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Mestrado Integrado em Medicina Veterinária
Ciências Veterinárias
Prurido no Gato
Sara Isabel Fortes Lourenço
Orientador:
Professora Doutora Justina Maria Prada Oliveira
UNIVERSIDADE DE TRÁS-OS-MONTES E ALTO DOURO
VILA REAL, 2013
ii
Resumo
O prurido define-se como uma sensação cutânea desagradável, que desencadeia o desejo
de coçar, lamber ou morder a pele. É o sinal clínico mais comum na prática clínica de
dermatologia felina e a razão mais frequente de auto-traumatismo em gatos. O gato não é um cão
pequeno. Por isso, é relevante uma abordagem diferenciada para esta espécie, de modo a tornar o
diagnóstico e o tratamento mais eficazes.
Este trabalho baseia-se numa aproximação clínica às doenças dermatológicas que causam
os sinais de prurido. No gato as condições pruríticas são manifestadas através de padrões de
reação cutânea. Muitas vezes estes podem ser o motivo da consulta, pois a distinção entre
lambedura excessiva e hábitos de higiene intensa pode ser difícil para o proprietário. A
abordagem do animal deve ser então sequencial, sistemática e incluir as várias etapas desde a
identificação do animal, a história clínica, o exame dermatológico, o plano de diagnótico, os
testes complementares de diagnóstico e os tratamentos disponíveis para o controlo dos sinais
clínicos.
São também apresentados dois casos observados durante o estágio desenvolvido no
Hospital Veterinário da Maia, que representam duas reações de hipersensibilidade, uma a
parasitas externos e outra a alergénios ambientais, sendo estas a dermatite alérgica à picada da
pulga e a dermatite atópica, respetivamente.
Palavras-chave: prurido, gato, doenças pruríticas, dermatologia felina
iii
Pruritus in the cat
Abstract
Pruritus (itch) is defined as an unpleasant cutaneous sensation that triggers the desire to
scratch, lick or bite the skin. It is the most common clinical sign in feline dermatology practice
and the most common reason for self-trauma in cats. The cat is not a small dog so it’s necessary
a differentiated approach for this species so the diagnosis and treatment are more effective.
This work relies on a clinical view of dermatological diseases that cause the signs of
itching. In the cat the pruritic conditions are shown through cutaneous reaction patterns. These
are often a reason for visiting the vet, because the distinction between excessive licking and
grooming can be difficult for the owner. The approach must be sequential, systematic and
include several steps as the identification of the animal, clinical history, dermatological
examination, diagnostic plan, complementary diagnostic tests and treatments available to control
the clinical signs.
Also featured are two cases observed during the clinical training developed at the
Veterinary Hospital in Maia that represent two of the hypersensitivity reactions, one due to
external parasites and the other due to environmental allergens, these being flea allergic
dermatitis and atopic dermatitis, respectively.
Keywords: pruritus, cat, pruritic diseases, feline dermatology
iv
Índice Geral
I. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA ..................................................................................................................... 1
1) DEFINIÇÃO DE PRURIDO ....................................................................................................... 1
2) FISIOPATOLOGIA DO PRURIDO ............................................................................................. 1
3) CLASSIFICAÇÃO DO PRURIDO .............................................................................................. 3
4) PRURIDO, AUTO-TRAUMATISMO E DOR ............................................................................... 4
5) LIMIAR DO PRURIDO ............................................................................................................ 5
6) ETIOLOGIA DO PRURIDO ...................................................................................................... 5
7) DIAGNÓSTICO ....................................................................................................................... 6
a. Identificação do animal ................................................................................................... 6 i. Raça .......................................................................................................................................................................... 6 ii. Idade ........................................................................................................................................................................ 7
b. História clínica ................................................................................................................. 7 i. Aspetos Gerais ......................................................................................................................................................... 7
1. Estilo de vida e ambiente ................................................................................................................................... 7 2. Dieta .................................................................................................................................................................... 8 3. Animais conviventes ........................................................................................................................................... 8 4. Contacto com o ser humano .............................................................................................................................. 8
ii. Aspetos específicos .................................................................................................................................................. 8 1. Evolução dos sinais clínicos ............................................................................................................................... 8 2. Intensidade do prurido ...................................................................................................................................... 9 3. Sazonalizadade ................................................................................................................................................. 10 4. Doenças concorrentes e outros sinais clínicos anteriores .............................................................................. 10 5. Eficácia de tratamentos anteriores ................................................................................................................. 10 6. Controlo de pulgas ........................................................................................................................................... 11
c. Exame clínico ................................................................................................................. 11 i. Exame geral ........................................................................................................................................................... 11 ii. Exame dermatológico ........................................................................................................................................... 11
1. Distribuição das lesões ..................................................................................................................................... 12 2. Padrões de reação cutânea felina .................................................................................................................... 13
a. Dermatite Miliar .......................................................................................................................................... 13 b. Alopecia simétrica ....................................................................................................................................... 14 c. Prurido na cabeça e no pescoço .................................................................................................................. 16 d. Complexo granuloma eosinofílico .............................................................................................................. 17
o Úlcera indolente ...................................................................................................................................... 17 o Placa eosinofílica ..................................................................................................................................... 18 o Granuloma eosinofílico .......................................................................................................................... 18 o Hipersensibilidade à picada do mosquito ............................................................................................. 19
d. Plano de Diagnóstico ..................................................................................................... 20
e. Exames complementares ............................................................................................... 20 i. Escovagem com pente fino ................................................................................................................................... 22 ii. Teste do papel molhado ........................................................................................................................................ 22 iii. Diascopia ................................................................................................................................................................ 22 iv. Teste da fita adesiva .............................................................................................................................................. 22 v. Tricograma ............................................................................................................................................................ 23 vi. Lâmpada de wood ................................................................................................................................................. 24 vii. Cultura de dermatófitos .................................................................................................................................. 25 viii. Raspagem de pele ............................................................................................................................................. 26
v
ix. Citologia ................................................................................................................................................................. 28 x. Biópsia .................................................................................................................................................................... 29 xi. Cultura bacteriana e antibiograma ..................................................................................................................... 30 xii. Ensaios de controlo de insetos (pulgas e mosquitos) ...................................................................................... 31 xiii. Ensaio de tratamento de sarna ........................................................................................................................ 31 xiv. Exame do conduto auditivo ............................................................................................................................. 32 xv. Exame fecal ....................................................................................................................................................... 33 xvi. Dieta de eliminação .......................................................................................................................................... 33 xvii. Testes alérgicos ................................................................................................................................................. 35
1. Teste intradérmico (in vivo) ............................................................................................................................. 35 2. Patch test (in vivo) ............................................................................................................................................ 36 3. Testes serológicos (in vitro) .............................................................................................................................. 36 4. Testes celulares (in vitro) ................................................................................................................................. 38
xviii. Testes sanguíneos ............................................................................................................................................. 39 xix. Imagiologia (radiologia, ecografia, TC) .......................................................................................................... 39
8) TRATAMENTO ..................................................................................................................... 39
a. Tratamento sintomático ................................................................................................. 39 i. Corticoesteroides ................................................................................................................................................... 40 ii. Anti-histamínicos .................................................................................................................................................. 41 iii. Ácidos gordos essenciais ....................................................................................................................................... 43 iv. Fármacos modificadores do comportamento ...................................................................................................... 44 v. Ciclosporina ........................................................................................................................................................... 45 vi. Terapia tópica (pomadas, champôs) .................................................................................................................... 46 vii. Colar isabelino, lenços de pescoço e capas para as unhas (soft paws) .......................................................... 47 viii. Acupuntura ....................................................................................................................................................... 47
b. Tratamento específico .................................................................................................... 48 i. Controlo de pulgas ................................................................................................................................................ 48 ii. Tratamento de infeções secundárias (pioderma e dermatite por Malassezia) .................................................. 48 iii. Imunoterapia específica para alergénios (ASIT) ................................................................................................ 50
II. OBJETIVOS .............................................................................................................................................. 52
III. CASOS CLÍNICOS ............................................................................................................................... 53
1) CASO CLÍNICO Nº1: DERMATITE ALÉRGICA À PICADA DA PULGA .................................... 53
a. Identificação do animal ................................................................................................. 53
b. História clínica ............................................................................................................... 53
c. Exame físico ................................................................................................................... 53
d. Diagnósticos diferenciais ............................................................................................... 54
e. Exames complementares ............................................................................................... 54
f. Diagnóstico ..................................................................................................................... 54
g. Tratamento ..................................................................................................................... 54
h. Monitorização ................................................................................................................ 55
2) CASO CLÍNICO Nº2: DERMATITE ATÓPICA ........................................................................ 55
a. Identificação do animal ................................................................................................. 55
b. História clínica ............................................................................................................... 55
c. Exame físico ................................................................................................................... 55
d. Diagnósticos diferenciais ............................................................................................... 56
e. Exames complementares ............................................................................................... 56
f. Diagnóstico ..................................................................................................................... 57
g. Tratamento ..................................................................................................................... 57
vi
h. Monitorização ................................................................................................................ 57
IV. DISCUSSÃO .......................................................................................................................................... 59
V. CONCLUSÃO ............................................................................................................................................ 66
VI. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .................................................................................................. 67
vii
Lista de Figuras
Figura 1 - Vias neuroanatómicas e neurofisiológicas gerais ativadas durante o prurido .............................. 2
Figura 2 - Variação do limiar do prurido ...................................................................................................... 5
Figura 3 - Lesão papulocrustosa na zona do pescoço ................................................................................. 14
Figura 4 - Distribuição comum das lesões de dermatite miliar ................................................................... 14
Figura 5 - Hipotricose na zona ventral ........................................................................................................ 15
Figura 6- Distribuição comum das lesões de alopecia simétrica ................................................................. 15
Figura 7 - Erosão na face direita ................................................................................................................. 16
Figura 8 - Alopecia parcial na orelha .......................................................................................................... 16
Figura 9 - Distribuição comum das lesões de prurido na cabeça e no pescoço ........................................... 16
Figura 10 - Distribuição comum das lesões de úlcera indolente ................................................................. 17
Figura 11 - Distribuição comum das lesões de placa eosinofílica............................................................... 18
Figura 12 - Distribuição comum das lesões de granuloma eosinofílico linear ............................................ 19
Figura 13 - Distribuição comum das lesões de hipersensibilidade à picada do mosquito ........................... 20
Figura 14 - Alegoritmo para o diagnóstico do prurido felino ..................................................................... 21
Figura 15 - Pelos com as extremidades distais danificadas (amostra retirada de um gato com prurido
intenso) ........................................................................................................................................................ 24
Figura 16 - Lesões de dermatite miliar na zona do pescoço........................................................................ 54
Figura 17 - Lesões crostosas nas orelhas..................................................................................................... 56
Figura 18 - Hipotricose associada a eritema no membro anterior direito ................................................... 56
Figura 19 – Alopecia, hipotricose e eritema no abdómen ventral e zona medial dos membros posteriores
..................................................................................................................................................................... 56
Figura 20 - Ausência de lesões e crescimento do pelo nas orelhas ............................................................. 58
Figura 21 - Ausência de eritema e crescimento de pelo no abdómen ventral e zona medial dos membros
posteriores ................................................................................................................................................... 58
Lista de Tabelas
Tabela 1 - Doenças pruríticas e intensidade de prurido, no gato................................................................... 9
Tabela 2 - Diagnósticos diferenciais para o prurido felino, baseados na localização das lesões ................ 12
Tabela 3 - Anti-histamínicos mais usados em gatos atópicos ..................................................................... 42
Tabela 4 - Antiparasitários mais comuns no controlo de pulgas em gatos ................................................. 49
Tabela 5 - Antibióticos usados no tratamento de doenças de pele em gatos ............................................... 50
Tabela 6 - Antifúngicos usados no tratamento de doenças de pele em gatos .............................................. 50
viii
Lista de Siglas e Abreviaturas
ACh – acetilcolina (“acetylcholine”)
Ag – antigénio
AGE – ácidos gordos essenciais
ASIT – imunoterapia específica para alergénios (“Allergen Specific Immunotherapy”)
BID – duas vezes por dia
Cél. – célula
CGE – Complexo granuloma eosinofílico
CGRP – péptido realionado com o gene da calcitonina (“Calcitonin gene related peptide”)
CGRPR – recetor do péptido realionado com o gene da calcitonina (“Calcitonin gene related
peptide receptor”)
DAPP – Dermatite alérgica à picada da pulga
DTM – meio de teste dermatófitos (“dermatophyte test medium”)
ELISA – ensaios de imunoabsorção enzimática (“Enzyme-Linked Immunosorbent Assay”)
FIV – Vírus da Imunodeficiência Felina (“Feline Immunodeficiency Virus”)
FelV – Vírus da Leucemia Felina (“Feline Leukemia Virus”)
GRD – gânglios da raíz dorsal
GRP – péptido libertador de gastrina (“gastrin-releasing peptide”)
GRPR – recetor do péptido libertador de gastrina (“gastrin-releasing peptide receptor”)
IDT – teste intradérmico (“Intradermal Testing”)
IgE – imunoglobulina E
IgG – imunoglobulina G
IL – interleucinas
IM – via intramuscular
IMAO – inibidores da monoamina oxidase
ISRS – inibidor seletivo da recaptação de serotonina
kg – kilograma
mg – miligrama
ml – mililitro
MRI – ressonância magnética (“Magnetic resonance imaging”)
NGF – nerve growth factor
NKR1 – recetor neuroquinina (“neurokinin receptor”)
ix
PAR2 – recetor protease ativado (“protease-activated receptor”)
PO – via oral
RAST – Ensaios de rádio-alergoabsorção (“Radioallergosorbent Test”)
RIT – Imunoterapia rápida (“Rush Immunotherapy”)
SC – via subcutânea
SDA – Agár dextrose Sabouraud (“Sabouraud Dextrose Agar”)
SID – uma vez por dia
SNC – Sistema Nervoso Central
TRK – quinase recetora de tropomiosina (“tropomyosin receptor kinase”)
x
Agradecimentos
À minha orientadora Prof. Dr. Justina Oliveira pela disponibilidade, pela paciência e
compreensão ao longo da realização do trabalho.
A toda equipa do Hospital Veterinário da Maia pelos ensinamentos, pela paciência, pelos
bons momentos e por todo o carinho durante o estágio e a redação desta dissertação. Obrigada à
Dr. Catarina Alves pela ajuda na descrição dos casos clínicos apresentados.
À equipe do Hospital Veterinário de Gaia e estagiários com quem partilhei o estágio,
obrigada por tudo, aprendi muito com vocês.
À Clínica Gatos & Gatos (Brasil) por todo o carinho com que acolheram e por tudo o que
me ensinaram sobre os felinos. A todas as pessoas especiais que conheci nessa aventura fora do
país, muito obrigado, pelo amor, pela amizade, momentos de alegria e risos que partilhamos
juntos. Nunca vos esquecerei.
A todos os meus amigos do curso obrigada por tudo, pela amizade, pela paciência e pelos
momentos de diversão que passamos juntos durante os cinco longos, mas ao mesmo tempo
curtos anos na nossa UTAD. Estarão sempre comigo.
Agradeço também a todos os professores do curso pela partilha de conhecimentos.
Aos meus amigos de longa data pelo apoio e pela força que me deram até hoje.
A todos os meus familiares, Pai, Mãe, Avós, Tios e Primos pelo amor e apoio
incondicionais e pela ajuda neste trabalho.
E por fim, dedico este trabalho a todos os animais que passaram pela minha vida,
especialmente os meus adorados felinos (Farruco, Garota, Negrito, Luna, Mia, Vitória e Tigre),
razão pela qual quis presseguir o sonho de um dia ser Médica Veterinária.
"Curiosity killed the cat,
Satisfaction brought it back!”
- Provérbio Inglês
1
I. Revisão Bibliográfica
1) Definição de prurido
O prurido pode ser definido como uma sensação cutânea desagradável, que desencadeia o
desejo de coçar, arranhar, lamber ou morder a pele (Ihrke, 2010; Paradis, 2011). Sendo subjetivo
e não específico, ocorre como resultado de um vasto número de doenças, tanto cutâneas, como
sistémicas (Solórzano-Amador e Ronderos-Acevedo, 2012). Muitas dessas doenças não são
curáveis e, por tanto, devem ser controladas ao longo de um grande período de tempo (Rhodes,
2011). A função do prurido é importante, pois é um mecanismo de auto-proteção contra
estímulos externos prejudiciais à pele (Ihrke, 2010; Noli, 2011). Contudo, este pode ser tão
intenso que pode afetar a qualidade de vida do animal (Solórzano-Amador e Ronderos-Acevedo,
2012) e causar grande ansiedade nos proprietários (Hill, 2005).
Na prática clínica, o prurido é o sinal clínico mais comum num gato com problemas
dermatológicos (Logas, 2003; Moriello, 2012). Os proprietários, por vezes, não detetam que o
seu animal está com prurido, já que o gato tende a coçar-se quando não está a ser observado
(Logas, 2003; Wolberg e Blanco, 2008). Também é difícil diferenciar hábitos de higiene intensa
e lambedura excessiva devido ao prurido (Wolberg e Blanco, 2008). Assim, é fundamental
realizar uma abordagem lógica e sistemática ao problema (Marsella, 2012).
2) Fisiopatologia do prurido
A fisiopatologia do prurido é complexa e ainda pouco compreendida para a maioria das
espécies e doenças (Scott, Miller e Griffin, 2001; Patel e Forsythe, 2008). A pele possui uma
vasta rede de nervos sensoriais e recetores (Scott, Miller e Griffin, 2001). Os nervos sensoriais
primários estão categorizados em 3 grupos: Aβ, Aδ e C, dependendo da mielinização, diâmetro e
velocidade de condução. Os nervos Aδ e C estão mais envolvidos na condução das sensações de
calor, dor e prurido, enquanto que os Aβ estão implicados na condução da sensação do tato
(Lawson, 2002). A sensação de dor originada na superfície da pele consiste em 2 subtipos
diferentes: primeira dor e segunda dor, perceptiveis uma depois da outra, com intervalo de tempo
entre elas. A primeira dor, conduzida por nervos Aδ, é descrita como aguda, enquanto que a
segunda, conduzida por nervos C é crónica. O prurido é mais semelhante à segunda dor do que à
primeira, e foi esta uma das razões pelas quais se acreditava que o prurido era uma fraca ativação
dos nervos C condutores da dor. Isto levou à “teoria da intesidade”, que foi concensual durante
muito tempo (Ikoma et al., 2011). Contudo, esta teoria foi contrariada por trabalhos, nos quais a
2
morfina reduzia a dor, mas simultaneamente induzia prurido e o prurido induzido por
estimulação elétrica não era convertido em dor, mesmo a altas frequências de estimulação
(Tuckett, 1982). O novo conceito de transmissão do prurido é baseado numa proposição
importante: a existência de um sistema sensorial para a pruricepção distinto do sistema sensorial
para a nocicepção (Buddenkotte e Steinhoff, 2010). O prurido é, então, processado a 3 níveis:
periférico, espinal e central (figura 1).
Figura 1 - Vias neuroanatómicas e neurofisiológicas gerais ativadas durante o prurido
Adaptado de Steinhoff et al. (2006) e Buddenkotte e Steinhoff (2010)
A sensação de prurido é conduzida por um subconjunto de fibras C não-mielinizadas, que
se encontram superficialmente na pele, têm baixa velocidade de condução e alcançam grandes
áreas de inervação (Solórzano-Amador e Ronderos-Acevedo, 2012). As fibras nervosas
terminam na junção dermo-epidérmica, ou penetram na epiderme como terminações nervosas
livres (Burton, 2006), onde comunicam com outras células da pele (Cassano et al., 2010).
A indução do prurido é conseguida através de uma variedade de agentes que interagem
com os respetivos recetores, e com as terminações nervosas livres (Buddenkotte e Steinhoff,
2010). Os queratinócitos libertam uma bateria de substâncias inflamatórias e pruritogénicas, que
Proliferação Celular
Extravasamento de plasma
Edema
Apresentação Ag
Ativação de queratinócitos e
apoptóse
Libertação de citocinas, quimocinas,
neurotrofinas, prostanóides,
opióides, proteases
Regulação positiva dos recetores
Medicação tópica/
sitémica, Lesão
Alergénios, ácaros,
dermatófitos
3
podem ser induzidas por vários mecanismos inatos, por exemplo os recetores do tipo Toll, luz
ultravioleta (UV) ou termorrecetores. Os queratinócitos são capazes de detetar sinais associados
ao prurido, através da expressão do recetor PAR2, recetores de opióides, de canabinóides e de
histamina H4. Ao responder a esses sinais, os queratinócitos podem modular o prurido de várias
formas. Por exemplo, os queratinócitos podem libertar neurotrofinas, incluindo NGF, e
neurotrofina-4, mediadores lipídicos (eicosanóides) ou endotelina-1, que podem ativar
diretamente fibras nervosas da pele ou ativar mastócitos para libertação de mediadores
pruritogénicos. Os mastócitos também expressam um grande número de recetores, que podem
ativar as células para libertarem os seus mediadores. O mediador mais conhecido é a histamina
que induz prurido via recetores H1 (Raap, Ständer e Metz, 2011) associados a fibras nervosas C.
Outros mediadores importantes são eicosanóides, fator de necrose tumoral-α e outras citocinas e
duas proteinases, quimase e triptase. A triptase ativa PAR2 é expressada em terminais aferentes
de neurónios C. Isso estimula a sensação de prurido e também provoca a libertação do
neuropéptido substância P, que além de causar prurido, evoca também a ativação de mastócitos
via recetores TRK (Greaves, 2007).
Os mediadores endógenos ou exógenos estimulam as fibras C e os recetores de elevada
afinidade para esses mediadores pruritogénicos, transmitem o estímulo da periferia para os
gânglios da raíz dorsal (GRD) e para a medula espinal. Os GRD podem modular o estímulo a
nível transcricional e pós-transcricional, desse modo modulando as terminações nervosas
periféricas e centrais (Buddenkotte e Steinhoff, 2010). Foram identificados no gato neurónios
específicos para o prurido na lâmina 1 do corno dorsal do trato espinotalâmico (Andrew e Craig,
2001). Estes atravessam para o lado contralateral da medula, com projeções específicas, e
terminam na zona lateral do tálamo (Burton, 2006). A condução do prurido está associada ao
aumento da modulação opióde a nível espinal (Summey e Yosipovitch, 2005). A transmissão
espinal de sinais de prurido resulta na libertação de CGRP e substância P com ativação dos
recetores CGRPR e NKR1 que transmitem os sinais centralmente (Paus et al., 2006). Os
neurónios talâmicos levam o sinal até ao giro pós-central do córtex cerebral, onde a mensagem é
interpretada como sensação de prurido (Ihrke, 2010).
3) Classificação do prurido
Pode ser generalizado ou localizado e agudo ou crónico, consoante o tempo de evolução,
sendo crónico quando dura mais de 6 semanas (Ständer et al., 2007). Também pode ser
4
classificado segundo a sua origem (Twycross et al., 2003; Yosipovitch, Greaves e Schmelz,
2003):
Pruritoceptivo: originado na pele, por ativação de fibras C especializadas mediante pruritogénios
nas suas terminações nervosas. Normalmente produz-se por inflamação ou outro processo
patológico visível. Ex: dermatite atópica.
Neuropático: devido a lesões anatómicas do sistema nervoso central ou periférico.
Neurogénico: gera-se no SNC por mediadores pruritogénicos circulantes, sem dano neuronal.
Ex: opióides.
Psicogénico: é o prurido de processamento central. Deve ser considerado apenas depois de se
excluirem outras causas de prurido.
4) Prurido, auto-traumatismo e dor
O prurido normalmente inicia um auto-traumatismo. Os mecanismos pelos quais o auto-
traumatismo alivia esta sensação ainda não são claros (Ihrke, 2010). A resposta mais
característica ao prurido é o reflexo de coçar: uma atividade motora, muitas vezes inconsciente,
mais ou menos voluntária para combater o prurido por estímulos um pouco dolorosos. Esta
redução na sensação de prurido baseia-se num antagonismo entre neurónios espinais
processadores de dor e prurido (Paus et al., 2006). As fibras A de baixa intensidade são ativadas,
resultando numa inibição generalizada. Isto ajuda a suprimir a resposta exagerada dos
interneurónios do corno dorsal ao input das fibras C, reduzindo assim o prurido (Logas, 2003). A
inibição do prurido por estímulos dolorosos foi demonstrada experimentalmente utilizando
diferentes tipos de estímulos (por exemplo, calores físico e químico) para induzir dor. A
estimulação elétrica dolorosa reduziu prurido induzido por histamina durante várias horas a uma
distância de 10 cm do local estimulado, o que sugere um modo de ação central (Ikoma et al.,
2006).
A resposta típica dos gatos ao prurido é lamber em vez de coçar e acredita-se que as
papílas línguais podem contribuir para o desenvolvimento de lesões, tais como, alopecia,
erosões, formação de crostas e infeções secundárias (Breathnach e Shipstone, 2006). Por sua vez
essas lesões promovem o aumento da secreção de neuropéptidos e de opiáceos, os quais podem
estimular ainda mais o círculo vicioso de prurido-coçar/lamber (Solórzano-Amador e Ronderos-
Acevedo, 2012). O auto-traumatismo grave, caracterizado por escoriações profundas é mais
comum em gatos também (Ihrke, 2010).
5
5) Limiar do prurido
Acredita-se que, cada animal só começa a demonstrar sinais de prurido quando a soma
total da carga de alergénios passa o seu limiar de prurido. Cada alergénio produz um nível
diferente de prurido. Quando estão presentes vários alergénios ao mesmo tempo num animal,
estes vão-se acumulando, causando um estímulo prurítico total que ultrapassa o limiar.
Contráriamente, se a soma total cair abaixo do limiar devido, por exemplo, à estação dos pólens
ter finalizado, o animal fica sem prurido (figura 2) (Patel e Forsythe, 2008). O limiar é muitas
vezes reduzido durante a noite quando outros inputs sensoriais são reduzidos (Ihrke, 2010).
Figura 2 - Variação do limiar do prurido
Adaptado de Patel e Forsythe (2008)
6) Etiologia do prurido
O mais importante na abordagem ao prurido é determinar a sua causa. Se for conhecida, o
prurido pode ser completamente resolvido ou controlado (Hill, 2005). As causas podem ser
classificadas como dermatológicas, sistémicas, neurológicas, psicogénicas, mistas ou de origem
desconhcecida (Ständer et al., 2007).
As três causas mais comuns de prurido no gato, dentro das causas dermatológicas, são
parasitárias, infeciosas e alérgicas. Nas causas parasitárias, o mais comum são infestações de
pulgas e também ácaros (Otodectes, Notoedres, Demodex, Cheyletiella), piolhos (Felicola
subrostratus) e carraças. As infestações de parasitas podem ser muito difíceis de diagnosticar
devido aos hábitos de higiene meticulosos que o gato apresenta. As doenças alérgicas da pele
mais comuns incluem dermatite alérgica à picada da pulga, alergia alimentar, dermatite atópica
felina e hipersensibilidade à picada do mosquito. As causas infeciosas incluem sobrecrescimento
bacteriano (pioderma), crescimento de fungos (Malassezia) e dermatofitose (Moriello, 2012). As
Inverno Primavera Verão Outono
Limiar do Prurido
Pulgas Ácaros
Pólens Total
Sem
Pru
rid
o
Au
men
to
pru
rid
o
6
infeções por Staphylococcus e sobrecrescimento de Malassezia são menos comuns em gatos do
que em cães, mas podem ocorrer em infeções secundárias no complexo granuloma eosinofílico.
No entanto e, apesar de haverem investigações neste ramo, ainda existem algumas causas
idiopáticas (Hill, 2002).
7) Diagnóstico
O diagnóstico de dermatoses pruríticas em gatos nem sempre é fácil devido a variações
nas apresentações clínicas e à série de causas diferentes. Muitas vezes, o prurido não é o motivo
da consulta. Alguns proprietários relatam a alopecia como razão da consulta, assumindo a queda
de pelo como espontânea. Outros preocupam-se com a presença de placa eosinofílica, que se
desenvolve por lambeduras repetidas numa área em particular. Os proprierários não estão cientes
de que os problemas são auto-induzidos, particularmente quando o gato se esconde para se
lamber. Por outro lado, os sinais de que o gato se coçou são mais obvios em dermatites faciais
(Alhaidari, 1999).
A identificação do animal, a sua história clínica, o exame físico, os testes de diagnóstico
e, ocasionalmente, a resposta à terapia são os pilares do diagnóstico (Ihrke, 2010). A obtenção de
uma história clínica completa fornece pistas em relação à causa da doença e permite ao
veterinário dar prioridade aos exames laboratoriais necessários para confirmação do diagnóstico
(Mueller, 2000).
a. Identificação do animal
i. Raça
Existem certas predisposições raciais que são relevantes, mas não devem ser consideradas
como um critério determinante para o diagnóstico. Contudo, estas estão muito menos estudadas
na espécie felina do que na espécie canina (Carlotti e Pin, 2004).
Nos Persas é comum a DAPP e formas de dermatofitose generalizada, muitas vezes
prurítica (Alhaidari, 1999). Também têm predisposição para queiletielose e intertrigo (Mueller,
2000) e dermatite facial idiopática (Gough e Thomas, 2012). Já foi reportada urticária
pigmentosa nas raças Shpynx e Devon Rex (Alhaidari, 1999). O Siamês tem predisposição para
alergia alimentar e distúrbios psicogénicos, contudo este último não deve ser diagnosticado com
base na raça, mas sim após explusão de todas as outras causas (Ghubash, 2009). Na raça
Abissíneo apresenta também uma predisposição para alopecia psicogénica (Mueller, 2000).
7
ii. Idade
A presença de prurido antes dos 6 meses leva a suspeitar de DAPP, dermatofitose,
pediculose, queiletielose (Alhaidari, 1999) e alergia alimentar (Ghubash, 2009). Num jovem
adulto, entre os 8 meses e os 3 anos, os diferenciais são DAPP, dermatite atópica ou alergia
alimentar (Alhaidari, 1999). Nos gatos mais velhos, sem história de doença dermatológica,
devem ser considerados o linfoma epitéliotrópico, pênfigus foliáceo, carcinoma espinocelular e
síndrome paraneoplásico. A alergia alimentar pode apresentar-se em qualquer idade (Ghubash,
2009).
b. História clínica
i. Aspetos Gerais
1. Estilo de vida e ambiente
O proprietário deve ser questionado sobre o modo de vida do animal, se vive no interior
da casa ou no jardim, por exemplo. É igualmente importante saber os componentes do ambiente
exterior (ex: fauna, flora, produtos que possa ter estado em contacto ou inalado) e do ambiente
interior (ex: revestimento do chão, camas, produtos de limpeza utilizados, recipientes de
alimentação, brinquedos). Ter conhecimento dos produtos usados na manutenção da pelagem e
dos condutos auditivos é também importante (Carlotti e Pin, 2004). Os gatos que têm vida livre e
estão em contacto com outros gatos, têm maior exposição a infestações por pulgas, ácaros,
dermatofitose, trombiculiose e à picada do mosquito. O contacto com animais selvagens, como
pequenos roedores, predispõe os gatos caçadores a dermatoses raras, como a infeção por
poxvírus.
Os gatos de exposição podem apresentar dermatofitose ou queiletielose (Alhaidari, 1999).
A aquisição de um novo animal ou abrigar no mesmo espaço um animal de rua, aumenta o risco
de exposição a doenças cutâneas contagiosas. Os estabelecimentos de tosquia, gatis e mesmo o
consultório veterinário podem ser locais de risco de contágio (Ihrke, 2010).
O prurido psicogénico pode ser desencadeado por alterações no ambiente, como por
exemplo, construções, remodelações, mudanças de casa, morte de um proprietário, introdução de
um novo animal ou criança (Ghubash, 2009). O prurido intenso pode gerar problemas graves de
comportamento, o gato evita todos os tipos de contacto, esconde-se e para de se alimentar. Estes
distúrbios no comportamento cessam assim que o prurido estiver sob controlo (Alhaidari, 1999).
8
2. Dieta
Saber a dieta do animal vai permitir ao clínico determinar possíveis deficiências
nutricionais (Mueller, 2000). Por exemplo, as dietas deficientes em lípidos podem exacerbar
anormalidades na queratinização (seborreia) (Ihrke, 2010). Esta informação também irá ajudar na
formulação de uma dieta de eliminação, se indicado. Ao contrário do que se pensa, as reações
adversas aos alimentos normalmente não ocorrem imediatamente após uma mudança de hábitos
alimentares. A maioria dos animais com reações adversas aos alimentos, consumiram a dieta
“problema” durante muitos anos antes de mostrar sinais clínicos. É importante, também, saber
todos os suplementos dados ao animal, que são muitas vezes esquecidos, quando a alimentação é
discutida com o proprietário (Mueller, 2000).
3. Animais conviventes
A presença ou ausência de prurido noutros animais pode dar algumas pistas (Ihrke, 2010)
sobre a condição do animal doente, se é contagiosa ou não (Ghubash, 2009). Os animais
conviventes devem ser submetidos também a testes de verificação de dermatofitose, queiletielose
e das sarnas otoédrica e notoédrica (Alhaidari, 1999), pois podem servir como reservatório para
os ectoparasitas sem apresentar sinais clínicos (Mueller, 2000). A possibilidade de contaminação
ambiental maciça por pulgas também deve ser investigada (Alhaidari, 1999).
4. Contacto com o ser humano
A existência de sinais dermatológicos em proprietários de um gato com prurido podem
sugerir a presença de uma zoonose, como a queiletielose em que o ser humano apresenta pápulas
pruríticas ou no caso da dermatofitose as lesões são eritematosas e anelares (Ihrke, 2010). As
picadas de pulgas são caracterizadas por pápulas eritematosas, crostosas e pruríticas, situadas
maioritariamente nos tornoselos (Carlotti e Pin, 2004).
ii. Aspetos específicos
1. Evolução dos sinais clínicos
O início agudo de prurido intenso é frequentemente associado a sarna (Mueller, 2000), a
outras causas parasitárias e também a reações a fármacos. O prurido com início insidioso é mais
sugestivo de doenças de pele crónicas, lentas e progessivas, como a dermatite atópica. O
conhecimento dos locais iniciais de lesões de pele pode ser útil se a doença se generalizar antes
dos cuidados veterinários serem procurados (Ihrke, 2010). Se o prurido foi o primeiro sinal e as
9
lesões ocorreram mais tarde, a atopia ou alergia alimentar são mais prováveis. Quando o prurido
e as lesões ocorrem em simultâneo pode ser devido a uma grande variedade de causas. O prurido
não-lesional crónico é normalmente devido a dermatite atópica ou alergia alimentar,
possivelmente complicado por infeções secundárias (Mueller, 2000). O prurido regular em zonas
particulares, aumentam a suspeita de dermatite atópica ou DAPP (Alhaidari, 1999; Ghubash,
2009).
2. Intensidade do prurido
Um gato com prurido geralmente esconde-se para arranhar, lamber, morder ou esfregar a
área afetada, o que torna muito difícil para o proprietário identificar o que está a acontecer.
Também não nos podemos esquecer que o gato é um animal noturno e, geralmente, coça-se
quando o proprietário está a dormir. Além disso, há que ter em conta que o gato pode manifestar
prurido intenso lambendo-se, o que pode ser confundido com os seus hábitos típicos de higiene.
Finalmente, também devemos saber que pode lamber-se por outras razões que não sejam a
sensação de prurido, tais como dor e perda parcial da sensibilidade nalguma área do corpo
(Rodríguez, 2003). A tabela 1 apresenta várias causas do prurido e a intensidade de prurido
associada.
Tabela 1 - Doenças pruríticas e intensidade de prurido, no gato
Doenças Intensidade prurido Doenças Intensidade prurido
Infeciosas Imunomediadas
Foliculite superficial
bacteriana
- a ++
Pênfigus foliáceo - a ++
Dermatofitose - a ++ Lúpus sistémico eritematoso - a +
Dermatite por Malassezia + a +++ Lúpus discoide eritematoso - a +
Parasitárias Reação cutânea a fármacos - a +++
Otobius megnini ++ Defeitos na queratinização
Dermanyssus gallineae ++ Seborreia Primária - a ++
Lynxacarus radovsky + a +++ Dermatite facial idiopática + a +++
Trombiculose + a +++ Acne felino - a ++
Otodectes eynotis + a +++ Endócrina
Cheyletiellose + a +++ Hipertiroidismo - a ++
Demodex gatoi + a +++ Psicogénica
Notoedres cati + a +++ Alopecia psicogénica ++
Pediculose - a ++ Ambiental
Hipersensibilidades Dermatite solar - a ++
Atopia + a +++ Neoplasia
Alergia por contacto ++ a +++ Mastocitoma - a ++
Reação alimentar adversa - a +++ Linfoma cutâneo (cél. T) - a ++
DAPP ++ a +++ Mistas
Hipersensibilidade à picada
do Mosquito/Culicoides
++ a +++ Síndrome Hipereosinifílico ++ a +++
Dermatite granulomatosa/
piogranulomatosa estéril
idiopática
++
Adaptado de Logas (2003); - : ausência de prurido; +: prurido ligeiro; ++: prurido moderado; +++ : prurido intenso
10
3. Sazonalizadade
A dermatite atópica e a DAPP são sazonais em muitas regiões do mundo (Ihrke, 2010).
Em climas temperados, a dermatite atópica pode ocorrer mais visivelmente na primavera e no
verão, por causa dos pólenes das árvores e ervas ou piora no verão e no outono, por causa de
pólenes de ervas daninhas. Os climas mais quentes, tais como os das regiões tropicais e
subtropicais, normalmente, têm a estação dos pólenes prolongada. A hipersensibilidade a ácaros
é muitas vezes não sazonal, mas pode ser pior no inverno em alguns animais, dependendo
também da área em que se encontram.
A DAPP é mais frequente no verão. Se os sinais clínicos estão ausentes ou são mais leves
na estação mais fria, isso depende das condições ambientais específicas (Mueller, 2000). O
prurido cíclico sem sazonalidade, por vezes, pode significar dermatite por contacto associada a
mudança de ambiente. Já o prurido associado a alergia alimentar devia ser contínuo, a menos que
a dieta seja alterada (Ihrke, 2010).
4. Doenças concorrentes e outros sinais clínicos anteriores
A alergia alimentar deve ser investigada em casos de gatos com sinais de prurido e
doença gastrointestinal (ex. doença inflamtória intestinal) (Ghubash, 2009). A presença de bolas
de pelo no vómito ou existência de constipação podem sugerir lambedura excessiva (Moriello,
2012).
A presença de sinais respiratórios (rinite) antes do desenvolvimento de lesões pruríticas,
intensas e dolorosas na cabeça e no corpo sugerem uma dermatose de origem viral (ex:
herpesvírus) (Alhaidari, 1999). A asma também pode estar associada a dermatite atópica
(Alhaidari, 1999; Ghubash, 2009).
5. Eficácia de tratamentos anteriores
A resposta ou a falta de resposta à medicação anterior, particularmente corticosteroides,
antibióticos ou parasiticidas, podem oferecer pistas adicionais. Embora todas as doenças
alérgicas respondam em maior ou menor grau aos corticosteroides, a alergia alimentar pode ser
menos sensível aos corticosteroides, do que a dermatite atópica ou a DAPP (Ihrke, 2010).
Deve ser avaliada a dose e a duração dos tratamentos (Alhaidari, 1999). Administrações
recentes de fármacos podem afetar a apresentação clínica. Também podem afetar vários testes de
diagnóstico que terão de ser adiados. A corticoterapia a longo prazo irá afetar os resultados de
testes alérgicos, tanto o teste intradérmico como o teste serológico para IgE específica para
11
alergénios. Também irá afetar os achados histopatológicos e os resultados de vários testes
sanguíneos. Os anti-histamínicos e os glucocorticoides sistémicos ou tópicos de curto prazo (ou
seja, <4 semanas) podem influenciar o teste intradérmico. Alguns antibióticos, como
trimetoprim-sulfonamida, afetam as concentrações sanguíneas de tiroxina (Mueller, 2000).
6. Controlo de pulgas
A DAPP é o diagnóstico mais comum num primeiro parecer na prática veterinária e um
número significativo de felinos encaminhados para uma segunda opinião têm um diagnóstico
definitivo de DAPP. É imprescindível descartar problemas associados a ectoparasitas antes de
passar para uma investigação diagnóstica mais aprofundada (Joyce, 2010). Se houver suspeita de
hipersensibilidade a pulgas deve ser inicado um teste de controlo de pulgas. Devem ser também
verificados os planos de controlo de pulgas estabelecidos anteriormente (Alhaidari, 1999). Os
detalhes sobre o controlo de pulgas de todos os animais do agregado são importantes, dado que
num animal alérgico os sintomas podem ser causados por um número reduzido de picadas de
pulgas (Mueller, 2000). Um gato que se lambe excessivamente pode remover todas as provas de
infestação de pulgas. Nestes casos as evidências de infestação em outros animais da casa e um
exame de fezes para identificar os ectoparasitas e o pelo ingeridos podem ajudar (Joyce, 2010).
c. Exame clínico
Um exame físico completo é importante quando se avalia um animal com doença
dermatológica. A distribuição das lesões e a presença ou ausência de simetria bilateral podem ser
auxiliares valiosos para o diagnóstico. Se as lesões primárias ou secundárias se apresentarem
num determinado local em particular, podem ser altamente sugestivas de doenças específicas
(Ihrke, 2010).
i. Exame geral
É importante a identificação de sinais de outros sistemas do organismo. Conjuntivite,
rinite e bronquite asmática, podem estar associados a dermatite atópica, enquanto que vómitos e
diarreia, estão muitas vezes associados a intolerância alimentar (Alhaidari, 1999).
ii. Exame dermatológico
Um bom exame dermatológico requer iluminação adequada e uma abordagem sistemática
e completa. A observação a partir de uma distância mínima deve ser seguida de uma inspecção
12
da pele e membranas mucosas. Começar pela cabeça, olhar para os lábios, boca, orelhas, passar
as mãos através da pelagem do tronco, levantar a cauda para inspecionar a área perianal e, em
seguida, examinar os membros, as almofadas plantares e as garras. De seguida, colocar o animal
em decúbito dorsal e examinar o aspecto ventral do animal a partir das axilas até às virilhas
(Mueller, 2000).
1. Distribuição das lesões
A observação da distribuição das lesões, especialmente em estágios iniciais da doença
subjacente, pode ser útil ao diagnóstico diferencial (Alhaidari, 1999; Ghubash, 2009).
A tabela 2 apresenta uma lista de diferenciais comuns baseados na distribuição das lesões.
Tabela 2 - Diagnósticos diferenciais para o prurido felino, baseados na localização das lesões
Local da lesão Diagnósticos diferenciais Local da lesão Diagnósticos diferenciais
Canais auditivos Alergia alimentar
Dermatite atópica
Sarna notoédrica
Sarna Otodécica
Região dorsal e lombar DAPP
Queiletielose
Cabeça e pescoço Alergia alimentar
Dermatite atópica
DAPP
Hipersensibilidade à picada do
mosquito
Sarnas notoédrica e otodécica
Dermatoses virais
Dermatite facial idiopática
Reação a fármacos
Entre os dedos Pênfigus foliáceo
Carcinoma espinocelular
Plano nasal Hipersensibilidade por picada do
mosquito
Dermatoses virais
Carcinoma espinocelular
Pênfigus foliáceo
Criptococose
Abdómen ventral Demodicose
Alergia alimentar
Dermatite atópica
DAPP
Prurido psicogénico
Região dorsal cervical DAPP
Dermatite atópica
Alergia alimentar
Reação no local injeção
Generalizado Dermatofitose
Alergia alimentar
Dermatite
atópica
DAPP
Pênfigus
foleáceo
Linfoma
epiteliotrópico
Reação a fármacos
Síndrome
paraneoplásico
Eritema
multiforme
Adaptado de Ghubash (2009)
13
2. Padrões de reação cutânea felina
Em gatos pruríticos existem 4 padrões clássicos de reação cutânea (Wolberg e Blanco,
2008):
a. Dermatite miliar
b. Alopecia simétrica
c. Prurido na cabeça e no pescoço
d. Complexo granuloma eosinofílico (que se manifesta sob 4 formas) (Bernstein, 2006;
Moriello, 2012)
o Úlcera indolente
o Placa eosinofílica
o Granuloma eosinofílico
o Hipersensibilidade à picada do mosquito
É importante lembrar que estes padrões de reação não representam um diagnóstico, mas
apenas uma descrição das lesões que podem ser causadas por um número variado de condições
pruríticas. Podem estar presentes isoladamente ou em combinação e, apesar de alguns padrões
estarem, normalmente, mais associados a alguns diagnósticos, é possível que uma dermatose
apresente qualquer uma destas lesões (Joyce, 2010).
a. Dermatite Miliar
A dermatite miliar é um padrão de reação multifatorial muito comum que consiste em
formações papulocrustosas na pele (figura 3). As lesões são geralmente multifocais a difusas
(Bernstein, 2006) e distribuídas pelo dorso e pela região cervical (figura 4). São, normalmente,
mais fáceis de sentir do que de visualizar (Hill, 2002; Rodríguez, 2003).
O prurido é variável e, muitas vezes, não está correlacionado com a gravidade da
dermatite. Outros padrões de reação podem ser observados simultaneamente incluindo alopecia
simétrica, placas eosinofílicas e úlceras.
Os diagnósticos diferenciais para a causa subjacente são: DAPP, ectoparasitoses (ex:
demodicose, queiletielose, sarna otodécica), dermatofitose, foliculite bacteriana, dermatite por
Malassezia, alergia alimentar, atopia (Bernstein, 2006) e pênfigus foliáceo (Ghubash, 2009). As
causas menos comuns incluem reação a fármacos e síndrome hipereosinofílico felino (Bernstein,
2006).
14
Figura 3 - Lesão papulocrustosa na zona do pescoço
(Original do autor)
Figura 4 - Distribuição comum das lesões de dermatite miliar
Adaptado de Hill (2002)
b. Alopecia simétrica
Uma apresentação comum em felinos é a perda de pelo, como resultado de lambedura
excessiva (Bernstein, 2006). É caracterizada pela perda difusa de pelo e presença de pelos
quebrados e irregulares (hipotricose) (Alhaidari, 1999), com ausência de inflamação da pele
(Hill, 2006) (figura 5). A distribuição mais comum das lesões é no abdómen ventral e zona
medial dos membros posteriores. Mas podem estender-se às zonas ventral e lateral torácica,
lateral do abdómen e lateral dos membros posteriores (Hill, 2002) (figura 6). Geralmente só se
observa hipotricose mas se o prurido e a lambedura forem muito intensos, pode-se encontrar
eritema e dermatite miliar. Como é difícil para o proprietário identificar prurido no gato o
veterinário é o único a julgar se as lesões são auto-induzidas ou se são devido a queda ou quebra
do pelo.
Se a lambedura for muito intensa os diagnósticos diferenciais são: DAPP, dermatite
atópica, alergia alimentar e alopecia psicogénica. Se a lambedura for leve ou moderada, pensa-se
em dermatofitose, demodicose, queiletielose ou pediculose (Rodríguez, 2003). A alopecia
simétrica também pode desenvolver-se após exposição a substâncias irritantes ou medicamentos
15
tópicos. Foi relatado (por Declercq e Bosschere em 2009) que dois gatos desenvolveram alopecia
simétrica em 2 semanas após exposição a óleo diesel. O excesso de lambedura também pode
estar associado a dor ou a outras doenças não dermatológicas. Radiografias da área afetada
podem revelar fraturas, especialmente na zona lombossacral. No abdómen ventral pode indicar
dor abdominal particularmente associada à bexiga. Em gatos mais velhos, sem histórico anterior
de doença de pele, as radiografias podem revelar alterações articulares, em particular artrite
intervertebral. As verdadeiras causas comportamentais do excesso de lambedura são raras e
normalmente estão associadas a outros problemas de comportamento (por exemplo, micção ou
defecação inapropriadas). O tratamento com fármacos modificadores de comportamento deve ser
um último recurso. Um cenário muito comum, que resulta numa condição obsessiva-compulsiva
em gatos que têm alopecia simétrica é uma história de uma infestação de pulgas que foi tratada
com sucesso mas foi seguida por lambedura persistente (Moriello, 2012).
Figura 5 - Hipotricose na zona ventral
(Original do autor)
Figura 6- Distribuição comum das lesões de alopecia simétrica
Adaptado de Hill (2002)
16
c. Prurido na cabeça e no pescoço
Este padrão de reação é extremamente prurítico (Bernstein, 2006). O gato tem ataques
violentos e inflige escoriações graves sobre si mesmo (Alhaidari, 1999). Podem observar-se
alopecia parcial, eritema, pápulas, erosões e crostas (Rodríguez, 2003) (figuras 7 e 8). As
escoriações auto-infligidas podem resultar numa ulceração extensa com infeção secundária
(Bernstein, 2006). As lesões distribuem-se à volta do pescoço e da cabeça, havendo muitas vezes
lesões graves nas bochechas (Hill, 2006) (figura 9). Por vezes pode estar associado a otite
externa.
Quando o prurido é intenso a lista de possíveis diagnósticos diferenciais são: alergia
alimentar, dermatite atópica, DAPP e sarna notoédrica. Se o prurido é moderado devemos incluir
na lista: sarna otodéctica, dermatofitose, demodicose e pênfigus foliáceo (Rodríguez, 2003). Tem
sido sugerido que o prurido restrito à parte de trás do pescoço também pode ser uma
consequência da infeção por herpesvírus das terminações nervosas após a vacinação (Hill, 2006).
Figura 7 - Erosão na face direita
(Original do autor)
Figura 8 - Alopecia parcial na orelha
(Original do autor)
Figura 9 - Distribuição comum das lesões de prurido na cabeça e no pescoço
Adaptado de Hill (2002)
17
d. Complexo granuloma eosinofílico
A pele felina está predisposta a desenvolver inflamação eosinofílica (Hill, 2002). São
conhecidos 4 síndromes clínicos que compõe o complexo granuloma eosinofílico: úlcera
indolente, placa eosinofílica, granuloma eosinofílico e hipersensibilidade à picada de mosquito
(Bernstein, 2006). Estas podem ocorrer separadamente ou em qualquer combinação. A etiologia
do complexo granuloma eosinofílico é multifatorial, mas as reações de hipersensibilidade a
pulgas, alimentares e a alergénios ambientais (atopia) parecem ser as mais significativas (Hill,
2006).
o Úlcera indolente
Este subtipo, clinicamente distinto dentro do complexo, está tipicamente localizado na
junção mucocutânea do lábio superior (Bernstein, 2006), adjacente ao dente canino (Hill, 2002)
(figura 10). Pode ser unilateral ou bilateral (Hill, 2006). As lesões são bem circunscritas, com
tonalidade vermelho acastanhadas, brilhantes com bordas elevadas/acentuadas (Hill, 2002), não-
exsudativas. As úlceras podem aumentar progressivamente, tornando-se desfigurativas quando
cruzam a linha média (Bernstein, 2006). Não é comum a observação de prurido (Hill, 2006).
Existem evidências (em estudos de Power e Ihrke em 1995 e Bloom em 2006) de que
alguns gatos podem ter uma predisposição genética para desenvolver as lesões quando expostos
a alergénios, particularmente a pulgas. Outro resultado interessante (de Cornegliani em 2009) é
que estas lesões também podem ocorrer como resultado de corpos estranhos (por exemplo,
espinhos de cacto) ou num local de uma invasão focal, como as margens do lábio onde pelos
infetados por dermatófitos foram previamente encontrados. As úlceras indolentes que resultam
de trauma focal são transitórias e muitas vezes ocorrem apenas uma vez, o que pode explicar por
que é que em alguns gatos, particularmente gatinhos, as lesões podem desenvolver-se e curar-se
sem tratamento e sem recorrencias. As lesões que persistem ou são recorrentes são causadas por
uma condição persistente como atopia ou alergia alimentar (Moriello, 2012).
Figura 10 - Distribuição comum das lesões de úlcera indolente
Adaptado de Hill (2002)
18
o Placa eosinofílica
A placa eosinofílica está sempre associada a prurido intenso (Rodríguez, 2003). As lesões
são bem demarcadas, elevadas, alopécicas, com uma superfície húmida e vermelha que pode
estar erosionada ou ulcerada (Hill, 2006). São resultado direto de auto-traumatismo.
Normalmente a abundância de placas eosinofílicas revela que os gatos têm lesões de dermatite
miliar concorrentes ou que as placas são uma coalescência dessas formações papulocrustosas
(Moriello, 2012). As lesões ocorrem com frequência no abdómen ventral e zona medial dos
membros porteriores (Bernstein, 2006) (figura 11), mas também podem ocorrer no tórax ou em
qualquer outra parte do corpo (Hill, 2006).
A causa mais comum é a DAPP, seguida de dermatite atópica e alergia alimentar. O
diagnóstico diferencial deve incluir também algumas neoplasias (linfoma cutâneo, mastocitoma)
(Rodríguez, 2003). Estas lesões podem também desenvolver-se como resultado de infeções
resultantes de dermatofitose, bactérias e Malassezia spp.
Trabalhos recentes relatam que estas lesões estão a ser cada vez mais reconhecidas como
o equivalente felino de lesões piotraumáticas caninas (ou seja, "hot spots") e, também, a
colonização secundária por bactérias ou Malassezia spp. são resultados comuns nos exames
citológicos (Moriello, 2012).
Figura 11 - Distribuição comum das lesões de placa eosinofílica
Adaptado de Hill (2002)
o Granuloma eosinofílico
Existem duas variações clínicas reconhecidas. A primeira é uma lesão ulcerada,
proliferativa frequentemente presente na cavidade oral. Dependendo da localização da massa,
podem encontrar-se disfagia, salivação excessiva, mastigação anormal e tosse. A outra forma é
caracterizada por um edema duro e não-inflamatório. A existência de alopecia é variável e o gato
parece imperturbável com a lesão. As apresentações clínicas incluem lesões lineares da espessura
19
de um lápis na zona caudal dos membros posteriores em gatos jovens (figura 12), lesões lineares
nos membros, "lábios gordos" ou edema do queixo assintomático, lesões de 1-5 mm, papulares e
firmes nas orelhas e massas interdigitais. As lesões são o resultado de grande infiltração
eosinofílica e desgranulação (Moriello, 2012). Ocasionalmente, existe eosinofilia circulante e
pode haver linfadenopatia local (Hill, 2006).
Figura 12 - Distribuição comum das lesões de granuloma eosinofílico linear
Adaptado de Hill (2002)
o Hipersensibilidade à picada do mosquito
Uma forma distinta dentro do complexo, que é popularmente conhecida como "síndrome
dos ouvidos, nariz e dedos" (Bernstein, 2006). É caracterizada por uma erupção papular, erosiva
no rosto, pontas das orelhas, nariz e almofadinhas plantares (figura 13). As lesões tendem a
começar nas zonas glabras e podem ser mais comuns em gatos de pelagem escura. As lesões são
intensamente pruríticas e podem ocorrer despigmentação, crostas e exsudados. As lesões foram
observadas pela primeira vez em gatos expostos a mosquitos, mas podem ser resultado de
mordidas de outros pequenos insetos voadores, como moscas pretas e espécies de Culicoides.
Normalmente, os gatos afetados têm acesso ao ar livre, especialmente durante o início da
manhã ou ao fim da tarde, quando esses insetos se alimentam. É importante lembrar que muitos
desses insetos que picam são suficientemente pequenos para atravessar os buracos das telas
utilizadas nas varandas e janelas. Crostas nas margens dos ouvidos são as queixas mais comuns
dos proprietários (Moriello, 2012). A histopatologia ajuda a descartar outros diferenciais como
carcinoma espinocelular, mastocitoma ou criptococose. O prognóstico é reservado, se o gato não
poder evitar os mosquitos (Bernstein, 2006).
20
Figura 13 - Distribuição comum das lesões de hipersensibilidade à picada do mosquito
Adaptado de Hill (2002)
d. Plano de Diagnóstico
A formulação de um plano de diagnóstico deve ter como base a priorização dos
diagnósticos diferenciais através dos dados históricos e achados físicos. Os procedimentos de
diagnóstico são selecionados com base nos diagnósticos diferenciais mais prováveis (Ihrke,
2010). O algoritmo da figura 14 oferece uma visão geral de possíveis planos de diagnóstico.
e. Exames complementares
Apesar de ser essencial uma história e um exame clínico completos outras investigações
diagnósticas são de extrema importância na obtenção de um diagnóstico definitivo (Bexfield e
Lee, 2010).
O veterinário deve recolher amostras das lesões no momento em que são observadas. É
mais eficiente e menos stressante para o gato. Por esta razão, é uma boa idéia manter um kit de
dermatologia sempre por perto.
Os principais testes de diagnóstico incluem raspagens de pele, escovagem, citologias de
ouvido, citologia de pele (em lâmina de vidro ou fita), tricograma e cultura dermatófitos
(Moriello, 2012).
21
Figura 14 - Alegoritmo para o diagnóstico do prurido felino
Adaptado de Ihrke (2010), Paradis (2011) e Moriello (2012)
História e exame clínico
Escovagem com pente fino, Fita adesiva, Tricograma,
Raspagem, Citologia, Cultura dermatófitos
Pulgas/DAPP, Cheyletiella, Notoedres, Otodectes,
Demodex, Dermatófitos, Malassezia
Lesões primárias presentes
Apenas Pápulas
Tratamento parasiticida
DAPP, outros ectoparasitas
Tratamento antibiótico
Pioderma
Pápulas e pústulas ou colaretes epidérmicos
Tratamento parasiticida
Doença parasitária
Prurido persistente
Prurido sazonal
Atopia sazonal, Alergia por contacto,
Hipersensibilidade à picada do mosquito
Dieta eliminação
Alergia alimentar
Testes alérgicos in
vitro/ in vivo
Atopia
Biópsia
Neoplasia, Doença imuno-
mediada, Dermatose
viral, Reacção a fármacos
Lesões primárias ausentes
+ - -
+ -
+
+ -
+ - -
sim
não
sim não
+
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i. Escovagem com pente fino
Este teste é indicado para qualquer gato com perda de pelo, descamação ou prurido. O
pente de dentes finos pode ser usado para encontrar pulgas, fezes de pulgas, carraças, piolhos e
Cheyletiella spp. O material pode ser examinado com uma lente de ampliação ou num
microscópio (Moriello, 2012).
ii. Teste do papel molhado
É realizado pela escovagem de detritos para um pedaço de papel branco humedecido,
para a identificação de fezes de pulgas. Estas vão aparecer como manchas castanhas
avermelhadas no papel húmido devido à presença de pigmentos solúveis do sangue (Littlewood,
2003). Este teste deve ser realizado em todos os casos com sinais de prurido, especialmente
quando há envolvimento dorsal. É importante verificar se o animal foi lavado recentemente. Os
falsos negativos são comuns em gatos pois removem os detritos da pele aquando da sua higiene
habitual (Paterson, 2008).
iii. Diascopia
É uma técnica simples que envolve a colocação de uma lâmina de vidro sobre uma lesão
eritematosa aplicando uma pressão moderada. A pele sob a lâmina torna-se branca pois o sangue
é espremido para fora, ou permanece eritematosa (Hnilica, 2011). Este teste é útil para
diferenciar a vasodilatação da hemorragia (Paterson, 2008). As lesões urticariformes são
causadas por vasos sanguíneos dilatados que vazam flúido e não células vermelhas e, portanto,
estas lesões vermelhas branqueam quando a pressão é aplicada. Equimoses (típico de vasculite)
são causadas por células vermelhas do sangue que vazam dos vasos, logo estas lesões
eritematosas não branqueam porque as células estão localizadas dentro da derme (Hnilica, 2011).
iv. Teste da fita adesiva
Esta técnica pode ser realizada na pele ou no pelo (Paterson, 2008). Permite a recolha dos
parasitas, em várias fases do seu ciclo de vida, presentes na superfície da pele ou da base dos
pelos (Carlotti e Pin, 1999). No pelo a fita é pressionada repetidamente, enquanto que na pele é
pressionada firmemente contra uma área alopécica (Paterson, 2008). Em seguida, é colocada,
com o lado adesivo para baixo, numa lâmina para visualização ao microscópio (Carlotti e Pin,
1999). A amostra pode ser examinada em óleo de imersão, se necessário.
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Os parasitas mais detetados são Cheyletiella (adultos, ovos), piolhos e Demodex, mas
também pode-se encontrar fezes de pulga. As fitas também podem ser coradas com Diff-Quick®
para verificação de microorganismos, tais como Malassezia (Littlewood, 2003), bactérias
(Paterson, 2008), células inflamatórias tais como, neutrófilos (que podem ter passado através da
epiderme em resposta a uma infeção superficial) e células epiteliais nucleadas (que não são
normais e refletem uma anormalidade na queratinização) (Mueller, 2000).
Os artefactos comuns incluem: fita enrugada, fita fosca, fios de tecido, esporos de fungos
pigmentados e matéria vegetal (Moriello, 2012). A seleção do local é importante no gato. As
amostras devem ser recolhidas em áreas onde o gato é incapaz de lamber, por exemplo, a parte
de trás do pescoço (Paterson, 2008). A sensibilidade deste ensaio é bastante baixa e pode
conseguir-se melhores resultados se se realizar também a escovagem com pente fino (Alhaidari,
1999).
v. Tricograma
É um exame detalhado do pelo, envolvendo a ponta, a haste e a raíz (Carlotti e Pin,
1999). Os tricogramas são utilizados, muitas vezes, em conjunto com outros tipos de exames
(Rhodes, 2011). É um meio útil para avaliar uma variedade de diferentes fatores, incluindo a
presença de trauma, infeção fúngica, defeitos na haste e a fase de crescimento do pelo (Paterson,
2008). Os pelos devem ser arrancados na direcção do seu crescimento, colocados sobre uma gota
de óleo mineral, com uma lamela por cima e examinados ao microscópio (Moriello, 2012).
Os animais pruríticos danificam, geralmente, a extremidade do pelo que pode ser detetada
facilmente (Hnilica, 2011) (figura 15). Isto é particularmente útil em gatos, pois a extremidade
do pelo danificada sugere trauma auto-induzido (Paterson, 2008). Esta determinação é essencial
quando os proprietários não estão convencidos de que o animal está com prurido devido à sua
natureza secretiva (Hnilica, 2011). Em situações de perda de pelo devido a doença endócrina a
ponta continua finamente cônica.
Os esporos de dermatófitos podem ser identificados nas hastes dos pelos. Estes aparecem
como pequenas estruturas esféricas, em filas, ao longo da haste (Paterson, 2008) e os pelos
parecem mais âmplos e filamentosos do que os pelos normais. Os esporos de fungos são mais
refratários (Moriello, 2012). Podem ser vizualizadas sombras foliculares na adenite sebácea,
distrofia folicular, demodicose e hiperadrenocorticismo. Os ovos de ectoparasitas, tais como
Cheyletiella e piolhos podem ser observados junto à haste do pelo. Outras anormalidades, como
a trichorrhexis nodosa, foram registradas mas são raras.
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O exame dos bulbos permite avaliar a fase do ciclo de crescimento de cada pelo
(telogénese e anagénese). Parasitas como Demodex spp. também podem ser vistos a nível do
bulbo capilar (Paterson, 2008).
Figura 15 - Pelos com as extremidades distais danificadas (amostra retirada de um gato com prurido intenso)
(Original do autor)
vi. Lâmpada de wood
A lâmpada de Wood é uma fonte de luz ultravioleta (UV) com um comprimento de onda
que não faz mal à pele nem aos olhos (Hnilica, 2011) e possui um filtro de cobalto ou níquel.
(Scott, Miller e Griffin, 2001; Moriello, 2012). A luz interage com um metabolito na superfície
de pelos infetados resultando numa fluorescência verde-maçã (Moriello, 2012). Infelizmente,
nem todas as estirpes de Microsporum produzem esse produto celular tornando a lâmpada de
Wood útil em apenas 50% dos casos de infeção por M. canis. Esta técnica não pode ser utilizada
para identificar as espécies de Trichophyton ou M. gypseum (Hnilica, 2011).
Depois da lâmpada aquecer durante alguns minutos, o veterinário deve desligar as luzes
da sala e manter a lâmpada sobre as lesões suspeitas durante vários minutos. O exame do pelo
deve continuar durante pelo menos 3 ou 4 minutos para assegurar que os olhos do examinador se
adaptaram à luz (Moriello, 2012) e, por outro lado, algumas estirpes demoram um pouco a emitir
a fluorescência (Scott, Miller e Griffin, 2001). Os pelos positivos podem ser arrancados para a
cultura de dermatófitos e tricograma (Moriello, 2012).
Qualquer medicação tópica pode causar um teste falso positivo ou falso negativo. O
resultado falso positivo mais comum ocorre com a fluorescência azul-branca de poeira e escamas
(Moriello, 2012). Do mesmo modo, uma coloração amarelada das crostas não deve ser indicativo
de Microsporum canis (Carlotti e Pin, 1999). A ausência de lesões frescas também pode dar
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falsos negativos (Joyce, 2010). A verdadeira infeção por dermatófitos revela uma fluorescência
verde-maçã sobre as raízes das hastes do pelo. Todas as infeções por dermatófitos devem ser
confirmadas por meio de cultura fúngica (Hnilica, 2011).
vii. Cultura de dermatófitos
Infeções por dermatófitos podem estar associadas a sinais de prurido em qualquer tipo de
lesão (Ghubash, 2009). A cultura fúngica é a melhor maneira de diagnosticar uma infeção por
dermatófitos. É indicado sempre que o exame da lâmpada de Wood der um resultado positivo ou
o veterinário suspeitar de uma infeção por dermatófitos.
As amostras são, normalmente, recolhidas por meio de uma escova de dentes, escovando
as lesões suspeitas, ou arrancando pelos suspeitos. Uma técnica particularmente útil para a
obtenção de amostras em gatos é escovar o pelo durante vários minutos com a escova de dentes
estéril (Moriello, 2012). A lesão donde se retiram as amostras deve ser desinfectada com uma
zaragatoa com álcool durante 30 segundos para eliminar a maior parte dos contaminantes. O pelo
e as escamas devem ser recolhidos a partir do centro e da extremidade da lesão. Os gatos com
suspeita de serem portadores assintomáticos devem ser também escovados com a escova de
dentes estéril (Carlotti e Pin, 1999). Os dermatófitos podem crescer dentro da estrutura de
queratina da unha e causar onicodistrofia distintiva. Portanto, as garras também podem ser
cultivadas pelo corte de uma unha afectada e moagem ou por raspagem da superfície para
produzir pequenas partículas que serão depositadas sobre o meio (Hnilica, 2011).
As amostras podem ser colocadas no meio de teste dermatófitos (DTM) ou então no Agár
dextrose Sabouraud (SDA) (Paterson, 2008). Existem outros meios disponíveis, mas raramente
são usados na prática clínica (Scott, Miller e Griffin, 2001). O SDA é mais usado para o
desenvolvimento de conídios para identificação dermatófitos (Werner, 2011). O DTM é um meio
de Sahouraud com adição de vermelho de fenol, que muda de cor rapidamente, entre 3-10 dias
na presença de dermatófitos e dá uma indicação rápida do provável diagnóstico (Carlotti e Pin,
1999). Este meio contém também ciclohexamida, gentamicina e clorotetraciclina como agentes
antifúngicos e antibacterianos (Scott, Miller e Griffin, 2001). A mudança da cor deve ser visível
antes do crescimento da colónia. Os produtos de degradação ácida do metabolismo protéico
resultam na mudança de cor do meio para vermelho. Isto ocorre mais lentamente nas espécies
não parasitárias, pois metabolizam os hidratos de carbono em primeiro lugar. Contudo,
alterações de cor são eventualmene visíveis em espécies saprófitas (Joyce, 2010). Uma excepção
é o caso do Microsporum persicolor. O crescimento deste dermatófito precede a mudança de cor
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por vários dias. Uma mudança de cor, após 2-4 semanas, é observada no crescimento de fungos
saprófitas (por exemplo, Aspergillus spp. e Mucor spp.) ou de bactérias (Carlotti e Pin, 1999).
As placas de cultura de DTM devem ser examinadas diariamente durante 2 a 3 semanas.
Se a placa de cultura não for avaliada diariamente, não será possível determinar quando ocorreu
a alteração de cor em relação ao aparecimento de crescimento de colónias (Hnilica, 2011). A
maioria dos patogénios vão crescer dentro de 14 dias de cultura (Moriello, 2012).
Os falsos negativos e positivos podem ser causados por contaminação das placas. Os
falsos negativos podem resultar da leitura rápida dos resultados. Os falsos positivos podem
resultar de leitura tardia dos resultados, quando ocorreram quer a mudança de cor quer o
crescimento da colónia e, também, podem resultar do crescimento de fungos não parasitários
(Joyce, 2010).
É importante lembrar que a mudança de cor vermelha nos meios DTM é apenas sugestiva
e não diagnóstica de um agente patogénico. O diagnóstico definitivo requer um exame
microscópico. Todas as culturas suspeitas devem ser identificadas microscopicamente utilizando
corante de lactofenol azul algodão ou novo azul de metileno (Moriello, 2012). O Microsporum
canis é a espécie mais ilosada em gatos (Werner, 2011). Em casos difíceis e onde é necessária a
identificação de espécies, é obrigatória a submissão a um laboratório externo. A infeção humana
(em proprietários) pode ser útil no diagnóstico, pois a maioria das espécies de dermatófitos são
zoonóticas (Joyce, 2010).
viii. Raspagem de pele
As raspagens de pele são dos exames mais fáceis e importantes que devem ser realizados
em todos os gatos com prurido, excepto naqueles que apresentem sinais sazonais. Os parasitas
mais comuns são Cheyletiella blakei, Otodectes cynotis, Lynxacarus radovskyi, Trombicula
autumnalis, Felicola subrostratus, Notoedres cati, Demodex cati e Demodex gatoi (Ghubash,
2009).
Em gatos, as raspagens devem ser realizadas com uma cureta. As curetas são mais
seguras, menos dispendiosas e proporcionam uma melhor recolha de material de amostra que as
lâminas de bisturi. As amostras são obtidas através da colocação de algumas gotas de óleo
mineral sobre a pele e com o comprimento da cureta (não a ponta), remover o material a partir da
superfície e o material folicular, ao raspar gentilmente com movimentos curtos. A utilização da
cureta permite que o veterinário raspe pequenas ou grandes áreas da pele (Moriello, 2012). Para
melhorar a qualidade da amostra os pelos devem ser cortados primeiro. A raspagem da pele deve
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ser feita sempre na mesma direção perpendicular à dobra da pele (Carlotti e Pin, 1999). Muitos
praticantes reutilizam lâminas de bisturi/curetas nas raspagens de pele. No entanto, esta prática
deve ser eliminada devido ao problema das doenças transmissíveis (por exemplo, Bartonella,
Rickettsia, vírus da leucemia felina (FeLV), o vírus da imunodeficiência felina (FIV), herpes,
papilomavírus) (Hnilica, 2011). O exame pode ser realizado em parafina líquida ou 10% de
hidróxido de potássio. Quando se usa a parafina líquida podem ser adicionadas algumas gotas,
com cuidado, para a amostra antes da lamela ser adicionada. Quando se utiliza o hidróxido de
potássio é melhor deixar a amostra em repouso durante 10-15 minuto e pode ser aquecida
suavemente antes de se analisar, pois permite que o hidróxido de potássio digira a queratina para
limpar o campo. Existem vantagens e desvantagens dos dois materiais de fixação (Paterson,
2008). As lamelas devem ser sempre colocadas, não importa qual o meio de montagem
(Littlewood, 2003). Examinam-se as lâminas com a ampliação 10× e começa-se às margens da
lamela. Muitas vezes, é útil mover o condensador para baixo para aumentar o contraste e
observar primeiro o movimento (Moriello, 2012).
Os ácaros de interesse são mais superficiais na pele do gato do que na do cão, portanto, a
menos que haja espessamento da pele, raramente é necessário raspar até a hemorragia capilar ser
aparente. É mais proveitoso raspar com mais frequência em áreas maiores (Moriello, 2012). As
espécies encontradas são: Notoedres cati, Cheyletiella spp., Otodectes cynotis e Demodex gatoi
(Mueller, 2000; Hnilica, 2011; Rhodes, 2011). O Notoedres cati é mais fácil de encontrar no
gato, do que o Sarcoptes Scabiei no cão. Os melhores locais para raspar são a cabeça, a face e as
orelhas, em áreas com crostas e escamas. Os ácaros Cheyletiella são relativamente grandes e
podem até ser vistos com uma lente de aumento. Parecem escamas brancas pequenas que se
movem. Podem ser difíceis de demonstrar, em alguns casos. Os Otodectes cynotis estão
normalmente localizados no canal auditivo externo. Contudo, podem ser encontrados na pele,
especialmente à volta da cabeça, pescoço, garupa e cauda (Scott, Miller e Grifin, 2001). Os
relatos sugerem que Demodex gatoi pode ser encontrado mais facilmente no ombro lateral
(Hnilica, 2011).
Na raspagem de pele profunda pode-se identificar todas as espécies de Demodex, como o
Demodex cati, excepto Demodex gatoi (Hnilica, 2011; Rhodes, 2011). Todos os animais com
alopecia, pápulas, pústulas, crostas e, particularmente, pododermatite interdigital devem ser
raspados para a presença de demodicose (Mueller, 2000). A técnica é idêntica à das raspagens
superficiais, excepto que deve ser feita até uma profundidade onde a pele fica eritematosa e é
visualizado um exsudado capilar. A pele pode ser também comprimida para expressar os ácaros
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dos folículos (Paterson, 2008). Se houver falha na raspagem ao atingir uma pequena quantidade
de sangue, os ácaros podem ter sido deixados no folículo, resultando num falso negativo
(Hnilica, 2011). O edema que ocorre muitas vezes na pododemodicose, pode dificultar a
visualização dos ácaros. As amostras devem ser retiradas nas margens das lesões (Rhodes,
2011).
Alguns artefactos que se podem observar são: eritrócitos, grânulos acastanhados
(grânulos de melanina), fios coloridos, pelos partidos, pólen de plantas ou esporos (geralmente
mais pigmentados). As raspagens de pele negativas não excluem, necessariamente, a existência
de parasitas (Moriello, 2012).
ix. Citologia
A citologia pode ser usada na avaliação de amostras para a presença de bactérias, células
inflamatórias, esporos e hifas de fungos, células acantolíticas e células neoplásicas. Deve ser
realizada em qualquer gato prurítico com outras lesões dermatológicas, além da alopecia não-
inflamatória (Ghubash, 2009). É indicada na dermatite alérgica, complexo granuloma
eosinofílico, dermatoses erosivas, pustulares e crostosas (incluindo dermatoses autoimunes,
infeções bacterianas e micoses profundas), dermatoses nodulares (inflamatórias e neoplásicas) e
otite externa (Carlotti e Pin, 1999). Os verdadeiros casos de pioderma devem demonstrar
bactérias intracelulares, normalmente dentro de neutrófilos e, por vezes, dentro de eosinófilos.
Os esporos e as hifas de fungos são comuns em casos de dermatofitose. A citologia também pode
ser valiosa na identificação de algumas formas de neoplasia cutânea. Em ocasiões raras, podem
ser identificados ectoparasitas, como a Cheyletiella, especialmente com a técnica da fita adesiva.
A presença de células acantolíticas sugerem Pênfigus foliáceo, apesar de também poderem ser
vistas na dermatofitose (Ghubash, 2009). A citologia pode dar resultados rápidos e pode ajudar a
sugerir ou mesmo a confimar um diagnóstico.
Várias técnicas podem ser utilizadas, dependendo do tipo de lesão. O esfregaço direto é,
normalmente, usado em lesões que contenham flúido como, pústulas, vesículas e bolhas. Deve
ser executado suavemente para minimizar a ruptura celular. O esfregaço de impressão direta é
realizado em lesões húmidas ou gordurosas. Esta técnica é também usada após a remoção de
crostas, expressando fluido das lesões, ou gentilmente abrindo a superfície das pápulas, pústulas
ou vesículas (Scott, Miller e Griffin, 2001). É muitas vezes utilizado para diagnosticar o
crescimento excessivo de Malassezia ou avaliar úlceras e placas (Rhodes, 2011). A zaragatoa é
usada para obter amostras a partir de tratos de drenagem, seios e canais auditivos, lesões secas e
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crostosas, zonas interdigitias (Scott, Miller e Griffin, 2001), perivulvar e perianal (Rhodes,
2011). As raspagens são usadas para retirar amostras por baixo de crostas, vesículas, e
descamação do estrato córneo e também para recolher células da superfície de corte de amostras
retiradas através de biópsia (Scott, Miller e Griffin, 2001). Com uma cureta de raspagem de pele
ou com a extremidade de madeira de uma zaragatoa pode-se retirar amostras do leito ungeal e de
fendas na pele (Moriello, 2012). A aspiração com agulha fina é usada para recolha de amostras
de nódulos, tumores e quistos, embora pústulas, vesículas ou bolhas também possam ser
amostradas com esta técnica (Scott, Miller e Griffin, 2001). Pode ser útil, principalmente, em
casos com múltiplas massas cutâneas e naqueles com linfadenopatia. A técnica de aspiração com
agulha fina permite a identificação dos principais tipos de células envolvidas na lesão e pode ser
diagnóstico de mastocitomas. Mas tem a séria desvantagem de não dar nenhuma informação
sobre a estrutura e organização celular no interior da massa. Não deve substituir a excisão e
histopatologia de rotina, mas pode ser uma técnica útil no pré-operatório que, no caso de
mastocitomas solitários, pode indicar a necessidade de uma grande margem de excisão
(Littlewood, 2003).
Várias colorações estão disponíveis, incluindo colorações rápidas (por exemplo, Diff-
Quik®, Giemsa e coloração de Wright). Essas colorações permitem coloração específica do
citoplasma, núcleo e microrganismos. Os corantes vitais incluem hematoxilina e eosina,
papanicolaou e azul de metileno. Estes corantes dão excelente detalhe do núcleo e o nucléolo e
permitem a apreciação da arquitectura celular, bem como alguns grânulos citoplasmáticos e
elementos fúngicos. Os corantes especiais podem ser utilizados para identificar estruturas
celulares particulares ou microorganismos. Exemplos incluem: Ziehl-Neelsen para micobactérias
e Vemelho Sudão para lípidos (Carlotti e Pin, 1999). Dois achados comuns são facilmente
confundidos com bactérias: grânulos de melanina (pigmentação escura e levemente refractária) e
lipídios de superfície (muito pequenos e pouco basófilos, granulares em aparência). O cocos,
diplococos, bastonetes e leveduras apresentam coloração profundamente basofílica e não são
refráctários (Moriello, 2012).
x. Biópsia
A biópsia de pele pode ser uma arma poderosa quando usada apropriadamente. Muitas
doenças infeciosas, parasitárias, autoimunes e neoplásicas específicas podem ser diagnosticadas
com recurso à biópsia. É indicada em lesões ou apresentações clínicas pouco comuns ou quando
um caso não responde ao tratamento padrão. Contudo, amostras retiradas de lesões de doenças
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alérgicas parecem as mesmas histopatologicamente e, portanto, a biópsia nem sempre é usada no
diagnóstico de alergias e nunca é usada para as diferenciar (Ghubash, 2009).
A utilização de medicamentos anti-inflamatórios, tais como os corticosteroides e anti-
inflamatórios não-esteróides, deve ser descontinuada 2-3 semanas antes da biópsia, uma vez que
estes medicamentos podem alterar o aspecto histológico do tecido. Também é importante
eliminar a pioderma bacteriana secundária com antibioterapia sistémica de modo a evitar a
destruição das características histopatológicas de dermatites simultâneas.
Antes da seleção de um local para a biópsia deve-se examinar cuidadosamente o animal,
através da identificação de eventuais lesões primárias e secundárias e criação de uma lista de
diferenciais, para obter as amostras mais representativas. As lesões cutâneas primárias, como
pústulas, vesículas, petéquias, máculas eritematosas e pápulas, fornecem informações mais
valiosas. As lesões secundárias tais como crostas, alopecia, escamas, úlceras e erosões, podem
ser úteis, mas tendem a ter menos impacto no diagnóstico. A melhor abordagem é a recolha a
partir de vários locais para obtenção de toda a variedade de tipos de lesão. As biópsias cutâneas
submetidas ao patologista devem ser acompanhadas da seguinte informação: idade, sexo e raça;
história e descrição da lesão; duração das lesões; dados de teste de diagnóstico clínico;
tratamento; lista de diagnósticos diferenciais (Seltzer, 2007).
xi. Cultura bacteriana e antibiograma
Ensaios de cultura bacteriana e sensibilidade aos antibióticos são, frequentemente, menos
indicados no gato do que no cão. São indicados somente em pioderma recorrente, paroníquia,
infeções bacterianas específicas (que são raras) e otite externa purulenta sempre que a citologia
revelar um crescimento bacteriano misto (cocos e bacilos). Se houver suspeita de determinadas
infeções bacterianas específicas (por exemplo, infeção por micobactérias ou nocardiose), deve
ser contactado um laboratório especializado (Carlotti e Pin, 1999). As zaragatoas para a cultura
bacteriana devem ser recolhidas a partir de novas lesões pústulas ou vesículas recentemente
rompidas e não em lesões velhas, crostosas ou escoriações (Littlewood, 2003). O excesso de
detritos que pode contaminar os resultados deve ser removido cuidadosamente com uma gaze
embebida em álcool (Werner, 2011). Este procedimento pode levar a resultados falso negativos
se o álcool penetrar ou romper o frágil estrato córneo que recobre a pústula ou se esta for aberta
antes que o álcool tenha evaporado (Littlewood, 2003). Não se deve esfregar as lesões com
soluções anti-sépticas antes da recolha da amostra (Werner, 2011). As amostras devem ser
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colocadas num meio de transporte adequado e enviadas para laboratório externo (Scott, Miller e
Griffin, 2001).
xii. Ensaios de controlo de insetos (pulgas e mosquitos)
Qualquer gato com dermatite miliar, alopecia não-inflamtória ou complexo granuloma
eosinofílico pode beneficiar de uma tentativa de controlo de insetos (Mueller, 2000).
Se todos os diferenciais não-alérgicos já foram descartados, deve ser realizada uma
aproximação sistemática às alergias. A dermatite atópica, a DAPP e a alergia alimentar podem
parecer idênticas. A DAPP é a alergia mais comum em gatos em locais endémicos e devem ser
realizados ensaios de controlo de pulgas para eliminar este diferencial. O objetivo é manter o
gato livre de pulgas durante 4-6 semanas e avaliar o grau da subsequente resolução do prurido.
Se o envolvimento ambiental é elevado, o primeiro passo é sugerir ao proprietário a consulta de
um extreminador a fim de tratar o ambiente em que o animal está inserido (Ghubash, 2009).
Animais a viver na mesma casa ou aqueles que a visitam regularmente devem ser tratados
também embora a frequência entre as aplicações adulticidas deva ser aumentada (Mueller, 2000).
A opção de manter o gato dentro de casa durante o ensaio deve ser discutida, apesar de não ser
sempre possível. Devido a estudos em que o nitenpiram oral teve 100% de eficácia contra pulgas
adultas Ctenocephalides felis em 3h, um método ideal, especialmente em animais de exterior,
seria usar este fármaco diáriamente ou em dias alternados durante 4-6 semanas. Contudo, este
método pode ser caro e trabalhoso em gatos dada a dificuldade da administração de compridos.
Outra opção é usar uma formulação tópica, que é aprovada para utilização a cada 2 semanas
durante um período de 4-6 semanas. Alguns desses produtos estão rotulados para aplicações
mais frequentes do que apenas mensal (Ghubash, 2009).
No caso da hipersensibilidade à picada do mosquito, um ensaio com repelentes de insetos
pode ser benéfico para estes animais. Se houver uma boa resposta ao tratamento, o controlo de
insetos pode ser reduzido ao mínimo necessário. De recordar que o mínimo de tratamento
requerido varia sazonalmente tal como a carga de insetos (Mueller, 2000).
xiii. Ensaio de tratamento de sarna
Um gato prurítico pode estar infestado com Notoedres cati especialmente se o prurido for
de início súbito ou se existe prurido nos pavilhões auriculares, no abdómen e nos cotovelos. As
raspagens de pele superficiais negativas não descartam a possível existência de sarna, pelo que o
tratamento experimental é indicado em qualquer animal com suspeita da mesma.
32
Como Cheyletiella spp. e Otodectes cynotis são sensíveis aos mesmos agentes
antiparasitários, um ensaio de tratamento da sarna será útil para estes parasitas também. Todos os
animais em contacto com o animal doente necessitam de ser tratados também. A remissão deve
ser alcançada dentro de 4 semanas, embora alguns animais possam precisar de tratamento
prolongado até 8 semanas (Mueller, 2000).
xiv. Exame do conduto auditivo
A utilização de um otoscópio é obrigatória em qualquer animal que apresente sinais de
irritação auditiva ou inflamação e prurido facial ou na cabeça. A sedação, ou mesmo a anestesia
geral, pode ser necessária para permitir um exame minucioso em animais mais agitados. O
exame permite a identificação de ácaros e de outras causas de otite externa, tais como corpos
estranhos ou tumores (Littlewood, 2003).
A recolha de amostras de cerúmen é indicada sempre que houver suspeita de ácaros na
orelha, detritos no ouvido ou o gato apresenta prurido na cabeça, no pescoço ou no ouvido. Uma
zaragatoa seca é usada para recolher detritos do ouvido (Moriello, 2012). Se uma zaragatoa
utilizada para recolher uma amostra estiver relativamente limpa então o mais provável é que o
ouvido esteja normal. Se a amostra apresenta um exsudado ceroso preto então uma preparação de
óleo mineral deve ser realizada para a identificação de ácaros (por exemplo, Otodectes,
Demodex). Se a amostra é castanha clara ou demonstra um exsudado purulento, uma citologia
deve ser realizada para a identificação de bactérias ou fungos (Hnilica, 2011). Para procurar os
ácaros deve-se rolar a ponta da zaragatoa numa gota de óleo mineral sobre uma lâmina de vidro
e, em seguida, colocar uma lamela sobre a gota de óleo (Moriello, 2012). Normalmente os ácaros
Otodectes são fáceis de visualizar, mas soltar o condensador e visializar toda a lâmina pode
facilitar o diagnóstico (Hnilica, 2011). A cera também pode ser recolhida e preparada da mesma
forma seca ao ar ou levemente aquecida e, em seguida, corada com Diff-Quik®. Esta técnica irá
identificar diferentes tipos de células e microrganismos, tais como bactérias ou fungos
(Malassezia) (Paterson, 2008). Podem-se observar ainda células inflamatórias que degeneram
com a infeção, mas que muitas vezes permanecem intactas nas doenças de pele imunomediadas.
As células acantolíticas podem estar presentes em grande número e dar informações de
diagnóstico (por exemplo, Pênfigus foleáceo). De lembrar que os queratinócitos podem ter
grânulos de melanina e que o cerúmen normal não cora. Neutrófilos sem bactérias podem indicar
uma reação de hipersensibilidade aos medicamentos que sejam colocados no canal auditivo (por
exemplo, neomicina, propilenoglicol) (Rhodes, 2011).
33
xv. Exame fecal
O exame de fezes é indicado em casos de suspeita de alergia a endoparasitas ou a larva
migrans cutânea em casos de infestação por ancilostomídeos. Pode ser útil para identificar ácaros
forrageiros se a diarreia é um sinal simultâneo (reações de hipersensibilidade a estes ácaros de
vida livre podem resultar em lesões cutâneas e/ou sinais entéricos) (Littlewood, 2003). A
presença de Dipylidium caninum numa amostra fecal também pode ser um indicador de
infestação por pulgas pois podem resultar da sua ingestão (Scott, Miller e Griffin, 2001;
Paterson, 2008).
xvi. Dieta de eliminação
Aquando da avaliação de um gato com dermatite alérgica alimentar deve ser realizado um
ensaio de dieta de eliminação, já que os testes serológicos são duvidosos e pouco fiáveis em
animais domésticos. Gatos com alergia alimentar podem ter os mesmos sinais clínicos que gatos
com dermatite atópica ou DAPP mas normalmente apresentam prurido intenso na cabeça e
pescoço. A única maneira de diagnosticar a alergia alimentar é implementar uma dieta de
eliminação durante um período de 8-12 semanas. No final desse período, volta-se a oferecer a
dieta original e observa-se se os sinais clínicos reaparecem (Ghubash, 2009).
As dietas de eliminação devem ser individualizadas com base na exposição dietética
anterior e podem ser dietas comerciais ou preparadas em casa. Por definição, as dietas de
eliminação contêm fontes de proteína e de hidratos de carbono às quais o gato nunca foi exposto
(Bartges et al., 2012). Embora isso pareça simples, na prática pode ser problemático porque nos
dias de hoje os alimentos comerciais para gatos contêm uma grande variedade de proteínas
diferentes e porque os proprietários, frequentemente, têm dificuldade em fazer com que o seu
gato siga uma dieta rigorosa. Antes de se decidir por uma dieta é fundamental avaliar a
motivação do proprietário (Guaguère e Prélaud,1999).
Quaisquer infeções secundárias devem ser tratadas no início do ensaio de eliminação. Se
estas não forem abordadas será difícil avaliar a resposta do gato ao ensaio. Qualquer falha no
diagnóstico de alergia alimentar, devido de infeções simultâneas, pode requerer outro ensaio
alimentar no futuro. É importante que o ensaio seja continuado durante 2 semanas após a
descontinuação de quaisquer tratamentos adjuvantes para as infeções da pele, a fim de avaliar a
eficácia da influência da dieta sobre os sinais clínicos.
Todas as guloseimas, brinquedos, medicamentos com sabor aromatizado e pasta dentária
devem ser eliminados durante o ensaio (Bryan e Frank, 2010). A escolha dos alimentos deve ter
34
em conta os hábitos alimentares normais do gato e deve ser uma decisão conjunta com o
proprietário. Os hábitos alimentares do gato não devem mudar muito rapidamente e a nova dieta
deve ser introduzida gradualmente, ao longo de 4 a 5 dias. Também deve ser oferecida, nos
mesmos horários e a mesma quantidade total de alimentos dada anteriormente (Guaguère e
Prélaud,1999). Os gatos tendem a ser muito exigentes quando se trata de iniciar uma dieta de
eliminação. Num estudo de Carlotti, Remy e Prost em 1990, sobre 10 gatos com alergia
alimentar, a maioria recusou-se a comer uma dieta vegetariana. Esse estudo e outros como
Roudebush e McKeever em 1993 tiveram sucesso com uma dieta à base de cordeiro que mostrou
uma palatibilidade boa a excelente em cerca de metade dos gatos. Infelizmente, o cordeiro
tornou-se numa fonte de proteína comum em muitas dietas comerciais, diminuindo as chances de
ser uma proteína nova para um ensaio de eliminação alimentar. Além disso, a alergia ao cordeiro
no gato já foi descrita por Reedy em 1994. Os gatos também podem recusar a dieta, dependendo
da fonte de hidratos de carbono. Para dietas caseiras os suplementos não precisam de ser
adicionados durante o período de ensaio, especialmente porque alguns suplementos podem
conter possíveis alergénios ofensivos. Equilibrar a dieta será essencial para a manutenção a
longo prazo. Muitos clientes podem não concordar com uma dieta caseira, mas existem várias
dietas comerciais novas disponíveis, ricas em proteínas. Portanto, se há suspeita de uma alergia
alimentar e o gato não responde à escolha de dieta inicial, deve-se considerar outro ensaio
dietético usando uma fonte de proteína diferente. Exemplos de novas proteínas incluem coelho,
canguru, proteína vegetal, veado e pato. Pensa-se que pode ocorrer reação cruzada entre
alergénios comuns, enfatizando a necessidade de uma história dietética precisa. Por exemplo, há
alguma preocupação de que a protína de pato possa ter uma reação cruzada com a de frango e
que a proteína bovina possa reagir com a de veado. Portanto, se a dieta do gato é de frango, o
melhor é também evitar a de pato (Bryan e Frank, 2010). Uma alternativa é a utilização de dietas
hipoalergénicas comerciais de última geração que contém proteínas hidrolisadas, de tal modo
que o tamanho resultante deste fraccionamento não é capaz de induzir uma resposta alérgica.
Se após a dieta hipoalergénica houve uma redução no prurido, tem de se executar uma
dieta de provocação (dieta que o animal tinha anteriormente) para verificar se os sintomas
reaparecem (Rodríguez, 2003). A resolução dos sinais dermatológicos pode levar 8 semanas ou
mais. Uma vez que se observa melhoria clínica, o veterinário deve tentar identificar o antigénio
ofensor através da introdução de produtos alimentares, um de cada vez. A maioria dos gatos irão
recair dentro de alguns dias ou dentro de 2 semanas, quando o alergénio desencadeador é
restabelecido. No entanto, nem todos os proprietários estão dispostos a realizar esta etapa,
35
porque é demorada, tediosa e o proprietário pode estar relutante em ariscar a recorrência dos
sinais clínicos do gato.
Se o cliente tiver sido cooperativo e o antigénio alimentar presuntivo for identificado ou
se não for possível identificar o antigénio, devem ser instituídos procedimentos a longo prazo. Se
a dieta de eliminação é uma dieta comercial, completa e equilibrada, pode ser utilizada a longo
prazo. Se é uma dieta caseira, deve ser alterada para uma dieta comercial de proteína
seleccionada ou hidrolisada. Isto não só fornece uma dieta nutricionalmente equilibrada e
completa, mas também é mais conveniente para os proprietários. Se o gato continua a estar bem,
o proprietário deve ser aconselhado a não oferecer sobras de comida ao gato ou guloseimas e a
não mudar a dieta, mesmo que os sinais clínicos não retornem (Bartges et al., 2012).
xvii. Testes alérgicos
Os testes alérgicos são usados para determinar alergénios específicos a que o animal é
sensível, com a finalidade de iniciar a imunoterapia (Ghubash, 2009).
1. Teste intradérmico (in vivo)
Apesar de ser considerado o padrão dos testes alérgicos, é difícil de realizar em gatos. A
pele do gato é mais fina que a do cão, o que torna as injeções intradérmicas mais difíceis de
realizar. Além disso, o grau de reactividade nos locais de injeção é muitas vezes plano,
produzindo resultados falsos negativos. Contudo, alguns especialistas preferem este método de
teste alérgico em gatos (Ghubash, 2009). Alguns alergénios em baixas concentrações, vão
induzir reações intradérmicas positivas em gatos normais. Estas podem ser reações irritantes ou
reações positivas genuínas, sendo uma diferença entre sensibilidade clínica e reactividade da pele
(Carlotti e Pin, 1999).
A técnica é similar à descrita para o cão, mas apresenta algumas excepções (Scott, Miller
e Griffin, 2001). Os gatos são sedados antes do teste (Foster e Roosje, 2006). Deve-se ter a
certeza de que as injeções são intradérmicas. O teste deve ser avaliado aos 5 e 20 minutos pós-
injecção, pois as reações podem desaparecer rápidamente, em 10 minutos. Reacções, incluindo
aquelas à histamina, são normalmente mais subtis do que nos cães (Scott, Miller e Griffin, 2001).
A reação é considerada positiva se apresentar uma pápula eritematosa, maior em diâmetro
do que o diâmetro médio dos controlos positivo e negativo. Os testes intradérmicos são muitas
vezes difíceis de interpretar no gato, devido ao pequeno tamanho do controlo positivo. No
entanto, em alguns gatos, uma ampla pápula eritematosa é vizualizada no local de controlo
36
positivo ou noutros extractos, como no cão. No caso da DAPP, pode ser observada uma reação
lenta, após 48 horas, com espessamento da pele ou um nódulo pequeno no local da injeção do
extrato (Carlotti e Pin, 1999). Alguns autores, Schenkel, Bigler e Junji em 2000 e Kadoya-
Minegishi et al. em 2002, recomendam o uso de fluoresceína para melhorar a vizualização das
reações intradérmicas positivas. Os gatos têm um teste fraco de reactividade da pele. Uma
explicação para isso pode ser que, durante o manuseamento e os procedimentos do teste, o
cortisol plasmático, a corticotropina e as concentrações de hormona α-estimulante de
melanócitos estão elevados. No entanto, num estudo de Willemse et al. em 1992, o cortisol
também estava elevado após o manuseamento e procedimentos do teste, apesar da sedação
(Foster e Roosje, 2006).
2. Patch test (in vivo)
Este é o teste de escolha para confirmar a alergia por contato. No teste clássico os
alergénios são aplicados sobre a pele intacta (a tosquia é recomendada 24 horas antes, para
minimizar qualquer confusão devido a erupções num animal sensível), cobertos com uma
substância impermeável e fixados. As reações são observadas após 2 dias. Reações de eritema e
edema ou eritema e vesiculação são consideradas significativas. A ligadura deve ser reaplicada
(sem alergénios) para evitar auto-traumatismo e retirada 24 horas depois para uma segunda
avaliação. A verdadeira alergia por contacto é caracterizada por uma reação de tipo retardada que
persiste ou aumenta durante estas 24 horas sem o alergénio na pele. Se não houver nenhum
eritema nem vesiculação, a reação no dia anterior foi provavelmente causada por irritação e não
por dermatite alérgica. Os esteróides tópicos ou sistémicos devem ser retirados 3 a 6 semanas
antes do teste.
Em testes abertos o alergénio é esfregado numa área de pele normal e examinado
diariamente durante um período de 5 dias. As reações consistem em eritema e edema ligeiro.
Esta técnica é adequada apenas para líquidos ou plantas alérgenas (em que são usadas folhas
trituradas). Realiza-se em zonas glabras não afetadas clinicamente, tais como virilhas ou
pavilhão auricular (Mueller, 2000).
3. Testes serológicos (in vitro)
A medição de IgE sérica específica para alergénios num gato prurítico é usada para
confirmar o diagnóstico de uma doença de hipersensibilidade da pele, embora os dados
disponíveis sugiram que a IgE elevada nem sempre se correlaciona com a doença clínica e vice-
37
versa (Belova et al., 2012). Existem ensaios de imunoabsorção enzimática (ELISA) e ensaios de
rádio-alergoabsorção (RAST) para a identificação de anticorpos específicos para o alergénio que
circula no sangue do animal (Littlewood, 2003). Esses procedimentos utilizam anticorpos anti-
IgE felinos (naturais ou quiméricos) ou anticorpos anti-FcεRI humanos. Em alguns laboratórios
pode ser impossível descobrir o tipo e a especificidade dos seus anti-soros (Prélaud e Gilbert,
1999). Ainda não está claro o quão úteis são estes testes, pois o envolvimento da
hipersensibilidade tipo I e o papel patogénico da IgE ainda não são totalmente compreendidos
(Belova et al., 2012).
Um ensaio ELISA utilizando a proteína FcεRIα biotinilada foi desenvolvido para detetar
anticorpos específicos IgE de D. farinae e D. pteronyssinus. Os resultados do estudo sugerem
que é difícil relacionar a concentração de IgE com as diferentes formas clínicas de suspeita de
doença alérgica na pele em gatos (Taglinger et al., 2005).
A pobre correlação entre os níveis séricos de IgE alimentar específica e intolerância
alimentar e também a elevada percentagem de gatos saudáveis de controlo com IgE alimentar foi
relatada por Guilford et al. em 2001, indicando que a serologia de IgE é um teste pouco fiável
para o diagnóstico de hipersensibilidade alimentar em gatos.
O nível de IgE específico para alergénios pode ser influenciado não só pelas
hipersensibilidades a alergénios, mas também por infestação por endoparasitas e pode,
eventualmente, ser influenciado por outros fatores, tais como como a idade, o controlo de pulgas
e o estado da desparasitação, modo de vida e, provavelmente, por outros, que não são conhecidos
no momento. Acredita-se que a hipersensibilidade de tipo I e a formação de IgE desempenham
um papel central na DAPP dos felinos. Uma boa correlação entre a doença clínica e a existência
de IgE específica para pulgas no soro foi demonstrada. Por esta razão, o teste serológico de IgE
pode ser considerado como um teste fiável para o diagnóstico de hipersensibilidade à picada da
pulga em gatos. No entanto, o estado do controlo de pulgas influencia a produção de IgE, pois a
presença de pulgas pode induzir a formação de IgE também a alergénios não relacionados, tais
como alimentares e ambientais. A idade também influencia os níveis de IgE específica para
alergénios em gatos. Quanto mais velho o gato, maiores as reações positivas e os títulos de IgE
mais elevados para alergénios alimentares e ambientais. Estes resultados podem complicar a
escolha de alergénios para dessensibilização em gatos mais velhos, pois alguma sensibilização
pode não estar relacionada com a própria doença. Os gatos de exterior tem reações mais
positivas e expressão de IgE superior para alergénios alimentares e ambientais, do que os gatos
38
que vivem estritamente dentro de casa. Isso provavelmente reflete o desafio permanente de gatos
ao ar livre com vários alergénios ambientais, ecto e endoparasitas (Belova et al., 2012).
Um ensaio de ELISA foi desenvolvido para quantificar IgG específica para alergénios no
soro felino direccionado contra alergénios seleccionados do pó, pólen e pulgas, comparando a
concentração em gatos saudáveis, gatos com doença não-dermatológica, gatos com doença
alérgica cutânea confirmada e gatos com prurido não diagnosticado. Os resultados mostraram
que os gatos com doença alérgica cutânea confirmada têm significativamente mais IgG dirigidos
contra poeira doméstica, pulgas e polénes do que os outros gatos. Estes resultados suportam a
teoria de que os gatos com doença alérgica de pele tem uma resposta de linfócitos Th2
subjacente que dirige a produção de ambas IgG e IgE (Foster, O’Dair e DeBoer, 1997).
Os testes in vitro tem sido comparados com os testes in vivo com resultados variáveis,
geralmente mais fracos em relação aos obtidos nos testes intradérmicos. Porém, alguns gatos
podem apresentar um teste intradérmico fraco e um teste serológico positivo. Contudo, as taxas
de sucesso da imunoterapia são similares, quer sejam baseadas em testes intradérmicos ou em
testes serológicos (Scott, Miller e Griffin, 2001).
4. Testes celulares (in vitro)
O teste de desgranulação de basófilos direto utilizado em seres humanos e cães foi
adaptado para utilização no gato. Os basófilos são misturados in vitro com diferentes
concentrações de alergénio. Se o animal é alérgico, haverá um número significativamente menor
de basófilos do que no controlo negativo. É necessária uma quantidade considerável de sangue
fresco para este teste, pelo que é geralmente muito limitado. Representa uma das abordagens
mais interessantes no diagnóstico de alergia, porque demonstra ambas, uma reação dependente
de IgE e ativação de células-alvo, enquanto dispensa os problemas de qualidade e especificidade
dos reagentes imunológicos.
O teste de desgranulação de basófilos indirecto é muito mais fácil de executar na prática.
Os anticorpos anafiláticos felinos são heterocitotrópicos e ligam-se a basófilos humanos e de
cavalo, que podem ser sensibilizados e ativados in vitro.
Embora a correlação entre os resultados deste teste e dos testes intradérmicos seja
variável, o seu valor de diagnóstico continua duvidoso como os testes serológicos (Prélaud e
Gilbert, 1999).
39
xviii. Testes sanguíneos
Os exames hematológicos e bioquímicos de rotina não são indicados na maioria dos casos
dermatológicos, mas podem dar informação de suporte úteis em certas situações: eosinofilia em
condições alérgicas; respostas das células brancas em infeções; alterações hematológicas em
certas endocrinopatias; alterações na bioquímica sérica em endocrinopatias e distúrbios
hepáticos; monitorização de animais tratados com imunossupressores ou quimioterapia; técnicas
de investigação e de laboratório; investigação de má absorção; medição de títulos de anticorpos
contra FeLV e FIV em gatos com infeções recorrentes (Littlewood, 2003).
xix. Imagiologia (radiologia, ecografia, TC)
Necessária para diagnosticar condições dermatológicas associadas a certas doenças
sistémicas e tumores de pele (Carlotti e Pin, 1999). Alopecia dorsal de origem paraneoplásica é
geralmente apresentada com tumor pancreático (Rodríguez, 2003). Ressonância magnética
(MRI) pode ser útil em casos de doença crónica no ouvido ou no prurido associado a doenças
neurológicas (Paterson, 2008).
8) Tratamento
Para maximizar o tratamento de um gato prurítico é importante focá-lo na causa
subjacente. É necessário uma anamnese e história completas, juntamente com um exame físico e
procedimentos diagnósticos. Quando se conhece a causa subjacente pode-se instituir um
tratamento específico. Durante o trabalho diagnóstico alguns gatos requerem um tratamento
sintomático a curto prazo para melhorar a sua qualidade de vida, assim como a dos seus
proprietários. A maioria dos gatos precisará de uma combinação de terapia específica e
sintomática para controlar a condição e proporcionar-lhes uma vida mais confortável, já que
muitas das doenças pruríticas subjacentes no gato não têm cura. A medicação pode ser um
problema em alguns gatos e deve-se aconselhar os proprietários sobre técnicas e truques úteis
para o tratamento por via oral. Em alguns casos mais problemáticos a administração deve
limitar-se a uma vez por dia. Pode-se utilizar óleo de atum, manteiga e gelatina para esconder a
medicação sempre que não haja uma dieta de eliminação (Gilbert, 2009).
a. Tratamento sintomático
A eleição do tratamento sintomático varia, dependendo se será administrado a curto ou a
longo prazo. A terapia a curto prazo concomitante pode ser necessária durante o tempo que
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durarem os procedimentos de diagnóstico ou durante a fase de indução da imunoterapia se o gato
está muito deprimido e prurítico. É importante recordar que a terapia sintomática pode interferir
nos procedimentos de diagnóstico e atrasar os testes intradérmicos. Quando se requer um
tratamento a longo prazo tem de se tentar primeiro a terapia não esteroíde, já que pode ser bem
sucedida e ter menos efeitos adversos que os corticosteroides. A terapia não esteróide é também
recomendada em gatos em que os corticoides são contraindicados. Porém, algumas doenças
pruríticas ou deterrminados padrões de reação não respondem ao tratamento não esteróide e a
muito gatos administram-se corticoides a longo prazo (Gilbert, 2009).
i. Corticoesteroides
São os fármacos mais eficazes no maneio do prurido em gatos. Constituem uma boa
opção para o tratamento a curto prazo, melhor que a terapia antiprurítica com agentes não
esteróides, já que proporcionam um alívio rápido e eficaz. Apesar de todos os esforços
diagnósticos e de tratamento, alguns gatos respondem apenas à terapia com corticoides. Porém, a
sua utilização implica um diagnóstico diferencial compatível e não devem ser administrados a
gatos com suspeita de doenças infeciosas, como a dermatofitose, infeção viral imunossupressora,
toxoplasmose latente ou outras doenças bacterianas ou víricas. Também podem estar
contraindicados, em particular, os compostos de longa duração, em algumas doenças sistémicas
ou orgânicas, como diabetes mellitus, pancreatite, falha renal, cardiomiopatia e algumas doenças
hepáticas (Gilbert, 2009).
Os corticoides podem ser administrados pelas vias oral, injetável e tópica. Não é comum
confiar na terapia tópica, porque os gatos são peritos em retirar os produtos da pele lambendo-os
(Foster, 2004). Os corticoides de ação rápida são mais indicados que os injectáveis de longa
duração (de depósito), porque podem suspender-se a qualquer momento, o que permite avaliar a
eficácia do tratamento de teste ou a limitação do desenvolvimento de efeitos adversos. Porém, os
corticoides de longa duração podem ser administrados em gatos que não conseguem engolir
comprimidos, em gatos agressivos ou de vida livre (Gilbert, 2009).
Na espécie felina está indicada a prednisolona em vez da prednisona, já que esta última se
converte em prednisolona ativa no fígado e os gatos podem ter deficiências nesta capacidade
(Graham-Mize e Rosser, 2004). Os gatos são relativamente resistentes aos corticosteroides, em
comparação com os cães, devido à taxa de metabolismo, à diferença no grau de absorção por via
oral e à diferença no número e afinidade dos recetores dos corticoides na pele e no fígado (van
den Broek e Stafford, 1992). Contudo, pode haver efeitos secundários, especialmente na
41
terapêutica a longo prazo. A possibilidade de desenvolvimento de diabetes mellitus é uma
preocupação. Também pode ocorrer taquifilaxia e hiperadrenocorticismo iatrogénico, embora
este último seja raro. Quando os corticosteroides orais são usados a longo prazo, devem ser
administradas doses correctas de acordo com a resposta observada. A dose inicial é geralmente
maior que nos cães e é administrada diariamente até à remissão (em geral, de 1 semana a 10
dias). A dosagem é gradualmente reduzida para a mais baixa, em dias alternados, de modo a
controlar os sintomas.
Ao iniciar a corticoterapia, costuma-se começar com prednisolona, na dose de 1 mg/kg,
uma vez por dia, que é geralmente bem sucedida no controlo do prurido em gatos atópicos. As
lesões do complexo eosinofílico, tais como granuloma e úlcera indolente podem ser mais difíceis
de controlar e, muitas vezes necessitam de doses mais elevadas ou corticosteroides mais potentes
(Gilbert, 2009). Os injectáveis, tais como o acetato de metilprednisolona (5mg/kg ou
20mg/gato), podem ser administrados, à maioria dos gatos, a cada 2-3 semanas em três injeções
subcutâneas. Isso geralmente deixa a condição do animal sob controlo e, em seguida, as doses de
manutenção podem ser administradas a cada 6-12 semanas. Ocasionalmente, é utilizada
dexametasona por via oral, no entanto, tendo em conta a ação prolongada deste glucocorticoide,
é prudente reduzir a dose de indução de 0,1-0,2 mg/kg por dia, para uma dose de manutenção de
0,05-0,1 mg/kg a cada 72h (Foster, 2004). Se o resultado esperado não for obtido ou se o gato
está a mostrar efeitos indesejáveis (por exemplo, polifagia, poliúria/polidipsia) com um tipo de
corticosteroides, pode-se experiementar outro.
Os anti-histamínicos e os AGE podem potencializar os efeitos dos corticosteroides,
facilitando a redução da dose dos mesmos. Alguns gatos podem exigir o uso de corticosteroides
orais somente quando têm uma crise prurítica (Gilbert, 2009).
ii. Anti-histamínicos
São mais efectivos quando a pele está minimamente inflamada e, portanto, a eficácia
aumenta após serem tratados os fatores de complicação, as causas subjacentes e controlada a
inflamação com uma pequena terapia com corticoesteróides. Acredita-se que os anti-
histamínicos trabalham melhor se administrados antes da libertação de histamina e, por tanto,
devem administrar-se sem interrupção em gatos com prurido crónico (Gilbert, 2009). A primeira
geração de anti-histamínicos está associada com o bloqueio de recetores de histamina,
colinérgicos, muscarínicos, de serotonina e α-adrenérgicos. Os principais efeitos colaterais
incluem sedação, embora possa haver uma hiperexcitabilidade paradoxal e mudanças no apetite.
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Os efeitos anti-muscarínicos podem ser responsáveis por perturbações no intestino e diarreia.
Uma grande variedade de anti-histamínicos foi usada no gato, apesar de não existirem estudos
controlados com placebo deste tipo de fármacos e as doses recomendadas serem um pouco
empíricas e com base em ensaios abertos (Foster, 2004). Os anti-histamínicos que são usados em
gatos estão listados na tabela 3.
Tabela 3 - Anti-histamínicos mais usados em gatos atópicos
Fármaco Efeito Dose comum Efeitos secundários comuns
Cetirizina HCl 5mg/gato, PO, SID Não reportados
Maleato de clorfeniramina Central 2-4mg/kg, PO, BID Sonolência, salivação devido
ao sabor dos comprimidos
Fumarato de clemastina Central; Sinérgico
com AGE
0,68mg/gato, PO, BID Diarreia, letargia
Difenidramina HCl 0,5mg/kg, PO, BID Hiperexcitabilidade
Hidroxizina HCl Estabiliza as
membranas dos
mastócitos; Central
5-10mg/gato, PO, BID Depressão, mudanças
comportamento,
hiperexcitabilidade
Ciproheptadina Antagonista da
serotonina
2mg/gato, PO, BID Polifagia, mudanças
comportamento
PO: per os; SID: a cada 24h; BID: a cada 12h.
Adaptado de Foster (2004) e Moriello (2012)
A clorfeniramina demonstra ser muito efectiva em gatos atópicos, com uma melhoria de
73% dos casos (Miller e Scott, 1990). A clorfeniramina é muito recomendada em gatos porque é
mais eficaz e normalmente bem tolerada (Gilbert, 2009). A clemastina pode usar-se
alternativamente e demonstra bons resultados em 50% dos casos (Miller e Scott, 1994). Outros
anti-histamínicos que se utilizaram em gatos com resultados variáveis são a difenidramina, a
ciproheptadina, a hidroxizina e a oxatomida. Pode ser realizado um teste com vários anti-
histamínicos, já que a resposta aos mesmos é notoriamente individualizada e imprevisível. Cada
anti-histamínico é administrado durante 2 semanas para avaliar o seu efeito e obter, assim, o de
maior eficácia. Pode haver um efeito sinérgico entre os anti-histamínicos e os AGE e podem
potenciar os efeitos dos corticosteroides. Os anti-histamínicos devem ser usados com precaução
quando existe doença hepática, glaucoma, retenção urinária, atonia gastrointestinal, epilepsia e
gestação (Gilbert, 2009).
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iii. Ácidos gordos essenciais
Os ácidos gordos essenciais (AGE) são ácidos gordos poli-insaturados que são
importantes fatores dietéticos, porque não podem ser sintetizados de novo. São constituintes de
todas as membranas celulares, influenciando a sua função biológica e estão envolvidos na
formação de eicosanóides, tais como prostaglandinas, leucotrienos, tromboxanos e ácidos
hidroxieicosatetraenóicos. Existem duas séries de AGE: os ω-6, derivados do ácido cis-linoleico
e os ω-3 derivados do ácido alfa-linolénico e do ácido eicosapentaenóico. Pensa-se que os ω-6 e
ω-3 têm efeitos anti-inflamatórios através da inibição das enzimas oxigenase por competição
direta e por um aumento de eicosanóides anti-inflamatórios, tais como prostaglandina E1 e
leucotrieno B5. As vias ω-3 e ω-6 não são intermutáveis, mas usam as mesmas enzimas,
contribuindo assim para bloquear a formação do ácido araquidónico e dos seus metabolitos pró-
inflamatórios (Foster, 2004).
Foi demonstrada a eficácia de suplementos de AGE em alguns gatos pruríticos (Gilbert,
2009). Estes tendem a ser gatos com prurido muito leve e sazonal (Moriello, 2012). Relatos de
Miller, Scott, e Wellington em 1993 e Harvey em 1993, mostram que as formulações que contêm
ω-3/ω-6 tem sido úteis, com uma resposta positiva em 40-75% dos gatos com doença
inflamatória de pele. Porém, não é possível reduzir o nível de prurido dos gatos com a
administração de AGE como tratamento único. Ainda se desconhece o tipo de ácidos gordos, a
proporção de ω-6/ω-3 (de 5:1 a 10:1) e a dose de cada ácido necessária para produzir efeito, já
que os estudos não tiveram em conta o conteúdo de AGE na dieta. Existem muitas formulações
compostas de ω-3 ou uma combinação de ω-6 e ω-3 em diferentes proporções. Podem-se
adquirir formulações líquidas, cápsulas ou comprimidos mastigáveis. Os AGE não se usam
durante a dieta de eliminação e não se deve administrar óleo de peixe a gatos alérgicos ao peixe.
Há que administrar AGE durante pelo menos 6 semanas para avaliar a sua eficácia e, se aparecer
alguma melhoria detectável, devem-se administrar ad eternum.
É recomendada a administração de AGE em combinação com os anti-histamínicos pelos
seus efeitos sinérgicos e como suplemento de uma terapia a longo prazo com corticoesteróides
pelo seu efeito de diminuição dos mesmos. Ainda que não sejam efectivos em reduzir o prurido,
os AGE melhoram a qualidade da pele e pelo consideravelmente. Geralmente não apresentam
efeitos adversos, que incluam vómitos, diarreia e aumento de peso (Gilbert, 2009). Em vários
ensaios abertos gatos com dermatite papulocrustosa e com suspeita de DAPP ou atopia foram
tratados com várias combinações de óleo de prímula e óleo de peixe e obteve-se uma resposta
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favorável. Outro estudo aberto sugeriu que os gatos que apresentam CGE também respondem à
suplementação com AGE (Foster, 2004).
iv. Fármacos modificadores do comportamento
São mais recomendados em gatos com distúrbios de comportamento, mas também podem
ser úteis em gatos em que a apresentação clínica primária é a lambedura excessiva. A sua
eficácia é o resultado do efeito específico sobre a ansiedade e comportamento estereotipado e das
propriedades anti-histamínicas que alguns destes agentes possuem.
A clomipramina (2-5 mg/gato, cada 24h PO) e a amitriptilina (5 mg/gato, cada 12h a cada
24h, PO) são antidepressivos tricíclicos. Os antidepressivos tricíclicos exercem efeitos clínicos
primários através da inibição da recaptação pré-sináptica de serotonina e noradrenalina. Além
disso, têm a capacidade de bloquear os recetores H1 e H2. Os efeitos adversos incluem sedação,
aumento do apetite, ganho de peso e os efeitos anticolinérgicos, tais como boca seca, retenção
urinária e redução da produção de lágrima. Podem ser contra-indicados em gatos com
insuficiência cardíaca ou doença hepática, em histórias de retenção urinária e em animais
epilépticos. A fluoxetina (1-5 mg/gato, cada 24h, PO) é um inibidor seletivo da recaptação de
serotonina (ISRS). Devido à sua especificidade, os ISRS não afetam a histamina ou acetilcolina,
no entanto, ainda podem causar anorexia, irritabilidade, nervosismo, ansiedade, distúrbios do
sono e mudanças nos padrões de eliminação.
Os fármacos modificadores de comportamento devem ser administrados durante um
período mínimo de 4 semanas antes da avaliação da resposta clínica. Não devem ser
interrompidos abruptamente, mas devem ser lentamente reduzidos ao longo de um período de 3
semanas (clomipramina e amitriptilina) a 6 semanas (fluoxetina). Os antidepressivos tricíclicos e
os ISRS não devem ser utilizados em conjunto ou simultaneamente com os inibidores da
monoamina oxidase (IMAO) (isto é, o amitraz, selegilina), porque os IMAO aumentam a sua
toxicidade e podem levar à síndrome de serotonina. A síndrome de serotonina é caracterizada por
um estado hiperserotonérgico resultante das elevações de serotonina no sistema nervoso central,
que podem atingir níveis potencialmente fatais. Os sinais clínicos podem incluir agitação,
sonolência, mioclonias, hiperreflexia, tremor, hipertermia, diarreia, coma e morte (Gilbert,
2009).
45
v. Ciclosporina
A ciclosporina é um inibidor da calcineurina com grande atividade imunomoduladora
(Gilbert, 2009). O modo de ação envolve a inibição da ativação e proliferação de células T, a
síntese de várias citocinas, em particular a IL-2 e a formação de linfócitos citotóxicos (Foster,
2004). Devido aos efeitos secundários, que são relatados com corticosteroides, não serem
observados com a ciclosporina, este fármaco representa uma boa opção em gatos atópicos, nos
quais os corticosteroides são contra-indicados, quando a dose de corticosteroides não pode ser
reduzida para uma dose aceitável e quando a terapia não-esteróide falhou (Wisselink e Willemse,
2009). As doenças infeciosas, se existirem, devem ser resolvidas antes de se iniciar terapia com
ciclosporina. Teoricamente, a ciclosporina pode ser usada antes do IDT e no início da
imunoterapia uma vez que, ao contrário dos corticosteroides, acredita-se que não interaja com os
resultados do teste e da terapia. No entanto, esta noção tem sido contestada por um estudo
recente de Brazis et al. em 2006, que mostrou uma inibição significativa da libertação de
histamina cutânea e da formação de pápula a seguir ao teste intradérmico em cães sensibilizados
a Ascaris suum tratados com ciclosporina. Com base nesses resultados, a administração de
ciclosporina não pode ser recomendada antes do IDT em gatos pois, nesta espécie, as reações a
esse teste são muitas vezes fracas e subtis.
Em gatos, a ciclosporina tem sido utilizada com resultados animadores no tratamento de
lesões do CGE, prurido na cabeça e pescoço, alopecia simétrica auto-induzida, estomatite
plasmocítica e urticária pigmentosa. A dosagem recomendada varia de 5 a 8 mg/kg, SID, per os.
As lesões do complexo granuloma eosinofílico podem requerer doses mais elevadas (até 12,5
mg/kg, SID). Pode ser possível iniciar o regime de dias alternados após 4 a 6 semanas se houver
melhoria suficiente dos sinais clínicos (Gilbert, 2009). A ciclosporina pode ser utilizada em gatos
com doença sazonal (> 1 mês) ou durante todo o ano como principal tratamento para o prurido
ou em conjunto com outros tratamentos (Moriello, 2012). As lesões podem permanecer em
remissão ou sob controlo com administrações duas vezes por semana, em alguns gatos. Os
corticosteroides podem ser administrados em conjunto com ciclosporina para proporcionar um
controlo mais rápido/melhor da lesão, mas depois devem ser descontinuados (Gilbert, 2009).
Existem duas formulações: a normal e a modificada. A formulação modificada
(Ciclosporina A) possui uma melhor a absorção intestinal, biodisponibilidade e é a única
formulação recomendada para gatos (por exemplo, Atopica®, Novartis) (Moriello, 2012). A
possibilidade de uma alimentação que afete a biodisponibilidade da ciclosporina não foi estudada
46
no gato e, por isso, não se sabe se o medicamento deve ser administrado sobre um estômago
vazio ou em conjunto com o alimento.
Os efeitos colaterais mais comuns relatados em gatos incluem anorexia, vómitos e
diarreia, que geralmente desaparecem espontaneamente ou após a interrupção da medicação por
alguns dias. Quando o vómito é persistente a administração de metoclopramida (2,5 mg/gato,
PO, 30 minutos antes da administração da ciclosporina, duas a três vezes ao dia) pode ajudar. Os
efeitos adversos menos comuns são a hiperplasia gengival, a hipertricose e modificação de
comportamento. Embora a ciclosporina pareça ser um medicamento seguro, só recentemente é
utilizada como terapia de longo prazo. Portanto, como a segurança a longo prazo ainda é
desconhecida, a ciclosporina deve ser usada com cautela.
É prudente verificar a serologia para FIV, FeLV e para a toxoplasmose antes de iniciar a
terapia (Gilbert, 2009). Os gatos que recebem a terapia de ciclosporina a longo prazo devem ser
rastreados para Toxoplasma spp., porque este fármaco pode predispor os gatos à toxoplasmose
sistémica fatal (Last et al., 2004). É também recomendado o acompanhamento do gato através da
realização semestral de hemograma, bioquímica e análise de urina. Os resultados em seres
humanos que desenvolveram linfoma cutâneo durante o tratamento com ciclosporina, levantou
alguma preocupação quanto à sua aplicação em animais. Até agora só existem casos esporádicos
em cães com desenvolvimento de neoplasia, o que ainda não foi avaliado em gatos (Gilbert,
2009).
As condições dermatológicas, para as quais está indicado o uso da ciclosporina como
alternativa de tratamento, incluem: dermatite atópica, reação adversa/alergia alimentar,
complexo pênfigus, complexo granuloma eosinofílico, dermatite facial idiopática, dermatite
granulomatosa estéril, pododermatite e estomatite plasmocítica, reação a fármacos e urticária
pigmentosa (Griffin, 2009).
vi. Terapia tópica (pomadas, champôs)
Dar banho a um gato pode ser um verdadeiro desafio e a terapia antiprurítica tópica com
um creme ou um gel tem pouca eficácia, pois as lambeduras e os hábios de higiene diária dos
gatos levam à remoção do fármaco da pele. Porém, algumas loções antipruríticas e sprays que
contêm hidrocortisona, triamcinolona, lidocaína, difenidramina ou pramoxina podem ser úteis
como terapia adjuvante ou em casos de prurido localizado. Os corticoides tópicos potentes, como
a triamcinolona, devem ser usados com cuidado em gatos devido à sua pele fina e ao risco de
induzir fragilidade na mesma. Uma pomada de tacrolimus foi usada num gato atópico com
47
placas eosinofílicas e prurido focal. O tacrolimus é um macrólido imunossupressor que pertence
à mesma família que a ciclosporina mas é apenas usado como agente tópico. Aplica-se uma fina
camada da pomada, uma ou duas vezes ao dia, até que a lesão melhore significativamente. O
gato deveria usar um colar isabelino para impedir a remoção do fármaco por lambedura e a sua
consequente ingestão e absorção sitémica. As infeções secundárias devem ser tratadas antes de
começar a terapia com o tacrolimus. Em medicina humana foram publicados casos raros de
malignidade em tratamentos com a pomada de tacrolimus. Portanto, mesmo que não haja uma
relação casual com estes doentes, os proprietários devem usar sempre luvas aquando da
aplicação da pomada no animal. Não foram relatados casos de malignidade, nem em gatos, nem
em cães, porém há que haver percaução (Gilbert, 2009).
vii. Colar isabelino, lenços de pescoço e capas para as unhas (soft paws)
O colar isabelino pode ser utilizado para limitar o auto-traumatismo durante o início do
tratamento sintomático. O colar também pode reduzir a remoção do tratamento tópico por
lambedura e, portanto, diminuir qualquer absorção sistémica do fármaco ou da sua eficácia. São
preferíveis os colares de plástico transparente ou do tipo espuma. Os lenços podem prevenir a
automutilação na área do pescoço, nos casos de prurido nesse local ou na dermatose ulcerativa
idiopática. As proteções para as unhas, como as Soft Paws® (SmartPractice), que se colam sobre
as unhas são comercializadas como uma alternativa à eliminação das unhas, mas também podem
ser úteis para prevenir o trauma auto-induzido (Gilbert, 2009).
viii. Acupuntura
Os comportamentos compulsivos em gatos que afetam a pele, como o morder ou lamber
compulsivo de áreas específicas, têm sido sensíveis à acupuntura, nalguns relatos, mas ainda não
existem estudos formais fundamentados. O prurido pode ter várias causas e é importante fazer
um diagnóstico antes de tentar a acupuntura para suprimir esta queixa (Lindley e Cummings,
2006).
A acupuntura atua em ambas as fibras nervosas periféricas e centrais e transmissores
nervosos que conduzem a dor e o prurido. Funciona no controlo do prurido neuropático, mas não
em casos mediados por histamina. A libertação de numerosos mediadores vasoactivos foi
encontrada em vários tecidos de seres humanos e de animais tratados com a acupunctura. Alguns
desses mediadores são responsáveis pela sensação de prurido (Miller, Griffin e Campbell, 2013).
A acupunctura também parece ter um efeito sobre o sistema imunitário, provavelmente através
48
de endorfinas. Estes efeitos não são dramáticos e não vão resgatar um sistema imunológico
gravemente comprometido ou anormal, mas pode normalizar a resposta num animal sensível. A
acupuntura pode também ser benéfica na cicatrização das feridas, utilizando-a em conjunto com
os antibióticos, mas nunca substituindo-os. A acupuntura pode ser então usada como uma terapia
adjuvante, parte de um tratamento planeado (Lindley e Cummings, 2006).
b. Tratamento específico
i. Controlo de pulgas
Devido à elevada frequência de DAPP, todos os gatos pruríticos que vivam numa área
endémica devem ser alvo de um estrito controlo de pulgas. Além disso, tal como acontece nos
cães, os gatos com dermatite atópica podem estar predispostos a desenvolver DAPP ou as
picadas podem exacerbar a dermatite atópica (Gilbert, 2009). A tabela 4 lista os antiparasitários
mais usados em gatos e a sua aplicação.
ii. Tratamento de infeções secundárias (pioderma e dermatite por
Malassezia)
Quando a presença de pioderma e/ou dermatite por Malassezia é evidente a partir do
exame citológico, estas devem ser tratadas, porque a infeção pode contribuir significativamente
para o prurido e em casos raros, pode ser a única causa do prurido. A terapia com antibióticos e
antifúngicos pode ser administrada como terapia única durante 3 a 4 semanas para avaliar a sua
eficácia.
Quando existe pioderma a cultura e a sensibilidade antibiótica é recomendada. No
entanto, porque o exame citológico frequentemente revela a presença de cocos, a terapia
antibiótica empírica é geralmente experimentada em primeiro lugar (Gilbert, 2009). A tabela 5
mostra os antibióticos mais usados em doenças de pele. Os vómitos e diarreia são efeitos
colaterais comuns da maioria desses medicamentos (Gilbert, 2009).
A dermatite por Malassezia pode ser tratada com os princípios ativos listados na tabela 6.
A terapia contínua intermitente pode ser necessária para controlar as infeções recorrentes
(Gilbert, 2009).
49
Tabela 4 - Antiparasitários mais comuns no controlo de pulgas em gatos
Fármaco Classe Mecanismo de ação Aplicação Parasitas alvo Idade de uso
Imidacloprid
(principalmente adulticida,
tem atividade larvicida)
Neonicotinóide Atua como agonista
nos recetores de
acetilcolina nicotínicos
polisinápticos;
resulta na paralisia e
morte das pulgas
adultas.
Spot-on que se espalha
sobre a pele através de
translocação e não é
absorvido
sistemicamente, deve
ser aplicado na pele,
não na pelagem.
Pulgas >8 semanas
Imidacloprid+Moxitectina Neonicotinóide
e Avermectina
Causa paralisia Spot-on Pulgas, prevenção
dirofilaria, ácaros,
ténias e
lombrigas.
> 9 semanas
Fipronil
Fipronil+ Metopreno-(S)
(Adulticida)
Felinpirazole Liga-se aos recetores
GABA, causando
estimulação neuronal
excessiva, paralisia e
morte das pulgas
adultas.
Spray ou spot-on;
Espalha-se sobre a
pele por translocação,
através dos lípidos da
superfície da pele e é
armazenada nas
glândulas sebáceas,
onde é constantemente
secretado para o pelo e
para a pele; Não é
absorvido
sistemicamente; Deve
ser aplicado na pele.
Pulgas e carraças >8 semanas;
Seguro em gatos
reprodutores,
gestantes e
lactantes
Selamectina
(Adulticida com atividade
ovicida e larvicida)
Avermectina
semissintética
Liga-se aos recetores
de glutamato (e
possivelmente aos
GABA), levando à
paralisia flácida e
morte.
Spot-on; Absorvida
através da pele para o
sangue e, em seguida,
é redistribuída para as
glândulas sebáceas.
Pulgas, prevenção
dirofilaria,
controlo
infestação ácaros,
controlo tênias e
lombrigas.
>6 semanas;
Seguro em gatos
reprodutores,
gestantes e
lactantes
Nitenpiram
(Adulticida)
Neonicotinóide
sistémicamente
ativo
Atua como agonista
nos recetores de
acetilcolina nicotínicos
polisinápticos;
resulta na paralisia e
morte das pulgas
adultas.
Oral Pulgas adultas >4 semanas, com
pelo menos 1kg
peso; Seguro em
gatos
reprodutores,
gestantes,
lactantes; Pode
ser usado com
imidacloprid,
fipronil, piretrinas
e lufenuron.
Lufenuron
(Ovicida)
Benzofeniluréia
(Inibidor do
desenvolviment
o de insetos)
Bloqueia a síntese de
quitina, evitando assim
que o inseto consiga
eclodir do ovo.
Oral ou injetável Pulgas >6 semanas;
se oral,
administrar com o
alimento.
Adaptado de Ihrke (2006), Cadiergues (2009) e Moriello (2012)
50
Tabela 5 - Antibióticos usados no tratamento de doenças de pele em gatos
Fármaco Dose Via
Amoxicilina-Ác. Clavulânico 12,5-25mg/kg, BID PO, IM, SC
Cefalexina 15-30mg/kg, BID PO
Cefadroxil 20mg/kg, BID PO
Cefpodoxima 5-10mg/kg, SID PO
Clindamicina 5,5mg/kg, BID PO
Doxiciclina 5-10mg/kg, BID PO
Enrofloxacina 5mg/kg, SID PO, SC
Marbofloxacina 2-5mg/kg, SID PO
Lincomicina 20mg/kg, BID PO
Trimetoprin-sulfadiazina 15-30mg/kg, BID PO
PO: per os; SC: subcutâneo; IM: intramuscular; SID: a cada 24h; BID: a cada 12h.
Adaptado de Moriello (2012)
Tabela 6 - Antifúngicos usados no tratamento de doenças de pele em gatos
Fármaco Dose Via
Itraconazole 5-10mg/kg, SID PO
Terbinafina 40mg/kg, SID PO
Fluconazole 10mg/kg, SID PO
PO: per os; SID: a cada 24h.
Adaptado de Moriello (2012)
iii. Imunoterapia específica para alergénios (ASIT)
A imunoterapia específica para alergénios (ASIT) é considerada um tratamento seguro e
eficaz para a atopia felina. É definida como a prática de administrar gradualmente quantidades
crescentes de um extrato de um alergénio num animal alérgico. A finalidade é reduzir ou
eliminar os sintomas associados à subsequente exposição ao alergénio (Trimmer, Griffin e
Rosenkrantz, 2006). Está indicada em gatos que não respondem ao tratamento médico
convencional (Moriello, 2012). As taxas de sucesso relatadas variam entre 60 e 78% em felinos
atópicos. Além disso, a incidência de efeitos colaterais em gatos submetidos a ASIT é muito
baixa (Trimmer, Griffin e Rosenkrantz, 2006). Pode representar o método de controlo mais
adequado a longo prazo para um gato com dermatite atópica não sazonal. O sucesso da ASIT
depende da precisão do diagnóstico, a formulação da vacina (seleção dos alergénios) e a
constatação de que cada programa deve ser adaptado às necessidades específicas do animal, em
relação à frequência das injeções e do número de alergénios utilizado (Gilbert, 2009).
51
Existem dois protocolos para a administração de imunoterapia em gatos, a terapia
tradicional (ASIT) e a rápida (RIT) (Trimmer e Newton, 2010). A RIT é o processo no qual se
avança para uma dose de manutenção de um extrato, durante um período de tempo mais curto do
que o exigido para o período de indução tradicional. É, tipicamente, um período de 8 horas, em
oposição aos 25 dias em que, geralmente, se compreende a indução (Trimmer, Griffin e
Rosenkrantz, 2006). Na fase de manutenção o alergénio é administrado em intervalos regulares
(por exemplo, cada 7 a 10 dias). Os intervalos entre as injeções podem ser diminuídos ou
aumentados conforme a resposta obtida e a dose pode ser reduzida para diminuir a gravidade dos
potenciais efeitos colaterais, tais como o aumento do prurido. Além disso, pode ser útil pré-
medicar o gato com um anti-histamínico antes de dar a injeção (Gilbert, 2009).
Para alguns gatos pode ser a única terapia, ao passo que para outros pode ser necessário o
uso intermitente de algum tipo de terapia adjuvante antiprurítica (Moriello, 2012) para manter
uma boa qualidade de vida durante os meses iniciais da ASIT. As medicações podem incluir
anti-histamínicos, corticosteroides ou ciclosporina. Dá-se preferência aos corticoides orais nestes
casos, pois são muito mais fáceis de ajustar e têm menor efeito residual. Também é importante
salientar a necessidade do tratamento de infeções bacterianas secundárias. A administração de
antibióticos adequados podem muitas vezes proporcionar o alívio inicial necessário para o gato
ficar mais confortável, sem a adição de outro tratamento. Ajustar a ASIT e personaliza-la para
cada animal, muitas vezes, faz com que a terapia seja bem sucedida. Alguns gatos podem
apresentar melhorias dentro de um mês, mas outros podem demorar dez ou mais meses.
(Trimmer, Griffin e Rosenkrantz, 2006). Se a melhora não é evidente após 1 ano, a ASIT é
considerada um fracasso e deve ser interrompida. Caso contrário, devem ser administradas
injeções ad eternum (Gilbert, 2009).
52
II. Objetivos
Os problemas dermatológicos são bastante frequentes na prática clínica. Tal como nos
cães, o prurido é o sinal dermatológico mais comum nos gatos. Por esta razão é importante
entender a complexidade do mesmo. Hoje em dia o gato não é apenas um cão pequeno, pois
possui características fisiológicas e comportamentos diferentes tornando a Medicina Felina
distinta da dos restantes mamíferos. Este trabalho tem como objetivo fornecer bases para a
compreensão do prurido felino, para a obtenção de diagnósticos e tratamentos corretos e
eficientes.
53
III. Casos clínicos
Os casos clínicos apresentados neste trabalho foram observados durante o estágio
curricular realizado no Hospital Veterinário da Maia, de 30 de Julho de 2012 a 30 de Outubro de
2012. Durante este período, foram observadas condições dermatológicas pruríticas como a
dermatite alérgica à picada da pulga e a dermatite atópica, que serão relatadas nos dois casos
clínicos seguintes. A partir dos mesmos pretendeu-se demonstrar que o prurido deve ser tratado
como um sinal clínico e não como uma doença por si só, estando sempre associado a uma causa
subjacente.
1) Caso clínico nº1: Dermatite alérgica à picada da pulga
a. Identificação do animal
A Amber é um felino, da raça europeu comum, fêmea, inteira, com 2 anos de idade e
3,5kg de peso.
b. História clínica
O animal foi apresentado á consulta no dia 17 de Outubro. A proprietária queixava-se de
lambedura excessiva e presença de detritos de cor preta no pelo, sintomas que já havia
apresentado anteriormente.
Alimentava-se bem, bebia normalmente e não apresentava irregularidaddes relacionadas
com a defecação e micção. A alimentação consistia em alimento seco. Era uma gata de interior e
não convivia com mais animais. Não foi esterilizada, mas também não era medicada com
contracetivos. A vacinação tinha sido realizada o ano passado e as desparasitações interna e
externa tinham sido realizadas há dois meses, com milbemicina oxima + praziquantel e fipronil,
respetivamente.
c. Exame físico
O exame de estado geral apresentava-se sem alterações. Quanto ao exame dermatológico
observaram-se lesões papulocrustosas (dermatite miliar) nas zonas do pescoço, lombar e
lombossacral (figura 16) e presença de detritos debaixo do pelo.
54
Figura 16 - Lesões de dermatite miliar na zona do pescoço
(Original do autor)
d. Diagnósticos diferenciais
Com base em todas as informações recolhidas, foram considerados como diagnósticos
diferenciais: DAPP, pediculose, queiletielose, sarna (Notoedres, Otodectes, Demodex,
Sarcoptes), dermatite atópica, alergia alimentar, dermatofitose, infeção bacteriana, infeção
fúngica e alopecia psicogénica.
e. Exames complementares
Os exames complementares realizados foram a escovagem com pente fino e o teste do
papel molhado, cujo resultado comprovou que os detritos debaixo do pelo eram, na verdade,
fezes de pulga, pois observaram-se manchas castanhas avermelhadas no papel húmido.
f. Diagnóstico
Perante o resultado dos exames complementares, foi feito um diagnostico presuntivo de
dermatite alérgica à picada da pulga.
Caso não houvesse resposta ao controlo de pulgas, realizar-se-iam outros testes como
tricograma, raspagem e citologia.
g. Tratamento
O tratamento instituído foi o seguinte:
Desparasitação externa:
o Selamectina, spot-on, 1 vez por mês.
o Nitenpiram, per os, SID, durante 3 dias.
55
h. Monitorização
Por contacto telefónico, 8 dias depois, a proprietária referiu que a Amber estava melhor,
sem sinais de prurido. Foi aconselhada a desparasitação externa mensal, com aplicação de spot-
on, para prevenir episódios semelhantes no futuro. E assim concluiu-se a existência de uma
DAPP.
2) Caso clínico nº2: Dermatite atópica
a. Identificação do animal
A Rita é um felino, da raça europeu comum, fêmea, esterilizada, com 5 anos de idade e
4,5kg de peso.
b. História clínica
O animal apresentou-se à consulta no dia 14 de Agosto. Os proprietários queixavam-se
que apresentava sinais de prurido generalizado.
Há cerca de um ano, a Rita teria apresentado um episódio semelhante. Há 7 meses atrás
foi à consulta, noutra clínica, com sinais de prurido na cabeça, sobretudo debaixo do queixo,
alopecia no abdómen ventral, zona medial dos membros posteriores e orelhas. Foi-lhe receitada
prednisolona na dose de 1mg/kg (1cp, BID, 8 dias + 1/2cp, SID, 6 dias + 1/4cp, SID, 6 dias) e
lavagem do focinho com peróxido de benzoílo. Melhorou, o prurido diminuiu e o pelo das
orelhas voltou a crescer. Teve também um episódio de tosse e prostração, razão pela qual veio à
primeira consulta neste hospital e do qual melhorou após tratamento com antibiótico e anti-
inflamatório. Nessa altura, apresentava sinais de prurido na zona dos ouvidos.
Os prorietários relataram que no Inverno apresentaria os mesmos sintomas, mas não com
tanta intensidade. Era-lhe oferecido alimento seco Purina One Sterilcat®. Não convivia com
mais nenhum animal. A última desparasitação externa teria sido há cerca de 1 ano.
c. Exame físico
Ao exame de estado geral apresentava-se normal. Quanto ao exame dermatológico,
observavam-se lesões crostosas em cada orelha (figura 17) e hipotricose associada a eritema no
membro anterior direito (figura 18). Na região lombar e cauda observava-se também hipotricose.
No abdómen ventral e zona medial dos membros posteriores apresentava alopecia, eritema e
hipotricose (figura 19).
56
Figura 17 - Lesões crostosas nas orelhas
(Original do autor)
Figura 18 - Hipotricose associada a eritema no
membro anterior direito
(Original do autor)
Figura 19 – Alopecia, hipotricose e eritema no abdómen ventral e zona medial dos membros posteriores
(Original do autor)
d. Diagnósticos diferenciais
Tendo em conta a identificação do animal, os dados obtidos na história clínica e no
exame clínico, elaboraram-se os seguintes diagnósticos diferenciais: dermatite atópica, alergia
alimentar, DAPP, pediculose, queiletielose, sarna (Notoedres, Otodectes, Demodex, Sarcoptes),
dermatofitose, neoplasia e alopecia psicogénica.
e. Exames complementares
Foram realizados testes de escovagem com pente fino, raspagem de pele profunda e
citologia. Na escovagem com pente fino não se encontraram evidências de pulgas ou piolhos. A
raspagem de pele foi negativa, sem evidências de ácaros e/ou piolhos. A citologia não revelou
qualquer alteração.
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Não foi realizado o teste de dermatófitos, ficando reservado para uma segunda fase, caso
a Rita não respondesse à terapia.
f. Diagnóstico
Com base em todos os dados obtidos até então, foi feito um diagnóstico presuntivo de
dermatite alérgica – DAPP, atopia ou alergia alimentar.
g. Tratamento
Foi instituido o seguinte tratamento:
Metilprednisolona 4mg, na dose de 1mg/kg, per os, no seguinte esquema de desmame:
o 1+1/4cp, BID, durante 5 dias;
o 1+1/4cp, SID, durante 5 dias;
o 3/4cp, SID, durante 5 dias;
Ácidos gordos essenciais, per os, SID, durante 15 dias.
Desparasitação externa:
o Selamectina, spot-on, 1 vez por mês.
o Nitenpiram, per os, uma vez por semana, durante 6 semanas.
h. Monitorização
No telefonema de controlo, dia 17 de agosto, passados 3 dias, os proprietários relataram
que a Rita já tinha menos sinais de prurido.
Na consulta de acompanhamento, dia 11 de setembro, os proprietários notaram que ao
terminar a administração da prednisolona a Rita começou a ter prurido, novamente, mas não com
a mesma intensidade de antes. Ao exame físico já não apresentava lesões nas orelhas nem nos
membros e houve um crescimento evidente do pelo nas orelhas (figura 20), abdómen ventral e
zona medial dos membros posteriores (figura 21). A pele já não se encontrava eritematosa.
Optou-se por continuar o tratamento com:
o Prednisolona, na dose de 1mg/kg, per os, com o respetivo desmame:
o 1cp, BID, durante 3 dias;
o 1/3cp, BID, durante 3 dias;
o 1/2cp, SID, durante 3 dias;
o 1/2cp, a cada 48h, por mais 3 administrações.
o Ciclosporina, na dose de 5mg/kg, per os, SID, durante 3 meses.
58
o Dieta hipoalergénica.
o Desparasitação externa mensal.
Figura 20 - Ausência de lesões e crescimento do
pelo nas orelhas
(Original do autor)
Figura 21 - Ausência de eritema e crescimento de
pelo no abdómen ventral e zona medial dos
membros posteriores
(Original do autor)
No controlo telefónico, ao fim de 3 meses, os proprietários relataram que pararam a dieta
hipoalergénica pois a Rita não aceitava bem a ração, mas continuaram a administrar a
ciclosporina. Clinicamente estaria estável, sem sinais de prurido. Foi prescrita então a
continuação da ciclosporina na mesma dose a cada 48h, por mais 3 meses. Se ao fim desses 3
meses a Rita continuasse bem, a administração da ciclosporina seria reduzida para uma vez a
cada 72h.
59
IV. Discussão
O prurido é o sinal clínico mais frequente na dermatologia felina (Moriello, 2012) e deve
ser abordado sempre como um sinal clínico e nunca como uma doença primária. Nem sempre é
fácil para o proprietário saber se o seu gato está com prurido porque, ao contrário do cão, o gato
tem o hábito de se lamber diáriamente, para manter a sua pelagem saudável. Alguns gatos
quando estão com prurido podem não o demonstrar na presença dos proprietários devido á sua
natureza secretiva (Wolberg e Blanco, 2008). Nestes casos é importante analizar os padrões de
reação cutâneos que o gato apresenta. No entanto, outros podem demonstrar lambedura
excessiva, como aconteceu nos casos clínicos descritos e nos quais era o principal motivo da
consulta.
A abordagem dos casos deve ser sistemática e sequencial (Moriello, 2012), pois existem
várias doenças que podem causar prurido como doenças parasitárias, infeciosas, reações de
hipersensibilidade, doenças imunomediadas, endócrinas, psicogénicas, ambientais, neoplasias,
defeitos de queratinização e doenças mistas (Logas, 2003). É necessário fazer alguns testes
complementares para ir descartando os vários diferenciais.
Foram então escolhidas duas das doenças pruríticas mais frequentes hoje em dia na
prática clínica de dermatologia felina. A dermatite alérgica à picada da pulga, que associa uma
hipersensibilidade a uma causa parasitária. Por ser tão frequente, esta causa de prurido tem de ser
sempre descartada em qualquer caso. E a dermatite atópica, também uma reação de
hipersensibilidade, mas mais complexa e de difícil diagóstico definitivo, devido à imensa
variedade de alergénios ambientais.
Dermatite Alérgica à Picada da Pulga
A dermatite alérgica à picada da pulga (DAPP) ou hipersensibilidade à picada da pulga é
a alergia mais comum em gatos. A patogénese exata não é conhecida, mas pensa-se ser uma
reação de hipersensibilidade imediata (tipo I) ou tardia (tipo IV) a partir da saliva da pulga (Rees,
2011).
Os sinais clínicos podem ser sazonais ou ocorrerem durante todo o ano. A sazonalidade é
mais comum em regiões com Invernos frios, pois a DAPP tende a ocorrer nos meses de clima
quente. Contudo, uma população viável de pulgas, suficientemente grande para perpetuar a
DAPP, pode existir em habitações ao longo dos meses de Inverno (Moriello, 2012). No caso da
Amber estavamos no mês de Outubro, o que comprova que pode ocorrer também no Outono, no
60
qual o clima é mais fresco. Além disso, pequenos mamíferos (reservatórios) que vivem dentro ou
em torno das casas podem ser uma fonte de exposição a pulgas durante todo o ano (Moriello,
2012). A alergia à pulga pode ocorrer em gatos de qualquer idade, sexo ou raça (Scott, Miller e
Griffin, 2001).
Os gatos que não são alérgicos a pulgas podem não apresentar sinais da doença, mesmo
que o pelo esteja fortemente infestado de pulgas. Isto representa um estado de tolerância e não é
comum em gatos domésticos. As infestações por pulgas podem levar a anemia grave, em alguns
casos. A maioria dos gatos com uma infestação de pulgas apresentam prurido. Contudo, a
gravidade do prurido num gato alérgico é desproporcional ao número de pulgas encontradas.
Pode não ser encontrada nenhuma pulga, porque os gatos alérgicos vão morder, caçar e ingerir as
pulgas. Os sinais clínicos da DAPP são altamente variáveis e podem causar qualquer um dos
padrões de reação cutânea conhecidos em gatos. Os padrões clássicos são a alopecia simétrica e
a dermatite miliar sobre a região lombossacral e membros posteriores (Moriello, 2012). A Amber
apresentava dermatite miliar nas regiões típicas do pescoço, lombar e lombossacral. Outros
padrões que podem ocorrer são o complexo granuloma eosinofílico e o prurido facial (Paterson,
2008). Outras localizações das lesões podem ser na cabeça, abdómen ventral e zona medial dos
membros posteriores. Alguns gatos têm uma apresentação pouco comum que consiste em lesões
de úlcera indolente nos lábios associada à DAPP (Rees, 2011).
Os diagnósticos diferenciais dependem dos sinais clínicos observados. Normalmente, os
diferenciais para a dermatite miliar devem ser considerados, como a dermatite atópica, alergia
alimentar, queiletielose e dermatofitose (Scott, Miller e Griffin, 2001). Outros diferenciais a ter
em conta incluem outros ectoparasitas (piolhos e ácaros), infeções fúngicas e bacterianas (Rees,
2011) e alopecia psicogénica (Paterson, 2008).
A obtenção do diagnóstico de DAPP pode ser difícil (Moriello, 2012). É feito pela
associação de sinais clínicos, pela presença quer de pulgas quer de fezes de pulga no corpo do
gato (embora estas sejam, por vezes, difíceis de encontrar, uma vez que o prurido induz
lambedura excessiva) e pelo desaparecimento dos sintomas quando o controlo das pulgas é bem
sucedido (Wolberg e Blanco, 2008). A presença de Dipylidium caninum na região perianal ou
numa amostra fecal também é sugestivo de pulgas, pois podem resultar da ingestão das mesmas
(Scott, Miller e Griffin, 2001; Paterson, 2008). As lesões papulares e pruríticas nos membros
inferiores dos proprietários (Paterson, 2008) e evidência de infestação de pulgas em animais de
convívio, também podem ser úteis no diagnóstico (Foster, 2004). O teste do papel molhado
permite a visualização de sangue do animal nas fezes de pulgas, que produz estrias vermelhas
61
quando a pelagem é escovada para o papel molhado (Paterson, 2008). Uma reação positiva no
teste intradérmico é sugestiva, mas não é diagnóstica. A Amber apresentava detritos debaixo do
pelo e por isso foram realizados a escovagem com pente fino e o teste do papel molhado, nos
quais se comprovou que os detritos eram fezes de pulgas.
A melhor ferramenta de diagnóstico é a resposta ao o controlo de pulgas. Isso pode ser
recebido pelos proprietários com alguma resistência, pois envolve o tratamento de todos os
animais da casa e porque “ter pulgas” ainda carrega um estigma. O que muitos dos prorietários
não percebem é que as pulgas podem invadir a sua casa e infestar os seus gatos, mesmo que os
gatos não saiam para o ar livre. Para complicar ainda mais a situação os gatos vão lamber-se e
ingerir as pulgas, o que torna difícil encontrá-las. Contudo, os clientes estão cada vez mais
conscientes da importância do controlo de pulgas em gatos e a utilização de produtos spot-on
facilitou muito mais essa prática. As pulgas podem causar grande desconforto ao animal e podem
também transmitir doenças zoonóticas, como a bartonelose (febre da arranhadela do gato)
(Moriello, 2012).
A terapia primária deve ser então baseada na eliminação de qualquer possibilidade de
exposição a pulgas (Rees, 2011). O objetivo é manter o gato livre de pulgas, durante 4-6 semanas
e avaliar o grau da subsequente resolução do prurido (Ghubash, 2009). Mesmo uma picada de
pulga ocasional tem a capacidade de induzir os sinais clínicos que podem persistir durante dias
ou até mesmo semanas. Todos os animais em contacto que podem servir como fontes de
alimento para as pulgas também devem receber um controlo de pulgas rigoroso. Os gatos devem
ser tratados com produtos que contenham princípios ativos tanto para as fases imaturas, como
para as fases de maturidade do ciclo de vida das pulgas. Em gatos mantidos em ambientes
fechados e controlados o tratamento é, geralmente, bem sucedido (Rees, 2011). Uma série de
fatores influencia o tipo de programa de controlo que deve ser implementado incluindo a idade e
o número de animais envolvidos, a capacidade do proprietário para tratar todos os animais e o
meio ambiente da casa, a formulação do produto usado para o tratamento e o estilo de vida do
animal (Foster, 2004). Os sprays tendem a ser de difícil aplicação nos gatos que resistem à
contenção. É importante ter em conta o peso do gato e comprimento do pelo quando se aplicam
os sprays, para assegurar que são as quantidades apropriadas e que todo o revestimento do pelo é
alcançado. Os produtos spot-on são muito mais convenientes e estão raramente associados a
reações adversas, tais como alopecia no local da aplicação. Existem ainda no mercado produtos
na forma de coleiras e pós. As coleiras podem ter uma atividade de longa duração, mas estão
associadas a dermatites por contacto e podem ser um problema para os gatos com acesso ao ar
62
livre, pois há o risco de asfixia. Os pós tendem a ter uma duração curta e fraca penetração na
pelagem (Foster, 2004). Na tabela 4 estão listados os princípios ativos que são mais utilizados
nos ensaios de controlo de pulgas em gatos, o seu mecanismo de ação, modo de aplicação, entre
outros. A Amber era uma gata que não convivia com mais nenhum animal, nem tinha acesso à
rua. Optou-se então pela associação de nitenpiram, um adulticida com ação rápida e curta (24-
48h), administrado por via oral e selamectina, um adulticida que também possui atividade
ovicida e larvicida, mas com ação mais prolongada (1 mês), em spot-on, abrangendo assim todos
os estágios do ciclo das pulgas. A selamectina também tem ação contra outros ectoparasitas
(piolhos e ácaros) e alguns endoparasitas (Ihrke, 2006; Cadiergues, 2009).
Como terapia secundária, os medicamentos antipruríticos que funcionam melhor no
tratamento da DAPP são os corticosteroides, pois os gatos não respondem bem à terapia anti-
histamínica, nestes casos. Os corticosteroides orais que são mais utilizados são a prednisolona ou
a metilprednisolona (Rees, 2011). Normalmente, usam-se a curto prazo ou então quando o
controlo de pulgas não é efetivo (Scott, Miller e Griffin, 2001). Os gatos com infestações de
pulgas e DAPP muitas vezes têm infeções bacterianas secundárias (Moriello, 2012), que devem
ser tratadas com antibiótico e nestas situações os glucocorticoides não devem ser administrados
(Paterson, 2008). A imunoterapia ainda se encontra em fase experimental (Bruner, 2011). Não
houve necessidade do uso de corticoesteróides, nem de outros fármacos na Amber, pois obteve
logo melhorias apenas com o programa de controlo de pulgas.
As medidas rigorosas de controlo de pulgas devem ser continuadas numa base regular (ou
durante todo o ano) (Rees, 2011), especialmente durante os meses de primavera e verão, quando
as pulgas estão mais ativas, utilizando preferencialmente formulações em stop-on (Foster, 2004).
As necessidades do tratamento ambiental têm vindo a diminuir, mas, quando necessário,
é favorável a utilização de reguladores de crescimento ou inibidores de desenvolvimento de
insetos (Kunkle e Halliwell, 2003). Limpeza e aspiração frequente também ajudam no controlo
da população de pulgas.
O prognóstico é bom se o tratamento for adequado. A prevenção é a chave para evitar as
recorrências (Bruner, 2011).
Dermatite Atópica
A dermatite atópica, ou atopia, é uma doença prurítica em que os gatos afetados têm uma
reação de hipersensibilidade a alergénios ambientais inalados ou por absorção cutânea. Pensa-se
que seja a segunda alergia mais comum em gatos. A patogenese exata ainda não foi determinada,
63
mas uma resposta inadequada dos linfócitos Th2, que leva a uma inflamação alérgica na pele, é a
teoria mais aceite. Mais recentemente, as células de Langerhans, foram consideradas importantes
na atopia felina. Estas são células apresentadoras de antigénios localizadas na pele. Portanto, a
absorção cutânea dos alergénios pode ser mais importante do que se pensava anteriormente
(Rees, 2011). Os alergénios que afetam os gatos com maior frequência são os ácaros do pó,
como o Dermatophagoides farinae e, numa menor extensão, o pólen, as escamas cutâneas e o
bolor (Wolberg e Blanco, 2008).
Pode ocorrer em gatos com idades compreendidas entre os 6 meses e os 3 anos, e o
principal sinal clínico é o prurido moderado a intenso (Wolberg e Blanco, 2008), sensível à
terapia com glucocorticoides (Moriello, 2012). Não há predisposição de género nem de raça
(Paterson, 2008). A Rita é um gato europeu comum e, segundo o seu historial, começou a
apresentar os primeiros sinais de prurido por volta da idade descrita.
Os sinais podem ser sazonais ou não sazonais (Moriello, 2012) e podem ser observados
vários padrões de reação cutânea. A Rita apresentava sinais não sazonais, apesar de serem menos
instensos nos meses de Inverno. Os padrões de reação observados foram alopecia auto-induzida,
nas regiões típicas, ventral e membros e eritema em todas as áreas afetadas pela lambedura
excessiva. Também tinha lesões crostosas nas orelhas, provocadas pela tentativa de aliviar o
prurido auricular. Outros padrões que podem ocorrer são o complexo granuloma eosinofílico, a
dermatite miliar e o prurido facial e podal (com paroníquia bacteriana secundária, muitas vezes).
Os gatos podem apresentar também otite externa ceruminosa e prurítica, hipersensibilidade
alimentar e/ou DAPP concomitantes (Paterson, 2008). Sinais não dermatológicos como rinite,
tosse e dispneia (asma) podem igualmente ser observados nalguns gatos (Wolberg e Blanco,
2008).
Os diagnósticos diferenciais incluem dermatofitose, DAPP, queiletielose, pediculose,
sarnas (Otoédrica, Notoédrica, Demodécica, Sarcóptica), hipersensibilidade à picada do
mosquito, alergia alimentar, doenças autoimunes (por exemplo, pênfigus foliáceo), neoplasia
cutânea e alopécia psicogénica (Hnilica, 2011).
A atopia é essencialmente diagnosticada com base em dados clínicos (anamnese, sinais,
resposta aos corticosteróides). Uma vez que a atopia felina coexiste frequentemente com outras
alergias, é necessário excluir todas as alergias antes de estabelecer um diagnóstico definitivo
(Wolberg e Blanco, 2008). Na rita foram realizados testes de escovagem com pente fino,
raspagem de pele profunda e citologia. Todos estes exames deram resultados negativos, não
existindo evidências de pulgas, piolhos, ácaros, bactérias nem fungos, excluindo, à partida,
64
alguns dos diferenciais. O teste de dermatófitos ficou reservado para uma segunda fase, se
necessário. A dieta de eliminação foi instituida após a segunda consulta, com resultados muito
pouco satisfatórios. Os testes alérgicos não foram realizados, pois são mais caros, e muitos dos
proprietários não estão dispostos à realização dos mesmos, sabendo que os testes intradérmicos
são difíceis de interpretar devido à natureza da pele do gato e são observados fracos resultados.
Os testes serológicos ainda não foram aprofundados em gatos e os seus resultados não se
correlacionam com os dos testes intradérmicos (Wolberg e Blanco, 2008).
A gestão do prurido no gato é o principal problema na dermatite atópica (Moriello, 2012).
Os corticosteroides são geralmente eficazes na redução prurido atópico, mas há o risco dos
efeitos secundários a longo prazo. Os anti-histamínicos combinados com os AGE,
suplementados em altas doses, podem beneficiar gatos com prurido menos intenso (Rees, 2011).
A ciclosporina é outra opção e pode ser utilizada em gatos com prurido sazonal (> 1 mês) ou
durante todo o ano como o principal tratamento para o prurido ou em conjunto com outros
tratamentos (Moriello, 2012). A imunoterapia torna-se mais útil quando é impossível evitar o
alergénio ou quando todas as outras possibilidades de tratamento não foram bem sucedidas ou
estão contra-indicadas (Paterson, 2008). O tratamento de doenças concomitantes, como infeções
bacterianas e dermatite por Malassezia, o controlo de ectoparasitas e ensaios alimentares também
são importantes como parte da gestão global da atopia (Paterson, 2008). O importante é controlar
os sinais clínicos, sem causar problemas de reações adversas (Foster, 2004). Evitar o alergénio
muitas vezes não é possível, mas a exposição pode ser diminuída, ao remover possíveis
alergénios do ambiente. Por exemplo, as roupas de cama podem ser tratadas com sprays para
diminuir o número de ácaros ou lavadas a altas temperaturas (Paterson, 2008). Devido à natureza
multifatorial da dermatite atópica, a melhor abordagem terapêutica muitas vezes envolve a
combinação de múltiplas modalidades individualizadas para cada animal (Scott, 2011).
No caso da Rita optou-se pela terapia sintomática do prurido baseada num corticosteroide
(metilprednisolona, per os) e na administração de AGE (per os) como adjuvante. Como não
tinha um programa de controlo de pulgas instituído e para eliminar o diferencial de DAPP, fez-se
uma associação de nitenpiram, um adulticida com ação rápida e curta (24-48h), administrado por
via oral, com a selamectina, um adulticida que também possui atividade ovicida e larvicida, mas
com ação mais prolongada (1 mês), spot-on, abrangendo assim todos os estágios do ciclo das
pulgas.
A gata teve uma boa resposta inicial aos corticoides, mas quando parou a medicação
houve recorrência dos sinais de prurido. Voltou a repetir de novo o corticosteroide, mas desta
65
vez numa duração menor e introduziu-se a ciclosporina e a dieta hipoalergénica. Manteve-se a
desparasitação externa mensal com um spot-on, uma vez que pode ocorrer uma DAPP
concomitante. Ao fim dos 3 meses de tratamento instituído, a Rita estava apenas a ser medicada
com a ciclosporina, pois rejeitava a dieta hipoalergénica. Contudo, verificou-se uma remissão
dos sinais de prurido e por isso foi continuada a medicação com ciclosporina, apenas
aumentando o intervalo entre administrações.
Neste caso não foi possível estabelecer um diagnóstico definitivo, portanto o diagnóstico
foi apenas presuntivo de uma dermatite alérgica com elevada probabilidade de ser uma dermatite
atópica, dado que houve sempre uma boa resposta aos corticosteróides, estava estabelecido um
programa de controlo de pulgas mensal e devido à estabilização dos sinais clínicos com o uso da
ciclosporina como tratamento único. Como o ensaio dietético falhou uma alergia alimentar
também não pôde ser totalmente excluída.
O controlo da atopia depende da sazonalidade dos sinais clínicos, da gravidade do prurido
durante a temporada de alergia do gato, da distribuição dos locais afetados, de outras doenças
concomitantes e, é claro, do que o prorpeietário seja capaz ou esteja disposto a fazer pelo animal
(Moriello, 2012). É imperativo que os proprietários entendam que uma dermatite atópica afeta o
seu animal para o resto da vida. Com uma boa cooperação por parte dos mesmos e um
tratamento individualizado, a maioria dos casos apresenta resultados satisfatórios (Scott, 2011).
66
V. Conclusão
Tanto a revisão bibliográfica, como a descrição e discussão dos casos clínicos observados
durante o estágio, permitiram concluir que o prurido é um sinal clínico importante em
dermatologia felina e, devido à sua vasta etiologia, deve ser abordado sempre de forma
sistemática.
Permitiu também enfatisar ainda mais que o gato deve ser sempre abordado como um
gato e nunca como um cão pequeno. Estas diferenças manifestam-se desde a reação ao prurido e
às apresentações clínicas até às reações ao tratamento e ao prognóstico.
É de extrema importância encontrar a doença primária que está a causar prurido no gato
para aumentar a eficácia terapêutica e diminuir o stress do animal, a frustração do proprietário e
os custos a longo prazo. Por outro lado, o sucesso da terapia também depende da colaboração e
disponibilidade dos proprietários, pois a terapia dermatológica pode ser longa e exaustiva,
principalmente quando a causa é desconhecida. É importante encorajar os proprietários na
continuação da terapia proposta, pois a paragem da mesma pode levar à recorrência dos sinais
clínicos.
O prurido é um tema abrangente com muitas situações ainda por desvendar. Cada gato é
um indivíduo específico, tornando necessária uma aproximação individualizada de cada caso o
que proporciona um desafio entusiasmante para o veterinário, na busca da melhor qualidade de
vida para o animal.
67
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