relatório de prospecção arqueológica e educação...

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RELATÓRIO DE PROSPECÇÃO ARQUEOLÓGICA LOTEAMENTO ESTÂNCIA DO LAGO, CONTAGEM-MG Av. do Contorno, 5491/Salas 504,505 Funcionários, Belo Horizonte/MG (31)3282-0983 Abril/2015 SOCIOAMBIENTAL PROJETOS LTDA. Relatório de Prospecção Arqueológica e Educação Patrimonial Loteamento Estância do Lago Empresa Paraopeba Participações Ltda. Município de Contagem MG Relatório final apresentado à 13ª Superintendência IPHAN, Minas Gerais, solicitando anuência para fase de Licença de Instalação (LI). Portaria IPHAN N° 63 de 27 de novembro de 2014. Belo Horizonte, Abril de 2015.

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RELATÓRIO DE PROSPECÇÃO ARQUEOLÓGICA LOTEAMENTO ESTÂNCIA DO LAGO, CONTAGEM-MG

Av. do Contorno, 5491/Salas 504,505 – Funcionários, Belo Horizonte/MG – (31)3282-0983 – Abril/2015

SOCIOAMBIENTAL PROJETOS LTDA.

Relatório de Prospecção Arqueológica e

Educação Patrimonial

Loteamento Estância do Lago

Empresa Paraopeba Participações Ltda.

Município de Contagem – MG

Relatório final apresentado à 13ª Superintendência IPHAN,

Minas Gerais, solicitando anuência para fase de Licença de Instalação (LI).

Portaria IPHAN N° 63 de 27 de novembro de 2014.

Belo Horizonte, Abril de 2015.

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RELATÓRIO DE PROSPECÇÃO ARQUEOLÓGICA LOTEAMENTO ESTÂNCIA DO LAGO, CONTAGEM-MG.

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FICHA TÉCNICA

Empreendimento

Loteamento Estância do Lago

Empreendedor (Endosso financeiro)

Razão social: Paraopeba Participações Ltda.

Nome fantasia: Paraopeba Participações

Endereço: Rua Carlos Eduardo Lott, 436 – Jardim Filadélfia, Contagem-MG

CEP: 30865-230

Fone: (31) 3394-6347 Contato: Marcel Isnard Pierazoli - Diretor

E-mail: [email protected]

Responsáveis pelos Estudos Arqueológicos

Coordenação Geral Juliana de Souza Cardoso – Arqueóloga

Endereço: Rua Litargírio, 40/501 – Bairro Grajaú, Belo Horizonte/MG.

CEP: 30.431-232

Fones: (31) 9184-1622 E-mail: [email protected]

Arqueólogo de campo Paulo Eduardo de Oliveira Enéas – Arqueólogo

Endereço: Avenida Contorno, 5491 / 504 e 505 – Bairro Funcionários, Belo Horizonte/MG.

CEP: 30.110-035

Fones: (31) 3282 0983 (31) 9992 0579 E-mail: [email protected]

Educação Patrimonial Inês de Oliveira Noronha – Doutora em Educação e Especialização em Arqueologia e

Patrimônio

Endereço: Avenida Contorno, 5491 / 504 e 505 – Bairro Funcionários, Belo Horizonte/MG. CEP: 30.110-035

Fones: (31) 3282 0983 (31) 9410-1030

E-mail: [email protected]

Endosso Institucional

Museu de Ciências Naturais – PUC Minas

Endereço: Rua Dom José Gaspar, 290 – Coração Eucarístico, Belo Horizonte – MG

CEP: 30535-901

Fone: (31) 3319-4152 E-mail: [email protected]

Equipe Técnica

Dra. Juliana de Souza Cardoso – Coordenação geral

Paulo Eduardo de Oliveira Enéas – Arqueólogo de campo

Dra. Inês de Oliveira Noronha – Arqueóloga de campo e Educação patrimonial

Virginia Barbosa Pereira – Arqueóloga de campo

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Processo de Licenciamento Ambiental

FASE DE LICENCIAMENTO: Licença de Instalação (LI).

PROCESSO COPAM: 02582/2008

PROCESSO IPHAN N°: 01514.002291/2013-76.

PORTARIA IPHAN: N° 63 de 27 de novembro de 2014.

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SÍNTESE DO PROCESSO

Projeto Prospecção arqueológica do Empreendimento Loteamento

Estância do Lago, município de Contagem/MG.

IPHAN: Portaria e

Processo

Portaria n°. 63, de 27 de novembro de 2014

Processo Iphan nº 01514.002291/2013-76 (em anexo).

Apoio Institucional Museu de Ciências Naturais – PUC MG

Fase de

Licenciamento Licença de Instalação (LI) – SUPRAM N° 086/2014

Objetivo do

Relatório

Apresentar os resultados obtidos com a realização da prospecção

arqueológica, com vistas à proposição de medidas de salvaguarda

do patrimônio arqueológico, neste caso, o Programa de Resgate e

Monitoramento Arqueológico e o Programa de Educação

Patrimonial.

Resultados

Os trabalhos prospectivos em campo permitiram a identificação

de 01 sítio arqueológico pré-colonial e a continuidade das

pesquisas em duas estruturas históricas identificados durante as

atividades de Diagnóstico Arqueológico, a saber: Valo dos

Camargos (ADA) e Ruína da Fazenda Vista Alegre (AID).

Recomendação

Recomenda-se a realização de um Programa de Resgate e

Monitoramento Arqueológicos, bem como de Educação

Patrimonial em etapa anterior às atividades de

instalação/implantação do empreendimento. Os programas

recomendados destinam-se à salvaguarda do patrimônio

arqueológico e deverão seguir as determinações da legislação

vigente, utilizando como parâmetros os dados contidos neste

Relatório de Prospecção Arqueológica.

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Sumário FICHA TÉCNICA ................................................................................................................................ 2

Empreendimento ......................................................................................................................... 2

Empreendedor (Endosso financeiro) ........................................................................................... 2

Responsáveis pelos Estudos Arqueológicos ................................................................................. 2

Endosso Institucional .................................................................................................................. 2

Equipe Técnica ........................................................................................................................... 2

Processo de Licenciamento Ambiental ........................................................................................ 3

SÍNTESE DO PROCESSO ................................................................................................................... 4

1. INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 9

2. OBJETIVOS ........................................................................................................................................ 12

3. CONCEITUAÇÃO ................................................................................................................................ 13

3.1. Áreas de Influência ............................................................................................................ 13

3.2. Aspectos teóricos................................................................................................................ 14

3.3. Definições básicas .............................................................................................................. 16

4. METODOLOGIA .............................................................................................................................. 17

4.1. Levantamento bibliográfico ................................................................................................ 17

4.2. Trabalhos de campo ........................................................................................................... 17

4.2.1 Entrevistas ............................................................................................................................. 17

4.2.2 Prospecção arqueológica sistemática ..................................................................................... 18

4.3. Processamento de dados e elaboração de Relatório Final .................................................. 18

5. QUADRO GERAL DO MEIO FÍSICO ..................................................................................................... 19

5.1 Geologia ............................................................................................................................. 19

5.2 Geomorfologia .................................................................................................................... 20

5.3 Pedologia ............................................................................................................................ 20

5.4 Climatologia ....................................................................................................................... 21

5.5 - Vegetação ......................................................................................................................... 22

5.6 - Hidrografia ....................................................................................................................... 23

6. CONTEXTO HISTÓRICO E ETNO-HISTÓRICO DE CONTAGEM ............................................................. 25

6.1 Quadro histórico ................................................................................................................. 25

6.2 - Quadro de ocupação indígena na Região Metropolitana de Belo Horizonte ...................... 33

7. ARQUEOLOGIA REGIONAL E PATRIMÔNIO CULTURAL ..................................................................... 35

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7.1 Histórico dos estudos na Região Metropolitana de Belo Horizonte ..................................... 35

7.1.1 Tradições Arqueológicas........................................................................................................ 38

7.2 O patrimônio cultural de Contagem .................................................................................... 43

8. HISTÓRIA ORAL................................................................................................................................. 47

9. PROSPECÇÃO ARQUEOLÓGICA ......................................................................................................... 50

9.1 Área Diretamente Afetada ................................................................................................... 55

9.2 Áreas de interesse arqueológico .......................................................................................... 57

9.2.1 Valo dos Camargos .............................................................................................................. 57

9.2.2 Sítio Arqueológico Lago dos Camargos .............................................................................. 61

9.2.3 Fazenda Vista Alegre ........................................................................................................... 84

9.3 Registro e vistoria realizada nas Áreas de Influência do empreendimento ........................... 90

9.4 Considerações Finais ........................................................................................................ 110

10. PROGRAMAS ARQUEOLÓGICOS MITIGADORES E COMPENSATÓRIOS ......................................... 110

10.1 - Programa de Resgate e Monitoramento Arqueológico e Educação Patrimonial ......... 110

10.1.1 Programa de Resgate Arqueológico ................................................................................... 111

10.1.2 Programa de Monitoramento Arqueológico ........................................................................ 112

10.1.3 Programa de Educação Patrimonial .................................................................................... 113

11. EDUCAÇÃO PATRIMONIAL ............................................................................................................ 115

11.1 Histórico da Educação Patrimonial no Brasil ................................................................. 116

11.2 Ações de Educação Patrimonial em Contagem ................................................................ 118

12. CONCLUSÃO ................................................................................................................................. 128

13. REFRÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ....................................................................................................... 129

ANEXOS .............................................................................................................................................. 134

ANEXO 1: PORTARIA N°. 63, DE 27 DE NOVEMBRO DE 2014 ...................................... 135

ANEXO 2: MAPAS ................................................................................................................ 137

ANEXO 3: FICHAS DE CADASTRO DE SÍTIO ARQUEOLÓGICO .................................. 141

ANEXO 4: FICHA DE ANÁLISE ATRAVÉS DO MÉTODO DELPHI ............................... 142

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Lista de Figuras

Figura 1: Localização regional do município de Contagem/MG. .......................................... 11

Figura 2: Localização do empreendimento. .......................................................................... 14

Figura 3: Esboço Geológico da Região do Quadrilátero Ferrífero, Minas Gerais .................. 20

Figura 4: Normais Climatológicas – Estação Climática Belo Horizonte. ............................... 21

Figura 5: Imagem da Área do Empreendimento: destaque aos compartimentos vegetais ....... 22

Figura 6: Localização da Bacia Hidrográfica do Rio Paraopeba. ........................................... 23

Figura 7: Contagem - Rede Hidrográfica. ............................................................................. 24

Figura 8: Mapa histórico com rota de entradas e bandeiras que percorreram Minas Gerais ... 26

Figura 9: Igreja Matriz de São Gonçalo, em 1954. ................................................................ 29

Figura 10: Imagem aérea da Cidade Industrial em 1970. ...................................................... 31

Figura 11: Contagem ............................................................................................................ 32

Figura 12: Imagem alusiva aos estudos de Peter Lund, datada de 1840. ................................ 36

Figura 13: Trabalhos desenvolvidos no MHNJB/UFMG ...................................................... 37

Figura 14: Principais formas das tradições Aratu-Sapucaí e Una. ......................................... 40

Figura 15: Exemplo de cerâmica Tupiguarani. ..................................................................... 43

Figura 16: Bens culturais na AID do empreendimento. ......................................................... 45

Figura 17: Pátio do DETRAN a frente da Chaminé da Olaria do Sr. Diniz. .......................... 46

Figura 18: Educação Patrimonial com moradores da AID .................................................... 49

Figura 19: Entrevista não com o Sr. Mário Braz da Luz ....................................................... 50

Figura 20: Reconhecimento dos bens identificados no Diagnóstico Arqueológico. ............... 51

Figura 21: Tradagens realizadas. .......................................................................................... 53

Figura 22: Tradagens deslocadas e não realizadas. ............................................................... 54

Figura 23: Unidades estratigráficas. ..................................................................................... 57

Figura 24: Estruturas de pedra identificadas no Valo dos Camargos. .................................... 59

Figura 25: Estrutura 3 .......................................................................................................... 60

Figura 26: Procedimentos em campo: elaboração de croqui. ................................................. 61

Figura 27: Delimitação do Sítio Arqueológico Lago dos Camargos. ..................................... 62

Figura 28: Destaque ao Sítio Arqueológico Lago dos Camargos........................................... 63

Figura 29: Sítio Arqueológico Lago dos Camargos. ............................................................. 66

Figura 30: Sítio Lago dos Camargos. ................................................................................... 67

Figura 31: Delimitação do Sítio Arqueológico Lago Camargos. ........................................... 68

Figura 33: Tipologia do material. ......................................................................................... 76

Figura 34: Fragmentos cerâmicos coletados em campo. ....................................................... 81

Figura 35: Limpeza da Fazenda Vista Alegre. ...................................................................... 86

Figura 36: Elaboração de croqui. .......................................................................................... 87

Figura 37: Croqui parcial da sede da Fazenda Vista Alegre. ................................................. 88

Figura 39: Entrevistas informais sobre a Fazenda Vista Alegre. ........................................... 89

Figura 40: Pontos de vistoria e intervenções em subsuperfície. ........................................... 109

Figura 41: Educação Patrimonial com moradores da ADA e AID. ..................................... 121

Figura 42: Educação Patrimonial nas ruínas da Fazenda Vista Alegre (AID). ..................... 125

Figura 43: Educação Patrimonial nas ruínas da Fazenda Vista Alegre. ............................... 126

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Figura 44: Educação patrimonial com os trabalhadores da fazenda. .................................... 127

Lista de Tabelas:

Tabela 1: Coordenadas delimitação do sítio. ......................................................................... 65

Tabela 2: Pontos de vistoria e registros realizados nas áreas de influência do empreendimento

............................................................................................................................................ 90

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1. INTRODUÇÃO

Este estudo vem apresentar os resultados obtidos com a realização do projeto de

Prospecção Arqueológica nas áreas de influência do empreendimento “Loteamento Estância

do Lago”, a fim de atender à legislação atinente ao licenciamento ambiental e à disciplina

arqueológica. Localizado no município de Contagem, mais especificamente nas coordenadas

23K 596200/77975381 (Figura 1), o empreendimento ocupa uma área de 115,41 ha e será

desenvolvido pela empresa Paraopeba Participações Ltda., inscrita no CNPJ n°

07.161.629/0001-62, situada na Rua Carlos Eduardo Lott, n°436, no Bairro Jardim Filadélfia,

em Contagem, Minas Gerais.

O empreendimento se justifica pela criação de um espaço adequado para a habitação

humana atendendo às necessidades do mercado; compactuar a expansão urbana com temas

como sustentabilidade ambiental, proteção de áreas verdes e de mananciais hídricos;

desenvolvimento de um padrão de uso e ocupação do solo que garanta a aplicação de práticas

construtivas benéficas do ponto de vista ambiental; elaboração de projeto capaz de oferecer

qualidade de vida à população e, ao mesmo tempo, atender às expectativas dos futuros

clientes, levando em consideração suas possibilidades econômicas; e por fim, perseguir maior

rentabilidade do investimento realizado, com maior taxa de aproveitamento do terreno e

retorno de capital empregado no menor espaço e rápido início das vendas (IMPACTO

POSITIVO, 2012).

As atividades de arqueologia desenvolvidas para a adequada condução do processo de

licenciamento ambiental do empreendimento em pauta ocorreram mediante a autorização da

Portaria IPHAN n° 63 publicada no DOU em 27 de novembro de 2014. Os procedimentos

adotados seguiram as premissas estabelecidas pela Lei Federal n° 3924/64; pelo Art. 20 da

Constituição Federal do Brasil de 1988; e Portarias SPHAN n° 07/1988; IPHAN n° 230/2002

e IPHAN n° 28/2003, que tornaram obrigatória a realização de estudos arqueológicos em

empreendimentos que apresentassem potencial de impacto sobre os bens culturais e

arqueológicos. A prospecção arqueológica se encontra também regulamentada pela Resolução

CONAMA n° 001, de 1986, juntamente com o Decreto Lei n° 25/1937 e o Decreto Lei n°

3551/2000, que enfoca o patrimônio histórico e artístico nacional, além de instituir o registro

1 Todas as coordenadas contidas nesse relatório são referenciadas com o Datum SIRGAS 2000.

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de bens imateriais; e também a Lei n° 9605 de 30/03/1998, Seção IV, que versa sobre os

crimes atinentes ao patrimônio cultural.

A Portaria IPHAN n° 230/2002 compatibiliza as etapas da pesquisa arqueológica com

as fases do licenciamento ambiental do empreendimento. Para o caso específico do

empreendimento a que estes estudos de Prospecção se aplicam, sua realização se vincula à

obtenção da Licença de Instalação – LI. Para o seu desenvolvimento, foi realizado um

levantamento sistemático interventivo visando identificar e mapear os possíveis sítios

arqueológicos ocorrentes nas áreas de influência do empreendimento, oferecendo os subsídios

necessários para a proposição de medidas de salvaguarda do patrimônio.

O documento ora apresentado contém os resultados obtidos por meio da execução do

Projeto de Prospecção Arqueológica proposto e consta de uma contextualização realizada por

meio de levantamento bibliográfico sistemático, com ênfase na conformação histórica, etno-

histórica da região enfocada e no contexto da Arqueologia Regional. Aborda a caracterização

geral das condições fisiográficas e ambientais, que podem ter desempenhado papel relevante

no tocante às áreas escolhidas para serem povoadas no passado. Na sequência, é apresentado

o quadro teórico metodológico que orientou o desenvolvimento dos estudos, a descrição da

pesquisa realizada e os resultados obtidos. Finalmente, é feita uma discussão dos resultados e

recomendadas as ações adequadas à proteção e salvaguarda do patrimônio identificado.

Por fim, nessa empreitada, partimos da premissa de que o patrimônio arqueológico

constitui herança cultural da nação, pois se trata do registro físico das atividades

desenvolvidas pelos diferentes atores que participaram da formação da nossa sociedade. O seu

gerenciamento e proteção perpassa pela realização de estudos capazes de gerar novos dados e

oferecer à comunidade elementos para identificação de suas raízes culturais e sociais

(MORAIS, 2006).

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Figura 1: Localização regional do município de Contagem/MG.

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2. OBJETIVOS

Geral

Assegurar a proteção do patrimônio arqueológico, histórico e cultural por meio de

ações de campo e laboratório, atendendo assim a legislação vigente.

Específicos

1. Efetuar a contextualização histórica, etnohistórica e arqueológica das Áreas de

Influência do empreendimento;

2. Realizar levantamentos de campo extensivo na AID e intensivo na ADA;

3. Levantar informações orais referentes aos saberes e fazeres da comunidade local, bem

como dados referentes à conformação histórica, etno-histórica e arqueológica ausentes

dos registros oficiais;

4. Identificar, registrar, delimitar, avaliar e analisar os bens arqueológicos situados nas

áreas de influência do empreendimento;

5. Estimar a quantidade de sítios arqueológicos existentes nas áreas investigadas;

6. Determinar a filiação cultural dos bens arqueológicos identificados;

7. Elaborar um quadro geral com o contexto de ocupação local;

8. Propor programas e medidas de salvaguarda bens arqueológicos identificados;

9. Registar os sítios arqueológicos identificados no Cadastro Nacional dos Sítios

Arqueológicos – CNSA/IPHAN;

10. Propor atividades de Educação Patrimonial a serem desenvolvidas no local onde se

pretende implantar o empreendimento.

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3. CONCEITUAÇÃO

Para o desenvolvimento do estudo em tela foram aplicados definições e aspectos

teóricos que são específicos da arqueologia e do licenciamento ambiental. Devido à

multiplicidade de abordagens inerentes às temáticas, torna-se pertinente apresentar os

referenciais que orientaram este trabalho.

3.1. Áreas de Influência

De acordo com as Resoluções do Conselho Nacional do Meio Ambiente - CONAMA

nº 01/86 foi conceituada como Área Diretamente Afetada (ADA) a área de instalação efetiva

do empreendimento e os demais locais que comportarão obras de infraestrutura que

demandam movimentação dos solos e remoção de vegetação, tais como a abertura de acesso,

o que perfaz um total de 115,41 ha, a partir das coordenadas 23K 596200/7797538 (Figura

02).

Quanto à Área de Influência Direta (AID), foram considerados os marcadores naturais

da configuração fisiográfica local, tendo em vista a distribuição dos impactos potenciais a

serem gerados quando da implantação e operação do empreendimento. Sendo assim, foi

estabelecido um raio limite de 500m, onde foi possível abranger os seguintes bens: Fazenda

Vista Alegre e chaminé da antiga olaria do Sr. Gilson Diniz.

Para à Área de Influência Indireta (AII) foi considerado o território do município de

Contagem devido aos potenciais impactos a serem gerados pelo empreendimento no cotidiano

da população.

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Figura 2: Localização do empreendimento.

3.2. Aspectos teóricos

O enfoque adotado neste trabalho foi o da Arqueologia da Paisagem, perspectiva que

oferece o arcabouço necessário para o entendimento das relações estabelecidas entre o homem

e o meio, tendo em vista as dimensões culturais, sociais e materiais que permeiam este

complexo processo. Em outras palavras, a Arqueologia da Paisagem permite a elaboração de

uma história de longa duração, enquanto as atenções se concentram no cenário no qual

aconteceram as atividades humanas no passado, evidenciando rupturas e continuidades entre o

passado pré-colonial e o histórico.

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Partimos da constatação de Knapp e Ashmore (1999), segundo a qual os arqueólogos

devem manifestar interesse no estudo do espaço e, consequentemente, da paisagem. De

acordo com os autores, tem sido discutida a noção de paisagem com ênfase na sua dimensão

sócio simbólica. Nesta perspectiva, a paisagem é concebida como uma entidade que existe no

momento em que é percebida, experimentada e contextualizada por indivíduos e grupos

sociais.

Uma paisagem arqueológica pode ser entendida como o somatório de todos os

indicadores, sejam eles materiais e imateriais; antrópicos e/ou naturais, decorrentes de

atividades humanas em um determinado espaço ao longo do tempo. A perspectiva parte,

portanto, das relações físico-geográficas existentes entre diferentes unidades espaciais, que

englobam os processos naturais e culturais que conformam uma determinada paisagem.

Assim, o espaço é concebido como uma variável dinâmica ao mesmo tempo em que o registro

arqueológico é visto sempre em transformação, sendo configurado ao mesmo tempo por

agentes culturais e naturais (CURTONI, ENDERE, 2009).

Nos estudos de arqueologia da paisagem, os pesquisadores têm investigado as escolhas

realizadas pelos grupos no passado com relação aos locais em que se distribuíam, levando em

consideração as redes estabelecidas entre o meio físico e toda a complexa gama de valores

simbólicos, culturais e tecnológicos (FAGUNDES, 2007). Essa percepção orientou a escolha

das áreas onde foram realizadas as intervenções arqueológicas, ou seja, áreas

geomorfologicamente propícias e com disponibilidade de recursos naturais.

Enfim, concordamos em boa medida com Boado (1999), ao afirmar o potencial da

arqueologia da paisagem no processo de estudo, gestão e interpretação dos vestígios materiais

de sociedades pretéritas. Seguindo este raciocínio, Morais (2007) argumenta que a

Arqueologia da Paisagem é a linha de pesquisa mais adequada para estudos desenvolvidos no

âmbito do licenciamento ambiental, pois oferece os subsídios teórico-metodológicos

necessários para o entendimento da antropofização de uma área específica, sem perder de

vista os sistemas locais de povoamento, contribuindo, portanto, com o desenvolvimento de

uma Arqueologia Regional.

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3.3. Definições básicas

Devido à multiplicidade de definições e termos encontrados na bibliografia dedicada à

Arqueologia, torna-se necessário apresentar as definições básicas que fundamentaram este

Relatório de Prospecção, a saber, aquelas usadas por Morais (2006) e Prous (1992). São elas:

sítio arqueológico; registro arqueológico; evidência arqueológica; estrutura arqueológica,

ocorrência arqueológica e geoindicadores arqueológicos.

Sítio arqueológico: Corresponde à unidade menor do espaço passível de investigação uma vez

que apresenta objetos, estruturas ou outros tipos de vestígios perceptíveis a ponto de oferecem

um testemunho de atividades humanas no passado.

Estrutura arqueológica: Trata-se de conjunto significativo de vestígios que aparecem de

forma associada, como por exemplo, estrutura de habitat, de combustão, de sepultamento, etc.

Registro arqueológico: Termo geral usado para se referir aos objetos, artefatos, estruturas,

construções e paisagens culturais produzidas pelas sociedades do passado, inseridas em

determinado contexto.

Evidência arqueológica: Trata-se de uma assinatura arqueológica. Pode ser classificada como

evidência arqueológica direta – que incorpora os vestígios percebidos nos níveis

arqueológicos micro e macroscópicos; e evidências indiretas – que são objetos e estruturas

ausentes no lugar onde se poderia esperar que existissem e que sugerem a existência de outros

objetos ou atividade no sítio.

Ocorrência arqueológica: Pode ser definida como objeto único ou quantidade ínfima de

objetos, encontrados de forma isolada e desconexa em um determinado local.

Geoindicadores arqueológicos: A denominação se refere a aspectos do meio físico-biótico

que apresenta expressão locacional para os sistemas regionais de povoamento, podendo

indicar os sítios arqueológicos. Os geoindicadores são utilizados, portanto na elaboração de

modelos locacionais de caráter preventivo, tornando mais eficientes as intervenções

arqueológicas realizadas. No caso dos assentamentos identificados em Minas Gerais, os

geoindicadores fundamentais são terraços fluviais; vertentes suaves de colina; patamares de

vertentes; cabeceiras de nascentes; escarpas, topos de interflúvios; entre outros.

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4. METODOLOGIA

Para realização deste trabalho foram executados os seguintes procedimentos:

levantamento bibliográfico; entrevistas não estruturadas com os moradores residentes nas

áreas de influência do empreendimento; expedições de campo para reconhecimento da ADA e

AID; prospecção arqueológica pautada na abertura de sondagens para verificação de

subsuperfície. Os dados foram sistematizados sob a forma do relatório que se segue.

4.1. Levantamento bibliográfico

Foram estudadas de forma aprofundada as fontes históricas e etno-históricas

disponíveis sobre a região de nosso interesse, buscando angariar subsídios que permitiram a

contextualização, descrição e interpretação dos dados levantados em campo e dos bens

patrimoniais porventura identificados nas áreas de influência do empreendimento. Foram

consultados bancos de dados on-line, fontes disponíveis em arquivos e bibliotecas,

bibliografia secundária e outros tipos de fontes, tal como documentação cartográfica e

aerográfica, para estabelecer os referenciais adequados para o estudo proposto em projeto.

4.2. Trabalhos de campo

As atividades consistiram na realização de entrevistas não estruturadas com membros

da comunidade situada no entorno do empreendimento e trabalhos de prospecção sistemática,

conforme consta detalhadamente abaixo.

4.2.1 Entrevistas

Concomitante aos trabalhos de campo, foram realizadas entrevistas não estruturadas

com os moradores da região. O objetivo foi o de compreender o valor simbólico dos bens

culturais para a população local. Intentou-se, também, apreender informações referentes à

conformação histórica e etno-histórica da região, complementares aos registros oficiais, além

do levantamento de referências à localização de possíveis achados arqueológicos. Em termos

teórico-metodológicos, os procedimentos que orientaram o trabalho são aqueles que

caracterizam a História Oral. Em linhas gerais, trata-se de abordagem compatível com a

renovação vivenciada pelo campo da História nos últimos anos, que busca verificar as formas

como o contexto histórico é reelaborado no âmbito das experiências cotidianas e traduzido no

discurso oral (POLLAK, 1989).

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4.2.2 Prospecção arqueológica sistemática

Partiu-se da premissa de que a prospecção arqueológica consiste no mapeamento

sistemático da disposição dos vestígios arqueológico em uma determinada área

(LUMBRERAS, 1974). Levando-se em conta o estudo de amostras probabilísticas localizadas

in situ, é possível chegar a conclusões gerais sobre um assentamento ou região. Por esse

motivo, os arqueólogos tentam incrementar cada vez mais as amostras que fundamentam suas

generalizações (RENFREW & BAHN, 1993).

Partindo desta orientação, as sondagens foram abertas em locais previamente

determinados por um grid estendido por toda a área. Levando em conta o diagnóstico

realizado na área, foi estabelecido um grid de 100m de distância a fim de melhor cobrir toda a

área do empreendimento. Os pontos de tradagem foram abertos com o auxílio de enxadas e

cavadeiras “boca de lobo’, na ADA do empreendimento, respeitando a sua configuração e

grid. Os pontos de intervenção tiveram suas coordenadas registradas em GPS manual e

posteriormente plotados em mapa correspondente às áreas de influência do empreendimento,

que segue anexo.

Simultaneamente, foram realizados caminhamentos assistemáticos para identificação e

registro dos diferentes compartimentos ambientais, além dos bens materiais de valor histórico

e pré-histórico situados no local. Todo o trabalho foi documentado por meio de fotografias e

obtenção de coordenadas geográficas com GPS manual.

4.3. Processamento de dados e elaboração de Relatório Final

Os dados levantados nas etapas anteriores foram sistematizados, confrontados e por

fim interpretados, tendo em vista a necessidade de elaboração do relatório final de prospecção

arqueológica local. Para melhor visualização dos resultados, foram elaborados mapas e

plantas evidenciando as áreas vistoriadas, sondagens abertas e bens identificados. Os bens

materiais de natureza histórica identificados na execução dos trabalhos tiveram o seu grau de

impacto avaliado, enquanto o sítio arqueológico encontrado foi analisado, descrito e

registrado.

O material coletado em campo foi alvo de curadoria e classificado em categorias

específicas, criando tipologias. Posteriormente, foi realizada a análise do material para melhor

compreensão do sítio arqueológico.

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Por fim, foi aplicado o Método Delphi (NORONHA, 2012), com o intuito de

confirmar a procedência do material. O Método Delphi consiste em “uma técnica para a busca

de um consenso de opiniões de especialistas” (WRIGHT, GIOVINAZZO, 2000). Segundo

Noronha (2012, p.114-115), “el Método (...) aplica además la estadística de grupos y

posibilita que el panel de expertos evaluadores sea heterogéneo y pueda valorar libre de

compromisos personales y científicos”. Decidiu-se aplicar o método supracitado adaptado à

Arqueologia.

Cabe ressaltar que o Método Delphi seguiu as etapas previstas, a saber: contato inicial

com os especialistas; registro fotográfico detalhado dos vestígios; abordagem dos

especialistas na rede social com o intuito de sondar o interesse de participar da pesquisa;

envio do formulário via e-mail, para análise dos especialistas; e, finalmente, tratamento das

informações recebidas.

O conjunto total de informações obtidas pelo trabalho desenvolvido foi sintetizado

neste Relatório Final que se constitui a referência para as ações futuras de divulgação do

conhecimento arqueológico local, tanto para a comunidade local por meio de iniciativas de

educação patrimonial, quanto para o contexto acadêmico, por meio da publicação de artigos

em periódicos científicos e apresentação de trabalhos em congressos e simpósios.

5. QUADRO GERAL DO MEIO FÍSICO

Nesse quadro, parte-se da premissa de que o meio físico e antrópico se encontram

profundamente atrelados, de modo que as características do meio físico podem repercutir no

tocante aos parâmetros adotados no processo de ocupação pré-colonial.

5.1 Geologia

O contexto geológico de Contagem é representado pelos complexos granito-gnáissicos

do sudeste do Quadrilátero Ferrífero (Figura 3), formação situado na região central do estado

e que se estende por cerca de 7.200 km² (VARAJÃO et. al, 2009). Além disso, o município

está inserido no limite meridional do Cráton do São Francisco – unidade tectônica arqueana

retrabalhada durante o Ciclo Brasiliano. (ALMEIDA, 1977).

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O terreno do município faz parte do Domínio do Complexo Belo Horizonte, termo

introduzido por Noce et al. (1994). Constitui-se principalmente de rochas de idade arqueana,

predominando rochas gnáissico-migmatíticas, bandadas, localmente milonitizadas. Estas

foram parcialmente remobilizadas e migmatizadas no Paleoproterozóico (SILVA et al., 1995).

Figura 3: Esboço Geológico da Região do Quadrilátero Ferrífero, Minas Gerais. Adaptação. Fonte: MACHADO et al., 2011.

5.2 Geomorfologia

Segundo IGA (1977 apud PREFEITURA MUNICIPAL DE CONTAGEM, 2009)

Contagem se insere na grande unidade de relevo denominada Depressão Sanfranciscana e, em

menor escala, compõe a Depressão de Belo Horizonte ou Domo Belorizontino. Seu relevo é

tipificado por formas colinas aplainadas e declividades geralmente suaves. Feições côncavas

resultantes da estabilização de antigas voçorocas são também comuns na paisagem local. Na

área do empreendimento predominam declividades de 0 a 20%, atingindo até 47%, sendo uma

área pouco íngreme, com vale não muito encaixado.

5.3 Pedologia

No Complexo Belo Horizonte se distinguem intrusões magmáticas que podem se

alterar para solos vermelhos argilosos, com coesão maior que a dos solos oriundos de rochas

gnáissicas, também presentes.

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Essa estrutura, somada à morfoescultura gerada pelo tipo climático tropical, apresenta

formações superficiais compostas por solos residuais geralmente de grande espessura (manto

de intemperismo) e alto grau de evolução pedológica. A granulometria comum é silto-argilosa

ou silto-arenosa. Ocorrem, também, depósitos aluvionares associados aos principais cursos

d’água. Outra característica da região são os aterros e cortes, oriundos, sobretudo das

atividades industriais típicas do município, e agentes de solos antropogênicos, cujas

características são variáveis.

5.4 Climatologia

A macrorregião de Contagem se encontra durante todo o ano sob o domínio do

Anticiclone Subtropical do Atlântico Sul, sendo submetida a movimentos verticais de larga

escala. Há, ainda, a influência constante de sistemas extratropicais, que provocam chuvas no

período da primavera, verão e outono (NIMER, 1989).

De acordo com a classificação de Köppen, o clima de Contagem coincide com o de

Belo Horizonte, sendo do tipo Tropical de Altitude (Cwb), com verões quentes e chuvosos, e

inverno seco. As temperaturas mais elevadas ocorrem de outubro a abril, com maior índice de

precipitação. De maio a setembro é o período de inverno, com predomínio da estiagem. A

temperatura média é da ordem de 21ºC, com a máxima de 27 graus e a mínima de 16,7 graus

(Figura 4) (PREFEITURA MUNICIPAL DE CONTAGEM, 2009).

Figura 4: Normais Climatológicas – Estação Climática Belo Horizonte. Fonte: INMET, 20152

2 Extraído da página virtual do INMET, disponível em www.inmet.gov.br, acesso em 02/02/2015.

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5.5 - Vegetação

O município de Contagem apresenta um alto grau de urbanização (IBGE, 2010), que

teve como consequência a supressão da vegetação primária durante o período histórico de

ocupação do território. Originalmente, a região é um ecótono, onde se encontram espécimes

de transição entre o Cerrado e a Floresta Estacional Semidecidual (bioma de Mata Atlântica).

Hoje, no local do empreendimento, uma área de expansão da malha urbana, com

ocupação pouco adensada, ocorrem manchas de vegetação secundária em diferentes estágios

de regeneração natural e resquícios de antigas pastagens. Como demonstra a Figura 6, o porte

arbustivo a arbóreo, as chamadas áreas verdes e florestas, predomina ao longo dos cursos

d’água não canalizados e nos pontos mais declivosos (a nordeste da imagem, parte superior

direita, e sudeste). Nas demais regiões a presença mais significativa de cobertura vegetal é a

de porte herbáceo, mais conhecido como campo sujo (Figura 5).

Figura 5: Imagem da Área do Empreendimento: destaque aos compartimentos vegetais.

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5.6 - Hidrografia

O território de Contagem faz parte da região do Alto Rio São Francisco, que se

estende desde a Serra da Canastra, até a cidade de Pirapora, no centro norte de Minas Gerais3.

O território municipal abriga parte do divisor de águas de duas importantes sub-bacias da

Bacia Hidrográfica do Rio São Francisco. São elas a Bacia do Rio Paraopeba, que banha a

porção ocidental do município, e do Rio das Velhas, na porção oriental. O empreendimento

proposto se localiza na Bacia do Rio Paraopeba, ilustrada a seguir (Figura 6).

Figura 6: Localização da Bacia Hidrográfica do Rio Paraopeba. Fonte: CBH PARAOPEBA, 2013

4.

O padrão da rede de drenagem da maioria dos cursos d'água da bacia é do tipo

dendrítico, comum às regiões de rochas cristalinas ou rochas do embasamento, típicas da

região. Nas proximidades da área há o Córrego das Abóboras (classe 2, segundo DN nº 14, de

1995, do COPAM), contribuinte do Ribeirão Betim, inserido na Bacia Vargem das Flores

como afluente do Rio Paraopeba (Figura 7).

3 Informação extraída da página virtual do Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio São Francisco, disponível em

http://cbhsaofrancisco.org.br, acesso em 21/03/2013. 4 Extraído da página virtual do Consórcio Intermunicipal da Bacia Hidrográfica do Rio Paraopeba, disponível

em http://www.aguasdoparaopeba.org.br, acesso em 21/03/2013.

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Figura 7: Contagem - Rede Hidrográfica.

Fonte: IGAM5

A denominação da Bacia Vargem das Flores alude à barragem de mesmo nome

construída em 1974, nas águas do Rio Betim, para fins de abastecimento público. O lago

formado a partir do barramento possui dimensões amplas, com 54 km de perímetro, se

localiza a aproximadamente 5 km do local do loteamento previsto. As instalações são,

atualmente, de responsabilidade da Companhia de Saneamento de Minas Gerais (COPASA),

que capta e trata a água do reservatório abastecendo aproximadamente 700 mil habitantes na

Região. Metropolitana de Belo Horizonte6.

5 Extraído da página virtual do IGAM, disponível em www.igam.mg.gov.br, acesso em 21/03/2013. 6Informação extraída da página virtual da Prefeitura Municipal de Betim, disponível em

http://www.betim.mg.gov.br, acesso em 21/03/2013.

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6. CONTEXTO HISTÓRICO E ETNO-HISTÓRICO DE CONTAGEM

O município de Contagem se encontra inserido na região central de Minas Gerais, na

mesorregião Metropolitana de Belo Horizonte, mais precisamente na microrregião de Belo

Horizonte. A extensão total do território do município atinge 195,2 Km2, limitando-se aos

municípios de Esmeraldas, Ribeirão das Neves, Ibirité, Betim e Belo Horizonte. De acordo

com dados do IBGE (2010), a população foi estimada em 643 mil para o ano de 2014, com

uma taxa de 99,7% de população urbana, o que a torna um dos municípios mais populosos de

Minas Gerais.

No tocante à economia, as principais atividades desenvolvidas no município se

relacionam à indústria, ao comércio e à prestação de serviços. O setor secundário tem sua

maior produção nas áreas metalúrgica, química, de refratários, máquinas e equipamentos,

material elétrico, eletrônico e de comunicações. Historicamente, o setor terciário alcançou o

posto de principal atividade econômica no município. Contagem registrou, no ano de 2010,

um PIB de R$ 18.539.693,00, correspondendo a um PIB per capita de R$ 30.743,317. Devido

a fatores como os citados acima, segundo dados do IBGE (2010), a economia de Contagem é

a terceira maior do estado de Minas Gerais, e a 25ª força nacional.

6.1 Quadro histórico

O processo de ocupação histórica do território que constitui o atual município de

Contagem teve início entre os séculos XVII e XVIII. Foi nesta época que as bandeiras

paulistas adentraram o interior da Colônia recém-descoberta em busca de ouro e pedras

preciosas, especialmente aquelas coordenadas por Fernão Dias Paes. Tais expedições

acabaram por consolidar um caminho que passou a ser amplamente usado, promovendo a

articulação entre a Capitania de São Paulo e Serra do Espinhaço, local rico em minas de ouro

(BONADA, 2011).

Mais tarde, devido à crescente necessidade por contatos com a Capitania do Rio de

Janeiro e os Sertões da Bahia, surgiram outras duas rotas, intensamente percorridas por

aventureiros, bandeirantes, expedicionários, mercadores, índios, escravos, tropeiros, entre

outros. Estas três rotas se cruzarem na região conhecida como Abóboras, de acordo com

documentação iconográfica datada de 1710 (Figura 8).

7 Informações extraídas da página virtual da prefeitura de Contagem, disponível em <http://www.contagem.mg.gov.br>, acesso em 18/04/2014.

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Figura 8: Mapa histórico com rota de entradas e bandeiras que percorreram Minas Gerais Fonte: TORRES, 1978.

A origem da denominação Abóboras, por sua vez, é desconhecida, no entanto, existem

três versões para o nome escolhido. A primeira delas se refere à Família Abóboras, citada pelo

Padre Joaquim Martins, a qual foi responsável pela construção da primitiva Igreja de

Contagem8. Outra versão conta que o território do município se destacava pela produção da

abóbora. Devido a esta grande produção se fazia necessário realizar a contagem cucurbitácea

antes que fossem enviadas para localidades próximas. Por fim, a terceira versão, remete à

existência de registros, instalados pela Coroa, para a arrecadação dos impostos cobrados sobre

diversos bens (PREFEITURA MUNICIPAL DE CONTAGEM, 2009).

Sabe-se, no entanto, que o local não era urbanizado, mas, sim, uma extensa área que

funcionava como ponto de comercialização e distribuição de mercadorias, alimentos e outros

bens que deveriam integrar a zona mineradora (BONADA, 2011).

Foi no contexto de um fluxo contínuo de pessoas que passavam pela encruzilhada das

Abóboras que se situa a origem de Contagem.

8 Tal versão é contestada pela falta de documentação comprobatória sobre a existência de tal sobrenome.

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Inicialmente composta de pequenos ranchos, moradia de tropeiros, comerciantes,

faiscadores, dedicados a encontrar ouro nos pequenos córregos do local, a atividade

econômica se concentrou no abastecimento das zonas mineradoras. Sobre esse assunto,

Bonada (2011:13) é enfático ao afirmar que:

Na encruzilhada das Abóboras chegavam constantemente tropas de carga

com todo o tipo de mercadoria, de secos e molhados vindos de todos os cantos do Brasil e até do exterior, assim como de vendedores de escravos e

de gado. Compradores, prepostos e negociantes de outras bandas, tropeiros

que levariam cargas para serem vendidas em outros lugares, carregadores e

pessoas interessadas, aguardavam a chegada dos viajantes e os tropeiros com ansiedade. As mercadorias, os escravos e o gado seriam entregues sob

encomenda ou vendidos em Sabará, Curral Del Rey, Congonhas do Sabará e

outras localidades dedicadas à extração do ouro (BONADA, 2011:13).

Com o intenso fluxo de mercadorias, pessoas e capital na região, a Coroa Portuguesa

instalou um posto de registro fiscal, com a finalidade de cobrar impostos. Vale lembrar que no

período, as autoridades da Colônia exerciam o controle sobre os territórios ocupados, por

meio dos “postos de registro”. Na Comarca do Rio das Velhas, foram instalados mais uma

dezena de postos (CAMPOS; ANASTASIA, 1991). Tais estruturas promoviam a fiscalização

do fluxo de pessoas, mercadorias, cargas e tropas. Como os trajetos executados eram longos,

rapidamente os postos de registro passaram a servir como ponto de abrigo para pernoite. Não

é de se admirar que a intensa movimentação tenha motivado no decorrer do tempo o

surgimento de roças e também a criação de gado, voltados preponderantemente para

abastecimento e sobrevivência, além de intensificar os povoamentos já existentes

(MERCADANTE, 1973; MORAES, 2005).

A origem de Contagem se encontra particularmente atrelada a um desses postos de

registro, mais especificamente aquele instalado no ano de 1716, nas terras da sesmaria do

capitão João de Sousa Souto Maior, em terreno conhecido como Sítio das Abóboras, situado

na região da encruzilhada dos caminhos coloniais (BONADA, 2011). Tratava-se de área

contígua ao arranchamento de Betim Paes Leme, cunhado de Fernão Dias Paes Leme. Nas

imediações do posto das Abóboras, se consolidou um pequeno povoado, fruto do intenso

trânsito de pessoas e mercadorias9. Inicialmente denominado de Arraial das Abóboras, foi

rebatizado posteriormente como Contagem das Abóboras, devido à contagem e taxação de

9 Extraído da página virtual da Biblioteca IBGE, disponível em

http://biblioteca.ibge.gov.br/visualizacao/dtbs/minasgerais/contagem.pdf , acesso em 01/04/2013.

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tudo que por ali passasse, de modo que, popularmente, ganhou força o nome de Contagem

(COSTA, 2010).

Outra função importante desempenhada no posto de registro era a troca de ouro em pó

por ouro já quintado. Em outras palavras, o proprietário do ouro em pó o entregava aos

funcionários da Coroa e em troca recebia as barras de ouro fundido e timbrado, com o quinto

já descontado. Era rigorosamente proibido o trânsito do ouro em pó fora do local de extração

ou do caminho da fundição ou do local onde aconteciam as trocas, sob pena de duras

punições, como a deportação para as colônias portuguesas situadas na Ásia. Tal posto de

fiscalização permaneceu ativo até 1759, a partir desse momento, surgiram novas rotas entre os

centros mineradores, o que motivou a instalação de postos de fiscalização em outros locais,

diminuindo o fluxo de pessoas e mercados na região de Contagem (BONADA, 2011).

Quase na mesma época, deve ser mencionada a construção de capela destinada à

adoração do padroeiro dos viajantes, São Gonçalo do Amarante. A iniciativa foi responsável

pelo surgimento da denominação "Sam Gonçallo da Contagem das Abobras", nome que

homenageava o santo padroeiro ao mesmo tempo em que se referenciava a contagem

constante de cabeças de gado, escravos e mercadorias taxadas no posto de registro (Figura 9)

(CAMPOS, ANASTASIA, 1991).

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Figura 9: Igreja Matriz de São Gonçalo, em 195410.

No final do século XVIII e início do XIX, o povoado começou a apresentar sinais de

crescimento constante, apesar de lento. Em boa medida, isto se deveu ao esgotamento das

regiões mineradoras, que conferiram à pecuária e à agricultura um novo relevo. De acordo

com Bonada (2011), foi nesse momento que chegaram integrantes das famílias tradicionais da

região, tais como Diniz, Macedo, Gonçalves Lina, Silva, Costa, Rocha, Camargos e os

Mattos, responsáveis pela formação de fazendas como a de Madeira, Morro Redondo, Serra

Negra, Riacho das Pedras, Pintados, Abóboras e Vista Alegre (situadas na AID do

empreendimento em tela), Confisco, entre outras.

Em relação à formação administrativa, entre os anos de 1701 e 1901, o povoado de

Contagem pertenceu à Comarca de Sabará, integrando o município de Santa Quitéria, atual

município de Esmeraldas (CAMPOS; ANASTASIA, 1991). Em 1854, o arraial foi elevado à

10

Imagem extraída da página virtual da Prefeitura Municipal de Contagem, disponível em

http://www.contagem.mg.gov.br/?hs=303766&hp=971016, acesso em 15/08/2013.

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categoria de paróquia, e mais tarde, já em 1911, elevado à condição de município com o nome

de Contagem. Na ocasião, a formação administrativa compreendia os distritos de Contagem,

Camanhã (mais tarde Venda Nova), Vera Cruz e Vargem da Pantana. Tal formação se

manteve inalterada até 1938, quando Contagem perdeu sua autonomia, tornando-se distrito de

Betim, fato que afetou a localidade econômica e politicamente. No entanto, dez anos depois, o

distrito retomou a condição de município, apenas com o distrito sede (FONSECA, 1978).

Somente no ano de 1953 é que o Parque Industrial de Contagem foi reconhecido como

município (PREFEITURA MUNICIPAL DE CONTAGEM, 2009).

No que diz respeito à economia, a década de 1930 representou uma nova realidade

para Contagem na medida em que passou a ocupar um papel decisivo no desenvolvimento

mineiro. Parte desta ascendência se deveu às propostas apresentadas no IV Congresso

Comercial, Industrial e Agrícola, realizado em Belo Horizonte, em 1935. Na ocasião, surgiu a

ideia de se concentrarem as atividades industriais mineiras em uma área específica, como via

para superar o suposto atraso econômico de Minas Gerais. Ainda, em 1941, teve início a

concretização do sistema de distritos industriais, projeto integrante do Plano de

Desenvolvimento da Capital, idealizado pelo então governador de Minas Gerais, Juscelino

Kubitschek, por meio do qual seriam construídos pelo Estado nas décadas seguintes

(PREFEITURA MUNICIPAL DE CONTAGEM, 2009). A primeira etapa foi a criação do

Parque Industrial em Contagem, conforme Decreto-Lei n°778 de 20 de março de 1941,

denominada, posteriormente, de Cidade Industrial Juventino Dias (Figura 10). O projeto foi

instalado em uma área de 4 mil m2, a cerca de 8 km de Belo Horizonte. Com uma concepção

hexagonal, foi inspirado no Distrito Industrial de Camberra, na Austrália (GRANBEL, 2011).

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Figura 10: Imagem aérea da Cidade Industrial em 197011.

De acordo com NEVES (1994), a instalação da maior parte das indústrias aconteceu

em 1955, promovendo uma transformação estrutural e social do lugar. Nesse sentindo, a

instalação da empresa Itaú, no ramo do cimento, e da Magnesita, no âmbito dos refratários,

imprimiu confiança de credibilidade ao projeto, permitindo que no final de 1950 a Cidade

Industrial se tornasse o maior núcleo industrial de Minas Gerais (CAMPOS; ANASTASIA,

1991). Com a profusão de atividades, em 1966 cerca de 100 indústrias se encontravam em

pleno funcionamento, o que restringiu a possibilidade de novas instalações no hexágono. O

quadro foi um alerta para a necessidade emergencial de expansão do setor.

No ano de 1968, boa parte dos metalúrgicos que desempenhavam as suas atividades na

Cidade Industrial promoveu uma greve geral, na expectativa de verem atendidas suas

reivindicações por salários mais justos e melhores condições de trabalho. O movimento

adquiriu repercussão nacional por ter sido considerado o primeiro com tal configuração a

despontar no país. A manifestação foi duramente reprimida, mas atraiu a atenção da sociedade

para os problemas elencados pelos trabalhadores da Cidade Industrial (BARBOSA, 1995).

Mais tarde, na década de 1970, foi planejada a criação de um novo parque industrial.

A Prefeitura, por meio do Escritório de Planejamento Urbano de Contagem (EPUC) destinou

uma área de 2.761 m2, localizada entre a sede do município e a Cidade Industrial, para a

11

Imagem extraída da página virtual da Prefeitura Municipal de Contagem, disponível em

http://www.contagem.mg.gov.br/?hs=303766&hp=776903, acesso em 15/08/2013.

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instalação do Centro Industrial de Contagem (CINCO) (Figura 11A). O projeto foi elaborado

de forma a respeitar o tecido urbano e o meio ambiente, tendo sido regulamentado pela lei

municipal n°911, de 16 de abril de 1970. Em termos produtivos, o CINCO comportaria

setores voltados para a produção de bens de capital e bens duráveis de consumo. Apesar da

ousadia da proposta, rapidamente o complexo apresentou sinais de esgotamento, assim, se

tornou necessária a concessão de um novo espaço que atendesse as necessidades da

industrialização. Para tanto, foi criado o CINCÃO (Figura 11B). Contudo, sua ocupação tem

sido lenta, já que o espaço não apresenta infraestrutura e acessos compatíveis (GRANBEL,

2011).

Figura 11: Contagem. A: Imagem parcial do CINCO. B: Imagem parcial do CINCÃO. 12

A despeito dos maciços investimentos em industrialização, Contagem sofreu com as

consequências da crise econômica mundial de 1974. Os efeitos foram sentidos nos setores

mais tradicionais, tais como minerais não metálicos e metalurgia. A recuperação veio

gradualmente a partir dos anos 1980. Neste momento, observou-se o crescimento do ramo do

comércio, principalmente o atacadista, e da indústria da alimentação. Mais recentemente, é

possível perceber a concentração de atividades no Bairro Eldorado, que teve seu ápice com a

instalação de hipermercados e a inauguração de um shopping.

Sobre a Cidade Industrial, verifica-se que muitas indústrias encerraram suas atividades

por não estarem mais gerando os lucros esperados (GRANBEL, 2011). Nos últimos anos, o

setor terciário ganhou maior projeção, já apresentando a maior participação no PIB municipal.

Em boa medida, isto se deve ao crescente contingente populacional.

12 Imagens extraídas respectivamente da página virtual da Prefeitura Municipal de Contagem, disponível em

http://www.contagem.mg.gov.br/?hs=303766&hp=776903 e da página

http://www.logcp.com.br/Empreendimento/91/log-contagem-i-mg, acesso em 15/08/2013.

A B

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Por fim, Contagem apresenta um processo histórico marcado pela diversidade. Do

antigo posto de registro das Minas Coloniais a polo industrial, o território foi palco de

vivência para diferentes atores sociais, tais como funcionários da Coroa Portuguesa,

comerciantes, agricultores, escravos e uma massa de pessoas anônimas, responsáveis pela

elaboração das memórias e diferentes tradições culturais do município.

6.2 - Quadro de ocupação indígena na Região Metropolitana de Belo Horizonte

Em relação a registros de presença indígena no município de Contagem e adjacências,

não foram encontradas menções específicas referentes à época da chegada dos primeiros

colonos e efetiva colonização da região. O que se observa são referências a grupos situados

em um contexto mais amplo, representado pela mesorregião Metropolitana de Belo Horizonte,

o que levou a ampliação do escopo de abordagem deste trabalho, situando o município de

Contagem em um quadro de ocupação indígena regional.

É possível detectar menções a populações fixadas nas regiões interioranas das Minas

Coloniais nos séculos XVI e XVII. Tratava-se de grupos que teriam fugido do litoral, devido

às mazelas provocadas pelos primeiros contatos com os colonizadores (METRAUX, 1928;

MAGESTE, 2012). Contudo, ao que parece, no amplo recorte elencado, a figura do índio só

começou a aparecer de forma mais efetiva na documentação oficial a partir do século XVIII,

ocasião que já se encontravam catequizados e vinham sendo empregados como mão de obra

escrava13

(RESENDE, LANGFUR, 2007). No tocante à região de nosso interesse, não é

demais supor que alguns grupos de cativos possam ter passado pelos postos de registro indo

para a região do ouro, ou no caminho contrário, em direção ao litoral.

Digno de nota é a menção na documentação colonial a figura do Carijó nos vilarejos

fundados ao longo do rio Paraopeba. Na maioria dos casos, trata-se de denominação aplicada

ao cativo índio, que já havia sido catequizado em São Paulo e depois retornado como escravo

para a região das Minas, indo se fixar principalmente nos núcleos de Mariana e Ouro Preto

(MONTEIRO, 1994; VENÂNCIO, 1997; RESENDE, 2003).

13 Em relação à escravidão indígena, os trabalhos publicados nas últimas décadas tem revelado que as

populações nativas foram nos anos iniciais da colonização exploradas de forma intensiva nas fazendas destinadas à agricultura de exportação, bem como nos garimpos da mineração, entre outras atividades. Por sua vez, nas

áreas economicamente periféricas, o escravismo com base no índio estendeu raízes profundas, sobrevivendo até

a segunda metade do século XVIII. Para maiores informações, vide MONTEIRO, 1994; LOURES OLIVEIRA,

et al, 2012).

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Os Carijós foram direcionados para a realização de tarefas tradicionalmente atribuídas

a eles em São Paulo. Nas regiões mineradoras, devido à ausência de caminhos e estradas,

percorriam as íngremes trilhas que uniam as lavras ao núcleo urbano, transportando produtos

fundamentais para a sobrevivência do garimpo. Realizavam, também, a pesca e a coleta que,

em virtude da irregularidade das linhas de abastecimento, assumiu notável preponderância nos

primeiros anos da colonização mineira. No tocante à divisão do trabalho, enquanto os homens

se ocupavam das tarefas mencionadas acima, as mulheres dedicavam-se ao artesanato,

produzindo cerâmicas e cestarias para uso doméstico ou então trabalhavam na agricultura de

subsistência (VENÂNCIO, 1997; LOURES OLIVEIRA, et al, 2012).

Ainda sobre os Carijós, as discrepâncias que parecem cercar o termo permitem as mais

diferentes interpretações, conforme sistematizado por Loures Oliveira et al (2012). A primeira

se refere à designação dada aos povos nativos que habitavam a extensa área que vai do litoral

Sul ao sertão do sudeste do Brasil. Nesse sentido, os Carijós seriam resultantes da mistura dos

índios Goiases e Caribas, do extremo norte do país, que chegaram a ocupar uma vasta área e

foram empurrados para o sul pela colonização (VASCONCELOS, 1948).

Especificamente para os Carijós que ocupavam as imediações do rio Paraopeba,

supõe-se que pertenciam ao tronco linguístico Tupi e que teriam fugido das missões jesuíticas

situadas na Costa, indo se fixar no interior. Para os que defendem tal ideia, o fato de já terem

sido catequizados explicava o contato pacífico travado com os colonizadores em Minas

(CÉSAR, 1990). Outra interpretação é fornecida por BARBOSA (1995), que defende o fato

do termo Carijó ter sido usado para identificar os mestiços de índios, negros e brancos. Nesse

caso, “Carijó” seria um sinônimo para caboclo, ou seja, fruto da miscigenação.

Fica evidente que pouco se sabe sobre os grupos indígenas que teriam se fixado na

Região Metropolitana de Belo Horizonte no passado. Na maioria dos casos, o que se encontra

nas fontes históricas e etno-históricas são menções esparsas e ambíguas e, em algumas

situações, como é o caso específico de Contagem, a ausência quase total de referências, tanto

no que tange à documentação escrita quanto à oralidade. Tendo em vista o contexto marcado

por lacunas, a Arqueologia parece emergir como a estratégia investigativa mais adequada para

o entendimento de uma possível ocupação nativa na região. Em boa medida, isto se deve ao

fato de permitir que o pesquisador extrapole os limites temporais fixados pela existência de

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documentação escrita e se dedique à elaboração de uma história de longa duração (MORRIS,

2000).

7. ARQUEOLOGIA REGIONAL E PATRIMÔNIO CULTURAL

No que diz respeito aos estudos arqueológicos desenvolvidos na Região Metropolitana

de Belo Horizonte, é digno de nota a carência de informações sistematizadas no âmbito da

Arqueologia Regional (NEVES, 1998). A configuração deste cenário não deixa de ser curiosa.

Isto porque no que concerne aos estudos desenvolvidos no Estado de Minas Gerais, a Região

Metropolitana de Belo Horizonte possui a mais longa tradição de pesquisas. A área conta com

um patrimônio arqueológico bem distinto, que pode ser inserido em periodos cronológicos

diferentes, chamando a atenção dos pesquisadores desde o século XIX (PROUS, 1992).

7.1 Histórico dos estudos na Região Metropolitana de Belo Horizonte

Contextualmente, um dos primeros trabalhos noticiados na região foi realizado em

Lagoa Santa, pelo dinamarquês Peter Wilhelm Lund (Figura 12). O pesquisador identificou

mais de 800 grutas com vestígios de ocupação humana associados à fauna extinta, o que

contribuiu para acalorar os debates acerca da antiguidade do homem na época (NEVES,

ATUI, 2004). Com toda a repercussão gerada, a partir da década de 1920, a região passou a

ser intensivamente visitada por arqueólogos de missões estrangeiras. Neste contexto,

destacam-se os trabalhos desenvolvidos pelo arqueólogo austríaco Jorge Augusto Padberg-

Drenkpol, contratado pelo Museu Nacional do Rio de Janeiro entre os anos de 1926 e 1929

(PROUS, 1992).

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Figura 12: Imagem alusiva aos estudos de Peter Lund, datada de 184014

.

Mais tarde, entre os anos de 1935 a 1960, foram realizadas diversas escavações nas

imediações de Lagoa Santa, conduzidas pelos membros da Academia de Ciências de Minas

Gerais. Porém, essas intervenções careciam de recursos técnicos, impossibilitando o registro

detalhado dos achados e a continuidade dos estudos.

O quadro só veio a se alterar a partir da década de 1970, por ocasião do

desenvolvimento do Programa de Pesquisas Arqueológicas no Vale do São Francisco em

Minas Gerais. A iniciativa foi coordenada pelo Prof. Ondemar Dias Junior, do Instituto de

Arqueologia Brasileira (IAB), podendo ser entendida como prolongamento do Programa

Nacional de Pesquisas Arqueológicas (PRONAPA). Foram feitas descobertas relevantes, tais

como a de sítios pertencentes à Tradição Sapucaí, nas imediações do município de Pequi, a

aproximadamente 100 km do município de Contagem15

.

Paralelamente à atuação do IAB, chegou a Minas Gerais a Missão Franco-Brasileira,

liderada por Annette Laming-Emperaire e por André Prous, no final da década de 1960. A

vinda dos pesquisadores estrangeiros foi o marco decisivo para a consolidação do primeiro

Núcleo Científico de Arqueologia do Estado. O gérmen para a iniciativa foram as escavações

sistemáticas levadas a cabo tanto na região metropolitana de Belo Horizonte quanto no

Campo das Vertentes, iniciadas em 1971, com o apoio da Universidade Federal de Minas

Gerais (UFMG) e do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN). Em

1975, André Prous seria contratado pela UFMG, fato que propiciou a criação do Setor de

14 Imagem extraída de http://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/c/c7/Peter_Wilhelm_Lund_with_cave_paintings.jpg, acesso em

15/08/2013. 15 Informações extraídas da página virtual do Instituto de Arqueologia Brasileira (IAB), disponível em

http://www.arqueologia-iab.com.br/?pagina=acaua, acesso em 01/04/2013.

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Arqueologia, concebido como núcleo inicial de um futuro Museu do Homem de Minas

Gerais16

.

No período compreendido entre as décadas de 1970 e 1990, a maioria das pesquisas

desenvolvidas na região foi executada pela equipe de Arqueologia da UFMG, inserida no

Museu de História Natural e Jardim Botânico da UFMG (MHNJB/UFMH) (Figura 13). Uma

breve consulta na base de dados do IPHAN é o suficiente para nos informar que naquele

período foram identificados um número expressivo de sítios arqueológicos. Pode-se

mencionar aqueles situados nos municípios de Brumadinho, Jequitibá, Papagaios, Baldim,

Matozinhos, entre outros.

Figura 13: Trabalhos desenvolvidos no MHNJB/UFMG17

A partir da década de 1990, ganhou notoriedade a atuação da equipe interdisciplinar da

Universidade de São Paulo, que liderada por Walter Neves, tem efetuado um significativo

trabalho na região de Lagoa Santa. Os estudos conduzidos têm colocado a mesorregião

Metropolitana de Belo Horizonte em voga nas discussões internacionais a respeito do

povoamento na América (NEVES, PILÓ, 2004).

Nos últimos anos, este quadro de pesquisas foi ampliado, diante do crescimento

vertiginoso da Arqueologia de Contrato ou Preventiva. Em boa medida, isto se deve ao fato

dos estudos levados a cabo sob o âmbito empresarial abarcarem áreas que até então não

haviam sido alvo de projetos de pesquisa científica (MONTICELLI, 2005).

16 Informações extraídas da página virtual do Programa de Pós Graduação em Antropologia da UFMG,

disponível em http://www.fafich.ufmg.br/antro-pos/historico.html , acesso em 21/03/2013. 17 Imagens extraídas da página virtual do Museu de História Natural e Jardim Botânico da UFMG, disponível em

http://www.mhnjb.ufmg.br/arqueologiaprehistorica.html, acesso em 15/08/2013.

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No caso específico do município de Contagem, não foi possível identificar nenhum

registro referente à ocorrência de sítios arqueológicos nas bases virtuais do IPHAN. Sabe-se,

porém, da presença de antigos assentamentos nos municípios limítrofes de Ibirité, que contam

com dois sítios arqueológicos pré-coloniais, Antipoff e Serra Boa; e no município de Belo

Horizonte, onde foram localizados os sítios pré-coloniais Horto Florestal e Córrego do

Cardoso, ambos relacionados à Tradição Aratu-Sapucaí18

. Torna-se relevante apresentar uma

breve caracterização das tradições arqueológicas nas quais os vestígios materiais evidenciados

são geralmente classificados, levando em consideração as informações provenientes do

contexto regional.

7.1.1 Tradições Arqueológicas

Antes mesmo de sua consolidação enquanto disciplina acadêmica, um dos objetivos

que sempre norteou o desenvolvimento dos estudos arqueológicos foi a classificação dos

vestígios materiais localizados nos sítios. No Brasil, a história não foi diferente. Nos

primeiros trabalhos desenvolvidos em território nacional a preocupação com o

estabelecimento de tipologias já se revelava. Contudo, o caráter amador das pesquisas -

marcadas por multiplicidade teórica e metodológica - inviabilizaram a implantação de

modelos classificatórios sobre a pré-história brasileira, tal como ocorreu na Escandinávia

(TRIGGER, 2004).

O quadro esboçado só veio a se alterar na década de 1960, época de implantação e

atividade do Programa Nacional de Pesquisas Arqueológicas (PRONAPA). Os pesquisadores

do PRONAPA adotaram o pressuposto de que a cerâmica poderia refletir mudanças culturais

através do tempo (EVANS, MEGGERS, 1965). Assim, criou-se a categoria de fase, definida

como “qualquer complexo de cerâmica, lítico e padrões de habitação, relacionados no tempo e

no espaço” (CHYMZ, 1966:14). Bem mais amplo que fase, foi o conceito proposto para

Tradição. Refere-se a “grupos de elementos e técnicas que se distribuem com persistência

temporal” (CHYMZ, 1966). Em termos gerais, pode ser definida como sequências de fases,

que se distribuem por um determinado espaço temporal (SANTOS, 1991).

Frente a este cenário, a intenção dos pesquisadores do PRONAPA foi a de padronizar

por meio de tipologias, determinadas características do registro arqueológico que

18 Informações extraídas do Cadastro Nacional de Sítios Arqueológicos (CNSA), disponível na página virtual do

IPHAN ,http://portal.iphan.gov.br/portal/montaPaginaSGPA.do. , acesso em 01/04/2013.

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possibilitassem seu enquadramento classificatório e, principalmente, cronológico. A cerâmica

foi eleita o testemunho fóssil primordial, por evidenciar as mudanças culturais vivenciadas ao

longo do tempo. Digno de nota, é que mesmo sendo duramente criticado nos últimos anos

pelos métodos de campo e as prioridades adotadas nas pesquisas, o PRONAPA forneceu os

primeiros subsídios para viabilização de estudos posteriores sobre a história pré-colonial do

país, com um sólido conjunto de datações. Nesse ponto, levando em consideração o quadro

arqueológico regional elencado anteriormente, serão apresentadas as características

concernentes às tradições Una, Aratu, Aratu-Sapucaí e Tupiguarani.

Tradição Una

Em termos gerais, a Tradição Una (Figura 14) é caracterizada pela presença de

cerâmica fina e tecnologicamente bem produzida, onde acontece o predomínio de peças de

tamanho reduzido, com decoração restrita. Tais vestígios apresentam uma notável dispersão

espacial, sendo possível encontrar material associado em territórios situados nos estados do

Rio de Janeiro, Minas Gerais, Goiás e Espírito Santo (PROUS, 1992). O autor é enfático

ainda ao afirmar que a produção material relacionada à tradição não compõe um conjunto

homogêneo, sendo possível verificar ao menos duas variedades: a variedade A, presentes no

norte de Minas Gerais; e a variedade B, distribuída por outras porções de Minas, Espírito

Santo e Rio de Janeiro.

As datações mais antigas para a Tradição Una – cerca de 3500 AP – são de sítios

arqueológicos situados nos municípios de Unaí e Piumhi, pertencentes à variedade B,

localizados na região Sul de Minas Gerais. Trata-se de vasilhames escuros, geralmente

pequenos e globulares, alguns cônicos e piriformes, onde predomina a queima completa.

Chama a atenção os vasos de corpo globular e abertura constrita com pequeno gargalo. Por

sua vez, a espessura das paredes é mínima, com núcleo de cor escura. Apresentam como

decoração o engobo vermelho e o polido-estriado. Em alguns poucos sítios há ocorrência de

decoração por incisão (ERVEN, MAGESTE, 2010).

Acredita-se que os grupos portadores dessa Tradição eram horticultores de milho,

algodão, amendoim, e outros vegetais. Ainda que não habitassem exclusivamente sítios a céu

aberto, Dias Junior e Panachuk (2008) informam sobre sua preferência a este tipo de

ambiente. Geralmente, associados a grupos indígenas pertencentes ao tronco linguístico

Macro-Jê, existem algumas suposições segundo às quais estas populações distribuíram-se em

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pequenas sociedades, mais aptas a explorar os recursos naturais do entorno das aldeias: o rio

próximo, a pequena mata de galeria, o cerrado e muitas vezes o campo no alto do chapadão.

Foram sucedidos no território mineiro por grupos relacionados à Tradição Aratu-Sapucaí

(PROUS, 1992).

Em termos arqueológicos, o número de sítios da Tradição Una registrados é bastante

reduzido. Talvez esse fato possa ser explicado pela baixa visibilidade dos sítios em áreas de

florestas19

. A localização dos sítios em ambientes fechados, os estratos arqueológicos pouco

espessos e o material neles encontrado levaram os pesquisadores à apresentação de diferentes

interpretações sobre a função desses assentamentos: cerimonial; habitação semipermanente;

habitação; de função não residencial (DIAS, CARVALHO, 1980).

Figura 14: Principais formas das tradições Aratu-Sapucaí e Una.

Extraído de HENRIQUES JUNIOR, 2006.

19 EREMITES, J.; VIANA, S. A. Pré-história da região Centro-Oeste do Brasil. Disponível em

http://www.naya.org.ar/congreso2000/ponencias/Jorge_Eremites_de_Oliveira.htm, acesso em 15/08/2013.

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Tradição Aratu e Aratu-Sapucaí

A Tradição Aratu (Figura 14) foi assim denominada por Calderón, no escopo das

pesquisas desenvolvidas pelo PRONAPA. Para o autor, os vestígios relacionados à tradição

encontravam-se distribuídos por porções dos estados da Bahia, Alagoas, Sergipe, Piauí, Minas

Gerais, Espírito Santo e São Paulo (LUNA, 2006). No tocante a cerâmica, observa-se que a

maioria dos potes não apresenta decoração. Somente algumas vasilhas específicas apresentam

asas, bicos, cabos e alças, podendo ser decorados com linhas finas impressas ou com banhos

de barro vermelho. As panelas possuíam forma semi-esférica ou de tigelas rasas, havia

grandes vasos de forma cônica, semelhantes a peras. Estes eram usados na preparação das

bebidas alcoólicas, consumidas em festejos, sendo também utilizados como urnas funerárias

(PROUS, 1992).

A indústria lítica caracterizava-se pela confecção de instrumentos de trabalho tais

como: machados polidos, usados para a derrubada de árvores na ocupação de novos territórios

e preparação de novas roças; pequenos pilões escavados em blocos de arenito; martelos e

batedores feitos a partir de seixos rolados – pedras redondas; lascas de arenito, utilizadas

como facas, raspadores, plainas, furadores, e outros instrumentos que serviam para o corte da

carne e pele dos animais caçados, e entalhe em madeira e ossos (DIAS, CARVALHO, 1982).

A tradição Aratu, talvez pelo grande período de tempo que sobreviveu, deu origem a

diversas variações. Especificamente em Minas Gerais, foi encontrada a variação dessa

tradição, denominada de Aratu-Sapucaí, que hoje já e descrita como uma tradição

independente e próxima a Aratu. De modo geral, caracteriza-se pela presença de vasilhames

piriformes e globulares de tamanhos variados, presença de potes grandes para armazenagem

de líquidos e grãos, urnas funerárias, vasilhas geminadas pequenas, rodelas de fuso,

cachimbos, além de tigelas e pratos (PROUS, 1992). Dias e Carvalho (1982) afirmam que os

portadores dessa tradição são povos numerosos, formadores de grandes aldeias a céu-aberto,

com até dezenas de enterramento em urnas, algumas pintadas ou banhadas de vermelho.

Ocupavam encostas de colina, em área de cerrado e conviviam pacificamente com os povos

Una.

Tradição Tupiguarani

Sobre a Tradição Tupiguarani (Figura 15), a primeira informação digna de nota é

sobre a realização de uma correlação direta na Arqueologia Brasileira entre cultura material e

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os grupos integrantes da família linguística Tupi-guarani. Trata-se de uma associação

estabelecida na década de 1960, ocasião em que começaram a despontar os primeiros

trabalhos comprometidos em identificar de identificar os sítios ceramistas e a função dos

artefatos evidenciados no grupo em que estavam inseridos. Esses estudos aconteceram no

âmbito do já mencionado Programa Nacional de Pesquisas Arqueológicas (PRONAPA).

Foi durante a atuação do PRONAPA que surgiu a necessidade de se rotular as

ocorrências cerâmicas que estavam sendo evidenciadas ao longo de toda a costa, em áreas

tradicionalmente ocupadas por grupos Tupi e em alguns vales do interior, e que apresentavam

uma notável semelhança em termos tecnológicos (SCATAMACCHIA, 1990). A Tradição

Tupiguarani foi definida como uma tradição cultural caracterizada por cerâmica policrômica

(vermelho e/ou preto sobre engobo branco ou vermelho) corrugada e escovada, por

enterramentos secundários em urnas, machados de pedra polida e pelo uso de tembetás e

cachimbos (CHMYZ, 1966).

Nos sítios arqueológicos enquadrados nessa tradição, é comum evidenciar fragmentos

elaborados a partir de técnicas de decoração que compreendem pintura policroma nas cores

preta e vermelha, sobre engobo brabo e vermelho. No tocante aos acabamentos plásticos de

superfície, destaca-se o corrugado, o ungulado, o ponteado, o inciso, acanalado, escovado,

espatulado, beliscado, digitado, entre outros. Trata-se de fragmentos associados a potes de

formas distintas, que vão desde tigelas até urnas carenadas. De todo modo, as formas mais

comuns são as tigelas em forma de calota de esfera e vasos esferoides, com bordas

extrovertidas.

Nos sítios arqueológicos enquadrados nessa Tradição, é comum evidenciar fragmentos

que apresentam técnicas de decoração que compreendem pintura policroma nas cores preta e

vermelho sobre engobo branco e vermelho. Já em relação aos acabamentos plásticos de

superfície, a cerâmica Tupiguarani caracteriza-se pelo corrugado, ungulado, ponteado, inciso

acanalado, escovado, espatulado, escovado, beliscado, digitado entre outros. Esses fragmentos

estão associados a vasilhames de formas muito variadas, que vão desde tigelas até grandes

urnas carenadas (CHMYS, 1966). As formas mais comuns são tigelas em forma de calota de

esfera e vasos esferóides com bordas extrovertidas20

.

20 http://max.org.br/biblioteca/Livros/PreHistSergipana/Cap-3.pdf (23/10/08 às 9h00min).

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Figura 15: Exemplo de cerâmica Tupiguarani21.

7.2 O patrimônio cultural de Contagem

Em termos gerais, patrimônio cultural pode ser definido pelo conjunto de todos os

bens materiais e/ou imateriais, que devido ao valor manifestado, são considerados relevantes

no tocante a questões concernentes à identidade e cultura de um determinado grupo social. De

acordo com o IPHAN, a concepção não abarca somente imóveis oficiais isolados, mas no

âmbito do contexto contemporâneo, se estende a imóveis particulares, trechos naturais e até

mesmo paisagens, incluindo ainda todo um universo de expressões culturais e as tradições

ancestrais que um grupo social mantém e transmite para gerações futuras. Em linhas gerais,

pode-se dizer que é constituído além da materialidade, pelos saberes e memórias, os modos de

fazer, as formas de expressão, celebrações, as festas e danças populares, lendas, músicas,

costumes, enfim, todos os aspectos que se relacionam com a identidade de uma determinada

comunidade22

.

21 Extraído da página virtual Ponto de Cultura, Museu Histórico da IPI, MAI e Iepê, disponível em http://museuiepe.blogspot.com.br/p/mai.html, acesso em 15/08/2013. 22 Extraído da página virtual do IPHAN, disponível em

http://www.iphan.gov.br/montarPaginaSecao.do?id=20&sigla=PatrimonioCultural&retorno=paginaIphan, acesso

em 01/04/2013.

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No caso específico do município de Contagem, ao falarmos do patrimônio cultural

conhecido, estamos nos referindo às expressões materiais e tradições locais consolidadas ao

longo de mais de 300 anos de história. Preliminarmente, podemos destacar alguns bens de

natureza material e imaterial de relevância histórica e cultural. As primeiras informações

nesse sentido podem ser verificadas na relação de bens protegidos em Minas Gerais

apresentados ao ICMS do Patrimônio Cultural.

No documento, constam listados os seguintes bens: Capela de Imaculada Conceição e

Santa Edwiges, Capela de São Domingos de Gusmão, Casa de Cacos, Casa de Cultura Nair

Mendes Moreira, Cine Teatro Municipal, Companhia Cimento Portland Itaú - Chaminés e

Prédio Administrativo, Conjunto Centro Cultural Francisco Firmo de Mattos Filho - Conjunto

Arquitetônico da rua Dr. Cassiano nº 102, 130, 140, Conjunto Urbano: Prefeitura, Capela

Santa Helena e Centro Esportivo Tancredo Neves, Espaço Popular, Fazenda Vista Alegre,

Igreja Matriz de São Gonçalo, Parque Gentil Diniz e por fim, a Praça Presidente Tancredo

Neves. Digno de nota é que dos bens elencados dois se encontram na Área de Influência

Direta (AID) do Loteamento Estância do Lago, especificamente uma chaminé da antiga olaria

do Sr. Gilson Diniz e a ruína da Fazenda Vista Alegre (Figura 16), que receberá maior

atenção no âmbito da descrição das atividades de campo realizadas.

Em relação à chaminé, ressalta-se que durante o Diagnóstico (SOCIOAMBIENTAL

PROJETOS, 2013) realizado na área a ser impactada pelo empreendimento, estava sendo

levantado um estacionamento, cujo responsável não foi encontrado. No entanto, durante a

realização da Prospecção arqueológica, pode-se notar que o estacionamento já se encontra

finalizado e em funcionamento como pátio de apreensão do DETRAN (Figura 17). Cabe

ressaltar que a estrutura não sofreu danos aparentes e, atualmente, faz parte da estrutura do

pátio.

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Vale salientar a existência de uma comunidade quilombola no município de

Contagem. A povoação situa-se a cerca de 1 km do empreendimento e foi alvo de discussão

durante os trabalhos de Diagnóstico Arqueológico. Ressalte-se que esta comunidade preserva

um vasto patrimônio imaterial por meio de suas festas e celebrações tais como: Folia de Reis,

Congado, Candomblé, Batuque, Festa de São Sebastião, Festa João do Mato e Festa da

Abolição. Ainda, as benzeções ficam a cargo do Sr. Mário Braz, um dos pilares desta

comunidade. Destacam-se ainda as festas e comemorações em outras partes do município,

como é o caso dos Ciriacos, do Congado do Bairro Industrial e do Retiro, das comemorações

do Rosário de Nossa Senhora e da Capoeira23

.

Por fim, o patrimônio cultural de Contagem vem sendo divulgado pela Prefeitura

Municipal, por meio de algumas estratégias. A confecção de um Atlas Escolar – Histórico,

23

Cabe ressaltar a existência do Projeto Capoeira Angola, apoiado pela Prefeitura Municipal (PREFEITURA

MUNICIPAL DE CONTAGEM, 2009).

Figura 16: Bens culturais na AID do empreendimento. A: Chaminé da Olaria do Sr. Gilson Diniz. Nota-se que o estacionamento já foi construído. B: Ruínas da Fazenda

Vista Alegre. C: Tijolo com as iniciais do proprietário da Fazenda Vista Alegre – Joviano Camargos.

A B

C

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Geográfico e Cultural – foi uma das estratégias escolhidas e muito bem elaborada, já que este

apresenta mais de 80 páginas sobre a história do município. Outro bom exemplo são as ações

promovidas pela Casa da Cultura Nair Mendes Moreira, onde hoje funciona o Museu

Histórico de Contagem, através da execução de projetos como “Por Dentro da História”,

“Casa Aberta” e “Turma do Contagito”. Ainda, a Casa de Cultura atua sistematicamente em

prol do tombamento de bens com relevância histórica e cultural.

Figura 17: Pátio do DETRAN a frente da Chaminé da Olaria do Sr. Diniz.

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8. HISTÓRIA ORAL

Por meio de conversas estabelecidas com os moradores de Contagem, mais

especificamente com aqueles situados nas imediações do Loteamento Estância do Lago, foi

possível obter novos dados acerca da conformação histórica da área. Contudo, antes de

apresentar as informações recolhidas, torna-se pertinente efetuar algumas considerações sobre

o que se convencionou chamar de História Oral, principalmente no tocante aos seus aspectos

teórico-metodológicos. Trata-se de abordagem que pode ser relacionada à renovação temática

que reconfigurou a historiografia nas últimas décadas (POLLAK, 1989).

Em termos gerais, a perspectiva parte da valorização do discurso e memória de grupos

ou indivíduos, na maioria das vezes, marginalizados pela ordem social e econômica vigente.

Mulheres, negros, indígenas, trabalhadores rurais, entre outros, fazem parte de um grupo, para

o qual a história oral representa uma das principais formas de valorização, em termos

históricos e culturais (HALLBWACHS, 1990). Mais do que levantar dados comprovados

pelos “documentos oficiais”, a preocupação da História Oral é o de alargar os horizontes da

historiografia tradicional, compreendendo como os acontecimentos ganham sentido e

significado na elaboração do discurso oral. A memória local é, portanto, vista como um

importante acervo sobre a história regional, sendo acessado facilmente por aqueles que se

dispõe a conhecer pessoas e ouvir seus “causos”.

Sobre a área enfocada nesse trabalho, foi possível ampliar o escopo de dados

disponíveis, abordando diferentes sujeitos. De todo modo, com as informações obtidas na

oportunidade, foi possível estabelecer um quadro referencial preliminar acerca dos aspectos

históricos, culturais e arqueológico das áreas de influência do empreendimento.

Os primeiros entrevistados foram funcionários de ambas as fazendas que integram a

área a ser impactada. Eles trabalham diretamente com a lida do campo, cuidando de

plantações, arado, gado, produção de cachaça, entre outras24

. Durante as conversas e

entrevistas não estruturadas estabelecidas com estes funcionários, foi relatado à equipe que no

momento em que os fundadores da Fazenda Vista Alegre chegaram “estava cheio de índios

morando” no local. Foi relatada também a existência de outra comunidade quilombola na

região de Contagem. Segundo os funcionários, a comunidade quilombola ficaria a noroeste da

24 Os nomes dos funcionários foram omitidos visto a possibilidade de problemas junto aos seus empregadores.

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Fazenda Vista Alegre e seria conhecido apenas como “Quilombo”. Os funcionários relataram

ainda que, em muitos momentos, quando realizavam o preparo da terra para o plantio, uma

grande quantidade “panelas de índios brotam do chão”. Não obstante, um integrante da

família Camargos nos afirmou que o local onde foi constatada a existência de um sítio pré-

histórico era usado como chiqueiro. Segundo ele, a mais de 60 anos atrás, seus pais haviam

construído as estruturas no local e trouxeram “um monte de telhas de cerâmica para cobrir o

chiqueiro”.

Sabe-se que próximo ao empreendimento em tela, situa-se a ruína da casa sede da

antiga Fazenda Vista Alegre, localizada em terreno pertencente à Prefeitura Municipal de

Contagem – responsável pela sua guarda e conservação, sendo por este motivo, protegida no

âmbito municipal. Não obstante esse contexto, o local se encontra, atualmente, em péssimo

estado de conservação. Sobre a ruína, especificamente, a Sra. Darina nos forneceu

informações preciosas.

Ela relatou à equipe de arqueologia e educação patrimonial que morou na fazenda no

período de 1975 a 2001, a pedido do senhor Sebastião Camargos, para que pudesse ajudar a

preservar o local, afugentando curiosos. Na época da mudança, a área não era loteada,

somente depois que Sebastião Camargos e Marcos Menezes lotearam área adjacente à

fazenda, hoje conhecido como Quintas Coloniais, é que o local começou a ser urbanizado.

Nesse período, no mandato do prefeito Ademir Lucas, houve um envolvimento da prefeitura

de Contagem na propriedade, com a implantação de uma horta comunitária no local da

fazenda, sem grande sucesso. Posteriormente, devido ao risco de desabamento, dona Darina

precisou isolar parte da casa e fazer reformas para adaptá-la às suas necessidades.

Por fim, a Sra. Darina relatou que a casa começou a desmoronar em 2005 e, nesta

época, pessoas de vários locais da cidade foram ali a fim de buscar madeiras, telhas e tijolos.

Conforme relatório anterior, uma das funcionalidades dadas ao material da casa pode ter sido

uma ponte que atravessa um pequeno córrego próximo (SOCIOAMBIENTAL PROJETOS,

2013). Finalmente, ela se recordou de que, logo que partiram, houve um evento chamado

Cavalgada da Fazenda Velha, que atraiu centenas de pessoas.

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Figura 18: Educação Patrimonial com moradores da AID. A-D: Sra. Darina falando sobre a Fazenda Vista Alegre.

Por fim, entrevistou-se, novamente, o Sr. Mário Braz da Luz, um dos principais atores

da Comunidade dos Arturos, situada na AII do empreendimento. Este senhor é visitado por

diversas pessoas do município de Contagem para a celebração de rezas e benzeções. Filho dos

fundadores da comunidade quilombola, Sr. Arthur Camilo Seribelo e Maria Camila, ele é

morador do local há mais 7 décadas, quando veio de Esmeraldas para o local.

O Sr. Mário relatou, novamente, a presença de um valo que dividia as fazendas das

Abóboras e Vista alegre. Segundo ele, esse valo também era utilizado para os empregados

transitarem dentre as fazendas. Além disso, o senhor Mário ainda relembrou, mais uma vez, a

imponência da sede da Fazenda Vista Alegre que, segundo ele, possuía mais de 10 quartos,

sendo alguns deles destinados aos empregados.

Especificamente no tocante à presença indígena na região, ele apenas relatou que

muitas das “panelas de barro” eram quebradas quando encontradas durante a lida. Em relação

a material lítico, muito conhecido como corisco25

entre os mais idosos, ele relatou que nunca

25 Vale salientar que “pedra de raio” ou até mesmo “corisco”, são termos utilizados para denominadas

machadinhas e outros instrumentos líticos, sendo por vezes associada, ao longo do tempo, a um mito presente na

Antiguidade e Europa medieval (TRIGGER, 2004). Tal objeto lítico cairia com o raio e penetraria no solo até a

A

B

C D

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encontrou nada parecido em campo. Assim, ele confirmou o que havia relatado anteriormente,

na fase de diagnóstico, sobre a presença de panelas de barro encontradas durante os trabalhos

no campo.

Figura 19: Entrevista não com o Sr. Mário Braz da Luz.

9. PROSPECÇÃO ARQUEOLÓGICA

Com o objetivo de prospectar as áreas de influência do empreendimento Loteamento

Estância do Lago, foram realizadas expedições de campo visando o reconhecimento dos bens

culturais previamente diagnosticados. Na sequência, foram abertas, de forma sistemática,

tradagens em toda a área de influência direta do empreendimento. O intuito foi o de detectar

algum vestígio e/ou estrutura com valor histórico e cultural, além daquelas já diagnosticadas

durante a fase de Licença Prévia. Em paralelo, foram realizados caminhamentos com

observação de superfície, a fim de identificar possíveis vestígios arqueológicos. Em paralelo,

foram feitos levantamentos bibliográficos visando informações documentais para a

contextualização deste estudo.

profundidade de sete metros, dando início a um processo ascensional de um metro por ano. Após sete anos,

alcançaria a superfície, onde passaria então a atrair e ser atraído pelo raio até que atingisse a superfície e fosse

levado novamente para o céu.

A B

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Figura 20: Reconhecimento dos bens identificados no Diagnóstico Arqueológico. A-C: Valo dos Camargos. D: Chaminé da Antiga Olaria do Sr. Gilson Diniz. E: Moinho Fazenda Vista Alegre. F:

Ruínas Fazenda Vista Alegre.

No tocante às prospecções, foram realizadas 136 tradagens com diâmetro variável

entre 25 e 35 cm, que atingiram a profundidade média de 100 cm - levando em consideração o

contexto arqueológico local – e profundidade máxima de 130 cm. Todas as tradagens foram

abertas com auxílio de cavadeiras articuladas, do tipo boca de lobo. Ainda, todos os

E F

C

A B

D

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sedimentos receberam especial atenção, sendo descritos quanto a sua composição,

granulometria, compactação, umidade, coloração e possível presença de vestígios

arqueológicos (Figura 21).

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Figura 21: Tradagens realizadas. A-F: Tradagens sendo realizadas. G-I: Tradagens finalizadas. Destaque ao sedimento. J: Análise do sedimento.

A B C D

E F G

H I J

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Em alguns pontos previstos no grid para a vistoria não foram realizadas intervenções

devido às condições locais que impossibilitavam o acesso. O lago – formação que dá nome ao

empreendimento –, áreas com altíssimos graus de declividade, brejos, cultura de cana-de-

açúcar, córrego, entro outros, foram alguns dos fatores para a não realização ou deslocamento

das tradagens. Um exemplo é a Tradagem 62 que foi deslocada cerca de 9m devido à presença

da cultura de cana-de-açúcar; outro exemplo é a Tradagem 74 que foi deslocada

aproximadamente 15 metros do seu ponto original devido à alta declividade do terreno aliado

ao adensamento da mata. Já em relação às tradagens não realizada, os principais exemplos são

as Tradagens 109 e 120 que foram dispostas na área onde se situa o lago (Figura 22).

Figura 22: Tradagens deslocadas e não realizadas. A-B: Tradagens deslocadas. C-D: Tradagens não realizadas (109 e 120).

A B

C D

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9.1 Área Diretamente Afetada

A área a ser impactada pela instalação do empreendimento de parcelamento de solo,

constituída por uma gleba da Fazenda Vista Alegre, se encontra parcialmente antropizada,

onde grande parte desta ação ocorreu para a preparação de pastagem para o gado e para

agricultura.

É possível atestar in loco, em área adjacente às ruínas da fazenda, a antropização

ocorrida na busca pela produção agropecuária. Esta antropização recorrente afetou de forma

direta a existência e/ou conservação de vestígios ou sítios arqueológicos. Tal situação pode

ser atestada na região do Valo dos Camargos, onde se nota uma finalização abrupta da

estrutura para a construção de uma via de acesso. No entanto, nas Áreas de Reserva Legal e

Preservação Permanente uma vegetação mais densa preserva superfície e subsolo. Em linhas

gerais, a ADA apresenta geoindicadores fundamentais que possibilitariam uma ocupação

duradoura no local, apesar da existência de áreas com alto grau de declividade. Outro ponto

de destaque é a abundância de recursos hídricos.

No tocante às intervenções em subsuperfície foi possível ultrapassar o número de

tradagens inicialmente previstas para ADA e AID (125) e realizar um total de 136 tradagens

(Tabela 3). Conforme explanado, a justificativa para a não realização das tradagens foram

impedimentos naturais e antrópicos, tais como: residências, estruturas antrópicas, lago, brejo,

córrego, plantações, dentre outras. No entanto, as intervenções realizadas em subsolo

permitiram a visualização e a síntese da estratigrafia local da seguinte forma:

Superfície: variações de densidade entre gramíneas e serapilheira, com pontos

escassos sem cobertura vegetal.

0 – 30 cm: sedimento arenoso, de coloração amarronzada (com tonalidades variando

entre marrom claro e marrom escuro), de granulometria média, pouco úmido,

compacto e, com raízes em algumas das intervenções.

30 – 60 cm: sedimento arenoso a areno-argiloso, de coloração amarronzada, de

granulometria média, úmido, compacto. Vale ressaltar que esta camada não ocorre em

várias das sondagens.

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60 – 130 cm: sedimento areno-argiloso a argilo-arenoso, de coloração marrom

alaranjada ou avermelhada, de granulometria média, úmida e pouco compacta.

O latossolo areno-argiloso a argilo-arenoso, de coloração marrom alaranjada a avermelhada,

está presente em grande parte do empreendimento, sendo possível notá-lo na maioria das

intervenções (Figura 21). É possível que, no passado, este sedimento tenha sido utilizado

como matéria prima para a produção dos vestígios cerâmicos arqueológicos encontrados in

situ.

Nas áreas próximas ao lago, foram identificadas diferentes unidades estratigráficas, a saber:

Superfície: serapilheira decorrente da deposição intensa de material orgânico

proveniente dos indivíduos arbóreos ali existentes.

0 – 20 cm: sedimento areno-argiloso, de coloração amarronzada (tonalidade bastante

escura), de granulometria média, úmido, pouco compacto.

20 – 45 cm: sedimento areno-argiloso a argilo-arenoso, de coloração acinzentada

(tonalidade clara), de granulometria média, bastante úmido e pouco compacto.

45 – 100 cm: sedimento argiloso, de coloração acinzentada (tonalidade bastante

escura), de granulometria média, extremamente úmido – acúmulo de água em um

curto espaço de tempo – e pouco compacto.

Este sedimento argiloso (Figura 23), com alta plasticidade, sobretudo quando úmido, pode ter

sido usado na produção dos vestígios cerâmicos encontrados na área do empreendimento.

A

B

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Figura 23: Unidades estratigráficas. A: Sedimento arenoso marrom. B: Variação entre sedimento arenoso a areno-argiloso, marrom a marrom alaranjado. C:

Sedimento marrom alaranjada. D: Variação na coloração do sedimento entre cinza claro a cinza escuro.

9.2 Áreas de interesse arqueológico

Durante as atividades de prospecção arqueológica nas áreas de influência do

empreendimento “Loteamento Estância do Lago”, foi possível aprofundar os estudos nos

sítios Valo dos Camargos (ADA) e Fazenda Vista Alegre (AID), diagnosticados na fase

anterior do licenciamento ambiental, além de constatar a existência do sítio arqueológico pré-

histórico Lago dos Camargos (ADA).

9.2.1 Valo dos Camargos

O Valo dos Camargos foi identificado durante a fase de Diagnóstico Arqueológico

Interventivo realizado em 2013 (Socioambiental Projetos, 2013). Trata-se de um fosso

escavado diretamente no terreno e cuja funcionalidade, provavelmente, era a divisa entre as

Fazendas Vista Alegre e Abóboras. Sua importância foi atestada pelo Sr. Mário Braz da Luz:

“De maior relevância, portanto foram os relatos obtidos junto ao Sr. Mário

Braz da Luz, integrante da Comunidade Quilombola dos Arturos, que

afirmou se tratar de valo aberto por escravos em tempos antigos e que foi

intensamente utilizado pelos seus parentes no trânsito entre a Fazenda das Abóboras e Fazenda Vista Alegre” (SOCIOAMBIENTAL PROJETOS,

2013).

Conforme nos atesta o Sr. Mário Braz, o local era divisa de propriedades e área de

trânsito entre as fazendas.

Com o prévio conhecimento do sítio, foi realizado um caminhamento no local para o

mapeamento de toda a extensão do valo que se encontra inserido na ADA do

C D

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empreendimento. Com este procedimento, foi possível estabelecer seus limites na

extremidade leste do empreendimento, 650 m de comprimento, e dimensões: profundidade

variando entre 1m e 2m, largura entre 0,80m e 1,5m. Atualmente, o valo é coberto por uma

densa vegetação que, por vezes, impossibilita a passagem. Por outro lado, é importante

destacar que foi esta vegetação que auxiliou na preservação do bem.

Durante o caminhamento, foi possível diagnosticar duas bifurcações no valo, sendo

que uma delas possui duas estruturas de pedra. A Estrutura 1 se assemelha a um muro de

arrimo e a Estrutura 2, possivelmente, para o represamento d’água (Figura 23). Ambas as

estruturas foram construídas com blocos de pedra utilizando a técnica de junta seca. A

Estrutura 1 está inserida no corte do valo, enquanto a Estrutura 2 se sobressai ao valo. Quanto

ao estado de conservação, ambas apresentam danos, por este motivo, avaliadas por um estado

de conservação médio.

A B

C D

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Figura 24: Estruturas de pedra identificadas no Valo dos Camargos. A-B: Limpeza da estrutura 1. C: Estrutura 1. D-F: Estrutura 2.

Ao final do valo, já na AID, a cerca de 5 m além dos limites com a ADA, foi

identificada uma terceira estrutura de pedras, também em junta seca, e possivelmente um

muro de arrimo. Esta Estrutura, a de número 3 (Figura 25) se estende por cerca de 7,70 m e

sua altura atinge uma média de 0,50 m, variando entre 0,40 m e 0,65 m). Este muro se

encontra no final do valo, onde foi interrompido por uma via de acesso. A equipe de

arqueologia procurou pela sua continuidade nas áreas além da via que, mas nenhum vestígio

foi encontrado.

E F

A B

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Figura 25: Estrutura 3. A-C: Medição Estrutura 3. D: Estrutura 3.

Após a delimitação e o registro do Valo dos Camargos e suas estruturas anexas, foi

realizada a topografia local que contribuiu para a elaboração da hipótese de que o valo, além

sua função como divisor de propriedade, compusesse um sistema hidráulico consistindo em

um canal que conduzia água para as plantações localizadas nos patamares inferiores do

terreno. Hipótese que não se confirmou devido à ausência de indícios mais assertivos.

Paralelamente, foram realizadas intervenções em subsuperfície por toda a extensão da

estrutura, distando cerca de 100 m. Vale ressaltar, no entanto, que durante a realização de

tradagens, não foi encontrado nenhum vestígio arqueológico. Já em relação aos

caminhamentos, os vestígios encontrados foram as estruturas supracitadas. Ressalta-se, que

em alguns trechos o local ainda é utilizado como depósito de lixo.

C D

A B

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Figura 26: Procedimentos em campo: elaboração de croqui. A-C: Elaboração do croqui da estrutura 1. D: Elaboração do croqui da estrutura 2.

Por fim, cabe salientar o fato de um valo ser mencionado em outro processo de

licenciamento ambiental, mais precisamente no terreno contíguo que comportará futuramente

o Centro Empresarial da empresa Ello S/A Centro Empresarial, Processo IPHAN n°

01514.004167/2012-64. O trabalho foi coordenado pela arqueóloga Eliany Salaroli La Salvia,

da empresa de consultoria Arkeos Ltda. Segundo a Sra. La Salvia, o valo, cadastrado no

IPHAN como Valo das Pedras, percorre parte do terreno da Fazenda das Abóboras e

apresenta estruturas semelhantes às encontradas no Valo dos Camargos.

Recomendação

Como as estruturas se localizam na ADA do empreendimento, as atividades de

implantação e operação do empreendimento deverão gerar impactos sobre as mesmas,

causando sua perda, total ou parcial. Propõe-se, por esta razão, uma caracterização e um

registro detalhado da estrutura e seus componentes.

9.2.2 Sítio Arqueológico Lago dos Camargos

O Sítio Arqueológico Lago dos Camargos se localiza em área com declividade suave,

a cerca de 650 m a oeste da via de acesso local, na ADA do empreendimento (Figuras 27 e

28). Os recursos hídricos são abundantes e, a despeito das alterações na fitofisionomia atual, a

cobertura vegetal era, provavelmente, constituída por espécies típicas do Cerrado.

As atividades econômicas no local são praticadas em pequena escala, com caráter de

subsistência para os pequenos proprietários que revolvem o terreno para a cultura de cana-de-

açúcar e formação de pastagens. A cana-de-açúcar produzida se destina à fabricação artesanal

de aguardente. No momento de realização dos trabalhos de campo, o canavial apresentava

indivíduos bem formados, com perspectiva de colheita prevista para o mês de março/2015.

C D

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Figura 27: Delimitação do Sítio Arqueológico Lago dos Camargos.

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Figura 28: Destaque ao Sítio Arqueológico Lago dos Camargos.

Na superfície da área investigada foram identificados, por meio de caminhamento e

intervenções em subsuperfície, fragmentos cerâmicos de diversos tamanhos procedentes de

bordas e paredes de variados vasilhames, com formatos, espessuras, padrões decorativos e

antiplástico diferentes. Os fragmentos se encontravam dispersos na área que avançava para

além do canavial e a sudeste da via de acesso principal, projetando-se em um polígono de 3

ha.

Possivelmente, esta dispersão dos vestígios pela superfície é resultante das frequentes

intervenções no ambiente e revolvimentos do terreno ao longo do tempo para plantação de

culturas diversas e formação de pasto. Por outro lado, o tipo de implantação do sítio

arqueológico na paisagem e a grande quantidade de material cerâmico exposto, sugere a

possibilidade do local ter sido ocupado por um aldeamento indígena no passado. Esta hipótese

foi levantada após a análise do contexto, dos fragmentos cerâmicos, dos geoindicadores

regionais e da disponibilidade hídrica. Considerou-se, ainda, as informações obtidas junto ao

Sr. Mário Braz, segundo o qual “quando chegaram aqui encontraram um monte de índios

vivendo aqui”. O Sr. Mário Braz, morador da Comunidade Quilombola dos Arturos, afirmou

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que, em sua juventude, “panelas de barro” sempre eram encontradas nas pastagens de

Contagem, no entanto os fazendeiros da época (possivelmente proprietários das fazendas

Vista Alegre e Abóboras) “mandavam destruir tudo” (Socioambiental Projetos, 2013).

As quatro primeiras tradagens realizadas na área do sítio, e região adjacente,

(Tradagens 60, 61, 62 e 63) estavam inseridas no grid estendido. Dentre estas, apenas a

tradagem 62 apresentou vestígios arqueológicos. Outras seis tradagens foram abertas para

delimitação do sítio arqueológico (Tradagens D01, D02, D03, D06, D07 e D08), das quais

duas (Tradagens D03 e D08) resultaram em vestígios em subsuperfície. O material

arqueológico encontrado nestas intervenções se limitava à profundidade 40 cm. Por fim, todas

as tradagens foram realizadas com diâmetro médio de 25 a 35 cm e atingiram profundidade

média de 70 cm. Desta forma, foi possível inferir a estratigrafia local da seguinte maneira:

Superfície: predominância de gramíneas.

0 – 20 cm: sedimento areno-argiloso, de coloração amarronzada (tonalidade clara), de

granulometria média, úmido, compactação baixa a média.

20 – 50 cm: sedimento areno-argiloso, de coloração amarronzada (tonalidade média),

de granulometria média, úmido, pouco compacto.

50 – 110 cm: sedimento argilo-arenoso, de coloração marrom alaranjada, de

granulometria média, úmido, pouco compacto.

Durante os caminhamentos foram encontrados fragmentos cerâmicos em superfície,

ora dispersos ora em concentrações – notadamente na via de acesso à fazenda e no canavial

(Figura 29). No primeiro caso, os fragmentos estavam incrustrados no piso, devido ao tráfego

de veículos e pessoas.

Para a delimitação do sítio arqueológico, foi realizado caminhamento, observação dos

vestígios em superfície, intervenções em subsuperfície e auxílio da equipe de topografia. Para

tanto, os pontos previamente registrados por meio de GPS manual foram novamente

identificados com auxílio da Estação Total, aumentando a precisão do registro. A área

estimada para o sítio arqueológico foi de 3 ha, conforme os pontos abaixo:

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Tabela 1: Coordenadas delimitação do sítio.

FUSO LONGITUDE UTM LATITUDE UTM

01 23K 596132.29 7801860.78

02 23K 596195.97 7801898.98

03 23K 596260.49 7801935.61

04 23K 596314.70 7801844.39

05 23K 596352.47 7801782.34

06 23K 596280.05 7801732.79

07 23K 596206.80 7801683.17

08 23K 596175.02 7801758.08

Definida a área, foi realizada a delimitação do sítio por meio de fita zebrada e colocados

avisos informativos sobre a condição da área (Figura 31).

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Figura 29: Sítio Arqueológico Lago dos Camargos. A-B: Visão parcial do sítio. C-E: Tradagens realizadas. F-G: Resultado tradagens. H-I: Caminhamento realizado na área. J-L: Material encontrado em superfície.

A B C D

E F G H

I J K L

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Figura 30: Sítio Lago dos Camargos. A-B: Diagnóstico do sítio arqueológico. C-I: Relato da existência do sítio ao empreendedor e ao Engenheiro Civil responsável.

A B C

D E F

G H I

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Figura 31: Delimitação do Sítio Arqueológico Lago Camargos. A-D: Delimitação do sítio Valo dos Camargos com auxílio de topografia. E-H: Cercamento do sítio.

A B C D

E F G

H

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9.2.2.1 Análise do material

Durante os trabalhos de campo foram coletados 21 fragmentos cerâmicos, dentre eles

bordas e paredes. A análise destes vestígios arqueológicos seguiu o protocolo apresentado por

Henriques (2006). Para tanto, foi utilizada uma tabela com as principais características do

material cerâmico, adaptada para análise dos vestígios coletados no sítio Lago dos Camargos.

Os procedimentos para a curadoria deste material exumado em campo, se basearam na

higienização, tombamento e triagem inicial a partir da tipologia de bordas e bojos. Em um

segundo momento, o material foi separado de acordo com a morfologia, observando

elementos como tipo de queima e espessura (PACHECO, 2008; HENRIQUES, 2006; DIAS,

2013; CALDARELLI, 2009) Cabe ressaltar que o número de tombo foi definido da seguinte

maneira: Sigla de três letras do nome do sítio; se foi exumado através de coleta de superfície

(1) ou tradagem (2) e numeração da cerâmica (SOARES et al., 2013).

Quadro 1: Material exumado em campo.

MATERIAL EXUMADO EM CAMPO

Número de tombo Descrição da peça Registro fotográfico

LGC-1-01

Borda de coloração

alaranjada –

possivelmente devido a

banho de argila –, com

presença de antiplástico

mineral visível – areia

fina e quartzo moído –,

elaborada sob a técnica

de acordelamento e

queima redutora.

Dimensões:

Comprimento: 26 mm

Espessura: 09 mm

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LGC-1-02

Parede de coloração

marrom escura com

presença de antiplástico

mineral visível – areia

fina e quartzo –,

elaborada sob a técnica

de modelamento e

queima redutora.

Dimensões:

Comprimento: 28 mm

Espessura: 06 mm

LGC-1-03

Parede de coloração

alaranjada com

presença de antiplástico

mineral visível – areia

fina–, elaborada sob a

técnica de

acordelamento e

queima oxidante.

Dimensões:

Comprimento: 24 mm

Espessura: 15 mm

LGC-1-04

Parede de coloração

marrom com presença

de antiplástico mineral

visível, elaborada sob a

técnica de

modelamento e queima

redutora.

Dimensões:

Comprimento: 61 mm

Espessura: 04 mm

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LGC-1-05

Parede de coloração

preta com presença de

antiplástico mineral

visível, elaborada sob a

técnica de

acordelamento e

queima redutora.

Dimensões:

Comprimento: 23 mm

Espessura: 19 mm

LGC-1-06

Parede de coloração

marrom com presença

de antiplástico mineral

visível – areia fina e

quartzo –, elaborada

sob a técnica de

acordelamento e

queima oxidante.

Dimensões:

Comprimento: 73 mm

Espessura: 11 mm

LGC-1-07

Parede de coloração

alaranjada com

presença de antiplástico

mineral visível – areia

fina e quartzo –,

elaborada sob a técnica

de acordelamento e

queima oxidante.

Dimensões:

Comprimento: 22 mm

Espessura: 05 mm

LGC-1-08

Parede de coloração

marrom escura com

presença de antiplástico

mineral visível – areia

fina –, elaborada sob a

técnica de

modelamento e queima

redutora.

Dimensões:

Comprimento: 30 mm

Espessura: 05 mm

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LGC-1-09

Parede de coloração

bege com presença de

antiplástico mineral

visível – areia fina e

quartzo –, elaborada

sob a técnica de

acordelamento e

queima redutora.

Dimensões:

Comprimento: 48 mm

Espessura: 17 mm

LGC-1-10

Parede de coloração

preta com presença de

antiplástico mineral

visível, elaborada sob a

técnica de

acordelamento e

queima redutora.

Dimensões:

Comprimento: 31 mm

Espessura: 16 mm

LGC-1-11

Parede de coloração

alaranjada com

presença de antiplástico

mineral visível – areia

fina e quartzo –,

elaborada sob a técnica

de acordelamento e

queima redutora.

Dimensões:

Comprimento: 45 mm

Espessura: 18 mm

LGC-2-01

Borda de coloração

marrom com presença

de antiplástico mineral

visível, elaborada sob a

técnica de

acordelamento e

queima redutora.

Dimensões:

Comprimento: 44 mm

Espessura: 12 mm

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LGC-2-02

Parede de coloração

marrom com presença

de antiplástico mineral

visível – areia fina e

quartzo –, elaborada

sob a técnica de

acordelamento e

queima oxidante.

Dimensões:

Comprimento: 70 mm

Espessura: 10 mm

LGC-2-03

Parede de coloração

bege com presença de

antiplástico mineral

visível – areia fina e

quartzo –, elaborada

sob a técnica de

acordelamento e

queima redutora.

Dimensões:

Comprimento: 35 mm

Espessura: 20 mm

LGC-2-04

Parede de coloração

bege com presença de

antiplástico mineral

visível, elaborada sob a

técnica de

acordelamento e

queima redutora.

Dimensões:

Comprimento: 22 mm

Espessura: 17 mm

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LGC-2-05

Parede de coloração

bege com presença de

antiplástico mineral

visível, elaborada sob a

técnica de

acordelamento e

queima redutora.

Dimensões:

Comprimento: 10 mm

Espessura: 17 mm

LGC-2-06

Parede de coloração

marrom escura com

presença de antiplástico

mineral visível,

elaborada sob a técnica

de modelamento e

queima redutora.

Dimensões:

Comprimento: 20 mm

Espessura: 09 mm

LGC-2-07

Parede de coloração

marrom escura com

presença de antiplástico

mineral visível,

elaborada sob a técnica

de modelamento e

queima redutora.

Dimensões:

Comprimento: 20 mm

Espessura: 07 mm

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LGC-2-08

Parede de coloração

marrom escura com

presença de antiplástico

mineral e vegetal

visível, elaborada sob a

técnica de

modelamento e queima

redutora.

Dimensões:

Comprimento: 18 mm

Espessura: 05 mm

LGC-2-09

Parede de coloração

marrom com presença

de antiplástico mineral,

elaborada sob a técnica

de acordelamento e

queima redutora.

Dimensões:

Comprimento: 14 mm

Espessura: 04 mm

LGC-2-10

Parede de coloração

alaranjada com

presença de antiplástico

mineral visível – areia

fina e quartzo –,

elaborada sob a técnica

de acordelamento e

queima redutora.

Dimensões:

Comprimento: 49 mm

Espessura: 18 mm

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Figura 32: Tipologia do material. A-D: Tipologia do material.

Dentre os 21 fragmentos, 19 representam bojos (90,5 %) e apenas dois são bordas (9,5

%), os outros. Em relação a estas, foi possível constatar que ambas são diretas e finas (LGC-

1-1 = 0,8 cm e LGC-2-1 = 1,2 cm). Já em relação às paredes, constatou-se que apenas duas

delas se caracterizam por curvas suaves, enquanto 17 delas apresentam paredes retas.

No que se refere à espessura dos fragmentos, esta se apresentou bem dividida.

Utilizada como uma das tipologias para separar o material em um primeiro momento, os

fragmentos apresentaram diferentes tamanhos, sendo utilizados para sua divisão os seguintes

números: espessura < 10 mm e espessura > 10 mm. Dentre os fragmentos cerâmicos

utilizados foi possível constatar que 11 deles apresentam espessura menor que 10 mm (55%),

enquanto o restante (10) apresenta espessura maior que 10 mm (45%).

A B

C D

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Gráfico 1: Espessura dos vestígios encontrados.

Quanto às técnicas usadas para manufatura, predomina o acordelamento revelado pelo

padrão de fratura quadrangular (HENRIQUES, 2006), verificado em 15 dos fragmentos (71,4

%). A técnica da modelagem, por sua vez, foi identificada em 06 peças (28,6 %). Aventou-se

a possibilidade correlacionar o tipo de técnica de manufatura e a espessura das peças, mas

nenhum padrão foi constatado, visto que a espessura dos fragmentos variava de forma

independente à da técnica empregada na manufatura do vasilhame.

Gráfico 2: Tipo de manufatura adotado.

1

2

3

4

5

6

7

8

9

10

11

5 a 9 10 a 20

me

ro d

e f

ragm

ento

s

Espessura (mm)

0

3

6

9

12

15

18

21

Acordelamento Modelamento

Manufatura

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No tocante ao antiplástico adicionado à pasta, foram identificados elementos de

origem mineral e vegetal, com predominância do primeiro grupo. Os componentes

encontrados foram: quartzo, cerâmica-moída, areia fina, argila, hematita, quartzito, carvão e

grafite. Cabe salientar que em todos os fragmentos analisados, os componentes se

encontravam combinados. Dentre os 21 fragmentos cerâmicos doze apresentam quartzo

moído e apenas um apresenta antiplástico de origem vegetal visível.

Em relação ao tipo de queima, nota-se uma predominância da queima redutora,

presente em 90,5 % dos vestígios. A queima redutora ocorre em temperaturas menores que

700 °C, ocasionando a retenção do carbono presente no interior da peça. Tal fenômeno resulta

em um vasilhame com coloração escura e núcleo de coloração preta ou acinzentada. Tal

queima sugere a utilização de forno aberto (MILHEIRA ET. AL, 2013). No entanto, um dos

fragmentos apresentou queima oxidante, caracterizada pela coloração clara no seu núcleo; e

outro fragmento se distinguia pela queima redutora-oxidante, definida pela coloração mais

clara na faixa externa e mais escura na faixa interna.

O tratamento da superfície identificado em 19 fragmentos foi o alisamento interno e

externo. Esse alisamento resultou em paredes ásperas, aparentando uma lixa, permitindo a

visualização de antiplásticos, principalmente de origem mineral. Além disso, foi constatado o

tratamento por brunidura em dois dos fragmentos.

Em relação à coloração da superfície externa foram identificados cinco diferentes tons:

bege (19 %), marrom (38,1 %), marrom alaranjado (14,3 %), marrom escuro (19 %) e preto

(9,6 %). Nas peças de coloração marrom alaranjado foi observado um possível banho de

argila, com sedimento de mesma cor, abundante na região.

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Gráfico 3: Coloração externa.

19%

38,10% 14,30%

19 %

9,60%

Coloração externa

Bege

Marrom

Alaranjado

Marrom escuro

Preto

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80

A B C D

E F G H

I J K L

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81

Figura 33: Fragmentos cerâmicos coletados em campo.

Ainda como um método de análise do material foi utilizado o Método Delphi. Foram

contatados 10 especialistas que, por meio de um diálogo anônimo e individual (GONZÁLEZ,

S/A), para que indicassem a origem étnico-arqueológica dos vestígios encontrados e a

possível tradição ao qual se enquadrariam. Optou-se por especialistas de diferentes estados do

país, tendo em vista a diversidade existente, a saber: MG, SP, RS, PI e PB. Foram enviados

registros fotográficos dos vestígios cerâmicos juntamente com um formulário (Anexo 4)

contendo questões a eles relacionados, bem como uma solicitação a estes especialistas que

analisassem o material e discorressem sobre o mesmo.

Posteriormente ao recebimento de todos os formulários preenchidos, foi possível

confirmar a origem pré-colonial do material cerâmico exumado em campo, uma vez que 90%

dos especialistas confirmaram esta procedência e apenas 10% comentou sobre a possibilidade

de a cerâmica estar relacionada ao período colonial, mais precisamente a quilombolas. Em

M N

O P

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relação à Tradição, oito especialistas afirmaram a impossibilidade de se fazer quaisquer

afirmações sem que estudos de laboratório aprofundados sejam realizados.

Gráfico 4: Método Delphi

Por fim, houve a segunda fase do procedimento, onde especialistas entram em contato

direto com as peças coletadas. Após análise de especialistas locados em MG, foi confirmada a

origem indígena para os vestígios cerâmicos. Ainda, estes especialistas inferiram a

possibilidade de as cerâmicas serem portadoras de duas tradições recorrentes em MG, a saber:

Una e Aratu-Sapucaí.

O Método Delphi surge como uma nova ferramenta científica para a confirmação de

possíveis vestígios arqueológicos encontrados durante projetos de arqueologia de contrato. No

entanto, o curto espaço de tempo nos projetos de arqueologia preventiva não permite a

execução de metodologias puramente cientificas, sendo esses presos apenas à descrição e

análise superficial. Com um maior tempo para a execução dos projetos seria possível aplicar o

método de forma completa, em diferentes fases, buscando o contato do especialista via

registro fotográfico, vídeo e, por fim, o contato pessoal.

0%

10%

20%

30%

40%

50%

60%

70%

80%

90%

100%

Pré-colonial Pós-colonial

Método Delphi

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Considerações sobre o Material Cerâmico

A análise feita no material cerâmico coletado indicou a existência de três tipos

cerâmicos distintos na área do Sítio Arqueológico Lago Camargos, a saber:

Cerâmica Tipo I:

O primeiro tipo cerâmico se caracteriza por sua espessura mais fina (menor que 10

mm), coloração próxima ao marrom, com antiplástico mineral, queima redutora,

predominância da técnica de manufatura por modelagem e tratamento de superfície por

alisamento áspero. Esses fragmentos se assemelham aos artefatos cerâmicos identificados na

tradição Una.

A tradição Una se caracteriza pelos vasilhames de pequena dimensão confeccionados

através da técnica de modelagem, com paredes pouco espessas (em média 7 mm) e presença

de antiplástico mineral e vegetal, sendo sua queima oxidante, além de apresentar uma

coloração bastante homogênea, próxima ao marrom (HENRIQUES, 2006). Os vestígios

cerâmicos LGC-1-01, LGC-1-02, LGC-1-04, LGC-2-01 e LGC-2-08 se assemelham bastante

ao tipo descrito.

Cerâmica Tipo II:

Já os fragmentos que se enquadram no segundo tipo cerâmico são mais espessos que o

primeiro, apresentam coloração preta e alaranjada, com predominância de antiplástico mineral

e queima redutora, assim como da técnica de manufatura por rolete e tratamento de superfície

por alisamento áspero. Cabe salientar a presença de fragmentos que, possivelmente,

receberam banhos de argila de coloração avermelhada. Possivelmente, estes fragmentos

cerâmicos se enquadram à tradição Aratu-Sapucaí.

A tradição Aratu-Sapucaí se caracteriza por peças de grande volume, como é o caso

das urnas funerárias, que ganhou um status semelhante a um guia da tradição em questão.

Estes vasilhames são geralmente abertos, confeccionados através da técnica de rolete e com

paredes grossas, tendo como antiplástico de natureza mineral como predominante. Destaca-se

também “a aplicação de quartzo ou arenito triturado adicionado em grande quantidade à

pasta, não só para temperá-la, mas para tornar a superfície do vasilhame áspera, ao modo de

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uma lixa” (HENRIQUES, 2006: 48). Por fim, em sítios com vestígios cerâmicos portadores

da tradição Aratu-Sapucaí é possível encontrar terra preta formando áreas circulares ou

ovaladas. Os vestígios cerâmicos LGC-1-09, LGC-1-10, LGC-1-11 e LGC-2-03 se

assemelham ao tipo descrito.

Cerâmica Tipo III:

O terceiro tipo cerâmico se caracteriza por espessura robusta, coloração quente,

presença de antiplástico mineral e manufatura por acordelamento. A análise das peças sugere

que foram produzidas por grupos recentes, posteriores à colonização do território.

A despeito das evidências arqueológicas indicarem a ocorrência de duas tradições

cerâmicas no mesmo sítio, o S.A. Lago dos Camargos, considera-se necessária uma pesquisa

sistemática no local a fim de se coletar uma quantidade expressiva de dados e, após sua

compilação, elaborar um quadro mais preciso quanto à ocupação pretérita da região do

município de Contagem. As cerâmicas LGC-2-10 e LGC-1-06 se assemelham bastante ao tipo

descrito.

Recomendação

Considerando que a instalação e operação do empreendimento poderá causar a

destruição total ou parcial do Sítio Arqueológico Lago dos Camargos, recomenda-se:

1) Alteração do traçado da via de acesso a fim de manter a integridade do sítio OU a

realização de resgate arqueológico do sítio antes de qualquer intervenção na área

relacionado ao empreendimento;

2) O monitoramento de todas as atividades relacionadas à instalação do

empreendimento visando a salvaguarda de quaisquer indícios arqueológicos que

porventura não tenham sido identificados até o momento da intervenção no solo.

9.2.3 Fazenda Vista Alegre

O sítio Fazenda Vista Alegre consiste em ruínas de uma antiga edificação, utilizada

como sede da propriedade localizada no bairro Quintas Coloniais, situada na AID do

empreendimento em tela. Possivelmente erigida no século XIX, a Fazenda, pertenceu ao

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Coronel João Teixeira Camargos e pode ser considerada um dos principais polos

agropecuários da região naquele período, comercializando grande parte da sua produção com

Contagem e Belo Horizonte.

Senna (1913) descreve, de forma sucinta, a importância da propriedade para a

produção agropastoril regional:

De propriedade do venerado ancião João Teixeira Camargos, um dos patriarcas do município, dista três quilômetros da Vila e contem 500

alqueires em culturas, matas e pastagens. Produz cereais, cana e café é de

mil arrobas e a farinha de mil alqueires. A sua criação de gado vacum consta

de 200 cabeças das raças zebu, holandesa e caracu e de suínos, 100. Existe na fazenda, que possui vários instrumentos agrários, engenho de cana e

engenho de café bem instalados, abundante aguada, cuja altura se presta ao

acionamento de maquinismo para a energia elétrica. Possui magníficos terrenos e bons pastos sendo toda cercada e banhada por um ribeirão

(SENNA, 1913 apud IEPHA, 2012).

O local, de relevância histórica e cultural, constitui cenário de referência do passado

agropastoril da região e centro para o estabelecimento das tradições culturais das

comunidades envolventes. Devido à importância sinalizada, é protegida no âmbito municipal,

nos termos do Decreto 10.460, de 2 de maio de 200026

. No entanto, devido à falta de

manutenção e de medidas adequadas de conservação por parte do poder público, a edificação

determinou seu arruinamento há cerca de uma década.

No tocante aos procedimentos realizados para o estudo das ruínas da Fazenda Vista

Alegre, além das entrevistas informais com vizinhos e com antiga moradora do local, foi feita

uma limpeza parcial, um registro fotográfico detalhado, um croqui do alicerce aparente da

sede da Fazenda e um croqui por meio do Google Sketchup 8™.

Parte das ruínas da sede da fazenda estava encoberta por vegetação arbórea de médio e

grande porte, além de sedimento. A limpeza feita no local implicou na retirada de entulho de

maiores dimensões e na retirada do sedimento solto com a utilização de vassouras. Os alvos

da limpeza foram as áreas onde se encontram as ruínas da Fazenda Vista Alegre e na região

do moinho (Figura 35).

26

Informações extraídas da página virtual da Prefeitura Municipal de Contagem, disponível em

http://www.contagem.mg.gov.br/?es=patrimonio_historico&artigo=285094

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Figura 34: Limpeza da Fazenda Vista Alegre. A-B: Limpeza pesada sendo realizada com auxílio de enxada e foice. C-D: Limpeza pontual próximo à ruína da fazenda.

A elaboração de uma planta baixa, com todas as divisórias da casa, definindo as

unidades estratigráficas, como seus diferentes momentos, não foi possível devido ao acúmulo

de sedimento e entulho que encobria grande parte do alicerce. Assim, foi feita uma planta

baixa da residência para que pudesse ficar registrada a dimensão desta, a qual tem sua

orientação Sul-Norte (figura 37).

Desta forma, foi possível dimensionar a ruína por meio de suas estruturas aparentes. A

fachada anterior da estrutura percorre 33 m, sendo que 21,70 m seria a área da residência,

enquanto a área restante é referente ao pátio que se encontrava a oeste desta. A casa se

estendia por 29,20 metros não uniformes. Na parte posterior, oeste, havia uma parede que

com 5,80 m de comprimento no sentido Oeste-Leste. Perpendicular a esta parede, avançava

para o interior da residência um outra, com 4,70 m de comprimento. Ao fundo, um banheiro,

que foi construído pela Sra. Darina, com dimensões de 2,00 x 1,00m. Adjacente a este

cômodo, uma parede (orientação Oeste-Leste) percorria 4,80 m até se limitar a uma parede

A B

C D

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perpendicular que adentrava 3,25 m na residência. A parede final media 10,00 m no sentido

Oeste-Leste, e se unia à parede leste, que por sua vez media 13,80 m, no sentido Norte-Sul,

até alcançar os limites anteriores da edificação. Não foi possível identificar as partições

interna devido ao grande acúmulo de material oriundo do desmoronamento da estrutura.

Durante a elaboração do croqui foram identificados materiais utilizados na construção

da sede da fazenda, a qual foi erigida exclusivamente em alvenaria. O alicerce da edificação

foi feito com blocos de pedra, em junta seca. Boa parte da estrutura que se encontra aparente

foi recoberta por reboco, além de camadas de tinta, como pode ser observado no registro

fotográfico abaixo (Figura 36 A). Outro material utilizado foi o tijolo maciço de adobe, onde

em alguns deles há a inscrição “JC”, possivelmente referente a Joviano Camargos (Figura 16

C). Em alguns locais onde estas paredes ruíram foi possível observar argamassa entre os

tijolos. Como baldrames, utilizaram madeira maciça, todas dispostas na base da residência.

Por fim, notou-se o uso de material recente, como é o caso de tijolos e janela em esquadria,

para a construção do banheiro pela Sra. Darina.

Figura 35: Elaboração de croqui. A: Medição das paredes da ruína. B-C: Integrante da equipe realizando parte do croqui.

A B

C

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Figura 36: Croqui parcial da sede da Fazenda Vista Alegre executado no Google Sketchup 8™.

Durante a limpeza foi realizado contato com o Sr. Ademir, morador a propriedade

vizinha às ruínas da Fazenda Vista Alegre. Segundo seus relatos, havia um curral, calçado

com grandes blocos de pedras, mas que foi soterrado devido à urbanização da região. Ele

comentou, ainda, que a Sra. Darina ocupou a sede por um longo período, antes do seu

desmoronamento.

Segundo a Sra. Darina, foi a pedido do Sr. Sebastião Camargos que veio morar na casa

para auxiliar na conservação do bem e proteger a propriedade de invasores, vindo se instalar

na fazenda em meados da década de 1970, onde permaneceu até o início da década passada.

Descreveu uma casa grande e imponente, o que demandava muito tempo para mantê-

la limpa. Contou que a maioria das árvores no entorno foram plantadas por ela e que na época

em que se mudou para a fazenda, o local não se encontrava urbanizado. De acordo com a

informante, a casa possuía mais de 14 cômodos, dos quais seis eram quartos e um deles

reservado aos escravos da fazenda. Este se localizava nos fundos da residência, mais

precisamente do lado direito. Sobre áreas sanitárias, havia um banheiro na área externa à casa,

além da cozinha e no nível inferior ao alicerce principal. Sobre artefatos ou elementos da

cultura material que pudessem remeter ao passado, Sra. Darina respondeu não ter

conhecimento.

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Figura 37: Entrevistas informais sobre a Fazenda Vista Alegre. A: Conversa com o Sr. Ademir. B: Conversa introdutória com Sra. Darina e filha. C-D: Sra. Darina realizando comentários

sobre a casa.

Quanto às reformas e intervenções na residência, ela informou sobre a construção que

fez no nível principal devido à dificuldade de acesso ao banheiro, assim, ela resolveu

construir um novo, modificação perceptível in loco. Informou, ainda, que após anos morando

na casa, teve que isolar uma parte em vias de desmoronamento. Algum tempo depois de sua

mudança, por motivo não relatado, a edificação ruiu. Por fim, ela comentou que muitas

pessoas invadiam o local para pegar os materiais de construção, como madeiras, tijolos e

telhas. Os relatos da Sra. Darina auxiliaram diretamente na elaboração da planta baixa da

estrutura.

Recomendação

A despeito das ruínas se localizarem na AID do empreendimento, não deverão sofrer

impactos diretos advindos das obras de implementação do Loteamento Estância do Lago. No

A B

C D

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entanto, propõe-se a preservação do contexto arqueológico local, que poderá compor no

futuro projetos de pesquisa acadêmica devotada a temática da Arqueologia Histórica.

Sugere-se que o local seja aproveitado como uma área de convivência, para os

moradores do entorno e os futuros moradores do empreendimento, preservando e

revitalizando a ruína da fazenda. Como se trata de uma ruína histórica, recomenda-se que o

projeto de uso futuro seja encaminhado ao órgão competente para conhecimento e aprovação,

caso seja necessário.

9.3 Registro e vistoria realizada nas Áreas de Influência do empreendimento

Durante os trabalhos de campo foram realizados caminhamentos e intervenções em

subsuperfície em um grid, previamente determinado. Estas atividades e seus resultados são

apresentados na Tabela 2, abaixo:

Tabela 2: Pontos de vistoria e registros realizados nas áreas de influência do empreendimento.

Ponto Atividade

Arqueológica Profundidade Caracterização

Coordenadas 23K

(SIRGAS 2000)

Longitude Latitude

001 Sondagem 89 cm

Superfície: Serapilheira

0 – 10 cm: Arenoso marrom

10 – 89 cm: Arenoso marrom

avermelhado

597658 7801793

002 Sondagem 82 cm

Superfície: Serapilheira

0 – 20 cm: Arenoso marrom

20 – 82 cm: Arenoso marrom

avermelhado

597552 7801757

003 Sondagem 72 cm

Superfície: Serapilheira

0 – 20 cm: Arenoso marrom

20 – 72 cm: Arenoso marrom

avermelhado

597476 7801676

004 Sondagem 76 cm

Superfície: Serapilheira

0 – 10 cm: Arenoso marrom claro

10 – 76 cm: Arenoso marrom

597465 7801669

005 Sondagem 87 cm Superfície: Serapilheira

597405 7801605

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0 – 10 cm: Arenoso marrom claro

10 – 87 cm: Arenoso marrom avermelhado

006 Sondagem 67 cm

Superfície: Serapilheira

0 – 20 cm: Arenoso marrom claro

20 – 67 cm: Arenoso marrom

avermelhado

597319 7801543

007 Sondagem 75 cm

Superfície: Serapilheira

0 – 20 cm: Arenoso marrom claro

20 – 75 cm: Arenoso marrom

avermelhado

597197 7801501

008 Sondagem 86 cm

Superfície: Gramíneas

0 – 17 cm: Arenoso marrom escuro

17 – 86 cm: Arenoso marrom

alaranjado

597135 7801425

009 Sondagem 64 cm

Superfície: Gramíneas

0 – 21 cm: Arenoso marrom escuro

21 – 64 cm: Arenoso marrom

alaranjado

597120 7801513

010 Sondagem 89 cm

Superfície: Gramíneas

0 – 22 cm: Arenoso marrom claro

22 – 89 cm: Arenoso marrom

avermelhado

597300 7801501

011 Sondagem 79 cm

Superfície: Serapilheira

0 – 60 cm: Arenoso marrom escuro

60 – 79 cm: Arenoso marrom

alaranjado

597300 7801398

012 Sondagem 78 cm

Superfície: Gramíneas

0 – 42 cm: Arenoso marrom claro

42 – 78 cm: Arenoso marrom

avermelhado

597248 7801352

013 Sondagem 70 cm

Superfície: Gramíneas

0 – 70 cm: Arenoso marrom escuro

597297 7801305

014 Sondagem 80 cm

Superfície: Gramíneas

0 – 28 cm: Arenoso marrom claro

28 – 80 cm: Arenoso marrom

avermelhado

597200 7801305

015 Sondagem 84 cm Superfície: Gramíneas

597103 7801304

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Av. do Contorno, 5491/Salas 504,505 – Funcionários, Belo Horizonte/MG – (31)3282-0983 – Abril/2015 92

0 – 22 cm: Arenoso marrom claro

22 – 84 cm: Arenoso marrom avermelhado

016 Sondagem 70 cm

Superfície: Gramíneas

0 – 45 cm: Arenoso marrom

45 – 70 cm: Arenoso marrom

alaranjado

597149 7801348

017 Sondagem 70 cm

Superfície: Gramíneas

0 – 32 cm: Arenoso marrom claro

32 – 70 cm: Arenoso marrom

avermelhado

Finalizado devido à presença de rocha

597198 7801396

018 Sondagem 73 cm

Superfície: Gramíneas

0 – 20 cm: Arenoso marrom claro

20 – 73 cm: Arenoso marrom

avermelhado

597253 7801446

019 Sondagem 81 cm

Superfície: Gramíneas

0 – 50 cm: Arenoso marrom

50 – 81 cm: Arenoso marrom

alaranjado

597105 7801400

020 Sondagem 71 cm

Superfície: Serapilheira

0 – 26 cm: Arenoso marrom

acinzentado

26 – 71 cm: Arenoso marrom

Existência de raízes em ambas as

camadas, impossibilitando maior

perfuração

596900 7801849

021 Sondagem 70 cm

Superfície: Serapilheira

0 – 10 cm: Arenoso marrom

10 – 40 cm: Arenoso marrom

alaranjado

40 – 70 cm: Arenoso marrom escuro

596853 7801899

022 Sondagem 32 cm

Superfície: Serapilheira

0 – 32 cm: Arenoso marrom claro

Finalizado devido à presença de rocha

596753 7801900

023 Sondagem 80 cm

Superfície: Serapilheira

0 - 17 cm: Arenoso marrom escuro

596802 7801848

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Av. do Contorno, 5491/Salas 504,505 – Funcionários, Belo Horizonte/MG – (31)3282-0983 – Abril/2015 93

17 – 40 cm: Arenoso cinza claro

40 – 80 cm: Arenoso cinza escuro

Finalizado devido à existência de raízes

024 Sondagem 81 cm

Superfície: Serapilheira

0 – 24 cm: Arenoso marrom

acinzentado

24 – 47 cm: Arenoso marrom

47 – 81 cm: Arenoso marrom

amarelado

596837 7801791

025 Sondagem 67 cm

Superfície: Serapilheira

0 – 33 cm: Arenoso marrom

33 – 67 cm: Arenoso marrom

alaranjado

Finalizado devido à existência de raízes

596750 7801801

026 Sondagem 86 cm

Superfície: Gramíneas

0 – 86 cm: Argiloso marrom

acinzentado

Finalizado devido à água

596708 7801820

027 Sondagem 80 cm

Superfície: Gramíneas

0 – 50 cm: Arenoso marrom escuro

50 – 80 cm: Areno-argiloso marrom

alaranjado

596640 7801901

028 Sondagem 86 cm

Superfície: Gramíneas

0 – 21 cm: Arenoso marrom claro

21 – 86 cm: Arenoso marrom

avermelhado

596949 7801544

029 Sondagem 79 cm

Superfície: Gramíneas

0 – 18 cm: Arenoso marrom claro

18 – 38 cm: Arenoso marrom

38 – 79 cm: Arenoso marrom

avermelhado

596902 7801499

030 Sondagem 110 cm

Superfície: Gramíneas

0 - 25 cm: Areno-argiloso marrom

25 – 60 cm: Areno-argiloso marrom

avermelhado

596949 7801449

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Av. do Contorno, 5491/Salas 504,505 – Funcionários, Belo Horizonte/MG – (31)3282-0983 – Abril/2015 94

60 – 110 cm: Argilo-arenoso marrom

avermelhado

031 Sondagem 110 cm

Superfície: Gramíneas

0 – 22 cm: Arenoso marrom escuro

22 – 110 cm: Areno-argiloso marrom

avermelhado

596905 7801396

032 Sondagem 60 cm

Superfície: Gramíneas

0 – 30 cm: Argilo-arenoso marrom

escuro

30 – 60 cm: Argilo-arenoso marrom

claro

Finalizado devido à presença de rocha

596949 7801352

033 Sondagem 112 cm

Superfície: Gramíneas

0 – 23 cm: Arenoso marrom

23 – 112 cm: Areno-argiloso marrom

avermelhado

596852 7801448

034 Sondagem 80 cm

Superfície: Gramíneas

0 – 40 cm: Argilo-arenoso marrom

escuro

40 – 80 cm: Argilo-arenoso marrom

avermelhado

596853 7801551

035 Sondagem 100 cm

Superfície: Gramíneas

0 – 22 cm: Areno-argiloso marrom

22 – 100 cm: Areno-argiloso marrom avermelhado

596852 7801448

036 Sondagem 93 cm

Superfície: Serapilheira

0 – 10 cm: Arenoso marrom escuro

10 – 50 cm: Areno-argiloso marrom

50 – 93 cm: Areno-argiloso marrom

avermelhado

596751 7801548

037 Sondagem 80 cm

Superfície: Gramíneas

0 – 18 cm: Arenoso marrom claro

18 – 33 cm: Areno-argiloso marrom

33 – 80 cm: Areno-argiloso marrom avermelhado

496701 7801503

038 Sondagem 91 cm

Superfície: Serapilheira

0 – 32 cm: Arenoso marrom

596749 7801453

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Av. do Contorno, 5491/Salas 504,505 – Funcionários, Belo Horizonte/MG – (31)3282-0983 – Abril/2015 95

32 – 91 cm: Areno-argiloso marrom

avermelhado

039 Sondagem 81 cm

Superfície: Gramíneas

0 – 31 cm: Arenoso marrom claro

31 – 47 cm: Areno-argiloso marrom

47 – 81 cm: Areno-argiloso marrom

avermelhado

596798 7801400

040 Sondagem 80 cm

Superfície: Gramíneas

0 – 40 cm: Areno-argiloso marrom

escuro

40 – 60 cm: Areno-argiloso marrom

claro

60 – 80 cm: Argilo-arenoso marrom

alaranjado

596850 7801346

041 Sondagem 91 cm

Superfície: Gramíneas

0 – 46 cm: Arenoso marrom claro

46 – 58 cm: Arenoso marrom

58 – 91 cm: Arenoso marrom

alaranjado

596899 7801300

042 Sondagem 103 cm

Superfície: Arenoso marrom amarelado

0 – 10 cm: Arenoso marrom amarelado

10 – 32 cm: Arenoso marrom

32 – 103 cm: Areno-argiloso marrom

alaranjado

596799 7801297

043 Sondagem 81 cm

Superfície: Gramíneas

0 – 18 cm: Arenoso marrom claro

18 – 52 cm: Arenoso marrom

52 – 81 cm: Areno-argiloso marrom

alaranjado

596752 7801346

044 Sondagem 70 cm

Superfície: Gramíneas

0 – 40 cm: Areno-argiloso marrom

40 – 70 cm: Areno-argiloso marrom alaranjado

Presença de arenito

596701 7801397

045 Sondagem 113 cm

Superfície: Arenoso marrom claro

0 – 45 cm: Arenoso marrom

596686 7801315

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Av. do Contorno, 5491/Salas 504,505 – Funcionários, Belo Horizonte/MG – (31)3282-0983 – Abril/2015 96

45 – 113 cm: Areno-argiloso marrom

avermelhado

046 Sondagem 100 cm

Superfície: Gramíneas

0 – 31 cm: Arenoso marrom amarelado

31 – 57 cm: Arenoso marrom

57 – 100 cm: Areno-argiloso marrom

avermelhado

5596351 7801499

047 Sondagem - Não realizada – Área com altíssima

declividade 596252 7801532

048 Sondagem - Não realizada – Área com altíssima

declividade 596315 7801500

049 Sondagem 80 cm

Superfície: Gramíneas

0 – 40 cm: Areno-argiloso marrom

escuro

40 – 80 cm: Argilo-arenoso marrom

alaranjado

596153 7801499

050 Sondagem 110 cm

Superfície: Gramíneas

0 – 23 cm: Arenoso marrom claro

23 – 110 cm: Areno-argiloso marrom

alaranjado

596200 7801549

051 Sondagem 81 cm

Superfície: Gramíneas

0 – 17 cm: Arenoso marrom

acinzentado

17 – 41 cm: Arenoso marrom

41 – 81 cm: Areno-argiloso marrom

alaranjado

596246 7801599

052 Sondagem 80 cm

Superfície: Gramíneas

0 – 40 cm: Areno-argiloso marrom

40 – 80 cm: Argilo-arenoso marrom

alaranjado

596300 7801648

053 Sondagem 96 cm

Superfície: Gramíneas

0 – 50 cm: Areno-argiloso marrom

50 – 96 cm: Argilo-arenoso marrom

alaranjado

596349 7801696

054 Sondagem 91 cm

Superfície: Gramíneas

0 – 29 cm: Arenoso marrom

acinzentado

29 – 56 cm: Areno-argiloso marrom

56 – 91 cm: Areno-argiloso marrom

596400 7801748

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alaranjado

Presença de rocha aos 91 cm

055 Sondagem 101 cm

Superfície: Gramíneas

0 – 60 cm: Arenoso marrom

60 – 101 cm: Argilo-arenoso marrom

alaranjado

596852 7801448

056 Sondagem 60 cm

Superfície: Gramíneas

0 – 30 cm: Arenoso marrom

30 – 60 cm: Arenoso marrom

alaranjado

Presença de quartzito na camada

Finalizado devido à presença de rocha

596353 7801602

057 Sondagem 125 cm

Superfície: Gramíneas

0 – 60 cm: Arenoso marrom

60 – 125 cm: Argilo-arenoso marrom

alaranjado

596402 7801549

058 Sondagem 92 cm

Superfície: Gramíneas

0 – 15 cm: Arenoso marrom claro

15 – 48 cm: Arenoso marrom

48 – 92 cm: Argilo-arenoso marrom

alaranjado

596304 7801550

059 Sondagem 40 cm

Superfície: Gramíneas

0 – 40 cm: Arenoso marrom. Presença de raiz

Finalizado devido à presença de raiz de

grande porte

596153 7801599

060 Sondagem 105 cm

Superfície: Gramíneas

0 – 19 cm: Arenoso marrom claro

19 – 58 cm: Arenoso marrom

58 – 105 cm: Areno-argiloso marrom

alaranjado

596296 7801744

061 Sondagem 42 cm

Superfície: Gramíneas

0 – 20 cm: Arenoso marrom

20 – 42 cm: Argilo-arenoso marrom

claro

Finalizado devido à presença de rocha

596198 7801745

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Av. do Contorno, 5491/Salas 504,505 – Funcionários, Belo Horizonte/MG – (31)3282-0983 – Abril/2015 98

062 Sondagem 80 cm

Superfície: Gramíneas

0 – 40 cm: Areno-argiloso marrom claro

40 – 80 cm: Argilo-arenoso alaranjado

Presença de 3 fragmentos cerâmicos

596246 7801797

063 Sondagem 110 cm

Superfície: Gramíneas

0 – 23 cm: Arenoso marrom claro

23 – 41 cm: Areno-argiloso marrom

41 – 110 cm: Argilo-arenoso marrom

alaranjado

596247 7801702

064 Sondagem 97 cm

Superfície: Gramíneas

0 – 15 cm: Arenoso marrom claro

15 – 37 cm: Arenoso marrom

37 – 97 cm: Areno-argiloso marrom

alaranjado

596099 7801402

065 Sondagem 102 cm

Superfície: Serapilheira

0 – 44 cm: Arenoso marrom

44 – 102 cm: Areno-argiloso marrom

alaranjado

596103 7801307

066 Sondagem 105 cm

Superfície: Serapilheira

0 – 12 cm: Arenoso marrom

acinzentado

12 – 46 cm: Arenoso marrom

46 – 105 cm: Areno-argiloso marrom

alaranjado

596604 7802000

067 Sondagem - Não realizada – Área de vertente 597008 7801902

068 Sondagem 106 cm

Superfície: Gramíneas

0 – 45 cm: Arenoso marrom

45 – 106 cm: Areno-argiloso marrom

alaranjado

596497 7802003

069 Sondagem 110 cm

Superfície: Gramíneas

0 – 17 cm: Arenoso marrom claro

17 – 51 cm: Arenoso marrom

51 – 110 cm: Areno-argiloso marrom

alaranjado

596698 7802000

070 Sondagem 112 cm Superfície: Gramíneas

597080 7801986

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Av. do Contorno, 5491/Salas 504,505 – Funcionários, Belo Horizonte/MG – (31)3282-0983 – Abril/2015 99

0 – 43 cm: Arenoso marrom

43 – 112 cm: Areno-argiloso marrom alaranjado

071 Sondagem 70 cm

Superfície: Serapilheira

0 – 40 cm: Arenoso marrom

40 – 70 cm: Areno-argiloso marrom

alaranjado

596932 7802027

072 Sondagem - Não realizada – Área de brejo 597000 7801799

073 Sondagem 110 cm

Superfície: Serapilheira

0 – 21 cm: Arenoso marrom escuro

21 – 41 cm: Arenoso marrom

41 – 110 cm: Areno-argiloso marrom

alaranjado

597008 7802002

074 Sondagem 115 cm

Superfície: Gramíneas e serapilheira

0 – 49 cm: Arenoso marrom

49 – 115 cm: Argilo-arenoso marrom

alaranjado

597079 7801986

075 Sondagem 120 cm

Superfície: Serapilheira

0 – 18 cm: Arenoso marrom

acinzentado

18 – 48 cm: Arenoso marrom

48 – 120 cm: Areno-argiloso marrom

alaranjado

596999 7802089

076 Sondagem 35 cm

Superfície: Serapilheira

0 – 35 cm: Arenoso marrom escuro

Finalizado devido à presença de raízes

de grande porte

596908 7802112

077 Sondagem 120 cm

Superfície: Gramíneas

0 – 41 cm: Arenoso marrom

41 – 120 cm: Areno-argiloso marrom

avermelhado

596800 7802120

078 Sondagem 114 cm

Superfície: Serapilheira e Arenoso

marrom

0 – 38 cm: Arenoso marrom

0 – 38 cm: Areno-argiloso marrom

alaranjado

596702 7802100

079 Sondagem 98 cm Superfície: Gramíneas

596599 7802098

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Av. do Contorno, 5491/Salas 504,505 – Funcionários, Belo Horizonte/MG – (31)3282-0983 – Abril/2015 100

0 – 17 cm: Arenoso marrom claro

17 – 37 cm: Arenoso marrom

37 – 98 cm: Areno-argiloso marrom

alaranjado

080 Sondagem 95 cm

0 – 20 cm: Arenoso marrom claro

20 – 40 cm: Areno-argiloso marrom

alaranjado c/cascalho

40 – 95 cm: Argilo-arenoso marrom

alaranjado c/ presença de arenito

596533 7802120

081 Sondagem 33 cm

Superfície: Gramíneas

0 – 33 cm: Arenoso marrom c/

presença de cascalho

Finalizado devido à presença de rocha

595987 7801400

082 Sondagem 106 cm

Superfície: Gramíneas

0 – 11 cm: Arenoso marrom rosado

11 – 106 cm: Areno-argiloso marrom

alaranjado

595899 7801395

083 Sondagem 36 cm

Superfície: Gramíneas

0 – 36 cm: Argilo-arenoso marrom

claro

Finalizado devido à presença de rocha

596007 7801316

084 Sondagem 120 cm

Superfície: Gramíneas

0 – 15 cm: Arenoso marrom claro

15 – 49 cm: Arenoso marrom

49 – 120 cm: Areno-argiloso marrom

alaranjado

595901 7801502

085 Sondagem 100 cm

Superfície: Gramíneas

0 – 30 cm: Arenoso marrom

30 – 100 cm: Argilo-arenoso marrom

alaranjado

595999 7801501

086 Sondagem 108 cm

Superfície: Gramíneas

0 – 12 cm: Arenoso marrom claro

12 – 56 cm: Arenoso marrom

56 – 108 cm: Areno-argiloso marrom

alaranjado

595899 7801303

087 Sondagem 130 cm

Superfície: Gramíneas

0 – 20 cm: Arenoso marrom

595999 7801599

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Av. do Contorno, 5491/Salas 504,505 – Funcionários, Belo Horizonte/MG – (31)3282-0983 – Abril/2015 101

20 – 70 cm: Areno-argiloso marrom

70 – 130 cm: Areno-argiloso marrom

alaranjado

088 Sondagem 110 cm

Superfície: Gramíneas

0 – 18 cm: Arenoso marrom claro

18 – 49 cm: Arenoso marrom

49 – 110 cm: Areno-argiloso marrom

alaranjado

595997 7801303

089 Sondagem 110 cm

Superfície: Gramíneas

0 – 30 cm: Arenoso marrom

30 – 50 cm: Areno-argiloso marrom alaranjado

50 – 100 cm: Argilo-arenoso marrom

alaranjado

596402 7801799

090 Sondagem 108 cm

Superfície: Gramíneas

0 – 17 cm: Arenoso marrom

acinzentado

17 – 82 cm: Arenoso marrom

82 – 109 cm: Areno-argiloso marrom

alaranjado

596500 7801796

091 Sondagem -

Tradagem não realizada por existir

estrada no local (solo extremamente compacto)

596506 7801703

092 Sondagem 100 cm

Superfície: Gramíneas

0 – 13 cm: Arenoso marrom claro

13 – 38 cm: Arenoso marrom

amarelado

38 – 100 cm: Areno-argiloso marrom

596602 7801703

093 Sondagem 110 cm

Superfície: Serapilheira

0 – 30 cm: Arenoso marrom claro

30 – 70 cm: Areno-argiloso marrom

alaranjado

70 – 110 cm: Argilo-arenoso marrom

alaranjado

596598 7801592

094 Sondagem 110 cm

Superfície: Gramíneas

0 – 15 cm: Arenoso marrom claro

15 – 51 cm: Arenoso marrom

596701 7801601

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Av. do Contorno, 5491/Salas 504,505 – Funcionários, Belo Horizonte/MG – (31)3282-0983 – Abril/2015 102

51 – 110 cm: Areno-argiloso marrom

alaranjado

095 Sondagem 122 cm

Superfície: Gramíneas

0 – 19 cm: Arenoso marrom claro

19 – 60 cm: Arenoso marrom

60 – 122 cm: Areno-argiloso marrom

alaranjado

596807 7801605

096 Sondagem 110 cm

Superfície: Gramíneas

0 – 30 cm: Arenoso marrom escuro

30 – 60: Arenoso marrom

60 – 110 cm: Areno-argiloso marrom alaranjado

596902 7801613

097 Sondagem 81 cm

Superfície: Gramíneas

0 – 22 cm: Arenoso marrom

acinzentado

22 – 55 cm: Arenoso marrom

55 – 81 cm: Areno-argiloso marrom

alaranjado

Finalizado devido à presença de rocha

597002 7801699

098 Sondagem 120 cm

Superfície: Gramíneas

0 – 19 cm: Arenoso marrom claro

19 – 61 cm: Arenoso marrom

61 – 120 cm: Areno-argiloso marrom

alaranjado

596898 7801695

099 Sondagem 96 cm

Superfície: Gramíneas

0 – 31 cm: Arenoso marrom claro

31 – 62 cm: Arenoso marrom

62 – 96 cm: Areno-argiloso marrom

alaranjado

596702 7801698

100 Sondagem 101 cm

Superfície: Gramíneas

0 – 20 cm: Arenoso marrom claro

20 – 51 cm: Arenoso marrom

51 – 101 cm: Areno-argiloso marrom

alaranjado

596802 7801697

101 Sondagem 120 cm Superfície: Gramíneas

597000 7801396

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0 – 18 cm: Arenoso marrom claro

18 – 46 cm: Arenoso marrom

46 – 120 cm: Areno-argiloso marrom

alaranjado

102 Sondagem 91 cm

Superfície: Gramíneas

0 – 10 cm: Arenoso marrom claro

10 – 91 cm: Arenoso marrom

597300 7801696

103 Sondagem 70 cm

Superfície: Gramíneas

0 – 13 cm: Arenoso marrom claro

13 – 70 cm: Arenoso marrom

avermelhado

Finalizado devido à presença de rocha

597401 7801701

104 Sondagem 103 cm

Superfície: Serapilheira

0 – 12 cm: Arenoso marrom claro

12 – 103 cm: Areno-argiloso marrom

alaranjado

597595 7801799

105 Sondagem 109 cm

Superfície: Gramíneas

0 – 18 cm: Arenoso marrom claro

18 – 51 cm: Arenoso marrom

51 – 109 cm: Areno-argiloso marrom

597506 7801800

106 Sondagem 110 cm

Superfície: Gramíneas

0 – 20 cm: Arenoso marrom claro

20 – 71 cm: Arenoso marrom

alaranjado

71 – 110 cm: Areno-argiloso marrom

alaranjado

597406 7801801

107 Sondagem 37 cm

Superfície: Gramíneas

0 – 12 cm: Arenoso marrom

13 – 37 cm: Areno-argiloso marrom c/

raízes

Finalizado devido à existência de raiz de grande porte

597301 7801794

108 Sondagem 68 cm

Superfície: Gramíneas

0 - 28 cm: Arenoso marrom

28 – 68 cm: Areno-argiloso marrom

avermelhado claro

597202 7801798

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Finalizado devido à altíssima

compactação do terreno

109 Sondagem 110 cm

Superfície: Gramíneas

0 – 11 cm: Arenoso marrom escuro

11 – 33 cm: Arenoso marrom

33 – 110 cm: Areno-argiloso marrom

amarelado

597143 7801844

110 Sondagem 90 cm

Superfície: Serapilheira

0 – 30 cm: Arenoso marrom escuro

30 – 90 cm: Argiloso cinza

596900 7801803

111 Sondagem - Solo argiloso marrom acinzentado em

superfície – as margens do lago. 596656 7801805

112 Sondagem 110 cm

Superfície: Gramíneas

0 – 55 cm: Arenoso marrom claro

55 – 110 cm: Areno-argiloso marrom

avermelhado claro

597099 7801898

113 Sondagem - Tradagem não realizada por se

localizar em afloramento rochoso 597199 7801896

114 Sondagem 101 cm

Superfície: Gramíneas

0 – 55 cm: Arenoso marrom

avermelhado

55 – 101 cm: Areno-argiloso marrom

avermelhado

597296 7801894

115 Sondagem 100 cm

Superfície: Serapilheira

0 – 10 cm: Arenoso marrom escuro

10 – 32 cm: Arenoso marrom

32 – 100 cm: Areno-argiloso marrom

avermelhado

597493 7801893

116 Sondagem 100 cm

Superfície: Serapilheira

0 – 33 cm: Arenoso marrom c/raiz

33 – 100 cm: Areno-argiloso marrom

avermelhado

597511 7801899

117 Sondagem 130 cm

Superfície: Solo gradeado

0 – 31 cm: Arenoso marrom

acinzentado

31 – 64 cm: Arenoso marrom

64 – 130 cm: Areno-argiloso marrom

alaranjado

595998 7801702

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Presença de cerâmica em superfície

118 Sondagem 108 cm

Superfície: Gramíneas

0 – 27 cm: Arenoso marrom

27 – 108 cm: Areno-argiloso marrom

alaranjado

596502 7801596

119 Sondagem 55 cm

Superfície: Gramíneas

0 – 55 cm: Arenoso marrom claro

c/cascalho

Finalizado devido à presença de rocha

597207 7801605

120 Sondagem 46 cm

Superfície: Gramíneas

0 – 46 cm: Arenoso marrom claro

Finalizado devido à presença de rocha

597299 7801594

121 Sondagem - Não realizada devida à localização –

Brejo 596313 7802019

122 Sondagem - Não realizada devido à localização -

Lago 596378 7801995

123 Delimitação

de sítio 55 cm

Superfície: Gramíneas

0 – 55 cm: Arenoso marrom

Presença de fragmentos cerâmicos em

0 – 20 cm.

596205 7801690

124 Delimitação

de sítio 22 cm

Superfície: Gramíneas

0 – 22 cm: Arenoso marrom

Ausência de fragmentos cerâmicos

596135 7801742

125 Delimitação

de sítio 70 cm

Superfície: Gramíneas

0 – 20 cm: Arenoso marrom

20 – 70 cm: Areno-argiloso marrom

alaranjado

Presença de fragmentos cerâmicos em

0 - 20 cm

596175 7801788

126 Delimitação

de sítio 47 cm

Superfície: Gramíneas

0 – 15 cm: Arenoso marrom

15 – 47 cm: Areno-argiloso marrom

escuro

Ausência de vestígios

596138 7801843

127 Delimitação

de sítio 33 cm

Superfície: Gramíneas

0 – 12 cm: Arenoso marrom

12 – 33 cm: Areno-argiloso marrom

596185 7801894

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escuro

Ausência de vestígios. Presença de quartzito.

128 Delimitação

de sítio 75 cm

Superfície: Gramíneas

0 – 15 cm: Arenoso marrom

15 – 55 cm: Argilo-arenoso marrom

escuro

55 – 75 cm: Argilo-arenoso marrom

alaranjado

Ausência de vestígio arqueológico

596272 7801918

129 Delimitação

do sítio 64 cm

Superfície: Gramíneas

0 – 10 cm: Arenoso marrom

10 – 45 cm: Argilo-arenoso marrom

escuro

45 – 64 cm: Areno-argiloso marrom

avermelhado

Ausência de vestígios arqueológicos

596282 7801856

130 Delimitação

do sítio 97 cm

Superfície: Serapilheira

0 – 15 cm: Arenoso marrom

15 – 45 cm: Areno-argiloso marrom

escuro

45 – 97 cm: Arenoso-argiloso marrom

alaranjado c/ cascalho

Presença de fragmento cerâmico em

superfície

596275 7801810

131 Vistoria - Ocorrência 01 – Concentração

cerâmica encontrada em superfície 596241 7801757

132 Vistoria -

Ocorrência 02 – Fragmentos cerâmicos

encontrada em superfície – cultura de

cana-de-açúcar

596181 7801821

133 Vistoria -

Ocorrência 03 – Fragmentos cerâmicos

encontrados em superfície – via de

acesso

596394 7801722

134 Vistoria -

Ocorrência 04 – Fragmentos cerâmicos

encontrados em superfície – via de

acesso

596279 7801746

135 Vistoria - Portaria – Estrada 595781 7801226

136 Vistoria - Córrego 596885 7801855

137 Vistoria - Vertente 597007 7801900

138 Vistoria - Vertente 597044 7801898

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139 Vistoria - Lago artificial 597016 7801784

140 Vistoria - Porteira 597139 7801588

141 Vistoria - Fazenda 597024 7801565

142 Vistoria - Curral 597044 7801544

143 Vistoria - Casa 597046 7801492

144 Vistoria - Estrutura gado 596934 7801722

145 Vistoria - Drenagem 597330 7801829

146 Vistoria - Canal 597459 7801757

147 Vistoria - Bifurcação Canal 597530 7801741

148 Vistoria - Canal 597490 7801714

149 Vistoria - Bifurcação Canal 597479 7801674

150 Vistoria - Muro de pedra – arrimo 597477 7801675

151 Vistoria - Valo/canal 597314 7801543

152 Vistoria - Valo/canal 597299 7801526

153 Vistoria - Valo/canal 597278 7801509

154 Vistoria - Valo/canal

597229 7801458

155 Vistoria - Valo/canal

597182 7801406

156 Vistoria - Valo/canal 597664 7801794

157 Vistoria - Muro de pedra – arrimo 597661 7801793

158 Vistoria - Porteira 597667 7801800

159 Vistoria - Declividade acentuada 597709 7801859

160 Vistoria - Afloramento rochoso 597009 7802075

161 Vistoria - Baia-gado 596605 7801931

162 Vistoria - Quartzito 596176 7801883

163 Vistoria - Afloramento rochoso - Quartzo 596362 7801623

164 Vistoria - Lago 596507 7801897

165 Vistoria - Fazenda 595885 7801586

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166 Vistoria - Casa 596113 7801792

167 Vistoria - Alambique 595941 7801636

168 Vistoria - Drenagem início 596703 7731839

169 Vistoria - Drenagem fim 596679 7801415

170 Vistoria - Drenagem 596557 7801492

171 Vistoria - Alta declividade 596318 7801451

172 Vistoria - Fazenda Vista Alegre 595581 7800994

173 Vistoria - Chaminé da olaria do Sr. Gilson Diniz 595789 7801128

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Figura 38: Pontos de vistoria e intervenções em subsuperfície.

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9.4 Considerações Finais

A despeito dos constantes impactos sofridos pela ADA do empreendimento

decorrentes do frequente revolvimento do terreno para o plantio, o que promoveu a

descaracterização e alteração do ambiente local e reduziu significativamente as chances de se

localizar vestígios em condições bom estado de preservação em subsuperfície, a descoberta do

sítio arqueológico Lago dos Camargos se configura um marco na arqueologia pré-colonial da

Microrregião metropolitana de Belo Horizonte. Sendo assim, o potencial arqueológico pré-

colonial das áreas investigadas foi considerado ALTO.

Por outro lado, as únicas ocorrências da ocupação pós contato identificada na ADA

são estruturas componentes do Valo dos Camargos, com baixo potencial científico. Na AID

do empreendimento, ao contrário, são observadas as ruínas da fazenda Vista Alegre, além da

Fazenda Abóboras, o que torna o potencial BAIXO para as ocorrências históricas na ADA e

ALTO na AID.

Assim, é sugerida como medida compensatória para os possíveis impactos provocados

aos bens culturais identificados na ADA, a implementação do Programa de Resgate e

Monitoramento Arqueológico concomitante ao início dos trabalhos de implantação do

empreendimento. Recomenda-se, ainda, a realização de Programa de Educação Patrimonial,

comprometido em divulgar os resultados obtidos.

10. PROGRAMAS ARQUEOLÓGICOS MITIGADORES E

COMPENSATÓRIOS

10.1 - Programa de Resgate e Monitoramento Arqueológico e Educação

Patrimonial

Com o prosseguimento do licenciamento empreendimento em tela, é recomendada a

execução do Programa de Resgate e Monitoramento Arqueológico e Educação Patrimonial. A

proposição atende as exigências legais instituídas pela Lei nº 3924/61, Portaria Nº 07 de

01/12/88, Portaria IPHAN 230/2002 e Termo de Referência IPHAN 2012.

O resgate arqueológico tem como principal objetivo o salvamento, a preservação e a

conservação de sítios arqueológicos diagnosticados durante as fases iniciais do processo de

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licenciamento ambiental e que sofrerão impacto iminente. Assim, realiza-se o resgate de

forma minuciosa e com metodologia própria que ajuste-se ao tipo de sítio encontrado. A

execução da atividade é feita por profissionais treinados e, posteriormente, todos dados

gerados em campo são compilados e analisados em laboratório para elaboração de relatório

final.

Em linhas gerais, o monitoramento arqueológico tem como objetivo principal a

preservação e conservação de possíveis vestígios arqueológicos, eventualmente localizados

durante a instalação do empreendimento. É feito acompanhamento extensivo por parte da

equipe de monitores devidamente treinados das ações no empreendimento que incluem a

retirada de vegetação, terraplanagem, implantação de canteiros de obras, drenagens, áreas de

empréstimo, e ainda qualquer outra atividade potencialmente causadora de danos ao

patrimônio arqueológico e histórico.

Por sua vez, as ações de Educação Patrimonial visam apresentar o patrimônio

arqueológico regional e a especificidade da Arqueologia para a comunidade local por meio de

trabalhos multivocais, que perpasse por questões concernentes a memória coletiva e oralidade.

O intuito é que a sociedade estabeleça sentidos de identificação e pertencimento, de modo a

atuar na preservação, conservação e interpretação dos bens culturais.

Desta forma, segue abaixo as diretrizes, com vistas a orientar na elaboração dos

referidos programas mitigadores e compensatórios. As atividades dos programas não devem

se ater apenas as propostas que serão apresentadas.

10.1.1 Programa de Resgate Arqueológico

O resgate arqueológico visa à preservação e a conservação de sítios arqueológicos

diagnosticados durante as fases iniciais do processo de licenciamento ambiental e que

sofrerão impacto iminente e lesarão o patrimônio cultural.

10.1.1.1 Objetivos

Geral:

Realizar o resgate do sítio arqueológico encontrado durante a etapa de prospecção, de

modo a salvaguardar os bens em tela.

Específicos:

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- Identificar, definir, datar e compreender os processos componentes da formação do sítio

arqueológico;

- Determinar de forma integral os elementos espaciais dos sítios e os seus componentes

cronológicos-estratigráficos;

- Caracterizar as ocupações populacionais através do material coletado;

- Efetuar estudos laboratoriais do material arqueológico coletado visando à obtenção de dados

conclusivos quanto ao contexto em que o sítio está inserido.

10.1.1.2 Metodologia

A atividade de resgate deve ser realizada após a realização da topografia da área do

sítio Lago dos Camargos. Os vestígios encontrados em superfície deverão ser coletados e

devidamente georreferenciados por meio de estação total. Após a coleta superficial, a área do

sítio será alvo de intervenção em subsolo. Será realizada a escavação estratigráfica por níveis

naturais, de forma lenta e gradual, sendo todo o material encontrado coletado. O sedimento

será analisado e a estratigrafia local registrada. Por fim, em laboratório, o material passará por

curadoria, tipologia e análise a fim de compreender o contexto arqueológico em que o sítio

está inserido. Todos dados servirão ao relatório.

10.1.1.3 Prazo de Execução

O resgate arqueológico deverá ser feito previamente ao cronograma da obra, visto que

o sítio encontrado é complexo e pode demandar um período de tempo extenso em decorrência

dos achados que poderão ser encontrados.

10.1.2 Programa de Monitoramento Arqueológico

O monitoramento arqueológico consiste no acompanhamento por profissional

qualificado de todas as etapas interventivas do empreendimento, que podem vir a lesionar de

alguma forma o patrimônio arqueológico e histórico.

10.1.2.1 Objetivos

Geral:

Promover o acompanhamento das atividades de instalação do empreendimento, de

modo a resguardar qualquer vestígio identificado durante os trabalhos.

Específicos:

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- Acompanhar diariamente as áreas de instalação efetiva do empreendimento

- Analisar a estratigráficas e a paisagem local

- Coletar possíveis vestígios arqueológicos evidenciados

- Produzir documentação sobre os vestígios coletados

10.1.2.2 Metodologia

Os monitores devem estar presentes e acompanhar a retirada da vegetação herbácea, o

trabalho de terraplanagem, a implantação de estruturas e ainda qualquer outra atividade que

signifique interferência física no terreno, ou seja, ações potencialmente causadoras de danos

ao patrimônio arqueológico. Os monitores produzirão documentação quinzenal sobre o

andamento da obra, além de elaborarem relatórios mensais que serão encaminhados ao

arqueólogo responsável pelo projeto. Caso algum sítio arqueológico venha a ser impactado, o

monitor fica responsável pelo recolhimento adequado de todo e qualquer vestígio identificado

(que deverá ser fotografado e plotado por GPS); pela notificação do encarregado do

empreendimento da necessidade de imediata paralisação das mesmas; e pela comunicação ao

arqueólogo responsável das descobertas realizadas em campo.

10.1.2.3 Prazo de Execução

O monitoramento arqueológico deverá ser realizado de forma concomitante à

instalação do empreendimento, ou seja, a abertura de vias e parcelamento de solo, devendo

desse modo ser compatível com o cronograma estabelecido pela Paraopeba Participações

Ltda.

10.1.3 Programa de Educação Patrimonial

A execução do Programa de Educação Patrimonial atende as exigências legais

instituídas pelo IPHAN, principalmente as orientações que constam na Portaria 230/2002. Em

linhas gerais, visa apresentar o patrimônio arqueológico e a especificidade da Arqueologia

para a comunidade local por meio de trabalhos multivocais, que perpasse por questões

concernentes a memória coletiva e oralidade. O intuito é que a sociedade estabeleça sentidos

de identificação e pertencimento, de modo a atuar na preservação, conservação e interpretação

dos bens culturais.

As ações a serem aplicadas seguirão as orientações teóricas e uma adaptação do

modelo de execução desenvolvido por Monteiro Oliveira e Loures Oliveira (2004), no âmbito

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do projeto Educação Patrimonial e Sociabilização do Saber, premiado pela Sociedade de

Arqueologia Brasileira com o prêmio Loureiro Fernandes, Edição 2007. Trata-se de proposta

que confere visibilidade a uma educação da sensibilidade, propondo a inclusão no mundo

social através do dialogismo entre diferentes interlocutores.

10.1.3.1 Objetivos

Geral:

Comunicar o patrimônio arqueológico para as comunidades situadas nas Áreas de

Influência do empreendimento, enfatizando nesse processo a importância dos vestígios

materiais na elaboração de uma História Regional que evidencie a participação de diferentes

atores.

Específicos

- Levar a cabo ações de educação patrimonial nas escolas públicas das áreas de interesse

versando sobre a importância do patrimônio arqueológico para a sociedade;

- Desenvolver encontros informativos e interativos junto à comunidade local e funcionários

envolvidos nas obras do empreendimento, fornecendo os subsídios necessários para o público

alvo no tocante a questões envolvendo a preservação e conservação dos bens materiais, além

de estabelecer uma ponte com os pesquisadores.

- Elaborar material de divulgação acerca do patrimônio arqueológico, colocando em cena

segmentos sociais até então excluídos do processo de participação histórico.

10.1.3.2 Metodologia

O programa é constituído por duas etapas, para atingir os diferentes segmentos sociais

que compõem as comunidades enfocadas. A primeira ação se focará nas crianças das escolas

públicas situadas na proximidade das áreas de influência, especialmente aquelas entre 10 e 12

anos. A iniciativa se sustenta, portanto, no papel multiplicador desempenhado por indivíduos

situados nessa idade, ávidos por comunicar para colegas e familiares às experiências

cotidianas vivenciadas.

Essa primeira etapa será constituída por três encontros semanais de caráter expositivo

e interativo: no primeiro encontro os monitores realizarão a contextualização da história

regional, levando em consideração o patrimônio arqueológico local e a conhecimento prévio

dos alunos; no segundo encontro será realizada uma oficina de cerâmica, na qual, a partir da

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manipulação da argila, as crianças serão levadas a refletir sobre a especificidade do saber

indígena, tendo em vista a existência de um rico patrimônio cultural relacionado às

populações nativas que habitaram a região; no terceiro encontro, levando em consideração as

relações de afetividade estabelecidas com os objetos produzidos na oficina interativa, os

monitores trabalharão com questões referentes ao patrimônio cultural e seu estudo,

preservação e conservação, para promover a sensibilização para a relevância do patrimônio

histórico, arqueológico e cultural.

A segunda etapa consistirá da realização de palestras com utilização de material de

apoio (recursos multimídia, banners, folders, etc.) para a comunidade local (setor urbano e

rural) e funcionários envolvidos na implementação do empreendimento. O objetivo é informar

a respeito do patrimônio arqueológico, enfatizando o seu papel na constituição de identidades

locais e convocando todos os atores a atuar visando sua preservação. Será elaborado material

de divulgação, constituído por banners, folders e cartilha, abordando a especificidade do

patrimônio arqueológico local na valorização identitária de diferentes segmentos sociais.

10.1.3.3 Prazo de execução

A etapa de educação patrimonial deverá ser concomitante aos trabalhos previstos para

a fase de LI, dedicada à comunicação dos dados obtidos com as pesquisas arqueológicas e o

patrimônio histórico e cultural local.

11. EDUCAÇÃO PATRIMONIAL

Para Silveira & Bezerra (2007), o tema Educação Patrimonial é bastante complexo,

uma vez que aborda a conjunção entre ações de caráter técnico com reflexões e discussões

que se ampliam ao olhar do pesquisador, englobando também a visão das comunidades sobre

o que se pode considerar herança cultural e principalmente o que deve ser preservado e

transmitido para as próximas gerações, ou seja, trata-se do estabelecimento de troca e diálogo

entre os agentes envolvidos. Em termos gerais, a Educação Patrimonial no âmbito

principalmente da Arqueologia Preventiva, responsável pela maioria das pesquisas no Brasil,

vem justamente atender a necessidade de integração entre os interesses das comunidades com

os aspectos técnicos relacionados às pesquisas arqueológicas.

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11.1 Histórico da Educação Patrimonial no Brasil

Em termos históricos, alguns apontamentos para o estabelecimento da Educação

Patrimonial podem ser percebidos já na criação do antigo SPHAN, que em 1937 já

manifestava em seus documentos, iniciativas e projetos a preocupação com a proteção e

preservação do patrimônio, utilizando como estratégia de atuação a desenvolvimento de ações

educativas. Entretanto, no período compreendido entre 1937 e 1967 as iniciativas

implementadas pelo órgão regulamentar para a Educação Patrimonial estavam muito mais

voltadas para a criação de museus e exposições, tombamento de coleções e acervos e o

estímulo à publicações e a divulgação nos meios de comunicação da relevância do acervo sob

sua responsabilidade (IPHAN, 2014).

Foi somente com o implemento de diretrizes teóricas, conceituais e operacionais

formuladas a partir da criação do Centro Nacional de Referência Cultural (CNRC), na década

de 1970, é que foram estabelecidas relações mais consistentes entre os processos educacionais

e a preservação patrimonial, na medida em que o Centro teve como proposta fulcral debater

questões relacionadas à preservação e as concepções vigentes de patrimônio. Embora a

temática educação não fosse diretamente um dos focos de abordagem de atuação do CNRC, é

relevante observar que a iniciativa teve como um dos resultados o Projeto Interação, que em

resumo defendia a criação e o fortalecimento de propostas pedagógicas que permitissem a

associação entre a Educação Básica e a dinâmica cultural local (IPHAN, 2014).

Apesar de ser possível observar essa efervescente discussão relacionando Educação e

Patrimônio, o termo Educação Patrimonial foi cunhado somente na década de 1980, sendo o

resultado da tradução de modelo metodológico inglês denominado de Heritage Education.

Passou a ser aplicado mais sistematicamente no Brasil com a realização do 1° Seminário

Sobre o Uso Educacional dos Museus e Monumentos, realizado no Museu Imperial de

Petrópolis em 1983, organizado por Horta (1983). A partir desse momento, Educação

Patrimonial passou a ser concebida como um instrumento educacional utilizado de maneira

permanente e sistemático. No contexto, o objetivo de ações vinculadas à proposta foi o de

intensificar o processo de conhecimento, apropriação e valorização da herança cultural tanto

em crianças quanto em adultos, permitindo um melhor uso destes bens e garantindo a

produção e transmissão de novos conhecimentos (HORTA et al, 1999).

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No que se refere à aplicabilidade da Educação Patrimonial, ela pode ser estabelecida

por meio da interação entre as comunidades e os gestores responsáveis pela preservação e

manipulação de determinados segmentos dos bens culturais. Pode ser adotada para qualquer

evidência material e manifestação cultural, tendo como resultado a interação entre o indivíduo

e o meio ambiente, de forma que fique estabelecida uma parceria para proteção e valorização

do patrimônio. Como objeto ou fenômeno cultural pode ser analisado a partir de várias

perspectivas. Faz-se necessário definir e delimitar quais os objetivos e resultados pretendidos

com a atividade educacional de acordo com o objeto, tema ou fenômeno a ser abordado,

seguindo as etapas metodológicas de observação, registro, exploração e apropriação (HORTA

et al, 1999).

No tocante à Arqueologia, juridicamente a execução de atividades de Educação

Patrimonial está prevista na Portaria do SPHAN 07/1988 e na Portaria do IPHAN 230/2002.

Os dispositivos asseguram a necessidade e obrigatoriedade de elaboração de atividades que

envolvem os bens de interesse arqueológico e pré-histórico, que devem compor um plano de

trabalho científico que contenha uma proposta preliminar de utilização futura do material

produzido para fins científicos, culturais e educacionais. A Portaria SPHAN n°07, de 01 de

Dezembro de 1988, em seu artigo 11, item II e VII, trata que relatórios a serem entregues ao

IPHAN necessitam constar as seguintes informações:

II – meios utilizados durante os trabalhos, medidas adotadas para a proteção e

conservação e descrição do material arqueológico, indicando a instituição responsável pela

guarda e como será assegurado o desenvolvimento da proposta de valorização do potencial

científico, cultural e educacional;

VII – indicação dos meios de divulgação dos resultados.

Outra norma que assegura a realização de ações de cunho educativo é a Portaria

Interministerial n° 419 de 26 de outubro de 2011, que prevê a obrigatoriedade da execução da

Educação Patrimonial durante todo o processo de licenciamento ambiental, devendo por isso

integrar um projeto específico.

De forma correlata, os trabalhos de Educação Patrimonial contribuem para a

preservação e conservação do patrimônio cultural brasileiro, resguardado nos termos da Lei

Federal n°3.924/64; pelo Art. 20 da Constituição Federal do Brasil de 1988; e Portarias

SPHAN 07/1988; IPHAN 230/2002 e IPHAN 28/2003, que tornam obrigatória a realização

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de estudos arqueológicos em empreendimentos que apresentam o potencial de afetar algum

bem cultural. A proteção dos bens de interesse cultural está assinalada também na Resolução

CONAMA N°001, de 1986, com o Decreto Lei n°25/1937 e o Decreto Lei n° 3551/2000, que

enfoca o patrimônio histórico e artístico nacional, além de instituir o registro de bens

imateriais; e também a Lei n° 9605 de 30/03/1998, Seção IV, que versa sobre os crimes

atinentes ao patrimônio cultural.

As ações a serem aplicadas seguirão as orientações teóricas e uma adaptação do

modelo de execução desenvolvido por Monteiro Oliveira e Loures Oliveira (2004), no âmbito

do projeto Educação Patrimonial e Sociabilização do Saber, premiado pela Sociedade de

Arqueologia Brasileira com o prêmio Loureiro Fernandes, Edição 2007. Trata-se de proposta

que confere visibilidade a uma educação da sensibilidade, propondo a inclusão no mundo

social, através do dialogismo entre diferentes interlocutores.

Têm-se como objetivo comunicar por meio de uma perspectiva multivocal o

patrimônio cultural local para as comunidades situadas nas Áreas de Influência do

empreendimento, enfatizando nesse processo a importância dos vestígios materiais na

elaboração de uma História Regional que evidencie a participação de diferentes atores.

Porém, é possível ir mais além ao buscar sensibilizar o público alvo no tocante às questões

envolvendo a preservação e conservação dos bens materiais, abrindo a possibilidade de

estabelecer uma ponte entre público alvo e pesquisadores.

11.2 Ações de Educação Patrimonial em Contagem

As ações de educação patrimonial realizadas pela equipe de arqueologia tiveram o

intuito apresentar a Arqueologia para os moradores da região a ser afetada pelo

empreendimento, assim como atender as solicitações do órgão em questão. É importante frisar

que entre os atores sociais abordados, o conhecimento de Arqueologia é praticamente nulo, o

que justifica tal empreitada em momento tão oportuno. Vale destacar, no entanto, o

conhecimento de algumas pessoas quanto aos bens culturais existentes – na região do

empreendimento – e também sua importância.

A Educação Patrimonial no município de Contagem foi executada em diferentes

momentos: no primeiro momento, ela foi realizada na própria ADA do empreendimento, em

local onde foi encontrado o sítio arqueológico Lago dos Camargos, uma antiga gleba

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pertencente à fazenda Vista Alegre. Já o segundo momento ocorreu na área das ruínas da sede

da Fazenda Vista Alegre, com população vizinha ao local.

Durante as atividades de prospecção arqueológica, mais precisamente no período

posterior à constatação de um sítio arqueológico na área, foi realizado um contato prévio com

alguns dos funcionários das fazendas, principalmente os que trabalham diretamente com a

plantação. Ao longo do contato, foi perguntado sobre a existência de “panelas de barro” e

“pedras de corisco” na área onde ocorrem as plantações de cana-de-açúcar. Foram-nos

relatadas por um dos funcionários que, ocasionalmente, encontravam “pedaços de panela de

barro” e, mais raramente, elas inteiras, porém, com o decorrer das atividades, elas acabavam

quebradas devido ao uso dos maquinários. Nenhum deles havia conhecimento da procedência

desses materiais. A equipe de arqueologia explicou a procedência do material; a possibilidade

de encontrar outros materiais e vestígios em sítios arqueológicos; abordou a dificuldade de

encontrá-los, principalmente na região metropolitana; entre outros.

Depois dessa abordagem, a equipe de arqueologia retornou para realizar a delimitação

do sítio, quando foi abordada por Thiago Camargos, 12 anos. O garoto havia acompanhado,

de sua casa, a conversa com os funcionários da fazenda e se interessou em saber mais sobre os

achados fortuitos. Foram realizadas as mesmas explicações ao Thiago, a fim de esclarecer a

ele o trabalho do arqueólogo e seus objetos de estudo. Como o interesse de Thiago foi

extremo, ele foi convidado a acompanhar a realização de uma das tradagens realizadas pela

equipe, para que ele pudesse entender uma das metodologias utilizadas pelos pesquisadores

para a realização dos trabalhos. Por fim, ao final da tradagem, e após analisar alguns

fragmentos cerâmicos por minutos, Thiago fez uma revelação que elevou o espírito da equipe;

ele afirmou que seu desejo é se tornar arqueólogo.

Ainda na área do sítio Lago dos Camargos ocorreu uma conversa o Sr. João José Neto,

que passava pelo local. Outro funcionário da fazenda, o Sr. Neto disse ser, diversas vezes,

responsável pela preparação e arado da terra para o plantio e que durante estas atividades

muitos “cacos brotam da terra”, mas em nenhum momento ele chegou a imaginar a

procedência deles. A equipe de arqueologia aproveitou a declaração dada pelo Senhor Neto

para explicar a importância histórica e cultural dos artefatos ali encontrados. Além da

explanação sobre a importância desses vestígios, foram abordadas atitudes – como buscar

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manter a integridade do vestígio e avisar ao superior – a serem tomadas quando de um achado

fortuito.

Por fim foram realizadas ações de Educação Patrimonial com frequentadores do lago,

que em sua maioria moram no entorno da área a ser impactada. Durante os contatos foram

realizadas algumas perguntas como: tempo que moram na região? Frequência que visitam a

lagoa? Já encontraram algum artefato no local? Mediante as respostas obtidas, a equipe

aproveitou para explicar a importância histórica e cultural dos bens culturais localizados na

região, assim como o recém-constatado sítio arqueológico. Ainda, buscou-se orientar as

pessoas quanto à importância da preservação do patrimônio (Figura 29). Todos esses contatos

ocorreram informalmente, durante o trabalho de campo.

Cabe salientar a educação patrimonial realizada com algumas pessoas, assíduas

frequentadoras do lago – invasores da propriedade, no entanto, estando cientes da situação, os

proprietários da área já realizaram diversos boletins de ocorrência policial. Tal ação foi

tomada após a constatação do sítio Lago dos Camargos e a presença constante de adolescentes

próximos à plantação de cana-de-açúcar, área do sítio, para colher a planta. Quando alguns

garotos apareciam próximos ao local, algum membro da equipe os abordava a fim de explicar

diversas questões, começando pelas mais básicas, como o que é Arqueologia, o que é

Patrimônio, o que era Patrimônio para eles, etc. Posteriormente, a questão da existência de um

sítio arqueológico pré-histórico na área do empreendimento era abordada, onde algumas

explicações sobre os tipos de habitantes que ali viveram e os utensílios usados por eles, por

fim, eram mostradas cerâmicas encontradas in loco, e explicada algumas características

destas, como material utilizado, antiplástico e como eram confeccionadas. A maior parte dos

abordados não tinha conhecimento algum de arqueologia ou patrimônio e preservação.

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Figura 39: Educação Patrimonial com moradores da ADA e AID.

A: Contato com o Sr. Neto. B-D: Contato com Thiago Camargos. E: Abordando Jean, Raul e Henrique (frequentadores do lago) para conversar.

O segundo contato ocorreu junto aos moradores da área AID, especificamente no

entorno da antiga Fazenda Vista Alegre, situada entre as ruas Alcides Diniz Moreira, Vicente

Ribeiro de Paula e Avenida Dulce Geralda Diniz.

No dia 13 de janeiro foi estabelecido o primeiro encontro com o senhor Ademir

Ladeira da Silva, residente à Rua Vicente Ribeiro de Paula desde 1998. Ele foi responsável

A B

C D

E

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por indicar os auxiliares (Douglas e Gilmar) que ajudaram na limpeza da ruína da Fazenda e

também pela mobilização da comunidade da AID. No dia 17 de janeiro o senhor Ademir

chegou às ruínas acompanhado de suas filhas e alguns vizinhos para participarem da

Educação Patrimonial.

Na ocasião a equipe de educação patrimonial realizou algumas perguntas quanto a

Fazenda Vista Alegre. O Sr. Ademir, que já conhecia a equipe, se mostrou muito solícito e

colaborativo. Ele pode descrever as condições físicas da casa e de seu entorno à época em que

mudou para o local. Esta descrição do Sr. Da Silva foi de grande valia para ambas as partes,

pois a equipe de arqueologia pode compreender algumas questões quanto às ruinas e os

moradores, principalmente os mais jovens, puderam recordar, através de suas declarações, da

sede da Fazenda. Posteriormente, quando notou que não havia maiores informações que

pudesse revelar em relação à fazenda, o Sr. Dias sugeriu entrar em contato com a senhora

Darina - última moradora da casa.

Enquanto o Sr. Ademir buscava contato com a Sra. Darina, suas duas filhas, Juliana e

Mariana – técnicas ambientais – puderam contribuir um pouco mais com o processo de

educação Patrimonial. Num dado momento elas apresentaram à equipe e aos moradores um

Atlas histórico, geográfico e cultural de Contagem, que posteriormente foi doado à equipe de

arqueologia (Figura 30). Cabe salientar que o atlas dá destaque a Fazenda Vista Alegre e a

Comunidade dos Arturos em seu capítulo de Patrimônio Cultural.

Após contato, a senhora Darina chegou ao local acompanhada de familiares e portando

antigas fotografias da antiga casa sede. Após uma introdução feita pela equipe de educação

patrimonial e uma explicação do trabalho executado e sobre os objetivos e objetos da

arqueologia, solicitou-se que a Sra. Darina contasse a todos o que ela se lembrava da fazenda.

O relato realizado por ela foi muito importante para a educação patrimonial, já que ela pode

destacar a importância deste patrimônio para a comunidade e pode comentar sobre o

patrimônio e mostrar a sua devida importância para os que estavam ali presentes. Suas

descendentes também participaram da conversa, como sua filha Jane Dalca Sales e sua neta

Natália Aparecida Bruno, que morou na fazenda com a avó por 6 anos. A Sra. Darina, elas

puderam relatar a importância daquele patrimônio, como puderam relatar algumas lembranças

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mais recentes da residência, exemplo a época do desmoronamento, o furto de material e a

última festa ali realizada, a Cavalgada da Fazenda Velha.

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A B C

D E F

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Figura 40: Educação Patrimonial nas ruínas da Fazenda Vista Alegre (AID). A: Jovens na ruína. B: Atlas histórico de Contagem. C-D: Sra. Darina e seus familiares. E-H: Sra. Darina auxiliando na elaboração do croqui. I-J: Sra. Darina contando suas histórias. K: Dra.

Inês Noronha conversando com os jovens. L: Jovens observando as fotografias levadas pela Sra. Darina. M: Relato dos jovens a pesquisadora da Socioambiental Projetos.

G H I

J K L

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Enquanto o trabalho de educação patrimonial era realizado, aconteceu a visita

inesperada de dois guardas municipais, que foram ao local para averiguar uma denúncia

anônima de invasão. No entanto, com a portaria publicada no Diário Oficial da União em

mãos e com a explicação detalhada dos trabalhos que estavam sendo realizados no local, toda

a situação foi resolvida.

O encontro com as pessoas da comunidade aconteceu, principalmente, na busca de

informações sobre o local, como nível de preservação da fazenda, quais medidas eles

gostariam que fossem tomadas em relação à área da ruína, qual a posição da associação de

bairro frente ao problema do lixo descartado no local, qual o nível de conhecimento das

pessoas sobre o valor histórico do local. Aproveitou-se o momento para explicar os objetivos

da Arqueologia, e o porquê da relevância da área.

Figura 41: Educação Patrimonial nas ruínas da Fazenda Vista Alegre. A e B: Despedindo da família da Sra. Darina. C e D: Visita dos guardas municipais.

B

C D

A

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A equipe de arqueologia voltou ao local do sítio arqueológico para sinalizá-lo com fita

zebrada. Neste momento, três trabalhadores locais estavam a caminho da lagoa para pescar.

Foi informado que na área delimitada havia um sítio arqueológico pré-colonial cerâmico e que

este procedimento seria um alerta para as pessoas que circulassem no local afim de evitar

quaisquer danos ao sítio, o que acarretaria em problemas para o patrimônio do município e ao

empreendedor.

Figura 42: Educação patrimonial com os trabalhadores da fazenda.

Em todas as oportunidades, a equipe de arqueologia buscou realizar uma apresentação

da Arqueologia para o público leigo, configurando uma efetiva Educação Patrimonial, pois

buscou elucidar as principais questões da Arqueologia, assim como conscientizar a população

ao redor do sítio histórico sobre a sua importância para a comunidade e para o município.

Entende-se que a Educação Patrimonial atingiu seus objetivos com êxito, uma vez que

os participantes contribuíram de forma ativa para a difusão da importância do patrimônio

arqueológico.

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12. CONCLUSÃO

Considerando que os procedimentos desenvolvidos neste trabalho atenderam aos

objetivos propostos e resultaram na identificação de ocorrências de natureza arqueológica e

histórica na área pesquisada, solicita-se ao IPHAN a anuência, com condicionantes, para

obtenção da Licença de Instalação (LI) do empreendimento Loteamento Estância do Lago.

Trata-se de solicitação realizada com base na realização das etapas previstas nos artigos 1, 2,

3 e 4 da Portaria IPHAN n° 230/2002. Cabe destacar que o parecer exposto refere-se somente

às áreas que integram o projeto deste empreendimento. Qualquer alteração no perímetro

definido como ADA deverá ser avaliada quanto à necessidade de ampliação dos estudos

arqueológicos.

Frente ao exposto recomenda-se a implementação do Programa de Resgate e

Monitoramento Arqueológico e Educação Patrimonial a ser executado antes das atividades de

implantação do empreendimento ao qual este estudo se destina.

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13. REFRÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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CALDARELLI, S. B. Arqueologia do Vale do Paraíba Paulista SP-170 Rodovia Carvalho

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ANEXOS

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ANEXO 1: PORTARIA N°. 63, DE 27 DE NOVEMBRO DE 2014

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ANEXO 2: MAPAS

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ANEXO 3: FICHAS DE CADASTRO DE SÍTIO ARQUEOLÓGICO

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ANEXO 4: FICHA DE ANÁLISE ATRAVÉS DO MÉTODO DELPHI

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Instrumento de Avaliação de Material Arqueológico por Especialistas

1. Caracterização do Especialista:

A- Grau de escolaridade:___ Mestre ___ Doutor

B – Local de residência (Estado): _____________

C -- Tempo de experiência profissional em arqueologia: ______

2. Avaliação do Material:

A- Para você, que é um especialista na área de arqueologia e patrimônio, levando em

consideração indicadores morfológicos como coloração, queima e espessura esse

material poderia ser considerado cerâmico?

_____Sim

_____ Não

B- Se sim, seria possível afirmar a tradição da cerâmica através dos registros

fotográficos?

3. Considerações Finais:

A- Este espaço está aberto para considerações sobre o material, caso seja de seu interesse

escrever algum comentário técnico a respeito:

Agradeço a sua participação!

Inês de Oliveira Noronha

(31) 9992-0579

[email protected]

Belo Horizonte, 22 de fevereiro de 2015.

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