resumo questões preliminares sobre as ciências sociais
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1- A ciência como produto e como sistema
A ambiguidade do termo "ciência" é definida de duas maneiras por Jean-Jacques
Salomon. Numa concepção vulgar, ciência é "(...)um corpo de conhecimentos e de
resultados que, por se basearem nos métodos da experimentação e verificação, se
encontram submetidos a um reconhecimento universal(...)". Noutro sentido, "(...)a
ciência é a actividade a que se dedicam os investigadores (...) no quadro dos
conhecimentos, métodos, procedimentos, e técnicas sancionadas pela experimentação
e verificação(...)";
Podemos definir ciência como um produto de uma determinada actividade humana
("um corpo de conhecimentos e de resultados") ou como um sistema de produção
desse produto, ou seja, as condições em que é exercida a actividade dos
investigadores. Estes dois termos inter-relacionam-se entre si;
A validade do sistema de produção depende dos investigadores e das organizações
em que é exercida a actividade de investigador;
Comparadas com as ciências Exactas e Naturais, as ciências nomotéticas encontram-
se num estado mais subdesenvolvido;
A utilidade das ciências sociais como forma de propaganda política, isto é, como meio
de acção, originou um aproveitamento por parte dos órgãos de decisão desses
instrumentos de conhecimento, tais como a Etnologia social, a Antropologia Cultural, ou
a Psicologia Social, como forma de divulgar e publicitar determinados conceitos, ou
seja, de formar e manipular as opiniões;
O ponto principal a reter é que as características do produto científico, ou seja, do
"...corpo de conhecimentos e de resultados..." obtidos está dependente da sua relação
com o sistema social de produção de conhecimentos que o produz: objectivos da
análise, o objecto da investigação, as variáveis seleccionadas e os métodos e técnicas
utilizadas;
2- Cada ciência social produz o seu próprio objecto específico
Pierre Bordieu diz-nos que fazer ciência "...não implica somente interrogarmo-nos a
respeito da eficácia e do rigor formal das teorias e dos métodos disponíveis: obriga a
que interroguemos os métodos e as teorias efectivamente utilizadas, a fim de
determinar o que eles fazem aos objectos e os objectos que eles fazem...";
Os objectos que nos rodeiam na vida quotidiana só existem para nós na forma de
imagens construídas que nos possibilitam identificá-las e reconhecê-las. De facto, os
objectos reais (um mesa, uma cadeira) são dotados de uma realidade e materialidade
própria que, na nossa mente, nos surgem através de formas ou de imagens que
constituem um código de leitura do real através do qual atribuímos um significado a
esses objectos;
A nossa mente interpreta, elabora e configura, através de um código de leitura, os
objectos reconhecíveis, significantes, e as mensagens captadas pelos nossos sentidos
acerca da realidade. Este código de leitura, - o senso comum - apesar de nos ser útil
na existência quotidiana, é questionável quanto à sua adequação à estrutura e
dinâmica do real.
A ciência representa um código de leitura diferente do senso comum. Com efeito, a
ciência e o senso comum, apesar de terem muitas vezes em comum um determinado
objecto real, pressupõem dois códigos de leitura diversos já que consistem em objectos
intelectuais distintos;
A ciência implica uma ruptura com as evidências do senso comum e com esse código
de leitura do real. A ciência apoia-se num "universo conceptual" diferente que
pressupõe um série de novos conceitos e de relações entre eles. Manuel Castells
refere que a ciência se define pela delimitação de um objecto teórico próprio, derivado
de uma lacuna e necessidade social deste conhecimento, e pelo conjunto conceptual
definido na abordagem de uma multiplicidade de objectos reais;
A ciência deve procurar analisar e interpretar o real, no plano abstracto-formal, com o
máximo de objectividade possível, isto é, com o máximo de conformidade entre o real
concreto e o conhecimento desse real.
A delimitação do objecto científico de investigação das ciências sociais faz-se,
progressivamente, através de uma interrogação sistemática dos aspectos da realidade
social que resultam de problemáticas elaboradas e que, vão definindo o seu próprio
objecto;
3- Nas ciências sociais nomotéticas todo o conhecimento é abstracção e
construção
As ciências sociais nomotéticas distinguem-se, não pela realidade (que é só uma), mas
pelos moldes teóricos em que são formuladas, isto é, nas problemáticas teóricas que
elaboram, pelas interrogações que colocadas à realidade, pelos objectos científicos
que constróem e pelos seus códigos de leitura específicos;
Uma ciência social apresenta-nos uma visão parcial e incompleta da realidade já que
ela aflora apenas determinados aspectos, relações e determinações do real social;
Segundo Lucien Goldmann, as construções teóricas de qualquer disciplina das ciências
sociais é sempre uma "...abstracção provisória..." já que foca um determinado aspecto
da realidade.
Por outro lado, sendo essencialmente uma abstracção, a investigação social é
necessariamente uma construção uma vez que se baseia em dados concretos e
critérios específicos, metodicamente ordenados e classificados.
A investigação social estrutura-se através de critérios e processos individuais ou
institucionais que determinam a problemática da investigação. A recolha, tratamento e
apresentação dos dados devem ser delimitados de acordo com esses critérios e
processos, rejeitando-se assim a ideia de que a informação empírica transparece a
realidade directamente. Todo o conhecimento é abstracção e construção.
Fonte: http://pt.shvoong.com/social-sciences/sociology/1829888-quest%C3%B5es-
preliminares-sobre-ci%C3%AAncias-sociais/#ixzz351IP2NAz