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Page 1: Fazendo 99

9 9 01 FAZENDO ***

FAZENDO 99o boletim do que por cá se faz

misturemo-nos

gratuito abril 2015

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9 9 0 2FAZENDO * **

Sumário Ficha Técnica

literaturadias de melo por maria eduarda rosa.9904

Históriapapadiamantespor josé luis neto e paulo alexandre monteiro.9906

Ciência ciência em três minutospor sílvia lino.9809

Cinemabaleias e baleeirospor fernando nunes.9910

Intervençãocelebrar o 25 de abrilpor jorge bruno.9916

Crónicatres hombrespor fernando nunes.9923

Directoresaurora ribeiro

tomás melo

Colaboradoresalbino pinho

fernando nunesjorge bruno

josé luís netohelena krug

maria eduarda rosapaulo alexandre monteiro

paulo bicudopaulo vilela raimundo

pedro rosasílvia lino

Revisãosara soares

Capaduarte martins

Paginaçãoraquel vila

Projecto GráficoilhasCook

p r o p r i e d a d e assoc cultural fazendos e d e rua conselheiro medeiros nº 19

9900 hortap e r i o d i c i d a d e mensal

t i r a g e m 500 exemplaresi m p r e s s ã o o telégrapho

registado na erc com o nº125988

Errata: na edição 98 faltou a autoria da fotografia das páginas 10 e 11: Géni Jorge

ilustração Raquel Vila

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9 9 0 3 FAZENDO ***

Duarte Martins 1999

O número 99 é o nono dígito repetido, conhecido por ser um número de sorte. É a soma dos divisores dos primeiros onze números inteiros positivos. 99 é também a soma dos cubos de três números inteiros con-secutivos: 99=8+27+64. É nesse ano do século passado que o velejador Genuíno Madruga adquire na Alemanha um veleiro em fibra de vi-dro com 11,1 metros, baptizando-o de “Hemingway”. Dá-se a erupção vulcânica submarina da Serreta, ilha Terceira, e ocorre o trágico aci-dente de um avião da SATA, na Ilha de São Jorge, e em que nenhum dos 35 tripulantes sobrevive. O Instituto Açoriano de Cultura (IAC) publica “Zapp: estética pop rock”, do etnomusicólogo Jorge Lima Bar-reto. A poetisa Natália Correia edita a “Antologia de Poesia Portuguesa Erótica e Satírica”. O cineasta João César Monteiro estreia o filme “As Bodas de Deus” no Festival de Cannes, em França, na selecção Oficial, Un Certain Regard, e Ana Moreira vence o prémio de melhor actriz no Festival de Roma, com o filme “Mutantes”, da realizadora Teresa Villaverde. A cantora alemã Nena decide cantar “99 Luftballons” (em alemão “Neunundneunzig Luftballons” e em português “99 balões”), e transforma-se numa canção de protesto anti-nuclear e anti-guerra. A conhecida Aspirina completa 100 anos, um século a subtrair dores de cabeça e demais maleitas cerebrais. Curiosamente o anunciado “bug” do fim do milénio revela-se de todo anódino e inofensivo. Pedro da Silveira edita “Poemas Ausentes”, pela editora Mirante. A Direcção Regional da Cultura edita um volume inaugural da obra deste poeta florentino com o título: “Fui ao mar buscar laranjas”, e onde se lê o po-ema “Ilha” de 1952: “Só isto: /O céu fechado, uma ganhoa/ pairando. Mar. E um barco na distância: /olhos de fome a adivinhar-lhe à proa/ Califórnias perdidas de abundância.”

ele chegou descontraídocaminhando sozinho.devagar se vai ao longedevagar eu chego lámostra -me o teu rostomenina mulher da pele pretacombinação de coresperfeição tropicalaqui onde estão os homenseu vou torcer pela paz, alegria e amor.já consultei os astrospode -se voar sozinho até às estrelasao sair da ilhauma cabanapeixe fogo crufigo sãoa obra solar está completae a força é toda a forçaponta de diamanteglória do mundoo que é que eu quero maisse eu sei que a vida é bela e linda.saudade até que é bommelhor que caminhar sozinhoo simples pode ser beloe o belo pode ser simpleso certo muito verdadeiroe em todo o mundo se vive

Fernando Nunes

FAZENDO 99

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Capa

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No dia 8 de abril fez 90 anos que nasceu no Pico o escritor Dias de Melo.

Quem o conheceu e dele foi amigo não o esquecerá, mas o mais importante é não esquecer a mensagem que nos deixou através da sua obra literária de cerca de 30 volumes.

Ler a obra de Dias de Melo é ouvir a voz do povo a quem ele dedicou a vida, é penetrar nas raízes culturais desse povo, que se alimentam de água e de pedra, é apreciar a linguagem literária do escritor que, não querendo ser conscientemente demasiado erudito para poder ser lido por esse mesmo povo que tanto estimava,

no 90º aniversário do seu nascimento

Dias de Melo

consegue deslumbrar o leitor com descrições poéticas e de pormenor de grande valor.

Escrevi três vezes neste parágrafo a palavra povo, de propósito, porque falar de Dias de Melo é o mesmo que falar do povo, com a sua riqueza linguística, a sua alegria de viver, as suas tradições, a sua sabedoria.

Basta abrir um qualquer dos seus muitos livros para se confirmar o que atrás foi dito.

Eis alguns exemplos:

Logo na introdução do Livro I, volume I da coletânea Na Memória das Gentes, de 1985, (recolha de estórias de pessoas do Pico compiladas em três volumes) em que dá voz às gentes das Lajes do Pico, do Cais do Pico, de S. Mateus e da Madalena, lê-se, sobre o Morro do Castelete nas Lajes: “a crista vermelha do galo altaneiro de raízes enfiadas no mar”; ou sobre a Ribeira do Meio: “viveiro de baleeiros”; ou ainda sobre a magnífica montanha, além de outros adjetivos: “a montanha orgulhosa”…

Maria Eduarda Rosa

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da apresentação do livro Milhas Contadas, obra que deveria ter sido apresentada por este professor universitário em S. Miguel e no Pico, não tivesse a morte feito das suas…

São poucas as vozes que se têm feito ouvir, apelando à leitura e discussão da obra de Dias de Melo. Uma delas é de Luiz Fagundes Duarte que considera Dias de Melo uma figura da História da Cultura nos Açores “de quem todos nós precisamos e a quem todos nós muito devemos” (introdução ao livro de Dias de Melo, O autógrafo, Ed. Salamandra, col. Garajau, 1999).

Chegou-nos a notícia (muito vaga e sem confirmação) de que no Pico tinham representado uma peça de teatro da sua autoria (terá sido “Canção do Baleeiro”?). Os boatos costumam trazer alguma coisinha de verdade…

Foi com muito agrado que recebemos a informação de que a Universidade de York emToronto onde a obra de Dias de Melo é estudada, tinha instituído o prémio “Pedras Negras”, título de um emblemático livro deste autor, publicado em 1964.

Do seu livro de poemas Toadas do Mar e da Terra cuja 1ª edição é de 1954, deixamos o leitor com a primeira quadra do soneto “Contraste”, (p. 61 da 2ª edição do livro saído na Fórum Culturas, 2004, seu 50º aniversário) de boas vindas à primavera:

no 90º aniversário do seu nascimento

Dias de Melo

“Primavera. Ajoelhado neste

chão,Quero beijar a

Terra negra e quente,

Onde passa o arado

lentamente…- a Terra em que germina e cresce

o Pão!”

Retiro da estante à sorte outro livro: Reviver: na Festa da Vida a Festa da Morte (edições Salamandra, 2000) e logo no início aparecem duas páginas e meia de vocabulário com arcaísmos e palavras que se usam nos Açores mas não se encontram no dicionário, o que comprova a preocupação do escritor em fazer entender a sua mensagem. Com a globalização e franco empobrecimento da linguagem, poder-se-ia acrescentar a lista. Por exemplo: gado alfeiro (p. 63) (esta expressão ainda se encontra no dicionário, mas quem a utiliza?) “o chão lavado pela Tia Augusta fica tão limpo, escarolado, fresco, que dá vontade o beijar” (p. 24), “arrobas aventadas pelo parceiro” (p. 256), “a rabeca ladinava” (p. 256) e muito mais. Este livro que contém descrições exaustivas de pormenor como a atafona (p.22) vem trazer a consciência de que “começamos a morrer no momento em que nascemos” (p. 52) e há que preservar a memória. Quantas vivências do povo à volta da tradicional matança do porco que, no dizer do Tio Jorge (“o rei das folias”, p. 259), “o porco por dentro é o retrato da gente” (p. 201) desde a folga com a chamarrita (p. 299), os ranchos das morcelas (p. 291) com as cantigas das salvas (p. 293), muitas brincadeiras e jogos e também, claro, os amores…

Voltando à estante, a mão pousou desta vez no Poeira do Caminho (Campo das Letras, 2004). Escrito de forma epistolar, durante a segunda metade de 2002 (de 2-6-2002 a 10-12-2002), cartas dirigidas a uma velha e querida Amiga, Dias de Melo define, logo no início, o projeto deste livro como um diário de memórias, onde os amigos mantêm os nomes (Manuel Tomás e Tomás Duarte da Madalena; Mário, Maria Eduarda e Francisco do Faial; os escritores Cristóvão de Aguiar (p. 43) e Onésimo Teotónio de Almeida (p. 239), et cetera). O livro termina com uma carta ao amigo escritor José Martins Garcia, onde deixa registado o encontro dos dois, nascidos em extremos opostos da Ilha Maior (esta designação é de um poema de outro escritor, nascido no Alentejo, também ligado ao Pico, Almeida Firmino) e onde se fica a saber das colaborações em jornais e do currículo do conterrâneo académico, bem como da sua morte (3 de novembro de 2002) pouco antes

Falar de Dias de Melo é o mesmo que falar do povo

literatura

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Diz-nos Francisco Gomes, em A ilha das Flores: Da desco-berta à atualidade, que: “Na madrugada de 22 de dezem-bro de 1965, encalhou a 300 metros da Fajã Grande o cargueiro liberiano “Papadiamantis”, de 14130 toneladas, comandado por Constantino Paulis, 38 anos de idade. O barco, que viajava de New Orleans para Hamburgo, com um carregamento de milho, trigo e feijão, perdeu-se com-pletamente. Em Santa Cruz desembarcaram 28 náufra-gos, tendo os restantes três seguido para França a bordo de um navio que os auxiliara.” (Gomes: 2003, 450)

Os destroços deste enorme navio, reconhecido pela Flores Dive Center e pela Direção Regional da Cultura em agosto de 2014, encontram-se entre as profundidades -25 a -45 me-tros. Os vestígios são numerosos, numa área extensa, sendo muitos deles de caráter monumental. Tratava-se de uma embarcação de grandes dimensões, construída pela Kaiser Company Inc., localizada em Swan Island Yard, Portland, Oregon, na costa Oeste dos Estados Unidos da América. O estaleiro foi construído em 1942, no âmbito do esforço industrial americano da II Guerra Mundial. Inicialmente projetado para a construção dos “Liberty Ships”, foi, na prática, o grande estaleiro de construção dos petroleiros “T2 Tankers”, tendo criado 134 navios dos 481 existentes, todos eles do período entre 1942 a 1945, feitos exclusivamente em cinco estaleiros, o Sun Shipbuilding, Chester, Pennsylvania; o Bethlehem Steel, Sparrows Point, Maryland; o Alabama Shipbuilding, Mobile; o MarinShip, Sausalito e, claro está, Swan Island, Portland, Oregon).

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Papadiamantis

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Association Pétrolière, de Dunkerque, foi rapidamente enviado para a frente de guerra, no caso, a Guerra da In-dochina, a qual, tendo ocorrido entre 1946 e 1954 opôs a França às antigas colónias da península, Cambodja, Laos, Vietname do Norte (República Democrática do Vietname) e o extinto Vietname do Sul (República do Vietname).

Durante a II Guerra Mundial a península esteve sob domínio japonês, sendo que em 1941 foi criado o “Việt Minh”, na China, por Hồ Chí Minh. Efetivamente deno-minava-se “Việt Nam Ðộc Lập Ðồng Minh Hội”, o que significa, grosso modo, “Liga pela Independência do Vietname”. O “Việt Minh” foi o movimento independen-tista, revolucionário e comunista, que, primeiramente, fez frente aos japoneses, assegurando a libertação do Vietname do Norte. Com o final da II Guerra Mundial, sedeando-se em Hanoi, proclamou a independência. Contra o que havia prometido, a República Francesa não cumpriu e a 23 de novembro de 1946 a armada gaulesa bombardeou Haiphong, onde se calcula terem morrido entre 6000 a 20000 pessoas. Naturalmente à tentativa de renovação de domínio francês, Hồ Chí Minh congregou o “Việt Minh”, lutando uma outra vez pela independência da região.

Após a II Guerra Mundial, já no quadro de mudança da supremacia eurocêntrica para a realidade da Guerra Fria, teve lugar a Guerra da Indochina, que durou de 1946 a 1954, onde o “Ardeshir” participou ativamente no abasteci-mento vital dos derivados de petróleo à frente de guerra.

Com o final da Guerra da Indochina, o “Ardeshir” foi rebatizado em “Langeais”, em 1955, e passou para a posse da Société Maritime des Pétroles BP (anterior Association Pétrolière, até dezembro de 1954), da British Petroleum, mantendo-se ao seu serviço até 1959, data de alienação à Crestview Shipping Company, sedeada em Monrovia, Libéria, onde foi rebatizado em “Caribben Wave”. Em 1963 sofreu obras de adaptação na proa e casco, terminadas em outubro nos estaleiros de Deutsche Werft A.G., Hamburgo, passando então a navio cargueiro com 14130 toneladas, sendo, pela última vez, rebatizado de “Papadiamantis”. Como sabemos, vindo de New Orleans, tendo como destino Hamburgo, com uma carga de cerais e leguminosas, naufra-gou a 22 de dezembro de 1965 na Fajã Grande.

A 22 de fevereiro de 1944 foi lançado ao mar do estaleiro n.º 54 o “Papadiamantis”, primeiramente batizado de “Rainier”, um “T2 Tanker” de modelo T2-SE-A1, com o número de identificação 2245307. Dado por terminado e apto para serviço em março, alçando 10448 toneladas, apresentava 159,6 metros de comprimento e 20.7 metros de altura. A propulsão era fornecida por transmissão turbo-elétrica (gerador de turbina a vapor, ligada a um motor de propulsão para girar a hélice, reduzindo a necessidade de muita outra maquinaria) que lhe dava, de arranque, 6000 cavalos de potência, chegando até aos 7240 cavalos, atingindo 15 nós de velocidade máxima (28 km/h), tendo autonomia, em velocidade de cruzeiro, para 20 300 quilómetros.

Com a capacidade para transportar 16613 toneladas de carga líquida (gasolina e outros derivados de petróleo) dis-tribuídos em nove tanques, sendo que do 2 ao 9 os tanques transportavam 391 500 galões de fuel, coadjuvados por dois laterais, a bombordo e estibordo, numa carga total de 5930000 galões máxima, tornaram-se em navios muito úteis no esforço de guerra. Existia ainda uma área de carga seca.

A tripulação-tipo era de 42 a 45 marinheiros para mano-brar este gigante marinho, coadjuvados por 17 militares. Estes petroleiros asseguraram o abastecimento de 80% do combustível usado nos mais diversos teatros de guer-ra. Apesar de não possuirmos o registo de operações mi-litar do “Rainier” durante a II Grande Guerra, atendendo à data de construção, será de calcular que a sua ação se terá centrado na Guerra do Pacífico, que opôs os Estados Unidos da América ao Japão.

Poucos anos volvidos desde a sua construção, o navio é vendido à República Francesa e rebatizado, em 1948, como “Ardeshir”. A frota de petroleiros francesa estava pauperizada após a II Grande Guerra, pelo que o governo francês negociou com o seu congénere americano e com a US Maritime Commission a aquisição de petroleiros T2-SE-A1. Navio adaptado às necessidades militares, dado como desnecessário em 1946 pela US Maritime Commis-sion, adquirido pelo governo francês e cedida a gestão à

Papadiamantis

Como sabemos, vindo de New Orleans, tendo como destino Hamburgo, com uma carga de cerais e leguminosas, naufragou a 22 de dezembro de 1965 na Fajã Grande.

história

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Nos dias 30 e 31 de Maio o bailarino, coreógrafo e terapeuta suíço Michael Kellenberger estará na Horta para orientar um workshop de Dança Contemporânea. Aberto a jovens e adultos com interesse em dança, com ou sem experiência, este workshop propõe vários exercícios e desafios que visam uma exploração pessoal do movimento, dando ferramentas aos participantes para compreenderem melhor o seu fun-cionamento através da dança. Formado em Rolfing® struc-tural integration, uma técnica de massagem e manipulação terapêutica que visa realinhar o corpo, Michael Kellenberger irá abordar a função da Fáscia, um tecido conjuntivo que atravessa e liga todo o nosso corpo formando uma rede tri-dimensional de suporte. A solo, a pares ou em grupo, os par-ticipantes irão descobrir as características da rede fascial, abordando as suas qualidades de estabilização e transmissão de força, afinando a propriocepção e alargando a percepção do espaço. Através da exploração destes conceitos, poderão encontrar um novo fluxo de flexibilidade no corpo, optimi-zando o esforço muscular, reduzindo a tensão e prevenindo lesões, ao mesmo tempo que abrem novas possibilidades para enriquecer o seu vocabulário pessoal de movimento.

O workshop, organizado pelos bailarinos Pedro Rosa e Bea-triz Teves Oliveira, com o apoio do Museu da Horta, decor-rerá na Casa Manuel de Arriaga preenchendo o fim-de-sema-na de 30 e 31 de Maio.

No dia 29 de Maio irá também acontecer, no Estúdio de Dança Beatriz Teves Oliveira, no Amor da Pátria, uma sessão de 2h30 de introdução à técnica terapêutica do Rolfing® structural in-tegration, aberto não só aos participantes do workshop mas a todos aqueles que, não tendo interesse específico em dança, queiram conhecer esta forma de massagem terapeuta.

Mais informações e inscrições através do email [email protected] ou do telemóvel 918271847. Preço do workshop: 35,00 € adultos / 25 € jovens até aos 23 anos. Preço sessão introdução Rolfing: 5,00 € participantes do workshop/ 10,00 € outros interessados. As vagas são limitadas.

Orientado por Michael Kellenberger30 e 31 de Maio

Casa Manuel de Arriaga

dança

Workshop dança contemporânea

Pedro Rosa

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Animais do fundo do mar...só para esclarecer, não estou a falar de peixes mas sim dos que se fixam no fundo, como corais e esponjas, ou que se movem pouco, como ouriços, estrelas do mar, caranguejos. Se tiverem de imaginar o sí-tio onde estes animais vivem, aposto que a grande maio-ria de vocês imagina um cenário tipo aquário, com fundos planos e animais dispersos. Mas a verdade é que no mar profundo, onde temos médias de 2000 a 3000 m, estes animais tendem a concentrar-se em locais tipo “mon-tanhas submarinas”, onde ficam menos profundos (200 - 1500 m), a que chamamos “montes submari-nos”. Nos Açores, para além das 9 ilhas que existem fora de água, há um grande número destas “ilhas” debaixo do mar. Os pescadores conhecem bem estes locais pois concentram-se aí também várias espécies de peixe. Quando recolhem os seus apa-relhos de pesca, o que acontece naturalmente é vi-rem agarrados aos anzóis, variados animais que vivem no fundo. Se os devolverem ao mar, devido às diferenças de pressão a que foram sujeitos, não irão sobreviver. Então, pensámos: “e se usássemos estes animais para tentar perceber se têm utilida-de para tratar doenças?”. E assim nasceu um novo projeto científico. “Como é que o fizemos?”- pode ser a vossa próxima pergunta...

Primeiro, extraímos os compostos naturais. Num pro-cesso semelhante ao de transformar azeitonas em azeite, preparámos um grande número de extratos de diferen-tes animais. Depois, testámos todos em laboratório. Para sabermos se tinham ação anticancerígena, por exemplo, crescemos células de cancro do cólon em placas de labora-tório. Quando as células cancerígenas estão a crescer bem na placa, aplicamos os nossos extratos e esperamos. Temos um composto especial que muda de cor quando as células morrem. Assim, se temos muita cor na placa, sabemos que o extrato mata muito as células e é então muito anticance-rígeno. Se não muda de cor, as células continuam a crescer e o extrato não tem capacidade anticancerígena.

Resultados? Sim, nos Açores há animais de profundidade com compostos naturais que têm muito potencial antican-cerígeno. Tal como acontece noutros mares, noutras par-tes do mundo, foram as esponjas os animais que deram os resultados mais encorajadores. A novidade é que agora sabemos que não são todas as esponjas! Algumas mega--esponjas, de composição dura, que atingem tamanhos muito maiores do que as outras são as mais interessantes.

Sílvia Lino

Novas soluções que podem vir do fundo do mar

Ciência em 3 minutos

E agora? Agora temos de saber que compostos são estes. Onde estão as esponjas. Quando é que pro-duzem esses compostos. Como são as moléculas destes compostos. Todas estas questões têm de ser respondidas no futuro. E quem sabe, um dia have-rá uma nova solução para a luta contra o cancro que veio das profundezas do rico mar dos Açores!

(este texto foi apresentado oralmente em público na semi-final do concurso FAMELAB 2015 pela Sílvia Lino)

Pedro Rosa

MAC photography

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música

Na primeira exibição do filme aqui na Horta, a sala do Teatro Faialense encheu para ver o filme, inclusi-ve com galerias e camarotes repletos, sobretudo com um público atento e silencioso, parecendo mesmo coisa de outro tempo. Qual foi a reacção mais curiosa que tiveste até hoje?

-Em todas as exibições do filme onde estive presente, houve sempre algumas pessoas que se aproximaram de mim no final da sessão para partilhar o que sentiram. É muito re-confortante ver o fruto do meu trabalho, que no fundo é a criação de uma empatia pessoal com o que é apresentado. Há certas verdades que são comuns a toda a gente que vê o filme e acredito que este filme é capaz de falar a qualquer pessoa, seja alguém com uma relação mais próxima com a cultura da baleação açoriana, ou alguém sem nenhum conhecimento acerca desta cultura, mas com curiosida-de em saber mais. Também achei interessante a opinião de alguns dos meus ex-colegas da escola de cinema, com dissertações quase académicas. Eles identificaram-se de imediato com a minha linguagem. É óbvio que esta ligação com o filme é suspeita, no sentido em que fomos colegas e por isso conhecem o meu método de trabalho e as pessoas que colaboraram no filme. No entanto, acreditam no meu filme, o que é muito satisfatório para mim. A reação que mais me tocou aconteceu durante a exibição do filme na Cinemateca Portuguesa, em Lisboa, quando uma senhora de Santo Amaro do Pico, com comoção, me disse que o fil-me a fez recordar o seu pai, que fora baleeiro, e que sentiu no filme uma homenagem a todos os pais e avós baleeiros. Encheu-me o coração, pois a ideia central era essa.

É o momento ideal para conversar-mos com o autor do filme, por sinal, faialense e que acaba de estrear a sua mais recente curta-metragem, “O Funeral Artístico do Projecionista”.

entrevistaBaleias e BaleeirosFernando Nunes

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O documentário tem a duração de 138 minutos mas sabe-se que fizeste uma (re) montagem do filme para que este tivesse menos tempo. Ficaste satisfeito?

-Sim, estou muito orgulhoso com o resultado final, ape-sar de ter sido um trabalho árduo. Especialmente a mon-tagem do filme, que durou cerca de 6 meses e nunca teria conseguido faze-la sozinho. A colaboração de um outro faialense que também fez a escola de cinema - João Rodrigues - foi imprescindível. É verdade que nos Estados Unidos o filme passou com cerca de 30 minutos extra, no entanto, depois de uma certa maturação, per-cebemos que, dada a natureza do filme, este beneficia-ria se fosse mais curto. A concentração do público é um factor essencial para a compreensão do filme. Enquanto realizador, sou jovem e tenho um longo percurso pela frente. Aprendo muito com cada trabalho que faço e, em cada um deles, o mais importante não é ter certezas, mas sim dúvidas. Ter dúvidas é o que me faz ser criativo e encontrar a justeza das questões que pretendo levan-tar. A duração do filme tem a ver diretamente com uma decisão de montagem fundamental que tomámos: não cortar a narrativa de cada baleeiro. A ideia que está por trás da montagem do filme recai na importância de cada plano em que ouvimos um depoimento: existe cinema na forma como esta pessoa se expressa, na linguagem das mãos, na linguagem facial, no discurso e no sotaque.

Na Biblioteca Pública da Horta

“Baleias e Baleeiros” é um retrato bastante pessoal e afec-tivo da baleação, particularmente à volta da Ilha do Pico e da Ilha do Faial e em que o “personagem principal” é o teu próprio avô, Francisco Soares da Silva, picaroto e natural de Santa Cruz das Ribeiras. Nunca tiveste receio que ao usares mais uma vez a figura do “avô Chico” pudessem apelidar o teu filme de álbum pessoal e familiar da baleação?

-O avô Chico e a avó Cidália são especiais para mim, mas depois de começar a filmá-los e a fazer filmes com eles, percebi que eles são especiais não só para mim, mas também para as pessoas que têm o prazer de estar com eles e de os ouvir. O cinema é feito com coisas concretas: eles estão no filme, e outros baleeiros tam-bém estão no filme. Mas em cinema o que é concreto remonta para coisas abstractas, que neste caso podemos chamar de “So-nho Baleeiro”, e é este sonho que permite a tal homenagem não só aos meus avós, mas a todos os avós. Não resisto em deixar aqui uns versos do Artur Faidoca, também baleeiro, pai da mi-nha avó Cidália: “O meu sonho é baleeiro / Passo a vida só a so-nhar / Com um bote bem ligeiro / À vela no alto mar.”

Como é que chegas ao tema “Santiana”, uma música popu-lar das Flores, interpretada na excelsa voz de Carlinhos Me-deiros, bem como aquela exibição no final do documentário de um belíssimo conjunto de fotografias a preto e branco de diferentes autores sobre o passado da baleação?

-O filme começa com uns versos de Dias de Melo, escritor mag-nífico da Calheta de Nesquim, que muito admiro e no qual me inspirei de certa forma para o tom do filme: Este mar das nossas ilhas / Quantos mistérios encerra / Só os conhecem as quilhas / Dos barcos da nossa terra. “Santiana” de Carlos Medeiros vem no fim e é a única música do filme. Achei que era o tom certo para um ponto final deste trabalho, para um momento de des-compressão e reflexão pessoal juntamente com algumas foto-grafias que nos relembram que as histórias que acabámos de ouvir fizeram parte da realidade do dia-a-dia de muitas pessoas. Por curiosidade, posso referir também alguns significados por trás destas referências: os versos de Dias de Melo são os mes-mos que estão à porta da casa dos botes de Santa Cruz, numa dedicatória aos marinheiros das Ribeiras do Pico, freguesia do meu avô; e “Santiana”, segundo consta, aparece nas Flores como uma derivação de uma canção americana “Shenandoah”, trazi-da pelos baleeiros florentinos ao serviço da baleação americana. Coincidências ou não, escolhi estas referências pela coerência que apresentam com o filme, por serem bocadinhos preciosos de cultura que remetem para o mistério de ser açoriano.

O filme “Baleias e Baleeiros”, de Luís Bicu-do, irá ser exibido dias 4 e 5 de Maio, às 21horas, na Biblioteca Pública da Horta, em duas versões: portuguesa e inglesa.

cinema

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MISTUREMO-NOSde 2 a 6 de junho lançamento e celebração do Fazendo Nº100

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MISTUREMO-NOSde 2 a 6 de junho lançamento e celebração do Fazendo Nº100

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Onde SãoPara Tios Açores

Que tipo de pessoas pensas que vivem nos Açores?Não vi muitas pessoas. Foi o pior sítio onde me cortaram o cabelo!!

Como é que achas que as pessoas vi-vem nos Açores?Eu creio que têm muita qualidade de vida. Surpreendeu-me o limpo e bem cuidado que estava tudo. Claramente haverá de tudo, mas em geral, estava tudo muito bem. Eu esperava-os mais decadentes. Surpreendeu-me muito. Eu nunca tinha ouvido falar dos Açores e gostei muito.

E o que pensas que as pessoas fazem nos Açores?Não tenho ideia nenhuma. É que não sei do que vivem aí. Suponho que alguma coisa de turismo e provavelmente pes-ca, mas também não vi muitos barcos.

Que língua falam os Açorianos?Português.

Como será o clima nos Açores?Mau! Não vi muito sol nem muito calor.

Que animais viste nos Açores?Vi muitas baleias, golfinhos, e muitos passáros, mas em terra não vi nada.

Que transportes se usam nos Açores?Muitos carros e os barcos entre ilhas. Muito mais carros que motos.

O pensas que poderia ser feito nos Açores?Podiam desenvolver muito o turismo rural. É um sítio muito bonito para fazer trekking e eu não vi nenhuma publici-dade desse tipo. E em algumas ilhas nem podes chegar com o teu próprio barco porque não têm marinas e assim poucas pessoas vão conhecer essas ilhas.

Qual achas que é a comida Açoriana mais estranha?Não sei que comam nenhuma coisa es-tranha. Mas a verdade é que não têm

assinala no mapa onde são os Açores

algures no mundoalguém é

convidado a fazer

um retrato das nossas ilhas.

muitos restaurantes, é muito complica-do encontrar um restaurante bom, diga-mos normal.

Que tipo de produtos pensas que se exportam?O único que me ocorre é alguma coisa de peixe. Porque o pouco que devem produ-zir deve ser para consumo das ilhas.

Poderias viver nos Açores?Não!! E eu sou de uma ilha, não é por ser uma ilha, é só porque está demasiado lon-ge de tudo. E creio que a sociedade aí deve ser muitíssimo fechada. Vivem demasia-do metidos em si própios. Como não há muito turismo, não recebem muitas pes-soas e vivem no seu mundinho.

Sara Soares

Juan MiguelEspanha

Foi o pior sítio onde me cortaram o cabelo!!

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9 915 FAZENDO ***

Onde SãoPara Tios Açores

assinala no mapa onde são os Açores

Os meios

“pequen

os”

têm des

tas

coisas

muitos restaurantes, é muito complica-do encontrar um restaurante bom, diga-mos normal.

Que tipo de produtos pensas que se exportam?O único que me ocorre é alguma coisa de peixe. Porque o pouco que devem produ-zir deve ser para consumo das ilhas.

Poderias viver nos Açores?Não!! E eu sou de uma ilha, não é por ser uma ilha, é só porque está demasiado lon-ge de tudo. E creio que a sociedade aí deve ser muitíssimo fechada. Vivem demasia-do metidos em si própios. Como não há muito turismo, não recebem muitas pes-soas e vivem no seu mundinho.

Paul

o V

ilela

Raim

undo

Torna-se-nos possível saber da existência de alguém, por várias décadas, para um belo dia tomarmos consciência de quem realmente é.

O sábado de 29 de março foi um desses dias, em que tive o privilégio de assistir/ participar no lança-mento da última edição discográfica (e autobiográ-fica) de António Bulcão, intitulado expressivamen-te “Fronteira”, [Auditório do Ramo Grande, Praia da Vitória], onde numa sala cheia de amizades e experiências cúmplices deparei com a síntese de uma vida de procura e confronto com o desconhe-cido, onde o ser do poeta, irrompendo pelas letras das múltiplas peças, se entrelaça na música, numa simbiose perfeita de paz e de verdade.

Revendo o meu passado de recém-chegado aos Açores e à ilha Terceira, recordo de me cruzar com o “culpado” desta crónica desde meados dos anos oitenta, em que segundo me diz a memória, assisti a um ensaio dos “To-ques” (grupo musical que ele integrava).

Posteriormente, fomo-nos cruzando anonima-mente pela vida, aquando da sua participação como autarca na Câmara Municipal de Angra do Heroísmo e ao longo dos seus variados escritos/crónicas que, ao longo de já três décadas, nos man-tiveram nos papéis de autor (ele) e de leitor (eu).

Julgo nunca termos tido uma conversa. Nem sequer fomos para além de fugazes (e raros) cumprimentos de circunstância.

Tal porém não foi impeditivo de, numa noi-te de primavera, e partilhado com algumas centenas de eleitos, me ter aberto o seu diário de homem, de pai e de amante da vida, para através das suas letras e da sua voz, me reve-lar o seu verdadeiro ser.

Surpreendentemente despido de ultrapassadas (porque concluiu desnecessárias) “arrogâncias”, ofertou-nos momentos que em muito extrava-saram o banal lançamento de uma qualquer obra discográfica, propiciando-nos verdadeiras partilhas de vida, que superiormente acompa-nhadas por Mário Laginha (no piano), Luís Bet-tencourt (nas violas), Sónia Pereira, Sara Miguel e Henrique Bulcão (nas vozes) resumiram uma longa e árdua caminhada, em busca do conhe-cimento do eu/ autor/ ouvinte (?).

Ao seu estilo, como que de “Léo Ferré açoriano”, arrastou-nos para uma viagem de afetos e ami-zades, dúvidas e certezas, desilusões e paixões… para nos demonstrar como é árduo e regenerador o caminho da busca interior.Concluo “roubando-lhe” um pequeno trecho, que considero caracterizador das suas obras e das suas motivações…

música

Juan MiguelEspanha

Foi o pior sítio onde me cortaram o cabelo!!

Fro

ntei

ra “Se vires um pano branco ao passar pela minha alma, não fujas, tenta

ouvir-me, volta a trás, ouvirás da

minha boca, toda a calma,

de quem não se rende mas quer

Paz.”

“Pano Branco”letra de António Bulcão e música de Mário Laginha.

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Abril na voz de Bruno Valter Ferreira acom-panhado por Paulo Cunha e sublinhado pela poesia de autores que trataram o tema da liberdade, antes e depois da revolução dos cravos, como Manuel Alegre, José Régio, Sophia de Mello Breyner Andresen, Sebas-tião da Gama, Eugénio de Andrade, Jorge de Sena, Mário Dionísio, António Manuel Couto Viana, Miguel Torga, Joaquim Pessoa, Sidónio Muralha, entre outros, recitada por Alexandra Teixeira, Andreia Caeiro, António Ferreira, Bianca Mendes, Luís Costa, Natal Machado, Paula Andrade, Rui Nunes e Valter Peres.Sess

ão d

e Po

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CELEBRAR O 25 DE ABRILLiberdadeilu

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ção

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ila

Jorge Bruno

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O Cineclube da Ilha Terceira e o Alpendre - Grupo de Teatro, em co-produção, apresentam o progra-ma de celebração do 25 de Abril no próximo dia 25 de Abril, pelas 21h30, na sede do Alpendre – Gru-po de Teatro, sito ao Alto das Covas. A entrada é livre.

O programa consiste na exibição de um documentário sobre o 25 de Abril, seguido de uma sessão de leitura de poesia acompanhada com música por Bruno Valter Ferreira e Paulo Cunha.

CELEBRAR O 25 DE ABRIL CinemaMúsica Poesia

Em 25 de Abril de 74 um golpe militar derrubou a mais antiga ditadura ocidental sem derramar uma gota de sangue. A descoberta da democracia e o desmantelar do último império colonial europeu projetaram Portugal para o primeiro plano da atualidade internacional. Durante a revolução dos cravos alguns dos maiores fotógrafos e documentaristas do mundo desembarcaram em Lisboa para recolher imagens: Glauber Rocha, Robert Kramer, Thomas Harlan, Pea Holmquist, Sebastião Salgado, Guy Le Querrec e Dominique Issermann. Quase todos sonhavam com um mundo diferente. Vinham de Maio de 68, do Vietname, do Chile de Allende e viviam a Revolução Portuguesa como um laboratório único de experiências. O que descobriram em Portugal? Que balanço fizeram anos mais tarde? A pesquisa para este documentário revelou milhares de fotografias e cerca de 40 filmes estrangeiros sobre a Revolução Portuguesa.D

ocum

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aís”

de

Sér

gio

Tréf

aut

Melhor Documentário Português – Festival da Malaposta 1999. Golden Gate Award – San Francisco Film Festival. Produtor SP filmes.

Liberdade

intervenção

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9 918FAZENDO * **

teatro

Entrevista com o Morcego

O que é que pequeno-almoçaste?Um caldo de carne, feito com os ossos da vaca que matei à bocadinho.

Se o Conde Drácula viesse cá às ilhas onde o levarias?Directamente para a ilha do Corvo, para lhe mostrar a estátua do cavaleiro que lhe indica o caminho para Holywood. Ainda lá está, certo?

Qual é a semelhança entre o Pico e o Faial?O meu amigo de longa data Gilberto Mari-ano que, se não me engano, além de cruzar o canal sempre afirmou a liberdade como a mais importante qualidade do ser humano. Se não gostas de chuva o que é que estás aqui a fazer?De estar na chuva quando a chuva cair.De não correr para me abrigar.De ser assim uma limpeza total.De estar na rua e ser um banhona rua um banho.

Na escola que outra “disciplina” de-veria ser obrigatória?A filosofia da vida, a leveza de estar e sentir a brisa e o sol.

Porque é que tens alguns projectos na gaveta?Não tenho projectos, não tenho gavetas.Vivo o presente, porque gosto e tam-bém porque tenho fome. Espera, tenho um projecto, gostava de caçar uma ba-leia, já estou farto de golfinhos.

Vivo o presente, porque gosto e também porque tenho fome.

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O Teatro de Giz (TG) organizou mais uma viagem a universos exteriores à ilha. Gonçalo Amorim, o piloto con-vidado, é encenador, actor e direc-tor artístico do Teatro Experimental do Porto (TEP) e esteve no Faial para uma semana de trabalho intensivo.

Numa conversa em Porto Pim, falou da sua preocupação de trazer para o TG uma experiência de grupo forte, e permitir que tanto os participantes mais experientes quanto os que o são menos se pudessem sentir motiva-dos, desafiados e conseguir momen-tos de auto-superação no domínio da concentração, do corpo, da voz, e da imaginação de cada um.

Se desta vez não houve um produto/apresentação final, ficou já insta-lada a base para uma co-produção entre o TG e o TEP, no próximo ano, com a peça “Toda a Gente”, que aborda a temática da emigração jo-vem e qualificada devida à actual crise do capitalismo e à destruição das expectativas de felicidade.

O Teatro Experimental do Porto é neste momento a Companhia Profissional de Teatro (ainda em actividade) mais an-tiga do país – foi fundada em 1953 por opositores ao regime então vigente e dedica-se neste momento à criação e produção de peças com textos própri-os, que se propõem a pensar o Portugal actual, na palavra e na acção.

Gonçalo Amorim percebeu a lacuna insular de haver poucos espectácu-los de Teatro e denuncia a cada vez maior privação de um direito pre-visto na Constituição Portuguesa: o da Criação mas também da Fruição Cultural, e o retrocesso a que somos sujeitos neste campo nos dias de hoje, já que a redução dos apoios limita sobretudo a criação cultural vanguardista.Te

atro

que

pen

sa n

o H

oje

Workshop de Teatro com Gonçalo Amorim, do Teatro Experimental do Porto Aurora Ribeiro

O que é que odeias na internet?Internet? Odiar? O que é que é isso?Têm de começar a explicar os concei-tos antes de fazer as perguntas.

Que forma de arte é que te aguça os caninos?Oh! Esta é Fácil! Pintar com sangue, claro! Até já me está a crescer água na boca!!!

O que é que gostavas de ter nascido?Vegetariano é que não era de certeza!!! (risos) Mas obviamente que adoraria conseguir voar para ir caçar coelhos para São Jorge sempre que quisesse.

Gostavas de ir morrer longe?Uma partícula no espaço eu quero ser, eu quero ser.

NomeZac

Idade17.327

Profissão Guru Atlântico

Entrevista com o Morcego

Qual é a semelhança entre o Pico e o Faial?O meu amigo de longa data Gilberto Mari-ano que, se não me engano, além de cruzar o canal sempre afirmou a liberdade como a mais importante qualidade do ser humano. Se não gostas de chuva o que é que estás aqui a fazer?De estar na chuva quando a chuva cair.De não correr para me abrigar.De ser assim uma limpeza total.De estar na rua e ser um banhona rua um banho.

Na escola que outra “disciplina” de-veria ser obrigatória?A filosofia da vida, a leveza de estar e sentir a brisa e o sol.

Porque é que tens alguns projectos na gaveta?Não tenho projectos, não tenho gavetas.Vivo o presente, porque gosto e tam-bém porque tenho fome. Espera, tenho um projecto, gostava de caçar uma ba-leia, já estou farto de golfinhos.

Tomás Melo

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ermafrodita

A grande diversidade que é apresentada pelos peixes tanto na sua mor-fologia externa como na estrutura dos seus órgãos, encontra-se também nos órgãos reprodutores. Nos peixes encontramos todas as etapas entre o gonocorismo e o hermafroditismo, entre a fecundação interna e a ex-terna entre a oviparidade e a viviparidade, entre outras situações.

Muitas espécies de peixes passam no decorrer do seu desenvolvimento por uma fase transitória de intersexualidade antes de se definirem num sexo ou noutro. Esta intersexualidade ou hermafroditismo juvenil, pode-se prolongar mais ou menos no decorrer da vida do peixe. A dife-renciação sexual pode mesmo não se concretizar, passando o indivíduo por um hermafroditismo funcional em que há intervenção simultânea, ou sucessiva, dos tecidos ovariano e testicular. Noutras espécies verifi-cam-se estados de hermafroditismo potencial, i.e., um sexo é sobreposto pelo outro mas pode, em determinadas circunstâncias dar-se uma in-versão de situação.

Nos sparídeos, família a que pertence o goraz, existe hermafroditis-mo funcional. As gónadas são normalmente ovotestis mas as zonas macho e fêmea são bem distintos e dá-se uma maturação sucessiva. Nunca se verifica a maturação dos dois territórios ao mesmo tempo.

O goraz (Pagellus bogaraveo) apresenta um hermafroditismo pro-tândrico, ou seja, primeiro há uma ou mais maturações como ma-cho, depois os testículos entram em regressão enquanto surgem os ovários passando o peixe a funcionar como fêmea até ao fim da sua vida. Mas nem sempre os indivíduos são hermafroditas, pois pode-rão aparecer machos jovens que serão sempre machos, sem passa-rem por nenhuma inversão, ou jovens indivíduos que são fêmeas e que nunca chegarão a ser machos.

Fazendo um resumo das observações feitas, podemos sintetizar o ci-clo sexual do goraz através do seguinte diagrama:

Assim há: machos adultos em que não se verifica transição; pequenas fê-meas que se tornarão fêmeas adultas; e machos que passarão a intersexu-ais Mf, mF e depois fêmeas.

Helena Krug

ciência

O goraz faz a sua postura em águas açorianas de janeiro a abril com o pico de actividade máxima em fevereiro e março.

A primavera e o verão, que são a época pós-postu-ra, parecem ser a melhor altura para se proceder à transição do macho pós-postura para fêmea, iniciando esta a sua maturação para estar pronta para a postura no fim do inverno. É interessante notar a existência de intersexuais mF apenas nos meses de primavera e verão. Machos e intersexu-ais Mf são sempre mais abundantes no outono e inverno, tendo estes últimos a sua última oportu-nidade de funcionar como machos.

Observámos a relação entre os sexos ao longo de 3 diferentes perodos de tempo, e concluiu-se que a estratégia adoptada pela população é a de manter uma proporção constante de fêmeas ao longo do tempo para o que, em resultado de uma diminuição de uma abundância das fêmeas, a população tem que aumentar progressivamente a reserva de hermafroditas à custa de uma redu-ção dos machos.

Nos Açores a inversão sexual do goraz situa-se entre os indivíduos de 28 e 34 cm. Noutras águas é natural que se dê entre outros comprimentos, é de esperar que a variação no tamanho a que se dá a inversão sexual mude de região para região e, no mesmo local, de ano para ano, pois é natural que a inversão sexual se dê em parte como uma resposta adaptativa às mudanças da população.

A avaliação da população do goraz, assim como a sua gestão em águas açorianas têm de ter em considera-ção a fase de transição porque passa o goraz durante a sua vida e a provável capacidade que esta espécie tem de se poder adaptar às circunstâncias (sobrepesca, mudanças ambientais,...).

O goraz foi a espécie que me foi dada a descobrir quan-do aqui cheguei ao DOP em 1982, muitas “histórias científicas” poderei contar em próximos FAZENDOS!

HOgoraz

MACHO → → → → → → → → → → → → → → → MACHO

MACHO → → → →→ → → Mf → → → mF → → → FÊMEA

FÊMEA → → → → → → → → → → → → → → → FÊMEA

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ermafrodita

gorazcinema

intervenção

Nos dias que passo naquela casaNos dias que passo naquela salaUma e outra vez volto àquela janela.Afasto a cortina pela manhã.E durante o dia olho a espaços constantes a paisagem. Hoje a bruma esconde as cores e as cascatas da parede natural. O horizonte mais próximo torna o olhar objectivo Do outro lado da rua, a dois passos aquele canto – uma casa, mini-mercado Vitória, plantada em cunha com o Fontanário em frente desenham a entrada que leva ao adro do Império do Espírito Santo. O caminho largo no início com cimento bem calcado estreita-se em poucos metros para se transformar num carreiro verde. Com o olhar, a distância, entre a frente e as traseiras urbanizadas e desde ali a paisagem natural, é um salto. Escala de maqueta!Frente, e traseiras urbanas de frente para a paisagem natural!Recuo o olhar, retomo o foco, a bruma não permite deambulações. Alegre na descoberta de um e outro motivo floral presentes nas letras que escrevem o nome do mini-mercado, nos que decoram o Fontanário e nos outros poucos que adornam a fachada do Império do Espírito Santo (em contraste com aquelas caixas, caixinhas e fios técnicos!). Instante de instantes desde aquela janela.

JaneLaAlbino Pinho

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sociedade

Este filme serve como introdução a alguns aspetos práti-cos e teóricos da permacultura com exemplos filmados em Sintra e na aldeia das Amoreiras no Alentejo, onde a permacultura é aplicada à aldeia como um todo. Seguido do filme haverá comentários do realizador e mostra de conteúdos inéditos filmados em São Miguel, no Faial da Terra, onde se realizou mais recentemente um curso de design em permacultura (PDC). Estes conteúdos serão apresentados no decorrer de uma breve introdução à permacultura que inclui: as éticas e os princípios de de-sign da permacultura que são as ferramentas base que guiam o trabalho de um permacultor, são instrumentos ou metodologias que têm por base uma longa e múltipla reflexão de caráter holístico, no que toca a sustentabili-dade como modo de vida.

A permacultura advém da experiência de vida de vários autores que nos anos 70, na Austrália, cocriaram este conceito numa rejeição clara da agricultura industri-alizada nos moldes de então, com a compreensão das consequências da atividade humana sobre a terra e o próprio homem. Bill Mollison que escreveu o “Permacul-ture I”, foi trabalhador agroflorestal, antropólogo e pes-cador – desenvolveu assim, da sua variada experiência de vida, uma atitude sustentável que transformou em metodologia através de por exemplo, uma observação cuidada dos fenómenos da natureza. Desde então a per-macultura institucionalizou-se e espalhou-se por todo o mundo, ramificando-se e dando origem a vários outros movimentos como o movimento de transição (transi-tion towns). Outros temas relacionados são agricultura sem manipulação excessiva do ecossistema do solo, criação de solo, entre muitos outros – tudo isto é possível porque a permacultura tenta focar-se nas soluções em cooperação com os padrões naturais, com uma alargada consciência da importância de uma eficiente utilização de recursos.

No dia 30 de maio (sábado) de manhã, no espaço exte–rior da biblioteca, abordar-se-ão outros temas, com algumas atividades práticas, ou dinâmicas, que visam uma melhor compreensão através de uma educação não formal.

Falar-se-á também de projetos emergentes a nível local (cidade da Horta e Pico) assim como outros projetos na-cionais que são bons exemplos de sustentabilidade.

“Pelos Caminhos d

a

Permacultura”

Introdução à permacultura

Paulo Bicudo

No próximo dia 28 de maio ás 21H no au-ditório da biblioteca pública da Horta haverá uma apresentação de um filme intitulado

que é um documentário resultado do trabalho de final de curso de comunicação e multimédia.

ilustração Raquel Vila

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Domingo de manhã, marina da Horta. O céu quase totalmente limpo, o azul impõe-se com duas ou três nuvens acanhadas a acompanhá-lo, o sol corajoso alegra este primaveril pas-seio por um pontão já com alguns iates aportados e outros a meio caminho. Há, por isso, qualquer coisa de intemporal e anacrónico no ar, já que comigo transporto um pão-de-ló en-contrado na caixa do correio, embalagem recém-chegada via continente com arejados e frescos augúrios da ultrapassada época pascal.

A marina da Horta está meia adormecida e só arriscaria ha-ver uma banda sonora possível para uma manhã como esta, não fosse David Bowie enunciar no seu Absolute Beginners: “I’ve nothing much to offer/ There’s nothing much to take/ I’m an absolute beginner/ And I’m absolutely sane/ As long as we’re together/ The rest can go to hell”. Ao fundo do porto está o bergantim Tres Hombres, proveniente das Caraíbas, espal-hando os seus 32 metros ao comprido bem como os seus eleva-dos mastros feitos de madeira, enquanto os seus tripulantes consertam as velas pendurados naquela forte personalidade cromática, essencialmente de castanho, amarelo e branco.

O austríaco Andreas Lackner e os holandeses Jorne Langelaan e Arjen Van der Veen estariam longe de imaginar que o nome do barco por eles idealizado seria alvo de várias pinturas no muro da marina da Horta. Pressente-se aventura e a epopeia neste “Tres Hombres”, uma embarcação com capacidade para 35 toneladas de carga, reconstruída e de novo engendrada se-gundo os métodos tradicionais, agregando neste seu recomeço mais de 100 voluntários oriundos de 25 países, sendo hoje uma realidade concreta quanto ao exemplo que dá à indústria naval e respectiva marinha mercante bem como às emissões contínuas de gases tóxicos e demais poluentes.

Tres Hombres numa Manhã da Horta

Este navio é, nos tempos que correm, um caso isolado no transporte internacional de mercadorias, não só pelo facto de não possuir motor mas porque valoriza a ideia de um co-mércio justo associado a um transporte que se quer amigo da natureza. A tripulação formada por gente muito jovem - há uma valência de navio escola- sobressaem as nacionalidades francesa e holandesa, constatando-se uma presença dinamar-quesa. “Quando chegamos a um novo porto, somos visitados por habitantes muito solícitos e curiosos e que são sempre pes-soas com tanta coisa para partilhar”, afirma Door Clemens, responsável pelo blogue e pela página da Internet do navio. É ele quem mostra o interior do barco para que possamos ob-servar o transporte de rum, adquirido a produtores locais nas Caraíbas, envelhecido durante os meses da viagem em bar-ricas de carvalho bem como as milhares de barras de choco-late que agora são transportadas para o continente europeu.

O ambiente é tão descontraído que estar com estes marinhei-ros, no único cargueiro à vela, é fazer, por instantes, parte da sua tripulação. “Somos uma verdadeira família” afiança Rianne de Beer, a cozinheira. Ou ainda a surpresa do jovem bretão Ewan, de ascendência escocesa, que se diz admirado com a actividade cultural que pôde verificar na ilha atlântica durante os dias que por aqui passou: “Foi muito agradável ver que uma pequena cidade ter a sua própria cultura em movi-mento. Fiquei espantado.” E, no dia seguinte, lá estava o Tres Hombres no horizonte, rumando a São Jorge e com destino a Falmouth, na Irlanda, e com a promessa de um novo reencon-tro neste mesmo lugar.

Aguardaremos, certamente, enquanto o David Bowie vai lembrando o lado principiante de tudo isto: “If our love song/ Could fly over mountains/ Sail over heartaches/ Just like the films/ There’s no reason/ To feel all the hard times/ To lay down the hard line.” E é absolutamente verdade!

fotografia de Rocío Raya

Fernando Nunes

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FAZENDO 99o boletim do que por cá se faz abril 2015

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rebus Letras e imagens são usados para formar uma nova palavra ou frase. Deve ser lido da esquerda para a direita.Os algarismos entre parêntesis indicam quantas palavras compõem o enigma e o número de letras de cada uma.

As letras fornecidas devem ser compostas com o nome das imagens para formar novas palavras.Quando uma letra surge entre parêntesis deve ser subtraída da palavra da imagem correspondente. (2+5+2+10+5+3+2+6)

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