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Indicadores financeiros e sustentabilidade: uma análise do Banco do Brasil
Renata Depieri Viegas Universidade Estadual de Londrina, Brasil
Marissa Yanara de Godoy Lima Universidade Estadual de Londrina, Brasil
Saulo Fabiano Amâncio-Vieira Universidade Estadual de Londrina, Brasil
Luciano Gomes dos Reis Universidade Estadual de Londrina, Brasil
Área Temática: H - Contabilidade e Gestão Ambiental
Resumo
A presente pesquisa busca analisar a evolução dos investimentos nos programas de
responsabilidade socioambiental e os indicadores financeiros no setor bancário brasileiro. A
base teórica utilizada consiste em: Sustentabilidade; Gestão Ambiental; Setor Bancário e
Balanço Social. Quanto aos procedimentos metodológicos, tem-se que a presente pesquisa
caracteriza-se como quantitativa e baseou-se nos relatórios e balanços publicados anualmente
pelo Banco do Brasil, viabilizando uma análise estatística descritiva, realizada entre os anos de
2005 e 2015. A problemática acerca da responsabilidade social e ambiental surgiu a partir da
década de 60 e desencadeou a formulação do paradigma do desenvolvimento sustentável. Nesse
sentido, a sustentabilidade, que se tornou um tema global, encontra-se presente também na
rotina das organizações bancárias, que, despertadas pelo contexto atual, tendem a se preocupar
com os impactos ambientais na sociedade, levando em consideração os fatores que podem
influenciar no futuro das próximas gerações.
Palavras-chave: Gestão Ambiental Empresarial, Setor Bancário, Balanço Social, Banco do Brasil.
1. Introdução
O cenário organizacional está passando por um processo de incessantes transformações no qual
a relação entre o ser humano e a sustentabilidade passou a ser um assunto debatido
mundialmente, uma vez que os avanços dos processos produtivos desencadearam impactos
sociais e ambientais que afetam drasticamente esta e as futuras gerações. Teixeira e Mazzon
(2000) mencionam que as organizações estão inseridas em um contexto social que envolve
diversos stakeholders, entendidos como grupos ou indivíduos com os quais a organização
interage ou possui interdependência, ou seja, qualquer indivíduo ou grupo que pode afetar ou
ser afetado por ações, decisões, políticas, práticas ou objetivos da organização.
Nesta perspectiva de mudanças, a sociedade civil passou a posicionar-se de maneira positiva ao
cobrar sistematicamente a conduta ética das empresas e seus gestores. As exigências aumentam
por parte dos consumidores em relação às informações sobre os produtos e serviços oferecidos,
bem como o tratamento aos colaboradores e ao meio ambiente. Sob este viés, o estudo mostra-
se relevante por ilustrar a relação entre os investimentos socioambientais e os indicadores
financeiros do Banco do Brasil.
O interesse particular em analisar os investimentos realizados na área de responsabilidade
socioambiental no setor bancário brasileiro deve-se ao fato de tratar-se de um setor que possui
significativa representatividade no PIB do país, onde a expansão de crédito movimenta todos
os setores da economia, gerando emprego e renda. Ademais, Silva e Porto Júnior (2006)
mencionam que os bancos são responsáveis por um volume de 60% das transações do sistema
financeiro nacional.
Dessa forma, o objetivo deste trabalho é analisar a relação entre os investimentos em
sustentabilidade e os indicadores financeiros no Banco do Brasil no período de 2005-2015. Para
isso, foram analisados diferentes índices financeiros relacionados ao desempenho da instituição
bancária e sua relação com a sustentabilidade. Buscou-se, nesse sentido, verificar a
possibilidade de vislumbrar impactos positivos estatisticamente significativos pela adoção de
uma postura socialmente responsável em relação ao desempenho médio do mercado,
representado neste estudo pelo Banco do Brasil.
Assim, é relevante afirmar que esta pesquisa se justifica por abordar um tema de considerável
relevância ao cenário atual, visto a crescente preocupação com as questões ambientais e o
desenvolvimento sustentável, tal como a importância do setor bancário na economia nacional,
uma vez que sua representatividade se confirma pela essencialidade dos serviços financeiros na
vida humana.
2. Referencial Teórico
Neste capítulo são trazidos conceitos teóricos sobre sustentabilidade e gestão ambiental, tendo
em vista a importância de tais temáticas na condução do estudo e o fato de se situarem na
confluência de muitas decisões que envolvem o setor bancário. Sobre este segmento, são
apresentados dados relativos ao Sistema Financeiro Nacional e a evolução do setor bancário no
Brasil. Por consequência, aborda-se o Balanço Social e sua importância para uma análise
financeira consistente.
2.1 Sustentabilidade
As últimas décadas do século XX apresentaram uma série de desafios para a sociedade como
um todo, especialmente no que se refere à problemática ambiental. A busca permanente por
alternativas para conter a flagrante devastação da natureza em seus recursos mais preciosos,
como o ar e a água foram a tônica dos discursos acadêmicos e presença constante em textos
legais de diferentes países.
A proposta de um ambiente sustentável encontra-se preconizada no texto da Constituição
Federal de 1988, em seu art. 225:
Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum
do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à
coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para o presente e as futuras gerações
(BRASIL, 1988).
De acordo com o Estatuto da Cidade, a garantia do direito à cidades sustentáveis é assegurada
com absoluta prioridade, conforme dispõe o art. 2 da Lei nº 10.257. Este direito compreende o
direito “[...] à terra urbana, à moradia, ao saneamento ambiental, à infraestrutura urbana, ao
transporte e aos serviços públicos, ao trabalho e ao lazer, para os presentes e futuras gerações
[...]” (BRASIL, 2004, p. 17).
No tocante às estratégias de sustentabilidade urbana, destacam-se, aquelas voltadas para o
aperfeiçoamento e regulamentação do uso e da ocupação do solo urbano e do território; a
promoção do desenvolvimento das instituições e do fortalecimento da capacidade de
planejamento e gestão da cidade; a realização de mudanças nos padrões de produção e consumo
e o desenvolvimento e estímulo à aplicação de instrumentos econômicos no gerenciamento dos
recursos naturais visando à sustentabilidade urbana (BRASIL, 2004).
Ao adentrar no século XXI, o acirramento dos problemas ambientais, resultantes do aumento
da escala de produção e consumo humanos, tornaram-se significativamente maiores.
Berté (2009, p.125) define impactos ambientais como “choques de interesses diretos ou
indiretos envolvendo o homem e a natureza”. Busca-se, na resolução Conama nº001/86, a
ampliação de tal conceito:
Considera-se impacto ambiental qualquer alteração das propriedades físicas, químicas
e biológicas do meio ambiente, causada por qualquer forma de matéria ou energia
resultante das atividades humanas que, direta ou indiretamente, afetam: I - a saúde, a
segurança e o bem-estar da população; II - as atividades sociais e econômicas; III - a
biota; IV - as condições estéticas e sanitárias do meio ambiente; V - a qualidade dos
recursos ambientais.
Retomando o pensamento de Berté (2009), busca-se compreender os elementos constituintes
dos impactos ambientais. Assim, é importante reconhecer as relações dinâmicas entre os
processos sociais e ecológicos, e os aspectos ecológicos e socioeconômicos que os perpassam.
A este respeito, Barbieri (2007, p. 7) salienta:
Os problemas ambientais provocados pelos humanos decorrem do uso do meio
ambiente para obter os recursos necessários para produzir os bens e serviços que estes
necessitam e de despejos de materiais e energia não aproveitados no meio ambiente.
Mas isso nem sempre gerou degradação ambiental, em razão da escala reduzida de
produção e consumo e da maneira pela qual os seres humanos entendiam sua relação
com a natureza e interagiam com ela. O aumento da escala de produção tem sido um
importante fator que estimula a exploração dos recursos naturais e eleva a quantidade
de resíduos.
Estão presentes, na concepção trazida por Barbieri (2007), duas questões centrais que se situam
na confluência dos graves problemas ambientais da atualidade: o aumento do consumo e a
elevação da quantidade de resíduos. Sachs (2008, p. 13), ao analisar o panorama atual, postula
que "os desafios do desenvolvimento sustentável - protegendo o meio ambiente, estabilizando
o crescimento demográfico mundial, reduzindo as diferenças entre ricos e pobres e acabando
com a miséria - tomarão o centro do palco". Este mesmo autor aponta as causas das crises
sociais e ecológicas que precisam ser enfrentadas pela humanidade:
[...] as pressões humanas sobre os ecossistemas e o clima da Terra; o crescimento da
população mundial; a miséria e a pobreza não aliviadas pelo crescimento econômico;
o peso do cinismo, do derrotismo e de instituições ultrapassadas na insolubilidade dos
problemas globais (SACHS, 2008, p. 13).
Sachs sugere que as soluções para tais problemas se encontram na perspectiva da cooperação
global. A partir desta proposição, é oportuno ainda considerar que as ações voltadas ao meio
ambiente, derivadas da responsabilidade socioambiental, são baseadas na interação das
empresas com o meio no qual realizam suas práticas. Este tipo de ação fortalece a imagem da
empresa diante dos seus stakeholders, reforçando seu compromisso com a ética e com o
desenvolvimento econômico, na proporção em que busca promover o desenvolvimento
sustentável da sociedade (LIMA, BORINELLI e VIEIRA, 2015).
2.1.1 Gestão Ambiental
Segundo Tachizawa (2004), a gestão ambiental e a responsabilidade social assumiram um
importante papel como instrumentos gerenciais para a criação de condições de competitividade
para as organizações, independente do segmento econômico em que atuam. Neste novo
contexto, as organizações necessitam compreender que não deve existir conflito, mas um
objetivo comum entre desenvolvimento econômico e proteção ambiental, tanto para o momento
presente, como para as gerações futuras.
Rufino et al. (2014) explicam que desde a década de 90, a definição de sustentabilidade tem
sido relacionada ao conceito denominado Triple Botoom Line (TBL), que abrange o
desenvolvimento sustentável na dimensão econômica, social e ambiental, nas empresas. Nesta
dimensão, as organizações precisam considerar que o resultado econômico não deve ser tratado
isoladamente das dimensões ambiental e social.
Deste modo, a gestão empresarial no atual estágio da sociedade requer uma visão abrangente,
cujas metas prioritárias devem ser estabelecidas em consonância com as demandas sociais e
ambientais, bem como em atendimento a questões legais que impõem uma série de requisitos
para a atuação da moderna empresa.
Para Moura (2002), a base de razões que levam as empresas a adotar e praticar a gestão
ambiental são variadas, incluindo desde procedimentos obrigatórios de atendimento da
legislação ambiental, até a fixação de políticas ambientais que visem à conscientização de todo
pessoal da organização.
Andrade, Tachizawa e Carvalho (2000, p. 76) consideram que a “Gestão ambiental visa integrar
plenamente, em cada empresa, essas políticas, programas e procedimentos como elemento
essencial de gestão, em todos os seus domínios”. Nesta direção, a gestão ambiental configura-
se como uma ferramenta de melhoria na vida empresarial e pessoal de cada sujeito. Entende-se
que a resistência na adoção deste tipo de gestão revela uma preocupação com os custos iniciais
do processo de implantação, mas é possível afirmar, no entanto, que a proteção ambiental, além
dos inegáveis benefícios a longo prazo, assegura à empresa sua inserção no mercado
competitivo.
Fazer atuar as forças de mercado para proteger e melhorar a qualidade do ambiente,
com a ajuda de padrões baseados no desempenho e no uso criterioso de instrumentos
econômicos, num contexto harmonioso de regulamentação, é um dos desafios que o
mundo enfrentará nos novos tempos. Essa melhoria de qualidade necessita de uma
atuação da organização diante de pressões dessas forças de mercado, representado
pelas variáveis ambientais: legais (normas da série ISO 14000 e ISO 16000, por
exemplo), econômicas, tecnológicas, sociais, demográficas e físicas (TACHIZAWA,
2004, p. 16).
Ainda conforme o entendimento de Tachizawa (2004), a inclusão da proteção do ambiente no
âmbito da moderna empresa amplia os conceitos que regem a Administração. Nesta perspectiva,
os gestores passaram a introduzir programas de reciclagem, além de medidas de redução do
consumo de energia e outras práticas abrangentes sob o viés ecológico. O autor salienta que
este novo estilo de administração tem sido associado à gestão ambiental, frequentemente
atrelada à ética e à responsabilidade social, e requer uma mudança de valores na cultura
organizacional.
Assim, é possível afirmar que a gestão ambiental se configura como exigência trazida pela
modernidade, diante da séria crise ambiental desencadeada, em grande parte, pela atuação
desordenada das empresas em relação ao meio ambiente. Por esta razão, é urgente e necessário
que sejam adotadas medidas eficazes para reverter este quadro, por meio ações e programas
voltados para a gestão ambiental.
2.2 Setor Bancário Brasileiro
Torna-se importante, dado o objeto de estudo do presente trabalho, apresentar a conformação
do mercado financeiro. Para Cavalcante, Misumi e Rudge (2005, p. 22), o sistema financeiro
pode ser descrito como “[...]um conjunto de instituições e instrumentos financeiros que
possibilita a transferência de recursos dos ofertadores finais para os tomadores finais, e cria
condições para que os títulos e valores mobiliários tenham liquidez no mercado”.
Pinheiro (2009) define o sistema financeiro de um país como um conjunto de instituições,
instrumentos e mercados agrupados de uma forma harmônica, com a finalidade de canalizar
poupança das unidades superavitárias até o investimento demandado pelas unidades deficitárias
(PINHEIRO, 2009).
Já as instituições financeiras, conforme apontam Cavalcante, Misumi e Rudge (2005, p. 23) e
nos termos da Lei da Reforma Bancária, são:
[...] pessoas jurídicas, públicas ou privadas, que tenham como atividade principal ou
acessória a coleta, intermediação ou aplicação de recursos financeiros, próprios ou de
terceiros, em moeda nacional ou estrangeira, e a custódia de valor de propriedade de
terceiros. Para os efeitos dessa lei, equipararam-se às instituições financeiras as
pessoas físicas que exerçam qualquer das atividades referidas de forma permanente
ou eventual.
Voltando-se de forma exclusiva para o setor bancário, Grisci e Bessa (2004, p. 173) reportam-
se à intensificação da industrialização, a qual desencadeou novas adaptações do setor bancário
tendo em vista atender a uma demanda cada vez maior por crédito. Dentre tais alterações,
Máximo et al. (2011) incluem a progressiva substituição do dinheiro em papel pelo cartão
magnético e da agência física pela agência eletrônica, além da transformação das agências
bancárias em lojas informatizadas de produtos e serviços.
Sobre os serviços bancários, Assaf Neto (2003) ressalta que o sistema bancário presta inúmeros
serviços a todos os segmentos da economia, atividades que impulsionaram o crescimento de
inúmeras instituições sejam por meio da cobrança de tarifas ou outras formas de receitas ou,
ainda, pelo ganho que podem obter do floating que diversas operações costumam oferecer. O
autor esclarece que “o floating é entendido como uma retenção temporária por uma instituição
de recursos de terceiros, proporcionando ganhos financeiros provenientes da aplicação desses
valores até a data de entrega a seus proprietários” (ASSAF NETO, 2003, p. 123).
Este mesmo autor enumera alguns dos principais serviços prestados pelas instituições
bancárias:
Emissão de saldos e extratos de conta corrente em terminais de computador; emissão
de documentos de crédito (DOC); acesso eletrônico a saldos de aplicações financeiras;
extratos por meio de fax e serviços de homebanking; fornecimento de requisições
avulsas de talões de cheques e de cheques avulsos; caixas eletrônicos para saques,
depósitos etc.; emissões de cartões eletrônicos e cartões de créditos; sustação de
pagamento de cheques; cobranças bancárias; débito automático em conta corrente de
tarifas públicas; cofres de aluguel; abertura de crédito etc. (ASSAF NETO, 2003, p.
123).
A simples leitura da extensa lista de serviços conforma a essencialidade das instituições
bancárias no cotidiano de uma parcela expressiva da população. Mesmo que a realidade atual
deixe entrever a evolução de um processo de migração do público para os canais digitais, a
utilização das agências bancárias ainda se faz necessária, sobretudo na obtenção de crédito,
principalmente para pessoas jurídicas, que recebem um atendimento diferenciado, devido à
margem maior de retorno financeiro que podem trazer para as instituições.
Uma vez reconhecidos os conceitos e importância do sistema financeiro, no tópico a seguir são
apresentadas, de maneira detalhada, as funções de seus componentes.
2.2.1 Sistema Financeiro Nacional
A estrutura do Sistema Financeiro Nacional (SFN) engloba dois segmentos. O primeiro é
composto pelas instituições bancárias, ou o conjunto constituído por bancos comerciais, caixas
econômicas, cooperativas de crédito e bancos múltiplos. No segundo segmento, situam-se as
instituições que atuam nas demais áreas do mercado financeiro: bancos de desenvolvimento,
bancos de investimento, sociedades de crédito, financiamento e investimento, sociedades de
arrendamento mercantil, sociedades de crédito imobiliário, companhias hipotecárias,
associações de poupança e empréstimos, sociedades distribuidoras de títulos e valores
mobiliários e corretoras de câmbio e de títulos e valores mobiliários (CAVALCANTE,
MISUMI e RUDGE, 2005).
O órgão responsável pelo funcionamento do sistema financeiro nacional é o Conselho
Monetário Nacional (CMN), instituído pela Lei 4.595, de 31 de dezembro de 1964. Sua
constituição inclui o ministro da Fazenda, que atua como presidente, além do ministro do
Planejamento, Orçamento e Gestão e do presidente do Banco Central.
O Conselho Monetário Nacional é o órgão deliberativo de cúpula do Sistema
Financeiro Nacional. Suas principais atribuições são: estabelecer as diretrizes gerais
das políticas monetária, cambial e creditícia; regular as condições de constituição,
funcionamento e fiscalização das instituições financeiras e, disciplinar os
instrumentos de política monetária e cambial (CAVALCANTE, MISUMI e RUDGE,
2005, p. 22).
Deve-se mencionar ainda a existência da Comissão de Valores Mobiliários (CVM), entidade
autárquica, vinculada ao Ministério da Fazenda, cuja gestão fica a cargo de um presidente e
quatro diretores, cuja nomeação é feita pelo presidente da República e que atua como órgão de
deliberação colegiada, nos termos de regimento interno aprovado pelo ministério ao qual se
vincula. As competências da CVM são relacionadas por Cavalcante, Misumi e Rudge (2005, p.
27-28):
Assegurar o funcionamento eficiente e regular dos mercados de bolsa e de balcão;
Regulamentar, orientar e fiscalizar fundos de investimentos; Proteger os titulares de
valores mobiliários contra emissões irregulares e atos ilegais de administradores e
acionistas controladores de companhias ou de administradores de carteira de valores
mobiliários; Evitar ou coibir modalidades de fraudes ou manipulação destinadas a
criar condições artificiais de demanda, oferta ou preço de valores mobiliários
negociados no mercado; Assegurar o acesso do público a informações sobre valores
mobiliários negociados e às companhias que os tenham emitido; Assegurar a
observância de práticas comerciais equitativas no mercado de valores mobiliários;
Estimular a formação de poupança e sua aplicação em valores mobiliários; Promover
a expansão e o funcionamento eficiente e regular do mercado de ações e estimular as
aplicações permanentes em ações do capital social das companhias abertas.
O Banco Central (BACEN) é outra entidade autárquica vinculada ao Ministério da Fazenda.
Trata-se de um órgão executivo que deve cumprir as disposições atribuídas pela legislação em
vigor e as normas derivadas do CMN.
No sistema financeiro do Brasil, deve-se destacar a posição do Banco do Brasil (BB), instituição
que exerce uma dupla função, sendo agente financeiro do Governo Federal, como principal
executor das políticas de crédito rural e industrial, além de assumir também a função de banco
comercial. Dentre as atividades desempenhadas pelo BB como agente do governo, estão a
prestação dos serviços de compensação de cheques e outros; o recebimento de pagamentos em
nome do BACEN, além da realização de operações cambiais por conta própria e por conta do
BACEN e execução à política de comércio exterior, mediante a aquisição e financiamento de
estoques de produtos de exportação. No âmbito de atuação como banco comercial, o BB disputa
mercado com outras instituições, tendo como natureza jurídica o status de sociedade brasileira
de economia mista de capitais públicos e privados, sendo suas ações cotadas em Bolsas de
Valores. (CAVALCANTE, MISUMI e RUDGE, 2005)
Sobre os bancos múltiplos, convém assinalar o conceito trazido por Cavalcante, Misumi e
Rudge (2005, p. 29):
Criados em 1988, pela Resolução 1.524 do BACEN, são bancos que podem operar
simultaneamente, com a autorização do Banco Central, carteiras de banco comercial,
de investimento, de crédito imobiliário, de crédito, financiamento e investimento, de
arrendamento mercantil (leasing) e de desenvolvimento, constituindo-se em uma só
Instituição Financeira de Carteiras Múltiplas, com personalidade jurídica própria, e
que pode selecionar com o que deseja operar, dentre as modalidades referidas como
bancos comerciais.
Assaf Neto (2003) refere que os bancos comerciais são instituições financeiras cuja forma de
constituição obrigatória é a de sociedade anônima, sendo responsáveis pela execução de
operações de crédito de curto prazo, em atendimento às necessidades de recursos para capital
de giro das empresas.
Os bancos comerciais são classificados como instituições monetárias por terem o
poder de criação de moeda escritural. São instituições financeiras que recebem
depósitos à vista em contas de movimento e efetuam empréstimos de curto prazo,
principalmente para capital de giro das empresas. (CAVALCANTE, MISUMI e
RUDGE, 2005, p. 29-30)
Diante do contexto apresentado, cabe ressaltar a importância da Bolsa de Valores como
elemento do SFN que, segundo a Resolução do CMN nº 2.690 de 28 de janeiro de 2000,
caracteriza-se como associação civil, sem fins lucrativos ou sociedade anônima, cujo objetivo
social é de:
[...] manter local adequado ao encontro de seus membros e à realização, entre eles, de
transações de compra e venda de títulos e valores mobiliários, em mercado livre e
abertos, especialmente organizados e fiscalizados por seus membros, pela autoridade
monetária e, em especial, pela CVM (BRASIL, 2000).
Além dessas funções básicas, Cavalcante e Misumi (2002) acrescentam que as bolsas de valores
propiciam liquidez às aplicações, fornecendo, de maneira concomitante, um preço de referência
para os ativos ali negociados por intermédio de um mercado contínuo, representado por seus
pregões diários.
A Bolsa de Valores de São Paulo – Bovespa – é o maior centro de negociações com ações da
América Latina. Fundada em 23 de agosto de 1890, a Bovespa nasceu numa época em que a
bolsa de valores era uma instituição pouco conhecida do grande público. Nesse período,
incorporou toda a evolução econômica e política brasileira através da longa história do Índice
Bovespa (criado em 1968), um dos mais tradicionais do país.
2.2.2 Regulamentação do Setor Bancário
O setor bancário encontra-se sujeito às regras do Sistema Financeiro Nacional, mas também
deve atender a regulamentações específicas. Dentre estas, os Princípios do Equador.
Aliglieri, Aliglieri e Kruglianskas (2009) explicam que se trata dos princípios estabelecidos
pela International Finance Corporation (IFC), órgão integrante do Banco Mundial, com o
intuito de serem aplicados por instituições financeiras no financiamento de grandes projetos de
investimento. Tais princípios, conforme estes autores estabelecem critérios mínimos para a
concessão de crédito e objetivam assegurar que os projetos financiados sejam desenvolvidos de
forma social e ambientalmente responsável.
A ISO 26000 é vista como uma das mais importantes iniciativas internacionais no
campo das normas de conduta em responsabilidade social, devido à relevância da
entidade que a promove e à amplitude das representações que atuam no processo de
elaboração. A nova norma é desafiadora por algumas características que se
diferenciam de outras normas ISO já amplamente utilizada pelo mercado. [...] pode-
se dizer também que a ISO 26000 estimula as organizações a irem além do
cumprimento da lei, complementa outros instrumentos e iniciativas relacionadas à
responsabilidade social. A ISO reconhece a importância de instrumentos
intergovernamentais e firmou termos de entendimento junto à Organização
Internacional do Trabalho e ao Pacto Global da ONU (ALIGLIERI, ALIGLIERI e
KRUGLIANSKAS, 2009, p. 214-216).
Denota-se que a referida norma apresenta uma definição de responsabilidade social como a
preocupação e o compromisso que a organização deve ter com impactos de suas decisões e
atividades (produtos, serviços e processos) na sociedade e no ambiente, a partir da adoção de
um comportamento e ético. Dentre as vantagens da responsabilidade social, a norma ISO 26000
destaca a contribuição para o desenvolvimento sustentável, para a saúde e o bem-estar da
sociedade; a consideração das expectativas dos stakeholders a conformidade com a legislação
aplicável e a consistência com as normas internacionais de comportamento (ALIGLIERI et al.,
2009, p. 216).
Um grande avanço na regulamentação acerca da responsabilidade social das instituições
financeiras foi dado pela Resolução nº 4.327, de 25 de abril de 2014, a qual dispõe sobre as
diretrizes que devem ser observadas no estabelecimento e na implementação da Política de
Responsabilidade Socioambiental (PRSA) pelas instituições financeiras e demais instituições
autorizadas a funcionar pelo Banco Central do Brasil.
Art. 1º Esta Resolução dispõe sobre as diretrizes que, considerados os princípios de
relevância e proporcionalidade, devem ser observadas no estabelecimento e na
implementação da Política de Responsabilidade Socioambiental (PRSA) pelas
instituições financeiras e demais instituições autorizadas a funcionar pelo Banco
Central do Brasil.
Parágrafo único. Para fins do estabelecimento e da implementação da PRSA, as
instituições referidas no caput devem observar os seguintes princípios:
I - Relevância: o grau de exposição ao risco socioambiental das atividades e das
operações da instituição; e
II - Proporcionalidade: a compatibilidade da PRSA com a natureza da instituição e
com a complexidade de suas atividades e de seus serviços e produtos financeiros.
Evidencia-se que o ponto central deste dispositivo legal é a determinação de que cabe à
instituição financeira estabelecer e implementar uma PRSA. Ainda nesta perspectiva, devem
ser observados os princípios de relevância, ou seja, o grau de exposição ao risco socioambiental
das atividades e das operações da instituição financeira e a proporcionalidade, ou a
compatibilidade da PRSA, em relação à natureza da instituição e à complexidade de suas
atividades e de seus produtos financeiros.
No que diz respeito às instituições financeiras, a Resolução nº 4.327/2014 dá enfoque à
responsabilidade socioambiental como parte do negócio, estabelecendo padrões mínimos
aplicáveis aos diferentes tipos de instituições financeiras e demais autorizadas a funcionar pelo
Banco Central, ao abranger aspectos de eficiência, concorrência e mitigação de riscos. É
importante ressaltar que um crédito recusado em uma instituição em razão da inconformidade
ambiental ou social não pode ser aceito por outra instituição, pois o risco permanece no sistema
financeiro.
Por sua vez, o Normativo SARB nº 14, de 28 de agosto de 2014, publicado pela Federação
Brasileira de Bancos (Febraban), formalizou as diretrizes e procedimentos fundamentais para a
incorporação das práticas socioambientais pelas instituições financeiras em seus negócios.
Trata-se, pois, da autorregulação, em atendimento às regulamentações contidas na Resolução
nº 4.327/2014 do Banco Central (Bacen), que estabeleceu as diretrizes para o estabelecimento
e a execução da Política de Responsabilidade Socioambiental (PRSA) pelas instituições
financeiras e demais instituições autorizadas a funcionar pelo Banco Central do Brasil.
2.3 Balanço Social
A responsabilidade social está em evidência para as entidades econômicas que devem assumir
uma postura ética e responsável. Com esse objetivo, surge a necessidade de elaborar e
apresentar informações sobre os investimentos realizados com cunho social. Este volume de
dados financeiros agrupa aspectos do tipo social, ético, ambiental ou ecológico, e ainda recebe
diversas denominações como “Contabilidade Social”.
A contabilidade social busca medir resultados no processo monetário e também surge como
uma necessidade da empresa de contar com informações relevantes para a tomada de decisões
com relação à gestão social, medindo o impacto da entidade na sociedade. Dessa forma, para
que a Contabilidade Social consiga sua efetivação e êxito, é necessário que a organização tenha
uma gestão participativa e comprometida com todas as camadas que formam o sistema social e
organizacional.
A norma Brasileira de Contabilidade NBC-T nº15, resolução CFC n°935/02 apud Santos
(2004, p. 15) define o balanço social como:
Demonstração contábil que tem por objetivo a evidenciação de informações de
natureza social com vistas a prestar contas à sociedade pelo uso dos recursos
naturais e humanos, demonstrando o grau de responsabilidade social da entidade.
O Balanço Social, enquanto demonstrativo contábil pode ser publicado pelas empresas
anualmente, reunindo um conjunto de informações sobre as atividades desenvolvidas, em
promoção humana e social, dirigidas a seus empregados e à comunidade onde a empresa está
inserida. Com esse demonstrativo, evidenciam-se os recursos aplicados aos empregados,
dependentes e à população que recebe sua influência direta. Ou seja, é uma ferramenta que,
quando construída por diversos profissionais, tem a capacidade de especificar e adequar a
preocupação da empresa com as pessoas e a vida no planeta.
O Brasil possui três modelos que são utilizados para elaborar o Balanço Social, o do IBASE
(Instituto Brasileiro de Análises Sociais e Econômicas), o do GRI (Global Reporting Initiative)
e o do Instituto Ethos, este último baseado nas diretrizes do GRI e adaptado ao cenário
brasileiro. Entretanto, o mais utilizado é o modelo do IBASE, publicado de forma simples e
reduzida para a divulgação dos resultados a todos interessados, principalmente os colaboradores
da empresa.
Ainda de acordo com o site do Instituto, a visão e motivação podem ser definidas pelos
fundamentos: Guiar-se por princípios e valores éticos da democracia e da sustentabilidade da
vida e do planeta; Engajar-se pela igualdade, direitos e emancipação social de todas e todos;
Promover justiça socioambiental, cuidado de bens comuns e territórios sustentáveis.
A existência do IBASE visa garantir que mulheres, negros e pessoas com mais de 45 anos
tenham igualdade nas oportunidades nos processos seletivos das organizações, valorizando a
diversidade. Além disso, busca incentivar o aperfeiçoamento profissional, construindo técnicas
para estimular a representação de mulheres em cargos de chefia e nas esferas de participação
interna do quadro funcional. Com relação ao emprego, o Instituto tem como sua preferência à
contratação de pessoas em situação de exclusão social e ainda visa garantir a inclusão de
pessoas com deficiência física no quadro de funcionários e criar condições de acessibilidade
próprias.
Objetivando a facilidade de comparação conseguida com a padronização, o IBASE, em parceria
com técnicos, pesquisadores e diversos representantes de instituições públicas e privadas,
concebeu e concluiu em 1997, um modelo de Balanço Social que obteve o apoio da CVM.
Expõem, de maneira detalhada, os números associados à responsabilidade social da
organização. Ele reúne informações sobre a folha de pagamentos, os gastos com encargos
sociais de funcionários, a participação nos lucros. Também detalha as despesas com controle
ambiental e os investimentos sociais externos nas diversas áreas — educação, cultura, saúde
etc.
Quadro 1: Descrição dos grupos de Balanço Social Modelo IBASE
Fonte: Dados da Pesquisa
Dessa forma, pode-se concluir que o balanço social utilizado pelo IBASE é objetivo, pois possui
estrutura padrão e organiza dados gerais da empresa (grupo 1), indicadores (grupos 2 a 5) e
outras informações (grupos 6 e 7) na mesma estrutura, ou seja, todos os dados são apresentados
num único relatório, facilitando a consulta e visualização dos dados, pelos interessados.
3. Procedimentos Metodológicos
A metodologia aplicada nesta pesquisa procurou viabilizar a mensuração dos investimentos
relativos às ações de responsabilidade socioambiental realizados pelo setor bancário brasileiro.
Nesse sentido, optou-se pelo método quantitativo, que segundo Diehl (2004), refere-se ao uso
da quantificação, tanto na coleta quanto no manejo das informações, utilizando técnicas
estatísticas que tendem a proporcionar uma melhor compreensão dos dados.
Na coleta de dados, utilizou-se como fonte principal as informações publicadas pelas próprias
organizações por meio de seus relatórios anuais e balanços, patrimonial e social. Nesse
contexto, Cooper e Schindler (2003, p. 83) avaliam que:
A coleta de dados pode variar desde uma simples observação em um local até um
levantamento grandioso de corporações multinacionais localizadas em diferentes
partes do mundo. O método selecionado determina como os dados serão coletados.
Questionários, testes padronizados, formas de observação, notas de laboratório e
calibração de instrumentos estão entre os mecanismos usados para registrar dados
brutos.
A população escolhida para elaboração desta pesquisa foram as empresas de capital aberto na
Bolsa de Valores, Mercadorias e Futuros - BM&FBOVESPA. De forma intencional,
subscreveu-se à amostra o setor bancário brasileiro, elencando aquelas instituições presentes no
Índice de Sustentabilidade Empresarial (ISE).
Conforme Marcondes e Bacarj (2010), o objetivo principal do ISE é expor o desempenho de
mercado de uma carteira formada por empresas que praticam a responsabilidade social
corporativa. Neste contexto, o ISE compreende cinquenta e uma ações negociáveis, divididas
em dezenove segmentos. No processo de análise dos dados utilizou-se Microsoft Excel para a
análise estatística descritiva.
Dentre as empresas observadas, optou-se por aquela que se caracteriza como o maior banco da
América Latina, com a maior rede de agências no Brasil e no exterior, destacando-se ainda
como sociedade de economia mista, com participação da União brasileira em 54% das ações
(BANCO DO BRASIL, 2015).
4. Resultados
Para melhor apresentação dos dados, esta seção foi dividida em duas partes: histórico e
indicadores IBASE.
4.1 Histórico - Banco do Brasil S.A.
O Banco do Brasil é uma instituição financeira brasileira, constituída na forma de sociedade de
economia mista, com participação da União brasileira em 68,7% das ações. Juntamente com
a Caixa Econômica Federal, o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social,
o Banco da Amazônia e o Banco do Nordeste, o Banco do Brasil é um dos cinco bancos
estatais do governo brasileiro.
Em 12 de outubro de 1808, através de alvará do príncipe regente D. João, foi criado o Banco
do Brasil. O Banco, instalado no prédio da antiga Rua Direita, no Rio de Janeiro, iniciou suas
atividades em 11 de dezembro de 1809, mas foi exaurido por saques da Corte Portuguesa, em
seu retorno a Lisboa, em 1821.
Em 1853, outro Banco do Brasil, criado dois anos antes pelo barão de Mauá, fez, por
determinação legislativa, sua fusão com um banco privado de emissão, o Banco Comercial do
Rio de Janeiro. Essa operação foi liderada pelo visconde de Itaboraí, considerado o fundador
do Banco do Brasil.
Forçado a emitir papel-moeda conversível sem o devido lastro (ouro), no intuito de custear as
despesas da família Real, ficou desfalcado de seus fundos, com o saque de vultosa quantia,
quando do retorno de D. João VI e sua comitiva para Portugal, e logo depois, novamente
obrigado a emitir para a consolidação da Independência, foi o Banco acusado de ter contribuído
para a má situação financeira do país. Por lei de 23 de setembro de 1829, foi ordenado a
liquidação do primeiro Banco do Brasil.
Decorridos mais 40 anos, em fevereiro de 1893, as assembleias de acionistas aprovaram a união
desse Banco do Brasil com o Banco da República dos Estados Unidos do Brasil, criando o
Banco da República do Brasil. Alguns historiadores opinam que esse deve ser considerado o
“Terceiro Banco do Brasil”. Inicia-se, assim, a terceira e atual fase jurídica do Banco do Brasil.
Apesar de possuir nova personalidade jurídica, as operações (clientes e ativos) e os principais
conceitos e objetivos nacionais são os mesmos de 1853 – o início da segunda fase operacional.
Já no segundo reinado do Império do Brasil (1822-1889), depois de uma liquidação, Irineu
Evangelista de Sousa, que viria a ser barão e visconde de Mauá, criou em 1851 uma nova
instituição denominada Banco do Brasil (BB). Nesse segundo Banco do Brasil há uma forte
carga simbólica de suas ligações permanentes com o mercado de capitais.
Em 1853, por iniciativa do Ministro Joaquim José Rodrigues Torres, o visconde de Itaboraí, foi
determinado pela lei de 5 de julho, a criação do novo Banco do Brasil, através da fusão do
Banco do Brasil de Mauá com o Banco Comercial do Rio de Janeiro (fundado em 1838), com
exclusividade na emissão do papel-moeda. O visconde de Itaboraí é considerado o fundador do
Banco de hoje.
Em 1866, devido a uma crise inflacionária, foi cassada a exclusividade na emissão do papel-
moeda, permanecendo em operação com depósitos, descontos e empréstimos hipotecários.
Em 1893, veio a fundir-se com Banco da República dos Estados Unidos do Brasil (resultante
da fusão do Banco Nacional do Brasil com o Banco dos Estados Unidos do Brasil), passando a
se chamar de Banco da República do Brasil.
No início de 1905 houve uma alteração na composição do capital social do Banco, na qual o
Governo Federal torna-se acionista majoritário, forma jurídica que continua até hoje. No ano
seguinte, o banco anunciou a listagem pública de suas ações nas bolsas de valores. Por força
do decreto nº 1.455, de 30 de dezembro de 1905, volta a ter o seu nome tradicional, como é
conhecido até hoje, com a reabertura em 3 de julho de 1906.
A criação de uma das mais importantes ferramentas de sua atuação econômica: a Carteira de
Crédito Agrícola e Industrial aconteceu em 1936. Em 1960, o banco transferiu sua sede para
Brasília no dia da inauguração da nova capital do País.
No ano de 1985, o banco realizou a Criação da Fundação Banco do Brasil (FBB) como
importante instrumento de transformação em educação, cultura e esporte. No ano seguinte, o
Governo Federal autoriza o BB a atuar em todos os segmentos de mercado, iniciando sua
evolução para conglomerado financeiro.
Entre 2000 e 2006, o banco lançou o Portal Banco do Brasil na internet, configurou-se como
banco múltiplo e instalou o Conselho Diretor e comitês, subcomitês e comissões. Realizou a
adequação do Estatuto Social para maior transparência e a adoção de melhores práticas. E por
fim, em 2006, ingressou no Novo Mercado da Bolsa de Valores de São Paulo.
Em 2015, o Conselho de Administração do Banco do Brasil aprovou a Política específica de
Responsabilidade Socioambiental (PRSA), em atendimento à Resolução CMN n° 4.327, de
25/4/2014, e ao Normativo Sistema de Autorregulação Bancária da FEBRABAN nº14.
Essa política veio reforçar o compromisso do Banco com a responsabilidade socioambiental.
Está acompanhada de um plano de ação e estende-se ao Conglomerado financeiro. As Entidades
Ligadas Banco do Brasil são orientadas a aderirem à PRSA aprovada pelo BB, ou a elaborarem
política própria.
O Banco do Brasil adota o referencial da sustentabilidade como premissa da sua atuação, ou
seja, a sustentabilidade permeia toda a estrutura organizacional e está expressa em seus valores,
missão, políticas, estratégias corporativas e nos diversos compromissos voluntários assumidos.
4.2 Indicadores IBASE - Banco do Brasil S.A.
Nesta seção serão demonstrados os indicadores constantes nos balanços sociais do Banco do
Brasil no período de 2005 a 2015, conforme a tabela a seguir:
Tabela 1: Balanço Social IBASE do Banco do Brasil (2005 a 2015)
Fonte: Dados da Pesquisa
Os dados do balanço social foram organizados conforme estrutura padrão do relatório IBASE
adicionado o período completo de análise da presente pesquisa, ou seja, 2005 a 2015.
De acordo com a estrutura do IBASE. o relatório encontra-se dividido em cinco tópicos, a saber:
dados financeiros, indicadores sociais internos, indicadores sociais externos, indicadores
ambientais e indicadores do corpo funcional.
No que tange aos dados financeiros, observa-se a receita líquida, o resultado operacional, o
valor da folha de pagamento bruta e o valor adicionado total. A receita líquida do Banco do
Brasil é composta pelas receitas de intermediações menos as despesas com intermediações
financeiras. O resultado operacional, por sua vez, é a receita líquida, mais outras receitas, menos
despesas operacionais. A Folha de Pagamento refere-se à somatória de todas as despesas de
pessoal. Já o valor adicionado total é o informe contábil que evidencia, de forma sintética,
os valores correspondentes à formação da riqueza gerada pela empresa em determinado período
e sua respectiva distribuição.
A seguir, apresenta-se o gráfico referente à evolução dos dados financeiros do Banco do Brasil:
Figura 1: Evolução dos dados financeiros (2005-2015)
Fonte: Dados da Pesquisa
A partir da figura 1 pode-se notar o crescimento contínuo de sua receita líquida ao longo dos
quatro primeiros anos analisados. No ano de 2009, observa-se uma queda de 260% devido à
crise financeira mundial dos subprimes, registrada no ano anterior. Após esse período a receita
se manteve instável com pequenas oscilações até o ano de 2015, quando teve uma nova queda,
fazendo com que os valores da receita líquida chegassem a valores próximos aos atingidos em
2009.
O resultado operacional se manteve em crescimento até 2007. Entretanto, no período de 2008
a 2011 observa-se um aumento do resultado operacional. Nos dois anos seguintes houve queda
acentuada dos valores, seguido de pequeno aumento em 2014. Apenas no ano de 2015 o
resultado apresentou queda e fechou o ano com pouco mais de 6 bilhões.
A folha de pagamento bruta, por sua vez, foi o indicador com menor oscilação no decorrer dos
anos, com uma queda pequena em 2008.
Já o valor adicionado total, representante da riqueza gerada pela empresa em determinado
período, teve em 2008 o primeiro aumento significativo, seguido de uma queda em 2009.
Manteve-se constante com poucas oscilações até o final de 2011. No ano seguinte, iniciou uma
curva ascendente por três anos consecutivos, quando em 2015 teve a maior queda do período.
A justificativa para este ocorrido pode ter relação com a instabilidade política e financeira na
qual o país se encontra.
Em relação aos Indicadores Internos, nota-se que a maioria dos indicadores tem aumentado ao
longo do período, salvo algumas exceções. O indicador social interno é composto pelos itens
de alimentação, encargos sociais compulsórios, previdência privada, saúde, segurança e saúde
no trabalho, educação, cultura, capacitação e desenvolvimento profissional, creches e auxílio-
creche, auxílio ao filho com deficiência, transporte, participação nos lucros ou resultados e
outros.
Figura 2 – Indicadores internos com encargos sociais compulsórios
Fonte: Dados da Pesquisa
Verifica-se na figura acima que há uma melhor distribuição dos recursos entre os diferentes
itens. Desconsiderando os encargos sociais compulsórios, que são obrigatórios, o indicador que
o Banco do Brasil mais investiu em valores totais no período analisado é o de participação nos
lucros, seguido de alimentação, saúde e previdência.
No que tange a participação nos lucros observa-se uma tendência de alta até 2013, seguida de
queda em 2014 e novo crescimento em 2015, destacando a queda do resultado operacional no
último ano da série analisada.
Já os itens alimentação e saúde também apresentaram crescimento constante nos anos
analisados. Somente na previdência observou-se queda significativa a partir de 2013, com
pequena recuperação em 2015.
Pode-se notar que os valores investidos em indicadores internos aumentaram a cada ano, mesmo
que a receita líquida tenha variado negativamente nos últimos anos da série analisada.
Em relação aos Indicadores Externos, percebe-se que a maioria dos indicadores têm aumentado
ao longo do período. O indicador social externo é composto por educação, cultura, saúde e
saneamento, esporte, combate à fome e segurança alimentar, geração de trabalho e renda, outros
(Fundo da Infância e Adolescente - FIA) e outros. Este indicador representa os investimentos
que o banco realizou em contribuições para a sociedade.
Figura 3 – Indicadores Externos
Fonte: Dados da Pesquisa
Observa-se nos dados acima que há uma queda significativa nos valores totais investidos nos
indicadores externos no ano de 2009, ou seja, pós-crise. Outro aspecto relevante que se faz
necessário destacar são os investimentos em combate a fome e segurança alimentar realizados
no ano de 2006. Os demais itens tiveram comportamento similares no que se refere aos
investimentos totais realizados.
Em relação aos Indicadores Ambientais, elaborou-se o gráfico a seguir:
Figura 4 – Indicadores Ambientais
Fonte: Dados da Pesquisa
Na figura 4 pode-se verificar que os investimentos produção/operação da empresa tiveram
início em 2007 crescendo até 2012, quando houve uma pequena queda. No ano subsequente
observa-se um crescimento de forma mais acentuada, atingindo seu pico em 2015. O banco
totalizou mais de 1 milhão de reais no período analisado. Por outro lado, pouco se investiu em
programas e/ou projeto externos.
Na quinta parte do balanço social IBASE, encontram-se os indicadores de corpo funcional –
quantidade de funcionários, número de admissões, estagiários, terceirizados, mulheres e negros,
entre outros. Nesta parte do trabalho apresentam-se alguns dos indicadores de corpo funcional
(figura 5).
Figura 5 – Indicadores do corpo funcional (2005-2015)
Fonte: Dados da Pesquisa
Considerando-se os dados expostos na figura acima, nota-se que a variação do número de
colaboradores, mulheres, negros e estagiários possuem comportamento similar. Porém verifica-
se que em 2009 há um aumento significativo no número de colaboradores terceirizados, fato
este que pode ter sido impulsionado pela crise financeira de 2008 já que a instituição arcaria
com menores custos de manutenção do quadro funcional. Verifica-se ainda uma tendência de
diminuição das admissões a partir de 2009, também explicadas pela intensificação da utilização
de recursos computacionais nas operações bancárias.
5. Considerações Finais
O objetivo desse estudo consiste em analisar a evolução dos investimentos nos programas de
responsabilidade socioambiental e os indicadores financeiros do Banco do Brasil no período de
2005-2015, visando observar se o banco está comprometido, efetivamente, com as evidências
socioambientais.
No que se refere a sustentabilidade, tem-se que o acirramento dos problemas ambientais,
identificados no início do século XXI, são resultados do aumento da escala produtiva que, por
sua vez, responde aos novos hábitos de consumo humano. Nesse sentido, a gestão ambiental e
a responsabilidade social vêm assumindo um importante papel. Uma vez que a interação das
empresas com a sociedade e com o meio impacta diretamente em sua imagem perante o
mercado, nota-se maior valorização das instituições que de fato assumem o seu papel social.
O setor bancário brasileiro, composto por diferentes entidades e instrumentos, encontra-se
sujeito a diversas regulamentações. De modo que seu funcionamento seja regulado pelo
Sistema Financeiro Nacional, observa-se uma série de normas e regras relativas à outras áreas
que, de maneira direta ou indireta, acaba impactando em sua atuação, inclusive no que diz
respeito a sustentabilidade.
O Balanço Social, utilizado para especificar e adequar a preocupação da empresa com as
pessoas e a vida do planeta, é apresentado em três diferentes modelos: IBASE, GRI e Instituto
Ethos. Dentre estes, o mais utilizado é o modelo IBASE, que através de uma publicação simples
e objetiva condensa os resultados sociais e torna disponível suas ações à toda sociedade.
Diante do que foi apresentado, sobretudo o objeto de estudo desta pesquisa, conclui-se que a
organização analisada mantém seus investimentos tanto nas ações que visam minimizar o
impacto de suas atividades, como nos produtos que incluem um conceito de finança sustentável.
Além disso, investe em instituições, projetos próprios e de entidades parceiras com foco
educacional, ambiental, cultural e esportivo. Observam-se determinadas oscilações ao longo
dos anos e certa predisposição pelos investimentos relacionados com a produção/operação da
empresa, deixando em segundo plano os programas e/ou projetos externos.
Recomenda-se a aplicação deste estudo nas diferentes instituições do setor bancário, inclusive
organizações privadas. Dada a importância deste segmento, inclusive no PIB nacional, tem-se
que sua participação, principalmente enquanto apoiador e facilitador de projetos sociais, tende
a contribuir de maneira significativa para o desenvolvimento da sociedade, não somente em
termos financeiros, mas também sociais.
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