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RELAÇÃO DE CAUSALIDADE EM REDAÇÕES DE PRÉ-VESTIBULANDOS Simone Sant´Anna (UFRJ) [email protected] INTRODUÇÃO O presente artigo tem por objeto de estudo as relações de cau- salidade manifestadas em orações subordinadas adverbiais causais reduzidas e desenvolvidas, em redações de alunos de um pré- vestibular social. 1 Para isso, serão observadas as relações de causalidade prescri- tas nas gramáticas tradicionais, com base na Nomenclatura Gramati- cal Brasileira – NGB e, também, serão observadas outras abordagens em relação à causalidade sob a ótica de autores funcionalistas, fa- zendo dessa forma um paralelo entre a tradição gramatical e o que está sendo efetivamente utilizado por esses alunos de nível médio. O objetivo principal foi identificar como as formas de expres- sar as relações de causalidade têm sido utilizadas nas redações desses estudantes e analisar se esses usos correspondem ou não ao que é prescrito pelas gramáticas tradicionais. O foco de interesse está no ensino de nível médio, pois as relações de causalidade acarretam cer- ta dificuldade no ensino e na aprendizagem da sintaxe das orações subordinadas adverbiais causais na língua portuguesa. Assim, mais especificamente, esta pesquisa apresenta as estruturas que expressam relações de causalidade prescritas pelas gramáticas tradicionais e faz uma comparação com outras estruturas encontradas no corpus que não são previstas pela tradição gramatical, identificando como essas estruturas ocorrem efetivamente em redações de pré-vestibulandos. O estudo justifica-se não só por haver poucos estudos que comparem as relações de causalidade prescritas pela NGB com as de outros autores, observando e descrevendo aquelas que estão sendo utilizadas pelos estudantes de nível médio, mas também pela impor- 1 O pré-vestibular social é um curso preparatório gratuito direcionado a pessoas de baixa renda e que tenham cursado todo o ensino fundamental e médio em escolas da rede pública.

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RELAÇÃO DE CAUSALIDADE EM REDAÇÕES DE PRÉ-VESTIBULANDOS

Simone Sant´Anna (UFRJ) [email protected]

INTRODUÇÃO

O presente artigo tem por objeto de estudo as relações de cau-salidade manifestadas em orações subordinadas adverbiais causais reduzidas e desenvolvidas, em redações de alunos de um pré-vestibular social.1

Para isso, serão observadas as relações de causalidade prescri-tas nas gramáticas tradicionais, com base na Nomenclatura Gramati-cal Brasileira – NGB e, também, serão observadas outras abordagens em relação à causalidade sob a ótica de autores funcionalistas, fa-zendo dessa forma um paralelo entre a tradição gramatical e o que está sendo efetivamente utilizado por esses alunos de nível médio.

O objetivo principal foi identificar como as formas de expres-sar as relações de causalidade têm sido utilizadas nas redações desses estudantes e analisar se esses usos correspondem ou não ao que é prescrito pelas gramáticas tradicionais. O foco de interesse está no ensino de nível médio, pois as relações de causalidade acarretam cer-ta dificuldade no ensino e na aprendizagem da sintaxe das orações subordinadas adverbiais causais na língua portuguesa. Assim, mais especificamente, esta pesquisa apresenta as estruturas que expressam relações de causalidade prescritas pelas gramáticas tradicionais e faz uma comparação com outras estruturas encontradas no corpus que não são previstas pela tradição gramatical, identificando como essas estruturas ocorrem efetivamente em redações de pré-vestibulandos.

O estudo justifica-se não só por haver poucos estudos que comparem as relações de causalidade prescritas pela NGB com as de outros autores, observando e descrevendo aquelas que estão sendo utilizadas pelos estudantes de nível médio, mas também pela impor-

1 O pré-vestibular social é um curso preparatório gratuito direcionado a pessoas de baixa renda e que tenham cursado todo o ensino fundamental e médio em escolas da rede pública.

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tante contribuição desse tipo de pesquisa para o processo de ensino e aprendizagem das orações subordinadas como recurso pedagógico de cunho semântico e sintático.

REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

A relação de causalidade

De acordo com a nomenclatura oficial, existem nove subclas-ses semânticas de orações subordinadas adverbiais: causais, compa-rativas, concessivas, condicionais, conformativas, consecutivas, fi-nais, proporcionais e temporais.

O primeiro problema dessa classificação é que algumas des-sas subclasses não se distinguem com clareza, principalmente no que diz respeito às relações de causalidade, o que resulta em interpreta-ção inadequada por parte dos estudantes. Um exemplo disso pode ser observado na constante confusão entre os alunos em identificar se a oração deve ser classificada como subordinada adverbial causal ou coordenada explicativa.

Segundo Azeredo (2000)2, o termo causalidade refere-se a qualquer relação de causa e efeito entre duas orações. Assim, os co-nectivos podem assinalar tanto a causa como o efeito. A diferencia-ção, portanto, entre as orações subordinadas adverbiais causais e consecutivas pode, também, apresentar problemas de interpretação do sentido assumido por estas em diferentes contextos de uso.

Outro problema pode ser observado nas diferentes nomencla-turas para classificar as orações subordinadas adverbiais. Azeredo (2000), reagrupou as orações adverbiais, segundo um critério que le-va em conta suas afinidades de sentido, propondo quatro grupos para a classificação semântica das orações adverbiais desenvolvidas. Um dos grupos foi denominado grupo da causalidade, que engloba as o-rações causais, condicionais, finais e consecutivas.

Além dos problemas oracionais, há a polissemia da maioria das conjunções. Segundo Mattoso Câmara Jr., a polissemia é um fe-

2 A autora não incluiu referências bibliográficas, apesar de fazer numerosas remissões a elas.

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nômeno geral das conjunções subordinativas, cuja idéia de subordi-nação depende essencialmente do contexto. Assim, a maioria das conjunções pode servir aos mais variados objetivos discursivos. Isto resulta em dificuldade na classificação das diferentes orações que podem ser introduzidas pelas mesmas conjunções.

Para Azeredo (2000), a identificação tradicional das orações coordenadas como independentes e das subordinadas como depen-dentes só é esclarecedora se for definida a natureza dessa dependên-cia, que para uns é puramente sintática, mas para outros deve dizer respeito ao sentido.

Para Garcia (1986), independência significa autonomia, auto-nomia não apenas de função, mas também de sentido. Por isso, o fa-tor de dependência deve ser considerado como critério de análise da relação de causalidade.

A visão tradicional

Os conceitos referentes à gramática tradicional empregados neste trabalho foram selecionados em cinco gramáticas consagradas de enfoque diferenciado, a saber: Bechara (2004), Cunha & Cintra (1985), Rocha Lima (1979), Kury (1987), e Luft (1978).

Bechara (2004) afirma que a oração subordinada adverbial funciona como adjunto adverbial da sua oração principal. De acordo com a circunstância que exprime, a oração adverbial pode ser de a-gente da passiva ou simplesmente justaposta3 ou causal quando ini-ciada por conjunção. A oração subordinada adverbial será causal quando exprime a causa, o motivo, a razão do pensamento expresso na oração principal. Essas orações são introduzidas pelas conjunções que (= porque), porque, como (=porque), visto que, visto como, já que, uma vez que (com o verbo no indicativo), desde que (com o verbo no indicativo).

O autor acrescenta algumas observações sobre o uso das con-junções causais. Uma dessas observações é em relação à posição da oração causal introduzida pela conjunção como, que só é empregada

3 Não consta da NGB.

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quando a oração causal vier antes da oração principal. O autor no-meia a conjunção subordinativa de transpositor, pois este transpõe a oração subordinada ao nível de equivalência do advérbio (no caso das adverbiais). A oração adverbial causal pode ser desenvolvida ou reduzida. Será reduzida quando apresentar o verbo principal ou auxi-liar no infinitivo com as preposições e locuções prepositivas com, em, por, visto, à força de, em virtude de, em vista de, por causa de, por motivo de; no gerúndio com o uso de sendo (= porque é).

Cunha & Cintra (1985) afirmam que a oração subordinada adverbial funciona sempre como adjunto ou complemento adverbial da oração principal da qual dependem. Pode apresentar-se desenvol-vida (conexa ou justaposta) ou reduzida (de infinitivo, de gerúndio e de particípio). As orações adverbiais causais equivalem a um adjunto adverbial de causa. As desenvolvidas conexas são introduzidas por conjunção ou locução conjuntiva causal; porque, pois, como, por-quanto, pois que, uma vez que, visto que, visto como, por isso que, já que, como quer que. Assim como Bechara (2004), os autores obser-vam que a conjunção como só se emprega quando a oração subordi-nada se antepõe à principal.

As orações causais justapostas podem remeter a uma conjun-ção causal elíptica ou serem iniciadas por uma palavra intensiva (tão, tamanho). Ex. “Ainda que tivesse escondido o infame objeto, emu-desceria, tão apavorado me achava.” ou “Dias inteiros passava-os Boemundo... todo absorto e alheio, fora de si e pudera dizer-se fora de todas as coisas, tamanho lhe era o desprendimento dos sentidos.”

As reduzidas de infinitivo são encabeçadas pelas preposições por, de, com, em, visto, e por locuções como por causa de, em con-seqüência de, em vista de, em razão de, à força de. As de gerúndio são exemplificadas por sendo e obtendo. “Não sendo meu costume dissimular ou esconder nada, contarei nesta página o caso do muro.” Os autores não apresentam exemplos de orações reduzidas de parti-cípio. Por outro lado, apresentam alguns critérios que fazem distin-ção entre as orações causais e explicativas. Ambas podem ser intro-duzidas pelas conjunções que, porque e pois, o que pode dificultar a distinção entre elas. Uma maneira de diferenciá-las é observar se a substituição da oração desenvolvida por outra equivalente, reduzida de infinitivo, iniciada pela preposição por, não opera alteração de

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sentido, sinal de que a oração é causal. Outra forma de diferenciá-las é observar que o conectivo pode ser omitido sem prejuízo de clareza nas explicativas, o que não ocorre nas causais. Em geral, a oração que antecede uma explicativa tem o verbo no imperativo. As orações causais de que, pois e porque podem ser substituídas por como no i-nício do período, o que não é possível com as explicativas.

Lima (1979) afirma que as orações adverbiais são equivalen-tes a um advérbio, adjunto adverbial da oração a que se subordinam. As causais indicam o fato determinante da realização, ou não-realização, do que se declara na principal. Quando desenvolvida, vem encabeçada pela conjunção prototípica porque ou por um suce-dâneo desta: como, desde que, já que, pois, pois que, porquanto, que, uma vez que, visto como, visto que. As conjunções pois, pois que e porquanto servem para mostrar que a causa é um acontecimento e-vidente. Oração introduzida por como fica obrigatoriamente antes da principal. As orações introduzidas pelas outras conjunções apresen-tam posição facultativa. As conjunções que e porque ora têm valor coordenativo, ora valor subordinativo. A oração coordenada de que e porque é utilizada para introduzir uma informação nova. A oração subordinada de que e porque é parte de outra oração e entre elas e-xiste uma relação de causa e conseqüência. A subordinada causal pode antepor-se à principal. Ex. “Porque estava animado, o capitalis-ta se matou.”

Kury (1987) similarmente caracteriza uma oração subordina-da adverbial causal pela função de adjunto adverbial que ela exerce. Pode apresentar-se desenvolvida (conexa ou justaposta) e reduzida.

Luft (1978) afirma que as orações adverbiais têm valor de ad-vérbios, adjuntos adverbiais da respectiva oração principal. As cau-sais indicam a causa do que afirma o predicado da oração principal, e aparecem reduzidas ou desenvolvidas. As desenvolvidas são ligadas pelas conjunções porque e como (em orações antepostas).

Os cinco autores concordam com o fato de que a oração su-bordinada adverbial é equivalente a um advérbio e funciona como um adjunto adverbial. Quanto à forma podem apresentar-se desen-volvida ou reduzida. Uma distinção feita por Bechara é a nomeação de transpositor que aplica ao que os outros autores nomeiam de con-junção, por motivos sintáticos. O autor explica que este elemento

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transpõe a oração subordinada adverbial ao nível de equivalência de um advérbio e por isso deve ser chamado de transpositor. Cunha & Cintra diferenciam-se dos demais autores por apresentar alguns crité-rios que fazem distinção entre as orações causais e explicativas. Li-ma apresenta a possibilidade de as conjunções apresentarem valores polissêmicos. O autor acrescenta que as conjunções que e porque ora têm valor coordenativo, ora têm valor subordinativo.

O Funcionalismo

Os estudos no âmbito do funcionalismo abordam a língua como um instrumento de interação social cuja função principal é a comunicação. Desse modo, o estudo do sistema deve fazer-se dentro do quadro de uso e a descrição das expressões deve fornecer dados para a descrição de seu funcionamento em um dado contexto. Assim, a pragmática é o quadro dentro do qual a semântica e a sintaxe de-vem ser estudadas. As prioridades vão da pragmática à sintaxe, via semântica.

Hymes (1974) sugere algumas características distintivas entre o formalismo e o funcionalismo. Segundo ele, o formalismo estuda a estrutura da língua como código gramatical; a análise do código é priorizada em detrimento do uso; considera que as línguas possuem função equivalente, ou seja, são potencialmente homogêneas. Por outro lado, o funcionalismo estuda a língua como meio de comuni-cação; a análise do uso é priorizada em relação ao código; a organi-zação do uso desmembra características e relações adicionais; código e uso são observados como uma relação integral; considera também importantes as diferenças entre as línguas, variações e estilos.

Neves (2004) explica que gramática funcional é uma teoria de organização gramatical das línguas naturais que procura integrar-se em uma teoria global da interação social. Para essa teoria, as relações entre as unidades e as funções das unidades têm prioridade sobre seus limites e sua posição. A gramática funcional está acessível às pressões do uso.

Alguns princípios funcionalistas devem ser levados em consi-deração como o princípio de iconicidade e de marcação. Entende-se por iconicidade a correlação entre forma e função, ou seja, entre a

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expressão e o conteúdo. O princípio de marcação estabelece três cri-térios para a distinção das categorias marcadas e não-marcadas. São eles: a complexidade estrutural, a distribuição de freqüência e a complexidade cognitiva. É importante ressaltar que as categorias marcadas e não-marcadas do funcionalismo não correspondem às ca-tegorias marcadas e não-marcadas da sociolingüística. Pelo contrá-rio, o que é marcado para uma é não-marcado para a outra teoria.

Para Halliday (1985), a noção de função está relacionada ao papel que a linguagem desempenha na vida dos indivíduos, servindo aos variados tipos de demanda. Assim, o enunciado parte das esco-lhas que o falante faz com base em uma gramática de base sistêmica e paradigmática para um propósito específico.

A articulação entre orações é estudada sob o rótulo de con-junção que é um instrumento de inserção de uma oração em determi-nado ponto de outra e, também, é um dos mecanismos de coesão tex-tual. Nesse trabalho, o foco principal será a relação conjuntiva cau-sal.

Para Thompson (1988), as construções construídas sob o rótu-lo de subordinação são muito diferentes para serem identificadas por um critério apenas. Assim, propõe uma análise baseada nos modos de articulação, na qual se associam à subordinação algumas proprie-dades formais: identidade entre sujeito, tempo e modo das orações interligadas; redução de uma das orações; incorporação marcada gramaticalmente de uma das orações, entre outras.

Para Givón (1995), a estruturação interna da gramática unifi-ca sintaxe, semântica e pragmática. A sintaxe constitui a codificação dos domínios funcionais que são: a semântica, de ordem proposicio-nal e a pragmática, de ordem discursiva.

As visões sobre a causalidade, segundo as óticas funcionalista e da lingüística textual

Azeredo (2000) explica que as orações adverbiais ao funcio-narem como adjuntos de outras orações apresentam a mesma mobili-dade posicional de certos adjuntos adverbiais. As conjunções causais mais usuais, de acordo com o autor, são porque, pois, como e já que.

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Do ponto de vista da posição que esses conectivos ocupam nas estru-turas sintáticas, porque e pois introduzem a oração causal que sucede a principal; como antecede a principal; já que pode ser posicionada antes ou depois da principal. Apenas porque pode ser precedida de um vocábulo de realce. Em relação ao seu efeito discursivo, a oração causal exprime um fato já conhecido pelo interlocutor, quando posi-cionada antes da principal.

Oliveira e Monnerat (in Pauliukonis & Gavazzi, 2005, p. 90) afirmam que a causalidade acolhe relações que a Gramática Tradi-cional distribui tanto na coordenação quanto na subordinação. Quan-to à posição estrutural, é natural a causa anteceder a conseqüência, mas a inversão dessa ordem também ocorre evidenciando que a ex-pressão da causa e da conseqüência pode ser uma questão de priori-zar o que se quer enfocar.

Abreu (2005) explica que a mobilidade de alguns articulado-res deve-se ao fato de que esses termos eram inicialmente apenas ad-vérbios que passaram a assumir a função de conectores, mas manti-veram a mobilidade característica de advérbios. O autor faz uso da nomenclatura articulador sintático por ser um termo mais genérico que abrange também as locuções prepositivas. Vale ressaltar que o autor faz uso de uma nomenclatura diferente, pois coloca no mesmo grupo as conjunções e as palavras de outras classes que funcionam como elementos de ligação entre orações. Além disso, o autor reco-nhece como articuladores as locuções que não são previstas pelas gramáticas tradicionais. A visão da articulação sintática de causa do referido autor não difere da abordagem do tema pelas gramáticas tra-dicionais.

Ressalta, igualmente, que com o uso das conjunções e locu-ções conjuntivas, o verbo se mantém em seu tempo finito. Porém com uso das locuções prepositivas, o verbo assume a forma infinita. Em seu artigo também relaciona as principais conjunções e locuções conjuntivas em uso: porque, pois, como, por isso que, já que, visto que, uma vez que. Menciona igualmente as principais preposições e locuções prepositivas: por, por causa de, em vista de, em virtude de, devido a, em conseqüência de, por motivo de, por razão de. O autor chama a atenção para o fato de que a conjunção como só tem valor

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causal quando anteposta e a conjunção pois quando posposta à prin-cipal.

Mateus et alii (2003) afirmam que o estatuto de constituinte sintático de adjunto das orações subordinadas adverbiais é identifi-cado pela possibilidade de ocuparem diferentes posições na frase ou por serem destacadas por clivagem. Com base em tal princípio, con-sideram que a causal introduzida por como é incompatível com pro-cessos que envolvem focalização como a clivagem. Acrescentam que a mobilidade é uma das características distintivas principais entre a coordenação e a subordinação.

Afirmam que as orações causais exprimem uma relação de dependência semântica entre duas proposições, A e B. Mas sob a de-signação de causalidade incluem-se diferentes valores. Um desses valores é a relação causa/conseqüência. Assim, para que se estabele-ça uma relação de causalidade “pura” entre duas proposições, A e B, têm de verificar-se três condições: B deve pertencer ao “mundo” se-lecionado por A; os conteúdos das duas proposições verificam-se no mundo real, no intervalo de tempo relevante; A e B devem estar li-nearmente ordenadas no tempo. Porém, a oração causal pode expri-mir um resultado e não a causa o que torna inverificável a relação temporal da terceira condição escrita.

Mostram que as formas de expressão da causalidade são: duas orações finitas na ordem B conector A ou conector A B, a oração A, subordinada causal, pode ser iniciada pelos seguintes conectores: porque, como, pois que, uma vez que, visto que, já que, dado que; orações causais infinitivas iniciadas por por causa de, devido ao fato de, por (Ex: “Por não ter chovido em Portugal em 1981, Houve se-ca.”); orações causais sem conectores, gerundivas ou participativas (Ex: “Magoado, o miúdo começou a chorar.”); as orações condicio-nais reais ou factuais exprimem uma relação de causa/conseqüência (Ex: “ O narciso pertence ao reino vegetal, porque é uma flor.” E “ Se narciso é uma flor, (então) pertence ao reino vegetal.”); o nexo de causa/efeito também pode ser expresso por uma oração conclusiva (Ex: “Não choveu em Portugal em 1981, por isso houve seca.”); do mesmo modo, as orações explicativas iniciadas por pois, que expri-mem nexos de causalidade, mas a impossibilidade de inversão mos-tra que são construções de coordenação (Ex: “O narciso pertence ao

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reino vegetal, pois é uma flor.” E “*Pois o narciso é uma flor, per-tence ao reino vegetal.”); outra forma de exprimir causalidade é atra-vés de uma construção de tipo participial (particípio) introduzida por dado ou visto. (Ex: “Dada essa circunstância / visto isso, a vindima vai ser boa.”).

Segundo as autoras, ordem linear da oração antecedente e da oração conseqüente depende da estrutura temática e do padrão de in-formação exibido pelo texto de que os enunciados fazem parte. Des-se modo, a ordem B, pausa, A ocorre quando A é uma informação nova e B é uma informação conhecida. A ordem B, sem pausa, A o-corre quando toda informação é nova. A ordem A, pausa, B ocorre quando A é uma informação conhecida e B é uma informação nova.

Mateus et alii (2003) fazem uma distinção entre conjunções e outros conectores. As conjunções são palavras morfologicamente não flexionáveis que veiculam prototipicamente valores de adição, alternância ou contraste entre os termos coordenados, ou seja, a con-junção é própria das estruturas de coordenação. Os conectores são expressões mais gerais do que as conjunções e ocorrem tanto na co-ordenação quanto na subordinação. Os conectores distinguem-se formalmente das conjunções e dos complementadores pelo fato de poderem co-ocorrer com eles. Os complementadores, por sua vez, são as conjunções subordinativas.

Guimarães (2007) mostra que as conjunções podem ser mais bem caracterizadas observando-se o seu funcionamento. As conjun-ções pois e já que diferem-se por exemplo pela possibilidade de in-versão das orações iniciadas por já que o que não é possível com as orações iniciadas pela conjunção pois. O autor considera em sua aná-lise a possibilidade de inversão das orações; a possibilidade de arti-culação por sobre o limite de frase; o alcance da negação; o alcance da pergunta; o modo de encadeamento no texto; a divisão para dois locutores numa conversa; a divisão entonacional no interior de uma frase; correlação dos modos verbais nas orações. As conjunções pois e já que coincidem afirmativamente para a divisão entonacional e co-incidem negativamente para todos os outros itens com exceção da-queles que as diferem.

Paiva (1995) mostra que a ordem sintagmática das cláusulas causais apresenta certa liberdade condicionada pela superposição do

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efeito dos princípios de iconicidade e de distribuição de informação, em termos de fluxo das idéias no discurso e aquele relacionado à própria conceptualização da relação de causalidade.

Decat (2001) discute a questão da dependência/independência de cláusulas a partir da noção de unidade informacional. A autora faz uma distinção entre os tipos de interdependência entre as cláusulas. Assim, estruturas de encaixamento são constituídas por cláusulas que se integram estruturalmente em outra. Portanto, sua dependência é determinada pela escolha do item lexical. Participam dessa classifi-cação as cláusulas complementos e adjetivas restritivas. Outro tipo de interdependência são as estruturas de hipotaxe formadas por cláu-sulas que não estão sujeitas a uma integração. Assim, sua dependên-cia representa uma opção do usuário da língua em relação de cunho organizacional. Participam dessa classificação as cláusulas adverbi-ais e apositivas. A autora define cláusula como qualquer estrutura provida de verbo, ainda que só esse elemento apareça. A autora faz uma análise supra-sentencial (observa o contexto discursivo em que as cláusulas se inserem) e aponta diferentes graus de interdependên-cia de cláusulas.

Hopper & Traugott (1993) mostram como estudos de base funcionalista rompem com a visão dicotômica de coordenação e su-bordinação, e adotam a noção de um “continum” para a combinação de cláusulas. Assim, parataxe é a independência relativa entre as cláusulas, em que o vínculo das orações depende apenas do sentido; a hipotaxe é interdependência entre as cláusulas, em que há uma cláusula núcleo e uma ou mais cláusulas (margens) que não podem figurar sozinhas no discurso e, por isso, são relativamente dependen-tes; a subordinação ou encaixamento é a total dependência entre as cláusulas em relação ao núcleo. Quanto aos conectores de cláusula, afirmam que marcadores de ligação entre cláusulas são na sua ori-gem motivados pelo desejo dos falantes em serem claros e informa-tivos, particularmente para dar direções aos ouvintes para interpreta-rem cláusulas em termos do envolvimento lingüístico entre elas. Ini-cialmente, os marcadores servem para sinalizar a relação funcional das cláusulas combinadas umas com as outras e para marcar frontei-ras sintáticas que podem parecer obscuras quando há entrelaçamento das cláusulas.

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Koch (1993) mostra que é inadequado falar em orações de-pendentes (ou subordinadas) e independentes (ou coordenadas), já que estabelecem relações de interdependência, pois qualquer uma delas é necessária à compreensão da outra. A autora também aponta para a necessidade de estudar o funcionamento de uma língua pelos componentes sintáticos, semânticos e pragmáticos associados.

Barreto (1999 apud Barreto, 1992) afirma “não haver uma se-paração nítida entre conjunções coordenativas e subordinativas, mas um contínuo que vai da coordenação à subordinação por excelência, havendo em cada grupo de conjunções, os protótipos.”

Neves (2000) procura enfatizar o papel discursivo dos conec-tores, defendendo que a gramática é sensível às pressões de uso e, por isso, é ajustável e se acomoda para propiciar a comunicação efi-caz entre os usuários de uma língua.

Fávero & Koch (1998) afirmam que os elementos conjuntivos são coesivos não por si mesmos, mas indiretamente, em virtude das relações significativas específicas que se estabelecem entre as ora-ções dentro do período, entre os períodos dentro de um parágrafo e entre parágrafos no interior do texto. Os principais tipos de elemen-tos conjuntivos são: advérbios e locuções adverbiais; conjunções co-ordenativas e subordinativas; locuções conjuntivas; preposições e lo-cuções prepositivas; itens continuativos como daí, então, a seguir entre outros.

Koch (2003) comenta que é comum estruturas de coordena-ção articularem períodos, parágrafos e mesmo porções maiores de textos. Na organização textual, os conectores, ao procederem à arti-culação dos enunciados, permitem enfatizar ora uma idéia ora outra, relacionar tópicos diversos, ligar parágrafos entre si, bem como ope-rar a delimitação das várias etapas discursivas. Daí a denominação que têm recebido de articuladores textuais, por serem, em larga esca-la, responsáveis pela coesão e pela progressão textual.

PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

O corpus foi constituído por textos na modalidade escrita do tipo dissertativo-argumentativo e do gênero redação de vestibular. A

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amostra foi composta por 50 redações de diferentes autores com ní-vel médio de escolaridade completo ou em fase final de curso, todos estudantes do pré-vestibular social da fundação Cecierj / consórcio Cederj no ano de 2007. As redações foram elaboradas com temática atual (Por que está havendo um aumento da chamada violência “gra-tuita” hoje?) e segundo os moldes de redação do ENEM.

Inicialmente realizou-se uma análise qualitativa dos dados. Foram identificadas, nas redações, as estruturas que expressam as re-lações de causalidade, e em seguida selecionadas as que constituem formas variáveis em relação ao que é prescrito pelas gramáticas tra-dicionais, para que fossem estabelecidos os contextos favoráveis a essas realizações. Posteriormente, essas relações foram analisadas e comparadas com as estruturas previstas pela Nomenclatura Gramati-cal Brasileira e pelas estruturas estudadas pelos autores selecionados que apresentam uma abordagem distinta da NGB, tanto no que se re-fere ao aspecto estrutural quanto ao aspecto discursivo. O estudo ten-tou contemplar os aspectos gramaticais que são fundamentais para determinar a estrutura de um elemento como sendo ou não, especifi-camente neste caso, um advérbio em sua forma oracional; e os aspec-tos semânticos que são fundamentais para determinar os tipos de re-lações que este elemento pode estabelecer como, especificamente neste caso, as relações de causalidade.

RESULTADO DA ANÁLISE DE 63 DADOS

Os dados analisados foram selecionados de um corpus consti-tuído por 50 redações de alunos que estão cursando o terceiro ano do ensino médio ou que já o concluíram e estão cursando o pré-vestibular social da Fundação Cecierj/Consórcio Cederj. As redações foram gentilmente cedidas pela direção geral e pela coordenação de redação do pré-vestibular social. Todos os alunos desse pré-vestibular são pessoas carentes que não possuem condições financei-ras de custear os seus estudos e que concluíram ou estão concluindo seus estudos pela rede pública de ensino.

Durante a escolha e seleção do corpus, muitas redações foram descartadas devido à precariedade da estrutura lingüística de algumas delas que dificultava o entendimento do texto. Algumas redações fo-

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ram retiradas da amostra por apresentar equívocos em relação à ade-quação da estrutura utilizada pelos alunos quanto ao gênero textual redação de vestibular e ao tipo de texto dissertativo-argumentativo. Algumas estruturas que apresentaram a relação de causalidade tam-bém foram ignoradas, pois apresentavam idéias contraditórias ou até mesmo idéias que não correspondiam a fatos reais.

As relações de causalidade foram analisadas, observando-se os seguintes aspectos: período simples; período composto por coor-denação ou subordinação; oração em sua forma desenvolvida ou re-duzida; orações introduzidas por articulador sintático ou orações sem articulador sintático; estrutura afirmativa, negativa ou interrogativa; a posição e a mobilidade dos articuladores sintáticos.

No nível inter-oracional, foram consideradas na análise ape-nas as estruturas causais, explicativas, condicionais e consecutivas. Embora houvesse uma alta ocorrência de orações finais, estas não fo-ram consideradas na análise. Alguns autores colocam as orações fi-nais dentro do grupo das orações que apresentam a relação causa e efeito, mas esta estrutura fica um pouco distanciada das demais pelos seus traços semânticos. No nível intra-oracional, foram consideradas as ocorrências de sintagmas adverbiais.

Os 63 dados foram identificados em 33 redações, ou seja, a amostra corresponde a uma freqüência de 57% do total de redações do corpus. Desse modo, em 17 das 50 redações não houve ocorrên-cia de nenhuma estrutura que apresentasse qualquer tipo de relação de causalidade.

Relação entre a freqüência de estruturas coordenadas e subordinadas

(Ex.:1) “(...) Na sociedade brasileira acontecem inúmeras impunidades, pois quem está na elite, mesmo tendo cometido al-guma ação possível de penalidade, será isento de qualquer pena-lidade. (...)” [Oração coordenada explicativa, Redação nº 3]

(Ex.:2) “(...) não podemos contar com a maioria dos nossos governantes, pois eles tem a cada dia agravado mais a impuni-

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dade no país. (...)” [Oração subordinada adverbial causal, Redação nº 12].

0%

20%

40%

60%

Coordenada 48%

Subordinada 44%

Per.Simples 8%

Percentual

As estruturas coordenadas apresentaram 30 dados com uma freqüência de 48% em um total de 63 dados. Ao passo que as estru-turas subordinadas apresentaram 28 dados com uma freqüência de 44% em um total de 63 dados. Os 8% restantes referem-se a 5 dados do período simples que serão analisados posteriormente.

Observa-se um equilíbrio entre a freqüência de estruturas co-ordenadas e estruturas subordinadas. A diferença percentual entre ambas as estruturas é de apenas 4%, o que pode sinalizar que não há uma preferência específica por parte dos alunos por estruturas coor-denadas ou subordinadas, mas sim que tanto a estrutura coordenada quanto a subordinada fazem parte do desempenho lingüístico desses alunos e aparecem nas redações analisadas de maneira semelhante em relação à freqüência de uso. Esse resultado também pode indicar uma aproximação na freqüência de uso das estruturas coordenadas e subordinadas que pode ser justificada pela semelhança que há entre as estruturas coordenadas e as estruturas subordinadas adverbiais, ou seja, ambas apresentam certa mobilidade e independência sintática o que faz com que seja difícil para os alunos diferenciá-las, por isso pode ocorrer certa indiferença na opção pela estrutura.

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Relação entre a freqüência de estruturas desenvolvidas e reduzidas

(Ex.:3) “(...) Isso ocorre porque quem está no poder con-trola a situação através de fraudes e abuso de poder. (...)” [Ora-ção subordinada adverbial causal desenvolvida, Redação nº 3]

(Ex.:4) “(...) Foi presa e condenada por fazer o que a justi-ça não faria.(...)” [Oração subordinada adverbial causal reduzida de infinitivo, Redação nº 1]

0,00%20,00%40,00%60,00%80,00%

100,00%

Desenv 83,00%

Red 9,00%

As estruturas desenvolvidas apresentam 63 dados que equiva-lem a uma freqüência de 83% em um total de 63 dados. Por outro la-do, as estruturas reduzidas apresentam 6 dados que equivalem a uma freqüência de 9% em um total de 63 dados. O alto número de estru-turas desenvolvidas já era esperado, pois estudos mostram que as es-truturas que apresentam a relação de causalidade ocorrem predomi-nantemente na forma desenvolvida.

Observa-se que, nas 6 ocorrências de estruturas reduzidas, o articulador sintático utilizado foi exclusivamente a preposição por. Não houve ocorrência de nenhum outro articulador sintático na es-trutura de oração reduzida de infinitivo. Vale ressaltar que só houve estrutura de oração causal reduzida de infinitivo. Não houve ocor-

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rência de oração causal reduzida de gerúndio nem reduzida de parti-cípio.

Os resultados mostram que a utilização de estruturas reduzi-das é muito pouco utilizada, apenas 9% dos dados. Observa-se na amostra que os alunos que utilizaram a forma reduzida, optaram pela forma base apresentada como padrão nas gramáticas tradicionais, ou seja, a escolha da forma verbal no infinitivo introduzida pela conjun-ção por.

Os resultados mostram que a utilização de estruturas desen-volvidas é muito freqüente, superior a 50%, equivalente a 83%. Isso pode confirmar a preferência pela utilização de estruturas desenvol-vidas por parte dos alunos, porém isso não significa que as estruturas estejam de acordo com a utilização prevista pelas gramáticas tradi-cionais. Pelo contrário, a alta freqüência de orações desenvolvidas pode indicar inovações no uso, já que é nas orações desenvolvidas que as dificuldades em identificá-las acontece devido a semelhanças sintáticas ou semânticas que apresentem.

Relação entre a freqüência de estruturas com e sem articuladores sintáticos

(Ex.:5) “(...) Se não houver uma colaboração de todos, não haverá como dar um fim nesse problema. (...)” [Se condicional, Redação nº 38]

0,00%

50,00%

100,00%

Com art 86,00%

Sem art 6,00%

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(Ex.: 6) “(...) Porém, hoje isso vem ocorrendo com mais freqüência, de modo que muitas vezes passam desapercebido aos nossos olhos por estarmos acostumados em fazê-los e não sofrer punição que nos é devida. (...)” [Por preposição, Redação nº 47]

As estruturas que apresentam a relação de causalidade ocor-rem predominantemente com a presença de um articulador sintático. As estruturas com articulador sintático podem ser desenvolvidas ou reduzidas e apresentam 54 dados que equivalem a uma freqüência de 86% em um total de 63 dados. Ao passo que, as estruturas sem co-nectivo apresentam 4 dados que equivalem a uma freqüência de 6% em um total de 63 dados.

Destaca-se a grande produtividade de orações com a presença de um articulador sintático. Isso confirma a expectativa de que o alto percentual de orações desenvolvidas pressupõe o alto percentual de articuladores sintáticos.

Nas estruturas que apresentaram a relação de causalidade sem a presença de um articulador sintático as orações eram simplesmente justapostas separadas por vírgula ou ponto-e-vírgula.

Nas estruturas com a presença de um articulador sintático, as orações foram introduzidas pelos seguintes articuladores sintáticos: pois, porque, se, já que, que, por. Não houve nenhuma ocorrência dos outros tipos de articuladores. Destaca-se a ausência do articula-dor como que pode ser justificada pela sua posição, já que não houve ocorrência de estruturas com o articulador na oração inicial do perío-do, exceto na única estrutura interrogativa encontrada na amostra. Esse resultado pode indicar a preferência pela utilização das formas estruturais mais freqüentes pelos estudantes que em sua maioria ain-da não dominam as normas gramaticais.

Relação entre a freqüência de estruturas afirmativas, interrogativas e negativas

(Ex.: 7) “(...) se temos o governo de hoje com tais deficiên-cias foi porque não soubemos eleger a pessoa correta e competen-te (...)” [Porque causal negativo, Redação nº 26]

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(Ex.: 8) “(...) Deveria ter solução para este caso, só porque tem muito dinheiro é dono do mundo e não deve ir para a cadei-a? (...)” [Porque causal interrogativo, Redação nº 7]

0%

50%

100%

Afirmativa 94%

Negativa 5%

Interrogativa 1%

Percentual

As estruturas afirmativas apresentaram 54 dados com uma freqüência de 94% em um total de 58 dados. Ao passo que as estru-turas negativas apresentaram 3 dados com uma freqüência de apenas 5% em um total de 58 dados. Houve somente uma ocorrência de es-trutura interrogativa que corresponde a uma freqüência de 1% em um total de 58 dados. Os adjuntos adverbiais não foram incluídos nesta análise.

Observa-se uma freqüência predominante de estruturas afir-mativas. A diferença percentual entre as estruturas negativas e inter-rogativas é de 4% o que pode sinalizar que não há uma preferência sutil por parte dos alunos por estruturas negativas em relação às es-truturas interrogativas.

No exemplo nº 8 observa-se que a relação de causa na estrutu-ra interrogativa está implícita em toda a idéia e não diretamente na estrutura explícita do enunciado.

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Relação entre a freqüência de estruturas antepostas ou pospostas

0%

50%

100%

Anteposta 2%

Posposta 98%

Percentual

As estruturas que apresentaram o articulador sintático na ora-ção posposta ou em posição final equivalem a uma freqüência de 98% em um total de 54 dados (com articuladores sintáticos), ou seja, quase a totalidade das ocorrências. A única ocorrência em que o arti-culador ocupou posição inicial na oração anteposta, tratava-se de uma estrutura interrogativa, portanto, a posição foi marcada pela es-trutura interrogativa e não pela mobilidade do articulador sintático.

Observa-se uma preferência absoluta por estruturas iniciadas pelo articulador sintático na oração posposta à principal. Esse resul-tado pode indicar uma tendência na freqüência de uso das estruturas gramaticais mais básicas que pode ser justificada pela falta de domí-nio da norma culta por parte desses estudantes.

CONCLUSÃO

A pesquisa realizada observou as estruturas com orações ad-verbiais causais e outras que também apresentam uma relação de causa e efeito, ou seja, de causalidade. O corpus foi constituído por redações de alunos de um pré-vestibular social. A pesquisa utilizou uma abordagem funcionalista em comparação com as normas previs-tas pela gramática tradicional para identificar as estruturas utilizadas por esses alunos. Desse modo, os resultados deste estudo indicam que há diferenças entre o que a gramática prescreve como norma cul-

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ta padrão e o uso efetivo que os estudantes fazem dessa norma na es-crita. Existem, portanto, outras formas de expressar a relação de cau-salidade, além do uso das orações subordinadas adverbiais causais. O uso de articuladores sintáticos limita-se a apenas seis tipos. Destaca-se a ocorrência da preposição por sendo utilizada em substituição a ainda que e porque. Observou-se, entretanto, que não há diferença quanto ao número de ocorrências entre o uso de orações coordenadas e subordinadas. E confirmou-se o predomínio de orações desenvol-vidas.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS4

4 A autora não incluiu referências bibliográficas, apesar de fazer numerosas remissões a elas, como já foi informado anteriormente.