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2 Ética Profissional Indaial / SC Volume 8 Número I jul. 2018

Centro Universitário Leonardo da Vinci – UNIASSELVI

Revista UNIASSELVI-PÓS: Ética Profi ssional - Centro Universitário Leonardo da Vinci (Grupo UNIASSELVI). – Indaial: UNIASSELVI, 2018.

46p. : il. col.Periodicidade: Semestral.

ISSN: 2317-5966

1. Ensino superior. I. Centro Universitário Leonardo da Vinci – UNIASSELVI.II. Programa de Pós-Graduação EAD.

CDD 378.005

Propriedade do Centro Universitário Leonardo da VinciFICHA CATALOGRÁFICA

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3jul. 2018 Número I Volume 8 Indaial / SC Ética Profissional

CENTRO UNIVERSITÁRIO LEONARDO DA VINCIRodovia BR 470, Km 71, no 1.040, Bairro Benedito

Cx. P. 191 - 89.130-000 – INDAIAL/SCFone Fax: (47) 3281-9000/3281-9090

ÉTICAPROFISSIONAL

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4 Ética Profissional Indaial / SC Volume 8 Número I jul. 2018

UNIASSELVI-PÓS REVISTA

EXPEDIENTE EDITORIAL

Reitor do Centro Universitário Leonardo da VinciProf. Hermínio Kloch

Diretor do Programa de Pós-Graduação Lato Sensu:Prof. Carlos Fabiano Fistarol

Presidente do Conselho editorial:Prof. Carlos Fabiano Fistarol

Membros do Conselho Editorial:Profª. Ana Karoline dos SantosProfª. Cristiane Lisandra DannaProfª. Edinéia Lúcia DuarteProfª. Elys Regina Zils Prof. Fábio DevigilliProf. Fernando Luis BerndtProf. Marcio Oliveira da SilvaProfª. Marcia Andréia Leite GonzagaProfª. Noemi Back OliveiraProfª. Rosane Cristina Coelho PisaProfª. Tamires Vogel

Revisão Editorial:Profª. Elys Regina ZilsProfª. Evelise PaulisProf. José Roberto Rodrigues

Diagramação:Equipe Produção de Materiais

CENTRO UNIVERSITÁRIO LEONARDO DA VINCI

Rodovia BR 470, Km 71,n. 1.040, Bairro Benedito

Cx. P. 191 - 89.130-000 – INDAIAL/SC

Fone Fax: (47) 3281-9000/3281-9090e-mail: pedagogico-posead@unias-

selvi.com.br

APRESENTAÇÃOA UNIASSELVI, por meio do seu Programa de Pós-Graduação

Lato Sensu, apresenta a 8ª edição da Revista Uniasselvi-Pós. Esta edição propõe um debate a respeito da Ética Profi ssional, termo que assume uma importância cada vez maior tanto no mercado de trabalho quanto no campo de atividade acadêmica. A escolha por este tema se deu, principalmente, por acreditarmos que esteja na ética a base para uma sociedade justa e digna para todas as pessoas e em todos os espaços.

Esta edição inicia com uma entrevista com Gabriel Guioto, economista, gestor de Gente e Gestão na UNIASSELVI. Em seguida, apresentamos sugestões de leitura que têm a Ética como tema central.

Para encerrar esta 8ª edição da Revista Uniasselvi-Pós, publicamos os seis artigos que foram selecionados pelo Conselho Editorial.

O primeiro artigo, intitulado A ética profi ssional do docente na formação cidadã do educando, analisa a postura ética do profi ssional de educação como construtor e formador da cidadania do educando.

O segundo artigo, Ética em administração de pessoas na contemporaneidade: um estudo sobre os aspectos envolvidos no processo de gerenciamento de equipes, aborda conceitos e conhecimentos acerca dos principais aspectos envolvidos no gerenciamento de equipes, partindo de uma breve defi nição da ética em geral e posteriormente direcionando para a ética empresarial.

O trabalho pedagógico na capacitação de gestores e fomento da ética no ambiente corporativo é o título do terceiro artigo, que aborda o atual cenário empresarial e o mercado altamente competitivo que exige constantemente adaptações e modifi cações nos modelos de gestão.

Refl etir acerca da importância da ética na gestão escolar, estendendo-se para as inter-relações entre todos os sujeitos constituintes do contexto escolar é a proposta do quarto artigo, que tem o título Ética na gestão escolar.

O quinto artigo, intitulado Ética! Temos ou não temos? E se não temos, quando teremos?, tem por objetivo explicar a ética e buscar diferenciar a ética da moral e outros termos correlatos que, embora estejam relacionados entre si, são conceitos distintos.

Ética: dos primórdios fi losófi cos às corporações modernas, o sexto artigo, encerra a 8ª edição da Revista Uniasselvi-Pós e se dedica ao estudo do tema ética nas corporações.

Desejamos a todos uma ótima leitura!

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UNIASSELVI-PÓS REVISTA

ÍNDICE

Dicas de Leitura Sobre o Tema Ética Profi ssional

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EntrevistaGabriel Guioto

ArtigoA Ética Profi ssional do Docente na Formação Cidadã do EducandoAutor: Antonio Jorge Silva de Abreu

23Artigo

O Trabalho Pedagógico na Capacitação de Gestores e Fomento

da Ética no Ambiente CorporativoAutora: Jaqueline de Bairros

ArtigoÉtica! Temos ou Não

Temos? e se Não Temos, Quando Teremos?

Autor: Maurício Souza da SilvaArtigo

Ética em Administração de Pessoas na Contemporaneidade:

Um Estudo Sobre os Aspectos Envolvidos no Processo de Gerenciamento de Equipes

Autor: Bruno Henrique Marim Bolssone

ArtigoÉtica: dos Primórdios Filosófi cos às Corporações ModernasAutor: Victor José Caglioni

29 ArtigoÉtica na Gestão EscolarAutor: Jean Michel Kolcenti

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UNIASSELVI-PÓS REVISTA

ENTREVISTA

Gabriel Guioto é gestor de Gente e Gestão na UNIASSELVI. Iniciou sua carreira na Arthur Andersen, empresa multinacional de consultoria e auditoria. Antes de ingressar na UNIASSELVI, foi membro do Conselho Executivo, diretor de Gente e Gestão da Brasil Pharma S.A. Entre 2007 e 2011, exerceu funções de controller e gerente de Planejamento e Controle da PDG Realty S.A. Também atuou na área de Controladoria do Banco Pactual. Possui graduação em Economia pela UFRRJ, onde também concluiu uma pós-graduação em Finanças Corporativas.

PERGUNTAS

1 - Como o senhor defi ne ética?

Entendo que é o conjunto de regras e valores que conduzem um grupo ou uma sociedade.

2 - O que o senhor considera como ética na produção do conhecimento?

Considero que se deva cumprir as regras e seguir os valores, sem esquecer que a pesquisa é parte fundamental do conhecimento.

3 - Ética e conhecimento relacionam-se à integridade. A integridade da vida individual e coletiva. Quanto à formação profi ssional, nós temos a preocupação com a qualidade do ensino e o compromisso com o conhecimento. O que o senhor considera como qualidade na formação profi ssional?

Acredito que a qualidade na formação profi ssional está ligada diretamente à busca pela excelência, tanto no âmbito acadêmico como administrativo. Sendo assim, um profi ssional que busca conhecimento continuamente, através de pesquisas, pode levar a área acadêmica a um outro patamar de qualidade.

4 - Ética, conhecimento, subjetividade, coletividade. Esses elementos se entrelaçam na formação do indivíduo desde o nascimento. É possível a Universidade interferir na formação ética do indivíduo, sendo que a ética diz respeito à formação educacional (desde criança) de um sujeito?

A formação do indivíduo é a soma de esforços promovidos desde a educação da família, da básica e fundamental até a universidade. Portanto, acredito que, ainda que parcialmente, a universidade pode interferir na formação ética do indivíduo, seja através do conhecimento ou coletividade. Atualmente as escolas e universidades estão cada vez mais abordando o assunto.

EntrevistadoGabriel Guioto

5 - A colheita de ações competentes e de qualidade é automática quando investimos na formação profi ssional?

Não tenho dúvidas de que há no mínimo uma refl exão antes das ações quando investimos em formação profi ssional. E posso afi rmar que, em muitos casos, os efeitos são automáticos.

6 - O não saber é um sinal de inteligência. Ele impulsiona a busca. Mas a dúvida, ela estaria relacionada diretamente à inovação, ao reinventar. Por quê?

Acredito que o não saber pode impulsionar a busca, a curiosidade, a formação da opinião e a necessidade de inovar. Entendo que a busca contínua por inovação pode impulsionar novas tecnologias e trazer benefícios para a sociedade.

7 - Atualmente costuma-se afi rmar que três perguntas são essenciais para cuidarmos da vida: Quero? Devo? Posso? Todavia a resposta para essas perguntas são dilemas que enfrentamos diariamente. Quando podemos dizer que somos antiéticos ao responder essas perguntas? E quando podemos dizer que somos aéticos ao respondê-las?

Há coisas que eu quero, mas não devo. Há coisas que eu devo, mas não posso. Há coisas que eu posso, mas não quero. Dessa forma, podemos caracterizar a ética de uma sociedade, corporação ou grupo. Os valores morais são base determinante para concluir sobre um comportamento ético ou antiético. Um comportamento antiético é aquele que transgride a ética e as regras, rompendo valores da sociedade. O aético é simplesmente aquele ou aquilo ao qual não se aplica a questão da ética.

8 - Atualmente, qual o principal quesito para ser um profi ssional de sucesso?

Profi ssionais devem administrar recursos escassos com inteligência, equilíbrio emocional e aderência à cultura da empresa, com ética.

EntrevistadoGabriel Guioto

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DICAS DE LEITURA SOBRE O TEMA ÉTICA PROFISSIONAL

ÉTICA PROFISSIONAL

Autor: Paulo Roberto Barsano

Este livro aborda a origem e a evolução do homem, a diversidade cultural e as culturas nacionais; trata de fundamentos de cidadania e da Declaração Universal dos Direitos Humanos, além de aplicações da cidadania nas organizações, absenteísmo e controle do tempo.

Editora Erica, 2014

ISBN 8536507950, 9788536507958

Número de páginas: 120.

ÉTICA NA GESTÃO EMPRESARIAL:DA CONSCIENTIZAÇÃO À AÇÃO

Autor: Francisco Gomes de Matos

O livro proporciona não só os fundamentos e o modelo, mas o ferramental para gestão da ética. A corrupção pensou destruir a Ética, mas não contava com a rebelião das consciências.

Editora Saraiva, 2016

ISBN 8502065793, 9788502065796

Número de páginas: 158.

FILOSOFIA E ÉTICA NA ADMINISTRAÇÃO

Autor: João Augusto Máttar Neto

A obra tem como proposta explorar os pontos de comunicação entre os universos da fi losofi a, da ética e da administração. Um de seus destaques é a aplicação da fi losofi a e da ética na vida das organizações.

Editora Saraiva, 2004

ISBN 8502042920, 9788502042926

Número de páginas: 374.

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ÉTICA E CIDADANIA NA EDUCAÇÃO

Autor: Antônio Bonifácio Rodrigues de Sousa

Os capítulos iniciais deste livro tratam de temas teóricos, como os fundamentos básicos da ética. Os seguintes abordam questões práticas e essenciais à educação, como disciplina e cidadania. Questionários ao fi nal dos capítulos servem de subsídios, motivando a análise crítica de cada tema.

Coleção: Ethos - Editora: Paulus, 2010

ISBN: 9788534931939

Número de páginas: 120.

A ÉTICA DA DISCUSSÃO E A QUESTÃO DA VERDADE

Autor: Jürgen Habermas

A obra é composta de duas partes: a primeira mostra as respostas concedidas por Habermas num debate público ocorrido em 1º de fevereiro de 2001 no anfi teatro Descartes da Universidade de Paris-Sorbonne (Paris IV). A segunda parte apresenta conferência realizada em 31 de janeiro de 2001 a convite do Centre Georges-Pompidou no quadro de suas "Revistas faladas". Nela, Habermas apresenta os temas de que tratou em seu último livro (Verdade e Justifi cação), numa síntese que fornece assim uma visão geral da concepção da verdade teórica e prática apropriada à ética da discussão.

Editora: Wmf Martins Fontes, 2004

ISBN: 9788578277390

Número de páginas: 100.

ÉTICA E RESPONSABILIDADE SOCIAL NOS NEGÓCIOS

Autora: Patricia Ashley

Escrita por 12 pesquisadores sobre o assunto no Brasil, esta obra é totalmente voltada à realidade brasileira. Procurando fugir da visão tradicionalista, mercantil ou puramente fi lantrópica, o livro utiliza-se de abordagem inovadora para mostrar o papel estratégico da responsabilidade social nos negócios.

Edição 2, reimpressão

Editora Saraiva, 2005

ISBN 8502050672, 9788502050679

Número de páginas: 340.

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9jul. 2018 Número I Volume 8 Indaial / SC Ética Profissional

UNIASSELVI-PÓS REVISTA

A ÉTICA PROFISSIONAL DO DOCENTE NA FORMAÇÃO CIDADÃ DO EDUCANDO

ARTIGOS Autor:Antonio Jorge Silva de Abreu

Graduado em Licenciatura em História pela Universidade Católica Dom Bosco (UCDB).

Pós-graduando em Metodologia de Ensino de Filosofi a e Sociologia (UNIASSELVI).

E-mail: [email protected]

Resumo

O presente trabalho analisa a postura ética do profi ssional de educação como construtor e formador da cidadania do educando. Discute-se aqui o conceito de ética e sua projeção na realidade do educador; a autonomia, tarefa fundamental no ato de educar, como um princípio pedagógico para a formação dos professores e prática ligada à construção da cidadania; os fundamentos éticos e políticos que determinam a atuação profi ssional do educador e os valores e ações comprometidos com a construção da cidadania do aluno; a atuação do professor ao proporcionar um ambiente propício ao diálogo e que implica uma educação libertadora.

Palavras-chave: Ética Profi ssional. Educação. Cidadania.

1 INTRODUÇÃO

A necessidade ética, na consideração do respeito da pessoa humana, é uma das discussões mais vivas e polêmicas da atualidade. No exercício das relações sociais, a educação, atributo da formação humana, é essencialmente uma prática de signifi cado ético. Por isso que na formação docente, objeto de extensas pesquisas e estudos, a ética profi ssional é uma qualidade que se prevê do professor. Neste sentido, é necessário que a prática do educador, uma prática interventiva a partir da/e na realidade, dialogue com a realidade do educando em prol da formação da cidadania.

O homem, dentro de uma perspectiva histórico-social e guiado pela natureza de sua existência, atua e transforma a realidade em que vive por meio de seu modo de agir. Nessa formação histórica e cultural repousam a sensibilidade e exigência de uma conduta ética de características proeminentemente humanas. Esse caminhar direciona-se a uma refl exão crítica sobre o comportamento moral e as particularidades dos seres humanos.

No decorrer da dinâmica política e social do país, o professor se adapta às estruturas transformadoras e de mudanças para que, no diálogo com o mundo real, possa desenvolver um aprendizado criativo, crítico e democrático. O

professor objetiva alcançar aquilo que representa e defi ne o seu desenvolvimento como sujeito histórico e livre. Estamos falando da autonomia, valorizada na literatura freireana como tarefa fundamental no ato de educar, e uma postura ética no modo de aprender e ensinar em sala de aula. É exatamente neste ponto que residem importantes questões da educação atual, como: quais as propostas e intenções pedagógicas da legislação brasileira, no contexto ético e profi ssional, para a construção escolar em um mundo globalizado? Como o incentivo a uma consciência crítica da realidade ajuda o educando a se aproximar do conhecimento e do agir eticamente? Qual a postura ética do profi ssional de educação no cotidiano escolar?

Este trabalho está dividido em três partes. Na primeira é abordada a relação da ética com a educação, em que a ética é defi nida como uma incessante refl exão sobre a moral e o comportamento humano, tornando-se, assim, um importante fator na formação do educando. Também são apresentados a trajetória e o projeto de cidadania desempenhada pela legislação pedagógica brasileira, o que demonstra o caráter ético e político da educação. Dessa experiência surge o reconhecimento da responsabilidade do professor em incentivar a criatividade e a refl exão nos alunos.

Na segunda parte discorre-se sobre a educação e a autonomia, tendo a ação docente como partícipe

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UNIASSELVI-PÓS REVISTA

na formação da cidadania. Dentro desse processo crítico e educacional estão inseridos os princípios pedagógicos que o educador deve considerar em sua prática educativa. Assim, discute-se a prática docente como formadora e ética, ligada ao respeito que o professor precisa ter para com a identidade e os direitos do aluno, em que, ao mesmo tempo, desperta no educando a curiosidade que o torna um cidadão crítico e participativo.

Na terceira e última parte analisam-se a formação e os fundamentos éticos dos professores dentro de um comprometimento na construção da cidadania – o que envolve um projeto coletivo. Nesse caso, a formação, atitude tipicamente educacional, é entendida como o processo de emancipação e autonomia do indivíduo. O educador se reconhece como agente que atua sobre a realidade do mundo concreto, no qual o conhecimento é o principal mecanismo determinante da existência, e percebe, em sua sensibilidade ética, que esse conhecimento, alicerçado pela política das relações sociais, é o que direciona o educando para a participação da vida em sociedade.

Neste estudo, optamos por pesquisar os planos da política educacional representados pela legislação que se direciona para a formação e prática educacional. Tomamos como fonte de estudo a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB), os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN) e as orientações dos Conselhos Escolares. No panorama da educação e da formação docente, os autores que dão sustentação teórica e metodológica a este trabalho são: Paulo Freire, Antônio Severino, Gabriel Perissé, Mírian Grinspun, Ana Freitas, Edgar Morin e Mary Warnock. Entre os estudos específi cos sobre o conceito de ética, destacam-se José Mora e Roger-Pol Droit.

2 ÉTICA E EDUCAÇÃO

Não há dúvida de que, quando se trata da formação da cidadania do indivíduo, a referência mais importante é o professor. O desenvolvimento moral e a formação de valores do aluno se devem à contribuição desempenhada pelo educador, sem a qual o projeto pedagógico da escola não seria possível. Isso se dá com uma postura

pedagógica em que a ação ética e política privilegie o questionamento e o diálogo. Nesse sentido, “sempre caberá ao professor adaptar novas diretrizes à sua realidade concreta, aos seus alunos, ao seu mundo” (PERISSÉ, 2004, p. 15), entendendo que, conforme Severino (2011, p. 131), “a exigência da eticidade assume dimensão de radicalidade na prática educativa”.

Na medida em que o educador se compromete com essas diretrizes, ele terá parte na formação da pessoa humana do educando. Esse valor humano está associado à esfera da ética, que aqui é entendida como “doutrina do valor, do bem e da conduta humana”, sendo, ainda, “uma refl exão crítica sobre a moralidade, sobre a dimensão do comportamento humano” (GRINSPUN, 2014, p. 73). “A ética coloca-se numa perspectiva de universalidade”, afi rma Severino (2011, p. 139), “enquanto a moral fi ca sempre à particularidade dos grupos e mesmo dos indivíduos”. Paralelamente, Mora (2001, p. 245) defi ne a ética como “a ciência que se ocupa dos objetos morais em todas as suas formas”, e também, conforme explica Droit (2012, p. 94), “uma preocupação com os outros” que “nos chama a ser responsáveis para com eles”. Essa refl exão, por sua vez, busca compreender, dentro de uma relação entre a ética e a educação, a emancipação do indivíduo e a formação de sua cidadania.

A ética contemporânea é o resultado do comportamento do sujeito humano sobre sua realidade. A educação, regida por meio de ferramentas simbólicas, é uma prática cultural que se revela como modalidade técnica e política de expressão do ambiente histórico-social, “bem como investimento formativo em todas as outras modalidades de práticas” (SEVERINO, 2011, p. 134). A produção de conceitos e a vivência de valores, em seu caráter de prática cultural, representam os recursos simbólicos que dão margem e referência para o andamento da existência histórica do indivíduo. Por isso, a relação da ética, uma referência valorativa, com a educação, constituída e inserida no conjunto de um contexto histórico-social (SEVERINO, 2011, p. 135).

Foi pensando nesse projeto de cidadania, e em uma reforma da legislação pedagógica brasileira, histórica e socialmente determinada pela consolidação democrática e a globalização, que a

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11jul. 2018 Número I Volume 8 Indaial / SC Ética Profissional

UNIASSELVI-PÓS REVISTA

Lei de Diretrizes e Bases de 1996 buscou romper com a ideia de um ensino compartimentado, descontextualizado ou preocupado apenas com o acúmulo de conhecimento, para destacar, como objetivo da educação básica, o aprimoramento do educando, garantindo-lhe uma formação igualitária e concentrada no desenvolvimento da cidadania. É notória no texto a aproximação que é feita entre dois objetivos existentes na Constituição de 1988: a preparação para o trabalho e para a cidadania. Porém, é no parágrafo III, do artigo 35, da LDB, em relação às fi nalidades do Ensino Médio, que é estabelecido “o aprimoramento do educando como pessoa humana, incluindo a formação ética e o desenvolvimento da autonomia intelectual e do pensamento crítico” (BRASIL, 2002, p. 17). O que é importante, portanto, é que se abriu caminho, pelo menos na legislação, para a organização de um projeto de formação ligado ao saber crítico e não mais apenas à profi ssionalização técnica.

É nessa perspectiva de formação que os Parâmetros Curriculares Nacionais, proposta de orientação ética-profi ssional e de terminologia educacional que integra conceitos extraídos de discussões pedagógicas, inclusive e principalmente da prática educativa, vertida como a realidade do cotidiano da escola, valorizam as intenções pedagógicas da construção escolar como dependentes do ambiente em que o aluno vive.

O conhecimento não é visto como algo situado fora do indivíduo, a ser adquirido por meio de cópia do real, tampouco como algo que o indivíduo constrói independentemente da realidade exterior, dos demais indivíduos e de suas próprias capacidades pessoais. É, antes de mais nada, uma construção histórica e social, na qual interferem fatores de ordem cultural e psicológica (BRASIL, 1997, p. 36-37).

A partir dessa postura, os PCN tentaram inserir nos ensinos Fundamental e Médio novos parâmetros pedagógicos que visam à valorização da autonomia do estudante, tendo o professor como o principal agente. Como se pode supor, o documento destaca o ato de educar como formador de indivíduos questionadores dos valores e comportamentos compreendidos como “corretos”. E essa crítica pedagógica, ou esse incessante exame ético, atribui importância à refl exão e à experiência, em uma constante “discussão de

aspectos do cotidiano da prática pedagógica” (BRASIL, 1997, p. 10), como essenciais para a formação ética dos estudantes. É, sem dúvida, a partir desse contexto que, em seu trabalho escolar, o professor deve se afastar das tendências moralistas que instigam o espírito doutrinador e o discurso vazio.

Deste modo, a experiência, tal como aparece nos PCN, além de refl exão crítica, é também e fundamentalmente uma responsabilidade ética do professor. Ela torna-se essencial ao educador, que ao invés de encobrir, descobre novas maneiras que “possibilitam que o aprendiz ensine os professores a ensinar-lhe” (PERISSÉ, 2004, p. 71). Nesse caso, quando se direciona os alunos ao diálogo ocorre uma ação dupla no modo de ensinar, em que o educador percebe “o seu ensinamento no rosto do aluno que aprende” (PERISSÉ, 2004, p. 71). Um dos problemas que envolvem o ensino na sala de aula é a falta de experiência do professor em lidar com o diálogo, em que estão em jogo a comunicação e o entendimento. Por isso:

É responsabilidade do professor suscitar no aluno a responsabilidade de enriquecer-se para que as próprias aulas do professor deixem de ser uma experiência linear, baseada no unilateralismo, e crie-se um âmbito de participação, em que, cada um cumprindo o seu papel, todos colaborem para o mútuo crescimento humano das pessoas envolvidas (PERISSÉ, 2004, p. 71).

Essa experiência é, portanto, uma forma de dialogar com a realidade. A formação do professor, considerada como a preocupação da fi losofi a da educação, também depende da formação do aluno. Tal preocupação converte-se concretamente em uma solicitação ao professor para que ele, na sua vida profi ssional, estimule o aluno, baseado na realidade, a desenvolver sua capacidade criadora. Em suma, quando professor e aluno criam uma relação criativa com o mundo real, o aprendizado deixa de ser apenas acumulação de informações, e o diálogo, como condição humana modifi cadora do real, desenvolve-se “automaticamente no momento em que essas características são exercitadas na própria relação com a realidade” (PERISSÉ, 2004, p. 50).

Enquanto mecanismo de formação humana, a educação é fundamentalmente uma ação de dimensão ética. E o professor, ao levar em conta

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UNIASSELVI-PÓS REVISTA

essa preocupação de caráter político das relações sociais, constrói em sua profi ssão um processo de autonomia, trabalho essencial no ato de educar. Portanto, quando conclamado a essa postura ética, que percorre a realidade de sua existência, não pode ser pensada ou praticada de modo parcial em relação ao coletivo, mas antes, nas palavras de Mary Warnock (1994, p. 213), como “uma satisfação semelhante no reconhecimento de que o progresso é possível para todos os alunos. Ter tais convicções e sentir tais prazeres é, evidentemente, adotar uma atitude moral”, prática “essencial à educação, e no seu próprio cerne”.

3 EDUCAÇÃO E AUTONOMIA

O objetivo principal da escola é a educação vinculada à ideia de autonomia. Esta última é situada em relação à participação social e política dos grupos, em que a escola se torna “um lugar privilegiado para o exercício da democracia participativa, para o exercício de uma cidadania consciente e comprometida com os interesses da maioria socialmente excluída” (BRASIL, 2004, p. 20). A autonomia é vista como um processo de inserção da comunidade na gestão democrática da escola. Em outras palavras, uma ação libertadora que procura abandonar as práticas autoritárias vigentes na sociedade. Essa autonomia educacional, além de ao professor e à escola, é voltada principalmente para o aluno, propondo a ação e a refl exão da/e na realidade.

Pensando a realidade não só como dado objetivo, a verdade, senão, também, como a percepção que o homem tem dela, Paulo Freire vê um parentesco, uma semelhança, entre ela e a capacidade de aprender do indivíduo. Para ele, “ensinar exige apreensão da realidade” (FREIRE, 2016, p. 67) por parte do professor, para que, com clareza, possa se direcionar em sua prática de ensino. É essa concepção da realidade como ação transformadora ou, mais precisamente, como percepção do mundo – leitura dos fatos como parte de um todo que dialoga –, que permite a Freire (2011, p. 31), para além de todo obstáculo, dizer que essa “leitura crítica da realidade” pode compor-se em um “instrumento de ação contra-hegemônica”. Desta forma, a educação e a formação, que se inserem na ética profi ssional do professor, devem permitir a

criticidade como ferramenta para o conhecimento. E essa ação se concretiza na medida em que a curiosidade, criticizando-se, aproxima-se cada vez mais do conhecimento e “se torna curiosidade epistemológica” (FREIRE, 2016, p. 32-33).

A curiosidade epistemológica, que Paulo Freire passa a considerar com mais clareza no processo de formação dos educadores, caracterizando-a como produção do conhecimento, prioriza a ética e a experiência profi ssional do professor, que deve “promover o exercício sistemático da curiosidade no processo de pensar e de estudar a própria prática” (FREITAS, 2016, p. 108). Freire acentua a educação como um ato de conhecimento e denuncia o ensino “cujas certezas se revelam castradoras da curiosidade dos educandos”. Para ele, a curiosidade é uma espécie de “antídoto das certezas”, e é nessa curiosidade que reside o “agir sobre a realidade para transformá-la” (FREITAS, 2016, p. 107). Freitas enfatiza essa posição, quando diz que:

A criação do termo curiosidade epistemológica traduz, em síntese, o entendimento de Paulo Freire acerca da necessária postura para que o ato de conhecer se efetive numa perspectiva crítica. A curiosidade epistemológica não é qualquer curiosidade, mas é a que está ligada ao difícil, mas prazeroso, ato de estudar. É própria da consciência crítica e se desenvolve no processo de conscientização. A promoção da curiosidade ingênua à curiosidade epistemológica requer o desenvolvimento da rigorosidade metódica e representa um desafi o à formação com educadores/as (FREITAS, 2016, p. 108).

Desse modo, Freire, em Pedagogia da autonomia, caracteriza e refl ete a autonomia, tarefa fundamental no ato de educar, como um princípio pedagógico para a formação dos educadores. Por conseguinte, ele delimita sua refl exão em incursões que vai elaborando sobre “saberes necessários à prática educativa” (FREIRE, 2016), em que, para isso, há que se pôr em crítica permanentemente “à malvadez neoliberal, ao cinismo de sua ideologia fatalista e a sua recusa infl exível ao sonho e à utopia” (FREIRE, 2016, p. 16). O que dá apoio ético à defesa e à necessidade da “perspectiva crítica” em segmentos de formação de educadores é a autonomia do ser humano. É, certamente, a partir desse contexto que Freire defende a autonomia como um processo que vai se construindo no desenvolvimento do sujeito

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histórico, de democracia e liberdade: “o trabalho de construção de autonomia é o trabalho do professor com os alunos e não do professor consigo mesmo” (FREIRE, 2016, p. 63).

É nesse sentido que a prática docente também está ligada à construção da cidadania: “A prática docente, especifi camente humana, é profundamente formadora, por isso, ética” (FREIRE, 2016, p. 64). Para Paulo Freire (1981, p. 45), a “condição de cidadão, quer dizer, com o uso dos direitos e o direito de ter deveres de cidadão” é o que defi ne a cidadania. Para que a prática docente atinja seu objetivo formador é necessário que toda forma de apropriação de conhecimento esteja diretamente ligada e em conformidade com a realidade do educando, assim, a cidadania será efetivada a partir da/e na realidade em que ocorrem o debate e a refl exão. É por meio do exercício da coletividade e das relações sociais que a cidadania se manifesta em benefício dos direitos e deveres do cidadão. Essa defesa dos direitos se concretiza no momento da prática docente como prática ética, coletiva e formadora. Não como algo externo da atividade docente, “mas como algo que dela faz parte”, assim como “o respeito que o professor deve ter à identidade do educando, à sua pessoa, a seu direito de ser” (FREIRE, 2016, p. 65).

Ao analisar o papel ético do professor, que considera a identidade do educando, e para atentar à questão da prática docente, Grinspun (2014, p. 83) destaca que essa refl exão, atitude formadora, leva o educador a compreender a conduta do indivíduo e o processo de cidadania. Em síntese, a prática docente está ligada ao papel do educador em estimular no educando a curiosidade que o destaca como indivíduo crítico e participante das mudanças do mundo, “como indivíduo consciente, histórico, no processo de transformação da sociedade”. É nesse sentido que se corroboram as palavras de Freire no que se refere ao respeito que o educador deve ter ao educando, ao “seu direito de ser” (2016, p. 65).

Ao estimular esse indivíduo participativo, o educador estabelecerá as bases para o desenvolvimento do educando, “favorecendo-lhe a construção de conhecimentos, a conscientização de seus sentimentos, de forma a torná-lo um cidadão crítico”, direcionando-o para a sua

autorrealização (GRINSPUN, 2014, p. 94). Debater sobre essas questões é uma tarefa imprescindível na trajetória pedagógica, pois a educação:

[...] estando comprometida com os atos humanos, levará ao aluno – objeto e objetivo dessas ações – o entendimento do que sejam os conhecimentos, os valores, as crenças, os mitos, os desejos, os interesses e as necessidades. A educação, acompanhando e interferindo na própria história e, por conseguinte, na história que o aluno produz, poderá e deverá promovê-lo a ser um agente mais crítico e consciente na transformação individual. Um ser que pensa, que age, que constrói, que se emociona e que, por certo, há de se juntar aos demais na busca de uma sociedade mais justa, igualitária e humana (GRISPUN, 2014, p. 95).

A educação é legitimada quando estabelece, em um contexto histórico, a prática humana, com sua proposta centrada na autonomia. O ambiente escolar é repleto de situações que auxiliam o aluno a pensar, refl etir e agir a partir dos valores considerados legítimos nas relações humanas. Cabe à educação investir, com base em seu próprio conceito de formação, na construção de uma sociedade renovada. O ensino, mediando os alunos e professores no universo do trabalho, das relações econômicas, da vida social, da formação de identidade, da cultura, da política e do poder, deve ser reconhecido como prática conjunta da técnica e da política que integra os sujeitos, consolidado pelo valor ético (SEVERINO, 2011, p. 145).

4 FORMAÇÃO E FUNDAMENTOS ÉTICOS DOS PROFESSORES

Para Severino (2011, p. 132), a ética ocupa um papel importante no processo educativo. Para ele, a formação constitui-se “uma situação de plena humanidade”, que se caracteriza pela emancipação e autonomia dos envolvidos. Nessa refl exão, a educação, identifi cada como um investimento de formação humana no âmbito da relação pedagógica pessoal e social, tornou-se uma prática atuante no meio da sociedade, articulada por valores éticos e políticos, graças à interação da convivência humana. Desse modo, os grupos sociais, quanto mais se tornam complexos, mais criam “práticas formais de educação, institucionalizando-as sistematicamente” (SEVERINO, 2011, p. 133).

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Nas palavras de Severino (2011, p. 136), “todos os homens dispõem de uma sensibilidade moral” determinante de suas ações e de modo a correlacionar as atitudes “boas ou más, lícitas ou ilícitas, corretas ou incorretas”. O ambiente sociocultural impõe ao homem normas de comportamento e de prática que são aderidas e recebidas como sua individualidade, sua subjetividade, em uma espécie de vivência da “força do valor que lhe é, então, imposto”, demonstrando que a tendência para a ética, ou o dever ético, são ações comuns a todas as pessoas, “embora se expressando de formas diferenciadas nas diferentes coordenadas históricas dos grupos humanos” (SEVERINO, 2011, p. 136).

Esse compromisso ético é expresso no momento em que a educação, envolvida com a pessoa humana, desenvolve suas atividades direcionadas para a formação do aluno. A dimensão ética, no vínculo do indivíduo com a sociedade, advém de uma experiência histórico-cultural em que os indivíduos se colocam perante o outro, respeitando-se reciprocamente, como pessoas dispostas ao diálogo. Consequentemente, “o ato de orientar pressupõe um comportamento ético defi nido, com base numa responsabilidade moral precisa” (GRINSPUN, 2014, p. 75). A educação, por ser uma atividade de ação e refl exão humana, está inserida no ambiente da normatividade ética, o que leva Mirian Grinspun a concluir que essas normas que orientam o comportamento humano, também em toda a gama da educação, servirão para propiciar ao aluno:

[...] as posições a serem tomadas na sua conduta, no seu processo de escolha, na sua postura social. Com a clarifi cação dos valores emergentes de uma sociedade, com a refl exão dos princípios éticos que a dimensionam e a estruturam, o aluno poderá ter melhores condições para refl etir e discutir os valores da verdade, da liberdade e da responsabilidade (GRINSPUN, 2014, p. 94).

O processo de democratização brasileiro, em todos os seus aspectos, esteve unido a uma característica política da educação “entendida como estratégia de formação e emancipação das novas gerações, de sujeitos sociais capazes de defi nir por si seu destino histórico” (GRISPUN, 2014, p. 110). Esse cenário político, em que também está inserido o surgimento de novas

tecnologias e a abertura para o mercado externo, determinou as reformas na esfera educacional. No entanto, Grinspun salienta que não se deve buscar apenas nos segmentos de novas técnicas para assegurar a qualidade organizacional da educação. Na qualidade está também a prática educacional que busca autonomia e liberdade para as escolas para que “a formação do aluno ocorra em termos da formação do cidadão participativo, crítico e consciente de seu papel na sociedade” (GRISPUN, 2014, p. 110).

Nesse sentido, o homem não é um sujeito meramente dominado pela sociedade e pela natureza. Em uma perspectiva cultural e histórico-cultural, ele “é uma entidade natural histórica, determinada pelas condições objetivas de sua existência, ao mesmo tempo que atua sobre elas por meio da sua práxis” (SEVERINO, 2011, p. 142), ou prática. Essa é a importância e a responsabilidade do educador em valorizar a dignidade da pessoa humana, o que resultará em uma postura pedagógica livre da ética abstrata, alienada, mas real e concreta em torno da existência (SEVERINO, 2011, p. 142). Esse comportamento estabelece um compromisso de aplicação do único instrumento para a orientação de nossas vidas:

[...] o conhecimento que precisa tornar-se, então, competente, criativo e crítico. A mais radical exigência ética que se faz manifesta, neste quadrante de nossa história, para todos os sujeitos envolvidos na e pela educação é, sem nenhuma dúvida, o compromisso de aplicação do conhecimento na construção da cidadania. (SEVERINO, 2011, p. 143)

Desse modo, cabe à educação a tarefa de construção da cidadania. Consequentemente, é importante que se assegure a comunicação e o diálogo nessa prática política e pedagógica assumida pelo professor e pela escola. É no exercício de sua profi ssão que o professor distingue e subtrai as barreiras existentes na realidade escolar. E nesse caso, o docente, sensível aos valores éticos, é impelido a emitir valores comprometidos com o comportamento humano. Aqui vale lembrar Freire (2016, p. 20) quando diz que “é no domínio da decisão, da liberdade, da ruptura, da opção, que se instaura a necessidade da ética e se impõe a responsabilidade”, assim, “a ética se torna inevitável e sua transgressão possível é um desvalor, jamais uma virtude”.

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Em sua realidade escolar, o professor encontra um ambiente múltiplo e dinâmico propício ao diálogo. Nesse contexto, conforme Morin (2000, p. 11), a educação “só pode ser viável se for uma educação integral do ser humano. Uma educação que se dirige à totalidade aberta do ser humano e não apenas a um de seus componentes”. Em outras palavras, trata-se de pensar no diálogo como um projeto pedagógico crítico que pode atingir todo o público escolar atual e que implique em uma educação libertadora. É na aproximação com a realidade que o professor desvia dos obstáculos e elabora seu plano de ação.

Entre essas barreiras encontradas pelo educador está, por exemplo, a questão das diferenças. A formação de uma escola democrática e plural é fortemente alcançada por meio do diálogo em que estejam envolvidos gestores, família e os professores. Estes últimos se veem eticamente comprometidos em incentivar o respeito às diferenças. Nesse sentido, Freire (2016, p. 118) pergunta: “como estar aberto às formas de ser, de pensar, de valorar, consideradas por nós demasiado estranhas e exóticas, de outra cultura?” O saber lidar com as diferenças tem como base o diálogo que proporciona propostas de transformação social e de educação. Para Freire, “aceitar e respeitar a diferença é dessas virtudes sem o que a escuta não se pode dar” (FREIRE, 2016, p. 118). O respeito às diferenças exige humildade, uma exigência que não é submissa à arrogância dos outros: “a humildade exprime, pelo contrário, uma das raras certezas de que estou certo: a de que ninguém é superior a ninguém” (FREIRE, 2016, p. 119). A ausência de humildade exposta em atitudes arrogantes e de falsa superioridade “de uma pessoa sobre outra, de um gênero sobre outro, de uma classe ou de uma cultura sobre outra, é uma transgressão da vocação humana do ser mais” (FREIRE, 2016, p. 119).

O professor não pode deixar de perceber que o respeito às diferenças, promovido pelo diálogo, é construído em meio a um ambiente de visões confl itantes e às vezes com imposições de valores. É por isso que Severino (2011, p. 147) salienta a necessidade de uma escola sem “mecanismos opressores” de imposição de valores herdados pelas morais históricas. Sem isso, os estudantes terão condições de vivenciar e construir sua autonomia pessoal. Para ele, “toda imposição ideológica aliena, submete, oprime” (SEVERINO, 2011, p. 147). Na escola atual, a identidade do educador e do educando é formada sobre três bases, consolidadas e

amparadas pelo aspecto ético: o domínio do conteúdo teórico, a habilidade técnica e o reconhecimento da representação política das relações sociais. Assim sendo, a escola não pode servir como efetivação do monólogo, como imposição de valores e dominação. Por isso mesmo,

[...] em que pesem todas as limitações, a mediação para a formação ética dos aprendizes passa necessariamente pelo esclarecimento, ou seja, embora não baste saber, é preciso compreender. Compreender aqui signifi ca vivenciar um saber que não apenas toca o intelecto, mas também move a vontade, desvelando um sentido valorativo, despertando a sensibilidade ao nexo desse valor ao valor da dignidade humana. (SEVERINO, 2011, p. 147)

A prática ética que se espera do educador em sua atuação profi ssional confi gura-se na preparação do educando para a cidadania. Essa ética profi ssional deve se expressar na prática cotidiana da escola. O envolvimento com a educação e “a sensibilidade ética do educador estão radicalmente vinculados a um compromisso com o destino dos homens” (SEVERINO, 2011, p. 147). A formação cidadã acontece em um conjunto da prática docente com a responsabilidade técnica e o comprometimento político. Daí a função da responsabilidade ética como referência no processo de formação de uma sociedade justa, igualitária e democrática, constituída de cidadãos críticos que, dialogando entre si, percebem seus direitos e deveres conquistados e “disponíveis para a sociedade concreta em que vivem, e a que todos têm direito, em decorrência da dignidade humana de cada um” (SEVERINO, 2011, p. 148).

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

A ética surge como uma refl exão crítica sobre o comportamento humano, fi xando-se em uma perspectiva de universalidade. A educação, uma prática determinantemente inserida na ação política do homem, tornou-se um investimento de caráter formativo e político na trajetória histórico-social da sociedade. Essa refl exão compreende, dentro do vínculo de ética e educação, a emancipação do indivíduo e a formação de sua cidadania. Daí a relação valorativa da ética com o contexto consagrado pela natureza da educação.

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O projeto educacional que aparece inserido na legislação pedagógica brasileira demonstra a íntima ligação da refl exão crítica e ética com a responsabilidade profi ssional do professor. Ao levar em conta essa tendência política das relações sociais, o professor constrói em sua profi ssão um processo de autonomia, atitude essencial no ato de educar. A formação do educador, ocupação da fi losofi a da educação, também depende da formação do aluno. Por isso, o professor, com base no diálogo e na realidade, deve estimular no aluno o desenvolvimento da sua capacidade criadora. Na medida em que o professor desenvolve essa prática, o aprendizado deixa de ser apenas acumulação de informações, e o diálogo, como condição humana transformadora, desenvolve-se em sua estreita relação com o mundo real.

Refl etir sobre a educação e cidadania requer um conhecimento contínuo de educação e da capacidade para trabalhar com normas humanamente universais do respeito pela pessoa humana e com uma interpretação histórico-social dos fatos. Nesse caso, ensinar exige compreensão da realidade, o que direciona o educador em sua prática de ensino, em que deve permitir a criticidade e a curiosidade como ferramenta para o conhecimento. Ao estimular isso, o educador estabelecerá as bases para o desenvolvimento e autorrealização do educando, resultando na construção de conhecimento e na conscientização pessoal, de forma a torná-lo um cidadão crítico e participativo. A prática docente é profundamente humana, coletiva, ética e, por isso, formadora da cidadania.

A responsabilidade ética é um comprometimento da profi ssão do professor com a educação. Por isso, é importante que se assegure a comunicação e o diálogo nessa prática política e pedagógica assumida pelo professor e pela escola. Visar uma atitude ética, pessoal e profi ssional signifi ca construir uma realidade promissora para a condição humana: é no exercício de sua profi ssão que o professor distingue e subtrai as barreiras existentes na realidade escolar e emite valores comprometidos com o comportamento humano. Sem as condições criadas pelo exercício ético, não há educação possível; sem a prática educacional do espírito crítico, não há ética duradoura. A relação da educação com o sentimento ético do educador está compromissada com o destino dos homens, pois a cidadania surge pela união da prática docente com a responsabilidade técnica e o comprometimento político.

REFERÊNCIAS

BRASIL. Secretaria de Educação Básica. Conselhos escolares: democratização da escola e construção da cidadania. Brasília: MEC, 2004.

______. Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional: Lei n. 9.394, de 1996. Brasília: Senado Federal, 2002.

______. Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros Curriculares Nacionais: introdução aos parâmetros curriculares nacionais. Brasília: MEC/SEF, 1997.

DROIT, Roger-Pol. Ética: uma primeira conversa. São Paulo: WMF Marins Fonte, 2012.

FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa. 53. ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2016.

______. A importância do ato de ler: em três artigos que se completam. 51. ed. São Paulo: Cortez, 2011.

______. Pedagogia do oprimido. 9. ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1981.

FREITAS, Ana Lúcia S. de. Curiosidade epistemológica. In: STRECK, Danilo R. et al. Dicionário Paulo Freire. 3. ed. Belo Horizonte: Autêntica Editora, 2016.

GRINSPUN, Mírian P. S. Zippin. Autonomia e ética na escola: o novo mapa da educação. São Paulo: Cortez, 2014.

MORA, José Ferrater. Dicionário de fi losofi a. 4. ed. São Paulo: Martins Fontes, 2001.

MORIN, Edgar. Os sete saberes necessários à educação do futuro. 2. ed. São Paulo: Cortez; Brasília, DF: UNESCO, 2000.

PERISSÉ, Gabriel. Filosofi a, ética e literatura: uma proposta pedagógica. Barueri: Manole, 2004.

SEVERINO, Antônio J. Formação e atuação dos professores: dos seus fundamentos éticos. In: SEVERINO, Francisca E. S. (Org.) et al. Ética e formação de professores: política, responsabilidade e autoridade em questão. São Paulo: Cortez, 2011.

WARNOCK, Mary. Os usos da fi losofi a. Campinas, SP: Papirus, 1994.

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ÉTICA EM ADMINISTRAÇÃO DE PESSOAS NA CONTEMPORANEIDADE:UM ESTUDO SOBRE OS ASPECTOS ENVOLVIDOS NO PROCESSO DE GERENCIAMENTO DE EQUIPES

ARTIGOS Autor:Bruno Henrique Marim Bolssone

MBA em Gestão Empresarial (UNIASSELVI). Especialista em

Psicologia do Trânsito (UNILAGO). Especialista em Metodologia de Ensino de Filosofi a e Sociologia

(UNIASSELVI). Especialista em Formação de Professores para o

Ensino Superior (UNIP). Graduado em Pedagogia - Licenciatura (ULBRA). Graduado em Psicologia

- Licenciatura e Formação de Psicólogo (UNIP). E-mail: [email protected]

Resumo

Este artigo tem sua temática voltada para conceitos e conhecimentos acerca dos principais aspectos envolvidos no gerenciamento de equipes, partindo de uma breve defi nição da ética em geral e posteriormente direcionando para a ética empresarial. Foi feita uma análise acerca dos principais métodos de recrutamento e seleção utilizados na atualidade e de como os perfi s psicológicos de cada um contribuem para a criação do clima dentro das organizações. Por fi m, discorreu-se sobre estratégias de gerenciamento de equipes e realizou-se um levantamento sobre as principais tendências da contemporaneidade. Em relação à metodologia aplicada, trata-se de um estudo exploratório, com a utilização de pesquisa bibliográfi ca. Como objetivos, buscou-se identifi car as principais barreiras e desafi os encontrados pelos gestores no processo de administração de pessoas, além de perceber superfi cialmente o papel da psicologia na administração de equipes, apontando as fases do processo de seleção em empresas.

Palavras-chave: Ética. Administração de Pessoas. Gerenciamento de Equipes.

1 INTRODUÇÃO

O presente artigo é baseado em uma revisão bibliográfi ca acerca do tema “Ética em administração de pessoas”, buscando reconhecer as principais barreiras e desafi os encontrados atualmente pelos gestores que atuam nesta área. Pretendeu-se neste estudo focar um campo particular de preocupação da ética, que é a ética no local de trabalho.

Ética refere-se a comportamentos previamente pensados e adotados frente a situações específi cas e peculiares, em que o ser humano se vê obrigado a lidar com momentos de confl ito aparente ou mesmo que geram desconforto e confusão, tanto para os emissores como para os receptores da mensagem. A ética empresarial é uma ramifi cação da ética voltada especifi camente para a criação de princípios que possam prever e solucionar certas circunstâncias que ocorrem em locais de trabalho, englobando tão somente a vida profi ssional do ser humano.

A chamada postura ética é muito apreciada na contemporaneidade, uma vez que leis e regras regem a rotina do ser humano, visando gerar

estabilidade e organização. Portanto, tenta-se de alguma maneira criar um método de raciocínio que atinja também a conduta de todos os colaboradores de uma determinada empresa, formando assim um objetivo geral que possa ser buscado constantemente por eles, na esperança de que com isso haja harmonia e constante padronização no dia a dia dos trabalhadores.

2 COMPREENDENDO A ÉTICA

Partindo de uma formulação fi losófi ca, a ética poderia muito justamente ser defi nida como a prática de um bem comum a todos (VALLS, 2008).

A Ética também pode ser vista como um

campo de conhecimento que tem por objetivo observar, defi nir e avaliar o comportamento das pessoas e das organizações (MAXIMIANO, 2011).

De acordo com Valls: “Logo no início de seu difícil livro Minima Moralia, Theodor Adorno (1903-1969) chama a atenção para o fato de que hoje a ética foi reduzida a algo privado” (VALLS, 2008, p. 70).

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Assim sendo, pode-se perceber que hoje a ética apresenta interrogações pautadas nas principais esferas da vida em sociedade, que seriam a família, a carreira profi ssional e a vida civil comum.

Francis Bacon defendia a ideia de que o conhecimento trazia consigo poder ao detentor deste. Adorno e Horkheimer, pensadores da atualidade, mostraram que tal visão foi deformada pelas pessoas com o passar do tempo e que os próprios ideais iluministas foram traídos, contribuindo este movimento da Idade Moderna mais para o mal social em que vivemos hoje do que para o bem (VALLS, 2008).

Para Valls (2008, p. 10), um comportamento ético adequado seria:

Nada mais do que um comportamento adequado aos costumes vigentes, e, enquanto vigentes, isto é, enquanto estes costumes tivessem força para coagir moralmente, o que aqui quer dizer, socialmente. Quem se comportasse de maneira discrepante, divergindo dos costumes aceitos e respeitados, estaria no erro, pelo menos enquanto a maioria da sociedade não adotasse o comportamento ou o costume diferente.

A ética pode ser observada em vários níveis de interação humana. No presente estudo focar-se-á a ética no local de trabalho. Assim sendo, Bennett (2008) afi rma que, dentre as maiores preocupações das organizações de trabalho envolvendo aspectos éticos, estão os confl itos de interesse, a questão da honestidade e justiça (tanto da parte dos empregadores como dos empregados), necessidade de comunicação e os relacionamentos humanos em geral.

3 ÉTICA EMPRESARIAL NAS ORGANIZAÇÕES

De acordo com Bennett (2008), somos forçados diariamente a tomar decisões que poderão transmitir uma imagem profi ssional de pessoa honesta, desonesta, ética ou antiética.

Ainda segundo a autora, as maiores preocupações éticas no local de trabalho por parte dos executivos e gestores são situações ligadas a uso de celular no local de trabalho, envolvimentos afetivos com colegas, fofocas e mistura de itens pessoais com materiais da empresa (BENNETT, 2008).

Para Maximiano (2008), quando se trata da ética a nível de políticas internas das empresas,

alguns questionamentos precisam ser feitos e respondidos, tais como as obrigações exatas que a empresa possui para com seus funcionários, o quanto pode ser exigido de cada colaborador e que tipo de participação os empregados podem ter durante as tomadas de decisões que envolvem toda a empresa.

Quando se projeta um olhar mais profundo sobre os desafi os enfrentados envolvendo questões éticas trabalhistas, nota-se que a gravidade das questões pode levar a processos e outras ações legais cabíveis. Dentre estes desafi os encontrados, Bennett cita: “Falsifi cação de currículos, plágio, sabotagem, assédio sexual, recebimento de subornos, violência no local de trabalho” (BENNETT, 2009, p. 2).

É possível perceber que existem dilemas éticos difíceis de serem resolvidos ou mediados pelos gestores, pois ora há várias possíveis alternativas a serem seguidas e ora não há escolha alguma. Como forçar uma pessoa a ser sempre honesta? Como agir com total justiça? Como resolver os problemas de comunicação entre colaboradores e administradores? Como eliminar os possíveis confl itos de interesse? Os dois primeiros questionamentos são difíceis de solucionar, enquanto os dois últimos abrem um leque enorme de possibilidades.

Sobre este assunto, Cahen (2008) enfatiza que todas as profi ssões devem manter códigos de ética específi cos de suas áreas. Além disso, as empresas também deveriam possuir códigos de ética, sendo que por motivos práticos podem ser transformados em políticas internas, diretrizes reguladoras e normas que venham a reger comportamentos e atitudes, apresentando soluções para situações confl ituosas, dúvidas e também punições em caso de descumprimento.

4 A PRESENÇA DA ÉTICA DURANTE O RECRUTAMENTO E SELEÇÃO

O processo de recrutamento e seleção inicia-se a partir do momento em que há a necessidade de suprir uma lacuna operacional na empresa. Cria-se então um cargo para preencher esta lacuna e oferta-se uma vaga para o mercado. Esta vaga é divulgada ao público e neste ponto inicia-se o processo de recrutamento de currículos. Os indivíduos interessados na vaga em questão enviam seus currículos profi ssionais,

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os quais serão posteriormente selecionados pela equipe competente da empresa, geralmente o departamento de recursos humanos, composto de um psicólogo. Quando ocorre a seleção dos currículos mais adequados para a vaga, parte-se para a fase em que o recrutador deixa de olhar para as qualifi cações profi ssionais que estão no papel e passa a analisar o perfi l comportamental do candidato em si, através de dinâmicas de grupo ou mesmo da entrevista direta, buscando identifi car traços de personalidade requeridos para o desempenho daquele papel dentro da empresa. Por fi m, ocorre a contratação do candidato que melhor cumpriu com os requisitos exigidos para o cargo.

Uma organização cercada de profi ssionais de

alto nível pode vir a desmoronar caso não possua um líder competente capaz de unir este grupo ao redor de um objetivo em comum. O mesmo fracasso pode ocorrer em organizações com objetivos claros e bem defi nidos, mas dotadas de equipes pouco capacitadas e adequadas. Por este motivo é extremamente importante administrar com destreza a “porta de entrada” da empresa, por onde passarão colaboradores em potencial (FIORELLI, 2009).

Segundo Faissal: “Cada candidato é

comparado com o perfi l de competências da posição em aberto e com os demais candidatos. Essas comparações levam à escolha de um deles” (FAISSAL, 2009, p. 83).

É comum que haja insegurança por parte do candidato no momento da entrevista ou mesmo da triagem, porém este deve também estar consciente da possibilidade de vir a ser chamado em decorrência de suas habilidades e experiências anteriores, portanto faz-se importante que o candidato seja honesto quanto às suas qualifi cações profi ssionais e também confi e no processo de seleção, respeitando a escolha que o recrutador irá lhe apresentar (CARVALHO, 2012).

A triagem, uma das primeiras etapas que ocorrem no processo de recrutamento e seleção, trata de uma confi rmação dos dados fornecidos previamente pelos candidatos, assim, caso a empresa necessite de mais alguma informação que não conste no currículo, poderá obtê-la neste momento (FAISSAL, 2009).

A análise curricular trata de um olhar mais atento e voltado para o currículo em si, nesta etapa ainda não se observa o candidato, mas as suas qualifi cações técnicas (FAISSAL, 2009).

A carreira e estabilidade em cargos anteriores são aspectos amplamente observados durante a fase de seleção de pessoas. Aqui se busca identifi car a experiência prévia do candidato no mercado de trabalho e em quais áreas ele atuou. A estabilidade refere-se ao tempo de permanência em cada cargo. Um tempo de estabilidade curto pode indicar um candidato que não consegue se adaptar ou atingir as metas da empresa. Por outro lado, um vínculo longo também pode ser indicativo de acomodação (FAISSAL, 2009, p. 83).

5 CULTURA E CLIMA ORGANIZACIONAL: PERFIS COMPORTAMENTAIS NO LOCAL DE TRABALHO

De acordo com Souza, as principais mudanças a serem implantadas nas empresas brasileiras que venham a elevar a excelência na qualidade dos produtos fabricados e na prestação de serviços são as seguintes:

Construção de uma cultura de alto desempenho; Abertura para o aprendizado contínuo; Adoção de uma fi losofi a de sustentação do negócio que estimule a transformação de valores em ações agregadoras de valor; Empreendimento de esforços visando o crescimento empresarial sustentado; Investimentos para a construção de uma força humana mais ágil no tocante à absorção das mudanças organizacionais (SOUZA, 2009, p. 32).

Segundo Maximiano (2011), todo grupo possui dois dilemas em comum, a convivência e a adaptação ao meio em que está situado. Estudando-se a cultura, pode-se compreender melhor as organizações, já que toda organização acaba desenvolvendo naturalmente uma cultura de trabalho específi ca e única.

Fiorelli (2009) afi rma que cada profi ssional contribui para a criação do clima organizacional, ao levar para seu local de trabalho aspectos da vida pessoal, além de outros fatores ambientais. O autor chama atenção para o fato de que quando se pretende obter determinados comportamentos das pessoas, é necessário neutralizar os inadequados e fortalecer os mais adequados, para que se acentuem.

Bennett afi rma que é dever do gestor questionar e verifi car pessoalmente quaisquer ações que possam ser consideradas contrárias à política da empresa, imediatamente, pois permitir que isso continue reforçará tais comportamentos e poderá afetar as relações de trabalho (BENNETT, 2008).

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Sobre isso, Bennett sugere: “Sempre que uma situação pareça incorreta, pare e considere as frases-chave que pode usar; e, depois, pense no modo mais ético de abordar a questão” (BENNETT, 2008, p. 95).

Para a autora, é necessário reunir fatos concretos somados a uma observação informal da situação antes de qualquer decisão racional, pois grande parte dos confl itos entre pessoas da mesma organização pode surgir de uma mera falha de comunicação ou percepção inadequada (BENNETT, 2008).

Lima defi ne dois perfi s comportamentais básicos de pessoas que participam de uma gestão estratégica dentro das organizações, são elas os estrategistas e os mobilizadores. Enquanto um foca suas habilidades de estratégia em defi nir metas e planos de ação, o outro busca meios para executar os planos mobilizando seguidores e motivando-os a seguir os novos rumos defi nidos pela organização (LIMA, 2008).

Segundo a autora: “São as pessoas que promovem os ciclos de gestão estratégica nas organizações. Assim, além da aplicação do MÉTODO de trabalho, a seleção da EQUIPE adequada é fator crítico para o sucesso do processo” (LIMA, 2008, p. 69).

De acordo com Cahen (2008), o indivíduo culturalmente profi ssional é aquele que está sempre atento a mudanças e novidades no mercado nacional que afetem diretamente sua profi ssão e/ou sua empresa. Tal personagem já atuou em outras empresas do ramo e possui experiência de campo sufi ciente para comparações, com o intuito de construir um bom plano de comunicação empresarial. Ele também participa ativamente de simpósios, palestras, seminários e congressos que o atualizam e aumentam seus conhecimentos sobre seu campo de atuação.

6 A ARTE DO GERENCIAMENTO ESTRATÉGICO DE PESSOAS

Devido a um mercado globalizado extremamente competitivo e fl exível, o qual sofre mudanças constantes, são exigidas dos gestores e administradores estratégias cada vez mais ousadas, que acompanhem as mudanças e possam maximizar os resultados, com menos custos e mão de obra (SOUZA, 2009).

A estratégia efi ciente une capacidade de liderança e uma visão ambiciosa por parte dos administradores, a qual se mostra como um desafi o que pode ser vencido por toda a equipe, servindo como inspiração para os colaboradores. É preciso aproveitar ao máximo as competências e qualidades de cada participante, atraindo a cada dia talentos que promovam um crescimento empresarial com diferencial de mercado (LIMA, 2008).

Para gerenciar o desempenho da empresa e dos colaboradores que a integram, faz-se necessário ir além do controle de regras e exigências internas, desenvolvendo vínculos interpessoais fortes baseados principalmente na transparência entre líder e equipe. Souza acredita que um esforço sincronizado é a base de uma gestão de desempenho adequada, substituindo posturas tradicionais por outras que tenham como chave o diálogo (SOUZA, 2009).

Por trás disso, faz-se necessário existir dentro da organização um bom gestor de recursos humanos, o qual possa, com seus próprios talentos, identifi car e alocar as pessoas certas em funções nas quais seus potenciais possam ser explorados e aproveitados.

Pode-se testar a efi cácia da estratégia utilizada pelos gestores comparando os resultados obtidos com outras empresas conhecidas e de referência no mercado nacional (LIMA, 2008).

A autora acrescenta que: “Há dois tipos de processo de Gestão Estratégica – os mais restritos e os mais participativos. Quanto maior o grau de restrição, menor o número de pessoas envolvidas no processo” (LIMA, 2008, p. 141).

Neste ponto do trabalho, faz-se um parêntese para abordar um assunto específi co da gestão de pessoas, que é a “terceirização”. Araújo e Garcia (2010) afi rmam que a terceirização sempre foi utilizada em serviços básicos como limpeza, segurança e alimentação. No entanto, o autor percebe uma mudança brusca na dinâmica das contratações e menciona que muitas atividades começaram a ser repassadas a terceiros, provocando certa polêmica entre os envolvidos, sendo que tal discussão chegou a ponto de se transformar em objeto específi co de estudo e pesquisa, com a intenção de entender se a terceirização hoje ainda é geradora de melhor qualidade nos produtos e serviços, ou se está

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sendo utilizada somente com a intenção de contenção de gastos.

Pode-se perceber, portanto, que todas as decisões que envolvam alterações na carreira profi ssional e mesmo na rotina dos colaboradores geram enorme desconforto para eles. É preciso, pois, entender que todas as mudanças devem ser muito bem estudadas antes de sua implantação e que as decisões sejam comunicadas com o acompanhamento de uma boa explicação, clara e precisa, que apresente justifi cativas plausíveis e visíveis ao menos pela maioria.

Quando os colaboradores têm que lidar com a implantação de mudanças que não foram abertamente discutidas ou explicadas de maneira clara, salientando as razões pelas quais isso ou aquilo foi decidido, é preciso entender que tal situação gera um desconforto para todos os envolvidos, dado o fato de que toda uma rotina no trabalho será afetada, e isso requer fl exibilidade e tempo para adaptações (LIMA, 2008).

Cahen (2008) faz uso de um termo chamado Análise de Problemas Potenciais. Segundo o autor, durante o planejamento ocorrem vários imprevistos, sendo que os problemas não aparecem de forma isolada, mas todos interligados e ao mesmo tempo, daí a importância de se tentar prever o que pode dar errado e como lidar com isso.

7 PANORAMA E TENDÊNCIAS ATUAIS

Sempre existiu uma preocupação em se criar um conjunto de regras que pudessem nortear as ações humanas. Tal pensamento está sendo retomado atualmente com mais afi nco, dado o fato de que as leis da sociedade estão distanciando cada vez mais as pessoas, ao invés de as aproximarem. Tal consequência tem levado a raça humana a se confundir e não saber exatamente qual postura adotar frente à realidade. Valls afi rma que: “O que a ética agora desenvolve, principalmente, é a preocupação com a autonomia moral do indivíduo. Este indivíduo procura agir de acordo com a sua razão natural” (VALLS, 2008, p. 63).

Atualmente pode-se afi rmar que o colaborador tem seu foco voltado para sua carreira profi ssional, não mais para a empresa onde está empregado. Assim sendo, caso a empresa não corresponda as suas expectativas, a concorrência poderá seduzi-lo com melhores ofertas e condições de trabalho, absorvendo-o para si (FAISSAL, 2009).

Sem planejamento, empresas podem perder funcionários valiosos sem critérios precisos, sendo forçadas a recontratá-los futuramente, inclusive por salários maiores do que os anteriormente oferecidos, por não encontrarem substitutos à altura em tempo hábil (FAISSAL, 2009).

Segundo Souza (2009), um assunto que vem ganhando importância atualmente é a utilização da gestão por desempenho no lugar da tradicional gestão por avaliação. A autora acredita que na contemporaneidade as empresas estão buscando reconhecer mais precisamente os limites de cada um de seus funcionários, sendo que enquanto na avaliação estima-se a possibilidade de um desempenho futuro, se for levado em conta o desempenho, então haverá uma confi rmação desta estimativa.

A utilização de processos de seleção refi nados não garante em si a escolha certa, pois antes disso é necessário que a empresa defi na bem que tipo de candidato quer e que tipo de função desempenhará. Infelizmente é comum encontrar em certas empresas funcionários desempenhando tarefas para as quais não foram contratados ou então realizando funções que não são, de longe, as mais adequadas para eles (FAISSAL, 2009).

Sabe-se que o departamento de Recursos Humanos se fi xou e ganhou espaço ao longo dos anos, sendo uma área que se dedica exclusivamente às pessoas, atuando diretamente com a gestão de equipes. Porém, Carvalho acredita que isso irá mudar futuramente, pois “A nova fi losofi a de RH deve ser centrada na ‘análise da organização’ e não na de indivíduos” (CARVALHO, 2012, p. 9).

Desse modo, deverá este departamento preocupar-se com a gestão de pessoas integradas com a organização, como se fosse um todo e não uma parte desmembrada, levando em conta toda a questão ética envolvida nessa relação.

CONCLUSÃO

Foi possível concluir que atualmente a ética está envolvida principalmente com a vida privada do sujeito e sua carreira profi ssional, sendo que ambas estão interligadas, contribuindo para a criação de uma cultura no ambiente de trabalho deste mesmo sujeito.

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Especifi camente dentro das organizações existem dilemas éticos que são reconhecidos, mas de difícil abordagem para com os envolvidos, pois podem causar constrangimento e, ao mesmo tempo, se deixados intocados, tornar-se-ão mais graves, ferindo inclusive a imagem da empresa.

Pôde-se concluir que o meio mais efi ciente para formar uma equipe produtiva e eticamente correta é gerenciar o colaborador que está prestes a ingressar na empresa. Para isso, o processo de recrutamento e seleção é a chave, devendo ser realizado com a máxima precisão e métodos adequados. Posteriormente, é preciso treinar o colaborador, deixando claro seu papel dentro da organização, o que é esperado dele e o que ele pode esperar da empresa.

Percebeu-se que o gerenciamento de equipes é uma arte refi nada que envolve uma mediação em amplo aspecto. É preciso unir a equipe, motivá-la, explicar muito bem as atividades a serem desempenhadas e tentar prever possíveis erros e acidentes que venham a ocorrer durante a execução delas.

Foi possível notar que a carreira profi ssional é o segundo, senão o primeiro ponto mais importante da vida do indivíduo contemporâneo, vindo somente atrás da família, numa escala decrescente. Logo, comprova-se aqui a necessidade de um olhar mais atento para as pessoas envolvidas nos processos empresariais, como forma de garantir sua permanência na empresa, a efi ciência de seu trabalho e preservar a motivação nas rotinas diárias.

Por fi m, espera-se que o presente artigo tenha contribuído com o desenvolvimento da área de gestão de pessoas, bem como servido de estímulo a outros pesquisadores interessados nos assuntos abordados.

REFERÊNCIAS

ARAÚJO, L. C. G.; GARCIA, A. A. Teoria Geral da Administração: orientação para escolha de um caminho profi ssional. São Paulo: Atlas, 2010.

BENNETT, Carole. Ética profi ssional. Tradução Martha Malvezzi Leal. São Paulo: Cengage Learning, 2008. (Série Profi ssional).

CAHEN, Roger. Tudo que seus gurus não lhe contaram sobre comunicação empresarial: a imagem como patrimônio da empresa e ferramenta do marketing. Prefácio de Vera Giangrande. 12. ed. Rio de Janeiro: BestSeller, 2008.

CARVALHO, A. V.; NASCIMENTO, L. P.; SERAFIM, O. C. G. Administração de recursos humanos. 2. ed. São Paulo: Cengage Learning, 2012.

FAISSAL, Reinaldo. Atração e seleção de pessoas. 2. ed. Rio de Janeiro: Editora FGV, 2009. 154p.

FIORELLI, José Osmir. Psicologia para administradores: integrando teoria e prática. 6. ed. São Paulo: Atlas, 2009.

LIMA, Paula Viviane Laudares. Gestão estratégica: o caminho para a transformação. Nova Lima: INDG Tecnologia e Serviços Ltda., 2008. 156p.

MAXIMIANO, Antonio Cesar Amaru. Teoria geral da administração. 10. reimpressão. São Paulo: Atlas, 2011.

SOUZA, Vera Lúcia et al. Gestão de desempenho. 2. ed. Rio de Janeiro: Editora FGV, 2009. 144 p.

VALLS, Álvaro L. M. O que é ética. São Paulo: Brasiliense, 2008. (Coleção Primeiros Passos; 177).

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O TRABALHO PEDAGÓGICO NA CAPACITAÇÃO DE GESTORES E FOMENTO DA ÉTICA NO AMBIENTE CORPORATIVO

ARTIGOSAutora:

Jaqueline de BairrosFormação em Pedagogia pela

UNICRUZ, especialista em Pedagogia Empresarial e Educação Corporativa

pela UNINTER e pós-graduanda no MBA em Coaching da UNIASSELVI.

E-mail: [email protected]

Resumo

O atual cenário empresarial caracteriza-se por um mercado altamente competitivo e que exige constantemente adaptações e modifi cações nos modelos de gestão, para que acompanhem esta evolução de mercado. Desta forma, os gestores acabam por ocupar uma posição estratégica nas organizações, em que suas competências gerenciais irão infl uenciar e motivar o empenho pela produtividade e qualidade dos processos, através da busca constante pela qualifi cação e aperfeiçoamento de suas habilidades e incentivo à formação continuada de seus liderados, atuando de forma ética e humanizada. Em decorrência dessa nova necessidade, faz-se essencial a participação de um profi ssional que trate especialmente da educação dentro do ambiente corporativo: o pedagogo. Com base nessas informações, o presente artigo objetiva fundamentar os alicerces que sustentam a excelência da gestão de pessoas, tecendo relações desde os conceitos primários de liderança à capacitação de gestores através da educação corporativa, e fazer uma breve análise acerca das relações éticas e da ética empresarial.

Palavras-chave: Gestão. Liderança. Educação. Desenvolvimento. Ética.

1 INTRODUÇÃO

Todo negócio nasce de um sonho, de um ideal empreendedor. Nasce da ideia de alcançar determinado espaço, promover uma marca, desenvolver um segmento, um produto específi co, tornar-se referência. Parte-se, então, do pressuposto de que entre os recursos que ali deverão ser empregados, destacam-se os fi nanceiros, materiais, legais e, principalmente, os recursos humanos. Ainda que tenhamos todas as demais ferramentas de trabalho disponíveis, são as pessoas que irão operá-las que farão toda a diferença na busca pelos resultados aos quais a empresa, de modo geral, se dedica.

Todo ser humano tem em si um sonho, um objeto de desejo, um objetivo de vida a ser conquistado através do seu trabalho. A diferença está entre ele realizar o seu trabalho apenas pela recompensa fi nanceira e fazer do seu trabalho sua realização pessoal, seu ideal de vida. É fazer com que todos vistam a mesma camisa, joguem no mesmo time, sonhem o mesmo sonho, cada um a seu modo e ao seu tempo.

E esse em si vem sendo o maior desafi o de gestores e líderes em geral, na maioria das organizações, no sentido de valorizar o trabalho de cada um como sendo parte essencial para que o todo se concretize. Ademais de garantir que todos vivam a experiência de sentir-se parte da conquista, respeitando a individualidade de cada sujeito, a fi m de criar um ambiente onde todos se sintam acolhidos, vistos, lembrados e valorizados, além de – ainda que soe utópico em muitos casos – bem remunerados.

Ao abrir uma vaga em uma empresa, o primeiro critério a ser analisado normalmente é a qualifi cação do profi ssional, quais atributos o candidato possui que o tornarão apto a ocupar determinado cargo. Porém, pouco se fala em continuar investindo na formação desse profi ssional, em rever suas práticas ao longo do desenvolvimento de suas atividades e especialmente na refl exão de cada profi ssional acerca de sua própria prática. Poucas são as empresas que incentivam a profi ssionalização de seus funcionários ou suas especializações e menos ainda são aquelas que as fi nanciam. Há que se compreender que em decorrência de

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condições fi nanceiras não favoráveis, e, na pior das hipóteses, uma gestão despreparada para evoluir seus negócios. E pensar em uma formação constante, continuada, não deve ser algo apenas com relação aos funcionários operacionais ou em crescimento dentro da empresa. Refere-se, especial e essencialmente, a investir na capacitação dos gestores, pois é o modo de condução dos processos desenvolvidos dentro da organização que poderá defi nir o sucesso – ou não – desta.

Desta forma, seguem algumas características essenciais a serem desenvolvidas em gestores de empresas, que podem e inclusive devem transformar-se em um programa interno de capacitação de gestores nas organizações, a fi m de zelar e buscar a excelência nos processos a serem desenvolvidos na empresa ou organização.

2 O PAPEL DO PEDAGOGO NO AMBIENTE CORPORATIVO

2.1 CONCEITO DE LIDERANÇA

O gestor de uma organização deve, necessariamente, ser líder de sua equipe. Para que sua gestão seja satisfatória, precisa conduzir seus liderados de forma a alcançar os objetivos delineados para a empresa de um modo bastante amplo, bem como saber administrar as necessidades para cada momento da organização. “Líder é todo indivíduo que, graças à sua personalidade, dirige um grupo social, com a participação espontânea dos seus membros” (WEIL, 1992, p. 63).

A psicóloga e especialista em gestão Janete Knapik traz em sua obra Gestão de Pessoas e Talentos uma abordagem bastante completa e específi ca sobre liderança, na qual defi ne que:

Liderança é a infl uência interpessoal exercida em um determinado contexto. Trata-se de um fenômeno social, uma capacidade de infl uenciar as pessoas por meio de ideias, exemplos e ações e fazer com que atinjam metas propostas ou passem a acreditar em crenças ou conceitos (KNAPIK, 2012, p. 83).

Knapik também descreve três tipos básicos de liderança: autocrática, democrática e liberal. Na liderança autocrática, a ênfase é dada à

chefi a, que é quem decide as tarefas, como serão desenvolvidas e exige obediência de seus liderados. Na liderança democrática, a chefi a discute as ideias, estimula a participação da equipe e a ênfase se dá concomitantemente ao líder e aos subordinados. Já sobre a liderança liberal, conhecida como Laissez-faire, a ênfase incide sobre os subordinados, a chefi a incita iniciativa e criatividade do grupo, com o mínimo de controle sobre as atividades (KNAPIK, 2012).

O ser líder nos remete, necessariamente, a conhecer não apenas o seu trabalho, mas ter conhecimento de tudo aquilo que envolve a sua equipe e como cada colaborador desenvolve suas tarefas, além de, essencialmente, ver cada pessoa que trabalha na empresa como colaborador. Gerir uma equipe de trabalho, muitas vezes, é uma tarefa um tanto quanto complexa, tendo em vista a diversidade de formas de pensamento, expressão, ritmo e articulação de cada funcionário. O líder precisa ser a pessoa que realiza as conexões entre o grupo de trabalho, que fomenta as ideias e que, ao mesmo tempo em que trabalha ao lado da equipe, saiba conduzi-la.

Quando se assume a tarefa de gestor, é importantíssimo passar para as pessoas que trabalham com você – e com muita clareza – qual é o papel que elas desempenham na equipe de trabalho, na empresa e na sociedade em geral (ALENCASTRO, 2012, p. 114).

Há quem defenda que certas pessoas nascem

líderes, outras se tornam, e há ainda aquelas que não conseguem. O que determina um indivíduo ser líder ou não é sua capacidade de articulação diante das situações a serem desenvolvidas e qual sua melhor forma de atuação junto de sua equipe. “Junto”, pois o líder deve, acima de qualquer coisa, ser parte integrante de sua equipe de trabalho, não ser quem manda fazer, mas quem orienta como fazer e trabalha junto. O tipo de liderança a ser adotado deve ser algo fl exível e muito bem estudado pelo gestor, pois vai depender do quanto de conhecimento possui a respeito de sua equipe de trabalho.

Para exercer uma liderança democrática, o gestor precisa de colaboradores que dominem signifi cativamente os conhecimentos e habilidades de seu trabalho. Do contrário, ouvir as sugestões dos colaboradores resultará no fracasso de suas atividades.

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Ao exercer liderança liberal, o gestor precisa de total confi ança a respeito de seus liderados, precisa de uma equipe unida, que trabalhe em total sinergia. Do contrário, sendo pessoas sem conhecimento, com difi culdade de trabalho em equipe, o modelo de liderança mais efi ciente será o autocrático, no qual o líder irá defi nir o trabalho de cada um e assim tentar alcançar o êxito em suas atividades. “Líder que não eleva a equipe, que só pensa no próprio crescimento, não é um líder, é um chefe, no sentido hierárquico do termo” (CORTELLA, 2009, p. 101).

Desta maneira, podemos compreender que:

A liderança é necessária em todos os tipos de organização humana, principalmente nas empresas e em cada um de seus departamentos. Ela é igualmente essencial em todas as demais funções da administração: planejamento, orga nização, direção e controle. Porém, a liderança é mais re levante na função de direção – aquela que toca mais perto as pessoas (CHIAVENATO, 2000, p. 314).

2.2 IMPORTÂNCIA DO TRABALHO PEDAGÓGICO NA FORMAÇÃO CONTINUADA E CAPACITAÇÃO DE GESTORES

Com a grande demanda de características, das quais o gestor necessita de domínio para exercer sua liderança com êxito, torna-se essencial que ele esteja em constante processo de formação, atualização e busca por conhecimentos que venham a melhorar seu desempenho nesta função essencial para o desenvolvimento da organização em que trabalha.

Atualmente, são várias as organizações que investem em programas de desenvolvimento de lideranças, especialmente aquelas que adotam os planos de carreira para a constituição de seu quadro de colaboradores, o que possibilita uma constituição hierárquica esclarecida a todos, melhor distribuição do trabalho e facilidade ao executar promoções, entre outras vantagens.

A partir do momento em que há a identifi cação da área de atuação e o grupo que o gestor irá administrar, tornam-se mais evidentes as qualifi cações necessárias e as habilidades a serem

desenvolvidas. É neste momento que se defi ne a suma importância de um trabalho essencialmente pedagógico que saiba fazer esta análise, onde o pedagogo pode — e deve — vir a atuar de modo a observar, dialogar, através de todas as técnicas que deverão ser de domínio, favorecendo o traçado de um programa de qualifi cação dos gestores. Neste contexto, Moscovici (1998, p. 47) aponta que:

Vale enfatizar, reiteradamente, que as relações interpessoais no grupo são tão ou mais importantes do que a qualifi cação individual para as tarefas. Se os membros relacionam-se de maneira harmoniosa, com simpatia e afeto, as probabilidades de colaboração aumentam muito, a sinergia pode ser atingida e resultados produtivos surgem de modo consistente.

O mercado de trabalho cada vez mais exigente quanto à qualifi cação dos profi ssionais resulta em maiores garantias de que, tecnicamente, as equipes serão cada mais enriquecidas. Porém, em termos de gestão, estas habilidades técnicas não são sufi cientes:

Em outras palavras, além de ser um engenheiro, advogado, economista ou qualquer outro profi ssional com a formação necessária para lidar com os aspectos técnicos de seu trabalho, o gestor atual precisa incorporar as características apontadas na lista anterior (comunicação, clareza, objetividade, condução de diálogos e reuniões, vontade de aprender, disciplina, responsabilidade, ética, honestidade, respeito, confi ança, ousadia, criatividade, pensamento crítico e criativo, cooperação, visão sistêmica, etc.). O problema é que, provavelmente, ele não foi preparado para desenvolver muitos aspectos constantes nesses itens (O’DONNELL, 2012, p. 71).

Neste sentido, faz-se necessário pensar em um profi ssional que possibilite o desenvolvimento destas características, que possua habilidades para realizar as devidas intervenções nas organizações, indo além do aperfeiçoamento técnico a que muitas vezes o RH se propõe. Por conseguinte, se torna de grande importância a atuação do pedagogo empresarial.

O principal objetivo dos trabalhos de capacitação das lideranças é favorecer o relacionamento entre os indivíduos. Não se objetiva aqui descartar a grande valia dos aprimoramentos técnicos necessários à execução das atividades da organização, mas ressaltar os elementos que constituem a excelência na formação de lideranças, na qual as relações interpessoais é que irão caracterizar êxito das organizações.

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Nesta perspectiva pedagógica, percebe-se que os processos engessados de um RH despreparado para tal tarefa abrem espaço cada vez maior para a inserção de pedagogos no ambiente empresarial, fazendo-se compreender que é a forma de interação o ponto-chave dos processos que envolvem quaisquer tipos de relações humanas.

O treinamento nas empresas passou a abranger aspectos psicossociais do indivíduo. Assim, os programas de trei namento, além de visarem capacitar os trabalhadores para o desempenho das tarefas, passaram a incluir também ob jetivos voltados para o relacionamento interpessoal e sua interação com a organização (GIL, 1994, p. 63).

Desta forma, o trabalho pedagógico

com ênfase na fi gura do gestor, ao defender a importância das relações, deve considerar que, para alcançar o sucesso neste quesito e, consequentemente, ser uma equipe de sucesso, o líder precisa fazer com que as pessoas o compreendam.

Além de destacar o processo de capacitação em si, é importante tratar acerca de questões pertinentes às funções de liderança, que hão de ser compreendidas, conhecidas e profundamente analisadas para que o trabalho pedagógico seja de efeitos positivos e efi cazes aos processos.

Shel Leanne (2012), em sua obra sobre o modelo de liderança de Barack Obama, reconhece e descreve suas características de líder no decorrer de sua carreira política. Conhecer modelos como este pode vir a contribuir de forma grandiosa aos procedimentos pedagógicos, tendo em vista as inúmeras experiências que podem ser analisadas, reestruturadas e adotadas. Leanne (2012, p. 26) diz que:

[...] não é sufi ciente formar uma visão e acreditar profundamente nela. Para conseguir uma visão, líderes de sucesso devem comunicar essa visão para outros de forma efi ciente, compreensível e convincente, permitindo que outros entendam essa visão e, fi nalmente, sejam inspirados para abraçá-la.

A atuação do pedagogo pode ser de estruturação ou reestruturação do trabalho de líderes e liderados, pois, ao analisar a organização “de fora”, poderá identifi car situações-problema, ou até mesmo oportunidades não percebidas pelos indivíduos que compõem a equipe. Neste sentido, poderá orientar a liderança para a análise,

aperfeiçoar processos, dar maior autonomia à equipe e demais modifi cações necessárias.

Atualmente a empresa começa a abrir espaço para que este profi ssional possa, de maneira consciente e competente, proporcionar um ambiente em que se esteja solucionando problemas, elaborando projetos, formulando hipóteses visando à melhoria dos processos, instituindo na empresa, garantindo a qualidade do atendimento, contribuindo para a instalação da cultura institucional da formação continuada dos empregados. O pedagogo poderá atuar na empresa produzindo e difundindo conhecimento, assim, exercendo seu papel de educador (GONÇALVES, 2009, s.p.).

Identifi car o ambiente empresarial também

como espaço de aprendizagem é essencial para o desenvolvimento destas atividades de otimização, bem como favorecer o desenvolvimento de cada indivíduo. É essencial o reconhecimento de que a organização se constitui deste capital humano e que o relacionamento entre os indivíduos da organização deve ser humanizador, rompendo a visão deturpada acerca do profi ssional somente executor de tarefas mecanizadas, para encarar todos como parte constituinte e essencial do meio organizacional.

2.3 ÉTICA ENQUANTO FUNDAMENTO DA GESTÃO

A ética deve ser considerada parte essencial de qualquer atividade em sociedade, desde o âmbito familiar aos espaços empresariais, públicos, enfi m, todas aqueles que envolvem as relações e interações sociais.

Em meio à grave crise de valores em que nossa sociedade se encontra, onde o país se inunda de fatos relacionados à corrupção, fraudes e tantos outros escândalos, desde as mais sutis atitudes éticas devem ser reconhecidas e incentivadas, principalmente quando falamos da atitude de um gestor com relação a sua equipe e à organização para a qual presta seus serviços.

Infelizmente, ainda são muitas as empresas que buscam o lucro a qualquer custo, sem pensar nos possíveis prejuízos que possam estar gerando, seja ao meio ambiente, à concorrência, a seus colaboradores, fazendo com que as considerações éticas sejam praticamente descartadas de qualquer ação.

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No entanto, uma nova tendência vem crescendo a cada ano e hoje é quase que uma realidade. Estamos falando das exigências do cidadão, que recaem na procura por produtos ou serviços de qualidade. O cidadão também exige que as empresas que fornecem os produtos sejam éticas e atuem com responsabilidade social e ambiental. Em outras palavras, na hora da compra, além da relação custo/benefício, o consumidor também presta atenção se a empresa tem uma atuação positiva na comunidade em que está inserida (ALENCASTRO, 2012, p. 21).

A partir desta visão, pode-se afi rmar que ter conhecimento sobre a identidade moral e ética da organização é essencial para a gestão do líder, seja para mantê-la, seja para modifi cá-la. Tansey (1995, p. 100) explica que:

A empresa é considerada ética se cumprir com todos os compromissos éticos que tiver. Ou seja, agir de forma honesta com todos que têm algum tipo de relacionamento com ela. Estão envolvidos neste grupo os clientes, os fornecedores, os sócios, os funcionários, o governo e a comunidade como um todo.

Partindo do pressuposto de que são também

os colaboradores que constituem a identidade da empresa, especialmente daqueles em posição de liderança, sabemos que a identidade moral da empresa também é constituída pela atuação destes sujeitos. A ética empresarial é parte essencial ainda para a defi nição da reputação de uma organização, algo essencial para a sua imagem.

Um aspecto ético altamente importante, especialmente na atualidade, é a questão ambiental, sobretudo para aquelas organizações que exercem atividades com grande impacto ambiental. Boff (2009, p. 29) atenta para a necessidade deste olhar ético para a questão ambiental:

Hoje, as relações são extremamente complexas. Postula-se uma referência para a totalidade dos seres humanos, habitantes do mesmo planeta, que agora se descobrem como espécie, interdependentes, vivendo numa mesma casa e com um mesmo destino comum. Se não criarem um acordo quanto às exigências éticas e morais mínimas, como poderão coexistir pacifi camente, preservar o lar comum e garantir um futuro para todos?

Alencastro (2012) discorre sobre ética e liderança, em que sintetiza que os stakeholders (empregados, consumidores, comunidade etc.)

identifi cam-se com os interesses da organização à medida que ela se identifi ca com os seus interesses. “A empresa cria uma rede de relações com esses stakeholders, que exerceriam uma espécie de vigilância sobre seu comportamento” (ALENCASTRO, 2012, p. 117).

Cabe ao gestor, ao líder, portanto, zelar para que sua equipe de trabalho, sua empresa, esteja agindo de acordo com aquilo que é correto, que segue as normas e legislações vigentes, preservando a imagem da organização.

Além desta preocupação externa, o líder precisa agir, principalmente, com ética no ambiente interno, com sua equipe de trabalho e com as atividades que desempenha.

A ética no ambiente de trabalho traz à rotina

do gestor um exercício diário e prazeroso de honestidade, empenho, confi abilidade, entre tantos outros, que o norteiam em momentos de tomada de decisões. Ao fi nal de cada processo, a recompensa é ser reconhecido, não só pelo seu trabalho, mas por ser exemplo de conduta ética e de valores.

3 CONSIDERAÇÕES FINAIS Tratar de gestão e liderança sem falar

dos processos e relações interpessoais é algo impossível dentro de uma organização. É neste cenário que o profi ssional da pedagogia passa a expandir sua área de atuação para além do espaço escolar, trazendo a visão educacional também para dentro das empresas.

Não se pode interpretar que o pedagogo tenha uma fórmula infalível no que diz respeito à capacitação de gestores, mas pode intervir de maneira muito positiva acerca da reorganização de atividades, indo muito além dos processos burocráticos de um RH, propondo atuações dirigidas ao conhecimento sobre as ações dos sujeitos e elaborando um possível plano de formação continuada, que estará voltado especialmente às necessidades da organização.

O olhar pedagógico, através de uma maior sensibilidade, pode vir a desenvolver nos gestores uma maior capacidade de interação, socialização, colaboração entre a equipe, criando um ambiente favorecedor da aprendizagem e oportuno para o trabalho fl exível e atento às necessidades do mercado.

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Além de um novo pensar acerca das relações de liderança, o pedagogo vem fomentar que a relação entre gestores e colaboradores proporcione o desempenho efi ciente da equipe e da organização e o desenvolvimento pessoal de ambas as partes.

Com base nessas considerações, ressalta-se ainda a importância da consciência ética referida no presente artigo. Diante da situação caótica em que se encontra nossa sociedade, na qual vale tudo para obter lucro e todos são capazes de tudo para conquistar o cargo tão almejado, para ter uma melhor posição social, para ter o melhor salário, o líder que atua de forma coerente com a ética e a moral da sociedade em geral e da organização é que pode ser considerado um gestor de sucesso.

A partir do momento que temos o gestor como exemplo e como incentivador de boas atitudes e também de práticas operacionais coerentes de acordo com os melhores padrões, seja de qualidade do produto, seja pelos impactos ambientais que a atividade exerce, seja pelo relacionamento em si da equipe, esta cultura de “retidão” acaba por se disseminar e contagiar a todos os seus liderados, alcançando o tão almejado sucesso da equipe.

Diante dessas afi rmações, o trabalho pedagógico e educacional tende a abrir cada vez mais espaços e oportunidades dentro das organizações. As pessoas acabam por dar-se conta da necessidade de se buscar o fortalecimento das relações para o pleno êxito daquilo que ambicionam.

Quando se acredita que o maior capital que uma organização pode vir a possuir são as pessoas que a constituem, antes mesmo deste olhar sobre os profi ssionais que são, as relações entre os indivíduos dentro da organização melhoram signifi cativamente, torna-se real a possibilidade de constituir uma verdadeira equipe de trabalho e, juntos, na busca do mesmo objetivo comum, todos conseguem alcançar o sucesso de seu trabalho.

O gestor, sendo a peça-chave deste processo, deve estar muito bem preparado e orientado para conduzir as mudanças necessárias e o desempenho almejado dentro das organizações. Juntamente a um trabalho pedagógico bem delineado, suprindo as necessidades organizacionais, há de se acreditar que nada além do sucesso tem chance de vir a acontecer.

REFERÊNCIAS

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CORTELLA, Mario Sergio. Qual é a tua obra? Inquietações positivas sobre gestão, liderança e ética. 7. ed. Petrópolis: Vozes, 2009.

GONÇALVES, Roseli. A Pedagogia empresarial e as práticas pedagógicas dentro da empresa. Disponível em: <http://www.webartigos.com./artigos/a-pedagogia-empresarial-e-as-praticas-dentro-da-empresa/14896/>. Acesso em: 15 out. 2012.

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MOSCOVICI, F. Equipes dão certo: a multiplicação do talento humano. 4. ed. Rio de Janeiro: José Olympio, 1998.

KNAPIK, Janete. Gestão de pessoas e talentos. Curitiba: InterSaberes, 2012.

LEANNE, Shel. Liderança segundo Barack Obama. Rio de Janeiro: Leya, 2012.

O’DONNELL, Ken. Valores Humanos em Programas de Treinamento. In: Inovação em ambientes educacionais: teorias, refl exões e práticas. Curitiba: InterSaberes, 2012.

TANSEY, Lori. (entrevistada por Clayton Netz) Exame Entrevista. Dezembro, 1995.

WEIL, Pierre. Relações humanas na família e no trabalho. 44. ed. Petrópolis: Vozes, 1992.

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ÉTICA NAGESTÃO ESCOLAR

ARTIGOSAutor:

Jean Michel KolcentiGraduado em Pedagogia (UNIASSELVI)

Pós-graduado em Alfabetização e Letramento (UNIASSELVI)

E-mail: [email protected]

Resumo

O presente artigo tem como objetivo propor refl exões acerca da importância da ética na gestão escolar, estendendo-se para as inter-relações entre todos os sujeitos constituintes do contexto escolar. Tem como base a pesquisa bibliográfi ca de teóricos renomados no Brasil e no exterior, como Edgar Morin e Jacques Delors, visando a um novo modelo de educação para o século XXI, com o intuito de quebrar paradigmas e reformular conceitos, a fi m de que a prática seja mais condizente com a teoria, quando falamos em dignidade humana, nas relações que permeiam o cotidiano escolar. Estudando os textos desses teóricos, podemos perceber que a realidade da educação brasileira, com relação à legislação e às propostas formuladas por grandes especialistas, ainda está muito distante do que poderia se chamar de ideal. As propostas em geral são excelentes e poderiam nos conduzir a uma educação de ponta, mas talvez por falta de interesse das pessoas diretamente envolvidas no meio educacional e também pela falta de apoio e interesse político, as ideias muitas vezes tornam-se utopias.

Palavras-chave: Democracia. Ética. Gestão Escolar.

1 INTRODUÇÃO

A gestão escolar compreende, dentre outros, os processos de articular recursos materiais e humanos necessários para o bom êxito do processo educativo nas unidades escolares do país. Em seu âmbito mais restrito, ela abrange o papel do diretor da escola, vice-diretor/diretor adjunto, coordenador pedagógico, orientador educacional, supervisor escolar etc.

A legislação vigente no Brasil estabelece em suas diretrizes que a gestão escolar deve orientar-se a partir dos princípios da democracia. Conceitualmente temos tudo para fazer uma educação de primeiro mundo, porém a prática ainda está muito distante do ideal proposto pelas leis que regem a educação nacional.

O conceito de democracia foi evoluindo ao longo do tempo e hoje, através de seus princípios, protege os direitos humanos fundamentais, garantindo a liberdade de expressão do povo, bem como o exercício da cidadania, e acolhendo a pluralidade de ideias.

Podemos dizer que o conceito de democracia, com todos os seus princípios, é indissociável da questão ética, sendo que essa compreende os assuntos morais e especifi camente o caráter, a

conduta perante o outro, assim como a postura profi ssional, de onde partem inclusive os códigos de “ética profi ssional”.

No parágrafo único do artigo 1º da Constituição Federal, podemos extrair o conceito da democracia participativa: “Todo o poder emana do povo, que o exerce por meio de representantes eleitos ou diretamente, nos termos desta Constituição” (BRASIL, 1988).

Partindo dessa premissa, realizou-se esta pesquisa tendo em vista associar as ideias de ética profi ssional com as responsabilidades inerentes aos gestores na educação, não só da área administrativa, mas também da área pedagógica – os professores –, pois, em comum acordo com Chalita (2004, p. 161), são eles os grandes agentes do processo educacional: “A alma de qualquer instituição de ensino é o professor”.

2 GESTÃO DEMOCRÁTICA

A Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB) aborda a gestão democrática do ensino público em seu artigo 14, defendendo a sua normatização pelos sistemas de ensino, de acordo

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com as suas peculiaridades. Em seu artigo 15, a LDB cita a autonomia pedagógica, administrativa e fi nanceira das unidades escolares públicas, porém refere-se a uma autonomia gradativa assegurada pelos sistemas de ensino (BRASIL, 1996).

Na última década muito se tem falado sobre a gestão democrática da escola, porém, na prática, o que se percebe é que o enfoque tem sido na participação de professores, alunos, pais e comunidade escolar na vida administrativa da escola.

Um exemplo disso são as eleições para diretores de escola, que acontecem na maioria das escolas públicas do nosso país, regulamentadas por legislações específi cas, com critérios peculiares a cada sistema de ensino. Em geral, essas eleições acontecem a cada dois ou três anos, sendo criadas as comissões eleitorais constituídas por representantes de todos os segmentos da comunidade escolar.

Além disso, há as comissões e os conselhos que deliberam juntamente com os gestores sobre os recursos econômicos da unidade escolar, bem como assuntos alusivos aos problemas mais graves que surgem no decorrer do ano letivo (Conselho Escolar, Círculo de Pais e Mestres etc.). Esses grupos geralmente são constituídos por professores, funcionários, pais e alunos.

Todas essas situações que envolvem a participação da comunidade escolar nas tomadas de decisões têm seu lado positivo, “[...] mas essa é uma compreensão e um uso limitados do que se pode entender e vivenciar sob esse slogan da ‘gestão democrática da escola’” (LUCKESI, 2016). Limitado porque o conceito de democracia vai muito além de participar em decisões, pois muitas vezes essa participação não se torna efetiva no sentido de que é preciso questionar, argumentar e defender.

Para Edgar Morin, “[...] a essência da democracia é se nutrir de opiniões diversas e antagônicas” (MORIN, 2005, p. 102). Por isso, uma vivência democrática, em qualquer grupo, sustenta-se e renova-se constantemente a partir da acolhida e respeito à livre expressão de ideias contrárias. É preciso, portanto, que sempre haja um olhar sensível para a fl exibilidade necessária e

fundamental, para que os confl itos, que são muito naturais em uma gestão democrática, não a façam arruinar-se, destruindo sua essência.

A escola é um espaço privilegiado para que as pessoas aprendam a ter uma participação mais ativa na vida política do país, ampliando seu conceito de democracia e exercendo sua cidadania. Luckesi (2016) sugere que os envolvidos aprendam a “compartilhar responsabilidades” de forma direta na escola, estendendo-se para a vida pública em geral. Dessa forma, é preciso que se estimule mais os membros da comunidade escolar a expressarem suas ideias, mas é preciso também abrir-se para isso, oferecendo espaço e oportunidade para todos. De acordo com Morin (2005, p. 22):

Nossos sistemas de ideias (teorias, doutrinas, ideologias) estão não apenas sujeitos ao erro, mas também protegem os erros e ilusões neles inscritos. Está na lógica organizadora de qualquer sistema de ideias resistir à informação que não lhe convém ou que não pode assimilar.

É essa resistência de que nos fala Morin que deve ser rompida: resistência às ideias que não nos convêm. Uma gestão democrática consegue lidar bem com as críticas e argumentos contrários, pois mantém uma visão mais ampla e menos egocêntrica das situações que a envolvem, tendo consciência de que elas são transitórias (pois as gestões são transitórias, ou ao menos deveriam ser) e de que um bom trabalho geralmente se constrói a partir da experiência erro/acerto (consciência do erro): “Não seria necessário tomar consciência de nossas possessões para poder dialogar com nossas ideias, controlá-las tanto quanto nos controlam e aplicar-lhes testes de verdade e de erro?” (MORIN, 2005, p. 29).

A obrigação de todo gestor é sempre atuar como um líder democrático, dando a oportunidade para que cada pessoa sob sua responsabilidade possa oferecer o que há de melhor em si, propiciando um espaço de convivência agradável, onde todos possam sentir-se felizes, motivados e acolhidos, podendo sentir-se realizados em suas atividades: o aluno, o funcionário, o professor e todas as pessoas envolvidas com a escola (CHALITA, 2004).

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2.1 ELEIÇÕES PARA DIRETORES

Com relação às eleições para diretores de escolas, o que chama a atenção é que estas, que deveriam contribuir para que haja efetivamente uma gestão escolar democrática – e quando se fala em democracia, pensa-se em igualdade, justiça, transparência e ética –, produzem um efeito incrivelmente contrário.

Nesses períodos podemos identifi car nas escolas brasileiras (ou em boa parte delas) uma reprodução do cenário político do nosso país, com todos os seus gravames e mazelas: acontecem campanhas eleitorais, disputas, manipulação de informações, ataques emocionais e verbais, situações de assédio moral etc. Inclusive muitos casos, não resolvidos na unidade escolar e nem no sistema de ensino, acabam sendo levados para o Poder Judiciário.

As disputas, muitas vezes, são bem acirradas, pois pode haver vários candidatos ou, em escolas menores, há uma certa “intimidação” para que não haja oposição. Além disso, há as indicações para os “cargos de confi ança”: coordenação, orientação, supervisão etc. Tudo isso acaba gerando muitos confl itos quando se coloca a disputa pelo poder acima das ideologias, por uma educação melhor.

A doutora Terezinha Azerêdo Rios conta que fez parte da banca de uma tese de doutorado onde o pesquisador realizou entrevistas com professores de escolas públicas que assumiram o cargo de diretor escolar. Ela relata que eles foram questionados quanto às razões que os motivaram a deixar a sala de aula para assumir a responsabilidade de gestor:

[...] alguns afi rmaram que o fi zeram para “se ver livre do trabalho pedagógico”. E, ao falar das características das funções no novo cargo, mencionaram que “o posto é mais valorizado que o de professor”, além de “não sofrerem com as difi culdades de sala de aula”, com problemas relacionados, principalmente, ao comportamento dos jovens. “Quero distância de alunos e pais”, afi rmou um deles (RIOS, 2017).

A partir dos relatos apresentados, podemos perceber que muitos são os motivos que levam um professor a deixar a sala de aula para assumir a

gestão de uma escola: alguns com ideais nobres, outros nem tanto. É preciso considerar que, para ser um bom gestor, em primeiro lugar é preciso ser um bom professor, pois a “matéria-prima” da escola são os alunos e só poderá conduzir bem essa “máquina” quem realmente for apaixonado pela educação e fi zer dela o seu ideal.

O fato é que em muitas escolas do nosso país o cargo de diretor torna-se quase “vitalício”, por razões talvez semelhantes às citadas anteriormente, os professores não querem voltar à sua posição inicial – sala de aula –, sendo que realizaram um concurso público para o cargo de “professor” e não de “diretor”.

De acordo com Luckesi (2016, s.p.), “Ao invés da educação ensinar para uma prática política mais adequada, importa para dentro da escola as mazelas daquilo que ocorre na sociedade fora dos muros escolares”.

3 ÉTICA

Os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN) elegem a “ética” como um dos temas transversais, devendo perpassar por todas as disciplinas do currículo e também pelos demais temas transversais:

A Ética diz respeito às refl exões sobre as condutas humanas. A pergunta ética por excelência é: “Como agir perante os outros?” [...] A questão central das preocupações éticas é a da justiça entendida como inspirada por valores de igualdade e equidade (BRASIL, 1997, p. 31-32).

O estudo sobre as condutas humanas deve ser um dos maiores objetivos da escola, propondo que ela realize um trabalho visando desenvolver a “autonomia moral” como condição para a “refl exão ética”. Para tanto, foram eleitos quatro blocos de conteúdo – Respeito Mútuo, Justiça, Diálogo e Solidariedade – envolvendo valores relacionados ao “princípio da dignidade do ser humano”, que consta na Constituição Brasileira (BRASIL, 1997, p. 32).

A LDB, em seu artigo 27, trata de algumas diretrizes a serem observadas nos conteúdos curriculares da Educação Básica. A primeira delas diz respeito à “difusão de valores fundamentais

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ao interesse social, aos direitos e deveres dos cidadãos, de respeito ao bem comum e à ordem democrática” (BRASIL, 1996).

Dessa forma, observamos que há uma preocupação/movimentação das instâncias superiores quanto à abordagem do tema “ética” nas escolas, em todos os seus aspectos, despertando as novas gerações para a vivência de valores relacionados à dignidade humana, bem como o exercício da cidadania e o espírito democrático.

“Na Escola, o tema Ética encontra-se, em primeiro lugar, nas próprias relações entre os agentes que constituem essa instituição” (BRASIL, 1997, p. 32). Partindo desse princípio, antes de ser abordado no currículo escolar, é primordial que o tema seja vivenciado e exemplifi cado nas inter-relações existentes entre todos os segmentos que constituem a escola. É importante lembrar também que na Educação Básica isso assume uma importância muito maior, levando em consideração que crianças e jovens observam muito e geralmente espelham-se na postura de seus educadores, sejam eles pais, professores ou toda e qualquer pessoa que de alguma forma contribui com a sua formação.

Com relação à gestão escolar, a doutora Terezinha Azerêdo Rios nos explica a etimologia da palavra administração, que vem do latim ad-ministrare e signifi cou, primeiramente, “ministrar junto” (RIOS, 2017). Na área da Educação, nas unidades escolares, deveria manter-se esse sentido original, pelo profundo valor ético que ele presume: ministrar junto, fazer juntos, enfi m, aprender a conviver, como foi proposto por Delors (1998, p. 96) nos quatro pilares da educação para o século XXI, caracterizando esta aprendizagem como um dos maiores desafi os da educação.

Delors (1998, p. 96-97) nos deixa uma situação-problema: “Poderemos conceber uma educação capaz de evitar confl itos, ou de os resolver de maneira pacífi ca, desenvolvendo o conhecimento dos outros, das suas culturas, da sua espiritualidade?” Na verdade, essa situação é crucial para a educação das novas gerações, porém até então as escolas pouco conseguiram avançar nesse sentido. Para tanto, é preciso repensar o conceito de gestão escolar e até mesmo

o conceito de gestão da sala de aula, de forma que tudo o que se tenta construir em termos de ética possa ser de fato vivenciado por todos.

Pestalozzi, teórico do século XVIII, já propunha mudanças de perspectivas no objetivo da educação, nas quais ainda nos digladiamos atualmente: projetar a educação na formação do homem moral e autônomo, constituindo assim uma educação integral onde o ser humano é contemplado em todas as suas dimensões. “Para ele, a educação não se limita à existência: deve agir sobre a essência, visando à autonomia moral e à transcendência espiritual do homem” (INCONTRI, 1997, p. 95).

Para construirmos uma educação que seja capaz de evitar confl itos, ou de mediá-los pacifi camente, faz-se necessária urgente intervenção nas causas desses confl itos, pois o que geralmente acontece é que se tenta remediar os efeitos. Estas causas poderiam ser os diversos preconceitos, o egocentrismo e principalmente a competitividade, que tem sido a grande causa de tensão humana nos dias atuais, e infelizmente a educação, da forma como ainda é concebida, alimenta isso no sentido de rivalidade, através da concepção que se tem de “mundo competitivo”.

A educação integral do ser, contemplando o ser humano em todas as suas dimensões, contribui para uma vivência mais pacífi ca, justa e digna. Para tanto, como disse Paulo Freire (2002, p. 38), “As qualidades ou virtudes são construídas por nós no esforço que nos impomos para diminuir a distância entre o que dizemos e o que fazemos”.

4 CONSIDERAÇÕES FINAIS

No ano de 2012, no início do processo de eleições para diretores, a Secretaria da Educação do Estado do Rio Grande do Sul publicou uma Carta às Comunidades Escolares, emitida pelo secretário prof. dr. José Clovis de Azevedo (2012), onde ele dizia o seguinte:

[...] a escola deve afi rmar-se como um laboratório de experiência democrática. Um modelo de postura ética e de moralidade. Uma referência pedagógica de prática democrática,

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cuja coerência harmonize-se com a expressão “educa-se pelo exemplo”. Cabe a nós educadores ensinar democracia e ética pela nobreza do exemplo. Temos que ser referência positiva à sociedade e aos educandos.

Muitos fat ores ainda precisam ser repensados para que a escola possa ser de fato uma referência pedagógica de prática democrática. É preciso abolir certas práticas, muito comuns ainda, apesar de se apresentarem sempre de forma muito velada, como oferecer vantagens a uns em detrimento de outros, perseguição, intimidação, chantagem emocional, muitas vezes caracterizando situações de assédio moral, onde as pessoas são impelidas ou coagidas a tomar posições que não condizem com a sua vontade.

Para promovermos uma educação mais ética, é de suma importância que as relações no ambiente escolar sejam efetivamente horizontais, ou seja, aprender a fazer juntos, a fazer com os outros, sem centralizar o poder ou monopolizar as ideias. E pensando em uma relação mais horizontal nas escolas, é necessário abortar as transferências compulsórias de professores ou alunos para outras unidades escolares. Esse fato geralmente acontece em função do antagonismo de ideias ou posturas de outrem e encontra respaldo nos sistemas de ensino para se consolidar. Enquanto alimentarmos esse tipo de situação, a democracia nas escolas continua ruindo: “As democracias são frágeis, vivem confl itos, e estes podem fazê-las submergir” (MORIN, 2005, p. 109).

REFERÊNCIAS

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______. Lei n. 9.394, de 20 de dezembro de 1996. Estabelece as diretrizes e bases

da educação nacional. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L9394.htm>. Acesso em: 2 jan. 2017.

______. Constituição Federal de 1988. Promulgada em 5 de outubro de 1988. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm>. Acesso em: 3 set. 2017.

CHALITA, Gabriel. Educação: a solução está no afeto. São Paulo: Editora Gente, 2004.

DELORS, Jacques. Educação, um tesouro a descobrir. Brasília: UNESCO e Cortez, 1998.

FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia. Disponível em: <http://educadores.educacao.ba.gov.br/system/fi les/private/midiateca/documentos/2016/pdf-pedagogiadaautonomia-paulofreire.pdf>. Acesso em: 6 jan. 2017.

INCONTRI, Dora. Pestalozzi: educação e ética. São Paulo: Scipione, 1997.

LUCKESI, Cipriano Carlos. Gestão democrática da escola, ética e sala de aula. Disponível em: <http://www.luckesi.com.br/artigos_abc_educatio.htm>. Acesso em: 17 dez. 2016.

MORIN, Edgar. Os sete saberes necessários à educação do futuro. São Paulo: Cortez, 2005.

RIOS, Terezinha Azerêdo. A importância de ouvir antes das decisões. Disponível em: <http://gestaoescolar.org.br/conteudo/736/a-importancia-de-ouvir-antes-das-decisoes>. Acesso em: 2 jan. 2017.

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ÉTICA! TEMOS OU NÃO TEMOS? E SE NÃO TEMOS, QUANDO TEREMOS?

ARTIGOS Autor:Maurício Souza da Silva

Graduado em Tecnologia do Comércio Exterior pelo Centro Universitário

Leonardo da Vinci – UNIASSELVI (2015), cursando o curso de especialização em Docência do Ensino Superior na

Uniasselvi-pós e MBA – Gerenciamento de projetos pela IERGS-Pós

Resumo

Este artigo tem por objetivo explicar a ética e buscar diferenciá-la da moral e outros termos correlatos, que embora estejam relacionados entre si, são conceitos distintos. Em um contexto fi losófi co, ética e moral se complementam, mas possuem signifi cados diferentes. Podemos considerar a ética como uma postura ou um modo de ser, uma maneira de lidar com as situações de vida e do modo como estabelecemos relações com outras pessoas, e em como entendemos nossas responsabilidades em relação aos outros, bem como lidamos com as pessoas em sociedade. Neste contexto, podemos dizer que conduta ética é um tipo de comportamento mediado por princípios e valores morais. A ética também pode ser uma refl exão sobre a moral, uma vez que refl ete e questiona muitas vezes sobre as regras morais, ou seja, aquilo que se consolidou como sendo verdadeiro do ponto de vista da ação, que norteia o julgamento de cada indivíduo sobre o que é certo ou errado, fruto de um padrão cultural vigente e que engloba as regras consideradas como necessárias para a boa convivência entre membros de uma determinada sociedade. No sentido prático, os objetivos da ética e da moral são muito semelhantes, causando a confusão, pois ambas são responsáveis pela construção das bases comportamentais que guiarão o homem, determinando seu caráter.

Palavras-chave: Ética e Moral. Ética Profi ssional. Cidadania.

1 INTRODUÇÃO

A confusão que se estabelece em relação às palavras ética e moral já existe há muito tempo e começa na defi nição da própria etimologia desses dois termos. A palavra ética vem do grego “ethos”, que signifi ca modo de ser ou, mais específi co, o caráter. Já a palavra moral tem a sua origem no latim, que vem de “mores”, signifi cando costumes. Moral é um conjunto de normas que regulam o comportamento do homem em sociedade e estas normas são obtidas através da educação, pela tradição e pelo cotidiano, desta forma podemos dizer que a moral é a “ciência dos costumes”.

A ética, segundo Motta (1984, p. 41), defi ne-se como um “conjunto de valores que orientam o comportamento do homem em relação aos outros homens na sociedade em que vive, garantindo, outrossim, o bem-estar social”, e desta forma podemos resumir esta defi nição como a forma pela qual o homem deve se comportar no seu meio social.

2 A DICOTOMIA ENTRE ÉTICA E MORAL

Em geral procuramos pautar o nosso comportamento acreditando que devemos, sempre que possível, sermos éticos e morais ao mesmo tempo, mas devemos ter em mente também ser perfeitamente possível sermos éticos e imorais ao mesmo tempo, e isto ocorre quando desobedecemos a uma determinada regra moral porque, refl etindo eticamente sobre ela, percebemo-la equivocada, ultrapassada ou simplesmente errada. Entende-se que seguir esta premissa exige certo grau de coragem pessoal.

Um exemplo famoso é o de Rosa Parks, uma costureira negra que, em 1955, na cidade de Montgomery, Alabama, nos Estados Unidos, desobedeceu à regra existente de que a maioria dos lugares dos ônibus era reservada para pessoas brancas. Já com certa idade, farta daquela humilhação moralmente ofi cial, Rosa se recusou a levantar para uma pessoa branca sentar. O motorista chamou a polícia, que a prendeu e a multou em dez dólares. O acontecimento provocou

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um movimento nacional de boicote aos ônibus e, a partir deste evento, o jovem pastor Martin Luther King foi determinante como líder na luta pela igualdade dos direitos civis nos Estados Unidos.

No ponto de vista dos brancos racistas, Rosa foi imoral, e eles estavam certos quanto a isso. Na verdade, a regra moral vigente é que estava errada, uma vez que a moral é que era estúpida. A partir da sua refl exão ética a respeito, Rosa pôde deliberada e publicamente desobedecer àquela regra moral.

Entretanto, é comum confundir ética e moral, como se fossem a mesma coisa. Muitas vezes se confunde ética com espírito de corpo, que tem tudo a ver com moral, mas nada com a ética. Um médico seguiria a “ética” da sua profi ssão se, por exemplo, não “dedurasse” um colega que cometesse um erro grave e assim matasse um paciente. Nesse caso, especifi camente, o tal do espírito de corpo nada tem a ver com ética e tudo a ver com cumplicidade no erro ou no crime.

3 A ÉTICA PROFISSIONAL

Qualquer atividade profi ssional possui um conjunto de normas que servem como base para a conduta dos profi ssionais. O código de ética profi ssional é elaborado pelos conselhos representativos de cada profi ssão, sendo este código um conjunto de normas que se propõe a guiar os profi ssionais no exercício da sua atividade. Não podemos deixar de salientar que o código de ética profi ssional tem algumas diferenciações, variando de acordo com os campos de atuação, porém alguns itens da ética profi ssional são universais, independentemente da área de atuação, como: respeito à vida, cooperação, seriedade, competência, respeito à hierarquia e sentido de responsabilidade podem ser enumerados como aspectos universais.

A ética profi ssional não é pautada apenas através de um conjunto de normas estabelecidas por um conselho representativo ao qual o profi ssional está vinculado, mas também pelas normas e regras dentro de uma empresa e que devem ser seguidas objetivando a construção de um ambiente saudável, amigável e produtivo. De

acordo com Rui (2011, p. 6): “Ética empresarial diz respeito a regras, padrões e princípios morais sobre o que é certo ou errado em situações específi cas no campo dos negócios”. A partir dessa defi nição, podemos concluir que não se trata de um padrão moral separado, mas da busca do entendimento de como o contexto dos negócios cria seus problemas próprios e exclusivos à pessoa moral que atua como um gerente desse sistema.

Rui (2011, p. 6) ainda explica: “[...] A postura ética constrói ou destrói a reputação de uma empresa. A adoção de um comportamento consagra valor à imagem da empresa [...] A atuação baseada em princípios éticos é uma manifestação da responsabilidade social da empresa”. Essa responsabilidade social citada por Rui é uma exigência básica à atitude ao comportamento ético, demonstrando a “alma” da empresa, cuja preservação implica em solidariedade e compromisso social.

Qualquer atividade profi ssional fi ca impossibilitada de ser exercida sem ética, porque a ética é base de toda atividade econômica, sendo fundamental para o desenvolvimento do homem e das organizações. Podemos relacionar uma série de fatores ou valores que determinará se você ou outro é ou será um bom profi ssional. Ter bons conhecimentos técnicos, dons, talentos, habilidades e capacidades bem desenvolvidas são fatores que possibilitam a uma pessoa ter uma carreira de sucesso. Relacionar-se bem com os colegas, valorizar o trabalho em equipe, possuir boa comunicação e fl exibilidade são aspectos altamente valorizados em muitas organizações.

Mas para que se alcance a excelência profi ssional, deve-se ter uma conduta ética para a conquista da credibilidade profi ssional. Essa conduta nos permite ganhar a confi ança e o respeito de superiores na hierarquia corporativa, colegas de trabalho e outros colaboradores. Ser íntegro, neste caso, é ter transparência nas atividades executadas, sendo honesto com o gestor direto e outros profi ssionais, garantindo assim que todos sejam infl uenciados positivamente com o seu trabalho. Não podemos esquecer a humildade, pois, a despeito do meio corporativo, para buscar fazer com que os erros não ocorram,

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temos que considerar que as empresas são feitas por pessoas, e assim os erros se fazem presentes uma vez ou outra. Se isso ocorrer, devemos ser humildes para reconhecer a falha e corrigi-la. E, por fi m, o comprometimento, que é quando o profi ssional se compromete com o próprio desenvolvimento e a fazer deste desenvolvimento ato contínuo, agindo para alcançar metas e objetivos em conformidade com a ética, que diz respeito a cada indivíduo, a cada grupo profi ssional e a sociedade em geral.

4 ÉTICA E CIDADANIA

A ética e a cidadania estão relacionadas às atitudes dos indivíduos e a sua forma de interatividade em sociedade.

Defi nindo somente cidadania, podemos dizer que se refere ao conjunto de direitos e deveres ao qual o cidadão está sujeito no seu relacionamento com a sociedade na qual está inserido. Um dos pressupostos da cidadania é a nacionalidade, ou seja, o fato de pertencer a uma determinada nação, que também pode ser denominada como cidadania formal. Mas temos também a defi nição de cidadania substantiva, que possui um caráter muito mais amplo, pois está relacionada a direitos sociais, políticos e civis.

A ética e a moral têm uma grande infl uência na cidadania. Via de regra, a cidadania na grande maioria dos países tende a se modifi car para melhor, de acordo com os direitos políticos conquistados, com aperfeiçoamento no tratamento social entre cidadãos e maior consciência civil. Muitos acreditam que a cidadania somente estará em uma forma defi nitiva quando não houver mais desigualdades e todas as pessoas puderem viver em harmonia. Isto pode parecer ser um desejo utópico, e que, portanto, seria mais razoável o conceito do professor e fi lósofo Mário Sérgio Cortella, que em uma entrevista no programa do Jô Soares disse: “Tem coisa que eu quero, mas não devo, tem coisas que eu devo, mas não posso e tem coisas que eu posso, mas não quero”. Mas quem defi ne isso? Isto é defi nido através do exemplar, defi ne-se através dos princípios da sociedade sendo religiosos ou não, defi ne-se através das normatizações. Há 20 anos, em um

auditório, algumas pessoas fumariam e outras não. Há 10 anos, haveria uma placa com os dizeres: “É proibido fumar”. E hoje não é mais necessário, pois as pessoas incorporaram este comportamento social. Às vezes surge como norma, por exemplo, o uso do cinto de segurança quando passou a ser obrigatório no Brasil, e muitas pessoas foram multadas porque não tínhamos o hábito de usar o cinto. Hoje você entra no carro e coloca o cinto sem se lembrar da multa. Como foi a construção da ética neste caso? Creio que foi a atitude do poder público, que não se limitou a criar a norma, mas utilizou a sua autoridade para fi scalizar o cumprimento da lei.

A relação entre ética e cidadania é bastante próxima, pois a ética costuma ser uma forma de guiar a cidadania presente e, ainda, uma forma de nortear a luta pelos direitos e condições que ainda precisam ser conquistados. A ética e a moral são a base para o desenvolvimento de uma cidadania consciente e justa, e um país com fortes bases éticas e morais apresenta uma forte cidadania.

Conforme relatório Índice de percepção de Corrupção 2016, da Transparency International, divulgado em janeiro de 2017, países como Dinamarca, Nova Zelândia, Finlândia, Suécia, Suíça e Noruega foram classifi cados como campeões em transparência, com uma classe política com uma postura ética que revela o grande respeito que o Estado tem e deve ter pela sociedade que ele representa. Nestes países, por exemplo, todos têm acesso às informações públicas, verifi cando de que forma o governo está utilizando os recursos públicos e acompanhando as atividades dos seus políticos. Mas como isso é possível? Tentando dar uma possível resposta brevemente, podemos destacar que o arcabouço jurídico desses países não contempla um conjunto de leis tão duras, mas eles possuem um mecanismo de punição onde a tolerância à ilegalidade é baixíssima, além de manter um empenho constante contra a corrupção e, por isso, destaca-se na população um nível de confi ança bem elevado, e isto é chave da autorregulação social. O Brasil ocupa a posição 79a neste ranking, o que demonstra que há muito ainda a ser feito.

No Brasil, segundo estudo global da Edelman Trust Barometer, divulgado no portal Globo.com em matéria tendo como autora a jornalista Thais Herédia

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em 8/3/2017, bem como no blog da Edelman, a confi ança dos brasileiros nas instituições do país revela que apenas 24% das pessoas acreditam no governo e 62% dos pesquisados acreditam que o sistema nacional não é mais capaz de atender às demandas da sociedade.

Tudo isso nos faz refl etir: existe sociedade ética com classe política ou representantes do Estado não éticos? Ou o contrário: classe política ética com a sociedade não ética? Estes países demonstram que a sua classe política tem uma postura ética porque a sociedade que eles representam também tem esse comportamento, na qual a educação possui uma grande infl uência na construção de um comportamento social e onde a ética e a moral são fortes bases para o desenvolvimento de cidadania.

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

A ética é uma das questões essenciais para qualquer sociedade, tanto na esfera pública quanto em nossas vidas privadas. Somos éticos quando refl etimos sobre o que estamos fazendo e como estamos fazendo, quando medimos e qualifi camos nossas ações buscando refl etir o que somos e o que podemos ser. Ao contrário, sem ética, nos tornamos alienados e até mesmo brutalizados, sem conexão com o signifi cado da vida em sociedade.

No Brasil de hoje, refl etir sobre ética se torna fundamental como forma de pensar e fomentar nossas ações. Devemos refl etir sobre o que é ética hoje e como ela vem sendo entendida, pois o que estamos vendo atualmente no nosso país é justamente a falta desta, em muitas organizações privadas e muito mais ainda na esfera pública. Esta realidade compromete a sociedade, que perde os seus valores morais e torna cada vez mais difícil lutar contra um mercado cheio de imoralidades, corrupção e vícios.

Qualquer indivíduo que considerar os princípios éticos fundamentais em todas as suas escolhas, ações e decisões terá como consequência uma vida com mais qualidade, seja no âmbito profi ssional, seja no aspecto humano. Mas balizar o seu cotidiano desta forma vai mudar o mundo? Ou se formos menos ambiciosos, iremos

mudar o nosso país? Com certeza não, mas muda o seu próprio mundo, e se cada um de nós mudar o próprio mundo, talvez esta ação no conjunto possa efetivamente transformar o nosso país e o mundo em que vivemos.

Esta afi rmação pode parecer utópica. Contudo, a raça humana sempre buscou a utopia – não porque sempre almejou o inatingível, mas porque a utopia não defi ne se há um paraíso desejado, pois isso não existe, mas nos dá como realidade evitar um inferno.

Entretanto, a pergunta mais importante é: temos ética ou não temos? E se não temos, quando teremos? Em muitos aspectos temos, em outros não, pois ser ético é difícil, e esta difi culdade ocorre toda vez que você tem que superar a tentação de imitar aqueles que procuram se benefi ciar de forma incorreta, por aqueles que acreditam ter a sociedade a seu serviço, quando, por exemplo, em um engarrafamento alguns trafegam na faixa de acostamento ou quando alguém estaciona o veículo na vaga de idoso e muitos, apesar de reprovar, nada fazem. Hoje criticamos os desvios de conduta cometidos por nossa classe política, desvios estes que caracterizam um comportamento corrupto. Estamos fi cando cada vez mais intolerantes com a corrupção, porém somos complacentes com a sonegação e justifi camos este comportamento porque consideramos o Estado injusto e indigno de confi ança. Somos éticos ao não tolerar a corrupção e antiéticos em nos permitir a sonegação. Aprende-se com os nossos genitores o quanto é errado roubar e, no entanto, alguns aprovam levar para casa clipes, borrachas, canetas e bloquinhos da empresa ou, então, no ambiente corporativo, permitem-se desviar a nossa atenção do nosso tempo remunerado acessando o nosso Facebook e estabelecendo bate-papos intermináveis e sem grande relevância com amigos no Whatsapp.

Ética é acima de tudo uma postura e, consequentemente, ação mediada em princípios, tais como o respeito à subjetividade, à dignidade, à diversidade, ao próximo. É uma relação entre pensamento e ação, desmistifi cando a teoria da prática. É saber que podemos ser parte do problema, mas também ter a percepção de ser parte da solução. Ser ético é ter a capacidade de pensar e fazer a partir de uma determinação pessoal ao sair

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da zona de conforto, em questionar, pois quem não pensa por conta própria é levado a pensar o que os outros para ele defi niram como verdade.

Sejam éticos. Por mais difícil que seja, procurem ser éticos. Esforcem-se e valorizem esse esforço.

REFERÊNCIAS

BLOG EDELMAN. Conheça os resultados brasileiros do Edelman trustbarometer, 2017. Disponível em: <https://edelman.com.br/propriedades/trust-barometer-2017/>. Acesso: 25 nov. 2017.

CORTELLA, Mario S. Qual é a tua obra? 6. ed. Rio de Janeiro: Vozes, 2007.

HEREDIA, Thais. 62% dos brasileiros não acreditam nas instituições do país, diz pesquisa. Mar. 2017. Disponível em: </g1.globo.com/economia/blog/thais-heredia/post/ 62--dos-brasileiros-nao-acreditam-nas-instituicoes-do-pais-diz-pesquisa.html/>. Acesso: 23 ago. 2017.

MOTTA, Nair de Souza. Ética e vida profi ssional. Rio de Janeiro: Âmbito Cultural, 1984.

RUI, Maria Cecília. A fundamentação na ética e explicitação de princípios e valores. 2011. Disponível em: <www.webartigos.com/artigos/a-fundamentacao-na-etica-e-explicitacao-de-principios-e-valores/79302>. Acesso: 27 out. 2017.

TRANSPARENCY INTERNATIONAL, Corruption perceptions index 2016. Disponível em: <https://www.transparency.org/news/feature/corruption_perceptions_index_2016/>. Acesso: 25 nov. 2017.

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ÉTICA: DOS PRIMÓRDIOS FILOSÓFICOS ÀS CORPORAÇÕES MODERNAS

ARTIGOS Autor:Victor José Caglioni

Formação: Pós-graduado em Gestão e tutoria em Educação a Distância da UNIASSELVI.

Mestre em Sociologia pela Universidad Nacional General San Martín, pós-graduado

em Pedagogia pela Facultad Latinoamericana de Ciencias Sociales –FLACSO-UNESCO

e graduado em Ciências Sociais pela Universidade Regional de Blumenau.E-mail: [email protected]

Resumo

O presente artigo dedica-se ao tema da ética nas corporações. Esse tema pujante ganha cada vez mais importância no mercado junto aos consumidores. E apesar de ser muito antigo, sua evidência tem ganhado maiores projeções recentemente. Para possibilitar um entendimento mais adequado do tema, tem-se como ponto de partida as ideias sobre ética de alguns dos mais infl uentes pensadores e fi lósofos da história, como Kant, Kierkegaard, Sartre e Pierce, para chegarmos ao dia a dia das empresas na contemporaneidade. Ou seja, com o objetivo de discutirmos as mudanças de paradigmas éticos com a chegada da modernidade, do pragmatismo, da estética e pensarmos não só a ética, mas a moral no ambiente laboral das corporações atuais.

Palavras-chave: Ética. Moral. Corporações.

1 INTRODUÇÃO

Quando damos início à refl exão sobre ética, vêm à nossa mente vários tipos de pensamentos referentes a comportamentos, sejam eles nossos ou de outros. Especialmente ao nos referirmos à política, pensar e falar sobre ética é bastante recorrente, porém esquecemos que ela se faz presente nas nossas ações do dia a dia. Com o intuito de fornecermos melhores subsídios para nossa refl exão, entendemos ser preciso encontrar um ponto comum para, a partir dele, compreender as várias posições sobre o alcance e a função da ética em períodos históricos, para chegarmos ao nosso tema central: “Ética no trabalho”.

A Ética clareia a consciência humana e dá rumo à moral, ou seja, a conduta individual e social das pessoas. Partimos dessa premissa considerando-a uma criação histórico-cultural, existindo, portanto, variações de conceito de virtude, de bem e mal, certo e errado, consentido e proibido, por exemplo, em determinadas culturas e sociedades, e seus aspectos sociais, políticos e econômicos.

A seguir trataremos de identifi car algumas das principais mudanças no entendimento social sobre

ética e moral – que no idioma alemão é nomeado de Zeitgeist (espírito do tempo ou clima cultural) – para termos embasamento de refl exão sobre a ética no mundo corporativo contemporâneo e suas relações com o progresso coletivo.

2 A MODERNIDADE E SUA ÉTICA

Durante a Idade Média prevaleceu entre os pensadores, religiosos e grande parte da população – e de forma subentendida – uma ética teocêntrica, remetendo à ideia de um Deus como centro de tudo. Essa ideia nunca deixou de coexistir com outras.

Entre os séculos XVI e início do século XIX, período identifi cado pela maioria dos historiadores como início da Modernidade, o mundo passou por transformações materiais e de valores que propiciaram o que Immanuel Kant nomeou como “Metafísica dos costumes” (apud GALLO, 1997). Por conseguinte, surge uma nova formulação dos princípios éticos, com base no antropocentrismo – visão na qual o ser humano passa a ser o centro do mundo.

Nesse movimento, o homem passou a afi rmar um valor próprio às coisas que produzia, sejam

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mercadorias, legislação e/ou demais exercícios intelectuais. Dessa forma, surge – ou ressurge, assim como o fora na Renascença – um homem corpóreo, sensível, dotado de razão e vontades, com a “luz” da ciência para resolver suas necessidades humanas e da natureza e como meio para produzir tais soluções.

Nesse contexto, o mundo ocidental, especialmente, passou a aceitar uma ética baseada no homem como um ser ativo, produtor e criador de comportamentos morais. Trataremos da moral de forma mais aprofundada em parágrafos adiante.

Outros dois movimentos importantes para a refl exão sobre ética são o Existencialismo, que tem como principais pensadores Kierkegaard e Sartre; e o Pragmatismo, de Pierce, James, Schiller, entre outros.

Segundo os argumentos apresentados pelo autor Christoph Helferich (2006), o Existencialismo promulgava que o humano tem três estágios de existência, estético, ético e religioso em graus de superioridade, prevalecendo no topo o religioso, consistido de uma relação subjetiva e individual com o Criador. Estágio seguido do ético, que dava conta do comportamento regido por normas sociais e gerais sem necessariamente ter autenticidade individual; e o estético, relativo à relação corpórea e material de seu mundo.

Já Sartre (apud HELFERICH, 2006), de forma mais argumentativa e polêmica, afi rma que o homem é liberdade, e, portanto, é criador de seu valor e sua própria fonte de decisão. Desse modo, o valor moral de cada indivíduo não está em sua submissão às normas e/ou valores estabelecidos, mas pelo uso de sua própria liberdade, como valor supremo da existência, do livre agir. No entanto, cabe aqui lembrarmos que esse conceito, de ser livre para escolher, meramente ignora o fator coletivo, ou seja, as circunstâncias no momento de escolha.

A posteriori surge o Pragmatismo, que consiste na ideia da necessidade de o indivíduo moderno identifi car a verdade como forma de melhor contribuir com o viver e conviver em sociedade. Exalta-se uma ética pragmática, em

outras palavras, equivale a dizer: uma vez que os meios resultam em algo bom, em um êxito, então estão de acordo com a ética. Princípios, valores e normas nesse sentido podem variar conforme a situação vivenciada pelo indivíduo, considerando que o bom será útil e, portanto, ético.

Com todas essas vertentes indicadoras das mudanças temporais daquilo que grande parte de nossas sociedades entende como ética, chegamos à era pós-moderna, onde enfrentamos dia a dia incertezas de mercado e existenciais.

De tal forma que a ética nesse contexto se mistura à moral vigente, especialmente no ambiente de trabalho competitivo, e exige um posicionamento profi ssional visando à melhoria dos resultados e, consequentemente, de nossa materialidade.

A partir de agora, com uma base conceitual mais abrangente, trataremos desse tema em nosso próximo capítulo.

3 ÉTICA NAS CORPORAÇÕES

A ética de um período de tempo e espaço visa ser universal, pode estar evidente via normativas. Segundo o fi lósofo da administração Edward Freedman, ela pode ser considerada “O estudo dos direitos e obrigações das pessoas, as normas morais que aplicamos na hora de tomar decisões, e a natureza das relações humanas” (FREDMAN apud HOELLER TORRES, 2013, p. 83).

Chegamos à questão moral, atrelada ao comportamento, e nesse ponto temos que ela está atrelada à prática de uma ética (de um princípio ético).

A moral é relativa, e a ética, como vimos, visa ser universal. A moral nesse cenário está atrelada a um esforço feito por nós, para escolher o melhor caminho para as decisões de nossa vida. Quando há liberdade de escolha, dentro dos conceitos coletivos, temporais, culturais, normativos de uma comunidade/sociedade, isso inclui a cultura organizacional das empresas.

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Nós humanos, na vida familiar e no trabalho, manifestamos uma conduta através de determinadas atuações, que de acordo com a moral social, podem ser consideradas corretas ou não, ações regulamentadas ou não pela moral. Estudar, questionar e fomentar essa moral são as funções da “ética”.

No exercício profi ssional, em termos gerais, signifi ca estabelecer relacionamentos de tipo interpessoal, enquanto as normas éticas referem-se à confi dencialidade, fi delidade e veracidade das ações no dia a dia.

Cabe-nos pensar quais parâmetros devemos seguir num cenário competitivo que nos exige profi ssionalismo em um país como o Brasil, no qual as esferas públicas e privadas estão intrinsecamente misturadas nas relações sociais.

Não é novidade que somos conhecidos, especialmente entre executivos estrangeiros, por nossas relações de aproximação rápida de nossas vidas privadas com companheiros de trabalho. Se esse é um fato social, há uma necessidade de cuidado redobrado para considerarmos nossas ações e decisões no âmbito laboral, num nível cabível à função que cada um de nós mantém.

Isso não signifi ca dizer que eticamente não possamos unir as relações de trabalho com outras relações, esta moral é comumente permitida no Brasil. Faz-se necessário, uma vez dadas essas relações, pensarmos nelas atreladas a formas de mantermos níveis de justiça e reconhecimento profi ssional para todos os colaboradores, independentemente das relações pessoais que estão estabelecidas. Uma vez que é necessário o cuidado para que as relações pessoais não ultrapassem as relações de trabalho, pois esse fato facilmente poderia causar injustiças de vários aspectos relacionados às carreiras das pessoas, especialmente as que não são tão próximas daqueles com o poder de decisão.

Desse modo, é fundamental discernimento entre as possibilidades de avanço e habilidades progressistas dos profi ssionais, tratando-os dentro

de limites e regras previamente estabelecidos, caso contrário estaremos à mercê de cometermos injustiças e erros estratégicos, além de uma série de outros problemas de gestão em recursos humanos.

O tratamento diferenciado, privilegiado e não reconhecedor pode resultar em táticas e tomada de decisões não baseadas em princípios éticos de esforço, resultados e postura mantida pelos profi ssionais.

Há cada vez menos espaço para empresas que não pensem em ações com base na ética, especialmente relacionado a temas, como combate à discriminação, responsabilidade ambiental, importantes especialmente porque os clientes internos e/ou externos estão cada vez mais exigentes e conscientes sobre a responsabilidade das instituições para com a sociedade, sejam elas privadas ou públicas.

A moral que dita nossa conduta exige de nós ações responsáveis, com certa refl exão sobre os impactos. Essa nova situação requer empenho de cada setor da empresa, para que as condutas tenham uma relação direta com a “fi losofi a da instituição”. Neste cenário, já foi identifi cada em várias empresas, pelos setores de marketing e publicidade, a necessidade de tal conduta, pelo menos um esforço para praticá-la, passando a fazer parte das estratégias organizacionais ligadas à gestão de marca e recursos humanos.

Isso signifi ca que o marketing e a publicidade podem demonstrar através de meios de comunicação a prática da cultura organizacional da empresa, valorizando a marca. Em parceria com o setor de recursos humanos, trabalham nos bastidores para aplicabilidade dessa cultura.

Essa “união de forças”, seguramente, tem uma importância qualitativa e de funcionalidade essencial para a formação de uma gestão mais ética, preservar e propagar a fi losofi a da empresa, segundo Hoeller Torres (2013).

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Para Almeida Santos (2014), os responsáveis pela gestão da cultura empresarial estão atrelados às responsabilidades de pensar em processos que visam a condutas comportamentais (de moral) mais adequadas e comprometidas com a fi losofi a da empresa, como fomento para fortalecer a inovação na gestão material, de reciclagem, de discernimento da diversidade social e das possibilidades de crescimento mútuo da organização e seus colaboradores.

Partimos do pressuposto de que a tomada de decisões baseadas em uma ética normalizada em empresas resulta numa melhora signifi cativa da motivação do grupo de colaboradores e, consequentemente, nos resultados possíveis, ainda em tempos de instabilidade econômica.

Se analisarmos as empresas com maiores níveis de produtividade, perceberemos nitidamente que elas possuem mecanismos de reconhecimento laboral – sejam eles benefícios sociais, econômicos e de carreira – baseados em princípios éticos costumeiramente denominados “Filosofi a da empresa” e “Plano de carreira”.

Isso não signifi ca ser possível afi rmar que todas as empresas que denominam e coloquem em um cartaz as suas fi losofi as as seguem à risca, porém estabelecidas as fi losofi as, elas podem ser mais facilmente seguidas no dia a dia de trabalho.

Há casos muito interessantes de companhias dos setores de informática e saúde, por exemplo, que adotam critérios éticos de contratação e a manutenção de relações sociais visando à não distinção por gênero (igualdades salariais entre os gêneros e possibilidades de ascensão), por religião, tom de pele, orientação sexual etc. Todos, em sua maioria, baseados na observação da conduta, resultados e capacidade expansiva dos colaboradores.

Em virtude do estabelecimento e cumprimento de critérios éticos internos, resultam maiores as possibilidades de melhora e de êxito dentro das organizações, independentemente do tipo de atividade e negócio gerado nas empresas. Além de

ser uma salvaguarda em termos de publicidade e marketing para elas.

A saber, não raro vemos como companhias envolvidas em “fraudes” têm sua desmoralização pública e consequentemente a perda substancial de mercado, quando não sua extinção, devido a procedimentos não éticos. Embora injustiças relacionadas ao poder possam ocorrer, poucas são as chances – mesmo com elevados investimentos em marketing – de recuperação, acelerando o processo de desgaste de seus produtos e serviços ou o avanço de concorrentes. Segundo o autor Almeida Santos (2014), inclusive, existe a prática de grandes empresas serem obrigadas a mudarem de marca, devido à imagem manchada publicamente.

Agir dentro de princípios éticos nas relações de trabalho exige de cada colaborador um sentimento de responsabilidade colaborativa, possível de ser criado/gerado pelos gestores, com ações morais institucionalizadas, tendo ou não departamentos de recursos humanos.

4 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Os princípios éticos, independentemente de quais são seus critérios entre indivíduos e sociedade, como os descritos no início do artigo, obedecem a uma universalidade temporal e cultural, que no mundo ocidental está necessariamente atrelada aos direitos humanos e da humanização das relações sociais. Portanto, conclui-se então estarem presentes nas atividades econômicas laborais.

Quanto mais próximas as ações morais estiverem dos ideais éticos de seu tempo, maiores são as possibilidades de progresso social e econômico das companhias e do próprio Estado.

Mesmo se as condições estabelecidas externamente às empresas pressionem nossas decisões internas, elas não devem necessariamente servir de base para os critérios estabelecidos nas relações internamente, ou seja, as ações internas

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devem ser estabelecidas por critérios internos, amenizando as pressões externas.

As relações no mundo do trabalho podem resultar em um progresso para um conjunto grande de pessoas e disso resultar no crescimento das companhias, em produtividade, inovação e seu poder junto aos mercados.

Concluímos que as ações éticas estão muito mais comprometidas com o sucesso progressivo de pessoas e de companhias do que costumamos equivocadamente imaginar.

REFERÊNCIAS

ALMEIDA SANTOS, F. Ética empresarial. São Paulo: Atlas Editora, 2014.

BARROS FILHO, C. Ética e comunicação verbal. São Paulo: Editora Paulus, 2007.

GALLO, S. Ética e cidadania: Caminhos da fi losofi a. São Paulo: Papirus Editora, 1997.

HELFERICH, C. História da fi losofi a. Tradução Luiz S. Repa, Maria E. H. Cavaleiro, Rodnei do Nascimento. São Paulo: Martins Fontes, 2006.

HOELLER TORRES, L. Teoria do stakeholder: um estudo da aplicação do princípio de equidade stakeholder. Porto Alegre: UFRGS, 2013.

SEVERINO, Joaquim A. Filosofi a. São Paulo: Editora Cortez, 1993.

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