quixotes, opus 8

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Estudo sucinto sobre o Cavaleiro da Triste Figura por meio de rabiscos, fotografias e textos.

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Page 1: Quixotes, Opus 8
Page 2: Quixotes, Opus 8

Zinho da Gangorra

Niña da Assunção

QUIXOTES, OPUS 8

Dalgimar Beserra de Menezes

Ana Maria Rebouças Freire

Diagramação e Arte Final: Lívia Freire de Menezes

Fortaleza, Ceará – Brasil. 2014

Page 3: Quixotes, Opus 8

Copyright © by Menezes DB

Queremos expressar nossos sinceros agradecimentos a

Adriano Freire de Menezes, Lívia Freire de Menezes e

Manoel Bezerra Granja Neto, pela ajuda prestada na feitura

deste ebooklet

Fortaleza, CE – 2014

Page 4: Quixotes, Opus 8

APRESENTAÇÃO

Meus Quixotes é simplesmente uma exibição das poucas coisas

que possuímos em casa que dizem respeito ao engenhoso cavaleiro

manchego. Adiciona fotos e desenhos de Zinho da Gangorra, menino de 7

anos.

Existia a intenção de ilustrar todo o livrete com pequenos trechos

de peças musicais de que o heroi é inspiração, as quais são mencionadas ao

longo do texto, como as Chansons du Quichotte, de Maurice Ravel, que

Menezes ouviu pela primeira vez na Casa de James Monoe (Ash Lawn) em

Charlottesville, Virginia, meio do ano de 1983, As Variações Fantásticas

sobre o Cavaleiro Andante, de Richard Strauss, El Retablo de Maese

Pedro, de Manuel de Falla, exceto (não mencionado) temas do Musical

Man of La Mancha texto de Dale Wasserman/ Joe Darion, música de Mitch

Leigh, todas gravações antigas da posse dos autores.

Tal tipo de coisa já se encontra em outros nossos ebooks, até

mesmo Menezes assobiando temas musicais, como em Palimpsestos.

Porém, houve dificuldades técnicas e entraves físicos e mágicos.

Ação dos elementos que atuam no escuro, tricksters e poltergeist, e

designadamente falta de capacitação dos autores ao manuseio das

máquinas, ao tentarem realizar todas as tarefas sem assistência de ninguém.

Incidentalmente, Quixote é, de fato, da convivência diária de

Menezes (Zinho): o principal computador de que lança mão todos os dias

abre com a figura do Cavaleiro e Cavalo. Está aqui reproduzida à capa,

precariamente; não se consegue ler o nome do autor da composição, sabe-

se que começa por A. Página eletrônica: espacodomquixote.com.br/?page_id=3629.

A gente fica devendo a imagem do galgo corredor, que sempre se

esconde: nunca é visto. Nem permite que se diga Cave Canem.

Page 5: Quixotes, Opus 8

Conheço duas pessoas que verdadeiramente gostam de Dom

Quixote, no decorrer da minha já longa vida, Eilson Goes de Oliveira, até

outubro de 2008. Não só gosta, nas nossas conversações, em que ele não ri,

ou pouco ri, trá-lo para nossa cultura brasileira, no que comenta O Feijão

e o Sonho, de Orígenes Lessa, sem esquecer a faceta mais seminal, Feijão,

elemento feminino, Sonho, elemento masculino. Coisas desse jaez.

Dulcinea del Toboso, o ideal de mulher do cavaleiro manchego,

a mulher ideal, é caricatura de Beatrice Portinari; mas aí se lembra ele de

outro seu heroi moderno, Luís Buñuel, no momento em que um

personagem de Este Obscuro Objeto do Desejo, julga fazer uma síntese da

mulher, definindo-a como “um saco de excremento”.

A gente se perde em comparações, lançando no palco Helena, dos

épicos gregos, Cleópatra, que mestre Livino pronunciava Cleopátra, seria a

pronúncia certa, Gertrudes, a mãe de Hamlet, a miseranda/confusa Ofélia,

Antígona, Dido, Aspásia, Hipátia, Safo, Penélope, Molly Bloom, a triste

Gretchen, sem ordem cronológica. Nem gana de exaurir assunto.

Até a pobre da Virgem Maria entra nessa confusão. Mas a vida é curta

demais para se conceber ou vislumbrar uma coisa ideal platônica. E a noite

chega aos olhos de todos nós.

Há um quartel de século, mais, chego de

longa viagem, com uma reprodução da

Scuola di Atene, de Raffaello, da idade do

Brasil, destaco as duas assombrações da

minha alma, Platão e Aristóteles.

- Então, Eilson, Don Quixote e Sancho

Panza?

Stanze di Raffaello Scuola di Atene.

Musei Vaticani – Città del Vaticano

Recorte de Zinho da Gangorra http://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/9/94/Sanzio_01.jpg

Outro que gosta do Cavaleiro da Triste Figura é Luiz Porto.

Page 6: Quixotes, Opus 8

Zinho encontra Dom Quixote por primeira vez em Monteiro

Lobato

Na Gangorra mesmo, onde morei meus primeiros oito anos de

vida, se ouvi falar do Quixote, não me lembro, ou esqueceu-me, mas tal

coisa nada significa. O Quixote é presença de vida toda.

Cá não se devem cometer injustiças. É hora de louvar José

Bento Renato Monteiro Lobato, que Zinho conhece desde o Jeca-Tatu,

impresso do Laboratório Fontoura, do Biotônico e da Ankylostomina, lá

está ele lendo o Jeca, no meio dos matos, estranhando o nome Jeca, de que

nunca tinha ouvido falar, ou mesmo ouvido. Dion, de 1945, vinha vindo

meio cambaleante, talvez tivesse 4 anos, menos, mas lá vem cambaleante,

já não toddler, pois, e anunciando: “mamãe, ´tou escorregando...” Mãe

com receio de epilepsia. Sim, estava; descobre depois o porque da queixa,

Dion tinha tomado um vidro quase todo de Biotônico Fontoura, de vezada,

como se fosse água.

Já na Itapipoca, a duas léguas e meia da Gangorra, foi lá, que

adentrei a Biblioteca da Escola Nornal Rural Joaquim Magalhães, e

devemos de novo nunca cansar de elogiar Antônio Perilo de Sousa

Teixeira, além de Monteiro Lobato, pois havia criado a Escola Normal e a

Biblioteca. Talvez nem gostasse de ler, conheço esses empreendedores que

nem de ler gostam. Mas de fazer. Mais quixotes do que sanchos? Ecco.

Como é mesmo que o italiano do Jeca-Tatuzinho dizia? Não era Ecco! Mas

que importa! Era per Bacco! Entro na biblioteca e começo a ler

vorazmente, não é desde esse dia, claro, sou leitor mais antigo, de coisa de

começo aos dois anos de idade, aí mente, a Ana diz. Fui pegando todos os

Monteiro Lobato, um dia cheguei ao DOM QUIXOTE DAS CRIANÇAS.

Eu andava xeretando em tudo, tal e qual a Emília, a bisbilhoteira, e lia

depressa, porque há momento na vida dos que gostam de ler, o qual

momento é pejado do medo, do receio, da ansiedade de morrer antes de

terminar a narração. A vida é tão pouca.

Enfeito hoje minha casa com meus quixotes. Meus quixotes

não são leituras de ontem, de estanoite, anoche, de internet, em que todo

mundo se apropria de coisas de todo o mundo, menos de criatividade, que é

tarefa mais árdua. Talvez menos, dote. Computadores são des idiots

savants.

Page 7: Quixotes, Opus 8

Eis um platillo: a cavaqueira vai

escorrendo pelos caminhos da

Espanha. Nem sei mesmo quando

foi adquirido. Obra de 10 anos.

Já Euro: 3. Tem bordas

arranhadas, quebradas. É na

faxina da casa, no varrer, no

espanar, no tirar o pó, no

espancar dos espíritos malignos,

que essas coisas se quebram. Ao

fundo, por baixo, etiqueta de El

Corte Inglés, Hermosilla 112.

Madrid. Sem nome de autor ou

de fábrica. Ana vai embiocando

em tudo o que é Corte Inglês, um prazer mesmo sensual, no dizer de

Simone de Beauvoir: pegar, adquirir, comprar. Mesmo objetos baratos.

Avalie se rica.

Outro objeto barato, de viajante

pobre, mas nem tanto, pois pode.

Uma canequinha de loiça, em

que Sancho foi olvidado.

Está marcada como da lavra da

Artesanía de Medina.

Mas, porém, Sancho con la

palabra,

Segunda parte, Capítulo XXXI:

- Discretos días - dijo Sancho - viva vuestra santidad por el buen crédito

que de mí tiene, aunque en mí no lo haya. Y el cuento que quiero decir es

éste: «Convidó un hidalgo de mi pueblo, muy rico y principal, porque

venía de los álamos de Medina del Campo, que casó con doña Mencía de

Quiñones, que fue hija de don Alonso de Marañón, caballero del hábito de

Santiago, que se ahogó en la Herradura, por quien hubo aquella pendencia

años ha en nuestro lugar, que, a lo que entiendo, mi señor don Quijote se

halló en ella, de donde salió herido Tomasillo el Travieso, el hijo de

Balbastro el herrero...» ¿No es verdad todo esto, señor nuestro amo?

Dígalo, por su vida, porque estos señores no me tengan por algún

hablador mentiroso.

Page 8: Quixotes, Opus 8

Material e Métodos – Obra in fieri

Page 9: Quixotes, Opus 8

Gossiping: - Será o sol da

Gangorra?

- Antes, a

roda da fortuna.

- A cr´oa de

Dulcineia?

- Aldonza

Lorenzo?

- Estelita,

Raimundinha, Idelzuite,

Luzia, amarrando fitas

coloridas nos braços dos

rapazes, no Dia de Todos

os Santos, almejando

ganhar presentes.

- Halloween?

- Carajo de

Halloween!

- Baíca e

Geraldinha?

- A estalajadeira...

- Ceci e Nair...

- DeLourdes, Raimundinha, Celeste, Maria da Paz...

- Biroquinha, o aviãozinho de Carmen Miranda, do pós-

guerra.

- Zé-Pelin, pegando fogo por riba da Lagoa do Miguel.

- Tudo mais que assombração.

No chão, a sombra dos quatro - catrumano, quadrumano,

quadrúmano - bichos e homens, de Rosa G: um pássaro preto que voa,

urubu da seca de 1951, quando Zinho continua desenhando mal, e vai

saindo da Gangorra para Cosmópolis. Albrecht Dürer: Rota Fortunae -

Time and a Fox

Turning the Wheel of

Fortune with

People of all

Ranks to the Right ://upload.wikimed

ia.org/wikipedia/

commons

The Turning of the Screw, may be. A( ) Nathaniel Hawthorne B( ) Herman Melville C( ) Henry James D( ) Edgar Allan Poe E( ) William Faulkner

Page 10: Quixotes, Opus 8
Page 11: Quixotes, Opus 8

Maurice Ravel – Aqui,

minha passagem por

Charlottesville, VA, Ash

Lawn Summer Festival.

Casa de James Monroe, os

pavões fazendo uma

barulheira infernal. Gritos,

mais gritos. O chefe

fabuloso deles [em Esopo]

já pagou, de há muito,

visita a Juno, marcou

audiência para reclamar de

sua voz, em comparação

com a do rouxinol. Fins de

julho de 1983. Fins

d´água, na Gangorra, sem

pavões. Com muitos

capotes, tô fraco! Tô

fraco! Tô fraco! Philip

Sargent, barítono,

interpreta Chansons de

Don Quichotte, de

Maurice Ravel,

acompanhado por Yvaine

Duisit, ao piano.

Os pavões estrilam. Por

esse tempo talvez ouvi, pela BBC – Play of the Week, Juno and the

Paycock. De Sean O´Casey. Nesse julho de 1983, depois das Chanson de

Don Quichotte, veio a representação de The Apothecary (Lo Speziale),

texto do Signor Carlo Goldoni, adaptação de Herr Carl Friberth. Música

[como a vida é curta!] de Herr Franz Joseph Haydn. Os pavões continuam

reclamando - gritos nas minha oiças, cortantes -, pleiteando cânticos seus

comparáveis aos dos cantores e instrumentistas circunstantes, pelo menos

como os do rouxinol. O conjunto: esplêndida representação, tanto musical,

vocal, como ecológica - a sintonia com o ambiente. Ash Lawn de James

Monroe, se queda no meio dos matos, isolado de outras casas, como a que

eu nasci na Gangorra. Mas, vide. A minha mente sempre esteve imbuída do

significado restritivo da frase de Monroe. “América para os Americanos...

do Norte.”

Page 12: Quixotes, Opus 8

Maurice Ravel – Chansons de Don Quichotte, de Dulcinea.

Minha estadia em Charlottesville, VA. Ash Lawn Summer Festival. Casa de

James Monroe, os pavões fazendo uma barulheira infernal. Gritos, mais

gritos. O chefe fabuloso deles [em Esopo] já pagou, de há muito, visita a

Juno, marcou audiência para reclamar de sua voz, em comparação com a

do rouxinol. Fins de julho de 1983. Prospectos guardados por mais de uma

trintena de anos, as cores esmaecendo, os tons das letras arrefecendo, a vida

tão pouca. Sem dramatismo.

Chansons de Don Quichotte

Page 13: Quixotes, Opus 8

É certo que em Monteiro Lobato Zinho encontra Dom

Quixote, por vez primeira.

Na Gangorra mesmo, mesma. Porém, já conhecera duplos,

menino mesmo, Zinho, no cordel CARLOS MAGNO e OS DOZE PARES

DE FRANÇA, que seu Afonso recitava, heroi e co-adjuvante, Roldão e

Oliveiros. Os que foram derrotados pelos bascos no ano de 778, quien sabe,

em Roncesvalles. Perto de Pamplona.

Fui a Pamplona, muitos anos atrás, ao rastro desses

fantasmas; faz um quarto de século, comprei pelos menos duas edições da

Chanson de Roland, não em Pamplona, anos antes, em Paris. E muitos

antes, o Poema del Cid, mais importante neste contexto, texto antiguo

según la edición crítica de Ramón Menéndez, versión en romance moderno

de Pedro Salinas, Editorial Losada, S. A, Buenos Aires, Undécima Edición

1977, lido em 1978, il va sans dire, tanto o texto antigo como a versão

moderna. Conheço uma pessoa que pode ter lido esse meu poema, pois lho

emprestei, Carlos Magno Castelo Branco Fortaleza, já nos anos 90. De

alguma forma é a matriz do Don Quixote, bem assim a Canção de Rolando,

e os Nibelungos.

Duplos fantásticos, de

Robert Louis Stevenson:

Dr. Jekyll and Mr. Hyde,

eu e mim.

Duplo precioso da

literatura sul americana,

Juan de Panonia y

Aureliano de Aquilea,

OS TEÓLOGOS, de Jorge Luis Borges, em EL ALEPH. Cumpre dizer que

Teologia descamba em DEMONOLOGIA, com o respaldo de Karl Popper.

Coisa símile mostrará Buñuel em La Voie Lactée, O Caminho de Santiago.

Duplo horroroso, chatíssimo, dull, boring, ennuyeux, noioso, langweilig,

plicticitor, ABURRIDO, o de José Saramago.

Panza, ator coadjuvante ou não, supporting actor ou quejando, não

impedirá que Don Quixote invista contra os cactos da Gangorra, que lá é o

que tem de paisagem. Moinhos de vento espectrais da mente de Zinho.

Page 14: Quixotes, Opus 8

Quijote y Dulcinea del Toboso. Lampião e Maria Déa [Maria Bonita], de

Santa Brígida, Bahia. Desenho sem memória de Zinho.

Page 15: Quixotes, Opus 8

Don Pablo

pinta Don

Quixote de la

Mancha, seu

cavalo

Rocinante, o

escudeiro

Sancho Panza e

seu burro –

inominado,

apenas

chamado rucio

pela cor, e

vários moinhos de vento.

Na Escola Normal Rural Joaquim Magalhães, sob a regência

do professor Alcides, amazonense, pelo meio da década de 50, a gente

cantava assim:

Onde aquele cavalo, o rucinho,

Cujas crinas voavam no ar,

Quando forte, valente, brioso,

Se apressava no seu baralhar...

Certo e firme nos passos da marcha,

Ou no campo o ribeiro a pular

Onde aquele cavalo, o rucinho,

Cujas crinas voavam no ar?...

A memória vacila, hesita, oscila, se embaralha, e a

documentação vasta que possuía Menezes, desses anos 50, cadernos,

diários, livros, desenhos e quadros, foram destruídos em 1979, como

resultado de conjuração mais que infame de bruxas, feiticeiras, mais

propriamente de maus caracteres. Sabe que cantava esses versos, que ainda

sabe cantá-los, sabe que se originam em Juvenal Galeno, mas de quem a

música, a linha melódica? Além disso, pode estar equivocado, não quanto a

Juvenal Galeno, mas quanto ao professor que ensinava e regia o coral de

crianças na Itapipoca. Muito musical também era o professor José Silva

Novo, que veio depois do professor Alcides, no segundo lustro da década

de 50. Neles também o vestígio da ditadura getulina, do nacionalismo

doutrinário das escolas, do canto orfeônico de Villa-Lobos. De Anhangá,

de Tupã, deus do Brasil, na manhã de sol, Anhangá fugiu, de Nozaniná

orê-kuá. Zinho enriquecia sua alma para sempre, bem prosaica a expressão:

que legal!

Page 16: Quixotes, Opus 8

Duas representações

da Casa da Gangorra,

ambas já com uma

dúzia de anos, que a

vida é curta mesmo,

mesma; a primeira,

desenho de Zinho, parece que de Berlim, 2001, não sei; a segunda, fotografia de Júlio

Tomé ou de Patty Saldanha. É dessa casa que Zinho parte, ao labirinto da vida, com

única saída previsível, inelutável [a indesejada], ao encontro das histórias, para

pretensamente também ser história. Não consta que, nos oito anos aí vividos, ao redor

da lamparina a querosene, da lâmpada de manga, da pilha de vagens de feijão ou de

espigas de milho para debulhar, pois não consta, dentre os milhares de histórias aí

ouvidas, inclusas as de Trancoso, que vieram de Portugal, pois não consta uma só que

mencione o engenhoso fidalgo, o cavaleiro da triste figura. Desse rincão Zinho adentra

o seu labirinto. Na representação, Riobaldo e Diadorim, embrenhados nos seus, meus,

nossos.

Page 17: Quixotes, Opus 8

Roldão e Oliveiros, Aquiles e Ulisses. Olga e Luís Carlos Prestes. Anita e Garibaldi

www.wikiart.org. Gustave Doré. Na

Capilla del Oidor, há, para

apreciação longínqua, como o livro

de Kells, na Biblioteca da Trinity

College, de Dublin, República da

Irlanda (1988), uma edição original

do Quijote com ilustrações de Doré.

Há também uma pia em que

batizaram a criança sem ela pedir ou

querer. Isso não é fundamentalismo

batista, é consideração tola sobre a

inutilidade de tudo.

Cavalo de Roldão, Vigilante

(Veillantif); não consta na mente, se

existe, o nome do cavalo de Oliveiros.

A espada, papai diz Durindana;

Durandal na Chanson. Excalibur, a de

Artur, também antes, que tem seu duplo

em Lancelot (Gallahad), inclusive, na

cama, com Gwynevere Pendragon.

Gwynevere, será Ginevra, como tradução, nome da senhora que está na National Gallery of Art,

de Washington DC, de´ Benci, dita, o único suposto Leonardo dos Estados Unidos? Via-a em 27

de agosto de 1983, véspera da Marcha sobre Washington comemorativa do Vigésimo

Aniversário da Marcha sobre Washington, de Martin Luther King, de que participei, num calor

infernal, quase morrendo de insolação ou intermação. Let alone the March, quase todo dia vejo

Ginevra, no meu próprio ambiente, Dulcineia de cabelos louros, partidos, no penteado,

exatamente ao meio da cabeça. “I have a dream”. Mas, o que tem importância é o mito do

Parelha Alada [ou da Biga, tirada por dois corceis] ou do Cocheiro, de que reconta Sócrates,

no Fedro de Platão. Um dos cahalos, o bom, quer levar o porra do cocheiro à bemaventurança,

o outro cahalo, de maus instintos, puxa Ego, para a terra, o chão, que por pior que seja, é

Gangorra. Gangorra, Comala, Macondo, Chapadão do Bugre, Vila dos Confins,

Yoknapatawpha. Sítio do Pica-pau Amarelo. “En un lugar de la Mancha, de cuyo nombre no

quiero acordarme...”

Page 18: Quixotes, Opus 8

A casa, desenhada por Zinho, a

partir do leste, do rumbo do

Coelho, da Betânia, do Cura –

uma espécie de quilombola -, do

Cruxati, onde some o rio Sororô,

das praias.

A fotografia em pessoa.

Imprialzim, diz minha mãe.

Quiz: André Caranaúba:

A ( ) Antônio Sales

B ( ) Adolfo Caminha

C ( ) Antônio Bezerra

D ( ) Henrique Jorge

E ( ) José Nava

Desta casa saía-se no Bolão de Ouro, aliás, saía mamãe cavalgando o Bolão

de Ouro, comigo na garupa. Rumo aos Bastiões, sua terra de nascença a umas duas

léguas e meia da Gangorra, da casa na Gangorra. Ia-se, encontrava-se perto da Picada,

na quina da cerca do João Chico, a cruz do Serra Branca. A marca portanto, no chão, do

local onde Serra Branca, jagunço de Anastácio Braga, na briga pelo pedaço de chão

chamado Enxada, pois aí, dois Otavianos, dizem, se lhe surgiram à frente, um segurou

as rédeas de seu cahalo, o outro puxou-o ao chão, onde se lhe impingiram múltiplas

facadas. Pronto. Era o ano de 1947. Mais longe, um pouco, um descampado, a Lagoa do

Miguel, era possível ali o Bolão de Ouro refrear-se, relinchar, estancar e upa! cahalim,

pois, lugar mal assombrado. Vários já se tinham visto na seguinte situação, mas alta

hora da noite, não de dia, de dia era só ir, sem moinhos de vento; pois, o cahaleiro via-

se não mais solitário, alguma coisa se lhe ocupava a garupa do cahalo, como o Caboco

Tapera, mas ele negava, tinha-se passado com o Antônio Cândido, índio tremembé, mas

ele negava mais ainda, que nem cahalo haheria de ter. Zinho temia. Temia as

assombração, as bruxas, os dragãos, prinipalmente, principalmente o velho diabo, esse

precipício, falava dona Aldenora, coxo, de dentes todos de ouro. Temia não chegar até o

dia de hoje para contar esta história.

Temple, London, 2013. Foto de Freire AMR

Page 19: Quixotes, Opus 8

O velocípede foi adquirido na Pensão do Sr. Francisco Caxilé,

na Rua General Sampaio, 810 ou 840, em 1944. Pedalei-o até as últimas

consequências; é possível que ainda haja restos dele enterrados entre as

pedras da Gangorra, que lá é só pedra e chão esturricado. Acho que aprendi

essa palavra com o Olegário Mariano. Não, não foi. Com ele aprendi o

termo comburido. Cavando o chão, talvez ainda se encontrem também

minhocas, as usava eu para pescar de anzol no açude velho de meu trisavô

David da Costa Araújo e no rio Sororô; endogamia: bisavô tanto de papai

como de mamãe. O carneirinho está representado duas vezes. O desenho de

Zinho data de setembro de 2001. Nasceu na Alemanha.

“As galinhas, encolhidas como se dormissem, sacudiam de

repente suas asas e saíam ao pátio, bicando depressa, agarrando minhocas

desenterradas pela chuva”

Rulfo J – Pedro Páramo, trad. Eric Nepomuceno, Rio de Janeiro,

BestBolso, 2008: 23.

Page 20: Quixotes, Opus 8

ROCINANTES: Bolão de Ouro.

Wildfire, cavalo conhecido de Zinho, desde que se entende. Acha-se em: A ( ) George Sand,

B ( ) George Eliot, C ( ) Charlotte Brontë, D ( ) Emily Brontë, E ( ) Nélida Piñon

Page 21: Quixotes, Opus 8

Manuscritos e desenhos de mão direita e esquerda, o labirinto,

o redemoinho com o cavalo do cão no centro, como Zinho vê, alusão a

Rosa JG, com o próprio demo no meio do redemunho; referência à subida

dos cavalos na Giralda, representados pelo Bolão de Ouro, tudo feito na

antiga Hispalis.

O besouro mangangá, o de

Júlio Cortázar, em

El Examen.

Esquisito que a palavra

mangangá saia da Gangorra e

vá bater em Buenos Aires.

Ou vice-versa, saia (salga) de

Buenos Aires e vá (vaya)

esbarrar em Gangorra

Page 22: Quixotes, Opus 8

GESTOS, GESTAS.

Plaza de España. 1992.

Alcalá de Henares, 27 de janeiro de 2009. Monumento a Don Quijote y Sancho, obra do

escultor Pedro Requejo, inaugurado em abril de 2005. Ao fundo, o Museu Casa Natal de

Miguel de Cervantes Saavedra. Fotos de câmera quase cega, só sombras. Mas há

outros(s) Miguel neste despretencioso livrete. E neste mundo há muito mais sanchos do

que quixotes.

Page 23: Quixotes, Opus 8

Plaza de España, janeiro de 2007. Quijote y Panza. Rocinante y rucio. Celebração do

terceiro centenário da publicação da segunda parte do Quixote, 1915, seguida de

centenário de morte de Cervantes (1547-1616). Autor do projeto: arquiteto e escultor

Rafael Martínez Zapatero, com a colaboração de Pedro Muguruza Otaño. Esculturas

ajuntadas, de Lorenzo Coullaut Valera. Nesta imagem, Ana reflete Sancho Panza,

como o Aristóteles de Rafael.

Nesta, por contraste, encarna Dom Quixote. Como Budica, dos ingleses, Joana dos

franceses, Anita Garibaldi, Olga Benário. Sem esquecer, daqui mesmo a Pasionaria

Dolores Ibárruri: No pasarán!

Page 24: Quixotes, Opus 8

Buenos Aires, 30 de

dezembro de 1997.

Crédito Freire AMR.

Escultura de Aurelio

Teno, andaluz, veio a

Buenos Aires em

1980, presente do

governo espanhol por

motivo do 400º

aniversário da cidade.

Su pedestal de

hormigón blanco y

piedra representa la

llanura de La

Mancha.

www.turismo.buenosaires

.gob.ar/es/

Em 1985, no inverno,

estivemos em Buenos

Aires, Ego e dois

filhos meninos,

adolescentes, Júlio,

13 e Cláudia, 11. O

monumento já estava

plantado aí; doze anos depois, entre 1997/1998, de novo, agora com dois

outros filhos, Adriano e Lívia, de mais ou menos mesma idade. As fotos

foram sacadas nesta última viagem.

Page 25: Quixotes, Opus 8

Buenos Aires, 30 de dezembro de 1997. Crédito Freire AMR

“Há uma multidão de caminhos...(...)... Outro mais que vai

direto para a serra...(...)... E tem outro mais que atravessa a terra inteira e é

o que vai mais longe.” Ortodoxia: até Gangorra.

Rulfo J – Pedro Páramo, trad. Eric Nepomuceno, Rio de Janeiro,

BestBolso, 2008: 62.

Page 26: Quixotes, Opus 8

Sacando un trozito de pan de la mano de Sancho que corta el pan con un

cuchillo. 27 de enero 2009

Page 27: Quixotes, Opus 8

Dois Monumentos. O do Quijote, com o globo em cima; no

dizer de Rubén Darío, y tembló España entera porque miró tal día, que el

sol de sus dominios que nunca se ponía, bajó al eterno ocaso de la India

Occidental. Não posso me responsabilizar pela exatidão deste texto. Li-o,

como menino, Zinho, há 65 anos, quando tinha sete, num livrinho de

História, perdido há mais de 60 anos. Não encontro o poema na net. Já citei

os versos em outro ebook, sempre me lamentando pela morte dos meus

livros, causada por mau olhado e quebranto. Principalmente mau-

caratismo, que é forma superior de burrice. O outro monumento, Cervantes,

em Alcalá de Henares. A frente de ambos, Ana; fotógrafo sem talento,

Menezes DB. Outros entraves, praticamente nenhuma das fotos tiradas por

Zinho presta. É um quixote aquém da contemporaneidade. Não tem boas

câmeras fotográficas, a boa que tinha perdeu-a em 1979 [Roubada, agora

obsoleta], e se esforça há anos para dominar os recursos dos computadores.

São mágicos impiedosos. Enfim, fotos precárias, tudo precário.

Page 28: Quixotes, Opus 8

Gestos – motivos condutores. Leitmotive. Platão e Aristóteles. O Feijão e o

Sonho, irrespectivamente, lembrando Oliveira EG e Orígenes Lessa.

Page 29: Quixotes, Opus 8

Reverenciemos o gênio cervantino. En un lugar

de la Mancha, de cuyo nombre no quiero

acordarme, no ha mucho tiempo que vivía un

hidalgo de los de lanza en astillero, adarga

antigua, rocín flaco y galgo corredor. Una olla de

algo más vaca que carnero, salpicón las más

noches, duelos y quebrantos los sábados, lentejas

los viernes, algún palomino de añadidura los

domingos, consumían las tres partes de su

hacienda. El resto della concluían sayo de velarte, calzas de velludo para las fiestas

con sus pantuflos de lo mismo, los días de entre semana se honraba con su vellori de lo

más fino. Tenía en su casa una ama que pasaba de los cuarenta, y una sobrina que no

llegaba a los veinte, y un mozo de campo y plaza, que así ensillaba el rocín como

tomaba la podadera. Frisaba la edad de nuestro hidalgo con los cincuenta años, era de

complexión recia, seco de carnes, enjuto de rostro; gran madrugador y amigo de la

caza. Quieren decir que tenía el sobrenombre de Quijada o Quesada (que en esto hay

alguna diferencia en los autores que deste caso escriben), aunque por conjeturas

verosímiles se deja entender que se llama Quijana; pero esto importa poco a nuestro

cuento; basta que en la narración dél no se salga un punto de la verdad.

Reverenciemos também Alencar J: “Além, muito além daquela serra, que

ainda azula no horizonte, nasceu Iracema. Iracema, a virgem dos lábios de mel, que

tinha os cabelos mais negros que a asa da graúna e mais longos que seu talhe de

palmeira. O favo da jati não era doce como seu sorriso; nem a baunilha recendia no

bosque como seu hálito perfumado. Mais rápida que a ema selvagem, a morena virgem

corria o sertão e as matas do Ipu, onde campeava sua guerreira tribo da grande nação

tabajara, o pé grácil e nu, mal roçando alisava apenas a verde pelúcia que vestia a terra

com as primeiras águas.”

Porém, despotismo de diferença, entre a abordagem realista e irônica de Miguel e a

idealização quase absurda de José.

Também recordei o capítulo primeiro de David Copperfield de Charles

Dickens, Nasci, I am Born, como li, como menino, sacado da Biblioteca da Escola

Normal Rural Joaquim Magalhães, assim: Whether I shall turn out to be the hero of my

own life, or whether that station will be held by anybody else, these pages must show.

To begin my life with the beginning of my life, I record that I was born (as I have been

informed and believe) on a Friday, at twelve o'clock at night. It was remarked that the

clock began to strike, and I began to cry, simultaneously. Nisso, cruza a mente, não o

nascimento de Tristram Shandy, de Laurence Sterne, nem sua vida e opiniões, mas a

sua feitura, a história de dar corda no relógio, que sua mãe reclama de seu pai, e ele: -

Good G..! cried my father, making an exclamation, but taking care to moderate his

voice at the same time,—Did ever woman, since the creation of the world, interrupt a

man with such a silly question? Pray, what was your father saying?—Nothing.

Page 30: Quixotes, Opus 8

Colombo, Quixote. As observações de Sêneca, em Medea, que estão em

monumento na

Plaza Colón,

Tethysque novos

detegat orbes;

nec sit terris

ultima Thule...

Enfim, Sêneca,

espanhol,

conhecia, de seus

mestres, de seus

livros, que

havia terras não habitadas pelos europeus. Colombo, genovês, quiçá

conhecesse a Medea de Sêneca. Sêneca não é profeta, é sábio, erudito.

Colombo, o desbravador, talvez arrepiasse rota soubesse que seus patrões

espanhóis iriam causar a morte de milhões de pessoas, e destruir algumas

belas civilizações. Em nombre de Diós. Ei-lo lá túmulo, pedra, na catedral

de Sevilla. Os patrões deitam-se em Granada. Torquemada... Torquemadas

e fascistas estão em toda parte, espreitando.

EL SEÑOR DON CRISTÓBAL COLÓN

Page 31: Quixotes, Opus 8

Dueña Caridad, à frente do Museu do Prado, vendendo pequenas peças

pictóricas do marido, señor Serrano, que ficou em casa pintando outras,

para vender aos passantes.

Page 32: Quixotes, Opus 8

Stanze di Raffaello Scuola di Atene.

Musei Vaticani – Città del Vaticano

Recorte de Zinho da Gangorra http://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/9/94/Sanzio_01.jpg

Page 33: Quixotes, Opus 8

Voltemos aos cavalos. O mito da Parelha Alada [ou da Biga,

tirada por dois corceis] ou do Cocheiro, da mente de Sócrates, no Fedro de

Platão, recorda longínqua e loucamente o cavalo morto, em seguida os dois

cavalos fantásticos do Médico Rural de Franz Kafka. Que dão uma volta

por cima e chegam ao cavalo fantasmagórico de Miguel Páramo, que teria

remorso pela morte do dono, Miguel.

Page 34: Quixotes, Opus 8

CANTEIRO DE OBRAS - Pedro Calderón de la Barca: La Vida es Sueño

Aquiles e Ulisses. Prestes e Olga

Em 1982, Menezes DB adquiriu o Monsenhor Quixote de Graham Greene,

depois de que perdeu contato com o livro até o dia de hoje. Já lá vai uma trintena de

anos. Talvez algum conhecido seu, catolicão, o tenha tomado emprestado para sempre.

Um deles sei que não, pois esse não gosta de ler, mas de escrever. Como Marques

Rebelo diz de Jorge Amado, em Espelho Partido.

Pedro Calderón de la Barca: La Vida es Sueño

Page 35: Quixotes, Opus 8

PRIMEIRO DUPLO

Uma vez, faz uma cinquentena de anos, vagabundeava nas

imediações do Barracão de Itapipoca, quando, de estalo, se deparou com

uns retalhos pequenos de uma história em quadrinhos, arremessados ao

chão, recém rasgada, pensou, por um pai, como existia na época, que

expressava preconceito contra esse tipo de literatura. Pegava o filho lendo

uma delas, shazam! Tomava-a, confiscava-a, e zás! Despedaçava-a. O

crime tinha sido recente, os pedaços espalhados pelo vento num largo

perímetro. O fragmento mais grande não alcançava 7 centímetros na maior

dimensão. Começou a ajuntá-los, ao mesmo tempo em que arriscava

olhadelas a ver se via o objeto maior de seu passeio, uma princesinha que

morava por ali. Foi ajuntando restos de páginas por toda a circunferência

do Barracão, mercado, e quanto mais achava, mais ansiava por achar, na

expectativa da lograr recompor toda a história. Esqueceu-lhe a princesinha.

Serendipidade... A princesinha tinha 9 anos, como Beatrice Portinari.

Et quanto exauriu seu esforço, ainda prosseguiu embalde, até

que ficou escuro e já não adiantava esquadrinhar o chão. Dirigiu-se a casa,

a cem braças, levou goma de mandioca ao papeiro, o papeiro ao fogão, fez

grude, e começou a grudar as porçõezinhas da obra. Obteve sucesso

bastante apreciável. Faltou a capa da revista e restaram uns buracos, em

quase todas as folhas. Permitiu leitura. Eram Os Irmãos Corsos, de

Alexandre Dumas, em Edições Maravilhosas da Editora Brasil América

Limitada, EBAL. Indez de gemelaridade. Na ribeira do Sororô: atirou no

que viu, matou o que não viu.

Hoje em dia, virtualmente recolhem-se livros inteiros: copia-

se aqui, corta-se ali, cola-se acolá. Ao término não se consegue uma peça

de restauração, mas uma coisa nova, impressa em papel novo em folha. É

faina diferente de refazer pegando, sentindo, colando, e sabendo que em

contato com coisa realmente antiga. Neste aspecto, antiguidade virtual não

tem viço nem sabor. Ainda mais que grudar artesanalmente ainda tinha a

vantagem de se ir degustando o grude. Enéadas: Homo faber.

Enéadas, trabalho de

A ( ) Virgílio

B ( ) Cícero

C ( ) Platão

D ( ) Plotino

E ( ) Lucrécio

Page 36: Quixotes, Opus 8

RIOBALDO E DIADORIM. OLGA BENÁRIO E LUIS CARLOS PRESTES.

Cavalo de Riobaldo é Siruiz. O de Diadorim teria nome, como ele

Reinaldo, mas não o encontro. Pastores de tropas e domadores de cavalos,

como as clãs indo-europeias de Aquiles e Ulisses. Com o tempo, querendo ou

não, foram antes e depois, cavaleiros errantes e andantes, nas varedas tortuosas

da busca do Santo Gral, que no antes é Velocino de Ouro, porém variante

náutica. Conheço o nome do cahalo de Rodrigo Diaz de Vivar, El Cid, o

Campeador, desde muito menino, quase quanto o meu mesmo, de seu Afonso,

Bolão de Ouro: Babieca. A mulher, Jimena. Desconheço o nome do cahalo de

Prestes, foram muitos, nos 26 mil quilômetros percorridos Brasil fora. Conheci

Prestes pessoalmente, não tive coragem de lhe perguntar o nome do cahalo, ou

talvez achei fosse descabida a pergunta. Talvez ele não achasse bom ser um mito

montado num cahalo mítico.

Page 37: Quixotes, Opus 8

Sacando un trozito de pan de la mano de Sancho que corta el pan con un cuchillo.

27 de Enero 2009

Page 38: Quixotes, Opus 8

DON PABLO

¿Quien es Don Pablo?

A ( ) Pablo Diego José Francisco de Paula Juan Nepomuceno María de los

Remedios Cipriano de la Santísima Trinidad Ruiz

B ( ) Pablo Diego José Francisco de Paula

C ( ) Pablo Diego José Francisco de Paula Juan Nepomuceno

D ( ) Pablo Diego José Francisco de Paula Juan Nepomuceno María de los

Remedios

E ( ) Pablo Diego José Francisco de Paula Juan Nepomuceno María de los

Remedios Cipriano de la Santísima Trinidad Ruiz y Picasso

¿Y dónde queda Joan Miró?

Señor Dalí, doble, Zinho da Gangorra, duplo et Monsieur Doré, le dernier.

Page 39: Quixotes, Opus 8

Ao decidir

reproduzir

aqui um

pequeno

trecho do Don

Quixote de

Richard

Strauss, dessa

gravação

Deutsche

Grammophon,

com a

Filarmônica

de Berlim,

regida por

Herbert von

Karajan,

António

Menezes, ao

violoncelo –

Dom Quixote

e Wolfram

Christ, viola (Sancho Panza), procurado o disco dentro da capa, lá estava

outro. Um trickster ou poltergeist andara se imiscuindo na minha vida; tive

de apelar para outros recursos. A ilustração da capa é de Salvador Dali.

Esse entusiasmado Karajan andou regendo Os Mestres Cantores de

Nürenberg, pelo menos a abertura [extraordinária] no início, bem no início

da ocupação alemã da França. Os Alemães querem que eu diga ocupação

nazista. Mas eu digo ocupação alemã.

Don Pablo x Salvador Dali: Farblithographie de 1981, sobre aquarela de

1957. © Demart Pro Art BV

Orquestra Filarmônica de Berlim, 1986

Herbert von Karajan

Richard Strauss: Variações Fantásticas sobre um Tema cavalheiresco

[Phantastische Variationen über ein Thema ritterlichen Charakters op. 35]

António Meneses, violoncelo

Wolfram Christ, viola

Leon Spierer, violino

Disco com cerca de 29 anos.

Deutsche Grammophon

El retablo de Maese Pedro – Manuel de Falla

Page 40: Quixotes, Opus 8

Mas aí, estava pelo meio do caminho deste booklet, quando levei o arquivo

mais recente num pen drive para uma palestra sobre úlcera de Marjolin, no Instituto Dr.

José Frota. Foi triste. O arquivo da aula foi comido pelo computador de lá, mas outro

arquivo símile tinha eu levado, de modo que fiz a palestra e foi até boa. Porém no

primeiro arquivo, estavam estes meus quixotes, sem haver reserva, por imprudência, e lá

se foram as últimas páginas, para refazimento. De certa feita, nos anos noventa, fiz

executar esse Retablo de Maese Pedro aos ouvidos de um já citado aqui, que tem o

nome sonoro do tio de Roldão, quem sabe também parente da musa de Roldão, a

princesa pré-renascentista, Angélica. Então, não sei se ele gostou. A personagem central

do teatrinho de títeres, cativa dos mouros, em Zaragoza, chama-se Melisendra: será filha

de Carlos Magno. O marido dela não dá a mínima mais para a esposa, fica jogando

xadrez com Roldão, e o Imperador está uma arara de furioso, ordena ação da parte do

marido. Cria-se um entrevero entre Roldão, que quer ajudar e don Gayferos, que recusa

a ajuda e tal... Quixote está assistindo sentado ao espetáculo e vai já-já misturar ficção

com realidade, numa cena tão cômica como a história das marrecas do Decamerão. Não

sei se meu amigo gostou do Retablo, Melisendra, Manuel de Falla, e outros, porque ele

era vidrado mesmo era em Mary Shelley e em Joseph Conrad. Para terminar este quase

bestialógico, há cerca de um quartel de século, assisti à peça La Sultana, de Cervantes,

no Teatro de la Comedia, centro de Madrid, junto à Puerta del Sol.

Page 41: Quixotes, Opus 8

Em outras palavras,

Capilla del Oidor.

Desenho, ainda que com

pouco ou nenhum talento,

mas com a idade de 7 anos

de zinho, do Pelele,

riscado em Alcalá de

Henares, em 25 de janeiro

de 2009. O pior é que não

sei se vou fazer como Don

Alonso Quijano, que como

quê, volta ao normal antes

de sucumbir ao golpe de

alfange da indesejada. O

que é estranho em tudo

isso é que indaoutrodia

entrei em contato com

Fátima Pinheiro, de

Itapipoca/Buenos Aires, e

ela assim se expressou,

dizendo se lembrar de

mim, Zinho: “Sim, e você

penso que é aquele garoto

que me ensinou a desenhar

rostos, que eu aprendi e

fiquei naquele estagio, nao

evoluí! e que me emprestava revistas de quadrinhos, minha mae não gostava porque

achava que eu estava perdendo meu tempo e não estudava. O que ela nao sabia é que

aquelas revistas eram resumos em quadrinhos de obras clássicas que de muito me

serviram e continuam servindo. Vivo na Argentina, trabalho na Embaixada do Brasil e

anualmente vou à Fortaleza/Itapipoca e às vezes passo em São Paulo para ver minha

prima Regina Teixeira...”

Em verdade, quem sabe desenhar mesmo, nessa quadra da minha vida, é

Alberto Flávio Aguiar e Jessé Souza Magalhães Frota. Também, certamente não

empresto a ela a Edição Maravilhosa, de número 173, da EBAL, pois esse meu

Quixote, só vem a lume em 1958, da grande seca, no que já estou em Fortaleza. Porém,

existe um fato estranho e doloroso entre nós, aos começos dos anos 70, que me eximo

de mencionar, que, no entanto, os mais próximos de nós, todos o sabem.

Page 42: Quixotes, Opus 8

www.artefamoso.com

El pelele, de Goya, do Prado, traz

à mente el pelele/el manteo de

Sancho Panza, e outra coisa. Mais

de vinte anos atrás, talvez em

1991, Ana e eu assistimos a um

grande espetáculo quase teatro

montado para a festa do vinho ali

perto da Gangorra, em Plaza

Mayor. Havia um grande palco,

um tablado, cada um de nós com

pequeno copo de vidro, um vaso,

una copa, a nos servirmos, e tal.

No palco, uma companhia de

jovens representava quadros de

Francisco José de Goya y Lucientes. Ana fotografa cada representação e eu

bebo os vinhos. É quase evidente que eu já visto de perto El pelele, umas

dez vezes, talvez menos, pois minto muito. Tínhamos acabado de visitar El

Escorial, e Ana fotogrando todo o tempo. Eram tempos de fotografia

precária para quem não tinha uma boa câmera. Não existiam maquininhas

digitais. E pronto, nem pelele, nem galina ciega, ni moncloa, ni quitasol...

Parece que todas as fotos foram feitas em cima das feitas em San Lorenzo

de Escorial. Desta vez não foram vírus de computadores que destruíram

minha ilustrações. Foi a tentativa inconsciente da Ana de fazer um

Palimpsesto.

Page 43: Quixotes, Opus 8

Era do CD, isto é, época. Disco adquirido em 1993. Era intenção

reproduzir algum trecho do Retablo de Maese Pedro, teatro dentro de

teatro, com acting out absolutamente cômico de Don Quixote, mundo

próximo do que acontece no Hamlet, e em Midsummer Night´s Dream.

Daqui se explica sim, porque o projeto foi posto de lado: as perturbações

causadas no ar pelos pequenos demônios, menos Ariel, mais Puck, que

troou: Lord, what fools these mortals be!

Page 44: Quixotes, Opus 8

Quando Ana e eu estávamos tentando escrever este livrete, aí, a Ana pagou

visita à sua amiga Dra Lúcia Viana, monja, praticante de um dos milhares

de religiões deste mundo velho sem porteira e sem religião que preste, e foi

então que achou na sua casa, dela Lúcia, esta estatueta, que segundo a

senhora Lúcia lhe teria sido presenteada pela própria Ana, de modo que, ao

ouvir o projeto do ebook sobre o Quixote, livrou-se dela [estatueta]

recambiando-a a casa. A estatueta não tem autor, data de fabricação ou

marca de fábrica.

Page 45: Quixotes, Opus 8

Tosca obra:

com a palavra

Madrid, mais

nada, nem

uma

indicação de

fábrica, de

autor ou

material. Os

dois rapazes,

o Gordo e o

Magro, se

postam em

cima do

Tomo. Esta

peça tinha

sido perdida

dos arquivos

deteriorados

por ação de

bruxaria, de

quebranto, de

mau olhado

do Sr. Sousa

CM, que se

esquece da

Tábula VIII

da lei das Doze Tábuas.

Tabula VIII: "quim malum carmen incantassit..." "Se alguém

cantar ou compuser contra outro uma canção que implique insulto ou

calúnia, deverá ser espancado até a morte. Se rogar praga..." Qui malum

carmen incantassit. ..Cícero: De republica, 4, 10, 12, apud Sanctus

Augustinus, De Civitate Dei, 2, 9: XIl tab., cum perpaucas res capite

sanxissent, in his hanc quoque sanciendam putaverunt: si quis occentavisset

sive carmen condidisset, quod infamiam faceret flagitiumve alteri. Quem

fez um mau encantamento (seja punido com a pena capital.): (crime de

feitiçaria). https://arnaldoreistrindade.wordpress.com/2011/05/01/lex-

duodecim-tabularum-lei-das-xii-tabuas/

Page 46: Quixotes, Opus 8

Devotio. Bem ao seio da cultura. Na Gangorra rogam-se pragas.

Os deuses das religiões mortas se transmutam em demônios, não morrem.

Em Contra Ibis o poeta principia assim sua conjura: "Deuses do

mar e da terra, e vós que mais felizes, reinais com Júpiter entre polos

opostos, voltai para mim, eu vos suplico, voltai para mim as vossas mentes,

e permiti que meus desejos sejam cumpridos. (...)...[expressa a longa

imprecação]... que a noite te seja mais temível que o dia, o dia que a noite,

e que seja sempre miserável, sem jamais encontrar piedade; que se alegrem

com a tua desgraça assim as mulheres como os homens (...) Mesmo quando

eu for dissolvido em tênue aura, minha sombra exânime execrará tua

conduta (...) e a imagem do meu esqueleto perseguirá teu vulto..."

Page 47: Quixotes, Opus 8

CANTEIRO DE OBRAS: La vida es Sueño – Pedro Calderón de la Barca

“We are such stuff as dreams are made on, and our

little life is rounded with a sleep.” William Shakespeare, The Tempest.

Page 49: Quixotes, Opus 8

Alcalá de Henares, 27 de janeiro de 2009 Sacando um trozito de pan de la mano de

Sancho que corta el pán con un cuchillo. Detalhe de Sancho cortando o pão, clivado de

maspan.blogspot.com

Agora, sim, os gestos precisos, Ana terra-terra, tem fome.

Ao fundo, Edifício Espanha.

Page 50: Quixotes, Opus 8

Zinho da

Gangorra procura

representar o céu

noturno de Alcalá

de Henares, no

inverno de 2009.

Parece que ele vê

o manto escuro do

céu de cima pra

baixo, dito na

Gangorra, de riba

pra baixo. Pensa

no céu sob o qual

nasceu, aquele

esplendor

noturno, com

riscos de lume

toda noite, as

estrelas cadentes.

meteoros e

bólidos, que na

cidade não pode

ver mais. E Don

Quixote e Sancho

Panza que diriam

desses desenhos

noturnos e

fugazes? Imagino que poderiam ter visto o cometa de Halley, aquele fiasco

de 1985/l986. Aquela beleza das tapeçarias de Bayeux, ano 1066.

Zinho procura representar o céu noturno de

Alcalá de Henares, no inverno de 2009.

Parece que ele vê o manto escuro do céu de

cima pra baixo, dito em Gangorra, de riba pra

baixo.

Page 51: Quixotes, Opus 8

Sancho Panza e Dom

Quixote desenhado por um

menino de 7 anos, em Alcalá

de Henares. O manuscrito

refere-se a duas coisas:

perdas, como a do

Compêndio de Psiquiatria de

José Alves Garcia, juntos

com outros três mil livros, e

à classificação de

Kretschmer. Sancho pícnico

e Dom Quixote,

leptossomático. Essas coisas.

Remontamos a Lucrécio, De

Rerum Natura?

Este (a estatueta) tinha sido perdido dos arquivos

deteriorados por ação de bruxaria, de quebranto,

de mau olhado do Sr. Sousa CM, que se esquece

da lei da lei das Doze Tábuas. Sem olvidar as

térmitas, que aliás, não conseguem destruir

estatuetas.

Page 52: Quixotes, Opus 8

Em narrativa do venerável Beda, de que fala

Marguerite Yourcenar em O Tempo esse grande Escultor, a

vida é definida por um nobre da corte do rei Edwin, de

Northumberland, como análoga ao voo de um pássaro que

entrou pelo vão do telhado de um castelo — uma sala

espaçosa como esta —, ao centro da qual se encontra uma

lareira, onde se banqueteiam, valendo dizer, fazem um

Symposium, os nobres e o rei, ao passo que lá fora as chuvas e

as neves do inverno castigam a natureza. O pássaro cruza

velozmente o salão, para sair do lado oposto, e após esse

átimo, vindo do inverno a ele regressa. Os nobres e o rei, que

talvez sejam 12 mais 1 — pois para Northumberland teria

sido levado o gral —, esgrimem sobre o significado da vida e

da morte, e cada um dá a sua opinião [doxa]. Um deles se

queda silente, nada diz, até que é interpelado e instado a dizer

o que pensa. Compara a vida com aquele trajeto percorrido

pelo pássaro; assim a efêmera vida, nada se sabe do que a

precedeu, como ser, [pois, no então, cada um dos simposiastas

era não-ser, portanto não era], nem sabe do que seguirá. Sai-

se para o nada, o desconhecido, assim como se vem do nada.

Apresentada assim, no inverno, a vida fica parecida com uma

trégua em meio às intempéries e aos acidentes naturais.

Todavia, parece-me mais, como observou Goethe,

que a vida é uma patologia da matéria. O trajeto percorrido

por esse pássaro, de escuro a escuro, é o domínio das

necessidades e das ânsias, dos impulsos, das pulsões e das

paixões da alma.

“We are such stuff as dreams are made on, and

our little life is rounded with a sleep.”

William Shakespeare: The Tempest

Pedro Calderón de la Barca: La vida es Sueño

FIM