reconstruindo os efeitos de sentido da nota de mil cruzeiros - publicado

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PALÍNDROMO Nº 10/2013 – Programa de PósGraduação em Artes Visuais – CEART/UDESC TYPE THE DOCUMENT TITLE 158 (RE) CONSTRUINDO OS EFEITOS DE SENTIDO DA NOTA DE MIL CRUZEIROS: A CÉDULA DO BARÃO TAMBÉM SE LÊ Airton Jordani Jardim Filho, PPGDesign/UDESC RESUMO O objetivo deste trabalho é realizar a leitura de imagem de uma cédula de mil cruzeiros, lançada em 1977, idealizada por Aloísio Magalhães e que tornou-se referência cultural no Brasil. O artigo utiliza, como base, a proposta de Sandra Ramalho e Oliveira, em seu artigo “Imagem também se lê” (2006) para a leitura de imagens, iniciando pelo escaneamento visual, seguido da desconstrução e elaboração de esquemas visuais; da redefinição dos elementos constitutivos; dos procedimentos relacionais entre os elementos; da reconstrução dos efeitos de sentido; procedendo ao trânsito incansável entre elementos, procedimentos, bloco de elementos, todo e partes, esquema visual e imagem; e, por fim, apresentando os dados de identificação da imagem. Além disso, faz uso de outras referências bibliográficas, não apenas relacionadas a leitura de imagem, mas também ao design visual e sua história no Brasil com o intuito de contextualizar a obra e seu autor. Palavras-chave: Barão, leitura de imagens, design de cédulas, Aloísio Magalhães, história do design. ABSTRACT This paper aims to do an image reading of a one thousand cruzeiros banknote, launched in 1977, designed by Aloisio Magalhães, which became a cultural reference in Brazil. The article is based on the image reading method by Sandra Ramalho Oliveira, in her article “Imagem também se lê” (2006), starting with the visual scanning, followed by deconstruction and elaboration of visual patterns, the redefinition of the constituent elements; relational procedures between elements; reconstruction of meaning effects; proceeding to the tireless transit between elements, procedures, block elements, whole and parts, visual and image schema, and finally presenting data image identification. Besides, it makes use of other references, related reading not only image but also the visual design and its history in Brazil in order to contextualize the work and its author. Key-words: Baron, image reading, banknote design, Aloísio Magalhães, design history.

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O objetivo deste trabalho é realizar a leitura de imagem de uma cédula de mil cruzeiros, lançada em 1977, idealizada por Aloísio Magalhães e que tornou-se referência cultural no Brasil. O artigo utiliza, como base, a proposta de Sandra Ramalho e Oliveira, em seu artigo “Imagem também se lê” (2006) para a leitura de imagens, iniciando pelo escaneamento visual, seguido da desconstrução e elaboração de esquemas visuais; da redefinição dos elementos constitutivos; dos procedimentos relacionais entre os elementos; da reconstrução dos efeitos de sentido; procedendo ao trânsito incansável entre elementos, procedimentos, bloco de elementos, todo e partes, esquema visual e imagem; e, por fim, apresentando os dados de identificação da imagem. Além disso, faz uso de outras referências bibliográficas, não apenas relacionadas a leitura de imagem, mas também ao design visual e sua história no Brasil com o intuito de contextualizar a obra e seu autor.

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!"#$%&'()( %+ ,-./-,0 1 !2342565 78 !9:;?3 86 "2@8: AB:=5B: 1 CD"'E.F&DGC TYPE THE DOCUMENT TITLE,HI (RE) CONSTRUINDO OS EFEITOS DE SENTIDO DA NOTA DE MIL CRUZEIROS: A CDULA DO BARO TAMBM SE L Airton Jordani Jardim Filho,PPGDesign/UDESC RESUMO O objetivo deste trabalho realizar a leitura de imagem de uma cdula de mil cruzeiros, lanada em 1977, idealizada por Alosio Magalhes e que tornou-se referncia cultural no Brasil. O artigo utiliza, como base, a proposta de Sandra Ramalho e Oliveira, em seu artigo Imagem tambm se l(2006)paraaleituradeimagens,iniciandopeloescaneamentovisual,seguidoda desconstruoeelaboraodeesquemasvisuais;daredefiniodoselementosconstitutivos; dosprocedimentosrelacionaisentreoselementos;dareconstruodosefeitosdesentido; procedendo ao trnsito incansvel entre elementos, procedimentos, bloco de elementos, todo e partes,esquemavisualeimagem;e,porfim,apresentandoosdadosdeidentificaoda imagem.Almdisso,fazusodeoutrasrefernciasbibliogrficas,noapenasrelacionadasa leituradeimagem,mastambmaodesignvisualesuahistrianoBrasilcomointuitode contextualizar a obra e seu autor. Palavras-chave: Baro, leitura de imagens, design de cdulas, Alosio Magalhes, histria do design. ABSTRACT This paper aims to do an image reading of a one thousand cruzeiros banknote, launched in 1977, designed by Aloisio Magalhes, which became a cultural reference in Brazil. The article is based on the image reading method by Sandra Ramalho Oliveira, in her article Imagem tambm se l (2006),startingwiththevisualscanning,followedbydeconstructionandelaborationofvisual patterns,theredefinitionoftheconstituentelements;relationalproceduresbetweenelements; reconstructionofmeaningeffects;proceedingtothetirelesstransitbetweenelements, procedures,blockelements,wholeandparts,visualandimageschema,andfinallypresenting dataimageidentification.Besides,itmakesuseofotherreferences,relatedreadingnotonly image but also the visual design and its history in Brazil in order to contextualize the work and its author. Key-words: Baron, image reading, banknote design, Alosio Magalhes, design history. !"#$%&'()( %+ ,-./-,0 1 !2342565 78 !9:;?3 86 "2@8: AB:=5B: 1 CD"'E.F&DGC TYPE THE DOCUMENT TITLE,HJ APRESENTAO Esteartigofoiescritocomoexignciaparcialdeumadisciplinaintrodutria Semitica,paraoProgramadePs-GraduaoemDesign(PPGDesign),da UniversidadedoEstadodeSantaCatarina. Seuobjetivofazeraleituradeumtexto visualbastantepeculiar:umanotadedinheiro,maisprecisamente,umacdulademil cruzeiros, produzida na dcada de 1970, no Brasil.Peculiar, por carregar consigo diversas e variadas funes, efeitos de sentido e qualidades sensveis. Conhecida como a nota do Baro, esta cdula marcou poca e serveaindahojederefernciaquandosefalaemdinheirodoBrasil.Suavisualidade pode ser objeto de leitura, uma vez queTodaimagempodeserconsideradaumtextoeessa umareflexosobreasignificaodetextosno-verbais. (RAMALHO E OLIVEIRA, 2005, p.89) Tipicamentetransdisciplinar,aproduodecdulasdedinheiroumtrabalho demuitasespecificidadesquecongregatcnicasdodesigngrfico,mastambmda comunicao,daengenharia,dahistria,daeconomiae,ainda,dasartesvisuais(o processo de impresso de uma nota, por exemplo, tradicionalmente contm elementos bastantesimilaresaoprocessodeimpressodegravurascomootalho-doceou buril1).Essatransdisciplinaridadesuscitaumestudomuitomaisaprofundadoeque nofazpartedoescopodestetexto,maspoder,futuramente,serabordadoem momento outro. A leitura deste texto visual seguir a proposta de RAMALHO E OLIVEIRA (2006, p.217)paraaleituradeimagens,iniciandopeloescaneamentovisual,seguidoda desconstruoeelaboraodeesquemasvisuais;daredefiniodoselementos constitutivos;dosprocedimentosrelacionaisentreoselementos;dareconstruodos efeitosdesentido;procedendoaotrnsitoincansvelentreelementos,procedimentos, bloco de elementos, todo e partes, esquema visual e imagem; e, por fim, apresentando os dados de identificao da imagem. 1 Gravura a buril: Mtodo de gravura em que a imagem entalhada diretamente na superfcie de uma chapa metlica (geralmente cobre). [...] O mtodo essencialmente linear, embora se possa obter variao tonal e sombreamento por meio de hachura, linhas paralelas ou texturas compostas de pontos e pequenos talhos. Tipicamente, as gravuras a buril apresentam uma qualidade de preciso austera e metlica, devida em parte natureza dos materiais e em parte inciso lenta e calculada das linhas. (CHILVENS, 2001, p. 234) !"#$%&'()( %+ ,-./-,0 1 !2342565 78 !9:;?3 86 "2@8: AB:=5B: 1 CD"'E.F&DGC TYPE THE DOCUMENT TITLE,K- Osdadosdeidentificaodaimagempodem,claro, consistirnoprimeiroitemaserobjetivadoquandodeum estudo.Todavia,dadosempricostmdemonstradoque esses dados contagiam a anlise, como que tomando do leitor a sua prpria capacidade de compreender as formas ecoresdiantedesi.(RAMALHOEOLIVEIRA,2006,p. 218) Neste caso, o artigo avanar um pouco mais sobre os dados de identificao e apresentar,porfim,umabrevecontextualizaohistricadanota,bemcomodados relevantes dos autores do projeto, pois tais informaes trazem importantes significados ao todo da obra e, por consequncia, a este artigo. 1. A NOTA DE MIL CRUZEIROS, O ESPELHAMENTO DO BARO Na figura 1 esto reproduzidos o reverso e o anverso de uma nota de dinheiro. Trata-se, pois, da imagem que ser analisada neste trabalho: uma nota de mil cruzeiros, em ambos as suas faces. importante ressaltar que esta reproduo perde muitas das caractersticasoriginaisdoobjeto.Nestaimagem,porexemplo,atextura-tantodo papelquantodaquelacriadaemvirtudedoprocessodeimpressotpicodenotasde dinheiro no pode ser reproduzida. Figura 1: A nota de mil cruzeiros. !"#$%&'()( %+ ,-./-,0 1 !2342565 78 !9:;?3 86 "2@8: AB:=5B: 1 CD"'E.F&DGC TYPE THE DOCUMENT TITLE,K, Alm disso, a fidelidade da cor no plena, tampouco se consegue o efeito da notapropriamenteditaque,porsuacaractersticadeseapresentaremreversoe anverso,jamaisexibiriasuasfacesdeformaconcomitante(emsuaplenitude)nanota original. 2. ESQUEMAS VISUAIS, LINHAS CONSTRUTIVAS Aoagrupar-seoselementosgrficosconstitutivosdotextoimagtico, perceptvel, de forma clara, a distribuio harmnica dos elementos no suporte da nota (nestecaso,opapel).Comocadafacedanotadividaemdoiseixos-horizontale vertical-eestadistribuioutilizadacomomeioparaatingiroobjetivo,queum layout baseado em eixo simtrico vertical central e um segundo eixo, horizontal. Figura 2: Agrupamento de elementos grficos constitutivos. !"#$%&'()( %+ ,-./-,0 1 !2342565 78 !9:;?3 86 "2@8: AB:=5B: 1 CD"'E.F&DGC TYPE THE DOCUMENT TITLE,K/ Anota,temainda,algumasreasvazias,semelementosgrficosvisveis, localizadas nas extremidades - esquerda e direita - da cdula. Estas reas vazias so, naverdade,partefundamentaldosistemadeseguranadestanota.Sevistacontraa luz, a partir de qualquer uma de suas faces, possvel enxergar nesses espaos, uma marca dgua com a mesma efgie impressa no anverso da nota. Almdasreasvazias,relevanteapontaragrandemanchacausadapelo acmulo de elementos, localizada no centro do cdula, em ambas as faces. Tal mancha estemolduradaporelementoshorizontais,nasextremidadessuperioreinferiorda cdula, sendo que em seu reverso, em funo do uso de linhas que compem a textura dofundo,amanchainteragemaiscomsuasmoldurasdasextremidades,tornandoa mancha mais compacta e maior. At mesmo os elementos textuais acabam tendo uma funovisual-compositivaimportantssima,poissuatextura,corelocalizaoso fundamentais para a composio visual. Figura 3: Esquemas visuais atravs de linhas construtivas. !"#$%&'()( %+ ,-./-,0 1 !2342565 78 !9:;?3 86 "2@8: AB:=5B: 1 CD"'E.F&DGC TYPE THE DOCUMENT TITLE,K0 Depoisdeidentificaraestruturabsicadaimagem,RAMALHOEOLIVEIRA (2006, p. 213) sugere que se parta para a descoberta dos chamados esquemas visuais. Segundo a autora, a funo desses esquemas a de subtrair as cores e os detalhes, chamando a ateno do olhar do enunciatrio para as formas, em detrimento das cores, sempre sedutoras, bem como para as formas macro das figuras, em si. Ressalta-seaquiaaglutinaodeformasnocentroenasextremidades superiorese inferiores da nota. Isso faz com que o peso visual da imagem concentre-se no centro da cdula. Ao analisar o esquema visual criado a partir das linhas construtivas, percebe-se queoselementosdanotapodem,quasequetotalmente,seremencaixadosdentrode umgriddelinhashorizontaiseverticais,tantonoanverso,quantonoreverso.Anica exceoparaisso,justamente,oelementoprincipaldecadaface.Emambas possvel traar uma linha diagonal ascendente. Nocasodoanverso,temosessalinhadiagonalpassandopelalinhadosolhos das efgies; no caso do reverso, temos uma figura de um aparelho, igualmente cortado porumalinhadiagonalascendente,queaponta,emsuasextremidadesparaum retngulocomfiguraselpticas,queserepete,deformamuitosemelhante,noreverso (diferindoapenasnacor:noreversoeleverde).Talretngulo,aparentemente, compeumdoselementosdeseguranadanota,poiscolocadacontraluz,encaixa ambos os retngulos encaixam-se perfeitamente. 3. PROCEDIMENTOS RELACIONAIS ENTRE OS ELEMENTOS Ao traar as linhas compositivas deste esquema visual, percebe-se uma grande preocupaocomaspropores,comasimetriaecomadistribuiodoselementos compositivos. Embora em sua visualizao natural (segurando-se a nota nas mos) no sejapossvelcompararassuasduasfacessimultaneamente,acompatibilidadeea relaoentreelas,seuselementoscompositivosesuaslinhasconstrutivasbastante rgida e precisa. Possivelmente isso seja devido ao fato de que as notas so projetadas paraseremcolocadascontraaluz,poisestaaformadeconferiralgunsdeseus dispositivos de segurana. !"#$%&'()( %+ ,-./-,0 1 !2342565 78 !9:;?3 86 "2@8: AB:=5B: 1 CD"'E.F&DGC TYPE THE DOCUMENT TITLE,KL importante observar ainda que o processo de impresso da nota semelhante aodealgumasgravuras,ondetodasasformasdaimagemsocriadasapartirda acumulao de finssimos traos. Esses traos, no entanto, devido a esta caracterstica de proximidade tornam-se um bloco, que em determinados detalhes parece compacto e slido,emoutroscriaformasdifusas,facilitandoapresentificaodeimagens tridimensionais, atravs de um tipo de iluso de tica. Observandoacomposiodotextovisualapartirdesuascores,constata-sea predominnciadecoresquentes,emespecialtonsdemarromeverde-musgo.Existe umamarcantediferenadecoresentreoanversoeoreverso.Noreverso,existem finssimas linhas horizontais que cruzam todo o fundo da cdula, dando a esta face um tommaisescuroemaisbege.Jnoanverso,taislinhasnoforamutilizadas:ofundo da cdula nesta face a cor do prprio papel em que ela foi impressa. Alm das duas corescitadasanteriormente,existeapresenadoamarelo,empequenaquantidadee sem muito destaque. No reverso da cdula, a gama de tons de verde e marrom muito maior. Uma das causas desse efeito a presena no apenas das linhas horizontais j mencionadas, mas tambm de uma srie de linhas sinuosas, que variam entre as cores, causando um efeito de dgrad.Abarratexturizadadoanverso,ondeconstaonmero1000easpalavras Banco Central do Brasil mais destacada, justamente pelo contraste entre suas cores e ofundo,comacordopapel.Suaformabemcontornada,mostrandoumaclara delimitaodoespaoedarelaofiguraefundo.Jnoreverso,talbarrabastante diferente.Elamuitoapresentalimitesmuitomaissuaves,emborapresentes.Abarra doreversotambmcompostadeverdeemarrom,masarelaofiguraefundono se faz to marcante. Noreversocabedestacar,ainda,apersonificaodealgumtipode equipamentomecnico,aparentementeequipadocomengrenagenselentes.Masno hmenoaesseaparelho,nenhumainformaoquantoorigem,poca,autor, nacionalidadeoufuno.Apartirdoquesepodededuzirbaseadonofatodanota trabalhar com dois eixos simtricos, tal aparelho est reproduzido de forma espelhada, no correspondendo a sua aparncia real, enquanto objeto. Ostextosverbaisquefazempartedacomposiosobastantereduzidos.No anverso, apenas o nmero mil em algarismos (repetido quatro vezes), a palavra Banco CentraldoBrasil(repetidaduasvezes)ealegendadaefgie,ondeconstaBarode !"#$%&'()( %+ ,-./-,0 1 !2342565 78 !9:;?3 86 "2@8: AB:=5B: 1 CD"'E.F&DGC TYPE THE DOCUMENT TITLE,KH Rio Branco (igualmente repetida duas vezes). somente no reverso que se encontra a menomoeda:lapareceainscriomilcruzeiros(duasvezes).Almdisso,o nmero mil aparece em algarismos (duas vezes), tambm duas vezes esto impressos os nmeros de srie da cdula e a assinatura do presidente do Banco Central do Brasil. NoesquemaapresentadonaFigura4,pode-sever,demodogeral,arelao entrecoresutilizadaseasreasondeelassefazempresentes.Almdisso,esto Figura 4: Mais esquemas visuais, baseados na cor e na distribuio espacial !"#$%&'()( %+ ,-./-,0 1 !2342565 78 !9:;?3 86 "2@8: AB:=5B: 1 CD"'E.F&DGC TYPE THE DOCUMENT TITLE,KK demarcadososdoiseixoscentraisdesimetria,horizontalevertical.Ocontrasteentre cores,elementosefundomaiornoanversodanota,ondeasreasdecoresso muitomaisfacilmentedemarcveis,aopassoquenoreverso,essascoressomais suaves e difusas. Com os eixos demarcados por linhas pontilhadas, torna-se ainda mais evidente apreocupaocompositivacomasimetriaeseucompromissocomoequilbrioentre formas, cores e espao.O layout do anverso da nota sensivelmente mais limpo, com mais contraste e maisreasdelimitadasclaramente.Oreversofoireservadoparaainserode elementosobrigatriosdacdula(nmerodesrie,nomedodinheiro,assinaturado responsvel).Assimparaqueacomposiopudesseincluirtodosesseselementos, tratou-sedetorna-lamenoscontrastadaemaishomognea,compoucarigidezde limites entre as formas e cores. Munidodeseussentidosedesuacapacidadecognitiva, segueoleitornadireododesvelamentodenovos conhecimentos,atravsderenovadassignificaesque encontra, transitando das partes para o todo e do conjunto dotextoestticoparaseuscomponentes.(RAMALHOE OLIVEIRA, 2006, p. 217) Aanliserealizadaatestemomentomapeouosmaisdiversoselementos constitutivos,possibilitando,apartirdestemapeamento,otrnsitoentreasparteseo todo,exerccioqueleva,oleitoraencontrarnovassignificaes,reconstruindoos efeitos de sentido. 4. RECONSTRUO DOS EFEITOS DE SENTIDO ConformeRamalhoeOliveira(2006,p.214),asignificao,emcadatexto imagtico,resultantedaconjugaodedoisplanosqueseestruturamdemaneira interdependente.Essesplanosso:oPlanodeExpressoeoPlanodeContedo. SegundoHjemslev(1991)apudRamalhoeOliveira(2006,p.214):oplanode expresso,ondeoselementosconstitutivosoudiferenciaisselecionamearticulam,ou seja,relacionam,relacionando-se,asqualidadesqueumcdigoseutilizaparase manifestar; o plano de contedo, onde a significao nasce das articulaes entre estes elementos diferenciais. !"#$%&'()( %+ ,-./-,0 1 !2342565 78 !9:;?3 86 "2@8: AB:=5B: 1 CD"'E.F&DGC TYPE THE DOCUMENT TITLE,KM Ataquiaanlisesesituanombitodoplanode expresso,poissetratoudoselementosconstitutivos, detectando-os;noentantonecessrioavanar, verificandocomoesseselementosseorganizam,se combinamoucontrastam,poisdessasrelaesque nascemassignificaesouosefeitosdesentido. (RAMALHO E OLIVEIRA, 2006, p. 215) Assim, pode-se concluir que, possivelmente, em funo da simetria apresentada em ambas as faces reverso e anverso baseada em dois eixos bsicos (horizontal e vertical),emergenestetextovisual,suaforteligaoconceitualcomumacartade baralho.Emambososcasos,aefgiepresentedoanversoseapresentaduplicada, formandoimagensjustapostas,separadasporumeixodesimetriaqueservecomo divisor das imagens, mas tambm como referencia visual para o ponto central do texto visual.Apesardelargamenteutilizadonaconfecodebaralhos,emcdulasde dinheiro este recurso no comum tanto nos dias de hoje, quanto nas pocas em que o dinheiro corrente no Brasil era o Cruzeiro. Apartirdesteeixo(enocasodacdulasodois,emdiferentessentidos: horizontal e vertical) que se distribuem, de forma equilibrada, todos os elementos que compemotextovisual.Atravsdoefeitomoir2,criam-setexturasedesenhos abstratos, ao longo de toda a superfcie da cdula, em suas duas faces. Possivelmente comafunodedificultarumeventualprocessodefalsificao,taisdesenhos apresentam,ainda,aoleitorouenunciatriodaimagem,afunodecorativa, agregando harmonia e equilbrio na composio. Outro fator que se destaca o uso de linhas muito finais em alguns momentos, quaseimperceptveisparaacriaodecoresedgrads.Adelicadezacriadapelo uso destas linhas atribui ao projeto grfico leveza e sofisticao. Noanverso,destaca-seaefgiedoBarodeRioBranco.Comumaexpresso suaveeaparentandotranquilidade,passa-seaideiadeumaautoridadede personalidadesbria,equilibradaeconciliadora.Ousodeumfortecontrasteentrea imagemdorostodoBaroeofundotransmiteumaideiadedeterminao, apresentando-ocomoumapessoamarcante,destacada.Abarrahorizontalbicolor presente nas extremidades superior e inferior do anverso transmitem solidez e tradio. 2 Efeito ptico produzido pela superposio de duas ou mais retculas, caracterizado por variadas formas geomtricas, agradveis ou no. Na reproduo a vrias cores (bicromia, tricomia, policromia) procura-se reduzir esse efeito, colocando-se as retculas em um determinada inclinao para cada cor, de forma que os pontos no se misturem na impresso. (RACHAA & BARBOSA, 1978, p. 314) !"#$%&'()( %+ ,-./-,0 1 !2342565 78 !9:;?3 86 "2@8: AB:=5B: 1 CD"'E.F&DGC TYPE THE DOCUMENT TITLE,KI A moldura slida e marcante delimita a efgie, mas tambm atribui segurana e fora composio, caractersticas desejveis quando se pensa em uma nota de dinheiro, por exemplo. Noseureverso,anotaapresentalinhassinuosasquepresentificamummapa cartogrfico, com suas curvas de nvel. Tais documentos so utilizados pela topografia para presentificar os diferentes nveis de altitude de determinado terreno, servindo como refernciaparaanavegaoemterrenospoucoconhecidosouemquesedeseja realizar algum tipo de interveno humana. So justamente as curvas do mapa cartogrfico que do a pista para que tipo de aparelhoestpresentificadonocentrodestaface.Oaparelho,naverdade,um espelhamento de um teodolito. O teodolito um instrumento ptico de medida, utilizado pelos profissionais da topografia para realizar medidas e criar tais mapas. Desta forma, perfeitamentepossveldeduzirqueatopografiaoualgumadesuasatividades correlatas tenha algum tipo de ligao forte com o Baro de Rio Branco.Tanto o mapa topogrfico, quanto o teodolito, esto integrados composio de uma forma muito mais suave e menos contrastante do que a efgie no anverso. Isso faz comqueacdulatenhaumagrandediferenaemtermosvisuaisentresuasduas faces:enquantoseuanversolimpo,simplesecontrastado,apresentandocoresmais forteseevidentes,emcontraposioaobegeclarodopapelmoeda,seureverso denso, complexo e difuso, onde h a profuso de diversos elementos visuais e tons de cor. Tendolidoanotaemseuaspectoformaleosdecorrentesefeitosdesentido, combasenestesprocedimentos,faz-senecessriooltimopassosugeridopor RAMALHOEOLIVEIRA(2006)paraumaleituradeimagem:abuscadosdadosde identificao da imagem. Apresentar-se-,aseguir,umapesquisaquetevecomoobjetooautordo projetogrficodestacdula,bemcomoumabrevecontextualizaohistricaesocial, comointuitodecomplementaraleituradestetextovisual.Cabelembrarqueesta identificao da imagem no foi feita de incio, neste processo de leitura, em funo do que a prpria autora sugere. Osdadosdeidentificaodaimagempodem,claro, consistirnoprimeiroitemaserobjetivadoquandodeum estudo.Todavia,dadosempricostmdemonstradoque esses dados contagiam a anlise, como que tomando do !"#$%&'()( %+ ,-./-,0 1 !2342565 78 !9:;?3 86 "2@8: AB:=5B: 1 CD"'E.F&DGC TYPE THE DOCUMENT TITLE,KJ leitor a sua prpria capacidade de compreender as formas ecoresdiantedesi.(RAMALHOEOLIVEIRA,2006,p. 218) Emborasejabastanterelevante,aidentificaodaimagempoderia,defato, influenciaraanlisedoleitor,considerandoocontextoemqueaobraeautoresto inseridos. Para garantir uma leitura mais espontnea somente a partir deste momento que se far tal identificao. 5.ALOSIOMAGALHES,ODESIGNVISUALMODERNONOBRASILEA NOTA DO BARO Oautordoprojetooriginal,designerqueconcebeuanotademilcruzeirosse chama Alosio Srgio de Magalhes. Conhecido simplesmente como Alosio Magalhes, nasceu em Recife, no dia 5 de novembro de 1927, e faleceu em Pdua, na Itlia, em 13 dejunhode1982,aos54anosdeidade.Apesarpossuirbastantetransitonomeio artstico, optou pela faculdade de direito, onde ingressou em 1946.Segundo o prprio Alosio Magalhes (TABORDA & LEITE, 2003, p. 27), quem quenofaziadireitonaquelapoca?Eraoprimeirosinaldebomsenso,querdizer, bomsensodedesejodeumaprojeopoltica,intelectual!.AfaculdadedeDireito reforouaindamaissuaformaohumanstica,oqueteveclarosdesdobramentosem sua obra como designer visual, posteriormente.UmadascaractersticasdeAlosio,desdecedo,queemseustrabalhos,ele mesclavaasofisticaointelectualeamanifestaopopular,aqualsemprelhefoi muitocara.TeveumapassagempelaEuropa,em1951,comobolsistadogoverno francs, em artes visuais. Voltou para Recife em 1953, sem ter conseguido encontrar o que procurava. Segundo ele, gostaria de ter encontrado mestres que me ensinassem o que no sei. Pensei que poderia trabalhar com alguns dos pintores que admiro, porm no foi possvel. Inclusive no que diz respeito queles que, como Lger3 ou Lhote4, tm academia, no ensinam como eu entendo. 3 Lger,Fernand(1881-1955).Pintorfrancs.[]AinflunciadeLgersobreosartistasdapocafoiabrangentee diversificada. H um museu com seu nome em Biot, na Frana. (CHILVENS, 2001, p. 299) 4 Lhote, Andr (1885-1962). Pintor, escultor e terico da arte francs. [] Exerceu ampla influncia sobre artistas mais jovens,tantofrancesescomoestrangeiros,atravsdesuaprpriaacademiadearte,aAcadmieMontparnasse, inaugurada em 1922. (CHILVENS, 2001, p. 306) !"#$%&'()( %+ ,-./-,0 1 !2342565 78 !9:;?3 86 "2@8: AB:=5B: 1 CD"'E.F&DGC TYPE THE DOCUMENT TITLE,M- Averdadeiraviradaemsuatrajetriacomoartistaedesignerveionoanode 1956. Alosio vai para a Amrica do Norte, com uma bolsa de estudos do Departamento deEstadodosEstadosUnidosdaAmrica.Lfazalgumasexposieseconhece EugeneFeldman,umartistagrficoeimpressorquelheapresentanovastcnicase tecnologias como, por exemplo, a impresso em off-set.DuranteosdoismesesquepassounaFiladlfia,Alosioobservou,crioue refletiumuitoarespeitodeseutrabalho.Acadamomento,omeupensamentovoava ataquieeucomparavaeestabeleciaparalelosentreoqueviaeoquepoderiaser feito no Brasil, disse ele, certa vez. De repente, aquele moo extremamente requintado, artista refinadssimo,deformaohumansticaependores cosmopolitas, em dia com as vanguardas mais iniciticas, de gosto apurado at demais, pintor aclamado do pas e a caminhodoreconhecimentointernacional;derepente aquelemooesguio,inquieto,viajantecompulsivo,a transitarcomdesembaraoportodasaslatitudes geogrficas e espirituais (e por isso mesmo parecendo s vezesbeiradodiletantismoedagratuidade),abandona essaregiofluidaerarefeitadadisponibilidadeesefaz designer. (MELO, 1997, p. 31) Destavez,devoltaRecife,trazaideiadatecnologiacomopossibilidadede umanovaprticaeoqueelaproporcionaaotempodacriao.NosEstadosUnidos finalmentecompreendeuatecnologiacomoaliadanaeconomiadetempoerecursos. Passouacompreenderaimportnciadosprocessosindustriaise,porqueno,do prprio desenho industrial ou como se diz nos dias de hoje design. Pode-seafirmarqueesteocomeodatransiodoAlosioartistaparao Alosio designer. Tanto que em 1960, fundou o escritrio M+N+P, em conjunto com os sciosLuizFernandoNoronhaeArturLcioPontual.OM+N+Ptransformou-se, posteriormente,emAMPVDI(AlosioMagalhesProgramaoVisualDesenho Industrial) e, ento, no atual PVDI - Programao Visual Desenho Industrial. Junto com seusnovossciosJoaquimRedigeRafaelRodrigues,projetouaidentidadevisualda Petrobrs,primeiroprojetodegrandespropores.Em1965,foiresponsvelpela criao do primeiro smbolo da TV Globo - uma estrela de quatro pontas.Alosio foi, ainda, o nico designer que no era funcionrio de carreira da Casa daMoedadoBrasilaprojetarnotasdedinheiroparaainstituio.Talvez,porisso mesmo,eletenhaconseguidoencontraralgumassoluesealternativasatento inditas ou impensveis para a poca, inclusive em termos de segurana para evitar as !"#$%&'()( %+ ,-./-,0 1 !2342565 78 !9:;?3 86 "2@8: AB:=5B: 1 CD"'E.F&DGC TYPE THE DOCUMENT TITLE,M, falsificaes. Antes mesmo de trabalhar no projeto da cdula de mil cruzeiros, Alosio j havia mudado a histria do dinheiro no Brasil. Em 1966, atravs de um concurso fechado para artistas grficos, Magalhes foi escolhido para iniciar o processo de nacionalizao da produo de dinheiro no Brasil. Oprimeiropassoestavadadoe,pelaprimeiravez,asnotasbrasileirastinham, igualmente, um desenho brasileiro. Uma importante inovao surgida do processo criativo de Alosio foi a utilizao do chamado efeito moir. Tido como um defeito de impresso, resultado de um acidente visualentreasretculasqueformamascores,omoirfoiutilizadocomogeradorde padres que dificultariam a reproduo ilegal das notas brasileiras. Depossedeumpequenoartefatoformadoporpequenos quadradosdefilmetransparenteepapelondese encontravam impressos padres lineares similares, Alosio percebeuqueodesenhogeradoporessetipode superposiojeraemsiumempecilhoao desenvolvimentodefalsificaes.Reproduzirummoir provocadocomexatidosetornavaquaseimpossvel,ao menos,economicamenteinvivel.(TABORDA&LEITE, 2003, p. 193) Figura 5: Exemplo das possibilidades de moir a partir de duas retculas circulares(TABORDA & LEITE, 2003, p. 193) Eassim,atravsdasideiaseprojetosdeAlosioMagalhes,opasentrouem uma nova era em se tratando da impresso de seu prprio dinheiro. As novas diretrizes buscavam, acima de tudo, nacionalizar o sistema financeiro brasileiro - em especial seu processodeproduoesuapartevisual,queatentoseguiapadresestticose projetivosestrangeiros,apenasreproduzidosaquisemnenhumaintervenocrtico-reflexiva que levasse em conta a cultura local. !"#$%&'()( %+ ,-./-,0 1 !2342565 78 !9:;?3 86 "2@8: AB:=5B: 1 CD"'E.F&DGC TYPE THE DOCUMENT TITLE,M/ 6. CONSIDERAES SOBRE A CDULA EmvirtudedeinstabilidadefinanceiraquedominouoBrasildurantedcadase quefaziacomqueashouvessegrandetrocademodelosdecdula,emfunoda necessidade de atualizar o sistema fiducirio aos efmeros padres de nomenclatura e valores,anotademilcruzeiros,objetodesteestudo,jdeixoudecircularhmuitos anos.Acdulademilcruzeiros,lanadaem1977,marcouoquepodemoschamarde umnovopadromonetrionacional.OprojetofoiconcebidoporAlosioMagalhese desenvolvidoporseuscolegas(ediscpulos)JoodeSouzaLeiteeWashingtonDias Lessa. AnovanotatraziaaefgiedoBarodeRioBranco,JosMariadaSilva ParanhosJnior,famosopelaresoluodeconflitosterritoriaisinternacionais.Alosio dividiuotrabalhoemtrsplanos:tcnico,comunicaoedesign.Oprojetogrfico apresentou, no plano do design, uma srie de inovaes. A principal delas foi batizada deprincpioformaldoespelhamento,ondeacdulaeradivididapelametade,ecada parte dessa diviso era o perfeito espelhamento da outra. EmreunionoBancoCentral,noRiodeJaneiro, presentes diretores do Banco e da Casa da Moeda, Alosio traounoquadronegroumprogramadeinvestigao.O trabalhodeveriaserdesenvolvidoemtrsplanos simultneos: o plano tcnico, em que todo o conhecimento tecnolgicodeveriaseridentificadoemseuestado-da-arte;oplanodacomunicao,emqueumapesquisa indicariapossibilidadestemticas,esuasrepresentaes iconogrficas,paraodesenvolvimentodonovopadro, porfim,oplanododesign,emqueasinformaes tecnolgicasdeveriamserinterpretadasluzdas possibilidadesdedesenhoque,emseuresultado, constituiriamumpadroadequadoecompersonalidade prpria,apautarnosomenteodesenhodascdulasa serelaboradonaqueleexatomomento,comotambm desenhos futuros. (TABORDA & LEITE, 2003, p. 218) Com relao ao plano tcnico, importante lembrar que o projeto sofreu severas crticascomrelaosegurana.Comumcdulaespelhada,reduz-seemcinquenta porcentoareadeseguranae,consequentemente,adificuldadeimpostaaos falsificadores para executarem seu trabalho. Isso, no entanto, no impediu que o projeto grficofosselevadoadiante.Provadissoqueacomposiobaseadano !"#$%&'()( %+ ,-./-,0 1 !2342565 78 !9:;?3 86 "2@8: AB:=5B: 1 CD"'E.F&DGC TYPE THE DOCUMENT TITLE,M0 espelhamento da efgie foi utilizada em muitos outros projetos, posteriores, da Casa da Moeda e do Banco do Brasil, mesmo sem a presena de Alosio como projetista. 7. CARTEMAS Umaforteinfluncianoprojetogrficodanotademilcruzeiros,foramos cartemas,outroimportantetrabalhodesenvolvidoporAlosioMagalhesaolongode suacarreiracomodesigner.Otermocartema"umneologismocriadopelofillogo Antnio Houaiss para designar este trabalho, que consistia em uma composio visual construdaapartirdevriascpiasdedeterminadaimagem,tendocomosuporte,a tcnica da colagem. Poralgumtempo,acheiqueapinturaestavamorta.Hoje no posso dizer mais a mesma coisa. O desenho industrial meobrigouasermaispragmtico,aterumcontatomais diretocomomeumeiosocial,aaceitarmuitoslimites. Hoje, quando fao os cartemas, eu ainda estou aceitando umlimite:odocarto-postal.Mas,assimcomono acreditoqueapinturaestejamorta,nocolocoabaixode nadadoquefaominhasatividadescomodesenhista industrial.Acabeidescobrindoqueaculturano eliminatria,massomatria.(MAGALHES,1974apud FUNARTE, 1982, p. 9) Tais imagens eram, quase sempre, cartes postais convencionais, com retratos depaisagensdiversas.Ospostaiseramcoladosladoalado,emposiesdiferentes, dandoaoconjuntoumanovaunidadevisual,facecontinuidadedasimagens montadasrepetidamenteemmdulossimtricos,fortementebaseadanapadronagem criada por esta composio vista como um todo. MAGALHES (1973) apud FUNARTE (1982, p. 9) afirmava ainda, que "embora simples, o cartema no um achado. Tem toda a vivncia e o treinamento de um olho atentoatudo[!]Aarteandameiotrgica,densa,sufocada.Perdediariamenteo carterldicoeagraa.Ocartemarestituiaoespectadoraalegriaperdida.Ningum fica indiferente. O elemento (qualquer e mesmo carto-postal) concebido como cdula generatriz do cartema: ei-los, os cartemos de AlosioMagalhes,poemasvisuais,mltiplos rigorosamente(artesanalouindustrialmente).(HOUAISS apud FUNARTE, 1982, p. 13) !"#$%&'()( %+ ,-./-,0 1 !2342565 78 !9:;?3 86 "2@8: AB:=5B: 1 CD"'E.F&DGC TYPE THE DOCUMENT TITLE,ML Oprincpiodejustaporimagens,emposiesinvertidasfoifundamentalparaa concepodoprojetogrficodanotademilcruzeiros,umavezqueoespelhamento dasimagenssurgecomolinhacentraldaquelaquefoiamarcantereformulaode Figuras 5 e 6: Exemplos de cartemas produzidos por Alosio Magalhes !"#$%&'()( %+ ,-./-,0 1 !2342565 78 !9:;?3 86 "2@8: AB:=5B: 1 CD"'E.F&DGC TYPE THE DOCUMENT TITLE,MH todososparmetrosdopadromonetrionacionaleque,comoprincpiocompositivo emsi,mesmodepoisdoafastamentodeAlosiodacriaodascdulasdedinheiro brasileiras,perduroupordiversasgeraesdenovasnotaslanadaspeloBanco Central. CONSIDERAES FINAIS Comatuaoemvariadasfrentes,odesignvisual,oudesigngrfico,emsua eternapreocupaocomacomunicao,apresenta-senosmaissurpreendentes lugareseobjetos.Avaliarumprojetodecduladedinheiroaindaumaaorestrita aosdesignersepesquisadoresdarea.Noentanto,arealizaodestetrabalhode leituradeimagemnosmostraoquoimportanteumprojetonestareadeatuao, assim como so marcantes seus desdobramentos e consequncias. TalvezotrabalhodeMagalhescomprojetosdecdulasnotenhasidosua melhorcriao,nemtampoucoamaisrepresentativa.Maspodemosafirmardeque, juntamente com algumas de suas concepes para identidades visuais (PETROBRS, Light,FundaoBienaldeSoPaulo)foiumdosquemaissepopularizou.Assim sendo,recomenda-seaoleitor,abuscapormaisinformaesedetalhesdahistria desteprojeto,seuidealizadoresuasorigens,umavezqueeleestdiretamente relacionado a histria pregressa do design visual brasileiro. Quemtambmsenotabilizou[...]peloseutrabalhona readeidentidadecorporativafoiAlosioMagalhes, muitoprovavelmenteomaisinfluentedesignerbrasileiro do sculo 20. (DENIS, 2000, p. 166) Para se ter uma ideia da importncia e do peso de Alosio Magalhes na histria do design moderno brasileiro, foi o seu aniversrio, dia 5 de novembro, a data escolhida pelo Brasil, desde 1998, para comemorar o Dia Nacional do Design5.A partir de sua notvel atuao como designer [...] Alosio deslanchou no final da dcada de 1970 para uma carreira comodirigentecultural,tornando-sefundadore coordenadordoCentroNacionaldeRefernciaCultural em1976,diretor-geraldoInstitutodoPatrimnioHistrico eArtsticoNacional(IPHAN)em1979efundadore 5 Decreto presidencial 7508, de 19 de outubro de 1998, que institui o Dia Nacional do Design e d outras providencias. Acessvel, na ntegra, no site da Presidncia da Repblica, em http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/dnn/Anterior%20a%202000/1998/Dnn7508.htm !"#$%&'()( %+ ,-./-,0 1 !2342565 78 !9:;?3 86 "2@8: AB:=5B: 1 CD"'E.F&DGC TYPE THE DOCUMENT TITLE,MK presidentedaFundaoNacionalPr-Memriaem1980. Aoampliaroenfoquedoseutrabalhoparaapoltica cultural,Alosiotraduziuparaumplanomaioras possibilidadesdeatuaododesignernoBrasil, demonstrandoatravsdesuaprticaquepossvel projetar no somente os objetos materiais que definem um contexto cultural, mas tambm a prpria identidade que se constri a partir deles. (DENIS, 2000, p. 199) Alosio,desdemuitojovem,entendeuqueaimportnciadodesignnose restringia ao processo de projeto. Foi um dos primeiros profissionais da rea a utilizar o desenho industrial como ferramenta de transformao social e cultural, alm de ter sido um grande pesquisador e promotor da cultura brasileira. Ochamadoprocessodedesenvolvimentodeumacultura nosemedesomentepeloprogressoepelo enriquecimentoeconmico,masporumconjuntomais amploesutildevalores.[...]satravsdaanliseede estudosinterdisciplinares,sepoderalcanara compreensodoconjuntodefatoresqueserocapazes deconfigurarumcrescimentoverdadeiramente harmonioso.Aosfatoreseconmicos[...]foram acrescentadososfatoressociaise,jagora,a compreenso do todo cultural. O Desenho Industrial surge [...]comoumadisciplinacapazdeseresponsabilizarpor umapartesignificativadesteprocesso.Porqueno dispondonemdetendoumsaberprprio,utilizavrios saberesqueseocupamdaracionalizaoedamedida exata os que dizem respeito cincia e tecnologia e de outro, daqueles que auscultam a vocao e a aspirao dos indivduos os que compem o conjunto das cincias humanas. (MAGALHES, 1998, p. 12) Maisespecificamente,noquedizrespeitonotadoBaro,dentrodeseu contexto, no apenas como obra de Alosio, mas como bem cultural nacional, possvel afirmar que foi uma verdadeira quebra de paradigma da relao entre dinheiro e cultura. Umdosprincipaisindciosdestainfluncianocotidianodopovobrasileiroofatode queapalavraBaro"(clararefernciaaefgiedanota)utilizadaathojeparaa quantidade mil, quando se fala em dinheiro no Brasil. !"#$%&'()( %+ ,-./-,0 1 !2342565 78 !9:;?3 86 "2@8: AB:=5B: 1 CD"'E.F&DGC TYPE THE DOCUMENT TITLE,MM REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS CHILVENS, I. Dicionrio Oxford de Arte. 2a. Ed. So Paulo: Martins Fontes, 2001. DENIS, R. C. Uma introduo histria do design. So Paulo: Edgard Blcher, 2000.FUNARTE. Cartemas: A Fotografia como Suporte de Criao. Rio de Janeiro: Fundao Nacional de Arte/Ncleo de Fotografia. 1982. MAGALHES, A. O Que o Desenho Industrial Pode Fazer pelo Pas? In: Arcos: Design, Cultura Material e Visualidade, Rio de Janeiro: ESDI, 1998, v. 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