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PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM LINGUÍSTICA
SEMINÁRIO DE PESQUISAS
LINGUÍSTICAS EM ANDAMENTO
Primeira Parte – Evento Satélite
09 A 15 DE AGOSTO DE 2018
Segunda Parte
24 A 27 DE SETEMBRO DE 2018
CADERNO DE RESUMOS
https://sepla-2018.webnode.com/
COMISSÃO ORGANIZADORA DO SEMINÁRIO DE PESQUISAS
LINGUÍSTICAS EM ANDAMENTO – SEPLA/POSLING
Comissão organizadora
Adriana Leitão Martins
Aleria Lage
Alessandro Boechat de Medeiros
Andrew Ira Nevins
Aniela Improta França
Realização
Programa de Pós-Graduação em Linguística da UFRJ
Diagramação / Arte do Caderno de Resumos
Rafaela do Nascimento Melo Aquino
Rafael Berg Esteves Trianon
UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO
Programa de Pós-graduação em Linguística - Sala F-321
Faculdade de Letras
Avenida Horácio de Macedo, 2151
Cidade Universitária, Ilha do Fundão, Rio de Janeiro, RJ
CEP 21941-917
S471a Seminário de Pesquisas Linguísticas em Andamento (12. : 2018: Rio de
Janeiro, RJ)
Caderno de Resumos do III Seminário de Pesquisas Linguísticas
em Andamento [recurso eletrônico] / org. PPGL ; coord. Adriana Leitão
Martins, Aleria Lage, Alessandro Boechat de Medeiros, Andrew Ira
Nevins, Aniela Improta França. Dados Eletrônicos. – RIO DE JANEIRO
: UFRJ, 2018.
Modo de acesso: World Wide Web
<www.linguisticario.letras.ufrj.br>
ISSN: 2358-6826 (on-line)
1. Linguística. 2. Pesquisas científicas. 3. Teses e dissertações. I.
Universidade Federal do Rio de Janeiro. II. Martins, Adriana Leitão. III.
Lage, Aleria. IV Medeiros, Alessandro Boechat de. V Nevins, Andrew
Ira. VI França, Aniela Improta. VII Título.
CDD-22. ed. 410
SUMÁRIO
CRONOGRAMA DO EVENTO
9
MODELOS FUNCIONAIS BASEADOS NO USO 17
UM ESTUDO DIACRÔNICO SOBRE AS CONSTRUÇÕES COM O VERBO LEVAR, NA
PERSPECTIVA DOS MODELOS BASEADOS NO USO 18
Allan Costa Stein
A EVOLUÇÃO DA REDE DE CONSTRUÇÕES CAUSAIS NO PORTUGUÊS 20
Bruno Araújo de Oliveira
O USO DO PRESENTE PARA NOTICIAR FATOS PASSADOS EM MANCHETES
JORNALÍSTICAS 25
Caroline Soares da Silva
DA OCULTAÇÃO DOS FATOS AO DESLINDE DO CRIME: UMA ANÁLISE DA
DISCURSIVIDADE DO VERBAL E DO NÃO VERBAL NA ELUCIDAÇÃO DO CASO
ISABELLA NARDONI 28
Christine Mello Minister
A COMPLEMENTAÇÃO SENTENCIAL DO PORTUGUÊS BRASILEIRO: INVESTIGANDO
UMA REDE TAXONÔMICA DE CONSTRUÇÕES 30
Dayanne de Oliveira Silva
DISCURSO DO CONTATO COM INDÍGENAS ISOLADOS PÁNO 33
Flávia Leonel Falchi
UMA ABORDAGEM FUNCIONALISTA NA DESCRIÇÃO DAS CONSTRUÇÕES
QUANTITATIVAS DA LÍNGUA RUSSA 35
Gabrielle de Figueira do Nascimento
DA CATEGORIZAÇÃO RADIAL AO ARMAZENAMENTO CONSTRUCIONAL: O QUE NOS
ENSINAM OS VERBOS DE SEPARAÇÃO DO PORTUGUÊS? 37
Jéssica Cassemiro Muniz dos Santos
ANÁLISE DA CONSTRUÇÃO [VERBO ADJETIVO ADVERBIAL] EM VARIAÇÃO COM A
CONSTRUÇÃO [VERBO XMENTE] DE PAREAMENTO QUALITATIVO NO PB 39
Júlia Langer de Campos
ORDENAÇÃO E INFORMATIVIDADE DO SINTAGMA NOMINAL COMPLEXO NO
GÊNERO NOTÍCIA POLÍTICA 41
Lorena Cardoso dos Santos
(DES)ORDEM DA IMAGEM E SENTIDOS DO OLHAR: GESTOS DE LEITURA DE
FOTOGRAFIA DIGITAL DA G MAGAZINE POR RASTREAMENTO OCULAR 43
Lucas Nascimento
DESENVOLVIMENTO FONOLÓGICO EM CRIANÇAS COM TRANSTORNO DO ESPECTRO
AUTISTA – SÍNDROME DE ASPERGER 46
Marcela Branco da Silva
NA TRAMA DOS SENTIDOS: O EDITAL DE CONCURSO PÚBLICO SOB A ÓTIMA DA
ANÁLISE DO DISCURSO 49
Márcio Lázaro Almeida da Silva
UM ESTUDO COMPARATIVO ENTRE REVISTAS DE DIVULGAÇÃO CIENTÍFICA 52
Mariana Ximenes Bastos
A TRAJETÓRIA DAS CONSTRUÇÕES CONCLUSIVAS COM PORTANTO, PORISSO, LOGO
E ENTÃO 54
Mayra França Floret
A FORMAÇÃO DAS MICROCONSTRUÇÕES ASSIM QUE, JÁ QUE E UMA VEZ QUE: UMA
ABORDAGEM COGNITIVO-FUNCIONAL 56
Monique Petin Kale dos Santos
A FORMAÇÃO HISTÓRICA DA CONSTRUÇÃO DE REPENTE: UMA ABORDAGEM
CONSTRUCIONAL NO USO 58
Nastassia Santos Neves Coutinho
CONSTRUCIONALIZAÇÃO EM UM MONTE DE SN: UMA ABORDAGEM CENTRADA NO
USO 60
Nuciene Caroline Amphilóphio Fumaux
PLURILINGUISMO E POLÍTICA DE LÍNGUAS EM TERRITÓRIO FLUMINENSE 62
Rodrigo Pereira da Silva Rosa
CONSTRUCIONALIZAÇÃO DOS CONECTORES AINDA QUE E MESMO QUE NO
PORTUGUÊS: UMA VISÃO CONSTRUCIONAL DE MUDANÇA 64
Thiago dos Santos Silva
DISCURSO E IMAGEM EM ESCOLAS DE SAMBA: GESTOS DO VISÍVEL, INVISÍVEL,
SONORIDADE E DO SILÊNCIO NO CARNAVAL 66 Tiago José Freitas Batista
VARIAÇÃO E MUDANÇA LINGUÍSTICA 69
VARIAÇÃO LINGUÍSTICA E AQUISIÇÃO DE ORAÇÕES RELATIVAS POR CRIANÇAS
FALANTES DO PORTUGUÊS BRASILEIRO 70
Ana Cristina Baptista de Abreu
SEGMENTAÇÃO NO INÍCIO DA ESCRITA 72
Andreia Cardozo Quadrio
AS VOGAIS MÉDIAS PRETÔNICAS NA FALA CARAVELENSE 74
Daillane dos Santos Avelar
VARIEDADE DE PORTUGUÊS FALADA POR PROFESSORES TIKUNA: UMA ANÁLISE DE
FENÔMENOS FONÉTICO-FONOLÓGICOS EMORFOSSINTÁTICOS 76
Ligiane Pessoa dos Santos Bonifácio
ESTUDO DIACRÔNICO DE PHRASAL VERBS COM A PARTÍCULA OUT NAS
CONSTRUÇÕES [VOUTSN] E [V SNOUT] 78 Manuela Correa de Oliveira
GRAMÁTICA NA TEORIA GERATIVA 80
ESTRUTURA INFORMACIONAL, PLURALIDADE, DEFINITUDE E VALOR DE VERDADE 80
Alan de Sousa Motta
APRENDIZAGEM FONOLÓGICA DE L3 E SUAS IMPLICAÇÕES NO SISTEMA
FONOLÓGICO DA L2 83
Brenda da Silva Barreto
SOBRE A INTERPRETAÇÃO DOS INDEFINIDOS E NOMES NUS:UM ESTUDO DE ESCOPO
86
Ohanna Teixeira Barchi Severo
FOCALIZAÇÃO IN SITU NO PORTUGUÊS DO BRASIL: INTERFACE SINTAXE-
FONOLOGIA 89
Rafael Berg Esteves Trianon
REANÁLISE EM NOMES DEVERBAIS DO PORTUGUÊS:UM ESTUDO NA INTERFACE
SINTAXE-SEMÂNTICA 91
Rafaela do Nascimento Melo Aquino
A AQUISIÇÃO DA MORFOLOGIA DE IMPERFECTIVO CONTÍNUO POR APRENDIZES DE
FRANCÊS (L2) FALANTES NATIVOS DO PORTUGUÊS DO BRASIL 94 Sabrina Gomes da Silva
LINGUAGEM, MENTE E CÉREBRO 96
O EFEITO DA LACUNA PREENCHIDA E A INFLUÊNCIA DISCURSIVA EM
INTERROGATIVAS QU 97
Amanda Rocha
PROCESSAMENTO SINTÁTICO EM CEGOS: UMA REFLEXÃO SOBRE O PESO DE
DIFERENTES MÓDULOS COGNITIVOS 99
Emily Silvano da Silva
LENDO FACES E PALAVRAS: UMA ABORDAGEMPSICOLINGUÍSTICA 101
Isadora Rodrigues de Andrade
A REPRESENTAÇÃO DO ASPECTO PERFECT: UM ESTUDO A PARTIR DA DEMÊNCIA DO
TIPO ALZHEIMER 104
Jean Carlos da Silva Gomes
A TEORIA DA MENTE DIGITAL: INTERAÇÃO ENTRE BEBÊS E MÁQUINA 107
Kate Barbara de Mendonça Leal
O PROCESSAMENTO DA CORREFERÊNCIA PRONOMINAL EM POSIÇÃO DE SUJEITO E
EM POSIÇÃO DE OBJETO: RESULTADOS PRELIMINARES DE UM ESTUDO
COMPARATIVO ENTRE PB E PE 109
Katharine de Freitas Pereira Neto Aragão da Hora
O PROCESSAMENTO DAS CONSTRUÇÕES DE TÓPICO ESTILO-CHINÊS NO PORTUGUÊS
DO BRASIL 112
Lorrane da Silva Neves Medeiros Ventura
REALISMO NOMINAL LÓGICO VISUAL E CONSCIÊNCIA FONOLÓGICA 115
Mariana Fernandes Fonseca
SINTAGMAS PREPOSICIONAIS COORDENADOS E ENCAIXADOS NO PERÍODO DE
AQUISIÇÃO 117
Mayara de Sá Pinto
AQUISIÇÃO DE PERFECT NO PORTUGUÊS DO BRASIL: UMA DESCRIÇÃO PRELIMINAR
121
Nayana Pires da Silva Rodrigues
A AQUISIÇÃO DA ORDEM ORACIONAL DO PORTUGUÊS BRASILEIROCOMO L2 POR
HISPANOFALANTES ADULTOS 124
Rogério Santos Júnior
RELAÇÕES INFERENCIAIS E O PAPEL DOS CONECTIVOS: UM ESTUDO DO
PROCESSAMENTO DA LEITURA 129
Sabrina Lopes dos Santos
A PERCEPÇÃO DAS CRIANÇAS NÃO ALFABETIZADAS ACERCA DO COMPRIMENTO DA
PALAVRA ARTICULADA: UM ESTUDO EXPERIMENTAL 132
Sammy Cardozo Dias
ESTUDO DAS LÍNGUAS INDÍGENAS 134
A EVIDENCIALIDADE EM WA'IKHANA (TUKANO ORIENTAL): UMA PROPOSTA
FUNCIONAL-TIPOLÓGICA 135
Bruna Cezario Soares
BASES PARA A DESCRIÇÃO DAS LÍNGUAS CINTA LARGA E ZORÓ (FAMÍLIA TUPI-
MONDÉ) 138
Cristóvão Teixeira Abrantes
TIPO SEMÂNTICO IDADE E CLASSES LEXICAIS NO WA’IKHANA E NO GUATÓ 140
Kristina Balykova
SWITCH REFERENCE EM MAXAKALI 142 Silvia Siqueira Pereira
SESSÃO DE POSTÊRES 146
CONTRIBUIÇÕES SOCIOLINGUÍSTICAS PARA O ESTUDO DOS GÊNEROS TEXTUAIS-
DISCURSIVOS EM AMBIENTE DIGITAL: UM OLHAR SOBRE O OBJETO DIRETO 147
Andrei Ferreira de Carvalhaes Pinheiro
RASTREAMENTO OCULAR DE ORAÇÕES TEMPORARIAMENTE AMBÍGUAS:
REFLEXÕES SOBRE OS EFEITOS GARDEN-PATH E GOOD-ENOUGH NA LEITURA DE
ALUNOS DE CURSO FUNDAMENTAL E SUPERIOR 150
Emily Silvano da Silva
A ICONICIDADE COMO UM RECURSO COGNITIVO PROVISÓRIO NA AQUISIÇÃO DA
LEITURA 151
Isadora Rodrigues de Andrade
CONHECIMENTO DE TEMPO E ASPECTO EM IDOSOS FALANTES NATIVOS DO
PORTUGUÊS BRASILEIRO 154
Jean Carlos da Silva Gomes
A IDENTIFICAÇÃO DOS PREFIXOS ES- E EN- EM VERBOS DENOMINAIS
PARASSINTÉTICOS 157
Luis Felipe dos Santos Nascimento
FUNÇÕES EXECUTIVAS E TESTE DE ROLE-PLAYING EM EXPERIMENTOS COM
CRIANÇAS 158
Mayara de Sá Pinto, Sarayane Miranda, Emily Silvano, Isadora Andrade, Sammy Cardoso,
Kate Mendonça, Clara Bueno, Ana Machado, Julia Lopes, Aleria Lage, Aniela França
A COMBINAÇÃO DA PERÍFRASE PROGRESSIVA “ÊTRE EN TRAIN DE” + INFINITIVO
COM OS DIFERENTES TIPOS DE VERBO NO FRANCÊS 161
Sabrina Gomes da Silva
O DESENVOLVIMENTO DA LEITURA NA CRIANÇA: UM ESTUDO DOS ASPECTOS
NEUROCOGNITIVOS 163
Sammy Cardozo Dias
RETOMADAS NOMINAIS, PRONOMINAIS E ZERO NOS LDS DE HISTÓRIA 165 Talita Moreira de Oliveira
9
Linguística Rio, v. 4, ed. esp., dezembro de 2018. ISSN 2358-6826
CRONOGRAMA DO EVENTO
PRIMEIRA PARTE – EVENTO SATÉLITE
DE 09 A 15 DE AGOSTO DE 2018
Linhas de pesquisa contempladas do Programa de Pós-Graduação em Linguística da UFRJ:
Variação e Mudança Linguística e Modelos Funcionais Baseados no Uso
QUINTA 09/08
09h30 – 10h30 – CONFERÊNCIA 1 –MARCOS BAGNO (UnB)
II D-LING e I Jornada de Estudos Galegos
Título: Do galego ao brasileiro, passando pelo português
10h30 – 11h00 - Intervalo – coffee break
11h00 – 13h00 – MESA REDONDA – II D-LING e I Jornada de Estudos Galegos
Título: Estudos galegos
Participantes: JUSSARA ABRAÇADO (UFF/CNPq)
LEONARDO MARCOTULIO (Dep. Vernáculas UFRJ)
ANDRÉ FELIPE CUNHA (Recém-Doutor em Linguística UFRJ)
QUÉZIA LOPES (Doutoranda de Linguística UFRJ)
13h00 – 14h30 – Almoço
14h30 – 15h30 – CONFERÊNCIA 2 – XOÁN LAGARES (UFF) -II D-LING e I Jornada de
Estudos Galegos
Título: O galego hoje. Que língua é essa?
15h30 - 16h45 –XXIII SEPLA – SESSÃO 1
15h30 - 15h55 – Nastassia Santos Neves Coutinho - Orientadora: Maria Maura Cezario
Debatedor: Marcos Bagno (UnB)
15h55 - 16h20 – Nuciene Amphilóphio Fumaux (CAPES) - Orientadora: Karen Alonso
Co-orientadora: Maria Maura Cezario
Debatedora: Jussara Abraçado (UFF/CNPq)
16h20 - 16h45 – Thiago dos Santos Silva (CAPES) - Orientadora: Maria Maura Cezario
Debatedor: Marcos Bagno (UnB)
16h45 – 17h00 - Intervalo – coffee break
10
Linguística Rio, v. 4, ed. esp., dezembro de 2018. ISSN 2358-6826
17h00 - LANÇAMENTO DE LIVROS: XXIII SEPLA, II D-LING e I Jornada de Estudos Galegos
Debatedora: Marília Costa (UFRJ)
SEGUNDA 13/08
09h30 – 12h30 – MINICURSO 1 – RONALD BELINE (USP/CNPq) – II D-LING
Título: O estudo da percepção sociolinguística
12h30 – 14h00 – Almoço
14h00– 17h00 – MINICURSO 2 – DANTE LUCCHESI (UFF/CNPq) – II D-LING
Título: Contato entre línguas e mudança linguística: o caso brasileiro
TERÇA 14/08
09h30 – 12h30 – MINICURSO 1 – RONALD BELINE (USP/CNPq) – II D-LING
Título: O estudo da percepção sociolinguística
12h30 – 14h00 – Almoço
14h00– 15h15 –XXIII SEPLA – SESSÃO 2
14h00 – 14h25 – Ana Cristina Abreu– Orientadora: Christina Gomes
Debatedor: Ronald Beline (USP/CNPq)
14h25 - 14h50 – Bruno Araújo deOliveira(CAPES)- Orientadora: Conceição Paiva
Debatedor: Ronald Beline (USP/CNPq)
14h50 - 15h15 – Mayra França Floret- Orientadora Maria Maura Cezario
Debatedor: Ronald Beline (USP/CNPq)
QUARTA 15/08
14h00 – 17h00 – MINICURSO 2 –DANTE LUCCHESI (UFF/CNPq) – II D-LING
Título: Contato entre línguas e mudança linguística: o caso brasileiro
11
Linguística Rio, v. 4, ed. esp., dezembro de 2018. ISSN 2358-6826
SEGUNDA PARTE
DE 24 A 27 DE SETEMBRO DE 2018
SEGUNDA 24/9
08h00 - 10h30 –XXIII SEPLA – SESSÃO 1
Linha de Pesquisa: Modelos Funcionais Baseados no Uso
08h00 - 08h25 – Gabrielle de Figueira do Nascimento (CAPES) – Orientadora: Karen Alonso
Co-orientador: Diego Oliveira
Debatedora: Maria Lúcia Leitão (UFRJ)
08h25 - 08h50 – Jéssica Cassemiro Muniz dos Santos (CAPES) – Orientador: Diogo Pinheiro
Debatedora: Sandra Bernardo (UERJ)
08h50 - 09h15 – Caroline Soares da Silva (CNPq) – Orientadora: Lilian Ferrari
Debatedora: Julia Scamparini (UERJ)
09h15 - 09h40 –Marcela Branco da Silva (CNPq) – Orientadora: Christina Gomes
Debatedora: Monica Rocha (UFRJ)
09h40 - 10h05 – Allan Costa Stein (CNPq) – Orientadora: Conceição Paiva
Debatedor: Ivo do Rosário (UFF)
10h05 -10h30 – Manuela Correa de Oliveira (CAPES) – Orientadora: Conceição Paiva
Debatedor: Ivo do Rosário (UFF)
10h30 – 11h00 – Intervalo – coffee break
11h00 - 12h15 – PALESTRA DE ABERTURA – EVANILDO BECHARA (UERJ/UFF/ABL) – II
D-LING
Título: A introdução da Filologia e da Linguística no currículo universitário da UFRJ
Formação Geral em Linguística
12h15 – 14h15 (ou 12h15 – 12h45) – ALMOÇO
12h45 - 15h15 – MINICURSO – ISABELLA PEDERNEIRA (UFRJ/UNICAMP) – II D-LING
Título: Morfossintaxe na Gramática Gerativa: passando a conhecer a Morfologia Distribuída
Linha de Pesquisa: Gramática na Teoria Gerativa
14h15 – 15h15 – PALESTRA 2 – TIAGO TORRENT (UFJF) – II D-LING
Título: Do Terminator ao Glitch: expectativas versus realidade nas aplicações da inteligência
artificial ao processamento das línguas naturais
Linha de Pesquisa: Modelos Funcionais Baseados no Uso
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Linguística Rio, v. 4, ed. esp., dezembro de 2018. ISSN 2358-6826
15h15 - 16h15 – PALESTRA 3 – DANTE LUCCHESI (UFF/CNPq) – II D-LING
Título: A polarização sociolinguística e o contexto político atual
Linha de Pesquisa: Variação e Mudança Linguística
16h15 - 17h15 – LANÇAMENTO DE LIVROS e coffee break
TERÇA 25/09
08h00 - 9h15 – XXIII SEPLA – SESSÃO 2
Linha de Pesquisa: Modelos Funcionais Baseados no Uso
08h00 - 08h25 – Dayanne de Oliveira Silva (CNPq) – Orientador: Diogo Pinheiro
Debatedor: Diego Oliveira (UFRJ)
08h25 - 08h50 – Júlia Langer de Campos (CNPq) – Orientadora: Maura Cezario
Co-orientadora: Priscilla Mouta
Debatedora: Marcia Machado (UFRJ)
08h50 - 09h15 – Monique Petin Kale dos Santos (CAPES) – Orientadora: Maura Cezario
Debatedora: Vanda Menezes (UFF)
09h15 – 09h40 - Intervalo – coffee break
09h40 - 11h45 –XXIII SEPLA – SESSÃO 3
Linha de Pesquisa: Teoria na Gramática Gerativa
09h40 - 10h05 – Brenda da Silva Barreto – Orientador: Gean Damulakis
Co-orientador: Andrew Nevins
Debatedora: Leticia Rebollo (UFRJ)
10h05 - 10h30 – Ohanna Teixeira Barchi Severo (CNPq) – Orientadora: Suzi Lima
Debatedora: Ana Regina Calindro (UFRJ)
10h30 - 10h55 – Alan de Sousa Motta (CAPES) – Orientador: Alessandro Boechat
Debatedora: Ana Paula Quadros (UFRJ)
10h55 - 11h20 – Rafael Berg Esteves Trianon (FAPERJ) – Orientador: Alessandro Boechat
Debatedora: Silvia Cavalcante (UFRJ)
11h20 - 11h45 – Rafaela do Nascimento Melo Aquino (CAPES) – Orientadora: Miriam Lemle
Debatedora:Ana Paula Quadros (UFRJ)
11h45 - 12h45 – PALESTRA 4 – RENATA MOUSINHO (UFRJ) – II D-LING
Título: Dislexia
Linha de Pesquisa: Linguagem, Mente e Cérebro
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Linguística Rio, v. 4, ed. esp., dezembro de 2018. ISSN 2358-6826
12h45 - 15h15 – MINICURSO – ISABELLA PEDERNEIRA (UFRJ/UNICAMP) – II D-LING
Título: Morfossintaxe na Gramática Gerativa: passando a conhecer a Morfologia Distribuída
Linha de Pesquisa: Gramática na Teoria Gerativa
12h45 - 14h40 – ALMOÇO
14h40 - 15h30 –XXIII SEPLA – SESSÃO 4
Linha de Pesquisa: Estudo das Línguas Indígenas
14h40 – 15h05 – Ligiane Pessoa dos Santos Bonifácio – Orientadora: Marília Facó
Debatedora: Jaqueline Peixoto (UFRJ)
15h05 - 15h30 – Cristovão Teixeira Abrantes (CNPq) – Orientadora: Marília Facó
Debatedor:Quesler Camargos (UNIR)
15h30 – 16h30 – PALESTRA 5 – MARCIA NASCIMENTO (UFRJ) – II D-LING
Título: Estudando as paisagens linguísticas: os casos Kaingang e Māori
Linha de Pesquisa: Estudo das Línguas Indígenas
16h30 – 17h00 - Intervalo – coffee break
17h00 - 18h15 –XXIII SEPLA – SESSÃO 5
Linha de Pesquisa: Estudo das Línguas Indígenas
17h00 - 17h25 – Bruna Cezario Soares (CNPq) – Orientadora: Kristine Stenzel
Debatedora: Luciana Sanchez-Mendes (UFF)
17h25 - 17h50 – Kristina Balykova (CAPES) – Orientadora: Kristine Stenzel
Debatedora: Luciana Sanchez-Mendes (UFF)
17h50 - 18h15 – Silvia Siqueira Pereira (CNPq) – Orientador: Andrew Nevins
Debatedora: Marcia Nascimento (UFRJ)
QUARTA 26/09
08h00 - 10h30 –XXIII SEPLA – SESSÃO 6
Linha de Pesquisa: Modelos Funcionais Baseados no Uso
08h00 - 08h25 – Christine Mello Ministher (CAPES) – Orientadora: Tania Clemente
Debatedora: Cynthia Patusco (UFRJ)
08h25 - 08h50 – Lucas Nascimento (FAPERJ) – Orientadora: Tania Clemente
Debatedora: Antonio Andrade (UFRJ)
08h50 - 09h15 – Flávia Leonel Falchi (CAPES) – Orientadora: Tania Clemente
Debatedor: Antonio Andrade (UFRJ)
09h15 - 09h40 – Márcio Lázaro Almeida da Silva (FAPERJ) – Orientadora: Tania Clemente
Debatedor: Xoán Lagares (UFF)
14
Linguística Rio, v. 4, ed. esp., dezembro de 2018. ISSN 2358-6826
09h40 -10h05 – Rodrigo Pereira da Silva Rosa (CAPES) – Orientadora: Tania Clemente
Debatedor: Angela Baalbaki (UERJ)
10h05 -10h30 –Tiago José Freitas Batista (CAPES) – Orientadora: Tania Clemente
Debatedor: Bruno Deusdará (UERJ)
10h30 - 11h30 – SESSÃO DE PÔSTERES (Alunos de Graduação e Pós-Graduação) e coffee break
11h30 – 12h30 – PALESTRA 6 – WELTON PEREIRA E SILVA (UFRJ) – II D-LING
Título: Linguística Forense: Como os linguistas podem contribuir em uma demanda judicial
Formação Geral em Linguística
12h30 – 14h00 – ALMOÇO
14h00 - 15h40 –XXIII SEPLA- SESSÃO7
Linha de Pesquisa: Modelos Funcionais Baseados no Uso
14h00 - 14h25 – Andreia Cardozo Quadrio (CAPES) – Orientadora: Cecilia Mollica
Debatedor: Ricardo Cavaliere (UFF)
14h25 - 14h50 – Daillane dos Santos Avelar (CAPES) – Orientadora: Cecilia Mollica
Debatedora:Monica Savedra (UFF)
14h50 - 15h15 – Lorena Cardoso dos Santos (CAPES) – Orientadora: Vera Paredes
Debatedora:Leonor Werneck (UFRJ)
15h15 - 15h40 – Mariana Ximenes Bastos (CNPq) – Orientadora: Vera Paredes
Debatedora:Violeta Rodrigues (UFRJ)
15h40 – 16h15 - Intervalo – coffee break
16h15 – 17h15 – PALESTRA 7 – MARCELO MELO (UFRJ) – II D-LING
Título: Fonologia na Escola
Formação Geral em Linguística
17h15 – 18h15 – PALESTRA 8 – ANDRÉ CUNHA (UFRJ) – II D-LING
Título: O galego na história do português de Portugal e na história do brasileiro
Linha de Pesquisa: Variação e Mudança Linguística
QUINTA 27/09
08h00 - 10h05 –XXIII SEPLA - SESSÃO 8
Linha de Pesquisa: Linguagem, Mente e Cérebro
08h00 - 08h25 – Mariana Fernandes Fonseca (CAPES) – Orientador: Marcus Maia
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Linguística Rio, v. 4, ed. esp., dezembro de 2018. ISSN 2358-6826
Debatedora: Michele Calil (UFRJ)
08h25 - 08h50 – Sabrina Lopes dos Santos (CNPq) – Orientador: Marcus Maia
Debatedora: Cristiane Oliveira (UFRJ)
08h50 - 09h15 – Katharine de Freitas P. Neto da Hora (CNPq) – Orientador: Marcus Maia
Debatedora: Daniela Garcia (UFRJ)
09h15 - 09h40 – Kate Barbara de Mendonça Leal (CAPES) – Orientadora: Aniela Improta França
Debatedora: Juliana Gomes (UFRJ)
09h40 - 10h05 – Sammy Dias – Orientadora: Aniela Improta França
Debatedora: Juliana Gomes (UFRJ)
10h05 – 10h30 – Intervalo – coffee break
10h30 - 11h45 –XXIII SEPLA- SESSÃO 9
Linha de Pesquisa: Linguagem, Mente e Cérebro
10h30 - 10h55 – Emily Silvano da Silva (CAPES) – Orientadora: Aniela Improta França
Debatedora: Marije Soto (UERJ)
10h55 - 11h20 –Amanda Rocha Araujo de Moura (FAPERJ) – Orientador: Marcus Maia
Debatedora: Marije Soto (UERJ)
11h20 - 11h45 – Lorrane da Silva Neves Medeiros (CNPq) – Orientador: Marcus Maia
Debatedor: Humberto Soares (UFRJ)
11h45 – 12h45 – PALESTRA 9 – THIAGO MOTTA SAMPAIO (UNICAMP) – II D-LING
Título: A relatividade do tempo ontogenético na evolução primata e no advento da linguagem
Linha de Pesquisa: Linguagem, Mente e Cérebro
12h45 – 14h00 – ALMOÇO
14h00 - 15h15 –XXIII SEPLA – SESSÃO 10
Linha de Pesquisa: Linguagem, Mente e Cérebro
14h00 - 14h25 – Isadora Rodrigues de Andrade (CNPq) – Orientadora: Aniela Improta França
Debatedor: Thiago Motta Sampaio (UNICAMP)
14h25 - 14h50 – Mayara de Sá Pinto (CAPES) – Orientadora: Aleria Lage
Co-orientadora: Aniela Improta França
Debatedor: Thiago Motta Sampaio (UNICAMP)
14h50 - 15h15 – Rogério dos Santos Jr. (CAPES) – Orientadora: Marcia Damaso
Debatedor: Roberto de Freitas Jr. (UFRJ)
15h15 – 16h15 – PALESTRA 10 – FERNANDA RODRIGUES (UFRJ) – II D-LING
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Linguística Rio, v. 4, ed. esp., dezembro de 2018. ISSN 2358-6826
Título: Linguística e distúrbios da linguagem
Linha de Pesquisa: Linguagem, Mente e Cérebro
16h15 – 16h45 – Intervalo – coffee break
16h45 - 18h00 – XXIII SEPLA – SESSÃO
Linha de Pesquisa: Linguagem, Mente e Cérebro
16h45 - 17h10 – Sabrina Gomes da Silva (CAPES) – Orientadora: Adriana Leitão
Debatedora: Fernanda Rodrigues (UFRJ)
17h10 - 17h35 – Jean Carlos Gomes (CNPq) – Orientadora: Adriana Leitão
Debatedora: Mercedes Sebold (UFRJ)
17h35 - 18h00 – Nayana Pires da Silva Rodrigues (CAPES) – Orientadora: Adriana Leitão
Debatedora: Adriana Lessa (UFRRJ)
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MODELOS FUNCIONAIS BASEADOS NO
USO
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UM ESTUDO DIACRÔNICO SOBRE AS CONSTRUÇÕES COM O VERBO LEVAR, NA
PERSPECTIVA DOS MODELOS BASEADOS NO USO
Autor: Allan Costa Stein
Orientadora: Maria da Conceição de Paiva
O objeto de estudo desta tese, que está em seu terceiro ano de desenvolvimento, são as diferentes
construções com o verbo levar no português. Partindo de uma abordagem baseada no uso e, mais
especificamente, da Gramática de Construções Cognitiva (cf. Goldberg, 1995, 2006; Croft, 2001), o
nosso objetivo central é identificar as propriedades sintático-semânticas das construções com o verbo
levar, de modo a organizá-las numa rede construcional em que se inter-relacionam via links de herança
diferenciados. No caso das construções substantivas (cf. [levar em conta], [levar a sério]etc.),
pretendemos também identificar quais foram os possíveis contextos em que surgiram (cf. Traugott &
Trousdale, 2013), bem como os mecanismos cognitivos que se mostraram atuantes no processo (cf.
Bybee, 2003, 2010, 2015, dentre outros). Este trabalho está sendo realizado a partir da análise de um
corpus com aproximadamente 10 milhões de palavras, constituído de textos representativos dos
diferentes períodos da língua portuguesa, conforme a periodização proposta em Mattos e Silva (2007):
período arcaico (XIII-XVI 1.ª metade), período clássico (2.ª metade XVI-XVIII) e período
contemporâneo (XIX-XXI).
Até o momento, identificamos a atuação do verbo levar nas seguintes construções esquemáticas:
construção de movimento causado (cf. Pedro levou a sacola para a cozinha), construção passiva (cf.
Os idosos são levados para o andar de cima), construção com verbo-suporte (cf. levar um fora),
construção de tempo despendido (cf. levar 1 dia (para terminar o trabalho)) e construção causativa (cf.
João levou o pai à loucura). Além disso, identificamos também as seguintes construções substantivas:
[levar em conta], [levar em consideração], [levar a sério], [não levar a nada], [levar a vida], [levar a
melhor], [levar vantagem] e [não levar a lugar nenhum]. Estas construções inteiramente especificadas
apresentam diferentes graus de analisabilidade e, por esse motivo, só podem apresentar material
interveniente em circunstâncias muito particulares, que envolvem, por exemplo, constituintes com
pouca massa fônica (até 6 sílabas) (cf. Aqueles alunos realmente levavam o estudo a sério!).
Com base nas análises empreendidas até o momento, podemos estabelecer, por exemplo, as
seguintes generalizações: (1) o esquema causativo, que também licencia levar na posição V, está
vinculado à Construção de movimento causado via link de herança metafórica, em que elementos
associados ao domínio do movimento no espaço são cooptados para representar relações de causalidade;
(2) as microconstruções [não levar a nada] e [não levar a lugar nenhum] possivelmente foram instâncias
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específicas da construção causativa, mas, devido à frequência de uso, se tornaram independentes desse
esquema, com o qual se relacionam via links de instância; (3) de igual modo, as microconstruções [levar
a vida] e [levar a melhor] poderiam ter sido sancionadas, em um período anterior da língua, pelo
esquema de verbo-suporte.
Referências
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R. (Org.).A handbook of historical linguistics. Malden, MA: Blackweel Publishing, 2003.
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_____. Language, usage and cognition. Cambridge: Cambridge University Press, 2010.
CROFT, W. Radical construction grammar: syntactic theory in typological perspective. Oxford:
Oxford University Press, 2001.
GOLDBERG, A. E. Constructions: A Construction Grammar Approach to Argument Structure.
Chicago: University of Chicago Press, 1995.
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Press, 2006.
MATOS E SILVA, R. V. Novas contribuições para a história da língua portuguesa: ainda os limites do
português arcaico. Diadorim, Rio de Janeiro, v. 2, p. 99-113, 2007.
TRAUGOTT, E. C.; TROUSDALE, G. Constructionalization and constructional changes. Oxford:
OUP. 2013
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A EVOLUÇÃO DA REDE DE CONSTRUÇÕES CAUSAIS NO PORTUGUÊS
Autor: Bruno Araújo de Oliveira (CAPES)
Orientadora: Maria da Conceição de Paiva
Ao longo de sua história, a língua portuguesa tem sido contemplada com uma vasta diversidade de
formas que servem à função de estabelecer conexão causal entre segmentos do discurso, tais como
porque, pois, pois que, porquanto, ca, como, já que, visto que, uma vez que, por causaque entre outros.
A literatura linguística sobre conectivos causais é bastante ampla, apresentando trabalhos sob as mais
diferentes perspectivas teóricas. Todavia, ainda são escassos estudos que forneçam um tratamento
construcionista para essas construções. A maioria dos trabalhos realizados até o momento focalizou uma
ou outra construção, restringindo-se ao exame de seus usos em um determinado período do português,
enfatizando ora aspectos sintáticos ora aspectos semântico-pragmáticos e discursivo-funcionais. Em
vista disso, a presente pesquisa tem por objetivo investigar as trajetórias das diversas construções
conectivas causais na história do português através de um estudo de mudança em tempo real de longa
duração (LABOV, 1994; PAIVA & DUARTE, 2003) que se particulariza não apenas por proporcionar
um olhar mais panorâmico sobre esse conjunto de construções causais na língua portuguesa, mas,
sobretudo, por promover uma análise diacrônica à luz da atual abordagem construcionista baseada no
uso (GOLDBERG, 1995, 2006; CROFT, 2001; BYBEE, 2006, 2010, 2013; DIESSEL, 2015, 2017).
A Gramática de Construções Baseada no Uso constitui uma das vertentes contemporâneas da
chamada Gramática de Construções que vem se desenvolvendo no âmbito da linguística cognitivo-
funcional. Dentre seus pressupostos centrais, destaca-se a concepção de língua como uma complexa e
dinâmica rede de construções gramaticais interconectadas por diferentes tipos de links. Nessa
perspectiva, construção é definida como um pareamento convencionalizado entre forma e significado
(GOLDBERG, 1995, 2006; CROFT, 2001). Ressalta-se também a atenção atribuída aos eventos de uso
real da língua (KEMMER & BARLOW, 2000) e aos processos cognitivos de domínio geral (BYBEE,
2010), concebidos como os responsáveis pela arquitetura e contínua transformação da rede linguística.
A abordagem da mudança linguística em perspectiva construcionista foi inicialmente
sistematizada por Traugott & Trousdale (2013). Desde então, postulam-se basicamente dois tipos de
mudança: a construcionalização e a mudança construcional. Aquela consiste na emergência de uma nova
construção, consequência de mudanças no polo da forma e no polo do significado de uma construção já
existente; esta, por sua vez, consiste em mudanças ou no polo da forma ou no polo do significado de
uma dada construção, não resultando na criação de uma nova construção, mas apenas atualizando o
estatuto da construção já estabelecida na rede. Os estudos de mudança realizados sob a ótica
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construcionista têm lançado nova luz sobre os vários fenômenos de mudança linguística, em especial, a
gramaticalização e a lexicalização (TRAUGOTT & TROUSDALE, 2013, 2014; TRAUGOTT, 2014;
HILPERT, 2013, 2014; BYBEE, 2015; BARðDAL et al., 2015).
O objetivo central desta pesquisa é depreender as mudanças observadas na evolução diacrônica
da rede das construções causais ao longo da história do português (do século XIII ao século XXI) à luz
do modelo teórico da Gramática de Construções Baseada no Uso (GOLDBERG, 1995, 2006; CROFT,
2001; BYBEE, 2006, 2010, 2013; DIESSEL, 2015, 2017). Mais especificamente, focalizamos as
trajetórias diacrônicas das construções causais especificadas por conectivo causal, ou seja, conectivo
que introduz o segmento causal (não o segmento efeito) da construção, por exemplo, porque, pois, pois
que, porquanto, ca, como, já que, dado que, visto que, uma vez que, por causa que, entre outros.
Portanto, o objeto de estudo desta pesquisa é o conjunto das construções conectivas causais da língua
portuguesa.
Desse objetivo mais geral, decorrem os seguintes objetivos mais específicos:
- investigar as propriedades de uso de cada microconstrução causal em cada período da história do
português, evidenciando suas convergências e divergências;
- depreender a configuração da rede de construções causais em cada período da história do português;
- descrever a trajetória de cada microconstrução conectiva causal atestada no corpus.
Duas hipóteses mais gerais norteiam esta pesquisa, ambas pautadas na visão de língua como rede
de construções. A primeira delas está baseada no princípio da não sinonímia, tal como formulado por
Goldberg (1995, p. 67), segundo o qual construções sintaticamente distintas devem ser semântica ou
pragmaticamente distintas. Com base nesse princípio, assumimos como hipótese que construções
causais sintaticamente distintas se diferenciam pelo tipo de relação causal que estabelecem no uso da
língua. A segunda hipótese está associada ao princípio da motivação maximizada, também proposto por
Goldberg (1995, p. 67). De acordo com este princípio, construções sintaticamente relacionadas possuem
alguma relação do ponto de vista semântico e/ou pragmático. A partir deste princípio, assumimos que
construções causais formalmente relacionadas compartilham algumas propriedades
semânticas/funcionais. Prevemos, por exemplo, que as construções causais que tipicamente se
manifestam por estruturas paratáticas tendem a estabelecer relação causal no domínio referencial,
enquanto que as construções causais que se concretizam por estruturas hipotáticas tendem a estabelecer
relação causal no domínio epistêmico.
No que diz respeito à relação de causalidade, adoto aqui a proposta de Sweetser (1990), para
quem as relações causais podem se instanciar em três diferentes domínios conceptuais: o domínio de
conteúdo, o domínio epistêmico e o domínio dos atos de fala.
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Os excertos em (1), (2) e (3) ilustram ocorrências de construções conectivas causais em cada um desses
domínios:
DOMÍNIO DO CONTEÚDO (domínio referencial): relação causal entre estados de coisas, entre fatos do
“mundo real”. Exemplo:
(1) [...] Joham d'Avella mamteve sua temção & rrepousou ho dia sobre as alldeas com tres homẽs
que lhe fezerom companhia. E quamdo foy depois de meyo dia, vyram vir tres mouros com
tres asnos carregados de pão & quiserã-hos salltear, mas porque hera amtre as alldeas
temerom-se de cair em perigo [...]
(Crónica do Conde D. Pedro de Meneses, livro I, capítulo 38, CIPM)
Em (1), o estado de coisas expresso no segmento causal ‘porque hera amtre as alldeas’ é
apresentado como causa real (causa estrita) para o estado de coisas expresso no segmento ‘temerom-se
de cair em perigo’.
DOMÍNIO EPISTÊMICO: uma conclusão é inferida a partir de uma dada evidência; assim, a relação
causal é tomada como possível. Exemplo:
(2) Se alguu ome disser ca perdeu cousas que tija en encomẽda, pero queyra iurar que se perderõ,
déo o seu a seu dono, se outras cousas das suas non perdeu cũ ellas, ca nõ é razõ de seer sẽ
culpa, poys que as cousas que ten en encomẽda gardou peyor ca as suas.
(Foro Real, livro III, capítulo 16, fólio 12r, CIPM)
Em (2), o segmento causal ‘poys que as cousas que ten en encomẽda gardou peyor ca as suas’
consiste numa explicação para a conclusão expressa no segmento efeito ‘nõ é razõ de seer sẽ culpa’.
DOMÍNIO DOS ATOS DE FALA (domínio conversacional/interacional): um ato de fala com valor
explicativo é apresentado para justificar um ato de fala diretivo. Exemplo:
(3) [...] E neesta maneira Senhor dou aquy a vosa alteza [comta] // do que neesta vosa terra vy E
se a alguum pouco alomguey .elame perdoe. ca o desejo que tijnha de vos tudo dizer mo fez
asy poer pelo meudo .
(Carta de Pero Vaz de Caminha, fólios 13v-14r, CIPM)
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Em (3), o ato de fala ‘ca o desejo que tijnha de vos tudo dizer mo fez asy poer pelo meudo’
constitui uma justificativa para o ato de fala diretivo expresso no segmento ‘me perdoe’. Portanto, o
falante apresentou um ato de fala explicativo para justificar o ato de pedir perdão.
A fim de alcançarmos os objetivos propostos nesta pesquisa, constituímos um corpus diacrônico,
com textos representativos de cada século da história do português, selecionados a partir de bases de
corpora diacrônicos online que disponibilizam edições filológicas apropriadas para estudo linguístico.
Para fins de discussão dos resultados, consideramos ainda a seguinte periodização: português arcaico
(do século XIII ao século XXI), português clássico (da segunda metade do século XVI até o final do
século XVIII) e português moderno (do século XIX ao século XXI).
Para verificar a validade das hipóteses supracitadas, os dados são examinados segundo um
conjunto de variáveis sintáticas, semântico-pragmáticas e discursivo-funcionais, a saber:
VARIÁVEIS SINTÁTICAS
- o tipo de conectivo que introduz o segmento causal da construção;
- a ordenação linear dos segmentos causa e efeito da construção;
- a correferencialidade dos sujeitos das orações;
VARIÁVEIS SEMÂNTICO-PRAGMÁTICAS E DISCURSIVO-FUNCIONAIS
- o tipo de relação causal estabelecida;
- os tipos de processos verbais envolvidos na construção;
- propriedades modo-temporais das orações;
- a configuração informacional da construção causal;
- a sequencialidade temporal entre os estados de coisas relacionados por causa e feito;
No momento, a análise dos dados do português arcaico já foi concluída. Os resultados
preliminares serão apresentados no Exame de Qualificação. Prossigo, então, com a análise dos dados
dos demais períodos e com a leitura de textos relacionados à temática desta pesquisa.
Referências
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Chicago: University of Chicago Press, 1995.
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syntax. Cambridge: Cambridge University Press, 2013
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KEMMER, S.; BARLOW, M. Introduction: A Usage-Based Conception of Language. In: Suzanne
Kemmer & Michael Barlow (Eds.), Usage-Based Models of Language. Stanford: CSLI Publications,
Center for the Study of Language and Information, 2000, p. vii–xxvii.
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PAIVA, M. C.; DUARTE, M. E. L. (orgs.), Mudança linguística em tempo real. Rio de Janeiro:
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SWEETSER, E.From Etymology to Pragmatics: metaphorical and cultural aspects of semantic
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TRAUGOTT, E. C. Towards a constructional framework for research on language change. In: HANCIL,
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162), pp. 87-105. Amsterdam/Philadelphia: John Benjamins Publishing Company, 2014.
TRAUGOTT, E. C.; TROUSDALE, G. Constructionalization and constructional changes. Oxford:
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O USO DO PRESENTE PARA NOTICIAR FATOS PASSADOS EM MANCHETES
JORNALÍSTICAS
Autora: Caroline Soares da Silva (CNPq)
Orientadora: Lilian Ferrari
Este estudo examina escolhas temporais em manchetes e subtítulos de jornais online em português (O
Globo, Jornal do Brasil, Estadão e Folha de São Paulo), sob a perspectiva teórica da Gramática
Cognitiva (LANGACKER, 1987, 1991, 2008). A investigação do gênero jornalístico provém de uma
vasta tradição de estudos, com raízes na retórica, na literatura e na filosofia (BAKTHIN, [1979]2003),
e de desenvolvimentos subsequentes no âmbito da Linguística. No que se refere ao Português Brasileiro,
destacam-se as propostas da Linguística Textual, fortemente associadas à contribuição de Marcuschi
(2000, 2008), e da Linguística Funcional, com trabalhos sobre a caracterização funcional dos gêneros
textuais (DECAT, 2008) e, mais especificamente, sobre manchetes jornalísticas (SOARES, 2013). Na
esteira desses estudos, e aprofundando seu escopo de atuação, o presente trabalho investiga as estruturas
cognitivas associadas às manchetes e subtítulos jornalísticos. A hipótese que orienta a pesquisa é a de
que a escolha do Tempo Presente sinaliza uma proximidade epistêmica ao evento. Nos termos de
Langacker, o Presente em inglês especifica que um processo epistêmico associado ao evento é
concomitante ao momento da fala. Nosso estudo permite ampliar essa proposta, apontando a
possibilidade de um processo cognitivo de natureza pragmática. A análise tem objetivo duplo: (i)
investigar os mecanismos cognitivos associados ao uso do Presente do Indicativo para referência a
eventos passados; (ii) contrastar esse uso com outro mais canônico em que tempos de passado indicam,
de fato, eventos passados. Com relação ao primeiro objetivo, a investigação parte do modelo proposto
por Langacker para tratar de usos epistêmicos do presente simples em inglês (LANGACKER, 2001,
2009), expandindo-o para acomodar atos de fala. Argumenta-se que o uso do presente para indicar
eventos passados em manchetes e subtítulos sinaliza a ocorrência de um ato de fala de noticiar em
concomitância com o evento de fala. Com relação ao segundo objetivo, os resultados indicam que o uso
do Presente do Indicativo predomina tanto em manchetes quanto em subtítulos, embora a combinação
mais frequente seja MANCHETE (Presente) - SUBTÍTULO (Passado). Essa distribuição sugere a
existência de uma divisão de tarefas entre manchetes e subtítulos, de forma que as primeiras realizam o
ato de fala de noticiar, enquanto os subtítulos especificam as circunstâncias do evento reportado. A
coleta de dados evidenciou outros três grupos principais de combinações temporais: MANCHETE
(Presente) - SUBTÍTULO (Presente) / MANCHETE (Passado) - SUBTÍTULO (Passado) e
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MANCHETE (Passado) - SUBTÍTULO (Presente). Na presente pesquisa, pretendemos demonstrar que
essas escolhas temporais nas manchetes e subtítulos de jornais online refletem processos cognitivos
associados a aspectos pragmáticos e estratégias de focalização que visam atrair a atenção do leitor para
a notícia. A proposta a ser desenvolvida é a de que os conceitos da Gramática Cognitiva, aplicados ao
estudo do tempo verbal, podem explicar aspectos relevantes da relação entre linguagem e cognição no
contexto do jornalismo online, uma vez que as práticas discursivas constituem um ambiente de
negociação intersubjetiva, do qual fazem parte os processamentos de conceptualização e de interação,
fatores importantes para uma análise aprofundada do sentido investigado.
Referências
BAKHTIN, M. Estética da criação verbal. 4. ed. Trad. P. Bezerra. São Paulo: Martins Fontes, [1979]
2003.
DECAT, M. B. N. A relevância da investigação dos processos linguísticos, numa abordagem
funcionalista, para os estudos sobre os gêneros textuais. In Estudos descritivos do português –
história, uso, variação. Antonio, J.D. (org), São Carlos: Editora Claraluz, 2008, p. 169-191.
ESTADÃO. Disponível em: < http://www.estadao.com.br/>. Acesso em: março-abril de 2015.
FOLHA DE SÃO PAULO. Disponível em: <www.folha.uol.com.br/>. Acesso em: março-abril de 2015.
JORNAL DO BRASIL. Disponível em: <www.jb.com.br>. Acesso em: março-abril de 2015.
LANGACKER, R. Foundations of cognitive grammar. vol. I: Theoretical prerequisites. Standford
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______. Produção textual, análise dos gêneros e compreensão. São Paulo: Parábola, 2008.
O GLOBO. Disponível em: <http://oglobo.globo.com/>. Acesso em: março-abril de 2015.
SOARES, Caroline. O tempo presente em manchetes online: o uso do presente do indicativo para
referência ao passado recente. Dissertação (Mestrado em Letras). Instituto de Letras. Universidade
Federal Fluminense, Niterói: 2013.
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DA OCULTAÇÃO DOS FATOS AO DESLINDE DO CRIME: UMA ANÁLISE DA
DISCURSIVIDADE DO VERBAL E DO NÃO VERBAL NA ELUCIDAÇÃO DO CASO
ISABELLA NARDONI
Autora: Christine Mello Ministher (CAPES)
Orientadora: Tania Clemente de Souza
O Direito, como ciência humana, especificamente o Direito Penal, atua buscando indícios de
autoria e materialidade de delitos. Essa atuação se dá através de investigação sistemática, que dentre
diversos métodos investigativos, inclui depoimentos dos acusados, depoimentos de familiares, oitivas
de testemunhas, dentre outros. Sendo assim, essa é uma fase decisiva, para que uma simples investigação
policial se torne uma ação penal que, dependendo do tipo de crime, como no caso em tela, vá ao Tribunal
do Júri. Desse modo, o objetivo deste trabalho é analisar os discursos dos acusados, como também o
discurso jurídico no processo-crime da vítima Isabela Nardoni, crime bárbaro ocorrido em 2008, tendo
como acusados o pai e a madrasta da menina supramencionada.O arcabouço teórico-metodológicodesta
pesquisa encontra embasamento na Análise do Discurso (escola francesa), doravante AD, através da
discursividade do verbal e do não verbal, destacando-se aqui alguns de seus principais propagadores:
Pêcheux, Foucault, Ducrot, Orlandi, Souza, dentre outros.Os sujeitos da linguagem são seres sociais,
envolvidos no meio social em que vivem, disso decorre a contradição que os compõe. Nos dizeres de
Orlandi (1987, p. 150): “Como a apropriação da linguagem é social, os sujeitos da linguagem não são
abstratos e ideais, mas estão mergulhados no social que os envolve, de onde deriva a contradição que os
define”. Pode-se depreender da citação acima, que uma análise acurada da discursividade do verbal e
do não verbal é capaz de desvelar os fatos que os sujeitos da linguagem tentam ocultar, mormente
quando autores de um crime, visto que os sujeitos da linguagem são contraditórios.Um locutor é capaz
de prever qual será a reação do seu interlocutor, quando se posiciona no lugar deste, dessa forma o
locutor é capaz de organizar sua argumentação de modo que o seu interlocutor vai acabar revelando o
que aquele deseja saber. A esta capacidade do locutor, denomina-se antecipação(Orlandi: 2009, p. 39).
Todas as etapas de uma ação judicial penal, desde a inquirição preliminar de um suspeito, até a sua
condenação ou absolvição, são atravessadas por análises da discursividade do verbal e do não verbal. É
esta análise, que quando bem realizada, poderá deslindar um “crime perfeito”, aquele que não deixa
rastros de fácil detecção de autoria do real culpado. Para esta pesquisa, utiliza-se comocorpus:entrevistas
dadas pelo casal de acusados, pelos parentes dos acusados, como também pelos demais parentes da
vítima; por coletivas emitidas pelos operadores do Direito envolvidos no caso; por peças processuais de
caráter não confidencial; por laudos de médicos legistas; por matérias divulgadas pelos veículos de
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imprensa televisiva, radiofônica, digital e impressa. Como estetrabalhoainda está em fase de curso de
disciplinas essenciais, além de amplas leituras de fundamentação teórica e levantamento preliminar de
dados, não se tem ainda resultados contundentes para serem apresentados, todavia com o
desenvolvimento desta pesquisa, pretende-se responder às seguintes perguntas: a) Como a AD pode
demonstrar indícios de quem são os suspeitos de determinado caso criminal concreto? b) Mesmo em
caso de negativa de autoria, é possível comprovar que estes que negam ter cometido determinado crime
são os reais autores? c) De que modo a AD pode contribuir para desenlear um crime, mesmo quando da
não confissão, mesmo ante a tese de negativa de autoria? Em suma, objetiva-se demonstrar como a AD,
com todos os seus procedimentos e métodos de análise, atuará para a elucidação de casos de difícil
solução, mormente quando os métodos e provas estritamente usados em Direito não dão conta de
solucionar a demanda.
Referências
DUCROT. O. O dizer e o dito. São Paulo: Pontes, 1987.
FOUCAULT, M. A verdade e as formas jurídicas. Rio de Janeiro: Cadernos da PUC, n. 6, pp.1-102,
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SOUZA, T. C. C.A análise do não verbal e os usos da imagem nos meios de comunicação. In: Rua, v.
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A COMPLEMENTAÇÃO SENTENCIAL DO PORTUGUÊS BRASILEIRO:INVESTIGANDO
UMA REDE TAXONÔMICA DE CONSTRUÇÕES
Autora: Dayanne de Oliveira Silva (CNPq)
Orientador: Diogo Pinheiro
A Construção de Complementação Sentencial (CCS) do português brasileiro, cuja forma é
SUJEITO + VERBO + SINTAGMA ORACIONAL INTRODUZIDO PELO “QUE”
COMPLEMENTIZADOR, é amplamente utilizada para reportar discursos, percepções e avaliações,
como se pode observar nos exemplos (1) e (2) abaixo.
(1) Ele percebeu que a aula estava interessante.
(2) Ele comentou que a aula estava interessante.
(3) ?? Ele elogiou que a aula estava interessante.
No entanto, certas formulações com complemento sentencial, ainda que pareçam sintática e
semanticamente plausíveis, não são possíveis, como se verifica em (3). A partir dessa observação, busca-
se, sob a luz da Gramática de Construções Baseada no Uso (GOLDBERG, 2006; 2013; BYBEE, 2010;
DIESSEL, 2015), caracterizar o conhecimento do falante do PB sobre a CCS, de modo a explicar como
ele é capaz de evitar sentenças como (3), assim como tantas outras com verbos como “detalhar” e
“criticar”, que constituiriam supergeneralizações da construção.
Para investigar a natureza do saber linguístico inconsciente que leva o falante a evitar tais
sentenças, foi realizado um experimento de produção induzida, no qual os participantes assistiram a uma
sequência de vídeos curtos e, ao final de cada um, responderam a uma pergunta interpretativa. A variável
dependente foi o índice de respostas com emprego da CCS, em oposição a outras molduras sintáticas;
as variáveis independentes foram a frequência do verbo na CCS (nula versus não-nula) e a classe
semântica do verbo (anúncio versus crítica).
O experimento demonstrou que os falantes recorrem ao seu conhecimento de natureza gramatical
(especificamente semântico) para evitar supergeneralizações da CCS, isto é, utilizam verbos
pertencentes a determinadas classes semânticas, evitando verbos de outras classes. No entanto, os
falantes se baseiam também em informações de natureza estatística do tipo enraizamento
(“entrenchment”), evitando utilizar na CCS os verbos que não experienciam empregados nela.
Diante desse resultado, busca-se ampliar a descrição da rede construcional da CCS, de modo a
incluir verbos de outras classes semânticas para além da utilizada no experimento. Utilizam-se, para este
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fim, os corpora anotados NILC/São Carlos(32.461.815 palavras) e Corpus Brasileiro(989.012.584
palavras) que estão disponíveis por meio do Projeto AC/DC na Linguateca
(http://www.linguateca.pt/ACDC). Os resultados da busca passarão por uma análise qualitativa: após o
levantamento de todos os verbos encontrados nas instâncias da CCS, eles serão agrupados em classes
semânticas. Para essa categorização, dada a ausência de uma proposta suficientemente abrangente
voltada especificamente para o português, tomaremos como ponto de partida a tipologia clássica de
verbos do inglês desenvolvida por Levin(1993). Considerando-se que tipicamente, em Gramática de
Construções, classes semânticas servem para definir construções de nível intermediário em uma rede
taxonômica de construções (HOFFMANN, 2017; PEREK, 2015), essa classificação permitirá mapear a
organização da rede construcional da CCS.
A partir dos dados obtidos na análise dos corpora, será realizado um novo experimento de
produção induzida, desta vez incluindo um número maior de classes semânticas. Com isso, pretende-se
confirmar os achados anteriores e, sobretudo, verificar a atuação de um segundo tipo de conhecimento
de natureza estatística – o bloqueio (statistical preemption), que não foi comprovado (não alcançou
significância estatística (p = 0.15)) no primeiro experimento.
A descrição da CCS objetiva, não apenas fornecer dados para o experimento, mas também
contribuir para o conhecimento de uma parcela até aqui pouco conhecida da rede construcional do
português brasileiro – a CCS é uma construção regular e complexa, e a maior parte dos trabalhos
construcionistas sobre o PB tem dado preferência a construções idiomáticas (isto é, sintática ou
semanticamente irregulares) e simples (abstraídas a partir de sentenças formadas por uma única
cláusula).
Referências:
BYBEE, J. Language, usage and cognition. Cambridge: University Press, 2010.
DIESSEL, H. Usage-based Construction Grammar. In: DABROWSKA, E.; DIVJAK, D.
TheHandbook of Cognitive Linguistics. Berlin: Mouton de Gruyter, 2015.
GOLDBERG, A. E. Constructions at work: the nature of generalization in language. Cambridge:
University Press, 2006.
______. Constructionist approaches. In: HOFFMAN, T.; TROUSDALE, G. (Eds). The Oxford
Handbook of Construction Grammar. Oxford. New York: Oxford University Press, 2013.
HOFFMANN, T. From constructions to construction grammars. In: DANCYGIER, B. (Ed.) The
Cambridge Handbook of Construction Grammar. Cambridge: CUP, 2017
LEVIN, B. English verb classes and alternations: A preliminary investigation. Chicago: University
Press, 1993.
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PEREK, F. Argument structure in Usage-Based Construction Grammar. Amsterdam: John
Benjamins, 2015.
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DISCURSO DO CONTATO COM INDÍGENAS ISOLADOS PÁNO
Autora: Flávia Leonel Falchi (CAPES)
Orientadora: Tania Conceição Clemente de Souza
A pesquisa de doutorado objetiva apresentar uma análise sobre o discurso acerca dos contatos
realizados entre a Fundação Nacional do Índio (FUNAI) e os grupos indígenas isolados Páno. A família
etnolinguística Páno é formada por grupos originariamente falantes de línguas indígenas que se
localizam no Brasil, no Peru e na Bolívia. Desde a criação da FUNAI, em 1967, quatro grupos Páno
isolados foram contatados no Brasil: Matsés, Matis, Korubo e Isolados do Xinane.
Segundo Piccoli (1993), a história de contato entre os grupos Páno e não índios se inicia, na
segunda metade do século XIX, com a exploração do látex na região amazônica para a produção de
borracha. Ao longo desses anos, alguns grupos indígenas não mantiveram contato com os não índios. O
último contato já realizado com um grupo Páno em isolamento foi feito em 2014.
O corpus do estudo é constituído por entrevistas feitas com membros da FUNAI ou dos grupos
indígenas que participaram do contato com os Matsés, Matis, Korubo e Isolados do Xinane. Para o
estudo, segue-se a Análise de Discurso de Linha Francesa. Ao tratar acerca da noção de corpo em
situação de contato, recorre-se também à Pragmática, no que diz respeito às relações entre corpo,
identidade e performatividade levantadas por Pinto (2002, 2007), que se baseou em Derrida (1990) e
Butler (1997, 1998, 1999), nas interpretações de Austin (1976) feitas por estes dois autores.
“Uma visão performativa da linguagem deve integrar a complexidade das condições do sujeito
que fala” (PINTO, 2002, p. 77). No ato de fala, conforme Pinto (2002), o agir diz respeito ao agir do
corpo, havendo relação entre linguagem e corpo. “O efeito do ato de fala é operado ao mesmo tempo
pelo que é dito, pelo quem diz e pelo como é dito – como o corpo diz, como o enunciado diz”(PINTO,
2002, p. 85). As estilizações do corpo compõem a marcação social, sendo que o corpo marca a identidade
dos falantes. Para Pinto (2002, p. 96), “do ponto de vista dos atos de fala, identidades são performativas,
ou seja, são efeitos de atos que impulsionam marcações em quadros de comportamentos (fala, escrita,
vestimentas, alimentação, cultos, elos parentais, filiações, etc.)”. Com base nisso, para o estudo de
doutorado, propõe-se uma análise discursiva do corpo como não verbal.
Na análise das entrevistas, observa-se um discurso sobre a forma de contato que remete à memória
dos contatos realizados pelos irmãos Villas Bôas e por Rondon, bem como à memória da “chegada” dos
europeus à América, com Colombo e Cabral. Levando-se isso em conta, trabalha-se com a noção de
discurso fundador (ORLANDI, 1993). O discurso que justifica o contato atual compartilha também de
justificativa semelhante à adotada no discurso da época da exploração do látex nos seringais.
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Ademais, o efeito de sentido causado pelo machado e outros objetos dados aos isolados como
“presentes” no início do contato ocasionou um efeito positivo reforçado pela cultura Páno no que se
refere à repulsa cultural existente com pessoas que sejam sovinas (ver ARISI, 2011).
Referências
ARISI, B. M.Matis e Korubo: contato e índios isolados, relações entre povos no Vale do Javari,
Amazônia. 2007. 149 f. Dissertação (Mestrado em Antropologia Social) - Centro de Filosofia e Ciências
Humanas, Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis, 2007. Disponível em:
<http://tede.ufsc.br/teses/PASO0186.pdf>. Acesso em: 18 jul. 2011.
ORLANDI, E. P. (Org.). Discurso fundador (a formação do país e a construção da identidade nacional).
Campinas, SP: Pontes, 1993.
PICCOLI, J. C. Sociedades tribais e a expansão da economia da borracha na área Juruá-Purus.349
f. Tese (Doutorado em Ciências Sociais)-Faculdade de Ciências Sociais, Pontifícia Universidade
Católica de São Paulo, São Paulo, 1993.
PINTO, J. P. Estilizações de gênero em discurso sobre linguagem. 219 f. Tese (Doutorado em
Linguística)-Instituto de Estudos da Linguagem, Universidade Estadual de Campinas, Campinas, SP,
2002.
______. Conexões teóricas entre performatividade, corpo e identidades. D.E.L.T.A.: documentação de
estudos em Linguística Teórica e Aplicada, v. 23, n. 1, p. 1-26, 2007. Disponível em:
<http://www.scielo.br/pdf/delta/v23n1/a01v23n1.pdf>. Acesso em: 11 out. 2017.
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UMA ABORDAGEM FUNCIONALISTA NA DESCRIÇÃO DAS CONSTRUÇÕES
QUANTITATIVAS DA LÍNGUA RUSSA
Autora: Gabrielle de Figueira do Nascimento (CAPES)
Orientadora: Karen Alonso
Co-orientador: Diego Oliveira
Esta pesquisa consiste em apresentar uma proposta de descrição e análise de quatro construções
quantitativas da língua russa, são estas: Mórie SNgen (‘‘Um mar de’’), Gorá SNgen (‘‘Uma montanha
de’’), Káplia SNgen (‘‘Uma gota de’’), e Górst SNgen (‘‘Um punhado de’’). Dentro da proposta, temos
como objetivo realizar uma análise comparativa do uso dessas construções em termos de suas
propriedades formais e semântico-pragmáticas, bem como o modo pelo qual elas se distribuem na rede
linguística, considerando a associação delas com o padrão mais geral SN SNgen. Os parâmetros
considerados para a seleção das quatro mesoconstruções têm como medidas (i) a quantidade expressa,
isto é, grande - mórie (‘‘mar’’) e gorá (‘‘montanha’’) - e pequena quantidade – káplia (‘‘gota’’) e górst
(‘‘punhado’’); e (ii) a presença do traço +líquido na semântica do quantificador, sendo mórie (‘‘mar’’)
e káplia (‘‘gota’’) +líquido e gorá (‘‘montanha’’) e gorst (‘‘punhado’’) – líquido. A hipótese geral do
trabalho parte da premissa de que, embora essas construções compartilhem alguns contextos, em outros
elas apresentam preferências colocacionais, isto é, tais construções permitem determinados itens no
preenchimento do slot aberto do segundo SN, enquanto outras podem bloquear as mesmas opções de
preenchimento. Por exemplo, na análise preliminar de dados, os quantificadores mórie e gorá possuem
contextos com o elemento ‘‘ouro’’ (zóloto, em russo): gorá zólota (‘‘uma montanha de ouro’’) e mórie
zóloto (‘‘um mar de ouro’’). No entanto, o quantificador káplia não permite contextos com ‘‘ouro’’:
*káplia zólota, significando ‘‘um pouco de ouro’’. Ademais, o quantificador káplia (‘‘gota’’) permite
uma partícula de negação ni (‘‘nem’’) o antecedendo: ni káplia liubvi (‘‘nem uma gota de amor’’). O
mesmo contexto não é compartilhado por gorá (‘‘montanha’’) e mórie (‘‘mar’’), por exemplo. A
abordagem adotada pela pesquisa segue os pressupostos teóricos da Linguística Funcional Centrada no
Uso (BYBEE, 2016, 2013; BARLOW & KEMMER, 2000), a qual estabelece que a gramática é moldada
pelo falante através do discurso e por processos cognitivos de domínio geral, isto é, não são restritos à
linguagem. Alinhada à Linguística Funcional Centrado no Uso, o modelo da Gramática de Construções
Baseada no uso (CROFT, 2001; GOLDBERG, 1995, 2006; HILPERT, 2014; DIESSEL, 2015) fornece
princípios norteadores para a pesquisa. Segundo o modelo, o conhecimento linguístico é composto por
um inventário de construções, descritas como a combinação de uma forma e função, em formato de rede
construcional. No trabalho, assumimos que a construção mais abstrata SN SNgen é uma construção da
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língua russa e se relaciona com as quatro mesoconstruções em foco, compartilhando propriedades
formais e semânticopragmáticas. Metodologicamente, pretendemos coletar dados da modalidade oral e
escrita provenientes do Corpus Nacional da Língua Russa (http://www.ruscorpora.ru/). No primeiro
momento, criaremos um subcorpus e delimitaremos as ocorrências de cada mesoconstrução em cerca
de 12 (doze) milhões de palavras. Depois, realizaremos a busca pelo quantificador, restringindo o caso
gramatical do segundo SN – genitivo. Após a coleta de dados, distribuiremos os exemplares de cada
mesoconstrução em termos de tipos semânticos de forma a observar parâmetros como
composicionalidade (o grau de coerência semântica entre os quantificadores e os itens que instanciam o
slot SNgen) e produtividade (a variedade de tipos recrutados para o slot SNgen por cada
mesoconstrução), verificando traços como +contável e +concreto. A distribuição dos exemplares com
suas preferências e restrições e os processos semântico-cognitivos de cada mesoconstrução nos ajudarão
a observar as propriedades idiossincráticas delas na rede linguística.
Referências:
BARLOW, M.; KEMMER, S. (Org.). Usage based models of language. Stanford, California: CSLI
Publications, 2000.
BYBEE, J. Língua, Uso e Cognição. Tradução Maria Angélica Furtado da Cunha; revisão técnica
Sebastião Carlos Leite Gonçalves. — São Paulo: Cortez, 2016.
CROFT, W. Radical Construction grammar: syntactic theory in typological perspective. Oxford:
Oxford University Press, 2001.
DIESSEL, H. Usage-based Construction Grammar. In: DABROWSKA, E.; DIVJAK, D.
TheHandbook of Cognitive Linguistics. Berlin: Mouton de Gruyter, 2015.
GOLDBERG, A. E. A construction grammar approach to argument structure. Chicago/London:
The University of Chicago Press, 1995.
________. Constructions at work: The Nature of Generalization in Language. Oxford: Oxford
University Press, 2006.
HILPERT, M. Construction Grammar and its application to English. Edinburgh: University Press,
2014.
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DA CATEGORIZAÇÃO RADIAL AO ARMAZENAMENTO CONSTRUCIONAL: O QUE
NOS ENSINAM OS VERBOS DE SEPARAÇÃO DO PORTUGUÊS?
Autora: Jéssica Cassemiro Muniz dos Santos (CAPES)
Orientador: Diogo Pinheiro
Partindo da observação de que a tradição cognitivista carece de evidências empíricas em favor
da alardeada rejeição às categorias clássicas (isto é, baseadas em propriedades necessárias e suficientes),
este trabalho parte da seguinte pergunta: é possível demonstrar empiricamente que as categorias
linguísticas de fato apresentam estrutura radial?
Para responder a essa indagação, desenvolvemos um experimento no qual os participantes
deveriam fornecer descrição oral para eventos de separação encenados em vídeos curtos. O objetivo era
avaliar se a semântica dos verbos “cortar”, “quebrar” e “rasgar” poderia ser descrita em termos de
propriedades necessárias e suficientes.
Com base nos resultados alcançados pelo Projeto Cut&Break, desenvolvido pelo Instituto Max
Planck (MAJID et alii, 2008), selecionamos propriedades semânticas que poderiam, em tese, estabelecer
uma distinção entre esses três verbos: tipo de objeto (rígido/maleável); instrumento cortante
(presença/ausência); e modo de separação (precisa/ imprecisa). A análise das respostas se concentrou
em avaliar se algum subgrupo desses atributos se qualificaria como um conjunto de propriedades
necessárias e suficientes para definir ao menos uma das categorias verbais selecionadas.
Os resultados sugerem que, embora categorias lexicais com estrutura clássica não sejam
inexistentes, a rejeição cognitivista à categorização aristotélica está fundamentalmente correta. De
maneira geral, não foi possível identificar um elenco de propriedades necessárias e suficientes para
nenhum dos três verbos. Por exemplo, em um vídeo no qual o ator quebrava uma cenoura com as mãos,
parte dos sujeitos optou por descrever a cena empregando o verbo “cortar”. Ao mesmo tempo em que
isso sugere, de forma contra intuitiva, que as propriedades instrumento cortante e separação precisa não
são necessárias para o emprego de “cortar”, escolhas inesperadas como estas levantam uma segunda
questão: o que leva o falante a optar por um determinado verbo (como “cortar”) quando está disponível
outro verbo (como “quebrar”) cuja semântica se compatibiliza perfeitamente à da situação a ser descrita?
Tomando como base a Gramática de Construções Baseada no Uso (GOLDBERG, 2006),
hipotetizamos que opções como estas decorrem da estrutura hierárquica e redundante da rede
construcional. Em particular, assumimos que construções “verb-specific”, do tipo CORTAR NP e
QUEBRAR NP, co-existem com construções ainda mais concretas, armazenadas redundantemente,
como CORTAR CENOURA e QUEBRAR COPO. Esse tipo de arquitetura construcional poderia
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motivar os usos inesperados identificados no primeiro experimento, oferecendo explicação para os
efeitos de prototipicidade.
Para verificar essa hipótese, desenvolvemos outro experimento, cuja tarefa também era a
descrição oral de cenas representando eventos de separação. Duas variáveis independentes foram
levadas em conta: o tipo de evento (com/sem instrumento cortante) e o tipo de referente (referentes
designados por nomes que tipicamente co-ocorrem com “cortar” e referentes designados por nomes que
tipicamente co-ocorrem com “quebrar”).
Os resultados sugeriram que ambas as variáveis interferem na escolha do verbo. Em relação ao
tipo de situação, houve diferença significativa (p < 0.0001) na distribuição dos verbos “quebrar” e
“cortar” nas condições com instrumento cortante e sem instrumento cortante, revelando que o frame
semântico evocado por cada verbo desempenha papel crucial. Em relação ao referente, a diferença de
distribuição dos verbos “cortar” e “quebrar” nas condições referentes designado por nomes que co-
ocorrem com “cortar” e referentes designados por nomes que co-ocorrem com “quebrar” também se
mostrou significativa (p < 0.0001), demonstrando que os falantes podem optar por usos mais concretos
mesmo quando essa opção viola a semântica do verbo.
Os resultados desse experimento são um forte argumento em favor da hipótese de que o
armazenamento das construções gramaticais é redundante: se o falante não armazenasse sequências
específicas de verbos e complementos, não seria possível explicar por que eles estariam dispostos,
quando diante de situações não-usuais, a desconsiderar as propriedades semânticas dos verbos
empregados.
Referências
GOLDBERG, A. E. Constructions at work. Oxford: University Press, 2006.
MAJID, A.; BOSTER, J. S.; BOWERMAN, M.. The cross-linguistic categorization of everyday events:
A study of cutting and breaking.Cognition, 109(2), 235-250, 2008.
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ANÁLISE DA CONSTRUÇÃO [VERBO ADJETIVO ADVERBIAL] EM VARIAÇÃO COM A
CONSTRUÇÃO [VERBO XMENTE] DE PAREAMENTO QUALITATIVO NO PB
Autora: Júlia Langer de Campos (CNPq)
Orientadora: Maria Maura da Conceição Cezario
Co-orientadora:Priscilla Mouta Marques
O presente trabalho busca descrever um padrão construcional qualitativo do português em que
um adjetivo modifica o escopo do verbo, assumindo, assim, função adverbial (Ex.: Maria fala rápido).
Para tal fim, pautamo-nos no arcabouço teórico-metodológico da Linguística Funcional Centrada no
Uso (Barlow e Kemmer, 2000; Bybee, 2010; Traugott e Trousdale, 2013), segundo o qual a língua é
conceptualizada como uma rede simbólica de construções, apresentando níveis hierárquicos
relacionados aos diferentes graus de esquematicidade – dos mais abstratos (esquemas) aos mais
concretos (construtos). Assim sendo, a construção com adjetivo adverbial – [Verbo Adjetivo
Adverbial]Qualit ou [V AA]Qualit – é um pareamento de forma e função instanciado por um esquema maior
[V Adverbial]Qualit. Esta instância mais abstrata abarca não só a construção [V AA], mas outras que
também modificam qualitativamente o verbo, dentre elas a construção com advérbios em -mente,
representada por [V X-mente]Qualit.
Posto isso, este trabalho objetiva ainda estabelecer uma comparação entre esses dois padrões
construcionais de modificação qualitativa: [Verbo Adjetivo Adverbializado] e [Verbo X-mente], em que
a construção com o advérbio canônico apresenta a mesma base lexical do adjetivo em função adverbial
- O cabelo cresce naturale O cabelo cresce naturalmente-, a fim de observar quais fatores estruturais
e/ou discursivo-pragmáticos estão relacionados a essas construções no português do Brasil (PB) atual.
Para isso, coletamos ocorrências das duas referidas construções no Corpus do Português aba web. Os
fatores analisados tanto para a especificação dos contextos que propiciam a ocorrência quanto para a
descrição destes dois padrões no PB foram: frequência type e token do verbo e do adjetivo; tipo de verbo
e de adjetivo; estrutura argumental; foco informacional; tipo de foco compartilhado; ambiguidade
(semântica ou sintática); possibilidade e frequência de ocorrência do verbo em uma de suas formas
nominais; presença ou ausência de elemento interveniente e o grau de composicionalidade entre os
elementos construcionais. A hipótese geral é a de que há contextos em que essas duas construções
qualitativas variam mais livremente em termos de suas formas e significados, porém, em outros
contextos, há uma aparente especialização de cada um dos padrões analisados, conferindo-lhes
restrições colocacionais.
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Até o presente momento, no que diz respeito à frequência token, observamos que a construção
[V AA]Qualit é mais frequente quando o papel semântico é o qualitativo. Além disso, a construção com
adjetivo tende a ser mais esquemática e produtiva no PB em comparação à construção com advérbio
canônico de mesma base, dada a maior aceitabilidade de itens verbais ocupando o slot V. O verbo na
construção com adjetivo tende a ser intransitivo, diferentemente da construção [V Xmente], em que o
verbo tende a ser transitivo, apresentando argumentos internos. Quanto ao foco informacional, a
construção [V AA]Qualit apresenta majoritariamente foco exclusivo, ao passo que a construção [V
Xmente]Qualit tende ao foco compartilhado. A construção [V AA], em geral, evidencia menor grau de
composicionalidade entre as unidades componentes, com tendências à formação de chunks, ao passo
que a construção com advérbio em -mente tende a ser mais composicional quando a semântica é a
qualitativa.
Referências
BARLOW, Michael e KEMMER, Suzanne (eds.). Usage based models of language. Stanfornd,
California: CSLI Publications, 2000.
BYBEE, J. Language, usage and cognition. Cambridge: Cambridge University Press, 2010.
TRAUGOTT, E.C.; TROUSDALE, G. Constructionalization and Constructional Changes. Oxford:
Oxford University Press, 2013.
Site Acessado: Corpus do Português: http://www.corpusdoportugues.org. Último acesso em:
23/07/2018.
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ORDENAÇÃO E INFORMATIVIDADE DO SINTAGMA NOMINAL COMPLEXO NO
GÊNERO NOTÍCIA POLÍTICA
Autora: Lorena Cardoso dos Santos (CAPES)
Orientadora: Vera Lúcia Paredes da Silva
Este trabalho tem o objetivo de demonstrar um recorte dos estudos que vêm sendo desenvolvidos
em minha tese de doutoramento. O objetivo geral da tese é investigar a correlação que existe entre o
uso de Sintagmas Nominais Complexos (doravante SNC) e o gênero notícia política. Trata-se de uma
análise comparativa entre os suportes impresso e digital. Para tal, utilizamos exemplares do site G1 e do
jornal O Globo. O estudo utiliza o SNC como um dos parâmetros para a caracterização dos gêneros e
dos tipos textuais (cf. SANTOS, 2015), examinando sua constituição e funções. Considera-se complexo
o SN que possui dois ou mais itens lexicais. É importante ressaltar que não só o uso de modificadores,
sintagmas preposicionais e orações adjetivas encaixadas podem ser considerados fatores de
complexidade no SN, mas também aspectos discursivo-funcionais, como o estatuto informacional (cf.
PRINCE 1981, 1992). Esse aspecto, aliás, está em correlação com a posição que o SN ocupa na sentença,
pois segundo WASOW (1997), estruturas pesadas tendem a vir à direita do verbo, numa posição de peso
crescente, corroborando o “princípio do ponto de partida leve”, de CHAFE (1987). A motivação para
uma análise que priorize a comparação de usos do mesmo gênero em dois suportes distintos se deu a
partir de uma constatação: a web passou a comportar um vasto número de gêneros digitais relativamente
estáveis, como chats, blogs, twitter, Podcasts, entrevistas, e-mails, etc. E é interessante perceber que
muitos destes gêneros possuem sua contraparte no meio impresso (físico), como é o caso das notícias,
no entanto, a circulação da informação e consequentemente a atualização desta se dá de modo muito
mais imediato no meio digital. Desse modo, a escolha das estruturas nominais que serão efetivamente
usadas no texto possui uma dinâmica diferente. Os SNC são estruturas próprias da escrita mais
planejada (cf. CHAFE,1987), com uma tendência a possuírem nominalizações, uma vez que a
complexidade de arranjos que envolvem a projeção argumental de forma mais compactada se faz mais
presente na escrita mais planejada. No entanto, o tempo de planejamento, no caso de uma atualização
de notícia na web, por exemplo, é menor do que o de uma notícia impressa. É importante, portanto,
refletir sobre como os suportes contribuem para a apresentação dos gêneros e se os suportes podem
interferir na formação dos gêneros textuais. Desse modo, à luz do Funcionalismo norte-americano e das
Análises de Gêneros (cf. BAKHTIN, 2003 e 2014, MARCUSCHI, 2008 e PAREDES SILVA, 2010 e
2012), pretendemos confirmar a hipótese de que existiria uma correlação entre o uso de SNC e as
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sequências textuais - mais ou menos narrativas, possuindo inclusive alguns graus de argumentatividade
- no gênero notícia política.
Referências
BAKHTIN, M. Os gêneros do discurso In: Estética da criação verbal. São Paulo, Martins Fontes,
2003.
____________. Marxismo e a filosofia da linguagem: problemas fundamentais do método sociológico
da linguagem- 16. Ed. - São Paulo: Hucitec, 2014.
CHAFE, W. Cognitive Constrains on Information Flow. In: TOMLIN, R. Coherence and grounding
in discourse, p. 21-51. Amsterdam: John Benjamins,1987.
MARCUSCHI, L.A. Produção textual, análise de gêneros e compreensão. São Paulo: Parábola, 2008.
______. A questão do suporte dos gêneros textuais. Disponível em http://bbs.metalink.com.br
PAREDES SILVA, V. Gêneros e tipos de texto: aproximações e distinções. Diacrítica 24/1, Revista
do Centro de Estudos Humanísticos da Universidade do Minho. Braga, 2010 p. 471-489 .
______. An approach to analyzing written genres through Complex Noun Phrases. Palestra apresentada
no Congresso Genre 2012 Rethinking Genre 20 Years Later. Universidade de Carleton, Ottawa,
Canada, 26 - 29 de Junho de 2012.
PRINCE, E. Towards a taxonomy of given/new information. In: COLE, P. (ed) Radical Pragmatic.
N.York: Academic Press, 1981
______.The ZPG Letter: Subjects, Definiteness and Information Status. In:MANN, W. &
THOMPSON,S. (eds) Discourse Description; Diverse Linguistic Analysis of a fund-raising
text.John Benjamins, Amsterdam/Philadelphia,1992. p.295-325
SANTOS, Lorena Cardoso dos. Da forma para a função: a correlação entre Sintagmas Nominais
Complexos e Editoriais. Dissertação (Mestrado) – Programa de Pós-Graduação em Linguística,
Universidade do Rio de Janeiro, 2015.
WASOW, T. Remarks on grammatical weight. In: Language Variation and Change, 9, p. 81-105,
1997.
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(DES)ORDEM DA IMAGEM E SENTIDOS DO OLHAR: GESTOS DE LEITURA DE
FOTOGRAFIA DIGITAL DA G MAGAZINE POR RASTREAMENTO OCULAR
Autor: Lucas Nascimento (FAPERJ)
Orientadora: Tania Clemente de Souza
A pesquisa proposta trata a relação teórica da Análise do Discurso de linha francesa com a
Linguística Experimental por meio de um experimento inédito sobre “Leitura de imagem por
rastreamento ocular (eyetracking)”. Com isso, destacamos a leitura de multimodalidade sincrética como
objeto de estudo, especificamente a polissemia como fenômeno semântico de percepção visual em
situação de leitura de fotografia digital de revista publicitária brasileira, no caso a G Magazine, cujos
movimentos oculares realizados construíram percursos de leitura, com efeitos de (des)ordem da imagem
e sentidos do olhar. Esses sentidos do olhar serão analisados como gestos de leitura.
O que veremos são dados de pesquisa da média de um experimento resultante da participação
de 24 jovens universitários, de uma instituição pública de ensino superior, e resultados individuais (gaze
plot, heat map e pairwise comparisons) de participante, de 20 anos, estudante do 3º período de Letras,
no ano letivo de 2017. A colaboração dos participantes foi para a tarefa de visualizar uma imagem e
responder uma pergunta, na tela de um computador, enquanto o rastreador ocular registrava seus tempos
e padrões de fixação.
Com o objetivo geral de contribuir para a compreensão do processo semântico polissemia
envolvido na visualização de imagens, os objetivos específicos são: (a) distinguir a leitura das áreas de
interesse em termos de suas propriedades conceptuais específicas, (b) investigar a distinção de leitura
entre áreas simples (“cueca”, “rosto”, “pernas”, etc.) e áreas particulares (“cueca do modelo direito”,
“cueca do modelo esquerdo”, “rosto da drag queen”, etc.), (c) analisar a leitura dos movimentos oculares
de um participante, por meio dos resultados de gaze plot e heat map (TFD: total fixation duration –
duração total de fixação em cada área de interesse) do experimento de rastreamento ocular, e, por fim,
(d) identificar valores de ‘p’ confiáveis do grupo homens heterossexuais por meio de pairwise
comparisons.
A justificativa de escolha de tais dados de grupo específico se baseia pela media de resposta
“sim”, em relação à pergunta “Há nudez na imagem?” (que se encontrava no último slide do
experimento), se apresentar diferente das respostas “não” dos demais cinco grupos participantes
(homens homossexuais, homens bissexuais, mulheres homossexuais, mulheres bissexuais, mulheres
heterossexuais) e pelo heat map e valor de ‘p’ desse grupo homens heterossexuais indicar pairwise
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comparisons, em relação às áreas de interesse: cueca do modelo direito, rosto-peruca-busto da drag
queen, rosto do Dicesar, sandália da drag queen, rosto do modelo direito.
A proposta de análise compartilha conhecimentos teóricos ao adotar para análise as dimensões
das várias facetas do construal (construção do significado) e a relação semântico-discursiva em
percepção visual de leitura de fotografia digital de capa publicitária, em edição de maio de 2010 de uma
revista de erotismo.
Com algumas tradições científicas, compartilharemos discussões teóricas prováveis hoje no
campo discursivo. Escolhemos para embasamento científico compartilhamentos como interfaces
mencionadas por Michel Pêcheux (em seu texto de 1984, publicação póstuma), ainda carentes de
desenvolvimentos teórico-metodológicos (NASCIMENTO, 2015). O desafio é trabalhar
investigativamente com duas teorias (ou mais) em modo de interfaces, por meio de diálogos,
revisitações, duelos, até mesmo com pontos de recusas, a fim de obter resultados para a leitura e a
interpretação da materialidade sincrética de textos modais.
Esclarecemos que esses “compartilhamentos” mencionados pelo autor são pensados em relação
aos funcionamentos sintáticos no “real da língua” (Pêcheux, 1983), que não estão estritamente limitados
na frase, mas que estão em relação aos fenômenos interfrásticos (e por essa via às marcas linguísticas
da enunciação e do registro dito pragmático), entendidos como pertencentes ao intradiscurso (conceito
que compreendeuma linguística das sequências discursivas) e ao interdiscurso (conceito que
compreende uma semântica das sequências discursivas, ou uma intersecção de atravessamentos dessas
sequências discursivas).
No mesmo texto que me referi sobre a escolha do termo “compartilhamento”, Michel Pêcheux
(1984) pontua o comprometimento e a contradição sobre os compartilhamentos: (1) o comprometimento
com posições de trabalho frente à discursividade: caso da História (por exemplo: história social das
mentalidades ou a arqueologia foucauldiana), da Sociologia (por exemplo: o simbólico nas relações
sociais), da Filosofia (por exemplo: a filosofia da linguagem); (2) a contradição em abordagem sob o
estatuto do sujeito no discurso, caso da Psicologia Cognitiva e da Psicologia Intelectiva, de encontro a
Psicanálise (Lacaniana, por exemplo).
Com o procedimento investigativo de interfacear (1) e (2), é desenvolvido inauguralmente o
compartilhamento teórico proposto, por meio de uma pesquisa experimental inédita sobre “Leitura de
imagem” por rastreamento ocular.
Palavras-chave: Imagem cosmética; Fotografia digital publicitária;Leitura de imagem; Rastreamento
ocular; Sentidos do olhar.
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Referências
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Maldidier. Paris: Éditions desCendres, 1990, pp. 303-323.
PÊCHEUX, Michel.O Discurso: estrutura ou acontecimento. Tradução de Eni Puccinelli Orlandi. 3. ed.
Campinas: Pontes, 2002.
PÊCHEUX,
Michel.[1984].“Especificidadedeumadisciplinadeinterpretação(AAnálisedoDiscursonaFrança)”.In:PÊ
CHEUX,Michel.AnálisedeDiscursoMichelPêcheux.TextosselecionadosporEniPuccinelliOrlandi.2.ed
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DESENVOLVIMENTO FONOLÓGICO EM CRIANÇAS COM TRANSTORNO DO
ESPECTRO AUTISTA – SÍNDROME DE ASPERGER
Autora: Marcela Branco da Silva (CNPq)
Orientadora: Christina Abreu Gomes
Co-orientadora:Simone Aparecida Lopes-Herrera
A Síndrome de Asperger, inicialmente descrita pelo pediatra austríaco Hans Asperger em 1944,
encontra-se atualmente dentro dos chamados Transtornos do Espectro Autista (TEA), segundo o Manual
de Diagnóstico e Transtornos Mentais (DSM-V). É um transtorno do desenvolvimento que apresenta
alterações na interação social e na comunicação, sendo em maior ou menor grau. De acordo com
Padovani & Junior, 2010, trata-se de um transtorno comportamental, com alteração na relação social e
emocional e comportamentos e interesses diferentes, estando o desenvolvimento da linguagem sem
alteração e havendo prejuízo na compreensão verbal. Para Howlin (2003), não haveria um consenso se
o surgimento da linguagem verbal se daria com desenvolvimento normal ou se teria um leve atraso,
apresentando, ainda, segundo Pastorello (1996), desenvolvimento adequado dos elementos fonológicos
e sintáticos, ou seja, bom desenvolvimento dos aspectos formais da língua. Por outro lado, a
compreensão estaria alterada devido ao fato de essas crianças entenderem o conteúdo literal do que lhes
é dito, não realizando inferências e nem compreendendo metáforas.
A literatura sobre essa população clínica (Cleland, 2010), no entanto, tem mostrado que os
aspectos que envolvem articulação de sons linguísticos e habilidades fonológicas são afetados em grau
menor em comparação à alteração de habilidades comunicativas. Há evidência de que, nos dois aspectos,
produção de sons e conhecimento fonológico, as manifestações linguísticas se assemelham à de crianças
com diagnóstico de Atraso Simples.
O presente trabalho visa analisar qual nível ou tipo de conhecimento fonológico está afetado em
crianças diagnosticadas com Síndrome de Asperger, comparando-as com seus pares de desenvolvimento
típico e seus pares englobados em grupos clínicos (Distúrbio Fonológico, Distúrbio Específico de
Linguagem e Atraso de Linguagem), estudados nos trabalhos de Esteves (2013) e Silva (2014), com
crianças falantes do português brasileiro, assim como também os resultados serão comparados aos
achados na literatura em estudos sobre aquisição fonológica de crianças com desenvolvimento atípico
(Beckman, Munson & Edwards, 2007; Munson et al, 2010). O trabalho também tem como objetivo
contribuir para a discussão teórica em torno da representação e organização do conhecimento fonológico
no âmbito dos Modelos baseados no Uso.
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Para atingir o objetivo proposto de situar de que maneira o conhecimento fonológico se
desenvolve em crianças com Síndrome de Asperger, serão adotados os pressupostos da Fonologia de
acordo com os Modelos baseados no Uso ou Modelos Multirrepresentacionais (Silva e Gomes, 2007).
Os Modelos Baseados no Uso, ou aindaFonologia Baseada no Uso, consideram que o conhecimento
linguístico ou a gramática emerge da relação entre aspectos cognitivos inatos e o uso e procuram explicar
como as representações linguísticas são gerenciadas pelo uso. Para Beckman et al (2004) e Bybee
(2001,2010), a generalização sobre a experiência de aquisição e utilização de palavras possibilita o
surgimento do conhecimento fonológico. O conhecimento da estrutura fonológica, segundo Storkel
(2002) eMunson et al (2005), está correlacionado à estrutura e crescimento do próprio léxico. Para
Pierrehumbert (2002, p. 1), “a fonologia lida com o conhecimento implícito da estrutura da linguagem,
do som que é usado para transmitir um significado”.
A obtenção dos dados será realizada a partir da gravação da produção espontânea de cada criança
com Síndrome de Asperger e do grupo controle, composto por crianças de mesma idade cronológica e
desenvolvimento típico, e pelo teste ABFW (parte de nomeação). Além disso, será aplicado um teste de
repetição de pseudopalavras para observar o conhecimento fonológico das crianças envolvidas. O
tamanho do léxico receptivo também será avaliado, a partir do Teste Peabody de Dunn & Dunn, bem
como o vocabulário expressivo, utilizando o ABFW.
Referências
BECKMAN, M. E., MUNSON, B., & EDWARDS, J. The influence of vocabulary growth on
developmental changes in types of phonological knowledge. In press in J. Cole & J. Hualde (Eds.),
Laboratory Phonology 9 (p. 241-264). New York: Mouton de Gruyter, 2007.
CLELAND, J; GIBBON, F; PEPPÉ, S. J. E.; O’HARE, A.; RUTHERFORD, M. Phonetic and
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ESTEVES, C. O Conhecimento Fonológico de Crianças com Dislexia, Desvio Fonológico e
Distúrbio Específico de Linguagem: Uma Análise Multirrepresentacional da Linguagem;Tese
(Doutorado) - UFRJ, 2013.
HOWLING, P. Outcome in High-functioning Adults with and without early language delays:
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Developmental Disorders, 33 (1), p. 3-13, 2003.
MUNSON, B., BAYLIS, A.L., KRAUSE, M.O., & YIM, D. Representation and Access in Phonological
Impairment. In C. Fougeron, B. Kühnert, M. D'Imperio, & N. Vallée (Eds.), Laboratory Phonology
10. (p. 381-404). Berlin: Mouton de Gruyter, 2010.
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MUNSON, B., KURTZ, B.A., & WINDSOR, J. The Influence of Vocabulary Size, Phonotactic
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Impairments. Journal of Speech, Language, and Hearing Research, 48, 1033-1047, 2005.
PADOVANI, C. R.; JUNIOR, F. B. A. Habilidades sociais na Síndrome de Asperger.
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PIERREHUMBERT, J. B. Word-Specific Phonetics. Laboratory Phonology VII, Mouton de Gruyter,
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Dissertação(Mestrado) – Programa de Pós-Graduação em Linguística - Universidade Federal do Rio de
Janeiro, Faculdade de Letras, 2014.
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NA TRAMA DOS SENTIDOS: O EDITAL DE CONCURSO PÚBLICO SOB A ÓTIMA DA
ANÁLISE DO DISCURSO
Autor: Márcio Lázaro Almeida da Silva (FAPERJ)
Orientadora: Tania Conceição Clemente de Souza
Evidências científicas da Análise do Discurso – disciplina de entremeio que, no seio da
Linguística, assume o discurso como objeto de estudo, compreendendo-o como o efeito de sentidos
entre interlocutores1 – nos permitem reconhecer o texto de um edital de concurso público, na condição
de materialidade discursiva, como uma arena em que se realizam inúmeras contradições. A AD,de
orientação francesa, à qual nos filiamos em nossas investigações, postula que todo texto apresenta
direções de sentido determinadas. Por meio das ferramentas que a língua oferece, o enunciador possui
as aberturas de que necessita para fazer manejos e manobras intencionadas na produção de sentidos
para/com seus interlocutores. Direcionar sentidos é fato próprio da língua e necessidade (in)consciente
do sujeito.
Como corolário desse processo, temos inevitavelmente a contradição entre as partes envolvidas
na interlocução; ela constitui concomitantemente elemento teórico e objeto de análise indispensável à
AD, uma vez que os sujeitos falantes podem estar em consonância ou em confronto sobre o sentido dado
às palavras. A contradição nos permite observar as relações de antagonismo ou aliança entre diferentes
formações discursivas2.
Ademais, o edital de concurso público, tomado sob o prisma da AD, é uma materialidade que
traz a articulação entre o simbólico e o político, o que nos permite colocá-lo numa posição privilegiada
de investigação. Frise-se que se trata de um texto prescritivo de regras que governam o concurso
público, uma das maiores conquistas políticas dos trabalhadores no Brasil. O concurso concentra uma
típica relação inscrita no modelo econômico do capitalismo: a relação entre
instituição/Administração/Estado e homem/administrado/sujeito; em outras palavras, uma relação entre
os que detêm os meios de produção e os que pretendem vender sua força de trabalho.
Assumimos o edital como nossa matéria empírica para investigar estratégias discursivas na
formulação dos enunciados que circulam em sua composição. Acreditamos que uma intervenção nesse
domínio, com os fundamentos da ciência da linguagem humana, possa trazer contribuições tanto para a
Administração (que necessita recrutar recursos humanos e, para isso, deve realizar um trâmite legítimo
que não fira os anseios e os direitos do cidadão) quanto para os administrados (os quais depositam sua
1 Confira Conein et al. (2016). 2 Para maiores detalhes ver Courtine (1982).
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fé em um processo que, por regra, deve ser imaculado, desprovido de vícios, isento de manobras aptas
a eivar todo processo administrativo referente a dado concurso).
Tomamos de empréstimo as noções de efeito metafórico, interdiscurso, paráfrase discursiva,
polissemia e repetição3. Para pôr em evidência estratégias produtoras de efeitos de sentidos usadas pelo
enunciador na textualização do edital, fazemos recortes de enunciados formulados em editais que não
sofreram qualquer forma de controle administrativo ou judicial e outros que foram impugnados,
suspensos, revogados ou anulados. Esses recortes constituem Sequências Discursivas Autônomas
(SDA), que são postas como unidades máximas de comparação. Tais unidades são relacionadas em uma
matriz, ficando por último a SDA que fora alvo de controle.
Com esses procedimentos temos a intenção de observar como os sentidos se constituem na tensão
entre a paráfrase, que produz diferentes formulações do mesmo dizer sedimentado, e a polissemia, que
joga com o equívoco da língua, isto é, com fato de todo enunciado ser suscetível de tornar-se outro,
deslocando-se discursivamente para romper com os processos de significação já instituídos.
No estágio atual em que se encontra, nossa pesquisa aponta a paráfrase como o processo base na
produção discursiva em editais, uma vez que suas regras visam à estabilidade jurídica. Por outro lado,
quando o enunciador se vale da polissemia, rompendo, no seio da matriz, com os enunciados já
realizados, estáveis discursivamente, os editais tendem ao controle administrativo ou judicial em razão
da instabilidade jurídica que esses enunciados suscitam.
Referências
CONEIN, Bernard et al. Materialidades Discursivas. Campinas, SP: Editora da Unicamp, 2016.
COURTINE, Jean-Jacques. Définition d’orientations théoriques et construction de procédures en
analyse du discourse. Philosophiques, vol. 9, n° 2, 1982, p. 239-264. Disponível em:
http://id.erudit.org/iderudit/203194ar. Acesso: 12 abril 2015.
LÉON, Jacqueline; PÊCHEUX, Michel. Análise sintática e paráfrase discursiva. IN: ORLANDI, E.
Análise de Discurso: Michel Pêcheux (Textos selecionados por Eni P. Orlandi). 3 ed. Campinas, SP:
Pontes Editores, 1982 (2012).
ORLANDI, Eni Puccinelli. A linguagem e seu funcionamento: as formas do discurso. São Paulo:
Brasiliense, 1983.
_________. Discurso e texto: formulação e circulação de sentidos. 4 ed. Campinas, SP: Pontes Editores,
2012.
3 Tomamos esses empréstimos conforme as orientações teóricas e metodológicas de Pêcheux (1975 [2009], 1984 [2012]),
Léon e Pêcheux (1982 [2012]), Orlandi (1983, 2012, 2013) e Courtine (1982).
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_________. Análise do discurso: princípios e procedimentos. 11ª edição. Campinas, SP: Pontes
Editores, 2013.
PÊCHEUX, Michel. Semântica e Discurso: uma crítica à afirmação do óbvio. Trad. Eni P. Orlandi et
al. 4 ed. Campinas, SP: Editora da Unicamp, 1975 (2009).
_________. Metáfora e interdiscurso. IN: ORLANDI, E. Análise de Discurso: Michel Pêcheux (Textos
selecionados por Eni P. Orlandi). 3 ed. Campinas, SP: Pontes Editores, 1984 (2012).
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UM ESTUDO COMPARATIVO ENTRE REVISTAS DE DIVULGAÇÃO CIENTÍFICA
Autora: Mariana Ximenes Bastos (CNPq)
Orientadora: Vera Lúcia Paredes da Silva
Este trabalho tem por finalidade apresentar as discussões já encaminhadas bem como as
hipóteses levantadas pela minha pesquisa de Doutorado em estágio definalização. Em minha tese, meu
objetivo principal é fornecer uma comparação entre diferentes artigos de divulgação científica (DC) a
fim de ampliar o quadro investigativo sobre essa temática.
De acordo com Bakhtin ([1979] 2003), os gêneros textuais podem ser concebidos como ações
representativas de situações discursivas recorrentes e, por isso, são identificáveis por seus usuários.
Swales (1990) acrescenta que o reconhecimento de um gênero se dá pelo fato de os membros de
determinada comunidade discursiva partilharem entre si saberes e relações culturais que permitem a
identificação de certas regularidades de um gênero. Nesse sentido, entende-se que no artigo de
divulgação científica a voz da ciência revela-se ao grande público com uma nova roupagem.Assim, cabe
à DC difundir e colocar ao alcance de toda uma massa populacional assuntos que são do seu interesse,
de maneira que esta sinta-se parte da sociedade e tome conhecimento daquilo que é produzido para ela.
Não se trata, no entanto, de uma simplificação do discurso científico, seu papel vai além de “traduzir”
para o público a linguagem científica. Com efeito, como afirma Zamboni (1997, p.86) “o discurso da
DC é o resultado de uma atividade discursiva que se desenvolveu em condições de produção
inteiramente outras”.
Dessa forma, na tentativa de fazer com que o público, leigo no assunto, se interesse pela temática,
é preciso que sejam utilizadas estratégias que atuem em duas vias. De um lado, tais recursos devem
atrair sua atenção, considerando se tratar de um assunto sobre o qual ele tem pouco (ou nenhum) domínio
e, nesse ponto, é possível propor que tais estratégias funcionem de forma argumentativa, na tentativa de
convencer o público sobre a validade e a importância do tema. Isso pode ser observado, por exemplo,
por meio das escolhas lexicogramaticais, que funcionam como elementos avaliativos (cf. Martin &
White, 2005 e Vian Jr., 2009) nesse gênero.
Ao mesmo tempo, são necessárias também estratégias que facilitem o entendimento da audiência sobre
o assunto, visto que a influência do discurso científico poderia comprometer a compreensão.
Verifica-se, no entanto, que, a depender da autoria e do público-alvo de cada publicação, obtém-
se um quadro bastante heterogêneo no diz que respeito à análise dos artigos. Com efeito, revistas como
Superinteressante e Galileu, cujos temas são variados, voltam-se para um público “mais geral”, o que
se reflete numa linguagem que busca conquistar e aproximar-se da audiência. Ao mesmo tempo, os
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artigos são escritos por jornalistas, profissionais familiarizados com as estratégias próprias do mercado
publicitário e também leigos no tema, situando publicações desse tipo como próximas às do domínio
jornalístico.
Já revistas que tratam de áreas específicas como Psique e Filosofia (Grupo Escala) destinam-se
a um público com interesse prévio no assunto abordado e, por conta disso, fazem uso de estratégias
distintas e, por vezes, mais complexas. Soma-se a isso o fato de serem assinadas por especialistas da
área, que dominam não só os termos próprios daciência, mas também a própria escrita científica. O fato
de atuarem fora de seu ambiente original e se colocarem no papel de divulgadores pode se refletir no
alto número de termos e estruturas formais, que, por sua vez, podem dificultar a compreensão da
audiência leiga e, assim, caracterizar tais publicações como próximas do domínio acadêmico/científico.
Dada a evidente heterogeneidade em relação aos artigos de DC, tratamos de artigos desses dois
grupos de publicações que abordam o mesmo tema e, assim, analisamos a influência desses aspectos –
autoria e público-alvo – a partir das estratégias linguístico-discursivas de cada um.
Referências
BAKHTIN, M.Os gêneros do discurso. In: Estética da criação verbal. São Paulo: Martins Fontes,
[1979] 2003.p.261-306.
MARTIN, J.R.; WHITE, P.R.R. The language of evaluation: appraisal in English. New York: Palgrave
Macmillan, 2005.
SWALES, J. M. Genre analysis: English in academic and researching settings. Cambridge: Cambridge
University Press, 1990.
VIAN JR., O. O sistema de avaliatividade e os recursos para gradação em Língua Portuguesa: questões
terminológicas e de instanciação. DELTA, volume 25, no. 1, 2009, p. 99-129.
ZAMBONI, L. M. S. Heterogeneidade e subjetividade no discurso de divulgaçãocientífica.Tese
(Doutorado em Linguística) - Instituto de Estudos da Linguagem da Universidade Estadual de
Campinas, Campinas, 1997.
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A TRAJETÓRIA DAS CONSTRUÇÕES CONCLUSIVAS COMPORTANTO, PORISSO,
LOGO E ENTÃO
Autora: Mayra França Floret
Orientadora: Maria da Conceição de Paiva
Em nossa pesquisa, buscamos analisar a trajetória das construções conclusivas conectadas
porportanto, por isso, logo e então, desde o século XIII até o século XXI. As orações denominadas
conclusivas estabelecem uma ligação com orações que expressam fatos ou constatações que autorizam
conclusões. Alguns desses conectores são atestados na língua desde o período arcaico (século XIII a
XVI), como por issoeportanto (cf. Barreto, 1999). O objetivo dessa pesquisa é verificar o surgimento e
a expansão das construções com esses quatro conectores no português ao longo do tempo, bem como a
forma como elas interagem na rede mais ampla de conectores que operam no domínio da causalidade.
Para isso, propomos um estudo diacrônico com base em textos dos três períodos do português (arcaico,
clássico e moderno/contemporâneo) (cf. Mattos e Silva, 2004; Castro, 2013).
Admitimos que essas construções se inserem em uma rede mais ampla na qual coexistem com
outras construções. De acordo com Goldberg (1995), essa rede é organizada com base em alguns
princípios, sendo um deles o da não sinonímia. Dessa forma, se há diferença sintática entre duas
construções, há também alguma diferença no nível semântico ou pragmático. Por isso, uma hipótese
dessa pesquisa é a de que, apesar de as construções comportanto, por isso, logo e então serem todas
utilizadas na expressão de uma conclusão, há especificidades funcionais que as diferenciam e que
motivam o uso de uma ou outra construção em diferentes contextos. Segundo Marques (2014), a relação
de conclusão envolve implicações de diferentes tipos, indicando consequência, conclusão ou resumo.
Sendo assim, um dos objetivos desse estudo que será desenvolvido durante o doutorado é o de verificar
se, ao longo do tempo, essas construções teriam se especializado na expressão de um desses três tipos
de conclusão.
Na perspectiva dos Modelos baseados no Uso, a frequência tem um papel central (cf. Kemmer e
Barlow, 2000; Bybee, 2003, 2010). Um outro objetivo desse estudo é o de verificar de que maneira o
surgimento de novas construções conclusivas ao longo do tempo afetou a frequência de construções
existentes anteriormente na rede.
De forma resumida, durante o desenvolvimento da pesquisa de doutorado, buscaremos responder
às seguintes perguntas: (i) como é a trajetória dessas construções ao longo do tempo? Quais já apareciam
desde o século XIII e quais foram aparecendo posteriormente? Quais eram as construções mais
utilizadas em períodos mais remotos e quais são as mais utilizadas hoje?; (ii) quais os sentidos
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carregados por essas construções? Até que ponto esses sentidos se alteram ao longo do tempo?; (iii)
como foi a mudança sofrida por essas construções ao longo do tempo?; (iv) há alguma outra construção
conclusiva que mereça atenção especial além das quatro focalizadas? Se sim, por quais razões?
A fim de responder essas questões e atingir os objetivos esperados, analisaremos uma amostra
com dois textos para cada século considerado. Os dados com essas construções serão coletados e
analisados, e depois serão analisados estatisticamente, o que nos permitirá compreender de forma mais
clara como se dá a trajetória de desenvolvimento e expansão dessas construções na Língua portuguesa.
Referências
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Letras), Instituto de Letras, Universidade Federal da Bahia, Salvador, 1999.
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MATTOS E SILVA, R. V. Novos indicadores para os limites do português arcaico. Revista da
ABRALIN 3 (1 e 2), 2004, p. 259-268.
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A FORMAÇÃO DAS MICROCONSTRUÇÕES ASSIM QUE, JÁ QUE E UMA VEZ QUE:
UMA ABORDAGEM COGNITIVO-FUNCIONAL
Autora: Monique Petin Kale dos Santos (CAPES)
Orientadora: Maria Maura da Conceição Cezario
Este trabalho tem o objetivo de investigar a formação histórica das microconstruções uma vez
que, assim queejá que na língua portuguesa entre os séculos XIII e XIX, tendo como base a
macroconstrução abstrata [Xque]CONECT, a partir dos pressupostos teóricos da Linguística Funcional
Centrada no Uso. Em outras palavras, a pesquisa tem o propósito de explicitar a mudança que ocorreu
no uso das construções uma vez/ já/ assim e do elemento que, que deixaram de ser um advérbio temporal
+ complementizador quee se transformaram em uma microconstrução conectiva. Nessa perspectiva,
apresenta-se a representação rede construcional a fim de explicitar a formação das microconstruções
conectivas.
Com base no aporte teórico da Linguística Funcional Centrada no Uso, observa-se o fenômeno
da mudança linguística, considerando fatores como a frequência de uso das construções linguísticas,
habilidades cognitivas, chunking e analogia, que esclareçam os aspectos sintático-semânticos do sistema
da língua. Para tanto, o modelo teórico é o da Construcionalização e Mudanças Construcionais
(TRAUGOTT & TROUSDALE, 2013; TRAUGOTT, 2010, 2015). Essa abordagem engloba os
principais pressupostos do Modelo da Gramática de Construções (GOLDBERG, 1995; CROFT, 2001),
a fim de explicitar a mudança da rede linguística, vista como uma rede nós (pareamentos de forma e
função) que são conectados de maneira hierárquica.
A fim de fundamentar nossa proposta, estabelece-se a análise qualitativa e quantitativa dos dados
entre as sincronias XIII e XIX em corpora de língua escrita formal, cujos gêneros discursivos são
compostos, em sua maioria, por cartas jesuíticas e por cantigas religiosas. Além disso, trabalhamos com
textos de natureza narrativa. Em nossa pesquisa, investigamos como esquema abstrato formado pela
macroconstrução [Xque]CONECT (HUDSON, 2007; TRAUGOTT & TROUSDALE, 2013) auxilia para a
formação das microconstruções uma vez que, assim queejá que, criando novos nós na rede construcional,
observaram-se as três principais propriedades em uma análise composicional, a saber: esquematicidade,
produtividade e composicionalidade. Constatou-se, assim, que a produtividade aumenta devido à maior
frequência de tipos de elementos que sejam elencados para preencher o slot (X) da construção. Por sua
vez, a esquematicidade se refere ao número de elementos que preenchem o slot (X), pois quanto maior
a quantidade desses elementos, mais esquemática (abstrata) será a construção. Por fim, a
composicionalidade relaciona-se com o fato de que a soma das partes da construção não leva ao seu
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significado. Dessa forma, ao se construcionalizar, as microconstruções conectivas estudadas perdem o
sentido de suas partes e se tornam menos transparentes.
Palavras-chave: microconstruções conectivas, chunking, uma vez que, assim que e já que.
Referências
CROFT, William. Radical Construction grammar: syntactic theory in typological
perspective.Oxford: Oxford University Press, 2001.
GOLDBERG, Adele. E. Constructions: a construction grammar approach to argument structure.
Chicago: The University of Chicago Press, 1995.
HUDSON, Richard. Language Networks: The new Word Grammar.Oxford: The Oxford University
Press, 2007.
TRAUGOTT, Elizabeth Closs; TROUSDALE,Graeme. Gradience, gradualness and
grammaticalization: how do they intersect?EmTRAUGOTT, Elizabeth Closs;TROUSDALE, Graeme
(eds.), Gradience, gradualness and grammaticalization. Amsterdam / Philadelphia: John Benjamins
Publishing Company, 2010.
______________. Construcionalization and Constructional Changes. Oxford: University Press,
2013.
TRAUGOTT, E. C. Toward a coherent account of grammatical constructionalization. In: BAR
DAL,Jóhanna; SMIRNOVA, Elena;SOMMERER,Lotte; GILDEA,Spike. (Org.). Diachronic
Construction Grammar.1 ed Amsterdam: John Benjamins Publishing Company, 2015.
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A FORMAÇÃO HISTÓRICA DA CONSTRUÇÃO DE REPENTE: UMA ABORDAGEM
CONSTRUCIONAL NO USO
Autora: Nastassia Santos Neves Coutinho
Orientadora: Maria Maura da Conceição Cezario
Co-orientadora:Maria da Conceição Paiva
O presente trabalho tem como objetivos realizar o percurso histórico da construção “de repente”
e seus valores semântico-discursivos e observar os contextos críticos do fenômeno, a fim de identificar
as mudanças construcionais envolvidas nessa construção (TRAUGOTT; TROUSDALE, 2013),
procurando mostrar se houve construcionalização. O modelo de Traugott e Trousdale (2013) define a
língua como uma rede de construções dentro do sistema linguístico, conceituando construção como um
pareamento entre forma e função. Neste modelo, a abordagem do sistema linguístico é vista como um
conjunto de nós, que podem ser nós menores, como as próprias construções, que por sua vez são
agrupadas em nós maiores que formam a rede linguística.
A associação das construções da língua a uma rede de conexões se dá pelo fato de cada
construção pertencer a uma outra maior criando os enunciados produzidos pelos falantes, assim a língua
constitui uma rede de construções interconectadas. A hipótese é a de que a formação de “de repente”
seja um caso de construcionalização, pois deve haver padrões construcionais em que “de repente” se
insere e links de heranças com outras construções com valor temporal e de modalizador epistêmico.
Para verificar essa hipótese, analisaremos registros da amostra do Corpus do Português, disponível
online, que reúne textos da Língua Portuguesa com variedades do Brasil e de Portugal, do século XIII
ao XX. Para a análise estatística, utilizaremos o programa GoldVarb X (SANKOFF, TAGLIAMONTE
& SMITH, 2005). Numa análise preliminar verificamos os seguintes valores para a construção “de
repente”: tempo (ex: “e vendo de repente uma extraordinária claridade”); modo (ex: “Agora o Vittorio
apareceu de repente”); ambíguo (ex: “mas que, se de repente os matassem, como tinhão feito ao
Cubosama”) e modalizador epistêmico (ex: “De repente perderias o ser e tornarias ao nada d’onde
sahiste”).
Observaremos também os padrões sintáticos em que “de repente” ocorre na oração, como V +
de repente; de repente + oração e como esses padrões afetam o valor semântico que a construção assume
no enunciado. Nosso estudo diacrônico, ainda em fase inicial, busca identificar o contexto crítico de
ocorrência da construção, entre as funções de tempo e modalizador epistêmico, evidenciando a mudança
da construção, originalmente de tempo, para possibilidade e reconhecendo o valor de modalizador
epistêmico como o mais produtivo no português atual, sendo que um aspecto que ressalta das análises
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anteriores de Siqueira (2012) e Coutinho (2016) é o de que esse valor ocorre, principalmente, em
contextos em que “de repente” é empregado como elemento de reforço do valor de possibilidade, co-
ocorrendo com outros elementos modalizadores (ex: “De repente pode haver algum trecho que não seja
muito nítido”).
Palavras-chave: Modelos Funcionais Baseados no Uso. Construcionalização. De repente.
Referências
SANKOFF, D.; TAGLIAMONTE, S.; SMITH, E.Goldvarb X: a variable rule application for
Macintosh and Windows. 2005. Disponível em: http://individual.utoronto.ca /tagliamonte
/goldvarb.html.
TRAUGOTT, E. C. TROUSDALE, G. Constructionalization and constructional changes. Oxford:
Oxford University Press, 2013.
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CONSTRUCIONALIZAÇÃO EM UM MONTE DE SN: UMA ABORDAGEM CENTRADA
NO USO
Autora: Nuciene Caroline Amphilóphio Fumaux (CAPES)
Orientadora: Karen Sampaio Braga Alonso
Este trabalho consiste em uma análise da formação da construção quantificadora um monte de
SN ao longo da história do português, a partir da ótica da Linguística Funcional Centrada no Uso, como
vemos no exemplo um monte de coisas. Levando em conta a hipótese de que a gramática se configura
como uma rede de construções, defende-se a tese, baseada na teoria de mudança linguística proposta
por Traugott & Trousdale (2013), de que haja uma microconstrução mais nova na história do português
– um monte de SN– dentro do esquema dos quantificadores. Essa microconstrução se formou a partir
de usos mais periféricos da construção [um [monte] de SN], com sentido qualitativo.
Nos primeiros séculos analisados, encontramos exemplos da construção um monte de SN de
cunho mais qualitativo como hû monte de africa, e, posteriormente exemplos com sentido multiplexo,
de cunho mais quantitativo, como um monte de empresas. Traugott & Trousdale (2013) denominam
como construcionalização a formação de um novo pareamento forma-sentido na rede linguística, ou
seja, a entrada de uma nova construção na gramática de uma dada língua, após haver mudanças
construcionais de forma e de função. Desse modo, postulamos, no presente estudo, que um monte de
SN, em seu sentido quantificador, é produto de mudanças linguísticas na forma e no sentido (mudanças
construcionais) da construção mais qualitativa original, a qual chamamos de especificadora. O objetivo
principal dessa pesquisa é descrever a formação da construção quantificadora um monte de SN no
português, e os objetivos específicos consistem na identificação das etapas do processo de mudança
linguística.
Este trabalho parte da perspectiva da Linguística Funcional Centrada no Uso (cf. BARLOW &
KEMMER, 2000; BOYLAND, 2013; BYBEE, 2010; DIESSEL, 2015) e, portanto, pauta-se na hipótese
da gramática como uma rede de pareamentos forma-sentido (como se pode ver em CROFT, 2001;
GOLDBERG, 1995 e 2006, entre outros). Além disso, o trabalho prevê o tratamento da mudança
linguística dentro da referida abordagem construcionista, tal como descrito em Traugott (2008);
Traugott & Trousdale (2013).
Coletamos e analisamos todos os dados com a construção um monte de SN nos corpora consultados,
a saber Corpus do Português, Crônica Geral de Espanha, Orto do Esposo, Nova Floresta e Monarchia
Lusitana, dentre outros. Utilizamos como parâmetros de análise o que vem sendo usado nos trabalhos
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que seguem a orientação do modelo de Traugott & Trousdale (2013), a saber: esquematicidade,
produtividade e composicionalidade.
Na análise de dados, percebemos que usos com a sequência um monte de seguida de um sintagma
nominal foram analogicamente relacionados e compreendidos como formando um padrão, tornando-se
o mais frequente a partir do século XVI. Identificamos, ainda, que a partir do século XIX, os dados
periféricos do padrão analisado [um + monte + de + SN] se tornam mais significativos. Acreditamos
que há relevância no aumento de dados de usos mais periféricos da construção, que proporcionaram, ao
longo desse período, uma ampliação dos tipos de SN que podem instanciar a construção.
Aparentemente, apenas no século XX ocorre o estabelecimento da construcionalização de uma
microconstrução quantificadora do tipo um monte de SN, com a maior parte dos dados referindo-se a
exemplos de itens não empilháveis e multiplicados por um monte de.
Referências:
BARLOW, M.; KEMMER, S. (Org.). Usage based models of language. Stanford, California: CSLI
Publications, 2000.
BYBEE, J. Language, usage and cognition. Cambridge: Cambridge University Press, 2010.
CROFT, W. Radical Construction grammar: syntactic theory in typological perspective. Oxford:
Oxford University Press, 2001.
DIESSEL, H. Usage-based construction grammar. In Ewa Dabrowska and Dagmar Divjak (eds.),
Handbook of Cognitive Linguistics, 295-321. Berlin: Mouton de Gruyter, 2015.
GOLDBERG, A. E. A construction grammar approach to argument structure.Chicago/London:
The University of Chicago Press, 1995.
_______. Constructions at work: the nature of generalization in language. Oxford: Oxford University
Press, 2006.
TRAUGOTT.E. C. Grammaticalization, constructions and the incremental development of language:
Suggestions from the development of degree modifiers in English. In: ECKARDT, R.; JÄGER G.;
VEENSTRA, T. (Eds.). Variation, Selection, Development--Probing the Evolutionary Model of
Language Change. Berlin/New York: Mouton de Gruyter, 2008. p. 219-250.
TRAUGOTT, E. C. & TROUSDALE, G. G. Constructionalization and Constructional Change.
Oxford University Press: Oxford, 2013.
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Linguística Rio, v. 4, ed. esp., dezembro de 2018. ISSN 2358-6826
PLURILINGUISMO E POLÍTICA DE LÍNGUAS EM TERRITÓRIO FLUMINENSE
Autor: Rodrigo Pereira da Silva Rosa (CAPES)
Orientadora: Tania Clemente de Souza
O presente trabalho tem por objetivo trazer à tona a constituição do universo de línguas que se
desenha atualmente no Estado do Rio de Janeiro, buscando entender esse desenho a partir de uma
política de línguas. O trajeto teórico que permeia as discussões está calcado na Análise de Discurso,
fundada por MichelPêcheux, disseminada por Eni Orlandi, Tania Clemente,dentre outros. Apesar de no
Brasil serem faladas mais de 250 variedades de línguas, considerando-se as línguas indígenas e as
línguas de imigração, juridicamente, através de decretos e leis, somente duas são as línguas oficiais do
país: o português e, bemrecentemente, a língua brasileira de sinais, LIBRAS (lei n. º 10.436, de 24 de
abril de 2002). A postura do Estado nacional com relação a uma política linguística tem sido a de impor,
historicamente, o monolinguismo. Desde o século XVIII, com o Diretório do Índio do Marquês de
Pombal (1757) até épocas mais recentes, este tem sido o perfil de uma política linguística praticada pelo
Estado brasileiro.
Em que medida se prevê uma política linguística?Em que medida o Estado ignora, ou não, todos
os entraves oriundos de uma imposição de uma língua única, quando não se tem como meta uma
integração – e não apenas um acolhimento – na e pelas línguas? Essas são questões da ordem do discurso
que discutiremos ao longo do curso e que serão apresentadas em nossa dissertação.
Além da presença maciça de refugiados, o Rio de Janeiro sempre foi um estado de acolhimento
de várias levas de imigrantes, quando se tem a instituição de várias colônias de estrangeiros (de diversas
descendências, tais como: alemãs, japoneses, árabes, italianos, franceses, coreanos, bolivianos, etc.). O
foco principal de nossadiscussão é verificar até que ponto o Estado empreende projetos de atendimento
com relação à comunicação linguística a esses que aqui chegam. Segundo dados divulgados na mídia,
o Rio de Janeiro coloca em prática uma posição pioneira, quando a Secretaria de Estado de Assistência
Social e Direitos Humanos do Rio de Janeiro lançou, em 2014, um plano inédito em todo o país que
permite formalizar políticas de atendimentos a refugiados. Outras instituições, como o CONARE –
Comitê Nacional para os Refugiados e ACNUR – Agência da ONU para Refugiados no Brasil, vêm
investindo numa política de acolhimento e, sobretudo, de conscientização dessa nova realidade mundial.
Em que medida nesses mecanismos se prevê uma política linguística, que não vise à estatização do
monolinguismo? Em que medida o Estado ignora, ou não, todos os entraves oriundos de uma imposição
de uma língua única, quando não se tem como meta uma integração – e não apenas um acolhimento –
na e pelas línguas? Essas são questões da ordem do discurso quebuscamos responder ao longo do
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projeto. E, ainda, em torno dessas questões (e de outras), vamos buscar empreender ações afirmativas
em torno de uma política de línguas, que se difere de uma política linguística.
Este trabalho tem o interesse de investigar as questões do plurilinguismo e das políticas de
línguas existentes em território fluminense. Território que desde a época do descobrimento recebe
grande fluxo de pessoas oriundas das mais diversas regiões do mundo (imigrantes e atualmente, os
refugiados) e até mesmo de pessoas que aqui já se encontravam (indígenas).A conscientização da
existência da diversidade linguística no território fluminense, bem como a organização das demandas
dos falantes na planificação linguística, cultural e política se faz necessária.
Referências
GADET, F. e PÊCHEUX, M. La Langue introuvable, Paris, Maspero, 1981, 248 p. (coll. “Théories”).
A língua inatingível: o discurso na história da linguística. Campinas: Pontes, 2004.
ORLANDI, Eni. (Org.). Análise de Discurso: Princípios e Procedimentos. Campinas: Pontes, 1999.
_______. Política linguística no Brasil. Campinas: Pontes, 2007.
PÊCHEUX, M. Analyse Automatique du Discours, Paris, Dunod, 1969.
_______. Les Verités de la Palice, Paris, Maspero, 1975. Semântica e discurso – Uma crítica à
afirmação do óbvio. Campinas: Editora da UNICAMP, 1988.
SOUZA, T. C. C. de. Língua nacional e materialidade discursiva: a influência do Tupi. In: Mello, H. et
al. Os contatos linguísticos no Brasil. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2011.
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CONSTRUCIONALIZAÇÃO DOS CONECTORES AINDA QUE E MESMO QUE NO
PORTUGUÊS: UMA VISÃO CONSTRUCIONAL DE MUDANÇA
Autor: Thiago dos Santos Silva (CAPES)
Orientadora: Maria Maura da Conceição Cezario
A pesquisa apresenta resultados preliminares de estudos relativos à formação das
microconstruções ainda queemesmo que, uma instanciação da construção mais abstrata [Xque]CONEC.
Busca, ainda, analisar a estruturação da rede construcional nos diferentes períodos da história do
português. Utilizamos como corpus textos históricos a partir do século XIV com o objetivo de identificar
os estágios pelos quais as construções passaram, visto que houve reorganizações da rede construcional,
ou seja, da gramática da língua. Dessa forma, novos nós (pareamentos forma-função) surgiram e
estabeleceram conexões sintáticas e semânticas com outros elementos já existentes. Por exemplo, a
construção ainda que passa a fazer parte do paradigma dos conectivos adverbiais concessivos. A
pesquisa está inserida numa abordagem construcionista de mudança linguística apresentada por Traugott
e Trousdale (2013), na qual a língua é vista como uma rede de construções, com nós e links organizados
de modo hierárquico, e o papel do linguista que pretende trabalhar com Linguística Histórica passa,
nesta visão, a ser voltado para o estudo das micro-mudanças que levam à mudança dos links e à criação
ou apagamento de nós. (cf. Santos Silva, Cezario, 2015). Utilizamos, em nossa análise, os pressupostos
teóricos da Linguística Funcional Centrada no Uso, tal teoria tem a concepção de que a língua é uma
estrutura maleável e que o contexto real de uso juntamente com a cognição humana são fundamentais
para que ocorram as mudanças linguísticas. Em nossa análise preliminar, foi possível observar que a
microconstrução ainda que já estava presente no século XV, sendo uma das formas mais antigas para
expressar concessão na língua portuguesa. A análise permitiu ver também que mesmo que aparece nos
dados como uma construção concessiva por analogia às formas que podiam aparecer no slot X do
esquema [Xque]. Ou seja, não passou primeiro por um valor de construção temporal, como ainda.
Referências
MARTELOTTA, Mário Eduardo. Mudança Linguística: uma abordagem baseada no uso.São Paulo:
Cortez Editora, 2011.
SANTOS SILVA, T. & CEZARIO, M.M. A construção embora na fala e na escrita: uma abordagem
baseada no uso.Rio de Janeiro: UFRJ, (2015).
TRAUGOTT, E.C. &. TROUSDALE, G. Constructionalization and Constructional
Changes.Oxford: Oxford University Press.2013.
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DISCURSO E IMAGEM EM ESCOLAS DE SAMBA: GESTOS DO VISÍVEL, INVISÍVEL,
SONORIDADE E DO SILÊNCIO NO CARNAVAL
Aluno: Tiago José Freitas Batista (CAPES)
Orientadora: Tania Clemente de Souza
O Carnaval tem sido fruto de nossas investigações desde o mestrado, também tem sido abordado
em nossos artigos e demais trabalhos científicos, mas o que quer o Carnaval na Linguística? Filiado
à linha de modelos funcionais baseados no uso e à teoria da análise de discurso de linha francesa de viés
pecheutiana, a proposta dessa pesquisa é apresentar um olhar outro dentro da linguística, o de fora dos
domínios estruturais, que pensa a materialidade não como análise de conteúdo, mas a sua discursividade
e seu funcionamento nas relações de efeitos e sentidos. Constitui o objeto desta tese, o Carnaval das
Escolas de samba do Rio de Janeiro. Oobjetivo principal é analisar a materialidade linguística das
Escolas de Samba através do discurso, imagem e som de desfiles memoráveis de agremiações dos
carnavais da última década, especificamente em enredos de Milton Cunha, Alexandre Louzada, Paulo
Barros, Jack Vasconcelos e Leandro Vieira. Os objetivos específicos perpassam os nove quesitos de
julgamento detectando/analisando a) os gestos linguísticos do visível e invisível; b) os gestos artísticos
da sonoridade e C) e os efeitos e sentidos do silêncio nos desfiles. A intenção então é difundir estudos
acadêmicos sobre essa importante celebração brasileira com contribuições que podem se inscrever como
pioneiras ou talvez até como inéditas, que apresentam o Carnaval como materialidade discursiva em
âmbito do verbal, não-verbal e sonoro. Especificamente, esse estudo pretende mapear os nove quesitos
de julgamento dos desfiles das Escolas de samba e classificá-los em situações linguísticas,
principalmente pelo viés da análise de discurso, arquitetura do não-verbal e semiótica da canção.
Dialogando com estudos artísticos, apresentaremos situações de narratologia e sonoridade. Como
resultado, espera-se a comprovação de que o Carnaval, muito além de festa cultural de território popular,
mobiliza um saber científico através da ação de sujeitos que operam e significam em manifestações
artísticas transversais entre o texto, a imagem e o som. Para detectar essas postulações, serão utilizadas
teorias norteadoras que se apoiam nos seguintes eixos: eixo discursivo: Pêcheux e Orlandi (sujeito,
imaginário, condições de produção, formação discursiva, memória, esquecimento, silêncio, efeito
metafórico, relações de força, deslizamento, entre outros); eixo imagético: Souza (policromia, não-
verbal, memória alegórica); eixo narratológico: Bruner (narratologia do nível de canonicidade e
violação) e Todorov (maravilhoso, fantástico); eixo sonoro: Chion (contrato audiovisual, valor
agregado, tempo e imagem) e Tatit (semiótica da canção) e eixo artístico-carnavalesco: Bakhtin
(carnalização), Goes (carnaval), Cunha-Júnior (carnaval) e Batista (dromologia carnavalesca). Os gestos
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do visível serão estudados nos quesitos fantasia, alegoria e adereços e comissão de frente; os gestos do
invisível serão analisados nos quesitos enredo e samba-enredo; a sonoridade será estudada também em
samba-enredo, harmonia e bateria e o silêncio será analisado através dos quesitos evolução, bateria,
mestre sala e porta bandeira e comissão de frente. Pelo exposto, na linguística, o Carnaval quer mostrar
(significar) que não é palco apenas de espetáculo cultural brasileiro, mas também é fonte de estudos que
oferta materialidade de múltiplos cenários possibilitando inúmeras análises, como as que nos
propusemos a trabalhar.
Palavras-chaves: Análise de discurso; Arquitetura do não-verbal; Som; Carnaval; Escolas de Samba.
Referências
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carioca e paulistano: indigenismo, folclorismo e africanidades religiosas. 2017. 213 f. Dissertação
(Mestrado Acadêmico em Letras) – Núcleo de Ciências Humanas, Universidade Federal de Rondônia,
2017.
BAKHTIN, M. M. Problemas da Poética de Dostoiévski. Trad. Paulo Bezerra. 1ª. ed. Rio de Janeiro:
Forense Universitária, 1981.
BAKHTIN, M. M. A Cultura Popular na Idade Média no Renascimento. Trad. Yara F. Vieira. São
Paulo, Hucitec* Ed. UnB, 1987
BRUNER, Jarome. A construção narrativa da realidade. Critical Inquiry. Trad. Waldemar Ferreira
Netto, 1991.
CHION, Michel. Audiovision: Sound on Screen. New York: Columbia University, 1993. Tradução de:
L’Audio-Vision (Paris: Nathan, 1991).
CUNHA-JUNIOR, Milton. Rapsódia Brasileira de Joãosinho Trinta: Um grande Leitor do Brasil!
Tese de Doutorado apresentada ao Programa de Pós-graduação da Universidade Federal do Rio de
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GOES, Frederico. Samba-enredo da epopeia a crônica Rev. Textos Escolhidos de Cultura e Artes
Populares, v. 6, n.1, 2009
ORLANDI, Eni P. Discurso e Textualidade. Campinas. Editora Pontes, 2006.
ORLANDI, Eni P. As formas do silêncio. Campinas. Editora da Unicamp, 2007.
PÊCHEUX, Michel. Análise Automática do Discurso (AAD-69) IN GADET, F. HAK, T. (Org.). Por
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Uma Análise Automática do Discurso: Uma Introdução à Obra de Michel Pêcheux. 3ª Ed.
Campinas, SP: Editora da UNICAMP, 1997.
PÊCHEUX, Michel. Papel da Memória. IN: Papel da Memória. Pierre Achard et al. Tradução: José
Horta Nunes. 1ª edição. Campinas, SP: Pontes, 1999.
SOUZA, Tania Conceição Clemente. A análise do não verbal e os usos da imagem nos meios de
comunicação. Rua 7, Campinas: Pontes, 2001
SOUZA, Tania Conceição Clemente. Carnaval e memória: das imagens e dos discursos. Publicação
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Disponível em:
http://www.leffa.pro.br/tela4/Textos/Textos/Anais/ANPOLL_2002/arquivos/pdf/002_analise_discurso
/tania_clemente.pdf Acesso em: 14 dez. 2017.
TATIT, L. & LOPES, I. Elos de melodia e letra. Análise semiótica de seis canções. São Paulo: Ateliê
Editorial, 2008.
TATIT, L. Semiótica da canção: melodia e letra. São Paulo: Escuta, 1994.
TODOROV, Tzvetan. As estruturas narrativas. São Paulo: Perspectiva, 1970.
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VARIAÇÃO E MUDANÇA LINGUÍSTICA
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VARIAÇÃO LINGUÍSTICA E AQUISIÇÃO DE ORAÇÕES RELATIVAS POR CRIANÇAS
FALANTES DO PORTUGUÊS BRASILEIRO
Autora: Ana Cristina Baptista de Abreu
Orientadora: Christina Abreu Gomes
Este trabalho investiga a compreensão das orações relativas em 72 crianças falantes do Português
Brasileiro com idades entre 3,6 e 5,10 anos.A hipótesecentral é que a frequência de ocorrência das
variantes e similaridade estrutural com as demais sentenças da língua influenciem na aquisição (cf.
Diessel&Tomasello, 2005; Ambridge et al., 2015) já que Tarallo(1983) e Mollica (2003)afirmam que
as relativas nãoocupam o mesmo espaço na fala.Um experimento de seleção de imagens(Arnon,
2011),contendo 36 estímulos auditivos com relativas de sujeito e objeto direto(variantes básicas/padrão
e copiadoras), objeto indireto (variante padrão e cortadora) e 20 distratores, revelou o papel da
experiência, frequência de ocorrência e similaridade estrutural na compreensão das relativas.Foram
observadosmenos erros nas relativas de sujeito, nas crianças mais novas, seguido das de objeto direto e
indireto. Entre as crianças mais velhas, as relativas de objeto direto apresentaram mais erros. A alta
frequência de ocorrência da variante básica/padrão de sujeitoe a similaridade estrutural das cortadoras
de OI com a ordem SVO facilitaram a compreensão. Observou-se,neste grupo, altos índices de acerto
na compreensão da variante preposicionada (piedpiping), atribuído ao mapeamento entre as duas
variantes por sua similaridade semântica.
Referências
AMBRIDGE, B., KIDD, E., ROWLAND, C.; THEAKSTON, A. The ubiquity of frequency effects in
first language acquisition. Journal of Child Language,42(2), 239-273, 2015.
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DIESSEL, H.; TOMASELLO, M. A new look at the acquisition of relative clauses. Cognitive
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MOLLICA, M. C. Relativas em tempo real no português contemporâneo. Paiva, M. C e Duarte, M. E.
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TARALLO, Fernando. Diagnosticando uma Gramática Brasileira: O português d’aquém e a d’além mar
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diacrônica. Homenagem a Fernando Tarallo. Campinas: Unicamp, p.69-100, 1993.
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ed. Diversity and diachrony. Vol. 53. John Benjamins Publishing,249-260, 1986.
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Linguística Rio, v. 4, ed. esp., dezembro de 2018. ISSN 2358-6826
SEGMENTAÇÃO NO INÍCIO DA ESCRITA
Autora: Andreia Cardozo Quadrio (CAPES)
Orientadora: Cecília Mollica
A comunicação volta-se para registros de escrita com estruturas hipossegmentadas e
hipersegmentadasa exemplo de oque (o que), derrepente(de repente), porisso(por isso); em bora
(embora), também(também), de mais (demais). Tais ocorrências têm se revelado frequentes na grafia de
estudantes do Ensino Médio, tanto em situações formais de uso, quanto em contextos informais, como
textos produzidos em ambiente on-line. Na última etapa de ensino da Educação Básica,espera-se que os
problemas ortográficos referentes à segmentação de palavras já estejam sanados. Hipossegmentação
(doravante HIPO) e hipersgementação (doravante HIPER) são processos muito frequentes na fase de
aquisição da escrita, nos anos iniciais do Ensino Fundamental. Contudo há ocorrências que se mantêm
como resíduos na grafia de estudantes pertencentes ao segundo segmento do Ensino Fundamental, como
revela a pesquisa de dissertação de Quadrio (2016), assim como no Ensino Médio. Busca-se, portanto,
com base em teóricos, como Abaurre (1991), (1997) e Goulart (2014), precursoras nos estudos de
segmentação, bem como pesquisadores da área da fonologia, da morfologia, da sintaxe, da mudança e
variação linguística, como Bybee (1985), Mollica (2003), Goldberg (1995), entre outros, averiguar os
casos residuais de HIPO e HIPER sob a perspectiva fonológica, morfológica e sintática. Objetiva-se
entender os processos que permeiam a escrita através de sondagem de dados do Português do século
XVIII, ocasião em que a grafia não estava totalmente normatizada e os falantes (ainda relativamente
letrados) guiavam-se pelos contornos melódicos e pela análise que faziam das categorias na fala e
registravam na escrita, a exemplo de emque(em que), selembra(se lembra), derrepente(de repente);
também(também). Taiscasos de HIPO e HIPER foram extraídos de cartas pessoais, por se tratar de
escrita espontânea, em comparação aos dados apurados através da grafia de escolares em contextos
diversificados. Apuraram-se, ainda, dados sob perspectiva longitudinal em estudo de caso de um
indivíduo pertencente ao Ensino Fundamental I, desde a primeira série, quando se iniciam os primeiros
rabiscos, até o quinto ano escolar, quando o estudante já deve ter superada a fase de aquisição da escrita
e, portanto, supostamente, não realizar ou realizar em menor número ocorrências de HIPO e HIPER. O
paralelo estabelecido entre as cartas pessoais do século XVIII e a escrita atual visa confirmar ou infirmar
a hipótese de as leis que governam os casos residuais de HIPO e HIPER na ortografia antiga serem
indicadores de uma busca de critérios para normativização da ortografia, tal como nas crianças.
Palavras-Chave: Hipossegmentação, Hipersegmentação, Português do Século XVIII.
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Referências:
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Alfabetizadores – EDUFJF, Juiz de Fora, 1991.
ABAURRE, M. B. M.; FIAD, Raquel Salek; SABINSON, M. L. M. Cenas de aquisição da
escrita.Campinas – SP: Mercado de Letras,1997.
BYBEE, J. Morphology: a study of the relation between meaning and form. Amsterdam/Philadelphia:
John Benjamins Publishing Company, 1985.
GOLDBERG, A. E. Constructions: A construction grammar approach to argument structure.Chicago:
Universityof Chicago Press, 1995.
GOULART, Cecília M. A. Perspectivas de alfabetização: Lições de pesquisa e da prática pedagógica.
Perspectives on literacy: Lessons from research and pedagogical practices. MS: Raído, 2014.
MOLLICA, Maria Cecília. Da Linguagem Coloquial à Escrita Padrão. Rio de Janeiro: 7Letras, 2003.
QUADRIO, Andreia C. A hipossegmentação no segundo segmento do ensino fundamental – alunos
típicos e atípicos.Dissertação (Mestrado) – Mestrado Profissional em Letras - PROFLETRAS.
Universidade Federal do Rio de Janeiro, 2016.
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Linguística Rio, v. 4, ed. esp., dezembro de 2018. ISSN 2358-6826
AS VOGAIS MÉDIAS PRETÔNICAS NA FALA CARAVELENSE
Autora: Daillane dos Santos Avelar
Orientadora: Maria Cecília Mollica
Esta pesquisa investiga as vogais médias pretônicas na fala de caravelenses/Ba residentes na
Grande Vitória/ES. Pretendemos verificar a influência das variáveis linguísticas e extralinguísticas na
variação das vogais médias pretônicas. Para alcançarmos nossos objetivos, foram selecionados 8
informantes que nasceram em Caravelas e moram na Grande Vitória (Vitória, Serra, Cariacica, Vila
Velha). Os informantes foram distribuídos de acordo com as variáveis sociais: idade (17 a 30 e 31 a 50
anos), sexo (feminino e masculino) e indivíduo. As variáveis linguísticas analisadas foram: nasalidade,
vogal tônica, estrutura da palavra, ponto de articulação da consoante precedente e ponto de articulação
da consoante seguinte. Para o referencial teórico, utilizamos a Teoria da Variação e da Mudança
Linguística, de William Labov (2008 [1972]). Em relação às vogais médias pretônicas, contamos com
as pesquisas de Bisol (1981), Yacovenco (1993), Silva (1989). As vogais médias pretônicas /e/ e /o/ são
uma das marcas mais importantes para a divisão dialetal do Brasil (Nascentes, 1953). Na variedade
capixaba, elas podem ser pronunciadas de três formas: média fechada [o] e [e], média aberta [ɔ] e [ɛ] e
alta [u] e [i], predominando as médias fechadas. Em Salvador (Ba), a variante mais frequente é a média
aberta, havendo também a pronúncia das formas altas e médias fechadas. Hipotetizamos que
caravelenses residentes na Grande Vitória tendem a pronunciar com mais frequência as vogais médias
fechadas [e] e [o], apesar de haver pronúncia significativa das vogais médias abertas [ɛ] e [ɔ].Em contato
com o dialeto capixaba, os caravelenses mantêm a predominância das vogais médias fechadas. Diferente
do padrão encontrado por Silva (1989) em Salvador/Ba. Os resultados mostraram que os caravelenses
residentes na Grande Vitória favorecem a utilização das vogais médias fechadas, com 54%, seguida das
médias abertas 28%, e altas 18%. As variáveis linguísticas vogal tônica, estrutura da palavra e ponto de
articulação da consoante precedente e seguinte atuaram fortemente na pronúncia das vogais médias
pretônicas. Assim como na pesquisa de Yacovenco (1993), os fatores sociais não se mostraram tão
significativos. Yacovenco (1993), Silva (1989), Fontis (2008) concluíram que a vogal tônica é
fundamental para compreender a harmonização vocálica, a elevação ou abaixamento. Nesta pesquisa,
os resultados mostraram que a vogal tônica [o] favoreceu fortemente o alteamento de [e o]. As
alveolares, em posição precedente, atuaram no abaixamento e na manutenção das vogais médias
pretônicas. As palatais, em posição seguinte, favoreceram o abaixamento. Conclui-se que a pronúncia
das vogais pretônicas foi fortemente influenciada por fatores linguísticos.
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Palavras-chave: sociolinguística, variação linguística, vogais médias pretônicas
Referências
BISOL, Leda. Harmonização vocálica. Dissertação de Doutorado, Rio de Janeiro, 1981.
FONTIS, G. F. As vogais médias pretônicas na fala culta de Nova Venécia. Dissertação (Mestrado
em Linguística)-Instituto de Estudos da Linguagem, Universidade Estadual de Campinas, Campinas,
2004.
NASCENTES, Antenor. O linguajar carioca. Rio de Janeiro: Organização Simões, 1953.
SILVA, M. B. As pretônicas no falar baiano: a variedade culta de Salvador. Tese de Doutorado em
Língua Portuguesa - Faculdade de Letras, UFRJ, 1989.
YACOVENCO, L. As vogais médias pretônicas no falar culto carioca. Dissertação (Mestrado em
Letras Vernáculas) – Faculdade de Letras, Universidade Federal do Rio de Janeiro. Rio de Janeiro,
UFRJ, 1993.
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VARIEDADE DE PORTUGUÊS FALADA POR PROFESSORES TIKUNA:UMA ANÁLISE
DE FENÔMENOS FONÉTICO-FONOLÓGICOS EMORFOSSINTÁTICOS
Autora: Ligiane Pessoa dos Santos Bonifácio
Orientadora: Marília Facó Soares
Este texto apresenta resultados de uma pesquisa, por meio da qual objetiva-se registrar, analisar
e caracterizar a variedade do português de contato falada por professores da educação básica,
pertencentes à etnia Tikuna, que moram em determinadas comunidades do município de São Paulo de
Olivença, na mesorregião do alto rio Solimões, no Amazonas. Para alcançar o objetivo, foram analisados
dados de fala de vinte e dois professores Tikuna.Destes, dezoito são professores da educação básica que
estão em processo de formação universitária, cursando Pedagogia Intercultural Indígena na
Universidade do Estado do Amazonas, três são professores da educação básica que se tornaram
estudantes de pós-graduação e um é professor da educação básica da comunidade de Vendaval, graduado
pelo programa do Terceiro Grau Indígena da Organização Geral dos Professores Tikuna Bilíngues –
OGPTB. Na análise, partimos da seleção de fenômenos linguísticos que englobam aspectos fonético-
fonológico e morfossintáticos dessa variedade, investigando se esses falantes:a) replicam
condicionamentos conforme os falantes nativos do Português Brasileiro, b) se há transferência de L1
para L2 nesse processo de aquisição da segunda língua ec) se há, nessa variedade, traços relacionados a
universais de aquisição de L2. A análise tomou por base os pressupostos da Sociolinguística para
observar a aquisição de L2 em contexto de contato linguístico (Weinreich, 1953;
Thomason&Kaufmann, 1991, entre outros). Assim sendo, ao lado do método etnográfico, seguimos
procedimentos adotados em pesquisas sociolinguísticas, com especial atenção à representatividade da
amostra, à identificação e ao agrupamento de fatores sociais que caracterizam os participantes e se
relacionam a fenômenos linguísticos por eles manifestos. Os resultados apontam que o contato com
falantes nativos de PB tem culminado em uma variedade do português indígena Tikuna que apresenta:
1. traços relacionados a universais de aquisição de L2; 2. replicação dos condicionamentos de falantes
nativos do PB e 3. transferência da L1 nos níveis estudados. Cabe enfatizar que, com uma ocorrência
maior, encontram-se dados que evidenciam a presença de elementos particulares da língua Tikuna na
variedade de Português usada por esses professores. As pesquisas voltadas aos registros do falar do
Amazonas ainda se encontram em estado incipiente, e, em se tratando de variedades do português
indígena não se tem, até o momento, nenhum estudo. Tal fato justifica a investigação, o registro e a
análise de fenômenos linguísticos que ocorrem na região, em especial da variedade falada pelos povos
indígenas, que se encontram bastante representados no estado. O registro e a caracterização dessa
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variedade indígena têm a intenção de contribuir para a descrição do conjunto de variedades de português
indígena falado na região norte do Brasil.
Palavras-chave: Contato Linguístico; Sociolinguística; Aquisição de Segunda Língua; Português
indígena Tikuna.
Referências:
THOMASON, S. G.; KAUFMAN, T. Language Contact, Creolization and Genetic Linguistics.
Berkley/Los Angeles: University of California Press, 1991.
WEINREICH, U. Languages in contact:Finding and problems. New York, Linguistic Circle of New
York, 1953.
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ESTUDO DIACRÔNICO DE PHRASAL VERBS COM A PARTÍCULA OUT NAS
CONSTRUÇÕES [VOUTSN] E[V SNOUT]
Autora: Manuela Correa de Oliveira (CAPES)
Orientadora: Conceição Paiva
Phrasal verbs são construções do inglês que consistem na combinação de verbo + partícula e que,
na forma transitiva, selecionam argumento interno. A partícula pode estar adjacente ao V -leave out
words (omitir palavras), denominadas contínuas, ou adjacentes ao SN – leavewords out -, denominadas
descontínuas. Na tese em desenvolvimento, investigo as duas construções com a partícula out com base
no quadro teórico dos Modelos Baseados no Uso (MBU) e, mais especificamente, a partir do modelo da
Gramática de Construções (GC). A análise das construções parte de um estudo diacrônico cuja
finalidade é verificar a hipótese de que o posicionamento contínuo e descontínuo da partícula reflete
duas construções distintas (GRIES, 2003; OLSON, 2013) a depender das características dos itens que
as constituem, bem como do sentido proposto nas construções. Para tanto, analiso dados coletados em
textos representativos do século XVII ao século XX e dados de fala do século XX. Os dados de
documentos escritos do século XVII ao XIX foram coletados do Corpus Representativo de Registros
Históricos do Inglês (ARCHER - A Representative Corpus ofHistoricalEnglishRegisters). Os dados do
século XX são de fala e escrita, delimitados a construções encontradas em jornais e coletados do Corpus
Nacional do Inglês Britânico (BNC – British National Corpus).A fim de identificar a trajetória das
construções [V out SN] e [V SN out], considero, além da frequência tokencom que essas construções
ocorrem ao longo do tempo, a frequênciatype(BYBEE, 2010) de cada uma delas, por meio da análise
da classe sintático-semântica da forma verbal que preenche o slot V, as características morfossintáticas
e discursivas do objeto direto e as propriedades semânticas das instâncias coletadas. Os resultados
obtidos evidenciam, antes de mais nada, que tanto a frequência type quanto a frequência token das
construções contínuas são significativamente mais altas em todos os séculosconsiderados.Além disso,
foi possível identificar que determinados verbos ocorrem exclusivamente em uma ou outra construção,
enquanto outros podem ocorrer em ambas as construções. Os verbos find e take são os itens lexicais
mais freqüentes no que tange a PVTs com a partícula out, tanto em construções contínuas como em
descontínuas. No que concerne ao tipo morfossintático de complemento verbal, foi possível comprovar
a forte restrição dos pronomes clíticos, como os pronomes de 3ª pessoa it e them, que ocorrem apenas
nas construções descontínuas. No caso de complementos com núcleo nominal, foi verificadapara [V SN
out] a maior recorrência de SNsconstituídos apenas pelo núcleo ou acompanhados de artigos definidos,
indefinidos e determinantes demonstrativos.Os resultados coletados do século XX mostram que a
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construção descontínua é mais restritiva quanto ao tipo de complemento que preenche o slot do objeto
se comparada à construção contínua. Todavia, é destacável, por meio da investigação diacrônica, que as
instâncias analisadas evidenciam uma expansão sintática (HIMMELMAN, 2004): os dados indicam que
o número de possibilidades quepreenchem o slot do complemento aumenta com o tempo, indicando que
a construção descontínua está se tornando menos restrita ao longo dos séculos ao licenciar maior
variedade de SNs.
Referências:
BYBEE, J. Language, usage and cognition. Cambridge: Cambridge University Press, 2010.
GRIES, S.T. Multifactorial Analysis in Corpus Linguistics. A Study of Particle Placement.
London/New York: Continuum, 2003
HIMMELMANN, N. P.Lexicalization and grammaticalization: Opposite or orthogonal? In: Bisang,
Himmelmann&Wiemer (eds.), 2004.
OLSON, A. L. Constructions and Result: English Phrasal verbs as analysed in construction grammar.
104 f. Dissertação (Mestrado). Trinity Western University, 2013.
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Linguística Rio, v. 4, ed. esp., dezembro de 2018. ISSN 2358-6826
ESTRUTURA INFORMACIONAL, PLURALIDADE, DEFINITUDE E VALOR DE
VERDADE
GRAMÁTICA NA TEORIA GERATIVA
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Autor: Alan de Sousa Motta (CAPES)
Orientador: Alessandro Boechat de Medeiros
Investigaremos a relação entre estrutura informacional e suas implicações nos valores de verdade
de sentenças, considerando sintagmas determinantes definidos no plural.
Strawson (1964) mostra que os julgamentos de valor de verdade para uma sentença podem variar
dependendo do estatuto informacional de uma expressão sem referência contida nela, podendo tal
sentença não ser nem verdadeira nem falsa, segundo o que ele chama de truth-gap theory. Uma sentença
em que o sujeito seja tópico, como(1), não terá valor de verdade, pois o tópico não possui referente; no
entanto, quando essa mesma expressão é parte do comentário, como é o caso de (2), é mais
plausivelmente julgada como falsa.
(1) O atual rei da França é careca.
(2) Minha exposição foi visitada pelo atual rei da França.
Quando levamos esse cenário a expressões com artigo definido pluralizado, algo paralelo parece
acontecer.
Suponhamos a seguinte situação (MEDEIROS et alii, manuscrito). Imaginemos uma família
composta por quatro meninos, pai e mãe. Depois da aula, os quatro meninos chegam com fome em casa
e buscam comer algo. Encontram uma pizza na geladeira. Um deles prefere comer uma maçã, enquanto
os outros três devoram a pizza. A mãe dos meninos vê os três comendo as últimas fatias de pizza,
enquanto o caçula come uma maçã. Pergunta ao caçula se ele comeu pizza também e ele diz que não. O
pai dos meninos chega do trabalho e procura a pizza na geladeira, mas não encontra. Pergunta: “Cadê a
pizza?” A mãe responde:
(3) Os meninos comeramela toda.
A resposta é adequada, apesar de nem todos os membros do conjunto dos meninos da casa terem
comido a pizza. E parece claro que o conjunto completo de meninos da casa é o conjunto saliente no
contexto.
Suponhamos, agora, que o pai chega em casa com sede, e abre a geladeira procurando água e
não vê a pizza que ele sabia estar lá antes. Pergunta então à mulher: “Os meninos andaram comendo
antes da janta?”E ela responde:
(4) Sim, os meninos comeram a pizza toda.
Aqui, a resposta é inadequada, pois a expressão parece exigir que a participação dos meninos
tenha sido máxima no evento de comer a pizza; mas a mãe sabe que essa participação não foi máxima.
Note-se que, neste contexto, DP plural “os meninos” é tópico.
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Ao que parece, em (3), por conta de se estar falando de uma pizza (tópico), há uma maior
tolerância com o fato de a participação dos meninos não ser máxima no evento de comê-la – o que é
importante é o que se diz sobre a pizza, não sobre os meninos. Por outro lado, em (4), os meninos são o
tópico da sentença e da conversa, e talvez a sentença seja de fato falsa no contexto (e a mãe está violando
a máxima da quantidade; GRICE, 1975). Segundo Gillon (2015), plurais definidosdeveriam codificar a
máxima participaçãoda soma denotada pelo plural no predicado. Mas é claro que, na sentença (3), essa
participação não é máxima, o que deveria tornar a sentença falsa, segundo a definição dada na literatura
(e a mãe estaria violando a máxima da qualidade). Contudo, o julgamento sobre (3) não nos parece ser
falso considerando o contexto. Isso nos faz pensar que, ou a definição do artigo definido plural inclui
ou não a participação máxima dos átomos do plural a depender do contexto, ou ela sempre inclui, mas
algum mecanismo pragmático faz com que toleremos a violação da máxima da quantidade em
determinados contextos, ou ela nunca inclui, mas a máxima da quantidade nos força a assumir que a
participação é máxima a depender do contexto.
Referências:
GILLON, C. Investigating D in languages with and without articles. Methodology in Semantic
Fieldwork, p. 175-205, 2015.
GRICE, H. P. Logic and conversation. In: COLE, P.; MORGAN, J. R. (Orgs.). Syntax and Semantics,
volume 3, Speech Acts. New York: Academic Press, 1975. p. 41-58.
MEDEIROS, A. B.; MARTINS, A. L.; DAMULAKIS, G. N. Categorization via Movement: the Syntax
and Semantics of ambos. Manuscrito.
STRAWSON, P. F. Identifying reference and truth-values. Theoria, v. 30, n. 2, p. 96-118, 1964.
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APRENDIZAGEM FONOLÓGICA DE L3 E SUAS IMPLICAÇÕES NO
SISTEMAFONOLÓGICO DA L2
Autora: Brenda da Silva Barreto
Orientador: GeanDamulakis
Co-orientador: Andrew Nevins
Conforme proposto na teoria Gerativa de Noam Chomsky concernente à aquisição da linguagem
– processo que se inicia imediatamente após o nascimento – todos os seres humanos, cuja faculdade da
linguagem é inata, são capazes de adquirir uma língua naturalmente caso sejam expostos a dados
linguísticos. Tal fenômeno se dá graças à Gramática Universal (GU), primeiro estágio de aquisição da
linguagem humana. Isso significa que todos nós, quando crianças, temos acesso à GU de modo a ter
sucesso ao aprender a língua que nos rodeia. O dispositivo da Gramática Universal utiliza dados
linguísticos primários como base, tornando possível a aquisição de uma língua. (cf. Chomsky, 1965, 32)
Por outro lado, tal processo linguístico nem sempre se dá de maneira satisfatória quando estamos lidando
com a aquisição de uma língua estrangeira. É frequente que aprendizes de uma língua não materna,
mesmo aqueles mais dedicados, raramente alcancem um nível de proficiência semelhante ao de um
nativo falante dessa mesma língua. Muitos pesquisadores têm observado, inclusive, que os módulos
responsáveis pela aquisição fonológica parecem ser os mais afetados pela chegada da puberdade e
envelhecimento do aprendiz. Amaro &Rothman (2010, 276), por exemplo, afirmam que evidências
sugerem que os módulos da morfossintaxe e semântica não sofrem tanto os efeitos do período
sensível/crítico quanto à fonologia.
Dito isso, nossa proposta é a realização de um estudo a partir da observação do processo de
aprendizagem fonológica de uma terceira língua (L3) em estágio inicial e sua possível interação com
uma segunda língua (L2), cujo processo de aprendizagem se encontre em estágio avançado. Trataremos
do uso do termo “aprendizagem fonológica” – em detrimento de “aquisição fonológica” – e suas
possíveis implicações. Baseamo-nos, para tanto, do trabalho de Krashen (1981), que apresenta a
dicotomia “Aquisição de Língua” X “Aprendizagem de Língua” e as características que distinguem os
dois processos.
Ademais, levamos em conta a proposta de Amaro (2012, 42) segundo a qual, “embora a maior
parte das pesquisas foque em transferência progressiva de L1 e/ou L2 para a L3, também existe a
possibilidade de transferência regressiva da L3, ou seja, a influência translinguística na qual a L3 afeta
a L1 e/ou a L2” (tradução nossa). Tal afirmação abre caminhos de investigação sobre a possibilidade de
a) mútuas influências de L2 e L3, b) influência regressiva (L3 sobre a L2) e c) influência progressiva
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(L2 sobre a L3). Entretanto, acreditamos que deva haver algum fator definindo que direção tal fenômeno
vá acontecer ou não. Por isso, levaremos em conta em nosso projeto as relações tipológicas entre as
línguas como possível fator determinante de qual direção o fenômeno da transferência irá ocorrer. Além
disso, pretendemos considerar a psicotipologia, que seria a consciência que o aprendiz tem das relações
tipológicas entre as línguas (cf. Kellerman, 1995, 129). De acordo com Jarvis&Pavlenko (2008, 174), é
possível inclusive traçar algumas tendências baseando-se na percepção dos falantes com relação ao
sistema da língua estrangeira que eles estão aprendendo, pois “é mais provável que ocorra transferência
quando o usuário da L2 percebe a L1 e a L2 como línguas semelhantes, enquanto (...) estruturas
percebidas pelo usuário da L2 como marcadas (ou específicas de uma língua) são transferidas menos
provavelmente.” (tradução nossa)
Para tanto, propomos um estudo comparativo entre dois grupos: (a) falantes nativos de português
brasileiro – variante carioca – aprendizes de alemão como L3 que já tenham aprendido inglês como L2
e (b) falantes nativos de português brasileiro – variante carioca – aprendizes de espanhol como L3 que
já tenham aprendido inglês como L2. Recorreremos à Teoria da Otimalidade Estocástica (Boersma&
Hayes, 1999) para lidar com os dados coletados devido à grande probabilidade de variação –
característica da interlíngua.
Referências Bibliográficas:
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FLYNN, Suzanne & ROTHMAN, Jason. Third language acquisition in adulthood. Amsterdam and
Philadelphia: John Benjamins Publishing Company, 2012. pp.33-60.
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CHOMSKY, Noam. Knowledge of language. Its nature, origin, and use. First publishing, Series
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JARVIS, Scott; PAVLENKO, Aneta. Crosslinguistic influence in language and cognition. New York
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Pergamon Press, 1981.
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SOBRE A INTERPRETAÇÃO DOS INDEFINIDOS E NOMES NUS:UM ESTUDO DE
ESCOPO
Autora: Ohanna Teixeira Barchi Severo (CNPq)
Orientadora: Suzi Oliveira de Lima
A categoria de nomes singulares nus é tida na literatura como distinta da categoria de nomes indefinidos
em diversos aspectos. Por exemplo, enquanto os primeiros, de acordo com algumas análises, denotam
propriedades de indivíduos (ESPINAL, 2010; OGGIANI, 2011; entre outros), os últimos têm usos
referenciais (HEIM, 1982; KAMP, 1981; entre outros). Apesar disso, em alguns aspectos observa-se
semelhança entre indefinidos e nomes singulares nus.
Em estudos anteriores de produção e compreensão feitos no Português Brasileiro (SEVERO,
2018a, 2018b), verificou-se que singulares nus nessa língua, assim como indefinidos, podem ser
retomados de forma anafórica tanto por DPs plenos (1), quanto por pronomes (2). Nesse sentido,
aparentemente, ambas as categorias de nomes possuem o mesmo comportamento no âmbito discursivo.
(1) a. João comprou vaso em São Paulo. No mesmo dia, João quebrou o vaso.
b. Carlos procurou um boné pela casa. Após duas horas, Carlos encontrou o boné.
(2) a. João comprou vaso em São Paulo. No mesmo dia, João o quebrou.
b. Carlos procurou um boné pela casa. Após duas horas, Carlos o encontrou.
Neste estudo, objetiva-se discutir se a semelhança observada entre indefinidos e nomes nus no
que compete a retomada anafórica é observada também quando investiga-se relações de escopo. Estudos
anteriores sobre a distinção entre indefinidos e nomes singulares nus no Espanhol (MÜLLER E
OLIVEIRA, 2004; entre outros), sugerem que estes dois tipos de DPs não possuem o mesmo
comportamento no âmbito do escopo. Enquanto singulares nus são interpretados apenas sob o escopo
estreito da negação (3a), indefinidos são interpretados sob os escopos amplo e estreito da negação (4):
(3) João não viu mancha no chão.
a. João não viu mancha nenhuma no chão. (leitura de escopo estreito)
b. #Existe uma mancha no chão que João não viu. (leitura de escopo amplo)
(4) João não viu uma mancha no chão.
a. João não viu mancha nenhuma no chão. (leitura de escopo estreito)
b. Existe uma mancha no chão que João não viu. (leitura de escopo amplo)
(MÜLLER E OLIVEIRA, 2004; p.25 – ex.57, 58 e 60)
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Sendo assim, o método do estudo foi o de Julgamento de Felicidade. Participaram desse estudo
quarenta falantes nativos do Português Brasileiro. Eles tiveram a tarefa de selecionar dentre as opções
de resposta, qual a opção que eles consideravam a correta. Cada item foi composto de uma pequena
narrativa e uma sentença-alvo que resumia a narrativa (5). Como resposta, havia duas imagens que
representavam a sentença-alvo. O participante poderia escolher uma das imagens, as duas ou nenhuma
delas.
(5) Contexto:
João sempre usa a lixeira reciclável para descartar seu lixo.
Por isso, quando seu refrigerante acabou, João procurou a lixeira reciclável para descartar a
latinha. Mas João não encontrou a lixeira reciclável.
Sentença:João não encontrou (uma) lixeira na rua.
Respostas: Imagem A, Imagem B, ambas ou nenhuma.
Os resultados desse estudo nos mostram que singulares nus foram interpretados sob o escopo
estreito da negação 72,1% das vezes e indefinidos foram interpretados sob o mesmo escopo 51,3% das
vezes. Além disso, indefinidos foram interpretados sob o escopo amplo da negação 25,4% das vezes e
os singulares nus foram interpretados sob o mesmo escopo apenas 16,7% das vezes. Segundo a análise
estatística feita no programa ANOVA dos dados obtidos nesse estudo, não houve significância em
relação à variável tipo de nome (χ²=0,0456, p=0,8309 (p>0,05)). Esses resultados sugerem que
singulares nus e indefinidos, no Português Brasileiro, aparentemente, possuem o mesmo comportamento
no âmbito do escopo da negação, assim como observado em outros estudos no âmbito de retomada
anafórica (SEVERO, 2018a, 2018b).
Referências:
IMAGEM B IMAGEM A
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ESPINAL, M. Bare nominals in Catalan and Spanish. Their structure and meaning. Lingua,v.120, n.4,
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HEIM, I. The semantics of definite and indefinite noun phrases. Tese (Doutorado) – University of
Massachusetts, Amherst, MA, 1982.
KAMP, H. A theory of truth and semantic representation. In: Groenendijk, J., Janssen, T., and Stokhof,
M., editors, Formal methods of the Study of Language, p.277-322. Wiley Online Library, 1981.
MÜLLER, A.; OLIVEIRA, F. Bare nominals and number in Brazilian and European
Portuguese. Journal of Portuguese Linguistics, v.3(1), 2004.
OGGIANI, C. M.On discourse referential properties of bare singulars in Spanish. Dissertação
(Mestrado) – Utrecht University, 2011.
SEVERO, O. T. B. Propriedades discursivas dos indefinidos e dos singulares nus no Português
Brasileiro: um estudo de produção. Revista LinguíStica Rio, 2018a. No prelo.
_____, O. T. B. Discourse properties of indefinites and bare singulars in Brazilian Portuguese: a
comprehension study. SULA 10, Toronto, 2018b. No prelo.
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FOCALIZAÇÃO IN SITU NO PORTUGUÊS DO BRASIL: INTERFACE SINTAXE-
FONOLOGIA
Autor: Rafael Berg Esteves Trianon (FAPERJ)
Orientador: Alessandro Boechat de Medeiros
A focalização é um tema que desperta interesse na comunidade linguística atualmente. Dentro
da corrente gerativa, o movimento que ficou conhecido como Cartografia Sintática (BELLETTI, 2004;
CINQUE, 1999; RIZZI, 1997, 2004)tem se dedicado a explicar as motivações para a existência de
construções sintáticas específicas para veicular informação focalizada (clivadas, por exemplo). Em
geral, a explicação parte da necessidade de satisfação de um critério chamado Focus Criterion(RIZZI,
1997)ou pela necessidade de valoração/checagem de um traço foco(ABOH, 2010). Independente do
mecanismo adotado, a consequência é a necessidade de um movimento A-barra, de modo que o
constituinte precisa se mover para uma projeção dedicada no CP para a veiculação do foco. Nessa
perspectiva, a entonação específica das sentenças cujo foco permanece in situ se deve também a esse
movimento, uma solução adotada por estudos recentes sobre a relação entre foco, prosódia e a
abordagem cartográfica(BOCCI, 2013).
No entanto, se a focalização in situ (ou seja, quando não há alteração no ordenamento dos
constituintes na sentença) também envolve movimento A-barra (ainda que esse movimento não seja
“visto”), é necessário assumir que todas as restrições que subjazem a tal tipo de movimento também
atuem na focalização in situ, como efeitos de ilha sintática. No entanto, isso não ocorre, como mostram
os dados abaixo:
(1) O João entregou a carta para o irmão DA MARIA (não do Jorge)
(2) *Foi DA MARIA que o João entregou a carta para o irmão t
Haja visto que (1) é gramatical, como é possível que haja o movimento do PP [da Maria], uma
ilha sintática (como mostra o dado em (2))? A única resposta possível é que o PP, na realidade, não se
moveu para a periferia da sentença, mas permaneceu mesmo in situ.
No entanto, apenas afirmar que não houve movimento não resolve o problema levantado pelas
propostas cartográficas: tendo em vista a validade empírica do modelo T da arquitetura da gramática,
como é possível explicar a existência de um fenômeno que possui efeitos tanto em LF como em PF sem
apelar para uma estrutura sintática específica? Esse trabalho busca uma proposta alternativa. Nossa
hipótese é a de que, no caso da focalização in situ, o traço de foco é valorado internamente ao DP,
através de uma operação de Agree entre o núcleo D (que possui um traço foco não-interpretável) e uma
projeção de foco fP interna ao DP (com traço foco interpretável). Em línguas de foco morfológico (como
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na língua chádica Gurúntum (HARTMANN; ZIMMERMANN, 2009), esse núcleo é realizado
fonologicamente, enquanto em português não.O movimento para CP que ocorre nas clivadas (e outras
construções do tipo) ocorre quando a projeção fP não está presente na estrutura, o que obriga o DP a se
mover para especificador de FocP na periferia esquerda para que seu núcleo possa sondar um núcleo
com traço foco interpretável (o núcleo Focº).
O problema óbvio que se levanta nessa hipótese é o de que essa operação de Agree não respeita
a Condição de Ativação (CHOMSKY, 2001). No entanto, assumimos a proposta de Bošković(2007),
que advoga pela validade da Condição de Ativação apenas para operação de Move, propondo que essa
condição não é um princípio do sistema linguístico, mas apenas uma consequência de casos de
movimento cíclico e que não se aplica a Agree.
Referências
ABOH, E. O. Information structuring begins with the numeration. Iberia, v. 2.1, p. 12–42, 2010.
BELLETTI, A. Aspects of the Low IP Area. In The Structure of IP and CP. The Cartography of
Syntactic Structures, vol. 2. New York: Oxford University Press, 2004.
BOCCI, G. The Syntax-Prosody Interface: A cartographic perspective with evidence from Italian. (W.
Abraham & E. van Gelderen, Eds.). Philadelphia: John Benjamins, 2013.
BOSKOVIC, Z. On the Locality and Motivation of Move and Agree : An Even More Minimal Theory.
Linguistic Inquiry, v. 38, n. 4, p. 589–644, 2007.
CHOMSKY, N. Derivation by phase. In: KENSTOWICZ, I. (Ed.). . Ken Hale: a life in language.
Cambridge: MIT Press, 2001. p. 1:52.
CINQUE, G. Adverbs and Functional Heads: A Cross-Linguistic Perspective. Oxford: Oxford
University Press, 1999.
HARTMANN, K.; ZIMMERMANN, M. Morphological focus marking in Guruntum (West Chadic).
Lingua, v. 119, p. 1340–1365, 2009.
RIZZI, L. The Fine Structure of the Left Periphery. In Liliane Haegeman (Ed.), Elements of Grammar
(pp. 281–337). Springer Netherlands, 1997.
RIZZI, L. The structure of CP and IP: the cartography of syntactic structures, volume 2. New York:
Oxford University Press, 2004.
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REANÁLISE EM NOMES DEVERBAIS DO PORTUGUÊS:UM ESTUDO NA INTERFACE
SINTAXE-SEMÂNTICA
Autora: Rafaela do Nascimento Melo Aquino (CAPES)
Orientadora: Miriam Lemle
Co-orientadora: Isabella Lopes Pederneira
O presente estudo tem como objeto de pesquisa a análise das nominalizações na língua
portuguesa, com o intuito de observar as relações entre a sintaxe e a semântica. O arcabouço teórico
para este estudo são as abordagens da Morfologia Distribuída (EMBICK; NOYER, 2012; HALLE;
MARANTZ, 1992; HARLEY; NOYER, 1999; MARANTZ, 1997, 2013; MARANTZ; HALLE, 1993)
e do Modelo Exoesqueletal (BORER, 2003, 2005a, 2005b, 2013a, 2013b). A escolha por essa vertente
se dá pelo fato de ela assumir a sintaxe como único componente gerativo da gramática, sendo este
responsável pela formação de sentenças e palavras. As abordagens acima descritas se diferenciam em
alguns aspectos, mas os principais a serem observados são a presença de significado na raiz e o limite
sintático para a negociação de significado.
Como dito acima, os nomes deverbais são o foco deste estudo, por razão de esses nomes
apresentarem ambiguidade, podendo ter leitura de evento e/ou leitura resultativa como no caso do nome
declaração, nas sentenças: (i) a declaração dos fatos do crime pela vítima levou duas horas e (ii) A
declaração de bens deve ser entregue até o fim de maio. Em uma visão lexicalista da gramática,
GRIMSHAW (1990) propõe que os nomes com leitura eventiva, denominados ComplexEventNouns,
devem obrigatoriamente ter um argumento interno em sua estrutura, enquanto os nomes com leitura de
resultado, denominados Resultnouns, não pedem argumento interno. No entanto, na abordagem
construcionista da gramática, algumas abordagens tratam dessa 91ambiguidade de duas maneiras: ou (i)
pela presença/falta do vP ou (ii) adotando o princípio de containment, isto é a ideia de que a estrutura
sintático-semântica de uma palavra está contida na estrutura sintático-semântica das palavras derivadas
dela,e atribuindo a ambiguidade ao processo de coerção. Contudo, SLEEMAN e BRITO (2007),
COMRIE e THOMPSON (2007) apresentam outras leituras possíveis aos nomes derivados como, por
exemplo, a leitura locativa, de instrumento/objeto concreto, exemplificada no nome entrada nas
sentenças: (iii) a entrada do refeitório está fechada e (iv) comprei duas entradas para o show do U2.
Diante disso, a presente pesquisa tem dois objetivos: (i) aprofundar a compreensão a respeito do
comportamento sintático-semântico das nominalizações criadas a partir do sufixo–91ão no português
do Brasil e (ii) compreender o processamento desses nomes, em termos de acesso lexical. A análise
inicial dos dados segue pela hipótese de que há a presença do vP na estrutura sintática das
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nominalizações, independente da leitura que elas tenham. Essa análise está sendo motivada por dois
fatores. O primeiro é a presença da marca morfológica verbal nos nomes analisados como, por exemplo,
declarar- declaração, plantar – plantação, negociar – negociação. O segundo é a presença do
argumento do vP nas construções nominais como, por exemplo, declarar os fatos/os bens – declaração
dos fatos/ de bens. No entanto, no que diz respeito ao que licencia a polissemia desses nomes, a análise
ainda não apresenta uma proposta. A ideia inicial era pautar a análise conforme a proposta de HARLEY
(2009), na qual a autora propõe que o processo semântico-pragmático de coerção seja responsável por
transformar um nome complexo eventivo em um nome com leitura de resultado. Contudo, essa proposta
apresenta um problema para a língua portuguesa, visto que a diferença entre nomes massivos e contáveis
não é clara. Deste modo, os próximos passos desta pesquisa são aprofundar a análise dos nomes em
relação aos fatores que licenciam a polissemia e aplicar o experimento de acesso lexical.
Referências:
ALEXIADOU, A. Functional structure in nominals: Nominalizations and ergativity. Linguistics
Today 42. Ed. John Benjamins Publishing Company.2001
BECKMANN, F. Review Article: Jane Grimshaw. Argument Structure. MIT Press, Cambridge,Mass.
(Linguistic Inquiry Monograph 18), 1990. Journal of semantics, v. 2, n. March, p. 103–131, 1994.
BORER, H. Exo-Skeletal vs. Endo-Skeletal Explanations : Syntactic Projections and the Lexicon.
(J. Polinsky, M. / Moore, Ed.)The nature of explanation in linguistic theory. Anais...Standford: CSLI
Publication, 2003
BORER, H. Structuring sense Volume II: The normal course of events. 1. ed. Nova Iorque: Oxford
Univeristy Press, 2005a.
BORER, H. Structuring Sense Volume I : In Name Only. 1. ed. Nova Iorque: Oxford Univeristy
Press, 2005b.
BORER, H. Structuring Sense Volume III: Taking Form. 1. ed. Nova Iorque: Oxford Univeristy
Press, 2013a.
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EMBICK, D.; NOYER, R. Distributed Morphology and the Syntax-Morphology Interface. In: The
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A AQUISIÇÃO DA MORFOLOGIA DE IMPERFECTIVO CONTÍNUO POR APRENDIZES
DE FRANCÊS (L2) FALANTES NATIVOS DO PORTUGUÊS DO BRASIL
Autora: Sabrina Gomes da Silva (CAPES)
Orientadora: Adriana Leitão Martins
Aspecto se refere aos diferentes modos de se visualizar a composição temporal interna de uma
determinada situação (COMRIE, 1976) podendo ser: (i) semântico, veiculado através do significado
inerente ao verbo e/ou seus complementos ou adjuntos, ou (ii) gramatical, codificado por exemplo na
morfologia verbal. Com relação ao aspecto semântico, considera-se a classificação de Vendler (1967),
que estabeleceu quatro tipos de verbo: estados, atividades, processos culminados e culminações. O
aspecto gramatical pode ser perfectivo ou imperfectivo. Este pode ainda ser subdividido em habitual e
contínuo, sendo o último referente a uma situação em andamento.
No francês da França (FF), Navakova (2001) mostra que o aspecto imperfectivo contínuo no
presente é expresso mais frequentemente pelo presente simples, tido como uma morfologia não
progressiva. Gramáticas francesas, como aquela desenvolvida por Poisson-Quinton, Mimran e Mahéo-
Le Coadic (2002), reconhecem também que esse aspecto pode ser realizado pela expressão verbal
“êtreentrain de” + infinitivo, tida como a morfologia progressiva do francês.
No português do Brasil (PB), Martins (2006) mostra que o aspecto imperfectivo contínuo no
presente também pode ser expresso tanto por uma morfologia não progressiva, o presente simples,
quanto por uma morfologia progressiva, a perífrase “estar” + gerúndio, sendo esta mais frequente nessa
língua.
Sendo assim, o objetivo geral deste trabalho é investigar a representação sintática de aspecto,
mais especificamente, de imperfectivo contínuo. De maneira específica, pretende-se investigar a
transferência do português do Brasil/L1 (PB/L1) para o francês da França/L2 (FF/L2) do padrão de
realização morfológica do imperfectivo contínuo no presente, considerando os diferentes tipos de verbo.
Diante disso, a hipótese considerada é a de que há uma transferência do padrão de realização morfológica
do imperfectivo contínuo no presente do PB/L1 para o FF/L2.
Para tanto, em um primeiro momento, optou-se por fazer uma análise de dois corpora a fim de
verificar o padrão de realização morfológica do aspecto imperfectivo contínuo no presente descrito em
cada língua investigada. Para a análise do FF, foi utilizado o corpus linguístico CFPP2000 transcrito e
disponibilizado pela Universidade Paris Diderot – Paris 7, que apresenta dados de fala espontânea de
adultos parisienses de ambos os sexos, de 20 a 40 anos, com nível superior completo ou incompleto,
sendo analisadas 3 horas de fala. Para a análise do PB, foi utilizado um corpus linguístico coletado e
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transcrito pelo grupo de pesquisa Biologia da Linguagem no ano de 2016, que apresenta dados de fala
espontânea de adultos cariocas de ambos os sexos, de 18 a 40 anos, com nível superior completo ou
incompleto, sendo analisadas 3 horas de fala.
Com base na análise dos dados, constatou-se que: (i) no FF, das 1413 realizações do imperfectivo
contínuo no presente, 99,85% (1411 realizações) foram com a morfologia não progressiva e 0,15% (2
realizações), com a morfologia progressiva, ambas com verbos de atividade; e (ii) no PB, das 140
realizações de imperfectivo contínuo no presente, 97,85% (137 realizações) foram com a morfologia
progressiva e 2,15% (3 realizações), com a morfologia não progressiva, sendo uma com verbo de
atividade, uma com verbo de culminação e uma com verbo de estado.
Diante de tais resultados, percebe-se que há uma preferência dos falantes nativos do FF pela
morfologia não progressiva, diferentemente dos falantes nativos do PB, que preferem a morfologia
progressiva. Logo, o próximo passo desta pesquisa será a elaboração/aplicação de um teste para
investigação de uma possível transferência do padrão de realização morfológica do aspecto imperfectivo
contínuo no presente do PB/ L1 para o FF/L2. A expectativa é de que ocorra tal transferência, dada a
diferença entre a realização morfológica desse aspecto nas duas línguas.
Referências:
COMRIE, B. Aspect. Cambridge: Cambridge University Press, 1976.
MARTINS, A.L. Conhecimento linguístico de aspecto no português do Brasil.2006.228f.
Dissertação (Mestrado em Linguística) – Faculdade de Letras, Universidade Federal do Rio de Janeiro,
Rio de Janeiro. 2006.
NAVAKOVA, Iva. Fonctionnementcomparé de l'aspect verbal em français et enbulgare. In: Revue des
études slaves, tome 73, fascicule 1, 2001. pp. 7-23
POISSON-QUINTON, S., MIMRAN., R., MAHEO-LE COADIC, M. Grammaire expliquée du
français, Clé International, 2002.
VENDLER, Z. ‘Verbs and times’. In: ______. (Ed.). Linguistics in Philosophy. Ithaca: Cornell
University Press, 1967. p.97-121.
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LINGUAGEM, MENTE E CÉREBRO
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O EFEITO DA LACUNA PREENCHIDA E A INFLUÊNCIA DISCURSIVA EM
INTERROGATIVAS QU
Autora: Amanda Rocha (FAPERJ)
Orientador: Marcus Antonio Rezende Maia
O Efeito da Lacuna Preenchida (ELP) foi primeiramente postulado por Stowe (1986) em um
estudo em que foram analisadas frases em inglês com a posição de objeto direto preenchida. Em
Português Brasileiro, Maia (2014a) testou frases como “[Que livro]i o professor escreveu a tese sem
ler vi antes?”. Foi observado um efeito surpresa do parser ao se deparar com o segmento [a tese]
preenchendo a lacuna após o verbo “escreveu”. Em um experimento utilizando a técnica de leitura
automonitorada (Maia, 2014a) que foi realizado, os resultados demonstraram que esse Efeito ocorre no
Português Brasileiroe, inclusive, não parece ser sensível a informações como a plausibilidade na medida
on-line. Diversos estudos foram realizados acerca do Efeito da Lacuna Preenchida, sendo somente sendo
bloqueado em contexto de ilhas sintáticas (Maia, Moura, Souza, 2016).
Em um primeiro estudo de leitura automonitorada, investigamos melhor a influência discursiva
durante a fase de processamento de frases em que ocorrem o ELP.Os participantes leram frases como
“O professor acabou de escrever uma tese. Que livroi/ o professor / escreveu/ a tese / sem
ler ti / durante / a pesquisa?”e observamos que o discurso exerce influência sob o ELP, mas não impede
a magnitude do efeito. Em Boxell (2012) é discutido a atuação do processador sintático diante de
elementos QU referenciais (Discourse-linked), como [Que livro], e não referenciais (non Discourse-
linked), como [O que]. O autor analisou que ambos os elementos são reativados em posições de CP
intermediário, ao contrário do que havia sido proposto por Pesetsky (1987). Além disso, Boxell (2012)
observou que um QU-referencial, em contextos de complexidade sintática muito elevadas, pode
funcionar como um elemento facilitador.
Neste segundo estudo pretende verificar a interação do discurso com o Efeito da Lacuna
Preenchida por meio da técnica de rastreamento ocular. Além disso, busca verificar a influência dos
traços discursivos no QU referencial em contexto de preenchimentode lacuna comparado com quando
o elemento QU não é referencial.A hipótese é de que haja influência do discurso durante o
processamento de frases. Além disso, em contextos de complexidade sintática, como o ELP, o elemento
QU referencial pode funcionar como um elemento facilitador. Observe o modelo de um conjunto de
frases experimentais:
Lacuna preenchida e QU referencial
PR – Que livroi o professor escreveu uma tese sem reler ti durante a pesquisa?
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Lacuna não preenchida e QU referencial
NPR – Que livroi o professor escreveu ti sem reler uma tese durante a pesquisa?
Lacuna preenchida e QU não referencial
PNR–O quei o professor escreveu uma tese sem reler ti durante a pesquisa?
Lacuna não preenchida e QU não referencial
NPNR – O quei o professor escreveu ti sem reler uma tese durante a pesquisa?
Sob uma análise comparativa, nossa previsão é de que, nas análises de PR x NPR na condição
PR os tempos médios de leitura serão significativamente maiores pois ocorrerá o ELP. Em análises entre
PNR x NPNR prevemos que as condições PNR levarão mais tempo pois ocorrerá o ELP e o fato de ser
um QU não referencial não impedirá isso. Em condições como PR x PNR, prevemos que as condições
com QU referencial (PR) levarão menos tempo para serem processadas pois este elemento será um
elemento facilitador em comparação com um QU não referencial. Na comparação das condições
NPRxNPNR, esperamos que NPNR levará mais tempo pois o elemento QU não carrega traços
discursivos facilitadores.
Referências:
BOXELL, O. Discourse-linking and long-distance syntactic dependency formation in real-time.
Proceedings of ConSOLE XIX, 151-175. 2012
MAIA, M. Efeito da lacuna preenchida e plausibilidade semântica no processamento de frases em
português brasileiro.Cadernos de Letras da UFF, 2014a, v. 49, p. 23-46
PESETSKY, D. Wh-in-Situ: Movement and Unselective Binding. In The Representation of
(In)definiteness, E. J. Reuland& A. G. B. terMeulen, (eds.) MIT Press: Cambridge, MA. (1987)
MAIA, M.; MOURA, A; SOUZA, M. Ilhas sintáticas e plausibilidade semântica – um estudo de
rastreamento ocular de frases com lacunas preenchidas em português brasileiro.EditoraScripta, 2016.
STOWE, L. Parsing wh–constructions: evidence for on–line gap location.Languageand Cognitive
Processes 1. 1986, 227–46.3
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PROCESSAMENTO SINTÁTICO EM CEGOS: UMA REFLEXÃO SOBRE O PESO DE
DIFERENTES MÓDULOS COGNITIVOS
Autora: Emily Silvano da Silva (CAPES)
Orientadora: Aniela Improta França
Em Silvano (2018) a Teoria do Garden-Path (cf. Frazier,1979) foi testada através do rastreamento
ocular durante a leitura de um tipo de ambiguidade sintática temporária, comparada entre alunos do
ensino superior e de 8º ano fundamental (cf 1):(1) A aluna disse à professora QUE chegou tarde que
precisava sair mais cedo.
Nos resultadoson-line foram encontradas evidências do efeito garden-path(GP) em ambos os
grupos, ou seja, ambos os grupos ingressam no labirinto, sendo este efeito menor nos alunos do 8º ano,
contrariando o esperado pela literatura. Já nos resultados off-linedepois da pergunta de compreensão, os
adultos demonstraram ter entendido as frases após reanálise, enquanto os alunos de 8º ano pareceram
não saber o que leram. Os resultados desses alunos do 8º ano sugerem mesmo que eles desistiram da
frase, se desengajaram, antes de concluir a leitura plena, com interpretação.
Apesar de a simples detecção do desengajamento serparâmetro relevante para a construção de
soluções para a educação fundamental, é preciso aprofundar a análise. A ideia é discriminaros
componentes do desengajamento:problemas de decodificação grafema-fonema, de processamento ou de
memória?
Assim, escolhemos como próximos passos testaras mesmas sentenças com indivíduos
completamente cegos (ICC), que reconhecidamente desenvolvem memória de trabalho táctil mais
potente do que a de indivíduos com visão residual e muito superior a de videntes(Cohen et al 2010;
Alary, 2009; Amedi et al, 2003; Bliss et al 2004; D'Angiulli A, Waraich P 2002). A ideia é comparar o
processamento de estruturas ambíguas em ICCscursando ensino superior e outros entre o 4º e o 8ºano
do ensino fundamental,para isolar problemas de processamento linguístico daqueles de memória. Para
isso nos propomos desenvolveruma versão adaptada da técnica de EEG-ERPdurante a leitura em braile.
Esperamos que o teste possa lançar luz sobre a interação/intervenção de módulos de outras cognições,
como a memória, no processamento de frases, aprofundando, assim, os resultados apresentados em
Silvano (2018).
Referências
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with superior verbal memory performance in the blind. Nature Neurosci 6: 758–766,2003.
BLISS I, KUJALA T, HAMALANINEN H.Comparison of blind and sighted participants' performance
in a letter recognition working memory task. Br Res Cognitive Br Res 18: 273–277,2004.
D'ANGIULLI A, WARAICH P.Enhanced tactile encoding and memory recognition in congenital
blindness. Int J Rehabil Res 25: 143–145,2002.
FRAZIER L.On comprehending sentences: Syntactic parsing strategies.Tese (Doutorado) –
University of Connecticut (reproduzida por: Indiana University Linguistics Club),1979;
SILVANO, E. Rastreamento ocular de orações temporariamente ambíguas: reflexões sobre os
efeitos garden-path e good-enough na leitura de alunos de curso fundamental e superior. Dissertação
(Mestrado) – Programa de Pós-Graduação em Linguística. Universidade Federal do Rio de Janeiro. Rio
de Janeiro, 2008.
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Linguística Rio, v. 4, ed. esp., dezembro de 2018. ISSN 2358-6826
LENDO FACES E PALAVRAS: UMA ABORDAGEMPSICOLINGUÍSTICA
Autora: Isadora Rodrigues de Andrade (CNPq)
Orientadora: Aniela Improta França
Como se sabe, as habilidades de leitura e escrita são socialmente facultativas e, normalmente,
ensinadas e aprendidas no contexto social. Contudo, ainda que o sistema visual humano ainda não tenha
tido tempo de se adaptar evolutivamente para assimilar linguagem escrita, estudos recentes no campo
da neurociência têm evidenciado a existência de uma circuitaria intimamente relacionada à cognição da
leitura (Dehaene, 2012).
Com a finalidade de investigar como o cérebro humano se prepara para a leitura, o neurocientista
francês StanislasDehaene comparou o processamento de objetos, faces e letras, utilizando recursos de
neuroimagem. Ele constatou uma forte relação entre aspectos das cognições de reconhecimento facial e
de reconhecimento de objeto com uma nova cognição — o reconhecimento de grafemas, que se
estabelece como um processo de natureza cultural, adquirido por meio de instrução explícita durante a
alfabetização (Dehaene, 2012).
Por ocasião da alfabetização, parte dos neurônios responsáveis pelo processamento de faces e
parte daqueles responsáveis pelo reconhecimento de objetos são ajustadas (reciclagem neuronal) de
modo a acomodar os atributos da palavra escrita. Assim, na hipótese da reciclagem concebe-se que
componentes naturais do sistema nervoso humano podem funcionar como base para absorver outras
regularidades que não fazem parte do DNA do indivíduo por não representarem ainda uma pressão
evolutiva por tempo significativamente grande para mudar a espécie (Dehaene et al., 2010; Dehaene-
Lambertz&Dehaene, 1994).
A Área da Forma Visual da Palavra Escrita (Visual Word FormArea) é assim formada por
reciclagem neuronal na região occípito-temporal ventral, acomodada dentro do giro fusiforme do
hemisfério esquerdo do cérebro, entre as áreas de processamento de face e de objetos (Cohen et al.,
2000).
Aprender a ler, portanto, gera mudanças na organização anatômica cerebral (Dehaene et. al.
2010), impactando diretamente na formação de novas funções cognitivas. Atualmente, há estudos que
apontam que os efeitos da alfabetização impactam o sistema de fala, criando fortes vínculos funcionais
de alimentação e retroalimentação entre fonologia e ortografia.
Entretanto, esses efeitos não se limitam à língua, mas também atingem os processos visuais não-
linguísticos (Kolinsky&Verhaeghe, 2011). No local da VWFA, aprender a ler instaura uma competição
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com a representação cortical de objetos visuais não-linguísticos (Dehaene et. al., 2010). Enquanto a
VWFA esquerda torna-se cada vez mais sensível às sequências de letras, enquanto os indivíduos
adquirem a leitura, ela se torna cada vez menos sensível aos rostos, cuja percepção torna-se mais
lateralizada para a direita, nos indivíduos alfabetizados.
Portanto, temos nessa frente de trabalho, a possibilidade de verificar, sob a perspectiva da
psicolinguística, se há correlatos comportamentais para os achados da neurociência. Para tanto,
realizaremos testes pseudolongitudinais de percepção fonêmica e reconhecimento facial, que serão
aplicados em três grupos de crianças em três momentos: antes, durante e depois da alfabetização.
Nesses testes, tentaremos identificar se a competição neural entre palavras escritas e rostos
provoca prejuízos à percepção facial, em virtude do desenvolvimento das habilidades de leitura. Além
disso, também pretendemos investigar a percepção categórica de fonemas antes e depois da
alfabetização, para verificar se a precisão dos limites das categorias fonológicas é reforçada pela
alfabetização, como é indiretamente sugerido pela literatura (Hoonhorst et al., 2011; Serniclaes et al.,
2006).
Palavras-chave:linguística, psicolinguística, leitura, neurociência
Referências
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area. Neuroimage.22:466–76, 2004.
DEHAENE, et al. How learning to read changes the cortical networks for vision and language.
Science(New York, N.Y.), 330(6009), 1359–64, 2010.
DEHAENE-LAMBERTZ, G.; DEHAENE, S. Speed and cerebral correlates of syllable discrimination
in infants. Nature, 370(6487), 292–5, 1994.
DEHAENE, Stanislas. Reading in the brain: The Science and evolution of a human invention. New
York: Peguin Books, 2005.
_______. Os Neurônios da Leitura: Como a Ciência Explica a Nossa Capacidade de Ler (p. 372).
Penso, 2012.
HOONHORST, Ingrid et al. Categorical perception of voicing, colors and facial expressions: A
developmental study. Speech Communication. 53. 417-430, 2011.
KOLINSKY, Régine; VERHAEGHE, Arlette. How literacy affects vision: further data on the
processing of mirror images by illiterate adults. Revista LinguíStica. Volume 7, número 2, 2011.
SERNICLAES, Willy et al. Categorical perception of speech in illiterate adults. Cognition. 98. B35-44.
2006.
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A REPRESENTAÇÃO DO ASPECTO PERFECT: UM ESTUDO A PARTIR DA DEMÊNCIA
DO TIPO ALZHEIMER
Autor: Jean Carlos da Silva Gomes (CAPES)
Orientadora: Adriana Leitão Martins
Este trabalho está ancorado na teoria gerativa, corrente de estudos linguísticos que postula que a
linguagem é representada na mente humana de maneira dissociada das demais cognições. Assim, cada
indivíduo possui uma gramática mental. Nela, estão organizados conhecimentos linguísticos de
diferentes naturezas, sendo um deles o sintático. Investigamos neste trabalho o conhecimento sintático
de aspecto. Segundo Comrie (1976), aspecto refere-se às diferentes maneiras de se enxergar a
composição temporal interna de uma situação. Alguns aspectos podem ser gramaticalizados nas línguas,
como o perfect,que, segundo Pancheva (2003), se refere a um intervalo de tempo que relaciona o
momento do evento ao momento de referência, sendo o primeiro anterior ao segundo. Uma das propostas
de subcategorização para o perfecté a de McCawley (1981) que o classifica em dois tipos: universal e
existencial. Segundo Iatridou, Anagnostopoulou&Izvorski (2003), quando associados ao tempo
presente, o perfectuniversal descreve uma situação que se iniciou no passado e persiste até o presente,
enquanto que o existencial descreve uma situação que ocorreu e terminou no passado e que tem
relevância no presente. Em relação à representação mental desse aspecto, Alexiadou, Rathert& Von
Stechow (2003) propõem a existência de apenas uma projeção para o perfectna representação sintática.
Por outro lado, Nespoli& Martins (2018) propõem a existência de duas projeções para perfect, sendo
uma para o tipo universal e outra para o tipo existencial. Uma das formas de investigar o modo como o
conhecimento linguístico está representado na mente de um indivíduo é por meio de um estudo que
incida sobre dados de uma gramática desviante, ou seja, daquela que se difira da de um indivíduo adulto
saudável falante nativo de uma língua específica, como é a de um indivíduo portador da demência do
tipo Alzheimer (DTA). Pacientes acometidos pela DTA sofrem de múltiplos impedimentos cognitivos,
e, por isso, é possível que os problemas detectados na sua expressão linguística sejam decorrentes de
um comprometimento na gramática mental (GROBER & BANG, 1995; MARTINS, 2010) ou em algum
módulo não linguístico (ROCHON, WATERS & CAPLAN, 1994; GROSSMAN & WHITE-DEVINE,
1998). Dessa forma, o objetivo geral desta pesquisa é investigar a representação sintática do perfect.
Especificamente, pretende-se investigar, em pacientes diagnosticados como prováveis portadores da
DTA falantes nativos do português brasileiro (PB), a origem de um possível comprometimento do
aspecto perfect, se decorrente de um comprometimento na gramática mental ou em módulos não
linguísticos. Além disso, se for identificado tal comprometimento e ele for analisado como resultante de
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um impedimento na gramática mental, pretende-se investigar se esse comprometimento incide sobre a
expressão de perfectuniversal ou existencial, quando associados ao presente, uma vez que a perda
seletiva de um desses tipos pode indicar uma dissociação entre eles. Para tanto, será realizado um duplo
estudo de caso cuja metodologia consiste na aplicação de quatro testes e na análise de dados de fala
espontânea dos pacientes. Dois testes são de natureza neuropsicológica, sendo um deles o Mini Exame
do Estado Mental, cujo objetivo é avaliar o estado mental dos pacientes, e o outro, um teste de
ordenamento sequencial de eventos, cujo objetivo é investigar o conhecimento conceptual de tempo. Os
outros dois testes visam investigar especificamente o comprometimento linguístico de tempo e aspecto,
sendo um deles um teste de julgamento de gramaticalidade e o outro uma tarefa de preenchimento de
lacuna. Uma análise preliminar de dados de fala espontânea de um indivíduo acometido pela DTA
indicou um possível problema com a morfologia “ter” + particípio, forma verbal que veicula
exclusivamente o aspecto perfectuniversal no PB, o que pode indicar um possível comprometimento
com esse tipo de perfect.
Referências:
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perfect constructions. In: ALEXIADOU, Artemis; RATHERT, Monika; VON STECHOW, Arnim.
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COMRIE, Bernard. Aspect: an introduction to the study of verbal aspect and related problems.
Cambridge: Cambridge University Press, 1976.
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Neuropsychology, v.11, p. 95-107. 1995.
GROSSMAN, M.; WHITE-DEVINE, T. Sentence comprehension in Alzheimer’s
disease.BrainandLanguage, v. 62, p. 186-201, 1998.
MARTINS, A. L. A desintegração do tempo na demência do tipo Alzheimer. Tese (Doutorado) –
Programa de Pós-Graduação em Linguistíca. Universidade Federal do Rio de Janeiro, Faculdade de
Letras. 2010.
MCCAWLEY, J. Notes on the English Present Perfect. Australian Journal of Linguistics, v.1, n.1,
1981.
IATRIDOU, S.; ANAGNOSTOUPOLOU, E.; IZVORSKI, R. Observations about the form and
meaning of the perfect. In: ALEXIADOU, A.; RATHERT, M.; VON STECHOW, A. (Eds.) Perfect
explorations. Berlin: Mounton de Gruyter, 2003.
NESPOLI, J; MARTINS, A. A representação sintática do aspecto perfect: uma análise comparativa
entre o português e o italiano. Caderno de estudoslinguísticos, v. 60, n. 1, 2018.
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PANCHEVA, R. The aspectual makeup of Perfect participles and the interpretations of the Perfect. In:
ALEXIADOU, A; RATHERT, M. VON STECHOW, A. (Eds.). Perfect Explorations. Berlin:
Mounton de Gruyter, 2003. P. 277-308.
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A TEORIA DA MENTE DIGITAL: INTERAÇÃO ENTRE BEBÊS E MÁQUINA
Autora: Kate Barbara de Mendonça Leal (CAPES)
Orientadora: Aniela Improta França
O presente trabalho busca investigar, sob a perspectiva da Teoria da Mente (ToM),os efeitos da
interferência dos meios digitais no desenvolvimento das habilidades cognitivas e linguísticas de
crianças. É muito comum observamos o contato precoce e intensificado de crianças de diferentes faixas
etárias com os meios eletrônicos quer de forma assistida, quer de forma desassistida. Embora haja uma
profusão de artigos sobre o tema, esse ainda é um campo muito vasto e novo. Parece-nos que um ponto
ainda muito pouco estudado, mas de suma importância para esse estado da arte, é como a linguagem é
representada pela criança para que ela interaja com os aparelhos online. Esses aparelhos são intuitivos
para adultos, mas para serem intuitivos para os bebês, e parecem que são, os bebês têm que prever os
passos do processamento de máquina para que eles gerem expectativas de funcionamento na interação,
assim como na fala um interlocutor tem expectativa em relação ao que o outro vai dizer.
A presente pesquisa busca entender como os bebês representam as possibilidades de resposta das
mídias digitais com as quais interagem e como constroem as expectativas para que essa interação
aconteça. Como a criança processa as fases de processamento da máquina com a qual ela interage?
Como se resolvem os conteúdos dêiticos? Para tentar responder essas questões, o recorte que será aqui
proposto é a investigação que evoca o campo clássico da Teoria da Mente (ToM) adaptado para o espaço
digital. Esse tema clássico será aqui adaptado para estudar o “modus operandi” de um aparelho
eletrônico, uma série de “comportamentos” ou “respostas” que os bebês conseguem prever durante a
interação com uma dada plataforma eletrônica. Justificamos nossa escolha teórica pelo fato de a Teoria
da Mente se mostrar uma ferramenta teórica capaz de explicar a capacidade cognitiva infantil de
entender o comportamento do outro e modular suas ações.
Assim, o tema fundamental sobre a cognição infantil é a Teoria da Mente (ToM) do outro, a
habilidade de atribuir e representar em si próprio os estados mentais do outro - crenças, intenções,
desejos, conhecimento - e de compreender que esses estados podem ser distintos daqueles de self. O
controle da Teoria da Mente está na base das trocas comunicativas que estabelece, constituindo um
aspecto importante para o convívio social. No século XXI, umoutro inescapável é de natureza digital,
como as máquinas com as quais interagimos: celulares, tablets e etc.
Este trabalho se justifica, portanto, pelo aumento exponencial de crianças que fazem uso dos
recursos tecnológicos, com facilidade estarrecedora. Ressalta-se que não há ainda estudos mais
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detalhados acerca dessa cognição e sobre os efeitos positivos e/ou negativos para o desenvolvimento
cognitivo e linguístico dos bebês e crianças pré-escolares. Esse estudo quer se devotar a essa área.
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O PROCESSAMENTO DA CORREFERÊNCIA PRONOMINAL EM POSIÇÃO DE SUJEITO
E EM POSIÇÃO DE OBJETO: RESULTADOS PRELIMINARES DE UM ESTUDO
COMPARATIVO ENTRE PB E PE
Autora: Katharine de Freitas Pereira Neto Aragão da Hora (CAPES)
Orientador: Marcus Maia
Co-orientadora: Paula Luegi (Universidade de Lisboa)
O presente trabalho apresenta parte da pesquisa comparativa que está sendo desenvolvida a fim
de contribuir com os estudos sobre a categoria vazia tanto em posição de sujeito quanto em posição de
objeto em Português Brasileiro e em Português Europeu.
A fim de definir o nível de distanciamento entre o PB e o PE,muitos linguistas têm tomado como base
o modelo de Princípios e Parâmetros (Chomsky, 1981), com a finalidade de explicar como os Princípios
da GU fixam os parâmetros em cada variante. Estudos, como o de Barbosa, Duarte e Kato (2005), por
exemplo, apontam para o fato de que o PB e o PE se comportam de maneira distinta em relação ao
parâmetro do sujeito nulo. Em relação ao objeto nulo, Cyrino (1997) afirma que as duas variedades
apresentam muitas diferenças em relação à sua utilização.
Diferentes trabalhos têm demonstrado que a resolução de formas pronominais, nulas e plenas, em
línguas de sujeito nulo, se baseia na função sintática do antecedente: nulos retomam preferencialmente
o antecedente em posição de sujeito e plenos retomam o antecedente em posição de objeto (Costa, Faria
e Matos, 1998; Carminati, 2002). No entanto, esses estudos testam estruturas independentes ou
estruturas subordinadas (adverbiais ou causais) e geralmente com referentes em funções sintáticas
distintas: sujeito/objeto. No presente trabalho testamos estruturas em que o pronome, nulo ou pleno,
sujeito de uma oração completiva retoma um antecedente pertencente a um SN complexo.
(1) No final da noite, os estagiários do arquiteto informaram que discutiam irritadamente com
frequência.
(2) No final da noite, o estagiário dos arquitetos informou que discutiam irritadamente com
frequência.
(3) No final da noite, os estagiários do arquiteto informaram que eles discutiam irritadamente com
frequência.
(4) No final da noite, o estagiário dos arquitetos informou que eles discutiam irritadamente com
frequência.
Relacionado ao objeto nulo, encontramos estudos relacionados a esse fenômeno em PB e PE desde os
anos 70. Raposo (1986) foi um dos primeiros a descrever a ocorrência de objetos nulos no PE.Para o
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autor o objeto nulo é um vestígio deixado pelo movimento de uma categoria vazia para a posição de
complemento, onde se tornaria um operador nulo coindexado ao tópico (nulo) do discurso.
Cyrino (1997) defende que o emprego do objeto nulo depende da interação entre dois traços do
antecedente: animacidade e especificidade. Segundo a autora para ter um objeto nulo é necessário que
o antecedente seja [-animado]. A fim de avaliar esse fenômeno, aplicamos um teste com a finalidade de
observar como se dá o processamento do pronome nulo ou realizado em posição de objeto em estruturas
complexas do PE e do PB.
(5) A diretora aprovou o locutor para o leilão de beneficência, depois considerou-o excessivamente
caro para o evento.
(6) A diretora aprovou o cartaz para o leilão de beneficência, depois considerou-o excessivamente
caro para o evento.
(7) A diretora aprovou o locutor para o leilão de beneficência, depois considerou excessivamente
caro para o evento.
(8) A diretora aprovou o cartaz para o leilão de beneficência, depois considerou excessivamente
caro para o evento.
Relacionado ao sujeito nulo em PE, os resultados preliminares mostram uma maior percentagem de
respostas certas nas condições em que o nulo retoma o SN1 (90%), comparativamente com as condições
em que retoma o SN2 (65%) e com as condições de pleno, retoma de SN1 (78%) ou de SN2 (76%).
Relativo ao objeto nulo em PE, observamos que o pronome nulo é aceito e compreendido em PE.
Tal observação faz com que não o classifiquemos como uma língua de objeto pleno sempre. A não
realização é aceita e de acordo com os resultados off-line não dificultam em nada a interpretação das
sentenças.
Referências:
BARBOSA, P., DUARTE, E., & KATO, M. Null subjects in european and Brasilian Portuguese.
Journal of Portuguese Linguistics, 4:2, pp. 11-52, 2005.
CARMINATI, M. N. (2002). The processing of Italian subject pronouns. Doctoral Dissertation. UMass
Amherst.
CHOMSKY, N. (1981). Lectures on government and binding. Dordrecht: Foris. _____. (1986). O
Conhecimento da língua. Caminho. Lisboa. CLAHSEN, H.,
CYRINO, S. O objeto nulo no português do Brasil: um estudo sintático-diacrônico. Editora da
UEL.1997
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COSTA, M. A., I. H. FARIA E G. MATOS. Ambiguidade referencial na identificação do sujeito em
estruturas coordenadas. In Actas do XII Encontro Nacional da Associação Portuguesa de
Linguística, 1997. 173-188, 1998.
RAPOSO, E. On the Null Object in European Portuguese, em O. Jaeggli& C.SilvaCorvalán (orgs.)
Studies in Romance Linguistics, Dordrecht, Foris, 1986.
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O PROCESSAMENTO DAS CONSTRUÇÕES DE TÓPICO ESTILO-CHINÊS NO
PORTUGUÊS DO BRASIL
Autora: Lorrane da Silva Neves Medeiros Ventura (CNPq)
Orientador: Marcus Antonio Rezende Maia
A presente pesquisa investiga o processamento de topicalizações (1), em comparação com
tópicos estilo chinês (2) e frases sujeito-predicado (3), conforme abaixo:
(1) Teatro, eufizquando era criança.
(2) Teatro, eusempre choro de emoção.
(3) Teatro me deixamuito emocionada.
Podemos observar, acima, que o tópico gerado na frase (1) é fruto de movimento sintático, isto
é, está vinculado a uma categoria vazia no interior do comentário e exerce uma função na oração. Na
frase (2) temos uma configuração diferente, já que não há possibilidade de movimentação sintática. O
tópico teatro não poderia ter saído de uma posição sintática específica no comentário, ou seja, não
estabelece nenhuma relação argumental com o verbo. Em contraste com essas estruturas de tópico,
temos (3), que segue a configuração sujeito-predicado. A literatura vem chamando tipos como (2) de
tópico estilo chinês, pois sua estrutura é semelhante ao Chinês. Tal construção vem desafiando análises
na Linguística Teórica e Descritiva desde que trabalhos clássicos a identificaram na década de 1970 (cf.
Li & Thompson, 1976) e parece indicar a possibilidade já denominada de “estilo cognitivo” na literatura
relevante, em que ao invés de se estabelecer a relação gramatical entre um sujeito e um predicado,
estabelece-se uma relação do tipo tópico-comentário, em que um tema é lançado, realizando-se sobre
ele comentários, sem a necessidade de uma posição sintática de onde o tópico poderia haver se movido
para a periferia esquerda da oração.
A partir da classificação tipológica das línguas naturais feita por Li & Thompson (1976),
formaram-se opiniões distintas por parte dos estudiosos do PB. De um lado, desenvolvem-se estudos
que consideram o PB como uma língua orientada para a sentença (cf. DUARTE ,1996; KENEDY, 2002,
2014), cuja ordem predominante dos constituintes se dá por Sujeito - Predicado, como é caso do Inglês
e do Português europeu (PE). Em contrapartida, estudos defendem que o PB deva ser caracterizado
como uma língua orientada para o discurso (cf. NEGRÃO, 1990; GALVES, 2001; ORSINI, 2003;
KATO, 2006), como o Mandarim, cuja ordem predominante ocorre por tópico-comentário. Uma
caracterização mista da língua, isto é, considerando que tanto a ordem sujeito-predicado, quanto a ordem
tópico-comentário são predominantes no PB, também vem sendo considerada (cf. PONTES, 1987;
ORSINI e VASCO, 2007; BERLICK, DUARTE & OLIVEIRA, 2015).
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Linguística Rio, v. 4, ed. esp., dezembro de 2018. ISSN 2358-6826
Neste sentido, com o objetivo de fornecer aportes do processamento psicolinguístico para o
debate, as estruturas de tópico no PB serão investigadas, com vistas a buscarmos evidências
experimentais que sustentem a hipótese de que o PB seria, de fato, uma língua mista. Para tal, um
experimento preliminar de rastreamento ocular está, no momento, sendo desenvolvido. O
experimento segue um design 3, onde se manipula o fator tipo de estrutura, como variável
independente (tópico-chinês (TC), topicalização (TP) e sujeito-predicado (SP)). As variáveis
dependentes serão os padrões de fixação ocular, os movimentos sacádicos, progressivos e regressivos,
os índices de julgamento e os tempos de decisão. O objetivo é verificar como os falantes brasileiros
interpretam as sentenças com tópico estilo-chinês, que são típicas de uma língua com proeminência de
tópico, em comparação com construções de topicalização e sujeito-predicado, que são típicas de uma
língua com proeminência de sujeito, observando sua aceitabilidade. A tarefa dos participantes é a leitura
de pequenas histórias que ilustram uma determinada situação, na tela do computador. Em seguida, leem
uma sentença, que pode ser apresentada na configuração tópicoestilo-chinês, topicalização ou sujeito-
predicado e serão solicitados a decidirem se a frase crítica poderia ser usada para descrever o contexto
apresentado.A aceitabilidade das construções de tópico estilo-chinês pelos falantes poderá ser uma
evidência inicial para uma classificação da língua, quanto ao seu status tipológico.
Referências:
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Linguística Rio, v. 4, ed. esp., dezembro de 2018. ISSN 2358-6826
REALISMO NOMINAL LÓGICO VISUAL E CONSCIÊNCIA FONOLÓGICA
Autora: Mariana Fernandes Fonseca (CAPES/Doutorado)
Orientador: Marcus Maia
Seria o Realismo Nominal lógico – doravante RNL (Piaget, 1962) o primeiro obstáculo a ser
vencido para o desenvolvimento da consciência fonológica e consequentemente um impasse para o
desenvolvimento do aprendizado de leitura (Dehaene, 2013; Morais, 1994)? Ainda que suplantado pela
alfabetização, o RNL ainda permanece no reconhecimento de pseudopalavras? Ou a Consciência
Fonológica consegue dissolver por completo esse tipo de realidade psicológica? O presente trabalho tem
por objetivos verificar os efeitos do RNL dentro do aprendizado de leitura, indicar sua relação com a
consciência fonológica, ainda, verificar se os efeitos de RNL atingem adultos e crianças em fase de
alfabetização.
A consciência fonológica “abrange todos os tipos de consciência de sons que compõem o
sistema de certa língua” (Lamprecht& Costa, 2006: 16). Essa segmentação pode-se dar em níveis
hierárquicos diferentes, isto é, o contínuo da fala pode ser segmentado em sílabas, em ataque, rima,
fonemas, em traços fonéticos.
A hipótese do RNL foi postulada por Jean Piaget no seu livro A representação do mundo na
criança (Piaget,1962: 349-350). Assim, as crianças na fase do desenvolvimento do pensamento pré-
conceitual realizam a representação da união de "significantes" que permitem evocar os objetos ausentes
com um jogo de significação que os une aos elementos presentes. Essa conexão específica entre
"significantes" e "significados" constitui uma função nova, a ultrapassar a atividade sensório-motora e
que se pode chamar, de maneira muito geral, de “função simbólica”. Contudo, ao tentar representar
graficamente os significantes, a criança realiza o que se denomina RNL em que supõe que um objeto
grande possua uma representação gráfica condizente com o seu tamanho.
Nenhum dos estudos em psicolinguística eneurociência da linguagem supracitados se atentaram
para a relação entre tamanho do objeto e tamanho da palavra e qual a sua relação com o desenvolvimento
da consciência fonológica.
Este trabalho trata-se de um experimento psicolinguístico que será testado com 50
participantes: 14 adultos e 36 crianças. Os adultos serão divididos em três grupos: não alfabetizados,
alfabetizandos e alfabetizados. As crianças também serão divididas nesses três grupos, mas também
serão divididas em subgrupos conforme o grupamento escolar a que pertencem. Como material, haverá
64 itens ao total: 16 palavras grandes (polissílabas), 16 palavras pequenas (monossílabas e dissílabas até
quatro letras), 16 pseudopalavras grandes (polissílabas) e 16 pseudopalavras pequenas(monossílabas e
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dissílabas até quatro letras) distribuídas em 4 versões no quadrado latino. Ainda, haverá 32 desenhos
agrupados de 2 em 2 sempre um desenho representando um objeto pequeno (bem ao centro longe das
margens que envolvem o desenho) e um desenho representando um objeto grande (bem próximo às
margens que envolvem o desenho), não necessariamente nessa ordem, formando 16 quadros de dois
desenhos cada.
A tarefa consiste em uma escolha da figura que melhor representa a palavra apresentada. Surgirá
na tela do notebook um quadro com duas figuras: uma grande e uma pequena, conforme o exemplo de
material. Esse quadro permanecerá por 3 segundos. Em seguida, surgirá uma palavra abaixo e o
participante deverá apertar a tecla S caso acredite que a palavra que surgiu nomeie o desenho à esquerda
ou a tecla L caso acredite que a palavra que surgiu nomeie o desenho à direita. Por fim, o participante
deverá apertar a tecla espaço que também estará com adesivo verde para que outro quadro apareça.
Tanto adultos quanto crianças se encontram na fase do Realismo Lógico, mas passam por ela
quando desenvolvem a consciência fonológica e consequentemente a leitura. Mesmo os adultos
alfabetizados podem realizar o RNL, caso a decisão envolva pseudopalavras.
Referências:
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LAMPRECHT, Regina Ritter & Costa, Adriana Corrêa. Apresentação à edição brasileira. In: ADAMS,
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PIAGET, J.A representação do mundo na criança. Rio de Janeiro, RJ: Record, 1962.
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SINTAGMAS PREPOSICIONAIS COORDENADOS E ENCAIXADOS NO PERÍODO DE
AQUISIÇÃO
Autora: Mayara de Sá Pinto (CAPES)
Orientadora: Aleria Lage
Co-orientadora:Aniela Improta França
Introdução
Assumindo os contrastes em Roeper (2011) acerca da diferença de complexidade computacional
entre recursividade direta (coordenação) e recursividade indireta (encaixes hierárquicos) propusemos
um teste que busca verificar com precisão o momento que os encaixes hierárquicos de preposição
começam a ser computados durante a aquisição de linguagem.
Apesar de haver indícios experimentais de que a coordenação apareça mais precocemente na
compreensão e na produção de linguagem (Pérez-Leroux et al., 2012), e que a recursividade indireta
incorra em maior complexidade (Roeper, Snyder, 2005; Roeper 2011, Franca et al., 2014), aspectos
como o número de camadas na recursividade direta e o número de encaixes na indireta não foram
exaustivamente testados com metodologia online em diferentes faixas etárias.
Assim, testamos o processamento das crianças de quatro e cinco anos usando até três sintagmas
simetricamente e assimetricamente encaixados, usamos uma medida online de resposta em duas faixas
etárias: crianças de quatro e cinco anos. Buscamos averiguar, através do rastreamento ocular, as fixações e
regressões que elas usam para decifrar as figuras num teste de pareamento de figura e estímulo auditivo.
Como hipótese assumimos que, para a recursividade direta o gargalo computacional se dá em razão
de recursos mnemônicos: quanto mais camadas mais difícil será a computação. Por outro lado, uma vez que
os encaixes estejam disponíveis na gramática do participante, quanto maior o número de encaixes, mais
facilitado será o processamento dessa estrutura. Ou seja, a maior profundidade dos encaixes de uma estrutura
não corresponde à maior dificuldade de processamento no desempenho linguístico, assim como alguns
estudos já vêm relatando (Maia et al., 2018; Rummer, Engelkamp E Konieczny; 2003; Stabler 2011).
Metodologia
Nosso teste possui seis condições experimentais conforme mostra a tabela a seguir.
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1. Coordenação de 2 itens Tem Zuki no peixe e no aquário
2. Coordenação de 3 itens Tem Zuki no peixe e na planta e no aquário
3 Encaixe de 2 itens Tem Zuki no peixe no aquário
4 Encaixe de 3 itens Tem Zuki na planta no peixe no aquário
5 Ambígua Tem Zuki na planta e no peixe no aquário
6 Ambígua com atrator alto Tem Zuki no peixe e na planta no aquário
Duas das condições acima misturam recursão direta e indireta e tornam-se ambíguas
(condições 5 e 6). Nelas temos um sintagma preposicional encaixado e uma coordenação.
Resultados
No gráfico abaixo, temos as médias do tempo total de fixação para cada condição de
recursividade: direta (D) e indireta (I). O que observamos até o momento é um tempo de fixação
maior para as condições de coordenação.
Essas condições parecem ser
progressivamente dificultadas: aquela com
três camadas de PPs tem tempo de fixação
significativamente maior que a condição com
duas camadas de PPs. O mesmo não acontece
nas condições com encaixes, para as quais
não parece haver diferença significativa entre
a quantidade de PPs.
Já para as condições com ambiguidade, ainda
não foi rodado um teste estatístico, mas os
gráficos relativos a elas encontram-se abaixo mostrando as médias de tempo total de fixação
por condição.
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Conclusão
Nossos achados corroboram um teste aplicado anteriormente, em que obtivemos dados
de tempo de reação das crianças: para a coordenação, a quantidade de itens pode influenciar no
custo do processamento por uma questão de sobrecarga na memória de trabalho, diferentemente
do que se pôde observar nas respostas relativas às condições com encaixe, sobre as quais
constatamos custo de processamentos semelhantes.
Sobre as demais condições, entendemos que o bias semântico-pragmático ajudou as
crianças na resolução da ambiguidade, dada a limitação da memória de trabalho delas
(Marshall, Nation, 2003). Por isso, em uma sentença como Tem Zuki no peixe e na planta no
aquário, acreditamos haver uma facilitação por uma interpretação do tipo late closure (alocação
local) no processo de escolha que se daria por influência da memória de trabalho devido à
recência. No entanto, apesar de hipotetizarmos que sem esse atrator semântico (exemplo da
condição 5) a interpretação seria por minimal attachment, nossos achados mostram que as
crianças parecem preferir um processamento no sentido de baixo para cima, ou seja, uma
preferência por late closure em condições neutras, sem bias de nenhum tipo.
Referências
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RUMMER, R.; ENGEELKAMP, J.; KONIECZNY, L. The subordination effect: evidence from
self-paced reading and recall. Europen Journal of Cognitive Psychology, v. 15, n. 3, p. 539-
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STABLER, E. Computational perspectives on minimalism. Revised version in C. Boeckx, ed,
Oxford Handbook of Linguistic Minimalism, pp. 617–642, 2011.
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AQUISIÇÃO DE PERFECT NO PORTUGUÊS DO BRASIL: UMA DESCRIÇÃO
PRELIMINAR
Autora: Nayana Pires da Silva Rodrigues (CAPES)
Orientadora: Adriana Leitão Martins
O perfect,apesar de ser classificado como aspecto por Comrie (1976), apresenta
características diferentes dos aspectos tradicionais (gramatical e semântico). Enquanto que estes
últimos são definidos como a constituição temporal interna de uma situação, o perfectnão é
capaz de dizer nada diretamente sobre a situação em si, mas sim sobre uma situação precedente
(COMRIE, 1976). O perfectrelaciona dois pontos no tempo: de um lado, o tempo no qual uma
situação precedente ocorre ou se inicia e de outro, o tempo do estado resultante dessa situação
precedente (COMRIE, 1976).
O perfectpode ser classificado de diversas formas, segundo diversos autores, e neste
trabalho utilizaremos a classificação de Iatridou, Anagnostopoulou e Izvorski (2003). As
autoras propõem uma classificação que divide o perfectem dois tipos: universal (PU) e
existencial (PE). O PU representa situações que se iniciaram no passado e que persistem até o
momento presente, enquanto o PE representa situações que ocorreram no passado e ainda
possuem repercussão no momento presente.
Esta pesquisa tem como objetivo investigar a aquisição de PU e PE associados ao tempo
presente no português do Brasil (PB). Espera-se, dessa forma, contribuir para o estudo da
representação do conhecimento linguístico de perfect.
A hipótese sugerida para esta pesquisa é de que a realização de PU associado ao tempo
presente se dá simultaneamente à realização de PE associado ao tempo presente na aquisição
do PB.
Para esta pesquisa, foi realizado um duplo estudo de caso de caráter qualitativo. Os
participantes escolhidos para este estudo foram irmãos gêmeos (um do sexo masculino –
denominado PP – e outro do sexo feminino – denominada AC) que, no início da pesquisa, se
encontravam na fase de uma palavra, pois desejávamos acompanhar todo o processo de
aquisição das morfologias verbais. A coleta de dados foi realizada através de gravações da fala
espontânea e semiespontânea das crianças, as quais foram realizadas a cada duas semanas com
duração média de uma hora.
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A participação nesta pesquisa não traz complicações legais. Ambos os pais das crianças
assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido. Este estudo foi aprovado pelo
Comitê de Ética em Pesquisa do Instituto de Estudos em Saúde Coletiva da UFRJ, sob a
numeração 2.581.925/2018.
Foram realizadas para o estudo 27 gravações. Como resultados preliminares,
destacamos a produção apenas de PE na fala da participante do sexo feminino, AC, dentre as
gravações 15 e 21, realizadas no período em que a criança tinha de dois anos e sete meses
(gravação em que primeiramente foi observada uma realização de perfect) a dois anos e onze
meses.
Abaixo, podemos ver dois exemplos dessas manifestações produzidas por AC, nas quais
as formas verbais sublinhadas veiculam PE.
(1) Gravação 15 – AC 2;7. Contexto: AC procura um brinquedo específico em seu
armário.
NR: Não sabe onde está?
AC: Não sei. Não sei onde tá o outo. Não tôpoculando o outo também... Achei!
(2) Gravação 21 – AC 2,10. Contexto: No meio da conversa entre AC e NR, AC começa
a procurar algo.
AC: ( ) aqui. É. Ah! Já sei!
A partir desses dados preliminares, temos evidência de que a hipótese desta pesquisa pode
ser refutada, visto que a realização de perfectexistencial associado ao tempo presente se deu
previamente à realização de perfectuniversal associado ao tempo presente nos dados analisados.
Com esta pesquisa, esperamos contribuir para os estudos gerativistas a respeito da
categoria funcional perfect, já que, através dela, obtivemos dados que possibilitam a verificação
de hipóteses acerca do modo como essa categoria está organizada em nossa faculdade da
linguagem. Ainda, visamos contribuir para o entendimento de como ocorre o processo
aquisitivo de um fenômeno linguístico específico.
Referências
COMRIE, B. Aspect. Cambridge: Cambridge University Press, 1976.
IATRIDOU, S.; ANAGNOSTOPOULOU, E.; IZVORSKI, R. Observations about the form and
meaning of the perfect. In: ALEXIADOU, A.; RATHERT, M.; VON STECHOW, A. Perfect
Explorations. Berlin: Mouton de Gruyter, 2003. p. 153-205.
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A AQUISIÇÃO DA ORDEM ORACIONAL DO PORTUGUÊS BRASILEIROCOMO
L2 POR HISPANOFALANTES ADULTOS
Autor: Rogério Santos Júnior (CAPES)
Orientadora: Márcia Maria Damaso Vieira
Esta pesquisa se volta para a aquisição da ordenação de constituintes oracionais do
Português Brasileiro (PB) por hispanofalantes adultos, ampliando o tema de investigação de
Santos Jr. (2017), que se debruçou somente sobre a aquisição de interrogativas do tipo Qu-.
De acordo com um conjunto robusto de autores(RUAS, 2013, 2017; PINHEIRO-
CORREA, 2015, 2018; AYOUN, 2005; ORDÓNEZ, 1997; ZUBIZARRETA, 1999), uma
diferença básica separa o Português Brasileiro e o Espanhol no que tange à ordenação de
constituintes: em Espanhol, a inversão da ordem entre sujeito e verbo é não marcada na maioria
dos contextos, enquanto, no Português Brasileiro, para os mesmos contextos, esse tipo de
inversão constitui a opção marcada (em grande parte dos casos, é agramatical). Embora os
autores concordem que o Espanhol, em suas diversas variedades, aceite a inversão entre sujeito
e verbo, grande parte das referências consultadas diverge quanto a quais contextos a licenciam.
No estágio atual da pesquisa, são encaradas questões relativas à caracterização do Espanhol:
após uma extensa revisão bibliográfica, determinaram-se as propriedades associadas ao
Espanhol que são mais recorrentes na literatura, as quais, posteriormente, comporão parte dos
testes aplicados aos sujeitos; e, também em função de tais propriedades, tentou-se estabelecer
a variedade de Espanhol que será abordada. Os próximos parágrafos contêm um resumo dos
principais problemas levantados pela revisão bibliográfica e indicações de como as próximas
etapas da pesquisa poderão resolvê-los.
Pinheiro-Correa (2015, 2017) investiga sentenças téticas e categóricas em Português
Brasileiro e em Espanhol de uma perspectiva pragmática. Partindo dos trabalhos de Lambrecht
(1994, 2000), Sasse (1987, 2006) e Smit (2010), o autor assume uma diferença na marcação de
foco sentencial nessas línguas: em Português Brasileiro, sentenças téticas e categóricas são
sintaticamente indistinguíveis, de modo que são reconhecidas por suas propriedades prosódicas
(a ordenação de constituintes, para os dois tipos de sentenças, é SV); em Espanhol, ao contrário
do que acontece em Português Brasileiro, sentenças téticas e categóricas apresentam estruturas
sintáticas distintas (sentenças téticas se sujeitam à ordem VS, enquanto sentenças categóricas
ocorrem na ordem SV).Ao passo que os trabalhos de Pinheiro-Correa aventam motivações
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plausíveis para as diferenças sintáticas das sentenças téticas em Português Brasileiro e em
Espanhol, algumas de suas questões permanecem abertas: embora seja muito mais restrita em
Português Brasileiro do que o é em Espanhol, a ordem VS é atestada em Português, sobretudo
com categorias verbais específicas (verbos inacusativos, por exemplo); qual é a motivação para
isso, nos termos das propostas tomadas pelo autor? Visto que Pinheiro-Correia (2017) aborde
como se dá a tradução para o Espanhol de sentenças téticas e categóricas do Português
Brasileiro, considerando que a marcação prosódica do Português Brasileiro se reverta em
distinção sintática em Espanhol, como se daria, em termos teóricos, a tradução para o Espanhol
de sentenças produzidas na ordem VS em Português Brasileiro?Em segundo lugar, como está
explícito em Pinheiro-Correia (2017), as diferenças sintáticas entre sentenças téticas e
categóricas do Espanhol não valem em determinados contextos (orações subordinadas e
relativas); novamente, que motivação haveria para isso?
As informações do parágrafo anterior criam um quadro em que a ordenação de
constituintes em sentenças declarativas do Português Brasileiro e do Espanhol pode contrastar
em função do próprio estatuto informacional: nas duas línguas, sentenças cujo estatuto
informacional se conforme à partição tópico-comentário (isto é, conforme-se a uma estrutura
em que a uma informação dada no discurso é acrescentada uma nova informação) têm
ordenação SV; somente em Espanhol, construções de foco sentencial (isto é, sentenças que
introduzem elementos novos no discurso) têm ordenação VS. Autores cujos trabalhos se afinam
com a perspectiva formal, com os quais esta pesquisa se alinha, consideram que a ordenação de
constituintes em Espanhol está, sim, relacionada ao estatuto informacional das sentenças (Kato
e Martins (2016) utilizam, inclusive, os conceitos de sentenças téticas e categóricas), mas
depende, igualmente, de outros fatores.Baseados em Ayoun (2005),Ruas (2013, 2017) e Santos
Jr. (2017) incrementam a discussão sobre a ordenação de constituintes em sentenças do
Português Brasileiro e do Espanhol ao indicar que a inversão da ordem entre sujeito e verbo
pode estar em função tanto do tipo de verbo em torno do qual se constroem quanto da presença
de elementos do tipo Qu-. Os autores argumentam, de acordo com o critério Wh- de Rizzi
(1991), que as propriedades dos núcleos funcionais são valoradas de modo distinto em
Português Brasileiro e em Espanhol: em Espanhol, o critério Wh- seria satisfeito com o
movimento da partícula Qu- para [Spec, FocP], em função dos traços Q e Wh- fortes desse
núcleo, que são checados e apagados na sintaxe visível, e com o consequente movimento do
verbo de T0 para Foc0; em Português Brasileiro, o movimento do elemento Qu- para [Spec,
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FocP] é opcional, dependente do tipo de morfema que é selecionado do léxico, mas, sob
nenhuma hipótese, ensejará o movimento do verbo de T0 para Foc0. Com a postulação de um
segundo movimento do verbo em Espanhol, explica-se como se origina a ordem VS: ao ser
alçado para Foc0, o verbo ultrapassa a posição onde o caso nominativo é checado.
Alexiadou e Anagnostopoulou (1998) relacionam a ordenação entre sujeito e verbo ao
modo como as línguas respondem ao Princípio de Projeção Estendido. Para as autoras, as
línguas checariam o Princípio de Projeção Estendido de duas formas: (i) por movimento e por
concatenação de XP, como acontece nas línguas germânicas; e (ii) por movimento e por
concatenação de X0, como acontece nas línguas românicas. Basicamente, línguas do tipo (i)
dependem de que a posição de sujeito seja preenchida (se não o for por um elemento referencial,
que o seja por um elemento expletivo) e geram sentenças SVO. Línguas do tipo (ii) admitem
que a posição de sujeito não esteja preenchida e podem gerar sentenças nas ordens SV e VS.
Para gerar sentenças na ordem VS e, ao mesmo tempo, satisfazer ao Princípio de Projeção
Estendido, as línguas do tipo (ii) deslocariam o verbo, em função de sua morfologia de
concordância, cujo estatuto seria o de um elemento pronominal. Se assim for, a posição do
sujeito à esquerda do verbo passaria a ser uma posição A-barra, de maneira que a ordem VS
deixaria de envolver uma categoria pro expletiva.
Quando é aplicada ao Português Brasileiro e ao Espanhol, a proposta de Alexiadou e
Anagnostopoulou (1998) sintetiza grande parte das dificuldades enfrentadas por esta pesquisa
em relação à arquitetura sentencial dessas línguas. Em primeiro lugar, trata-se de uma proposta
explicitamente paramétrica, favorável à descrição de línguas cujo comportamento seja
categórico. Kato (2000) faz parte de uma leva de pesquisadores que defendem a classificação
do Português Brasileiro como uma língua do tipo pro-drop parcial: na prática, isso significa
que comporta tanto traços de línguas pro-drop quanto de línguas não pro-drop. Em segundo
lugar, de acordo com a proposta, o Espanhol seria uma língua do tipo (ii), em que a saturação
do Princípio de Projeção Estendido está a fim do deslocamento do verbo; a reboque disso,
estaria o fato de que o sujeito não é movido, obrigatoriamente, para [Spec, IP], condição que
possibilita ambas as ordenas atestadas nessa língua. Apesar dessa previsão, como foi apontado
acima, a ordenação entre sujeito e verbo no Espanhol não é estilística; ao contrário, fundamenta-
se em propriedades sintáticas e discursivas das sentenças.
Como forma de superar as divergências encontradas na literatura, a próxima etapa da
pesquisa envolverá a idealização e a aplicação de testes a respeito das propriedades das línguas
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estudadas, sobretudo do Espanhol. Entre as estruturas que devem ser testadas, estão (a) a
realização do sujeito em posição pré-verbal, considerada restrita por grande parte dos autores,
mas apontada como default das sentenças declarativas do Espanhol do México por Gutiérrez-
Bravo (2002) e aceita, também, por Zagona (2002); (b) a realização do sujeito em posição pós-
verbal como indicação de foco estreito, conforme afirma Ruas (2017); (c) a relação entre
ordenação sujeito e verbo e estatuto informacional (sentenças categóricas e sentenças téticas),
como destaca Pinheiro-Correa; e (d) a motivação para inversão entre sujeito e verbo em
interrogativas do tipo Qu-, a fim de verificar se, de fato, formam um sistema à parte, como
querem Ruas (2013) e Santos Jr. (2017) ou se, à semelhança do que se postula para as assertivas,
respondem a propriedades discursivas.
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Linguística Rio, v. 4, ed. esp., dezembro de 2018. ISSN 2358-6826
RELAÇÕES INFERENCIAIS E O PAPEL DOS CONECTIVOS: UM ESTUDO
DOPROCESSAMENTO DA LEITURA
Autora: Sabrina Lopes dos Santos (CNPq)
Orientador: Marcus Antonio Rezende Maia
Investigamos relações de causa intraoracionais, buscando entender o papel dos
conectivos no processamento gramatical e na compreensão de sentenças. Esta pesquisa, na
Psicolinguística Experimental, explora possibilidades de translação para a Educação Básica
desenvolvendo atividades teórico-práticas com vistas à formação de leitores críticos.
Conectivos atuam como guia do parser e podem ser interpretados como o cornerstoneno
processo de compreensão. Em (1) e (4), temos duas orações independentes, porém, em (1), é
possível estabelecer uma relação de causa diretamente a partir do conteúdo semântico das
orações, o que não ocorre em (4). Como estão em coordenação, não ofereceriam custo ao
processador pela baixa complexidade estrutural, mas será que se incluíssemos conectivos
causais essa equidade se manteria?
Causa inferencial
1. Futebol é uma paixão nacional, mas os jogadores realizam poucos treinos, eles
encaram derrotas com frequência.
2. Futebol é uma paixão nacional, mas os jogadores realizam poucos treinos, já que
encaram derrotas com frequência.
3. ?Futebol é uma paixão nacional, mas os jogadores realizam poucos treinos porque
encaram derrotas com frequência.
Causa não inferencial
4. Futebol é uma paixão nacional, mas os jogadores desapontam o povo, eles encaram
derrotas com frequência.
5. Futebol é uma paixão nacional, mas os jogadores desapontam o povo já que encaram
derrotas com frequência.
6. Futebol é uma paixão nacional, mas os jogadores desapontam o povo porque encaram
derrotas com frequência.
Em (2) e (3), temos, respectivamente, os conectivos já queeporque, mas veja que o uso
deles não é totalmente intercambiável. Enquanto, em (5) e (6), as relações de causa podem ser
guiadas tanto por já que quanto por porque, em (3), a utilização do porque provoca um
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estranhamento. Substituindo pelo conectivo já que, como em (2), a sentença passa a ter maior
naturalidade na leitura. Contudo, entendo que o comportamento do parser e a compreensão
sentencial dependem diretamente da habilidade leitora. Além disso, a composicionalidade dos
conectivos também tem seu papel na condução do processamento. Note que, enquanto porque
é uma conjunção formada pela combinação de uma preposição mais o complementizador, a
locução verbal já que é a combinação de um advérbio com complementizador, o que por si só
já as coloca em níveis de derivação distintos. Com isso, cabe recurso experimental para
investigar as diferenças de processamento que essas sentenças podem configurar.
Nesse momento, está em curso a realização de um experimento de rastreamento ocular para
verificar: i) se relações de causa inferencial, como de (1)-(3), geram maior custo de
processamento; ii) investigar o correlato entre a computação de processos inferenciais e
proficiência leitora; iii) avaliar se os conectivos per se ativam processos derivacionais distintos.
O teste se configura em design 3x2, gerando 6 condições experimentais com 24 sentenças por
condição:
O experimento será realizado com graduandos de Letras de 1º e 8º semestres,
separadamente. A previsão é que os padrões de leitura se diferenciem, principalmente, sobre as
relações inferenciais. Estas devem resultar em maiores tempos e números de fixação ocular nas
áreas críticas para ambos os grupos. Porém, espera-se que esses dados sejam mais elevados para
o grupo do 1º período, uma vez que processos inferenciais dependem de alta habilidade leitora
para serem processados. Os índices de resposta à pergunta interpretativa também devem revelar
a disparidade de proficiência com mais erros para o grupo do 1º semestre nas sentenças com
inferência. As condições, como (3), devem apresentar os maiores tempos e números de fixações,
para ambos os grupos, pois, nesse contexto, o conectivo porque não seria capaz de guiar o
processo de relação de causa inferencial, situação em que o conectivo já que se mostra o
operador mais apropriado, como em (2).
Referências
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Perspectivas. Tese (Doutorado em Educação) – Faculdade de Educação. Universidade Federal
Fluminense, Niterói, 2016.
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A PERCEPÇÃO DAS CRIANÇAS NÃO ALFABETIZADAS ACERCA DO
COMPRIMENTO DA PALAVRA ARTICULADA: UM ESTUDO EXPERIMENTAL
Autor: Sammy Cardozo Dias
Orientadora: Aniela Improta França
Para usar um sistema de escrita alfabético, as crianças devem aprender mapeamentos
complexos entre grafemas e fonemas. A dificuldade reside no fato de que há sempre um nível
de inconsistência nesse mapeamento e os sistemas de escrita podem demorar para serem
dominados até por crianças que já passaram do período de alfabetização (TREIMAN E
KESSLER, 2014; BYRNE, 1998). No entanto, mesmo no período pré-alfabético, as crianças já
começam a se interessar pela escrita e pela leitura e começam a entender a noção de símbolo e
que a palavra escrita se relaciona a um aspecto significante. Ou seja, antes mesmo de chegar à
classe de alfabetização as crianças procuram dar conta de padrões que ela já percebeu que
existem. Ativam, então, suas capacidades cerebrais à cata de padrões que possam oferecer a
elas o maior nível de compreensão e preparação para o mundo em torno delas. De fato, elas
percebem, organizam e absorvem padrões com grande facilidade. Alguns desses padrões são
essenciais para entender e sistematizar informações acerca do mundo e são, portanto, cooptados
pelos sistemas cognitivos principais. Outros são apostas de organizações dos fatos do mundo
que não dão retorno. Na medida em que inconsistências aparecem, essas sistematizações são
abandonadas, substituídas ou ajustadas pelas crianças e caem em desuso.
Nesta pesquisa investigamos uma dessas apostas infantis: o realismo nominal1. O
realismo nominal prevê uma relação de iconicidade, entre o tamanho da palavra escrita e o
tamanho da coisa que ela representa no mundo. Por esse raciocício, a fruta jaca, a maior do
Brasil, deveria ser escrita com muitos grafemas e o inseto formiga deveria ser escrito com
pouquíssimos grafemas, já que representa um bichinho tão pequenino. A questão teórica que
ganha relevo e torna-se objeto de investigação aqui é de que forma o tamanho de um objeto
pode influenciar a percepção das crianças em fase pré-alfabetização acerca da palavra
escrita?
A noção de iconicidade na linguagem, por sua vez, se opõe a um dos conceitos mais
fundamentais da Linguística moderna: a arbitrariedade saussuriana. Segundo Saussure (1857-
1 O termo “realismo nominal” foi introduzido pelo psicólogo construtivista Jean Piaget para designar um tipo de
associação entre o nome e o objeto feita pela criança durante o desenvolvimento infantil (PIAGET, 1967).
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1913), o signo linguístico é arbitrário porque é sempre uma convenção acatada passivamente e
reconhecida pelos falantes de uma comunidade linguística. Por exemplo, a criança ainda bebê
entende o conceito bola e o seu significante [bola] sem intermediações icônicas, sem que haja
alguma relação natural entre a realidade fonética de um signo linguístico e o seu significado.No
entanto, muitos autores relatam um tipo de realismo gráfico que parece influenciar a escrita ou
simulação de escrita e mesmo uma simulação de leitura de crianças e que apresentariam
motivação icônica: palavras grandes para designar objetos grandes, palavras pequenas para
designar objetos pequenos (FERREIRO E TEBEROSKY, 1986).
No experimento em fase de testagem no momento, verifica-se a existência da
iconicidade entre a articulação da palavra e o tamanho do objeto no mundo real. Na tarefa, as
crianças pareiam um filme de uma boca articulando uma palavra para escolher entre uma
palavra escrita com poucos grafemas, 2 ou 3, e uma palavra com muitos grafemas, mais do que
6. Como grupo controle mostra-se a boca articulando o nome de objetos desconhecidos e
pediremos o mesmo tipo de pareamento com a palavra escrita. Espera-se que os resultados
indiquem que esse efeito da iconicidade se desfaça com o tempo e o princípio da arbitrariedade
seja estabelecido.
Referências:
FERREIRO, Emília; TEBEROSKY, Ana. Psicogênese da língua escrita. Porto Alegre: Artes
Médicas, 1986.
PEIRCE, Charles S. Semiótica. Trad. J. Teixeira Coelho. 2 ed., São Paulo: Perspectiva, 1990.
PIAGET, J. A representação do mundo na criança. Rio de Janeiro, Record, 1967.
TREIMAN, Rebecca; KESSLER, Brett. How children learn to write words. Oxford: Oxford
University Press, 2014.
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ESTUDO DAS LÍNGUAS INDÍGENAS
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A EVIDENCIALIDADE EM WA'IKHANA (TUKANO ORIENTAL): UMA
PROPOSTA FUNCIONAL-TIPOLÓGICA
Autora: Bruna Cezario Soares (CNPq)
Orientadora: Kristine Sue Stenzel
Essa pesquisa tem objetivo de descrever e analisar o sistema de evidenciais em
Wa'ikhana, também chamada de Piratapuyo, pertencente à família Tukano Oriental (TO), à luz
da perspectiva funcional-tipológica (CROFT, 2003). Evidencialidade é uma categoria
gramatical que indica a origem da informação num enunciado declarativo. Em algumas
línguas, essa categoria é obrigatória e gramaticalizada (AIKHENVALD, 2003).
Por diversos motivos socioeconômicos, como intensa imigração e forte presença do
Tukano (TO) como língua franca, Wa'ikhana é uma das línguas indígenas brasileiras que corre
risco de desaparecer, e para qual ainda há pouca descrição. Essa pesquisa visa a contribuir para
os estudos de Wa'ikhana e das línguas amazônicas, bem como constituir uma contribuição para
análises tipológico-comparativas sobre evidencialidade.
Este trabalho é desenvolvido sob à ótica da tipologia-funcional, uma abordagem da
tipologia que se alia aos princípios do Funcionalismo (CROFT, 2003: 2). Consideramos as
tendências funcionalistas mais recente denominada Linguística Funcional Baseada no Uso, ou
Linguística Cognitivo-Funcional (TOMASELLO, 2003), que une as tradições das pesquisas
do funcionalismo norte-americano da Costa Oeste, com representantes como TalmyGivón,
Sandra Thompson, Wallace Chage, Joan Bybee, Elizabeth Traugott, entre outros, e da
Linguística Cognitiva, com representantes, como George Lakoff, Ronald Langcker, Adele
Goldberg, William Croft etc. (CEZARIO & CUNHA, 2013: 14).
Segundo Aikhenvald (2004:3), línguas com evidencialidadegramaticalizada são
aquelas que apresentariam morfemas obrigatórios cujo significado semântico primário é de
fonte da informação. Esses morfemas evidencias fariam parte de um paradigma flexional e
formariam um sistema (op.cit., p.9). De acordo com a autora, a evidencialidade é uma categoria
gramatical que deve ser distinguida de modalidade epistêmica, que, por sua vez, expressaria o
grau de certeza do falante em relação ao que está dizendo (DE HAAN, 2005). No entanto, a
Aikhenvald (2018, p.48) também afirma que, em algumas línguas, os evidenciais podem ter
significados adicionais de natureza epistêmica, relacionados à possiblidade e à probabilidade.
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Os dados utilizados na pesquisa provêm do ACERVO LINGUÍSTICO-CULTURAL
DO POVO WA’IKHANA e conta com um banco de dados de itens lexicais e morfemas
gramaticais. Também foram utilizados dados coletados nas duas viagens de campo feitas por
mim, em 2018, para cidade de São Gabriel da Cachoeira no AM, financiadas pela
FUNAI/UNESCO e pela NSF1. Foram priorizadas narrativas orais que foram trabalhadas da
seguinte forma: primeiramente, uma análise interlinear das narrativas, a fim de identificar as
propriedades básicas das línguas. A partir daí, começamos a analisar os morfemas evidenciais,
nos níveis morfológico, semântico e pragmático.
Nesta apresentação iremos apresentar as categorias de evidenciais identificadas em contraste
com as primeiras análises feitas sobre evidenciais nessa língua (WALTZ, 2012; STENZEL &
GOMEZ-IMBERT, 2018). Mostraremos as análises de cada categoria de evidencial
destacando seus valores semântico-pragmáticos. Comentaremos sobre a relação dos
evidenciais com a modalidade epistêmica e os problemas que isso pode trazer para nossa
análise.
Referências
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DE HAAN, F. Typological approaches to modality. In: Frawley, W. (Ed.), Modality. Mouton
de Gruyter, 2005.
1 A primeira viagem de campo foi parte do projeto Oficina de gramáticas pedagógicas de Kotiria e Wa’ikhana,
subprojeto do Salvaguarda do Patrimônio Linguístico e Cultural dos Povos Indígenas Transfronteiriços e de
Recente Contato na Região Amazônica do Museu do Índio, financiado pela FUNAI em parceria com a UNESCO;
e a segunda viagem foi parte do projeto Estrutura Gramatical e Práticas Multilíngues Sob a Lente da Interação
Cotidiana, financiado pela National Science Foundation (NSF). As duasviagenstiveramduração de
aproximadamentetrêssemanas.
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Linguística Rio, v. 4, ed. esp., dezembro de 2018. ISSN 2358-6826
STENZEL, K. Evidentials and Clause Modality in Wanano. Studies in Language, v.
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Linguística Rio, v. 4, ed. esp., dezembro de 2018. ISSN 2358-6826
BASES PARA A DESCRIÇÃO DAS LÍNGUAS CINTA LARGA E ZORÓ (FAMÍLIA
TUPI-MONDÉ)
Autor: Cristovão Teixeira Abrantes (CNPq/Doutorado)
Orientadora: Marília Facó Soares
Inserido na área de descrição de línguas naturais e apoiado em desenvolvimentos
teóricos mais recentes, o presente trabalho tem por objetivo apresentar as bases para uma
descrição teoricamente orientada que contribua para a análise das línguas dos povos Cinta larga
e Zoró, com vista à sua comparação futura.
O Cinta Larga e o Zoró são línguas ainda pouco descritas, cujas estruturas gramaticais
e características fonológicas podem apresentar fenômenos extremamente importantes para os
estudos linguísticos. Para alcançar o objetivo em tela, lançaremos mão de partes de entrevistas
semiestruturadas com os colaboradores do povo Cinta Larga e Zoró e da aplicação de
questionários linguísticos, utilizando como meios de registro a gravação, a transcrição e a
transcrição (áudio e vídeo).
A língua Zoró e Cinta Larga são classificadas como pertencentes à família linguística Tupi-
Mondé, faladas como primeira língua por uma população de, aproximadamente, 3.000 pessoas.
(ABRANTES, 2007). A família linguística Tupi-Mondé é considerada uma das famílias
linguísticas das mais coesas da América do Sul, apesar dos aproximadamente 2.500 anos
decorridos desde o início de seu desmembramento (RODRIGUES, 1964, 1985, 1994) e das
grandes distâncias que hoje separam as línguas meridionais das línguas setentrionais
(RODRIGUES, 2002), as quais refletem os longos e frequentes movimentos migratórios dos
falantes dessas línguas (RODRIGUES, 1985, 1994). Rodrigues (1964) sustenta a hipótese de
que o ponto de difusão do Proto-Tupi no Brasil tenha sido a região que hoje compreende ao
estado de Rondônia, noroeste do Mato Grosso e Sul do Amazonas. Considere-se ainda que,
das dez famílias linguísticas Tupi reconhecidas no Brasil, seis estão no estado de Rondônia:
Mondé, Arikém, Tupi-Guarani, Puruborá, Ramarama e Tupari. Os Mondé distribuem-se,
atualmente, em uma área contínua formada por sete Terras Indígenas (T. I.): T.I. Roosevelt, T.I.
Serra Morena, T.I. Aripuanã, T.I. Parque Indígena Aripuanã, T.I. Zoró e T.I. Sete de Setembro;
sendo que a T.I. Igarapé Lourdes, habitada pelo Povo Gavião, está separada por uma estreita
faixa de terra constituídas por áreas de fazendas, o que impossibilitou a inserção da área na
constituição do Parque Nacional Aripuanã. Este é um dos maiores territórios indígenas do país,
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que compreende uma área de 3,5 milhões de hectares, localizado ao noroeste do estado de Mato
Grosso e sudeste do estado de Rondônia (ABRANTES. 2007). Há ainda os Aruá, localizados
na T.I. Guaporé, encontram-se na região fronteiriça entre o estado de Rondônia e a Bolívia, os
quais pertencem à mesma família Mondé. Mesmo com as contribuições das pesquisas
linguísticas realizadas com os Cinta Larga e Zoró, não há elementos suficientes para afirmar se
se trata de uma mesma língua ou de línguas distintas. Mesmo que a natureza da pesquisa seja a
descrição e posterior comparação das línguas faladas pelos dois povos, nesta pesquisa, ambas
serão tratadas distintamente, respeitando as relações políticas estabelecidas, historicamente,
entre eles que, de certo modo, manifestam interesse quanto à distinção étnico-cultural.
Referências
ABRANTES, C. T. Da maloca à escola: uma análise da prática educativa e da formação de
professores indígenas do povo Cinta Larga de Rondônia. Porto Velho. 2007. 200 f. Dissertação
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TIPO SEMÂNTICO IDADE E CLASSES LEXICAIS NO WA’IKHANA E NO GUATÓ
Autora: Kristina Balykova (CAPES)
Orientadora: Kristine Sue Stenzel
Em um estudo que virou clássico, Dixon (1982) utiliza a noção de tipo semântico para
caracterizar as classes lexicais nas línguas do mundo. Segundo o autor, os itens lexicais
pertencentes a um mesmo tipo semântico compartilham também um conjunto de propriedades
morfológicas e sintáticas. Enquanto os tipos semânticos são universais para todas as línguas, as
propriedades formais associadas a eles são particulares a cada língua. Dixon argumenta que há
tipos semânticos prototipicamente associados com uma determinada classe lexical. Assim, o
tipo ARTEFATOSé, via regra, associado com a classe nominal, enquanto o tipo MOVIMENTO, com
a classe verbal. Em relação à classe adjetival, o autor argumenta que ela sempre inclui, ao
menos, os itens lexicais dos tipos semânticos IDADE (ex.: novo, velho), DIMENSÃO (ex.: grande,
pequeno, comprido, curto), VALOR (ex.: bom, ruim) e COR (ex.: preto, branco, vermelho).
As línguas Wa’ikhana (Tukano Oriental) e Guató (isolada) compartilham o fato de que,
nelas, a maioria das noções adjetivais são expressas por verbos. Para o Guató, Palácio (1984:
56) propõe que tais verbos sejam chamados de descritivos. Por enquanto, não podemos dizer
se, nas duas línguas, há propriedades formais mais sutis que distinguem os itens lexicais dos
tipos DIMENSÃO, VALOR e CORdos verbos que denotam as demais noções adjetivais. Porém, em
ambas as línguas, itens lexicais do tipo semântico IDADE exibem um comportamento
morfossintático diferente do padrão geral para os verbos descritivos. Assim, no Wa’ikhana, as
palavras bʉhkʉ‘velho’ e wamʉ‘novo’ se assemelham morfossintaticamente aos nomes e não
aos verbos. Já, no Guató, a palavra tuigi ‘velho’ se comporta como um verbo, a não ser uma
importante diferença morfológica: tuiginão recebe o prefixo go-, quando nominalizado.
Portanto, se procurarmos estabelecer uma classe adjetival nessas duas línguas, as
palavras do tipo semântico IDADE citadas acima serão os primeiros candidatos para serem
incluídas nessa classe. Porém, outra hipótese em relação às palavras bʉhkʉ‘velho’ e
wamʉ‘novo’ do Wa’ikhana é que elas sejam nomes. Givón (2012 (1979): 407-8)nota que os
conceitos jovem, adulto, velhopodem ser lexicalizados como nomes por denotarem qualidades
de extrema estabilidade temporal, enquanto os adjetivos denotam qualidades de estabilidade
temporal intermediária.
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O objetivo da minha apresentação será mostraros argumentos, pelos quais a maior parte
das palavras que expressam noções adjetivais no Wa’ikhana e no Guató podem ser consideradas
verbos, eas diferenças morfossintáticas entre esses verbos e os itens lexicais do tipo semântico
IDADE. Além disso, mostrarei em que as palavras bʉhkʉ‘velho’ e wamʉ‘novo’ do Wa’ikhana se
assemelham aos nomes dessa língua. Os dados utilizados na presente pesquisa provêm dos meus
trabalhos de campo.
Referências:
DIXON, Robert M. W. Where have all the adjectives gone? In: Where Have All the Adjectives
Gone?and other essays in Semantics and Syntax. Berlim: Mouton.1982.
GIVÓN, Talmy. A compreensão da gramática. Trad. Maria Angélica Furtado da Cunha,
Mário Eduardo Martelotta, Filipe Albani. São Paulo: Cortez, Natal: EDUFRN.2012.
PALÁCIO, Adair Pimentel. Guató: a língua dos índios canoeiros do rio Paraguai.Tese
(Doutorado). – Instituto de Estudos da Linguagem – UNICAMP, Campinas. 1984.
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SWITCH REFERENCE EM MAXAKALI
Autora: Silvia Siqueira Pereira (CNPq)
Orientador: Andrew Nevins
Co-orientadora: Suzi Lima
Trabalhos anteriores (PEREIRA 1992; POPOVICH, 1957, 1967, 1976, 1986)
descreveram que a língua Maxakali(Macro-Jê, família Maxakali)apresenta um sistema de
Switch Reference canônico. Em Maxakalí, diferentes conjunções em estrutura coordenada são
usadas para sinalizar se o sujeito é o mesmo (tu, 1a)ou diferente(ha, 1b). O mesmo ocorre em
conjunções subordinadas1.
1a. Yoye Te Pãm mãhã tu kapex xo`op
José ERG Pão comer e.SS café beber
‘José comeu o pão e bebeu o café’
1b. Yoye Te pãm mãhã ha Xip te kapex xo`op
José ERG pão comer e.DS Silvia ERG café beber
‘José comeu o pão e Silvia bebeu o café’
Este projeto investiga o fenômeno de switch reference não canônico na língua Maxakali.
Segundo Mckenzie (2012), SR não canônico é exibido em orações coordenadas para sinalizar
o rastreamento da situação tópico (ST) entre as orações conectadas.
Em Maxakali, além dos morfemas tu e ha, existe também o morfema taque sinaliza a
mudança da situação tópico. Em (2a), a conjunção tu ‘e’ sinaliza que ã, primeira pessoa do
singular, é sujeito das duas orações conectadas. O morfema ta sinaliza a mudança da situação
tópico, mudança de lugar (cidade e casa).
2a. ã-te kapex xo`op kõmẽn tu
1SG-ERG café Beber cidadePOSP
tu-ta Putpuk mõg mĩmtut ha
e.SS-ST sentido atrás Ir casaPOSP
1ABREVIATURAS: CAUS ‘causativo’; DS ‘sujeito diferente’; ERG ‘ergativo’, FUT ‘futuro’; PL.EXCL
‘plural.exclusivo’; POSP ‘posposição’; SG ‘singular’; SS ‘mesmo sujeito’; ST ‘situação tópico’.
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Em (2b), a conjunção ha‘e’ sinaliza que as orações têm sujeitos diferentes. Na primeira
oração o sujeito é ũg, primeira pessoa do singular, e na segunda o sujeito é a, segunda pessoa
do singular. O morfema ta sinaliza a mudança da situação tópico, mudança de lugar (Santa
Helena e Rio de Janeiro).
2b. ũg-mõgax Xatãnẽn tu ha-ta a mõgax Hip Yanẽn tu
1SG-ir FUT Santa Helena POSP e.DS-ST 2SGirFUT Rio de Janeiro POSP
‘Eu vou para Santa Helena e você vai para o Rio de Janeiro’
Em (3a), as duas primeiras orações estão conectadas por coordenaçãoe apresentam
sujeitos diferentes. Na primeira oração, o sujeito é ũg, primeira pessoa do singular, e na segunda
o sujeito é mũg, primeira pessoa do plural. Porém, a conjunção tuk ‘e’ (mesmo sujeito) foi
escolhida pelos falantes da língua para conectar as orações. A conjunção ha ‘e’ (sujeitos
diferentes) não foi aceita, pelos falantes Maxakalí. Vale ressaltar que os sujeitos apresentam
correferência parcial, o sujeito da primeira oração está contido no sujeito da segunda oração
(sujeito inclusivo).
A segunda e terceira orações estão conectadas por subordinação. A conjuçãonũy ‘para’
indica que mũg, primeira pessoa do plural, é sujeito das orações.
3a. Ũg mõ-nãhã Yoye pet hã tuk1/*ha mũgmãm
1SG ir-CAUS José casa POSP e.SS 1PL.EXCL sentar.PL
nũy Hãmãgtux
para.SS Conversar
‘Eu entrei na casa de José e sentamos para conversar’
Em (3b), os sujeitos das orações conectadas são diferentes. Na primeira oração, o sujeito
é kakxop ‘menino’ e o sujeito da segunda é pata ‘pé’, porém a conjunção tu ‘e’ (mesmo sujeito)
foi escolhida pelos falantes da língua para conectar as orações. A conjunção ha ‘e’ (sujeitos
diferentes) não foi aceita pelos falantes Maxakalí.
3b. Kakxop Mõxupaha tu/*ha pata Xũĩy
menino Correr e.SS pé Doer
‘O menino correu e o pé dele doeu’
1 O morfema tuk (marcador SR de mesmo sujeito) é alomorfe do morfema tu (marcador SR de mesmo sujeito).
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Em síntese, o objetivo desta pesquisa é investigar a interpretação dos morfemas SR que
ocorrem em estruturas coordenadas e subordinadas na língua Maxakalí e, mais especificamente,
identificar se o morfema tapode ser interpretado como referência de situação.
Referências
CAMPOS, Carlo Sandro de Oliveira.Morfofonêmica e morfossintaxe do Maxakalí. 307 f.
Tese (Doutorado) - Curso de Linguística, Faculdade de Letras, Universidade Federal de Minas
Gerais, Belo Horizonte, 2009.
KRATZER, Angelika.Situations in Natural Language Semantics.[s.l.]: Stanford
Encyclopedia of Philosophy, 2007.
________________. An investigation of lumps of thought.Linguistics and Philosophy.[s.l.],
p. 607-653. out. 1989.
MCKENZIE, Andrew Robert.The role of contextual restriction in reference-tracking. 280
f. Tese (Doutorado) - Curso de Linguística, University of Massachusetts Amherst, Amherst,
Mass, 2012.
________________. Austinian Situation and Switch Reference: the role of context in reference-
traking. Submission to Journal of Semantics. [s.l.], p. 1-40. jan. 2015a.
_______________. A Survey of Switch-Reference in North America.The University of
Chicago Press Journals: International Journal of American Linguistics.[s.l.], p. 409-448.
jul. 2015b.
PEREIRA, Deuscreide Gonçalves.Alguns aspectos gramaticais da língua Maxakalí. 121 f.
Dissertação (Mestrado) - Curso de Linguística, Faculdade de Letras, Universidade Federal de
Minas Gerais, Belo Horizonte, 1992.
POPOVICH, Harold A.; POPOVICH, Frances B. Dicionário Maxakalí-Português; Glossário
Português-Maxakalí. Cuiabá, MT: Sociedade Internacional de Lingüística. 127 p. 2005.
POPOVICH, Harold A. Maxakali paragraph structure. Summer Institute of Linguistics
(SIL). 6 f. Arquivo do Setor Linguístico do Museu Nacional, RJ. 1957.
_______. Large grammatical units and space-time setting in Maxakalí. Atas do Simpósio sobre
a Biota Amazônica. Rio de Janeiro: Conselho Nacional de Pesquisas. v.2, p. 195-199. 1967.
_______. Conjunções em Maxakali. Summer InstituteofLinguistics (SIL). 20f. Arquivo do
Setor Linguístico do Museu Nacional, RJ. 1976. Cópia arquivada no CEDAE-IEL-UNICAMP
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_______. The Nominal Reference System ofMaxakalí. In: WIESEMANN, Ursula.Pronominal
Systems.Tubing: GuntherNarrVerlag, p. 351-358. 1986.
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SESSÃO DE POSTÊRES
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CONTRIBUIÇÕES SOCIOLINGUÍSTICAS PARA O ESTUDO DOS GÊNEROS
TEXTUAIS-DISCURSIVOS EM AMBIENTE DIGITAL: UM OLHAR SOBRE O
OBJETO DIRETO
Autor: Andrei Ferreira de Carvalhaes Pinheiro
Orientadora: Profa. Dra. Vera Lúcia Paredes Silva
Linhade pesquisa: Variação e Mudança Linguística
A partir de 2005, vimos emergir a Web 2.0: um ambiente “com novíssimas
possibilidades de interação que permitem não apenas consumo, mas também – ou
principalmente – produção de textos, agora textos feitos de imagens, textos audiovisuais, textos
com links e textos com palavras e imagens” (GOMES, 2016). É evidente que a Linguística tem
se interessado por estudar os padrões de interações propiciados pela Web 2.0. Trabalhos dessas
áreas têm se voltado, por exemplo, ao reconhecimento de gêneros textuais-discursivos na/da
Web (MARCUSCHI, 2010), à definição de redes sociais (BUZATO, 2016) e à importância
delas para o ensino (GOMES, 2016).
Nesse cenário, pesquisadores como Marcuschi (2010) e Rajagopalan (2013) vêm
apontando que a complexidade da Web não nos permite caracterizar os textos produzidos em
ambiente digital a partir dos rótulos tradicionalmente entendidos como fala e escrita. Apesar
disso, Marcuschi (2010) e Herring (2001) entendem que os textos produzidos em ambiente
virtual são fundamentalmente baseados na escrita, ainda que significativamente distanciados
dos textos escritos prototípicos. No entanto, Marcuschi (2010, p. 22) adverte que um texto na
Web não corresponde necessariamente a uma “fala por escrito”.
Considerando, entretanto, fala e escrita, Baron (2013, p. 126) comenta sobre a
dificuldade em caracterizar os textos da Web e a atribui ao fato de que “poucas tentativas
empíricas vêm sendo feitas para contrastar os dados da [comunicação mediada por computador]
com corpora comparáveis falados ou escritos.”
Por décadas de estudo, a Sociolinguística Variacionistatem empreendido investigações
que se interessam por situar gêneros textuais-discursivos no contínuo fala-escrita. Pouco, no
entanto, tem sido dito sobre os textos na Web nessa perspectiva.
Paredes Silva (2017) recuperou análises de blogs, conversas de WhatsApp e
comentários em grupos de discussão no Facebook, que observaram, respectivamente, a variação
no sujeito de 1ª pessoa, no objeto direto de 3ª pessoa e nas estratégias de indeterminação do
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sujeito. A partir disso, concluiu que, de fato, os gêneros em ambiente digital apresentam um
caráter híbrido, pois determinados fenômenos podem se aproximar mais da escrita, enquanto
outros, mais da fala.
Dessa forma, apresentamos, aqui, resultados de pesquisas sobre a expressão variável do
objeto direto de 3ª pessoa em referência anafórica em quatro corpora distintos, três dos quais
foram analisados por nós ao longo da Iniciação Científica: (1) conversas privadas do chat do
Facebook entre jovens universitários; (2) conversas privadas de WhatsApp, também entre
jovens universitários; (3) entrevistas orais com jovens cariocas de baixa escolaridade, internos
em regime socioeducativo; e (4) redações de universitários (AVERBUG, 2000). Todas essas
investigações se pautam pela Teoria da Variação e Mudança Linguísticas (LABOV, 2008
[1972]).
Os resultados apontam para uma maior proximidade entre os dados de escrita digital e
os de entrevistas orais, ainda que os informantes se diferenciem quanto ao nível de escolaridade
e quanto à sua inserção social: em ambas as amostras, a anáfora zero é a variante mais frequente
(sempre mais de 50% dos dados).Já a escrita universitária na Web e a escrita universitária no
papel se diferenciam: enquanto naquela a variante mais encontrada é a anáfora zero (i.e., a não
materialização do referente), nesta privilegia-se o uso de clíticos (40%), ausentes ou pouco
encontrados nas duas outras amostras. De acordo com esses resultados, portanto, a escrita na
Web se aproxima mais da fala do que da escrita prototípica.
No entanto, como já apontado por Baron (2013), é necessário empreender novas
investigações que controlem mais adequadamente os corpora de produções textuais na Web e
fora dela a serem comparados, a fim de que se possa compreender melhor como se comportam
os textos produzidos em ambiente digital.
Referências
AVERBUG, Mayra Cristina Guimarães. Objeto direto anafórico e sujeito pronominal na
escrita de estudantes. Dissertação de Mestrado. Rio de Janeiro: Universidade Federal do Rio
de Janeiro, 2000.
BARON, Naomi. Enunciados segmentados em MIs. Tradução de Tania G. Shepherd. In:
SHEPHERD, Tania G.; SALIÉS, Tânia G. (Org.). Linguística da internet. São Paulo:
Contexto, 2013, pp. 125-155.
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BUZATO, Marcelo El Khouri. Três concepções para o estudo de redes sociais. In: ARAÚJO,
Júlio; LEFFA, Vilson (Org.). Redes sociais e ensino de línguas: o que temos de aprender?.
São Paulo: Parábola Editorial, 2016, pp. 33-48.
GOMES, Luiz Fernando. Redes sociais e escola: o que temos de aprender? In: ARAÚJO, Júlio;
LEFFA, Vilson (Org.). Redes sociais e ensino de línguas:o que temos de aprender?.São Paulo:
Parábola Editorial, 2016, pp. 81-92.
HERRING, Susan C. Computer-mediated discourse. In: SCHIFFRIN, Deborah; TANNEN,
Deborah; HAMILTON, Heidi E. (Org.). The Handbook of Discourse Analysis.
Massachusetts: Blackwell Publishers, 2001, pp. 612-634.
LABOV, William. Padrões sociolinguísticos. Tradução: Marcos Bagno, Marta Scherre e
Carolina Cardoso. São Paulo, Parábola Editorial, 2008. Título original: Sociolinguistic
Patterns, 1972.
MARCUSCHI, Luiz Antônio. Gêneros textuais emergentes no contexto da tecnologia digital.
In: MARCUSCHI, Luiz Antônio; XAVIER, Antonio Carlos (Org.). Hipertexto e gêneros
digitais:novas formas de construção de sentido. 3ª ed. São Paulo: Cortez, 2010, pp. 15-80.
PAREDES SILVA, Vera Lúcia. Gêneros digitais: o hibridismo de fala e escrita. GRATO 6th
International Conference on Grammar and Text, Universidade Nova de Lisboa, mimeo.,
jun., 2017.
RAJAGOPALAN, Kanavillil. Como o internetês desafia a Linguística. In: SHEPHERD, Tania
G.; SALIÉS, Tânia G. (Orgs.). Linguística da internet. São Paulo: Contexto, 2013, pp. 37-53.
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RASTREAMENTO OCULAR DE ORAÇÕES TEMPORARIAMENTE AMBÍGUAS:
REFLEXÕES SOBRE OS EFEITOS GARDEN-PATH E GOOD-ENOUGH NA
LEITURA DE ALUNOS DE CURSO FUNDAMENTAL E SUPERIOR
Autora: Emily Silvano da Silva
O presente estudo investigou através da técnica de rastreamento ocular o processamento on-
line e a compreensão de um tipo de ambiguidade sintática temporária em um grupo universitário
e um grupo do 8º ano do Ensino Fundamental, segundo a Teoria do Garden-Path. Os resultados
on-line de ambos os grupos mostraram que sentenças ambíguas demandam mais tempo de
leitura e compreensão do que as não-ambíguas em ambos os grupos. Os resultados off-line
mostraram que os participantes erram mais nas ambíguas, como esperado, do que nas não-
ambíguas. Os universitários obtiveram índices de acerto significativamente maiores do que de
erros em ambas as condições, o que atesta o engajamento na tarefa. Era esperado que, após a
reanálise on-line nas ambíguas, ambos os grupos atingiriam compreensão total da sentença
respondendo corretamente. Sobre os alunos do 8º ano, estes fixam menos nos segmentos
comparados com os alunos do Ensino Superior, aliado a isso o tempo de leitura na sentença SG
é consideravelmente menor do que em GP, parecendo que este grupo desiste da frase. Isto se
reflete nos resultados off-line que demonstraram que os participantes desse grupo erram mais
nas ambíguas do que nas não-ambíguas. Observou-se evidência do efeito good-enough, no
grupo do ensino fundamental, havendo compreensão parcial ou incompleta do input, mesmo
após a reanálise, que parece persistente na memória de trabalho, resultando em representações
incompatíveis com o valor de verdade. Concluindo, o efeito garden-path foi menor em
participantes mais novos do que nos mais velhos, resultados que são contrários aos esperados
pela literatura, mas que podem refletir o panorama da educação do país, em que parece haver
interesse reduzido dos alunos da educação básica em tarefas de pensar linguisticamente.
PALAVRAS-CHAVE: GARDEN-PATH; RASTREAMENTO OCULAR; GOOD-ENOUGH
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A ICONICIDADE COMO UM RECURSO COGNITIVO PROVISÓRIO NA
AQUISIÇÃO DA LEITURA
Autora: Isadora Rodrigues de Andrade
Ao longo do desenvolvimento infantil, as crianças criam hipóteses acerca do
funcionamento das mais diversas coisas do mundo, assim como buscam identificar padrões em
tudo que as cerca. Por exemplo, a criança, mesmo antes de dominar o sistema alfabético, já cria
suposições a respeito do sistema da escrita, que, posteriormente, podem ser confirmadas ou
completamente abandonadas.
Assim, segundo o relato de muitas pesquisas, algumas crianças supõem que exista uma
iconicidade, ou seja, uma relação de motivação entre o tamanho dos objetos e o nome escrito
que eles têm. Uma palavra como formiga espanta alguns alfabetizandos que supunham que,
dado o tamanho pequeno do inseto, ele seria grafado com menos letras. Esse assunto nos coloca
no centro de uma discussão fundamental para a Linguística, opondo arbitrariedade e
iconicidade.
A publicação da obra póstuma de Ferdinand Saussure ‘’ Curso de Linguística Geral’’
(1916) abriu caminhos para a discussão de diversos aspectos estruturais da língua. Uma das
noções propostas pelo linguista se refere à relação estabelecida entre o que ele chama de
significante e significado, que podem ser entendidos como a imagem acústica e o sentido da
palavra, respectivamente.
Segundo o pesquisador suíço, a relação que se estabelece entre essas duas entidades é
arbitrária, ou seja, não há um vínculo essencial, obrigatório e natural entre o som e o sentido
da palavra. O que existe é uma relação cultural, convencionada, arbitrária entre os integrantes
de uma dada comunidade.
Ainda pensando a correspondência entre o objeto e a palavra que o designa, Wolfgang
Köhler (1929) e, posteriormente, o neurocientista indiano Vilayanur S. Ramachandran (2001)
refletiram sobre essa relação em um estudo que ficou conhecido como o Efeito Bouba/Kiki. O
teste consistia na apresentação de objetos inventados de formas arredondadas e pontiagudas.
Ao participante cabia a tarefa de atribuir aos objetos os nomes de Bouba ou Kiki, conforme sua
vontade.
Os resultados desse estudo apontaram que cerca de 95% dos participantes atribuíram à
forma arredondada o nome Bouba e à forma pontiaguda, Kiki. Ramachandran partiu, então, dos
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resultados obtidos para defender a ideia de que o processo de nomeação dos objetos não é
arbitrário, mas, sim, motivado por características do próprio objeto. Em outras palavras:
particularidades físicas da coisa se manifestariam, de alguma maneira, no som da palavra.
Haveria, portanto, a mistura de dois módulos cognitivos: a visão e a linguagem.
Jean Piaget (1962) também refletindo sobre a associação entre o nome e o objeto e sua
relação com o desenvolvimento do pensamento infantil, propôs a noção de Realismo Nominal. Esta
concepção diz respeito a dificuldade encontrada pela criança em desassociar o signo da coisa
significada.
Segundo Piaget, no realismo nominal lógico, um tipo de realismo nominal, o indivíduo,
em alguma fase do seu desenvolvimento cognitivo, tenderá a considerar a palavra que como
parte integrante do objeto ou coisa que ela representa. Assim, algumas crianças parecem atribuir
ao nome características da coisa, acreditando que mudando o nome do objeto, suas propriedades
também são modificadas.1
Portanto, com a finalidade de privilegiar os estudos sobre a psicogênese da aquisição da
leitura e da escrita, o presente trabalho fará uma avaliação da concepção piagetiana de Realismo
Nominal (1962), buscando estabelecer relação com um dos princípios que compõe a teoria
estruturalista proposta por Saussure (1916): a noção de arbitrariedade do signo linguístico.
Para tanto, realizamos um experimento com crianças não alfabetizadas, de quatro a seis
anos, utilizando a técnica de Word/Picture matching, de acordo com bases da Linguística
Experimental. A partir dos resultados obtidos, pretendemos também suscitar uma discussão
sobre a importância do método de alfabetização adequado para o processo de aquisição da
leitura e escrita.
PALAVRAS-CHAVES: LINGUÍSTICA, AQUISIÇÃO DA LINGUAGEM, LEITURA
Referências
DEHAENE, Stanislas. Os Neurônios da Leitura: Como a Ciência Explica a Nossa Capacidade
de Ler.Penso.p. 372,2012
PIAGET, J. A representação do mundo na criança. Rio de Janeiro, RJ: Record. 1962.
1Atualmente, já se sabe que a cognição de reconhecimento de objetos ocupa uma área distinta da área de tratamento
das palavras escritas no cérebro (ISHAI et al., 2000 e PUCE et al., 1996). Esta última, só se estabelece após o
processo de alfabetização (Dehaene, 2012). Dessa maneira, uma criança que ainda não sabe ler pode mesmo
“guardar” a forma escrita de uma palavra que ainda não decifra no tecido que é especializado para acolher objetos.
Nesse caso, a iconicidade pode se justificada.
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RAMACHANDRAN V.S.; Hubbard E.M. Synaesthesia – A Window Into Perception, Thought
and Language. Journal of Consciousness Studies, 8, No. 12, pp. 3–34.2001
SAUSSURE, F. de. Curso de Lingüística Geral. Tradução Antônio Chelini, José Paulo Paes,
Isidoro Blikstein. 25.ed. São Paulo: Cultrix. 1999
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CONHECIMENTO DE TEMPO E ASPECTO EM IDOSOS FALANTES NATIVOS
DO PORTUGUÊS BRASILEIRO
Autor: Jean Carlos da Silva Gomes
Orientadora: Adriana Leitão Martins
LinhadePesquisa: Linguagem, mente e cérebro
Os estudos que versam sobre o processo do envelhecimento e seus efeitos na expressão
linguística têm ganhado destaque no âmbito da psicologia e da linguística (BRANDÃO &
PARENTE, 2001). Esses trabalhos indicam que, quando idosos, os indivíduos podem
desenvolver problemas linguísticos em diversos níveis, como o fonético, o semântico, o
pragmático, e apresentar uma diminuição na velocidade do processamento de sentenças. No
entanto, parece não haver um consenso quanto à origem desses problemas linguísticos, se
decorrentes de um comprometimento no módulo essencialmente linguístico (ARBUCKLE &
GOLD, 1993) ou em módulos não-linguísticos (WOODRUFF-PAK, 1997). No que concerne à
análise do desempenho da população idosa quanto a fenômenos sintáticos, poucos trabalhos
foram feitos. Entendemos que a investigação desse desempenho pode contribuir para a
elucidação de diversos questionamentos quanto à fala do idoso, principalmente quanto à origem
do déficit na sua expressão linguística, uma vez que um problema de ordem sintática
desassociado de um déficit conceptual pode indicar um comprometimento no módulo
essencialmente linguístico. Diante disso, neste trabalho, investigamos as categorias sintáticas
de tempo e aspecto. Tempo, segundo Comrie (1985), pode ser definido como uma categoria
linguística que possibilita que situemos os acontecimentos do mundo no tempo físico, enquanto
que aspecto, segundo Comrie (1976), pode ser definido como uma categoria linguística que
possibilita que façamos referência à composição temporal interna de uma situação. Neste
estudo, busca-se compreender se há uma preservação ou um comprometimento dessas
categorias na gramática mental de idosos falantes nativos do português brasileiro (PB). Logo,
as hipóteses adotadas para este estudo são as de que (i) o conhecimento linguístico de tempo
mantém-se preservado em idosos saudáveis falantes nativos do PB e (ii) o conhecimento
linguístico de aspecto mantém-se preservado em idosos saudáveis falantes nativos do PB. Para
tanto, foram aplicados três testes a dez idosos com idade entre setenta e oitenta anos falantes
nativos do PB com escolaridade entre ensino fundamental incompleto e ensino médio completo.
O primeiro teste foi a versão em português, feita por Caramelli & Nitrini (2000), do Mini-
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Exame do Estado Mental (MEEM), que tinha por objetivo avaliar o estado mental dos idosos,
garantindo que não apresentassem um quadro demencial não diagnosticado. O segundo teste
foi o de ordenamento sequencial de eventos, desenvolvido por Nespoli (2013), cujo objetivo
era avaliar o conhecimento conceptual de tempo dos indivíduos. O terceiro teste foi o teste
linguístico de preenchimento de lacuna, que visava avaliar o conhecimento linguístico de tempo
e aspecto dos participantes. No MEEM, três participantes obtiveram um resultado inferior à
nota de corte proposta por Caramelli & Nitrini (2000) e foram eliminados deste estudo. No
segundo teste, dos sete participantes mantidos na pesquisa, quatro deles ordenaram grande parte
das sequências corretamente, indicando uma preservação do conceito de tempo, enquanto três
deles ordenaram apenas uma pequena parte das sequências corretamente, indicando um
comprometimento conceptual de tempo. Uma vez que a presença de um comprometimento
conceptual impossibilitaria a detecção da origem do déficit na expressão linguística, que
poderia ser tanto no módulo linguístico quanto em módulos não-linguísticos, analisamos os
resultados do teste linguístico somente dos participantes que apresentaram bom desempenho
no teste de ordenamento sequencial de eventos. No teste linguístico, dos quatro indivíduos que
tiveram os resultados analisados, três deles apresentaram um déficit na expressão linguística,
uma vez que se equivocaram no preenchimento de lacunas que testavam algumas condições
específicas. Uma vez que alguns idosos não apresentaram um problema conceptual de ordem
temporal, porém evidenciaram um déficit na expressão linguística ora de tempo, ora de aspecto,
argumentamos que o problema encontrado na expressão linguística desses idosos seja
decorrente de um comprometimento no módulo linguístico. Assim, as duas hipóteses deste
estudo foram refutadas.
Palavra-chave: envelhecimento, linguagem, comprometimento linguístico, tempo, aspecto,
sintaxe.
Referências:
ARBUCKLE, T., GOLD, D. Aging, Inhibition, and Verbosity. Journal of Gerontology:
Psychological Sciences, Waltham: v. 48, n. 5, p.225-232, 1993.
BRANDÃO, L.; PARENTE, M. A. M. P. Os estudos de linguagem no idoso neste último
século. Estud. interdiscip. envelhec., Porto Alegre, v.3, p.37-53, 2001.
CARAMELLI, P.; NITRINI, R. Como avaliar de forma breve e objetiva o estado mental de um
paciente? Rev. Assoc. Med. Bras., v. 46, n. 4, p. 301-301. 2000.
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Linguística Rio, v. 4, ed. esp., dezembro de 2018. ISSN 2358-6826
COMRIE, B. Aspect: an introduction to the study of verbal aspect and related problems.
Cambridge: Cambridge University Press, 1976.
__________. Tense. Cambridge: Cambridge University Press, 1985.
NESPOLI, J. B. Tempo e Aspecto na demência do tipo Alzheimer: um estudo longitudinal.
Dissertação de mestrado. Rio de Janeiro: UFRJ: Faculdade de Letras. 2013.
WOODRUFF-PAK, D. The Neuropsychology of Aging. Understanding Aging. Malden:
Blackwell Publishers, 1997.
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A IDENTIFICAÇÃO DOS PREFIXOS ES- E EN- EM VERBOSDENOMINAIS
PARASSINTÉTICOS
Autor: Luís Felipe dos Santos Nascimento
De que maneira se dá o processo de decomposição morfológica de verbos denominais
parassintéticos? Este estudo experimental se dedica a achar evidências que possam servir de
ponto de partida para essa questão, debruçando-se especificamente sobre formas as formas
verbais prefixadas por es- e en-. Por meio de um experimento de leitura automonitoarada não
cumulativa de decomposição morfológica, foram analisadas três condições experimentais: (i)
verbos denominais parassintéticos – esganar e esfiapar; (ii) verbos com a forma fonológica dos
prefixos estudados e uma pseudobase nominal – entender e esbanjar; e (iii) verbos inventados
prefixados – empanelar e esbaciar.
Os resultados evidenciaram uma facilitação na passagem do nome base para o sufixo
verbalizador quando a forma verbal era prefixada pelos elementos morfológicos em questão.
Quando a relação era fonológica, a passagem da pseudobase para o sufixo verbalizador era
degradada. Esses resultados evidenciaram que o modelo de processamento morfológico se dá
de forma plena, ou seja, morfema a morfema.
Referências
FRANÇA, A. I. (2005) O léxico mental em ação: muitas tarefas em poucos milissegundos.
Lingüí∫tica: Revista do Programa de Pós-Graduação em Lingüística da Universidade Federal
do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, v. 1,n. 2, p. 47-82.
HALE, K.; KEYSER, S. J. (1993). On Argument Structure and the LexicalExpression of
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FUNÇÕES EXECUTIVAS E TESTE DE ROLE-PLAYING EM EXPERIMENTOS
COM CRIANÇAS
Autores: Mayara de Sá Pinto, Sarayane Miranda, Emily Silvano, Isadora Andrade, Sammy
Cardoso, Kate Mendonça, Clara Bueno, Ana Machado, Julia Lopes, Aleria Lage, Aniela França
Durante as últimas décadas, avanços nas teorias do conhecimento da linguagem
passaram a exigir dados empíricos mais sofisticados, que possam fornecer informações
diretamente relevantes para desempatar embates teóricos sobre aspectos sutis da arquitetura e
processamento da linguagem. Nesse quadro, mais e mais se recorre a técnicas de tarefas on-
line, como o rastreamento ocular (MATSUOKA, 2010; ZUCKERMAN et al 2016).
A tendência dos testes on-line é exigir computações que envolvem Funções Executivas,
desempenhadas enquanto o participante está calado, dirigindo seu foco, ritmo, e planejamento
para a tarefa. As funções executivas são oriundas de circuitos cerebrais residentes no lobo
frontal com a função de autorregulação dos processos mentais, a ponto de nos permitir planejar,
concentrar a atenção, lembrar instruções e lidar com a execução de várias tarefas simultâneas
(SCHMITT; MILLER, 2010; CDCHU, 2014). Há três dimensões básicas das funções
executivas: (i) Memória de trabalho; (ii) Controle inibitório; (iii) Flexibilidade cognitiva
(BIERMAN et al 2008).
Por exemplo, a tarefa básica de um teste como o de pareamento sentença-figura requer
a capacidade de se executar de forma independente uma ação ou atividade com algumas partes:
(i) ouvir a sentença; (ii) colocar o resultado da interpretação semântica dessa interpretação na
memória de trabalho; (iii) examinar as figuras; (iv) decidir qual delas pode ser adequadamente
pareada ao conteúdo semântico guardado na memória. Todas essas computações se inscrevem
no âmbito das Funções Executivas.
Note-se que a criança não tem em sua psiquê a dimensão empática da ajuda à ciência
ou da ajuda ao pesquisador como pessoa. Com as crianças, a moeda de troca é a brincadeira e
a possibilidade de explorar o mundo. É claro que a boa relação entre o experimentador e a
criança, estabelecida na hora do teste, muitas vezes por si só consegue agregar motivação
suficiente para que possa chegar ao final do teste. Porém, frequentemente nos relatos da área,
transparece a dificuldade inerente encontrada pelos pesquisadores de coletar todo o material
planejado. Além das perdas (cerca de 40% da informação coletada), há também uma incidência
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de vieses experimentais dificilmente mensuráveis ou captáveis dentro do cenário de teste,
especialmente os on-line.
Um novo campo de estudos, intitulado de Ciência da Primeira Infância, explica com
clareza o porquê da dificuldade: funções executivas não estão todas funcionando na criança e
dependem de incentivo. É possível, por exemplo, ativá-las através do contexto de role-playing.
White et al (2016) estudaram o Efeito Batman, ou seja os benefícios do auto-
distanciamento através do role-playing para o aumento na perseverança de crianças de 4 e 6
anos (N = 180) no desempenho de uma tarefa repetitiva por 10 minutos. Os participantes foram
ainda divididos entre três grupos que eram instados a assumir diferentes perspectivas de
atuação: (i) desempenhavam a tarefa role-playing como se fossem o Batman; (ii) relatavam
a ação de uma terceira pessoa, como nos testes de triangulação de Crain & Thorton (1998) e
finalmente (iii) foram instados a desempenhar a tarefa na primeira pessoa. Como resultado,
observou-se que a personificação do Batman garantiu o menor índice de interrupção e a maior
atenção dedicada à tarefa conseguindo também igualar o desempenho das duas idades. O role-
playing foi identificado como a situação experimental de maior validade ecológica para as
crianças testadas.
Assim, levando critérios da validade ecológica do teste e das funções executivas dos
participantes, adotamos em trabalhos recentes a abordagem de teste-jogo para motivar a tarefa
de pareamento sentença-figura. Também adotamos a repetição de personagens do jogo para
facilitar a adesão e iniciação das funções executivas dos participantes. Com efeito, desde nossos
pré-testes conseguimos um aproveitamento quase total dos testes. Em versões aperfeiçoadas
dos experimentos realizados com crianças, nenhum teste foi perdido por falta de engajamento
da criança-participante.
Palavras-chave: Metodologia experimental, funções executivas, role-playing, ciência da
primeira infância
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REFERÊNCIAS
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school readiness intervention: Impact, moderation, and mediation in the Head Start REDI
program. Development and Psychopathology: 2008.
CDCHU (Center on the Developing Child at Harvard University). Enhancing and Practicing
Executive Function Skills with Children from Infancy to Adolescence. Harvard University,
2014. Retirado de www.developingchild.harvard.edu. Acessado em 10 de setembro de 2018.
MATSUOKA, K. Experimental Methods in Language Acquisition Research. In: Language
Learning & Language Teaching Ed. by Elma Blom and Sharon Unsworth, 27. Amsterdam:
John Benjamins, 2010.
SCHMITT, C.; MILLER, K. Using comprehension methods in language acquisition research.
In: Blom, Elma &Unsworth, Sharon (Eds.). Experimental methods in language acquisition
research (pp.35-56). Amsterdam: John BenjaminsPublishing, 2010
WHITE, R. E., PRAGER, E. O., SCHAEFER, C., KROSS, E., DUCKWORTH, A. L., &
CARLSON, S. M. "The “Batman Effect”: Improving perseverance in young children." Child
development 88, no. 5, p. 1563-1571, 2017.
ZUCKERMAN, S., PINTO, M., KOUTAMANIS, ELLY & VAN SPIJK, YOÏN. A New
Method for Testing Language Comprehension Reveals Better Performance on Passive and
Principle B Constructions. In Jennifer Scott & Deb Waughtal (Eds.), BUCLD 40: Proceedings
of the 40th annual Boston University Conference on Language Development. p 443-456, 2016.
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A COMBINAÇÃO DA PERÍFRASE PROGRESSIVA “ÊTRE EN TRAIN DE” +
INFINITIVO COM OS DIFERENTES TIPOS DE VERBO NO FRANCÊS
Autora: Sabrina Gomes da Silva (Mestrado)
Orientadora: Profª Drª Adriana Leitão Martins
Linha de pesquisa: Gramática na Teoria Gerativa
Entende-se por aspecto os distintos modos de se visualizar a composição temporal
interna de umasituação (COMRIE, 1976). Essa noção pode ser veiculada, por exemplo, pela
semântica interna dos verbos e/ou pelos itens lexicais que podem alterar essa semântica
inicialmente inerente, que pode ser chamada de aspecto semântico. No que se refere ao aspecto
semântico, tendo em vista as propriedades inerentes ao sintagma verbal, considera-se a
classificação das classes verbais de Vendler (1967), queestabeleceu quatro tipos de verbo, a
saber: estados, atividades, processos culminados e culminações.
Segundo Desclés (1991), a perífrase “être en train de”+ infinitivo quando é associada
ao tempo presente ou ao pretérito imperfeito, parece conferir um caráter dinâmico aos eventos.
Sendo assim, ela deverá ser compatível com os verbos de atividade, processo culminado e
culminação. Na mesma direção, Do-Hurinville (2007) advoga que tal perífrase é usada para
indicar que uma ação está em seu curso de execução ou em movimentoe, por esse motivo,
possuiria o traço [+ dinâmico]. Tal autor sugere ainda que tal morfologia parece não ser
compatível com verbos de estado, pois tais verbos possuem o traço [- dinâmico], e nem com
verbos de culminação, pois tais verbos possuem o traço [- durativo].
Diante disso, este trabalho tem como objetivo geral investigar os fatores linguísticos que
favorecem o uso da perífrase progressiva “être en train de”+ infinitivo no francês. Mais
especificamente, pretende-se investigar no francês de Paris os tipos de verbo quese combinam
com tal perífrase.As hipóteses consideradas em relação a essa língua são de que (i) a perífrase
progressiva “être en train de”+ infinitivo é incompatível com verbos de estado e (ii) a perífrase
progressiva “être en train de” + infinitivo é incompatível com verbos de culminação.
Como metodologia, adotou-se a análise do corpus linguístico CFPP2000 transcrito e
disponibilizado pela Universidade Paris Diderot – Paris 7, que apresenta dados de fala
espontânea de adultos parisienses, com nível superior completo ou incompleto. No total, foram
analisadas 18 horas de fala. Nesta análise foram consideradas todas as ocorrências da perífrase
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progressiva em todos os tempos verbais, independentemente do aspecto gramatical por ela
veiculado.
De acordo com a análise dos dados, observou-se que, em um total de 47 ocorrências da
perífrase “être en train de”+infinitivocom todos os tipos de verbo, houve 63,85% (que
corresponde a 30 ocorrências) de verbos de atividade, 27,65% (que corresponde a 13
ocorrências) de verbos de culminação, 4,25 % (que corresponde a 2 ocorrências) de verbos de
processo culminado e 4,25% (que corresponde a 2 ocorrências) de verbos de estado.Logo, as
hipóteses deste estudo foram refutadas.
Com base nos resultados, discutimos que: (i) o número considerável de ocorrências da
perífrase progressiva com verbos de atividade vai ao encontro do que já é proposto pela
literatura sobre a compatibilidade dessa perífrase com esse tipo de verbo (COMRIE, 1976;
SMITH, 1991, DO-HURINVILLE, 2007), (ii) o traço de estatividade parecenão favorecer o
uso da morfologia progressiva nos dados analisados e (iii) uma análise diferente dos verbos
poderia ter ocasionado a não refutação das hipóteses.
Palavras-Chave: aspecto, perífrase progressiva, francês
Referências:
COMRIE, B. Aspect. Cambridge: Cambridge University Press, 1976.
DESCLÉS, J., 1991, « Archétypes cognitifs et types de procès », inC. Fuchs et al., 171-
195,1991
DO-HURINVILLE, D. Étude sémantique et syntaxique de être en train de. In:
L'InformationGrammaticale, N. 113,2007. pp. 32-39.
SMITH, C. The Parameter of Aspect. Dordrecht: Kluwer Academic Publishers, 1991.
VENDLER, Z. ‘Verbs and times’. In: ______. (Ed.). Linguistics in Philosophy. Ithaca: Cornell
UniversityPress, 1967. p.97-121.
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O DESENVOLVIMENTO DA LEITURA NA CRIANÇA: UM ESTUDO DOS
ASPECTOS NEUROCOGNITIVOS
Autor: Sammy Cardozo Dias
Orientadora: Profa. Aniela França
Linha de pesquisa: Linguagem, mente e cérebro
Como a linguagem desenvolve-se na criança? Os postulados chomskyanos oferecem-
nos uma perspectiva cognitiva para a Faculdade da Linguagem. Para Chomsky, a linguagem é
inescapável para a criança: “ela cresce na mente da criança como o sistema visual desenvolve
a capacidade para a visão binocular. É alguma coisa que acontece com a criança, não é algo que
ela faça” (CHOMSKY, 1993: 29). Diferentemente ocorre com o desenvolvimento da leitura.
Seu aprendizado necessita de empenho consciente da criança, quase sempre em um contexto
educacional, a partir de um processo formal de ensino. Haveria, no entanto, uma maneira de
conciliar essas duas aquisições. Ao identificar as regiões do cérebro envolvidas no
desenvolvimento da primeira língua e da leitura, Dehaene (2012) defende que certos
aprendizados ocorreriam através da reorientação dos sistemas cerebrais para o reconhecimento
de símbolos novos. Assim, haveria uma alteração da arquitetura neuronal inata, uma reciclagem
neuronal, a fim de que os circuitos cerebrais responsáveis pela identificação de faces passem a
reconhecer as letras. No âmbito desta pesquisa, objetiva-se, então, analisar os aspectos
neurocognitivos envolvidos no curso do desenvolvimento da leitura.
Para tal procederemos a uma abordagem experimental de cunho neuropsicolinguístico.
Os instrumentos de investigação serão compostos de experimentos com estímulos visuais,
divididos em duas categorias: linguísticas (letras e palavras) e não linguísticas (faces na posição
vertical e horizontal e objetos), no formato de fotografia de coloração cinza, perpassando um
total de 75 exemplares para cada categoria, apresentados num computador, ordenados
aleatoriamente e divididos em blocos. Os colaboradores serão adultos e crianças do Estado do
Rio de Janeiro. As crianças serão divididas em 3 agrupamentos de acordo com a faixa etária,
formados por ambos os sexos: crianças de 4 a 5 anos, 6 a 8 anos e 9 a 10 anos, oriundas de
escolas públicas. Os ERP’s evocados serão captados por eletrodos. Os parâmetros de onda
(latência e amplitude) serão investigados à luz de um pacote estatístico, a partir de análises
multivariadas de variância (MANOVA).
Referências
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CHOMSKY, Noam. A minimalist program for linguistic theory. Em:The view from Building
20: essays in linguistics in honor of Sylvain Bromberger, K. Hale and S. J. Keyser (eds), 1-52.
Cambridge, Mass.: The MIT Press, 1993.
DEHAENE, S. Os neurônios da leitura: como a ciência explica a nossa capacidade de ler.
Trad. Leonor Scliar-Cabral. Porto Alegre: Penso, 2012.
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RETOMADAS NOMINAIS, PRONOMINAIS E ZERO NOS LDS DE HISTÓRIA
Autora: Talita Moreira de Oliveira
A continuidade do tópico discursivo tem como uma de suas bases a continuidade do
tópico/referente (cf. Givón,1983). Cavalcante et al. (2014) mencionam que, nos textos escritos,
em que a interação com o leitor não é feita durante a produção, a negociação ocorreria, por parte
do escritor, ao antecipar ou projetar seus leitores pretendidos. O escritor precisaria fazer ajustes
em seu texto de modo que fosse bem recebido pelos leitores, ou, como os autores dizem, “para
que seu texto seja considerado pertinente e coerente” (p.38). Tal objetivo determinará como
será feita a construção referencial, como os referentes serão representados e quais processos de
referenciação serão adotados na organização do fluxo de informação, levando-se em
consideração o leitor pretendido.
A fim de investigar as estratégias usadas pelos autores para assegurar a continuidade
referencial, foram analisados quinze LDs de História divididos em três níveis diferentes: cinco
LDs do 6º ano do EF, cinco LDs do 9º ano do EF e cinco LDs do 3º ano do EM. Em cada nível
foi escolhido um tema: Mesopotâmia nos LDs do 6º ano; Primeira Guerra Mundial, nos do 9º
ano e Segunda Guerra Mundial, nos do 3º ano do EM. Os temas escolhidos tinham em comum
o fato de abordarem conflitos envolvendo diversas nações. A análise se restringiu ao texto
principal dos capítulos selecionados, visando a discutir sua composição.
O presente estudo tem como objetivo investigar como ocorre a progressão referencial
em livros didáticos de História. Para isso, direcionamos a nossa atenção principalmente para o
uso de SNs, como expressão da referência.Como apontam os resultados encontrados a partir da
análise do corpus, constatou-se, nas três amostras, o predomínio de retomadas do referente
preenchidas por SN. Nos LDs do 9º ano do EF e do 3º ano do EM há um leve aumento nas
retomadas por recategorização, mas a repetição de itens lexicais se mostrou a estratégia
preferida pelos autores de todos os níveis. Muito raramente, os autores optam por pronomes ou
anáforas zero, apenas em circunstâncias em que a proximidade do elemento referido é tal que
não daria margem à ambiguidade. A alta incidência de SNs contribui para que o supertópico se
mantenha presente ao longo do texto através da repetição de itens lexicais que remetem a esse
tópico mais abrangente. Além disso, a associação entre diferentes tópicos sendo evidenciada e
reforçada através de SNs facilitaria a interpretação.
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Quanto à complexidade de construção do SN, a composição da maioria dos SNs das três
amostras não se revelou muito complexa: SNs com poucos itens lexicais (2 a 3 itens), com
poucos encaixes (1 a 2 encaixes) e apenas um argumento projetado.
Apesar de o LD obedecer a norma padrão culta e ser um discurso planejado (OCHS 1979), os
textos dos LDs, no geral, não apresentam traços de gêneros mais formais ou acadêmicos. Os
tópicos costumam ser desenvolvidos em poucos parágrafos, com retomadas dos referentes
preenchidas – inclusive em contextos de alta continuidade tópica e sem a interferência de outros
personagens – frequentemente, favorecendo a repetição e predomínio de SNs de baixa
complexidade. Uma possível explicação para o baixo número de ocorrências de SNs complexos
seria o interesse em aproximar-se mais do público alvo do gênero que compõe a amostra,
leitores pouco familiarizados com textos mais complexos e, ao mesmo tempo, mais habituados
a uma leitura mais “rápida”, de textos digitais.
Referências:
CAVALCANTE, Mônica Magalhães; CUSTÓDIO FILHO, Valdinar e BRITO, Mariza
Angélica Paiva. Coerência, referenciação e ensino. São Paulo: Cortez, 2014
GIVÓN, T. Topic continuity in discourse: The functional domain of switch-reference. Em: John
Haiman & P. Munro (eds) Switch-reference and universal grammar.
Amsterdam/Philadelphia, John Benjamins, pp.51-82, 1983.
OCHS, E. Planned and unplanned discourse. Em:Syntax and semantics, vol. 12: Discourse
and syntax, ed. by T. Givon. New York: Academic Press, 1979.