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RELAÇÕES ENTRE MADEIRA, CASCA, TEOR DE SUBSTÂNCIAS TÂNICAS E QUALIDADE DOS TANINOS DE JUREMA-PRETA (MIMOSA TENUIFLORA (Willd. Poiret)) PARA PRODUÇÃO DE ADESIVOS TANINO FORMALDEÍDO
1 Introdução
A vegetação da Caatinga recobre a Região Semiárida do Brasil, com extensão
territorial de aproximadamente 800.000 Km2
. Apesar da grande abrangência, a Caatinga,
proporcionalmente, é a menos estudada e protegida das composições florísticas brasileiras.
Embora tão pouco estudada, é possível encontrar espécies vegetais de importância nas suas
formações. Para Whitmore (1997), apesar da escassez de dados disponíveis, é importante
entender a dinâmica das áreas remanescentes de florestas nativas para melhor manejá-las,
orientando-se assim, as políticas de conservação.
A Caatinga tem papel relevante como fornecedora de produtos madeireiros (lenha,
estacas e material para construções diversas). Além disso, essa vegetação é de importância
fundamental para a manutenção da pecuária regional.
Cada espécie apresenta diferentes características, sendo necessária a verificação de
diversos fatores que atuam intrinsecamente na qualidade de uso dessas espécies. Segundo
vários autores, a densidade é uma das principais características para se qualificar a madeira.
Para Oliveira (1990), uma maior densidade corresponde, quase sempre, a maior potencial
energético e resistência mecânica.
Os taninos vegetais podem ser encontrados em várias partes do vegetal, como madeira,
casca, frutos e sementes. São constituídos por polifenóis e classificados em taninos
hidrolisáveis e taninos condensados. Os hidrolisáveis são poliésteres da glicose e são
classificados, dependendo do ácido formado de sua hidrólise, em galo ou elágico taninos
(PIZZI, 1993). Os taninos condensados são constituídos por monômeros do tipo catequina e
são conhecidos por flavonóides (HASLAM, 1966; WENZL, 1970; PIZZI, 1993), estando
presentes, basicamente, na casca das árvores.
Além da importância no curtimento de couros e peles, os taninos condensados são
utilizados pela indústria de petróleo como agentes de suspensão, dispersantes e fluidificantes
em lama de perfuração, controlando a viscosidade de argilas na perfuração de poços
(PANSHIN et al., 1962; DOAT, 1978), sendo, também, empregados na fabricação de tintas e
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adesivos especiais para madeira e derivados, em países como Austrália e África do Sul
(TRUGILHO et al., 1997). No Brasil, o adesivo de taninos de acácia-negra (Acacia mearnsii
De Willd) é produzido em escala comercial para colagem de compensados e aglomerados
(KEINERT; WOLF, 1984; PIZZI, 1993). Em função disto, várias pesquisas vêm sendo
desenvolvidas visando à utilização de taninos para adesivos (MORI, 2000; CARNEIRO et al.,
2001; CARNEIRO, 2002). Além disso, em virtude de suas propriedades antissépticas, vêm
sendo testados contra fungos e insetos xilófagos (COUTO, 1996; SHIMADA, 1998) e para
fabricação de floculantes e/ou coagulantes e auxiliares de floculação para tratamento de águas
e efluentes industriais (SILVA, 1999).
Os taninos podem representar de 2 a 40% da massa seca da casca de várias espécies
florestais. Dentre as espécies tradicionalmente exploradas para a produção, destacam-se o
quebracho (Schinopsis sp.), de ocorrência natural na Argentina e Paraguai (contém até 25% da
massa seca de sua madeira de cerne em taninos), e a acácia-negra (Acacia mollissima e A.
mearnsii), de ocorrência natural na Austrália (PANSHIN et al., 1962; HASLAM, 1966). A A.
mearnsii é cultivada no Rio Grande do Sul e apresenta 28% de taninos na sua casca (TANAC
S.A., 2005). Além dessas espécies, HASLAM (1966) cita como grandes produtoras o
Eucalyptus astringens (casca contendo 40 a 50% de taninos), o mangue-vermelho e o
mangue-branco, respectivamente, Rhizophora candelaria e R. mangle (casca com 20 a 30%
de taninos).
No Brasil, há várias espécies produtoras de taninos, porém os curtumes tradicionais da
Região Nordeste, que utilizam os taninos vegetais, apesar da diversidade de espécie arbóreas e
arbustivas de ocorrência na região, têm, no angico vermelho (Anadenanthera colubrina
(Vell.) Brenan var. cebil (Vell.) Brenan. Var. cebil (Gris.) Alts.), sua única fonte de taninos
(PAES et al., 2006).
Sendo a atividade de obtenção das cascas do angico exclusivamente extrativista, sem a
preocupação com o manejo das áreas produtoras, as plantas tendem a desaparecer da
paisagem do Semiárido, pois a exploração desordenada, a falta de práticas adequadas de
manejo ou de uma política de reflorestamento que visem à reposição das árvores exploradas
está levando ao esgotamento a espécie florestal e à falência várias famílias que dependem
dessa cadeia produtiva para o seu sustento (PAES et al., 2006).
Para a síntese dos adesivos, são utilizados os taninos condensados, constituídos de
uma mistura de flavonoides polimerizados, chamados genericamente de proantocianidinas,
que possuem, em sua estrutura, um núcleo aromático hidroxilado; diante do formaldeído,
apresentam uma reatividade similar à do resorcinol (PIZZI; SCHARFETTER, 1978).
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O mercado mundial de taninos vegetais produz cerca de 160 mil t/ano, sendo
aproximadamente 100 mil toneladas provenientes de plantios de acácia; o restante advém de
outras espécies, como castanheira (origem italiana), quebracho (argentino) e tara (peruano). A
empresa TANAC, localizada no Brasil, possui a maior unidade mundial, com capacidade para
32 mil t/ano. A outra concorrente brasileira, a SETA, tem duas fábricas com capacidade total
para 27 mil t/ano. A TANAC possui 26 mil hectares próprios, cultivados próximos ao porto
de Rio Grande, no Estado do Rio Grande do Sul, de onde também exporta a madeira para o
Japão para produção de celulose, aglomerados e chapas de MDF(QUIMICA, 2005).
Em função da importância socioeconômica da vegetação da Região Semiárida
brasileira, este estudo teve como objetivo avaliar a relação existente entre o volume e massa
de madeira (lenha) com volume e massa de casca de jurema-preta (Mimosa tenuiflora (Willd.)
Poir.) e sua variação nos períodos seco e chuvoso, e analisar as concentrações de taninos
existentes na jurema preta (Mimosa tenuiflora) em função das fenofases e sua qualidade para
produção de adesivo tanino formaldeído.
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2. Fundamentação Teórica
2.1 Bioma Caatinga
As espécies vegetais que ocorrem no Bioma Caatinga apresentam características
anatômicas, morfológicas e funcionais de adaptação às condições adversas do clima, que é
semiárido quente, com altas temperaturas, precipitações escassas e irregulares, com 7 a 10
meses de estação seca (RADAMBRASIL, 1983; NIMER, 1977). Os solos desta região natural
têm uma distribuição complexa, formando um mosaico bastante dividido e com muitos tipos
diferentes, variando em profundidade, fertilidade, salinidade, constituição mineralógica,
dentre outras características (RODAL et al.,1992).
Os processos ecológicos responsáveis pela manutenção da biodiversidade em florestas
tropicais secas, tais como a fenologia, são diversificados e influenciados por diferentes fatores
ambientais, sendo a variabilidade do regime hídrico, hierarquicamente, o de maior impacto
para a compreensão do funcionamento do ecossistema (NIPPERT et al., 2006; REIS et al.,
2006). No entanto, a fenologia da comunidade é organizada de forma que todas as fenofases
podem ser observadas durante todo o ano.
Apesar de possuir um conjunto de adaptações à deficiência hídrica, que se prolonga por
vários meses no ano, a rápida renovação das copas, no início da época de chuvas, e a
caducifólia, durante parte da estação seca, são algumas das características mais marcantes da
Caatinga (BARBOSA et al., 2003). Segundo Souto (2006), a Caatinga se constitui na
expressão sintética dos elementos físicos e climáticos, numa vegetação singular cujos
elementos florísticos expressam uma morfologia, anatomia e mecanismos fisiológicos para
resistir ao ambiente xérico, ou seja, o xerofilismo expressa uma condição de sobrevivência
ligada a um ambiente seco, cuja água disponível às plantas resulta da estação chuvosa, uma
vez que os solos são incapazes de armazená-la.
A Caatinga encontra-se em acentuado processo de degradação, ocasionado,
principalmente, pelo desmatamento e uso inadequado dos recursos naturais, apresentando
menos de 50% de sua cobertura vegetal original. Segundo Correia et al. (2009), 80% da
Caatinga são sucessionais e cerca de 40% são mantidas em estado pioneiro de sucessão
secundária, consequência de uma utilização meramente extrativista-predatória. Afirma-se
ainda, que já se verificam perdas irrecuperáveis da diversidade florística e faunística,
aceleração do processo de erosão e declínio da fertilidade dos solos. Garantir a sobrevivência
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da Caatinga nativa, em diferentes pontos do Nordeste Brasileiro, significa preservar um
valoroso patrimônio de recursos naturais (DUQUE, 1980).
2.2 Jurema-preta (Mimosa tenuiflora (Willd. Poiret))
A Mimosa tenuiflora está entre as plantas lenhosas predominantes na vegetação
(Caatinga) do semiárido do Brasil, com alto potencial de rebrota. É uma leguminosa que
atinge cerca de 4,0m de altura, apresenta espinhos, é resistente à estiagem, apresenta casca
rugosa, fendida longitudinalmente, pouco fibrosa (OLIVEIRA et al., 1999), e que, no final da
estação chuvosa, suas folhas fenecem e caem naturalmente, permanecendo em dormência até
o início das chuvas. Tem sido explorada para produção de estacas, lenha e carvão, além de
que os caprinos, ovinos e bovinos têm nessa planta, verde ou fenada, um importante
componente de suas dietas, especialmente pastejando as rebrotas mais jovens no início das
chuvas, bem como as folhas e vagens secas durante o período de estiagem, apresenta em sua
composição química, tanino.
A jurema-preta é uma planta arbustiva encontrada em larga escala na Caatinga, estando
disseminada nos Estados do Piauí, Ceará, Rio Grande do Norte, Paraíba, Pernambuco,
Alagoas, Sergipe e Bahia (OLIVEIRA et al., 1999). Ocorre preferencialmente em formações
secundárias de várzeas com bom teor de umidade, de solos profundos, alcalinos e de boa
fertilidade, onde chega a crescer vigorosamente. Suas raízes têm uma alta capacidade de
penetração nos terrenos compactos. A jurema-preta possui grande potencial como planta
regeneradora de terrenos erodidos, é uma espécie indicadora de uma sucessão secundária
progressiva ou de recuperação e sua tendência, ao longo do processo, é de redução da
densidade. No início da sucessão, formam matas quase puras, seus folíolos caem e se refazem
continuamente, cobrindo o solo com uma tênue camada que se decompõe formando ligeiras
camadas de húmus e participa também da recuperação do teor de nitrogênio do solo,
preparando-o, dessa forma, para o aparecimento de outras plantas mais exigentes (MAIA,
2004).
Na medicina popular, a casca do caule é a principal parte da planta utilizada no
tratamento de diversas enfermidades como queimaduras e inflamações. No México, onde
também é muito conhecida, popularmente, por “tepescohuite”, a Mimosa tenuiflora tem sido
muito estudada quanto ao seu potencial terapêutico. Trabalhos realizados no México,
avaliando as propriedades antimicrobianas do caule de M. tenuiflora, demonstraram a ação
inibitória dos extratos aquosos e etanólico contra bactérias Gram-positivas, Gram-negativas e
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fungos dermatófitos (LOZOYA et al., 1989). Em estudos sobre as propriedades
farmacológicas in vitro de vários extratos do caule de jurema-preta, o extrato etil-acetato do
caule inibiu o crescimento de diferentes microorganismos (MECKESLOZOYA et al., 1990).
Em estudos sobre a atividade antimicrobiana de algumas árvores nativas do Brasil,
Gonçalves et al. (2005) observaram uma excepcional atividade antimicrobiana do extrato
hidro-alcoólico de jurema-preta sobre Escherichia coli, Streptococcus pyogenes, Proteus
mirabilis, Shigella sonnei, Staphylococcus aureus, Staphylococcus spp. coagulase
apresentando halos variando entre 12 e 33mm. Por causa da sua importância como forrageira
no semiárido brasileiro, estudos sobre a Mimosa tenuiflora têm sido mais direcionados para
seu valor nutricional bem como ao seu caráter tóxico, fatores que interferem diretamente na
produtividade animal.
Com relação à composição química, Pereira Filho et al. (2005), ao trabalharem com feno
de jurema-preta obtido no período chuvoso (março e abril) e de estiagem (setembro e
outubro), verificaram para matéria seca (MS), teores de 90,0 e 90,9%; proteína bruta (PB) de
15,1 e 13,5%; fibra em detergente neutro (FDN) de 35,1 e 36,2%; fibra em detergente ácido
(FDA) de 16,0 e 15,7%; e tanino de 26,6 e 16,9%, respectivamente. Em trabalho realizado em
Pernambuco com três espécies de pastagens arbustivas e arbóreas da Caatinga, dentre elas, a
jurema-preta, Almeida et al. (2006) encontraram valores médios para MS, PB, FDN e FDA
das folhas de jurema preta colhidas no período seco de 47,62; 14,82; 46,38; 33,04,
respectivamente e, no período chuvoso, de 47,52; 14,41; 46,33; 32,36, quando avaliaram
espécies arbóreas e arbustivas de pastagens, comparando seus valores nutricionais nas épocas
seca e chuvosa.
Apesar da sua importância como forrageira, a jurema preta também faz parte do grupo
de plantas tóxicas. Há relatos na literatura da ocorrência de defeitos congênitos em bovinos e,
mais frequentemente, caprinos e ovinos provocados pela ingestão de jurema-preta durante a
gestação. Segundo Riet-Corrêa et al. (2006), outras podem ser as causas de deformações
congênitas, porém a alta frequência da doença no Semiárido e sua reprodução experimental
mediante a administração de jurema-preta sugerem que a maioria das deformações foram
causadas pela ingestão desta planta. Seu mecanismo de ação ainda não é conhecido e não há
tratamento específico, é importante evitar o acesso dos ovinos e caprinos a áreas com jurema-
preta, principalmente, fêmeas, nos primeiros 60 dias de gestação.
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2.3 Fenologia das Espécies da Caatinga
A fenologia é o estudo das fases ou atividades do ciclo vital das plantas e sua
ocorrência temporal ao longo do ano. Para Pinto et al. (2006), a fenologia é o estudo dos
eventos biológicos repetitivos e das causas de sua ocorrência, em relação às forças bióticas e
abióticas e da inter-relação entre fases caracterizadas por eventos na mesma ou em diferentes
espécies.
Segundo Frankie et al. (1974), os estágios fenológicos apresentados por uma determinada
espécie são de grande importância para o entendimento da sua adaptação, além de ser
possível indicador das variações das condições climáticas do ambiente e da completa
dinâmica dos ecossistemas florestais. Esse tipo de informação não apenas permite explicar
muitas das reações das plantas às condições climáticas e edáficas, como também é importante
para o estudo das relações das plantas e dos animais de uma comunidade biótica e seus
vizinhos.
A falta de informação fenológica dificulta estudos sobre a biologia das espécies e a
determinação do manejo mais adequado, assim como da época de coleta das sementes. Os
estudos dos eventos fenológicos de espécies arbóreas tropicais têm demonstrado uma nítida
periodicidade desses eventos na produção e queda de folhas, floração e frutificação
(JACOBY, 1989).
Em florestas sazonalmente secas, a precipitação é o principal fator desencadeador dos
eventos fenológicos, embora a literatura tenha registrado que plantas desses ambientes exibem
diversas estratégias que favorecem a ocorrência de brotamento de folhas e floração durante a
estação seca (BORCHERT; RIVERA, 2001).
2.4 Ocorrência dos Taninos Vegetais
Os taninos ocorrem em todas as plantas, mas são extraídos principalmente da casca ou
do cerne de algumas espécies. As propriedades dos taninos variam entre espécies e dentro
dessas, dependendo do tecido vegetal em que são encontrados.
Os taninos são amplamente distribuídos em todo o reino vegetal e é relatada sua maior
ocorrência em 500 espécies de plantas, em cerca de 175 famílias de vegetais (PRANCE;
PRANCE, 1993). Cerca de 30% das espermatófitas contêm taninos em quantidade
substancial. Em algumas espécies, esses podem estar presentes em todas as partes e,
frequentemente, os taninos encontrados na madeira diferem dos encontrados na casca, nas
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folhagens e nos frutos. Os taninos têm forte propriedade germicida e acredita-se serem esses
os responsáveis pela durabilidade natural de algumas madeiras (FARMER, 1967).
Na madeira, eles geralmente ocorrem mais abundantemente nas células do raio e no
parênquima longitudinal do cerne. O alburno contém pouco ou nenhum taninos. Na casca,
geralmente ocorrem nas células corticais (BROWN et al., 1952).
2.5 Classificação Química dos Taninos
Quimicamente, os taninos são classificados em dois tipos distintos: os taninos
hidrolisáveis e os taninos condensados. Os taninos hidrolisáveis são uma mistura de fenóis
simples, tais como ácido gálico, pirogalol ou elágico e ésteres de açúcares, principalmente
glicose, com ácidos gálico e digálico (HERGET, 1989).
Os taninos condensados e os flavonoides que lhe dão origem são conhecidos por sua
larga distribuição, estando presentes na casca de todas as folhosas e coníferas já examinadas.
Estão presentes, ainda, frequentemente, no cerne de varias essências florestais (HASLAM,
1966). As espécies florestais mais utilizadas para produção comercial de taninos são as cascas
de acácia-negra (A. molissima). Do gênero Eucalyptus, podem ser citadas as espécies E.
astringens, E. wandoo (HASLAM, 1966), E. grandis, E. deglupta, Laval, citado por Carneiro
et al., (2001).
Os taninos condensados constituem mais de 90% da produção mundial de taninos
comerciais, ultrapassando a marca de 350.000 t/ano (HERGET, 1989). Estes taninos podem
ser definidos como macromoléculas de pesos moleculares variados, formados por unidades
flavonoides. Essas macromoléculas, em diversos graus de polimerização, estão
invariavelmente ligadas aos seus precursores 3-flavonóis e 3,4-flavanodióis, outros
flavonóides análogos, carboidratos, gomas e traços de imino e aminoácidos (PIZZI, 1993).
Os monoflavonoides ou monoflavonas constituem o mais estudado grupo de
substâncias fenólicas presentes em extratos tânicos em função, principalmente, das estruturas
relativamente mais simples dessas substâncias. Englobam os 3-4-falcanodióis
(leucoantocianidinas), 3-flavonóis (catequinas), dihidroflavonóides (flavonóis), flavonas,
auronas, chalconas e as 3-coumaranonas, representando as classes mais importantes de
flavonoides análogos (HASLAM, 1966).
Dentre os monoflavonoides citados, somente os 3,4-flavonodióis e alguns 3-flavonóis
parecem participar da constituição dos taninos condensados. Os outros tipos apresentam o
carbono 4 do anel heterocíclico bloqueado, normalmente por uma carbonila, impedindo a
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condensação em unidades poliméricas. A estrutura básica das unidades flavonóides está
representada na Figura 1, com a numeração dos carbonos nos anéis A e B e no anel
heterocíclico.
Figura 1 Unidade flavonóide básica dos taninos condensados (SHIMADA, 1998)
O anel A do tipo resorcinólico é aquele que possui apenas uma hidroxila ligada ao
carbono 7, enquanto o tipo floroglucinólico possui hidroxilas nos carbonos 5 e 7. O anel t ipo
B catecol pode possuir até três hidroxilas ligadas aos carbonos 3‟; 4‟ e 5‟. Em alguns taninos,
pode ocorrer o anel B fenólico, que possui apenas uma hidroxila ligada ao carbono 3‟.
2.6 Distribuição dos Taninos nas Plantas
Não se conhece a distribuição exata dos taninos nas plantas, mas eles já foram
reconhecidos em todos os grandes agrupamentos estabelecidos no reino vegetal. Nas
monocotiledôneas aparecem em quantidades pequenas, exceto em algumas palmeiras. Por
outro lado, estão em maiores concentrações nas dicotiledôneas, particularmente nas famílias
Fagaceae, Leguminosae, Geraniaceae, Rizoforaceae, Myrtaceae, Anacardiaceae e Rubiaceae.
Os taninos aparecem em todas as partes e órgãos das plantas, desde a raiz até os frutos e,
ainda, nos brotos terminais (PARRA POZO, 1997).
Os taninos hidrolisáveis estão presentes em extratos de cascas e madeiras das árvores
de Terminalia, Eucalyptus, Phyllantus e Caesalpinia, entre outros gêneros. Já os condensados
e os flavonoides que lhes dão origem são conhecidos por sua larga distribuição, estando
presentes na casca da maioria das folhosas e coníferas examinadas até hoje (PIZZI, 1994).
Estão presentes, ainda, com certa frequência, no cerne de varias essências florestais (LEWIS;
LANTZY, 1989). Os taninos condensados são polifenóis que possuem um esqueleto de
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carbono do tipo C6C3C6. Alguns representantes típicos dos flavonóis monoméricos são crisin
(5,7- dihidroxiflavone), usualmente presente em pinho, hapoxilon e taxifolin
(dehidroquercetin), que foi originalmente isolado do cerne de Douglas-fir (Peseudosuga
menziesii), e está usualmente presente na fração corticosa da casca interna. O taxofolin é
também um constituinte comum das espécies do gênero Larix.
As principais fontes de taninos condensados do tipo catequin são as madeiras de
quebracho (até 25%), de carvalho (até 15%), de Eucalyptus astringens (até 50%), de
castanheira e as cascas de acácia (até 40%) e de hemlock (até 10%), mas esses polifenóis
também ocorrem nas cascas de outras espécies tais como eucalipto e bétula.
As espécies mais utilizadas para a produção comercial de taninos são as cascas da
acácia-negra (Acacia mearnsii) e as madeiras do cerne dos quebrachos (Schinopsis balansae e
lorentzii). Apesar de não serem todas exploradas comercialmente, podem ser citadas também
algumas espécies dos gêneros Tsuga, Pseudotsuga, Rhus e Pinus, principalmente, Pinus
radiata, P. elliotii, P. taeda, P. aleppensis, P. sylvestris, P. patula, P. pinaster, dentre outras
espécies. Do gênero Eucalyptus, podem ser citadas as espécies E. astringens, E. wandoo, E.
grandis, E. deglupta, entre outras. O rendimento em taninos condensados a partir da casca ou
cerne de algumas espécies florestais é apresentado na Tabela 1.
Tabela 1− Fontes e rendimentos (% m/m) em taninos condensados de algumas espécies florestais
Família Parte da Árvore Rendimento (%)
Myrtaceae
Eucalyptus astringens (casca)
Eucalyptus wandoo (casca e cerne)
Eucalyptus sideroxylon (casca)
40 – 50
12 - 15
50
Leguminosae
Acacia catechu (casca)
Acacia mearnsii (casca)
Acacia parramatensis (casca)
Robinia pseudoacacia (casca)
15
35 - 40
42
7
Anacardiaceae Schinopsis balansae (cerne)
Schinopsis lorentzii (cerne)
20 – 25
16 – 17
Rhizoporaceae Rhizophora candelaria (casca)
Rhizophora mangle (casca)
25 – 30
20 – 30
Fagaceae Castanea sativa (casca) 8 – 14
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(HASLAM,1966)
Quercus robur (casca) 12 – 16
Pinaceae
Picea abies (casca)
Pinus sylvestris (casca)
Larix decidua (casca)
5 – 20
16
5 – 20
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29
AZEVÊDO, Tatiane Kelly Barbosa. Relações entre volume e massa de madeira e volume e
massa de casca de jurema-preta (Mimosa tenuiflora (Willd. Poiret)). Patos, PB: UFCG,
2010. 17 f. (Dissertação – Mestrado em Ciências Florestais)
RESUMO
A jurema-preta (Mimosa tenuiflora (Willd.) Poir.), Família Mimosaceae, é uma espécie
pioneira da Caatinga, típica de áreas semiáridas do Brasil, altamente resistente à seca, com
grande capacidade de rebrota, utilizada com forrageira (folhas e galhos finos), planta apícola,
fonte energética (lenha e carvão vegetal), construções rurais (cercas, currais e apriscos) e
potencial para a produção de taninos vegetais. Porém, ainda há poucos estudos sobre as
relações dendrométricas da espécie. Assim, este estudo teve como objetivo avaliar a relação
entre o volume e massa de madeira (lenha) com volume e massa de casca de jurema-preta e
sua variação nos períodos seco e chuvoso. Para atender aos objetivos propostos, foram
coletadas, trimestralmente, na Fazenda Lameirão, Santa Terezinha, Paraíba, Brasil, quarenta
plantas de jurema-preta sendo obtidas informações dendrométricas (cubagens rigorosas da
madeira com e sem casca), pesagens, determinando-se os teores de umidade da madeira e
casca, e sendo realizadas as relações entre os parâmetros dendrométricos durante o período de
agosto de 2008 a agosto de 2009. Observou-se que o volume e massa de madeira não estão
relacionados com o volume e massa de casca. Com relação ao teor de umidade na madeira e
na casca, observou-se que os meses de dezembro de 2008 (início do período chuvoso) e abril
de 2009 (final de período chuvoso) apresentaram maior percentual de umidade. Os meses de
dezembro de 2008 e abril de 2009 também apresentaram maior percentual de folhas verdes
presentes nas copas das árvores, em função da presença de chuva no local durante a coleta do
material analisado.
Palavras-chave: fenologia; dendrometria; inventário florestal.
30
AZEVÊDO, Tatiane Kelly Barbosa. Relationships volume and wood mass and volume and
bark mass of jurema-preta (Mimosa tenuiflora (Willd. Poiret)). Patos, PB: UFCG, 2010.
17 f. (Dissertação – Mestrado em Ciências Florestais).
ABSTRACT
Jurema-preta (Mimosa tenuiflora (Willd.) Poir.), Family Mimosaceae, is a pioneer species in
the Caatinga, typical of semiarid areas of Brazil, highly resistant to drought, with great
capacity to regrow, used with forage (leaves and thin branches), bee plant, source of energy
(firewood and vegetable coal), rural constructions (fences, corrals and stalls) and potential for
the production of vegetable tannins. However, there are few studies on the dendrometric
relations of this species. Hence this study aimed to evaluate the relationship between volume
and mass of wood (firewood) with volume and bark mass of Mimosa hostilis and its variation
during the dry and rainy seasons. To accomplish the proposed goals were collected on a
quarterly basis at Lameirão Farm, in the municipality of Santa Terezinha, Paraíba, forty
individuals of Mimosa hostilis and obtained dendrometric information (strict wood cubature
with and without bark), weighing, determining the moisture content of wood and bark, and
carrying out the relationship between the dendrometric parameters from August 2008 to
August 2009 (crop year). It was observed that the volume and mass of wood are not related to
the volume and mass of the shell. Concerning wood and shell moisture, it was observed that
the months of December 2008 (beginning of rainy season) and April 2009 (end of rainy
season), showed a higher percentage of moisture. The months of December 2008 and April
2009 also showed a higher percentage of green leaves present at the treetops, due to the
rainfall during the collection of the analyzed material.
Keywords: fhenology; dendrometry; forest inventory.
31
RELAÇÕES ENTRE VOLUME E MASSA DE MADEIRA E VOLUME E
MASSA DE CASCA DE JUREMA-PRETA (MIMOSA TENUIFLORA (Willd.
Poiret))
1 Introdução
A Caatinga, vegetação do Semiárido brasileiro, ocorre em uma extensão territorial de
aproximadamente 800.000 Km2, apesar da grande abrangência, é um dos biomas menos
estudados e protegidos dentre os biomas brasileiros.
O Semiárido brasileiro apresenta baixa altitude e pluviosidade irregular, cujas médias
atingem 500 mm de pluviosidades anuais, mal distribuídas, e temperaturas que oscilam entre
18 e 40 oC.
A vegetação da Caatinga é constituída de árvores e arbustos, decíduos durante a seca,
que, frequentemente, contêm espinhos ou acúleos, de cactáceas, de bromeliáceas e de ervas
anuais. Esta vegetação desempenha um papel socioeconômico na região (SILVA, 1999). No
entanto, a cobertura florestal da Caatinga vem sendo dizimada, principalmente pela falta de
manejo adequado e pelo tipo de exploração adotado.
Em função da escassez de dados disponíveis, é importante realizar pesquisas nas
florestas nativas para melhor manejá-las, orientando-se, consequentemente, as políticas de
conservação.
Na Região Semiárida, uma das espécies encontradas com bastante frequência é a
jurema-preta (Mimosa tenuiflora (Willd.) Poir.), que apresenta um porte arbustivo, geralmente
bifurcada e com galhos baixos, alcançando uma altura média de 4,5 m com a idade de 5 anos.
Apresenta casca rugosa, com fendas longitudinais, é pouco fibrosa, com acúleos no tronco,
galhos e ramos. O período normal de floração da espécie inicia-se em agosto e se estende até
novembro, período este caracterizado pela ausência ou baixa precipitação pluviométrica, e
que corresponde à seca da Região Semiárida brasileira.
Na Região Nordeste, a jurema-preta tem sido explorada para produção lenha e carvão,
por apresentar alto poder calorífico (FARIAS, 1984; OLIVEIRA, 2003). A densidade básica
da madeira de jurema-preta, aos cinco anos de idade, é de 0,77g/cm3 (ARAÚJO et al., 2004).
Além de boa fonte de energia e produtora de madeira para cercas, currais e apriscos, a planta,
verde ou na forma de feno, é fonte de alimento para os caprinos, ovinos e bovinos, que, no
32
início das chuvas, fazem pastoreio das rebrotas e ramos verdes e, no período de estiagem,
consomem as folhas e vagens secas.
Além dos empregos como fonte energética, forragem e madeiras para construções
rurais, Paes et al. (2006) detectaram que as cascas de jurema-preta apresentam 17,74% de
taninos, tendo potencial para indústrias de couros e tanantes.
Para avaliar a produtividade dos povoamentos florestais em volume e massa, as
relações dendrométricas são de fundamental importância. Lima et al. (1996) e Campos &
Leite (2002) relataram que, mesmo havendo diferenças biológicas entre os gêneros e as
espécies florestais, o diâmetro à altura do peito (DAP) é a variável independente mais
utilizada na determinação do volume ou da biomassa, uma vez que é impraticável a cubagem
rigorosa de todas as árvores de um povoamento.
De acordo com Scolforo (1993), a cubagem rigorosa pode ser realizada ao empregar
pesagem, imersão ou deslocamento em água, gráfico e por meio de fórmulas matemáticas,
como as de Smalian, Huber e Newton, dentre outras.
Lima et al. (1996) relatam o cuidado com a metodologia a ser empregada com às
espécies da caatinga e do cerrado, como é o caso da jurema-preta, pois as vegetações de porte
arbóreo-arbustiva se bifurcam próximo ao solo e apresentam vários fustes, nem sempre retos,
o que dificulta a estimativa da massa arbórea e do volume.
A massa específica da madeira é um dos melhores indicadores para a determinação da
qualidade, pois se correlaciona diretamente com as propriedades mecânicas, como encontrado
por Della Lucia e Vital (1983) e Lobão et al. (2004), para madeira do gênero Eucalyptus; com
o rendimento volumétrico em carvão vegetal (BRITO; BARRICHELO, 1980); com a
resistência a agentes deterioradores (SCHILLING et al.,1997); podendo ainda ser utilizada
como referência para identificar a qualidade da madeira para serraria (SANTOS et al., 2004).
Em função da importância socioeconômica da vegetação da Região Semiárida
brasileira, este estudo teve como objetivo avaliar a relação existente entre o volume e massa
de madeira (lenha) com volume e massa de casca de jurema-preta (Mimosa tenuiflora (Willd.)
Poir.) e sua variação nos períodos seco e chuvoso.
33
2 Material e Métodos
2.1 Local de Coleta e Espécie Estudada
As árvores de jurema-preta (Mimosa tenuiflora (Willd. Poiret)), que apresentavam boa
fitossanidade, foram coletadas em uma mata nativa, na Fazenda Lameirão, de propriedade da
Universidade Federal de Campina Grande (UFCG), localizada no Município de Santa
Terezinha, Estado da Paraíba (Latitude S 7º, Longitude W 37º04‟, altitude de 240 metros e
clima, segundo a classificação de Köppen, semiárido do tipo Aw‟ - quente seco, com chuvas
de verão/outono), cuja média anual das precipitações pluviométricas em torno de 600 mm,
distante 385 km de João Pessoa, Capital do Estado.
Os solos predominantes do local de coleta das árvores são do tipo litólico eutrófico, com
afloramentos rochosos, e a topografia apresenta ondulação com presença de pequenas serras
(SUDEMA, 2004; IBGE, 2008). As coletas foram realizadas segundo o ano agrícola, com o
intuito de avaliar a influência da fenologia e da estação (seca ou chuvosa) na relação madeira
e casca.
A espécie estudada é pioneira, colonizadora de áreas em estado de degradação e de
grande potencial como regeneradora de solos erodidos (MAIA, 2004). Esta espécie apresenta
floração irregular tanto no que se refere à periodicidade de floração quanto ao padrão em que
ocorre. De acordo com Araújo et al. (2000), ocorre maior floração nos meses de novembro e
dezembro e, em maio e junho, é insignificante. A produção de frutos segue o mesmo padrão
da floração. Sua coleta é possível durante muitos meses do ano, especialmente entre os meses
de julho e janeiro. A germinação de suas sementes ocorre logo no início da estação chuvosa, o
número inicial de indivíduos dessa espécie pode chegar aos 40.000/ha e diminui para menos
de 1.000/ha nos estádios finais da sucessão (ARAÚJO FILHO; CARVALHO, 1996).
2.2 Alocações de Parcelas e Coleta das Árvores
Para a coleta das árvores, foram distribuídas ao acaso oito parcelas de 20 x 20 m, onde
foram medidos os diâmetros à altura do peito (DAP), tomado a 1,30 metros do solo e a altura
total das árvores de jurema-preta. Esta operação teve a finalidade de determinar o diâmetro
médio e o volume de madeira presente em cada parcela.
34
Em cada parcela, foram abatidas cinco árvores, que possuíam DAP próximo à média da
parcela. O abate das árvores foi realizado em quatro períodos, sendo abatidas árvores em duas
parcelas por período (agosto de 2008, dezembro de 2008, abril de 2009 e agosto de 2009),
totalizando 40 árvores.
2.3 Avaliação das Fenofases nos Períodos de Coleta
A coleta de dados fenológicos nas parcelas estudadas foi realizada nos mesmos
períodos de coleta dos indivíduos, em que foram avaliados o percentual de folhas verdes e
secas, flores e frutos presentes nas espécies arbóreas, a fim de conhecer o material vegetativo
e seu percentual durante a coleta da espécie.
A emissão de folhas foi determinada pela presença de primórdios foliares, geralmente de
coloração verde-clara a verde-escura, avermelhados ou violáceos. A presença de folhas secas
foi identificada pela coloração marrom-clara a marrom-escura. A queda de folhas foi
embasada na presença de ramos nus e folhas caídas no solo. O período de floração foi até o
final do período de antese das flores. O de frutificação, desde a formação visível dos frutos até
a sua queda.
As porcentagens foram estimadas visualmente e enquadradas em cinco categorias:
I(0%), II(1-25%), III(26 – 50%), IV(51 – 75%) e V(76 – 100%) (FOURNIER, 1974). A
identificação taxonômica foi realizada por comparações de exsicatas depositadas no herbário
da Universidade Federal de Campina Grande, Centro de Saúde e Tecnologia Rural, Unidade
Acadêmica de Ciências Biológicas (UFCG/CSTR/UACB), e com o auxílio de chaves
taxonômicas e de literatura específica.
2.4 Análises Dendrométricas Realizadas
Como o DAP é de grande importância para o cálculo do volume e área basal do
povoamento, o mesmo foi determinado com base nos valores obtidos das circunferências
tomadas a 1,30 m da altura do solo (CAP), as quais foram medidas com bastante rigor, pois
quaisquer tipos de erros poderiam comprometer o resultado do trabalho.
Por meio das análises dendrométricas (Figura 1), estimaram-se os volumes cilíndrico e
cubado das árvores do povoamento, e foram coletadas informações quanto à altura total (Ht);
altura comercial (Hc); comprimento de subtoras (Ct) de aproximadamente 1,0 m;
circunferências (diâmetros) tomadas na base e topo de cada subtora; e a espessura da casca,
35
calculada pela diferença entre as medições das circunferências (diâmetros) com e sem casca,
tomadas na base e topo de cada subtora.
Figura 1− Medições dendrométricas na coleta da jurema-preta tomadas durante o período chuvoso
(AZEVEDO, et al., 2010)
2.5 Determinação do Volume de Madeira e da Massa de Casca
Os troncos das plantas abatidas foram seccionados em toras de aproximadamente 1,0
m de comprimento, tendo sido utilizadas peças com um diâmetro de até 3 cm, considerado
como o mínimo empregado na região para fins energéticos.
Foram tomadas medidas da circunferência (diâmetro) na base e topo das peças, com e
sem casca, e o comprimento das mesmas foi feito com o uso de fita métrica, sendo o volume
calculado pela fórmula de „Smalian‟.
As toras com e sem casca foram empilhadas para a determinação do volume de
madeira (com e sem casca) em metros estéreo (st), e o volume de casca (em metros cúbicos
ou em estéreos) foi obtido pela diferença entre o volume da madeira com e sem casca (Figura
2).
Com os dados obtidos, foram feitas relações entre os volumes obtidos em estéreo e o
volume cubado em metros cúbicos (fórmula de „Smalian‟), o volume e massa da madeira, e o
volume e a massa da casca presente nas plantas.
36
Figura 2− Toras de aproximadamente 1,0m de comprimento, para determinação da massa da madeira de
jurema-preta com e sem casca
(AZEVEDO, et al., 2010)
2.6 Determinação da Umidade da Madeira e da Casca
Para a determinação da umidade da madeira (base seca), sem casca, foram
selecionadas, nas pilhas, seis peças (duas grossas, duas médias e duas finas). No meio do
comprimento das peças selecionadas, foram retiradas amostras de ± 15 cm de comprimento.
As amostras obtidas foram pesadas em balança de 0,01 gramas de precisão e secas em estufa a
103 ± 2 ºC, até atingirem massas constantes (0% de umidade), sendo novamente pesadas.
Para a determinação do teor de umidade (base seca) das cascas, foi tomada uma
amostra representativa do volume de casca. As cascas obtidas foram pesadas e secas (sob as
mesmas condições utilizadas para a madeira) sendo novamente pesadas.
37
3 Resultados e Discussão
No primeiro período de coleta (agosto de 2008), a vegetação se encontrava em início de
período seco, apresentando folhas secas ou ausência de folhas e ausência de frutos verdes.
Diversos trabalhos mostram que espécies com madeira mais densa são mais sensíveis ao
estresse hídrico e, consequentemente, perdem suas folhas à medida que o solo torna-se mais
seco (BORCHERT 1994; HOLBROOK et al., 1995; SINGH e KUSHWAHA, 2005). A
jurema-preta é considerada uma espécie de alta densidade (MELO, et al., 2006),
comprovando, assim, a perda das folhas na época de estiagem (Tabela 1).
Tabela 1− Fenologia das plantas de jurema-preta (Mimosa tenuiflora) no período de agosto de 2008 a agosto de
2009
Período de coleta Fenologia
Anos Meses Folhas Verdes
(%)
Folhas
Secas
(%)
Frutos
Maduros
(%)
Flores
(%)
2008 Agosto 30 70 0 0
Dezembro 90 10 0 0
2009 Abril 90 0 0 10
Agosto 20 20 40 20
(AZEVEDO, et al., 2010)
No entanto, no segundo período (dezembro de 2008), como era início de período
chuvoso, observou-se presença de folhas verdes e jovens. Já no terceiro período, realizado no
final do período chuvoso (abril de 2009), observaram-se muitas folhas verdes e presença de
botões florais. No quarto e último período avaliado (final de agosto do ano de 2009), fechando
assim o ano agrícola, a vegetação se encontrava novamente seca, apresentando poucas folhas
verdes e uma grande quantidade de frutos maduros (Tabela 1 e Figura 3), sendo esta a época
de disseminação das sementes da jurema-preta, como cita Pereira Filho (2005).
38
Figura 3 − Vegetação da Caatinga nos quatro períodos do ano agrícola avaliado, (A) agosto de 2008, (B)
dezembro de 2008, (C) abril de 2009 e (D) agosto de 2009
(AZEVEDO, et al., 2010)
A grande presença de jurema-preta nas áreas analisadas pode ser justificada em função
de a espécie ser colonizadora de áreas em estado de degradação e do seu potencial como
regeneradora de solos erodidos (MAIA, 2004; XAVIER et al., 2005; BAKKE et al., 2006).
Os indivíduos avaliados apresentaram DAP entre 15,0cm e 21,6cm, a altura total (H
total) de 4,6m a 5,7m e altura comercial (H comercial) de 3,2m a 5,1m (Tabela 2).
Tabela 2 − Valores médios de diâmetro à altura do peito (DAP), altura total (H total) e altura comercial (H
comercial) das árvores estudadas
Período de coleta Avaliações
Anos Meses DAP Médio
(cm)
H total
Média (m)
H comercial
Média (m)
2008 Agosto
Dezembro
17,50
16,1
5,20
5,10
4,50
3,20
2009 Abril
Agosto
15,00
21,6
4,63
5,74
3,40
5,10
(AZEVEDO, et al., 2010)
D C
B A
39
De acordo com os dados avaliados, quanto maior o DAP maior será a altura total da
árvore, indicando espécies de maior idade encontradas nos meses de agosto de 2008 e 2009, e
que pode ter ocorrido por causa do local de coleta ser aleatório.
Na Figura 4, estão os valores médios de volume de madeira e volume de casca dos
períodos avaliados.
Figura 4- Valores de volume de madeira e casca de jurema-preta em coletas realizadas em diferentes períodos.
(AZEVEDO, et al., 2010)
Quanto menor for o volume de madeira, consequentemente, maior será o volume da
casca. Isso pode ser justificado pelo período de coleta, em que dezembro de 2008 e abril de
2009 corresponderam a períodos chuvosos, sendo observado um teor de umidade na casca
superior aos demais meses de coleta (Tabela 3), ocasionando um maior volume de casca.
Acredita-se que a época de coleta influenciou diretamente na relação volume de madeira e
volume de casca de jurema-preta. Os valores elevados de volume de madeira podem estar
relacionados com a idade das plantas, em que se observa que os meses de agosto de 2008 e
2009 apresentaram espécies de maior idade.
Os percentuais de umidade da madeira e da casca dos quatro meses amostrados
encontram-se na Tabela 3.
40
Tabela 3 − Teor de umidade da madeira e da casca em coletas realizadas no período de agosto de 2008 a agosto
de 2009
Período de coleta Teor de Umidade
Anos Meses Madeira
(%)
Casca
(%)
2008 Agosto
Dezembro
37,54
44,18
47,62
90,60
2009 Abril
Agosto
45,44
37,97
83,50
67,22
(AZEVEDO, et al., 2010)
O teor de umidade da madeira e da casca de jurema-preta apresentou, nos meses de
dezembro de 2008 (início do período chuvoso) e abril de 2009 (final de período chuvoso), um
maior percentual de umidade com relação aos meses de agosto de 2008 e agosto de 2009
(início de período seco), que apresentaram menor teor de umidade.
O alto teor de umidade nestes meses era esperado, pois estes meses se encontravam em
período chuvoso, aumentando, assim, o teor de umidade presente nos vegetais.
Na Tabela 4, é possível observar os valores médios encontrados para massa de madeira
com e sem casca e massa de casca nas coletas realizadas no período de agosto de 2008 a
agosto de 2009, em base seca.
Tabela 4 − Valores médios encontrados para massa de madeira sem casca e de casca em coletas realizadas no
período agosto de 2008 a agosto de 2009, em base seca
Ano Mês Massa de Madeira
sem Casca (%)
Massa de Casca
(%)
2008 Agosto
Dezembro
71,68
70,01
28,32
29,99
2009 Abril
Agosto
64,70
76,21
35,30
23,79
(AZEVEDO, et al., 2010)
Quanto menor for a massa de madeira, maior será a massa da casca. Dentre os
pesquisadores que estudaram a massa de madeira de jurema-preta, encontram-se ARAÚJO et
al, (2004), que encontraram um total de 1.717,3 kg de massa de jurema-preta para 30 árvores
de 5 anos de idade. Enquanto XAVIER et al., (2005) encontraram valores entre 1,93st e 6,10st
para as classes diamétricas superiores a 13 cm de jurema-preta.
41
4 Conclusões
Os meses de dezembro de 2008 e abril de 2009 apresentaram maior percentual de
folhas verdes, comprovando a época de chuva, visto esta espécie ser do tipo caducifólia.
A época de frutificação é definida como final de período chuvoso, em que apresentou
grande percentual de frutos.
Há uma relação positiva entre volume de madeira e volume de casca de jurema preta.
Os meses de dezembro de 2008 e abril de 2009 apresentaram maior teor de umidade
na madeira e na casca de jurema preta.
O mês de agosto de 2009 apresentou maior massa específica de madeira sem casca e
menor percentual em casca de jurema preta.
42
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44
AZEVÊDO, Tatiane Kelly Barbosa. Teor de substâncias tânicas presentes em jurema-
preta (Mimosa tenuiflora (Willd. Poiret)) em função das fenofases. Patos, PB: UFCG,
2010. 15 p. (Dissertação – Mestrado em Ciências Florestais)
RESUMO
Os agentes tânicos minerais são obtidos de sais inorgânicos, à base de cromo ou zircônio. Já
os taninos sintéticos são produtos derivados da condensação do fenol, cresol e naftalenos com
um aldeído, como o furfural. Esses produtos químicos, ou a reação deles, podem trazer danos
ao homem e ao ambiente. Por isto, vários países têm dado preferência aos artigos
provenientes do curtimento com taninos naturais (vegetais). No Brasil, há várias espécies
produtoras de taninos, porém os curtumes tradicionais da Região Nordeste, que utilizam os
taninos vegetais, apesar da diversidade de espécie arbóreas e arbustivas de ocorrência na
região, têm, no angico vermelho (Anadenanthera colubrina (Vell.) Brenan var. cebil (Vell.)
Brenan), sua única fonte de taninos. Novas pesquisas apontaram que a jurema preta (Mimosa
tenuiflora) é uma excelente produtora de taninos. Assim, este estudo teve como objetivo
avaliar o teor de taninos condensados presentes na casca de jurema-preta em função das
fenofases da planta, para determinar qual a melhor época de coleta de casca desta espécie,
visando, assim, reduzir o impacto sobre o angico vermelho. Para atender aos objetivos
propostos, foram realizadas quatro coletas de acordo com o período agrícola, sendo realizada
a primeira coleta em agosto de 2008, a segunda em dezembro de 2008, a terceira coleta em
abril de 2009 e quarta e última coleta em agosto de 2009, na Fazenda Lameirão, Santa
Terezinha, Paraíba, onde quarenta plantas de jurema-preta foram avaliadas quanto a sua
fenologia, sendo em seguida, abatidas e retirada a casca das árvores. Em seguida, foram
realizadas as análises quanto ao teor de sólidos totais (TST), índice de Stiasny (I) e teor de
taninos condensados (TTC). Observou-se que a fenologia das plantas influenciou
negativamente o teor de taninos condensados presentes na casca, sendo este valor bastante
inferior aos demais valores coletados quando a árvore não apresentava frutos. Já na presença
de folhas verdes, foi possível observar um valor maior em todas as análises realizadas.
Conclui-se que as fenofases influenciam no teor de taninos presente na casca de jurema-preta.
Palavras-chave: período agrícola; taninos; casca.
45
AZEVÊDO, Tatiane Kelly Barbosa. Contento of tannic substances present in Mimosa
tenuiflora (Willd. Poiret) depending on the phenophases. Patos, PB: UFCG, 2010.15 p.
(Dissertação – Mestrado em Ciências Florestais)
ABSTRACT
Mineral tannic agents are obtained from inorganic salts, based on chromium or zirconium.On
the other hand, the synthetic tannins are derivatives of the condensation of phenol, cresol and
naphthalene with an aldehyde such as furfural. These chemicals or their reaction, they can be
harmful to human beings and the environment. For this reason, several countries have
preferred goods which are tanned with natural tannins (plants). In Brazil there are several
species which can be used to produce tannins, however, the traditional tanneries in the
Northeast, which use vegetable tannins, despite the diversity of tree and shrub species
occurring in the region, use the Parapiptadenia (Anadenanthera colubrina (Vell.) Brenan var .
cebil (Vell.) Brenan) as the only source of tannins. New researches have found that the
Jurema preta (Mimosa tenuiflora) is an excellent producer of tannins. Hence this study aimed
to evaluate the content of condensed tannins present in the bark of jurema preta according to
the plant phenophases in order to determine the best time to collect bark from this species,
thus reducing the impact on the Parapiptadenia. In order to accomplish the proposed
objectives, four collections were carried out according to the agricultural period, the first one
was held in August 2008, the second one in December 2008, the third one in April 2009 and
the fourth and final one in August 2009 , all of them at Lameirão Farm, in the municipality of
Santa Terezinha, Paraíba, where forty individuals of Mimosa hostilis were evaluated
concerning their phenology, then they were felled and removed their bark. After that, analysis
were performed on the total solids (TST) Stiasny index (I) and condensed tannin content
(TTC). It was observed that the phenology of plants influenced negatively the content of
condensed tannins present in the shell, and this value was much lower than other values
collected when the tree had no fruit. On the other hand, in the presence of green leaves was
possible to observe a higher value in all the analysis. We conclude that both clones influence
the content of tannins present in the bark of jurema preta.
Keywords: agricultural period, tannins, bark.
46
TEOR DE SUBSTÂNCIAS TÂNICAS PRESENTES EM
JUREMA-PRETA (MIMOSA TENUIFLORA (Willd. Poiret) EM
FUNÇÃO DAS FENOFASES
1 Introdução
Os taninos são substâncias naturais, minerais ou sintéticas, capazes de precipitar as
proteínas presentes em peles para produzir couro (PANSHIN et al., 1962; HASLAM, 1966;
LEPAGE, 1986).
Os taninos vegetais podem ser encontrados em várias partes do vegetal, como madeira,
casca, fruto, etc. São constituídos por polifenóis e classificados em hidrolisáveis e
condensados. Os hidrolisáveis são poliésteres da glicose e são classificados, dependendo do
ácido formado de sua hidrólise, em galo ou elágico taninos (PIZZI, 1993). Os taninos
condensados são constituídos por monômeros do tipo catequina e são conhecidos por
flavonoides (HASLAM, 1966; WENZL, 1970; PIZZI, 1993), estando presentes, basicamente,
na casca das árvores.
Além da importância no curtimento de couros e peles, os taninos são utilizados pela
indústria de petróleo, como agente dispersante para controlar a viscosidade de argilas na
perfuração de poços (DOAT, 1978), sendo também empregados no tratamento de água de
abastecimento e residuárias (SILVA, 1999), na fabricação de tintas e adesivos (TRUGILHO
et al., 1997) e, em virtude de suas propriedades antissépticas, vêm sendo testados contra
organismos xilófagos (COUTO, 1996; SHIMADA, 1998).
Adesivos à base de taninos são produzidos comercialmente em países como Austrália e
África do Sul (MORI, 1997). Atualmente, várias pesquisas vêm sendo desenvolvidas no
Brasil, em função da importância dos taninos vegetais para a síntese de adesivos para madeira
e derivados (MORI, 1997; 2000; CARNEIRO, 2002).
A Acacia mearnsii é cultivada em várias regiões no Rio Grande do Sul e apresenta
aproximadamente 28% de taninos na sua casca (TANAC, 2005). Além dessas espécies,
Haslam (1966) cita como grandes produtoras o Eucalyptus astringens (casca contendo 40 a
50% de taninos), o mangue-vermelho Rhizophora candelaria e o mangue-branco Rhizophora
mangle (casca com 20 a 30% de taninos).
47
No Brasil, há várias espécies produtoras de taninos, porém os curtumes tradicionais da
Região Nordeste que utilizam taninos vegetais, apesar da diversidade de espécies arbóreas e
arbustivas de ocorrência na região, têm, no angico-vermelho (Anadenanthera colubrina
(Vell.) Brenan. var. cebil (Gris.) Alts.), sua única fonte de taninos (PAES et al., 2006a).
Pesquisas relatam novas espécies produtoras de taninos na Região Nordeste, como é o
caso da jurema vermelha (Mimosa arenosa (Willd.) Poir.), cajueiro (Anacardium occidentale
Linn.) e jurema-preta (Mimosa tenuiflora (Willd.) Poir.) (PAES et al., 2006c).
A jurema-preta, por ser uma espécie pioneira, é encontrada com bastante frequência,
além dos empregos como fonte energética, forragem e madeiras para construções rurais, Paes
et al. (2006b) detectaram que as cascas de jurema-preta apresentam 17,74% de taninos, tendo
potencial para indústrias de couros e tanantes. Esta pesquisa teve como objetivo avaliar a
concentração de taninos condensados presentes na casca de jurema-preta em função das
fenofases da planta, para determinar qual a melhor época de coleta de casca desta espécie.
48
2 Material e Métodos
2.1 Seleção das Árvores Estudadas
As cascas das árvores de jurema-preta foram coletadas em uma floresta nativa
localizada no Núcleo de Pesquisas do Semiárido (NUPEÁRIDO), município de Patos, PB,
propriedade da Universidade Federal de Campina Grande (UFCG). As coletas foram
realizadas de acordo com o ano agrícola, com o intuito de avaliar a influência da fenologia e
das ações externas (chuva, temperatura, etc) sobre o comportamento da espécie na produção
de tanino presente na casca das árvores.
O abate das árvores foi realizado segundo o período agrícola, sendo abatidas árvores
em duas parcelas por período, no primeiro semestre de 2008, no segundo semestre de 2008,
no primeiro semestre de 2009 e no segundo semestre de 2009 totalizando 40 árvores.
Depois de abatidas, as cascas das árvores foram retiradas, condicionada em sacos
plásticos para evitar a perda de umidade, em seguida, levada ao laboratório, pesada, postas
para secar e novamente pesadas.
Para a determinação da quantidade de taninos, foi tomada uma amostra representativa
da quantidade de cascas obtida trimestralmente. Para a extração dos taninos, as cascas foram
reduzidas a fragmentos menores, com o auxílio de uma forrageira, posteriormente secas ao ar.
Após a secagem, o material foi amostrado para a determinação da umidade, a fim de permitir
os cálculos (b.s.) da quantidade de taninos presentes em cada amostra.
Do material seco ao ar, foram tomadas três amostras representativas, que foram
moídas em moinho do tipo Willey para obter um material de menor granulometria. Para evitar
o aquecimento acentuado das facas do moinho, o que poderia causar alterações na
composição química do material, o processo de moagem ocorreu com paradas constantes,
sempre que o moinho ficava aquecido.
A casca na forma de serragem foi classificada com auxílio de peneiras e foi utilizada
aquela que passou pela peneira de 16 mesh (1,00 mm) e que ficou retida na de 60 mesh (0,25
mm). A serragem foi homogeneizada, e o teor de umidade determinado, para permitir os
cálculos, em base seca, do teor de taninos presentes em cada amostra.
49
2.2 Extração e Quantificação das Substâncias Tânicas
As substâncias tânicas contidas nos materiais foram extraídas em água destilada. Para as
extrações, foram tomadas, de cada material, três amostras de 25 g de material seco.
As amostras foram transferidas para balões de fundo chato, com capacidade de 500 ml,
em que foram adicionados 250 ml de água destilada (relação 1:10) em cada amostra, sendo
submetida à fervura sob refluxo por duas horas.
Cada amostra foi submetida a duas extrações, a fim de se retirar a máxima quantidade de
extrativos presentes. Assim, a relação material:solução passou a ser de 1:20.
Após cada extração, o material foi passado em uma peneira de 150 mesh (0,105 mm), e
em um tecido de flanela, para a retenção de partículas finas. O extrato obtido foi
homogeneizado e filtrado em funil de vidro sinterizado de porosidade 2. Em seguida foi
concentrado para 250 ml, pela evaporação da água, ao empregar um aparelho tipo Soxhlet, e
foram retiradas três alíquotas (amostras) de 50 ml de cada extrato. Duas delas foram utilizadas
para a determinação do Teor de Taninos Condensados, e uma foi evaporada em estufa a 103
2 ºC por 48 horas, para a determinação da porcentagem de teor de sólidos totais (TST)
(Equação 1).
(1)
em que:
TST (%) = Teor de sólidos totais, em porcentagem;
Mi = Massa Inicial, em gramas; e
Mf = Massa Final, após secagem, em gramas.
Para a determinação do teor de taninos condensados (TTC) presentes em cada amostra
foi empregado o método de Stiasny, descrito por Guangcheng et al. (1991), com algumas
modificações. Para tanto, aos 50 ml do extrato bruto, foram adicionados 4 ml de formaldeído
(37% m/m) e 1 ml de HCl concentrado. Cada mistura foi submetida à fervura sob refluxo por
30 minutos. Nestas condições, os taninos formam complexos insolúveis que podem ser
separados por filtragem simples. Para este caso, empregou-se filtro de papel posto em funil de
Büchner de 10 cm de diâmetro e 4 cm de profundidade. O material retido no filtro foi seco em
estufa a 103 2 C por 24 horas e calculado o índice de Stiasny (Equação 2).
100%
i
fi
M
MMTST
50
(2)
em que:
I(%) = Índice de Stiasny, em porcentagem;
M1 = Massa de sólidos em 50 mL de extrato; e
M2 = Massa do precipitado tanino-formaldeído.
A quantidade de taninos presentes em cada amostra foi obtida ao se multiplicar o Índice
de Stiasny pelo Teor de Sólidos Totais (Equação 3).
(3)
em que:
TTC(%) = Teor de taninos condensados, em porcentagem;
TST = Equação 1; e
I = Equação 2.
100(%)
ITSTTTC
100%1
2
M
MI
51
3 Resultados e Discussão
No mês de agosto, em geral, ocorrem baixos índices pluviométricos, as plantas perdem
as folhas, como é possível observar na Figura 1 (espécies caducifólias), como estratégia para
evitar a perda de água por transpiração (PENHALBER e MANTOVANI, 1997).
Figura 1− Dados fenológicos referentes ao período agrícola de agosto de 2008 a dezembro de 2008 para jurema
preta (Mimosa tenuiflora)
(AZEVEDO, et al., 2010)
A fenologia das espécies estudadas provavelmente foi influenciada pelo padrão de
chuvas durante o período de avaliação, conforme esperado para um ambiente com tanto
estresse hídrico (SAMPAIO, 1995; MACHADO et al., 1997).
A floração ou a rebrota durante a seca, em algumas espécies, é um paradoxo
(BORCHERT, 1994). A floração ocorreu no início do período seco (Figura 1), o mesmo
encontrado por Figueiredo (2008). Tem sido postulado que são respostas a eventos
esporádicos de precipitação durante a seca (OPLER et al., 1980), ou que são restritas a
espécies de regiões com seca menos severa ou savanas (BULLOCK, 1995). Argumenta-se,
ainda, que espécies tolerantes, com maior capacidade de absorção e/ou, retenção de água, não
são limitadas pela seca, sendo ainda incertas as causas da sua periodicidade (MEDINA,
1995).
52
Conforme era esperado, os padrões fenológicos observados parecem refletir o padrão
sazonal das chuvas, sendo o final de período seco e o início de período chuvoso a época de
frutificação encontrada nos estágios sucessionais, em que os mesmos resultados foram
encontrados por Figueiredo (2008).
Na Tabela 1, encontram-se os valores médios de teor de umidade em base seca para as
cascas de jurema-preta.
Tabela 1− Teor de umidade (T.U.) da casca de jurema-preta em base seca
Período de coleta T.U. (%)
2008 Agosto
Dezembro
2009 Abril
Agosto
10,20
10,49
10,29
10,23
(AZEVEDO, et al., 2010)
O maior teor de umidade em base seca na casca de jurema-preta foi encontrado nos
meses de dezembro de 2008 e abril de 2009, pois, segundo a fenologia, foram os meses que
apresentaram maior percentual de folhas na copa, enquanto o menor teor de umidade foi
encontrado no mês de agosto de 2008.
Na Tabela 2, é possível encontrar a concentração de taninos, teor de sólidos totais e
índice de Stiasny, presentes na casca de jurema-preta.
Tabela 2− Valores médios do teor de sólidos totais (TST), índice de Stiasny (%) e do teor de taninos
condensados (TTC) encontrados nas cascas
Período de coleta TST
(%)
I
(%)
TTC
(%)
2008 Agosto
Dezembro
2009 Abril
Agosto
25,2 b
30,8 a
29,4 a
13,8 c
69,84 a
71,12 a
67,35 a
37,68 b
17,6 b
21,9 a
19,8 ab
5,2 c
*Médias seguidas por letras minúsculas iguais, na mesma coluna, não diferem entre si (P < 0,05).
(AZEVEDO, et al., 2010)
Na avaliação de todas as análises, o efeito dos fatores foi dependente (P < 0,05),
havendo diferença significativa entre os meses de coleta de acordo com a fenologia.
53
O teor de taninos condensados (TTC) foi maior no mês de dezembro de 2008, em que a
planta se encontrava apenas com presença de folhas verdes (80%). O menor teor de taninos
condensados foi encontrado no mês de agosto de 2009, o que deve ter ocorrido pela grande
presença de frutos (60%) neste mês (Tabela 2). Santana et al., (2009) observaram que o
angico vermelho (Anadenanthera colubrina) apresentou grande quantidade de taninos
(10,69%) nos frutos. Por essa razão, acredita-se que a planta utiliza de uma estratégia, em que
os taninos são direcionados da casca para os frutos, evitando assim o ataque de predadores,
em função de suas propriedades antissépticas contra insetos xilófagos (COUTO, 1996;
SHIMADA, 1998), reduzindo drasticamente o teor de taninos condensados presentes na
casca.
Para o índice de Stiasny, não houve diferença significativa nos meses de agosto e
dezembro de 2008 e abril de 2009. Apenas agosto de 2009 apresentou um valor de abaixo da
média (37,68%). Já para o teor de sólidos totais, não houve diferença significativa entre
dezembro de 2008 e abril de 2009, em que se apresentaram os maiores valores. Agosto de
2009 apresentou o menor valor com 13,8%.
54
4 Conclusões
Os dados obtidos permitem concluir que as fenofases influenciam no teor de taninos
presentes na casca de jurema-preta.
O período de frutificação apresentou os menores valores de teor de taninos, teor de
sólidos totais e índice de Stiasny presentes na casca de jurema-preta.
A grande presença de folhas verdes (dezembro de 2008 e abril de 2009) nas árvores
proporcionou o maior teor de taninos da casca.
Seria interessante realizar estudos para comprovar o teor de taninos presentes no fruto
de jurema-preta.
55
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AZEVÊDO, Tatiane Kelly Barbosa. Qualidade dos taninos de jurema-preta (Mimosa
tenuiflora (Willd. Poiret)) para a produção de adesivos tanino formaldeído. Patos, PB:
UFCG, 2010. 15f. (Dissertação – Mestrado em Ciências Florestais)
RESUMO
Os taninos vegetais são encontrados em várias espécies florestais. No semiárido brasileiro o
angico-vermelho (Anadenanthera colubrina var. cebil (Vell.) Brenan.) é a única espécie vista
como produtora de taninos vegetais, sendo muito utilizada nos curtumes da região. Novos
estudos apontam que a jurema-preta (Mimosa tenuiflora (Willd.) Poir.) apresenta
concentração de substâncias tânicas com capacidade para curtir couros. Diante do
pressuposto, e como alternativa para ampliar a utilização do tanino da jurema-preta este
estudo teve como objetivo avaliar a qualidade dos taninos de jurema-preta para a produção de
adesivos. Os taninos foram obtidos da casca da jurema-preta, sendo extraídos em quantidade
suficiente para produção de adesivo. O adesivo foi produzido com os taninos adquiridos no
decorrer do período agrícola, sendo comparados aos adesivos produzidos com tanino
comercial de acácia negra (Acacia mearnsi De Willd.). Foi encontrado, nos adesivos
produzidos com os taninos de jurema-preta, valor de teor sólido semelhante aos da acácia
negra, não havendo diferença significativa entre os períodos de coletas para o teor sólido. Pela
abundância no Semiárido brasileiro, a jurema-preta apresenta potencial de exploração para
obtenção de taninos, havendo a necessidade pesquisas que indiquem as melhores formas de
aplicação dos taninos obtidos, como testar o adesivo para a colagem de madeira e derivados.
Palavras-chave: Taninos vegetais; espécie da Caatinga; produção de adesivo.
59
AZEVÊDO, Tatiane Kelly Barbosa. Quality of tannins Jurema-preta (Mimosa tenuiflora
(Willd. Poiret)) for the production of tannin formaldehyde adhesives. Patos, PB: UFCG,
2010. 15 f. (Dissertação – Mestrado em Ciências Florestais)
ABSTRACT
The vegetable tannins are found in several tree species. In the semi-arid red mimosa
(Anadenanthera colubrina) was the only species seen as a producer of vegetable tannins,
commonly used in local tanneries. New studies indicate that Jurema-preta (Mimosa
tenuiflora) has a high concentration of tannic substances capable of tanning hides. Given the
assumption, as an alternative to expanding the utilization of tannin from Mimosa tenuiflora,
the study aimed to evaluate the quality of the Jurema-preta tannin for the production of
adhesives. The tannins were obtained from the bark of Mimosa tenuiflora being extracted in
large quantities. The adhesive was produced with the tannins acquired during the agricultural
period, and compared to adhesives produced with commercial black wattle tannin. Was found
in adhesives produced with the tannins of Mimosa tenuiflora, amount of solid content similar
to those found in black wattle, no significant difference between the periods of sampling for
the solid content. The abundance in the Brazilian semiarid region, jurema-preta presents
exploitation potential for obtaining tannin, with need research to show the best ways of
applying tannins obtained, how to test the adhesive on dry wood.
Keywords: Vegetable tannins; species of the caatinga; production of adhesive.
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QUALIDADE DOS TANINOS DE JUREMA-PRETA (MIMOSA
TENUIFLORA (Willd. Poiret)) PARA A PRODUÇÃO DE
ADESIVOS TANINO FORMALDEÍDO
1 Introdução
Os taninos vegetais, conhecidos por taninos naturais, podem ser encontrados em várias
partes do vegetal, como madeira (cerne), casca, frutos e sementes. Os frutos verdes
apresentam alta concentração de taninos hidrolisáveis, que decresce à medida que eles
amadurecem (ZUCKER, 1983). Nos vegetais, esses compostos têm a função de defesa e
proteção. Em virtude de sua adstringência, eles impedem o ataque de herbívoros às partes da
planta. Segundo Monteiro et al. (2005), esses compostos são responsáveis pela adstringência
de muitos frutos e produtos vegetais, em função da precipitação de glucoproteínas salivares,
resultando na perda do poder lubrificante. Graças a sua comprovada atividade antimicrobiana,
acredita-se que os taninos atuem na proteção do vegetal contra o ataque de microorganismos
patogênicos
Os taninos são constituídos por polifenóis e classificados em hidrolisáveis e
condensados. Os taninos hidrolisáveis são poliésteres da glicose e são classificados,
dependendo do ácido formado de sua hidrólise, em taninos gálicos ou taninos elágicos
(PIZZI, 1993). Já os taninos condensados são constituídos por monômeros do tipo catequina e
são conhecidos por flavonoides (HASLAM, 1966; WENZL, 1970; PIZZI, 1993). Monteiro et
al. (2005) afirmaram que os taninos são compostos fenólicos de grande interesse econômico e
ecológico. As espécies florestais mais utilizadas na produção comercial de taninos são as
cascas de acácia-negra (Acacia mearnsii De Willd.) e o cerne do quebracho (Schinopsis sp.).
Além dessas espécies, Haslam (1966) cita, como grandes produtoras de tanino, o Eucalyptus
astringens (casca contendo de 40 a 50% de taninos), o mangue-vermelho e o mangue-branco,
respectivamente Rhizophora candelaria e Rhizophora mangle (casca com 20 a 30% de
taninos).
Os taninos são de grande importância no curtimento de peles, são utilizados pela
indústria de petróleo, como agente dispersante para controlar a viscosidade de argilas na
perfuração de poços (PANSHIN et al., 1962; DOAT, 1978), sendo, também, empregados no
tratamento de água de abastecimento e residuárias (SILVA, 1999), na fabricação de tintas e
61
adesivos (TRUGILHO et al., 1997) e, em virtude de suas propriedades antissépticas, vêm
sendo testados contra organismos xilófagos (COUTO, 1996; GONZÁLEZ LOREDO, 1996;
SHIMADA, 1998).
As pesquisas sobre os adesivos de taninos foram iniciadas na década de 1950, na
Austrália, Indonésia, Índia, Venezuela e nos Estados Unidos, porém o crescente interesse pelo
desenvolvimento de adesivos, a partir de fontes naturais, ocorreu somente após a crise do
petróleo, cuja primeira fase ocorreu em 1956 e a última no ano de 2008. Os taninos podem
representar de 2 a 40% da massa seca da casca de várias espécies florestais.
Para Gonçalves; Lelis (2001), são importantes as pesquisas que buscam matérias-primas
alternativas para a indústria de painéis porque o custo de aquisição de adesivos sintéticos
representa um componente de peso no custo total do produto. Países como África do Sul,
Finlândia e Nova Zelândia utilizam industrialmente o tanino vegetal como matéria-prima para
produção de adesivos para madeira (ROFFAEL; DIX, 1994).
Este estudo teve como objetivo avaliar a qualidade dos taninos de jurema-preta
(Mimosa tenuiflora (Willd.) Poir.) para a produção de adesivos tanino formaldeído, em função
da variação nas coletas (períodos seco e chuvoso).
.
62
2 Material e Métodos
2.1 Local de Coleta e Espécie Estudada
As árvores de jurema-preta (Mimosa tenuiflora (Willd) Poir.) que apresentavam boa
fitossanidade foram selecionadas para retirada da casca em uma mata nativa, na Fazenda
Lameirão, de propriedade da Universidade Federal de Campina Grande (UFCG), localizada
no Município de Santa Terezinha, Estado da Paraíba (Latitude S 7º, Longitude W 37º04‟,
altitude 240 metros e clima, segundo a classificação de Köppen, semiárido do tipo Aw‟
quente úmido, com chuvas de verão/outono). A média anual das precipitações pluviométricas
é em torno de 600 mm, distante 385 km de João Pessoa, Capital do Estado.
A coleta das cascas foi realizada segundo o período agrícola, sendo coletadas, no
primeiro semestre de 2008, no segundo semestre de 2008, no primeiro semestre de 2009 e no
segundo semestre de 2009, sendo 10 árvores amostradas por período, totalizando 40 árvores.
2.2 Preparo das Cascas para Extração dos Taninos
As cascas, ao serem retiradas, foram condicionadas em sacos plásticos, para que não
houvesse perda de umidade e transportadas para o Laboratório de Tecnologia de Produtos
Florestais (LTPF) da Universidade Federal de Campina Grande, Centro de Saúde e
Tecnologia Rural (UFCG/CSTR), Patos, PB. As cascas foram secas ao ar e moídas em uma
forrageira, para obter um material de menor granulometria.
O material moído foi classificado, sendo utilizado o que passou por uma peneira de
malha de 2 x 2 cm. Após essa operação, retiraram-se quatro amostras representativas de
cascas da espécie. Duas destas foram secas a 103 ± 2°C por 48 horas, a fim de avaliar o teor
de umidade (base seca) das cascas.
O material destinado à quantificação das substâncias tânicas presentes na espécie foi
moído em moinho do tipo Willey, para obtenção de uma menor granulometria e mais
homogêneo.
63
2.3 Extrações das Substâncias Tânicas
Para a extração dos taninos, as cascas foram secas ao ar e posteriormente, reduzidas a
fragmentos menores, com o auxílio de uma forrageira, e foram peneiradas, sendo utilizado o
material com granulométrica superior a 60 “mesh”, em seguida as substâncias tânicas foram
extraídas em água destilada, a temperatura de ebulição da água. Nas extrações, para cada 2 kg
de casca, foram adicionados 10 litros de água (relação 5:1). As amostras foram submetidas à
fervura, em autoclave, com capacidade de 48 litros, dentro de um recipiente cilíndrico,
confeccionado em aço inox, com capacidade de, aproximadamente, 30 litros (diâmetro de
30,50 cm e altura de 40 cm), durante duas horas.
Cada amostra de casca foi submetida a duas extrações, a fim de se retirar à máxima
quantidade de taninos presentes. Assim, a relação final casca:solução foi de 1:10. Após cada
extração, o material foi coado em coador, confeccionado em tecido grosso (“jeans”) e em
peneira confeccionada com tecido de “silk screen” e em peneira de 150 “mesh”, para a
retenção de partículas finas de casca. O extrato obtido foi homogeneizado e transportado para
bandejas de alumínio de 5 x 40 x 60 cm, sendo posto para evaporar ao ar até atingir ± 50% de
sólidos e conduzido a uma estufa de ventilação forçada, mantida a 70 ± 3 ºC, até a completa
evaporação da umidade. O material anidro foi moído e peneirado em peneira de 60 “mesh”
para posterior produção dos adesivos.
Essa operação foi executada no Laboratório de Tecnologia de Produtos Florestais
(LTPF) da Unidade Acadêmica de Engenharia Florestal do CSTR/UFCG.
2.4 Produção de Adesivo
A produção de taninos foi desenvolvida no Laboratório de Tecnologia de Produtos
Florestais (LTPF) da Universidade Federal de Viçosa (UFV) em Viçosa, MG.
As amostras de taninos foram passadas em um pulverizador até obter uma granulometria
de 100 mesh. Para produzir os adesivos, utilizaram-se 75 g de tanino, 75 g de água, 5 ml de
ácido clorídrico (10N), e 5% de sulfito de sódio ( sobre a massa de tanino, 3,75 g), a uma
temperatura de 110°C, durante 1h (Figura 1).
Para a produção de adesivos, foram utilizadas as soluções aquosas, contendo os taninos
brutos, ou seja, sem modificação química. Para tanto, os taninos foram misturados em solução
com o agente endurecedor formaldeído, agitando-o com um bastão de vidro por 1 minuto.
64
Figura 1- 1- Ácido clorídrico (10N), 2- sulfito de sódio, 3- tanino em pó e 4- água destilada
(AZEVEDO, et al., 2010)
2.5 Propriedade dos Adesivos
O teor de sólidos dos adesivos foi calculado de acordo com Moslemi (1974), pela
evaporação da água das amostras, contendo 3g de adesivo, que foram levados à estufa até
atingirem peso constante (Figura 2).
Figura 2- Teor de sólidos nas amostras
(AZEVEDO, et al., 2010)
O tempo de gelatinização foi obtido com amostras de 1g do adesivo, que foram
colocadas em tubos de ensaio de 15cm de altura e 2 cm de diâmetro, em cujo interior foi
65
mergulhado um bastão de vidro. O conjunto tubo-bastão foi aquecido até 170ºC,
cronometrando-se o tempo gasto para polimerização do adesivo (Figura 3).
Figura 3- Gel-timert com amostras de adesivo de taninos vegetais
(AZEVEDO, et al., 2010)
A viscosidade foi obtida com um viscosímetro Brookfield- LV (Splinder 3) (Figura 4),
empregando-se uma velocidade de rotação de 12 rpm, em amostras de aproximadamente 300
ml, em três repetições.
Figura 4- Viscosímetro Brookfield- LV (Splinder 3)
(AZEVEDO, et al., 2010)
66
O tempo de trabalho do adesivo foi determinado com o auxilio de um cronômetro, acionando
após a adição do agente endurecedor formaldeído. Para cada amostra, o tempo foi tomado até
o endurecimento (cura) do adesivo. Foram utilizados 6 ml em 4 repetições.
Análise estatística
Os dados foram submetidos à análise de variância, utilizando o software SAS.
3 Resultados e Discussões
3.1 Propriedades dos Adesivos Tânicos
Na Tabela 1, estão representados os valores médios das propriedades dos adesivos à
base de tanino de jurema-preta em diferentes épocas de obtenção da substância tânica.
Tabela 1− Propriedades dos adesivos tânicos de jurema-preta sulfitados
*Médias seguidas por letras minúsculas iguais, na mesma coluna, não diferem entre si (P < 0,05).
(AZEVEDO, et al., 2010)
A análise de variância indicou que o teor de sólidos dos adesivos de jurema-preta não
foi afetado pelos tratamentos. A época de coleta das cascas de jurema-preta, para extração
tânica, não interfere significativamente na produção de adesivos.
Quanto ao tempo de gelatinização, também não houve diferença significativa pelo teste
F, apesar de haver diferença significativa do pH entre os períodos de coleta. Segundo Roffael
e Dix (1994), o pH pode interferir no processo de endurecimento de uma resina e é muito
importante para o processo de colagem. Mori et al. (1999), trabalhando com casca de E.
grandis, verificaram que o aumento do pH acelerou o endurecimento dos extratos analisados.
Tratamento pH Tempo de
reação (min)
Teor Sólido
(%)
Gel Time
(s)
Viscosidade
(cp)
1 5,76 a 30 46,8 a 153 a 10.000 a
2 5,69 b 30 46,9 a 164 a 2.066,667 c
3 5,4 d 30 45,5 a 208 a 5.833,33 b
4 5,47 c 30 44,0 a 197 a 10.000 a
67
A análise de variância indicou que a viscosidade dos adesivos de tanino de jurema-
preta foi afetada pelos tratamentos, sendo os tratamento 1 e 4 diferentes estatisticamente dos
tratamentos 2 e 3 e estes diferem entre si (Tabela 1).
Teodoro e Lelis (2005) encontraram um teor sólido de 45,87%, para o adesivo obtido
da casca de acácia negra (Acácia mearnsii De Wild), valor bem aproximado ao encontrado
para a jurema-preta.
68
4 Conclusões
Não houve diferença significativa entre as épocas de coleta da casca de jurema-preta
para a produção do adesivo no que diz respeito ao teor sólido.
Houve diferença significativa entre os valores de pH encontrado para cada período de
coleta.
Conclui-se que a produção de adesivo do tanino de jurema-preta obteve teor sólido
semelhante ao encontrado na acácia negra. Porém, ainda são necessárias pesquisas que testem
os adesivos de jurema-preta para colagem de madeira sólida.
69
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