reabilitação de estruturas de madeirade madeira - gecorpa.pt · e 4,48 (iv a incluído) revista...

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Ano VII – N.º 29 Janeiro/Fevereiro/Março 2006 – Publicação trimestral – Preço 4,48 (IVAincluído) Revista da Conservação do Património Arquitectónico e da Reabilitação do Edificado Moinhos de Vento: Escolha e protecção da madeira na construção Reabilitação de Estruturas de Madeira Reabilitação de Estruturas de Madeira Em Análise Sistema pouco intrusivo de reabilitação estrutural da madeira Caso de Estudo Aplicação de madeira na faixa costeira: Anomalias inerentes à localização Em Análise Sistema pouco intrusivo de reabilitação estrutural da madeira Caso de Estudo Aplicação de madeira na faixa costeira: Anomalias inerentes à localização Capa n.º 29.qxp 3/17/06 6:25 PM Page 1

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Revista da Conservação do Património Arquitectónico e da Reabilitação do Edificado

Moinhos de Vento: Escolha e protecção da madeira na construção

Reabilitaçãode Estruturasde Madeira

Reabilitaçãode Estruturasde Madeira

Em AnáliseSistema pouco intrusivo

de reabilitação estruturalda madeira

Caso de EstudoAplicação de madeira

na faixa costeira:Anomalias inerentes

à localização

Em AnáliseSistema pouco intrusivo

de reabilitação estruturalda madeira

Caso de EstudoAplicação de madeira

na faixa costeira:Anomalias inerentes

à localização

Capa n.º 29.qxp 3/17/06 6:25 PM Page 1

Pubes_P&C27 8/29/05 6:34 PM Page 1

Pedra & Cal n.º 29 Janeiro . Fevereiro . Março 2006

Tema de Capa:

Reconhecida pelo Ministério da Cultura como “publicação de manifesto interesse cultural”,ao abrigo da Lei do Mecenato.

N.º 29 - Janeiro / Fevereiro / Março 2006Propriedade e edição:GECoRPA – Grémio das Empresas de Conservação e Restauro do PatrimónioArquitectónicoRua Pedro Nunes, n.º 27, 1.º Esq.1050 - 170 LisboaTel.: 213 542 336, Fax: 213 157 996http://www.gecorpa.ptE-mail: [email protected]: 503 980 820Director: Vítor CóiasCoordenação: Cátia MarquesConselho redactorial: João Appleton, João Mascarenhas Mateus, José Aguiar,Miguel Brito Correia, Teresa de Campos Coelho Secretariado: Elsa FonsecaColaboram neste número:A. Jaime Martins, Alfredo Dias, Carlos Mesquita,Carlos Sá Nogueira, Francisco Pires, HelenaCruz, João A. Silva Appleton, João Varandas,João Viegas, Jorge de Brito, José Maria Lobo deCarvalho, José Saporiti Machado, Lina Nunes,Luís Jorge, Luís Ribeiro, Miguel Brito Correia,Nuno Teotónio Pereira, Raquel Paula, Tânia Nobre, Teresa de Deus Ferreira, Vítor Cóias

Design gráfico e produção:Loja da ImagemRua de D. Estefânia, n.º 22 – 1º Dt.º 1150-134 LisboaTel.: 210 109 100, Fax: 210 109 199E-mail: [email protected]:Loja da ImagemRua de D. Estefânia, n.º 22 – 1º Dt.º 1150-134 LisboaTel.: 210 109 100, Fax: 210 109 199E-mail: [email protected] Impressão: Impriluz, Gráfica, Ld.ªRua Faustino da Fonseca, 1 – Alfragide2610-070 AmadoraDistribuição: VASP S.A.

Depósito legal: 128444/98Registo na DGCS: 122548ISSN: 1645-4863Tiragem: 3000 exemplaresPeriodicidade: Trimestral

Os textos assinados são da exclusiva responsabili-dade dos seus autores, pelo que as opiniões expres-sas podem não coincidir com as do GECoRPA.

1

Ficha Técnica 2EDITORIAL

49ASSOCIADOS GECoRPA

4EM ANÁLISE

Capa

Interior do capelo de um moinho de vento tradicionalFoto: Helena Cruz/João Viegas

Reabilitação de Estruturas de Madeira

Pavimentos MistosMadeira-Betão

(Alfredo Dias e Luís Jorge)

10REFLEXÕES

Presença de térmitas na madeira aplicada na construção

(Lina Nunes e Tânia Nobre)

29PROJECTOS & ESTALEIROS

Universidade Nova de LisboaRecuperação da Cúpula

da Faculdade de Economia(Carlos Sá Nogueira)

“Térmitas: dormindo com o inimigo”(José Maria Lobo de Carvalho)

Um século de classificação de imóveis(Miguel Brito Correio)

44e-pedra e cal

16CASO DE ESTUDO

Moinhos de vento tradicionais em Portugal: Escolha

e protecção da madeira na construção (e reconstrução)

(Helena Cruz e João Viegas)

52PERSPECTIVAS

As antigas estradas nacionaisUma riqueza a preservar – Um exemplo a retomar

(Nuno Teotónio Pereira)

7Sistema pouco intrusivo

de reabilitação estrutural da madeira(Raquel Paula, Vítor Cóias e Helena Cruz)

20Quinta do Calvel:

Reabilitação pouco intrusiva de vigas de madeira

(Raquel Paula)

22Anomalias inerentes à localização.

Aplicação de madeira na faixa costeira(Teresa de Deus Ferreira e Jorge de Brito)

26A madeira como material estrutural

Um edifício que volta a ser hotel(João A. Silva Appleton)

14Quantificação da resistência

de elementos de madeira em serviço(José Saporiti Machado)

40NOTÍCIAS

40AGENDA

45VIDA ASSOCIATIVA

48DIVULGAÇÃO

38NOTÍCIA

Intervenção estrutural na cobertura da Sala do Senado da

Assembleia da República

41AS LEIS DO PATRIMÓNIO

A falta dos elementos técnicosnecessários à execução dos trabalhos

(A. Jaime Martins)

32Chalé Malvina…

… Estudo para a reabilitação da estrutura de madeira

(Carlos Mesquita e Francisco Pires)

34Igreja do Convento da Graça:

Recuperação dos revestimentos de cantaria exterior das fachadas

(João Varandas)

35Recuperação da Cobertura

do Palácio de Monserrate(Luís Ribeiro)

37PERFIL DE EMPRESA

46LIVRARIA

01 Ficha+Sum.qxp 3/17/06 6:27 PM Page 1

Pedra & Cal n.º 29 Janeiro . Fevereiro . Março 20052

EDITORIAL

É hoje ponto assente que a salvaguarda de um monumento ou de um edifício histórico passa pela manutençãodo seu valor tecnológico, isto é, pela preservação dos materiais e técnicas construtivas utilizadas, e por ex-tensão, do funcionamento estrutural original. Na base deste requisito encontra-se a moderna teoria da con-servação, imperativa no caso dos edifícios e de outras construções de reconhecido valor cultural, por força dascartas e convenções internacionais subscritas por Portugal. Mas não só nos monumentos e edifícios históricosa manutenção dos materiais e funcionamento estrutural original é defensável: mesmo em edifícios antigoscorrentes – aqueles que não constituem património arquitectónico relevante – se justifica idêntica abordagem:é que, se isso for feito, reduz-se o impacto da intervenção de reabilitação quer do ponto de vista ambiental –através da redução da quantidade de entulhos e resíduos produzidos, e da quantidade de materiais novosconsumidos – quer do ponto de vista dos utentes do bairro e da cidade, possibilitando estaleiros mais peque-nos e menos transportes pesados.

O recurso criterioso a técnicas de reabilitação recentes, conjugadas com os ofícios tradicionais, permite res-ponder, na prática, a este desiderato. A substituição de pavimentos e coberturas antigas de madeira por ou-tras de aço e betão armado não é hoje senão uma alternativa – pesada e intrusiva – a uma verdadeira caixa deferramentas de reabilitação estrutural onde o projectista e o construtor avisados podem ir buscar soluções téc-nicas respeitadoras da autenticidade, do ambiente e dos utentes da cidade. A substituição dos elementos es-truturais de madeira pode ser selectiva e a sua reparação estrutural pode ser pontual, cingindo-se às partesafectadas por insectos xilófagos ou por podridões, que podem ser removidas e substituídas por próteses demadeira idêntica, solidamente implantadas no elemento original.

O próprio comportamento das estruturas de madeira em caso de incêndio – frequentemente tratado de formaredutora – pode ser, hoje, melhorado, através de materiais e técnicas de tratamento de eficácia comprovada.

Ao dedicar o número 29 da Pedra & Cal à reabilitação das estruturas de madeira, espera-se contribuir paradesfazer alguns equívocos e preconceitos quanto à preservação das partes de madeira das construções anti-gas e, por esta via, para a salvaguarda da autenticidade construtiva e estrutural dos edifícios antigos e para aredução dos impactos das intervenções de reabilitação.

Vítor Cóias

Salvaguardando o valor tecnológico dos edifícios históricos

02 Editorial.qxp 3/17/06 6:27 PM Page 2

Pedra & Cal n.º 29 Janeiro . Fevereiro . Março 2006

GECoRPA

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Quadro de Honra

Do número apreciável de empresas que têm manifestado interesse na conservação do patrimónioarquitectónico português e nas actividades do GECoRPA, foi seleccionado um grupo restrito depatrocinadores da revista Pedra & Cal.Para distinguir essas empresas, particularmente empenhadas no sucesso da revista, foi criado opresente Quadro de Honra.

A Direcção do GECoRPA

Conservação e Restauro doPatrimónio Arquitectónico, Ld.a

Diagnóstico, Levantamento e Controlo deQualidade de Estruturas e Fundações, Ld.a

03-03 Quadro de Honra.qxp 3/17/06 6:28 PM Page 3

EM ANÁLISE

Pedra & Cal n.º 29 Janeiro . Fevereiro . Março 2006

Tema de Capa

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As estruturas mistas madeira-betãoconsistem no uso combinado da ma-deira e do betão, procurando tirarpartido das vantagens de cada um, eminorar as respectivas desvantagens.Para tal, adiciona-se à estrutura demadeira uma lajeta de compressão debetão. Fazendo uma analogia com obetão armado, podemos imaginar oselementos de madeira como a arma-dura de tracção do elemento de betão.O desempenho da estrutura mista se-rá tanto mais eficiente quanto melhorfor o comportamento do conjunto(tendencialmente com tracção na ma-deira e compressão no betão), para oqual as características da ligação têmuma importância decisiva.Apesar desta técnica ser geralmenteassociada a intervenções de reabili-tação, o seu uso é igualmente possívelnoutras condições, como sejam estru-turas novas ou pré-fabricadas. Em rea-

bilitação, esta solução geralmente usa--se quando se pretende aumentar a ca-pacidade de carga ou diminuir defor-mações e/ou vibrações. Em novasconstruções, ela aparece muitas vezesassociada a vãos superiores aos habi-tualmente realizados em madeira sim-ples.

VANTAGENS E INCONVENIENTESEm relação ao pavimento de madei-ra, o pavimento misto apresenta me-lhor desempenho estrutural, traduzi-do por maior capacidade de carga, até2 ou 3 vezes superior, e maior rigidez,até 3 ou 4 vezes superior. A maior ri-gidez e o aumento do peso contri-buem, igualmente, para uma reduçãodo valor das frequências próprias devibração. Por outro lado, o aumentodo peso, só por si, constitui uma des-vantagem pelo ligeiro aumento dascargas transmitidas ao resto da estru-

tura. Todavia, o maior peso própriodo pavimento será largamente com-pensado pelo respectivo aumento dacapacidade de carga. Em termos de desempenho acústico,existem estudos que indicam que po-dem ser esperados valores de isola-mento da ordem de 60 dB para sonsaéreos e da ordem dos 50 dB para sonsde impacto, com ou sem pavimentoflutuante. A resistência ao fogo é também au-mentada, uma vez que a lajeta debetão introduz uma importante bar-reira para a propagação do incêndio,sendo, neste caso, muito mais fácil averificação dos requisitos impostosaos pavimentos face ao risco de pro-pagação de incêndio.Em relação ao pavimento de betão,as duas principais vantagens são: opeso próprio muito menor e a possi-bilidade de aproveitamento do pavi-

Pavimentos Mistos Madeira-Betão

Uma das técnicas possíveis paraa recuperação estrutural de pavi-mentos de madeira em edifíciosantigos são as estruturas mistasmadeira-betão. Nesta solução, aopavimento original de madeira, éadicionada uma lâmina de betãoobtendo-se melhorias significati-vas em termos de desempenhoglobal.

Intervenção utilizando ligação por cavilhas Escoramento do pavimento necessário devido aoacréscimo de esforços e deformação nos elementos demadeira antes do endurecimento de betão

04-06 Analise#1.qxp 3/17/06 6:30 PM Page 4

mento de madeira existente. Por ou-tro lado, quando se trata de umaconstrução nova, há que considerar ofactor estético e os menores custos deacabamento final, uma vez que a ma-deira, só por si, constitui já o acaba-mento. Em termos de desvantagens,tem-se uma maior permeabilidadeaos sons aéreos e um risco acrescidode problemas com vibrações que re-sultam da diminuição da massa.

ASPECTOS DE NATUREZA CONSTRUTIVAExistem alguns aspectos que é interes-sante referir, no caso de intervençõesem que é mantida a totalidade da es-trutura, incluindo o soalho existente,que actuará como cofragem.Teremos que salientar algumas preo-cupações construtivas, como: imper-meabilização do pavimento originalpara recepção da camada de betão, es-coramento da estrutura de madeiracom possível aplicação de contra-fle-cha e verificação do estado de conser-vação dos apoios.A impermeabilização do pavimentooriginal visa ultrapassar duas si-tuações: humidificação da madeiracom consequente perda de água dobetão e o escoamento da goma dobetão pelas frestas do soalho. A estra-tégia mais comum consiste em apli-car uma película plástica em toda asuperfície do soalho. Em alternativa,e caso a face inferior do soalho não se-ja visível, poder-se-á efectuar esta im-permeabilização com uma pinturaadequada. O escoramento do pavimento preten-de evitar deformações indesejáveis poracção do peso próprio do betão fresco.

Este pode ainda ser aproveitado paraexecutar uma contra-flecha, permitin-do anular as posteriores deformaçõesdevidas às cargas permanentes.Após a intervenção, a zona do apoioda viga na parede ficará mais fragili-zada, devido ao acréscimo de pesopróprio sem consequente ganho de

resistência. Para além desta razão deordem estrutural, a zona do apoio erae continuará a ser a mais exposta àocorrência de degradação biológicaassociada a humidade elevada. Du-rante a intervenção, esta zona deverá,caso necessário, ser protegida e even-tualmente reforçada.

Pedra & Cal n.º 29 Janeiro . Fevereiro . Março 2006

EM ANÁLISETema de Capa

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Ligação da madeira - betão com cavilhas. Visíveis para além das cavilhas, uma armadura construtiva e um plás-tico impermeabilizante

Vista da face inferior do pavimento após a intervenção

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EM ANÁLISE

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Tema de Capa

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ASPECTOS DO COMPORTAMENTOESTRUTURALDada a inexistência de regulamentaçãoespecífica para os sistemas mistos ma-deira-betão, usualmente, são os regula-mentos de estruturas de madeira queorientam o dimensionamento, nomea-damente a ENV 1995:1 e a ENV 1995-2,existindo no Anexo (informativo) B daENV 1995-1 um modelo de análise daestrutura mista. Este modelo está de-talhadamente apresentado e exempli-ficado na publicação STEP.A dependência das propriedades dosmateriais relativamente à duraçãodas acções pode ser importante e de-ve ser tida em conta no dimensiona-mento corrente das estruturas mistasmadeira-betão, já que, frequentemen-te, o comportamento a longo prazo setorna condicionante. Estes efeitos po-dem ser considerados introduzindoalgumas alterações no modelo de cál-

culo atrás referido. Essas alteraçõesestão também detalhadamente des-critas na publicação STEP.Atendendo a que, normalmente, valo-res de rigidez dos ligadores usadosnestes sistemas mistos não são muitoelevados, poderá não ser possível evi-tar alguma fissuração na face inferiorda lâmina de betão. No entanto, a im-portância de se colocar armadura paracontrolo desse efeito é questionável,uma vez que as tensões de tracção nobetão atingem valores próximos dasrespectivas tensões de rotura já em pa-tamares de tensão perto da rotura dalaje. Esta armadura pode, contudo, serútil para controlar a fendilhação porefeito da retracção, sendo que, nessa si-tuação, poderá ser posicionada a meiaaltura da secção da lâmina de betão.A importância dos ligadores está ain-da directamente relacionada com ovão a vencer.

Diversas tipologias de ligação mistassão conhecidas, destacando-se, de en-tre elas, os ligadores metálicos de pre-gos, parafusos, cavilhas ou placasdenteadas, ou ligações por contactodirecto entre os dois materiais atra-vés da realização de um entalhe na vi-ga de madeira, ou mesmo as colagensdirectas entre a madeira e o betão.A escolha da solução de ligação entrea madeira e o betão deverá ser estuda-da em função da secção transversal daestrutura, das propriedades dos ma-teriais, do vão a vencer, das sobrecar-gas, da área de pavimento a intervir edo nível de deformações pretendido.Para a generalidade das intervençõesde reabilitação, onde os vãos não ul-trapassem os 5 a 6 metros e as sobre-cargas tomem valores abaixo dos 2 kN/m2, os ligadores metálicos re-velam-se interessantes pela boa re-lação custo / desempenho estrutural.Em situações de projecto mais especí-ficas e estruturalmente exigentes, ou-tras soluções deverão ser estudadas,podendo, então, passar pelas ligaçõespor contacto directo ou colagem.

REFERÊNCIASDias, A., Jorge, L., Ferreira, M. (2005) – Casos práticosde utilização em Portugal de estruturas mistas madeira--betão, Relatório interno, DEC-FCT-UC.Natterer, J., Herzog, T. and Volz, M. (1998) - Construi-re en Bois 2, 2.ª Ed., Presses polytechniques et univer-sitaires romandes, Suíça.NP ENV 1995-1-1 (1998) – Eurocódigo 5: Projecto de es-truturas de madeira. Parte 1.1: Regras gerais e regras paraedifício, IPQ.STEP (1992) – Timber engineering, First Edition Cen-trum Hout, Holanda.

ALFREDO DIAS,Engenheiro Civil, Professor Auxiliar,Universidade de Coimbra, [email protected]ÍS JORGE,Engenheiro Civil, Professor Adjunto,Instituto Politécnico de Castelo Branco,[email protected]

Ligação madeira - betão com parafusos inclinados

04-06 Analise#1.qxp 3/17/06 6:31 PM Page 6

Pedra & Cal n.º 29 Janeiro . Fevereiro . Março 2006

EM ANÁLISETema de Capa

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O sistema reduzidamente intrusivode reabilitação de madeira, que com-bina a aplicação de produtos epoxí-dicos e materiais compósitos (FRP Fi-ber Reinforced Polymer), constitui umatécnica muito interessante e promis-sora para o sector, dada a versatilida-de das aplicações, a eficiência do sis-tema, sem aumento de peso e com re-duzido impacto visual, a possibilida-de de minimizar a substituição damadeira original.No âmbito do projecto europeu LI-CONS - Low intrusion conservationsystems for timber structures, que con-tou com a participação portuguesado LNEC e da STAP, desenvolveu-seo estudo do sistema e das inter-venções que ele possibilita, e foramestabelecidas as especificações e osprocedimentos de execução e contro-lo da qualidade, de forma a garantiro adequado desempenho do sistema,a curto e longo prazo. O projecto dosistema LICONS foi coordenado pe-la empresa Rotafix, Ltd (Reino Uni-do) e envolveu a participação de vá-rias empresas e unidades de investi-gação europeias, designadamente:E.C.C. Timber Engineering, Ltd.(Reino Unido); AMTC, SRL (França);La Bottega del Restauro, SRL (Itália);Oxford Brooks University (ReinoUnido); Laboratoire de Rhéologie duBois de Bordeaux (França); Legno--DOC, SRL (Itália).As principais aplicações do sistemapermitem o reforço e a reparação deelementos estruturais de madeira,numa grande variedade de situa-

Sistema pouco intrusivo de reabilitação de madeira

As intervenções em núcleos históricos, em construções do patrimónioarquitectónico ou em edifícios de zonas rurais, implicam muitas vezesareabilitação e consolidação de estruturas de madeira. Se, em determi-nados casos, a substituição de elementos estruturais de madeira é ine-vitável, noutras situações, por motivos de preservação da estrutura emateriais originais, ou mesmo por motivos económicos, é preferíveloptar por uma solução de recuperação localizada dos troços danifica-dos ou pelo reforço dos elementos estruturais existentes.

Reforço de vigas (face superior)

Reforço de vigas (face inferior)

07-09 Analise#1.qxp 3/17/06 6:32 PM Page 7

EM ANÁLISE

Pedra & Cal n.º 29 Janeiro . Fevereiro . Março 2006

Tema de Capa

ções, nomeadamente, reparação devigas com extremidades deteriora-das, aumento da resistência e da rigi-dez de vigas, incluindo em pisos so-bre tectos decorativos, reparação defendas em madeira maciça e de dela-minações em elementos de madeiralamelada-colada e consolidação denós estruturais de asnas.Os principais componentes do siste-ma são os produtos de colagem, comoas colas e as caldas epoxídicas, os ele-mentos de reforço ou ligação, ou seja,os varões e as chapas, e ainda as próte-ses de madeira, quando necessárias. As colas e as caldas epoxídicas são uti-lizadas, na colagem de peças,na in-jecção de fendas, na fixação de anco-ragens ou no preenchimento de furosou entalhes para fixação de varões echapas, metálicos ou de FRP. As cal-das são ainda aplicadas na reconsti-tuição da madeira. Entre outras ca-racterísticas essenciais, a cola devepossuir propriedades de tixotropia ebaixa tensão superficial, de forma aobter-se um bom espalhamento. Acalda deve ser um material penetran-te, adequado para o preenchimentode todos os espaços, e possuir carac-terísticas de eliminação do ar aprisio-nado.Os varões e as chapas podem ser me-tálicos ou de FRP. Os elementos metá-licos devem ser em aço inoxidável ouprotegido contra a corrosão. Os varõese as chapas de FRPpodem ter diversascomposições, por exemplo, fibras uni-direccionais de vidro ou de carbono,aglutinadas numa matriz epoxídica,fibras de vidro unidireccionais agluti-nadas numa matriz termoplástica depoliuretano, entre outras.A prótese de madeira deve ser, emprincípio, da mesma espécie da ma-deira do elemento a reabilitar, ou

compatível, isto é, com propriedadesmecânicas, de durabilidade e cor se-melhantes. No entanto, caso a dura-bilidade da madeira original seja ma-nifestamente insuficiente para a clas-se de risco de aplicação, deve esco-lher-se madeira com durabilidade na-tural elevada ou que tenha sido trata-da em profundidade com produtospreservadores de acção fungicidae/ou termiticida. Amadeira deve ain-da ser sã e de qualidade adequada,isenta de defeitos e anomalias e comum teor em água entre 14% e 16%.Na reparação de vigas com extremi-dades deterioradas, em geral, são uti-lizadas próteses de madeira parasubstituir os troços degradados, que

são fixadas à madeira sã com elemen-tos de reforço/ligação (varões ou cha-pas). Em vez de serem aplicados nolocal, em furos ou entalhes a executarna madeira sã remanescente, osvarões ou chapas podem ser pré-ins-talados nas próteses em oficina. Cabeao projectista a escolha da configu-ração mais adequada a cada caso. Adecisão de instalar os varões no local,em vez de fazer a sua pré-instalaçãonas próteses, pode depender, porexemplo, do espaço disponível paraas operações de colocação e alinha-mento das próteses.O corte e a remoção da madeira degra-dada devem ser executados com equi-pamento eléctrico, sem danificar a ma-

Reforço de vigas sobre tectos decorativos

8

Reforço vom varões selados com resina

Reforço com laminadocolado com resina

Tecto decorado

07-09 Analise#1.qxp 3/17/06 6:33 PM Page 8

Pedra & Cal n.º 29 Janeiro . Fevereiro . Março 2006

EM ANÁLISETema de Capa

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deira. A lâmina deve estar em boascondições, de forma a garantir a regu-laridade e rectidão do corte a realizar.Devem evitar-se as temperaturas ex-cessivas produzidas pelo equipamen-to eléctrico. Antes da aplicação dos produtos epo-xídicos, é fundamental proceder-se àlimpeza das superfícies da madeira,de forma a remover as partículas sol-tas que prejudiquem a colagem. Aabertura de furos e entalhes e respec-tiva limpeza devem ocorrer imedia-tamente antes (máximo 24 horas) daaplicação dos produtos de colagem. As operações de mistura e a aplicaçãodos produtos epoxídicos devem serrealizadas de acordo com o indicadonas respectivas fichas técnicas. Osvarões/chapas a instalar nos furos ouentalhes com cola epoxídica devemser colocados imediatamente após ainjecção da cola. Os furos ou entalhesdevem ser preenchidos com cola emcerca de 2/3 da totalidade do seu vo-lume, de modo a que fique assegura-do apenas um excesso ligeiro de cola.A desmontagem de qualquer sistema

de suporte provisório só poderáocorrer quando os produtos estive-rem totalmente polimerizados.Além da adequada selecção dos pro-dutos e cuidada pormenorização faceaos objectivos e especificidade do tra-balho, deve recorrer-se a mão-de--obra qualificada e implementar umplano da qualidade. Do plano da qua-lidade devem fazer parte, entre ou-tros, ensaios e inspecções de controloda geometria e das características dosmateriais, e ensaios expeditos quepermitam detectar a existência de

eventuais deficiências na execuçãodos trabalhos, principalmente os re-lacionados com a mistura e aplicaçãodos produtos epoxídicos.

RAQUEL PAULA, Eng.ª Civil, STAP, S.A.VÍTOR CÓIAS, Eng.ª Civil, STAP, S.A.HELENA CRUZ, Investigadora Principal do LNEC

Reforço de vigas (face inferior)

Próteses de madeiraVazamento de calda epoxídica para reconstituição das secções.

07-09 Analise#1.qxp 3/17/06 6:34 PM Page 9

REFLEXÕES

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Tema de Capa

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As térmitas subterrâneas presentesem Portugal continental pertencem àespécie Reticulitermes grassei (Clé-ment) (Fig. 1), até há pouco incluídano complexo Reticulitermes lucifugus(Rossi). São insectos sociais, com di-visão de castas: (a) as obreiras, causa-doras da maior parte dos estragos damadeira aplicada; (b) os soldados, quetêm um papel fundamental na defesada colónia; e finalmente (c) os repro-dutores alados, que surgem preferen-cialmente na Primavera e que têm co-mo missão principal a dispersão dascolónias. O aparecimento destes últi-mos ou apenas das suas asas constitui,muitas vezes, o primeiro sinal de umainfestação.Embora seja uma espécie consideradaautóctone na Europa mediterrânica eaqui tenha sido descrita pela primeiravez em 1792 [1], a primeira referênciaencontrada em Portugal sobre a pre-sença destas térmitas remonta ao iní-cio do século XX [2]. Desde então, o nú-mero de registos tem aumentado, ten-do sido efectuada, nos últimos anos,

Presença de térmitas na madeiraaplicada na construção

A madeira é um material natural com grande tradição na indústria da construção e que se comportamuito bem, quando aplicada em edifícios, se estes forem projectados, construídos e mantidos de formaadequada. No entanto, na história da vida das construções, pelo menos um destes aspectos é frequen-temente negligenciado, permitindo assim a entrada e o desenvolvimento de agentes biológicos des-truidores da madeira, como os fungos e os insectos. No grupo dos insectos, a acção das térmitas sub-terrâneas é aquela que apresenta uma maior relevância em Portugal continental.

1 – Obreiras de R. grassei em madeira

010-012 Reflexões#1.qxp 3/17/06 6:35 PM Page 10

uma tentativa de sistematização e tra-tamento desta informação.Inicialmente, num processo de revisãobibliográfica, com base não só em to-dos os relatórios e notas técnicas ela-borados pelo Núcleo de Estruturas deMadeira do Laboratório Nacional deEngenharia Civil (LNEC), mas tam-bém em bibliografia geral sobre a pre-sença destes insectos no território na-cional, mapeou-se a presença de térmi-tas subterrâneas em Portugal conti-nental. A estes elementos, adiciona-ram-se dados provenientes de obser-vações pessoais dos autores deste tex-to e de outros técnicos considerados fi-dedignos, bem como de empresas queefectuam normalmente tratamentoscurativos contra térmitas [3;4;5]. Aestetrabalho prévio foram acrescentadosos dados de duas campanhas de amos-tragem realizadas em 2004 [6] e 2005 eque tinham como objectivo conhecer adistribuição natural de R. grassei.As térmitas subterrâneas estão profu-samente difundidas por todo o territó-

rio continental. Até à data obteve-seuma lista de 737 ocorrências referen-tes aos últimos 50 anos, cobrindo to-dos os distritos de Portugal continen-tal. De 277 concelhos existentes, 151 re-gistaram a presença de térmitas (Fig.2). Os concelhos sem registos não de-vem, contudo, ser vistos como regiõesprivadas de térmitas mas simples-mente como regiões em relação àsquais não se obteve ainda informação. Crê-se que a incidência das térmitasno património construído apresentaum padrão mais ou menos generaliza-do, conforme as habitações incorpo-rem tradicionalmente na sua cons-trução maior ou menor quantidade demadeiras de espécies susceptíveis deserem degradadas e, principalmente,apresentem teores em água elevados.Do ponto de vista da sua ocorrênciaem floresta, a distribuição afigura-seainda mais homogénea, estando pre-sentes de Norte a Sul do país. Dadoque as térmitas subterrâneas se ali-mentam fundamentalmente de celu-lose, elas estão presentes nas raízes ecepos de árvores e arbustos ou em

qualquer outro material lenhoso exis-tente no solo, sempre que se verifi-quem condições favoráveis ao seu de-senvolvimento (o que implica a neces-sidade de um ambiente com elevadahumidade).Em particular, no distrito de Lisboa fo-ram registadas 313 ocorrências de ata-que de edifícios por térmitas, com 238casos registados só no concelho de Lis-boa, ainda para os últimos 50 anos(Fig. 3). Neste concelho, considerandouma divisão por freguesias, registou--se a ocorrência de térmitas subterrâ-neas em 48 das suas 53 freguesias. Em-bora não tenha sido efectuada qual-quer tentativa para localizar os insectos nas freguesias em falta,conhecendo a biologia da espécie e aestrutura da cidade e dos seus edifí-cios, existe a convicção que mesmouma prospecção não muito detalhadaseria suficiente para reconhecer a pre-sença de térmitas em todo o concelho.No que respeita à presença de térmitasem edifícios, conjuntos ou sítios classi-ficados, verificou-se a sua existênciaem numerosos locais considerados de

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REFLEXÕESTema de Capa

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2 –Distribuição dos registos disponíveis de térmitassubterrâneas por concelhos

3 –Distribuição dos registos disponíveis de térmitas subterrâneas por freguesias do concelho de Lisboa

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REFLEXÕES

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Tema de Capa

interesse local ou nacional, ou mesmoem alguns edifícios considerados pa-trimónio mundial como é o caso doMosteiro dos Jerónimos em Lisboa, doPalácio Nacional de Sintra ou de umnúmero considerável de registos nazona antiga da cidade de Évora, in-cluindo por exemplo a Universidade eas Igrejas de Santa Clara e da Miseri-córdia. Destacam-se ainda, pela suaimportância, a presença de térmitassubterrâneas no Mosteiro de Tibães,em Braga, na Quinta das Lágrimas, emCoimbra, no Paço dos Duques de Bra-gança, em Guimarães, ou no Conven-to de Cristo, em Tomar.Estes conjuntos foram alvo de inter-venção tendentes à correcção dos pro-blemas de humidade, que conduz auma minimização do risco de degra-dação por térmitas subterrâneas. Poroutro lado, as obras de recuperação emanutenção implementadas deverãoter tido em conta a presença destes in-sectos, e espera-se que tenham sidosuficientes para controlar, nesses lo-cais, as infestações e os consequentesestragos. No entanto, considera-se

que, em muitas outras situações nãoreferenciadas, a presença deste pro-blema terá passado despercebido ounão lhe foi dada a devida importân-cia na escolha dos processos de recu-peração dos edifícios. Um erro co-mum constitui a manutenção de ma-deiras infestadas nas obras (muitasvezes até como entulho não visívelmas altamente propiciador de ummaior desenvolvimento da espécie)ou a sua substituição por madeirasusceptível de ataque sem a aplicaçãode qualquer tipo de tratamento pre-ventivo ou medida construtiva queimpeça a sua degradação a curto/mé-dio prazo.De referir, ainda, a presença em Portu-gal, mais especificamente em algumasilhas do Arquipélago dos Açores e nasIlhas da Madeira e Porto Santo, deuma outra espécie de térmitas causa-dora de estragos significativos naconstrução. Trata-se de uma espéciede térmitas de madeira seca (Crypto-termes brevis Walker) (Fig. 4) cuja distri-buição e impacto está ainda em ava-liação [7].

REFERÊNCIAS[1] Grassé, P P (1986) - “Systématique et répartitiongéographique des termites”. in: Termitologia, Vol. 3.Masson, Paris. pp.492-634.[2] Seabra, A F (1907) - “Quelques observations sur leCalotermes flavicollis (Fab.) et le Termes lucifugus Rossi”,Bol. Soc. Port. Ciênc. Nat. 1 (3): 122-123.[3] Nunes, L., Nobre, T., Saporiti, JM. (2000) - “Degra-dação e Reabilitação de Estruturas de Madeira. Im-portância da acção de térmitas subterrâneas”, in En-contro Nacional sobre Conservação e Reabilitação de Estru-turas, LNEC, Lisboa, pp. 167-175.[4] Nobre, T., Nunes, L. (2001) - “Preliminary assess-ment of the termite distribution in Portugal”, Silva Lu-sitana 9(2), pp. 217-224.[5] Nobre, T., Nunes, L. (2002) - “Subterranean termitesin Portugal. Tentative model of distribution”, The Inter-national Research Group on Wood Preservation, Doc. nºIRG/WP 02-10420, 8pp., Stockholm.[6] Nobre, T. & Nunes, L. (2003) - “Model of termite dis-tribution in Portugal. Follow-up”, The International Re-search Group on Wood Preservation. Doc. Nº IRG/WP03-10475, 8pp, Stockholm.[7] Nunes, L., Cruz, H., Fragoso, M., Nobre, T., Sapori-ti, J.M., Soares, A. (2005) - “Impact of drywood termitesin the Islands of Azores”, in IABSE Symposium on Struc-tures and Extreme Events, Lisboa, Portugal, 7 pp..

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LINA NUNES, Doutorada em Tecnologia das Madeiras,Investigadora AuxiliarTÂNIA NOBRE, Bolseira de Investigação, Laboratório Nacional de Engenharia Civil(LNEC)

4 – Pseudo obreiras de C. brevis em madeira

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Project1 12/13/05 4:57 PM Page 1

REFLEXÕES

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Tema de Capa

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Amadeira pode assim ser comparada aum compósito natural formado por di-versas lamelas (anéis de crescimento) ap-tas a resistir, cada uma delas e o seu agre-gado, a um conjunto diverso de acções. Ao contrário dos elementos estruturaisde madeira introduzidos em edifíciosrecentes, podendo utilizar já madeiraclassificada para fins resistentes, os ele-mentos aplicados em edifícios antigosassentam num conhecimento empíri-co existente na altura, fundamentadona reputação de determinada madei-ra, não lhe estando associado um de-terminado valor de resistência. Aquantificação da resistência dos ele-mentos aplicados é assim complexa,incorporando a consideração de umconjunto alargado de informação [1].

ATRIBUIÇÃO DE VALORES DE RESISTÊNCIA DE REFERÊNCIA A ELEMENTOS DE MADEIRA EM SERVIÇOActualmente, e apesar da possívelutilização de meios auxiliares dediagnóstico, o suporte à avaliação daresistência de elementos de madeiraaplicados assenta nos mesmos crité-rios seguidos na classificação de ma-deira serrada para estruturas (espé-cie e qualidade da madeira aplicada eseu estado de conservação).

Elementos de madeira em serviço

Quantificação da resistênciaApercepção de dificuldade em lidar com a madeira como elemento estrutural, comum à generalidade dosutilizadores, deriva da elevada variabilidade associada às suas propriedades mecânicas. Esta variabilidaderesulta da árvore produzir o material lenhoso (madeira) em resposta a um conjunto de acções (vento, pesopróprio, etc.) que actuam ao longo da sua vida.

1 —Variabilidade em termos de resistência à flexão, em função da grandeza e tipo dos defeitos presentes em ele-mentos de madeira da mesma classe de qualidade

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ESPÉCIE DE MADEIRAA identificação da espécie de ma-deira utilizada constitui o primei-ro passo no processo de atribuiçãode um valor de resistência a umdado elemento (Fig. 2). Esta iden-tificação é também crucial para de-finir a durabilidade face a agentesxilófagos.

RESISTÊNCIA APARENTE DOS ELEMENTOS DE MADEIRAA identificação da espécie de madei-ra empregue permite que a resistên-cia original dos elementos de madei-ra seja aferida através da aplicação deuma norma de classificação de ma-deira para estruturas. Avaliada agrandeza dos defeitos e das caracte-rísticas presentes no elemento, pode-rá ser-lhe atribuída uma classe dequalidade a que se encontra associa-do um determinado conjunto de va-lores característicos de resistênciamecânica. Dois procedimentos podem em se-guida ser adoptados. A atribuição damesma classe de qualidade a todos oselementos, ponderando os defeitosapresentados pela globalidade doselementos de madeira. Deverá aten-der-se à capacidade de distribuiçãode esforços entre os elementos da es-trutura (admitindo uma percenta-gem maior de peças de qualidade in-ferior à classe de qualidade atribuí-da) e às limitações do emprego dasnormas de classificação para elemen-tos em serviço (ex.: a impossibilidadeparcial ou total de acesso a todas asfaces da peça).Esta abordagem poderá considerar--se conservativa, dado que uma clas-se de qualidade engloba elementosapresentando diferentes níveis de de-feitos, não atendendo a que dois ele-mentos de uma mesma classe de qua-lidade podem divergir significativa-mente quanto à sua resistência

(função do tipo e grandeza dos defei-tos presentes)(Fig. 1).Em casos particulares, elementos es-truturais cuja manutenção em serviçoseja essencial de modo a preservar ovalor histórico do edifício, um proce-dimento menos conservador poderáser adoptado. A resistência do ele-mento resultará de uma análise rigo-rosa, elemento a elemento, tendo emconta os defeitos efectivamente pre-sentes e modelos de efeito de defeitosnas propriedades mecânicas. Os valores de resistência devem, ain-da, ser alvo de afectação de coeficien-tes de correcção, atendendo a factoresde geometria ou de utilização (classede serviço), incluídos no EC 5 [2] e porpossíveis danos mecânicos introdu-zidos nos elementos devido ao tempoem serviço.

CONSERVAÇÃO DOS ELEMENTOSDE MADEIRAAavaliação do estado de conservaçãodos elementos, incluindo a correctaidentificação do tipo de degradaçãoem curso, permite avaliar a possívelperda de capacidade resistente. A in-capacidade de discernir entre a acçãode organismos com implicações di-versas na perda de resistência de ele-mentos de madeira (ex.: fungos cro-mogéneos versus fungos de podri-dão) acarreta acções de substituiçãoparcial ou total da estrutura, basea-das em informação errónea quanto àintegridade dos elementos.

CONCLUSÃOAavaliação da capacidade resistente deelementos de madeira em serviço en-globa a recolha e interpretação de in-formação variada (nomeadamente aespécie e qualidade da madeira empre-gue, assim como o seu estado de con-servação), baseada na ajuizada obser-vação visual dos elementos e na utili-zação acertada de equipamentos auxi-liares [3]. Acomplexidade envolvida naquantificação da resistência residual deelementos de madeira em serviço im-plica, assim, a necessidade de ser reali-zada por pessoal devidamente qualifi-cado (experiência e formação).

REFERÊNCIAS[1] Bonamini, G. (1995) - “Restoring timber structures– Inspection and evaluation”, in Timber EngineeringSTEP 2, eds. H.J. Blass et al, Centrum Hout, Holanda.[2] European Committee for Standardization (2004) - EN1995-1-1 – Eurocode 5 – Design of timber structures – part 1-1: General – Common rules and rules for buildings.[3] Machado, J. S.; Cruz, H.; Nunes, L. (2000) – “Ins-pecção de elementos estruturais de madeira. Selecçãodas técnicas não destrutivas a aplicar in situ”, in RE-PAR2000 Encontro Nacional sobre Conservação e Reabili-tação de estruturas, Lisboa, LNEC, pp. 265-274.

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REFLEXÕESTema de Capa

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2 —Variabilidade de características mecânicas emfunção da espécie de madeira

JOSÉ SAPORITI MACHADO,Eng.º Florestal, Investigador Auxiliardo LNEC - Núcleo de Estruturas de Madeira

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CASO DE ESTUDO

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A escolha de madeira para cada umdesses componentes – tendo em vis-ta cumprir exigências específicas deresistência, durabilidade e estabili-dade dimensional – era ditada pelaexperiência, em resultado da obser-vação, quer dos casos de sucesso,quer dos inevitáveis insucessos aolongo de séculos de construção demoinhos. Também outros aspectos,como sejam a trabalhabilidade damadeira e, naturalmente, as dispo-nibilidades, em termos de espéciesflorestais, qualidade e dimensões,têm sido factores condicionantesdas opções dos construtores de

moinhos em cada local e época.Dispomos, hoje em dia, de um razoá-vel conhecimento científico das pro-priedades da madeira, dos processosde deterioração e técnicas de preser-vação, que permitem compreender asrazões do bom ou mau desempenhodos elementos de madeira que inte-gram os moinhos, bem como justifi-car o funcionamento de certas estra-tégias que eram, então, adoptadas deforma empírica. Os critérios de se-lecção tradicionais podem assim serexplicados à luz da estrutura internada madeira, da sua variabilidade na-tural, anisotropia e higroscopicidade.

ASPECTOS QUE CONDICIONAM OCOMPORTAMENTO DA MADEIRA A forte anisotropia da madeira (queexibe uma resistência à tracção para-lela às fibras cerca de 30 vezes supe-rior à sua resistência à tracção na di-recção perpendicular às fibras) justi-fica, por exemplo, a necessidade de li-mitar nas peças rectas com função es-trutural importante a presença degrupos de nós ou nós de grandes di-mensões, tal como de fio diagonal (re-sultado da conversão de árvores tor-tas ou da má orientação do tronco du-rante a serragem). Com efeito, ambosos defeitos correspondem à inclusãode material cujas fibras são predomi-nantemente perpendiculares ao eixoda peça de madeira.A mesma anisotropia explica por querazão, pelo contrário, árvores tortaspodem ser altamente valorizadas pa-ra a obtenção de peças necessaria-mente curvas como é o caso da en-trosga e do frechal de madeira do ca-pelo, já que, deste modo, o esforçoaplicado às peças tem, predominan-

Aconstrução de moinhos de vento tradicionais envolve a utilizaçãode madeira em diversas partes do edifício (nomeadamente em soa-lho e vigamentos de madeira, caixilharia e capelo), do mecanismomotor (mastro, varas, entrosga, carreto, ponte) e do mecanismo demoagem. Estes vários componentes estão sujeitos a esforços mecâ-nicos de tipo e intensidade distintos, diferentes condições de expo-sição e riscos de degradação.

Moinhos de vento tradicionais em Portugal Escolha e protecção da madeira

na construção (e reconstrução)

16-19 Caso Estudo#1.qxp 3/17/06 6:39 PM Page 16

temente, a direcção paralela às fibras,o que corresponde à situação mais fa-vorável em termos de resistência. A higroscopicidade da madeira é res-ponsável pela sua retracção ou incha-mento em resposta à variação dascondições ambientais, em particularda humidade relativa do ar, sendoainda, a higroscopicidade associadaà anisotropia a causa do desenvolvi-mento de fendas e empenos.Por estas razões, a aplicação de ma-deira em interiores deve ser feita comum teor em água tão próximo quantopossível do teor em água de equilí-brio esperado em serviço. Além dis-so, devem ser preferidas madeirascom grande estabilidade dimensio-nal, sempre que sejam previsíveis ci-clos de secagem e humedecimentoimportantes, como, por exemplo, nocaso da fixação das varas ao mastro,onde grandes variações dimensio-nais podem resultar no desprendi-mento das cunhas que seguram as va-ras. A estabilidade dimensional damadeira é uma característica intrín-seca de cada espécie, avaliada pelosrespectivos coeficientes de retracção,sendo essa informação incluída emnumerosas publicações.Avariação dimensional pode, também,ser minimizada pela adopção de por-menores construtivos que limitem a re-tenção e absorção de água pela madeira. Além disso, espécies mais propensasa fender devem ser evitadas, espe-cialmente em elementos sujeitos a es-forços elevados ou onde a abertura deentalhes ou a cravação de ligadoresprovoque concentração de tensões.Sabe-se que a duração dos elementosda madeira é função das condições deaplicação e da durabilidade naturalda madeira relativamente aos diver-sos agentes de degradação, a qual éintrínseca a cada espécie florestal. Évasta a bibliografia disponível sobreeste assunto. Em particular, a normaeuropeia EN 350-2 sistematiza infor-mação sobre a durabilidade natural ea tratabilidade de um grande númerode espécies.

Naturalmente que a escolha seriasempre condicionada pelas disponi-bilidades locais, já que a utilização deespécies exóticas de grandes di-mensões, resistência e durabilidade,era dispendiosa e difícil. De entre asespécies florestais autóctones cujautilização em moinhos de vento temsido reconhecida e descrita, apresen-ta-se, seguidamente, um resumo dasrespectivas aptidões ao uso.

EXEMPLOS DE ALGUMAS OPÇÕESUma vez que a escolha de espécies na-turalmente muito duráveis nem sem-pre era possível, os antigos constru-tores de moinhos desenvolveram umconjunto de técnicas tendentes a re-duzir o risco de degradação biológi-ca, prolongando assim a vida doscomponentes de madeira. Depen-dendo das situações, isto era conse-guido, quer minimizando/limitandoa absorção de água pela madeira,quer aumentando a durabilidade damadeira pela aplicação de produtosde protecção específicos, ou ambos.

CapeloO capelo é formado por barrotes, queem baixo se apoiam no frechal e emcima na roda de ponto, cobertos portábuas. É imprescindível a sua con-servação, como forma de manter asparedes e todo o interior da cons-trução secos.Era, frequentemente, empregue paraesse efeito um tabuado de pinho, ma-deira pouco durável, forrado com lo-

na que era depois pintada com mistu-ras à base de alcatrão. Este produtohidrófugo era usado para impedir ocontacto da água com a madeira,mantendo-a seca e, deste modo, livrede ataque por fungos e térmitas. Refi-ra-se, a propósito, que também as cor-das exteriores de linho eram alcatroa-das, com o mesmo objectivo de au-mentar a sua durabilidade.As extensas folgas ao nível do frechalpermitiam, ainda, a ventilação natu-ral da superfície interna do capelo, demodo a que eventuais entradas deágua não tivessem consequências.Sob o eixo do catavento, que fura a ro-da de ponto, era geralmente colocadauma lata destinada a impedir even-tuais pingas escorrendo pelo eixo dechegar aos restantes elementos.

FrechalElemento em forma de anel, sujeito adesgaste e esforços elevados na di-recção tangencial a esse anel, em prin-cípio não sujeito à acção da chuva porse encontrar protegido pelo capelo.Eram usadas peças de sobro ou azi-nho curvas, interligadas através deescarvas (entalhes) de modo a formaro anel. Aescolha de peças curvas per-mitia que, ao talhar os elementos,houvesse o mínimo de fibras corta-das, sendo a madeira solicitada omais possível segundo a direcção dasfibras. As madeiras usadas, além deduras e resistentes ao desgaste, for-necem naturalmente peças com a for-ma adequada.

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CASO DE ESTUDOTema de Capa

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Os nós correspondem a fibras perpendiculares aoeixo da peça de madeira

Entrosga

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CASO DE ESTUDO

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Tema de Capa

A sua conservação era favorecida pe-lo arejamento natural da zona do fre-chal, permitindo que toda a águaeventualmente aí admitida fosse ra-pidamente evaporada, não chegandoa haver condições para o apodreci-mento da madeira.

MastroElemento com cerca de 7,5 a 8 metros,muito difícil de substituir. É essencial

a boa durabilidade, já que parte domastro está directamente exposta àsintempéries e com risco de apodrecerna zona de maior retenção de água(ponto de entrada no capelo), ondeestá aplicado também um maior mo-mento. Necessária, ainda, boa re-sistência a esforços elevados, estáti-cos e dinâmicos, e boa linearidade pa-ra não introduzir excentricidades.O mastro era geralmente constituído

por uma peça única de madeira exóti-ca. Como recurso, era por vezes com-posto por duas peças, sendo a interiorem azinho e a exterior em eucalipto;posteriormente, surgiram exemplaresde mastros totalmente em eucalipto.

VarasElementos com cerca de 5 a 7 metrosde comprimento, que devem ser di-reitos. Por razões de disponibilidade,

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Designaçãoomum (P)

Azinho Carvalhoportuguês

Carvalhoroble

Casquinha Castanho Oliveiraou

Zambujo

Pinhobravo

Pinhomanso

Sobro

Nomec

c

omercialEvergreen

oakPortuguese

oakEuropean

oakEuropeanredwood

Sweetchestnut

Europeanolive

Maritimepine

Stonepine

Corkoak

Designaçãobotânica

Quercusrotundifo lia

Quercusfaginea

Quercusrobur

Pinussylvestris

Castaneasativa

Oleaeuropaea

Pinuspinaste r

Pinuspinea

Quercussuber

Massavolúmicaédia (kg/mm 3)

900 890 710 550 590 940 600 550 750

DurezaResistência

urabilidD ade:Fungos –

bornecerne

Térmitas – bornecerne

Carunchos – bornecerne

urabilidD ade(apreciação

global)Retracção /inchamentoPropp

ensãoara fender

Propensãopara empenar

SecagemLaboração

Massa volúmica: Massa/Volume (a 12% de teor em água)

Aptidão ao uso de madeiras usadas para a construção de moinhos de vento

Retracção / inchamento – BaixaPropensão para empenar – MédiaPropensão para fender – Elevada

Resistência mecânica – ElevadaDureza – MédiaDurabilidade global – Baixa

Secagem – FácilLaboração – Média – Difícil

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CASO DE ESTUDOTema de Capa

era geralmente usada madeira depinho. Sendo esta uma madeira natu-ralmente pouco durável, exposta àsintempéries e portanto em risco deapodrecimento ou ataque por insec-tos, as varas eram tratadas medianteimersão em “calda bordalesa” (sulfa-to de cobre), de reconhecida acçãobiocida, logo após o corte, com a ma-deira ainda verde.

NOTA FINALNo que respeita à preservação da ma-deira, novas estratégias estão hojedisponíveis, nomeadamente pelaexistência de novos produtos preser-vadores, mais fáceis de obter e deaplicar, mais baratos e eficazes, emsubstituição dos métodos de pro-tecção tradicionais, frequentementecomplicados e morosos.Aoferta de madeira, em termos de es-pécies, dimensões e qualidade, alte-rou-se ao longo do último século, sen-do que algumas espécies tornadas

disponíveis podem ser usadas eficaz-mente em alternativa às soluções tra-dicionais.Hoje em dia, a informação sobre aspropriedades mecânicas (resistên-cia e elasticidade), coeficientes deretracção, durabilidade natural,tratabilidade e outras propriedadesde um grande número de espéciesflorestais pode ser obtida de diver-sas fontes, nomeadamente bases dedados electrónicas e numerosas pu-blicações disponíveis em todo omundo.Este conhecimento permite-nos justi-ficar as opções do passado, mas tam-bém nos abre um leque de alternati-vas, nomeadamente em intervençõesde reabilitação, nos casos em que oacesso às madeiras tradicionalmenteusadas seja difícil ou quando seja di-fícil garantir uma vigilância e manu-tenção cuidadas, que eram práticacorrente quando os moleiros viviamcom e para os seus moinhos.

BIBLIOGRAFIACarvalho, A. (1997) – Madeiras Portuguesas, Volume II:Estrutura anatómica, propriedades e utilizações, Di-recção Geral das Florestas. Mateus, T. (1977) – As características das madeiras nassuas relações com as aplicações, Separata do Instituto dosProdutos Florestais do Boletim das Madeiras, n.º 14 –Abril.Miranda, J. A.; Viegas, J.(1992) – Moinhos de vento noConcelho de Oeiras, Câmara Municipal de Oeiras. Veiga de Oliveira, E.; Galhano, F.; Pereira, B. (1983) –Tecnologia Tradicional Portuguesa. Sistemas de Moagem,Instituto Nacional de Investigação Científica, Centrode Estudos de Etnologia. CEN – NPEN 335-2 – Durabilidade da madeira e de pro-dutos derivados - Definição das classes de risco de ataquebiológico - Parte 2: Aplicação à madeira maciça.CEN – NPEN 350-2 – Durabilidade de madeira e produtosderivados de madeira – Durabilidade natural de madeiramaciça – Parte 2: Guia da durabilidade natural e tratabili-dade de espécies com interesse comercial na Europa.CEN – NPEN 460 – Durabilidade da madeira e de produ-tos derivados - Durabilidade natural da madeira maciça -Guia de exigências de durabilidade das madeiras na suautilização segundo as classes de risco.

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HELENA CRUZ,Eng.ª Civil, Investigadora Principal do LNECJOÃO VIEGASEng.º Mecânico, TIMS Portugal

Capelo alcatroado

Mastro

Interior do capelo. Tabuado de pinho Frechal de madeira

Frechal (pormenor) Varas

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CASO DE ESTUDO

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Tema de Capa

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À semelhança da maior parte dos edi-fícios antigos, o edifício principal daQuinta do Calvel é constituído por pa-redes de alvenaria de pedra ordináriae pisos de madeira. Em duas vigas demadeira do piso térreo, verificou-seque, na zona das entregas na alvena-ria, a madeira se encontrava deterio-rada por térmitas subterrâneas.

EXECUÇÃO DOS TRABALHOS DE REABILITAÇÃO A solução adoptada para a recupe-ração das entregas das vigas consis-tiu na substituição dos troços deterio-rados por próteses de madeira maciça

de pinho bravo, que foram ligadas àmadeira sã remanescente através devarões de GFRP (fibras de vidro aglu-tinadas numa matriz de resina de po-liuretano) e produtos epoxídicos. Nadefinição do projecto de reabilitação,considerou-se que todos os trabalhosdeviam ser executados a partir da fa-ce inferior do piso, de modo a evitar olevantamento do revestimento e suaposterior recolocação.Os trabalhos de recuperação das vi-gas foram executados de acordo coma seguinte sequência de principaisprocedimentos: escoramento das vi-gas e montagem de andaimes; corte e

remoção dos troços de madeira dete-riorada; execução de furos horizon-tais na madeira sã remanescente, pa-ra instalação dos varões; limpeza damadeira; injecção de cola epoxídicaTimberset® Adhesive nos furos; co-locação dos varões; preparação daspróteses, incluindo limpeza; colo-cação e alinhamento das prótesescom as vigas; injecção de calda epoxí-dica TG6 Timber Grout nos entalhesdas próteses; remoção do escoramen-to após polimerização dos produtosepoxídicos.O sistema e os materiais preconizadospermitiram a reabilitação e consoli-dação das vigas de madeira, sem au-mento da carga e sem remoção totaldas vigas existentes, que neste caso se-ria desnecessária, dado que se tratavade uma deterioração localizada juntoda parede de alvenaria. Asolução tra-dicional de substituição integral dasvigas implicaria o levantamento dopavimento na zona afectada, além decontrariar o princípio da preservaçãoda estrutura e materiais originais.A técnica de reabilitação adoptada naintervenção na Quinta do Calvel não es-gota as potencialidades do sistema, quepossibilita a execução de diversos mé-todos pouco intrusivos de reparação ereforço de elementos estruturais de ma-deira, por aplicação e combinação dosdiversos componentes do sistema. Aversatilidade do sistema permite aoprojectista a escolha da configuraçãomais adequada a cada caso. A sequência e os procedimentos a

Integrado nos trabalhos de reforço, consolidação estrutural e cobertura do edifício principal da Quinta doCalvel, realizou-se uma intervenção de reabilitação de vigas de madeira através de um sistema pouco intrusi-vo, que combina a aplicação de produtos epoxídicos e compósitos de FRP(Fiber Reinforced Polymer).

Edifício principal da Quinta do Calvel

Quinta do Calvel

Reabilitação pouco intrusivade vigas de madeira

20-21 Caso Estudo#1.qxp 3/17/06 6:43 PM Page 20

adoptar na execução dos trabalhos sãoespecíficos para cada projecto, masobedecem a um conjunto de especifi-cações relativas aos materiais, equipa-mentos, ferramentas e metodologia deexecução que são comuns às diferen-tes configurações de reparação/re-forço que este sistema possibilita.

CONTROLO DA QUALIDADE As diferentes características e exigên-cias de aplicação dos produtos quecompõem este sistema, bem como aespecificidade das intervenções, im-plicam a adopção de um conjunto demedidas capazes de garantir a quali-dade dos trabalhos e a eficácia das in-tervenções, destacando-se, a selecçãoadequada dos materiais, o recurso amão-de-obra qualificada e a imple-mentação de um plano da qualidade.Do plano da qualidade da inter-venção na Quinta do Calvel, fizeramparte, entre outros, ensaios expeditosde detecção de eventuais deficiências

na execução dos trabalhos, principal-mente os relacionados com a apli-cação dos produtos epoxídicos. Osensaios expeditos foram realizadoscom base nos projectos de norma queestão a ser desenvolvidos pelo grupode trabalho WG11 do CEN (ComitéEuropeu de Normalização) e consis-tiram na verificação da resistência aocorte da junta colada e da resistênciaao arrancamento dos varões colados.

CONCLUSÕESNas intervenções de reabilitação econsolidação de estruturas de madei-ra, é preferível optar, sempre que pos-sível, por uma solução de reforço,substituição parcial ou reconstituiçãodas secções, em vez da sua substi-tuição integral, inclusive por outrosmateriais. O sistema e os materiaisutilizados na intervenção na Quintado Calvel abrem novas possibilida-des no sector, pois permitem inter-venções reduzidamente intrusivas,

sem aumento do peso próprio, comreduzido impacto visual e com o mí-nimo de substituição da estrutura emateriais originais.

AGRADECIMENTOSAintervenção realizada na Quinta doCalvel inseriu-se nas actividades doprojecto europeu LICONS - Low in-trusion conservation systems for timberstructures, que contou com a partici-pação portuguesa do LNEC (Eng.ªHelena Cruz) e da STAP, S. A.. O pro-jecto visou o estudo do sistema e dasintervenções que ele possibilita, e oestabelecimento das especificações edos procedimentos de execução econtrolo da qualidade do sistema. Aintervenção contou, igualmente, coma colaboração da Monumenta, Ld.ª,que tem a seu cargo a reabilitação ge-ral da Quinta do Calvel.

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CASO DE ESTUDOTema de Capa

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Varões fixados nas vigas (na madeira sã remanescente)Injecção de cola epoxídica Timberset® Adhesive nos furos para instalação dosvarões

Injecção de calda epoxídica TG6 Timber Grout nas próteses Preparação dos provetes para realização de ensaios de arrancamento de varões

RAQUEL PAULA,Eng.ª Civil, STAP, S. A.

20-21 Caso Estudo#1.qxp 3/17/06 6:43 PM Page 21

CASO DE ESTUDO

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Tema de Capa

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CONDIÇÕES DE EXPOSIÇÃOO tipo e grau de exposição estão asso-ciados aos seguintes factores [1, 2]:1. orientação da exposição - em Por-tugal, o quadrante Oeste - Sul é muitoagressivo e causa a degradação rápi-da dos revestimentos; as aplicaçõesde madeira orientadas a Norte cor-rem mais facilmente o risco de desen-volvimento de algas e bolores;

2. ângulo da superfície - a inclinaçãoda superfície de exposição do mate-rial tem muita influência na velocida-de do envelhecimento, sendo estetanto maior quanto mais horizontal asuperfície for; pode também ocorrera retenção de água;3. condições climáticas - as apli-cações de madeira, tal como os seusrevestimentos, são muito influencia-

das pela radiação solar, pela humida-de relativa do ar, pela temperatura eamplitudes térmicas e pela quantida-de de precipitação.Refira-se que as condições de expo-sição, para além do clima, dependemdirectamente da arquitectura, uma vezque as zonas mais abrigadas têm me-nor incidência dos agentes agressivos.

AGENTES ATMOSFÉRICOSa) Humidade A variação do teor em água da ma-deira é um factor condicionante re-flectindo-se de um modo proeminen-te nas suas dimensões.O aumento do teor de água originado

São vários os agentes climáticos que podem estar na origem do apa-recimento de anomalias na madeira quando aplicada na construção.Para além das causas externas, o comportamento dos materiais deconstrução resulta da sua estrutura, quer interna, quer aparente.

Anomalias inerentes à localização

Aplicação de madeira na faixa costeira

22-25 Caso Estudo#1.qxp 3/17/06 6:45 PM Page 22

pela precipitação é a maior causa dedegradação das caixilharias de ma-deira exteriores, originando as con-dições necessárias para o desenvolvi-mento de fungos causadores de apo-drecimento.

Variações dimensionais, fendas e empenos O processo de absorção de água pelamadeira ocorre através das zonas semprotecção, devido à higroscopicida-de do material. É usual a penetraçãode humidade nos topos sem pro-tecção em contacto com a alvenariaou as cantarias.Ao penetrar na madeira, a água pro-voca variações dimensionais, respon-sáveis por deficiências no funciona-mento das caixilharias, pela sua des-coloração (Fig. 1) e erosão.As variações dimensionais podem sergraves, levando à ocorrência de em-penos e fendas. Estes defeitos podemser devidos à deficiente especificaçãodo material, com a utilização de ma-deiras muito retrácteis, sem juntasadequadas e com aplicação de ele-mentos em madeira maciça com gran-des dimensões na direcção tangencial.

b) Radiação ultravioletaA luz do sol, para além de ser respon-sável pela descoloração e deterio-ração superficial da madeira, tem umgrande efeito de degradação sobre a

protecção aplicada e sobre os revesti-mentos por esquemas de pintura, exi-gindo manutenção constante, em mé-dia de 2 em 2 anos, não devendo ul-trapassar os 5 anos.Aradiação ultravioleta induz a decom-posição química dos compostos orgâni-cos da madeira, especialmente a le-nhina. Esta decomposição ocorre ape-nas na camada superficial dos elemen-tos, inferior a 0,5 mm, e é responsávelpelo escurecimento inicial da madeirapassando progressivamente a cinzento.

Se a madeira estiver exposta à águada chuva, a acção alternada da luz eda água acelera o processo, originan-do a deslavagem da camada superfi-cial da lenhina degradada. Amadeiraadquire um tom acinzentado e a su-perfície fica rugosa devido à erosãocontínua (Fig. 2).Este tipo de envelhecimento da ma-deira é essencialmente superficial,tendo pouca influência sobre a elasti-cidade e a resistência mecânica doselementos estruturais.

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CASO DE ESTUDOTema de Capa

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1 – Madeira com descoloração devido à presença dehumidade

3 – Madeira com azulamento em serviço [W 1]2 – Madeira alterada pelos raios ultravioleta

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CASO DE ESTUDO

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Tema de Capa

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AGENTES BIOLÓGICOSa) Fungos da madeiraOs agentes biológicos deterioram amadeira por ela constituir um subs-trato nutritivo. Para o seu desenvol-vimento, os fungos necessitam, paraalém das substâncias alimentaresexistentes na madeira, de determina-dos níveis de humidade, de tempera-tura e de oxigénio. As temperaturasnormais do ar em Portugal situam-sedentro dos valores mais favoráveispara o desenvolvimento destes fun-gos, entre 10 e 30º C (embora supor-tem valores extremos abaixo e acimadeste intervalo), assim como a humi-

dade relativa do ar na faixa costeira,acima dos 80% [1].

• BoloresOs bolores desenvolvem-se na super-fície da madeira, mesmo se estiverpintada, e alteram o seu aspecto pro-duzindo manchas. A produção deesporos e a descoloração associadaoriginam anomalias na superfície damadeira, de fácil resolução.

• Fungos cromogéneosOs fungos de azulamento ou fungoscromogéneos provocam manchasazuladas na madeira e podem surgir

sob duas formas: os que aparecem nasmadeiras “verdes”, durante a fase desecagem, e os que se desenvolvemdebaixo das protecções da madeira,devido à acumulação de humidade(Fig. 3).O azulamento não destrói o materiallenhoso mas, ao atacar as células,pode tornar a superfície da madeiramais porosa, permitindo uma absor-ção de água mais rápida, o que favo-rece o desenvolvimento de outro tipode fungos.O azulamento pode ser evitado pelaaplicação de fungicidas específicosimediatamente a seguir à serragem eantes da infecção ter início. Estes pro-dutos não conferem qualquer tipo deprotecção em relação aos fungos doapodrecimento [1].

• Fungos de podridãoOs fungos de podridão mole distin-guem-se dos anteriores, não só por ata-carem a parede celular, afectando aresistência mecânica da madeira, mastambém por restringirem esse ataque àregião menos lenhificada da paredelenhosa, decompondo activamente acelulose e tornando a madeira macia [1].Ocorrem com frequência em situa-ções de humidade relativa do ar supe-rior a 90%, ou em madeira aplicadaao ar livre e exposta à chuva, e podem

5 – Aspecto da podridão castanha [W 1]4 – Aspecto da podridão branca [W 1]

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CASO DE ESTUDOTema de Capa

atacar tanto Folhosas como Resinosasmas com predomínio das primeiras.Este tipo de fungo é muito frequenteem elementos localizados emambientes marítimos ou em contactocom o solo. Sendo a humidade umfactor fundamental, a destruição é, noentanto, acelerada por uma tempera-tura favorável que se situa, em geral,entre os 18 e os 26º C [3].Os fungos basidiomicetas são res-ponsáveis pelas degradações maissérias da madeira e desenvolvem-secom a presença de oxigénio e de umestado de humidificação intermédio.Estes fungos são divididos emfunção do modo como degradam amadeira [1]:• a podridão branca é originada porfungos que se alimentam sobretudoda lenhina, tornando a madeira es-branquiçada (Fig. 4), mas a perda decapacidade resistente é lenta; este ti-po de fungos é mais frequente nasmadeiras Folhosas, como o carvalho; • a podridão castanha resulta de fun-gos que se alimentam apenas da celu-lose, permanecendo intactos os vestí-gios da lenhina, o que torna a madei-ra castanha e quebradiça (Fig. 5); estetipo de fungo tende a afectar as ma-deiras Resinosas, como o pinho.

b) Insectos xilófagosAhumidade elevada favorece a actua-ção de alguns insectos xilófagos comoas térmitas e os anóbios (caruncho pe-queno). Em relação aos restantes ca-runchos, ocorre o contrário, uma vezque estes preferem madeiras secas, ge-ralmente as aplicadas em interiores.

• TérmitasAs térmitas atacam a madeira húmidae em contacto com o solo, alastrandoaos elementos contíguos. São tambémconhecidas por “formiga branca” peloaspecto das larvas ser semelhante aode pequenas formigas brancas.

• CarunchosO caruncho grande ataca de preferên-cia a zona de borne de certas madeiras,quando esta está seca e são as larvasque, ao abrir galerias no interior damadeira para se alimentarem, provo-cam a sua destruição. Após a meta-

morfose, o insecto abandona a madei-ra através de um orifício e depositaovos noutras madeiras, infestando-as.Apesar de gostarem de madeira seca,podem atacar também no exterior, seas condições forem propícias (Fig. 6).Em condições de serviço onde há umrisco de ataque significativo, quepode conduzir a uma perda deresistência inaceitável ou a degra-dação visual, as espécies de madeiraclassificadas como susceptíveis naEN 350-2 [4] devem ser tratadas comum produto preservador.

• Xilófagos marinhosOs xilófagos marinhos são organis-mos subaquáticos invertebrados queatacam a madeira submersa em águassalgadas ou salobras. Destacam-sedois grupos: a limnória (crustáceo),que faz galerias superficiais, e o tere-do (molusco), que faz galerias pro-fundas e revestidas por calcário.

CONCLUSÃOA maioria dos problemas de funcio-namento da madeira resulta, essen-cialmente, do não cumprimento de re-gras básicas de utilização deste mate-rial. Por vezes, o mau desempenhopode resultar do facto de este materialnão ser uma boa opção ou ser mesmodesaconselhado para esse fim.

Se as condições de aplicação forembem definidas e a escolha da madei-ra, a concepção do desenho e o seutratamento forem os adequados, nãodevem existir quaisquer anomaliasno material.

REFERÊNCIAS[1] Sousa, Vítor; Pereira, T. Dias; Brito, Jorge de (2003)- “Patologias não estruturais do Palácio Nacional deSintra - Anomalias em caixilharias de madeira”, in 3ºEncore - Encontro sobre conservação e reabilitação de edifí-cios, Vol. 1, LNEC, Lisboa, pp. 345-354.[2] Ficha M 10, Madeira para construção - Revestimen-tos por pintura de madeira para exteriores, LNEC, Lis-boa, 1997.[3] Norma portuguesa NP 2080 - Preservação de madei-ras. Tratamento de madeiras para construção.[4] Versão portuguesa da norma europeia NP EN 350-2: 2001 - Durabilidade da Madeira e de produtos derivados.Durabilidade natural da Madeira maciça. Parte 2: Guia dadurabilidade natural da madeira e da impregnabilidade deespécies de madeira seleccionadas pela sua importância naEuropa.[W 1] www.xylazel.com

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TERESA DE DEUS FERREIRA, Arquitecta, Mestre em Construção pelo Instituto Superior TécnicoJORGE DE BRITO,Eng.º Civil, Professor Associadono Instituto Superior Técnico

6 – Estragos provocados pelo caruncho

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CASO DE ESTUDO

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Tema de Capa

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O SISMONa Lisboa antiga, as portas de SantaCatarina, entre o Largo das duas Igre-jas e o Camões, eram da maior im-portância e ali, no Loreto, onde hoje seergue a estátua do Poeta, se construiu,face à muralha da cidade, o PalácioMarialva, donde se subia para a Coto-via e São Roque e se descia pelo Ale-crim até à zona baixa.Nessa zona limite da cidade que a mu-ralha Fernandina demarcou, mas quelogo cresceu, o terramoto de 1755 cau-

sou grandes estragos e avultadas ruí-nas, logo se destacando o Palácio dosMarqueses de Marialva, abandonadoe usurpado, depressa transformadoem abrigo ocasional de velhacos e ban-didos que fizeram daquela zona cida-de de medos e horrores.Porque a ruína foi muita e, talvez maisimportante que isso, porque nessaárea tinha abundante propriedade afamília do Marquês, não já o de Ma-rialva mas o que foi de Pombal, o Ale-crim foi das primeiras intervenções

pós-terramoto, ligando a São Paulo,enquanto os casebres do Loreto iamsobrevivendo por incúria, coexistindocom a cidade Nova que ali à beira, len-tamente, ia surgindo.Se a Praça Luís de Camões apenasadquiriu a geometria próxima da quehoje se lhe conhece bem dentro do sé-culo XIX, já ia entretanto avançada areconstrução de muitos edifícios aolongo das Ruas do Alecrim e das Flo-res, ali se destacando a opulência doPalácio do Barão de Quintela, que foi

Areabilitação do edifício em análise e a sua recon-versão em unidade hoteleira foi realizada partin-do de uma condição inicial: a preservação dospavimentos de madeira e a reconstrução da uni-dade estrutural original, à custa de novos frontaiscom estrutura de madeira.

O edifício antes do início das obras

A madeira como material estrutural

Um edíficio que volta a ser hotel

O edifício como era no final do século XIX

O edifício após a intervenção

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abrigo dos generais napoleónicos.Com o arranjo da Praça, demolidos ousoterrados os casebres, triste decadên-cia do opulento Palácio que a recenteconstrução do parqueamento auto-móvel pôs a descoberto com muitasdas suas glórias, os edifícios pombali-nos que a delimitam ganharam desta-que e foram, naturalmente, objecto dealterações e ampliações que a reabili-tação urbana do sítio veio a justificar.

O EDIFÍCIONo gaveto formado pela Rua do Ale-crim, pelo Largo Camões e pela Ruadas Flores, nasceu no último quarteldo século XVIII, um edifício de clarodesenho “pombalino” que, inicial-mente, terá respeitado a cércea corres-pondente a três sobrados sob a cober-tura em telhado.A pressão urbanística e a especulaçãofundiária que se fez sentir logo após oterramoto, contidas durante décadaspara logo se libertarem, esquecidos oshorrores do grande sismo e os avisossábios de Manuel da Maia, conduzi-ram a um “natural” aumento do nú-mero de andares, à custa de soluçõessimilares às originais, mas de qualida-de construtiva sucessivamente abas-tardada; o tempo já não era de cuida-dos mas era, como sempre foi, deganâncias e de lucros mais fáceis.Além destas mudanças profundas as-sociadas à ampliação do edifício, re-gistou-se ao longo do tempo a sucessi-

va alteração do seu uso e a introduçãode modificações arquitectónicas econstrutivas que, de algum modo,desfiguraram o edifício.Com clara vocação habitacional, esteedifício foi hotel e deixou de o ser, pas-sou por um uso intensivo como escri-tório de uma grande seguradora até re-tomar a sua função hoteleira, na inter-venção contemporânea que aqui sedescreve.Registe-se que, à data desta última in-tervenção, o edifício se encontravaprofundamente alterado, ferido nasua identidade construtiva e estrutu-ral, por uma sucessão de intervençõespouco “felizes”, eufemismo que ex-pressa mal os erros cometidos cujadesculpa só pode ser a dos hábitos cul-turais que sempre teimaram em nãoanimar os portugueses e os lisboetas.Apesar disso, sob o manto “diáfano”de tectos novos, e de parede tão falsascomo os tectos, esconde-se um amploconjunto de sinais da construção ori-ginal; das abóbadas de origem restavauma pequena parte, alguns pavimen-tos de madeira foram substituídos porlajes de vigotas e das paredes de fron-tal às vezes só se sentiam as cicatrizes.Mas, o que existia era, apesar de tudosuficiente para entender o todo e paratornar aliciante um desafio contem-porâneo de regresso ao passado, semcomplexos nem sentimentos de culpa,antes com respeito e humildade.E, nesse contexto de uma modernida-

de tradicionalista, no melhor sentidodos termos, a madeira surgia agora,como sempre, como material deeleição para refazer estruturas leves,elásticas e robustas que permitem mi-nimizar as necessidades de demo-lições e de reforços estruturais e defundações.Esse foi o desafio que se aceitou e quese jogou: a intervenção que se realizouprovou a grande flexibilidade das es-truturas “pombalinas” e a adequaçãodo uso da madeira em obras de reabi-litação de edifícios antigos.

A OBRAAreabilitação do edifício em análise e asua reconversão em unidade hoteleirafoi realizada partindo de uma condiçãoinicial: a preservação dos pavimentosde madeira e a reconstrução da unida-de estrutural original, à custa de novosfrontais com estrutura de madeira.Este princípio foi imposto não só porum imperativo de defesa do patrimó-nio, mas também por uma lógica eco-nómica: mantendo as estruturas dospavimentos e, na essência, as estrutu-ras existentes (paredes de alvenaria efrontais), é possível fazer a obra semnecessidade de grandes demolições ede pesadas estruturas de contenção defachadas; refazendo estruturas leves ede madeira, é dispensável o recurso asoluções pesadas de reforço sísmico ede fundações.Esta filosofia geral foi de fácil apli-

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CASO DE ESTUDOTema de Capa

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Nova parede frontal preenchida com alvenaria detijolo

Novas paredes de frontal interligadas, sob a cober-tura existente

Frontal preenchido e reforçado com reboco armado

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CASO DE ESTUDO

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Tema de Capa

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cação, já que a nova funcionalidadehoteleira, nos pisos dos quartos é pas-sível de uma compartimentação mo-dular, que se adapta na perfeição à mé-trica pombalina.Em termos estruturais gerais, o edifí-cio dispunha de três “anéis” de pare-des resistentes: o externo constituídopelas paredes de alvenaria das facha-das; o interno formado por paredes dealvenaria e de frontal na delimitaçãoda caixa de escada e do saguão; o in-termédio constituído por paredes defrontal paralelas às fachadas, entre osanéis interno e externo.Esta estrutura vertical manteve-seinalterada, pontualmente intervencio-nada, sobretudo no “anel” intermé-dio, em que houve que alterar a locali-zação de algumas aberturas.É tal estrutura vertical que recebe osvigamentos de madeira dos pavimen-tos, os quais foram mantidos sem ne-cessidade de qualquer operação de re-forço para além do seu tarugamento;apenas o piso do 5.º andar foi total-mente desmontado, substituído e re-baixado, numa operação que permitiuganhar o pé direito necessário nesseandar, eliminando-se um piso sub-di-mensionado, aliás de feitura tardia.Aintervenção estrutural, nos andares,centrou-se na criação de estruturas detravamento, à base de novos frontaiscom estrutura de madeira de pinhomarítimo e com geometria estilizada;esses frontais são preenchidos ou va-zados consoante as funções que de-

sempenham, mas são sempre interli-gados à estrutura existente, o que per-mite obter uma nova estrutura muitomais rígida e robusta que ajuda tam-bém a melhorar o desempenho das es-truturas dos pavimentos.Naturalmente, as soluções estruturaisadoptadas encaixam-se com muita fa-cilidade na solução arquitectónicaprojectada, obrigando a uma cuidadaadequação dos projectos de redes quetiveram que ser desenvolvidos e exe-cutados de modo a não interferir comas componentes essenciais das estru-turas de madeira.Estas foram as principais marcas quedefinem esta intervenção estrutural;outras questões, porventura maiscomplexas, tiveram que ser resolvi-das, sendo de salientar a dificuldadeda adaptação do edifício, no seu pisomais baixo, para albergar a recepção, orestaurante e o bar. Mas, na essência,

foi ainda possível aí recorrer funda-mentalmente à madeira como princi-pal material estrutural, associada pon-tualmente ao aço, quando aquele ma-terial carecia de um substituto de de-sempenho mecânico mais elevado.

CONCLUSÕESO Hotel Bairro Alto é hoje o resultadoda uma intervenção cuja componenteestrutural acentua a importância queamadeira sempre teve neste velho edi-fício que a cidade acolheu, após o Ter-ramoto de 1755.Com soluções simples, recorrendo deforma sistemática a um só material (opinho marítimo - pinus pinaster) e auma secção comercial corrente (vigade 8 x 16, em frontais, e de 10 x 20, nonovo piso do 5.º andar), foi possível re-contar a história desta edificação.Durante alguns meses o edifício foi,como terá sido no século XVIII, um es-taleiro onde o cheiro era o de resina damadeira cortada e os sons eram os daserra e do martelo; a solução adoptadarevelou-se de fácil aplicação prática e,por isso, económica, demonstrando aviabilidade deste tipo de operação epondo em causa a necessidade siste-mática de reconstrução integral do in-terior de edifícios antigos com estru-turas de betão ou mesmo de aço.

JOÃO A. SILVA APPLETON, Eng.º Civil

Adaptação de um frontal novo à passagem de tuba-gem de ar condicionado

Novo pavimento do 5.º andar rebaixado e reforçan-do o existente

Pormenor do apoio de pavimento de madeira comtarugamento sobre cantoneira

Recurso a vigamentos de aço, complementando opavimento de madeira

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PROJECTOS & ESTALEIROSTema de Capa

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A Cúpula, em estrutura de madeiracom janelões, é encimada por um lan-ternim (também em estrutura de ma-deira e vidro) e uma clarabóia de qua-tro águas, em estrutura metálica, comornatos periféricos em ferro fundido.Forrada a zinco, a Cúpula encontrava--se com grandes problemas causadospor infiltrações de águas pluviais,apresentando sinais evidentes de de-gradação e deformação da estruturade madeira, que também se reflectiamno estado dos estuques com ornatosno intradorso.A intervenção efectuada pela MIUconsistiu na montagem de uma cober-tura provisória e de uma torre de aces-so à cobertura. Após este trabalho, pro-cedeu-se ao desmonte do zinco exis-tente e da retirada cuidada do forroemcasquinha para posterior aplicação,verificando-se que o lado poente daCúpula apresentava uma deformaçãode cerca de 12 cm (rebaixamento juntoao janelão) e o lanternim apresentavaum descaímento de cerca de 11 cm pa-ra o canto sudoeste.Para fazer face a estas situações, re-forçaram-se todas as ligações (empal-mes) dos elementos estruturais, subs-tituíram-se todas as peças degradadase apodrecidas por madeira de cas-quinha “red-wood”, com as mesmassecções das existentes e mesmos en-

talhes. As deformações foram nivela-das pela parte superior, através de co-locação de pranchas em madeira decasquinha, de modo a refazer a curva-tura inicial.Verificou-se a existência de elementosde madeira que se apresentavam bas-tante perfurados devido, em grandeparte, às sucessivas pregagens do forroe, em outros casos, falta de elementospontuais. Nesta situação, utilizaram--se resinas epoxídicas de três compo-nentes (resina epoxídica, combinaçãode poliamida e mistura de cargas mi-

nerais) especialmente desenvolvidospara a reparação de vigas deterioradas.Afim de se reforçar o fecho do anel daCúpula e do apoio do lanternim, colo-cou-se uma chapa de aço inox, perfila-da de forma a acompanhar o formatode parte do lanternim e do anel de fe-cho em madeira, com elementos ade-quados de modo a provocarem com-pressão na estrutura da Cúpula.Antes da aplicação do forro, proce-deu-se à consolidação dos estuquespelo extradorso, através de linhadasde gesso ligadas à estrutura de madei-

A MIU – Gabinete Técnico de Engenharia, Ld.ª procedeu à reparação e restauro da Cúpula do antigoColégio de Campolide onde, hoje, funciona a Faculdade de Economia da Universidade Nova de Lisboa.Trata-se de um imóvel com início de edificação em 1858 pela Companhia de Jesus, através do jesuítaCarlos João Rademaker, contando com a colaboração de mais dois jesuítas: o irmão Martinho Rodrigues,sobrevivente da missão do tempo de D. Miguel, e de um irmão espanhol.

Universidade Nova de Lisboa

Recuperação da Cúpula da Faculdade de Economia

Cúpula antes da intervenção

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PROJECTOS & ESTALEIROS

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Tema de Capa

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ra. Todo o madeiramento foi protegi-do com anti-xilófago e com verniz anti-fogo intumescente.Depois da aplicação do forro, proce-deu-se ao revestimento com chapas dezinco com plissagens horizontais e sol-daduras verticais. O lanternim foi nivelado através demadeiras de casquinha em cunha efoi executada uma nova clarabóia emestrutura metálica, de modo a conse-guir apoio adequado para vidro la-minado. Os ornatos do lanternim fo-ram decapados, metalizados e pinta-dos com tinta de esmalte forja.

Entretanto, a MIU também recuperouos estuques no intradorso. Todos oselementos em relevo foram gateados,prendendo-os no extradorso e todasas peças de gateamento foram envol-vidas em linhadas de gesso. Após a re-cuperação total dos estuques proce-deu-se à sua pintura com tintas plásti-cas nas cores originais.

CARLOS SÁ NOGUEIRA, Director de Obra da MIU, Ld.ª

Estado da estrutura após remoção dos revestimentos Pormenor do estado da estrutura após remoção dosrevestimentos

Fase de recuperação e reparação da estrutura

Pormenor do anel em aço inox de fecho da Cúpula

Tecto interior da Cúpula após reparação e pinturados estuques

Vista geral da Cúpula concluída

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031LNRibeiro.qxp 3/17/06 6:55 PM Page 48

PROJECTOS & ESTALEIROS

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Aeste respeito, pode afigurar-se, comoexemplo, o estudo recente visando a re-abilitação da estrutura de madeira deum Chalé, do início do séc. XX, locali-zado no concelho de Cascais (Fig. 1). O estudo desenvolveu-se em duas fa-ses: a fase de diagnóstico e a fase deprojecto de reabilitação da cobertura.Na fase de diagnóstico, a informação

relativa às características acerca da in-tegridade e da disposição das estrutu-ras de madeira foi recolhida, funda-mentalmente, através duma ins-pecção visual, complementada portécnicas de diagnóstico específicas deestruturas de madeira, tais como o en-saio de resistografia (Fig. 2) e outras decarácter mais geral, tais como, porexemplo, a observação endoscópica(Fig. 3). Nesta fase, simultaneamente,com a recolha de dados relativos às ca-racterísticas estruturais e construtivasaparentes da edificação (levantamen-to estrutural e construtivo) é, também,feita a recolha da informação relacio-nada com as anomalias presentes naconstrução (levantamento das anoma-lias) recorrendo-se, quando necessá-rio, à realização de sondagens, empontos da estrutura de madeira e dos

elementos de alvenaria, criteriosa-mente seleccionados.No presente caso, o levantamento dasanomalias visou a avaliação da sua im-portância e extensão na construção, emparticular, de deformações de pavi-mentos, deterioração de elementos demadeira e degradação de revestimen-tos de paredes.Do mesmo modo, o levantamento es-trutural/construtivo visou a locali-zação, identificação e a definição geo-métrica da secção resistente tipo e dosmateriais constituintes dos elementosestruturais do edifício, em particulardos pavimentos, paredes e cobertura.Assinalam-se, a seguir, as principaisconstatações:- Da abertura de pequenas “janelas”nas paredes exteriores, com espessurada ordem dos 50 cm, verificou-se a sua

Desde a sua fundação em 1988,a Oz, Ld.ª tem adoptado técni-cas de diagnóstico “amigas” dasestruturas das construções, con-ducentes à sua reabilitação, filo-génica, em particular, dos edifí-cios antigos.

Chalé Malvina…

…Estudo para a reabilitação da estrutura de madeira

1 – Chalé Malvina. Av. Sanfré, n.º 1 – Monte Estoril. Vista geral de nascente

32-33 Proj&Estaleiros#1.qxp 3/17/06 6:56 PM Page 32

constituição de alvenaria de pedra irre-gular argamassada com ligante de cal;- A realização de sondagens em locaisdos pavimentos criteriosamente esco-lhidos (utilização prévia dum pacóme-tro) permitiu verificar as característicasdas estruturas de madeira, nomeada-mente, vigas com secção de 8 por 15 cm,espaçadas de 35 cm;- Verificou-se, que a estrutura de ma-deira da cobertura é composta por as-nas relativamente curtas e um elevadonúmero de barrotes, que suportam,também, as ripas do telhado (Fig. 4).De entre as anomalias de índole estru-tural detectadas em elementos de ma-deira, merecem especial relevo a degra-dação da estrutura da cobertura, na zo-na exterior da cimalha, o apodrecimen-to das entregas dos vigamentos da es-trutura da cobertura e ainda sinais deataque de insectos xilófagos nos viga-mentos da estrutura da cobertura. Os resultados dos ensaios de resisto-grafia viriam, no entanto, a revelar, queapesar dos sinais exteriores de degra-dação dos vigamentos, os elementosensaiados não apresentavam desconti-nuidades de monta, evitando-se assima sua substituição desnecessária. Ama-

ximização do estudo conduziu à mini-mização da intervenção e dos custosenvolvidos.Quanto ao diagnóstico das anomalias,aponta-se como principal causa da de-

terioração verificada, em geral, a pro-longada falta de manutenção/conser-vação adequada. Em particular, desta-ca-se a existência de infiltrações deáguas provenientes dos órgãos de dre-nagem nos elementos estruturais,criando condições de humidade poten-ciadoras da colonização biológica e doapodrecimento das entregas dos viga-mentos de madeira.Após a fase do diagnóstico, pôde ter lu-gar a fase do projecto de reabilitação dacobertura. As principais medidas pre-conizadas consistiram na protecçãodos elementos de madeira, deteriora-dos exteriormente, recorrendo a pro-dutos próprios para a preservação damadeira contra ataques de insectos xi-lófagos, bem como na substituição deelementos ou partes dos vigamentosou outros cuja performance estruturalse afigurasse insuficiente.

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PROJECTOS & ESTALEIROS

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CARLOS MESQUITA, Eng.º Civil (DT) FRANCISCO PIRES, , Eng.º Civil (Junior)OZ, Ld.ª

2 – Ensaio para avaliação da integridade dos viga-mentos de madeira através da técnica da resistografia

3 – Observação endoscópica do interior da estruturada escada

4 – Asna tipo da cobertura

5 – Exemplo do perfil densidade obtido durante aperfuração da secção transversal do soalho e do viga-mento

32-33 Proj&Estaleiros#1.qxp 3/17/06 7:00 PM Page 33

PROJECTOS & ESTALEIROS

Pedra & Cal n.º 29 Janeiro . Fevereiro . Março 200634

A intervenção na Igreja do Conventoda Graça, construção datada entre osséculos XIII e XVIII, ocorre na sequên-cia de outras intervenções da responsa-bilidade da DGEMN, como seja a exe-cutada em 1932 e 1953 ao nível das can-tarias e juntas, rebocos e beneficiaçãode coberturas. Nos últimos anos, as in-tervenções têm recaído sobre os reves-timentos e impermeabilização de co-bertura, em 1998, impermeabilização epavimentação da tijoleira dos terraçosnorte e sul ou a intervenção levada a ca-bo, em 1999, sobre os rebocos e poste-rior caiação da fachada Sul.Os trabalhos em curso preconizam co-mo principais pontos o tratamento, pro-tecção e limpeza das cantarias exterio-res, a reparação de revestimentos de im-permeabilização e criação de um siste-ma electrostático de protecção contrapombos. A intervenção engloba, ainda,o tratamento de superfícies do campa-nário e a remodelação de pavimentos deterraços e melhoramento das condições

de drenagem pluvial. Com o objectivode sistematizar o estado patológico domonumento e a compreensão dos focospotenciadores desse estado patológico,foi desenvolvido pela DGEMN um es-tudo de levantamento de pormenor, re-sultando não só a caracterização precisado conjunto, mas também a detecçãodos pontos críticos a resolver. Estes con-sistem em naturezas diversas de inter-venção das quais se destacam:• Desinfestação biológica dos para-

mentos de cantaria e reboco;• Reparação de fenómenos de degra-

dação em elementos pétreos (alveoli-zação, crostas negras, concreções, fis-suras e fracturas);

• Reconstituição de lacunas em ele-mentos pétreos;

• Limpeza geral das fachadas em can-taria por nebulização e escovagem;

• Reparação de rebocos e posterior pin-tura de protecção superficial;

• Reparação de elementos metálicosem fachadas;

• Remodelação de terraços – desmontede pavimento, impermeabilização ereexecução de pavimento em tijoleiratradicional;

• Revisão e melhoramento do sistemade drenagem pluvial.

Os trabalhos preconizados para esta fa-se de intervenção na Igreja do Conventoda Graça envolveram a aplicação de me-didas de diversas naturezas. Uma visto-ria inicial permitiu o registo fotográficode pormenor (com o devido desenvol-vimento regular durante a execução dostrabalhos), de modo a poder avaliar aeficácia das medidas e técnicas aplica-das após a conclusão dos trabalhos. Desalientar,ainda nesta fase, a recuperaçãodo singular cata-vento existente no topodo campanário, ao qual foi reatribuída,através de um novo sistema de rola-mentos, a sua função de indicar a di-recção em que o vento sopra.

A Direcção Geral de Edifícios e Monumentos Nacionais (DGEMN), através da Direcção Regional deMonumentos de Lisboa, pretendeu proceder a um conjunto de medidas preventivas ao processo de degradação dos revestimentos de cantaria exterior das fachadas da Igreja do Convento da Graça.

Igreja do Convento da GraçaRecuperação dos revestimentos

de cantaria exterior das fachadas

1 - Elemento em fase de reconstituição 2 - Elemento após reconstituição 3 – Selagem para injecção de uma fractura

JOÃO VARANDAS, Engenheiro, Monumenta, Ld.ª

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PROJECTOS & ESTALEIROSTema de Capa

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Aempreitada, lançada pela Parques deSintra, no âmbito de um processo de re-cuperação patrimonial do Palácio deMonserrate a cargo do IPPAR, teve pro-jecto do gabinete A2P com o objectivode, numa primeira fase, recuperar a suaenvolvente, com destaque para a recu-peração das coberturas, estruturas e re-vestimentos.Resumidamente referem-se os traba-lhos mais relevantes:• Reabilitação das estruturas de madei-

ra das coberturas e pavimentos sub-jacentes;

• Recuperação dos revestimentos dascoberturas em placas de chumbo;

• Recuperação dos revestimentos exte-riores, rebocos e elementos de pedra;

• Recuperação de coberturas em telharomana, terraços e coberturas incli-nadas;

• Recuperação de elementos de madei-ra com furações não estruturais;

• Reposição dos sistemas de pinturados revestimentos de chumbo, ma-deiras e ferro;

• Reabilitação das redes de drenagemde águas pluviais.

Toda a intervenção teve como princípioorientador o respeito pela identidade eintegridade do Palácio como monu-mento. Assim se pugnou pela utilizaçãode materiais tradicionais o mais possí-vel similares na sua composição aos uti-lizados na construção do Palácio. Em si-tuações excepcionais devidamente jus-tificadas foram utilizados materiais esoluções actuais e inovadoras sempreque tal se mostrou mais apropriado.Já no decurso da obra se descobriu docu-mentação inédita que pôs em causa o re-vestimento generalizado das coberturas

em chumbo como revestimento originalutilizado, antes uma combinação de ele-mentos de chumbo nas cúpulas dos tor-reões e de telha no revestimento daságuas, solução assumida como a mais“fiel” à obra original e como tal adopta-da. Para dar resposta a esta nova realida-de foi desenvolvido com a empresaUmbelino Monteiro, S.A. o modelo detelha de barro vermelho, por tal factobaptizado de modelo “Monserrate”.Particularmente entusiasmante para oempreiteiro também todo o trabalho derevestimento com chumbo, tanto nasrecuperações do chumbo existente e emestado aceitável, como na aplicação dasnovas chapas, com 3 mm de espessura,aplicadas segundo técnicas tradicionaispor empresa especializada em face daespecificidade do trabalho.Reportando-nos à reabilitação das ma-

Um bom exemplo de reabilitação de estruturas de madeira

Recuperação da Coberturado Palácio de Monserrate

As obras de reparação da co-bertura e dos paramentos ex-teriores do Palácio de Mon-serrate que a empresa L. N.

Ribeiro Construções, Ld.ª le-vou a cabo incluíram inter-venções significativas de rea-bilitação de estruturas demadeira que podem ser apon-tadas como exemplos extrema-mente interessantes deste tipode trabalhos.

Vista nocturna do palácio após a reabilitação

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PROJECTOS & ESTALEIROS

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Tema de Capa

deiras foram seguidas duas técnicasdistintas na intervenção nos elementosestruturais de madeira: as peças demaior dimensão foram preservadas ereconstruídas ou reforçadas pontual-mente; as peças de menor dimensão fo-ram substituídas ou nalguns casos re-cuperadas por empalme com madeiraidêntica recuperada da própria obra.Da primeira técnica analisemos, o casomais significativo, o tratamento dosapoios das grandes asnas que consti-tuem a estrutura principal da coberturados torreões, alguns muito danificadospor acção das infiltrações de água.Como operação prévia tratou-se do su-porte provisório da asna com estruturatriangulada de aço fixado às paredes ex-teriores com ferrolhos de aço inox apa-rafusados à estrutura.Após a limpeza da zona a tratar proce-deu-se à remoção das secções de madei-ra apodrecida estendendo o corte na zo-na central de madeira sã até sensivel-mente 6,5 cm de espessura e 60 cm decomprimento e a toda a altura da peça.Efectuaram-se rebaixos por desbaste la-teral e inferior na zona sã da asna, com 2cm de profundidade.Encaixe de peça de madeira de casqui-

nha velha com aproximadamente 6 cmde espessura no rasgo aberto na zonacentral da asna.Furação de toda a espessura, zona sã eplaca central, por carotagem com diâ-metro 3 cm e colocação de cavilhas demadeira.Montagem de placas laterais e de fundoem madeira de contraplacado maríti-mo fixas à zona sã por cavilhas de sucu-pira com diâmetro de 2cm, formandomolde.Enchimento com argamassa de resinaepoxy “Restwood” da Degusa.Finalmente limpeza, tratamento localcom fungicida de elevada impregnação“Xilofene M2000”, protecção final comignifugo “fogo stop” da Matesica.Como era intenção do projectista comeste processo... “as asnas mantém a suaaparência de estruturas de madeiracom cicatrizes bem definidas identifica-doras da intervenção contemporânea, ea madeira reforça interiormente o en-chimento de resina, prevenindo qual-quer problema de envelhecimento pre-maturo dos polímeros”.Esta técnica foi também na generalida-de aplicada na recuperação das vigasdo torreão sul.

A técnica de empalme foi amplamenteutilizada nesta obra; embora bastantedivulgada na reabilitação em geral,nem sempre tem sido executada da for-ma mais conveniente e eficaz.Após a limpeza superficial e inspecçãoda peça procedeu-se à eliminação dosseus defeitos, os mais correntes as fen-das, preenchidas com enchimento depasta de madeira aglutinada com resi-na epoxy, por vezes também com pal-metas de madeira coladas à peça comcola resistente à humidade.Empalme dos apoios danificados apóso corte das zonas afectadas e a substi-tuição por troços sãos ligados ao viga-mento por placas de madeira fixadaspor parafusos de aço e colagem.Os elementos deteriorados por efeitodos fungos e insectos foram substituí-dos por vigas de casquinha com igualsecção.O resultado mostrou-se francamenteconseguido e comprova a correcção dosprincípios orientadores do trabalho.

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LUÍS RIBEIRO,Eng.º Civil, L. N. Ribeiro Construções, Ld.ª

Tratamento de vigas por empalme

Aspectos da zona do Torreão Sul após recuperação dasvigas

Apoio de asna degradada

Exemplo de tratamento de apoio de vigas

Fases de recuperação do apoio da asna

Fases de recuperação do apoio da asna

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PERFIL DE EMPRESA

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37 Perfil de Empresa.qxp 3/17/06 7:04 PM Page 37

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NOTÍCIA

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Trata-se de uma imponente estruturamista de madeira e aço, cujas peçasdominantes são duas pesadas asnasde madeira que, através de um con-junto de elementos secundários, su-portam quer o telhado desta parte doedifício, quer o tecto falso e a clara-bóia que decoram a belíssima Sala doSenado. Esta estrutura data dos anosde transição do século XIX para o sé-culo XX, altura em que o edifício foiparcialmente reconstruído na se-quência de um grande incêndio. Ane-cessidade de uma intervenção tor-nou-se urgente a partir do momentoem que se constatou uma deformaçãoacentuada de parte do tecto suspensoe da clarabóia sobre a Sala do Senado,elementos decorativos com apreciá-vel peso. Uma inspecção detalhadapela empresa A2P, Ld.ª permitiu atri-buir esta deformação à rotura locali-zada de um nó de uma das asnas, queresultou do apodrecimento generali-zado da madeira, afectando todas aspeças que confluem nesse nó. O apo-

drecimento da madeira foi atribuídoà acção de fungos de podridão que sedesenvolveram na sequência de infil-trações de água através da zona dejunção entre o telhado de elementoscerâmicos e a zona da cobertura envi-draçada, sobre a clarabóia.Procurando manter inalterado o sis-tema estrutural existente, a soluçãopreconizada pela A2P (projectista:Eng.º João Appleton) teve por objecti-

vo reconstituir as zonas deterioradasdo nó de madeira com uma argamas-sa de resina de epóxido de caracterís-ticas adequadas, reforçando-as, aomesmo tempo, com elementos metá-licos criteriosamente implantados.A intervenção estrutural esteve a car-go da empresa Stap, S.A.. Os trabal-hos iniciaram-se com a limpeza cui-dada da zona do nó, removendo todaa madeira deteriorada. Seguiu-se a fi-

Durante inspecções de rotina,realizadas pelos serviços da Divi-são de Aprovisionamento e Pa-trimónio (DAPAT) da Assem-bleia da República, constatou-seque a estrutura da cobertura daSala do Senado – a antiga câma-ra alta do parlamento – apresen-tava algumas deficiências estru-turais que requeriam interven-ção urgente.

Intervenção estruturalCobertura da Sala do Senado

da Assembleia da República

Escoramento do tecto da Sala do Senado

Tema de Capa

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NOTÍCIA

39Pedra & Cal n.º 29 Janeiro . Fevereiro . Março 2006

xação de placas de contraplacado àmadeira existente, para servirem decofragem à argamassa de epóxido dereconstituição das secções. Em toda alargura das zonas a tratar, foram colo-cados varões de aço inoxidável emquincôncio, atravessando as zonassãs e vazadas do nó, para reforçomecânico da colagem entre a madeiraexistente e a argamassa de resina. Es-ta primeira fase dos trabalhos termi-nou com o vazamento da argamassapor gravidade, sendo que a elimi-nação do ar se fez livremente, sem re-correr a tubos de purga.O reforço da zona adjacente ao nó,correspondente à segunda fase dostrabalhos, consistiu essencialmentena duplicação simétrica do pendural

existente e na aplicação de chapas deaço, para rigidificação de toda a zonaadjacente ao nó, interligando as di-versas barras e estabelecendo conti-nuidade com a prótese metálica jáexecutada na zona do apoio.As chapas de aço trapezoidais foramcolocadas em ambos os lados da asnae foram fixadas entre si e os elemen-tos de madeira, através da aplicaçãode parafusos atravessantes de açoinoxidável, em quincôncio. Esta li-gação destina-se a constituir a pri-meira linha de garantia de rigidifi-cação efectiva da zona do nó, pela mo-bilização conjunta de toda a estruturae seus reforços.Foram, também, aplicadas chapasauxiliares de ligação entre as chapas

de rigidificação e os elementos metá-licos existentes. As ligações entre aspeças metálicas novas e entre estas eas existentes foram realizadas atravésde cordões de soldadura. Por fim,efectuou-se a reparação das pro-tecções contra a corrosão de todas aszonas danificadas pela aplicação dasoldadura, através de primário deepóxido e zinco. Sem prejuízo de uma inspecção maisdetalhada, já em curso, com vista à ca-racterização da importante estruturade madeira e aço da cobertura da Sa-la do Senado e das anomalias que aafectam, a intervenção pontual ora re-alizada permitiu estabilizar a estru-tura e repor as condições de segu-rança adequadas.

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Reconstituição das secções com argamassa epoxídicaVista parcial da estrutura da cobertura Aspecto final da reparação do nó

38-40 Notícias+agenda.qxp 3/17/06 7:06 PM Page 39

Comissão CientíficaInternacional sobre a MadeiraCriada em 1972, no seio do Conselho Internacional dosMonumentos e Sítios (ICOMOS), esta Comissão procuraaprofundar o estudo e os meios para conservar estruturas ouedifícios históricos construídos em madeira, ou que utilizema madeira como material de construção. Composta por peri-tos de vários países, a Comissão promove simpósios inter-nacionais bienais e preparou os Princípios para a Preservaçãode Estruturas Históricas em Madeira (1999), que contêm asdirectivas mais importantes para os intervenientes em edifí-cios que utilizem esta matéria-prima na sua construção.

O ICCROM promove o 12.º CursoInternacional sobre Tecnologia de Conservação da Madeira

Bienalmente, desde 1984, realiza-se na Noruega, mas sob osauspícios do Centro Internacional de Estudos para aConservação e Restauro de Bens Culturais (ICCROM), estecurso destinado a profissionais ligados à conservação damadeira, seja como elemento construtivo ou matéria-primade bens culturais móveis. A12.ª edição do curso terá lugar de29 de Maio a 7 de Julho (www.iccrom.org).

Seminário sobre Construção em MadeiraPromovido pela Ordem dos Arquitectos em parceria com oInstituto para o Desenvolvimento Tecnológico, teve lugar noPorto, de 16 a 18 de Fevereiro, o Seminário sobre Construçãoem Madeira, que pretendeu dar a conhecer as diversas for-mas de aplicação da madeira na construção. A abordagemincidiu, entre outras, sobre as propriedades físicas e mecâni-cas da madeira, sua utilização como estrutura, a acção dofogo, a preservação e tratamentos, a utilização como revesti-mento interior e exterior.

Eleições no ICOMOS e no ICCROMDurante a 15.ª Assembleia Geral do Conselho Internacionaldos Monumentos e Sítios, realizada em Xi’an (China), de 17a 21 de Outubro 2005, foi re-eleito presidente para um tercei-ro mandato de três anos o alemão Michael Petzet, bem comoa restante Comissão Executiva internacional. Por sua vez, a24.ª Assembleia Geral do Centro Internacional de Estudospara a Conservação e Restauro de Bens Culturais (ICCROM)elegeu para director-geral o argelino Mounir Bouchenaki.

NOTÍCIAS / AGENDA

Pedra & Cal n.º 29 Janeiro . Fevereiro . Março 200540

Encontro Internacional PatrimónioMundial de Origem Portuguesa27 a 29 de Abril, Auditório da Faculdade de Direito daUniversidade de CoimbraOrganização: Universidade de Coimbra, IPPAR,Comissão Nacional da UNESCO, na sequência de umaproposta da Comissão Nacional Portuguesa do ICOMOSapoiada pelo Centro do Património Mundial da UNESCO.O significado e a influência cultural do património de ori-gem portuguesa disperso pelo mundo como resultado dasgrandes viagens de descoberta, que propiciaram o contac-to entre diferentes povos e civilizações, são largamentereconhecidos. O principal objectivo deste Encontro é o decontribuir para a criação de uma rede de cooperação inter-nacional entre especialistas de todos os países com patri-mónio de origem portuguesa, que permita articular dife-rentes modos de gestão e de valorização dos sítiosclassificados, aprofundar práticas de protecção e salva-guarda e, bem assim, melhorar o acesso desses países àLista do Património Mundial, através de Listas Indicativase Candidaturas devidamente fundamentadas.Informações: World Heritage of Portuguese OriginRua Pinheiro Chagas, 96, 1º • 3000-333 CoimbraTel.: 239 480 944 • Fax: 239 480 960e-mail: [email protected] •URL:http://www.uc.pt/whpo/home.html

Seminário Internacional “Theoryand Practice in Conservation. A tribute to Cesare Brandi”4 a 5 Maio, LisboaOrganização: LNEC, no âmbi-to do projecto EU-ARTECH As intervenções de conser-vação de bens culturais reque-rem uma atitude crítica e umagrande bagagem teórica. Ateo-ria é uma ferramenta essencialde suporte à prática e não ape-nas um enquadramento expli-cativo. O seminário irá debater estas importantes questões edemonstrar o quão pertinentes e instrumentais se mantêmpara a conservação moderna. O Seminário é organizadocomo um tributo a Cesare Brandi, no seu centésimo aniver-sário, pelo seu papel no estabelecimento de critérios estan-dardizados da prática de conservação moderna. É neste con-texto que será lançado a tradução para português da obra“Teoria do Restauro”. O Seminário realizar-se-á em inglês eaos inscritos será conferido um certificado de participação.Temas: Interacções entre teoria e prática; Conceitos teóricos e pesquisacientífica; Dilemas entre teoria e prática; Questões teóricas por resolver Informações: http://eu-artech.lnec.pt/index.htm

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Pedra & Cal n.º 29 Janeiro . Fevereiro . Março 2006

AS LEIS DO PATRIMÓNIO

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Aresposta a este problema está ínsitano Artigo 163.º do Decreto Lei n.º59/99, de 2 de Março, que como sa-bemos aprovou o vigente Regime Ju-rídico das Empreitadas de Obras Pú-blicas (RGEOP):1 - Nenhum elemento da obra será co-meçado sem que ao empreiteirotenham sido entregues, devidamen-te autenticados, os planos, perfis,alçados, cortes, cotas de referência edemais indicações necessárias paraperfeita identificação e execução daobra de acordo com o projecto ousuas alterações e para a exacta me-dição dos trabalhos, quando estes de-vam ser pagos por medições. Aliás, nos termos do n.º 2 da mesmadisposição, são demolidos e recons-truídos pelo empreiteiro, à sua custa,sempre que isso lhe seja ordenadopor escrito, todos os trabalhos quetenham sido realizados com in-fracção do disposto no n.º 1 deste

mesmo artigo ou executados em des-conformidade com os elementos nelereferidos. Pelo que, verificando o empreiteiroque os mesmos não lhe foram forne-cidos, deve reclamar por escrito a suaentrega logo que dê pela sua falta.Até porque nos termos do Artigo164.º do RJEOP, quando a demora naentrega dos elementos técnicos emfalta implique a suspensão ou inter-rupção dos trabalhos ou o abranda-mento do ritmo da sua execução, pro-ceder-se-á segundo o disposto paraos casos de suspensão dos trabalhospelo Dono da Obra. Ou seja, aplicar-se-á o disposto noArtigo 186.º, n.º 1 do RJEOP onde seprevê a suspensão dos trabalhos pelo Dono da Obra “sempre que cir-cunstâncias especiais impeçam queos trabalhos sejam executados ouprogridam em condições satisfató-rias e, bem assim, quando o imponhao estudo de alterações a introduzir noprojecto”. A fiscalização, com a assistência doempreiteiro ou seu representante,lavrará auto no qual fiquem exaradasas causas que determinaram a sus-pensão, a decisão superior que a au-torizou, os trabalhos que abrange e oprazo de duração previsto (art.º 187º,n.º 1). O empreiteiro ou seu represen-tante terá o direito de fazer exarar noauto qualquer facto que repute con-veniente à defesa dos seus interesses(n.º 2). O auto de suspensão será la-vrado em duplicado e assinado pelofiscal da obra e pelo empreiteiro ourepresentante deste (n.º 3). Sempre que, por facto que não sejaimputável ao empreiteiro, este for no-tificado da suspensão ou paralisação

dos trabalhos, sem que da notificaçãoou do auto de suspensão conste o pra-zo desta, presume-se que o contratofoi rescindido por conveniência dodono da obra (art.º 188º - Suspensãopor tempo indeterminado).Nos termos do Artigo 189.º poderáhaver lugar a rescisão do Contrato deEmpreitada celebrado com o Donoda Obra por parte do Empreiteiro deObras Públicas se a suspensão dostrabalhos for determinada ou semantiver: a) Por período superior aum quinto do prazo estabelecido pa-ra a execução da empreitada, quandoresulte de caso de força maior. Nestecaso, o empreiteiro só tem direito aindemnização por danos emergen-tes; b) Por período superior a um dé-cimo do mesmo prazo, quando resul-te de facto não imputável ao emprei-teiro e que não constitua caso de forçamaior. Tem o empreiteiro aqui direi-to a indemnização por danos emer-gentes e lucros cessantes. Mesmo quando não se opere a res-cisão, quer por não se completaremos prazos estabelecidos, quer por anão requerer o empreiteiro, terá esteainda assim direito a ser indemniza-do dos danos emergentes, bem como,se a suspensão não resultar de caso deforça maior, dos lucros cessantes.

Quantas vezes o Empreiteirode Obras Públicas já durante aexecução dos trabalhos sedepara com insuficiência depeças escritas ou desenhadas,sobretudo, estas, que são es-senciais à prossecução dos tra-balhos, mas que não lhe foramentregues pelo Dono da Obra.Como deve, nestes casos, pro-ceder o Empreiteiro de modo, asalvaguardar os seus direitos?

Afalta dos elementostécnicos necessários à

execução dos trabalhos

A. JAIME MARTINS, Advogado-Sócio de ATMJ, Sociedade de Advogados, RLDocente universitá[email protected]

41_Leis do património.qxp 3/17/06 7:07 PM Page 41

O betão não consegue resistir-lhe

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e-pedra e cal

Pedra & Cal n.º 29 Janeiro . Fevereiro . Março 200644

Uma das minhas deixas cinemato-gráficas preferidas é aquela em que oexterminador de insectos no filmeAracnofobia (1990) pisa ruidosamen-te um insecto à porta de casa do clien-te e diz: “Yeah, I know… I am bad!”.Lembrei-me desta cena, a propósitode um insecto que pode por vezesconstituir uma autêntica praga con-tra madeira, papel ou cartão em es-truturas, obras de arte ou produtosarmazenados, com consideráveis da-nos económicos: as térmitas. Mas nãose pense que estes insectos causamapenas danos materiais. Simon Mu-sonda, funcionário superior do patri-mónio nacional da Zâmbia, dizia-mehá alguns anos que o problema dastérmitas no seu país era bastante gra-ve e contava a história de um senhorque acordou de manhã e dirigiu-se àsua varanda no primeiro piso, cain-do pelo pavimento abaixo na sequên-cia do colapso da estrutura de madei-ra que aparentava sólida condição es-trutural, apesar de totalmente ocapor dentro devido à fúria devorado-ra daqueles pequenos insectos. Diz-nos a wikipédia (http://es.wiki-pedia.org) que as térmitas são umgrupo de insectos sociais da ordemisoptera que comem madeira e ou-tros materiais ricos em celulose e queexistem maioritariamente em climastropicais ou subtropicais (América

do Sul, África e Austrália) e por ve-zes também em climas temperados.Mais interessante é a definição de Dr.Don (www.labyrinth.net.au) que,com a típica informalidade australia-na, diz: “Termites are incredible, smallinsects that have mastered coope-ration allowing them to achieve greatthings, such as building skyscrapers, hollowing huge trees, moving amazingamounts of soil and of course, eatingyour house.”.Em Portugal, existem referências nosúltimos 50 anos à presença de térmi-tas, mas apenas duas espécies foramreconhecidas, a térmita de madeiraseca (Kalotermes flavicollis Fabricius)e a térmita subterrânea (Reticuliter-mes lucifugus Rossi), considerada amais destrutiva. Calcula-se que estaúltima seja responsável por 95% detoda a destruição causada em edifí-cios. As térmitas encontram-se espa-lhadas por todo o país, em particularno Centro e Sul, com especial in-cidência na região de Lisboa, em Évo-ra e Beja. Para uma melhor descriçãodeste fenómeno, recomendo o inte-ressante artigo Preliminary Assess-ment of the Termite Distribution inPortugal, da autoria de Tânia Nobre eLina Nunes, em www.scielo.oces.mctes.pt/pdf/slu/v9n2/9n2a09.pdf.Para além do território continental,nos Açores, a cidade de Angra do He-

roísmo (Património Mundial) sofreuum recente ataque de térmitas, quefoi, inclusive, assunto da campanhaeleitoral (www.diarioinsular.com).De acordo com uma notícia emwww.auniao.com, o LNEC mandouuma equipa de especialistas que con-cluiu pela presença de Cryptotermesbrevis (térmitas de madeira seca).O LNEC tem em curso um programade investigação sobre térmitas, no Nú-cleo de Madeiras, mas com pouca in-formação online (www-ext.lnec.pt/LNEC/DE/NM/térmitas). Em com-pensação, recomendo a consulta doFórum Internacional das Térmitas (cu-pins, na versão Portuguesa) emwww.forumtermites.com. Se ao lerestas linhas começou a pensar na for-miga branca que ataca os móveis lá decasa, os especialistas avisam que é fre-quente a confusão entre térmitas e aformiga branca, o que parece desagra-dar-lhes particularmente. Fica o aviso,se der de caras com um especialista detérmitas, visite de antemão os sites quelhe recomendei, caso contrário, fale dotempo (www.meteo.pt).

JOSÉ MARIA LOBO DE CARVALHO,Arquitecto, MA in Conservation Studies(York), desenvolve o Doutoramento no IST com o apoio da FCT. [email protected]

“Térmitas: dormindo com o inimigo”

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Pedra & Cal n.º 29 Janeiro . Fevereiro . Março 2006

VIDAASSOCIATIVA

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Directório da REABILITAÇÃO do edificado e da CONSERVAÇÃO e RESTAURO

do património arquitectónico portuguêsO GECoRPA e a EUROPÁGINAS, editora especializadana edição de anuários/directórios profissionais sectoriais,assinaram recentemente um protocolo de colaboraçãocom vista à edição de um “Directório da reabilitação doedificado e da conservação e restauro do património arqui-tectónico português” já para este ano. Este segmento do sector da construção tem conhecido, nosúltimos tempos, um desenvolvimento assinalável. O par-que edificado português constitui um importante recursoeconómico e o património arquitectónico é extenso e valio-so. Urge, portanto, reabilitar o primeiro, por forma a asse-gurar uma gestão adequada, e conservar o segundo, parao poder transmitir, em boas condições, às gerações futu-ras. Há estudos que apontam para um aumento significa-tivo e constante dos investimentos, públicos e privados,

no futuro próximo neste segmento de actividade. A níveldos fundos comunitários há mesmo um reforço das ver-bas destinadas a essas actividades. É, pois, convicção do GECoRPA e da EUROPÁGINAS, aolançar esta iniciativa, que se estará a disponibilizar, aosvários agentes intervenientes nesta área – OrganismosOficiais; Donos de Obra; Projectistas; Consultores;Técnicos de Inspecção e Ensaio; Construtores; Em-preiteiros e Sub-empreiteiros; Fornecedores de Materiais eEquipamentos, etc. – um instrumento útil de consulta téc-nica e comercial.Para mais informações sobreoDirectório, as empresas inte-ressadas em divulgação e publicidade dos seus serviçosdeverão contactar a EUROPÁGINAS (Tel.:229 569 000; Fax: 229 569 030; e-mail: [email protected]).

Jantar-Conferência “A EXECUÇÃO”

Consciente que a sen-sibilização das novasgerações é uma dasformas mais eficazesde assegurar a preser-vação do património,o GECoRPA publicouno passado mês deNovembro uma obradesenvolvida a pen-sar nos mais novos:um Manual de Edu-cação em PatrimónioArquitectónico. Redi-gido numa linguagemsimples, objectiva eadequada às crianças,procura estimular asua sensibilidade, le-

vando-os a reconhecer, apreciar e defender o patrimónioarquitectónico. Este projecto só foi possível concretizar graçasao apoio da empresa sócia STAP, S. A., que patrocinou aedição no âmbito da comemoração dos seus 25 anos.

Manual de Educação emPatrimónio Arquitectónico

No dia 24 de Novembro, o GECoRPA, em associação coma firma ECOPREVE, organizou um jantar-conferênciaexclusivo para sócios. O tema da conferência versou “AExecução ou o elo que falta entre o que a empresa aspira eos resultados conseguidos”. O orador convidado, Eng.ºAntónio Roque Graça, explicou, aos representantes dasempresas associadas presentes, as razões da diferençaentre o que os gestores das empresas querem atingir e acapacidade das suas organizações para o conseguirem.Pessoas, estratégia e plano de acção são os três processosfundamentais de qualquer negócio. A capacidade de lide-rar estes processos, individualmente e em conjunto, faz adiferença e permite um nível superior de resultados.

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LIVRARIA

NOVIDADES Outros títulos à venda na Livraria GECoRPA

Reabilitação de Edifícios “Gaioleiros”

Autor: João Appleton Edição: OrionPreço: € 22.50Código: OR.E.2

Manual de Educação em PatrimónioArquitectónico

Autores: Vítor Cóias, CatarinaValença Gonçalves (texto); João Carlos Farinha, MarcosOliveira (ilustrações)Edição: GECoRPAPreço: € 10.00 Código: GE.M.1

Conjunto de fichas “Madeira para Construção”

M1: Especificação de madeiraspara estruturas; M2: Pinho bra-vo para estruturas; M3:Câmbala; M4: Casquinha; M5:Criptoméria; M6: Eucaliptocomum; M7: Tola Branca; M8:Undianuno; M9: Humidade namadeira; M10: Revestimentospor pintura de madeira paraexteriores; M11: Mecrusse; M12:MussibiEdição: LNECPreço: € 34.65Código: LN.M.17

Diálogos de Edificação - Estudo de TécnicasTradicionais de Construção

Autores: Gabriela de BarbosaTeixeira, Margarida da CunhaBelémEdição: CRATPreço: € 32.42Código: CRAT.E.1

Para saber mais sobre estes e outros livros, consulte a Livraria Virtual em www.gecorpa.pt

Património Estudos n.º 8Tema de capa: Intervenções no Património Através da apresentação de casosseleccionados do conjunto de inter-venções do IPPAR, este número darevista Estudos/Património pre-tende reflectir a actualização das for-mas de intervir em património edifi-

cado, que se tem vindo a sedimentar ao longo de anos,apoiada numa prática regular. Traz a público estudos e inter-venções projectadas ou realizadas na Sé do Porto, nosMosteiros de Pombeiro e de Santa Clara-a-Velha, na Sé Velhade Coimbra, no castelo de Castelo de Vide, na Gruta doEscoural, nos Palácios de Queluz e da Pena, entre outros.Outros temas são tratados na secção Salvaguarda(património mineiro, a construção enquanto documento, adefesa do património arquitectónico legado por Korrodi, oestuque tradicional no restauro) e na secção Memória (estudode um fragmento da fonte do claustro do Mosteiro de SantaClara-a-Velha, a estratégia de implantação do Mosteiro de S.João de Tarouca ou a família Real na Ajuda no século XIX).Edição: IPPARPreço: €14.00Código: IP.PP.7

CIMAD’04 - 1.º CongressoIbérico: “A Madeira na Construção”Coordenação: Paulo J. Cruz, João A. Ne-grão, Jorge M. Branco O ressurgimento das estruturas demadeira na construção civil deve-seprincipalmente a três factores: razõesambientais, desenvolvimento das técni-cas de classificação (conhecimento docomportamento mecânico do material)

e desenvolvimento dos meios de execução das ligações (maiorprecisão dimensional e maior liberdade de formas). Este livroreúne cerca de uma centena de comunicações sobre os desen-volvimentos recentes sobre a Madeira na Construção, dividindo--se nos seguintes temas: Indústria da Madeira; AMadeira comomaterial de construção; Património Arquitectónico e Reabilitação;Segurança de estruturas de madeira e Realizações.Edição: Universidade do MinhoPreço: €50.00 Código: UM.A.2

A Gestão do Centro Urbano Autor: ATCM –Association ofTown Center ManagementO urbanismo pós-industrial quecaracteriza as sociedades moder-nas oferece um panorama dualem matéria de rendimentos, desustentabilidade e de urbanida-de. Dada a importância dos cen-tros urbanos para o desenvolvi-mento e a identidade das comu-

nidades que constituem centralidade, a sua gestão deveser objecto de particular atenção por parte das autoridades.Novos sistemas específicos de gestão dos centros urbanostêm surgido, por forma a integrar melhor as pessoas nomeio em que habitam. O que aqui se apresenta, em 3 volu-mes, é um estudo desses sistemas feito pela ATCM –Asso-ciation of Town Center Management.Edição: URBEPreço: €94.50 Código: URBE.E.4 (T.I); URBE.E.5 (T.II, vol. 1); URBE.E.6(T.II, vol.2)

A acústica nos edifícios. Materiais e sistemas absorventes sonoros, coeficientes de absorção sonora Autor: Odete DominguesA importante contribuição dos mate-riais de revestimento e a ausência deinformação disponível e consultávelsobre as suas características de absor-ção sonora, necessárias à elaboraçãodos projectos de condicionamento

acústico, fundamentam o objectivo desta publicação. Esteobjectivo é consubstanciado pela compilação das caracterís-ticas de absorção sonora de diferentes tipos de materiais esistemas absorventes sonoros. No sentido de contextualizar a informação disponibilizada,referem-se os conceitos gerais, os parâmetros característicose a terminologia aplicada, assim como as variáveis interve-nientes nos mecanismos que dão origem à absorção da ener-gia sonora.É ainda apresentado um exemplo de verificação da con-formidade das condições acústicas de uma sala de aula.Edição: LNECPreço: €15.00Código:LN.E.16

MAIREPAV - 3rdInternational Symposium:Maintenance andRehabilitation of Pavementsand Technological ControlCoordenação: Paulo Pereira,Fernando BrancoMAIREPAV’03 é o simpósio subse-quente aos havidos em 2000 noBrasil e nos EUA, objectivando atroca de saberes e desenvolvimen-

tos tecnológicos entre construtores, engenheiros, consul-tores, académicos e comunidades de pesquisa, bem comoentidades públicas e privadas, sobre a construção emanutenção de pavimentos rodoviários. Este 3.º SimpósioInternacional, de que estas actas são testemunho, foi orga-nizado pela Universidade do Minho em Guimarães. O lemafundamental desta obra é: aplicar o tratamento Certo naestrada Certa na altura Certa.Edição: Universidade do MinhoPreço: €30.00 Código: UM.A.1

Argamassas de cal na conser-vação de edifícios antigosAutor: Maria do Rosário VeigaAs paredes antigas, anteriores aoadvento do betão armado e à era dospolímeros, eram constituídas pormateriais muito mais porosos doque actualmente e, em geral, com re-sistências mecânicas inferiores. Asargamassas faziam parte desse con-

junto, fundamentalmente constituídas por cal aérea eareia, mas muitas delas chegaram até à actualidade emóptimas condições de conservação e com capacidadepara desempenhar com eficácia as suas funções.No presente trabalho enfatiza-se o papel das argamas-sas na conservação dos edifícios antigos; analisam-se asopções de intervenção e definem-se os critérios gerais ater em conta na sua selecção; descrevem-se os requisitosespecíficos a exigir às argamassas a usar em edifíciosantigos relacionando-os com os critérios de compatibili-dade; apresentam-se e discutem-se resultados experi-mentais obtidos para vários tipos de argamassas cor-rentemente usadas em conservação; elabora-se aindasobre dois problemas especiais de conservação de arga-massas (colagem de azulejos antigos e comportamentoaos sais).Edição: LNECPreço: €3.15Código: LN.E.15

Paços Medievais Portugueses

Autor: José Custódio Vieira daSilvaEdição: IPPARPreço: € 50.00Código: IP.E.11

46-47 Livraria.qxp 3/17/06 7:19 PM Page 46

LIVRARIA

N.º 3, Julho/Ago./Set. 1999Preço: €3,74

Código: P&C.3

N.º 9, Jan./Fev./Mar. 2001Preço: €4,48 euros

Código: P&C.9

N.º 10, Abril/Maio/Jun. 2001Preço: €4,48 euros

Código: P&C.10

N.º 11, Julho/Ago./Set. 2001Preço: €4,48 euros

Código: P&C.11

N.º 12, Out./Nov./Dez. 2001Preço:€ 4,48

Código: P&C.12

N.º 13, Jan./Fev./Mar. 2002Preço: €4,48

Código: P&C.13

N.º 14, Abril/Maio/Jun. 2002Preço: €4,48

Código: P&C.14

N.º 15, Julho/Ago./Set. 2002Preço: €4,48

Código: P&C.15

N.º 16, Out./Nov./Dez. 2002Preço: € 4,48

Código: P&C.16

N.º 20, Out./Nov./Dez. 2003Preço: €4,48

Código: P&C.20

N.º 17, Jan./Fev./Mar. 2003Preço: €4,48

Código: P&C.17

N.º 21, Jan./Fev./Mar. 2004Preço: €4,48

Código: P&C.21

N.º 22, Abril/Maio/Jun. 2004Preço: €4,48

Código: P&C.22

N.º 23, Julho/Ago./Set. 2004Preço: €4,48

Código: P&C.23

N.º 24, Out./Nov./Dez. 2004Preço: €4,48

Código: P&C.24

N.º 18, Abril/Maio/Jun. 2003Preço: €4,48

Código: P&C.18

N.º 19, Julho/Ago./Set. 2003Preço: €4,48

Código: P&C.19

Nota de Encomenda

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Código Postal Localidade Telefone Fax

Junto cheque n.º sobre o Banco no valor de ____________________ euros, à ordem do GECoRPA

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(*) Os descontos não são acumuláveis, nem aplicáveis aos números da Pedra&Cal já publicados.(**) Ao valor de cada livro deverão ser acrescentados € 3,64 para portes de correio. Por cada livro adicional deverá somar-se a quantia de € 0,70.Quanto aos números da Pedra&Cal já publicados, os portes de correio fixam-se em € 1,20. Para mais informações, consulte as Condições de Venda na Livraria Virtual.FORMADE PAGAMENTO: O pagamento deverá ser efectuado através de cheque à ordem de GECoRPA, enviado juntamente com a nota de encomenda para GECoRPA, Rua Pedro Nunes , n.º 27, 1.º Esq.º 1050-170 Lisboa.

Associado do GECoRPA (10% de desconto)Assinante da Pedra&Cal (10% de desconto)

Assinatura anual de 4 números da P&C pelo preço de € 16,13 (beneficiando do desconto de 10% sobre o preço de capa), acrescendo € 4,40 de portes de envio.

Actividade / Profissão

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Total: euros

N.º 25, Jan./Fev./Mar. 2005Preço: €4,48

Código: P&C.25

Nota: Os números 0, 1, 2, 4, 5, 6 e 7 da Pedra & Cal encontram-se esgotados, contudo informamos que se encontram reunidos no CD-ROM Pedra & Cal - 5 Anos (1998-2003), à venda na Livraria GECoRPA.

N.º 26, Abr./Mai./Jun. 2005Preço: €4,48

Código: P&C.26

N.º 27, Jul./Ago./Set. 2005Preço: €4,48

Código: P&C.27

N.º 28, Out./Nov./Dez. 2005Preço: €4,48

Código: P&C.28

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DIVULGAÇÃO

Pedra & Cal n.º 29 Janeiro . Fevereiro . Março 200648

Reinava D. Carlos e o país era compostopor metrópole e colónias. Decorria o anode 1906 quando, em 27 de Setembro, oRei assinou o primeiro decreto que clas-sificou um imóvel como monumentonacional. O primeiro a receber a dis-tinção foi o castelo de Elvas. Desde então,cerca de 155 decretos classificaram maisde 3120 imóveis no continente, na Ma-deira e nos Açores. Até 1928, todos osimóveis eram classificados como “mo-numentos nacionais”, mas nesse anosurge um segundo nível denominado“imóvel de interesse público” e, somen-te em 1974, surgem as primeiras classifi-cações como “valor concelhio” - emboraeste terceiro nível de classificação já ti-vesse sido criado por lei em 1949.Os primeiros decretos classificaram imó-veis de reconhecido valor histórico-cul-tural, muitos dos quais constavam deuma lista proposta para salvaguarda em1880 (vinte e um anos antes do decretoque aprovou as bases para a classificaçãodos imóveis). Apouco e pouco, foram-sealargando as fronteiras do que é consi-derado património e o mais recente de-creto (de 2002) classificou um imóvelconstruído apenas dez anos antes. Até1936, cada decreto limitava-se a classifi-car,em média, um a quatroimóveis, comexcepção de alguns decretos dos anos1920 e do famoso Decreto de 16 de Junhode 1910 que, só ele, classificou 469 mo-numentos nacionais. Entre 1936 e 1970, amédia de imóveis classificados por cadadecreto subiu para cerca de 30 e desdeentão cada decreto classifica, em média,94 imóveis. Alista de decretos apresentaalgumas curiosidades, como sejam: asdesclassificações (retirada de um imóvelda lista); as reclassificações (subida oudescida de nível de classificação); as clas-sificações de partes de imóveis e não dotodo (por exemplo, um portal e não a to-

talidade da igreja); a classificação de to-dos os pelourinhos que ainda não o ti-vessem sido (decreto de 1933); e há umdecreto que desclassifica um imóvel en-tretanto demolido (!).Actualmente, o processo de classificaçãoé um procedimento administrativo mo-roso que começa com um requerimento,feito por qualquer pessoa ou organismo,dirigido ao IPPAR, e termina com a pu-blicação da listagem de bens em Diárioda República. Aclassificação representaoreconhecimento oficial do valor de umimóvel e obedece a uma série de critériosgerais, como sejam o valor histórico, cul-tural, estético, social e técnico-científico,e a critérios complementares, como se-

jam o da antiguidade, integridade, au-tenticidade, exemplaridade, singulari-dade ou raridade.

BIBLIOGRAFIAPatrimónio Arquitectónico e Arqueológico Classificado,3 vols., Instituto Português do Património Arquitec-tónico e Arqueológico, Lisboa, 1993, p. XXIX.Decretos n.º 45/93, de 30 de Novembro, n.º 2/96, de 6de Março, n.º 32/97, de 2 de Julho, n.º 67/97, de 31 deDezembro, e n.º 2/2002, de 19 de Fevereiro.

NOTAA categoria “Valor Concelhio” foi substituída por“Imóvel de Interesse Municipal” em 2001.

MIGUEL BRITO CORREIA, Arquitecto

Um século de classificações de imóveis

Distrito Total Monumento

Nacional

Imóvel de

Interesse

Público

Valor

Concelhio *

01- Aveiro 90 14 64 12

02- Beja 76 21 53 2

03- Braga 194 63 119 12

04- Bragança 136 29 104 3

05- Castelo Branco 79 8 61 10

06- Coimbra 160 45 97 18

07- Évora 187 108 76 3

08- Faro 109 22 76 11

09- Guarda 164 39 111 14

10- Leiria 128 26 85 17

11- Lisboa 457 103 323 31

12- Portalegre 146 59 80 7

13- Porto 269 76 169 24

14- Santarém 183 41 100 42

15- Setúbal 105 22 67 16

16- Viana do Castelo 180 54 115 11

18- Vila Real 187 22 154 11

19- Viseu 226 38 167 21

Nacional 3.076 780 2.031 265

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Pedra & Cal n.º 29 Janeiro . Fevereiro . Março 2006

ASSOCIADOS GECoRPA

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A. da Costa Lima, Fernando Ho,Francisco Lobo e Pedro Araújo - Arquitectos Associados, Ld.ªProjectos de conservação e restaurodo património arquitectónico.Projectos de reabilitação, recuperação erenovação de construções antigas.Estudos especiais

Betar - Estudos e Projectos de Estabilidade, Ld.a

Projectos de estruturas e fundaçõespara reabilitação, recuperação e renovação de construções antigas e conservação e restauro do património arquitectónico.

LEB - Projectistas, Designers e Consultores em Reabilitação de Construções, Ld.ªProjecto, consultoria e fiscalização na área da reabilitação do património construído.

PENGEST – Planeamento,Engenharia e Gestão, S. A.Projectos de conservação e restaurodo património arquitectónico.Projectos de reabilitação,recuperação e renovação deconstruções antigas. Gestão,Consultadoria e Fiscalização.

OZ - Diagnóstico, Levantamento e Controlo de Qualidade de Estruturas e Fundações, Ld.ªLevantamentos. Inspecções e ensaiosnão destrutivos. Estudo e diagnóstico.

ERA - Arqueologia - Conservação e Gestão do Património, S. A. Conservação e restauro de estruturasarqueológicas e do patrimónioarquitectónico. Inspecções e ensaios.Levantamentos.

A. Ludgero Castro, Ld.ªConsolidação estrutural. Construçãoe reabilitação de edifícios.Conservação e restauro de bensartísticos e artes decorativas:estuques, talha, azulejaria,douramentos e policromias murais.

Alfredo & Carvalhido, Ld.ªConservação e restauro dopatrimónio arquitectónico.Conservação e reabilitação deconstruções antigas.

Alvenobra - Sociedade deConstruções, Ld.ªReabilitação, recuperação erenovação de construções antigas.

AMADOR, Ld.ªConservação , restauro e reabilitaçãodo património construído einstalações especiais.

Antero Santos & Santos, Ld.ªConservação e restauro do PA.Reabilitação, recuperação erenovação de CA. Instalaçõesespeciais em PAe CA.

Augusto de Oliveira Ferreira & Cª., Ld.ªConservação reabilitação deedifícios. Cantarias e alvenarias.Pinturas. Carpintarias.

GRUPO IProjecto,

fiscalização e consultoria

GRUPO IILevantamentos,

inspecções e ensaios

GRUPO IIIExecução

dos trabalhosEmpreiteiros

e Subempreiteiros

BEL – Engenharia e Reabilitação de Estruturas, S. A.Conservação e restauro do PA.Reabilitação, recuperação e renovação de CA. Instalaçõesespeciais em PA e CA.

MC Arquitectos, Ld.ªProjectos de arquitectura.Levantamentos, estudos ediagnóstico.

49-51 Associados.qxp 3/17/06 7:35 PM Page 49

ASSOCIADOS GECoRPA

Pedra & Cal n.º 29 Janeiro . Fevereiro . Março 200650

Somafre - Construções, Ld.ªConstrução, conservação ereabilitação de edifícios. Serralharias.Carpintarias. Pinturas.

Cruzeta – Escultura e Cantarias,Restauro, Ld.ªConservação e reabilitação deconstruções antigas. Limpeza erestauro de cantarias, alvenarias eestruturas.

COPC - Construção Civil, Ld.ªConstrução de edifícios.Conservação e reabilitação deconstruções antigas. Recuperação econsolidação estrutural.

Sociedade de Construções José Moreira, Ld.ªExecução de trabalhosespecializados na área do patrimónioconstruído e instalações especiais.

MELIOBRA - Construção Civil e Obras Públicas, Ld.ª Construção, conservação ereabilitação de edifícios.

GECOLIX – Gabinete de Estudos e Construções, Ld.ªConservação e restauro dopatrimónio arquitectónico.reabilitação, recuperação erenovação de construções antigas.Instalações especiais em patrimónioarquitectónico e construções antigas.

Construções Borges & Cantante, Ld.ªConstrução de edifícios.Conservação e reabilitação deconstruções antigas.

Tecnasol FGE – Fundações e Geotecnia, S. A.Fundações e Geotecnia. Conservaçãoe restauro do patrimónioarquitectónico. Conservação ereabilitação de construções antigas.

Na Esteira, Sociedade deurbanização e Construções, Ld.ªConservação e restauro do PA.Reabilitação, recuperação erenovação de CA. Instalaçõesespeciais em PAe CA.

Sofranda – Empresa de Construção Civil, S. A.Conservação e restauro do PA.Reabilitação, recuperação erenovação de CA. Instalaçõesespeciais em PAe CA.

CVF - Construtora de Vila Franca, Ld.ªConservação de rebocos e estuques.Consolidação estrutural.Carpintarias. Reparação decoberturas.

Listorres - Construção Civil e Obras Públicas, S.A.Construção e reabilitação deedifícios.

L.N. Ribeiro Construções, Ld.ªConstrução e reabilitação.Construção para venda.

MIU - Gabinete Técnico de Engenharia, Ld.ªConstrução, conservação ereabilitação de edifícios.Conservação e reabilitação depatrimónio arquitectónico.Conservação de rebocos e estuques epinturas.

Monumenta - Conservação e Restauro do PatrimónioArquitectónico, Ld.ªConservação e reabilitação deedifícios. Consolidação estrutural.Conservação de cantarias ealvenarias.

Poliobra - Construções Civis, Ld.ªConstrução e reabilitação deedifícios. Serralharias e pinturas.

Quinagre - Estudos e Construções, S. A.Construção de edifícios.Reabilitação. Consolidaçãoestrutural.

STAP - Reparação, Consolidação e Modificação de Estruturas, S. A.Reabilitação de estruturas de betão.Consolidação de fundações.Consolidação estrutural.

Brera - Sociedade de Construções e Representações, Ld.ªConstrução, conservaçãoreabilitação de edifícios.

49-51 Associados.qxp 3/17/06 7:37 PM Page 50

ASSOCIADOS GECoRPA

Tecnocrete – Materiais e Tecnologias de ReabilitaçãoEstrutural, Ld.ªProdução e comercialização de materiais para a reabilitação.

Tintas Robbialac, S. A.Produção e comercialização deprodutos de base inorgânica paraaplicações não estruturais.

BLEU LINE - Conservação eRestauro de Obras de Arte, Ld.ªMateriais para intervenções deconservação e restauro emconstruções antigas. Conservação de cantarias.

GRUPO IVFabrico e/oudistribuição de produtos e materiais

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ONDULINE – Materiais de Construção, S. A.Produção e comercialização demateriais para construção .

BLAU, Ld.ªDistribuição de produtos e materiaisvocacionados para o PatrimónioArquitectónico e ConstruçõesAntigas.

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Pedra & Cal n.º 29 Janeiro . Fevereiro . Março 2006

Em 2003, a “Pedra & Cal” dedicou o n.º 19 às estradas-património, com umainteressante entrevista do Prof. AntónioLamas que, enquanto Presidente do IEP,lançara, há alguns anos, a recuperaçãoda EN2 na travessia da Serra do Cal-deirão. Essa iniciativa, pioneira entrenós, chamou a atenção para a descober-ta do riquíssimo património constituídopelas estradas construídas na 1.ª metadedo século passado e que está a ser dela-pidado. Ao mesmo tempo, o legado queestas estradas deixaram, com as suas be-líssimas cortinas de arvoredo, está a serdesprezado com a desolação das rodo-vias construídas nas últimas décadas,nomeadamente as auto-estradas, ondenão se cuidam de coisas tão elementarescomo o coberto vegetal de descomunaistaludes.Duas publicações editadas pela antigaJAE no já longínquo ano de 1987, por ini-ciativa do arquitecto José Neves Galhozintegrando então a Divisão de Arquitec-

tura, mostram bem como a herança re-cebida tem sido menosprezada.A primeira, dedicada ao Ano Europeudo Ambiente, celebrado naquele ano,constitui um interessante repositório decitações e reflexões a chamar a atençãopara o tema, numa visão global e combelíssimas ilustrações, enquanto ao lon-go dos anos subsequentes, anúncios nosjornais publicados pelo IEPdão conta deconcursos para “abate/venda de árvo-res”, somando muitos milhares de víti-mas espalhadas pelo país. Pode dizer-seque se trata de abates para o indispensá-vel alargamento das estradas, pratica-dos só de um dos lados, o que infeliz-mente nem sempre é verdade. Ainda hápoucos anos percorri uma estrada noAlentejo com as cortinas de arvoredosarrasadas de ambos os lados.A outra publicação consiste na repro-dução fac-similada do Breve Tratado daConstrucção das Estradas, publicado em1790, da autoria de Jozé Diogo Masca-

renhas Neto. Trata-se de um conjuntode regras para serem aplicadas no traça-do, construção, conservação e admi-nistração das estradas – algumas dasquais baseadas na legislação de váriospaíses europeus – e que conservam, porvezes, uma surpreendente actualidade.Aí se fala, por exemplo, da necessidadede serem acompanhadas por árvores“com intervallo de trinta pés de huma à ou-tra… preferindo-se sempre as que do Verãocontém mais folha, e de Inverno se conservãosem ella”. Um tema como o das portagens (no livrodesignadas por “barreiras”) é tambémlargamente abordado neste Tratado. Pe-los debates que tem suscitado entre nós,vale a pena transcrever alguns trechos.“Neste Reino somente se podem estabeleceras barreiras nas estradas que vem das princi-paes terras da Província do Minho para aCorte, por conterem grande affluencia detransporte…Em todas as outras estradasdeste Reino he impraticável similhante sys-tema, por quanto seria necessario segundo oseu transporte, e viagem impôr uma contri-buição tão avultada, que affugentaria huma,eoutra cousa, tão interessantes à riqueza pu-blica, e à prompta communicação dos ho-mens, e dos negocios, em que muito se fundaa prosperidade social”.Conseguirá a evocação destas publi-cações chamar a atenção das entidadesresponsáveis para a importância de umadequado enquadramento paisagísticodas nossas estradas? E também para oaproveitamento turístico das antigasEN mediante a respectiva reabilitação,como foi feito na serra do Caldeirão? Naverdade, se a reabilitação está finalmen-te na ordem do dia, é altura para a prati-car em todas as suas dimensões.

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PERSPECTIVAS

NUNO TEOTÓNIO PEREIRA,Arquitecto

As antigas estradas nacionaisUma riqueza a preservar

– Um exemplo a retomar

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