revista enviado especial 2014

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1 JULHO 2014 | ENVIADO ESPECIAL

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Construindo identidadesPor Claudia Rossi

Descobrir a si mesmo e descobrir o outro. Nossa história, o que gostamos de comer, de ouvir, de ler e fazer. Além

de cada um ter consigo os seus próprios gostos pessoais e os caminhos trilhados, há características em comum que unem as pessoas em determinado território. E isso cria a identidade de brasileiros, ingleses, indianos, chineses, e claro, dos argentinos. Nessa 3º edição do programa “Jorna-lismo sem Fronteiras”, os futuros correspondentes puderam vivenciar a questão da identidade de maneira diversificada.

Entender como surgiu o tango e quem são as pessoas que dançam pelas ruas de Buenos Aires; o motivo da cidade ter os tradicionais cafés e o por quê dos portenhos nunca saírem deles; a razão pela qual muitos imigrantes deixam seus países de origem e seguem para a Argentina em busca de um recomeço; o contexto político e social que o país vive e quais as consequência disso nas urnas; os conflitos que o país passou e como isso afeta até hoje a forma como sua história é contada, como é o caso do atentado à AMIA e o museu da ESMA; e uma história que está praticamente esquecida, como a dos indígenas da capital argentina.

Conhecer cada um desses itens supracitados é conseguir entender um pouco como a identidade argentina é forma-da, o que foram no passado, o que são hoje e que esperam do futuro.

Tornar-se correspondente é uma das possibilidades que muitos jornalistas enxergam quando começam a carreira. E o aprendizado durante essa semana intensa foi que antes de apresentarmos para os leitores, telespectadores e ouvintes do nosso país as notícias de um país diferente, antes de tudo é preciso conhecer as pessoas de quem está se falando. Por isso a questão da identidade está tão atrelada ao trabalho de um repórter em outro país.

Com as reportagens dessa revista você irá conhecer um pouco da Argentina, passando por sua história, política, contexto social, gastronomia e cultura. O que os nossos re-pórteres descobriram nessa semana é que entender o outro é, antes de tudo, entender a si mesmo.

Boa leitura!

EDITORIALEnviado Especial

Diretora EditorialClaudia Rossi

EditoresDeborah Rezaghi, Jacqueline Moraes, Natália

Rossi e Pedro Del Picchia

RepórteresAna Carolina Siedschlag

Beatriz CampilongoCamila AlvarengaCarolina Piscina

Diego MouraElisa Espósito

Giovanna MaradeiIsabella Carvalho

Jéssica CruzLaura Ciampone

Marina Costa VasconcelosPedro Neves Fonseca

Rafael EstevesPedro Neves

Arte e DesignElisa Espósito

[email protected] Molina

[email protected]

Uma publicação do programa

Idealização e realização

Rua Caicanga, 133 – Mirandópolis04051-040, São Paulo – SP – Brasil

Telefone: (11) 2577-6480Celular: (11) 98753-0991

[email protected]

Agradecimentos

Nada melhor do que poder aprender na prática. Colocar os pés na rua, ouvir histórias, enfrentar a di-ficuldade de se deslocar por um país diferente, com uma outra língua. Mas antes de aprender fazendo

é importante colher dicas com quem está na área e vivencia, ou vivenciou, a correspondência. Por isso agradecemos a atenção e os aprendizados que foram transmitos por Clóvis Rossi, colunista da Folha; Fábio Zanini, editor do caderno Mundo da Folha; Alejandro Rebossio, do El País; Ariel Palacios, da

Globo News; Janaína Figueiredo, de O Globo e Felipe Gutierrez, da Folha.

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SUMÁRIOPolítica

História

Cidade

Mercosul..........6Malvinas..........12Perfil Túlio.......18Eleições............20Presidentas.......24

Amia................28Esma................34Povos originários..46

Imigrantes........56Córdoba............70

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CulturaTango..............80Café.................88Boliches...........96Entre as mesas...102Futebol...................108

CapaInspiraires:

ensaio fotográfico

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INSPIRAIRESCarolina Piscina

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Buenos Aires, diferente de muitas outras, não é para ser vista, nem descrita, mas sentida. Esse é um daqueles lugares que te fazem se sentir em casa, te encantando a cada esquina, com seus cafés, antigas construções, inú-meras praças e monumentos.

O charme que se encontra em cada rua, por mais estreita que seja, é indescritível. A cidade tem uma leveza acom-panhada de seriedade, uma agitação misturada com a calmaria das plazas e um ar que apaixona.

Caminhar pela Avenida Nove de Julho durante a madru-gada, quando está vazia, com o vento gelado batendo no rosto e deixando as bochechas rosadas traz a sensação de se estar em paz dentro de uma metrópole , apreciando o ambiente ao redor, um momento em que não é necessá-rio trocar palavras com quem está ao seu lado, pois todos estão sentindo.

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A luta dos povos indígenas pela sobrevivência da cultura ancestral

INSPIRAIRESCarolina PiscinaPOVOS ORIGINÁRIOS

PELA SOBREVIVÊNCIADA CULTURA ANCESTRAL

A LUTA DOS

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A luta dos povos indígenas pela sobrevivência da cultura ancestral

POVOS ORIGINÁRIOSPELA SOBREVIVÊNCIADA CULTURA ANCESTRAL

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As festas e ritos dos povos indígenas só foram permitidos em 1994, com a reforma da Constituição Nacional da Argentina

As festas e ritos dos povos indígenas só foram permitidos em 1994, com a reforma da Constituição

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Rafael Moreira, indígena do povo Quechua-Aymara, cruzou a fron-teira da Bolívia com a Argentina na década de 1930 para trabalhar na extração de minérios em Pirquitas, norte da Argentina, na província de Jujuy.

Em 1932, veio a Guerra do Chaco, o maior conflito armado do século XX na América do Sul. Bolívia e Paraguai lutaram pela região do Chaco Boreal, onde descobriram petróleo aos pés dos Andes. Após a morte de mais de 60 mil bolivianos e 30 mil paraguaios, a região foi anexada ao território paraguaio.

Rafael Moreira lutou na guerra até 1935, e, durante esse período, seu filho Pedro Moreira nasceu na Argentina. “Como já estava mamando dessa cultura colonialista, meu pai foi defender a pátria. Por sorte ele voltou e meu tio também, mas muitos morreram sem saber que esta-vam defendendo apenas interesses econômicos”, conta Pedro.

“Nasci na Argentina, mas minha mãe e meu pai são bolivianos. Essa dualidade de países me fez entender algumas coisas: que as divisões dos países são estabelecidas por esse sistema colonial, é uma forma de nos dividirem e nos separarem.” De fato, há mais de 500 anos, a colo-nização das Américas pelos europeus fez com que fronteiras fossem criadas entre os povos originários.

PachamamaJovens descendentes indígenas lutam para resgatar as origens e a cultura dos povos originários das Américas

A mãe-terra de todos os povos

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Dario Juarez, da etnia Guarany, frequenta a casa de Pedro para trocar conhecimen-tos sobre suas origens. Assim como outros migrantes, ele saiu há 20 anos de Misio-nes - um pedaço de terra da Argentina, entre o Paraguai e o Brasil – para tentar a vida em Buenos Aires. Começou então fazer alguns trabalhos voluntários com os indígenas quando descobriu que era guarani. “Minha mãe, Elida, me ligou um dia querendo saber o que eu estava fazen-do na capital e contei que estava ajudando alguns indígenas. Foi então, que ela me contou sobre minha avó guarani, de um povo onde hoje é o Paraguai. E tudo co-meçou a fazer mais sentido para mim.”

Depois disso, Dario se engajou ainda mais na causa dos povos originários. Fez diver-sas viagens de volta a Misiones e, inclusi-

Resgate da história

Há mais de 40 km da capital, na cidade de San Miguel, região conhecida como conurbano de Buenos Aires, mora hoje Pedro Moreira, já com 78 anos. Desde 1993, ele mantém uma biblioteca-museu dos povos originários na sala de casa. Um lugar simples, mas urbano, nada pa-recido com tribos ou comunidades indígenas. É lá tam-bém que os indígenas que vivem na cidade se encontram para palestras, bate-papos culturais e celebrações de datas comemorativas.

“Até então não prestava atenção nas lutas dos povos originários, mas quando comecei a pesquisar, encontrei uma enorme riqueza cultural. Essa pequena biblioteca nasceu como homenagem a minha mãe, que, apesar de não ter me criado em comunidade, me passou a cultura quéchua.”

Pedro Moreira, da etnia Quechua-Yamara, mantém a Biblioteca Inti-Huasi para resgatar e difundir a história

dos povos originários

Adrian Ovando é cacique de uma das 7 tribos urbanas guaranis

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comunidade urbana, Adrian luta por um espaço de terra para que vivam na cidade, mas unidos geograficamente. Hoje, como moram em lugares distintos, as famílias se reúnem pelo menos a cada 3 meses no Centro Cultural da Universidad Nacio-nal de General Sarmiento, onde também acontecem aulas das línguas maternas, como o guarani e o quéchua, aulas de mú-sica tradicional e assim uma identidade dos povos vai se construindo novamente.

Discriminação“Minha mãe ia muito às missas da Igre-ja Católica e eu sempre a acompanhava quando pequeno. E achava curioso o momento da comunhão, quando todos se levantavam e iam para o centro da igreja.

ve, levou o sobrinho Diogo. “Conheci as Cataratas do Iguaçu e foi maravilhoso”, conta Diogo, curioso sobre o Brasil. Mas confessa que não se interessa tanto pela história de sua família. O povo guarani é o mais nu-meroso entre os povos urbanos de Buenos Aires.

O cacique de sua comunidade, Adrian Ovando, tem apenas 46 anos e, apesar de ter vivido em co-munidade até os 7 anos, sofreu tantos preconceitos que renegou suas origens e viveu por muitos anos tentando esquecer e negando que era indígena. Até que conheceu sua esposa, que o fez enxergar que o encontro de si mesmo lhe traria paz e dessa forma se sentiria completo. “E hoje passo para meus três filhos e que eu estava errado em não querer me reconhecer como indígena. E agora estou planejando levá-los até Resistencia, em Chaco, onde fica a comunidade em que cresci”. A cidade argentina fica na fronteira com o Paraguai.

Como representante de 28 famílias guaranis, uma

Cidade

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As festas e ritos dos povos indígenas só foram permitidos em 1994, com a reforma da Constituição Nacional

da Argentina

Por exemplo, a festa Inti Raymi, quando é comemorado o solstício de inverno, em junho no hemisfério sul, foi proibida. “Como coincidia com o período da festa católica de San Juan, os povos indígenas santificaram a festa de Inti Raymi para continuar festejando sem serem persegui-dos”.

A noite mais longa e o dia mais curto, quando um novo ciclo começa para os povos indígenas só pode ser comemorada hoje na Argentina, porque em 1994, há apenas 10 anos, os povos originários con-seguiram incluir o Artigo 75, Inciso 17, na Constituição Nacional, reconhecendo a existência da etnia e da cultura dos povos indígenas.

Um dia perguntei para minha mãe se podia comungar também e ela me disse que sim, só teria que me confessar primeiro. Havia uma fila e quando chegou minha vez, o padre começou a fazer perguntas que normalmente se faz, como qual é seu pecado, e eu disse que não sabia. O padre deu a volta, me agarrou pelas mãos e me tirou da Igreja.”

A história vivida por Pedro, quando ainda criança, é um reflexo do preconceito com os povos originários. Os cinco irmãos da família Moreira não aprenderam a falar a língua materna, porque a mãe, Crescencia, achava que os filhos sofreriam discriminação se alguém os ouvisse falando uma língua estranha. “Nós conseguíamos enten-der quando nossa mãe falava na língua materna, mas não sabíamos falar.”

Durante a colonização, os povos originários eram proibi-dos de fazer os rituais ancestrais, considerados satânicos.

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“Para mim os indígenas eram só os que estavam no meio da floresta, assim como é passado pelas escolas, pela televisão e pelo cinema. Foi muito chocante ver uma pessoa, no meio da cidade, me dizer que é indígena”, conta o cineasta Dailos

Suárez

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Descendentes indígenas se reúnem na Biblioteca Inti-Huasi para a Jornada de Educação Popular

Direitos para quem?“Reconocer la preexistencia étnica y cultural de los pueblos indígenas argentinos. Garantizar el respeto a su identidad y el derecho a una educación bilingüe e intercultural; reconocer la personería jurídica de sus comunidades, y la posesión y propiedad comunitarias de las tierras que tradicionalmente ocupan; y regular la entrega de otras aptas y suficientes para el desarrollo hu-mano; ninguna de ellas será enajenable, transmisible, ni susceptible de gravámenes o embargos. Asegurar su par-ticipación en la gestión referida a sus recursos naturales y a los demás intereses que los afectan. Las provincias pueden ejercer concurrentemente estas atribuciones.”

A reforma da Constituição Nacional Argentina acon-teceu durante o período de Carlos Menem à frente da presidência do país, mas a luta pelos direitos dos povos originários se arrastava por muitos governos. Na época, foi criado o programa PPI (Participação Política

Indígena), em que, pela primeira vez, o desen-volvimento de uma lei foi pensada de baixo para cima. O problema é ainda não há uma regula-mentação e, por isso, o seu cumprimento não é fiscalizado.

Somos todos origináriosDailos Suárez é cineasta formado pela Univer-sidad de Belgrano, em Argentina. Saiu das Ilhas Canárias para fazer faculdade na Espanha e, em 2011, decidiu vir para Argentina fazer um intercâmbio e se graduar. Foi quando conheceu a Quechua-Ayamara, Sandra Calamullo, em Bue-nos Aires, e da história dela surgiu o documen-tário Runa Kuti, Nativos Urbanos. “Para mim os indígenas eram só os que estavam no meio da floresta, assim como é passado pelas escolas,

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pela televisão e pelo cinema. Foi muito chocante ver uma pessoa, no meio da cidade, me dizer que é indígena”, conta.

Ao pesquisar sua própria árvore gene-alógica, ele descobriu que, até o ano de 1400, antes da colonização, toda sua família tem origem das Ilhas Canárias, onde naquele período vivia a etnia in-dígena Guanches. Com exceção de um negro, que foi como escravo para Ilhas Canárias durante o período de coloni-zação. “A gente, das Ilhas Canárias, tem traços diferentes das pessoas da Espa-nha. Eu, por exemplo, quando morei em Madrid, me perguntavam se eu era cubano ou argentino, as pessoas não nos reconhecem como espanhóis, sendo que legalmente somos.”

A produção do documentário de quase 40 minutos foi feita em um ano. E para Dailos, a experiência mais marcante foi conhecer a comunidade de Punta Querandí, um sítio arqueológico onde vários povos indígenas de todo o mundo se reúnem, a 50 km da cidade de Buenos Aires. Desde 2010, há conflitos com a empresa EIDICO, de empreendimen-tos imobiliários. “Quando você vai para lá é uma energia muito forte, não dá para explicar. É mui-to simples, mas é algo muito verdadeiro, porque são indígenas da África, da Europa, do Brasil, de todo lugar. Você fala com outra pessoa, reparte a comida, faz rituais à mãe terra, a pachamma... Parece que é um docu-mentário para o mundo, mas na verdade foi um trabalho interior registrado em vídeo.”, conclui

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Carolina Piscina

Um sonhoUm sonhoI

possivelpossivelI

Deborah RezaghiDeborah Rezaghi

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Um sonhoUm sonho

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Nem mesmo uma manhã chuvosa em Buenos Aires - daquelas que nem os pesados casacos conseguem passar imune, com poças de água inundando todos os cantos da calçada - faz com que a fila na Direção Nacional de Migração fique menor. Localizada na Avenida Antárti-da Argentina, passam por lá cerca de 1.500 pessoas por dia para retirar os documentos que legalizam os estran-geiros em solo argentino. A chuva pesada e o vento frio não faz com que eles deixem o local, mas é necessário que se apertem para que caibam todos embaixo de um toldo que os protege. E nesse momento, eles estão jun-tos não só para fugir dos pingos d’água, mas também no sonho de ter uma nova vida na Argentina.

A Argentina é um país atrativo para os que desejam recomeçar ou até mesmo melhorar de vida. Para alguns, o sonho se torna reali-dade. Para outros, o paraíso imaginado fica um pouco mais distante.

Hugo Mouján, chefe do departamento de imprensa da Direção Nacional de Migração.

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E por que querem mudar? De modo geral, buscam o bem estar para toda a família e boa educação para os filhos. Encontrar algo melhor do que se conseguiu no país de origem. Recomeçar. Os motivos podem ser os mais variados. Mas alguns desses citados são os principais que levam muitas pessoas a migrarem para a Argentina.

No local onde se retiram os documentos migratórios, enquanto aguardam apreensivas o número da senha a ser chamado, mãe e filha cochicham entre si. As duas são da região de Cochabamba, na Bolívia, e estão há quatro anos em Buenos Aires. Mudaram-se com toda a família para tentar uma vida nova no país. Lizbe-th López é a filha de 22 anos que consegue contar, com bastante timidez, a história da família. A mãe, desconfiada, olha de soslaio para a filha, mas segue sem dizer uma palavra. Liz, como é chamada, diz que atualmente trabalha vendendo verduras junto com a mãe. Elas gostam da Argentina e pretendem conti-nuar no país por mais alguns anos até de voltar para o país de origem. Antes de continuar, Liz olha para a senha anunciada. Ainda não é a sua. Mas o olhar da mãe sinaliza que é hora de parar de falar.

Pessoas e númerosA porcentagem de imigrantes é pe-quena se comparada aos habitantes do país – de acordo com o Censo realiza-do em 2010, de 40.117.096 habitantes, apenas 1.805.957 eram imigrantes – ou seja, 4,5% da população. Mesmo sendo poucos, eles representam uma impor-tante fonte de enriquecimento e troca cultural, além de impulsionarem a economia.

Dados da Comissão Católica Argentina de Migração apontam que no ranking das nacionalidades que mais migra-ram para o país estão os paraguaios, seguidos dos bolivianos e peruanos. Os brasileiros ocupam a sétima posição. “A Argentina tem um bom mercado de trabalho, escolas públicas de qualidade e bons hospitais. Além disso, a legisla-ção para a imigração é bastante favo-rável”, explica Hugo Mouján, chefe do departamento de imprensa da Direção Nacional de Migração.

Edson Teixeira, representante da Legião da Boa Vontade na Argentina, mora há

19 anos no país.

Cidade

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Para ele, a Argentina é um país que cresceu e se fortaleceu com a vinda de imigrantes. “A imigração é algo positivo. Os países que recebem pessoas de fora sempre têm crescimento econômico”. Mouján diz que é um mito acreditar que os imigrantes tiram trabalho dos argentinos, pois eles geralmente estão em funções que os nativos não aceitam. Não é regra, mas um grande número de bolivianos, por exemplo, realiza trabalho braçal e estão presentes na área de confecção têxtil e no campo. Os paraguaios são encontrados principalmente na construção civil.

De acordo com Mouján, a exploração do trabalho do imigrante pelo empregador – que paga salários mais baixos e exige maior carga horária - é rara de aconte-cer em Buenos Aires por conta de uma legislação que coíbe esse tipo de prática. “O problema do trabalho forçado não é comum pois há uma multa grande. Mas as vezes acontece”, explica. “Contudo, argentinos são explorados na Argentina e brasileiros no Brasil. Não se pode colocar esse estigma nos imigrantes”, comple-ta.

Edson Teixeira, representante da Legião da Boa Von-tade na Argentina, instituição brasileira que tem con-tato com imigrantes, diz que já houve vários casos de pessoas resgatadas em situação de trabalho escravo. “A exploração muitas vezes acontece de um boliviano explorar um próprio boliviano”. Como assim?

Exemplo: situação realEm algumas áreas rurais mais pobres da região de um país (ou até mesmo nas grandes cidades) as pessoas querem sair da onde estão para melhorar de vida. Nesse local, um próprio cidadão do local (que está trabalhando para um empresá-rio dono de uma indústria têxtil em Bue-nos Aires) convence os trabalhadores de lá para seguir rumo à Argentina – pro-metendo emprego e moradia. A pessoa que trabalha para o empresário recebe um bom salário para conseguir aliciar os trabalhadores, e como tem muitos contatos e conhece as regiões mais pobres de seu país, não encontra dificuldades em recrutar trabalhadores. “Muitas pessoas estão em La Paz, por exemplo, porque já migraram do interior para a capital. E como essa mudança não deu certo, ela decide mudar novamente para outra cidade grande, e pode acabar indo para outro país”.

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E por que querem mudar? De modo geral, buscam o bem estar para toda a família e boa educação para os filhos. Encontrar algo melhor do que se conseguiu no país de origem. Recomeçar. Os motivos podem ser os mais variados. Mas alguns desses citados são os principais que levam muitas pessoas a migrarem para a Argentina.

No local onde se retiram os documentos migratórios, enquanto aguardam apreensivas o número da senha a ser chamado, mãe e filha cochicham entre si. As duas são da região de Cochabamba, na Bolívia, e estão há quatro anos em Buenos Aires. Mudaram-se com toda a família para tentar uma vida nova no país. Lizbe-th López é a filha de 22 anos que consegue contar, com bastante timidez, a história da família. A mãe, desconfiada, olha de soslaio para a filha, mas segue sem dizer uma palavra. Liz, como é chamada, diz que atualmente trabalha vendendo verduras junto com a mãe. Elas gostam da Argentina e pretendem conti-nuar no país por mais alguns anos até de voltar para o país de origem. Antes de continuar, Liz olha para a senha anunciada. Ainda não é a sua. Mas o olhar da mãe sinaliza que é hora de parar de falar.

Pessoas e númerosA porcentagem de imigrantes é pe-quena se comparada aos habitantes do país – de acordo com o Censo realiza-do em 2010, de 40.117.096 habitantes, apenas 1.805.957 eram imigrantes – ou seja, 4,5% da população. Mesmo sendo poucos, eles representam uma impor-tante fonte de enriquecimento e troca cultural, além de impulsionarem a economia.

Dados da Comissão Católica Argentina de Migração apontam que no ranking das nacionalidades que mais migra-ram para o país estão os paraguaios, seguidos dos bolivianos e peruanos. Os brasileiros ocupam a sétima posição. “A Argentina tem um bom mercado de trabalho, escolas públicas de qualidade e bons hospitais. Além disso, a legisla-ção para a imigração é bastante favo-rável”, explica Hugo Mouján, chefe do departamento de imprensa da Direção Nacional de Migração.

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Para ele, a Argentina é um país que cresceu e se fortaleceu com a vinda de imigrantes. “A imigração é algo positivo. Os países que recebem pessoas de fora sempre têm crescimento econômico”. Mouján diz que é um mito acreditar que os imigrantes tiram trabalho dos argentinos, pois eles geralmente estão em funções que os nativos não aceitam. Não é regra, mas um grande número de bolivianos, por exemplo, realiza trabalho braçal e estão presentes na área de confecção têxtil e no campo. Os paraguaios são encontrados principalmente na construção civil.

De acordo com Mouján, a exploração do trabalho do imigrante pelo empregador – que paga salários mais baixos e exige maior carga horária - é rara de aconte-cer em Buenos Aires por conta de uma legislação que coíbe esse tipo de prática. “O problema do trabalho forçado não é comum pois há uma multa grande. Mas as vezes acontece”, explica. “Contudo, argentinos são explorados na Argentina e brasileiros no Brasil. Não se pode colocar esse estigma nos imigrantes”, comple-ta.

Edson Teixeira, representante da Legião da Boa Von-tade na Argentina, instituição brasileira que tem con-tato com imigrantes, diz que já houve vários casos de pessoas resgatadas em situação de trabalho escravo. “A exploração muitas vezes acontece de um boliviano explorar um próprio boliviano”. Como assim?

Exemplo: situação realEm algumas áreas rurais mais pobres da região de um país (ou até mesmo nas grandes cidades) as pessoas querem sair da onde estão para melhorar de vida. Nesse local, um próprio cidadão do local (que está trabalhando para um empre-sário dono de uma indústria têxtil em Buenos Aires) convence os trabalhado-res de lá para seguir rumo à Argentina – prometendo emprego e moradia. A pessoa que trabalha para o empresário recebe um bom salário para conseguir aliciar os trabalhadores, e como tem muitos contatos e conhece as regiões mais pobres de seu país, não encontra dificuldades em recrutar trabalhadores. “Muitas pessoas estão em La Paz, por exemplo, porque já migraram do interior para a capital. E como essa mudança não deu certo, ela decide mudar nova-mente para outra cidade grande, e pode acabar indo para outro país”.

“O problema do trabalho forçado não é comum pois há uma multa grande. Mas as vezes acontece. Con-tudo, argentinos são explorados na Argentina e brasileiros no Brasil.”.

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Teixeira explica que alguns imigrantes vêm para a Argentina com um trabalho e um local já garantidos. Contudo, alguns arriscam e vem sem nem mesmo ter onde ficar. “Nesse caso, eles ficam no quartinho de algum conhecido ou na casa de alguém da própria família que já veio antes e se estabeleceu por aqui”. Encontrar uma casa para ficar ou um trabalho nem sempre é fácil, e voltar para o país de origem por ve-zes é muito difícil. E muitos deles se veem desampa-rados. A Legião da Boa Vontade faz um trabalho com crianças de baixa renda – e por isso atende muitos imigrantes – oferecendo escolas onde elas podem fi-car e receber atenção, alimentação e estudo. “Quando nada dá certo para o imigrante, se ele tem um local para deixar a criança tudo fica mais fácil, pois assim ele tem mais tempo para tentar arrumar um empre-go”, afirma.

O mínimo que o imigrante consegue na Argentina – mesmo uma casa dividida com alguém ou um empre-go na indústria têxtil, por exemplo – já é para ele uma condição de vida muito melhor daquela que ele tinha antes.

nós e elesAlém de todas as dificuldades que a mudança de um país para o outro acarretam, a adaptação ao novo lar acaba sendo bastante complicada. Novo clima, comida diferente, outros com-portamentos, tudo isso causa certo es-tranhamento inicial. O idioma também é um obstáculo. Mesmo quando se vem de países que falam a mesma língua, algumas gírias são comuns em um e em outro não. Àngela Montes é colombia-na, tem 18 anos e veio para a Argentina para estudar psicologia na Universida-de de Buenos Aires. Ela veio junto com uma amiga, Lina Carpintera, 17, que veio estudar arquitetura. Segundo ela, as universidades argentinas são me-lhores que as colombianas. Há apenas dois meses em Buenos Aires, Àngela já estranhou a forma de falar dos argenti-nos. “Eles se expressam de uma manei-ra diferente. Algumas palavras que usa-va na Colômbia aqui são palavrões”. Ela acha que os argentinos são mais frios e os colombianos mais alegres, e também sente falta da comida de casa: “A minha mãe sempre me manda muitos doces e chocolates” conta.

Imigrante aguarda aten-dimento para retirada de

documentos.

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Teixeira explica que esse momento inicial é bastante complicado. “Os primeiros três meses são os mais complicados. É preciso tentar experimentar coisas novas, o que nem sempre é fácil para aqueles pouco flexíveis”. Ele explica dando o próprio exemplo , já que é brasileiro (nascido em Minas Gerais) e está há 19 anos na Argentina.

E os argentinos? Como recebem os novos moradores? “Os imigrantes são muito bem recebidos”, diz Hugo Mouján, explicando que a xenofobia não é um pro-blema tão grave no país como é na Europa.

“Nunca fui discriminado”, conta Teixeira. “Os argen-tinos tratam os imigrantes dependendo da maneira como cada um se porta. Quando você respeita o outro, ele também te respeita. Mas os argentinos se sentem superior em muitas coisas sim, e isso pode por vezes causar algum conflito”.

Já Ángela teve uma experiência bastante desagradá-vel. Quando seguia para casa em um ônibus encon-trou uma senhora que a começou a insultá-la e dizer que os colombianos não deveriam estar na Argentina. “Ela me disse que todos os colombianos eram ladrões e traficantes. Eu disse que ela estava equivocada e que me insultava falando aquilo. A senhora não parou e eu desci do ônibus para não discutir mais”. Esse foi um caso isolado.

De maneira geral, ela disse que os argentinos a tratam bem e que só às vezes percebe uns olhares meio tortos de desconfiança. “Mesmo assim, adoro a cidade e depois de formada preten-do continuar morando e trabalhando aqui”.

“Todas as pessoas que você conversa no fundo, bem lá no fundo, tem a esperan-ça de voltar para o seu país de origem. Há a ideia de, no fim, pelo menos morrer em seu país”, conclui pensativo Edson.

Legislação“A Argentina aspira a livre circulação de pessoas e trabalho”, diz Mouján. Ele explica que o país sempre foi flexível com os imigrantes e as leis nunca foram tão rígidas. Em 2004, a Lei 25.871 estabeleceu que migrar é um direito humano.

A Direção Nacional de Migração é o órgão responsável pela aplicação da lei.

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Nesse local se registram as pessoas que entram no país que adquirem os documentos necessários para poder trabalhar e se identificar.

Um pouquinho de BrasilA distância entre física entre o Brasil e a Argentina não é grande. Um voo de Buenos Aires a São Paulo dura em média 2h30 min (mais rápido do que ir de São Paulo até Manaus). Por conta disso, nas férias é comum brasileiros visitarem o país vizinho (assim como os argentinos lotam as praias brasileiras, princi-palmente as do sul do Brasil).

Mas alguns turistas que vem para a Argentina deci-dem que não querem mais ser meros visitantes de alguns dias... E decidem fazer da terra do tango a sua terra natal.

Os motivos que levam os brasileiros para a Argentina é diferente dos imigrantes paraguaios, bolivianos e peruanos. Hugo Mouján explica que o Brasil hoje é um país rico, que tem baixo desemprego e apresenta uma situação econômica favorável. E por conta disso, não há motivo para os brasileiros saírem.

“O Brasileiro que vem para cá não está escapando do Brasil – ele vem por al-gum motivo, geralmente o trabalho em alguma empresa”, diz.

A motivação para muitos deles, além do trabalho, é o estudo. Edson Teixei-ra conta que há muitos estudantes em Santa Cruz. “Uma das carreiras mais procuradas é a de medicina”.

Para ele, não há o motivador econômi-co que faz com que brasileiros queiram vir pra Argentina. E pelas dimensões continentais do país, se alguém pensa em recomeçar provavelmente vai mu-dar para outro estado e não para outro país.

Por conta da proximidade com o Brasil e por virem pra cá com objetivos bas-tante diferentes, a comunidade brasi-leira não vê a necessidade de se juntar. “Não há um bairro específico onde os brasileiros moram. E por estarem aqui com objetivos diferentes, não há união como nas outras comunidades. É difícil juntá-los até mesmo no dia 7 de setem-bro”.

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Para tentar reverter essa situação e unir os brasilei-ros em torno de sua cultura é que surgiu a Turma da Bahiana...

Sergina Boa MorteO modo calmo de falar e a maneira como mexe as mãos são cativantes. Uma tarde inteira de conversa não seria suficiente para resgatar todas as lembranças das histórias vividas em Buenos Aires. Entre uma frase e outra, quando lembra do Brasil, cantarola com uma voz suave e melódica músicas brasileiras. “Isso aqui ó ó, é um pouquinho de Brasil ia ia...”

Sergina Boa Morte - cujo nome veio do pai, que foi batizado em homenagem à Nossa Senhora da Boa Morte, um dos títulos católicos dados à Nossa Senho-ra – é uma figura ímpar na capital portenha.

“Ainda hoje estou conhecendo Buenos Aires”, começa. Como muitos que mu-dam de um país para outro, ela chegou com muitos sonhos. “Cheguei no dia 2 de setembro de 1971”, diz sem hesitar a data que está gravada na memória como se tivesse acontecido ontem. A sua história na Argentina teve dois co-meços. Em 1971, no dia 26 de outubro, pouco tempo depois de ter se estabe-lecido, um grave acidente de carro na Praça San Martín fez com que ficasse durante um mês no hospital. O impacto do acidente foi tão grande que alguns cacos de vidro acabaram entrando em seu olho, o que fez com que perdesse a visão do olho esquerdo.

Nesse momento, ela voltou para Brasil. Contudo, o seu coração continuou na terra da parrilla. A família não queria

Sergina Boa Morte, que mora em Buenos Aires desde 1971, diz que inda está “conhecendo” a cidade.

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que ela voltasse. Mas o sonho de voltar continuou. Com apenas alguns minutos de conversa, logo se percebe que Sergina é forte e determinada. E busca a todo custo transformar o sonho em realidade.

Um dia, junto com uma amiga, foi fazer turismo na fronteira, na região de Foz do Iguaçu. E por lá ficou. O objetivo era ir descendo cada vez mais até chegar em Buenos Aires. “Comecei a trabalhar na loja de uma pessoa que conheci lá e a juntar todo o dinheiro que ganhava. Queria voltar de qualquer jeito”. E ela voltou.

A paulistana que virou “bahiana”Com dinheiro suficiente, ela pôs em direção ao Obe-lisco. “Quando voltei, por aqui sobrava trabalho. Tra-balhei em casas de família e oficinas de costura”. No início ela diz que sofreu preconceito. “Ser negra na-quela época era ser exótica. Algumas pessoas vinham e tocavam em mim pois achavam que tocar uma

pessoa negra trazia sorte”. Segundo ela, as mulheres brasileiras não eram bem vistas. “Havia um estereótipo de que as mulheres brasileiras vinham aqui para se prostituir. Logo, isso acabava deixan-do todas com essa marca”.

Contudo, apesar de passar por algumas situações difíceis , que a fizeram várias vezes querer voltar para o Brasil, ser brasileira se mostrou uma vantagem.

No lançamento em Buenos Aires do filme “Dona Flor e seus dois maridos”, a embaixada brasileira receberia o ator José Wilker (que interpretava um dos maridos no filme). Para o evento, Sergina foi chamada para participar da festa, que teria comidas típicas e dan-ças, vestida com os trajes de baiana (os mesmos trajes que as baianas do acarajé

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usam em Salvador). E foi o maior sucesso!

“Até José Wilker brincou e disse que eu era o quin-dim da festa” conta às gargalhadas ao relembrar do episódio.

E a partir daí, Sergina, que é paulistana, virou baiana. “Começaram a surgir convites para fazer shows e participar de festas vestida de baiana. Tinha trabalho 24 horas por dia”, conta.

Quando bate aquela saudadeHá cinco anos ela não pisa em solo brasileiro. E sente muita falta do país. Mas disse que no come-ço foi difícil superar as saudades. “Com os ami-gos que foi conhecendo e com o carinho que as pessoas demonstravam nos shows, essa sensação foi passando”, conta.

Sentir o cheiro e o gosto da comida brasileira. Essa era uma das sensações que não tinha. “Hoje em dia há muitos produtos brasileiros em vários lugares. Mas na época que cheguei aqui não se encontrava tantas coisas com facilidades. Morria de saudades do feijão e do guaraná”, conta.

Para matar as saudades do país, utiliza uma ótima técnica: ouve músicas brasileiras. “Me transporto

para o Brasil”. E o seu repertório de músicas se faz tão presente, que até mesmo em suas falas, entre uma frase e outra, acaba cantarolando um pedaci-nho de algum ritmo brasileiro.

Turma da BahianaCom o objetivo de manter e fomentar a cultura brasileira, além de unir os bra-sileiros para “matar as saudades do Bra-sil”, Sergina criou junto com um grupo de colaboradores a Turma da Bahiana. “Para conseguir reunir os brasileiros é sempre com muita festa”, diz. Ela tenta fazer um encontro pelo menos uma vez por mês para reunir todo mundo, o que não é uma tarefa fácil, já que os brasi-leiros estão muito separados, cada um em um canto da cidade. “A embaixada também não coopera muito com proje-tos para unir a comunidade”. Segundo ela, os argentinos preservam mais a cultura brasileira do que os próprios brasileiros. “Há associações de argenti-nos que ensinam as pessoas a lutarem capoeira e até dançar forró. Eles gostam mais da nossa cultura que a gente”, diz.

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TANGO

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Tango: o ritmo de Buenos AiresTANGO

O RITMO DE BUENOS AIRES

Laura Ciampone

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O tango nos palcos e na vidaSímbolo da Argentina, o tradicional ritmo pode ser

encontrado por toda Buenos Aires.

Quando pensamos em Argentina, pensamos em tango. Em Carlos Gardel, Juan de Dios Filiberto e Gabino Coria Peñaloza, entre outros, que eterniza-ram a música citada acima, inspiração para a famosa rua-museu que é hoje El Caminito.

Criado em La Plata no final do séc. XIX, o tango aproximava afro-rioplaten-ses e os imigrantes nos subúrbios da cidade para improvisar ritmos e letras com ar melancólico e nostálgico, falando sobre desamores, amigos, família e claro, Buenos Aires. Toda essa incomum melodia era acompanhada de dan-ças sensuais.

Caminito respira Tango. Chegando ao local, uma feira com inúmeras barra-cas de artesanato, se destaca no verdadeiro museu a céu aberto. Dançarinos com roupas elegantes, pretas, brancas, vermelhas e brilhantes, cobram 100 pesos, o equivalente a 20 reais, para tirarem fotos em poses referentes à dan-ça. Pois a coreografia é uma característica muito marcante da cultura tanguei-ra - importante e interessante para os que vêm de fora. Dançarinos bailando a cada metro que se avança, a cada lugar que se dirige o olhar – esta é a cena!

“Desde que se fue Triste vivo yo Caminito amigo Yo también me voy.

Desde que se fue Nunca más volvió Seguiré sus pasos Caminito, adiós.”

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“O que mais gosto é que é uma família que se abraça e se ajuda, Não importa o lugar em que o tangueiro está ele será sempre bem recebido pelos seus compa-nheiros de dança e profissão.”A bailarina finaliza dizendo que é muito feliz por estar vivendo dessa forma, mas gostaria de ter mais tempo para sua vida pessoal. “O tango exige muito de meu tempo e dedicação”.

A rotina de dança da cativante dupla é baseada em improvisos nos palcos em que dividem com outros dançarinos no restaurante.

A dupla que encanta no Caminito

Uma dupla em especial chama a atenção por seu charme no restaurante La Vieja Rotseri. Diego Alejandro Quispe, 32, moreno, alto, de cabelos negros e terno, é um bailari-no que começou a dançar tango desde pequeno. “Não me interessava pela dança, mas sim pelas ‘chicas’ na Provín-cia de Catamarca, onde eu morava”. Conta que as mais bonitas dançavam, e quis aprender para poder bailar com elas. Mas acabou pegando o gosto. “Eu sempre via como um hobby, mas fui convidado para dançar em uma aca-demia de dança com mais cinco bailarinos aos 18 anos”. Diego naturalmente foi entrando no mercado de trabalho e começou a desejar viver do tango. Após isso, seguiu a carreira e já está no restaurante há 4 anos.

Sua dupla, Naomi Hotta, uma bela oriental, que esta-va com um vestido azul turquesa cintilante, também é veterana na carreira. “Dançava salsa em Los Angeles e me interessei pelo tango após ir à uma milonga (onde se pra-tica um ritmo de tango acelerado, diferenciado do tango turístico). Ver as pessoas bailando daquela forma sem se comunicar verbalmente, só com o corpo e seus mo-vimentos era linda, parecia mágica”. “Agora posso viver com o tango e estou aqui há 17 meses”.

Após os anos 60, a decadência do tango foi decorrente do tempo e o ritmo só voltou a crescer após a

crise de 2001 no país, que além de econômica, se voltou para o lado

cultural também.

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Diego e Naomi em sua apresenteção no restau-

rante La Vieja Rotseri, em Caminito

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com prateleiras de madeira e mármore. Contém um museu e imagens de impor-tantes personagens do tango e da literatu-ra, como Carlos Gardel, Jorge Luis Borges e Julio Cortázar, que frequentavam o local.

O show de tango naquela noite de domin-go foi apresentado por músicos, bailarinos e a cantora Nora Bilous(58), que contou no que se inspira para escrever as próprias músicas. “Penso na vida, nos desamores. O tango possui uma poesia muito parti-cular. Conto histórias, temas importantes. Uso a música para dizer algo válido.”

Lamenta que o Tango não tenha mais a força na Argentina que tinha antes.Após os anos 60, a decadência do tan-go foi decorrente do tempo e o ritmo só

Uma noite em um tradicional café portenho

Declarado lugar de interesse cultural, o sofisticado e mais antigo café do país, fundado em 1858, o Gran Café Torto-ni promove eventos e shows de tango todos os dias.

Lá trabalha um moreno, alto, de cabelos negros e de terno. Diego também trabalha em outro lugar. Mas dife-rentemente do outro Diego do Caminito, treina de duas a três vezes por semana com sua parceira. Utiliza um CD e passam horas bailando e coreografando.

O Tortoni é referência do mais famoso estilo de música argentina. Ao entrar pela enorme porta de madeira e vidro, mergulhamos num universo de quase dois sécu-los atrás. Um lugar particularmente escuro, coberto por madeira e inúmeros quadros e fotos, é enfeitado também

Bustos de artistas tangueiros

La vieja peluquería era um salão de beleza dentro do Tortoni

Jorge Luis Borges, Carlos Gardel e Alfonsina Storni. Pioneiros do tango

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(e cantores de tango em geral) afagam os ouvidos. Após uma hora, os artistas despediram-se dos espectadores e finalizaram o show com “Así se baila el tango” de Alberto Castillo.

Partindo, o venezuelano Alexis disse “estou encantado”. Comentou que as canções eram minicontos e cada música baseava-se em diferentes assuntos. Acrescentou também que os dançarinos são o complemento dos espetáculos, que dão vida às letras e fazem parte de um belo cenário. Como os demais presentes, saíram encantados.

voltou a crescer após a crise de 2001 no país, que além de econômica, se voltou para o lado cultural também. O tango estava enferrujado e com a atualização necessária para revivifica-lo apareceram novos estilos, como o Tec-notango.

Um espetáculo inesquecível no Tortoni

Sentados em uma mesa do café, um casal da Venezuela que está de férias na Argentina comenta a ansiedade para a performance.Mariana Beroes(27), já tinha assistido e disse que “O ar melancólico e romântico das letras combina com a atmosfera e arquitetura de Buenos Aires. “Já Alexis Rosales(39) nunca tinha presenciado o espetáculo. “Imagino uma história longa e apaixonante”, comentou.O show começou e a peculiar e agradável voz de Nora

Cantora Nora Bilous

Alexis e Mariana assistem o show

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BUENOS AIRESa sede da vida noturna latino-

americana.

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A noite em Buenos Aires como você nunca viuBares-boliches da Argentina são uma

experiência totalmente diferente das outras

A vida noturna na cidade de Buenos Aires é, como em toda grande metrópole, muito agitada. E assim surgem opções de lugares para visitar com família, amigos ou casais. Os turistas buscam conhecer a cultura local e visitar espaços diferentes, desconhecidos a quem não é da cidade. Em seus muitos bair-ros, existem as baladas, os bares e os “boliches”, que na língua argentina são a denominação de discoteca.

Os “boliches” não são simplesmente casas noturnas. Sua de-finição é de um ambiente que funciona como um restaurante ou bar, ou ainda, no jargão local, como resto-lounge-club, para as pessoas sentarem e aproveitarem um jantar diferen-ciado, sendo que, após certo horário, a cozinha é fechada e, no mesmo local, abre-se a discoteca. Seu intuito é entregar ao oferecer ao público uma noite completa.

Ao entrar no local nota-se a música empolgante, as luzes de balada e as mesas com as pessoas animadas se alimentando para depois levantar de suas cadeiras e começar a dançar. Quem chega logo se envolve naquele ambiente, que também apresenta shows ao vivo e música boa, tudo se estendento até às 7 da manhã.

Emanuel Feldman, gerente de um dos bares-boliches mais tradicionais de Buenos Aires, o Brujas Madagascar, afirma que a tradição é de muitos anos. “Trabalho aqui há um ano e posso dizer que esse costume nosso sempre existiu”, assegu-ra. Localizado na Plaza Serrano, um dos cartões postais da vida noturna da cidade, o Brujas é uma das únicas casas que abrem todos os dias ao público, com cardápio de jantar,

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115JULHO 2014 | ENVIADO ESPECIALBrujas é o único dos boliches que conta com restaurante e balada todos os dias da semana

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nascer. Bem humorados e amigáveis, os portenhos não causam problemas quanto à segurança, como afirma Eduardo Var-gas, de 28 anos. “O atendimento em geral dos boliches de Buenos Aires é excelente, pois você não nota brigas ou algo do tipo, e os lugares sempre possuem um ótimo sistema de segurança”, diz. “Frequento es-tes lugares duas vezes por semana, não me canso nunca”, e acrescenta estar satisfeito com os serviços que lhe são oferecidos. A grande variedade musical contagia as pistas das casas noturnas. O boliche Hon-duras Holywood, localizado em Palermo, fica aberto de quinta a domingo e possui muitos estilos de músicas para atender aos gostos dos clientes. Charly, responsável pelas relações públicas do local, onde cui-da das listas de convidados e das atrações,

e em seguida música ao vivo e DJ para os pagantes. Emanuel ainda faz um convite aos brasileiros: “Sei que não há bares como este no Brasil, portanto convido todos que vierem pra cá para aproveitar os boliches da Argentina, pois é um pouco de nossa cultura”.

Grande variedade musical convivência tranquila entre frequentadoresConhecida como “sede da vida noturna latino-a-mericana”, Buenos Aires oferece muitos boliches para todas as idades. Desde jovens de 18 a 30 anos, até para pessoas acima dos 40 anos.Seus costumes tornam-se visíveis aos olhos dos turistas. Os argentinos aproveitam a noite com grandes grupos de amigos reunidos, e não impor-ta se está cheio ou vazio, a diversão vai até o sol

Os argentinos aproveitam a noite com grandes grupos de amigos reunidos, e não importa se está cheio ou vazio, a

diversão vai até o sol nascer.

O D’lírio conta com um espaço requintado,

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O bar D’lirio possui um público diferen-te nas horas do jantar e da balada. Com um preço mais elevado e um ambiente de classe, é frequentado por homens e mulheres ente 35 e 50 anos. O lugar oferece vários tipos de show e até desfiles de moda, shows árabes e até a presença de artistas famosos. Ricardo Navini, de 50 anos, comparece ao D’lirio há dois anos, e vai duas ou três vezes por semana. “As pessoas daqui são muito amigáveis, com funcionários e clientes regulares; sempre venho aqui”, afirma. Apesar de certa relação entre a vida noturna dos dois países, muitos aspectos diferenciam a noite portenha. A cultura argentina se apresenta aos turistas como divertida e diferenciada. O que resta aos brasileiros é ingressar nesta experiência e aproveitar o que não tem em seu país, com pessoas novas e muito alegres.

conta sobre a noite no boliche: “Aqui tocamos pop, rock, reggaeton, música eletrônica e até um pou-co dos anos 80’ e 90’, para cativar qualquer um”, afirma.

Público brasileiro procura muito os “boli-ches”Aguns lugares já são bastante procurados pelos turistas brasileiros. Vera Lúcia Diniz, brasileira que mora em Buenos Aires há quatro meses, trabalha como recepcionista e coordenadora do boliche D’lirio, no bairro da Recoleta. Ela conta que o estabelecimento tem traços do Brasil. “Na época da copa do mundo, transmitimos todos os jogos no telão que temos aqui, com direito a comida corri-queira no país do futebol, como coxinha, pastel e kibe. Os brasileiros adoram”, conta.

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