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Desvendando o calendário Maia p. 03 As divergências no meio científico p. 12 O que defendem as religiões p. 14 Lucro do entretenimento no fim do mundo p. 20 Regressiva Contagem

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Jornal Laboratorio do Curso de Jornalismo da UFMS

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Desvendando o calendário Maiap. 03

As divergências no meio científico p. 12

O que defendem as religiões

p. 14

Lucro do entretenimento no fim do mundo

p. 20

RegressivaContagem

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Jornal Laboratório do Curso de Jornalismo da UFMS - 2 Editorial

Senhores do tempoOpinião

Izabela Sanchez

Fim. Fim da vida, fim dos tempos. Nosso fim. Seria tão trágico assim? É imprescindível o fato de nos preocupar-mos com o fim? Quem não se preocupa é o que? Louco? Suicida? “Não tem amor à vida?”

Quando nos propusemos a escre-ver essa edição, com todas as possíveis perspectivas do fim coletivo, comecei a refletir sobre finais, sobre acabar. E por mais contraditório que pareça, a única certeza de nossas vidas é a que mais nos atormenta: a morte. Oh, e agora?

Tudo que é vivo vai morrer, não importa como. Ninguém sobrevive à visita cruel do tempo. Todos sabemos disso, todos convivemos com isso, mas ninguém quer pensar. E ainda mais: todos nos esquecemos.

Vivemos como se fossemos eter-nos, nos arriscamos no fluxo do dia a dia, nas mais variadas aventuras como se fossemos imortais. O homem sempre tentou domesticar o tempo para que não deixasse que sua rede inevitável o alcançasse. Inventou a política, os livros, o amor social. Convive pra se esquecer de que vai morrer. Mas observando nossa geração, isso nunca me pareceu tão intenso. Comprimimos o tempo e nossas relações.

O tempo passa mais rápido, não é o consenso geral? Cada, ano vai embora a uma velocidade sempre maior, em um piscar de olhos. Opa, passou. Mas o tempo, na verdade, é o mesmo. O que mudou, é o que fazemos dele. Nunca tentamos ser tão donos do tempo como somos hoje. Primeiro veio o relógio, que cronometrou as relações sociais, princi-palmente as de trabalho. Estas, porém, com o tic-tac sempre nos ouvidos, aca-baram por enlaçar e definir as outras. O trabalho é o grande senhor: todo o resto obedece seu tempo enjaulado. A partir daí, nossa sociedade do progresso conseguiu o “impossível”: domesticou, com tecnologias, não mais a sua força física, mas sua força intelectual.

De modo racional podemos nos relacionar e nos organizar com tecno-

logias que não deixam a tão perigosa vontade, controlar nossas relações. A tão falada comunicação teve seu apogeu. Afinal, o que fazemos com o tempo, com o espaço, com tudo a nossa volta? “Comunicamos”. Ou pelo menos assim pensamos.

Com nossos inteligentes celulares, tablets e etc (você já conhece toda a pa-rafernália), colocamos no grande palco mundial, tudo que quisermos contar. Tentamos além de alcançar o tempo e moldá-lo, também nos apoderarmos de seu espaço e, com muita destreza, tentamos divorciar esse casamento que sempre foi o mais durável.

Conseguimos conversar com al-guém na China e pegar um ônibus em Campo Grande. Que poder! “Estamos em vários lugares ao mesmo tempo”. Temos um sortido de pequenos tempos comprimidos a nosso bel prazer. E nes-sa torrente inevitável, ainda podemos nos divertir, ah, e claro, esquecer nosso fatídico fim. Flutuamos em um frenesi de imagens e sons que nos ofertam as sensações que nossas relações apertadas na caixa tempo-espaço, não podem mais nos oferecer. E com isso, convivemos, tão acostumados, que se tornou uma instituição. Nada mais é fechadinho em si, concentrado. Você pode trabalhar em casa e se entreter no local de trabalho.

Somos bondosos, os imortais que dão sentido ao tempo, simultaneidade ao espaço e diversão às massas. Você pode rir de tudo, rir da morte também. [Ele foi atropelado e parece tão próxi-mo, mas é só mais um]. O movimento eterno, a corrida, ainda continuam, pode voltar a rir.

Opa, mas eis que vem a corda da vida, com todo esse ritmo amarrado em si: a possibilidade da morte coletiva. Isso nos assusta, porque acaba não só com nosso suposto poder sobre o tem-po, acaba com o próprio tempo.

No entanto, fiquemos tranquilos, afinal, nós, e nossos superpoderes, já sobrevivemos a outras possibilidades como essa e cá estamos. Ainda temos mais uns dias de eternidade, aprovei-temos.

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É o fim.Fim? Tem certeza? Que nada, para nós é apenas o começo. O Projétil é uma espécie de baile de debutante, uma apresentação

para sociedade, um evento que demanda preparação, atenção, muita dor de cabeça e, por fim, a comemoração: uma edição para chamar de nossa.

Esta nasceu de maneira tão natural, descontraída e empolgante que só depois do compromisso firmado nos demos conta do quão desafiadora ela seria. Uma edição temática, com tempo reduzido e a descrença: “essa edição não sairá a tempo, eles não vão dar conta”.

...Ha! Sério?Pautas, pesquisas, algumas entrevistas concedidas, outras negadas,

muitas horas em frente ao computador, outras tantas horas de falta de inspiração, noites em claro, um pouco de desespero, mas muitas risadas e a felicidade de termos conseguido.

Se o mundo vai acabar? Só esperando para saber. Mas garantimos que, caso isso ocorra, você terá muita coisa para pensar antes do adeus. E uma última leitura extraordinária.

Jornal Laboratório do Curso de Comunicação Social – Jornalismo da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul – Produzido pelos acadêmicos do 4° semestre de Jornalismo, sob orientação dos

professores Juliana Feliz (Redação Jornalística IV), José Marcio Licerre (Planejamenmto Gráfico III), Mario Luiz Fernandes (Edição I). Editores-chefes: Carla Scarpellini e João Marcelo Sanches.

Editor de diagramação: Gustavo Arakaki. Editor de fotografia: Daniel Lacraia – Produção: Amanda Amaral, Ana Lívia Tavares, Ana Luiza Vieira, Brunna Amaral, Carla Scarpellini,

Cecília Paes, Daniel Lacraia, Denise Menezes, Gilvana Hobold Krenkel, Gustavo Arakaki, Izabela Sanchez, João Marcelo Sanches, Lays Colombelli, Michel Lorãn Ribeiro,

Rosália Prata, Saulo Maciel, Thaís Lopes Pimenta, Thamires Mulatinho e Yasmin Rezende Saraiva.

Correspondência: Jornal Projétil / Especial Fim do Mundo – Curso de JornalismoCentro de Ciências Sociais – Cidade Universitário S/N° - Cep 79070-900 – Campo Grande, MS.

Fone (67) 3345-7607 – E-mail: [email protected]: 5000 exemplares. Impressão: Feitosa e Cia Ltda. (Contrato 13/2012)

As matérias veiculadas não representam necessariamente a opinião da UFMS ou de seus dirigentes, nem da totalidade da turma.

Boa leitura!

www.ufms.br/jornalismo

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3 - Jornal Laboratório do Curso de Jornalismo da UFMS Calendário Maia

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Gilvana Hobold KrenkelYasmin Rezende Saraiva

Vinte um de dezembro de 2012. Fim do planeta ou início de uma nova

era para a humanidade? O fim dos tem-pos seria por meio de uma catástrofe? Seria o começo de um novo mundo ou a chegada do próximo ano solar? Segundo o Livro Sagrado dos Maias, o mundo já

foi destruído quatro vezes e estaria, ago-ra, na sua quinta era. Motivos? Segundo eles, a ausência de harmonia entre o ser humano e a Terra.

A polêmica de que o calendário

Maia marca o apocalipse surgiu em 1975, mesmo que o fim do 13º ciclo já estivesse marcado há séculos. Em junho de 1957 o astrônomo Maud Worcester Makemson escreveu que [a realização

Fim do mundoou nova Era?

As teorias por trás do calendário Maia

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Jornal Laboratório do Curso de Jornalismo da UFMS - 4 Calendário Maia

do Grande Período de 13 b’ak’tuns será da maior importância para os Maias] no Publications of the Vassar College Ob-servatory. Mas somente nove anos de-pois Michael D. Coe afirmou no dia do décimo terceiro b’ak’tun, o último ciclo, o universo seria aniquilado. Desde então previsões apocalípticas concordando com Coe surgiram, e com elas objeções vindas de estudiosos do mundo inteiro, porém foram esquecidas no decorrer dos anos. Com a aproximação do ano de 2012 o assunto ocupou espaço na mídia e fez com que as pessoas acreditassem que o fim do mundo, de fato, estaria próximo.

Para Ana Carla Loureiro, jornalista com interesses em tradições antigas, a mídia trata dos rumores sobre o fim do mundo da mesma maneira que trata os demais assuntos: “Os veículos atuam com o intuito de venda, muita vezes sendo até um pouco sensacionalistas. Esse assunto geralmente é abordado de forma rasa, sem demais explicações, justamente para criar polêmicas”.

Devido aos constantes comentá-rios, a NASA (National Aeronautics and Space Administration) se pronunciou diante desse assunto, divulgando um vídeo em março deste ano, no qual o cientista Don Yeomans afirma que 2012 não será o último ano de vida do planeta. No vídeo ele desmente várias teorias, inclusive a possibilidade de que uma mudança magnética polar pode

mudar a trajetória do globo terrestre e a possibilidade de que uma labareda solar irá nos consumir.

Segundo Douglas Andrade Barbo-sa, coordenador estadual da AGEACAC – MS (Associação Gnóstica de Estudos Antropológicos e Culturais, Arte e Ciên-cia), para os Maias não há confirmação sobre o fim do mundo em si, mas em suas profecias falava-se sobre o térmi-no do mundo como o conhecemos. “Os Maias afirmam textualmente que 21/12/2012 marca o fim da contagem longa, e também o alinhamento do nos-so planeta com o Sol do nosso sistema solar com Alcione (o sol da Constelação das Plêiades), e deste também com o Sol Sírio, que é o sol da nossa galáxia.

Assim como os Maias, os Astecas também previam um fim para a nossa civilização e apesar de não fazerem menção um ao outro, possuem também um calendário. (figura 1)

O início do calendário Maia teve uma “data zero”, que define o fim do mundo anterior e o início do atual. Essa data corresponde a 13 de agosto de 3.114 a.C. no calendário gregoriano, assim como o primeiro dia da era cristã é marcado pelo nascimento de Jesus Cristo. Segundo eles, estamos no ano 5.125, que marca o final do último ciclo atual do calendário Maia. Este símbolo era apenas um entre os utilizados por esta civilização que não possuía uma ideia linear de tempo, mas acreditava na

Reprodução do calendário Asteca, feita em concreto por Vinícius Pires Teixera em Campo Grande (MS)

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Templos de Kukulcán

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contagem cíclica natural dos dias. Seus rituais e cerimônias eram associados a ciclos celestiais e terrestres, sendo ob-servados e registrados em calendários separados. Era a tarefa dos Sacerdotes interpretar e fazer um panorama profé-tico sobre o futuro, levando em conta o passado, tomando como base esses calendários.

Várias de suas cerimônias estavam ligadas a essa mentalidade cíclica. Seus deuses não eram entidades separadas e não existia a adoração de somente um, e sim uma variação conforme a época do ano. Para eles não existia conceito de certo ou errado, bem ou mal, tudo girava em torno de suprir as necessidades dos deuses. O mundo teria uma existência frágil, por isso exigia oferendas que mantivessem seu equilíbrio.

Vinicius Pires Teixera, presidente da AGEACAC, pesquisador da área de Antropologia, afirma que os Maias acreditavam que o fim desse ciclo resul-taria no começo da formação de uma nova civilização, com princípios novos e renovados. Não era considerado o fim de um mundo, mas de um sistema de vida, pois já afirmavam que eram

descendentes de uma civilização anterior.

Através dessa visão de natu-reza cíclica, muitos rituais esta-vam ligados aos finais e inícios dos ciclos. Para esta conti-nuidade era necessária a junção entre o sis-tema Tzolk’in ( c a l e n d á r i o sagrado, equi-valente há 260 dias) e o Haab’ (calendário solar agrícola, de 365 dias). Este perí-odo era conhe-cido como um dos ciclos do calendário e não se re-petia antes de 52 anos, o que exce-dia muito a expectativa de vida da popula-ção na época. A cada final eram

realizados rituais espe-rando que os deuses concedessem outro ciclo.

Douglas Bar-bosa afirma, uti-l izando como base os estudos gnósticos do antropólogo Samael Aun Weor, que o próximo Ka-tun, ou ciclo, (que inicia-

se a partir de 21/12/2012), será

um tempo de dificuldades, como uma preparação para uma Nova Era. Assim como nas profe-cias, o b’ak’tun explica o colapso da humanidade como a conhecemos.

As pirâmides Maias eram observatórios astronômicos li-gados aos seus calendários. Sua principal pirâmide, o Templo de Kukulcán (“Serpente Em-plumada” na língua maia), era

um gigantesco calendário. Com

uma escadaria que possui 91 degraus de cada lado, que somados ao patamar do topo dá um total de 365 degraus. Eles representam os dias do Haab, ou seja, o mesmo valor de dias do ano solar. Essa pirâmide não somente foi dedicada ao deus Kukulcán, mas também observava a contagem do tempo dando particular relevância aos seus ciclos. Os 52 painéis esculpidos nas suas paredes se referem aos anos do ciclo de destruição e recons-trução do mundo, segundo a tradição.

Os Maias produziram observações extremamente precisas sobre a lua e os planetas, constatações que perma-necem atuantes no cenário cientifico atual, mesmo sem possuírem métodos de observação avançados. Suas ideias e teorias visionárias encontraram meios de consagração reais. Porém, para eles essa data, 21 de dezembro de 2012, marca apenas um fim e o começo de um ciclo, assim como 31 de dezembro marca o encerramento de um ano e o início de outro.

[email protected][email protected]

Império MaiaConsiderados uma das civilizações mais misteriosas do continente

americano, os Maias ficaram conhecidos por sua língua escrita, arquitetura, matemática e sistemas astronômicos desenvolvidos.

Através de seu sistema rotativo de tratamento do solo, a agricultura tornou-se a base de sua economia. Porém o que mais impressiona sobre a cultura é o seu complexo sistema de escrita e conhecimento dos astros.

O sistema de escrita maia é uma combinação de símbolos fonéticos e ideogramas, sendo o único do novo mundo pré-colombiano que representa o mesmo grau de eficiência, tanto na escrita quanto na fala.

Os maias também desenvolveram o conceito de zero e produziram observações sobre a lua e os planetas, extremamente precisas e superiores aos de qualquer outra civilização da época. Muitos de seus templos tinham janelas e miras com funções específicas para essas observações.

Já quando o assunto era religião eles acreditavam na existência de três

planos principais no cosmo: a Terra, o céu e o submundo. O sacrifício de humanos e animais era utilizado como forma de manter, ou renovar, sua relação com o mundo dos deuses. As crianças eram as vítimas mais comuns destes sacrifícios, já que eram um símbolo de pureza.

Entre os séculos IX e X, os Toltecas invadiram e dominaram as regiões aonde se localizavam o povo Maia e por volta do século XIII as cidades en-traram em colapso, não existindo, até hoje, uma explicação lógica para o fim da civilização Maia. Algumas teorias acreditam na invasão de estrangeiros, revoltas da população, desastres ambientais ou doenças. Atualmente a teoria mais aceita é a de que uma seca, que durou mais de dois séculos, tenha sido a causa.

Fonte: Brasil Escola (www.brasilescola.com) e Info Escola (www.infoescola.com)

VOCÊ ACREDITA?O QUE É, E O QUE FAZER?

Veja opiniões e posicionamentos sobre o Fim do Mundo nos rodapés das páginas!Enquete e fotos por Gilberto Britez - [email protected]

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Jornal Laboratório do Curso de Jornalismo da UFMS - 6

Descoberta na Guatemala desmente crença Maia

Grupo de pesquisadores diz ter localizado calendário mais antigo da civilização

Cecília Paes

“O grande problema dos estudos arqueológicos que dizem respeito a povos já extintos é que, apesar de todo o trabalho, tudo é muito ‘amostral’, não se trabalha uma totalidade histó-rica, mas fragmentos que muitas vezes não se encaixam ou se contradizem”. É assim que Leonardo Padilha Filho, historiador de Campo Grande (MS), inicia sua opinião sobre o suposto “novo” calendário Maia descoberto na Guatemala.

A história sobre a qual Leonardo comenta, vem acontecendo nas ruí-nas da cidade de Xultún, no país da América Central, onde um grupo de arqueólogos da Universidade de Bos-

ton, liderados pelo historiador William Saturno, acredita ter localizado, em maio deste ano, pinturas e gravuras do que seria o calendário Maia mais antigo já encontrado no mundo.

Antes da descoberta, acreditava-se que o calendário do povo pré-colom-biano tinha apenas 13 ciclos (Baktuns), que terminariam em dezembro de 2012. A situação estudada em Xultún, revela, porém, 17 ciclos. Acabaria, en-tão, a teoria de que mundo chega ao fim no dia 21 de dezembro mês deste ano.

As escrituras e desenhos encon-trados pela equipe, no que seria um templo religioso, foram estimados ser do século IX. São 400 anos mais anti-gas que os calendários conservados nos códices (escritos em papel de crosta

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A descoberta teria acontecido em ruínas da cidade de Xultún

Série de cálculos correspondem aos ciclos

Pesquisa

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de árvore que serviam de base para os estudos Maias).

“Os pesquisadores dessa área fazem suas investigações nos sítios arqueológicos, escavando com todo o cuidado possível. São avaliados os objetos, as posições e lugares em que são encontrados, para que a reconsti-tuição das épocas antigas possam ser as mais precisas. O processo começa com uma investigação completa, tanto bibliográfica quanto analítica sobre o que já foi encontrado daquela cultura. Mesmo assim, são praticamente ine-xistentes casos em que se possa ter absoluta certeza sobre os significados” explica Padilha.

Os responsáveis pela investigação acreditam que uma das paredes das ruínas da cidade guatemalense contém uma série de cálculos que correspon-dem ao ciclo lunar. Os hieróglifos, sinais e códigos da escrita de determi-nada civilização antiga, de uma segunda coluna do local estariam relacionados aos ciclos de Marte, Mercúrio e, muito

provavelmente, Vênus. Essas corres-pondências lembram que os Maias estudavam os “calendários” de diversos planetas, não apenas do nosso.

Em entrevista divulgada pelos meios de comunicação americanos, o chefe das pesquisas, William Saturno, afirma que pela primeira vez na histó-ria, pode-se ver o que seriam registros autênticos de um escrivão, cujo trabalho consist ia em ser o encar-regado oficial de documen-tar tudo o que acontecia em uma comuni-dade Maia.

A pesquisa continua aber-ta e ainda resta explorar grande parte das ruínas de Xultún para que se possa determinar de que tipo de ambiente se tratava e

o que está representado e escrito, de fato, no local.

Douglas Andrade Barbosa, coorde-nador estadual da Associação Gnóstica de Estudos Antropológicos e Culturais, Arte e Ciência (AGEACAC – MS), explica que a grande questão em torno do assunto é de que as profecias Maias apontam que no 13º ciclo ocorrerão

diversas epide-mias, guerras e degeneração humana, não necessariamen-te um fim com-pleto.

“Os Maias também acre-ditavam na lei da recorrência, em que os fatos tendem a repe-tir-se no tempo

cíclico. Suas profecias foram baseadas em acontecimentos nos respectivos bak-tuns anteriores”, acrescentou o repre-

sentante da AGEACAC. “Há inúmeras evidências entre o que foi escrito e os fatos que a humanidade tem presencia-do ultimamente”, conclui Douglas.

Com toda a agitação criada pelo calendário que determinaria o fim do mundo neste ano, líderes Maias da América Latina chegaram a ir para Los Angeles (EUA), para também desmentir a confusão sobre o “fim” no décimo terceiro Baktun. “De acor-do com o calendário da nossa cultura, este ano de 2012 será marcado por uma mudança de ciclo, que foi iniciado há 5.125 anos”, disse, em entrevista à agência Efe, Marte Trejo, historiador e astrônomo mexicano. “Essas diferen-tes interpretações foram provocadas por alguns meios de imprensa e por algumas pessoas que não souberam explicar, ao certo, sobre o que é real-mente a visão maia do mundo, de união entre natureza e Deus”, finaliza.

[email protected]

“Os Maias acreditavam na lei da recorrência, em que os fatos tendem a repetir-

se no tempo cíclico”

Douglas Barbosa AGEACAC – MS

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À direita, William Saturno, líder da equipe de pesquisadores que participa de todas as atividades no local

Lúcia Janice da Silva Barros, 41 Professora/ Kardecista- “Eu não acredito, não tem cabimento. Eu acredito que vai acabar dia 21 pra quem morrer. Acredito que pode haver renovações, mas não haverá extinção da Terra.”

Laura Holsbach, 23Estudante

- “Eu acredito que dia 21 será o marco da nova era, o despertar de uma nova consciência, novas energias fluindo.”

Pesquisa

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Quando procuramos por uma imagem do calendário Maia, nos deparamos com aproximadamen-te 23 milhões de resultados que nos levam ao calendário errado, por exemplo, o Asteca. Essa infor-mação faz a maioria das pessoas confundirem os calendários, já que os dois possuem crenças parecidas.

Aqui em Campo Grande – MS, o interesse e conhecimento sobre a cultura Asteca levou o enge-nheiro civil Vinícius Pires Dias a esculpir a mão uma réplica fiel, de 6 metros, do calendário Asteca ou Pedra do Sol. A escultura feita em concreto fica localizada no quintal de sua casa. Vinícius con-tou com ajuda de alguns amigos e demorou cerca de dois anos para concluir o trabalho.

[email protected][email protected]

Chac Mol, estátua originária da cidade Maia Chichén Itzá, encontrada também próximo de templos taltecas Calendário Asteca, também conhecido como Pedra do Sol

Exclusivo / Curiosidade

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Fanáticos religiosos induzem fiéis ao suicídio

Denise MenezesRosália Prata

Induzir e influenciar pessoas com profecias é um recurso utilizado por falsos profetas. Em muitos casos, são movidos por fanatismo religioso, in-teresse econômico ou político. Esses, acreditando ter o poder de determinar o dia do fim do mundo, indicam previsões que não se confirmam, mas mesmo assim essa crença é difundida e impreg-nada na mente de muitas pessoas.

Por vezes, adeptos desses seg-mentos religiosos são conduzidos a se desfazerem de seus bens, renegarem suas famílias, odiar minorias, perseguir membros de outras religiões e, em situação extremas, cometem suicídio coletivo. Em todos esses desvios de comportamento está um componente perigoso, quando usado para subjugar a consciência individual: a doutrinação religiosa ou ideológica, que pode ser o primeiro degrau para o fanatismo.

Esses falsos profetas muitas vezes adotam métodos que induzem os faná-ticos religiosos em nome da salvação. Todo o processo de doutrinação é, em grande parte, dirigido por técnicas de persuasão, com o objetivo de manter o controle sob seus seguidores. Tais téc-nicas fazem parte da identidade dessas organizações. As pessoas conduzidas por esse fanatismo buscam uma vida melhor, com a crença de poderem ir

Falsosmercadoresprofetas

da fépara outro plano, considerado superior ou até mesmo outro universo.

O suicídio coletivo mais conhecido ocorreu na Guiana, em 1978, sob as ordens de Jim Jones, um americano adepto da miscigenação racial e do comunismo. Misturando seus ideais, criou a seita Peoples Temple (Templo dos Povos) e lá, em uma comunidade isolada, 918 pessoas tomaram veneno com a promessa de salvação.

De acordo com a psicóloga Aida Netto, os líde-res religiosos possuem um alto poder de persuasão e a capacidade de utilizar a co-municação para tirar proveito de outras pes-soas, em mui-tos casos com pretensão eco-nômica. Isso também pode ser consi-derado um desvio de base, ou seja, um comportamento de fundo patológico, como alguns tipos de doença mental e psicopatia.

O fundador da seita Heaven’s Gate, Marshall Applewhite, e seus 38 seguidores, praticaram suicídio cole-tivo em 19 de Março de 1997, com a aproximação do cometa Hale-Bopp da Terra. Eles tomaram uma dose letal de

barbitúricos (composto usado como antiepilépticos, sedativos e hipnóticos que tem uma pequena margem de se-gurança entre a dosagem terapêutica e tóxica) com molho de maçã, pudim e vodca, pois acreditavam que junto ao cometa, escondia-se uma nave espacial que transportava Jesus Cristo.

O líder religioso Harold Camping, que fundou nos Estados Unidos o mo-vimento cristão Family Radio Worldwi-de, utilizou várias passagens da Bíblia

e acontecimen-tos históricos para af ir mar que o dia do ju-ízo final estaria próximo. Ele fez sua primei-ra previsão para 21 de maio de 2011, quando chegou a data, nada aconte-ceu, então foi

marcado um novo dia para o presságio, 21 de outubro do mesmo ano.

Este episódio perturbou muitas pessoas e notícias veiculadas na época, afirmaram que uma adolescente russa de 14 anos cometeu suicídio na data prevista pelo religioso. Segundo a pro-fecia de Camping, os seguidores seriam arrebatados ao céu antes do apocalipse e aqueles deixados para trás, na Terra, iriam sofrer com desastres que culmi-

nariam com a destruição do mundo, em 21 de outubro de 2011.

No Brasil, um falso profeta no Piauí anunciou que o fim do mundo aconteceria em 12 de outubro de 2012. O fanático religioso Luís Pereira man-tinha seus seguidores abrigados em um único local. Todos abandonaram suas casas, seus empregos e a família, pas-sando a viver na suposta casa de oração.

Populares que não participaram da concentração, planejaram linchar o líder. Foi preciso a tropa de choque dis-persar os moradores. É possível que as pessoas que estavam no local pudessem ser envenenadas, já que a polícia, após a invasão da residência encontrou uma grande quantidade de veneno na casa.

Aida Netto explica que as causas que levam os indivíduos, seja de forma isolada ou em grupos, a cometerem o suicídio podem ser muitas: falta de autoestima, perfil autodestrutivo, fana-tismo, solidão, animosidade agressiva – principalmente dirigida a si próprio - depressão, apatia e melancolia. Elas são provenientes de diversos fatores, entre eles o biológico, genético e psicológico, além do social A psicóloga acrescenta que pessoas que não suportam a pres-são da realidade, mudanças, perdas ou tem tendências mórbidas são facilmen-te influenciadas.

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da esq. para dir.: Luís Pereira, Marshall Applewhite, Jim Jones e Harold Camping.

“Pessoas que não suportam a pressão

da realidade são facilmente influenciadas.”

Fanatismo

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Daniel LacraiaThamires Mulatinho

O fim está próximo. Isso de acor-do com a civilização Maia. Estudos realizados para decifrar o calendário mais estudado nos últimos anos, es-tabelecem a data do apocalipse para o dia 21 de dezembro deste ano. Devido à proximidade desta data, um alvoroço foi criado, incitando o medo nas pessoas. Florescem nos meios de comunicação, principalmente na internet, informações sobre o fim dos tempos. São documentários, filmes, sites “especializados” em sobrevivência de tragédias, entre outros. Entretanto, a ideia de fim do mundo é antiga, seja ela devido a uma inspiração divina,

contatos com seres extraterrestres ou estudos astronômicos.

Ao longo do tempo, profetas confabularam ideais, previram aconte-cimentos a serem realizados e decreta-ram datas para o fim da humanidade. O que se sabe, no entanto, é que nenhuma previsão foi concluída até a presente data. Estas ideias, independente da época que foram tecidas, causaram polêmicas.

A religião é um dos assuntos mais comuns nas teorias. O Cristianismo, como uma das maiores doutrinas, não está de fora. Ainda no século I acredi-tava-se que aconteceria o apocalipse, devido a uma interpretação literal do Novo Testamento bíblico que diz que o “Filho do Homem chegaria durante

o período de vida das pessoas que o ouviam”, Mateus 16:28.

As hipóteses envolvendo a vinda de Jesus não param por aí. Teóricos do apocalipse afirmaram que isto acon-teceria mil anos após o nascimento de Jesus. Tendo esta data passado, o que foi dito é que o correto seria mil anos após a morte de Cristo. Mais à frente Melchior Hoffmann, um profeta anabatista (aquele que acredita que o batismo só deveria acontecer na fase adulta), afirmou que apocalipse seria um milênio e meio após a morte de cristo, prevendo a data de 1533.

Testemunhas de Jeová aguar-daram ansiosamente o Armagedon, batalha final de Deus contra a huma-nidade, para o ano de 1914. “Tendo

em vista a forte evidência da Bíblia, consideramos como uma verdade es-tabelecida que o fim cabal dos reinos deste mundo e o estabelecimento total do Reino de Deus na Terra se reali-zarão no final de 1914”, (Estudos das Escrituras 2, pp. 76, 78 e 285 versão em espanhol]).

Eis que passou o ano previsto e eles adiaram a data para 1918, depois para 1925, 1941 e 1975. Hoje acredi-tam que Jesus voltou na primeira data enunciada, em 1914, porém de forma invisível e não houve batalha alguma.

Quem profetizou também foi Edgar Cayce, nascido em 1877, conhe-cido como pai da medicina holística ou profeta adormecido, pois quando fazia suas previsões, estava em estado

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Visões, trombetas e a anunciação de um novo destino

História

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de transe e não lembrava nada depois. Cayce, quando perguntado, em 1832, sobre os acontecimentos para os pró-ximos 50 anos, afirmava que aconte-ceriam catástrofes causadas por forças que agem sobre a Terra. Pois o eixo da mesma se deslocaria, os pólos ficariam em outra posição e devido a uma série de terremotos, os continentes se parti-riam e o continente perdido Atlântida ressurgiria.

Um dos maiores estudiosos da hu-manidade, o francês Nostradamus, em seu livro Les Propheties (As Profecias), previu para o ano de 1999 um apoca-lipse. Com reações comparáveis ao que está acontecendo hoje com os Maias, o visionário decretou o fim do milênio. “No ano 1999, sétimo mês. Do céu virá o grande rei do terror”, célebre frase de Nostradamus. Mas, estudos afirmam que o profeta, desde que começou a publicar suas visões, utilizava figuras de linguagens com a intenção de con-fundir a Inquisição. Devido a esta ação, surgem dúvidas e seus pensamentos são reescritos e estudados, na busca de uma fiel interpretação.

A última virada de milênio tam-bém causou preocupações. Devido à crença que se espalhou pela população de que esta seria a data apocalíptica. Muitos acreditavam que o os compu-tadores não conseguiriam diferenciar o ano 2000, mesmo não sabendo o real sentido desse prelúdio.

Embora alguns sistemas mais modernos já fossem capazes de reco-nhecer a nova data, chegaram anunciar que blecautes e desastres estavam por vir. O alarde tomou conta e as pessoas se prepararam para ocasião. Cresceu o número de vendas de arma e a construção de bunkers, abrigo subterrâneo blindado ou fortificado, que ajudaria na sobrevivência após a

suposta catástrofe. No fim, o ano mu-dou e, isoladamente, alguns problemas computacionais ocorreram, mas nada que pode ser considerado apocalíptico.

Em 5 de maio do mesmo ano, é retomado o temor pelo caos. O motivo seria o alinhamento dos planetas Marte, Júpiter, Saturno, Mercúrio e Vênus, com o eixo da Terra, o que levaria, segundo os especialistas, ao fim do planeta.

A virada do milênio trouxe de vol-ta a teoria de mil anos antes. Teóricos do apocalipse afirmaram, desta vez, que o juízo final aconteceria 2000 anos após o nascimento de Cristo. Tendo falhado, investiram na mesma desculpa de um milênio antes, seriam 2000 anos após a morte do messias, em 2033. Se a de 2012 der errado, já temos mais uma data a esperar.

O céu, antes de 2000, já causava medo. No ano de 1910 estava previsto a passagem do cometa Halley, causando um misto de curiosidade e tensão entre os norte-americanos. Estava presente no imaginário das pessoas que a Terra corria perigo, chegando a anunciar que os gases que compunham o cometa eram venenosos e iria intoxicariam toda a população. O alarde só foi contido quando cientistas especializados se pronunciaram sobre o assunto.

Após vários séculos de profecias não concluídas, de tempos em tempos surgem novas teorias para o fim. Uma das mais recentes foi a do piramidólo-go Peter Limoserier, que encontrou na Pirâmide de Gisé o que seria a história da humanidade, explicado da seguinte forma: as passagens no interior da pi-râmide representariam a passagem da humanidade pela Terra. Pois quando se compara a malha viária dessas pas-sagens com o perfil da história, vira uma extraordinária coincidência. Ele

calculou que cada polegada desses caminhos equivalesse a um ano de história. Ao chegar na câmara subterrânea da pirâmide, onde há um poço sem fundo. Segundo Limoserier “pa-rece nos encarar sem subterfúgio [...] um colapso total das civi-l izações, por volta do ano de 2004, com um er ro de dois ou três anos”.

A p a l a -vra profec ia vem do grego prophetéia e do latim, prophetia, significando predi-ção do futuro, aquilo que se crê por inspiração divina, anúncio de aconteci-mentos futuros, segundo a definição do dicionário da língua portuguesa Houaiss.

O divino é uma fonte inspiradora ao fim dos tempos. Na Bíblia, há es-crituras a respeito da anunciação do apocalipse, que quer dizer revelação. Revelação essa, que foi dada a João por um anjo cumprindo as ordens de Deus. Em suas escritos, João, um dos seguidores de Jesus Cristo, viu sete anjos ao lado de Deus, empunhados por trombetas e cada anjo anunciava um acontecimento. Na sexta revelação, o profeta viu que quatro anjos presos no rio Eufrates, sairiam da entranha da Terra e levariam um terço da humani-dade ao fogo, ao fumo e ao enxofre, causando suas mortes, seja por into-

xicação, pelo calor ou pelo fogo. “E tocou o sétimo anjo a sua trombeta, e houve no céu grandes vozes, que diziam: O reino do mundo passou a ser de nosso Senhor e do seu Cristo, e ele reinará pelos séculos dos séculos” (Apocalipse 11:15).

Agora, enquanto as datas apoca-lípticas não chegam, ou falham, o que nos resta é continuar nossas vidas, independente se uma nova profecia surja no dia.

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Vinicius Ferreira Mendes, 24 Publicitário- “Na filosofia oriental, fim do mundo significa fimde uma época e começo de outra e nósestamos saindo de uma era pra entrar em outra.”

Carlos Marun, 52Deputado Estadual

- “Se nem nós sabemos, como o Maias sabiam?”

Reprodução artística do profeta

francês Nostradamus

História

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Jornal Laboratório do Curso de Jornalismo da UFMS - 12 Ciência

Ana Lívia TavaresCarla Scarpellini

Não há quem não tenha ouvido falar no calendário Maia e em sua tão temida profecia de que o mundo irá acabar no dia 21 de dezembro de 2012. Mas como isso ocorreria? Seria a extin-ção da espécie humana e de tudo aquilo que conhecemos no planeta Terra? O que a ciência tem a dizer sobre isso? As opiniões são incontáveis e divergentes, mas merecem atenção.

Desde que começaram estas es-peculações, os cientistas têm dedicado parte de seu tempo para desmistificar a previsão e tranquilizar a população, pelo menos por enquanto. O fato é que o “fim” pode até não ser em 2012,

mas teorias científicas comprovam que daqui a bilhões de anos o planeta pode estar fadado à morte.

Asteroides, glaciação, uma explo-são solar, consequências da expansão do universo, choque entre galáxias, alinhamento dos planetas e o conhe-cido aquecimento global, são algumas das possibilidades consideradas plau-síveis para a ciência, mas é impossível determinar uma data ou qualquer um destes fatos.

Vivemos na maximização do Princípio da Incerteza, enunciado pela física quântica, inicialmente desenvol-vido pelo físico Werner Heisenberg e aplicado às partículas subatômicas. Ele diz, de forma simples, que não se pode definir com exatidão e simultane-

amente o momento e a posição de uma partícula. Conformemo-nos. Nossa única certeza é a incerteza.

Em quem acreditar?

Segundo Marcelo Ribeiro, pes-quisador e editor do HypeScience, site de notícias e curiosidades científicas e tecnológicas, a causa natural conside-rada mais provável são os asteroides. “Já sabemos que no passado grandes asteroides atingiram a Terra e o fazem com frequência. Ainda não temos certeza que foram exatamente a causa de extinções em massa, isto é possível se o asteroide for grande o suficiente, mas é difícil monitorar.”

Em resposta a algumas dessas teo-rias, a NASA (National Aeronauticsand

Space Administration; Administração Nacional da Aeronáutica e do Espaço) divulgou um vídeo onde o cientista Don Yeomans comenta sobre cada uma das hipóteses mais conhecidas e explica por que elas não irão se con-cretizar.

Ele afirma não acreditar em um recente choque de asteroides ou qual-quer outro astro com a Terra, sem que alguém já pudesse ter notado esta aproximação. “Tem gente que acredita que a NASA está escondendo essas informações, mas existem milhares de astrônomos fora da organização que olham para os céus todas as noites. Com certeza, eles teriam notado essa movimentação”, argumenta Yeomans.

Sobre o alinhamento dos planetas,

Cientistas e pesquisadores divergem em hipóteses sobre o fim do mundoe perguntas sobre “como” e “quando” continuam sem respostas

Ciênciaem desacordo

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13 - Jornal Laboratório do Curso de Jornalismo da UFMS Ciência

uma das especulações mais fortes entre a população, o cientista é enfático: “não há nenhum alinhamento previsto para o fim de 2012. Mesmo que houvesse uma movimentação do gênero, outros planetas não poderiam afetar as marés. Os únicos corpos celestes capazes de fazer isso são a Lua e o Sol, como aprendemos nas aulas de geografia”.

De quem é a culpa?

Dentre todas essas teorias há uma que, de acordo com alguns estudiosos, pode ser considerada mais alarmante por já estarmos no meio do processo: o aquecimento global. Este aquecimento é consequência das alterações climáti-cas ocorridas no planeta, que acabam por intensificar o efeito estufa.

A atmosfera é uma camada de ar que envolve a Terra e é responsável por reter o calor do sol mantendo o plane-ta aquecido. É ela quem possibilita o equilíbrio térmico, determinante para a manutenção da vida no planeta. Devi-do às ações humanas, como a emissão exacerbada de dióxido de carbono e o desmatamento de grandes áreas, decor-rente de um novo estilo de vida que é impulsionado pelo avanço tecnológico, a temperatura média na Terra estaria aumentando consideravelmente nas últimas décadas.

É o que explica o professor do Centro de Ciências Exatas e Tecnoló-gicas da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul, Hamilton Corrêa: “A ciência trabalha com cenários cons-truídos por condições estabelecidas pela mesma. Todo mundo pensa em catástrofe como algo que vem de fora e que irá atingir o planeta. Na verdade, os nossos maiores desafios são inter-nos, hoje a maior preocupação que existe é sobre a questão ambiental. As condições em que vivemos, com esse padrão de consumo, como crescemos e nos desenvolvemos, levam para um

cenário de catástrofes climáticas. Se há alguma coisa em pauta hoje, é essa discussão”.

Por outro lado, existe uma parcela da comunidade científica que considera este fenômeno um processo natural, afirmando que o aumento da tempera-tura pouco, ou nada, tem a ver com os hábitos dos seres humanos. Eles defen-dem que o planeta está em constante desenvolvimento desde a sua origem e que ciclos naturais de mudanças cli-máticas que alternam os períodos de aquecimento global e glaciações, são apenas parte deste desenvolvimento.

Tais mudanças estariam associadas estritamente aos fatores internos do planeta, como a composição físico-química atmosférica, o vulcanismo e o tectonismo de placas. Es-tudos e dados apresentados no IPCC (Intergovern-mental Panel on Clima-te Change ou Painel Intergovernamental sobre Mudanças Cli-máticas), em 2007, mostram vários pe-ríodos em que o planeta esteve tão ou mais aquecido do que atualmente, como em cerca de 85% da era Paleozói-ca, quando as regiões polares da Terra não se encontravam congeladas.

O oposto também aconteceu durante os períodos Permiano e Car-bonífero, quando ocorreram grandes glaciações, onde geleiras até 10 mi-lhões de quilômetros quadrados com espessuras entre 2 e 3 mil metros se formaram.

Sobre o CO2, pesquisas apontaram que na era Mesozóica ocorreu um perí-odo de aquecimento da Terra e os níveis deste gás chegaram a atingir valores

quatro vezes superiores aos do final da Revolução Industrial, o que teria refle-tido na temperatura média de até 38ºC nos trópicos e acima 10ºC nos pólos.

Fim ou começo?

Apesar das opiniões e teorias so-bre o assunto serem divergentes, existe um consenso entre os cientistas a res-peito de alguns eventos que afetariam a vida social e econômica em todo o planeta, devido às mudanças climáticas. Como a inundação de cidades costeiras, decorrente do aumento dos níveis de mares e oceanos, e a ocorrência de catástrofes naturais, que teriam um

aumento considerável, até mesmo em locais improváveis.

Mas será que tudo isso poderia ser o fim? Para o pesquisador Mar-celo Ribeiro a definição de “fim do mundo” é importante, pois “o planeta vai continuar existindo mesmo que nós sejamos exterminados. A Terra já passou por diversas fases de extinção em massa e a vida voltou a florescer depois de todas elas. Basta um punhado de vida unicelular para começar tudo novamente”.

[email protected][email protected]

A escala do tempo geológico é correlacionada a eventos que possuem registro, ou seja, que deixaram suas marcas

nas rochas e, por conseqüência, registram a história do planeta Terra, desde seu nascimento até o tempo atual

Débora Melchiorre, 18Estudante/Agnóstica- “Eu acredito que o mundo vai acabar, porem quando acabar nosso sistema digestivo e respiratório serão modificados e não vamos precisar comer, nem respirar. Vamos ficar vagando pelo espaço e a única maneira de morrer será quando os meteoros nos atingirem. Será tipo tiro ao alvo.”

Carlos Alves Santana, 74Aposentado

- “Eu não acredito porque o ser humano desde que Cristo esteve na Terra está sempre querendo

descobrir um mistério. Isso é tudo criação da mente humana. O final ninguém sabe!”

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Religião e fim dos tempos: o que dizem as doutrinas

mais conhecidas no Brasil

Izabela Sanchez

“Disse Deus: [Haja luz] e houve luz....[haja firmamento no meio das águas e separação entre as águas]...[ajuntem-se as águas debaixo dos céus num só lugar, e apareça a porção seca]. E assim se fez”. Essa é a explicação bíblica, no Velho Testamento, para o início dos tempos, ou como conhe-cemos: Gêneses. Mas quando se fala tanto do fim do mundo, em que acre-dita a religião?

No sincretismo religioso do Brasil, cada doutrina explica de uma forma. A religião Católica defende que não há provas bíblicas do fim dos tempos e não espera que ele aconteça. A Ad-ventista, como o próprio nome já diz, aguarda a volta de Jesus à Terra. O Espiritismo vê na continuidade da vida

Fim sagrado

e no ciclo de reencarnações, o destino humano. E a Umbanda, única religião criada no Brasil, não fala, nem pensa no fim do mundo. De algum modo, todas fornecem suas respostas.

O teólogo e coordenador do pro-grama de Pós-graduação em Educação (PPGE), da Universidade Católica Dom Bosco (UCDB) de Campo Gran-de - MS, Jeffer-son Carrielo, explica que de certa forma to-das as religiões influenciam a vida das pesso-as sobre isso. “Elas têm uma resposta. Por exemplo, agora a moda é falar

que o mundo vai acabar em 2012. Em que estão buscando essa hipótese? No calendário Maia, isso não deixa de ter uma religiosidade”. Ele diz que a dife-rença está na interpretação religiosa e pessoal, como para o cristianismo que vê o fim na volta de Jesus.

O reitor do Santuário da Paróquia Nossa Senhora Perpétua do Socor-

ro, de Cam -p o G r a n d e , padre Dirson Fer re ira , d iz que a religião Catól ica não acredita nessas previsões: “Je-sus disse que ninguém sabe até quando vai existir o mun-

do, só Deus. Ele próprio disse: nem eu sei, só o Pai sabe”. Afirmando, entretanto, que há indicações bíblicas da possibilidade do fim, em função de uma passagem a qual diz que Jesus estaria com a humanidade até o fim dos tempos, mas a Igreja Católica não acredita em uma catástrofe.

É o que pensa também o pastor da Igreja Adventista do Sétimo Dia, Elian-dro Gonçalves: “Não é possível marcar uma data. Esse ano tem se falado muito sobre isso, do calendário Maia, nós não acreditamos nisso. Acreditamos que Jesus esteve nessa terra, morreu, ressuscitou, ascendeu ao céu e haverá o dia do grande juízo, a volta de Jesus”.

A teologia explica que nenhuma religião prega o fim do mundo, mas busca explicações no comportamento das pessoas e na mudança dos acon-

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“São místicas que se levantam, mas na

realidade são coisas humanas.”

Padre Dirson

Religião

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tecimentos. O exemplo disso é que muitas crenças relacionam as notícias, crises ou crimes com profecias da Bí-blia, é um modo de atrair seguidores e ao mesmo tempo de oferecer conforto aos questionamentos das pessoas.

“A solução é você seguir o Cristo, é vir pra minha igreja, entendeu? En-tão há essa tônica nas igrejas, mas eles não afirmam, por exemplo, que está chegando o fim dos tempos. Essa ideia tem uma interpretação que às vezes eles encontram na Bíblia, mas isso não quer dizer que é exatamente aquilo”, afirma Carrielo.

Mesmo assim, há segmentos reli-giosos que se concentram no possível fim ou juízo final. A Igreja Adventista do Sétimo Dia, cujo nome tem uma indicação para o “advento do fim”, como explicou o pastor Eliandro, é um exemplo. Ela busca preparar as pesso-as para esse dia, não importa quando ele for. A doutrina orienta as pessoas a observarem seu comportamento, a estarem sempre prontas para quando o grande dia chegar.

Padre Dirson, ao contrário, orienta os católicos para que não pensem no fim: “digo que não se preocupem com isso e vivam suas vidas normalmente. Lembro as pessoas sobre o episódio do ano de 2000, no qual se falava que ia acabar o mundo. São místicas que se levantam, mas na realidade são coisas humanas”.

Outras religiões, mais conhecidas como espiritualistas, seguem crenças diferentes, ou nem sequer pensam no fim. O líder espiritual do Centro de Umbanda “Pai Oxalá”, em Campo Grande, Orlando Mongelli, nem toca no assunto com as pessoas que o pro-curam ou que visitam as sessões:

“Nós nunca pensamos nisso nem precisamos desse ´negócio´ de fim de mundo. Tratamos da realidade das pessoas. Quem somos nós pra pen-sar nisso? O papel da Umbanda é o bem comum, é a caridade”, defende Orlando.

Objetivo parecido encontra-se na doutrina espírita, como explica a vice-presidente da Federação Espírita de Mato Grosso do Sul, Cláudia Noguei-ra. “O Espiritismo não é uma religião salvacionista, pois, garante ao esforço individual do espírito a sua salvação. Deus, em sua infinita misericórdia, confia aos nossos próprios méritos, alcançar a plenitude dos propósitos que traçou para nós”.

As semelhanças entre Umbanda e Espiritismo não se encontram somente na caridade. Ambas não veem um fim e sim uma continuidade. Todo o tempo, vida e morte sucedem-se, as conse-quências são mudanças, alterações e dinâmicas. O Espiritismo, codificado por Allan Kardec, acredita que vivemos o fim dos tempos no que se refere aos valores de uma sociedade, a qual se

altera pela própria força da evolução. Percebe-se que as religiões místicas ou espiritualistas são as que mais es-tão crescendo, pois trazem respostas às pessoas sobre seu cotidiano, são segmentos mais próximos às pessoas, como explica Carrielo.

As doutrinas, sejam elas quais forem, preocupam-se mais com o fim que todos nos deparamos: a morte, ou passagem, como algumas denominam. A igreja Católica ensina que não é um fim. Acredita que vivemos aqui e após a morte vamos para um lugar chamado de eternidade, um lugar com Deus. Para eles, a vida do ser humano não tem fim, é uma ponte para a eternidade e lá viveremos.

O Espiritismo, segundo Claudia, vê a “passagem” como uma vida extra-física, um momento de travessia para novos rumos, novas verdades. No en-tanto a doutrina adventista explica que se a pessoa perde a vida, biblicamente

ela já voltou, porque não vai ter outra oportunidade de se salvar. Então o fim do mundo para uma pessoa pode ser a qualquer momento. Não é um acontecimento para todas as pessoas ao mesmo tempo, pois elas morrem todos os dias, a vida deve continuar.

A ciência teológica analisa a busca religiosa como uma necessidade por respostas. Todas as religiões de certa forma fornecem soluções. Como disse Carrielo, “se essa resposta é [verda-deira ou falsa], é muito pessoal, por isso que hoje há um grande número de denominações religiosas. Umas respondem a mim de uma forma, mas não respondem de outra. Inquietações são inerentes ao ser humano, o homem vive essa incerteza e a religião dá ao homem, algumas certezas, alguns con-fortos”.

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PORCENTAGEMNACIONAL RELIGIÕES

censo 2010

Católicos64,6%

Evangélicos22,2%

Espíritas2,0%

Umbanda e Candomblé0,3%

8% declara não ter religião.

Símbolos no interior da Paróquia São José em Campo Grande (MS)

Religião

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Jornal Laboratório do Curso de Jornalismo da UFMS - 16

VelhasBrunna AmaralLays Colombelli

Armas de destruição em massa de-vastaram cidades e populações durante as várias guerras ocorridas pelo mundo, tanto pelo caos nuclear, quanto pela radioatividade. Nos anos 2000, surgiu a ameaça biológica iniciada pelo envio de envelopes com a bactéria Antraz para políticos norte-americanos. Com o grande número de armas atômicas ainda existentes e a ameaça biológica em vista, o mundo poderia acabar mesmo sem nenhuma previsão antiga.

Primeiros testesOs estudos sobre bombas atômi-

cas foram realizados no programa de pesquisa que ficou conhecido como Projeto Manhattan. Esta parceria entre os Estados Unidos, Canadá e Reino Unido trouxe a II Guerra Mundial a um fim trágico. Com base nos trabalhos teóricos de Albert Einstein (princípio da equivalência massa-energia), foi de-senvolvida no projeto a energia nuclear, ao observarem a fissão do núcleo de um átomo instável após a irradiação de urânio com nêutrons. Com esse conhecimento em mãos, as primeiras bombas nucleares foram construídas.

Os primeiros testes com as bom-bas foram feitos em um deserto no Novo México e foram bem sucedidos. Pouco tempo depois, o governo dos EUA fez o primeiro uso efetivo de suas armas na Guerra. O alvo foi a cidade japonesa de Hiroshima, no dia 6 de agosto de 1945. Três dias depois, a cidade portuária de Nagazaki sofreu com uma nova explosão nuclear. Esse foi o único episódio em que bombas atômicas foram utilizadas em um

Quando armas biológicas e bombas podem desencadear o fim do mundo, surgem possibilidades já conhecidas ao longo da história

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Ameaças

Guerra Nuclear

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conflito armado.Após este episódio, iniciou-se a

chamada “corrida armamentista”. Es-tados Unidos e a antiga União Soviética mantiveram uma disputa velada em relação ao desenvolvimento social e armamentista, trabalhando conceitos de dissuasão nuclear.

As bombas de hidrogênioA primeira bomba termonuclear,

também conhecida como “bomba de hidrogênio”, foi detonada pelos nor-te-americanos de forma experimental em 1952. Tinha força de dez megatons, equivalente a dez milhões de toneladas de TNT (Trinitrotolueno), um forte explosivo convencional. O teste ser-viu para demonstrar a força 750 vezes maior que as armas termonucleares têm em relação às lançadas em solo japonês.

Em 1961, a URSS detonou sua própria bomba de hidrogênio, a Tsar. Conhecida como “Emperor Bomb” (Bomba Imperador), tinha a potência de aproximadamente 57 megatons, dez vezes a força de todos os explosivos utilizados na Segunda Guerra Mundial. O design original da Tsar Bomba era capaz de propagar 100 megatons, mas isso implicaria na liberação de mais resíduos radioativos na atmosfera. Ela foi detonada sobre um campo de testes na ilha de Nova Zembla. Apesar de sua potência, ela não era prática para os propósitos de guerra devido ao seu tamanho. Foi utilizada como uma simples propaganda militar, e não há qualquer outro registro de que algum armamento similar tenha sido criado.

Segundo pesquisa realizada pela British-American Security Information Council (BASIC, organização não governamental britânico-america-no) em 2010, ainda existem 22.400 bombas espalhadas por nove países que possuem arsenal nuclear. Desse

total, 95% estão sob domínio russo e estadunidense.

Ameaça biológicaDesde o século XIV existem regis-

tros de manipulação de agentes nocivos à saúde, como vírus e bactérias, com intuito bélico. Um ataque com armas biológicas só teria chances de acon-tecer em uma guerra ou por meio de terroristas, visto que há a necessidade de um aparato científico-militar e de tecnologia para a fabricação bem su-cedida de uma arma biológica.

A primeira grande epidemia foi a da Peste Bubônica, conhecida como Peste Negra devido às manchas escuras que apareciam na pele do indivíduo contaminado. O contágio se iniciou em outubro de 1347, na região de Gêno-va, na Europa. O agente transmissor da moléstia é a bactéria Yersinia pestis, transmitida ao ser humano pela pulga Xenopsylla cheopis encontrada nos ratos pretos (Rattus rattus) de origem indiana. Acredita-se que a Peste Negra tenha dizimado entre 25 e 75 milhões de pessoas na Europa, cerca de um terço da população mundial da época.

Durante a Guerra Fria, houve o desenvolvimento de estirpes geneti-camente modificadas da bactéria para disseminação via aérea. Esse tipo de armamento é capaz de dizimar popu-lações inteiras, têm uma disseminação muito rápida e eficaz e as estruturas das cidades permanecem intactas. As mais conhecidas e que foram supostamente manipuladas e utilizadas são: Bacillus an-thracis, que causa a doença denominada carbúnculo; Clostridium botulinum, bacilo encontrado na água ou nos alimentos; Orthopoxvirus, vírus da varíola; Ebóla, febre infecciosa hemorrágica, que foi identificada pela primeira vez em 1976 na República Democrática do Kongo (não houve casos fora da África).

O caso mais recente de ataque

biológico foi o do Antraz. Foi utiliza-do em ataques terroristas uma semana após o ataque às Torres Gêmeas, em 11 de setembro de 2001. Através do envio de cartas para figuras públicas norte-americanas, e com suspeitas de envio na Inglaterra, causaram a morte de cinco pessoas.

Segundo o geneticista Roque Monteleone Neto, membro da Co-missão de Vigilância, Verificação e Inspeção da ONU, “com o antraz não há chance de contágio de homem para homem. Mas, dependendo do agente utilizado na arma biológica, a transmissão do Antraz pode ocorrer de indivíduo para indivíduo, causando uma epidemia e aumentando seu efeito

devastador”.A ameaça biológica, assim como

a nuclear, ainda se mantém. Segundo a médica infectologista Silvia Uehara, alguns vírus conhecidos estão guarda-dos em laboratórios bem seguros e não podem ser extintos, pois não se sabe se eles servirão para algo no futuro. “Se alguém mal intencionado retirar esses vírus de seu local atual, haverá uma nova contaminação e ninguém mais estará imunizado”. Como exemplo, a médica conta sobre a varíola, que está erradicada no mundo desde outubro de 1977.

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ALTITUDE DE VÔO DE AREONAVES < 12 km

1. Burj Dubai - 0,8 km2. Monte Everest - 8,8 km3. Bomba de Hiroshima, 15 kt - 12 km4. Tsar Bomba, 50 Mt - 64 km

Arte:

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Infográfico comparativo - Tsar Bomba

Renan Vidal Fernandes, 18 Estudante- “Não acredito porque isto é uma crença dos Maias e foi há muito tempo.”

Joyce Larissa Ferreira da Silva, 18Aux. Administrativa/Católica- “Estou quase acreditando. Está na Bíblia que a Terra acabaria em fogo e está muito quente!”

Pedro Henrique Donatti Medeiros, 21Sem ocupação

- “Acho que é mentira. Acho que não vai acabar o mundo não.”

Lenyr Calixto, 39 Promotora de Vendas

- “O mundo não vai acabar. As pessoas é que vão morrer! Isso é pra dar IBOPE.”

Guerra Nuclear

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O Som do Fim doMundoAna Luiza Vieira

No ano de 1938, o Halloween che-gou um dia antes e de forma surpreen-dente para os americanos, acostumados às brincadeiras e ao clássico “Doces ou Travessuras?” em 31 de outubro. Às vésperas da Noite das Bruxas, muitos dos seis milhões de ouvintes da rede CBS e suas afiliadas levaram a sério a mensagem do ator e cineasta George Orson Welles, que chegava pelas ondas do rádio: os marcianos estavam inva-dindo o país.

Durante 60 minutos, trechos de apresentações musicais eram inter-rompidos por flashes “ao vivo” de radialistas desesperados relatando que explosões em Marte e meteoritos cain-do na Terra eram sinais de uma invasão alienígena em pleno curso, capaz de vaporizar exércitos americanos com “raios de calor”. O país estava sendo aniquilado no horário nobre do rádio, e essa era a travessura de Halloween de Welles.

O rádio vivia sua época de ouro e era a principal fonte de entretenimento e informação para as pessoas. Milhares de ouvintes que sintonizaram a rede CBS naquele dia perderam o aviso inicial de que tudo não passava de uma dramatização do clássico “Guerra dos Mundos”, escrito por Herbert George Wells, o suficiente para acreditar no

que estavam ouvindo. Radialistas fa-lando “diretamente de Nova Jersey” narravam ofegantes o que viam no front de batalha; ao fundo, os gritos da população e sons do que seria a inva-são dos marcianos, intercalados com declarações de oficiais do governo americano admitindo uma guerra entre Marte e os Estados Unidos.

O pânico dramatizado compreen-sivelmente se tornou real, contrariando o inútil e fictício pedido do governo americano para que as pessoas se acalmassem. As que ouviram trechos do programa começaram a fugir de-sesperadas para lugar nenhum, lotando as estradas; ou tentavam se esconder em celeiros. As mais corajosas carre-garam suas armas e saíram à procura dos monstros marcianos, mesmo que acabassem atirando em caixas d’água, razoavelmente parecidas com as má-quinas de guerra alienígenas.

Houve relatos de pessoas dizendo poder ver as nuvens de fumaça dos campos de batalha, mesmo que os campos de batalha estivessem em uma pacata noite de Halloween. Outras até enrolaram toalhas molhadas em volta da cabeça na esperança de se proteger do gás venenoso marciano, ignorando os avisos de que nem máscaras de gás funcionavam.

No encerramento da transmissão, Orson Welles confortava o público

Orson Welles demonstra a força do rádio e sua capacidade de formar opiniões

“Fizemos o melhor que podíamos.

Aniquilamos o mundo frente a seus ouvidos...”

Orson Welles

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assegurando que o mundo não havia acabado e que tudo havia sido uma brincadeira de Halloween. “Nós não podíamos ensaboar suas janelas e roubar os portões de seus jardins até o amanhecer… então fizemos o melhor que podíamos. Aniquilamos o mundo diante de seus ouvidos”.

A travessura de Welles marcou a história dos Estados Unidos. Naquela época, o regime nazista explorava o po-der do rádio, convocando aliados e per-suadindo as pessoas com propaganda. Com o episódio de Guerra dos Mun-dos, foi possível provar que apenas o rádio, sem todo um regime ou cunho ideológico envolvido, poderia levar as pessoas a acreditar em algo totalmente absurdo – a invasão do planeta por extraterrestres – demonstrando o real poder da comunicação em massa. No dia seguinte os jornais falaram sobre o pânico em primeira página e as pessoas, principalmente as que foram enganadas, fi-caram indignadas. A população e x i g i a

punições contra Orson Welles e a criação de leis impedindo que algo assim jamais se repetisse.

O Jornal Correio do Povo, de Porto Alegre (RS), publicou em 31 de outubro de 1938: “Apesar do spe-aker ter advertido por quatro vezes durante o programa que se tratava apenas de uma ficção, houve pânico nos Estados Unidos”. “Guerra falsa na rádio espalha terror pelos Estados Unidos”. Dizia a manchete do jornal Daily News de 01.11.38. “Fizemos o que deveria ser feito. Aniquilamos o mundo diante dos seus ouvidos e destruímos a CBS. Mas vocês ficarão

aliviados ao saber que tudo não pas-sou de um entretenimento de fim de semana. Tanto o mundo como a CBS continuam a funcionar bem. Adeus e lembrem-se, pelo menos até amanhã, da terrível lição que aprenderam hoje à noite: aquele ser inquieto, sorridente e luminoso que invadiu a sua sala de estar, é um representante do mundo das abóboras e, se a campainha de sua porta tocar e ninguém estiver lá, não era um marciano... é Halloween!”.

“Isto é verdade?”

De tempos em tempos, algum boato sobre o fim do mundo gera

polêmica e algumas vezes até pânico entre as pessoas. Para a psicóloga Sônia Maria Bezerra, formada pela Universidade Estadual de Marin-

gá, a busca por uma explicação que dê sentido ao

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vida pode deixar as pessoas suscetíveis a acreditar em teorias sobre o fim do mundo. “A busca por respostas para perguntas como ‘para onde vamos?’, muitas vezes faz com que as pessoas deixem de lado seu senso crítico para apoiar-se em uma hipótese que lhes ofereça segurança, ainda que seja a segurança de que o mundo um dia terá um fim”, explica.

Uma lição deixada por episódios como a transmissão radiofônica de Guerra dos Mundos, posteriormente relembrada no clássico filme Cidadão Kane, também de Welles, é que as pes-soas não devem acreditar cegamente em todas as informações que recebem.

Depois de um breve prólogo, o filme aparece como se fosse um cine-jornal com o título: News on the March. Na metade da exibição um repórter questiona Charles Foster Kane, que retornando de uma viagem à Europa é entrevistado na saída do navio. Apenas as últimas palavras da pergunta feita podem ser ouvidas: “...isto é verdade?”. Sem a pergunta na íntegra, a resposta que recomenda “não dar ouvidos a tudo o que se ouve no rádio” se trans-forma em uma frase independente e bastante atual, apesar de ter sido pen-sada em 1941.

O que fica claro é que diante de um volume tão grande de informações, as pessoas não podem deixar de lado o senso crítico, como explica a psicóloga Sonia Maria: “previsões, hipóteses e até mesmo alguns eventos tidos como catástrofes, sempre existiram e sempre existirão. Não podemos deixar que o excesso de informações, por mais bem divulgadas que elas sejam, tome conta de nossa consciência. O ‘fim do mun-do’ começa, em teoria, onde começa a desinformação”.

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Jane Gomes, 36 Operadora de Caixa- “Eu acho que isso é só um mito. Acho que o mundo não vai acabar. São coisas que idealizaram. Quem acaba são as pessoas. O mundo não!”

Maria Emília Lima de Oliveira, 52Empresária

- “Não acredito no fim do mundo. É tudo mentira! É mais fácil eu morrer que o mundo acabar.”

Rádio

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Luz, câmera...boom!

Amanda AmaralGustavo ArakakiJoão Marcelo Sanches

Recordes de bilheterias nos cinemas, picos de audiência televisiva e aumento das vendas nas livrarias. Previsões cer-cadas de boatos sobre o fim do mundo mexem com o imaginário das pessoas. Se a profecia é certa ou não, pouco importa. Fato é que as jogadas de marketing reve-lam a existência de um grande público, ávido por estas possibilidades trágicas.

“A tematização do fim do mundo é uma constante no cinema e é proposta no horizonte social de cada época”, afir-ma a professora Márcia Gomes Marques. A doutora em Comunicação Social cita que a motivação para o grande público em filmes do gênero é ocasionada pelo fato dos mesmos serem direcionados a

jovens e adultos, que mesmo possuindo uma faixa etária mais elevada, continuam a ter um padrão de vida juvenil. Com um maior poder financeiro advindo de um padrão de vida economicamente mais es-tável, essas pessoas acabam fortalecendo a audiência.

A espetacularização é também uma marca registrada na atualidade cinema-tográfica. Os diálogos mais elaborados e movimentações simplórias deram lugar a encenações cheias de emoções, acompa-nhadas de uma sonorização apelativa ao envolvimento emocional, e fazendo com que o público seja inserido na realidade que o filme transmite.

Márcia esclarece ainda que não é somente a forma cheia de artifícios de repassar tragédias, comum aos filmes do gênero, que fazem das produções um produto tão apelativo aos espectadores.

Ela acrescenta que a forma de retratar o fim do mundo como “a morte de todos concomitantemente” é o que as torna mais atraentes, por nos remeter à lem-brança da fragilidade humana.

Seja qual for o motivo de extinção da nossa espécie, aniquilação do planeta Terra e até mesmo do universo, a indús-tria cinematográfica sempre se reinventa para impressionar, proclamando o caos e a destruição total das mais variadas formas: colonização alienígena, vírus fatais, guerras sem controle e previsões exatas de profecias.

Questões como “o fim dos tempos é possível?” ou “como seria a extinção da humanidade?” são instigantes, e os cineastas adoram esta palavra. Prova disso é o chamado Cinema de Catástrofe. Originário da década de 70, as produções desse estilo se baseiam em três elementos

principais: o enredo apocalíptico, o apelo melodramático e cenas de ação saturadas de efeitos especiais. Inicialmente, este modelo ficou marcado por produções de segunda linha, já que não faziam uso de roteiros elaborados ou grandes orçamentos.

Quem confirma essa descrição é Oscar Rocha, repórter do Caderno B no jornal “Correio do Estado” e que traba-lhou por muito tempo como crítico de cinema. Oscar, que nasceu no Paraguai e mudou-se para Campo Grande aos três anos de idade, admira a sétima arte desde a infância. Assistiu a vários sucessos do cinema no extinto Cine Acapulco, na Rua 26 de Agosto. “Filmes como ‘O Inferno na Torre’ (John Guillemin e Irwin Allen, 1974), ‘O Destino do Poseidon’(Ronald Neame, 1972), a série de filmes ‘Aero-porto’, todos tinham esses elementos

A indústria cultural movimenta o cinema, TV e literatura, faturando milhões de dólares com o “fim do mundo”

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do cotidiano que fugiam ao controle das pessoas” afirma o jornalista.

Segundo ele, o fato destes filmes terem chegado ao seu ápice neste perío-do se deve também ao contexto político e econômico da época. As produções escapistas tinham a preferência do pú-blico que desejava esquecer, mesmo que apenas por 90 minutos, os seus próprios problemas.

O filme “Aeroporto” (George Sea-ton), mencionado por Oscar e lançado no ano de 1970, é considerado o primeiro do gênero catastrófico. Depois dele, o tema foi amplamente explorado, cau-sando um desgaste que perdurou pelas décadas seguintes.

Oscar Rocha acredita que o pa-norama começou a se alterar nos anos 2000, quando a qualidade dos efeitos especiais renovou as possibilidades dentro do cinema de catástrofe. O tema passou a interessar também as produções milionárias para a criação de blockbusters épicos. Apesar disso, ele conta um ponto positivo em favor dos filmes antigos. Para o jornalista, os que foram lançados re-centemente costumam apresentar ao fim um elemento de redenção e descoberta, além da busca por um futuro melhor, contrastando com os da década de 70 que tinham uma característica pessimista.

Entre as películas recentes do gê-nero, “O Dia em que a Terra Parou”, (Scott Derrickson, 2008), “A Guerra dos Mundos” (baseado no livro de H.G. Wells e adaptado duas vezes no cinema, a primeira em 1953 com direção de Byron Haskin e a segunda, em 2005, dirigida por Steven Spielberg), “Armageddon” (Mi-chael Bay, 1998), “Impacto Profundo”

(Mimi Leder, 1998) e “O Dia Depois de Amanhã” (Roland Emmerich, 2004) são alguns dos que se destacaram em público e em faturamento.

Há também aqueles que sobressa-íram não só dentro do tema, mas em um contexto mais amplo. É o caso de “2012”, dirigido por Roland Emmerich e lançado em 2009, que relata uma possível catástrofe mundial baseada no Calen-dário de Contagem Longa dos Maias. O filme arrecadou US$ 225 milhões no mundo inteiro em seu primeiro fim de semana, e está hoje em 41º lugar no ranking das maiores bilheterias na histó-ria do cinema, com US$ 769,7 milhões

de faturamento. “2012” impressionou o público por transmitir com tamanha realidade a possível catástrofe do fim do mundo, mesmo sem a utilização do 3D, tecnologia que faz com que o público sinta-se inserido nas cenas.

Segundo Eveline Cássia, acadêmica de Enfermagem da UFMS e cinéfila assumida, não basta que a produção do filme seja boa apenas para os olhos. “Como o estilo de filme é bastante recor-rente, ele deve ter um roteiro dinâmico e evitar clichês”, declara.

O estilo dessas produções agrada a estudante, que também acompanha séries de televisão que tratam do tema, como “The Walking Dead”. Baseada nas histórias em quadrinhos de Robert Kirkman, Tony Moore e Charlie Adlard, a série apresenta o fim da humanidade através de um apocalipse zumbi.

Já a série “Preparados Para o Fim”, do canal a cabo National Geographic, explora a vida de americanos comuns e a forma com que cada um está se pre-parando para o fim do mundo. Desde abrigos subterrâneos a fortalezas fora do mapa, estas pessoas, conhecidas como preppers, buscam abrigos dos mais varia-dos tipos e fazem o possível para garantir que sobreviverão ao “caos final”.

No Brasil, a minissérie “Como Aproveitar o Fim do Mundo” estreou na TV Globo em novembro, e trata o tema sob um viés humorístico. A série é uma comédia dos roteiristas Alexandre

Machado e Fernanda Young, dirigida por José Alvarenga Júnior, sobre como um indivíduo pode aproveitar os seus possíveis últimos dias de vida.

A literatura também oferece possibi-lidades para os interessados no assunto. Dezenas de livros estão à disposição e vão desde histórias ficcionais até o desen-volvimento de teorias sobre o que pode ou não acontecer no dia 21 de dezembro.

Valdiney Pereira, 28 anos, funcio-nário da livraria Leitura, afirma que a procura por este tema é grande. Tanto que alguns livros estão em falta na pró-pria editora e dificultam a reposição de estoque. “Nos últimos meses, só comigo, foram cerca de dez pessoas que vieram atrás de livros sobre fim do mundo e a profecia Maia”, afirma o vendedor.

Um deles é o livro “2012 – A Era de Ouro”, de Carlos Torres em parceria com sua esposa, Sueli Zanquim, e que faz parte de uma série que já vendeu mais de 100 mil cópias. A abordagem vai contra as previsões de possíveis mudan-ças ambientais ou outras intervenções catastróficas que possam interferir com a vida na Terra.

O autor, formado em administração de empresas, passou por uma experiência metafísica em 2006 que o trouxe para a literatura esotérica e de autoajuda. Dois anos depois, acompanhado de um amigo, Torres visitou o Egito para aprofundar os estudos acerca do Zodíaco de Dendera, que apresenta estrutura semelhante à do

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Oscar Rocha comenta sobre o Cinema de Catástrofe

Venda e procura por livros sobre o tema cresceram nos últimos meses

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calendário Maia. Observaram que 2012 seria o marco zero de um período regido pelo conhecimento espiritual, a chama-da “Era de Ouro”. As descobertas, em conjunto com reflexões pessoais, deram origem ao best-seller que, segundo Carlos, está vendendo mais desde o ano passado.

A influência global da indústria de cultura como um todo, em relação ao fim do mundo, tem papel significativo diante deste crescimento. Questionado sobre o fato, Carlos Torres foi enfático. Segundo ele, as mídias televisivas, publicitárias e cinematográficas poderiam utilizar esse momento histórico para ajudar a socieda-de a se desprender de dogmas e doutrinas de condicionamento. “Infelizmente, não há vontade entre as grandes corporações, governos e igrejas de trazer qualquer tipo de esclarecimento e despertar de consciência para as pessoas, porque os mesmos dependem exatamente desse medo massificado em que a população mundial se encontra, pois assim podem controlar, monitorar e condicionar facil-mente seus seguidores”, opina.

É com esse pensamento que o es-critor desconstrói conceitos pautados no desespero e no medo, como as próprias profecias advindas do calendário Maia, e desperta o leitor para uma nova realidade, voltada para o entendimento e a compai-xão. “O calendário Maia acaba porque termina um ciclo de vida da Terra, que chamamos de ciclo de Samsara, o ciclo de 25.920 anos. Isso não significa que a Terra irá morrer e por isso morremos junto dela, significa que ela se renovará e nós também. Somos filhos da Terra e o que acontece com ela acontece também conosco”.

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O apocalipse na ponta dos dedosGame Over

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Luzia Ribeiro Ramos, 60 Cabeleireira e Maquiadora- “Não acredito, é claro!”

Denise Jesus Santos, 33 Operadora de Caixa“Isso é lenda! Quem fez o mundo não falou o dia que vai acabar.”

Marlene Flores, 44 Recepcionista

- “Não existe o fim do mundo. Isto está na cabeça das pessoas. Ninguém sabe.”

Clarissa Novaes Campos, 34 Vendedora/Evangélica

“Eu acho uma mentira, uma baboseira!”

Quando o fim do mundo é abordado pela indústria dos videogames, as possibilidades costumam ser um pouco mais criativas. Nosso planeta já foi dominado por zumbis (“Resident Evil 6”, Capcom, 2012) , atingido por um cometa (“Rage”, id Software, 2011) e até invadido por alienígenas (“Gears of War 3”, Epic Games, 2011) em vários games que são sucesso de venda por todo o globo.

Esses e outros jogos costumam ficar pouco tempo nas prateleiras da Game Square. Para Guido Luis Lou-reiro, 27 anos, que trabalho como vendedor na loja, o principal atrativo é a história. Segundo ele, os games costumam trazer múltiplas escolhas no enredo, além de várias possibilidades em relação ao que pode acon-tecer com o planeta. “São jogos muito inteligentes” analisa Guido.

Um exemplo é “Fallout 3” (2008). Desenvolvido pela companhia estadunidense Bethesda Softworks, e disponível para consoles e computadores, aborda o possível agravamento de problemas presentes na sociedade. A trama se passa em um mundo pós-apo-calíptico, destruído por um conflito entre China e Estados Unidos no ano de 2077. A humanidade so-

fria com epidemias, escassez de recursos naturais e o aquecimento global. Nesse contexto, disputas por territórios habitáveis levaram a uma guerra nuclear que contaminou grande parte da água potável do planeta com radiação, deixando a humanidade ainda mais individualista e hostil.

A crítica social presente no game, junto com uma jogabilidade aclamada pelos fãs fez de Fallout 3 o segundo jogo mais vendido da Bethesda, com mais de 7,5 milhões de cópias vendidas e vários prêmios conquistados. Há dois anos, a empresa lançou ainda o jogo Fallout: New Vegas. O jogador assume o controle de outro personagem, desta vez sobre os escombros da cidade de Las Vegas.

Danila Benitez, 18 anos e estudante de Artes na UFMS, também trabalha como vendedora na Game Square, e conta que a demanda por ambos os jogos é grande “Fallout é muito bom, então o pessoal procura muito mesmo. Inclusive, eu acabei de indicar para um rapaz aqui”, confessa a jovem.

Para 2013, a Bethesda anunciou a aguardada sequ-ência direta de seu grande sucesso, Fallout 4, situando os gamers na cidade de Boston.

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Michel Lorãn Ribeiro

Constantemente abordados em produtos culturais, como no filme “2012”, os temas apocalípticos constro-em um clima de apreensão pela chegada do dia 21 de dezembro. Na película, lançada há três anos, a humanidade corre o risco de ser extinta através de tempestades provocadas pelas ações do próprio ser humano, coincidindo com a profecia do Calendário Maia. Mas até onde estas teorias estão certas? Muitos historiadores, pesquisadores e cientistas defenderam suas ideias e estudos sobre o assunto. E não há um consenso sobre a veracidade da previsão. O que não impede as pessoas de continuarem acre-ditando na “eclosão” de lava vulcânica, na ocorrência de terremotos em vários lugares simultaneamente, e formação de tempestades nesse dia marcado para ocorrer o “apocalipse”.

Mas e se o fim do mundo não for nada cinematográfico como apre-sentado nos filmes? E, ao invés de uma destruição em massa, ocorrer um des-gaste ambiental irreversível que reduza drasticamente os estoques de alimento e de água potável no planeta?

Esta é a aposta de muitos cientistas para os próximos anos, com estimativas baseadas em estudos sobre as mudanças climáticas que são percebidas no pla-neta. A ocorrência de terremotos com mais frequência e em lugares em que não ocorriam, tornados e tempestades, chuvas torrenciais ou mesmo estiagens prolongadas, aumento do nível do mar em cidades litorâneas, tudo isso forta-lece ainda mais a ideia de que o fim está próximo.

Antes de acusar o ser humano como principal causador destas mu-danças, pesquisadores afirmam que o planeta já passou por esse tipo de mudanças há alguns milhares de anos, e que as mesmas não foram causadas pelo homem.

É o que explica a professora

Alexandra Penedo, doutora em Recu-peração em Áreas Desgastadas. “Essa mudança já ocorreu no planeta. Houve aumento da temperatura e derretimento de geleiras. Entretanto, essas mudanças demoravam milhares de anos para acon-tecer, diferentemente de hoje em dia, em que demora menos de 30 anos. Esse curto espaço de tempo é insuficiente para o planeta se reorganizar. Hoje, o homem lança grande quantia de gases altamente poluentes, como o Dióxido de Carbono (CO²) e o Gás Metano na atmosfera, o que aumenta o efeito estufa, preju-dicando a camada de Ozônio. Como consequência, ocorrerá derretimento das geleiras e a evaporação dessa água não será possível, aumentando consideravel-mente os níveis dos oceanos”.

Essa afirmação foi comprovada pelo estudo divulgado pela revista Science no dia 30 de novembro deste ano, ao mostrar que entre 1992 e 2011 as geleiras da Groelândia perderam, em média, 152 bilhões de toneladas de gelo por ano. A maior intensidade do degelo na região, constituinte do Reino da Dinamarca, pode ser comprovada

através de duas imagens divulgadas pela NASA, comparando a capa de gelo durante os dias 8 e 12 de julho de 2012. Na foto, a massa que cobria cerca de 40% do território groenlandês sumiu. Na Antártica, as altas temperaturas derreteram 71 bilhões de toneladas de gelo. O derretimento da massa de gelo de ambos os lugares contribuiu para o aumento de 11,1 milímetros no nível do mar desde 1992. Os estudiosos afirmam que caso continue neste ritmo, a previ-são é que até 2100, o nível do mar terá subido mais de um metro.

Na Europa a temperatura média aumentou 0,95°C nos últimos 100 anos, o que significa um aquecimen-to 35% superior à média do planeta (0,7°C), segundo um relatório da Agência Europeia do Meio Ambiente (AEMA). No hemisfério norte o verão castigou o mês de junho, enquanto o hemisfério sul, mais precisamente nas regiões centro-oeste e sudeste do Brasil, registrou o inverno mais seco dos últimos cinco anos, de acordo com o Centro de Previsão do Tempo e Estudos Climáticos (Cptec/Inpe), em

Cachoeira Paulista (SP). No estado de Mato Grosso do Sul,

a semana dos dias 25 a 31 de outubro deste ano foi considerada a mais quente desde que a Estação Metereológica Uni-derp Agrárias passou a funcionar. Dados emitidos também pela mesma estação, mostram que a média das temperaturas mínimas, médias e máximas na região central do estado também aumentaram cerca de 1,5ºC (um grau e meio) entre 1960 e 2000. “Esse aumento das tempe-raturas no estado, e também no número de enchentes na cidade de Campo Gran-de, são causadas por ação do homem. O aumento de áreas pavimentadas associadas à diminuição de áreas imper-meáveis, o desmatamento e o aumento da população da cidade, fez com que nos últimos quatro anos houvessem 95 enchentes em Campo Grande. Enquanto há 40 anos não passavam de 10 anuais” é o que afirma o metereologista da estação, Natálio Abrão.

De fato, o planeta está aquecendo de forma intensa e acelerada. A previsão de fim do mundo para 2012 pode não se concretizar, entretanto é necessária maior atenção para deter essas mudan-ças climáticas a tempo de se tornarem irreversíveis. Diminuir a emissão de gás metano e dióxido de carbono na atmosfera, praticar agricultura sustentá-vel, e a preservação de florestas e corais são boas ideias para prevenir o Fim do Mundo.

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A longo prazoDe acordo com levantamentos recentes, o aquecimento global está provocando mudanças climáticas severas e, possivelmente, sem volta

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Imagens de satélite da NASA, mostrando a redução em 40% das camadas de gelo na Groêlandia em apenas quatro dias

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O que diz a psicologia?

Thaís Lopes Pimenta

A crença no fim do mundo une re-ligião, ecologia, história e muitas outras áreas do conhecimento. Atualmente in-clui os meios de comunicação de massa, que exploram cada vez mais o tema em filmes, livros e seriados. Cabe então à psicologia o seguinte desafio: explicar por que tantas pessoas creem no fim dos tempos e por que há tanta divergência de pensamentos sobre o assunto.

De acordo com um estudo realiza-do pelo Ipsos Global Public Affairs, centro de pesquisas globais, cerca de 15% da população mundial acredita que o fim do mundo acontecerá durante sua vida, e 10% destes creem na previsão dos

Maias para este ano.A pesquisa foi realizada em mais de

20 países e mostrou também que pesso-as com menos de 35 anos e possuidoras de menor renda ou escolaridade estão mais propensas a acreditar na catástrofe final, além de sentirem maior ansiedade ao falar sobre o assunto.

A psicóloga especialista na área cognitivo-comportamental, Tarcísia Maria Marques, explica que a crença ou não no assunto está diretamente relacio-nada à cultura e religião de determinada pessoa ou sociedade. “Crer ou não crer vai depender do acesso à informação que determinada pessoa tem. Outros fatores, como a religião, também pesam muito quando falamos no fim da vida,

tanto individual quanto coletiva”.

T a r c í s i a acrescenta que uma pessoa que vive nos Estados Unidos e acabou de sofrer com os transtornos da tempestade Sandy, perdendo tudo o que tinha, tende a acreditar mais no fim do mundo. Um bra-sileiro, por outro lado, sem sofrer tanto com as mu-danças climáticas ou coisa pareci-da, pode levar essa “previsão” na brincadeira”.

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Medo e crenças se misturam quando o assunto é o fim do mundo - a psicologia explica

Márcio Roberto Regis, psicólogo responsável pela publicação AtlasPsico, lembra que várias crenças prometem aos seus seguidores uma vida após a morte melhor, o que justificaria a suscetibilida-de de alguns indivíduos em acreditar nas teorias apocalípticas. “Se alguém vive uma vida difícil neste momento, pode ver o fim do mundo como uma chance de mudança, o que pode gerar inclusive casos de suicídio”, disse. O psicólogo acrescenta que “o que as pessoas têm que se dar conta é que precisam viver a vida agora, e mudar o que é preciso hoje, ao invés de esperar por outra vida”.

O livro vencedor do Prêmio Jabuti 2002, “O fim da Terra e do Céu: o apo-calipse na ciência e na religião”, do físico Marcelo Gleiser, explica que para aliviar o medo da morte e da dor da perda, as religiões transformam o fim da vida em um evento que vai além da capacidade de um corpo continuar a funcionar, o que gera uma série de crenças apocalíp-ticas, de possíveis revelações.

Estas ideias também podem ser encontradas em tradições mais antigas, como a egípcia e a babilônica. Todas estão resenhadas no Livro de Daniel (Bíblia), considerado o primeiro texto apocalíptico. Ele profetiza o fim dos tempos baseado em visões carregadas de simbolismo sociopolítico.

“Pensar no fim do mundo nos des-perta um sentimento de ambiguidade”, explica a doutora em psicologia clínica e professora da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-RJ), Teresa Creusa Negreiros, em entrevista à revista Superinteressante. “Ao mesmo tempo que tememos um fim coletivo,

também o desejamos, pois assim não deixaríamos a vida sozinhos”, diz ela.

A estudante de economia Beatriz Sartor, 18 anos, tem muitas dúvidas so-bre o tema. “Por mais que eu não acre-dite, sempre fica aquele medo. Será?”, e complementa: “Acho que não acredito, pois já fizeram previsões antes e o mundo não acabou. Quando os Maias fizeram a previsão não contavam com todo o desenvolvimento que a humani-dade teria. Talvez eles tenham previsto as catástrofes que estão acontecendo e concluíram que o mundo acabaria com elas, o que não aconteceu”.

Há também pessoas convictas acer-ca do fim, como José Augusto Stocco, engenheiro civil de 48 anos. “Claro que acredito! E o final dos tempos está pró-ximo, será agora no final do ano, no dia 21. Devemos nos arrepender de todo mal que causamos à Humanidade. Vi o filme ‘2012’ e acho que é exatamente o que vai acontecer conosco”.

Já para Alison Alves, 20 anos, o que vai acontecer é uma evolução mundial. “Não acredito no fim dos tempos. Os seres humanos sabem que um dia terão o seu fim e querem estar no controle. É por isso que tantas teorias são criadas em relação a essa questão. Querem saber quando, como e por quê, mas, todas as vezes que eles tentaram adivinhar quando seria o fim do mundo, erraram. Talvez a raça humana acabe, mas a Terra continuará ainda muito tempo na órbita solar. O mundo vai evoluir e outros se-res surgirão, talvez até mais inteligentes que nós”.

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Tarcisia explica que a crença depende do que cada pessoa já vivenciou

Comportamento