publicação - autobiografia

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Publicação com a temática de autobiografia - seis alunos do curso de Artes Visuais do Centro Universitário Belas Artes de São Paulo apresentam suas performances. Aline Tima, Henrique Godinho, Isabela Contini, Izabela Mariano, Jacqueline Faus e Roberto Espinosa

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αυτοβιογραφίαautobiografiaaline

henriqueisabelaizabela

jacquelineroberto

timagodinhocontinimarianofausespinosa

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orientação_Juliana Moraes

textos_Aline Tima, Henrique Godinho, Isabela Contini, Izabela Mariano, Jacqueline Faus, Roberto Espinosa, Daniela Souza, Mariângela Gazel, Leonardo Araujo.

diagramação_Henrique Godinho

Centro Universitário Belas Artes de São PauloArtes Visuais

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sumárioAutobiografia

Aline TimaSem título, 2011

Henrique GodinhoAnasorvo, 2012

Isabela ContiniXII – o décimo segundo, 2012

Izabela MarianoDiérese, 2012

Jacqueline FausSem título, 2012

Roberto EspinosaLabirinto e Religião, 2012

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4autobiografia

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Nesta revista pretendemos investigar o gênero autobiográfico de proposições artísticas. Essa é uma coletânea com trabalhos de universitários da Universidade Belas Artes de São Paulo, do curso de Artes Visuais.

A autobiografia (do grego: αυτοβιογραφία) consiste em relatar fatos da própria vida, sejam eles em prosa, verso, música ou imagem. Um tipo de expressão bastante apreciado nas linguagens artísticas. Pode ser usado para relembrar o passado, narrar o dia-a-dia, questionar decisões e atitudes, etc. Trabalhar com esses elementos, muitas vezes nos revelam nossas próprias fraquezas, podendo ser bastante tortuoso percorrer por esses caminhos. Em contraponto, o “revisitar” pode nos trazer uma superação que jamais tinha sido alcançada.

Separamos essa revista em alguns temas principais: a euforia evidenciada por Aline Tima; o vício de Henrique Godinho e Jacqueline Faus; o questionamento da identidade de Isabela Contini; a superação de Izabela Mariano; e a pesquisa religiosa de Roberto Espinosa.

Quando Aline dança na luz negra com suas tintas fluorescentes, traz sua vida pessoal de fora da instituição para dentro. Com o coletivo VOODOOHOP, produz happenings buscando a interatividade com o público, convidando-os para participarem de sua dança e sua pintura.

O vício pode ser separado em dois momentos distintos: a exacerbação e superação. Jacqueline Faus quando apresenta seu vídeo bipartido e sem sincronia, nos mostra a aflição desse vício e a luta fracassada para tentar vencê-lo. No trabalho de Henrique Godinho, um vídeo-diário busca retratar a dificuldade na superação de um vício, assim como seus momentos de fraqueza.

Isabela Contini, ao colocar-se de ponta cabeça em lugares com um grande fluxo de gente, nos mostra como se sente perante a sociedade. Izabela Mariano, busca por meio de cortes em um colã representando a pele, revisitar seu passado e superar uma cicatriz em seu corpo.

Já Roberto Espinosa, cria um labirinto em que explora diversos ícones religiosos que marcaram sua busca espiritual.

No decorrer desta publicação apresentaremos os escritos de cada artista explorando as questões pertinentes ao próprio trabalho.

Henrique Godinho

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6Aline TimaSem título

2011vídeo

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Nessa videoperformance apresentada por Aline Tima, a artista parte da intenção de transportar suas performances, feitas nas festas de seu coletivo VOODOOHOP, para dentro de um estúdio convidando os espectadores a participarem de um happening. No estúdio, iluminado apenas com a luz ultravioleta (luz negra), com caixas de som e um cubo expositivo, inicia-se a musica e a artista começa a se pintar com tintas flourescentes, dançar e interagir com objetos tambem flourescentes.

As performances, realizadas nas festas são transbordadas com o inusitado e o acaso, o estranho, a imprevisibilidade, a atemporalidade e a intenção de aproximar o público com a festa, a festa deve ser o público e o público ser a festa. Por isso a performance atingiu seu objetivo quando os participantes se deslocaram do papel de espectadores sentados em volta do cubo assistindo a ação e se reúnem junto a artista para dançar.

Após o happening a artista editou as imagens de registro resultando em um video. O video mostra recortes do happening mas tem uma intenção diferente, ele quer ressaltar o bizarro, caracteristica encontrada em toda produção de Aline Tima.

Minha potência artística encontra-se na ação, na agilidade, na agitação, no alvoroço, na confusão, conturbação, na deslocação, no deslocamento, na dinâmica, na energia, inquietação, na locomoção, na movimentação e no tumulto. Não esquecendo que meus objetos e minhas customizações derramam o destaque, o realce, e o relevo, muito sobre minha aparência e meu carácter, muito sobre mim

Aline Tima

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10Henrique Godinho

Projeto Afetivo II Anasorvo

2012vídeo

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O “Projeto Afetivo II – Anasorvo” consiste em uma vídeo-performance autobiográfica sobre o ato de parar de fumar. Gravado durante dois meses, expunha as reações que a falta de cigarro me causava, todos os sintomas e sentimentos, bem como questionamentos sobre a validade do projeto.

Parte importante da libertação do vício é a despedida. O vídeo começa com o último cigarro sendo fumado. Enquanto outros cigarros são destruídos e jogados em um copo com água, tingindo essa água com um tom de marrom sujo. Em um segundo momento, são apresentadas as três regras do “jogo”:

1. A mais óbvia, não fumar;

2. Ao sentir vontade de fumar, gravar um vídeo explicando as sensações;

3. Se a vontade de fumar for quase incontrolável, acender um cigarro e puxar até o último trago. Apagar a brasa no braço assim que terminar de fumar.

A performance é dividida em três partes:

- A primeira, sendo o vício mais forte;

- A segunda com o vício bem tênue (com as gravações já não são tão frequentes);

- A terceira e última seria a total libertação do vício, momentos finais do vídeo.

A primeira parte é marcada pelo espectro da terceira regra, essa permeia grande parte das gravações, refletindo medo ou um “tanto faz” se ela se concretizar. Essa regra aparece como um fio condutor do trabalho como um todo e, define também, a transição da primeira parte para a segunda parte.

A segunda parte é marcada pela relação mais tênue com o vício. Ele já não se faz mais tão presente e está bem mais controlável. Talvez pelo fato de já ter a queimadura no braço, ou seja, já ter recebido a punição pela violação de uma regra imposta por mim mesmo, ou por simplesmente não ter mais tanta vontade.

Na terceira parte em que o vício não está mais presente, são registrados momentos de reflexões sobre o cigarro, despedidas e agradecimentos a todos que auxiliaram durante o processo.

A série de trabalhos “Projetos Afetivos” prezam pelo registro de coisas ou lugares da minha rotina que me geram sensações, devaneios e

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questionamentos. Baseando minha pesquisa principalmente na cartografia, busco ligar a geografia às percepções sobre os espaços e como reagimos a eles. Um conceito já presente nos escritos dos Situacionistas1 de Guy Debord, quando é introduzida a ideia de psicogeografia2.

Nessa vídeo-performance, fica clara a influência de determinados locais e situações no vício - como sou influenciado pelo espaço que me rodeia. Como quando estou em um bar e a vontade de fumar é muito grande, o bar como um espaço bombardeador de sensações, sejam elas causadas pela presença dos amigos, do álcool e da música.

Em diversos momentos o cigarro é questionado como criador de situações, ou seja, como agente agregador para uma conversa, como aliviador de tensões, retardamento de euforias, gerador de clareza, etc. Ao mesmo tempo, é colocado em uma balança, por se perceber que muitas vezes esses pontos positivos se contrapõem aos negativos – principalmente físicos. A falta de fôlego, o constante uso de medicação para asma, parentes que sofreram por causa do cigarro, etc., são os principais motivos que me levaram a parar de fumar.

Fica evidente que o principal questionamento desse trabalho é Mente X Corpo, a busca por um equilíbrio em que não seria mais necessária a presença da “muleta” cigarro. Essa que traz estabilidade mental, mas que danifica o corpo.

Henrique Godinho

1. Movimento artístico europeu que prezava por uma arte e política revolucionária, que só aconteceria se houvesse o “urbanismo unitário” - integração das artes com o meio urbano. O movimento foi fundamental para o “Maio de 68”.

2. “Estudos dos efeitos exatos do meio geográfico, conscientemente planejados ou não, que agem diretamente sobre o comportamento afetivo do indivíduo.”. (INTERNACIONAL SITUACIONISTA – IS nº1, junho de 1958.).

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Projeto Afetivo II - Anasorvo é uma vídeo-performance de Henrique Godinho e foi apresentado no atelier livre utilizando um projetor e uma parede móvel branca. Além do vídeo era encontrado no local expositivo um caderninho com anotações, pensamentos, alguns devaneios e desenhos do próprio artista com relação ao tema do vídeo que tinha como proposta o artista parar de fumar.

Henrique Godinho, estudante de artes de vinte e dois anos é asmático e toma remédios todas as manhãs desde os seus quinze anos de idade, porém aos dezesseis o artistas começa a fumar. Devido a problemas recorrentes em sua família, com o próprio cigarro, ele decide dar fim a esse vício, criando assim esse vídeo performance, em que ele grava o seu dia-a-dia durante dois meses, mostrando as partes em que se encontra na luta contra esse vicio, deixando evidente o sofrimento e a angustia da luta para uma vida mais saudável e melhor.

O vídeo se inicia numa terça-feira, 20 de março, em que o artista comenta ter fumado seu ultimo cigarro as vinte e três horas e cinquenta e cinco minutos do dia anterior, dando assim inicio a sua luta contra o tabaco em seu corpo, acrescentando três regras para si, em que a primeira é não fumar, a segunda é que a todo o momento que sentir vontade irá filmar os momento de abstinência, completando ser viciado e por fumar um maço de cigarros por dia, terceira e ultima regra, é que se sentir vontade irá fumar e apagar o cigarro no braço, queimando-o como forma de punição.

No decorrer do vídeo é mostrado o sofrimento do artista em sair do vício, e ele comenta sobre, dizendo que o vício vem oscilando, horas com muita força. Sente um vazio, estresse e nervoso. Possuindo também dificuldades para se levantar, se sente muito exausto. No meio das gravações, em momentos de depressão causados pela falta do tabaco no organismo o artista reflete sobre os efeitos causados pela droga no organismo e a falta que isso faz, sem contar os sintomas físicos. Como aperto no peito, sensação de vazio, dor de cabeça, sono forte e às vezes calafrios, também sobre as mudanças de humor.

No inicio é difícil para Henrique controlar o vicio, e ele começa a fazer desdém em queimar ou não o braço. Nisso, ao sair com os amigos para beber, acaba por fumar um cigarro, arrependendo-se logo em seguida. E como foram dadas as regras, ele apaga o cigarro em seu braço, deixando uma pequena cicatriz em forma de circulo.

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No final do vídeo, o artista consegue o seu propósito e para finalmente de fumar, possuindo apenas uma única cicatriz em seu braço. A performance tem a duração de dois meses, sendo que o vídeo possui cerca de mais ou menos uma hora de gravação. Com o decorrer do trabalho ele consegue controlar o vício e comentando sobre a melhora em sua vida e saúde, o caminho que ele costumava fazer fumando um cigarro e que o deixava sem fôlego, hoje ele faz sem nenhuma dificuldade.

O caderninho continuará sendo usado pelo artista para anotações como um complemente e continuidade ao trabalho iniciado e realizado com êxito.

Daniela Souza1

1. Estudante de Artes Visuais pelo Centro Universitário Belas Artes de São Paulo.

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16Isabela ContiniXII – o décimo

segundo 2012

fotografia

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A performance foi realizada na Avenida Paulista em frente a lugares movimentados, sendo apresentada por registros fotográficos. Na ação fico na posição de cabeça para baixo com uma corda amarrada no pescoço.

A sensação que tenho com situações, relações e lugares, provoca desconforto. O incomodo vem como um “sufocamento”, de maneira que sinto um desconhecimento do caos interior e exterior e a sensação de estar contrária ao mundo, gera um questionamento da minha própria identidade.

O fato de ficar de cabeça para baixo nesses lugares que considero sufocantes é para enfatizar o quanto me sinto distante do que poderíamos dizer comum, o que me dá outras perspectivas de visão, como se fosse um mistério e uma tentativa de se libertar de mim mesma e dessas situações das quais eu mesma me coloco.

É a angústia que permeia o campo social, existencial e psicológico. São essas questões que busco em meus trabalhos, e que possuem uma pesquisa autobiográfica.

A pesquisa é sobre as formas de percepções conscientes e inconscientes que geram um mundo de características nos indivíduos, os caminhos do homem em busca do seu espaço interior e exterior e como isso nos revela diversas funções psicológicas. O registro desses fragmentos sonhados ou vivenciados,

numa confusão de delírio, fantasia, medo e realidade, questionando a identidade do ser.

Na tentativa de trazer a completude desses aspectos, os trabalhos trazem a possibilidade da existência de uma transparência entre esses opostos.

Isabela Contini

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Ao manter contato com Isabela Contini, percebi sua dificuldade ao desenvolver o seu projeto, por quanto esses desafios a deixa com o sentimento de estar presa, dando a impressão de que não vai conseguir desenvolver seu trabalho.

Pensando nisso, Contini traz a tona em sua performance, uma questão bastante pessoal, que é o mal estar que a sufoca criando um sentimento de estar presa consigo mesma.

Ao ficar de cabeça para baixo, ela mostra seu desconforto pela posição que escolheu, a corda no pescoço remete sufoco, e estar em lugares públicos e movimentados, tem a sensação de ficar sempre fora do contexto.

A performance de Isabela Contini foi realizada através de registros fotográficos tirados de sua ação performática em um espaço público e movimentado (como na frente do Conjunto Nacional na Av. Paulista e no metrô).

Nessa performance, ela fica numa posição de cabeça para baixo por alguns segundos encostada na parede, na frente desses lugares com uma corda presa em pescoço.

O resultado desse trabalho foi apresentado através de um conjunto de seis fotos tamanho A4, dispostas lado a lado na parede do corredor da unidade I (térreo), frente à biblioteca.

Ao entrar em contato com os registros performáticos de Isabela Contini, percebi que esse trabalho poderia se desdobrar em outras maneiras de apresentação como, por exemplo, registros em vídeo ou que as fotos chamariam mais a atenção do espectador, se tivessem dispostas em tamanhos maiores. Penso que essa performance traz, em sua linguagem, um sentimento de prisão, desconforto e sufoco. Poderia também ser apresentada em uma sala fechada, com a performer encostada na parede de cabeça para baixo com a corda no pescoço, e essa mesma corda também presa nos pés. Talvez retratasse mais a questão de estar presa com ela mesma.

O que mais me chamou a atenção observando seus registros, foi a posição em que ela se encontrava (de cabeça para baixo) e isso me causou certo desconforto. Já a questão de estar presa ou sufocada, isso os registros não me passaram.

Mariângela Gazel1

1. Estudante de Artes Visuais pelo Centro Universitário Belas Artes de São Paulo.

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24Izabela Mariano

Diérese2012

performance

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Diérese vem de uma sequência de trabalhos que tentam intensificar aquilo que é invisível, seja por não ser acessível ao olho pela dimensão física, seja pela intensa banalização do que é tratado. O termo é cirúrgico e define a separação cirúrgica de tecidos, ou, simplesmente, separação.

A razão real desta performance é uma pequenina cisão feita na pele da autora, uma cirurgia pequena que resultou numa grande cicatriz interna, de força psicológica e emocional.

A performance consiste basicamente na abertura de uma segunda pele no corpo da autora por meio de uma lâmina de barbear. A lâmina, no entanto, é manuseada pela própria performer, que o faz de olhos espontaneamente fechados; a roupa começa a ser rasgada na mesma região do corte de anos atrás, e percorre como uma linha reta a lateral do corpo da artista. Alusão ao momento da cirurgia, a separação do tecido relembra o corte na pele, ao mesmo tempo em que separa o tecido da própria pele, carne, da artista. Num segundo momento, esse já de ordem emocional, a situação de certo perigo de ferimento além do fato da iminente nudez, vem trazer à performer a rememoração da dor da cirurgia, vivida aos 14 anos, juntamente ao medo e a vergonha da exposição do corpo, naquele momento desprotegido e em momentos futuros nos quais a cicatriz será vista.

Num terceiro momento, de caráter psicológico, a performance rememora todos os motivos do porquê de sua elaboração e execução, que acaba servindo de válvula de escape para todo esse universo preso na cicatriz.

Como uma alegoria, é se despindo da pele, como um animal que o faz para crescer, que a artista finaliza o trabalho, deixando para trás o tecido rasgado e já sem finalidade alguma.

Há, porém, o principal desvio de atenção ao passado, que tira o expectador do transe da aflição da vista: a queda da lâmina. Afinal com os dedos enfaixados para que não haja nenhum corte mais profundo nas mãos e que se possa dar continuidade na execução do trabalho, perde-se grande parte da sensibilidade tátil. Assim, há o descontrole da ferramenta, que freqüentemente cai no chão e se perde frente aos olhos fechados da performer. A recuperação da lâmina é o único empecilho para o término da ação; o objeto, porém, não se distingue do piso à sensibilidade das mãos. Tal perda de controle é, talvez, o que mais signifique a sensação do acontecido anos atrás, enquanto é a única ferramenta que possibilita arrancar o tecido e o passado, podendo-se então caminhar livremente.

Izabela Mariano

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28Jacqueline Faus

Sem título2012

vídeo

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Nesta vídeo-performance, Jacqueline aponta para a difícil relação entre corpo e mente em que um parece não corresponder ao desejo do outro. Os vícios ou compulsões adquiridos com o passar do tempo, ficam incrustados se assemelhando a uma característica do ser que, através de um ato mecânico, não consegue se desvencilhar tão facilmente destes. Tais vícios geram um certo prazer por funcionarem como uma válvula de escape para eventuais desconfortos ou ansiedades. Por gerarem prazer, que pode ser apenas inconsciente, a mente luta para não abandoná-los, mesmo estas sendo um tipo de mutilação para o corpo. A mente luta por saber que é o melhor e ao mesmo tempo se contradiz dando continuidade ao vicio.

No vídeo, Jacqueline aparece pintando as unhas e passando batom vermelho evidenciando um gesto feminino e no momento seguinte retira-os mordendo os lábios e roendo as unhas, ação esta que se repete até o final do vídeo numa tentativa de externar a luta entre tentativa e erro.

O video foi realizado com o uso de duas câmeras digitais que gravaram simultaneamente a ação com duração de 15 minutos. As câmeras estão em plano fechado na boca e nas mãos respectivamente evidenciando a ação e ao mesmo tempo ocultando a identidade da personagem. Na montagem final, utilizou-se os dois quadros, para se ter uma imagem única, porém foram postos de forma deslocada com intuito de causar estranhamento, distorção na realidade. Existe uma diferença de dois segundos entre o começo dos videos, fazendo com que as ações se tornem confusas e atropeladas.

Jacqueline Faus

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31Roberto EspinosaLabirinto e Religião2012performance

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Busco no trabalho “Labirinto e Religião” demonstrar, de forma plástica, usando a performance como meio de expressão, momentos de minha vida peloas quais passei.

Cada religião tem sua peculiaridade. Em nenhuma delas, qualquer que seja, tem uma resposta. Todas vendem ilusões. Aquele que é adepto paga um preço: seja pecuniário, seja prestando serviço para a mesma.

Não é fácil, nunca foi. O que se faz é experiência de vida. Aquele que viveu ou sobreviveu, tem história para contar. É como se fosse parte da evolução do ser humano. Escrevendo isto, eu me dispo diante do espectador e dou a cara a bater.

Roberto Espinosa

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Labirinto e religião, 2012, é uma performance de Roberto Espinosa que determina conscientemente o caminho percorrido pelo artista até encontrar a si mesmo. Um “labirinto” com extensão de cerca de 10 x 6m, feito com colagem de fitas krep no chão se torna a estrutura em que Espinosa pretende desbravar, mas como já insinuado com aspas, esse labirinto é perfeitamente visível por completo, já que a inexistência de paredes afins acontece concomitante a escolha clara do performer na visão de seu caminho. Cerca de 10 becos, como é chamado pelo próprio artista, são criados. Alguns abrigam em seu interior objetos pertencentes a diversas religiões - entre elas estão a Umbanda, a Católica, a Muçulmana, a Budista, a Hinduísta, a Judaica, a Espirita e por fim, na outra ponta de “saída” (ou entrada do labirinto) se encontra a imagem fotográfica em porta retrato do próprio artista - e alguns poucos não contêm absolutamente nada. Esses vazios que poderiam ser momento de pausa para a sublime reflexão de escolha do percurso do artista, foram, por dentre as 3 apresentações seguidas da performance, inabitados tanto pelo olhar de Espinosa, assim como nem almenos visitados. Talvez esses espaços poder-se-iam resplandecer tanto o artista quanto o espectador a fim de qualificar (ou rever) a nossa inquietação contemporânea para com um tal ócio criativo. Mas, por certo, a ansiedade do performer em percorrer por entre as “religiões” falou mais alto no decorrer da realização do trabalho, o que fez o público presente asseguram atenção apenas na caminha e leituras do artista.

Como foi explicitado anteriormente, Roberto Espinosa realizou cerca de 3 vezes seguidas a performance Labirinto e Religião. Na primeira instância, a realização do trabalho durou cerca de 5 minutos, tempo muito inferior ao estimado pelo artista. As poucas entradas, os poucos caminhos e poucos becos, não deixaram muitas escolhas a serem feitas. Percorreu-se um caminho já possivelmente imaginado por quem assistia. Mas, como também concebido por Espinosa, o ato de ignorar fortuitamente o que se encontra em cada beco, nessa primeira apresentação, no sentido em que o artista apenas estagnou por diante os objetos religiosos e sem nenhuma expressão ou interesse os abandonou, estantes depois, sem algum questionamento ou crise, fez com a performance tivesse duração muito inferior ao esperado. Ao mesmo tempo que alimentou o desinteresse do espectador.

Porém, em sua segunda apresentação, Espinosa surpreendeu os poucos espectadores presentes. Antes de adentrar o lugar do trabalho, o artista disse: “Vou brincar um pouquinho tá!”. E foi assim, meio tímido e com sede

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de experimentar com o que trabalhava, que Espinosa iniciou uma jornada interessante aos nossos olhos. Primeiramente o artista dançou uma tentativa de gestos “candomblés”, pois, como ainda não foi esclarecido, na “entrada” (ou saída do labirinto) os objetos em cena eram aqueles que faziam parte de rituais com orixás. Ainda assim vale comentar aqui que o que se apresentava eram alguns chocalhos e a imagem de Exú, que estando na entrada das casas se torna o guardião delas. Em seguida, a bíblia católica, em que Espinosa faz o sinal da cruz, numa parada breve, sinaliza “em nome do pai, do filho, do espírito santo, amém”, demonstrando nesta segunda vez alguma reverência ou relevância ao que encontrará em seu “caminho”. E assim permaneceu, por todos os becos que haviam objetos religiosos o artista tentou fazer reverência similarmente ao que é feito simbolicamente por praticante das mesmas.

Mas somente na terceira vez que Roberto Espinosa realizou sua performance é que o trabalho nos pareceu tomar algum corpo pertinente. Pois foi neste momento que o artista conseguiu unir as duas ações principais, feitas nas duas primeiras realizações, juntamente ao interesse em reconhecer os objetos que trabalhava. Então, Espinosa uniu sua parada estagnada em frente, e dentro dos becos, às “religiões, simbolicamente referente, com os gestões simbólicos próprios de cada uma, assim como o manuseio dos objetos e leituras dos livros, quando era presente o texto. Dessa maneira Labirinto e Religião conteve um tempo maior ao qual o público pode perceber maior nuances críticas e descompromissadas do performer para com seu trabalho, expressadas diretamente nas escolha dos trechos que lia de cada livro e também na maneira em que lidava com os objetos religiosos que manuseava.

Pois bem, não só o fato de apenas na terceira demão que a performance conquistou o interesse do espectador, mas também ela nos disse algo em sua finalização. Coisa essa que até o presente momento de escrita crítica desse texto não nos pareceu clara. Lembremos que a “saída” orientada do labirinto de krep contem a imagem fotográfica em porta retrato do próprio artista. Lembremos também que Espinosa, em sua terceira tentativa, continuou a manter seu instante estagnado diante as imagens e objetos religiosos que encontrava ao caminhar pelo labirinto. Além de que ele agora fazia sinais simbólicos para cada conteúdo de cada beco. Por assim ser, na saída do labirinto de ser terceiro ato, Espinosa olhou rapidamente sua imagem ao chão, ergueu sua cabeça ao horizonte, estagnado, fez pela segunda vez

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o gesto simbólico católico, “em nome do pai, do filho e do espírito santo” foram suas ações finais. Mas, talvez propositalmente, ele esqueceu uma última palavra/símbolo, “amém”, e ao invés dela Espinosa bateu duas vezes no peito, com a mão bem aberta e uma expressão de quase satisfação, um orgulho contido apenas em si e para si mesmo.

E por isso, no final de um olhar mais crítico, nos sobrou somente algumas especulações condizentes a terceira apresentação de Labirinto e Religião. Suposição essa que não consegui se distinguir do próprio Roberto, como pessoa e como artista.

Leonardo Araujo1

Junho de 2012

1. Estudante de Artes Visuais pelo Centro Universitário Belas Artes de São Paulo.

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Revista apresentada à disciplina de Poéticas Contemporâneas - Linguagens do Corpo, ministrada pela Professora Juliana Moraes, para obtenção parcial da nota bimestral.