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Jennifer Menezes Pires
Relatório de Estágio Profissionalizante
em Medicina Comunitária
2010/2011
Abril , 2011
Jennifer Menezes Pires
Relatório de Estágio Profissionalizante
em Medicina Comunitária
Mestrado Integrado em Medicina
Área: Medicina Comunitária
Trabalho efectuado sob a Orientação de:
Prof. Doutor Frey Ramos
Abril, 2011
TÍTULO
Relatório de Estágio Profissionalizante em Medicina Comunitária.
RESUMO
Os Cuidados de Saúde Primários (CSP) constituem o pilar de qualquer sistema de
saúde. A Medicina Geral e Familiar é uma disciplina académica e científica, bem como uma
especialidade clínica orientada para os CSP, com os seus próprios conteúdos educacionais,
investigação, base de evidência científica e actividades clínicas
No âmbito da disciplina de Medicina Comunitária do 6º ano do Mestrado Integrado
em Medicina, da Faculdade de Medicina da Universidade do Porto, foi realizado um estágio
que envolveu um módulo urbano e outro rural, ambos com duas semanas de duração.
Os objectivos a que se propõe este relatório envolvem reconhecer a importância dos
CSP no sistema de saúde, caracterizar das unidades de saúde (US) onde decorreu a residência,
descrever as actividades desenvolvidas e desenvolver um estudo epidemiológico
complementar no âmbito dos CSP.
As actividades realizadas englobaram a participação em consultas tuteladas e consultas
domiciliárias, a execução de procedimentos de enfermagem, a visita a instituições de CSP, a
frequência a seminários e congressos, a realização de diversos trabalhos, assim como a
caracterização das US, o estudo demográfico das populações abrangidas e a elaboração do
estudo complementar subordinado à caracterização da obesidade infantil nos meios urbano e
rural.
Este estágio revelou-se uma excelente oportunidade de aprendizagem de
conhecimentos teóricos e práticos, através de uma abordagem médica peculiar, centrada na
pessoa, na família e na comunidade, que permitiu também o desenvolvimento de
competências humanas e éticas.
TITLE
Professional Training Report in Community Medicine.
ABSTRACT
The Primary Health Care (PHC) is the mainstay of any health system. The Family
Medicine is an academic and scientific discipline, as well as a clinical specialty orientated to
the PHC, with its own educational content, research, scientific evidence and clinical activities.
In the scope of the discipline of Community Medicine of the 6th grade of Master in
Medicine of the Faculty of Medicine of Porto University, it was made a residence that
involved an urban and a rural module, both with two weeks’ duration.
The aims proposed by this report are to recognize the importance of PHC in the health
system, to characterize the health units which hosted the residence, to describe the activities
and to develop an additional epidemiological study in the scope of PHC.
The activities undertaken included the participation in consultations and household
visits, the performance of nursing procedures, visits to Primary Care institutions, attendance
to seminars and conferences, the achievement of several papers, as well as the
characterization of the health units, the demographic study of the populations concerned and
the development of an additional study underlying the characterization of childhood obesity in
urban and rural areas.
This stage proved to be an excellent learning opportunity for theoretical and practical
knowledge through a unique medical approach, focusing on the person, family and
community, which also led to the development of ethics and human skills.
Relatório de Estágio Profissionalizante em Medicina Comunitária
Jennifer Menezes Pires Página 1
ÍNDICE
Lista de abreviaturas e siglas 2
Lista de figuras e tabelas 3
Introdução 4
Enquadramento 4
Delimitação do estágio 4
Motivação do projecto 4
Definição dos objectivos 5
Caracterização das Unidades de Saúde 6
Localização e modelos de organização funcional 6
Estrutura física 7
Recursos humanos, materiais e informáticos 8
Serviços disponibilizados 9
Estudo demográfico 11
Descrição das actividades 14
Seminários 14
Actividades nas Unidades de Saúde 14
Trabalhos elaborados 15
Outras actividades 16
Estudo complementar 17
Introdução 17
Objectivos 18
Métodos 19
Resultados 21
Discussão 26
Conclusão 29
Conclusões 30
Bibliografia 31
Apêndices
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LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS
ACES Agrupamento de Centros de Saúde
ARS Administração Regional de Saúde
CIAD Centro Integrado de Apoio a Deficientes
CSP Cuidados de Saúde Primários
CSSJ Centro de Saúde São João
EPE Entidade Pública Empresarial
FMUP Faculdade de Medicina da Universidade do Porto
IDI Índice de Dependência de Idosos
IDJ Índice de Dependência de Jovens
IDT Índice de Dependência Total
IE Índice de Envelhecimento
IMC Índice de Massa Corporal
IOTF International Obesity Task Force
LPCC Liga Portuguesa Contra o Cancro
MAPA Monitorização Ambulatória de Pressão Arterial
MC Medicina Comunitária
MGF Medicina Geral e Familiar
OMS Organização Mundial de Saúde
RM Relação de Masculinidade
SAM Sistema de Apoio ao Médico
SAPE Sistema de Apoio à Prática de Enfermagem
SINUS Sistema de Informatização nas Unidades de Saúde
UCSPVPA Unidade de Cuidados de Saúde Personalizados de Vila Pouca de Aguiar
UP Universidade do Porto
US Unidades de Saúde
VPA Vila Pouca de Aguiar
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LISTA DE FIGURAS E TABELAS
Figura 1 Estrutura física das US. Página 7
Figura 2 Comparação da população do CSSJ e UCSPVPA. Página 11
Figura 3 Pirâmide etária da população do CSSJ. Página 11
Figura 4 Pirâmide etária da população do UCSPVPA. Página 12
Figura 5 Percentagem de população por grupo etário nas US analisadas. Página 12
Figura 6 Relação de masculinidade e índice de envelhecimento da população
do CSSJ, UCSPVPA e Portugal. Página 13
Figura 7 Índice de dependência de idosos, índice de dependência de jovens e
índice de dependência total da população do CSSJ, UCSPVPA e Portugal.
Página 13
Figura 8 Prevalência de excesso de peso e obesidade em meio rural e urbano. Página 22
Tabela 1 Número de utentes, recursos humanos, informáticos e materiais das
US. Página 8
Tabela 2 Ratio médico/utente. Página 9
Tabela 3 Características do atendimento dos utentes nas US contactadas. Página 10
Tabela 4 Comparação das populações infanto-juvenis avaliadas em meio
urbano e rural, quanto às características demográficas. Página 21
Tabela 5 Prevalência de excesso de peso e obesidade segundo faixa etária e
género. Página 22
Tabela 6 Percepção e preocupação parental relativamente ao peso dos filhos. Página 23
Tabela 7 Compreensão parental da problemática da obesidade infantil em
meio urbano e rural. Página 23
Tabela 8 Comunicação médica dos casos de excesso ponderal aos pais. Página 24
Tabela 9 Caracterização da actividade física e sedentarismo da população
infanto-juvenil, em idade escolar, em meio urbano e rural. Página 24
Tabela 10 Caracterização dos hábitos alimentares da população infanto-juvenil,
em idade escolar, em meio urbano e rural. Página 25
Tabela 11 Caracterização do incentivo parental para a adopção de estilos de
vida saudáveis, em meio urbano e rural. Página 25
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INTRODUÇÃO
Enquadramento
O presente relatório foi elaborado no âmbito da unidade curricular “Projecto de
Opção” do 6º ano do Mestrado Integrado em Medicina, da Faculdade de Medicina da
Universidade do Porto (FMUP) e pretende descrever o estágio realizado na disciplina de
Medicina Comunitária (MC), no ano lectivo de 2010/2011.
Delimitação do estágio
O estágio decorreu de 25 de Outubro a 19 de Novembro de 2010, sendo que a valência
consistiu em dois módulos, cada um com duração de duas semanas. O módulo urbano foi
realizado no Centro de Saúde São João (CSSJ), de 25 de Outubro a 5 de Novembro de 2010,
sob orientação do Professor Doutor Frey Ramos e o módulo rural decorreu na Unidade
Cuidados de Saúde Personalizados de Vila Pouca de Aguiar (UCSPVPA), de 8 de Novembro
a 19 de Novembro de 2010 sob orientação da Doutora Teresa Passos Coelho.
Motivação do projecto
Os Cuidados de Saúde Primários (CSP) constituem o pilar fundamental de qualquer
sistema de saúde. Em 1978, na Conferência Internacional sobre Cuidados Primários realizada
em Alma-Ata, no Cazaquistão, na qual participaram 134 países e 67 organismos
internacionais, procurou definir-se este conceito. Na declaração resultante desta conferência,
ficou estabelecido que CSP são cuidados essenciais de saúde, baseados em métodos e
tecnologias práticas, cientificamente bem fundamentadas e socialmente aceitáveis, colocadas
ao alcance universal de indivíduos e famílias da comunidade, mediante sua plena participação
e a um custo que a comunidade e o país podem manter em cada fase de seu desenvolvimento,
no espírito de autoconfiança e autodeterminação [1].
Em Portugal não existe uma definição única e aceite por todos, mas, de um modo
geral, partilha-se o conceito apresentado na Declaração de Alma-Ata.
A Medicina Geral e Familiar (MGF) é uma disciplina académica e científica, bem
como uma especialidade clínica orientada para os CSP e com os seus próprios conteúdos
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educacionais, investigação, base de evidência científica e actividades clínicas. Caracteriza-se
por ser normalmente o primeiro ponto de contacto com o sistema de saúde, proporcionando
um acesso aberto e ilimitado aos seus utentes e lidando com todos os problemas de saúde, em
todas as suas dimensões física, psicológica, social, cultural e existencial. Procura também
utilizar eficientemente os recursos de Saúde, coordenando a prestação de cuidados,
trabalhando com outros profissionais no contexto dos CSP e gerindo a interface com os
cuidados de saúde secundários e terciários. Envolve uma abordagem centrada na pessoa,
orientada para o indivíduo, a família e a comunidade, de modo a prestar cuidados
longitudinalmente consoante as necessidades do paciente e estabelecer uma relação ao longo
do tempo [2].
Actualmente verifica-se que o plano curricular do Mestrado Integrado em Medicina,
da FMUP é notoriamente hospitalar, dando especial ênfase aos Cuidados de Saúde
Secundários e acabando por menosprezar a real importância dos CSP, em geral, e da MGF,
em particular.
Este relatório surge portanto como uma oportunidade reafirmar a importância dos CSP
na formação médica e de valorizar as aprendizagens e prática clínica desenvolvida no decorrer
da disciplina de MC.
Definição dos objectivos
• Reconhecer a importância dos CSP no sistema de saúde.
• Caracterizar as Unidades de Saúde (US) onde decorreu o estágio, destacando
semelhanças e divergências a nível do número de utentes, recursos humanos,
informáticos e materiais, tipos de consultas disponíveis, referenciação a Cuidados de
Saúde Secundários e parâmetros demográficos da população abrangida.
• Descrever e valorizar as actividades desenvolvidas ao longo do estágio.
• Desenvolver um estudo epidemiológico complementar no âmbito dos CSP,
subordinado à caracterização da obesidade infantil em meio urbano e rural.
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CARACTERIZAÇÃO DAS UNIDADES DE SAÚDE
Localização e modelos de organização funcional
O CSSJ localiza-se na Rua Miguel Bombarda, na freguesia de Cedofeita, no concelho
do Porto. Este concelho, que abrange um total de 15 freguesias, apresenta uma densidade
populacional elevada, com cerca de 5100 habitantes/Km2 [3].
O CSSJ, conhecido como Projecto “Tubo de Ensaio”, resultou de um protocolo de
cooperação entre a Administração Regional de Saúde (ARS) do Norte e a FMUP homologado
em 1998 [4], e integra actualmente o Agrupamento de Centros de Saúde (ACES) Grande
Porto IV – Porto Ocidental, pertencente à ARS Norte. Os principais objectivos deste projecto
foram assegurar a prestação de CSP a uma população até 20000 utentes sem base geográfica,
desenvolver projectos inovadores no âmbito da Administração de Saúde, da Administração
dos Serviços de Saúde e da prestação de Cuidados de Saúde e constituir um espaço de
formação pré e pós-graduada destinado aos estudantes de Medicina e aos profissionais dos
CSP [4,5].
Actualmente o CSSJ presta CSP a cerca de 20073 utentes inscritos.
A UCSPVPA situa-se na freguesia e concelho de Vila Pouca de Aguiar (VPA). Este
concelho abrange 18 freguesias e possui uma baixa densidade populacional, com
aproximadamente 34 habitantes/Km2 [3].
A UCSPVPA, que integra o ACES Trás-os-Montes II - Alto Tâmega e Barroso,
pertencente à ARS do Norte, presta cuidados personalizados à população inscrita, garantindo
a acessibilidade, a continuidade e a globalidade dos mesmos. Dentro do mesmo edifício
encontra-se ainda a Unidade de Cuidados na Comunidade de Vila Pouca de Aguiar,
pertencente ao ACES Trás-os-Montes II - Alto Tâmega e Barroso, e a Unidade de Cuidados
Continuados de Convalescença e de Cuidados Paliativos de Vila Pouca de Aguiar,
pertencente ao Centro Hospitalar de Trás-os-Montes e Alto Douro, Entidade Pública
Empresarial (EPE). A UCSPSVPA possui duas extensões de saúde associadas, nas freguesias
de Pedras Salgadas e de Campo de Jales.
Actualmente a UCSPVPA assegura a prestação de CSP a cerca de 15965 utentes.
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Rés-do-chão
14 gabinetes médicos
1 gabinete de Psicologia
1 gabinete de Saúde Pública
1 Sala de Observação
8 gabinetes de enfermagem
10 salas de administração
11 salas de espera
8 WC para funcionários
5 WC para utentes (masculino e feminino)
3 WC para utentes de mobilidade reduzida
1 Sala de Radiologia
1 Biblioteca
1 Sala de reuniões
3 Salas de arquivo
1 Bar
1 Lavandaria
7 Salas de arrumos
1 Capela
1 Cozinha
1 Garagem
1 Farmácia
1 Morgue desactivada
CSSJ
UCSPVPA
Cave
Salas de arquivo e arrumos pequenos
Pequena lavandaria
Bar
Back Office
Secretaria
Rés-do-chão
2 salas de enfermagem (tratamentos e
injectáveis)
Sala de espera para enfermagem
Principal recepção administrativa
WC para utentes de mobilidade reduzida
Pequena sala de esterilização
Piso 1 e 2
Sala de espera
Pequena recepção administração
WC para funcionários
WC para utentes (masculino e feminino)
Sala de enfermagem
8 gabinetes médicos
Piso 3
Pequena sala de espera
Gabinete do director
Sala de reuniões/Biblioteca
WC para funcionários
2 gabinetes médicos
Estrutura física
As estruturas físicas das US encontram-se sumariadas na Figura 1.
Figura 1: Estrutura física das US.
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Recursos Humanos, Materiais e Informáticos
A tabela 1 sumariza as informações relativas ao número de utentes e aos recursos
humanos, informáticos e materiais das US. Relativamente aos recursos humanos constata-se
que a UCSPVPA apresenta um maior número de médicos especialistas em MGF, enfermeiros,
técnicos administrativos e auxiliares de apoio e vigilância. Destaca-se ainda a existência de
um médico especialista em Saúde Pública, um assistente social, dois técnicos de Radiologia e
um técnico de Cardiopneumologia em tempo parcial. Relativamente ao CSSJ destaca-se a
existência de dois psicólogos e um podologista. Ambas as US se encontram informatizados.
Ambas utilizam o Sistema de Informatização nas Unidades de Saúde (SINUS), o Alert P1, o
Sistema de Apoio à Prática de Enfermagem (SAPE) e o Sistema de Apoio ao Médico (SAM).
O CSSJ utiliza adicionalmente o sistema HIGIA, onde procede aos registos clínicos, e o
DiabCare Data, empregado para o registo de dados dos diabéticos em vigilância.
Relativamente aos recursos materiais verifica-se que ambos possuem electrocardiograma,
sendo que o CSSJ possui ainda Monitorização Ambulatória de Pressão Arterial (MAPA), e a
UCSPVPA possui serviço de Radiologia.
Tabela 1: Número de utentes, recursos humanos, informáticos e materiais das US.
CSSJ UCSPVPA
Nº de utentes 20073 15965
Recursos
Humanos
Médicos especialistas em MGF 10 11
Médicos especialistas em Saúde Pública 0 1
Enfermeiros 16* 18
Assistente social 0 1
Psicólogos 2 1
Podologistas 1 0
Técnico de Radiologia 0 2
Técnico de Cardiopneumologia 0 1*
Técnicos administrativos 6 12
Auxiliares de apoio e vigilância 2 15
Recursos
Informáticos Software
HIGIA, SAM, Alert P1,
SINUS, DiabCare Data, SAPE
SAM, Alert P1, SINUS,
SAPE
Recursos Materiais Electrocardiograma
MAPA
Electrocardiograma
Radiologia
Nota: * em tempo parcial.
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Destaca-se ainda a existência de processos clínicos em papel na UCSPVPA, o que já
não se verifica no CSSJ, onde os registos clínicos são exclusivamente informatizados.
A partir da tabela 2 constata-se que a UCSPVPA apresenta um maior ratio
médico/utente, apresentando um maior número de médicos especialistas em MGF para um
menor número de utentes, comparativamente ao CSSJ.
Tabela 2: Ratio médico/utente.
CSSJ UCSPVPA
Nº utentes 20073 15965
Nº médicos especialistas em MGF 10 11
Ratio médico/utente 1/2007 1/1451
Ambas as US participam na formação pré-graduada de Medicina, Enfermagem e
Psicologia e na formação pós-graduada de MGF, estando o CSSJ envolvido adicionalmente
na formação pós-graduada de Pediatria.
Serviços disponibilizados
A tabela 3 sintetiza as características de atendimento aos utentes nas US que foram
contactadas durante o estágio.
Dados os diferentes modelos de organização funcional e exigências do meio onde se
localizam, as US apresentam horários de funcionamento distintos. Destaca-se na UCSPVPA a
existência de consulta aberta de MGF das 8h até às 22h de segunda a sexta-feira e das 9h às
20h aos fins-de-semana e feriados.
Ambas as US promovem as actividades características dos CSP. De salientar a
existência de Consulta de Podologia e de Cessação Tabágica no CCSJ, e a existência de
consulta de Hipocoagulação, de Cardiopneumologia, de Saúde Pública, de Saúde Escolar e de
Alcoologia na UCSPVPA.
Adicionalmente, o CSSJ realiza, através dos Serviços de Acção Social da
Universidade do Porto (UP), a prestação de cuidados médicos a estudantes e funcionários da
UP, e a UCSPVPA possui uma Unidade Móvel de Saúde.
Ambas as US referenciam doentes para outras instituições de saúde.
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Tabela 3: Características do atendimento dos utentes nas US contactadas.
CSSJ UCSPVPA
Horário de
funcionamento
08h00 - 20h00, de segunda a sexta-feira
Consulta aberta de MGF:
- 08h00 - 22h00, de segunda a sexta-feira
- 09h00 - 20h00, aos fins-de-semana e
feriados
Outros serviços:
-08h00 - 20h00, de segunda a sexta-feira
Consultas
Consulta aberta de MGF
Consulta programada de MGF
Consulta a grupos de risco:
- Hipertensão arterial
- Diabetes
Consulta a grupos vulneráveis:
- Saúde Materna
- Saúde Infantil
- Planeamento Familiar
- Vigilância Oncológica
Consulta de Psicologia
Consulta de Podologia
Consulta de Cessação Tabágica
Consulta domiciliária
Consulta aberta de MGF
Consulta programada de MGF
Consulta a grupos de risco:
- Hipertensão arterial
- Diabetes
- Hipocoagulação
Consulta a grupos vulneráveis:
- Saúde Materna
- Saúde Infantil
- Planeamento Familiar
- Vigilância Oncológica
Consulta de Saúde Escolar
Consulta de Psicologia
Consulta de Saúde Pública
Consulta de Cardiopneumologia
Consulta de Alcoologia
Consulta domiciliária
Outros
serviços Cuidados médicos a estudantes e funcionários da UP Unidade Móvel de Saúde
Referenciação
Centro Hospitalar do Porto, EPE
Hospital Joaquim Urbano
Hospital da Prelada
Hospital Magalhães Lemos, EPE
Instituto Português de Oncologia do Porto Francisco
Gentil, EPE
Centro Hospitalar de Trás-os-Montes e
Alto Douro, EPE
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Estudo demográfico
A figura 2 compara as populações que frequentam as US contactadas.
2100 1800 1500 1200 900 600 300 0 300 600 900 1200 1500 1800 2100
< 55 a 9
10 a 1415 a 1920 a 2425 a 2930 a 3435 a 3940 a 4445 a 4950 a 5455 a 5960 a 6465 a 6970 a 74≥ 75
Faix
a et
ária
(ano
s)
M
Nº absoluto de utentes
CCSJ UCSPVPA
Figura 2: Comparação da população do CSSJ e UCSPVPA.
A figura 3 representa a distribuição da população do CSSJ, segundo o programa
SINUS. A faixa etária predominante no sexo masculino é a dos 35 aos 39 anos enquanto que
no sexo feminino é a dos 75 ou mais anos.
1000 800 600 400 200 0 200 400 600 800 1000 1200 1400
< 5
5 a 910 a 14
15 a 19
20 a 2425 a 29
30 a 3435 a 39
40 a 4445 a 49
50 a 5455 a 59
60 a 64
65 a 6970 a 74
≥ 75
Fai
xa e
tária
(an
os)
m
Nº absoluto de utentes
Sexo Masculino Sexo Feminino
Figura 3: Pirâmide etária da população do CSSJ.
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A distribuição etária da população da UCSPVPA, segundo o mesmo programa,
encontra-se apresentada na figura 4. A faixa etária predominante em ambos os sexos é a dos
75 ou mais anos.
1200 1000 800 600 400 200 0 200 400 600 800 1000 1200
< 5
5 a 910 a 14
15 a 19
20 a 2425 a 29
30 a 3435 a 39
40 a 4445 a 49
50 a 5455 a 59
60 a 64
65 a 6970 a 74
≥ 75
Fai
xa e
tária
(an
os)
m
Nº absoluto de utentes
Sexo Masculino Sexo Feminino
Figura 4: Pirâmide etária da população da UCSPVPA.
A partir da análise da figura 5 constata-se que, apesar de predominar em ambas as US
a população em idade activa ou potencialmente activa (dos 15 aos 64 anos), verifica-se que na
UCSPVPA existe uma maior percentagem de idosos (> 64 anos) e uma menor percentagem
de jovens ( <15 anos) do que no CSSJ, o que aponta desde logo para um envelhecimento
populacional mais acentuado nesta área.
0
10
20
30
40
50
60
70
80
< 15 15 - 64 > 64
Faixa etária (anos)
% d
e po
pula
ção
m
CSSJ UCSPVPA
Figura 5: Percentagem de população por grupo etário nas US analisadas.
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A figura 6 representa a comparação da Relação de Masculinidade (RM) e do Índice de
Envelhecimento (IE) da população abrangida pelo CSSJ, pela UCSPVPA e de Portugal [3].
78,74
130,65
95,67
213,05
93,8117,6
0
50
100
150
200
250
RM IE
%
CSSJ UCSPVPA Portugal
Figura 6: Relação de masculinidade (RM) e índice de envelhecimento (IE) da população do CSSJ, UCSPVPA e Portugal.
Relativamente à RM, em ambas as populações abrangidas pelas US verifica-se a
predominância de indivíduos de sexo feminino, em concordância com o que se verifica em
Portugal [3], embora este predomínio seja mais acentuado na população do CSSJ, em que se
verifica uma RM de 78,74%.
Constata-se que em ambas as populações o IE é superior ao observado em Portugal
[3], sendo este valor muito superior na população abrangida pela UCSPVPA (213,05%),
traduzindo um envelhecimento populacional muito mais marcado.
A figura 7 apresenta o índice de dependência de idosos (IDI), o índice de dependência
de jovens (IDJ) e o índice de dependência total (IDT) da população abrangida pelo CSSJ, pela
UCSPVPA e de Portugal [3].
Constata-se que, em concordância com o envelhecimento populacional acentuado da
população abrangida pela UCSPVPA verificado anteriormente, o IDI é superior ao valor
correspondente da população do CSSJ e de Portugal [3].
27,01
20,66
47,66
36,18
16,99
53,16
26,722,8
49,4
0
10
20
30
40
50
60
IDI IDJ IDT
%
CSSJ UCSPVPA Portugal
Figura 7: Índice de dependência de idosos (IDI), índice de dependência de jovens (IDJ) e índice de dependência total (IDT) da população do CSSJ, UCSPVPA e Portugal.
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DESCRIÇÃO DAS ACTIVIDADES
O cronograma das actividades realizadas no decorrer da residência de MC encontra-se
no apêndice I.
Seminários
O início de cada módulo foi marcado pela participação em dois seminários, realizados
no Departamento de Clínica Geral da FMUP, onde foram abordados os seguintes temas:
• Organização da residência em MC, planificação das actividades e bibliografia
recomendada.
• Definição e organização dos CSP. Conceito de MGF.
• Principais motivos de consulta por patologia aguda e crónica em CSP.
• Programas nacionais de saúde.
• Cuidados na gravidez.
• Saúde da Mulher.
• Saúde infanto-juvenil.
• Rastreios: princípios fundamentais. Rastreios em vigor.
• Comunicação da má notícia.
• Cuidados paliativos na MGF.
Actividades nos Centros de Saúde
Módulo urbano
A orientação das actividades realizadas e a integração na dinâmica do CSSJ estiveram
a cargo do Professor Doutor Frey Ramos.
Verificou-se a oportunidade de participar em consultas tuteladas de diversas áreas,
nomeadamente de Consulta Aberta de MGF, Consulta de Saúde Adultos, Consulta de Saúde
Materna, Consulta de Saúde Infanto-Juvenil, Consulta de Planeamento Familiar e Consulta a
Grupos de Risco (hipertensos e diabéticos). Foi possível a participação activa na colheita de
histórias clínica e realização de exame objectivo, a realização de exame de rotina a grávidas e
crianças com menos de 24 meses, a avaliação do desenvolvimento de crianças e registo em
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cartas de percentis, a avaliação das funções cardio-respiratórias em crianças, o estudo de uma
criança portadora de incapacidade crónica, o estudo de casos com problemas de saúde mental,
o estudo de casos de pessoas permanentemente incapacitadas de sair de casa, e o registo
informático dos dados colhidos, nomeadamente nos programas HIGIA e SAM.
Foi também possível colaborar em procedimentos de Enfermagem, nomeadamente
administração de vacinas e fármacos, pesquisa de glicemia capilar, realização de teste
Combur urinário em grávidas, colocação de MAPA, realização de electrocardiograma e
execução de pensos segundo técnicas assépticas, entre outros.
Módulo rural
As actividades realizadas no módulo rural tiveram orientação da Doutora Teresa
Passos Coelho.
Para além das actividades enunciadas para o módulo urbano, foi também autorizada a
realização de Consultas de Planeamento Familiar, a execução de exames de rastreio
oncológico (citologia cervico-vaginal), a observação de uma pequena cirurgia (remoção de
um lipoma no couro cabeludo) e a participação em Consultas Médicas Domiciliárias, que,
pela sua particularidade, permitiram vivenciar a prestação de cuidados num ambiente exterior
ao consultório médico.
Trabalhos elaborados
Em ambos os módulos foram elaborados os registos dos motivos de consulta,
diagnósticos, referências e retornos de outros cuidados de saúde, durante um dia de consulta
(apêndice II e III).
No módulo urbano foi também desenvolvida uma reflexão acerca do impacto da
criança doente na dinâmica familiar (apêndice IV), e um panfleto, no âmbito da Educação
para a Saúde, subordinado ao tema da Obesidade Infantil (apêndice V).
No módulo rural foi elaborado um algoritmo de avaliação da amenorreia secundária
(apêndice VI), e foi também realizada uma história clínica no âmbito de MGF (apêndice VII).
Os trabalhos elaborados permitiram abrir uma nova perspectiva acerca das
problemáticas encontradas nos CSP, bem como da importância do enquadramento familiar
para uma compreensão mais abrangente dos indivíduos e dos seus problemas de saúde.
Relatório de Estágio Profissionalizante em Medicina Comunitária
Jennifer Menezes Pires Página 16
Outras actividades
Nos dias 28 e 29 de Outubro de 2010 foi encorajada a participação nas “VII Jornadas
de Urologia do Norte em Medicina Familiar”. Foram abordados os problemas urológicos mais
frequentes no campo dos CSP, bem como as principais actualizações no que diz respeito ao
seu tratamento.
No dia 4 de Novembro de 2010 foi realizada uma visita ao Centro Integrado de Apoio
a Deficientes, no Porto, que pretendeu expor a dinâmica de funcionamento desta instituição.
Este centro abrange o Instituto de São Manuel, que promove a defesa dos direitos do cidadão
portador de deficiência visual e multideficiência, segundo uma planificação integrada dos
serviços de apoio que vão desde a infância até à idade adulta. Engloba também o Centro
Professor de Albuquerque e Castro, envolvido na publicação de imprensa em Braille.
Durante a realização do módulo rural foi possível visitar a Unidade Móvel de
Mamografia da Liga Portuguesa Contra o Cancro (LPCC), estacionada junto à UCSPVPA, na
qual se procedia ao rastreio do cancro da mama, segundo o programa “Rastreio do Cancro da
Mama da Região Norte”, organizado pela ARS Norte, com cooperação da LPCC como
entidade executora do rastreio. Para o efeito, a LPCC procedia ao envio de um convite a todas
as mulheres entre os 45 e os 69 anos, residentes no concelho de VPA, com indicação da data
em que poderiam realizar a mamografia e o local onde se encontrava a unidade de rastreio.
Após a realização do exame, o resultado era posteriormente enviado pela LPCC para a
residência e para o médico assistente. No concelho de VPA, o programa teve início a 18 de
Novembro de 2010, com fim previsto para o início de Janeiro de 2011.
Relatório de Estágio Profissionalizante em Medicina Comunitária
Jennifer Menezes Pires Página 17
Estudo complementar
Face à oportunidade de contacto com populações de características distintas, procurou
desenvolver-se, ao longo de toda a valência de MC, um estudo complementar subordinado ao
tema “ Caracterização da obesidade infantil em meio rural e urbano”, que se apresenta de
seguida.
Introdução
A Organização Mundial de Saúde (OMS) reconhece actualmente que o excesso de
peso e a obesidade infantil atingiram proporções epidémicas na maioria dos países
industrializados, constituindo por isso um grande problema de Saúde Pública [6]. De facto,
verifica-se que a prevalência de excesso de peso e obesidade infantil e juvenil tem vindo a
aumentar a nível mundial a um ritmo preocupante [7-9]. Segundo a International Obesity
Task Force (IOTF), uma em cada 10 crianças tem excesso de peso e aproximadamente 30 a
45 milhões são obesas [10]. Segundo estudos realizados pela OMS, na Europa verifica-se
grande variabilidade na prevalência de excesso de peso e obesidade entre os diferentes países,
chegando a variar entre 5 a 30% aos 11 anos e entre 8 a 30% aos 15 anos [11].
As consequências da obesidade infantil e juvenil são variadas e incluem por exemplo,
o aumento do risco de doenças cardiovasculares, hipertensão arterial, diabetes mellitus tipo II,
aterosclerose prematura, hiperlipidemia, alterações ortopédicas, perturbações do crescimento,
alterações cutâneas, alterações gastrointestinais e hepáticas, apneia do sono e alterações
psicossociais [12-14].
Sabe-se também que crianças obesas têm maior probabilidade de se tornarem adultos
obesos do que crianças normoponderais [15].
Por outro lado, nos adultos a obesidade associa-se a diabetes mellitus tipo II,
hipertensão arterial, osteoartrose, gota, dislipidemia, doença cardiovascular e doenças das vias
biliares [16]. Verifica-se também uma associação entre a obesidade e cancro do cólon, mama
(em mulheres pós-menopáusicas), endométrio, esófago e rim [17].
Deste modo, a obesidade determina custos elevados em saúde, principalmente em
virtude das doenças crónico-degenerativas que lhe estão associadas [18]. Estima-se que
Portugal despenda 3,5% do seu orçamento anual no tratamento desta doença [19].
A etiologia da obesidade é multifactorial. O mecanismo responsável pela acumulação
de tecido adiposo é complexo, e pode ser resultante de uma combinação de factores genéticos,
Relatório de Estágio Profissionalizante em Medicina Comunitária
Jennifer Menezes Pires Página 18
metabólicos, psicológicos, ambientais e comportamentais. No entanto estima-se que apenas 1
a 5% dos casos de obesidade sejam motivados por causas endógenas, sendo os restantes 95 a
99% motivados por uma causa exógena [20].
De facto, actualmente os hábitos alimentares e o sedentarismo são os principais
responsáveis pelo aumento da prevalência desta patologia [20]. Em Portugal tem-se verificado
uma substituição da dieta mediterrânica tradicional por alimentos pré-confeccionados, de
consumo rápido, com elevado teor calórico, ricos em ácidos gordos saturados e pobres em
hidratos de carbono complexos [21, 22]. Por outro lado, as crianças e adolescentes estão a
tornar-se mais sedentários [23, 24]. Num estudo efectuado em adolescentes portugueses,
33,5% considerava ter actividade física insuficiente e 8,5% apresentaram critérios de
sedentarismo [25].
Como problema emergente, a obesidade infantil tem sido alvo de numerosos estudos,
tanto a nível internacional como a nível nacional. Em Portugal, num estudo pioneiro realizado
com crianças portuguesas de idade compreendida entre os 7 e os 9 anos, no período de 1970 a
2002, a prevalência de excesso de peso e obesidade foi de 20,3 % e 11,3%, respectivamente.
[26]. Noutro estudo, publicado em Julho de 2010, em Portugal, pelos critérios da IOTF, a
prevalência de excesso de peso em crianças entre os 6 e os 9 anos de idade foi de 28,0% e a
de obesidade infantil de 8,9%, sendo que na região norte estes resultados foram de 28,1% e
7,8%, respectivamente [27].
Apesar da investigação crescente nesta área, mantêm-se diversos pontos de
controvérsia, nomeadamente no que diz respeito aos critérios de classificação, aos métodos de
avaliação mais adequados, aos factores de risco, às melhores formas de prevenção e de
tratamento.
Objectivos
Objectivos principais:
• Avaliar e comparar a prevalência de excesso de peso e obesidade infantil em meio
rural e urbano.
• Comparar a prevalência de excesso de peso e obesidade infantil segundo género e
faixa etária.
Relatório de Estágio Profissionalizante em Medicina Comunitária
Jennifer Menezes Pires Página 19
Objectivos secundários:
• Determinar a percepção e preocupação parental com o peso dos filhos.
• Determinar a compreensão parental da problemática da obesidade infantil, em meio
rural e urbano.
• Determinar a comunicação médica dos casos de excesso ponderal aos pais.
• Caracterizar hábitos alimentares e de actividade física nas crianças em idade escolar e
adolescentes, em meio urbano e rural.
• Determinar o incentivo parental para a adopção de estilos de vida saudáveis, nas
crianças em idade escolar e adolescentes, em meio rural e urbano.
Métodos
Tipo de estudo
Trata-se de um estudo observacional e transversal, realizado em dois períodos e locais
distintos:
- a caracterização da obesidade infantil no meio urbano foi realizada de 25 de Outubro
de 2010 a 5 de Novembro de 2010, no CSSJ, Porto.
- a caracterização da obesidade infantil no meio rural foi realizada de 8 de Novembro a
19 de Novembro, na UCSPVPA.
População em estudo
Trata-se de uma amostra de conveniência, em que foi solicitada a participação da
população infanto-juvenil, acompanhada pelos pais, que frequentaram as instituições acima
citadas nos respectivos períodos.
Para avaliação dos objectivos principais do estudo englobaram-se todas as crianças e
adolescentes (dos 0 aos 18 anos), que tivessem frequentado os centros de saúde nos períodos
acima mencionados, por qualquer motivo médico (consulta, vacinação, necessidade de
cuidados de enfermagem,…) e cujos pais tivessem concedido o seu consentimento informado
para recolha dos dados pessoais e informação antropométrica.
Para avaliação dos objectivos secundários, optou-se pela realização de um inquérito
parental, aplicado aos pais das crianças avaliadas. Relativamente à identificação e
caracterização dos hábitos alimentares e de actividade física, optou-se pela realização do
questionário apenas aos pais das crianças que já estivessem em idade escolar (≥ 6 anos), uma
Relatório de Estágio Profissionalizante em Medicina Comunitária
Jennifer Menezes Pires Página 20
vez que algumas das questões colocadas não poderiam ser aplicadas relativamente a crianças
com idade inferior.
Avaliação dos parâmetros antropométricos
As crianças, cujos pais aceitaram a participação no estudo, foram encaminhadas para o
serviço de Enfermagem, onde foram recolhidos os dados relativos à altura e peso.
Nas crianças com menos de 2 anos de idade foi utilizada, para avaliação do peso, uma
balança pediátrica mecânica, da marca Seca® em ambas as US, com escala em quilogramas e
graduação de 10 g, e para avaliação da estatura, uma escala de medição pediátrica, da marca
Seca® em ambas as US, em centímetros, com resolução de 1 mm. Em ambas as US, as
crianças com mais de 2 anos de idade foram avaliadas com uma balança de coluna mecânica,
com escala de medição associada, da marca Medicir® no CSSJ e da marca Seca® na
UCSPVPA, ambas constituídas por uma escala em quilogramas, com graduação de 0,1 kg e a
escala métrica com resolução de 0,5 cm. As medições antropométricas foram efectuadas uma
única vez em cada criança.
Definição de excesso de peso e obesidade
Para crianças com menos de 2 anos de idade, após a determinação do peso e estatura,
foi determinado o índice peso/estatura. Considerou-se excesso de peso quando o z-score do
índice peso/estatura para a idade e género calculado foi ≥ 2 e obesidade quando este valor foi
≥ 3, segundo as recomendações da IOTF e da OMS [28].
Para crianças com 2 ou mais anos de idade, após determinação do peso e altura, foi
calculado o Índice de Massa Corporal (IMC) segundo a fórmula: Peso (kg)/Estatura2 (m). As
definições de excesso de peso e obesidade foram baseadas nos valores internacionais de
percentis de IMC segundo idade e género divulgados por Cole et al [29] e aprovados pela
IOTF e pela OMS.
Questionário
A recolha de dados foi feita através de um questionário construído para o efeito
(Apêndice VIII). A primeira parte do inquérito foi aplicada a todos os pais que autorizaram a
recolha de parâmetros antropométricos, e pretendeu avaliar a percepção parental do peso dos
filhos, a compreensão parental da problemática da obesidade infantil e a comunicação médica
dos casos de excesso ponderal aos pais. A segunda parte do inquérito foi aplicada apenas aos
pais de crianças em idade escolar (≥ 6 anos) que receberam autorização para recolha de
Relatório de Estágio Profissionalizante em Medicina Comunitária
Jennifer Menezes Pires Página 21
parâmetros antropométricos, e pretendeu caracterizar a actividade física e hábitos alimentares
das crianças e adolescentes e incentivo parental para adopção de estilos de vida saudáveis.
Tratamento estatístico dos dados:
O conjunto dos dados recolhidos foi recodificado e analisado no programa SPSS 18®.
Resultados
Foram avaliadas 92 crianças e adolescentes, com idades compreendidas entre os 0 e os
18 anos de idade, 61 (66,3%) das quais residentes em meio urbano (CSSJ) e 31 (33,7%) em
meio rural (UCSPVPA), encontrando-se a comparação das características demográficas dos
dois grupos representadas na tabela 4.
Tabela 4: Comparação das populações infanto-juvenis avaliadas em meio urbano e rural, quanto às características demográficas.
Total Urbano Rural
Idade (M ± DP) 6,45 ± 5,45 6,72 ± 5,40 5,90 ± 5,59
Faixa etária
≤ 5 anos (%)
6 – 10 anos (%)
> 10 anos (%)
48,9
23,9
27,2
44,9
24,6
29,5
54,8
22,6
22,6
Género
Feminino (%)
Masculino (%)
58,7
41,3
60,7
39,3
54,8
45,2
Nota: M, média; DP, desvio-padrão
Constata-se que a idade média em ambos os grupos foi praticamente similar. De modo
semelhante, a faixa etária predominante foi a de idade inferior ou igual a 5 anos em ambos as
amostras e no que diz respeito ao género, predominaram os indivíduos do sexo feminino nos
dois grupos.
Relatório de Estágio Profissionalizante em Medicina Comunitária
Jennifer Menezes Pires Página 22
A prevalência global de excesso de peso foi de 17,4% e de obesidade 4,3%. A figura 8
compara a prevalência de excesso de peso e obesidade segundo o meio.
9,7
21,3
3,24,9
0
5
10
15
20
25
Rural Urbano
%
Excesso de peso
Obesidade
Figura 8: Prevalência de excesso de peso e obesidade em meio rural e urbano.
A prevalência de excesso de peso e obesidade segundo a faixa etária e género
encontra-se representada na tabela 5.
Tabela 5: Prevalência de excesso de peso e obesidade segundo faixa etária e género.
Faixa etária Género
≤ 5 anos 6 - 10 anos > 10 anos Masculino Feminino
Prevalência de excesso de peso 11,1% 22,7% 24,0% 18,4% 16,7%
Prevalência de obesidade 4,4% 9,1% 0,0% 2,6% 5,6%
Prevalência total de excesso ponderal
(excesso de peso e obesidade) 15,5% 31,8% 24,0% 21,0% 22,3%
Relatório de Estágio Profissionalizante em Medicina Comunitária
Jennifer Menezes Pires Página 23
A tabela 6 retrata a percepção parental do peso dos filhos, bem como a sua
preocupação relativamente ao mesmo.
Tabela 6: Percepção e preocupação parental relativamente ao peso dos filhos.
Estado ponderal
Normoponderal (n=72) Excesso de peso (n=16) Obesidade (n=4)
Percepção parental do peso dos filhos
Peso a mais
Peso normal
Peso a menos
6,9%
76,4%
16,7%
37,5%
62,5%
0 %
75%
25%
0%
Preocupação relativamente ao peso dos filhos
Sim
Não
36,1%
63,9%
37,5%
62,5%
100%
0 %
A tabela 7 sintetiza o grau de compreensão parental acerca da problemática da
obesidade infantil.
Tabela 7: Compreensão parental da problemática da obesidade infantil em meio urbano e rural.
Urbano (n=61)
Rural (n=31)
As crianças com excesso de peso têm maior probabilidade de serem, no futuro, obesos:
Concorda
Discorda
96,7%
3,3%
74,2%
25,8%
As crianças com excesso de peso têm maior probabilidade de desenvolver diabetes, hipertensão ou dislipidemia no futuro:
Concorda
Discorda
96,7%
3,3%
93,5%
6,5%
Relatório de Estágio Profissionalizante em Medicina Comunitária
Jennifer Menezes Pires Página 24
A tabela 8 pretende expor a comunicação e chamada de atenção do médico aos pais,
acerca do excesso ponderal dos filhos.
Tabela 8: Comunicação médica dos casos de excesso ponderal aos pais.
Estado ponderal
Normoponderal
(n=72) Excesso de peso
(n=16) Obesidade
(n=4)
Comunicação médica de casos de excesso ponderal aos pais
Sim 6,9% 12,5% 75%
Não 93,1% 87,5% 25%
A segunda parte do inquérito parental foi aplicada a um total de 47 pais (aqueles cujos
filhos se encontravam em idade escolar), 33 (70,2%) dos quais em meio urbano e 14 (29,8%)
em meio rural, e pretende caracterizar a actividade física e o sedentarismo (tabela 9), os
hábitos alimentares (tabela 10) e o incentivo parental para a adopção de comportamentos
saudáveis (tabela 11).
Tabela 9: Caracterização da actividade física e sedentarismo da população infanto-juvenil, em idade escolar, em
meio urbano e rural.
Urbano (n=33) Rural (n=14)
Nº de vezes que realiza 30 a 60 minutos de exercício por semana
≤ 2 72,7% 42,9%
≥ 3 27,3% 57,1%
Nº de horas por dia que despende com televisão, computador ou jogos de vídeo
≤ 1 54,5% 57,1%
≥ 2 45,5% 42,9%
Relatório de Estágio Profissionalizante em Medicina Comunitária
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Tabela 10: Caracterização dos hábitos alimentares da população infanto-juvenil, em idade escolar, em meio urbano e rural.
Urbano (n=33) Rural (n=14)
Nº de vezes que toma pequeno-almoço por semana Sempre 93,9% 100%
Local onde almoça habitualmente durante a semana
Casa 27,3% 57,1%
Cantina 69,7% 42,9%
Outro 3,0% 0%
Em casa consomem quantos dos seguintes alimentos habitualmente: pizza, hambúrguer, pré-cozinhados,
pré-fritos e batatas fritas
≤ 1 27,3% 57,1%
2 33,3% 28,6%
≥ 3 39,4% 14,3%
Quantas vezes as refeições tiveram por base alimentos da lista anterior, na semana precedente
0 30,3% 50%
1 -2 57,6% 50%
≥ 3 39,4% 0%
Numa semana, quantas vezes comem fruta à refeição
≤ 2 15,2% 0%
3 - 4 21,2% 14,3%
≥ 5 63,6% 85,7%
Numa semana, quantas vezes comem legumes à refeição
≤ 2 12,1% 0%
3 - 4 24,2% 14,3%
≥ 5 63,6% 85,7%
Tabela 11: Caracterização do incentivo parental para a adopção de estilos de vida saudáveis, em meio urbano e rural.
Urbano (n=33) Rural (n=14)
Incentivo parental para adopção de hábitos alimentares saudáveis
Não incentiva ou incentiva
pouco 15,2% 28,6%
Incentiva muito
84,8% 71,4%
Incentivo parental para actividade física
Não incentiva ou incentiva
pouco 21,2% 35,7%
Incentiva muito
78,8% 64,3%
Relatório de Estágio Profissionalizante em Medicina Comunitária
Jennifer Menezes Pires Página 26
Discussão
No presente estudo obteve-se uma prevalência global de excesso de peso de 17,4% e
de obesidade de 4,3%. Estas foram superiores em meio urbano (21,3% e 4,9%,
respectivamente) quando comparadas com aquelas encontradas em meio rural (9,7% e 3,2%,
respectivamente). Os resultados globais foram inferiores aos verificados a nível nacional
(28,0% e 8,9%, respectivamente, pelos critérios da IOTF) e da região norte (28,1 e 7,8%,
respectivamente, pelos critérios da IOTF) [27], provavelmente devido ao reduzido tamanho
amostral. No entanto, a maior prevalência de excesso de peso e obesidade em meio urbano
está de acordo com os resultados de outros estudos publicados que assinalam esta tendência
[30].
De notar que a prevalência conjunta de excesso de peso e obesidade foi superior na
faixa etária dos 6 aos 10 anos de idade (31,8%), o que corrobora o facto de se tratar de uma
idade-chave para o desenvolvimento de alterações do estado ponderal [20]. Verificou-se uma
maior prevalência de excesso de peso no sexo masculino (18,4%), no entanto a prevalência
conjunta de excesso de peso e obesidade foi superior no sexo feminino (22,3%).
Relativamente à percepção parental do peso dos filhos e à sua preocupação
relativamente ao mesmo, verificou-se que a maioria dos pais de filhos com excesso de peso
(62,5%) subestima o peso dos filhos e não se encontra preocupada com o mesmo. Segundo
alguns autores a percepção que os pais têm do excesso de peso dos filhos pode estar
relacionada ao seu próprio estado de saúde ou ao estado de saúde familiar [31]. Noutros casos
os pais não entendem o excesso de peso dos filhos como um problema ou risco para a saúde
[32]. Outros autores sugerem que os pais podem não compreender o significado de “excesso
de peso” e a relação existente com outras patologias [33]. Verificou-se também que por vezes
são influenciados pelo facto de as suas crianças serem estigmatizadas pelo excesso de peso e,
como tal, evitam reconhecer este problema nos filhos [34]. Também é possível que, dadas as
recentes tendências de aumento do tamanho corporal da população em geral, tenha aumentado
o limiar para o qual os pais reconhecem o excesso de peso infantil [35]. Alguns estudos
defendem a existência de variáveis capazes de influenciar as percepções parentais relativas ao
excesso de peso dos filhos, como o género, a etnia, o nível socioeconómico e cultural dos pais
[35, 36], no entanto tal não foi avaliado neste trabalho.
No que diz respeito ao grau de compreensão parental acerca da problemática da
obesidade infantil, constatou-se que 25,8% dos inquiridos em meio rural discorda do facto de
as crianças com excesso de peso terem maior probabilidade de serem obesas no futuro. Estes
Relatório de Estágio Profissionalizante em Medicina Comunitária
Jennifer Menezes Pires Página 27
resultados poderão demonstrar um menor grau de informação acerca da temática em meio
rural, que poderá estar relacionada com discrepâncias socioeconómicas e educativas, no
entanto tal não foi avaliado neste estudo.
Relativamente à comunicação e alerta do médico acerca do estado ponderal dos filhos,
verificou-se que a maioria dos casos de excesso de peso (87,5%) não foram comunicados aos
pais, o que poderá traduzir uma inadequada avaliação estaturo-ponderal, falta de informação
acerca dos critérios de classificação de excesso de peso e obesidade, ou ainda existência de
uma comunicação ineficaz entre os profissionais de saúde e os pais.
Relativamente à prática de exercício físico, constatou-se que em meio urbano 72,7%
da população infanto-juvenil avaliada despendeu 2 horas ou menos por semana na prática de
30 a 60 minutos de exercício físico, contra 42,9% em meio rural, o que traduz desde logo
maior taxa de sedentarismo em meio urbano. Segundo as recomendações da OMS, seria ideal
realização de 60 minutos de actividade física por dia [38]. O número de horas despendido
com televisão, computador ou jogos de vídeo foi praticamente similar nos dois grupos, com
54,5% em meio urbano e 57,1% em meio rural a despenderem uma hora ou menos, por dia,
nesse tipo de actividades. Um estudo sugere que o risco de obesidade aumenta em 12% por
cada hora despendida a ver televisão, e diminui em 10% por cada hora de actividade física
moderada ou intensa realizada por dia [39]. Noutro estudo verificou-se que o risco para as
crianças apresentarem excesso de peso, por cada hora que passavam por dia a ver televisão,
era de 1,06, independentemente da idade e sexo da criança e etnia e nível educacional dos pais
[40].
Vários estudos epidemiológicos têm demonstrado uma associação entre dietas
inadequadas, com consumo excessivo de gorduras e pobreza em legumes e vegetais, e o
aumento do peso corporal [41]. No que diz respeito à caracterização dos hábitos alimentares,
constatou-se que a maioria da população avaliada em meio urbano durante a semana almoça
na cantina, enquanto que em meio rural o faz em casa. De realçar também o maior consumo
de pizza, hambúrgueres, pré-cozinhados, pré-fritos e batatas fritas em meio urbano, sendo que
39,4% consumiram 3 ou mais refeições que tiveram por base estes alimentos na semana
anterior ao inquérito. Constatou-se também um maior consumo de frutas e legumes às
refeições (87,5%) no grupo residente em meio rural. Estes resultados apontam para hábitos
alimentares mais saudáveis em meio rural.
Relativamente ao incentivo parental para a adopção de hábitos alimentares saudáveis e
para a prática de exercício físico, verificou-se que existe um maior incentivo no grupo
residente em meio urbano.
Relatório de Estágio Profissionalizante em Medicina Comunitária
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O presente estudo apresenta diversas limitações resultantes da sua metodologia. A
primeira delas, e a mais importante, prende-se com o reduzido tamanho amostral, que poderá
não traduzir uma representação fidedigna das populações estudadas. Este facto condicionou
toda a análise estatística, não se tendo obtido resultados estatisticamente significativos para
nenhum dos parâmetros avaliados.
Para ultrapassar esta limitação poderia, por exemplo, ter-se alargado o período de
estudo, de modo a obter uma maior amostra, no entanto, manter-se-ia o problema da sua
representatividade. Também se poderia ter procurado realizar um estudo observacional e
transversal baseado na recolha dos dados antropométricos registados nos programas
informáticos nas US, embora, neste caso, não fosse possível efectuar o inquérito parental.
Verificou-se também que a faixa etária predominante foi a de idade inferior ou igual a
5 anos, o que poderá traduzir uma maior afluência deste grupo às US comparativamente às
outras faixas etárias, devido a avaliações médicas e imunizações mais frequentes neste grupo,
e que pode ter condicionado um enviesamento dos resultados do estudo.
Por outro lado o estudo encontra-se também limitado pelo uso de um questionário não
validado e pela utilização de instrumentos de medição de peso e altura não estandardizados e
que variaram entre as US.
Outra limitação relaciona-se com a caracterização da actividade física, sedentarismo e
hábitos alimentares. Relativamente aos hábitos alimentares, o mais correcto teria sido a
quantificação exacta da ingestão de alimentos durante um dia normal. No que diz respeito à
actividade física e sedentarismo, teria sido importante caracterizar e quantificar o tipo de
actividade física realizada, especificar os motivos no caso de não realizarem e discriminar o
número de horas despendido especificamente com televisão, computador e jogos de vídeo.
Idealmente, os parâmetros em estudo na segunda parte do inquérito teriam sido
relacionados com o estado nutricional das crianças e adolescentes em idade escolar avaliados,
no entanto, como já foi mencionado anteriormente, devido ao reduzido tamanho da amostra,
tal não foi possível, tendo-se optado por uma caracterização segundo o meio.
A escolha dos critérios de definição para excesso de peso e obesidade poderá ser outro
ponto controverso deste estudo. De facto, existem actualmente numerosos critérios de
classificação de excesso de peso e obesidade infantil. Neste estudo, para crianças com 2 ou
mais anos de idade foram adoptados os valores estabelecidos internacionalmente por Cole e
colaboradores, que relacionam os pontos de corte do IMC do adulto (excesso de peso se IMC
≥ 25 kg/m2 e obesidade se IMC ≥ 30 kg/m2) com os percentis de IMC para crianças e
adolescentes, de acordo com idade e género. Este critério de classificação é actualmente
Relatório de Estágio Profissionalizante em Medicina Comunitária
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defendido pela IOTF e pela OMS, sendo frequentemente utilizado em estudos de
investigação, uma vez que se torna menos arbitrário do que outras definições e pode facilitar
comparações directas de obesidade infantil e juvenil a nível mundial e nacional [20]. Nas
crianças com idade inferior a 2 anos, utilizam-se geralmente cartas de percentis do índice
peso/estatura, uma vez que não existem cartas de percentis do IMC para esta faixa etária.
Segundo as recomendações da OMS e da IOTF considera-se excesso de peso quando o z-
score deste índice é superior ou igual a 2 e obesidade quando superior ou igual a 3 [28].
Conclusão
Apesar das limitações, os objectivos foram globalmente alcançados.
Os resultados obtidos corroboram, de um modo geral, aqueles já encontrados na
literatura. De facto, verifica-se uma maior prevalência de excesso de peso e obesidade
infanto-juvenil em meio urbano, o que estará muito provavelmente relacionado com a maior
prevalência de sedentarismo e hábitos alimentares inadequados observados nesta área, apesar
de tal inferência não ter sido possível neste estudo dado o reduzido tamanho da amostra.
Dois pontos importantes nos resultados deste estudo foram a elevada taxa de
subestimação parental dos casos de excesso de peso e a sua sub-comunicação aos pais pelo
médico assistente. Estudos adicionais poderão ser necessários para esclarecer os motivos que
estão na base destes dois aspectos.
No combate a esta epidemia, surgem, portanto, como pontos fundamentais a promoção
de uma alimentação equilibrada e da prática de exercício físico regular, intervenção essa que
não deve ser restrita às consultas de saúde infantil e a acções de educação para a saúde em
US, mas que deve também envolver acções educativas nas escolas, tanto para os filhos como
para os pais e encarregados de educação, assim como a oferta de alimentação saudável e
disponibilidade de meios físicos para a prática de actividades físicas nas escolas.
Devem procurar realizar-se regularmente consultas de monitorização do crescimento
das crianças e adolescentes, e, se necessário, disponibilizar o apoio de equipas
pluridisciplinares envolvendo médicos assistentes, pediatras, enfermeiros, psicólogos,
nutricionistas e endocrinologistas.
Relatório de Estágio Profissionalizante em Medicina Comunitária
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CONCLUSÕES
O estágio profissionalizante de MC revelou-se uma excelente oportunidade de
aprendizagem de conhecimentos teóricos e práticos, através de uma abordagem médica
peculiar, centrada na pessoa, na família e na comunidade, que permitiu também o
desenvolvimento de competências humanas e éticas.
A oportunidade de vivenciar a MGF em contexto rural e urbano foi um ponto
fundamental neste estágio, uma vez que permitiu abrir novas perspectivas acerca das
discrepâncias existentes nas características e necessidades das suas populações, assim como
das diferenças nos CSP existentes em cada meio.
O enquadramento em equipas multidisciplinares, o exercício de aptidões técnicas,
assim como o desenvolvimento da autonomia, foram também aspectos de grande relevância,
afigurando-se como capacidades indispensáveis para o início da prática médica que se
avizinha.
Os trabalhos realizados durante o estágio permitiram uma reflexão aprofundada acerca
de algumas das patologias e problemáticas encontradas no contexto dos CSP, realidades
completamente distintas daquelas encontradas a nível hospitalar.
O estudo complementar desenvolvido evidenciou a importância da epidemiologia a
nível dos CSP. Neste contexto, trata-se de uma ferramenta essencial para prevenção da doença
e promoção da saúde, uma vez que permite o desenvolvimento de estudos de causalidade
acerca de factores de risco potencialmente modificáveis, fornecendo uma base sólida de
conhecimento para a prevenção primária de inúmeras patologias. Por outro lado, ao permitir a
comparação de diferentes populações, evidencia a necessidade de intervenções particulares e
específicas, adaptadas às características e problemas de cada comunidade.
Os objectivos deste relatório foram globalmente atingidos e o impacto pedagógico e
pessoal do estágio foi marcado. Este relatório reflecte o empenho desenvolvido ao longo de
todo o estágio e reafirma a importância dos CSP no currículo médico.
Relatório de Estágio Profissionalizante em Medicina Comunitária
Jennifer Menezes Pires Página 31
BIBLIOGRAFIA
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APÊNDICES
Apêndice I Cronograma das actividades desenvolvidas na valência de MC.
Apêndice II Registo dos motivos de consulta, diagnósticos, referências e retornos de
outros cuidados de saúde, durante um dia de consulta – Módulo urbano.
Apêndice III Registo dos motivos de consulta, diagnósticos, referências e retornos de
outros cuidados de saúde, durante um dia de consulta – Módulo rural.
Apêndice IV Reflexão relativa a um caso clínico: O impacto da criança doente na
dinâmica familiar – Módulo urbano.
Apêndice V Panfleto no âmbito da Educação para a Saúde: Obesidade Infantil –
Módulo urbano.
Apêndice VI Fluxograma: Algoritmo de avaliação da amenorreia secundária – Módulo
rural.
Apêndice VII História clínica de um paciente no âmbito da MGF – Módulo rural.
Apêndice VIII Questionário utilizado no estudo complementar.
Apêndice I – Cronograma das actividades desenvolvidas na valência de MC
Módulo urbano – Centro de Saúde São João
Data 25/10/10 26/10/10 27/10/10 28/10/10 29/10/10
Actividades
Manhã Seminário Consulta Enfermagem
VII Jornadas de
Urologia do Norte
em MGF
VII Jornadas de
Urologia do Norte
em MGF
Tarde Consulta Enfermagem Consulta
VII Jornadas de
Urologia do Norte
em MGF
-
Data 01/11/10 02/11/10 03/11/10 04/11/10 05/11/10
Actividades
Manhã
Feriado
Consulta Enfermagem Visita ao CIAD Consulta
Tarde Enfermagem Consulta Consulta -
Módulo rural – Unidade de Cuidados de Saúde Personalizados de Vila Pouca de Aguiar
Data 08/11/10 09/11/10 10/11/10 11/11/10 12/11/10
Actividades
Manhã Seminário Consulta Consulta Consulta Consulta
Tarde - Consulta Consulta Enfermagem Consulta
Data 08/11/10 09/11/10 10/11/10 11/11/10 12/11/10
Actividades
Manhã Consulta Consulta Consulta Consulta Consulta
Tarde Enfermagem Consulta
domiciliária
Planeamento
familiar Enfermagem Consulta
Apêndice II – Registo de um dia de consulta – Módulo urbano
Apêndice III – Registo de um dia de consulta – Módulo rural
Apêndice IV – Reflexão – Módulo urbano
REFLEXÃO RELATIVA A UM CASO CLÍNICO: O IMPACTO DA C RIANÇA
DOENTE NA DINÂMICA FAMILIAR
S. J. M. T., sexo masculino, 3 meses e 19 dias de idade, apresenta-se no dia 27 de
Outubro de 2010, acompanhado pela mãe, na consulta de saúde infanto-juvenil para
avaliação do crescimento estaturo-ponderal e desenvolvimento psico-motor.
Situação social e familiar:
• Habitação em ambiente urbano, sem saneamento básico, com utilização de água
de poço.
• Família nuclear: mãe, 22 anos, saudável, desempregada, e pai, 23 anos, saudável,
operário fabril.
Antecedentes pessoais:
• Gravidez: I gesta, I para, vigiada, tentativa de interrupção voluntária de gravidez
com misoprostol.
• Parto eutócico, às 38 semanas, na Maternidade Júlio Dinis, APGAR 9/10, peso
2850 g (P10), comprimento 49 cm (P25), perímetro cefálico 33 cm (P10).
• Icterícia neonatal, tendo efectuado fototerapia de D2 a D7.
• Internamento na Unidade de Cuidados Intensivos Neonatais da Maternidade Júlio
Dinis, no D1 por convulsões neonatais, associadas a instabilidade glicémica, com
necessidade de bólus de soro glicosilado e fluidoterapia até D6. Em D11 iniciou
recusa alimentar parcial, associada a vómitos, sendo que duas uroculturas
realizadas revelaram isolamento de E.coli, tendo por isso efectuado 10 dias de
ampicilina e gentamicina e posteriormente efectuado profilaxia com trimetoprim.
• Recorre ao Serviço de Urgência, com 27 dias de vida, por quadro de
irritabilidade que evoluiu para quadro convulsivo, associado a hipoglicemia. Foi
internado no Serviço de Pediatria do Hospital Maria Pia para esclarecimento
etiológico e vigilância da evolução clínica. O resultado do estudo analítico
revelou valores de glicose, ACTH, cortisol, hormona de crescimento, T4 livre e
TSH muito diminuídos. A RM crânio-encefálica revelou ectopia da neurohipófise,
hipoplasia da haste pituitária e quiasma óptico de espessura diminuída. A
ecografia abdominal demonstrou uma ligeira ectasia piélica no rim direito. Foi
portanto estabelecido o diagnóstico de Panhipopituitarismo Congénito e de
Ectasia piélica direita. A evolução clínica foi favorável, tendo tido alta médica
cerca de 1 mês depois.
Medicação habitual:
• Hidrocortisona 1,3 mg 3id, levotiroxina 25 µg/dia, hormona de crescimento 0,15
mg por via subcutânea, de 2ª a 6ª feira.
Na consulta a mãe refere que o lactente não tem apresentado sintomatologia de
relevo, com desenvolvimento psico-motor adequado para a idade. O Boletim de Vacinação
encontra-se actualizado, tendo realizado adicionalmente a Prevenar 13®. Ao exame físico
apresenta peso 6130g (P10-25), comprimento 38 cm (P<5) e perímetro cefálico 43 cm (P75).
Verifica-se que o lactente apresenta reflexo vermelho duvidoso e criptorquidia bilateral.
São explicitados os conselhos e recomendações próprias para a idade. O doente é
referenciado para cirurgia pediátrica e oftalmologia pediátrica, mantém consulta de
endocrinologia pediátrica e aguarda consulta de nefrologia pediátrica.
A doença crónica na infância apresenta uma prevalência bastante elevada com
implicações para o desenvolvimento da própria criança e também para a dinâmica familiar,
sendo caracterizada pelo seu curso demorado, progressão, necessidade de tratamentos
prolongados e pelo seu impacto na capacidade funcional da criança.
Estimativas sobre a sua prevalência na infância indicam que entre 15 a 18% da
população infantil americana pode sofrer de alguma forma de disfunção crónica, incluindo
condições físicas, deficiências no desenvolvimento, dificuldades de aprendizagem e doença
mental.
A doença e a hospitalização da criança afectam a vida familiar de variadas maneiras,
dando origem a mudanças psico-emocionais, nos relacionamentos e na dinâmica familiar. Na
criança, o aparecimento de uma doença crónica, obriga quase sempre os progenitores a alterar
os planos que projectaram para o seu futuro. É, assim, natural que o diagnóstico de uma
doença grave possa fazer submergir a respectiva família numa crise emocional que afecta
profundamente todos os seus elementos. A desorganização sofrida pela família após o
diagnóstico surge frequentemente na fase de expansão ou de consolidação do seu ciclo vital,
comprometendo a vida quotidiana dos seus membros.
Assim, a doença crónica deve ser encarada como factor de stress que afecta o
desenvolvimento normal da criança e que, por conseguinte, atinge também as relações dentro
do sistema familiar. De facto, face a uma criança cronicamente doente, a família depara-se
com a necessidade de visitas constantes ao médico, administração de terapêutica,
reincidências e hospitalizações, ao longo do desenvolvimento e crescimento da criança, além
do peso constante de um eventual agravamento do quadro clínico. Os recursos psicológicos
dos progenitores, da própria criança e a estrutura familiar interagem e podem contribuir para a
adaptação da criança. Por vezes o desajustamento da criança doente pode estar mais
relacionado com o modo como a família lida com a situação do que com os comportamentos
da criança em si. O suporte familiar e as competências de cada membro da família são
importantes fontes de informação e influenciam o modo com a criança irá lidar com a doença.
A contextualização do stress familiar associado à doença crónica, especialmente o parental,
deve considerar as características dos pais e a percepção que eles possuem relativamente à
doença do filho.
No entanto, é necessário ter em conta que as diferentes respostas que as famílias
experienciam em relação ao stress são também influenciadas pela rede de apoio social que
possuem. Por exemplo, o isolamento social da família em que um dos membros é portador de
doença crónica é um acontecimento relativamente frequente, que pode deixar o doente e a
respectiva família mais vulneráveis a transtornos emocionais, perpetuar o estigma da doença e
criar problemas para encarar a própria doença. Isto pode ocorrer por diversas razões, entre
elas a natureza da própria doença, o estigma social ou até o facto da família evitar falar sobre
o assunto.
Outro aspecto muito importante a ter em consideração nos casos de crianças
cronicamente doentes é a relação mãe-criança. De facto os primeiros anos de vida da criança
constituem uma etapa fundamental para o seu desenvolvimento físico e emocional. Segundo
Bowlby, o vínculo criado com mãe constituirá a base para as relações futuras da criança.
Todavia, quando o bebé não corresponde às expectativas da mãe, nomeadamente devido a
uma doença crónica, esta poderá não conseguir responder às necessidades do filho, e o
desenvolvimento do vínculo afectivo entre eles pode assim ficar ameaçado. Quando esta
interacção entre a mãe e a criança é inadequada, a criança tem maiores riscos de atrasos e
dificuldades no desenvolvimento, limitações sociais, cognitivas e linguísticas. Para
Wasserman, o fantasma do bebé saudável pode também interferir na adaptação da família,
especialmente se o processo de luto não for resolvido adequadamente.
Por outro lado, mães e pais procuram uma explicação clara sobre a doença do filho e
sobre as suas consequências e sentem-se, geralmente, frustrados quando isso não é possível.
Podem até mesmo questionar a sua competência genética, o que conduz a sentimentos de
culpa. A auto-estima dos progenitores pode ficar substancialmente diminuída.
Após o primeiro impacto há famílias que se conseguem reorganizar criando sistemas
de coping para lidar com o stress, no entanto, outras, perante uma realidade demasiado
dramática, podem apresentar um desajustamento face à criança, adoptando atitudes variadas:
de superprotecção, de negação, de fuga ou de agressividade. Se a família já é disfuncional, o
impacto do diagnóstico e internamento terá certamente repercussões maiores.
Assim, e tendo em atenção que os pais, pelo vínculo afectivo de proximidade que
possuem com os filhos, também ficam doentes, os médicos assistentes, como prestadores de
cuidados directos a estes utentes, devem ter a sensibilidade adequada para lidar com estas
situações. Devem por isso estar atentos a alguns dos sentimentos que poderão eventualmente
ser manifestados pelos pais:
• Negação e descrença, que já poderiam apresentar na fase aguda da doença;
• Raiva, que podem direccionar contra a criança, cônjuge, técnicos de saúde e até
contra si próprios;
• Culpabilidade pela doença do filho, sentindo que falharam no papel de pais e
sentindo-se inseguros para cuidar do filho doente. A culpa é quase sempre uma
resposta universal para os pais. No caso da família ter mais filhos, além daquele
que está doente, os pais podem também culpabilizar por não darem o apoio
necessário aos outros filhos.
• Frustração e perda de controlo, resultantes da falta de informação relativamente à
situação clínica do seu filho, de estabelecer e cumprir regras hospitalares, ou ainda
a sensação de serem recebidos hostilmente ou de questionar incessantemente os
médicos e técnicos de saúde;
• Depressão, que pode surgir após a agudização da doença, acompanhada de
exaustão física e mental, além da preocupação com as despesas que a doença
acarreta, sobretudo se se tratar de uma família com dificuldades económicas;
• Medo e ansiedade, relacionados com o prognóstico da doença, procedimentos,
tratamentos e sequelas que a criança possa vir a manifestar;
• Impotência e desamparo.
• Constrangimento.
A adaptação às mudanças decorrentes da doença e hospitalização infantil exigem da
família novas formas de organização e requerem o desenvolvimento de capacidade para lidar
com stress, ansiedade, dificuldades e incertezas existentes quando a vida familiar se encontra
dividida entre o lar e o hospital, bem como a promoção e manutenção do bem-estar do
sistema familiar.
Para isso, e com a ajuda de uma equipa multidisciplinar, que inclui o médico
assistente, a família deve aprender a desenvolver determinadas competências, nomeadamente:
• Conhecer e aceitar a doença;
• Gerir a doença e apoiar a criança na sua doença;
• Adquirir segurança para cuidar da criança doente;
• Lidar com a solidão e isolamento;
• Lidar com os procedimentos médicos;
• Gerir recursos financeiros limitados;
O apoio médico, psicológico e social dado a estas famílias pode, em muito, ajudar a
evitar disfuncionalidades ou mesmo ruptura entre os seus membros, bem como prevenir o
aparecimento de novas doenças.
Neste caso, estamos perante uma criança com uma doença crónica, com prognóstico
incerto, inserida numa família que vive em situação de precariedade social e cuja estrutura
não se encontra ainda estudada.
Seria então importante fazer uma avaliação clínica familiar, utilizando ferramentas
como o genograma, a psicofigura de Mitchel, o círculo familiar de Thrower, de modo a
avaliar a dinâmica familiar, as relações inter-familiares e o grau de funcionalidade da
família, assim como a avaliação de factores de risco familiares. De igual modo, seria
necessário averiguar a existência de uma rede de apoio social, que possa proporcionar apoio
material e afectivo a esta família carenciada.
Face à precariedade habitacional, deveria também procurar enquadrar-se esta
família num programa de apoio à habitação social.
Deveria avaliar-se o tipo de sentimentos experienciados pelos pais, tendo especial
atenção aos da mãe da criança, que, pela tentativa de interrupção voluntária da gravidez,
poderá estar a vivenciar profundos sentimentos de culpa, que poderão reflectir-se
eventualmente em manifestações psicossomáticas.
Outro ponto determinante, seria estudar o vínculo afectivo entre a mãe e o filho, uma
vez que, se este estiver comprometido, poderá acarretar o risco de dificuldades no
desenvolvimento da criança.
Assim, será determinante uma abordagem familiar precoce, de uma equipa
multidisciplinar, que englobe, no mínimo, o médico de família, o psicólogo e o assistente
social, de modo a limitar o desenvolvimento de disfuncionalidades e a evitar o aparecimento
de outras doenças nos restantes membros da família.
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Apêndice V – Panfleto – Módulo urbano
Apêndice VI – Fluxograma – Módulo rural
ALGORITMO DE AVALIAÇÃO DA AMENORREIA SECUNDÁRIA
Negativo Positivo
A amenorreia pode ser definida, de um modo geral, como ausência de ciclos
menstruais transitória, intermitente ou permanente, de origem hipotalâmica, hipofisária,
ovárica, uterina ou vaginal.
Por amenorreia primária subentende-se ausência de menarca aos 16 anos, na presença
de crescimento normal e de caracteres sexuais secundários, ou ausência de menarca aos 14
anos na ausência de caracteres sexuais secundários.
A amenorreia secundária é a ausência de ciclos menstruais por mais de 3 ciclos ou
por mais de 6 meses, em mulheres com menstruações previamente normais.
A amenorreia pode afectar até um terço das mulheres em idade reprodutiva, sendo a
amenorreia secundária mais comum do que a primária e constituindo, por isso, um motivo
muito frequente de consulta.
Face a este tipo de situação, os médicos assistentes devem procurar colher uma
história clínica detalhada e realizar um exame objectivo exaustivo, uma vez podem surgir
achados que indiciem alguma patologia subjacente (tabela 1).
Achados Associações História clínica
• Exercício físico, perda ponderal, doença crónica, consumo de drogas
Amenorreia hipotalâmica
• Menarca e história menstrual Amenorreia primária vs secundária • Quimio ou radioterapia prévia do SNC Amenorreia hipotalâmica • Radioterapia pélvica prévia Falência ovárica prematura • Stress psicossocial, história nutricional Anorexia ou bulimia nervosa • Actividade sexual Gravidez
História familiar • Padrão de distribuição do pêlo púbico Síndrome de insensibilidade aos
androgéneos • Infertilidade Múltiplas causas • Menarca e história menstrual (mãe e irmãs) Atraso constitucional da
puberdade Exame objectivo
• Parâmetros antropométricos Atraso constitucional do crescimento e puberdade
• Índice de massa corporal Síndrome do ovário poliquístico • Alterações dismórficas (baixa estatura, aumento do espaço
intermamilar) Síndrome de Turner
• Estádios de Tanner Amenorrreia primária vs secundária
• Palpação tiroideia Doença tiroideia • Septo vaginal transverso, hímen imperfurado Obstrução das vias genitais • Distribuição do pêlo púbico, aparência dos órgãos genitais
externos Síndrome de insensibilidade aos androgéneos
• Virilização, hipertrofia do clitóris Tumor secretor de andrógeos Revisão por aparelhos e sistemas
• Anosmia Síndrome de Kallmann • Dor abdominal cíclica, alterações mamárias Obstrução das vias genitais,
agenesia mulleriana • Galactorreia, cefaleia ou alterações visuais Tumor hipofisário • Hirsutismo ou acne Síndrome do ovário poliquístico • Sinais e sintomas de hiper ou hipotiroidismo Doença tiroideia • Sintomas vasomotores Falência ovárica prematura
Tabela 1: Achados da história clínica e exame objectivo que se associam a algumas causas
de amenorreia
A causa mais comum de amenorreia secundária é a gravidez. Após a exclusão de uma
eventual gravidez, e se não houver indícios na história clínica ou no exame físico que possam
apontar para alguma causa, deve, geralmente, proceder-se ao doseamento da THS e da
prolactina.
Se se verificar apenas alteração dos valores de TSH, deverá procurar estudar-se a
função tiroideia, uma vez que uma doença tiroideia estará provavelmente subjacente.
Se estivermos perante um aumento do valor da prolactina isolado, deverão estudar-se
causas de hiperprolactinemia (quadro 5).
Se os níveis de TSH e prolactina estiverem dentro dos valores considerados normais,
deverá proceder-se ao teste da progesterona, que consiste na administração, por exemplo, de
10 mg de acetato de medroxiprogesterona por dia, por via oral, durante 7 a 10 dias, ou na
administração parentérica de 200 mg de progesterona em dose única, e permite avaliar a
patência das vias genitais e detectar estrogénio endógeno. A hemorragia de privação ocorre
geralmente 2 a 7 dias após a realização do teste da progesterona, e sugere que estamos
perante um hipogonadismo normogonadotrófico (quadro 1). Se o teste for negativo, não se
verificando hemorragia de privação, significa que estamos perante a presença de obstrução
das vias genitais ou estrogenização inadequada. O teste do estroprogestativo permite
diferenciar entre os dois diagnósticos. Este teste consiste, por exemplo, na administração oral
de 2 mg de estradiol, durante 21 dias, seguido por 10 mg de acetato de medroxiprogesterona
por dia, por via oral, durante 7 a 10 dias. Um teste estroprogestativo negativo, em que não se
verifica hemorragia de privação, geralmente aponta para uma obstrução das vias genitais
(quando 2). Um teste positivo indica a presença de alteração no eixo hipotálamo-hipófise-
ovários.
Os níveis de gonadotrofinas podem posteriormente ser úteis para determinar a origem
das alterações. Níveis de FSH ou LH elevados sugerem alterações ováricas, isto é,
hipogonadismo hipergonadotrófico (quadro 3). Níveis normais ou diminuídos de FSH ou LH
sugerem alterações hipofisárias ou hipotalâmicas, ou seja, hipogonadismo hipogonadotrófico
(quadro 4). Uma RMN da sela turca permite excluir um tumor hipofisário. Uma RMN
normal sugere uma causa hipotalâmica.
Sintetizando, após gravidez, doença tiroideia e hiperprolactinemia terem sido eliminadas
como potenciais diagnósticos, as restantes causas de amenorreia secundária são classificadas
como hipogonadismo normogonadotrófico, hipogonadismo hipogonadotrófico e
hipogonadismo hipergonadotrófico, estando cada uma associada a etiologias específicas.
Bibliografia: Master-Hunter T, Heiman DL. Amenorrhea: evaluation and treatment. Am Fam Physician. 2006 Apr 15;73(8):1374-82.
Hipogonadismo normogonadotrófico:
• Síndrome do ovário poliquístico • Administração de androgénios exógenos • Doença de Cushing • Acromegalia • Tumor secretor de androgénios (ovárico
ou supra-renal) • Hiperplasia adrenal congénita não
clássica
Quadro 1: causas de amenorreia secundária
por hipogonadismo normogonadotrófico
Obstrução das vias genitais:
• Síndrome de Asherman • Estenose cervical
Quadro 2: causas de amenorreia secundária
por obstrução das vias genitais
Hipogonadismo hipergonadotrófico:
• Falência ovárica pós-menopausa • Falência ovárica prematura:
o Auto-imune o Quimioterapia o Radiação pélvica o Galactosemia o Genética o Síndrome de deficiência 17-
hidroxilase o Idiopática
Quadro 3: causas de amenorreia secundária
por hipogonadismo hipergonadotrófico
Hipogonadismo hipogonadotrófico:
• Anorexia ou bulimia nervosa • Tumor do sistema nervoso central • Doença crónica:
o Doença hepática crónica o Insuficiência renal crónica o Diabetes mellitus o Imunodeficiência o Doença inflamatória intestinal
• Depressão severa • Stress psicossocial • Radiação craniana
Quadro 4: causas de amenorreia secundária
por hipogonadismo hipogonadotrófico
Quadro 5: causas de amenorreia secundária
por hiperprolactinemia
Hiperprolactinemia:
• Prolactina ≤ 100 ng/mL: o Alteração do metabolismo: - Falência renal - Falência hepática o Produção ectópica - Broncogénica - Gonadoblastoma o Amamentação o Estimulação mamária o Hipotiroidismo o Medicação: - Anticoncepcional oral - Antipsicóticos - Antidepressivos - Anti-hipertensores - Bloqueadores H2 - Opiáceos - Cocaína
• Prolactina > 100 ng/mL: o Síndrome da sela turca vazia o Adenoma hipofisário
Apêndice VII – História Clínica – Módulo rural
COLHEITA DA HISTÓRIA
A presente história clínica engloba-se nas actividades desenvolvidas durante a valência
rural da prática clínica de Medicina Comunitária, que decorreu de 8 a 19 de Novembro de
2010, tendo sido colhida e elaborada por Jennifer Menezes Pires, aluna do 6º ano do Mestrado
Integrado em Medicina, da Universidade do Porto.
Data e hora da recolha da informação: 12 de Novembro de 2010, 17h15
Local: Centro de Saúde de Vila Pouca de Aguiar
Fontes de informação: entrevista clínica com a utente e consulta do processo clínico
da mesma.
Fiabilidade da informação: Informação aparentemente fiável e fidedigna. A utente
mostrou-se cooperante e disponível, tendo, no entanto alguma dificuldade em recordar datas
de alguns eventos.
A entrevista clínica decorreu num gabinete médico, com ambiente calmo e de
privacidade, sem ocorrência de interrupções, permitindo estabelecer-se uma relação de
confiança e empatia.
IDENTIFICAÇÃO
Nome: M.D.
Sexo: feminino
Idade: 39 anos
Raça: caucasiana
Naturalidade: Pensalvos, Vila Pouca de Aguiar
Residência: Lagobom, Vila Pouca de Aguiar
Estado civil: casada
Profissão: funcionária administrativa em fábrica de explosivos
ANTECEDENTES PESSOAIS
Doenças da infância
Desconhece doenças da infância.
Doenças da idade adulta
2003: Hipertensão Arterial.
Tuberculose óssea.
2004: Depressão reactiva.
Hospitalizações e cirurgias prévias
14/09/1988: parto eutócico de L.P.
30/07/1991: parto eutócico de R.F.
2000: aborto espontâneo, submetida a curetagem uterina.
03/07/2004: parto eutócico de recém-nascido nado-morto.
08/08/2007: artroplastia total da anca esquerda.
14/09/2009: revisão da artroplastia total da anca esquerda.
Traumatismos e acidentes
Nega traumatismos ou acidentes de relevo.
Alergias
Desconhece alergias alimentares ou medicamentosas.
Antecedentes transfusionais
Nega transfusões prévias
Antecedentes ginecológicos
Menarca aos 10 anos.
Ciclos menstruais regulares, com interlúnios de 28 dias e cataménios de 4 dias, com
fluxo menstrual abundante no primeiro dia e escasso nos restantes.
Coitarca aos 17 anos, tendo tido apenas um parceiro sexual. Iniciou contracepção
hormonal oral aos 17 anos, interrompendo para engravidar. Mudou de método contraceptivo
em 2004, após o parto de um recém-nascido nado-morto, sendo que desde então utiliza o
preservativo masculino. Nega a utilização de outros métodos contraceptivos.
Nega metrorragias, coitorragias, leucorreia, dor pélvica crónica ou antecedentes de
doenças sexualmente transmissíveis.
Submetida anualmente a exame citológico cervico-vaginal, tendo realizado o último
em Setembro de 2010, aguardando o resultado.
Antecedentes obstétricos:
4 gesta, 3 para, 1 aborto, 1 nado-morto, 2 filhos vivos:
• 1988: 1ª gestação, desejada, vigiada, que decorreu sem intercorrências. Parto
eutócico às 40 semanas de gestação, de feto do sexo masculino, com APGAR ao
primeiro minuto de 9 e aos 5 minutos de 10, com peso de 5120 g, comprimento de
48 cm e perímetro cefálico de 36 cm.
• 1991: 2ª gestação, desejada, vigiada, que decorreu sem intercorrências. Parto
eutócico às 39 semanas de gestação, de feto do sexo masculino, com APGAR ao
primeiro minuto de 9 e aos 5 minutos de 10, com peso de 3250 g, comprimento de
45 cm e perímetro cefálico de 35 cm.
• 2000: 3ª gestação, desejada, vigiada, que culminou em aborto espontâneo, de feto
de sexo feminino, com 12 semanas de gestação, tendo sido submetida a curetagem
uterina.
• 2004: 4ª gestação, não planeada, vigiada desde as 16 semanas de gestação, que
culminou em parto eutócico de recém-nascido nado-morto, de sexo feminino, com
29 semanas de gestação, com peso de 1370 g, com suspeita de malformação fetal
por oligoâmnios marcado.
CUIDADOS DE SAÚDE HABITUAIS
Alimentação
Duas refeições diárias, almoço e jantar, com predomínio de consumo cozidos e
grelhados, preferência por peixe e vegetais, consumo salino moderado e restrição de
fritos, gorduras e açúcar.
Tabaco
Nega hábitos tabágicos.
Álcool
Nega hábitos alcoólicos.
Drogas
Nega consumo de qualquer tipo de drogas.
Actividade física
Nega prática de exercício físico regular.
Plano de vacinação
Plano de vacinação actualizado. Não efectuou vacina antigripal.
Terapêutica habitual
- Perindopril 2 mg + Indapamida 0,625 mg
- Amitriptilina 50 mg
- Diclofenac 100 mg
- Naproxeno 500 mg
- Omeprazol 20 mg
GRAU DE AUTONOMIA
Actualmente a doente é autónoma e independente, não apresentando limitações no que
respeita às actividades diárias ou à mobilidade.
HISTÓRIA SOCIAL E PROFISSIONAL
Escolaridade
A utente completou a 4 ª classe de escolaridade.
Profissão actual
Em 2008, encontrou emprego como funcionária numa fábrica de explosivos no
concelho de Vila Pouca de Aguiar. Encontra-se desde há cerca de um ano com baixa
por Incapacidade Temporária para Actividades Profissionais.
Profissões prévias
Aos 9 anos foi trabalhar como “criada” numa família residente em Coimbra, onde
permaneceu durante 5 anos.
Aos 15 anos regressou a casa, ajudando nas tarefas da lida da casa e na agricultura.
Após o casamento, aos 17 anos, permaneceu em casa como doméstica, dedicando-se
adicionalmente ao cultivo de legumes e criação de animais domésticos, para consumo
próprio.
Em 2001, concluiu um curso profissional de jardinagem, patrocinado pela
Câmara Municipal de Vila Pouca de Aguiar, tendo posteriormente ficado a
trabalhar como funcionária da Câmara Municipal com o cargo de auxiliar de
manutenção de jardins e espaços públicos, durante cerca de 7 anos.
Habitação
Vive em moradia própria, em zona salubre, com 3 assoalhadas, electricidade,
aquecimento central, água do sistema de abastecimento público e saneamento
básico pertencente à rede pública.
Possui terreno adjacente à moradia, no qual se dedica ao cultivo de legumes e
criação de animais domésticos.
Estrutura familiar
O agregado familiar é constituído pela utente, marido e respectivos filhos,
constituindo, assim, uma família nuclear.
Relações sociais
Fora do seio familiar, a doente não apresenta relações sociais.
HISTÓRIA FAMILIAR
Avó materna: Lucinda, faleceu aos 60 anos por cancro do estômago.
Avô materno: Pedro, desconhece idade e motivo de falecimento.
Avós paternos: não conheceu, desconhece idade e motivo de falecimento.
Pai: Alberto, 65 anos, problemas osteoarticulares que não sabe especificar.
Mãe: Margarida, 58 anos, antecedentes de Hipertensão Arterial e cancro do cólon.
Irmãos:
Ana Maria, 37 anos, sem antecedentes patológicos de relevo.
António Manuel, faleceu aos 35 anos, em França, após acidente de trabalho.
Lucinda, 33 anos, residente em França, sem antecedentes patológicos de relevo.
Paulo Jorge, faleceu aos 7 anos, após atropelamento.
Céu: 23 anos, sem antecedentes patológicos de relevo.
Luís Miguel: 20 anos, sem antecedentes patológicos de relevo.
Filhos:
Luís Filipe, 22 anos, sem antecedentes patológicos de relevo.
Rafael, 19 anos, sem antecedentes patológicos de relevo.
Marido: Augusto, 41 anos, com emprego temporário como funcionário numa oficina de
automóveis, alcoólico, antecedentes de esplenectomia após acidente de viação e dislipidemia.
BIOPATOGRAFIA
M.D. nasce a 9 de Agosto de 1971 em Pensalvos, no concelho de Vila Pouca de
Aguiar, filha primogénita de Alberto e Margarida, que viriam a ter ainda 6 outros filhos. A
gravidez foi desejada, sendo que o parto eutócico decorreu sem intercorrências, com auxílio
de uma parteira.
A mãe era doméstica e o pai dedicava-se à agricultura e pecuária. Refere que a família
era pobre, vivendo numa habitação em meio rural, com condições precárias, com duas
assoalhadas, sem electricidade, água proveniente de um poço, sem saneamento básico e com
aquecimento feito através de lareiras. Menciona que a família tinha grandes dificuldades
económicas, tendo chegado a passar fome. No entanto refere-se à infância como a época mais
feliz da sua vida, destacando o bom relacionamento com os pais e com os 4 irmãos mais
novos, Ana Maria, António Manuel, Lucinda e Paulo Jorge.
Refere que apesar das dificuldades foi sempre uma criança saudável. Frequenta a
escola até à 4ª classe de escolaridade, ajudando ainda os pais na lida da casa, cuidando dos
irmãos mais novos e auxiliando nalgumas tarefas relacionadas com a agricultura e pecuária.
Devido à difícil situação financeira da família, com cerca de 9 anos, é enviada pelos
pais para Coimbra, para servir de “criada” numa família abastada. No entanto, refere ter sido
um período complicado, uma vez que para além das saudades da família, se sentia muitas
vezes humilhada pelos seus patrões.
Regressa a casa aos 15 anos, após a morte do irmão mais novo, Paulo Jorge, com 7
anos, subsequentemente a um atropelamento. Refere que a família ficou muito abalada com o
acontecimento. Por decisão dos pais, permaneceu então no lar familiar auxiliando os pais na
educação dos irmãos.
Aos 16 anos conhece o actual marido, Augusto, então com 18 anos, tendo namorado
com ele durante cerca de um ano. Augusto era já divorciado, com um filho, Flávio Filipe, com
cerca de um ano de idade. Refere que na altura o achava educado, bem parecido e numa
situação financeira muito favorável, uma vez que provinha de uma família abastada.
Nessa altura, em 1987, a sua mãe dá à luz a sua irmã Céu, subsequentemente a uma
gravidez não programada.
Casa-se com 17 anos, tendo saindo de casa dos pais para viver juntamente com o seu
marido, em moradia própria, localizada em Lagobom, no concelho de Vila Pouca de Aguiar,
pertencente aos sogros, em zona salubre, com 3 assoalhadas, electricidade, aquecimento
central, água do sistema de abastecimento público e saneamento básico pertencente à rede
pública, na qual vive até hoje.
Logo após o casamento, começa a ser vítima de violência física e psicológica por parte
do marido e dos sogros, que são seus vizinhos. Depara-se também com os problemas de
alcoolismo do marido.
Engravida pouco após o casamento, sendo que a gravidez decorreu sem complicações.
Dá à luz Luís Filipe a 14 de Setembro de 1988.
Em 1990 a sua mãe teve uma nova gravidez não planeada, dando à luz o seu irmão
Luís Miguel.
Em 30 de Julho de 1991, nasce o seu segundo filho, Rafael.
Os maus-tratos físicos e psicológicos mantiveram-se, chegando a ter de ser assistida,
por diversas vezes, no Serviço de Urgência do Centro de Saúde de Vila Pouca de Aguiar.
Refere que seus dois filhos, apesar de nunca terem sido vítimas de abuso físico ou
psicológico, assistiram numerosas vezes aos conflitos entre ela e o marido, o que poderá ter
tido influência no seu mau aproveitamento escolar. Foi aconselhada pelos seus pais e irmãos a
iniciar um processo de divórcio, no entanto refere que sempre manteve a esperança que o
marido mudasse de comportamento.
Em 2000, decide engravidar novamente, uma vez que desejava ter uma menina. No
entanto a gestação culmina num aborto espontâneo, pelas 12 semanas de gestação, tendo sido
submetida a curetagem uterina. Refere que ficou muito triste com o acontecimento, pelo que
tomou a decisão de utilizar um anticoncepcional oral para não voltar a engravidar.
Em 2001, conclui um curso profissional de jardinagem, patrocinado pela Câmara
Municipal de Vila Pouca de Aguiar, e fica posteriormente a trabalhar como funcionária da
Câmara Municipal com o cargo de auxiliar de manutenção de jardins e espaços públicos,
durante cerca de 7 anos. Refere que este emprego a ajudou a passar menos tempo em casa,
próxima do marido, e lhe revelou que podia ser uma mulher independente. Considera que foi
um passo muito positivo, e relembra com agrado os colegas, com quem mantinha muito bom
relacionamento.
Em Janeiro de 2003, numa consulta de rotina, é-lhe diagnosticada Hipertensão Arterial
e inicia terapêutica anti-hipertensiva.
Em Fevereiro de 2003 inicia quadro insidioso de lombalgias e coxalgia da anca
esquerda, que inicialmente eram de intensidade moderada e que progressivamente se foram
tornando cada vez mais intensas, associadas a perda ponderal e suores nocturnos. Por
persistência da sintomatologia durante mais de 6 meses, recorre ao médico assistente para
estudo da situação. A 25 de Agosto de 2003 é submetida a um Raio-X da coluna lombo-
sagrada e articulações sacro-ilíacas, que revela osteólise extensa a nível do colo, região
intertrocantérica e região subtrocantérica do fémur esquerdo. A 27 de Setembro de 2003 é
submetida a uma TAC que confirma a presença de uma lesão lítica com diâmetro crânio-
caudal de cerca de 9 cm, na região interapofisária do fémur esquerdo, tendo sido orientada
para o Serviço de Ortopedia do Centro Hospitalar de Trás-os-Montes e Alto Douro, com
suspeita de tuberculose óssea ou tumor ósseo. Não apresentava alterações no Raio-X
pulmonar e a pesquisa de Bacilo de Koch na expectoração foi negativa. Realizou uma
primeira biópsia da zona da lesão no fémur esquerdo, cujo resultado foi perdido, tendo tido
necessidade, por isso, de realizar uma segunda biópsia, cujo resultado nunca foi
compartilhado com a doente nem com o médico assistente. A doente refere que foi um
período de grande ansiedade, relativamente ao eventual diagnóstico, e também de grande
frustração, devido aos erros cometidos e problemas de comunicação entre os profissionais de
saúde.
Em Novembro de 2003 inicia o tratamento para a tuberculose com isoniazida,
rifampicina, pirazinamida e etambutol, com duração prevista de um ano.
A 22 de Março de 2004, após uma amenorreia de 4 meses, realiza um teste de gravidez
e descobre que está grávida. Refere que utilizava um anticoncepcional oral como meio
contraceptivo, não tendo sido informada da diminuição do seu efeito quando associado à
terapêutica antituberculosa. De início encara esta gravidez não planeada com alguma
preocupação, no entanto fica muito feliz e cria grandes expectativas a partir do momento em
que lhe é dado a conhecer que está grávida de uma menina.
A 3 de Julho de 2004, com 29 semanas de gestação, inicia espontaneamente trabalho
de parto, que culmina em parto eutócico de recém-nascido nado-morto com suspeita de
malformação fetal por oligoâmnio marcado. Este acontecimento terá sido responsável pela
Depressão Reactiva que a utente desenvolveu de seguida. Refere que ficou muito abalada e
que ainda hoje não conseguiu ultrapassar o luto desta criança.
Após a conclusão a terapêutica antituberculosa, mantinha as queixas álgicas e não se
verificou melhoria do ponto de vista imagiológico. O diagnóstico de tuberculose óssea nunca
foi confirmado à doente nem ao seu médico assistente, não lhes tendo sido fornecido qualquer
informação sobre o diagnóstico definitivo.
A 8 de Agosto de 2008 é submetida a artroplastia total da anca esquerda. No entanto,
subsequentemente a esta cirurgia, o membro inferior esquerdo fica com menos 13 cm que o
membro contra-lateral, associando-se a dores intensas, báscula da bacia e escoliose
compensatória. Refere que este facto afectou de sobremaneira a sua imagem corporal, auto-
estima e capacidade de trabalho.
Ainda em 2008, encontra emprego como funcionária numa fábrica de explosivos no
concelho de Vila Pouca de Aguiar, em que exerce funções administrativas.
Em Março de 2009, o seu irmão, António Manuel, falece com 35 anos,
subsequentemente a um acidente de trabalho, em França, onde residia.
A 14 de Setembro de 2009 é submetida a uma revisão da artroplastia total da anca
esquerda, mas mantém lombalgia e coxalgia de grande intensidade após a cirurgia,
encontrando-se com incapacidade temporária para actividade profissional desde então.
Em Janeiro de 2010, os seus filhos, que concluíram ambos o 9º ano de escolaridade,
partem para a Suíça, realizar um estágio remunerado, no ramo da hotelaria. Refere que
durante esse período aumentaram o número de agressões por parte do marido.
Os filhos regressam em Agosto de 2010, permanecendo em casa desde então. A utente
refere sentir-se mais protegida quando os filhos vivem em casa, e teme que eles saiam de casa
definitivamente.
Em conclusão, podemos resumir a biopatografia da doente através da seguinte representação esquemática:
AVALIAÇÃO FAMILIAR
Genograma e Psicofigura da Mitchel
O genograma consiste no registo gráfico da composição da família, contendo pelo
menos três gerações seguidas ou sequenciais. Dá um panorama rápido da posição do
indivíduo na família e os principais acontecimentos da vida familiar.
A utente nega história de malformações congénitas, cromossomopatias, doenças
genéticas ou metabólicas.
Legenda:
?
Carcinoma
gástrico ? ?
Alcoolismo
Esplenectomia
Tuberculose óssea
Hipertensão arterial
Problemas osteoarticulares
Cancro do cólon
Hipertensão Arterial
Acidente Acidente
A Psicofigura de Mitchel, que faz parte do genograma, consiste na representação
gráfica das relações familiares.
M.D. é vítima de violência física e psicológica da parte do marido, Augusto. Refere
que “devia ter tido coragem para o deixar quando era nova” (sic), mas acreditava que ele
mudaria de comportamento quando tivessem filhos. Posteriormente, quando ainda não
trabalhava, “não lhe podia fazer frente porque ele era o sustento” (sic) dos seus filhos, e
mesmo quando arranjou emprego “o dinheiro não dava para nos alimentar aos 3” (sic). Refere
sentimentos de ódio e raiva em relação ao marido, chegando a dizer que “o amor acabou no
dia do casamento” e que “o único prazer da vida dele é bater-me e humilhar-me em frente a
toda a gente” (sic). Considera-o uma pessoa sem sentimentos, revelando que não demonstrou
quaisquer sentimentos de tristeza ou pesar perante o seu aborto espontâneo e da sua filha
nada-morta.
Mantém com os dois filhos, Luís Filipe e Rafael, uma relação muito fusional, de amor
e protecção mútua “eles são a minha luz” (sic). Deram-lhe muito apoio e reconforto ao longo
de todas as etapas da sua doença e no desenlace das duas últimas gestações “o que tinha sido
de mim sem eles” (sic). No entanto, sente que, por vezes, não lhes dá espaço para poderem
viver a sua juventude, transbordando-os com os seus problemas conjugais e problemas de
saúde. Refere sentir-se muito triste com a perspectiva de eles saírem de casa definitivamente.
Ambos os filhos entram frequentemente em conflito com o pai, sobretudo quando este
agride M.D., no entanto Augusto nunca violentou directamente os filhos, acalmando-se
geralmente quando estes tentam proteger a mãe. A utente refere mesmo que “o Augusto gosta
mesmo muito deles” (sic).
Relativamente à restante família, M.D. mantém laços profundos de amor e amizade,
considerando-se muito próxima dos seus pais e de todos os seus irmãos, especialmente da sua
irmã Ana Maria, que encara como sua confidente.
Mantém com os sogros uma relação de intensa hostilidade, pelos abusos físicos e
psicológicos a que a submeteram, e por incitarem o marido a maltratá-la. Acredita que esta
agressividade resulta do facto de que eles não queriam que o filho casasse com ela, por a
considerarem de classe social inferior.
Ciclo de vida familiar de Duvall
O ciclo de vida familiar de Duvall define as 8 etapas pelas quais a família passa
durante a sua evolução. É importante o médico identificar a entrada para uma nova fase, de
modo a apoiar e ajudar os seus elementos nessa transição.
Neste caso, a família de M.D. encontra-se na estádio VI do ciclo de vida familiar de
Duvall, com os filhos a iniciar a sua emancipação e saída do lar familiar, uma vez que foram
ambos trabalhar, durante um período de 6 meses, para a Suíça, no ramo da hotelaria.
Fase Descrição Familiar
I: Família inicial Casal sem filhos
II: Família com filhos pequenos Filho mais velho nascido há menos de 30 meses
III: Família com filhos em idade pré-escolar Filho mais velho entre 30 meses e 6 anos
IV: Família com filhos em idade escolar Filho mais velho entre 6 e 13 anos
V: Família com filhos adolescentes Filhos entre os 13 e os 20 anos
VI: Família com filhos adultos jovens Os filhos saem de casa
VII: Família de meia-idade Entre a saída do último filho e a reforma
VIII: Família a envelhecer Desde a reforma até à morte dos dois progenitores
Círculo familiar de Thrower
O Círculo Familiar de Thrower é a representação gráfica do valor que têm para o
indivíduo as pessoas (familiares, amigos, etc.) ou a alguns objectos e seres que lhe são
próximos.
Para tal, o entrevistador desenha um círculo grande que representa a família, e pede
ao entrevistado para desenhar outros círculos que representam a sua própria pessoa e os
diferentes membros da família e, se necessário outros objectos que tenham importância vital
no sistema.
Da representação elaborada pela doente, constata-se a forte relação existente entre
M.D. e os seus filhos, assim como o bom relacionamento que mantém com os pais e os
irmãos. Oralmente, refere que tem uma relação mais próxima com a sua irmã Ana Maria, mas
ao desenhar decide englobar todos os seus irmãos no mesmo círculo.
Relevante é o grande afastamento do marido, Augusto, e dos sogros, que foram
excluídos do círculo familiar, manifestando para com eles sentimentos de grande hostilidade.
Ao elaborar este esquema, M.D. observa com tristeza que não tem amigos fora do
círculo familiar, que associa ao isolamento social resultante da atitude possessiva do marido e
também à limitação física originada pela sua doença e respectivas cirurgias.
M.D.
Rafael
Luís
Filipe
Irmãos
Pais
Augusto
Sogros
Dinâmica familiar de Minuchin
Esta representação avalia o elo emocional e o apoio que os elementos da família se
dão entre si. A família ideal será uma família funcional, coesa. As famílias disfuncionais,
moderadas ou gravemente, podem ainda ser aglutinadas, quando existe uma ligação
excessiva que impede a individualização dos seus membros, ou dispersas, quando existe uma
ligação baixa que impede a colaboração e a comunicação dentro da família.
A partir da observação do Círculo familiar de Thrower elaborado pela utente, podemos
verificar que estamos perante uma família claramente disfuncional. Temos por um lado um
núcleo emaranhado, composto pela utente e pelos seus filhos, em que parece não haver lugar
para individualização dos seus elementos, e, por outro, um afastamento marcado do marido e
sogros, que compromete uma comunicação e colaboração dentro da família, prejudicando a
dinâmica familiar.
Índice de Graffar adaptado
Trata-se uma classificação social, que se baseia em 5 critérios: profissão, nível de
instrução, fontes de rendimento familiar, conforto do alojamento e aspecto do local onde
vive. A pontuação total identifica a posição social e económica da família.
Pontos Profissão Instrução
Fonte de
rendimento
principal
Tipo de habitação Local de
residência Pontuação
Estrato
social
1
Grandes industriais e
comerciantes, gestores de
topo de grandes empresas
e administração pública,
profissionais liberais
Doutoramento
Mestrado
Licenciatura
Propriedade Luxuosa Bairro
elegante 5 a 9
Classe
Alta
2
Médios industriais,
comerciantes e
agricultores, dirigentes de
quadros técnicos das
empresas e administração
Bacharelato
Curso Superior
Altos
vencimentos,
honorários
Espaçosa e confortável Bom local 10 a 13
Classe
Média
Alta
3
Pequenos industriais e
comerciantes,
encarregados e operários
qualificados
Curso
complementar/geral
do liceu
Vencimentos
fixos
Bem conservada, com
cozinha e WC,
electrodomésticos
essenciais
Zona
antiga 14 a 17
Classe
Média
4
Pequenos agricultores,
operários semi-
qualificados, escriturários
Escolaridade
obrigatória
Remunerações
incertas
Com cozinha e WC
degradada, sem
electrodomésticos
essenciais
Bairro
social 18 a 21
Classe
Média
Baixa
5 Trabalhador
indiferenciado
Sem escolaridade
obrigatória Assistência Imprópria
Bairro de
lata 22 a 25
Classe
Baixa
Esta família soma uma total de 18 pontos e encontra-se portanto dentro da
classificação de Classe Média Baixa.
APGAR Familiar de Smilkstein
Trata-se de um instrumento que quantifica a percepção que o doente tem do
funcionamento da sua família. É constituído por cinco questões que avaliam a adaptação
intra-familiar, a comunicação, o crescimento, o afecto e a dedicação à família. O doente
selecciona uma das três respostas às questões colocadas, sendo o resultado final obtido a
partir da soma das pontuações atribuídas a cada uma das respostas. Uma pontuação global
de 7 a 10 sugere uma família altamente funcional, de 4 a 6, uma família com moderada
disfunção, de 0 a 3, uma família com disfunção acentuada. Assim, a sua aplicação precoce
permite ao médico uma detecção precoce dos problemas familiares.
Parâmetro avaliado Questão Quase sempre
(2 pontos)
Algumas vezes
(1 ponto)
Quase nunca
(0 pontos)
Adaptação
Estou satisfeito com a ajuda que recebo da
minha família sempre que alguma coisa me
preocupa
X
Comunicação
Estou satisfeito pela forma como a minha
família discute assuntos de interesse comum e
partilha comigo a solução do problema
X
Crescimento
Acho que a minha família concorda com o
meu desejo de encetar novas actividades ou de
modificar o meu estilo de vida
X
Afecto
Estou satisfeito com o modo como a minha
família manifesta a sua afeição e reage aos
meus sentimentos tais como irritação, pesar e
amor
X
Dedicação Estou satisfeito com o tempo que passo com a
minha família X
O APGAR desta família é de 3 pontos, englobando-se portanto na classificação de
família com disfunção acentuada.
Linha de vida de Medalie
A linha de vida de Medalie lista as ocorrências que sucedem a um indivíduo num
período determinado da sua vida familiar e o impacto que tiveram, correlacionando
cronologicamente os acontecimentos vitais e os problemas de saúde.
Etapa/Crise Data Problemas
Foi trabalhar com criada em Coimbra 1980 Ansiedade
Morte do irmão Paulo Jorge 1986 Luto
Casamento
Muda de casa 1987 Inicio de violência conjugal
Nascimento do 1º filho 1988
Nascimento do 2º filho 1991
3ª Gravidez: aborto espontâneo 2000 Luto
Arranja emprego como auxiliar de
manutenção de jardins e espaços
públicos
2001
2003 Tuberculose óssea
Hipertensão Arterial
4ª Gravidez, não planeada: Nado-morto 2004 Luto
Depressão Reactiva
Arranja emprego como funcionária
administrativa numa fábrica de
explosivos
2008
Artroplastia total da anca esquerda
Membro inferior esquerdo fica com menos 13
cm que o membro contra-lateral, associando-se
a dores intensas, báscula da bacia e escoliose
compensatória
Morte do irmão António Manuel 2009 Revisão de artroplastia total da anca esquerda
2010 Lombalgia e coxalgia
Escala de readaptação social de Holmes e Rahe, para unidade de crise
A utilização desta escala permite que a partir da valorização de determinadas
situações de crise se possa, de forma sumária, avaliar as dificuldades a que um indivíduo ou
família estiveram sujeitos e determinar a probabilidade de vir a desenvolver uma doença
psicossomática.
Quando um indivíduo obtém mais de 300 pontos por ano na escala de avaliação de
readaptação social, terá 80% de probabilidade de adoecer de algum tipo de doença física ou
psíquica. Quando tiver entre 200 a 300 pontos terá 50% de probabilidade de adoecer, e entre
150 e 200 pontos verifica-se maior incidência de doenças.
Na aplicação da escala, constatou-se que M.D. vivenciou o falecimento do irmão e a
realização da cirurgia de revisão da artroplastia total da anca esquerda, no último ano, o que
totaliza 116 pontos e se traduz numa probabilidade reduzida de vir a desenvolver uma doença
psicossomática.
AVALIAÇÃO DE RISCO FAMILIAR
Critérios de Risco Familiar de Imperatori
Segundo os Critérios de Risco Familiar de Imperatori estamos perante uma família de
médio risco, uma vez que dois factores de risco estão presentes. De facto, trata-se de uma
família com dinâmica da relação alterada, em que ambos os filhos estiveram sujeitos a
insucesso escolar, e em que um membro, neste caso o pai, alcoólico e abusador, altera as
relações inter-familiares.
Famílias vulneráveis:
I. Famílias compostas por pais jovens e filhos pequenos que moram todos num quarto
alugado.
II. Famílias cuja dinâmica de relação esteja alterada e que em, pelo menos, metade dos
seus filhos estejam sujeitos a insucesso escolar.
III. Famílias que solicitam em excesso os cuidados do centro de saúde.
IV. Famílias cujos membros, na sua totalidade ou na sua maioria, compartilhem um factor
de risco comum (fumadores, obesos ou alcoólicos).
V. Famílias nas quais um membro seja centro da atenção dos outros, e que, por isso, altere
as relações intra familiares (deficiente mental ou físico que não é aceite, pai alcoólico, etc.).
VI. Famílias que, pelos seus antecedentes familiares, estejam sujeitas a um risco mais
elevado de padecer de determinado tipo de doenças embora essas doenças não estejam presentes na
actualidade.
Resultado:
• Alto risco: ≥ 4 items presentes.
• Médio risco: ≥ 2 items presentes.
• Baixo risco: ≤ item presente.
Critérios de Risco Familiar de Segóvia e Dreyer
Segundo os Critérios de Risco Familiar de Segóvia e Dreyer estamos perante uma
família de médio risco, com uma pontuação de 3 pontos, uma vez que se verifica que o chefe
de família tem um emprego temporário e que temos uma situação de alcoolismo por parte do
pai.
Factores de risco
1 ponto 2 pontos
Morbilidade crónica Alcoolismo
Invalidez Droga
Hospitalizações frequentes Desnutrição
Mãe analfabeta Ausência de um dos pais
Mãe solteira Pais analfabetos
Chefe de família desempregado APGAR familiar < 4
Ausência temporária de um dos pais Filho grande deficiente
Chefe de família com emprego temporário Chefe de família preso
Morte de pai ou mãe Filho com carência afectivas graves
Resultado:
• Alto risco: ≥ 6 pontos.
• Médio risco: ≥ 3 pontos.
• Baixo risco: ≤ 2 pontos.
AVALIAÇÃO CLÍNICA
Motivo da consulta
Prorrogação da incapacidade temporária para actividade profissional.
Avaliação pelo método SOAP
• Subjectivo
A doente refere lombalgias e coxalgia da anca esquerda, de grande intensidade, que
agravam com a marcha, mas que também surgem esporadicamente em repouso e que chegam,
por vezes, acordar a doente durante a noite.
Refere também período de grande ansiedade e nervosismo, devido aos episódios de
violência conjugal.
• Objectivo
Doente consciente, colaborante, orientada no tempo e no espaço.
Idade aparente superior à idade real. Aspecto cansado.
Parâmetros antropométricos:
Peso: 67 kg
Altura: 1,65 m
IMC: 24,6 kg/m2
Parâmetros vitais:
Temperatura axilar: 36,1 ºC
Frequência cardíaca: 60 bpm
Frequência respiratória: 16 cpm
Tensão Arterial: 135/90 mmHg
Pele e faneras:
Pele e mucosas coradas e hidratadas, sem sinais de icterícia ou cianose.
Presença de cicatriz com aproximadamente 15 cm na face externa da coxa
esquerda.
Cabeça e pescoço:
Crânio de conformação normal, sem dismorfias, assimetrias ou tumefacções
visíveis. Pescoço simétrico, de conformação normal.
Movimentos amplos do pescoço.
Ausência de adenomegalias palpáveis. Tireóide não palpável.
Tórax:
Configuração normal, simétrica, sem alteração das relações dos diâmetros
antero-posterior/transverso.
Ausência de tumefacções visíveis.
Mamas simétricas e de conformação normal.
Auscultação cardíaca:
S1 e S2 presentes em todos os focos auscultatórios e de intensidade normal;
sem S3 e S4; sem sopros, sons adicionais ou atrito pericárdico audíveis.
Auscultação pulmonar:
Sons respiratórios audíveis, bilaterais, simétricos e de intensidade normal, tal
como a transmissão dos sons vocais. Ausência de ruídos adventícios e atrito
pleural. Relação inspiração/expiração normal.
Abdómen:
Ruídos hidroaéreos presentes em todos os quadrantes abdominais, de
intensidade, timbre e frequência normais. Ausência de sopros. Timpanismo
generalizado. Sem dor à palpação superficial ou profunda. Ausência de
tumefacções palpáveis ou hérnias. Bordo inferior do fígado não palpável.
Bordo inferior do baço não palpável.
Dorso e membros:
Escoliose da coluna lombar.
Mobilidades activa e passiva conservadas nos membros superiores e inferiores.
Membros inferiores simétricos e de igual comprimento. Dor à mobilização
activa e passiva da articulação coxo-femural esquerda.
Sem edemas periféricos.
• Avaliação
Lista de problemas
Problemas activos Problemas passivos
Lombalgia e coxalgia esquerda
Hipertensão Arterial
Violência Conjugal
Depressão Reactiva
Luto patológico da última gravidez
Luto do irmão Paulo Jorge
Aborto espontâneo
Luto do irmão António Manuel
• Plano
Requisição de estudo analítico de rotina para monitorização de hemograma, função
renal, função hepática, alterações lipídicas e marcadores inflamatórios.
Aconselhamento sobre hábitos alimentares saudáveis.
Aguarda consulta de reavaliação por Ortopedia no Centro Hospitalar de Trás-os-
Montes e Alto Douro, agendada para 6 de Dezembro de 2010.
Manutenção da terapêutica instituída:
- Perindopril 2 mg + Indapamida 0,625 mg
- Amitriptilina 50 mg
- Diclofenac 100 mg
- Naproxeno 500 mg
- Omeprazol 20 mg
Preenchimento de documento administrativo para Incapacidade Temporária para
Actividade Profissional, com duração de 30 dias.
Disponibilização de apoio psicológico, no centro de saúde.
REFLEXÃO FINAL
Após a análise desta história clínica constatamos que estamos perante uma família
disfuncional, imersa na violência conjugal, que acaba por dominar as relações inter-
familiares: o marido, alcoólico, e esposa mantêm entre si relações de hostilidade, enquanto
aos filhos cabe a função de proteger a mãe e entrando para isso em conflito com o pai. Esta
situação acaba por submergir todos os elementos da família, sendo que marido e esposa
acabaram por desenvolver grandes dificuldades em estabelecer relações sociais fora do círculo
familiar enquanto os filhos acabaram por ser empurrados para o insucesso escolar.
Esta é apenas uma das muitas realidades que podem decorrer da violência doméstica,
que hoje, mais do que nunca, deve ser encarada como um crime público, um problema sócio-
cultural e um problema de saúde pública.
De acordo com Amália Nunes, no seu artigo “Violência doméstica – o papel do
médico de família”, para além da detecção atempada de casos de violência doméstica,
compete ainda ao médico assistente:
• tratar as lesões físicas.
• avaliar as repercussões psicológicas da violência e apoiar psicologicamente a vítima,
mostrando disponibilidade, ajudando a aumentar a auto-estima e a descobrir estratégias para
lidar com a agressão.
• avaliar a segurança da vítima e dos filhos e elaborar com a vítima um plano de segurança; o
acesso fácil a dinheiro e documentos pessoais e dos filhos para a eventualidade de fuga, o ter
à mão telefones da polícia, de familiares ou amigos ou a combinação de códigos com
familiares e amigos para comunicar em caso de agressão, o esconder armas ou munições
existentes em casa são exemplos de medidas de segurança a ter presentes.
• proceder ao registo clínico completo e pormenorizado das lesões e patologias observadas e
elaborar um atestado médico quando solicitado pela vítima.
• fornecer informação sobre os recursos disponíveis na comunidade.
• referenciar a outros especialistas ou instituições, nomeadamente, serviços sociais, serviços
jurídicos e serviços de acompanhamento de vítimas de violência doméstica.
• encaminhamento de agressores quando o problema for expresso por estes; terapias
cognitivo-comportamentais parecem ser uma opção adequada.
Sempre que possível o médico não deverá trabalhar isoladamente neste tipo de
situações, pelo que a procura activa de outros parceiros que na comunidade trabalhem nesta
área se torna necessário; o trabalho em rede é imprescindível. Também na prevenção primária
da violência familiar o médico tem um papel importante a desempenhar:
• participando com outros profissionais em acções de educação para a saúde onde o problema
de violência seja abordado.
• procedendo ao encaminhamento de adolescentes e jovens da sua lista para grupos ou
actividades onde a aprendizagem da negociação na resolução de conflitos seja estimulada.
• informando os seus utentes da transmissão a violência entre as várias gerações.
• identificando e orientando indivíduos potencialmente agressores (deficiente auto-controlo,
fraca resistência à frustração, problemas de alcoolismo e antecedentes de maus tratos na
infância).
BIBLIOGRAFIA
• Caeiro, R. Registos clínicos em Medicina Familiar. Instituto de Clínica Geral da zona sul.
1991
• Coelho, P. Violência conjugal: violência física conjugal nas mulheres que recorrem aos
cuidados de saúde primários. Rev Port Clin Geral 2005; 21:343-51
• Nunes, A. Violência doméstica – o papel do médico de família. Rev Port Clin Geral 2003;
19:141-7.
• Ferrão, A. Violência familiar. Rev Port Clin Geral 2003;19:133-7
Apêndice VIII – Questionário do estudo complementar
PROJECTO DE OPÇÃO
Mestrado Integrado em Med icina
A presente recolha de dados enquadra-se no âmbito do Projecto de Opção do
Mestrado Integrado em Medicina da Faculdade de Medicina da Universidade do Porto e
pretende avaliar a obesidade infantil, através da recolha de dados antropométricos da
criança e pela resposta a um questionário parental de escolha múltipla.
Solicita-se portanto a participação de todas as crianças e adolescentes (dos 0 aos 18
anos) e respectivos pais, que frequentem a Unidade de Saúde, qualquer que seja o motivo
(consulta, vacinação, necessidade de cuidados de enfermagem, …).
Os dados colhidos são anónimos e confidenciais.
Data: _____/_____/_________
Consentimento: Sim_____; Não_____
Dados da criança:
• Iniciais do nome: ________________________
• Sexo: M_____; F______
• Data de nascimento: _____/_____/_________
• Escolaridade: _________________
• Altura: _________ cm
• Peso: _________ Kg
Obrigado pela colaboração!
Questionário Parental
Mais uma vez relembramos que os dados recolhidos são confidenciais e serão
utilizados apenas no âmbito do estudo “Caracterização da obesidade infantil nos meios
urbano e rural”, Projecto de Opção do Mestrado Integrado em Medicina da Faculdade de
Medicina da Universidade do Porto.
Assinale com um X a resposta que melhor indicar a sua opinião.
1. Eu sinto que o meu filho/a tem:
Bastante peso a mais
Algum peso a mais
Peso normal
Algum peso a menos
Peso muito inferior ao normal
2. Actualmente, sinto-me preocupado com o peso do meu filho/a.
Concordo totalmente
Concordo um pouco
Concordo
Discordo um pouco
Discordo totalmente
3. As crianças com excesso de peso têm maior probabilidade de serem, no futuro, adultos
obesos?
Concordo totalmente
Concordo um pouco
Concordo
Discordo um pouco
Discordo totalmente
4. As crianças com excesso de peso são mais susceptíveis de desenvolverem diabetes,
hipertensão ou excesso de colesterol?
Concordo totalmente
Concordo um pouco
Concordo
Discordo um pouco
Discordo totalmente
5. O médico alguma vez lhe disse que o seu filho tinha excesso de peso?
Sim
Não
Não sei
As próximas questões referem-se aos hábitos alimentares e de actividade física do
seu filho/a. Responda apenas se o seu filho estiver em idade escolar, isto é, se frequenta a
escola .
6. Quantas vezes por semana o seu filho/a realiza entre 30 a 60 minutos de exercício físico?
Não faz
1 a 2 vezes
3 a 4 vezes
5 a 7 vezes
Mais de 7 vezes
7. Quantas horas por dia, em média, o seu filho/a despende a ver televisão e a jogar jogos de
vídeo ou computador?
Menos de 1 hora
1 hora
2 horas
3 horas
4 horas ou mais
8. Quantas vezes por semana o seu filho toma pequeno-almoço?
Nunca
1 a 2 vezes
3 a 4 vezes
5 a 6 vezes
Todos os dias
9. Normalmente onde almoça o seu filho durante a semana?
Casa
Cantina da escola
Bar da escola
Restaurante
Noutro local
10. Em sua casa comem os seguintes alimentos? (indique todos os que consome)
Pizza
Hamburguers
Refeições pré-cozinhadas
Pré-fritos
Batatas fritas
11. Na última semana, quantas vezes as refeições tiveram por base alimentos da lista anterior?
Nenhuma
1 a 2 vezes
3 a 4 vezes
5 a 6 vezes
Todos os dias
12. Numa semana, quantas vezes o seu filho come fruta à refeição?
Nenhuma
1 a 2 vezes
3 a 4 vezes
5 a 6 vezes
Todos os dias
13. Numa semana, quantas vezes o seu filho come legumes à refeição?
Nenhuma
1 a 2 vezes
3 a 4 vezes
5 a 6 vezes
Todos os dias
14. Em que medida incentiva o seu filho a adoptar hábitos alimentares saudáveis?
Não incentivo
Incentivo muito pouco
Não incentivo muito
Incentivo muito
Estou sempre a incentivar
Fim do inquérito!
Obrigado pela sua colaboração!
15. Em que medida incentiva o seu filho a ser fisicamente activo?
Não incentivo
Incentivo muito pouco
Não incentivo muito
Incentivo muito
Estou sempre a incentivar