psicanÁlise & terapia: justo eu psicóloga que não acreditava em nada disso

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1 1 PSICANÁLISE & TERAPIA: justo eu psicóloga que não acreditava em nada disso. Por: Mônica Mastrantonio Martins Para: Eliana L. Esse é um misto de carta, lições e coisas que fui vivendo em minhas sessões de terapia com Eliana. Foram mais ou menos uns dois anos de encontros semanais em que nunca sabia ao certo “o que ia rolar”, mas a vida surpreendentemente acontece quando a gente aprende “a deixar as coisas rolarem”. Aprendi. Além é claro, da coragem para vencer o medo e seguir em frente. Mesmo que esse “avante”, seja sem a presença de quem por 50 minutos estendeu a mão e mostrou que ali havia um caminho. Tá vendo? Terapia é isso. Óculos para cegos. Bengala para mancos. Um coração novo para enfartados. Um transplante para mortos-vivos. Acontece que nem sempre dá tempo e, nem sempre dá certo. Tive ambas: Graças a Deus. Mas, muito infelizmente; um dia, Eliana se foi. As sessões se acabaram antecipadamente. Nesse vazio, percebi que havia

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Esse é um misto de carta, lições e coisas que fui vivendo em minhas sessões de terapia com Eliana. Foram mais ou menos uns dois anos de encontros semanais em que nunca sabia ao certo “o que ia rolar”, mas a vida surpreendentemente acontece quando a gente aprende “a deixar as coisas rolarem”. Aprendi. Além é claro, da coragem para vencer o medo e seguir em frente. Mesmo que esse “avante”, seja sem a presença de quem por 50 minutos estendeu a mão e mostrou que ali havia um caminho. Tá vendo? Terapia é isso. Óculos para cegos. Bengala para mancos. Um coração novo para enfartados. Um transplante para mortos-vivos. Acontece que nem sempre dá tempo e, nem sempre dá certo. Como esses encontros formaram o alicerce de alguns mantras e dicas valiosos para nossa vida.

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    PSICANLISE & TERAPIA: justo eu psicloga que

    no acreditava em nada disso.

    Por: Mnica Mastrantonio Martins

    Para: Eliana L.

    Esse um misto de carta, lies e coisas que

    fui vivendo em minhas sesses de terapia com

    Eliana. Foram mais ou menos uns dois anos de

    encontros semanais em que nunca sabia ao certo

    o que ia rolar, mas a vida surpreendentemente

    acontece quando a gente aprende a deixar as

    coisas rolarem. Aprendi. Alm claro, da

    coragem para vencer o medo e seguir em frente.

    Mesmo que esse avante, seja sem a presena

    de quem por 50 minutos estendeu a mo e

    mostrou que ali havia um caminho. T vendo?

    Terapia isso. culos para cegos. Bengala para

    mancos. Um corao novo para enfartados. Um

    transplante para mortos-vivos. Acontece que nem

    sempre d tempo e, nem sempre d certo. Tive

    ambas: Graas a Deus. Mas, muito infelizmente;

    um dia, Eliana se foi. As sesses se acabaram

    antecipadamente. Nesse vazio, percebi que havia

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    ficado umas coisas pairando no ar e foram essas

    coisinhas que me iluminaram, guiaram e me

    fizeram seguir adiante.

    Essas coisinhas foram transformadas em

    apontamentos e esses apontamentos se tornaram

    um novo jeito de viver. Uma espcie de mantra.

    Vrios mantras. A princpio, podem at parecer

    bobagem, mas foram essas bobagens que

    fizeram a diferena. s vezes, essas frases me

    faziam sentir muuuito burra, repetindo erros

    aps erros, os mesmos medos, tolices,

    inseguranas. Outras vezes, eram uma espcie de

    memria afetiva que disparava antes de eu seguir

    a mesma trilha e me davam coragem de:

    modific-la. Por hora, incentivaram-me a sempre

    questionar e me transformar em uma verso mais

    atualizada de mim mesma. Uma verso que eu

    escolhi. Que construi. Duramente. No sozinha

    claro, acho que sozinha no as teria encontrado

    ou nem teria levado essas coisinhas em

    considerao.

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    Tem gente que talvez nasa mais livre, mais

    solta. Eu no! Era prisioneira de mim mesma,

    auto-refm. Minha carta de alforria demorou

    para ser escrita, j estava com 45 anos e precisei

    de muita coragem para superar os fantasmas e

    fantasias que teimavam em me rondar. Quando

    fui parar na terapia, sabia que no estava feliz,

    tinha tudo e ao mesmo tempo no tinha nada.

    Sabe como ? Quando no lhe falta nada, mas

    falta o essencial. Separada, me de trs filhos

    pequenos e no estava bem. A meta era a

    sobreviver, sem se importar comigo mesma.

    No fundo, ningum quer apenas sobreviver.

    A vida tem de valer a pena; queria viver bem e

    feliz: extraordinariamente feliz. Logo eu, que

    lutara tanto para colocar trs filhos no mundo,

    iria fazer um papelo desses? Iria viver

    lamuriando a m sorte? No. Poderia tardar, mas

    encontraria um caminho. a que entra a

    psicanlise.

    Psicanlise no opo, uma necessidade.

    Pensava como iria criar filhos felizes, sem s-lo?

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    Atravs de qual exemplo? Precisava caminhar.

    Esse foi meu primeiro mantra. Um mantra de

    amor, de amor a mim mesma, para poder amar

    os outros. Comecei a me odiar por ser infeliz,

    entregue s circunstncias, por ter demorado em

    cair na real. Mas um dia a ficha cai. Passei a

    acreditar que o maior legado que se pode deixar

    s novas geraes o da sua prpria felicidade.

    Meus pais tinham feito um trabalho meia-boca,

    eu teria andar mais.

    O fato de ter entrado na terapia no foi uma

    deciso madura e nem consciente. Foi um

    momento de crise, loucura total. Minha filha

    adolescente havia tido um ataque comigo e l

    estava eu pegando uma lista e dando uns

    telefonemas: Voc psicloga? Voc tem

    horrio? Sabe urgente, para ontem.... Na

    verdade, deveria ter sido h uns 10 anos atrs.

    Mas agora, antes que o trem saia dos trilhos.

    Algum atendeu, tinha horrio e o nome soava

    bem. O nome faz uma diferena e tanto, pode

    prestar ateno. Escolho muita coisa pelo nome

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    hoje em dia. Quando voc nomeia algo, aquilo

    comea a ter vida prpria, uma identidade

    autnoma. Fora isso, eu no sabia mais nada.

    Mas, a gente no precisa saber de nada, a gente

    precisa ter coragem. Como que pode, a gente

    faz coisas malucas e a terapia foi uma coisa

    extraordinariamente maluca e acertadamente

    feliz. Porque s pode encontrar a si prprio quem

    est perdido e s se reinventa, quem j se

    desinventou. Portas em automtico.

    O medo de fazer terapia uma das coisas

    que a gente precisa encarar. No medo do

    processo em si, o medo de se redescobrir e ver

    que voc que se achava inteligente, culta, senhora

    de si mesma, autossuficiente, rpida, uma:

    anta. Escrava. Submissa. Insegura. Lenta. Posto

    isso, que me parece o primeiro e mais importante

    passo, a descoberta da anta que existe em

    voc, voc pode se transformar de anta em

    qualquer coisa. J saiu lucrando e muito. Quando

    a gente se assume, um milagre acontece. Milagre

    porque voc aprende a ter coragem de aprender

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    com seus erros e aprende a rir deles. Com eles.

    Essa a coisa mais importante de se descobrir

    anta, rir de suas tolices, erros, medos. Crucial

    para quem deseja ser mega feliz. Feliz com

    todos os desafios, todas as suas dores, e todo seu

    amor.

    Eu tinha inmeros medos. Precisava de um

    turbilho de coragem para venc-lo e inspirei-me

    no meu bisav: colei nele. Imigrante, veio ao

    Brasil da Itlia com 17 anos e: sozinho. Pegou o

    navio e veio. Com a cara e a coragem, deixou

    tudo na Itlia: famlia, bens, etc. E, fez sua vida

    sozinho, do zero. O resultado foi muito alm do

    esperado: comerciante, vereador, dono de terras,

    fbrica de refrigerante, pousada, 11 filhos! At

    hoje, seu retrato emoldura a entrada da minha

    casa. O retrato da coragem. Ento, eu pensava

    se ele conseguiu, eu sou bisneta dele, eu tambm

    vou conseguir. Um pouco do seu sangue circula

    em minhas veias. Somos parentes. Uma

    associao to ordinria quanto necessria na

    poca e at hoje. Minha inspirao, meu heri.

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    Foi com ele que juntei coragem para enfrentar o

    medo do futuro, medo de ser incapaz de criar as

    crianas, medo do que as pessoas pensariam de

    mim (pois eu no falava que era separada com

    trs filhos, hahaha: ou eu falava que era

    separada ou que tinha trs filhos, as duas coisas

    juntas a minha mente brilhante no conseguia

    conceber), tinha medo da minha casa, medo de

    passar fome, medo de perder os filhos, enfim

    medo. Diante deles: s temos duas sadas: lutar

    ou fugir.

    Por outro lado, diante de coisas que

    certamente precisava ter medo, no tinha. Era

    cega. Coisa de louco. Nessa poca, eu

    escutava todos os dias a msica chefe da

    superao do medo, para ver se de tanto cantar,

    espantava-o: Medo eu no te escuto mais, voc

    no me leva a nada...lll, e se quiser saber pra

    onde eu vou, pra onde tenha sol, pra l que eu

    vou....

    A beira do fundo do poo, fui passar o Ano

    Novo mais brilhante e decepcionante da minha

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    vida em Florianpolis. Sabe aquele Ano Novo,

    em que te pegam para Cristo e comeam a

    desembuchar todas as crticas a voc para ver se

    assim: voc acorda e muda. Falaram que eu tinha

    que emagrecer, cuidar da sade, cuidar de mim,

    cuidar da vida, muito nova para estar acabada.

    Quase morri, mas o que no me mata, me

    fortalece. Algumas amigas at me perguntaram:

    mas voc no ficou chateada, no ficou triste

    com essas pessoas?. No. A verdade di e

    precisa ser dita. Foi ela que disparou em mim:

    meus 5 minutos de coragem e resolvi correr. Isso

    mesmo correr: na rua, sozinha. Acho que corria

    das crticas e de mim mesma, s sei que corria

    todo santo dia. At hoje, tem sido um mantra

    dirio: o mantra do suor. Quem corre seus males

    espanta.

    O suor tambm uma forma de libertao.

    Corro para me libertar. No martrio, nem

    auto-sacrifcio, um ode liberdade. Uma

    coisa leva a outra, quem corre tm flego; quem

    tem flego, liberta-se, quem se liberta resiste

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    melhor aos medos e quem enfrenta seus medos:

    vai longe. Resolvi ir todo dia um pouco mais

    longe. Corajosa, heim?! Vai vendo...

    Quando cheguei terapia disse uma frase

    que gosto muito at hoje: Olha, eu no sou feliz

    e quero ser, quero ser muito feliz, feliz comigo

    mesma, feliz porque mereo, feliz porque tenho

    esse direito e tambm quero aprender a no

    boicotar a felicidade, porque no fundo a gente

    tem mania de quando a felicidade aparece, sair

    correndo e isso eu no quero para mim, eu quero

    viver de mos dadas com ela. Porque de todos

    os medos, esse o mais escondido, talvez o

    menos esclarecido: o medo da felicidade. O

    medo da alegria, da liberdade, da

    espontaneidade, de se desacorrentar, de ser voc

    mesma, sem culpa e sem medo. Livre.

    Tambm acho que os felizes so invejados,

    odiados e perseguidos...: Como voc ousa?.

    No vai seguir a trilha do sacrifcio e da

    autopiedade? No! Como se tivesse que pedir

    perdo pela conquista de viver feliz, como se isso

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    fosse um poder indevido que voc se apoderou. E

    se for? Que se danem os infelizes e medrosos.

    Tambm teria que me libertar da mania de me

    explicar, justificar e me culpar. PQP. Nossas

    aes s dizem respeito a ns mesmos. Cada um

    cuida da sua.

    Demora, demora, demora; mas a gente

    aprende. Cada segundo contem toda a

    eternidade e passa a falar mais vezes eu te amo,

    mil desculpas, obrigada. Falo todo dia isso e

    com a boca cheia. Mania de no falar as coisas

    boas, que isso! Mania de anta, argh. Ser feliz

    com suas palhaadas, burrices, crendices,

    manias, supersties. Voc no tem mais medo de

    errar, voc se permite. Permite enfrentar dias

    difceis, momentos decisivos, porque voc

    aprende que a vida feita de ambiguidade e

    dificuldade, e aprende a no fazer disso um

    drama. Voc cresce: com tudo.

    Foi atravs dessas descobertas, uma srie de

    mantras que me ajudaram e continuam a iluminar

    meu caminho. Esses mantras so guias e luz, uma

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    espcie de eco que me ajudam a me inventar

    sempre. No sei se so extrapolveis, cada

    pessoa nica e ter que encontrar seus prprias

    mantras, suas prprias vozes guias. Quem sabe

    atravs deles, voc encontre algum seu. Aqui vo:

    MANTRA 1) Por que no?

    Tudo na minha vida tinha um por qu NO.

    Ou seja, meu ponto de partida era a

    JUSTIFICATIVA. No apenas uma justificativa,

    mas uma justificativa negativa. Tudo comeava

    com uma explicao negativa, hahaha: at eu.

    No por que...sei l! Eu me colocava: negativa e

    justificadamente. Que horror! No por causa

    disso, no por causa daquilo, no porque isso

    nem pensar, no porque tem que ser assado, j

    ouviu o Mel do NO. chatssimo, gera a

    insuportabilidade do ser. Eu tinha essa sndrome.

    D calafrio s de pensar. Minhas frases todas

    comeavam com no, depois at dizia sim, mas

    eu as construa negativamente: No porque

    quero dizer sim e no posso dizer outra coisa a

    no ser NO.

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    Essa negatividade me permeava com direito

    a resposta e explicaes bem razoveis do

    porqu as coisas no poderiam ser daquela

    maneira. E explicavam porqu minha vida estava

    atravancada em um mar de nos. Por que?

    Porque no!

    Eliana me perguntava e perguntava e

    perguntava e perguntava: mas por que no?

    Acho que falou isso um milho de vezes na minha

    cabea. No sei nem como conseguia ouvir tanta

    abobrinha do porque no. Incorporei para

    mim. Antes de qualquer justificativa antecipada,

    j saio logo perguntando pra mim: mas por que

    no mesmo? Nunca encontrei nenhuma

    justificativa justificvel, a no ser minhocas,

    carambolas e fantasminhas de gibi. A voz dos

    meus treinos diz: sim, claro, sabe o qu, pode

    ser..., fechado! Voc perde o poder e ganha

    vida, ganha possibilidades.

    Exemplo: na minha brilhantssima concepo:

    a festa de aniversrio de crianas, filhos de pais

    separados (feia essa concepo tambm, at

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    preconceituosa, mas eu pensava assim), deveria

    ser em lugar neutro, no Buffet. Ou seja, por uma

    questo de justia, no poderia ser nem na casa

    do pai e nem da me. Mas acontece que o tempo

    passa e as crianas querem organizar suas festas

    do jeito querem, tanto faz aonde. A festa delas.

    Elas no querem saber de problemas de justia,

    de que so filhas de pais separados. Elas querem

    comemora. Ento voc tem que abrir mo, perder

    a sua auto-importncia. Agora, quando vem para

    mim e falam quero fazer meu nver na casa do

    meu pai, a resposta tem que ser: por que no?

    Bora l! Vamos!

    Os argumentos, mesmos os mais legtimos

    no se convencem diante da covardia de quem

    no consegue perceber que o mundo no gira ao

    seu redor e muito menos: em torno de nossas

    justificativas. Detalhe: as crianas j sabem disso,

    elas s nos tentam para confirmar. Eis o x da

    questo.

    Incrivelmente falando, quando voc comea a

    dizer sim, parece que a vida como uma srie

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    infinita de novas possibilidades tambm se abre.

    Onde voc encontrava desculpas, travas,

    maneiras de colocar as coisas de tal jeito que se

    tornassem imutveis e controlveis, voc passa a

    ver que no precisa mais ser a pedra no meio

    do caminho. Voc pode ser a porta, o caminho,

    a sada. Porque o sim que nos move. a fluidez

    incapturvel que se chama vida, mudana,

    liberdade. esse sim para si mesmo que a gente

    tem que duramente aprender a dizer. A solidez

    de nossas aes no est no controle ou no poder

    das mesmas, mas na segurana de que podemos

    sempre dizer sim, podemos dizer no, podemos

    dizer talvez, podemos ir pra frente e voltar atrs.

    S no podemos nos eximir da responsabilidade

    de nossas aes. Sim, claro, por que no, vou

    pensar, olha nunca tinha pensando assim, pode

    ser, mesmo, bingo, ufa, demorou! At que

    enfim.

    Por outro lado, isso no quer dizer aceitar

    tudo, nem dizer sim para tudo; pelo contrrio,

    parece que quando voc aprende a dizer sim,

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    voc tambm aprende a ser muito mais enftica

    no seu no. Seu sim sim e seu no: no. No

    so mais usados para esconder sua falta de

    coragem. A vida assim: arte e

    responsabilidade.

    Hoje, tento passar para Vittorio de quatro

    anos que sempre existem vrias opes por pior

    que seja a situao que nos encontramos. H

    sempre incontveis possibilidades. Ele algumas

    vezes briga na escola e tem duramente aprendido

    que existem outras opes. Por que no?: 1) voc

    pode respirar fundo e contar at 100 antes de

    querer socar seu amigo e tentar se acalmar; 2)

    voc pode responder a mxima que ns

    inventamos aqui em casa quando algum diz

    algo que voc no gosta: quem fala que ; 3)

    voc pode parar de brincar com esse colega e

    brincar com os outros; 4) voc pode contar para

    a professora e pedir ajuda para o que est

    acontecendo; 5) voc pode simplesmente parar de

    brincar um pouco e dizer que s volta a brincar

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    se no houver mais briga. Voc pode quase

    tudo. Por que no?

    Uma hora esse sim para a vida acontece e

    voc v que o poema tem l sua razo de existir:

    two roads diverged in a wood, and I took the

    less travelled by. Segui o caminho menos

    percorrido e isso faz uma diferena enorme.

    Coragem!

    Por que no um Ode Coragem.

    MANTRA 2) Voc a responsvel

    Essa tambm foi outra espcie de mantra que

    ouvia direto de Eliana. Hoje, continuo ouvindo e

    repetindo para mim mesma. Sabe quando tudo

    est dando errado na sua vida e voc vive

    colocando a culpa nos outros e tentando livrar

    sua barra. Belssima estratgia, todo mundo

    culpado pela sua infelicidade, mesmo voc

    mesma. Minha filha de 13 anos faz isso, e

    adultos de quase 50 tambm. Com a mesma

    propriedade. Eu fazia. A culpa de todos, todos

    vocs. Nossa, que feio. Esse o problema de

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    quem vive falando que nada sua

    responsabilidade, passa a vida de mos atadas,

    tal como o desenho do Shrek: Oh Cus, Oh

    Vida, Oh Azar.

    Eliana falava: voc tem que pegar as rdeas

    da sua vida, a responsabilidade sua. Ah, como

    isso doa e como isso me fez bem!

    Responsabilidade tem a ver com contribuio,

    com competncia, com mudana de paradigma e

    no com culpa, castigo, martrio. Ser a

    responsvel pelas coisas que voc faz e tambm

    pelas que voc permite que lhe acontea no

    obra do acaso, do alm. Ainda mais difcil ser

    responsvel pelo que acontece com a gente.

    Eliana dizia: Voc se permitiu, voc se

    deixou. Eu incrdula: eu?. Eu no fiz nada.

    Fazer nada uma ao. Acorda!

    S quando a gente acorda que percebe o

    quanto se permitiu ser maltratada, desrespeitada,

    diminuda, exaurida. Tudo a gente que se

    permite ou no. Todo mundo tem seus limites,

    aprender a se posicionar uma necessidade. Eu

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    no falava, no me colocava, tinha vergonha.

    Vergonha de existir. Quando a vergonha do que

    os outros podem pensar sobre voc for maior do

    que o respeito por si mesmo: est perdida, minha

    cara.

    Nessa poca, minha filha pr-adolescente

    estava me dando um trabalho, eu estava

    perdida. Minha infelicidade, meus desnorteios,

    minhas dificuldades eram todas culpa dela e dos

    outros. O pai que a mimava demais e no dava

    limites; a madrasta que queria se fazer de

    boazinha, meus pais que no me falaram nada

    disso, a ex-sogra que nunca me valorizou, enfim

    uma lista imensa de culpados e responsveis pela

    atual situao. Quando voc percebe que a

    responsvel, d pnico, mas tambm acende uma

    esperana. Esperana porque tudo isso pode

    mudar.

    Uma vez viajando de frias para a fazenda,

    aconteceu algo que explica bem isso. Fomos

    andar de charrete e Valentina pegou a rdea da

    minha mo e mesmo sem saber, comeou a

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    dirigir e ao fazer uma curva, capotou a charrete

    com todo mundo dentro. Por pouco, no ficamos

    todos feridos. Contei a cena para Eliana como se

    fosse algo sem importncia e cuja

    irresponsabilidade tinha sido dela, claro! Da,

    Eliana me fala: a responsabilidade sua, voc

    a me, deu as rdeas da charrete para ela dirigir

    mesmo sabendo que ela no sabe. Aiaiai, isso

    di mais que o tombo e o susto.

    Uma hora a gente tem que tomar as rdeas

    da prpria vida nas mos, custe o que custar. Ela

    era malcriada comigo e me desrespeitava por

    autorizao minha. Nesse sentido, tudo tem

    soluo e a soluo est comigo tambm. Se voc

    no responsvel, voc ser a vtima eterna. A

    coitada. Coitada no, t fora! S quando

    assumimos que a vida nossa e se est boa ou

    ruim a responsabilidade nossa que crescemos.

    Enquanto isso, continuamos crianas colocando a

    culpa em quem aparece pela frente, pode at ser

    do Saci, como diz Vittorio quando no assume

    que foi ele quem bagunou seus brinquedos.

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    uma hora voc comea a perceber que j era

    hora de voc ser a: ...mudana que espera do

    mundo, Ghandi. Uhul!

    Se sua vida no est boa, o problema seu.

    No culpe Deus, o planeta, os anjos, os astros.

    Todos eles com certeza te provero com todos os

    mecanismos para fazer melhor do que tem feito.

    Viver se fazendo de vtima alimentar um dos

    piores sentimentos que podemos ter. Significa que

    no acreditamos nessa pessoa e nem em sua

    capacidade de superar e enfrentar os problemas.

    Significa desacreditar. At hoje, tem gente que

    me olha e por vezes fala: Nossa coitada,

    separada, trs filhos, trabalhando, dirigindo um

    Celtinha sem ar-condicionado. Hahaha, coitada

    de voc que pensa assim. A direo minha. Por

    mais dura que s vezes possa parecer em

    determinado momento: a rdea da minha vida

    est aqui. Mas, quem disse que a vida no

    dura? Dura e doce! Uma das minhas frases

    prediletas diz: rapadura doce, mas no mole

    no! Concordo. A vida tambm.

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    Esse mantra uma ODE responsabilidade.

    MANTRA 3) No d para saber

    Acho que esse poderia ser um tratado sobre

    a angstia e o fato de ns mulheres adorarmos

    cartomantes, bolas de cristal, tar, jogos de

    adivinhao, etc. Tudo em prol do querer

    saber...Eu queria respostas, certezas, pensava

    que assim minha vida seria mais certa e

    determinada, que eu finalmente iria saber onde

    estava pisando. Poxa vida, isso pedir muito?

    Sim. Porque intil. Mas a gente ama inutilidade

    quando est perdida, j viu isso?

    Quase toda sesso de terapia, Eliane dizia:

    Ahh, mas no d para saber. Isso para mim

    era um tormento. Um balde de gua fria. Sabe

    quando voc vai para a Psicloga e tem certeza

    que ali, exatamente ali, voc ter alguma

    resposta para toda sua angstia diante do

    desconhecido, dos imprevistos, das surpresas da

    vida, diante de tudo...Eu ouvia: No d para

    saber. Poxa vida! Sabe...se estou ali porque

    quero saber, quero ter uma luz, quero ter certeza,

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    convico. Se no d para saber, ento o que

    estou fazendo ali? Aprendendo a no saber.

    Aos poucos, vai aprendendo que quando

    voc assume que no d para saber, voc

    comea a enxergar e no se angustiar tanto.

    Voc comea a se questionar e vai aprendendo a

    no impor as coisas. Isso bem difcil e di

    muito. Porque voc comea a ver que voc no

    o centro de nada e no sabe nada. No temos

    controle a andamos todos os dias em direo ao

    desconhecido.

    Em algum momento, voc comea a perceber

    que aquilo que voc quer saber para ter

    controle e isso no existe, iluso. Por outro lado,

    d para saber algumas coisas inclusive a de que

    voc no sabe. O futuro e sempre ser uma

    incgnita e que por mais que voc e todas as

    civilizaes tenham tentado prev-lo, ele continua

    nos surpreendendo sempre. Ento s nos resta ser

    pelo menos um pouco mais coerente com o

    momento presente e com a gente. O resto, no d

    para saber. Voc no sabe qual resultados vir

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    de suas aes, mas se voc no fizer nada no

    haver resultados, Gandhi.

    s vezes, eu ia terapia e queria saber se o

    cara com quem estava falando estava afim de

    mim ou no, se aquela minha amiga era mesmo

    invejosa ou no, se eu escolhesse aquele papel de

    parede marrom para meu quarto, iria me cansar

    ou no e assim por diante. Ser responsvel por

    suas aes, no quer dizer ter certeza sobre os

    resultados das mesmas. No d para saber.

    uma questo de escolha e de aprender a lidar

    com o desconhecido. Aos poucos vai observando,

    enxergando, vendo, se posicionando, decidindo.

    Um passo de cada vez.

    Eu vivia o oposto disso. Tinha casado para

    ser feliz no amor. Mas, no bem assim que as

    coisas funcionam. Primeiro tem que ser feliz no

    amor e se um dia quiser casar tudo bem. As

    decises so fruto do que vivemos e no o

    contrrio. Voc no toma decises para viver:

    voc vive.

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    Isso me faz lembrar uma parte do livro: O

    mundo de Sofia em que ela pergunta para o

    autor se ele pudesse deixar um conselho para ela

    diante de toda sabedoria do mundo qual seria,

    ele responde: aprenda a no tirar concluses

    precipitadas. Bingo. Como a gente faz isso o

    tempo todo e ento se desespera e por t-las

    tomado precipitadamente. No d para saber.

    Viva e v sentindo o fluir da carruagem. V se

    fazendo em movimento. D tempo ao tempo. A

    vida segue. Vai tocando, como diz minha me.

    Esse o caminho.

    Quando a gente deixa para l essa

    necessidade de querer saber e ter controle d um

    alvio e, ao mesmo tempo, uma insegurana. Pois

    passamos a lidar com a realidade tal como ela

    e no como gostaramos que fosse. no presente

    incerto que vivemos, no temos outra

    temporalidade. S finitude.

    Se refletirmos bem, ainda bem que assim: a

    vida como um jogo de truco. Voc no sabe, no

    sabe quais cartas o parceiro tem, no sabe se

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    est blefando ou no, enfim esse o mistrio que

    nos move. o que nos faz ir luta pelo que

    queremos, pelas coisas que achamos que valem a

    causa. Tal como em um jogo: ou voc paga para

    ver ou voc foge. Sempre temos opes. Adoro

    esse jogo e aprendi que s vezes voc tem que

    apostar todas as fichas, todas as cartas. Outras

    vezes, se achar que no vale a rodada, fuja sem

    medo, sem pensar duas vezes, mesmo que o

    outro te chame de covarde, etc. Tudo pode mudar

    a todo instante, inclusive o jogo. Assim, voc

    aprende a lidar com o novo, com o imprevisvel e

    aprende que a vida comea exatamente quando

    voc est ocupado fazendo outros planos.

    Parei de ir s cartomantes, o futuro no me

    interessa, a Deus pertence com toda a certeza.

    No tenho mais perguntas. Vivo de vida.

    Esse mantra uma Ode ao desconhecido.

    MANTRA 4) Isso no quer dizer nada.

    Essa era outra frase que ouvia direto e

    tambm hoje considero muito engraada. Muito

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    engraada mesmo. A gente vive procurando

    definies e meios de organizar os fatos que vo

    acontecendo aleatoriamente em nossa vida. Logo,

    chega s concluses mais diversas. Sabe quando

    voc interpreta esses fatos e acha que chegou a

    mais brilhante concluso: tin, tin. Eliana virava

    e me dizia: isso no quer dizer nada. Vixe.

    Vixe.

    Voc saiu com aquele paquera para jantar

    pela quarta vez e pensa: ahh, bingo, o cara est

    super a fim de mim e o outro que s ligou uma

    vez, voc pensa: ahh esse a, no quer nada

    srio. Isso no quer dizer nada. Isso no quer

    dizer nada. Isso no quer dizer nada. Nossos

    pensamentos tendem a compreender os fatos

    criando frmulas e regras onde elas no existem.

    Por isso, tive que aprender a parar de tirar

    concluses precipitadas. Dura e arduamente. A

    gente tem que ter pacincia. Roma no foi

    construda em um dia. A gente tambm no. Isso

    tambm no quer dizer nada. s vezes, a vida

    muda em um segundo.

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    Pensando bem, parecia coisa de criana, ele

    me ligou trs vezes ontem: ah, ento ele gosta de

    mim! Um fato um fato e nada mais. Ele ligou e

    ponto. Talvez seja o complexo de Psicloga que

    todos temos um pouco e temos que desconstruir

    at aprendermos a nos desprender da

    necessidade de interpretao das coisas e

    aprender o poder do silncio. uma forma de

    desarticulao, de no ficarmos grudadas,

    coladas, agarradas em certas convices,

    concluses e certezas. Isso significa aceitar que a

    vida muda o tempo todo; e o importante no o

    que as coisas significam, mas as coisas em si. Isso

    o mais importante. Fazer o que voc acha que

    tem que ser feito, sem se importar com o

    significado ou interpretao do que voc est

    fazendo tanto para si quanto para os outros. O

    que o outro vai achar? O que o outro vai pensar?

    Que se D. O foco a ao e no sua

    interpretao. Viva.

    s vezes, falamos umas coisas e queremos

    dizer outra; s vezes agimos sem pensar, nem

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    sempre sabemos o que estamos fazendo ou

    dizendo. Agora: como que tudo isso pode ter

    uma interpretao, um sentido prvio? O sentido

    se faz ao caminhar. E quantas vezes caminhamos

    sem sentido? Kkk. Carlos Castaeda diz: para

    sabermos a diferena e se vale a pena ou no:

    s nos perguntarmos se ali naquele caminho

    existe um corao, se sim: v!

    Era o caso de minha filha adolescente que s

    vezes falava que me odiava e eu ficava acabada,

    arrasada. Eliana dizia: isso no quer dizer

    nada, ela te ama. Em outros momentos, me

    sentia alegre e esperanosa, pois algum havia

    dito que iria me ajudar, mas depois viria a

    decepo, pois a ajuda no acontecia: isso no

    queria dizer nada. Era um balde de gua fria

    atrs do outro: no que eu estava supondo, no que

    eu estava acreditando. A gente aprende a ser

    menos ansiosa, a acreditar menos nas palavras e

    mais nos fatos, menos no que a gente pensa que

    eles querem dizer e mais no que eles despertam

    em ns. O foco no o que as coisas querem

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    dizer, mas a vida que se perde quando se vive

    preocupada e ansiosa pensando nisso. Pensando

    em no sofrer. s vezes h ,ais dor em no ter

    vivido algo. Vixe. Vixe. Vixe.

    Conceitos, justificativas e explicaes vo

    sendo deixados para trs para se viver. As

    concluses viro com o tempo, com a alegria de

    se aventurar e no explicar, porque a vida no

    precisa de explicaes. Ela se faz. Demorou, n?

    Mas, uma hora a gente aprende. Haha, tenha f.

    O porqu tem que vir depois do para que. A

    ordem dos fatores sempre altera o viaduto e voc

    passa a pensar no seu rumo mais do que nas

    explicaes de cada passo. Um barco sem rumo

    pode ter as mais belas explicaes sobre

    navegao, mas vai dar em nada. Levante sua

    ncora e v. Parta. Fui. Partidas no tm

    justificativas, elas acontecem para quem ousa.

    Esse mantra uma: Ode ao desprendimento.

    MANTRA 5) No tem regra

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    Ahhh, essa outra histria dolorida de se

    aprender: no h regras. No h frmulas, no

    existe o certo e o errado, no existe manual de

    instruo. Nossa necessidade de encontrar

    frmulas para tudo, desde como criar os filhos,

    encontrar o emprego dos sonhos, ser feliz no

    amor, manter-se sempre jovem, ser magra, to

    comum quanto intil. Vivemos buscando solues

    mgicas para resolver nossa infinidade de

    desafios. Os modismos esto a para comprovar

    essa correria desenfreada em busca da receita

    mgica. Aquela que d certo para algum, pode

    no dar certo para outra pessoa e assim por

    diante. Voc tem que descobrir o seu caminho.

    No se iluda. No se iluda. No se iluda. No

    tem regra. No tem regra. No tem regra.

    Cada um de ns tem que descobrir suas

    verdades, criar seus prprios mantras, seguir seus

    prprios passos. Quando a gente percebe que

    somos ns que fazemos a ns mesmos, que nossa

    vida nossa prpria responsabilidade e o que

    funciona para voc pode no ter o mesmo efeito

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    em mim: a gente acorda. Antes tarde do que

    nunca.

    Descobri isso quando estava com uns 20

    quilos a mais do que hoje. Depois do nascimento

    das crianas: barriguda, estrias, celulite, peitos

    murchos, cabelos a Deus dar e mos de quem

    no v uma manicure h sculos. Mas no tinha

    problema, tem uma fase da vida que a gente a

    ltima da fila, a ltima a sentar para comer, a

    ltima a ver uma TV, a ltima a tomar banho, a

    ltima a ir ao banheiro. Voc pode esperar, nada

    mais pode esperar. Nem as crianas, nem o

    trabalho, nem as contas. Tudo isso prioridade e

    voc vai ficando sempre por ltimo. Depois, s

    vezes, a gente consegue equilibrar essa equao:

    nem tanto ao cu, nem tanto ao mar. O mundo

    no gira ao seu redor, mas pode dar umas

    voltinhas em torno de voc.

    Fui encontrando o meu jeitinho de administrar

    isso e criar um tempo s para mim. Estabeleci

    caminhadas e depois corridas dirias durante 30

    minutos. Essa foi a mais bela resoluo para eu

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    me cuidar e viver realmente a frase da Revista

    Pais e filhos: me tambm gente. Eu

    simplesmente deixo tudo para trs, calo meu

    tnis e vou correr. Voc sabe que as crianas

    aprendem a te respeitar e respeitar seu momento?

    o meu tempo. At perguntam: Mummys, voc

    j correu hoje? Vai correr? Corre pertinho!. Eles

    aprendem que existe um tempo para tudo na

    vida. Tambm aprendem a esperar. Quem sabe

    no cresam menos ansiosos? Bor l correr, faa

    chuva ou faa sol. Como digo: todo mundo

    filho de Deus e um ser de vontade!

    Depois fui comprando livros de autoajuda

    para eliminar a barriga, tomar sucos detox e

    manter-se jovem, testando quase tudo: goji Berry,

    limo com gua morna, ch de pau-tenente (pior

    gosto de fel pior que j senti em toda minha

    vida), depois desse ch a vida se torna doce, um

    mel. Aprender que no h regra e que d para

    ser feliz um dia de cada vez, algo incrvel. Voc

    se supera. Cada um inventa sua regra, sua

    diretriz, pode ser: pedalar, nadar, academia;

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    pode ser comer s protena, enfim, cada um tem

    que descobrir seu jeito. De ser feliz de corpo e

    alma. S d para saber se tentarmos.

    Fiz o mesmo com o servio de casa, dispensei

    as ajudantes. Aprendemos a fazer de tudo um

    pouco. Muita gente pergunta: ah, mas, como

    voc consegue?. A necessidade rainha da

    inveno. A gente nunca sabe dos prprios limites

    at se arriscar a ultrapass-los. Com o tempo,

    comea a ousar mais, experimentar mais e ter

    confiana em si mesma, que vai conseguir. Eu era

    muito insegura e chata. No que essas coisas

    tenham desaparecido por completo, elas apenas

    mudaram de lugar, esto l em um cantinho sem

    alarde e sem ateno. Agora: Bor l correr, a

    minha regra, meu modo de ser e que eu descobri:

    correndo. Correr me acalma e me lava a alma,

    me faz nova.

    Esse mantra uma Ode a autenticidade.

    MANTRA 6) Voc tem que se proteger

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    Ah, nesse quesito eu ainda patino.

    Continuo caindo do cavalo, entrando de gaiata

    no navio ou pelo cano como se diz por a.

    Confesso que ainda sou meio ingnua, s vezes

    at infantil e ento me decepciono muuuito com

    as pessoas. Ainda tenho melindres com a

    autoproteo, como se isso significasse que

    deixar de viver algo e no nada disso. Significa

    apenas que voc vai saber onde pisa antes de

    pisar, vai estar preparada para todas as

    possibilidades, inclusive para voc se salvar se o

    barco naufragar. Essa guinada me ajuda.

    Eliana me alertava para questionar, duvidar,

    ir fundo, procurar saber, ter mais informaes,

    perguntar, falar, esclarecer: voc precisa saber.

    Voc tem que ir atrs mesmo, importante, voc

    tem que ter cuidado com voc mesma. Com a

    vida. Ela sua. Tem que aprender a se precaver e

    imaginar a melhor e a pior das hipteses. Sem d

    nem piedade. Isso no desconfiana: zelo.

    No quer dizer ser mais ou menos pessimista,

    quer dizer se cuidar, se amar e querer o melhor

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    para si e para os outros. A realidade ainda

    continua sendo cheia de possibilidades e de

    armadilhas, ciladas; nela que a gente vive e

    nela que temos que nos proteger. Pensar em tudo

    no uma defesa, uma proteo. E proteger-se

    importante. Proteo no deveria ser vergonha

    para ningum. Vergonha no se cuidar.

    Desconfiar do outro no ver o pior das pessoas,

    apenas ter conscincia que todo mundo

    humano, demasiado humano, at voc. No quer

    dizer que o outro ruim, nem que voc bom;

    significa apenas que eu me cuido e voc deveria

    fazer o mesmo.

    Tambm tive que aprender a falar, eu no

    falava sobre as coisas verdadeiramente

    importantes. Eu fugia delas. Tive que acabar com

    meus medos e inseguranas. Insegurana de no

    ser querida por falar, falar coisas que talvez o

    outro no quisesse ouvir, mas essa tambm um

    proteo e um respeito com o outro. Uma forma

    de ser cuidadosa com a vida e o amor que nos

    circundam. Fica difcil amar o outro se voc no

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    se ama, cuidar de algum se voc no se cuida,

    respeitar o outro se voc no se respeita. uma

    via de duas mos. Ser verdadeira, autntica, sem

    demagogia, inteira, verdadeiramente voc.

    Verdadeira no tem o sentido de verdade x

    mentira, nem a conotao de imutabilidade ou de

    qualquer coisa fixa ou parada, verdade sua

    condio de perenidade e impecabilidade (Carlos

    Castaeda). ser inteiro e presente em tudo que

    fizer. Essa a condio do guerreiro: ser

    impecvel em tudo que empreender. Porque nesse

    mundo no h sobreviventes. Tudo o que temos

    poeira de estrada. Poeira de estrelas. Amor e

    vida. Caminhos. Muitos. Descobri os meus. Justo

    eu, psicloga, que nem acreditava em nada

    disso.

    Esse mantra uma Ode a guerreira que

    existe em todos ns! Avante.