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Revista do CEN |1 ENTREVIST ENTREVIST ENTREVIST ENTREVIST ENTREVISTAS - Babá P AS - Babá P AS - Babá P AS - Babá P AS - Babá Pecê de Oxumarê & Marcos Rezende ecê de Oxumarê & Marcos Rezende ecê de Oxumarê & Marcos Rezende ecê de Oxumarê & Marcos Rezende ecê de Oxumarê & Marcos Rezende História Do surgimento na Bahia, até se tornar uma das maiores organizações nacionais do Movimento Negro Brasileiro Agenda política Conheça a agenda política do CEN, suas ações e articulações Ações desenvolvidas Atividades e projetos do realizados nos últimos seis anos Lindinalva de P Lindinalva de P Lindinalva de P Lindinalva de P Lindinalva de Paula, aula, aula, aula, aula, Coordenadora Nacional de Gênero fala das políticas para esta área! Um novo marco refencial no Movimento Negro É assim que Marcio Gualberto, descreve a instituição da qual é Coordenador Geral

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Março 2012

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Revista do CEN |1

ENTREVISTENTREVISTENTREVISTENTREVISTENTREVISTAS - Babá PAS - Babá PAS - Babá PAS - Babá PAS - Babá Pecê de Oxumarê & Marcos Rezendeecê de Oxumarê & Marcos Rezendeecê de Oxumarê & Marcos Rezendeecê de Oxumarê & Marcos Rezendeecê de Oxumarê & Marcos Rezende

HistóriaDo surgimento na Bahia, até se tornar uma das maioresorganizações nacionais do Movimento Negro Brasileiro

Agenda políticaConheça a agenda política doCEN, suas ações e articulações

Ações desenvolvidasAtividades e projetos dorealizados nos últimosseis anos

Lindinalva de PLindinalva de PLindinalva de PLindinalva de PLindinalva de Paula,aula,aula,aula,aula, Coordenadora Nacional de Gênero fala daspolíticas para esta área!

Um novo marco refencialno Movimento NegroÉ assim que Marcio Gualberto,descreve a instituição da qual éCoordenador Geral

2 | Revista do CEN

Revista do CEN |3

5 Editorial

Apresentação da revista

7 Agenda política

Conheça a agenda política doCEN

8 Ações desenvolvidas

Um resumo da nossa história

11 Um novo marco

Análise política do papel doCEN no cenário do MovimentoNegro

13 Entrevista

Babá Pecê de Oxumarê fala darelação do Ilê Axé com o CEN

15 Artigo

Silvana Veríssimo fala da vio-lência contra a mulher

16 Artigo

Guilherme Nogueira faz umaanálise do racismo e do pre-conceito como forma de humor

17 Entrevista

Marcos Rezende, ex Coordena-dor Geral do CEN, fala umpouco da instituição.

19 Coordenações e ativida-

desConheça as coordenaçõesestaduais e temáticas e umpouco do que cada uma delasfaz.

Realizada pela primeira vez emSalvador, em 2005, a CaminhadaPela Vida e Liberdade Religiosainspirou ações semelhantes emvários estados da Federação. Suasétima edição, em novembro de2011 colocou ao CEN o desafio derepensar o modelo, uma vez quea caminhada, por si só, já não en-contra grande eco junto ao públi-co-alvo.

No entanto, é importante frisar queo evento, tal como se deu ao lon-go dos anos ajudou a fortalecer aauto-estima dos praticantes dasreligiões de matrizes africanas emtodo o país.

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Carnaval de 2007Carnaval de 2007Carnaval de 2007Carnaval de 2007Carnaval de 2007O CEN comete a ousadia de colocar mais deO CEN comete a ousadia de colocar mais deO CEN comete a ousadia de colocar mais deO CEN comete a ousadia de colocar mais deO CEN comete a ousadia de colocar mais de

4 mil pessoas no “Blocão do CEN”.4 mil pessoas no “Blocão do CEN”.4 mil pessoas no “Blocão do CEN”.4 mil pessoas no “Blocão do CEN”.4 mil pessoas no “Blocão do CEN”.

Formado por pessoas de pequenos blocos que já haviamdesfilado nos circuitos Batatinha e Pelourinho, além depessoas das comunidades, o Blocão do CEN saiu à fren-te dos Filhos de Gandhi e fez um protesto histórico naPraça Castro Alves, estendendo um gigantesco pano pre-to em plena avenida, simbolizando a invisibilidade da po-pulação negra naquele que deveria ser o mais popularcarnaval do país.

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Revista do CEN - Tudo que quere-mos é contar um pouco da nossahistória

Marcio Alexandre M. GualbertoMarcio Alexandre M. GualbertoMarcio Alexandre M. GualbertoMarcio Alexandre M. GualbertoMarcio Alexandre M. GualbertoEditor

Coordenador Geral do CEN

Esta é a primeira revista do CEN. Depois de sete anos decriação da nossa instituição, pela primeira vez sistematiza-mos um pouco da nossa história em um material impressonão só para divulgar o que fazemos, mas, também, parahomenagear aqueles e aquelas que, antes de nós, cons-truíram ações, pensaram propostas, construíram interven-ções que culminaram com o surgimento do CEN.

Somos uma institiuição que traz o coletivo em seu nome eé pensando coletivamente que agimos. Ao longo dos anosmuitas pessoas vieram e ficaram, outras vieram e parti-ram, outras tentaram se aproximar mas não vieram, emesmo assim seguimos adiante, com nossos erros e acer-tos, mas sempre construindo coletivamente.

Hoje o CEN se coloca como uma instituição que traz em sia capacidade de mobilizar e, ao mesmo tempo, formularpropostas positivas visando combater o racismo, a intole-rância religiosa, a homofobia, valorizar os direitos huma-nos, os direitos das mulheres e o direito fundamental dosjovens à vida.

Não é fácil. Às vezes os caminhos tornam-se espinhosos edá uma vontade tremenda de desistir. Lidamos comimcompreensões externa e internamente; agimos com umaintenção e acabamos sendo interpretados por outras. Masmesmo assim, sempre vem o desejo de continuar, de se-guir em frente, de avançar rumo à construção de algomaior.

Esta revista sintetiza um pouco este pensamento. Traz umpouco da nossa história, apresenta nossa agenda política,mostra como agimos e o que formulamos em nosso dia-a-dia. E se você gostar do que ler aqui, venha se filiar aoCEN e somar-se à nossa luta. Visite nosso site, entre emcontato conosco e faça parte desta corrente que a cadadia se reforça.

Uma boa leitura e nosso muito obrigado!

Visite o site do CEN

www.cenbrasil.org.br

A Revista do CEN é editadapor:

Rua Geraldino Moreira Rodrigues, 36128.470-000 - Araruama - RJ

Tel: 55 21 9817 461622 2664 1213

Nxtl: 80*177635

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CEN InformaCEN InformaCEN InformaCEN InformaCEN InformaBoletim traz o cotidianoBoletim traz o cotidianoBoletim traz o cotidianoBoletim traz o cotidianoBoletim traz o cotidiano

da instituiçãoda instituiçãoda instituiçãoda instituiçãoda instituição

O CEN Brasil Informa cumpre a tarefa de levaro cotidiano da instituição para grupos e pessoas que

nem sempre têm condições de acessar nosso site oubuscar nossas informações pela internet.

O CEN Brasil Informa é um boletim com duas páginas, colorido, quetraz sempre uma notícia em destaque e várias outras menores emsua segunda página, fazendo assim com que a relação com o mili-tante que está na ponta não se perca e, pelo contrário, se fortaleça apartir do que ele avalia do que está sendo feito em seu nome pelaorganização.

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Agenda políticaConheça a agenda política do CEN,

suas ações e articulações

Ao longo dos anos o CEN construiuuma postura de total independênciacom relação ao seu pensamentopolítico. Independência esta quecusta caro e cobra seu preço.

Por não se alinhar politicamente anenhum partido ou grupo político oCEN acaba, muitas vezes isolado denegociações que envolvem espaçospolíticos e recursos financeiros.

Esta opção política, tomada nos idosde 2007, quando o CEN optou pordeixar de ser uma instituição local(Bahia), para tornar-se uma organi-zação política nacional do Movimen-to Negro vem, ao longo dos anos,demonstrando mais acertos que er-ros.

É graças a esta postura que o CENconsegue ter um amplo canal dediálogo em todas as frentes possí-veis e, ao mesmo tempo, realizaruma política institucional sem sur-presas e sem cartas na manga.

O CEN tem aberto frentes de diálo-gos importantes com vários partidospolíticos no campo da esquerda.Seus filiados e coordenadores ecoordenadoras podem, sem prejuí-zo à instituição, filiar-se ao partidoque melhor lhe aprouver. Desta for-ma, dialogamos com partidos tãodistintos quanto o PT, o PSB e oPRB entre outros.

Também construímos pontes de di-álogos importantes com vários seg-mentos do movimento social alémdas fronteiras do Movimento Negro.O CEN relaciona-se com as organi-zações de direitos humanos, de di-reitos das mulheres, movimentosem-terra, setores ambientalistas,grupos eclesiásticos entre tantosque constróem o macro-universo dasociedade civil brasileira.

Ultimamente o CEN vem se qualifi-cando para entrar em discussõesinternacionais tais como o movimen-to da diáspora nas Américas eCaribe, as questões da saúde dapopulação negra e drogadição, en-tre outros.

Agenda Religiosa

n Forum Nacional da Religiosidade de Matriz Africana - Fortaleci-mento do Fórum nos Estados e construção de sua estrutura em nívelnacional;

n Manutenção da campanha «Quem é de Axé diz que é!» - Na perspectiva de que já precisamos trabalhar para influir no Censo de 2020,para isso constituindo um grupo de diálogo, desde já, com o IBGE;

n Frente Parlamentar em Defesa das Comunidades Tradicionais deTerreiros - Apoiar e fortalecer a Frente Parlamentar, influir em suaagenda e agir pro-ativamente junto à Frente;

n Mapa da Intolerância Religiosa - Assumir este projeto como umainiciativa do CEN e desdobrá-lo em outros estados;

n Conferência Nacional Sobre Liberdade Religiosa - Fortalecer aproposta de realização da I Conferência Nacional Sobre LiberdadeReligiosa, reunindo não só as religiões de matrizes africanas, mastodo o universo religioso brasileiro;

n Caminhada Pela Vida e Liberdade Religiosa - Reavaliação domodelo e da necessidade de realização anual desta caminhada.

Agenda Política

nnnnn Juventude - Ações de fortalecimento do campo da juventude doCEN visando atuar fortemente em três áreas: educação (superior ede base), trabalho (emprego e renda), violência;

nnnnn Gênero - Realização do I Encontro Nacional de Mulheres do CEN,com definição de uma agenda política do CEN no campo dasrelações de gênero, sem deixar de considerar a perspectiva domasculino, incluindo-se aí a agenda LGBT que carece de umadefinição sobre sua manutenção ou não como coordenação nacionaldo CEN;

nnnnn Trabalho & Renda - Criação de uma Coordenação Nacional deTrabalho e Renda que envolva a formulação de propostas efetivas eeficazes de combate à pobreza nas comunidades atendidas pelasorganizações ligadas ao CEN;

nnnnn Parcerias políticas - Avaliação das parcerias político-institucionaisdo CEN tanto em nível nacional, quanto em níveis locais. Pensar aaproximação com setores político-partidários que possam vir afortalecer o CEN institucionalmente;

nnnnn Cenário político de 2012 - Lançar e eleger quadros políticos ligadosao CEN em todos os municípios onde atuamos, para isso pensandoaproximações com partidos ligados ao campo da esquerda;

nnnnn Relação com o Movimento Negro - ampliar a base de atuação doCEN além da questão da religiosidade - sem perdê-la de perspectiva-, mas buscando trazer para a instituição temas que ampliem aperspectiva de atuação instituição em outras frentes.

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Ações desenvolvidasAtividades e projetos do realizados nos últimos seis anosO Coletivo de Entidades Negras(CEN) nasce na Bahia, em 2005com dois referenciais muito fortes:a defesa da cultura popular e a lutacontra a intolerância religiosa sofri-da pelas religiões de matrizes afri-canas.

Seu nascimento já foi simbólico. Oprimeiro ato público do CEN foi noantigo Belvedere da Sé, a nova CruzCaída de Mário Cravo, ao lado doMemorial das Baianas Negras doAcarajé, patronas dos mercados dacidade da Bahia, pioneiras doempreendedorismo.

Ali o CEN já afirmava a identidadeque determinou e define suas açõesdo seu criadouro até os dias atuais.

Ainda em 2005 o CEN inova e rea-liza a I Caminhada Pela Vida e Li-berdade Religiosa, saindo do Bus-to de Mãe Runhó, no Alto do Enge-nho Velho, para terminar no Dique

do Tororó, espaço público de expo-sição de várias imagens dos Orixásdo Panteão Yorubá.

Já em 2006 e em 2007 o CEN en-volve-se numa luta feroz contra aPrefeitura, o Governo do Estado eoutros grupos que alijavam as pe-quenas agremiações e grupos cul-turais dos recursos do carnaval daBahia. Numa rápida extimativa, per-cebeu-se naquele momento que ocarnaval gerava uma receita de nomínimo 200 milhões para a cidadede Salvador e deste montante, R$500,00 ou 700,00 no máximo eramdestinados a cada um dos peque-nos grupos que realizavam o car-naval nos circuitos menores taiscomo o Batatinha, Pelourinho e Pra-ça Castro Alves, uma vez que ocircuto Barra/Ondina já era de usoexclusivo dos mega blocos carna-valescos que cobram milhares dereais por um abadá e excluem apopulação pobre através de cordas

que protegem o folião pagante do“pipoca” que não teve, nem nuncaterá o montante para sair num des-tes blocos.

Esta luta gerou muitas dores, an-gústias, decepções, mas ao fim,cada grupo filiado ao CEN, num to-tal que excedia os 40, recebeu emmédia 15 mil reais de subvenção epôde, naquele ano, realizar um car-naval um pouco mais digno.

Não satisfeito com o resultado al-cançado, o CEN agregou todos es-tes grupos no que ficou conhecidocomo o “Blocão do CEN” e, mais de4 mil pessoas desfilaram até a Pra-ça Castro Alves onde, em frente aogovernador, artistas e personalida-des presentes fez um ato de pro-testo estendendo uma gigantescabandeira preta, simbolizando ainvisibilidade dos mais pobres nomaior carnaval do Brasil. O resulta-do foi que o CEN tornou-se persona

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no grata para os governantes deplantão e daí, para os anos seguin-tes, as negociações se tornarammuito mais complexas.

Em 2007 o CEN começa a pensargrande

Inspirado pelas discussões do Con-gresso Nacional de Negras e Ne-gro do Brasil (Conneb), o CEN tomaa decisão política de deixar de seruma organização local para se tor-nar nacional.

Para isso convidou Marcio Alexan-dre Gualberto, que já tinha grandeacúmulo de trabalhos com grandesorganizações não-governamentaispara assumir a política institucionaldo CEN.

Esta parceria, em consonância coma coordenação do CEN e sob a li-derança de Marcos Rezende, trans-formou o CEN em pouco tempo emuma das três maiores organizaçõesnacionais do Movimento Negro bra-sileiro.

Ao estabelecer como agenda pre-ferencial a defesa das religiões dematrizes africanas o CEN abriu umcampo onde poucas organizaçõesatuavam e foi a primeira - de cará-ter político diversificado - a abraçarcom eficácia esta causa, transfor-mando a temática numa das gran-des agendas nacionais do Movi-mento Negro.

Campanha “Quem é de Axé dizque é” e Forum Nacional da Reli-giosidade de Matriz Africana sãomarcos da atuação política

Surpreendeu e assustou muita gen-te o CEN chegar à II ConferênciaNacional da Igualdade Racial(CNPIR) com apenas um ponto emsua agenda política: a criação doFórum Nacional da Religiosidade deMatriz Africana.

Fruto de várias discussões internasentre Marcos Rezende e Marcio Ale-xandre, o Fórum tinha o propósitobem acabado de ser o elemento

A Cruz Caída, local simbólico do nasci-mento do CEN.

Caminhada Pela Vida e LiberdadeReligiosa em 2007

Lançamento do Jornal do Conneb, nafoto, Marcos Rezende, de chapéu, comAbdias do Nascimento, Elisa Larkin, RuthPinheiro e Nuno Coelho dos APNs

Marcio Alexandre Gualberto no lançamen-to do Mapa da Intolerância Religiosa emPorto Alegre

balizador e, ao mesmo tempo, pro-piciar ao Babalorixá e à Iyalorixá oespaço de verdadeira representa-ção da religiosidade, coisa que atéentão era feita pelas várias organi-zações ligadas ao tema.

Logicamente a proposta ganhouforte apoio entre sacerdotes esacerdotizas mas foi massacradapelas organizações que se viramameaçadas em seu projeto dehegemonia na representação des-te segmento religioso. No entanto,depois de muitas costuras políticasa proposta foi aprovada e sua exe-cução é apenas questão de tempo,uma vez que vários estados da Fe-deração já criaram seus própriosForuns e vêm atuando exatamentecomo havia sido proposto pelo CEN.

Já a campanha “Quem é de Axé dizque é” surgiu unicamente com oobjetivo de incidir sobre o Censo de2010 e estimular o praticante dereligião de matriz africana a assu-mir sua fé.

O indicador mais positivo do suces-so desta campanha é sua manuten-ção até os dias atuais e sua absor-ção pela comunidade religiosa que,em todo e qualquer evento afirmasempre o slogan da campanha.

Como desdobramentos dessasações o CEN formulou, articulou eajudou a criar a Frente Parlamentarem Defesa das Comunidades deTerreiro, que vem sendo hoje, den-tro do Congresso Nacional, a linhade frente, diante dos ataques sofri-dos pela comunidade religiosa.

Em 2011, já sob a coordenação deMarcio Alexandre Gualberto, o CENlançou o Mapa da Intolerância Reli-giosa - Violação ao Direito de Cultono Brasil e já se prepara para lan-çar o segundo volume, que tratarádo aparelhamento do estado porgrupos fundamentalistas para impo-rem sua fé em detrimento à práticareligiosa de outros.

São grandes os desafios que espe-ram o CEN para os próximos anos.

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Um novo marco refencialno Movimento Negro

Marcio Alexandre GualbertoJornalista, Coordenador Geral do CEN

Uma das características mais importantes que me atraíram quando fuiconvidado a entrar no CEN era o fato de ajudar a transformar uma insti-tuição nascida na Bahia, no Nordeste do país, em uma organização na-cional do Movimento Negro.

Afinal, desde sempre o motor do Movimento Negro sempre foi o Sul e oSudeste. Foi lá que nasceu a Frente Negra, o Movimento Negro Unifica-do, a União de Negros pela Igualdade e a Coordenação Nacional deEntidades Negras. Portanto, como era interessante a idéia de ajudarfazer nascer uma entidade nacional na Bahia...

O entusiasmo de Marcos Rezende, que já me contagiava quando nosencontrávamos em reuniões do Movimento Negro, mas nunca tinha sidosuficiente para fazer surgir entre mim e ele uma amizade mais direta,nos aproximou de tal maneira que, num belo dia, me vi saindo do Rio deJaneiro para passar mais de um mês na Bahia para conhecer o CEN.

E conhecer o CEN significou conhecer o modo baiano de fazer política.Com muitos gritos, muita energia, muita explosão e depois a calmariaquando os acordos começavam a ser construídos. Para um carioca, acos-tumado com o modus operandi da região Sudeste, sem dúvida foi umchoque, pois havia momentos em que eu pensava que fosse aconteceruma briga, um entrevero físico; coisa que, de fato, nunca acabei assis-tindo.

Ir para Salvador conhecer o CEN implicou visitar muitos bairros, muitascomunidades, muitas casas religiosas, muitas associações, grupos cul-turais e outras cidades da Bahia. Fui a Alagoinhas, fui a Lauro de Freitas,fui a lugares cujos nomes me fogem da memória mas ela registra quetudo que vi foi um povo apaixonado, acreditando que estavam construíndoalgo diferente, e de fato estavam.

A grande novidade que o CEN trazia naquele momento e que me encan-tou, como homem acostumado aos blablablás acadêmicos das grandesOngs para as quais havia trabalhado minha vida inteira, é que tudo queera discurso num lugar, no CEN era prática direta. O CEN era base;povão; era democrático ao ponto de as pessoas gritarem com Marcos,lhe colocarem o dedo na cara e dizerem: “você aqui não manda nada!” Eessa afirmação, acompanhada deste gestual significava, antes de tudoque na verdade, todos ali mandavam, todos ali construíam juntos. Todosacreditavam num novo projeto, numa nova forma de fazer militância.

Impactado por tudo isso, lembro-me que escrevi um artigo dizendo queo CEN era um farol apontando, a partir da Bahia, um novo rumo para oMovimento Negro brasileiro.

Reunião com representantes da prefeiturade Salvador para discutir o apoio financei-ro às entidades carnavalesas.

Lindinalva e Ademir, em reunião daCoordenação Nacional do CEN

Em primeiro plano, Lindacy Assis,Coordenadora do CEN em Pernambuco

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Quando começamos o processo de expansão do CEN tememos emperder estas características. Fomentamos junto a cada grupo que sefiliava em outros estados, a idéia de que o CEN era uma entidade dife-rente e o que a diferenciava deveria ser mantido, caso contrário, perde-ríamos a razão de ser.

Isto foi sendo compreendido por Pernambuco, Maranhão, Rio de Janei-ro, Rondônia, São Paulo e tantos outros estados que, nos últimso anosse somaram à nossa instituição. Quase sempre deu certo, quando nãodeu, interviemos, mudamos e refizemos o percurso.

Nossos detratores gostam de dizer que somos um CEN com S. Que nãotemos nada, nem sede, nem dinheiro, nem nada. É uma grande verda-de. O CEN se constituiu e se estabelece como uma organização semrecursos próprios. No entanto, o CEN tem um patrimônio que poucassão as organizações que hoje, em todo o país podem dizer que têm: oCEN alia capacidade de formulação com mobilização. Nós escrevemos,refletimos, produzimos, propomos e quando preciso, colocamos o bloconas ruas e gritamos, brigamos e vamos à luta para fazer valer nossasreinvindicações.

Esta característica talvez marque um diferencial fundamental do CENpara as outras organizações do Movimento Negro. Não nos colocamosnem como melhores, nem como piores, apenas constatamos uma dife-rença que, para nós é motivo de orgulho. Sem medo de errar podemosafirmar que em todos os debates que entramos nos últimos anos, nósfizemos diferença, nós construímos um refencial, nós alteramos o cená-rio.

Nossa capacidade de formulação nos permite criar campanhas, proporações, formular políticas, discutir novas concepções e perspectivas es-tratégicas, quando muitas das vezes quando olhamos em volta o quevemos é estagnação.

O CEN não é uma instituição reativa. Pelo contrário, nos atencipamos adeterminadas situações e colocamos as alternativas na mesa. Busca-mos construir juntos, somando forças, pois entendemos que num es-pectro amplo como é o Movimento Negro e a agenda étnico-racial, dis-cutir hegemonia é bobagem e perda de tempo.

Acreditamos que ao somarmos forças, todos os atores políticos se forta-lecem; não fazemos questão que nossos nomes estejam à frente dascoisas e, pelo contrário, as ações de maior sucesso do CEN às vezesnem nossa assinatura levaram e, por conseguinte, nos divertimos emver, vez ou outra, aparecerem criadores para ações que só nós sabe-mos como formulamos.

Este é o Coletivo de Entidades Negras. Uma organização que, por nãoter recursos financeiros não entra em crise, não se fragiliza, pois usa otempo todo da criatividade. É uma instituição verticalizada onde as es-colhas das coordenações se dão por acordo e as discussões são resol-vidas por concenso. O CEN não se burocratiza; não se distancia de suasbases e não busca ser mais do que é.

Sabemos do nosso tamanho, do nosso alcance e da nossa importância.Isto para nós é o que importa, é o que nos satisfaz como organização,nos alegra como indivíduos e nos fortalece como operadores políticos,

Marcos Rezende entrega ao presidenteLula o material da 5ª Caminhda Pela Vidae Liberdade Religiosa

Seminário com Comunidades TradicionaisQuilombolas em São Luis do Maranhão

Marcio Marins (Coordenador do CEN/PR)realiza capacitação em DST/Aids no IlêAxé Ayrá Kinibá, filiado ao CEN.

Dra. Renata Oliveira, Dikota Djanganga(Coordenadora do CEN/MG) e DonéSandra de Vodun Jó

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Entrevista - Babá Pecê de Oxumarê

O nascimento do Coletivo de Entidades Negras tem relação direta com a visão do Babalorixá PO nascimento do Coletivo de Entidades Negras tem relação direta com a visão do Babalorixá PO nascimento do Coletivo de Entidades Negras tem relação direta com a visão do Babalorixá PO nascimento do Coletivo de Entidades Negras tem relação direta com a visão do Babalorixá PO nascimento do Coletivo de Entidades Negras tem relação direta com a visão do Babalorixá Pecê deecê deecê deecê deecê deOxumarê. Ao perceber o grande número de organizações sociais baianas que não acessavam asOxumarê. Ao perceber o grande número de organizações sociais baianas que não acessavam asOxumarê. Ao perceber o grande número de organizações sociais baianas que não acessavam asOxumarê. Ao perceber o grande número de organizações sociais baianas que não acessavam asOxumarê. Ao perceber o grande número de organizações sociais baianas que não acessavam aspolíticas públicas e não conseguiam estar nos mesmos espaços que as grandes organizações, Babápolíticas públicas e não conseguiam estar nos mesmos espaços que as grandes organizações, Babápolíticas públicas e não conseguiam estar nos mesmos espaços que as grandes organizações, Babápolíticas públicas e não conseguiam estar nos mesmos espaços que as grandes organizações, Babápolíticas públicas e não conseguiam estar nos mesmos espaços que as grandes organizações, BabáPPPPPecê estimulou pessoas do Ilê Axé Oxumarê a, não só atender estas organizações, mas buscar formasecê estimulou pessoas do Ilê Axé Oxumarê a, não só atender estas organizações, mas buscar formasecê estimulou pessoas do Ilê Axé Oxumarê a, não só atender estas organizações, mas buscar formasecê estimulou pessoas do Ilê Axé Oxumarê a, não só atender estas organizações, mas buscar formasecê estimulou pessoas do Ilê Axé Oxumarê a, não só atender estas organizações, mas buscar formaseficazes de fazer com que as ações em torno delas trouxessem resultados concretos. Nessa entrevista,eficazes de fazer com que as ações em torno delas trouxessem resultados concretos. Nessa entrevista,eficazes de fazer com que as ações em torno delas trouxessem resultados concretos. Nessa entrevista,eficazes de fazer com que as ações em torno delas trouxessem resultados concretos. Nessa entrevista,eficazes de fazer com que as ações em torno delas trouxessem resultados concretos. Nessa entrevista,Babá PBabá PBabá PBabá PBabá Pecê fala um pouco dessa e de outras histórias envolvendo o CENecê fala um pouco dessa e de outras histórias envolvendo o CENecê fala um pouco dessa e de outras histórias envolvendo o CENecê fala um pouco dessa e de outras histórias envolvendo o CENecê fala um pouco dessa e de outras histórias envolvendo o CEN.....

Babá, antes de tudo, sua bênção.Gostaríamos de ouvir suas pala-vras a respeito da história con-tada acima e de como foi e temsido o envolvimento do Ilê AxéOxumarê com o CEN.

Que os orixás abençoem todosvocês. É uma relação positiva. OCEN nasceu aqui dentro dessacasa e por isso temos uma relaçãomuito especial. Foi um grande par-ceiro para que pudéssemos contri-buir com as organizações que eramexcluídas dos processos de capta-ção de recursos. Conseguimos reu-nir um grande número de entida-des, que assim como as casas decandomblé, sempre sofreram comos processos de discriminação queimperam na sociedade.

Sabemos que na Bahia o racis-mo institucional é um dado da re-alidade, afinal, o estado que con-centra a maior população negrado país, em termos numéricos,não se vê refletida nas instânci-

as de poder. Quando o CENfoi projetado, isso foi leva-do em conta?

Sim. Sempre tivemos a preo-cupação em combater todasas formas de discriminação.

Nesse mesmo período, pas-sei a ser conselheiro do Nú-cleo de Religião de MatrizesAfricanas da Polícia Militar,como uma forma de debatero tema e encontrar alternativas efi-cientes que pudessem ajudar naextinção dessa prática tão perver-sa para todos nós, independente decor, que é o racismo, principalmen-te quando ele surge das organiza-ções que deveriam nos defenderpor direito.

Como o senhor avalia as açõesdo CEN desde o seu nascimen-to, em 2005, até os dias atuais?

O surgimento do CEN em 2005, co-incidiu com uma decisão que há

anos permeava o meu imaginário,que era reunir todo o povo de San-to, para fazer um evento para dis-cutir e combater as práticas de in-tolerância religiosa. Naquele mes-mo período, o CEN começava a seformar. Ele nasceu, para ser preci-so em agosto, e quatro meses de-pois, juntos fizemos a I Caminha-da do Povo de Santo, um eventoque se tornou de abrangência na-cional. Aquilo foi algo que nem nóstínhamos dimensão da grandeza,fomos divulgados internacional-mente. E até hoje, o CEN é o nos-

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so parceiro para a relização deeventos dessa natureza. Pensoque o Coletivo foi e é importantepara a luta anti-racista e para com-bater a intolerância religiosa.

Em 2007, o CEN deixou de ser oColetivo de Entidades Negras daBahia para tornar-se uma orga-nização nacional do MovimentoNegro. Como o senhor acompa-nhou esse crescimento?

Acompanhei de perto e inclusiveindiquei novos possíveis parceirosde outros estados.

Hoje, apesar de o CEN encontrar-se em 20 estados da Federaçãoe sabermos que a Casa deOxumarê se ramifica por todo opaís, vemos pouca presença dascasas filiadas no CEN em outrosestados, não seria o caso de osenhor, como cabeça do Axé,não só ter um envolvimento mai-or no dia-a-dia da instituição,mas estimular que as casas

filiadas também o fizessem?

Não nos envolvemos nas politicassociais das casas que descendemdo nosso axé. A nossa primeirapreocupação é com a religiosida-de. Não podemos interferir nesseprocesso.

Qual sua avaliação dosposicionamentos que o CENvem assumindo nos últimosanos de manter forte a atuaçãoem defesa da religiosidade dematriz africana, mas ampliarsuas ações para as temáticas degênero, juventude, meio ambien-te e desenvolvimento entre ou-tras?

Penso que é importante a atuaçãoem todas as frentes que ainda sãooprimidas. A luta deve ser constan-te pela promoção de uma verda-deira igualdade.

E neste caso, em que se ampli-am as ações institucionais do

CEN, como o senhor vê o papelda Casa de Oxumarê neste pro-cesso?

Hoje o CEN é uma organizaçãonacional e a Casa de Oxumarê éuma das suas parceiras.

O senhor, como indivíduo, em al-gum momento já refletiu sobresua importância pessoal para ainstituição e do desejo que estainstituição tem de tê-lo mais pró-ximo? Se sim, porque não pen-sar, efetivamente, numa maiorparticipação sua, não só nas es-feras de decisão, mas, também,como uma espécie de conselhei-ro político, espiritual da coorde-nação da mesma?

Penso que todas as pessoas tema sua importância e a sua colabo-ração. Como sacerdote ofereçoapoio espiritual para todas as pes-soas que me procuram. Um forteabraço, Axé. Que os orixás aben-çoem a todos vocês.

DDDDDA BAHIA PA BAHIA PA BAHIA PA BAHIA PA BAHIA PARA O MUNDOARA O MUNDOARA O MUNDOARA O MUNDOARA O MUNDO: TRADICIONAL TERREIRO DE CANDOMBLÉ BAIANO: TRADICIONAL TERREIRO DE CANDOMBLÉ BAIANO: TRADICIONAL TERREIRO DE CANDOMBLÉ BAIANO: TRADICIONAL TERREIRO DE CANDOMBLÉ BAIANO: TRADICIONAL TERREIRO DE CANDOMBLÉ BAIANO, CASA, CASA, CASA, CASA, CASAOOOOOXUMARÊ, LANÇA SITEXUMARÊ, LANÇA SITEXUMARÊ, LANÇA SITEXUMARÊ, LANÇA SITEXUMARÊ, LANÇA SITE, BL, BL, BL, BL, BLOG E SE JOGA NAS REDES SOCIAISOG E SE JOGA NAS REDES SOCIAISOG E SE JOGA NAS REDES SOCIAISOG E SE JOGA NAS REDES SOCIAISOG E SE JOGA NAS REDES SOCIAIS; 'PREFERIMOS QUE NÓS MES; 'PREFERIMOS QUE NÓS MES; 'PREFERIMOS QUE NÓS MES; 'PREFERIMOS QUE NÓS MES; 'PREFERIMOS QUE NÓS MES-----

MOS FMOS FMOS FMOS FMOS FALÁSSEMOS DALÁSSEMOS DALÁSSEMOS DALÁSSEMOS DALÁSSEMOS DA NOSSA HISTÓRIA', DISSE BABÁ PECÊ DE OA NOSSA HISTÓRIA', DISSE BABÁ PECÊ DE OA NOSSA HISTÓRIA', DISSE BABÁ PECÊ DE OA NOSSA HISTÓRIA', DISSE BABÁ PECÊ DE OA NOSSA HISTÓRIA', DISSE BABÁ PECÊ DE OXUMARÊXUMARÊXUMARÊXUMARÊXUMARÊ

Quem disse que o ancestral não combina como contemporâneo? Nesta quarta-feira (30), oterreiro de candomblé Casa Oxumarê, localiza-do no bairro da Federação, em Salvador,mostrou que uma coisa combina com a outra,sim. O templo da religião de matriz africana,que tanto valoriza a ancestralidade, resolveu selançar na internet: criou site, blog e se jogounas redes sociais.

O lançamento do terreiro no meio mais pluralda contemporaneidade significa para os adep-tos, acima de tudo, o fortalecimento do can-domblé e a desmistificação de preconceitos dasociedade. Quem diz é a maior liderança dacasa, Sivanilton Encarnação da Mata, o babáPecê de Oxumarê, de 47 anos.

"Temos filhos em vários lugares do mundo, e isso vai servir para manter contato com eles". De acordo comSivanilton, a internet vai possibilitar ainda orientar as pessoas que procuram o candomblé para enfrentar problemase dificuldades, ou que apenas querem um conselho do pai. "Hoje o meio é a internet, não é? Nós aderimos a elapara manter contatos com todos os filhos, orientando-os, mesmo que não necessariamente jogando búzios". Jáestá dando no que falar...

Por: Camila Vieira - Bahia 247

Revista do CEN |15

Artigo - Violência, um assunto

que ainda precisa ser debatido

com seriedade e nitidez

Silvana Veríssimo, é Coordena-dora do CEN em São Paulo alémde integrar várias redes e orga-nizações sociais no Brasil e nomundo.

A população brasileira tem em sua

totalidade, segundo último censo de

2010, 190.732.694 pessoas, sendo

composta por 97.342.162 mulheres e

93.390.532 homens.

Nesse universo feminino, 44% são

mulheres negras.

E onde estão, como são como vivem

essas mulheres?

Qual sua relação com a violência, as

incertezas e mazelas da vida?

Essas mulheres vivem em sua maioria

nos bolsões da miséria, são a maioria

das desempregadas, sem acesso a

moradia e saúde dignos, campeãs em

números de mortalidade materna, um

título nada benéfico para o Brasil, que

envergonha o nosso país, e há uma

falta de vontade por parte dos órgãos

responsáveis de eliminar esses tristes

números, que caem na invisibilidade.

O Brasil desde o período colonial foi e

continua sendo um país racista,

machista, intolerante e sexista, e que

ainda há muito para melhorar, mesmo

tendo pela primeira vez uma mulher na

presidência, fato que não impede às

falhas no combate as denúncias de

discriminação racial, violência

doméstica e intolerância correlata que

vem seguidamente acontecendo

constantemente, especialmente pelas

autoridades públicas e pelos políticos

em todos os níveis, ocorrendo dessa

forma um incentivo para a impunidade

por esses crimes.

Demonstrando um olhar para a

violência sofrida pelas mulheres

negras, apesar de termos em vigor a

Lei Maria da Penha, completos cinco

anos, que é um avanço e um exemplo

para outros países, e levando em conta

que 78% da população brasileira

conhecê-la, e recentemente o STF

aprovar que o Ministério Público pode

denunciar o agressor, nos casos de

violência doméstica contra a mulher,

mesmo que a mulher não apresente

queixa contra quem a agrediu, os

índices de violência contra a mulher e

falando especificamente da mulher

negra continuam alto, pois muitas vezes

sofrem caladas, são seis vezes mais

propensas a sofrer abuso sexual

quando meninas/adolescentes, sete

vezes mais vítimas de tráfico de

pessoas para fim sexual, não tem

coragem de denunciar o agressor, e

muitas vezes não são atendidas

adequadamente, fato somado ao

racismo institucional predominante.

O que é violência? É apenas física ou

não?

A Conferência das Nações Unidas

sobre Direitos Humanos (Viena, 1993)

reconheceu formalmente a violência

contra as mulheres como uma violação

aos direitos humanos; desde então, os

governos dos países-membros da ONU

e as organizações da sociedade civil

têm trabalhado para a eliminação desse

tipo de violência, que já é reconhecido

também como um grave problema de

saúde pública.

Segundo definição da Convenção de

Belém do Pará - Convenção

Interamericana para Prevenir, Punir e

Erradicar a Violência Contra a Mulher,

adotada pela OEA em 1994, a violência

contra a mulher é “qualquer ato ou

conduta baseada no gênero, que cause

morte, dano ou sofrimento físico, sexual

ou psicológico à mulher, tanto na esfera

pública como na esfera privada”.

“A violência contra as mulheres é uma

manifestação de relações de poder

historicamente desiguais entre homens

e mulheres que conduziram à

dominação e à discriminação contra as

mulheres pelos homens e impedem o

pleno avanço das mulheres...”

Declaração sobre a Eliminação da

Violência contra as Mulheres,

Resolução da Assembléia Geral das

Nações Unidas, dezembro de 1993.

Portanto, violência não é só física, bater

ou agredir com tapas, empurrões,

armas ou outros utensílios danosos, há

a violência psicológica.

Violência psicológica é o tratamento

desumano, onde há fatos como

rejeição, depreciação, indiferença,

discriminação, desrespeito, punições,

xingamento, menosprezar, ameaçar,

diminuir, manipular, uma forma de

violência silenciosa, que levam muitas

a loucura e até mesmo ao suicídio.

Onde pedir ajuda

Delegacias da Mulher, Conselhos da

Mulher, Coordenadorias e Assessorias

da Mulher, Organizações de Mulheres,

Disque 180 – Central de Atendimento a

Mulher.

16 | Revista do CEN

Artigo - DesrDesrDesrDesrDesrespeito aespeito aespeito aespeito aespeito agggggororororora éa éa éa éa é

comédia com autorização docomédia com autorização docomédia com autorização docomédia com autorização docomédia com autorização do

públicopúblicopúblicopúblicopúblico

Guilherme Nogueira Dantas, éCoordenador Nacional de Juven-tude do CEN

Uma das coisas que eu gosto de serbrasileiro é o fato de saber que nos-so povo é capaz, quase que literal-mente, de dar nó em pingo d’água.Se não temos transporte público dequalidade, achamos uma formasem qualidade mesmo de chegar aotrabalho. E se não temos trabalho,tudo bem: a gente “se vira honesta-mente” e compra as coisas que que-remos mesmo assim. E se feverei-ro já passou, não importa: carnavalsó no ano que vem, mas a ressacada festa pode durar até o fim do ano. E, o mais normal, se exis-te uma lei que nos impede de fazeralgo, não tem problemas, damos um“jeitinho” e fazemos o tal algo as-sim mesmo.

De fato, essa liberdade de agir, cul-turalmente elaborada, é uma dascoisas que faz do Brasil um país tãointeressante – tanto para pesquisar,quanto para viver. Agora, o proble-ma é quando a gente usa disso paraconviver com nossa falta de educa-ção e de compreensão, de que, cer-tas coisas, são proibidas por umarazão que deveria ser levada emconta. Esse é o caso das piadasracistas. Racismo é crime, comotodos sabem, mas muitos contam eriem dessas piadas, dizendo: “quemal há?, a gente não é racista, sóestá se divertindo!”.

Mas, vamos pensar sobre isso: ra-cismo se trata de uma estratégia dedominação utilizada pela classe do-minante, de cor branca, para dizerque a classe dominada, de cor ne-gra, deveria ser dominada, pois suacor – sua “raça” é o reflexo e com-provação de uma condição “natural-mente inferior”. Trabalhos de cunhocientífico, arrojados, foram escritosao longo dos últimos séculos paracomprovar tal tese da inferioridadeda “raça negra” e, com isso, reafir-mar que a estratégia de dominação

classicista do branco sobre o negroera legítima. Agora, isso sim, pare-ce piada.

Sabendo disso, eis que me deparocom a seguinte notícia na folha.com:“Show com piada racista termina emconfusão na zona sul de SP” Esseartigo conta a história de um showde “stand-up” em que os especta-dores, ao entrar no local de sua re-alização, assinavam um termo decompromisso dizendo que não sesentiriam ofendidas pelo conteúdodo espetáculo. E daí, lá dentro, tomepiada racista! O conteúdo foi tão “di-vertido”, que um dos músicos dabanda que acompanhava o espetá-culo, o “único que não assinou otermo de compromisso”, se sentiuofendido por ser negro e chamou apolícia. Agora, pensemos bem, seisso é mesmo piada.

O racismo é um dos piores proble-mas da humanidade de todos ostempos. A mera ideia de dizer quealguém é inferior porque sua cor re-flete isso não deveria nunca ter sidotomada como séria, e o mero pen-samento de se fazer piada em cimadisso é o reflexo de uma falta desenso de fraternidade e considera-ção do próximo incrível! E, já que apauta da falta de senso foi aberta, omesmo pode ser dito de todo tipode descriminação: contra LBTS, po-bres, ciganos, populações rurais,mulheres em geral etc.

Aceitar como lógica a ideia de queum ser humano é inferior a outro porexpressar características físicas ouopções de vida distintas das nos-sas não tem lógica a princípio. E,novamente, utilizar desse tipo delógica ilógica para dizer que tais gru-pos devem ser dominados não écomédia – é manipulação política,e quem faz precisa investir em suaprópria formação e desenvolvimen-

to como pessoa e como membro deuma sociedade.

Nosso país está, atualmente, emfranco crescimento econômico.Mas, enquanto não melhorarmosnossa condição de pessoas; en-quanto não investirmos de verdadena construção de uma sociedadeque trate a todas e todos com odevido respeito, e proporcione qua-lidade de vida sem ofensas paraseus cidadãos e visitantes; enquan-to aceitarmos que piada racista édivertida; enquanto não encararmosnossas mazelas sociais; enquanto,finalmente, não investirmos naconstrução de um país verdadeira-mente melhor para se viver, longeestaremos de poder dizer que o Bra-sil está se desenvolvendo e se tor-nando um lugar melhor para se vi-ver.

Acabou em confusão a primeiraedição do Proibidão, show destand-up no qual comediantesfazem piadas preconceituosascontra negros, gays, deficientese mulheres.

Revista do CEN |17

Entrevista - Marcos Rezende

Primeiro Coordenador Geral do CEN, Marcos Rezende sempre se destacou como

um combativo ativista do Movimento Negro tendo, rapidamente, atingido alto nível

de reconhecimento em nível nacional. Coordenou o CEN em sua primeira etapa de

existência quando o CEN deixou de ser uma entidade local baiana para tornar-se

uma das três maiores organizações nacionais do Movimento Negro. Nesta entre-

vista Marcos fala um pouco disso, dos seus projetos futuros e de como ele avalia

hoje o cenário atual das discussões étnico-raciais no Brasil.

Marcos, fale um pouco do nasci-mento do CEN e de sua trajetóriaaté os dias atuais.

O nascimento do CEN foi um divisorde águas no Movimento Negrobaiano e a posteriori do Brasil. Inici-almente pelo fato do CEN ter surgidodevido a insatisfação de diversasentidades negras com a maneiracomo eram tratadas no carnaval daBahia. Afoxés, blocos Afros, blocosde Percussão e junto com eles ter-reiros de candomblé, grupos de hip-hop e associações de moradores fo-ram os fundadores do CEN e logo deinício geraram um grande debatesobre critérios no carnaval de Salva-dor que acabou culminando em umprograma de governo chamado Car-naval Ouro Negro e que atende hojetodas as entidades carnavalescas deSalvador que tiveram alterações sig-nificativas no que tange a recursos,de uma ordem de mais de 1000% deaumento em um período de 4 anos.

Como você avalia o crescimentodo CEN nesse período? Aponte er-ros e acertos dessa trajetória.

Penso que crescemos o que preci-sávamos crescer. Desde o início sem-pre fomos uma instituição combativae combatida e isso, que aconteciaconosco na Bahia, de repente pas-sou a acontecer em nível nacional.

O CEN chegou incomodando e atéhoje incomoda, porque buscou seconstituir como uma entidade debase, com caráter religioso e sempersonalismos. Tenho orgulho emdizer que hoje o CEN, no Brasil in-teiro, tem coordenadores e coorde-nadoras tão aptos quanto eu, ou qual-quer outra pessoa, para estar à fren-te da organização, e essa é umagrande vitória nossa.

Agora, errar erramos muito. Tambémfaz parte de quem está crescendocometer seus erros. Acho que come-

temos sérios erros de avaliação comrelação a determinados parceirosque, depois não se mostraram tãoparceiros assim, e, o contrário tam-bém aconteceu, ou seja, muita genteque parecia não ser, na hora certamostrou-se grande parceiro do CEN.

Você, como religioso que é, mar-cou o CEN como uma entidade quebusca defender de todas as formasas religiões de matrizes africanase hoje o CEN é uma grande refe-rência por causa disso. Na sua ava-liação quais os passos futuros?Que outros caminhos o CEN podetrilhar para atingir o mesmo nívelde excelência que atingiu com estadiscussão sobre a religiosidade?

Eu sou filho de Xangô, sou Ogan deEwá, venho de uma casa tradicionalque é o Ilê Axé Oxumarê e o CENsurge a partir das discussões inter-nas surgidas naquela casa de Axé.Então, não tinha como nosso

18 | Revista do CEN

referencial ser diferente. Além disso,o fato de nascer na Bahia, tida comoa Roma Negra, já trazia em si, toda areligiosidade do povo negro. Nessesentido, acho que, desde o início, nósacertamos em pautar nossas açõesem defesa da religiosidade. Foi as-sim com as caminhadas que, logodepois, tornaram-se ações em nívelnacional e foi assim com tantas ou-tras atividades que foram,gradativamente se tornando referên-cia Brasil afora.

Quanto aos outros caminhos, a ver-dade é que o CEN sempre os trilhou.Fomos a primeira organização naci-onal do Movimento Negro a se preo-cupar com a temática LGBT, ao pon-to de criarmos uma diretoria especí-fica para este tema. A questão de gê-nero sempre esteve presente, não sócomo discurso, mas como prática,tanto isso é verdade que a maioriade nossa Coordenação Nacional écomposta de mulheres. A agenda dajuventude sempre foi uma agenda doCEN. Promovemos um encontro na-cional dos jovens em 2008; semprebuscamos dar condições para que ajuventude trilhasse seu caminho po-lítico com autonomia, mas tambémcom responsabilidade perante o pró-prio CEN.

Enfim, o CEN é uma entidade plural,moderna, que busca, inclusive, iralém das fronteiras da temática étni-co-racial, mas sempre buscando tra-balhar o viés da transversalidade eda diversidade das nossas ações.

Em 2011 o CEN marco fortementesua posição de não ser uma ong,nem uma rede, mas sim uma orga-nização política do Movimento Ne-gro. O que exatamente significaisso pra voce?

Acho que esta decisão demonstrounão só o amadurecimento político dainstituição como, também, a nossacapacidade de diálogo interno. Pou-ca gente sabe mas em todos os anosem que fui Coordenador Geral doCEN - e agora com o Marcio Alexan-dre em meu lugar, não é diferente -,todas as nossas decisões são coleti-vas e, mais importante que isso, sãopor consenso.

Então, discutimos exaustivamentepara que alguns setores percebecemque precisávamos dar um salto polí-tico, e este salto foi exatamente estaconstrução da perspectiva de uma or-ganização política, centrada em algu-mas ações específicas buscando,não ser a voz de ninguém, mas fun-cionar como uma caixa de ressonân-cia dando eco à voz daqueles quenem sempre são ouvidos.

Hoje o CEN configura-se comouma das grandes organizações doMN, com certeza, figura tranquila-mente entre as três maiores, ouseja, o CEN atingiu o topo, o quevocê acha necessário fazer, a par-tir de agora, para manter-se nesselugar?

Nós sabemos o quanto foi difícil che-gar onde chegamos. Os sacrifíciospessoais, financeiros, as ingratidões,imcompreensões, as acusações in-fundadas, as amizades perdidas,enfim, é muito duro construir umaorganização nacional, é muito com-plexo entrar num campo de disputaonde, tradicionalmente, as pessoasse digladiam às vezes por tão pouco.

Quantas vezes recuamos em deter-minadas ações porque as pessoas aspersonalizavam sobre mim ou outrasfiguras do CEN? Quantas vezes eumesmo tive que me distanciar deações que eu havia construído por-que alguns diziam que eu queria serdono de tudo?

Então é um exercício diário, cotidia-no e extremamente doloroso. Aí vocêdiz que estamos entre as grandes or-ganizações nacionais. Axé por isso.Mas ainda falta muito.

O CEN precisa se profissionalizar emtermos de estrutura, precisa ter recur-sos, precisa ter projetos a longo pra-zo, precisa se solidificar nos estadosem que já está e ampliar para outrosque querem que estejamos lá.

Enfim, é um desafio permanente e apalavra acomodação não pode fazerparte do nosso vocabulário, pois cor-reremos o risco de pôr a perder tudoque conquistamos até agora.

Num ano eleitoral importante, onde

estamos buscando reposicionar atemática étnico-racial no cenáriopolítico nacional, muitas pessoasligadas ao CEN, inclusive você,buscarão um projeto político par-tidário, como uma ação político-es-tratégica do CEN. Quais suas pers-pectivas com relação a isso e o quevocê diria para o CEN neste mo-mento?

Acho que é um caminho natural paramim e para o CEN. No Rio, Paraná,Pará, Maranhão, Bahia, Pernambu-co, e em vários outros estados lan-çaremos candidatos. O CEN não sealinha politicamente a partido algum,então sempre deixamos nossosfiliados, coordenadores e coordena-doras livres para fazerem suas esco-lhas partidárias. Dessa forma, temoscandidatos que sairão por vários par-tidos políticos e o mais interessante,com chances reais de ganhar.

Na Bahia, em especial, estamos tra-balhando para isso. Não só com meunome em Salvador, mas com outrostantos em vários municípios baianos.Agora, é como sempre digo ao MarcioAlexandre, quem me pauta é o CEN,quem me orienta é o grupo políticoao qual faço parte hoje e penso queesta relação que consegui estabele-cer entre o CEN e este grupo políticoé muito benéfica tanto para um, quan-to para outro.

A temática étnico-racial, da forma queé pensada pelo CEN é uma grandenovidade na política brasileira. Nãofazemos política de gueto e nem pen-samos que para combater o imperia-lismo branco precisamos ter umimperialimo negro. Pelo contrário,acreditamos que é possível, sim,construirmos grandes alianças polí-ticas em torno da temática racial queincluam vários grupos quetangenciam esta questão mas não li-dam diretamente com ela. Assim,nosso diálogo com os movimentosLGBTs, de mulheres, de Sem-Terrae tantos outros, tem sido a prova vivade que é possível, sim, uma nova for-ma de fazer política a partir de umainstituição que é autônoma política-mente mas que valoriza o espaço po-lítico partidário como lugar de inter-locução e novas construções políti-cas.

Revista do CEN |19

20 | Revista do CEN

Coordenador:Marcos Rezende*

Marcos Resende é professor dehistória e trabalhou em espaçosde ensino voltando-se para am-pliação da consciência de jovensnegros e negras da cidade so-bre a trajetória de luta de seusantepassados, resgatando no-ções de cidadania e de respeitoe preservação de elementos sim-bólicos e culturais do povo ne-gro. Filiou-se ao PT para se so-mar a luta contra o racismo, es-pecialmente dos/as trabalhado-res/as de Salvador.

*na foto com sua esposa Yoná Valentim,Coordenadora Nacional de Comunica-ção do CEN

Sobre Salvador, o povo Bahiense e a LOUOS

Tem duas frases que para mim resumem o atualmomento de Salvador, uma é de Gregório de Matos“a mim me bastava que o prefeito desse um jeito nacidade da Bahia” e a outra é a que percorreu as ruasde Salvador em 1798 quando da Revolta dos Búziose foi elaborada pelos seus sediciosos: "Animai-vosPovo baiense que está para chegar o tempo feliz danossa Liberdade, o tempo em que todos seremosirmãos: o tempo em que todos seremos iguais."

Apesar de uma ter sido publicada no século XVII e aoutra no século XVIII, épocas em que manifestaçõesnão se avolumavam através de notificações noFacebook, as duas têm reflexos na situação atual dacidade do Salvador e dialogam concretamente com o que vivemos hoje, afinal decontas se complementam frente ao grande desafio da Lei de Ordenamento deUso do Solo ( LOUOS ), da mobilidade urbana e a necessidade de pensar acidade considerando a sua diversidade e a questão étnico racial.

Havia um tempo em que para sair nos blocos de carnaval tinha que preencherficha, com foto e endereço, daí tinha uma análise para ver quem estava apto a serde tal bloco. Ninguém assumia, mas naquela época era inimaginável que umamulher negra com dreads nos cabelos e moradora de Mussurunga pudesse ter asua ficha avalizada no Eva que fazia propaganda na televisão com o seguinteáudio: “Eva o metro quadrado mais bonito da avenida” enquanto as imagens emcâmera lenta mostravam longas madeixas loiras mexendo de um lado para ooutro. Era o tal do racismo velado brasileiro, hoje o cantor Saulo empresta sua voza boneco negro em videoclipe e debate o encontro dos trios na Praça CastroAlves, um avanço conquistado com muita luta.

Mas Mussurunga continua lá e juntamente com Cajazeiras City, Bairro da Paz,Fazenda Coutos, Plataforma, Paripe, Escada, São Cristovão, IAPI, Avenida Pei-xe, Sussuarana, Pau da Lima, Vila Canária, Marechal Rondon, Alto do Coqueirinho,Pela Porco, Santo Inácio, Liberdade, Pirajá, Jardim Cajazeiras, Castelo Branco,Beiru, só para citar alguns, formam o cotidiano étnico racial desta cidade.

O atual prefeito é a síntese disto, destoando de tudo que é coletivo e tratando acidade como uma criança a construir castelos de areia nas praias sem barracas.No mesmo esteio, parcela significativa de vereadores mendiga ao Prefeito cargospara os seus apadrinhados e fazem negócios escusos com as grandescorporações.

Ora, ao destruir as reservas de Mata Atlântica, aumentar a zona de sombreamentodas praias da cidade, ampliar o gabarito para a construção de hotéis na orla dacidade dificultando a ventilação e elevando o aquecimento de bairros onde vivemnegros, instala-se o caos na cidade e escancara-se o racismo ambiental. No geralo conceito da LOUOS é: mais para quem tem mais em detrimento a quem nuncateve direito algum. O sórdido pano de fundo é a construção de uma cidade melhore mais moderna.

Os habitantes da cidade de Salvador a cada dia se manifestam mais contra taisdescalabros e o conceito que percorre a internet não é diferente da crítica mordazde Gregório de Matos alcunhado, Boca de Brasa, ou dos panfletos sediciosos daConjuração dos Alfaiates que acabou com o esquartejamento dos quatro negrosque hoje fazem parte do panteão de heróis nacional.

Mas uma coisa é fato, a justiça chega. Às vezes pode demorar 200 anos, como foipara reconhecer como heróis os líderes negros da Revolta dos Búzios João deDeus, Lucas Dantas, Luis Gonzaga e Manuel Faustino. Oxalá permita, a justiçatambém pode vir rapidamente em quatro anos para muitos vereadores ou em oitopara o atual prefeito da Cidade de Salvador.

Revista do CEN |21

Coordenador:Em processo de definição

Um grupo de pessoas e organi-zações vêm se reunindo emManaus em torno do CEN.

Nosso objetivo é que até o fimdeste ano já estejam definidos osnomes das pessoas que assumi-rão a coordenação naquele es-tado.

Quilombolo do Tambor - Novo AirãoAmazonas

O maior desafio que se coloca parao CEN no Amazonas, neste primei-ro momento é dar a assistência de-vida ao Quilombo do Tambor, emNovo Airão.

Esta comunidade, que já foi reco-nhecida pelo Governo Federal ca-rece de absolutamente tudo no quese refere à infra-estrutura. Não temágua potável, não tem luz elétrica,não tem uma voadeira para conec-tar-se com o restante da região,pois encontra-se totalmente isola-do.

Além disso, o CEN em Manaus,vem buscando agregar as organi-zações do Movimento Negro emtorno de ações comuns que visemconstruir uma relação político-institucional mais forte da socieda-de civil organizada com o poderpúblico.

Nossa impressão é que o CEN che-ga no estado num bom momento enosso objetivo é construir juntos,fortalecer aqui as ações do CEN enos fortalecermos também a partirdele.

22 | Revista do CEN

Coordenadores:Silvestre Antônio e Mara Jane

Ativistas do Movimento Negro edo Movimento Religioso de Ma-triz Africana, Silvestre Antônio eMara Jane vêem coordenandoas atividades do CEN no estadode Rondônia e desenvolvido umasérie de ações em torno das reli-giões e da cultura afro-brasilei-ra.

Atuando nos 108 (cento e oito) Terreiros das várias tradições afro religiosasexistentes em Porto Velho e nos 53 terreiros filiados que existem no interior doEstado Coordenação do Cen em Rondônia se dá de forma colegiada, fazemparte dessa Coordenação Pai Wagner, Pai Jacir, Edson Doró (Municipio deGuajará Mirim) Ogã Silvestre e Mara, e as atribuições são dividas da seguinteforma: Representação do Interior do Estado Edson Doró, Coordenação ReligiosaPai Wagner e Pai Jacir, e Coordenação Política Mara e Ogan Silvestre. Dasvárias atividades desenvolvida ao longo de 2011, destacamos:

1. I Seminário Nacional de Religiões Afro Brasileira e as Tecnologias emSaúde ocorrido entre os dias 14 a 16 de julho de 2011 foi um encontrode várias tradições afro brasileiras, através palestras, painéis e salasde conversas, espaços de encontro para discussão e aprendizagem.Nossa proposta, de acender a discussão e troca e aprendizado continuo,foi bem aceita pela comunidade. Foram vários painéis, oficina,exposições e shows culturais. Recebemos, comprovadamente, maisde mil participantes entre adultos e crianças, esse seminário teve oapoio da Fundação Cultural Iaripuna, Idaron, Secretaria de Estado daSaúde, Secretaria de Estado da Ação Social e Secretaria de Estado daCultura do Esporte e Lazer

2. Lançamento da Cartilha “O Terreiro enquanto Espaço de Promoção aSaúde” de Mara Jane, Nilza Menezes e Silvestre Antonio foi um trabalhoidealizado pela Accuneraa que teve como parceiros a Rede Nacionalde Religiões Afro Brasileiras e Saúde, o Cen e o patrocínio da FundaçãoCultural Iaripuna e a Coordenadoria Municipal de Políticas Públicaspara Mulheres.

3. Encontro dos Orixás acontecido em 17 de julho de 2011 foi uma demandasolicitada pela Comunidade e atendida pela ACCUNERAA, foi umadas experiências mais marcantes vivenciadas pelos convidados quevieram dos outros estados (Pará, Rio de Janeiro, São Paulo, Maranhãoe Acre), e este ano com certeza será tão gratificante como o do anopassado.

4. Mês da Consciência Negra começamos as atividades alusivas aonovembro negro dia primeiro com uma Intervenção Política, Artística eCultural no espaço artístico mais freqüentado de Porto Velho, o“Mercado Cultural” , cantamos, dançamos, fizemos uma louvação ao“Povo da Rua.” E ao final Ogã Silvestre e o Presidente da FundaçãoCultural do Município fizeram a abertura oficial do Mês da ConsciênciaNegra, depois foram feitas palestras, Lançamento da Campanha NãoMexa com nossos Terreiros, Seminário e a Feira Cultural promovidapelo Ile Ase Sire de Oya. Culminando com a VII Marcha Zumbi “AIntolerância e o Racismo Faz Mal”

5. Projeto Dança nos Terreiros, projeto de danças afro-brasileiras e dedanças de Orixás desenvolvido pelo Accuneraa no Terreiro de SantaLuzia, é um projeto que está sendo executado em conjunto com a escolade percussão, esse projeto atende principalmente aos jovens deterreiros, para que eles no futuro repassem para outros que serãoiniciados na tradição religiosa. Aproveitamos para agradecer a MãeMarli que esteve presente não só como a Yalorisa da Casa, mas tambémcomo incentivadora destes jovens.

6. Premio Anu – Este ano fomos indicados e vencemos o Premio Anu deOuro pelo conjunto do nosso trabalho desenvolvido em prol dapreservação da Cultura, esse prêmio é de todo Povo Tradicional deTerreiro e aproveitamos a oportunidade para agradecer a todos e todasque confiaram no nosso trabalho.

7. OMI KOSI, ÉWÈ KOSI, ÒRÌSÀ KOSI”

“Sem água, sem folha, sem orixá.”

Esse ano os sacerdotes da ComunidadeTradicional de Terreiros estiveram reunidos váriasvezes na Fundação Cultural Iaripuna com a VicePresidente da entidade Professora Berenice Simãopara as discussões acerca do lugar a ser destinadopara a Comunidade Afro Religiosa no projeto“Complexo Beira Rio”. A professora Berenice fezuma exposição de como estão sendo negociada aconstrução do projeto com o Grupo Mesa e queesta obra faz parte das compensações daconstrução das Usinas em Porto Velho. Nestasreuniões estabelecemos como será o espaço idealpara o uso comum de todas as tradições dasreligiões de matriz africana deverá ter uma floresta,água corrente e que este espaço será preservadoo Ogã Silvestre lembrou que: “as comunidadesTradicionais de Terreiros representam uma formaespecífica de ocupação do solo urbano, com suaorganização e ajuda mútua entre seus membros,à preservação do meio ambiente começa com arelação com a terra, com as árvores e plantas, comas águas, rios e lagoas, ela é decisiva para opensamento religioso do candomblé e da umbandapara realizar seus rituais.” Depois de váriasreuniões a Vice Presidente e mais dez sacerdotesAfro Religiosos percorreram as margens do RioMadeira e escolheram o local que será destinadoaos Povos e Comunidades Tradicionais deTerreiros, que deverá ser entregue até o mês dejunho de 2012.

Revista do CEN |23

Coordenador:Edson Catendê

Meu nome é Edson SilvaBarbosa, baiano, residente edomiciliado em Belém do Parádesde 1981. Sou Babalorixá,Químico Industrial, Bacaharel emDireito, especialista em DireitosHumanos, Direito Processual doTrabalho, militante do MovimentoNegro desde c1976. FuiCoordenador do Núcleo Culturaldo Centro de Estudos e Defesado negro do Pará - CEDENPA de1986 a 1989, Fundador da AFAIA– Associação dos Filhos eAmigos do Ilê Iya Omi Ase OfaKare, em 1985, a qual participeicomo gestor por mais de 25anos. Fundador do Bambarê

Arte e Cultura Negra em 1984.

AFAIA* é uma instituição da sociedade civil sem fins lucrativos e apartidária,foi criada em 1987, pela necessidade de organização de homens emulheres negros ,membros do Ilê Iyá Omi Asé Ofá Karè, desde entãovem desenvolvendo Debates, Seminários, Encontros, Foruns e Projetosvoltados para a inclusão social da população negra e afro religiosa daAmazônia, em diversas áreas; culturais,socioeconômica, saúde,desenvolvimento de ações para o combate ao racismo, ao sexismo, àhomofobia e para a melhoria das condições de vida da populaçãonegra,entre outros, valorizando o candomblé não só como religião, maistambém,como resistência e influencia do processo social e cultural doBrasil, como mostra a historicidade brasileira, no nosso caso, maisespecificamente na Amazônia. Ampliou seus associados, e atua emparcerias com várias organizações, tornou-se uma referência na ÁreaNorte Amazônica, no que concerne aos processos organizativos dos AfrosAmazônicos.

A AFAIA, está enraizada no tecido social da comunidade, a mais de vinteanos, dedicando-se ativamente à inserção de homens e mulheres negrascomo agentes de transformação de uma sociedade fundada em valoresde justiça, equidade e solidariedade. Onde a presença e contribuição dasmulheres negras sejam acolhidas como um bem da humanidade.

Para a implementação da missão institucional da AFAIA, nossotrabalho está organizado em 6 linhas de ação:

· Economia, trabalho e renda;

· Saúde da comunidade de terreiro;

· Defesa e garantia de direitos humanos;

· Ação política e articulação com instituições e movimentos sociais;

· Publicações, difusão de informações e documentação;

· Desenvolvimento institucional.

*A AFAIA é a instituição que vem desenvolvendo as atividades do

CEN no estado do Pará.

24 | Revista do CEN

Coordenadora:Cristina Miranda

Professora e ativista, CristinaMiranda em conjunto com PaiNeto de Azile (Coordenador deReligiosidade), vem atuando emvárias frentes no estado doMaranhão. Destacando-se aísuas ações em torno da religio-sidade de matriz africana e dascomunidades quilombolas.

Nos últimos anos, as atividadesdesenvolvidas naquele estadovêm ganhando grande repercus-são graças às rápidas respostasque a coordenação dá às de-mandas surgidas, como foi ocaso de um aluno africano quesofreu caso de racismo em umauniversidade pública.

O CEN/MA organizou, em parceriacom a Universidade de Chicacho oBRAZILIAN FESTIVAL INTERNACIO-NAL 2012, no estado da Luisiana,USA, que aconteceu no período de 04a 11 de março de 2012. O FestivalInternacional celebrou as artes, amúsica, a dança,o artesanato,ahistória e muitas outras expressõesculturais dinâmicas brasileiras.

Nesse contexto o município deBacabal representou a bela culturadas comunidades quilombolas atravésde exposições fotográficas,artesanatos, documentários epalestras.

As conexões entre as expressõesculturais dos Quilombolas doMaranhão e de New Orleans sãonotavelmente paralelas. Elascompartilham uma herança mestiçarural e urbana comum a muitos doshabitantes dos dois países. Elastambém compartilham uma históriacomum de resistência à escravidão ede uma forte fusão entre povosafricanos e ameríndios para formaruma cultura nova e distinta.

Na oportunidade honramos ainda oevento com a participação daCompanhia Mariocas (Maranhenses eCariocas), que representou ahistoricidade de São Luis doMaranhão no ano em que completa400 anos de existência. O grupo fezapresentações das danças de:Bumba-meu-boi, Tambor-de-crioula,Cacuriá, além de realizar oficinas epalestras no decorrer do festival.

Revista do CEN |25

Coordenadora:Iyá Lúcia Omidewa

Lúcia de Fátima Batista de Oliveira foiiniciada na Jurema em 1976 pelo sa-cerdote Manoel Rodrigues de Araújo,em Campina Grande.

Iniciou-se para o Orixá em Março de1981, na Nação Jeje Mahin, pela sacer-dotisa Deta de Bessen (in memorian).

Ingressou no Ilê Axé Opô Afonjá, daNação Ketu, em 1999 e, desde então,faz parte desta família pelas mãos daIyalorixá Stella de Oxóssi.

Iyá Lúcia Omidewá é filha de Oxum. Éa Iyalorixá responsável pelo terreiro deCandomblé Ilê Axé Omidewá, membrodo Conselho Nacional de SegurançaAlimentar e Nutricional (Consea), coor-denadora do núcleo Paraíba da RedeNacional de Religiões Afro-brasileiras eSaúde e do programa Fome Zero, dogoverno federal, para o povo de terrei-ro, além de diretora do Centro de Cul-tura Afro-Brasileira Ilê Axé Omidewá.

Seu nome, Omidewá, traduzido doiorubá arcaico significa "água chegou".

Campanha Nacional

"Tire teu santo, ou ponhaminha santinha aí"

Justiça gaúcha manda retirar crucifixos de repartições

07 Março 2012 - FELIPE BÄCHTOLD - Folha de S.Paulo

A Justiça do Rio Grande do Sul deci-diu nesta terça-feira (6) acatar pedi-do de uma ONG e vai retirar crucifi-xos e símbolos religiosos de todas assalas do Judiciário do Estado.

O Tribunal de Justiça gaúchoconsiderou que a presença do objetonos fóruns e na sede do Judiciáriopode ir contra princípios constitucio-nais de um Estado laico (que nãosofre influência de igrejas).

A retirada dos símbolos foi umpedido da ONG Liga Brasileira deLésbicas, o que motivou um proces-so administrativo no tribunal.

O relator do caso, odesembargador Cláudio BaldinoMaciel, afirmou em seu voto que umjulgamento feito em uma sala ondehá um "expressivo símbolo" de umadoutrina religiosa não é a melhor for-ma de mostrar que o julgador está"equidistante" dos valores em confli-to.

A decisão foi tomada pelo Con-selho da Magistratura, órgão do TJ ga-úcho para planejamento e administra-ção. Representantes de entidades re-ligiosas acompanharam a sessão.

No ano passado, o TJ havianegado o mesmo pedido da Liga deLésbicas, que encaminhou ainda soli-citação semelhante à Câmara Muni-cipal de Porto Alegre.

A presença de símbolos cris-tãos em prédios públicos motiva polê-mica em outras partes do Brasil e domundo.

Em São Paulo, o Ministério Pú-blico Federal ajuizou ação em 2009pedindo a retirada de crucifixos de edi-fícios federais. O pedido foi negadoem primeira instância porque a juízaresponsável considerou "natural" aexibição do objeto em um país de "for-mação histórico-cultural cristã".No mesmo ano, a Comissão Europeiacondenou a Itália por manter objetosreligiosos em salas de aula.

Mãe Lúcia Omidewa vem inspirando o CEN a refletir sobre uma açãomais direta com relação ao uso das imagens religiosas nas repartiçõespúblicas. A partir de uma ação individual, onde ela sempre carrega aimagem de sua Orixá Oxum em sua bolsa e a coloca sobre a mesaquando vai falar em qualquer espaço público, tem feito o CEN pensarnacampanha “Tire teu santo, ou ponha minha santinha aí”, expressão usa-da por Mãe Lúcia para afirmar sua identidade afro-religiosa e garantirque sua religiosidade seja respeitada.

Como se vê abaixo, a estratégia é correta e pode ter grandes resultadosfuturos.

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Coordenação:

Lindacy Assis - Coord.EstadualLindinalva Silva - Coordenação deMulheresVera Lucia,Ana Albuquerque,Cristiane - Coordenação de articula-ção e mobilizaçãoEdneusa Lopes - CoordenaçãodeJuventude

PERFIL DA COORDENADORA DOCEN-PE

LINDACY ASSISMulher, Negra, Filha de Maria Clotil-de, Mãe de Rafael e Leila, Funciona-ria pública estadualFormação acadêmica embiologiaMilitante do Movimento Negro há 10anosDiretora SindicalPresidente de um Centro ComunitárioCENDEMPAPresidente do Movimento Negro doPDT-PE

PARCERIAS DO CEN-PE

SINDSAÚDE-PE (SINDICATO DESAÚDE)SINTEPE (SINDICATO DE EDUCA-ÇÃO)FORÇA SINDICAL-PESINDICATO DOS BANCARIOS-PE

No ano de 2007 em uma for-mação ocorrida no Estado daBahia,com representantes dealguns Estados, nos foi apre-sentado o Coletivo de Entida-des Negras (CEN), econstruída uma estrategia deações a ser realizada pela ins-tituição. Esta formação foi fru-to de conversas anteriores comos representantes estaduais.

Após formação o então Coor-denador Geral Marcos Rezende fez o convite aos presentes para repre-sentar a instituição em seus Estados, houve uma aceitação por parte dospresentes. Pernambuco então estava com três representantes,após umentendimento entre os mesmos ficou acordado que a representação esta-dual seria de Lindacy Assis.

Retornamos ao nosso Estado e em poucos dias já fomos convidados paraparticipar do CONNEB, então ocorrido no Estados de Minas Gerais. Foiuma experiência muito importante para nossa militancia, Pernambucoestava representado por Lindacy Assis e o companheiro Milton do MaracatuCambinda Estrela.

No mesmo ano realizamos o Primeiro Encontro do CEN-PE para apre-sentar a instituição à sociedade pernambucana econtamos com a presen-ça do Marcos Rezende e Marcio Alexandre enriquecendo nosso evento enos alimentando de informações sobre a entidade. Dai a diante não para-mos de realizar ações e parcerias.

AÇÕES2008- Presença na Conferência nacional de Direitos Humanos, Presençana Caminhada pela Vida e Liberdade Religiosa- Salvador-BA, PrimeiraCaminhada de Mulheres Negras em Homenagem ao 25 de julho, Partici-pação no I Encontro Nacional de Juventude.Seminario Mulheres NegrasNos Espaços de Poder.

2009- Marcha Mundial Pela Paz em PE, Inauguração do Memorial MãeBetinha de Direitos Humanos,Alvorada dos Ojás, Circuito de Debates SobreSegurança pública nas comunidades, Segunda Marcha de Mulheres emhomenagem ao 25 de julho.Caminhada pela Vida e Liberdade religiosaem Salvador-BA.

2010-Seminário Mulheres Negras Ancestralidade e Cultura GarantindoEspaços dentro da Sociedade(Olinda-PE),Primeiro Seminário Municipalde Saúde da População Negra9Paulista-PE),Feijoada do Nucleo do CENem Recife,

2011- Coloquio Falas Negras(Alagoas),Seminario Mulheres NegrasAncestralidade e Cultura......., Realização de 02 Cursos de Formação emDireitos Humanos em parceria com o MNDH, Audiência Pública Exterminioda Juventude Negra na Assembleia Legislativa dePernambuco,Conferência Nacional de Juventude.

2012- Estaremos realizando nossa reunião de avaliação e planejamentodia 13 de fevereiro.

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Coordenação:Célio Rodrigues (Pai Célio deIemanjá)

Nascido no mês de fevereiro, PaiCélio foi o segundo dos netos deMaria Garanhuns, a matriarca dafamília Rodrigues, Ialorixá concei-tuada na cidade de Maceió.Nachegada da maternidade, suacasa estava em festa e o peque-no Celinho, como ficou conhecidona comunidade foi recebido peloOrixá Iemanjá, que dançava incor-porado em sua avó, a qual, na-quele dia, o intitulou herdeiro dacasa. Celinho cresceu convivendocom os toques, as obrigações etoda a riqueza cultural. Iniciou-sepor questão de identificação reli-giosa e problemas de saúde. Des-de seu nascimento, Pai Célioacompanhou a sua avó. Cada anoque passava o jovem aprendia to-dos os preceitos religiosos. Como falecimento de sua avó passa aexercer o cargo que lhe foi dado,assumindo todas as responsabili-dades religiosas e familiares.

O episódio conhecido como Quebra de Xangô foi um ato de violênciapraticado em 1º de fevereiro de 1912 contra as casas de cultoafrobrasileiras de Maceió e que se estendeu pelo interior de Alagoas.Naquele dia, babalorixás e yalorixás tiveram seus terreiros invadidos poruma milícia armada denominada Liga dos Republicanos Combatentes,seguida por uma multidão enfurecida, e assistiram à retirada à força dostemplos de seus paramentos e objetos de culto sagrados, que foramexpostos e queimados em praça pública, numa demonstração flagrantede preconceito e intolerância religiosa para com as nossas manifesta-ções culturais de matriz africana.

Esse evento, que intimidou o povo de santo e suas práticas nas décadassubsequentes proporcionou o surgimento de uma manifestação religio-sa intimidada, denominada Xangô Rezado Baixo, uma modalidade deculto praticada em segredo, alimentada pelo medo, sem o uso deatabaques, e animada apenas por palmas. Essa violenta ação contra opovo de santo tem repercussões contemporâneas e pode ser apontadacomo uma dasfortes causas da invisibilidade de uma prática religiosa que é extrema-mente expressiva na capital e no interior de Alagoas, pois as pesquisasde estudiosos do tema apontam para a existência de cerca de 2 milterreiros em todo o Estado.

O evento que hoje celebramos em memória ao episódio do Quebra dosterreiros, denominado Centenário do Quebra – Xangô Rezado Alto, re-cupera esse passado e reivindica da população alagoana e dos poderespúblicos constituídos, atenção e compromisso para com as causa daspopulações afro-descendentes que não podem, não devem e não irãomais se intimidar frente às injustiças históricas praticadas no passado eque relegaram nossa população afrodescendente a situações de exclu-são e de extrema dificuldade.

Por isso Xangô Rezado Alto, para que nunca mais em Alagoas, as co-munidades afroreligiosas se sintam intimidadas ou envergonhadas deprofessar sua religião que é um grande e reconhecido contributo para aformação da cultura alagoana e que muito nos orgulha.

Projeto Xangô Rezado Alto que celebra a me-mória dos 100 anos do episódio conhecidopor "Quebra de Xangô" ou "Quebra de 1912"

28 | Revista do CEN

Frente Parlamentar em Defesa dasComunidades Tradicionais de Terreiro

Coordenadora:Patricia de Lira Ahualli

Patricia Lira Ahualli é Coordena-dora Pedagogica e Iyá Egbé doIle Axé Idá Wurá.

Patrícia, desde que assumiu aCoordenação do CEN/DF vematuando em várias frentes parafortalecer a instituição, desenvol-ver incidência e lobbing e, prin-cipalmente, vem construindopontes de diálogos importantesentre o CEN e o Governo Fede-ral a partir de suas interlocuções.

O Coletivo de Entidades Negras (CEN), desde o ano passado, na figura do seu entãocoordenador geral Marcos Rezende e da Iyá Egbé Patrícia Ahualli, articularam a criaçãoda Frente Parlamentar em Defesa das Comunidades Tradicionais de Terreiro.

Na última semana a Frente se reuniu para discutir seu funcionamento e sua forma deatuação, tendo como pilar a participação democrática da sociedade civil organizada, atra-vés da presença de organizações que lidam com a temática da religiosidade de matrizafricanas, entre elas, o CEN.

Abaixo reproduzimos a ata desta reunião:

A FRENTE PARLAMENTAR EM DEFESA DAS COMUNIDADES TRADICIONAIS DE TER-REIRO se reuniu hoje, com a presença do CEN (Iyáègbè Patricia da Oxum), FOAFRO(Ogã Luiz Alves), CETRAB (Osmaldo), e os Assessores Parlamentares: Dep.Érika Kokay– PT/DF, (Silvia); Dep. Amauri Texeira PT/BA (Jorge Araújo), Dep. Valmir Assunção PT/BA(Mayrá Lima), Dep. Luiz Alberto PT/BA (Toni Bochat), Dep. Janete Pieta PT-SP (JoseaneLima); Dep. Domingos Dutra PT/MA (Simone Carvalho) e representando a SEPPIR oAssessor Parlamentar – Renato Ferreira.

Após a apresentação de todos, a Silvia esplanou sobre o objetivo da reunião no qualevidenciou a importância do trabalho em conjunto dessa frente, por isso o trabalho seriafeito em duas etapas, primeiramente as discussões desse GT e posteriormente a reuniãocom os deputados para fecharmos.

Iyá Patricia (CEN-DF) expôs a Proposta do CEN e FOAFRO já apresentada aos parla-mentares na sensibilização da Frente:

• Promover, no marco legislativo, ações em defesa das religiões de matrizes africa-nas, pela liberdade de culto e contra a intolerância religiosa;• Propor leis que dêem as casas religiosas de matrizes africanas os mesmos trata-mentos que outras tradições religiosas gozam em nosso país;• Fiscalizar o Poder Executivo para que este aplique as políticas públicas às comu-nidades de terreiro propostas por elas mesmas e por organizações a elas ligadas;• Fortalecer o diálogo inter-institucional entre os três poderes de República parafazer valer as leis que defendem a liberdade religiosa em nosso país;• Promover ações que efetivem a liberdade religiosa tais como audiências públicas,seminários e eventos que ensejem em si a defesa do direito de culto;• Propor ações ao Executivo tais como a realização da Conferência Nacional SobreLiberdade Religiosa, objetivando fazer com que os setores religiosos do país dialoguementre si e construam um pacto de não-agressão;• Ainda no marco legislativo, agir para que o Estado, em suas esferas Federal, Esta-duais e Municipais, não se torne, ele mesmo violador ao direito de culto no Brasil, comações que visem destruir o patrimônio religioso das casas de terreiro).

Revista do CEN |29

Minas Gerais na CoordenaçãoNacional do CEN

Em 21 de setembro de 2008, Dikota Djanganga participou da 1ªCaminhada em Defesa da Liberdade Religiosa, no Rio de Janeiro/RJ.

O convite oficial do Ogãn Marcos Rezende, para que Dikota DjangangaKeumzambe assumisse a cadeira de Minas Gerais na CoordenaçãoNacional, veio em novembro de 2008, antecedendo a 4ª Caminhadapela Vida e Liberdade Religiosa, em Salvador/BA.

Entre 15 e 18 de dezembro de 2008, Dikota Djanganga Keumzambeparticipou da 11ª Conferência Nacional de Direitos Humanos, em Brasília/DF, eleita na Etapa de Minas Gerais.

Na ocasião, entregou a “Carta de Salvador”, aprovada pela 4ªCaminhada, ao Ministro Edson Santos, então Secretário Especial de

Políticas de Promoção da Igualdade Racial da Presidência.

AÇÕES

• Caminhadas Nacionais pelaVida e LiberdadeReligiosa.

• Caminhadas pela Vida eLiberdade Religiosa doVale do Aço/MG.

• Fórum Mineiro de Religiõesde Matriz Africana.

• Conferências Municipais,Estaduais e Nacionais.

• Conferência Livre deSegurança Pública daPopulação Negra de BeloHorizonte e RegiãoMetropolitana.

• ESPASSO CONSEG.• Comissões de

Representação de ForunsTécnicos da ALMG.

PROJETOS 2011/2012

• Rio + 20 - Agenda 21• 3ª Caminhada pela Vida e

Liberdade Religiosa doVale do Aço/MG

• Mapeamento de Terreiros noVale do Aço/MG.

• Projeto Memórias: Raízesde Minas - Segunda Fase.

• Rodas de Conversas, nasCasas/Roças, sobresaúde, Agenda 21,mulheres, trabalho egeração de renda, LGBT,religiosidade, Registro deCasas e SegurançaAlimentar, entre outrosdireitos das ComunidadesTradicionais.

• Expansão do CEN-MG paraoutras regiões do Estado.

• Integração do CEN-MG aoutros MovimentosSociais.

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Coordenadora:Deusimar Corrêa (GaiakuDeusimar)

Mulher, negra, iniciada em 1978para o Vodum Lissá, funcionáriado Tribunal de Contas do Municí-pio do Rio de Janeiro, militanteatuante do movimento negro a 16anos, mais na verdade faço mo-vimento negro desde do ano1960 (quando nasci), Coordena-dora de Religiosidade do Movi-mento Negro do PDT, membrodo Movimento de Mulheres doPDT, Membro da Comissão aoCombate a Intolerância Religio-sa-CCIR, membro do Grupo deTrabalho Permanente deEnfretamento à Intolerância e aDiscriminação Religiosa paraPromoção dos Direitos Humanos.

Parceiros do CEN/RJSUPERDIR= Superintendênciade Direitos Individuais, Coletivose Difusos,UNEGROAMDF-RJCOBRAREDESINDSPREV.

Ano de 2009• Comecei no CEN/RJ no dia

12/12/2009.• Seminário da Saúde da Popula

ção Negra• Começa a formação e estrutu

ra do Grupo de Trabalho deEnfrentamento a IntolerânciaReligiosa

• Assento no Comite TécnicoMunicipal da Saúde da População Negra

• Seminário Estadual de Liberdade Religiosa

• Caminhada pela Vida e liberdade Religiosa em Salvador-Ba

Ano de 2010• Lançamento da Campanha

"QUEM É DE AXÉ DIZ QUEÉ", foi apresentado em 18terreiros e 08 municípios

• Seminário da Saúde da População Negra

• Seminário no mês de março"Mulheres Negras, Trabalho eRenda", parceria com a Prefeitura Municipal de Nova Iguaçu

• Palestra e Seminário "Mulheres Negras da Conquista aoReconhecimento"

• No mês de julho comemorando O Dia da Mulher Negra.

• Formação do ComiteTécnicoEstadual da Saúde da População Negra.(assento)

• Caminhada pela LiberdadeReligiosa "Eu Tenho Fé"

Ano de 2011• Participação na Oficina Nacio

nal de Elaboração de PolíticasPúblicas de Cultura para PovosTradicionais de Terreiros- noMaranhão,

• Ciclo de Formação Politica paraMulheres,

• Palestra e Seminário da Saúdeda População Negras comparceria da AMDF-RJ no INTO-Instituto de traumatologia eOrtopedia, no dia 27/10/2011,

• Assento no Comite deAcolhimemto Interreligioso eEspiritual na Saúde do HospitalMunicipal Salgado Filho-CAIES/HMSF,

• Delegada da 1º ConferênciaNacional de Emprego e Trabalho Decente- etapa NacionalMarço 2012.

• Campanha de Combate aoFumo " Aproveite a vida sem Cigarros"

• Campanha para Tirar Dúvidas eSaiba o que é DoençaFalciforme.

• Caminhada Pela LiberdadeReligiosa "Eu Tenho FÉ".

Ano de 2012

• Preparar para o World NutritonRio 2012- em março 27 a 30 naUERJ - Congresso Mundial deAlimentação e Nutrição emSaúde Coletiva.

Atividades - 2009 a 2012

Gaiaku Deusimar ao centro na posse do GT de Combate à IntolerânciaReligiosa do Governo do Estado do Rio de Janeiro

Revista do CEN |31

Coordenadora:Silvana Veríssimo

Nzinga Mbandi/Fórum Nacionalde Mulheres NegrasRede Lai Lai ApejoMovimento Saúde dos Povos Cír-culo BrasilAlames - Associação Latino Ame-ricana de Saúde ColetivaRSMLAC - Rede de Saúde dasMulheres Latino Americanas eCaribeConselheira Nacional do CNDM- Conselho Nacional dos Direitosda Mulher

Seminário Intolerância Religiosa eRacismo Fazem Mal à Saúde

Em junho de 2011, realizamos o Seminário Intolerância Religiosa e Racismo FazMal a Saúde, na cidade de Itu, interior de SP, onde contamos com a presença de210 pessoas, nos dois dias do evento,sendo entre estas 20 secretários de saúdeda região.

Foram distribuidos nas pastas os seguintes materiais: as cartilhas da Política Inte-gral de Saúde da População Negra, o Boletim da Rede Lai Lai Apejo - PopulaçãoNegra e Aids,Estatuto da Igualdade Racial, Preservativos,Cartilhas sobre AnemiaFalciforme, Hanseniase e folhetos sobre Tuberculose.

A abertura do evento foi na sexta, dia 24/06,na Camara Municipal de Vereadores,iniciando com a palestra de Deise Benedito, Assessora Especial da SDH - Secre-taria de Direitos Humanos e Mãe Zilmar Duarte, da Comissão de Combate aIntolerância Religiosa/RJ, que falaram sobre o intenso trabalho que vem desen-volvendo nos ataques das igrejas neopentecontais e intolerantes as Religiões deMatrizes Africanas.

O segundo dia, sábado dia 25, o evento foi no auditório da Prefeitura Municipal,com coordenação da primeira mesa sendo do coordenador municipal de dst/aidsda cidade de Itu,André Renato, que faz parte do comitê estadual inter religioso,mesa onde estavam palestrando Damiana Neto, do Departamento Nacional deDst/Aids, Baba Dyba de Yemonja/Renafro/Saúde e Arnaldo Marcolino, do Conse-lho Nacional de Saúde.

Esta mesa enfatizou sobre as questões de aids e racismo, o trabalho realizadopelas religiões de matrizes africanas no campo da saúde e da prevenção de dst/aids nos terreiros, a importância do povo de terreiro em participar da Conferêncianacional de saúde e estar presente nos conselhos municipais, estaduais e nacio-nal de saúde, além do desafio da implementação da Política Nacional de Saúdeda População Negra.

Na segunda mesa estiveram presentes Makota Célinha, do Cenarab e ConselheiraNacional do CNPIR/SEPPIR, e a jornalista Eli Antonelli, da Revista Brasis Afro, aprimeira explanou sobre os direitos e deveres dos terreiros,registro, como escre-ver e enviar projetos, prestação de contas, e a segunda falou sobre os terreirosnos espaços da mídia e o que fazer para se reverter esse quadro.

A terceira e última mesa estavam presentes Liege Vicente/Coordenadora Estadu-al da Juventude da Unegro e integrante do Fórum da Juventude Negra e DeivisonNkosi/Kilombagem/Rede Nacional de Controle de Saúde da População Negra,que falaram sobre a saúde da juventude negra, o trabalho da juventude nos terrei-ros, efeitos do racismo na juventude negra e política de saúde da população ne-gra.

Entre os direcionamentos do seminário, ficou acordado um comitê regional desaúde da população negra, pois na avaliação dos secretários presentes e dosparticipantes do seminário, infelizmente o comitê estadual daqui do Estado de SPestá parado, e a realidade do interior e da capital são bem distintas.

Na questão do enfrentamento a aids/dst, e outras enfermidades referentes a saú-de da população negra, os secretários de saúde presentes no evento se compro-meteram a chamar as religiões de matrizes africanas e criar grupos de trabalho,entre gestores de saúde e comunidade de terreiros,com atividades tanto nos es-paços de saúde,como nos terreiros.

Houve uma discussão calorosa sobre a tuberculose, pois vem aumentando as-sustadoramente os índices e se há necessidade de se fazer um trabalho maisefetivo nessa área, com campanhas de prevenção e atividades concretas.

32 | Revista do CEN

Coordenadora:Nina Fola

Produtora Cultural, cantora, reli-giosa do Batuque, Nina Fola pre-side em Porto Alegre a OngAfricanamente, que desenvolveações de valorização da culturaafro-brasileira.

Atuando em parceria direta comBabá Diba de Yemonjá - de quemé filha-de-santo -, Nina assumea coordenação do CEN no RioGrande do Sul disposta a trazertodas as ações voltadas para ofortalecimento da religosidade eda cultura afro-descendente.

A defesa dos direitos de liberdade e da prática religiosa nos terreiros, semnenhum tipo de preconceito, marcaram a intervenção do titular daCoordenadoria das Diversidades de Canoas, Paulo Ambieda (Paulinho D'Odé), durante o seminário "Unidos Somos Fortes", realizado na última sex-ta-feira, 20 no Teatro Dante Barone - Centro Histórico - Porto Alegre. Esseevento foi preparatório à 4ª Marcha pela Vida e Liberdade Religiosa realiza-da nesse sábado também na Capital.

O coordenador de Canoas integrou a mesa "Democracia, Paz e Religião:Respeite!" nesse evento, que tinha como tema " Reconhecer as diferenças,superar a intolerância e promover a diversidade". Durante este sábado Ca-noas também esteve representada nesse evento, por meio de gestores des-ta coordenadoria. O movimento, que teve início em 2009, reúne religiososde matriz africana e umbanda da capital e do interior, além de convidados dediversas regiões do Brasil.

Nesta edição, que homenageia Mestre Borel - Ancestralidade Negra,Babalorisa e Alagbe que faleceu em 2011 e que participou de todas as ou-tras marchas, os participantes comemoram um importante avanço: o com-prometimento do governo do Estado de atender reivindicações apresenta-das dia 21 de novembro de 2011, em reunião no Palácio Piratini com oGovernador.

A 4ª Marcha pela Vida e Liberdade Religiosa se caracteriza contra a intole-rância religiosa e o racismo, é promovida pela RENAFRO-SAÚDE-RS, como apoio do Gabinete do Povo Negro da Prefeitura de Porto Alegre,SINDISPREV e SINDISERF e tem na comissão organizadora as seguintesorganizações parceiras CEDRAB, GPUC-UFRGS, MNU/RS,AFRICANAMENTE, FORMA/RS, GT - AÇOES AFIRMATIVAS, CEUCAB,UNEGRO-RS, YAHYA PRODUÇÕES, ATRAI, CEN, ESTAF, EGBE ORUNAIYE, ILE AXÉ YEMONJA OMI OLODO.

Histórico

Motivada por diversas denúncias, a 1ª Marcha foi realizada em 21 de janeirode 2009 - Dia Nacional de Mobilização Contra a Intolerância Religiosa, coma participação de 2.000 pessoas. Os organizadores entregaram ao Governodo Estado um documento reivindicando a implementação da Delegacia con-tra a Intolerância Religiosa e o Racismo. Protocolaram também uma ADIN -Ação direta de inconstitucionalidade contra a Lei 13085 de 5 de dezembrode 2008 - "Lei da Mordaça Religiosa". Caravanas de todo o estado mobiliza-ram-se para a 2ª Marcha, que integrou a programação do Fórum SocialMundial 10 Anos, em 2010, e teve a adesão de diversas organizações go-vernamentais e não governamentais do estado e do cenário nacional.

A criação de uma comissão inter-religiosa vinculada ao Gabinete do PovoNegro do Município, para dar conta de toda a demanda relacionada à intole-rância religiosa, e a construção e implementação de políticas públicas paraterreiros foram reivindicações da 3ª Marcha, em 2011, com o grito de "Uni-dos Seremos Fortes". Um seminário precedeu a caminhada, com o objetivode discutir o Plano Nacional de Combate à Intolerância Religiosa e o Estatu-to Estadual, da Igualdade Racial, reunindo lideranças das religiões de ma-triz africana e do Movimento Negro de todo o país. Nesta edição, foramretomadas as reivindicações ainda em aberto, como a da criação delegaciaContra Intolerância Religiosa.

IV Marcha Pela Vida e LiberdadeReligiosa do RS

Revista do CEN |33

Coordenador:Márcio Marins

Coordenador do Dom da Terra eda Parada da Diversidade LGBTno Paraná

De 26 a 29 de janeiro Curitiba ocor-reu o II Encontro Paranaense das Re-ligiões de Matrizes Africanas e Saú-de, com o tema “Enfrentando asVulnerabilidades” O objetivo do encon-tro foi integrar gestores públicos comlíderes das comunidades de terreiro,representantes de movimentos soci-ais e sociedade civil possibilitandoidentificar as necessidades pontuaisdessa população fomentando a cons-trução de políticas públicas que aten-dam suas demandas.

O encontro teve caráter nacional comrepresentantes de vários Estadoscomo Ceará, São Paulo, SantaCatarina, Paraná, Rio Grande do Nor-te, Rio de Janeiro, Minais Gerais, MatoGrosso do Sul, Bahia entre outros.

O coordenador do Fórum Paranaensede Religião de Matriz Africana –FPRMA-PR Marcio Marins afirmouque a presença dos gestores públicosmunicipais, do Governo Estadual e doGoverno Federal fortalece a discus-são com os povos de terreiro conhe-cendo suas necessidades e permiteuma expectativa de resultado efetivo.

Mapa da Intolerância identifica si-tuações críticas

Durante o encontro o coordenador doColetivo de Entidades Negras – CENMarcio Alexandre Gualberto fez a últi-ma apresentação do Mapa da Intole-rância Religiosa lançado em maio de2011. A ação visa identificar as princi-pais ocorrências de intolerância noBrasil.

As situações levantadas não se refe-re apenas à comunidade de terreiro.“Ampliamos o foco para demostrar assituações de intolerância nos últimos10 anos. Identificamos casosemblemáticos como situaçõesvivenciadas por adeptos de várias re-ligiões”, diz

O coordenador cita ainda o caso maisfamoso de intolerância na religião dematriz africana, que foi a morte porinfarto de mãe Gilda da Bahia. Ela teveuma foto sua publicada no jornal da

Igreja Universal , cuja mancheteenfocava que ela fazia parte de mãese pais de santo charlatões que tira-vam dinheiro da população. Mãe Gil-da já havia sofrido um ataque em seuterreiro anterior a essa situação.Quando se deparou com sua imagemno jornal, não resistiu e teve um ata-que fulminante.

Proposta de soluções

Marcio Alexandre destacou ainda, quea proposta agora é apresentar solu-ções para o combate da intolerânciaa partir dessa identificação. Uma de-las seria a realização de conferêncianacional, estadual e municipal deba-tendo junto, poder público e socieda-de, além de contar com a presençade adeptos das religiões que discri-minam o povo de terreiro. Outra pro-posta é a capacitação dos agentes pú-blicos e ainda a intensificação do tra-balho com a lei 10.639/2003 que tratado ensino da história da África e cul-tura afro-brasileira nas escolas. Ou-tro ponto apresentado seria a implan-tação das Delegacias de Combate aIntolerância Religiosa, que já existe noRio de Janeiro. E a criação de um cen-tro de combate à intolerância junto asSecretarias Estaduais de Direito Hu-manos.

Próximas discussões

O encontro finalizou domingo (29). Nosábado das 10h às 12h houve umacaminhada contra intolerância religi-osa. O povo de santo saiu às ruas deCuritiba no percurso da Rua JoãoNegrão até o Calçadão da Rua XV deNovembro mostrando sua arte e suafé.

Para o presidente da Associação deOgans Carlos Augusto a ação cum-priu seu objetivo “A proposta foi cha-mar a atenção da população para arealidade de discriminação e intolerân-cia que sofre a população de terreiroconstantemente. Ações como esta nosfortalece e faz com que as pessoasnos percebam. A origem do precon-ceito é sem dúvida a falta de conheci-mento do que é a região de matriz afri-cana”. diz.

ENCONTRO PROPÕE DIALOGO ENTRE PODER PÚ-BLICO E COMUNIDADE DE TERREIRO EM CURITIBA

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Coordenador:Guilherme Nogueira Dantas

Hoje o plano de trabalho da ju-ventude do CEN está estruturadonos seguintes eixos:

• Combate ao racismo pormeio de ações afirmativasde governo, nas seguintesáreas:

• Saúde da População negra;

• Mulheres negras nos Espaços de poder;

• Mercado de Trabalho;• Cultura e mídia;• Combate ao extermínio da

juventude negra;• Combate à intolerância re

ligiosa;• Enfrentamento do trabalho

infantil e à violência infanto-juvenil;

• Combate ao turismo sexual que afeta as jovens negras.

E JUNTOS, PACIFICAMENTE, PROTESTAMOS

Começou de forma inesperada. De repente, ao som dos atabaques de umterreiro local – que estavam ali não por acaso, mas para que tocássemosmúsicas em homenagens aos orixás – alguns de nós começamos a nosdeitar no chão, como se estivéramos mortos. Outros de nós, com fitasadesivas na mão, começaram a demarcar os espaços que ocupavam nossoscorpos. Começava, assim, o protesto mais emblemático da II ConferênciaNacional de Juventude.

Muitas eram as juventudes presentes nessa conferência: jovens índios,defendendo seu direito ao cultivo de sua cultura ancestral; estudantesorganizados, buscando mais verbas para a educação no Brasil; feministas,defendendo o direito ao próprio corpo; e, dentre outros vários mais, jovensnegros, lutando pela vida. É sabido que o genocídio da juventude negra éum dos problemas mais emblemáticos de todos os jovens brasileiros denosso tempo. Não obstante, não foi com violência que tal fato, triste ehediondo, foi lembrado em Brasília. Foi, sim, por meio da dança, da músicados atabaques, da energia do povo do santo, e do silêncio respeitoso detodos – negros ou não – que assistiram a nossos jovens vivos deitados nochão, levantando-se pelos outros tantos que já não podem mais ficar de pé.

Em meio àquela cena quase cinematográfica, câmeras e pessoas seacercaram. A música, tocando alto, seguia como um convite para o silêncioe a observação de todos. E mais e mais jovens se deitavam, até que ocorredor central do pavilhão de exposições do Parque da Cidade, local ondese dava a conferência, se tornasse o melhor retrato imperfeito da tristerealidade da juventude negra. E, assim, entre jovens negros deitados, deolhos fechados, e um público observador estarrecido, os negros jovens queainda estavam de pé pediram três minutos de silêncio em memória dajuventude já morta. Três minutos, em que os segundos do silêncio foramcadenciados apenas pelo rufar dos atabaques, que contavam o tempo. Aofinal desses, uma música foi cantada, já sem nenhum acompanhamento,ou outro som que não o barulho de flashes de diversas câmeras. E os jovensdeitados, então, no fim da música, se levantaram em um grande abraçonegro, celebrando a felicidade da vida sagrada e espiritual de todo o nossopovo.

Sempre cantando, o povo todo se juntou ao abraço e, ao final, uma vezmais consciente, uma vez mais energizado, foi se afastando para seguirseu passo para esse ou aquele outro lugar. Ficaram do protesto as fotos e acerteza de termos mostrado que nosso povo vive, muito embora as forçasviolentas e orquestradas daqueles que se opõem a tal fato, tentemincessantemente nos silenciar.

Ao CEN, em todo esse processo, coube auxiliar com a montagem dasimagens da amorosa Oxum e do destemível Oxossi, que, representadospor meio de manequins negros, acompanhavam a toda aquelamovimentação. Coube ao CEN, além disso, financiar os banners da juventudenegra, que coloriam os estandes da SEPPIR/PR e da UNFPA, bem comoauxiliar na articulação da utilização desses espaços pela juventude negrabrasileira.

Um protesto, pode-se dizer, passa invariavelmente pela representação dotodo que, quase sempre sem alcançar sua dimensão, ele encena. Que possaa encenação de jovens negros mortos ser, portanto, lembrada como o todode uma realidade triste, que não deveria existir de forma alguma. E quepossa essa lembrança reiterar que é pela vida que lutamos; vida essa digna,

respeitosa e igualitária – hoje e sempre.

Revista do CEN |35

Coordenadora:Lindinalva de Paula

Lindi, como é carinhosamentechamada é uma das fundadorasdo CEN na Bahia. É uma ativistahistórica tendo construído suacarreira como militante em vári-as organizações até chegar aoCEN onde coordena a política degênero da instituição.

O Coletivo de Entidades Negras _ CEN em sua trajetória, luta pelo resgate dacidadania e buscar construir com outras entidades da sociedade civilorganizada uma proposta coletiva de uma sociedade mais justa, humana,igualitária, fundada na lógica de emancipação do homem da mulher e dajuventude.

Foi com a visão de ampliar as nossas intervenções que no último encontro dacoordenação nacional, realizada no mês de abril de 2011 em Salvador que foilegalmente constituída a coordenação nacional de políticas de gênero.

Como é característica do CEN esta coordenação pretende levar as discussõesde gênero e raça/etnia para as comunidades periféricas, religiosas e juventudeserá Desafio, embora a palavra não traduza fielmente a ousadia da iniciativado nosso Coletivo, é a que mais se aproxima do compromisso assumido peloColetivo de Entidades Negras e por todos/as que têm como prioridade aidentidade racial e as lutas do povo negro. Trata-se de um desafio combinadocom conquista, no sentido de implantar uma política de promoção da igualdadee de gênero com o caráter de articulação e mobilização através de contatoscom lideranças comunitárias como; associações de bairro, grupos culturais,grupos de jovens, grupo de capoeira, instituições religiosas, conselhos demoradores, etc. proporcionando assim várias ações voltadas para ascomunidades, na perspectiva de sensibilizar, mobilizar e ampliar as discussões,com intuito de apresentarmos proposição de políticas públicas a serimplementadas.

Diversas ações foram realizadas na Bahia com a participação do CEN comrelação a nossa coordenação.

Construímos diversas atividades em parcerias com outras entidades alusivasao dia 25 de julho, dia da Mulher Negra na America Latina e no Caribe taiscomo:

• Mulheres Negras em Movimentos – Palestras, vídeos e oficinas nasescolas.

• Iª Mostra de Trajes Afro de Mulheres das Religiões de Matriz Africanaem dois grandes Shoppings.

• Realizamos juntos com o FES – Fórum de Entidades do Subúrbio eo Movimento de Mulheres do Subúrbio, o Iº Encontro de MulheresNegras da Juventude do Subúrbio.

• Realizamos também junto com o Terreiro de Jauá o Iº Encontro deMulheres Quilombolas da Região Metropolitana.

• Participação da construção da III Conferência de Políticas Para asMulheres, compondo a Municipal, Territorial e Estadual, garantidoassim a discussões de do eixo nove.

• Participamos de forma contundente da III Conferência Nacional dePolíticas para mulheres em Brasília, juntamente com aCoordenadora Silvana Veríssimo que compõem o Conselho Nacionalde Mulheres, onde realizamos reuniões e articulações com asmulheres das religiões de matriz africana, onde conseguimos umaaudiência com a SEPPIR e a SPM.

• Participamos ativamente das comemorações do mês de novembro

Temos como indicativo o primeiro encontro nacional da Coordenação depolíticas de gênero com as representações dos estados onde o CEN se fazpresente para o mês de julho.

Temos como indicativo o primeiro encontro nacional da Coordenação depolíticas de gênero com as representações dos estados onde o CEN se fazpresente para o mês de julho.

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Coordenadora:Yoná Valentim

Como Coordenadora Nacionalde Comunicação do CEN, Yonátem como principal responsabili-dade gerir o site e produzir aspeças de comunicação da insti-tuição.

Ao longo dos anos o crescimen-to do número de assinantes dosite do CEN têm sido o principalindicador do sucesso deste tra-balho.

Portal do CEN - Desenvolvido sob a plataforma Wordpress o Portaldo CEN é hoje uma das mais dinâmicas e completas ferramentasde comunicação sobre as relações étnico-raciais no Brasil. Além detrazer informações do cotidiano da instituição, o Portal do CEN temarquivos de vídeos, áudio, fotos e uma gama gigantesca de infor-mações produzidas por outras organizações, organizações filiadas,além de fontes da própria imprensa tradicional e do poder público.

CEN Brasil Informa - Boletim institucional, voltado para divulgaçãodas atividades da Coordenação Nacional do CEN. O CEN BrasilInforma chega onde, muitas vezes, o acesso à internet é mais difícilpara os nossos filiados ou comunidades com as quais trabalhamos.

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Coordenadora:Jaciara Ribeiro dos Santos

Mãe Jaciara de Oxum vem coor-denando a área de religiosidadedo CEN desde março de 2011,mas, bem antes disso, sempreteve atuação destacada dentroda instituição sendo uma dasprincipais vozes brasileiras naluta contra a intolerância religio-sa.

Nós, adeptos das religiões de matrizes africanas, temos passado porperseguições desde que os nossos ancestrais chegaram a essa terra emdecorrência do tráfico de africanos e sua exploração na forma deescravidão. Os deuses africanos tiveram que ser escondidos e camufladosno culto aos santos cristãos e desde então começaram as opressões.Depois de tantas lutas, vitórias importantes e mais uma série de batalhastravadas, é importante também que cada um de nós busquemos umapostura ética com os demais religiosos de matrizes africanas.

Hoje com tantas mudanças e evoluções tecnológicas me vejo preocupadacom um dos mecanismos muito forte que vem mudando a história doCandomblé, a internet. Alguns dos nossos religiosos têm tido posturasque nos enfraquece e nos separa ao lançar na rede muitas informaçõesdistorcidas que acabam maculando a religião do Candomblé através daexposição de imagens e conhecimentos muitas vezes chegam a pessoasque ainda não são preparados para adquirir certas informações ou asobtém antes fora do tempo correto.

Nós não temos um livro que nos faça ser Yalorixás e Babalorixás, nossosaprendizados e rituais são passados por nossos antepassados e guiadospor Ifá através dos dezesseis búzios. Dessa forma, afirmo: nem umBabalorixá e nem uma Yalorixá tem o direito de criticar ou afirmar o que écerto ou errado em outra casa de Candomblé, uma vez que cada Ilê temsua essência e o próprio Orixá dono daquela casa de Axé saberá o caminhoe conduzirá a Yá ou o Babá na forma de fazer os seus rituais e iniciarseus filhos. Até um sonho que uma Yalorixá tem pode trazer a conduçãode um ritual ou o caminho de Odú, por isso acredito que nós do candombléprecisamos nos proteger e ter o mesmo carinho, respeito e cuidado poràs outras casas, como temos à nossa. Devemos enxergar nas outros aextensão de nossas casas de Axé independentemente de nação, raiz edimensões e condições físicas. Quando escuto falar mal de uma casaque não seja a minha, eu sofro como se o fosse, pois o Orixá é uno. OOgum que dança na África é o mesmo que dança em qualquer casa decandomblé na Bahia.

Sem entendermos que o importante do Axé, são os Orixás, Voduns,Niquices e Encantados, não conseguiremos preservar a nossa própriaforça ancestral, a nossa essência e a nossa espiritualidade. Se somosintermediários da manifestação do sagrado, temos que prezar por ele,preservando a integridade física e moral de cada um dos demais quecompartilham da nossa religiosidade. É também de suma importânciaque haja essa preservação mútua para que nossas forças sejamdirecionadas para quem insiste em nos discriminar e oprimir.

Nossos antepassados que morreram na África e aqui no Brasil nosobservam de Orun, e os nossos Orixás, Niquices, Voduns e encantadossão a nossa essência pois se misturam com o nosso ser. Ser filho deorixá, ou seja, OMO Orixá, não é para qualquer ser humano. Nós sabemosque os nossos corpos são preparados para ter suas essências misturadasà do Orixá, ou seja, com a própria força da natureza.

Sou Yalorixá Jaciara Ribeiro e tenho um histórico de 12 anos de luta contraa intolerância religiosa que se iniciou de forma dolorosa, com a perda deminha mãe biológica, a Yalorixá Gilda de Ogum. Portanto, é em nome deOxum, Orixá que guia a minha vida o meu caminho o ar que respiro queeu digo: O QUE EU DESEJO PRA MINHA VIDA E PRA MINHA CASA DEORIXÁ, O AXÉ ABASSA DE OGUM, EU DESEJO PRA VOCÊ QUE É DEORIXÁ E QUE TEM UMA CASA DE CANDOMBLÉ (YLÊ AXÉ).

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Demolição de terreiro provoca polêmica em Salvador

O terreiro Oyá Onipó Neto, locali-zado há mais de 29 anos na Ave-nida Jorge Amado, em Salvador,foi parcialmente demolido em 27de fevereiro, o que provocou po-lêmica e uma série de manifesta-ções contra a intolerância religio-sa. A responsável por autorizar ademolição, Kátia Carmelo, foi exo-nerada do cargo de chefia da Su-perintendência de Controle do Usodo Solo do Município (Sucom) e oprédio está sendo reconstruído.

Alguns dias após a derrubada doprédio, o prefeito de Salvador,João Henrique Carneiro, pediudesculpas pelo ocorrido, em públi-co, e anunciou que o templo seriareconstruído. Segundo a mãe-de-santo Rosalice Santos do Amor Di-vino, de 50 anos, uma construto-ra, cujo nome é mantido em sigi-lo, assumiu a obra.

Mãe Rosa, como é conhecida emSalvador, disse que espera poder

realizar suas atividades religiosaso mais breve possível. “Não vejoa hora de poder entrar novamen-te no templo. Afinal de contas, es-tou no local há quase 30 anos.Felizmente recebemos apoio dediversos religiosos, de todos oscredos possíveis. O que aconte-ceu não poderia ter acontecido.”

Marcos Rezende, de 33 anos, con-selheiro da Secretaria Nacional deDireitos Humanos, fez cinco diasde greve de fome como protestoaté a solução do caso. “Só encer-rei a greve de fome depois de re-ceber a garantia de que a admi-nistração municipal pediria descul-pas e reconstruiria o templo. Alémdisso, será preciso repensar a si-tuação imobiliária de muitos outrostemplos religiosos, sejam eles dequalquer natureza.”

Castigo do céuPara Rezende, o efeito da destrui-ção do terreiro veio dos céus logo

no dia 28 de fevereiro. “Neste dia,uma chuva, como há muito temponão se via em Salvador, provocouestragos na cidade. Foi a respos-ta dos orixás. Como religiosos,achamos que isso foi um clamorde Iansã e Xangô por Justiça”, dis-se.

Segundo ele, todos os quartos dosorixás foram derrubados na açãoda Sucom. “A única imagem quecaiu do barracão foi o orixá da Jus-tiça (Xangô). Iansã é o orixá dasventanias e tempestades. Xangôtambém é o orixá dos raios e dostrovões. Por isso, achamos que otemporal que caiu em Salvador umdia após a derrubada do terreirofoi uma resposta contra a intole-rância religiosa”, afirmou.

Rezende disse, ainda, que váriosprédios da capital baiana têm pro-blemas com a escritura e que issonão justificaria a ordem de demo-lição.

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Apoio:

Este é o primeiro número de umarevista que visa, antes de tudodivulgar os trabalhos desenvol-vidos pelo CEN desde o seu nas-cimento até os dias atuais.

Lançá-la em Recife, em parce-ria com a coordenação local e ossindicatos que nos apoiaram, foia forma que encontramos deagradecer a parceria e dizer queé nosso desejo ampliar esta par-ceria para pensarmos ações quevisem única e exclusivamente obem-estar da população maispobre de nosso país que é, ma-joritariamente, negra.