revista ano 21 numero 6

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  • 8/15/2019 Revista Ano 21 Numero 6

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    PENTAGRAMA

    L E C T O R I U M R O S I C R U C I A N U M

    D e z e m b r o 1 9 9 9 - a n o v i n t e e u m n º 6  

    R e v i s t a b i m e s t r a l d o  

    A CRIANÇA, UMACRIANÇA, MEU FILHO

    CADA CRIANÇA ÉSEU PRÓPRIO E ÚNICO

    MISTÉRIO

    O DESENVOLVIMENTODA CRIANÇA

    A PROTEÇÃO

    DO CORAÇÃO

    A CANÇÃO DAALMA DO MUNDO

    OS JOVENS EM UMMOMENTO DE GRANDES

    TRANSFORMAÇÕES

    SERÁ QUE UM DIA ELEVAI ENCONTRAR A LUZ?

    AS ESCOLAS JAN VANRIJCKENBORGH

    A CRIANÇA E A PÉROLA

    A CONVENÇÃO

    INTERNACIONAL DOSDIREITOS DA CRIANÇA

    O QUEOS ROSA-CRUZESENTENDEM POR...

  • 8/15/2019 Revista Ano 21 Numero 6

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    ÍNDICE

    2 A CRIANÇA, UMA CRIANÇA,MEU FILHO

    7 CADA CRIANÇA É SEUPRÓPRIO E ÚNICO MISTÉRIO

    12 O DESENVOLVIMENTO DE UMANOVA PERSONALIDADE

    19 A PROTEÇÃO DO CORAÇÃO

    25 A CANÇÃO DA ALMADO MUNDO

    30 OS JOVENS EM UMMOMENTO DE GRANDES

    TRANSFORMAÇÕES

    34 AS ESCOLAS JAN VANRIJCKENBORGH

    38 SERÁ QUE UM DIA ELE VAIENCONTRAR A LUZ?

    41 A CONVENÇÃOINTERNACIONAL DOSDIREITOS DA CRIANÇA

    43 O QUE OS ROSA-CRUZESENTENDEM POR...

    44 A CRIANÇA E A PÉROLA

    1999ANO VINTE E UM N ÚMERO 6 

    A revista Pentagrama propõe-se a atrair

    a atenção de seus leitores para a nova era

    que já se iniciou para o desenvolvimento da 

    humanidade.

    O Pentagrama tem sido, através dos tempos,o símbolo do homem renascido, do novo 

    homem. Ele também é o símbolo do universo

    e de seu eterno devir, por meio do qual o plano 

    de Deus se manifesta.

    Entretanto, um símbolo somente tem valor 

    quando se torna realidade. O homem que

    realiza o Pentagrama em seu microcosmo,

    em seu próprio pequeno mundo, consegue

    permanecer no caminho da transfiguração.

    A revista Pentagrama convida o leitor a operar 

    esta revolução espiritual em seu próprio interior.

     © Stichting Rozekruis Pers. Reprodução proibida sem autorização prévia.

    PENTAGRAMA

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    As crianças sempre são “uma pro- 

    messa que se renova”, pois elas têm 

    uma chance de realizar todos os 

    sonhos e todas as possibilidades. O 

    mistério da criança é muito mais 

    profundo do que pode supor a 

    Psicologia. Neste número da revista Pentagrama vamos tentar mostrar o 

    que a infância tem de especial, pois 

    a criança, cada criança, é um ser 

    totalmente diferente do adulto, em- 

    bora o adulto tenha começado sua 

    vida como criança.

    Ouniverso, nosso universo, não passa

    de uma parte de um universo maior. Onúmero de sistemas estelares é incalcu-lável e infinito, em um espaço que nãopassa de uma pequena parte de umcorpo incomensurável. Sóis, luas, plane-tas, estrelas, todos formando um con- junto coerente, coexistem em conformi-dade absoluta com as leis do universo.

    Neste sistema, o planeta Terra nãopassa de um grão de areia que carre-

    ga milhões de vidas diferentes. O uni-verso contém todos os princípios vitaise sempre encontramos o que é grandenaquilo que é pequeno, mesmo emnosso minúsculo grão de areia que é aterra. As medidas e as dimensões,grandes ou pequenas, distantes oupróximas, são determinadas pelo sen-tido do observador, pelos pontos deobservação e pelas experiências que

    daí resultam.Até o século XIX, nosso globo aindaera uma região desconhecida e indizi-velmente grande. As explorações eramaventuras perigosas, com descobertas

    revolucionárias. Mas, em geral, o únicomundo conhecido era o lugar ondemorávamos. Para as mulheres, a famíliageralmente representava a única regi-ão em que elas exerciam sua autorida-de. Os laços familiares encerravam atodos. Princípios tirânicos e opressores

    constituíam, geralmente, a argamassaque consolidava a estrutura habitual davida familiar. Eles garantiam a seguran-ça e ofereciam certas chances na vidaem sociedade.

    A HUMANIDADE VISTA COMO UMSÓ CORPO

    Hoje, este mesmo mundo tornou-sebem menor. A eletrônica, o rádio, a tele-visão e a rapidez dos transportes fize-ram com que os habitantes da terratomassem consciência do grande mun-do que os envolve. Todos os dias, reve-lam-se condições de vida desconheci-das, particulares a culturas e a paísesestrangeiros. Os diferentes climas, com-portamentos e religiões criaram por

    toda parte normas distintas. Os huma-nos não estão exclusivamente restritosa um pequeno grupo: agora, eles vêemque a humanidade forma um todo, “umsó corpo”.

    Há dois tipos de seres humanos:homens e mulheres. De acordo com aBíblia, assim como o Alcorão, primeirovieram os homens e depois, as mulhe-res. Mas alguns textos orientais dizem

    que a “Mãe” surgiu antes. Na narrativagnóstica da Gênese, Deus criou um ser“homem e mulher, a sua semelhança”.A consciência humana não consegueconceber esta semelhança com Deus,

    A CRIANÇA, UMA CRIANÇA, MEU FILHO

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    pois o Ser cósmico universal, o Pai-Mãede todas as coisas, escapa ao podersensorial dos seres humanos. Sua gran-deza ultrapassa infinitamente a peque-nez humana.

    Entretanto, esta “grandeza” está es-condida na “pequenez”, porque o princí-pio vital está justamente na “semelhan-ça” do princípio criador original. A pala-vra semelhança deveria ter, certamente,

    mais significação na narrativa original.Aquilo que “é semelhante a Deus” é oveículo do homem original. Era umcorpo criador e realizador, dotado deforças inimagináveis. À criatura humanaoriginal estava ligado um princípio vitalirradiante que vivia em perfeita uniãocom ela.

    O CAMINHO DAS EXPERIÊNCIAS

    A segunda narrativa da criação naBíblia é o mito do paraíso, que dá uma

    imagem completamente diferente, umaimagem de um outro tempo e de umoutro lugar.Não se trata mais do homemcriador, feito à imagem de Deus.Também já não se trata de uma unida-de, mas de uma dualidade, de umhomem que quer aprender e tem deaprender, e que tem diante de si muitasexperiências a vivenciar. A históriaexaustiva do homem do Antigo Tes-

    tamento já não é a primeira imagem, bri-lhante, da criação. Portanto, o ser cós-mico original nada tem a ver com esteshomens e todas estas mulheres cujossofrimentos, lutas e expiações consti-tuem a história da humanidade. O podercriador destes homens e mulheres nãoconfere a eles nenhuma semelhançacom Deus. O homem cria unicamentehomens. E aí está um novo mistério: o

    homem, separado de Deus e mergulha-do na dualidade, gera filhos, em umfenômeno maravilhoso que o faz partici-par da epopéia da criação. A criançaparece ter sido seu bem mais precioso.

    A contemplação do mundo, cujacoesão é imutável, fará com que o 

    pensador sensato conclua que existe uma ligação eterna e inexorável com a divindade que mantém todo oconjunto. No entanto, o que se vê é que o inexorável e o mutável também estão no mundo material, da mesma forma que o imutável está no mutá- vel. O homem pode reconhecê-lo.Mas, para tanto, é preciso que ele possua algo que lhe permita perceber 

    isto. Este algo é a luz interior ou Alma-Espírito, do mesmo modo quea luz exterior é o algo que tornatudo visível.A Alma-Espírito, enquanto luz, é des- conhecida pelo homem que ainda não nasceu de Deus, ou seja, que olha as coisas com seu próprio espí- rito da natureza, e não com o

    Espírito Santo.Se ele começar a ver Deus em seu 

    espírito, então ele verá que Deus está fora do espaço, do tempo, dos luga- res e do movimento; e que, entretan- to, há algo em Deus que está em movimento e que organiza este espa- ço, este tempo, estes lugares e ouniverso. Este “algo” é a palavra[o verbo], a sabedoria e a glória de Deus. E esta palavra [verbo] não é somente uma idéia, mas algo de físi- 

    co, que faz com que o divino e o humano, assim como o supra-senso- rial e o sensorial, o espiritual e o cor- poral exerçam uma influência sobre a receptividade humana ao divino; sobre o poder do homem exterior de se elevar até o supra-sensorial; sobre o poder de sublimação do que é material em espiritual.” 

    TEXTO EXTRAÍDO DO LIVRO “AS FORÇAS MÁGICAS DANATUREZA”, DE KARL VON ECKARTSHAUSEN

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    Abraão deve sacrificar seu filho comoprova de extrema fidelidade a seu Deus.E Raquel chora amargamente por nãoter tido um filho. Relacionamos com acriança a expectativa do perdão e doretorno ao paraíso, um futuro de abun-dância e dignidade. Envelhecemos,

    morremos, mas a criança representa acontinuação da vida. Raquel quer umfilho: não o filho de uma escrava, masum filho “seu”.

    LEMBRANÇA DE UMA LONGA VIAGEM

    Apesar de desconhecermos atual-mente a vida pré-natal, há muitas crian-cinhas que dizem que “vieram de muitolonge”. Elas têm a lembrança de “umaviagem muito longa”. Estas lembrançastípicas fazem parte do mundo meio-real,meio-fantástico da criança pequena. Énotável como crianças de três ou quatroanos sempre estão falando a respeitodestes “fantasmas”. Parece até que obebê, em seu berço, está se comuni-cando diretamente com seus pais, ape-

    sar de nem sempre se fazer entender.Qualquer um que observe as crian-

    ças de hoje tem muitas vezes a impres-são de que os pensamentos e a imagi-nação destes seres jovens ainda têmalgo de belo, de novo, de precioso, deoriginal, e ao mesmo tempo tambémtêm a impressão de que deles emanauma maturidade e uma sabedoria depessoas já velhas. De fato, todas as

    crianças, e até mesmo os recém-nasci-dos, mostram de tempos em temposeste aspecto duplo. Neles, a marca dopassado primordial, o mistério da cente-lha criadora, está visível como acontece

    depois de uma grande “faxina”; e, aomesmo tempo, eles continuam com orastro das experiências acumuladasdesde um tempo imemorial.

    NOVO TESTEMUNHO DA PROMESSA

    A centelha original e o princípiomicrocósmico começam juntos umanova série de experiências. O plano desalvação (que é a possibilidade do res-tabelecimento do ser original) está liga-do à alma humana sob a forma de livrearbítrio desta última. A cada nascimentode uma personalidade, a alma é vivifica-da pelo sistema microcósmico e pelacentelha de luz original, o que faz nas-cer possibilidades inteiramente inéditas,pois a criança é a nova manifestação, onovo testemunho da promessa.

    Mas a personalidade (que é o tercei-ro elemento deste conjunto) logo mostranesta criança suas características dis-tintivas. É inegável que uma criança chi-nesa, africana ou indiana traz a vesteque o microcosmo recebeu no momen-

    to em que se ligou ao corpo. Os traçosparticulares herdados do sangue e dafamília podem ser reconhecidos. Todasestas correntes que provêm de váriasfontes reúnem-se e influenciam a vidada criança. Assim o esquema de cadavida humana é único no mundo e jamaisexistiu no passado. O ser humano é umser único entre milhares e milhares deseres únicos.

    Para que a vida se cumpra, é precisoque existam todos estes fatores grava-dos na matriz da criança pequena, parasua felicidade ou infelicidade. Qualquerque seja o caso, a maravilhosa criatura

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    original, “semelhante a Deus” está ocul-ta em cada destino.

    OS DIREITOS DA CRIANÇA

    Se mergulharmos seriamente emtudo isto, chegaremos invariavelmente auma conclusão: a criança é preciosa.Muitos já destacaram isto. Até foramestabelecidos critérios internacionais,sob o nome de Direitos da Criança . Umdeles é o “direito à dignidade”: a mani-festação de sua própria personalidade.

    O começo do século XX foi marcadopor fatos espirituais e grandes esperan-ças que diziam respeito à vida social,uma nova arquitetura, uma literatura ins-pirada, projetos educacionais e sobretu-do, contatos espirituais internacionais. AEuropa estava vendo a chegada daIdade de Ouro. A experiência mostrouque se tratava de um movimento ascen-dente de rotação sem fim da vida da

    humanidade.Nestes anos cheios de otimismo doinício do século, entretanto, o poetaRabindranath Tagore (1846-1941) es-crevia que a educação ocidental dada

    nas escolas indianas era totalmentefalha quanto ao amor verdadeiro. “Aeducação indiana está sob a influência do Ocidente, onde este amor desapare- ceu. A educação ocidental está voltada 

    para os interesses e vantagens mate- riais, enquanto o aspecto espiritual está totalmente negligenciado. Deveriam ser instituídas escolas nacionais que res- pondessem às condições nacionais,sem livros e ensino escolar, mas feitas para a alma, que aspira à verdade. Esta instrução não deve somente comunicar conhecimentos: ela deve também vivifi- car a alma.” 

    ESFORÇOS DESENVOLVIDOS PARA QUE AALMA CONTINUE DESPERTA

    Tagore começou instituindo as “Esco-las das Florestas”, que seguiam o mo-delo das antigas escolas de sabedoriaindianas perdidas no silêncio e na pro-

    fundidade da floresta. Em 1914, pertode Calcutá, a escola já reunia muitascentenas de jovens. O poeta indonesia-no Noto Sïroto seguiu esta experiênciaconvincente esforçando-se para manter

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    desperta a alma da criança e não deixarque ela perecesse por falta de alimento.

    Na Europa, estes mesmos impulsosde renovação e de aperfeiçoamentofizeram-se sentir: renovação da instru-ção, atenção dada ao indivíduo, à natu-reza, à psicologia da criança. Esta já

    não era considerada como um “pequenoadulto”, mas como um ser em simesma, um ser de um tipo especial. Emconseqüência das novas idéias, houvereações exageradas, que resultaram emuma sub-cultura de um terceiro tipo.

    Este número temático de Pentagra- ma certamente não quer adicionar nadaa todos estes ideais de ontem e dehoje segundo os quais os pais são res-ponsáveis por seu filho, esta criançaque, uma vez adulta, vai determinar aimagem da sociedade.

    Uma alma indiana e uma alma chine-sa são diferentes pela herança milenarde suas raças e de suas culturas. Mas oque pode manifestar-se em uma criança –– um jovem ser primordial perfeitamen-te puro e belo –– não depende de temponem de lugar. Este ser requer somenteo benefício das condições necessárias

    para poder expressar-se aqui e agora.Quem reconhece e compreende esta

    necessidade de expressão, toma sobresi uma nova responsabilidade diante detodas as crianças da terra.

    Neste número, trataremos da questãoda origem e da finalidade de todos osseres humanos. Cada uma das novasvidas humanas que surgem tem a pos-sibilidade de receber e de seguir os

    impulsos do princípio divino do coração;então, o homem divino pode ressuscitarno homem biológico, vivificado peloEspírito divino. Em seu livro A Gnosis Chinesa Jan van Rijckenborgh diz:

    “O filho de Deus possuiu um vaso cheio, a rosa de sete pétalas, o cálice em forma de lírio de sete pétalas, o cáli- ce do Graal, do coração.O filho de Deus é, portanto, um filho de Deus porque possuiu este santo cálice. Ele represen- ta o Reino de Deus em nós. O átomo 

    original esconde um universo. O univer- so inteiro está aí contido. [...] Viemos de um microcosmo que encerra o ser divi- no. Não devemos dizer ´eu sou um filho de Deus´ destacando o ´eu´. Estamos somente próximos dele. O filho de Deus está conosco no mesmo microcosmo. O ´Outro´ existia muito antes de nós. Ele está conosco e existirá depois de nós.” 

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    No universo infinito do qual não conhe- 

    cemos nem o começo nem o fim, nem a 

    extensão, nem a profundidade, vivem 

    por volta de seis bilhões de seres huma- 

    nos. Sua origem também é desconheci- 

    da. A maioria deles nem conhece o obje- 

    tivo de sua viagem. Cada um brilha por 

    um curto instante, como luzinhas na noi- 

    te. Alguns se apagam ao final de alguns 

    anos; outros, duram quase um século.

    Todos acabam desaparecendo no des- 

    conhecido. E às vezes, durante um curto 

    instante, eles se perguntam: “Quem 

    sou? Sou realmente alguém? Como 

    cheguei a viver? 

    Eles olham para o alto, para todasestas estrelas e pensam: “Será que venho de lá?” Eles observam a água emperpétuo movimento e se dizem: “Será que minha origem vem daí?”  Eles sevêem a si mesmos e imaginam: “Penso,sinto, quero, faço, mas... por que vivo? Será que há alguém me esperando?” 

    No final do século XIX, foi encontrada

    em uma floresta, na França, uma moci-nha que jamais havia tido contato com acivilização. Ela não falava: era incapazde falar. De tempos em tempos, ela emi-tia ruídos semelhantes a gritos de ani-mal. Ela andava com os pés e as mãos,muito depressa. As pessoas que a reco-lheram e a mostravam na feira tinhamdificuldade em vesti-la. Ela jamaisaprendeu a andar de pé ou falar. Mas

    não foi o único caso. Rudyard Kipling,em seu Livro da Selva  fala de Mogli, omenino lobo, o caso mais conhecido.Ainda houve Rômulo e Remo, os funda-dores de Roma, que foram amamenta-

    dos por uma loba. E Kaspar Hauser.No final do século XX não é fácil ser

     jovem. Se você tem 14, 15 ou 16 anos,tem de ser capaz de fazer muitas coi-sas. Tem de ser jovem e bonito. Tem desaber o que está na moda ou não. Temde falar depressa, abreviando tudo, a

    partir de olhares e gestos rápidos.Inventar palavras e expressões novasque parecem vir de um outro universo.Tem de saber andar de skate ou patins,ou não.Tem de achar que a agressivida-de é normal, ou o contrário. Tem desaber dançar super bem, mas jamaisfazer isto. Tudo isto você aprende naescola, mas não durante as aulas. Aescola é “qualquer coisa”, ela é “chata”,tipo: os “profs” são “zero à esquerda”.Você “não está nem aí” para o conselhodos “velhos”.

    QUEM REALMENTE COMPREENDE ASCRIANÇAS?

    Isto não é novidade. Os educadoresreclamam dos jovens há séculos! Quem

    realmente compreende as crianças?Quem compreende uma que seja, umpouquinho só, quem ousa compreendê-la, está se preparando para ver de pertoseus próprios problemas: enigmas!

    Entre 1920 e 1940, um médico tinhafundado em Varsóvia um orfanato quevivia graças a donativos. Como o anti--semitismo já existia na Polônia naquelaépoca, muitas crianças judias foram

    admitidas neste orfanato. O doutor Ja-nusz Korzack era uma personalidadeúnica. Quase todo o trabalho do orfana-to era assegurado pelas crianças quetomavam conta umas das outras e pre-

    CADA CRIANÇA É SEU PRÓPRIO E ÚNICO MISTÉRIO

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    paravam as refeições. Elas tinham seupróprio tribunal, a mais alta instância nointerior do orfanato. As crianças se reve-zavam no cargo de juízes, queixosos ouadvogados. As sentenças eram respei-tadas por todos.

    Tanto no país como no estrangeiro

    vinham comissões para estudar estainstituição e havia observadores quesaíam muito impressionados. As crian-ças tinham um grande respeito pelo“doutor”, como elas o chamavam. Amaior parte do tempo ele estava viajan-do para buscar alimento, couro para cal-çados, combustível para a cozinha epara o aquecedor, e também para acharcolocação para “suas crianças” comartesãos, camponeses ou comercian-tes. Ele não se metia no andamento docotidiano do orfanato. As criançastinhas suas próprias leis. Elas eramduras mas sinceras, naturais e adapta-das à rude existência na terra. Elas seeducavam umas às outras em tudo oque dizia respeito a seu relacionamen-to, geralmente muito melhor e de formabem mais eficaz do que um adulto ofaria, apesar de não terem aprendido,

    talvez, boas maneiras. De onde vinhaeste respeito pelo doutor Korzack? Arazão era simples: ele reconhecia ovalor delas! Ele ousava admitir que ascrianças têm o seu próprio mundo. Eleas respeitava e elas o respeitavam.

    “VAMOS ACORDAR PARA NOVOSTEMPOS”

    Quando o gueto de Varsóvia foi fe-chado e tudo terminou em um banho desangue para esta população que resis-

    UM TEMPO BOM PARA TODOSOS “FLORESCERES”

    Depois do terceiro mês, o númerode células cerebrais quase já não aumenta. As ramificações não cres- cem muito mais. Somente as células do centro da palavra ainda vão se desenvolvendo durante alguns anos.Experiências com gatos e ratos mos- traram que as influências exteriores estimulam as células cerebrais,desenvolvem suas ramificações de modo diferente e permitem fazer a escolha de um certo número dentre as milhares que existem para estabe- 

    lecer contatos precisos. Os gatinhos a quem são dirigidos a cada dois segundos certos impulsos luminosos,sem nenhuma apresentação de ima- gens em movimento, não são capa- zes, logo em seguida, de perceber qualquer movimento. Observou-se que, nas primeiras semanas depois do nascimento, cada célula nervosa do centro cerebral da visão dos ratos 

    tinha cerca de catorze contatos com outras células nervosas. Quando abri- ram os olhos, este número chegou até oito mil contatos por células em duas semanas. Se os ratos fossem mantidos cegos, o número de conta- tos não aumentava. Se seus olhos fossem abertos um mês mais tarde,o atraso da visão não seria recupera- do: e eles ficariam cegos por todaa vida.Dados extraídos de Denken, vegessen,Frederic Vester, Deutsche VerlagsAnstald GmH, Stuttgart, 1975.

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    tia, os sobreviventes, assim como ascrianças do orfanato, foram conduzidospara um campo de concentração.Korzak, o célebre médico e psicólogo

    infantil, estava livre, mas preferiu ficarao lado de seus pupilos que confiavamnele. Depois de vestirem suas roupasmais bonitas, tendo o doutor à frente,eles fizeram filas na câmara de gás. Aíele pediu que fizessem um círculo aoseu redor e contam que lhes disse:“Agora vamos dormir e depois vamos acordar em um mundo livre, para novos tempos.” 

    Uma outra maneira de viver, e desobreviver, acontece nas ruas de algu-mas metrópoles da América do Sul,onde vivem grupos de jovens e criançasque fugiram ou que foram abandona-

    dos, não porque já sejam quase adultosou muito difíceis de se lidar, mas porqueatingiram uma idade em que, nos paí-ses desenvolvidos, ainda são protegi-

    dos, cuidados, aquecidos, alimentadose penteados. Estas crianças acordamna rua.

    Ineke Holtwijk fala a respeito delasem um livro impressionante: Anjos do Asfalto , nome dado a um destes grupos.Os anjos do asfalto procuram uns aosoutros, se protegem. Eles têm leis espe-ciais que todos eles respeitam. Àsvezes, o mais velho é o chefe. Mas qual

    é a finalidade deles? Sobreviver! Rou-bando, escapulindo o mais rápido possí-vel, passando droga. A vida deles é um jogo novo a cada dia, mesmo se elesnão fizerem nada.

    Diante daextrema violênciada vida (W. HeathRobinson, A songof the English,Rudyard Kipling,1915).

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    O código deles inclui uma regra fér-rea: não dar confiança a nenhum adulto,e naturalmente menos ainda à polícia.“Não deixe nenhum adulto entrar no seu mundo, nem deixe que ele lhe dêa mão! Senão, você está perdido, perde a sua liberdade, perde o respeito porsi mesmo.” 

    Jan van Rijckenborgh escreveu: “Ima- ginem: uma criança é concebida, uma criança dotada de uma alma original.Quando esta alma é ligada ao corpo,ela encontra o mal inerente à natureza dialética. Agora, a questão é: quando esta criança crescer e ficar mais velha,quando ela precisar aceitar a vida, será 

    que ela vai lutar contra o mal ou será que simplesmente o admitirá, seguindo o caminho do mínimo esforço? Todos nós, na qualidade de entidades dotadas de uma alma, passamos pela ditadura do corpo, o que faz com que a alma corra o risco de se perder, de morrer.” 

    A criança que ainda não foi perverti-da nem corrompida pela atmosferageral, que vive de uma centelha de luz

    interior, é receptiva, aberta, curiosa. Elapensa que não sabe nada e que vaiaprender tudo. Mas, se ela não forenvolvida por seus pais com muitoamor, compreensão e dedicação, elamorrerá, tanto interiormente como exte-riormente. Por sua própria natureza, acriança se vê no centro de uma família,não como indivíduo, mas como parteintegrante da família que é o seuambiente cotidiano. “Há um tempo para 

    nascer e um tempo para morrer; um tempo para plantar e um tempo para arrancar o que foi plantado.” (Eclesiastes, 2).

    É preciso aprender o que é necessá-rio no momento certo. Se a criança nãoaprender a falar durante seus primeirosanos porque não lhe deram o exemplo,ela não conseguirá aprender a falarmais tarde e sua escolha de palavras

    será muito limitada. O mesmo acontecepara andar, ver, ouvir e principalmentecom relação ao altruísmo e a vidasocial. O que é aprendido tarde demaisé um verniz e realmente não faz parte

    de seu ser. Se a criança não tiver oexemplo de almas realmente vivas etiver como ponto de referência apenasos ídolos que estão na moda da TV edos CDs, esta criança deverá lutar muitopara não sucumbir interiormente à dita-dura da vida material.

    Não se trata de um fracasso em rela-ção ao plano social, mas de um funcio-namento insuficiente com relação aoplano humano. Trata-se de manter aconsciência desperta e viva na criança:ela, que busca o contato com a Vida ver-dadeira! Desde pequena, ela viveua experiência desta energia poderosae viva, sempre diferente, que sempre

    está ensinando alguma coisa nova,que a guia para que ela não se machu-que contra o muro da ignorância. Elasente a ignorância como uma tempesta-de que não lhe dá descanso, que asacode e que sempre a está empurran-do para compreender a vida. Viver éaprender sempre, a fim de encontrar,um dia, o caminho desta Única Vidasem alternância dos contrários, sem

    dualidade. Todas as crianças têm direitoa esta Vida.Cada criança é um mistério e se diri-

    ge para um objetivo único que lhe é pró-prio. Os adultos devem deixar de tentarmudá-las e sim envolvê-las com amiza-de, compreensão e amor.

    O grande segredo(Foto de JanetDelaney).

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    O homem terrestre é um “ser 

    decaído”. A unidade entre o poder 

    criador e o poder realizador per- 

    deu-se, e a vida deslocou-se para 

    o domínio material. Os pólos cria- 

    dor e realizador se separaram e a 

    unidade da cabeça e do coração já não existe.

    Desta forma, um microcosmo mutila-do não pode se expressar. Antes,quando ele não estava danificado,podia formar um corpo para manifes-tar-se na matéria. Hoje, é necessárioum casal, um homem e uma mulher,para constituir um corpo como este, eisto a partir de um plano de desenvolvi-mento dos futuros aspectos da perso-nalidade. O campo de manifestação (omicrocosmo) é ligado a um casal que é julgado capaz de dar à criança a assis-tência necessária.

    O desenvolvimento da criança geral-mente é submetido à influência do

    carma inscrito no microcosmo e daspossibilidades dos pais. A participaçãoativa destes é necessária para construira jovem personalidade e formá-la deacordo com as sugestões do microcos-mo. Os átomos etéricos penetram osátomos materiais para lhes dar vida. Éo corpo etérico que regulamenta espe-cialmente o crescimento, o ritmo devida e as percepções sensoriais. Estas

    funções não estão submetidas à in-fluência direta da vontade. É por issoque o metabolismo, por exemplo, seefetua harmoniosamente. Entretanto,uma influência indireta da vontade pode

    perturbar o metabolismo, o crescimentoe o ritmo de vida. Podemos dizer que ocorpo etérico também tem uma vontadeprópria. Como princípio cósmico, eletem uma função de organização e ga-rante o funcionamento do sistema neu-rovegetativo; ele liga a criança à terra e

    ao cosmo que a determina.Durante muito tempo os psicólogospartiram da idéia de que a criança, aonascer, era como uma película fotográ-fica que não tinha ainda sido exposta, eque era o seu ambiente que condicio-nava o desenvolvimento de sua alma.Mas hoje, nos perguntamos se a crian-ça já não dispõe de um substrato pré--condicionado. A Psicologia encontra,assim, a idéia esotérica de que estacriança é dotada de um microcosmo,que é como um tema sobre o qual seuspais e educadores devem desenvolvervariações – freqüentemente sem saberdisto. Desde os primeiros dias, fica cla-ro que o recém-nascido apresenta cer-tas atitudes. Sabemos que sua manei-ra de comunicar-se desde o início comseus pais – por meio dos olhos, demodo rudimentar – já está estruturada.

    As impressões são ordenadas e esto-cadas logicamente, de tal modo que seconstitui uma memória de curta dura-ção. Em seguida, vem a aprendizagemda linguagem, que é feita em algunsmeses. Os métodos atuais de ensinode língua inspiram-se quase semprenas maneiras pelas quais as criançaspequenas aprendem a falar.

    O ambiente tem de poder vivificar todas

    estas capacidades de modo significativo, afim de que elas se desenvolvam. De fato,nos três primeiros anos, estabelecem-seligações entre as células cerebrais, e istovai determinar o poder mental futuro.

    O DESENVOLVIMENTO DE UMA NOVAPERSONALIDADE

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    O MUNDO ASTRAL E O CORPO ASTRAL

    As forças astrais agem por meio doschakras, principalmente sobre a secre-ção interna. Elas também permitem aaquisição de conhecimentos e de sua

    assimilação. O corpo astral original échamado de “manto sideral do Homem--Espírito”. Mas, ligando-se cada vezmais à matéria, o corpo astral do ho-mem terrestre teve de se submeter aosinstintos, às paixões, aos desejos, àsimpatia e à antipatia – a todos estesfenômenos da vida que têm como eixo asobrevivência, e da qual fazem parte odesejo de adquirir bens materiais e o dedesenvolver a ciência e a cultura.

    Saber é poder, e o homem tem ne-cessidade de poder para dominar todasas outras formas de vida, para sobrevi-ver fora do Paraíso. Como o corpo astralatrai, como se fosse um ímã, tudo o queo homem tem necessidade, ele é tam-bém chamado de “corpo de desejos”, oque não significa que todos os desejossejam inferiores. As aspirações maisnobres, os ideais individuais e coletivos,

    também provêm do corpo de desejos. Eé a partir deles que o ser humano tentadar uma certa forma a sua vida e a seuambiente.

    O crescimento do corpo de desejos,ou corpo astral, faz nascer um novoaspecto na criança que está crescendo.“É como se de repente, eu olhasse por uma outra janela” , diz uma menina emquem está despertando o corpo astral.

    A substância astral que envolve a hu-manidade – e portanto todas as pes-soas – passa a ser, portanto, o objetode uma experiência muito particular emuitas vezes se trata de uma percep-

    A INDIVIDUALIZAÇÃO

    A individualização se opera na escola, isto logo se vê. Na escola “primária” [ensino fundamental até a 4ª série] as crianças se sociabili- zam em função de seu meio ambiente. Logo que entram no “ginásio” [ensino fundamental até a 8ª série], isto muda bastante. Em pouco tempo elas se tornam “mais duras”. Na 6ª série, por exemplo,vemos a separação entre as crian- ças sociáveis e as que já estão “endurecidas”. Na 5ª, a separação 

    é evidente; muitos perdem sua abertura e se tornam duras em relação a si mesmas e às outras.Na 4ª série, as que continuam sociáveis se distinguem bem nitida- mente. Elas seguem sua própria direção, enquanto outras vão-se voltando cada vez mais para as normas e opiniões que estão em vigor. O processo de delimitação e 

    de individualização continua defini- tivamente e os princípios a que o  jovem se entrega não são questio- nados a não ser quando ele atinge uma certa maturidade e sua visão de vida fica mais tolerante.Esta tolerância é o resultado de tudo o que foi oferecido a ele durante o seu crescimento: amor,sabedoria, compreensão.As crianças que não tiverem 

    “juventude feliz” geralmente terão dificuldade em ultrapassaro instinto de conservação.

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    ção. A criança admite e assimila tudo oque é correspondente ao seu estadointerior e rejeita o que não é.

    Desta maneira, o corpo astral clas-sifica suas percepções: elas são aceitá-veis ou não. Ele passa a julgar. Faz umatriagem na universalidade das coisasque sempre envolveram o corpo etérico.Traça fronteiras. A criança começa aguardar distância das coisas, a for-mar sua compreensão. Ela coloca seuser no interior dos limites do espaço edo tempo.

    O corpo etérico da criança experi-menta, como já dissemos, a universali-dade das coisas, mesmo que o faça in-

    conscientemente, a maioria das vezes.Algumas crianças têm visão etérica.Elas observam os movimentos dos éte-res sob a forma de correntes de luz, decores, ou de imagens concretas. Mas,geralmente, elas não sabem nem inter-pretá-las nem o que fazer com elas. Seos pais não demonstrarem compreen-são, elas acabarão não falando maisdisso. Entretanto, elas sofrem, pois não

    compreendem por que os outros nãovêem o que elas vêem.A partir do momento em que o corpo

    astral desperta, a criança começa a jul-gar e a condenar. Que tempo difícil paraseus pais! No começo da puberdadesurge, portanto, uma divisão. O corpoetérico guarda a lembrança melancólicade uma existência sem responsabilida-de pessoal. O corpo de desejos impul-siona a criança a tomar iniciativas pes-

    soais. Enquanto esta vida jovem se voltacompletamente para o mundo exterior ese abre para a boa influência da luz, docalor, do ar e da terra, o corpo astral criaum espaço interior que não é acessíveldo exterior. O mundo interior e o mundoexterior já não estão em concordância,e é preciso fazer uma escolha. Surge,então, aquilo que é próprio da criança, oque é pessoal, assim como a dissimula-

    ção e o sentimento de vergonha. O queainda não pode ser exteriorizado ficaoculto, muitas vezes inconscientemente.

    Uma fenda aparece no mundo fami-liar de antes, e a liberdade se apresen-

    ta de muitas formas. Os laços coma família e com os pais se afrouxam,às vezes abruptamente, às vezes aospoucos e de modo racional. Mas nãohá ruptura se eles se apresentaremmuito fortes.

    A HERANÇA DO SANGUE E O INDIVÍDUO

    O novo habitante do microcosmo teveque se ligar a seus futuros pais, e rece-ber a herança de seu sangue: e isto fazcom que ele participe do próprio ser

    deles! Este fenômeno parece uma gran-de injustiça da natureza, pois o indiví-duo fica, assim, obrigado a concluir umcompromisso com a alma de seus paispelo sangue. Esotericamente falando,diz-se que o carma dos ancestraisrepercute na criança, que acaba rom-pendo este laço em um dado momento,para seguir seu próprio caminho.

    A herança sangüínea dos pais e dosancestrais cria também um laço cármicocom aqueles com quem estes esta-vam ligados na época. Esta rede soci-al permite ao indivíduo aprender inúme-ras lições, mas tudo isto deve tam-bém desaparecer um dia para que eletenha a liberdade de seguir o seu pró-prio caminho.

    Se os pais mantêm relações estreitase sadias com seu filho, podem guiar oprocesso de individualização em sua

    puberdade. Apesar dos conflitos gera-dos pela diferença de idade e de opi-niões, este acompanhamento é aprecia-do muito especialmente pela criança,mas nem sempre de modo explícito.

    Nunca seria demais ressaltar como éséria a imensa tarefa dos pais nestestempos de desagregação e de indivi-dualização cada vez mais crescentes.Os laços de família estão se afrouxan-

    do. A mídia impulsiona o corpo astralpara atividades para as quais a criançaainda não está pronta, nem em nívelsentimental, nem em nível mental. Alémdisso, como a criança se tornou um fator

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    exteriores, e, neste sentido, ele é guiadopelo intelecto.

    Neste momento, o ser aural, que go-verna o homem pela mediação de seueu, não é fundamental. Cada microcosmorepresenta um pensamento do Criador.Este pensamento está depositado noarquétipo: o plano individual específicoque está na base do desenvolvimento deum ser humano, o plano que um dia de-

    verá fazer nascer a ligação entre oEspírito, a Alma-vivente e o Homem origi-nal. Nem o ser aural, nem o eu fazemparte deste plano.Estes dois seguem seucurso em seu próprio caminho, que geral-

    mente é um círculo vicioso.O arquétipo se expressa no coração

    pelo átomo-centelha-do-Espírito. Estenúcleo central contém o plano de cons-trução tal como ele pode ser executadona matéria. As sugestões deste princípiooriginal falam claramente em muitos jovens e crianças que estão buscandoum mundo melhor, sem doenças, semmorte, sem tristeza e injustiça. Mas

    como eles não sabem como atingir estemundo, assim como os adultos quegeralmente sabem tanto quanto eles,estes impulsos vão logo desaparecendo.

    No entanto, cada um deve contar com

    A personalidadeencerra muitosaspectos desco-nhecidos do pas-sado e do pre-sente. (JacekMalcewski, BledneKolo, 1895-1897,GalerieRogalinskaEdwardaRaczynkiego,

    Poznan, Polônia).

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    No entanto, cada um deve contar comeste princípio original em um dadomomento de sua vida. Cada um sente aoposição flagrante que existe entre aunidade perdida e o despedaçamento ea divisão em que ele precisa viver.

    Este sentimento pode fazer nascer a

    aspiração pela Vida original. Então, épreciso que alguém lhe mostre o cami-nho e que ele o compreenda: ou então,ficará frustrado e mergulhará cada vezmais profundamente na matéria, sobqualquer forma em que ela se apresen-te, pois a corrida pelo dinheiro, pelasposses, pelo consumo, são aspectos davida na matéria, e também não serão osideais espirituais, religiosos, artísticos ecientíficos que irão fazer ultrapassarestes limites.

    A FINALIDADE DA VIDA NÃO ÉNADA DISTO!

    Esse confronto faz nascer, na puber-dade, uma perturbação interna e umaprofunda incerteza. O mundo, que pare-

    cia tão perfeito, apresenta-se agoracomo um campo de batalha em quedominam a injustiça, o ódio, o assassi-nato e a crueldade. A finalidade da vidanão é nada disto! A criança sente estainconseqüência muito intensamente.Os adultos já tomaram seu partido edizem: “O mundo é assim mesmo! É preciso saber conviver com isto! Eu também fui obrigado a viver assim.Você 

    vai sofrer golpes bem duros, masisto vai fazer você ficar grande e forte.Você vai aprender por si mesmo a pas- sar um outro para trás. Faça o melhor que você puder.” 

    É aparentemente uma visão realista,mas, de fato, ela revela a atitude endu-recida de uma pessoa desiludida quenão seguiu os impulsos do princípio ori-ginal de seu coração. Uma decepçãocomo esta não vai acontecer se a edu-cação for voltada para o pensamento

    correto e para a ação espiritual correta.A natureza do homem terrestre éimperfeita e está dividida. Geralmente,ele é incapaz de agir sobre os ritmos eas leis etéricas que determinam suaexistência. Seu poder mental, sobre oqual se apoia o seu eu, permite-lhefazer certas associações, é verdade,mas não pode providenciar para ele asolução duradoura. O homem atualencontra-se no ponto de perder total-mente o controle de sua “cultura”: tantoa exterior como a interior.

    O ser humano está gastando suaenergia, a energia para acumular, man-ter a matéria em bom estado e paradefender suas fronteiras. Não podemosculpá-lo! É preciso um enorme esforçode vontade para se elevar do estado deanimal solitário para o estado de um sersocial. Ele aspira à paz e à harmonia,

    mas ele somente colhe discórdia e mas-sacres em massa!

    Entretanto, os tempos estão mudan-do e ele também precisa mudar! Ele éobrigado a procurar outros caminhos.Voltar-se para o seu bem-estar nomundo não é suficiente: ele precisavisar o renascimento do Homem--Espírito. Somente um adulto que dis-põe de todos os aspectos de sua perso-

    nalidade pode decidir de forma autôno-ma se irá ou não seguir este caminho.Não se deve jamais forçar uma criançanesta direção. Se a educação e a apren-dizagem desenvolvem a autonomia, o

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    mia, o chamado da Gnosis será enten-dido quando a consciência estiver sufi-cientemente madura. As disposiçõesprotetoras e inspiradoras judiciosas porparte de pais e educadores podem con-tribuir para o desenvolvimento harmo-nioso da personalidade, e para a recep-

    tividade aos valores espirituais. Quandoo corpo material e o corpo etérico sedesenvolvem harmoniosamente, a orga-nização etérica da criança faz o mesmo.Assim as emoções são mais bem assi-miladas e o “corpo” mental floresce semsobrecarregar-se.

    A partir do que já falamos, parece quenão se trata de “meu” filho, “minha” crian-ça, mas somente de uma criança, de umindivíduo que foi confiado por um tempodeterminado a estes pais. Não se tratade conservar as posses materiais defamília ou de satisfazer os votos e dese- jos dos pais. Há um plano para o desen-volvimento da vida de cada criança.Cada criança tem seu próprio objetivo navida. A tarefa dos pais e educadores é ade dar as melhores bases possíveis.

    O QUE A CRIANÇA QUER TRANSMITIRPARA O SEU AMBIENTE?

    O microcosmo é uma individualidade.Em sua base está um arquétipo particu-lar. Esta individualidade se expressadesde o início. Infelizmente, os adultossempre estão ocupados consigo mes-mos e com seus projetos para captar

    corretamente os sinais da criança queestá crescendo. Educar é comunicar. Oque é que a criança está nos querendodizer? De que ela precisa em cada fasede sua vida? Quais são as influências

    que convêm e quais as que não con-vêm? Como ela reage às diferentesinfluências, e quais são as lições que ospais e as crianças podem tirar destasexperiências?

    Educar significa também desenvolverpais e guias. Os métodos que antiga-

    mente estavam em vigor podem estarperfeitamente ultrapassados hoje. No-vos métodos estão se apresentando. Épreciso que os pais e os educado-res estejam bem orientados espiritual-mente para poderem dar à criança umalimento suficiente e correto, pois aalma, apesar de ainda estar modesta-mente em segundo plano, tem fome doalimento espiritual.

    A criança tem este direito espiritualde passar por altos e baixos em suavida a fim de que isto possa contribuir,se Deus quiser, para a libertação do seroriginal em seu próprio microcosmo.

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    Em nossa época, os que querem 

    trabalhar pela juventude devem ter 

    alguma coisa para proporcionar a 

    ela. Hoje, a juventude está emanci- 

    pada e também o será no ano 2000! 

    Os jovens são completamente capa- 

    zes de formular o que querem e nem sempre estão prontos para 

    escutar os adultos.

    A Escola Espiritual da Rosacruz Áureaconstruiu um “Campo de TrabalhoInternacional da Mocidade”, uma orga-nização que foi especialmente criadapara a juventude, a fim de acompanharas crianças que lhe são confiadas. Estetrabalho repousa na atenção e no amorde todos para todos. Mas isto não é sufi-ciente. Esta atividade provém da neces-sidade interior da Escola, dos trabalha-dores e adultos que a compõem, de ofe-recer às crianças este amor, este afetoque os pais conscientes e responsáveisnutrem por seus filhos; a necessidadede dar às crianças que lhes são confia-das a alegria, a proteção e uma pers-

    pectiva de vida. E que perspectiva! OTrabalho da Mocidade da Escola daRosacruz Áurea respira este amor. Senão fosse assim, este trabalho não teriadireito à existência.

    Toda criança tem necessidade daatenção e do amor de seus pais, edu-cadores e monitores para se desenvol-ver de modo natural e harmonioso.Depois, ela tem a necessidade de com-

    preender a vida, o porquê e o como detodos os fenômenos.São estas as bases do Trabalho

    Internacional da Mocidade. A relaçãoentre jovens e adultos é aberta. Isto não

    significa que a Direção feche os olhospara a realidade. Sua visão da realidadeprovém da doutrina gnóstica, assimcomo de sua colocação em prática emtodos os aspectos da vida cotidiana. Daíemana uma visão do mundo em quetodas as coisas e todos os fenômenos

    são colocados em seu lugar correto.Tudo isto porque os jovens estão nomeio do mundo e sentem que têmnecessidade deste esclarecimento.

    A CRIANÇA É CHEIA DE ESPERANÇA

    A criança vive de esperança. Ela vê oseu futuro sem preconceituá-lo, comple-tamente voltada para o que vai aconte-cer. Por definição, a criança é cheia deesperança na vida: ama todas pessoasque estão ligadas a ela e acredita nelas.O mundo onde adultos e crianças vivem juntos geralmente está cheio de contra-dições. O mundo dos adultos mostra,sob múltiplos aspectos, o modo peloqual a vida se precipita rumo ao fim ine-vitável, a tristeza de uma existência divi-

    dida, o declínio do corpo e, em muitoscasos, o declínio das capacidades men-tais. Quantas vezes as crianças não tra-zem um pequeno raio de sol nesta vida!Ao mesmo tempo em que elas têmnecessidade de ser abraçadas, mima-das, elas estão aí para amortecer nos-sos sofrimentos.

    A ação em favor da mocidade naEscola da Rosacruz Áurea não está vol-

    tada para a vivificação da vida biológica,mas para a coragem necessária paraencontrar o caminho interior nestes tem-pos agitados, pois será preciso ter cora-gem, neste século que está chegando.

    A PROTEÇÃO DO CORAÇÃOO que a juventude está esperando, neste início do século XXI? 

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    O macaquinho

    aceita a mãe arti-ficial coberta detecido de esponjae rejeita aboneca de metal.A falta de afetomaternal podeprovocar a agres-sividade em umaidade maisavançada(Comportamentos singulares decertos animais,NationalGeographicSociety/De Haan,1976).

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    A TERRA É UM SER VIVO

    As crianças estão atentas à realida-de da vida. Por exemplo:elas se preocu-pam com a integridade da terra em quevivemos. Para a maioria, é uma expe-

    riência particular quando ouvem dizerque a terra é um ser vivo , que tem umaconsciência própria e um ciclode vida particular no interior do siste-ma solar.

    Elas ficam espantadas quando per-cebem um pouco do problema da sobre-vida da terra e de seus habitantes: prin-cipalmente de seu aniquilamento perpe-trado pelos próprios homens. O traba-

    lho junto aos jovens consiste em ten-tar simplesmente estabelecer uma dis-tinção entre as causas e as conseqüên-cias. É claro que reconhecemos o inte-resse que eles têm em proteger o nosso

    meio ambiente. Mas a causa do proble-ma es-tá no meio ambiente interior dohomem: aí está a chave, a solução!

    A realidade é muito mais do que oambiente externo, o planeta no qual vive-mos. Também existe a realidade social,que é representada pela escola, pela

    família, pela sociedade, pelos esportes,pelos divertimentos, enfim, tudo o quepreenche os dias de um jovem. É magní-fico ver como desde pequenos, aindadesajeitados e de forma incrivelmenteoriginal, eles dão os seus primeiros pas-sos nesta grande comunidade que é asociedade. Como os monitores fazemcom que eles abordem esta realidadesocial? Por meio de jogos, esportessadios e bastante variados, por meio decenas rápidas de teatro, às vezes realis-tas e picantes, que colocam com humoros aspectos impressionantes da nature-za humana.Mas trata-se, principalmente,da realidade do coração, afim de que,deste coração, o Homem verdadeiropossa ressuscitar nestes jovens.

    É POSSÍVEL QUE O CORAÇÃO

    SE FECHE

    O que impulsiona as pessoas quecolocam a sociedade em discussão (eas crianças fazem isto!) é, na maiorparte do tempo a sua busca de umasolução concreta para sair de umasituação difícil, e isto não por meioseconômicos ou políticos, mas com ba-

    se em seu estado de ser interior. É poresta razão que muitos jovens estãoabertos a novas possibilidades. En-tretanto, seu coração também pode sefechar se eles tiverem que enfrentar

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    muitos problemas insolúveis e experiên-cias traumatizantes. A vida escolar correo risco de ser também uma influêncianegativa com relação à auto-confiança eauto-imagem em geral, e até podematar a esperança de um futuro aceitá-vel e pleno de significado.

    Além disso, pode acontecer que,durante a puberdade e a pré-adolescên-cia, os jovens façam escolhas que irãointervir profundamente em seu estadofísico ou psicológico, ou nos dois. Estasescolhas geralmente são impostas poruma motivação interior muito frágil, ouporque o terreno de seu crescimento épouco harmonioso. Estas crianças sãoconsideradas “desadaptadas” e devemser cuidadas com métodos cientifica-mente reconhecidos. Mas, de fato, sãovítimas da educação e da aprendiza-gem. Seu coração já não é capaz dereagir aos impulsos da Nova Vida.Assim, o sofrimento de inúmeros jovensno mundo foi-se tornando tão grandeque não há palavras para descrevê-lo.

    O PRINCÍPIO INTERIOR

    Os monitores da mocidade não ensi-nam nenhum código de conduta, maspartem de um princípio interno que, narealidade, está presente em todos os jovens que têm um comportamento“normal”. É preciso naturalmente que oscomportamentos continuem normais,que a higiene seja respeitada, e que a

    qualidade do ambiente seja adequada.O objetivo do trabalho com jovens émanter sua liberdade de fazer escolhasque determinarão seu rumo na vida semmuita confusão. Se esta escolha for feita

    pelo coração, sempre será boa.Portanto, trabalharemos de maneira

    correta para mocidade se for possível ofe-recer para ela uma proteção para o cora-ção da criança, que ainda é tão sensível.Cada núcleo da Escola da RosacruzÁurea dispõe de um local de trabalho, por

    mínimo que seja. Na Holanda tambémtemos um núcleo especial, criado para os jovens, em Doornspijk.

    A partir da rica literatura gnóstica queconstituem os textos de Jan vanRijckenborgh e Catharose de Petri, jásabemos que não devemos esperar queum contato com a Escola Espiritualtenha um reconhecimento espontâneo epositivo. Enquanto o coração estivercentrado no eu, o jovem talvez estaráinteressado durante algum tempo portudo o que está sendo dito no Templo,pelos jogos e divertimentos e tambémpelo contato com os amigos. Mas che-gará um momento em que isto já nãoserá suficiente para ele. Então, ele vaibuscar novos estímulos, que sejam maisfortes para seu eu do que os que aEscola Espiritual lhe oferece. Para amaioria dos jovens, os encontros nacio-

    nais e internacionais de Noverosa aindacontinuam sendo inesquecíveis. E se,um dia, quiserem sair da Escola Espiri-tual, eles sabem que foi aí que criaramamizades sólidas, que podem durar portoda a vida.

    Mas, entre todos os jovens, nenhumescapa destes estados de alma queconstituem, de fato, uma forma deexpressão pela qual o coração se faz

    conhecer – e pela qual eles aprendem aconhecer seu próprio coração. Sãofases de desenvolvimento que o cora-ção tem de atravessar antes de poderse manifestar completamente.

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    A EMOÇÃO DO CORAÇÃO ABERTO

    Quando refletimos no verdadeiroHomem interior que temos a possibilida-de de ressuscitar dentro de nós – este éo ponto culminante de qualquer traba-lho com jovens – apresenta-se um dile-ma: sentimos nossa imperfeição, nos-sa impotência, nossas falhas. Estasfalhas são fundamentais, psicológicas,mas também são físicas e concretas.Isto aparece bem claramente paraaqueles que estão buscando o cami-nho gnóstico da transfiguração. Quempode, na realidade, responder ao cha-

    mado: “Sede perfeitos como meu Pai no céu é perfeito” ?

    Este exemplo de uma altura vertigino-sa faz tremer o coração que tem umareminiscência longínqua, uma certareminiscência de uma época áurea, deum período solar que já desapareceu hátanto tempo, de uma vida suprema. Aomesmo tempo, ele sente profundamen-te suas falhas, que pesam em sua cons-

    ciência. Aí está o dilema: quem tem acapacidade de passar sobre este abis-mo? E como?

    Este é o momento em que o discipu-lado de uma escola espiritual gnósticapode ser aceito. Afinal é em uma escolacomo esta que o buscador sério encon-tra uma saída para as contradições davida e escapa à dualidade da qual ele éprisioneiro em sua existência material.O coração vai-se transformando: de

    uma consciência inteiramente voltadapara si mesma, ele vai-se transforman-do em um órgão capaz de sofrer, eassim acabará aprendendo que:“O homem é algo que deve ser ultra- passado.” 

    Platão diz que o sofrimento de queaqui se trata é a conseqüência da “cruz da criação divina, a cruz do mundo”. Oraio vertical re-liga a consciência à

    região da Alma imortal. Assim vãosendo despertadas no coração as pri-meiras impressões eventuais daquiloque a humanidade perdeu e esqueceuno decorrer de seu andar sem rumo na

    matéria. Com a idade, estas impressões já não são experimentadas com inge-nuidade – da mesma forma que os jovens durante um encontro de algunsdias – mas como um convite, uma exi-gência que deve despertar o ser interiore fazê-lo crescer até tornar-se umaAlma imortal.

    QUE EIXO O JOVEM ESCOLHERÁ?

    O raio vertical que vem do alto cruzao eixo horizontal ao longo do qual,desde tempos imemoriais, a humanida-

    de se arrasta lamentavelmente, em umrecomeço sem fim, em uma existênciasem perspectiva. Ora, o importante sepassa em um destes cruzamentos notempo! O jovem que se encontra nestecruzamento tem a possibilidade de diri-gir o curso de sua vida de acordo comsua própria compreensão. Que eixo eleescolherá? Nesta intersecção se encon-tra também o coração. A explosão pro-

    vocada pelo choque dos dois mundospode fornecer a pura energia vital quelhe dará o impulso. É unicamente destefogo, desta espécie de sofrimento, quealguma coisa completamente nova sur-girá. É o único sofrimento que servepara um objetivo superior, e a ele não secompara nenhum sofrimento humanoterrestre.

    ONDE O JOVEM BEBE UM POUCO DEESPERANÇA?

    No coração que se tornou pleno dehumildade, o ser humano vai aprenden-do aos poucos que seu estado interior, ea dor eventual que ele sente, é a conse-qüência da impureza. Uma pesquisacomeça no coração: pesquisa das ten-

    dências instintivas, das motivações.Pela primeira vez nada está mais oculto,dissimulado, vestido, minimizado. Nãose empreende nada a fim de mudaralguma coisa disso. Nesta fase, somos

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    O jovem príncipearranca umapena da caudado pássaro defogo e durantetoda a sua vidaprocura fazercom que o mila-gre se cumpra(conto russo,Iaque, MuseuEstadual dePalekh, naRússia).

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    extremamente sinceros em relação anós mesmos, e somos inteligentes deuma forma nova e diferente. Vemos pro-fundamente que a personalidade, nestemomento, não tem nenhum poder defazer mudanças para o bem. Não queela observe passivamente. Não: pois

    está sendo realizada uma transforma-ção. A partir deste momento, tudo o quefazemos tem um objetivo único, umaúnica direção: a Nova Vida.

    O pesquisador-buscador não empre-ende nenhuma ação para atingir objeti-vos pessoais diferentes.Assim, ele sobeo degrau seguinte. O autoconhecimen-to, recentemente adquirido, faz com queele descubra um mundo novo. E, muitoparadoxalmente, não no interior de simesmo, mas no exterior: o mundo dosoutros. Os outros já não são “o inferno”,como diz Sartre, por impedi-lo de sedesenvolver segundo sua própria ima-gem. Não: há uma reviravolta de todosos valores e assim vai surgindo um novoe imenso campo de trabalho. O busca-dor aprende a conhecer seus semelhan-tes, a conhecer suas necessidades e ossofrimentos do próximo de uma forma

    totalmente nova.Ele pode fazer isto por-que já adquiriu o autoconhecimento,que é um saber real; e agora ele vai tero conhecimento de seu próximo – e vaisentir compaixão por ele. Este altruísmonão é um poder que escraviza ou tornadependente. Ao contrário: ele consola ealivia de modo impessoal. Este homem já não deseja sua própria salvação, quedesaparece em segundo plano, como

    negligenciável: ele aspira ter o poder deajudar o próximo. Ele está a serviço deDeus e do mundo, na intersecção dovertical e do horizontal, a cruz. Ohomem interior encontra seu lugar no

    caminho da cruz! Em nome da Rosa,nasce um novo heroísmo. Mais umavez, na história do mundo, aí está a“imagem de Cristo”, mais belo do quena pintura de um grande mestre, queseu rastro indelével vai deixando atrásde si. Para este homem, o conflito entre

    os dois mundos opostos já desapare-ceu: foi aniquilado. E o Homem interior,o verdadeiro Homem, encontrou seulugar original no microcosmo restaura-do.

    Em seguida, vem a última fase naterra: a poderosa união da sabedoria edo conhecimento, do coração e da ca-beça, sem nenhuma oposição ou divi-são, confere ao coração a força originalque conduz à vida eterna.

    É com a finalidade de atingir esta uni-dade interior que foi criada a ação queempreendemos junto à Mocidade. É istoo que determina todas as atividades.Assim, esta ação está em perfeita uni-dade com a Grande Obra atual, empre-endida para a realização do caminhognóstico da libertação. Aí, os jovenssão ligados a todos os que seguem esteprocesso há muito tempo. Nesta unida-

    de interior que oferece imensas pers-pectivas, todos vão-se desenvolvendolivremente. No horizonte de um encon-tro entre jovens, a amizade vai-se dese-nhando como um signo precursor daverdadeira fraternidade dos homens.Uma fraternidade que, na criação, nas-ce e floresce no coração do Pai. Afinal,o Homem interior, o verdadeiro Homem,não está nem separado nem dividido. E,

    em um eterno presente, ele vive no co-ração daqueles que atravessaram aGrande Revolução.

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    (Algumas palavras para fechar o en- 

    contro noturno em Noverosa, por o- 

    casião de uma Conferência da Mo- 

    cidade, de jovens de 15 a 18 anos).

    CAROS AMIGOS:

    Aqui, em Noverosa, vocês compreen-dem, talvez ainda melhor do que emqualquer outro lugar, que a atenção devocês sempre está sendo atraída paradois lados diferentes.

    De um lado, há uma atenção eviden-te, que o corpo de vocês pede todos osdias. A consciência dirige este corpo,mas ela também é prisioneira dele. Comeste corpo, que é o instrumento daconsciência, vocês se manifestam pormeio de tudo o que fazem durante o diainteiro: cuidando da aparência pessoal;da roupa, de tudo o que fazem e detodos os gestos; de seus pensamentose palavras. Neste corpo, também háaspectos que fazem com que vocês se

    sintam humilhados ou orgulhosos; hásimpatias e antipatias, desejos ou repul-sas. É um jogo que não acaba nunca eque coloca à prova o instrumento que éo corpo de vocês. São experiências quevocês sentem como felizes ou doloro-sas, luzes ou sombras.

    Por outro lado, vocês estão se encon-trando duas vezes por dia, durante umahorinha, no Templo. Aqui, nós atraímos a

    atenção de vocês para o que chamamosde “lado mais espiritual de nossa exis-tência”. Isto exige de vocês um certoesforço, que é diferente do esforço exigi-do pelo esporte, ou pelos jogos. De fato,

    tudo o que vocês fazem desde que acor-dam (este barulho incrível de pensamen-tos, vontades, ações, assim como asemoções que o acompanham) é precisoser deixado de lado. É preciso parar, e,na medida do possível, calar tudo isto.

    É preciso acionar o equipamento que

    muda os trilhos de direção e passarpara um outro trilho, durante esta hori-nha. Isto pede um certo esforço de von-tade, uma certa energia. A consciênciaque está por detrás da energia instintivade vocês deve entrar em estado derepouso por um instante. Se realmentevocês tiverem a intenção de mudar derumo, então vocês já estarão aceitandoisto, a partir deste momento, bem ládentro de sua consciência.

    Mas a consciência do corpo, que estávoltada para o exterior, não facilita ascoisas! Talvez até sem querer, vocêspossam sentir neste momento algumaoposição, alguma impaciência ou irrita-ção. E isto, vocês sentem concretamen-te. Vocês sentem esta oposição no pró-prio corpo, pois as emoções se espa-lham através dele pelo sistema nervoso.Aí está a prova da intensa relação entre

    o corpo e a consciência.Se vocês conseguirem acalmar estas

    reações tumultuadas de seus órgãosdos sentidos, então poderá surgir umaspecto de sua consciência que chama-remos de “a face da consciência queestá voltada para o interior”. Desteaspecto também pode nascer uma outrareação: uma alegria maravilhosa, umsentimento de calma, reflexo da paz que

    existe no mais profundo de seu coração.Portanto, esta reação também pode serpercebida pelo corpo! Aqui tambémvocês estão vendo a relação entre aconsciência e o corpo.

    A CANÇÃO DA ALMA DO MUNDO ENVOLVETODA A TERRA

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    Refletindo bem a respeito disto, vo-cês poderão constatar que estamossempre dialogando dentro  de nossaconsciência com  nossa consciência.Este diálogo surge principalmente quan-do queremos fixar nossa atenção nolado espiritual de nossa vida, nestaparte de nossa vida que tem maior rela-ção com o aspecto interior de nossa

    consciência.

    O QUE É A CONSCIÊNCIA?

    A consciência da qual dispomos é opoder de adquirir conhecimentos sobreo mundo e seus fenômenos, o mundoem que vivemos e do qual fazemos

    parte. Nós percebemos que existimos.Nós dizemos “eu sou”, “você é”. Nósvivenciamos um certo relacionamentoconsciente com o mundo que nos cerca,com as coisas no meio das quais nós

    nos encontramos. A maior parte denossa consciência está voltada para oque se encontra fora de nós, mas tam-bém sobre o que nós vivenciamos inte-riormente logo depois de nossas per-cepções exteriores.

    Muitos pensam que isto é a vida espi-ritual. Muitos crêem que os pensamen-tos, sentimentos e desejos imateriais

    são espirituais porque é a representa-ção interior de tudo o que estão vendo eexperimentando, pois o homem poderaciocinar e julgar logicamente, pormeio do pensamento, tudo o que ele vêe experimenta.

    Mas o que o homem define destamaneira como “vida espiritual” é, de fato,muito superficial e limitado. Quandodurante esta Conferência nós estivemos

    falando de vida espiritual, nós nos liga-mos a uma visão de vida que ultrapassade longe o que acabamos de descrever,pois a única coisa que tem qualquerrelação com o “espírito e o “espiritual” é

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    “espiritual” é o microcosmo, que inclui oser humano. É por ele que nós estamosligados a um “núcleo” espiritual.Infelizmente, há relativamente pou-cas pessoas conscientes a partir des-te aspecto espiritual. No máximo elasvivenciam uma lembrança vaga e lon-gínqua deste aspecto, algo obscuroa respeito do qual elas não têm nenhumconhecimento.

    De onde vem esta palavra “espírito”?É a tradução da palavra hebraica“ruach” , que queria dizer, em sua ori-gem, “vento”, “sopro”. Desde tempos re-motos, o vento simboliza o Sopro dosdeuses. O sopro é a imagem da vida.Quem respira, vive. Esta é a razão pelaqual o Espírito também é chamado“Sopro de Vida”. Esta palavra “ruach” também foi traduzida por “alma”.

    A alma é o princípio fundamental davida, que é alimentada pelo sopro. Oshindus chamam o Sopro de “Canção doMundo”, os gregos o chamam de “Almado Mundo”.

    A antiga sabedoria hindu fala de“akasha” , ou “éter” , ou também as seteharmonias do universo. Quando esta-mos aqui, em Noverosa, falando da“semente espiritual”, do microcosmo,nós estamos visando a alma, o princípiode alma do microcosmo. A palavra“alma” vem do conceito “Adão”.

    Estávamos falando que a consciênciaesta em perpétuo diálogo.Trata-se de um

    diálogo entre a parte da consciência queestá voltada para a vida dos sentidos e aque está voltada para o interior. Este diá-logo pode limitar-se ao domínio estreitodo que é bom e agradável para o eu, oumau e desvantajoso. Nos dois casos,trata-se de interesse: o interesse do eu.

    Mas este diálogo poderia ser diferen-te, ou tornar-se diferente um dia: pode-ria aprofundar-se, ser profundamente

    influenciado pela semente espiritual,pela alma do microcosmo.Às vezes, esta influência impregna o

    diálogo cotidiano comum. E isto aconte-ce principalmente com a juventude. Este

    27

    A BANDEIRA DE NOVEROSA

    Flutuas ao vento, Bandeira de Noverosa,Mostrando ao mundo o teu símbolo: O coração aberto, a Rosa sagrada,A Estrela de Ouro: é a nossa Escola! Aí está o vento, que faz flutuar esta bandeira,Carregando para longe a sua Mensagem de Paz.Que nossos ouvidos escutem a Voz deste Mistério: A Voz do Silêncio! A Senda da Liberdade...

    Flutuando, flutuando, Bandeira de Noverosa 

    Vai saudar a humanidade! E teu símbolo, cheio de Alegria Proclamará a Verdade.E nós queremos, Juventude de Noverosa,Com todos os que irão seguir os teus passos,Partilhar o Tesouro desta Nova Vida Formando, desde já, um círculo fraternal! 

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    trespassamento da alma, este “jorrar”pode provocar o despertar da consciên-cia do coração.

    A consciência do coração nada tem aver, ou tem muito pouco a ver, com avida dos órgãos dos sentidos. É comouma consciência completamente dife-rente da consciência de todos os dias.Quando a consciência do coração surgeda semente espiritual, passa a aconte-cer um novo diálogo, muito profundo,entre a consciência comum e a cons-ciência do coração. A consciência docoração dá acesso ao microcosmo doqual vocês são habitantes.Então podemser revelados os segredos desta casa

    (da qual vocês são os habitantes): sãoos tesouros que aí estão ocultos hámilhões de anos e a respeito dos quaisperdemos a lembrança.

    É por esta razão que, na realidade,somente a consciência do coração é umpoder espiritual! Quando ela desperta,começa uma nova relação, não maisentre dois aspectos da consciênciaopostos um ao outro, mas um diálogo

    que une um e outro. É assim que, ládentro, vai-se desenvolvendo uma trocade informações. Estas palavras sutis,trocadas entre a consciência do coraçãoe a consciência do corpo, dão uma novacor à vida. Os pensamentos e os senti-mentos passam a ser de ordem comple-tamente diferente. Esta troca entre aconsciência de todos os dias e a cons-ciência do coração é de uma riquezainterior inestimável, e ultrapassa todos

    os tesouros da terra.

    POR QUE AFIRMAMOS ISTO COM TANTAINSISTÊNCIA?

    Porque esta riqueza interior vai condu-zindo pouco a pouco até a Fonte

    Original. A Fonte de todas as coisas seencontra no ser humano, na sementeespiritual, na alma do microcosmo. E nósprecisamos voltar a esta Fonte originalque está oculta dentro de nosso coração.

    A origem da vida, esta origem que osastrônomos, arqueólogos, filósofos eteólogos estão buscando há séculos,está escondida no próprio centro docoração humano. Quando a consciênciado coração, que vem do centro, começaa despertar, vai surgindo ao mesmotempo uma visão interior que penetra overdadeiro significado e o verdadeirovalor de todas as coisas. Começamos aver interiormente o mundo de mododiferente; e o ouvido interior começa aperceber a Canção do Mundo de akas -ha . Então, a lâmpada interior que nosmostra o caminho certo através do labi-rinto da vida cotidiana começa a se

    acender diante de nossos pés.Talvez vocês pensem que tudo isto

    ainda está muito longe, muito longe devocês. Que seja algo completamenteirreal, que vem de um mundo romântico,de um espírito fantástico.Mas o drama davida não é a história de um chamado quenão se realizou? Estas inúmeras fanta-sias que germinam no cérebro humanonão vêm, por acaso, de uma profunda e

    infinita nostalgia de algo que o homemum dia perdeu? Esta é a nostalgia deuma vida que continua profundamenteoculta na memória do mundo. A misterio-sa canção do mundo desperta esta nos-talgia. Como resultado, surge uma imen-sa miragem: a miragem do desejo de rea-lizar um sonho, um fantasma, um segre-do; e este desejo inacessível pertenceu ainúmeras gerações.

    Entretanto, meus amigos, este segre-

    do da Origem não está nem no passadonem no futuro: a canção da alma domundo envolve a terra inteira e suasharmonias tentam despertar a lembran-ça perdida, que se tornou quase umsonho. Não é mais tarde, um dia, nofuturo: é agora, já!

    É por isso que recomendamos quevocês, que são jovens da Mocidade daRosacruz Áurea, desçam até as profun-

    dezas de seu coração no momento emque surgir esta nostalgia, esta insatisfa-ção.Logo vocês irão notar que esta nos-talgia pode se transformar em uma ale-gria profunda que continua oculta! Uma

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    Uma vibração ainda muito sutil vaiabrindo o coração de vocês. Sem ela,este coração continuaria fechado. Estavibração interior, tão sutil, é o começodo despertar da consciência do cora-ção, com a qual vocês podem entrar emcontato.É então que vocês vão começara perceber alguma coisa a respeito dasabedoria original e do conhecimentooriginal, que estavam dentro de vocês,esperando para ser vivificados. A Fonteoriginal está dentro de vocês e sempreestará.

    Se a consciência de vocês começar ase dar conta disto, então irá nascer algode inexprimível dentro de cada um: algo

    que não tem nome, que é impossível dedefinir por palavras, que não pode ser

    descrito e nem sequer imaginado.E, no entanto, caros amigos, isto é

    bem real! Oramos para que todos vocêsque estão reunidos neste Templo, assimcomo todos os pesquisadores e busca-dores do mundo todo, cheguem enfim aencontrar dentro de seu coração aFonte original de todas as coisas.

    Todas as almas dimanaram da alma- -única, a alma universal. Elas revolu- teiam no mundo todo, como que semeadas nos lugares que lhes foram atribuídos. Essas almas experi- 

    mentam muitas mudanças, umas em ascensão plena de graça, outras ao contrário disso.Uma alma nada mais é que um microcosmo. A Gnosis ensina que a rosa-do-coração, o núcleo-alma, é o ponto central do microcosmo. Essa rosa-do-coração não é esse ouaquele órgão secretíssimo do corpo,porém, o ponto matemático exato

    correspondente ao centro da esfera microcósmica. Em volta desse ponto central, desse núcleo-alma, encontra- -se um campo de manifestação, um espaço livre que, por sua vez, é envolvido pelo ser aural sétuplo.Pensai tão somente num átomo.Todos os átomos contém um núcleoe em volta desse núcleo movimen- tam-se inúmeros elétrons, comoos planetas em torno do sol. Assim,o átomo microcósmico possui um núcleo e um campo de radiação desse núcleo, o campo de manifesta- 

    ção em volta do qual se movimentam o que se poderia denominar sete pla- netas microcósmicos, o ser aural sétuplo. A personalidade desenvolve- se nesse espaço livre, no campo de 

    irradiação em torno do núcleo do átomo microcósmico. O núcleo ou a alma do microcosmo une-se com o coração da personalidade, e assim,pode-se também falar da alma da personalidade ou da alma que está no sangue, pois a força de radiação da rosa não se desenvolve somente no coração, mas também no sangue.Tudo isso tem dado, freqüentemente,

    motivo à confusão. Na realidade,há uma força animadora em nossa personalidade; todavia, essa força provém do núcleo do microcosmo.Além disso, os fatores hereditários também têm influência no sangue e na secreção interna. E tudo o que está armazenado no microcosmo como carma provém do ser aural sétuplo e nos penetra.( Jan vanRijckenborgh, A Arquignosis Egípcia,tomo III, capítulo XX, páginas 167e 168, Lectorium Rosicrucianum,São Paulo,1989)

    O NASCIMENTO DA ALMA

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    “Os jovens se encontram diante de 

    inúmeros problemas neste mundo.

    O futuro se apresenta cada vez mais 

    complexo, sombrio e desesperador”.

    É por estas palavras que Jan vanRijckenborgh iniciou uma série de alocu-ções, em 1950, durante uma semana deverão, em Noverosa, na Holanda. Portan-to, estas palavras já têm 50 anos e osacontecimentos deste meio século lhederam razão total. A sociedade tornou--se de uma complexidade inimaginável.Tudo está ameaçado de se perder emuma infinita diversidade e multiplicidade.E é neste contexto que o ser humano jovem deve se preparar para a vida que oespera. Ele deve escolher uma direção,enquanto que de todos os lados elesomente vê armadilhas e se enrosca emestruturas emaranhadas. Entretanto, eletem a vontade e o dever de se desfazerdestes valores falidos que a sociedadelhe impõe, e sai em busca de seu próprioe novo princípio de vida.

    A puberdade é o período em que ocorpo astral se separa, por assim dizer,

    da matriz do corpo astral macrocósmico.É como se surgisse uma fenda pela qual jorrassem, do lado mais profundo do ser,explosões de sentimentos e de emoções,uma onda de desejos e de arrebatamen-tos difíceis de dominar. Muitos, nãoencontrando saída em si mesmos nemnos outros, colocam uma máscara impe-netrável. Eles se escondem por detrás depropósitos bizarros, de gritos desespera-

    dos, para encontrar o contato profundocom o verdadeiro ser humano.Os pais reconhecem este período em

    que seu filho está em transformação,revelando sua própria identidade. O ego

    se manifesta. E, para muitos pais, esteperíodo é ainda mais difícil que para acriança, pois sua força de vontade ficatensa como um arco, dirigida para o uni-verso para encontrar nele a liberdade,pois a vida cotidiana vai-se fechandosobre ele como uma rede. O ego experi-

    menta um aprisionamento insuportável. Ofrio corrosivo da matéria e de tudo o quedepende dela se opõe à eternidade e àinfinidade que se apresentam no coraçãoimpetuoso. Estes sinais de uma outravida, ainda misteriosa, vão jorrando daalma, mas o eu os despreza porque elenão os compreende. A vida do jovem serestá despedaçada entre dois mundos.

    ABRE-SE UMA JANELA

    A puberdade é um período particular-mente importante. O escritor alemãoKarl Graf Dürkheim diz: “Ela é o fio con- dutor de nosso ser original. De repente,um sentimento novo sobressai das pro- fundezas de nós mesmos e das profun- dezas do mundo.” 

    Nesta fase, pode acontecer que osimpulsos do princípio divino situado nocoração cheguem ao corpo astral aindaindeterminado e obscuro. Uma recepti-vidade como esta é possível porqueneste momento o eu não domina total-mente a personalidade.

    A puberdade provoca mudanças pro-fundas nos níveis físico, afetivo, intelec-tual, social e espiritual. Pouco a pouco, o

     jovem vai perdendo as certezas que osadultos inculcaram dentro dele. Ele vaiperdendo o equilíbrio de sua infância; asmudanças físicas vão impondo proble-mas que ele mal compreende e domina,

    OS JOVENS EM UM MOMENTO DE GRANDESTRANSFORMAÇÕES

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    apesar de todas as informações que eletem sobre a sexualidade. Crianças quesempre foram muito sensatas já não têminteresse pela sociedade comum, ecomeçam a buscar o exemplo em estre-las da música rap , do cinema, da televi-são e do esporte, que lhe dão uma ima-

    gem “sublime” da condição humana.

    UM ÍDOLO COMO PONTO DEREFERÊNCIA

    O divórcio e suas conseqüênciassempre foram difíceis de serem viven-ciados para quase todas as crianças e jovens. Os pais deveriam refletir sobreisto e agir menos por interesse pessoal,pois são eles os primeiros ídolos deseus filhos e os primeiros pontos dereferência! Este desmoronamento que éo divórcio traz para eles um golpe muitoduro, que terá repercussões em suavida e jamais será compensado poruma certa tranqüilidade, por novas ativi-dades ou diversões apaixonantes. Acriança vê, de repente, para que servem

    todos estes esforços e participa delespara não ferir seus pais; mas logo queesta fase passa, pode acontecer queela se volte violentamente contra elespor causa de seu fracasso, e escolhauma direção nada desejável em suaangústia interior.

    UMA VISÃO POSITIVA DA

    PUBERDADE

    A puberdade pode também ser umprimeiro passo muito positivo, um enca-

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    Perdido na cidadedo futuro (São Paulo,Courrier daUnesco, nº 141, 1985).

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    deamento de descobertas apaixonantese de perspectivas que prometem muito.É a fase em que o jovem percebe queexiste sua vida interior pessoal e aexplora. É um período que começa mui-tas vezes muito antes dos catorze anos,ou muito depois. É um período de pro-

    fundas transformações; é um períodoque se basta a si mesmo. Alguns pais,educadores ou especialistas que têmuma visão antiquada ou muito modernaestão inclinados a colocar barreirasmuito estritas: ou “firmam as rédeas”, oufazem o contrário. O resultado é muitaincompreensão e sofrimento de ambasas partes.

    Nas sociedades ocidentais moder-nas, a passagem da infância ao estadoadulto dura alguns anos. Em certassociedades tradicionais, este processodura apenas alguns dias, ou até mesmoalgumas horas. A metamorfose dalagarta em borboleta dá um exemploclaro do que se passa. A lagarta já atin-giu seu objetivo e ao mesmo tempo

    passa por uma completa metamorfoseno interior do casulo que ela constituiuao seu redor. O inseto rastejante trans-forma-se na elegante e colorida borbo-leta, que é capaz de se descolar daterra e voar livremente.

    O JOVEM QUE ESTÁ DESCOBRINDOA SI MESMO

    O jovem ser humano também sefecha em um casulo, enquanto uma ou-tra natureza, um mundo diferente, vaisendo anunciado no mais profundo deseu ser. Neste momento, ele sabe queexiste uma outra coisa diferente domundo material no qual ele se senteestrangeiro. Simultaneamente, ele é im-portunado por sua vida instintiva e des-cobre a sexualidade. Fisicamente, eleainda não pode tomar uma responsabi-lidade tão grande. Os adultos observamseu comportamento e tiram suas con-clusões, enquanto eles não têm nenhu-ma idéia do milagre que se realizou den-tro do casulo. O jovem segue seus pró-

    prios centros de interesse. As velhasimagens e os princípios impostos vãoperdendo seu valor e ele vai escolhen-do, ou criando, novos princípios para simesmo. Ele vai alargando seu raio deação e procura ultrapassar os limites noqual os adultos o haviam prendido. Eleparticipa da vida social a sua maneira.

    Os adultos que não conheceramestes processos por experiências ficam

    inquietos. Eles buscam proteger e res-guardar seus filhos a todo preço. Todasas gerações de pais e de educadoresfizeram isso, cada qual no seu tempo. Equantos não se dedicaram a divulgar

    Cinderela (Des Enfants , SabineWeiss e MarieNimier, 1997).

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    suas belas idéias sobre educação e,infelizmente, em contradição com a ver-dadeira evolução interior do homem!Grandes educadores foram sendo leva-dos pelo tempo, enquanto as diretrizesdaqueles que beberam da Fonte eternasempre serão atuais.

    A vida afetiva da criança e do jovemque sempre estamos reprovando porseu modo de ser desajeitado corre orisco de ser retardada, e isto para sem-pre. Podem acontecer muitas perturba-ções na época de sua maturidade espi-ritual. Felizmente o adulto jamais paroude se formar. Um plano de desenvolvi-mento está inscrito dentro de todos oscorações humanos e vai-se realizan-do através de múltiplas metamorfoses.Por infelicidade, muitas pessoas ten-tamobstaculizar estes processos porquenão conhecem o seu objetivo e nemquerem conhecer. Elas estão liga-das aos curtos instantes de felicidadeem que experimentaram uma certasegurança, como se isto fosse a finali-dade da vida!

    SAIAM DO CASULO!

    Atualmente, a maioria dos sereshumanos parece estar seguindo cega-mente seus desejos egocêntricos. Suainteligência está submetida ao seu eu,enquanto poderia estar servindo de guiapara encontrar o caminho certo. O mun-do está povoado de falsos adultos que

     jamais ultrapassaram a puberdade eque jamais saíram de seu casulo! Nestemundo perturbado e confuso, o jovemser que está crescendo tem de encon-trar a Verdade. Este é o objetivo de sua

    vida! E principalmente que ele não se

    torne como estes adultos que conside-ram a vida material como bem supremo:que ele conserve seu ideal interior, queele logo poderá colocar a serviço deseus semelhantes.

    É por isso que o jovem de nossosdias não tem necessidade que alguémvenha lhe dar lições de moral: é preciso,somente, escutá-lo e auxiliá-lo com ocoração aberto. É preciso acompanhá--lo e até ir a sua frente com toda a sin-

    ceridade, neste difícil caminho da buscado Objetivo e da Fonte da Vida.

    Vitória sobre aserpente dos desejosinferiores (JohnBauer).

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    Nos anos cinqüenta, a televisão 

    estava sendo lançada em grande 

    escala na cultura ocidental. Um im- 

    portante fabricante encorajava a 

    venda com o slogan: “A televisão 

    enriquece a vida familiar”. Nesta 

    época, um humorista holandês re- trucava: “A televisão empobrece a 

    vida familiar”. O olhar frio do tubo 

    catódico representava uma ameaça 

    para a educação e nem todos se en- 

    cantaram com esta novidade.

    A televisão surgiu com força no mundo,e os espectadores foram colocados dian-te de problemas difíceis de serem trans-postos, o que provocou esta visão alar-mante. Os especialistas nem sempreestão de acordo sobre a influência nega-tiva da televisão. Segundo eles, ela nãoexerceria nenhuma influência nociva.Mas o fato é que crianças e adultos têm

    a tendência de imitar realmente os atosdelinqüentes que ela apresenta. Apesarde todos os parentes e educadoressaberem que as crianças e jovens apren-dem por imitação, a ciência descartafacilmente esta lei fundamental e sempreestá achando que a telinha é inofensiva.

    Entretanto, há vozes que se elevam paraacabar com a violência da tela; enquantoisso, muitas cenas estúpidas são apre-sentadas aos espectadores para ocupá-los, e o mal até hoje não foi afastado.

    Os pioneiros do Lectorium Rosicru-cianum previram muitas coisas e subli-nharam, na época, que uma educaçãoespecial poderia neutralizar a influênciaexercida pela televisão (influência,segundo eles, que somente poderia tor-nar o coração mais frio e matar o espíri-to, o que ameaçava seriamente o de-senvolvimento espiritual de jovens eadultos!) “Será preciso lutar por cada criança”, dizia Jan van Rijckenborgh emsua alocução de fundação das escolasda Rosacruz Áurea.

    AS ESCOLAS JAN VAN RIJCKENBORGH

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    HARMONIA, PAZ, AFETO E AMOR

    Uma das diretrizes mais importantesera a criação de um campo de vida pro-tetor onde as crianças poderiam apren-der as lições da existência, um encami-

    nhamento consciente da vida. EmHaarlem e em Hilversum, escolas pri-márias, ainda não subvencionadas,começaram seu trabalho com uns trin-ta alunos e dois educadores, membrosdo Lectorium Rosicrucianum. Elesaspiravam criar uma atmosfera em quereinasse a harmonia, paz, atenção eamor. De fato, estas são as colunassobre as quais o desenvolvimento dacriança deve tomar forma nos primeirosanos escolares.

    Em uma carta à direção da escola,Catharose de Petri escreve: É impor- tante que, desde cedo, na vida da criança, sejam desenvolvidos dois esta- dos sensoriais. De um lado, uma orien- tação pura sobre a futura vida mental 

    que deve se manifestar como ‘alma’ ou ‘consciência da alma’; de outro, a mani- festação e a atividade do átomo do coração, ou átomo original. A partir de uma base como esta, podem surgir imensas possibilidades na criança”.

    ABERTURA PARA O FUTURO

    Esta educação tem como finalidademanter abertos (e até necessariamenteestimular) estes poderes e qualidadesque são o pensamento e os sentimentosverdadeiros, a intuição, a compreensão,o saber, a sabedoria e a liberdade inte-riores. O programa de estudos obrigató-rios repousa na doutrina transmitida naEscola Espiritual da Rosacruz Áurea. Éevidente que a intenção não é fazer decada criança um aluno da Escola Es-piritual. Mas o fato é que nessas escolasos educadores tentam manter intactostanto a receptividade ao apelo interior

    Escolas Jan vanRijckenborgh, emHeiloo e emHilversum, naHolanda.

  • 8/15/2019 Revista Ano 21 Numero 6

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    como o desejo pela vida superior,enquanto a personalidade está flores-cendo e o eu consciente está tomandoseu rumo. A voz da alma pode continuara falar. Não é uma utopia e muitos jovens que foram à escola Jan van

    Rijckenborgh hoje encorajam em seusfilhos este desejo profundo de liber-dade espiritual. “A escola Jan vanRijckenborgh foi, para mim, o momentomais lindo da minha mocidade”, disseum antigo aluno em uma reunião.

    Todos os jovens têm o direito de rece-ber este auxílio e todos os pais e educa-dores são obrigados a agir da melhormaneira neste sentido.

    O PRÓPRIO JOVEM DÁ O FIOCONDUTOR

    Não é uma tarefa fácil e isto vai sur-gindo nas perguntas que os educadoresfaziam a Jan van Rijckenborgh: “O se- nhor poderia nos descrever como ima- 

    gina que seja esta forma de ensinar?” Eele respondia: “Se vocês estiverem em ligação com o campo de irradiação magnético gnóstico do Lectorium Rosi- crucianum, vocês jamais verão sua mis- 

    são como uma tarefa comum. Não que- remos que nossas palavras sejam transformadas em leis ou em esquemas culturais. A conseqüência disto seria a esclerose. Tentem criar uma esfera am- biente em que os veículos superiores estejam sempre ativos, até o dia em que 

    o jovem possa determinar sua vida de modo autônomo. Utilizem como fio con- dutor as perguntas fundamentais que cada criança irá fazendo em determina- do momento.” 

    UM SÓ NO