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CULTURAMA CULTURAMA Ano 1 - Nº 1 - Abril/2011 Criminal D: o estivador e rapper santista que tem Hip Hop na veia! E +: Tanah Corrêa dedicação e amor à arte Ser palhaço não é brincadeira! Conheça Helena Figueira, palhaça profissional

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Produzida por alunos do terceiro ano de Jornalismo da Unisanta em 2011

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Page 1: Revista Culturama

CULTURAMACULTURAMAAno 1 - Nº 1 - Abril/2011

Criminal D: o estivador e rapper

santista que tem Hip Hop na veia!

E +: Tanah Corrêa

dedicação e amor à arte

Ser palhaço não ébrincadeira!

Conheça HelenaFigueira, palhaça

profissional

Page 2: Revista Culturama

E aí, galera?Falar de arte para jovens de

todas as tribos! Essa é a idéia da Revista Culturama. Nas pró-ximas páginas você vai desco-brir que diversão e arte cami-nham lado a lado e podem estar bem próximas da sua casa.

Santos, assim como diver-sas cidades da região, oferece opções de programas culturais para todos os gostos, de rock ‘n’ roll e museus (e logo mais você vamos mostrar que eles não são “coisa de velho”!).

Onde quer que você este-ja e para todos os lados da ci-dade que olhe, com um pouco de atenção você ouvirá o som, acordes, rimas e manifestações que envolvem desde a música clássica até o rap.

Você vai conhecer um pouco da história do rapper Criminal D, santista que encara a estiva com coragem e firmeza e ain-da canta, dança e vivencia o hip hop.

Batemos um papo superlegal com o diretor de teatro Tanah Corrêa, que falou sobre algu-mas das suas inúmeras experi-ências no universo artístico, ao longo de seus 70 anos de vida.

Ah! E se você acha que ser palhaço é brincadeira, vai ver que não é bem assim. Helena,

palhaça profissional (isso mes-mo!), conta como trilhou cami-nhos nacionais e internacionais que lhe ensinaram a arte dos picadeiros.

E ainda tem samba, chorinho, cinema cult, teatro amador e di-versas informações que espera-mos que você curta!

Divirta-se! Elizabeth SoaresEditora

ExpedienteCulturama

Revista Laboratório da Faculdade de Jornalismo da Unisanta - FaAC

Alunos do 3º Ano

Professora Orientadora:Elaine Saboya

Editora-Chefe:Elizabeth Soares

Sub-Editor:Carlos Norberto

Editora de Planejamento Visual:

Joanna FloraEditoras Multimídia:

Jéssica Amador, Joanna Florae Larissa Pimentel

Page 3: Revista Culturama

Índice Museu da Imagem e do Som de Santos Uma viagem no tempo entre vídeos e discos de vinil para todas as idades

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12 Teatro AmadorOs perrengues de quem está no palco só por amor à arte

18 Um cinema à beira-mar?Isso mesmo! E mais perto do que você imagina

22 Athanazildo, ou simplesmente TanahHomenageado pela X-9, fala de suasexperiências artísticas

28 Do black power ao rapA trajetória de um estivador que encontrou no rap uma arte próxima

42 Uma profissão que não é brincadeiraConheça a história de Helena, umapalhaça profissional

46 Aqui tem Choro sim, Macaco Velho!Chorinho e samba de raiz que fazem acabeça dos jovens

52 Coro e cores despertam os sentidos no Coral ZanzaláConheça um pouco do premiadocoral cubatense

62 Fique ligado na programação cultural da cidade!

58 Que banda você toca?Banda alternativa conta a dificuldade para tocar seu projeto

Page 4: Revista Culturama

MISS – Memórias gravadase expostas em um só lugar

O Museu da Imagem e do Som de Santos, localizado no Teatro Municipal, possui cerca de 16.000 arquivos, entre filmes e discos de vinil, que estão disponíveis para toda a população. O local permite aos visitantes uma via-

gem no tempo.

Joanna Flora

Provavelmente você nunca precisou reve-lar um filme de 36, 24 ou 12 poses. Mas, se você tivesse nascido há algumas décadas, certamente reconhe-ceria as máquinas fo-tográficas nas páginas seguintes. Caso você nunca tenha manuse-ado essa relíquia ain-da existe uma chance para você conhecer um pouco mais sobre ela e outros aparelhos da mesma época: bas-ta ir ao MISS, Museu da Imagem e do Som de Santos.

Trata-se de um pa-vimento térreo mo-desto, com paredes vermelhas, laranjas e amarelas. Quadros com cartazes de filmes antigos estão expos-

tos em algumas des-sas paredes. Dois bo-necos do Vinicius de Moraes estão sentados em cadeiras no fundo do local. Um deles, in-clusive, está “usando”

fones de ouvido. Ao entrar pelas por-

tas de vidro do local, você fará uma viagem no tempo. O lugar tem a finalidade de pre-servar a memória dos

meios de comunicação e a vida cultural da ci-dade através de recur-sos multimídia. Não são apenas máquinas fotográficas da época dos seus pais e avós:

no acervo é possível encontrar televisões, máquinas de telex, fil-madoras, gramofones e outros aparelhos dos quais certamente você nunca ouviu falar.

MUSEU

JOANNA FLORA

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Page 5: Revista Culturama

Audioteca

Para aqueles que querem conhecer um pouco mais sobre a cul-tura das décadas pas-sadas, o museu dispo-nibiliza cerca de 10.000 discos que podem ser escutados lá mesmo. “Os universitários de cursos ligados às artes (música, cinema e rá-dio) são os maiores fre-quentadores do MISS”, comenta Maria Antônia da Silva, chefe da seção do local.

Se você já ouviu seus

pais ou avós comen-tando sobre os discos de vinil que mais gos-tavam e tem curiosi-dade de saber o tama-nho, quanto pesavam ou como tocavam, sem dúvida esse é o melhor lugar.

Videoteca

Mas se o seu negó-cio é imagem, não tem problema. 5.982 víde-os (entre VHS e DVD) estão à sua disposição. Nesse caso, também é possível locar. Após um

rápido cadastro, você pode levar até três uni-dades para casa, por dois dias, ao preço de R$ 1,80 cada uma.

Como hoje em dia quase não restam ví-deos cassetes, o mu-seu tem a intenção de desenvolver uma sala, onde será possível as-sistir aos vídeos que estejam nesse forma-to. No acervo, existem produções de direto-res de diversas nacio-nalidades: franceses, ingleses, argentinos, gregos, indianos, ita-

JOANNA FLORA JOANNA FLORA

JOANNA FLORA JOANNA FLORA

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Page 6: Revista Culturama

lianos, entre outros.

Exibições de Filmes

O museu conta com o auditório “Chico Bo-telho”. Nele, são exibi-dos filmes, que podem ou não serem seguidos de debate. No projeto “Cinema no MISS” ou “Sessão Retrô” você pode dar a sorte de encontrar em cartaz o filme que você sempre quis assistir, mas não podia, por estar em for-mato VHS.

O projeto Cinema no MISS tem a finalidade de mostrar o melhor do cinema nacional e internacional. Já o Ses-são Retrô expõe, espe-cialmente, clássicos do cinema mundial. Os fil-

mes são escolhidos pelo coordenador do local, Nivio Mota, e a progra-mação é publicada no Diário Oficial da cidade, e em panfletos distribu-ídos aos visitantes do museu.

Os adultos terão a sensação de voltar no tempo mesmo antes de começar o filme e os mais jovens terão a oportunidade de conhe-cer um pouco do pas-sado de Santos. Isso porque os 75 lugares disponíveis no auditório são especiais. Os assen-tos chegaram ao museu em 2007 e são os mes-mos do antigo Cine In-daiá que existiu na cida-de até 2004. Eles foram doados pelos respon-sáveis pela construção

que ocupou o local onde o cinema exibiu suas sessões por 44 anos.

Exposições

Quem entra no mu-seu não imagina, mas em meio ao salão no qual estão expostas máquinas, TVs e ou-tras peças antigas, existe uma sala de exposições, um pouco escondida. Nela, é pos-sível encontrar partes de grandes comemo-rações que acontecem na cidade. Já ocorreram mostras sobre carnaval, propaganda e de fotos. A divulgação é feita nas rádios locais.

Em 2009, ano da França no Brasil, ocor-reram durante um mês

JOAN

NA FLO

RA

JOANNA FLORA

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exibições de filmes de diretores franceses e de óperas, também de pro-dução francesa.

Nos 100 anos da Imi-gração Japonesa no Brasil (2008) não foi di-ferente. Durante no mês de junho foram feitas diversas homenagens no local.

Tributos a diretores também já acontece-ram. Fique ligado, pois a qualquer hora pode acontecer mais alguma e você não pode perder!

Serviços Especiais

O local dispõe de um estúdio para gravações de áudio. A locação custa R$ 35,00 a hora.

Durante um período, o MISS possuía uma espaço no qual era pos-sível fazer gravações de vinil para CD. “Essa atividade foi suspensa permanentemente por conta de ter sido consi-derada “pirataria” pela legislação”, explica Ma-ria Antônia.

O museu realiza um processo de cataloga-ção de fotos antigas da cidade de Santos, mui-tas da década de 60. Ao

final desse processo, o visitante poderá ver as fotos da população e dos carnavais santistas da época.

Oficinas e cursos também acontecem no espaço do MISS. Am-bos são divulgados no Diário Oficial de Santos ou por meio de pan-

fletos que ficam nas portarias principal e do fundo, na Hemeroteca e no próprio museu.

Uma série de depoi-mentos já foi gravada no MISS ou recebida de empresas que fa-zem essas gravações e edições. Os convidados são pessoas ilustres da região que contam um pouco sobre a própria vida. Os depoimentos que foram gravados no MISS não podem ser locados, pois fazem parte do acervo inter-no do museu. Já os outros, fazem parte do processo de locação.

Roberto Peniche, Carlos Pinto (atual Se-

JOANNA FLORA

JOANNA FLORA

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cretário de Cultura de Santos) e Guga (Maes-tro da Orquestra Sin-fônica de Santos) são algumas das celebrida-des que tiveram seus depoimentos gravados pelo próprio MISS. Já os depoimentos de Pli-nio Marcos (escritor), Tanah Corrêa (ator e produtor de artes cêni-cas) e Edmur Mesquita (ex-deputado estadual) são alguns dos que fo-ram doados.

Frequentadores

Adultos e idosos são os maiores frequen-tadores do local. “Nas sessões de cinema, a minoria são pessoas que estão sempre por aqui. Tem alguns visi-tantes que são bem as-síduos”, explicou a che-fe da seção do museu.

Pelo menos uma vez por mês, o MISS recebe a visita de escolas pú-blicas ou particulares. Crianças de 4 a 10 anos ficam fascinadas pelos objetos expostos.

Nossos avós e pais estão tendo a oportuni-dade de conhecer todas as tecnologias presen-

tes em nossa geração. No entanto, nós só te-mos condições de saber um pouco mais sobre o passado com as histó-rias contadas por eles. Mas as palavras trans-formam-se em imagens que ficam distantes, só

na nossa imaginação. Visitar o MISS é uma

excelente forma de transformar estas ima-gens em peças con-cretas e entender um pouco mais sobre o passado, quando a for-ma de transmitir infor-

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Page 9: Revista Culturama

mações era tão diferen-te.

Uma dica: o pas-seio será ainda mais proveitoso ao lado dos mais experientes. Isto porque provavelmen-te você vai precisar da ajuda deles para enten-

der a função de todos aqueles aparelhos.

Sem dúvida, uma oportunidade imper-dível para conhecer o passado, tanto quanto seus pais e avós conhe-cem (ou tentam conhe-cer) o seu presente.

Doações

O MISS existe gra-ças a doações. Quan-do foi criado, em 1996, as doações eram feitas por pessoas ligadas à prefeitura que conhe-ciam o projeto. Hoje, o visitante encontra, ao lado de algumas peças, além de pequenas in-formações sobre elas, o nome de quem as doou. Como não há espaço para todas as doações, de tempos em tempos

são feitos rodízios e as peças em exposição são trocadas por aque-las que estavam guar-dadas.

Para doar algum tipo de material com o perfil do MISS, basta entrar em contato através do telefone: 3226-8000 Ramal 8181. Os fun-cionários receberão a peça, farão a cataloga-ção e pronto: mais um objeto para o acervo e mais conhecimento para quem o visita. Se for um volume de gran-de porte, existe a pos-sibilidade de agendar um veículo para a co-leta.

Reforma

Atualmente o MISS passa por uma refor-ma. Por este motivo, alguns dos projetos ci-tados estão tempora-riamente suspensos.

Veja os horários das atividades do MISS, no box abaixo.

O MISS fica na Ave-nida Pinheiro Machado, 48. O horário para visi-tação é segunda a sex-ta-feira, das 8h às 18h.

Sessão Retrô: 2ª feira -15h30 e

18h30

Cinema no MISS:4ª feira - 15h30 e

18h30

Ópera no MISS: Último domingo do

mês - 16h

JOANNA FLORA

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Page 10: Revista Culturama

Não quero dinheiro...

O teatro amador é o palco para os apaixonados pela arte que não es-peram recompensas financeiras. Apesar da falta de incentivo, alguns

grupos de dedicados artistas ainda resistem.

TEATRO

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Não quero dinheiro...

O teatro amador é o palco para os apaixonados pela arte que não es-peram recompensas financeiras. Apesar da falta de incentivo, alguns

grupos de dedicados artistas ainda resistem.

Joyce SalleS

Eles são advogados, médicos, dentistas, balconistas, psicólo-gos, seguranças, enge-nheiros, jornalistas... e todos têm algo muito forte em comum: a pai-xão pela arte de atu-ar, ainda que não seja como profissionais.

Talvez pelo amor in-condicional pelo teatro, recebam o nome de ar-tistas “amadores”.

Para mergulharem ainda mais nessa pai-xão, alguns dedicam--se a cursos e ganham experiência. Outros vão além, e se tornam profissionais.

Mas o ator de teatro amador costuma atuar por hobby, na maioria das vezes sem receber cachê. Em muitos ca-sos, os próprios atores bancam o espetáculo.

Recebi a missão de caçar companhias de teatro amador em San-tos. Internet? Anúncios de jornais? Listas tele-fônicas? Nada! Nestas fontes, pouco se en-contra a respeito.

Descobri que, infe-lizmente, os grupos estão se extinguindo devido às dificuldades que os artistas encon-tram em manter as produções.

Resolvi, então, pro-curar festivais de teatro que recebem inscrições de grupos amadores. Foi assim, finalmente, que achei o Festival de Teatro Amador (FES-TA), que deveria ter al-gum registro.

Cheguei até Leandro Taveira, coordenador do Festival, que me re-cebeu no “Quintal da Pagu” antiga “Cadeia Velha”, espaço onde grupos de teatro e cir-co ensaiam seus es-petáculos. Baners dos festivais anteriores en-chiam as paredes da sala, na qual rolou nos-so papo. Leandro, além de fornecer os contatos de alguns grupos, ain-da contou sobre como FESTA vem esse ano.

Ele relembrou os tempos em que o “Quintal da Pagu” era movimentado por ato-res maquiados entran-

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ARQUIVO PESSOAL

Page 12: Revista Culturama

do e saindo pela enor-me porta de madeira. Das antigas celas, sempre lotadas, vários grupos faziam seu pal-co e inúmeras fantasias enfeitavam as paredes brancas daquele lugar, que um dia foi uma ca-deia, um ambiente de aflição e tristeza.

“Hoje ainda se po-dem ver grupos, atores e até fantasias, mas não como antigamen-te”, lamenta Leandro.

Após ouvir essa de-claração, sabia que a coisa não ia ser fácil.

Agora, eu tinha uma lista enorme nas mãos. Comecei a fazer os contatos. Logo de cara, um deles, deixou bem claro:

“Olha, eu não sou amador, eu sou PRO--FIS-SI-O-NAL!”

Resolvi mudar de tá-tica. E através do pro-fessor de artes do curso de Produção Multimídia da Unisanta, Gilson de Melo, comecei a perce-ber porque eu estava tendo problemas.

“O termo ‘amador’ já está batido, por isso a dificuldade de en-contrá-lo. Hoje, esses

grupos se profissio-nalizaram ou fizeram algum curso. Por este motivo, não gostam de ser mais chamados de amadores. Porém, há aqueles atores que mesmo formados ain-da fazem trabalhos amadores, seja atuan-do ou dirigindo algum grupo. Obviamente, não recebem cachê pelo espetáculo feito. É a arte pela arte”, expli-cou Gilson.

O instrutor de artes da Secretaria de Cul-tura de Santos – Se-cult, Ricardo Menezes se interessou pelo tea-tro em 1990, na escola onde estudava. Lá, os alunos tiveram conta-to com o Projeto Car-litos, no qual atores de teatro amador iam às escolas e elaboravam oficinas de cenografia, atuação etc.

Ricardo se profissio-nalizou, mas o teatro amador ainda faz parte da sua vida. Ele diri-ge há 10 anos o “Arte Supernova”, grupo que tem na bagagem 14 peças e diversos prê-mios.

Sua atual peça, “Para

um amor de Vinicius”, é um tributo ao poe-ta Vinicius de Moraes. O enredo consiste em uma seleção de cenas que retratam o cotidia-no de casais apaixo-nados, embalados por canções do autor.

Menezes conta que manter um grupo ama-dor não é fácil:

“O grupo fica muito vulnerável à saída dos componentes que, por terem compromissos com o trabalho e com a casa, acabam tendo dificuldades em fazer espetáculos fora da ci-dade e por um longo tempo. É uma pena esse teatro estar aca-bando por preconcei-to da sociedade que desmerece o amador alegando falta de qua-lidade. As pessoas pro-curam como referência atores globais que es-tão na mídia, em de-trimento dos que estão nascendo na sua pró-pria região”, desabafa.

Egbert Mesquita, di-retor do grupo Cia Ka-buk, também é forma-do e concorda com a visão de Ricardo.

Ele começou no te-

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atro em 1984, mas foi em 1987, com a aju-da de três amigos que fundou a Cia Kabuk de teatro com o espetácu-lo “Lagrimas de Cris-tal”. Em 1996, após es-tudar Artes Cênicas em São Paulo e no Rio de Janeiro, Ricardo voltou a Santos e retomou o Kabuk, que deu origem a mais dois outros gru-pos, direcionado a fai-xas etárias específicas (crianças e adolescen-tes).

Atualmente em car-taz com o grupo ado-lescente “Fúrias de Teatro” no espetácu-lo infantil “A Bruxinha Cor de Rosa”, Mesquita ainda vê o teatro ama-dor como uma grande família, onde todos se ajudam.

“As tarefas são re-alizadas com o empe-nho dos componentes do grupo. As despesas geralmente são banca-

das de forma que arre-cademos algum dinhei-ro para cobri-las. Não temos patrocinadores e nem apoiadores fi-nanceiros, mas temos muitos parceiros que colaboram com o que podem”, afirma.

Festa

Criado em 1958, o FESTA é o festival de teatro em atividade mais antigo do País. Sua criação começou com Patrícia Galvão, a Pagu, com apoio do te-atrólogo Paschoal Car-los Magno e do drama-turgo Plínio Marcos.

Desde 2009, o Fes-tival de Teatro Amador (FESTA) deixou de ter apenas grupos amado-res e passou a incluir produções profissio-nais em sua programa-ção, transformando-se no Festival Santista de Teatro.

Nos mais de 50 anos de festival, já passa-ram por seu palco ta-lentos como os irmãos Cláudio e Sérgio Mam-berti, Greghi Filho, Ta-nah Corrêa, Jandira Martins, Ney Latorraca,

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Bete Mendes, Carlos Soffredini, entre ou-tros.

Neste ano, com o tema “Respeitável pu-blico” o 53º FESTA foi programado para os dias 15 a 23 de abril.

Além de Santos, os trabalhos também se-rão apresentados em outras cidades da Bai-xada, como São Vicen-te, Guarujá, Cubatão, entre outras.

O coordenador geral Leandro Taveira explica que o tema foi esco-lhido propositalmente para seguir a idéia de trazer de volta o públi-co ao teatro, “Este ano estamos com a propos-ta “pague quanto qui-ser”, os ingressos serão cobrados de R$2,00 à R$8,00”, explica.

Leandro conta que neste ano o número de inscrições foi recorde: ao todo, 368 trabalhos inscritos de todo Bra-sil. “Tivemos inscrições de grupos de diversos estados, como Amazo-nas, Pernambuco, San-ta Catarina e muitos outros”.

A secretária do even-to, Sarah Antunes, con-

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ta como foi a seleção dos candidatos. “En-caminhamos as fichas técnicas e os DVDs para os jurados em cada ca-tegoria.

Na categoria Rua, Lindolfo Amaral, de Sergipe; no infantil, Si-mone Grande, de São Paulo e no adulto, Ima-ra Reis, do Rio de Janei-ro. Escolhemos jurados de fora da região para evitar qualquer influên-cia nossa”, diz.

Este ano, o FESTA virá com oficinas no “Quintal da Pagu” e oferecerá aos grupos que permanecerem na cidade durante o festi-val, estadia e comida.

O FESTA é uma re-alização da Comissão FESTA, com patrocínio do Governo do Estado de São Paulo (Secre-taria de Cultura), por meio do Programa de Ação Cultural (ProAC), e parceria com Prefei-tura de Santos, Sesc--Santos, Associação dos Artistas, e Santos e Região Convention & Visitors Bureau. Veja no quadro ao lado as mos-tras que já estão inscri-tas no evento. Elenco da CIA de Teatro “Arte SuperNova”, na peça “Para um amor de Vinicius”

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Elenco da CIA de Teatro “Arte SuperNova”, na peça “Para um amor de Vinicius”

Mostra de Teatro de Rua“Palhaços à Vista” – Cia Circunstância Circo Te-atro – Belo Horizonte (MG)“Contos de Lua no Chão” – Grupo do Trecho – São Paulo (SP)“Cidade das Donzelas” – Troupp Pas D’Argent – Rio de Janeiro (RJ)“Circo Godot” – Cia Circo Godot – Recife (PE)“O Último Suspiro” – Gaia’thos Cia Circense – Santos (SP)

Mostra de Teatro Infantil“Sobrevoar” – Cia do Abração – Curitiba (PR)“Casos Cascudos” – Cia da Tribo – São Paulo (SP)“Chapeuzinho Vermelho” – Cia Le Plat Du Jour – São Paulo (SP)“Magia da Lua” – Coisas de Teatro Cia de Arte – Santos (SP)“O Marajá Sonhador e Outras Histórias” – Os Buriti – Brasília (DF)

Mostra de Teatro Adulto“Strangenos” – Teatro Labirinto – São Paulo (SP)“Deolinda e Genoveva” – Cia Lúdica – São Paulo (SP)“E Agora, Nora?” – Cia Temporária de Investi-gação Cênica – São Paulo“Olhos de Fazer Morder” – Teatro Experimental de Pesquisas (TEP/Unisanta) – Santos (SP)“Encontro de Dois” – Quase9 Teatro – São Paulo (SP)“Kd Eu?” – Cia Dramática de Teatro – São Paulo (SP)“Pai e Filho” – Pequena Cia de Teatro – São Luís (MA)“O Caderno da Morte” – Cia Zero Zero – São Paulo (SP)“O Homem que Queria Ser Rita Cadillac” – Gru-po de Teatro Presta Atenção – São Paulo (SP)

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ARQUIVO PESSOAL

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Criado há 20 anos por intelectuais, o Cine Arte Posto 4 exibe filmes “de arte” para um público hoje diversificado da região interessado em co-nhecer o que é produzido pelo mundo na sétima arte. Com cerca 3.000 expectadores por mês, é uma boa pedida para quem quer fugir da “mes-

mice” dos cinemas comerciais.

Bruna DalmaS

“Caramba! Existe uma sala de cinema na praia?” É assim que a maioria dos turistas rea-ge quando descobrem a existência do Cine Arte Posto 4. Pelo menos é o que conta o coordena-dor Nivio Mota, em um bate-papo descontraído em seu escritório.

Surgido da idéia de intelectuais, o Cine Arte Posto 4 foi criado há 20

anos para suprir a fal-ta de espaço reservado aos filmes de arte. E ao contrário do que muitos podem pensar, o local possui público suficien-te para as três sessões exibidas diariamente.

Localizado nos jardins da avenida da praia de Santos, ao lado do canal 3, o Cine Arte Posto 4, mantido pela Secretaria de Cultura de Santos, foi alvo de reclamações quando algumas das 48

CINEMABRUNA DALMAS

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Page 17: Revista Culturama

poltronas encontravam--se rasgadas e o som estéreo não era mais eficiente. Porém, no segundo semestre do ano passado, o espaço passou por uma gran-de reforma na estrutura hidroelétrica e elétrica, nas poltronas, sistema de som e projeção.

De qualquer manei-ra, a estrutura do local é bem diferente de um cinema convencional. Um cubículo simpático, em que as pequenas poltronas possuem um tom laranja forte dentro de uma sala completa-

mente preta.Há 11 anos na coor-

denadoria do Cine Arte Posto 4, Nivio Mota é quem seleciona os fil-mes que entrarão em cartaz. Ele me recebeu em seu escritório, den-tro do MISS (Museu da Imagem e do Som de Santos) e contou que é rigoroso no critério de escolha da programa-ção. “É necessário que o filme tenha padrão de qualidade. Levo em consideração a impor-tância do filme, se ele já foi premiado em fes-tivais e qual a importân-

cia do diretor no mun-do”, afirma.

Nívio explica que os filmes de artes pos-suem poucas cópias em película e por isso o agendamento é feito de acordo com a dispo-nibilidade nas distribui-doras. “Diferentemente dos filmes comerciais, os filmes de arte pos-suem cerca de três có-pias em um país, às ve-zes apenas uma, então a programação tem que ser pensada com muita antecedência. Estamos em março, mas já es-tou pensando em filmes

Cine Arte é alternativa para quem quer fugir do cinema convencional

BRUNA DALMAS

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Page 18: Revista Culturama

para julho”. Com um público

de aproximadamente 3.000 pessoas por mês, o objetivo do cinema é dar oportunidade aos moradores da região para terem acesso àqui-lo que se faz pelo mun-do na sétima arte e é diferente do comercial. “De repente as pesso-as começam a descobrir um novo universo, por-que realmente é dife-rente do que é conven-cional nos cinemas de shopping. Se você pa-rar para pensar, o cine-ma não é arte, mas não me entenda mal. O que quero dizer é que rotei-ro é a arte. A história é a arte. O filme pronto é um produto.”

Aqueles que pensam que os frequentadores dos cinemas de arte são estereotipados es-tão muito equivocados. Claro que depende mui-to da sessão e do rotei-ro do filme, mas Nivio afirma que o público é variado. “Existem os intelectuais, a turma dos tatuados com ca-belo azul, a velhinha, os curiosos, os universi-tários e as pessoas que

buscam um bom filme depois do expediente”.

Ao ser questionado sobre ser também um ponto turístico, Nivio diz que sim, mas que a primeira impressão do turista é de espanto, no bom sentido. “Eles cur-tem a idéia e assistem aos filmes”, afirma.

Freqüentador do Cine Arte, Eduardo Ricci, co-ordenador do Cineclube Lanterna Mágica, loca-lizado na Universidade Santa Cecília, explica a diferença entre os fil-mes comerciais e os de arte. “A diferença na estética é que os filmes comerciais geralmente possuem mais brilho, os personagens usam rou-pas da moda, por exem-plo. Mas no geral o que muda mesmo é o estilo que o diretor possui.”.

Sobre suas preferên-cias, Eduardo diz buscar um bom filme que mexa com seu imaginário. “Eu gosto do filme que me faz querer mais, não faz diferença se é de arte ou comercial, contanto que seja bom. Vou ao Cine Arte pelo menos uma vez por mês nas sessões em que nor-

malmente já conheço o filme.”.

O público é fiel

Funcionária pública concursada da prefeitu-ra de Santos, a inspeto-ra de alunos Silvia Ma-ria Veloso, de 47 anos, conta que começou a frequentar o Cine Arte Posto 4 há pouco mais de 10 anos para acom-panhar seu marido (Na época, apenas namo-rado). “Ele é um gran-de fã de cinema e certa

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Com preços acessíveis e vista para o mar, o Cine Arte conquista um público fiel

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Com preços acessíveis e vista para o mar, o Cine Arte conquista um público fiel

vez me levou ao Cine Arte. Até então eu não conhecia esses filmes, mas passei a admirar o diferente. Você racioci-na com o tema. Percebe aqueles que são bons e originais, que não se-guem o padrão dos de-mais, sabe? Você não prevê o fim como acon-tece com os filmes co-merciais”.

O estudante univer-sitário de Audiovisual, Flávio Pontes, de 21 anos, conta que filmes de arte são uma fon-

te de inspiração para seu sonho de trabalhar com produções cinema-tográficas. “Vou umas três vezes por mês, no mínimo. Tiro idéias para os meus vídeos. Ado-ro inventar ‘moda’, não gosto de mesmice. Eu e meus amigos buscamos novidades e fazemos algumas filmagens. O Cine Arte é um lugar em que encontro de tudo e tenho acesso a produ-ções de vários lugares do mundo.”

Camila Almeida dá

uma checada de vez em quando na programa-ção e vai ao local quan-do surge o interesse. “É a oportunidade de ter acesso a um tipo de arte totalmente alter-nativo, sem ficar refém de Hollywood”, comenta apressadamente, no ca-minho para a sessão.

Bilheteria

O funcionamento da bilheteria é a partir das 15 horas. O valor do ingresso é de R$ 3,00 inteira e R$ 1,50 meia (estudantes, maiores de 60 anos e menores de 18 anos, com apre-sentação do RG e pro-fessores da rede es-tadual de ensino). As reservas (somente para o dia) podem ser feitas pelo telefone (13)3288-4009. Os ingressos fi-cam em nome do soli-citante até 15 minutos antes de iniciar a ses-são.

São geralmente três sessões, a partir das 16 horas. A programação pode ser conferida nos jornais locais de Santos e no site da Prefeitura: www.santos.sp.gov.br.

BRUNA DALMAS

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PINGUE-PONGUE

Athanazildo, ou simplesmente

TanahTanah Corrêa desempenha vários papéis em seu dia a dia. É ator, diretor de teatro e cinema, roteirista, pai e, aos 70 anos,

ele tem muita história para contar.

VAGNER LIMA

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Vagner lima

Athanazildo Corrêa Neto, ou sim-plesmente Tanah Corrêa, é um san-tista de coração. Nascido em Bau-ru, veio para Santos ainda criança. E foi nesta cidade que começou os primeiros passos em sua premiada carreira de ator e diretor.

Tanah vem de uma família na qual a arte era apresentada às crianças no meio das brincadeiras, e assim também criou seus filhos: levando--os consigo para atrás das coxias.

Ao longo dos seus 70 anos de vida, dirigiu premiadas peças de teatro, fez participações em filmes e telenovelas como ator e diretor, trabalhou com gente como Plínio Marcos e Regina Duarte, dirigiu a Encenação da Fundação da Vila de São Vicente, foi secretário de Cul-tura de Santos e membro da Co-missão Nacional de Incentivo à Cultura, do Ministério da Cultura.

Nessa entrevista, concedida gentilmente em seu apartamento na Ponta da Praia em Santos, que tem uma privilegiada vista de toda a orla Santista, Tanah fumou três cigarros durante mais de uma hora de conversa, e relembrou - com uma memória afiada - entre outras coisas, como foi ser convidado para dirigir uma peça de Mirian Rios, ex--mulher de Roberto Carlos. Um de-talhe: foi o próprio Roberto quem o convidou.

Tanah fala também do orgulho que sente do filho e também ator Alexandre Borges, conhecido por suas atuações em telenovelas da TV Globo, e da honra de ser home-nageado e virar tema de enredo da escola de samba santista X-9, ven-cedora do Carnaval 2011.

Você nasceu em Bauru. Como veio para Santos? Fale um pou-co sobre sua infância.

Meus pais se separaram e a famí-lia da minha mãe tinha uma casa em Santos, então viemos morar aqui. Meu avô era uma artista múltiplo, tocava violino, cantava. Minhas tias faziam teatro em casa. Não posso dizer o quanto eles influenciaram minha carreira, mas minha famí-lia me mostrou uma bagagem que não era comum entre as famílias na época.

Como você viu que queria fa-zer teatro, como começou na carreira?

Quem começou a fazer teatro amador primeiro foi a minha irmã. Fui para São Paulo, e lá comecei a trabalhar como vendedor de livros para me sustentar. Vi no jornal um anúncio de um curso de teatro e me inscrevi aleatoriamente. Me envolvi com o grupo e foi assim que come-cei no teatro.

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Como foi sua estréia no te-atro profissional?

Depois de ser demitido do meu emprego na Petrobras, fui para São Paulo. Lá reencontrei amigos, inclusive o Plínio Marcos e comecei a procurar emprego. Um amigo meu estava montan-do uma peça chamada ‘O San-to Inquérito’, com texto do Dias Gomes, direção e adaptação do Flávio Rangel e tinha Regina Du-arte como atriz principal. O Flá-vio estava precisando de um as-sistente de direção e eu fiz uma entrevista com ele. Nos demos bem, tivemos uma química e as-sumi o cargo de assistente. Até aí já havia feito umas quinzes peças no teatro de amadores, e essa foi minha primeira peça no teatro profissional.

Houve uma época em que você tinha vários espetáculos sendo apresentados, não é?

Tinha montado ‘Os Saltimban-cos’ e ‘A maravilhosa estória do sapo Tarô-Bequê’ em São Paulo. O espetáculo ‘Os Saltimbancos’ recebeu convite para ser apre-sentado no Rio. Lá montei tam-bém um espetáculo chamado ‘Vi-veiro de Pássaros’, em parceria com o Braguinha, com músicas dele. Fiquei com dois espetácu-los no Rio. Um dia recebi um re-cado para que eu ligasse para o

Roberto Carlos, o cantor. Eu não acreditei, achei que fosse uma brincadeira, o pessoal de tea-tro brinca muito. Fui até lá e o Roberto e a Mirian Rios, que na época era casada com ele, es-tavam me esperando. Ele me cumprimentou ‘ô bicho’, daquele jeito dele. Eu fiquei meio assus-tado em ver aquele ícone popu-lar na minha frente. Eles tinham ido assistir aos meus espetáculos no Rio e queriam que eu fosse o diretor da Mirian. Ela queria es-crever uma peça infatil, mas não tinha idéia de nada, nem de tex-to, A partir daí fizemos um es-tudo e apresentei para eles uma peça chamada ‘O sonho de Alice’. Eu fiz todas as letras. O Eduardo Laje e o Erasmo Carlos também ajudaram. Isso tudo foi antes da Mirian fazer televisão.

Você atuou em peças do Plí-nio Marcos e foi o fundador do Teatro Plínio Marcos, em São Paulo. Como era sua relação com ele?

Conheci o Plínio na minha ju-ventude aqui em Santos. Ele morava a três, quatro quadras da minha casa, em um conjun-to habitacional. O Plínio sempre foi uma figura meio estranha, era diferente dos outros garotos da época, se vestia mais à vonta-de, ia a circos, ao teatro. Tive a oportunidade de encenar a peça

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Barrela em 1978, quando uma série de pessoas, encabeçadas pelo falecido Francisco Milanni, se uniram para encená-la, vinte anos após ela ter sido censura-da. Eram apresentações clandes-tinas. Vendíamos ingressos de mão em mão e, no dia das apre-sentações, fechávamos a por-ta do teatro e só abríamos para quem estava com o nome na lis-ta, porque ainda havia perigo de prisão.

A maioria dos seus traba-lhos é como diretor. Você pre-fere mais ficar por trás das câmeras?

Eu não gosto de trabalhar como ator porque é um trabalho que exige uma continuação, um período de dedicação à peça. Já o trabalho de direção tem mais maleabilidade, você pode até fa-zer outros trabalhos ao mesmo tempo. Fiz algumas coisas como ator, mas prefiro a direção.

Que trabalhos você fez na TV?

Eu fiz O Rei do Gado, a primei-ra fase, fiz diversas participações nos Saltimabancos, dos Trapa-lhões, inclusive o Renato Aragão ia sempre ver a peça para adap-tar para o cinema. Também fiz Mangueira, Meu Amor para a TV Brasil e A Maravilhosa Estória do

Tanah, ao lado de Alexandre Borges, um de seus dez filhos

Sapo Tarô-Bequê, para a TV Edu-cativa.

Que trabalhos você fez em cinema?

Tive participações pequenas em cinema. Fiz O Invasor, Man-gueira, Meu Amor, que depois foi para a televisão, fiz Um Copo de Cólera, com meu filho Alexandre e Júlia Lemertz.

Como foi para você dirigir a encenação da fundação da Vila de São Vicente?

A primeira foi em 1998, e de-pois em 2008 e 2009. Uma das

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SITE CURTA SANTOS

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características do espetáculo era ser encenado durante o dia, porque São Vicente não tinha equipamentos para encenação à noite. Sugeri ao Márcio (Fran-ça) que me desse o último dia da encenação de 1998 para que eu fizesse à noite e pedi os equi-pamentos da prefeitura de San-tos emprestados. E até hoje a apresentação é feita à noite, e é um espetáculo lindo. O projeto é muito gostoso porque envolve atores e atrizes da Baixada San-tista toda, muita gente participa, e os atores conhecidos que vêm se envolvem com os atores re-gionais.

Como foi sua passagem pela Secretaria de Cultura de San-tos, em 1984?

Primeiro foi uma surpresa, por-que eu não tinha nenhuma inten-ção de ter um cargo público. O meu projeto era dar mais apoio à área cultural e valorizar os ta-lentos de Santos. Quando che-gamos havia dois grupos de tea-tro, quando saímos havia trinta. Quando entramos, dez pessoas assistiam aos espetáculos locais, quando saímos, eram lotados.

Como foi sua passagem pela Comissão Nacional de Incen-tivo à Cultura?

Eu comecei na Comissão nos

Tanah falou sobre carreira e filhos

últimos dois anos do governo FHC, eu fui representando a área teatral. Quando o Gilberto Gil as-sumiu o Ministério da Cultura no governo Lula, deixamos o cargo à disposição, mas o Gilberto me pediu para ir à Brasília e continu-ar. Fiquei mais quatro anos. Não se ganha nada, apenas uma aju-da de custo, passagens de avião, hospedagem, alimentação. Pos-so garantir que 98% dos pro-jetos apresentados são aceitos, mas muito poucos são realiza-dos, porque é muito difícil captar os recursos junto às empresas.

Como o senhor vê o cenário cultural na Baixada Santista hoje?

Não existe um isolamento do cenário cultural, a Baixada San-tista é um retrato do cenário de todo o Brasil. Eu acho que o povo brasileiro ainda está no ex-perimento do doce que se chama televisão. A televisão domina e

VAGNER LIMA

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dita a linguagem da produção cultural. Isso dificulta a verda-deira importância das raízes cul-turais, principalmente nos esta-dos mais urbanos. Isso é ruim para os estados menos urbanos, eles não conseguem transfor-mar isso em consumismo, não em ação cultural. Quando não se tem um reconhecimento da identidade cultural, valorizamos mais o que é de fora.

Que conselho você daria para quem quer ser ator?

Abdicação, renúncia. Ser atriz ou ator não é fácil. Você vai per-der festas, precisa se concentrar no estudo e na formação. Um milhão de passos começam com o primeiro. É difícil ver alguém dizendo que o pai quis que ele fosse ator ou atriz. Isso parte de você, então é preciso se dedicar para levar esse ideal adiante.

Onde você acredita que há mais talentos? TV, teatro ou cinema?

Talento não se encontra em um lugar específico. Mas a for-mação vem do teatro. É no te-atro que o ator aprende a cons-truir um personagem, onde pode esmiuçar o texto.

Como seu filho Alexandre Borges começou na carrei-

ra de ator? Foi por influência sua?

Tenho dez filhos, todos eles iam comigo para a coxia. Até mesmo nos espetáculos proibi-dos eu os levava. Não via pro-blemas em eles ajudarem na técnica. Alexandre deslanchou depois de entrar para grupos de teatro.

Quando você vê o Alexan-dre na televisão, o que sente?

É um prazer muito grande, porque a gente vê a seriedade com que ele leva o trabalho de ator. E me surpreende como ele não se deslumbrou com a fama, com a exposição. Ele continua o mesmo, tratando o público com respeito.

Como foi para você ser ho-menageado pela X-9?

Foi uma surpresa. Na verdade eles me pediram. Fui levar um enredo e eles recusaram, por-que diziam ter outro na cabeça. E esse enredo era uma homena-gem para mim. Foi uma honra. Entrei na X-9 aos seis anos de idade e tenho um carinho mui-to grande por ela, que é minha escola de coração. Sempre tor-ço pelas escolas de samba, elas são trincheiras na defesa da cul-tura brasileira.

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HIP HOP

Do

black

powerao

rapAs histórias do cantor e b-boy, indicado no VMB de 2001, na cat-egoria Melhor Clipe de Rap, por “Carro Cinza”. Um dos primeiros a usar animação num vídeo de rap, logo em seu 1º álbum solo. Não

ganhou. Mas já era um dos melhores rappers da Baixada.

carloS norBerto

Espessas e cinzas nuvens preenchem o céu neste fim de tarde de sábado. Logo mais à noite elas derramarão a já esperada chuva tão comum nessa época do ano - que hora mais

inconveniente de apa-recer na casa dos ou-tros para meter o nariz onde não fui chamado. Papel de repórter. Qua-se duas horas atrás, do lado de fora do alto por-tão de alumínio, desses que têm em cima umas pontas de lança antila-

drão, escutei a voz de dona Rosângela - nem sabia que o nome dela era Rosângela:

- Quem é?Identifiquei-me e dis-

se que havia combinado de entrevistar o esposo dela. Eis a resposta:

- O Daniel não está!

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Acho que ele vai che-gar lá pelas 5 horas (da tarde).

E no horário impre-ciso, revelado pela companheira do perso-nagem principal dessa história, voltei. Desta vez, tive mais sorte, ao bater palmas, minha presença é pressentida por ela:

- Ele já vai!E ele veio. O nome

de batismo é Daniel Paixão, mas é conhe-cido no universo do hip hop como Criminal D, b-boy desde a ado-lescência e rapper há mais de 20 anos.

- Ô, doutor! – brin-ca, cerimonioso, ao me ver vestindo calça je-ans, tênis e uma cami-seta vinho, certamente fazendo uma compa-ração a nossa primeira conversa, em que eu usava apenas chinelo, bermuda e camiseta.

Daniel, quer dizer, Criminal D (chamem--no como quiserem), acaba de ser arrancado de um cochilo iniciado após a volta do traba-lho pesado na estiva,

Criminal D ensaia passos que o destacaram na noite

onde é encarregado, junto com os colegas, do embarque e desem-barque de caminhões recheados de produtos. Mas, dona Rosângela é impiedosa. A casa pas-sa neste momento por uma faxina completa e, por isso, nossa pre-sença lá dentro não será tolerada. Por esse motivo, o dois blocos de concreto defronte

à calçada tornam-se os assentos onde será feita a entrevista. Não é nenhum sofá do Jô, mas serve.

Filhote da Zona No-roeste de Santos, de Maria Cecília de Olivei-ra Paixão e de Ademar da Paixão, há 42 anos, Daniel era uma crian-ça cheia de energia (não sei se hiperativa, só um especialista po-

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deria afirmar). Igual a qualquer garoto de dez anos, pelas ruas barrentas da ZN, como os moradores daqui chamam a região, em-pinava pipa e jogava bola. Mas o pequeno Criminal D tinha uma peculiaridade:

- Minha infância era trocar porrada com a molecada. Gostava muito de brigar na rua. Queria ser o dono do território, parecia um cachorro. Se alguém passasse pela minha rua, eu ia lá pegar.

Nessa época, a Areia Branca vivia a febre da Capoeira. Daniel con-ta que o bairro era o “foco” do esporte, con-tagiava a todos.

- Bandeira, Lima, Carneirinho, Eli, Ma-rinheiro, eram ‘os ca-ras’ da Capoeira, de atitude. Capoeira fight, mesmo. Todo mundo tinha medo deles.

Um dia, ele foi visto por um grupo de pes-soas vestidas de rou-pas brancas, carregan-do berimbau e outros instrumentos, plantan-do bananeira e fazen-do outras “macaqui- Atitude e equilíbrio são imprescindíveis para o b-boy

ces”. Era o pessoal do mestre Bandeira. Logo perguntaram se ele não gostaria de aprender também “a arte mar-cial brasileira”, como muita gente gosta de denominar esse espor-te, cujas raízes estão nos negros escravos vindos da África.

Mas a mãe dele, dona Maria Cecília, por causa do batuque e dos cân-ticos, não nutria muita simpatia por essa arte

afro-brasileira: achava que era “macumba”, no sentido depreciativo da palavra. Não era o som dos instrumentos nem o canto os objetos do encanto de Daniel, mas sim o gingado e as acrobacias. No rap “Voltando a fita”, está retratado um pouco desse período. Nessa época, por influência de Jorge, irmão três anos mais velho, ele já ouvia e dançava funk. Não o

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funk carioca, mas o rit-mo nascido nos guetos negros dos EUA. Jorge ia à Elos, uma peque-na casa, que existe até hoje, onde aconteciam bailes regados a funk e soul music. Aqui, esta-mos no final dos anos 70.

- Eu via os caras dançarem de black po-wer, eu ficava maluco, falava: É isso que eu quero ser!, relembra Daniel. O black power (poder negro), como era chamado aque-le cabelo volumoso, moda na época, sim-bolizava o orgulho de ser negro.

Jorge ensaiava em casa para ir dançar na

O Black Power Criminal D

Elos, ao som de James Brown, George Clin-ton, Funkadelie, e por aí vai. Não demorou para Daniel começar a dominar os passos e se destacar. Ah, ele tam-bém aprendia obser-vando os outros. Por falar em Elos:

- Eu era barrado. Teve uma vez que eu falsifiquei a carteirinha da escola para entrar na Elos. Só podia en-trar com 15 anos, mas eu ia fazer 12. Quando eu vi a galera lá dan-çando funk, falei: Tô em casa!

Começou cedo a fa-zer apresentações de dança em um grupo de dez integrantes cha-mado Black Time Soul - o irmão dele era um dos membros. Por ser um grupo numero-so, foi dividido: a BTS de Santos e a BTS de São Vicente. Eles fre-qüentavam os bailes da Beira-Mar (em SV), do Raízes (Rua Bahia, no Gonzaga) e do Praia Clube (também em SV, que ainda existe). Ha-via ainda a Drops, que ficava na Vila Mathias, Centro de Santos. A lis-

Daniel no estúdio

ta não acaba por aqui. Onde existisse baile, a Black Time Soul es-tava lá para mostrar o que sabia. A fissura era tanta, que eles “pene-travam” em festas de casas particulares para dançar, diziam ser ami-gos do dono. Transfor-mavam-se na atração e, no final, o dono da

festa os abraçava, ofe-recia Coca-cola e sal-gadinhos.

Em 1982, Toni Torna-do fez um show no Gi-násio Poliesportivo do Dale Coutinho, reinau-gurado como Conjunto Poliesportivo em 2008. Com a canção BR-3, Toni era a referência da black music da época,

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no Brasil. E, claro, não perderiam o show por nada nessa vida.

No começo da déca-da de 80, começou, no Brasil, a transição da soul music para o hip hop e para o break. En-quanto alguns continua-ram na black music, ou-tros ‘pegaram o bonde’, cuja partida foi dada nos EUA, em direção ao hip hop. Aqui o pessoal ain-da dançava o funk, mas lá fora o break já domi-nava, era uma continu-ação da cultura de rua. Criminal D percebeu isso por meio de um vi-deoclipe:

“O grupo Chic, ame-ricano, tinha uma músi-ca que a gente dançava muito, mas nunca tinha visto uma imagem de clipe. Nós dançávamos só ouvindo a música. Mas em meados de 83, eu vi o cara fazendo um wave (um movimento ondulatório usando os braços) e falei que p... é essa!?! – a história do videoclipe era a de um menino que havia matado aula para dan-çar break na rua, e no final, a mãe do garoto corria atrás dele com a

Concentração na hora de gravar as músicas

cinta na mão”, lembra. Daniel só viu essa

parte, não pôde gravar para ver outra vez, já que não possuía vide-ocassete, mas tinha certeza de que havia mais coisa ali. Como não havia a opção de alguém ensiná-lo, ele se viu obrigado a in-ventar passos buscan-do inspiração pelos meios de que dispu-nha, principalmente, em filmes. Nas películas sobre mitologia grega, por exemplo, ele assi-milava os movimentos

de estátuas que se me-xiam, dos seres míticos e, a partir daí, criava novos estilos. A mesma coisa fazia ao assistir a filmes de animais pré--históricos, reproduzia o jeito de andar de dinos-sauros e misturava os movimentos. Pinçando de tudo um pouco, ele produzia uma verdadei-ra miscelânea de criati-vidade.

“Tudo que eu via e achava que dava pra transformar em dança, eu usava.”

Em meados da déca-

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da de 80, o Brasil já era tomado pela febre do break, principalmente nas grandes metrópo-les, como São Paulo. Assunto que chegou a ser abordado no Fan-tástico, em 84. A repor-tagem pode ser vista no YouTube, pesquisando--se a “A febre do ‘break’ – ‘Fantástico’, 1984”. As imagens mostram as ruas de Sampa toma-das por fãs do ritmo e da dança, durante um festival na Praça da Sé. Daniel estava no meio dessa multidão.

“São Paulo era o co-ração e uma das arté-rias trazia o break para Santos”, afirma.

Durante anos Daniel

Momentos de prazer: Criminal D no palco e no ringue

ia para SP toda sema-na, mas se dependes-se exclusivamente da vontade dele, teria ido todos os dias. A galera dançava nas ruas. Há pessoas que ainda pen-sam que ele mora lá. Pelas curvas das ruas paulistanas, santistas e da vida, esbarrou com nomes hoje conhecidos da cultura hip hop como Mano Brown, Thaíde e Nelson Triunfo.

Além da praça da Sé, ele também dan-çou na rua 24 de maio, no Centro, onde tam-bém havia a Galeria do Rock, point da música black desde a década anterior. Não podemos esquecer a Estação São

Bento do Metrô, templo do hip hop. Já existe um documentário intitula-do “Nos Tempos da São Bento”, de Guilherme Botelho, que retrata a importância da estação para a história do hip hop. Daniel é um dos personagens entrevista-dos.

Mas, segundo ele, por aqui o novo esti-lo de dança ainda tinha menos força, quase nin-guém dançava break. Por essa razão:

“Eu caçava. Em todo lugar que eu sabia que tinha alguém que dan-çava, eu ia lá para ver qual era nível. Quando eu via que os caras es-tavam muito fracos, eu

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falava: não dá meu ir-mão! Porque o “classe a” (o ideal) era duelar, mas não tinha ninguém para isso.”

Em um lugar de São Paulo, onde ninguém o conhecia, todos pensa-ram que o paulista vin-do da Baixada Santista era um b-boy importado da terra do Tio Sam. Um amigo deu a idéia: ele não falou, só dançou. No final as pessoas pediram autógrafos e o “ameri-cano do Paraguai” assi-nava “Daniel D”.

O já citado Thaíde, Daniel conheceu em 1985, no Programa Barros de Alencar, da TV Record. Neste ano, o grupo de break do qual fazia parte já se cha-mava Gangue de Rua. A primeira equipe dele (de 83) foi a The Mas-ters Boys Breakers.

A década foi acaban-do, o Hip Hop ocupan-do novos espaços e o Daniel Paixão passando por nova transição na vida.

Aos 19 anos tornou-se pai, nascia Érick, agora com 23 anos. No ano seguinte, em 1989, trocaria alianças com

Rosângela, cuja voz es-cutei logo no início des-ta reportagem, e ainda ecoava em meus ouvi-dos. Ah, já estava es-quecendo de dizer tam-bém que Daniel ganhou a medalha de bronze nos Jogos Abertos do Interior de 87, em San-tos, quando concorreu como boxeador. Porém, o boxe não era uma prioridade. A dança, essa sim, desfrutava de total zelo e dedicação. Ele costumava sair da concentração para en-saiar break.

Nessa época, as ri-mas estavam pipocan-do, prenunciando o que, nos anos 90, se-ria a explosão do rap no Brasil. Shows de grupos de rappers es-trangeiros começaram a acontecer por aqui. Um dos que marca-ram a vida do Daniel foi o show do conjunto norte-americano, Pu-blic Enemy, em 1991. Neste mesmo ano, a Zimbábue, uma equipe de música black de SP, que tinha um programa radiofônico, veio reali-zar um baile em San-tos. Como perceberam

que havia muita gente cantando rap, promo-veram um concurso para escolher o me-lhor rapper da Baixa-da Santista. Criminal D ganhou. Existiam ainda outras equipes de som como a Chic Show, a Black Magic e a Circuit Power, todas com pro-gramas de rádio. Quem era do movimento hip hop, sintonizava nelas.

Antes da chegada da Internet, o pesso-al “atualizava-se” por meio desses programas (diziam ter conexão di-reta com Nova Iorque), de revistas especializa-das e de pessoas com maior poder econô-mico, que traziam as novidades do exterior. Além da TV, natural-

Momento de descontração

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mente, estas eram as fontes de informações sobre o hip hop no Mundo. São Paulo es-tava mais próxima das informações, por isso, todo mundo queria es-tar lá. “Uma revista tra-zida dos Estados Uni-dos era tudo pra nós”, recorda, Daniel.

Criminal D viu todas as metamorfoses do hip hop em nossa ter-ra. Antes, cultura dos guetos. Hoje, aprecia-do por gente de todas as classes sociais. Isso é bom. Mas a maioria das baladas de black music existentes, pelo menos em Santos, são para públicos seletos, mais abastados eco-nomicamente. Crimi-nal reclama que, por esse motivo, quem não pode pagar para entrar em lugares como, Bi-kini Barista e Coquelu-che, é deixado de lado. O que vai totalmente de encontro à essência do hip hop. Ou seja, quem vive o break, o rap dia-riamente, perde espaço para outros que estão ali só para curtir uma balada, e nada mais.

Integrante da primei-

ra geração do hip hop, atualmente ele, que deixou de ser Daniel D (em 89), pois “o nome não tinha aquela impo-nência” não tem mais tempo para se dedicar ao break. O novo nome artístico foi inspirado no disco Criminal Mind, de Burkdow Produc-tion. A família cresceu. Nasceu Daniele, hoje com 21 anos, e os gê-meos Denner e Deyver, de 10 anos.

Para sustentar o “clã”, ele foi cabeleireiro, guarda municipal, dava aulas de boxe e agora é

estivador. Mas, como Criminal

D participou de cole-tâneas com outros ra-ppers e artistas de esti-los musicais diferentes. Em 2000, lançou seu primeiro CD solo junto com o videoclipe da mú-sica “Carro Cinza”. Este clipe foi indicado, no ano seguinte, ao Vídeo Music Brasil (premiação da MTV Brasil), na cate-goria Melhor Clipe de Rap. MV Bill ganhou o prêmio com o videocli-pe “Soldado do Morro”. Apesar de não ter le-vado o prêmio, Crimi-

No alto de uma construção, ele dá um show de dança

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nal gravou participação em um DVD do cantor Jair Rodrigues, já fez parceria com Pedro Mariano, filho de Elis Regina, e Rappin Hood.

Por falar nele: o gru-po do Rappin Hood chamava-se “Posse e Mente Zulu”. E um dia, conta Daniel, eles fo-ram cantar numa fa-vela. A polícia chegou lá, fazendo o maior papelão, atrás do “tal Zulu, dono do pó e da semente”. Segundo Daniel, o Hood sem-pre conta esta história marcante da carrei-ra dele. E são tantas histórias contadas por Criminal D, que fica di-fícil inseri-las numa só matéria.

Após um tempo sem fazer apresentações, Daniel quer retornar apenas quando lançar seu novo CD, lá pelo meio do ano. Será um disco com oito músi-cas. Há ainda o vide-oclipe da canção “Ca-traca 14”, que está em fase de gravação. As-sim, Daniel, ou Crimi-nal D segue vivendo o hip hop e cuidando de sua família.

Origem do Hip HopO Hip Hop originou-

-se dos bairros pobres e oprimidos socialmen-te de Nova Iorque. Afri-ka Bambaataa é reco-nhecido como o criador oficial do movimento e idealizador da junção dos seguintes elemen-tos: o rap, o DJ, a bre-akdance e a escrita do grafite.

Habitados essen-cialmente por negros, hispânicos e membros de demais minorias étnicas, esses bairros eram verdadeiros gue-tos onde as taxas de criminalidade cresciam proporcionalmente ao desemprego. Neste contexto de exclusão social, as gangues en-contraram o terreno ideal para se multipli-carem. Um delas, se-gundo o livro “Hip Hop – Cultura Marginal”, de Jessica Balbino e Anita Mota, era a Bla-ck Spades, “com uma proporção que permite a sua divisão em fac-ções, partidos e sub--gangues, marcando o bairro com atos de van-

dalismo”. Isso em mea-dos dos anos 60. Eram grupos compostos por jovens desses “guetos”, que reagiram à opres-são social por meio de violência. Por tradição norte-americana, os grupos étnicos não se misturavam, por isso, existiam gangues de negros, hispânicos, asi-áticos, etc. Confrontos armados eram freqüen-tes entre elas. Nos idos dos anos 70, os índices de criminalidade chega-vam ao auge.

O jovem Bambaataa, cujo nome de batismo é Kevin Donovan, era um dos líderes de uma das facções da Black

Hip Hop: cultura marginal que virou popular

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Hip Hop: cultura marginal que virou popular

Spades “cansado das brigas, colecionador de discos e apaixonado por

música”. E produtor de festas no Bronx, onde tocava seu som. “Estas festas vão aos poucos tomando o espaço das ruas, enquanto as gan-gues são esquecidas, dando lugar aos bai-les, conhecidos como block parties, festas de quarteirão”, afirmam as autoras. Ou seja, os membros das gangues passaram a trocar as disputas violentas por território por duelos de dança. As gangues tor-naram-se crews (equi-pes, turmas, grupos). “As crews mantiveram a postura de protesto das gangues, mas sem vio-lência, levando ao mun-

do o refrão criado por Afrika Bambaataa: “pe-ace, unity, love and ha-ving fun” - paz, união, amor e diversão.”

Foi com essa ideo-logia que Bambaataa fundou o Hip Hop: a troca da violência pela disputa artística.

Os pilaresda cultura

hip hop

Break

O breakdance, cria-do por porto-riquenhos para demonstrar insa-tisfação com a Guerra do Vietnã, foi inspira-do em movimentos de artes marciais, como o Kung Fu. Esse esti-lo de dança se expan-diu com as gangues nova-iorquinas, que demarcavam território deixando suas assina-turas (grafite) pelos muros da cidade. Po-rém, nos momentos de festa e descontração seus membros dança-vam o break. Com o tempo, gangues de rua passaram a abandonar as brigas por dispu-

tas de dança. O b-boy (breaker boy) é o dan-çarino de break. Esta expressão surgiu nas festas do Bronx (NY), nos anos 70, onde os b-boys dançavam ao som do funk de James Brown, George Clin-ton, entre outros artis-tas.

O break foi o pri-meiro elemento do Hip Hop a ser introduzido em nosso país. Nelson Triunfo, o Nelsão, foi o pioneiro e responsável pela difusão da cultura hip hop pelo Brasil.

Lockin

O Lockin é a dança mais clássica do hip hop. Surgiu no início dos anos 70, em Los An-geles, Califórnia, cria-do por Don Campbell. Anos depois, Campbell formou o The Lockers, primeiro grupo profis-sional de street dance de que se tem notícia. Influenciado pelo funk, os passos são compos-tos por movimentos detalhados de braços, cotovelos, mãos, de-dos. Existem poucos lockers por aí.

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CARLOS NORBERTO

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Power move

São giros, saltos, acrobacias e todos os demais movimentos cor-porais. Não é considera-do um estilo de dança, mas o nome de um con-junto de movimentos de altos níveis de dificul-dade, que acrescentam muito às habilidades de um b-boy.

Poppin

Surgiu também na década de 70, numa cidade da Califórnia, chamada Fresno. Cria-do por Boogaloo Sam, idealizador do grupo Electric Boogaloo, o poppin é a evolução da robot (apenas a repro-dução dos movimen-tos de um robô). Hoje, este estilo é muito mais complexo, tem efeitos ilusionistas, mímica, dança indiana e muitas influências.

DJ

Um Disc Jockey, ou DJ (dí-djei) é quem utiliza técnicas de som para misturar músicas, usando suportes como

vinil, CDs e efeitos so-noros digitais - a mixa-gem. Os DJs surgiram nos anos 50, mas só se consagraram três dé-cadas depois, na era das discotecas. O pri-meiro DJ do mundo, Kool Herc, jamaicano de Kingston, criou os “sound systems”, apa-relhos de mixagens de músicas. Existem tam-bém registros de que o DJ “Big Youth” já toca-va na Jamaica, na dé-cada de 50.

O DJ é um elemen-to do Hip Hop funda-mental para o Rap, que, sem ele, perderia o ritmo e o brilho. No Brasil, temos nomes de destaque como KL Jay (Racionais MCs), DJ King, DJ Negro Rico, DJ Primo, DJ Cia, DJ Hum, entre outros.

Rap

Rythm and Poetry (RAP) significa “rítmo e poesia”. Nos anos de 1960, no país de Bob Marley, em volta dos “souds systems”, os ja-maicanos reuniam-se para ouvir um som de protesto, feitos pelos

“Toaster”, espécies de MCs (os MCs eram os mestres de cerimônia, animavam as festas. Agora eles são as atra-ções principais). No co-meço dos anos 70, esse meio de expressão foi levado aos Estados Unidos, pelo DJ Kool Herc, junto com milha-res de conterrâneos, que emigraram para a

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CARLOS NORBERTO

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América, em busca de melhores condições de vida. Esse estilo teria dado origem ao rap. Não demorou para sur-girem diversos grupos em todos os guetos de Nova Iorque.

No Brasil, o rap co-meçou a se expandir nos anos 80, com MC’s pioneiros como Pepeu e Mike. Mas o auge do rap nacional só aconteceu a partir de meados dos anos 90, com grupos como o Racionais MCs.

FreeStyle

É a rima improvisa-da. Há MCs que fazem rimas sobre qualquer assunto a qualquer hora. Os duelos são o que há de mais empol-gante no Freestyle. Um nome importante da atualidade é o rapper Emicida.

Outras pessoas que

vivem o Hip Hop

O Engajado

André Cardoso da Rocha, 25 anos, é cria-

dor do site “DeRua” (http://derua.com.br/), cujo objetivo é promover e divulgar qualquer tipo de even-to e ação sobre o movi-mento hip hop do Lito-ral Paulista.

Participou também da organização e cria-ção do Coletivo Hip Hop Caiçara, em outu-bro de 2009, que arti-culou com o Poder Pú-blico e sociedade civil dos nove municípios da região a realização de encontros municipais e um Encontro Metro-politano, este realiza-do em janeiro de 2010, em Guarujá.

O objetivo dos en-contros foi discutir a realidade e futuro da cultura hip hop. Foi de-liberada ainda a produ-ção de um documen-tário para registrar a história do movimento na Baixada, em fase inicial de pesquisa, com a ajuda de estu-dantes universitários voluntários adeptos dessa “cultura de rua”, e, no futuro, a realiza-ção de um censo para saber quantos e quem são os integrantes do

Hip Hop por aqui. Em breve será lançado o caderno com tudo o que foi debatido. Uma outra meta é ajudar o hip hop a sair da infor-malidade, envolvendo o Poder Público.

Ele é morador de São Vicente, onde par-ticipava de um grupo chamado Breakdance. Formado em Educação Física, na Universidade Santa Cecília (Santos/SP), também integra o Conselho Municipal da Juventude de sua ci-dade. O CMJ-SV atua em favor da autonomia e protagonismo social dos jovens.

Um b.boy professor

Ele nasceu em São José dos Campos há 19 anos. Aos 12, veio para Santos com sua mãe, que havia se se-parado do esposo e pai

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de Douglas dos Anjos. “Eu achava que eles estavam brigadinhos. Mas tinham se separa-do. Fato!”. A mãe, se-gundo ele, não o dei-xava sair muito. Mas quando se mudou para a casa do pai, come-çou a frequentar “ba-ladinhas black” com os amigos da escola. Es-tudava na escola “Cle-óbulo Amazonas Duar-te”, no Canal 3.

Curtiu o que os b.boys dançavam. Na dança, o break foi sua primeira paixão. É, segundo Douglas, o “mais famoso”, o que chama mais atenção. Ele morava parte do tempo com a mãe, parte com o pai. Quan-do seu pai morreu, Douglas ficou perdido e até meio revoltado.

Era nas baladas que ele extravasava. “Não queria fazer mais nada, só queria ir pra balada”. Hoje, o jo-vem está encontrando seu caminho. Sua mãe descobriu o Centro da Juventude da Zona Noroeste, onde Dou-glas participou de um projeto de comunica-

ção. Nesse período, fez ainda teatro e cur-so de produção audio-visual no Instituto Arte no Dique. Desde 2010, ensina Dança de Rua para crianças e ado-lescentes no Centro da Juventude. Pode pa-recer clichê, mas suas

A arte do grafite é um dos pilares do movimento Hip Hop

aulas são brincadeiras muito sérias.

“Na atividade”

“Eu sou um cara tímido para c..., mui-to nervoso, genioso. Mas sou inteligente.”. Nessa hora eu brinco

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A arte do grafite é um dos pilares do movimento Hip Hop

acrescentando “e mo-desto”. Michael consi-dera-se uma pessoa cheia de defeitos “Até minhas qualidades são defeituosas”. Já o chamaram de metido, egoísta, mal-enca-rado, retardado. Ele confessa que é inse-

guro. Mas a sinceri-dade é muita, como podem ver. E prejudi-ca-o. “Eu falo mesmo, na cara!” Seu pior de-feito, na opinião dele mesmo, é a demora para agir. “Eu penso demais e, às vezes, não faço”.

Talvez a melhor qualidade de Michael (ele se diz prestativo e proativo), é o sonho que nutre. O sonho de ser um rapper re-conhecido.

Ele começou a cur-tir rap aos 9 anos, por causa do pai. Primeiro ouvia só rap estran-geiro. O cantor norte--americano Eminem foi inspiração. Depois só rap nacional. Aí misturou tudo. Mas foi de muito escutar rap brasileiro, de es-cutar as músicas can-tadas em português, que Michael fez as primeiras rimas. No início, “bobas”, como ele mesmo diz. Mas ao tomar gosto pela coisa, ficou viciado em fazer letras. Ca-minhando pela casa, fazia rimas com os móveis e os eletrodo-

mésticos que via. Coi-sa de maluco!

Em suas letras ele gosta de falar da re-alidade. Do que acon-tece nas esquinas es-curas, nas ruas, na favela. Sem meias palavras. Os cadernos que guarda embaixo da cama, numa cai-xa de sapatos, estão cheios delas.

Ele mesmo é um alvo de suas letras, cuspidas das entra-nhas. Ele é fã de Cri-minal D, de Histórias em quadrinhos e vide-ogames. Lê de tudo: livro, dicionário, pala-vras cruzadas. Sher-lock Holmes e a Bíblia são as melhores leitu-ras para fazer rap, se-gundo Michael. Sem-pre com um pedaço de papel para anotar as rimas que brotam da cabeça, ele anda por aí. Quem sabe ele chega lá. Sempre “na atividade”.

Informações do site “DeRua” e do livro “Hip Hop – Cultura Marginal”, de Jéssica Balbino e Anita Motta.

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CARLOS NORBERTO

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PERFIL

Profissão:Palhaço

Artistas que exercem umaatividade talvez tão antiga quanto

a própria civilização passam por situações curiosas. Toda vez que Helena Figueira, 34 anos, revela

sua profissão, as pessoas pensam que é gozação. Co-fundadora e

integrante da Cia. Suno, ela tem vasta experiência nesta arte em que, de rosto pintado e tirando sarro de si mesma, desmascara a

hipocrisia presente em nós.

aline almeiDa

“Se chacoalhar uma árvore, cai um palhaço!” Se você acha exagero, é porque não está observando com atenção o mundo à sua volta. Todos os anos acontecem quatro grandes festivais que reúnem milhares de ar-tistas circenses. Há também o Anjos do Picadeiro, encontro internacional que reúne palhaços do mundo inteiro.

Palhaços? Em árvores? Mas o circo não morreu? Ora, não está ele fadado à extinção?

É difícil que exista alguém que não tenha, mesmo que poucas, lembran-ças de um palhaço. Na infância de muitos marmanjos, há na memória Helena: dedicação e muita alegria

AVELINO FERNANDES

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a imagem de circos, muitos deles de famílias tradicionais que seguiam por centenas de cidades mostrando a arte dos malabares, trapézios, contorcio-nismo, pirofagia (a prática de engolir fogo), e muita palhaçada.

Mas, e hoje? Muitas destas famílias não conseguiram manter a vida iti-nerante e saíram de cena. E mesmo assim, se olharmos ao nosso redor, o circo está presente. Enquanto as pes-soas discutem, uma revolução acon-tece no picadeiro. Enquanto algumas só falam, muitas estudam para serem palhaças.

E não é apenas em grandes even-tos que os palhaços estão ‘em pencas’. Em Barão Geraldo, distrito de Cam-pinas, a realidade é essa. Lá existem por volta de 25 grupos de palhaços. Grande parte são estudantes e con-cluintes do curso de Artes Cênicas da Unicamp. Mas Campinas é apenas um exemplo.

Distante da raridade

“Sou palhaça”. Aos 34 anos, Hele-na Figueira, já deu essa resposta mi-lhares de vezes. Seja no consultório médico, no banco, a reação é sempre a mesma. “Acham que é brincadeira”, diz, sorridente.

“...Tanto riso Oh, quanta alegriaSão mais de mil palhaços no salão...”(Máscara Negra – Composição: Zé

Kéti e Pereira Matos)

No palco, palhaçadas de uma profissão que não é brincadeira

AVELINO FERNANDES

AVELINO FERNANDES

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Ela é bonita, jovem, perspicaz e foge de qualquer estereótipo que se criou sobre palhaços. Ela e o amigo Victor Nóvoa são fundadores e integrantes da Cia Suno que existe há 12 anos. “Eu sou a mais séria”, revela, compa-rando-se aos demais participantes da companhia. Hoje, o terceiro integran-te é Eduardo Becker, seu marido.

Helena começou cedo. Aos três anos começou a fazer dança e nunca mais a arte se distanciou de sua vida. A ar-tista plástica foi para a França aos 18 anos e entrou na Escola Nacional de Circo (École National Du Cirque Annie Fratelinie) após processo de seleção. Helena especializou-se em trapézio e contorcionismo. “Lá todos faziam de tudo. Éramos palhaços, malabaristas, equilibristas...”

E foi nesta escola técnica que a alu-na de sorriso fácil chamou a atenção de um professor russo. “Ele, apesar de frio, acreditou que meu jeito es-pontâneo era interessante”. Por conta disso, o professor incentivou Helena a participar de um processo seletivo para a Paris Action Clown Théatre. “Ele achava que lá precisavam de al-guém com vigor. Eram quinze selecio-nados, e eu entrei”.

A mascote da turma concluiu os dois anos de curso. “Nos fins de se-mana ficávamos vestidos de palhaço todo o tempo. Acordando, dormindo, comendo... criando. Chegamos a si-mular a convivência do palhaço com o homem primitivo”, lembra.

A garota dos olhos brilhantes voltou ainda mais três vezes para a França,

Eduardo Becker, Helena e Victor Nóvoa compõem a Cia. Suno, que existe há 12 anos

e deu o ar de sua graça em Londres, por seis meses.

Quantas Helenas em uma?

Por ter nascido em 24 de agosto, dia do artista, tentar resumir o universo de Helena ao mundo do circo seria injusti-ça. Ela foi protagonista de filme Jardim Europa (direção de Mauro Baptista Ve-dia), atuou em várias peças de teatro, e foi professora durante alguns anos.

Nessa última ocupação, conse-guiu a prova de que o circo con-quista todas as gerações. Helena contava com uma turma de 120 alunos em uma escola de classe alta. Mesmo a disciplina sendo op-tativa, existia até lista de espera.

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Eduardo Becker, Helena e Victor Nóvoa compõem a Cia. Suno, que existe há 12 anos

Para a criança que, não por mera coincidência, nasceu no dia da in-fância, essa é a maior prova da for-ça do circo.

Em pouco tempo, o leitor passa a pensar que, ao invés de 34 anos, a encantadora de risos poderia ter 70, por conta do vasto currículo profissional.

Agora acrescente a esta artista a profissão mãe. Um anjo chamado Ciro, aos cinco dias de idade, já acom-panhava a mãe durante o desfile de uma escola de samba, da qual a ela foi coreógrafa.

Palhaçada e Helenismo No teatro grego, durante o perío-

do helenístico (32 a.c.3 a 146 a.c.), surge a Comédia Nova, em que críti-cas eram feitas aos bons costumes da sociedade. Se fizermos uma compa-ração aos dias de hoje, as análises são tão atuais que parecem brinca-deira.

O palhaço e o circo estão presen-tes em diversas artes. Da literatura à TV, do rádio ao teatro, das ruas à internet. Após breve análise, nos deparamos com uma figura tão pró-xima a nós, que somos levados a assumir, no íntimo, que muitas ve-zes nos sentimos um deles.

“Eu continuo a ser uma coisa só: um palhaço, o que me coloca em ní-vel mais elevado do que o de qual-quer político”. (Charles Chaplin)

Para Helena, o palhaço tem a obrigação de dizer o que ninguém tem coragem de falar. “É um ser que ri de seus próprios defeitos e erros, e por isso muitos se identifi-cam com ele”.

A veia crítica e o humor inteli-gente dão aos detentores do nariz vermelho a missão de falar quan-do todos calam, de mostrar quando todos os olhos se desviam, de ser quando todos tentam se mascarar.

A arte da palhaçada é a arte da verdade. A pintura facial não es-conde um rosto. Na verdade, revela mais do que um rosto limpo. Hele-nas, Eduardos, Victors, Carequinhas e Arrelias, são nossos espelhos vi-vos.

“A única obrigação e função do pa-lhaço é divertir” (Helena Figueira)

AVELINO FERNANDES

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MÚSICA

Aqui tem Choro sim,

Com o crescimento do pagode entre os jovens, alguns gêneros da MPB, como Choro e Samba de Raiz, acabaram perdendo seu espaço na mídia. Contudo, não deixaram de ser essenciais para a alma de jovens talentos santistas, que se dedicam a continuar batalhando para mostrar que o belo

não morre jamais.

Macaco Velho!

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JéSSica amaDor

É numa quarta-feira, às seis da tarde que acontece nosso encon-tro. O local escolhido, o Auditório do Teatro do SESC em Santos, seria dali a uma hora, palco de um show de música popular brasi-leira. A musicista (isso, mesmo! ela não su-porta quando, errone-amente, chamam-na de “música”), Vanessa Ribeiro, de 26 anos, me aguarda prepara-da com seu instrumen-to preferido na mão: a flauta.

Por influência de seu pai, a música foi des-pertando interesse em Vanessa. Desde peque-na, era comum ouvir chorinho e MPB. Ima-ginar o quanto seria difícil aprender aque-las canções foi o pon-tapé inicial para que ela aprendesse a tocar. “Para se tocar choro não basta só técnica, tem que ter emoção e trejeito.” O primeiro instrumento foi o tecla-do, que aprendeu sozi-nha.

A música sempre es-teve presente na vida de Vanessa. Na 6ª sé-rie, iniciou as aulas de flauta doce e depois, por ouvir músicas in-terpretadas pelo flau-tista Altamiro Carrilho,

Da esquerda pra direita (em pé): Nino Barbosa, Paulinho Ribeiro, Ari 7 cordas e André Amorim; abaixados: Vanessa Ribeiro, Zeck Ferreira e Jota R.

resolveu tornar o sonho realidade. Em menos de uma semana, mes-mo antes da professora ensinar, já sabia tocar flauta doce perfeita-mente. O próximo pas-so foi aprender a flau-ta transversal, sonho

realizado em 2001. Nesta época, já tra-balhava profissional-mente com o teclado. “Neste ano, tive meus primeiros alunos parti-culares, mas como não sabia dar aulas direi-

to, acabei ficando sem eles (risos)”. Vanessa acabou indo lecionar numa escola de música da cidade e aproveitou para estudar e adquirir experiências.

Aos poucos, ela foi deixando o teclado e

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passou a se dedicar so-mente à flauta. A partir de então, ficou conhe-cida como “Menina da Flauta”.

No começo, hou-ve preconceito por ser mulher e jovem no meio do chorinho. Mas, Vanessa mostrou

Aqui tem Choro: Vanessa Ribeiro com os músicos

O septeto santista durante apresentação no palco do Sesc

ser boa o suficiente, e convites para integrar diversos grupos não pararam de surgir. Ga-nhou a admiração de todos por seu talento, pela sua pessoa e tam-bém por sua discipli-na. “Sempre fui muito educada e sem aqueles

vícios de músicos. Isso contou pontos, pois en-tre chamar uma pessoa “fera”, mas mal educa-da, preferiam me cha-mar, mesmo que tocas-se um pouco menos.”

Ela se refere aos mú-sicos que já possuem hábitos enraizados na maneira de tocar e são resistentes ao aprendi-zado teórico da músi-ca.

Voltando ao palco do SESC, a musicista apresenta os compa-nheiros do grupo Aqui tem choro (fundado por Ari Lopes, Paulino Ribeiro e Junior). For-mado por seis músicos da baixada santista, o septeto se completa com ela. Com origem no samba, o grupo san-tista especializou-se no choro, desenvolven-

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do um repertório que mescla o tradicional, que vai de Pixinguinha a Jacob do Bandolim, com o moderno, ten-do na lista músicas de compositores da nova geração, como Aleh Ferreira, Danilo Brito e Hamilton de Holanda. Tanto para a modali-

Choco demostra todo seu talento e amor pelo samba de raiz

dade mais tradicional, como para as mais mo-dernas, o grupo elabo-rou arranjos especiais e uma maneira própria de interpretação.

É chegada a hora da apresentação. Na flau-ta, Vanessinha, como é carinhosamente cha-

mada no meio musical, se junta a Arizinho 7 cordas (violão 7 cor-das), Paulinho Ribei-ro (violão 6 cordas), Júnior (cavaquinho), Ezequias (clarinete) e Ederson (pandeiro) para mais um belo es-petáculo de Música Po-pular Brasileira.

Macaco Velho: gente nova fazendo samba de raiz

Com a mesma difi-culdade dos amantes do choro, o samba de raiz foi atingido diretamente pelo fenômeno chamado pa-gode. Mas como já dizia a

música de Dorival Caym-mi: “Quem não gosta de samba, bom sujeito não é...” e é no bairro da Vila Mathias que toda semana o Macaco Velho se apre-senta para os admirado-res do gênero musical.

O local, um restaurante que à noite se transforma num local que transpira

música, fica entre as ruas Júlio de Mesquita e Lucas Fortunato. Ao chegar, por volta das onze da noite, percebo que não há mais mesas nem cadeiras para sentar. Toda sexta, a par-tir das dez da noite, é lá que o samba mora.

O contato feito através

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do telefone se chama Ju-lio Cesar Malaquias Alves, 26 anos. Mas ao chegar lá, percebo que ele é sim-plesmente o Choco. Ele não teve a mesma sorte de Vanessa Ribeiro e não vive da música. Todo o dia se levanta para exercer a função de cartazista, e aos finais de semana, as-sume o papel de percus-sionista do Macaco Velho. “O mercado da música é muito difícil em Santos, falta oportunidade para o samba de raiz.”

O nosso bate-papo acontece nos intervalos da apresentação. Des-de 2007, Choco integra o grupo que teve início a partir do Movimento Cul-tural Baixada Sambista, que tem por objetivo pre-servar, divulgar e enalte-cer o samba tradicional. “Nossa intenção é exaltar antigos sambistas e reve-lar novos compositores”, me conta, entusiasmado, o rapaz que logo é chama-do para voltar ao batente.

Com o crescimento do pagode, o samba (prin-cipalmente o verdadeiro samba de raiz), perdeu o seu espaço na mídia. Em Santos, existem diversos grupos, porém, Choco es-

clarece que são poucos os que não se deixaram levar pelas vantagens financei-ras do mercado da músi-ca. ”Nós nos dedicamos ao bom e velho samba de raiz. Já fomos taxados de radicais por não nos ren-dermos ao que vende, e sim, ao que é belo!”

A noite vai caindo, can-

ções de sambistas consa-grados como Ari Barroso, Dorival Caymmi, Zeca Pagodinho entre outros, e também canções com-postas pelos próprios mú-sicos, animam o público presente. No fim da en-trevista, Choco fala pra que veio o Macaco Velho: “Nós visamos sim atingir

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Os integrantes do grupo Macaco Velho dando sangue e suor pelo samba em uma das suas apresentações

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Os integrantes do grupo Macaco Velho dando sangue e suor pelo samba em uma das suas apresentações

o grande público, levan-do ao conhecimento geral que o samba nunca vai ter seu espaço tomado pelo pagode. O samba não morreu; a verdadeira es-sência não se acaba.”

Atualmente, integram o grupo Julio Cesar “Choco”, Éderson “Múmia” (ambos na percussão geral), Ale-

xandre Branches (no ca-vaco), Thiaguinho (no sur-do), Marcos Vinicius “Kiko” (no pandeiro) e Fabinho (no violão). O Macaco Ve-lho se apresenta às sex-tas no Bar Neuzeca (Júlio de Mesquita com Lucas Fortunato), aos sábados no Bar do Rafa (próximo à Lagoa da Saudade, no

Morro da Nova Cintra) e aos domingos no Estação Brahma (Av. Dr. Bernardi-no de Campos, próximo à Av. Francisco Glicério.) E uma novidade: a partir de 11 de abril, é a vez da Fênix Chopperia receber o grupo todas as segundas--feiras, no bairro do José Menino.

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Coro

e c

ore

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tam os sentidos no

Coral Zanzalá

Afinado e sem perder o ritmo, o Coral Munici-pal Zanzalá de Cubatão, encanta a todos apre-sentando um repertório diversificado. Da músi-ca erudita até o gênero popular o grupo vem se

destacando no cenário musical.

Felipe DoS SantoS

Abrem-se as corti-nas! Senhoras e se-nhores desliguem os celulares, porque agora queremos convidar ao palco, o Coral Municipal Zanzalá. As luzes ficam mais fortes, o som das palmas mais estriden-tes. Homens e mulhe-

res de preto caminham para suas posições.

Depois de alguns mi-nutos e, em harmonia com a iluminação, as palmas vão diminuin-do, até sumirem. Ape-sar disso, o desfile con-tinua: são 60 cantores para inundar o local de cânticos com melodias e acordes típicos do

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DIVULGAÇÃO

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som celestial.Esse ritual é comum

para os componentes e equipe técnica, porém impressiona o público, pois as expressões fe-chadas, dos seus com-ponentes, lembram, o coral Rundfunkchor Berlin, ganhador do 53º Grammy-Awards, em Los Angeles, na cate-goria “Música Clássica, pela gravação da ópera “L’Amour de Loin.

As luzes, mesmo tí-midas, contrastam com o preto dos ternos e blazeres dos cantores que, no decorrer do es-petáculo, dão lugar a cores vivas. Azul, verde e branco compõem uma sintonia agradabilíssi-ma que, em consonân-cia com as palmas do público, ditam o ritmo, o que não é comum em apresentações desta natureza.

Ao longo do show, o coral Zanzalá expõe sua característica prin-cipal: a simpatia. Em-bora seja um coral sério e de repertório refi nado e variado, consegue in-terpretar, desde peças mais elaboradas, como O coral em sintonia com a regente Fernanda Tavares

Aleluia de Handel, até as mais simples.

Quando o Zanza-lá se apresenta é fácil perceber suas peculia-ridades. Simpatia, jo-vialidade e alegria, são alguns dos ingredientes que dão um tom dife-renciado ao coral.

Toda essa miscelâ-nea de luzes, sons, co-res, vozes de homens e mulheres, cenário e aplausos, compõem uma harmonia inco-mum, um som que vem do coração, inundando o palco e platéia como uma tsunami avassala-dora.

O coração do Zan-zalá tem nome: Fer-nanda Tavares

Quando se relata a história do coral Zanza-lá, é impossível não des-tacar Fernanda Tavares, que possui sua vida li-gada ao coro. A regente faz parte do coral desde 1993, porém neste pe-ríodo, Fernanda cantava como contralto do grupo.

Fernanda Tavares foi casada com o maestro e fundador do coral Zan-zalá Rodrigo Augusto Tavares. Além de cantar no coral, ela era regen-te do grupo Renascista

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DIV

ULG

AÇÃO

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Fernanda recebe homenagem do diretor artístico de Cubatão, Roberto Farias

(outro grupo sustentado pela Prefeitura de Cuba-tão).

A história de vida de Fernanda é completa-mente ligada também com a música. Mãe de quatro filhos, Nanda, como é conhecida, sem-pre conciliou suas ativi-dades de dona de casa, musicista e professora de música no Colégio

Estela Maris em Santos.Após a morte do ma-

rido e Maestro Rodrigo Augusto, Fernanda foi indicada para assumir a regência do Zanzalá. Porém, o convite foi re-cusado, já que o faleci-mento do companheiro a deixou abalada. Ela in-dicou o músico Geraldo Marques (que oficializou o coral em 1993) que,

a partir daí, assumiu a frente do grupo.

Com o passar do tem-po, Fernanda casou-se com Geraldo Marques. Mais tarde, seus filhos Felipe Tavares e Juliana Tavares também mú-sicos passaram a fazer parte do coral. Seu filho Felipe, hoje é o chefe dos baixos (o tom masculino mais grave) do coro.

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DIVULGAÇÃO

Page 53: Revista Culturama

A união com Fernan-da não deu certo e Ge-raldo deixou a direção do Zanzalá. Com isso, Nailse Machado (hoje exercendo o cargo de assistente de regên-cia do coro), assumiu o posto de regente,

Após a saída de Nail-se, Fernanda Tavares assumiu a regência do coral Zanzalá. E já com-pleta aproximadamente oito anos no posto. Ape-sar da responsabilidade, Fernanda não acha que sua ligação com o Zan-zalá a sobrecarrega.

“Na verdade o coral Zanzalá e o Renascita me serviram de motiva-ção. Ambos me deram forças para continuar” – afirma a regente.

Fernanda demonstra muita satisfação quan-do fala dos companhei-ros de trabalho no gru-po. Ela exalta a parceria com a sua assistente Nailse Machado: “o su-cesso do coral se atribui também à parceria com a Nana. Nossa união é constituída de compa-nheirismo, sinceridade, cumplicidade, respeito e amizade” – ressalta.

A regente fala, ainda,

Zanzalá e Banda Sinfônica de Cubatão

da satisfação de pesso-as que deixaram o gru-po, para realizar seus respectivos sonhos: “é muito legal quando as pessoas nos deixam para realização de seus projetos pessoais. Um exemplo é a Márcia, que nos deixou para cantar ópera, que sempre foi o sonho dela” – afirma.

Para a Nanda, no co-

ral há diversidade de talentos. Ao todo, o co-ral possui pessoas com muito potencial. Por isso, o sucesso do grupo. “Todos são importantes, inclusive os que não fa-zem mais parte do coro. Tenho saudade dos que não estão mais conosco” – diz Fernanda.

Neste momento, a re-gente se emociona, pois se lembra de um queri-do integrante do coro: o tenor Edvaldo, que can-tou durante muitos anos no grupo e hoje passa por sérios problemas de saúde que o distancia-ram do Zanzalá.

O coral possui um termômetro, um cora-ção que pulsa e dita o

ritmo. Se a regente não estiver bem, é provável que o desempenho do coro não seja o mesmo. Mas, se ela está firme, o coral alcança seu po-tencial máximo.

Definitivamente, Fer-nanda Tavares é o co-ração deste corpo artís-tico.

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DIV

ULG

AÇÃO

Page 54: Revista Culturama

Coral Zanzalá: uma história de sucesso

O Coral Zanzalá foi idealizado pelo maes-tro, Rodrigo Augusto Ta-vares, em 1978, tendo como principal objetivo a formação de um coro composto por alunos do Conservatório de Cuba-tão. Porém, o trabalho se expandiu e, em 1993, o coral foi oficializado, sob a regência de Geral-do Marques.

A partir dos anos 90, apenas músicos pro-fissionais foram incor-porados ao grupo. En-tretanto, deste período em diante, somente as pessoas aprovadas em processo seletivo reali-zado pela bancada dos chefes de “naipe” e da regente do coral podem fazer parte do grupo. Atualmente, cada mú-sico recebe uma ajuda de custo no valor de R$ 600,00.

É comum encontrar-mos pessoas do pró-prio coral Zanzalá, que sobrevivem apenas da música. Este é o caso de Abner de Souza Santana, 20 anos que reside em Cubatão e

está cursando música na Universidade de São Paulo - USP.

Abner precisou pas-sar por duas avaliações para ingressar no coro. O jovem promissor prestou o concurso do Zanzalá e, após o anún-cio do resultado, teve seu direito de exercer a função negada. A acusação era de que o teste não era legitimo, já que o pai e o tio de Abner faziam parte do coral.

Mas o músico talen-toso não desistiu - pas-sou por outro teste, dessa vez na presença de especialistas de ou-tros grupos artísticos da cidade. O resultado foi o mesmo: o direito de exercer a função de coralista do Zanzalá.

Há três anos o músi-co faz parte do grupo e, além de cantar, toca um instrumento chamado fagote. O jovem músi-co de 20 anos percorre um caminho que o le-vará provavelmente a uma carreira de muitas realizações, provando a quem considera coral uma “coisa de velho” que está totalmente

fora de sintonia.Para Abner, o ex-

cesso de concertos em datas comemorativas, atrapalha um pouco sua rotina. “Mas acredi-to que por meio do pro-fissionalismo, seriedade e capacidade do coral, podemos alcançar algo muito maior” – revela.

Outro exemplo de ta-lento, é o da musicista Maria Vitória, compo-nente do coral desde sua fundação, em 1993.

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Espetáculo Queen: Zanzalá e Banda Sinfônica de Cubatão

Page 55: Revista Culturama

Espetáculo Queen: Zanzalá e Banda Sinfônica de Cubatão

Além de cantar no gru-po, ela é professora de Música.

Para Maria Vitória, no Brasil, em termos culturais, é muito difícil sobreviver apenas de música. É preciso en-frentar o preconceito. Quando Maria Vitória resolveu estudar piano, sua tia achou que ela morreria de fome. Mas, pelo contrário, ela ficou mais forte.

Maria Vitória hoje

exerce muitas funções na área musical. Tra-balha e vive da músi-ca, pela qual afirma ser apaixonada tanto quan-to pelo trabalho execu-tado no coral Zanzalá.

“Hoje, trabalho com formação de crianças e professores na área da educação musical. Acredito que a arte tem caminhos diferentes e o jovem pode viver da música. Porém ele pre-cisa se dedicar, estudar muito e acreditar” – ressalta a musicista.

A cantora evidenciou a emoção que o coral consegue transmitir para o público duran-te suas apresentações. “Se eu pudesse resumir em uma só palavra o coral Zanzalá, ela seria ‘vida’”, emociona-se, Maria Vitória.

No entanto, os que não vivem somente da música têm a possibili-dade de dividir as ati-vidades do coro com outras funções. São vá-rias histórias e diversas experiências dentro do coral. O Zanzalá possui pessoas exercendo fun-ções muito distantes da música: desde motoris-

ta de caminhão de lixo até policial ou sargento da Marinha.

O coral hoje não tem uma sede própria, o grupo se prepara no Conservatório Muni-cipal de Cubatão, que cede gentilmente o es-paço para os ensaios do coro.

Apesar de o Zanza-lá ser um coral desta magnitude, com tantas histórias, diversidades, conquistas e conhecido em boa parte do país, ele não tem sede pró-pria. É isso mesmo! O coral não faz parte do Conservatório Munici-pal.

Esse é um dilema bem antigo. Mas, o coral Zanzalá se mantém fir-me em seus objetivos, alcançando sucesso e destaque. A “Ópera do malandro”, interpretada pelo coro, recebeu elo-gios até do seu autor, Chico Buarque.

É cantando e vencen-do obstáculos que o co-ral Zanzalá tenta afinar seu destino de suces-so, mantendo-se firme rumo ao reconhecimen-to nacional e, quem sabe, internacional.

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Que banda você toca?As bandas de garagem divulgam seu som em busca do reconhecimento, e em nome do amor à música. Quem entra nessa, precisa ser perseverante, dedicado e não ter medo do trabalho: suor, som e talento, sem dúvida são

elementos essenciais para quem viver esse sonho.

lariSSa pimentel

Sucesso, fama, prestígio... ouvir mil-hares de fãs indo ao delírio, cantando, em coro, uma música do repertório. Esse é o desejo de centenas de bandas que correm atrás da oportunidade de viver da música.

Santos é um celei-ro de “bandas de ga-ragem”. Todas dese-jam trilhar o caminho de glória, já desbra-vado por muitos músi-cos santistas que conseguiram reconhec-imento entre o público da região - como é o caso da banda “Gener-al Tekila” - ou mesmo de todo Brasil, como fizeram os rapazes da “Charlie Brown Jr”.

A “Analisando Sara” é uma dessas bandas santistas que correm atrás do sucesso. Os músicos estão na es-

trada desde meados de 2006. Com um estilo que eles mesmos clas-sificam como experi-mental, atraem muitos admiradores.

O vocalista Gilber-to Júnior e o baixis-ta Henrique Santana acreditam que, para vencer na música hoje em dia, infelizmente, é preciso ter dinheiro para custear as con-dições impostas por este universo.

Gilberto, que já foi

A banda “Analisando Sara” existe há 5 anos

barman do Studio G, diz que nessa área também vale aquela história do ter “quem indique” e, mesmo que a banda possua tal-ento, muitas vezes ele não é suficiente.

Além disso, para os integrantes da “Ana-lisando Sara”, o Brasil ainda tem dificuldade de apreciar os artistas que fogem de um pa-drão mais voltado para o mercado. ”Brasileiro tem preconceito com a

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arte em si”, diz o baix-ista da banda.

Contudo, eles procuram não taxar negativamente as ban-das que possuem esti-los diferentes do seu, mesmo aquelas que têm forte apelo comer-cial, como é o caso da Restart. “Pelos menos agora o povo não olha com cara feia quem usa calça jeans justa”, brin-ca Gilberto, sorridente.

Henrique, que além de músico é projetista de cinema, também acha que todos os ar-tistas podem contribuir com a cultura. Discorda daqueles que depre-ciam o talento de ar-tistas como o cantor teen Justin Bieber, que trabalham para atingir um público mais abran-gente. “No seu filme, vimos que o menino, desde pequeno, to-cava violão nas ruas para mostrar seu tal-ento. Aqui, ninguém valorizaria um artista como esse, pelo con-trário, se ele fosse bra-sileiro provavelmente seria menosprezado”, diz.

Os músicos, que afir-

Eles já ganharam prêmio em concurso

mam tocar por paixão, revelam que já dedi-caram muito tempo à banda e não pretendem interromper o sonho. Querem, sim, viver da música e ter fama. Em suas músicas, buscam mostrar a realidade de experiências vividas por eles e pela socie-

dade. “Gostamos de criar coisas novas que possam acrescentar, e não fazer o que já ex-iste”, alega Henrique.

O grupo ganhou o prêmio de “melhor ban-da underground”, em concurso realizado na internet. Mas, mesmo depois do reconheci-

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AÇÃO

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mento do trabalho pelo público virtual, eles não se deslumbram e tentam melhorar cada vez mais.

Apesar de poderem desfrutar dos inúmeros benefícios das redes sociais, principalmente no que se refere à di-vulgação, os músicos acreditam que se sen-tiriam ainda mais re-alizados se todo o suc-esso que já alcançaram no mundo virtual se repetisse na vida real. E, para isso, sabem que ainda precisarão ralar muito.

Eles iniciaram a gravação de seu ter-ceiro EP (seqüência de gravações mais longa que um single e mais curta que um álbum) no início desse ano, e se mostram empolga-dos com o novo tra-balho. Também gravar-am um videoclipe, que ainda não foi lançado. “Passamos a noite do ano novo pensando e bolando coisas para esse disco”, contam.

Um dos grandes es-tímulos para que dêem continuidade ao tra-balho, é saber que as

músicas que compõem, de alguma maneira, ajudam ou inspiram seus fãs. “Quando re-cebemos algum elogio às letras e às músicas que compomos, fica-mos imensamente fe-lizes. Acho que esse é o caminho da realização”, conclui Henrique.

Versatilidade é a aposta dos espaços que acolhem Bandas de Garagem

Estúdio de gravação e ensaio de segunda à sexta-feira e espaço para shows durante o fim de semana. O Stúdio G, localizado na Carvalho de Men-donça, 80, em Santos, é o reduto das novas bandas da região. É lá que diversos músicos se apresentam para di-vulgar seu som e ter a oportunidade de des-pontar na carreira.

Nos finais de se-mana, a pequena casa abriga cerca de duzen-tas pessoas nos dias mais procurados. Ta-manho suficiente para essas bandas começar-em a conquistar seu

espaço.Um dos organiza-

dores de shows no Stu-dio G, Khayan Malant-rucco, de 21 anos, era um aspirante a músico quando decidiu or-ganizar apresentações na casa. Hoje um dos eventos que organiza, o festival RockStuff tem cinco anos de ex-istência.

Khayan diz que nesse tempo muita coisa mu-dou. Principalmente o envolvimento das ban-

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Com estilo experimental, eles estão gravando o terceiro EP

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Com estilo experimental, eles estão gravando o terceiro EP

das com seus próp-rios shows. Ele explica que para cada banda se apresentar, precisa vender vinte e cinco in-gressos. Esse dinheiro é para bancar aluguel do estabelecimento e as despesas necessári-as com o show. Caso a banda consiga vender mais que vinte e cinco ingressos, o lucro é divido entre os músi-cos e o organizador do evento.

Contudo, Khayan

diz que muitas ban-das consideram difícil vender esse número de convites. Para ele, essas não estão em-penhadas o suficiente para divulgar seu som e conquistar seu públi-co. “Cada banda tem em média cinco inte-grantes, todo mundo tem cinco amigos que possa comprar um convite de um show”, afirma.

O jovem empreende-dor acredita que mui-

tos têm dificuldade para divulgar o próp-rio trabalho... e aí, so-bra para ele a respon-sabilidade de noticiar o evento. Para isso, Khayan conta princi-palmente com as redes sociais. São elas que o ajudam a atrair o públi-co para seus eventos.

De acordo com o or-ganizador, ter a casa cheia é sempre im-portante porque ele aposta no evento an-tes mesmo que acon-teça: tem que bancar os custos do evento e assinar os contratos de locação. “Quando uma banda dá para trás, eu tenho que me virar para não sair no pre-juízo”.

Khayan lembra que certa vez uma das bandas não compare-ceu ao próprio show, e ele precisou substituí-la às pressas. Em ca-sos como este, ele conta com as bandas coringas. “Essas ban-das geralmente não precisam vender con-vite, já têm seu públi-co e acabam, às vezes, compensando outras bandas”, diz.

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Arte por todos os lados na UNISANTA!

Alunos dos cursos de Arquitetura e Ur-banismo, Design de Interiores e Produção Multimídia da Unisanta desenvolvem trabalho artístico em homena-gem ao artista e de-signer brasileiro Athos Bulcão. Pilastras, pare-des, escadas, elevado-res e esquinas do cam-pus, que fica na rua Oswaldo Cruz, 277, em Santos, vão receber os projetos artísticos cria-dos pelos alunos sob a

Fique ligado na programação cultural da cidade!

orientação do professor Gilson de Melo Barros. Vale a pena conferir!

Atividades gratuitas no

Tam Tam

O Projeto Tam Tam oferece gratuitamente atividades educativas e culturais para crian-ças a partir de 5 anos e para adolescentes. Os interessados devem entrar em contato atra-vés dos telefones 9168-7449 ou 9104-3312, ou enviar e-mail para [email protected].

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Sarau Lítero Musical

O Grupo Poetas Vi-vos homenageia o es-critor Vicente de Car-valho no Café Teatro Rolidei. O “Poeta Mar”, que teve Santos como a inspiração para com-por seus poemas e mú-sicas, será celebrado no próximo dia 28 de abril, mês de seu nascimento e morte. O sarau terá início às 19 horas.

O Rolidei fica no 3.º piso do Centro Cultural Patrícia Galvão, na Av. Pinheiro Machado, 48.

ARTE POESIA

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Fique ligado na programação cultural da cidade!

Drama e romance no Coliseu

De 30 de abril a 1º de maio estará em cartaz, no Teatro Coliseu, em Santos, a peça Mente Mentira (A Lie of de Mind), considerada a obra pri-ma do premiado autor norte-americano Sam Shepard. Sob a direção de Paulo de Moraes, a montagem que tem no elenco Malvino Salvador e Fernanda Machado, conta a história de duas famí-lias afetadas pela drástica separação de seus filhos. Tensão, romance, e situa-ções engraçadas do coti-diano conduzem o espec-tador a questionamentos sobre a própria vida.

Sessões aos sábados, 21:30h e domingos, 20h. O ingresso custa R$50,00. Estudantes, idosos e pro-fessores pagam meia entrada. Classificação: 16 anos.

O Teatro Coliseu fica na Rua Amador Bueno, 237, no Centro de Santos. Tel.: 4062-0016

A Quasar Cia. de Dança apresenta, no dia 14 de maio, às 21 horas, no Sesc San-tos o espetáculo “Por este tão próximo”, que trata da relação com o próximo, seja ele conhecido ou não, de forma pessoal e ín-tima. Questiona os li-mites da privacidade, as possibilidades de

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TEATRO

DANÇA

escolhas sem a pre-tensão das respostas certas. Humor e irre-verência dão a tônica da apresentação.

Os ingressos po-dem ser retirados a partir de 10h no dia 14 de maio, na bilhe-teria do Sesc, que fica na Rua Conselheiro Ribas, 136, Apareci-da. Tel.: 3278-9800

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