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# 86 JUNHO ‘13 O BOLETIM DO QUE POR CÁ SE FAZ MENSAL / DISTRIBUIÇÃO GRATUITA O poeta é um fringidor. Fringe tão completamente Que chega a fringir que é dor A dor que deveras sente.

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Agenda Cultural Faialense Comunitário, não lucrativo e independente.

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#86 JUNHO ‘13 O BOLETIM DO QUE POR CÁ SE FAZMENSAL / DISTRIBUIÇÃO GRATUITA

O poeta é um fringidor.Fringe tão completamenteQue chega a fringir que é dorA dor que deveras sente.

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Fazendo Editorial

2.

#86

Editorial

Em Janeiro, Portugal ingressa na CEE, Comunidade Económica Euro-peia, actual União Europeia. É o fim do papel selado, tendo durado mais de trezentos anos. O primeiro-ministro sueco, Olof Palme, é assassinado aos cinquenta e nove anos à saída de uma sessão de cinema, na cidade de Esto-colmo. Na Ucrânia acontece o aciden-te nuclear de Chernobil que espalha radioactividade e contamina pessoas, animais e todo o meio ambiente envol-vente. O prémio Nobel da Paz é atribu-ído a Elie Wiesel, autor de mais de cin-quenta e sete obras sobre a memória do Holocausto. Em Fevereiro dá-se a maior tempesta-de do século XX nos Açores, ocorrida entre 14 e as 16 horas do dia 15.Nesse mesmo mês, a fragata francesa

“L Antreé” naufraga ao largo de Santo Amaro, Ilha do Pico. Franco Ceraolo, habitante da Ilha Graciosa, participa no filme “Ginger and Fred”, de Federi-co Fellini, e é premiado com o Nastro

Estava eu no ano passado em plena China, gastando o dinheiro que nun-ca tive, quando fui convidada pelos directores do Fazendo para tratar das contas do jornal.

“Que ironia”, pensei; “de que espécie de milagres estarão eles à espera?”Absolutamente nenhum que eu pu-desse fazer acontecer. Por isso paguei as dívidas e pus a hipótese de cobrar aos leitores, de modo a que o jornal

Nesta pequena ilustração, está repre-sentado o espírito do Azores Fringe Festival. Com origem na ilha do Pico, símbolo incontornável dos Açores, este festival reflete-se numa onda omnidirecional que se propaga infini-tamente, levando consigo uma ener-gia colorida, divertida e criativa pelo mundo. Cachalotes dançam e brincam, lembrando este espírito. Na sua es-sência, é como um ciclo sem fim capaz de se regenerar a ele próprio, onde o topo do céu é, simultaneamente, um denso mar e as ilhas à superfície são, ao mesmo tempo, o fundo do oceano.

d Argento para a melhor cenografia. A 25 de Agosto dá-se a inauguração oficial da Estação Radionaval das La-jes, Ilha das Flores. A RTP Açores exibe a série “Xailes Negros” baseada num romance de José de Almeida Pavão e adaptada para televisão por José Me-deiros e Emanuel Macedo. Nesse ano produzem-se dois discos emblemáti-cos da música açoriana: “O Barco e o Sonho” e “7 anos de Música”, com a pre-sença de músicos como José Medeiros, Paulo Andrade, Aníbal Raposo, Luís Gil Bettencourt e as vozes de Susana Co-elho, Piedade Rego Costa, José Ferrei-ra, Carlos Medeiros, Minela, Vera Quin-tanilha, Paulo Martinho e Luísa Alves. É daqui que emerge o segundo hino dos Açores: “Ilhas de Bruma”, escrito por Carlos Medeiros Ferreira. Carlos Alberto Moniz apresenta no Festival da Canção o tema “Canção para José da Lata”, com letra de Álamo de Oliveira.Na Grécia estreia o filme “O Apicultor” (O Melissokomos, 1986), do realizador

Rúben Quadros Ramos

DirecçãoAurora RibeiroTomás Melo

CapaRúben Quadros Ramos

Colaboradores Ana Lúcia Almeida André Laranjinha António Gracias Bianca Mendes Carlos Alberto MachadoCristina LouridoFernando Nunes Patrícia Carreiro Sandra SilveiraTerry CostaVictor Rui Dores

Layout DesignMauro Santos Pereirawww.comunicaratitude.pt

PaginaçãoTomás Melo

RevisãoCarla Dâmaso

Propriedade Associação Cultural Fazendo

Sede Rua Conselheiro Medeirosnº 19 — 9900 Horta

Periodicidade Mensal

Tiragem 500 exemplares

Impressão Gráfica O Telégrapho

As opiniões expressas nesta edição são dos autores e não necessariamente da direcção do Fazendo

Capa

T h e o A n g e -l o p o -l o u s , com o pa-pel principal entregue a Marcello Mas-troianni. Nas salas de cinema nacional estreia o filme “Balada da Praia dos Cães”, de José Fonseca e Costa, a partir do romance homónimo de José Cardo-so Pires, com Assumpta Serna e Raul Solnado nos principais papéis.É o ano do lançamento dos dois volu-mes de Música Moderna Portuguesa com nomes emergentes da cena musi-cal independente: Radar Kadhafi, Essa Entente, Linha Geral, Prece Oposto, Pop dell Arte entre outros.O coração de Alexandre O´Neill deixa de bater a 21 de Agosto e desaparece um dos maiores cultores da palavra escrita em português. FN

É estudante finalista de Novas Tecno-logias da Comunicação (Universidade de Aveiro) e multimedia freelancer. Tem produzido a imagem de inúmeros projetos da AJITER, tais como a “Aca-demia da Juventude 2011”, “Academia da Juventude 2012”, “Educa-te com a crise”, entre outros. É co-fundador da InvestMedia - Associação de Investi-gadores de Multimédia e Audiovisual

e destaca, em particular, o projeto pessoal TERCEIRA360º que valeu o 2º prémio no concurso de cartaz da IV J.R. de Animação Turística. Em 2013, foi um dos artistas açorianos seleciona-do pelo projeto DiscoverAzores e, atu-almente, tem trabalhado na criação e desenvolvimento da imagem do Azo-res Fringe Festival, primeiro Fringe em Portugal.

RQR

pudesse continuar a ter 12-16 páginas (em vez de uma página impressa de ambos os lados... ou de desaparecer para mais uma publicação do ciber-

-espaço).Mas a logística para taxar o jornal é complicada, e mesmo que cada um de vocês pagasse um euro por exemplar, isso não cobriria os custos de impres-são... então decidimos ter uma nova rúbrica: promover a economia local

enquanto se ajuda na manutenção da cultura dos Açores (no Faial, no Pico, na Terceira...)Por isso descansem, desfrutem de mais um Fazendo e... consu-mam produtos e servi-ços de empresas da região.

Ruth Bartenschlager

Page 3: Fazendo 86

Mais de 120 artistas confirmados. Mais de 80 eventos programados. Três localidades com grandes exposições de arte abertas durante os 12 dias do Festival.

.3#86 JUNHO ‘13

Fazendo Fringe

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Um programa de 40 páginas recheado do que há a oferecer entre o Pico, Faial, S. Miguel e ainda um veleiro que chegará de surpresa a vários portos de outras ilhas nos Açores. Estejam atentos na Net ao www.azoresfringe.com pois este é o primeiro fes-tival em Portugal na rede internacional dos “Fringe”. Bem-vindos/as ao Azores Fringe Festival.

Estamos a falar de arte: pintura, cartoons, ilustra-ções, esculturas, artesanato e performances de dança, teatro e música desde clássica a moderna passando por hip-hop e DJs. Também há workshops, palestras e horas de convívio programadas para incentivar comunicação, aprendizagem e trocas de experiências entre artistas locais e estrangeiros. Há algo para todos os gostos e estilos desde a hora do almoço até tarde da noite.

Welcome to Azores Fringe Festival

Arte e artistas da Nova Zelândia, Colômbia, EUA, Ca-nada, Inglaterra, França, Espanha e Portugal confir-maram presença nesta primeira edição do Festival. De Portugal temos arte e dança do continente, ins-talação fotográfica da Madeira e artistas de todas as ilhas dos Açores. Desde a ilha do Corvo com seu artesanato até a vídeo curtas de Santa Maria, ilus-tração da Graciosa a fotografia de São Jorge, escri-tores de São Miguel a artistas plásticos da Terceira, palestrante de arte das Flores a música do Faial e da ilha do Pico temos representantes de todas as áreas artísticas desde pintores a instrumentos de sopro. A meca do Festival é na vila da Madalena no Pico. A Escola Cardeal Costa Nunes vai apresentar a sessão final do Festival com trabalhos que engloba muitos alunos e várias áreas desde música a teatro; o dia de abertura consiste de apresentações surpresas

desde o Aeroporto do Pico ao Terminal Marítimo; a Escola Profissional do Pico vai alojar a exposição do Azores Fringe Festival aberta diariamente durante o Festival das 13h às 20h. A Casa da Montanha abre as portas a uma mostra de fotografia. Via Bar vai apre-sentar programação da noite com DJs e mais artistas. A Câmara da Madalena desde o Salão Nobre até ao Átrio, o Centro de Formação Artística e o Palco da Praça da Madalena apresentam a maioria da progra-mação. Eventos satélite acontecem aos fins-de-se-mana no Teatro Faialense no Faial e nas três cidades em S. Miguel assim como uma mostra de arte estará aberta na Academia das Artes dos Açores em Ponta Delgada. Mais surpresas serão adicionadas no www.azoresfringe.com. Venham desfrutar de uma hora, um dia, um fim-de-semana ou porque não tirar fé-rias e passar doze dias no Fringe? Esperamos por si…

Terry Costa

sexta21 junho 21:30

CONCERTOTeatro Faialense

Alexandra Boga (Pico)Emanuel Paquete Sonasfly (São Miguel)

Artistas açorianos e os seus instrumentos são destacados nesta noite ecléctica.

sábado22 junho 21:30

CONCERTOTeatro Faialense

João da Ilha (Terceira)

Dono de uma voz cálida e intimista, João da Ilha é um cantautor açorianoque neste momento sua música entra na no-vela Destinos Cruzados.

sexta28 junho 21:30

CONCERTOTeatro Faialense

Nancy Dutra (Toronto)

A música de Nancy Dutra é uma mistura de intensidade emocional como o Fado mas com a estética da música country norte-ameri-cana.

sábado29 junho 21:30PERFORMANCE

Teatro Faialense

Nervous Doll Dancing (Nova Zelândia)

Eidolon, uma história fantástica e assusta-dora contada através de violoncelo, com imagens cinemáticas, animação, marionetas e ilustração.

EXPOSIÇÃO AZORES FRINGEde 19 a 30 junho das 13h às 20h

Escola Profissional do Pico

Desde cartoons a ilustrações, fotografia a pintura, esculturas a artesanato e participação de mais de 20 artistas locais e estrangeiros.

22 e 29 de Junho das 15h às 20hPraça da Madalena

DJs e eventos para toda a família desde dança, caricaturas, pinturas corporais, moda e atelies para crianças.

De 19 a 30 de Junho vamos ter umaexplosão artística dos açores para o mundo.

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4.#86 JUNHO ‘13

Sabine GieshoffEstá patente até 5 de Julho, na sala de exposições da Biblioteca Pública e Arquivo Regional da Horta, uma exposição de pintura com o título genérico de

“Momento Faial”, da autoria da artista plástica Sabine Gieshoff, mulher discreta e reservada, professora alemã que, em licença sabática, vive há quase um ano na ilha do Faial.Entramos e deparamos com uma pluralidade temá-tica e uma diversidade cromática. Trata-se de uma exposição alegre, quiçá, divertida, de cores solares, uma pintura que viaja pela ilha do Faial e se projeta por outros territórios.Sabine Gieshoff demonstra capacidade de inovar em materiais e modos de expressão, apresentando

maneiras outras de visualizar. Por exemplo: alguns quadros estão dispostos no chão e o visitante é con-vidado a colocar-se em cima de uns banquinhos para uma visão “picada” dos mesmos.Exposições como esta são feitas para ver de per-to, quase como quem folheia, página a página, uma publicação. Isto faz com que a atenção ao pormenor seja especialmente relevante para o entendimento de cada quadro.Numa visão reinventada do real, a pintora capta uma alma longínqua, uma identidade do recôndito, uma aventura imanente do Faial. E partilha connosco uma visão luminosa (também irónica e crítica), de momentos vividos e de instantes suspensos do

Momento Faial - Exposição na Biblioteca PúblicaFazendo Pintura

quotidiano da ilha: o velhote sentado placidamente num banco; a rusticidade de vacas, cabras e cavalos; os banhistas na praia; a “Ninfa de Banho” (que tanto pode estar na Praia do Almoxarife como em Londres ou na Lua)... E podemos ver baleias, golfinhos e car-pas. E há a visão apetecível da montanha do Pico. E, aqui e ali, despontam figuras femininas, em poses pensativas e ensimesmadas… Tudo isto nos é dado através de um imaginário fi-gurativo, de uma encenação e de uma experiência criativa do olhar. Gostei e não dei o meu tempo por perdido.

Victor Rui Dores

Fazendo Design

Artesanato UrbanoProjecto ReTaLh0

“ Criamos detalhes únicoscom carinhoa pensar em si .”

Este projecto nasce de uma vontade criativa, que pretende oferecer aos Açores / Terceira: Design, ideias, objectos e acessórios únicos, inspirados na tradição e no Design, levando-nos para um patamar contemporâneo.O Projecto Retalho representa Designers, Criadores e Artesãos dos Açores e Continente.

Esta é a 4ª edição que o Projecto.Retalho realiza; dois showrooms no Natal e duas edições de Verão, a FADU - Feira de Artesanato e Design Urbano. Desta vez vamos ter uma colaboração mais próxima com as artesãs profissionais e ter alguns trabalhos expos-tos.A próxima etapa deste projecto é criar e desenvolver novas peças de Design com a técnicas artesanais locais , o designer e o artesão numa partilha de sa-beres. Até ao final do ano deve nascer uma plataforma virtual , com loja online. Queremos divulgar o arte-

sanato e o design feito nos Açores ,além fronteiras; também algumas participações de criadores Conti-nentais .

Vamos estar na sala de exposições da Delegação de Turismo em Angra, na rua direita 74, de 15 a 30 de Junho, das 15h à meia noite durante as Sanjoaninas.

António Gracias

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.5#86 JUNHO ‘13

Fazendo Cinema

Era uma vez na Ilha do Faial, na tal ilha onde nada nunca fez mal…Um americano chamado John Bass Da-bney ( 1º Cônsul da Embaixada Ameri-cana nos Açores) de origem do Estado de Virginia. Acompanhado pela família, gostou da Horta e lá ficou em 1804. Em 1812, constrói a sua primeira casa, a “Bagatelle”. Foram mandados vir mestres carpinteiros dos E.U.A exclu-sivamente para a construir.

Epá, a casa é brutal…é toda senhorial! Com três pisos, a vista a partir do ter-raço principal (onde o Johnny tomava o pequeno almoço), é espetacular. Observa-se a cidade da Horta toda e a majestosa Ilha do Pico. No terreno encontra-se (agora em estado degra-dado) a casa dos criados, a garagem, uma cisterna ligada à casa mestre, completando-se por um jardim (agora a selva da Amazónia) de três vastos terraços.A parte traseira da “Bagatelle”, des-truiu-se ao longo de vários anos, o motivo foi por simples negligência. Existiam entradas de água no tec-

to, que levou a queda deste mesmo, seguindo-se com a queda do terceiro andar…eventualmente o segundo e enfim a parte traseira toda ruiu. Esta parte Incluía a área dos criados, a sala de jantar, casas de banho e vários ou-tros quartos.A parte sul da casa, continua em pé, mas num estado muito mal conser-vado, basicamente, vê-se luz do dia através do chão que pisas… Nesta parte da casa, encontra-se um salão de baile (frequentado, entre outras grandes individualidades, pelo rei D.Pedro de Portugal), uma ampla e iluminada sala de entrada, uma biblio-teca privada (agora cheia com registos e livros dos últimos donos a habitar a casa, a família de Medeiros), uma en-trada senhorial/sensacional com uma ampla escada e varanda, a cave (ocupa metade da divisão total da casa e está cheia de coisas bonitas), no terceiro piso encontra-se uma cozinha, uma casa de banho, um quarto de arruma-ções, sete quartos de habitação, o só-tão (cheio de baús de viagem, baratas e pombos), a varanda principal do 3º

piso (quase que dava para ver a Amé-rica daí), e muito muito mais!A casa e jardim encontram-se num es-tado vergonhoso, muito mal preserva-do. Enfim, uma grande pena para o que a “Bagatelle” uma vez foi e serviu em tempos…

O nome da casa “Bagatelle” surgiu do facto de tão majestosa casa ser ape-nas uma bagatela (bagatelle)…Actualmente, é alvo de vândalos e

“exploradores nocturnos”. Os ditos vândalos são uma das principais ra-zões (o facto de haver uma grande ne-gligência da parte dos donos e de ter mais que 200 anos também influencia um pouco muito pequenino) para que a mansão se encontre no estado de-gradado em que está. Há uns anos atrás a casa incluindo terreno foi posta à venda. O primei-ro interessado andava com o sonho de tornar a “Bagatelle” num Hotel/Residencial. O Preço? 500.000€. O Preço de restauração? Pois, cerca de outros 500.00€. Basicamente, um investimento ridículo. O interessado

abandonou o seu sonho. O segundo interessado (um arquitecto) quis com-prá-la. Mesmo preço, só que desta vez, não incluía uma certa área do terreno localizada no fundo do jardim….Aban-donou o seu sonho. Enfim os proprie-tários afirmavam sempre que o valor oferecido era baixo e que preferiam esperar por uma oferta mais elevada, isto ao mesmo tempo que a casa se ia degradando e perdendo o valor de dia para dia. O Maestro Victorino d’Almeida, da pe-núltima vez que visitou a Horta, em Ja-neiro de 2007, depois de ter ido pesso-almente visitar a casa de família onde tinha chegado a passar férias, afirmou que “nos outros países há ruínas, em Portugal só há escombros!”, frase bem elucidativa da situação.A casa agora encontra-se num estado que restauração já não é um termo vá-lido. As oportunidades da “Bagatelle” voltar a ser utilizada/aproveitada/res-peitada faleceram. Está condenada a ruir pelo tempo.

Faial a Cair

Açores a Cair

Bagatelle a Cair

Açores a Cairhttp:// azoresacair . blogspot . pt

Um espaço digitalsobre espaços reaissem uso

No Arquipélago dos Açores

O que é AÇORES A CAIR?Eis um blog para amosar espaços que têm deixado de exercer a função para que foram pensados e construidos. No Aquipélago dos Açores.

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6.#86 JUNHO ‘13

Discover Azores - Descobrir Açores com artistas é um projeto desenvolvido pela associação Mirate-carts com sede no Pico. Centenas de artistas de todas as ilhas do arquipéla-go têm participado nesta campanha que teve inicio no verão de 2012. Finalmente este site está no ar e oferece mais de 100 páginas com artistas e mais de 300 links que ligam todas as ilhas através de arte e cultura.Desde artistas digitais a cinema, música e outras áreas de performance, literatura, artistas plásti-cos aos tradicionais que inclui o artesanato, o site discoverazores.eu oferece uma oportunidade de aprender sobre cada ilha através dos seus artistas.

Esta é uma plataforma única e das maiores bases de dados artísticas nos Açores. O site já foi visitado em computadores de mais de 80 países desde o seu lançamento oficial.

Já em 2013, o projeto Descobrir Açores também lan-çou um concurso para escritores e músicos assim como um programa de rádio que mensalmente apre-senta uma cornucópia de talentos e trabalhos rea-lizados por açorianos. O programa Rádio Descobrir Açores é produzido através da Rádio Pico mas tam-bém é apresentado na França através da Rádio Cul-tura Lusa e no Canadá através da Rádio Centre-Ville, assim chegando às comunidades mais directamente. Outras rádios também apresentam algumas das ru-

bricas e entrevistas nos seus programas regulares. Miratecarts continua a desenvolver oportunidades de apresentação e divulgação não só entre ilhas mas também internacionalmente. Quanto mais trabalho se faz, mais é necessário. Na região, um dos projetos já a serem elaborados é o Azores Fringe Festival, um festival de artes que faz parte de uma rede interna-cional de mais de 250 festivais, assim projectando as ilhas e os artistas de uma forma incomparável.

Passo a passo vamos dando a conhecer ao mundo estes nove ilhéus no centro do Atlântico. Através da nossa cultura, dos nossos artistas, conseguimos promover a região a um grande mercado que nem conhece a nossa existência. Mais investimento dire-to na promoção internacional dos nossos artistas é

necessário para garantir que os Açores não vão desaparecer num mundo de globalização.

Terry Costa

Fazendo Música

Uma viagem pode ser uma aventura. Principalmen-te quando os protagonistas são jovens. E sobretudo quando colocam o seu empenho e a sua competên-cia no objetivo da viagem. Foi o que aconteceu na recente viagem de alunos do ensino artístico (antigo Conservatório) da Esco-la Básica e Integrada António José de Ávila. Aurora Nunes, Cristóvão Ribeiro, Rosa Lopes e Clara Guarini, jovens entre os sete e os treze anos, saíram do Faial com o objetivo de representar a sua Escola nos con-cursos de música que decorreram no Conservatório Nacional de Lisboa e no Conservatório de Música de Fátima e Ourém no passado dia 27 de abril.A viagem, que devia ter sido direta e a tempo de cumprir as horas de descanso necessárias ao bom desempenho dos “artistas”, acabou por ter uma paragem técnica na Terceira, devido a avaria do avião da TAP e a hora de chegada a Lisboa à 01:00 da madrugada de sábado e não às 13:00 de sexta

conforme planeado. Mas a boa disposição do grupo, constituído também por dois professores e três pais, ou seja, nove pessoas de duas gerações venceu os contratempos e reforçou a motivação.Sim, porque o cansaço e o menor tempo de ensaio poderiam ter causado estragos na prestação das provas. Mas pelo contrário, convergiram numa ima-gem de trabalho e de disciplina exemplares aliada à organização da professora Ludmila e do professor Marcelo. Não se pode esquecer a importância do papel dos pais na conquista dos objetivos propostos, dado que a educação é uma tarefa tripartida entre pais, pro-fessores e alunos(as). Neste caso uma tarefa com esta etapa bem sucedida uma vez que as alunas Au-rora Nunes e Clara Guarini arrecadaram o 1º prémio nas suas categorias no concurso do Conservatório de Música de Fátima e Ourém, a aluna Rosa Lopes trouxe o 3º prémio na sua categoria do Conservató-

rio Nacional de Lisboa e o aluno Cristóvão Ribeiro um certificado de participação.Todos ganharam e, embora seja lugar-comum esta afirmação, a verdade é que todos tiveram razões para se orgulharem da prestação que vincou o nome do Faial nos Conservatórios e que deu aos alunos a confiança resultante do seu sucesso e a certeza de que estamos, sempre que nos propusermos estar, entre os melhores.A Escola ganhou também consideração por incenti-var a participação nestes eventos e por possibilitar a evolução das nossas crianças e da nossa realidade colocando-a a par de outras diferentes.Com alegria, felicitamos os(as) participantes e for-mulamos votos para que continuem a investir no vosso e nosso desenvolvimento.

Sandra Silveira

O Talento de Jovens Faialenses

está no ar www .discoverazores.eu

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#86 JUNHO ‘13

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Ainda não se estudou a fundoa presença da cultura árabe nos Açores

Fazendo Músicawww.vimeo.com/64414314Sol Baixo

Sabemos que árabes provenientes do norte de África (os “mouros”, os “berberes”) vieram parar aos Açores aquando do povoamento. Tudo leva a crer que eles não seriam muitos, mas em número sufi-ciente para nos deixarem influências a vários níveis. Na música, por exemplo: as alvoradas, cantadas de forma arrastada e monótona pelos foliões, denotam nítidas influências hispano-árabes ou mouriscas. Mas há mais. No Romanceiro dos Açores, recolhido por Teófilo Braga, temos os Romances Mouriscos, sendo que dois deles, o “Romance do Mouro atraiço-ado” e “O cativo de Argel”, chegaram até aos nossos dias por via da oralidade. E também influências na fraseologia popular (“trabalhar como um mouro”;

“há mouro na costa”, por exemplo), na arquitetura rural (as chaminés da ilha de Santa Maria, de nítida influência algarvia) e na toponímia: existe na Acha-dinha, ilha de S. Miguel, um sítio chamado Cova da Moura e, nos Fenais da Ajuda, há um lugar chamado Arrifana. Na ilha Terceira existem a Ribeira do Mouro e a Canada do Mouro. E, no Cancioneiro dos Açores, para além das referi-das alvoradas, a influência árabe está, pelo menos, em duas cantigas. Sobre uma já aqui escrevi – “A Bela Aurora”, que começa por ter algumas afinidades marroquinas, mas ao longo do tempo foi perdendo esse caráter e hoje, pela índole musical em que se enquadra, poderemos considerar uma canção dos

Açores. A outra é o “Sol Baixo”, tradicional da ilha de Santa Maria:

“Sol baixo, sol baixinhoSol baixinho, também queima E eu hei-de amá-lo baixinhoSó p ra seguir uma teima” (…)

“Sol Baixo” é uma bela e extraordinária canção que passou ao lado de muitos dos nossos musicólogos que nem a registaram. Devemos ao malogrado ma-riense Mário Mareante a grande divulgação desta cantiga dentro e fora dos Açores.

VictorRui Dores

A Melhor Imagem do Azores FringeConcurso FotográficoDe 19 a 30 de Junho 2013, vamos apre-sentar mais de 80 eventos no Azores Fringe Festival, que inclui progra-mação fixa nas ilhas do Pico, Faial, S. Miguel e ainda o veleiro itinerante El Chapron que chegará a vários portos dos Açores.Queremos a vossa participação, sejam amadores ou profissionais. O concurso é aberto a todos os cidadãos portu-gueses e a todos os cidadãos estran-geiros residentes dos Açores.

Fotografe um ou mais eventos do Fes-tival (sem perturbar os artistas parti-cipantes, claro)...Coloque as suas fotos num álbum onli-ne, por exemplo no facebook, com o tí-tulo: AZORES FRINGE FESTIVAL 2013.

Antes de 10 de julho 2013, escolha no máximo 3 imagens preferidas e man-de para o email [email protected], com seu nome, telefone, local de re-sidência e link para o álbum com todas as suas fotos do Festival.

O público escolherá as 10 imagens finalistas, via Internet/facebook, du-rante o verão de 2013. As 10 finalistas serão convertidas em autocolantes, que preencherão o corpo da mascote Atlante (veja exemplos na foto).Um júri internacional escolherá a ima-gem vencedora (em setembro 2013)@ artista da imagem vencedora rece-be uma viagem ao Canadá para apre-sentar o seu trabalho (cidade e datas por determinar); assim como o espaço para exibir o seu trabalho no Azores Fringe Festival 2014.

VAMOS AO FRINGE...www.azoresfringe.comPara mais informações, por favor con-tate-nos através do [email protected], com o assunto: Concurso Foto-gráfico.

Fazendo Fotografia

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Um Filme em Fase de Montagem

8.#86 JUNHO ‘13

Ponto de Partida Um Filme em Fase de Montagem

Um Filme Sobre o Pão

A produção de um filme (documentá-rio) sobre o pão na ilha de São Miguel é uma iniciativa do Museu Carlos Macha-do, cujo principal objectivo é fazer um levantamento das diferentes formas de produção de pão, assim como da sua importância na sociedade micae-lense contemporânea.Desde os primórdios do povoamento da ilha que o pão é um alimento central na alimentação dos seus habitantes.O pão é um alimento imprescindível, rico e nutritivo, mas também símbolo importante numa sociedade de raiz católica, como é a sociedade micae-lense.Assim, os cereais, em particular o trigo, estão entre as primeiras culturas ex-perimentadas pelos novos habitantes da ilha. A permanência destes povoa-dores num território até então virgem, dependia em grande parte do sucesso da cultura do trigo.As primeiras plantações tiveram um resultado surpreendente: o trigo cres-ceu de tal forma que o seu caule tinha o aspecto e a robustez de uma cana,

que por sua vez dava sementes de-formadas e demasiado grandes para delas se poder fazer farinha.Terra fértil, de onde, depois de alguns anos de trabalho e cultivo, se viria a colher bom trigo e em abundância.A partir do último quartel do século XV, os Açores, com particular desta-que para a ilha de São Miguel, surgem como o celeiro oficial de provimento do reino, das praças de África, da Ma-deira, entre outras, mantendo este estatuto até meados do século XVII.São Miguel já foi produtora de trigo em quantidade suficiente para consumo interno, assim como para a exporta-ção.Chegados ao século XXI, dá-se exac-tamente o inverso: São Miguel não produz cereais suficientes para con-sumo interno (no caso do trigo a pro-dução é inexistente), encontrando-se numa situação de total dependência do exterior.Podemos viver numa ilha sem produ-zirmos o nosso próprio sustento?

O filme ainda não existe, está a ser montado. Por isso mesmo prefiro não escrever sobre o filme, mas antes nar-rar algumas cenas filmadas e anotar algumas impressões das filmagens.Neste momento, o filme está todo partido em sequências diferentes e a sua estrutura final ainda não está de-finida. É assim que o apresento neste texto.

“Ordinariamente, qualquer ilha nova em seus princípios depois de achada, parece um paraíso terreal e é fértil em tudo, quando d’antes de povoada se deitam n’ela as sementes das cousas necessárias à vida humana e lhe dão espaço em que se criem e cresçam e possam multiplicar para uso e manti-mento dos povoadores vindouros.”Gaspar Frutuoso, Saudades da Terra

Acabo de vir da lagoa do fogo. Que-ria filmar a ilha lá de cima, de onde se consegue ver o mar dos dois lados, se apontarmos para oeste. Para leste, está a cratera da lagoa que é uma boa imagem de uma ilha virgem: o “paraíso terreal”.Cá em cima fica-se muitas vezes den-tro das nuvens, que cobrem e des-cobrem a paisagem à velocidade do vento.O sol mostra-nos as cidades, lá em bai-xo. O silo da Moaçor destaca-se, ilumi-nado. A imagem de uma ilha habitada.

Um navio chega à ilha e ancora em frente da Calheta, em Ponta Delgada. Terá que esperar alguns dias para en-trar na doca porque os trabalhadores estão em greve geral, aqui e em todos os portos do país.O navio vem de França e traz trigo

para São Miguel.

Na Calheta há um edifício grande, branco, onde opera a moagem indus-trial da Moaçor.Vistos de cima, o navio, a doca e a mo-agem, formam um pequeno triângulo à entrada da cidade.Um dia, ao nascer do sol, a greve ter-minada, o navio entra finalmente na doca para descarregar o trigo.Gruas, pinças e funis gigantes, cami-ões e tapetes rolantes sem fim, ope-rados por homens-computador, trans-portam o trigo para os celeiros, onde é armazenado. Um tractor vermelho e mais alguns botões e alavancas levam finalmente o trigo para a moagem in-dustrial.Lá dentro, o chão de madeira treme com as máquinas todas a funcionar e é preciso usar tampões nos ouvidos por causa do barulho.O trigo passa de máquina para má-quina por dentro de tubos coloridos e raramente o vemos. É possível ouvi-lo a passar no interior metálico com uma nitidez surpreendente encostando a

cara aos tubos; por contacto.São quatro andares de

máquinas e alguns

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Um Filme em Fase de Montagem

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#86 JUNHO ‘13

Fazendo Cinema

Um Filme em Fase de Montagem

trabalhadores a fazer e a embalar fa-rinha.Quase de noite, depois de passar algu-mas horas dentro da moagem indus-trial, soube muito bem sair dali, tirar os tampões e estar em cima do mar.Estava uma lancha que nunca tinha visto, ancorada ali em frente.O céu carregado acabou por desabar à noite, com chuva forte e trovoada.

Para norte-nordeste da lagoa do fogo estão as Lombadas, onde nasce a Ri-beira Grande - não a cidade, mas a pró-pria ribeira.Filmei lá uma parte do ciclo da água. A água do ponto de vista do “paraíso ter-real (…) fértil em tudo” e também como fonte de energia para fazer operar os moinhos da cidade da Ribeira Grande.A ribeira é desviada para uma levada que canaliza a água, fazendo-a passar pelos moinhos com a pressão sufi-ciente para os pôr a funcionar.Já cá em baixo, na cidade, Carlos é o úl-timo moleiro a fazer farinha num moi-nho de água, na Ribeira Gran-de. Parece que há mais um moleiro perto

da praia, mas raramente põe o moinho a funcionar, se é que ainda o faz.O chão de pedra não treme e o barulho das pedras é tolerável. Aliás, é através do som das pedras que moem o cereal, que o Carlos determina a grossura da farinha que sai. Quanto mais barulho, maior é a velocidade da pedra e mais fina sai a farinha.Apesar de auxiliado por uma ou duas máquinas eléctricas, Carlos opera manualmente duas pedras ao mes-mo tempo encadeando uma série de operações com uma energia impres-sionante! Não parece haver outra forma de fazer farinha ali; a partir do momento em que as pedras começam a moer, não há tempo a perder.Na Moaçor são necessários quatro an-dares de máquinas para fazer farinha, enquanto que aqui, todo o engenho cabe num plano fixo, aberto. Tecnolo-gia extraordinária!Aqui só se faz farinha de milho, todo ele importado da Europa e dos Esta-dos Unidos da América.

Não é economicamente viável semear milho e muito menos trigo, aqui na ilha. Segundo as contas do Carlos, sai mais barato comprar o cereal que vem de fora. “É para esquecer!”, remata.A levada da água também já não é mantida como dantes e vai-se degra-dando aos poucos.A farinha varrida do chão, no fim da manhã, era dada aos porcos que se criavam em casa. Hoje criam-se menos animais em casa e a farinha é atirada para a ribeira.Carlos varre o chão enquanto murmu-ra “plástico e mais plástico… dantes não havia nada disso.”

“N’esta ilha, tendo os homens, ou cada um deles, três ou quatro moios de ter-ra, só um semeava, ficando os outros sem semear; mas aquele só semeado lhe dava tanto trigo, que lhe sobejava e se enfadava.”Gaspar Frutuoso, Saudades da Terra

Conceição usa a farinha de milho do Carlos para tender os seus pães de trigo. São vizinhos na Ribeira Grande.Conceição tinha uma padaria aberta ao público, que acabou por fechar por não se enquadrar nas novas leis de hi-giene alimentar.Teria sido necessário um grande in-vestimento para poder continuar a vender pão.Agora, coze o seu pão em casa para a família e amigos, que contribuem à medida da sua disponibilidade.Começa a fazer a massa às duas e meia da manhã para tirar a primeira fornada às seis e meia. Todo o proces-so é manual e o pão é cozido num for-no aquecido a lenha.

Um relógio de parede marca o ritmo lento e rigoroso de fazer o pão. Os tempos das várias etapas do processo são exactos, como é o ritmo e os ges-tos de amassar e tender.Enquanto a massa leveda, falamos sobre a reprodução da Última Ceia que está pendurada na parede, e sobre a morte.Falámos muito pouco. Tentei, na me-dida do possível, não interferir com a solidão de Conceição.Bebemos café, comemos pão com queijo e o dia começa.

Com a primeira luz, a paisagem come-ça a desenhar-se nas janelas viradas a nascente. A esta hora foram já co-zidas algumas centenas de pães nos fornos metálicos da padaria da Anto-nieta, na vila das Capelas. O percurso de Antonieta tem pontos em comum com o de Conceição mas, ao contrário desta, Antonieta investiu.A sua padaria emprega vários traba-lhadores, na maioria mulheres, que cozem pão de trigo, de milho, de mis-tura, massa sovada, biscoitos, etc., que se encontram à venda em super-

-mercados e mercearias, por toda a ilha.Aqui, como em casa de Conceição, também os tempos de amassar, leve-dar, tender e cozer o pão são exactos, com a diferença de que tudo é feito em simultâneo e com a ajuda de algu-mas máquinas.Uma das padeiras canta alegres har-monias pop, sobre o ritmo repetitivo do trabalho.

André Laranjinha

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Um destes dias, na estação dos CTT das Lajes do Pico, um senhor, que daqui a pouco mais de um mês fará 87 anos, segundo proclamou, dizia-se orgulho-so do «seu tempo que é que era», enquanto uma senhora, uns trinta anos mais nova, acenava que sim senhora com a cabeça, «agora passam-se coi-sas aí pelos caminhos que se fossem no meu tempo apertavam-lhe mas era os gargalos!», e a senhora que sim senhora, e o filho adolescente da senhora que também pois era assim mesmo, «olhe que no outro dia até me disseram que eu só com a 4ª classe sei mais de contas do que estes malandros que ago-ra têm o liceu todo ele agora é tudo computadores», e a senhora que sim senhora é assim mesmo tal e qual. Atrás de mim, o André segredou-me que na-quele tempo do senhor de 87 anos se sabia à brava de informática. E eu calado, à procura do meu tempo.

A cinquenta metros da minha casa a vila continua a crescer em cimento armado e asfalto, caminhos bordejados por envergonhadas tiras de relva e au-tomóveis estacionados, depois de dizimadas as ár-vores antigas. Dizem que é o progresso, o desenvol-vimento.

Na Feira do Livro de Lisboa dois impérios do gosto: a Leya e a Porto Editora. Passamos por túneis, com seguranças e caixas registadoras à espera de en-golir o nosso dinheiro, gasto em saldos cegos. Es-tonteamos. Do outro lado da alameda do Parque, os resistentes alfarrabistas e editores independentes. Respiramos.

Gargalos

Herança

Clubes

MonstroImpérios

Fazendo Literatura

Na Fundação José Saramago, pomposamente ins-talada na Casa dos Bicos, em Lisboa, lançamento de um livro. Cheguei uns minutos atrasado mas uma menina simpática conseguiu parquear-me num can-to escuro – esqueci-me de lhe dar a gorja. Já antes de entrar, ouvira risos largos da assistência, numerosa. Na mesa do evento, o apresentador e o autor, lade-ando uma executiva literária-loura-falsa, contavam piadolas e anedotas “com barbas”. Risos, muitos. Perguntei ao vizinho quem organizava a rambóia e ele começou «clube de…», mas não terminou, su-focado por uma estrondosa e profunda gargalhada, provocada por um dito espirituoso do autor. Fiquem sem saber que literatura era aquela, se o era, e quem organizava o gracejo.

O Almirante, Serra da Estrela com 11 anos, o nosso querido monstro, morreu. Estávamos em Lisboa quando ele se foi, por isso a tristeza foi maior. Ficá-mos menos tudo.

Carlos Alberto Machado

Sinais da Ilhae de Mim

Plataforma de Escrita Nova Açoriana

A PENA no Azores Fringe Festival

A Plataforma de Escrita Nova Açoriana é constituída por um grupo de escritores e amantes das letras que têm um objectivo em comum: levar a escrita e os au-tores açorianos mais longe.Foi, portanto, neste sentido que aquele projecto resolveu integrar as actividades do Azores Fringe Festival, organizado pela MiratecArts, que decorre na ilha do Pico, Faial e na de São Miguel de 19 a 29 de Junho de 2013. Assim sendo, teremos no Pico dois elementos da PENA nas actividades do Pico. Pedro Paulo Câmara, professor e escritor, irá apresentar o seu novo livro de poesia, de nome “Saliências”. O livro tem a chancela da Pastelaria Studios Editora. O outro membro que nos vai representar na ilha mon-tanha é a Carolina Cordeiro, escritora e também pro-fessora. Esta jovem micaelense irá falar do seu pri-

meiro livro, também de poesia, intitulado “Invictas Brotassem”. Além disso, irá representar o projecto EscreVIVER (n) os Açores, realizando vários ateliês de escrita criativa.Por terras micaelenses as actividades vão percorrer três dos concelhos da ilha no Sábado, dia 22 de Ju-nho de 2013. Em Ponta Delgada poderemos contar com workshops de escrita e de poesia. Na Ribeira Grande as crianças terão um momento para serem pequenos grandes escritores e o humor e a ficção irão sentar-se à mesa numa conversa aberta para todos os interessados. Já o concelho da Lagoa irá acolher uma hora do conto. Para finalizar as activida-des, decorrerá uma tertúlia com todos os membros da PENA, em Ponta Delgada, na qual poderemos contar com a nossa tradicional Viola da Terra. Além

de tudo isso, durante o tempo em que decorrerá o Azores Fringe Festival, os micaelenses poderão vi-sitar uma exposição de variadas artes na cidade de Ponta Delgada. Teremos desde pintura a fotografia, a ilustrações, etc.Por motivos alheios à organização, as actividades agendadas para Ponta Delgada decorrerão no Ate-neu Criativo, em Ponta Delgada, e não na Academia das Artes dos Açores, também em Ponta Delgada, como anteriormente estava previsto.Este será um evento dedicado à arte pela arte, que pretende unicamente levar a arte (seja ela qual for) mais longe.

Patrícia Carreiro

Fazendo Fringe

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Montra de LerOnésimo Teotónio Pereira

Quando os Bobos UivamEdição: Clube do Autor, 2013 (200 pá-ginas)

Dois anos depois de publicar a an-tologia Onésimo – Português Sem Filtro, Onésimo T. Almeida volta a pu-blicar, pela mesma editora, desta vez Quando os Bobos Uivam. «Fogo, es-pionagem e outros mistérios q.b. são alguns dos ingredientes do novo livro do grande contador de estórias que é Onésimo Teotónio Almeida. E também há presidentes e ex-presidentes da República, poetas, escritores e pen-sadores, tudo entretecido em conver-sas com textos clássicos e reflexões oportunas. Quando os Bobos Uivam compõe-se de quatro estórias mirabo-lantes de realismo magicamente real a demonstrar que a arte, muitas vezes, não vai além da imagem pálida que a vida é capaz de inventar.» (da editora)

Roberto de Mesquita

Almas Cativas e poemasdispersosPrólogo e organização de Carlos Bes-sa. Edição: Câmara Municipal das Lajes do Pico, colecção Biblioteca Açoriana (direcção de Urbano Bettencourt e Carlos Alberto Machado), 2007 (200 páginas)

Roberto de Mesquita nasceu a 19 de Junho de 1871, na ilha das Flores, lugar onde viveu quase ininterruptamente. Os Açores foram a sua pátria: fez estu-dos na Terceira e no Faial e trabalhou alguns anos no Pico e no Corvo, na condição de funcionário da Fazenda Pública. Do arquipélago apenas saiu uma vez, em 1904, tendo-se deslo-cado a algumas cidades de Portugal continental. Casou, mas não teve fi-lhos. Levou uma vida de isolamento, temperada pela leitura, pela música (foi primeiro-clarinete na Filarmónica União Musical Florentina), pelos afa-zeres do emprego. Morreu no dia 31 de Dezembro de 1923, a recitar versos de simbolistas franceses e de poetas lusos.Em vida, não publicou senão meia dú-zia de poemas em jornais e revistas. O livro, Almas Cativas, seria editado oito anos depois da sua morte, em 1931. Uma edição modesta, de tiragem re-duzida que parecia votada ao silêncio, não fora Vitorino Nemésio ter encon-trado aí «uma tristeza emotiva, quasi climatérica, que aflora uma alma en-torpecida pela humidade dos Açores». A segunda edição, revista e aumenta-da, sairia várias décadas depois, em 1973.Roberto de Mesquita, como Cesário Verde e Camilo Pessanha tudo viveu interiormente. Como eles e António Nobre, foi autor de um livro só.(Carlos Bessa, da edição)

Manuel Tomás

PicolândiaEdição: Companhia das Ilhas, 2012 (48 páginas)

Os textos de Picolândia foram retira-dos de uma rubrica intitulada de Últi-ma Coluna, publicada, precisamente, na última coluna da última página do semanário Ilha Maior (entre 2005 e 2011). O título do livro foi repescado de uma outra rubrica, há muitos anos, mantida em O Telégrafo. «Há muito e há muitos que discutem a opor-tunidade de se publicar um livro de crónicas, porque podem elas perder actualidade. Aceito, mas julgo que, em livro, elas assumem um novo sentido e podem fazer lembrar um momento, um acontecimento, uma ideia do que é viável ou do que é inviável e, em qual-quer caso, com alguma ironia e riso à mistura ajudar à escolha ou rejeição entre a razão e a tolice, como diria Eça de Queirós.» (Manuel Tomás, nota de abertura).

Carlos Alberto Machado

Hipopótamos emDelagoa Baycom fotografias de Jorge Aguiar Oli-veira. Edição: abysmo, 2013 (292 pá-ginas)

«Hipopótamos em Delagoa Bay é um tratado de cobardia sem mestre. Um ajuste de contas com a traição. Um in-ventário de escombros. Um elucidário de sonhos. Um jogo de memórias. Um ordálio. Uma expiação. Política. Cor-pos. Paixão. Linguagem.No século XVIII, em Moçambique, a coroa austríaca instaura uma feitoria em Delagoa Bay – o nome inglês para a baía de Lourenço Marques, ou do Espírito Santo. Um século e meio de-pois, uma família alentejana, que teve nessa feitoria um antepassado, tra-ficante de marfim, chega a Lourenço Marques, na altura em que Portugal começava a construir um país, outro país. Hermínio Quaresma, o último re-presentante dessa família, chega até aos nossos dias atravessando a revo-lução portuguesa e a independência moçambicana. Uma peregrinação pessoal que atravessa tempos e luga-res, os das revoluções, dos encontros e desencontros amorosos. A fazer e a desfazer estórias e a História.Hipopótamos em Delagoa Bay é ro-mance de tudo isto. Sempre atraves-sado por uma dúvida: «houve aqui al-guém que se enganou»?» (da editora)Carlos Alberto Machado nasceu em Lisboa em 1954 e está radicado nas Lajes, ilha do Pico, desde 2005.

Companhia das Ilhas

Fazendo Literatura

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Há no meio do mar uma terra sagrada

Fazendo Terceirenses

‘Há no meio do mar uma terra sagra-da’, disse Virgílio. Motivos tenho eu para crer que há muitas. O mar divini-fica seus torrões. Mostra disso é que qualquer ilha é um pedaço de corpo de sereia à mostra. Metade da face, um seio, um nariz, uma cauda. Nós, que habitamos as ilhas, lhes confe-rimos pele, olhos e nervos. Conferi-mos aquela capacidade de adivinhar

odores e cócegas, e um jeito próprio de se fortalecer com o vento. Não sei precisar se o Arquipélago dos Açores é ele todo formado por partes do corpo de uma mesma sereia, ou se é um car-dume delas, se por cardume se puder tratar. Como também não sei dizer que parte do corpo cada uma das nossas ilhas expõe. Mas por viver na Terceira há meia década, e por sentir a forma

como esta ilha se comprime em beijo e se abre em riso, não temo em afirmar que estamos na boca. Quando cheguei aqui era uma estrangeira, verde-e-

-amarela, como tantas outras pessoas que aqui vieram ter. Dispus-me a an-dar léguas pelos carnudos lábios ver-des até encontrar a caverna de uma boca muito aberta. Desci pelos dentes do Algar do Carvão, um a um, e senti

pingar em mim sua saliva. Estava en-tão na Garganta da Terra. Fui digerida. Digeriu-se-me a nacionalidade, o tro-picalismo, tornei-me esta mistura de samba e chamarrita. Quando a sereia me regurgitou à superfície, já eu era dos Açores. Sofrera o nascimento de um segundo parto. E digo mais, desta terra sagrada eu não parto jamais.

Bianca Mendes

Peca-se no MAH!Cativante, insidiosa, a beleza instala-se, domina, compele e redime. Como as mulheres. Não talvez como todas as mulheres, mas certamente como Sophia de Mello Breyner, decididamente como Carly Swenson. Belas mulheres, poeta e artista, irmanam-

-se também pela sua Poética caraterizada por uma comum rendição ante o real, por um mesmo compro-metimento com o social.

“Aquele que vê o espantoso esplendor do mundo é lo-gicamente levado a ver o espantoso sofrimento do mundo. “ — diz Sophia e se Sophia dispensa que se diga mais de si, sobre Carly Swenson apetece dizer umas quantas coisas mais.Natural do Havre, Montana, casada com um militar americano estacionado na Base da Lajes, esta jo-vem americana residente na Terceira tem também a capacidade de se comover face ao esplendor do mundo e de igualmente se indignar face ao mal que nele grassa.Sete Pecados Sociais: Seven Social Sins, exposição patente desde 23 de fevereiro e até 9 de junho, na Sala Dacosta do Museu de Angra do Heroísmo, in-corpora 7x3 telas da sua autoria, inspiradas nos sete pecados capitais que Gandhi responsabilizou pelas desgraças sociais: Prazer sem Consciência, Política sem Princípios, Riqueza sem Trabalho, Conhecimen-to sem Sabedoria, Comércio sem Moralidade, Adora-

ção sem Sacrifício e Ciência sem Humanidade.Dramaticamente belas ou chocantemente perver-sas, as obras de Carly Swenson são intrigantes e subtilmente provocatórias. Perspetivadas como exercícios de crítica, combinam ícones clássicos, imagens conceptuais e objetos de uso comum, de forma a promover uma tomada de consciência de persistentes fatores de injustiça no mundo contem-porâneo.A pluralidade de técnicas e a multiplicidade de ma-teriais associam-se à exuberância cromática e à in-terseção de texturas para as tornar imediatamente apelativas. Forçam o olhar e desconcertam pela for-ma como literalmente acumulam referências, cons-truindo-se à maneira de palimpsestos que cruzam o intimismo surrealista com a estridência berrante da pop art.A primeira impressão é de caos. Contudo, quando os imperativos da lógica cedem à dimensão alegórica, o absurdo estala face à dilatação dos significados sub-jacentes à teia intricada de imagens.Num dos quadros mais belos, que tematiza a des-virtuação do conhecimento, andorinhas esvoaçam para fora de um livro aberto, numa aparente revo-ada primaveril que polvilha de florzinhas amarelas o mapa mundi. Mas estão amarradas as andorinhas. Fios negros tarjam-lhe os corpos e coartam-lhes o

Sete Pecados Sociais - Carly SwensonFazendo Artes Plásticas

Comércio sem Moralidade II, 2010

voo e, mais que aberto, o livro está esgarçado, es-ventrado de páginas. Resta apenas a lombada carim-bada: “state book”. Na base do quadro, outros tantos livros, “Boys Books”,”What a Girl can Make and Do”:

“malhas que o império tece“ aos “menino(s) de sua mãe”.Uma outra tela, uma daquelas em que a mensagem é mais direta, aborda a Política sem Princípios: bo-necos de plástico lívidos perfilham-se lado a lado, amortalhados sob uma bandeira americana cruzada de pensos rápidos. Noutra ainda, fósforos queima-dos escadeiam harmonicamente azul celeste acima e há pássaros, mulheres elegantes e Alices. Mas os pássaros ostentam letreiros “sold” e todas as ma-ravilhas sucumbem face à dominância dos relógios alados que escaveira rostos e mantém dobradas as costas da ceifeira de Courbet: “Comércio sem Mora-lidade”.Esta é pois arte do “tempo dividido”, da “selva mais obscura” “da noite densa/pesada de chacais/ Pe-sada de amargura” “em que os homens renunciam”. Mas esta é também uma arte luminosa. Como o pecado, atrai e repele… Como a beleza, humaniza, comove, incita. Vale, pois, a pena visitar o Museu de Angra do Heroísmo e apreciar o quão bem se peca na Sala Dacosta.

Ana Lúcia Almeida

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O Fringe é único! Sei-o bem porque tive a oportuni-dade de participar no Edinburgh Festival Fringe em 2006, como membro de uma equipa técnica de uma companhia de teatro lisboeta, e foi uma experiên-cia maravilhosa com a possibilidade não só de fazer parte dos bastidores de um dos maiores festivais de artes no mundo, como também de assistir a alguns dos espectáculos mais interessantes e mágicos da minha vida, na mítica cidade que deu origem ao conceito Fringe! E sendo o Fringe, mágico, excepcio-nal, e um verdadeiro “mar” aberto a todas as artes, alcançando o mais possível todas as “margens”, não teria melhor lugar para acontecer do que nos Açores

- Ilhas cheias de magia e carregadas de arte, que por vezes também é deixada na “margem”, ou por outras palavras na “franja” de uma suposta arte “maior”. Que venha o Azores Fringe Festival!

FringePorquê participar?

Carolina Cordeiro escritora

Sonasflymúsica

João da Ilhamúsico

Pedro Paulo Câmaraescritor

Mara Bettencourt música escritora

Comendador.Manuel Azevedo

Duarte Neves 16anos

Ter a oportunidade de participar no Azores Fringe Festival é algo muito enriquecedor, não só a nível artístico como também cultural. É um Festival dinâ-mico, eclético e único!Artistas locais como também internacionais viajam para mostrarem os seus belos talentos e socializa-rem com artistas de várias áreas. Uma das grandes vantagens do Azores Fringe Festival é a de poder co-nhecer o paradisíaco arquipélago dos Açores, o que é uma experiencia encantadora.Apesar de actualmente residir nos E.U.A, tenho imenso orgulho em ser Açoriana e de poder parti-cipar num festival que abrirá portas ao desenvolvi-mento artístico Açoriano. Este ano vou actuar a solo, mas para o ano vou incentivar todos os membros da minha banda e outros artistas com quem trabalho a participarem neste grande evento!

Verão. Festivais. Mais festivais. Mas este não é ape-nas mais um. É um que abarca todos: todas as pesso-as, todos os conceitos, todos os motivos para fazer nascer nas ilhas, ainda mais, a consciência de que fazendo é que lá se chega. O Fringe traz, de tudo um pouco. De todos nós - do mundo, um espetáculo a ser visto, lido e ouvido. É orgulho, é prazer, é diver-são, é conhecimento, é cultura. Por isso estou lá - no Pico - e estou cá - em S. Miguel. Mas outros estarão noutros locais, de braços abertos para partilharem, convosco, a sensação encantadora de participar num festival de culturas açoriana e mundial.

Desafio e aprendizagem - é o meu lema de vida! Cada nova experiência é uma evolução pessoal e, conse-quentemente, profissional. Conhecer novos artis-tas; sair da minha zona de conforto; trocar ideias e opiniões, são as minhas ferramentas de trabalho. É mais forte do que eu! Por isso apostei na primei-ra edição do Azores Fringe Festival (porque quero fazer parte desta história). A iniciativa foi recebida com entusiasmo e, não demorei mais de 1 segundo para perceber que esta oportunidade não poderia ser desperdiçada. Estou empolgadíssima com a ex-pectativa de participar em mais um evento mundial

- mas que agora acontece mesmo ao lado da minha casa!

Arte... artistas... cultura: Fringe. “No princípio era o Verbo” e arte, claro! A arte não existe para ser ques-tionada ou traduzida, ela é, por si própria, a tradução da alma do artista, exposta à mercê do olhar dos demais. Participar num Festival Fringe, e particu-larmente no Azores Fringe Festival, é despojar-se de receios e encarar de frente os moinhos rigorosos de uma era que assenta numa crise de valores, de verbas ou de vontades próprias. Participar no Fes-tival é lançar-se à aventura e contribuir, mesmo que levemente, para um mundo mais esclarecido, mais sorridente e mais rico. A partilha enriquece o EU e o OUTRO e esta é uma oportunidade de ouro para se crescer como indivíduo e como artista. Já Leonardo da Vinci sugeria que “A arte diz o indizível; exprime o inexprimível; traduz o intraduzível”. A arte é sagrada e consagra.

Quem poderia imaginar o festival internacional Frin-ge nos Açores, no Pico, minha terra natal, no meio do Oceano Atlântico? Terry Costa podia, sua imagi-nação não tem limites, e agora a sua visão está se tornando realidade. Tenho a honra e humildade de fazer parte dela.O mundo precisa desesperadamente de mais imagi-nação. Imaginação é a chave para uma vida plena e feliz, sem ela apenas existimos. Intolerância de qual-quer tipo é o inimigo da imaginação, nunca devemos permitir novamente intolerância a enraizar-se no nosso cantinho do paraíso. Viva o Fringe nos Açores! Parabéns Terry.

Este Festival será de grande importância para nós açorianos, pois devido à nossa insularidade e iso-lamento da Europa continental, não temos muitos eventos culturais, muito menos de tão grande di-mensão como é o caso deste.Mas, para além de ser importante para mim na qua-lidade de açoriano, é bastante importante para mim na qualidade de (tentativa de) artista, pois é a pri-meira hipótese que tenho de expor as minhas obras, que são pequenos desenhos “surrealistas”, dese-nhados com esferográfica.

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Entrevista com o MorcegoRenato Goulart

Tomás MeloGatafunhos

Fazendo Entrevista

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“Nome”Renato Goulart

“Idade”40 anos

“Profissão”Guia Interprete

O que é que pequeno-almoçaste?Fruta, água e suplemetos naturais.

Se o Conde Drácula viesse cá às ilhas onde o levarias?Montanha do Pico. Qual é a semelhança entre o Pico e o Faial?Nenhuma. Se não gostas de chuva o que é que estás aqui a fazer?Gosto muito da chuva, por isso não te-nho esse problema.

Na escola que outra “disciplina” deveria ser obrigatória?Inglês. Porque é que tens alguns projec-tos na gaveta?

Porque ainda não é a altura de os co-locar em prática, uns por razões pes-soais e outros por razões financeiras.

O que é que mais odeias na inter-net?Pessoas que se fazem passar por outras, ou seja “falsas identidades”.

Que forma de arte é que te aguça os caninos?Escultura.

O que é que gostavas de ter nasci-do?Se não fosse ser humano, gostaria de ter nascido “cavalo”, um misto de elegância, força, beleza, velocidade. Gostavas de ir morrer longe?Opção da morte não me assusta, por isso longe ou perto, é irrelevante.

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Horários

Horta — Madalena 7h30 10h30 13h15 15h15 17h15

Madalena — Horta8h15 11h15 14h00 16h00 18h00

Cedros — Horta7h00; 12h45; 16h00;Sábados: 8h00

Piedade — S. Roque — Madalena6h15; 13h30;Domingos e feriados: 13h15

Piedade — Lajes — Madalena5h45; 12h55;Domingos e feriados: 12h55

Para o bem de todos nóse para o bem dos AçoresCircule de Bicicleta

Madalena — Lajes — Piedade10h00; 17h45;Domingos e feriados: 9h30

Horta — Cedros11h45; 15h20 (Hospital); 18h15;Sábados: 13h15

P. Norte — Horta7h00; 12h45;Sábados: 8h00

Madalena — S. Roque — Piedade10h00; 17h45;Domingos e feriados: 9h30

Horta — P. Norte11h45; 17h30;Sábados: 13h15

Índice

Fazendo Editorial

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Fazendo FringeWelcome to Azores Fringe Festival

Fazendo PinturaSabine Gieshoff

Fazendo DesignProjecto Retalho

Fazendo a CairFaial a Cair

Fazendo a CairAçores a Cair

Fazendo MúsicaO Talento de Jovens Faialenses

Está no ArDiscover Azores

Fazendo MúsicaSol Baixo

Fazendo FotografiaConcurso

Fazendo CinemaUm Filme sobreo Pão

Fazendo LiteraturaPENA

Fazendo LiteraturaSinais da Ilha e de Mim

Fazendo LiteraturaMulher de Livros

Fazendo Artes PlásticasPeca-se no MAH

Fazendo TerceirensesHá no Meio do Mar uma Terra Sagrada

Fazendo FringePorquê Participar?

Fazendo EntrevistaCom o Morcego

Gatafunhos

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