relatorio de estágio - ensino de musica na escola lucia mayvorne
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UNIVERSIDADE DO ESTADO DE SANTA CATARINA
CENTRO DE ARTES
DEPARTAMENTO DE MÚSICA
RODRIGO CANTOS SAVELLI GOMES
Prática Pedagógica Curricular: uma experiência
letiva de música na 6ª Série.
Relatório entregue como requisito para a conclusão da disciplina Prática Pedagógica II orientada pelo professor Eduardo Ferraro do curso de Licenciatura em Música.
FLORIANÓPOLIS
2007/2
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O propósito da música não é, simplesmente, criar produtos para a sociedade. É uma experiência de vida válida em si mesma, que devemos tornar compreensível e agradável. É uma experiência do presente. Essas crianças estão vivendo hoje, e não aprendendo a viver para o amanhã. Devemos ajudar cada criança a viver a música agora.
(SWANWICK e JARVIS apud SWANWICK, p. 72).
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SUMÁRIO
1 APRESENTAÇÃO......................................................................................................................04
2 PROJETO DE ESTÁGIO............................................................................................................05
......2.1 INTRODUÇÃO......................................................................................................................06
......2.2 JUSTIFICATIVA...................................................................................................................08
......2.3 OBJETIVOS...........................................................................................................................09
......2.4 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA.........................................................................................10
......2.5 ABORDAGEM METODOLÓGICA.....................................................................................12
......2.6 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS...................................................................................15
3 RELATOS DAS AULAS DO SEMESTRE 2007 /1....................................................................16
......3.1 INTRODUÇÃO......................................................................................................................17
......3.2 PLANOS DE AULA Nº 01 ao 04..........................................................................................18
......3.3 RELATOS..............................................................................................................................22
...........3.3.1 RELATOS DE OBSERVAÇÃO....................................................................................22
...........3.3.2 RELATOS DE INTERAÇÃO........................................................................................27
...........3.3.3 RELATOS DE ATUAÇÃO...........................................................................................35
.......3.4 CONSIDERAÇÕES..............................................................................................................43
4 RELATOS DAS AULAS DO SEMESTRE 2007 /2....................................................................44
......4.1 INTRODUÇÃO......................................................................................................................45
......4.2 PLANOS DE AULA E RELATOS DAS EXPERIÊNCIAS.................................................46
...... 4.2.1 AULA 01.......................................................................................................................46
...... 4.2.2 AULA 02.......................................................................................................................50
...... 4.2.3 AULA 03.......................................................................................................................51
...... 4.2.4 AULA 04.......................................................................................................................54
...... 4.2.5 AULA 05.......................................................................................................................56
...... 4.2.6 AULA 06.......................................................................................................................59
...... 4.2.7 AULA 07.......................................................................................................................61
...... 4.2.8 AULA 08.......................................................................................................................64
...... 4.2.9 AULA 09.......................................................................................................................68
...... 4.2.10 AULA 10.....................................................................................................................70
...... 4.2.11 AULA 11.....................................................................................................................71
...... 4.2.12 AULA 12.....................................................................................................................72
...... 4.2.13 AULA 13.....................................................................................................................74
...... 4.2.14 AULA 14.....................................................................................................................75
......4.3 CONSIDERAÇÕES...............................................................................................................76
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS........................................................................................................78
6 ANEXOS........................................................................................................................................79
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1 APRESENTAÇÃO
Este trabalho consiste em um relato do Estágio Curricular desenvolvido pelas disciplinas
Prática Pedagógica I e Prática Pedagógica II cursadas no primeiro e segundo semestre de 2007, sob
orientação do Professor Eduardo Ferraro do Departamento de Música. Em Prática Pedagógica I –
cursada no primeiro semestre de 2007 – foram cumpridas duas horas/aula semanais na escola
pública, sendo estas divididas em três etapas. A primeira consistiu em quatro aulas de observação, a
segunda em quatro aulas de auxílio ao professor, e a última em quatro aulas de atuação. Cada
encontro aqui mencionado é composto por uma aula faixa. Em Prática Pedagógica II – cursada no
segundo semestre de 2007 – foi cumprida a mesma carga horária, desta vez com atuação direta do
estagiário em todos os encontros.
Sendo assim, na primeira parte deste relatório apresento o Projeto de Estágio, o qual consiste
numa prévia definição dos objetivos a serem alcançados durante esta prática, bem como numa
previsão e sistematização das atividades a serem desenvolvidas durante o estágio. O mesmo está
organizado de acordo com as normas estabelecidas pela coordenadoria de estágio, contendo, desta
forma, uma metodologia, os objetivos gerais e específicos, a justificativa e uma fundamentação
teórica.
Na segunda parte estão os relatos das aulas assistidas e ministradas durante minha atuação
na escola. Primeiramente, apresento os planos de aulas relativos ao período de atuação no primeiro
semestre de 2007, acompanhados pelos relatos de observação, relatos de interação e relatos de
atuação. Em seguida, apresento os planos e relatos de aula respectivos ao segundo semestre de
2007.
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UNIVERSIDADE DO ESTADO DE SANTA CATARINA
CENTRO DE ARTES
DEPARTAMENTO DE MÚSICA
PROJETO DE ESTÁGIO
FLORIANÓPOLIS
2007
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2.1 INTRODUÇÃO
O estágio curricular – referente à disciplina Prática Pedagógica I e Prática Pedagógica II –
será desenvolvido na Escola Básica Batista Pereira, instituição de ensino fundamental da prefeitura
municipal de Florianópolis, localizada no bairro do Alto Ribeirão da Ilha. O bairro é considerado
um dos poucos lugares do litoral Sul do Brasil que ainda conserva os traços da colonização açoriana
de origem portuguesa, por isso, é considerado um local de referência em se tratando da história
cultural do Estado de Santa Catarina. Existe no local uma forte influência religiosa do catolicismo,
considerado pela comunidade, uma peça fundamental na educação.
A Escola Batista Pereira foi fundada em 07 de abril de 1957, contando naquela época com
60 alunos e tendo como primeira diretora a Sra. Gertrudes Francisca Antunes. Nos dias atuais a
escola atende cerca de 867 alunos entre a primeira e última série do ensino fundamental, sendo
dirigida pelo o professor Miguel João Laureano.
Os alunos são provenientes de vários bairros do sul da Ilha como: Ribeirão da Ilha, Costeira
do Ribeirão, Rio Tavares, Barra do Sul, Saco dos Limões, Campeche, Areias, Sertão do Ribeirão,
Tapera, Pedregal, Barro Vermelho e Freguesia. A maioria das famílias conta com uma renda
satisfatória, sendo que os mais carentes são oriundos da região serrana que vêm tentar a vida aqui
em Florianópolis, mais precisamente, nesta região.
A música se faz presente na escola de duas formas: de 1ª à 4ª série, como parte das
atividades desenvolvidas pelos professores generalistas das séries iniciais; de 5ª a 8ª série como
conteúdo obrigatório curricular através da disciplina Artes, onde divide espaço com outras
linguagens como as Artes Plásticas. Neste último caso, conta-se com professores especialistas,
sendo que em cada série é feita a opção por trabalhar uma das duas linguagens artísticas.
A turma com a qual o trabalho será desenvolvido é a 63, uma sexta série do turno da tarde,
onde se fazem presentes trinta e nove alunos que têm como Rose Aguiar sua professora de Artes /
Música durante este ano letivo. A inserção do estagiário dar-se-á de março a novembro de 2007,
cumprindo neste período oito horas de observação, oito horas de auxílio à professora e oito horas de
atuação individual, referente ao primeiro semestre de 2007. No segundo semestre, toda a carga
horária será destinada à atuação direta do estagiário, contando, nesta fase, com 12 encontros
distribuídos em 24 horas/aula.
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Este projeto, portanto, visa estabelecer os conteúdos e os modos como eles serão trabalhos e
desenvolvidos em sala de aula, bem como criar condições para que as atividades musicais
desenvolvidas sejam trabalhadas de forma adequada, explorando ao máximo todas as versatilidades
do conhecimento musical que serão discutidas posteriormente ao longo do projeto.
Para isso, três linhas serão tomadas como referência nesta prática pedagógica: (1)
Comunicação e Expressão em Música, que inclui a interpretação, improvisação e composição; (2)
Apreciação Musical, abrangendo não só a escuta, mas o envolvimento e compreensão da linguagem
e conceitos musicais; (3) Música como um Produto Cultural, onde são abordados aspectos musicais
e sons de diversas partes do mundo, em diferentes culturas e períodos históricos diversos.
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2.2 JUSTIFICATIVA
O ensino de música como disciplina curricular na escola cumpre um importante papel na
formação do indivíduo. Através dela o aluno amplia sua sensibilidade, a percepção, a reflexão e a
imaginação, despertando sua criatividade. Desenvolve, com isso, sua capacidade de se posicionar,
de “perceber sua realidade cotidiana mais vivamente, reconhecendo objetos e formas que estão à
sua volta, no exercício de uma observação crítica do que existe na sua cultura, podendo criar
condições para uma qualidade de vida melhor” (PCN, 1997, p.19).
Nesse sentido, a música cumpre um importante papel como uma facilitadora ao
autoconhecimento; no entendimento, compreensão e valorização do “outro”; e no resgate das
relações sociais e humanas, haja vista que a música não constitui em um momento de mero
divertimento, nem apenas em mais um saber a ser adquirido, mas possibilita a nos orientar sobre o
nosso lugar no mundo, na nossa relação com as pessoas e a natureza, oportunizando novas formas
de expressão e comunicação que escapam ao domínio de outras áreas do conhecimento (MÜLLER
e GOMES, 2006; SMALL, 1989).
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2.3 OBJETIVOS
2.3.1 OBJETIVO GERAL
Desenvolver a capacidade de compreensão e expressão das diversas manifestações musicais
através de uma vivência musical criativa envolvendo apreciação, composição, performance
instrumental e vocal.
2.3.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS
Explorar de maneira criativa possibilidades sonoras através da percussão corporal e de
objetos do cotidiano;
Apresentar, ouvir e tocar diferentes instrumentos musicais, estando sempre atento às suas
propriedades sonoras e sua contextualização dentro dos diversos gêneros musicais;
Desenvolver a prática instrumental em conjunto, explorando diversas formações
instrumentais na expectativa de desenvolver a habilidade de ouvir ou ‘outro’ antes de tocar;
Desenvolver técnicas para o domínio instrumental e vocal.
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2.4 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
As três vertentes selecionadas neste projeto, (Comunicação e Expressão em Música;
Apreciação Musical; Música como Produto cultural) estão de acordo com os Parâmetros
Curriculares Nacionais (PCN) em Arte emitidos pelo Ministério da Cultura em 1997, que
acompanham o processo de implantação da Lei de Diretrizes e Base de 1996 (LDB - Lei9394/96).
O objetivo deste documento é dar orientações às escolas e professores sobre como elaborar seus
currículos, selecionar os conteúdos, definir metodologias e critérios de avaliação. Desse modo, nos
próximos parágrafos, procurar-se-á discutir essas três linhas sob o ponto de vista de diferentes
autores.
Comunicação e Expressão em Música inclui interpretação, improvisação e composição.
Swanwick (1979) defende que estas são as três formas básicas de se vivenciar a música de forma
adequada. Hentschke e Del Ben (2003), sintetizam bem o pensamento de Swanwick ao afirmar que,
segundo ele,
é possível vivenciar a música de três maneiras: compondo, executando ou apreciando. As atividades de composição, execução e apreciação são aquelas que propiciam em envolvimento direto com a música, possibilitando a construção do conhecimento musical pela ação do próprio indivíduo (HENTSCHKE e DEL BEN, 2003, p. 180).
Swanwick (1979) também reconhece outros dois parâmetros que, embora classificados
como complementares, devem ser levados em conta pelo professor. São eles: técnica e literatura.
A técnica refere-se à aquisição de habilidades, que incluem controle técnico vocal e instrumental, desenvolvimento da percepção auditiva, da leitura e escrita musical. A literatura abrange estudos históricos e musicológicos, o que chamamos de conhecimento sobre música: contexto da obra, carreira do compositor ou intérprete, análise, estilo, gênero, etc (HENTSCHKE e DEL BEN, 2003, p. 180).
Estes dois parâmetros apontados por Swanwick também estão sendo abordados neste
projeto, fazendo parte dos objetivos específicos citados anteriormente.
Tourinho (1993), concorda com Swanwick, apontando esses três aspectos (composição,
interpretação e apreciação) como fundamentais na prática escolar. Segundo ela
As atividades musicais na escola podem ser classificadas em três categorias: (a) as de execução, onde o aluno canta ou toca (incluindo o uso do corpo como um instrumento); (b) as de descrição [tendo como base audição, combinada ou não com a execução], quando o aluno demonstra, através de movimentos, imagens, palavras ou notação, a compreensão
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de produtos sonoros presentes ou internalizados; (c) e as de criação, incluindo composição e improvisação. Essas três categorias compreendem um universo bastante extenso de atividades musicais que podem ser realizadas em sala de aula (TOURINHO, 1993, p.92-93).
A importância da interpretação, composição, experimentação, improvisação, bem como a
apreciação, serão discutidas posteriormente no tópico abordagem metodológica.
Apreciação em Música aborda em seu contexto a audição ativa, percepção, análise critica e
sistemática da música. A audição ativa “deve ir além do desenvolvimento de respostas prazerosas à
música” (LEONHARD, 1972 apud TOURINHO, 1993, p. 108), do gosto individual, dos aspectos
emocionais, devendo propiciar aos alunos a oportunidade de entender formas distintas de música,
seus significados, conceitos, contextos, refletindo sobre eles de modo consciente, capacitando não
só ao entendimento dos aspectos melódicos, harmônico, ritmos, estruturais, mas também
considerando fatores inerentes ou não à própria música. Cardoso (2007) reforça que “Tais
habilidades começam a se tornar consistentes no início da aprendizagem musical e, diante de tais
conhecimentos perceptivos, um outro horizonte de escuta se abre para o indivíduo: uma escuta
pensante e analítica sobre os parâmetros que constroem a música”.
Além do mais é preciso ter em conta que “[...] o desenvolvimento musical do aluno por meio
da apreciação, certamente, influenciará a sua atividade de execução e/ou composição e vice-versa”
(HENTSCHKE e DEL BEN, 2003, p. 181).
Música como Produto Cultural deve ser abordada como uma atividade humana, repleta de
significados, simbologias, história e tradição. Ela representa uma maneira de usar a linguagem no
sentido de explorar, afirmar e celebrar nossos conceitos e a maneira como nos relacionamos, como
devemos nos relacionar com nós mesmos, com os outros seres humanos e com o mundo (SMALL,
1989).
Em cada cultura, em cada país ou região, a música representa valores e funções diferentes,
por isso, os educadores musicais devem estar atentos em trabalhar com a diversidade cultural,
procurando quebrar com os preconceitos, trazendo para a sala de aula músicas de culturas menores,
principalmente àquelas ligadas à origem do país ou da região onde o trabalho será desenvolvido.
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2.5 ABORDAGEM METODOLÓGICA
As novas correntes da educação musical nos dias atuais procuram oferecer ao aluno mais do
que a habilidade de tocar um instrumento. Procura-se proporcionar a ele um contato íntimo com a
música e que este contato esteja comprometido com sua a realidade sócio-cultural, com sua época,
com seus anseios e desejos; em outras palavras, “[...] o objetivo específico da educação musical é
musicalizar, [...] tornar um indivíduo sensível e receptivo ao fenômeno sonoro, promovendo nele,
ao mesmo tempo, respostas de índole musical” (GAINZA, 1988, p.101).
Desse modo, a proposta metodológica neste trabalho é introduzir desde os primeiro passos
com elementos como: experimentação, improvisação livre e estruturada, criatividade, composição,
percepção auditiva através da apreciação musical, corporalidade, performance em grupo, etc,
privilegiando os aspectos práticos antes de introduzir conceitos, atributos e os fundamentos teóricos
próprios da linguagem musical.
A improvisação e composição aqui sugeridas não são aquelas relacionadas às grandes
performances dos músicos jazzistas e eruditos – onde há, muitas vezes, uma preocupação maior
com exibicionismo de virtuosidade do que com a musicalidade em si –, mas sim um instrumento
que tem como meta a criação de uma idéia musical, com lógica e sentido expressivo. Desse modo,
uma das preocupações iniciais é a idéia de eximir nos primeiros contatos com os instrumentos os
conceitos de certo e errado, bonito e feio, permitindo ao aluno um contato intimo e próprio com os
instrumentos, com seu corpo e com sua voz, explorando todos os seus recursos sonoros de acordo
com sua criatividade e possibilidade.
Experimentando e improvisando, sempre antes de introduzir conceitos, o professor
possibilitará ao aluno uma maior liberdade, despertando a vontade de descobrir por si, habituando-o
a ouvir e pensar por conta própria, facilitando o auto-conhecimento e o desenvolvimento da
personalidade. Para tanto, é preciso entender que improvisar e
[...] experimentar está ligado à permissão do erro. O permitir-se errar, trocando o medo pelo conhecimento que se adquire ao ousar-se fazer alguma coisa, pouco a pouco traz a segurança que é fundamental para a aprendizagem. [...] O medo de errar interfere na corrente energética, na sintonia da pessoa com os sons, na carga de afetividade que dever ser mantida entre músico e instrumento (CAMPOS, 2000, p.78).
Esse tipo de problema acaba interferindo na qualidade sonora de praticamente todos os
músicos ao longo de sua vida, pois desde os primeiros passos foi instruído em acertar as notas e, no
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entanto, pouca ênfase costuma se dar em sentir o que está tocando, em sentir o instrumento e ouvir
o som que está produzindo.
Criando e compondo pequenos trechos, pequenas células rítmicas com diferentes timbres,
percebendo o contraste e a variação de parâmetros sonoros (altura, timbre, intensidade, duração e
densidade), o aluno perceberá que é possível organizar o som de modo que este crie forma e
sentido. Segundo Swanwick (2003),
[...] a composição (invenção) oferece uma grande oportunidade para escolher não somente como, mas o que tocar ou cantar, e em que ordem temporal. Uma vez que a composição permite mais tomadas de decisão ao participante, proporciona mais abertura para a escolha cultural. A composição é, portanto, uma necessidade educacional, não uma atividade opcional para ser desenvolvida quando o tempo permite. Ela dá ao aluno uma oportunidade para trazer suas próprias idéias à microcultura da sala de aula, fundindo a educação formal com a ‘música de fora’ (op. cit, p.68)
Apreciação Musical com uma análise crítica após a escuta costuma ser bastante estimulante.
Os alunos podem, com isso, ampliar sua percepção desenvolvendo senso crítico e opinião própria.
Assim, terão boas referências que serão importantes, fazendo-os adquirir junto com a prática uma
boa sonoridade, articulação e fraseado, além de conhecer compositores, suas épocas, seus
intérpretes, ampliando seu gosto e admiração pela música. Cabe aqui fazer uma distinção entre
audição sensorial (ouvir), audição afetiva (escutar) e audição mental (ouvir compreendendo o que se
ouve), sendo está última a que deve ser trabalhada e desenvolvida em sala de aula. O treinamento
auditivo tem sido, cada vez mais, um importante recurso utilizado no estudo da música.
A pesquisa de materiais, músicas, ritmos, história dos estilos e compositores pode ser
introduzida como trabalho de casa. A pesquisa é uma forma de ensino que tem sido pouco
explorada nas aulas de música em nossas escolas. Ela “responde ao princípio da escola ativa: em
vez do professor ‘falar’ tudo, deixa uma parte para os próprios alunos descobrirem” (FONTOURA,
1971, p.262). Isso pode servir de estímulo para buscar novos conhecimentos além daqueles visto em
sala de aula, visto que no momento da pesquisa o aluno se depara com uma série de informações
que não foram abordadas pelo programa inicial trazido pelo professor.
Os novos educadores, conscientes de que seu papel não é mais o de mero transmissor de
conhecimentos, mas o de facilitador de uma experiência musical, já não se valerão dos
[...] exemplos que paternalmente lhe ofereciam, prontos para o consumo, os grandes metodologistas; agora quer ser protagonista e não mero transmissor da experiência musical. Com isso, [...] o método, representado por um conjunto de idéias, exemplos e seqüências pedagógicas segundo o enfoque particular de um determinado especialista, será substituído pelo princípio pedagógico, pelo objetivo, pela tendência (GAINZA, 1988, p.104 - 105).
Em resumo, a metodologia aplicada consistirá em:
Aulas expositivas, discussões em grupo e atividades práticas envolvendo: performance,
improvisação, composição e apreciação musical;
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Prática musical envolvendo brincadeiras, jogos educativos, dramatizações;
Interdisciplinaridade com outras disciplinas como: história, geografia e língua portuguesa;
Trazer músicos convidados para tocar e falar sobre música e seu instrumento;
Saída de campo para audição de concerto, visita a museus e outras instituições;
2.5.1 - RECURSOS METODOLÓGICOS
Utilização de recursos áudio visuais com exibição de filmes, vídeos, clipes e documentários;
Utilização de materiais didáticos como livros, partituras, métodos de ensino, softwares, etc.
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2.6 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ALMEIDA, Berenice; PUCCI, Magda. Outras Terras, Outros Sons. São Paulo: Callis, 2003.
BARBATUQUES: In: ITAÚ CULTURAL (BRASIL). Rumos_Brasil da música. São Paulo: Itaú Cultural, 2005. 6 vídeo-disco + 1 CD-Romson., color.
BEINEKE, Viviane. Lenga la Lenga: jogos de mãos e copos. São Paulo: Ciranda Cultural Editora e Distribuidora ltda, 2006.
BRASIL, Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros Curriculares Nacionais: arte. Brasília: MEC/SEF, 1997.
BRITO, Teca Alencar de. Música na Educação Infantil: propostas para a formação integral da criança. 2ª ed. São Paulo: Peirópolis, 2003.
CAMPOS, Moema Craveiro. A Educação Musical e o Novo Paradigma. Rio de Janeiro: Enelivros, 2000.
CARDOSO, Aldo de Oliveira. A diferença de escuta musical entre indivíduos: uma investigação sobre a formação da escuta no início da aprendizagem musical. Disponível em: <http://br.geocities.com/aldodoc/projeto.htm> Acessado em: 09/04/2007.
FONTOURA, Amaral. Didática geral. Rio de Janeiro: 17ª Ed. Aurora, 1971.
GAINZA, Violeta Hemsy de. Estudos de Psicopedagogia Musical. São Paulo: Ed. Summus, 1988.
HENTSCHKE, Liane; DEL BEN, Luciana. Ensino de música: propostas para pensar e agir em sala de aula. São Paulo: Moderna, 2003.
MÜLLER, Vânia Beatriz; GOMES, Rodrigo Cantos Savelli. Música, Comunidade, Subjetivação: um estudo de caso. In: IX ENCONTRO REGIONAL DA ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE EDUCAÇÃO MUSICAL. Anais. ABEMSUL, Londrina, 2006.
MÜLLER, Vânia Beatriz. A Música é, bem dizê, a vida da gente. 2000. Dissertação (Mestrado em Música). Universidade Federal do Rio Grande do Sul, 2000.
SMALL, Christopher. Musica. Sociedad. Educación. Madrid: Ed. Alianza, 1989.
SOLOMON, Jim. The Body Rondo Book: 12 Body Percussion Rondós, Elementary to Advanced. Memphis Musicraft Publications, 1997.
STOMP. Out Loud: The International Stage Sensation Takes to the Streets of New York. DVD, color 50min. 1997.
SWANWICK, Keith. A basis for music education. London: Nfer-Nelson, 1979.
SWANWICK, Keith. Ensinando música musicalmente. São Paulo: Moderna, 2003.
TOURINHO, Irene. Usos e funções da música na escola pública de 1º grau. In: FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO MUSICAL, 1. Porto Alegre: UFRGS, 1993.
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UNIVERSIDADE DO ESTADO DE SANTA CATARINA
CENTRO DE ARTES
DEPARTAMENTO DE MÚSICA
RELATOS DAS AULAS
SEMESTRE 2007 /1
FLORIANÓPOLIS
2007
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3.1 INTRODUÇÃO
Segundo orientações do Departamento de Música da UDESC, o Estágio Curricular I deve se
dar em três etapas. A primeira consiste em quatro aulas de observação, a segunda em quatro aulas
de auxílio ao professor, e a última em quatro aulas de atuação. Contabilizando, assim, um total de
18h aulas divididas em doze encontros (cada encontro consiste em uma aula faixa). Desse modo, os
relatos serão expostos e subdivididos desta mesma forma.
Os planos de aula aqui presentes são referentes às quatro aulas de atuação. Os demais planos
foram elaborados pela professora da classe e, por isso, não serão apresentados neste relatório.
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3.2 PLANOS DE AULA 01 ao 04
3.2.1 PLANO DE AULA Nº 1
Data: 16-05-2007 Horário: 2h30 às 4h15 Escola Básica Batista Pereira 6ª. Série – turma 63
OBJETIVOS
- Vivenciar a prática da percussão corporal.
- Desenvolver o senso rítmico através do uso da percussão corporal.
- Realizar o arranjo para percussão corporal com instrumentos de percussão tradicionais.
CONTEÚDOS
- Ritmo.
- Polifonia Rítmica.
- Repertório para Percussão Corporal.
METODOLOGIA
- Realizar a peça para percussão corporal Alpha Six (anexo 5) passando cada seção (A, B e C) separadamente, juntando-as uma a uma à medida que foram sendo assimiladas.
- Tocar as seções da peça simultaneamente (ao invés de realizá-las em seqüência), experimentando assim a polifonia rítmica. Executar, desse modo, as seções A + B juntas. Depois A + C, em segunda, B + C.
- Transferir o arranjo para percussão corporal para os instrumentos tradicionais de percussão. Desse modo, será dividida as três grades do arranjo corporal entre instrumentos graves, médios e agudos de percussão.
RECURSOS - Instrumentos de percussão tradicionais (surdo, caixa, agogô, triangulo, tambor, tamborim, ganzá, bongô, etc).
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3.2.2 PLANO DE AULA Nº 2
Data: 23-05-2007 Horário: 2h30 às 4h15 Escola Básica Batista Pereira 6ª. Série – turma 63
OBJETIVOS- Conhecer e tocar instrumentos alternativos de percussão.
CONTEÚDOS - Ritmo.
- Repertório para Percussão Alternativa.
METODOLOGIA
- Revisar as peças para flauta Minha Canção (anexo 1) e Sansa Kroma e Cangoma (anexo 2) com acompanhamento de violão feito por mim.
- Assistir o vídeo Music for one Apartment and Six Drummers onde as músicas são feitas exclusivamente com os objetos presentes em um apartamento, caracterizando-os assim como instrumentos alternativos de percussão.
- Distribuir os copos plásticos. Explicar o arranjo, suas passagens, trocas de posições e os diferentes timbres a serem explorados com os copos. Passar cada nota (posição) separadamente com seu respectivo movimento, juntando-as uma a uma até formar a frase completa.
- Tocar as duas peças para flauta, revisadas no começo da aula, com o acompanhamento rítmico aprendido com copos plásticos. Assim, enquanto metade da turma faz a melodia da flauta, a outra metade executa a rítmica dos copos.
- Ouvir a gravação do arranjo Escatumbararibê (anexo 3), do livro Lenga la Lenga, do qual foi extraído o acompanhamento rítmico feito pelos copos plásticos. Desse modo, a audição do CD vai ser referencial para a assimilação do ritmo. Dependendo da receptividade será proposto tocar e cantar este arranjo com a turma.
RECURSOS
- Flauta. - Violão. - Copos plásticos. - Sala de vídeo com aparelho de DVD. - Aparelho de som para ouvir o CD. - Material Didático: livro Lenga la Lenga............................................(ver bibliografia)
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3.2.3 PLANO DE AULA Nº 3
Data: 30-05-2007 Horário: 2h30 às 4h15 Escola Básica Batista Pereira 6ª. Série – turma 63
OBJETIVOS
- Realizar as músicas Minha Canção e Sansa Kroma com flautas (melodia) e copos plásticos (acompanhamento rítmico).
- Conhecer uma música nova Doeba (anexo 4), para se realizada com canto e copos.
CONTEÚDOS - Repertório para Flauta.
- Ritmos para os copos plásticos.
METODOLOGIA
- Colocar no quadro o ritmo e as posições (movimentos) a serem realizadas pelos copos plásticos pela turma. Ao final da aula, deixar um tempo para copiarem no caderno para poderem estudar em casa.
- Distribuir os copos plásticos. Revisar cada movimento, as passagens de mãos, as trocas de posições, passando cada nota (posição) separadamente com seu respectivo ritmo, juntando-as uma a uma até formar a frase completa.
- Tocar duas peças para flauta, Minha Canção e Sansa Kroma, com o acompanhamento rítmico aprendido com copos plásticos. Enquanto uma parte da turma toca a melodia com a flauta, outra parte executa a rítmica com os copos.
- Aprender uma nova levada rítmica com os copos. Tocar a nova levada simultaneamente com a primeira experimentando, assim, a sonoridade das duas ao mesmo tempo. Esta segunda levada servirá de preparação para introduzir uma nova música (Doeba).
- Apresentar a música nova (Doeba). Cantar e tocar com os copos (2ª levada) para os alunos apreciarem, de modo a perceber a recepção da turma para trabalhá-la ou não nas próximas aulas.
RECURSOS
- Flauta.
- Violão.
- Copos plásticos.
- Canto.
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3.2.4 PLANO DE AULA Nº 4
PLANO DE AULA Nº 4
Data: 06-06-2007 Horário: 2h30 às 4h15 Escola Básica Batista Pereira 6ª. Série – turma 63
OBJETIVOS- Ensaiar as músicas para a apresentação.
CONTEÚDOS
- Repertório para flauta e canto.
- Percussão corporal.
- Ritmos com os copos plásticos.
METODOLOGIA
- Tirar as carteiras da sala de aula, deixando apenas as cadeiras, para começar a simular o espaço para a apresentação.
- Fazer um grande círculo com os alunos para facilitar a visualização entre todos. Geralmente a turma fica em fileiras, o que não favorece muito a comunicação na hora de tocar.
- Explicar a importância da apresentação, a necessidade da colaboração e empenho de todos para o sucesso da atividade.
- Colocar no quadro a ordem das músicas que serão trabalhadas neste ensaio, destacando as entradas de cada instrumento no decorrer das peças. Ou seja, organizar uma espécie de ‘guia’ para facilitar o entendimento do que cada naipe de instrumento vai fazer durante a apresentação.
- Passar todas as músicas: Sansa Kroma, Minha Canção e a peça AlphaSix para percussão corporal, sendo que está última também será feita com os instrumentos tradicionais de percussão.
RECURSOS
- Flauta.
- Violão.
- Copos plásticos.
- Instrumentos de percussão.
- Canto.
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3.3 RELATOS
3.3.1 RELATOS DE OBSERVAÇÃO
3.3.1.1 – 1o encontro - 07/03/2007
Primeiramente a professora me apresentou para a turma. Disse para os alunos que eu estaria
participando durante este ano das aulas de música para começar a ter experiência e conhecer um
pouco a escola, pois um dia eu também seria professor.
Neste dia a aula foi toda focada no ensino da flauta doce soprano. Antes de começar a tocar
a professora enfatiza sempre a postura ideal e necessária para uma boa realização instrumental.
Coluna reta, sem mochila nas costas, sem chicletes na boca, sem não apoiar os braços na carteira,
colocar a carteira mais na frente para ter um pouco de espaço para movimentação, etc. Também se
preocupa com o alinhamento das carteiras, procurando fazer com que estejam sempre em linha reta,
com os alunos virados para frente, em direção ao quadro.
Como havia alguns alunos novos que nunca tiveram aula de música, a professora fez uma
revisão do conteúdo visto no ano passado. Desse modo, trabalhou com as notas “sol”, “lá”, “si”,
“ré” grave e “ré” agudo. Passou uma nota de cada vez, procurando enfatizar a afinação. Ela tocava e
os alunos repetiam na seqüência.
Em seguida, passou as mesmas notas, mas desta vez com um ritmo (figura 1) diferente para
cada uma delas. O ritmo foi coloca do quadro para que praticassem a leitura musical.
Como estavam tendo uma certa dificuldade na realização rítmica, fizeram o mesmo
exercício, desta vez sem as flautas, mas batendo palmas. Quando já conseguiam fazer cada linha
separadamente, a professora propôs que fossem feitos todos na seqüência, sem parar entre um e
outro.
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Figura 1: exercício para flauta
Logo após este exercício, começou a trabalhar as notas no pentagrama. Fez com que
localizassem as mesmas notas trabalhadas até então entre as linhas e os espaços do pentagrama.
Em seguida, colocou as notas no quadro (figura 2) - fazendo também o desenho da flauta
com as notas pintadas – para que copiassem no caderno e pudessem praticar e lembrar as posições
em casa.
Figura 2: exercício para flauta com pentagrama
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3.3.1.1 – 2o encontro – 14/03/2007
Neste dia, a aula foi também bastante direcionada para o estudo da flauta doce.
Primeiramente a professora colocou no quadro todas as notas da escala de dó maior, na clave de sol,
com desenhos de degraus subindo e descendo de acordo com a altura da nota.
Figura 3: escala para ser realizada com a flauta
Pediu para que todos pegassem a flauta e, assim como na aula anterior, procurou alertar os
alunos sobre a necessidade de tocar com uma postura adequada. Todos tocaram várias vezes na
flauta a escala que estava no quadro. A maioria da turma, pela sonoridade, parecia estar
conseguindo acompanhar, contudo, pude perceber que vários alunos ao meu lado apresentavam
bastante dificuldade na realização do exercício. Um dos motivos é que nesta turma entraram vários
alunos novos que ainda não tiveram contato com o instrumento – que já vem sendo trabalhado
desde o ano passado com esta classe.
Logo após, a professora distribuiu a partitura da música Minha Canção (anexo 1) e pediu
para que numerassem os compassos na partitura. Surpreendentemente um aluno logo percebeu o
jogo das notas com a letra (em cada frase a letra começa sempre com uma palavra que faz
referência ao nome da nota musical que está sendo tocada). Em seguida, tocaram apenas o primeiro
compasso da música, trabalhando principalmente o aspecto rítmico, sendo realizado tanto nas
flautas como também com palmas.
No final da aula a professora colocou um CD para ouvirem. Selecionou duas músicas que
seriam trabalhadas pelos alunos durante os próximos meses para que pudessem ir se familiarizando
com ela. Os alunos logo reconheceram as músicas, já que as mesmas haviam sido apresentadas
pelos alunos da sexta série do ano passado.
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3.3.1.1 – 3o encontro – 21/03/2007
Este encontro foi focado no estudo da música Minha Canção. Foram passadas todas as notas
na flauta e foi dada uma atenção especial à parte rítmica da música. Primeiramente a professora
colocou no quadro os quatro últimos compassos da música, mas apenas o ritmo, assim como
exposto na figura 4.
Figura 4 – rítmica da música “minha canção”.
Pediu para que todos tocassem a nota “sol”, exigindo o controle sobre a afinação de modo
que todas as flautas fossem ouvidas como se fosse apenas uma só. Depois pediu para que todos
tocassem o ritmo acima com a nota “sol”. Em seguida solicitou para que tocassem com a nota “do”
e, assim por diante. Mais tarde, quando o ritmo estava saindo melhor, dividiu a turma, fazendo cada
grupo tocar o mesmo ritmo só que, desta vez, com notas diferentes, formando, assim, acordes.
Percebi que a sonoridade agradou a turma, olhavam uns para os outros com cara de impressionados.
A professora aproveitou para perguntar para os alunos o que eles acharam de tocar notas diferentes
e o que perceberam da sonoridade.
Depois disso tocaram a música Minha Canção por inteiro, contudo a turma apresentou
bastante dificuldade para realizá-la corretamente. Sendo assim, a professora, para pressioná-los a
estudar, marcou para a próxima semana uma prova sobre a música, onde cada um terá que tocá-la
individualmente na flauta.
Na segunda parte da aula foi feita a leitura individual de uma apostila sobre música africana
trazida pela professora. Nela são abordados os instrumentos africanos e a influência sobre a música
deste continente na cultura brasileira.
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3.3.1.1 – 4o encontro – 28/03/2007
A aula começou com o estudo da música Minha Canção. Foi relembrado o ritmo da música
e as notas na flauta. Os alunos estavam apreensivos, pois sabiam que hoje seria feita a prova de
música.
Antes da avaliação, como um dos exercícios de aquecimento, foi proposto tocar a música de
trás pra frente, começando pelo último compasso e acabando no primeiro. Após todos tocarem
várias vezes a música, foi iniciada a avaliação, onde cada aluno deveria tocar sozinho a música
inteira.
Primeiramente a professora abriu espaço para aqueles que estavam seguro e tinham estudado
para que fizessem a prova primeiro. Vários alunos se ofereceram para tocar. Nenhum deles
conseguiu tocar a música completa, mas foram aplaudidos pelo esforço em tentar. Após mais ou
menos 10 pessoas tocarem a professora decidiu encerrar a avaliação, pois levaria muito tempo para
os 36 alunos tocarem a música individualmente, além do mais, ainda não estavam preparados para
tocar a música completa. A professora comentou para mim que marcou a avaliação apenas como
uma forma de pressionar para estudarem em casa, pois estava percebendo que eles não estavam se
dedicando no estudo do instrumento.
Na segunda parte da aula foi distribuída a partitura da música Sansa Kroma e Cangoma
(anexo 2). Foi feita uma contextualização da música, explicando a origem do ritmo Tambores de
Mina. Em seguida foram analisadas as notas da partitura, onde a professora sorteava um aluno para
dizer quais eram as notas em determinado compasso da música. Explicou o que era uma ligadura, já
que este elemento musical aparece nesta partitura e, posteriormente, soletrou a letra da música para
que todos entendessem o dialeto. Em seguida, cantou sozinha a letra com a melodia, sendo que as
crianças repetiam na seqüência. Isso foi feito várias vezes. Também fizeram um jogo de perguntas e
resposta com a música. A professora cantava a primeira frase e os alunos respondiam a segunda. No
final da aula, foi colocado um CD com uma música, onde os alunos puderam cantar junto com a
gravação.
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3.2 RELATOS DE INTERAÇÃO
3.3.2.1 – 5º encontro – 18-04-2007
Na semana anterior, pedi para a professora para que ela começasse a me incluir de alguma
maneira nas atividades da aula. Como eu já tinha feito as quatro observações, agora começaria a
etapa de auxílio ao professor.
Ela sugeriu então que eu tocasse violão, acompanhando as melodias que estavam sendo
estudadas na flauta por esta turma. Na apostila sobre música africana que ela distribuiu aos alunos,
vi que tinha uma série de instrumentos que estavam sendo citados ali que eu tinha em casa. Sugeri,
então, que eu poderia trazer estes instrumentos, mostrar para a turma e falar um pouquinho sobre
cada um. A professora achou uma ótima idéia e ainda sugeriu que, como eu vou de carro para o
estágio, poderia passar antes na escola do Morro das Pedras – fica muito próximo à escola onde
atuo – e trazer os instrumentos daquela escola para enriquecer ainda mais a variedade instrumental
para a aula. Assim foi feito.
Na primeira parte da aula foi feito um trabalho voltado para as flautas. Desta vez, em vez de
ficar no fundo da sala, me posicionei na frente, sentado ao lado da porta, de frente para os alunos.
No começo me senti um pouco desconfortável, com todos os olhares, mas logo fui me
acostumando. A professora pediu para que todos pegassem a partitura e tocassem a música Minha
Canção que já vinha sendo estudada desde há muitas semanas por esta turma. Peguei o violão e fiz
um acompanhamento harmônico que tinha elaborado em casa. Tocamos várias vezes do início ao
fim, sem parar. Um aluno comentou que com o violão fica até mais fácil de tocar. E, realmente, o
resultado foi muito bom.
De vez em quando a professora parava e pedia que cuidassem com a afinação, como o
volume de ar, com a postura ao tocar, acertando os detalhes para não deixar a música perder sua
vivacidade. Além dos alunos já estarem com a música bem mais firme na flauta, houve pela
primeira vez nesta turma uma sensação de tocar com musicalidade, com fluência, vivenciando e
sentindo a música. Até mesmo algumas as pessoas (alunos, professores e funcionários) que
transitavam pelos corredores pararam alguns instantes para ouvir a música que estava acontecendo
dentro da sala de aula. Isso foi relatado também pela professora na conversa que tivemos ao final
do encontro.
A segunda música que tocaram foi a Sansa Kroma, que começou da mesma forma, os alunos
tocando flauta e eu com o violão. A professora dava as entradas e cuidava para manter a música
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firme. Depois de tocar algumas vezes ela perguntou se alguém queria tocar o bongô. Várias pessoas
levantaram a mão e ela escolheu alguém para tocar. Assim, tocamos mais uma vez com as flautas, o
violão e o bongô. Ela pediu que prestassem atenção como soaria a música com esse elemento a
mais. Depois de tocado, a professora perguntou quem queria tocar o agogô, novamente vários
alunos levantaram a mão e ela escolheu alguém para tocar. Tocamos uma vez com esses
instrumentos. A cada rodada da música ela ia inserindo um instrumento a mais, sempre pedindo
para que a turma percebesse como a música ia se transformando à medida que entravam novos
instrumentos.
Em casa, preparei um ritmo para trabalhar na aula (uma das levadas rítmicas dos Tambores
de Mina), mostrei para a professora no intervalo e combinamos que se sobrasse algum tempo, no
final da aula faríamos esta atividade. Contudo, devido a um atraso da aula, por causa de uma bronca
do Coordenador Pedagógico por mau comportamento da turma, não deu tempo de fazer este
exercício, que acabou ficando para o próximo encontro.
Na segunda parte da aula foi feita, então, a apresentação e apreciação sonora dos
instrumentos que reunimos dos vários locais já citados. Esta atividade a professora deixou por
minha conta, cabendo a mim, mostrar cada instrumento, falar um pouco sobre eles e interagir com a
turma de forma a que participassem e mantivessem o interesse. Usei várias dinâmicas que observei
e aprendi com a professora, como por exemplo: fazer perguntas para interagir com a turma, criando
curiosidade, ao invés de só expor o conteúdo com as respostas prontas; deixar alguns alunos falarem
o que já sabem sobre aquele instrumento, para depois complementar; deixar os mais interessados
fazerem a demonstração sonora para os demais colegas; etc.
Com sabia que a professora havia passado questões (com base na apostila sobre música
africana) sobre os instrumentos musicais para que respondessem em casa, procurei resgatar essa
atividade para introduzir cada instrumento, relacionando com as respostas que haviam formulado
em casa. Desse modo, foram apresentados:
Xequerê;
Agogô – Foi mostrado um feito de metal e outros dois de madeira, de diferentes tamanhos,
destacando a diferença sonora de cada um e como o material e tamanho influenciam no
timbre e altura;
Cítara – Foi falado sobre sua origem, e sobre como os instrumentos atuais se originaram
deste (ancestral do violão, piano, harpa);
Pau-de-chuva (origem na áfrica e nas Américas);
Alfaia (maracatu);
Kalimba;
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Símbalo oriental;
Tambores de vários tamanhos e diferentes materiais. Foi mostrado como que o tamanho de
cada um influencia na altura e no volume sonoro. Surgiu uma curiosidade, pois um dos
tambores apresentava pêlos no couro, com isso foi mostrado da onde vem esse material (o
couro do boi) e que diferença faz no som ter pelos ou não no couro;
Chocalhos e os diversos modelos (indígenas, africanos, cubanos, etc).
Acredito que havia mais instrumentos, mas a memória agora não está me permitindo recordar de
todos eles.
Ao final da aula, combinamos que todos os instrumentos seriam deixados escola por uma
semana, para serem aproveitados também pelas outras turmas e para a aula da semana seguinte. A
professora manifestou para a turma a dificuldade que tivemos para reunir todos esses instrumentos,
o trabalho de pesquisa feito sobre o repertório, instrumentos e cultura africana, de modo a despertar
nos alunos a valorização pela aula de música, visto que, nos últimos encontros foi difícil manter o
controle dos alunos por causa de muitas conversas em aula e mau comportamento de alguns
colegas. Nesta semana os estudantes já haviam sido ‘punidos’ com a troca da aula de Educação
Física por leitura e ditado e, caso não se comportassem, seriam castigados também sem aula de
música.
3.3.2.2 – 6º encontro – 25-04-2007
Na primeira parte da aula, foi feita uma atividade semelhante àquela da aula anterior. A
professora pediu para que tocassem a música Sansa Kroma na flauta e alguns alunos
acompanhassem com determinados instrumentos de percussão. Eu, assim como na aula anterior, fiz
um acompanhamento harmônico no violão. A percussão foi escolhida com cautela pela professora,
tendo o cuidado de inserir apenas alguns instrumentos para que todos fossem ouvidos. Foram
distribuídos um bongô, um afoxé, uma alfaia e mais uns dois instrumentos – não me lembro
exatamente quais – para os alunos que se mostraram mais interessados em participar da atividade.
A música começava com o violão dando o andamento, logo entrava as flautas e, em seguida,
os instrumentos de percussão, um de cada vez. A professora sempre regia a entrada de cada
instrumento. A levada da percussão era sugerida que fosse feita de forma livre, o aluno deveria
sentir o ritmo e tentar de alguma maneira seguir a música. Muitos não conseguiam e quando tinham
dificuldade, a professora demonstrava como poderia ser feito o acompanhamento. Contudo, havia
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uma grande dificuldade dos alunos com percussão em manter o andamento da música, por isso a
professora, na segunda parte da aula, introduziu um exercício rítmico (figura 5) para corrigir o
problema.
Figura 5: exercício rítmico.
Para a realização deste exercício foram distribuídos todos os instrumentos de percussão entre
os alunos. Todos escolheram livremente aquele que mais lhe agradava. Alguns destes instrumentos
eram da escola e outros foram trazidos por mim na semana anterior. A idéia era relembrar o
conceito de semicolcheia introduzido na aula passada (encontro que não participei, pois se trata
daquela aula solta – nesta escola são três aulas de artes por semana e eu assisto apenas a aula faixa)
e trabalhar andamento e pulsação, que são as maiores dificuldades da turma.
Primeiramente a turma toda tocou as quatro linhas separadamente, até relembrarem a
diferença entre semínima, colcheia e semicolcheia. Surgiu em vários momentos uma tendência de
aceleração, principalmente quando tocavam as semicolcheias. Para tentar corrigir a dificuldade, a
professora sugeriu que os instrumentos graves (surdo, rebolo e alfaia) tocassem a primeira linha –
onde as notas marcam o pulso do compasso –, enquanto que os outros instrumentos tocariam as
demais linhas, uma de cada vez, tentando segurar o andamento. Essa divisão trouxe bons resultados,
e foi mais fácil para a turma manter a pulsação do exercício sem acelerar.
Num segundo momento, foi sugerido que as quatro linhas fossem tocadas simultaneamente,
mas, para isso, foi feita uma divisão de naipes para cada pentagrama. Os instrumentos graves
tocaram a primeira linha, chocalhos a segunda linha, os tambores pequenos e agogôs a terceira
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linha, e, os tamborins, a quarta linha. Para que houvesse uma melhor compreensão, as células
rítmicas eram introduzidas uma de cada vez, e aos poucos iam se somando. Ou seja, primeiro
tocavam a 1ª e 4ª linha, depois 1ª e 3ª, em seguida 4ª e 2ª, mais tarde, 2ª, 3ª e 4ª linha, e assim por
diante até conseguirem tocar as quatro linhas simultaneamente.
Durante o intervalo da aula, comentei com a professora que seria interessante que todos
experimentassem tocar a primeira linha, ou seja, fazer a marcação do pulso, pois esta parecia ser a
maior dificuldade da turma. Comentei que, em vez de fazer a divisão por instrumento, poderíamos
fazer por fileiras. Assim, cada fileira ficaria responsável por uma linha. Ela gostou da idéia e
sugeriu que eu comandasse esta atividade. Eu aceitei a proposta e assim fizemos.
Como eram seis fileiras, achei que seria interessante que cada linha fosse feita por duas
fileiras. Desse modo, a 1ª e 2ª fileira fizeram a linha nº 1, a 2ª e 3ª fileira a linha nº 2, e a 4ª e 5ª
fileira a linha nº 3. A linha nº 4 foi abandonada nesta atividade. Cada par de fileiras entrava
separadamente, quando percebia que estavam conseguindo segurar o ritmo eu introduzia outro par
de fileiras para fazer a outra linha junto com a anterior. Quando as duas linhas estavam bem
ajustadas eu introduzi a 3ª linha, deixando que tocassem por um tempo para percebessem a
polifonia rítmica. O exercício deu certo, e a turma conseguiu realizar com certa facilidade. Sendo
assim, resolvi inverter a ordem das fileiras. Agora cada par de fileiras ficaria responsável por outra
linha. A idéia era a mesma, uma linha começava sozinha, depois outra entrava tocando junto e, mais
tarde, entrava a 3ª linha. Essa inversão também deu bons resultados, embora não saísse tão bem
quando a primeira vez. Logo, fiz uma nova inversão com as fileiras, seguindo a mesma idéia.
Desta vez o resultado acho que já não foi tão bom. A fileira responsável pelo pulso não
conseguia segurar o andamento e as outras fileiras já estava se confundindo em qual linha deveriam
tocar. Acho que isso pode ter acontecido por vários motivos. Primeiro por que já estávamos há
muito tempo com a mesma atividade, e o nível de concentração já estava se comprometendo. Já
estava muito próximo do final da aula e, conseqüentemente, o cansaço já tomava conta de alguns
alunos. Também havia uma razão musical por não ter dado tão certo o exercício. Os instrumentos
graves ficaram todos fora da linha que mantêm o pulso, tirando um pouco da estabilidade rítmica.
Contudo, percebi que o nível de consciência da pulsação melhorou significativamente desde
o começo da aula com o exercício – e suas diversas variações – proposto pela professora. Acredito
também que ficou bem evidente para a maioria dos alunos a diferença entre semínima, colcheia e
semicolcheia após esta atividade.
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3.3.2.3 – 7º encontro – 02-05-2007
Neste dia, a professora organizou a turma segundo o ‘espelho de classe’ e pediu que, a partir
de agora, todos sentassem nos lugares definidos por este ‘espelho’. Na primeira parte da aula a
professora conversou com os alunos sobre as questões discutidas no conselho de classe – reunião
que também contou com participação dos alunos. Infelizmente, devido a problemas de horário, eu
não pude comparecer nesta reunião.
A professora teve uma conversa bastante dura com a turma, já que no conselho foi apontada
como a turma mais problemática da escola. Essa conversa, em tom de bronca, tomou grande parte
da 1ª aula e, segundo meu ponto de vista, foi realmente necessária, tendo em vista que esta turma
costuma fazer muita bagunça, com muita conversa paralela entre os alunos e pouca concentração
nas atividades. Durante minhas observações, em quase todas as aulas as atividades tinham que ser
interrompidas a cada cinco minutos para chamar atenção de alguém, inclusive, em alguns casos,
tendo que mandar alunos para fora da sala de aula devido ao mau comportamento.
Depois da bronca, a professora pediu que terminasse de responder numa folha as questões
sobre música africana que ela havia passado em um momento anterior. Essas questões deveriam ser
entregues para a professora, valendo nota para os alunos.
Durante o intervalo, na sala dos professores, a professora comentou que havia planejado
uma atividade de apreciação para a segunda aula, onde colocaria um CD com diversas músicas para
serem ouvidas e comentadas com os alunos. Contudo, a sala de artes estava sem energia elétrica
devido às reformas na escola. Ela perguntou se eu havia trazido alguma coisa para fazer com os
alunos, eu disse que não tinha preparado nada, mas comentei que pela manhã havia feito uma
atividade na faculdade – na aula de prática pedagógica I – envolvendo percussão corporal, e se ela
quisesse eu poderia tentar realizá-la com os alunos. E assim fizemos.
Sendo assim, com o consentimento da professora, tomei a frente da turma e comecei a
explicar atividade. Primeiramente contextualizei o que é a percussão corporal, e de que forma
exploraríamos os sons do nosso corpo. Expliquei que faríamos uma música que era feita apenas
com ritmo e que, portanto, não tinha letra, melodia e harmonia. Mostrei quais sons iríamos explorar
através do corpo, neste caso quatro timbres diferentes: estralar de dedos; bater palmas; bater as
mãos na perna; e bater os pé no chão. A música Alpha Six (anexo 5) é estruturada em três seções de
oito compassos cada (A B C). Cada seção foi dividida em duas partes de quatro compassos para
facilitar o aprendizado. A música foi transmitida oralmente, através do processo de imitação. Eu
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realizava várias vezes um trecho e os alunos imitavam na seqüência. Isso exigia muita concentração
por parte deles, sendo, também, uma boa atividade para exercitar a memória.
Quando conseguiram fazer a seção ‘A’ completa, expliquei que havia mais duas seções, a
‘B’ e a ‘C’. Após realizarem com sucesso a seção ‘B’, tentamos juntar as duas seções ‘A’ e ‘B’.
Após várias tentativas, demonstrações e correções conseguiram vencer este desafio. Deste modo,
passei para a seção ‘C’. Está seção já não foi feita com a mesma facilidade quanto às outras e, como
já estava próximo ao final da aula, os alunos já não estavam mais com a mesma a concentração.
Sendo assim, preferi não juntá-las, apenas demonstrei sozinho como ficariam as três seções na
seqüência e disse que, como já havíamos aprendido muita coisa por hoje, tentaríamos juntar a
música inteira na próxima aula.
Esta atividade tomou praticamente toda a 2ª aula, nos minutos finais passei a palavra para a
professora para ela fizesse o encerramento. Ela voltou a ter mais uma conversa com a turma sobre a
questão do comportamento e pediu aos representantes de classe que recolhessem e guardassem os
materiais.
Houve uma boa recepção dos alunos com esta atividade. A grande maioria conseguiu
realizá-la – uns mais facilmente que outros – mas quase todos acompanharam bem e apresentaram
bons resultados. Percebi que a percussão corporal se tratava de uma novidade e, por isso,
demonstraram bastante interesse em aprendê-la.
3.3.2.4 – 8º encontro – 09-05-2007
Hoje não teve aula com a turma, mas sim um conselho de classe com os professores, o qual
eu tive a oportunidade de participar. O conselho foi dividido em 30 minutos de discussão para cada
turma, sendo que a turma 63 – a qual eu estou estagiando – teve a reunião marcada para as 14h30.
Como cheguei um pouco mais cedo, às 14h, aproveitei para assistir o conselho da turma 62, que
antecedia ao da minha classe.
Sobre a sexta série (63), foi levantado que se trata de uma turma muito agitada, os alunos
são muito falantes, não se comportam direito, é uma turma muito numerosa (36 alunos), e isso tem
dificultado muito o trabalho com a turma. Contudo, uma professora comentou que são bons alunos
e o que tem prejudicado na verdade é o excesso de estudantes em uma só turma. Outras duas
professoras discordaram logo em seguida, afirmando que alguns alunos desta turma são maus
mesmo, propositalmente boicotam a aula, fazem ‘esqueminhas’, intrigas e atrapalham muito o
professor. Também foi comentado que não se trata apenas de um grupinho problemático, sendo que
34
maioria da turma apresenta algum desses problemas citados. Por outro lado, foi reconhecido que há
excelentes alunos na turma e que esses estão sendo prejudicados pela maioria, já que não está sendo
possível dar-lhes a atenção necessária devido às constantes interrupções na aula por esses alunos
problemáticos.
Desse modo, foram citados um a um pelos seus nomes: alunos com problema de
aprendizagem; alunos com problema de comportamento; alunos com reprovação, fazendo uma
avaliação do ano anterior, comparando o ano passado com este ano letivo, a fim de verificar alguma
evolução.
Foi sugerida a troca do aluno representante de turma, já que este não estava sendo bom
exemplo para os colegas. Foi proposto também que fossem retirados da sala de aula os alunos
que atrapalhassem a aula do professor, onde deveria ser preparada uma atividade para que eles
fizessem em outro ambiente que não fosse junto a essa mesma turma.
Os encaminhamentos sugeridos foram: chamar os pais para virem à escola conversar sobre
seus filhos com o coordenador pedagógico e conversar pessoalmente com cada aluno
problemático.
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3.3.3 RELATOS DE ATUAÇÃO
3.3.3.1 – 9º encontro – 16-05-2007
Nesta semana comecei minha atividade de atuação, então combinei com a professora que
desta vez eu iniciaria a aula e, caso sobrasse algum tempo, ela entraria para cobrir o espaço. Antes
da aula expliquei que pretendia relembrar a peça Alpha Six para percussão corporal vista no
encontro anterior e trabalhar algumas variações com a mesma como, por exemplo, alternar as
seções, executar duas ou mais seções simultaneamente e experimentar a mesma música com os
instrumentos de percussão.
A professora comentou-me que já havia proposto que lembrassem a música durante a aula
solta de sexta-feira e que vários alunos tinham conseguiram fazer, em especial um garoto que
lembrou a peça completa. Desse modo, inicialmente revisamos as 3 seções (A, B e C)
separadamente. Vários alunos lembraram todas as partes, contudo alguns apresentaram
dificuldades.
Como estavam constantemente acelerando o andamento e fazendo a música num tempo
muito rápido, o som estava saindo embolado e sem precisão. Foi difícil conseguir baixar o
andamento, mesmo marcando o pulso, a tendência deles era sempre correr. Às vezes eu tinha que
parar e pedir para que eles só escutassem e depois tentassem entrar no meu ritmo. Isso aconteceu
com as três seções. Eu esperava uma revisão rápida, mas como havia este problema, tive que passar
várias vezes cada seção e em alguns casos até voltar a subdividi-las para refinar as partes
separadamente.
Após todos relembrarem o exercício propus que o fazê-lo misturando as partes
simultaneamente. Para demonstrar chamei um aluno – um dos mais seguros no exercício – e pedi
para que fizesse apenas a seção “A” quatro vezes enquanto eu alternaria entre “A”, “B” e “C”.
Preferi demonstrar antes de fazer com toda a turma para que fossem se familiarizando com a
sonoridade. Como o aluno que chamei não estava conseguindo fazer sua parte sozinho, chamei mais
dois alunos para dobrarem a voz.
Após demonstrarmos várias vezes passamos a fazer o exercício com toda a turma. Sendo
assim, duas fileiras ficaram responsáveis em executar a seqüência (AAAA) enquanto outras três
fileiras faziam (ABAB). No começo foi difícil manter o ritmo, muitos se perderam e o exercício só
chegou até o final após várias tentativas. Ao perceber que já estava fluindo resolvi inverter as
fileiras para que todos pudessem ter a oportunidade de provar as duas seqüências.
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Ao inverter surgiram novamente as dificuldades, mas após algumas repetições o problema
foi sendo superado. Resolvi então inserir a seção “C”, desse modo, uma parte da turma fazia
novamente (AAAA) enquanto outra executava (ABCA). A essa altura o exercício já estava ficando
um pouco cansativo e o resultado não foi tão bom. A turma estava cada vez mais dispersa e o nível
de concentração diminuía continuamente. Ainda assim, a maioria conseguiu realizar esta atividade.
Tinha planejado mais variações, mas como o intervalo se aproximava e os alunos estavam dispersos
demais, resolvi encerrar a atividade e, logo em seguida, a professora os dispensou para o intervalo.
Após o recreio resolvi retomar o exercício, mas desta vez para realizá-lo com os
instrumentos de percussão. Antes expliquei que poderíamos fazer uma mesma música de várias
maneiras e que não importava necessariamente o objeto sonoro, mas sim a idéia musical.
Assim, cada aluno pegou o instrumento que mais lhe agradava. Como o arranjo para
percussão corporal que eu trouxe divide as vozes em 3 timbres diferentes, decidi dividir os
instrumentos de percussão em grupos de “graves”, “médios” e “agudos”, colocando cada grupo em
um timbre. Dessa vez não havia mais a sobreposição das seções, mas sim a execução das três partes
(A, B e C) na seqüência. O timbre do ‘estralar de dedos’ foi destinado aos instrumentos agudos, as
‘palmas’ para os instrumentos médios e ‘mão nas pernas’ para os graves. Desse modo, cada um
compasso (em média) seria realizado por um desses conjuntos.
A distribuição dos instrumentos, a classificação de cada um deles entre os três tipos (graves,
médios e agudos) e o esforço para manter controle da turma – tendo todos um instrumento na mão e
tocando ao mesmo tempo – tomou grande parte da segunda aula.
Após conter a euforia, tentamos realizar apenas a seção “A”. No começo foi difícil cada um
localizar onde deveria tocar, já que desta vez não tocam todos ao mesmo tempo, cada grupo ficou
responsável apenas por um pedaço da música, devendo tocar apenas naquele instante referente ao
seu timbre. Demorou um pouco até todos assimilarem a nova idéia, mas assim que parte da turma
captou a jogada o exercício começou a fluir melhor. Passamos as três seções (A, B e C)
separadamente – às vezes tendo que subdividi-las em duas partes – e, logo que a sonoridade foi
melhorando, tentamos juntá-las.
O resultado sonoro foi bem interessante. Em certos momentos, alguns trechos da música
lembraram as viradas das escolas de samba. A turma mostrou bastante interesse em realizar o
exercício, embora tenha sido difícil mantê-los em silêncio, sempre se terminava uma parte da
atividade começavam a conversar ou a tocar os instrumentos fora de hora.
No final da aula a professora – como sempre costuma fazer – pediu para que alguns alunos
recolhessem e guardassem os instrumentos nos seus devidos lugares.
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3.3.3.2 – 10º encontro – 23-05-2007
O objetivo da aula de hoje foi trabalhar com instrumentos alternativos de percussão. Como
já vinha desenvolvendo o trabalho com percussão corporal – e este havia sido bem recebido pela
turma – achei que seria uma boa hora para trazer o material Lenga la Lenga (ver bibliografia)
desenvolvido pela professora da UDESC, Viviane Beineike, que trabalha com ritmos de percussão
através do uso de copos plásticos. Mas, como esse material é mais apropriado para crianças de uma
faixa etária menor, trazendo diversas canções infantis, achei que seria mais interessante trazer
apenas a parte rítmica e adaptá-la ao repertório que a turma já vem trabalhando desde o início do
ano.
Sendo assim, na primeira parte da aula revisamos as três músicas que já tinham aprendido:
Sansa Kroma, Minha Canção e a Alpha Six para percussão corporal. O objetivo era fazer uma
revisão rápida, apenas para relembrarem as músicas e dar uma aquecida. O foco mesmo seria o
trabalho de percussão com os copos, fazendo a percussão como acompanhamento para as melodias
aprendidas na flauta. Isso foi explicado para a turma antes de começar as atividades.
A primeira música foi passada inicialmente somente com as flautas. Antes de começar a
tocar, procurei lembrá-los da postura necessária para tocar o instrumento, como sempre costumava
fazer a professora da turma. Nas duas primeiras passadas o ritmo estava saindo impreciso, assim
como a afinação. Achei que seria bom pegar o violão para marcar melhor a pulsação com os
acordes e pedi para que a professora regesse as entradas. Já tinha avisado a professora que,
provavelmente, nesta revisão precisaria um pouco da sua ajuda, já que não tenho experiência com
flauta doce e ficaria um pouco difícil pra mim tocar violão o controlar a turma ao mesmo tempo.
Com o violão e a regência, a música melhorou bastante. Repetimos algumas vezes e passamos para
a música seguinte a Minha Canção. Fiz da mesma forma, primeiro passamos duas vezes a música
apenas com as flautas, e depois mais duas vezes com o violão e a regência da professora. Esta
música saiu bem desde a primeira vez, mas achei que seria bom passar algumas vezes para que
fixassem as notas.
Depois de revisar as músicas na flauta relembramos rapidamente também a percussão
corporal aprendida nas últimas aulas. Neste encontro combinei com a turma uma forma definitiva
para a música, já que das outras vezes fizemos cada vez de um modo diferente. O combinado foi
organizar as seções do seguinte modo: “AA-BB-AA-CC-AA”. Pedi que, caso me esquecesse, era
pra me cobrassem o combinado.
Passamos a música algumas vezes. Primeiro passei cada seção separadamente para que
relembrassem a seqüência rítmica. Logo de início surgiu o mesmo problema da aula passada, a
38
questão da precisão. A tendência da turma é acelerar nas semicolcheias, deixando o som embolado
em várias partes da música. Como estratégia, tentei sempre antes de cada seção pedir para que a
turma apenas me escutasse realizar o trecho várias vezes para depois repetirem. Com isso melhorou
um pouco, mas não o suficiente.
Como a maioria da turma já tem toda a música na memória, acabava que muitos não tinham
paciência para só ouvir e, mesmo pedindo para fazer sozinho, sempre tinha uns 2 ou 3 tentando
fazer juntos. Não quis me deter muito nesta música neste dia, mas ficou claro que preciso pensar em
alguma atividade ou um exercício, para resolver este problema rítmico.
Depois disso, apresentei o material Lenga la Lenga para a turma, mostrei o livro e explique
que se tratava de um método para crianças desenvolvido pelos meus professores e, como ali já eram
todos “bem grandinhos”, não iríamos usar as músicas que estavam no livro, apenas as linhas de
percussão. Coloquei o CD para ouvirem o arranjo da música Escatumbararibê (anexo 3) a qual
extraí o ritmo que iríamos trabalhar nas músicas que eles estão aprendendo na flauta.
Durante a audição alguns ficaram de risadinhas, debochando da música. Após ouvirem a
música uns dois ou três alunos comentaram que haviam aprendido a música na 2ª série, mas que era
um pouco diferente. Outro aluno comentou que a irmã dele participou da gravação do CD. Já era
um pouco esperado que tivessem esse tipo de reação. Durante a audição de algumas músicas
indígenas trazidas pela professora na fase de observação, percebi que alguns alunos tiveram o
mesmo tipo de comportamento. Mas, novamente procurei ressaltar que não iríamos fazer aquela
música, que o objetivo era que escutassem e tentassem identificar que instrumentos tinham, quais
eram os instrumentos de percussão, etc.
Quando falei que o arranjo para percussão era feito com copos todos ficaram muito
surpresos. Depois coloquei mais uma vez a música, mas desta vez peguei um copo e toquei junto
com o CD. Percebi que desta vez prestaram bastante atenção e pareciam empolgados em aprender
também a tocar com os copinhos.
Para a segunda parte da aula, depois do intervalo, eu trouxe um vídeo chamado Music for
One Apartment and Six Drummers. Trata-se de um clipe onde a banda faz quatro músicas sem
nenhum instrumento musical, apenas com objetos encontrados dentro de um apartamento,
utilizando os vários ambientes da casa, como: cozinha, banheiro, quarto e sala. Achei oportuno
trazer o vídeo neste momento, já que estávamos trabalhando com percussão corporal e agora com os
copinhos de plásticos.
O vídeo é curto, apenas 10 minutos, por isso achei que não tomaria muito tempo da aula.
Mas os alunos gostaram tanto que pediram para ver novamente. Como a professora disse que a sala
39
de vídeo é bem concorrida e que dificilmente conseguiríamos outro horário, cedi a vontade da
turma. Também perdemos bastante tempo entre sair da sala de aula, entrar na sala de vídeo, esperar
até todos se acalmarem, depois voltar para a sala de aula, fazer os comentários sobre o vídeo,
esperar até que se acalmassem novamente, etc. Esse tempo eu não tinha contabilizado no meu
planejamento, por isso não foi possível realizar todas as atividades que eu tinha programado.
Após o vídeo, apenas deu tempo para começar a passar o ritmo com os copos, mas não
consegui explicar nem a metade, pois logo acabou a aula. Minha idéia inicial era aprender todo o
ritmo e juntar com as flautas. Depois tinha pensado em uma atividade em grupos, onde cada grupo
tentaria tocar um pedaço da música para percussão corporal utilizando apenas os copinhos. O
objetivo era que conseguissem transferir um conhecimento aprendido para outro objeto, assim como
tínhamos feito a percussão corporal, ao transferi-las para os instrumentos de percussão tradicional,
mas isso ficou para o próximo encontro.
3.3.3.3 – 11º encontro – 30-05-2007
Como muitos alunos tinham faltado no encontro anterior, achei que seria bom fazer uma
pequena revisão e explicar novamente os propósitos de fazer música com os copinhos de plástico.
Também coloquei no quadro o endereço de um site da Internet onde está disponível o vídeo
assistido na aula passada, assim os que faltaram poderiam ver e aqueles que desejassem rever
também poderiam fazê-lo. Logo após, coloquei o ritmo a ser realizado com os copos no quadro
(figura 6) para a executá-lo com palmas. Primeiramente, perguntei quem lembrava e gostaria de
mostrar para a turma. Uns três alunos tentaram, mas nenhum realizou corretamente.
Figura 6: rítmica dos copinhos.
Mostrei como se fazia e a turma toda repetiu várias vezes. Uma das maiores dificuldades
com essa turma é segurar o andamento, na terceira repetição já estavam acelerando a ponto de ter
que parar e começar de novo. Em seguida, distribuí os copinhos e começamos a relembrar as
posições dos toques. Tive que passar várias vezes, bem lentamente, às vezes fileira por fileira e às
vezes atendendo alguns alunos individualmente. Essa parte deu bastante trabalho, achei que seria
mais simples, mas ocupou toda a primeira aula.
Antes de acabar a aula deixei 10 minutos para que todos pudessem copiar no caderno o
ritmo que estava escrito no quadro. Coloquei também, em baixo de cada nota, as indicações com os
movimentos e as posições. Apesar da dificuldade apresentada na primeira aula, após o intervalo
40
parece que a turma voltou com outro gás e a maioria já estava conseguindo fazer o exercício. Até
perguntei para eles se tinham passado o recreio estudando, mas acho pouco provável.
Como já estava saindo mais ou menos bem, achei que seria uma boa hora para introduzir a
melodia com a flauta. Minha idéia era juntar o ritmo dos copos com as músicas que eles estavam
aprendendo na flauta Sansa Kroma e Minha Canção. Deixei bem livre para que escolhessem o
instrumento que queriam tocar. Alguns alunos preferiram ficar com as flautas e outros fizeram
questão de continuar com os copos.
Primeiro relembramos a melodia da música Sansa Kroma só com as flautas. Demorou um
pouquinho até aquecer, mas depois de algumas passadas deu tudo certo. O mais complicado mesmo
foi acertar andamento quanto introduzimos o ritmo do copo junto com a melodia. A professora da
sala, a meu pedido, me auxiliou neste processo. Enquanto ela comandava a turma da flauta eu me
preocupei mais com os copos. Como ainda assim estava difícil de fazer todos tocarem no mesmo
tempo, a professora pegou um caxixi para fazer de metrônomo. Depois disso começou a fluir
melhor e o resultado sonoro foi bem interessante. Fizemos o mesmo processo com a música Minha
Canção e o efeito também foi bem agradável.
Como vi que a turma estava começando a pegar agilidade e a responder rápido às propostas
trazidas por mim, passei um novo ritmo (figura 7) com os copos, mas desta vez um bem mais
simples. Este foi elaborado por mim e tem bem menos passagens complicadas com as mãos.
Figura 7: 2a levada rítmica para os copinhos.
Em poucos minutos todos já estavam fazendo com certa facilidade. Então propus que
fizéssemos os dois simultaneamente para ver o resultado. Metade da turma fazia um ritmo e a outra
metade o outro, em seguida inverti para que todos provassem os dois.
Trouxe este novo ritmo com a idéia de trabalhar uma nova música chamada Doeba (um
swing em forma de cânon) onde este ritmo faria um acompanhamento para as vozes. Cantei e toquei
ao mesmo tempo uma vez para que ouvissem o resultado. Muitos acharam engraçado, disseram que
parecia a música do desenho animado Scobydoo, outros disseram que parecia música de filme. Ao
meu ver mostraram interesse em aprendê-la.
Infelizmente não deu tempo de passar a melodia para eles, pois o tempo já havia se
esgotado. Cinco minutos antes de bater o sinal pedi para que dois alunos recolhessem os copos
enquanto a professora dava um recado para a turma. Ao final da aula a professora comentou que
seria interessante pensarmos em uma apresentação dessas músicas para as turmas do ensino infantil.
Ficamos de pensar na idéia e conversarmos durante o final de semana.
41
3.3.3.4 – 12º encontro – 06-06-2007
A apresentação foi confirmada. Na aula de sexta-feira, a turma foi avisada que no próximo
encontro, ou seja, na aula de hoje, começaríamos os ensaios. Combinamos que a apresentação seria
feita na própria sala de aula, sendo que as turmas do ensino infantil é que se deslocariam para nos
assistir. A professora ficou de organizar os detalhes com as demais professoras e com o diretor do
colégio. Como a sala é pequena e o pré tem muitas turmas (nove no total), provavelmente teríamos
que fazer várias seções, pelo menos três.
Para começar o ensaio, retiramos todas as carteiras da sala de aula, deixando apenas as
cadeiras com as quais fizemos um grande círculo. As aulas normalmente são ministradas em
fileiras, mas seria impossível manter esta formação na apresentação, visto que o espaço da sala é
pequeno, são muitos alunos e, provavelmente, o público que viria assistir também é numeroso.
Desse modo, uma boa organização do espaço físico seria fundamental para a apresentação.
Começamos a aula explicando a importância desta apresentação, a necessidade da
colaboração e empenho de todos e a importância da valorização desta atividade, já que esta vai ser a
única turma se apresentar neste semestre. Explicamos também quais músicas iríamos trabalhar, em
que ordem iríamos apresentá-las e começamos o ensaio.
Durante a semana elaborei um roteiro estruturando mais ou menos os eventos da
apresentação, a ordem das músicas, que instrumentos começam primeiro, quais entram e saem no
decorrer da peça, como seriam as seções de transição, etc. Ficou estabelecido que apresentaríamos
primeiro a música Sansa Kroma, depois Minha Canção – sendo que nesta música entrariam os
jogos com os copinhos – e, por último, a percussão corporal, tocada uma vez com o corpo e depois
repetida com os instrumentos de percussão.
Preferi começar o ensaio pela música Minha Canção, pois como tem a brincadeira com os
copos, exigiria um pouco mais de tempo de ensaio e concentração. Antes de começar a tocar foi
preciso dividir a turma entre os que vão tocar as flautas e os que preferem os copos. Entre os copos
também tem uma subdivisão em um determinado momento da música, onde entra uma outra levada
rítmica.
A música começa apenas com flauta e violão. Após tocar uma vez a melodia completa,
começam os copos, em solo, entrando um a um. Após todos entrarem retoma-se a melodia com a
flauta (desta vez soando apenas flauta e copos). Depois de mais uma rodada com a melodia, a flauta
sai e entra a segunda levada com os copos (agora soam apenas os copos com suas duas levadas).
42
Após alguns compassos entra o refrão da música Sansa Kroma, repetindo várias vezes até acabar a
música com um sinal da professora.
Cada mudança de instrumentação tinha que ser marcada por um sinal meu ou da professora
para orientar os alunos. Essas passagens foram ensaiadas várias vezes, inserindo uma a uma até que
fossem assimiladas. Isso levou toda a primeira aula.
Na segunda aula, após o intervalo, perdemos um grande tempo de ensaio devido a uma
intervenção do orientador pedagógico da escola. Por razão de mau comportamento durante o
intervalo, retirou todos os alunos da sala para dar-lhes um sermão. Sua vontade era de punir a turma
cancelando aula de música neste dia, mas como explicamos que estávamos fazendo uma atividade
importante, permitiu que continuássemos o ensaio.
Quando voltaram, revisamos rapidamente o trabalho feito na primeira aula e passamos, em
seguida, para a percussão corporal. Esta música estava bem fresca na memória de todos e
rapidamente relembramos todas as partes. O que mais deu trabalho foi segurar o andamento, pois a
tendência da turma era acelerar, deixando o som sujo e impreciso. Para melhorar um pouco, a
professora sugeriu que a música fosse realizada mais lentamente e começou a fazer a marcação do
pulso com o caxixi. Passamos várias vezes desta forma até que o tempo fosse se ajustando.
Melhorou bastante, mas, ainda assim, será preciso ensaiar mais vezes com essa marcação, pois
muitos continuavam acelerando mesmo com a marcação constante do pulso.
Infelizmente não deu tempo de passar a música com os instrumentos de percussão. Foi uma
pena, pois muitos alunos estavam ansiosos para tocar os instrumentos. Durante a aula já haviam
perguntado várias vezes quando iriam tocar percussão. Para animá-los um pouco, prometi que no
próximo ensaio começaríamos direto com os instrumentos.
Tivemos que encerrar as atividades um pouco mais cedo para organizar a sala, colocar as
carteiras de volta no lugar e guardar todos instrumentos em seus devidos lugares. A professora faz
questão que os alunos participem deste processo, cada um ajuda um pouco e, assim, o trabalho é
feito com mais rapidez do que se a professora tivesse que fazer tudo sozinha.
Ao final da aula, eu e a professora nos reunimos e programamos mais uns dois ensaios para
depois marcar a data da apresentação. Mas, infelizmente, devido à greve na Rede Municipal de
Ensino a atividade teve que ser interrompida e o relatório finalizado sem o relato da apresentação.
43
3.4 CONSIDERAÇÕES
A arte de Ensinar Música Musicalmente (Keith Swanwick) não é uma tarefa fácil, mas sem
dúvida é um dos modos para contribuir para a formação de um indivíduo mais consciente sobre
valor da sua e das outras culturas e, conseqüentemente, da sua responsabilidade social no mundo em
que vivemos. Desse modo, posso dizer que conhecer e participar do trabalho de Educação Musical
que vem sendo desenvolvido na Escola Batista Pereira foi uma das experiências mais significativas
da minha formação como futuro educador, pois ali pude perceber é possível ensinar música
(musicalmente) para trinta e seis alunos em uma Escola Pública com tão poucos recursos.
Durante o período de observação, além de conhecer um pouco a turma e o conteúdo que
vinha sendo trabalhado, pude aprender muitas técnicas e maneiras de transmitir o conhecimento (e
lidar com crianças/adolescentes no processo de educação) observando a atuação da professora de
classe.
Na fase de interação pude ir assimilando gradativamente a idéia de colocar-me a frente de
uma turma com tantos alunos, já que nunca tive essa experiência até então. Nesta etapa, senti muito
apoio e abertura da professora de classe, tivemos longas conversas onde foram trazidas várias
sugestões sobre como e o que ensinar, o que me deu confiança para ir, aos poucos, tomando a frente
da turma.
Nos últimos quatro encontros, ou seja, durante a atuação, também pude contar em todos os
momentos com esse apoio, o que tornou o trabalho muito produtivo e gratificante. Todas as
atividades propostas por mim foram bem recebidas pelos alunos que sempre as realizaram com
bastante entusiasmo. O conteúdo do planejamento na maior parte das vezes foi cumprido, embora
nem sempre no tempo esperado. Geralmente, o programa pensado para uma aula era realizado em
duas ou três, o que fez com que o planejamento fosse sempre repensado ao final de cada encontro.
Uma das razões para esse ‘alargamento’ do tempo foi o fato da turma 63 ser um pouco
bagunceira, perdendo, assim, a concentração com muita facilidade. Em um curto espaço de tempo
era preciso parar as atividades várias vezes para pedir para que se concentrassem, o que fez perder
um tempo significativo das aulas. Por essa razão, em algumas situações houve a intervenção da
professora da classe para dar-lhes uma advertência. Em alguns momentos houve também a
intervenção do Coordenador Pedagógico, especialmente no início da segunda a aula de música
(após o recreio), não para chamar-lhes atenção pelo mau comportamento durante a aula, mas pela
bagunça que faziam durante o intervalo.
Contudo, apesar deste pequeno deslize de comportamento de alguns membros da turma,
posso dizer que houve uma colaboração e um acolhimento muito bom por parte dos alunos, da
professora e da escola em geral, o que tornou este estágio uma atividade muito prazerosa a qual
desempenhei com muita satisfação.
44
UNIVERSIDADE DO ESTADO DE SANTA CATARINA
CENTRO DE ARTES
DEPARTAMENTO DE MÚSICA
RELATOS DAS AULAS
SEMESTRE 2007 /2
FLORIANÓPOLIS
2007
45
4.1 INTRODUÇÃO
Diferentemente da Prática Pedagógica I, onde a ênfase está na observação, a Prática
Pedagógica II consiste de uma atuação mais ampla do estagiário, tendo, neste período, que ministrar
ao menos 12 aulas. Por isso, nesta segunda parte, decidi organizar de forma diferente, colocando os
planos de aulas e os relatos de forma seqüenciada e não de forma separada como no estágio
anterior.
A atuação aqui descrita refere-se ao período de agosto a novembro de 2007, concluindo um
total de 14 encontros. Grande parte da atuação deste período foi dedicada a ensaios e apresentações.
Foram realizadas ao todo três apresentações – sendo que uma delas consistiu quatro sessões
consecutivas – e mais de 15h de ensaios distribuídas ao longo das aulas de artes.
46
4.2 PLANOS DE AULA E RELATOS DAS EXPERIÊNCIAS
4.2.1 AULA 01
PLANO DE AULA Nº 1
Data: 08-08-2007 Horário: 14h30 às 16h15 Escola Básica Batista Pereira 6ª Série – turma 63
OBJETIVOS- Ensaiar as músicas para a apresentação.
CONTEÚDOS
- Repertório para flauta e canto.
- Percussão corporal.
- Percussão com instrumentos.
- Ritmos com os copos plásticos.
METODOLOGIA
- Tirar as carteiras da sala de aula, deixando apenas as cadeiras, para começar a simular o espaço para a apresentação.
- Fazer um grande círculo com os alunos para facilitar a visualização entre todos. Geralmente a turma fica em fileiras, o que não favorece muito a comunicação na hora de tocar.
- Colocar no quadro a ordem das músicas que serão trabalhadas neste ensaio, destacando as entradas de cada instrumento no decorrer das peças. Ou seja, organizar uma espécie de ‘guia’ para facilitar o entendimento do que cada naipe de instrumento vai fazer durante a apresentação.
- Explicar aos alunos como o trabalho que será desenvolvido nesta aula e como será realizada a apresentação.
- Revisar primeiramente a música Alpha Six com percussão corporal e com os instrumentos tradicionais de percussão. Passar as partes separadamente (ABC) e depois a forma completa (AABBAACCAA).
- Revisar a música Minha Canção e as duas levadas rítmicas a serem realizadas com os copos. Explicar a estrutura da música e ensaiar de acordo com a mesma.
RECURSOS
- Flauta.
- Violão.
- Copos plásticos.
- Instrumentos de percussão.
- Quadro Negro.
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1º encontro – 08-08-2007
Os ensaios para a apresentação – que seria realizada ao final do Estágio I – tiveram que ser
interrompidos devido à greve dos professores, que durou cerca de três semanas, e, posteriormente,
ao período de férias da universidade. Para não perder o trabalho que tinha sido realizado até então e
para cumprir nossa promessa com os alunos e professores da pré-escola, optamos retomar esta
atividade no mês de agosto.
Desse modo, na aula de sexta-feira a turma foi avisada que no próximo encontro, ou seja, na
aula de hoje, retomaríamos os ensaios para a apresentação. A professora comentou-me que a notícia
havia sido muito bem recebida pelos alunos e que esta apresentação tem um valor muito importante
para eles. Combinamos que a apresentação seria feita na própria sala de aula, sendo que as turmas
do ensino infantil é que se deslocariam para nos assistir. A professora ficou de organizar os detalhes
com as demais professoras e com o diretor do colégio. Como a sala é pequena e o primário tem
muitas turmas (nove no total), provavelmente teríamos que fazer várias seções, pelo menos três.
Para começar o ensaio, retiramos todas as carteiras da sala de aula, deixando apenas as
cadeiras com as quais fizemos um grande círculo. As aulas normalmente são ministradas em
fileiras, mas seria impossível manter esta formação na apresentação, visto que o espaço da sala é
pequeno, são muitos alunos e, provavelmente, o público que virá assistir também deve ser
numeroso. Desse modo, uma boa organização do espaço físico é fundamental para uma boa
apresentação.
Antes de começar o ensaio coloquei no quadro em forma de tabela as músicas que iríamos
apresentar, detalhando os principais eventos em cada parte das músicas. Em outras palavras, uma
espécie de roteiro para que pudéssemos seguir.
Ficou estabelecido que apresentaríamos primeiro a música Sansa Kroma, depois Minha
Canção – sendo que nesta música entrariam os jogos com os copinhos – e, por último, a Alpha Six,
para percussão corporal e depois repetida com os instrumentos de percussão. No último ensaio,
havíamos passados as músicas Minha Canção e Sansa Kroma, sendo assim, optei com começar pela
Alpha Six, já que esta havia sido menos trabalhada até então.
Fiz uma breve revisão das partes separadamente (ABC) até perceber que a maioria já
conseguia realizar com certa fluência. A questão do andamento é um das principais dificuldades
nesta peça, a tendência é sempre acelerar. Após a revisão relembramos a forma da música
(AABBAACCAA) e passamos algumas vezes a forma completa.
48
Em seguida realizamos a mesma peça com os instrumentos de percussão. Cada aluno pegou
o instrumento que mais lhe agradava. Como o arranjo para percussão corporal divide as vozes em 3
timbres diferentes, dividi os instrumentos de percussão em grupos de “graves”, “médios” e
“agudos”, colocando cada grupo em um timbre. O timbre do ‘estralar de dedos’ foi destinado aos
instrumentos agudos, as ‘palmas’ para os instrumentos médios e ‘mão nas pernas’ para os graves.
Essa formação já havia sido experimentada uma vez durante aula, por isso, desta vez o objetivo era
apenas fazer uma revisão rápida.
Contudo, a distribuição dos instrumentos, a classificação de cada um deles entre os três tipos
(graves, médios e agudos) e o esforço para manter controle da turma – tendo todos um instrumento
na mão e tocando ao mesmo tempo – tomou grande parte da primeira aula.
Após conter a euforia, tentamos realizar apenas a seção “A”. No começo foi difícil cada um
localizar onde deveria tocar, mesmo por que, além de já fazer muito tempo desde a última vez que
passamos esta peça com instrumentos, a distribuição já não era a mesma. Desse modo, cada grupo
ficou responsável apenas por um pedaço da música, devendo tocar apenas naquele instante referente
ao seu timbre. Passamos várias vezes cada seção (ABC) separadamente e, após conseguirem
melhorar a fluência, tocamos a forma completa (AABBAACCAA). Não fiquei muito satisfeito com
o resultado. Parece que da outra vez a combinação entre os instrumento tinha dado melhores
resultados. Acho que terei que repensar uma nova distribuição entre os timbres médios e agudos.
Em alguns momentos foi difícil manter o pulso, principalmente na seção (C) na parte dos graves.
Isso também tem que ser mais bem trabalhado nos próximos encontros.
Após o intervalo, optei por ensaiarmos a música Minha Canção. Como esta tem a
brincadeira com os copos, exige um pouco mais de tempo de ensaio e concentração. Antes de
começar a tocar foi preciso dividir a turma entre os que vão tocar as flautas e os que preferem os
copos. Antes de começar a música fiz também uma breve revisão das duas células rítmicas que
serão feitas com os copos.
A música começa apenas com flauta e violão. Após tocar uma vez a melodia completa,
começam os copos, em solo, entrando um a um. Após todos entrarem retoma-se a melodia com a
flauta (desta vez soando apenas flauta e copos). Depois de mais uma rodada com a melodia, a flauta
sai e entra apenas a segunda levada com os copos. Após alguns compassos soando apenas os copos
entra o refrão da música Sansa Kroma com flautas, repetindo quatro vezes. Para encerrar ficam
apenas os copos novamente e inicia-se um acelerando constante até todos perderem o controle. Ao
final jogamos os copos para cima, gritando, comemorando o final da música.
Uma vez iniciado o ensaio da música, cada mudança de instrumentação tinha que ser
marcada por um sinal meu ou da professora para orientar os alunos. Essas passagens foram
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ensaiadas várias vezes, inserindo uma a uma até que fossem assimiladas. Algumas tiveram que ser
passadas várias vezes, pois exigia muita atenção, com mudanças repentinas na execução dos copos.
Isso levou toda a segunda aula e, na verdade, ainda precisamos dedicar bastante tempo até todos
absorverem todas as viradas.
Faltando cerca de 15 minutos para acabar a aula tivemos que encerrar as atividades para
organizar a sala, colocar as carteiras de volta no lugar e guardar todos instrumentos em seus devidos
lugares. A professora enfatiza para que os alunos participem deste processo, cada um ajuda um
pouco e, assim, o trabalho é feito com mais rapidez do que se a professora tivesse que fazer tudo
sozinha. Ao final da aula, a professora e eu nos reunimos e programamos mais uns dois ensaios para
depois marcar a data da apresentação que ainda está para ser definida.
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4.2.1.2 AULA 02
2º encontro – 13-08-2007
Hoje não teve aula com a turma, mas sim um conselho de classe com os professores, o qual
eu tive a oportunidade de participar. Como não sabia o horário exato que começaria a reunião da
turma a qual estou estagiando, cheguei no primeiro horário e acabei participando do conselho de
quase todas as turmas da escola.
Logo de início o coordenador pedagógico orientou que todos fossem bem objetivos nas suas
colocações. Segundo sua orientação, um professor deveria expor a turma de um modo geral e os
demais complementariam. Em seguida deveriam ser relatados um a um os alunos com problemas no
processo de ensino e aprendizagem. Cada turma levou em média cerca de 20 minutos.
Uma vez feito isso, os encaminhamentos sugeridos foram: chamar os pais para virem à
escola conversar sobre seus filhos com o coordenador pedagógico e conversar pessoalmente
com cada aluno problemático.
Especificamente sobre a sexta série (63), foi levantado que se trata de uma turma muito
agitada, os alunos são muito falantes e não se comportam direito. Foi colocando também que é uma
turma muito numerosa, e isso tem dificultado muito o trabalho em sala de aula. Segundo os
professores, até mesmo os alunos que eram disciplinados estão decaindo por influência dos demais.
Foi relatado também que os alunos das 6ªs séries faltam muito nas aulas, ficam passeando no
ginásio, no pátio e na biblioteca em vez de estarem na sala de aula.
Esses problemas já vinham sendo relatados com esta turma desde o início do ano letivo, por
isso, uma professora sugeriu que fosse feita uma reunião exclusivamente com essa turma onde
estariam presentes os pais, alunos e professores. Contudo, sua proposta parece não ter tido muito
apoio dos demais colegas.
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4.2.3 AULA 03
PLANO DE AULA Nº 3
Data: 15-08-2007 Horário: 14h30 às 16h15 Escola Básica Batista Pereira 6ª Série – turma 63
OBJETIVOS - Ensaiar as músicas para a apresentação.
CONTEÚDOS
- Repertório para flauta e canto.
- Percussão corporal.
- Percussão com instrumentos.
- Ritmos com os copos plásticos.
METODOLOGIA
- Tirar as carteiras da sala de aula, deixando apenas as cadeiras, simulando, assim, o espaço para a apresentação.
- Preparar o espaço onde será realizada a apresentação e fazer o ensaio ocupando apenas este espaço. Colocar cada aluno no seu devido lugar, separar por naipes e ensaiar a troca de lugares entre as músicas.
- Revisar o arranjo da música Minha Canção com as duas levadas rítmicas a serem realizadas com os copos. Relembrar a estrutura da música e ensaiar de acordo com a mesma.
- Revisar a música Alpha Six, primeiramente com percussão corporal e depois com os instrumentos tradicionais de percussão. Passar as partes separadamente (ABC) e posteriormente a forma completa (AABBAACCAA).
- Passar a música Sansa Kroma e Cangoma com solo vocal, flauta, violão e os instrumentos de percussão, segundo o arranjo que será proposto pela professora da turma.
RECURSOS
- Flauta.
- Violão.
- Copos plásticos.
- Instrumentos de percussão.
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3º encontro – 15-08-2007
Para começar o ensaio, retiramos todas as carteiras da sala de aula, deixando apenas as
cadeiras, as quais foram colocadas em fileiras, simulando o lugar onde estaria sentada a platéia.
Desta vez, todos ficaram sentados no chão, no fundo da sala, ocupando o mínimo de espaço
possível. Esse aperto foi necessário visto que a sala é pequena e o público que virá será muito
grande. Ao todo são nove turmas da pré-escola sendo que cada turma tem cerca de 25 alunos. Para
que todas possam assistir teremos que fazer três seções com três turmas em cada uma delas, mas,
ainda assim, em cada seção terão cerca de 75 crianças, somando com as 40 da 6ª série que estarão
se apresentando, mais os professores...ou seja, mais de 100 pessoas em apenas uma sala de aula. Por
isso a necessidade de planejar muito bem o espaço físico a ser ocupado para a apresentação.
No último ensaio, havíamos relembrado as músicas Minha Canção e Alpha Six, com
percussão corporal e com os instrumentos. Por serem as mais complicadas, optamos com revê-las
neste ensaio, e, se sobrasse algum tempo, passariam também a Sansa Kroma e Cangoma.
Começamos, então, pela música Minha Canção, onde foi relembrado o arranjo completo e
foram passados os trechos mais difíceis. Quando começa a levada com os copos a turma tem
bastante dificuldade em segurar o ritmo, muitos perdem o pulso, outros começam a acelerar. Por
isso, decidimos que colocar um tambor, fazendo a marcação, para segurar o andamento da peça. O
tambor tirou um pouco o brilho com os copos, mas acredito que vai ser preciso usá-lo na
apresentação, já que o som estava ficando muito embolado em vários momentos. Uma vez perdido
o pulso a turma não conseguia mais voltar, por isso, o melhor é garantir que o pulso fique sempre
firme com o toque do tambor. O ensaio com essa música ocupou toda a primeira aula. Após o
intervalo o diretor do colégio veio assistir um pedaço do ensaio e passamos mais uma vez a música
completa para ele. Após ouvir a música, o diretor e a professora interromperam o ensaio para ter
uma conversa com a turma sobre as questões que foram levantadas no conselho de classe.
Em seguida ensaiamos a música Alpha Six, primeiramente com o corpo relembrando as
partes separadamente (ABC). A questão do andamento é um das principais dificuldades nesta peça,
a tendência é sempre acelerar, por isso, pedi para a professora usar um caxixi para marcar o pulso.
Com o instrumento a música fluiu melhor, mas inda assim é preciso ter cuidado com o andamento.
Após a revisão relembramos a forma da música (AABBAACCAA) e passamos algumas vezes a
forma completa. A seção (C) exigiu um cuidado especial. Como tem um trecho com semicolcheias
onde o ritmo é um pouco rápido, foi preciso executá-la várias vezes até limpá-lo bem.
53
Em seguida realizamos a mesma peça com os instrumentos de percussão. Cada aluno pegou
o mesmo instrumento da semana passada, sendo eles divididos em grupos de “graves”, “médios” e
“agudos”. Para fazer essa música é preciso fazer uma mudança de posição entre os alunos para que
os naipes fiquem agrupados. Isso leva algum tempo e vai tomar um tempo da apresentação também,
por isso, essa troca de lugares precisa ser bem ensaiada também. Hoje apenas alertamos que a troca
tem que ser feita e a realizamos sem o devido cuidado, já que o tempo era curto e precisávamos
ensaiar muitas coisas ainda.
Passamos algumas vezes cada seção (ABC) separadamente com os instrumentos, mas como
já se aproximava o final da aula, não deu tempo de ensaiar com o refinamento necessário para esta
música. Sendo assim, optei por fazer uma revisão rápida para que todos relembrassem a estrutura
completa e deixar para ver os detalhes (que são muitos) nos próximos ensaios. A questão do pulso
na seção (C), desta vez não apresentou problemas, acho que hoje os alunos estavam mais atentos e
com a música mais fresca na memória.
Como ensaio anterior, faltando cerca de 10 minutos para acabar a aula tivemos que encerrar
as atividades para organizar a sala, colocar as carteiras de volta no lugar e guardar todos
instrumentos em seus devidos lugares.
54
4.2.4 AULA 04
PLANO DE AULA Nº 4
Data: 22-08-2007 Horário: 14h30 às 16h15 Escola Básica Batista Pereira 6ª Série – turma 63
OBJETIVOS- Ensaiar as músicas para a apresentação.
CONTEÚDOS
- Repertório para flauta e canto.
- Percussão corporal.
- Percussão com instrumentos.
- Ritmos com os copos plásticos.
METODOLOGIA
- Tirar as carteiras da sala de aula, deixando apenas as cadeiras, simulando, assim, o espaço para a apresentação.
- Preparar o espaço onde será realizada a apresentação e fazer o ensaio ocupando apenas este espaço. Colocar cada aluno no seu devido lugar, separar por naipes e ensaiar a troca de lugares entre as músicas.
- Revisar o arranjo da música Minha Canção com as duas levadas rítmicas a serem realizadas com os copos. Relembrar a estrutura da música e ensaiar de acordo com a mesma.
- Revisar a música Alpha Six, primeiramente com percussão corporal e depois com os instrumentos tradicionais de percussão. Passar as partes separadamente (ABC) e posteriormente a forma completa (AABBAACCAA).
- Passar a música Sansa Kroma e Cangoma com solo vocal, flauta, violão e os instrumentos de percussão, segundo o arranjo que será proposto pela professora da turma.
RECURSOS
- Caixa de som.
- Microfone.
- Flauta.
- Violão.
- Copos plásticos.
- Instrumentos de percussão.
55
4º encontro – 22-08-2007
Assim como no encontro anterior, esvaziamos a sala e retomamos as músicas (Alpha Six e
Minha Canção) para trabalhar as partes mais complicadas. Passamos varias vezes as duas músicas,
principalmente a parte com os copinhos, pois ainda estavam apresentando certa dificuldade em
manter a pulsação e a coordenação com os copos. Algumas partes da peça Alpha Six,
principalmente a sessão (C), por haver uma seqüência de colcheias, tivemos que passar várias vezes
até fixar bem o ritmo dentro da pulsação. Como não estávamos conseguindo fazer com que todos
segurassem o andamento, achamos que seria melhor a professora marcar o pulso com um
instrumento musical, o qual também seria usado na apresentação para garantir a qualidade da
performance.
Esse problema apresentou-se como um dos grandes desafios no preparo desta apresentação.
Foi muito difícil fazer os 40 alunos tocarem num mesmo andamento e segurando o pulso. Sempre
tinha uns três ou quatro que atravessavam e acabavam levanto toda a turma junto. Uma coisa é
conseguir realizar um exercício curto em sala de aula dentro do andamento, outra bem diferente é
manter o pulso por cinco ou seis minutos, ou seja, durante uma música inteira. A alternativa foi
inserir um instrumento base, que pudesse ser ouvido como referência por todos, mesmo que isso
tirasse um pouco o brilho das músicas.
56
4.2.5 AULA 05
PLANO DE AULA Nº 5
Data: 04-09-2007 Horário: 13h às 17h Escola Básica Batista Pereira 6ª Série – turma 63
OBJETIVOS- Ensaiar as músicas para a apresentação.
CONTEÚDOS
- Repertório para flauta e canto.
- Percussão corporal.
- Percussão com instrumentos.
- Ritmos com os copos plásticos.
METODOLOGIA
- Ensaiar a música nova inserida para apresentação. Duas cirandas, com solo vocal, canto, violão e flautas.
- Passar a música Sansa Kroma e Cangoma com solo vocal, flauta, violão e os instrumentos de percussão, segundo o arranjo que será proposto pela professora da turma.
- Revisar o arranjo da música Minha Canção com as duas levadas rítmicas a serem realizadas com os copos. Relembrar a estrutura da música e ensaiar de acordo com a mesma.
- Revisar a música Alpha Six, primeiramente com percussão corporal e depois com os instrumentos tradicionais de percussão. Passar as partes separadamente (ABC) e posteriormente a forma completa (AABBAACCAA).
RECURSOS
- Caixa de som.
- Microfone.
- Flauta.
- Violão.
- Copos plásticos.
- Instrumentos de percussão.
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5º encontro – 04-09-2007 – terça feira – aula especial com 5h de ensaio.
Para encerrar de uma vez por todas esta etapa de ensaios para a apresentação, decidimos (eu,
a professora e a turma) fazer um grande ensaio em um outro dia fora dos horários das aulas de
música. A professora, então, conversou com os outros professores que dariam aula para esta turma
na 3ª-feira e pediu para que cedessem seus horários para o ensaio da apresentação. Sendo assim,
neste dia, fizemos o último ensaio com a turma que durou da 13h às 17h ocupando todas as cinco
aulas do período da tarde.
Nas três primeiras aulas passamos todas as músicas, procurando enfatizar as partes mais
problemáticas. Uma nova música foi adicionada ao repertório, as duas cirandas arranjas por Villa-
Lobos (ANEXO 6). Essa música foi sendo trabalhada desde o retorno das férias e também foi bem
revisada pela professora na semana em que me ausentei para participar do congresso da ANPPOM
em São Paulo.
Estabelecemos que a seqüência seria a seguinte:
1 – Tambores de Mina (Sansa Kroma e Cangoma)
2 – Duas Cirandas
3 – Minha Canção
4 – Alpha Six (Percussão Corporal)
5 – Alpha Six (Percussão Instrumental)
Para as duas primeiras músicas foi escolhida uma solista que puxava o canto e a turma
respondendo em seguida também cantando. Em um determinado momento entrava a mesma
melodia com a flauta. As duas músicas foram acompanhadas também por alguns instrumentos de
percussão realizados pelos próprios alunos e por um violão realizado por mim. Essas músicas
acabaram sendo pouco ensaiadas desde o início da preparação para a apresentação. Acabamos
privilegiando nos ensaios aquelas que apresentavam maiores desafios. Contudo, apesar da pouca
preparação, a turma estava bastante concentrada e conseguimos realizá-las satisfatoriamente, por
isso, decidimos mantê-las na apresentação.
A terceira música foi realizada com flautas, violão e com os copinhos fazendo a percussão.
Metade da turma ficou responsável pela parte melódica com as flautas e a outra parte com a
percussão com os copos.
A última música, Alpha Six, foi realizada primeiro com a percussão corporal e em seguida
com percussão instrumental. Para essa música era preciso fazer uma troca de lugares a fim de
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organizar os instrumentos por naipes. A troca foi ensaiada algumas vezes até todos conseguirem
trocar de lugares o mais rápido possível, fazendo o mínimo de barulho.
Após o intervalo, ou seja, nas duas últimas aulas, passamos todo o repertório duas vezes
seguido, simulando a apresentação.
Antes da aula eu estava bastante preocupado com a situação de ter que fazer um ensaio com
tanto tempo com essas crianças. Eu pensava que elas não teriam paciência para ficar uma tarde
inteira se dedicando a apenas uma atividade. Com adultos já é difícil manter a concentração por
tanto tempo, com crianças, então, eu pensava ser quase impossível. Contudo, procurei acreditar na
palavra da professora que dizia já passado por essa experiência várias vezes, tendo sempre
resultados positivos. Em nossas conversas após as aulas ela sempre enfatizava que as crianças
sabiam o valor que tinham essas apresentações e que nas horas difíceis elas saberiam assumir suas
responsabilidades. Realmente, vi neste dia que ela tinha razão. Foi incrível a dinâmica desse ensaio,
as crianças se comportaram tão bem como nunca haviam se comportado nos outros dias. Nenhuma
delas se queixou de cansaço, ninguém reclamou de ter que passar a mesma música quatro, cinco,
seis vezes e todas se mantiveram bem concentradas ao longo de toda a tarde. Tudo o que foi
proposto por mim e pela professora foi aceito pela turma e todo o planejamento para este dia foi
realizado com sucesso.
59
4.2.6 AULA 06
PLANO DE AULA Nº 6
Data: 05-08-2007 Horário: 13h às 17h Escola Básica Batista Pereira 6ª Série – turma 63
OBJETIVOS
- Realizar a apresentação, em três sessões, para as turmas do primário da Escola B. Batista Pereira.
CONTEÚDOS
- procedimentos e cuidados necessários para a apresentação musical.
- montagem e preparação do espaço.
METODOLOGIA
- Levar os instrumentos musicais e objetos necessários para a local da apresentação, como por exemplo, caixa de som, microfones, estantes, partituras, etc.
- Preparar o espaço, retirar as carteiras, colocar as cadeiras para o público, montar os equipamentos, e indicar o local que cada aluno deverá ocupar durante a apresentação.
- Realizar a apresentação em três sessões, cada uma contendo três turmas do primário.
- Ao término, guardar os instrumentos nos devidos lugares, arrumar a sala de aula ocupada, de modo a deixá-la do jeito em que se encontrava.
RECURSOS
- Flautas.
- Caixa de som.
- Microfone.
- Estante.
- Violão.
- Copos plásticos.
- Instrumentos de percussão.
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6º encontro – 05-09-2007 – 1ª APRESENTAÇÃO
Esta tarde foi toda reservada para a apresentação. Assim como no dia anterior, os alunos
foram dispensados das outras disciplinas para este momento. Nos encontramos todos às 13h da
tarde na sala de artes e descemos em seguida com os instrumentos para uma sala maior, onde seria
realizada a apresentação.
Todos já sabiam o que deveriam fazer e onde tinham que se posicionar, por isso a
preparação foi bem rápida. A princípio faríamos três sessões para que todas as nove turmas do
primário pudessem assistir, mas, ao final, como sobrou bastante tempo, decidimos fazer mais uma
apresentação, dessa vez para algumas turmas do ginásio.
Na última hora, foi escolhida uma aluna para ser narradora, fazendo as leituras explicativas
entre cada música. Apesar de ter sido surpreendida com a situação ela conseguiu fazer as leituras
com bastante tranqüilidade e fluência.
Uma professora registrou as apresentações com sua filmadora, eu levei um gravador de som
e a máquina fotográfica, com os quais também pude registrar alguns momentos (ANEXO 8 e
ANEXO 9). Apesar da tensão gerada pela expectativa do momento, tudo ocorreu conforme o
planejado. Em todas as quatro sessões as músicas fluíram sem qualquer problema, todos estavam
muito concentrados em seus instrumentos, com suas responsabilidades e o público parece ter
gostado bastante do evento.
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4.2.7 AULA 07
PLANO DE AULA Nº 7
Data: 12-09-2007 Horário: 14h30 às 16h15 Escola Básica Batista Pereira 6ª Série – turma 63
OBJETIVOS
- Refletir sobre a apresentação da semana passada.
- Explorar as diversas possibilidades sonoras da flauta doce (percussão).
- Trabalhar o ritmo “Marcha Rancho”, como acompanhamento para a música “Duas Cirandas”.
CONTEÚDOS
- Exploração de timbres percussivos.
- ritmo “marcha rancho”.
- Repertório.
METODOL.
- Apreciar a gravação em áudio da apresentação, elogiar os alunos pela seriedade e dedicação no trabalho desenvolvido. Refletir sobre o processo de preparação para uma apresentação.
- Mostrar as diversas possibilidades sonoras da flauta doce desmontando-a em três partes, percutindo uma parte sobre a outra de modo a explorar os diversos timbres do instrumento. Imitar com a flauta o som do reco-reco, agogô e cuíca. Colocar uma gravação (CD) com um batuque de samba e imitar o som dos instrumentos o auxilio da gravação, de modo a tornar a demonstração mais atrativa para os alunos.
- Exemplificar o ritmo da “marcha rancho” (tocando com a flauta desmontada imitando um reco-reco) para os alunos e pedir para um voluntário me acompanhar tocando a melodia das “Duas Cirandas” com flauta.
- Colocar no quadro um exercício rítmico preparatório para tocar a “marcha rancho”. Ir aumentando a dificuldade gradativamente até chegar na levada do reco-reco. Executar o ritmo com a flauta desmontada imitando o som do reco-reco. Se houver tempo, repetir o mesmo processo com o ritmo do agogô.
- Colocar no quadro o ritmo com as indicações (baixo, cima, baixo) para os alunos copiarem e estudarem em casa.
RECURSOS
- Flauta doce;
- Aparelho de som;
- Quadro Negro.
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7º encontro – 12-09-2007
Após a apresentação da semana passada, achei que seria interessante fazer algumas reflexões
sobre esta experiência, por isso, trouxe a gravação em áudio da apresentação para ouvirmos todos
juntos durante a aula. Essa gravação gerou um CD (ANEXO 9), produzido por mim, o qual distribui
cópias para os alunos que me trouxeram um CD virgem. Percebi que todos ouviram com bastante
atenção a gravação, em momento algum houve conversas ou risadas durante a audição. Alguns
estavam tão concentrados que tentavam acompanhar o CD realizando as batidas com o corpo. Não
imaginava que seria tão interessante esta atividade de apreciação, foi além das minhas expectativas.
Trouxe também alguns dados para pensarmos, como, por exemplo, o tempo gasto em ensaios (15
horas) e a quantidade de tempo que durou cada apresentação (17 minutos).
Depois de ouvir a gravação e fazer os comentários (etapa que durou cerca de 30 minutos),
expliquei para a turma que continuaríamos desenvolvendo o trabalho com percussão alternativa,
desta vez sem os copos plásticos, mas sim utilizando a própria flauta doce com instrumento de
percussão. Desmontei a flauta e imitei o som de diversos instrumentos como, por exemplo: reco-
reco, agogô e cuíca. Era para ser uma atividade de apreciação, mas alguns alunos não se contiveram
e começaram a tentar a explorar os sons da flauta também. Depois de fazer algumas demonstrações
coloquei uma música com um batuque de fundo e mostrei como poderiam ser inseridos esses sons
nas músicas. Percebi que houve uma aceitação da turma com a proposta da atividade. Muitos já
estavam explorando os sons antes mesmo de eu terminar de fazer a exposição.
Devido à ansiedade de alguns, achei melhor então passar logo para a parte prática. Mostrei
como seria a levada do reco-reco para a música “Duas Cirandas”, ao ritmo de “Marcha Rancho”.
Coloquei no quadro a figura rítmica (figura 8) com as indicações para cima e para baixo, conforme
o movimento do da baqueta do instrumento, neste caso, a baqueta era representada por uma das
partes da flauta.
figura 8: levado do reco-reco ao ritmo da “marcha rancho”.
Tive que passar o movimento várias vezes, bem lentamente. No começo não me preocupei
tanto com o ritmo, mas sim o movimento ascendente e descendente. Depois de todos entenderem o
movimento comecei a introduzi-lo dentro do ritmo proposto, o que no princípio não foi tão fácil.
63
Levou algum tempo até que a maioria conseguisse entender, mas ao final da atividade grande parte
da turma já estava executando satisfatoriamente. Pude notar que alguns, embora estivessem
prestando bastante atenção, não conseguiram realizar o ritmo adequadamente, por isso, na próxima
vez procurarei começar atividade de forma bem gradual.
Ao final da aula, percebi que a atividade estava se tornando cansativa, por isso decidi passar
para a levada do agogô (figura 9). Como havia pouco tempo, passei uma levada bem simples, para
que todos conseguissem fazer e sair da aula satisfeitos. Achei melhor deixar a levada da marcha
rancho para um outro momento, pois, como é um pouco mais complicadinha, precisaria de mais
tempo para trabalhá-la de forma adequada.
Esse encontro contou com a presença do Orientador de Estágio (Professor da Disciplina
Prática Pedagógica II), o qual permaneceu durante as duas aulas.
Figura 9: levado do agogô para o ritmo “marcha rancho”.
64
4.2.8 AULA 08
PLANO DE AULA Nº 8
Data: 19-09-2007 Horário: 14h30 às 16h15 Escola Básica Batista Pereira 6ª Série – turma 63
OBJETIVOS
- Explorar as diversas possibilidades sonoras da flauta doce (percussão).
- Trabalhar o ritmo “Marcha Rancho”, como acompanhamento para a música “Duas Cirandas”.
- Iniciar a técnica do pandeiro.
CONTEÚDOS
- Exploração de timbres percussivos.
- ritmo “marcha rancho”.
- Repertório.
- Técnica do pandeiro.
METODOL.
- Executar algumas células rítmicas com pandeiro. Fazer alguns exercícios de imitação, pergunta e resposta ao estilo das escolas de samba. Convidar alguns alunos para improvisarem algum ritmo para o restante da turma imitar.
- Explicar algumas técnicas para tocar pandeiro ao ritmo de samba-maxixe. (polegar, ponta, palma, ponta, polegar, polegar). (dedo, ponta, palma, ponta, dedo, dedo).
- Assistir dois vídeos contendo apresentações musicais envolvendo a percussão corporal e a utilização de instrumentos alternativos de percussão. Entre eles o vídeo do Stomp “Out Loud” (ver bibliografia) e o vídeo do grupo Barbatuques (ver bibliografia), produzido pelo Itaú Cultural, na série “Rumos Brasil da Música”, volume 4.
RECURSOS
- Flauta doce;
- Pandeiros;
- Quadro Negro.
- Televisão e aparelho reprodutor de DVD.
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8º encontro – 19-09-2007
Como a professora conseguiu reservar a sala de vídeo para esse dia (a qual costuma ser
bastante disputada), decidi começar a aula diretamente com a atividade dos pandeiros, e se sobrasse
tempo, revisaria o conteúdo do encontro passado. Sendo assim, antes de começar a atividade,
distribuí um pandeiro para cada aluno.
Para começar a aula, sugeri uma brincadeira com o objetivo de desenvolver a escuta e a
atenção. Propus a brincadeira, tipo vaca amarela, onde ninguém poderia falar nada, nem mesmo os
professores. A idéia era que tudo fosse transmitido através da imitação e os alunos deveriam captar
o que deveriam fazer através da percepção auditiva e visual.
Para isso, preparei algumas células rítmicas (figuras 10 e 11) para executá-las ao estilo das
escolas de samba, como, por exemplo, quando fazem o aquecimento realizando os exercícios de
imitação, pergunta e resposta proposto pelo mestre de bateria.
Figura 10: células rítmicas para serem respondidas por imitação.
Figura 11: células rítmicas com pergunta e respostas diferentes.
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Na primeira parte da atividade, toquei apenas os ritmos de imitação (figura 10). Eu
executava no pandeiro algumas células rítmicas e os alunos repetiam na seqüência, sem perder o
andamento e a fluência. Demorou um tempo até todos entenderem a proposta da atividade.
Talvez eu deveria ter explicado um pouco melhor antes de começar a “brincadeira”, já que
muitos não estavam entendendo que deveriam repetir só depois de eu terminar de tocar. Algumas
vezes eu tinha que para explicar, mas como o jogo já estava em andamento, preferi não usar as
palavras, procurei explicar apenas através de gestos. Ficou um pouco engraçado, alguns alunos
davam risadas e nem todos conseguiam acompanhar. Contudo, achei que foi um bom exercício. Ao
final, boa parte da turma estava acompanhando e eu já tinha conseguido passar muita coisa para eles
sem precisar dizer uma palavra sequer.
Mais adiante, quando já estavam mais sintonizados com a atividade, comecei a inserir os
ritmos de pergunta com resposta diferente (figura 11), onde o eu fazia uma célula rítmica e eles
respondiam complementando a frase proposta. Também tentei fazer essa etapa sem usar as palavras,
mas como estava sendo bem mais difícil, decidi – depois de mais ou menos 20 minutos sem
ninguém abrir a boca – encerrar a brincadeira e continuar a atividade ao modo tradicional.
Os exercícios com respostas diferentes (completando a frase) deram bem mais trabalho do
que aqueles que consistiam em repetir a mesma convenção. Poucos minutos depois fui percebendo
que a atividade estava se tornando cansativa e decidi passar para a levada do samba-maxixe (figura
12) também para ser tocada com o pandeiro.
Figura 12: samba-maxixe. Levada para pandeiro.
Primeiramente toquei para os alunos para que eles vissem como soa o toque do samba-
maxixe no pandeiro. Alguns já começaram a fazer junto comigo, então sugeri que quem já soubesse
fazer tentasse me acompanhasse. Em seguida, tentei instigar os que não sabia para que tentassem
acompanhar também. Logicamente, muitos não conseguiram. Sendo assim, decidi explicar bem
lentamente, conforme a figura acima, associando cada toque ao gesto da mão, inserindo uma nota
de cada vez (1º dedo-ponta; 2º dedo-ponta-palma; 3º dedo-ponta-palma-dedo; e assim por diante)
até completar toda a seqüência.
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Após várias repetições a maioria da turma conseguia realizar o ritmo com fluência, contudo,
percebi que alguns alunos, apesar de estarem se esforçando, não estavam conseguindo tocar. Sendo
assim, decidi passar de carteira em carteira para ver como estavam se saindo, e expliquei
individualmente para os que não ainda não estavam conseguindo. Ainda assim, percebi a
dificuldade de muitos alunos, mas acredito que é só uma questão de praticar. Nas próximas aulas
procurarei retomar a atividade bem lentamente para que todos consigam assimilar a levada.
Na segunda parte da aula assistimos dois vídeos. O primeiro com duas músicas o do Grupo
Barbatuques (ver bibliografia), onde procurei fazer um link com a peça de percussão corporal Alpha
Six que trabalhamos no semestre passado e mostramos na apresentação. O segundo vídeo foi o do
Stomp (ver bibliografia), onde procurei enfatizar e relacionar com a percussão alternativa que
fizermos com os copos plásticos e agora com a flauta doce desmontada. Assistir vídeo parece ser
uma das coisas que a turma mais gosta de fazer, logo que cheguei na sala de aula vários alunos
perguntaram se hoje ia ter vídeo, pelo visto já estavam todos sabendo mesmo antes de eu anunciar.
68
4.2.9 AULA 09
PLANO DE AULA Nº 9
Data: 26-09-2007 Horário: 14h30 às 16h15 Escola Básica Batista Pereira 6ª Série – turma 63
OBJETIVOS
- Trabalhar o ritmo “Marcha Rancho”, especialmente as levadas do agogô e reco-reco.
- Trabalhar o ritmo “Samba”, especialmente a levada do pandeiro, agogô e tamborim.
CONTEÚDOS
- ritmo “marcha rancho” e “samba”.
- nota pontuada.
-.Técnica do pandeiro.
METODOL.
- Distribuir as folhas (xerox) com as levadas, ritmos e convenções dos instrumentos a serem trabalhadas durante a aula.
- Revisar o ritmo marcha rancho especialmente as levadas do reco-reco e do agogô, para serem tocadas com a flauta doce desmontada, imitando a sonoridade dos respectivos instrumentos, caracterizando-a, neste processo, como um instrumento de percussão.
- Tocar as levadas estudadas anteriormente junto com as melodias da música “Duas Cirandas”, cantando ou tocando ao som da flauta doce. Para a primeira melodia fazer o acompanhamento do reco-reco, para a segunda o agogô. Dividir a turma em duas partes para realizar essa atividade.
- Como desafio, executar a música “Duas Cirandas” juntando as duas vozes da melodia com a flauta e tocando os dois ritmos ao mesmo tempo. Dessemodo, quatro elementos diferentes estarão soando ao mesmo tempo. Por isso, para realizar essa atividade será necessário dividir a turma em quatro partes.
- Explicar a nota pontuada (já que esta se faz presente no ritmo marcharancho), partido da semibreve pontuada, mínima, semínima e colcheia. Colocar no quadro as notas com e sem o ponto, relacionando suas durações dentro do compasso 4/4 e a relação 1 para 1 ½ entre a nota pontuada e nota sem ponto.
- Fazer um exercício de percepção e leitura musical. Tocar com o pandeiro algumas convenções escritas na folha entregue no inicio da aula e pedir para os alunos identificarem qual a convenção que está sendo tocada.
- Revisar as convenções rítmicas executadas com pandeiro no encontro anterior, neste caso, os exercícios de imitação, pergunta e resposta ao estilo das escolas de samba. Revisar a levada do pandeiro no ritmo samba-maxixe(dedo, ponta, palma, ponta, dedo, dedo), estudada no encontro anterior, e inserir outros instrumentos ao ritmo, como agogô, surdo, tamborim e ganzá de modo a começar a elaborar o arranjo da música.
RECURSOS - Flauta doce; pandeiros; surdo; agogô; tamborim; ganzá; quadro negro; xerox da folha de exercícios.
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9º encontro – 26-09-2007
Antes de começar a passar o conteúdo distribuí uma folha (ANEXO 7), contendo as células
rítmicas que eu havia trabalhado com eles nas aulas anteriores e mais algumas que seriam
trabalhadas hoje e nos próximos encontros. Para começar pedi que tentassem identificar na folha
quais os ritmos que já tínhamos estudado e alguns alunos logo reconheceram alguns deles. Depois
expliquei quais eram os já estudados e quais ainda não fizemos.
Como atividade de percepção, toquei algumas das levadas da folha e pedi para que
identificassem pelo número qual delas estava sendo tocada. Muitos reconheceram imediatamente
qual era, outros se mostraram confusos e alguns preferiram não palpitar.
Em seguida expliquei no quadro o conceito de nota pontuada e como ela funciona. Procurei
fazer uma analogia com o peso de uma pessoa. A nota pontuada seria uma nota gordinha, que
aumentou seu valor (peso) em 50%. Para minha surpresa, apesar de ser uma atividade teórica, a
turma mostrou interesse e foi bastante participativa.
Depois disso, revisei com a turma a levada do reco-reco para o ritmo da marcha-rancho,
para ser tocada com a flauta desmontada. Após a revisão tocamos a levada cantando ao mesmo
tempo a música Duas Cirandas. Comentei para eles que mesmo para mim tinha sido bastante difícil
coordenar o movimento com o canto, por isso, procurei desafiá-los a cantar e tocar ao mesmo
tempo. Um aluno queixou-se dizendo que era impossível e que ele não estava conseguindo cantar e
tocar. Outros alunos pareciam estar conseguindo em alguns momentos, mas não durante toda a
música. Mas, procurei tranqüilizá-los dizendo que para conseguir essa façanha é preciso treino e
que para mim também não tinha sido nada fácil.
Após o intervalo fiz uma atividade com os pandeiros. Revisamos aquele exercício de
pergunta e resposta ao estilo das escolas de samba. A idéia era começar a estruturar um arranjo para
essa música, contudo, o tempo não foi suficiente. Essa rotina de pegar os instrumentos, organizar e
acalmar as crianças e, ao final da aula, guardar tudo no lugar, acaba tomando muito tempo da aula.
Preciso pensar em estratégias para agilizar esse processo para não prejudicar o conteúdo planejado.
70
4.2.10 AULA 10
PLANO DE AULA Nº 10
Data: 03-10-2007 Horário: 14h30 às 16h15 Escola Básica Batista Pereira 6ª Série – turma 63
OBJETIVOS
- Através do Samba, montar um arranjo rítmico, com introdução, viradas, convenções, utilizando os instrumentos de percussão.
- Trabalhar a música “Duas Cirandas” como ritmo “Marcha Rancho”, especialmente as levadas do agogô e reco-reco.
CONTEÚDOS
- Células rítmicas do samba para os seguintes instrumentos:
- agogô; surdo; tamborim; pandeiro e ganzá.
METODOL.
- Revisar as convenções rítmicas executadas com pandeiro no encontro anterior, neste caso, os exercícios de imitação, pergunta e resposta ao estilo das escolas de samba.
- Revisar a levada do pandeiro no ritmo samba-maxixe (dedo, ponta, palma, ponta, dedo, dedo), estudada no encontro anterior.
- Explicar as levadas do, como agogô, surdo, tamborim e ganzá para esse ritmo e, a partir dessa diversidade de instrumentos, começar a elaborar um arranjo.
- Uma possibilidade para o arranjo é: fazer uma introdução com as convenções (pergunta / resposta) das escolas de samba; depois entrar um instrumento de cada vez (cada um com sua levada); fazer uma virada; retornar os instrumentos um a um com suas levadas; fazer uma nova virada; puxar um novo ritmo (uma capoeira, talvez); fazer outra virada; retornar ao samba; fazer uma convenção (cadência rítmica) para fechar a música.
- Para estruturar o arranjo, trabalhar cada parte separadamente e ir introduzindo cada seção de forma gradual.
- Passar a levada do agogô para o ritmo marcha rancho para ser tocado com a flauta doce desmontada. Tocar a levada junto com as melodias da música “Duas Cirandas”, cantando ou tocando ao som da flauta doce.
- Juntar a nova levada do agogô com a do reco-reco que já foi aprendida nos encontros anteriores. Como desafio, juntar as duas vozes da melodia com a flauta e tocar os dois ritmos ao mesmo tempo. Desse modo, quatro elementos diferentes estarão soando ao mesmo tempo. Por isso, para realizar essa atividade será necessário dividir a turma em quatro partes.
RECURSOS - Flauta doce; pandeiros; surdo; agogô; tamborim; ganzá; quadro negro.
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10º encontro – 03-10-2007 (ensaio para a apresentação)
Esta semana, mais precisamente na quinta-feira (04/10), a escola vai ser contemplada com a
visita da do prefeito da cidade e sua equipe de assessores e ministros. Segundo a professora, o
objetivo da visita é reconstituir a imagem do ensino público que acabou gerando uma série de
insatisfações entre os educadores, pais e a sociedade em geral durante o desgastante período da
greve. Por isso, o prefeito estará nas próximas semanas visitando todas as escolas da rede pública
municipal de Florianópolis a fim restabelecer o diálogo entre professores e prefeitura.
Por isso, durante a visita dessas autoridades, a escola vai realizar uma série de atividades e
atrações para os alunos e para os visitantes. Uma dessas atrações vai ser uma apresentação musical
nossa turma. O repertório vai ser o mesmo daquele preparado na apresentação anterior, por isso, o
encontro de hoje foi todo dedicado ao ensaio para esta apresentação. Como já havíamos ensaiado
muitas vezes para a apresentação anterior, este ensaio acabou fluindo muito bem, todos já sabiam o
que fazer, onde se posicionar, o quê e onde tocar. Em duas aulas conseguimos passar todo o
repertório e ainda sobrou tempo. O tempinho extra aproveitamos para relembrar um pouco aquela
brincadeira de pergunta e resposta das escolas de samba e tentamos fazer um sambinha com os
instrumentos que tinham a mão. Devido ao ensaio para a apresentação não foi possível aplicar o
plano de aula que eu havia planejado, por isso, esse plano foi deslocado para a próxima semana.
4.2.11 AULA 11
11º encontro – 04-10-2007 – 2ª APRESENTAÇÃO
A apresentação transcorreu conforme o planejado. A equipe da prefeitura veio para a escola,
mas infelizmente o prefeito não pôde comparecer por motivos de saúde. Desta vez, foi feita apenas
uma sessão, onde estavam presentes o coordenador das Artes, o Secretário de Educação, o Assessor
do Prefeito, o diretor do Colégio e mais alguns professores e outros membros da prefeitura os quais
não pude identificar.
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4.2.12 AULA 12
PLANO DE AULA Nº 12
Data: 10-10-2007 Horário: 14h30 às 16h15 Escola Básica Batista Pereira 6ª Série – turma 63
OBJETIVOS
- Através do Samba, montar um arranjo rítmico, com introdução, viradas, convenções, utilizando os instrumentos de percussão.
- Trabalhar a música “Duas Cirandas” como ritmo “Marcha Rancho”, especialmente as levadas do agogô e reco-reco.
CONTEÚDOS - Células rítmicas do samba para os seguintes instrumentos:
- agogô; surdo; tamborim; pandeiro e ganzá.
METODOL.
- Revisar as convenções rítmicas executadas com pandeiro no encontro anterior, neste caso, os exercícios de imitação, pergunta e resposta ao estilo das escolas de samba.
- Revisar a levada do pandeiro no ritmo samba-maxixe (dedo, ponta, palma, ponta, dedo, dedo), estudada no encontro anterior.
- Explicar as levadas do agogô, surdo, tamborim e ganzá para esse ritmo e, a partir dessa diversidade de instrumentos, começar a elaborar um arranjo.
- Uma possibilidade para o arranjo é: fazer uma introdução com as convenções (pergunta / resposta) das escolas de samba; depois entrar um instrumento de cada vez (cada um com sua levada); fazer uma virada; retornar os instrumentos um a um com suas levadas; fazer uma nova virada; puxar um novo ritmo (uma capoeira, talvez); fazer outra virada; retornar ao samba; fazer uma convenção (cadência rítmica) para fechar a música.
- Para estruturar o arranjo, trabalhar cada parte separadamente e ir introduzindo cada seção de forma gradual.
- Para uma segunda atividade: Passar a levada do agogô para o ritmo marcharancho para ser tocado com a flauta doce desmontada. Tocar a levada junto com as melodias da música “Duas Cirandas”, cantando ou tocando ao som da flauta doce.
- Juntar a nova levada do agogô com a do reco-reco que já foi aprendida nos encontros anteriores. Como desafio, juntar as duas vozes da melodia com a flauta e tocar os dois ritmos ao mesmo tempo. Desse modo, quatro elementos diferentes estarão soando ao mesmo tempo. Por isso, para realizar essa atividade será necessário dividir a turma em quatro partes.
RECURSOS - Flauta doce; pandeiros; surdo; agogô; tamborim; ganzá; quadro negro.
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12º encontro – 10-10-2007
Pedi para a turma retirar todas as carteiras da sala, deixando só as cadeiras. Pensei em
fazermos a aula em forma de círculo para facilitar a audição, a comunicação e para que eu pudesse
ter maior controle sobre cada naipe. O arranjo que trouxe para esta aula é um pouco trabalhoso, por
isso, seria necessária bastante concentração da turma. Depois de feito o circulo, distribuí os
instrumentos para os alunos e os organizei em naipes para facilitar a regência. Comecei passando a
levada do agogô. Eram apenas quatro agogôs, mas ainda assim deu certo trabalho para pegarem o
ritmo. Como vi que alguns estavam com bastante dificuldade, sugeri que toda a turma imitasse a
levada do agogô através da percussão corporal. Isso ajudou bastante.
Depois passei para o naipe dos surdos que, na verdade, consistia de apenas um surdo e mais
dois tambores médios. Os tambores são sempre os instrumentos mais disputados pelos alunos, todos
querem tocar e às vezes dá até briga por causa disso. Geralmente, eu e a professora temos o cuidado
de colocar nessa função apenas aqueles alunos que tem um bom controle rítmico, porque senão,
atrapalha a sonoridade de toda a turma. Mas, dessa vez, deixei aqueles alunos mais chatos, que me
pentelhavam todos os dias para deixar tocar os tambores. Tentei por uns 10 minutos fazer com que
eles segurassem o ritmo, junto com o agogô, mas não consegui. Sempre tinha um que atravessava e
logo todos se atrapalhavam. Depois de várias tentativas – a própria turma já estava ficando
impaciente de esperar – decidir colocar aqueles alunos de sempre para que a aula pudesse fluir.
Em seguida passei para os tamborins. Deu um trabalho imenso fazê-los tocar junto com o
ritmo do surdo. Como a levada era tercinada, a tendência deles era correr no andamento. Foi um dos
naipes que mais deu trabalho e, até o final da aula, muitos ainda não estava conseguindo realizar a
levada desse instrumento.
Depois passei para o pandeiro. Todos já sabiam tocar, pois já tínhamos visto sobre pandeiro
nas aulas passadas. Mas, como o andamento estava um pouco rápido (e não dava pra fazer muito
lento, senão os outros instrumentos não conseguiam levar suas batidas), os alunos se queixavam
muito que cansava os braços, a mão, e logo paravam de tocar.
Foi bastante difícil fazer tocar os quatro naipes simultaneamente. O máximo que
conseguiam realizar com certa precisão eram dois naipes. Quando juntava um terceiro o ritmo já ia
se perdendo; quatro, então, já se formava uma bagunça total. Passei praticamente as duas aulas
tentando passar essas levadas, juntando-as uma a uma.
A principio eu achava que isso ia ser rápido e logo passaríamos para o arranjo, mas não foi
assim que aconteceu. Ficamos todo o tempo nas levadas básicas e, ainda assim, não consegui fazer
com que segurassem o ritmo por mais que dois compassos.
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Para quebrar um pouco a atividade, de modo a não ficar muito cansativa, em alguns
momentos puxei as convenções de pergunta e resposta, – essas todas sabiam fazer – e, em outro
momento, nas proximidades do final da aula, sugeri que todos trocassem de instrumentos.
Embora a atividade não tenha sido realizada dentro do tempo inicialmente previsto por mim,
acredito que a experiência foi válida, visto que foi a primeira vez que os alunos tiveram a
experiência de tocar esse ritmo. Penso que seria preciso mais dois ou três encontros para que todos
assimilassem a sonoridade do samba com toda essa diversidade instrumentos soando ao mesmo
tempo. Com certeza, na próxima vez que experimentarem, o resultado já vai ser bem melhor.
Contudo, como hoje foi meu ultimo dia de estágio, não poderei acompanhar esse processo, mas
acredito que a professora dará continuidade a esse trabalho durante suas aulas.
4.2.13 AULA 13
13º encontro – 17-10-2007 (ensaio para apresentação na Assembléia Legislativa)
Embora meu estágio já tivesse se encerrado, ao menos em se tratando em carga horária
obrigatória, coloquei-me a disposição da professora para eventuais ensaios e apresentações que
surgissem ao longo do ano. Nesse sentido, nessa semana fomos convidados para fazer a abertura da
semana do servidor no auditório da Assembléia Legislativa de Florianópolis, que acontecerá na
segunda-feira dia 22 de outubro. O evento ofereceu o transporte (ônibus) e o lanche para as
crianças.
Por isso, a professora decidiu, nesta quarta-feira, fazermos um ensaio com as músicas que
tínhamos feitos nas outras apresentações. A única novidade inserida foram as convenções de
pergunta e resposta ao estilo das escolas de samba. Não vou descrever os ensaios detalhadamente,
pois foram muito similares aos ensaios preparatórios para as apresentações anteriores. O repertório
ensaiado foi:
- Duas Cirandas (canto, flauta, violão e percussão);
- Minha Canção (com flauta doce e copos plásticos);
- Sansa Kroma (canto, flauta, violão, percussão e xilofone);
- percussão corporal (Alpha Six);
- percussão instrumental (Alpha Six);
- convenções (pergunta/resposta).
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4.2.14 AULA 14
14º encontro – 22-10-2007 – 3ª APRESENTAÇÃO
A professora sugeriu que neste dia eu os encontrasse (ela e os alunos) na própria
Assembléia, pois assim não precisava ir até o ribeirão para depois voltar de novo. Ao chegar lá
percebemos que houve um engano na proposta da apresentação. O que nos foi passado – uma
abertura a ser realizada em um auditório para um público específico, neste caso, os servidores – não
era o que tinha sido programado pelo evento. O que os organizadores tinham planejado era que um
grupo de música se propusesse a fazer um som ambiente num pequeno corredor enquanto os
servidores se aproximavam para participar do evento, o que obviamente não se encaixava na
proposta do nosso trabalho.
Essa confusão causou um grande constrangimento por parte de todos. Afinal, tínhamos feito
um movimento enorme, trazendo 40 alunos em horário de aula, dois professores da escola, um
estagiário (no caso, eu mesmo), cerca de 50 instrumentos, e, pra completar, alguns pais de alunos
que também foram para prestigiar a apresentação.
Para evitar maiores constrangimentos e frustrações, a professora achou por bem realizar
apresentação assim mesmo, mesmo não tendo um espaço adequado e nem a platéia que
esperávamos. Ao final, algumas pessoas pararam para nos assistir, entre elas, alguns pais que
estavam presentes, alguns funcionários da assembléia, e alguns servidores que passavam por ali,
somando cerca de 15 pessoas. Embora um pouco decepcionadas, as crianças parecem ter gostado da
‘apresentação’, pois fizeram bons comentários sobre a parte musical. De qualquer forma, para elas,
sair da escola para fazer uma atividade diferente é algo sempre bem vindo. Depois de tocar os
organizadores ofereceram um lanche para todos no restaurante da Assembléia.
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4.3 CONSIDERAÇÕES
O acontecimento mais marcante desta segunda parte do estágio com certeza foi o processo
para a realização das apresentações, e isto inclui desde o preparo (os ensaios) até o produto final
propriamente dito (o momento do palco).
Os ensaios apresentaram-se, ao meu ver, como uma demonstração da imensa capacidade
dessas crianças, não apenas pela excepcional performance musical, mas também pela
responsabilidade, pelo amadurecimento e pela confiança demonstrados. Isso ficou claro para mim
em um dos ensaios – mais precisamente no dia 04 de setembro – onde reservamos toda uma tarde
para a passar o repertório completo e fechar os últimos detalhes. Eu fiquei bastante apreensivo com
a situação de ter que fazer um ensaio com tantas horas de duração com todas essas crianças. Na
minha concepção elas não teriam paciência para ficar uma tarde inteira, cerca de cinco horas, se
dedicando a apenas uma atividade, neste caso, fazendo música. Com adultos já é difícil manter a
concentração por tanto tempo, com crianças, então, eu pensava ser quase impossível. Contudo,
procurei acreditar na palavra da professora que dizia já ter passado por essa experiência várias
vezes, tendo sempre resultados positivos. Em nossas conversas após as aulas ela sempre enfatizava
que as crianças sabiam o valor que tinham essas apresentações e que nas horas difíceis elas
saberiam assumir suas responsabilidades. Realmente, vi neste dia que ela tinha razão. Foi incrível a
dinâmica deste ensaio, as crianças se comportaram tão bem como nunca haviam se comportado nos
outros dias. Nenhuma delas se queixou de cansaço, ninguém reclamou de ter que passar a mesma
música quatro, cinco, seis vezes e todas se mantiveram bem concentradas ao longo de toda a tarde.
Os outros ensaios realizados – estes com um tempo menor – também apresentaram situações
similares, tendo sempre bons resultados e um retorno estupendo por parte dos alunos.
Já as apresentações geraram momentos extremamente significativos, não só para os alunos,
como também para meu amadurecimento enquanto futuro professor. Pude refletir intensamente
sobre a prática pedagógico-musical ao observar o comportamento e atuação das crianças durante
sua apresentações. Percebi que, apesar da presença do público, os alunos não pareciam intimidados,
ao contrário, expressaram sua musicalidade com desempenho até mesmo maior do que nos ensaios.
Em nenhum momento percebi algum tipo de nervosismo, medo, o qualquer coisa parecida por parte
deles. Ao meu ver, a professora e eu estávamos até mesmo mais ansiosos do que eles próprios.
Essa ‘naturalidade’ com o momento da apresentação fez-me lembrar sobre a frase de
Swanwick que costumo usar em alguns dos meus trabalhos, uma das minhas principais
preocupações ao lidar com a educação musical:
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O propósito da música não é, simplesmente, criar produtos para a sociedade. É uma experiência de vida válida em si mesma, que devemos tornar compreensível e agradável. É uma experiência do presente. Essas crianças estão vivendo hoje, e não aprendendo a viver para o amanhã. Devemos ajudar cada criança a viver a música agora.
(SWANWICK e JARVIS apud SWANWICK, p. 72)
Apesar de estarmos apresentando o resultado final de um trabalho, um produto, para essas
crianças a vivência musical era algo que lhes dizia respeito tão intrinsecamente, que não é porque
havia público que iriam mudar seu comportamento. O público era importante, sim, mas por estarem
sendo valorizadas e admiradas (MULLER, 2000). Viver a música, o momento, a troca de
experiências com as outras turmas e com as outras pessoas era o que parecia mais importar naquele
momento. Diferente de muitos ambientes musicais, aonde a supervalorização da técnica, da
performance faz muitas vezes chegar a um nível de stress o qual torna a apresentação um momento
de sofrimento e frustrações (MULLER, 2000).
Um dos fatores que, ao meu ver, influenciou significativamente no enriquecimento deste
processo é o fato das apresentações musicais não terem se dado por razões meramente
comemorativas, por exigência da escola, ou por ser um trabalho desenvolvido especificamente para
isso, ou seja, para ser mostrado. Brito (2003), reflete sobre essa questão ao revelar sua preocupação
com o
[...] caráter de espetáculo que freqüentemente ronda o trabalho musical: dedica-se muito tempo a ensaios para apresentações em comemorações diversas que até mesmo excluem os alunos considerados desafinados, “sem voz”, “sem ritmo” etc. Ainda hoje existem escolas de educação infantil que iniciam os ensaios para a grande festa junina no mês de abril, reduzindo a isso as atividades da área de música durante todo o decorrer do semestre. E nem ao menos se desenvolvem projetos de pesquisa, de criação, de integração com outras áreas do conhecimento: cada classe limita-se a ensaiar – exaustivamente – o canto e a dança que irá apresentar no mês de junho! (BRITO, 2003, p. 52).
Neste sentido, julgo importante destacar que as apresentações musicais realizadas pela turma
63 da Escola B. Batista Pereira surgiram como resultado de um empenho – tanto por parte da
professora, como de mim, como também da dedicação e envolvimento dos alunos – em
proporcionar atividades musicais significativas para o desenvolvimento musical das crianças de
forma prática, lúdica e objetiva. As apresentações, neste caso, ocorreram por um desenvolvimento
natural da turma que, naquele momento, tinha algo para mostrar e estava preparada para isso. Em
outras palavras, o envolvimento e a dedicação de todos no processo de ensino-aprendizagem
musical gerou uma apresentação e não ‘a apresentação’ forçou o desenvolvimento de um trabalho.
Neste sentido, percebi neste estágio que o princípio empregado pela professora é a de uma
pedagogia que trabalha em prol dos objetivos dos alunos, e esses objetivos antecedem aos objetivos
da professora, dos pais e da própria escola.
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5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
O estágio supervisionado na Escola Batista Pereira consistiu em um aprendizado muito
proveitoso e de grande importância em se tratando de experiência e conhecimentos adquiridos.
Através deste espaço foi possível vivenciar diversas práticas e os vários modos de ser professor, não
somente pela atuação em sala de aula, mas também através da participação no conselho de classe
dos alunos, nas conversas na sala dos professores, e nas proveitosas ‘trocas de idéias’ com a
professora supervisora ao final de cada encontro.
Através desta experiência foi possível vivenciar a vida escolar de uma maneira bastante
ampla e significativa, bem como refletir sobre as múltiplas possibilidades de agir, como educador
musical, sobre o meio escolar, influenciando e recebendo influência deste, de modo a elaborar e re-
elaborar os (pré)conceitos sobre o papel do educador concebidos por mim nas diversas e vantajosas
discussões sobre Educação Musical durante o percurso acadêmico.
Sendo assim, ao meu ver, o estágio curricular cumpriu sua finalidade, consistindo em um
período de experiência no meu preparo como futuro educador, agregando tanto informações
teóricas e práticas, contribuindo, na mesma medida, no desenvolvimento das relações interpessoais
com alunos e professores da rede pública de ensino.
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6 ANEXOS
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6.1 ANEXO 1
Partitura da música Minha Canção.
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6.2 ANEXO 2
Partitura da música Sansa Kroma e Cangoma do livro Outras Terras outros Sons. (ver bibliografia)
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6.3 ANEXO 3
Partitura da Música Escatumbariribê do livro Lenga la Lenga. (ver bibliografia)
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6.4 ANEXO 4
Partitura da Música Doeba.
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6.5 ANEXO 5
Partitura da Música Alpha Six, para percussão corporal. Extraída do livro The Body Rondo Book de
Jim Solomon (ver bibliografia).
87
6.6 ANEXO 6
Duas Cirandas
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6.7 ANEXO 7
Folha com exercícios distribuídos aos alunos.
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6.8 ANEXO 8
Fotos das apresentações.
90
6.8 ANEXO 9
CD com a gravação das apresentações.