revista “desembarque”

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nº 9 Março 10 2 Boinas REVISTA BRILHAM NA Homenagem ao Torre-e-Espada Ribeiro Pais e ao comandante Oliveira Monteiro SOMÁLIA FUZILEIROS COMANDANTE do Corpo de Fuzileiros visita AFEGANISTÃO Pág. 20 Pág. 26 Pág. 29

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Page 1: revista “Desembarque”

nº 9Março 102 Boinas

REVISTA

BRILHAM NA

Homenagem ao Torre-e-Espada

Ribeiro Paise ao comandante

Oliveira Monteiro

SOMÁLIA

FUZILEIROS

COMANDANTE do Corpo

de Fuzileiros visita

AFEGANISTÃOPág. 20

Pág. 26

Pág. 29

Page 2: revista “Desembarque”

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Ficha TécnicaDirector e Responsável Editorial: Cmte. Llano Preto. Director-Adjunto: Marques Pinto. Paginação: Paulo Teixeira; Redacção: Editor, Serafim Lobato; Cola-boradores, Mário Manso; Comte Ribeiro Ramos; Sargen-to Miranda Neto. Fotografia: A.J. Fernandes.Impressão: Tipografia Lobão, R. Qta. Gato Bravo, 5, Feijó; Telf. 21 255 98 90; E-mail: [email protected]; www.tipografialobao.ptPropriedade e Edição: Associação de Fuzileiros, Rua Miguel Pais, nº 25 - 1º Esq.; 2830-356 Barreiro; Tel: 212 060 079; Fax: 210 884 156; E-mail: [email protected]; Site: www.associacaofuzileiros.ptNúcleo do Porto: Rua Coronel Helder Ribeiro (anexo ao farol da Boa nova), 4450-686 Leça da PalmeiraSite: www.nucleofuzileirosporto.org

Editorial

Nova Vida, Novos Rumos ............................ 3Esclarecimento da Direcção ............................. 3ElEiçõEs

Eleições – novos Corpos Gerentes ............... 4Programa

Programa de Acção ..................................... 5Visitas dE CortEsia

Câmara Municipal do Barreiro e APL ............ 7Comandante Alpoim Calvão ........................ 7

BrEVEs

Órgãos eleitos apresentam cumprimentos ao Almirante CEMA... ............................ 8

...e ao Comandante do Corpo ..................... 8Brevíssimas ................................................. 8

EVEntos

Moledo: Homenagem Aos Combatentes ...... 9Jantar de Natal no Porto .............................. 9Festa de Natal na Quinta Valenciana ......... 10Jantar de Natal em Gaia ............................ 11

dEstaquE

Fuzileiros voltam à Pedra do Feitiço .......... 12ConVíVios

14º CFORN - Fuzileiros: lugares de passagem e de saudades com 40 anos 14

CF 2/Guiné: Relatório Top Secreto ............ 16Filhos da Escola do 1º CFORN – 86/87 ...... 17Escola de 94 ............................................. 18Escola de 62 ............................................. 18Donativos ................................................. 18Caldeirada à Moda do Porto ...................... 19

in PErPEtuam mEmoriam

Falecimento de um Torre-e-Espada Fuzileiro ............................................... 20

Primeiro-Sargento FZE, Graduado em Sargento-Mor, António Ribeiro Pais ....... 20

Torre-e-Espada de Valor, Lealdade e Mérito ................................. 21

Oliveira Monteiro: uma carreira dedicada aos Fuzileiros......................... 22

Em memória do Amigo Francisco Oliveira Monteiro ................... 23

Nove Camaradas ....................................... 25

missõEs dos FuzilEiros

O PELBOARD no combate à pirataria somali .................................. 26

rEndiçõEs

Base de Fuzileiros ..................................... 27CATT ........................................................ 27Estado-Maior e Operações ......................... 27

dia do FuzilEiro

Convite do Comandante do Corpo e do Presidente da Associação .............. 28

Assinaturas ............................................... 28dEstaquE

Visita do Comandante do Corpo de Fuzileiros ao Afeganistão ................. 29

as nossas armas

MG42- Metralhadora de Fuzileiros (Parte-1) ................................................ 30

dEsPorto

Tiro Prático Desportivo ............................. 32Equipa de Tiro Dinâmico em Tavira ........... 33

oPinião

O Espírito de Corpo .................................. 34Fuzo-PoEsia

A minha homenagem ................................ 35Sabadino Portugal ..................................... 35

Na capa: A Equipa PELLBOARD acaba de apresar uma embarcação pirata e sua tripulação

ÍNDIcE

Sumário

Associação de Fuzileiros | 2010

Page 3: revista “Desembarque”

3Editorial

Associação de Fuzileiros | 2010

Caros consócios. Ao assumir o cargo de Presidente da Direcção e, por inerência, o cargo de Di-rector do Boletim Informativo “O DESEMBARQUE”, penso que tenho a obrigação de me dirigir a vós, até para explicar algumas alterações que esta Direcção se propõe fazer nos próximos tem-pos, já que a proposta para os próximos dois anos está descri-ta no nosso programa, inserto na revista.Já que falei no nosso boletim, e tendo nos últimos tempos “O DESEMBARQUE” sido mais uma Revista do que um Boletim In-formativo, dicidimos alterar-lhe a designação, e, assim foi feito.Também vos quero transmi-tir que tenciono adicionar-lhe mais informação sobre o Corpo de Fuzileiros e tentar integrar mais artigos de diferentes qua-drantes, pelo que solicito a to-dos quantos queiram colaborar, mesmo com um único artigo, sobre o passado ou o presente, que o façam.Quem não gosta de saber o que os nossos camaradas estão a fazer no Afeganistão, a bordo de uma fragata algures em fren-te da Somália ou nos PALOP? Quem não está interessado em saber quem é o novo coman-

dante da Escola de Fuzileiros ou que exercícios os nossos Fu-zileiros realizaram? Quem não está interessado em saber como foi vista, na época, a Operação “Mar Verde” na Guiné ou a Ope-ração “Viking” em Moçambique, aos olhos de um Oficial, Sargen-to, Marinheiro ou até Grumete? Escrevam.

Como já foi mencionado no Boletim Informativo nº 8, devi-do a vicissitudes várias, houve neces sidade de realizar eleições antecipadas que levaram à to-mada de posse dos actuais Ór-gãos Sociais. Considero que não devo aqui tentar explicar tais problemas, pelo facto de não conseguir, com a correcção e isenção devidas, que todos vós mereceis, descrever os aconteci-mentos que levaram a tal. Ainda agora quando me são expostos, por diferentes elementos dos anteriores Órgãos Sociais ou por alguns sócios, são-me apre-sentados de forma dife rente.

Como sem dúvida é “mais o que nos une, que aquilo que nos se-para” gostaria que tudo fosse esquecido, ou melhor, que ape-nas fosse lembrado para que a nossa união fosse cada vez mais forte e saudável. Conto com to-dos para o engrandecimento

Lhano Preto

NOVA VIDA, NOVOS RUMOS

Presidente da Associação de Fuzileiros

EScLAREcIMENTO DA DIREcÇÃO

“O Desembarque” – revista da Associação de Fuzileiros – N.º 8, de Outubro de 2009, inseriu um texto, a páginas 19, subordinado ao título “Associação de Fuzileiros celebra missa solene pelos marinheiros mortos”- “Chefe de Estado preside a 22 de Janeiro” que, para além de ter sido publicado com alguma

precipitação pode ter induzido a interpretações duvidosas.

De facto, o Executivo anterior terá desenvolvido algumas diligências no sentido referen-ciado no texto, sem que contudo se tenha obtido a mínima vin-cu lação da Presidência da Repú-blica para qualquer acto repre-sentativo.

Assim sendo, sem se colocar em causa a bondade da iniciativa de homenagear os Camaradas mortos em combate, a actual direcção, eleita a 12 de Dezembro passado, esclarece que o acto, indevidamente anunciado, não se efectuou.

O Presidente da Direcção

dos Fuzileiros, objectivo princi-pal da nossa Associação.Quero-vos também afirmar que nos encontramos numa fase de alterações profundas, já que nestes dois meses concluímos que precisamos de novos esta-tutos e em especial, com o em-penhamento de mais sócios. Pelo facto tencionamos apre-sentar já na próxima Assem-bleia Geral, os novos estatutos para serem discutidos. A tarefa da elaboração está a cargo do Vice-Presidente que tem conta-do com o contributo de muitos sócios, mas contamos em es-pecial com o seu, para que no dia 20 os possamos aprovar. Em tempo oportuno, serão co-locados no nosso site, para que todos os possam ler e discutir com tempo, e caso queiram, contribuir com propostas de alterações.Neste momento de todos espe-ro, colaboração e compreensão para podermos atingir o objec-tivo final.

Page 4: revista “Desembarque”

4 Eleições

Associação de Fuzileiros | 2010

ELEIÇÕES – NOVOS cORPOS GERENTES

A Assembleia Extraordinária da Associação de Fuzileiros reuniu-se, a 12 de Dezembro passado, para eleger os seus corpos ge-rentes para o biénio 2010/12.A Assembleia Extraordinária foi convocada expressamente para esse efeito – eleições antecipa-das, decorrentes das demissões do Presidente e Vice-Presidente da Direcção, respectivamente, Ilídio das Neves e António Bel-trão e de outros dirigentes, que provocou uma situação anóma-la, que teve se ser resolvida na reunião magna que teve lugar naquela data.As razões da antecipação das eleições para os corpos geren-tes foram, oportunamente, co-municadas a todos os sócios, cujo texto foi inserido na ante-rior revista “Desembarque”.Ao acto eleitoral concorreu ape-nas uma lista registada como lista A, cujos mandatários foram o comandante Alpoím Calvão, comandante do primeiro des-

tacamento que recebeu o nú-mero 8, e esteve em Comissão na Guiné entre 1966-70, e o dr. Paulo Lowndes Marques, que, como oficial da Reserva Naval, fez parte da Companhia nº 10, em Angola, entre 1966/68.A reunião eleitoral foi presidi-da pelo então presidente da Assembleia-Geral em funções, almirante Leiria Pinto.Os mandatários subscreveram um programa de acção, que divulgaram aos associados, e cujo texto se descreve mais à frente.O comandante Lhano Preto en-cabeçou a lista candidata à di-recção, sendo candidato à presi-dência da mesa da Assembleia-Geral, o almirante Leiria Pinto. O candidato da lista a presiden-te do Conselho Fiscal foi o co-mandante Cardoso Moniz.Depois do período de discus-são, o presidente da Mesa da Assembleia-Geral deu início à formalização do voto, por en-

trega na urna em cartão secreto individual, finda a qual se pro-cedeu à contagem de votos, a que se somaram os enviados por correspondência.

Foram registados 283 votos válidos.

No final, os corpos gerentes eleitos assinaram o livro de posse.

Os membros eleitos estão dis-criminados de acordo com o or-ganograma, que está impresso na página 6.

O novo presidente da Direc-ção, comandante Lhano Pre-to, produziu um discurso de aceitação.

Transcreve-se, em primeiro lu-gar, o programa de acção, subs-crito pelos candidatos eleitos e apoiado pelos mandatários da lista vencedora: Alpoím Calvão e Paulo Lowndes Marques.

Vista geral da Assembleia

Page 5: revista “Desembarque”

5Programa

Associação de Fuzileiros | 2010

PROGRAMA DE AcÇÃO

Caberá aqui uma peque-na referência quanto à motivação da presente candidatura. Como é sabido, pela informação que a todos nos foi vei-culada, quer pelo Presi-dente do Conselho Fis-cal, Comt. Cardoso Mo-niz, quer pelo Presidente da Assembleia Geral, almt. Leiria Pinto, a nos-sa Associação vem atra-vessando um período particularmente difícil.

Lamentavelmente, adoe-ceu, por largos meses e de forma grave, o Pre-sidente da Direcção, dr. Ilídio Neves – hoje em fase de restabelecimen-to e para quem formu-lamos votos de rápidas e totais melhoras – e o Vice-Presidente, Comt. António Beltrão, viu-se obrigado a cessar fun-ções por ponderosas ra-zões de carácter pessoal e profissional.

É óbvio que só estes acontecimentos propor-cionariam, necessaria-mente, particulares difi-culdades, ao que terão acrescido, quiçá, postu-ras que deterioraram o ambiente institucional e que conduziram à ine-xorável inevitabilidade da convocação de uma Assembleia-Geral para eleger novos titulares dos Órgãos Sociais.

Quando estes percalços sucedem em Associa-ções de direito privado que assentam a sua ac-tividade no altruísmo do voluntariado, nem sempre é fácil encontrar pessoas dispostas a su-portar as responsabili-dades, em fases desta natureza, e ainda mais quando é necessário dar continuidade ao muito que já está feito e, se possível, fazer melhor.

Esta candidatura surge, pois, na perspectiva de aliviar ambientes, uni-ficar e aproveitar valias passíveis de concertar, e não como via de au-topromoção de quem quase já pouco tem para autopromover.

Apresentação

A lista que se apresenta ao próximo acto eleito-

ral de 12 de Dezembro foi possível de en-contrar, numa filosofia de continuidade mas, seguramente, de mudança. Não se encontra agarrada àquilo que, porventura, de menos certo se terá feito, mas seguirá na senda de aproveitar, promover e ampliar tudo quanto de bom está realizado.

Vale isto por dizer que se modificará aqui-lo que se entender conveniente modificar e se dará notoriedade a tudo quanto se con-siderar que deve permanecer, colhendo-se a ambição de se fazer o que pudermos no desenvolvimento da Associação de Fuzilei-ros e em benefício dos seus associados, no respeito por quem nos antecedeu e no en-grandecimento, também, da nossa Marinha de Guerra, extraordinária mãe que à luz tão bons filhos trouxe.

Resta aqui uma palavra relativa aos candida-tos a titulares dos Órgãos que se propõem à eleição.Temos para nós que uma equipa não é um somatório de espectaculares valores excep-cionais, mas antes um conjunto homogéneo e coerente de valores mínimos, impulsionado pelo mesmo projecto e partilhando, leal e dis-ciplinadamente, os mesmos ideais e filosofia, no que concerne ao objecto concreto da ac-ção, reunido à volta de uma liderança forte e democrática.Por isso tentámos – e cremos tê-lo consegui-do – consensualizar as pessoas que integram os respectivos órgãos sociais procurando “alargá-los” e formando uma equipa de traba-lho coesa e blindada.

Continua na página seguinte »

Page 6: revista “Desembarque”

6 Programa

Associação de Fuzileiros | 2010

Desejamos que ela se mantenha no tempo fortemente unida, pelo menos, por um mandato.

Linhas essenciais do programa

1 – Preservar os valores de referência da Associação de Fuzileiros, designa-damente ao nível da sua declaração de princípios e dos seus fins estatutários e, em particular, os seus principais objectivos, previstos no Artº. 4º. do Estatuto;

2 – Salvaguardar o prestígio da Asso-ciação e promover a sua imagem, no País e além fronteiras, (especialmente nos Países de Língua Oficial Portugue-sa e junto de instituições congéneres);

3 – Dar continuidade e consolidar as privilegiadas relações com a Marinha e, particularmente, com o seu Corpo de Fuzileiros (com especial atenção à Escola de Fuzileiros) estendendo tais relações ao Ministério da Defesa, à Autarquia do Barreiro, às Associações de Combatentes e, de forma geral, a todas as instituições afins, públicas e privadas, e muito especialmente, às que têm as suas raízes na Marinha de Guerra Portuguesa;

4 – Defender os interesses dos Asso-ciados por quem e para quem a As-sociação existe – promovendo o seu inter-relacionamento e convívio – e de-senvolvendo todos os esforços no sen-tido da pacificação e da organização das estruturas e da descentralização das actividades e das competências, na justa medida de uma gestão eficaz e adequada à defesa “dos superiores interesses” do Corpo Associativo.

Objectivos imediatos

1 - Reorganizar o executivo, resta-belecendo e/ou criando/modifican-do os normativos internos – que se presumem abalados pelas prolonga-das ausências dos Presidente e Vice-Presidente cessantes – impondo uma real disciplina consentida e agilizando metodologias de gestão e controlo nos domínios jurídicos, administrativo e financeiro;

2 – Promover estudo de revisão do Estatuto no sentido de recriar um ins-trumento ágil, simples e eficaz, cons-titutivo de princípios, de direitos e de garantias que vise regular o que, por lei, está regulado e remover lacunas existentes;

3 – Outrossim, promover estudo de revisão do Regulamento Geral Inter-no, regulamentando, tanto quanto possível, em pormenor, o respectivo Estatuto;

4 – Procurar apresentar os projectos referenciados em 2 e 3 na próxima sessão da Assembleia-Geral ordinária para eventual aprovação;

5 – Procurar dar continuidade ao pro-cesso de obtenção do Estatuto de Uti-lidade Pública conducente a propor-cionar maiores facilidades de apoio no

âmbito dos estatutos dos mecenatos e, designadamente,

5.1 – À possível obtenção de recursos para melhoria das instalações da sede nacional e, eventualmente, dos respec-tivos núcleos e delegações;

5.2 – À tentativa de recolher fundos para subsidiar projectos ao nível do desenvolvimento de estudos científi-cos, históricos e culturais relacionados com a actividade da Marinha e, em es-pecial, dos Fuzileiros;

5.3 – Visando a hipótese de substi-tuir a concessão de bolsas de estudo aos respectivos sócios e familiares descendentes;

5.4 – Subsidiar projecto – a longo pra-zo – de criação de uma “Casa de Fuzi-leiros Seniores – que possibilite apoiar e acompanhar os mais idosos ou os Associados com problemas de saúde, propiciando o fim do percurso do tem-po que o tempo do nosso inexoravel-mente impõe, com grande dignidade e cuidado. (Não se trata de uma promes-sa que não sabemos se é possível, mas de uma profunda ambição que temos para nós próprios e que, porventura, legaremos aos que nos sucederem exortando todos a contribuírem para este nobre objectivo já que, sonhar ainda não é pecado).

Objectivos para o período do mandato

1 – Retomar a campanha de alargamen-to do quadro social motivando cada sócio a convidar e propor, pelo menos mais três, homenageando, significati-vamente, os três primeiros associados com o maior número de inscritos, vi-sando reforçar o peso institucional da nossa Associação e objectivando o au-mento do seu prestígio e o cada vez maior apoio aos associados, especial-mente, aos que mais necessitem;

2 – Incrementar o volume de associa-dos, através de iniciativas ao nível dos alunos da Escola Naval e da Escola de Fuzileiros;

3 – Incentivar e dar continuidade à uti-lização das novas tecnologias, desig-nadamente, procurando melhorar o site da Associação e perspectivar uma comunicação em rede que projecte uma maior e mais fácil informação “in-ter” e “intra” institucional sendo como é sabido que, nesta nova civilização globalizada e globalizante, “o que não é conhecido não existe”;

4 – Incentivar e procurar dar corpo a seminários, conferências, palestras ou simples “conversas” organizadas, para divulgação de temáticas de interesse histórico, científico ou cultural e, de-signadamente, dar a conhecer estórias de acções relacionadas com os Fuzilei-ros ou simples estórias de vidas dos nossos associados;

5 – Dar continuidade e procurar incre-mentar actividades recreativas e des-

portivas em geral e, particularmente, as relacionadas com as actividades náuti-cas (incentivando o aproveitamento do Rio Tejo, que banha a nossa sede, para a prática de desportos náuticos) como o tiro de competição, a corrida, a nata-ção, a escalada e o “rappel”, bem como quaisquer outras, sempre no sentido de tentar a aproximação – e o saudável relacionamento dos Fuzileiros, suas famílias e simpatizantes – das causas que é nosso apanágio defender;

5.1 – Dar continuidade e procurar in-crementar uma maior frequência das instalações da sede social nacional, considerando-a local privilegiado de encontro dos Destacamentos e Com-panhias de Fuzileiros que participaram na guerra de África, bem como das unidades que, posteriormente, inte-graram missões de Manutenção de Paz e, em geral, de todos os cursos que, no passado, hajam frequentado ou, no futuro, venham a frequentar a Escola de Fuzileiros;

6 – Procurar estabelecer protocolos com entidades públicas ou privadas que facilitem o benefício mútuo de vantagens e que possibilitem, desig-nadamente, a assistência médico-sani-tária aos sócios e famílias seja a nível das instalações da sede nacional, seja ao nível de outras estruturas dos nú-cleos e/ou delegações;

7 – Envidar todos os esforços para que se concretizem os seguintes objectivos:

7.1 – O projecto de construção do cais a oeste do edifício da sede nacional, que dinamizará, com certeza, a prática de desportos náuticos e, consequente-mente, a vida da própria Associação;

7.2 – Acolher e dinamizar iniciativas viáveis provenientes dos núcleos e/ou delegações e, nomeadamente, os gru-pos musicais e de motards;

7.3 – Procurar promover eventos di-versificando os estratos etários que possam constituir elos de ligação das diversas gerações;

7.4 – Procurar a criação de núcleos e/ou delegações procurando rever, ao nível regulamentar, a respectiva classificação;

7.5 – Aumento gradual da periodicida-de da revista “Desembarque”, desig-nando uma nova direcção e criando um órgão redactorial que assumirão responsabilidade solidária pelo órgão oficial da Associação de Fuzileiros.

Barreiro, 16 de Novembro de 2009.

» Continuação da página anterior

PROGRAMA DE AcÇÃO

Page 7: revista “Desembarque”

7Visitas de Cortesia

Associação de Fuzileiros | 2010

câmara Municipal do Barreiro e APL

A convite da Associação de Fu-zileiros, deslocaram-se à nossa sede o Presidente da Câmara Municipal do Barreiro, Humber-to de Carvalho, acompanhado pelo vereador responsável do Planeamento e Gestão Urbana, Rui Lopo, bem o administrador da APL (Administração dos Por-tos de Lisboa) engenheiro Leiria Pinto. O motivo deste encontro esteve relacionado com a requa-lificação da zona da Alborrica, onde está instalada o edíficio-sede. O Presidente da Junta de Freguesia do Barreiro, Raul Ma-lacão, também esteve presente. Foram recebidos pelos Presi-dentes da Direcção e da Mesa da Assembleia e o secretário da Direcção.

comandante Alpoim calvão

No dia 9 de Fevereiro, realizou-se um almoço na sede da Associa-ção de Fuzileiros, no Barreiro, em homenagem ao comandan-te Guilherme Alpoím Calvão, “o

nosso Cocoana”. Estiveram pre-sentes os comandantes Carreiro e Silva, Vasco Brazão, António Mateus, o ex-capelão Mário Aze-vedo, os ex-segundos-tenentes

FZ RN Moreira Martins e Antó-nio Pessanha. A direcção foi an-fitriã, representada pelos seus Presidente, Vice-Presidente e Secretário.

Page 8: revista “Desembarque”

8 Breves

Associação de Fuzileiros | 2010

ÓRGÃOS ELEITOS APRESENTAM cUMPRIMENTOS AO ALMIRANTE cEMA...

...E AO cOMANDANTE DO cORPO

Igualmente, os novos corpos gerentes eleitos a 12 de Dezembro, apresentaram cumprimen-tos ao comandante do Corpo de Fuzileiros, almirante Cortes Picciochi.

Dia do corpoO Dia do Corpo de Fuzileiros terá lugar em 23 de Abril de 2010, apoiado no tema das Operações Especiais por ocasião das come-morações do 25º aniversário da génese do Destacamento de Ac-ções Especiais.

SorteioO resultado do sorteio dos pré-mios das senhas, vendidas no DIA DO FUZILEIRO, foi o seguinte:1º prémio senha branca com o

nº 92 (saiu à casa, fruto da se-nhas compradas e oferecidas)

2º prémio senha azul com o nº 20

3º prémio senha amarela com o nº 06

Agradeço a todos quantos se ha-bilitaram aos prémios, contribuin-

do alguns camaradas, de forma muito generosa e oferecendo as senhas à Associação, núme-ro que quase chegou à centena. Aproveito para agradecer a ideia, e os dois primeiros prémios, à Dona Helena e seu marido Cas-tro, dois sócios simpatizantesA todos quantos contribuíram para o sucesso desta ideia, BEM HAJAM.Por lapso o resultado não foi pu-blicado (como prometido) no De-sembarque nº 8

Após a Assembleia-Geral eleitoral, os novos órgãos sociais da Associação apresentaram cumprimen-tos ao Chefe do Estado-Maior da Armada, almirante Fernando Melo Gomes, e ao Director-Geral da Autoridades Marítima, em cerimónias que tiveram lugar a 5 de Janeiro passado.

BREVÍSSIMAS

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9

MOLEDO: HOMENAGEM AOS cOMBATENTESDecorreu no dia 24/01/10, mais uma festividade na acolhedora aldeia do Moledo que a exemplo de ou-tros anos, vem comemorando no dia do padroeiro da Freguesia, a homenagem aos Combatentes. Mais uma vez, esteve bem patente, a excelente orga-nização, obra meritória da dedicação do Castro, Pre-sidente da Delegação da Lourinhã dos Veteranos de Guerra, e Dona Helena, almas possantes de todas as envolvências que um evento desta natureza requer, sendo um exemplo de dedicação ano após ano. Para além de uma significativa representação de Fu-zileiros capitaneados pelo Cte. Lhano Preto, Presi-dente da Associação, fizeram-se também represen-tar elementos de outras Associações, nomeadamen-te os Presidentes da Direcção e Assembleia Geral da APVG, bem como outros elementos dos seus corpos Sociais. Sentimo-nos honrados pelo convite feito à Associa-ção de Fuzileiros.

A Direcção.

Eventos

Associação de Fuzileiros | 2010

Realizou-se mais um Jantar de Natal do Núcleo de Fuzileiros do Porto, desta vez no Restaurante Guedes, em Perafita. Responde-ram à convocatória um número significativo de verdadeiros Fu-zos, que não esqueceram a fa-mília da qual começaram a fazer parte na Escola de Fuzileiros. Foi um jantar animadíssimo.

Este ano, deram-nos a honra de estarem presentes o Coman-dante da Base de Fuzileiros, CMG. Silva Campos, que tam-bém representava o Coman-dante do Corpo de Fuzileiros, o Cmd. Ferreira Costa, em re-presentação da Escola de Fu-zileiros e em representação do Comando da Zona Maritíma do Norte, o Cmd. Mateus Freitas que representava também o Al-mirante CEMA.

Da Associação de Fuzileiros, ti-vemos a presença do Cte. Car-doso Moniz, do sargento-mor Egas Soares e do Cte Lhano Preto.

Durante o Jantar, falou o presi-dente do Núcleo, Adriano Cos-ta, que agradeceu a comparên-cia de todos, esperando que as

JANTAR DE NATAL NO PORTO

A mesa e comensais

condições da sua sede sejam melhoradas.

O Comandante da Base de Fu-zileiros prometeu transmitir superiormente as preocupa-ções da delegação quanto à sua sede.

O Comandante Lhano Preto mostrou-se agradado com a pre-sença de tantos fuzileiros, pro-metendo, também, zelar pelos interesses da delegação junto das autoridades competentes.

Neste jantar, apareceram mais alguns “novos” Filhos da Escola, que esperamos ver com mais frequência nos nossos futuros eventos. Reapareceram alguns outros que já não víamos há al-gum tempo.

Bem vindos a todos. O Núcleo é de todos e a Direcção apenas trabalha para que se execute o que os sócios deliberarem.

A Delegação do Porto

Page 10: revista “Desembarque”

10 Eventos

Associação de Fuzileiros | 2010

FESTA DE NATAL NA QUINTA VALENcIANA

No mesmo dia em que se reali-zou a Assembleia Geral eleito-ral, teve lugar à noite a Festa do Natal que decorreu, em alegria e camaradagem, na Quinta Valen-ciana, em Fernão Ferro, Seixal, que foi razoavelmente assalta-da por cerca de 200 membros da Família FUZA, satisfazendo assim aqueles que se quiseram associar ao jantar natalício.

Contudo, esperamos sincera-mente que, no futuro, este even-to - um dos mais significativos por ter o particular mérito de afagar as nossas afectividades, propiciar nostalgias e saudades positivas e transmitir emoções e solidariedades às nossas fa-mílias - venha a tomar cada vez mais expressão e um aspecto organizativo de maior rigor que a dimensão desta numerosa Fa-mília justificará.

Porém, não faltaram à chamada todos aqueles que já nos habi-tuaram à sua continuada e des-pretensiosa presença.

Sem ser possível nestas breves linhas referenciarmos todos, sentimo-nos quase obrigados a lembrar, a título muito ex-cepcional, dois casos paradig-

máticos, quais sejam aqueles que, de momento, nos saltam ao correr da pena (e que nos desculpem todos quantos tam-bém mereceriam ser citados e não o são por não caberem nes-tas limitadas páginas): trata-se do camarada Águas e da sua família que ano após ano insis-te em estar presente, rumando de Portimão, mesmo depois do seu estado de saúde ter sofri-do forte abalo, e do Gonçalves que, do extremo Norte de Portu-gal, navegou de Ponte de Lima para nos brindar com a lição de que “fuzileiro uma vez, fuzileiro para sempre”.

Uma referência, também, a to-dos os nossos Sócios Simpati-zantes, aos quais nos apetece chamar Aderentes já que, para além de simpatizarem ou serem amigos de alguns de nós, ade-riram às causas de uma Asso-ciação que se caracteriza pelo amor a Portugal, pela amizade, pelo aprumo cívico e pela soli-dariedade, tendo os valores dos Fuzileiros no coração. E apenas como exemplo, apetece-nos ci-tar: o Pedro Marques da Luz e a sua família (porque não esque-cemos o que nos têm ajudado);

Em cima, aspecto da presidência da mesa da Festa do Natal; em baixo, quando a festa já entrara em pleno baile e animação…

o António Ribeiro Ramos (pelos brindes que nos tem dado em “O Desembarque” como articu-lista de serviço); e os não me-nos dedicados, Campos e Sousa e Pacheco de Amorim, autores do nosso hino (e de quem tanto vamos necessitar para o gravar em CD).

E não só por razões protocola-res e de cortesia mas porque nos calam sempre profunda-mente as presenças solidárias que demonstram, cumpre-nos referir a honra que nos deram e agradecer:

Ao Sr. Comt. do Corpo de Fuzi-leiros, Almt. Picciochi, também em representação de Sexa o Al-mirante CEMA; ao Sr. Capelão Licínio, também em representa-ção do Comt. da Esc. de Fuzi-leiros; ao Dr. Ilídio Neves Luís, Presidente cessante da Direcção que, pese embora em fase de restabelecimento, fez questão de se deslocar do Norte para usufruir dos muitos afectos que lhe foram dispensados.

Os corpos sociais, eleitos na tarde deste mesmo dia, esti-veram presentes, na quase to-talidade, destacando-se: o Pre-sidente da Assembleia Geral, Almt. Leiria Pinto, o Presidente do Conselho Fiscal, Comt. Car-doso Moniz e os Presidente e Vice-Presidente da Direcção, Comt. Francisco Lhano Preto e Dr. Carlos Marques Pinto Perei-ra, respectivamente.

Cumpre, outrossim, agradecer especialmente, o prestimoso contributo dado pelo grupo mu-sical, de que faz parte um dos nossos sócios, o Silva Santos, que, a custo zero, colaborou no evento.

E para que não falte ninguém, aqui fica a gratidão a todos quantos, pelas mais diversas formas, ora trabalhando na or-ganização, ora contribuindo com as suas presenças empres-taram prestígio ao nosso jantar de Natal e, sobretudo, deram vida à vida e ao tempo dos nos-sos afectos.

A Direcção.

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A Delegação De Fuzileiros de Gaia realizou pela primeira vez a sua festa de Natal…e foi um grande dia para a família dos fuzos de Gaia, pois teve uma adesão fabulosa. Juntamos 95 pessoas…57 dos quais Fuzilei-ros. Os restantes eram familia-res, amigos e convidados. Foi

gratificante ver que o trabalho de um punhado de Fuzileiros está a dar frutos aqui na dele-gação de Fuzileiros de Gaia.

A festa já tinha começado na nossa Delegação, pois foi o local de encontro, antes da ida para o restaurante Peixe na Brasa

JANTAR DE NATAL EM GAIAA delegação ficou a abarrotar de Fuzileiros, familiares e ami-gos, todos em amena cavaquei-ra e a beber uma mini ou um vinho do Porto fabuloso trazido pelo nosso grande amigo para-quedista Eduardo.

Nesta primeira Festa de Natal da Delegação de Fuzileiros de Gaia esteve presente o Comandante Lhano Preto, presidente da As-sociação de Fuzileiros, sargen-to-mor Egas Soares, secretário da Direcção da Associação, o grande poeta e fuzileiro Mário Manso e a Ana, funcionária da nossa associação, todos em re-presentação da AF.

Esteve também na nossa festa o grande fuzileiro “Matosinhos” que até se comoveu com tanta alegria pois havia camaradas que ele já não via…há séculos.

A festa começou com algumas palavras de Fernando “Lau”, pre-sidente da Delegação Fuzileiros e seguidamente falou o Cmte e presidente da Associação de Fuzileiros, Lanho Preto, que se congratulou com a organização do evento e teceu rasgados elo-gios à evolução e desenvolvi-mento da mesma delegação.

Foi tocado o hino nacional pelo nosso camarada Fuzileiro Ma-nuel Gonçalves e seguidamente acompanhou todos os presen-tes com o seu trompete na Mar-cha da Associação, foi um mo-mento inesquecível e marcante pois todos os presentes canta-ram em uníssono, foi bonito de se ver e ouvir.

Mário Manso no fim presenteou-nos com um belo momento de sua poesia.

A nossa festa foi abrilhantada pelo camarada fuzileiro Gonçal-ves e o seu trompete que nos brindou com umas músicas an-tigas muito bem tocadas, e pelo amigo paraquedista Eduardo que com as suas filhas Madale-na e Irene tocaram e presentea-ram-nos com algumas canções.

Até para o ano.

A Delegação de Gaia

Eventos

Associação de Fuzileiros | 2010

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A pedra que renova os nossos feitiços

Destaque

Associação de Fuzileiros | 2010

FUZILEIROS VOLTAM À PEDRA DO FEITIÇO

Eh pá! Já fiz duas comissões na Pedra do Feitiço!

É com esta pilhéria, ou outras de cariz semelhante, que, ainda hoje, os fuzileiros mais antigos tentam impressionar os mais modernos acerca da sua pre-tensa antiguidade. Ficou-lhes o jeito das conversas repetida-mente ouvidas durante as lon-gas noites de serviço ou à roda das mesas de bar onde anda-ram, então, por terras de Santo António do Zaire, agora Soyo.

Nas décadas de 60 e 70, davam largas à sua imaginação e con-tavam as suas aventuras africa-nas em relatos, naturalmente, envolvidos em alguma fantasia mas, no essencial, próximos da dura realidade que a guerra im-punha e, também, com o mes-mo intuito de impressionar a atenta assistência

Os fuzileiros de todos os tem-pos habituaram-se a ouvir falar da Pedra do Feitiço, como se de um local mítico se tratasse onde todas as incursões, mesmo que imaginárias, são permitidas e tão válidas como as mais peri-gosas operações reais. Quan-do o tema é a Pedra do Feitiço,

tudo se aceita e tudo se tolera numa complacência e tolerân-cia quase doutrinárias.

Memórias de outros cenários de África permanecem, também, bem vivas nas conversas entre fuzileiros. Basta dar uma vista de olhos pelos muitos “blogs” criados pela comunidade FZ espalhada pelo mundo para o constatar, mas parece-nos que uma das que mais pontua no imaginário FZ é mesmo a Pedra. Por isso, foi com uma ponta de emoção que, no dia 5 de De-zembro de 2009, seis Fuzilei-ros Portugueses demandaram e desembarcaram na Pedra do Feitiço.

A oportunidade surgiu da ne-cessidade de, no âmbito da Co-operação Técnico-Militar, verifi-car as condições de treino bila-teral na área operacional onde o Batalhão FZ Angolano man-tém o seu dispositivo com a missão de patrulhar e fiscalizar o rio Zaire, desde a Foz até No-qui, para conter a infiltração de estrangeiros ilegais vindos da República Democrática do Con-go ou de outros países a norte. Mudaram os tempos, mudou

o contexto, mas a missão dos Fuzileiros, no essencial, man-tém-se naquela zona de frontei-ra estratégica para Angola.

O dia 5 de Dezembro de 2009 nasceu cinzento, parecendo querer carregar, ainda mais, a emoção que de todos nós se apoderara. O comandante Lou-reiro Nunes (LN), uma espécie de patrocinador e cicerone, que, cumprindo missão na Pedra do Feitiço, ali passou dois anos da sua juventude, exterioriza-va essa mesma emoção: “Ra-paziada se eu começar a falar de mais, dêem-me um toque”. E vários toques… foram necessá-rios tal a vontade de tudo dizer, de tudo mostrar, enfim, de tudo reviver.

Acompanhados pelo coman-dante Bamba, comandante do Corpo de Fuzileiros de Angola e outros oficiais angolanos, largá-mos da Base Naval do Soyo e aí vamos nós, rio acima, em duas lanchas cedidas pelo LN que, qual velho marujo, manobrava habilmente uma delas. Máxima velocidade! Temos pela frente 60 milhas e não podemos dei-xar de fazer uma rápida passa-

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13Destaque

Associação de Fuzileiros | 2010

gem pela Ilha da Kissanga para cumprimentar os Fuzos que guarnecem aquela posição. Ja-mais nos perdoariam tendo em conta o isolamento em que se encontram.

Vencendo a fortíssima corren-te, somos envolvidos pela bele-za do mangal que, numa paleta policromática, avança pela mar-gem continuamente pon teada de pequenos povoados de pes-cadores. Casas, tipo palafita, assentes em estacas cravadas em chão de “mabanga” sobre-põem-se à água. Porquê? Será para aproveitar o fresco das águas? Questões de segurança? Talvez?

A paragem na ilha da Kissanga foi rápida, mas valeu a pena. Cenário idílico que tivemos de deixar para trás. O objectivo principal estava ainda bastan-te longe. Uma chuva quente e forte deixou-nos encharcados até aos ossos, mas nada de de-sânimos. O magnífico sol afri-cano se encarregará de resol-ver o problema logo a seguir. A vista espraia-se pelo imenso estuário e, ao longe, começa a vislumbrar-se a Pedra do Feitiço num cenário magnífico de cal-maria das águas, do verde da vegetação que nelas se reflecte e das construções em anfite-atro numa ponta de terra que termina em enormes rochedos. Espectacular!

Saltamos para terra, estamos na Pedra do Feitiço. Um nervo-so miudinho invade-nos a to-dos. Passado o impacto inicial soltam-se as emoções e é um tropel de informações que o LN começa a debitar. Parecia que ainda lá estava em comissão tal o realismo dos seus relatos. Mas os vestígios da passagem dos fuzileiros portugueses por aquelas paragens são ainda bem evidentes e preservados e falam por si. Os fuzileiros an-golanos respeitam o passado preservando as inscrições, os registos pessoais e, em suma, tudo o que se relaciona com a nossa passagem por aquele local.

Mais calmos, sentados debaixo do cajueiro grande, bebemos uma Cuca (cerveja angolana de grandes tradições) em fraterno convívio com os fuzileiros an-golanos, apreciando a tranquili-dade do local, olhando o rio es-pelhado e vivendo aquele mo-mento místico, provavelmente irrepetível para nós.

Rapazes! Temos de regressar! Era a voz do LN …. Apesar da corrente, agora a favor, temos as tais sessenta milhas para percorrer e o almoço com o Vice-Almirante Comandante da Região Naval Norte, no Soyo, não espera.

Deixamos a Pedra do Feitiço com a alma lavada, na plena

consciência de que, ao fazer esta visita, homenageamos, muito justamente, tantos quan-tos por aqui passaram, estejam eles onde estiverem.

Agradecimentos:

– À Marinha de Guerra Angola-na que autorizou a missão e a apoiou através da preciosa colaboração do Comandante da Região Naval Norte, VALM Valentim Alberto António.

– Ao comandante Loureiro Nu-nes, de forma emocionada, cujo apoio com meios, dis-ponibilidade pessoal e saber, foi fundamental para o suces-so do empreendimento a que nos propusemos.

Participaram nesta expedição pela parte portuguesa:

CMG FZ RN Loureiro Nunes; 19.º CFORN, CFR FZ RN Ben-jamim Correia; 23.º CFORN, CTEN FZ Clemente Gil, 2TEN ST FZ Figueiredo Pereira; 1SAR FZ Basílio Perfeito, CAB FZ Correia Alvélos

Benjamim Correia CFR FZ RN, 23º CFORN

Fontes: Texto e fotos do CFR FZ RN Bejamim de Jesus Correia, 23.º CFORN, compilados a par-tir de colaboração na Coopera-ção Técnico-Militar com Angola, Projecto 8 – Marinha.

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14 Convívios

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14º cFORN - FUZILEIROS: LUGARES DE PASSAGEM E DE SAUDADES cOM 40 ANOS

O 14 º Curso de Formação de Oficiais da Reserva Naval fez 40 anos do seu alistamento de 1969. Comemorámos no último terço de 2009. Fazemos ques-tão de integrar o relato neste número do “Desembarque”.

No total do curso foram 44 cadetes, divididos apenas por duas especialidades: Marinha e Fuzileiros. Estes, no seu início, eram, em número certo, vinte. Foi, precisamente, essa a quan-tidade que veio a terminar o curso.

Depois de um período escolar - aliás curto - passado em con-junto na Escola Naval, os fuzi-leiros rumaram, com ordem de marcha, para a Escola de Fuzi-leiros. Eram uns putos jovens, mesmo muito jovens, metade tinha apenas 20 anos. Havia, somente, dois ou três vete-ranões, o mais velho de todos, o Gonçalves Madeira, com 25 anos, quase já médico forma-do. Fora obrigado, pelas vicis-situdes académicas de então, a entrar naquilo que se chamava tropa. Escolheu a Marinha, ou seja, neste caso, os fuzos.

Provenientes de diferentes es-tratos sociais, de diferentes zo-nas do país, de diversificadas culturas, mais viajados ou com mais calos da vida do que ou-tros, o certo é que este grupo se interligou e sobreviveu num contentor na Escola de Fuzilei-ros, que lhe foi destinado como camarata - ainda hoje existe na EF e deveria ser preservado como peça arqueológica im-portante para o conhecimento do que foram aqueles anos da vida castrense dos garbosos cadetes!

Aguentaram, naquele conten-tor, os frios e os calores, algu-ma chuva que, até por vezes, entrava. Tinham de deliciar-se com os odores das peúgas, das roncadelas noctívagas de alguns que até acordavam os mochos, das ensaboadelas po-líticas dos mais versados (havia cadetes que conseguiam dor-mir quando os afoitos mestres da lábia militante debitavam e debitavam).

Eu, da minha parte, foi, ali, na-quela tabanca, que recebi, sor-rateiramente, pela primeira vez na vida, um panfleto de um dos

partidos da oposição que con-corriam às eleições - não esque-cer que estávamos em 1969 e, nesse ano, houve um arremedo de acto eleitoral em que os opo-sicionistas eram praticamente clandestinos.

O curso forjou-se ali, uniu-se ali. Formava todos os dias, após o almoço, em posição deitada, de-baixo das árvores numa peque-na sesta para apresentação ao Director de Instrução, que era o então primeiro-tenente Costa Pecorelli, mas apenas o penico, o João Sousa Araújo, se deslo-cava, garbosamente, junto do gabinete e jurava a pés juntos: “O pessoal está pronto”. E este-ve sempre pronto para cumprir as tarefas.

Poderia haver um senhor cade-te, mais renitente em correr e que chegava à porta de armas em passo acelerado de corrida e afirmava, com arreganho, “já dei o que tinha a dar”, e pros-seguia a passo e passo, mas, nunca, nunca, os restantes o deixaram para trás, chegavam a correr com ele, em braços, e todos, terminaram, em pelotão, o fim do exercício.

Antigos cadetes e oficiais instruendos, com o comandante Pecorelli e o “cicerone” instrutor comandante Carmona

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15Convívios

Associação de Fuzileiros | 2010

Não sei porquê, este curso de fuzileiros, findas as comissões de serviço, começou a encon-trar-se regularmente. Primeiro, era de dois em dois anos, uma outra vez o interregno foi maior, mas, aí há 25 anos, a tendência é um encontro anual. Mas, este encontro, não é uma mera reu-nião em torno de um almoço. É sempre um fim-de-semana. Com programa cultural, gastro-nómico e vivencial - sempre bem regado. Que na última década tem sido acompanhado pelas respectivas caras-metades – as que querem ir - e convidados especiais, mesmo de outras ar-tes das Forças Armadas

Como existem contingências da vida, apenas uma vez con-seguimos juntar 19. Nunca chegámos a reencontrar um dos nossos, o Martins Ferraz, que emigrou para o Brasil, logo após o 25 de Abril, e apesar das tentativas para saber onde resi-dia, nunca o descortinámos. Há quatro anos, um de nós, atra-vés de uns contactos diplomá-ticos, veio a saber que ele fa-lecera algures na região de São Paulo. O Ferraz, que fez parelha com o Caló, em Moçambique, num Destacamento, era um ra-paz transmontano, que teve de aprender rapidamente como se vivia com a maltózia da cidade.

Desses 20, nestes quarenta anos, tivemos de abater ao ser-viço mais um. Uma morte, para nós, inesperada: o Neves Silvei-

ra, que andou com o Pelica pe-las lalas do Lungué-Bungo.

Os restantes estão todos vi-vos. Para a Guiné, zarparam nada mais, nada menos que 12, passaram por destacamentos e companhias. Estávamos em contacto, lá de vez em quando, e isto quando nos encontráva-mos em Bissau, ou quando o “comboio” de embarcações, que comandavam, passava por Gan-turé, a principal base naval fora da capital guineense. Os nomes são dignos de serem relembra-dos: Sousa Dias, Veiga Rica, Gaspar dos Santos, Antunes Roldão, Ferreira Januá rio, Mes-quita e Carmo, Costa Nogueira, Cardoso Ferreira, Carmo Soa-res, Graça Matias, Teixeira Ro-drigues e eu, que assino este texto.

O João Sousa Araújo foi escolhi-do para ir comandar um pelotão de fuzileiros em Cabo Verde. O Madeira seguiu mais tarde para o Comando Naval em Luanda e o Miranda Correia andou pela Terras do Fim do Mundo, em Pe-reira D’Eça, Angola. Finalmen-te, o Fernando Pires, por razões especiais, foi o único a prestar serviço militar em Lisboa.

Para comemorar os 40 anos, fi-zemos um pacto: vamos juntar também todos os oficiais, do nosso curso de instrução, se ainda estiverem vivos, ou con-tactáveis, e, neste caso, quei-ram comparecer, bem como o nosso director de Instrução.

O comandante Pecorelli res-pondeu prontamente à nossa ousadia. Dos oficiais estiveram presentes: os então segundos-tenentes Costa Ruas e Teles Ri-beiro e primeiro-tenente Pereira da Cruz. O primeiro-tenente Eça Soares faleceu há cerca de 10 anos, o comandante Silva Dias, naquele dia, estava fora do Con-tinente português, e o segun-do-tenente fuzileiro Mendes da Silva não estava contactável.

Desta vez, fizemos um delicado convite a um jovem periquito Pato Góis, de outro curso, que teve de suportar durante meses os terríveis Mesquita e Carmo Soares, especialmente devido a um problema de quadrícula. Ficou aprovado.

Amavelmente, o antigo coman-dante da Escola de Fuzileiros e ex-segundo comandante do Corpo de Fuzileiros capitão de mar-e-guerra Pires Carmona, prontificou-se a servir de cice-rone e explicador das novas si-tuações em que vivem os fuzi-leiros actuais.

Repartimos esta comemoração por dois locais: a nossa escola-mãe, a EF, e o restaurante da Associação de Fuzileiros, ten-do a direcção se prontificado a receber-nos com todo o garbo, apesar de não sermos sócios.

Serafim Lobato

A gloriosa tabanca: quartel general dos cadetes do 14º curso (1969)

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No dia 02/05/09, a Compa-nhia nº 2 de Fuzileiros (Guiné 1972/1974) realizou o seu XII encontro na linda cidade de Vila Real do nosso Portugal Trans-montano, com concentração junto à igreja de Nossa Senhora da Conceição. Foi sob a batuta do camarada Felisberto Jesus dos Santos Pina que toda a or-questra funcionou, com as suas vozes afinadas, lembrando os episódios de que nunca nos far-tamos de trazer, ao concerto da nossa memória.

Pelas 11.00 horas, foi dada or-dem de embarque, no autocar-ro, que a todos levou a conhe-cer os pontos estratégicos da cidade. Após hora e meia de visitas memoráveis, regressá-mos ao ponto de reunião. De seguida, foi dado a todos os chefes de esquadra o azimute que determinava o objectivo a conquistar, Vilarinho da Sa-mardã. Este foi o local, onde todos entraram em combate, com aquela determinação que caracteriza os fuzileiros. Sabia-se de antemão, que o inimigo se encontrava bem municiado e totalmente disponível para nos dar luta. A primeira e última emboscada, foi terrificamente desenvolvida no FORNO local, onde outras batalhas tiveram já lugar, sem que alguém tivesse

cF 2/GUINé: RELATÓRIO TOP SEcRETO

conseguido vencer inimigo tão aguerrido.

Os estragos, causados pelo assalto da companhia Dois de Fuzileiros, não tiveram conse-quências maiores, porque o inimigo se fez nosso amigo, e nos franqueou tudo, sem que tivesse sido necessário fazer uso das nossas capacidades dissuasoras. Foi por isso, que tudo ficou direito, portanto, sem consequências futuras, pa-lavras tantas vezes escritas in-felizmente nos boletins de saú-de, quando algum camarada foi ferido e não morreu, e que em nada os ajudou à posterior.

Antes de se dar os últimos acor-des, caso dos parabéns, fui in-digitado como maestro desta orquestra, onde fiz uma das minhas quatro comissões em dois palcos distintos da guerra, Guiné e Angola, que muito con-tribuiu para o nascimento do HOMEM FERRO, hoje, tenor con-siderado e muito respeitado, pelos demais, e meus iguais.

Coube-me, pois, louvar o or-ganizador de toda a logística, para que o golpe de mão tives-se sido um êxito total. Os rios da Guiné foram a matéria-prima para que todos comungassem num princípio que determina as vitórias, sempre unidos, nunca vencidos. Não fora os mísseis terra-ar Strella de fabrico rus-

so terem acabado por matar o nosso anjo da guarda, (apoio aéreo), que de alguma forma nos dava alento e protecção nos momentos mais difíceis, al-guns dos camaradas presentes por lá teriam ficado dizimados por alguma bazucada, bem me-nos simpática e diferente das bazucas que nos refrescavam a garganta.

Davam-se os últimos acordes, e a debandada estava para bre-ve, no entanto, ensaiava-se já, o próximo (concerto) assalto que terá o seu epicentro, em Sintra no ano de 2010.

A retirada estava difícil, mas o que tem que ser tem muita for-ça, mas nunca tanta, quanto a nossa camaradagem. Em cima da retirada, foram notadas al-gumas condecorações, bem vi-síveis nas camisas dos nossos heróis, muito especialmente, na do FELISBERTO PINA, resul-tado dos vários golpes (de copo cheio copo vazio) de mão.

Por estas e por outras é que, FUZILEIRO UMA VEZ FUZILEIRO PARA SEMPRE, nunca estará desactualizado.

Manuel Pires da Silva (HOMEM FERRO)

Convívios

Associação de Fuzileiros | 2010

Page 17: revista “Desembarque”

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Realizou-se no dia 10 de Janeiro de 2010 o convívio entre os filhos da escola 1º CFORN 86/87.

Marcaram presença 22, sendo que os restantes quatro foram impossibilitados por motivos de saúde, de trabalho no estrangeiro ou por falta de contactos actualizados.

Esta disponibilidade total de todos, alguns vindos de distâncias superiores a 400 km,

FILHOS DA EScOLA DO 1º cFORN – 86/87

mostra que o espírito de camaradagem, de amizade e de prontidão que nos foi ensinado na ESCOLA de FUZILEIROS continua fortemente vincado nas nossas personalidades 24 anos depois.O convívio começou por um encontro e visita à nossa Associação de Fuzileiros e foi aí que se constataram algumas significativas diferenças nos diâmetros dos abdómenes, as maiores ou menores faltas de

cabelo e os grisalhos, mais ou menos acentuados.

Os abraços calorosos que nos encheram a alma de alegria, esses vamos todos recordar durante um ano, já que ficou já agendado o próximo convívio para o fim deste ano, desta vez a Norte do País.

Após as obrigatórias poses para as fotos seguiu-se um “Ataque Frontal” a um restaurante local. Eliminados os inimigos “fome” e “sede”, o convívio continuou com o regresso à ESCOLA de FUZILEIROS e a visita ao MUSEU do FUZILEIRO.

As prontas disponibilidades do Cmte Francisco Preto e do Sargento Marta para uma visita guiada ao Museu deixou este PELOTÃO de FUZILEIROS sensibilizados, agradecidos e com o sentimento ainda mais forte de que ainda somos da casa. FUZILEIRO UMA VEZ FUZILEIRO PARA SEMPRE.

O “aluno dia”

Joaquim José RUMIÃO SILVA.

[email protected]

Convívios

Associação de Fuzileiros | 2010

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EScOLA DE 94

EScOLA DE 62 DONATIVOS

vando na posição de sentido, o máximo das suas vozes, com o grito dos Fuzos. Desta vez, por dificuldades de logística não se digladiaram na pista de lodo, que tanto prazer lhes dá fazer. Tenho pena, que nos tivessem privado do gozo que eles dão, a quem os segue naquele per-curso problemático.

Depois da indispensável visita à Escola todos se dirigiram à quin-ta da Valenciana para ai matar a malvada que começava apertar com o pessoal. No final, o Pe-niche, consegue sempre pescar alguém para o acompanhar até à sua Vila piscatória não dei-xando que a festa termine às 00h00. É um grupo que, com ou sem motas o Zé da respec-tiva atravessa a ponte de carro, por falta de mota para rapinar.

Não desanimar, é meio ca-minho para lá chegar, força rapaziada.

A colocação de uma coroa de flores no monumento da Esco-la de Fuzileiros, é uma atitude comportamental de profundo

respeito, com que os jovens ca-maradas de 94 fazem questão de dispensar, ao homenagea-rem os fuzileiros mortos, ele-

A reunião destes filhos da escola, passados 47 anos, foi motivos para reencontros e um repassar de lembranças que os congrega-ram naquela época e se manteve até hoje.

Nome Donativo

António Gomes Beltrão 20,00 €

António C. Ribeiro Ramos

30,00 €

António Capela Loureiro

40,00 €

António Vieira Sousa 37,85 €

João Augusto B. Alves 40,00 €

João Miguel Sequeira 50,00 €

João Pedro da Luz 200,00 €

José Cardoso Moniz 13,00 €

José Fernandes Rosa Costa

(Marchandise)350,00 €

José Júlio Oliveira 50,00 €

José Sequeira (Convivio Comp Fz Nº1 66/69)

40,00 €

Maria José Proença Pais 10,00 €

Marinha 23 Livros

Marinha 2 Barcos

Sargento AlmeidaVários Livros

Sargento AlmeidaUma

Cresta

Convívios

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Page 19: revista “Desembarque”

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DONATIVOS

cALDEIRADA À MODA DO PORTOEntre os muitos valores que nos foram transmitidos na Escola de Fuzileiros, a camaradagem foi um dos mais importantes. Assim, qualquer pretexto serve para que os Fuzos do Núcleo do Porto se reúnam em convívio. Desta vez a confraternização passou-se à volta de uma cal-deirada, excelentemente con-feccionada pelo Manel e pelo João, dois pescadores da Afura-da, que fazem parte do grupo de amigos do Núcleo de Fuzilei-ros do Porto. Cerca de duas de-zenas de Fuzos, alguns acom-panhados das respectivas famí-lias, compareceram ao repasto, que se realizou na nossa sede. Após o jantar seguiu-se a habi-tual cavaqueira entre os presen-tes, tendo o nosso amigo Cmd. Miranda de Castro brindado os presentes com alguns fados e outras canções. Ao fim de algu-mas horas de convívio, os Fu-

zos do Norte retiraram-se para as suas casas. Outros convívios se seguirão para que nunca deixemos esmorecer o espírito de grupo que é apanágio dos

Fuzileiros, e para fazermos jus ao lema da nossa Associação, “FUZILEIROS UMA VEZ, FUZILEI-ROS PARA SEMPRE”.

Nome Donativo

António Gomes Beltrão 20,00 €

António C. Ribeiro Ramos

30,00 €

António Capela Loureiro

40,00 €

António Vieira Sousa 37,85 €

João Augusto B. Alves 40,00 €

João Miguel Sequeira 50,00 €

João Pedro da Luz 200,00 €

José Cardoso Moniz 13,00 €

José Fernandes Rosa Costa

(Marchandise)350,00 €

José Júlio Oliveira 50,00 €

José Sequeira (Convivio Comp Fz Nº1 66/69)

40,00 €

Maria José Proença Pais 10,00 €

Marinha 23 Livros

Marinha 2 Barcos

Sargento AlmeidaVários Livros

Sargento AlmeidaUma

Cresta

Convívios

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20 In Perpetuam Memoriam

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António Ribeiro País nasceu, a 22 de Julho de 1940, na fregue-sia de Penso, concelho de Ser-nacelhe, distrito de Viseu.O sargento António Ribeiro Pais completou 19 anos de serviço na Armada.Frequentou o curso de Fuzileiro Especial na Escola de Fuzileiros em 1963. Possuía ainda o cur-so do 2º grau FZ (1969), I. I. M. Terrestres e Armadilhas (1970), o Curso de Pisteiro de Comba-te (1971), o Curso de Minas e Armadilhas (1972), o Curso de Inactivação de Minas e Armadi-lhas (1972).Em terra, desempenhou funções inerentes à condição de Fuzilei-ro Especial, voluntariamente, nas ex-províncias ultramarinas da Guiné e Moçambique.A 3 de Julho de 80, transitou da situação de RAa à situação de Reforma Extraordinária por nesta data ter sido considerado deficiente das Forças Armadas (DFA), por despacho do Almi-rante CEMA, e ter sido conside-rado incapaz do serviço activo, com o grau de incapacidade de 53 por cento.Alistou-se na Armada com 20 anos, precisamente, a 18 de Março de 1961, tendo frequen-tado o curso de manobra, cur-so, de que todavia, não gostou. Acabou com um aproveitamen-to de 58 por cento. A sua car-reira nesta classe iniciou-se,

portanto, naquela data como segundo grumete recruta. Saiu, a 9 de Fevereiro de 1962, se-gundo grumete manobra, tendo ascendido a primeiro grumete manobra cerca de seis meses depois, a 10 de Setembro.

De imediato, pediu, logo que soube da constituição das pri-meiras unidades que partiram para o Ultramar, a possibilida-de de frequência do curso de conversão a fuzileiro que veio a ocorrer a 16 de Abril de 1963. Terminou-o aproveitamento elevado, com 15 valores. In-gressou, deste modo, na classe de Fuzileiros a 3 de Agosto de

1963, com o posto de primeiro grumete fuzileiro.A 31 de Março de 1965, foi pro-movido a marinheiro fuzileiro especial, e passando, dois anos depois, 31 de Março de 1967 a cabo FE. O posto de segundo sargento fuzileiro especial veio a obtê-lo a 23 de Maio de 1969. E dois anos depois, justamente no mesmo dia de Maio de 1973, ascendeu a primeiro-sargento do ramo. Fez três comissões em Desta-camentos de Fuzileiros Espe-ciais, a primeira na Guiné com o primeiro destacamento nº 8, comandado então pelo primei-ro-tenente Alpoím Calvão. Este-

FALEcIMENTO DE UM TORRE-E-ESPADA FUZILEIROPrimeiro-sargento FZE, graduado em sargento-mor, António Ribeiro Pais

O Chefe de Estado cumprimenta o sargento-mor Ribeiro Pais em cerimónia comemorativa dos

200 anos da instituição da Torre-e-Espada

No passado dia 4 de Maio do ano passado, fa-leceu o sargento-mor fuzileiro António Ribei-ro Pais, um dos quatro membros da Armada portuguesa condecorados com a medalha de Torre-e-Espada por feitos cometidos na guer-ra de África, isto no período de 1961 a 1975.

Embora se soubesse tardiamente do seu pas-samento, não teve, no entanto, tal facto o rele-vo que já deveria merecer na altura. Fazemo-lo, agora, porque assim deve ser lembrado um camarada simples e humilde que teve as hon-rarias militares mais elevadas do País.

Foi o segundo militar da Armada falecido, por-tador da Torre-e-Espada, por feitos no Ultra-mar entre 1961 e 1975. Anos atrás, morreu o capitão de mar-e-guerra fuzileiro Alberto Re-bordão de Brito.

Vivos estão o capitão de mar-e-guerra Gui-lherme Alpoim calvão e o sargento-mor Ma-nuel Martins Ferreira.

Todos estes militares da Marinha de Guerra receberam a mais alta condecoração ao serviço dos fuzileiros.

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ve nessa antiga província ultra-marina entre 23 de Outubro de 1963 até 16 de Janeiro de 1966. A segunda comissão iniciou-a, cerca de dois meses depois, na antiga província de Moçam-bique, também no DFE 8, de 24 de Março de 1966 a 20 de Janeiro de 1969, sob o coman-do do então primeiro-tenente Pereira Bastos. Na sua terceira comissão, também em Moçam-bique, de 6 de Abril de 1971 até de Dezembro de 1972, no DFE 7, que foi comandado pelo então primeiro-tenente Sadler Simões.

Da sua folha de serviços constam vários louvores e con-decorações, de que se desta-cam duas me-dalhas da Cruz de Guerra de 4.ª e 2.ª Classe, Distintivo Espe-

cial da Cruz de Guerra do DFE-8, Me-dalha Militar da Ordem da Torre e Espa-da, do Valor, Lealdade e Mé ri to com o Grau de Cava-leiro, Distinti-

vo Especial da Ordem da Torre e Espada – Prateado e Medalhas Militares Comemorativas das Campanhas das Forças Arma-das Portuguesas com as Legen-das “Guiné 1963-64-65”, “Mo-çambique 1966-1968” e “Mo-çambique 1971-1972”.O sargento António Ribeiro Pais foi casado com a senhora D. Maria José Proença Pais.O sargento Ribeiro Pais faleceu em Vila da Ponte, sendo sepul-tado no Cemitério de Penso – Sernancelhe.

In Perpetuam Memoriam

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Em 14 Outubro de 1972 – O 2.º S.FZE N.º 6961 António Ribeiro Pais desempenhou toda a comissão as funções de chefe do grupo de assal-to. Militar dotado de excep-cional sentido do dever e de-dicação ao serviço, elevado aprumo militar e qualidades de carácter mereceu sempre o referido sargento a máxi-ma confiança do Comando. Na fase inicial da comissão foi nomeado para frequen-tar um curso de Pisteiros de Combate, tendo merecido da parte dos instrutores e camaradas as melhores refe-rências e obtido as mais al-tas classificações, honrando o nome dos Fuzileiros da sua unidade e da Armada. Após concluir o seu curso imedia-tamente procurou aplicar os conhecimentos obtidos. As-sim, em todas as operações do Distrito de Cabo Delgado em que tomou parte, tornou-se no primeiro homem de coluna, para que era voluntá-rio, procurando por ao servi-

ço da sua Unidade aquilo que lhe tinham ensinado. A sua acção esclarecida e o seu en-tusiasmo estiveram na base da maioria dos êxitos con-seguidos em Cabo Delgado, Moçambique, entre os quais se destaca a operação “BEIRA MAR 2”. Rapidamente con-quistou a inteira confiança do Comando à custa dos conhe-cimentos de Pisteiro e muitas das suas sugestões retiradas de análises do terreno, foram seguidas sem hesitações. Em face do exposto e usando da competência que me confe-re o R.D.Militar, louvo o 2.º Sarg. FZE António Ribeiro Pais pelas suas excepcionais qualidades e virtudes milita-res, reveladas por actos pra-ticados em Campanha, pelos quais deve ser apontado ao respeito e consideração pú-blica. Louvor dado pelo Co-mandante do DFE-7, António Sadler Simões, 1.º Tenente.

De entre os vários louvores, citamos o que deu origem à con-cessão da Medalha Militar da Ordem da Torre e Espada, do Valor, Lealdade e Mérito com o Grau de Cavaleiro, tendo re-cebido a condecoração em cerimónia pública do 10JUN72 em Lisboa.

TORRE-E-ESPADA DE VALOR, LEALDADE E MéRITO

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Precisamente, entre 1974 e 1976, foi comandante do Bata-lhão de Fuzileiros nº 2. Nesse ano de 76, optou pela carreira de Fuzileiros, em detrimento da classe de Marinha. Tinha, então, o posto de capitão-tenente.

Em 1977, é escolhido para co-mandar a Escola de Fuzileiros, cargo em que permanece até 1978. Neste ano, ascende a comandante da Força de Fuzi-leiros do Continente, onde se mantém até 1982.

Neste mesmo ano, vai frequen-tar o curso de Comando Supe-rior em Espanha.

Depois deste curso, será em-possado, ainda em 1982 no cargo de Comandante do Corpo de Fuzileiros, onde permanece-rá dez anos, até 1992.

O comandante Oliveira Mon-teiro foi agraciado com nume-rosas condecorações nacionais e estrangeiras, sendo que a mais destacada lhe foi outor-gada pela sua actividade como oficial fuzileiro combatente na Guiné, como imediato do DFE 9. É, precsiamente, a Medalha de Cruz de Guerra de 1ª Clas-se, cujo agraciamento foi des-poletado pelos louvores dados, respectivamnete, a 16 de Ou-tubro de 1964 pelo comdante-chefe das Forças Armadas da Guiné,, a 7 de Julho de 1975, pelo comandante da Defesa Marítima da Guiné, capitão de mar-e-guerra Ferrer Caeiro, e a 01 de Fevereiro de 1966 pelo mesmo oficial superior da Mari-nha. Tudo em função das suas missões em combate.

Recebeu ainda as seguintes medalhas:

• MedalhadaOrdemMilitardeAvis;

• Medalha de Ouro dos Servi-ços Distintos;

• 2MedalhasdePratadosSer-viços Distintos;

• MedalhadeMéritoMilitarde1ª Classe;

• MedalhadeMéritoMilitarde3ª Classe;

• MedalhadeCruzNavalde2ªClasse;

• MedalhadeComportamentoExemplar – Prata;

• MedalhaComemorativasdasCampanha da Guiné;

• Medalha Comemorativa dasCampanhas de Angola;

• Medalha de AfonsoHenriques;

• MedalhadeMéritoTamanda-ré (Marinha do Brasil);

• Distintivo da Ordem Militarda Torre-e-Espada de Valor, Lealdade e Mérito.

A morte do comandante Olivei-ra Monteiro mereceu as senti-das condolências de camaradas dos seus cursos e de outros que com eles conviveram. Podemos apenas inserir um desses teste-munhos, por razões de espaço.

In Perpetuam Memoriam

No passado dia 20 de Janeiro, faleceu o comandante Francis-co Isidoro Montes de Oliveira Monteiro, que exerceu o cargo de comandante do Corpo de Fu-zileiros, durante 10 anos, preci-samente de 1982 a 1992.

Nascido a 5 de Fevereiro de 1941, Oliveira Monteiro entrou para a Escola Naval em 1958, tendo ali frequentado até 1962 o curso que lhe deu a licencia-tura em Ciências Militares Na-vais, classe de Marinha.

Esteve, depois, cerca de um ano como imediato do Draga Mi-nas Rosário, sendo destacado para tirar o curso de fuzileiros especiais.

Foi como segundo-tenente FZE, que, em 1964 seguiu para a Guiné, como imediato do Des-tacamento de Fuzileiros Espe-ciais nº9, sob o comando do então primeiro-tenente Metelo de Nápoles. Regressou daquela antiga província em 1966.

Nesta missão recebeu vários louvores – adiante referidos - por feitos em combate que o levaram a ser proposto para ser agraciado, entre outras meda-lhas, com a Cruz de Guerra de Primeira Classe

Finda a comissão na Guiné, veio a ser oficial de guarnição da pri-meira fragata Almirante Pereira da Silva, onde exerceu, preci-samente, a função de oficial de navegação entre 1966 e 1969.

Entre 1969 e 1973, veio a ser o comandante de duas Lanchas de Fiscalização.

A primeira, a Corvina, com área de jurisdição na Zona Marítima do Norte até 1971. Depois se-guiu, para uma nova comissão, desta vez, em Angola, a bordo da Cunene, onde permaneceu até 1973.

A partir de 1974, a sua vida mi-litar de carreira esteve sempre ligada aos fuzileiros.

Associação de Fuzileiros | 2010

OLIVEIRA MONTEIRO: Uma carreira dedicada aos Fuzileiros

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23In Perpetuam Memoriam

Associação de Fuzileiros | 2010

Na Guiné, durante o mês de No-vembro de 1965, o DFE 4 fez cinco operações com o DFE 9, num programa chamado de PTB (Período de Treino Básico), e que no fundo constituía o termo da nossa aprendizagem de FZE. Este período foi muito importante para o nosso de-sempenho posterior, pois tive-mos a oportunidade, enquanto periquitos, de fazer activida-de operacional integrados em outra unidade, já calejada nos meandros do combate. Tive-mos como mestres o DFE 9 do Comt. Metelo de Nápoles sendo Imediato o agora meu saudoso amigo Chico Oliveira Monteiro. Vivemos e aprendemos muito durante este período, pois an-dámos sempre em sítios com-plicados, onde os contactos de fogo foram uma constante, e as-sim, logicamente foi-nos dado viver experiências valiosas, que muito nos ajudaram ao longo da comissão que íamos iniciar.

Imaginem o que significava para um grupo de combate de tropas especiais poder “sentir” o IN sem a responsabilidade de decidir o “como fazer”. Eu an-

dava colado ao Chico Montei-ro e o Rui Santos Paiva, Comt. do DFE4, ao lado do Comt. Metelo.

As cinco operações decorreram em duas bacias hidrográficas: três operações no Rio Geba e duas no Rio Cacine.

Foi na operação “Faneca” em 5 Nov. 1965, a primeira vez que alguns de nós no DFE 4, tive-mos o nosso baptismo de fogo, e, logo aí aconteceu o 1º epi-sódio trágico-cómico vivido ao lado do meu amigo Chico Mon-teiro. Desembarcámos de noite na zona de Gâ João, e progre-dimos em direcção à tabanca respectiva. Cerca das 0700h, tivemos o nosso 1º contacto de fogo. Atravessávamos uma zona aberta quando ouvimos a primeira rajada do IN para a testa da coluna. O Chico, eu e a minha ordenança, o Júlio, com-primíamo-nos atrás de um mon-te de baga-baga, tentando ver o que se passava à nossa frente, onde a 3 ou 4 metros seguia a ordenança do Chico Monteiro, o Parafuso. Este, perante o fogo da emboscada, mergulhou num buraco que de tão pequeno, só

lhe tapava e mal a cabeça. Cla-ro que as balas começaram a cair ao lado do “rabo de fora” do Parafuso que estaria prova-velmente convencido que esta-va seguro. Ao ver a cena o meu amigo Chico Monteiro bem gri-tava: - “Parafuso sai daí, abriga-te aqui ao pé de nós!”. Claro que o Parafuso só gritava: “Não vou porque eles estão-me a ver”. E, de facto era verdade, o IN esta-va mesmo a vê-lo, pois as mu-nições não paravam de bater no chão à sua volta.

Como a situação não se altera-va o Chico Monteiro lá teve de sair de trás do monte e puxar o Parafuso para junto de nós, ficando uma amálgama de qua-tro homens que se colavam com força à sombra do montí-culo, que se tornava cada vez mais pequeno para nos tapar a todos.

E assim foi o nosso 1º contac-to de fogo na Guiné, caricato pelas exclamações do Parafuso quando corria perigo de vida e, simultaneamente, grande pela lição de solidariedade que o meu amigo Chico nos deu a

EM MEMÓRIA DO AMIGO FRANcIScO OLIVEIRA MONTEIROpelo comandante carvalho Rosado

Lançamento ao mar das cinzas de Cte Oliveira Monteiro

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24 In Perpetuam Memoriam

Associação de Fuzileiros | 2010

todos. Confirmámos aquilo que tínhamos aprendido no curso na Escola de Fuzileiros, “um por todos e todos por um”.

A história seguinte sucedeu na operação Rasto, na margem sul do Rio Cacine, em 25 Novem-bro 1965, local que naquela al-tura, era dos mais complicados do ponto de vista operacional. Já pela manhã, eu e o Chico Monteiro pisámos, inadvertida-mente, um trilho de formigas gigantes (julgo que seriam ba-ga-baga) e fomos literalmente assaltados pelas ditas feras que entravam pelo nosso camufla-do adentro. A situação tornou-se de tal modo complicada que pura e simplesmente eu e o Chi-co Monteiro tivemos que tirar os camuflados para arrancar as formigas do nosso corpo que ficou com as cabeças dos “car-nívoros” agarradas, enquanto nós, em pelota, ficávamos com o corpo delas entre os nosso dedos. Enfim, num sítio onde o IN era muito forte, ver os segun-dos responsáveis pelos DFE’s em pelota desvairados a caçar formigas sem nos lembrarmos que podíamos literalmente ser apanhados de calças na mão, era um quadro no mínimo de-sesperadamente ridículo.

Por fim lá continuámos a ope-ração, e em dado momento ti-vemos mesmo que atravessar uma clareira, coisa muito peri-gosa, pois não tínhamos possi-bilidade de nos abrigar em caso de emboscada. Infelizmente as-sim aconteceu. Ia a testa da co-luna a meio da referida clareira, quando fomos fortemente em-boscados pelo IN, que estava enfiado connosco e embosca-do na mata, e nos alvejou com RPG’s e tiros de metralhadora. Atiramo-nos todos ao chão e, enquanto tentávamos ver se ninguém estava ferido, aconte-ceu que um T6 que estava per-to de nós, pilotado pelo grande aviador Honório, caiu de asa e largou uma bomba sobre o IN que nos tinha surpreendido, em situação totalmente desfa-vorável para nós. Salvou-nos.

Com este cenário o Chico Mon-teiro deu o grito de retirada para a orla da mata donde tínhamos vindo, ordem que não foi fácil de cumprir, pois acabámos por perder o contacto visual entre nós. Eis senão quando chega o Comt. Metelo e pergunta ao Chico: - “Estão todos ou falta al-gum?”. O meu amigo Chico e eu lá contámos o pessoal e verifi-cámos que faltavam 3 ou 4 ele-mentos, entre eles um guia na-tivo do DFE 9 e um Sarg. do DFE 4, o Lopes Henriques. Reacção imediata do Chefe Metelo (que não hesitava em momentos di-fíceis) dirigindo-se ao Chico e a mim gritou: - “Tudo para a cla-reira e vão buscar os homens que faltam”.

Lá partimos nós rastejando, de-baixo de algumas rajadas espo-rádicas, tentando encontrar os elementos que tinham ficado na clareira, o que aconteceu pouco depois. Os homens apanharam, sem dúvida, um valente susto, e nós sentimos na pele as con-sequências do que uma falta de controle pode provocar em situ-ações de grande pressão. Algo correu mal naquela retirada.

Mais uma lição aprendida e pru-dentemente agarrada na nossa memória.

Mais episódios ainda eu pode-ria contar, e alguns deles bem mais dramáticos, onde sempre sobressaíram as qualidades hu-manas do Chico. Não é agora altura de o fazer. Em algum mo-mento futuro, se Deus permitir, isso acontecerá.

Hoje, 21 de Janeiro 2010, o Chi-co partiu, deixando-nos a todos que com ele partilhámos mo-mentos difíceis, mais pobres e mais tristes.

A sua não presença, em primei-ro lugar sentida pela sua famí-lia próxima, depois pelos ele-mentos do seu DFE, a começar pelo Comt. Metelo de Nápoles, e depois pelos vários fuzileiros do DFE 9 que tive oportunida-de de abraçar no dia do funeral, entre eles, a sua ordenança, o Parafuso, que não conseguia conter as lágrimas que lhe cor-riam pela cara.

Partiu um Homem de Valores, competente, corajoso, solidário e generoso. A sua amizade não será por nós esquecida.

Chico, até sempre, onde quer que tu te encontres... voltare-mos a ver-nos...

A urna do comandante Oliveira Monteiro em câmara ardente

» Continuação da pág. anterior

EM MEMÓRIA DO AMIGO FRANcIScO OLIVEIRA MONTEIRO

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25In Perpetuam Memoriam

Associação de Fuzileiros | 2010

Desde a saída dos dois últimos números da revista “Desem-barque” tivemos conhecimento dos falecimentos de nove ca-maradas, todos sócios da nossa Associação, enviando os nos-sos sinceros pêsames às suas famílias.

Um deles, o Filipe Custódio da Palma, teve de ser apoiado para que tivesse um funeral digno.

Transcrevemos partes de uma

carta que o sócio José João San-tos Sara enviou à Associação de Fuzileiros a este respeito.

“Em meu nome pessoal e do 1º Destacamento de Fuzileiros Especiais (Moçambique 1964-1966), vimos agradecer todo o empenho e diligências que a As-sociação de Fuzileiros, na pes-soa do sr. Sarg. Francisco Egas Soares, secretário da nossa As-sociação, empreendeu para que

o nosso companheiro Filipe Cus-tódio da Palma tivesse um fune-ral digno de alguém que serviu a Pátria, tanto na guerra como na paz”.

Agradecemos, comovidamente, a carta enviada por este sócio e reafirmamos que a nossa Asso-ciação foi criada para servir os Fuzileiros, em particular quan-do eles mais precisam.

Page 26: revista “Desembarque”

26 Missões dos Fuzileiros

O PELBOARD NO cOMBATE À PIRATARIA

SOMALI

As notícias vão chegando, com alguma frequência, sobre o su-cesso da participação da Fraga-ta Côrte-Real (FRAREAL) no com-bate à pirataria marítima ao lar-go da Somália, a qual, desde o início do segundo trimestre de 2009, cumpre a missão de Na-vio-Chefe da SNMG1 (Standing NATO Maritime Group ONE). Permanentemente atribuída à NATO, a SNMG1 é uma Força Naval multinacional que garan-te à Aliança a capacidade de responder rapidamente a situa-ções de crise em qualquer parte do mundo. O Contra-almirante Pereira da Cunha exerceu, des-de 23 de Janeiro de 2009 a 25 de Janeiro de 2010, o Comando desta Força de reacção imedia-ta da NATO.

Os relatos, mais ou menos es-clarecidos, vindos a público pelos diversos meios de comu-nicação social sobre o desem-penho deste navio, referem-se aleatoriamente à intervenção de “uma equipa de Fuzileiros da Côrte-Real”, “militares da Côrte-Real” ou “uma força da Côrte-Real”. Os fuzileiros ali presentes constituem um “Gru-po de Abordagem” do Pelotão de Abordagem (PELBOARD).

Quem são, afinal, estes militares?

Trata-se de um Grupo de Abor-dagem constituído por Fuzilei-ros pertencentes ao Batalhão de Fuzileiros nº1 – PELBOARD – cujo conceito de emprego legal está direccionado para actuação em conjunto e de forma inte-grada, com as Unidades Navais e seus helicópteros, actuando prioritariamente como “Grupo de Segurança”, devendo estar preparado para executar tare-fas de abordagem por meios aéreos e de superfície e para enfrentar situações progressi-vas de ameaça, designadamen-te no âmbito de acções de com-bate a actividades ilícitas, como é exemplo do combate à pirata-ria marítima.

Para atingirem estas capacida-des, os militares do PELBOARD passam por um processo de selecção rigoroso, por acções de formação específicas e por treinos dirigidos muito exigen-tes, atingindo padrões credí-veis de proficiência necessários ao cumprimento de missões a bordo dos Navios de Guerra Portugueses, quer nestas quer noutras operações de interesse nacional.

Aproximando-se, do seu termo, esta missão ao largo da Somália, é justo referir que a capacidade já demonstrada por este “Gru-po de Abordagem” tem contri-buído, também, para o sucesso que o NRP Côrte-Real tem vin-do a alcançar nestas latitudes, registando-se, para o futuro, duas importantes intervenções:

- No final de Abril, impediram um ataque de piratas a um pe-troleiro norueguês com pavi-lhão das Bahamas. Foram pre-sos 19 piratas e a respectiva embarcação, assim como um vasto arsenal, incluindo explo-sivos de grande potência;

- Em 22 de Junho, impediram o sequestro de um cargueiro de Singapura, prendendo 8 pira-tas e a respectiva embarcação, assim como o armamento que transportavam, as escadas e ou-tro material que serviria para o assalto. Como na anterior, esta operação foi de elevado risco ao exigir perseguição e uso de vários métodos para tentar a rendição dos piratas, o que foi conseguido.

Sarg. Almeida

Associação de Fuzileiros | 2010

Equipa PELLBOARD

com equipamento

capturado

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No passado dia 22 de Dezembro de 2009, tomou posse como Co-mandante da Base de Fuzileiros, o CMG FZ Alberto António Ova Correia, em substituição do CMG FZ António da Silva Campos. A cerimónia foi presidida pelo VALM Saldanha Lopes, actual Co-mandante Naval , tendo estado presente o Comandante do Corpo de Fuzileiros, CALM Cortes Picciochi, além de outros Oficiais e convidados

O comandante do Corpo de Fuzi-leiros, almirante Cortes Picciochi, presidiu, a 11 de Fevereiro, à ce-rimónia de rendição do comando da CATT (Companhia de Apoio de Transportes Tácticos), unidade que enquadrará os novos veículos blindados de transportes tácticos, conhecidos por VBLA. O novo comandante desta unida-de, Rodrigues Palma, sucede ao comandante Neves Varela, que ascendeu ao cargo de chefe do Centro de Situação Operacional do Corpo.

BASE DE FUZILEIROS cATT

ESTADO-MAIOR E OPERAÇÕES

No dia 15 de Janeiro de 2010 teve lugar, no Salão Nobre, na Base de Fuzileiros, a cerimónia de tomada de posse do cargo de Chefe do Es-tado-Maior do Comando do Corpo de Fuzileiros pelo CFR FZ Carlos Teixeira Moreira; e a cerimónia de

rendição do cargo de Chefe da Secção de Operações do Estado-Maior do Comando do Corpo de Fuzileiros, tendo sido exonerado o CFR FZ Mário Rui Gomes Tava-res e empossado o CFR FZ Pedro Eduardo Fernandes Fonseca.

27Rendições

Associação de Fuzileiros | 2010

comunicações

& Logística

No dia 04 de Fevereiro de 2010 teve lugar, no Salão No-bre, na Base de Fuzileiros, a cerimónia de tomada de posse do cargo de Chefe do Centro de Comunicações do Coman-do do Corpo de Fuzileiros pelo 2TEN FZ TIAGO JOSé DE JE-SUS GAMEIRO CATELA, e a cerimónia de tomada de posse do cargo de Chefe da Secção de Logística do Estado-Maior do Comando do Corpo de Fu-zileiros pelo CFR SEF Carlos Alberto dos Santos Madureira.

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282.ª Edição

deixando uma especial sauda-ção e um abraço fraterno.

A cerimónia da primeira edição ocorreu a 27 de Junho, estan-do presentes cerca de dois mil participantes (fuzileiros e suas famílias). Do evento fizeram parte um desfile militar e uma cerimónia de confraternização

entre os actuais e antigos fuzi-leiros, que decorreu nas insta-lações da Escola de Fuzileiros. O Museu do Fuzileiro esteve aberto ao público e houve a apresentações várias de equi-pamentos e armamentos milita-res, bom como uma demonstra-ção de cães de guerra.

cONVITE DO cOMANDANTE DO cORPO E DO PRESIDENTE DA ASSOcIAÇÃO

O Desembarque é a revista da Associação de Fuzileiros distri-buída gratuitamente aos seus sócios. No entanto, nada impe-de que a exemplo de outras congéneres, possa também ter os seus assinantes. Para dar satisfação a alguns sócios, que manifestaram inte-resse em se tornarem assinantes do Desembarque. Aqui se dá conta, da primeira lista de subscritores, (1ª Secção de Assalto) contribuindo assim para atenuar os custos da sua impressão e distribuição. O valor anual da assinatura será de 10,00 €. Caso queira fa-zer parte deste grupo solidário, preencha o destacável, (ou use uma fotocópia, se não quiser cortar a revista) e envie para a Associação.

ASSINATURAS

Nome Sócio

Afonso Meneses

dos S. Brandão1277

António Carlos

Ribeiro (Toni)1053

Fernando Garcia

Mendes Costa1772

Francisco Manuel

Neves Jordão1634

José Coelho Coisinhas 147

José Lopes Henriques 938

Júlio Jorge Correia Lopo 1807

Manuel António F. Piteira 1423

Manuel Martins Teixeira 218

Manuel Pires da Silva 513

Mário Henriques Manso 161Oscar da Conceição

Barradas Santos1670

Já assinaram:

Dia do Fuzileiro

No próximo dia 10 de Julho, terá lugar, na Escola de Fuzilei-ros, o “Dia do Fuzileiro”.

Trata-se de um dia onde se pre-tende reunir, na casa-mãe, as antigas e novas gerações.

Uma cerimónia simples, onde a presença de todos lhe em-prestará a dignidade que lhe é devida.

O sucesso do ano anterior serviu de estímulo à sua continuidade. Aprendemos e vamos melhorar o que correu menos bem.

O seu programa, bem como a indicação da forma de confirmar a presença, estarão disponíveis, logo que possível, na página no sítio http://fuzileiros.ma-rinha.pt/CFuzileiros/site/pt e www.associacaofuzileiros.pt

O almirante Cortes Picciochi e o Presidente da direcção da AF fazem este convite, através do Desembarque, endereçado, a tí-tulo pessoal, a cada um de vós,

Associação de Fuzileiros | 2010

Page 29: revista “Desembarque”

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Entre os dias 16 e 17 de Dezem-bro de 2009, uma delegação do Estado-Maior-General das Forças Armadas (EMGFA) e dos três Ramos, Marinha, Exército e Força Aérea visitou as Forças Nacionais Destacadas (FNDs) no Afeganistão. A delegação era chefiada pelo MGEN Martins Ri-beiro do EMGFA e incluía o Co-mandante do Corpo de Fuzilei-ros, CALM Cortes Picciochi, da Marinha, e outros Oficiais repre-sentando o EMGFA, o Exército e a Força Aérea. Encontram-se em missão no Afeganistão 104 militares portugueses dos três Ramos das FAs, dos quais 35 da Marinha, sendo 29 Fuzileiros.Em pouco mais de 24 horas, o Comandante do Corpo de Fuzi-leiros, CALM Cortes Picciochi, teve oportunidade de inteirar-se acerca dos trabalhos que estão a ser realizados pela Equipa de mentores da Operational Men-tor and Liaison Team (OMLT) GSU, que assessoria a Garrison HQ do Corpo de Exército 201 em Pol-e-Charki, pela Equipa de mentores da OMLT KCD, que presta assessoria à Kabul Ca-pital Division (KCD), pelos mili-tares do Destacamento médico português, em serviço em Kaia no Hospital Multinacional ROLE 3 e, pelos militares do Módulo de Apoio, que asseguram ta-

VISITA DO cOMANDANTE DO cORPO DE FUZILEIROS AO AFEGANISTÃO

refas ao nível da manutenção, das comunicações e de Force Protection. Foi um Programa de Visita in-tenso, tendo permitido ao Co-mandante do Corpo de Fuzilei-ros estar com todos os militares Fuzileiros e da Marinha em mis-são no Afeganistão bem como

rotinas e apercebeu-se das difi-culdades, dos riscos e dos desa-fios dos marinheiros que estão em missão, permitindo assim ficar com uma nova perspectiva acerca do que verdadeiramente se faz no Teatro do Afeganis-tão. No final dirigiu algumas palavras de incentivo e apreço a todos os Fuzileiros e militares da Marinha, desejando votos de continuação de uma boa mis-são e de um Bom Ano 2010.Na visita à KCD foi reconhe-cido o trabalho desenvolvido pelos militares portugueses e, os rasgados elogios a Portugal foram uma constante. A KCD é a principal responsável pela se-gurança na cidade e província de Cabul. No Hospital Multinacional ROLE 3, em Kaia, visitou as instala-ções e constatou a importância do Destacamento médico por-tuguês para o bom funciona-mento deste Hospital. Portugal tem o 2º maior contingente em missão, 16 militares dos três

contactar com diversas entida-des da International Security Assistance Force (ISAF/NATO) e do Exército Afegão.

No âmbito deste Programa teve a oportunidade de visitar Camp Warehouse, a KCD e o Hospital Multinacional ROLE 3 em Kaia.

Em Camp Warehouse o Coman-dante do Corpo de Fuzileiros contactou com os militares Fu-zileiros e da Marinha que inte-gram a 4ª OMLT GSU e o Mó-dulo de Apoio. Acompanhou as

Ramos das FAs, dos quais cin-co são da Marinha, prestando apoio permanente em cuidados de saúde aos militares da ISAF, do Exército do Afeganistão e à população carenciada da cida-de de Cabul.

O Programa da Visita da dele-gação culminou com um al-moço em Kaia, onde estiveram presentes os Comandantes das FNDs, onde de seguida foram trocadas algumas lembranças.

Destaque

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Tendo surgido a oportuni-dade, julgamos interessante publicar neste espaço um ar-tigo sobre a MG42 e MG3, pois trata-se duma arma cheia de carisma e comum a várias ge-rações de Fuzileiros...

Introdução 1985 Marca o meu primeiro contacto com uma metralhado-ra MG3, aquando do meu curso de Fuzileiro da Amada Portu-guesa. Desde logo me apercebi que esta arma, mais concreta-mente a MG42, detinha uma elevada mística entre os Fuzi-leiros Especiais que serviram na Guerra Colonial, sendo que a MG42 era tema de conversa assíduo e parte integrante dos combates mais importantes ocorridos naquelas terras. Um ano mais tarde, vi-me na posi-ção de chefe de equipa da me-tralhadora MG3 e nessa posição tive oportunidade para explorar bem o potencial desta arma. Ponderei bastante sobre a tare-fa de escrever um artigo sobre a MG3, pois não obstante o fac-to de a ter carregado às costas por todo o lado e ter disparado milhares de munições, cedo me apercebi das dificuldades que iria encontrar, tal é o historial desta arma.

Contudo, a história desta me-tralhadora que tanto serviu e serve Portugal, merece ser con-tada, tenha embora a consciên-cia que num simples artigo é quase impossível escrever tudo o que devia ser escrito, fica aqui o desafio...

O termo Metralhadora de Uso Polivalente significa que estas armas podem ser empregues numa larga variedade de ce-nários operacionais, nomeada-mente como armas de infanta-ria de elevado ritmo de fogo, montadas em viaturas, meios navais, defesa de instalações militares e ainda como armas anti-aéreas contra aviões a bai-xa altitude.

A MG3 é o último modelo duma longa linhagem de metralhado-

MG42- METRALHADORA DE FUZILEIROS (PARTE-1)

ras alemãs de uso polivalente. Com uma reputação forjada em combate, quando bem operada, esta arma é extremamente fiá-vel, robusta, simples de operar e dotada de um elevadíssimo potencial mortífero, que só en-contra rival nas modernas me-tralhadoras dispondo de canos múltiplos. Escrever sobre a MG3 é escre-ver sobre todos os outros mo-delos de metralhadoras que a antecederam, mas cujo relacio-namento é íntimo, sendo assim obrigatório descrever, ainda que de modo ligeiro, os aconte-

proibida de desenvolver e pro-duzir qualquer tipo de arma de tiro rápido. Contudo, em 1920 os fabricantes de armamento Alemães Rheinmetall-Borsig e Mauser Werke AG, encontraram formas de contornar esta ques-tão, ao deslocalizarem a produ-ção para países como a Áustria e a Suíça. Aí, pesquisas e desen-volvimentos sobre armamentos arrefecidos a ar tiveram como consequência a produção de al-gumas metralhadoras, nomea-damente os modelos Solothurn 1930/MG30, MG15, MG17, MG 131 (estas três ultimas conce-bidas como metralhadoras para aviação), MG151 e a MG34. De todas as metralhadoras conce-bidas até então, a MG34 (apre-sentada em 1934) era a que apresentava o melhor design para servir como metralhadora de uso polivalente, sendo capaz de disparar muitos tiros duran-te longos períodos de tempo, graças à capacidade de trocar rapidamente de cano. Em 1936 e após aprovação das Forças Armadas Alemãs, deu-se início à sua produção em larga esca-la. De imediato a MG 34 foi um enorme sucesso, tendo sido ad-quirida por todos os Ramos das Forças Armadas e Polícia Ale-mã. A infantaria podia disparar a MG34 a partir da utilização de bipés e tripés (e ainda a partir das designadas posições de as-salto). Até ao final da II Grande Guerra a procura por metralha-doras MG34 foi sempre alta, mas a produção não conseguia acompanhar as necessidades bélicas das Forças do Eixo, não somente pela complexidade e morosidade do seu fabrico, mas

Sempre boa companheiraNo ataque era uma feraSempre muito prazenteiraFoi grande amiga na guerra

cimentos históricos e modelos que conduziram ao surgimento da MG3.

A metralhadora MG34 Conforme descrito numa das cláusulas do Tratado de Versail-les (1919), a Alemanha estava

As nossas armas

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também pela perda de tempo gasta em novos acessórios e outros gadgets. Não obstante tratar-se duma arma excepcio-nalmente bem conseguida, as MG4 ao serviço da infantaria eram sensíveis à neve, lamas e outras sujidades as quais pro-vocavam inúmeras falhas de fogo. Foram construídos ainda outros modelos que incluíam a MG34m dispondo dum cano mais pesado (para servir em carros de combate), uma ver-são curta designada por MG34s e a MG34/41 para fogo antiaé-reo. Foram construídas mais de 300.000 metralhadoras MG34.

A metralhadora MG42

Não obstante as excepcionais qualidades da MG34, estas eram muito delicadas para a tarefa e a sua produção muito cara. Então, os engenheiros da Mauser (também já ocupados na produção de metralhadoras MG34 e na não menos famosa pistola-metralhadora MP40) co-meçaram a pensar num modo mais simples para produzir me-tralhadoras, tendo por base a experiência obtida com os mé-todos de produção empregues no fabrico da MP40. Os enge-nheiros de armamento sabiam que alguns dos componentes da MG34 podiam ser melhora-dos e foi desta amálgama que nasceu a MG39/41, a qual, após uma extensa bateria de ensaios e testes altamente sa-tisfatórios, foi rebaptizada com o legendário nome de Maschi-nengewehr 42 ou MG42. O mé-todo de produção das MG42 era tão eficiente que atingiu es-calas de produção nunca antes vistas neste tipo de armamento. O baptismo de fogo da MG42 deu-se em 1942 na Frente Rus-sa e no Norte de África e depois disso “combateu” em todos os teatros de operações, mas sem nunca ter completado o papel para que tinha sido construída ou seja substituir a MG34. Foi naquele conflito mundial que a

características da MG34Calibre ...................................................................... 7.92mm

Comprimento Total ................................................. 1,219mm

Comprimento do Cano ............................................... 627mm

Peso ................................11.5kg com bipé; 29.7kg com tripé

Velocidade à Boca .................................................... 755 m/s

Alcance Máximo Efectivo ............................................. 2000m

Ritmo de Fogo ............................ 800-900 tpm (fogo cíclico)

Alimentação ..................................... Fitas para 50 munições

ou tambor para 75 munições

MG42 alcançou uma tremenda reputação e o respeito de to-dos os combatentes, sendo ain-da hoje recordada por muitos dos veteranos em entrevistas, filmes e documentários como

características da MG42Calibre .......................................................................7.92mm

Comprimento Total .................................................. 1220mm

Comprimento do Cano ............................................... 533mm

Peso: 11.5kg com bipé ............................... 29.7kg com tripé

Velocidade à Boca .................................................... 755 m/s

Alimentação ..................................... Fitas para 50 munições

Alcance Máximo Efectivo ............................................. 2000m

Ritmo de Fogo ................................. 1550 tpm (fogo cíclico)

uma verdadeira “máquina as-

sassina”, cujo som caracterís-

tico produzido pelos disparos

era imediatamente reconheci-

do e mote para grandes preo-

cupações. Nos últimos anos de

guerra, o fabricante Mauser co-

meçou a desenvolver a MG45,

esta última dotada de um ainda

maior ritmo de fogo, mas com o

final da guerra o seu desenvol-

vimento foi abandonado, mas

a MG42 continuaria a servir em

muitos dos actuais exércitos.

Sarg. Fz. Miranda Neto

Agradecemos a contribuição

dos camaradas, com textos

e fotos (se possível) sobre a

MG42, destacando a sua pres-

timosa colaboração nas acções

de combate, durante a Guerra

Colonial.

Ontem e hoje sempre nobreCom todos filhos da escolaUma dádiva em nada pobreQue todos os Fuzos consola

As nossas armas

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TIROPRÁTIcO DESPORTIVO

Passado mais um ano, chega a altura de fazer o balanço das actividades desportivas.Sendo actualmente o nosso maior impacto desportivo as modalidades de Tiro de Recreio e Desportivo, é de real çar que a Secção de Tiro da Associação de Fuzileiros tem vindo a cres-cer e como consequência disso tem vindo a participar cada vez mais em competições dentro das diversas modalidades!A Equipa de Tiro Prático Des-portivo (IPSC) que em 2009 contava com cinco atiradores em competição, efectuou várias provas de nível Nacional e Inter-nacional de Norte a Sul do País, tendo obtido as seguintes clas-sificações individuais a nível de Ranking Nacional na Divisão de Modified: 8º / 9º / 12º / 15º / 38º lugar!A Associação de Fuzileiros es-teve representada com quatro do seus atiradores no Camp. Nacional de IPSC, que se reali-zou em Braga no passado dia 04/05 de Outubro de 2009, prova de grande envergadura que contou com vários atirado-res estrangeiros. Com muita pena, e uma gran-de perda para a Equipa de Tiro de IPSC da nossa associação, o sócio Nuno Arrojado viu-se na necessidade a abandonar a prá-

tica de tiro desportivo por mo-tivos vários!O sócio Nuno Arrojado, porta-dor do Titulo de Mestre Atira-dor emitido pela Federação Por-tuguesa de Tiro, foi a “fonte de ignição” do surgimento do tiro de IPSC na Associação de Fuzi-leiros, foi com ele que demos os primeiros paços dentro da modalidade que até à data nos era desconhecidaValeu-nos a passagem do seu conhecimento como grande ati-rador, para que hoje possamos estar onde estamos e a seguir o caminho que estamos a seguir!A Secção de Tiro da Associação de Fuzileiros, agradece-te toda a tua dedicação e deseja-te um bom futuro pessoal e profissio-nal! O nosso obrigado!Para o ano de 2010, a Equipa de IPSC apresenta-se com dois novos atiradores, passando a fazer-se representar com seis elementos, mas um futuro riso-nho prevê-se devido ao conhe-cido interesse de novos sócios nesta modalidade!É de salientar também, as com-petições em Pistola de AR Com-primido (PAC) e Carabina de Cano Articulado ( CCArt. ), onde a maioria dos nossos atiradores compete e pouco a pouco tem vindo a marcar posição! Actual-mente a Secção de Tiro da Ass. de Fz. tem 17 sócios Federados

em Competições dentro das várias modalidades praticadas a Nível Nacional! Na Área de Actividades de Ar Livre, temos previsto a realiza-ção de passeios pedestres na Serra da Arrábida e Serra de São Luís ao longo do ano que estarão brevemente disponí-veis com as respectivas datas no nosso Site na Internet .As Cartas de Campista e de Montanheiro, já se encontram disponíveis para levantamento na Sede da Ass. de Fz., bem como a aceitação de novas inscrições!Relembro que ser-se portador da Carta de Campista permi-te-nos aceder aos parques de Campismo da Federação com condições e preços bastante convidativos A Secção Desportiva, continua a procurar Sócios Efectivos que tenham vontade e disponibili-dade para dar vida e coordenar novas secções como é o caso do BTT, Orientação Desportiva, entre outras!Quem se sentir a vontade nes-tas áreas, não exite em contac-tar a nossa Associação que ne-cessita de se tornar mais activa desportivamente e que para o qual somos todos necessários!Saudações desportivas,

Espada Pereira

Desporto

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No passado dia 20 de Fevereiro de 2010, a Equipa de Tiro Dinâ-mico ( IPSC) da Associação de Fuzileiros deslocou-se a Tavira no Algarve para realizar a 1ª prova de tiro de 2010, tendo sido ela o “OPEN de IPSC da Ci-dade de Tavira 2010 “.

Com as nuvens a ameaçar tor-nar a prova num verdadeiro “teatro anfíbio”, lá se iniciou as competições ás 14.00h. Com o

total de oito pistas e com uma qualidade e nível de dificuldade bastante boa, a prova realizou-se num ambiente de grande desportivismo e convívio entre os atletas dos vários clubes Na-cionais e Estrangeiros que esti-veram presentes!

Apesar de alguns dos atirado-res já terem concluído a prova de noite e terem sido um pou-co penalizados por isso a nível

de resultados finais, podemos concluir que foi uma prova bas-tante boa a nível geral!

Na Divisão de Modified em que a nossa equipa competiu, obti-vemos como resultados finais o 4º,5º, 8º,9º, 10º 11º lugares!

Está previsto a próxima compe-tição para 29/30 de Maio, que será o Campeonato Regional Sul a realizar-se também em Tavira!

EQUIPA DE TIRO DINÂMIcO EM TAVIRA

Desporto

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34 Opinião

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No relatório do General Pereira de Eça, Comandante em Chefe das forças expedicionárias por-tuguesas que combateram no sul de Angola em 1914-1915, durante a primeira guerra mun-dial e nas quais estava inte-grado o batalhão de Marinha, lêem-se as seguintes palavras a propósito do desempenho des-tes antepassados recentes dos actuais Fuzileiros:

“Todas as unidades cumpriram o seu dever de forma a justificar o grande orgulho que sinto em tê-las comandado; porém, julgo merecedor de especial menção do batalhão de Marinha. Esta unidade mostrou sempre a maior correcção, a nítida com-preensão dos seus deveres cívi-cos e militares tanto no perío-do que antecedeu às operações como durante as operações.

Foi sem o menor exagero uma unidade de elite, cuja têmpera fica definida dizendo que foi a mais resistente nas marchas, a mais esforçada nos combates, e durante os quatro dias em que, na Mongua, estivemos re-duzidos a um quarto de ração, as suas sentinelas chegaram a cair de fraqueza nos respec-tivos postos, sendo imediata-mente rendidas sem que disso o comando superior tivesse co-nhecimento, pois essa unidade sabia bem que esse comando nada podia fazer que modifi-casse de pronto a situação.”

No mesmo relatório, o General Pereira de Eça elogia também o inimigo, “como é de justiça”, e com uma notável elegância de carácter, refere-se a este como um “adversário cuja bravura foi inexcedível”. Resta ainda acres-centar que, em contraste com o que acontecera durante as mis-sões de pacificação dos finais do século XIX, este inimigo se encontrava bem armado e trei-nado pelos nossos opositores no conflito.

Entre os oficiais que integravam o batalhão de Marinha figura-vam o então 1º Tenente Afonso Cerqueira, figura emblemática e referencial de Oficial de Mari-

nha, protagonista de inúmeros actos tanto de bravura como de altruísmo, cujo nome se encon-tra hoje atribuído à nossa cor-veta F488, e outros dois heróis navais o então 2º Tenente Car-valho Araújo mais tarde morto em combate já como 1º Tenen-te, no comando do caça minas “Augusto de Castilho” durante o valoroso combate desigual contra um submarino alemão ainda durante a primeira guer-ra mundial, e o 1º Tenente Raul Cascais também posteriormen-te morto durante o mesmo conflito, quando comandava o caça minas “Roberto Ivens” que embateu numa mina inimiga ao largo de Cascais. Os uniformes no batalhão de Marinha corres-pondiam ao padrão cinzento característico dos corpos expe-dicionários da época. No entan-to, as praças assumiam ainda assim o atavio de nele conser-varem o alcache, que lhes con-feria identidade e garbo.Releio as palavras do General Pereira de Eça com a mesma emoção que senti quando as li pela primeira vez! Pois do exemplo e do valor do batalhão de Marinha, onde os actuais Fu-zileiros se revêem sem dúvida mediante episódios de algum modo semelhantes, transpare-ce um espírito sublime e intem-poral da alma militar, que lhe acrescenta a capacidade colec-tiva para as mais prodigiosas e arrebatadoras realizações hu-manas. O espírito de corpo. Obviamente que o espírito de corpo tem de coexistir neces-sariamente com outras virtudes importantes tanto individuais como colectivas, como a boa formação humana, o entendi-mento, a honestidade, a cama-radagem ou a lealdade, mas é este que cimenta a coesão do grupo e que lhe confere a ca-pacidade de se articular como uma equipa eficiente, capaz de atingir objectivos. Trata-se de um forte denominador comum que produz confiança porque cada elemento se encontra disponível para se colocar ao serviço do grupo e sabe que

pode contar com ele também. Produz respeito sincero e con-fiança, alicerçados em relações de admiração recíprocas que atenuam os eventuais atritos, tanto interpessoais como en-tre a hierarquia, partilhando-se naturalmente o conhecimento e a consciência das coisas ou seja, geram-se sinergias que acrescentam eficiência, porque produzem economia de tempo e de esforço, logo, muito me-nor desgaste. Eleva também o moral e produz boa disposição, condição essencial para o su-cesso de qualquer grupo, por-que lhe permite recuperar me-lhor nas adversidades e porque se multiplica com os êxitos.É pena que este admirável es-pírito, não se alargue também a outras áreas da convivência humana como instrumento de suporte, acima de tudo para a justa solução dos problemas sociais onde as dissonâncias e as assimetrias se instalam com frequência, ao ponto de corta-rem a comunicação vital e de criarem mentalidades individu-alistas, essencialmente egocen-tristas, egoístas e estéreis. Aqui fica pois a minha modes-ta mas sentida homenagem às forças expedicionárias portu-guesas que combateram no sul de Angola em 1914-1915 com uma especial deferência para os bravos do batalhão de Marinha, esses notáveis antepassados de todos os nossos Fuzileiros.

Comte António Ribeiro RamosSócio Simpatizante nº 1053

O ESPÍRITO DE cORPO

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35Fuzo-Poesia

Partistes sem ter idade E tinhas muito para viver Eras duro de verdade Mas não conseguiste sobreviver

Se houver para lá da vida Um paraíso para recordar Vou pedir a Jesus Cristo Para de novo nos juntar

Eras um homem com bravura Não escolhias os momentos Não dispensavas ternura Eras o LAJE, o oitocentos

Foram oito anos contigo Aturei-te por querer Foste sempre meu amigo Mas não te pude valer

Não fugias ao momento Não te fazias manhoso Fizesse chuva ou vento Assoavas qualquer ranhoso

Fica a minha homenagem A um Fuzileiro Especial Continuas em romagem Como tu não houve igual

Partistes muito antes da hora Mesmo assim deixaste história Valores que não deito fora Homenageando tua memória

O meu nome soletraste Pouco antes da partida Depois sei que choraste De seguida perdeste a vida

Por tudo quanto te marque No apoio aos coitadinhos Debitou para o Desembarque O teu amigo Matosinhos

João Lopes Martins Fuzileiro Especial, 6931

“O Matosinhos

DOIS AMIGOS DE VERDADE EM ÁGUAS DO MESMO LEITO LIGADOS PELA LEALDADE DUPLA DE GRANDE RESPEITO

A MINHA HOMENAGEM

Cabo FZELage

(Oitocentos)

Cabo FZEMartins

Matosinhos

Informa-se que no dia 8 de Maio se vai rea lizar, na Quinta Valenciana, um almoço convívio abri-lhantado com música, que tem como objectivo angariar fundos para que Sabadino Portugal possa ir a Moçambique visitar a família, e a ter-ra onde nasceu. E até mesmo, iniciar por lá a sua vida. O preço por adulto será de 20,00 €. A Associação de Fuzileiros dispõe-se colaborar com a aceitação das inscrições e informações aos associados e demais interessados.É caricato e incompreensível que uma pessoa, passados mais de quarenta anos de ter nasci-do em território Português – e sem nunca dele ter saído! – até à data, ainda lhe seja negado o aces-so ao trabalho, por não ter bilhete de identidade. Documento, que lhe tem vindo a ser negado, pe-las muitas dificuldades burocráticas com que as autoridades o confrontam, e a todos quantos se propuseram ajudá-lo, “que têm sido os seus pro-tectores, de várias décadas, desde a data em que foi poupado e protegido, nas matas de Moçambi-que”. Infelizmente que o Sabadino Portugal não é futebolista, ou estrangeiro, porque seria, num mês, cidadão nacional de plenos direitos. Qual-quer cidadão se sentirá incomodado com o inex-plicável desta história, porque ela ultrapassa tudo quanto é razoável. Servirá pelo menos, para que se compreenda muitas das angústias dos nossos semelhantes que se têm de confrontar, quantas vezes também, com incongruências duma máqui-na ferrugenta da administração Pública, que nada contribui para o progresso e humanização.

Mário Manso

SABADINO PORTUGAL

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