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Encontro dos Programas de Pós-Graduação em Comunicação Social de Minas Gerais
Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP) | Mariana/MG | 10 e 11 de outubro 2019
REGIONALISMOS NO DESIGN TELEVISIVO1 Um percurso pela identidade local do telejornal “MGTV”
Carlos Eduardo Nunes2
Universidade Federal de Juiz de Fora
Resumo
Em sua programação atual, a Rede Globo tem dedicado cada vez mais tempo ao jornalismo local em detrimento de grandes jornais com viés nacional. Uma evidência que constata tal premissa é a grade de programação da emissora, com o noticiário “Bom Dia Minas” ocupando duas horas da grade contra uma de sua versão nacional, “Bom Dia Brasil”, uma inversão do que ocorrera em anos anteriores, além de outros fatores Seja por razões mercadológicas ou artísticas, tem sido cada vez enfatizado a questão regional dentro de uma programação nacional e este estudo busca entender como a emissora tem trabalhado a questão da regionalidade dentro destes telejornais por meio do design televisivo, que inclui a identidade visual, vinhetas, elementos gráficos entre outros recursos. Para tal abordagem, a pesquisa parte de uma retomada histórica e teórica bem como de uma análise do conteúdo gráfico do telejornal “MG1” e “MG2”, veiculados na cidade de Juiz de Fora (MG).
Palavras-chave: Televisão; Telejornalismo; Design Televisivo; Rede Globo; MGTV.
Introdução
A trajetória da televisão brasileira começou sob um parâmetro regional, marcada por
emissoras e uma programação tipicamente locais, com fatos e personagens restritos a uma
determinada circunscrição. Nos anos 1960, em um contexto de mudanças sob diversos fatores,
mencionados ao longo deste estudo, a nacionalização das emissoras tornou-se o conceito padrão
adotada por todas, com poucos espaços. Atualmente, porém, estamos vivenciando cada vez
mais a maior inclusão de aspectos regionais de volta às grades de programação, seja por meio
de programas jornalísticos ou outros estilos. Este estudo contempla, à luz dessa cada vez mais
regionalização da programação, a identidade regional presente nas vinhetas do jornal "MG1" e
"MG2", na edição veiculada para Juiz de Fora, em Minas Gerais.
1 Trabalho apresentado no Grupo de Trabalho 2 – Estudos de Cinema e Audiovisual do XI Encontro dos Programas de Pós-Graduação em Comunicação Social de Minas Gerais, 18 e 19 de outubro de 2018.
2 Mestrando pelo Programa de Pós-graduação em Comunicação da Universidade Federal de Juiz de Fora. E-mail: [email protected]
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Para o percurso da pesquisa, aborda-se teoricamente os aspectos iniciais da televisão no
Brasil bem como a introdução da nacionalização da programação nos anos 1960 e 1970 até o
crescimento novamente dos aspectos regionais que estão em ascensão neste início de século.
Após passar por um processo de nacionalização da programação nos anos 1970, em
detrimento de programas e personagens tipicamente locais que dominaram a televisão nos anos
1950 e 1960, conforme apontam Brandão e Lins (2012), a Rede Globo inicia uma tentativa de
aproximação e inserção do que acontece perto do telespectador, sendo essa uma das bases para
criação dos jornais regionais a partir de 1983, nomeados como “MGTV”, “SPTV”, “RJTV”,
entre outros. (MEMORIA GLOBO, online)
A partir do referencial teórico aqui descrito, a pesquisa desenvolve uma análise a partir
do parâmetro do plano de expressão contido na metodologia de Análise Semiótica da Imagem,
proposta desenvolvida dentro dos estudos de qualidade na televisão no Observatório da
Qualidade do Audiovisual da Universidade Federal de Juiz de Fora. Segundo Borges (2014),
neste parâmetro são observados o uso de recursos técnicos expressivos por meio da análise de
códigos visuais, sonoros, sintáticos e gráficos, que inclui vinhetas de abertura e encerramento,
grafismos, rodapés e legendas textuais.
Do regional ao regional
Se o alvorecer da televisão ficou marcado por seus aspectos locais, os anos 1960 e 1970
vão marcar a nacionalização da grade de programação das diversas emissoras que compunham
o cenário midiático brasileiro. Vários aspectos e fatores contribuíram para tal cenário, como
técnicos, com a chegada das transmissões via satélite; ou políticos, como a doutrina de
integração nacional do governo militar. O “Jornal Nacional”, criado há 50 anos em 1º de
setembro de 1969, ainda no contexto da chegada ao homem na lua, foi um primeiro passo em
tal direção e, nos anos 1970, a nacionalização da grade estaria completa.
Bazi (2001) afirma que outra transformação importante é a disponibilidade do
videoteipe para os canais, sendo que a partir dele a formação das redes nacionais tornou-se
factível, possibilitando a capacidade de gravar programas previamente e distribui-los a diversas
emissoras ao redor do Brasil e permitindo que o mesmo programa gravado no Rio fosse exibido
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em São Paulo, Recife ou Manaus. Já Killp (2000) complementa que essa tecnologia tornou
possível que emissoras locais, sem condições de viabilizar uma grade de programação local,
permanecessem no ar e resultando nas grandes redes de televisão que viriam a se consolidar
nos anos 1970 com inúmeras afiliadas pelo país.
Pioneira no início das transmissões via satélite, a TV Globo desde o seu início, em 1965,
praticou a política de aproximação com outras emissoras, na finalidade de conquistar novos
públicos e mercados publicitários muito além do Rio de Janeiro, onde sua sede estava instalada.
Em 1966, se uniu à TV Paulista, chegando assim ao mercado de São Paulo. Mais tarde, a
emissora seria incorporada e transformou na TV Globo de São Paulo. Segundo Bazi, “as
emissoras filiais da Globo foram estrategicamente instaladas em regiões de grande
concentração populacional e com mercados comerciais promissores” (BAZI, 2001, p.34).
Conforme Pachler (2006) discorre em seu estudo o sistema de afiliadas da Rede Globo,
a emissora matriz impõe diversas regras e condições para as emissoras regionais transmitirem
sua programação.
Algumas delas são: exibir diariamente a programação fornecida pela Globo, participar dos treinamentos, não exibir material de outra emissora, manter o padrão de qualidade técnica para que o sinal seja captado com boa qualidade e com relação à produção de material jornalístico, a afiliada deve comprometer-se a proceder de maneira isenta, apartidária e não preconceituosa com relação às fontes e na elaboração de notícias. (PACHLER, 2006, p.47)
Para o relacionamento entre as mais de 120 emissoras afiliadas por todo o Brasil, há o
trabalho da Central Globo de Afiliadas e Licenciamento. De acordo com Pachler (2006), os
canais de televisão puderam sair dos grandes centros de São Paulo e Rio de Janeiro expandirem
suas áreas de atuação, colocando em lugares tão distintos do país. Segundo Munhoz (2008), os
processos de modernização da comunicação brasileira nos anos 1960, como a implantação de
redes e transmissões de satélite, podem ser inseridos dentro do contexto de reorganização
produtiva pela qual o país passava sob o regime militar. Em uma abordagem tecnológica, estes
veículos foram valendo-se do avanço e aperfeiçoamento da rede de micro-ondas, entre os anos
1950 e 1980; dos satélites, a partir de 1985; e a distribuição via rede fibra ótica a partir dos anos
1990.
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A Televisão em Juiz de Fora
O pós-guerra foi o cenário no qual a televisão se desenvolveu e espalhou-se pelo mundo.
Apesar dos estudos, pesquisas e o desenvolvimento terem começado antes da Segunda Guerra
Mundial, foi após o final do conflito que este novo aparato de comunicação ganhou o mundo,
inclusive ao Brasil. Juiz de Fora, em Minas Gerais, foi o palco de uma das primeiras tentativas
de transmissão televisiva no Brasil, por meio das experimentações de Olavo Bastos Freire, um
técnico em eletrônica que em 1948 fez aquela que é considerada a primeira transmissão pública
de televisão da América Latina, conforme aponta Brandão e Lins (2012). A primeira estação de
TV oficial seria inaugurada dois anos depois por Assis Chateaubriand, a TV Tupi de São Paulo.
De volta ao território juiz-forano, a TV Industrial foi a pioneira entre as estações de TV
em Juiz de Fora, inaugurada em 29 de julho de 1964, fruto de investimentos da iniciativa
privada. Segundo Lins (2007), o primeiro telejornal da emissora foi o “TeleDez”, em referência
ao número do canal, e o último o “Telejornal Imagem”, no ar até 1979, quando a emissora foi
vendida para a Rede Globo e tornou-se, a partir de 14 de abril de 1980, a TV Globo Juiz de
Fora. Substituta da TV Industrial, atuou até o final dos anos 1990 como uma repetidora do
conteúdo exibido pela emissora no Rio de Janeiro e o bloco destinado a fatos regionais
veiculados a partir de Belo Horizonte. Este contexto permaneceu até 1998, quando a Rede
Globo se desfez de diversas emissoras regionais e concentrou suas estratégias em cinco
emissoras nos Estados de São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais e Pernambuco e no Distrito
Federal, dentro das estratégias administrativas do "Projeto Regional do Futuro” (BAZI, 2001).
Em Juiz de Fora, a transmissora deu origem a TV Panorama e quando finalmente o jornal
regional "MGTV" passou a produzir uma edição local, a partir da Zona da Mata, acompanhado
de um aumento da produção feita localmente com outros programas.
Segundo Mata (2011), essa regionalização do conteúdo da TV Panorama permitiu que
o tempo de arte dedicado ao jornalismo saltasse de 15 para 50 minutos. Além das duas edições
do “MGTV”, estrearam na programação da emissora o "Panorama Esporte", exibido antes do
telejornal, na hora do almoço; e o "Panorama Entrevista", nas noites de domingo, após o
"Fantástico". Em 2012, o Grupo Integração, de Uberlândia (MG), que já detinha parte do
controle da TV Panorama, assumiu a totalidade das ações do grupo transformando a emissora
em TV Integração de Juiz de Fora. Hoje, os espaços regionais dedicados a Juiz de Fora e região
concentram-se apenas nos “MG1” e “MG2” e um bloco regional no Globo Esporte. Outros
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horários dedicados a produção regional são preenchidos com produções da emissora de
Uberlândia.
Desenvolvimento e consolidação dos jornais locais
Aproximar e inserir o que acontece perto do telespectador foram premissas para o
desenvolvimento dos jornais regionais da Rede Globo, nomeados tecnicamente como "Praça
TV", onde, na maioria dos Estados, a palavra praça é substituída pela sigla estadual, como SP,
RJ e MG, salvo algumas exceções onde tal nomenclatura não é seguida. O "MGTV" foi exibido
pela primeira vez em 1983, no horário das 19h45, junto com as edições das emissoras onde a
Rede Globo possuía emissoras próprias: São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais, Distrito
Federal e Pernambuco.
De acordo com o Memória Globo (2019, online), site institucional mantido pela
emissora para contar a história de sua programação, a missão era dar mais cobertura às notícias
regionais, que até então ficavam dentro dos jornais de rede da emissora. Com duração de dez
minutos, ia ao ar após a novela das sete e antes do "Jornal Nacional". Com a missão de estar
próximo de sua comunidade, desde o seu início o MGTV procurou abordar pautas caras para
cada região, privilegiando assunto como trânsito, tempo e problemas de cada local. Segundo o
Memória Globo (2019, online),
a atração surgiu para fazer dos telejornais da Globo um canal de comunicação entre as comunidades e as autoridades públicas, criando um espaço para a discussão e busca de soluções de problemas da população; e mostrar os hábitos, comportamentos, manias e modismos dos moradores, para que eles se vissem retratados nos telejornais. (MEMÓRIA GLOBO, 2019, online)
A segunda edição do MGTV surgiu seis meses após a estreia noturna, no horário das
12h40, com horário ampliado e trazendo outros assuntos, como entrevistas no estúdio, serviços
para a população e agenda cultural. (MEMÓRIA GLOBO, 2019). Por um breve período, entre
1984 e 1987, chegou a ser exibidos aos domingos, após o Fantástico, e essa primeira fase do
“MGTV” terminou em 1989, junto com as outras experiências de telejornais locais. Uma
segunda tentativa de regionalizar o noticiário da emissora estreou em 1992 e mantém-se no ar
até hoje, quando tem ganhado cada vez mais importância dentro da programação. Os horários
de exibição também foram alterados, passando para 12h e 19h15, antes da novela.
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A primeira edição do “MGTV” produzida em Juiz de Fora com profissionais e pautas
estritamente locais, conforme aponta Mata (2011), foi feita apenas em 1998, quando a TV
Globo Juiz de Fora se transformou em TV Panorama, em uma estratégia de regionalizar o
conteúdo em busca de novos mercados comerciais. Até então, o conteúdo sobre Juiz de Fora
era apenas exibido na versão estadual do noticiário, ocupando pouco espaço, segundo (SILVA,
2012). A partir desta data, a produção de notícias passou a ser feita em Juiz de Fora e com
cobertura para as regiões da Zona da Mata e Campo das Vertentes de Minas Gerais.
Design para a televisão
De acordo com Arlindo Machado (2000), o design televisivo pode ser compreendido
como um conjunto de recursos que incluem títulos e créditos, textos, gráficos, logotipos,
vinhetas e chamadas. Conforme aponta o autor, em um telejornal, por exemplo, pode ser
necessário mapas, esquematizações, créditos, entre outros tipos visuais.
Até os anos 1960, os gráficos na TV eram simples cartelas com imagens e textos fixados
e referentes aos seus programas, desenhadas a mão e filmadas por uma câmera. No Brasil, a
chegada do videoteipe possibilitou inúmeros usos, como a produção de programas gravados e
a edição linear. A partir dos anos 1970, o desenvolvimento da informática insere a manipulação
gráfica no Brasil, com a Rede Globo sendo uma das pioneiras do emprego da computação
gráfica no desenvolvimento da sua identidade televisiva, tanto no Brasil quanto no mundo.
Se ao longo dos anos 1960 e 1970 novas tecnologias foram permitindo que as emissoras
de televisão aprimorassem a parte visual de sua programação, nas emissoras locais nem sempre
tais recursos estavam disponíveis. Conforme aponta Lins (2007), telejornais exibidos em Juiz
de Fora eram desprovidos de vinhetas, com apenas programas tendo aberturas com um cartão
do logotipo visualizado na transmissão.
os cartões originalmente feitos em papel e letras adesivas ou pintadas, eram o único trabalho de “arte” que existia na emissora. Não havia diferença com a realidade da maioria das emissoras da época. Isso persistiu até que a Rede Globo começasse a mudar este conceito nos anos 70. (LINS, 2007, p.5)
Ainda de acordo com Lins (2007), durante a fase da TV Globo Juiz de Fora, as bases de
artes para vinhetas eram enviadas já prontas pela matriz, no Rio de Janeiro. Dado o Padrão
Globo de Qualidade implantado nos anos 1970 e o controle exercido pela emissora, tudo deveria
ser estritamente seguido conforme as diretrizes estabelecidas, tendo pouco espaço para a criação
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de novas identidades, seguindo um pouco da identidade local. Apenas em 1998, quando a
produção passa a ser terceirizada para uma afiliada e não mais diretamente pela Rede Globo, é
que se abre espaço para a elaboração de vinhetas com elementos regionais e locais da cidade,
ainda assim seguindo diretrizes da rede.
Como o “MGTV” é um telejornal local, mas que integra uma série de jornais locais de
uma rede nacional, seu design como um todo acaba sendo estabelecido pela matriz, no Rio de
Janeiro, e replicado ao redor de todo o Brasil pelas emissoras afiliadas. Ao longo dos anos, com
a evolução e transformação visual, itens que possam caracterizar aspectos de cada local foram
sendo implantados, principalmente em cenários e vinhetas de quadros, mas não nas aberturas,
que se tornaram padrão em qualquer Estado.
Dentro desse contexto de uma programação centralizada para todo o país, está o Padrão
Globo de Qualidade, um modelo que segundo Bazi (2001), tratou-se de uma uniformidade de
toda a cadeia nacional da emissora, possibilitando que de norte a sul do país a emissora tivesse
a mesma unidade estética e artística. Cita, ainda, que a construção do Padrão Globo de
Qualidade começou moderadamente, a partir dos anos 1970, quando a emissora alcançou a
liderança de audiência e buscou se manter no seu posto hegemônico em todo o país. Já Lopes
(2003) define-o como um conjunto normativo que regula a programação da Rede Globo em
qualquer área, seja jornalística ou comercial; a nível nacional ou regional.
Ao longo de seus mais de trinta anos de existência, as vinhetas do “MGTV” trataram-
se de aberturas generalistas, valendo-se apenas do uso de computação gráfica e sem inserção
de imagens ou elementos que pudessem caracterizar o jornal localmente. Feitas totalmente em
computador, seguem o estilo da era do designer Hans Donner como chefe do Departamento de
Videographics, com amplo uso de gradientes, efeitos em três dimensões. Além disso, este estilo
de vinheta tornava-se mais fácil para adequar a qualquer praça, mantendo-se toda a rede em
uniformidade, conforme Lins (2007) apontou anteriormente, com as afiliadas seguindo o que
se produzia no Rio de Janeiro. A primeira vinheta, em 1983, enfatiza bem a questão de um
mesmo jornal que se adequa ao Estado de exibição, com as siglas estaduais compondo a vinheta
até a finalização com a sigla do estado onde telejornal onde será exibido. Este estilo de vinheta,
com alterações de cor e detalhes, permaneceu no ar até o final dos anos 1990.
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Já o cenário foi evoluindo de um simples fundo colorido com o logotipo do telejornal
para um espaço ampliado com maiores referências à regionalidade, por meio de imagens de
cidades locais fixadas na cena.
Em 2017, já em uma nova fase na forma de fazer suas vinhetas, a Rede Globo implantou
importantes mudanças na estrutura do seu jornalismo local, que tem ganhado cada vez mais
espaço e importância dentro da grade de programação. As mudanças começaram pelas praças
do Rio de Janeiro e São Paulo, as mais importantes para a emissora em termos de audiência e
mercado publicitário e ao longo dos últimos dois anos, foi sendo gradativamente implantada
por outras emissoras afiliadas. Em Minas Gerais, as mudanças começaram em Belo Horizonte
no final de 2017 e em Juiz de Fora tais alterações estrearam em julho de 2019.
Figura 1: Evolução do logotipo do "MGTV". Fonte: Elaboração do autor/Memória Globo
Figura 2: Evolução do cenário do "MGTV". Fonte: Elaboração do autor
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A emissora realizou as maiores transformações desde que o formato foi implantado, na
década de 1980. A maior delas se deu no próprio nome do jornal, renomeados como "MG1"
(primeira edição) e "MG2" (segunda edição). Tal alteração, com a supressão do "TV" é uma
adequação para a convergência entre televisão e internet, com uma audiência cada vez maior
acompanhando a atração por canais na rede e em que a produção tem se dado para qualquer
plataforma e não apenas mais a televisão.
Metodologia e Análise de Resultados
A partir do aporte teórico aqui apresentado, este estudo objetiva analisar elementos de
design televisivo que possam remeter a identidade regional local onde o programa jornalístico
é exibido. Dentro dessa premissa, escolheu-se os telejornais “MG1” e “MG2”, veiculados pela
TV Integração de Juiz de Fora, dentro da semana de implantação da nova linguagem gráfica,
entre os dias 1º e 6 de julho de 2019.
Para tal, foi utilizada a Metodologia de Análise Semiótica da Imagem, desenvolvida
dentro dos estudos do Observatório da Qualidade do Audiovisual na Universidade Federal de
Juiz de Fora (UFJF). A metodologia foi recortar para analisar o corpus desta pesquisa sob o
parâmetro do Plano de Expressão, que permite observar a parte de códigos visuais, sonoros,
sintáticos e gráficos de uma mensagem audiovisual.
- Cenário: com espaço ampliado em relação ao anterior, é o mesmo para as duas edições,
diferenciando-se apenas na escala de tons cromáticos, um padrão que gere toda a nova
identidade do telejornal. Em relação aos elementos que remetem à regionalidade, há apenas
duas imagens em tamanho mediano da cidade de Juiz de Fora, localizadas em um dos lados do
cenário, e que mudam de acordo com o horário de exibição: imagens diurnas durante a exibição
do “MG1” e noturnas no “MG2”. Na atual configuração, a emissora apostou em telões de cerca
de 70” por todo o estúdio, condizente com sua proposta de um telejornal moderno e com ampla
participação popular, onde o apresentador tem acesso às interações com o espectador, dados
climáticos, de trânsito e transporte público em tempo real. Há assim um maior favorecimento
em desenvolver ações e interações com outras plataformas, como a internet, por meio dos telões
em detrimento de apresentar um cenário que favoreça a cidade, conforme era anteriormente.
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- Vinhetas de Abertura: as modificações mais visíveis para o espectador do “MG” estão
relacionadas à identidade visual e às vinhetas de abertura, cujas últimas alterações foram feitas
há mais de dez anos. Na nova proposta da emissora, as duas edições possuem um conceito
compartilhado, mas diferem-se em sua paleta cromática, com as cores remetendo aos diferentes
períodos do dia em que é exibido, com tons mais claros, como laranja e amarelo durante o dia
e escuros, como azul e cinza, à noite. As fontes arredondadas remetem as curvas das ruas e ao
movimento intenso das cidades. Nas aberturas, bem como nas vinhetas de intervalo, a assinatura
final marca a transição para o espectador de “MGTV” para “MG1/2”, em uma espécie de
transição de uma marca consolidada para o novo nome do jornal.
A vinheta de abertura mostra-se como um voo sobre a cidade, remetendo a estética dos
sites de mapas e GPS, com ícones e ruas, além dos nomes de diversos bairros. O sobrevoo passa
por diversos pontos relevantes, como ruas, praças e pontos turísticos, e mudando de acordo com
cada cidade. Em Juiz de Fora, é possível reconhecer os seguintes locais no “MG1”: Rio
Paraibuna, Museu Usina de Marmelos Zero, Mirante do Morro do Cristo, Praça da Estação e
Parque Halfeld.
Figura 3: Cenário atual do "MG1" e “MG2”. Fonte: Reprodução Globoplay
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Já na versão noturna do jornal, é identificável os seguintes espaços da cidade: Rua
Halfeld, Parque da Lajinha, Avenida Barão do Rio Branco e Cine-Theatro Central. Durante
essa investigação, que busca elencar elementos que remetam à região de exibição do telejornal,
podemos observar que são nas vinhetas que o público pode identificar mais elementos que o
remetam a sua vida naquela localidade, como ruas por onde passa ou lugares que frequenta.
Ressalta-se que em ambos os casos a trilha sonora permaneceu a mesma, apenas com sutis
mudanças.
- Elementos Gráficos: o novo pacote gráfico do “MG1” e “MG2” traz um novo esquema de
cores e a mudança da paleta cromática de acordo com o horário de exibição, acompanhando o
movimento do dia e da noite. Muito além dos créditos e informações sobre as reportagens, traz
novos dados, como temperatura e previsão do tempo de cidades da região, que vão se
revezando; horário e, em uma tentativa de conectar o telespectador à internet, um QR code no
canto da tela permite o acesso ao site escaneando o código com um smartphone.
Figura 4: Vinheta de abertura do “MG1”. Fonte: Reprodução Globoplay
Figura 5: Vinheta de abertura do “MG2”. Fonte: Reprodução Globoplay
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Considerações sobre o Estudo
Ao findarmos este percurso pela história e atualidade do telejornal “MGTV”, atualmente
renomeado como “MG1” e “MG2”, sob o ângulo do design televisivo, podemos perceber que
ele nasceu para suprir a demanda de notícias da cidade ou região do telespectador. De uma
duração de dez minutos até chegar a duração atual com cerca de uma hora de duração, os
telejornais locais ganharam corpo dentro das estratégias de programação da Rede Globo e
também de outras emissoras. Seja por razões mercadológicas ou artísticas, tem sido cada vez
enfatizado a questão regional dentro de uma programação nacional e a reforma feita nos
telejornais locais a partir de 2017 tentaram trazer ainda mais regionalidade e elementos locais
para que o telespectador, conforme pode ser evidenciado na análise do corpus, sinta-se
representado e identificado na atração.
Figura 6: Elementos gráficos e créditos do “MG1”. Fonte: Reprodução Globoplay
Figura 7: Elementos gráficos do “MG2” e vinhetas de previsão do tempo. Fonte: Reprodução Globoplay
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Teoricamente, fizemos um percurso pela história do telejornal, passando por suas
diversas fases em Juiz de Fora, desde quando não era produzido localmente até a inclusão
efetiva da cidade de da região da Zona da Mata mineira nos lares locais por meio do “MGTV”,
bem como uma análise do sistema de afiliadas da Rede Globo, que permitem que a emissora
nacional chegue a qualquer canto do país e adicione nesses diversos locais um pouco de cada
um, seja sua cultura, língua ou costumes.
Uma análise do cenário mostrou que houve uma maior preocupação do uso de telões
para permitir uma maior interação do apresentador com o público, seja por meio de imagens ao
vivo ou participação pela internet, com pouco destaque para elementos regionais na construção
do mesmo, em oposição às versões anteriores. Por meio da mesma análise, constata-se que as
vinhetas ganharam diversos elementos que permitem a representação local, seja por meio dos
nomes dos bairros ou pontos turísticos famosos.
Para a comunidade, atrações que permitam a ela se identificar tem ganho cada vez mais
espaço e nos telejornais locais da Rede Globo e, em um país tão grande e diverso com o Brasil,
o design televisivo foi uma das formas encontradas pela emissora em identificar estes locais e
dar ao telespectador uma maior aproximação com sua cidade por meio da televisão.
Referências
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KILPP, Suzana. Apontamentos para uma história da televisão no Rio Grande do Sul. Rio Grande do Sul, Unisinos, 2000.
LOPES, M. I. V. de. Telenovela brasileira: uma narrativa sobre a nação. Comunicação & Educação, São Paulo, (26): 17 a 34, jan./abr. 2003. MACHADO, Arlindo. A Televisão levada a Sério. São Paulo: Editora Senac São Paulo, 2000.
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