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EFEITOS DE DIFERENTES TEMPOS DE DESMINERALIZAÇÃO COM ÁCIDO FOSFÓRICO SOBRE A MICROESTRUTURA E PROPRIEDADES ÓPTICAS DO ESMALTE DENTAL Projeto de pesquisa de iniciação científica a ser submetido para concessão de bolsa pelo programa PIC/UFABC. Aluna: Jemima Barbosa Pereira Orientadora: Profa. Dra. Patricia A. da Ana Curso: Engenharia Biomédica

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Page 1: Relatório Final IC

EFEITOS DE DIFERENTES TEMPOS DE DESMINERALIZAÇÃO COM ÁCIDO FOSFÓRICO

SOBRE A MICROESTRUTURA E PROPRIEDADES ÓPTICAS DO ESMALTE

DENTAL

Projeto de pesquisa de iniciação científica a ser submetido para concessão de bolsa pelo programa PIC/UFABC.

Aluna: Jemima Barbosa Pereira

Orientadora: Profa. Dra. Patricia A. da Ana

Curso: Engenharia Biomédica

Centro: Centro de Engenharia, Modelagem e Ciências Sociais Aplicadas - CECS

SANTO ANDRÉ

Page 2: Relatório Final IC

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2011

CONTEÚDO

1. RESUMO...................................................................................................................3

2. INTRODUÇÃO.........................................................................................................4

3. OBJETIVO.................................................................................................................8

4. MATERIAL E MÉTODO..........................................................................................9

4.1. Delineamento experimental..................................................................................................................9

4.2. Obtenção e preparo das amostras...................................................................................................10

4.3. Análise por microscopia de fluorescência...................................................................................11

4.4. ANÁLISE MORFOLÓGICA.....................................................................................................................11

4.5. ANÁLISE ESTATÍSTICA.........................................................................................................................12

5. RESULTADOS E DISCUSSÕES...........................................................................13

6. CONCLUSÃO.........................................................................................................22

6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS........................................................................14

PALAVRAS-CHAVE

Fluorescência, esmalte, desmineralização, morfologia.

Page 3: Relatório Final IC

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1. RESUMO

O estudo da fluorescência tem se tornado uma ferramenta promissora

de diagnóstico das pequenas modificações químicas promovidas pelas

desmineralizações dos tecidos duros dentais, dentre as quais se enquadram a

cárie, erosão, condicionamento ácido, dentre outros. Contudo, ainda há a

necessidade de se desenvolver métodos eficazes e acessíveis para aplicação

clínica. O presente projeto avaliou os efeitos de diferentes tempos de aplicação

de ácido fosfórico a 37% sobre a microestrutura e morfologia do esmalte

dental, comparando-se os dados com os resultados obtidos por meio da

detecção de fluorescência por imagem hiperespectral.

Para a execução deste projeto, foram preparadas 60 amostras de esmalte

dental. Estas amostras foram submetidas à avaliação inicial por FTIR

(Espectroscopia de absorção no infravermelho por transformada de fourier); em

seguida, as amostras foram desmineralizadas por ácido fosfórico a 37% sob

diferentes tempos de tratamento. Em seguida, as amostras foram novamente

avaliadas por FTIR. Após as análises de fluorescência, as amostras foram

submetidas à avaliação morfológica por FTIR. Os dados obtidos por FTIR

foram comparados com os dados já previamente obtidos pelo sistema de

imagens hiperespectrais, buscando-se encontrar uma correlação e, com isso,

identificar se o sistema por imagens hipersespectrais pode ser considerado

como um instrumento promissor para identificação da fluorescência em

pequenas desmineralizações do tecido duro dental.

Page 4: Relatório Final IC

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2. INTRODUÇÃO

A aparência do sorriso tem grande impacto na vida dos indivíduos,

afetando desde o convívio social até relações profissionais. Assim, a

Odontologia Estética, com o passar do tempo, tem evoluído em busca de

materiais e técnicas restauradoras que mimetizem o aspecto natural dos

elementos dentários. Para tal, tornou-se comum o uso de resinas compostas

fotopolimerizáveis e cerâmicas estéticas, as quais se utilizam de

condicionamento ácido prévio para possibilitar o embricamento nos tecidos

duros dentais.

Atualmente, o uso de ácido fosfórico a 37% tem se tornado rotina para a

execução da maioria dos procedimentos odontológicos, incluindo a confecção

de restaurações de resina composta, a instalação de aparelhos ortodônticos

estéticos, a cimentação de facetas ou próteses em porcelana, dentre outros.

Trata-se de um procedimento que visa o condicionamento prévio da superfície

do tecido dental exposto, seja esmalte ou dentina, o qual possibilita o maior

embricamento químico-mecânico dos materiais restauradores, principalmente

por intermédio de diferentes sistemas adesivos1,2.

Para esta ação, o agente condicionador promove a dissolução dos

cristais de hidroxiapatita, removendo uma camada micrométrica da superfície

do esmalte e da dentina, expondo uma estrutura porosa de prismas de esmalte

e da rede de colágeno da dentina. Este fenômeno aumenta a rugosidade

superficial do tecido, permitindo que os sistemas adesivos e selantes penetrem

por capilaridade, formando projeções resinosas (tags) e estabelecendo-se,

assim, uma retenção micromecânica com o material restaurador resinoso3,4.

Page 5: Relatório Final IC

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Para possibilitar tais aplicações, empregam-se tempos de

condicionamento ácido distintos, os quais podem gerar diferentes efeitos

morfológicos e microestruturais na estrutura dental5. Sabe-se que, para

execução de uma restauração padrão de resina composta, o condicionamento

com ácido fosfórico a 37% deverá respeitar o tempo preconizado de 15

segundos para esmalte e 10 segundos para dentina. Contudo, na literatura,

existem controvérsias a respeito do tempo ideal que deve ser utilizado nos

dentes, o qual pode variar de 15 segundos até 4 minutos, dependendo do

material restaurador e da técnica aplicada6.

Relatos demonstram que, quanto maior o tempo de exposição da

superfície ao condicionamento ácido, maiores são as modificações químico-

estruturais proporcionadas tanto em esmalte quanto em dentina, o que

depende também da região a ser desmineralizada, na qual pode variar a

orientação dos prismas (no caso do esmalte) ou mesmo a composição da

matriz orgânica (no caso de dentina exposta a um longo processo de cárie, por

exemplo)7. Assim, embora o condicionamento prévio dos tecidos duros seja um

passo essencial para possibilitar o correto embricamento do material resinoso a

ser aplicado, a exposição exacerbada ao ácido pode proporcionar danos

químicos nas superfícies, promovendo a degradação da rede de colágeno da

dentina e, com isso, comprometendo a longevidade das restaurações8.

O condicionamento dos tecidos duros dentais com ácido fosfórico

também modifica as propriedades ópticas destes tecidos. Conhecendo estas

modificações, seria possível desenvolver um equipamento ou técnica que

podesse ser sensível para detectar estas mudanças.

Page 6: Relatório Final IC

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Desta maneira, o estudo da fluorescência tem se tornado uma

ferramenta promissora de diagnóstico das pequenas modificações químicas

promovidas pelas desmineralizações dos tecidos duros dentais, dentre as quais

se enquadram a cárie, erosão, condicionamento ácido, dentre outros. Em

termos físicos, a fluorescência é um fenômeno óptico onde uma substância é

excitada energeticamente por exposição a certos tipos de luz, acarretando a

elevação dos elétrons da camada mais externa dessa substância e, com isso,

ocupem órbitas de maior conteúdo energético. Quando a substância volta a

seu estado fundamental, o elétron retorna à sua órbita normal, liberando fótons

de energia na forma de luz. Na fluorescência, a emissão de luz pelo corpo

excitado ocorre somente durante a exposição do corpo à fonte de energia

excitatória. Se permanecesse emitindo luz por mais tempo, o fenômeno se

chamaria fosforescência9.

A fluorescência da estrutura dental é determinada principalmente pela

dentina, pois apresenta um número maior de pigmentos orgânicos

fotossensíveis, resultando em cerca de três vezes mais fluorescência que o

esmalte10. Para sua detecção, equipamentos como o DiagnoDent e o QLF

(Quantitative light fluorescence) já se encontram disponíveis para utilização

clínica pelos cirurgiões-dentistas. A detecção das mudanças na fluorescência

de esmalte dental submetidos a vários tempos de condicionamento ácido foi

proposta empregando-se o QLF11 e o LIF12 (laser induced luorescence),

obtendo-se resultados promissores; contudo, fatores como alto custo e baixa

disponibilidade no mercado limitam as aplicações destas técnicas.

Desta maneira, busca-se desenvolver um método que possibilite a

detecção de pequenas mudanças no conteúdo mineral e orgânico dos tecidos

Page 7: Relatório Final IC

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duros dentais, o qual apresente sensibilidade e especificidade, além dos

requisitos de baixo custo e disponibilidade. Assim, o uso do sistema de análise

hiperespectral, uma combinação da técnica de espectroscopia com a formação

de imagens digitais, permite a análise das propriedades ópticas dos tecidos,

com resolução espacial e espectral ao mesmo tempo, mostrando-se uma

técnica promissora para tal fim. Nesta técnica, emprega-se um espectrômetro,

uma lente objetiva, uma câmera CCD, um sistema de iluminação e um

scanner13.

Este projeto trata-se de uma continuação do projeto de PDPD proposto

anteriormente para a mesma discente, em que foi possível monitorar as

mudanças ocorridas em esmalte dental bovino exposto a diferentes tempos de

condicionamento ácido por imagem hiperespectral. Ainda assim, para validar-

se tal método, são necessárias análises do tecido dental por meio de outras

técnicas.

A espectroscopia de absorção no infravermelho (IR) é uma técnica que

pode ser utilizada como sonda óptica de análise molecular com a finalidade de

diagnosticar tecidos doentes14. A espectroscopia FTIR é uma variação da

espectroscopia IR, a qual propicia algumas vantagens, tais como maior

rapidez, alta reprodutibilidade e alta razão de sinal/ruído. Desta maneira, pode

constituir-se em uma análise não destrutiva, refletindo características químicas

e bioquímicas da substância analisada15,16.

Sendo assim, o FTIR será utilizado buscando-se estabelecer uma

comparação com o método desenvolvido, analisando as diferenças promovidas

pelos diferentes tempos de aplicação de ácido fosfórico, o que motivou a

proposição do presente projeto de Iniciação científica.

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3. OBJETIVO

O objetivo principal deste projeto é avaliar os efeitos de diferentes

tempos de aplicação de ácido fosfórico a 37% sobre a microestrutura e

morfologia do esmalte dental, comparando-se os dados com os resultados

obtidos por meio da detecção de fluorescência por imagem hiperespectral.

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4. MATERIAL E MÉTODO

O presente projeto foi executado em parceria com o Prof. Dr. Emery

Cleiton C. Lins, do CECS-UFABC. Previamente à execução dos experimentos,

o presente projeto foi submetido à avaliação pela Comissão de Ética em Uso

de Animais da UFABC (CEUS-UFABC), cujos experimentos foram iniciados

apenas após aprovação desta comissão.

4.1. DELINEAMENTO EXPERIMENTAL

Para a execução deste projeto, foram empregados 60 dentes incisivos

inferiores bovinos, dos quais foram preparados 6 grupos, cada um com 10

amostras de esmalte dental. Estas amostras foram submetidas à avaliação

inicial por FTIR; em seguida, as amostras foram desmineralizadas por ácido

fosfórico a 37% sob diferentes tempos de tratamento. Em seguida, as amostras

foram novamente avaliadas por FTIR. Após as análises de fluorescência, as

amostras foram desidratadas, recobertas com ouro e submetidas à avaliação

morfológica por microscopia eletrônica de varredura. Os dados obtidos por

FTIR foram comparados com os dados já previamente obtidos pelo sistema de

imagens hiperespectrais, buscando-se encontrar uma correlação e, com isso,

identificar se o sistema por imagens hipersespectrais pode ser considerado

como um instrumento promissor para identificação da fluorescência em

pequenas desmineralizações do tecido duro dental.

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4.2. OBTENÇÃO E PREPARO DAS AMOSTRAS

Para a realização deste projeto, foram empregados 60 dentes incisivos

bovinos. Os dentes foram cedidos por frigoríficos após aprovação pela CEUA-

UFABC. Após cessão, os dentes foram limpos por meio de lavagem com água

e detergente e profilaxia com pedra-pomes e água. Em seguida, os dentes

foram verificados em lupa esterescópica (10X) para visualização de eventuais

trincas, manchamentos ou desmineralizações. Os que continham tais

características foram descartados. Para evitar desidratação, os dentes foram

mantidos em ambiente úmido sob refrigeração até o início dos experimentos.

Em seguida, os dentes foram seccionados, no sentido ocluso-cervical,

com cortes paralelos à face vestibular do dente, por meio de disco diamantado

sob refrigeração. Os cortes foram realizados de forma que sejam obtidas fatias

de esmalte de 4 x 4 x 1 mm. As fatias finalizadas foram submetidas ao

polimento usando-se lixas de granulação 1200, feltro e pasta diamantada de 1

µm. Ao final, as amostras foram submetidas ao banho ultrassônico com

detergente aniônico.

Após preparo, as amostras foram aleatoriamente distribuídas em 6

grupos experimentais (n = 10), a saber:

- Grupo 1: amostras desmineralizadas por 15 s;

- Grupo 2: amostras desmineralizadas por 30 s;

- Grupo 3: amostras desmineralizadas por 45 s;

- Grupo 4: amostras desmineralizadas por 60 s;

- Grupo 5: amostras desmineralizadas por 2 minutos;

- Grupo 6: amostras desmineralizadas por 3 minutos.

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As desmineralizações foram feitas aplicando-se ácido fosfórico 37%

(ScotchBond, 3M ESPE, Brasil) em toda a superfície do esmalte, pelos tempos

determinados em cada grupo experimental. Decorrido este tempo, as amostras

foram lavadas com água destilada e secas com leve jato de ar.

4.3. ANÁLISE POR FTIR(ESPECTROSCOPIA DE ABSORÇÃO NO INFRAVERMELHO POR TRANSFORMADA DE FOURIER)

O FTIR foi utilizado para a tomada de espectros de autofluorescência do

conteúdo orgânico e mineral das amostras submetidas aos diferentes tempos

de demineralização. As análises foram feitas no FTIR, disponível na Central

Multiusuário da UFABC.

Em cada amostra, foram feitas duas análises: anteriormente à

desmineralização e imediatamente à desmineralização. Desta maneira, foi

possível comparar as mudanças na fluorescência de cada amostra

individualmente.

4.4. ANÁLISE MORFOLÓGICA

Após as análises de fluorescência, a morfologia das amostras foi

verificada por meio de microscopia eletrônica de varredura. Para tal, as

amostras de dentina foram desidratadas e recobertas com ouro.

Assim, as amostras foram fixadas em solução de Glutaraldeído 2%

durante 2 horas e lavadas com solução Tampão Fosfato 0,1 M (3 lavagens de

5 minutos cada). Posteriormente, as amostras foram deixadas em Tampão

Ósmio por 20 minutos, lavadas em seguida com Tampão Fosfato 0,1 M (3

lavagens de 5 minutos cada) e desidratadas em soluções de concentrações

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crescentes de álcool (30%, 50%, 70%, 90%, 96% e 100%), com duas lavagens

de 5 minutos em cada solução.

Após a desidratação, as amostras foram fixadas em HMDS

(Hexamethyldisilazane) por 20 minutos e secas em capela por 2 horas. Então,

as amostras foram coladas em suportes metálicos apropriados (stubs) com

auxílio de cola prata condutora, onde foi depositado um filme fino de ouro (de

espessura aproximada de 10 µm) sobre as mesmas por 120 segundos com o

equipamento Sputter Coater, TEC SCD050, Bal Tec, Zurich, Ge, pertencente

ao IPEN/CNEN-SP. As amostras mantidas em dessecador até o momento das

análises. As amostras foram examinadas no FTIR, pertencente à Universidade

Federal do ABC.

4.5. ANÁLISE ESTATÍSTICA

Os dados de alterações na fluorescência do esmalte obtidos por meio do

FTIR foram comparados com os dados obtidos por sistema de imagens

hiperespectrais, buscando-se encontrar uma correlação.

A análise estatística dos dados provenientes de cada metodologia de

análise foi realizada de acordo com a homogeneidade e normalidade que os

dados apresentarem, considerando o nível de significância de 5%.

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6. RESULTADOS E DISCUSSÕES

A figura 1 ilustra um espectro representativo de esmalte sadio obtido por

ATR-FTIR, onde podem ser observadas as principais bandas vibracionais na

região do infravermelho para os componentes deste tecido.

Figura 1: Espectro representativo de amostra de esmalte bovino sadio obtidos por equipamento ATR-FTIR, onde são evidenciadas as principais bandas de absorção consideradas para o presente estudo

A tabela 1 mostra as bandas vibracionais do esmalte sadio, de acordo

com dados da literatura.

3 fo

sfat

o

1 fo

sfat

o

H2O

, O-

H

C-Ham

ida

Iam

ida

II 3

car

bona

to +

am

ida

II 3

carb

onat

o

2

carb

onat

o

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Tabela 1: Bandas de absorção presentes em esmalte17.

Vibração Frequência de vibração aproximada (cm-1)

Estiramento assimétrico do fosfato (3) 1028; 1008Vibração do fosfato (1) 950Deformação angular assimétrica do carbonato (2)

880

Estiramento assimétrico do carbonato (3) 1415Amida III (vibração C-N) 1236Amida II (vibração C-N ou N-H) 1443Amida I (ligação C=O) 1650

Pela Tabela 1 e pela Figura 1, pode-se observar que o esmalte dental

apresenta significativamente maior conteúdo de fosfato, o que está relacionado

com a estrutura cristalina do esmalte, composto de aproximadamente 95% de

mineral, 2% material orgânico e 3% de água em peso35F35F18,36F36F19. Este

conteúdo mineral constitui-se principalmente de cristais de apatita firmemente

unidos, separados de seus vizinhos por finos espaços intercristalinos, os quais,

assim, são preenchidos com água e material orgânico, basicamente composto

por proteínas e lipídeos37F37F20. Por sua composição, observa-se que o

esmalte possui pequena quantidade de água e material orgânico (composta por

proteínas – amidas I, II e III), cujas bandas de absorção encontram-se de

pequena intensidade nos espectros de FTIR.

Os radicais fosfato detectados nos espectros de FTIR encontram-se na

hidroxiapatita mineral [Ca10(PO4)6(OH)2] presente nos cristais de hidroxiapatita.

Porém, inclusões de carbonato, sódio, flúor, magnésio, potássio, cobre, cloro,

ferro, manganês, enxofre, chumbo e outros íons fazem da apatita biológica

uma forma impura do mineral, sendo que 80% a 90% destes correspondem à

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hidroxiapatita carbonatada40F40F21. Desta forma, a presença de carbonato

pode ser visivelmente detectada nos espectros de FTIR.

A hidroxiapatita carbonatada poderia ser representada quimicamente

pela fórmula: (Ca,Mg,Na,X)10(PO4,HPO4,CO3)6(OH,Cl)2 22

102H102H, onde X

representa inclusões de outros íons. Estes componentes menores

correspondem a 3% da composição total do esmalte, dos quais o carbonato e o

sódio correspondem a 9/10103H103H. Como componentes principais, os

cristais de apatita possuem cerca de 37% de cálcio, 52% de fosfato (sendo

18% de fósforo), 3% de hidroxila e razão molar de cálcio e fósforo (Ca/P) de

1,6441F41F23.

Os cristais de hidroxiapatita têm, em média, 50 nm de largura em corte

transversal e mais de 100 nm de comprimento4H104H 6. Cada cristal é

circundado por uma camada de água firmemente ligada, a qual é evidenciada

na região compreendida entre 1630 a 3570 cm-1. Contudo, esta água adsorvida

pode ser removida apenas quando o esmalte é aquecido a 600o C105H105H24;

isto porque a assimetria e a grande área superficial dos cristais de

hidroxiapatita confere um campo elétrico forte que atrai íons e moléculas

eletricamente carregados, dentre eles a água42F42F25.

A Figura 2 mostra as médias dos espectros de ATR-FTIR obtidos em

decorrência dos diferentes tratamentos com ácido fosfórico (H3PO4) propostos

no presente trabalho. É importante enfatizar que, para as análises do presente

trabalho, foi desconsiderada a região compreendida entre 2500 a 4000 cm-1,

pois o tratamento com ácido fosfórico não interfere no conteúdo de água

adsorvida, conforme justificado anteriormente.

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Figura 2: Média dos espectros de reflexão por infravermelho obtidos, utilizando-se a técnica de ATR-FTIR, de amostras de esmalte submetidas aos diferentes tratamentos propostos, considerando-se a região compreendida entre 650 cm-1

e 4000 cm-1.

A figura 3 mostra a média dos espectros obtidos em cada grupo

experimental de tratamento do presente estudo, na região compreendida entre

650 cm-1 e 1200 cm-1. Por esta figura, é possível notar mudanças importantes

relacionadas principalmente à região do fosfato, componente mais influenciado

pela ação do ácido fosfórico.

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Figura 3: Média dos espectros de reflexão por infravermelho obtidos, utilizando-se a técnica de ATR-FTIR, de amostras de esmalte submetidas aos diferentes tratamentos propostos, considerando-se a região compreendida entre 650 cm-1

e 1200 cm-1. As setas evidenciam a redução da intensidade da banda 954 cm-1

após os tratamentos, correspondente à vibração 1 do radical fosfato.

Pela análise da figura 3, pode-se observar que a aplicação de ácido

fosfórico possibilitou a significativa diminuição da área sob a banda de vibração

1 do radical fosfato quando comparado com o grupo sem tratamento,

independentemente do tempo de aplicação (setas vermelhas). Estes achados

comprovam o efeito promovido pelo ácido fosfórico no esmalte, o qual promove

a desmineralização superficial do mesmo, removendo o mineral e exercendo

pouca influência na matriz orgânica. Dependendo do tempo de aplicação,

podem ocorrer diversos padrões distintos de remoção de mineral, classificados

por Silverstone (1975) 26 como padrões de condicionamento tipo I (onde ocorre

a remoção apenas do centro dos prismas de esmalte); padrão tipo II (onde

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ocorre a remoção da periferia dos prismas, deixando intacto o centro do

prisma) e padrão tipo III (define uma rugosidade generalizada na superfície do

esmalte, não apresentando semelhanças à morfologia prismática). Um estudo

de Chow & Brown (1973)27 demonstrou que concentrações de ácido fosfórico

superiores a 30% no esmalte resultam na formação de fosfato de monocálcio

monohidratado, o qual é mais solúvel que a hidroxiapatita e, por esta razão, é

facilmente removido durante a lavagem do condicionador ácido, procedimento

que foi executado em todas as amostras do presente estudo para simular a

aplicação clínica do produto. Por esta razão, não foi possível observar a

presença deste composto nos espectros de ATR-FTIR, mas sim apenas os

efeitos da remoção de material cristalino do esmalte.

Trabalhos anteriores mostram que a morfologia e o padrão de

condicionamento não diferem quando o ácido fosfórico é aplicado por 15, 30 ou

60 segundos28; tais assertivas condizem com os dados de ATR-FTIR do

presente trabalho, quando não se evidencia diferenças significantes entre o

conteúdo de fosfato presente nos grupos 15s, 30s, 45s ou 60s. Nestes

períodos, ocorre a remoção de cerca de 7 a 10 µm da superfície do esmalte.

Contudo, observa-se que o aumento da exposição do esmalte ao ácido

por 120s e 180s ocasiona uma significante redução da intensidade da banda

do radical fosfato em comparação com os demais tempos de exposição. Tal

fato é esperado, pois uma maior exposição leva à uma maior atividade de

desmineralização promovida pelo ácido fosfórico, representada por uma maior

perda de hidroxiapatita e, consequentemente, de fosfato.

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A Figura 4 mostra os efeitos da aplicação de ácido fosfórico sobre a

matriz orgânica do esmalte, representada pelos conteúdos de carbonato e

amidas I, II e III.

Figura 4: Média dos espectros de reflexão por infravermelho obtidos, utilizando-se a técnica de ATR-FTIR, de amostras de esmalte submetidas aos diferentes tratamentos propostos, considerando-se a região compreendida entre 1300 cm-

1 e 1700 cm-1.

Por esta figura, também é possível observar que a aplicação de ácido

fosfórico promove significativa redução dos conteúdos de carbonato e amidas.

Tal fato sugere que ocorra uma desnaturação das proteínas que compõem a

matrix orgânica do esmalte pela ação do ácido, o que corrobora achados

anteriores relatados por Botta et al. (2011)29, os quais evidenciaram significativa

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22

desnaturação do colágeno presente na dentina após aplicação do ácido

fosfórico por 15 segundos. Embora no esmalte o conteúdo proteico seja inferior

ao da dentina, os efeitos do baixo pH na matriz orgânica também puderam ser

evidenciados por ATR-FTIR, demonstrando que tal técnica mostra-se

apropriada para avaliar tais efeitos.

7. CONCLUSÕES

De acordo com os resultados obtidos no presente trabalho, é possível

concluir que a aplicação de ácido fosfórico sobre o esmalte dental promove a

redução de fosfato e interfere no conteúdo da matriz orgânica, tendo seus

efeitos uma relação positiva com o tempo de exposição ao ácido.

Page 21: Relatório Final IC

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8. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

Page 22: Relatório Final IC

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(doutorado). Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares, 2006.

11 Meller C, Heyduck C, Tranæus S, Splieth C. A New in vivo Method for Measuring Caries

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