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Revista do Grémio das Empresas de Conservação e Restauro do Património Arquitectónico Ano V – N.º 18 Abril/Maio/Junho 2003 – Publicação trimestral – Preço e 4,48 (IVA incluído) e património construído e património construído Água Água

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Revista do Grémio das Empresas de Conservação e Restauro do Património Arquitectónico

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Pedra & Cal n.º 18 Abril . Maio . Junho 2003

Tema de Capa:

Reconhecida pelo Ministério daCultura como “publicação de ma-nifesto interesse cultural”, ao abri-go da Lei do Mecenato.

N.º 18 - Abril/Maio/Junho 2003Propriedade e edição: GECoRPA – Grémio das Empresas deConservação e Restauro do PatrimónioArquitectónicoRua Pedro Nunes, n.º 27, 1.º Esq.º1050 - 170 LisboaTel.: 213 542 336, Fax: 213 157 996http://www.gecorpa.ptE-mail: [email protected]: 503 980 820Director: Vítor Cóias e SilvaCoordenação: Leonor SilvaConselho redactorial: João Appleton, JoãoMascarenhas Mateus, José Aguiar, Teresa deCampos Coelho Secretariado: Elsa FonsecaColaboram neste número: Amélia Dionísio, Miguel Brito Correia,Carlos Mesquita, Carlos Sá Nogueira,Clementino Amaro, Helena Azevedo, Helena Gonçalves Pinto, João Appleton, João Massano, João Varandas, Jorge Custódio,Jorge Mangorrinha, José Maria Lobo deCarvalho, Luís Aires-Barros, Luís MesquitaDavid, Maria João Basto, Nuno TeotónioPereira, Pedro Tavares, Raul Fontes Vital,Teresa de Campos Coelho, Vítor Cóias e Silva. Design gráfico e produção:Loja da ImagemRua Poeta Bocage, n.º 13 – B 1600-581 LisboaTel.: 210 109 100, Fax: 210 109 199E-mail: [email protected]:Loja da ImagemRua Poeta Bocage, n.º 13 – B 1600-581 LisboaTel.: 210 109 100, Fax: 210 109 199E-mail: [email protected] Impressão: Onda Grafe – Artes Gráficas, Ld.ªRua da Serra, n.º 1 – A-das-Lebres 2670-791 S.to. Antão do TojalDistribuição: Distribuidora Bertrand

Depósito legal: 128444/98Registo na DGCS: 122548Tiragem: 2000 exemplaresPeriodicidade: Trimestral

Os textos assinados são da exclusiva responsabili-dade dos seus autores, pelo que as opiniões expres-sas podem não coincidir com as do GECoRPA.

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Ficha Técnica

43e-pedra e calÁgua na Internet: por mares nunca dantes navegados(José Maria Lobo de Carvalho)

40PATRIMÓNIO INDUSTRIALA água industrialAs nascentes do Alviela em Lisboa e a Estação Elevatória dos Barbadinhos a vapor(Jorge Custódio)

18CASO DE ESTUDO

Gestão das águas pluviais urbanas: passado, presente e desafios para o séc. XXI

(Luís Mesquita David)

20

PROJECTOS & ESTALEIROSPontes históricas

(João Varandas)

29PROJECTOS & ESTALEIROSEscola 88 no Bairro Alto(Carlos Sá Nogueira)

35DIVULGAÇÃO1.ª Edição da feira internacional do património histórico 2003

36AS LEIS DO PATRIMÓNIOA inegável realidade de Portugal como país de imigração(João Massano)

38NOTÍCIAS

2EDITORIAL

4MEMÓRIAS

Aqueduto das Águas Livres e o abastecimento de água a Lisboa

(Teresa de Campos Coelho)

10

12

14CASO DE ESTUDO

Águas de Alfamadois milénios de fruição

(Clementino Amaro)

16CASO DE ESTUDOA água em Alcobaça

(Pedro Tavares)

6ENTREVISTA

Prof. Leonel Fadigas "A água é a questão central

do ordenamento do território"

34DIVULGAÇÃOCaldas da Rainha comemora o Ano da Água

32NOTAS HISTÓRICASO caminho das águas livres(Raul Fontes Vital)

CASO DE ESTUDOA água e a Baixa Pombalina

(João Appleton)

24OPINIÃO

O património das termas(Helena Gonçalves Pinto e Jorge Mangorrinha)

26

28

TECNOLOGIASReabilitação na barragem do Picote

(Carlos Mesquita)

ENTREVISTAEng.º Matias Ramos

"Como gerir bem um bem escasso"

44AGENDA

45VIDA ASSOCIATIVA

46LIVRARIA

49ASSOCIADOS GECoRPA

52PERSPECTIVASReabilitação do parque habitacionalpara além das boas intenções?(Nuno Teotónio Pereira)

Buvette na casa da copa do Hospital Termal das Caldas da Rainha. Foto de Joaquim António Silva, cedida pela C.M. das Caldas da Rainha.

Capa

Água e património construído

CASO DE ESTUDO A água e o património cultural construído:O Hospital Termal das Caldas da Rainha

(Amélia Dionísio, Luís Aires-Barros, Maria João Basto)

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Pedra & Cal n.º 18 Abril . Maio . Junho 20032

EDITORIAL

Quem não experimentou já, ao abrir a torneira da sua casa, a angústia provocada pela ausência deágua? Elemento essencial de vida, a simbólica da água persiste, até hoje, no imaginário colectivo pe-lo que, desde tempos remotos, o espírito humano se tem ocupado com o desenvolvimento técnicodos mecanismos que tragam o seu abastecimento (e consequente conforto) às populações. Isto expli-ca a importância que para os romanos tinha, a par da construção de aquedutos, a construção de ter-mas públicas: elemento privilegiado de propaganda estatal ou privada, faziam parte das vantagensda vida urbana – commoda – pondo ao serviço da plebe os prazeres que só os ricos podiam usufruirnas suas domus ou villae. Segundo Cícero, o gongo que diariamente anunciava a abertura dos banhospúblicos era mais doce do que a voz dos filósofos da sua escola.Tendo gerado, ao longo dos tempos, construções que fazem parte de um imenso património arqui-tectónico, a gestão da água enquanto recurso natural só pode ser considerada, hoje, como um instru-mento fundamental de planeamento. Escreveu recentemente o arquitecto Leonel Fadigas: "O conhe-cimento do modo como a água se move e armazena no terreno, como percorre os acidentesgeográficos, encostas e vales, como se reparte pelas linhas de cumeada e como recarrega aquíferose lençóis subterrâneos e forma zonas alagadas, constitui uma informação essencial para o planea-mento do uso e ocupação do solo.(...) Falar da importância da água na paisagem é mais do que apro-fundar a relação poética que lhe está associada e o simbolismo que a acompanha como fonte de vi-da" (2). Esta afirmação não pode ser mais oportuna se pensarmos na actualíssima polémica em torno daconstrução ou demolição de barragens, ou na problemática que envolve hoje a Baixa Pombalina.Estando a decorrer o Ano Internacional da Água Doce, nunca será demais lembrar que o patrimóniode um país se avalia, também, pelo modo como são geridos os seus recursos hídricos.

(1) Tradução nossa. (2) "A água, a paisagem e o desordenamento do território", in Arquitectura e Vida, n.º 35, Fevereiro de 2003, p.16.

um património essencial

Teresa de CamposCoelho,

Água,"As significações simbólicas da água podem reduzir-se a três temas dominantes: fonte de vida,meio de purificação, fonte de regeneração. Estes três temas encontram-se nas tradições maisantigas formando, simultaneamente, as combinações imaginárias mais variadas e coerentes."In Dictionnaire des symboles, Éditions Robert Laffont S. A., Paris: 1982, p. 375 (1).

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Pedra & Cal n.º 18 Abril . Maio . Junho 2003 3

GECoRPA

Quadro de Honra

Do número apreciável de empresas que têm manifestado interesse na conservação do patrimónioarquitectónico português e nas actividades do GECoRPA, foi seleccionado um grupo restrito depatrocinadores da revista Pedra & Cal.Para distinguir essas empresas, particularmente empenhadas no sucesso da revista, foi criado opresente Quadro de Honra.

A Direcção do GECoRPA

Gabinete Técnico de Engenharia, Ld.aConservação e Restauro do

Património Arquitectónico, Ld.a

Diagnóstico, Levantamento e Controlo deQualidade de Estruturas e Fundações, Ld.a

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Em 1571 escrevia Francisco d’Holanda a El--Rei D. Sebastião "E Lisboa, onde todos be-bem água, não tem mais que um estreito cha-fariz para toda a gente, e outro para os cava-los (…) E deve de trazer a Lisboa Água Livreque de duas léguas dela trouxeram os Ro-manos a ela, por condutos, debaixo da terrasubterrâneos, furando muitos montes e commuito gasto e trabalho, não sendo Lisboasua (…) E ganhe Vossa Alteza esta honra defazer este benefício a Lisboa (ou lho faça fa-zer) de restituir esta fonte de Água Livre,que assim se chama, a esta cidade que mor-re de sede, e não lhe dão água" (1). Holandaapresenta a primeira grande crítica urbana aLisboa, embora não abandonando nunca al-gumas das características das descriçõesque dela se fizeram em Quinhentos. Apesar

das múltiplas nascentes nelas referidas(2) , oabastecimento de água à cidade era umapreocupação já antiga que merecera, ao lon-go dos séculos, a atenção dos seus gover-nantes, patente na construção de um aque-duto pelos romanos, referido no relatórioelaborado por Pedro Nunes Tinoco em1618(3) (e que, de acordo com o testemunhodo geólogo Carlos Ribeiro datado de 1879,se situava um pouco mais abaixo que o ac-tual, conduzindo a Lisboa água de uma bar-ragem situada em Carenque), e nos esforçosempreendidos por monarcas como D. JoãoII, D. Manuel e D. João III(4) . Talvez por in-fluência de Holanda, D. Sebastião preocu-par-se-ia com o estudo do modo de trazer aágua a Lisboa, de acordo com a carta que en-viara à câmara em 3 de Março de 1574 (na

qual se fala já num imposto a cobrar à popu-lação dando origem, mais tarde, ao real deágua), tendo sido nomeado Nicolau de Friasmestre das Obras da Cidade para esse traba-lho (que continuaria no tempo de Filipe II),segundo certidão passada pelo mesmo, da-tada de 23 de Junho de 1588(5) . Os estudosprolongar-se-iam pelo 1.º quartel do séc.XVII, neles trabalhando Leonardo Turria-no, Teodósio de Frias, André Moreri e o já ci-tado Pedro Nunes Tinoco. Tentava-se le-var a água a S. Roque e, consequentemente,às novas áreas de expansão da cidade, e sóquestões de ordem política e financeira te-rão obstado à construção do aqueduto. De iniciativa pública ou privada, novas ten-tativas para resolução do problema terão si-do feitas já em finais desse século: em 1688Mateus do Couto concluía ser o caudal dasÁguas Livres insuficiente para o abasteci-mento da cidade, ano em que surgia umaproposta feita por António de Miranda, aque se seguiram a de Teófilo Dupineaud ede António Júlio de La Pomaré, em 1700 e1728, respectivamente. Após um período de consultas à Câmara deLisboa (iniciadas em 19 de Julho de 1719, eretomadas uma década mais tarde), só em 12de Maio de 1731 D. João V assinaria o alvarádando autorização para o início da obra deconstrução do aqueduto. O atraso ter-se-ádado devido a problemas entre o monarca eo senado relacionados com a jurisdição damesma, mas também a problemas de ordemtécnica, uma vez que engenheiros e arquitec-tos nem sempre terão concordado nas reso-luções a tomar, o que conduziria a sucessi-vas conferências e direcções. Com efeito, na

MEMÓRIAS

Pedra & Cal n.º 18 Abril . Maio . Junho 20034

O Aqueduto das Águas Livres e o abastecimento de água a Lisboa

Tema de Capa

Aqueduto das Águas Livres, início do séc. XX.

Esta grandiosa obra do séc. XVIII representa, ainda hoje, uma das imagens de maior impacte no per-fil da cidade, sendo testemunho do nível técnico dos engenheiros, arquitectos e construtores que ne-la tomaram parte.

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MEMÓRIAS

5Pedra & Cal n.º 18 Abril . Maio . Junho 2003

primeira vistoria efectuada em 30 de Janeirode 1730, Cannevari discordaria dos outrostécnicos (6) quanto às medições de água efec-tuadas, o que se devia à utilização de méto-dos diferentes de medição entre o italiano e aequipa de portugueses. Os estudos prepara-tórios terão prosseguido sob orientação deManuel da Maia, não deixando de constituirsurpresa a nomeação, em 1731, de Canneva-ri como director da obra, o que aumentaria,ainda mais, a confusão sobre algumas dasdecisões a tomar, nomeadamente no que dizrespeito aos materiais utilizados na canaliza-ção, defendendo Manuel da Maia a sua cons-trução em pedra (como viria a ser aprova-da)(7). Afastado Cannevari da direcção em1732, esta seria assegurada por Manuel daMaia (a quem cabia a delineação da plantado troço do outro lado da ribeira de Alcânta-ra), Manuel de Azevedo Fortes (engenheiro--mor do reino) e Joseph da Silva Pais, ficandocomo responsáveis pela medição da obra osarquitectos Custódio Vieira, João BaptistaBarros e o medidor das obras do Paço, PedroRamalho. Custódio Vieira asseguraria maistarde, entre 1737 e 1744, a direcção da obra,completando o projecto de Manuel da Maiae oferecendo como alternativa à propostadeste (que defendia que se contornasse o va-le de Alcântara, furando o monte de Campo-lide) a travessia da ribeira. Escolhido o planode Custódio Vieira para este troço, começa-riam, em 1740, os trabalhos sobre a ribeira.Percorrendo um total de 14 quilómetros en-tre a Mãe de Água Velha, da autoria de Ma-nuel da Maia, e a Mãe de Água Nova, esta jáde Carlos Mardel (sucessor de CustódioVieira na direcção técnica da obra, seria o au-tor também, das Torres Lanternas que o en-cimam, do reservatório das Amoreiras e damaior parte dos desenhos para os chafari-zes), o aqueduto é composto por um total de35 arcos, 14 dos quais em ogiva, escolha de

Custódio Vieira, algo polémica, violenta-mente criticada após a sua morte por Ludo-vice (por questões de ordem estética), e pelodirector da obra Claudio Gorgel, em 1745,por causa do custo da obra, a propósito daescolha do plano de Custódio Vieira em de-trimento do de Manuel da Maia, referindo"que se tem despendido tam grande cabedalque só no ferro para segurança dos arcos, pel-la sua grande altura, passou a despeza de 200mil cruzados"(5). Abastecendo a parte Oci-dental da cidade, em especial as zonas paraque se previam obras de maior importância(construção do palácio real a S. João dos BemCasados), o aqueduto "permitiu a chegada aLisboa de um caudal de 1860 metros cúbicosna estiagem, que conseguiram ser aumenta-dos para 2480 pela entrada em funciona-mento destes dois troços oitocentistas"(9) . Em-bora inicialmente se destinasse apenas aabastecimento público, uma vez que tinhasido pago pelo imposto cobrado à popula-ção, o real de água, em breve passaria a abas-tecer também privados, obrigando a sucessi-vas alterações no seu abastecimento até aoséc. XIX, de acordo com as necessidades deuma população cada vez mais numerosa.Resistindo ao terramoto (ao que não foialheio todo o cuidado posto por CustódioVieira na quantidade de ferro utilizada nasua construção), esta grandiosa obra doséc. XVIII representa, ainda hoje, uma dasimagens de maior impacte no perfil da ci-dade, sendo testemunho, também, do ní-vel técnico dos engenheiros, arquitectos econstrutores que nela tomaram parte, for-necendo a mão-de-obra especializada pa-ra aquele que iria ser o maior desafio im-posto a Lisboa: o da sua reconstrução apóso grande sismo de 1755.

(1) Da Fabrica que Falece à Cidade de Lis-boa, Cap. VI "Da Água Livre", tradução e no-

tas de José da Felicidade Alves, Livros Hori-zonte, Colecção Cidade de Lisboa n.º 3, Lisboa,1984, pp. 14 e 15. (2) Muito curiosa é a descrição das águas da cida-de e sugestões dadas por João Brandão de Buar-cos em 1552 referindo, mesmo, os projectos queos vereadores da câmara tinham para aproveita-mento das águas do Chafariz dos Cavalos, e pro-pondo um chafariz para o Terreiro do Paço. InGrandeza e Abastança de Lisboa em 1552,organização e notas de José da Felicidade Alves,Livros Horizonte, Colecção Cidade de Lisboa n.º10, Lisboa, 1990, pp. 103 a 106.(3) Roteiro da Ágoa Livre, Bib. Nacional, Cód. 427.(4) Sobre esta problemática, veja-se o que escreveJosé da Felicidade Alves in Da Fabrica que Fa-lece à Cidade de Lisboa, op. cit., notas ao Cap.VI, pp. 85 a 90.(5) SOUSA VITERBO, Dicionário Históricoe Documental dos Arquitectos, Engenhei-ros e Construtores Portugueses, Vol. I,1899, Edição Fac-Símile, Imprensa NacionalCasa da Moeda, Lisboa, 1988, p. 382.(6) Manuel de Azevedo Fortes, Manuel da Maia,Joseph da Silva Pais, Custódio da Silva Serra e opadre Fr. Domingos de S. João Baptista.(7) Para o problema da construção e gestão da obrado aqueduto consulte-se D. João V e o abaste-cimento de Água a Lisboa (catálogo de expo-sição), 2 vols., Câmara Municipal de Lisboa,1990, e o excelente trabalho de Joaquim OliveiraCaetano “O Aqueduto das Águas Livres” in OLivro de Lisboa, coordenação de Irisalva Moi-ta, Livros Horizonte, Lisboa, 1994, pp. 293 a 312.(8) CAETANO, Joaquim Oliveira, op. cit, p. 306.(9) Ibidem, p. 294. Como refere, os troços citadossão o aqueduto das Francesas e o da Mata, já so-bre administração da I Companhia das Águas.

Tema de Capa

TERESA DE CAMPOS COELHO,Arquitecta e Investigadora.

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ENTREVISTA

Pedra & Cal n.º 18 Abril . Maio . Junho 2003

Tema de Capa

Pedra & Cal – A maneira como o Homemtem vindo a intervir na Natureza tem modi-ficado o próprio ciclo da água. Quais os prin-cipais problemas que podem daí advir?Leonel Fadigas – A água cai do céu! E, talvezpor isso, não há muito a noção de que é umrecurso escasso. Mas é! E, pior, muitas vezesexiste mas não tem qualidade. Nesses casos,seria até preferível que não existisse. Esta éuma realidade que tem a vertanto com a águapara a agricultura como para uso doméstico. Por outro lado, é um recurso cuja disponibili-dade é irregular; e o facto de termos muitachuva em determinadas épocas do ano nãosignifica muita água, porque quando esta"vem do céu demasiado depressa", por nor-ma, não é retida. É água que se perde e queacelera os factores de risco ambiental: inun-dações, destruição de bens e transformaçãodo próprio território. Veja-se, por exemplo, oque aconteceu este ano com a estrada de Ar-mamar: desapareceu devido a uma pertur-bação do percurso da água na paisagem. To-me-se atenção às cheias periódicas emÁgueda; aos deslizamentos de terras emTrás-os-Montes… Catástrofes que, não rarasvezes, acontecem porque a ocupação do ter-

ritório não respeita o percurso da água. De-pois, há também o problema das contami-nações: são os parques de sucatas com as contaminações metálicas; é a contaminaçãoagrícola por excessiva utilização de produtosquímicos; o não tratamento de esgotos, etc.No fundo, o problema central da água é o dagestão do seu percurso, em termos da condu-ção e do armazenamento. Nós temos de gerira água como um recurso reutilizável. P&C – É então também um problema de or-denamento? LF – De ordenamento não só da água em si,mas do território onde ela circula, onde se de-posita, se armazena e para onde se devolve.P&C – O que está a ser feito rumo a essa "boagestão" dos recursos hídricos?LF – Algumas coisas… O cuidado que aEPAL tem ao nível da captação, armazena-mento, tratamento da água e reutilização daslamas, é um dos casos; o Parque Natural daSerras d’Aire e Candeeiros (PNSAC) encon-tra-se a desenvolver um trabalho notávelcom a água daquela zona, que está muitocontaminada pelos resíduos das suinicultu-ras; há igualmente alguns esforços na recu-peração de zonas ribeirinhas para garantir a

fluidez da água em período de cheia. O factode termos os leitos de cheia classificados co-mo reserva ecológica nacional, e de isso serum factor condicionante da sua ocupação, épositivo – embora não resolva, muitas vezes,a circunstância de já estarem ocupados. En-fim, ainda que por mais não seja, por efeitode algumas tragédias que têm acontecido, háo reconhecimento de que é preciso fazerqualquer coisa neste sentido e há sinais deuma preocupação que é crescente.P&C – E é suficiente?LF – A consciencialização sendo um primei-ro passo, é essencial. Por exemplo, nunca se discutiu tanto comoeste ano a questão do sistema das águas sub-terrâneas em Lisboa. O que até levou a câma-ra municipal a fazer um protocolo com oLNEC para o estudo dessa situação, que sem-pre existiu mas que era entendido apenas co-mo um problema da engenharia. E a circula-ção da água é mais do que isso.Hoje, podemos considerar que a gestão daágua é a questão central do ordenamento doterritório. Se o séc. XX foi o do petróleo, o séc.XXI será o da água. P&C – Quais as possíveis consequências pa-

6

Professor Leonel Fadigas

é a questão central do ordenamento do território""A água

Arquitecto paisagista, profes-sor da Faculdade de Arquitec-tura da Universidade Técnicade Lisboa, Leonel Fadigas fala àPedra & Cal da água e do papelvital que este recurso – escassoe de disponibilidade irregular –tem na gestão e ordenamentodo território. Um papel tantasvezes subestimado! Curiosa-mente, é também ele o homemdo Plano Estratégico das Cal-das da Rainha: uma cidade quegravita em volta da água.

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ra o futuro de uma má gestão deste recurso?LF – Sem água não há vida e essa é a conse-quência última! Se consciencializarmos isto,percebemos que estamos a pagar a água mui-to barata: pagamos por um garrafão de cincolitros de água de mesa aquilo que pagamospor um ou dois cafés! Não é possível que ometro cúbico de água da EPAL custe o mes-mo que um maço de tabaco! Este é um bemessencial, escasso, cuja disponibilidade nosleva a custos crescentes e a captação e trata-mento da água obriga a esforços e investi-mentos muito grandes para que possa serdistribuída com qualidade.P&C – Até que ponto a má gestão dos recur-sos hídricos pode afectar, para além do am-biente, o património construído?LF – Veja a Baixa Pombalina. É um patrimó-nio único que depende da água. Se não hou-ver água no subsolo da Baixa, não há Baixaque se conserve. Ela está assente em estacariade madeira, que se mantém sólida e incor-ruptível por se encontrar debaixo de água. Sealterarmos o sistema hídrico da Baixa – im-pedindo que a água que desce o vale da Ave-nida da Liberdade e o vale da Almirante Reisaflua à Baixa –, as cabeças da estacaria de ma-deira entram em colapso. É o exemplo maisevidente de um património que dependeprofundamente deste bem.Esquecemo-nos que há um sítio em Lisboaque se chama Regueirão dos Anjos, e issoquer dizer alguma coisa; que há um sítio quese chama Arroios e arroio quer dizer riacho;que areeiro significa zona de infiltração; queos Restauradores, no séc. XVII, se chamavamJardins de Valverde, porque é ali que chegamas águas do vale da Avenida da Liberdade.Esquecemo-nos dessas águas porque estãoescondidas! Mas há outros casos: o Convento de Jesus,em Setúbal, que de vez em quando tambémestá dentro de água porque há alterações nosistema das águas subterrâneas; o Conven-to de Santa Clara e o Choupal, em Coimbra;não falando do risco que podem correr al-gumas zonas ribeirinhas, não só pela proba-bilidade da subida do nível das águas na zo-na costeira como pelo fenómeno de erosão.Se interrompermos o percurso subterrâneoda água, ela tem de arranjar alternativas pa-ra passar; o sistema desequilibra-se e vêmos problemas de assentamentos, de dema-

siado fluxo num determinado ponto. Isto é uma situação muito complicada quetem que ser encarada no processo de planea-mento. O ordenamento não é apenas a afec-tação de usos, mas também de utilização depercursos.

É PRECISO REUTILIZAR A CIDADEP&C – Como classifica a evolução portu-guesa em termos de gestão urbana e territo-rial nos últimos anos? LF – Do ponto de vista legal, temos feito umaprodução muito avançada; a sua aplicaçãoprática é que nem sempre é tão cuidada. Bas-ta olhar para o processo de elaboração dosPDM e para o desperdício de áreas chama-das de expansão aí patente. Não houve umautilização racional do recurso solo. O que te-ve consequências perfeitamente absurdas. Oconcelho de Sintra é talvez o caso mais em-blemático do disparate urbanístico continua-do; mas também podemos falar da utilizaçãoe ocupação de algumas zonas litorais que es-tão a desaparecer, como é o caso da Costa daCaparica, de Esposende, da ria de Faro. NaCosta, todos os dias há um bar que desapare-ce porque estava fora do sítio… A naturezatem sempre razão! Agora, o grande desafio é o da revisão dosPDM de 2.ª geração. Estes têm de possuiruma concepção completamente diferente: háque perceber que nós não temos 34 ou 35 mi-lhões de portugueses para pôr nas áreas deexpansão que foram definidas na 1.ª geraçãode PDM e que, nalguns casos, a qualidade devida passa pela substituição de zonas que fo-ram urbanizadas e não o deviam ter sido;passa por uma melhor utilização do espaço –que é também um recurso.No que respeita à legislação, peca pela rigi-dez, por estar desajustada da realidade, o quea torna obsoleta. P&C – As nossas cidades ainda têm algumahipótese de se tornarem modelos de umaboa gestão urbana?LF – Não gosto muito da expressão modelo.Andamos sempre à procura de modelos, ecopiar modelos dá sempre disparate. Cadacaso é um caso; as cidades são únicas, têmuma história, têm cultura, têm condiçõesgeográficas, de localização, de envolvimentosocial e económico, que lhes permite evoluirde uma forma que não é reproduzível.

Mas olhemos para Bragança e para o que láse está a fazer em termos da recuperação dorio, da criação do Parque. É um exemplo deque é possível fazer mais pelas cidades. Sóque, na maior parte dos casos, essa qualifica-ção não é possível de executar exclusivamen-te com dinheiros públicos. É um processoque custa muito dinheiro; tem de ser levadoa cabo com investimentos privados. Nalgunscasos, com mudanças de usos para gerar si-nergias, com alguma imaginação e com a cer-teza de que se terá de deitar abaixo muita coi-sa construída nos últimos 30 a 40 anos. P&C – A reconquista da cidade vai ser o de-safio deste século? LF – A regeneração da cidade é, com certe-za, o desafio do urbanismo dos próximosanos. Não se trata de fazer a expansão da ci-dade, mas de refazer a cidade que temos. Alinha de Sintra só se pode recuperar deitan-do abaixo muita coisa, arranjando espaçopara ter uma escola, um jardim, um merca-do, um infantário, um centro de saúde, pa-ra abrir uma rua. Pena é que as soluções te-nham de ser necessariamente mais caraspor causa dos disparates que se fizeram. P&C – O futuro da sustentabilidade urba-na e ambiental pode passar pela reabilita-ção do edificado? LF – Também tem um papel importante nes-te processo. Mas a reabilitação tem de ser en-tendida com alguma flexibilidade; não se po-de ser fundamentalista ao ponto de manterou conservar só porque existe. Se olharmospara os bairros históricos em Lisboa, a maiorparte daquelas casas não tem habitabilidade;mesmo sendo reconstruídas em termos da fa-chada, estrutura, etc., as casas de banho nãoestão lá, ou não são as casas de banho que nóshoje exigimos; os quartos não têm as condi-ções que nós exigimos; não há elevador; osacessos são limitados… Pode dizer-se que sãohabitações para jovens, mas a juventude éuma doença que se cura depressa! Portanto,não é uma solução de futuro! A reabilitação éfundamental se servir para tornar as cidadesapetecíveis; se mantiver as suas característi-cas; mas, mais importante, se permitir que ascidades continuem ao serviço das pessoas; senão as puser em clorofórmio. É preciso reuti-lizar as cidades; elas só sobrevivem quando seadaptam, senão passam a fazer parte da sec-ção de arqueologia dos manuais de história.

Pedra & Cal n.º 18 Abril . Maio . Junho 2003

ENTREVISTATema de Capa

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CALDAS DA RAINHA VALORIZAR A COMPONENTE ÁGUAP&C – Quais as prioridades do concelho dasCaldas da Rainha, patentes no Plano Estra-tégico de que é coordenador, para uma boagestão urbana e ambiental?LF – Uma é a necessidade de se desenvolve-rem as acções conducentes à regeneração doCentro Histórico, de modo a manter as carac-terísticas urbanas da área, a permitir a suamodernização – nos casos em que é necessá-ria –, a manter e estimular a actividade co-mercial das Caldas da Rainha, que é hoje umimportante centro comercial regional de céuaberto, cuja qualificação é vital.P&C – E por onde passa essa qualificação?LF – Pelas questões do edificado, pela rein-trodução ou manutenção das condições dehabitação no centro e, também, por uma re-formulação do sistema de trânsito e de esta-cionamento, que torne apetecível e não des-vitalize o centro da cidade. Passa de igualmodo pela requalificação da mata e do par-que, com a protecção do património termal(quer das águas enquanto recurso quer dohospital termal e dos pavilhões do parqueenquanto edificado). Uma das questões postas no Plano Estraté-gico das Caldas da Rainha é a classificaçãopatrimonial do conjunto termal: a recupera-ção, a regeneração, a salvaguarda e a valori-zação do conjunto do edificado mais próxi-mo da zona termal, o chamado conjuntojoanino, e, noutra medida, a valorização detudo quanto é componente água – não só astermas mas também a vizinhança da Lagoade Óbidos, de São Martinho do Porto, doPaul da Tornada, que podem ser ligadosatravés de circuitos pedonais, culturais, etc.E, hoje, ainda é possível fazer a articulaçãofuncional desses espaços. A outra área de intervenção é a das zonas deexpansão mais recentes. A cidade cresceunos últimos 20 anos, com um urbanismo, emtermos globais, de má qualidade, cuja arqui-tectura também não é brilhante em proble-mas naquilo que são "áreas de desafogo":precisa de equipamentos de recreio e des-portivos próximos das habitações e de reor-denar toda a estratégia de expansão. Há umdéfice de espaços públicos – e estou a referir-me até à largura dos passeios. Nós, em Por-tugal, ainda consideramos que um metro e

meio de passeio é quanto baste. O que é umdisparate; é não entender a função do espa-ço público na qualificação do espaço urba-no. Porque, hoje, os passeios já não são sópara as pessoas passarem: servem para co-locar um mupi, a paragem do autocarro, apapeleira, o telefone, o marco dos correios,os vidrões… e depois nós não cabemos. É também necessário prevenir para que asnovas expansões não tenham nada a ver como que foi feito nos últimos 30 anos.A cidade das Caldas da Rainha tem 25 mil ha-bitantes, e, durante o dia, praticamente dobraa sua população; tem mais de 50 por cento dapopulação do concelho e potencialidades epressões de crescimento que podem vir a fa-zer dela uma cidade de grande qualidade. P&C – Qual a sua opinião sobre a possívelcandidatura das Caldas a PatrimónioMundial?LF – É um sonho! É um objectivo! Mas quenão é para ser posto em prática nos temposmais próximos. Primeiro tem de se fazer tu-do o que está no Plano Estratégico, só depoishaverá condições para ir para a candidatura. Quando se fala na classificação patrimonialdo conjunto termal, fala-se do ponto de parti-da. Mas isso só, não chega: é preciso mostrarque vamos tratar o recurso termal, as instala-ções e as envolventes, incluindo a cidade, deacordo com essa situação. P&C – Que ligação podemos fazer entre as"águas" das Caldas e o seu património cons-truído?LF – A cidade cresceu à volta das termas,mas as termas só têm sentido, só evoluírame permaneceram esta centena de anos, por-que a cidade cresceu e se organizou à voltadelas. Foi também assim que se tornou umacidade cosmopolita: o facto de ser uma cida-de termal fez dela uma cidade extremamen-

te avançada no quadro português dos anos40 e 50; quer do ponto de vista cultural quersocial… Foi também terra de acolhimentodos refugiados da II Grande Guerra, o quelhe proporcionou uma experiência de inser-ção social muito interessante e da qual bene-ficiou, convivendo com novos modos de vi-da, numa altura em que o país estavaisolado, e contactando com gente de grandeinteresse cultural; diversificou-se e abriu-seainda mais ao mundo.P&C – Ainda mantém essas características?LF – Mantém. Também por isso tem de serpotenciada como centro turístico: está juntoa uma costa interessante de Peniche à Naza-ré; tem turismo cultural – Óbidos, Alcobaça,Batalha, Ourém –; tem uma belíssima gas-tronomia em toda a zona de costa e de inte-rior; metade da população do país está auma hora, hora e meia, desta cidade; a cida-de é, de facto, um centro regional qualifica-do que importa reforçar. A actividade cultural, nas suas diferentesformas, também constitui um factor de va-lorização de turismo: não é por acaso queum dos melhores restaurantes da regiãoOeste está na Fábrica Bordalo Pinheiro. Seráinteressante saber que há um investidor in-teressado em apostar na transformação dosceleiros da EPAC num hotel; o que do pontode vista da arquitectura é um exercício ex-tremamente interessante, bem como o é doponto de vista da memória da cidade. E nãoserá o hotel mais barato de construir! Mas para além de todas estas potencialida-des, a cidade tem energias e possui uma enor-me capacidade de iniciativa e muito dina-mismo.

ENTREVISTA

Pedra & Cal n.º 18 Abril . Maio . Junho 2003

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A reabilitação é fundamental, se permitir que as cidades continuem ao serviço das pessoas

Entrevista de HELENA AZEVEDOe fotos de TELMO MILLER.

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Pedra & Cal – A maneira como o Homemtem vindo a intervir na Natureza tem modi-ficado o próprio ciclo da água. Quais os prin-cipais problemas que podem daí advir?Leonel Fadigas – A água cai do céu! E, talvezpor isso, não há muito a noção de que é umrecurso escasso. Mas é! E, pior, muitas vezesexiste mas não tem qualidade. Nesses casos,seria até preferível que não existisse. Esta éuma realidade que tem a vertanto com a águapara a agricultura como para uso doméstico. Por outro lado, é um recurso cuja disponibili-dade é irregular; e o facto de termos muitachuva em determinadas épocas do ano nãosignifica muita água, porque quando esta"vem do céu demasiado depressa", por nor-ma, não é retida. É água que se perde e queacelera os factores de risco ambiental: inun-dações, destruição de bens e transformaçãodo próprio território. Veja-se, por exemplo, oque aconteceu este ano com a estrada de Ar-mamar: desapareceu devido a uma pertur-bação do percurso da água na paisagem. To-me-se atenção às cheias periódicas emÁgueda; aos deslizamentos de terras emTrás-os-Montes… Catástrofes que, não rarasvezes, acontecem porque a ocupação do ter-

ritório não respeita o percurso da água. De-pois, há também o problema das contami-nações: são os parques de sucatas com as contaminações metálicas; é a contaminaçãoagrícola por excessiva utilização de produtosquímicos; o não tratamento de esgotos, etc.No fundo, o problema central da água é o dagestão do seu percurso, em termos da condu-ção e do armazenamento. Nós temos de gerira água como um recurso reutilizável. P&C – É então também um problema de or-denamento? LF – De ordenamento não só da água em si,mas do território onde ela circula, onde se de-posita, se armazena e para onde se devolve.P&C – O que está a ser feito rumo a essa "boagestão" dos recursos hídricos?LF – Algumas coisas… O cuidado que aEPAL tem ao nível da captação, armazena-mento, tratamento da água e reutilização daslamas, é um dos casos; o Parque Natural daSerras d’Aire e Candeeiros (PNSAC) encon-tra-se a desenvolver um trabalho notávelcom a água daquela zona, que está muitocontaminada pelos resíduos das suinicultu-ras; há igualmente alguns esforços na recu-peração de zonas ribeirinhas para garantir a

fluidez da água em período de cheia. O factode termos os leitos de cheia classificados co-mo reserva ecológica nacional, e de isso serum factor condicionante da sua ocupação, épositivo – embora não resolva, muitas vezes,a circunstância de já estarem ocupados. En-fim, ainda que por mais não seja, por efeitode algumas tragédias que têm acontecido, háo reconhecimento de que é preciso fazerqualquer coisa neste sentido e há sinais deuma preocupação que é crescente.P&C – E é suficiente?LF – A consciencialização sendo um primei-ro passo, é essencial. Por exemplo, nunca se discutiu tanto comoeste ano a questão do sistema das águas sub-terrâneas em Lisboa. O que até levou a câma-ra municipal a fazer um protocolo com oLNEC para o estudo dessa situação, que sem-pre existiu mas que era entendido apenas co-mo um problema da engenharia. E a circula-ção da água é mais do que isso.Hoje, podemos considerar que a gestão daágua é a questão central do ordenamento doterritório. Se o séc. XX foi o do petróleo, o séc.XXI será o da água. P&C – Quais as possíveis consequências pa-

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Professor Leonel Fadigas

é a questão central do ordenamento do território""A água

Arquitecto paisagista, profes-sor da Faculdade de Arquitec-tura da Universidade Técnicade Lisboa, Leonel Fadigas fala àPedra & Cal da água e do papelvital que este recurso – escassoe de disponibilidade irregular –tem na gestão e ordenamentodo território. Um papel tantasvezes subestimado! Curiosa-mente, é também ele o homemdo Plano Estratégico das Cal-das da Rainha: uma cidade quegravita em volta da água.

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ra o futuro de uma má gestão deste recurso?LF – Sem água não há vida e essa é a conse-quência última! Se consciencializarmos isto,percebemos que estamos a pagar a água mui-to barata: pagamos por um garrafão de cincolitros de água de mesa aquilo que pagamospor um ou dois cafés! Não é possível que ometro cúbico de água da EPAL custe o mes-mo que um maço de tabaco! Este é um bemessencial, escasso, cuja disponibilidade nosleva a custos crescentes e a captação e trata-mento da água obriga a esforços e investi-mentos muito grandes para que possa serdistribuída com qualidade.P&C – Até que ponto a má gestão dos recur-sos hídricos pode afectar, para além do am-biente, o património construído?LF – Veja a Baixa Pombalina. É um patrimó-nio único que depende da água. Se não hou-ver água no subsolo da Baixa, não há Baixaque se conserve. Ela está assente em estacariade madeira, que se mantém sólida e incor-ruptível por se encontrar debaixo de água. Sealterarmos o sistema hídrico da Baixa – im-pedindo que a água que desce o vale da Ave-nida da Liberdade e o vale da Almirante Reisaflua à Baixa –, as cabeças da estacaria de ma-deira entram em colapso. É o exemplo maisevidente de um património que dependeprofundamente deste bem.Esquecemo-nos que há um sítio em Lisboaque se chama Regueirão dos Anjos, e issoquer dizer alguma coisa; que há um sítio quese chama Arroios e arroio quer dizer riacho;que areeiro significa zona de infiltração; queos Restauradores, no séc. XVII, se chamavamJardins de Valverde, porque é ali que chegamas águas do vale da Avenida da Liberdade.Esquecemo-nos dessas águas porque estãoescondidas! Mas há outros casos: o Convento de Jesus,em Setúbal, que de vez em quando tambémestá dentro de água porque há alterações nosistema das águas subterrâneas; o Conven-to de Santa Clara e o Choupal, em Coimbra;não falando do risco que podem correr al-gumas zonas ribeirinhas, não só pela proba-bilidade da subida do nível das águas na zo-na costeira como pelo fenómeno de erosão.Se interrompermos o percurso subterrâneoda água, ela tem de arranjar alternativas pa-ra passar; o sistema desequilibra-se e vêmos problemas de assentamentos, de dema-

siado fluxo num determinado ponto. Isto é uma situação muito complicada quetem que ser encarada no processo de planea-mento. O ordenamento não é apenas a afec-tação de usos, mas também de utilização depercursos.

É PRECISO REUTILIZAR A CIDADEP&C – Como classifica a evolução portu-guesa em termos de gestão urbana e territo-rial nos últimos anos? LF – Do ponto de vista legal, temos feito umaprodução muito avançada; a sua aplicaçãoprática é que nem sempre é tão cuidada. Bas-ta olhar para o processo de elaboração dosPDM e para o desperdício de áreas chama-das de expansão aí patente. Não houve umautilização racional do recurso solo. O que te-ve consequências perfeitamente absurdas. Oconcelho de Sintra é talvez o caso mais em-blemático do disparate urbanístico continua-do; mas também podemos falar da utilizaçãoe ocupação de algumas zonas litorais que es-tão a desaparecer, como é o caso da Costa daCaparica, de Esposende, da ria de Faro. NaCosta, todos os dias há um bar que desapare-ce porque estava fora do sítio… A naturezatem sempre razão! Agora, o grande desafio é o da revisão dosPDM de 2.ª geração. Estes têm de possuiruma concepção completamente diferente: háque perceber que nós não temos 34 ou 35 mi-lhões de portugueses para pôr nas áreas deexpansão que foram definidas na 1.ª geraçãode PDM e que, nalguns casos, a qualidade devida passa pela substituição de zonas que fo-ram urbanizadas e não o deviam ter sido;passa por uma melhor utilização do espaço –que é também um recurso.No que respeita à legislação, peca pela rigi-dez, por estar desajustada da realidade, o quea torna obsoleta. P&C – As nossas cidades ainda têm algumahipótese de se tornarem modelos de umaboa gestão urbana?LF – Não gosto muito da expressão modelo.Andamos sempre à procura de modelos, ecopiar modelos dá sempre disparate. Cadacaso é um caso; as cidades são únicas, têmuma história, têm cultura, têm condiçõesgeográficas, de localização, de envolvimentosocial e económico, que lhes permite evoluirde uma forma que não é reproduzível.

Mas olhemos para Bragança e para o que láse está a fazer em termos da recuperação dorio, da criação do Parque. É um exemplo deque é possível fazer mais pelas cidades. Sóque, na maior parte dos casos, essa qualifica-ção não é possível de executar exclusivamen-te com dinheiros públicos. É um processoque custa muito dinheiro; tem de ser levadoa cabo com investimentos privados. Nalgunscasos, com mudanças de usos para gerar si-nergias, com alguma imaginação e com a cer-teza de que se terá de deitar abaixo muita coi-sa construída nos últimos 30 a 40 anos. P&C – A reconquista da cidade vai ser o de-safio deste século? LF – A regeneração da cidade é, com certe-za, o desafio do urbanismo dos próximosanos. Não se trata de fazer a expansão da ci-dade, mas de refazer a cidade que temos. Alinha de Sintra só se pode recuperar deitan-do abaixo muita coisa, arranjando espaçopara ter uma escola, um jardim, um merca-do, um infantário, um centro de saúde, pa-ra abrir uma rua. Pena é que as soluções te-nham de ser necessariamente mais caraspor causa dos disparates que se fizeram. P&C – O futuro da sustentabilidade urba-na e ambiental pode passar pela reabilita-ção do edificado? LF – Também tem um papel importante nes-te processo. Mas a reabilitação tem de ser en-tendida com alguma flexibilidade; não se po-de ser fundamentalista ao ponto de manterou conservar só porque existe. Se olharmospara os bairros históricos em Lisboa, a maiorparte daquelas casas não tem habitabilidade;mesmo sendo reconstruídas em termos da fa-chada, estrutura, etc., as casas de banho nãoestão lá, ou não são as casas de banho que nóshoje exigimos; os quartos não têm as condi-ções que nós exigimos; não há elevador; osacessos são limitados… Pode dizer-se que sãohabitações para jovens, mas a juventude éuma doença que se cura depressa! Portanto,não é uma solução de futuro! A reabilitação éfundamental se servir para tornar as cidadesapetecíveis; se mantiver as suas característi-cas; mas, mais importante, se permitir que ascidades continuem ao serviço das pessoas; senão as puser em clorofórmio. É preciso reuti-lizar as cidades; elas só sobrevivem quando seadaptam, senão passam a fazer parte da sec-ção de arqueologia dos manuais de história.

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CALDAS DA RAINHA VALORIZAR A COMPONENTE ÁGUAP&C – Quais as prioridades do concelho dasCaldas da Rainha, patentes no Plano Estra-tégico de que é coordenador, para uma boagestão urbana e ambiental?LF – Uma é a necessidade de se desenvolve-rem as acções conducentes à regeneração doCentro Histórico, de modo a manter as carac-terísticas urbanas da área, a permitir a suamodernização – nos casos em que é necessá-ria –, a manter e estimular a actividade co-mercial das Caldas da Rainha, que é hoje umimportante centro comercial regional de céuaberto, cuja qualificação é vital.P&C – E por onde passa essa qualificação?LF – Pelas questões do edificado, pela rein-trodução ou manutenção das condições dehabitação no centro e, também, por uma re-formulação do sistema de trânsito e de esta-cionamento, que torne apetecível e não des-vitalize o centro da cidade. Passa de igualmodo pela requalificação da mata e do par-que, com a protecção do património termal(quer das águas enquanto recurso quer dohospital termal e dos pavilhões do parqueenquanto edificado). Uma das questões postas no Plano Estraté-gico das Caldas da Rainha é a classificaçãopatrimonial do conjunto termal: a recupera-ção, a regeneração, a salvaguarda e a valori-zação do conjunto do edificado mais próxi-mo da zona termal, o chamado conjuntojoanino, e, noutra medida, a valorização detudo quanto é componente água – não só astermas mas também a vizinhança da Lagoade Óbidos, de São Martinho do Porto, doPaul da Tornada, que podem ser ligadosatravés de circuitos pedonais, culturais, etc.E, hoje, ainda é possível fazer a articulaçãofuncional desses espaços. A outra área de intervenção é a das zonas deexpansão mais recentes. A cidade cresceunos últimos 20 anos, com um urbanismo, emtermos globais, de má qualidade, cuja arqui-tectura também não é brilhante em proble-mas naquilo que são "áreas de desafogo":precisa de equipamentos de recreio e des-portivos próximos das habitações e de reor-denar toda a estratégia de expansão. Há umdéfice de espaços públicos – e estou a referir-me até à largura dos passeios. Nós, em Por-tugal, ainda consideramos que um metro e

meio de passeio é quanto baste. O que é umdisparate; é não entender a função do espa-ço público na qualificação do espaço urba-no. Porque, hoje, os passeios já não são sópara as pessoas passarem: servem para co-locar um mupi, a paragem do autocarro, apapeleira, o telefone, o marco dos correios,os vidrões… e depois nós não cabemos. É também necessário prevenir para que asnovas expansões não tenham nada a ver como que foi feito nos últimos 30 anos.A cidade das Caldas da Rainha tem 25 mil ha-bitantes, e, durante o dia, praticamente dobraa sua população; tem mais de 50 por cento dapopulação do concelho e potencialidades epressões de crescimento que podem vir a fa-zer dela uma cidade de grande qualidade. P&C – Qual a sua opinião sobre a possívelcandidatura das Caldas a PatrimónioMundial?LF – É um sonho! É um objectivo! Mas quenão é para ser posto em prática nos temposmais próximos. Primeiro tem de se fazer tu-do o que está no Plano Estratégico, só depoishaverá condições para ir para a candidatura. Quando se fala na classificação patrimonialdo conjunto termal, fala-se do ponto de parti-da. Mas isso só, não chega: é preciso mostrarque vamos tratar o recurso termal, as instala-ções e as envolventes, incluindo a cidade, deacordo com essa situação. P&C – Que ligação podemos fazer entre as"águas" das Caldas e o seu património cons-truído?LF – A cidade cresceu à volta das termas,mas as termas só têm sentido, só evoluírame permaneceram esta centena de anos, por-que a cidade cresceu e se organizou à voltadelas. Foi também assim que se tornou umacidade cosmopolita: o facto de ser uma cida-de termal fez dela uma cidade extremamen-

te avançada no quadro português dos anos40 e 50; quer do ponto de vista cultural quersocial… Foi também terra de acolhimentodos refugiados da II Grande Guerra, o quelhe proporcionou uma experiência de inser-ção social muito interessante e da qual bene-ficiou, convivendo com novos modos de vi-da, numa altura em que o país estavaisolado, e contactando com gente de grandeinteresse cultural; diversificou-se e abriu-seainda mais ao mundo.P&C – Ainda mantém essas características?LF – Mantém. Também por isso tem de serpotenciada como centro turístico: está juntoa uma costa interessante de Peniche à Naza-ré; tem turismo cultural – Óbidos, Alcobaça,Batalha, Ourém –; tem uma belíssima gas-tronomia em toda a zona de costa e de inte-rior; metade da população do país está auma hora, hora e meia, desta cidade; a cida-de é, de facto, um centro regional qualifica-do que importa reforçar. A actividade cultural, nas suas diferentesformas, também constitui um factor de va-lorização de turismo: não é por acaso queum dos melhores restaurantes da regiãoOeste está na Fábrica Bordalo Pinheiro. Seráinteressante saber que há um investidor in-teressado em apostar na transformação dosceleiros da EPAC num hotel; o que do pontode vista da arquitectura é um exercício ex-tremamente interessante, bem como o é doponto de vista da memória da cidade. E nãoserá o hotel mais barato de construir! Mas para além de todas estas potencialida-des, a cidade tem energias e possui uma enor-me capacidade de iniciativa e muito dina-mismo.

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A reabilitação é fundamental, se permitir que as cidades continuem ao serviço das pessoas

Entrevista de HELENA AZEVEDOe fotos de TELMO MILLER.

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Pedra & Cal – Quais os principais tipos deestruturas hidráulicas existentes em Por-tugal?Matias Ramos – Variam em função daquiloque se pretende. As barragens, por norma,são infra-estruturas de grande dimensão, as-sociadas à necessidade de criação de reservasde água com vista à satisfação das necessida-des das populações e indústria, da agricultu-ra, da produção de energia e, de forma cres-cente nos últimos anos, a actividades lúdicas,designadamente nas zonas interiores.Há outras obras, também de grande dimen-são, como as de regularização fluvial e as as-sociadas aos sistemas de abastecimento deágua para consumo público e/ou aos siste-mas de rega e às redes de drenagem de águaspluviais. Estas últimas são obras enterradas,ninguém as vê, sentindo-se a sua importân-cia pelo cidadão comum apenas em situa-ções de inundações. Face à necessidade degarantir a protecção de bens e pessoas contra

inundações, estas obras de-vem ser encaradas numaperspectiva global de orde-namento do tecido urbano.No que diz respeito à "águasalgada", há um conjuntode obras de engenharia des-tinadas à protecção e utili-zação da nossa orla costeirae à protecção das popula-ções localizadas junto ao li-toral e as que têm em vista osuporte de actividades, co-mo a navegação, comércio,pesca ou recreio. P&C – Que nível de segu-rança/risco de acidenteoferecem estas estruturas?MR – O Homem vive e lidapermanentemente com orisco. Todos nós sabemos

que ao conceber uma obra, seja de que tipofor, o risco de acidente não é nulo. Mas tam-bém sabemos que todas as obras têm de serdimensionadas por forma a garantir asmaiores condições de segurança. As barragens são infra-estruturas de grandedimensão. O conhecimento técnico e científi-co que actualmente temos deste tipo de es-truturas é de tal maneira elevado, que esserisco é muito próximo de zero. Uma barra-gem, pela sua natureza e dimensão, tem deser rodeada dos maiores cuidados – presen-tes não só nas fases de concepção, projecto econstrução, mas também na de exploração –para que o risco se reduza a um mínimo. Sópara dar uma ideia, a barragem do Alquevatem mais de 600 instrumentos ligados à ob-servação do seu comportamento, com vista àmonitorização não só da obra em si, mas detoda a zona envolvente. Com base nestes ins-trumentos é possível avaliar não só o desem-

penho estrutural da obra, mas também os as-pectos relacionados com as cheias, com o am-biente e com a sismicidade local.P&C – Quem é responsável pela segurançae manutenção destas obras?MR – Existe um documento – o Regulamentode Segurança de Barragens, Decreto-Lei11/90, de 6 de Janeiro –, aplicável não só a no-vas barragens, mas também às já existentes,que tem por objecto a segurança de barragensdurante as várias fases: do projecto ao aban-dono. De acordo com este Regulamento essaresponsabilidade cabe ao Dono de Obra.P&C – Em termos arquitectónicos há umapreocupação de manutenção?MR - É evidente que as preocupações domi-nantes numa obra deste tipo são a segurançae a funcionalidade. Saliento, no entanto, queos aspectos estéticos e ambientais deverãoestar sempre presentes. Pode constatar-seque, designadamente nas de maior dimen-são, as barragens portuguesas são, em geral,esteticamente esbeltas e adequadamente im-plantadas, garantindo um bom enquadra-mento face às zonas onde foram construídas. P&C – Que medidas têm sido tomadas naconstrução e manutenção destas estrutu-ras por forma a evitar impactes ambientaisnegativos?MR – Não há obra nenhuma que não tenhaimpactes ambientais. Dentro deste espírito, alei impõe que qualquer obra, antes da suaconstrução, tenha de ter um estudo de im-pacte ambiental o qual, com base numa ma-triz de avaliação, deve considerar não só osimpactes negativos, mas também os positi-vos. É com base num balanço global destesimpactes que se decide se a obra deve ou nãoser construída. P&C – Qual a sua opinião sobre a práticade renaturalização dos rios depois de umaregularização?

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Engenheiro Matias Ramos

O Vice-Presidente do LNEC e director do Departamentode Hidráulica e Ambiente, Eng.º Matias Ramos, fala daimportância das obras de hidráulica, já que servem à rea-lização de uma tarefa hoje crucial: a transferência da água– um recurso escasso – no tempo e no espaço.

um bem escassoComo gerir bem

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MR – Não gosto da palavra renaturalização,porque isso praticamente não existe. Em Por-tugal há poucas linhas de água com expres-são que não tenham sofrido a acção antrópi-ca. Basta que o Homem tenha plantado oucortado árvores na bacia hidrográfica de umrio, para alterar o regime desse rio. Chamo aatenção para o facto de que as civilizações sedesenvolveram fundamentalmente na pro-ximidade das linhas de água (sem água nãohá vida) e o Homem, por diversas razões,sentiu necessidade de intervir alterando oestado natural dessas linhas de água.Assim, prefiro o termo valorização ambien-tal, incluindo naturalmente a componenteecológica, dos rios em substituição do de re-naturalização.

GESTÃO DA ÁGUA: O PAÍS NÃO PODEVIVER DA SOMA DAS PARTESP&C – Que julgamento faz da gestão dosrecursos hídricos em Portugal?MR – Existe o sentimento, em certos sectoresda população, de que a água é um recursodisponível e garantido. Basta abrir uma tor-neira e ela aparece. A água é, no entanto, umbem escasso e, consequentemente, um bemeconómico. A satisfação das necessidades deágua depende de vários factores, dos quaisdestaco a sua disponibilidade no espaço e notempo e as garantias de que essa satisfação sefaça não só em quantidade mas também emqualidade. Todos nós sabemos que chovemuito mais no Norte do País que no Sul e quedurante o Verão a chuva é muito reduzida,havendo zonas em que não ocorre durantemeses consecutivos conduzindo, por vezes,a situações catastróficas de seca. Para colma-tar este problema de "água a mais" no perío-do de chuvas e de "água a menos" no períodode estiagem, associado ao controlo dos objec-tivos de qualidade e de preservação dos ecos-sistemas, há que definir planos que garantamuma correcta gestão desse bem tão precioso.Para a satisfação deste objectivo o Instituto daÁgua e as Direcções Regionais do Ambientepromoveram recentemente a elaboração dosPlanos das Bacias Hidrográficas e do PlanoNacional da Água. Agora, há que passar àprática todo esse trabalho de planeamento.P&C - Na sua opinião, quais os problemasque os rios internacionais nos podem trazer?MR – Felizmente, não somos, comparativa-mente com os restantes países europeus, umdos países com maior pressão hídrica. Te-mos, efectivamente, água que vem de Espa-nha, que é gerada lá e, por isso mesmo, esta-

mos em melhores condições.Mas o problema não se pode colocar apenasdo ponto de vista de quantidade global, massim em termos de distribuição ao longo dosmeses do ano e no pressuposto de que a águaafluída é de qualidade aceitável. Em suma,os problemas que se colocam nos rios inter-nacionais têm a ver com a garantia de quemesmo não havendo reduções em termos devolume médio anual, a água que chega àsnossas fronteiras é adequadamente distri-buída no tempo, isto é, que não aflua águaapenas num ou dois meses, e que tenha qua-lidade adequada. P&C – E se os espanhóis resolvem mudaros cursos de água dos rios, que também sãonossos?MR – A sua pergunta está de certeza ligadaao plano megalómano apresentado pelo Go-verno Espanhol no início da década de 90.Um plano, no que concerne aos rios interna-cionais, no qual eram definidas transferên-cias de água utilizando os recursos hídricosgerados nas bacias hidrográficas destes rios(baseadas fundamentalmente nas bacias dosrios Douro e Guadiana e, com menor expres-são, no rio Tejo) para zonas de grande escas-sez do Sul de Espanha e da zona Mediterrâ-nica. De acordo com esse plano, as maioresreduções de água à entrada de Portugal ocor-reriam nos rios Douro e Guadiana. Saliento que o facto de pertencermos à UniãoEuropeia cria condições para uma maior in-tervenção portuguesa no controlo dos riosinternacionais. Efectivamente, a Directiva--Quadro da Água, aprovada em Junho de2000, consagra, entre outros princípios, o deque a unidade básica de gestão dos recursoshídricos é a bacia hidrográfica, aspecto de

grande relevância para os rios ibéricos. Nestaconformidade, as negociações directas entrePortugal e Espanha assumem uma impor-tância determinante na tomada de decisõesque envolvam a utilização da água nos riosinternacionais. Estes países têm neste mo-mento ao seu dispor a "Convenção Sobre aCooperação Para a Protecção e o Aproveita-mento Sustentável das Águas das Bacias Hi-drográficas Luso-Espanholas", assinada emAlbufeira em Novembro de 1998, vulgar-mente conhecida por Convenção de Albufei-ra. Trata-se de um instrumento fundamentalpara a correcta utilização da água gerada nasbacias dos rios internacionais ibéricos.P&C – Existe em Portugal algum plano pa-ra a salvaguarda do património arquitectó-nico ou património construído relacionadocom a água? MR – Que eu saiba não existe nenhum pla-no específico. Refiro, no entanto, que os as-pectos de segurança e funcionalidade sópor si obrigam a cuidados especiais em ter-mos de manutenção das obras em operaçãoe, consequentemente, de salvaguarda destepatrimónio. P&C – Quais as 10 estruturas prioritárias –relacionadas com a água - a salvaguardarem termos de património arquitectónico?MR – É difícil fazer uma lista destas estrutu-ras. Refiro, pela sua elevada qualidade, asobras hidráulicas construídas no século XIX eno princípio do século XX e que, entretanto,deixaram de desempenhar a função para queforam executadas, constituindo actualmente"ex-libris" arquitectónicos do nosso país.Cito, a título de exemplo, as obras dos Aque-dutos de Águas Livres de Lisboa e de Elvas,a Mãe de Água nas Amoreiras, a Estação Ele-vatória dos Barbadinhos (Museu da Água),diversos Fontanários e Estâncias Termaisque existem por todo o País, algumas delasmerecendo uma intervenção urgente, etc.Embora saindo do contexto da pergunta,permito-me referir o património arqueológi-co associado às obras hidráulicas, destacan-do as obras construídas durante o períodocorrespondente à ocupação Romana, dasquais destaco as barragens, sistemas de adu-ção e as termas que traduzem a importânciada água para esta civilização e a forma comoresolviam os seus problemas de luta contrasituações de escassez.

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ENTREVISTATema de Capa

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Entrevista de HELENA AZEVEDO e fotos de TELMO MILLER.

Não gosto da palavra renaturalização, (dos rios) porque isso praticamente não existe.

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CASO DE ESTUDO

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O património cultural construído em pedratem vindo, ao longo das últimas décadas, aapresentar fenómenos de degradação cadavez mais acentuados. Estes fenómenos en-contram-se relacionados não só com facto-res intrínsecos, relativos às característicaspróprias de cada material pétreo, como tam-bém com factores extrínsecos, relativos aoambiente onde os materiais pétreos se en-contram aplicados. De entre os factores ex-trínsecos destaca-se, pela sua nocividade, aacção da água (água das formações de fun-dação, água da chuva, água de condensaçãoe outros tipos de água, e. g. termais).A água é o principal agente de agressão dasrochas e está associada praticamente a to-dos os processos e tipos de alteração queuma rocha sofre (processos físicos, quími-cos e biológicos). É um agente polivalentedado as mudanças de estado que pode ex-perimentar. Actua também como veículode transporte de outras substâncias comosais solúveis, contaminantes atmosféricos eorganismos vivos, o que aumenta signifi-cativamente o seu papel nos processos dedegradação.As consequências da acção da água mani-festam-se através de reacções químicas como substrato pétreo por reacções de dissolu-ção, hidratação, hidrólise, oxidação-redu-ção, etc. E ainda através de fenómenos de carácter físico, como por exemplo rotura de-vido às tensões criadas no material duranteos ciclos de cristalização-dissolução e hidra-tação de sais, ciclos de gelo-degelo da águanos poros e nas fissuras das rochas e por va-riação do grau de saturação.As águas termais podem, em determinadas

situações, conduzir a fenómenos de degra-dação extremamente severos nos materiaisde construção. As características termo-hi-grométricas destes espaços assim como a es-pecificidade das águas que aí brotam/circu-lam são os principais factores a ter em conta. Apesar do elevado número de estudos pu-blicados relativos à temática de alteraçãodos materiais decorrentes da presença desais, poucos são os que abordam o decai-mento de materiais aplicados em ambien-tes termais. O Laboratório de Mineralogia e Petrologiado Instituto Superior Técnico tem vindo adesenvolver, desde há anos, linhas de inves-tigação sobre a temática da alteração e alte-rabilidade de rochas na vertente ligada aodecaimento das rochas aplicadas em edifí-cios históricos. Assim, apresenta-se nestetrabalho o caso do Hospital Termal das Cal-das da Rainha, um dos mais antigos hospi-tais termais não só em Portugal como nomundo, tendo a sua construção sido inicia-da em 1485, sob o patrocínio da rainha D.Leonor. Todavia trata-se de um edifício que,ao longo dos séculos, sofreu sucessivas am-pliações e ou modificações. O Hospital Termal das Caldas da Rainhailustra um caso emblemático de como umambiente natural, com determinadas condi-ções microclimáticas, pode ser extremamen-te agressivo para os materiais aí aplicados. A água mineral das Caldas da Rainha é clo-retada sódica, com um conteúdo mineralpróximo de 3000 mg/l e de carácter sulfú-reo (evidenciado pelo intenso odor a enxo-fre). Destaca-se ainda nestas águas o conteúdo em sulfato, cálcio e magnésio.

Trata-se de uma água que, à saída das nas-centes/furos de captação, apresenta tem-peratura próxima de 35 ºC.

A DEGRADAÇÃO DOS MATERIAISNO HOSPITAL TERMAL DAS CALDAS DA RAINHAAlguns dos espaços primitivos do hospital,como duas salas conhecidas localmente co-mo Banho da Rainha e Banho das Mulhe-

res, resistiram até aos nossos dias, apresen-tando todavia severos fenómenos dedecaimento dos materiais aplicados (Foto1). Tratam-se de espaços que tinham fun-ções balneológicas.Os fenómenos de degradação observáveis

nos banhos afectam não só os materiais pé-treos (calcários, mais ou menos margosos,de cor variável entre o creme e o acasta-

A água e o património cultural construído: o Hospital Termal das Caldas da Rainha

Tema de Capa

As águas termais podem, em determinadas situações, conduzir a fenómenos de degradação extre-mamente severos nos materiais de construção. O Hospital Termal das Caldas da Rainha é um casoemblemático desse fenómeno.

Foto 1: Banho daRainha (parede W).São visíveis os inten-sos fenómenos dedegradação ao níveldos materiais pétreos.

Foto 2: Desenvolvimento de eflorescências sali-nas na borda NW da piscina do Banho da Rainha.

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CASO DE ESTUDO

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nhado, bioclásticos e calciclásticos) mastambém outros materiais porosos como argamassas e tijolo. Formas de degradaçãocomo eflorescências salinas (Foto 2), incrustações (Foto 3) e empolamentos (Fo-to 4) apresentam distribuição generaliza-da nestes espaços, conduzindo a impor-tantes perdas de material.Os produtos das patologias referidas apre-sentam composição mineralógica diversi-ficada. Dando como exemplo as eflorescên-cias salinas, verificou-se que estas sãoessencialmente constituídas por sulfatos hidratados, nomeadamente tamarugite(NaAl(SO4)2.6H2O), epsomite (MgSO4.7H2O) e carfosiderite (Fe3(SO4)2(OH)5.2H2O). Estes minerais hidratados surgemalgumas vezes associados a outros sulfa-tos, como sulfato de ferro (FeSO4) ou sulfa-to de sódio (thenardite – Na2SO4) e gesso(CaSO4.2H2O). A deterioração produzidapelos sulfatos advém não só da sua solubi-lidade na água mas também do facto de po-derem existir em diferentes estados de hi-dratação.Com vista à explicação da origem destes saise consequentemente do avançado estado dedegradação apresentado pelos materiais foiefectuada a caracterização termo-higromé-trica destes espaços. Tendo por base a análi-

se dos dados termo-higrométricos coligidosverificou-se que estes espaços apresentamsituação relativamente estável em termos detemperatura do ar (valores compreendidosentre 20 e 25 ºC, com o valor médio de 23 ºC). No que diz respeito à humidade rela-tiva do ar, as flutuações foram significativas:este parâmetro varia, ao longo de períodossemanais, entre 60 e 100 por cento (Figura 1).Na Figura 1 encontram-se igualmente re-presentados, na parte inferior dos gráficos, aestimação dos períodos de tempo em que al-guns dos sais identificados no Banho da Rai-nha se encontram cristalizados (representa-do pelo traço a negro) ou deliquescentes(parte a branco). Para a construção destesgráficos foram utilizados os pontos higros-cópicos, de alguns sais solúveis, a 25ºC.Atendendo aos valores de temperatura e hu-midade relativa do ar reinantes no Banho daRainha é possível verificar que estes sais,neste espaço específico do Hospital Termal,apresentam mudanças cíclicas de estado, oque favorece e intensifica a fadiga do mate-rial e explica a severidade das formas de de-gradação observadas.

CONSIDERAÇÕES FINAISA água é um importante factor de decai-mento dos materiais porosos. No entanto, a

sua acção agressiva pode ser altamente au-mentada quando se trata de águas com ca-racterísticas geoquímicas e geotérmicas pe-culiares. É um caso ilustrado neste estudo.No caso do Hospital Termal das Caldas daRainha e especificamente no Banho da Rai-nha verifica-se que a composição dos pro-dutos de alteração aí formados (fundamen-talmente sulfatos) resulta da interacçãomateriais porosos/água, das característicasdas águas emergentes e das condições mi-croclimáticas. Quanto às medidas de con-trolo e remediação a tomar neste caso pecu-liar, já que a composição das águas termaisnão pode ser alterada, há que criar condi-ções que minimizem os efeitos nefastos ob-servados. Tais condições passam pela ven-tilação adequada deste espaço, pelocontrolo dos parâmetros termo-higromé-tricos e pela utilização de materiais que nãointeractuem com a água.

AgradecimentosEste trabalho foi parcialmente suportado pelo Cen-tro Hospitalar das Caldas da Rainha e pelo projectoPRAXIS/P/ECM/13012/1998.

Tema de Capa

AMÉLIA DIONÍSIO, LUÍS AIRES-–BARROS, MARIA JOÃO BASTO, Laboratório de Mineralogia e Petrolo-gia, Instituto Superior Técnico.

Foto 3: Incrustaçõesbrancas e amarelas na parede N do Banhoda Rainha. Foto 4: Empolamentossignificativos nos materiais pétreos, na parede S do Banhodas Mulheres. Figura 1: Variação dosvalores médios horáriosde temperatura e humi-dade relativa do ar noBanho da Rainha(semana entre 9 e 16 deOutubro de 2000).Indicação dos possíveisperíodos de cristaliza-ção de thenardite, halite e epsomite.

Foto 3

Foto 4

Figura 1

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A construção da Estação Elevatória da Praiaconstitui a derradeira iniciativa de aprovei-tamento das águas residuais de Alfama. En-trou em serviço em 1869 e bombeava aságuas para o depósito da Verónica, na fre-guesia de S. Vicente (Fig. 1 – 18 e 19). Tinhapor função essencial reforçar o abastecimen-to de água ao domicílio da zona oriental dacidade. Um ano antes - 1868 - todas as águaspúblicas de Alfama passavam para a admi-nistração da segunda Companhia das Águasde Lisboa (CAL), constituída para o efeito. O funcionamento regular do grupo do Recin-to da Praia limita-se apenas a onze anos, já queem 1880 entrou em actividade a Estação Ele-

vatória dos Barbadinhos fundada pela mes-ma companhia. Foi assim, quase efémero oaproveitamento de uma riqueza hoje ocultaem Alfama. Basta percorrer as suas artérias elargos para se constatar a secura e abandonodos chafarizes, os que ainda sobrevivem, jáque muitos foram desmontados.Mas afinal por onde param os vários milha-res de litros de água por dia que brotam dasvárias nascentes? Que características medi-cinais apresentam? Como foram geridas aolongo de cerca de dois mil anos?A colina do castelo reúne um conjunto de pre-dicados que facultaram o desenvolvimentode um importante povoado a partir do pri-

meiro milénio a.C. Destes, destaque para aabundância de águas cristalinas, entre asquais, algumas nascentes de águas termais.Daí deriva naturalmente o nome do bairro –Alfama – palavra de origem árabe para desig-nar termas, fonte de água quente.No início da nossa era, os romanos são osprimeiros a instalar núcleos de lazer junto àpraia e a aproveitar as suas águas. Esta zonaoriental da cidade vai constituir-se no arra-balde de Alfama, a partir do séc. VIII, e estesó será integrado no perímetro urbano deLisboa com a construção da Cerca Nova ouFernandina, entre 1373–1375. Famílias daaristocracia muçulmana instalam-se no ar-

Águas de Alfama

Figura 1: Carta Topográfica de Lisboa sob a direcção de Filipe Folque: 1956-1958.

dois milénios de fruição Zona de fontes de água quente, Alfama oculta hoje uma imensa e subaproveitada riqueza. Basta percorrer assuas artérias e largos para constatar o abandono dos chafarizes. Mas, afinal, por onde param os vários milha-res de litros de água que brotam das várias nascentes? Como foram geridas ao longo de cerca de dois mil anos?

1 – Chafariz de El-Rei2 – Banhos J. A. Baptista3 – Tanque de Alfama ou das Alcaçarias4 – Alcaçarias de D. Clara5 – Alcaçarias do Duque Sulfurosa6 – Alcaçarias do Duque Alcalina7 – Banhos do Dr. Fernando8 – Chafariz de Dentro (dos Cavalos)9 – Bica do Jardim do Tabaco10 – Nascente nos lodos do Tejo (CNN)11 – Nascente Fria12 – Bica do Sapato13 - Banhos do Mosteiro de Alcobaça14 – Chafariz dos Paus (Aguada)15 – Fonte de Penabuquel16 – Chafariz da Praia (Chafariz Novo)17 – Tanque das Lavadeiras18 – Praça do Peixe-Local de construção

da Estação Elevatória da Praia19 – Depósito da Verónica – Local de construção20 – Sítio de Alfungera (Convento do Salvador)21 – Local da nascente no G. S. Adiçense

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CASO DE ESTUDOTema de Capa

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rabalde e exploram os núcleos termais.Outro dado que marca o bairro é a existênciade uma pequena ribeira correndo de NO paraSE e que, no período muçulmano, liga doispólos importantes – o bosque (!) de Alfungera(Fig. 1 – 20) e a zona termal da praia e núcleopiscatório, onde se viria a constituir o Largodo Chafariz de Dentro. A memória da ribeiraestá "marcada" pela Rua da Regueira, princi-pal elemento de fronteira entre as duas fre-guesias que constituem o bairro – S. Miguel eSanto Estevão. O termo alfungera é por si sósignificativo já que, a partir do árabe, designalugar por onde escapa a água.A primeira referência documental ao Chafarizde Dentro surge em 1280 ou 85, designado porChafariz dos Cavalos (Fig. 1 – 8). Para além deabastecimento da população, o chafariz serviatambém de bebedouro de animais. O Chafarizde El–Rei teve uma função mais vocacionadapara o abastecimento da população da cidade.Devido ao seu número de bicas e afluência depopulação houve a necessidade de regula-mentar o abastecimento de água, através depostura camarária, em 1604. Começou por serconhecido por Chafariz de S. João, mas no tempo de D. Dinis este é transferido para o ex-terior da Cerca Moura, através de uma galeriacom cerca de 40 metros (Fig. 1 – 1).O Chafariz dos Cavalos sofreu igualmentemudança de designação ao ficar na parte dedentro da Cerca Fernandina, após a cons-trução do Chafariz Novo ou da Praia (Fig. 1– 16), no início do século XVII. Junto à faceexterna da cerca, no mesmo largo, é cons-truído o Chafariz dos Paus destinado àAguada (Fig. 1 – 14). Um pouco mais a NE ficava a Fonte de Pena-buquel (Fig. 1 – 15), referenciada documental-mente a partir de 1326, junto ao arco com omesmo nome e aberto no séc. XVII para pas-sagem das lavadeiras. Outro tanque, aindadocumentado em 1856, fica junto às Tercenasde Alfama (Fig. 1 – 17) e a própria Bica do Sa-pato é já um simples tanque de lavadeiras nadécada de 30 do séc. XX (Fig. 1 – 12).O Tanque das Lavadeiras ou das Alcaçariasdestaca-se, no entanto, entre os restantes, comdiversos usos ao longo dos séculos, o últimodos quais como fornecimento de água à Esta-ção Elevatória da Praia (Fig. 1 – 3). As águas

das Alcaçarias foram essencialmente aprovei-tadas para a lavagem das lãs e o curtimento decouros, até finais do séc. XVII. Os tanques decurtimento ficariam no Beco dos Curtumes.As lãs, após a lavagem, eram postas a secar napraia fronteira, sítio conhecido por Campo da Lã (actual Largo do Terreiro do Trigo).As primeiras referências a banhos surgemno séc. XIV, uns, particulares, de um JoãoRoal, na freguesia de Santo Estevão, e ou-tros, administrados pelo Mosteiro de Alco-baça, (Fig. 1 – 13). A. Vieira da Silva, na suaobra A Cerca Fernandina de Lisboa, refere, em1949, que os proprietários, na altura, do pré-dio que pertenceu ao mosteiro até 1834, ain-da aproveitavam a água medicinal da nas-cente, extraída com uma bomba.Em 1640 instalam-se novas alcaçarias emAlfama por iniciativa de um mercador ve-neziano no sítio da "casa da água da mura-lha", ou seja, no interior de uma torre a nas-cente do Postigo de Alfama. O edifíciocontíguo à torre foi ampliado e melhoradopelo 1.º Duque de Cadaval, em 1716, pas-sando a chamar-se Alcaçarias do Duque,porventura o aproveitamento termal maisimportante das águas de Alfama.O engenheiro de minas Carlos Freire de An-drade foi encarregado pela administraçãoda Casa de Cadaval de apresentar um "ante-projecto de modificação da captagem dasnascentes de água medicinal das Alcaçariasdo Duque", divulgado numa separata doBoletim de Minas de 1935. Aí destaca as nas-centes mais importantes de águas termais acontar de SO para NE: Chafariz de El –Rei,Banhos de J. A. Baptista, Banhos de D. Clara,Tanque das Alcaçarias, Alcaçarias do Du-que, Banhos do Doutor, Bica do Jardim doTabaco, Largo da Fundição (Museu Militar)e Bica do Sapato (Fig. 1).As nascentes brotam aproximadamente emlinha recta desde a Fonte da Telha, zona ri-beirinha de Alfama, até ao Mouchão da Pó-voa, tudo sugerindo resultar de uma sériede fracturas, em consequência da tectónicada região de Lisboa. Carlos Freire de Andra-de propõe dois alinhamentos nas direcçõestectónicas (Fig. 1) aqui apresentados numacarta de meados do séc. XIX.Ao nível da composição química, as águas

apresentam geralmente como principaiselementos, o cloreto de sódio, o carbonatode cálcio e o sulfato de cálcio. As que apre-sentam a temperatura mais elevada são asdas Alcaçarias do Duque, rondando os 30 ºCregistados no poço da Alcalina. O caudal to-tal das nascentes deste poço foi calculado em158 500 litros por dia, podendo-se, só comeste dado, imaginar a quantidade de águaactualmente desperdiçada e perdida sob azona baixa de Alfama, não contando com asnascentes de vertente. O duque de Cadaval deve ter dado notíciaao rei D. João V da qualidade das suas águasjá que o médico do soberano publicou umestudo sobre as águas termais em 1726 naobra Aquilégio Medicinal, dizendo a certa al-tura "…que são as águas das Alcáçovas demuita utilidade nas intemperanças quentesdas entranhas, na debilidade do estômago,na queixa dos nervos, nos reumatismos, nasdoenças de mulheres, nos achaques a que sechama o fígado e dos intestinos e ainda naspústulas, impingens e várias queixas de pe-le" (passagem citada no Boletim “BoaUnião” de Dezembro/63).As águas das Alcaçarias voltam à ribalta nosanos 60, quando a Fonte das Ratas regista fi-las intermináveis de cidadãos com garra-fões, vindos até de fora de Lisboa, para usu-fruírem das suas qualidades terapêuticas.Mas a Direcção Geral de Saúde mandou en-cerrar a fonte em Dezembro de 1963 alegan-do que a mesma estava inquinada e no avisooficial dizia "fica interdita, até que seja possí-vel eliminar os perigos que, no actual mo-mento, ela pode oferecer para a saúde dosseus utentes". Passados 40 anos ainda nãofoi viável eliminar os tais perigos de inqui-nação e proceder à revitalização de um bemcada vez mais vital no século XXI! Resta-nos, para matar saudades do murmu-rio da água, passar pelo Grupo Sportivo Adi-cense, ali à Norberto de Araújo, (Fig.1 – 21) on-de uma nascente de vertente brota há váriasdécadas, primeiro utilizada para refrescar be-bidas (não havia ainda frigoríficos), agoradando vida a peixes num aquário.

CLEMENTINO AMARO, Técnico Superior do IPPAR.

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CASO DE ESTUDO

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A água foi determinante e condicionante docomportamento do Homem e da humani-dade. Na Idade Média, o domínio e o con-trolo da água permitiu às comunidades mo-násticas em conjuntos edificados alcançaremum elevado grau de condições de higiene esalubridade. A estratificação da sociedadecisterciense e a hierarquização dos seus es-paços, encontrava paralelo na gestão do seusistema hidráulico, com a separação entrerios, levadas e condutas, com característicasfísicas, caudais, cotas, controlos e riscos pró-prios e as suas finalidades distintas. Os cistercienses, ao moldarem as pedras, aágua, a luz e os sítios, numa harmonia místi-ca, espiritual e terrena, criaram espaços fun-damentais à vida das suas comunidades. Aligação à água foi uma constante nos seusmosteiros, sendo frequente aparecer tradu-zida na própria denominação da Abadia.Alcobaça torna-se num exemplo interessan-te de constatação histórica de interacçãocontinuada entre o Homem, a água e o meioambiente. Trata-se de um dos mais impor-tantes e bem conservados conjuntos monás-ticos cistercienses, com os seus registos e asua memória, e também um dos mais sensí-veis aos efeitos dos cheias seculares.

A ÁGUA E OS CISTERCIENSES EM ALCOBAÇAAlcobaça é rica na geologia e geomorfologiainerentes à sua formação, na hidrologia as-sociada e na variedade de fronteiras e tran-sições, da serra até ao mar, do maciço calcá-reo às arribas fósseis, da meseta ibérica àsorlas ceno-mesozóicas, com uma panópliapeculiar de simbioses e de salpicos de ori-gem eruptiva.Apresenta relevos e situações invulgares. Éo caso da bacia hidrográfica que se estreita

em apertada garganta como que para prote-ger Alcobaça dos ares do mar, mas cuja lo-calização a torna perigosamente vulnerávelàs cheias de excepção, facto de que o autornão se tem cansado de chamar a atenção!Em Alcobaça, os rios Alcoa e Baça aproxi-mam-se em sentidos opostos e ambos ro-dam cerca de 90º antes de se unirem e corre-rem para o vale tifónico nos Campos doValado, serpenteando pela estreita e cavadagarganta da Fervença. Ao fazerem-no,criam uma pequena plataforma aluvionar,resultado da acção conjunta dos seus cau-dais de transporte, fenómeno aumentadopela dificuldade de escoamento a jusante.Plataforma aluvionar bem enquadrada pelamãe-natureza, rodeada de montes aprazí-veis, dotada de fundação rochosa e bem ser-vida por duas linhas hidráulicas, com as co-tas do Alcoa ligeiramente superiores às cotasdo Baça, permitindo todo um sistema de Le-vadas e Levadinhas para as mais diversas fi-

nalidades tão caras e necessárias à Regra e àOrdem. Foi essa plataforma privilegiada quetentou as esclarecidas mentes cistercienses eas levou a escolher este sítio de excepção. Doação de 1153, digna de ter sido das últi-mas em vida de S. Bernardo, cujo "trânsito"ocorreu pouco depois, há 750 anos.A hidráulica monástica teve uma importân-cia relevante na concepção, implantação, ex-ploração e evolução da abadia, incluindo o conjunto monumental e "cerca". A com-preensão da "filosofia cisterciense" e a cons-tatação da importância do sistema hidráuli-co, da ocorrência de cheias acompanhadasde depósitos aluvionares substanciais, demovimentações artificiais de terras abran-gendo áreas, volumes e recursos de monta,da mudança dos leitos dos dois rios Alcoa eBaça e da existência de "assentamentos dife-renciais" em extensão no edificado, em con-sequência do efeito de cheias catastróficas,tudo revela que ao longo da história cister-

A água em Alcobaça

Tema de Capa

Alcobaça é um exemplo interessante de constatação histórica de interacção continuada entre o Homem, a água e o meio ambiente. Trata-se de um dos mais importantes e bem conservados con-juntos monásticos cistercienses e um dos mais sensíveis aos efeitos das cheias seculares.

Figura 1.

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ciense de Alcobaça, houve evoluções notá-veis e continuadas na arquitectura, na im-plantação e no arrumo dos edifícios abaciaise mudanças apreciáveis nas cotas úteis deconstrução e de utilização e nas topografiasde partida e de modelação.Os rios (alvo de controlos, contenções, cons-trução de açudes e mudança de leitos), as le-vadas (com os seus engenhos, sistemas deregulação de caudais, ramificações e beloslagos e fontanários, alguns de duas bicas,

numa clara separação das águas) e a condu-ta de água potável (em extensa e engenhosacaleira de pedra, com passagens, registos,pontos de inspecção e ventilação e distribui-ções diversas) todos convivendo em plata-formas aluvio-sedimentares em evolução eformando um sistema de causa-efeito, reve-lam um modelo hierarquizado que foi alta-mente condicionante da criação e desenvol-vimento do complexo cisterciense em todasas épocas. Modelo que também deixou mar-cas indeléveis no crescimento do tecido ur-bano da hoje cidade de Alcobaça, condicio-nando-o mais do que a grandiosa e tambémevolutiva matriz claustral.As cheias e os depósitos aluvionares asso-ciados, perseguiram os cistercienses duran-te séculos. A Alcobaça secular e urbana cres-ceu à sombra do seu mosteiro (facto bemcontrário à Regra inicial), ambos localizadoscomo "rolhão" no "gargalo" de saída da ba-cia hidrográfica referida, tentando aprovei-

tar as zonas mais planas e de mais fácil edifi-cação (facto continuado, mesmo hoje passa-do mais de meio-milénio e em pleno Séculodo Ambiente!). Cheias marcantes, houve-asem quase todas as épocas ao longo do regis-to da história cisterciense de perto de sete sé-culos, bem como os já perto de dois séculosseguintes, mostrando quão sensível foi a lo-calização de Alcobaça.A grande cheia de 1772, com movimentosde terras e assentamentos diferenciais no

edificado, talvez tenha sido a catástrofe na-tural de maior impacte na vida cistercienseem Alcobaça.Notável foi também o trabalho realizado ajusante, de regularização de caudais, decheias, de depósitos e de controlo de irriga-ção dos vastos Campos do Valado, conjuga-do com os efeitos das marés. Onde outrorafoi braço de mar com portos de navegação edepois zona pantanosa, no séc. XVIII atin-giu o expoente de desenvolvimento hidráu-lico e agrícola em acções de amplitude, con-sequências e recursos dignos de competircom as mais modernas metas proporciona-das pelos fundos comunitários actuais.Em Alcobaça, os cistercienses foram sempreelevando as cotas de funcionamento dassuas partes edificadas. Deslocaram e conti-veram o rio Alcoa (séc. XVI), muito prova-velmente já tinham feito o mesmo ao rio Baça, criaram linhas de água novas, proce-deram a movimentações de terras inimagi-

náveis, mas nada parou o seu engenho cria-dor. Na realidade, eles eram monges, agró-nomos, técnicos hidráulicos e arquitectos/construtores.

CONCLUSÃOEm Alcobaça, a arquitectura cisterciense e ahidráulica monástica, como na maioria dosoutros exemplos da Ordem, condicionam--se mutuamente. Ambas são "causa", ambasse tornam "efeito", num ritual e numa liga-ção indissociável, dependendo também daevolução geo-aluvionar da plataforma on-de se desenvolvem e das peculiaridades dosclimas mediterrâneos.A vulnerabilidade às cheias, a topografia eas cotas de utilização modificadas, os depó-sitos aluvio-sedimentares e os aterros e mo-vimentações de cariz artificial, as alteraçõesdos leitos dos rios, a evolução que o conjun-to monumental continuadamente sofreu, osassentamentos de que padeceu no edifica-do, a pressão urbana asfixiante, o aproveita-mento da rega e da força motriz hidráulicaem épocas cisterciense e pós-cisterciense e oseu progressivo abandono e as diferentes fi-losofias de "reutilização" ou de conservaçãodo património, tudo se conjuga para tornarAlcobaça um caso impar na história moder-na dos conjuntos cistercienses. A par da devolução dos rios e das linhas deágua ao mosteiro e à cidade, da restrição ab-soluta construtiva nas bordaduras sedimen-tares e do acautelamento da existência decondições de escoamento e de infiltração naextensão da bacia hidrográfica, há ainda quedesenvolver acções de sensibilização e deinformação nesta área crítica, mas geral-mente mal compreendida e aceite.Problemas que também são de segurançapatrimonial e das populações e que, em Al-cobaça, a julgar pela riqueza e pelo risco en-volvidos, em muito deveria transcender arevisão dos Planos Municipais e a tutela doMonumento Abacial e se tornar num casode singularidade nacional.

Tema de Capa

PEDRO TAVARES, Engenheiro consultor.

Foto 1: Lavabo. Foto 2: Fontanário de uma bica. Foto 3: Obelisco e espelho de água.

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PERSPECTIVA HISTÓRICA DOS SISTEMAS DE DRENAGEM URBANAOs primeiros sistemas "modernos" dedrenagem de águas residuais urbanas fo-ram construídos a partir de meados doséc. XIX, numa Europa rica que, em ple-no desenvolvimento industrial, tecnoló-gico e científico, era assolada por doen-ças epidémicas. Em Portugal, no final doséculo, Ressano Garcia inicia o projectode esgotos da cidade de Lisboa, que, talcomo na maioria das cidades europeias,é do tipo unitário, drenando as águas re-siduais domésticas e industriais no mes-mo colector que transporta as águas plu-viais. Na cidade do Porto, o sistemaconcebido no início do séc. XX é já do tiposeparativo, isto é, constituído por duasredes distintas, uma para as águas resi-duais domésticas e industriais e outra pa-ra as águas pluviais (Matos, 2000). É sensivelmente a partir das décadas de40 e 50 que se assiste à generalização daimplementação da rede separativa, a parda concretização de obras relativas aosprocessos de tratamento, designadamen-te de natureza biológica. Em Portugal, aconstrução de estações de tratamento deáguas residuais (ETAR) é mais tardia. Independentemente da tipologia do sis-tema adoptado, a concepção e gestãodos sistemas de drenagem assentava nosdois seguintes objectivos primordiais: acolecta e tratamento das águas residuaisdomésticas e industriais; e a colecta e

transporte das águas pluviais, regra ge-ral tão rápida quanto possível, para forados núcleos urbanos susceptíveis deinundação. No entanto, a partir sensi-velmente da década de 80, esta aborda-gem tradicional foi sendo posta em cau-sa, face às preocupações ambientaiscrescentes e à introdução dos conceitosde gestão integrada, sustentabilidade erenaturalização do meio hídrico urbanono planeamento e gestão das águas resi-duais urbanas.

PROBLEMAS ACTUAISMuitos dos principais problemas que ac-tualmente se colocam na gestão dos siste-mas de drenagem urbana estão relaciona-dos com os seguintes factores: • envelhecimento dos sistemas existen-tes, contribuindo para o aumento dos cau-dais de infiltração transportados pelos co-lectores, bem como para a exfiltração deáguas residuais do interior dos colectorespara solos e águas subterrâneas; • redução dos níveis freáticos e dos es-coamentos naturais superficial e subsu-perficial devido à excessiva impermeabi-lização e ocupação do solo urbano, comaumento significativo dos caudais deponta de cheia; • subdimensionamento hidráulico doscolectores nos núcleos urbanos mais an-tigos, em muitos casos as "baixas" de ci-dades e vilas, face à contribuição doscaudais resultantes da expansão urbana,

criando maior vulnerabilidade a inun-dações; • funcionamento deficiente dos sistemasseparativos, devido à existência de liga-ções indevidas da rede pluvial à domésti-ca, com afluência de caudais elevados deáguas pluviais às estações de tratamento; • ocorrência de descargas frequentes, porvezes com reduzidas taxas de diluiçãodas águas residuais domésticas nas plu-viais, a partir dos descarregadores detempestade de sistemas unitários oupseudo-separativos, contribuindo para apoluição dos meios hídricos receptores; • contaminação dos solos e dos recursoshídricos superficiais por águas de escor-rência pluvial significativamente poluí-das não sujeitas a tratamento, designada-mente de infra-estruturas rodoviárias ede áreas urbanas e industriais.

MEDIDAS DE CONTROLO DA POLUIÇÃOA prevenção da poluição dos meios re-ceptores e a despoluição destes consti-

Gestão das águas pluviais urbanas:

Em Portugal, a gestão integrada do ciclo urbano da água e a apli-cação de novos conceitos é ainda incipiente. Uma situação quepode e deve alterar-se, nomeadamente através dos instrumentosde ordenamento do território e de planeamento urbanístico.

passado, presente e desafios para o séc. XXI

Figura 1: Secção do caneiro sob a actual Avenida de Ceuta (fotografia gentilmente cedida pela Eng.ª Maria do Céu Almeida, LNEC).

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tuem, a nível internacional, um dos maisimportantes e difíceis desafios da actuali-dade. Os problemas de qualidade da águaresultantes das descargas em tempo dechuva são tidos em consideração na Di-rectiva Europeia 91/271/CEE – "Trata-mento de águas residuais, que estabelece:“os Estados-membros devem decidirquais as medidas para limitar a poluiçãoproveniente das descargas de tempesta-de”. Presentemente, há ainda a conside-rar as exigências constantes na Directiva--quadro da Água, em que as medidas aadoptar devem garantir o "bom estadoquímico e ecológico" das massas de águade superfície, prevenir a poluição daságuas subterrâneas e preservar as zonasprotegidas. Assim, a redução das afluências às redesde colectores e o tratamento dos eventosde precipitação mais frequentes, de me-nor dimensão, passaram a fazer parte deuma adequada gestão das águas pluviaisem meio urbano. O aproveitamento da capacidade de ar-mazenamento dos colectores, com recur-so a órgãos reguladores do caudal por vezes ligados a modelos de simulaçãomatemática a funcionar em tempo real, a construção de estruturas de armaze-namento e a utilização de estruturas es-peciais de descarga que promovem a pas-sagem para a ETAR das substâncias po-luentes transportadas em suspensão, têmsido algumas das medidas mais utiliza-das no controlo das descargas de sistemasunitários. A par destas intervenções nosistema de drenagem enterrado, existeum conjunto de soluções de "controlo naorigem" que tem vindo a ganhar cada vezmaior expressão em diversos países, des-tacando-se a utilização de bacias de reten-ção, pavimentos porosos "com estruturareservatório", poços absorventes, trin-cheiras e bacias de infiltração e valas re-vestidas com coberto vegetal. A imple-mentação destas medidas de controlo naorigem está geralmente condicionada pe-

lo desenvolvimento urbano existente,não sendo suficientes por si só, e em re-gra, para a resolução do problema dasdescargas em tempo de chuva. Porém, emfuturas áreas de expansão urbana e emáreas reabilitadas, podem vir a constituiruma via importante para reduzir o acrés-cimo das afluências pluviais aos sistemasde drenagem.

PRINCIPAIS DESAFIOSNa última década, assistiu-se ao desenvol-vimento de uma nova abordagem estraté-gica em termos do planeamento, projecto eoperação dos sistemas de drenagem urba-na, tendo por base (Chocat et al, 2001): • o melhor conhecimento dos impactesde descargas de águas residuais não tra-tadas nos meios receptores; • a consideração integrada dos diversoscomponentes dos sistemas de drenagemurbana (subsistema superficial, rede decolectores, ETAR e meio receptor); • a introdução do conceito de desenvolvi-mento sustentável; • o reconhecimento da importância deadoptar metodologias de "ecossistema"na gestão dos recursos hídricos.

Esta nova estratégia procura responder acinco grandes objectivos no âmbito dagestão integrada do ciclo urbano da água: • redução de inundações pela minimiza-ção dos caudais de ponta das bacias ur-banas; • minimização da poluição através da co-lecta e gestão das cargas poluentes pro-duzidas nas bacias de drenagem urbana; • retenção das águas pluviais e, tantoquanto possível, utilização das escorrên-cias superficiais urbanas, dentro ou pró-ximo da bacia contribuinte; • melhoria da paisagem urbana, inver-tendo a tendência de canalização dos cur-sos de água, para a situação de os restau-rar e integrar nas actividades urbanas,como, por exemplo, por via da incorpora-ção em cinturas verdes e funcionais; • redução dos investimentos, através,por exemplo, da integração das águaspluviais em áreas verdes, reduzindo oscustos das infra-estruturas. Em Portugal, a gestão integrada do ciclourbano da água e a aplicação destes no-vos conceitos é ainda incipiente. Esta si-tuação pode e deve alterar-se, nomeada-mente através dos instrumentos deordenamento do território e de planea-mento urbanístico.

Referências bibliográficasChocat B., Krebs P., Marsalek J., Rauch W., Schil-ling W. (2001). Urban Drainage Redefined: fromStormwater Removal to Integrated Management.Wat. Sci. & Tech., Vol. 43 (5), pp. 61-68. Matos R. S. (2000). Gestão Integrada de Águas Plu-viais em Meio Urbano – Visão Estratégica e Solu-ções para o Futuro. Série Teses e Programas de In-vestigação LNEC, LNEC, Lisboa.

LUÍS MESQUITA DAVID, Laboratório Nacional de Engenharia Civil, Departamento de Hidráulica e Ambiente, Núcleo de Engenharia Sanitária (LNEC/DHA/NES).

Figura 2: A ribeira da Costa, um caso para-digmático da pressão urbana sobre o meiohídrico que abrange os Concelhos daAmadora, Odivelas, Loures e, a jusante,Lisboa: (a) monitorização da qualidade daágua na ribeira; (b) monitorização daságuas residuais descarregadas em tempo dechuva e vestígios de água poluída após umapequena descarga.

Figura 2a

Figura 2b

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Muito recentemente, o acidente sobejamentedivulgado e especulado com a construção daEstação do Terreiro do Paço do Metropolita-no de Lisboa alimentou novas e sucessivasdiscussões, a que sobeja a emoção mas a quefalta, correntemente, a razoabilidade e, sobre-tudo, o suporte técnico e científico que permi-te que o assunto passe da esfera da notícia ouda simples análise jornalística.Dir-se-á que, sobre o assunto, se fala muitomais do que o que se sabe, não se estabelecemos limites concretos daquilo que se conhece edo que se ignora, tiram-se conclusões precipi-tadas que ajudam a lançar a confusão numaopinião pública – se esta existe –, infelizmentedesinformada e pouco preparada, fácil vítimade opiniões mal fundamentadas mas trans-mitidas com convicção.Com esta introdução não se pretende desfo-car o problema, ou dizer que ele não existe;pelo contrário, não se pode iludir a fragilida-de construtiva que hoje afecta a zona da Bai-xa Pombalina e a sua grande susceptibilida-de a todas as acções que conduzam aperturbações dos seus delicados equilíbriosestruturais e de fundações. Além disso, nãopode ignorar-se a importância da relação en-tre o comportamento das fundações dos edi-fícios e as alterações geológicas ou hidrológi-cas das respectivas bases, o que significa queà sobrevivência da Baixa, enquanto unidadeurbana, arquitectónica e construtiva de valorímpar no país, não pode deixar de se associar,entre outras questões, o conhecimento dascondições de acumulação e circulação daságuas subterrâneas e a sua influência no com-portamento das fundações, das estruturas edos edifícios no seu todo.Portanto, o problema existe, merece reflexão,

mais ainda, justifica a atenção e o estudo que éuma obrigação colectiva, mas deve ser coloca-do de forma justa, até mesmo tranquila, co-meçando por separar problemas, identifican-do os que têm explicação fácil e que são deabordagem possível no imediato ou a curtoprazo e aqueles que impõem, por muito queisso custe, o recurso a estudos prolongadosmas seguros, que viabilizem um futuro dife-rente para as intervenções, não só nos edifí-cios que integram a zona, mas também nos es-paços públicos e nas áreas envolventes.Dir-se-á que as questões essenciais que, erro-neamente ou não, se retomam periodica-mente são de dois tipos: as obras que têm vin-do a ser realizadas na Baixa produzirãoefeitos permanentes e irreversíveis nos regi-mes de escoamento das águas subterrâneas,conduzindo ao abaixamento definitivo dosníveis freáticos da zona; os edifícios da Baixaestarão fundados sobre estacaria de madeirae este material tem um comportamento tra-duzido pela sua enorme susceptibilidade aalternâncias de secura e humidade, e o abai-xamento do nível freático referido leva a queas cabeças das estacas de madeira deixem deestar submersas, correndo o risco de apodre-cimento a curto prazo.Dividido o problema essencial nestas duassubquestões, importará passar à análise de ca-da uma delas: em primeiro lugar, não é de ago-ra que se clama contra a alteração dos regimesde escoamento das águas subterrâneas deLisboa, não só na Baixa, mas em toda a cidade.Mas, se nos concentrarmos na zona da BaixaPombalina, dir-se-á que de há muito vêm sen-do criadas condições para que se conheça ca-da vez menos bem a forma como ocorre a in-filtração da água das chuvas, o

abastecimento dos aquíferos subterrâneos, já que já vai muito longe o tempo, perdido namemória dos homens, em que os vales da ci-dade, formados entre as suas colinas, eram zo-nas bucólicas cruzadas por numerosas linhasde água, parte das quais corriam para o rio.Para a Baixa importa sobretudo olhar paraValverde, que recebia as águas que desciamdo Vale do Pereiro, do Salitre e de S. Roque,de um lado, e do Campo de Santana e do To-rel do outro lado da que é hoje a Avenida daLiberdade; as águas da ribeira de Valverdejuntavam-se a outras que escorriam pelo va-le onde hoje é a Avenida Almirante Reis, re-cebendo os escoamentos de Arroios e da Pe-na, a poente, e da Penha de França, dos Anjose da Mouraria, a nascente, que alimentavamo Regueirão dos Anjos, cruzando-se todas es-tas águas algures na zona da Praça da Figuei-ra e daí se encaminhando para o rio, alguresentre as Ruas da Prata e do Ouro.Há muito que essas ribeiras foram encanadas,ao mesmo tempo que os vales onde antes aágua corria livremente, foram aterrados, pa-vimentados e construídos, criando-se, pelahumanização destas zonas urbanas que ocrescimento da cidade absorveu, inúmerasbarreiras ao natural escoamento superficialda água, à forma como ocorre a sua infiltra-ção, cada vez mais difícil pela impermeabili-zação produzida pelas coberturas, pelas ruase passeios sucessivamente asfaltados e pelaocupação sistemática de logradouros.Ao mesmo tempo, a importância que o auto-móvel ganhou a partir de meados de Nove-centos, "obrigou" à construção de caves nosedifícios para albergar as viaturas que as ruasjá não conseguiam suportar, ao mesmo tem-po que se iam construindo silos automóveis,

A águae a Baixa Pombalina

Tema de Capa

A relação da água com a Baixa Pombalina de Lisboa tem sido motivo recorrente de polémicas, de emis-são de opiniões e até de campanhas mais ou menos alarmistas em que se estabelece uma correlação di-recta entre a variação ou a variabilidade dos níveis freáticos da zona com as condições de segurança dosedifícios ali construídos.

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porque a superfície não chegava, e o Metro-politano ia construindo túneis barragens queesburacavam o subsolo sem qualquer preo-cupação de análise de impactes hidrogeológi-cos resultantes; e depois do Metropolitanovieram os túneis rodoviários, porque o auto-móvel continuava a pressionar.Tudo isto significa que a cidade de Lisboa nãoé mais definível por um conjunto ideal de ba-cias hidrográficas, sendo muito mais uma re-de inextricável de tubagens de esgotos plu-viais que teoricamente captam e conduzemas águas captadas nas coberturas e logradou-ros, nos passeios e nas vias, sem que ninguémsaiba com rigor as águas que se perdem peloslongos caminhos percorridos e, muito me-nos, por onde andam as outras águas, as queresultam de todas as que se infiltram e nãosão canalizadas, por vezes alimentadas porlençóis e veios provindos de distâncias ini-magináveis.De facto, com a ausência de estudos e com aabundância de obras que perturbam os regi-mes de acumulação e escoamento das águassubterrâneas, pode dizer-se, basicamente, quepouco ou nada se sabe sobre a evolução dos ní-veis freáticos na Baixa Pombalina, como aliásem quase toda a cidade; quantos casos não sãoconhecidos, na cidade, de nascentes que seca-ram depois da execução de certas obras sub-terrâneas, ao mesmo tempo que outras nas-centes se criavam, às vezes, ironicamente, nointerior das próprias construções? Sem que sepretenda obter resposta, perguntar-se-á se ha-verá alguém que saiba que perturbações terãoprovocado, nas águas da Baixa, os parques deestacionamento do Marquês de Pombal, dosRestauradores, do Martim Moniz ou da Praçada Figueira? E qual terá sido o resultado daconstrução de três, quatro ou cinco caves emedifícios construídos na Avenida da Liberda-de e arruamentos adjacentes, e na Avenida Almirante Reis e no Martim Moniz e nas pró-prias ruas da Baixa, a começar pelas caves doTeatro D. Maria, no Rossio? E os túneis do Me-tro e suas estações, do Marquês de Pombal atéao Terreiro do Paço, passando pelo Rossio epelo Chiado, e pela Almirante Reis, MartimMoniz e Praça da Figueira não terão tido im-pacte na hidrologia da Baixa?

Tantas perguntas, tantas dúvidas e nenhumacerteza. Certo, certo, é que a água é persisten-te (como o cão que sempre encontra o rastodo dono) e procura insistentemente os seusvelhos caminhos, resistindo à pressão artifi-cial do Homem para que se desvie para no-vos trilhos. Isso é o que parece acontecerquando, após a construção de vários edifícioscom caves e de um enorme parqueamentosubterrâneo no Martim Moniz, se verificou,quando da construção de um enorme par-queamento na Praça da Figueira, que a águalá continuava a chegar, abundante nos reflui-mentos através dos furos das ancoragens rea-lizadas nas paredes do parque.Mas certo é também que se têm verificadoperturbações relevantes nos níveis visíveisda água que cobre as zonas mais profundasdas escavações realizadas no chamado Nú-cleo Arqueológico da Rua dos Correeiros(edifícioBCP). Pelo contrário, incerta é a cau-sa dessas perturbações, que muitos atri-buiriam à Estação do Terreiro do Paço do Metropolitano, outros ao parque de estacio-namento da Praça da Figueira, obras polé-micas e mais emblemáticas pela sua dimen-são. Mas, e se a explicação for mais simples,de muito menor impacte e esse abaixamen-to for devido a bombagens realizadas em ca-ves de edifícios adjacentes?Parecem, de facto, dúvidas a mais e certezas amenos e, por isso, é necessário adoptar pelomenos dois tipos de atitudes e de acções: emprimeiro lugar, é essencial conhecer-se o quede facto se está a passar com o ambiente hidro-lógico subterrâneo na Baixa, para o que é ne-cessário algo mais do que a colocação simbóli-ca, tecnicamente demagógica, de três ouquatro piezómetros na Praça do Comércio; énecessário organizar um plano sério e vasto,de instrumentação de toda a área da Baixa edas zonas que lhe abastecem os aquíferos, pa-ra o que terá que haver, em primeiro lugar, acompreensão, pelo poder político, da necessi-dade de promover esse estudo, que é dispen-dioso pela mobilização de técnicos espe-cialistas, pela instalação de numerosos equi-pamentos de registo e, naturalmente, pela re-colha sistemática da informação que daí virá erespectivo tratamento técnico-científico.

Em segundo lugar, é necessário repensar aforma de ocupar o solo da cidade, desde logonas zonas antes referidas, impondo a liberta-ção de logradouros, a construção controladade caves e outras edificações subterrâneas,adoptando, quando for o caso dessa constru-ção, medidas minimizadoras de impactes nosubsolo e, em particular, nos regimes hidro-lógicos em presença. Nada de novo nesta pro-posta, que tem paternidade garantida e justa-mente realçada na actividade permanente esem desfalecimentos do Prof. Ribeiro Telles,cujo problema, nestas questões, será talvezapenas o de ter razão antes de tempo.Assente o elevado nível de desconhecimentoefectivo das actuais características hidrológi-cas na zona da Baixa Pombalina, importaagora abordar a segunda parte da polémicaque geralmente se associa à questão dos ní-veis freáticos para acentuar os riscos de ruínada Baixa através da destruição das fundaçõesconstituídas por estacas de madeira.Aqui reside um dos grandes equívocos emque assenta esta discussão. De facto, a estaca-ria de madeira não é, decerto, a fundação ac-tual dos edifícios da Baixa Pombalina. Estaafirmação tão peremptória, num texto reple-to de dúvidas, e claramente contra a correntedominante no meio técnico – embora seja ver-dade que quem repete o mito das estacas--fundação, pouco saiba sobre o assunto porconhecimento directo –, merece naturalmen-te uma justificação.Em primeiro lugar, a Baixa não é, geologi-camente, um meio homogéneo em toda asua extensão e, por isso, muitos edifíciosnão carecem de fundações especiais; recor-de-se que boa parte da Baixa é de ocupaçãomuito antiga, da época romana ou mesmoanterior, confirmada pelos muçulmanos edepois pelos portugueses, a partir da IdadeMédia, com construções dotadas de funda-ções directas a cotas que andarão entre trêsa seis metros abaixo das actuais cotas de pa-vimentos exteriores de ruas, passeios e pra-ças, ou seja, edifícios localizados nessas zo-nas, onde se encontrava o Miocénico apequena profundidade, não careceriam,nos séc. XVIII e XIX, de fundações que nãofossem simples caboucos preenchidos de

Tema de Capa

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CASO DE ESTUDO

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Tema de Capa

alvenaria ordinária.Depois, o que se verifica, observando diver-sos casos em que foram detectadas estacas demadeira, é que estas têm comprimentos irre-gulares, por vezes muito desiguais, mesmoem estacas muito próximas entre si, como ainda recentemente ocorreu na Praça da Fi-gueira, quando foram postas a descoberto al-gumas estacas de madeira do antigo Hospi-tal Real de Todos-os-Santos, em que oselementos mais curtos tinham apenas cercade 1,5 metro de comprimento. E o que se diráde edifícios executados em zonas em que ofirme se encontra a 15 ou 20 metros de pro-fundidade e as estacas têm não mais de meia-dúzia de metros no total?Tudo isto significa que a estacaria de madei-ra, podendo ter, na fase de construção do edi-fício, a função de receber indirectamente,através do engradado de madeira caracterís-tico, o peso do edifício que sobre este nascia,era basicamente um processo construtivo pa-ra se garantir a compactação dos solos de ater-ro que constituíam as sucessivas camadaslançadas, ao longo do tempo, sobre os terre-nos naturais, criando condições geotécnicaspara que essas camadas recebessem as fun-dações dos edifícios.Hoje, é certo que esses edifícios estão funda-dos nas camadas superficiais dos solos com-pactados e o comportamentos destas funda-ções tem-se revelado quase exemplar, comofacilmente se verifica pela excelência do com-portamento das pesadíssimas paredes de al-venaria, mesmo nos casos em que os edifíciosforam aumentados em um, dois ou três pi-sos; a excepção, facilmente identificável, lo-caliza-se na Ala Poente do Terreiro do Paço,zona onde se conhecem as características geológicas particularmente desfavoráveis deespessas camadas de lodos e de aterros, cujacompactação não foi possível com os meiosdisponíveis na época da sua construção.Estas evidências não eliminam, no entanto, orisco que continuamente se está a fazer au-mentar de deterioração das condições hidro-geológicas dos solos da Baixa; se os níveisfreáticos estiverem, ou vierem a estar, defini-tiva e drasticamente afectados pelos sucessi-vos erros que se têm vindo a cometer na ocu-

pação e na organização territorial da cidade,existe um risco elevado de virem a criar-se e aver aumentar os volumes de vazio no solo,mesmo sob as fundações dos edifícios, na se-quência de arrastamento de finos do solo, po-dendo gerar-se situações em que haja riscoefectivo de ocorrência de movimentos de as-sentamento de fundações e correspondentedeterioração das condições de segurança es-trutural que afectarão, sobretudo as paredesmestras desses edifícios, fragilizando-os ain-da mais do que já estão, também pela actua-ção descuidada e negligente do Homem.

No final deste texto, não posso deixar de pe-dir a benevolência dos leitores, sobretudopelo atrevimento de tratar, em voo rasante,temas diversos dos quais não sou especialis-ta; resta-me a consolação, se tal benevolên-cia não me for concedida, de a ter antes con-cedido a quem, sem de nada ser especialista,emitiu opiniões definitivas cuja virtudemaior será a de se oporem às minhas. A bemda polémica.

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JOÃO APPLETON, Engenheiro, A2P, Consult, Ld.ª.

Figura 2: Estacas acabadas de arrancar. São bastante curtas, enão sendo, propriamente, estacas de fundação. Serviram, ape-nas, para criar, no terreno submerso, uma camada mais oumenos compacta e confinada, capaz de suportar as alvenarias.Exceptuando as cabeças, as estacas estão em bom estado, por-que estavam imersas, na maior parte do seu comprimento.Figura 3: Como se vê, os troncos que constituem a grade e ascabeças das estacas estão a seco e apodrecem, enfraquecendo oconjunto que suporta as alvenarias. Vê-se que a cabeça da esta-ca do lado direito desapareceu.

Figura 1: Esquema da disposição das "estacas" frequentes nas fundações da BaixaPombalina, com a grade de troncos de madeira que suporta os maciços de alvenaria.

Figura 2 Figura 3

Figura 1

AS "ESTACAS" CARECEM DE ESTUDO, MONITORIZAÇÃO E MEDIDAS CAUTELARES

A Baixa Pombalina e, em particular, o que se passa com o seu subsolo são matérias que despertam grande curiosi-dade aos lisboetas e que têm dado azo a muita especulação e algum alarmismo, facilitados pela ausência quase to-tal de estudos sobre o regime hidrogeológico da Baixa e sobre o comportamento, ao longo do tempo, dos edifíciosque a constituem. Esta falha insere-se no abandono a que a Baixa Pombalina tem estado votada, apesar de todas aspromessas feitas pelas sucessivas gestões autárquicas1.Mais do que os assentamentos da fundação, é esse abandono que deve inquietar todos quanto prezam o valor ar-quitectónico da Baixa e pretendem assegurar a transmissão aos vindouros do que ela ainda tem de autêntico, tan-to mais quanto maiores os interesses imobiliários se perfilam à sua volta.Quanto às "estacas"2 em si, estamos de acordo que é um cenário de risco menor, embora um problema a atender. Umcenário de risco menor porque essas estacas e o engradado que sobre elas existe foram, de facto, utilizadas paraconfinar o terreno e criar um "fixe", à cota do nível freático, onde as alvenarias de cal aérea pudessem começar a serassentes (ver Fig. 1). E isto apenas nas zonas onde não existissem fundações de antigas construções suficiente-mente sólidas para sobre elas nascerem os novos edifícios; como, na altura da construção, todos os elementos demadeira estariam submersos, não apodreciam (ver Fig. 2). É de atender porque, com o abaixamento do nível freá-tico (que se tem constatado), se dá um apodrecimento das cabeças dessas estacas e do engradado que sobre elas as-senta (ver Fig. 3). Com esse apodrecimento há uma perda de material (madeira) e do efeito de confinamento, nascamadas subjacentes aos maciços de fundação, que pode dar (e tem dado), lugar a deformações dos edifícios, agra-vadas pelos assentamentos induzidos pela própria perda de água ou, mesmo, pelo eventual arrastamento de finos.Tais deformações são, no entanto, limitadas pela redistribuição de cargas que se vai paulatinamente verificandona camada de fundação, sendo o seu impacto nos edifícios pombalinos limitado pela própria robustez destes. Des-te modo, embora não seja um cenário de risco prioritário, carece de estudo, monitorização e, tão depressa quantopossível, algumas medidas cautelares.Espera-se que a actual gestão autárquica concretize as intenções que tem anunciado e que a Baixa Pombalina se ve-ja dotada de órgãos que dinamizem e de instrumentos que suportem a sua salvaguarda enquanto património da ci-dade, do país e, como deseja o GECoRPA, do Mundo.

V. Cóias e Silva – Engenheiro Civil, Presidente do GECoRPA

1 Ver, a este propósito, o número 11 da P&C, dedicado ao Encontro "Baixa Pombalina: Que futuro?", e as conclusões desse encontro, publicadas no n.º 12.2 Entre aspas, porque não são propriamente fundações indirectas.

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Efectivamente, o nosso país dispõe de condi-ções de excepção: a mais completa varieda-de de tipos de água mineral natural da Euro-pa e condições climatéricas favoráveis quefacilitam o funcionamento anual das estân-cias termais. De uma forma particular, o seupatrimónio cultural, artístico, paisagístico egastronómico é um factor de excelente en-quadramento da actividade termal, com ba-se nas tendências actuais e na necessidade decaptar uma procura externa face à posiçãoperiférica de Portugal na Europa. Estas con-dições devem estimular o investimento nosequipamentos e serviços (realizado de umaforma integrada, simultaneamente numa di-mensão local, mas também, quando possí-vel, numa perspectiva regional) e no ensinoe na investigação. Será esta a chave para a so-brevivência económica, científica e técnicado termalismo português, como sector váli-do na saúde e no turismo. A sua história re-gista diferentes combinações entre as fun-ções lúdica e terapêutica, com predomíniode uma ou outra, mas, hoje em dia, a soluçãopassa efectivamente por estabelecer umequilíbrio entre ambas as partes, favorecen-do em cada uma das estâncias o que de me-lhor podem potenciar como oferta de saúde

e turismo – na qual o seu património termalé um dos elementos importantes a preser-var, nas suas vertentes geológica, ambiental,arquitectónica, médica e ritualística.

O MICROCOSMO TERMALA viragem do séc. XIX para o séc. XX repre-sentou o período da construção de uma gran-de parte das estâncias termais, em resultadoda regulação legislativa do sector, estabeleci-da em 1892, e da vontade dos investidores emaproximarem o nosso país às práticas já desenvolvidas noutros países europeus. Nas-cidas das águas, as novas estâncias preenche-ram-se de equipamentos essenciais à activi-dade termal: balneários, buvettes, hotéis,clubes, casinos, parques e alamedas. A arqui-tectura termal foi marcada por uma morfolo-gia própria, por vezes romântica, mas obede-cendo à sua especificidade funcional.A origem organizada das estâncias termais ea sua evolução estiveram sempre ligadas àfunção terapêutica. Independentemente dasua dimensão, as nascentes e os aglomera-dos constituem sistemas onde se estabele-cem inter-relações de carácter funcional, estético, cultural e patrimonial. A sua parti-cularidade espacial é conferida, sobretudo,

pela existência de equipamentos comuns e pela própria disposição da malha urbana e a relação que nesta estabelecem os diferentes edifícios e espaços públicos exte-riores. Uma estância é, pois, composta pelosequipamentos induzidos pela actividade ter-mal e por todas as estruturas que se lhes jun-tam, de forma a permitir uma estada agradá-vel e uma ocupação diversificada, já que aexpressão do lugar tem repercussões psíqui-cas, afectivas e culturais, bastante complexas,que contribuem para o equilíbrio biológico epara o efeito terapêutico, tal como para o re-lacionamento social que o encontro nas ter-mas proporciona aos seus utentes.Trata-se de um espaço revelador de imagensprofundamente ritualizadas, cujo suporte éo próprio espírito do sítio identificado pelasua ordem, identidade, ambiência, ou seja, oseu carácter de imaginabilidade, que assentano significado cultural construído por com-ponentes históricas, geográficas e sociais.Torna-se indispensável a protecção das nas-centes, do ambiente e do equilíbrio biofísicoda área incluída no perímetro termal das es-tâncias termais. Estas são lugares de reen-contro com a natureza. Por isso, devem serpreservadas nos seus recursos e dotadas detodas as infra-estruturas básicas para o seupleno funcionamento. O desenvolvimentodo termalismo em Portugal exige que sejamrespeitadas as medidas delineadas para aprotecção dos recursos aquíferos e ambien-tais, sem a qual as estâncias perderão a es-sência da sua vocação. Esta matéria traduz--se tão importante quanto se identifica estepatrimónio com a própria existência da acti-vidade termal e com as potencialidades dasestâncias em matérias ligadas também à geo-termia, ao climatismo e ao ecoturismo.

A SALVAGUARDA DOS TESTEMUNHOSPara além dos aspectos ambientais, a salva-guarda do património edificado e móvel tor-na-se determinante para o enquadramentocultural e turístico das termas portuguesas.Muitas das obras realizadas recentemente ti-

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Figura 1: Fachada do Hospital Termal.

OPINIÃOTema de Capa

das termasO património

Portugal tem umariqueza grande emrecursos de águamineral natural, oque favorece a apos-ta no termalismo co-mo sector de activi-dade nas áreas dasaúde e do turismo.

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veram como objectivo a modernização e aampliação da oferta termal, o que resulta emprojectos de transformação do espaço do bal-neário termal e a consequente remoção dosequipamentos hidrológicos (datados de fi-nais do séc. XIX a meados do séc. XX, e por is-so considerados obsoletos para as actuais prá-ticas de saúde e lazer) e a sua substituição pornovos aparelhos e tecnologias. A análise dosprojectos de arquitectura e os trabalhos de in-tervenção no espaço termal não são acompa-nhados por especialistas em património emuseologia, daí que a grande maioria dos tes-temunhos é removida e, por vezes, destruídasem se ter em conta a sua salvaguarda. O conhecimento e a caracterização do patri-mónio termal pressupõem a realização de le-gislação, trabalho que deve ser concretizadopor diferentes organismos, que pela nature-za das suas competências se relacionem como universo termal. Na base dessa legislaçãoestará um levantamento a nível nacional,com acções que vão desde o inventário, ca-racterização e classificação do patrimónioambiental (recurso hidrológico, paisagem,parques termais), do património edificado(balneários, buvettes, hotéis, casinos, edifíciosde engarrafamento de águas, capelas, etc.) ed opatrimónio móvel (artístico, mobiliário, ins-trumentos médico-científicos, equipamen-tos hidrológicos, equipamentos industriais,documentação técnica ou administrativa, fo-tografias, filmes, etc.), tarefa que deverá serarticulada com as diferentes entidades de tu-tela e concessionários. O documento deveráestabelecer as áreas de protecção, as obriga-ções e os compromissos das diferentes tute-las, bem como as estratégias de salvaguardado património remanescente.A valorização do sítio termal, a integraçãodos testemunhos, a preservação das vivên-cias e dos rituais dos aquistas são actualmen-te objecto de reflexão cuidada por parte dosmuseus termais. No entanto, cada institui-ção tem criado a sua própria abordagem desalvaguarda, de pesquisa e de divulgação dopatrimónio termal. Esta multiplicidade de

iniciativas terá que ser acompanhada poruma confrontação de experiências e de aná-lises, para um aprofundamento entre todosos intervenientes no termalismo, bem comopela criação de uma rede mundial de mu-seus termais. Em Portugal, a museologiaaplicada ao termalismo é uma área recente,mas com profunda responsabilidade na de-fesa patrimonial, estética, memorial e educa-tiva do universo termal português.

CALDAS DA RAINHA: PATRIMÓNIO DAS ÁGUASNesta matéria, Caldas da Rainha assume umpapel inquestionável como Património dasÁguas, tendo em vista a salvaguarda e valo-rização do seu centro histórico e patrimóniotermal, a sua afirmação urbana estratégica ea constituição de um processo de classifica-ção patrimonial.Algumas estâncias termais podem ser repre-sentativas da história e da universalidade dotermalismo no mundo. Mas nenhuma outrapode conjugar, em simultâneo, os recursoshidrotermais de características únicas e umahistória ligada ao primeiro hospital termaldo mundo, a um acto misericordioso, a umaraiz urbana, à assistência aos pobres e à vile-giatura de reis e aristocratas. A História Ter-mal das Caldas da Rainha responde ao espí-rito da Convenção de 1972, enquanto bemcom valor universal e interesse excepcional.

É por estas razões que Caldas da Rainha po-de, pela primeira vez, alargar a lista daUNESCO aos recursos hidrotermais e à His-tória Comparada do Termalismo.A água torna-se o elemento central desta can-didatura e, como recurso esgotável para a per-manência de uma actividade milenar em tornodas águas termais, deve ser o primeiro elemen-to de valor patrimonial a atender, em todo oseu ciclo. Trata-se, assim, de reforçar a singula-ridade e a pertinência desta candidatura.A inclusão na Lista do Património Mundialdos recursos hidrotermais das Caldas daRainha e do património associado à Históriado Termalismo não só se justifica como dis-tinção simbólica mas, sobretudo, como res-posta à estratégia global da UNESCO na di-versificação de bens a classificar. Em termoslocais, a classificação não pode deixar de servista como estratégia que visa reforçar a competitividade da cidade com objectivosbem definidos e um contributo para o relan-çamento do termalismo e a sua divulgação. Recorrer à figura do património mundial émobilizar solidariedades e empenhos capa-zes de apoiar a valorização do património e aafirmação da cidade e da sua raiz fundadora,mas também como prestígio e factor de visi-bilidade para o termalismo nacional.

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HELENA GONÇALVES PINTO,Licenciada em História e mestranda emMuseologia e Património, coordenadorado Museu do Hospital e das Caldas (Caldas da Rainha); JORGE MANGORRINHA, Arquitecto e Mestre, vereador da Câmara Municipal das Caldas da Rainha.

Figura 2: Casa da Copa do Hospital Termal.

Figura 3: Sala de inalações.

OPINIÃOTema de Capa

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TECNOLOGIAS

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Tema de Capa

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A barragem do Picote, construída no finalda década de 50, localiza-se no Douro in-ternacional, a sul de Miranda do Douro. Oparamento de jusante do descarregador de

cheias manifestava, desde alguns anos, si-nais de deterioração, sobretudo ao longodas juntas de dilatação radiais de extremi-dade do descarregador (comportas 1 e 4), e

em zonas próximas. Algumas dessas zo-nas, nomeadamente, na margem de Espa-nha, foram alvo de reparações em 1990,que, no entanto, não foram bem sucedidas.Face a esta situação, decidiu a CPPE proce-der a um estudo mais rigoroso das anoma-lias existentes, tendo em vista a reabilita-ção durável dos betões do paramento.O estudo cometido à Oz, incluiu a realiza-ção de trabalhos de inspecção e ensaiosnão destrutivos, nomeadamente, os cons-tantes no Quadro A.

CONCLUSÕESDa análise dos resultados dos ensaios edas observações efectuadas extraíram-seas conclusões a seguir:• As malhas de armaduras têm espaça-mentos irregulares e valores de recobri-mento muito elevados.• Os betões não se encontram carbonatados.• As fissuras verticais e de delaminação,que se desenvolvem ao longo das juntasde dilatação radiais de extremidade, atin-gem nalguns casos o nível das armaduras.• Nesses casos o risco de corrosão activa éelevado.• Os betões são pouco homogéneos emtermos de resistência, não sendo fiável es-timar-se o valor característico da tensão

Reabilitaçãona barragem do Picote

O paramento de jusante do descarregador de cheias da barragem do Picote manifestava, desde al-guns anos, sinais de deterioração. A CPPE (1) procedeu a um estudo mais rigoroso das anomalias exis-tentes, tendo em vista a reabilitação durável dos betões do paramento. À Oz coube a realização detrabalhos de inspecção e ensaios não destrutivos.

ENSAIOEnsaios de rotura à compressão sobre carotes

Ensaios esclerométricos

Ensaios de arrancamento

Ensaios ultrassónicos

Detecção e medição do recobrimento das armaduras com um pacómetro

Avaliação do risco de corrosão activa das armaduras através da medição de potenciais eléctricos

Determinação da profundidade da frente de carbonatação dos betões

Ensaios laboratoriais de determinação da absorção e capilaridade dos betões

Ensaios de análise petrográfica

Observações termográficas

Ensaios de percussão

QUADRO A: ENSAIOS REALIZADOS E SEU OBJECTIVO PRINCIPALOBJECTIVO

Determinação fiável da resistência actual dos betões

Determinação indirecta da resistência dos betões e avaliação da uniformidade

Idem

Avaliação da qualidade dos betões e determinação indirecta da profundidade de fissuras bem definidas

Durabilidade (corrosão de armaduras)

Durabilidade (corrosão de armaduras)

Durabilidade (corrosão de armaduras)

Durabilidade (corrosão de armaduras)

Observação da microestrutura dos betões (detecção de reacções expansivas)

Localização de zonas delaminadas

Detecção de descontinuidades superficiais.

Figuras 1 e 2: Vista parcial do descarregador de superfíciecom as plataformas de acesso às zonas de ensaios e detecção de armaduras e medição do recobrimento com o pacómetro.

(1) Companhia Portuguesa de Produção de Electricidade

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de rotura.• Os betões, em geral, apresentam vestí-gios de etringite (reacções químicas ex-pansivas), embora, aparentemente, compouca importância.

• Existem outras zonas delaminadas ain-da não visíveis.

DIAGNÓSTICO DAS ANOMALIASTendo por base as conclusões atrás referi-das, a principal causa da delaminação dosbetões será, provavelmente, de naturezamecânica, relacionada com o funciona-mento das juntas radiais de extremidade,em resultado das solicitações que são im-postas directamente (variações de tempe-ratura) ou indirectamente (através do cor-po principal da barragem). Este efeito será

agravado pelo elevado recobrimento dasarmaduras, que deixa desguarnecida umaapreciável espessura de betão junto à su-perfície. Em resultado, os betões da faceexterior do descarregador (betão de reco-brimento), nos lados das juntas radiais se-rão excessivamente comprimidos, for-mando-se cunhas de material solto que,sujeitas à erosão das descargas da água, sevão destacando, expondo as armaduras e, consequentemente, favorecendo a suacorrosão, inclusive noutras zonas maisafastadas das juntas.Não é de excluir a possibilidade que o excesso de compressão dos betões estuda-dos também possa ter origem na ocorrên-cia de reacções químicas internas expansi-vas, cuja importância só poderá sermelhor avaliada através da realização deensaios laboratoriais complementares(por exemplo, raios-X).

PROPOSTA DE INTERVENÇÃOA reparação deverá incidir, essencialmen-te, numa faixa ao longo das juntas estrutu-rais radiais de extremidade, para o inte-rior do descarregador. Preconiza-se aremoção do betão solto e sua substituiçãopor material de reparação compatível como existente, tendo-se o cuidado de limpar

e proteger as armaduras corroídas. O ma-terial deverá ser suficientemente resisten-te para suportar as acções impostas pelasjuntas, podendo, também, optar-se pordotar esta nova camada de uma malha dearmadura adicional que trabalhe em con-junto com o novo material.Paralelamente, dever-se-á aprofundar oestudo sobre a importância das reacçõesexpansivas dos betões a fim de serem de-finidas as medidas correctivas mais ade-quadas.

Nota do autor: O artigo exposto ilustra o caso típicoda necessidade do diagnóstico antes da intervenção,com todas as vantagens daí decorrentes. Nas últimasdécadas têm sido desenvolvidas várias técnicas dediagnóstico, para os diferentes tipos de construção,que permitem identificar, claramente, os mecanismosde deterioração em presença e, também, avaliar a suaimportância e extensão.De salientar que cada vez mais tem vindo a ser adop-tada uma cultura pró-activa de manutenção/conser-vação das construções quer das existentes quer dasque vão ser construídas, bem como de preservação dopatrimónio em geral, onde as referidas técnicas assu-mem um papel fundamental.

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TECNOLOGIASTema de Capa

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Figura 3: Exemplo de uma das zonas de ensaios (conjunto de ensaios realizados numa mesma zona).

CARLOS MESQUITA,Eng.º Civil, Director Técnico da Oz, Ld.ª.

Figuras 4 e 5: Imagem termográfica do paramento do descarregador e fotomicrografiade lâmina delgada de uma amostra de betão evidenciando a presença de vazios preenchidoscom etringite (reacções químicas expansivas) e minerais de cimento não hidratado.

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PROJECTOS E ESTALEIROSTema de Capa

A sua classificação como "monumento na-cional", "imóvel de interesse público" ou"concelhio", com origem no início do sécu-lo passado, tem vindo a contribuir para apreservação deste património cujas ori-gens remontam nalguns casos há mais de2000 anos.Os exemplares mais valiosos existentesem Portugal são de origem romana, cons-tituíndo marcos da extensa rede de estra-das do império – as "pontes de pedra".A Monumenta procedeu recentemente àrecuperação e manutenção de seis pontesde tipologia romana e origem medievalque se encontram distribuídas pelo Cen-tro e Sul de Portugal; algumas ainda utili-zadas como parte integrante da rede ro-doviárias, e com um volume de tráfegoconsiderável. Previamente à intervenção, as pontes fo-ram objecto de uma inspecção, a cargo deuma entidade certificada, com o objecti-vo de identificar as anomalias e caracteri-zar o estado de conservação, assim comodefinir a metodologia de intervençãoadequada. As pontes intervencionadas são monu-

mentos classifi-cados ou em vi-as de classifica-ção que impor-ta identificar:• Ponte de VilaFormosa : M.N.Dec. de 16 de Junho de 1910,D.G. 136 de 23

Junho 1910; encontra-se localizada na EN369 entre Ponte de Sor e Alter do Chão a 12quilómetros a oeste desta vila;• Ponte romana de Vila Ruiva – Cuba:M.N. Dec. n.º 47984 de 6 de Outubro 1967.D.G. 233 de 6 Outubro 1967;• Ponte romana sobre o rio Brenhas –Moura: M.N. Dec. n.º 33587, D.G. 63 de 27de Março de 1944;• Ponte romana sobre a ribeira grande deMonforte: M.N. Dec. n.º 29/90, D.R. 163de 17 de Julho de 1990;• Ponte sobre a ribeira de Enxoé: Localiza-da na EN 256 entre Serpa e Moura a 8 kmde Serpa;• Ponte medieval sobre a ribeira de Fi-gueiró – Nisa : I.I.P. Dec. n.º 44075, DG 281de 5 de Dezembro de 1961;• Ponte Velha do Prado – Crato, em viasde classificação;Por ser considerada um dos mais impor-tante monumentos do género no país, con-sagramos, no presente documento, maiordestaque à intervenção efectuada na pon-te de Vila Formosa. Próxima de Alter do Chão, a ponte tem umtabuleiro de 116 metros de comprimento,desenvolvendo-se sobre seis arcos plenos,todos de idênticas dimensões. Os arcos en-contram-se apoiados em pegões quadran-gulares, de alvenaria granítica, apresen-tando molduras salientes na base etalha-mar triangulares a montante. O pa-vimento é constituído por lajedo de grani-to aparelhado, apresentando lateralmenteguardas de cantarias da mesma natureza.A ponte apresentava anomalias estrutu-

rais e outras de natureza não-estruturalque prejudicavam a funcionalidade doconjunto: fissuras alinhadas com as jun-tas das pedras no intradorso dos arcos;juntas desguarnecidas; lacunas nas pe-dras dos pilares; escorrências devidas ainfiltrações provenientes do tabuleiro as-sociadas a vegetação parasita que por suavez diminuía a capacidade de drenagemdas águas pluviais.A intervenção caracterizou-se pela reali-zação de actividades essenciais à correc-ção das anomalias supracitadas. Os traba-lhos tiveram início pela limpeza eremoção de vegetação, infestante dos pa-ramentos, do tabuleiro e envolvente pró-xima.Procedeu-se em seguida à limpeza de jun-tas e remoção manual de argamassas de-terioradas, para posterior preenchimentocom argamassa de cal aérea em pasta eareia, executada com especial atenção àmanutenção da visibilidade das arestasdas pedras.Após selagem das juntas estruturais, foiinjectada, através dos tubos colocadospreviamente para o efeito, uma argamas-sa cimentícia, com baixo teor de sais, decaracterísticas anti-retrácteis. Destaque ainda para a reconstrução detroços de alvenaria em guardas e recolo-cação de elementos em falta em paramen-tos verticais e preenchimento de lacunasna alvenaria dos pilares.

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JOÃO VARANDAS, Engenheiro, Director da Monumenta, Ld.ª.

As pontes históricas distribuem-se por todo o ter-ritório português representado ao mais alto nível opatrimónio histórico, cultural e artístico nacional.

Pontes históricas

Figura 2: Ponte de Vila Formosa.

a) Ponte de Vila Formosab) Ponte Velha do Pradoc) Ponte Medieval sobre

Ribeira de Figueiród) Ponte Romana sobre

a ribeira grande de Monfortee) Ponte Romana de Vila Ruivaf) Ponte Romana sobre o Rio Brenhasg) Ponte sobre a Ribeira do Enxoe

Figura 1: Mapa das pontes intervencionadas.

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PROJECTOS E ESTALEIROS

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Foi adjudicada à MIU, através de concursopúblico, a empreitada "Reabilitação do Edifí-cio Municipal – Escola 88 – Sito na Rua do Po-ço dos Negros, 134/136, no Bairro Alto". Na fase de demolições, foram encontradasconstruções de épocas diferentes nas váriaszonas do edifício. Situação que se deve ao fac-to desta edificação (inicialmente um palacete)ser anterior ao terramoto de 1755, havendoapós este a necessidade de uma reconstruçãorápida da cidade, sem o cuidado rigoroso nasua recuperação, e a partir desta altura ter si-do adaptado para diversos fins. Nos últimosanos tem sido um edifício emblemático para apopulação local, pois serviu de Escola Primá-ria às últimas gerações. Dado o avançado estado de degradação domadeiramento estrutural do edifício, houvenecessidade de demolir todo o interior des-de o 2.º piso até à cobertura inclusive. Du-rante a execução das demolições, tambémse verificou que algumas paredes exterioresestavam em colapso com risco de ruírem;este facto provocou uma suspensão da obra,para realização de estudos mais aprofunda-dos sobre o estado físico do edifício e com asrespectivas soluções.Assim, e conforme indicações dos projectis-tas, foram executadas duas fases de consoli-dação das paredes exteriores do edifício: aplicaram-se varões de aço inox em toda aperiferia, constituindo assim uma cintagemem diversos níveis e a projecção de lâminasde microbetão com uma rede de aço disten-dido intercalada, na zona Norte do edifício.Foi ainda encontrado um antigo pombalnuma parede exterior, tendo sido objectode recuperação, demonstrando uma vez

mais a antiguidade e di-versidade do edifício.Entretanto, foram encon-tradas nas paredes do 2.ºpiso duas camadas de es-tuque sob a mais recente,cada uma com pinturasdas respectivas épocas;em todos os comparti-mentos deste piso apare-cem pinturas diferentes. Devido à localização doedifício e às suas características arquitectó-nicas, optou-se pela não utilização de betãoarmado na sua estrutura. A solução passoupor uma estrutura mista de madeira e perfismetálicos. Sendo a madeira "um símbolo"da construção da época, grande parte destematerial ficará à vista. Nesta empreitada in-clui-se a execução de madeiramentos em pi-nho classe AA (casquinha), devidamentetratado, em pilares com cerca de 11 metrosde altura e em todas as estruturas dos pavi-mentos e coberturas.A estrutura metálica ocupa de igual modoum papel bastante importante, servindo deapoio à estrutura da cobertura (na qual estãoincluídas janelas de mansardas nas fachadasprincipal e tardoz) e pavimentos; na escadaprincipal do edifício também se encontra, àvista, revestida apenas na face superior comespelhos e cobertores em madeira de pinho,esta estrutura metálica.Houve ainda a necessidade de criar no 2.º pisouma treliça metálica de dimensões razoáveis,composta por perfis HEB 180 e HEB 120, demodo a receber tanto as cargas da coberturacomo de alguns pavimentos.

Com a demolição parcial do interior do edifí-cio foi necessário construir novas paredesmantendo o mesmo tipo existente – estrutu-ra em "cruz de St.º André". Tarefa executadatendo em especial atenção os pormenoresconstrutivos entretanto utilizados, sendo opróprio tijolo a aplicar de dimensões e carac-terísticas ideais para este tipo de situação.Na estrutura de pavimentos optou-se por nãoencastrar o vigamento de madeira nas pare-des; estas ficaram apoiadas e aparafusadas emcantoneiras de ferro metalizado devidamenteaparafusadas e chumbadas às paredes atra-vés de varões de aço selados com injecções decalda cimentícia adequada para este fim.Devido às dimensões dos vãos a vencer seremconsideráveis, os projectistas realizaram umestudo cuidado do qual resultou a colocaçãode vigas de madeira com dimensões poucousuais, nomeadamente com 0,28x0,14x6,50 m.Os revestimentos foram escolhidos tendoem conta a funcionalidade do edifício, quecontinuará a ser uma escola.

CARLOS SÁ NOGUEIRA,Director de Obra da MIU, Ld.ª.

Escola 88 no Bairro AltoFoi um palacete antes de 1755, hoje é umaescola pública. Dado o avançado grau dedegradação, foi alvo de uma engenhosaintervenção.

Foto 1: Apoios de vigamento em madeira sobre treliça metálica. Foto 2: Construção de parede com nova estrutura em cruz de St.º André.Foto 3: Pilares de madeira com 11 m de altura em pinho AA (casquinha).Foto 4: Pormenor da estrutura em cruz de St.º André.

Foto 2

Foto 4

Foto 1

Foto 3

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PaláciodoFreixo

Condenado ao abandonado durante anos eanos, este palácio é um paradigma do estadode degradação a que alguns edifícios podemchegar. Desde o momento em que foi solicita-da à A. Ludgero Castro uma intervenção sobreeste imóvel, classificado como monumento na-cional, foi fundamental pensar numa interven-ção com objectivo de correcção das situaçõespatológicas existentes. Esta desenvolveu-sepor forma a eliminar os factores de alteraçãosem pôr em causa a autenticidade do mesmo.

O desenvolvimento do trabalho de conserva-ção e restauro foi definido a partir de princípiosdirectamente relacionados com a gestão de pa-trimónio cultural. Numa primeira fase definiram-se metodologias e objectivos de intervenção.Posteriormente, promoveu-se a eficiente admi-nistração de recursos patrimoniais, humanos,económicos e materiais, sempre subjugada àexecução dos objectivos sociais afectos ao pa-trimónio cultural presente no Palácio do Freixo,alvo das metodologias estabelecidas.

O trabalho foi desenvolvido com uma ausênciade parcialidades perante o objecto a intervir; ogestor de património não é um artista, nem umconservador, nem um arqueólogo, nem um his-toriador de arte, nem um arquitecto, nem um en-genheiro, nem um restaurador, ainda que possaprovir de qualquer uma destas profissões ou deoutras bastante mais distintas. Nesta função, aempresa funcionou e definiu, eminentemente,uma administração de recursos. Asua formação,

amplamente disciplinar, requer primordialmen-te, um amplo conhecimento específico acercado elemento do património a gerir, para além dosmúltiplos e variados conhecimentos que incluemdesde as técnicas e métodos de conservação erestauro à direcção de recursos humanos e aomarketing cultural.

O trabalho iniciou-se pela recuperação base,que assegurou condições fundamentais ao tra-tamento do programa arquitectónico e decorati-vo do edifício. Complementando o processo,para tornar o edifício estanque à entrada deágua, promoveu-se a implementação do siste-ma de drenagem de águas subterrâneas, elimi-nando os problemas de infiltração e migraçõescapilares e a reposição de rebocos de revesti-mentos em argamassas tradicionais. Simulta-neamente, e de forma concertada, promove-ram-se operações de S.O.S., assim como umconjunto de peritagens sobre os objectos a in-tervir. No interior, o trabalho centrou-se nos gru-pos restritos e dominadores em termos de pro-gramas arquitectónicos e decorativos: o séc.XVIII e o XIX; pintura mural a fresco e têmpera;marmorinno e estuque veneziano; estuque or-namental; talha dourada; azulejaria; marcena-ria artística e cantaria lavrada. Histórica e arqui-tectonicamente, o tempo foi um factordeterminante na definição da forma e caráctercom que o edifício actualmente se nos apre-senta e não pode ser desprezado como umfactor interventivo, de forma a que a sua marcaseja eliminada de futuro, mascarando-a. Desta

Ao fim de 50 anos de abandono a A. Ludgero Castro congratula-se por ser a responsável pela conservação

e restauro do Palácio do Freixo. Após três anos de trabalho, com um corpo técnico especializado, promo-

veu-se o restauro global de todo o programa estrutural, artístico e decorativo do edifício. Terminada a inter-

venção, temos a clara noção de devolver, em toda a sua excelência, o "mais grandioso e notável palácio"

do Porto setecentista, da autoria e risco do arquitecto italiano Nicolau Nazoni.

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forma, a salvaguarda do material histórico e a ma-nutenção da autenticidade do edifício, foi feita como objectivo de permitir a adequada reintegraçãodos elementos já existentes no seio da nova situa-ção estrutural e projectural, garantindo uniformiza-ção das leituras que o edifício transporta, funda-mental à compreensão do mesmo e às suas épocashistóricas.

Apesar da prioridade da intervenção ser a da con-servação, todos os elementos, ao funcionarem co-mo parte integrante e definidora do programa for-mal e decorativo das salas, revelam, na sua relaçãocom o observador, a necessidade da reposição daleitura do programa de origem. Assim, na medidado possível, foi sempre decidida a promoção da du-plicação dos elementos ausentes, devido à existên-cia de registos e documentação que permitiam a re-posição de ornamentações e valores cromáticos deacordo com o original, e que asseguravam uma ac-tuação eticamente válida e fundamentada. Elemen-tos ausentes e sem referências foram reintegradosa liso e assumidos como um neutro.

Ao fim de três anos de trabalho, promoveram-se 200000 horas de trabalho de conservação e restauro,com um corpo técnico especializado de 25 elemen-tos, entre engenheiros, mestres, técnicos superio-res de conservação e restauro e técnicos auxiliares.Agora, três anos depois, temos a clara noção, noPalácio do Freixo, de se devolver à cidade do Portoum excelente resultado final no trabalho de conser-vação e restauro, em total sintonia com os objectivosestabelecidos.

Este e outros trabalhos estão disponíveis emdocumentário video.Para receber uma cópia contacte o Grupo de Gestão de Conservação e Restauroatravés do fax: 229 517 517; ou via e-mail: [email protected]

A. Ludgero CastroConservação e Restauro de Edifícios e Monumentos

PortoRua de Recarei, 860 – Apartado 2003 – 4465-727 Leça do BalioTel.: 229 511 116/229 530 378/229 559 931 – Fax: 229 517 [email protected]

LisboaRua da Garagem, 12, Carnaxide – 2795-510 Linda-a-VelhaTel.:214 189 871 – Fax:214 181 [email protected]

Sede:

Delegação:

www.alc.pt

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Os desejos do rei em ver surgir uma cidadeocidental imponente, uma nova Roma reple-ta de palácios e monumentos, com um novogrande palácio real e uma nova basílica pa-triarcal – projectos, estes, do arquitecto italia-no Juvarra – não faziam sentido se esta novacidade não tivesse água, pois os poucos cha-farizes que Lisboa dispunha situavam-se nacidade oriental.Assim, e por insistência do Procurador de Lis-boa Ocidental, Cláudio Gorgel do Amaral, orei veio a assinar, em 12 de Maio de 1731, o al-vará em que ordenou o início das obras, do cu-mento que obriga todos os proprietários dasterras por onde o aqueduto haveria de passara dar passagem às águas, sem que quaisquerprivilégios disso os pudesse escusar.A ideia de construir um aqueduto remontajá ao séc. XVI quando, no reinado de D. Se-bastião, Francisco d’ Holanda propunha areconstrução do antigo aqueduto romano eda respectiva barragem, que terão abasteci-do Lisboa no séc. III da nossa era, e parcial-mente destruído pelas invasões bárbaras.No início da construção do Aqueduto dasÁguas Livres assistimos ao confronto entrepersonagens – de um lado António Canevari,encarregado pelo rei da direcção da obra, e dooutro, Manuel da Maia, que haveria de assu-mir a responsabilidade dos trabalhos em fi-nais de 1732 – bem como entre sistemas tecno-lógicos –, Manuel da Maia rejeita o princípiodos vasos comunicantes, tendo construído umaqueduto em que a água é conduzida apenaspela gravidade, em caleiras de pedra abertas –

ou materiais de construção – quer o ferro quero chumbo são igualmente rejeitados, optandopela utilização exclusiva da pedra calcária.Em 1736, com o aqueduto a chegar quase àsportas de Lisboa, ao sítio das Três Cruzes, asfrequentes paragens da obra e indecisões le-vam a uma mudança quer nos planos querna direcção da obra. O aqueduto já não irá ter-minar em S. Pedro de Alcântara, às portas doBairro Alto, mas antes na zona do Rato, paraonde a cidade estava a crescer. Por outro la-do, os trabalhos passam a ser conduzidos porCustódio Vieira, autor dos Arcos do Vale deAlcântara, solução que, pela sua monumen-talidade, vinha ao encontro do gosto do rei.Vieira não chega a ver a água entrar em Lis-boa. Só após a sua morte, já sob a direcção deCarlos Mardel, será fechado o arco grande,entrando a água pela primeira vez em Lis-boa em 3 de Outubro de 1744.Mil setecentos e quarenta e oito será o ano ofi-cial da inauguração do aqueduto, o ano emque Mardel conclui o Arco Triunfal das Amo-reiras, junto ao Reservatório da Mãe d’Águadas Amoreiras, também da sua autoria, cujaconclusão apenas virá a ter lugar em 1834. Dasua autoria são ainda vários chafarizes – Ra-to, Esperança e Rua Formosa, ou Rua do Sé-culo –, aquedutos subterrâneos na cidade, eoutros projectos diversos de aquedutos sub-sidiários para o aproveitamento das inúme-ras nascentes conhecidas na zona de Cane-ças, a montante da nascente da Água Livre,trabalhos que irão decorrer até 1799, ano emque os trabalhos são dados por terminados.

Com uma rede com mais de 58 quilómetrosde aquedutos (o Aqueduto das Águas Li-vres, propriamente dito, tem uma extensãode 14 288 metros desde a nascente da ÁguaLivre, na clarabóia da Mãe d’Água Velha, atéao Reservatório da Mãe d’Água das Amorei-ras) e transportando água de cerca de 60 nas-centes, o Aqueduto transportava diariamen-te, em média, 3500 metros cúbicos de águanos meses de Inverno, produção que desciaa cerca de metade nos meses de estiagem.Dos seus aquedutos subsidiários, desde o doOlival do Santíssimo, o que fica mais distan-te do reservatório de chegada, muitas são assuas denominações – Poço das Bombas, Va-le da Moura, Carvalheiros, Salgueiro, FonteSanta, Galegas, Rascoeira, S. Brás e outras –evocativas da vida e das lendas de temposremotos. Alguns dos aquedutos subsidiáriosdevem-se à iniciativa de particulares que,proprietários de nascentes nestas zonas, pre-tendiam receber a sua água em Lisboa, nosseus palacetes ou conventos, e assim utiliza-vam o aqueduto como meio para o transpor-te da água, dando, em contrapartida, parteda sua produção à cidade.Em Lisboa, os aquedutos subterrâneos dedistribuição abasteciam uma rede de chafa-rizes monumentais que se foram construin-do até meados do séc. XIX, rede esta que veiopermitir o crescimento da cidade, anterior-mente apertada dentro da muralha fernan-dina, e que agora se vai estender desde osBarbadinhos até Alcântara, e desde a zona ri-beirinha até Campolide e S. Sebastião.

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NOTAS HISTÓRICAS

O caminhodas águas livres

O Aqueduto das Águas Livres, construído no séc. XVIII por iniciativa do rei D. João V, surge comoa resposta à necessidade de se resolver o problema da falta de água na cidade.

Foto 1: Aqueduto das Águas Livres. Nascente de Carenque.

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NOTAS HISTÓRICAS

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Também a chegada da água à zona do Ratovai permitir o aparecimento aí do primeiropólo industrial da cidade, com a Fábrica dasSedas, para a qual o Marquês de Pombalmandará plantar as amoreiras, que vêm adar o nome ao sítio, entre outras.Para além das situações de privilégio já ante-riormente referidas, a população abastecia--se nos chafarizes, ou, então, aqueles que opodiam fazer, compravam a água aos agua-deiros, na sua maior parte galegos que, vin-do para Lisboa trabalhar, para aqui trouxe-ram os seus costumes e a sua gastronomia,sendo eles também os responsáveis pelocombate aos incêndios.Um complexo sistema de gestão da água eramantido por uma equipa de cerca de 60 ho-mens, tendo em atenção as dotações atribuí-das aos chafarizes, o abastecimento dos esta-belecimentos públicos e os caudais devidosaos proprietários de água.Apenas em meados do séc. XIX, com a redede reservatórios e as canalizações de ferroconstruídas pela 1.ª Companhia das Águas,segundo projecto de Engenheiro Mary, deParis, teria início o abastecimento domici-liário, que, no entanto, só viria a ter expan-são significativa com a construção, pela 2.ªCompanhia, do sistema do Alviela, comáguas captadas nas nascentes deste rio, eelevadas, em Lisboa, por máquinas na Esta-ção Elevatória a Vapor dos Barbadinhos.O aqueduto continuará a ser parte do siste-ma de abastecimento de Lisboa, vindo a ficardesactivado em 1967, numa altura em queLisboa já dispunha da água do Tejo, tratadaem Vale da Pedra graças às novas tecnolo-gias entretanto desenvolvidas.Monumento Nacional em Lisboa, no valede Alcântara e nas Amoreiras, desde 1910,juntamente com o Reservatório da Mãe

d’Água das Amoreiras, o Aqueduto é-o, nasua totalidade, bem como os seus chafari-zes e o Reservatório da Patriarcal (reserva-tório da rede construída pela 1.ª Compa-nhia), desde 19 de Fevereiro de 2002.Já em 1967, o Aqueduto das Águas Livres eo Reservatório da Mãe d’Água das Amorei-ras se haviam juntado ao Museu da Água,cujo núcleo-sede é constituído pela EstaçãoElevatória a Vapor dos Barbadinhos, que

veio a ser inaugurado em 1987, tendo sidogalardoado, em 1990, com o Prémio do Mu-seu do Conselho da Europa. Em 1994,quando Lisboa foi Capital Europeia da Cul-tura, juntou-se ao museu um quarto núcleo,o do Reservatório da Patriarcal, cujos traba-lhos de recuperação mereceram o PrémioMunicipal Eugénio dos Santos em 1995.

RAUL FONTES VITAL, Museu da Água da EPAL, Arquivo Histórico.

MUSEU DA ÁGUA DA EPAL

Aberto de segunda-feira a sábado, das 10 às 18h00(O aqueduto encerra nos meses de Dezembro a Fevereiro).

Contacto para informações, marcação de visitasguiadas, consultas ao Arquivo Histórico:Tel.: 218 100 215; Fax: 218 100 231.

Informações sobre o museu podem também ser obtidas através da Internet, no endereço:http://museudaagua.epal.pt .

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Foto 3: Reservatório da Mãe de Água das Amoreiras.Foto 2: Aqueduto das Águas Livres.

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Envolvido neste projecto está um conjuntodiferenciado de agentes, que se reúnemnum exercício concentrado de eventos eáreas de intervenção urbana, à volta do te-ma principal – a água – e, de uma formaparticular, à volta das termas, elementosingular, raiz deste lugar e razão de futuro.Assim, em 2003, a cidade produzirá ummomento de confluência das principaisáreas temáticas que configuram a culturaurbana contemporânea, numa aposta es-tratégica de afirmação das Caldas da Rai-nha como Património das Águas, valori-zando a cultura urbana e reconhecendo aágua como bem patrimonial.

Encontro NacionalArquitectura Termal: A Cultura da ÁguaAuditório da Escola Superior de Tecnologia, Gestão, Arte e Design7 – 8 de JunhoUm encontro sobre Arquitectura Termal éo evento central da programação do AnoNacional da Arquitectura para o mês deJunho, sendo igualmente a aposta princi-pal do núcleo de arquitectura do eventoCultura da Água, idealizado pela CâmaraMunicipal das Caldas da Rainha sob a égi-de do Ano Internacional da Água Doce.Nos últimos anos, o termalismo tem tidoum desenvolvimento acrescido em todo omundo, surgindo neste ambiente algumasobras de referência da arquitectura con-temporânea. Também em Portugal se as-

siste a uma vontade por parte de algunsinvestidores na exploração dos recursoshidrotermais, nos quais o nosso país é bas-tante rico. Neste sentido, torna-se da maiorimportância relevar o papel da arquitectu-ra na actividade termal, como memória dopassado mas essencialmente como estra-tégia de futuro.Deste modo, pela primeira vez, organiza--se um debate sobre aspectos importantesdo termalismo, como a arquitectura, a ur-banística e o património, agora que novosrumos se esperam para o seu desenvolvi-mento como produto simultaneamente desaúde e de lazer.O encontro está estruturado em quatropainéis: "Programa Termal", "Espaço Ur-bano", "Projectos e Obras" e "PatrimónioTermal". Prevê-se a participação de arquitectos quetêm vindo a desenvolver nos últimos anosprojecto e obra nesta área, bem como deespecialistas em termalismo nos temassubsidiários à arquitectura termal.

A ÁGUA NO PLANO ESTRATÉGICORecentemente elaborado, o Plano Estraté-gico das Caldas da Rainha prevê um con-junto de acções e iniciativas em torno daágua, como elemento estruturante de umprojecto de afirmação urbana. Um Projecto Integrado de Valorização eExpansão do Termalismo deve ser o su-porte dessa estratégia, com base num pro-

jecto de desenvolvimento termal à escalada cidade, favorecendo a salvaguarda erestauro do património, a construção deuma nova unidade termal, a criação de umcentro reumatológico e de uma escola dehidrologia e termalismo, bem como a es-truturação de uma rede de hotelaria. A definição de uma estratégia de desen-volvimento sustentável para um territóriocom as características do concelho das Cal-das da Rainha, e face à sua especificidadeurbana como Cidade Termal, pressupõesempre uma preocupação com o futuro,aproveitando a diversidade dos recursosendógenos, ambientais, económicos e hu-manos, e, muito especialmente, os recur-sos hidrotermais. O facto de aqui se encon-trar o primeiro hospital termal do mundo,associado a um património físico muito re-levante (o Hospital Termal, a Mata RainhaD. Leonor, o Parque D. Carlos I e a Igrejade Nossa Senhora do Pópulo, MonumentoNacional), torna Caldas da Rainha uma Ci-dade Património das Águas que importavalorizar, proteger e promover.Em simultâneo, a câmara municipal de-senvolve, conjuntamente com a Associa-ção Pato, o estudo do Roteiro Ecológico doConcelho, percorrendo um património di-versificado, desde dunas, azenhas, rios, oPaul de Tornada, chafarizes, a Mata Rai-nha D. Leonor e o Hospital Termal. O estu-do e sinalização deste roteiro deve estarconcluído em 2005.

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Sob a égide do Ano Internacional da Água Doce, a Câmara Munici-pal das Caldas da Rainha sublinha a Cultura da Água em torno deáreas de actividade importantes para a imagem urbana, como a ar-quitectura, as artes e o design.

Caldas da Rainha comemora o Ano da Água

DIVULGAÇÃOTema de Capa

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DIVULGAÇÃO

Excelente oportunidade de actualização e encontro para profissionais, bem como de in-formação, entretenimento e divulgação demensagens para o público em geral; esta fei-ra pioneira em Portugal será um aconteci-mento nacional da maior relevância cultural.Para o Presidente da Direcção da AssociaçãoComercial e Industrial de Coimbra, HorácioPina Prata "esta é mais uma iniciativa arroja-da a que a ACIC se propõe e que irá, certa-mente, marcar o panorama nacional e inter-nacional. Não é apenas uma iniciativa deCoimbra; é o palco privilegiado para dignifi-car o património histórico português ".No seu todo – certame e acções complemen-tares – o evento interessa a diversos segmen-tos da sociedade, nos âmbitos nacional e in-ternacional, nomeadamente:• Empresas de gestão do património;• Empresas de novas tecnologias;• Empresas de design e sinalética;• Instituições do ensino público e privado:universidades; politécnicos, etc.;

• Arquitectos;• Engenheiros;• Revistas especializadas;• Associações;• Organismos oficiais de tutela – estrangeirose nacionais;• Episcopado português;• Câmaras municipais.Acções complementares: Conferência internacional sobre património e desenvolvimentoCoordenação Científica: Dr.ª Adília Alar-cão e Dr.ª Ana Barbero.Tema de grande actualidade, debatido emdiversos encontros recentemente realiza-dos noutros países, será da maior oportuni-dade para Coimbra, e não só.Com efeito, em 2003, a UNESCO dedicaráespecial atenção à problemática do desen-volvimento.A qualificação dos intervenientes em maté-rias tão vastas como a protecção legal, a con-servação, o estudo, a gestão e a divulgaçãodo património móvel e imóvel é uma garan-tia de êxito e faz desta conferência uma intro-dução aos seminários que lhe sucedem.SEMINÁRIOSCom a duração de 12 horas, que se distribuempor dois dias, os seminários contemplam os se-guintes temas:I. Gestão integrada de sítios históricosDatas: 27 – 28 JunhoCoordenação: Amália Pérez e Ana BarberoLocal: Auditório do Museu Monográfico deConímbriga II. Conservar em segurançaDatas: 27 – 28 JunhoCoordenação: Paula Menino e Gabriela CarvalhoLocal: Casa Municipal da Cultura/Auditório do IPJIII. A intervenção actual em centros históricos:problemas de integração vs marcação de época Datas: 27 – 28 JunhoCoordenação: Arsenio Barbero Martín e Fernan-do PintoLocal: Casa Municipal da Cultura/Auditório do IPJIV. Património: informação e novas tecnologiasDatas: 27 – 28 JunhoCoordenação: DGEMN

Local: Auditório do Museu Monográfico de Co-nímbriga V. Património religioso e turismo: conciliaçãode opostos?Datas: 4 – 5 JulhoCoordenação IPPAR: Coimbra e Diocese deCoimbraLocal: Casa Municipal da Cultura/Auditório do IPJVI. Conservação do património móvel integradoDatas: 4 – 5 JulhoCoordenação: Maria José Gonzalez Lopez e JoãoCoroadoLocal: Casa Municipal da Cultura/Auditório do IPJVII. Educação artística e estética na idade adultaDatas: 4 – 5 JulhoCoordenação: Luís AlcoforadoLocal: Auditório do CEARTEWORKSHOPSPretende-se com esta modalidade oferecer aos inte-ressados uma oportunidade de contacto com espe-cialistas e temas de grande actualidade, num enqua-dramento propício à experimentação e ao debate.Estão em preparação dois workshops:Decoração aplicada na escultura do séc. XVIIDatas: 13 – 16 Junho (tarde)Coordenação: Agnès le GacLocal: Auditório do CEARTEMateriais didácticos para o PatrimónioDatas: 16 – 19 Junho (tarde)Coordenação: em fase de consultaLocal: Museu Monográfico de ConímbrigaCada workshop ocupa 16 horas. Ambos permi-tem estreita colaboração com instituições do en-sino superior e universitário.

do património histórico 2003 1.ª Edição da feira internacional

CIC 2003"Cultura e Desenvolvimento"28 de Junho a 6 de Julho 2003

MAIS CIC, MAIS COIMBRA, MAIS REGIÃO

Terá lugar em Coimbra – entre27 de Junho e 19 de Julho – masserá uma oportunidade para to-do o país. Um acontecimentopróprio de uma época em que opatrimónio cultural está a serobjecto de grande atenção porparte das tutelas e a conquistarcada vez mais defensores e pú-blicos diversificados.

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AS LEIS DO PATRIMÓNIO

TRABALHAR EM PORTUGALAnteriormente, qualquer cidadão extraco-munitário poderia solicitar uma autorizaçãode permanência que lhe permitisse trabalharem Portugal desde que possuísse, designa-damente, um passaporte válido e uma pro-posta de contrato de trabalho.Actualmente, qualquer cidadão extracomu-nitário que pretenda trabalhar em Portugaldeve, previamente à sua entrada em territó-rio nacional, munir-se do visto adequado aoexercício de uma actividade profissional, co-mo, por exemplo, um visto de trabalho.Os pedidos de prorrogação de autorizaçõesde permanência, concedidas ao abrigo do re-gime anterior, serão recusados se forem apre-sentados 60 dias após o final do seu prazo devalidade (até aqui não existia qualquer prazopara a apresentação dos aludidos pedidos deprorrogação).Os vistos para o exercício de uma actividadeprofissional só serão concedidos se a activi-dade que o trabalhador extracomunitáriopretende exercer em Portugal se inserir nu-ma das actividades que o Governo considerecarenciadas de mão-de-obra.Com efeito, o Governo elaborará bianualmenteum relatório com a previsão das oportunidadesde trabalho por sectores de actividade e fixaráum limite máximo anual de entradas de cida-dãos extracomunitários, que tenham por objec-tivo o exercício de uma actividade profissional.Assim, a empresa que pretenda contratar umtrabalhador extracomunitário deverá assegu-rar-se que ele possui um título válido de entra-da ou de permanência em Portugal. Caso a em-presa deseje mesmo contratar esse trabalhador,ainda que ele não seja portador do necessário

título, deverá iniciar o processo que conduziráà concessão de um visto de trabalho subordi-nado. Este processo demorará cerca de seis me-ses e pressupõe obrigatoriamente: a obtençãode informação do Instituto do Emprego e For-mação Profissional, que mencione a inexistên-cia de trabalhadores comunitários para preen-cherem o posto de trabalho a ocupar pelocidadão extracomunitário; – a emissão de pare-cer favorável pela Inspecção-Geral do Traba-lho; e, finalmente, a emissão do visto de traba-lho pelo Serviço de Estrangeiros e Fronteiras.Por último, saliente-se que o cidadão extra-comunitário que se encontre legalmente emterritório nacional há, pelo menos, cinco ouoito anos(1), consoante se trate de cidadão na-cional de país de língua oficial portuguesaou de outro país, respectivamente, passa apoder solicitar uma autorização de residên-cia permanente(2).

REAGRUPAMENTO FAMILIARO direito ao reagrupamento familiar consistena possibilidade que é reconhecida aos traba-lhadores extracomunitários de procederem"ao reagrupamento familiar com os membrosda família que se encontrem fora do territórionacional, que com ele tenham vivido noutropaís ou que dele dependam". Até à data da en-trada em vigor do DL 34/2003 (no passado dia12 de Março), o direito ao reagrupamento fa-miliar dependia apenas do facto de os familia-res do cidadão extracomunitário dele depen-derem ou com ele terem vivido noutro país. Após aquela data, o cidadão extracomunitáriosó poderá exercer esse direito depois de ter re-sidido em território nacional durante, pelo me-nos, um ano, ou seja, o direito ao reagrupa-mento dependerá da existência de uma ligaçãoefectiva do cidadão estrangeiro a Portugal.

RESPONSABILIDADE DAS EMPRESASO DL 34/2003 estabelece expressamente aresponsabilidade das empresas pelo favore-cimento ou facilitação, por qualquer forma,da entrada ou trânsito ilegais (isto é, sem tí-tulo válido de entrada ou permanência) decidadão estrangeiro em Portugal. Responsabilidade que se traduz, nomeada-mente, na possibilidade de condenação emmulta ou na pena de interdição do exercícioda sua actividade por um período que po-derá variar entre um a cinco anos.

CONCLUSÃOO DL 34/2003 é o resultado da constataçãorealizada pelo actual Governo que o períodode legalização não surtiu os efeitos desejados.Na realidade, o mencionado período de lega-lização extraordinária tinha como objectivo apassagem dos estrangeiros, que já se encon-trassem em Portugal, de uma situação de obs-curidade para uma situação de legalidade enão o fomento da imigração ilegal para Portu-gal, como veio a verificar-se. A ver vamos quais as consequências das al-terações introduzidas pelo aludido diploma,num sentido claramente mais restritivo, aoregime de entrada, permanência, saída eafastamento de estrangeiros (leia-se extraco-munitários) do território nacional…

(1) Anteriormente estes limites mínimos eram deseis e dez anos, respectivamente.(2) Este título não tem limite de validade e necessitasomente de ser renovado de cinco em cinco anos ousempre que ocorra a alteração de elementos identi-ficativos do seu titular.

A crise económica que Portugal atravessa e a constatação que onúmero de estrangeiros a residir legalmente em território nacio-nal passou de 50 000, em 1980, para cerca de 346 000 pessoas, nofinal de 2001, fez sentir o seu fluxo com a publicação, no passadodia 25 de Fevereiro, do Decreto-Lei n.º 34/2003 (DL 34/2003).

A inegável realidade de Portugal como país de imigração

JOÃO MASSANO, Advogado de Alcides Martins & Associados, mestrando na FDUL.

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NOTÍCIAS

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País com longa tradição marítima, Portu-gal é também rico em vestígios arqueoló-gicos submersos. Do inventário nacionaldestes vestígios contam-se actualmentemais de 6300 entradas, entre as quais na-vios naufragados um pouco por toda acosta desde o Algarve aos Açores. O patri-mónio subaquático tem merecido umacrescente atenção tanto do sector privadocomo público. Desde o início da década de1980 foi assinalável o trabalho desenvolvi-do pelo Museu Nacional de Arqueologia.Em 1997 é criado o Instituto Português deArqueologia e, no seu seio, o Centro Na-cional de Arqueologia Náutica e Subaquá-tica (CNANS), organismo que actualmen-te gere a intervenção estatal nesta áreaespecífica da arqueologia. No dia 12 de Maio foi inaugurada a unida-

de de tratamento de madeiras antigas dolaboratório de conservação do CNANS,que marcou o início efectivo do tratamen-to de conservação dos vestígios do naviodo século XV dito Ria de Aveiro Ae das duasprimeiras pirogas medievais achadas noRio Lima (das quatro recuperadas até à da-ta). Esta é a primeira unidade laboratorialdo género em Portugal e os achados repre-sentam uma das mais importantes desco-bertas no âmbito da arqueologia náuticano nosso país. O Ria de Aveiro A apresentaos mais antigos vestígios conhecidos deum navio de tradição construtiva ibero-atlântica de origem mediterrânica e umagrande carga de louças de uso comum, queé a mais extensa, completa e íntegra colec-ção de cerâmicas de feição regional da épo-ca inicial dos Descobrimentos.

Em Janeiro de 2003 foi apresentado pela Câ-mara Municipal do Porto um documentodefinidor da actuação do município para otriénio 2003/2005. Numa síntese das princi-pais debilidades e trunfos da cidade Invicta,o executivo reconhece que a baixa qualida-de urbanística e arquitectónica de muitasdas novas áreas de expansão é, neste mo-mento, um dos pontos fracos da cidade, en-quanto que a existência de um patrimóniohistórico e cultural rico e diversificado, bemcomo as grandes potencialidades no planoturístico, associadas ao património, às con-dições geográficas e aos equipamentos cul-turais, são dois dos seus maiores trunfos. Uma das principais condicionantes da es-tratégia deste Plano Médio Prazo, segundoo executivo camarário, é o reconhecido

constrangimento financeiro do momentoactual e os esforços relacionados com a con-cretização dos projectos ligados às acessibi-lidades dos estádios do Euro 2004. A esti-mativa do montante a mobilizar em termosde orçamento, para fins de investimento du-rante o triénio, é de cerca de 180 milhões deeuros, dos quais 70 por cento se encontramrelacionados com projectos referentes aoEuro 2004. Ou seja, aparentemente o rema-nescente não é suficiente para dar continui-dade aos projectos em curso, e atender a no-vas necessidades e objectivos.Neste Plano Médio Prazo podemos reconhe-cer como um dos eixos de intervenção, den-tro do objectivo estratégico “reforçar a coe-são sócio-territorial”, a recuperação dashabitações dos bairros sociais e sua integra-ção no espaço urbano. Outro desses eixos, é aprópria revitalização da Baixa da cidade, noâmbito de uma intervenção integrada, de-senvolvida nas vertentes da reabilitação doedificado, da beneficiação do espaço públi-co, da modernização da actividade comer-cial e reforço da animação urbana. Tambémestão previstos incentivos à fixação residen-cial dos jovens e das actividades económicas.Na verdade, toda a zona central da cidadetem sofrido uma perda de importância rela-

tiva, da qual a degradação do edificado, éapenas um dos sinais mais visíveis. São ne-cessárias, portanto, actuações que aumen-tem o grau de atractividade na área, a nívelresidencial e económico. Um dos projectosa desenvolver, previstos neste plano, é oUrbcom – Programa de Urbanismo Comer-cial, que permite concretizar agumas inter-venções ao nível do espaço público, a cargoda autarquia, a par das intervenções da res-ponsabilidade directa do tecido comercial.Dentro de outro objectivo estratégico: "Pro-mover a qualidade de vida e as condiçõespara um desenvolvimento urbano susten-tável", podemos distinguir como eixo de in-tervenção a implementação de um novomodelo de planeamento e gestão do solo,reflectido no Plano Director Municipal re-visto, que abarca um conjunto de medidas eorientações de política urbana para a pre-servação da identidade e valorização do pa-trimónio e do edificado, em detrimento danova construção. A preocupação com a pre-servação e conservação do património his-tórico e arquitectónico da cidade do Porto é,notoriamente, uma preocupação bem pre-sente no programa de actuação do executi-vo da Câmara Municipal do Porto, para otriénio 2003/2005.

Plano Médio PrazoPorto

O Centro de Documentação e Infor-mação Técnica do IGAPHE lançoua súmula dedicada à "LegislaçãoHabitação 2002". Uma publicação

anual quecompreendea legislaçãoconsideradade maior re-levância nasáreas de ha-bitação, daconstrução,e do planea-mento.

achados que enriquecem Património cultural subaquático português

Legislação Habitação 2002

M. B. Correia

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NOTÍCIAS

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Fundada em 1988, a Oz é uma empresa que exerce ac-tividade nos sectores da reabilitação do edificado e daconservação do património arquitectónico. Foi com o objectivo de garantir ao cliente a qualidadena prestação do serviço que, em Setembro de 1997, aOz iniciou a implementação de um Sistema de Ga-

rantia da Qualidade (SGQ), de acordo com a norma de referência NP EN ISO 9002.A certificação da Oz, obtida em Dezembro de 1999, representou o reconhecimento doesforço de toda a equipa na melhoria dos processos e organização geral da empresa,traduzido no cumprimento da norma de referência adoptada.Esse reconhecimento foi sendo corroborado no resultado obtido em cada auditoria deacompanhamento realizada, nunca tendo ultrapassado as quatro, o número de nãoconformidades levantadas pelas diferentes equipas auditoras.Foi com enorme satisfação que recebeu, recentemente, após auditoria de renovaçãorealizada a 12 de Outubro de 2002, a confirmação, pela APCER, da manutenção do es-tatuto de empresa certificada.Mas um novo desafio se coloca neste momento à Oz: o da adaptação do seu SGQ à no-va norma ISO 9000 – 2000. Conscientes de que representará uma excelente oportunidade de melhoria geral, pre-vê-se a conclusão da fase de transição em Setembro de 2003, com a realização da audi-toria da APCER, já agendada.

Oz, Ld.ª

Mais informações: www.oz-diagnostico.pt

Em 2005, a Vila de Sagres – Algarve – se-rá uma das candidatas a PatrimónioMundial. Com esta expectativa, a Câma-ra Municipal de Vila do Bispo vai proce-der a uma estratégia de ordenamento edesenvolvimento daquela localidade.Estando para o efeito a elaborar o projec-to de Requalificação Urbana. A primeirafase do processo está já concluída e en-globou a requalificação de arruamentosinternos, nomeadamente de diversasruas da vila. Nestas obras, o investimen-to da edilidade foi de cerca de dois mi-lhões de euros. Para a segunda fase, oprojecto ainda está a ser elaborado. Maspara além da reabilitação dos espaços pú-blicos, a autarquia pretende também to-mar medidas quanto à recuperação dopatrimónio histórico.

Sagres a Património Mundial

Entre as várias prioridades da CâmaraMunicipal de Tavira, está a reabilitação docentro histórico. Neste âmbito é de salien-tar a construção de uma pousada de Por-tugal da rede Enatur, no Convento da Gra-ça – uma das obras de maior expressão nazona. Outra das obras de vulto neste planoé a recuperação do Palácio das Galerias,onde ficará instalado o museu da cidade.

Tavira aposta na requalificação urbana

A Media Line lançou a primeira revistade património cultural online. Impõe-seentão uma "espreitadela" ao site www.pa-trimónio.pt.Também a Associação World Monu-ments Fund Portugal criou a sua página –www. wmfportugal.oninet.pt. – a pensarnuma forma de tornar mais visível todo otrabalho já desenvolvido no nosso país,bem como os programas em curso, envol-vendo os internautas na causa da conser-vação e defesa do património. Envolvi-das neste projecto estão também aMicrosoft Portugal e a ONI.

Património online

Dia Internacional dos Monumentos e SítiosO Dia Internacional dos Monumentos e Sítios (18 de Abril) teve este ano como tema opatrimónio cultural subaquático. Promovida desde 1982 pelo Conselho Internacionaldos Monumentos e dos Sítios (ICOMOS) e apoiada pela Organização das Nações Uni-das para a Educação, Ciência e Cultura (UNESCO), esta celebração pretende chamar aatenção do público para a diversidade do património cultural e para a constante neces-sidade de o proteger e conservar.O tema deste ano foi particularmente apropriado dada a crescente cooperação interna-cional no domínio do património cultural subaquático e o facto de 2003 ter sido decla-rado Ano Internacional da Água Doce pelas Nações Unidas. Quer sejam navios nau-fragados, sítios arqueológicos submersos ou outras estruturas existentes debaixo deágua, o património cultural subaquático reveste-se de uma grande variedade de formase encontra-se nos mares, rios, lagos e até em reservatórios. O património subaquático,actualmente está ameaçado em todo o mundo. E não está em vigor nenhum instru-mento legal internacional que proteja adequadamente o património subaquático, ape-sar de alguns países como Portugal terem legislação específica sobre esta matéria. OICOMOS aprovou, em 1996, a "Carta internacional sobre a protecção e gestão do patri-mónio cultural subaquático", que estabelece os princípios tendentes à sua preservação.Esta Carta Internacional inspirou a adopção pela UNESCO, em 2001, da "Convençãopara protecção do património cultural subaquático", que ainda não entrou em vigor.A possibilidade de lucros fenomenais, muitas vezes injustificados, e de trabalhar em se-gredo debaixo de água, frequentemente com meios técnicos colossais, exerce uma atrac-ção muito grande. Para contrariar esta ameaça de desaparecimento de bens insubstituí-veis, o Dia Internacional dos Monumentos e Sítios deste ano pretendem alertar o públicopara a importância que os vestígios submersos têm para a compreensão da evoluçãohistórica do Homem. O património subaquático revela-nos vestígios. Fazem parte dopatrimónio de toda a humanidade e não só de quem os encontra e explora.

Renovada a certificação do SGQ

M. B. Correia

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As nascentes do Alviela em Lisboa e a Estação Elevatória dos Barbadinhos a vapor

A água industrial

O estado líquido foi meticulosamente inven-tariado, com o objectivo de proceder à suaexploração capitalista, tanto em função dasnascentes de águas potáveis e minerais, doslençóis aquíferos e dos rios e lagos, como doseu aproveitamento motriz. Quanto aos es-tados gasoso e sólido, veja-se o papel desem-penhado pela produção de vapor nas caldei-ras industriais destinado a accionar asmáquinas motoras ou as turbinas das cen-trais termoeléctricas e o nascimento da in-dústria do frio natural (neveiros) e artificial.É certo que a humanidade registara uma acu-mulação de aquisições fundamentais refe-rentes à água desde a Pré-história, caracteri-zadas pelos diferentes modelos temporais deapropriação social da água, tanto em funçãodo estádio técnico das culturas e civilizaçõescomo atendendo às soluções destinadas àcaptação e distribuição de água, à canaliza-ção e drenagem dos campos, higiene públicae privada e motricidade energética. A conju-gação das aquisições técnicas com os avançoscientíficos e industriais do séc. XVIII abriramnovas perspectivas à estruturação do com-plexo industrial da água que se alarga à me-dida que se estende a industrialização(1). Estas considerações iniciais podem com-

preender-se, no caso português, se conside-rarmos as diferenças existentes entre o siste-ma de captação e distribuição das Águas Li-vres e as águas do Alviela encanadas paraLisboa. A solução setecentista da época de D.João V (construção 1729-1749) encontra-seainda inserida na longa duração das tecnolo-gias da Antiguidade, respondendo à neces-sidade de abastecimento público a Lisboa,por meio de aquedutos, articulando a águaàs exigências públicas e oficinais da época,atendendo à sua articulação com o projectodo bairro manufactureiro pombalino dasAmoreiras. O segundo, resultado das tecno-logias industriais, cauciona a intervenção de uma empresa privada (Companhia dasÁguas de Lisboa) na gestão hídrica, vincu-lando o desenvolvimento da engenharia dacaptação e distribuição ao abastecimento pú-blico e domiciliário do recurso natural, dora-vante um serviço rentabilizado em funçãode diferentes tipos de consumo. O modelo de abastecimento de água a Lis-boa, importado das capitais europeias con-

temporâneas, assentava num projecto ra-cionalizado de captação de água potável alonga distância, a partir das nascentes doAlviela (Olhos de Água, distrito de Santa-rém), sua condução forçada, numa distân-cia de 114 050 metros, até um reservatórioreceptor situado na cerca do antigo Con-vento dos Barbadinhos, na zona Oriental deLisboa. As tecnologias desenvolvidas paraa sua condução foram revolucionárias, uti-lizando-se vários processos integrados deescoamento por gravidade (condutas su-perficiais e subterrâneas, aquedutos, sifõese sifões-pontes) de modo a vencer as dife-rentes características topográficas e altimé-tricas, entre a captação e a recepção, e usan-do canalizações de ferro fundido, em vezdas de pedra, usadas desde a Antiguidade.Os canais do Dhuis (1865) e do Vanne (1873),resultado da modernização das águas pú-blicas de Paris na era de Haussmann, foramos paralelos europeus de referência, assu-midos desde o início do projecto Alviela(2).O grande reservatório terminal dos Barba-

Entre a segunda metade do séc.XVIII e o início do séc. XX, aágua, enquanto recurso natu-ral, sofreu uma profunda trans-formação económica e social,resultante da sua apropriaçãoindustrial. E os diferentes esta-dos da água na natureza foraminterpretados numa perspecti-va técnica.

Figura 3

Figura 1 Figura 2

Figura 1: Máquina a vapor vertical de duplo efeito e bombas da água. Alçado principal. Cerca de 1876.Arquivo do Museu da Água. EPAL. Figura 2: Entrada do Alviela no Encanamento de Água para Lis-boa, in Occidente, 1880. Figura 3: Arcadas da Louriceira do aqueduto do Alviela. Foto EPAL.

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dinhos, com a capacidade total de 10 952metros cúbicos, permitiu incorporar aságuas do Alviela no abastecimento da cida-de. A sua construção introduziu mudançasno conceito técnico da estrutura de armaze-namento, determinando a alimentação e aelevação de 30 000 metros cúbicos de águapor dia a partir de uma dupla caixa recepto-ra e implicando processos de filtração amontante. Com base neste reservatório, aágua era distribuída à urbe segundo um sis-tema racional. Sete reservatórios estrategi-camente distribuídos na cidade alta, médiaou baixa permitiram estabelecer a rede in-fra-estrutural de distribuição de água, ga-rantindo o abastecimento às fontes e servi-ços públicos e municipais, à indústria, aoconsumo particular (em 1898, 14 000 fogosintegrados), à higiene e saneamento, àsbombas de incêndio e à rega dos jardins.Para que a rede articulada de veias aquífe-ras funcionasse, estabeleceu-se a articula-ção entre o reservatório receptor e as arcasdistribuidoras, procedendo-se à bombagemda água da Estação Elevatória dos Barbadi-nhos para os reservatórios do Arco e da Ve-rónica e para a cisterna do Monte, de ondecircularia depois por gravidade por toda acidade. O canal do Alviela articulou-se, porsua vez, com o sistema das águas do reser-vatório da Praia (1864), uma primeira expe-riência lisboeta de bombagem artificial, con-duzida pela casa construtora dos Barba-dinhos, a Windsor & Fils, de Ruão.Do ponto de vista técnico, tanto a Estação Ele-vatória da Praia (onde hoje se encontra o Mu-seu do Fado) como a dos Barbadinhos (Mu-seu da Água da EPAL) caracterizam-se pelaorganização industrial da bombagem deágua, enquanto matéria-prima por excelên-cia do abastecimento domiciliário, utilizan-do o vapor como força motriz. Ambas dispu-nham de três partes fundamentais: a casa dascaldeiras a vapor (oficina onde se produzia ovapor indispensável ao accionamento dasmáquinas motoras), a casa das bombas, umedifício alto, onde se encontravam instaladasgigantescas bombas aspirantes prementes(piso térreo), accionadas por máquinas a va-por verticais de balanceiro, do tipo woolf (ca-

sa das máquinas – piso médio). No caso daEstação Elevatória dos Barbadinhos (1880)foram montadas quatro máquinas a vaporde duplo efeito com a potência de 510 c/v, asprimeiras três datadas de 1876, a última de1889. À semelhança do que acontecera nasestações elevatórias a vapor do mesmo tipo(como por exemplo na de Austerlitz em Pa-ris, datada de 1858, ou nos paralelos conser-vados na Inglaterra e EUA), construiu-seuma plataforma de apoio técnico ao funcio-namento dos balanceiros das máquinas e àmanutenção dos equipamentos (piso supe-rior), com sua ponte rolante. A casa das máquinas – a área nobre por ex-celência de todo o espaço "fabril" – eviden-cia o momento alto que atingira a civiliza-ção de Oitocentos. As máquinas a vaporgarantiam a potência necessária à criação

da cidade canalizada e modernizada, pon-do em evidência os obreiros da RevoluçãoIndustrial. A aplicação da energia aos pis-tões das bombas materializava a relação en-tre os avanços das tecnologias de elevaçãode líquidos (desenvolvidas desde o Renas-cimento) à eficiência e potência dos inven-tos de James Watt e sua adaptação ao sectorde abastecimento de água por Woolf ( 3). Obra de engenheiros, a Estação Elevatória dosBarbadinhos corresponde à sagração da téc-nica internacional, sobre a qual se construiuum invólucro de arquitectura industrial mui-to peculiar, que lhe garante hoje um valor cul-tural acrescentado. Em última instância, éuma "arquitectura" de engenheiros, na triplaacepção de construção civil, de montagem doequipamento técnico e de "arquitectura demáquinas", envolvendo uma estranha rela-

PUB

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ção entre os edifícios e as máquinas motoras eoperadoras. A transformação do movimentorectilíneo alternado em movimento circularmaterializa o fenómeno da sucção da água doreservatório receptor, introduzindo-a na redede circulação da cidade, através de um jogoracional de transmissões mecânicas, que lhegarantem a feição de organismo autómato de"fábrica"( 4). À engenharia competiu ainda odiagrama técnico do sistema instalado. A es-tação postula um cuidadoso programa deconstrução dos equipamentos, anterior à edi-ficação, a qual se revela acidental, pois apenasse destina a cobrir a estrutura técnica, com pa-redes de alvenaria de pedra e tijolo e uma co-bertura amovível, tudo isso recebendo umadecoração revivalista (na qual sobressai a clás-sica ponta de diamante, em pedra). Os gran-des janelões das fachadas poente e nascente,influenciados pelos pavilhões das exposiçõesuniversais, articulam-se com o ambiente vi-toriano da tecnologia, obra em "arquitec-tura do ferro", a testemunhar a importânciacrescente da comunidade de engenheiros naindustrialização europeia( 5). De facto, na espa-cialidade interior, o ferro e o aço são os ele-mentos dominantes, tanto como material deconstrução como valor estético de referência.Ambos são estruturais na organização do es-paço (vigas laminadas em I, colunas de ferrofundido, chapas estriadas). São, por outro, amatéria-prima das bombas, das máquinas edas transmissões (cilindros, êmbolos, hastes,balanceiros, volantes, condensadores, etc.).Adapta-se ainda à própria estética para rece-ber a ordem arquitectónica toscana( 6), enqua-drando a sustentação de vigas à maneira dosentablamentos clássicos, para revelarem as"jóias da coroa", fontes da mecanização – asmáquinas a vapor. Finalmente, o ferro fundi-do artístico é utilizado nos parapeitos, nas es-cadas e noutros elementos decorativos. Com pompa e circunstância, a água do Al-viela foi recebida nos Barbadinhos, desde1880 até ao encerramento da bombagem avapor e à sua substituição pela água dos sis-temas do Tejo e do Castelo do Bode. A tec-nologia encarregava-se de a colocar dispo-nível para múltiplos fins, situação que semanteve e aperfeiçoou com o advento da

electricidade. Com o vapor chegara o prin-cípio do consumo domiciliário de água po-tável. Só a indústria garantira esse acrésci-mo civilizacional, iniciando-se a partir deentão a era do saneamento e da mecaniza-ção, da higiene e do banho.

(1) O aprofundamento científico das caracte-rísticas físicas da água e as descobertas dassuas propriedades químicas colocaram a águanum novo registo técnico da industrializaçãoeuropeia.(2) Os principais responsáveis da canalizaçãodo Alviela foram os engenheiros José Joaquimde Paiva Cabral Couceiro (1830 – 1917) e Joa-quim Pires da Sousa Gomes.(3) O modelo de máquina a vapor de Woolf, ver-tical de alta e baixa pressão, com balanceirofoi, desde o primeiro quartel do séc. XIX, o ti-po de máquina padronizada para o sector daelevação de água de um nível inferior paraum nível superior.(4) De acordo com a definição de Andrew Ure,The Philosophy of Manufactures, Lon-dres, 1861, p. 12-13.(5) Para o caso da Estação Elevatória de Rhyo-pe, perto de Sunderland, existe registo foto-gráfico que mostra as fases de montagem doinvólucro de arquitectura sobre os equipa-mentos Cf. HUDSON, Kenneth – World In-

dustrial Archaeology, Cambridge, 1979,pp. 191-197. Sobre a Estação Elevatória deLisboa, ver FOLGADO, Deolinda e CUS-TÓDIO, Jorge – Caminho do Oriente,Guia do Património Industrial, Lisboa, Li-vros Horizonte, 1999, pp. 47-55.(6) "The simplicity of the Tuscan mouldingsrenders this order more applicable to the usesof the mechanist than either the Grecian orRoman Doric", CLEGG JUNIOR, Samuel –Architecture of Machinery. An Essay onPropriety of Form and Proportion, witha view to assist and improve design, Lon-don, Architecture Library, 1843, p. 13. De-ve-se a Clegg, o conceito de "arquitectura damaquinaria", enquanto expressão de cons-trução tecnológica destinada a receber o de-sign da máquina a vapor, garantindo a resis-tência das estruturas ao seu funcionamento etempos de impacte, garantindo o relevo artís-tico dos espaços ou beleza do conjunto.

JORGE CUSTÓDIO, Director do Convento de Cristo, Tomar.

Figura 7Figura 6

Figura 4 Figura 5

Figura 4: A "fábrica de água" dos Barbadinhos.Foto Rocchinni, Companhia das Águas de Lis-boa, Album, 1880. Figura 5: Casa das Bombas(piso inferior). Aspecto geral. Foto António Sacchetti, 1998. Figura 6: Condutas de aspiração de água e res-pectiva câmara de ar. Foto Irene Buarque, 1983.Figura 7: Instalação das máquinas a vapor (piso superior). Foto António Sacchetti, 1998.

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O título deste artigo poderá ser enganador,de facto não descobri água na Internet (o quecertamente relegaria a descoberta de águana Lua para segundo plano!), mas que exis-te uma relação estreita entre ambos não te-nho dúvidas. Caso contrário, porque "sur-famos" e "navegamos" nós na Internet?Algo que sempre me fascinou acerca da águasão as suas estatísticas: 70% da superfície ter-restre, 60% do nosso corpo, 70% do nosso cé-rebro, 82% do nosso sangue, 91% da melancia(water-melon em inglês) e 94% do tomate. Em termos energéticos, a água representa19% da produção mundial e cerca de 70% daágua potável disponível é utilizada para irri-gação na agricultura. Grave é o facto de maisde 18% da população mundial não ter acessoa água potável e, se nada for feito, em 2050cerca de dois terços da população mundial te-rá sérios problemas de falta de água. Por isso,em 2002, o Comité dos Direitos Económicos,Sociais e Culturais das Nações Unidas decla-rou a água um direito do Homem (www.who.int) e 2003 foi proclamado pela Assem-bleia Geral da ONU, o Ano Internacional daÁgua Doce (www.wateryear2003.org).A gestão dos recursos hídricos é um tema ca-da vez mais importante nas agendas políti-cas e ambientais, enquanto fonte de desen-volvimento sustentável, cuja precariedadeameaça o futuro próximo do nosso planeta,sendo, segundo a ONU, o factor mais impor-tante de conflitos armados nos próximosanos. Em consulta ao site do Instituto daÁgua (www.inag.pt)encontrará informaçãosobre a Directiva-quadro da Água, o Plano

Nacional, águas costeiras, sistemas de moni-torização bem como links a outras iniciativasinternacionais. A informação sobre a Comis-são Luso-Espanhola encontra-se em constru-ção (tema sensível este da política hidrológi-ca), por isso destaco o programa Finisterra(www.mcota.gov.pt/finisterra), uma inicia-tiva do Ministério das Cidades, Ordenamen-to do Território e Ambiente, para protecção evalorização de orla costeira portuguesa daacção erosiva do mar, dos ventos, da polui-ção ou da inadequada ocupação urbanística. Na área do património construído há queassinalar o lugar destacado da água en-quanto grande inimigo das construções his-tóricas. De modo directo ou indirecto é con-tra a água que todos os especialistas sedebatem na luta pela conservação do nossopatrimónio construído. Em Março deste anodecorreu no Japão o III Fórum Mundial daÁgua (www.world.water-forum3.com),onde um dos muitos temas em debate foi"Water and Cultural Diversity", sob a coor-denação da UNESCO. Também os museus da água da EPAL(www.museudaagua.epal.pt)estão presen-tes no ciberespaço e, através de um grafismoapelativo, podemos visitar o Aqueduto dasÁguas Livres, a Estação Elevatória dos Bar-badinhos, o Reservatório da Mãe d`Água e oReservatório da Patriarcal. Esta página per-mite-nos conhecer a história deste patrimó-nio, consultar a galeria de fotografias, fazeruma visita virtual aos diferentes núcleosmuseológicos, marcar um passeio ou visitaguiada e até reservar um destes espaços pa-

ra um acontecimento. Sob o tema "La Cultura del Agua", poderáconhecer o projecto-piloto inter-regionalThermaios (www.thermaios.com), para odesenvolvimento sustentável das vilas ter-mais europeias (Espanha, Grécia e Portu-gal). O nosso país esteve envolvido com umprojecto para a conservação do patrimónioarquitectónico, inovação tecnológica e pro-moção turística de três vilas termais (Calde-las, Eirôgo e Gerês). A este propósito, chamotambém a atenção para o encontro nacional"Arquitectos e Arquitectura Termal: a cultu-ra da água" a promover entre 7 e 8 de Junho,pela Câmara Municipal das Caldas da Rai-nha e o Conselho Directivo da Ordem dosArquitectos, no âmbito do Ano Nacional daArquitectura`03 – Direito à Arquitectura(www.arquitectura2003.com.pt).Com as férias do Verão próximas, dê umsalto a www.infocid.pt/aguas e conheça a"Qualidade da Água em Zonas Balneares"e as famosas bandeiras azuis. Para termi-nar, não se esqueça, beba 1,5 a dois litros deágua por dia. Pela sua saúde (1)!

Nota:(1) Sobre a importância da água na nossa saú-de, ler o artigo "Beba água, pela sua saúde", do Dr.Pedro Lôbo do Vale, no suplemento Única do jor-nal Expresso, de 5 de Abril de 2003.

por mares nunca dantes navegadosÁgua na Internet:

JOSÉ MARIA LOBO DE CARVALHO,Arquitecto, Mestre em Conservação doPatrimónio (York). Actualmente desen-volve o Doutoramento no IST, enquantobolseiro da FCT.

e-pedra e cal

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AGENDA

O GECoRPA encontra-se a realizar, desde Abril até Outu-bro de 2003, um conjunto de acções de formação destina-das a divulgar a "boa prática" da reabilitação das constru-ções antigas, em geral, e da conservação do patrimónioarquitectónico, em particular. Com um formato inovador– um misto de demonstração e seminário –, estes DEMO-NÁRIOS, de meio-dia cada, têm por destinatários os técni-cos envolvidos na concepção, execução e controlo de inter-venções de reabilitação de edifícios antigos. Os temasversam: A Reparação e conservação de estruturas de ma-deira (25 de Junho), o Reforço anti-sísmico das alvenarias

(17 de Setembro) e A utilização de materiais e técnicas avançadas na conservação erestauro de construções antigas (8 de Outubro).

Mais informações: http://mega.ist.utl.pt/monubasin2004

Mais informações: www.archimuse.com/ichim03/; e-mail: [email protected]

Dedicada à análise e estudo da "Influên-cia do ambiente e a preservação do terri-tório na recuperação do património cul-tural construído", esta reunião científicainteressará a todos os cientistas e técnicosligados à conservação e restauro dos mo-numentos e demais edifícios históricos.Depois de Bari (1989), Genéve (1991), Veneza (1994), Rhodes (1997) e Sevilha(2000), é a vez de Lisboa acolher a reali-zação deste fórum internacional, quedecorrerá nas instalações da Sociedadede Geografia de Lisboa. A organizaçãocabe ao Centro de Petrologia e Geoquí-mica do Instituto Superior Técnico.

VI Simpósio Internacionalda Conservação dos Monumentos na Bacia Mediterrânica

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Organizado pela Sociedade Espanhola Para a Defesa doPatrimónio Geológico e Mineiro, em parceria com o Ins-tituto Geológico e Mineiro de Espanha e com a CâmaraMunicipal de Utrillas, decorrerá de 25 a 28 de Setembro,na Casa da Cultura e no IES Fernando Lázaro Carreterem Utrillas (Teruel), o IV Congresso Internacional sobrePatrimónio Geológico e Mineiro. Os trabalhos, como opróprio nome indica, versarão sobre os aspectos relacio-nados com a conservação e gestão do Património Geoló-gico e Minero-Metalúrgico. O evento está estruturado em cinco sessões: PatrimónioGeológico; Património e Paisagem Mineira; Arqueolo-gia e História Mineira; Sociologia e Costumes Mineiros;Museus, Parques Geológicos e Mineiros. Projecção Tu-rística. Cada uma delas será aberta com uma conferênciade um convidado, seguidas das comunicações apresen-tadas pelos diferentes autores.

Defesa do Património e Desenvolvimento Regional25 a 28 de Setembro

Mais informações: GECoRPA, Rua Pedro Nunes, n.º 27, 1.º Esq.º 1050-170 Lisboa; tel.: 213 542 336; fax: 213 157 996

Mais informações: César Usón e Carlos Díaz; [email protected]; tel.: 978 757 001/661/027/808; Fax: 978 758 222

Junho/Setembro/Outubro de 2003

DEMO-NÁRIOS

Setembro, 17

Outubro, 8

Junho, 25Reparação e conser-vação de estruturasde madeira

H. Cruz/Dave Smedley

Divulgar processos não tradi-cionais de reparação/reforçode estruturas de madeira.

Provetes exemplificativos – demonstração de trabalhos de carpintaria.

Reforço anti-sísmicode construções anti-gas de alvenaria

A. Campos Costa/R. Sofronie/V. Cóias e Silva

Apresentar metodologias de reabilitação sísmica, des-crevendo e exemplificandovárias técnicas e sistemas para esse fim.

Sistemas de tirantes, confina-dores, ligadores piso, parede,sistema Richtergard. Reboco armado.

A utilização de mate-riais e tecnologiasavançadas na conser-vação e restauro deconstruções antigas

Thomaz Ripper/José Paulo Costa

Divulgar materiais e técnicas não tradicionais de reabilitação.

Resinas (vários tipos e aplicações). Materiais compósitos, colagem estrutural.

7 a 10 de Abril de 2004

Porque a tecnologia está em todo o lado,este encontro bienal tem por objectivoaprofundar as relações entre o desenvolvi-mento tecnológico e o património cultural.Dois dias dedicados a seminários e work-shops exclusivos, aos quais se seguirãotrês dias de painéis, apresentações, deba-tes e demonstrações. Informáticos, admi-nistradores, editores, empresários, em-preendedores e artistas de todo o mundoirão partilhar aqui experiências, aprendernovos métodos e forjar novas parcerias.As apresentações versarão temas que vãoda edição digital à cultura digital.

International Cultural Heritage Informatics Meeting

8 a 12 de Setembro de 2003

DEMONSTRAÇÕESOBJECTIVOSDOCENTESTEMADATA

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Pedra & Cal n.º 18 Abril . Maio . Junho 2003

VIDA ASSOCIATIVA

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Plano de Actividades para 2003Linhas Gerais de Acção

No passado dia 5 de Maio, o GECoRPAorganizou uma Visita Estaleiro-Abertoao estaleiro do seu associado Meliobra,Ld.ª. Entre estudantes e professores, re-presentantes de empresas da área da rea-bilitação e outras entidades, esta visitacontou com cerca de 25 participantes. A incursão foi guiada pelo director daobra, Eng.º Joaquim Branco. A obra, consiste na reabilitação de cincoedifícios municipais, que se encontravamem estado de grande degradação, comdeformações e fissurações nas paredesexteriores. A obra deverá estar concluídaem Abril de 2004.

VisitaEstaleiro Aberto

Dia 30 de Abril, o GECoRPA inaugurou asérie de 4 DEMO-NÁRIOS (Demonstra-ção / Seminário) previstas para 2003. Esteprimeiro DEMO-NÁRIO foi dedicado à"Patologia e diagnóstico em construçõesantigas" e teve por objectivo a divulgaçãode metodologias e técnicas de diagnósticode anomalias. Contou com comunicaçõesdos oradores Eng.º Carlos Mesquita eEng.ª Iolanda Soares: Inspecção e ensaiosem construções antigas "diagnosticar an-tes de intervir"; Qualidade no diagnóstico;Exemplos de anomalias em construçõesantigas e sua caracterização através dastécnicas de diagnóstico; E também comdemonstrações dos programas informáti-cos ConstruDoctor e Editec, pelo Eng.º Pe-dro Lança. Finalmente procedeu-se à de-monstração prática de variados aparelhosutilizados no diagnóstico das anomaliasem construções antigas. O GECoRPA tem mais 3 DEMO-NÁRIOSagendados para este ano. Para saber mais,por favor, ver Agenda, p. 44.

DEMO-NÁRIOSGECoRPA

Decorreu no passado dia 25 de Março, a Assembleia Geral do GECoRPA, onde para além de ou-tros assuntos respeitantes à vida da associação, foram apresentados os Relatórios e Contas do ano2002 e também as propostas do Plano de Actividades e Orçamento para 2003. Ambos foram apro-vados pela maioria dos associados presentes.Para o ano de 2003, o GECoRPA tem como principais objectivos uma maior divulgação das suasactividades junto de entidades nacionais e internacionais, através dos meios de comunicação so-cial, nomeadamente da revista Pedra & Cal; a angariação de novos associados; a manutenção dosserviços existentes aos associados e a implementação de novos; a continuação da sua actividadeformadora e a estabilização financeira.À semelhança do ano de 2002, o GECoRPA deverá manter um regime de contenção de custos e derentabilização dos meios e condições disponíveis.Entre as prioridades para o ano de 2003, estão:a) Manter os serviços aos associados• Apoio na implementação de sítios na Internet • Consultoria para apoio a candidaturas a projectos de investimento no âmbito do III QCA• Apoio na implementação de Sistemas de Garantia de Qualidade• Contratação de estagiários • Informação jurídica periódica b) Novos serviços aos associados• Bolsa de emprego • Acções de formação na área das tecnologias de informação c) Revista Pedra & Cal• Maior rentabilização • Melhor divulgação d) Sítio GECoRPA• Melhor gestão e actualização dos dados dos associados, da agenda e da livraria virtual e) Consulta e venda de publicações• Maior contacto com editoras, nacionais e estrangeiras de modo a constituir uma bem fornecidalivraria especializada em conservação e reabilitação do património edificado. Continuar a re-venda dessas publicações.f) Edições GECoRPA• Editação das obras: Manual de Educação em Património Arquitectónico; Actas dos Encontros "Emdefesa do património natural e cultural: reabilitar em vez de construir" e "Baixa Pombalina: Que fu-turo?"; Actas do II Simpósio CIB "Aprendendo com os erros e os defeitos na construcção".g) Separatas Expresso• Foi publicada em Abril uma separata no Jornal Expresso, coordenada pelo GECoRPA, dedica-da aos “Defeitos dos edifícios: Lições a aprender”. Está prevista outra para Outubro/Novembrosobre a Baixa Pombalina.h) Realização de seminários• Demo-Nários GECoRPA: Seminários de formato inovador (demonstração/seminário), com fortecomponente prática: visita a obras ou demonstração de prática simulada.• Encontro Internacional CIB – “Aprendendo com os Erros e os Defeitos na Construção” – a realizarem parceria com o LNEC, a decorrer de 6 a 8 de Novembro.i) Merchandising GECoRPA• Venda de merchandising GECoRPA (t-shirts, bonés, sacos), através da revista e sítio, mas sobretudonos encontros que irão ser realizados em 2003.j) Visitas Estaleiro – Aberto• Realização de pelo menos uma visita Estaleiro – Aberto aos estaleiros dos nossos associados, comobras em curso. k) Prémio GECoRPA• Divulgação do Prémio GECoRPA junto de entidades públicas e privadas para assegurar patrocí-nio para a sua realização. Passada esta primeira fase, proceder à recepção e avaliação das candidatu-ras.l) Protocolos GECoRPADar continuidade aos protocolos existentes. Implementar novos protocolos.

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LIVRARIA

Pedra & Cal n.º 18 Abril . Maio . Junho 200346

Arquitectura Popular da MadeiraEdições ArgumentumAutor: Vítor MestreUm estudo do arquitecto Vítor Mestre que começou nos anos 80 quando se deslocou à Madeira para es-tudar e levantar o património edificado rural.O resultado é um magnífico trabalho que abre um leque de pistas disciplinares sobre a região autónoma.Muito para além da evolução dos diferentes tipos de construção na região da Madeira, o livro relacio-na-as com a própria sociedade onde se inserem, tendo sempre presente a questão da reabilitação dopatrimónio. Interessante é ainda a proposta do autor para a classificação e protecção do património ar-quitectónico de raiz popular.Preço: 60,00 euros – Código AR.E.2

A Igreja de Santa Cruz de Coimbrahistória, conservação e restauro da fachada e arco triunfal

IPPARAA.VV.Obra dedicada ao Mosteiro de Coimbra, panteão da casa real portuguesa e testemunho da evolução daarquitectura do nosso país ao longo dos tempos.O monumento caracteriza-se pela conhecida fragilidade dos materiais utilizados, nomeadamente nasua fachada, a que contribuiu para a sua rápida degradação.O documento retrata a recuperação deste mosteiro – que integrou uma equipa multidisciplinar –, desdeos estudos preliminares à intervenção propriamente dita. Teve como mérito a devolução à cidade deCoimbra, de um dos seus mais emblemáticos edifícios, definitivamente revalorizado.Preço: 35,00 euros – Código IP.E.1

Programa de Recuperação dos CastelosIPPARs/dTrata-se de um documento preparatório da proposta ao III QCA, realizada pelo IPPAR, no âmbito doPrograma de Recuperação de Castelos, a ter lugar entre o ano 2000 e 2006.Preço: 2,49 euros – Código IP.DOC.1

Edgar Cardoso 1913 –2000Edição: Fundação Edgar Cardoso e Departamento de Engenharia Civil e Arquitectura.De entre as obras de engenharia civil, as pontes ocupam um lugar à parte no imaginário colectivo: elasvencem os abismos e o efeito da gravidade que é um dos mais básicos que o ser vivo reconhece e, simul-taneamente, são infra-estruturas de grande utilidade pública ao facilitarem a circulação de bens e pessoas.Este livro é um tributo a Edgar Cardoso, considerado o nosso Engenheiro das Pontes e ao seu trabalho. Preço: 28,50 euros – Código IST.E.2

Património- Estudos – n.º 3IPPARCoord.: Manuel Lacerda; Miguel Soromenho; Maria de Magalhães; Carla LopesTerceira edição da revista semestral do IPPAR dedicada às Ciências e Técnicas Aplicadas ao Património.Muito diversificada e com artigos de elevadíssima qualidade, esta publicação aborda várias técnicas econcepções actuais sobre a conservação e restauro do património arquitectónico, móvel e arqueológicono nosso país e não só. Aqui se apresentam também algumas reflexões teóricas relacionadas com estastemáticas.Preço: 10,00 euros – Código IP.PP.1

Gramáticas da Pedra – Levantamento de tipologias de construção murária

CRATGabriella CasellaTrata-se de um aturado levantamento dos tipos de cons-trução murária tradicional do nosso país, trabalho de ca-rácter inédito entre nós. O trabalho de recolha de tipolo-gia dos muros de pedra desenvolveu-se, segundo aautora, "não apenas por serem documentos históricos ouestéticos, mas por estarem ainda ligados a um conheci-mento prático da construção".Este levantamento está separado por fichas, dedicadas acada região com uma tipologia de construção murária es-pecífica. Em cada ficha se analisa as características dessaconstrução e dos seus materiais. De fazer referência, ain-da, à qualidade das fotografias e imagens, que juntamen-te com os conteúdos, destacam esta obra no panoramados estudos da construção tradicional portuguesa.Preço: 40,00 euros – Código CRAT.E.3

NOVIDADES

Técnicas Tradicionais de Construção de Alvenarias

Autor: João Mascarenhas MateusEdições Livros Horizonte Esta obra, dirigida a arquitectos, engenheiros, historia-dores de arte e gestores do património em geral, preten-de tornar acessível a Arte de Bem Construir. A traduçãoé realizada numa linguagem técnica actual e à luz dasmais recentes teorias e modelos da conservação e restau-ro. Conhecer como se construíam os antigos edifícios éindispensável para o seu estudo e conservação.Preço: 40, 00 euros – Código HT.E.4

Mapas de ArquitecturaLisboa e Coimbra

Edições ArgumentumCoordenação Editorial: Filipe JorgeA colecção Mapas de Arquitectura é uma iniciativa edi-torial que pretende contemplar as cidades capitais dedistrito do nosso país. A colecção teve o seu início com olançamento do Mapa de Arquitectura do Porto, tambémà venda na nossa livraria.Disponibilizamos agora os Mapas de Arquitectura deLisboa e Coimbra.São edições de grande interesse quer para professores,estudantes, arquitectos ou historiadores, quer para o pú-blico em geral. Permitem a identificação e localização deedifícios, conjuntos e sítios de interesse arquitectóniconestas cidades, contribuindo assim para a divulgação donosso património edificado. Preço: 6,00 eurosMapa de Lisboa – Código AR.M.2Mapa de Coimbra – Código AR.M.3

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Pedra & Cal n.º 18 Abril . Maio . Junho 2003

LIVRARIA

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N.º 0, Out/Nov/Dez 1998Tema de Capa:

Prática da Conservação e Restauro do Património

Preço: 3,74 eurosCódigo: P&C.0 – esgotado

N.º3, Jul/Ago/Set 1999Tema de Capa:

Património e EconomiaPreço: 3,74 eurosCódigo: P&C.3

N.º4, Out/Nov/Dez 1999Tema de Capa:

Património Arquitectónico Industrial

Preço: 4,48 eurosCódigo: P&C.4

N.º5, Jan/Fev/Mar 2000Tema de Capa:

Qualificação Profissional e Património Arquitectónico

Preço: 4,48 eurosCódigo: P&C.5 – esgotado

N.º6, Abr/Mai/Jun 2000Tema de Capa:

Arqueologia UrbanaPreço: 4,48 eurosCódigo: P&C.6

N.º7, Jul/Ago/Set 2000Tema de Capa:

Património Cultural e NaturalPreço: 4,48 eurosCódigo: P&C.7

N.º8, Out/Nov/Dez 2000Tema de Capa:

Sismos e Património Arquitectónico

Preço: 4,48 eurosCódigo: P&C.8

N.º1, Jan/Fev/Mar 1999Tema de Capa:

Centros Históricos –Recuperar e Revitalizar

Preço: 3,74 eurosCódigo: P&C.1 – esgotado

N.º2, Abr/Mai/Jun 1999Tema de Capa:

Reabilitação Urbana.Lisboa é um laboratório.

Preço: 3,74 eurosCódigo: P&C.2 – esgotado

N.º9, Jan/Fev/Mar 2001Tema de Capa:

Salvaguarda de RevestimentosArquitectónicosPreço: 4,48 eurosCódigo: P&C.9

N.º10, Abr/Mai/Jun 2001Tema de Capa:

Património de BetãoPreço: 4,48 eurosCódigo: P&C.10

N.º11, Jul/Ago/Set 2001Tema de Capa:

Baixa Pombalina: Que Futuro?Preço: 4,48 eurosCódigo: P&C.11

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LIVRARIA

Pedra & Cal n.º 18 Abril . Maio . Junho 200348

N.º14, Abril/Maio/Jun 2002Tema de Capa:

Pontes que fazem históriaPreço: 4,48 eurosCódigo: P&C.14

N.º15, Jul/Agosto/Set 2002Tema de Capa:

Arquitectura MilitarPreço: 4,48 eurosCódigo: P&C.15

N.º12, Out/Nov/Dez 2001Tema de Capa:

Intervenções em MuseusPreço: 4,48 eurosCódigo: P&C.12

N.º13, Jan/Fev/Mar 2002Tema de Capa:

Intervenções em Monumentosde Pedra

Preço: 4,48 eurosCódigo: P&C.13

Nota de Encomenda

Nome Endereço

Código Postal Localidade Telefone Fax

Junto cheque n.º sobre o Banco no valor de ____________________ euros, à ordem do GECoRPA

Data Assinatura

N.º Contribuinte e-mail

Código Título Preço Unitário Desconto (*) Quantidade Valor (**)

(*) Os associados do GECoRPA ou assinantes da Revista têm direito a 10% de desconto sobre o valor de cada obra encomendada. Os descontos não são acumuláveis, nem aplicáveis aos números da Pedra&Cal já publicados.(**) Ao valor de cada livro deverão ser acrescentados 2,50 euros para portes de correio. Quando a encomenda ultrapasse as duas obras, os portes de correio fixam-se nos 5,00 euros.Quanto aos números da Pedra&Cal já publicados, são acrescidos de 1,01 euros por exemplar, para portes de correio.FORMA DE PAGAMENTO: o pagamento deverá ser efectuado através de cheque à ordem de GECoRPA, enviado juntamente com a nota de encomenda para Rua Pedro Nunes , n.º 27, 1.º Dt.º 1050-170 Lisboa.

Associado do GECoRPA (10% de desconto)Assinante da “Pedra&Cal” (10% de desconto)

Actividade / Profissão

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Total: euros

N.º16, Out/Nov/Dez 2002Tema de Capa:

Os Caminhos-de-ferrocomo património cultural

Preço: 4,48 eurosCódigo: P&C.16

N.º17, Jan/Fev/Mar 2003Tema de Capa:

Gestão de Qualidade na Conservação

do Património ArquitectónicoPreço: 4,48 eurosCódigo: P&C.17

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Pedra & Cal n.º 18 Abril . Maio . Junho 2003

ASSOCIADOS GECoRPA

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Actividade: Fiscalização de obras e projectos, gestão e coordenação de empreendimentos.

J. L. Câncio Martins – Projectos de Estruturas, Ld.ªRua General Ferreira Martins, n.º 10 - 3.ºA1495-137 AlgésTel.: 214 123 010 Fax: 214 123 011E-mail: [email protected] Responsável: Eng.º Luís CâncioActividade: Projectos de edifícios e pontes e reabilitação estrutural.

José Lamas e Associados, Estudos de Planeamento e Arquitectura, Ld.ªLargo de Santos, n.º 1-1.º Dt.o

1200-808 LisboaTel: 213 968 484Fax: 213 974 946E-mail: [email protected]ável: Arq.º José LamasActividade: Projecto de arquitectura e engenharia e estudos de planeamento.

LEB – Consultoria em Betões e Estruturas, Ld.ªRotunda das Palmeiras Edifício Cascais Office, 1.º piso, sala I2645-091 AlcabidecheTel.: 210 331 125/6Fax: 210 331 127E-mail: [email protected]ável: Eng.º Thomaz RipperActividade: Projecto, consultoria e fiscalização na área da reabilitação do património construído.

MC Arquitectos, Ld.ªPraça Príncipe Real, n.º 25 - 3.º1250-184 LisboaTel.: 213 219 950 Fax: 213 467 995E-mail: [email protected] Responsável: Arq.º Gastão da Cunha FerreiraActividade: Projectos de arquitectura, levantamentos, estudos e diagnóstico.

Grupo II Levantamentos, inspecções e ensaios

ERA – Arqueologia – Conservação e Gestão do Património, S. A. Calçada de St.ª Catarina, n.º 9 C1295-705 DafundoTel.: 214 209 750Fax: 214 209 755Responsáveis: Dr. Pedro Simões Braga, Dr. Miguel LagoActividade: Conservação e restauro de estruturasarqueológicas e do património arquitectónico,inspecções e ensaios, levantamentos.

Grupo I Projecto, fiscalização e consultoria

A. da Costa Lima, Fernando Ho, Francisco Lobo e Pedro Araújo– Arquitectos Associados, Ld.ªRua de S. Paulo, n.º 202 – 2.º1200-429 LisboaTel.: 213 432 868Fax.: 213 259 553E-mail: [email protected]ável: Arq.º Francisco Lobo Actividade: Projectos de conservação e restauro do património arquitectónico, projectos de reabilitação, recuperação e renovação de construções antigas, estudos especiais.

Cariátides – Produção de Projectos e Eventos Culturais, Ld.ªRua das Flores, n.º 69, sala 4 4050-265 Porto Tel. : 223 326 105 Fax: 223 393 537 Responsável: Dr.ª Gabriela Casella, Dr.ª Maria Providência Actividade: Produção e projectos de eventos culturais, projectos de reabilitação, conservação e restauro do património arquitectónico e construções antigas.

Consulmar Açores – Projectistas e Consultores, Ld.ªAvenida Infante D. Henrique, Bloco 1-5.º E9500-150 Ponta DelgadaTel.: 296 62 95 90Fax: 296 62 96 68E-mail: [email protected] Responsável: Arq.º Jorge Kol de CarvalhoActividade: Projecto, consultoria e fiscalização.

Desarcon, Ld.ªRua Borda D'Água da Asseca, n.º 9 8800-325 Tavira Tel. : 281 322 404 Fax: 281 322 336 E-mail: [email protected]ável: Arq.º Miguel MertensActividade: Projectos de conservação e restauro do património arquitectónico projectos de reabilitação, recuperação e renovação de construções antigas fornecedores de levantamentos, inspecções e ensaios em P.A. e C.A.

ETECLDA – Escritório Técnico de Engenharia Civil, Ld.ªRua Júlio Dinis, n.º 911 - 6.º E4050-327 PortoTel.: 226 007 107Fax: 226 095 553E-mail: [email protected] Responsável: Eng.º Manuel Baptista Barros

OZ – Diagnóstico, Levantamento e Controlo deQualidade de Estruturas e Fundações, Ld.ªRua Pedro Nunes, n.º 45 - 1.º E 1050-170 LisboaTel.: 213 563 371Fax: 213 153 550E-mail: [email protected] Site: www.oz-diagnostico.ptResponsável: Eng.º Carlos Garrido MesquitaActividade: Levantamentos, inspecções e ensaios não destrutivos, estudo e diagnóstico.

Grupo III Execução dos trabalhos,

empreiteiros e subempreiteiros

A. Ludgero Castro, Ld.ªRua Recarei, n.º 8604465-727 Leça do BalioTel.: 229 511 116Fax: 229 517 517E-mail: [email protected] Responsável: Dr. Paulo Ludgero CastroActividade: Consolidação estrutural, construção e reabilitação de edifícios, conservação e restauro de pintura mural.

Alfredo & Carvalhido, Ld.ªLugar de FreixoPerre - Viana do Castelo4925-574 PerreTel.: 258 832 072Fax: 258 832 143e-mail: [email protected]ável: Valdemar CoelhoRodrigues CarvalhidoActividade: Conservação e restauro do patrimó-nio arquitectónico. Conservação e reabilitação de construções antigas.

Alvenobra – Sociedade de Construções, Ld.ªRua Professor Orlando Ribeiro, n.º 3 – loja A1600-796 LisboaTel.: 217 584 734Fax: 217 584 738E-mail: [email protected]ável: Eng.º Jorge Rodrigues TeixeiraActividade: Reabilitação, recuperação e renovação de construções antigas.

AMADOR, Construção Civil e Obras Públicas, Ld.ªAvenida das Escolas, n.º 292520-204 PenicheTel.: 262 78 29 64Fax: 262 78 18 73E-mail: [email protected]: www.amadorlda.pt Responsável: Eng.ª Catarina Amador RêgoActividade: Conservação, restauro e reabilitaçãodo património construído e instalações especiais.

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ASSOCIADOS GECoRPA

Pedra & Cal n.º 18 Abril . Maio . Junho 200350

conservação e reabilitação de construções antigas, recuperação e consolidação estrutural.

Cruzeta – Escultura e Cantarias, Restauro, Ld.ªRua da República da Bolívia, n.º 97 – 4.º Dt.º1500-545 LisboaTel.: 217 150 370Fax: 219 824 188E-mail: [email protected]ável: Sr. Eduardo Roberto Morezo Telemóvel: 967 094 130Actividade: Conservação e reabilitação de construções antigas, limpeza e restauro de cantarias, alvenarias e estruturas.

CVF – Construtora de Vila Franca, Ld.ªEstrada Nacional n.º 10, k/ 137,522695 S.ta Iria de AzóiaTel.: 219 533 230Fax: 219 533 239E-mail: [email protected] Responsável: Sr. Álvaro Reis PereiraActividade: Conservação de rebocos e estuques, consolidação estrutural, carpintarias, reparação de coberturas.

ENGIBUILT – Construções, Ld.ª Rua Diamantino Freitas Brás, n.º 24 r/c Dt.º2615-070 Alverca do RibatejoTel.: 219 582 582Fax: 219 577 627E-mail: [email protected]áveis: Eng.º José A. Martins e Eng.º Mário CunhaActividade: Reabilitação, recuperaçãoe renovação de construções antigas.

GALERIA NET, Ld.ª Rua Cândido de Oliveira, n.º 13 –A, Brandoa2700 AmadoraTel.: 214 760 267Fax: 214 760 267Responsável: Sr. Eduardo da Silva RamosActividade: Conservação e restauro de douradosem obras de arte, mobiliário antigo, molduras, etc.

GECOLIX – Gabinete de Estudos e Construções, Ld.ªEstrada Nacional, n.º 13Casal Prioste2070-624 CartaxoTel.: 243 770 045Fax: 243 770 098 E-mail: [email protected]ável : Dr. Carlos Abel Silva DamasActividade: Conservação e restauro do patrimónioarquitectónico, reabilitação, recuperação e renova-ção de construções antigas, instalações especiais empatrimónio arquitectónico e construções antigas.

Gilberto Ferreira "Arte Sacra"Rua do Amorim, n.º 479500-020 Ponta Delgada

Arnaldo Moisão – Dourador, Pinturas e Decorações, Ld.ªRua Borges Carneiro, n.º 42 c/v1200-016 LisboaTel.: 219 834 893Fax: 213 979 049Responsável: Sr. Rui MoisãoActividade: Conservação e restauro de talha dourada e pintura mural.

Augusto de Oliveira Ferreira & Cª., Ld.ªLargo João Penha, n.º 356 - 1.º D4710-245 BragaTel.: 253 26 36 14Fax: 253 61 86 16E-mail: [email protected] Responsável: Dr.ª Maria José CarrilhoActividade: Conservação reabilitação de edifícios, cantarias e alvenarias. Pinturas, carpintarias.

Brera – Sociedade de Construções e Representações, Ld.ªRua Miguel Torga, 2 C – escritório 4.6 – Alfragide2720-292 AmadoraTel.: 214 725 470Fax: 214 725 471E-mail: [email protected] Responsáveis: Eng.º Amílcar Beringuilho e Sr. Paulo RaimundoActividade: Construção, conservação e reabilitação de edifícios.

Coala – Comércio de Produtos de Isolamento e Revestimento para a Construção Civil, S.A.Rua Padre Joaquim das Neves, n.º 12214435-374 Rio TintoTel.: 224 809 867Fax: 224 809 869 E-mail: [email protected]ável : Eng.º Nuno GuimarãesActividade: Reabilitação de edifícios, impermeabilizações, isolamentos e restauros.

Construções Borges & Cantante, Ld.ªRua António Andrade, n.º 1147Edifício Anduné, 1.º Dt.º2815-300 Charneca da CaparicaTel.: 212 973 131Fax: 212 961 291E.mail: [email protected]ável: Sr. Alberto Rodrigues BorgesActividade: Construção de edifícios, conservaçãoe reabilitação de construções antigas.

COPC - Construção Civil, Ld.ªRua Cidade de Bafatá, n.º 181800-060 LisboaTel.: 218 537 122Fax: 218 537 162E-mail: [email protected] Responsável: Eng.º Carlos OliveiraActividade: Construção de edifícios,

Tel.: 296 652 949Fax: 296 654 204E-mail: [email protected]ável: Sr. Gilberto FerreiraActividade: Conservação e restauro de talha dourada, pintura mural, rebocos e estuques.

José Neto & Filhos, Ld.ªRua Industrial de Loulé – Lote 278100-272 LouléTel.: 289 41 09 60Fax: 289 41 0979E-mail: [email protected] Responsável: Eng.º José Carlos NetoActividade: Construção de edifícios, conservação e restauro de rebocos e estuques, carpintarias.

Junqueira 220 – Sociedade de Conservação, Restauro e Arte, Ld.ªRua da Junqueira, n.º 2201300-346 LisboaTel.: 213 639 163Fax: 213 633 803 ou 213 627 840Responsável: Sr. Luís Figueira Actividade: Conservação e restauro de pinturas e talha dourada.

Listorres – Sociedade de Construção Civil e Comércio, Ld.ªRua Brigadeiro Lino Dias Valente, n.º 82330-103 EntroncamentoTel.: 249 72 00 30Fax: 249 72 00 39E-mail: [email protected] Responsável: Prof. Vasco DuarteActividade: Construção e reabilitação de edifícios.

L. N. Ribeiro Construções, Ld.ªRua Paulo Renato, n.º 3 r/c – C/D2795-147 Linda-a-VelhaTel.: 214 153 520Fax: 214 153 528Responsável: Eng.º Luís RibeiroActividade: Construção e reabilitação de edifícios, consolidação de fundações.

Lourenço, Simões & Reis, Ld.ªRua Luciano Cordeiro, n.º 49 - 1.º1169-135 LisboaTel.: 213 542 137Fax: 213 570 001E-mail: [email protected]ável: Eng.º Carlos Manuel GranateActividade: Consolidação estrutural.

MELIOBRA – Construção Civil e Obras Públicas, Ld.ª Rua das Fontainhas, n.º 33 C 2700-391 AmadoraTel.: 214 759 000

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Pedra & Cal n.º 18 Abril . Maio . Junho 2003

ASSOCIADOS GECoRPA

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Quinagre, Construções, S. A.Rua Hermano Neves, n.º 22 - 4.º A1600-477 LisboaTel.: 217 567 570Fax: 217 567 579E-mail: [email protected]ável: Eng.º Joaquim Quintas Actividade: Construção de edifícios, reabilitação, consolidação estrutural.

Rodrigues, Cardoso & Sousa, S. A.Portela do Gove – Gove4640 BaiãoTel.: 255 55 13 15Fax: 255 55 17 23E-mail: [email protected] Responsável: Sr. Joaquim da Silva SousaActividade: Construção, conservação e reabilitação de edifícios.

Sociedade de Construções José Moreira, Ld.ªAvenida Manuel Alpedrinha, n.º 15Reboleira2720-352 AmadoraTel.: 214 998 650Fax: 214 959 780E-mail: [email protected] Responsável: Eng.º José Moreira dos SantosActividade: Execução de trabalhosespecializados na área do património construído e instalações especiais.

Somafre - Construções, Ld.ªRua Manuel Rodrigues da Silva, n.º 7 C – esc.61600-503 LisboaTel.: 217 112 370Fax: 217 112 389 E-mail: [email protected]ável: Eng.º Carlos FreireActividade: Construção, conservação e reabilitação de edifícios, serralharias, carpintarias, pinturas.

STAP – Reparação, Consolidação e Modificaçãode Estruturas, S. A.Rua Marquês de Fronteira, n.º 8 - 3.º Dt.º1070-296 LisboaTel.: 213 712 580Fax: 213 854 980E-mail: [email protected] Site: www.stap.pt Responsável: Eng.º José Paulo CostaActividade: Reabilitação de estruturas de betão, consolidação de fundações, consolidação estrutural.

TECNASOL FGE – Fundações e Geotecnia, S.A.R. das Fontainhas, n.º 58Venda Nova2700-391 AmadoraTel.: 214 908 600Fax: 214 747 036E-mail: [email protected]

Fax: 214 753 010E-mail: [email protected]ável: Sr. José Pedro Pires CoelhoActividade: Construção, conservação e reabilitação de edifícios.

MIU – Gabinete Técnico de Engenharia, Ld.ªRua do Vale de Santo António, n.º 46 - 2.º Dt.º1170-381 LisboaTel.: 218 161 620Fax: 218 161 629E-mail: [email protected] Responsável: Eng.º Artur Correia da SilvaActividade: Construção, conservação e reabilitação de edifícios, conservação de rebocos e estuques, pinturas.

Monumenta – Conservação e Restauro do Património Arquitectónico, Ld.ªRua Pedro Nunes, n.º 27 – 1.º D1050-170 LisboaTel.: 213 593 361Fax: 213 153 659E-mail: [email protected] Responsável: Eng.º João VarandasActividade: Conservação e reabilitaçãode edifícios, consolidação estrutural, conservação de cantarias e alvenarias.

Ocre – Sociedade Comercial de Arte e Restauro, Ld.ªTravessa da Pereira, n.º 16 A, letra F-C1170-313 LisboaTel.: 218 881 108Fax: 218 881 087E-mail: [email protected] Responsável: Dr.ª Nazaré TojalActividade: Conservação e restauro de pintura de cavalete, pintura mural, talha dourada e escultura policromada, levantamentos e diagnóstico.

Pintanova – Pinturas na Contrução Civil, Ld.ªRua Amílcar Cabral, n.º 21 B1750-018 LisboaTel.: 217 572 856Fax: 217 577 4 72E-mail: [email protected] Responsável: Sr. Vasco Paulino Actividade: Conservação e restauro de rebocos, estuques e cantarias, pinturas.

Poliobra – Construções Civis, Ld.ªRua Afonso de Albuquerque, n.º 8 BSerra do Casal de Cambra2605-192 BelasTel.: 219 809 770Fax: 219 809 779E-mail: [email protected] Responsável: Eng.º Vítor António FarinhaActividade: Construção e reabilitação de edifícios, serralharias e pinturas.

Responsável: Eng.º Nuno Oliveira LopesActividade: Fundações e geotecnia, conservaçãoe restauro do património arquitectónico, reabili-tação, recuperação e renovação de construções antigas.

Grupo IVFabrico e ou distribuição de

produtos e materiais

BLEU LINE – Conservação e Restauro de Obras de Arte, Ld.ªRua do Alecrim, n.º 111 – 1.º Esq1200-016 LisboaTel.: 213 224 461Fax: 213 224 469E-mail: [email protected] Responsável: Dr. José Luís Marques PereiraActividade: Materiais para intervenções de conservação e restauro em construções antigas, conservação de cantarias.

Optiroc Portugal – Cimentos e Argamassas, Ld.ªZona Industrial de Ourém2435-661 SeiçaTel.: 249 540 190Fax: 249 540 199E-mail: [email protected] Responsável: Eng.º Rui VieiraActividade: Produção e comercialização de argamassas de colagem e revestimento.

Tecnocrete – Materiais e Tecnologias de Reabilitação Estrutural, Ld.ªRua Pedro Nunes, n.º 45 – 3.º Dt.º1050-170 LisboaTel.: 213 162 929Fax: 213 162 931Responsável: Dr.ª Rute SebastiãoActividade: Produção e comercialização de materiais para construção.

Para mais informações acerca dos associados GECoRPA, e as suas actividades, visite a rubrica "associados" no nosso site em www.gecorpa.pt

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PERSPECTIVAS

Como foi já assinalado nesta colu-na, as últimas eleições autárquicascolocaram na ordem do dia a ne-cessidade imperiosa e urgente dareabilitação urbana nas nossas ci-dades. Perante a calamitosa degra-dação de grande parte do parquehabitacional – mesmo para alémdas áreas centrais – os candidatosque acabaram por vencer no pleitoeleitoral fizeram deste tema assuas grandes bandeiras de campa-nha. Se foi notória esta questão em Lisboa,Porto e Coimbra, a mesma não deixou deestar presente noutras cidades do país.Passado mais de um ano sobre as novas ges-tões autárquicas, que balanço se poderá ho-je fazer dos objectivos então clamorosa-mente proclamados? Não dispondo deelementos para além dos que são noticia-dos na Imprensa, não me proponho fazeresse balanço. Mas alguns sinais – aliás pou-co animadores – podem desde já ser apon-tados, embora na perspectiva de que o temaem apreço sempre se apresentará comouma corrida de fundo em que os resultadosnão se poderão alcançar no curto prazo.No que se refere aos três principais pólosurbanos do país, pouco se sabe de concreto sobre Lisboa. Onde estão os promissoresconsórcios imobiliários que Santana Lopesanunciava há um ano estarem em vias deconstituição? Nem sequer sobre a Baixa, que se dizia ser um objectivo prioritário eterreno de ensaio, parece haver algo de con-creto, para além da avisada decisão de ins-talar um sistema de monitorização dos aquí-feros do subsolo e de ter sido criada umaunidade de projecto para essa zona da cida-de. E quanto ao aumento da atractibilidadedo casco urbano, com vista à reposição dapopulação residente, apenas se conhece oprograma de construção de silos para auto-móveis em alguns bairros da cidade.

No Porto, para o ambicionado objectivo detrazer de volta a população à Baixa, existeum programa em discussão, mas cujos con-tornos creio não terem sido muito divulga-dos. Quanto a Coimbra, o processo aponta-do para a requalificação da Baixa pareceestar mais avançado, com um ambiciosoprograma calendarizado e critérios de in-tervenção já consolidados.É, no entanto, sabido que todo o processo derequalificação do parque habitacional nãopoderá ser levado a cabo sem profundas al-terações legislativas, da responsabilidadeda administração central. Passado já um ano sobre a posse do Governo PSD-PP, tam-bém alguns, mas poucos, sinais podem serapontados. Entre estes a reformulação do RECRIA e seus derivados, com o objectivode unificar, simplificar e desburocratizar asua aplicação. É que as verbas disponibiliza-das nos últimos anos para financiamento dosistema têm conhecido taxas de execução,parece, bastante inferiores ao previsto.Mas um facto altamente negativo pode in-felizmente ser neste momento apontado. Éque na recente reforma do sistema tributá-rio referente ao património, anunciadacom pompa e circunstância, nada constareferente à indispensável penalização fis-cal dos fogos devolutos. Sabendo-se comoo seu número é astronómico entre nós – etambém que foi o governo de Aznar que

há anos introduziu em Espanhaesse sistema – é surpreendente (epreocupante) que o Governo deBarroso não tenha aproveitadoesta oportunidade para o criar.Em declarações proferidas acer-ca da magnitude deste problema,o engenheiro Fernando Santo, al-to responsável da EPUL, veiolembrar que é mais rentável paraos proprietários deixarem os seusedifícios devolutos do que colo-

cá-los no mercado. E sem a resolução des-te problema não haverá nas nossas cida-des "regressos à Baixa" ou reposição dapopulação residente.Entretanto, num plano completamente di-ferente, ao nível dos estudos técnicos, ondetambém é necessário investir, há que sau-dar um excelente trabalho aparecido hápouco e que merecia maior divulgação. Tra-ta-se de uma tese da autoria do arquitectoJoão Guilherme Appleton sobre a reabilita-ção, consolidação e modernização dos pré-dios das Avenidas Novas, em Lisboa, co-nhecidos por "gaioleiros" e construídos vaiagora para um século. Condensado em trêsartigos, à escala do quarteirão, do edifício edo fogo, os dois primeiros foram publica-dos na útil revista da Câmara MunicipalLisboa Urbanismo, em má hora desapareci-da, tendo o último sido inserido na Arqui-tectura e Vida. É que, para além das medi-das legislativas e da procura de meios definanciamento, a tão desejada reabilitaçãourbana não pode dispensar estudos comoeste, como forma de contrariar a prática sel-vagem instalada entre nós de deitar abaixopara construir de novo, contribuindo para adescaracterização das cidades e para a es-peculação fundiária.

NUNO TEOTÓNIO PEREIRA,Arquitecto.

para além das boas intenções?Reabilitação do parque habitacional

Telm

o M

iller

Coimbra.