramautoresefizeramuma
contextualizaçãohistórica.Paraestesdesignersháapreocupaçãocomopensarprojetual,
poisapresentaramaconsciênciadopapelprocessualdodesigner.Coincidentemente,os
profissionaistrabalhamcomgestãododesign,seusprojetossãodesenvolvidosapartir
deumaabordagemsistêmicacomoenvolvimentodeváriasquestõesqueabrangemo
projetocomoumtodo.
96
Analogicamenteseriamostablets,poisprimeiramenteseapresentaramatualizadoscom
as teoriasdedesignedeoutrasáreas,para fazeraseleçãodosaplicativosqueseriam
necessáriosparatornarodispositivomóveladequadoparausonoprojeto,ouseja,quais
os métodos deveriam ser empregados para atingir os objetivos. Esses profissionais
apresentaramodesigndoprojeto,semostraramconscientesdoprocessoedasteorias
queestãosurgindo,assimcomooerroparaestesdesignersépartedoprocesso,oque
devesermensuradoeavaliadoparaqueosresultadossejammaisassertivos.
Outropontosignificativolevantadoduranteapesquisafoioaspectosustentável.Esteque
envolveapráticaprojetual.É fatoqueodesignertempapelpreponderantenoquesito
sustentabilidade,poisalémdeprojetarobjetos,Moraes(2010)ressaltaqueodesigner
projetaemoções,desejosdeconsumo,experiênciaseserviços.Oquepôdeserobservado
équeasustentabilidade,apesardeestaremvogaeseramplamentediscutidanamídiae
nosmeiossociais,aindapossuiumlongocaminhoaserpercorridonarealidadeprojetual
brasileira.Osprocessoseosmateriaissustentáveissãocaros,oqueprovocaumaumento
nocustofinaldoprojetotornando‐oinviávelnamaioriadoscasos.
Grandepartedos consumidores aindanãopercebea sustentabilidade comovalorque
justifique o custo mais alto ou então, não possui condições financeiras de adquirir
produtos sustentáveis. Durante as entrevistas, a maioria dos designers demonstrou
conhecimento sobre processos emateriais sustentáveis, entretanto todos relataram a
dificuldadedeusá‐losemseusprojetos,devidoaoaltocustofinanceiro.
Apreocupaçãoexcessivaemnãotransformarametodologiaemreceitadebololevoua
umequivocadotratamentodotema,principalmentenaáreadedesigngráfico.Bonsiepe
(2012) reforça que durante o desenvolvimento dametodologia em design, a área de
comunicaçãovisualnãoapresentouamesmadiligênciaemestabelecerumametodologia
projetual.
Osmétodosdevemserformalmenteestudados,assimcomoastécnicasdecriatividade
para que o designer possa desenvolver suaprópriametodologia e escolher técnicas e
ferramentasparaapráxisdodesign.Oquelevaàconclusãodequeametodologia,apesar
97
denãoserumareceitadebolo,deveserentendidacomoimportanteetapanoprocessoe
queodesignerdevepossuirplenaconsciênciadoplanejarantesdoexecutar,desenvolver
opensarprojetualconcomitanteàpráticaprojetual.
Apesarde todasas suas limitações, ametodologiaprojetual temo seulugar,devendo‐seresistiratrêstentações?
1. A tentação de um universalismo espiritual, que interpreta ametodologiacomoaquisiçãoválida,semrestrições.
2. Atentaçãodeumrelativismohistórico,quenegaqualquervalidadeàmetodologia como aquisição importante, além de sua origemhistórica.
3. Atentaçãodeumalternativismo,que,comseuprogramadenegaçãoabsoluta, enterra a metodologia no depósito de lixo da História.(BONSIEPE,2012,p.94)
Nocasodaapropriaçãododesigncomometodologiaparaainovação,poroutrasáreas,
principalmente pela área de negócios e gestão, ainda há um espaço a ser explorado,
principalmentenautilizaçãodopensamentodedesign, o quenão exclui a atuaçãodo
profissional, mas a inserção desse, como stakeholder, na administração e tomada de
decisõesestratégicasdasempresas.
Outroponto quepode ser explorado empesquisas futuras é o ensinodametodologia
projetualnasescolasdedesign.Comoéaabordagemdaspráticas?Opensaroprocessoé
colocado em evidência ou se o pensar o projeto é menosprezado em detrimento do
resultado.O foco é o resultadoobtidoouoprocessopara se alcançar o resultado?As
escolas estão preparando os alunos para exercerem a profissão no atual cenário,
complexoedinâmico?Anovageraçãodedesignersbrasileirospensasistemicamente?
98
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104
ANEXO A
Roteiro para entrevista ‐ Café com design (pensei em um ambiente informaldescontraído,duranteumcafé)
Comoodesignentrounasuavida?Parainiciaroassuntodeformaindireta.
Você já fezalgumcursonaárea?Qual?Quando?Característicasdo curso?Para
investigarsobreaformaçãoacadêmica.
Comoéoseudiaadiaprofissional?Parasaberdocotidianoprofissional.
Como é o seu processo criativo? Quais as etapas? Recursos? Para abordar as
questõesmetodológicas
Como é a sua relação com os clientes? Novos e antigos? Tem diferença? Eles
entendemoqueodesignagrega?
Qualéofocodoprojeto?Usuário?Problema?
Qualacontribuiçãodoseutrabalhoparaasuaáreadeatuação?
Qualoseupapelcomodesigner?Parainvestigaroqueoentrevistadoconsidera
comoopapeldodesignerseésocial,ambientaletc.
Qualodiferencialqueoseutrabalhoagregounosprojetosquedesenvolveu?
105
ANEXO B
TERMODECONSENTIMENTOLIVREEESCLARECIDO
Resoluçãonº466/12–ConselhoNacionaldeSaúde
Sr(a) foi selecionado(a) e está sendo convidado(a) para participar da pesquisa intitulada: PROCESSOS METODOLÓGICOS PARA A PRÁTICA DE PROJETOS DE DESIGN PARA UM CONTEXTO SUSTENTÁVEL, que tem como objetivos: Traçar um histórico dos métodos científicos; Pesquisar os principais métodos não lineares de design no Brasil; Traçar um quadro comparativo entre os métodos analisados; Analisar um estudo de caso de projeto de design. Este é um estudo baseado em uma abordagem participativa, utilizando como método entrevistas qualitativas. A pesquisa terá duração de 2 anos, com o término previsto para Agosto de 2014. Suas respostas serão tratadas de forma anônima e confidencial, isto é, em nenhum momento será divulgado o seu nome em qualquer fase do estudo. Quando for necessário exemplificar determinada situação, sua privacidade será assegurada uma vez que seu nome será substituído de forma aleatória. Os dados coletados serão utilizados apenas NESTA pesquisa e os resultados divulgados em eventos e/ou revistas científicas.
Suaparticipação évoluntária, isto é, a qualquermomento vocêpoderárecusar‐searesponderqualquerperguntaoudesistirdeparticipareretirarseuconsentimento.Suarecusanãotraránenhumprejuízoemsuarelaçãocomapesquisadoraoucomainstituiçãoque forneceu os seus dados, como também na que trabalha. Sua participação nestapesquisa consistirá em responder as perguntas a serem realizadas sob a forma deentrevista.Aentrevista serágravadaemáudio/vídeoparaposterior transcrição–queseráguardadaporcinco(05)anoseincineradaapósesseperíodo.Sr(a)nãoteránenhumcustoouquaisquercompensaçõesfinanceiras.Existeoriscodeconstrangimentoduranteumaentrevistaouumaobservação.
____________________________________ ____________________________________AkemiIshiharaAlessi(UEMG) Participantedapesquisa O benefício relacionado à sua participação será o de aumentar o conhecimento científico para a área de design. Sr.(a) receberá uma cópia deste termo onde consta o celular/e‐mail do pesquisador responsável, e demais membros da equipe, podendo tirar as suas dúvidas sobre o projeto e sua participação, agora ou a qualquer momento. Desde já agradecemos!
Nome doOrientador: Profª. Drª. Sebastiana Luiza Bragança Lana ‐ Escola deDesign ‐UEMGPesquisador Principal: Akemi Ishihara Alessi – Mestranda ‐ Escola de Design ‐ UEMG
Cel:(31)8804‐5351e‐mail:[email protected] Declaro estar ciente do inteiro teor deste TERMO DE CONSENTIMENTO e estou de acordo em participar do estudo proposto, sabendo que dele poderei desistir a qualquer momento, sem sofrer qualquer punição ou constrangimento. Recebi uma cópia assinada deste formulário de consentimento.
106
_____________________, ____ de ___________________ de 2014.
Participante da Pesquisa: ____________________________________________________________________
(Nomeeassinatura)