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Instituto Belém

Visão O Instituto Belém pretende ser uma instituição de ensino superior associada à visão afetiva e comprometida da nossa igreja que se esforça para proclamar uma men-sagem centrada em Deus, que busca glorificar a Cristo, e ao Espírito Santo. Que se utiliza das Santas Escrituras para auxiliar na formação espiritual de homens e mulheres eq-uipando-os para cumprir os propósitos do Reino de Jesus Cristo no século 21 e forjar discípulos fiéis para ele de toda raça, tribo, língua, povo e nação.

Propomos espalhar o conhecimento de Deus, que desperta não apenas o intelecto, ou o conhecimento in-telectual, mas principalmente o amor e o desejo de viver numa intensa e apaixonante busca por Cristo. Esta é a razão da existência da nossa escola. E é esta a visão que desejamos compartilhar com todos.

AutorMoisés Carneiro

Você pode fazer uma doação para ajudar a manter esse projeto. Deposite o valor que desejar! Caixa E.

Federal - Ag. 0314 - Op. 013 - C.P. 119429-0 em nome de Moisés P. Carneiro

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Proibida a comercializaçãoAplicação no estudo deste livro Você deve estar perguntando qual a melhor maneira de es-tudar este livro e extrair o máximo possível de proveito. Ao pensar nisso, elaboramos alguns métodos que poderão lhe ser úteis.Seja Motivado Motivação é um princípio peculiar na vida de todos os que anseiam alcançar um objetivo. É impossível alguém atingir o ápice de um grande sonho sem ter em sua bagagem o item motivação. Muitos já iniciaram alguma coisa, mas só obtiveram o êxito aque-les que se mantiveram motivados até o final.

Seja motivado para orar, para ler, para meditar, para pes-quisar, para elaborar trabalhos e estudos bíblicos. Se sentir-se sem motivação busque-a através do Espírito Santo. Faça petições a Deus e leia sua Palavra, pois são fontes inesgotáveis para sua reno-vação, e por final procure mantê-la acesa até findar o curso. “Se não existe esforço, não existe progresso.” Fredrick Douglas

Seja Organizado e Disciplinado a) Ore a Deus ao iniciar seus estudos e peça que lhe ajude a ter um maior proveito do assunto em pauta. b) Estude em lugares reservados. c) Evite ambientes com sons, ruídos e falatórios. Pois você pode perder sua concentração no estudo. d) Procure adicionar outros importantes materiais à cada lição a ser estudada, como por exemplo:

• Bíblias de Estudos: se possível, com traduções que sejam difer-entes.• Dicionários.• Concordância Bíblica.

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Proibida a comercialização• Livros: cujos assuntos sejam relacionados ao tema de cada lição.• Lápis e bloco para anotações.

e) Leia e estude cada matéria durante a semana, reserve pelo menos 1 hora por dia para fazer isso.

f) Faça anotações, especialmente àquelas que lhe causarem dúvidas.

g) Responda aos questionários assim que terminar de es-tudar cada lição. Eles irão fortalecer o assunto em sua mente.

h) Reserve períodos da semana para você elaborar trabalhos voltados à matéria estudada em cada mês.

i) Formule perguntas ao professor, assim tanto você como ele fi-carão cada vez mais abalizados no aprendizado.

Em suma, todos esses itens elaborados cuidadosamente pelo departamento de pedagogia do IB, são de um valor ines-timável para você, desde que procure segui-los conforme se seg-uem.

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Índice

Introdução

Lição 1Isaías - O Profeta Messiânico...........................................................06

Lição 2Jeremias - O Profeta Chorão............................................................38

Lição 3Ezequiel - O Profeta das Visões.......................................................58

Lição 4Daniel - O Profeta da Oração..........................................................77

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Isaías – O profeta Messiânico

Sua chamada e vocação (Isaías 1 a 6) Pouco se sabe sobre a vida desse profeta, cujo nome sig-nifica “salvação de Javé”, contudo, sabe-se que ele foi nascido de uma nobre família, muito influente por freqüentar a corte e por diversas vezes ter oportunidade de se envolver na diplomacia do seu tempo (Is 7:3,4). Foi casado com uma profetiza (Is 8:3) e teve pelo menos dois filhos. A tradição diz ter sido primo do rei Uzias. O profeta messiânico, como assim é conhecido, desen-volveu seu ministério basicamente entre os anos 740 a 700 a.C. Viveu a maior parte de sua vida em Judá, Reino do Sul, tendo sido contemporâneo da destruição de Israel, Reino do Norte, feita pe-los assírios em 721 a.C. Essa é também a época da fundação de Roma, Esparta e Atenas. Vale observar que Isaías foi contemporâ-neo dos profetas Jeremias, Oséias, Amós e Miquéias. Sua obra é considerada uma Mini-Bíblia, ou uma com-pilação de divinas revelações, profecias e relatos que procuram exortar o povo a colocar sua confiança em Deus para a as profe-cias em geral que ocupam grande parte da Bíblia e eventualmente, predizem o futuro. Aliás, prever o futuro não era exatamente a missão principal do profeta, e sim revelar a palavra de Deus a seus filhos o que, eventualmente, poderia conter elementos ref-erentes ao futuro. Os profetas muitas vezes, eram vistos de forma impopular porque tinham que exortar e repreender o povo o que obviamente desagradava a muitos, especialmente quando estavam se afastando de Deus. O próprio Isaías, possivelmente, terminou seus dias sendo perseguido e talvez até morto por conta das ver-dades que pregava. Seu manuscrito pode ser separado em duas grandes seções. O pano de fundo da primeira parte é Judá nos dias da As-

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Proibida a comercializaçãosíria dominadora. Já na segunda parte, o pano de fundo é o fu-turo cativeiro na Babilônia e o retorno do povo em dias que ainda viriam.

Autoria Pouca objeção se faz quanto à pessoa do profeta Isaías como o autor deste livro. Ainda que seja questionado por um pequeno grupo o fato de sido escrito por mais de uma pessoa, uma vez que se argumenta que uma só pessoa não poderia es-crever com tanta precisão sobre ambas as libertação e salvação, mostrando partes, tendo vivido apenas na primeira, historica-mente o julgamento sobre os que não crêem e as bênçãos sobre os que crêem. O povo vivia a realidade da destruição de Israel pelos assírios e a expectativa da conquista de Judá pelos babilônicos, o que viria efetivamente a acontecer cerca de 100 anos mais tarde, em 606 a.C., conforme previsto por Isaías. Geralmente os arautos “profetas”, eram chamados por Deus para cuidar da vida moral e religiosa do povo. Eram homens corajosos que falavam da parte de Deus ao povo e a governantes, denun-ciando os pecados de seus dias e apontando para os demais que haveriam de vir. Verifica-se que como foi o caso de Isaías. O as-sunto da multiautoria na realidade, não é relevante em presença da unidade, conteúdo e mensagem do livro. Deus poderia ter us-ado mais de um profeta para escrever o livro ou mesmo uma só pessoa, nesse caso, dotando-a da visão de futuro suficientemente detalhada para exortar, mostrar os Seus propósitos para o povo e por fim, autenticar a autoridade do profeta através de profecias altamente precisas. Esta primeira parte é uma das principais apresentações do livro não estando em ordem cronológica em relação ao capítulo 6, por exemplo, onde se encontra a chamada de Isaías. Há quem diga que esse episódio não foi exatamente uma chamada para ser um profeta de Deus, pois Isaías já o era, mas uma chamada para redirecionar a sua missão.

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Ressalto quatro coisas importantes que esse texto de hoje nos trás, e gostaria de nesta oportunidade destacá-los, pontos que trazem desdobramentos práticos para a nossa realidade atual: 1. Jeová se revelou ao profeta (6:1,4): a descrição de que Deus é sagrado uma constante no livro de Isaías. O que o profeta procura mostrar é que não há nenhum outro Deus como Javé em todo o universo. Ele é uma Pessoa que se relaciona com pessoas e se preocupa com elas. Essa revelação apresenta-se de forma pro-gressiva no Antigo Testamento. Inicia-se com Deus se revelando mais diretamente e quase que exclusivamente aos seus profetas e vai alcançar seu clímax quando Javé toma a forma de carne, através do Messias, o Ungido Sofredor e Salvador, que veio para se relacionar pessoalmente com cada um de nós, para carregar as nossas iniqüidades e sarar as nossas dores. 2. Sua revelação trouxe arrependimento ao profeta (6:5): só conseguimos nos aproximar de Deus à medida que nós nos inspiramos com a visão da glória Dele. Precisamos perceber Deus corretamente. Se isso ocorrer, Ele nos estará inspirando e nos mostrando “quão impuros são os nossos lábios” e quão necessário é mudarmos a nossa própria vontade e talvez o rumo de nossa vida. Ele nos estará dando direção e não medo. 3. Sua revelação mudou a vida do profeta (6:6,7): “con-hecereis a verdade, e a verdade vos libertará”. O conhecimento da verdade é a revelação transformadora, na vida da pessoa. Quan-do se recebe a revelação de Deus em sua majestade, soberania e glória, a tendência é a pessoa se convencer de sua condição pec-aminosa. Quando isso ocorre, ela encontra purificação. E após isso, quando ela se propõe a colocar a sua própria vontade nas mãos de Deus, respondendo à Sua chamada para o serviço, Deus passa a realizar Sua obra através daquela pessoa. Deus realiza coi-sas não só através de grandes profetas como Isaías, mas através de pessoas simples como nós. 4. Sua revelação convenceu o profeta de sua chamada

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Proibida a comercialização(6:8): para que Isaías pudesse receber o chamado do Senhor ele primeiro teve que ter sua iniqüidade retirada e seus pecados per-doados pelo toque da brasa em sua boca. O profeta só conseguiu ouvir a voz de Deus porque se colocou disponível. A vontade de Deus se revela à medida que nós nos predispomos a fazer a von-tade de Deus que já conhecemos. Esta cena da chamada do profeta Isaías, nos ensina tam-bém que nunca estamos suficientemente prontos para realizarmos sua obra. É necessário, primeiro que Deus se revele a nós, que nos mostre sua glória, seu respendlor, que toque em nossos lábios, em nossa palavra, em nossa vida e em nossa vontade para que seja-mos salvos e comissionados. É Ele quem nos chama, nos perdoa e nos convida a colocarmos nossa vontade à disposição Dele. Só assim poderemos dizer: “eis me aqui Senhor, envia-me a mim”. A vida no reino do Messias (Isaías 7 a 12)Vislumbramos os esforços e a comoção mundial em prol da paz neste século, contudo, percebe-se que esse anseio é muito antigo e que permanece insolúvel para o homem. Em algumas regiões do globo, onde ocorrem guerras, este desejo de paz é ansiosamente buscado. Em outros lugares, onde não se têm tensões de ordem política, encontram-se. Porém, conflitos diversos, da violência urbana às crises nos relacionamentos interpessoais. O resultado acaba sendo o mesmo: dor, às vezes medo, desconforto e inse-gurança. O que se verifica na verdade, é que os conflitos, sejam eles entre países, facções ou pessoas, têm a sua origem vinculada à presença do mal. Contra o pano de fundo de guerra e destruição do Reino de Israel pelos Assírios, Isaías nos apresenta no capítulo 9, uma profecia sobre a vinda do Messias. O termo, de origem hebraica, significa o “Ungido” e tem a palavra “Cristo” no Novo Testamento, como a tradução grega da palavra “Messias”. O ponto central apresentado por Isaías é que a paz com-pleta e duradoura na vida da nação bem como na vida de cada pessoa, só poderá vir com o reino de justiça do Messias divino. Ele

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Proibida a comercializaçãoé Maravilhoso, é Conselheiro, é Deus Forte, é Pai da Eternidade e Príncipe da Paz.

Os versos 2 a 5 nos fazem observar dois pontos interessantes: A luz raiou sobre um povo que andava em trevas: “O povo que andava em trevas viu uma grande luz”. A linguagem poética do verso 2 fala daqueles que andavam em trevas a qual nos traz a idéia de adversidade, de desespero e de tristeza. Fala em seguida daqueles que viram uma grande luz que simboliza a paz, a alegria e a salvação. O povo de Israel que estava sofrendo com o domínio Assírio poderia enxergar à frente um maravilhoso novo começo. Alegria e paz com o fim das guerras: nos versos 4 e 5 o profeta prevê um tempo em que o Senhor quebraria a opressão do inimigo e faria cessar a guerra. Quando olhamos, porém a história política de Israel e dos demais povos nos anos subseqüentes, bem como a realidade de nosso século e da nossa vida cotidiana, vem-nos a pergunta se efetivamente essa profecia de Isaías foi cum-prida. A profecia de Isaías vai apresentar não apenas um Messias que traz a paz política, mas, sobretudo que Alguém que promove a paz dentro do coração do ser humano que, em conseqüência, contribui para a paz política. O profeta fala que o governo estaria sobre os ombros do Messias. A paz completa um dia seria trazida a terra. Isaías previu com razoável precisão que o Messias seria Jesus de Nazareth, como será visto em estudo futuro desta série. É interessante notar, porém que Isaías não chegou a ver que esse tempo se completaria com duas vindas do Messias. Somente após a chegada histórica do Messias, Jesus de Nazareth, ocor-rida 700 anos depois, é que se compreendeu um pouco mais so-bre o tempo de Deus e sobre a segunda vinda do seu Ungido. O governo sobre “seus ombros” se completará na segunda vinda do Messias, quando o mal será vencido definitivamente. Se compreendermos que a natureza do Messias transcende o papel político e ampliarmos nosso entendimento sobre Ele,

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Proibida a comercializaçãocomo aquele que veio ao mundo para carregar sobre si as nossas iniqüidades e nos salvar, passamos a ter uma relação pessoal com Ele e não apenas uma relação histórica. O Ungido pode fazer ces-sar as guerras que cada pessoa trava dentro de seu coração, o ódio, as invejas, as discórdias, os ciúmes e toda sorte de sentimentos negativos que traz a infelicidade. E isso pode ocorrer nesse tempo e não apenas em um futuro distante. O Messias pode reinar hoje no coração de qualquer pessoa que o reconheça e o aceite como Salvador e Senhor, trazendo-lhe plenitude e vida. O Prometido Ungido é a nossa paz: o conceito de um Mes-sias não apenas político e histórico mas de um Messias Salvador e pessoal, vai progressivamente sendo revelado nas várias profe-cias de Isaías e em muitos outros textos da Bíblia, tanto no Antigo quanto no Novo Testamento. Em Efésios 2:14 a 17 por exemplo, encontramos uma abordagem que nos ajuda a compreender o al-cance da natureza do Ungido. Jesus, o Messias não traz apenas a paz, mas Ele é a paz (v14). O texto diz que ele também faz a paz (v15) e também, que Ele proclama a paz. Ele nos dá acesso à ela. Ele derruba as barreiras que nos impedem de encontrá-la e de permanecer nela. A paz interior não remove simplesmente todas as dificul-dades que temos à nossa frente como se fosse um passe de mágica, mas ela contribui para superá-las e nos ensina a suportá-las e viver com elas se necessário. A vida de gozo no Reino pode ser alcançada integral-mente quando alguém resolve ter um encontro pessoal com Jesus, o Messias de Deus, o Príncipe da Paz. Aceitá-lo como Salvador é ter compromisso sério com Ele. É renunciar a si mesmo, é negar o próprio “eu” e deixar que a própria Paz dirija os próprios passos.

A Autoridade do Governo de Deus (Isaías 13 a 18) É descrito nos capítulos a seguir (13 a 23) de Isaías o en-frentamento das profecias e julgamentos contra as nações desafios dos inimigos em um tempo anterior aos conquistadores seria es-

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Proibida a comercializaçãotabelecimento do reinado do Messias. A época histórica desses ju-lgamentos corresponde às invasões dos assírios e babilônicos, que ocorreram durante os anos de vida de Isaías ou logo após, dentro de uma janela de 100 anos. É importante notar porém, que apesar do cumprimento dessas profecias terem ocorrido antes da vinda do Messias histórico, Jesus de Nazareth, elas se aplicam também a um tempo mais escatológico, à medida que espera-se haver uma segunda vinda do Messias (não claramente prevista pelo profeta), levando portanto, a aplicabilidade dessas profecias não só para os tempos antigos mas também para aqueles ainda localizados em nosso presente e em nosso futuro.

Louvor pela queda da Babilônia (Isaías 14)

O nosso texto começa com palavras de conforto e esper-ança para o justo, que deve buscar forças para suportar o sofri-mento e a opressão daqueles que dominam. O verso três apresenta promessa de livramento contra o cansaço das lutas, contra as an-gustias e contra a servidão. O cansaço, resultante do trabalho de resistência, da pre-paração do campo e do enfrentamento dos desafios dos inimi-gos conquistadores seria recompensada com o descanso. O termo usado é comum em várias profecias e tem a ver com o “shabat” de Gênesis 3, quando o descanso é encontrado pelo Senhor após seu trabalho de seis dias de criação. Aqueles que confiam no Senhor poderão encontrar descanso de suas lutas no Messias libertador. As angústias e a servidão descritas neste verso têm a ver com a agitação, a incerteza e a perda da liberdade advindas da chegada dos invasores. Essas seriam agonias que Israel terá que experimentar e somente a intervenção do Senhor poderia resolvê-las. O profeta antecipa o tempo em que não mais haveria motivo para tais angústias e aprisionamentos e o povo poderia cantar um hino, ou um motejo

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Proibida a comercializaçãocontra a Babilônia opressora.

O verso 4 segue falando sobre esse motejo contra o colap-so da Babilônia. Nesta oportunidade, vale destacar dois pontos:

1. Quem são os opressores do povo de Deus? A Assíria era a maior ameaça nos tempos iniciais do ministério de Isaías, a partir de sua chamada em 742 a.C. e até 721 a.C. quando o reino do Norte, Israel, é destruído por

de resistência, da preparação do Senaqueribe.

2. A restauração não ficou restrita a um momento histórico. A destruição de Judá pela Babilônia e o cativeiro do povo viria a ser o caminho para a restauração de Israel 70 anos depois, em 536 a. C. Nessa época porém o Messias ainda não havia chegado. Mais de 500 anos se passariam até que Jesus de Nazareth nascesse em Belém da Judéia, trazendo libertação e salvação. O Mes-sias histórico se foi fisicamente da terra mas prometeu voltar uma segunda vez. O motejo contra a Babilônia deverá portanto, con-tinuar a ser cantado por todo esse tempo, até que Ele volte. A despeito da opressão continuar a existir, o livramento do Senhor também continuará presente ao longo dos séculos.

Um dia cessará a opressão

O motejo ou hino de vitória continua com os versos 5 e 6 declar-ando que Deus período de cativeiro. É quebra a vara dos perver-sos e o cetro interessante notar que a História sempre mostra que a opressão se alterna no poder, mas o fato é que ela está sempre presente. Em nossas vidas hoje, talvez não tenhamos opressões políticas como aquelas enfrentadas por Isaías e pelo povo de Deus

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Proibida a comercializaçãomas continuamos a ter Assírias e Babilônias que continuam a nos oprimir seja com a violência urbana, a miséria, as desavenças, os falsos testemunhos, os enganos, os desentendimentos familiares, o desemprego, a falta de oportunidades. Trazendo as palavras do profeta para os nossos dias, somente a mão forte do Messias liber-tador poderá nos curar da fadiga, das angústias e da opressão dos dominadores que feriam os povos com furor. O verso 7 afirma que o julgamento dos opressores trará grande alegria para o povo e o verso 8 fala da segurança restaurada a ponto de até as árvores se alegrarem. Um ponto curioso é que os versos 9 a 11 falam de uma comoção no inferno pelo fato do opressor babilônico ter sido atirado em suas profundezas.

O Senhor quebra a opressão do domínio do mal. Todo aquele que o aceita como Salvador e Libertador poderá ter restau-rada sua segurança e alegria, mesmo em meio às adversidades que fazem parte da realidade humana.

Que possamos ter o Senhor, Rei dos exércitos conosco e que possamos cantar como os antigos quando libertos da opressão babilônica: “...como cessou o opressor ! Como acabou a tirania ! Quebrou o Senhor a vara dos perversos e o cetro dos domina-dores” ... Já agora descansa e está sossegada toda a terra! Todos exultam de júbilo”.

A rebelião humana (Isaías 19 a 24)

Como aludido no estudo anterior, os capítulos 13 a 23 de Isaías apresentam um conjunto de profecias e julgamentos con-tra as nações. Algumas delas são claramente nomeadas, tais como Assíria, Babilônia, Egito, Tyro, Moabe, Edom, Amom e Arábia. Como será visto ao longo desse estudo, o escopo dessas profecias, entretanto, não se limita a essas nações ou povos mas alcançam

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Proibida a comercializaçãodimensões maiores, tanto no tempo como geograficamente.

Passado ou futuro ?

Um dos desafios que encontramos ao estudar um texto como o de Isaías, é poder separar com clareza o que se refere a acontecimentos já ocorridos na História e aqueles que pertencem a um futuro mais escatológico, isto é, que têm a ver com o final dos tempos. Há vários casos inclusive, em que a profecia se aplica a ambos os casos, especialmente, quando se identifica significados também simbólicos para essas nações. É o caso da Babilônia, por exemplo, que além de ter sido um império (e uma cidade fortifi-cada) é também entendida como maldade espiritual e corrupção. No livro do Apocalipse, são vários os trechos que falam contra a “Babilônia”, nesse caso, claramente uma menção não mais à Babilônia histórica. Outras cidades também têm seu significado histórico ampliado nesses capítulos de Isaías. É o caso de Mo-abe, Edom, Amom e a “Arábia”, que são vistas como sinônimo de ciúme, luxúria, raiva, inveja e todas as coisas que Gálatas 5:19 menciona como as “obras da carne”. Uma outra associação que vamos encontrar, é aquela que se refere à cidade de Tyro, antiga capital da Fenícia (hoje Beirute), que é vista como um sinônimo de materialismo. Finalmente, o Egito é visto como sinônimo de corrupção e profanação

Profecia contra o Egito (cap 19)

Verifica-se que os primeiros quinze versos deste capítulo 19 de Isaías se referem a eventos já ocorridos. Mas a partir do verso 16, encontramos uma predição sobre uma mudança futura no Egito. Essa mudança parece ocorrer em seis Fases, todas elas começando com a expressão “naquele dia”. Será que o fato de so-mente o Egito, dentre as nações árabes, ter assinado até hoje um tratado de paz com Israel tem alguma ligação com esse texto ? O

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Proibida a comercializaçãofato é que, de acordo com essa passagem, o Egito passaria a ser uma nação temente à Deus que, juntamente com a Assíria, forma-ria uma grande aliança com Israel no final dos tempos. Trata-se de um caso histórico do futuro ou um caso simbólico ? Será que a profecia não estaria apontando que povos, antes completamente inimigos, poderiam vir a se unir tendo como elemento comum a dependência e o reconhecimento do Deus Javé como Senhor e Salvador ?

As etapas da transformação (Isaías 19:16 a 25):

Reconhecimento (v16):O Egito parece ser a primeira nação que, reconhece que a volta do Messias irá restaurar o seu povo Israel.

Unificação cultural (v18): naquele dia haverá cinco ci-dades do Egito que falarão a língua de Israel.

Identidade religiosa (v19): naquele dia será construído um altar no meio da terra do Egito. Os egípcios passarão a adorar o Deus de Israel.

Salvação e livramento: A salvação não é exclusiva de Israel. Deus também enviará ao Egito um salvador e defensor que há de livrar aquele povo.

Integração geográfica (23): naquele dia, haverá uma estra-da ligando o Egito e a Assíria através de Israel, com livre trânsito na região. Identidade religiosa ampliada (v24 e 25): naquele dia os assírios também poderão cultuar a Deus juntamente com Israel e o Egito. Os povos e aqueles que forem tementes à Deus serão abençoados, independentemente de suas raças e de seus feitos ru-ins do passado.

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As nações e as pessoas não mais estarão em guerra e a paz reinará entre todos.

A humanidade não pode encontrar a paz em seus próp-rios níveis de relacionamento porque “a nossa luta não é contra o sangue e a carne, e, sim, contra os principados e potestades, contra os dominadores deste mundo tenebroso, contra as forças espirituais do mal, nas regiões celestes” (Efésios 6:12)

O fracasso histórico da Babilônia não significou a extinção do mal. A Babilônia ainda está presente hoje bem como as demais nações com todo o mal e corrupção humana que elas represen-tam, tais como o egoísmo, o materialismo, o ódio, a soberba e o se achar tão auto-suficiente que não mais se precisa de Deus.

Só aqueles que admitem suas limitações humanas e sua dependência de Deus poderão sentir os efeitos da obra redentora do Deus Javé em suas vidas. Com isso, poderão se sentir incluídos no refrão de Isaías 19:25 “porque o Senhor dos exércitos os aben-çoará, dizendo: Bendito seja o Egito, meu povo, e a Assíria, obra das minhas mãos, e Israel, minha herança”.

O Senhor é adorado por sua compaixão (Isaías 25 a 30)

O título do nosso estudo de hoje anuncia dois dos atribu-tos de Deus: justiça e misericórdia. Nos capítulos 23 a 35 de Isaías são apresentados diversos julgamentos sobre a terra. São encon-tradas também palavras de misericórdia, encorajamento e avisos. Neste estudo e no próximo, estaremos identificando algumas des-sas palavras através das quais Deus mostra a Sua misericórdia.

No capítulo 28, Isaías na qualidade de profeta de Deus, introduz uma série de seis “Ais” contra as nações. Eles funcionam

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Proibida a comercializaçãocomo sinais mostrando alguns dos perigos que se seguem e as oportunidades e formas de se evitá-los. Neste estudo, estaremos abordando três desses seis “Ais”. Além do desafio já mencionado em estudo anterior, ref-erente ao tempo correto da aplicação da profecia, se passado ou futuro, há um outro, que é a aplicabilidade do texto. Nesse caso, busca-se entender se a profecia se aplica de forma literal a um contexto histórico e geográfico ou a um contexto mais amplo de experiência de vida, onde todos estamos inseridos. O que é literal e físico para Israel, para nós, é uma figura que se aplica aos aspec-tos espirituais do nosso dia-a-dia. Esse será o foco desse nosso estudo. O primeiro “Ai” – prioridades erradas (28:1-3): Este primeiro “Ai” se refere à cidade de Samaria, a principal cidade da tribo de Efraim e capital do Reino do Norte, Israel. Ela era bela e cercada por um rico e fértil vale. Era a glória, o orgulho e a alegria do povo daquele Reino. Representa a condição moral daqueles que valorizavam os praz-eres e a luxúria em primeiro lugar. A profecia é um aviso contra priorizar as coisas materiais e os prazeres da vida, em detrimento dos valores espirituais. A figura usada pelo profeta, para descrever esse tipo de vida, que acaba levando ao descontrole pessoal, é a do bêbado. O bêbado é aquele que decide colocar a bebida como a prioridade de sua vida, a ponto de perder o controle das de-mais coisas. Adotar prioridades erradas, desprezando as coisas de Deus, era uma constante naqueles dias de Isaías e continua a ser hoje também. Em Mateus 6:31-34 vamos encontrar Jesus exatamente abordando esse mesmo tema de prioridades, quando ensina a importância de buscar primeiramente o Reino de Deus e a sua justiça para que as demais coisas nos possam ser acrescentadas. O segundo “Ai” – religião mecânica e formal (29:1): Era esperado que Jerusalém, aqui representando o povo escolhido, falasse ao mundo como conseqüência do seu relacionamento com

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Proibida a comercializaçãoDeus. Mas o que Israel fez e o que isso acarreta ? Nos versos 13 a 14 o texto afirma “...já que esse povo diz que é meu mas não Me obedece, já que o coração dessa gente está longe de Mim, já que a sua religião não passa de um monte de leis feitas por homens, que aprenderam de tanto repetir, Eu vou dar uma grande lição a esses fingidos ...“ O problema de Israel era a religião externa, apenas mecânica e ritualística. Em nosso caso, como vemos as coisas de Deus ? Como parte de nossa vida diária ou apenas como formali-dades e rituais a serem cumpridos ? O terceiro “Ai” – Deus não se importa (29:15): O perigo aqui se refere ao grave erro de pensar que Deus não vê o que ac-ontece em nossa vida. “Pobres dos que procuram esconder os seus planos de Deus, que tentam fazer tudo no escuro, pensando con-sigo mesmo: Deus não vai nos ver. Deus não sabe nada do que está acontecendo”, diz o verso 15. Muitos não crentes pensam que Deus é apenas uma forma de energia tão distante que não tem tempo e nem capacidade de olhar cada pessoa. Por outro lado, há alguns crentes, que têm um relacionamento pessoal com Deus, mas acham que podem ter pensamentos maus, praticar maledicências, falso testemunho, in-iqüidades diversas, ter atitudes de ódio ou simplesmente virar o rosto para um outro crente e achar que Deus não vê essas atitudes ou as vê, mas simplesmente não vai fazer nada à respeito. No verso 16 o profeta reage dizendo “Como vocês estão errados ! Como são tolos ! Será que o oleiro que faz os jarros não é maior do que o barro ?” Será que Deus não conhece em detalhes o que acontece com cada um ? O Deus de retidão e de justiça também é um Deus de no-vas oportunidades e de perdão. Nos versos 18 e 19 que se segue, vemos uma mudança de atitude naqueles que viviam no erro. Em vez da confiança orgulhosa de que podem seguir suas vidas impunemente, eles mudam. Os surdos passam a ouvir as palavras do livro e os cegos, ficam livres da tristeza e da escuridão, passando a enxergar os planos de Deus. Esperamos que cada um

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de nós possamos ter sempre presente em nossas vidas o Deus de paz, que está sempre pronto a nos perdoar, resgatar, salvar e aben-çoar desde que O procuremos de verdade. Que possamos deixar de lado as prioridades erradas, a re-ligião mecânica e formal e o pensamento de que podemos errar à vontade porque Deus pouco ou nada se importa.

A Visão do local do Reino do Messias (Isaías 31 a 36)

Como vimos um pouco antes em nossa lição, o profeta Isaías introduz uma série de seis “Ais” contra as nações começan-do no capítulo 28 e indo até o 35. Eles funcionam como sinais mostrando alguns dos perigos que se seguem e as oportunidades e formas de se evitá-los. No Estudo 5, abordamos três dos seis “Ais” ou três avisos contra as prioridades erradas, contra a religião mecânica e formal e contra o pensamento de que podemos errar à vontade porque Deus pouco ou nada se importa. No presente estudo, abordaremos os três “Ais” restantes que nos são trazidos por Isaías. O quarto “Ai” – a auto suficiência (30:1-2): Este é um aviso ao perigo da auto confiança daqueles que desprezam as coisas de Deus de forma rebelde e arrogante. Esta tipicamente é a condição daqueles que não desejam ouvir a voz de Deus. São como “fil-hos mentirosos, que não querem ouvir a Lei do Senhor” (v9). É a condição também de muitos crentes que estão no ambiente da igreja mas relutam em deixar que o Espírito Santo guie suas vidas. Acham-se muito bons e superiores aos seus irmãos em Cristo. São rebeldes em relação à voz do Pastor e às vezes nem sequer dão o dízimo porque acham que a Igreja é incompetente no uso dos re-cursos do Senhor e por isso resolvem eles mesmos o que fazer com o seu dinheiro. O verso 15 mostra o que é necessário: con-verter a sua autoconfiança em confiança no Eterno Deus. Em se

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Proibida a comercializaçãovoltando para o Senhor, o crente achará sossego e tranqüilidade. Voltar-se para o Senhor significa colocar a própria vonta-de nas mãos Dele. O resultado da entrega é poder sentir-se guiado por Ele. A Palavra nos assegura no verso 21 que se entregarmos nossa vida a Deus Ele nos estará orientando seja quando nos des-viramos para a direita seja quando nos desviramos para a esquer-da. O quinto “Ai” – os conselhos do mundo (31-1-2): O verso 1 exclama “ai dos que descem ao Egito em busca de socorro”. O Egito neste contexto é visto como símbolo da sabedoria do mun-do. Aqui, o perigo não está na autoconfiança como visto anteri-ormente mas em colocar a confiança e a solução dos desafios em coisas materiais ou pessoas que não são de Deus. Não quer dizer que não possamos depender de coisas e de pessoas mas a fonte da nossa confiança deverá estar no Senhor e tais coisas e pessoas de-verão estar primariamente alinhadas com a vontade de Deus para nossas vidas ou simplesmente as deixaremos de lado. O que pre-cisamos é um Rei em nossas vidas de quem possamos depender e em quem possamos confiar. Esse Rei é o Senhor Jeová em pessoa. É Ele quem reina com justiça e retidão como nos diz o verso 1 do capítulo 32. O sexto “Ai” – contra os destruidores (33:1): Este sexto aviso é diferente dos anteriores no sentido de que ele não é con-tra Judá, Jerusalém ou Israel, mas contra seus inimigos, especifi-camente aqueles da região da Assíria. Isaías 33:1 fala em “per-fídia” que significa deslealdade e traição. Tem a ver com o que mente, que é enganador e traiçoeiro. Senaqueribe, rei da Assíria, assolador de Judá e das nações vizinhas foi traiçoeiramente as-sassinado pelos seus próprios filhos que desejavam usurpar seu trono. Este aviso pode também se aplicar a muitos crentes que têm atitudes de desamor através da maledicência, do falso teste-munho, do não perdão, do preconceito, do julgar o próximo, da inveja, da raiva e até mesmo do ódio. O que se pode fazer quanto a isso ? Os versos 21 e 22 nos dizem que Deus será o nosso refugio.

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Como um rio que protege uma cidade da invasão, Deus poderá nos proteger de cairmos no pecado de querermos destruir o nosso próximo. O verso 24 finaliza que o povo que habita Jerusalém, ou seja, aquele que buscar habitar na presença do Senhor, terá as suas iniqüidades perdoadas.

Vimos como Isaías nos mostra seis avisos contra pecados e atitudes erradas. O contexto histórico original considera o am-biente de ameaça de invasão e conquista de Judá pelos Assírios. A amplitude da profecia porém se estende no tempo alcançando também o nosso contexto de hoje e o nosso futuro, à medida que o profeta sinaliza claramente para o tempo em que o Messias esta-belecerá o Seu Reino e irá restaurar a terra. O profeta nos fala con-tra prioridades erradas, contra a religião mecânica e formal e con-tra o pensamento de que podemos errar à vontade porque Deus pouco ou nada se importa. Ele nos alerta ainda contra a nossa auto suficiência, contra a seguirmos conselho do mundo e contra o fim daqueles que têm no desamor uma prática chegando mesmo até a buscar a destruição do próximo. No capítulo 35 o profeta aponta claramente sobre o tempo quando o Eterno abrirá os olhos dos cegos e desimpedirá os ouvidos dos surdos (v5); quando os coxos saltarão como cervos e quando a língua dos mudos cantará; pois naquele tempo, “águas arrebentarão no deserto e ribeiros surgirão no descampado”. Esse é o tempo em que o Messias retornará para estabelecer o Seu Reino. Será um tempo em que “a areia esbrase-ada se transformará em lagos, e a terra sedenta em mananciais de águas; onde outrora viviam os chacais, crescerá a erva com canas e juncos” (Isaías 35:7). Possamos cada um de nós ter a terra sed-enta de nossas vidas de imperfeições e pecados transformados em mananciais de perdão e vitórias.

Infortuno Humano e Graça Divina (Isaías 37 a 42)

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Proibida a comercializaçãoDentre os capítulos propostos para essa lição, os de número 37 a 39 têm como pano de fundo o declínio do império assírio e o surgimento do império babilônico como potência dominadora. A Assíria havia sido a ameaça para o povo de Israel, dentro da primeira metade do livro de Isaías, até o capítulo 39. Foi ela quem derrotou o Reino do Norte, cuja capital era Samaria. Na segunda metade do livro, a Babilônia se torna por sua vez, o grande in-imigo do Reino do Sul, cuja capital, Jerusalém, seria finalmente conquistada, conforme profecia de Isaías. A época do presente estudo é exatamente aquela entre o fim do domínio assírio e o início do domínio babilônico. Ezequias, rei de Judá encontra três ameaças que comprometem sua situação como líder do povo de Israel: sofre uma tentativa de invasão ainda pelas forças assírias, é acometido por uma doença de morte e é assediado por embaixadores babilônicos. Esses três pontos serão abordados no decorrer deste estudo. Uma tentativa de invasão: de acordo com o relato bíbli-co ainda no capítulo 36, Senaqueribe, rei da Assíria já havia não só conquistado todo o Reino do Norte mas já havia domina-do todas as cidades fortificadas do Reino do Sul, Judá. Em uma manobra final, envia seu general Rabsaqué para sitiar e ata-car Jerusalém. Ele anuncia seu intento de destruir a cidade e ainda afronta a Ezequias e a Jeová, dizendo que o Deus de Israel não seria poderoso o suficiente para impedir aquela conquista (36:4-5). Aqui encontramos um interessante paralelo com a vida de hoje quando crentes sofrem ameaças seja no trabalho, na e s -cola, ou em ambientes diversos. A fé e as convicções cristãs são criticadas ou ridicularizadas, a ponto de trazerem ansiedade, in-justiças e sofrimento para o crente. Quando o rei Ezequias ouve aquelas provocações do gen-eral assírio, ele se cobre com roupa de saco (37:1) e procura con-selho com o profeta Isaías. O rei de Judá demonstra sua humildade perante o Senhor Jeová, e seu reconhecimento de que aquela crise

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se devia grandemente a ele mesmo, que não estivera andando se-gundo os caminhos do Senhor. A resposta de Deus vem através de uma profecia de Isaías. Judá seria livrado e os assírios seriam derrotados. Senaqueribe havia não só desafiado Judá mas havia de-safiado ao Senhor Jeová. O restante do capítulo 37 mostra como uma praga aniquilou o exército assírio e como Senaqueribe foi assassinado pelos próprios filhos. A Assíria nunca mais seria uma potência política. Como reflexão para nossas vidas, é importante lembrar-mos-nos que Deus não deseja que vivamos com medo, ameaçados e ansiosos. Não é pela nossa força que iremos derrotar o exército assírio que muitas vezes nos cerca, mas pelo poder do Senhor dos Exércitos. Dentro dos Seus propósitos, poderemos ser livrados. Nos-sa busca sincera do conselho de Deus e de sua presença em nossas vidas será a chave para a nossa vitória. Uma doença mortal: o capítulo 38 de Isaías apresenta um novo teste ou desafio à fé de Ezequias. Os versos 1 a 3 informam que ele fica doente ao ponto de quase morrer. Com cerca de 39 anos, o rei de Judá clama ao Senhor Jeová pela sua vida. Deus não só lhe concede mais 15 anos como lhe assegura que defenderá Je-rusalém dos assírios (38:4-6). Teria Deus livrado Ezequias apenas para encorajá-lo e beneficiá-lo individualmente ? É interessante observar que este livramento de Deus foi autenticado por um sinal em que a sombra do sol retrocedeu. Este fenômeno foi us-ado por Deus para chamar a atenção dos babilônicos. A chegada desses embaixadores seria o começo da futura invasão babilônica. Deus livrou Ezequias de dois problemas mas tanto o rei como o povo não estavam mantendo sua fidelidade a Jeová. A provação do cativeiro na Babilônia finalmente acabaria por ser usada por Deus como forma de correção e ensino do seu povo.

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A visita dos embaixadores: o capítulo 39 nos informa que Ezequias, ao contrário do que ocorrera quando da ameaça dos as-sírios, ignora a palavra do profeta Isaías quanto à forma de receber esses embaixadores. Cheio de orgulho e autoconfiança ele simplesmente exibe seus tesouros e seus segredos militares (39:2). Como conseqüência, Isaías profetiza nos versos 5 e 7 que tudo aquilo seria levado para a Babilônia. Nada seria deixado. Este episódio nos ensina que quando estamos em crise, somos atacados ou ameaçados, nossa tendência é buscarmos o Senhor para que ele tenha misericórdia de nós e nos livre do sofrimento. Quando porém, nos são oferecidas novas oportuni-dades profissionais, um novo salário, presentes ou benefícios ma-teriais, tendemos a nos achar muito valiosos, orgulhosos e auto suficientes, a ponto de acharmos que podemos resolver o assunto sem a ajuda ou o conselho de Deus. No caso de Ezequias, onde houve sofrimento e onde houve misericórdia ? Vale ressaltar que a misericórdia de Deus caminha jun-tamente com a sua justiça e dentro de seus propósitos. Seria um erro de nossa parte achar que nada de mal ocorrerá conosco por sermos crentes e por Deus ser misericordioso. Ezequias foi objeto desta misericórdia quando Deus o livrou dos assírios e lhe deu mais 15 anos de vida, mas não o manteve imune aos julgamentos subseqüentes. A rebeldia do povo e o orgulho e autoconfiança de Ezequias acabaram por levar os babilônios a destruírem Judá. A despeito de nossos erros a misericórdia de Deus porém sempre se mostrará disponível Ele nos provê o conforto, a segu-rança e a esperança de que poderemos ser mais do que vence-dores não pela nossa força mas pelo Seu poder.

Deus abençoa e guarda o seu povo (Isaías 43 a 48)

Deus é Senhor da História

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A Babilônia viria conquistar Jerusalém e levar cativos seus habitantes em 606 aC. Além de profetizar esse fato histórico cerca de 100 anos antes de sua ocorrência, o profeta Isaías mostra de forma precisa, que a Babilônia, um dia, também seria conquis-tada. O capítulo 45 inicia com uma declaração de Javé a Ciro, seu “ungido”. Este comandaria as forças persas que derrubariam o im-pério da Babilônia e libertaria o povo judeu cativo naquela terra. O profeta aponta para a tragédia do cativeiro mas também aponta para a esperança e a alegria da libertação do povo de Deus. Ciro surge como um símbolo do Messias que haveria de vir e libertar para sempre os oprimidos pelas forças do mal. Em Isaías 45:4-5, a palavra nos diz que Ciro não conhe-cia a Javé mas que Este o escolhera como um instrumento para libertar Israel. É interessante notar como em várias circunstân-cias, Deus realiza seu plano mesmo que seja através daqueles que não O conhecem. Não se trata de pré determinar que alguém será usado para um dado papel, violando assim o livre arbítrio mas sim, que Deus é soberano quanto ao desenrolar da História. Caso Ciro não respondesse à escolha de Javé para aquela missão, Deus haveria de realizá-la de alguma outra forma. Deus usa o seu povo como instrumento para realizar seus planos mas se este estiver em rebeldia, distante, impedido ou mesmo não estiver responsivo ao seu chamado, Ele terá suas alternativas. Seus planos serão reali-zados. Vale à pena ressaltar porém, que, aqueles que são usados por Deus, mas estão em sintonia consciente com Ele conhecendo seus propósitos e seus planos, certamente experimentam grande sentimento de realização e contentamento.

Deus salva e abençoa o seu povo

Ciro e os persas acreditavam que havia um deus da luz e um deus das trevas. No verso 7 do capítulo 45, Javé afirma porém,

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que Ele mesmo forma a luz, cria as trevas e é Senhor de todas as coisas. No verso 9, Javé fala contra aqueles que, orgulhosos e arrogantes, se acham senhores do seu próprio destino. Na feitura de um vaso, como poderia o barro questionar aquele que lhe dá forma e define a sua utilidade ? Como o homem poderia se opor ao seu Criador ? Como poderia querer seguir seu próprio caminho? No verso 22, Javé afirma “olhai para mim, e sedes sal-vos, vós, todos os termos da terra; porque eu sou Deus e não há outro”.A proteção e bênção de Deus vêm e são para todos mas é necessário que olhemos para o Senhor, despojemo-nos do nosso “eu” deixando que o Deus Criador dirija nossos planos, nossa visão e nossa vontade.

Javé e os deuses da Babilônia

Um outro ponto a considerar é que aqueles que leram ini-cialmente as palavras do profeta sobre o cativeiro, talvez não ten-ham compreendido como sua própria divindade permitiria que fossem conquistados e escravizados. A cultura da época entendia que os deuses estavam associados ao território ou região geográ-fica onde o seu povo habitava. Quando um povo conquistava a terra de um outro povo, pressupunha-se que os deuses dos con-quistadores derrotavam os deuses dos conquistados. Se o Povo de Israel estava sendo derrotado pelos babilônicos Javé não estaria também sendo derrotado? Isaías mostra que à despeito da derrota futura do Povo de Israel, Javé continuaria soberano. No capítulo 46 Isaías anuncia que os deuses da Babilônia não apenas são falhos na salvação do seu povo mas têm que ser resgatados e carregados por alguém pois eles não têm como andar sozinhos. Trata-se de uma menção às imagens de tais deuses. Em contraste, Javé não precisa ser car-regado em procissão pois Ele tem existência própria e se move de

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forma independente. Apesar de permitir a derrota e o exílio do seu povo,Javé não o abandonaria. Ele, à seu tempo, salvaria seu povo. Apesar da Assíria e depois a Babilônia deterem o poder de conquista, seus deuses não foram responsáveis por isso. Javé, sim, foi Aquele que concedeu esse poder a eles.

Javé livra seu povo do cativeiro O profeta enfatiza no capítulo 46 que o Povo de Deus, po-deria ser conquistado e se tornar cativo apesar do poder soberano de Javé. Na realidade, era o poder de Javé que permitiria que o seu próprio povo fosse levado para a Babilônia. Seria um período de castigo, de provação e de aprendizado. Fazendo um paralelo com os nossos dias, pode-se afirmar que os crentes também po-dem ser objeto de um exílio ou cativeiro em uma das Babilônias da nossa atualidade, seja a Babilônia da falta de saúde, falta de emprego, de paz, de harmonia, de experiências duras oca-sionadas por nossas próprias decisões erradas e de tantas outras crises que nos cercam. O texto porém é rico no encorajamento quanto ao livramento que Javé pode trazer a todos os que Nele confiam. No verso 13 Isaías anuncia que a salvação não tardará. No verso anterior porém, o profeta fala daqueles que têm coração obstinado. Como se estivesse vendo o futuro, Isaías fala daqueles que recebendo o livramento de Javé permaneceriam no seu cati-veiro. A História nos diz que, mesmo com a libertação que Ciro trouxe ao Povo de Deus cativo na Babilônia, muitos permanecer-am naquela terra recusando-se a voltar para Jerusalém. Como nos dias de hoje, muitos crentes passam por crises, recebem bênçãos e livramento de Deus mas parece que não se apropriam delas permanecendo em seus exílios, distanciados da Jerusalém que podemos simbolicamente associar à presença do Deus da salvação.

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Nós como crentes, vivemos em um mundo cercado por algum tipo de paganismo com seus deuses e suas crenças muitas vezes impositivas. É fácil às vezes achar que o mal prevalece porque as coisas de Deus são minoria. Este texto de Isaías nos desafia a lembrar que Deus é soberano e providencia livramento para o seu povo. Poderá haver derrotas e exílios mas haverá também vitóri-as, não porque necessariamente as merecemos ou porque somos fortes em nós mesmos mas porque o Deus soberano protege e abençoa o Seu povo, segundo a Sua vontade. Que Deus possa nos dar forças e a certeza de que podemos, como Seu povo, nos apro-priar da proteção e das bênçãos que Ele nos concede.

A dor e sofrimento do Messias (Isaías 49 a 54) Quando corremos nossos olhos pelo Antigo Testamento encontramos várias passagens que falam da esperança de um Mes-sias Salvador. Verificamos também que, mais do que alguém que viria libertar apenas o Povo de Israel, o Messias viria para todos os povos através dos tempos. Ele haveria de nascer, crescer e, pelo seu sofrimento, haveria de estabelecer um caminho de salvação perfeito. Como um cordeiro que era sacrificado nos rituais dos antigos cultos, o Messias seria agora um Cordeiro de Deus que, com um único e suficiente sacrifício, haveria de tirar o pecado de todos aqueles que Nele cressem.

Qual a expectativa dominante quanto à vinda do Messias? O clima político da época de Isaías era o da realidade do domínio assírio sobre o Reino de Israel e o potencial domínio dos babilônicos sobre o Reino de Judá. A expectativa que os judeus tiveram ao longo de sua história politicamente turbulenta foi a de um Messias que além de rei, restaurador, profeta e juiz, seria um libertador político que levaria Israel a ser uma grande nação. Essa visão étnica e política, juntamente com a tradição e os rituais (mais facilmente visíveis) explicam, de certa forma, porque Israel,

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Proibida a comercializaçãonão reconheceu Jesus de Nazareth como o Messias quando Ele veio 7 séculos depois. Nessa época, isso tudo foi ainda agravado pelos contrastes que Jesus expôs, entre os valores do Seu Reino e os valores do mundo em geral. Nesse caso o maior desses contrastes foi que Sua mais po-derosa demonstração de força foi exatamente deixar-se crucificar. Como é que um rei poderia ser preso, humilhado e crucificado ? Aos judeus, faltou-lhes a visão mais simbólica de um Israel espir-itual e de um Messias libertador sobre tudo dos pecados de todos nós. O curioso é que a despeito da reação do povo em geral, essa percepção, de teor mais espiritual e universal, era de conhecimen-to dos grandes profetas de Deus e em particular, de Isaías, como pode ser demonstrado nas seções seguintes.

Como Isaías vê o Messias O profeta aponta para o Messias, suas ações, história, mis-são e universalidade em várias partes do seu livro. Algumas das lições anteriores exemplificam a abrangência da visão de Isaías sobre o Messias. Nas referências a seguir, entretanto, encontramos com precisão notável, profecias sobre eventos históricos que ha-veriam de ocorrer cerca de 700 anos após. Em Isaías 7:14 vemos por exemplo, que o Messias nasceria de uma virgem. Em 40:3, que Ele seria precedido por João Batista. Em 11:2, que Ele seria un-gido pelo Espírito Santo. Em 42:2 que a humildade seria uma de suas características. Em 8:14, que Ele seria “pedra de escândalo” para os judeus. Em 53:4-6, que Ele sofreria em lugar dos outros. Em 52:14, Isaías nos fala de sua aparência, Em 50:6, que Ele seria cuspido e flagelado. Em 53:9, que Ele seria sepultado com o rico. Em 28:16, que Ele seria a pedra principal (sobre a qual sua Ig-reja seria construída). Em Isaías 11:10 e 42:1 encontramos ainda que o Messias viria também para a conversão dos gentios. Em 9:7 encontramos que seu reino seria para sempre. No capítulo 53, o profeta nos oferece ainda uma visão do Messias como um Servo sofredor que carregaria sobre si as nossas iniqüidades para nos

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Proibida a comercializaçãosalvar. É difícil entender como alguém pode ler todas essas pas-sagens e especialmente Isaías 53, e não ver nelas claramente Jesus de Nazareth como o Messias de Deus.

O servo sofredor Uma das perguntas que me vinha à mente em minha ado-lescência inquiridora era por que era necessário haver sacrifício de sangue no Antigo Testamento. Por que um cordeiro tinha que ser sacrificado e o seu sangue derramado? Por que lemos no livro de Levítico que “sem sangue, não há salvação” ? Essas perguntas ficaram sem resposta por um bom tempo. Alguns anos mais tarde, porém, pude aprender que dentro da cultura do Antigo Testamen-to, havia o entendimento de que a vida estava no sangue. Quando alguém se esvaia em sangue, perdia a sua vida. Pude aprender também que em várias culturas antigas a maneira da criatura viver harmonicamente com a divindade era a criatura entregar a sua vida à divindade. Se a criatura pudesse entregar seu sangue à divindade, ou seja, sua própria vida, estaria se harmonizando com ela. Como porém entregar sua vida sem perecer ? O conceito do sacrifício substitutivo veio resolver essa questão. Um animal sem mancha e perfeito seria sacrificado em lugar da criatura e aquele sangue derramado do animal, simbolizaria a entrega da vida da criatura à divindade. Portanto, ao se sacrificar um animal em um altar de culto, o que se estava fazendo simbolicamente, era entre-gar a vida à divindade. O Messias de Deus apresenta-se como o Cordeiro perfeito que veio substituir todos os cordeiros anteriores. De forma úni-ca, completa e suficiente o Messias sofredor se deixou sacrificar para que nossa vida fosse salva. A nossa salvação porém, requer que O aceitemos como salvador e que nossa vontade, intelecto e emoções sejam entregues a Ele. É dessa forma que conseguimos desfrutar da presença e direção de Deus em nossas vidas. Isaías 53:13-14 descreve o aspecto “desfigurado”do Messias quando so-brecarregado com os nossos pecados. Menciona também que Ele

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seria exaltado, numa possível referência à sua ressurreição. Esse seria um fato notório e necessário para que sua condição de Cord-eiro único e suficiente, prevalecesse. O Messias de Deus haveria de vencer a morte. Através da vinda do Messias, que carregou sobre si as nos-sas iniqüidades e dores, como Cordeiro que toma o nosso lugar, Deus promoveu o milagre mais espetacular que se tem conheci-mento: a possibilidade de um pecador arrependido poder alcan-çar a vida eterna ao lado do Criador mediante e fé no Messias, o Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo.

Um convite irresistível (Isaías 55 a 60) Nesta oportunidade, em que damos seqüência ao nosso estudo sobre o livro do profeta Isaías, estaremos estudando o capí-tulo 55, quando destacaremos quatro pontos que esperamos ser de interesse dos nossos prezados leitores e ouvintes.

1. Vinde e comprai sem dinheiro Esse capítulo 55 de Isaías é todo ele um apelo para que busquemos a salvação. Ele inicia com um convite inusitado para os dias de hoje – “vinde às águas ... vinde comprai e comei sem dinheiro e sem preço, vinho e leite”. A água serve para desseden-tar a sede da vida eterna. Esta é a mesma água que Jesus oferece à mulher samaritana em João 4:14 – “aquele, porém que beber da água que eu lhe der, nunca mais terá sede, para sempre, pelo contrário, a água que eu lhe der será nele uma fonte a jorrar para a vida eterna”. O profeta anuncia que o vinho, representando a alegria, o pão e o leite, representando o alimento da Palavra de Deus, são colocados gratuitamente pelo Senhor para todos aqueles que O buscam. Para aqueles que hesitam em vir beber está água, este vinho e o leite, bem como hesitam em aceitar o pão oferecido gratuitamente,

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Proibida a comercializaçãoseja porque entendem em ser auto-suficientes em seus caminhos, seja porque acham que têm coisas mais importantes para fazer, o Senhor lhes pergunta no verso 2 “por que gastais o dinheiro naquilo que não é pão: e o vosso suor naquilo que não satisfaz“? Escrita há 700 anos antes de Cristo esta pergunta permanece ainda atual hoje. Após dias e semanas de trabalho, às vezes nos achamos perguntando: para que trabalhamos tanto ? Qual o nosso propósi-to em levantarmos todos os dia se despendermos horas e horas de nossa vida em uma roda viva de trabalho e atividades ? Não há dúvida que o nosso sustento material deve vir de nosso trabalho, mas será que ele deve ser tal que consuma todas as nossas energias físicas, emocionais e espirituais? E ainda, o que fazer quando, após todo esse empenho, sentimos que não estamos satisfeitos ? E as nossas dúvidas quanto ao que devemos fazer ? E os nossos planos para o futuro ? Temos algum ? E os nossos relacionamentos com as pessoas ? Como devemos agir ? O que devemos fazer ? O Sen-hor responde à essas questões no verso 3 quando nos diz “inclinai os vossos ouvidos e vinde a mim, e a vossa alma viverá, porque convosco farei uma aliança perpétua...” Tal aliança se completou 700 anos após, através de Jesus, o Messias de Nazareth, que até hoje, oferece vida abundante a todo aquele que Nele crê e a Ele entrega suas decisões e sua vida. O verso 6, talvez um dos mais conhecidos da Bíblia, com-pleta o convite introduzindo uma dimensão de tempo de quando fazer essa aliança perpétua: “Buscai o Senhor enquanto se pode achar, invocai-o enquanto está perto”.

2. Os propósitos e pensamentos de Deus Uma das dificuldades da vida cristã é o conflito entre sab-er que uma aliança com Deus subentende entregar nossos pla-nos e nossa vida a Ele, e o efetivo entregar. A tendência é cada um procurar estabelecer seus próprios planos e simplesmente ir seguindo a vida respondendo à sua própria vontade. Quanto aos planos de Deus, pensamos muitas vezes que nem sempre con-

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seguimos conhecê-los. Até mesmo nos revoltamos ou reclamamos de certos desdobramentos ou acontecimentos. Ás vezes, dizemos que entregamos, mas não o fazemos. Ou entregamos, mas não confiamos, o que é o mesmo que não entregar. Pior ainda, muitas vezes tentamos impor a Deus o que Ele deve fazer. Nos versos 8 e 9 de Isaías 55 encontramos Deus nos dizendo que ele não age da mesma forma que nós. Por isso, não devemos nos surpreender quando não conseguirmos entender os planos Dele – “...os meus pensamentos não são os vossos pensamentos, nem os vossos caminhos os meus caminhos, diz o Senhor”.

3. A palavra que não volta vazia Muitos crentes que costumam levar a palavra do Evangel-ho para outros ou mesmo que assistem a um pregador fazer um apelo e, em alguns casos, não encontram respostas visíveis à men-sagem entregue, podem, por um instante, pensar que tudo aquilo foi seus caminhos, seja porque acham que têm coisas mais im-portantes para fazer, o Senhor lhes pergunta no verso 2 “por que gastais o dinheiro naquilo que não é pão: e o vosso suor naquilo que não satisfaz“? Escrita há 700 anos antes de Cristo esta pergun-ta permanece ainda atual hoje. Após dias e semanas de trabalho, às vezes nos achamos perguntando: para que trabalhamos tanto ? Qual o nosso propósito em levantarmos todos os dia se despend-ermos horas e horas de nossa vida em uma roda viva de trabalho e atividades ? Não há dúvida que o nosso sustento material deve vir de nosso trabalho, mas será que ele deve ser tal que consuma todas as nossas energias físicas, emocionais e espirituais? E ainda, o que fazer quando, após todo esse empenho, sentimos que não estamos satisfeitos? E as nossas dúvidas quanto ao que devemos fazer?

E os nossos planos para o futuro? Temos algum? E os nossos relacionamentos com as pes-

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soas? Como devemos agir ? O que devemos fazer ? O Senhor re-sponde à essas questões no verso 3 quando nos diz “inclinai os vossos ouvidos e vinde a mim, e a vossa alma viverá, porque con-vosco farei uma aliança perpétua...” Tal aliança se completou 700 anos após, através de Jesus, o Messias de Nazareth, que até hoje, oferece vida abundante a todo aquele que Nele crê e a Ele entrega suas decisões e sua vida.

A Grandeza da Salvação (Isaías 61 a 66) Neste 11o Estudo de nossa série sobre Isaías, estaremos concentrando nossa atenção no capítulo 65 do livro deste grande profeta de Deus. Ao examinarmos o texto, verificamos que ele se desdobra em três partes principais: a) o julgamento do Senhor so-bre os rebeldes; b) O Senhor salva aqueles que O buscam e destrói aqueles que O rejeitam e c) O Senhor assegura um glorioso futuro a seu povo em um novo mundo a ser criado por Ele.

O julgamento do Senhor sobre os rebeldes (Isaías 65:1-5) No verso 1 Deus declara, através das palavras do profeta, como Ele se manifestou a outros povos, além do Povo de Israel histórico. Isto nos mostra com clareza que a salvação é para todas as nações e não apenas para Israel. No verso 2, Javé chama a aten-ção daqueles que andam por seus próprios caminhos e por isso, se tornam rebeldes. Nos versos 3 a 5, o Senhor condena aqueles que praticam a superstição. O texto faz menção a jardins, onde adora-dores dos desuses cananeus faziam alguns tipos de cultos e sacrifí-cios, todos condenados por Javé. O verso 4, se refere aqueles que moram em sepulturas e passam a noite em lugares misteriosos, numa alusão à necromacia, outra prática condenável aos olhos do Senhor. Este verso também menciona o comer carne de animais considerados “abomináveis”. Povos pagãos acreditavam que, ao comerem a carne de al-guns desses animais, poderiam receber certas virtudes. Mais do

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que condenar tais carnes, sob o ponto de vista da saúde, a palavra do Senhor tinha como objetivo se contrapor à idolatria pois es-ses animais eram usados como forma de relacionamento com o sobrenatural. Aqueles que se opunham a um correto relacionamento com o Deus criador, buscando em lugar disso, outras divindades, estavam sendo objeto de julgamento de Javé. Em tempos moder-nos, poderíamos com certeza, identificar essas outras divindades não somente dentro das religiões fetichistas mas também naque-las práticas em que o Deus do dia-a-dia é substituído por coisas ou pessoas tais como dinheiro, sexo, poder, ídolos etc.

2. O Senhor salva aqueles que O buscam e destrói aqueles que O rejeitam (Isaías 65:6-10) O verso 8 compara a nação a um cacho em que as uvas estão bastante machucadas mas a existência de suco em algumas delas é suficiente para evitar que todo o cacho seja desprezado. Esta comparação nos permite constatar que Deus é Alguém que nos restaura e sempre nos dá oportunidades de um novo começo. É necessário porém, que estejamos prontos a aceitá-lo como Sal-vador e também como Senhor de nossas vidas. Negá-lo ou sub-stituí-lo pelos nossos próprios deuses pessoais é abrir caminho para nosso afastamento do Deus verdadeiro, rumo à nossa própria destruição. Os versos 11 e 12 ilustram bem as conseqüências daqueles que abandonaram o Senhor para preparar uma mesa para a deusa Fortuna e vinho para o deus Destino, ambos sim-bolizando cultos, louvor ou dedicação a outros deuses, coisas ou pessoas. Fortuna e Destino eram deuses associados às divindades pagãs Gad e Menim para as quais, respectivamente, se faziam cul-tos aos astros e onde se ofereciam alimentos em rituais de magia. O verso 12 conclui que aqueles que participam de tais cultos e não respondem ao chamado de Javé, são destinados à espada.3. O Senhor assegura um glorioso futuro a seu povo em um novo

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mundo a ser criado por Ele (Isaías 65:17-25) A palavra de Deus trazida pelo profeta Isaías nos afirma ainda que a natureza e amplitude da salvação que Javé promete é tal que uma completa transformação ocorrerá em nossa realidade física e espiritual. A salvação em si ocorre no presente tempo, ao nível individual de cada pessoa que aceita o Messias de Deus como Salvador e Senhor. No final dos tempos, porém, o Senhor haverá de criar um novo céu e uma nova terra. Isaías nos afirma que ela será caracterizada pela seguran-ça, prosperidade e grande comunhão com o Senhor. O profeta nos descreve ainda a restauração da sociedade humana, quando não haverá mais dor, tristezas, lágrimas e mesmo a morte, será banida. Enquanto esse tempo futuro não chega, cabe-nos porém, consid-erar nossa fé na soberania de Deus, na perfeição do seu plano de restauração e salvação e aceitar o convite desta salvação, que Ele nos oferece através do Messias. O Deus que o profeta Isaías nos apresenta é Alguém atento ao ser humano. Ele nos mostra um Deus que julga aqueles que O rejeitam. Mas mostra também, um Deus que oferece oportuni-dade de salvação a todos que se dispuserem a aceitar o seu convite de vida abundante com Ele. Não se trata de vingança mas de con-seqüência natural de causa e efeito. Deus é luz. Não estar na Luz, é permanecer nas trevas.

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Jeremias

“Judá e Jerusalém – tristes quadros” Jeremias 1 a 10 Neste trimestre que hoje se inicia, estaremos conhecendo um pouco melhor os livros de Jeremias, Lamentações, Ezequiel e Daniel. Espero que, contando com a graça de Deus e com o nosso próprio esforço e reverência, este trabalho não seja estéril mas sim fértil, rendendo muitos e variados frutos. Para começarmos a pensar quem foi Jeremias, eu pro-ponho que você faça uma experiência: peça para algumas pessoas definirem este profeta. Garanto que você ouvirá a l g u m a s afirmações como: “Jeremias? Ah, ele ficou choramingando ao in-vés de agir!” ou “Jeremias foi aquele que, quando Deus o chamou, deu uma desculpa, dizendo ser ainda criança.” Agora vamos refle-tir um pouco sobre esta impressão: será que se a vida de Jeremias se resumisse mesmo a isso, teríamos hoje um livro inteiro com o seu nome em nossas Bíblias? É claro que não! Mas então quem será este profeta? Para responder esta pergunta, só mesmo buscando, com bastante atenção, pistas no texto bíblico. Só lá encontraremos a verdadeira face de Jeremias, e assim poderemos sair de vez do campo das impressões superficiais. Eu mencionei o termo “pistas”, não foi mesmo? Pois é, como vocês já devem ter imaginado, o nosso trabalho será bem parecido com o de um detetive. Isso porque não possuímos uma história completa da vida deste profeta, mas sim fragmentos isolados e muitas peças perdidas. Mas não há razão para desanimarmos. Jer-emias é, talvez, o profeta cuja vida conhecemos melhor em todo Antigo Testamento. Assim, mesmo que haja longos períodos de sua vida sobre os quais não podemos dizer praticamente nada, há também trechos muito bem conhecidos. Juntando estes períodos mais conhecidos com algumas bem pensadas suposições, chega-

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mos à história que estaremos analisando nestas lições. Então, sem mais delongas, vamos a ela. Dos primeiros três versículos do livro aprendemos que Jer-emias nasceu em Anatote, uma aldeia que ficava a seis quilômet-ros de Jerusalém. Sua família pertencia à tribo de Benjamim que, apesar de ser parte do reino de Judá, ainda mantinha muitos laços com as tribos do norte. Aprendemos também que ele era filho do sacerdote Helcias. Não há, contudo, nenhum indício em todo o livro de que Jeremias tenha desempenhado, ele mesmo, a função de sacerdote. Lemos que a palavra de Deus foi-lhe dirigida pela primeira vez no 13º ano do reinado de Josias, rei de Judá. Este ano foi o ano 627 a.C. Mais à frente, neste mesmo capítulo, encontra-mos a descrição deste momento tão importante e a tão comen-tada resposta de Jeremias: “sou ainda uma criança”. Não podemos saber, ao certo, o que o profeta quis dizer com isso, mas a maioria dos estudiosos afirmaria que provavelmente ele não estaria muito longe dos vinte anos. Com isso, podemos assumir que Jeremias nasceu por volta do ano 645 a.C. Passado o momento da sua vocação, a vida de Jeremias pode então ser dividida em quatro fases principais: a fase do re-inado de Josias, a fase do reinado de Jeoaquim, a fase do reinado de Zedequias e a fase posterior à queda de Jerusalém. Hoje co-briremos apenas a primeira fase, referente ao reinado de Josias, já que os capítulos que lemos esta semana parecem ser oriundos principalmente dela. O rei Josias, neto de Manassés e filho de Amon, chegou ao trono através de uma contra-revolução que derrotou aqueles que haviam matado seu pai. Ele tinha apenas oito anos de idade quando isso aconteceu, no ano 640 a.C., e, além da grande insta-bilidade política, ainda teve de lidar com o legado que seu avô, um rei ímpio e cruel, deixou-lhe. Contudo, Josias soube vencer estas dificuldades e acabou tornando-se um dos reis mais impor-tantes da história de Judá. A sua política externa foi marcada pela

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crescente autonomia do estado de Judá perante a Assíria. A sua política interna, por outro lado, foi ainda mais crucial para a sub-seqüente história do povo judeu. Josias, ainda no início do seu reinado, começou uma reforma religiosa. Alguns dos obje-tivos alcançados por esta reforma foram a purificação do culto e a restauração da Páscoa, que havia sido esquecida pelo povo. Mas o ponto alto foi, sem dúvida, a descoberta do livro da lei. Hoje, estu-diosos pensam que este livro se tratava de um rolo contendo parte considerável do Deuteronômio. Esta descoberta motivou o rei a patrocinar a redação de um outro livro, que se tornou o restante do Deuteronômio e os livros de Josué, Juízes, I e II Samuel e I e II Reis. Dessa forma, tudo parecia ir muito bem até que, de forma trágica, Josias morreu combatendo os Egípcios em Meguido, no ano de 609 a.C. O reinado de Josias é um daqueles períodos consideráveis da vida de Jeremias sobre os quais temos poucas informações. Não sabemos se Jeremias, após a sua vocação, foi imediatamente a Jerusalém ou se permaneceu ainda por alguns anos em Anatote. Não sabemos se ele foi para o norte ou não. Contudo, por se tra-tarem de 18 anos, é provável que ele tenha desempenhado, neste período, um papel importante em Jerusalém e no antigo reino de Israel também. Quanto ao próprio reinado Josias, parece que Jeremias o apoiou em parte, elogiando-o quando era merecido e criticando-o, sem meias palavras, quando era o caso. De qualquer forma, a profunda corrupção do reinado de Jeoaquim, que suce-deu Joacaz, o sucessor de Josias que foi deportado para o Egito, não pode ter surgido apenas em alguns breves meses, mas deve terlançado as suas raízes ainda no tempo de Josias. Pois bem, espero não ter cansado ninguém com este relato um pouco longo, é verdade, da história de Jeremias e do seu povo! Contudo, torço para que vocês tenham saboreado este conheci-mento percebendo como ele é enriquecedor paraa leitura do texto bíblico. Para mim, parece que ler a Bíblia sabendo um pouco da

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Proibida a comercializaçãohistória por detrás do que eu estou lendo é como ver um retrato com cores mais vivas. Mas não podemos nos despedir sem antes considerarmos um trecho tão importante – e com tantas repercussões – da leitura desta semana como a vocação de Jeremias, que está em Jr 1.4-10. Se compararmos este relato de vocação com os de Isaías e Ezequiel, por exemplo, encontraremos muitas diferenças, como aquela ref-erente ao encontro do profeta com Deus. Enquanto Isaías descreve o trono de Deus rodeado de serafins e Ezequiel fala de uma estra-nha visão, Jeremias limita-se a dizer: “a palavra do Senhor veio a mim”. Fica claro como, para Jeremias, mais importante do que tudo mais é a Palavra de Deus. Diante da simples afirmação da sua presença, elementos como o lugar e o modo parecem pequeni-nos detalhes que não têm porque não serem omitidos. Com isto em mente e levando em conta que Deus chama Jeremias para ser “profeta às nações”, ou seja, o difusor desta Palavra, podemos vislumbrar quem é o profeta Jeremias: um homem chamado por Deus para deixar de ser ele mesmo. Essa afirmação é de fato bastante estranha, mas pense bem: se frente à Palavra de Deus a própria visão que Jeremias tem do Senhor é algo que não vale a pena levar tempo para descrever, será que Jeremias estaria disposto a dizer qualquer outra coisa que não fosse a própria Palavra de Deus? Eu penso que não. E parece que o Senhor concordaria comigo! Afinal, Jeremias não estava di-zendo justamente algo que vinha do seu próprio coração quando afirmou ser jovem demais? E Deus não o corrige, dizendo: “não diga que é muito jovem”? Desta forma podemos ver que Jeremias não tinha motivos para ter medo porque, a partir daquele momento, ele deveria passar a ser a própria Palavra de Deus. Suas ações e as con-seqüências delas não mais deveriam ser medidas por parâmetros humanos.Mas é claro que isto não foi fácil para Jeremias – como não é fácil para mim e nem para você. Pois é, pensando bem, eu e você não

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estamos tão longe de Jeremias assim. O mesmo Deus que o cham-ou para destruir e construir não nos chama hoje para a mesma tarefa?

O anúncio do castigo divino (Jeremias 11 a 20) Nesta semana, lemos os capítulos 11 a 20 do livro de Jer-emias. Alguns dos eventos que são descritos nestes capítulos ocor-reram provavelmente no reinado de Jeoaquim. Observemos, en-tão, como foi o reinado deste filho de Josias e como este reinado afetou a mensagem de Jeremias. Já no primeiro ano do reinado de Jeoaquim, Jeremias faz um discurso contra a certeza que o povo de Jerusalém tem de que, por serem habitantes da cidade onde está o Templo do Senhor, não têm motivos para temer mal algum. O povo, preso ao seu próprio pecado, recusa-se a escutá-lo e ainda tenta matá-lo. Jer-emias escapa, mas ali começavam os tempos mais difíceis de sua vida. Alguns anos depois, em 605 a.C., contra todas as expec-tativas, Nabucodonosor, rei da Babilônia, derrota os Egípcios na batalha pela fortaleza de Carquemis. A partir de então, Jeremias identifica o “inimigo do norte” com a Babilônia e, a fim de res-saltar a função que este inimigo poderá ter nas mãos do Senhor, vai até o portão, quebra um jarro e discursa sobre o fim de Judá, como vemos nos capítulos 19 e 20. O comissário do Templo então bate nele e prende-o. Quando isto acontece, Jeremias e Baruque são obrigados a esconderem-se.

Leremos sobre estes acontecimentos no capítulo 36. Foi também provavelmente no reinado de Jeoaquim que o Senhor enviou Jeremias até a casa do oleiro e também para junto do Eufrates, onde ele deixou o seu cinto. De qualquer forma, não há necessidade de detalharmos ainda mais este período se com-preendermos o seu principal significado: Jeremias passara de um

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observador crítico do rei e do povo, como fora no reinado de Jo-sias, para um inimigo ferrenho e perseguido. Assim, a pregação dele tornou-se cada vez mais um anúncio da destruição de Je-rusalém e uma denúncia dos pecados do povo. Contudo, Jeremias não se limitou a expressar a Palavra de Deus. Em alguns momen-tos, ele também virou-se e dialogou com o Senhor. Vemos isto em algumas passagens muito famosas, chamadas as confissões de Jeremias. Você ainda se lembra da fama de Jeremias? Pois é, ela vem principalmente daqui. As confissões podem ser encontradas nos capítulos 11, 12, 15, 17, 18 e 20. Observemos, pelo menos, o trecho encontrado no capí-tulo 20 – mais especificamente os versículos 14 a 18. “Maldito seja o dia em que eu nasci!” diz o profeta. O seu rancor e a sua dor são muito profundos. Ele afirma que gostaria de ter morrido no ven-tre de sua mãe sem jamais ter visto a luz do dia. Afinal, pergunta ele, “Por que saí do ventre materno? Só para ver dificuldades e tristezas, e terminar os meus dias na maior decepção?” Por que Jeremias disse estas coisas? De onde vem uma dor tão profunda e amarga? E seu contato direto com o Senhor, não seria este sufi-ciente para calar tais perguntas? Para responder estas indagações, só mesmo buscando entender o que é, de fato, um profeta. To-davia, mesmo levando estas diferenças em consideração, ainda é possível traçar as linhas gerais que fazem com que um homem seja, reconhecidamente, um profeta? Penso que sim. Segundo José Luis Sicre, existem quatro pontos principais que dis-tinguem o profeta dos demais homens. Vejamos quais são estes pontos. Primeiro, o profeta é um homem inspirado. Ou seja, ele tem plena convicção de que a mensagem que tem é a mensagem do próprio Deus. Assim, ele não se baseia em documentos ou mesmo puramente na experiência humana, mas diretamente na Palavra de Deus que, segundo o próprio Jeremias, pode ser a sua alegria e o seu júbilo (15.16) ou um fogo que ele não pode conter,

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por mais que tente (20.9). Segundo, ele é um homem público. Isso quer dizer que o profeta está inserido em uma comunidade e está profundamente imerso em seus problemas e sonhos. Por mais que o profeta seja um solitário, ele não está completamente isolado, já que a profecia não pode existir sem um contexto social. Terceiro, o profeta recebeu um dom de Deus. Ele não precisa pertencer a uma certa classe social ou ter recebido uma educação especial. Basta que ele tenha sido escolhido por Deus. Por fim, chegamos ao quarto item, justamente aquele que mais nos ajudará a responder aquelas perguntas sobre a dor e a atitude de Jeremias. O profeta é um homem ameaçado. Ameaçado pelas autoridades, pelo povo, pelos seus próprios parentes, como Jeremias foi (11.18-23). Certo. Mas aqui temos de parar e pergun-tar: se fosse apenas isto, será que Jeremias teria se “confessado” perante o Senhor daquela forma? Me parece que não. Portanto, vemos que as ameaças não eram apenas estas. Temos que admitir que a maior ameaça para o profeta não vem dos homens, mas do próprio Deus. Leiamos Jr 20.7. O profeta diz: “Senhor, tu me per-suadiste, e eu fui persuadido; foste mais forte do que eu e preva-leceste. Sou ridicularizado o dia inteiro; todos zombam de mim.” Vemos, desta forma, que o relacionamento entre o Senhor e o profeta não era marcado apenas por carinhos e afagos. O profeta tinha uma função a desempenhar e o Senhor o empurrava con-stantemente nesta direção, às vezes para o grande sofrimento do profeta. Foi assim com Jeremias. O Senhor o fez andar por camin-hos dificílimos e ele, não podendo compreender a razão daquilo, perguntou-lhe: “Até quando?” Mas Deus lhe disse que não con-vinha que ele tivesse aquela resposta – leia os primeiros seis ver-sículos do capítulo 12 e veja novamente como isto aconteceu. Agora, coloque-se no lugar de Jeremias. Talvez você sequer pre-cise usar muito a sua imaginação – talvez o Senhor também es-teja empurrando você por caminhos difíceis para que a Palavra

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dele possa ser ouvida. Dá vontade de reclamar? Jeremias não só teve vontade, como reclamou. E o Senhor, apesar de não lhe dar uma resposta que o satisfizesse, escutou, consciente da dor do seu servo. O Senhor de Jeremias – o nosso Senhor – é muito sábio. Quem sabe se no fundo, no fundo, o que Jeremias realmente pre-cisava não era de uma resposta, mas sim de um Deus que o amasse e que o escutasse. No fundo, no fundo, talvez ele já soubesse que não poderia ter uma resposta. Mas o Senhor escutou, Jeremias confiou nele e foi o suficiente para que o profeta seguisse por seus caminhos. Espero que a certeza de que temos um Deus que nos ama e está sempre disposto a nos escutar também nos baste e as-sim sigamos em frente, vivendo a cada instante a promessa que em Jr 11.7: “Bendito é o homem cuja confiança está no Senhor, cuja confiança nele está.”

O cativeiro e a sua causa (Jeremias 21 a 30)

Hoje, continuando o nosso estudo do livro de Jeremias, iremos rever o conteúdo dos capítulos 21 a 30. Nestes capítulos as admoestações e ameaças que Jeremias trouxe ao povo finalmente tomam forma através de Nabucodonosor. Este rei da Babilônia derrota os Egípcios e, no reinado de Jeconias, sucessor de Jeoaquim, chega até Jerusalém. Após cercar e invadir a cidade, ele leva para a Babilônia Jeconias, boa parte dos poderosos de Jerusalém e muitos dos tesouros do Templo. Zedquias é então coroado, tornando-se assim o terceiro dos filhos de Josias a chegar ao trono. Politicamente, os primeiros anos que se seguem à sua coro-ação, que ocorreu em 597 a.C., são bastante tranqüilos para Zed-equias. A Babilônia passara a ser inquestionavelmente o grande poder da região e quem pagasse os seus tributos em dia não teria muito o que temer. Contudo, Zedequias e o povo agora têm um

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grande problema teológico e social para resolver. Como explicar a queda de Jerusalém e a profanação do Templo? O Templo não era a casa do Senhor e Jerusalém a sua cidade? Assim, eles recebem ainda mais uma chance para dar ouvidos a Jeremias e reconhecer que o seu pecado anulou estas garantias. Mas, ao invés de fazerem isto, eles colocam toda a culpa naqueles que haviam sido deporta-dos.Opondo-seaeste posicionamento, Jeremias fala dos dois ces-tos de figos, no capítulo 24. Mas a mensagem de Jeremias não é apenas para o povo que permaneceu em Judá. Ele escreve uma carta para os exilados, que encontramos no capítulo 29, na qual os exorta a levarem uma vida o mais normal possível, já que o eles permaneceriam na Ba-bilônia por longos anos. Contudo, os exilados também optam por permanecer com seus pecados e não lhe dão ouvidos, ansiando acima de qualquer outra coisa pelo seu retorno a Jerusalém. Alguns anos depois, em 593 a.C., Zedequias recebe, em Jerusalém, embaixadores de diversos reinos da região. O assunto desta conferência erauma possível coalizão contra a Babilônia. Jeremias é contrário a esta proposta e o demonstra colo-cando um jugo sobre o seu próprio pescoço, como vemos nos capítulos 27 e 28. Não se sabe ao certo se por prudência política ou se por haver ouvido, finalmente, a mensagem de Jeremias, mas o fato é que Zedequias optou por permanecer subserviente à Ba-bilônia. Contudo, a sabedoria de Zedequias não durou muito e, cinco anos mais tarde, ele cedeu às pressões e se negou a pagar o tributo. A partir de então foram iniciados os eventos que levaram à segunda deportação e à destruição de Jerusalém. Para nós, hoje em dia, todos estes eventos e os que os seguiram sejam de fácil explicação. Não estamos satisfeitos em dizer simplesmente que o povo pecou, não se arrependeu quando teve a chance, e por isso o Senhor o levou cativo para a Babilônia? Todavia, se pararmos um pouco para refletir, veremos que ler so-bre este processo 2500 anos depois que ele aconteceu e chegar a

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algumas conclusões é uma coisa. Vivê-lo é outra, totalmente difer-ente. Não que os eventos que culminaram no exílio não tenham tido causas e conseqüências bem visíveis, mas nós jamais com-preenderemos este processo completamente se assumirmos que o povo tinha a mesma percepção dele que nós temos hoje. Portanto, acho que vale a pena nos esforçarmos um pouco observando de que forma Jeremias expunha a sua mensagem ao povo. Quem sabe assim possamos compreender melhor a perspectiva que aquele povo tinha dos eventos que culminaram no exílio babilônico. A linguagem profética tem uma característica que é ao mesmo tempo a sua grande força e a sua grande fraqueza. Esta característica está na enorme capacidade do profeta de lançar mão da cultura e dos valores do seu povo para falar de maneira vio-lentamente clara e sincera. O profeta não apresentava uma lin-guagem abstrata e conceitual, mas sim palavras absolutamente concretas e de sentido inquestionável. Quem o ouvisse não po-deria ficar indiferente – ou considerava-o um louco perigoso ou permitia que aquelas palavras fortalecessem a sua consciência de uma forma surpreendente.Contudo,é justamente aí que também está a grande fraqueza da linguagem profética. Será que palavras construídas com tanto cuidado para impactarem as mentes dos cidadãos da Judá do século VII a.C. terão o mesmo efeito sobre mim, um brasileiro vivendo em pleno século XXI? É claro que não! Na verdade, este cuidado que o profeta teve para criar uma linguagem tão forte para o seu povo funciona de maneira inversa comigo – quanto mais claro ele for para o cidadão de Judá, menos claro ele será para mim! A fim de que possamos ver, na prática, como isto funcio-na, vamos adaptar os versos de Jr 22.20 para o nosso contexto. O texto original diz: Jerusalém, suba ao Líbano e clame, Seja ouvida a sua voz em Basã, Clame desde Abarim, Pois todos os seus alia-dos foram esmagados. Se estivesse falando hoje, Jeremias poderia muito bem estar dizendo: Washington, suba a Londres e implore,

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Que todos te vejam em Madri, Implore desde Roma, pois todos os teus aliados foram esmagados. Independente do sentido desta passagem – pois o objetivo aqui não é dar-lhe um novo sentido – estas palavras não ganham uma nova vida ao serem adaptadas ao nosso mundo? E se conseg-uíssemos fazer o mesmo com todos os textos proféticos, será que os livros proféticos não teriam um apelo muito maior entre nós? Ou será que esta adaptação tornaria o texto tão impactante que muitos fugiriam dele, considerando-o, no mínimo, de mau gosto? Mas os profetas, e Jeremias em especial, não falaram só através de versos. Hoje em dia, quem não conhece aquele ditado que diz: “uma imagem vale mais do que mil palavras”? Mas apesar de no tempo de Jeremias provavelmente não ter sido assim, sem dúvida este profeta sabia disto. Lembremos dele andando pelos pátios do templo com um jugo – o aparato para prender o boi pelo pescoço a um carro – sobre os seus ombros, ou quebrando um vaso junto ao portão da cidade, ou indo buscar um cinto podre junto ao Eu-frates. Todas estas ações tinham significados claríssimos para os seus espectadores. Mais uma vez, o profeta não deixava a possibi-lidade de permanecer indiferente a ninguém. Dessa forma, podemos finalmente chegar a uma con-clusão: a grande diferença entre a nossa perspectiva destes acon-tecimentos e a perspectiva daqueles que ouviram o próprio Jer-emias proferir estas palavras é a emoção. Nós observamos todos estes eventos principalmente com a razão. Aquele povo não podia fazer isto. Eles estavam tão imer-sos naquele processo que simplesmente não podiam abrir mão dos seus sentimentos. Mas o profeta não considerava isto ruim – pelo contrário, ele incentivava essa tensão emocional com o in-tuito de derrubar todas as certezas daquele povo pecador e assim fazê-lo ver o quanto o seu Deus o amava. A partir desta conclusão, para mim fica difícil continuar olhando para este povo unicamente através de um breve resumo

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da sua história. Como poderíamos continuar fazendo isto uma vez que percebemos que se tratam de muito mais do que nomes em um folha – esse povo era feito de pessoas de carne e osso, como eu e você! Pessoas que podiam ser amáveis ou indiferentes, generosas ou mesquinhas. Assim, é preciso que nos esforcemos mais na hora de ler o texto bíblico caso a sua mensagem não tenha superado as barreiras que edificamos em nossas mentes. É preciso que esta mensagem chegue aos nossos corações, assim como as palavras de Jeremias chegaram ao coração daquele povo, pois cabe ao coração escolher o caminho que iremos seguir. Por fim, como Jeremias sabia tão bem, precisamos colocar tanto as nossas emoções quanto a nossa razão diante do Senhor, porque, como ele disse, “vocês me procurarão e me acharão quan-do me procurarem de todo o coração” (29.13).

Deus revela o futuro (Jeremias 31 a 40) Ao se recusar a pagar o tributo à Babilônia, Zedequias, Nabucodonosor age de imediato e poucos meses depois fecha o cerco em torno de Jerusalém. Nesta semana lemos sobre alguns dos principais eventos que ocorreram neste período tão crucial da história de Judá, que vai do dia em que o cerco começa – 5 de ja-neiro de 587 a.C. – até o dia da invasão da cidade – 19 de julho de 586 a.C. Assim, vamos começar o nosso encontro revendo estes acontecimentos. Já no início do cerco, Jeremias anuncia ao rei que Je-rusalém cairá. Pouco depois, um pequeno exército egípcio chega à Judéia e Nabucodonosor é forçado a levantar o cerco para lidar com ele. O povo, e principalmente os poderosos, vêem isso como um ótimo sinal e resolvem até voltar atrás em sua promessa de libertar os escravos hebreus. Jeremias então denuncia esta atitude como mais um enorme desrespeito para com o Senhor e anuncia que os babilônios voltarão para terminar o que haviam começado. Ainda neste período em que o cerco havia sido levantado, Jer-

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emias tenta ir até a sua cidade natal, Anatote, para receber uma herança, mas o chefe da guarda o vê e o prende sob a alegação de estar desertando.Algum tempo depois, a profecia de Jeremias se concretiza e o exé-rcito de Nabucodonosor retorna vitorioso da batalha com os egíp-cios para retomar o cerco. Zedequias então manda buscar Jeremi-as e pergunta-lhe se ele tem alguma palavra do Senhor para ele. Jeremias novamente anuncia-lhe a queda de Jerusalém, mas aproveita para pedir a sua transferência para o pátio da guarda, o que de fato acontece. Contudo, ao chegar lá Jeremias começa a exortar os guerreiros a se renderem, o que causa a ira dos prínci-pes de Judá. Estes então jogam-no dentro de uma cisterna, onde o profeta certamente morreria se não tivesse sido salvo por Ebed-Melec, que pedira a permissão do rei para libertá-lo. É então que acontece um fato muito interessante na vida de Jeremias, justamente neste momento em que, quase sem es-peranças e tendo sofrido tanto, ele havia – literalmente – tocado o fundo do poço. Seu primo Hanameel vem até ele, no pátio da guarda, e pede que ele compre um campo em Anatote. É uma proposta totalmente absurda; a cidade está cercada e a sua destru-ição já é quase certa. Jeremias definitivamente poderia ter pensado que melhor seria investir em terrenos na lua. Contudo, ele percebe que através daquela situação Deus estava oferecendo-lhe mais uma chance de ter – e dar – esperança. Assim ele compra o terreno para que to-dos soubessem que “de novo serão compradas propriedades nesta terra, da qual vocês dizem: ‘É uma terra arrasada, sem homens nem animais, pois foi entregue nas mãos dos babilônios.’” (32.43)Após este evento Zedquias ainda vem falar com Jeremias mais uma vez, e novamente Jeremias lhe repete que o único caminho é a rendição. Mas mesmo assim o rei não lhe dá ouvidos. Por fim, após seis meses de cerco, Jerusalém é invadida e o rei foge, sendo capturado próximo a Jericó. Ele é então levado para a presença de

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Nabucodonosor, que o julga e o condena a assistir à morte de seus filhos, a ter seus olhos furados e a ser levado, em correntes, para a Babilônia. Bem, agora que já cobrimos todos estes acontecimentos, creio que podemos parar m pouco e refletir sobre uma pergunta um pouco, digamos, diferente: Jeremias foi, ou não foi, um deser-tor? Eu sei que esta questão deve soar muito estranha nos seus ouvidos, apesar de você saber que Jeremias foi, lá no capítulo 37, acusado de tentar desertar quando saia da cidade. Mas uma coisa é o chefe da guarda suspeitar isso, outra coisa somos nós admitir-mos esta hipótese! Mas, mesmo assim, sigamos em frente. Quais são as acusações que pesavam sobre ele? Bom, Jer-emias antes mesmo de os babilônios chegarem já dizia que Je-rusalém não tinha chance de escapar- lhes. Quando o cerco foi estabelecido então, essa mensagem não saia de seus lábios. Ele foi capaz de exortar não só o rei a se entregar, mas também o seu próprio exército. E Jeremias, ainda por cima, comprou um campo em território dominado pelos inimigos que cercavam Jerusalém. Para que possamos ver esta questão ainda com mais clareza, vamos trazê-la para os nossos dias. Imagine que o Brasil está totalmente cercado por inimigos terríveis e sanguinários. Então aparece um sujeito bem em frente do Palácio da Alvorada querendo falar com o presidente. Quando este finalmente o recebe, ele lhe diz que o país tem que se entregar. O presidente o manda embora, mas ele insiste tanto que acaba preso em um quartel. Lá dentro, ele não para de dizer para os soldados que eles têm é que fugir! Quem teria dúvidas que este homem é um traidor da pátria, e talvez até mesmo um espião? O julgamento de Jeremias por parte de muitos que viviam em Jerusalém – e que, com certeza, não tinham nem idéia do que viria a ser a liberdade de expressão – não deve ter sido diferente. Para eles, que, como nós, agiam e pensavam segundo suas leis e costumes, Jeremias era de fato um desertor altamente subversivo.

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Mas então, por que será que as palavras de um homem consid-erado um criminoso atravessaram 2500 anos e chegaram até nós?A resposta é simples e perturbadora: as palavras de Jeremias che-garam até nós porque ele foi um homem que, como disse Søren Kierkegaard, deu um salto de fé, mesmo que isto significasse que-brar a lei. Não pense, contudo, que isto significa que Jeremias de-sprezava a lei de seu povo, mesmo que estejamos falando da lei civil. Muito pelo contrário. Ele provavelmente a amava e a respei-tava mais do que todos os outros homens de sua época. Porém, Jeremias não amava a lei por qualquer qualidade sua em preservar a ordem, ou qualquer coisa do gênero. Jeremias a amava por saber que ela vinha do Deus que ele amava sobre todas as coisas. Portan-to, a lealdade de Jeremias não estava com a lei, mas com o aquele que criara a lei. E Jeremias sabia que se Deus criara a lei, ele pode-ria muito bem abrir mão dela ordenando que seus servos fizessem o mesmo. E foi exatamente isso que aconteceu! Mas sendo assim, você deve estar pensando que Jeremias tinha uma excelente justi-ficativa! Sem dúvida. Mas será que ter uma justificativa é o mesmo que ser justificado? Não. Apesar da sua justificativa ser maior que qualquer outra, ela era simplesmente inútil para Jeremias, aos ol-hos da lei. Aos olhos da lei nada poderia justificá-lo já que Deus está além da lei – ela simplesmente não pode compreendê-lo em sua totalidade, sendo sua criatura. Mas mesmo sabendo disso Jer-emias seguiu em frente por amor do seu criador. O que será que nós podemos aprender com esta sua ati-tude hoje em dia? Nós também servimos o mesmo Deus de Jeremias, o Deus que criou os céus e a terra é tudo mais que existe. De fato, foi ele quem criou os nossos pais, o nosso pastor, a Igreja e a Bíblia. Por isso, nós amamos estas coisas: o nosso tão grande Deus as criou e entregou-as para nos servir de guia, auxílio e companhia. Mas a nossa lealdade última não está com nenhuma delas ou mesmo com qualquer outra coisa além de com o próprio Deus.

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É ele o motivo da nossa existência. É ele o único digno de toda glória, majestade, poder e autoridade. Quando estamos diante dele, nada mais deve ter importância. Jeremias percebeu e viveu isso até as suas últimas conse-qüências. E por isso, até hoje as suas palavras tocam os corações e nos confrontam com a possibilidade de uma vida vivida perante o Senhor. Mas será que nós estamos nos abrindo para este con-fronto ou será que estamos nos escondemos por detrás de nossas certezas? Será que nós queremosverdadeiramente ouvir a voz de Deus ou será que desejamos ouvir Deus dizer só aquilo que nós queremos ouvir? Só quem pode saber o que o Senhor dirá é o próprio Sen-hor. Por isso, mais do que por qualquer outro motivo, ouvir a voz de Deus não é, nem nunca foi, fácil. Haja vista a vida do profeta Jeremias. Mas se é para isso que Deus nos chama, então é para isso que Deus nos chama. Ouçamos a sua voz.

O fim de outras nações (Jeremias 41 a 52) Hoje chegamos ao fim dos nossos estudos sobre o livro de Jeremias. Eu espero que vocês tenham aprendido tanto com eles quanto eu penso ter aprendido. Contudo, antes de seguirmos adi-ante, ainda há uma lição para se tirar deste livro tão interessante. Para chegarmos a ela, vamos retomar a história de Jeremias do ponto onde a deixamos. Após a queda de Jerusalém, Jeremias se viu envolto pela confusão que veio logo em seguida. Por isso, ele acabou sendo levado até Ramá junto com os exilados onde após ter comandado a destruição da cidade de Jerusalém e do Templo, Nebuzaradã fi-nalmente o encontrou. Este oficial do exército Babilônico então colocou diante de Jeremias a seguinte escolha: seguir com os ex-ilados até a Babilônia, ir para junto de Godolias, o novo governa-dor de Judá, ou ir para qualquer outro lugar. Jeremias escolheu fi-car com Godolias. O profeta, porém, teve menos de dois meses de

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relativa tranqüilidade antes que uma nova desgraça caísse sobre o seu povo. Esta desgraça foi o assassinato de Godolias. As con-seqüências imediatas foram a perseguição do assassino, Ismael, e a libertação do povo que ele tomara cativo. Mas mesmo tendo tentado vingar a morte de Godolias, o povo temeu represálias da parte da Babilônia e reuniu- se em Belém a fim de decidir qual seria o seu futuro: permanecer na Judéia e aguardar o juízo da Babilônia, ou fugir para o Egito. Jeremias foi até consultado, con-tudo, novamente a sua mensagem foi rejeitada e o povo resolveu fugir levando-o o consigo. Chegando a Táfnis, no Egito, Jeremias ainda teve que con-frontar o povo que persistia na idolatria. E com esta triste con-statação, de que, mesmo após todas as suas palavras e toda a des-graça que o Senhor trouxe sobre o ele, o povo não aprendeu a sua lição, Jeremias se despede de nós. Os textos que vêm a seguir são anteriores a este período da vida do profeta. Diante desse final, talvez você esteja se perguntando, como se estivesse em um cinema em que as luzes se acendem após o ter-mino de um filme: “então é só isso? Não pode ser só isso!” Mas no nosso caso, não é só isso, você pode ter certeza! A vida de Jeremias aqui se encerra, mas ela nunca foi o tema central deste livro. Como nós aprendemos em nosso primei-ro encontro, o livro de Jeremias é, antes de mais nada, um relato de como a Palavra de Deus foi levada até um povo através de um homem. Portanto, esta história ainda não acabou! Agora que en-tendemos melhor como esta Palavra chegou até aquele povo, falta entender como ela seguiu agindo até chegar à forma em que nós hoje a conhecemos. O elemento fundamental de um livro profético não po-deria deixar de ser as palavras do profeta. Contudo, mesmo neste aspecto, já temos que rever as nossas pressuposições. Jeremias não andava por Jerusalém com um bloquinho no bolso para anotar

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tudo que dizia. No capítulo 36 encontramos o profeta ditando para Baruque, seu secretário, todas as palavras que ele recebera do Senhor.Todas. Agora lembremo-nos que isto aconteceu no “quarto ano de Jeoaquim”, isto é, no ano 605 a.C., e as primeiras palavras que Jere-mias recebeu vieram no ano 627 a.C. Ou seja, Jeremias só começou a botar tudo aquilo no papel 22 anos após ter sido chamado para ser profeta. Por mais que possamos exaltar a memória de Jeremias, fica muito difícil pensar que ele não esqueceu-se ou alterou uma só palavra. Mas mesmo que não queiramos admitir esta hipótese, vejamos o que nos diz o último versículo deste capítulo: “Então Jeremias pegou outro rolo e o deu ao escriba Ba-ruque, filho de Nerias, para que escrevesse nele, conforme Jere-mias ditava, todas as palavras do livro que Jeoaquim , rei de Judá, tinha queimado, além de muitas outras palavras semelhantes que foram acrescentadas.” Com esta informação, de que os dois rolos não eram idên-ticos mas que o primeiro era menos extenso do que o segundo, não podemos deixar de observar um aspecto muito importante do ministério de Jeremias: a Palavra que ele recebia do Senhor não era estática. Jeremias não pegava esta Palavra e a guardava em uma caixinha para impedir que qualquer coisa acontecesse com ela. Muito pelo contrário, era uma Palavra dinâmica que interagia com os pensamentos e com os sentimentos do profeta, permean-do-o de tal modo que, vendo-o e ouvindo-o, era impossível saber ao certo o que era Jeremias e o que era a Palavra de Deus. Não poderia ser diferente com as palavras que ele deixou. Bem, sabe-se que as palavras do profeta eram mantidas por um pequeno grupo de seguidores. Só que, seguindo os passos de seu mestre, estes ho-mens também não guardavam estas palavras em um caixinha! Eles as usavam e as transformavam quase que com a mesma in-tensidade que o próprio profeta. De fato, podemos perceber três

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Proibida a comercializaçãomaneiras através das quais eles costumavam fazer isto: primeiro, ele redigiam textos biográficos sobre o mestre. Dificilmente o próprio Jeremias escreveria sobre si mesmo na terceira pessoa, como nos capítulos 34 e 35. Segundo, eles reelaboravam algumas profecias. Isso podia acontecer a fim de dar um esclarecimento, de adaptar a profecia a uma nova realidade, ou mesmo por outros motivos. Terceiro, eles criavam novas profecias. Isso pode parecer muito estranho, mas lembre-se, o elemento central deste livro é a Palavra de Deus, e não Jeremias. Mas o processo de criação do texto ainda não está encer-rado. Ainda falta uma última etapa, que é o trabalho de agru-pamento. A elaboração do texto que os seguidores fizeram só se completou quando alguns deles resolveram fixar uma ordem para as profecias e relatos. E eles fizeram isto de um jeito que nós, hoje, provavelmente não faríamos. Estes seguidores de Jeremias não agruparam os textos em ordem cronológica, mas sim prin-cipalmente por temas. Daí a nossa dificuldade em tentar traçar a história de Jeremias seguindo o texto. Por fim, este processo não foi rápido. O texto que hoje te-mos em nossas Bíblias demorou pelo menos 300 anos para ficar pronto. Assim, com este relato de como o ministério do qual Jer-emias fez parte continuou após a sua morte, voltamos à essência da vocação deste profeta, ao próprio início dos seus trabalhos. A Palavra do Senhor é o que há de mais importante na Bíblia. Não os homens, ou as mulheres, ou os acontecimentos. Estes são im-portantes, mas não tão importantes quanto a Palavra. A não ser, é claro, aquele homem que é a própria Palavra... Com isso aprendemos que a Palavra nunca pode ser con-tida por nada. Jeremias morreu e a Palavra seguiu em frente, mol-dando pessoas, alterando eventos, e assumindo formas sempre diferentes e imprevisíveis. Me parece que não há lição maior a aprender com este livro do que esta: a Palavra de Deus não pode ser controlada. Por isso, temos que confiar nela. Por isso, temos que vivê-la, e não apenas pensá-la. Por isso, temos que respeitá-la.

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Porque, assim como ela transformou este livro durante 300 anos, assim como ela transformou todas as nações sobre as quais lemos esta semana, ela continuará sempre nos transformando. Cabe a nós nos entregarmos a ela para que ela possa fazer de nós pessoas melhores, como Jeremias.

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Ezequiel

Um chamado especial (Ezequiel 1 a 10 ) Hoje iniciamos mais uma fase dos nossos estudos. Fare-mos isto de uma forma um pouco diferente mas, espero eu, muito interessante. De qualquer forma, espero que a memória de vocês esteja boa, já que este livro tem bastante em comum com o livro de Jeremias, que já estudamos. De fato, Ezequiel e Jeremias teste-munharam os mesmos eventos da história de Israel. Como já dis-cutimos estes eventos com bastante cuidado, vamos apenas revê-los brevemente para podermos entender de que forma Ezequiel se encaixou neles. Os anos de esplendor de Judá terminaram com a morte do rei Josias. O reinado de Jeoaquim deixou isto muito claro. Após alguns percalços, este rei acabou optando por não pagar tributo à Babilônia e assim provocou o primeiro cerco a Jerusalém, no ano 597 a.C. Após este cerco um grupo de judeus foi levado à Babilônia. Neste grupo estava um jovem chamado Ezequiel. Mas mesmo assim não houve paz duradoura em Judá. Zedequias, o novo rei, só permaneceu leal à Babilônia até o ano 588 a.C. Me-diante a revolta, os exércitos babilônicos novamente cercaram Je-rusalém. Em julho de 586 a.C. a cidade se rendeu e um mês depois foi arrasada, quando mais um grupo de judeus foi levado para o exílio. Ezequiel recebeu sua vocação na Babilônia sete anos antes da queda de Jerusalém e continuou profetizando até que quinze anos houvessem passado desde este evento. Agora que já situamos Ezequiel historicamente, vamos nos dirigir a um trecho que lemos esta semana: os capítulos um a três. Estes capítulos funcionam como uma introdução ao livro e é muito importante que com-

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preendamos eles bem. Neles encontramos uma visão que Ezequiel teve antes da destruição de Jerusalém e que foi dirigida ao primei-ro grupo de exilados. Sendo assim, conheçam o Quiel. Quiel olhou pela janela e suspirou. Toda vez que ele passava por ali era a mesma coisa: via todos aqueles edifícios iguais, lembrava-se das casas da vila – tão diferentes, cada uma delas – e suspirava, triste. É que a antiga vila não existia mais. No dia em que o fun-cionário da prefeitura veio deixar as cartas, ninguém deu muita bola pra ele. As crianças nem pararam o seu jogo para olhar. Uma meia hora depois eles finalmente começaram a se dar conta do terrível significado daquela visita. Dona Marisa leu a carta, sentou e ficou olhando para a parede. O Rui começou a esbravejar soz-inho, indignado. A cidade crescera. O número de carros também. Ninguém estava satisfeito com o novo engarrafamento. Então o prefeito en-controu a solução: uma nova rua, mais Mas já há algumas sema-nas algo que primeiro lhe parecera esquisito vinha-lhe à mente constantemente. Ele sentia muita falta da antiga vila – das casas, do peque no jardim, da rua de paralelepípedos que o derrubara tantas vezes quando criança – mas mais do que dessa vila, ele sentia falta mesmo era da vila de carne e osso. Como era bom dar bom dia para a Dona Marisa e para o Luizinho quando eles passavam por sua janela todas as manhãs – ela levando-o para a escola, ele tentando não dormir em pé! Como era bom passar pela porta do Seu João e parar para ouvir uma de suas histórias... larga, evitaria os três cruzamentos e resolveria o problema. Mas e a vila cuja extremidade estava bem no caminho dela? É... não tinha jeito, pelo menos parte dela teria de ser demolida! “Que saudade da vila!” Quiel falou pra si mesmo, baixinho. Cada casa, cada canto, tinha a sua história. Ele crescera naquele lugar junto àquelas pessoas e nunca imaginara que um dia teria de sair dali. E agora aquela vila não existia mais. Metade dela havia sido de-

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Proibida a comercializaçãomolida – a metade onde estivera a sua casa. Um alto muro cinza cortava-a cruelmente. O barulho dos carros, que vinha do outro lado, acabara com a tranqüilidade.Mas antes de concluir aquela sessão de nostalgia com mais um suspiro, Quiel teve uma idéia. Uma idéia não, uma visão! A vila de cimento e pedra ruíra, mas a de carne e osso não! Esta – que realmente importava–estava absolutamente intacta. A família do Seu João vivia no mesmo edifício que ele, dois andares abaixo. A da Dona Marisa também, só que um pouco acima. E todas as pes-soas que tiveram de deixar suas casas estavam ou naquele quar-teirão, ou bem perto! Ezequiel estava resoluto: era hora de agir! A semana seguinte foi bastante corrida para ele. Eram muitas visitas para fazer! Mas sexta-feira à noite ele pôde jogar-se no seu sofá e sorrir, satisfeito com o que conseguira. Fora ver todo aquele pes-soal. Convidara todos para se reunirem no jardim do seu edifí-cio amanhã, no sábado. Para o seu espanto, ninguém perguntou o porquê daquilo. Todos concordaram e disseram que estariam presentes. No dia seguinte, todos estavam visivelmente contentes de estar ali. Os adultos conversavam e as crianças corriam pela grama. Mas algo não estava certo. Era como se, mesmo naquele dia de sol tão bonito, uma sombra pairasse sobre aquelas pessoas. Todos estavam felizes por rever os velhos amigos, porém aquele reencontro também trazia à tona uma dolorosa mágoa. Ali não era a vila. Ezequiel também sentia isso. No lugar da velha mangue-ira, aqueles arbustos infantis. No lugar das fachadas tão partic-ulares de cada casa, a padronização de dois edifícios idênticos. Mas Ezequiel estava feliz, e se havia uma sombra sobre ele, ela só estava ali porque ele via que os outros não estavam plenamente contentes. A questão precisava ser resolvida. Então ele juntou aquelas pessoas e disse-lhes o que ele achava. Ezequiel falou que aquela melancolia não tinha razão de ser. Disse que ele também sentia

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Proibida a comercializaçãofalta da vila, disse que ele também sentira muita dor ao deixar aquele lugar para trás. Mas então falou que o mais importante para todos eles havia sobrevivido inalterado a todas aquelas mu-danças. E o mais importante era a vila que estava dentro deles. Esta vila não dependia de paredes para sobreviver! Ela só depend-ia da disposição deles de não se deixarem levar pelas circunstân-cias e continuarem firmes na maior verdade de todas: casas, vilas e cidades vêm e vão, mas a verdadeira amizade não passará. Quem segurar firme nela jamais se verá perdido, sem rumo. Espero que esta história tenha ajudado vocês a compreender este trecho tão importante do livro de Ezequiel. A questão é que Ezequiel viveu uma situação muito parecida com a de Quiel. Ele também tinha uma vila: Jerusalém e, mais precisa-mente, o Templo do Senhor. Ele também tinha amigos: o povo que viera para o exílio. Ele também sofria por estar separado daquilo que ele mais amava: o seu Deus. E, o mais importante, ele também teve uma visão. O profeta Ezequiel viu o seu Deus sobre um carro muito complexo, mas que não deixava de ser apenas isto: um carro! O significado disto para ele foi enorme. Se Deus estava ali, na Babilônia, sobre um carro, isto queria dizer que para encontrar-se com ele, o seu povo não precisava necessariamente ir até o Templo, em Jerusalém. Deus, pelo menos em alguns ca-sos, poderia vir até eles! Em outras palavras, o sofrimento daquele povo não precisava ser tão grande; o seu Deus ainda estava com eles! Mas como é que o pessoal da vila recebeu as idéias de Quiel? Será que eles gostaram? Ora, deixemos o Quiel seguir com a sua vida. A nossa atenção tem que estar com Ezequiel. A responsabilidade agora é pessoal (Ezequiel 11 a 20) Os capítulos que estaremos discutindo hoje são profecias contra Judá. Mas antes de considerarmos a mensagem propria-mente dita, vamos rever uma pergunta que tem perturbado al-guns estudiosos da Bíblia. Onde Ezequiel desempenhou o seu ministério? Se o tex-

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Proibida a comercializaçãoto não dá indícios de que ele tenha deixado a Babilônia, como é que ele teve informações tão precisas acerca do que se passava em Judá? Muitas teoria já foram elaboradas para tentar resolver este dilema, mas a opinião predominante continua sendo que Ezequiel – sendo um servo de Deus e um homem bem informado – jamais teve de deixar o exílio para saber daquelas coisas Ezequiel, portan-to, sabia que após o primeiro cerco e a primeira deportação – na qual ele estivera incluído – Zedequias tornara-se o rei de Judá. E ele sabia que, infelizmente, estes eventos trágicos não haviam sido suficientes para que o rei e o povo se dessem conta do seu pecado. Era como se o castigo terrível que o Senhor enviara tivesse sido em vão. O profeta sabia que o Senhor não permitiria que esta situação per-durasse. Ele sabia que Deus amava seu povo e não mediria esfor-ços para ensiná-lo o caminho reto. Por isso, ele retomou a analo-gia do casamento entre o Senhor e Israel para falar do que haveria de acontecer. Nós faremos o mesmo. Atolar o carro nunca é bom, mas naquelas condições era péssimo! Estava frio, chovia e, pior ainda, o sol acabara de se pôr. Dr. Ezequiel saltou e, olhando para a quantidade de lama na qual seu carro afundara, viu que qualquer tentativa de resolver aquele problema sem ajuda acabaria em fracasso. Não muito longe dali, havia uma casa bem humilde em meio ao mar de pasto. Resolveu ir até lá ver se encontrava uma alma caridosa – ou pelo menos uma pá. Chegando mais perto, ele logo percebeu que pela peque-na janela um homem o observava serenamente. Logo ele saiu da casa e o saudou, estranhamente consciente dos seus pensamentos: “Olá. Hoje seu carro não sai mais daquele atoleiro. Mas amanhã de manhã, se a chuva parar mesmo, é outra história. Se você quiser, pode passar a noite aqui. Não tem muito conforto, mas é melhor que ficar no carro...” O doutor ficou muito surpreso ao ouvir aq-uilo. Mas o homem falara com tanta convicção que ele nem quis argumentar. Agradecendo, aceitou o convite – a casa lhe parecia estranhamente acolhedora.

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Proibida a comercialização “Sente-se,” disse o homem, “vou trazer um café.” Enquanto esperava, Dr. Ezequiel passou os olhos pelo cômodo – o único da pequena casa. Ele viu poucos móveis bem rústicos, o chão de terra batida, e um retrato na parede. Era de uma jovem muito bonita. Ela sorria, contente. Ele levantou-se e se aproximou para observá-la melhor. Nesse momento o homem voltou e percebeu o que es-tava acontecendo, mas não disse nada. Apenas sentou-se à mesa e, com um gesto, indicou que o doutor fizesse o mesmo. Quando este já bebia o café bem quente, ele olhou nos seus olhos e, sem qualquer explicação, começou a contar-lhe a história.“Eu era só um rapaz quando a encontrei, e ela apenas uma cri-ança. Estava chorando – estava com fome. Imagino que seus pais a haviam deixado à beira da estrada.” Dr. Ezequiel presumiu que ele falava da moça na foto. Ele a levara para a sua casa. Seus pais não queriam recebê-la – seria mais uma boca para alimentar e eles eram realmente muito pobres. Mas ele insistiu. Disse que daria um jeito de arcar com as despesas. Por fim eles concordaram. Os anos se passaram e ela cresceu. Ele, con-tudo, quase não pudera testemunhar isto. Por causa do seu com-promisso, trabalhava incessantemente. A sua vida não fora fácil. Mas e daí? Ela se tornara uma jovem linda. Seu sorriso encantava a todos e, por fim, acabou por encantar também a ele. Após algum tempo, no qual ele manteve o mais absoluto sigilo acerca do que se passava no seu peito, ele resolveu perguntar-lhe se queria se casar- se com ele. Para o seu espanto, ela disse que era o que mais desejava. “Os primeiros anos de nosso casamento foram os mel-hores da minha vida”, ele disse. Só que logo as coisas começaram a dar errado. Ele foi o primeiro a perceber que ela deixara de lhe ser fiel. A princípio ele quis pensar que logo ela se daria conta do tamanho do seu erro. Mas as suas escapadas persistiram e se tor-naram cada vez mais freqüentes. Todos já discutiam abertamente a sua vida familiar. Apesar da vergonha, ele permaneceu em sua casa – a casa que a tanto custo haviam construído juntos. Até que

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Proibida a comercializaçãoum dia ele finalmente se convenceu de que ela não abriria mão da sua infidelidade daquela forma. Então, no dia seguinte, ele esperou que ela saísse de casa, foi até a praça e trouxe de lá alguns homens. Apontando para a sua casa ele disse a eles: “vocês estão vendo isso aqui? Tudo o que está dentro mais o terreno é de vocês desde que, até o anoitecer, não sobre aqui pedra sobre pedra.” Os homens ficaram surpresos com a sua proposta, mas aquilo não deixava de ser um ótimo negócio. Rapidamente eles levaram os móveis e tudo mais que estava den-tro da casa e voltaram com suas ferramentas. Quando ela chegou, à noite, encontrou-o sentado sobre o monte de entulho em que a sua casa se transformara. O seu desespero era evidente. Ele então olhou nos seus olhos e disse que estava indo para aquela casinha, onde um de seus patrões havia concordado em deixar-lhe morar. “Se você se arrepender da vida que tem levado, pode vir também.” Ele chegara ali com a roupa do corpo e aquele retrato há alguns dias. Ela não viera. E assim, da mesma forma que ele começou a história, ele terminou-a. Agora ele olhava para o retrato, tranqüilamente, como se nada tivesse acontecido. “Mas...” O doutor disse, como se tivesse acabado de sair de um sonho, “mas você acha que ela virá?”“Eu não sei.” Ele respondeu, sem tirar os olhos do retrato. “Acho que ver a casa destruída daquela forma... Vi nos seus olhos que ela finalmente se deu conta de como ela me tratara. Mas também vi a sua vergonha. Talvez ela pense que eu não irei perdoá-la. Que besteira...” “Que besteira?” Pensou Dr. Ezequiel. “Que homem era este que estava disposto a perdoar uma mulher destas?” Mas an-tes que ele pudesse perguntar mais qualquer coisa o homem tirou os olhos do retrato e fixou-lhes novamente sobre ele. “É hora de dormir. Amanhã resolveremos o seu problema – a chuva parou.” Ele apontou para a esteira no canto do cômodo e foi, ele mesmo, para um pequeno e velho sofá no outro canto. Em alguns minutos

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Proibida a comercializaçãoele já ressonava lentamente. A mensagem do profeta Ezequiel para Judá foi, em lin-has gerais, esta que nós vimos: vocês são como a esposa infiel e o Senhor é o marido traído. Ele ira castigá-los cada vez mais feroz-mente. Mas surpreendentemente, o profeta não disse apenas isto. Ele disse também que, apesar de o juízo de Deus cair sobre a nação inteira, mesmo assim cada pessoa teria o direito de escolher o seu próprio caminho – se os pais comem uvas verdes, os dentes dos filhos não se embotam! Ou seja, ao mesmo tempo que a respon-sabilidade pelos pecados é da nação, ela também é de cada um. Cada um tem o direito agir corretamente e de ser declarado justo pelo Senhor. Esta chamada para a responsabilidade pessoal que é encontrada tão claramente neste livro é uma grande novidade no Antigo Testamento. Agora ficara claro que Deus estava de olho em cada um. Esta mudança foi fundamental para a chegada do evangelho, não é mesmo?

As nações vizinhas (Ezequiel 21 a 30) Muitas vezes temos a impressão de que o único povo que interessava a Deus no tempo do Antigo Testamento era o povo judeu. Ele era, afinal de contas, o povo escolhido. Todavia, a Bíblia realmente não aponta nesta direção. O Senhor, de fato, se preocu-pava com as demais nações. Estas profecias que lemos nesta se-mana mostram isso claramente. Mas qual era a sua mensagem a estas nações? De que forma estas nações se encaixavam em seus planos para Is-rael? E o profeta Ezequiel, o que é que ele tinha a ver com isso? Ve-jamos se conseguimos responder a estas e outras questões através da história de um outro Israel... Israel nunca fora um empregado modelo. Faltava bastante, só fazia as coisas do seu jeito, era irre-sponsável. Mas era afilhado do presidente da empresa. Por isso, todos sabiam que por mais que ele aprontasse, não havia muito o que fazer a seu respeito. Só que um dia, para o espanto de todos, Israel foi man-

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Proibida a comercializaçãodado embora. O presidente o chamou em sua sala e cinco minutos depois ele saiu de lá com uma expressão de total surpresa no rosto. Foi andando – cambaleando talvez seja uma palavra melhor – até a porta e se foi. Não voltou mais. A notícia logo se espalhou. Muitos se alegraram com aquilo. Alguns poucos sentiram pena. Era fato que Israel nunca fora particularmente simpático, mas também não era má pessoa. Então, alguns dias depois, alguns de seus antigos colegas de trabalho saíram juntos para almoçar. Conversa vai, conversa vem, e eles acabaram chegando ao assunto em questão. “Ai, ai...” disse Amom. “Como eu ri daquele pobre coitado. Vocês viram a cara dele na hora que ele saiu da sala?” “É... Bem feito pra ele,” Moabe concordou. “Durante todo esse tempo ele foi o protegido do presidente. Agora ele vai ter que aprender a ser igual a todo mundo. Agora ele vai ver o que é bom...” “Eu também acho,” disse Edom. “Bem feito mesmo. Fiquei muito feliz ao saber que ele estava saindo. Aquele sujeito só me arrumou encrenca.” Tiro escutava tudo aquilo com um sorriso nos lábios. Ele também estava satisfeito com o que acontecera, mas não compartilhava da alegria de seus colegas. É que enquanto os outros só tinham a gan-har com a demissão de Israel, Tiro já ganhara tudo o que queria. Ele era o gerente da empresa e era muito bom no seu trabalho. Seu salário era excelente. Por mais que ele buscasse encontrar algo que, no futuro, pudesse atrapalhar a sua carreira, não encontrava nada que não fosse facilmente contornável. Nada poderia impedi-lo de crescer cada vez mais profissionalmente e de, provavelmente, tornar-se ele mesmo um dia o presidente da empresa. Era uma questão de tempo. Então Moabe olhou para ele e perguntou: “O que você acha, Tiro?” “Eu também achei engraçado.” Ele se limi-tou a dizer. Ezequiel escutou toda a conversa. Ele almoçava sozinho na mesa ao lado e,como eles falavam alto, simplesmente não tivera como não escutar. Ezequiel havia sido a pessoa em toda a em-

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Proibida a comercializaçãopresa que mais se aproximara de Israel. Talvez seja justo dizer que Ezequiel fora amigo de Israel, mesmo que Israel nunca houvesse agido como amigo de Ezequiel. De qualquer forma, Ezequiel sabia que a sua demissão fora mais do que merecida. Mas aquela conversa estava deixando-o fu-rioso. Quem eles pensavam que eram? Por fim, quando ouviu as palavras de Tiro e percebeu como aquele homem se julgava supe-rior a todos, Ezequiel não agüentou mais. “Quem vocês pensam que são pra falar assim de outra pessoa?” Os quatro viraram-se instantaneamente para Ezequiel, absolutamente surpresos. Mas ele sequer deu-lhes tempo para re-sponder à pergunta. “E daí que o Israel era um péssimo emprega-do? E daí que, durante todo o tempo em que ele foi funcionário da empresa ele usou o seu parentesco com o presidente para não ter que trabalhar como os outros? E daí que a sua demissão foi mais do que merecida? Nada disso dá a vocês o direito de falar assim dele. Assim como o dele, o emprego de vocês está nas mãos do presidente. Basta ele querer – mesmo que sem causa aparente – e vocês também estarão no olho da rua.” Então ele olhou direta-mente para Tiro, que já se recompora da surpresa e agora man-tinha no seu rosto uma cínica expressão de seriedade, e disse: “e você, que afinal de contas é tão capaz e eficiente, é o mais culpado de todos. Você acha que o mundo está aos seus pés, não é mesmo? O dia que você finalmente descobrir que as coisas não funcion-am bem assim vai ser muito triste pra você.” Ezequiel então se levantou sem qualquer outra palavra. Enquanto pagava a conta no caixa, um pouco afastado do grupo, ouvia Moabe, Amom e Edom rindo e sentia o olhar de Tiro fixado nele. Sem dúvida ganhara um inimigo ferrenho. Mas não havia problema. O presidente confiava em Ezequiel e já compartilhara com ele o seu descontentamento com os quatro. Mesmo com Tiro, em quem ele tanto investira. Em algumas semanas eles também seriam mandados embora.

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Contudo, Ezequiel não sentia a mesma alegria que eles sentiram com a derrota de Israel. Ele sentia pena. Coitados daque-les homens. Por que as pessoas cismam em achar que o seu futuro depende unicamente da sua capacidade de passar por cima dos outros? Dentro daquela empresa, o futuro de todos dependia sem-pre do presidente. E ele observava tudo e todos. E era justo, sim, muito justo e sábio. Se nem o seu próprio afilhado pôde escapar do seu ju-lgamento, como é que esses quatro poderiam imaginar que es-capariam? “É...” Disse Ezequiel para si mesmo. “É uma pena que eles não irão se arrepender de ter agido como se o futuro deles es-tivesse em suas próprias mãos. Acho que se eles se arrependessem agora, talvez o presidente mudasse de idéia a seu respeito.” A mensagem de Deus para estas quatro nações – e para a Filístia , Sídom e Egito também – certamente foi uma mensagem de juízo. Estas nações que haviam sido criadas e fortalecidas pelo Senhor esqueceram-se dele e passaram a julgar-se donas dos seus próprios destinos. Em outras palavras, elas seguiram exatamente os mesmos passos de Israel. Ao castigá-las, portanto, o Senhor es-tava mostrando a todos que os seus planos não se limitavam ao seu povo escolhido, mas abrangiam toda a humanidade. O que isso significa para nós que vivemos em um tem-po em que, para alguém tornar-se parte do povo escolhido, só é preciso que ele aceite Jesus Cristo como seu senhor e salvador? Penso que estas profecias nos ajudam a perceber como o Senhor ama aqueles que ainda não o conhecem. Elas nos mostram como Deus usa seus servos para ir até estas pessoas e como é importante servi-lo desta forma. Haja vista Ezequiel. Hoje em dia falamos tanto de evan-gelismo, de missões. Mas será que realmente compreendemos a lição que Ezequiel nos ensina? Levar a mensagem de Deus não é

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Proibida a comercializaçãomudar a vida das pessoas. Levar a mensagem de Deus é mostrar a todos que, que-iram eles ou não, é Deus que está no controle – e que, se ele as-sim quiser, ninguém poderá impedir que ele mude a sua vida por completo.

Profetas e pastores infiéis (Ezequiel 31 a 40) Esta semana lemos, entre outros, os capítulos do livro de Ezequiel que são profecias de salvação para Israel. As profecias de salvação constituem o que muitos consideram ser uma segunda fase do ministério de Ezequiel. É essencial que compreendamos que esta fase se inicia no momento mais triste e sem esperança que o povo já experimentara no exílio: a chegada da notícia de que Jerusalém caíra. Até aquele dia, eles viveram em função do sonho de retornar à cidade. Agora este sonho ruíra. Suas vidas, aparentemente, perderam o sentido – o mundo passara a ser tão desolado como um vale coberto por velhos ossos. A imagem do vale dos ossos secos é com certeza fortíssi-ma. Mas será que, por estarmos tão acostumados a ela, consegui-mos alcançar o seu real significado? Será que ela nos choca e nos emociona como deveria? É fato que, quanto mais nós nos acos-tumamos com algo, mais perdemos a sua essência de vista. Por isso, que tal olharmos para a mensagem de salvação que o Senhor proclamou para Israel por intermédio de Ezequiel por um ângulo bem diferente? Ezequiel olhava para o horizonte. O mar estava calmo, aparentemente desfrutando dos raios do sol que brilhava forte no céu. Ele parecia descansar de todo o esforço dos últimos dias. Que tempestade! Nem mesmo os mais velhos haviam vis-to coisa igual em suas vidas. Ondas enormes abateram-se sobre a costa por dias. O sal cobria tudo e todos. Mas ninguém se im-portava. Todos estavam preocupados demais com o Sião. Ezequiel

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recordava-se do que dissera à sua tripulação no dia em que ele deixou o cais. “Cuidado. O tempo vai virar. Não se brinca com o mar.” Eles pararam de carregar os suprimentos e de fazer osúltimos preparativos e, durante alguns tensos segundos, olharam para cima. O céu estava absolutamente limpo. Eles riram alivi-ados. “Que isso, Ezequiel! Olhe em volta de si! O tempo está ótimo.” Um deles lhe disse. “E mesmo se não se não fosse assim, este barco é forte! Não há tempestade neste mundo que afunde o Sião. Daqui a três semanas estaremos de volta com os porões abarrotados de peixe!” “Não há tempestade neste mundo que afunde o Sião.” Es-tas palavras ressoavam nos ouvidos de Ezequiel até agora. No dia seguinte à partida deles, o tempo virou, como Ezequiel percebera que iria acontecer. E logo todos notaram que uma tempestade de enormes proporções estava se aproximando. Todos os barcos estavam bem amarrados no cais, menos o Sião. Então, três dias depois, justamente quando a tempestade estava mais forte, alguém o avistou. Não era engano, lá estava ele, corajosamente lutando contra as enormes ondas, tentando voltar para o cais. As horas se passavam e ele quase não saía do lugar. Veio a noite e muitos permaneceram acordados, observando as suas luzes sumindo e reaparecendo por entre as ondulações. Cada vez que elas reapareciam, todos respiravam aliviados – aquele povo sabia muito bem qual era a extensão do perigo que assolava o Sião. Durante a maior parte do dia seguinte ele continuou lu-tando. Então, finalmente, a medida que a luz começava a diminuir novamente, ele aproximou-se do cais. Só o que se ouvia em toda a vila era o uivar do vento. Todos observavam atentamente o barco, já que sabiam que agora aqueles homens teriam de tomar a decisão mais importante de suas vidas. O cais ficava em uma

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pequena baía, bem protegida da fúria do mar por uma parede de rochas pontiagudas. A entrada para esta baía era bastante estreita e, mesmo em dias de tempo bom, exigia cuidado dos pilotos. Um erro de cálculo significava sérios danos à embarcação e, com este tempo, isto certamente levaria a um desastre. Um pouco mais a frente as rochas davam lugar a uma enseada de areia bem branca. Esta enseada, contudo, estava fora da baía e, por isso, desprotegida do mar. A escolha deles era, portanto, a seguinte: arriscar as suas vidas tentando entrar na baía a fim de salvar o Sião, ou encalhar propositadamente na enseada e assim garantir a sua própria segu-rança, pagando por isso com o seu barco? A tensão na pequena vila de pescadores era enorme, mas apesar disso, todos já sabiam que caminho aqueles homens iriam seguir. Eles confiavam na sua embarcação. E além disso, perder o Sião significaria perder anos de suas vidas. Sonhos que agora pare-ciam próximos talvez jamais seriam alcançados se o Sião se per-desse. Por isso, ninguém se surpreendeu quando a proa do barco apontou na direção da entrada da baía. Nem mesmo Ezequiel. A medida que ele se aproximava, todos puderam ver o es-tado do barco. Certamente ele não duraria nem mais uma hora naquele mar. As ondas cobriam-lhe de água por todos os lados. Todos pediam a Deus um milagre – pois todos sabiam que só por um milagre o Sião conseguiria passar pelas rochas. Ele foi se aproximando. A sua direção estava correta, ligeiramente fora de rumo para compensar a força da corrente. Ele chegava mais perto. Mais alguns metros e ele estaria em segurança... Mas, de repente, uma forte rajada de vento o empurrou contra as rochas. Todos ouviram o seu casco se partindo. O mar então caiu com toda a sua força sobre ele. Quando a onda pas-sou, lascas de madeira emergiram por todos os lados, em meio à espuma. No dia seguinte, Ezequiel fora com mais alguns pescadores até a enseada. Na areia estava boa parte dos destroços. Mas nen-

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Proibida a comercializaçãohum dos tripulantes, vivo ou morto, encontrava-se naquele lugar. E agora ele, Ezequiel, estava ali, observando o mar em toda a sua tranqüilidade e pensando sobre o que acontecera. “Por que os homens não escutam o mar?” Ele pensava. Ezequiel amava o mar. E como pescador que era, sabia que o mar os amava. Não era ele que dava-lhes o peixe em tanta abundância? E o peixe eles trocavam por todas as coisas que eles poderiam pre-cisar. E o que ele cobrava em troca? Apenas respeito. Apenas isto, nada mais. O Sião se perdera apenas porque aqueles homens não souberam dar ao mar a única coisa que ele pedia deles. Mas enquanto se deixava levar por toda essa melancolia, Ezequiel viu algo diferente na água. Ele foi andando até mais perto para ter certeza que não estava enganado. Não estava! Era a quilha do Sião! A quilha de um barco – a grande peça que delineia o casco da proa até a popa – é a sua alma. Com aquela pedaço de madeira, um novo Sião poderia ser construído! Apesar da perda irreparável das vidas daqueles homens, Ezequiel estava contente. O mar estava oferecendo-lhes uma nova esperança. Um novo Sião seria construído. O mar lhes daria os meios para isso, com a sua generosidade de sempre. “Eu só espero que nós tenhamos apren-dido a nossa lição de uma vez por todas.” Ele disse pra si mesmo. Mas no fundo, Ezequiel não tinha muita certeza disso. Eu espero que, através desta história, vocês possam ter compreendido como as profecias que Ezequiel trouxe até o povo exilado após a queda de Jerusalém foram absolutamente sur-preendentes. Para muitos deles, a destruição daquela cidade fora um sinal claro de que Deus os abandonara à sua própria sorte. E agora este profeta vinha lhes dizer que o Senhor não apenas iria reerguer Jerusalém, como também colocaria sobre ela um novo rei, um novo Davi. Isto não fazia sentido. A não ser que se olhe para tudo isso pelos olhos da fé. Assim percebemos que desta forma Ezequiel estava apenas divulgando uma velha mensagem que encontramos tantas vezes na Bíblia: nada é o que parece ser. O mundo – e tudo que nele há – não tem permanência alguma.

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Proibida a comercializaçãoA única coisa que é constante em todo o universo é o Senhor. Por isso, confiar em qualquer coisa que não seja o próprio Deus é o que realmente não faz sentido. Por isso, só há uma maneira de compreender este mundo em que vivemos: pela fé.

A visão da restauração (Ezequiel 41 a 48) Nessas últimas quatro semanas temos estudado o livro de Ezequiel. Considerando que, muitas vezes, estamos tão acos-tumados com o texto bíblico que passamos por ele sem nos dar conta do seu real significado, tentamos compreender as princi-pais lições com as quais este livro nos confronta de uma maneira um bastante diferente. Espero que esta mudança de estratégia não tenha sido sem proveito. De qualquer forma, este é o último do-mingo que estaremos lançando mão dela. A partir do domingo que vem, estaremos discutindo o livro de Daniel da mesma ma-neira que discutimos os livros de Jeremias e Lamentações. Hoje estaremos tratando dos últimos quatro capítulos do livro de Ezequiel. Neles, encontramos a descrição do novo Templo, de como o culto deverá ser prestado nele e de que forma a terra que o Sen-hor devolverá ao seu povo deverá ser repartida. Boa parte desses capítulos são trechos de difícil leitura. Contudo, eles trazem um significado muito especial, como o capítulo 43 e o início do 47 mostram com tanta clareza. A fim de compreendermos a pro-fundidade deste significado, vamos passar para um outro tempo, também descrito na Bíblia. De todos os seus discípulos, ele era um dos mais anti-gos. Israel perdera a conta de quantas maravilhas vira Deus fazer através dele. A mensagem que ele pregava àquele povo tão sofrido permanecia em seu coração dia e noite. E foram apenas três anos! Parecia muito mais. Como ele amava o Mestre! Ele mudara a sua vida por completo. Antes de conhecê-lo, Israel nem via muita graça nesta vida.

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Mas agora... Agora a sua própria história adquirira um brilho incrível! O Reino de Deus estava ao seu alcance. Isto o Mestre não só lhe ensinara, como também lhe mostrara muitas e muitas vezes.E agora ele estava morto. Israel não conseguia entender aquilo. De fato, já fazia algumas semanas, ele estivera bastante confuso. Desde que chagara em Jerusalém, o Mestre mudara bastante. A profunda alegria que sempre jorrara dele cessara. Agora as suas palavras eram duras e muito difíceis de entender e todos perce-biam que algo estava preocupando-o bastante. Por fim ele fora preso. E torturado. E morto. Israel não conseguia entender aquilo. Seu coração estava partido pela dor e pela raiva por aqueles que haviam feito aq-uilo. E, além disso, como é que ele encontraria o Reino agora? Aparentemente, sua vida perdera todo o sentido. Naquele dia ele acordou e caminhou sem rumo pela cidade. Não tinha vontade de ir para lugar nenhum, mas também não tinha vontade de pa-rar. Só queria entender. E se isso não fosse possível, queria então esquecer toda aquela dor. Por fim, acabou saindo da cidade. An-dou alguns minutos pela beira da estrada que descia até Betânia. Quantas vezes passara por ali, com o Mestre, nos últimos dias... Mas agora aquele caminho lhe parecia vazio. Havia muitas pes-soas indo e vindo, mas não o Mestre não estava mais lá. Israel então parou à beira do caminho e sentou-se so-bre uma pedra. Não queria pensar em nada. Só fitava a cidade, à distância. Por um instante toda a raiva e a angústia e a confusão que castigavam o seu coração passaram e ele sentiu apenas uma enorme e profunda saudade do Mestre. Foi neste instante que Israel viu Ezequiel se aproximando. Ezequiel era um outro antigo discípulo do Mestre. Israel o conhe-cia há muito, mas os dois não eram muito próximos. A questão era que, para Israel, era muito difícil conversar com Ezequiel. Ele não conhecia ninguém, além do próprio Mestre, que conseguisse

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falar coisas tão difíceis de entender quanto Ezequiel. E lá vinha ele. “Que hora para tentar decifrar os enigmas de Ezequiel!” Pen-sou Israel. Ele já tinha mais do que enigmas o suficiente para re-solver. Ezequiel sentou-se ao lado de Israel e também ficou ali ol-hando para a cidade em silêncio por alguns minutos. Foi o próprio Israel que interrompeu aquele momento: “Ele se foi, Ezequiel.” “É verdade, ele se foi.” Concordou Ezequiel. “Mas amanhã ele estará de volta.” Israel deu um pequeno sorriso. O que Ezequiel acabara de dizer não lhe era estranho. Qual discípulo não conhecia os diferentes relatos sobre o que o Mestre dizia aos doze apenas? Mas ele continuou. “Ele irá voltar da morte, Israel. Porque ele vencerá a morte.” Ezequiel então contou lhe como logo chegaria o momento em que o Mestre estaria mais presente do que nunca em suas vidas. Ele lhe contou como estes três anos em que eles escutaram as suas palavras foram apenas uma preparação para o que ainda estava por vir. Ele lhe mostrou o que significava dizer que Jesus, o Naza-reno, era o Cristo. Dessa forma, Israel finalmente compreendeu. Ezequiel esquadrinhara o seu futuro diante dele. A sua vida agora fazia sentido, ele tinha esperanças novamente! Como é que ele pôde passar tanto tempo com o Mestre sem compreender o que ele vinha lhe dizendo? Mas graças a Deus, agora Israel compreendera. Era por isso que Israel não conseguia entender o que Ezequiel dizia! Se ele não entendia uma mensagem que o próprio Mestre pregava, como é que ele a entenderia vinda da boca de outra pessoa? Foi necessário que as coisas sobre as quais o Mestre tanto falou começassem a acontecer para que algo final-mente mudasse na mente de Israel e assim ele compreendesse.“O próprio Senhor esteve ao meu lado durante todo aquele tempo e eu não percebi...” Pensou Israel. Aquilo era absolutamente in-crível, mas, ao mesmo tempo, fazia todo o sentido. Todo o sentido do mundo.

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Não é a toa que o livro de Ezequiel termina com estas lon-gas descrições do Templo e de tudo o que lhe diz respeito. Como nós já observamos por tantos ângulos diferentes, quando o povo que estava no exílio recebeu a notícia da destruição de Jerusalém, ele se sentiu como se o chão tivesse sido tirado de debaixo dos seus pés. Hoje comparamos esta absoluta perda de referências ao que os discípulos experimentaram depois que Jesus morreu e an-tes que ele ressuscitasse. Sendo assim, estes últimos capítulos são o novo chão que foi colocado sob os pés daquele povo. Não só Ezequiel, como também muitos dos profetas, dedi-caram boa parte dos seus ministérios à tarefa de mostrar ao povo que o Senhor é o único fundamento que todos nós precisamos. Contudo, ele sabia que relacionamento nenhum pode ser con-struído sem que ambas as partes empenhem algo. Uma breve leitura de praticamente qualquer livro profético nos mostra que se o povo insiste em não amar e respeitar o Senhor, por mais que o Senhor o amasse e estivesse disposto a perdoá-lo, jamais haveria um verdadeiro relacionamento entre ambas as partes. Só existirá um contato vazio e triste. Por outro lado, nem sempre percebemos que, se o povo confiasse em Deus mas Deus não cuidasse dele – por mais que ele não merecesse absolutamente nenhum cuidado – também não haveria um verdadeiro relacionamento entre o Senhor e o seu povo. Imagine se a história de Jesus terminado no calvário. O que será que Deus representaria para você, hoje? Me parece que as nossas vida perderiam o sentido. O mesmo Deus que não tinha a menor necessidade ou obrigação de mostrar ao povo através de Ezequiel o quanto ele o amava é o mesmo Deus que não só morreu na cruz por nós como também voltou para nos mostrar o caminho. .

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Daniel

A história de Daniel e seus amigos (Daniel 1 a 6) Hoje iniciamos a última fase deste trimestre. Nela, dis-cutiremos o livro de Daniel. Gostei muito de saber que este livro é justamente o último livro que estudaremos juntos: a sua men-sagem de esperança e fé é um excelente assunto para com o qual nos despedirmos. Sendo assim, sigamos em frente. O livro de Daniel é um livro bastante diferente dos de-mais livros do Antigo Testamento por vários motivos. Contudo, a maior diferença entre ele e os outros livros geralmente passa to-talmente despercebida por nós. Isso acontece porque em nossas Bíblias nós encontramos uma tradução extremamente trabalhada desta obra. Se não fosse assim, perceberíamos que o livro de Dan-iel não foi escrito em uma única língua, como os outros livros do Antigo Testamento, mas em três. Isso mesmo, o livro de Daniel foi originalmente composto em três línguas: o aramaico, o hebraico e o grego. Existem muitas hipóteses para tentar explicar porque isso aconteceu, mas para nós não é importante poder entender este processo detalhadamente, mas sim apenas compreender que di-vidindo o texto em blocos referentes às línguas originais, obtemos as diretrizes para uma divisão bastante adequada de todo o livro. Esta divisão é a seguinte: capítulo um, introdução; capítulos dois a sete, narrativas; capítulos oito a 12, visões; capítulos 13 e 14, mais narrativas. Aqui é importante observar que em nossas Bíblias, os textos que foram escritos originalmente em grego foram removi-dos por terem sido considerados adições posteriores às Escrituras. Por isso, nossas Bíblias não contém os versículos 24 a 90 do capí-tulo três e os capítulos 13 e 14, como as Bíblias católicas, por ex-

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emplo. De qualquer forma, segundo esta divisão, esta semana lemos a introdução e a primeira parte do livro de Daniel. Esta primeira parte contém as narrativas acerca de Daniel e seus amigos; históri-as ágeis, interessantes e com profundo sentido teológico. Toda-via, antes de lidarmos com seu conteúdo, ainda é preciso observar uma outra igualmente profunda e sutil diferença entre o livro de Daniel e os outros livros do Antigo Testamento. Para compreender esta diferença, vamos partir de uma pergunta crucial: qual é o tema principal deste livro? Poderíamos sugerir inúmeras respostas, mas sigamos pela que me parece a melhor: a soberania de Deus sobre a história. Contudo, você po-deria perguntar: não é este o tema de todos os livros proféticos? Bem, este é, de fato, um tema de grande parte dos livros proféti-cos, mas só em Daniel ele é o tema. No livro de Daniel, a história passa a ser vista de uma perspectiva muito mais afastada. O autor não proclama apenas a soberania de Deus sobre alguns eventos relativos a uma situação, mas sim sobre a história universal. Esta mudança de perspectiva é, em grande parte, única nos livros bíbli-cos. Contudo, o conteúdo do livro de Daniel teria sido compro-metido caso o autor não tivesse escolhido um ponto focal nessa história tão vasta. E o ponto que ele escolheu foi justamente o seu desenlace, o seu clímax. Este desenlace é o momento crucial em que o Senhor assumirá o seu posto aos olhos de todos – inclusive os mortos, que terão ressuscitado. É o momento que está sendo preparado por todos os outros momentos. Dessa forma, concluindo que o ponto focal deste livro é a resolução de toda a história, chegamos à segundo grande diferen-ça entre Daniel e os demais livros do Antigo Testamento. O livro de Daniel não faz parte do gênero profético, como muitas vezes estamos acostumados a pensar. Daniel é um livro apocalíptico. Este gênero nasceu nos séculos posteriores ao exílio Babilônico, quando a inspiração literária parecia estar esgotada, trazendo um

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novo ímpeto criativo. Contudo, não é um gênero que brota do nada, mas é herd-eiro de outras formas de escrever que já estavam em uso há muitos séculos. De fato, a apocalíptica herdou da profecia a missão de proclamar a ação de Deus na história e a esperança que brota des-ta constatação. Do gênero sapiencial, ela herdou o interesse pela interpretação das antigas profecias, e do gênero narrativo, o uso da ficção. Isso mesmo, da ficção. É aqui que finalmente chegamos a um dos aspectos mais controvertidos do livro de Daniel. Todavia, a nossa reflexão sobre a controvérsia terá de ficar para a semana que vem. Agora que já isolamos o trecho que estamos estudando esta semana e já com-preendemos o caráter geral desta obra, vamos rever, mais especifi-camente, o que livro em si tem a nos ensinar. Tomemos como base para esta análise o primeiro sonho de Nabucodonosor, que está no capítulo dois. O que é que o imperador da Babilônia viu neste son-ho? Bem, uma enorme estátua com a cabeça de ouro, o peito e os braços de prata, o ventre e as coxas de bronze, as pernas de ferro e os pés de ferro e argila. E, enquanto ele a observava, uma pedra caiu sobre os pés dela e os destruiu, triturando também todo o resto da estátua de tal forma que não sobrou nada dela. Então a pedra cresceu a ponto de ocupar a terra toda. A interpretação de Daniel, que aliás salva vida dos magos da corte, é simples.A cabeça é o império babilônico. As demais partes da estátua são reinos que o sucederão e que serão cada vez mais fracos. Por fim, virá um reino que destruirá todos os que lhe precederam e que não terá fim. A mensagem é clara: Deus é o soberano sobre a história. Não adianta reunir o maior e mais poderoso exército da terra, não adianta organizar-se de maneira espantosa; quem decreta o começo e o fim dos impérios é o Senhor. E ele já decretou que todos os impérios passarão mediante a chegada de um reino que jamais passará porque ele, o Senhor, assim o quer. E o interesse do

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autor deste livro na chegada deste reino é o que faz desta obra um livro apocalíptico, um livro que lida com o desenlace da história. Mas tomemos um passo adiante. Qual reino veio após o império babilônico? Ora, o império persa. E quem veio depois deles? Alex-andre, o grande. E depois dele? Os seus generais, Seleuco, Pto-lomeu... E depois? Bem, os seus descendentes. Pois é. Está aí a estátua. A cabeça é o império babilônico, o peito e os braços são o império persa, o ventre e as coxas são o império de Alexandre e as pernas e os pés são os reinos de seus generais e seus descendentes. Dessa forma acabamos dando uma meia volta que nos trouxe de volta ao assunto da semana que vem. Porque, se o reino que dura para sempre veio logo após o reino dos selêucidas e pto-lomeus, então ele chegou por volta do século II a.C. Mas a história não registra a existência deste reino. O que terá acontecido? Bem, isso nós veremos na semana que vem. Mas mesmo sem a resposta para esta pergunta, ainda temos em mãos uma poderosa mensagem. Eu não sei quanto a vocês, mas depois de ter começado a estudar este livro, não consegui mais ler o jornal da mesma forma. Eu abro aquelas páginas e vejo notícias tristes e uma descrição minuciosa de uma sociedade doente que, em sua desordem, acaba seguindo por um rumo bastante ruim. A minha primeira reação sempre foi achar isso uma pena e ques-tionar a possibilidade de se transformar esta situação para mel-hor. Contudo, agora, conhecendo melhor a história de Daniel, é mais fácil perceber que o Senhor está a par de tudo isso e está em pleno controle da situação. Se as coisas chegaram a esse ponto, foi porque ele permitiu que assim fosse. E se ele permitiu que assim fosse, ainda há uma esperança. De fato, pela fé, sigo os passos de Daniel e creio que ainda haverá um desenlace absolutamente sur-preendente para todas essas coisas. Saber que Deus é soberano sobre a história é confiar nele.

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Portanto, continuemos confiando e vivendo em meio a tempos difíceis e cruéis sabendo que a nossa esperança vem do nosso Deus, e de nada mais.

As visões de Daniel (Daniel 7 a 12) Hoje vamos tratar de um assunto um tanto complicado. Vocês se lembram que semana passada eu mencionei uma grande controvérsia acerca do livro de Daniel? Pois é. Será ela o assunto de hoje – se tudo correr bem, será um final e tanto para os nossos encontros! A nossa Bíblia contém 66 livros. Destes, 35 têm como títu-lo o nome do pressuposto autor daquela obra. Digo pressuposto porque, ao contrário do que muitos podem imaginar, o texto orig-inal dos livros que estão na Bíblia não continham títulos. Por isso, hoje, quando abrimos as nossas Bíblias, batemos o olho no título de um livro e imediatamente fazemos a conexão assumindo que o título refere-se inequivocamente ao autor daquela obra, perdem-os, no mínimo, uma grande oportunidade. E que oportunidade é essa? Ora, a oportunidade de refletir sobre a autoria daquela obra e, assim, conhecê-la mais profundamente. Mesmo que esta reflexão nos traga de volta para a nossa antiga pressuposição, nós, sem dúvida, teremos aprendido bastante com ela. Portanto, não vamos deixá-la escapar! Durante muitos e muitos anos teve-se como certo que o autor do livro de Daniel era o próprio pro-tagonista. O uso da primeira pessoa em alguns trechos do texto apontavam para isto. Contudo, aos poucos foi-se percebendo que a questão não era tão simples assim. A partir de então, começou-se a refletir mais profundamente sobre a questão. Uma das primeiras conclusões a que se chegou, através de pesquisas paralelas, foi que houve um personagem na antigüidade famoso pela sua bondade e sabedoria chamado Daniel. Nós o en-contramos lá em Ez 14.14, vocês se lembram? O autor daquele liv-ro o listava ao lado de Noé e Jó, o que significa que ele dificilmente

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poderia ser considerado um contemporâneo daquele profeta. Mas além deste Daniel mais antigo, também houve um outro Daniel que viveu no exílio e que também ficou famoso por sua bondade e sabedoria? A história simplesmente não pode responder esta questão. Contudo, tendo ele existido ou não, dois fatos são claros: primeiro, com o tempo ele assumiu traços lendários, segundo, ele tornou-se realmente muito conhecido após o exílio, a ponto de ser o assunto de tradições muito diferentes. Partindo dessas conclusões, podemos tentar reconstruir o processo de formação deste livro. A medida que os anos foram passando após o exílio e Daniel foi se tornando cada vez mais con-hecido, muitas tradições – histórias, mesmo – começaram a ser escritas sobre ele. Estas tradições eram bastante independentes até que, no século II a.C. alguém resolveu uni-las com um único ob-jetivo: tentar explicar para o povo judeu a razão dos sofrimentos que ele vinha enfrentando. Estes sofrimentos referiam-se à perseguição de Antíoco Epífanes, às lutas internas e às guerras constantes que enfraque-ciam este povo cada vez mais. Assim, o autor final do livro de Daniel aparentemente usou a popular figura de Daniel para mostrar para aquele povo como tudo acabaria, porque aquelas coisas estavam acontecendo e qual era aatitude que eles deveriam tomar frente àqueles eventos.Assim, concluímos que o livro de Daniel é provavelmente obra de um autor que reuniu diversas tradições acerca de um personagem, as alterou e adicionou outros elementos a fim de passar adiante uma mensagem. Mensagem esta cujo núcleo já observamos na se-mana passada: a soberania de Deus sobre a história. Contudo, esta conclusão não poderá ser sequer consid-erada sem que antes mergulhemos de cabeça na grande pergunta que dela brota: afinal, o livro de Daniel é obra de um homem ou de Deus? As perguntas simples nem sempre têm respostas simples.

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Proibida a comercializaçãoContudo, não vamos desistir de responder esta indagação sem an-tes tentar. Quem sabe, mesmo que não cheguemos a uma resposta final, não poderemos encontrar algo que justifique o esforço?Você se lembra que na semana passada nos discutimos o sonho de Nabucodonosor e chegamos à conclusão que, segundo este sonho, o reino eterno deveria ter chegado por volta do século II a.C.? Pois é. De fato, não é só este trecho do livro que aponta esta data para o desenlace da história, mas também muitas das visões sobre as quais lemos esta semana. Mas, como nós também já notamos, não há marco histórico algum da chegada deste reino. E em se tratando de um reino descrito como uma montanha que ocupa toda a terra, isso é, no mínimo, um pouco estranho, não é mesmo? Ao meu ver, essa situação só se explica de uma forma: o autor do livro de Daniel cometeu um erro. Ele previu que o desenlace da história se daria nos seus dias e proclamou esta idéia através deste livro, mas isto simplesmente não aconteceu. Após a morte de Antíoco Epífanes a história continuou com seus altos e baixos, caminhando para o seu fim, que permanece inalcançado. A conclusão de tudo isso? O livro de Daniel é obra de um homem. Deus não poderia errar desta forma. Mas antes de você desligar o seu rádio frente a tamanha blasfêmia, escute! A questão ainda não está resolvida. O livro de Daniel não é um mapa do tesouro. Seu propósi-to não é apontar a data do desenlace da história. Este livro é muito mais do que isso. O livro de Daniel nos ensina como agir em tem-pos maus. Quem haverá de se esquecer do comportamento de Daniel e dos seus três amigos em meio à devassidão da corte babilônica, onde eles rejeitaram todos os prazeres que haviam sido colocados diante deles em nome de uma vida reta? O livro de Daniel nos ensina que tudo tem seu propósito nos planos do nosso Senhor. Lembremo-nos das visões sobre as quais lemos esta semana. Qu-antos detalhes! E tudo aquilo fazia parte de um plano maior que estava se desenvolvendo, mesmo que através de atos maus. O livro

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de Daniel nos ensina como tudo há de terminar. Em Daniel 12.2-3 lemos:“Multidões que dormem no pó da terra acordarão: uns para a vida eterna, outros para a vergonha, para o desprezo eterno. Aqueles que são sábios reluzirão como o fulgor do céu, e aqueles que conduzem muitos à justiça serão como as estrelas, para todo o sempre.” Tudo terminará maravilhosamente bem para aqueles que amam a Deus! A conclusão de tudo isso? O livro de Daniel é obra de Deus. Não creio que um homem poderia acertar desta forma. Mas que resposta ambígua! Quer dizer que o livro de Daniel é a obra de um homem mas também é a obra de Deus? E o mesmo também se aplica para o restante da Bíblia? A minha resposta para as duas perguntas é sim. A sua, é por sua conta. Contudo, antes de bater o martelo sobre esta questão, ob-serve mais um ponto que brota desta controvérsia. Qual são as implicações deste conceito de dupla autoria para o nosso dia-a-dia? Bem, uma coisa é certa, a Bíblia nunca mais será a mesma. Mas de que forma? Ora, é claro que você poderia responder: de uma forma terrível. Mas eu vejo um outro caminho. Percebendo que a Bíblia é um trabalho feito pelos homens e por Deus, fica mais fácil constatar que a nossa vida também é obra de dois au-tores. Da mesma forma que o Senhor não forçou a sua perfeição sobre os autores Bíblicos, ele não a força sobre nós. E também, da mesma forma que estes autores não puderam forçar a sua imper-feição sobre o Senhor, nós também não podemos forçar a nossa imperfeição sobre ele. Resumindo, vendo as coisas desta forma, a Bíblia nos ensina mais uma vez qual é a nossa verdadeira natureza: somos santos pecadores! Somos deste mundo e não somos deste mundo! Assim, após termos estudado juntos Jeremias, Lamen-tações, Ezequiel e Daniel, nos despedimos. Espero que cada uma

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destas lições tenha levado vocês a considerar o que, para mim, é o maior apelo da Bíblia: ela não é um documento absolutamente perfeito, mas exatamente como eu, carrega em si a infinitude do nosso Senhor e a finitude da sua criação.