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Reestruturação produtiva e recomposições no mercado de trabalho Ana Paula Marques Departamento de Sociologia Centro de Investigação em Ciências Sociais (CICS) (Rio de Janeiro, 10 de Novembro 2010) Mesa Redonda “A reestruturação produtiva e seu reflexo na estrutura de emprego, no uso e na protecção do trabalho” – Centro de Estudos da ENSP 1

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Page 1: Reestruturação produtiva e recomposições no mercado de trabalho Ana Paula Marques Departamento de Sociologia Centro de Investigação em Ciências Sociais

Reestruturação produtiva e recomposições no mercado de trabalho

Ana Paula MarquesDepartamento de Sociologia

Centro de Investigação em Ciências Sociais (CICS)

(Rio de Janeiro, 10 de Novembro 2010)

Mesa Redonda “A reestruturação produtiva e seu reflexo na estrutura de emprego, no uso e na protecção do trabalho” – Centro de Estudos da ENSP

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Page 2: Reestruturação produtiva e recomposições no mercado de trabalho Ana Paula Marques Departamento de Sociologia Centro de Investigação em Ciências Sociais

O que estará em discussão nesta O que estará em discussão nesta Mesa-Redonda é…Mesa-Redonda é…

A inevitabilidade do modelo de desenvolvimento das sociedades contemporâneas?

2Ana Paula Marques (Novembro 2010)

Page 3: Reestruturação produtiva e recomposições no mercado de trabalho Ana Paula Marques Departamento de Sociologia Centro de Investigação em Ciências Sociais

Tópicos de apresentaçãoTópicos de apresentação

I. Globalização, competitividade e incerteza

II. Processos de ressimbolização do trabalho

III. Mercado de trabalho português: fragilidades e dilemas

IV. Que cenários para o “futuro do trabalho”

3Ana Paula Marques (Novembro 2010)

Page 4: Reestruturação produtiva e recomposições no mercado de trabalho Ana Paula Marques Departamento de Sociologia Centro de Investigação em Ciências Sociais

I. Tópico

Globalização, competitividade Globalização, competitividade e incertezae incerteza

4Ana Paula Marques (Novembro 2010)

Page 5: Reestruturação produtiva e recomposições no mercado de trabalho Ana Paula Marques Departamento de Sociologia Centro de Investigação em Ciências Sociais

Tendências Centrais…Tendências Centrais…

5Ana Paula Marques (Novembro 2010)

Page 6: Reestruturação produtiva e recomposições no mercado de trabalho Ana Paula Marques Departamento de Sociologia Centro de Investigação em Ciências Sociais

Tendências Centrais…Tendências Centrais…

6Ana Paula Marques (Novembro 2010)

Page 7: Reestruturação produtiva e recomposições no mercado de trabalho Ana Paula Marques Departamento de Sociologia Centro de Investigação em Ciências Sociais

Tendências Centrais…Tendências Centrais…

7Ana Paula Marques (Novembro 2010)

Page 8: Reestruturação produtiva e recomposições no mercado de trabalho Ana Paula Marques Departamento de Sociologia Centro de Investigação em Ciências Sociais

Tendências Centrais…Tendências Centrais…

8Ana Paula Marques (Novembro 2010)

Page 9: Reestruturação produtiva e recomposições no mercado de trabalho Ana Paula Marques Departamento de Sociologia Centro de Investigação em Ciências Sociais

Ana Paula Marques (Novembro 2010) 9

Ao nível de tendências de reestruturação Ao nível de tendências de reestruturação produtiva, estamos perante…produtiva, estamos perante…

Economia pós-industrial, em que a indústria e os serviços convergem para um sistema produtivo complexo, intensivo em capital;

Novas tecnologias com novas potencialidades (maior performance económica, produzindo produtos diversificados, frequentemente renovados com a melhoria de produtividade e qualidade);

Mercados instáveis e diferenciados com novas exigências (qualidade e flexibilidade) e aumento da concorrência;

Novos valores face ao trabalho e ao emprego (e.g. responsabilidade, participação, autonomia, desenvolvimento pessoal e profissional).

Page 10: Reestruturação produtiva e recomposições no mercado de trabalho Ana Paula Marques Departamento de Sociologia Centro de Investigação em Ciências Sociais

Implicam uma renovação da organização do trabalho…Implicam uma renovação da organização do trabalho…

Hierarquias planas; Horizontalização das estruturas; Conteúdos funcionais mais ricos e

diversificados; Trabalho em equipa; Centralidade das competências; Autonomia na realização do trabalho; Confiança nas relações laborais.

10Ana Paula Marques (Novembro 2010)

Page 11: Reestruturação produtiva e recomposições no mercado de trabalho Ana Paula Marques Departamento de Sociologia Centro de Investigação em Ciências Sociais

Baseada no paradigma de “Empresa Flexível”…Baseada no paradigma de “Empresa Flexível”…

Modelos Organizacionais Flexíveis

Estruturas inovadoras e descentralizadasExcelência de competências

Primado da confiançaMaior participação dos trabalhadores

11Ana Paula Marques (Novembro 2010)

Page 12: Reestruturação produtiva e recomposições no mercado de trabalho Ana Paula Marques Departamento de Sociologia Centro de Investigação em Ciências Sociais

Posse de escolaridade básica obrigatória; Capacidade de adaptação e reacção às novas

situações; Compreensão global de um conjunto de tarefas e

funções conexas; Capacidade de abstracção e de selecção; Iniciativa e resolução de imprevistos; Tratamento e interpretação de informação; Participação, responsabilização e cooperação; Abertura a novas aprendizagens.

Exigindo um outro “perfil” de qualificação/ competênciasExigindo um outro “perfil” de qualificação/ competências

12Ana Paula Marques (Novembro 2010)

Page 13: Reestruturação produtiva e recomposições no mercado de trabalho Ana Paula Marques Departamento de Sociologia Centro de Investigação em Ciências Sociais

Não unidireccionalidade Não unidireccionalidade dos modelos produtivosdos modelos produtivos

Cenários de configurações empresariais

Cenário 1

Neotaylorismo em direcção a uma

sociedade dual

Cenário 2

Neotaylorismo em direcção a uma

sociedade segmentada

Cenário 3

Lean production em direcção a uma

sociedade hipercompetitiva

Cenário 4

Antropocentrismo em direcção a uma

sociedade democrática e equitativa.

13Fonte: Adaptado (Kovács 1998: 20-23)

Page 14: Reestruturação produtiva e recomposições no mercado de trabalho Ana Paula Marques Departamento de Sociologia Centro de Investigação em Ciências Sociais

II. Tópico

Processos de Processos de ressimbolização do trabalhoressimbolização do trabalho

14Ana Paula Marques (Novembro 2010)

Page 15: Reestruturação produtiva e recomposições no mercado de trabalho Ana Paula Marques Departamento de Sociologia Centro de Investigação em Ciências Sociais

Ana Paula Marques (Novembro 2010) 15

Representações e imagens societaisRepresentações e imagens societais

SOCIEDADE PROGRAMADA (Touraine, 1970)

SOCIEDADE PÓS-INDUSTRIAL (Bell, 1977)

SOCIEDADE DA TERCEIRA VAGA (Toffler, 1980)

SOCIEDADE DE INFORMAÇÃO (Lyon, 1992)

SOCIEDADE EM REDE (Castells, 1996)

(…)

Sociedade individualista (Giddens, 1996)

Sociedade de risco (Beck, 2002)

Sociedade líquida (Bauman, 2002)

Page 16: Reestruturação produtiva e recomposições no mercado de trabalho Ana Paula Marques Departamento de Sociologia Centro de Investigação em Ciências Sociais

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Em curso…Em curso…

1. Assumpção da “cultura de risco” e da incerteza na Sociedade do Conhecimento a par do compromisso e confiança exigidos aos actores sociais;

2. Lógicas de intensificação e racionalização subtis dos modelos de organização do trabalho (e.g. NPM e externalização de serviços, gestão por objectivos/ resultados; contratos flexíveis/ atípicos);

3. Não linearidade e homogeneidade dos processos de profissionalização: uma minoria altamente qualificada versus “novos” desqualificados, excluídos e marginalizados;

4. Dinâmica da reversibilidade e reconversão de percursos formativos (e.g. Long life learning, mobilidade, carreiras transversais).

Ana Paula Marques (Novembro 2010)

Page 17: Reestruturação produtiva e recomposições no mercado de trabalho Ana Paula Marques Departamento de Sociologia Centro de Investigação em Ciências Sociais

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Em curso…Em curso…

Reconversão económica e tecnológica

Reconversão político-ideológica

Reconversão sócio-cultural?

Ana Paula Marques (Novembro 2010)

Page 18: Reestruturação produtiva e recomposições no mercado de trabalho Ana Paula Marques Departamento de Sociologia Centro de Investigação em Ciências Sociais

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Reconversão económica e tecnológicaReconversão económica e tecnológica

Competitividade compulsiva: aumento da concentração industrial e financeira a nível global, favorecendo o desenvolvimento de mercados oligopolistas;

Revolução tecnológica permanente;

Terciarização e dinâmicas da estrutura profissional – polarização e segmentação do mercado de trabalho;

Extensão do desemprego (e.g. longa duração, interminente) e subemprego;

Ana Paula Marques (Novembro 2010)

Page 19: Reestruturação produtiva e recomposições no mercado de trabalho Ana Paula Marques Departamento de Sociologia Centro de Investigação em Ciências Sociais

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Reconversão económica e tecnológica (cont.)Reconversão económica e tecnológica (cont.)

Difusão de formas precárias e atípicas de emprego (incluindo informal ou clandestino);

Transição do “emprego para a vida” a “empregabilidade para a vida” ou “empregabilidade permanente”;

Substituição do termo trabalho/ emprego pelo de “actividade”, com ênfase para a economia social ou terceiro sector, com proximidades com o trabalho não declarado

Ana Paula Marques (Novembro 2010)

Page 20: Reestruturação produtiva e recomposições no mercado de trabalho Ana Paula Marques Departamento de Sociologia Centro de Investigação em Ciências Sociais

Pressão sobre os sistemas de Segurança Social (e.g. envelhecimento da população e ciclos de vida);

Insucesso das políticas sociais e dos dispositivos de mediação (e.g. combate ao desemprego, abandono escolar);

Maior vulnerabilidade e exclusão de certas categorias sociais (e.g. jovens, trabalhadores com qualificações obsoletas)

Aumento da desigualdade regional dentro e entre países no acesso à inovação;

Fortalecimento das divisões da população e das regiões do mundo no acesso à inovação

Contributo para a ruptura ecológica;

Redução da capacidade de acção das organizações públicas e da democracia representativa a todos os níveis (dentro da empresa, local, nacional, global).

Reconversão político- ideológicaReconversão político- ideológica

20Ana Paula Marques (Novembro 2010)

Page 21: Reestruturação produtiva e recomposições no mercado de trabalho Ana Paula Marques Departamento de Sociologia Centro de Investigação em Ciências Sociais

III. Tópico

Mercado de trabalho Mercado de trabalho português: fragilidades e português: fragilidades e

dilemasdilemas

21Ana Paula Marques (Novembro 2010)

Page 22: Reestruturação produtiva e recomposições no mercado de trabalho Ana Paula Marques Departamento de Sociologia Centro de Investigação em Ciências Sociais

Deslocalizações/ economia de baixo valor acrescentadoDeslocalizações/ economia de baixo valor acrescentado

Crescente deslocalizações de empresas nacionais e estrangeiras (multinacionais) para países de mão-de-obra mais barata e qualificada, principalmente para os países de Leste (e.g. Turquia, Eslováquia, Roménia, Polónia).

Portugal ocupa o 3º lugar dos países da União Europeia mais afectados pelas deslocalizações.

Impacto da globalização do comércio mundial, nomeadamente dos têxteis, cujas empresas não se modernizaram (tecnológicos e organizacionais) e da concorrência da China.

Ana Paula Marques (Novembro 2010) 22

Page 23: Reestruturação produtiva e recomposições no mercado de trabalho Ana Paula Marques Departamento de Sociologia Centro de Investigação em Ciências Sociais

Emprego e desemprego segmentado e selectivo…Emprego e desemprego segmentado e selectivo…

Elevadas taxas de actividade e de emprego feminino: 61,6%, contra 58,6% da UE27, aproximando-se dos países da Europa do Norte (a taxa de actividade feminina varia na razão directa do nível de escolaridade);

Relativa polarização nas taxas de emprego de uma mão-de-obra com nível de escolaridade superior: 84,3%, contra 82,9% da UE27, vs. uma mão-de-obra que detém apenas o ensino básico: 62,5%, contra 46,2% da UE27;

Emprego próximo da média europeia de trabalhadores com idades entre 55 a 64 anos: 49,7%, contra 56% da UE27;

Ana Paula Marques (Novembro 2010) 23

Page 24: Reestruturação produtiva e recomposições no mercado de trabalho Ana Paula Marques Departamento de Sociologia Centro de Investigação em Ciências Sociais

Emprego e desemprego segmentado e selectivo…Emprego e desemprego segmentado e selectivo…

Tendência para um aumento significativo da taxa de desemprego, sobretudo a partir de 2003/04, atingindo, em 2010, 10,8%, contra 9,7% UE27;

Maior vulnerabilidade ao desemprego por parte das mulheres (11,9%) e dos detentores de baixo nível de qualificação (0-2 ISCDE): 10,1%;

Expressão significativa do DLD: 4,3%, contra 3% UE27.

Região Norte mantém a taxa de desemprego mais elevada (9,1%), seguida pelas regiões de Lisboa e Vale do Tejo e do Alentejo, com 8,4% e 7,8%, respectivamente.

Ana Paula Marques (Novembro 2010) 24

Page 25: Reestruturação produtiva e recomposições no mercado de trabalho Ana Paula Marques Departamento de Sociologia Centro de Investigação em Ciências Sociais

Difusão de formas flexíveis de empregoDifusão de formas flexíveis de emprego

Predomínio do trabalho a tempo inteiro vs. percentagem relativamente baixa de trabalho a tempo parcial: 11,6%, contra 18,8% na EU:

Holanda e os países nórdicos apresentam valores relativos mais elevados;

Tempo parcial com maior incidência nas mulheres: 16,4%, contra 31,5% na UE.

Presença significativa de formas contratuais flexíveis/ atípicas: 22%, contra 13,5% na UE (Espanha e Polónia encontram-se acima da média europeia);

Aumento da “actividade independente” através de “auto-emprego”, “empresário em nome individual”.

Ana Paula Marques (Novembro 2010) 25

Page 26: Reestruturação produtiva e recomposições no mercado de trabalho Ana Paula Marques Departamento de Sociologia Centro de Investigação em Ciências Sociais

Fragilidades de educação e formação da população …Fragilidades de educação e formação da população …

Prevalência da escolaridade básica (0-2 ISCED) no grupo etário dos 25 aos 64 anos: 71,8%, contra 28,5% da UE27;

Nível secundário (3-4 ISCED) da população jovem portuguesa (dos 20-24 anos) aquém das metas de Lisboa: 54,3%, contra 78,5% para a UE27;

Insuficiente percentagem de população (25-64 anos) detentora do ensino superior (5-6 ISCED): 14,3%, contra 24,3%, sendo que as mulheres atingem 17%;

Elevada taxa de abandono escolar precoce, em especial junto da população masculina: 35,4%, contra 14,9% UE27.

Débil participação na formação ao longo da vida por parte dos activos: 5,3%, contra 9,5 UE27.

Ana Paula Marques (Novembro 2010) 26

Page 27: Reestruturação produtiva e recomposições no mercado de trabalho Ana Paula Marques Departamento de Sociologia Centro de Investigação em Ciências Sociais

Fragilidades de educação e formação da população …Fragilidades de educação e formação da população …

Portugal continua a ser o país da União Europeia a apresentar, por um lado, um dos mais baixos níveis de habilitação escolar e, por outro, uma reduzida participação em programas de educação e formação ao longo da vida.

Falta de qualificação ou formação deficiente poderá explicar a maior vulnerabilidade dos trabalhadores “atirados” para o desemprego na faixa etária dos 40 aos 50 anos: população activa a aproximar-se vertiginosamente de um envelhecimento progressivo

A maior parte dos empregados/desempregados, especialmente tem baixos níveis de escolaridade (ensino básico ou 2º e 3º ciclos) e possui qualificações profissionais, em regra, obsoletas face às exigências dos actuais perfis de emprego

Ana Paula Marques (Novembro 2010) 27

Page 28: Reestruturação produtiva e recomposições no mercado de trabalho Ana Paula Marques Departamento de Sociologia Centro de Investigação em Ciências Sociais

Dificuldades de transição profissional…Dificuldades de transição profissional…

Maior taxa de desemprego juvenil (15-24 anos) e, em particular, para os que têm apenas a escolaridade obrigatória: 16,6% contra 15,2% UE25;

Porém, para a população entre os 25-64 anos, com o nível superior, a tx de desemprego é de 6,6% contra 3,7% UE25;

Fenómenos de subemprego, em particular emprego em part-time por sexo (constrangimento: 11,5% contra 18,8% UE25;

Menor correspondência do diploma ao perfil dos empregos disponíveis: exigências de flexibilidade e polivalência (Teicher, 2007).

Ana Paula Marques (Novembro 2010) 28

Page 29: Reestruturação produtiva e recomposições no mercado de trabalho Ana Paula Marques Departamento de Sociologia Centro de Investigação em Ciências Sociais

IV. Tópico

Que cenários para o “futuro do Que cenários para o “futuro do trabalho”?trabalho”?

Que desafios para os actores-Que desafios para os actores-chave?chave?

29Ana Paula Marques (Novembro 2010)

Page 30: Reestruturação produtiva e recomposições no mercado de trabalho Ana Paula Marques Departamento de Sociologia Centro de Investigação em Ciências Sociais

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Dualização, segmentação e fragmentação socialDualização, segmentação e fragmentação social

Assiste-se Ao estilhaçamento progressivo, de forma objectiva e subtil, das conquistas sociais dos trabalhadores nas últimas décadas, é visível:

De forma objectiva, nas alterações no corpus legal de direitos reconhecidos em relação ao trabalho e às obrigações do Estado face aos trabalhadores.

De forma subtil, na destruição de culturas de trabalho em sentido lato de diversos colectivos (e.g. dimensão colectiva dos saberes, socialização dos espaços de trabalho e (re)construção de identidades sócio-profissionais).

Ana Paula Marques (Novembro 2010)

Page 31: Reestruturação produtiva e recomposições no mercado de trabalho Ana Paula Marques Departamento de Sociologia Centro de Investigação em Ciências Sociais

Face à crescente dualização e fragmentação social, estar-se-á perante uma reconversão sócio-cultural?

Generalização do contrato individual (formas “atípicas”/ flexíveis de emprego)

Aceitação da expulsão, marginalização e precarização de grupos sociais diversificados

Esta dinâmica será sustentável nas próximas décadas junto dos diversos grupos de jovens (e.g qualificação superior, sem qualificação profissional)?

Por oposição à geração dos seus pais, a inserção profissional dos jovens caracteriza-se por profundas transformações nas bases materiais, interactivas e valorativas das relações de trabalho.

Reconversão sócio-cultural?Reconversão sócio-cultural?

31Ana Paula Marques (Novembro 2010)

Page 32: Reestruturação produtiva e recomposições no mercado de trabalho Ana Paula Marques Departamento de Sociologia Centro de Investigação em Ciências Sociais

Muitos jovens de hoje apresentam dificuldades em gerar atitudes e práticas de auto-estima, solidariedade e identidade colectiva dado que:

Muitos jovens, trabalhadores idosos e mulheres são afectados pelo desemprego

e/ou

Muitos têm trabalhos/ empregos com durações curtas, intermitentes e não

duráveis

Reconversão sócio-cultural?Reconversão sócio-cultural?

32Ana Paula Marques (Novembro 2010)

Page 33: Reestruturação produtiva e recomposições no mercado de trabalho Ana Paula Marques Departamento de Sociologia Centro de Investigação em Ciências Sociais

Redefinição de fronteiras de classe (e.g. “subclasses”, “classes nómadas”, “elites profissionais”);

(Com)unidade de interesses instáveis;

Identidades incertas e negativas;

Recomposição dos papéis familiares e educativos;

Etnicização das relações e conflitos sociais;

Marginalização e silenciamento/ consentimento;

Naturalização/ psicologização dos factos sociais;

(…)

Reconversão sócio-cultural?Reconversão sócio-cultural?

33Ana Paula Marques (Novembro 2010)

Page 34: Reestruturação produtiva e recomposições no mercado de trabalho Ana Paula Marques Departamento de Sociologia Centro de Investigação em Ciências Sociais

Estudo Prospectivo CEDEFOP (2006-2015)Estudo Prospectivo CEDEFOP (2006-2015)

Criação de mais de 13 milhões de empregos na próxima década, nos sectores de negócios e serviços diversos; na distribuição, transportes e hotéis e catering e serviços “não mercantis” [perdas projectadas nos sectores primário e secundário];

Crescimento da procura de trabalhadores com qualificações médias (nível 3 e 4 ISCED) e elevadas (nível 5 e 6 do ISCED): quase 40% dos trabalhadores terão empregos nas áreas da gestão e desempenharam um trabalho profissional em actividades de suporte técnico em vastíssimas áreas [declínio de competências relacionadas com a agricultura, as actividades manuais e artesanais e secretariado];

Expansão significativa de empregos que requerem poucos ou nenhum nível formal de qualificações, em especial nos empregos de serviços: venda a retalho e distribuição, o que contribuirá para um aumento de uma certa polarização de empregos.

34Ana Paula Marques (Novembro 2010)

Page 35: Reestruturação produtiva e recomposições no mercado de trabalho Ana Paula Marques Departamento de Sociologia Centro de Investigação em Ciências Sociais

Consensos Consensos face à crise do trabalho e emprego hojeface à crise do trabalho e emprego hoje

Redução do emprego estável e a tempo inteiro (desviado da norma do mercado de trabalho);

Expansão das for flexíveis mas de emprego (ou atípicas ou Novas formas de trabalho, embora algumas sejam velhas);

Difusão do modelo de “empresa magra” ou “empresa flexível” (Atkison, 1987) com diferentes regimes de emprego;

Difusão na Europa de formas flexíveis/ atípicas facilitada pelo: a) desequilíbrio das relações capital-trabalho e

b) debilidade das forças sindicais.

Ana Paula Marques (Novembro 2010) 35

Page 36: Reestruturação produtiva e recomposições no mercado de trabalho Ana Paula Marques Departamento de Sociologia Centro de Investigação em Ciências Sociais

Consensos Consensos face à crise do trabalho e emprego hojeface à crise do trabalho e emprego hoje

Quando associadas a formas flexíveis/ “atípicas” de emprego, as modalidades contratuais tendem a contribuir para uma precarização das relações de trabalho e a instalar um clima de insegurança no emprego;

Geralmente, estas formas têm estado reservadas para trabalhos que exigem níveis baixos de qualificação, pressupondo conteúdos profissionais pobres e, por isso, reservados a uma mão-de-obra que apresenta dificuldades de se inserir e de se estabilizar no mercado de emprego;

Verifica-se, igualmente, uma tendência para aumentar o número de trabalhadores independentes que apresentam níveis de escolaridade mais elevados e se localizam nas actividades de serviço;

Ana Paula Marques (Novembro 2010) 36

Page 37: Reestruturação produtiva e recomposições no mercado de trabalho Ana Paula Marques Departamento de Sociologia Centro de Investigação em Ciências Sociais

Consensos Consensos face à crise do trabalho e emprego hojeface à crise do trabalho e emprego hoje

Sabendo que o trabalho a tempo parcial permanece como um tipo de emprego desvalorizado face à norma do trabalho a tempo inteiro, o tempo de trabalho concorre para ampliar as diferenciações por grupos de género e por classes de idades;

A “desregulação” (anomia) do tempo de trabalho tem efeitos na organização da vida familiar e na vida social em geral;

A flexibilidade de horários, as horas entre-cortadas no dia e dispersas pela semana - como modos de ajustamento às “flutuações da clientela” - concorre também para a vivência e representação, por parte dos indivíduos, como um “tempo descontínuo”, um tempo constituído por períodos alternados de trabalho e de desemprego ou de inactividade.

Como preservar o exercício pleno e inteiro da cidadania neste contexto?

Ana Paula Marques (Novembro 2010) 37

Page 38: Reestruturação produtiva e recomposições no mercado de trabalho Ana Paula Marques Departamento de Sociologia Centro de Investigação em Ciências Sociais

Não consensos Não consensos quanto aos efeitos/ consequências e quanto aos efeitos/ consequências e sentidosentido

Quanto às actuais transformações do mercado de trabalho

defensores da perspectiva neo-liberal (era pós-emprego com trabalhadores independentes);

Críticos daquela perspectiva (exteriorização da responsabilidade e centragem no indivíduo, transferência dos risco para os indivíduos e para o Estado.

38Ana Paula Marques (Novembro 2010)

Page 39: Reestruturação produtiva e recomposições no mercado de trabalho Ana Paula Marques Departamento de Sociologia Centro de Investigação em Ciências Sociais

Não consensos Não consensos quanto aos efeitos/ consequências e quanto aos efeitos/ consequências e sentidosentido

Quanto às teorias sobre a sociedade de informação e conhecimento que anunciam a generalização do trabalho inteligente:

Reich refere que o trabalho não qualificado coexiste na era global;

Polarização e segmentação dos trabalhadores, com desemprego e subemprego que coexiste com a intensificação da duração e intensidade do ritmo de trabalho.

39Ana Paula Marques (Novembro 2010)

Page 40: Reestruturação produtiva e recomposições no mercado de trabalho Ana Paula Marques Departamento de Sociologia Centro de Investigação em Ciências Sociais

Não consensos Não consensos quanto aos efeitos/ consequências e quanto aos efeitos/ consequências e sentidosentido

Quanto às teses da crise e do fim do trabalho:

“Fim do Trabalho” – que propõe uma “sociedade pós-mercado”;

“Fim da sociedade salarial e do emprego” (contraposição de teses optimistas neo-liberais, e teses críticas e pessimistas);

“Tese em torno da centralidade do trabalho”.

40Ana Paula Marques (Novembro 2010)

Page 41: Reestruturação produtiva e recomposições no mercado de trabalho Ana Paula Marques Departamento de Sociologia Centro de Investigação em Ciências Sociais

Posição “realista”Posição “realista”

Coexistência de tendências diversas e contraditórias na evolução dos padrões de qualificação e trabalho, pelo que em vez de se falar em fim do trabalho ou da descentralização do trabalho, dever-se-á falar da difusão de modalidades flexíveis frequentemente precárias de trabalho e emprego.

41Ana Paula Marques (Novembro 2010)

Page 42: Reestruturação produtiva e recomposições no mercado de trabalho Ana Paula Marques Departamento de Sociologia Centro de Investigação em Ciências Sociais

““Vencedores” vs. “Perdedores”Vencedores” vs. “Perdedores”

Polarização e segmentação do mercado de trabalho;

Problemas relacionados com a qualidade do emprego, condições e ritmos de trabalho;

Crescimento de desigualdade e exclusão social.

42Ana Paula Marques (Novembro 2010)

Page 43: Reestruturação produtiva e recomposições no mercado de trabalho Ana Paula Marques Departamento de Sociologia Centro de Investigação em Ciências Sociais

Não unidireccionalidade do emprego/ trabalhoNão unidireccionalidade do emprego/ trabalho

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Page 44: Reestruturação produtiva e recomposições no mercado de trabalho Ana Paula Marques Departamento de Sociologia Centro de Investigação em Ciências Sociais

Desafios váriosDesafios vários

Empregadores podem optar por estratégias de “flexibilização defensiva” vs. estratégias de “flexibilidade ofensiva”;

Os sindicatos enfrentam dificuldades de “reprodução da representatividade”, “solidariedade” e equidade;

As universidades tentam resistir a uma lógica “mercantilista” do conhecimento e da sobreposição de uma formação virada para o económico;

As associações sociais diversas propõem-se contribuir para a conciliação de diferentes interesses e lógicas individualizadas, a par de resolução de problemas sociais cada vez mais complexos.

Ana Paula Marques (Novembro 2010) 44