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Relacionamento e Trabalho em Equipe
Introdução
Olá!
Você está recebendo o caderno “Relacionamento e Trabalho em Equipe” e
esperamos que ele seja um bom apoio para seus estudos.
Neste caderno vamos dialogar sobre algumas competências que são muito
importantes para o mundo do trabalho e também para o nosso dia a dia, como
relacionamento humano, trabalho em equipe, direitos do trabalhador e consumo
consciente.
Qualquer que seja a área de trabalho que você escolher ou o curso que fizer, vai
precisar lidar com esses temas, concorda? Afinal, vivemos em sociedade. Mesmo que
você trabalhe como técnico em informática – e lide com uma máquina – ou trabalhe em
um laboratório químico compenetrado em suas misturas, terá que, em algum momento,
relacionar-se com pessoas, lidar com seu chefe ou com seus funcionários, com seus
clientes ou tomar decisões em equipe.
O caderno está dividido em quatro capítulos.
O primeiro tem o título “Trabalhando em equipe e mantendo um bom
relacionamento interpessoal”. Esse capítulo vai nos ajudar a refletir um pouco sobre
nossas próprias características e sobre como nos comportamos ao realizar uma tarefa
sozinhos ou em equipe.
Geralmente gostamos de estar em grupo, em uma festa, uma atividade de lazer,
mas desde que esse grupo seja de amigos ou de pessoas que pensam como nós. Ao
trabalhar em equipe, na escola ou no trabalho, nem sempre podemos escolher com quem
nos relacionar. Temos, então, que aprender a agir profissionalmente ou, mesmo que não
seja no trabalho, mas na escola ou praticando um esporte coletivo, a trabalhar com foco
na atividade que temos para fazer respeitando o grupo. Várias pesquisas científicas
apontam para a importância do trabalho em equipe no desempenho profissional, em
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muitas áreas. Vamos citar algumas dessas pesquisas e, inclusive, diferenciar trabalho
“em grupo” de trabalho “em equipe”.
No segundo capítulo, “Melhorando as condições de convivência na vida e no
trabalho”, discutiremos a difícil arte de conviver. Temos visto em todo o mundo casos
de intolerância religiosa, racismo, com relação à orientação sexual e violência contra a
mulher, muitas vezes dentro de casa. Vamos examinar o que a legislação prevê nesses
casos e também o que dizem os acordos internacionais que tratam de uma cultura da
paz, tendo sempre na educação das crianças e jovens a maior esperança. Para conviver
com pessoas de maneira harmoniosa – e quase tudo o que fazemos, em casa, na escola,
no trabalho é acompanhado de pessoas – é preciso empatia e tolerância.
No terceiro capítulo: “Apropriando-se dos direitos Trabalhistas e
Previdenciários” vamos aprender mais sobre a legislação trabalhista e previdenciária
vigente no Brasil e um pouco de sua história, para entender como chegamos até aqui. E
a previdência, o que é, afinal? Algo ligado à aposentadoria, não? Trataremos também da
Lei da Aprendizagem e o que está previsto quanto ao trabalho de jovens que ainda estão
estudando.
No quarto e último capítulo, o tema é “Repensando o consumo”. Teremos coisas
bastante interessantes para discutir nesse capítulo. Já houve um tempo, não muito
distante, em que quase ninguém se preocupava com o consumo excessivo (a não ser
quando faltava o dinheiro para as compras) e os bens naturais, como água, a luz do sol,
as florestas, os animais pareciam inesgotáveis ou imutáveis. Aprendemos que não é
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assim, que se não cuidarmos desses bens, eles acabarão e inviabilizarão nossa vida na
Terra.
Repensar o consumo é uma questão de sobrevivência! Precisamos respeitar a
natureza e utilizar seus recursos de maneira equilibrada para evitarmos um esgotamento
dos recursos e garantirmos a sobrevivência das futuras gerações. A boa notícia é que há
muitas iniciativas em todo o mundo em favor de uma vida mais saudável.
Enfim, nesses quatro capítulos, vamos aprender sobre relacionamento, viver e
trabalhar juntos, compreender as diferenças, quais são nossos direitos como
trabalhadores e como viver uma vida sustentável, utilizando os recursos naturais de
modo racional. Esperamos que você amplie seu conhecimento e possa compartilhar com
seus colegas.
Vamos começar? Boa leitura e bons estudos!
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Situação de Aprendizagem 1: Trabalhando em equipe e praticando o
relacionamento interpessoal
Contextualização e Mobilização
Você lembra de fazer trabalhos em grupo na escola quando era mais novo ou até
recentemente? Aposto que sim!
A atividade em grupo – em sala de aula ou como tarefa de casa – é uma prática
escolar bastante comum em todos os lugares e para todas as idades. Você pode até fazer
uma pesquisa entre pessoas com idades diferentes, de cidades diferentes e,
provavelmente, todas que frequentaram alguma escola, vão lembrar dos trabalhos em
grupo.
Quando o trabalho era para ser feito fora da escola, reuníamos os colegas na casa
de alguém e, além das brincadeiras e lanches, fazíamos o que havia sido solicitado pelo
professor. Talvez você tenha lembranças divertidas desses trabalhos ou lembre-se de
algumas discussões – até mesmo brigas – porque a divisão de tarefas não era muito
justa, porque sempre tinha um “folgado” que não fazia nada e o produto final ficava
sempre para os mesmos ou para um único componente do grupo. Essas discussões não
costumam ser só entre crianças, não. Adolescentes e adultos também têm sérias
dificuldades quando precisam dividir responsabilidades!
Você lembra de algum problema desse tipo quando fazia trabalhos em grupo?
Algumas pessoas têm mais facilidade e gostam de estar sempre no meio de
outras para trabalhar, estudar e se divertir. Outras preferem fazer muitas atividades
sozinhas e ficam incomodadas quando são obrigadas a lidar com essa convivência.
É uma questão de jeito, de personalidade. E você? O que prefere? Já parou para
pensar nisso?
Há momentos em que mesmo as pessoas mais extrovertidas preferem ficar
sozinhas, refletir, pensar, ouvir as músicas que gostam. Mas, de qualquer forma,
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gostando ou não, você deve fazer, diariamente, muitas atividades junto com outras
pessoas.
Porque essa é praticamente uma exigência do mundo em que vivemos.
Você já ouviu esta expressão: “Nenhum homem é uma ilha? ”
O que você acha que ela quer dizer?
Essa frase é de um poema de John Donne, um poeta
inglês do século XVI! Ele nasceu em 1572 e morreu em 1631.
Mesmo fazendo tanto tempo, essa frase é repetida até hoje.
No mesmo poema – Meditação 17 – ele cita a
expressão “por quem os sinos dobram? ”.
É um costume muito antigo em várias partes do mundo
que, ao morrer alguém de uma cidade ou de um vilarejo, a igreja toca os sinos de uma
maneira especial, não para indicar as horas ou avisar da missa, mas para comunicar do
falecimento. Dizemos que, nessas badaladas, os sinos “dobram”. Nas grandes cidades
estamos afastados desses costumes.
A estrofe do poema com essa frase é:
“Nenhum homem é uma ilha, sozinho em si mesmo; cada homem é parte do
continente, parte do todo; se um seixo for levado pelo mar, a Europa fica menor, como
se fosse um promontório, assim como se fosse uma parte de seus amigos ou mesmo sua;
a morte de qualquer homem me diminui, porque eu sou parte da humanidade; e por
isso, nunca procure saber por quem os sinos dobram, eles dobram por ti” (DONNE,
1624).
Não é bonito?
Curiosidade:
O escritor norte-americano Ernest Hemingway escreveu um
romance com o título “Por quem os sinos dobram? ” Que
depois foi adaptado para o cinema e foi muito premiado!
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Pois é! Não somos uma ilha e costumamos estar juntos de outras pessoas em
muitos lugares: no clube ou associação onde praticamos esporte ou outro tipo de lazer
como um grupo de música, com amigos para assistir a um jogo de futebol, a um show
ou para um outro hobby. Nesses lugares, o que nos une é um gosto em comum, a
convivência com pessoas, o lazer e o prazer e, na verdade, se não estivermos contentes
em um desses locais temos liberdade para parar de frequentá-los.
Na escola e no trabalho é diferente. Eles fazem parte da nossa vida e não
podemos deixá-los tão facilmente. Por isso escolhemos dar destaque aqui para a escola e
o trabalho porque, além desses ambientes
estarem presentes na vida de
praticamente todas as pessoas, a
importância do relacionamento e do
trabalho em equipe é também a
convivência e a sociabilidade, mas não é
só isso. Na escola e no trabalho temos
outros objetivos bastante importantes e
precisamos atingi-los com sucesso.
Mas, afinal, esse tipo de relacionamento, do contato com grupos é obrigatório,
mesmo que eu não queira?
Vamos procurar entender um pouco melhor esse ponto.
Na escola, algumas vezes o professor, ao propor uma atividade, deixa que os
alunos decidam se querem fazer sozinhos ou em grupo e eles mesmos podem escolher
os componentes do grupo, o que parece muito bom porque sempre temos afinidades
com algumas pessoas mais do que com outras e escolhemos nossos amigos. Mas, outras
vezes, o professor não nos dá opção de escolha e determina como os alunos devem se
organizar: individualmente, em duplas, trios ou grupos maiores mesmo que contrarie a
maioria dos alunos. Em algumas ocasiões ainda, não podemos nem mesmo escolher
quem fará parte do nosso grupo. O próprio professor determina quem fica com quem.
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Você já se viu na situação de perguntar ou pelo menos pensar:
“Não posso fazer o trabalho sozinho, se eu preferir assim? ”.
“O professor pode me obrigar a fazer trabalho em grupo se eu não quero? ”.
“ E ainda com pessoas que eu não escolhi? ”
É interessante que esse questionamento seja feito. Não devemos simplesmente
obedecer às tarefas sem entender porque elas são impostas.
Mas, você precisa saber que há uma razão para isso!
Quando o professor “decide” como os alunos devem se organizar para fazer
certas atividades é porque ele tem uma intencionalidade. O que isso quer dizer? Ele
planejou a tarefa de modo a chegar a alguns objetivos com ela e para isso ele sabe qual é
a melhor formação – trabalho individual ou em grupo – para que a aprendizagem
aconteça. Além disso, espera-se que o professor conheça seus alunos, suas
características, os pontos fortes e fracos de cada um em seu desenvolvimento. Desta
forma, o professor segue critérios específicos para orientar o trabalho em sala de aula.
Ou seja, não é para “torturar” ninguém que o professor faz isso, nem para descontentar
ou punir os alunos. O objetivo do professor é que os alunos aprendam e para isso em
alguns momentos é necessário que cada aluno se empenhe individualmente para
compreender o que está sendo ensinado e, em outros momentos é importante que uns
ajudem aos outros com suas melhores habilidades.
Lev Vygotsky foi um pesquisador russo dos mais
importantes da área da educação. Ele dizia que: “o
aprendizado desperta vários processos internos de
desenvolvimento, que são capazes de operar somente quando
a criança interage com pessoas em seu ambiente e quando
em cooperação com seus companheiros” (VYGOTSKY,
1989).
Nessa frase, Vygotsky cita a interação de crianças, mas o que ele afirma é válido
também para jovens e adultos, como vamos ver mais adiante.
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Se você quiser saber mais sobre a vida e a obra de Lev Vygotsky acesse na
internet: http://www.uniriotec.br/~pimentel/disciplinas/ie2/infoeduc/teovygotsky.html
Além de Vygotsky, muitos outros educadores têm estudado as vantagens do
trabalho em equipe para a aprendizagem e, em muitos casos, formando o que os
educadores chamam de agrupamentos produtivos. Esses agrupamentos, que podem ser
duplas, trios ou grupos maiores, são constituídos por alunos que têm graus de
desenvolvimento diferentes em alguma área do conhecimento ou habilidades específicas
diferentes. Ou seja, um é melhor em cálculo matemático e outro em redação.
Vamos exemplificar:
Exemplo 1: Laura e Pedro são dois alunos da turma do Ensino Médio; eles são
muito criativos e se comunicam muito bem; são aqueles alunos “falantes”, que contam
histórias incríveis, mas eles não são muito bons na escrita, cometem muitos erros de
ortografia. Por outro lado, Tiago e Camila escrevem bem, mas são bastante retraídos e
quietos. A professora Sônia, da disciplina de Língua Portuguesa, forma um grupo com
os quatro alunos – Laura, Pedro, Tiago e Camila para a atividade de redação criativa.
Mas, veja bem! A ideia não é “fatiar” a atividade em tarefas e cada um fazer o que sabe
melhor! Isto não seria uma equipe de fato.
A intenção da professora é que eles façam um trabalho colaborativo, uns
aprendam com os outros e todos avancem, principalmente quanto à habilidade que eles
ainda não haviam desenvolvido tão bem.
Exemplo 2: a aula agora é de Ciências e a professora Patrícia monta “duplas
produtivas” para trabalharem no laboratório com alguns experimentos de química.
Mariana e Luciana são irmãs gêmeas e faltaram em várias aulas. Então, a professora
define que Mariana faça dupla com Vitor e Luciana com Flávia. Vitor e Flávia não
faltaram a nenhuma aula e estão muito empolgados com os experimentos. As duas
irmãs, cada uma em sua dupla, ficam encarregadas do registro por escrito dos
experimentos (e elas são boas nisso!)
A professora tem o objetivo de que os alunos que dominam mais os conceitos e
estão empolgados expliquem para suas colegas os experimentos para que o registro
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possa ser feito. Uns aprendem conceitos de química e outros aprendem a fazer uma boa
comunicação. Além disso, todos aprimoram suas habilidades.
Entendeu agora porque o professor precisa, em algumas ocasiões, montar ele
mesmo as equipes de trabalho? Tudo pelo conhecimento!
Ouvir opiniões diferentes das suas, confrontar com as suas próprias ideias,
argumentar, raciocinar, ensinar o que sabe aos colegas e aprender o que ainda não sabe
é um excelente modo de promoção da aprendizagem.
É interessante fazer uma reflexão aqui sobre esses “agrupamentos produtivos”.
Eles são formados por pessoas (crianças, jovens ou adultos) que têm habilidades e
competências diferentes ou estão em níveis de conhecimento diferentes em alguma área,
mas, todos têm potencial para aprender. Essas diferenças são temporárias e podem
deixar de existir com o estímulo dos professores e dos colegas. Certo?
Não é curioso perceber que essas pessoas se unem pela diferença e não pela
igualdade? E é assim que aprendem! Talvez até essas professoras não interfiram na
escolha de alguns grupos, mas nesses sim, porque sentem a necessidade de que isso seja
feito. Elas utilizam critérios pedagógicos para essa divisão. E aqui podemos lembrar da
diferença entre igualdade e equidade. Igualdade seria tratar todos os alunos da mesma
maneira e, nesse caso, nem todos teriam sucesso na aprendizagem porque eles não estão
em condições iguais, mas as professoras trataram os alunos com equidade que é cuidar
de maneira diferente para que todos tenham direito à aprendizagem.
Muitas escolas antigamente tentavam uniformizar os alunos deixando juntos os
iguais; ou seja, os “bons” alunos em um grupo e os “maus” alunos em outro grupo;
quem tirava notas melhores de um lado da sala e quem tirava notas baixas de outro lado.
Em alguns ambientes de trabalho também havia essa separação entre os que sabiam
mais e os que sabiam menos. Agora sabemos, com o apoio dos pesquisadores da
psicologia e da educação, que o grupo “heterogêneo” é mais rico porque é onde há mais
trocas e mais aprendizado. Então, viva a diversidade!
Curiosidade:
Algumas escolas e bibliotecas no Brasil e em outros países do mundo deixaram
de comprar todas as mesas e cadeiras iguais para os estudantes como
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Conheça um pouco mais sobre esse importante poeta brasileiro:
http://www.releituras.com/mquintana_bio.asp
compravam antes. Elas optaram por oferecer diferentes opções de tamanho,
formato e cor para que o usuário escolha a que for mais confortável para ele. O
que era sempre homogêneo antes, uniformizado, agora é diversificado. Porque as
pessoas são diferentes, tem alturas, pesos e preferências diferentes e todas
merecem ser atendidas em suas necessidades. Trata-se apenas do mobiliário,
parece apenas um detalhe, mas isso é tratar as pessoas com equidade.
Parece claro, então, que trabalhar em grupo com pessoas muitas vezes bastante
diferentes de nós é muito importante, mas será que é fácil? Já lembramos das discussões
que tínhamos nos trabalhos escolares. Se estamos entre amigos, pessoas escolhidas por
nós, a convivência é mais tranquila e até muito divertida, mas, temos que nos relacionar
também com pessoas que pensam e agem de maneira muito diferente da nossa. E
conviver não é fácil! Até o poeta Mário Quintana concorda. Em um poema seu de nome
“A arte de viver”, ele diz, “Mas como é difícil!
Como fazer, então, se a convivência é difícil?
Conviver com pessoas, trabalhar em um grupo, dividir tarefas exige algumas
qualidades que precisamos cultivar. Portanto, vamos, primeiramente, examinar as
nossas características pessoais.
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Você tem facilidade para se relacionar? Como se comporta em grupo? Gosta de
“chefiar” os grupos dos quais você faz parte na escola, no trabalho ou no esporte? Ou é
mais tímido e prefere que outras pessoas tomem a iniciativa?
Saber sobre o que mais gostamos, como preferimos fazer determinadas coisas é
muito importante. Esse autoconhecimento é necessário quando trabalhamos sozinhos,
mas, principalmente, quando trabalhamos em grupo. Parece engraçado dizer que
precisamos nos conhecer, mas é verdade! Às vezes não nos conhecemos muito bem.
Antes de aprender a lidar com os outros, saber lidar com a gente mesmo é o mais
importante!
Algumas pessoas são tímidas e podem sofrer um bocado ao ter que trabalhar ou
estudar com um grupo que não conhecem. Podem preferir ficar entre os amigos mais
íntimos e não se expor.
Isso pode parecer um problema sério, a timidez muitas vezes é considerada
como um defeito, mas isso não é verdade. Você sabia que o cientista Albert Einstein, o
poeta Carlos Drummond de Andrade e o cantor David Bowie eram pessoas tímidas? E
que Bill Gates e Michael Jordan também são? Pois é! Essas personalidades tão famosas
e que foram tão bem-sucedidas tinham pavor de serem chamadas para apresentar um
seminário na escola. Imagine!
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É interessante sabermos desses exemplos para compreender que a timidez é um
traço da personalidade de algumas pessoas e não é preciso mudar isso. Uma pessoa não
vai deixar de ser tímida ou extrovertida porque precisa estudar ou trabalhar com outras,
ela pode apenas aprender a se comunicar melhor e interagir para o seu próprio
desenvolvimento e para o bom convívio.
As pessoas muito extrovertidas, que podem parecer mais bem-sucedidas, com
mais facilidade para atuar em equipe também precisam se adequar ao grupo para não
dominarem todo o espaço e tornarem-se inconvenientes. Precisam aprender a ouvir e a
respeitar o jeito de cada um. O ser humano é complexo. Cada um de nós tem
características próprias e contradições também. Por isso é bom “traduzirmos” a nós
mesmos e compreendermos as diferenças.
O poeta Ferreira Gullar escreveu um poema de nome “Traduzir-se”. Ele aponta –
de uma maneira muito interessante – as contradições e ambiguidades próprias da
natureza humana. Um dos versos, por exemplo, é: “Uma parte de mim é multidão: outra
parte estranheza e solidão” e no verso final ele propõe que viver, afinal, é
conseguirmos “traduzir uma parte na outra parte”. O poeta nos traz essa reflexão de
uma maneira artística, muito bonita. Aliás, os artistas fazem isso conosco, não é
mesmo? Desvendam a alma humana e dizem – ou mostram – coisas que nós sentimos,
mas muitas vezes não conseguimos expressar.
Leia o poema “Traduzir-se” na íntegra acessando o link:
https://www.avozdapoesia.com.br/obras_ler.php?obra_id=11021&poeta_id=262
E ouça também o mesmo poema musicado e interpretado pela cantora Adriana
Calcanhoto: https://www.youtube.com/watch?v=rG5VG_6ZtnA
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Você já conhecia Ferreira Gullar? Poeta brasileiro que era
membro da Academia Brasileira de Letras e faleceu em
dezembro de 2016?
Se quiser saber mais sobre ele, veja neste site da Academia
Brasileira de Letras.
Fazer estas reflexões sobre quem somos, quais são nossas características mais
marcantes, o que precisamos melhorar em nós mesmos para conviver com outras
pessoas é muito importante para nos prepararmos para a vida social, para as escolas e
cursos que frequentamos e para o mundo do trabalho, nossa vida profissional.
A capacitação técnica na área em que trabalhamos é fundamental, mas se não
atentarmos também para essas habilidades pessoais podemos ter muitos problemas e
comprometer até a nossa carreira profissional. Ou seja, não adianta saber muito
tecnicamente se não conseguimos nos relacionar respeitosa e eticamente com nossos
colegas de trabalho.
Pesquisadores da área da Psicologia e da Educação têm estudado essas
características individuais e sociais das pessoas e percebido que, além de serem
importantes para que o relacionamento interpessoal ocorra da melhor forma e o
resultado do trabalho seja mais eficiente, são importantes também para a nossa saúde
física e mental. Não é incrível?
Jay Hall, pesquisador polonês, já escreveu vários artigos sobre o trabalho em
equipe nas empresas e o que torna uma equipe mais ou menos eficaz:
Para alcançar a eficácia, um grupo deve primeiro descobrir como integrar
com sucesso atividades de trabalho e sócio emocionais, simultaneamente.
Em geral, comportamentos - individuais ou de grupo - que atendem apenas
ao elemento-trabalho, produzem dificuldades a nível interpessoal; enquanto
que contribuições puramente interpessoais, a despeito de sua utilidade em
manter o grupo como entidade, frequentemente desgastam o objetivo-
trabalho. Nenhuma das facetas do funcionamento do grupo pode ser
ignorada se a eficácia é o objetivo. (HALL, 1969).
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Veja que, como o autor afirma, não podemos deixar de lado, quando
trabalhamos em equipe, nem as atividades do trabalho em si, que é a dimensão técnica
da nossa profissão e nem os aspectos sócio emocionais. Ambos são importantes para o
sucesso da atividade em grupo.
Ainda para termos ideia da importância que devemos dar às questões do
desenvolvimento pessoal e social, a Organização Mundial de Saúde (OMS) nomeou 10
habilidades que estão relacionadas com o nosso dia a dia, independentemente do país
em que vivemos e da atividade que fazemos, que eles consideram primordiais para
nosso desenvolvimento como pessoas e nossa saúde integral. Eles chamam essas
características de habilidades de vida!
São elas:
Autoconhecimento
Relacionamento interpessoal
Empatia
Lidar com os sentimentos
Lidar com o estresse
Comunicação eficaz
Pensamento crítico
Pensamento criativo
Tomada de decisão
Resolução de problemas
Você já deve estar reconhecendo em você algumas dessas habilidades e pensando
em quais precisa melhorar, não? E deve ter percebido que já estamos tratando de várias
dessas habilidades aqui. Não vamos tratar de cada uma detalhadamente, mas todas elas
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estão, de alguma forma relacionadas às competências requeridas na vida pessoal e
profissional.
É interessante perceber a importância que tem sido dada para essas habilidades de
vida por organizações bastante sérias, que têm muita credibilidade. Muitas escolas
tradicionais e empresas renomadas não levavam em conta essas características ao
considerar o que seria um bom aluno e um bom funcionário!
O aluno com bom relacionamento interpessoal, com facilidade para fazer amigos,
bastante sensível às questões sociais e problemas que aconteciam no entorno da escola
ou um ótimo comunicador, não costumava ser valorizado por muitas escolas, não é
mesmo? Às vezes essas características eram consideradas até defeitos e não qualidades
porque esses alunos eram muito “falantes” e “atrapalhavam a aula”! O que interessava
eram boas notas, apenas. Era saber matemática, geografia, ciências etc. As questões
sócio emocionais não pareciam fazer parte das incumbências da escola, em muitos
casos. Como se fosse possível separar a parte “pensante” do aluno de seus sentimentos e
emoções!
No ambiente de trabalho também, um funcionário que lida bem com os
sentimentos, tem criatividade, pensamento crítico e propõe soluções para os problemas
nem sempre era visto com bons olhos. O importante era a produtividade e só!
Atualmente, sabemos que nenhuma grande produção vale mais que as pessoas que nela
trabalham. Além disso, até a produtividade da empresa fica comprometida se os
cidadãos não têm suas necessidades e direitos respeitados.
O grande gênio do cinema, Charles Chaplin, soube, por
meio da sátira, retratar como ninguém o período áureo da
industrialização em que algumas indústrias chegavam a tratar
os funcionários como máquinas em busca de um aumento de
produtividade, passando por cima das necessidades mais
básicas dos seres humanos.
Veja esta cena clássica do filme “Tempos Modernos”
em que é proposta ao dono da fábrica, a ideia de uma máquina “alimentadora” para que
os operários não precisem “perder tempo” no horário do almoço para se alimentarem,
comprometendo a produtividade.
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https://www.youtube.com/watch?v=XLF1JZCxpxw
Com ironia, mostrando o exagero de uma situação em que a máquina alimenta o
funcionário (e tudo dá errado, é claro!), Chaplin nos faz refletir sobre a desumanização
nas relações de trabalho e lembrar que os direitos da pessoa humana devem estar sempre
em primeiro lugar em qualquer tomada de decisão, em qualquer ambiente de
convivência.
Atualmente, a própria OMS, que se preocupa com a saúde global dos cidadãos
de todo o mundo, nos diz que quando essas habilidades de vida são observadas pela
empresa, significa boa saúde de todos. Os empregadores já perceberam que suas equipes
trabalham muito melhor se valorizarmos essas habilidades e competências!
Uma das habilidades de vida citadas é a empatia. Você já deve ter ouvido falar
nessa característica tão importante para a convivência. Empatia é a capacidade de
colocar-se no lugar do outro. Sentir seus problemas e também alegrias como se fossem
com você.
Veja esta animação, que foi exibida em uma palestra da professora Brené Brown, da
Universidade de Huston – EUA e que ilustra o significado de empatia de uma maneira
bastante interessante e bem-humorada:
https://goo.gl/zwu6zm
A empatia é fundamental para que você compreenda as motivações das pessoas
e as respeite, mesmo que você não concorde com suas posições.
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As pessoas são diferentes, pensam de forma diferente e, muitas vezes, acham
que têm razão e que o outro está errado. Porque cada um tem seu ritmo: os mais rápidos
ou apressados acham que os outros são “lerdos” ou preguiçosos, o que nem sempre é
verdade; algumas pessoas fazem as coisas rapidamente, mas não pensam muito e
cometem muitos erros. Outros fazem as coisas mais lentamente, mas refletem bastante
sobre o que estão fazendo e são mais cuidadosas, portanto, erram menos. Enfim,
convivemos com pessoas, colegas de escola e de trabalho que são diferentes de nós.
Além disso, mesmo que você precise fazer um trabalho com um grupo de
pessoas que não conhece bem, na escola ou já na vida profissional (porque não podemos
escolher nossos colegas de trabalho) precisa lembrar que essa relação não precisa ser,
necessariamente, de amizade. Você não precisa ter intimidade com o grupo, basta ter
respeito e sempre debater ideias em torno do objetivo que vocês têm em comum.
Pense bem: quando um jogador de futebol é escalado para um jogo importante,
uma decisão de campeonato, nem sempre
os outros jogadores escolhidos pelo
técnico são seus melhores amigos, não é
mesmo? Pode ser que o melhor amigo de
um jogador, aquele que está sempre junto
com ele, não seja escalado. Não pode? A
decisão é do técnico e ele faz a escalação
visando a um objetivo. A relação dos
jogadores precisa ser profissional
independentemente das afinidades pessoais.
Já vimos sobre os “agrupamentos produtivos” na escola e suas vantagens. Na
vida profissional também é assim. Quando formamos um grupo com pessoas que não
conhecemos muito bem, que têm hábitos, opiniões e até idades diferentes podemos
aprender e ensinar ainda mais. Além disso, pode ser uma boa oportunidade para
perdermos preconceitos e ampliarmos nossa vivência!
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Desenvolvimento da Atividade de Aprendizagem
Na vida profissional, as habilidades de relacionamento interpessoal são
requeridas em todos os ambientes de trabalho, mesmo que o profissional passe a maior
parte do tempo em uma atividade isolada, como já dissemos, por exemplo consertando
um computador ou preparando uma planilha de cálculos. Mesmo nessas situações, o
profissional faz parte de um grupo que tem objetivos comuns e um conjunto de regras
que lhe são próprias. Em outros casos – e parece que na maioria das atividades
profissionais – o trabalho em equipe é obrigatório, é essencial, não há como desenvolver
determinadas tarefas individualmente.
Uma das razões para essa necessidade do trabalho em equipe na vida
profissional é a complexidade do conhecimento no mundo em que vivemos.
Desde que o primeiro ser humano como nós existe na face da Terra – há cerca de
150 mil anos – ele vem construindo e ampliando o conhecimento. Desde as primeiras
ferramentas para caçar e se defender até a alta tecnologia que temos hoje passando pela
utilização do fogo, a construção de moradias e a invenção do avião, além de tantas e
tantas outras invenções que não acabaríamos de enumerar, a complexidade do mundo só
aumenta. É possível imaginar que os seres humanos primitivos conseguiam dominar
tudo o que havia sido criado e transmitir seus conhecimentos para seus descendentes.
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Atualmente, no século XXI, o volume e a sofisticação do conhecimento historicamente
construído pelo homem são tão grandes que não cabem na nossa imaginação! E é claro
que não é possível dominarmos todo esse conhecimento.
Toda a complexidade do
conhecimento exige que cada ser
humano componha uma pequena parte
que vai formar o todo e nós dependemos
do conhecimento e do trabalho de toda a
humanidade. Nosso trabalho é, ao
mesmo tempo, pequeno, se comparado
com a construção do conhecimento
humano e grande no sentido de que é
vital para a continuidade – e melhoria – do mundo em que vivemos. Podemos até pensar
na imagem de uma corrida de revezamento na qual cada geração e cada indivíduo faz a
sua parte e transmite ao outro seu legado para que ele dê continuidade.
Uma pesquisa com profissionais da saúde realizada em um hospital da rede
pública no Estado do Rio de Janeiro e descrita no artigo “Trabalho em equipe de saúde:
limites e possibilidades de atuação eficaz”, de Márcia Cristina Gomes de Pinho no ano
de 2006, retrata muito bem a necessidade do trabalho em equipe. A autora explica que o
trabalho em equipe na área da saúde é essencial considerando que é determinado até
mesmo pela legislação que o atendimento a um paciente em um hospital ou clínica,
qualquer que seja a especialidade, deve ser integrado, ou seja, vários profissionais
participando do atendimento do paciente. Esta situação, que é a ideal para que o
paciente não seja visto em partes do corpo separadamente, mas como um ser humano
inteiro, “exige” o trabalho em equipe por parte dos
profissionais da saúde.
Até aqui estamos utilizando as palavras
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“grupo” ou “equipe" como a mesma coisa, como sinônimos, mas, é interessante
observar que essa mesma pesquisadora – Márcia C. Gomes de Pinho – chama a atenção
em seu artigo, citando outros autores, para a diferença existente entre grupo de trabalho
e equipe de trabalho. Parece a mesma coisa, não é? Mas, veja a diferença:
O grupo é aquele cujo processo de interação é usado para compartilhar
informações e para tomada de decisões com o objetivo de ajudar cada
membro com o seu desempenho na área específica de atuação, sendo o
desempenho considerado apenas como a reunião das contribuições
individuais de seus membros. A equipe, por sua vez, orienta-se pelos
esforços individuais que resultam em um desempenho maior que a soma
das entradas. (Pinho, 2006 p. 70).
Já discutimos sobre as diferenças pessoais e as preferências de cada um para
trabalhar sozinho ou em equipe e que, mesmo entre pessoas que “se dão bem”, que são
amigas, até e têm os mesmos objetivos no trabalho, os conflitos acontecem! A palavra
“conflito” pode assustar, dar a ideia de que a equipe não vai conseguir trabalhar, mas
não é assim! Em uma equipe de trabalho que está empenhada e comprometida com os
resultados, as situações de conflito são positivas e até saudáveis, você sabia?
O pesquisador Jay Hall, que já foi citado anteriormente, defende que a eficácia
de um trabalho em equipe depende de quatro Cs: o Compromisso, Conflito,
Criatividade e Consenso.
Compromisso – quanto mais envolvidos com o trabalho os componentes da
equipe estiverem, maior a chance de que o trabalho seja bem executado; é claro que esse
compromisso não pode ser forçado, pelo chefe, por exemplo, o envolvimento e o
compromisso são desenvolvidos por cada pessoa que compõe a equipe;
Conflito – se as pessoas estão comprometidas com o trabalho, com certeza os
conflitos vão aparecer porque cada um vai querer dar o máximo de si e as diferenças de
ideias vêm à tona, isso é natural; é a partir do conflito que as pessoas vão expor suas
ideias, ouvir outras que nem havia pensado, argumentar, reavaliar seus pensamentos e
caminhar para as melhores soluções; visto desta forma, o conflito não é muito
interessante? Pois é! Então não devemos “abafar” os conflitos, fingir que não existem
ou achar que a equipe acabou porque as pessoas não se entendem. Muito pelo contrário,
são os conflitos que vão gerar a criatividade e o consenso. Mas lembre-se que tratamos
aqui do conflito de ideias e não de brigas pessoais ou por falta de tolerância. É um sinal
de maturidade saber separar as questões pessoais das questões profissionais.
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Criatividade – a partir do conflito surgem novas soluções para o trabalho e para
a resolução de problemas; uma pessoa sozinha, por mais competente que seja, não
chegará às ideias criativas da equipe.
Consenso – você sabe o que é consenso? É a concordância de opiniões entre as
pessoas da equipe; é chegar a um acordo, a uma decisão comum a todos; veja que se a
equipe é comprometida, deixou vir à tona os conflitos e criou novas soluções, o
consenso é uma consequência de todo esse processo.
Interessante, não?
Quer dizer que alguns dos nossos conflitos desde os primeiros grupos da escola
poderiam ter sido aproveitados para tirarmos as melhores ideias e fazermos um ótimo
trabalho? Muito bom! Mas, a maioria de nós não sabia disso e desmanchava o grupo,
desistia ao primeiro conflito. Essas características do trabalho em equipe deveriam ser
ensinadas desde a escola, você não acha? Já iríamos para a vida profissional levando
esse conhecimento e essa experiência de extrair os melhores resultados das situações de
conflito.
Mas, sempre é tempo! Agora podemos trabalhar em equipe com mais segurança!
Esse mesmo autor nos lembra ainda que para que o trabalho em equipe tenha
essa eficácia, ele deve ocorrer em um ambiente democrático, em que as pessoas estejam
dispostas a e debater e compartilhar umas com as outras e não impor suas próprias
ideias como se fossem as únicas corretas.
Outro desafio pelo qual passamos diariamente na vida pessoal e do trabalho é
tomar decisões e resolver problemas. Quem não precisa?
Quando pensamos em tomada de decisão em relação ao trabalho, nossa atividade
profissional, já imaginamos que quem toma as decisões é a chefia! Se eu sou um
simples funcionário, sem cargo de chefia, eu não tomo decisões! Mas, não é bem assim!
Tomar decisão é uma habilidade que todos nós temos em potencial e precisamos
desenvolver. Se você pensar bem, tomamos várias decisões ao longo do dia, desde as
mais rotineiras: levanto mais cedo para ter mais tempo para tomar o café da manhã e me
arrumar com calma antes de ir para o trabalho ou durmo até a última hora e saio
depressa de casa? Até as mais sérias como mudar ou não de emprego, fazer ou não uma
faculdade.
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A tomada de decisão faz parte da nossa vida e nem sempre percebemos que
estamos praticando essa habilidade. Quando as decisões que temos que tomar são
simples como o que vestir, qual transporte usar para ir ao trabalho, aceitar ou não um
convite para uma festa, não percebemos essas decisões como uma habilidade. Elas são
praticamente automáticas; podemos pensar um pouco, ficar em dúvida, mas nem nos
damos conta do processo mental que fazemos. Afinal, as consequências de tomarmos
uma decisão errada nesses casos, não é nada grave. Podemos nos arrepender de não
termos ido à festa ou passado frio porque escolhemos a roupa errada, mas isso logo cai
no esquecimento.
Há outras situações, no entanto, em que nossas escolhas podem ser
determinantes de uma situação boa ou ruim em nossa vida pessoal ou profissional. A
habilidade de tomada de decisão, de maneira geral, consiste simplificadamente em:
Encarar a situação para saber com clareza que é necessária uma tomada
de decisão;
Avaliar quais são as possibilidades ou alternativas que se tem para
escolher;
Ponderar os prós e os contras, quais as vantagens e desvantagens de
escolher determinado caminho;
Quais serão as consequências para você e para outras pessoas, se errar na
escolha ou se arrepender e, por fim,
Tomar a decisão que, depois dessa análise, você considera a mais correta.
É claro que esses são passos genéricos, que se aplicam em várias situações, mas
conforme a decisão a ser tomada seja de caráter profissional, envolvendo várias pessoas,
riscos mais sérios ou decisões pessoais que determinarão uma mudança de vida, cada
uma dessas etapas é carregada de uma série de fatores a serem considerados. É
importante lembrar também que a base para as nossas decisões são nossos valores, ou
seja, o conjunto de verdades nas quais acreditamos e as condições concretas que temos
diante de nós. Às vezes, gostaríamos que a escolha fosse outra, mas é uma alternativa
que não existe em nosso cenário real.
Sempre que temos que tomar uma decisão, na verdade, a não ser que sejamos
intempestivos e não paramos nem um minuto para pensar no que fazemos (o que pode
nos causar muitos aborrecimentos!), processamos mentalmente essas etapas. Só que, nas
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resoluções bastante simples do dia a dia, não nos damos conta disso. Você avalia se está
frio ou calor ao escolher a roupa que vai usar para sair de casa, quais são as alternativas,
o que vai acontecer se errar etc.
Nas atividades profissionais realizadas em equipe, essas ponderações devem ser
avaliadas por todos para que cheguem a um consenso, como já vimos antes.
Pronto para trabalhar em equipe? Será que agora você se sente mais preparado?
Quanto a importância de trabalhar em equipe e fazer o possível para que elas sejam
eficazes, parece que não há dúvida!
Já citamos aqui que o grande jogador de basquete norte-americano Michael
Jordan declara ser uma pessoa tímida. Pois bem, foi ele mesmo quem disse certa vez em
uma entrevista, ao ser elogiado por seu talento nos jogos, uma frase que ficou famosa e
é até utilizada para motivar profissionais de várias áreas.
Ele disse em uma entrevista:
“O talento vence jogos, mas só o trabalho em equipe vence campeonatos”
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Análise e Avaliação da Situação de Aprendizagem
Vimos várias características do trabalho em equipe desde aqueles realizados na
escola até o trabalho profissional e o que devemos observar para que a equipe tenha
sucesso em seus objetivos, ou seja, como colaborar para a eficácia da equipe.
Você pode ter uma função de destaque na equipe como um “líder”, a pessoa que
é a responsável por coordenar a equipe em determinada atividade; ou ainda você pode
ser um membro da equipe como qualquer outro. De qualquer forma, você pode
colaborar muito para que o trabalho seja realizado da melhor maneira.
Sempre que iniciamos um trabalho – escolar ou profissional – é importante fazer
um planejamento para não perder de vista seus objetivos, não esquecer de nenhum item,
administrar o tempo e os recursos que serão utilizados e, no caso do trabalho em equipe,
dividir as tarefas e responsabilidades.
Já sabemos que dividir tarefas não é “fatiar” o trabalho e cada um fazer uma
parte que será reunida no final. Se for feito assim, não podemos dizer que houve uma
equipe. É possível, sim, dividir tarefas, é até necessário para agilizar o trabalho, mas
toda a equipe deve participar para conhecer começo, meio e fim.
É interessante até, para se ter certeza da eficácia da equipe (não necessariamente
dos resultados) checar a participação de cada um e conferir as etapas. Esse checklist
também deve ser preparado pela equipe, conforme as especificidades do trabalho. Mas,
ele pode conter, por exemplo, os seguintes itens:
Todos os componentes da equipe têm clareza do trabalho que será
realizado e quais são os seus objetivos?
O planejamento do trabalho foi elaborado por toda a equipe?
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As estratégias de execução foram debatidas e resolvidas consensualmente
pela equipe?
A divisão das tarefas e responsabilidades de cada participante foi feita
coletivamente, com o acordo de todos?
Cada participante realizou devidamente sua tarefa?
Os resultados foram analisados e compreendidos por todos?
Cada membro da equipe tem compreensão de trabalho em sua totalidade?
Além desse checklist para verificar se determinado agrupamento de pessoas
constitui-se, de fato, em uma equipe, podemos checar também – e esse pode ser um
aprendizado interessante – como foi o comportamento da equipe quanto às questões
sócio emocionais, cuja importância já foi bastante salientada.
Esta é também uma sugestão para que a equipe possa elaborar seu próprio
checklist, conforme a sua realidade:
Houve envolvimento (frequência, participação) da parte de todos os
componentes da equipe?
O envolvimento de cada um foi suficiente para que houvesse o
comprometimento com o trabalho e com a própria equipe?
Os componentes da equipe demonstraram habilidades sócio emocionais
importantes para o trabalho em equipe, como empatia, bom
relacionamento interpessoal, capacidade de ouvir o outro etc.?
A equipe soube receber bem os conflitos como saudáveis para o
crescimento do grupo e aproveitá-los para o afloramento de novas ideias?
As pessoas da equipe puderam expor suas ideias com liberdade e
criatividade?
A equipe possibilitou a troca de conhecimentos entre seus componentes
de modo a todos ensinarem e aprenderem
As tomadas de decisão foram resultado das ponderações de todos os
membros da equipe?
Ao concluir o trabalho, cada participante sentiu-se fazendo parte de uma
equipe, reconhecendo-se como autor do trabalho?
Este é, na verdade um exercício de auto avaliação da equipe e é interessante
também que você faça uma autoavaliação do seu trabalho. Independentemente da
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avaliação do professor ou de outras pessoas é muito importante que você mesmo reflita
sobre como se sentiu fazendo o trabalho, o que aprendeu, quais foram seus pontos fortes
e fracos, seus progressos comparados ao desempenho em outros trabalhos e o que faltou
para que o trabalho fosse melhor, tanto quanto ao conteúdo específico e aos
procedimentos quanto ao seu relacionamento interpessoal.
No caso da escola, a educadora Vani Moreira Kenski defende a auto avaliação
como sendo importante para o processo de aprendizagem. Veja o que ela diz:
“A auto avaliação do aluno deve proporcionar uma reflexão mais profunda, um
momento de parada e de encontro do aluno com o objeto de conhecimento, uma análise
das alterações ocorridas durante as interações existentes entre eles, sujeito da
aprendizagem, e o novo saber” (KENSKI, p. 140-141).
E, na vida profissional:
Uma autoavaliação é sempre importante, seja qual for a área em que for aplicada.
Conhecer a si mesmo e ver quais são os seus erros e acertos, aquilo que você faz melhor
e aquilo que você tem dificuldades, poderá lhe dar uma visão ampliada a respeito das
coisas. José Roberto Marques - presidente do IBC, Master Coach Senior e Trainer
Tanto na escola como na empresa muitas vezes somos avaliados por professores,
gestores ou pessoas com cargos de chefia ou de coordenação de equipes. Essa avaliação
também é importante e pode ser um complemento da autoavaliação. Lembre-se de
encarar a avaliação não como um julgamento ou muito menos como uma crítica
pessoal: ela deve ser um instrumento interessante para que você reafirme corrija suas
competências e habilidades e corrija traços que você considera importantes modificar.
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Outras Referências
Quando começamos a estudar e fazer pesquisa percebemos o quanto há por
saber, por descobrir. Como disse Miguel de Cervantes “o céu é o limite”.
Ah! Cervantes é do século XVI. Com as viagens espaciais, nem o céu é mais
limite para o conhecimento!
Quanto às questões de relacionamento interpessoal há uma série de filmes e
vídeos que podem ajudá-lo a refletir sobre várias dessas questões. Podem ser os
desenhos animados que são muito bem feitos e não são só para crianças, como:
“Monstros S.A.”, “Universidade Monstros” e “Divertida Mente” da Disney- Pixar.
Esses desenhos tratam de relacionamento interpessoal, empatia e das
“habilidades da vida” que nós já discutimos.
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O filme “Doze homens e uma sentença” é um
filme antigo (de 1957), mas é um clássico do cinema.
Esse filme, além de ser muito interessante como arte, que
o cinema nos traz, nos permite discutir o relacionamento
interpessoal e também a capacidade de argumentação.
Vão aqui mais algumas dicas que podem ajudá-lo a trabalhar melhor em grupo.
É interessante que você reflita sobre elas:
Ouça com atenção o que as outras pessoas têm a dizer sobre o assunto que vão
discutir;
Não tenha preconceitos, ou seja, não fique imaginando que aquele colega com
quem você não se dá muito bem, só vai falar bobagens, que você vai discordar
de tudo. Desarme-se!
Mesmo que você não concorde com as opiniões de outras pessoas, não as julgue;
você pode perfeitamente dizer “eu penso diferente, não concordo com suas
ideias”, mas não “você está errado, não sabe o que está dizendo”, afinal, ele
também não concorda com as suas ideias. Quem está certo? Os maiores conflitos
nas atividades em grupo acontecem porque as pessoas querem mudar a opinião
das outras e não argumentam a favor de suas ideias, apenas impõem.
Fale o que você pensa sobre o assunto, expresse suas opiniões sem medo de ser
julgado, todas as pessoas têm esse direito.
Mostre suas ideias e opiniões com argumentos; diga porque você tem aquela
opinião, com calma, sem imposição ou agressividade para que as pessoas
compreendam como você pensa. Outra frase de Christhophe Dejours é “Para ser
compreendido, não basta ter a verdade; é preciso encontrar formas pelas quais os
outros possam compreendê-la”.
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Esteja disposto a mudar de opinião, se os argumentos de outros colegas o
convencerem, não há nenhum problema nisso; quando amadurecemos
abandonamos várias ideias que tínhamos antes.
Mesmo que você não mude de opinião, compreenda que as pessoas têm o direito
e suas próprias razões para pensar diferente; procure colocar-se no lugar do
outro (isto se chama empatia).
Síntese e Aplicação
Examinamos o trabalho em equipe e o relacionamento interpessoal sob vários
ângulos e perspectivas, com a ajuda de pesquisadores das áreas da educação, da
psicologia, da administração de empresas e até da saúde! Poderíamos ainda conhecer
outras opiniões e abordagens, mas já foi possível perceber que o trabalho em equipe é
indispensável na sociedade contemporânea com toda a sua complexidade. Não seria
possível, nem que quiséssemos, trabalhar sozinhos e que, portanto, precisamos investir
sempre nas relações interpessoais.
Percebemos ainda que é importante que todas as pessoas aprendam a trabalhar em
equipe, principalmente, porque nós:
Conseguimos aprender melhor o que estudamos quando discutimos com outras
pessoas. Vários estudos já comprovaram isso! Um psicanalista francês chamado
Christophe Dejours, que estuda as relações humanas no trabalho, diz que “falar e
ser ouvido parece ser o modo mais poderoso de pensar”;
Nos preparamos para o mundo do trabalho; mesmo um trabalhador autônomo
precisa se relacionar com outras pessoas;
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Nos desenvolvemos como cidadãos, não pensando apenas em nossas ideias, mas
também no ponto de vista de outras pessoas, com empatia e consciência de
equipe.
Você pode também – como ficou “craque” em relacionamento interpessoal –
aprofundar-se nesse assunto, pesquisando o trabalho em equipe ou as relações entre as
pessoas na escola, na família... Podem sair boas pesquisas, hein?