resumo dos livros por que studar história e história repensada
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CENTRO UNIVERSITÁRIO SANT’ANNA
CURSO DE HISTÓRIA: LICENCIATURAProfessor Márcio Leopoldo
TRABALHO DE INTRODUÇÃO AO ESTUDO DA HISTÓRIA
JORGE AUGUSTO SOARES
1º Semestre
R.A. 05925125
Sala: I201
São Paulo/SP
Novembro, 2012
CENTRO UNIVERSITÁRIO SANT’ANNA
RESUMO DOS LIVROS: “Por que estudar História?” e “A História Repensada”
Trabalho apresentado à disciplina Introdução ao Estudo da História
Prof. Márcio Leopoldo
São Paulo/SP
Novembro, 2012
POR QUE ESTUDAR HISTÓRIA?
O livro nos mostra que a História não é apenas uma disciplina a ser
estudada na escola: ela está e sempre estará presente em nossa vida,
independente de termos ou não consciência disso. Entretanto, sua importância
é imensurável para compreendermos nossa trajetória enquanto seres
humanos.
Não se trata, desta forma, de um simples ato de memorizar datas ou
acontecimentos, ou mesmo de personagens famosos. É importante que haja
duas posturas fundamentais no estudo da História: a investigação e a dúvida,
pois algo pode ser contado de acordo com o ponto de vista de quem o faz, de
forma que a veracidade dos fatos possa ser contestada.
Essa ideia distorcida de estudo da História me fez lembrar como eu
passei por essas práticas descritas pelo autor por muitas e muitas vezes. Tive,
sim, um professor que me despertou o interesse por esse estudo, e que me fez
chegar aqui hoje, porém, a maioria dos demais professores utilizavam essa
metodologia empobrecida de ensino.
Uma das ideias fundamentais no livro é a historicidade, ou seja, nos
esclarece que não devemos apenas buscar respostas no passado, mas
formular perguntas para o futuro a partir do presente. No livro, o autor cita um
exemplo bem interessante sobre isso, que eu quero comentar. Ele fala sobre
como serão os livros no futuro, que não se sabe ao certo, mas o que ele deseja
demonstrar é a pergunta, a dúvida que se gera. Como serão os livros? Essa
pergunta não tem resposta ainda, mas já sabemos que não serão como hoje.
Esse livro impresso que estou lendo, certamente será substituído por um e-
book e, num futuro mais distante ainda, não se sabe, apenas sabemos que não
será como hoje. Essa é a ideia da historicidade na prática.
A História permite que nós possamos conhecer a nós mesmos, a partir da
sociedade em que vivemos e convivemos. Somos, essencialmente, seres
sociais, e o conhecimento “de onde viemos, onde estamos e para onde vamos”
nos ajuda a definir nossa própria identidade, em nossa época.
Outro ponto a ser destacado, e que falei anteriormente, é a visão crítica,
contestadora. Muitas vezes, somos levados a ver alguns fatos históricos como
heroicos e bonitos. Entretanto, somos enganados pela indústria
cinematográfica ou mesmo por líderes políticos. Vejamos como exemplo as
novelas, principalmente aquelas chamadas “de época”. Qual é a verdadeira
história em relação àquele recorte cronológico? Além disso, num exemplo bem
atual, há uma novela que é em parte ambientada na Turquia. Será que há
apenas aspectos bonitos nesse local? Assim como onde nós moramos, todos
os lugares têm problemas, e mostrar cenários ruins não é o que o público
deseja ver. Daí, a necessidade de questionamento se aquilo que estamos
vendo é verdadeiro em sua totalidade.
Muitas vezes, os chamados “heróis de guerra”, que hoje em dia são
homenageados, certamente mataram muitas pessoas, e isso pode não ser
considerado como ato heroico, afinal, numa guerra não há vencedores ou
perdedores, há vítimas e aqueles que venceram por dominarem à força o outro.
O ponto de vista histórico é diferente em determinado grupo ou ser
humano. Isso, porque, cada um tem uma ideia diferente do que seja progresso
e, mais ainda, nem sempre o que é considerado como tal realmente o é. Por
exemplo, algumas tecnologias foram consideradas como avanços, como as
embalagens plásticas que vieram para facilitar nossa vida. E assim foi, durante
muito tempo. Entretanto, hoje, percebe-se que foi uma agressão à natureza,
um retrocesso, e muitas sociedades lutam para voltar atrás e tentar salvar a
vida do planeta. Esse exemplo nos mostra como a História é dinâmica e não
linear, pois ela muda constantemente. Não existe verdade definida e única,
quando se trata de História. A ideia de sua permanente construção faz com que
nenhuma verdade seja absoluta e que fatos podem ter diferentes percepções.
O que ocorre é que os fatos são como são, estes não mudam. O que vai mudar
é a visão de quem os contam e como contam. Por exemplo, no caso do
atentado às torres gêmeas, o mundo se comoveu com o que aconteceu,
ressaltando a visão americanizada do fato. Porém, poucos tiveram a coragem
de mostrar a represália e retaliação que os povos muçulmanos passaram a
sofrer desde então e quantos inocentes foram julgados e discriminados por
algo que não lhes diz respeito.
Outro ponto destacado pelo autor e que considerei fundamental explicitar
são as fontes históricas. Num primeiro momento, é fundamental refletirmos
sobre as mesmas, principalmente porque a História não se faz, apenas, das
fontes. Se considerarmos que a escrita veio marcar a humanidade e que, por
muitos é considerada como o período inicial da História, o que dizer do que
veio antes? O que “veio antes” é chamado de período pré-histórico, o que nos
leva a refletir se, neste, não havia História, ou seja, acontecimentos sociais
relevantes, ou que contassem como era a vida de cada um e de cada
sociedade.
Neste sentido, o autor diz que a fonte escrita (como documentos) ainda é
a principal fonte de pesquisa de historiadores, mas não é a única. Imagens,
objetos e a oralidade (fatos passados de geração a geração e não registrados)
também são fontes históricas. Quantos elementos folclóricos estão presentes
sem sabermos, ao certo, sua origem?
A fonte escrita também é alvo de controvérsias, porque não sabemos se
os pesquisadores têm, de fato, acesso a tudo que diz respeito a determinado
momento histórico. Será que o clero do Vaticano dá livre acesso a todo
material que lá está disponível? Será que nosso próprio governo brasileiro
revelou tudo sobre os anos de ditadura militar? Será que alguns
desaparecimentos realmente não têm vestígios? Essas são perguntas que nos
fazem pensar que, as fontes são importantes, mas nem sempre oferecem toda
a informação sobre o que se está pesquisando.
O autor levanta uma questão essencial: o tempo. Ele aponta a existência
de dois tempos: o tempo histórico e o tempo cronológico, ou seja, o tempo da
natureza. Ele fala que ambos são relativos e, por essa razão, podem ser
considerados subjetivos, de acordo com o historiador que vai contar
determinado fato, pois ele vai delinear o tempo de acordo com sua própria
percepção de tempo.
O tempo definido nos fatos históricos nos ajuda a compreender como eles
ocorreram, porém, não se pode esquecer que sua relatividade está presente no
fato de que quem contou o fez de sua maneira, ou seja, está presente o
aspecto subjetivo. O mesmo fato, investigado e contado por outros, certamente
teria um tempo diferente.
Outro aspecto bem interessante é a memória. Assim como falamos de
identidade, é fundamental ressaltar a memória. Porém, a memória dos
acontecimentos históricos pode ser manipulada pelos mais poderosos e
influentes. Criam-se heróis que, se investigarmos a fundo, não foram. É o caso,
por exemplo, da nossa independência. Até que ponto, D. Pedro I foi, realmente
herói? Se foi, por que houve a necessidade de mudança para um país
republicano? Essa é apenas uma reflexão para ilustrar como a História pode
ser manipulada por aqueles que tinham ou têm o poder.
Por essa razão, é importante questionarmos, observarmos
minuciosamente os fatos antes de formar uma opinião sobre os mesmos.
Assim, nem sempre os livros didáticos contam, realmente, o que aconteceu,
pois estes são escritos e diagramados de acordo com os interesses do governo
vigente, ou ainda, servem a interesses que nós mesmos desconhecemos.
Entretanto, a História não serve apenas aos interesses dos poderosos:
muitas figuras se tornaram heróis justamente pela sua posição contrária aos
fatos. Por exemplo, pessoas comuns se opuseram a regime militar no Brasil, na
década de 60, e de anônimos passaram a heróis que lutaram para mudanças
que afetaram a todos, construindo uma História que não estava a serviço do
poder.
Além disso, o conhecimento histórico permite-nos identificar situações
que aparecem como novas, mas que se traduzem em antigas formas de
pensamento num formato novo. A política, neste sentido, é um exemplo
bastante pertinente. Longe de defender qualquer partido, vejo que antigos
políticos dizem trazer “novas propostas” que de novas não têm absolutamente
nada. Porém, eles tentam manipular as pessoas, fazendo-as acreditar em algo
dado como novo, mas que não é realmente.
Por fim, o autor aborda os conceitos de identidade e memória. No caso da
identidade, trata-se de um estudo das características de determinados grupos
ao longo do tempo, e o fortalecimento das identidades locais, regionais e de
grandes grupos (países, por exemplo) não significa que deva haver
individualismo. O autor fala que, para conhecermos a nós mesmos, nossas
características e, portanto, nossa identidade, é fundamental o contato com
outras culturas. É através do outro que conhecemos a nós mesmos. Fortalecer
a nossa identidade é, portanto, um processo amplo, que está pautado no
convívio, respeito e conhecimento do outro.
Há sociedades cujas identidades têm como forma de preservação o
registro escrito ou outras formas de registros considerados válidos pelos
historiadores. Entretanto, encontramos sociedades que cultivam suas
identidades através da memória, ou seja, da oralidade, contando-se fatos que
passaram de geração e a geração, mitos que não se sabe se realmente
aconteceram, mas que continuam vivos na memória de determinadas
civilizações.
O autor defende que o conhecimento dessas memórias fortalece que
somos e enriquece nossa forma de enxergar o mundo, respeitando a
diversidade de identidades existentes.
Esse conhecimento e identificação de outras identidades, é que o autor
chama de alteridade, isto é, o fato de conhecermos o que é diferente, sem
julgá-lo como superior ou inferior àquilo que somos.
Para que haja alteridade, é fundamental que haja a valorização do
multiculturalismo. Infelizmente, ainda há nações que se julgam superiores às
outras, que consideram sua cultura e seus costumes como melhores do que os
demais. A isso, o autor dá o nome de etnocentrismo, uma visão empobrecida,
que tende a ser cada vez mais superada, na medida em que os seres humanos
evoluem a aprendem a cultivar os valores de respeito ao outro, de
fortalecimento e valorização do multiculturalismo.
A HISTÓRIA REPENSADA
Ao fazer a leitura do primeiro capítulo deste livro, o primeiro aspecto que
me chamou a atenção foi o fato de que o autor diferencia o passado e a
História como elementos completamente distintos, e que, por isso, não são
analisados conjuntamente. Isso ocorre pelo fato de que, de acordo com o autor,
a História se faz através do discurso, isso significa que esse é diferente de
acordo com o olhar de quem o faz. Certamente, um historiador narra os fatos
de maneira diferente de outro. Isso é chamado de História. Já o passado,
ocorreu de qualquer forma, independente de qualquer discurso. O que faz com
que os historiadores e pesquisadores saibam sobre o passado são os
instrumentos e fontes utilizados para isso, e é nesse ponto que o autor
considera o discurso como algo subjetivo.
O autor propõe que se faça uma distinção entre História e historiografia. A
História (que ele ressalta ser com “H” maiúsculo) refere-se ao todo, ao
passado. Já a historiografia, corresponde à ação dos historiadores, isto é, seus
escritos, seus estudos e formas de interpretação de determinado fato ocorrido
no passado.
O fato de que a historiografia pressupõe infinitos discursos é, para
Jenkins, um problema visto sob quatro aspectos essenciais. O primeiro deles
diz respeito ao fato da impossibilidade do historiador, estando no presente,
recuperar a totalidade dos fatos ocorridos no passado.
O segundo é o fato de que, não tendo acesso ao passado, o que o
historiador terá como fontes são relatos, redigidos de acordo com o olhar de
quem viu e que, portanto, podem variar muito. A aproximação da verdade
ocorre com o confronto de relatos, o que não garante a totalidade dos
acontecimentos relatados.
O terceiro aspecto diz respeito à existência do passado que, de acordo
com Jenkins, só ocorre em função dos relatos historiográficos, pois não temos
(e nunca teremos) acesso ao passado.
Por fim, ele ressalta a importância da historiografia em forma de relatos,
mas critica a posição e a busca de muitos historiadores por relatos objetivos e
totalmente fiéis ao passado, algo que ele considera inalcançável, pois os
relatos podem se confrontar em certo aspecto, dificultando a existência de sua
uniformidade.
Ele, portanto, considera os variados discursos como positivos, e, mais
ainda, que permite às pessoas do presente saberem mais sobre o passado do
que as pessoas que o viveram, dado o esforço de muitos para estudarem-no e
compreenderem-no. A existência de muitos pontos de vista, de acordo com o
autor, enriquece a prática dos historiadores e de seus relatos.
Diante dos aspectos abordados, a pergunta inicial do capítulo “O que é
História?” muda de foco, passando a ser “Para quem é a História?”. Isso
significa que a História estará a serviço de alguns grupos, auxiliando-os a
compreenderem sua origem e sua trajetória, a partir dos relatos
historiográficos.
Para concluir, na minha opinião, após a leitura das duas obras, acredito
que a História é vista de opiniões diferentes, e é isso que a enriquece, pois
podemos questionar, duvidar, opinar e, dessa forma, interagir com o
conhecimento histórico, compreendendo nossas origens e fortalecendo nossas
identidades.
BIBLIOGRAFIA
BOSCHI, Caio César. Por que estudar História? São Paulo, Ática: 2007.
JENKINS, Keith. A História Repensada. São Paulo, Contexto: 2011.