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Exatto Educacional Revista V.3,N.3, MARÇO 2021 ISSN - 2674-8827

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Page 1: REVISTA EXATTO MARÇO

Exatto EducacionalRevista V.3,N.3, MARÇO 2021

ISSN - 2674-8827

RESUMO O objetivo deste artigo é refletir sobre a importância da Arteterapia como ferramenta para desenvolver a comunicação inter e intrapessoal do adolescente por meio da criatividade. Com os instrumentos da Arteterapia buscou-se auxiliar os adolescentes a desenvolver a comunicação inter e intrapessoal, assim como aflorar suas potencialidades e criatividade por meio de estímulos artísticos. A Arteterapia cria recursos de expressão e criatividade que possibilitam que o adolescente libere suas emoções, seus conflitos e angústias. Possibilita que o adolescente seja capaz de enxergar esses conflitos e assim equalizar sua mente ao seu corpo, melhorando sua qualidade de vida. Através das bibliografias que envolvem o tema foi possível compreender que cada ser humano tem seu potencial individualizado; que a arte é capaz de transformar e resgatar esse potencial criativo e assim possibilitar a expressão e o autoconhecimento.

Palavras-chave: Arteterapia; Adolescente; Comunicação

INTRODUÇÃO

Este artigo propõe discutir a importância da Arteterapia no processo de manifestação da criatividade dos adolescentes. Nesse processo, os potenciais criativos são resgatados através de mediadores, tais como: música (como recurso que restaura a expressão de corpo, mente e alma); mandalas (como orientador no processo criativo); pintura (como facilitador para trazer vivências do inconsciente para o consciente); desenhos (como recurso de exteriorizar medos e angústias por meio de símbolos); dança (como vivência individual ou em grupo, ajudando assim na integração dos conteúdos internos da psique e facilitando a expressão individual); escultura e colagem (como recurso de dar forma a sentimentos e sensações). Além disso, por meio desses recursos, busca-se facilitar a comunicação da expressão emocional e aprofundar o conhecimento interno.A artista plástica polonesa Fayga Ostrower, em seu livro Criatividade e processo de criação, afirma que:O potencial criador elabora-se nos múltiplos níveis do ser sensível-cultural-consciente do homem, e se faz presente nos múltiplos caminhos em que o homem procura captar e configurar as realidades da vida. Os caminhos podem cristalizar-se em formas de comunicação, em ordenações concluídas, mas a criatividade como potência se refaz sempre. A produtividade do homem, em vez de se esgotar, liberando-se, amplia-se. (OSTROWER, 2012, p.27).O criar em Arteterapia através dos recursos que ela apresenta tais como a imaginação e o simbolismo das metáforas, acaba facilitando a comunicação na expressão emocional e aprofunda o conhecimento interno trazendo assim do inconsciente todo seu potencial criativo.Na sociedade contemporânea, a conexão com o sentido simbólico e iniciático do rito de passagem foi perdida. Por isso, se faz importante, principalmente para o adolescente, a reflexão sobre as etapas e passagens que ele enfrenta na vida.Nesse sentido, a Arteterapia pode ajudar a vivenciar esses processos de transformação.[...] no dinamismo de alteridade, que corresponde à época da adolescência, os opostos são relacionados de maneira igualitária e dialética, sendo vivenciados como aspectos diferentes de uma mesma realidade. Essa fase é voltada para o relacionamento com o outro e com a própria contraparte sexual, sendo, portanto, regidos pelos arquétipos da Anima (que corresponde aos aspectos do feminino na alma masculina), do Animus (que corresponde aos aspectos masculinos na alma feminina), e do Coniunctio (que se refere à conjunção de opostos, a reunião dessas duas “metades” num todo que as congrega e abrange como partes de uma única e indivisa realidade), caracterizando-se “por sua capacidade criativa face ao confronto dos opostos” (BYINGTON, 1983, p. 24, apud BERNARDO, 2012, p.38).A autora traz a importância do autoconhecimento para união dos opostos, na verdade sua integração ajuda o adolescente a entrar em contato com seu inconsciente sem perder a consciência no processo. Com isso consegue-se, por meio da arte, avivar no adolescente seus conhecimentos, descobrindo um mundo infinito de possibilidades ao trabalhar suas emoções, e assim levá-los a olhar para si de maneira inteira. Mostrar para eles, por meio dos trabalhos, que não existe feio ou bonito, que nada é rígido, que tudo pode ser transformado pela busca interior.Assim sendo, o objetivo geral deste artigo é desenvolver a comunicação inter e intrapessoal do adolescente por meio da

criatividade.

COMUNICAÇÃO INTER E INTRAPESSOAL

Existem vários tipos de comunicação, e as pessoas podem comunicar-se pelo código Morse, pela escrita, por gestos, pelo telefone, etc.; uma empresa, uma administração, até mesmo um Estado, podem comunicar-se com seus membros por intermédio de circulares, cartazes, mensagens radiofônicas ou televisionadas, etc.Toda comunicação tem por objetivo a transmissão de uma mensagem [...]. (VANOYE, 2011, p.1]A comunicação é um processo de troca de informações entre os seres das mais diversas maneiras. É um processo que envolve uma codificação, isto é, a formação de um código, e a decodificação, a busca do entendimento deste código, em forma de mensagens que permitem a troca de informações entre os indivíduos. Não há só a comunicação verbal, há vários tipos de comunicação e cada um deles tem características que o diferencia e o integra ao todo. (VANOYE, 2011, p.1).Segundo o Dicionário de Comunicação, a palavra comunicação deriva do latim communicare, cujo significado seria: “tornar comum”, “partilhar”, “repartir”, “associar”, “trocar opiniões”, “conferenciar”. Comunicar implica participação [...], em interação, em troca de mensagens, em emissão ou recebimento de informações novas. (RABAÇA & BARBOSA, 1995, p.151).Neste artigo, enfocamos as comunicações inter e intrapessoal. A comunicação interpessoal pode ser definida como aquela que acontece de alguém para alguém. (RABAÇA E BARBOSA, 1995, p.166). Já a comunicação intrapessoal é aquela que ocorre dentro de alguém. Está relacionada com as ideias e desejos do indivíduo; é a sua voz interior. Dessa forma, a comunicação intrapessoal é extremamente importante uma vez que representa o diálogo interno.

ADOLESCÊNCIA

A adolescência é a fase que marca a passagem entre a infância e a idade adulta. Segundo o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), é considerado adolescente aquele que tem entre 12 e 18 anos de idade.[...] o Adolescente passa por desequilíbrios e instabilidade, extremas de acordo com o que conhecemos dele. Em nosso meio cultural, mostra-nos períodos de relação, de introversão, alternando com audácia, timidez, descoordenação, urgência, desinteresse ou apatia. (ABERASTURY, 2011, p.28)Para Aberastury, a adolescência é uma fase muito difícil, pois a pessoa ainda não sabe quem é então ela sai em busca de autoafirmação. É fundamental para todo ser humano sentir-se único para poder seguir seu desenvolvimento. O adolescente também precisa de uma afirmação de si mesmo e que, ao mesmo tempo, é vivenciada no coletivo, do sentimento de pertencer a um grupo e da identificação da “turma”. Alguns adolescentes podem apresentar comportamentos infantis, resultado do medo e da insegurança de deixar a dependência dos pais e assumir suas próprias escolhas e poder caminhar com certa autonomia.Ainda segundo este autor, as mudanças corporais nessa fase ficam muito evidenciadas: essas transformações são acompanhadas da modificação na voz (que fica mais grave), do crescimento ósseo (acompanhado do alargamento do tronco e dos ombros), do enrijecimento muscular, do aumento da oleosidade da pele (o que pode causar o aparecimento de acnes). Todas essas mudanças podem causar perplexidade ao adolescente fazendo com que ele se sinta desajeitado diante desse corpo que é seu, mas que lhe soa estranho.De certa maneira, o adolescente poderá passar por recorrentes crises depressivas e dos estados de luto e de tristeza típicos da preparação da adolescência (morte da infância). Um bom mundo interior surge de uma relação satisfatória com os pais internalizados e da capacidade criativa que eles proporcionam.Segundo a Psicologia Analítica, as transformações ocorrem primeiro na psique: uma mudança nos arquétipos do pai e da mãe que aparecem na infância, depois dão lugar para o arquétipo do herói, e por seu intermédio, oferece segurança para enfrentar situações e desafios novos.[...] Estão presentes em nosso desenvolvimento psíquico, encontrados nos antigos rituais de iniciação e passagem de um ciclo a outro: um mergulho no caos (abertura ao novo), uma morte simbólica (corte com formas cristalizadas e desatualizadas de relacionamento com nossa realidade interno-externa), e um renascimento (ampliação de consciência, inaugurando um novo ciclo). (BERNARDO, 2008, p.115).Essa fase também é marcada pela ativação dos arquétipos de anima (na psique do menino) e deanimus (na psique da menina), arquétipos responsáveis pelo relacionamento com o sexo oposto. É nesse ciclo que o adolescente pode se diferenciar dos pais, que até então eram modelos para ele, para poder ir ao encontro de sua própria identidade, fase essa chamada de alteridade, que vai permitir ao adolescente conhecer o outro, e sua contraparte.

PROCESSO CRIATIVO

O potencial criador elabora-se nos múltiplos níveis do ser sensível-cultural-consciente do homem, e se faz presente nos múltiplos caminhos em que o homem procura captar e configurar as realidades da vida. Os caminhos podem cristalizar-se em formas de comunicação, em ordenações concluídas, mas a criatividade como potência se refaz sempre. A produtividade do homem, em vez de se esgotar, liberando-se, amplia-se. (OSTROWER, 2012, p.27).Segundo Ostrower, se pensarmos no potencial criador num âmbito geral, perceberemos que temos um infinito mundo de possibilidades. Criamos e excluímos realidades e possibilidades o tempo todo, com isso muitas vezes desconstruímos nossas ideias para poder reconstruir novamente e assim seguimos como se estivéssemos sempre montando um quebra

cabeça. Quando unimos os aspectos em oposição surgem novas alternativas e, com elas, a diversificação, fazendo que o processo de transformação crie e recrie o tempo todo.Assim, através das vivências conseguimos unificar os potenciais criativos e integrá-los em nossa maneira de nos comunicarmos.

JUNG E ARTETERAPIA

Carl Gustav Jung nasceu na Suíça, em 26 de julho de 1875, e morreu a 6 de junho de 1961, aos 86 anos. De família religiosa, desde criança se interessou pela filosofia e por questões espirituais. Estudou medicina, dando grande atenção aos fenômenos psíquicos (GUIMARÃES, 1997). Após ter-se formado, dedicou-se a pesquisar o inconsciente e formulou uma nova teoria sobre esse tema: a Psicologia Analítica.Segundo Tonietto (2005), Jung denominou Psicologia Analítica ao conjunto de conhecimentos construídos a partir da sua prática clínica e de suas experiências vividas na pesquisa da psique e seus conteúdos. O maior interesse desse estudioso estava relacionado com o mistério da psique humana, fonte de todas as atividades do homem, às "moléstias da alma”, e às formas de superar e transformar enfermidades em instrumento de desenvolvimento da psique.Em sua teoria, Jung distingue na pessoa vários elementos, dentre eles: a consciência e o inconsciente coletivo, a persona, o ego, eu, o animus, ânimo e a sombra, e considera a personalidade como um ideal irrealizável. Diz que no mesmo indivíduo existem diversos aspectos diferentes e contraditórios.Para Jung, um conteúdo é consciente quando é conhecido ou reconhecido pelo ego e por inconsciente quando ocorre o oposto. De acordo com suas próprias palavras:Por consciência entendo a referência dos conteúdos psíquicos ao eu enquanto assim for entendida pelo eu. Referências ao eu, enquanto não entendidas como tais pelo eu, são inconscientes. (JUNG, O. C. VI, § 796).Outro modo de se entender o significado de consciente, segundo Jung, pode ser encontrado na explicação de Edinger:Parte do fenômeno da consciência diz respeito à discriminação entre sujeito e objeto. Estou ciente de que sou um ser consciente; sou o sujeito dessa consciência. Quando olho para o mundo, vejo objetos e, no processo de me separar da identificação com esses objetos, ocorre uma separação entre sujeito e objeto. Essa é a forma como a consciência se desenvolve, separando sujeito de objeto. (Edinger, 2004)Dentre os vários conceitos próprios da Psicologia Analítica, existe o do “eu”, ou “ego”, que é à base da consciência, isto é, o “centro subjetivo do senso de identidade do indivíduo” (Edinger, 2004), por isso, todo conteúdo da consciência deve se relacionar ao sujeito, ao ego. O ego é o centro da personalidade.Por sua vez, “sombra” é o nome que Jung deu para os aspectos da personalidade que são desconhecidos do indivíduo, isto é, os que não estão em sua consciência. São os traços “obscuros” do caráter ou da personalidade, mas que não significa que sejam unicamente fraquezas e defeitos, são todos os traços ou características que ficam fora do campo da consciência. Conscientizar-se da sombra é fundamental em todo processo de autoconhecimento (Tonietto, 2005).Também é essencial que conheçamos o significado de “persona” para podermos compreender a teoria de Jung. Para ele:A persona é um complicado sistema de relação entre a consciência individual e a sociedade; é uma espécie de máscara destinada, por um lado, a produzir um determinado efeito sobre os outros e por outro lado a ocultar a verdadeira natureza do indivíduo. (JUNG, O. C. VII, § 305).Além dos termos já colocados, há outro de fundamental importância para a Psicologia Analítica: a “anima”. Esse termo abrange as experiências importantes que o homem tem de uma mulher. O arquétipo da anima é formado pelo acúmulo da repressão das tendências femininas presentes no inconsciente do homem. Geralmente, o caráter da anima de um homem é “moldado” pela mãe.Não há homem algum tão exclusivamente masculino que não possua em si algo de feminino. (“...) A repressão das tendências e traços femininos determina um acúmulo dessas pretensões no inconsciente.” (JUNG, O. C. VII, § 297).Ao realizar suas pesquisas, Jung verificou que é por meio de símbolos que o inconsciente se expressa. De acordo com ele, os símbolos religiosos, como a cruz dos cristãos, a estrela de Davi dos judeus, o Dharma dos budistas, são imagens que estão presentes no inconsciente coletivo do ser humano.Enquanto o inconsciente pessoal consiste fundamentalmente de material reprimido e de complexos, o inconsciente coletivo é composto fundamentalmente de uma tendência para sensibilizar-se com certas imagens, ou melhor, símbolos que constelam sentimentos profundos de apelo universal, os arquétipos: da mesma forma que animais e homens parecem possuir atitudes inatas, chamadas de instintos, também é provável que em nosso psiquismo exista um material psíquico com alguma analogia com os instintos. Talvez, as imagens arquetípicas sejam algo como figurações dos próprios instintos, num nível mais sofisticado, psíquico. Assim, não é mais arriscado admitir a hipótese do inconsciente coletivo, comum a toda a humanidade, do que admitir a existência de instintos comuns a todos os seres vivos. (Guimarães, 1997).Posteriormente, estudos realizados sobre os trabalhos de Jung revelaram que a teoria dos símbolos, dos arquétipos do inconsciente coletivo, é de fundamental importância para compreensão dos mistérios da criação artística (aspecto que interessa ao nosso tema, a Arte terapia).Em seu livro “Tipos Psicológicos”, de 1921, Jung define duas disposições típicas da consciência: introvertida e extrovertida. O ser introvertido (metido consigo mesmo) comporta-se de maneira adequada à abstração (devaneios), sua imagem está sempre dirigida à situação não pública, isto é, privar-se de espectadores e dos objetos de desejos, como a impedir a supremacia do objeto, ao contrário do extrovertido, que se comporta positivamente em face do objeto, afirmando a sua significação de tal forma, que orientará sua atração existente no sujeito, ou seja, no individual e relacioná-la para si de modo constante.Outra temática famosa com respeito a Jung é a sua teoria dos "tipos psicológicos". Foi com base na análise da controvérsia entre as personalidades de Freud e outro seu discípulo famoso, e também dissidente, Alfred Adler, que Jung consegue delinear a tipologia do "introvertido" e do "extrovertido". Freud seria o "extrovertido", Adler, o "introvertido". Para o extrovertido, os acontecimentos externos são da máxima importância, ao nível consciente; em compensação, ao nível inconsciente, a atividade psíquica do extrovertido concentra-se no seu próprio eu. De modo inverso, para o introvertido o

que conta é a resposta subjetiva aos acontecimentos externos, ao passo que, a nível inconsciente, o introvertido é compelido para o mundo externo. (Guimarães, 1997)Esses dois tipos de indivíduos são distintos e o contraste é visível em sua existência, inclusive aos leigos. É comum em sociedade depararmo-nos com tais seres, tão diferentes, sendo que os de natureza fechada são difíceis de conhecer, pois sua timidez impede qualquer aproximação, aprofundamento, que por vezes não deixa o sujeito desenvolver suas capacidades; e, os de natureza aberta, são mais acessíveis, se relacionam bem em sociedade, em consequência, conseguem mais oportunidade em seu desenvolvimento.Jung vai mais adiante a sua obra “Tipos Psicológicos” (1921) dando características detalhadas dos introvertidos e extrovertidos, descrevendo-os até nos sentimentos, oferecendo um quadro circular, cuja disposição permite ao leitor observações e visão ampla nos processos da vida humana e de sua gênese.Para Jung (1920), “Arte é a expressão mais pura que há para a demonstração do inconsciente de cada um. É a liberdade de expressão, é sensibilidade, criatividade, é vida". Através deste processo, a energia psíquica consegue transformar-se em imagens e através dos símbolos, colocar seus conteúdos mais internos e profundos.A Arteterapia baseia-se na crença de que o processo criativo envolvido na atividade artística é terapêutico e enriquecedor da qualidade de vida das pessoas. Por meio do criar em arte e do refletir sobre os processos e os trabalhos artísticos resultantes, as pessoas podem ampliar o conhecimento de si e dos outros, aumentar a autoestima, lidar melhor com sintomas, estresse e experiências traumáticas, desenvolver recursos físicos, cognitivos, emocionais e desfrutar do prazer vitalizador do fazer artístico.

O PROCESSO ARTETERAPÊUTICO

O processo arteterapêutico é composto por oficinas, iremos citar apenas uma para exemplificar como a dinâmica acontece. O objetivo é proporcionar aos leitores, uma reflexão sobre sua maneira única de se apresentar ao mundo.O ponto principal da oficina é a atividade “Só eu sou Eu” (ALVAREZ, S.) Atividade de colagem apresentada em sala de aula.Geralmente os encontros iniciam-se com um lanche. É um momento de muita descontração, para que os adolescentes se conheçam. Nesse encontro é importante falar sobre os conceitos e princípios da arteterapia e também sobre o projeto e oficinas de criatividade. Os adolescentes são questionados sobre o significado de seus nomes e quem os nomeou. Neste primeiro encontro, é fornecido a cada um dos participantes uma caixa de madeira para que eles guardem seus trabalhos até a última oficina, ao término podem levá-la para casa. Os adolescentes decoram a caixa com vários materiais que ficam à disposição. A atividade de sensibilização-o totem do nome o que deve ser recortado e colado na caixa.A atividade “Só eu sou Eu” é um trabalho de imaginação do tamanho do universo, do planeta, do continente, do país, do estado e da cidade onde moram. Das 7 bilhões de pessoas que existem no mundo, ninguém é igual a ninguém. Cada participante recebe um boneco para servir de base da colagem e começam a procura pelas imagens. No momento em que eles começam a colagem, são questionados sobre a escolha das mesmas.Segundo Fuão, “a collage permite ver o que se esconde no interior de seu corpo, quando está desapropriado de sua falsa pele, sem sua representação fotográfica de seu narcisismo” (FUÃO, 2011, p.47).A atividade finaliza com os comentários dos adolescentes sobre o que o boneco representa.Segundo Scarpato, “intimidade não no sentido de contato com o conhecido, familiar, mas um espaço singular de abertura protegida pelo vínculo, onde podemos deixar vir o desconhecido em nós, o estranho, o novo”. (SCARPATO, 2011, p.107.)A atividade trabalha a maneira única de se apresentarem ao mundo. Chevalier & Gheerbrant falam sobre esses símbolos:O ar é o meio próprio da luz, do alçar vôo, do perfume, da cor, das vibrações interplanetárias; é a via de comunicação entre o céu e a terra [...], simbolicamente, a terra opõe-se ao céu como o princípio ativo; o aspecto feminino ao aspecto masculino da manifestação; a obscuridade à luz; o yin ao yang [...], a água é o símbolo das energias inconscientes, das virtudes informes da alma, das motivações secretas e desconhecidas [...] o fogo na qualidade de elemento que queima e consome, é também símbolo de purificação e de degenerescência. (CHEVALIER GHEERBRANT, 2007, p.21; 443; 68; 878)

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A proposta deste artigo foi aliar a Arteterapia como ferramenta para promover a possibilidade da comunicação inter e intrapessoal por meio da criatividade. A utilização das atividades criativas funcionam como uma ponte levando os adolescentes a exteriorizar seu mundo interno e dando-lhes liberdade para expressar suas alegrias, angústias e também revisitar seus valores, suas crenças e seus costumes. Avivar a criatividade desses adolescentes por meio da Arteterapia mostrando-lhes novos atributos, novas maneiras de pensar e de agir e de se relacionar consigo e com o outro poderá ajudá-los a proporcionar mudanças significativas para a melhoria do seu bem-estar e do ambiente onde vivem.Concluímos que o processo arteterapêutico, contribuiu para descobertas importantes para estes adolescentes. Faz-se necessário criar um espaço em que os adolescentes possam se expressar, falar de suas angústias, conflitos, medos e alegrias. As oficinas são encontros pontuais, em que os adolescentes podem se expressar através de palavras, sem medo de se expor, de ficar inseguro, e terem medo de que possam magoar alguém se falarem o que sentem.O processo arte terapêutico ajuda os adolescentes a perceberem questões que até então não haviam pensado. Muitos deles sofrem com a separação dos pais, com a perda da bisavó materna, por exemplo. Esses rompimentos incomodam muito. E quando o adolescente é muito sensível consegue perceber de maneira clara que os conflitos existem, principalmente entre seus pais e isso lhes causam chateação por sentir que às vezes as pessoas não são transparentes. Por outro lado, o processo arteterapêutico traz alegria para eles, pois se sentem confiantes nas profissionais que desenvolvem as oficinas, e conseguem compartilhar seus sentimentos.

REFERÊNCIAS THE AMERICAN ART THERAPY ASSOCIATION [AATA]. Defining Art Therapy. Disponível em Acesso em: 18.mar.2021.

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BERNARDO, Patrícia Pinna.A prática da Arteterapia: correlações entre temas e recursos, vol. III: Mitologia africana e Arteterapia: a força dos elementos em nossa vida. 2. ed. São Paulo: Arterapinna, 2012.

BERNARDO, Patrícia Pinna.A prática da Arteterapia: correlações entre temas e recursos, vol. IV: Arteterapia e mitologia criativa: orquestrando limiares. 2. ed. São Paulo: Arterapinna, 2012.

BERNARDO, Patrícia Pinna. A prática da Arteterapia: correlações entre temas e recursos, vol. V: Criatividade, transformação e individuação. 2. ed. São Paulo: Arterapinna, 2013.

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RESUMO O objetivo deste artigo é refletir sobre a importância da Arteterapia como ferramenta para desenvolver a comunicação inter e intrapessoal do adolescente por meio da criatividade. Com os instrumentos da Arteterapia buscou-se auxiliar os adolescentes a desenvolver a comunicação inter e intrapessoal, assim como aflorar suas potencialidades e criatividade por meio de estímulos artísticos. A Arteterapia cria recursos de expressão e criatividade que possibilitam que o adolescente libere suas emoções, seus conflitos e angústias. Possibilita que o adolescente seja capaz de enxergar esses conflitos e assim equalizar sua mente ao seu corpo, melhorando sua qualidade de vida. Através das bibliografias que envolvem o tema foi possível compreender que cada ser humano tem seu potencial individualizado; que a arte é capaz de transformar e resgatar esse potencial criativo e assim possibilitar a expressão e o autoconhecimento.

Palavras-chave: Arteterapia; Adolescente; Comunicação

INTRODUÇÃO

Este artigo propõe discutir a importância da Arteterapia no processo de manifestação da criatividade dos adolescentes. Nesse processo, os potenciais criativos são resgatados através de mediadores, tais como: música (como recurso que restaura a expressão de corpo, mente e alma); mandalas (como orientador no processo criativo); pintura (como facilitador para trazer vivências do inconsciente para o consciente); desenhos (como recurso de exteriorizar medos e angústias por meio de símbolos); dança (como vivência individual ou em grupo, ajudando assim na integração dos conteúdos internos da psique e facilitando a expressão individual); escultura e colagem (como recurso de dar forma a sentimentos e sensações). Além disso, por meio desses recursos, busca-se facilitar a comunicação da expressão emocional e aprofundar o conhecimento interno.A artista plástica polonesa Fayga Ostrower, em seu livro Criatividade e processo de criação, afirma que:O potencial criador elabora-se nos múltiplos níveis do ser sensível-cultural-consciente do homem, e se faz presente nos múltiplos caminhos em que o homem procura captar e configurar as realidades da vida. Os caminhos podem cristalizar-se em formas de comunicação, em ordenações concluídas, mas a criatividade como potência se refaz sempre. A produtividade do homem, em vez de se esgotar, liberando-se, amplia-se. (OSTROWER, 2012, p.27).O criar em Arteterapia através dos recursos que ela apresenta tais como a imaginação e o simbolismo das metáforas, acaba facilitando a comunicação na expressão emocional e aprofunda o conhecimento interno trazendo assim do inconsciente todo seu potencial criativo.Na sociedade contemporânea, a conexão com o sentido simbólico e iniciático do rito de passagem foi perdida. Por isso, se faz importante, principalmente para o adolescente, a reflexão sobre as etapas e passagens que ele enfrenta na vida.Nesse sentido, a Arteterapia pode ajudar a vivenciar esses processos de transformação.[...] no dinamismo de alteridade, que corresponde à época da adolescência, os opostos são relacionados de maneira igualitária e dialética, sendo vivenciados como aspectos diferentes de uma mesma realidade. Essa fase é voltada para o relacionamento com o outro e com a própria contraparte sexual, sendo, portanto, regidos pelos arquétipos da Anima (que corresponde aos aspectos do feminino na alma masculina), do Animus (que corresponde aos aspectos masculinos na alma feminina), e do Coniunctio (que se refere à conjunção de opostos, a reunião dessas duas “metades” num todo que as congrega e abrange como partes de uma única e indivisa realidade), caracterizando-se “por sua capacidade criativa face ao confronto dos opostos” (BYINGTON, 1983, p. 24, apud BERNARDO, 2012, p.38).A autora traz a importância do autoconhecimento para união dos opostos, na verdade sua integração ajuda o adolescente a entrar em contato com seu inconsciente sem perder a consciência no processo. Com isso consegue-se, por meio da arte, avivar no adolescente seus conhecimentos, descobrindo um mundo infinito de possibilidades ao trabalhar suas emoções, e assim levá-los a olhar para si de maneira inteira. Mostrar para eles, por meio dos trabalhos, que não existe feio ou bonito, que nada é rígido, que tudo pode ser transformado pela busca interior.Assim sendo, o objetivo geral deste artigo é desenvolver a comunicação inter e intrapessoal do adolescente por meio da

criatividade.

COMUNICAÇÃO INTER E INTRAPESSOAL

Existem vários tipos de comunicação, e as pessoas podem comunicar-se pelo código Morse, pela escrita, por gestos, pelo telefone, etc.; uma empresa, uma administração, até mesmo um Estado, podem comunicar-se com seus membros por intermédio de circulares, cartazes, mensagens radiofônicas ou televisionadas, etc.Toda comunicação tem por objetivo a transmissão de uma mensagem [...]. (VANOYE, 2011, p.1]A comunicação é um processo de troca de informações entre os seres das mais diversas maneiras. É um processo que envolve uma codificação, isto é, a formação de um código, e a decodificação, a busca do entendimento deste código, em forma de mensagens que permitem a troca de informações entre os indivíduos. Não há só a comunicação verbal, há vários tipos de comunicação e cada um deles tem características que o diferencia e o integra ao todo. (VANOYE, 2011, p.1).Segundo o Dicionário de Comunicação, a palavra comunicação deriva do latim communicare, cujo significado seria: “tornar comum”, “partilhar”, “repartir”, “associar”, “trocar opiniões”, “conferenciar”. Comunicar implica participação [...], em interação, em troca de mensagens, em emissão ou recebimento de informações novas. (RABAÇA & BARBOSA, 1995, p.151).Neste artigo, enfocamos as comunicações inter e intrapessoal. A comunicação interpessoal pode ser definida como aquela que acontece de alguém para alguém. (RABAÇA E BARBOSA, 1995, p.166). Já a comunicação intrapessoal é aquela que ocorre dentro de alguém. Está relacionada com as ideias e desejos do indivíduo; é a sua voz interior. Dessa forma, a comunicação intrapessoal é extremamente importante uma vez que representa o diálogo interno.

ADOLESCÊNCIA

A adolescência é a fase que marca a passagem entre a infância e a idade adulta. Segundo o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), é considerado adolescente aquele que tem entre 12 e 18 anos de idade.[...] o Adolescente passa por desequilíbrios e instabilidade, extremas de acordo com o que conhecemos dele. Em nosso meio cultural, mostra-nos períodos de relação, de introversão, alternando com audácia, timidez, descoordenação, urgência, desinteresse ou apatia. (ABERASTURY, 2011, p.28)Para Aberastury, a adolescência é uma fase muito difícil, pois a pessoa ainda não sabe quem é então ela sai em busca de autoafirmação. É fundamental para todo ser humano sentir-se único para poder seguir seu desenvolvimento. O adolescente também precisa de uma afirmação de si mesmo e que, ao mesmo tempo, é vivenciada no coletivo, do sentimento de pertencer a um grupo e da identificação da “turma”. Alguns adolescentes podem apresentar comportamentos infantis, resultado do medo e da insegurança de deixar a dependência dos pais e assumir suas próprias escolhas e poder caminhar com certa autonomia.Ainda segundo este autor, as mudanças corporais nessa fase ficam muito evidenciadas: essas transformações são acompanhadas da modificação na voz (que fica mais grave), do crescimento ósseo (acompanhado do alargamento do tronco e dos ombros), do enrijecimento muscular, do aumento da oleosidade da pele (o que pode causar o aparecimento de acnes). Todas essas mudanças podem causar perplexidade ao adolescente fazendo com que ele se sinta desajeitado diante desse corpo que é seu, mas que lhe soa estranho.De certa maneira, o adolescente poderá passar por recorrentes crises depressivas e dos estados de luto e de tristeza típicos da preparação da adolescência (morte da infância). Um bom mundo interior surge de uma relação satisfatória com os pais internalizados e da capacidade criativa que eles proporcionam.Segundo a Psicologia Analítica, as transformações ocorrem primeiro na psique: uma mudança nos arquétipos do pai e da mãe que aparecem na infância, depois dão lugar para o arquétipo do herói, e por seu intermédio, oferece segurança para enfrentar situações e desafios novos.[...] Estão presentes em nosso desenvolvimento psíquico, encontrados nos antigos rituais de iniciação e passagem de um ciclo a outro: um mergulho no caos (abertura ao novo), uma morte simbólica (corte com formas cristalizadas e desatualizadas de relacionamento com nossa realidade interno-externa), e um renascimento (ampliação de consciência, inaugurando um novo ciclo). (BERNARDO, 2008, p.115).Essa fase também é marcada pela ativação dos arquétipos de anima (na psique do menino) e deanimus (na psique da menina), arquétipos responsáveis pelo relacionamento com o sexo oposto. É nesse ciclo que o adolescente pode se diferenciar dos pais, que até então eram modelos para ele, para poder ir ao encontro de sua própria identidade, fase essa chamada de alteridade, que vai permitir ao adolescente conhecer o outro, e sua contraparte.

PROCESSO CRIATIVO

O potencial criador elabora-se nos múltiplos níveis do ser sensível-cultural-consciente do homem, e se faz presente nos múltiplos caminhos em que o homem procura captar e configurar as realidades da vida. Os caminhos podem cristalizar-se em formas de comunicação, em ordenações concluídas, mas a criatividade como potência se refaz sempre. A produtividade do homem, em vez de se esgotar, liberando-se, amplia-se. (OSTROWER, 2012, p.27).Segundo Ostrower, se pensarmos no potencial criador num âmbito geral, perceberemos que temos um infinito mundo de possibilidades. Criamos e excluímos realidades e possibilidades o tempo todo, com isso muitas vezes desconstruímos nossas ideias para poder reconstruir novamente e assim seguimos como se estivéssemos sempre montando um quebra

cabeça. Quando unimos os aspectos em oposição surgem novas alternativas e, com elas, a diversificação, fazendo que o processo de transformação crie e recrie o tempo todo.Assim, através das vivências conseguimos unificar os potenciais criativos e integrá-los em nossa maneira de nos comunicarmos.

JUNG E ARTETERAPIA

Carl Gustav Jung nasceu na Suíça, em 26 de julho de 1875, e morreu a 6 de junho de 1961, aos 86 anos. De família religiosa, desde criança se interessou pela filosofia e por questões espirituais. Estudou medicina, dando grande atenção aos fenômenos psíquicos (GUIMARÃES, 1997). Após ter-se formado, dedicou-se a pesquisar o inconsciente e formulou uma nova teoria sobre esse tema: a Psicologia Analítica.Segundo Tonietto (2005), Jung denominou Psicologia Analítica ao conjunto de conhecimentos construídos a partir da sua prática clínica e de suas experiências vividas na pesquisa da psique e seus conteúdos. O maior interesse desse estudioso estava relacionado com o mistério da psique humana, fonte de todas as atividades do homem, às "moléstias da alma”, e às formas de superar e transformar enfermidades em instrumento de desenvolvimento da psique.Em sua teoria, Jung distingue na pessoa vários elementos, dentre eles: a consciência e o inconsciente coletivo, a persona, o ego, eu, o animus, ânimo e a sombra, e considera a personalidade como um ideal irrealizável. Diz que no mesmo indivíduo existem diversos aspectos diferentes e contraditórios.Para Jung, um conteúdo é consciente quando é conhecido ou reconhecido pelo ego e por inconsciente quando ocorre o oposto. De acordo com suas próprias palavras:Por consciência entendo a referência dos conteúdos psíquicos ao eu enquanto assim for entendida pelo eu. Referências ao eu, enquanto não entendidas como tais pelo eu, são inconscientes. (JUNG, O. C. VI, § 796).Outro modo de se entender o significado de consciente, segundo Jung, pode ser encontrado na explicação de Edinger:Parte do fenômeno da consciência diz respeito à discriminação entre sujeito e objeto. Estou ciente de que sou um ser consciente; sou o sujeito dessa consciência. Quando olho para o mundo, vejo objetos e, no processo de me separar da identificação com esses objetos, ocorre uma separação entre sujeito e objeto. Essa é a forma como a consciência se desenvolve, separando sujeito de objeto. (Edinger, 2004)Dentre os vários conceitos próprios da Psicologia Analítica, existe o do “eu”, ou “ego”, que é à base da consciência, isto é, o “centro subjetivo do senso de identidade do indivíduo” (Edinger, 2004), por isso, todo conteúdo da consciência deve se relacionar ao sujeito, ao ego. O ego é o centro da personalidade.Por sua vez, “sombra” é o nome que Jung deu para os aspectos da personalidade que são desconhecidos do indivíduo, isto é, os que não estão em sua consciência. São os traços “obscuros” do caráter ou da personalidade, mas que não significa que sejam unicamente fraquezas e defeitos, são todos os traços ou características que ficam fora do campo da consciência. Conscientizar-se da sombra é fundamental em todo processo de autoconhecimento (Tonietto, 2005).Também é essencial que conheçamos o significado de “persona” para podermos compreender a teoria de Jung. Para ele:A persona é um complicado sistema de relação entre a consciência individual e a sociedade; é uma espécie de máscara destinada, por um lado, a produzir um determinado efeito sobre os outros e por outro lado a ocultar a verdadeira natureza do indivíduo. (JUNG, O. C. VII, § 305).Além dos termos já colocados, há outro de fundamental importância para a Psicologia Analítica: a “anima”. Esse termo abrange as experiências importantes que o homem tem de uma mulher. O arquétipo da anima é formado pelo acúmulo da repressão das tendências femininas presentes no inconsciente do homem. Geralmente, o caráter da anima de um homem é “moldado” pela mãe.Não há homem algum tão exclusivamente masculino que não possua em si algo de feminino. (“...) A repressão das tendências e traços femininos determina um acúmulo dessas pretensões no inconsciente.” (JUNG, O. C. VII, § 297).Ao realizar suas pesquisas, Jung verificou que é por meio de símbolos que o inconsciente se expressa. De acordo com ele, os símbolos religiosos, como a cruz dos cristãos, a estrela de Davi dos judeus, o Dharma dos budistas, são imagens que estão presentes no inconsciente coletivo do ser humano.Enquanto o inconsciente pessoal consiste fundamentalmente de material reprimido e de complexos, o inconsciente coletivo é composto fundamentalmente de uma tendência para sensibilizar-se com certas imagens, ou melhor, símbolos que constelam sentimentos profundos de apelo universal, os arquétipos: da mesma forma que animais e homens parecem possuir atitudes inatas, chamadas de instintos, também é provável que em nosso psiquismo exista um material psíquico com alguma analogia com os instintos. Talvez, as imagens arquetípicas sejam algo como figurações dos próprios instintos, num nível mais sofisticado, psíquico. Assim, não é mais arriscado admitir a hipótese do inconsciente coletivo, comum a toda a humanidade, do que admitir a existência de instintos comuns a todos os seres vivos. (Guimarães, 1997).Posteriormente, estudos realizados sobre os trabalhos de Jung revelaram que a teoria dos símbolos, dos arquétipos do inconsciente coletivo, é de fundamental importância para compreensão dos mistérios da criação artística (aspecto que interessa ao nosso tema, a Arte terapia).Em seu livro “Tipos Psicológicos”, de 1921, Jung define duas disposições típicas da consciência: introvertida e extrovertida. O ser introvertido (metido consigo mesmo) comporta-se de maneira adequada à abstração (devaneios), sua imagem está sempre dirigida à situação não pública, isto é, privar-se de espectadores e dos objetos de desejos, como a impedir a supremacia do objeto, ao contrário do extrovertido, que se comporta positivamente em face do objeto, afirmando a sua significação de tal forma, que orientará sua atração existente no sujeito, ou seja, no individual e relacioná-la para si de modo constante.Outra temática famosa com respeito a Jung é a sua teoria dos "tipos psicológicos". Foi com base na análise da controvérsia entre as personalidades de Freud e outro seu discípulo famoso, e também dissidente, Alfred Adler, que Jung consegue delinear a tipologia do "introvertido" e do "extrovertido". Freud seria o "extrovertido", Adler, o "introvertido". Para o extrovertido, os acontecimentos externos são da máxima importância, ao nível consciente; em compensação, ao nível inconsciente, a atividade psíquica do extrovertido concentra-se no seu próprio eu. De modo inverso, para o introvertido o

que conta é a resposta subjetiva aos acontecimentos externos, ao passo que, a nível inconsciente, o introvertido é compelido para o mundo externo. (Guimarães, 1997)Esses dois tipos de indivíduos são distintos e o contraste é visível em sua existência, inclusive aos leigos. É comum em sociedade depararmo-nos com tais seres, tão diferentes, sendo que os de natureza fechada são difíceis de conhecer, pois sua timidez impede qualquer aproximação, aprofundamento, que por vezes não deixa o sujeito desenvolver suas capacidades; e, os de natureza aberta, são mais acessíveis, se relacionam bem em sociedade, em consequência, conseguem mais oportunidade em seu desenvolvimento.Jung vai mais adiante a sua obra “Tipos Psicológicos” (1921) dando características detalhadas dos introvertidos e extrovertidos, descrevendo-os até nos sentimentos, oferecendo um quadro circular, cuja disposição permite ao leitor observações e visão ampla nos processos da vida humana e de sua gênese.Para Jung (1920), “Arte é a expressão mais pura que há para a demonstração do inconsciente de cada um. É a liberdade de expressão, é sensibilidade, criatividade, é vida". Através deste processo, a energia psíquica consegue transformar-se em imagens e através dos símbolos, colocar seus conteúdos mais internos e profundos.A Arteterapia baseia-se na crença de que o processo criativo envolvido na atividade artística é terapêutico e enriquecedor da qualidade de vida das pessoas. Por meio do criar em arte e do refletir sobre os processos e os trabalhos artísticos resultantes, as pessoas podem ampliar o conhecimento de si e dos outros, aumentar a autoestima, lidar melhor com sintomas, estresse e experiências traumáticas, desenvolver recursos físicos, cognitivos, emocionais e desfrutar do prazer vitalizador do fazer artístico.

O PROCESSO ARTETERAPÊUTICO

O processo arteterapêutico é composto por oficinas, iremos citar apenas uma para exemplificar como a dinâmica acontece. O objetivo é proporcionar aos leitores, uma reflexão sobre sua maneira única de se apresentar ao mundo.O ponto principal da oficina é a atividade “Só eu sou Eu” (ALVAREZ, S.) Atividade de colagem apresentada em sala de aula.Geralmente os encontros iniciam-se com um lanche. É um momento de muita descontração, para que os adolescentes se conheçam. Nesse encontro é importante falar sobre os conceitos e princípios da arteterapia e também sobre o projeto e oficinas de criatividade. Os adolescentes são questionados sobre o significado de seus nomes e quem os nomeou. Neste primeiro encontro, é fornecido a cada um dos participantes uma caixa de madeira para que eles guardem seus trabalhos até a última oficina, ao término podem levá-la para casa. Os adolescentes decoram a caixa com vários materiais que ficam à disposição. A atividade de sensibilização-o totem do nome o que deve ser recortado e colado na caixa.A atividade “Só eu sou Eu” é um trabalho de imaginação do tamanho do universo, do planeta, do continente, do país, do estado e da cidade onde moram. Das 7 bilhões de pessoas que existem no mundo, ninguém é igual a ninguém. Cada participante recebe um boneco para servir de base da colagem e começam a procura pelas imagens. No momento em que eles começam a colagem, são questionados sobre a escolha das mesmas.Segundo Fuão, “a collage permite ver o que se esconde no interior de seu corpo, quando está desapropriado de sua falsa pele, sem sua representação fotográfica de seu narcisismo” (FUÃO, 2011, p.47).A atividade finaliza com os comentários dos adolescentes sobre o que o boneco representa.Segundo Scarpato, “intimidade não no sentido de contato com o conhecido, familiar, mas um espaço singular de abertura protegida pelo vínculo, onde podemos deixar vir o desconhecido em nós, o estranho, o novo”. (SCARPATO, 2011, p.107.)A atividade trabalha a maneira única de se apresentarem ao mundo. Chevalier & Gheerbrant falam sobre esses símbolos:O ar é o meio próprio da luz, do alçar vôo, do perfume, da cor, das vibrações interplanetárias; é a via de comunicação entre o céu e a terra [...], simbolicamente, a terra opõe-se ao céu como o princípio ativo; o aspecto feminino ao aspecto masculino da manifestação; a obscuridade à luz; o yin ao yang [...], a água é o símbolo das energias inconscientes, das virtudes informes da alma, das motivações secretas e desconhecidas [...] o fogo na qualidade de elemento que queima e consome, é também símbolo de purificação e de degenerescência. (CHEVALIER GHEERBRANT, 2007, p.21; 443; 68; 878)

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A proposta deste artigo foi aliar a Arteterapia como ferramenta para promover a possibilidade da comunicação inter e intrapessoal por meio da criatividade. A utilização das atividades criativas funcionam como uma ponte levando os adolescentes a exteriorizar seu mundo interno e dando-lhes liberdade para expressar suas alegrias, angústias e também revisitar seus valores, suas crenças e seus costumes. Avivar a criatividade desses adolescentes por meio da Arteterapia mostrando-lhes novos atributos, novas maneiras de pensar e de agir e de se relacionar consigo e com o outro poderá ajudá-los a proporcionar mudanças significativas para a melhoria do seu bem-estar e do ambiente onde vivem.Concluímos que o processo arteterapêutico, contribuiu para descobertas importantes para estes adolescentes. Faz-se necessário criar um espaço em que os adolescentes possam se expressar, falar de suas angústias, conflitos, medos e alegrias. As oficinas são encontros pontuais, em que os adolescentes podem se expressar através de palavras, sem medo de se expor, de ficar inseguro, e terem medo de que possam magoar alguém se falarem o que sentem.O processo arte terapêutico ajuda os adolescentes a perceberem questões que até então não haviam pensado. Muitos deles sofrem com a separação dos pais, com a perda da bisavó materna, por exemplo. Esses rompimentos incomodam muito. E quando o adolescente é muito sensível consegue perceber de maneira clara que os conflitos existem, principalmente entre seus pais e isso lhes causam chateação por sentir que às vezes as pessoas não são transparentes. Por outro lado, o processo arteterapêutico traz alegria para eles, pois se sentem confiantes nas profissionais que desenvolvem as oficinas, e conseguem compartilhar seus sentimentos.

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BERNARDO, Patrícia Pinna.A prática da Arteterapia: correlações entre temas e recursos, vol. III: Mitologia africana e Arteterapia: a força dos elementos em nossa vida. 2. ed. São Paulo: Arterapinna, 2012.

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VANOYE, Francis. Usos da linguagem: problemas e técnicas na produção oral e escrita. 13. ed. São Paulo: Martins Fontes, 2007.

Page 3: REVISTA EXATTO MARÇO

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CONSELHO EDITORIAL Ana Letícia Guerra Daniela Oliveira Albertin de Amorin Juliana Mota Fardini Gutierrez Alessandra Gonçalves Juliana Petrasso Adriana Alves FariasAndrea Ramos Moreira Alexandre Bernardo da SilvaDebora Banhos

EDITOR CHEFE Mauricio Belo

REVISÃO E NORMALIZAÇÃODE TEXTOS

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Revista Exatto EducacionalGrupo Exatto EducacionalRua República do Iraque,40Salas 302 a 305 - Jd Oswaldo Cruz CEP 12.216 -540 - SJC - SPVolume 3, Número 3(Março, 2021) - SPRevista sem fins lucrativos

Publicação Mensal emultidisciplinar vinculadaao Grupo Exatto Educacional

Os artigos assinado são deresponsabilidade exclusivados autores e não expressam,necessariamente, a opinião doConselho Editorial.

É permitida a reprodução total ouparcial dos artigos desta revista,desde que citada a fonte.

REVISTA EXATTO EDUCACIONAL | V.3 | N.3 | MARÇO 2021

EDITORIALQUAL É A IMPORTÂNCIA DA EDUCAÇÃO?

A Educação possui impacto em todas as áreas da vida em sociedade. Nesse sentido, o acesso a uma Educação de qualidade contribui para o progresso individual e coletivo do povo, uma vez que ajuda não só no desenvolvimento do país, como de cada pessoa. A importância da Educação vai além do aumento da renda ou das chances de se obter um bom emprego. Perguntar sobre a importância da Educação é como perguntar qual a importância das relações em sociedade.

É por meio da Educação que nos preparamos para todas as áreas da vida e garantimos nosso desenvolvimento social, econômico e cultural. Nesse contexto, é imprescindível pontuar Paulo Freire que nos coloca a importância de ser um eterno aprendiz ao afirmar que “não há ensino sem pesquisa e pesquisa sem ensino”, para tanto, a fim de contribuir com a pesquisa na área da Educação, apresentamos mais uma edição da Revista Exatto, onde poderemos ler e analisar as contribuições dos educadores com suas pesquisas.

Boa leitura!

Profa. Ma. Adriana Alves FariasMembro do Conselho Editorial

RESUMO O objetivo deste artigo é refletir sobre a importância da Arteterapia como ferramenta para desenvolver a comunicação inter e intrapessoal do adolescente por meio da criatividade. Com os instrumentos da Arteterapia buscou-se auxiliar os adolescentes a desenvolver a comunicação inter e intrapessoal, assim como aflorar suas potencialidades e criatividade por meio de estímulos artísticos. A Arteterapia cria recursos de expressão e criatividade que possibilitam que o adolescente libere suas emoções, seus conflitos e angústias. Possibilita que o adolescente seja capaz de enxergar esses conflitos e assim equalizar sua mente ao seu corpo, melhorando sua qualidade de vida. Através das bibliografias que envolvem o tema foi possível compreender que cada ser humano tem seu potencial individualizado; que a arte é capaz de transformar e resgatar esse potencial criativo e assim possibilitar a expressão e o autoconhecimento.

Palavras-chave: Arteterapia; Adolescente; Comunicação

INTRODUÇÃO

Este artigo propõe discutir a importância da Arteterapia no processo de manifestação da criatividade dos adolescentes. Nesse processo, os potenciais criativos são resgatados através de mediadores, tais como: música (como recurso que restaura a expressão de corpo, mente e alma); mandalas (como orientador no processo criativo); pintura (como facilitador para trazer vivências do inconsciente para o consciente); desenhos (como recurso de exteriorizar medos e angústias por meio de símbolos); dança (como vivência individual ou em grupo, ajudando assim na integração dos conteúdos internos da psique e facilitando a expressão individual); escultura e colagem (como recurso de dar forma a sentimentos e sensações). Além disso, por meio desses recursos, busca-se facilitar a comunicação da expressão emocional e aprofundar o conhecimento interno.A artista plástica polonesa Fayga Ostrower, em seu livro Criatividade e processo de criação, afirma que:O potencial criador elabora-se nos múltiplos níveis do ser sensível-cultural-consciente do homem, e se faz presente nos múltiplos caminhos em que o homem procura captar e configurar as realidades da vida. Os caminhos podem cristalizar-se em formas de comunicação, em ordenações concluídas, mas a criatividade como potência se refaz sempre. A produtividade do homem, em vez de se esgotar, liberando-se, amplia-se. (OSTROWER, 2012, p.27).O criar em Arteterapia através dos recursos que ela apresenta tais como a imaginação e o simbolismo das metáforas, acaba facilitando a comunicação na expressão emocional e aprofunda o conhecimento interno trazendo assim do inconsciente todo seu potencial criativo.Na sociedade contemporânea, a conexão com o sentido simbólico e iniciático do rito de passagem foi perdida. Por isso, se faz importante, principalmente para o adolescente, a reflexão sobre as etapas e passagens que ele enfrenta na vida.Nesse sentido, a Arteterapia pode ajudar a vivenciar esses processos de transformação.[...] no dinamismo de alteridade, que corresponde à época da adolescência, os opostos são relacionados de maneira igualitária e dialética, sendo vivenciados como aspectos diferentes de uma mesma realidade. Essa fase é voltada para o relacionamento com o outro e com a própria contraparte sexual, sendo, portanto, regidos pelos arquétipos da Anima (que corresponde aos aspectos do feminino na alma masculina), do Animus (que corresponde aos aspectos masculinos na alma feminina), e do Coniunctio (que se refere à conjunção de opostos, a reunião dessas duas “metades” num todo que as congrega e abrange como partes de uma única e indivisa realidade), caracterizando-se “por sua capacidade criativa face ao confronto dos opostos” (BYINGTON, 1983, p. 24, apud BERNARDO, 2012, p.38).A autora traz a importância do autoconhecimento para união dos opostos, na verdade sua integração ajuda o adolescente a entrar em contato com seu inconsciente sem perder a consciência no processo. Com isso consegue-se, por meio da arte, avivar no adolescente seus conhecimentos, descobrindo um mundo infinito de possibilidades ao trabalhar suas emoções, e assim levá-los a olhar para si de maneira inteira. Mostrar para eles, por meio dos trabalhos, que não existe feio ou bonito, que nada é rígido, que tudo pode ser transformado pela busca interior.Assim sendo, o objetivo geral deste artigo é desenvolver a comunicação inter e intrapessoal do adolescente por meio da

criatividade.

COMUNICAÇÃO INTER E INTRAPESSOAL

Existem vários tipos de comunicação, e as pessoas podem comunicar-se pelo código Morse, pela escrita, por gestos, pelo telefone, etc.; uma empresa, uma administração, até mesmo um Estado, podem comunicar-se com seus membros por intermédio de circulares, cartazes, mensagens radiofônicas ou televisionadas, etc.Toda comunicação tem por objetivo a transmissão de uma mensagem [...]. (VANOYE, 2011, p.1]A comunicação é um processo de troca de informações entre os seres das mais diversas maneiras. É um processo que envolve uma codificação, isto é, a formação de um código, e a decodificação, a busca do entendimento deste código, em forma de mensagens que permitem a troca de informações entre os indivíduos. Não há só a comunicação verbal, há vários tipos de comunicação e cada um deles tem características que o diferencia e o integra ao todo. (VANOYE, 2011, p.1).Segundo o Dicionário de Comunicação, a palavra comunicação deriva do latim communicare, cujo significado seria: “tornar comum”, “partilhar”, “repartir”, “associar”, “trocar opiniões”, “conferenciar”. Comunicar implica participação [...], em interação, em troca de mensagens, em emissão ou recebimento de informações novas. (RABAÇA & BARBOSA, 1995, p.151).Neste artigo, enfocamos as comunicações inter e intrapessoal. A comunicação interpessoal pode ser definida como aquela que acontece de alguém para alguém. (RABAÇA E BARBOSA, 1995, p.166). Já a comunicação intrapessoal é aquela que ocorre dentro de alguém. Está relacionada com as ideias e desejos do indivíduo; é a sua voz interior. Dessa forma, a comunicação intrapessoal é extremamente importante uma vez que representa o diálogo interno.

ADOLESCÊNCIA

A adolescência é a fase que marca a passagem entre a infância e a idade adulta. Segundo o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), é considerado adolescente aquele que tem entre 12 e 18 anos de idade.[...] o Adolescente passa por desequilíbrios e instabilidade, extremas de acordo com o que conhecemos dele. Em nosso meio cultural, mostra-nos períodos de relação, de introversão, alternando com audácia, timidez, descoordenação, urgência, desinteresse ou apatia. (ABERASTURY, 2011, p.28)Para Aberastury, a adolescência é uma fase muito difícil, pois a pessoa ainda não sabe quem é então ela sai em busca de autoafirmação. É fundamental para todo ser humano sentir-se único para poder seguir seu desenvolvimento. O adolescente também precisa de uma afirmação de si mesmo e que, ao mesmo tempo, é vivenciada no coletivo, do sentimento de pertencer a um grupo e da identificação da “turma”. Alguns adolescentes podem apresentar comportamentos infantis, resultado do medo e da insegurança de deixar a dependência dos pais e assumir suas próprias escolhas e poder caminhar com certa autonomia.Ainda segundo este autor, as mudanças corporais nessa fase ficam muito evidenciadas: essas transformações são acompanhadas da modificação na voz (que fica mais grave), do crescimento ósseo (acompanhado do alargamento do tronco e dos ombros), do enrijecimento muscular, do aumento da oleosidade da pele (o que pode causar o aparecimento de acnes). Todas essas mudanças podem causar perplexidade ao adolescente fazendo com que ele se sinta desajeitado diante desse corpo que é seu, mas que lhe soa estranho.De certa maneira, o adolescente poderá passar por recorrentes crises depressivas e dos estados de luto e de tristeza típicos da preparação da adolescência (morte da infância). Um bom mundo interior surge de uma relação satisfatória com os pais internalizados e da capacidade criativa que eles proporcionam.Segundo a Psicologia Analítica, as transformações ocorrem primeiro na psique: uma mudança nos arquétipos do pai e da mãe que aparecem na infância, depois dão lugar para o arquétipo do herói, e por seu intermédio, oferece segurança para enfrentar situações e desafios novos.[...] Estão presentes em nosso desenvolvimento psíquico, encontrados nos antigos rituais de iniciação e passagem de um ciclo a outro: um mergulho no caos (abertura ao novo), uma morte simbólica (corte com formas cristalizadas e desatualizadas de relacionamento com nossa realidade interno-externa), e um renascimento (ampliação de consciência, inaugurando um novo ciclo). (BERNARDO, 2008, p.115).Essa fase também é marcada pela ativação dos arquétipos de anima (na psique do menino) e deanimus (na psique da menina), arquétipos responsáveis pelo relacionamento com o sexo oposto. É nesse ciclo que o adolescente pode se diferenciar dos pais, que até então eram modelos para ele, para poder ir ao encontro de sua própria identidade, fase essa chamada de alteridade, que vai permitir ao adolescente conhecer o outro, e sua contraparte.

PROCESSO CRIATIVO

O potencial criador elabora-se nos múltiplos níveis do ser sensível-cultural-consciente do homem, e se faz presente nos múltiplos caminhos em que o homem procura captar e configurar as realidades da vida. Os caminhos podem cristalizar-se em formas de comunicação, em ordenações concluídas, mas a criatividade como potência se refaz sempre. A produtividade do homem, em vez de se esgotar, liberando-se, amplia-se. (OSTROWER, 2012, p.27).Segundo Ostrower, se pensarmos no potencial criador num âmbito geral, perceberemos que temos um infinito mundo de possibilidades. Criamos e excluímos realidades e possibilidades o tempo todo, com isso muitas vezes desconstruímos nossas ideias para poder reconstruir novamente e assim seguimos como se estivéssemos sempre montando um quebra

cabeça. Quando unimos os aspectos em oposição surgem novas alternativas e, com elas, a diversificação, fazendo que o processo de transformação crie e recrie o tempo todo.Assim, através das vivências conseguimos unificar os potenciais criativos e integrá-los em nossa maneira de nos comunicarmos.

JUNG E ARTETERAPIA

Carl Gustav Jung nasceu na Suíça, em 26 de julho de 1875, e morreu a 6 de junho de 1961, aos 86 anos. De família religiosa, desde criança se interessou pela filosofia e por questões espirituais. Estudou medicina, dando grande atenção aos fenômenos psíquicos (GUIMARÃES, 1997). Após ter-se formado, dedicou-se a pesquisar o inconsciente e formulou uma nova teoria sobre esse tema: a Psicologia Analítica.Segundo Tonietto (2005), Jung denominou Psicologia Analítica ao conjunto de conhecimentos construídos a partir da sua prática clínica e de suas experiências vividas na pesquisa da psique e seus conteúdos. O maior interesse desse estudioso estava relacionado com o mistério da psique humana, fonte de todas as atividades do homem, às "moléstias da alma”, e às formas de superar e transformar enfermidades em instrumento de desenvolvimento da psique.Em sua teoria, Jung distingue na pessoa vários elementos, dentre eles: a consciência e o inconsciente coletivo, a persona, o ego, eu, o animus, ânimo e a sombra, e considera a personalidade como um ideal irrealizável. Diz que no mesmo indivíduo existem diversos aspectos diferentes e contraditórios.Para Jung, um conteúdo é consciente quando é conhecido ou reconhecido pelo ego e por inconsciente quando ocorre o oposto. De acordo com suas próprias palavras:Por consciência entendo a referência dos conteúdos psíquicos ao eu enquanto assim for entendida pelo eu. Referências ao eu, enquanto não entendidas como tais pelo eu, são inconscientes. (JUNG, O. C. VI, § 796).Outro modo de se entender o significado de consciente, segundo Jung, pode ser encontrado na explicação de Edinger:Parte do fenômeno da consciência diz respeito à discriminação entre sujeito e objeto. Estou ciente de que sou um ser consciente; sou o sujeito dessa consciência. Quando olho para o mundo, vejo objetos e, no processo de me separar da identificação com esses objetos, ocorre uma separação entre sujeito e objeto. Essa é a forma como a consciência se desenvolve, separando sujeito de objeto. (Edinger, 2004)Dentre os vários conceitos próprios da Psicologia Analítica, existe o do “eu”, ou “ego”, que é à base da consciência, isto é, o “centro subjetivo do senso de identidade do indivíduo” (Edinger, 2004), por isso, todo conteúdo da consciência deve se relacionar ao sujeito, ao ego. O ego é o centro da personalidade.Por sua vez, “sombra” é o nome que Jung deu para os aspectos da personalidade que são desconhecidos do indivíduo, isto é, os que não estão em sua consciência. São os traços “obscuros” do caráter ou da personalidade, mas que não significa que sejam unicamente fraquezas e defeitos, são todos os traços ou características que ficam fora do campo da consciência. Conscientizar-se da sombra é fundamental em todo processo de autoconhecimento (Tonietto, 2005).Também é essencial que conheçamos o significado de “persona” para podermos compreender a teoria de Jung. Para ele:A persona é um complicado sistema de relação entre a consciência individual e a sociedade; é uma espécie de máscara destinada, por um lado, a produzir um determinado efeito sobre os outros e por outro lado a ocultar a verdadeira natureza do indivíduo. (JUNG, O. C. VII, § 305).Além dos termos já colocados, há outro de fundamental importância para a Psicologia Analítica: a “anima”. Esse termo abrange as experiências importantes que o homem tem de uma mulher. O arquétipo da anima é formado pelo acúmulo da repressão das tendências femininas presentes no inconsciente do homem. Geralmente, o caráter da anima de um homem é “moldado” pela mãe.Não há homem algum tão exclusivamente masculino que não possua em si algo de feminino. (“...) A repressão das tendências e traços femininos determina um acúmulo dessas pretensões no inconsciente.” (JUNG, O. C. VII, § 297).Ao realizar suas pesquisas, Jung verificou que é por meio de símbolos que o inconsciente se expressa. De acordo com ele, os símbolos religiosos, como a cruz dos cristãos, a estrela de Davi dos judeus, o Dharma dos budistas, são imagens que estão presentes no inconsciente coletivo do ser humano.Enquanto o inconsciente pessoal consiste fundamentalmente de material reprimido e de complexos, o inconsciente coletivo é composto fundamentalmente de uma tendência para sensibilizar-se com certas imagens, ou melhor, símbolos que constelam sentimentos profundos de apelo universal, os arquétipos: da mesma forma que animais e homens parecem possuir atitudes inatas, chamadas de instintos, também é provável que em nosso psiquismo exista um material psíquico com alguma analogia com os instintos. Talvez, as imagens arquetípicas sejam algo como figurações dos próprios instintos, num nível mais sofisticado, psíquico. Assim, não é mais arriscado admitir a hipótese do inconsciente coletivo, comum a toda a humanidade, do que admitir a existência de instintos comuns a todos os seres vivos. (Guimarães, 1997).Posteriormente, estudos realizados sobre os trabalhos de Jung revelaram que a teoria dos símbolos, dos arquétipos do inconsciente coletivo, é de fundamental importância para compreensão dos mistérios da criação artística (aspecto que interessa ao nosso tema, a Arte terapia).Em seu livro “Tipos Psicológicos”, de 1921, Jung define duas disposições típicas da consciência: introvertida e extrovertida. O ser introvertido (metido consigo mesmo) comporta-se de maneira adequada à abstração (devaneios), sua imagem está sempre dirigida à situação não pública, isto é, privar-se de espectadores e dos objetos de desejos, como a impedir a supremacia do objeto, ao contrário do extrovertido, que se comporta positivamente em face do objeto, afirmando a sua significação de tal forma, que orientará sua atração existente no sujeito, ou seja, no individual e relacioná-la para si de modo constante.Outra temática famosa com respeito a Jung é a sua teoria dos "tipos psicológicos". Foi com base na análise da controvérsia entre as personalidades de Freud e outro seu discípulo famoso, e também dissidente, Alfred Adler, que Jung consegue delinear a tipologia do "introvertido" e do "extrovertido". Freud seria o "extrovertido", Adler, o "introvertido". Para o extrovertido, os acontecimentos externos são da máxima importância, ao nível consciente; em compensação, ao nível inconsciente, a atividade psíquica do extrovertido concentra-se no seu próprio eu. De modo inverso, para o introvertido o

que conta é a resposta subjetiva aos acontecimentos externos, ao passo que, a nível inconsciente, o introvertido é compelido para o mundo externo. (Guimarães, 1997)Esses dois tipos de indivíduos são distintos e o contraste é visível em sua existência, inclusive aos leigos. É comum em sociedade depararmo-nos com tais seres, tão diferentes, sendo que os de natureza fechada são difíceis de conhecer, pois sua timidez impede qualquer aproximação, aprofundamento, que por vezes não deixa o sujeito desenvolver suas capacidades; e, os de natureza aberta, são mais acessíveis, se relacionam bem em sociedade, em consequência, conseguem mais oportunidade em seu desenvolvimento.Jung vai mais adiante a sua obra “Tipos Psicológicos” (1921) dando características detalhadas dos introvertidos e extrovertidos, descrevendo-os até nos sentimentos, oferecendo um quadro circular, cuja disposição permite ao leitor observações e visão ampla nos processos da vida humana e de sua gênese.Para Jung (1920), “Arte é a expressão mais pura que há para a demonstração do inconsciente de cada um. É a liberdade de expressão, é sensibilidade, criatividade, é vida". Através deste processo, a energia psíquica consegue transformar-se em imagens e através dos símbolos, colocar seus conteúdos mais internos e profundos.A Arteterapia baseia-se na crença de que o processo criativo envolvido na atividade artística é terapêutico e enriquecedor da qualidade de vida das pessoas. Por meio do criar em arte e do refletir sobre os processos e os trabalhos artísticos resultantes, as pessoas podem ampliar o conhecimento de si e dos outros, aumentar a autoestima, lidar melhor com sintomas, estresse e experiências traumáticas, desenvolver recursos físicos, cognitivos, emocionais e desfrutar do prazer vitalizador do fazer artístico.

O PROCESSO ARTETERAPÊUTICO

O processo arteterapêutico é composto por oficinas, iremos citar apenas uma para exemplificar como a dinâmica acontece. O objetivo é proporcionar aos leitores, uma reflexão sobre sua maneira única de se apresentar ao mundo.O ponto principal da oficina é a atividade “Só eu sou Eu” (ALVAREZ, S.) Atividade de colagem apresentada em sala de aula.Geralmente os encontros iniciam-se com um lanche. É um momento de muita descontração, para que os adolescentes se conheçam. Nesse encontro é importante falar sobre os conceitos e princípios da arteterapia e também sobre o projeto e oficinas de criatividade. Os adolescentes são questionados sobre o significado de seus nomes e quem os nomeou. Neste primeiro encontro, é fornecido a cada um dos participantes uma caixa de madeira para que eles guardem seus trabalhos até a última oficina, ao término podem levá-la para casa. Os adolescentes decoram a caixa com vários materiais que ficam à disposição. A atividade de sensibilização-o totem do nome o que deve ser recortado e colado na caixa.A atividade “Só eu sou Eu” é um trabalho de imaginação do tamanho do universo, do planeta, do continente, do país, do estado e da cidade onde moram. Das 7 bilhões de pessoas que existem no mundo, ninguém é igual a ninguém. Cada participante recebe um boneco para servir de base da colagem e começam a procura pelas imagens. No momento em que eles começam a colagem, são questionados sobre a escolha das mesmas.Segundo Fuão, “a collage permite ver o que se esconde no interior de seu corpo, quando está desapropriado de sua falsa pele, sem sua representação fotográfica de seu narcisismo” (FUÃO, 2011, p.47).A atividade finaliza com os comentários dos adolescentes sobre o que o boneco representa.Segundo Scarpato, “intimidade não no sentido de contato com o conhecido, familiar, mas um espaço singular de abertura protegida pelo vínculo, onde podemos deixar vir o desconhecido em nós, o estranho, o novo”. (SCARPATO, 2011, p.107.)A atividade trabalha a maneira única de se apresentarem ao mundo. Chevalier & Gheerbrant falam sobre esses símbolos:O ar é o meio próprio da luz, do alçar vôo, do perfume, da cor, das vibrações interplanetárias; é a via de comunicação entre o céu e a terra [...], simbolicamente, a terra opõe-se ao céu como o princípio ativo; o aspecto feminino ao aspecto masculino da manifestação; a obscuridade à luz; o yin ao yang [...], a água é o símbolo das energias inconscientes, das virtudes informes da alma, das motivações secretas e desconhecidas [...] o fogo na qualidade de elemento que queima e consome, é também símbolo de purificação e de degenerescência. (CHEVALIER GHEERBRANT, 2007, p.21; 443; 68; 878)

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A proposta deste artigo foi aliar a Arteterapia como ferramenta para promover a possibilidade da comunicação inter e intrapessoal por meio da criatividade. A utilização das atividades criativas funcionam como uma ponte levando os adolescentes a exteriorizar seu mundo interno e dando-lhes liberdade para expressar suas alegrias, angústias e também revisitar seus valores, suas crenças e seus costumes. Avivar a criatividade desses adolescentes por meio da Arteterapia mostrando-lhes novos atributos, novas maneiras de pensar e de agir e de se relacionar consigo e com o outro poderá ajudá-los a proporcionar mudanças significativas para a melhoria do seu bem-estar e do ambiente onde vivem.Concluímos que o processo arteterapêutico, contribuiu para descobertas importantes para estes adolescentes. Faz-se necessário criar um espaço em que os adolescentes possam se expressar, falar de suas angústias, conflitos, medos e alegrias. As oficinas são encontros pontuais, em que os adolescentes podem se expressar através de palavras, sem medo de se expor, de ficar inseguro, e terem medo de que possam magoar alguém se falarem o que sentem.O processo arte terapêutico ajuda os adolescentes a perceberem questões que até então não haviam pensado. Muitos deles sofrem com a separação dos pais, com a perda da bisavó materna, por exemplo. Esses rompimentos incomodam muito. E quando o adolescente é muito sensível consegue perceber de maneira clara que os conflitos existem, principalmente entre seus pais e isso lhes causam chateação por sentir que às vezes as pessoas não são transparentes. Por outro lado, o processo arteterapêutico traz alegria para eles, pois se sentem confiantes nas profissionais que desenvolvem as oficinas, e conseguem compartilhar seus sentimentos.

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BERNARDO, Patrícia Pinna.A prática da Arteterapia: correlações entre temas e recursos, vol. III: Mitologia africana e Arteterapia: a força dos elementos em nossa vida. 2. ed. São Paulo: Arterapinna, 2012.

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Page 4: REVISTA EXATTO MARÇO

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SUMÁRIO

05. COMUNICAÇÃO INTER-INTRAPESSOAL ATRAVÉSDA ARTETERAPIA10. MUSICALIZAÇÃO INFANTIL CONTEXTO LÚDICO DALINGUAGEM MUSICAL15. MÚSICA, EDUCAÇÃO INFANTIL E SEUS DIFERENTESCONTEXTOS19. A CONTAÇÃO DE HISTÓRIA COMO PRÁTICAEDUCATIVA RESUMO

O objetivo deste artigo é refletir sobre a importância da Arteterapia como ferramenta para desenvolver a comunicação inter e intrapessoal do adolescente por meio da criatividade. Com os instrumentos da Arteterapia buscou-se auxiliar os adolescentes a desenvolver a comunicação inter e intrapessoal, assim como aflorar suas potencialidades e criatividade por meio de estímulos artísticos. A Arteterapia cria recursos de expressão e criatividade que possibilitam que o adolescente libere suas emoções, seus conflitos e angústias. Possibilita que o adolescente seja capaz de enxergar esses conflitos e assim equalizar sua mente ao seu corpo, melhorando sua qualidade de vida. Através das bibliografias que envolvem o tema foi possível compreender que cada ser humano tem seu potencial individualizado; que a arte é capaz de transformar e resgatar esse potencial criativo e assim possibilitar a expressão e o autoconhecimento.

Palavras-chave: Arteterapia; Adolescente; Comunicação

INTRODUÇÃO

Este artigo propõe discutir a importância da Arteterapia no processo de manifestação da criatividade dos adolescentes. Nesse processo, os potenciais criativos são resgatados através de mediadores, tais como: música (como recurso que restaura a expressão de corpo, mente e alma); mandalas (como orientador no processo criativo); pintura (como facilitador para trazer vivências do inconsciente para o consciente); desenhos (como recurso de exteriorizar medos e angústias por meio de símbolos); dança (como vivência individual ou em grupo, ajudando assim na integração dos conteúdos internos da psique e facilitando a expressão individual); escultura e colagem (como recurso de dar forma a sentimentos e sensações). Além disso, por meio desses recursos, busca-se facilitar a comunicação da expressão emocional e aprofundar o conhecimento interno.A artista plástica polonesa Fayga Ostrower, em seu livro Criatividade e processo de criação, afirma que:O potencial criador elabora-se nos múltiplos níveis do ser sensível-cultural-consciente do homem, e se faz presente nos múltiplos caminhos em que o homem procura captar e configurar as realidades da vida. Os caminhos podem cristalizar-se em formas de comunicação, em ordenações concluídas, mas a criatividade como potência se refaz sempre. A produtividade do homem, em vez de se esgotar, liberando-se, amplia-se. (OSTROWER, 2012, p.27).O criar em Arteterapia através dos recursos que ela apresenta tais como a imaginação e o simbolismo das metáforas, acaba facilitando a comunicação na expressão emocional e aprofunda o conhecimento interno trazendo assim do inconsciente todo seu potencial criativo.Na sociedade contemporânea, a conexão com o sentido simbólico e iniciático do rito de passagem foi perdida. Por isso, se faz importante, principalmente para o adolescente, a reflexão sobre as etapas e passagens que ele enfrenta na vida.Nesse sentido, a Arteterapia pode ajudar a vivenciar esses processos de transformação.[...] no dinamismo de alteridade, que corresponde à época da adolescência, os opostos são relacionados de maneira igualitária e dialética, sendo vivenciados como aspectos diferentes de uma mesma realidade. Essa fase é voltada para o relacionamento com o outro e com a própria contraparte sexual, sendo, portanto, regidos pelos arquétipos da Anima (que corresponde aos aspectos do feminino na alma masculina), do Animus (que corresponde aos aspectos masculinos na alma feminina), e do Coniunctio (que se refere à conjunção de opostos, a reunião dessas duas “metades” num todo que as congrega e abrange como partes de uma única e indivisa realidade), caracterizando-se “por sua capacidade criativa face ao confronto dos opostos” (BYINGTON, 1983, p. 24, apud BERNARDO, 2012, p.38).A autora traz a importância do autoconhecimento para união dos opostos, na verdade sua integração ajuda o adolescente a entrar em contato com seu inconsciente sem perder a consciência no processo. Com isso consegue-se, por meio da arte, avivar no adolescente seus conhecimentos, descobrindo um mundo infinito de possibilidades ao trabalhar suas emoções, e assim levá-los a olhar para si de maneira inteira. Mostrar para eles, por meio dos trabalhos, que não existe feio ou bonito, que nada é rígido, que tudo pode ser transformado pela busca interior.Assim sendo, o objetivo geral deste artigo é desenvolver a comunicação inter e intrapessoal do adolescente por meio da

criatividade.

COMUNICAÇÃO INTER E INTRAPESSOAL

Existem vários tipos de comunicação, e as pessoas podem comunicar-se pelo código Morse, pela escrita, por gestos, pelo telefone, etc.; uma empresa, uma administração, até mesmo um Estado, podem comunicar-se com seus membros por intermédio de circulares, cartazes, mensagens radiofônicas ou televisionadas, etc.Toda comunicação tem por objetivo a transmissão de uma mensagem [...]. (VANOYE, 2011, p.1]A comunicação é um processo de troca de informações entre os seres das mais diversas maneiras. É um processo que envolve uma codificação, isto é, a formação de um código, e a decodificação, a busca do entendimento deste código, em forma de mensagens que permitem a troca de informações entre os indivíduos. Não há só a comunicação verbal, há vários tipos de comunicação e cada um deles tem características que o diferencia e o integra ao todo. (VANOYE, 2011, p.1).Segundo o Dicionário de Comunicação, a palavra comunicação deriva do latim communicare, cujo significado seria: “tornar comum”, “partilhar”, “repartir”, “associar”, “trocar opiniões”, “conferenciar”. Comunicar implica participação [...], em interação, em troca de mensagens, em emissão ou recebimento de informações novas. (RABAÇA & BARBOSA, 1995, p.151).Neste artigo, enfocamos as comunicações inter e intrapessoal. A comunicação interpessoal pode ser definida como aquela que acontece de alguém para alguém. (RABAÇA E BARBOSA, 1995, p.166). Já a comunicação intrapessoal é aquela que ocorre dentro de alguém. Está relacionada com as ideias e desejos do indivíduo; é a sua voz interior. Dessa forma, a comunicação intrapessoal é extremamente importante uma vez que representa o diálogo interno.

ADOLESCÊNCIA

A adolescência é a fase que marca a passagem entre a infância e a idade adulta. Segundo o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), é considerado adolescente aquele que tem entre 12 e 18 anos de idade.[...] o Adolescente passa por desequilíbrios e instabilidade, extremas de acordo com o que conhecemos dele. Em nosso meio cultural, mostra-nos períodos de relação, de introversão, alternando com audácia, timidez, descoordenação, urgência, desinteresse ou apatia. (ABERASTURY, 2011, p.28)Para Aberastury, a adolescência é uma fase muito difícil, pois a pessoa ainda não sabe quem é então ela sai em busca de autoafirmação. É fundamental para todo ser humano sentir-se único para poder seguir seu desenvolvimento. O adolescente também precisa de uma afirmação de si mesmo e que, ao mesmo tempo, é vivenciada no coletivo, do sentimento de pertencer a um grupo e da identificação da “turma”. Alguns adolescentes podem apresentar comportamentos infantis, resultado do medo e da insegurança de deixar a dependência dos pais e assumir suas próprias escolhas e poder caminhar com certa autonomia.Ainda segundo este autor, as mudanças corporais nessa fase ficam muito evidenciadas: essas transformações são acompanhadas da modificação na voz (que fica mais grave), do crescimento ósseo (acompanhado do alargamento do tronco e dos ombros), do enrijecimento muscular, do aumento da oleosidade da pele (o que pode causar o aparecimento de acnes). Todas essas mudanças podem causar perplexidade ao adolescente fazendo com que ele se sinta desajeitado diante desse corpo que é seu, mas que lhe soa estranho.De certa maneira, o adolescente poderá passar por recorrentes crises depressivas e dos estados de luto e de tristeza típicos da preparação da adolescência (morte da infância). Um bom mundo interior surge de uma relação satisfatória com os pais internalizados e da capacidade criativa que eles proporcionam.Segundo a Psicologia Analítica, as transformações ocorrem primeiro na psique: uma mudança nos arquétipos do pai e da mãe que aparecem na infância, depois dão lugar para o arquétipo do herói, e por seu intermédio, oferece segurança para enfrentar situações e desafios novos.[...] Estão presentes em nosso desenvolvimento psíquico, encontrados nos antigos rituais de iniciação e passagem de um ciclo a outro: um mergulho no caos (abertura ao novo), uma morte simbólica (corte com formas cristalizadas e desatualizadas de relacionamento com nossa realidade interno-externa), e um renascimento (ampliação de consciência, inaugurando um novo ciclo). (BERNARDO, 2008, p.115).Essa fase também é marcada pela ativação dos arquétipos de anima (na psique do menino) e deanimus (na psique da menina), arquétipos responsáveis pelo relacionamento com o sexo oposto. É nesse ciclo que o adolescente pode se diferenciar dos pais, que até então eram modelos para ele, para poder ir ao encontro de sua própria identidade, fase essa chamada de alteridade, que vai permitir ao adolescente conhecer o outro, e sua contraparte.

PROCESSO CRIATIVO

O potencial criador elabora-se nos múltiplos níveis do ser sensível-cultural-consciente do homem, e se faz presente nos múltiplos caminhos em que o homem procura captar e configurar as realidades da vida. Os caminhos podem cristalizar-se em formas de comunicação, em ordenações concluídas, mas a criatividade como potência se refaz sempre. A produtividade do homem, em vez de se esgotar, liberando-se, amplia-se. (OSTROWER, 2012, p.27).Segundo Ostrower, se pensarmos no potencial criador num âmbito geral, perceberemos que temos um infinito mundo de possibilidades. Criamos e excluímos realidades e possibilidades o tempo todo, com isso muitas vezes desconstruímos nossas ideias para poder reconstruir novamente e assim seguimos como se estivéssemos sempre montando um quebra

cabeça. Quando unimos os aspectos em oposição surgem novas alternativas e, com elas, a diversificação, fazendo que o processo de transformação crie e recrie o tempo todo.Assim, através das vivências conseguimos unificar os potenciais criativos e integrá-los em nossa maneira de nos comunicarmos.

JUNG E ARTETERAPIA

Carl Gustav Jung nasceu na Suíça, em 26 de julho de 1875, e morreu a 6 de junho de 1961, aos 86 anos. De família religiosa, desde criança se interessou pela filosofia e por questões espirituais. Estudou medicina, dando grande atenção aos fenômenos psíquicos (GUIMARÃES, 1997). Após ter-se formado, dedicou-se a pesquisar o inconsciente e formulou uma nova teoria sobre esse tema: a Psicologia Analítica.Segundo Tonietto (2005), Jung denominou Psicologia Analítica ao conjunto de conhecimentos construídos a partir da sua prática clínica e de suas experiências vividas na pesquisa da psique e seus conteúdos. O maior interesse desse estudioso estava relacionado com o mistério da psique humana, fonte de todas as atividades do homem, às "moléstias da alma”, e às formas de superar e transformar enfermidades em instrumento de desenvolvimento da psique.Em sua teoria, Jung distingue na pessoa vários elementos, dentre eles: a consciência e o inconsciente coletivo, a persona, o ego, eu, o animus, ânimo e a sombra, e considera a personalidade como um ideal irrealizável. Diz que no mesmo indivíduo existem diversos aspectos diferentes e contraditórios.Para Jung, um conteúdo é consciente quando é conhecido ou reconhecido pelo ego e por inconsciente quando ocorre o oposto. De acordo com suas próprias palavras:Por consciência entendo a referência dos conteúdos psíquicos ao eu enquanto assim for entendida pelo eu. Referências ao eu, enquanto não entendidas como tais pelo eu, são inconscientes. (JUNG, O. C. VI, § 796).Outro modo de se entender o significado de consciente, segundo Jung, pode ser encontrado na explicação de Edinger:Parte do fenômeno da consciência diz respeito à discriminação entre sujeito e objeto. Estou ciente de que sou um ser consciente; sou o sujeito dessa consciência. Quando olho para o mundo, vejo objetos e, no processo de me separar da identificação com esses objetos, ocorre uma separação entre sujeito e objeto. Essa é a forma como a consciência se desenvolve, separando sujeito de objeto. (Edinger, 2004)Dentre os vários conceitos próprios da Psicologia Analítica, existe o do “eu”, ou “ego”, que é à base da consciência, isto é, o “centro subjetivo do senso de identidade do indivíduo” (Edinger, 2004), por isso, todo conteúdo da consciência deve se relacionar ao sujeito, ao ego. O ego é o centro da personalidade.Por sua vez, “sombra” é o nome que Jung deu para os aspectos da personalidade que são desconhecidos do indivíduo, isto é, os que não estão em sua consciência. São os traços “obscuros” do caráter ou da personalidade, mas que não significa que sejam unicamente fraquezas e defeitos, são todos os traços ou características que ficam fora do campo da consciência. Conscientizar-se da sombra é fundamental em todo processo de autoconhecimento (Tonietto, 2005).Também é essencial que conheçamos o significado de “persona” para podermos compreender a teoria de Jung. Para ele:A persona é um complicado sistema de relação entre a consciência individual e a sociedade; é uma espécie de máscara destinada, por um lado, a produzir um determinado efeito sobre os outros e por outro lado a ocultar a verdadeira natureza do indivíduo. (JUNG, O. C. VII, § 305).Além dos termos já colocados, há outro de fundamental importância para a Psicologia Analítica: a “anima”. Esse termo abrange as experiências importantes que o homem tem de uma mulher. O arquétipo da anima é formado pelo acúmulo da repressão das tendências femininas presentes no inconsciente do homem. Geralmente, o caráter da anima de um homem é “moldado” pela mãe.Não há homem algum tão exclusivamente masculino que não possua em si algo de feminino. (“...) A repressão das tendências e traços femininos determina um acúmulo dessas pretensões no inconsciente.” (JUNG, O. C. VII, § 297).Ao realizar suas pesquisas, Jung verificou que é por meio de símbolos que o inconsciente se expressa. De acordo com ele, os símbolos religiosos, como a cruz dos cristãos, a estrela de Davi dos judeus, o Dharma dos budistas, são imagens que estão presentes no inconsciente coletivo do ser humano.Enquanto o inconsciente pessoal consiste fundamentalmente de material reprimido e de complexos, o inconsciente coletivo é composto fundamentalmente de uma tendência para sensibilizar-se com certas imagens, ou melhor, símbolos que constelam sentimentos profundos de apelo universal, os arquétipos: da mesma forma que animais e homens parecem possuir atitudes inatas, chamadas de instintos, também é provável que em nosso psiquismo exista um material psíquico com alguma analogia com os instintos. Talvez, as imagens arquetípicas sejam algo como figurações dos próprios instintos, num nível mais sofisticado, psíquico. Assim, não é mais arriscado admitir a hipótese do inconsciente coletivo, comum a toda a humanidade, do que admitir a existência de instintos comuns a todos os seres vivos. (Guimarães, 1997).Posteriormente, estudos realizados sobre os trabalhos de Jung revelaram que a teoria dos símbolos, dos arquétipos do inconsciente coletivo, é de fundamental importância para compreensão dos mistérios da criação artística (aspecto que interessa ao nosso tema, a Arte terapia).Em seu livro “Tipos Psicológicos”, de 1921, Jung define duas disposições típicas da consciência: introvertida e extrovertida. O ser introvertido (metido consigo mesmo) comporta-se de maneira adequada à abstração (devaneios), sua imagem está sempre dirigida à situação não pública, isto é, privar-se de espectadores e dos objetos de desejos, como a impedir a supremacia do objeto, ao contrário do extrovertido, que se comporta positivamente em face do objeto, afirmando a sua significação de tal forma, que orientará sua atração existente no sujeito, ou seja, no individual e relacioná-la para si de modo constante.Outra temática famosa com respeito a Jung é a sua teoria dos "tipos psicológicos". Foi com base na análise da controvérsia entre as personalidades de Freud e outro seu discípulo famoso, e também dissidente, Alfred Adler, que Jung consegue delinear a tipologia do "introvertido" e do "extrovertido". Freud seria o "extrovertido", Adler, o "introvertido". Para o extrovertido, os acontecimentos externos são da máxima importância, ao nível consciente; em compensação, ao nível inconsciente, a atividade psíquica do extrovertido concentra-se no seu próprio eu. De modo inverso, para o introvertido o

que conta é a resposta subjetiva aos acontecimentos externos, ao passo que, a nível inconsciente, o introvertido é compelido para o mundo externo. (Guimarães, 1997)Esses dois tipos de indivíduos são distintos e o contraste é visível em sua existência, inclusive aos leigos. É comum em sociedade depararmo-nos com tais seres, tão diferentes, sendo que os de natureza fechada são difíceis de conhecer, pois sua timidez impede qualquer aproximação, aprofundamento, que por vezes não deixa o sujeito desenvolver suas capacidades; e, os de natureza aberta, são mais acessíveis, se relacionam bem em sociedade, em consequência, conseguem mais oportunidade em seu desenvolvimento.Jung vai mais adiante a sua obra “Tipos Psicológicos” (1921) dando características detalhadas dos introvertidos e extrovertidos, descrevendo-os até nos sentimentos, oferecendo um quadro circular, cuja disposição permite ao leitor observações e visão ampla nos processos da vida humana e de sua gênese.Para Jung (1920), “Arte é a expressão mais pura que há para a demonstração do inconsciente de cada um. É a liberdade de expressão, é sensibilidade, criatividade, é vida". Através deste processo, a energia psíquica consegue transformar-se em imagens e através dos símbolos, colocar seus conteúdos mais internos e profundos.A Arteterapia baseia-se na crença de que o processo criativo envolvido na atividade artística é terapêutico e enriquecedor da qualidade de vida das pessoas. Por meio do criar em arte e do refletir sobre os processos e os trabalhos artísticos resultantes, as pessoas podem ampliar o conhecimento de si e dos outros, aumentar a autoestima, lidar melhor com sintomas, estresse e experiências traumáticas, desenvolver recursos físicos, cognitivos, emocionais e desfrutar do prazer vitalizador do fazer artístico.

O PROCESSO ARTETERAPÊUTICO

O processo arteterapêutico é composto por oficinas, iremos citar apenas uma para exemplificar como a dinâmica acontece. O objetivo é proporcionar aos leitores, uma reflexão sobre sua maneira única de se apresentar ao mundo.O ponto principal da oficina é a atividade “Só eu sou Eu” (ALVAREZ, S.) Atividade de colagem apresentada em sala de aula.Geralmente os encontros iniciam-se com um lanche. É um momento de muita descontração, para que os adolescentes se conheçam. Nesse encontro é importante falar sobre os conceitos e princípios da arteterapia e também sobre o projeto e oficinas de criatividade. Os adolescentes são questionados sobre o significado de seus nomes e quem os nomeou. Neste primeiro encontro, é fornecido a cada um dos participantes uma caixa de madeira para que eles guardem seus trabalhos até a última oficina, ao término podem levá-la para casa. Os adolescentes decoram a caixa com vários materiais que ficam à disposição. A atividade de sensibilização-o totem do nome o que deve ser recortado e colado na caixa.A atividade “Só eu sou Eu” é um trabalho de imaginação do tamanho do universo, do planeta, do continente, do país, do estado e da cidade onde moram. Das 7 bilhões de pessoas que existem no mundo, ninguém é igual a ninguém. Cada participante recebe um boneco para servir de base da colagem e começam a procura pelas imagens. No momento em que eles começam a colagem, são questionados sobre a escolha das mesmas.Segundo Fuão, “a collage permite ver o que se esconde no interior de seu corpo, quando está desapropriado de sua falsa pele, sem sua representação fotográfica de seu narcisismo” (FUÃO, 2011, p.47).A atividade finaliza com os comentários dos adolescentes sobre o que o boneco representa.Segundo Scarpato, “intimidade não no sentido de contato com o conhecido, familiar, mas um espaço singular de abertura protegida pelo vínculo, onde podemos deixar vir o desconhecido em nós, o estranho, o novo”. (SCARPATO, 2011, p.107.)A atividade trabalha a maneira única de se apresentarem ao mundo. Chevalier & Gheerbrant falam sobre esses símbolos:O ar é o meio próprio da luz, do alçar vôo, do perfume, da cor, das vibrações interplanetárias; é a via de comunicação entre o céu e a terra [...], simbolicamente, a terra opõe-se ao céu como o princípio ativo; o aspecto feminino ao aspecto masculino da manifestação; a obscuridade à luz; o yin ao yang [...], a água é o símbolo das energias inconscientes, das virtudes informes da alma, das motivações secretas e desconhecidas [...] o fogo na qualidade de elemento que queima e consome, é também símbolo de purificação e de degenerescência. (CHEVALIER GHEERBRANT, 2007, p.21; 443; 68; 878)

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A proposta deste artigo foi aliar a Arteterapia como ferramenta para promover a possibilidade da comunicação inter e intrapessoal por meio da criatividade. A utilização das atividades criativas funcionam como uma ponte levando os adolescentes a exteriorizar seu mundo interno e dando-lhes liberdade para expressar suas alegrias, angústias e também revisitar seus valores, suas crenças e seus costumes. Avivar a criatividade desses adolescentes por meio da Arteterapia mostrando-lhes novos atributos, novas maneiras de pensar e de agir e de se relacionar consigo e com o outro poderá ajudá-los a proporcionar mudanças significativas para a melhoria do seu bem-estar e do ambiente onde vivem.Concluímos que o processo arteterapêutico, contribuiu para descobertas importantes para estes adolescentes. Faz-se necessário criar um espaço em que os adolescentes possam se expressar, falar de suas angústias, conflitos, medos e alegrias. As oficinas são encontros pontuais, em que os adolescentes podem se expressar através de palavras, sem medo de se expor, de ficar inseguro, e terem medo de que possam magoar alguém se falarem o que sentem.O processo arte terapêutico ajuda os adolescentes a perceberem questões que até então não haviam pensado. Muitos deles sofrem com a separação dos pais, com a perda da bisavó materna, por exemplo. Esses rompimentos incomodam muito. E quando o adolescente é muito sensível consegue perceber de maneira clara que os conflitos existem, principalmente entre seus pais e isso lhes causam chateação por sentir que às vezes as pessoas não são transparentes. Por outro lado, o processo arteterapêutico traz alegria para eles, pois se sentem confiantes nas profissionais que desenvolvem as oficinas, e conseguem compartilhar seus sentimentos.

REFERÊNCIAS THE AMERICAN ART THERAPY ASSOCIATION [AATA]. Defining Art Therapy. Disponível em Acesso em: 18.mar.2021.

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REVISTA EXATTO EDUCACIONAL | V.3 | N.3 | MARÇO 2021

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RESUMO O objetivo deste artigo é refletir sobre a importância da Arteterapia como ferramenta para desenvolver a comunicação inter e intrapessoal do adolescente por meio da criatividade. Com os instrumentos da Arteterapia buscou-se auxiliar os adolescentes a desenvolver a comunicação inter e intrapessoal, assim como aflorar suas potencialidades e criatividade por meio de estímulos artísticos. A Arteterapia cria recursos de expressão e criatividade que possibilitam que o adolescente libere suas emoções, seus conflitos e angústias. Possibilita que o adolescente seja capaz de enxergar esses conflitos e assim equalizar sua mente ao seu corpo, melhorando sua qualidade de vida. Através das bibliografias que envolvem o tema foi possível compreender que cada ser humano tem seu potencial individualizado; que a arte é capaz de transformar e resgatar esse potencial criativo e assim possibilitar a expressão e o autoconhecimento.

Palavras-chave: Arteterapia; Adolescente; Comunicação

INTRODUÇÃO

Este artigo propõe discutir a importância da Arteterapia no processo de manifestação da criatividade dos adolescentes. Nesse processo, os potenciais criativos são resgatados através de mediadores, tais como: música (como recurso que restaura a expressão de corpo, mente e alma); mandalas (como orientador no processo criativo); pintura (como facilitador para trazer vivências do inconsciente para o consciente); desenhos (como recurso de exteriorizar medos e angústias por meio de símbolos); dança (como vivência individual ou em grupo, ajudando assim na integração dos conteúdos internos da psique e facilitando a expressão individual); escultura e colagem (como recurso de dar forma a sentimentos e sensações). Além disso, por meio desses recursos, busca-se facilitar a comunicação da expressão emocional e aprofundar o conhecimento interno.A artista plástica polonesa Fayga Ostrower, em seu livro Criatividade e processo de criação, afirma que:O potencial criador elabora-se nos múltiplos níveis do ser sensível-cultural-consciente do homem, e se faz presente nos múltiplos caminhos em que o homem procura captar e configurar as realidades da vida. Os caminhos podem cristalizar-se em formas de comunicação, em ordenações concluídas, mas a criatividade como potência se refaz sempre. A produtividade do homem, em vez de se esgotar, liberando-se, amplia-se. (OSTROWER, 2012, p.27).O criar em Arteterapia através dos recursos que ela apresenta tais como a imaginação e o simbolismo das metáforas, acaba facilitando a comunicação na expressão emocional e aprofunda o conhecimento interno trazendo assim do inconsciente todo seu potencial criativo.Na sociedade contemporânea, a conexão com o sentido simbólico e iniciático do rito de passagem foi perdida. Por isso, se faz importante, principalmente para o adolescente, a reflexão sobre as etapas e passagens que ele enfrenta na vida.Nesse sentido, a Arteterapia pode ajudar a vivenciar esses processos de transformação.[...] no dinamismo de alteridade, que corresponde à época da adolescência, os opostos são relacionados de maneira igualitária e dialética, sendo vivenciados como aspectos diferentes de uma mesma realidade. Essa fase é voltada para o relacionamento com o outro e com a própria contraparte sexual, sendo, portanto, regidos pelos arquétipos da Anima (que corresponde aos aspectos do feminino na alma masculina), do Animus (que corresponde aos aspectos masculinos na alma feminina), e do Coniunctio (que se refere à conjunção de opostos, a reunião dessas duas “metades” num todo que as congrega e abrange como partes de uma única e indivisa realidade), caracterizando-se “por sua capacidade criativa face ao confronto dos opostos” (BYINGTON, 1983, p. 24, apud BERNARDO, 2012, p.38).A autora traz a importância do autoconhecimento para união dos opostos, na verdade sua integração ajuda o adolescente a entrar em contato com seu inconsciente sem perder a consciência no processo. Com isso consegue-se, por meio da arte, avivar no adolescente seus conhecimentos, descobrindo um mundo infinito de possibilidades ao trabalhar suas emoções, e assim levá-los a olhar para si de maneira inteira. Mostrar para eles, por meio dos trabalhos, que não existe feio ou bonito, que nada é rígido, que tudo pode ser transformado pela busca interior.Assim sendo, o objetivo geral deste artigo é desenvolver a comunicação inter e intrapessoal do adolescente por meio da

criatividade.

COMUNICAÇÃO INTER E INTRAPESSOAL

Existem vários tipos de comunicação, e as pessoas podem comunicar-se pelo código Morse, pela escrita, por gestos, pelo telefone, etc.; uma empresa, uma administração, até mesmo um Estado, podem comunicar-se com seus membros por intermédio de circulares, cartazes, mensagens radiofônicas ou televisionadas, etc.Toda comunicação tem por objetivo a transmissão de uma mensagem [...]. (VANOYE, 2011, p.1]A comunicação é um processo de troca de informações entre os seres das mais diversas maneiras. É um processo que envolve uma codificação, isto é, a formação de um código, e a decodificação, a busca do entendimento deste código, em forma de mensagens que permitem a troca de informações entre os indivíduos. Não há só a comunicação verbal, há vários tipos de comunicação e cada um deles tem características que o diferencia e o integra ao todo. (VANOYE, 2011, p.1).Segundo o Dicionário de Comunicação, a palavra comunicação deriva do latim communicare, cujo significado seria: “tornar comum”, “partilhar”, “repartir”, “associar”, “trocar opiniões”, “conferenciar”. Comunicar implica participação [...], em interação, em troca de mensagens, em emissão ou recebimento de informações novas. (RABAÇA & BARBOSA, 1995, p.151).Neste artigo, enfocamos as comunicações inter e intrapessoal. A comunicação interpessoal pode ser definida como aquela que acontece de alguém para alguém. (RABAÇA E BARBOSA, 1995, p.166). Já a comunicação intrapessoal é aquela que ocorre dentro de alguém. Está relacionada com as ideias e desejos do indivíduo; é a sua voz interior. Dessa forma, a comunicação intrapessoal é extremamente importante uma vez que representa o diálogo interno.

ADOLESCÊNCIA

A adolescência é a fase que marca a passagem entre a infância e a idade adulta. Segundo o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), é considerado adolescente aquele que tem entre 12 e 18 anos de idade.[...] o Adolescente passa por desequilíbrios e instabilidade, extremas de acordo com o que conhecemos dele. Em nosso meio cultural, mostra-nos períodos de relação, de introversão, alternando com audácia, timidez, descoordenação, urgência, desinteresse ou apatia. (ABERASTURY, 2011, p.28)Para Aberastury, a adolescência é uma fase muito difícil, pois a pessoa ainda não sabe quem é então ela sai em busca de autoafirmação. É fundamental para todo ser humano sentir-se único para poder seguir seu desenvolvimento. O adolescente também precisa de uma afirmação de si mesmo e que, ao mesmo tempo, é vivenciada no coletivo, do sentimento de pertencer a um grupo e da identificação da “turma”. Alguns adolescentes podem apresentar comportamentos infantis, resultado do medo e da insegurança de deixar a dependência dos pais e assumir suas próprias escolhas e poder caminhar com certa autonomia.Ainda segundo este autor, as mudanças corporais nessa fase ficam muito evidenciadas: essas transformações são acompanhadas da modificação na voz (que fica mais grave), do crescimento ósseo (acompanhado do alargamento do tronco e dos ombros), do enrijecimento muscular, do aumento da oleosidade da pele (o que pode causar o aparecimento de acnes). Todas essas mudanças podem causar perplexidade ao adolescente fazendo com que ele se sinta desajeitado diante desse corpo que é seu, mas que lhe soa estranho.De certa maneira, o adolescente poderá passar por recorrentes crises depressivas e dos estados de luto e de tristeza típicos da preparação da adolescência (morte da infância). Um bom mundo interior surge de uma relação satisfatória com os pais internalizados e da capacidade criativa que eles proporcionam.Segundo a Psicologia Analítica, as transformações ocorrem primeiro na psique: uma mudança nos arquétipos do pai e da mãe que aparecem na infância, depois dão lugar para o arquétipo do herói, e por seu intermédio, oferece segurança para enfrentar situações e desafios novos.[...] Estão presentes em nosso desenvolvimento psíquico, encontrados nos antigos rituais de iniciação e passagem de um ciclo a outro: um mergulho no caos (abertura ao novo), uma morte simbólica (corte com formas cristalizadas e desatualizadas de relacionamento com nossa realidade interno-externa), e um renascimento (ampliação de consciência, inaugurando um novo ciclo). (BERNARDO, 2008, p.115).Essa fase também é marcada pela ativação dos arquétipos de anima (na psique do menino) e deanimus (na psique da menina), arquétipos responsáveis pelo relacionamento com o sexo oposto. É nesse ciclo que o adolescente pode se diferenciar dos pais, que até então eram modelos para ele, para poder ir ao encontro de sua própria identidade, fase essa chamada de alteridade, que vai permitir ao adolescente conhecer o outro, e sua contraparte.

PROCESSO CRIATIVO

O potencial criador elabora-se nos múltiplos níveis do ser sensível-cultural-consciente do homem, e se faz presente nos múltiplos caminhos em que o homem procura captar e configurar as realidades da vida. Os caminhos podem cristalizar-se em formas de comunicação, em ordenações concluídas, mas a criatividade como potência se refaz sempre. A produtividade do homem, em vez de se esgotar, liberando-se, amplia-se. (OSTROWER, 2012, p.27).Segundo Ostrower, se pensarmos no potencial criador num âmbito geral, perceberemos que temos um infinito mundo de possibilidades. Criamos e excluímos realidades e possibilidades o tempo todo, com isso muitas vezes desconstruímos nossas ideias para poder reconstruir novamente e assim seguimos como se estivéssemos sempre montando um quebra

cabeça. Quando unimos os aspectos em oposição surgem novas alternativas e, com elas, a diversificação, fazendo que o processo de transformação crie e recrie o tempo todo.Assim, através das vivências conseguimos unificar os potenciais criativos e integrá-los em nossa maneira de nos comunicarmos.

JUNG E ARTETERAPIA

Carl Gustav Jung nasceu na Suíça, em 26 de julho de 1875, e morreu a 6 de junho de 1961, aos 86 anos. De família religiosa, desde criança se interessou pela filosofia e por questões espirituais. Estudou medicina, dando grande atenção aos fenômenos psíquicos (GUIMARÃES, 1997). Após ter-se formado, dedicou-se a pesquisar o inconsciente e formulou uma nova teoria sobre esse tema: a Psicologia Analítica.Segundo Tonietto (2005), Jung denominou Psicologia Analítica ao conjunto de conhecimentos construídos a partir da sua prática clínica e de suas experiências vividas na pesquisa da psique e seus conteúdos. O maior interesse desse estudioso estava relacionado com o mistério da psique humana, fonte de todas as atividades do homem, às "moléstias da alma”, e às formas de superar e transformar enfermidades em instrumento de desenvolvimento da psique.Em sua teoria, Jung distingue na pessoa vários elementos, dentre eles: a consciência e o inconsciente coletivo, a persona, o ego, eu, o animus, ânimo e a sombra, e considera a personalidade como um ideal irrealizável. Diz que no mesmo indivíduo existem diversos aspectos diferentes e contraditórios.Para Jung, um conteúdo é consciente quando é conhecido ou reconhecido pelo ego e por inconsciente quando ocorre o oposto. De acordo com suas próprias palavras:Por consciência entendo a referência dos conteúdos psíquicos ao eu enquanto assim for entendida pelo eu. Referências ao eu, enquanto não entendidas como tais pelo eu, são inconscientes. (JUNG, O. C. VI, § 796).Outro modo de se entender o significado de consciente, segundo Jung, pode ser encontrado na explicação de Edinger:Parte do fenômeno da consciência diz respeito à discriminação entre sujeito e objeto. Estou ciente de que sou um ser consciente; sou o sujeito dessa consciência. Quando olho para o mundo, vejo objetos e, no processo de me separar da identificação com esses objetos, ocorre uma separação entre sujeito e objeto. Essa é a forma como a consciência se desenvolve, separando sujeito de objeto. (Edinger, 2004)Dentre os vários conceitos próprios da Psicologia Analítica, existe o do “eu”, ou “ego”, que é à base da consciência, isto é, o “centro subjetivo do senso de identidade do indivíduo” (Edinger, 2004), por isso, todo conteúdo da consciência deve se relacionar ao sujeito, ao ego. O ego é o centro da personalidade.Por sua vez, “sombra” é o nome que Jung deu para os aspectos da personalidade que são desconhecidos do indivíduo, isto é, os que não estão em sua consciência. São os traços “obscuros” do caráter ou da personalidade, mas que não significa que sejam unicamente fraquezas e defeitos, são todos os traços ou características que ficam fora do campo da consciência. Conscientizar-se da sombra é fundamental em todo processo de autoconhecimento (Tonietto, 2005).Também é essencial que conheçamos o significado de “persona” para podermos compreender a teoria de Jung. Para ele:A persona é um complicado sistema de relação entre a consciência individual e a sociedade; é uma espécie de máscara destinada, por um lado, a produzir um determinado efeito sobre os outros e por outro lado a ocultar a verdadeira natureza do indivíduo. (JUNG, O. C. VII, § 305).Além dos termos já colocados, há outro de fundamental importância para a Psicologia Analítica: a “anima”. Esse termo abrange as experiências importantes que o homem tem de uma mulher. O arquétipo da anima é formado pelo acúmulo da repressão das tendências femininas presentes no inconsciente do homem. Geralmente, o caráter da anima de um homem é “moldado” pela mãe.Não há homem algum tão exclusivamente masculino que não possua em si algo de feminino. (“...) A repressão das tendências e traços femininos determina um acúmulo dessas pretensões no inconsciente.” (JUNG, O. C. VII, § 297).Ao realizar suas pesquisas, Jung verificou que é por meio de símbolos que o inconsciente se expressa. De acordo com ele, os símbolos religiosos, como a cruz dos cristãos, a estrela de Davi dos judeus, o Dharma dos budistas, são imagens que estão presentes no inconsciente coletivo do ser humano.Enquanto o inconsciente pessoal consiste fundamentalmente de material reprimido e de complexos, o inconsciente coletivo é composto fundamentalmente de uma tendência para sensibilizar-se com certas imagens, ou melhor, símbolos que constelam sentimentos profundos de apelo universal, os arquétipos: da mesma forma que animais e homens parecem possuir atitudes inatas, chamadas de instintos, também é provável que em nosso psiquismo exista um material psíquico com alguma analogia com os instintos. Talvez, as imagens arquetípicas sejam algo como figurações dos próprios instintos, num nível mais sofisticado, psíquico. Assim, não é mais arriscado admitir a hipótese do inconsciente coletivo, comum a toda a humanidade, do que admitir a existência de instintos comuns a todos os seres vivos. (Guimarães, 1997).Posteriormente, estudos realizados sobre os trabalhos de Jung revelaram que a teoria dos símbolos, dos arquétipos do inconsciente coletivo, é de fundamental importância para compreensão dos mistérios da criação artística (aspecto que interessa ao nosso tema, a Arte terapia).Em seu livro “Tipos Psicológicos”, de 1921, Jung define duas disposições típicas da consciência: introvertida e extrovertida. O ser introvertido (metido consigo mesmo) comporta-se de maneira adequada à abstração (devaneios), sua imagem está sempre dirigida à situação não pública, isto é, privar-se de espectadores e dos objetos de desejos, como a impedir a supremacia do objeto, ao contrário do extrovertido, que se comporta positivamente em face do objeto, afirmando a sua significação de tal forma, que orientará sua atração existente no sujeito, ou seja, no individual e relacioná-la para si de modo constante.Outra temática famosa com respeito a Jung é a sua teoria dos "tipos psicológicos". Foi com base na análise da controvérsia entre as personalidades de Freud e outro seu discípulo famoso, e também dissidente, Alfred Adler, que Jung consegue delinear a tipologia do "introvertido" e do "extrovertido". Freud seria o "extrovertido", Adler, o "introvertido". Para o extrovertido, os acontecimentos externos são da máxima importância, ao nível consciente; em compensação, ao nível inconsciente, a atividade psíquica do extrovertido concentra-se no seu próprio eu. De modo inverso, para o introvertido o

que conta é a resposta subjetiva aos acontecimentos externos, ao passo que, a nível inconsciente, o introvertido é compelido para o mundo externo. (Guimarães, 1997)Esses dois tipos de indivíduos são distintos e o contraste é visível em sua existência, inclusive aos leigos. É comum em sociedade depararmo-nos com tais seres, tão diferentes, sendo que os de natureza fechada são difíceis de conhecer, pois sua timidez impede qualquer aproximação, aprofundamento, que por vezes não deixa o sujeito desenvolver suas capacidades; e, os de natureza aberta, são mais acessíveis, se relacionam bem em sociedade, em consequência, conseguem mais oportunidade em seu desenvolvimento.Jung vai mais adiante a sua obra “Tipos Psicológicos” (1921) dando características detalhadas dos introvertidos e extrovertidos, descrevendo-os até nos sentimentos, oferecendo um quadro circular, cuja disposição permite ao leitor observações e visão ampla nos processos da vida humana e de sua gênese.Para Jung (1920), “Arte é a expressão mais pura que há para a demonstração do inconsciente de cada um. É a liberdade de expressão, é sensibilidade, criatividade, é vida". Através deste processo, a energia psíquica consegue transformar-se em imagens e através dos símbolos, colocar seus conteúdos mais internos e profundos.A Arteterapia baseia-se na crença de que o processo criativo envolvido na atividade artística é terapêutico e enriquecedor da qualidade de vida das pessoas. Por meio do criar em arte e do refletir sobre os processos e os trabalhos artísticos resultantes, as pessoas podem ampliar o conhecimento de si e dos outros, aumentar a autoestima, lidar melhor com sintomas, estresse e experiências traumáticas, desenvolver recursos físicos, cognitivos, emocionais e desfrutar do prazer vitalizador do fazer artístico.

O PROCESSO ARTETERAPÊUTICO

O processo arteterapêutico é composto por oficinas, iremos citar apenas uma para exemplificar como a dinâmica acontece. O objetivo é proporcionar aos leitores, uma reflexão sobre sua maneira única de se apresentar ao mundo.O ponto principal da oficina é a atividade “Só eu sou Eu” (ALVAREZ, S.) Atividade de colagem apresentada em sala de aula.Geralmente os encontros iniciam-se com um lanche. É um momento de muita descontração, para que os adolescentes se conheçam. Nesse encontro é importante falar sobre os conceitos e princípios da arteterapia e também sobre o projeto e oficinas de criatividade. Os adolescentes são questionados sobre o significado de seus nomes e quem os nomeou. Neste primeiro encontro, é fornecido a cada um dos participantes uma caixa de madeira para que eles guardem seus trabalhos até a última oficina, ao término podem levá-la para casa. Os adolescentes decoram a caixa com vários materiais que ficam à disposição. A atividade de sensibilização-o totem do nome o que deve ser recortado e colado na caixa.A atividade “Só eu sou Eu” é um trabalho de imaginação do tamanho do universo, do planeta, do continente, do país, do estado e da cidade onde moram. Das 7 bilhões de pessoas que existem no mundo, ninguém é igual a ninguém. Cada participante recebe um boneco para servir de base da colagem e começam a procura pelas imagens. No momento em que eles começam a colagem, são questionados sobre a escolha das mesmas.Segundo Fuão, “a collage permite ver o que se esconde no interior de seu corpo, quando está desapropriado de sua falsa pele, sem sua representação fotográfica de seu narcisismo” (FUÃO, 2011, p.47).A atividade finaliza com os comentários dos adolescentes sobre o que o boneco representa.Segundo Scarpato, “intimidade não no sentido de contato com o conhecido, familiar, mas um espaço singular de abertura protegida pelo vínculo, onde podemos deixar vir o desconhecido em nós, o estranho, o novo”. (SCARPATO, 2011, p.107.)A atividade trabalha a maneira única de se apresentarem ao mundo. Chevalier & Gheerbrant falam sobre esses símbolos:O ar é o meio próprio da luz, do alçar vôo, do perfume, da cor, das vibrações interplanetárias; é a via de comunicação entre o céu e a terra [...], simbolicamente, a terra opõe-se ao céu como o princípio ativo; o aspecto feminino ao aspecto masculino da manifestação; a obscuridade à luz; o yin ao yang [...], a água é o símbolo das energias inconscientes, das virtudes informes da alma, das motivações secretas e desconhecidas [...] o fogo na qualidade de elemento que queima e consome, é também símbolo de purificação e de degenerescência. (CHEVALIER GHEERBRANT, 2007, p.21; 443; 68; 878)

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A proposta deste artigo foi aliar a Arteterapia como ferramenta para promover a possibilidade da comunicação inter e intrapessoal por meio da criatividade. A utilização das atividades criativas funcionam como uma ponte levando os adolescentes a exteriorizar seu mundo interno e dando-lhes liberdade para expressar suas alegrias, angústias e também revisitar seus valores, suas crenças e seus costumes. Avivar a criatividade desses adolescentes por meio da Arteterapia mostrando-lhes novos atributos, novas maneiras de pensar e de agir e de se relacionar consigo e com o outro poderá ajudá-los a proporcionar mudanças significativas para a melhoria do seu bem-estar e do ambiente onde vivem.Concluímos que o processo arteterapêutico, contribuiu para descobertas importantes para estes adolescentes. Faz-se necessário criar um espaço em que os adolescentes possam se expressar, falar de suas angústias, conflitos, medos e alegrias. As oficinas são encontros pontuais, em que os adolescentes podem se expressar através de palavras, sem medo de se expor, de ficar inseguro, e terem medo de que possam magoar alguém se falarem o que sentem.O processo arte terapêutico ajuda os adolescentes a perceberem questões que até então não haviam pensado. Muitos deles sofrem com a separação dos pais, com a perda da bisavó materna, por exemplo. Esses rompimentos incomodam muito. E quando o adolescente é muito sensível consegue perceber de maneira clara que os conflitos existem, principalmente entre seus pais e isso lhes causam chateação por sentir que às vezes as pessoas não são transparentes. Por outro lado, o processo arteterapêutico traz alegria para eles, pois se sentem confiantes nas profissionais que desenvolvem as oficinas, e conseguem compartilhar seus sentimentos.

REFERÊNCIAS THE AMERICAN ART THERAPY ASSOCIATION [AATA]. Defining Art Therapy. Disponível em Acesso em: 18.mar.2021.

ABERASTURY, Arminda; KNOBEL, Mauricio. Adolescência normal: um enfoque psicanalítico. Porto Alegre: Artmed ,2011.

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BERNARDO, Patrícia Pinna.A prática da Arteterapia: correlações entre temas e recursos, vol. III: Mitologia africana e Arteterapia: a força dos elementos em nossa vida. 2. ed. São Paulo: Arterapinna, 2012.

BERNARDO, Patrícia Pinna.A prática da Arteterapia: correlações entre temas e recursos, vol. IV: Arteterapia e mitologia criativa: orquestrando limiares. 2. ed. São Paulo: Arterapinna, 2012.

BERNARDO, Patrícia Pinna. A prática da Arteterapia: correlações entre temas e recursos, vol. V: Criatividade, transformação e individuação. 2. ed. São Paulo: Arterapinna, 2013.

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VANOYE, Francis. Usos da linguagem: problemas e técnicas na produção oral e escrita. 13. ed. São Paulo: Martins Fontes, 2007.

COMUNICAÇÃO INTER-INTRAPESSOALATRAVÉS DA ARTETERAPIAKELLI PAULA SOUZA Graduação em Pedagogia pela Universidade Cruzeiro do Sul - (1999); Pós-Graduada em Educação Especial pelas Faculdades Integradas Einstein de Limeira - FIEL (2001); Professora de Educação Infantil e Ensino Fundamental I, na Prefeitura Municipal de São Paulo.

REVISTA EXATTO EDUCACIONAL | V.3 | N.3 | MARÇO 2021

Page 6: REVISTA EXATTO MARÇO

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RESUMO O objetivo deste artigo é refletir sobre a importância da Arteterapia como ferramenta para desenvolver a comunicação inter e intrapessoal do adolescente por meio da criatividade. Com os instrumentos da Arteterapia buscou-se auxiliar os adolescentes a desenvolver a comunicação inter e intrapessoal, assim como aflorar suas potencialidades e criatividade por meio de estímulos artísticos. A Arteterapia cria recursos de expressão e criatividade que possibilitam que o adolescente libere suas emoções, seus conflitos e angústias. Possibilita que o adolescente seja capaz de enxergar esses conflitos e assim equalizar sua mente ao seu corpo, melhorando sua qualidade de vida. Através das bibliografias que envolvem o tema foi possível compreender que cada ser humano tem seu potencial individualizado; que a arte é capaz de transformar e resgatar esse potencial criativo e assim possibilitar a expressão e o autoconhecimento.

Palavras-chave: Arteterapia; Adolescente; Comunicação

INTRODUÇÃO

Este artigo propõe discutir a importância da Arteterapia no processo de manifestação da criatividade dos adolescentes. Nesse processo, os potenciais criativos são resgatados através de mediadores, tais como: música (como recurso que restaura a expressão de corpo, mente e alma); mandalas (como orientador no processo criativo); pintura (como facilitador para trazer vivências do inconsciente para o consciente); desenhos (como recurso de exteriorizar medos e angústias por meio de símbolos); dança (como vivência individual ou em grupo, ajudando assim na integração dos conteúdos internos da psique e facilitando a expressão individual); escultura e colagem (como recurso de dar forma a sentimentos e sensações). Além disso, por meio desses recursos, busca-se facilitar a comunicação da expressão emocional e aprofundar o conhecimento interno.A artista plástica polonesa Fayga Ostrower, em seu livro Criatividade e processo de criação, afirma que:O potencial criador elabora-se nos múltiplos níveis do ser sensível-cultural-consciente do homem, e se faz presente nos múltiplos caminhos em que o homem procura captar e configurar as realidades da vida. Os caminhos podem cristalizar-se em formas de comunicação, em ordenações concluídas, mas a criatividade como potência se refaz sempre. A produtividade do homem, em vez de se esgotar, liberando-se, amplia-se. (OSTROWER, 2012, p.27).O criar em Arteterapia através dos recursos que ela apresenta tais como a imaginação e o simbolismo das metáforas, acaba facilitando a comunicação na expressão emocional e aprofunda o conhecimento interno trazendo assim do inconsciente todo seu potencial criativo.Na sociedade contemporânea, a conexão com o sentido simbólico e iniciático do rito de passagem foi perdida. Por isso, se faz importante, principalmente para o adolescente, a reflexão sobre as etapas e passagens que ele enfrenta na vida.Nesse sentido, a Arteterapia pode ajudar a vivenciar esses processos de transformação.[...] no dinamismo de alteridade, que corresponde à época da adolescência, os opostos são relacionados de maneira igualitária e dialética, sendo vivenciados como aspectos diferentes de uma mesma realidade. Essa fase é voltada para o relacionamento com o outro e com a própria contraparte sexual, sendo, portanto, regidos pelos arquétipos da Anima (que corresponde aos aspectos do feminino na alma masculina), do Animus (que corresponde aos aspectos masculinos na alma feminina), e do Coniunctio (que se refere à conjunção de opostos, a reunião dessas duas “metades” num todo que as congrega e abrange como partes de uma única e indivisa realidade), caracterizando-se “por sua capacidade criativa face ao confronto dos opostos” (BYINGTON, 1983, p. 24, apud BERNARDO, 2012, p.38).A autora traz a importância do autoconhecimento para união dos opostos, na verdade sua integração ajuda o adolescente a entrar em contato com seu inconsciente sem perder a consciência no processo. Com isso consegue-se, por meio da arte, avivar no adolescente seus conhecimentos, descobrindo um mundo infinito de possibilidades ao trabalhar suas emoções, e assim levá-los a olhar para si de maneira inteira. Mostrar para eles, por meio dos trabalhos, que não existe feio ou bonito, que nada é rígido, que tudo pode ser transformado pela busca interior.Assim sendo, o objetivo geral deste artigo é desenvolver a comunicação inter e intrapessoal do adolescente por meio da

criatividade.

COMUNICAÇÃO INTER E INTRAPESSOAL

Existem vários tipos de comunicação, e as pessoas podem comunicar-se pelo código Morse, pela escrita, por gestos, pelo telefone, etc.; uma empresa, uma administração, até mesmo um Estado, podem comunicar-se com seus membros por intermédio de circulares, cartazes, mensagens radiofônicas ou televisionadas, etc.Toda comunicação tem por objetivo a transmissão de uma mensagem [...]. (VANOYE, 2011, p.1]A comunicação é um processo de troca de informações entre os seres das mais diversas maneiras. É um processo que envolve uma codificação, isto é, a formação de um código, e a decodificação, a busca do entendimento deste código, em forma de mensagens que permitem a troca de informações entre os indivíduos. Não há só a comunicação verbal, há vários tipos de comunicação e cada um deles tem características que o diferencia e o integra ao todo. (VANOYE, 2011, p.1).Segundo o Dicionário de Comunicação, a palavra comunicação deriva do latim communicare, cujo significado seria: “tornar comum”, “partilhar”, “repartir”, “associar”, “trocar opiniões”, “conferenciar”. Comunicar implica participação [...], em interação, em troca de mensagens, em emissão ou recebimento de informações novas. (RABAÇA & BARBOSA, 1995, p.151).Neste artigo, enfocamos as comunicações inter e intrapessoal. A comunicação interpessoal pode ser definida como aquela que acontece de alguém para alguém. (RABAÇA E BARBOSA, 1995, p.166). Já a comunicação intrapessoal é aquela que ocorre dentro de alguém. Está relacionada com as ideias e desejos do indivíduo; é a sua voz interior. Dessa forma, a comunicação intrapessoal é extremamente importante uma vez que representa o diálogo interno.

ADOLESCÊNCIA

A adolescência é a fase que marca a passagem entre a infância e a idade adulta. Segundo o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), é considerado adolescente aquele que tem entre 12 e 18 anos de idade.[...] o Adolescente passa por desequilíbrios e instabilidade, extremas de acordo com o que conhecemos dele. Em nosso meio cultural, mostra-nos períodos de relação, de introversão, alternando com audácia, timidez, descoordenação, urgência, desinteresse ou apatia. (ABERASTURY, 2011, p.28)Para Aberastury, a adolescência é uma fase muito difícil, pois a pessoa ainda não sabe quem é então ela sai em busca de autoafirmação. É fundamental para todo ser humano sentir-se único para poder seguir seu desenvolvimento. O adolescente também precisa de uma afirmação de si mesmo e que, ao mesmo tempo, é vivenciada no coletivo, do sentimento de pertencer a um grupo e da identificação da “turma”. Alguns adolescentes podem apresentar comportamentos infantis, resultado do medo e da insegurança de deixar a dependência dos pais e assumir suas próprias escolhas e poder caminhar com certa autonomia.Ainda segundo este autor, as mudanças corporais nessa fase ficam muito evidenciadas: essas transformações são acompanhadas da modificação na voz (que fica mais grave), do crescimento ósseo (acompanhado do alargamento do tronco e dos ombros), do enrijecimento muscular, do aumento da oleosidade da pele (o que pode causar o aparecimento de acnes). Todas essas mudanças podem causar perplexidade ao adolescente fazendo com que ele se sinta desajeitado diante desse corpo que é seu, mas que lhe soa estranho.De certa maneira, o adolescente poderá passar por recorrentes crises depressivas e dos estados de luto e de tristeza típicos da preparação da adolescência (morte da infância). Um bom mundo interior surge de uma relação satisfatória com os pais internalizados e da capacidade criativa que eles proporcionam.Segundo a Psicologia Analítica, as transformações ocorrem primeiro na psique: uma mudança nos arquétipos do pai e da mãe que aparecem na infância, depois dão lugar para o arquétipo do herói, e por seu intermédio, oferece segurança para enfrentar situações e desafios novos.[...] Estão presentes em nosso desenvolvimento psíquico, encontrados nos antigos rituais de iniciação e passagem de um ciclo a outro: um mergulho no caos (abertura ao novo), uma morte simbólica (corte com formas cristalizadas e desatualizadas de relacionamento com nossa realidade interno-externa), e um renascimento (ampliação de consciência, inaugurando um novo ciclo). (BERNARDO, 2008, p.115).Essa fase também é marcada pela ativação dos arquétipos de anima (na psique do menino) e deanimus (na psique da menina), arquétipos responsáveis pelo relacionamento com o sexo oposto. É nesse ciclo que o adolescente pode se diferenciar dos pais, que até então eram modelos para ele, para poder ir ao encontro de sua própria identidade, fase essa chamada de alteridade, que vai permitir ao adolescente conhecer o outro, e sua contraparte.

PROCESSO CRIATIVO

O potencial criador elabora-se nos múltiplos níveis do ser sensível-cultural-consciente do homem, e se faz presente nos múltiplos caminhos em que o homem procura captar e configurar as realidades da vida. Os caminhos podem cristalizar-se em formas de comunicação, em ordenações concluídas, mas a criatividade como potência se refaz sempre. A produtividade do homem, em vez de se esgotar, liberando-se, amplia-se. (OSTROWER, 2012, p.27).Segundo Ostrower, se pensarmos no potencial criador num âmbito geral, perceberemos que temos um infinito mundo de possibilidades. Criamos e excluímos realidades e possibilidades o tempo todo, com isso muitas vezes desconstruímos nossas ideias para poder reconstruir novamente e assim seguimos como se estivéssemos sempre montando um quebra

cabeça. Quando unimos os aspectos em oposição surgem novas alternativas e, com elas, a diversificação, fazendo que o processo de transformação crie e recrie o tempo todo.Assim, através das vivências conseguimos unificar os potenciais criativos e integrá-los em nossa maneira de nos comunicarmos.

JUNG E ARTETERAPIA

Carl Gustav Jung nasceu na Suíça, em 26 de julho de 1875, e morreu a 6 de junho de 1961, aos 86 anos. De família religiosa, desde criança se interessou pela filosofia e por questões espirituais. Estudou medicina, dando grande atenção aos fenômenos psíquicos (GUIMARÃES, 1997). Após ter-se formado, dedicou-se a pesquisar o inconsciente e formulou uma nova teoria sobre esse tema: a Psicologia Analítica.Segundo Tonietto (2005), Jung denominou Psicologia Analítica ao conjunto de conhecimentos construídos a partir da sua prática clínica e de suas experiências vividas na pesquisa da psique e seus conteúdos. O maior interesse desse estudioso estava relacionado com o mistério da psique humana, fonte de todas as atividades do homem, às "moléstias da alma”, e às formas de superar e transformar enfermidades em instrumento de desenvolvimento da psique.Em sua teoria, Jung distingue na pessoa vários elementos, dentre eles: a consciência e o inconsciente coletivo, a persona, o ego, eu, o animus, ânimo e a sombra, e considera a personalidade como um ideal irrealizável. Diz que no mesmo indivíduo existem diversos aspectos diferentes e contraditórios.Para Jung, um conteúdo é consciente quando é conhecido ou reconhecido pelo ego e por inconsciente quando ocorre o oposto. De acordo com suas próprias palavras:Por consciência entendo a referência dos conteúdos psíquicos ao eu enquanto assim for entendida pelo eu. Referências ao eu, enquanto não entendidas como tais pelo eu, são inconscientes. (JUNG, O. C. VI, § 796).Outro modo de se entender o significado de consciente, segundo Jung, pode ser encontrado na explicação de Edinger:Parte do fenômeno da consciência diz respeito à discriminação entre sujeito e objeto. Estou ciente de que sou um ser consciente; sou o sujeito dessa consciência. Quando olho para o mundo, vejo objetos e, no processo de me separar da identificação com esses objetos, ocorre uma separação entre sujeito e objeto. Essa é a forma como a consciência se desenvolve, separando sujeito de objeto. (Edinger, 2004)Dentre os vários conceitos próprios da Psicologia Analítica, existe o do “eu”, ou “ego”, que é à base da consciência, isto é, o “centro subjetivo do senso de identidade do indivíduo” (Edinger, 2004), por isso, todo conteúdo da consciência deve se relacionar ao sujeito, ao ego. O ego é o centro da personalidade.Por sua vez, “sombra” é o nome que Jung deu para os aspectos da personalidade que são desconhecidos do indivíduo, isto é, os que não estão em sua consciência. São os traços “obscuros” do caráter ou da personalidade, mas que não significa que sejam unicamente fraquezas e defeitos, são todos os traços ou características que ficam fora do campo da consciência. Conscientizar-se da sombra é fundamental em todo processo de autoconhecimento (Tonietto, 2005).Também é essencial que conheçamos o significado de “persona” para podermos compreender a teoria de Jung. Para ele:A persona é um complicado sistema de relação entre a consciência individual e a sociedade; é uma espécie de máscara destinada, por um lado, a produzir um determinado efeito sobre os outros e por outro lado a ocultar a verdadeira natureza do indivíduo. (JUNG, O. C. VII, § 305).Além dos termos já colocados, há outro de fundamental importância para a Psicologia Analítica: a “anima”. Esse termo abrange as experiências importantes que o homem tem de uma mulher. O arquétipo da anima é formado pelo acúmulo da repressão das tendências femininas presentes no inconsciente do homem. Geralmente, o caráter da anima de um homem é “moldado” pela mãe.Não há homem algum tão exclusivamente masculino que não possua em si algo de feminino. (“...) A repressão das tendências e traços femininos determina um acúmulo dessas pretensões no inconsciente.” (JUNG, O. C. VII, § 297).Ao realizar suas pesquisas, Jung verificou que é por meio de símbolos que o inconsciente se expressa. De acordo com ele, os símbolos religiosos, como a cruz dos cristãos, a estrela de Davi dos judeus, o Dharma dos budistas, são imagens que estão presentes no inconsciente coletivo do ser humano.Enquanto o inconsciente pessoal consiste fundamentalmente de material reprimido e de complexos, o inconsciente coletivo é composto fundamentalmente de uma tendência para sensibilizar-se com certas imagens, ou melhor, símbolos que constelam sentimentos profundos de apelo universal, os arquétipos: da mesma forma que animais e homens parecem possuir atitudes inatas, chamadas de instintos, também é provável que em nosso psiquismo exista um material psíquico com alguma analogia com os instintos. Talvez, as imagens arquetípicas sejam algo como figurações dos próprios instintos, num nível mais sofisticado, psíquico. Assim, não é mais arriscado admitir a hipótese do inconsciente coletivo, comum a toda a humanidade, do que admitir a existência de instintos comuns a todos os seres vivos. (Guimarães, 1997).Posteriormente, estudos realizados sobre os trabalhos de Jung revelaram que a teoria dos símbolos, dos arquétipos do inconsciente coletivo, é de fundamental importância para compreensão dos mistérios da criação artística (aspecto que interessa ao nosso tema, a Arte terapia).Em seu livro “Tipos Psicológicos”, de 1921, Jung define duas disposições típicas da consciência: introvertida e extrovertida. O ser introvertido (metido consigo mesmo) comporta-se de maneira adequada à abstração (devaneios), sua imagem está sempre dirigida à situação não pública, isto é, privar-se de espectadores e dos objetos de desejos, como a impedir a supremacia do objeto, ao contrário do extrovertido, que se comporta positivamente em face do objeto, afirmando a sua significação de tal forma, que orientará sua atração existente no sujeito, ou seja, no individual e relacioná-la para si de modo constante.Outra temática famosa com respeito a Jung é a sua teoria dos "tipos psicológicos". Foi com base na análise da controvérsia entre as personalidades de Freud e outro seu discípulo famoso, e também dissidente, Alfred Adler, que Jung consegue delinear a tipologia do "introvertido" e do "extrovertido". Freud seria o "extrovertido", Adler, o "introvertido". Para o extrovertido, os acontecimentos externos são da máxima importância, ao nível consciente; em compensação, ao nível inconsciente, a atividade psíquica do extrovertido concentra-se no seu próprio eu. De modo inverso, para o introvertido o

que conta é a resposta subjetiva aos acontecimentos externos, ao passo que, a nível inconsciente, o introvertido é compelido para o mundo externo. (Guimarães, 1997)Esses dois tipos de indivíduos são distintos e o contraste é visível em sua existência, inclusive aos leigos. É comum em sociedade depararmo-nos com tais seres, tão diferentes, sendo que os de natureza fechada são difíceis de conhecer, pois sua timidez impede qualquer aproximação, aprofundamento, que por vezes não deixa o sujeito desenvolver suas capacidades; e, os de natureza aberta, são mais acessíveis, se relacionam bem em sociedade, em consequência, conseguem mais oportunidade em seu desenvolvimento.Jung vai mais adiante a sua obra “Tipos Psicológicos” (1921) dando características detalhadas dos introvertidos e extrovertidos, descrevendo-os até nos sentimentos, oferecendo um quadro circular, cuja disposição permite ao leitor observações e visão ampla nos processos da vida humana e de sua gênese.Para Jung (1920), “Arte é a expressão mais pura que há para a demonstração do inconsciente de cada um. É a liberdade de expressão, é sensibilidade, criatividade, é vida". Através deste processo, a energia psíquica consegue transformar-se em imagens e através dos símbolos, colocar seus conteúdos mais internos e profundos.A Arteterapia baseia-se na crença de que o processo criativo envolvido na atividade artística é terapêutico e enriquecedor da qualidade de vida das pessoas. Por meio do criar em arte e do refletir sobre os processos e os trabalhos artísticos resultantes, as pessoas podem ampliar o conhecimento de si e dos outros, aumentar a autoestima, lidar melhor com sintomas, estresse e experiências traumáticas, desenvolver recursos físicos, cognitivos, emocionais e desfrutar do prazer vitalizador do fazer artístico.

O PROCESSO ARTETERAPÊUTICO

O processo arteterapêutico é composto por oficinas, iremos citar apenas uma para exemplificar como a dinâmica acontece. O objetivo é proporcionar aos leitores, uma reflexão sobre sua maneira única de se apresentar ao mundo.O ponto principal da oficina é a atividade “Só eu sou Eu” (ALVAREZ, S.) Atividade de colagem apresentada em sala de aula.Geralmente os encontros iniciam-se com um lanche. É um momento de muita descontração, para que os adolescentes se conheçam. Nesse encontro é importante falar sobre os conceitos e princípios da arteterapia e também sobre o projeto e oficinas de criatividade. Os adolescentes são questionados sobre o significado de seus nomes e quem os nomeou. Neste primeiro encontro, é fornecido a cada um dos participantes uma caixa de madeira para que eles guardem seus trabalhos até a última oficina, ao término podem levá-la para casa. Os adolescentes decoram a caixa com vários materiais que ficam à disposição. A atividade de sensibilização-o totem do nome o que deve ser recortado e colado na caixa.A atividade “Só eu sou Eu” é um trabalho de imaginação do tamanho do universo, do planeta, do continente, do país, do estado e da cidade onde moram. Das 7 bilhões de pessoas que existem no mundo, ninguém é igual a ninguém. Cada participante recebe um boneco para servir de base da colagem e começam a procura pelas imagens. No momento em que eles começam a colagem, são questionados sobre a escolha das mesmas.Segundo Fuão, “a collage permite ver o que se esconde no interior de seu corpo, quando está desapropriado de sua falsa pele, sem sua representação fotográfica de seu narcisismo” (FUÃO, 2011, p.47).A atividade finaliza com os comentários dos adolescentes sobre o que o boneco representa.Segundo Scarpato, “intimidade não no sentido de contato com o conhecido, familiar, mas um espaço singular de abertura protegida pelo vínculo, onde podemos deixar vir o desconhecido em nós, o estranho, o novo”. (SCARPATO, 2011, p.107.)A atividade trabalha a maneira única de se apresentarem ao mundo. Chevalier & Gheerbrant falam sobre esses símbolos:O ar é o meio próprio da luz, do alçar vôo, do perfume, da cor, das vibrações interplanetárias; é a via de comunicação entre o céu e a terra [...], simbolicamente, a terra opõe-se ao céu como o princípio ativo; o aspecto feminino ao aspecto masculino da manifestação; a obscuridade à luz; o yin ao yang [...], a água é o símbolo das energias inconscientes, das virtudes informes da alma, das motivações secretas e desconhecidas [...] o fogo na qualidade de elemento que queima e consome, é também símbolo de purificação e de degenerescência. (CHEVALIER GHEERBRANT, 2007, p.21; 443; 68; 878)

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A proposta deste artigo foi aliar a Arteterapia como ferramenta para promover a possibilidade da comunicação inter e intrapessoal por meio da criatividade. A utilização das atividades criativas funcionam como uma ponte levando os adolescentes a exteriorizar seu mundo interno e dando-lhes liberdade para expressar suas alegrias, angústias e também revisitar seus valores, suas crenças e seus costumes. Avivar a criatividade desses adolescentes por meio da Arteterapia mostrando-lhes novos atributos, novas maneiras de pensar e de agir e de se relacionar consigo e com o outro poderá ajudá-los a proporcionar mudanças significativas para a melhoria do seu bem-estar e do ambiente onde vivem.Concluímos que o processo arteterapêutico, contribuiu para descobertas importantes para estes adolescentes. Faz-se necessário criar um espaço em que os adolescentes possam se expressar, falar de suas angústias, conflitos, medos e alegrias. As oficinas são encontros pontuais, em que os adolescentes podem se expressar através de palavras, sem medo de se expor, de ficar inseguro, e terem medo de que possam magoar alguém se falarem o que sentem.O processo arte terapêutico ajuda os adolescentes a perceberem questões que até então não haviam pensado. Muitos deles sofrem com a separação dos pais, com a perda da bisavó materna, por exemplo. Esses rompimentos incomodam muito. E quando o adolescente é muito sensível consegue perceber de maneira clara que os conflitos existem, principalmente entre seus pais e isso lhes causam chateação por sentir que às vezes as pessoas não são transparentes. Por outro lado, o processo arteterapêutico traz alegria para eles, pois se sentem confiantes nas profissionais que desenvolvem as oficinas, e conseguem compartilhar seus sentimentos.

REFERÊNCIAS THE AMERICAN ART THERAPY ASSOCIATION [AATA]. Defining Art Therapy. Disponível em Acesso em: 18.mar.2021.

ABERASTURY, Arminda; KNOBEL, Mauricio. Adolescência normal: um enfoque psicanalítico. Porto Alegre: Artmed ,2011.

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Page 7: REVISTA EXATTO MARÇO

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RESUMO O objetivo deste artigo é refletir sobre a importância da Arteterapia como ferramenta para desenvolver a comunicação inter e intrapessoal do adolescente por meio da criatividade. Com os instrumentos da Arteterapia buscou-se auxiliar os adolescentes a desenvolver a comunicação inter e intrapessoal, assim como aflorar suas potencialidades e criatividade por meio de estímulos artísticos. A Arteterapia cria recursos de expressão e criatividade que possibilitam que o adolescente libere suas emoções, seus conflitos e angústias. Possibilita que o adolescente seja capaz de enxergar esses conflitos e assim equalizar sua mente ao seu corpo, melhorando sua qualidade de vida. Através das bibliografias que envolvem o tema foi possível compreender que cada ser humano tem seu potencial individualizado; que a arte é capaz de transformar e resgatar esse potencial criativo e assim possibilitar a expressão e o autoconhecimento.

Palavras-chave: Arteterapia; Adolescente; Comunicação

INTRODUÇÃO

Este artigo propõe discutir a importância da Arteterapia no processo de manifestação da criatividade dos adolescentes. Nesse processo, os potenciais criativos são resgatados através de mediadores, tais como: música (como recurso que restaura a expressão de corpo, mente e alma); mandalas (como orientador no processo criativo); pintura (como facilitador para trazer vivências do inconsciente para o consciente); desenhos (como recurso de exteriorizar medos e angústias por meio de símbolos); dança (como vivência individual ou em grupo, ajudando assim na integração dos conteúdos internos da psique e facilitando a expressão individual); escultura e colagem (como recurso de dar forma a sentimentos e sensações). Além disso, por meio desses recursos, busca-se facilitar a comunicação da expressão emocional e aprofundar o conhecimento interno.A artista plástica polonesa Fayga Ostrower, em seu livro Criatividade e processo de criação, afirma que:O potencial criador elabora-se nos múltiplos níveis do ser sensível-cultural-consciente do homem, e se faz presente nos múltiplos caminhos em que o homem procura captar e configurar as realidades da vida. Os caminhos podem cristalizar-se em formas de comunicação, em ordenações concluídas, mas a criatividade como potência se refaz sempre. A produtividade do homem, em vez de se esgotar, liberando-se, amplia-se. (OSTROWER, 2012, p.27).O criar em Arteterapia através dos recursos que ela apresenta tais como a imaginação e o simbolismo das metáforas, acaba facilitando a comunicação na expressão emocional e aprofunda o conhecimento interno trazendo assim do inconsciente todo seu potencial criativo.Na sociedade contemporânea, a conexão com o sentido simbólico e iniciático do rito de passagem foi perdida. Por isso, se faz importante, principalmente para o adolescente, a reflexão sobre as etapas e passagens que ele enfrenta na vida.Nesse sentido, a Arteterapia pode ajudar a vivenciar esses processos de transformação.[...] no dinamismo de alteridade, que corresponde à época da adolescência, os opostos são relacionados de maneira igualitária e dialética, sendo vivenciados como aspectos diferentes de uma mesma realidade. Essa fase é voltada para o relacionamento com o outro e com a própria contraparte sexual, sendo, portanto, regidos pelos arquétipos da Anima (que corresponde aos aspectos do feminino na alma masculina), do Animus (que corresponde aos aspectos masculinos na alma feminina), e do Coniunctio (que se refere à conjunção de opostos, a reunião dessas duas “metades” num todo que as congrega e abrange como partes de uma única e indivisa realidade), caracterizando-se “por sua capacidade criativa face ao confronto dos opostos” (BYINGTON, 1983, p. 24, apud BERNARDO, 2012, p.38).A autora traz a importância do autoconhecimento para união dos opostos, na verdade sua integração ajuda o adolescente a entrar em contato com seu inconsciente sem perder a consciência no processo. Com isso consegue-se, por meio da arte, avivar no adolescente seus conhecimentos, descobrindo um mundo infinito de possibilidades ao trabalhar suas emoções, e assim levá-los a olhar para si de maneira inteira. Mostrar para eles, por meio dos trabalhos, que não existe feio ou bonito, que nada é rígido, que tudo pode ser transformado pela busca interior.Assim sendo, o objetivo geral deste artigo é desenvolver a comunicação inter e intrapessoal do adolescente por meio da

criatividade.

COMUNICAÇÃO INTER E INTRAPESSOAL

Existem vários tipos de comunicação, e as pessoas podem comunicar-se pelo código Morse, pela escrita, por gestos, pelo telefone, etc.; uma empresa, uma administração, até mesmo um Estado, podem comunicar-se com seus membros por intermédio de circulares, cartazes, mensagens radiofônicas ou televisionadas, etc.Toda comunicação tem por objetivo a transmissão de uma mensagem [...]. (VANOYE, 2011, p.1]A comunicação é um processo de troca de informações entre os seres das mais diversas maneiras. É um processo que envolve uma codificação, isto é, a formação de um código, e a decodificação, a busca do entendimento deste código, em forma de mensagens que permitem a troca de informações entre os indivíduos. Não há só a comunicação verbal, há vários tipos de comunicação e cada um deles tem características que o diferencia e o integra ao todo. (VANOYE, 2011, p.1).Segundo o Dicionário de Comunicação, a palavra comunicação deriva do latim communicare, cujo significado seria: “tornar comum”, “partilhar”, “repartir”, “associar”, “trocar opiniões”, “conferenciar”. Comunicar implica participação [...], em interação, em troca de mensagens, em emissão ou recebimento de informações novas. (RABAÇA & BARBOSA, 1995, p.151).Neste artigo, enfocamos as comunicações inter e intrapessoal. A comunicação interpessoal pode ser definida como aquela que acontece de alguém para alguém. (RABAÇA E BARBOSA, 1995, p.166). Já a comunicação intrapessoal é aquela que ocorre dentro de alguém. Está relacionada com as ideias e desejos do indivíduo; é a sua voz interior. Dessa forma, a comunicação intrapessoal é extremamente importante uma vez que representa o diálogo interno.

ADOLESCÊNCIA

A adolescência é a fase que marca a passagem entre a infância e a idade adulta. Segundo o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), é considerado adolescente aquele que tem entre 12 e 18 anos de idade.[...] o Adolescente passa por desequilíbrios e instabilidade, extremas de acordo com o que conhecemos dele. Em nosso meio cultural, mostra-nos períodos de relação, de introversão, alternando com audácia, timidez, descoordenação, urgência, desinteresse ou apatia. (ABERASTURY, 2011, p.28)Para Aberastury, a adolescência é uma fase muito difícil, pois a pessoa ainda não sabe quem é então ela sai em busca de autoafirmação. É fundamental para todo ser humano sentir-se único para poder seguir seu desenvolvimento. O adolescente também precisa de uma afirmação de si mesmo e que, ao mesmo tempo, é vivenciada no coletivo, do sentimento de pertencer a um grupo e da identificação da “turma”. Alguns adolescentes podem apresentar comportamentos infantis, resultado do medo e da insegurança de deixar a dependência dos pais e assumir suas próprias escolhas e poder caminhar com certa autonomia.Ainda segundo este autor, as mudanças corporais nessa fase ficam muito evidenciadas: essas transformações são acompanhadas da modificação na voz (que fica mais grave), do crescimento ósseo (acompanhado do alargamento do tronco e dos ombros), do enrijecimento muscular, do aumento da oleosidade da pele (o que pode causar o aparecimento de acnes). Todas essas mudanças podem causar perplexidade ao adolescente fazendo com que ele se sinta desajeitado diante desse corpo que é seu, mas que lhe soa estranho.De certa maneira, o adolescente poderá passar por recorrentes crises depressivas e dos estados de luto e de tristeza típicos da preparação da adolescência (morte da infância). Um bom mundo interior surge de uma relação satisfatória com os pais internalizados e da capacidade criativa que eles proporcionam.Segundo a Psicologia Analítica, as transformações ocorrem primeiro na psique: uma mudança nos arquétipos do pai e da mãe que aparecem na infância, depois dão lugar para o arquétipo do herói, e por seu intermédio, oferece segurança para enfrentar situações e desafios novos.[...] Estão presentes em nosso desenvolvimento psíquico, encontrados nos antigos rituais de iniciação e passagem de um ciclo a outro: um mergulho no caos (abertura ao novo), uma morte simbólica (corte com formas cristalizadas e desatualizadas de relacionamento com nossa realidade interno-externa), e um renascimento (ampliação de consciência, inaugurando um novo ciclo). (BERNARDO, 2008, p.115).Essa fase também é marcada pela ativação dos arquétipos de anima (na psique do menino) e deanimus (na psique da menina), arquétipos responsáveis pelo relacionamento com o sexo oposto. É nesse ciclo que o adolescente pode se diferenciar dos pais, que até então eram modelos para ele, para poder ir ao encontro de sua própria identidade, fase essa chamada de alteridade, que vai permitir ao adolescente conhecer o outro, e sua contraparte.

PROCESSO CRIATIVO

O potencial criador elabora-se nos múltiplos níveis do ser sensível-cultural-consciente do homem, e se faz presente nos múltiplos caminhos em que o homem procura captar e configurar as realidades da vida. Os caminhos podem cristalizar-se em formas de comunicação, em ordenações concluídas, mas a criatividade como potência se refaz sempre. A produtividade do homem, em vez de se esgotar, liberando-se, amplia-se. (OSTROWER, 2012, p.27).Segundo Ostrower, se pensarmos no potencial criador num âmbito geral, perceberemos que temos um infinito mundo de possibilidades. Criamos e excluímos realidades e possibilidades o tempo todo, com isso muitas vezes desconstruímos nossas ideias para poder reconstruir novamente e assim seguimos como se estivéssemos sempre montando um quebra

cabeça. Quando unimos os aspectos em oposição surgem novas alternativas e, com elas, a diversificação, fazendo que o processo de transformação crie e recrie o tempo todo.Assim, através das vivências conseguimos unificar os potenciais criativos e integrá-los em nossa maneira de nos comunicarmos.

JUNG E ARTETERAPIA

Carl Gustav Jung nasceu na Suíça, em 26 de julho de 1875, e morreu a 6 de junho de 1961, aos 86 anos. De família religiosa, desde criança se interessou pela filosofia e por questões espirituais. Estudou medicina, dando grande atenção aos fenômenos psíquicos (GUIMARÃES, 1997). Após ter-se formado, dedicou-se a pesquisar o inconsciente e formulou uma nova teoria sobre esse tema: a Psicologia Analítica.Segundo Tonietto (2005), Jung denominou Psicologia Analítica ao conjunto de conhecimentos construídos a partir da sua prática clínica e de suas experiências vividas na pesquisa da psique e seus conteúdos. O maior interesse desse estudioso estava relacionado com o mistério da psique humana, fonte de todas as atividades do homem, às "moléstias da alma”, e às formas de superar e transformar enfermidades em instrumento de desenvolvimento da psique.Em sua teoria, Jung distingue na pessoa vários elementos, dentre eles: a consciência e o inconsciente coletivo, a persona, o ego, eu, o animus, ânimo e a sombra, e considera a personalidade como um ideal irrealizável. Diz que no mesmo indivíduo existem diversos aspectos diferentes e contraditórios.Para Jung, um conteúdo é consciente quando é conhecido ou reconhecido pelo ego e por inconsciente quando ocorre o oposto. De acordo com suas próprias palavras:Por consciência entendo a referência dos conteúdos psíquicos ao eu enquanto assim for entendida pelo eu. Referências ao eu, enquanto não entendidas como tais pelo eu, são inconscientes. (JUNG, O. C. VI, § 796).Outro modo de se entender o significado de consciente, segundo Jung, pode ser encontrado na explicação de Edinger:Parte do fenômeno da consciência diz respeito à discriminação entre sujeito e objeto. Estou ciente de que sou um ser consciente; sou o sujeito dessa consciência. Quando olho para o mundo, vejo objetos e, no processo de me separar da identificação com esses objetos, ocorre uma separação entre sujeito e objeto. Essa é a forma como a consciência se desenvolve, separando sujeito de objeto. (Edinger, 2004)Dentre os vários conceitos próprios da Psicologia Analítica, existe o do “eu”, ou “ego”, que é à base da consciência, isto é, o “centro subjetivo do senso de identidade do indivíduo” (Edinger, 2004), por isso, todo conteúdo da consciência deve se relacionar ao sujeito, ao ego. O ego é o centro da personalidade.Por sua vez, “sombra” é o nome que Jung deu para os aspectos da personalidade que são desconhecidos do indivíduo, isto é, os que não estão em sua consciência. São os traços “obscuros” do caráter ou da personalidade, mas que não significa que sejam unicamente fraquezas e defeitos, são todos os traços ou características que ficam fora do campo da consciência. Conscientizar-se da sombra é fundamental em todo processo de autoconhecimento (Tonietto, 2005).Também é essencial que conheçamos o significado de “persona” para podermos compreender a teoria de Jung. Para ele:A persona é um complicado sistema de relação entre a consciência individual e a sociedade; é uma espécie de máscara destinada, por um lado, a produzir um determinado efeito sobre os outros e por outro lado a ocultar a verdadeira natureza do indivíduo. (JUNG, O. C. VII, § 305).Além dos termos já colocados, há outro de fundamental importância para a Psicologia Analítica: a “anima”. Esse termo abrange as experiências importantes que o homem tem de uma mulher. O arquétipo da anima é formado pelo acúmulo da repressão das tendências femininas presentes no inconsciente do homem. Geralmente, o caráter da anima de um homem é “moldado” pela mãe.Não há homem algum tão exclusivamente masculino que não possua em si algo de feminino. (“...) A repressão das tendências e traços femininos determina um acúmulo dessas pretensões no inconsciente.” (JUNG, O. C. VII, § 297).Ao realizar suas pesquisas, Jung verificou que é por meio de símbolos que o inconsciente se expressa. De acordo com ele, os símbolos religiosos, como a cruz dos cristãos, a estrela de Davi dos judeus, o Dharma dos budistas, são imagens que estão presentes no inconsciente coletivo do ser humano.Enquanto o inconsciente pessoal consiste fundamentalmente de material reprimido e de complexos, o inconsciente coletivo é composto fundamentalmente de uma tendência para sensibilizar-se com certas imagens, ou melhor, símbolos que constelam sentimentos profundos de apelo universal, os arquétipos: da mesma forma que animais e homens parecem possuir atitudes inatas, chamadas de instintos, também é provável que em nosso psiquismo exista um material psíquico com alguma analogia com os instintos. Talvez, as imagens arquetípicas sejam algo como figurações dos próprios instintos, num nível mais sofisticado, psíquico. Assim, não é mais arriscado admitir a hipótese do inconsciente coletivo, comum a toda a humanidade, do que admitir a existência de instintos comuns a todos os seres vivos. (Guimarães, 1997).Posteriormente, estudos realizados sobre os trabalhos de Jung revelaram que a teoria dos símbolos, dos arquétipos do inconsciente coletivo, é de fundamental importância para compreensão dos mistérios da criação artística (aspecto que interessa ao nosso tema, a Arte terapia).Em seu livro “Tipos Psicológicos”, de 1921, Jung define duas disposições típicas da consciência: introvertida e extrovertida. O ser introvertido (metido consigo mesmo) comporta-se de maneira adequada à abstração (devaneios), sua imagem está sempre dirigida à situação não pública, isto é, privar-se de espectadores e dos objetos de desejos, como a impedir a supremacia do objeto, ao contrário do extrovertido, que se comporta positivamente em face do objeto, afirmando a sua significação de tal forma, que orientará sua atração existente no sujeito, ou seja, no individual e relacioná-la para si de modo constante.Outra temática famosa com respeito a Jung é a sua teoria dos "tipos psicológicos". Foi com base na análise da controvérsia entre as personalidades de Freud e outro seu discípulo famoso, e também dissidente, Alfred Adler, que Jung consegue delinear a tipologia do "introvertido" e do "extrovertido". Freud seria o "extrovertido", Adler, o "introvertido". Para o extrovertido, os acontecimentos externos são da máxima importância, ao nível consciente; em compensação, ao nível inconsciente, a atividade psíquica do extrovertido concentra-se no seu próprio eu. De modo inverso, para o introvertido o

que conta é a resposta subjetiva aos acontecimentos externos, ao passo que, a nível inconsciente, o introvertido é compelido para o mundo externo. (Guimarães, 1997)Esses dois tipos de indivíduos são distintos e o contraste é visível em sua existência, inclusive aos leigos. É comum em sociedade depararmo-nos com tais seres, tão diferentes, sendo que os de natureza fechada são difíceis de conhecer, pois sua timidez impede qualquer aproximação, aprofundamento, que por vezes não deixa o sujeito desenvolver suas capacidades; e, os de natureza aberta, são mais acessíveis, se relacionam bem em sociedade, em consequência, conseguem mais oportunidade em seu desenvolvimento.Jung vai mais adiante a sua obra “Tipos Psicológicos” (1921) dando características detalhadas dos introvertidos e extrovertidos, descrevendo-os até nos sentimentos, oferecendo um quadro circular, cuja disposição permite ao leitor observações e visão ampla nos processos da vida humana e de sua gênese.Para Jung (1920), “Arte é a expressão mais pura que há para a demonstração do inconsciente de cada um. É a liberdade de expressão, é sensibilidade, criatividade, é vida". Através deste processo, a energia psíquica consegue transformar-se em imagens e através dos símbolos, colocar seus conteúdos mais internos e profundos.A Arteterapia baseia-se na crença de que o processo criativo envolvido na atividade artística é terapêutico e enriquecedor da qualidade de vida das pessoas. Por meio do criar em arte e do refletir sobre os processos e os trabalhos artísticos resultantes, as pessoas podem ampliar o conhecimento de si e dos outros, aumentar a autoestima, lidar melhor com sintomas, estresse e experiências traumáticas, desenvolver recursos físicos, cognitivos, emocionais e desfrutar do prazer vitalizador do fazer artístico.

O PROCESSO ARTETERAPÊUTICO

O processo arteterapêutico é composto por oficinas, iremos citar apenas uma para exemplificar como a dinâmica acontece. O objetivo é proporcionar aos leitores, uma reflexão sobre sua maneira única de se apresentar ao mundo.O ponto principal da oficina é a atividade “Só eu sou Eu” (ALVAREZ, S.) Atividade de colagem apresentada em sala de aula.Geralmente os encontros iniciam-se com um lanche. É um momento de muita descontração, para que os adolescentes se conheçam. Nesse encontro é importante falar sobre os conceitos e princípios da arteterapia e também sobre o projeto e oficinas de criatividade. Os adolescentes são questionados sobre o significado de seus nomes e quem os nomeou. Neste primeiro encontro, é fornecido a cada um dos participantes uma caixa de madeira para que eles guardem seus trabalhos até a última oficina, ao término podem levá-la para casa. Os adolescentes decoram a caixa com vários materiais que ficam à disposição. A atividade de sensibilização-o totem do nome o que deve ser recortado e colado na caixa.A atividade “Só eu sou Eu” é um trabalho de imaginação do tamanho do universo, do planeta, do continente, do país, do estado e da cidade onde moram. Das 7 bilhões de pessoas que existem no mundo, ninguém é igual a ninguém. Cada participante recebe um boneco para servir de base da colagem e começam a procura pelas imagens. No momento em que eles começam a colagem, são questionados sobre a escolha das mesmas.Segundo Fuão, “a collage permite ver o que se esconde no interior de seu corpo, quando está desapropriado de sua falsa pele, sem sua representação fotográfica de seu narcisismo” (FUÃO, 2011, p.47).A atividade finaliza com os comentários dos adolescentes sobre o que o boneco representa.Segundo Scarpato, “intimidade não no sentido de contato com o conhecido, familiar, mas um espaço singular de abertura protegida pelo vínculo, onde podemos deixar vir o desconhecido em nós, o estranho, o novo”. (SCARPATO, 2011, p.107.)A atividade trabalha a maneira única de se apresentarem ao mundo. Chevalier & Gheerbrant falam sobre esses símbolos:O ar é o meio próprio da luz, do alçar vôo, do perfume, da cor, das vibrações interplanetárias; é a via de comunicação entre o céu e a terra [...], simbolicamente, a terra opõe-se ao céu como o princípio ativo; o aspecto feminino ao aspecto masculino da manifestação; a obscuridade à luz; o yin ao yang [...], a água é o símbolo das energias inconscientes, das virtudes informes da alma, das motivações secretas e desconhecidas [...] o fogo na qualidade de elemento que queima e consome, é também símbolo de purificação e de degenerescência. (CHEVALIER GHEERBRANT, 2007, p.21; 443; 68; 878)

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A proposta deste artigo foi aliar a Arteterapia como ferramenta para promover a possibilidade da comunicação inter e intrapessoal por meio da criatividade. A utilização das atividades criativas funcionam como uma ponte levando os adolescentes a exteriorizar seu mundo interno e dando-lhes liberdade para expressar suas alegrias, angústias e também revisitar seus valores, suas crenças e seus costumes. Avivar a criatividade desses adolescentes por meio da Arteterapia mostrando-lhes novos atributos, novas maneiras de pensar e de agir e de se relacionar consigo e com o outro poderá ajudá-los a proporcionar mudanças significativas para a melhoria do seu bem-estar e do ambiente onde vivem.Concluímos que o processo arteterapêutico, contribuiu para descobertas importantes para estes adolescentes. Faz-se necessário criar um espaço em que os adolescentes possam se expressar, falar de suas angústias, conflitos, medos e alegrias. As oficinas são encontros pontuais, em que os adolescentes podem se expressar através de palavras, sem medo de se expor, de ficar inseguro, e terem medo de que possam magoar alguém se falarem o que sentem.O processo arte terapêutico ajuda os adolescentes a perceberem questões que até então não haviam pensado. Muitos deles sofrem com a separação dos pais, com a perda da bisavó materna, por exemplo. Esses rompimentos incomodam muito. E quando o adolescente é muito sensível consegue perceber de maneira clara que os conflitos existem, principalmente entre seus pais e isso lhes causam chateação por sentir que às vezes as pessoas não são transparentes. Por outro lado, o processo arteterapêutico traz alegria para eles, pois se sentem confiantes nas profissionais que desenvolvem as oficinas, e conseguem compartilhar seus sentimentos.

REFERÊNCIAS THE AMERICAN ART THERAPY ASSOCIATION [AATA]. Defining Art Therapy. Disponível em Acesso em: 18.mar.2021.

ABERASTURY, Arminda; KNOBEL, Mauricio. Adolescência normal: um enfoque psicanalítico. Porto Alegre: Artmed ,2011.

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BERNARDO, Patrícia Pinna. A prática da Arteterapia: correlações entre temas e recursos, vol. V: Criatividade, transformação e individuação. 2. ed. São Paulo: Arterapinna, 2013.

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Page 8: REVISTA EXATTO MARÇO

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RESUMO O objetivo deste artigo é refletir sobre a importância da Arteterapia como ferramenta para desenvolver a comunicação inter e intrapessoal do adolescente por meio da criatividade. Com os instrumentos da Arteterapia buscou-se auxiliar os adolescentes a desenvolver a comunicação inter e intrapessoal, assim como aflorar suas potencialidades e criatividade por meio de estímulos artísticos. A Arteterapia cria recursos de expressão e criatividade que possibilitam que o adolescente libere suas emoções, seus conflitos e angústias. Possibilita que o adolescente seja capaz de enxergar esses conflitos e assim equalizar sua mente ao seu corpo, melhorando sua qualidade de vida. Através das bibliografias que envolvem o tema foi possível compreender que cada ser humano tem seu potencial individualizado; que a arte é capaz de transformar e resgatar esse potencial criativo e assim possibilitar a expressão e o autoconhecimento.

Palavras-chave: Arteterapia; Adolescente; Comunicação

INTRODUÇÃO

Este artigo propõe discutir a importância da Arteterapia no processo de manifestação da criatividade dos adolescentes. Nesse processo, os potenciais criativos são resgatados através de mediadores, tais como: música (como recurso que restaura a expressão de corpo, mente e alma); mandalas (como orientador no processo criativo); pintura (como facilitador para trazer vivências do inconsciente para o consciente); desenhos (como recurso de exteriorizar medos e angústias por meio de símbolos); dança (como vivência individual ou em grupo, ajudando assim na integração dos conteúdos internos da psique e facilitando a expressão individual); escultura e colagem (como recurso de dar forma a sentimentos e sensações). Além disso, por meio desses recursos, busca-se facilitar a comunicação da expressão emocional e aprofundar o conhecimento interno.A artista plástica polonesa Fayga Ostrower, em seu livro Criatividade e processo de criação, afirma que:O potencial criador elabora-se nos múltiplos níveis do ser sensível-cultural-consciente do homem, e se faz presente nos múltiplos caminhos em que o homem procura captar e configurar as realidades da vida. Os caminhos podem cristalizar-se em formas de comunicação, em ordenações concluídas, mas a criatividade como potência se refaz sempre. A produtividade do homem, em vez de se esgotar, liberando-se, amplia-se. (OSTROWER, 2012, p.27).O criar em Arteterapia através dos recursos que ela apresenta tais como a imaginação e o simbolismo das metáforas, acaba facilitando a comunicação na expressão emocional e aprofunda o conhecimento interno trazendo assim do inconsciente todo seu potencial criativo.Na sociedade contemporânea, a conexão com o sentido simbólico e iniciático do rito de passagem foi perdida. Por isso, se faz importante, principalmente para o adolescente, a reflexão sobre as etapas e passagens que ele enfrenta na vida.Nesse sentido, a Arteterapia pode ajudar a vivenciar esses processos de transformação.[...] no dinamismo de alteridade, que corresponde à época da adolescência, os opostos são relacionados de maneira igualitária e dialética, sendo vivenciados como aspectos diferentes de uma mesma realidade. Essa fase é voltada para o relacionamento com o outro e com a própria contraparte sexual, sendo, portanto, regidos pelos arquétipos da Anima (que corresponde aos aspectos do feminino na alma masculina), do Animus (que corresponde aos aspectos masculinos na alma feminina), e do Coniunctio (que se refere à conjunção de opostos, a reunião dessas duas “metades” num todo que as congrega e abrange como partes de uma única e indivisa realidade), caracterizando-se “por sua capacidade criativa face ao confronto dos opostos” (BYINGTON, 1983, p. 24, apud BERNARDO, 2012, p.38).A autora traz a importância do autoconhecimento para união dos opostos, na verdade sua integração ajuda o adolescente a entrar em contato com seu inconsciente sem perder a consciência no processo. Com isso consegue-se, por meio da arte, avivar no adolescente seus conhecimentos, descobrindo um mundo infinito de possibilidades ao trabalhar suas emoções, e assim levá-los a olhar para si de maneira inteira. Mostrar para eles, por meio dos trabalhos, que não existe feio ou bonito, que nada é rígido, que tudo pode ser transformado pela busca interior.Assim sendo, o objetivo geral deste artigo é desenvolver a comunicação inter e intrapessoal do adolescente por meio da

criatividade.

COMUNICAÇÃO INTER E INTRAPESSOAL

Existem vários tipos de comunicação, e as pessoas podem comunicar-se pelo código Morse, pela escrita, por gestos, pelo telefone, etc.; uma empresa, uma administração, até mesmo um Estado, podem comunicar-se com seus membros por intermédio de circulares, cartazes, mensagens radiofônicas ou televisionadas, etc.Toda comunicação tem por objetivo a transmissão de uma mensagem [...]. (VANOYE, 2011, p.1]A comunicação é um processo de troca de informações entre os seres das mais diversas maneiras. É um processo que envolve uma codificação, isto é, a formação de um código, e a decodificação, a busca do entendimento deste código, em forma de mensagens que permitem a troca de informações entre os indivíduos. Não há só a comunicação verbal, há vários tipos de comunicação e cada um deles tem características que o diferencia e o integra ao todo. (VANOYE, 2011, p.1).Segundo o Dicionário de Comunicação, a palavra comunicação deriva do latim communicare, cujo significado seria: “tornar comum”, “partilhar”, “repartir”, “associar”, “trocar opiniões”, “conferenciar”. Comunicar implica participação [...], em interação, em troca de mensagens, em emissão ou recebimento de informações novas. (RABAÇA & BARBOSA, 1995, p.151).Neste artigo, enfocamos as comunicações inter e intrapessoal. A comunicação interpessoal pode ser definida como aquela que acontece de alguém para alguém. (RABAÇA E BARBOSA, 1995, p.166). Já a comunicação intrapessoal é aquela que ocorre dentro de alguém. Está relacionada com as ideias e desejos do indivíduo; é a sua voz interior. Dessa forma, a comunicação intrapessoal é extremamente importante uma vez que representa o diálogo interno.

ADOLESCÊNCIA

A adolescência é a fase que marca a passagem entre a infância e a idade adulta. Segundo o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), é considerado adolescente aquele que tem entre 12 e 18 anos de idade.[...] o Adolescente passa por desequilíbrios e instabilidade, extremas de acordo com o que conhecemos dele. Em nosso meio cultural, mostra-nos períodos de relação, de introversão, alternando com audácia, timidez, descoordenação, urgência, desinteresse ou apatia. (ABERASTURY, 2011, p.28)Para Aberastury, a adolescência é uma fase muito difícil, pois a pessoa ainda não sabe quem é então ela sai em busca de autoafirmação. É fundamental para todo ser humano sentir-se único para poder seguir seu desenvolvimento. O adolescente também precisa de uma afirmação de si mesmo e que, ao mesmo tempo, é vivenciada no coletivo, do sentimento de pertencer a um grupo e da identificação da “turma”. Alguns adolescentes podem apresentar comportamentos infantis, resultado do medo e da insegurança de deixar a dependência dos pais e assumir suas próprias escolhas e poder caminhar com certa autonomia.Ainda segundo este autor, as mudanças corporais nessa fase ficam muito evidenciadas: essas transformações são acompanhadas da modificação na voz (que fica mais grave), do crescimento ósseo (acompanhado do alargamento do tronco e dos ombros), do enrijecimento muscular, do aumento da oleosidade da pele (o que pode causar o aparecimento de acnes). Todas essas mudanças podem causar perplexidade ao adolescente fazendo com que ele se sinta desajeitado diante desse corpo que é seu, mas que lhe soa estranho.De certa maneira, o adolescente poderá passar por recorrentes crises depressivas e dos estados de luto e de tristeza típicos da preparação da adolescência (morte da infância). Um bom mundo interior surge de uma relação satisfatória com os pais internalizados e da capacidade criativa que eles proporcionam.Segundo a Psicologia Analítica, as transformações ocorrem primeiro na psique: uma mudança nos arquétipos do pai e da mãe que aparecem na infância, depois dão lugar para o arquétipo do herói, e por seu intermédio, oferece segurança para enfrentar situações e desafios novos.[...] Estão presentes em nosso desenvolvimento psíquico, encontrados nos antigos rituais de iniciação e passagem de um ciclo a outro: um mergulho no caos (abertura ao novo), uma morte simbólica (corte com formas cristalizadas e desatualizadas de relacionamento com nossa realidade interno-externa), e um renascimento (ampliação de consciência, inaugurando um novo ciclo). (BERNARDO, 2008, p.115).Essa fase também é marcada pela ativação dos arquétipos de anima (na psique do menino) e deanimus (na psique da menina), arquétipos responsáveis pelo relacionamento com o sexo oposto. É nesse ciclo que o adolescente pode se diferenciar dos pais, que até então eram modelos para ele, para poder ir ao encontro de sua própria identidade, fase essa chamada de alteridade, que vai permitir ao adolescente conhecer o outro, e sua contraparte.

PROCESSO CRIATIVO

O potencial criador elabora-se nos múltiplos níveis do ser sensível-cultural-consciente do homem, e se faz presente nos múltiplos caminhos em que o homem procura captar e configurar as realidades da vida. Os caminhos podem cristalizar-se em formas de comunicação, em ordenações concluídas, mas a criatividade como potência se refaz sempre. A produtividade do homem, em vez de se esgotar, liberando-se, amplia-se. (OSTROWER, 2012, p.27).Segundo Ostrower, se pensarmos no potencial criador num âmbito geral, perceberemos que temos um infinito mundo de possibilidades. Criamos e excluímos realidades e possibilidades o tempo todo, com isso muitas vezes desconstruímos nossas ideias para poder reconstruir novamente e assim seguimos como se estivéssemos sempre montando um quebra

cabeça. Quando unimos os aspectos em oposição surgem novas alternativas e, com elas, a diversificação, fazendo que o processo de transformação crie e recrie o tempo todo.Assim, através das vivências conseguimos unificar os potenciais criativos e integrá-los em nossa maneira de nos comunicarmos.

JUNG E ARTETERAPIA

Carl Gustav Jung nasceu na Suíça, em 26 de julho de 1875, e morreu a 6 de junho de 1961, aos 86 anos. De família religiosa, desde criança se interessou pela filosofia e por questões espirituais. Estudou medicina, dando grande atenção aos fenômenos psíquicos (GUIMARÃES, 1997). Após ter-se formado, dedicou-se a pesquisar o inconsciente e formulou uma nova teoria sobre esse tema: a Psicologia Analítica.Segundo Tonietto (2005), Jung denominou Psicologia Analítica ao conjunto de conhecimentos construídos a partir da sua prática clínica e de suas experiências vividas na pesquisa da psique e seus conteúdos. O maior interesse desse estudioso estava relacionado com o mistério da psique humana, fonte de todas as atividades do homem, às "moléstias da alma”, e às formas de superar e transformar enfermidades em instrumento de desenvolvimento da psique.Em sua teoria, Jung distingue na pessoa vários elementos, dentre eles: a consciência e o inconsciente coletivo, a persona, o ego, eu, o animus, ânimo e a sombra, e considera a personalidade como um ideal irrealizável. Diz que no mesmo indivíduo existem diversos aspectos diferentes e contraditórios.Para Jung, um conteúdo é consciente quando é conhecido ou reconhecido pelo ego e por inconsciente quando ocorre o oposto. De acordo com suas próprias palavras:Por consciência entendo a referência dos conteúdos psíquicos ao eu enquanto assim for entendida pelo eu. Referências ao eu, enquanto não entendidas como tais pelo eu, são inconscientes. (JUNG, O. C. VI, § 796).Outro modo de se entender o significado de consciente, segundo Jung, pode ser encontrado na explicação de Edinger:Parte do fenômeno da consciência diz respeito à discriminação entre sujeito e objeto. Estou ciente de que sou um ser consciente; sou o sujeito dessa consciência. Quando olho para o mundo, vejo objetos e, no processo de me separar da identificação com esses objetos, ocorre uma separação entre sujeito e objeto. Essa é a forma como a consciência se desenvolve, separando sujeito de objeto. (Edinger, 2004)Dentre os vários conceitos próprios da Psicologia Analítica, existe o do “eu”, ou “ego”, que é à base da consciência, isto é, o “centro subjetivo do senso de identidade do indivíduo” (Edinger, 2004), por isso, todo conteúdo da consciência deve se relacionar ao sujeito, ao ego. O ego é o centro da personalidade.Por sua vez, “sombra” é o nome que Jung deu para os aspectos da personalidade que são desconhecidos do indivíduo, isto é, os que não estão em sua consciência. São os traços “obscuros” do caráter ou da personalidade, mas que não significa que sejam unicamente fraquezas e defeitos, são todos os traços ou características que ficam fora do campo da consciência. Conscientizar-se da sombra é fundamental em todo processo de autoconhecimento (Tonietto, 2005).Também é essencial que conheçamos o significado de “persona” para podermos compreender a teoria de Jung. Para ele:A persona é um complicado sistema de relação entre a consciência individual e a sociedade; é uma espécie de máscara destinada, por um lado, a produzir um determinado efeito sobre os outros e por outro lado a ocultar a verdadeira natureza do indivíduo. (JUNG, O. C. VII, § 305).Além dos termos já colocados, há outro de fundamental importância para a Psicologia Analítica: a “anima”. Esse termo abrange as experiências importantes que o homem tem de uma mulher. O arquétipo da anima é formado pelo acúmulo da repressão das tendências femininas presentes no inconsciente do homem. Geralmente, o caráter da anima de um homem é “moldado” pela mãe.Não há homem algum tão exclusivamente masculino que não possua em si algo de feminino. (“...) A repressão das tendências e traços femininos determina um acúmulo dessas pretensões no inconsciente.” (JUNG, O. C. VII, § 297).Ao realizar suas pesquisas, Jung verificou que é por meio de símbolos que o inconsciente se expressa. De acordo com ele, os símbolos religiosos, como a cruz dos cristãos, a estrela de Davi dos judeus, o Dharma dos budistas, são imagens que estão presentes no inconsciente coletivo do ser humano.Enquanto o inconsciente pessoal consiste fundamentalmente de material reprimido e de complexos, o inconsciente coletivo é composto fundamentalmente de uma tendência para sensibilizar-se com certas imagens, ou melhor, símbolos que constelam sentimentos profundos de apelo universal, os arquétipos: da mesma forma que animais e homens parecem possuir atitudes inatas, chamadas de instintos, também é provável que em nosso psiquismo exista um material psíquico com alguma analogia com os instintos. Talvez, as imagens arquetípicas sejam algo como figurações dos próprios instintos, num nível mais sofisticado, psíquico. Assim, não é mais arriscado admitir a hipótese do inconsciente coletivo, comum a toda a humanidade, do que admitir a existência de instintos comuns a todos os seres vivos. (Guimarães, 1997).Posteriormente, estudos realizados sobre os trabalhos de Jung revelaram que a teoria dos símbolos, dos arquétipos do inconsciente coletivo, é de fundamental importância para compreensão dos mistérios da criação artística (aspecto que interessa ao nosso tema, a Arte terapia).Em seu livro “Tipos Psicológicos”, de 1921, Jung define duas disposições típicas da consciência: introvertida e extrovertida. O ser introvertido (metido consigo mesmo) comporta-se de maneira adequada à abstração (devaneios), sua imagem está sempre dirigida à situação não pública, isto é, privar-se de espectadores e dos objetos de desejos, como a impedir a supremacia do objeto, ao contrário do extrovertido, que se comporta positivamente em face do objeto, afirmando a sua significação de tal forma, que orientará sua atração existente no sujeito, ou seja, no individual e relacioná-la para si de modo constante.Outra temática famosa com respeito a Jung é a sua teoria dos "tipos psicológicos". Foi com base na análise da controvérsia entre as personalidades de Freud e outro seu discípulo famoso, e também dissidente, Alfred Adler, que Jung consegue delinear a tipologia do "introvertido" e do "extrovertido". Freud seria o "extrovertido", Adler, o "introvertido". Para o extrovertido, os acontecimentos externos são da máxima importância, ao nível consciente; em compensação, ao nível inconsciente, a atividade psíquica do extrovertido concentra-se no seu próprio eu. De modo inverso, para o introvertido o

que conta é a resposta subjetiva aos acontecimentos externos, ao passo que, a nível inconsciente, o introvertido é compelido para o mundo externo. (Guimarães, 1997)Esses dois tipos de indivíduos são distintos e o contraste é visível em sua existência, inclusive aos leigos. É comum em sociedade depararmo-nos com tais seres, tão diferentes, sendo que os de natureza fechada são difíceis de conhecer, pois sua timidez impede qualquer aproximação, aprofundamento, que por vezes não deixa o sujeito desenvolver suas capacidades; e, os de natureza aberta, são mais acessíveis, se relacionam bem em sociedade, em consequência, conseguem mais oportunidade em seu desenvolvimento.Jung vai mais adiante a sua obra “Tipos Psicológicos” (1921) dando características detalhadas dos introvertidos e extrovertidos, descrevendo-os até nos sentimentos, oferecendo um quadro circular, cuja disposição permite ao leitor observações e visão ampla nos processos da vida humana e de sua gênese.Para Jung (1920), “Arte é a expressão mais pura que há para a demonstração do inconsciente de cada um. É a liberdade de expressão, é sensibilidade, criatividade, é vida". Através deste processo, a energia psíquica consegue transformar-se em imagens e através dos símbolos, colocar seus conteúdos mais internos e profundos.A Arteterapia baseia-se na crença de que o processo criativo envolvido na atividade artística é terapêutico e enriquecedor da qualidade de vida das pessoas. Por meio do criar em arte e do refletir sobre os processos e os trabalhos artísticos resultantes, as pessoas podem ampliar o conhecimento de si e dos outros, aumentar a autoestima, lidar melhor com sintomas, estresse e experiências traumáticas, desenvolver recursos físicos, cognitivos, emocionais e desfrutar do prazer vitalizador do fazer artístico.

O PROCESSO ARTETERAPÊUTICO

O processo arteterapêutico é composto por oficinas, iremos citar apenas uma para exemplificar como a dinâmica acontece. O objetivo é proporcionar aos leitores, uma reflexão sobre sua maneira única de se apresentar ao mundo.O ponto principal da oficina é a atividade “Só eu sou Eu” (ALVAREZ, S.) Atividade de colagem apresentada em sala de aula.Geralmente os encontros iniciam-se com um lanche. É um momento de muita descontração, para que os adolescentes se conheçam. Nesse encontro é importante falar sobre os conceitos e princípios da arteterapia e também sobre o projeto e oficinas de criatividade. Os adolescentes são questionados sobre o significado de seus nomes e quem os nomeou. Neste primeiro encontro, é fornecido a cada um dos participantes uma caixa de madeira para que eles guardem seus trabalhos até a última oficina, ao término podem levá-la para casa. Os adolescentes decoram a caixa com vários materiais que ficam à disposição. A atividade de sensibilização-o totem do nome o que deve ser recortado e colado na caixa.A atividade “Só eu sou Eu” é um trabalho de imaginação do tamanho do universo, do planeta, do continente, do país, do estado e da cidade onde moram. Das 7 bilhões de pessoas que existem no mundo, ninguém é igual a ninguém. Cada participante recebe um boneco para servir de base da colagem e começam a procura pelas imagens. No momento em que eles começam a colagem, são questionados sobre a escolha das mesmas.Segundo Fuão, “a collage permite ver o que se esconde no interior de seu corpo, quando está desapropriado de sua falsa pele, sem sua representação fotográfica de seu narcisismo” (FUÃO, 2011, p.47).A atividade finaliza com os comentários dos adolescentes sobre o que o boneco representa.Segundo Scarpato, “intimidade não no sentido de contato com o conhecido, familiar, mas um espaço singular de abertura protegida pelo vínculo, onde podemos deixar vir o desconhecido em nós, o estranho, o novo”. (SCARPATO, 2011, p.107.)A atividade trabalha a maneira única de se apresentarem ao mundo. Chevalier & Gheerbrant falam sobre esses símbolos:O ar é o meio próprio da luz, do alçar vôo, do perfume, da cor, das vibrações interplanetárias; é a via de comunicação entre o céu e a terra [...], simbolicamente, a terra opõe-se ao céu como o princípio ativo; o aspecto feminino ao aspecto masculino da manifestação; a obscuridade à luz; o yin ao yang [...], a água é o símbolo das energias inconscientes, das virtudes informes da alma, das motivações secretas e desconhecidas [...] o fogo na qualidade de elemento que queima e consome, é também símbolo de purificação e de degenerescência. (CHEVALIER GHEERBRANT, 2007, p.21; 443; 68; 878)

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A proposta deste artigo foi aliar a Arteterapia como ferramenta para promover a possibilidade da comunicação inter e intrapessoal por meio da criatividade. A utilização das atividades criativas funcionam como uma ponte levando os adolescentes a exteriorizar seu mundo interno e dando-lhes liberdade para expressar suas alegrias, angústias e também revisitar seus valores, suas crenças e seus costumes. Avivar a criatividade desses adolescentes por meio da Arteterapia mostrando-lhes novos atributos, novas maneiras de pensar e de agir e de se relacionar consigo e com o outro poderá ajudá-los a proporcionar mudanças significativas para a melhoria do seu bem-estar e do ambiente onde vivem.Concluímos que o processo arteterapêutico, contribuiu para descobertas importantes para estes adolescentes. Faz-se necessário criar um espaço em que os adolescentes possam se expressar, falar de suas angústias, conflitos, medos e alegrias. As oficinas são encontros pontuais, em que os adolescentes podem se expressar através de palavras, sem medo de se expor, de ficar inseguro, e terem medo de que possam magoar alguém se falarem o que sentem.O processo arte terapêutico ajuda os adolescentes a perceberem questões que até então não haviam pensado. Muitos deles sofrem com a separação dos pais, com a perda da bisavó materna, por exemplo. Esses rompimentos incomodam muito. E quando o adolescente é muito sensível consegue perceber de maneira clara que os conflitos existem, principalmente entre seus pais e isso lhes causam chateação por sentir que às vezes as pessoas não são transparentes. Por outro lado, o processo arteterapêutico traz alegria para eles, pois se sentem confiantes nas profissionais que desenvolvem as oficinas, e conseguem compartilhar seus sentimentos.

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Page 9: REVISTA EXATTO MARÇO

RESUMO As Diretrizes Curriculares Nacionais de Educação Infantil e as propostas pedagógicas existentes devem considerar princípios estéticos, voltando-se para diferentes manifestações artísticas e culturais e que considerem a heterogeneidade cultural, étnica, religiosa, social do país. A música como linguagem organiza os signos sonoros no espaço e no tempo, trazendo a possibilidade de trazer reflexão ao ouvinte sobre o mundo. Assim, é fundamental assegurar o ensino da música entre as crianças para que as mesmas possam entender e construir seu cotidiano e parte do seu mundo a partir da linguagem sonora. Por isto, a presente pesquisa discute as implicações da musicalização na Educação Infantil no desenvolvimento das crianças da creche e pré-escola. Os resultados indicaram que o uso da música é de fundamental importância para o desenvolvimento sociocognitivo das mesmas, em interdisciplinaridade com outras áreas de conhecimento.

Palavras-chave: Educação Infantil; Musicalização; Desenvolvimento Infantil.

INTRODUÇÃO

As crianças se envolvem com os sons desde muito pequenas, sendo que alguns pesquisadores discutem que esse contato acontece desde a fase intrauterina. Quando chegam a fase escolar, uma das problemáticas é que determinadas experiências sonoras ficam muitas vezes reduzida a ajudar na organização de atividades relacionadas à ocasião do recreio e do asseio das crianças, ganhando aspectos de disciplinarização da infância. Assim, justifica-se o presente artigo a discussão sobre a importância da música e sua utilização na Educação Infantil, a fim de encontrar sua identidade e de distinguir o ambiente em que vive, utilizando os sons através de suas diferentes propriedades: altura, espaço, grau, timbre, sons; através de brincadeiras, cantaroladas, assobios, risos, gritos, ou seja, emitindo os mais diversos sons. Sabe-se que em relação à criança, a música é criada ao brincar com os sons, transformando ambientes. Outra problemática é a questão de que muitos docentes ainda não compreendem a importância do ensino de música, classificando algumas músicas como musiquinhas, e ainda músicas e sons produzidos pelas próprias crianças, considerando-os barulhos.Desta forma, temos como objetivo geral discutir as implicações da musicalização no processo da Educação Infantil; e como objetivos específicos discutir a legislação pertinente a inserção da música na Educação Infantil, bem como suas contribuições para o ensino da mesma e para o desenvolvimento sociocognitivo das crianças que frequentam essa etapa escolar.

A MÚSICA E A EDUCAÇÃO INFANTIL

Podemos destacar que as atividades desenvolvidas dentro da Educação Infantil são direcionadas entre outros documentos pelas Diretrizes Curriculares Nacionais, como discutido abaixo:

(...) a primeira etapa da educação básica, oferecida em creches e pré-escolas, às quais se caracterizam como espaços institucionais não domésticos que constituem estabelecimentos educacionais públicos ou privados que educam e cuidam de crianças de 0 a 5 anos de idade no período diurno, em jornada integral ou parcial, regulados e supervisionados por órgão competente do sistema de ensino e submetidos a controle social (DCNs, 2010, p.12).

Os docentes da Educação Infantil devem estar sempre atentos cem relação aqueles que classificam algumas músicas ouvidas pelas crianças como musiquinhas, tratando-se de forma revelando como as crianças são concebidas e, além disso, como são pensadas e realizadas as relações entre adultos e crianças em ambientes para a infância igualmente onde se toca músicas e sons que, ao serem realizados pelas próprias crianças, são ouvidos como barulhos, contrariando as regras do silêncio. A canção é essencial como brincadeira, como cultura e como contato com o folclore (GOBBI, 2010).Ainda, não se pode ignorar o contato com outros gêneros musicais, de outras culturas e, principalmente com os sons de todas as partes do mundo, considerando também o que a criança porta advindo de seu contexto social, familiar, cultural. A ideia central da Educação Infantil não é apenas colocar para a criança músicas já prontas, mas sim oferecer momentos de descobertas e construções sonoras, canto e invenção de canções. Ainda, objetos devem ser transformados em instrumentos musicais, enriquecendo o repertório musical através de práticas diferenciadas com as crianças.A sonorização de histórias, a escuta sonora, brincadeiras cantadas, percepção de sons, barulhos, ruídos, compõem a creche e pré-escola, sendo essenciais para estabelecer o tempo das crianças juntamente a outras linguagens e não como aula de música, o que tantas vezes é observado.As funções psicológicas superiores vão sendo desenvolvidas nas crianças de acordo com dois tipos de fenômenos: as transformações psíquicas como o desenvolvimento da fala, da escrita e do desenho, por exemplo; e os processos de desenvolvimento das funções relacionadas à memória, julgamento, concentração e inteligência conceitual (TULESKI e EIDT, 2016).Ou seja, a música, se torna um estimulo primordial para o desenvolvimento cerebral da criança. Culturalmente é comum o hábito de cantar e dançar para os bebês, auxiliando tanto no aprendizado musical, quanto no desenvolvimento da afetividade, da socialização e da aquisição da linguagem.Por fim, a educação é um processo contínuo e evolutivo, e deve ser pautado principalmente na criança, tornando-se necessário evidenciar este processo já na educação infantil, caracterizada por ser uma fase relevante no desenvolvimento humano. Deve-se conceber a criança como um ser social e histórico, sendo que a aprendizagem nessa esfera se dá pelas interações entre a criança e o mundo a sua volta. Observa-se, portanto diferentes orientações didáticas, que presam a utilização dos jogos e brincadeiras, além de atividades que envolvam o reconhecimento do próprio corpo, do corpo do outro, da música, da dança e da imitação gestual.

A LEGISLAÇÃO NA EDUCAÇÃO INFANTIL

A Lei Nacional nº 11.769/2008, trouxe a educação em música como obrigatória, alterando o artigo 26 da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDBEN nº 9394/1996), trazendo o convite de se repensar nas práticas artísticas como as artes visuais, a dança, o teatro e a música. A música foi considerada uma área de competência que requer estudo, prática, reflexão e diversidade, devendo existir no Projeto Político Pedagógico da escola. Além disso, ela deve constar nos planejamentos pedagógicos, ser trabalhada interdisciplinarmente, contribuindo para o desenvolvimento cognitivo e pleno de crianças e adolescentes. Já as Diretrizes Nacionais para a operacionalização do Ensino da Música na Educação Básica (CNE/CEB nº 12/2013 de 04/12/2013) trouxeram a urgência de um currículo que contemplasse uma matriz de saberes para o ensino de música, constituindo-se em uma ferramenta que contribui para o trabalho do docente especialista e não especialista desenvolvendo a Educação Musical na Educação Básica e, especialmente na Educação Infantil.Outra mudança na educação ocorreu com a chegada da Base Nacional Comum Curricular (BNCC), documento orientador para que ocorra a equidade nos sistemas de ensino do Brasil inteiro. No caso da música:

A Música é a expressão artística que se materializa por meio dos sons, que ganham forma, sentido e significado no âmbito tanto da sensibilidade subjetiva quanto das interações sociais, como resultado de saberes e valores diversos estabelecidos no domínio da cultura. A ampliação e a produção dos conhecimentos musicais passam pela percepção, experimentação, reprodução, manipulação e criação de materiais sonoros diversos, dos mais próximos aos mais distantes da cultura musical dos alunos. Esse processo lhes possibilita vivenciar a música inter-relacionada à diversidade e desenvolver saberes musicais fundamentais para a sua inserção e participação crítica e ativa na sociedade (BNCC, 2017, p. 154).

No caso da BNCC voltada para a Educação Infantil, esta ampliou a jornada destinada às experiências, envolvendo a Arte como um todo e suas linguagens, trazendo a música como elemento obrigatório desde a infância. Neste sentido, as discussões do trabalho docente têm ocorrido de forma significativa, a fim de trazer métodos adequados ao trabalho com a primeira infância (BRASIL, 2019).Ainda, de acordo com Mendes (2009), os documentos orientadores da Educação Infantil, trazem a importância do trabalho com a linguagem musical utilizando-se de improvisações, de estudos corporais, da escuta de sons e música, da construção de instrumentos musicais, gerando e pensando em música. É através da música que a criança aprende a se expressar. A escola deve desenvolver potencialidades apresentando sua parte poética, sua composição e sua diversidade. Uma combinação entre os deleites que a música promove demonstram a importância para o desenvolvimento cognitivo e educacional das crianças.Por fim, o Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil traz a expressão corporal como uma das linguagens que devem ser trabalhadas nesse período, permitindo assim a criança a tomar consciência de si mesma, expressando e conhecendo o mundo à sua volta. A música pode contribuir para a exploração de diversas formas de como sentir o corpo proporciona às crianças o conhecimento de suas características, limitações e formas de expressão: “a riqueza de possibilidades da linguagem corporal revela um universo a ser vivenciado, conhecido, desfrutado” (AYOUB, 2001, p. 57), pois, o movimento corporal é a essência das crianças.A criança expressa-se principalmente através da fala e da dança, movimentando-se corporalmente. Assim:

É com o corpo que a criança elabora todas as suas experiências vitais, e organiza toda a sua personalidade. Através dele ela percebe o mundo, e perceber o mundo é aprender (e reaprender) com seu próprio corpo; perceber o mundo, portanto, é perceber o corpo; o corpo é assim, sensação, percepção e ação (STEUCK, 2008, p. 13-14).

MÚSICA E AS CRIANÇAS

A música organiza os signos sonoros no espaço e no tempo; e de acordo com as pesquisas voltadas para a origem da música e a sua importância para as relações sociais, elas vêm sendo aprofundadas desde o século XX, buscando explicações na biologia, na sociologia e na antropologia (MARIANO, 2015).A criança logo cedo costuma ter contato com a música. Inicialmente com sua mãe cantarolando com voz doce e suave, crescendo e percebendo que o mundo ao seu redor é regido pela musicalidade. A música está presente em diversos lugares e momentos, seja nas músicas de embalar, nas brincadeiras, nos brinquedos sonoros, nas danças, entre outras ações, podendo marcar afetivamente determinados momentos. Assim, de acordo com Nogueira (2003), a música está no nosso dia a dia, nos costumes e nas tradições de uma dada sociedade, nas festas e recordações especiais. Ou seja, a música contribui para a fixação de algumas regras, possibilitando diferentes aprendizados.A começar do nascimento entramos em contato com os sons, desde que nascemos estamos predispostos aos sons e composições, iniciando assim o mundo da linguagem. Por isso, essa relação prematura favorece o desenvolvimento de nossas aptidões cognitivas, linguísticas e motoras (SIMIONATO e TOURINHO, 2007). Para Brito (2003), a criança quando escuta música não quer dizer que abraça regras ou nota especificidades, mas sim vive aquele momento de aprendizagem. Por isso, a criança ao ter contato com a música deve determinadas certas capacidades, diferenciando o escutar, os diferentes tipos de sons e as diferenças culturais existentes. Existindo a possiblidade de ampliar as formas de comunicação e expressão, desenvolve-se ainda uma boa comunicação: “A importância do ensino de música na escola reside, então, na possibilidade de despertar habilidades e condutas na criança, levando-a a sentir- se sensibilizada pela música valendo-se da criação e da livre expressão” (LOUREIRO, 2003, p.1).Assim, a utilização da música na Educação Infantil desenvolve as potencialidades das crianças e deve respeitar sua individualidade, seu contexto cultural, étnico, religioso, entre outros aspectos, concebendo a criança como um ser único que apresenta características peculiares e que precisa desenvolver diferentes habilidades e linguagens para interagir com o mundo que a cerca. Sabe-se que a metodologia principal na Educação Infantil é a ludicidade, porém é preciso desenvolver outras aprendizagens e a Arte nesse sentido pode trazer boas contribuições dentro desta proposta. Ainda, nessa etapa de escolaridade, é necessário dispor de ferramentas e práticas que trabalhem a diversidade e o contexto da criança, explorando as suas potencialidades. O ensino da música envolve a construção do sujeito musical, a partir da constituição da linguagem. Esta transforma a criança, no que se refere à percepção, as formas de pensar, agir e interagir com o mundo e com os outros. Por fim, a música enquanto linguagem organiza os signos sonoros no espaço e no tempo, motivo pelo qual constitui-se como possibilidade de trazer reflexão ao ouvinte sobre o mundo, sobre o trabalho docente e principalmente o desenvolvimento das crianças, para que ela cresça plena e feliz, inclusive.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

De acordo com a pesquisa realizada, foi possível perceber que a musicalização na Educação Infantil tem por objetivo estimular o desenvolvimento global da criança, integrando sua individualidade, seu contexto socioeconômico, cultural, étnico, entre outros, concebendo a criança como um ser único que apresenta características peculiares e que interage com outras crianças e adultos.A musicalização, assim como outras formas de arte e a ludicidade, são a base da Educação Infantil. Para que o trabalho com música se torne viável nesta fase escolar, é necessário pensar em ferramentas e práticas trabalhando a diversidade e o contexto da criança, explorando assim suas potencialidades. O ensino da música envolve a construção do indivíduo musical, a partir da constituição da linguagem da música. O uso desse tipo de conceito transforma a criança, no que se referem à percepção, formas de agir e pensar, quanto os aspectos subjetivos. A escola é o primeiro ambiente no qual a criança vem a estabelecer suas relações sociais foram do ciclo familiar, essa situação nova na vida infantil deve ser acompanhada para que ao oferecer à criança um novo mundo diverso, repleto de situações na qual tenha que elaborar novos mecanismos de compreensão de fatos, conceitos e atitudes ela se sinta acolhida e atendida em meio a esse novo desafio, onde a criança que ingressa na vida escolar em meio a essa ampliação de relações possa construir sua concepção social do mundo.Ainda, a música pode contribuir como uma possibilidade de compreender através do embasamento teórico a forma com que as crianças constroem as suas relações sociais do nascimento até o momento da primeira infância, através de meios a princípio físicos e posteriormente através de aspectos mais subjetivos definidos como emoções, desejos e sentimentos.Assim, a música como ferramenta dinâmica na Educação Infantil, auxiliar no trabalho docente e na aprendizagem das crianças, trazendo a oportunidade do docente trabalhar a diversidade em sala de aula e desenvolvendo diferentes habilidades nos pequenos. Mesmo que haja docentes que ainda se espelham em modelos pedagógicos mais tradicionais, seguindo determinadas regras e formas de comportamento, de acordo com a pesquisa a maioria dos docentes ainda acredita que a afetividade, a ludicidade e a utilização da música são as melhores formas de se relacionar com as crianças podendo desenvolver a

comunicação oral e dialética conforme proporcione respeito e liberdade de ideias e conhecimentos prévios das crianças.Além disso, outra contribuição do uso da música durante a Educação Infantil é que esse período é um momento em que a criança experimenta, ajusta e constrói movimentos corporais provenientes da interação com os demais colegas. E a música pode desenvolver isso, por exemplo, através da dança, desenvolvendo a autonomia corporal e de ter contato com diferentes vivências e movimentos corporais provenientes da cultura a seu redor. Assim, na Educação Infantil é necessário desenvolver uma pedagogia que organize o fazer o pedagógico em torno de diferentes linguagens as quais a criança utiliza para expressar e se comunicar com o mundo que a cerca.

REFERÊNCIAS

AYUOB, E. Reflexões sobre a Educação Física na Educação Infantil. Revista Paulista de Educação Física, São Paulo, vol. 4, n. 4, p. 53-60, 2001.

BRASIL. Base Nacional Comum Curricular (BNCC). Educação é a Base. Brasília, MEC/CONSED/UNDIME, 2019. Disponível em: <http://basenacionalcomum.mec.gov.br/abase/. Acesso em: 01 mar. 2021.

BRASIL. Base Nacional Comum Curricular. Proposta preliminar. Ministério da Educação. Segunda versão revista. Brasília: MEC, 2016. Disponível em: .... Acesso em: 04 mar. 2021.

BRASIL. Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil. Ministério da Educação e do Desporto. Secretaria de Educação Fundamental. Brasília, v. 3. Conhecimento de Mundo. MEC/SEF, 1998.

BRITO, Teca Alencar de. Música na educação infantil. São Paulo: Peirópolis, 2003.

GOBBI, Márcia. Múltiplas linguagens de meninos e meninas e a Educação Infantil. Anais do I Seminário Nacional: Currículo em Movimento – Perspectivas Atuais, Belo Horizonte, novembro de 2010.

Godoi, L. R. (2011). A importância da música na educação infantil. Trabalho de conclusão de curso. Universidade Estadual de Londrina, Londrina, PR, Brasil. Recuperado de: http://www.uel.br/ceca/pedagogia/pages/arquivos/LUIS%20RODRIGO%20GODOI.pdf. Acesso em: 02 mar.2021.

Ilari, B. A música e o cérebro: algumas implicações do neurodesenvolvimento para a educação musical. Revista da Abem, 2003, 9, 7-16. Recuperado de: https://pdfs.semanticscholar.org/495b/19b4c8892f11bfeec193c8ffa46f22a5fcaf.pdf . Acesso em: 01 mar. 2021.

LOUREIRO, Alícia Maria Almeida. O ensino de música na escola fundamental. Campinas, SP: Papirus, 2003.

MARIANO, Fabiana Leite Rabello. Música no berçário: formação de professores e a teoria da aprendizagem musical de Edwin Gordon. São Paulo: Universidade de São Paulo / Faculdade de Educação, 2015.

NOGUEIRA, Monique Andries. A música e o desenvolvimento da criança. Revista da UFG, Vol. 5, No. 2, dez 2003. Disponível em: www.proec.ufg.br. Acesso em: 09 mar. 2021.

SIMIONATO, L. Cristina; TOURINHO, Cristina. Contribuição do aprendizado de canções no desenvolvimento da linguagem verbal. In ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE COGNIÇÃO E ARTES MUSICAIS. 2007. Anais do 3º Simpósio de Cognição e Artes Musicais. Bahia UFBH 2007 p. 371-377.

STEUCK, C.D. Corporeidade e educação: um olhar a partir da epistemologia social. 2008. Dissertação (Mestrado em Educação). Blumenau: Programa de Pós Graduação em Educação, Universidade Regional de Blumenau – FURB, 2008.

TULESKI, S. G., EIDTt, N. M. A periodização do desenvolvimento psíquico: atividade dominante e a formação das funções psíquicas superiores. In Martins, L. M., Abrantes, A. A., & Facci, M. G (Org.), Periodização histórico-cultural do desenvolvimento psíquico: do nascimento à velhice (pp.35-62). Campinas, SP, 2016: Autores Associados

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RESUMO O objetivo deste artigo é refletir sobre a importância da Arteterapia como ferramenta para desenvolver a comunicação inter e intrapessoal do adolescente por meio da criatividade. Com os instrumentos da Arteterapia buscou-se auxiliar os adolescentes a desenvolver a comunicação inter e intrapessoal, assim como aflorar suas potencialidades e criatividade por meio de estímulos artísticos. A Arteterapia cria recursos de expressão e criatividade que possibilitam que o adolescente libere suas emoções, seus conflitos e angústias. Possibilita que o adolescente seja capaz de enxergar esses conflitos e assim equalizar sua mente ao seu corpo, melhorando sua qualidade de vida. Através das bibliografias que envolvem o tema foi possível compreender que cada ser humano tem seu potencial individualizado; que a arte é capaz de transformar e resgatar esse potencial criativo e assim possibilitar a expressão e o autoconhecimento.

Palavras-chave: Arteterapia; Adolescente; Comunicação

INTRODUÇÃO

Este artigo propõe discutir a importância da Arteterapia no processo de manifestação da criatividade dos adolescentes. Nesse processo, os potenciais criativos são resgatados através de mediadores, tais como: música (como recurso que restaura a expressão de corpo, mente e alma); mandalas (como orientador no processo criativo); pintura (como facilitador para trazer vivências do inconsciente para o consciente); desenhos (como recurso de exteriorizar medos e angústias por meio de símbolos); dança (como vivência individual ou em grupo, ajudando assim na integração dos conteúdos internos da psique e facilitando a expressão individual); escultura e colagem (como recurso de dar forma a sentimentos e sensações). Além disso, por meio desses recursos, busca-se facilitar a comunicação da expressão emocional e aprofundar o conhecimento interno.A artista plástica polonesa Fayga Ostrower, em seu livro Criatividade e processo de criação, afirma que:O potencial criador elabora-se nos múltiplos níveis do ser sensível-cultural-consciente do homem, e se faz presente nos múltiplos caminhos em que o homem procura captar e configurar as realidades da vida. Os caminhos podem cristalizar-se em formas de comunicação, em ordenações concluídas, mas a criatividade como potência se refaz sempre. A produtividade do homem, em vez de se esgotar, liberando-se, amplia-se. (OSTROWER, 2012, p.27).O criar em Arteterapia através dos recursos que ela apresenta tais como a imaginação e o simbolismo das metáforas, acaba facilitando a comunicação na expressão emocional e aprofunda o conhecimento interno trazendo assim do inconsciente todo seu potencial criativo.Na sociedade contemporânea, a conexão com o sentido simbólico e iniciático do rito de passagem foi perdida. Por isso, se faz importante, principalmente para o adolescente, a reflexão sobre as etapas e passagens que ele enfrenta na vida.Nesse sentido, a Arteterapia pode ajudar a vivenciar esses processos de transformação.[...] no dinamismo de alteridade, que corresponde à época da adolescência, os opostos são relacionados de maneira igualitária e dialética, sendo vivenciados como aspectos diferentes de uma mesma realidade. Essa fase é voltada para o relacionamento com o outro e com a própria contraparte sexual, sendo, portanto, regidos pelos arquétipos da Anima (que corresponde aos aspectos do feminino na alma masculina), do Animus (que corresponde aos aspectos masculinos na alma feminina), e do Coniunctio (que se refere à conjunção de opostos, a reunião dessas duas “metades” num todo que as congrega e abrange como partes de uma única e indivisa realidade), caracterizando-se “por sua capacidade criativa face ao confronto dos opostos” (BYINGTON, 1983, p. 24, apud BERNARDO, 2012, p.38).A autora traz a importância do autoconhecimento para união dos opostos, na verdade sua integração ajuda o adolescente a entrar em contato com seu inconsciente sem perder a consciência no processo. Com isso consegue-se, por meio da arte, avivar no adolescente seus conhecimentos, descobrindo um mundo infinito de possibilidades ao trabalhar suas emoções, e assim levá-los a olhar para si de maneira inteira. Mostrar para eles, por meio dos trabalhos, que não existe feio ou bonito, que nada é rígido, que tudo pode ser transformado pela busca interior.Assim sendo, o objetivo geral deste artigo é desenvolver a comunicação inter e intrapessoal do adolescente por meio da

criatividade.

COMUNICAÇÃO INTER E INTRAPESSOAL

Existem vários tipos de comunicação, e as pessoas podem comunicar-se pelo código Morse, pela escrita, por gestos, pelo telefone, etc.; uma empresa, uma administração, até mesmo um Estado, podem comunicar-se com seus membros por intermédio de circulares, cartazes, mensagens radiofônicas ou televisionadas, etc.Toda comunicação tem por objetivo a transmissão de uma mensagem [...]. (VANOYE, 2011, p.1]A comunicação é um processo de troca de informações entre os seres das mais diversas maneiras. É um processo que envolve uma codificação, isto é, a formação de um código, e a decodificação, a busca do entendimento deste código, em forma de mensagens que permitem a troca de informações entre os indivíduos. Não há só a comunicação verbal, há vários tipos de comunicação e cada um deles tem características que o diferencia e o integra ao todo. (VANOYE, 2011, p.1).Segundo o Dicionário de Comunicação, a palavra comunicação deriva do latim communicare, cujo significado seria: “tornar comum”, “partilhar”, “repartir”, “associar”, “trocar opiniões”, “conferenciar”. Comunicar implica participação [...], em interação, em troca de mensagens, em emissão ou recebimento de informações novas. (RABAÇA & BARBOSA, 1995, p.151).Neste artigo, enfocamos as comunicações inter e intrapessoal. A comunicação interpessoal pode ser definida como aquela que acontece de alguém para alguém. (RABAÇA E BARBOSA, 1995, p.166). Já a comunicação intrapessoal é aquela que ocorre dentro de alguém. Está relacionada com as ideias e desejos do indivíduo; é a sua voz interior. Dessa forma, a comunicação intrapessoal é extremamente importante uma vez que representa o diálogo interno.

ADOLESCÊNCIA

A adolescência é a fase que marca a passagem entre a infância e a idade adulta. Segundo o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), é considerado adolescente aquele que tem entre 12 e 18 anos de idade.[...] o Adolescente passa por desequilíbrios e instabilidade, extremas de acordo com o que conhecemos dele. Em nosso meio cultural, mostra-nos períodos de relação, de introversão, alternando com audácia, timidez, descoordenação, urgência, desinteresse ou apatia. (ABERASTURY, 2011, p.28)Para Aberastury, a adolescência é uma fase muito difícil, pois a pessoa ainda não sabe quem é então ela sai em busca de autoafirmação. É fundamental para todo ser humano sentir-se único para poder seguir seu desenvolvimento. O adolescente também precisa de uma afirmação de si mesmo e que, ao mesmo tempo, é vivenciada no coletivo, do sentimento de pertencer a um grupo e da identificação da “turma”. Alguns adolescentes podem apresentar comportamentos infantis, resultado do medo e da insegurança de deixar a dependência dos pais e assumir suas próprias escolhas e poder caminhar com certa autonomia.Ainda segundo este autor, as mudanças corporais nessa fase ficam muito evidenciadas: essas transformações são acompanhadas da modificação na voz (que fica mais grave), do crescimento ósseo (acompanhado do alargamento do tronco e dos ombros), do enrijecimento muscular, do aumento da oleosidade da pele (o que pode causar o aparecimento de acnes). Todas essas mudanças podem causar perplexidade ao adolescente fazendo com que ele se sinta desajeitado diante desse corpo que é seu, mas que lhe soa estranho.De certa maneira, o adolescente poderá passar por recorrentes crises depressivas e dos estados de luto e de tristeza típicos da preparação da adolescência (morte da infância). Um bom mundo interior surge de uma relação satisfatória com os pais internalizados e da capacidade criativa que eles proporcionam.Segundo a Psicologia Analítica, as transformações ocorrem primeiro na psique: uma mudança nos arquétipos do pai e da mãe que aparecem na infância, depois dão lugar para o arquétipo do herói, e por seu intermédio, oferece segurança para enfrentar situações e desafios novos.[...] Estão presentes em nosso desenvolvimento psíquico, encontrados nos antigos rituais de iniciação e passagem de um ciclo a outro: um mergulho no caos (abertura ao novo), uma morte simbólica (corte com formas cristalizadas e desatualizadas de relacionamento com nossa realidade interno-externa), e um renascimento (ampliação de consciência, inaugurando um novo ciclo). (BERNARDO, 2008, p.115).Essa fase também é marcada pela ativação dos arquétipos de anima (na psique do menino) e deanimus (na psique da menina), arquétipos responsáveis pelo relacionamento com o sexo oposto. É nesse ciclo que o adolescente pode se diferenciar dos pais, que até então eram modelos para ele, para poder ir ao encontro de sua própria identidade, fase essa chamada de alteridade, que vai permitir ao adolescente conhecer o outro, e sua contraparte.

PROCESSO CRIATIVO

O potencial criador elabora-se nos múltiplos níveis do ser sensível-cultural-consciente do homem, e se faz presente nos múltiplos caminhos em que o homem procura captar e configurar as realidades da vida. Os caminhos podem cristalizar-se em formas de comunicação, em ordenações concluídas, mas a criatividade como potência se refaz sempre. A produtividade do homem, em vez de se esgotar, liberando-se, amplia-se. (OSTROWER, 2012, p.27).Segundo Ostrower, se pensarmos no potencial criador num âmbito geral, perceberemos que temos um infinito mundo de possibilidades. Criamos e excluímos realidades e possibilidades o tempo todo, com isso muitas vezes desconstruímos nossas ideias para poder reconstruir novamente e assim seguimos como se estivéssemos sempre montando um quebra

cabeça. Quando unimos os aspectos em oposição surgem novas alternativas e, com elas, a diversificação, fazendo que o processo de transformação crie e recrie o tempo todo.Assim, através das vivências conseguimos unificar os potenciais criativos e integrá-los em nossa maneira de nos comunicarmos.

JUNG E ARTETERAPIA

Carl Gustav Jung nasceu na Suíça, em 26 de julho de 1875, e morreu a 6 de junho de 1961, aos 86 anos. De família religiosa, desde criança se interessou pela filosofia e por questões espirituais. Estudou medicina, dando grande atenção aos fenômenos psíquicos (GUIMARÃES, 1997). Após ter-se formado, dedicou-se a pesquisar o inconsciente e formulou uma nova teoria sobre esse tema: a Psicologia Analítica.Segundo Tonietto (2005), Jung denominou Psicologia Analítica ao conjunto de conhecimentos construídos a partir da sua prática clínica e de suas experiências vividas na pesquisa da psique e seus conteúdos. O maior interesse desse estudioso estava relacionado com o mistério da psique humana, fonte de todas as atividades do homem, às "moléstias da alma”, e às formas de superar e transformar enfermidades em instrumento de desenvolvimento da psique.Em sua teoria, Jung distingue na pessoa vários elementos, dentre eles: a consciência e o inconsciente coletivo, a persona, o ego, eu, o animus, ânimo e a sombra, e considera a personalidade como um ideal irrealizável. Diz que no mesmo indivíduo existem diversos aspectos diferentes e contraditórios.Para Jung, um conteúdo é consciente quando é conhecido ou reconhecido pelo ego e por inconsciente quando ocorre o oposto. De acordo com suas próprias palavras:Por consciência entendo a referência dos conteúdos psíquicos ao eu enquanto assim for entendida pelo eu. Referências ao eu, enquanto não entendidas como tais pelo eu, são inconscientes. (JUNG, O. C. VI, § 796).Outro modo de se entender o significado de consciente, segundo Jung, pode ser encontrado na explicação de Edinger:Parte do fenômeno da consciência diz respeito à discriminação entre sujeito e objeto. Estou ciente de que sou um ser consciente; sou o sujeito dessa consciência. Quando olho para o mundo, vejo objetos e, no processo de me separar da identificação com esses objetos, ocorre uma separação entre sujeito e objeto. Essa é a forma como a consciência se desenvolve, separando sujeito de objeto. (Edinger, 2004)Dentre os vários conceitos próprios da Psicologia Analítica, existe o do “eu”, ou “ego”, que é à base da consciência, isto é, o “centro subjetivo do senso de identidade do indivíduo” (Edinger, 2004), por isso, todo conteúdo da consciência deve se relacionar ao sujeito, ao ego. O ego é o centro da personalidade.Por sua vez, “sombra” é o nome que Jung deu para os aspectos da personalidade que são desconhecidos do indivíduo, isto é, os que não estão em sua consciência. São os traços “obscuros” do caráter ou da personalidade, mas que não significa que sejam unicamente fraquezas e defeitos, são todos os traços ou características que ficam fora do campo da consciência. Conscientizar-se da sombra é fundamental em todo processo de autoconhecimento (Tonietto, 2005).Também é essencial que conheçamos o significado de “persona” para podermos compreender a teoria de Jung. Para ele:A persona é um complicado sistema de relação entre a consciência individual e a sociedade; é uma espécie de máscara destinada, por um lado, a produzir um determinado efeito sobre os outros e por outro lado a ocultar a verdadeira natureza do indivíduo. (JUNG, O. C. VII, § 305).Além dos termos já colocados, há outro de fundamental importância para a Psicologia Analítica: a “anima”. Esse termo abrange as experiências importantes que o homem tem de uma mulher. O arquétipo da anima é formado pelo acúmulo da repressão das tendências femininas presentes no inconsciente do homem. Geralmente, o caráter da anima de um homem é “moldado” pela mãe.Não há homem algum tão exclusivamente masculino que não possua em si algo de feminino. (“...) A repressão das tendências e traços femininos determina um acúmulo dessas pretensões no inconsciente.” (JUNG, O. C. VII, § 297).Ao realizar suas pesquisas, Jung verificou que é por meio de símbolos que o inconsciente se expressa. De acordo com ele, os símbolos religiosos, como a cruz dos cristãos, a estrela de Davi dos judeus, o Dharma dos budistas, são imagens que estão presentes no inconsciente coletivo do ser humano.Enquanto o inconsciente pessoal consiste fundamentalmente de material reprimido e de complexos, o inconsciente coletivo é composto fundamentalmente de uma tendência para sensibilizar-se com certas imagens, ou melhor, símbolos que constelam sentimentos profundos de apelo universal, os arquétipos: da mesma forma que animais e homens parecem possuir atitudes inatas, chamadas de instintos, também é provável que em nosso psiquismo exista um material psíquico com alguma analogia com os instintos. Talvez, as imagens arquetípicas sejam algo como figurações dos próprios instintos, num nível mais sofisticado, psíquico. Assim, não é mais arriscado admitir a hipótese do inconsciente coletivo, comum a toda a humanidade, do que admitir a existência de instintos comuns a todos os seres vivos. (Guimarães, 1997).Posteriormente, estudos realizados sobre os trabalhos de Jung revelaram que a teoria dos símbolos, dos arquétipos do inconsciente coletivo, é de fundamental importância para compreensão dos mistérios da criação artística (aspecto que interessa ao nosso tema, a Arte terapia).Em seu livro “Tipos Psicológicos”, de 1921, Jung define duas disposições típicas da consciência: introvertida e extrovertida. O ser introvertido (metido consigo mesmo) comporta-se de maneira adequada à abstração (devaneios), sua imagem está sempre dirigida à situação não pública, isto é, privar-se de espectadores e dos objetos de desejos, como a impedir a supremacia do objeto, ao contrário do extrovertido, que se comporta positivamente em face do objeto, afirmando a sua significação de tal forma, que orientará sua atração existente no sujeito, ou seja, no individual e relacioná-la para si de modo constante.Outra temática famosa com respeito a Jung é a sua teoria dos "tipos psicológicos". Foi com base na análise da controvérsia entre as personalidades de Freud e outro seu discípulo famoso, e também dissidente, Alfred Adler, que Jung consegue delinear a tipologia do "introvertido" e do "extrovertido". Freud seria o "extrovertido", Adler, o "introvertido". Para o extrovertido, os acontecimentos externos são da máxima importância, ao nível consciente; em compensação, ao nível inconsciente, a atividade psíquica do extrovertido concentra-se no seu próprio eu. De modo inverso, para o introvertido o

que conta é a resposta subjetiva aos acontecimentos externos, ao passo que, a nível inconsciente, o introvertido é compelido para o mundo externo. (Guimarães, 1997)Esses dois tipos de indivíduos são distintos e o contraste é visível em sua existência, inclusive aos leigos. É comum em sociedade depararmo-nos com tais seres, tão diferentes, sendo que os de natureza fechada são difíceis de conhecer, pois sua timidez impede qualquer aproximação, aprofundamento, que por vezes não deixa o sujeito desenvolver suas capacidades; e, os de natureza aberta, são mais acessíveis, se relacionam bem em sociedade, em consequência, conseguem mais oportunidade em seu desenvolvimento.Jung vai mais adiante a sua obra “Tipos Psicológicos” (1921) dando características detalhadas dos introvertidos e extrovertidos, descrevendo-os até nos sentimentos, oferecendo um quadro circular, cuja disposição permite ao leitor observações e visão ampla nos processos da vida humana e de sua gênese.Para Jung (1920), “Arte é a expressão mais pura que há para a demonstração do inconsciente de cada um. É a liberdade de expressão, é sensibilidade, criatividade, é vida". Através deste processo, a energia psíquica consegue transformar-se em imagens e através dos símbolos, colocar seus conteúdos mais internos e profundos.A Arteterapia baseia-se na crença de que o processo criativo envolvido na atividade artística é terapêutico e enriquecedor da qualidade de vida das pessoas. Por meio do criar em arte e do refletir sobre os processos e os trabalhos artísticos resultantes, as pessoas podem ampliar o conhecimento de si e dos outros, aumentar a autoestima, lidar melhor com sintomas, estresse e experiências traumáticas, desenvolver recursos físicos, cognitivos, emocionais e desfrutar do prazer vitalizador do fazer artístico.

O PROCESSO ARTETERAPÊUTICO

O processo arteterapêutico é composto por oficinas, iremos citar apenas uma para exemplificar como a dinâmica acontece. O objetivo é proporcionar aos leitores, uma reflexão sobre sua maneira única de se apresentar ao mundo.O ponto principal da oficina é a atividade “Só eu sou Eu” (ALVAREZ, S.) Atividade de colagem apresentada em sala de aula.Geralmente os encontros iniciam-se com um lanche. É um momento de muita descontração, para que os adolescentes se conheçam. Nesse encontro é importante falar sobre os conceitos e princípios da arteterapia e também sobre o projeto e oficinas de criatividade. Os adolescentes são questionados sobre o significado de seus nomes e quem os nomeou. Neste primeiro encontro, é fornecido a cada um dos participantes uma caixa de madeira para que eles guardem seus trabalhos até a última oficina, ao término podem levá-la para casa. Os adolescentes decoram a caixa com vários materiais que ficam à disposição. A atividade de sensibilização-o totem do nome o que deve ser recortado e colado na caixa.A atividade “Só eu sou Eu” é um trabalho de imaginação do tamanho do universo, do planeta, do continente, do país, do estado e da cidade onde moram. Das 7 bilhões de pessoas que existem no mundo, ninguém é igual a ninguém. Cada participante recebe um boneco para servir de base da colagem e começam a procura pelas imagens. No momento em que eles começam a colagem, são questionados sobre a escolha das mesmas.Segundo Fuão, “a collage permite ver o que se esconde no interior de seu corpo, quando está desapropriado de sua falsa pele, sem sua representação fotográfica de seu narcisismo” (FUÃO, 2011, p.47).A atividade finaliza com os comentários dos adolescentes sobre o que o boneco representa.Segundo Scarpato, “intimidade não no sentido de contato com o conhecido, familiar, mas um espaço singular de abertura protegida pelo vínculo, onde podemos deixar vir o desconhecido em nós, o estranho, o novo”. (SCARPATO, 2011, p.107.)A atividade trabalha a maneira única de se apresentarem ao mundo. Chevalier & Gheerbrant falam sobre esses símbolos:O ar é o meio próprio da luz, do alçar vôo, do perfume, da cor, das vibrações interplanetárias; é a via de comunicação entre o céu e a terra [...], simbolicamente, a terra opõe-se ao céu como o princípio ativo; o aspecto feminino ao aspecto masculino da manifestação; a obscuridade à luz; o yin ao yang [...], a água é o símbolo das energias inconscientes, das virtudes informes da alma, das motivações secretas e desconhecidas [...] o fogo na qualidade de elemento que queima e consome, é também símbolo de purificação e de degenerescência. (CHEVALIER GHEERBRANT, 2007, p.21; 443; 68; 878)

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A proposta deste artigo foi aliar a Arteterapia como ferramenta para promover a possibilidade da comunicação inter e intrapessoal por meio da criatividade. A utilização das atividades criativas funcionam como uma ponte levando os adolescentes a exteriorizar seu mundo interno e dando-lhes liberdade para expressar suas alegrias, angústias e também revisitar seus valores, suas crenças e seus costumes. Avivar a criatividade desses adolescentes por meio da Arteterapia mostrando-lhes novos atributos, novas maneiras de pensar e de agir e de se relacionar consigo e com o outro poderá ajudá-los a proporcionar mudanças significativas para a melhoria do seu bem-estar e do ambiente onde vivem.Concluímos que o processo arteterapêutico, contribuiu para descobertas importantes para estes adolescentes. Faz-se necessário criar um espaço em que os adolescentes possam se expressar, falar de suas angústias, conflitos, medos e alegrias. As oficinas são encontros pontuais, em que os adolescentes podem se expressar através de palavras, sem medo de se expor, de ficar inseguro, e terem medo de que possam magoar alguém se falarem o que sentem.O processo arte terapêutico ajuda os adolescentes a perceberem questões que até então não haviam pensado. Muitos deles sofrem com a separação dos pais, com a perda da bisavó materna, por exemplo. Esses rompimentos incomodam muito. E quando o adolescente é muito sensível consegue perceber de maneira clara que os conflitos existem, principalmente entre seus pais e isso lhes causam chateação por sentir que às vezes as pessoas não são transparentes. Por outro lado, o processo arteterapêutico traz alegria para eles, pois se sentem confiantes nas profissionais que desenvolvem as oficinas, e conseguem compartilhar seus sentimentos.

REFERÊNCIAS THE AMERICAN ART THERAPY ASSOCIATION [AATA]. Defining Art Therapy. Disponível em Acesso em: 18.mar.2021.

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Page 10: REVISTA EXATTO MARÇO

RESUMO As Diretrizes Curriculares Nacionais de Educação Infantil e as propostas pedagógicas existentes devem considerar princípios estéticos, voltando-se para diferentes manifestações artísticas e culturais e que considerem a heterogeneidade cultural, étnica, religiosa, social do país. A música como linguagem organiza os signos sonoros no espaço e no tempo, trazendo a possibilidade de trazer reflexão ao ouvinte sobre o mundo. Assim, é fundamental assegurar o ensino da música entre as crianças para que as mesmas possam entender e construir seu cotidiano e parte do seu mundo a partir da linguagem sonora. Por isto, a presente pesquisa discute as implicações da musicalização na Educação Infantil no desenvolvimento das crianças da creche e pré-escola. Os resultados indicaram que o uso da música é de fundamental importância para o desenvolvimento sociocognitivo das mesmas, em interdisciplinaridade com outras áreas de conhecimento.

Palavras-chave: Educação Infantil; Musicalização; Desenvolvimento Infantil.

INTRODUÇÃO

As crianças se envolvem com os sons desde muito pequenas, sendo que alguns pesquisadores discutem que esse contato acontece desde a fase intrauterina. Quando chegam a fase escolar, uma das problemáticas é que determinadas experiências sonoras ficam muitas vezes reduzida a ajudar na organização de atividades relacionadas à ocasião do recreio e do asseio das crianças, ganhando aspectos de disciplinarização da infância. Assim, justifica-se o presente artigo a discussão sobre a importância da música e sua utilização na Educação Infantil, a fim de encontrar sua identidade e de distinguir o ambiente em que vive, utilizando os sons através de suas diferentes propriedades: altura, espaço, grau, timbre, sons; através de brincadeiras, cantaroladas, assobios, risos, gritos, ou seja, emitindo os mais diversos sons. Sabe-se que em relação à criança, a música é criada ao brincar com os sons, transformando ambientes. Outra problemática é a questão de que muitos docentes ainda não compreendem a importância do ensino de música, classificando algumas músicas como musiquinhas, e ainda músicas e sons produzidos pelas próprias crianças, considerando-os barulhos.Desta forma, temos como objetivo geral discutir as implicações da musicalização no processo da Educação Infantil; e como objetivos específicos discutir a legislação pertinente a inserção da música na Educação Infantil, bem como suas contribuições para o ensino da mesma e para o desenvolvimento sociocognitivo das crianças que frequentam essa etapa escolar.

A MÚSICA E A EDUCAÇÃO INFANTIL

Podemos destacar que as atividades desenvolvidas dentro da Educação Infantil são direcionadas entre outros documentos pelas Diretrizes Curriculares Nacionais, como discutido abaixo:

(...) a primeira etapa da educação básica, oferecida em creches e pré-escolas, às quais se caracterizam como espaços institucionais não domésticos que constituem estabelecimentos educacionais públicos ou privados que educam e cuidam de crianças de 0 a 5 anos de idade no período diurno, em jornada integral ou parcial, regulados e supervisionados por órgão competente do sistema de ensino e submetidos a controle social (DCNs, 2010, p.12).

Os docentes da Educação Infantil devem estar sempre atentos cem relação aqueles que classificam algumas músicas ouvidas pelas crianças como musiquinhas, tratando-se de forma revelando como as crianças são concebidas e, além disso, como são pensadas e realizadas as relações entre adultos e crianças em ambientes para a infância igualmente onde se toca músicas e sons que, ao serem realizados pelas próprias crianças, são ouvidos como barulhos, contrariando as regras do silêncio. A canção é essencial como brincadeira, como cultura e como contato com o folclore (GOBBI, 2010).Ainda, não se pode ignorar o contato com outros gêneros musicais, de outras culturas e, principalmente com os sons de todas as partes do mundo, considerando também o que a criança porta advindo de seu contexto social, familiar, cultural. A ideia central da Educação Infantil não é apenas colocar para a criança músicas já prontas, mas sim oferecer momentos de descobertas e construções sonoras, canto e invenção de canções. Ainda, objetos devem ser transformados em instrumentos musicais, enriquecendo o repertório musical através de práticas diferenciadas com as crianças.A sonorização de histórias, a escuta sonora, brincadeiras cantadas, percepção de sons, barulhos, ruídos, compõem a creche e pré-escola, sendo essenciais para estabelecer o tempo das crianças juntamente a outras linguagens e não como aula de música, o que tantas vezes é observado.As funções psicológicas superiores vão sendo desenvolvidas nas crianças de acordo com dois tipos de fenômenos: as transformações psíquicas como o desenvolvimento da fala, da escrita e do desenho, por exemplo; e os processos de desenvolvimento das funções relacionadas à memória, julgamento, concentração e inteligência conceitual (TULESKI e EIDT, 2016).Ou seja, a música, se torna um estimulo primordial para o desenvolvimento cerebral da criança. Culturalmente é comum o hábito de cantar e dançar para os bebês, auxiliando tanto no aprendizado musical, quanto no desenvolvimento da afetividade, da socialização e da aquisição da linguagem.Por fim, a educação é um processo contínuo e evolutivo, e deve ser pautado principalmente na criança, tornando-se necessário evidenciar este processo já na educação infantil, caracterizada por ser uma fase relevante no desenvolvimento humano. Deve-se conceber a criança como um ser social e histórico, sendo que a aprendizagem nessa esfera se dá pelas interações entre a criança e o mundo a sua volta. Observa-se, portanto diferentes orientações didáticas, que presam a utilização dos jogos e brincadeiras, além de atividades que envolvam o reconhecimento do próprio corpo, do corpo do outro, da música, da dança e da imitação gestual.

A LEGISLAÇÃO NA EDUCAÇÃO INFANTIL

A Lei Nacional nº 11.769/2008, trouxe a educação em música como obrigatória, alterando o artigo 26 da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDBEN nº 9394/1996), trazendo o convite de se repensar nas práticas artísticas como as artes visuais, a dança, o teatro e a música. A música foi considerada uma área de competência que requer estudo, prática, reflexão e diversidade, devendo existir no Projeto Político Pedagógico da escola. Além disso, ela deve constar nos planejamentos pedagógicos, ser trabalhada interdisciplinarmente, contribuindo para o desenvolvimento cognitivo e pleno de crianças e adolescentes. Já as Diretrizes Nacionais para a operacionalização do Ensino da Música na Educação Básica (CNE/CEB nº 12/2013 de 04/12/2013) trouxeram a urgência de um currículo que contemplasse uma matriz de saberes para o ensino de música, constituindo-se em uma ferramenta que contribui para o trabalho do docente especialista e não especialista desenvolvendo a Educação Musical na Educação Básica e, especialmente na Educação Infantil.Outra mudança na educação ocorreu com a chegada da Base Nacional Comum Curricular (BNCC), documento orientador para que ocorra a equidade nos sistemas de ensino do Brasil inteiro. No caso da música:

A Música é a expressão artística que se materializa por meio dos sons, que ganham forma, sentido e significado no âmbito tanto da sensibilidade subjetiva quanto das interações sociais, como resultado de saberes e valores diversos estabelecidos no domínio da cultura. A ampliação e a produção dos conhecimentos musicais passam pela percepção, experimentação, reprodução, manipulação e criação de materiais sonoros diversos, dos mais próximos aos mais distantes da cultura musical dos alunos. Esse processo lhes possibilita vivenciar a música inter-relacionada à diversidade e desenvolver saberes musicais fundamentais para a sua inserção e participação crítica e ativa na sociedade (BNCC, 2017, p. 154).

No caso da BNCC voltada para a Educação Infantil, esta ampliou a jornada destinada às experiências, envolvendo a Arte como um todo e suas linguagens, trazendo a música como elemento obrigatório desde a infância. Neste sentido, as discussões do trabalho docente têm ocorrido de forma significativa, a fim de trazer métodos adequados ao trabalho com a primeira infância (BRASIL, 2019).Ainda, de acordo com Mendes (2009), os documentos orientadores da Educação Infantil, trazem a importância do trabalho com a linguagem musical utilizando-se de improvisações, de estudos corporais, da escuta de sons e música, da construção de instrumentos musicais, gerando e pensando em música. É através da música que a criança aprende a se expressar. A escola deve desenvolver potencialidades apresentando sua parte poética, sua composição e sua diversidade. Uma combinação entre os deleites que a música promove demonstram a importância para o desenvolvimento cognitivo e educacional das crianças.Por fim, o Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil traz a expressão corporal como uma das linguagens que devem ser trabalhadas nesse período, permitindo assim a criança a tomar consciência de si mesma, expressando e conhecendo o mundo à sua volta. A música pode contribuir para a exploração de diversas formas de como sentir o corpo proporciona às crianças o conhecimento de suas características, limitações e formas de expressão: “a riqueza de possibilidades da linguagem corporal revela um universo a ser vivenciado, conhecido, desfrutado” (AYOUB, 2001, p. 57), pois, o movimento corporal é a essência das crianças.A criança expressa-se principalmente através da fala e da dança, movimentando-se corporalmente. Assim:

É com o corpo que a criança elabora todas as suas experiências vitais, e organiza toda a sua personalidade. Através dele ela percebe o mundo, e perceber o mundo é aprender (e reaprender) com seu próprio corpo; perceber o mundo, portanto, é perceber o corpo; o corpo é assim, sensação, percepção e ação (STEUCK, 2008, p. 13-14).

MÚSICA E AS CRIANÇAS

A música organiza os signos sonoros no espaço e no tempo; e de acordo com as pesquisas voltadas para a origem da música e a sua importância para as relações sociais, elas vêm sendo aprofundadas desde o século XX, buscando explicações na biologia, na sociologia e na antropologia (MARIANO, 2015).A criança logo cedo costuma ter contato com a música. Inicialmente com sua mãe cantarolando com voz doce e suave, crescendo e percebendo que o mundo ao seu redor é regido pela musicalidade. A música está presente em diversos lugares e momentos, seja nas músicas de embalar, nas brincadeiras, nos brinquedos sonoros, nas danças, entre outras ações, podendo marcar afetivamente determinados momentos. Assim, de acordo com Nogueira (2003), a música está no nosso dia a dia, nos costumes e nas tradições de uma dada sociedade, nas festas e recordações especiais. Ou seja, a música contribui para a fixação de algumas regras, possibilitando diferentes aprendizados.A começar do nascimento entramos em contato com os sons, desde que nascemos estamos predispostos aos sons e composições, iniciando assim o mundo da linguagem. Por isso, essa relação prematura favorece o desenvolvimento de nossas aptidões cognitivas, linguísticas e motoras (SIMIONATO e TOURINHO, 2007). Para Brito (2003), a criança quando escuta música não quer dizer que abraça regras ou nota especificidades, mas sim vive aquele momento de aprendizagem. Por isso, a criança ao ter contato com a música deve determinadas certas capacidades, diferenciando o escutar, os diferentes tipos de sons e as diferenças culturais existentes. Existindo a possiblidade de ampliar as formas de comunicação e expressão, desenvolve-se ainda uma boa comunicação: “A importância do ensino de música na escola reside, então, na possibilidade de despertar habilidades e condutas na criança, levando-a a sentir- se sensibilizada pela música valendo-se da criação e da livre expressão” (LOUREIRO, 2003, p.1).Assim, a utilização da música na Educação Infantil desenvolve as potencialidades das crianças e deve respeitar sua individualidade, seu contexto cultural, étnico, religioso, entre outros aspectos, concebendo a criança como um ser único que apresenta características peculiares e que precisa desenvolver diferentes habilidades e linguagens para interagir com o mundo que a cerca. Sabe-se que a metodologia principal na Educação Infantil é a ludicidade, porém é preciso desenvolver outras aprendizagens e a Arte nesse sentido pode trazer boas contribuições dentro desta proposta. Ainda, nessa etapa de escolaridade, é necessário dispor de ferramentas e práticas que trabalhem a diversidade e o contexto da criança, explorando as suas potencialidades. O ensino da música envolve a construção do sujeito musical, a partir da constituição da linguagem. Esta transforma a criança, no que se refere à percepção, as formas de pensar, agir e interagir com o mundo e com os outros. Por fim, a música enquanto linguagem organiza os signos sonoros no espaço e no tempo, motivo pelo qual constitui-se como possibilidade de trazer reflexão ao ouvinte sobre o mundo, sobre o trabalho docente e principalmente o desenvolvimento das crianças, para que ela cresça plena e feliz, inclusive.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

De acordo com a pesquisa realizada, foi possível perceber que a musicalização na Educação Infantil tem por objetivo estimular o desenvolvimento global da criança, integrando sua individualidade, seu contexto socioeconômico, cultural, étnico, entre outros, concebendo a criança como um ser único que apresenta características peculiares e que interage com outras crianças e adultos.A musicalização, assim como outras formas de arte e a ludicidade, são a base da Educação Infantil. Para que o trabalho com música se torne viável nesta fase escolar, é necessário pensar em ferramentas e práticas trabalhando a diversidade e o contexto da criança, explorando assim suas potencialidades. O ensino da música envolve a construção do indivíduo musical, a partir da constituição da linguagem da música. O uso desse tipo de conceito transforma a criança, no que se referem à percepção, formas de agir e pensar, quanto os aspectos subjetivos. A escola é o primeiro ambiente no qual a criança vem a estabelecer suas relações sociais foram do ciclo familiar, essa situação nova na vida infantil deve ser acompanhada para que ao oferecer à criança um novo mundo diverso, repleto de situações na qual tenha que elaborar novos mecanismos de compreensão de fatos, conceitos e atitudes ela se sinta acolhida e atendida em meio a esse novo desafio, onde a criança que ingressa na vida escolar em meio a essa ampliação de relações possa construir sua concepção social do mundo.Ainda, a música pode contribuir como uma possibilidade de compreender através do embasamento teórico a forma com que as crianças constroem as suas relações sociais do nascimento até o momento da primeira infância, através de meios a princípio físicos e posteriormente através de aspectos mais subjetivos definidos como emoções, desejos e sentimentos.Assim, a música como ferramenta dinâmica na Educação Infantil, auxiliar no trabalho docente e na aprendizagem das crianças, trazendo a oportunidade do docente trabalhar a diversidade em sala de aula e desenvolvendo diferentes habilidades nos pequenos. Mesmo que haja docentes que ainda se espelham em modelos pedagógicos mais tradicionais, seguindo determinadas regras e formas de comportamento, de acordo com a pesquisa a maioria dos docentes ainda acredita que a afetividade, a ludicidade e a utilização da música são as melhores formas de se relacionar com as crianças podendo desenvolver a

comunicação oral e dialética conforme proporcione respeito e liberdade de ideias e conhecimentos prévios das crianças.Além disso, outra contribuição do uso da música durante a Educação Infantil é que esse período é um momento em que a criança experimenta, ajusta e constrói movimentos corporais provenientes da interação com os demais colegas. E a música pode desenvolver isso, por exemplo, através da dança, desenvolvendo a autonomia corporal e de ter contato com diferentes vivências e movimentos corporais provenientes da cultura a seu redor. Assim, na Educação Infantil é necessário desenvolver uma pedagogia que organize o fazer o pedagógico em torno de diferentes linguagens as quais a criança utiliza para expressar e se comunicar com o mundo que a cerca.

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RESUMO O objetivo deste artigo é refletir sobre a importância da Arteterapia como ferramenta para desenvolver a comunicação inter e intrapessoal do adolescente por meio da criatividade. Com os instrumentos da Arteterapia buscou-se auxiliar os adolescentes a desenvolver a comunicação inter e intrapessoal, assim como aflorar suas potencialidades e criatividade por meio de estímulos artísticos. A Arteterapia cria recursos de expressão e criatividade que possibilitam que o adolescente libere suas emoções, seus conflitos e angústias. Possibilita que o adolescente seja capaz de enxergar esses conflitos e assim equalizar sua mente ao seu corpo, melhorando sua qualidade de vida. Através das bibliografias que envolvem o tema foi possível compreender que cada ser humano tem seu potencial individualizado; que a arte é capaz de transformar e resgatar esse potencial criativo e assim possibilitar a expressão e o autoconhecimento.

Palavras-chave: Arteterapia; Adolescente; Comunicação

INTRODUÇÃO

Este artigo propõe discutir a importância da Arteterapia no processo de manifestação da criatividade dos adolescentes. Nesse processo, os potenciais criativos são resgatados através de mediadores, tais como: música (como recurso que restaura a expressão de corpo, mente e alma); mandalas (como orientador no processo criativo); pintura (como facilitador para trazer vivências do inconsciente para o consciente); desenhos (como recurso de exteriorizar medos e angústias por meio de símbolos); dança (como vivência individual ou em grupo, ajudando assim na integração dos conteúdos internos da psique e facilitando a expressão individual); escultura e colagem (como recurso de dar forma a sentimentos e sensações). Além disso, por meio desses recursos, busca-se facilitar a comunicação da expressão emocional e aprofundar o conhecimento interno.A artista plástica polonesa Fayga Ostrower, em seu livro Criatividade e processo de criação, afirma que:O potencial criador elabora-se nos múltiplos níveis do ser sensível-cultural-consciente do homem, e se faz presente nos múltiplos caminhos em que o homem procura captar e configurar as realidades da vida. Os caminhos podem cristalizar-se em formas de comunicação, em ordenações concluídas, mas a criatividade como potência se refaz sempre. A produtividade do homem, em vez de se esgotar, liberando-se, amplia-se. (OSTROWER, 2012, p.27).O criar em Arteterapia através dos recursos que ela apresenta tais como a imaginação e o simbolismo das metáforas, acaba facilitando a comunicação na expressão emocional e aprofunda o conhecimento interno trazendo assim do inconsciente todo seu potencial criativo.Na sociedade contemporânea, a conexão com o sentido simbólico e iniciático do rito de passagem foi perdida. Por isso, se faz importante, principalmente para o adolescente, a reflexão sobre as etapas e passagens que ele enfrenta na vida.Nesse sentido, a Arteterapia pode ajudar a vivenciar esses processos de transformação.[...] no dinamismo de alteridade, que corresponde à época da adolescência, os opostos são relacionados de maneira igualitária e dialética, sendo vivenciados como aspectos diferentes de uma mesma realidade. Essa fase é voltada para o relacionamento com o outro e com a própria contraparte sexual, sendo, portanto, regidos pelos arquétipos da Anima (que corresponde aos aspectos do feminino na alma masculina), do Animus (que corresponde aos aspectos masculinos na alma feminina), e do Coniunctio (que se refere à conjunção de opostos, a reunião dessas duas “metades” num todo que as congrega e abrange como partes de uma única e indivisa realidade), caracterizando-se “por sua capacidade criativa face ao confronto dos opostos” (BYINGTON, 1983, p. 24, apud BERNARDO, 2012, p.38).A autora traz a importância do autoconhecimento para união dos opostos, na verdade sua integração ajuda o adolescente a entrar em contato com seu inconsciente sem perder a consciência no processo. Com isso consegue-se, por meio da arte, avivar no adolescente seus conhecimentos, descobrindo um mundo infinito de possibilidades ao trabalhar suas emoções, e assim levá-los a olhar para si de maneira inteira. Mostrar para eles, por meio dos trabalhos, que não existe feio ou bonito, que nada é rígido, que tudo pode ser transformado pela busca interior.Assim sendo, o objetivo geral deste artigo é desenvolver a comunicação inter e intrapessoal do adolescente por meio da

criatividade.

COMUNICAÇÃO INTER E INTRAPESSOAL

Existem vários tipos de comunicação, e as pessoas podem comunicar-se pelo código Morse, pela escrita, por gestos, pelo telefone, etc.; uma empresa, uma administração, até mesmo um Estado, podem comunicar-se com seus membros por intermédio de circulares, cartazes, mensagens radiofônicas ou televisionadas, etc.Toda comunicação tem por objetivo a transmissão de uma mensagem [...]. (VANOYE, 2011, p.1]A comunicação é um processo de troca de informações entre os seres das mais diversas maneiras. É um processo que envolve uma codificação, isto é, a formação de um código, e a decodificação, a busca do entendimento deste código, em forma de mensagens que permitem a troca de informações entre os indivíduos. Não há só a comunicação verbal, há vários tipos de comunicação e cada um deles tem características que o diferencia e o integra ao todo. (VANOYE, 2011, p.1).Segundo o Dicionário de Comunicação, a palavra comunicação deriva do latim communicare, cujo significado seria: “tornar comum”, “partilhar”, “repartir”, “associar”, “trocar opiniões”, “conferenciar”. Comunicar implica participação [...], em interação, em troca de mensagens, em emissão ou recebimento de informações novas. (RABAÇA & BARBOSA, 1995, p.151).Neste artigo, enfocamos as comunicações inter e intrapessoal. A comunicação interpessoal pode ser definida como aquela que acontece de alguém para alguém. (RABAÇA E BARBOSA, 1995, p.166). Já a comunicação intrapessoal é aquela que ocorre dentro de alguém. Está relacionada com as ideias e desejos do indivíduo; é a sua voz interior. Dessa forma, a comunicação intrapessoal é extremamente importante uma vez que representa o diálogo interno.

ADOLESCÊNCIA

A adolescência é a fase que marca a passagem entre a infância e a idade adulta. Segundo o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), é considerado adolescente aquele que tem entre 12 e 18 anos de idade.[...] o Adolescente passa por desequilíbrios e instabilidade, extremas de acordo com o que conhecemos dele. Em nosso meio cultural, mostra-nos períodos de relação, de introversão, alternando com audácia, timidez, descoordenação, urgência, desinteresse ou apatia. (ABERASTURY, 2011, p.28)Para Aberastury, a adolescência é uma fase muito difícil, pois a pessoa ainda não sabe quem é então ela sai em busca de autoafirmação. É fundamental para todo ser humano sentir-se único para poder seguir seu desenvolvimento. O adolescente também precisa de uma afirmação de si mesmo e que, ao mesmo tempo, é vivenciada no coletivo, do sentimento de pertencer a um grupo e da identificação da “turma”. Alguns adolescentes podem apresentar comportamentos infantis, resultado do medo e da insegurança de deixar a dependência dos pais e assumir suas próprias escolhas e poder caminhar com certa autonomia.Ainda segundo este autor, as mudanças corporais nessa fase ficam muito evidenciadas: essas transformações são acompanhadas da modificação na voz (que fica mais grave), do crescimento ósseo (acompanhado do alargamento do tronco e dos ombros), do enrijecimento muscular, do aumento da oleosidade da pele (o que pode causar o aparecimento de acnes). Todas essas mudanças podem causar perplexidade ao adolescente fazendo com que ele se sinta desajeitado diante desse corpo que é seu, mas que lhe soa estranho.De certa maneira, o adolescente poderá passar por recorrentes crises depressivas e dos estados de luto e de tristeza típicos da preparação da adolescência (morte da infância). Um bom mundo interior surge de uma relação satisfatória com os pais internalizados e da capacidade criativa que eles proporcionam.Segundo a Psicologia Analítica, as transformações ocorrem primeiro na psique: uma mudança nos arquétipos do pai e da mãe que aparecem na infância, depois dão lugar para o arquétipo do herói, e por seu intermédio, oferece segurança para enfrentar situações e desafios novos.[...] Estão presentes em nosso desenvolvimento psíquico, encontrados nos antigos rituais de iniciação e passagem de um ciclo a outro: um mergulho no caos (abertura ao novo), uma morte simbólica (corte com formas cristalizadas e desatualizadas de relacionamento com nossa realidade interno-externa), e um renascimento (ampliação de consciência, inaugurando um novo ciclo). (BERNARDO, 2008, p.115).Essa fase também é marcada pela ativação dos arquétipos de anima (na psique do menino) e deanimus (na psique da menina), arquétipos responsáveis pelo relacionamento com o sexo oposto. É nesse ciclo que o adolescente pode se diferenciar dos pais, que até então eram modelos para ele, para poder ir ao encontro de sua própria identidade, fase essa chamada de alteridade, que vai permitir ao adolescente conhecer o outro, e sua contraparte.

PROCESSO CRIATIVO

O potencial criador elabora-se nos múltiplos níveis do ser sensível-cultural-consciente do homem, e se faz presente nos múltiplos caminhos em que o homem procura captar e configurar as realidades da vida. Os caminhos podem cristalizar-se em formas de comunicação, em ordenações concluídas, mas a criatividade como potência se refaz sempre. A produtividade do homem, em vez de se esgotar, liberando-se, amplia-se. (OSTROWER, 2012, p.27).Segundo Ostrower, se pensarmos no potencial criador num âmbito geral, perceberemos que temos um infinito mundo de possibilidades. Criamos e excluímos realidades e possibilidades o tempo todo, com isso muitas vezes desconstruímos nossas ideias para poder reconstruir novamente e assim seguimos como se estivéssemos sempre montando um quebra

cabeça. Quando unimos os aspectos em oposição surgem novas alternativas e, com elas, a diversificação, fazendo que o processo de transformação crie e recrie o tempo todo.Assim, através das vivências conseguimos unificar os potenciais criativos e integrá-los em nossa maneira de nos comunicarmos.

JUNG E ARTETERAPIA

Carl Gustav Jung nasceu na Suíça, em 26 de julho de 1875, e morreu a 6 de junho de 1961, aos 86 anos. De família religiosa, desde criança se interessou pela filosofia e por questões espirituais. Estudou medicina, dando grande atenção aos fenômenos psíquicos (GUIMARÃES, 1997). Após ter-se formado, dedicou-se a pesquisar o inconsciente e formulou uma nova teoria sobre esse tema: a Psicologia Analítica.Segundo Tonietto (2005), Jung denominou Psicologia Analítica ao conjunto de conhecimentos construídos a partir da sua prática clínica e de suas experiências vividas na pesquisa da psique e seus conteúdos. O maior interesse desse estudioso estava relacionado com o mistério da psique humana, fonte de todas as atividades do homem, às "moléstias da alma”, e às formas de superar e transformar enfermidades em instrumento de desenvolvimento da psique.Em sua teoria, Jung distingue na pessoa vários elementos, dentre eles: a consciência e o inconsciente coletivo, a persona, o ego, eu, o animus, ânimo e a sombra, e considera a personalidade como um ideal irrealizável. Diz que no mesmo indivíduo existem diversos aspectos diferentes e contraditórios.Para Jung, um conteúdo é consciente quando é conhecido ou reconhecido pelo ego e por inconsciente quando ocorre o oposto. De acordo com suas próprias palavras:Por consciência entendo a referência dos conteúdos psíquicos ao eu enquanto assim for entendida pelo eu. Referências ao eu, enquanto não entendidas como tais pelo eu, são inconscientes. (JUNG, O. C. VI, § 796).Outro modo de se entender o significado de consciente, segundo Jung, pode ser encontrado na explicação de Edinger:Parte do fenômeno da consciência diz respeito à discriminação entre sujeito e objeto. Estou ciente de que sou um ser consciente; sou o sujeito dessa consciência. Quando olho para o mundo, vejo objetos e, no processo de me separar da identificação com esses objetos, ocorre uma separação entre sujeito e objeto. Essa é a forma como a consciência se desenvolve, separando sujeito de objeto. (Edinger, 2004)Dentre os vários conceitos próprios da Psicologia Analítica, existe o do “eu”, ou “ego”, que é à base da consciência, isto é, o “centro subjetivo do senso de identidade do indivíduo” (Edinger, 2004), por isso, todo conteúdo da consciência deve se relacionar ao sujeito, ao ego. O ego é o centro da personalidade.Por sua vez, “sombra” é o nome que Jung deu para os aspectos da personalidade que são desconhecidos do indivíduo, isto é, os que não estão em sua consciência. São os traços “obscuros” do caráter ou da personalidade, mas que não significa que sejam unicamente fraquezas e defeitos, são todos os traços ou características que ficam fora do campo da consciência. Conscientizar-se da sombra é fundamental em todo processo de autoconhecimento (Tonietto, 2005).Também é essencial que conheçamos o significado de “persona” para podermos compreender a teoria de Jung. Para ele:A persona é um complicado sistema de relação entre a consciência individual e a sociedade; é uma espécie de máscara destinada, por um lado, a produzir um determinado efeito sobre os outros e por outro lado a ocultar a verdadeira natureza do indivíduo. (JUNG, O. C. VII, § 305).Além dos termos já colocados, há outro de fundamental importância para a Psicologia Analítica: a “anima”. Esse termo abrange as experiências importantes que o homem tem de uma mulher. O arquétipo da anima é formado pelo acúmulo da repressão das tendências femininas presentes no inconsciente do homem. Geralmente, o caráter da anima de um homem é “moldado” pela mãe.Não há homem algum tão exclusivamente masculino que não possua em si algo de feminino. (“...) A repressão das tendências e traços femininos determina um acúmulo dessas pretensões no inconsciente.” (JUNG, O. C. VII, § 297).Ao realizar suas pesquisas, Jung verificou que é por meio de símbolos que o inconsciente se expressa. De acordo com ele, os símbolos religiosos, como a cruz dos cristãos, a estrela de Davi dos judeus, o Dharma dos budistas, são imagens que estão presentes no inconsciente coletivo do ser humano.Enquanto o inconsciente pessoal consiste fundamentalmente de material reprimido e de complexos, o inconsciente coletivo é composto fundamentalmente de uma tendência para sensibilizar-se com certas imagens, ou melhor, símbolos que constelam sentimentos profundos de apelo universal, os arquétipos: da mesma forma que animais e homens parecem possuir atitudes inatas, chamadas de instintos, também é provável que em nosso psiquismo exista um material psíquico com alguma analogia com os instintos. Talvez, as imagens arquetípicas sejam algo como figurações dos próprios instintos, num nível mais sofisticado, psíquico. Assim, não é mais arriscado admitir a hipótese do inconsciente coletivo, comum a toda a humanidade, do que admitir a existência de instintos comuns a todos os seres vivos. (Guimarães, 1997).Posteriormente, estudos realizados sobre os trabalhos de Jung revelaram que a teoria dos símbolos, dos arquétipos do inconsciente coletivo, é de fundamental importância para compreensão dos mistérios da criação artística (aspecto que interessa ao nosso tema, a Arte terapia).Em seu livro “Tipos Psicológicos”, de 1921, Jung define duas disposições típicas da consciência: introvertida e extrovertida. O ser introvertido (metido consigo mesmo) comporta-se de maneira adequada à abstração (devaneios), sua imagem está sempre dirigida à situação não pública, isto é, privar-se de espectadores e dos objetos de desejos, como a impedir a supremacia do objeto, ao contrário do extrovertido, que se comporta positivamente em face do objeto, afirmando a sua significação de tal forma, que orientará sua atração existente no sujeito, ou seja, no individual e relacioná-la para si de modo constante.Outra temática famosa com respeito a Jung é a sua teoria dos "tipos psicológicos". Foi com base na análise da controvérsia entre as personalidades de Freud e outro seu discípulo famoso, e também dissidente, Alfred Adler, que Jung consegue delinear a tipologia do "introvertido" e do "extrovertido". Freud seria o "extrovertido", Adler, o "introvertido". Para o extrovertido, os acontecimentos externos são da máxima importância, ao nível consciente; em compensação, ao nível inconsciente, a atividade psíquica do extrovertido concentra-se no seu próprio eu. De modo inverso, para o introvertido o

que conta é a resposta subjetiva aos acontecimentos externos, ao passo que, a nível inconsciente, o introvertido é compelido para o mundo externo. (Guimarães, 1997)Esses dois tipos de indivíduos são distintos e o contraste é visível em sua existência, inclusive aos leigos. É comum em sociedade depararmo-nos com tais seres, tão diferentes, sendo que os de natureza fechada são difíceis de conhecer, pois sua timidez impede qualquer aproximação, aprofundamento, que por vezes não deixa o sujeito desenvolver suas capacidades; e, os de natureza aberta, são mais acessíveis, se relacionam bem em sociedade, em consequência, conseguem mais oportunidade em seu desenvolvimento.Jung vai mais adiante a sua obra “Tipos Psicológicos” (1921) dando características detalhadas dos introvertidos e extrovertidos, descrevendo-os até nos sentimentos, oferecendo um quadro circular, cuja disposição permite ao leitor observações e visão ampla nos processos da vida humana e de sua gênese.Para Jung (1920), “Arte é a expressão mais pura que há para a demonstração do inconsciente de cada um. É a liberdade de expressão, é sensibilidade, criatividade, é vida". Através deste processo, a energia psíquica consegue transformar-se em imagens e através dos símbolos, colocar seus conteúdos mais internos e profundos.A Arteterapia baseia-se na crença de que o processo criativo envolvido na atividade artística é terapêutico e enriquecedor da qualidade de vida das pessoas. Por meio do criar em arte e do refletir sobre os processos e os trabalhos artísticos resultantes, as pessoas podem ampliar o conhecimento de si e dos outros, aumentar a autoestima, lidar melhor com sintomas, estresse e experiências traumáticas, desenvolver recursos físicos, cognitivos, emocionais e desfrutar do prazer vitalizador do fazer artístico.

O PROCESSO ARTETERAPÊUTICO

O processo arteterapêutico é composto por oficinas, iremos citar apenas uma para exemplificar como a dinâmica acontece. O objetivo é proporcionar aos leitores, uma reflexão sobre sua maneira única de se apresentar ao mundo.O ponto principal da oficina é a atividade “Só eu sou Eu” (ALVAREZ, S.) Atividade de colagem apresentada em sala de aula.Geralmente os encontros iniciam-se com um lanche. É um momento de muita descontração, para que os adolescentes se conheçam. Nesse encontro é importante falar sobre os conceitos e princípios da arteterapia e também sobre o projeto e oficinas de criatividade. Os adolescentes são questionados sobre o significado de seus nomes e quem os nomeou. Neste primeiro encontro, é fornecido a cada um dos participantes uma caixa de madeira para que eles guardem seus trabalhos até a última oficina, ao término podem levá-la para casa. Os adolescentes decoram a caixa com vários materiais que ficam à disposição. A atividade de sensibilização-o totem do nome o que deve ser recortado e colado na caixa.A atividade “Só eu sou Eu” é um trabalho de imaginação do tamanho do universo, do planeta, do continente, do país, do estado e da cidade onde moram. Das 7 bilhões de pessoas que existem no mundo, ninguém é igual a ninguém. Cada participante recebe um boneco para servir de base da colagem e começam a procura pelas imagens. No momento em que eles começam a colagem, são questionados sobre a escolha das mesmas.Segundo Fuão, “a collage permite ver o que se esconde no interior de seu corpo, quando está desapropriado de sua falsa pele, sem sua representação fotográfica de seu narcisismo” (FUÃO, 2011, p.47).A atividade finaliza com os comentários dos adolescentes sobre o que o boneco representa.Segundo Scarpato, “intimidade não no sentido de contato com o conhecido, familiar, mas um espaço singular de abertura protegida pelo vínculo, onde podemos deixar vir o desconhecido em nós, o estranho, o novo”. (SCARPATO, 2011, p.107.)A atividade trabalha a maneira única de se apresentarem ao mundo. Chevalier & Gheerbrant falam sobre esses símbolos:O ar é o meio próprio da luz, do alçar vôo, do perfume, da cor, das vibrações interplanetárias; é a via de comunicação entre o céu e a terra [...], simbolicamente, a terra opõe-se ao céu como o princípio ativo; o aspecto feminino ao aspecto masculino da manifestação; a obscuridade à luz; o yin ao yang [...], a água é o símbolo das energias inconscientes, das virtudes informes da alma, das motivações secretas e desconhecidas [...] o fogo na qualidade de elemento que queima e consome, é também símbolo de purificação e de degenerescência. (CHEVALIER GHEERBRANT, 2007, p.21; 443; 68; 878)

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A proposta deste artigo foi aliar a Arteterapia como ferramenta para promover a possibilidade da comunicação inter e intrapessoal por meio da criatividade. A utilização das atividades criativas funcionam como uma ponte levando os adolescentes a exteriorizar seu mundo interno e dando-lhes liberdade para expressar suas alegrias, angústias e também revisitar seus valores, suas crenças e seus costumes. Avivar a criatividade desses adolescentes por meio da Arteterapia mostrando-lhes novos atributos, novas maneiras de pensar e de agir e de se relacionar consigo e com o outro poderá ajudá-los a proporcionar mudanças significativas para a melhoria do seu bem-estar e do ambiente onde vivem.Concluímos que o processo arteterapêutico, contribuiu para descobertas importantes para estes adolescentes. Faz-se necessário criar um espaço em que os adolescentes possam se expressar, falar de suas angústias, conflitos, medos e alegrias. As oficinas são encontros pontuais, em que os adolescentes podem se expressar através de palavras, sem medo de se expor, de ficar inseguro, e terem medo de que possam magoar alguém se falarem o que sentem.O processo arte terapêutico ajuda os adolescentes a perceberem questões que até então não haviam pensado. Muitos deles sofrem com a separação dos pais, com a perda da bisavó materna, por exemplo. Esses rompimentos incomodam muito. E quando o adolescente é muito sensível consegue perceber de maneira clara que os conflitos existem, principalmente entre seus pais e isso lhes causam chateação por sentir que às vezes as pessoas não são transparentes. Por outro lado, o processo arteterapêutico traz alegria para eles, pois se sentem confiantes nas profissionais que desenvolvem as oficinas, e conseguem compartilhar seus sentimentos.

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RESUMOEste artigo traz a abordagem lúdica da musicalização no contexto da linguagem musical, destacando a etapa da aprendizagem no tempo e espaço adequado com seus benefícios pedagógicos e estratégias de desenvolvimento infantil. Apresenta a música como recurso para o desenvolvimento das demais linguagens, promovendo a comunicação e a expressão no aspecto verbal, oral, artístico, corporal e musical. É uma linguagem universal, que está inserida em toda e qualquer cultura, atrelando suas expansões sociais, nas mais diversas situações como forma de expressão aos mais diversos sentimentos. Usada em várias situações do cotidiano, oportuniza aprendizagem com significado, garantindo o prazer musical auditivo, de ritmo, resgate cultural e um ensino de qualidade, possibilitando a ampliação de repertório oral através da musica e a formação integral da criança em seus aspectos físicos, sociais, cognitivos e culturais. Vamos descobrir a importância da música que é usada em praticamente todas as situações do dia a dia no universo infantil, na hora da entrada, no lanche, nas rodas de histórias, nas rodas de músicas, como instrumento para se expressar e comunicar e até para solicitar silêncio.

Palavras- chave: Linguagem musical; Lúdico; Música; Educação Infantil;

INTRODUÇÃO As crianças se movimentam desde que nascem adquirindo cada vez mais e maior controle sobre seu próprio corpo, se apropriando cada dia mais das possibilidades de interação com o mundo, a cultura em que estão inseridas e assumindo papeis sociais. O movimento é uma importante linguagem da criança, por meio dela, expressam seus desejos, sentimentos, emoções e pensamentos. “As maneiras de andar, correr, arremessar, saltar resultam das interações sociais e da relação dos homens com o meio; são movimentos cujos significados têm sido construídos em função das diferentes necessidades, interesses e possibilidades corporais humanas presentes nas diferentes culturas em diversas épocas da história. Esses movimentos incorporam-se aos comportamentos dos homens, constituindo-se assim numa cultura corporal. Dessa forma, diferentes manifestações dessa linguagem foram surgindo, como a dança, o jogo, as brincadeiras, as práticas esportivas etc., nas quais se faz uso de diferentes gestos, posturas e expressões corporais com intencionalidade”. (MEC 1998, p.15) Já a música é instrumento integrador desenvolve a linguagem, a comunicação e expressão, trabalhando na sua forma verbal, oral, plástica, corporal e musical. A música é uma linguagem universal, que está inserida em toda e qualquer cultura, nas mais diversas situações como forma de expressão aos mais diversos sentimentos. E no universo infantil não pode ser diferente, a música é usada em todas as situações do dia a dia, na hora da entrada, no lanche, nas rodas de histórias, nas rodas de músicas, como instrumento para se expressar e comunicar, para solicitar silêncio, etc. Nesses contextos, as crianças entram em contato com a cultura musical desde muito cedo e assim começam a aprender e manifestar suas tradições musicais e culturais. Podemos afirmar que a música e o movimento são duas linguagens na educação infantil indissociáveis que são muito importantes para o desenvolvimento da expressão e formação das crianças. A linguagem musical é excelente meio para o desenvolvimento da expressão, do equilíbrio, da autoestima e autoconhecimento, além de poderoso meio de integração social. Ao brincar, jogar, imitar e criar ritmos e movimentos, as crianças também se apropriam do repertório da cultura corporal na qual estão inseridas. Assim, o movimento e música na educação infantil deve favorecer que a criança conceba e expresse o mundo por meio das diferentes linguagens que integram arte e ciência no complexo processo de apropriação e construção de conhecimento que envolve curiosidade, observação, atenção, percepção, pensamento, investigação, interpretação, criação de hipóteses, imaginação e elaboração de teorias explicativas daquilo que vivem e observam. Tudo isso resulta em significativas aprendizagens que só acontece pela atitude ativa da criança no meio social quando esta, é tratada como sujeito capaz de realizar tudo isso.” (Currículo Integrador da Infância Paulistana p.17) Sendo assim, os espaços escolares é o local onde as linguagens movimento e a música, ficam atrelados as

diversas aprendizagens que acontecem de forma lúdica e a criança exerce sua cidadania, o seu protagonismo, o seu direito de ser criança, além de contribuir para a qualidade do ensino, inclusão social e a melhoria das relações interpessoais. Destacamos a criança como um ser capaz e competente para promover e construir sua própria aprendizagem, valorizando a área de interesses, questões, desejos e sentimentos próprios, que é um ser em desenvolvimento e que passa por períodos de modificações durante a infância e que é sujeito de direitos, tendo em vista seu pleno desenvolvimento nos aspectos físico, afetivo, cognitivo e social, inserido em uma educação integradora que compreende autonomia, conhecer e reconhecer seu jeito particular de ser e estar no mundo, desenvolvendo a motricidade e a psicomotricidade através da linguagem musical e de atividades lúdicas com utilização de vários tipos de jogos, brincadeiras que garantem o desenvolvimento da lateralidade, discriminação tátil, olfativa, gustativa, o equilíbrio, ritmo, a organização do corpo no espaço e no tempo, a socialização e a formação de valores.A abordagem apresenta também o desenvolvimento e elaboração de estratégias voltadas ao movimento e a música em diversos momentos da rotina escolar, explorando tempos e espaços escolares, compartilhando desta forma com professores as diversas possibilidades pedagógicas da linguagem musical no contexto lúdico.A LINGUAGEM MUSICAL E A CRIANÇA Muitos estudos contribuíram para o aprofundamento da linguagem musical, e o neurocientista Howard Gardner, faz ponderações educacionais quando descreve o desenvolvimento musical em crianças observando que, ―(...) a música é primeiramente uma experiência sinestésica para a criança pequena, e seu uso de instrumentos talvez precise esperar até ela ter uma ampla experiência na imersão física da música. (GARDNER, 1997, p. 204). Na educação infantil o professor exerce o papel de representante da comunicação e mediador na construção das diversas linguagens da criança, sendo a música uma de suas principais ferramentas para garantir desenvolvimento pleno da criança, tratada como instrumento para construção da linguagem e meio de expressão verbal e não verbal da socialização e entendimento de regras sociais, favorecendo a potencialização de habilidades e competências motoras, mobilizando processos físicos, cognitivos, afetivos e sociais, sem preocupações técnicas ou de estéticas predefinidas, aumentando o repertório de gêneros musicais, de literatura e ritmo. A música assume papeis sociais que ultrapassam fronteiras, considerados inalcançáveis ao contexto real da criança, devido ao rico repertório literário, variações rítmicas e de gêneros, possibilitando a introdução de mais um objeto que deve ser brincado e explorado para as descobertas das sonoridades, promoção de situações interativas, favorecimento da construção de novos conceitos e expansão da vivência verbal da criança, a música como experimentação através de brincadeiras sem a necessidade do domínio da técnica musical, ritmo ou gênero. Segundo ARANTES, a criança, ao fazer suas descobertas na primeira infância e começar a falar, faz uso de aptidões intelectuais e sociais, que por sua vez, são modificadas constantemente pelo uso da linguagem. Nesse processo a criança é um sujeito ativo e a linguagem é uma atividade interpretativa que acontece na interação e mediação com o outro, pois ganha significação, forma e sentido (1994, p. 26). O RCN’s – Referenciais Curriculares Nacionais da Educação Infantil (MEC, 1988, p. 138), preconiza, ou seja, recomenda a atenção à construção conjunta das falas das crianças auxiliando para torná-las mais completas e complexas. No entanto, destacamos a música como recurso sonoro e auditivo capaz de aumentar repertório de palavras e sons, através deste recurso pedagógico garante-se o resgate de raiz cultural como as cantigas, parlendas e brincadeiras cantadas passadas de geração em geração, aproximando-as das vivências culturais de seus descendentes. Barreto e Chiarelli (2005, p. 3) afirmam que as experiências rítmico-musicais permitem uma participação ativa e favorece o desenvolvimento apurado dos sentidos da criança, assim como, as atividades musicais coletivas beneficiam o desenvolvimento da socialização, estimulando a compreensão, participação e cooperação. Suas pesquisas revelam, ainda, que as atividades de musicalização podem contribuir efetivamente e de maneira indelével, ou seja, o tempo não apaga, no desenvolvimento cognitivo, linguístico, psicomotor e sócio afetivo da criança. Carvalho e Rojas (2006, p. 5) concordam com os benefícios da música no desenvolvimento infantil, destacando sua contribuição em fazer a criança compreender a importância das relações e da socialização, vivenciando o contato e participação em diferentes grupos sociais, além do respeito ao próximo, desenvolvendo a autonomia e o senso crítico. Relacionam também como fatores relevantes à compreensão de novas linguagens, a percepção e respeito dos limites, socialização, fazendo crescer o senso rítmico, construindo a dicção, a linguagem e a comunicação verbal e não verbal. Gomes e Simões (2007, p. 140) consideram a música e toda a linguagem musical um excelente meio de comunicação verbal e não verbal, que desenvolve os aspectos cognitivos, afetivos e motores da criança, por se tratar de ritmos, sons e danças entrelaçados e ao mesmo tempo em que promove a interação e o autoconhecimento. As autoras concluem que a música tem em si um valor próprio e que devido a todas as suas características deve estar presente no currículo escolar e ser explorado em suas variadas possibilidades.É importante diferenciar a música como recurso didático e lúdico, tal qual é proposta neste estudo, da música como produto, como é normalmente ofertada nas escolas. Cabe ao o professor estabelecer objetivos ao seu plano de trabalho com metas de curto, médio e longo prazo, não caindo somente na armadilha das datas comemorativas e os famosos “tapa buraco”. Ao utilizar a música como experiência sonora é possível observar o ritmo e maneira que cada criança realiza suas descobertas, Jean Piaget descreveu tais aprendizados em sua teoria da fase de desenvolvimento motor através da utilização de jogos como: Jogo sensório-motor – vinculado á exploração do som e do gesto;Jogo simbólico – vinculado ao valor expressivo e à significação mesmado discurso musical;Jogo com regras – vinculado à organização e à construção dalinguagem musical; (BRITO, 2003, p.31).

Com base nos estudos apresentados podemos destacar pontos em comum entre eles, o que diz respeito ao rico benefício ao desenvolvimento infantil em todos os aspectos físicos, cognitivos e sociais, e que o ambiente escolar na educação infantil, deve ser lúdico promovendo o encantamento, através do brincar com a música é que a criança aprende e adquire novos aprendizados com significado e garantia de direitos que cabe a esta etapa de desenvolvimento. A

utilização da música como ferramenta didática, dentro de um planejamento bem focado no desenvolvimento integral da criança pode proporcionar aprendizagem espontânea, divertida focada na expressividade preparando o desenvolvimento cognitivo para anos escolares futuros, lembrando que estamos falando da música como estímulo para aprendizagem e não como ensino técnico musical. No âmbito pedagógico, quando destacamos a música como estímulo a aprendizagem surge à dúvida de que tipo de música utilizar? Qual o repertório musical pertinente à ocasião, e faixa etária? No entanto, não existe uma receita a ser própria para conduzir o trabalho com a música, pelo contrário existem muitos caminhos a serem seguidos, devemos criar métodos como indicadores de percurso utilizando a ação como sentir e pensar a música como criança e para a criança.De acordo com Gardner (1997), em relação às formas musicais, gêneros e conteúdos, é preciso entender que inicialmente a música deve ser uma atividade de execução, isto é, a criança imita, reproduz e produz com base em suas possibilidades motoras e no que herdou de seu sistema cultural, para depois, com maior habilidade e domínio dos códigos musicais de sua cultura lançarem-se às apreciações e execuções mais rebuscadas. As indicações musicais que podem ser trabalhadas, devem sempre lembrar que não existe receita e é importante fazer um levantamento do perfil do grupo de crianças a ser trabalhado, estabelecer o objetivo a ser alcançado e se estará de acordo com a faixa etária e área de abrangência pedagógica. Cada grupo é único e imprevisível em suas reações com a música, o que interfere diretamente no resultado final.Estudiosos das áreas musicais, em sua maioria, recomendam a utilização de canções do folclore brasileiro, que carrega uma carga de cultura imensurável, além de ser de espontânea manifestação por trazer a bagagem de letramento musical transmitida de geração para geração, dando destaque ao conhecimento prévio de cada criança, porém a criança também tem contato com a cultura de massa, acesso as informações e possivelmente trará conhecimentos de canções das quais tem acesso que nem sempre são voltadas a essa ótica cultural folclórica. As educadoras musicais Cristina Lemos e Solange Gomes defendem que:As crianças devem ter contato com canções de ninar, de brincar, de brincadeiras de roda, que fazem parte da diversidade cultural impressa por tantos povos que formaram nosso país. (LEMOS e MARANHO, 2005, p. 18).Para qualidade e sucesso, existem indicações de procedimentos indiretamente recomendado para se trabalhar música com as crianças. E existem muitos caminhos para este êxito, contudo, cabe ao educador identificar o melhor método que garantirá a eficácia de sua ação. Sem esquecer, que é através da linguagem que a criança tem acesso à cultura de sua comunidade, a música e a linguagem, podem ser consideradas duas formas de comunicação interligadas após muitos estudos e tornando-se uma das mais apreciadas pelas crianças a “linguagem musical”. Sendo assim, além de reproduzir, imitar, improvisar e criar, a experiência com a música permite viver situações de aprendizagem, explorando novas e significativas possibilidades, de identificação cultural, de liberação e identificação de sentimentos, e o uso da canção, ritmo e som, na construção de significações por meio da música.O LÚDICO DESPERTANDO NOVAS EXPERIÊNCIAS O trabalho lúdico tem sido cada vez mais valorizado como importante e eficiente forma de se colocar novas descobertas de aprendizagem e conteúdo, além de lidar com a vida de maneira criativa, crítica e expressiva. Sabemos que a brincadeira é a linguagem mais apreciada pela criança, teorias sobre a importância do jogo vêm ocupando cada vez mais espaço tanto em discussões informais, quanto em debates educacionais e pesquisas acadêmicas.(...) A sagacidade e a perspicácia delas também são as mesmas, em quaisquer condições. Crianças obrigadas a trabalhar se viram para brincar, crianças sentadas na carteira da escola desesperadas para sair dali estão brincando na imaginação. (Friedmann, [s.d.]).A conexão entre as brincadeiras e jogos com a educação vêm sendo, há muito tempo, objeto de interesse de educadores, que passam a integrar a ludicidade musical a este contexto. Segundo Tizuko Kishimoto (2008, p.61), desde a Antiguidade greco-romana, a importância do jogo já era assunto de debates: Muitos educadores reconheceram a importância educativa do jogo.O filosofo grego Platão em sua obra “As Leis”, destaca a importância do “aprender brincando” em contrapartida à utilização da violência e da repressão. O interesse pelo jogo aparece nos escritos de Horácio e Quintiliano, que se referem às pequenas guloseimas em forma de letras, produzidas pelas doceiras de Roma destinadas ao aprendizado das letras. A prática de aliar o jogo aos primeiros estudos parece justificar o nome de ludus atribuído às escolas responsáveis pela instrução elementar, semelhante aos locais destinados a espetáculos e à prática de exercícios de fortalecimento do corpo e do espírito.Ao longo da história, por meio de muitos estudos e teorias, autores como Rabelais (1494-1553), Montaigne (1533- 1592), Comenius (1592-1670), Rousseau (1712-1778), Froebel (1782-1852), Pestalozzi (1746-1827), Dewey (1859-1952), Montessori (1870-1952), Decroly (1871-1932), Hui - zinga (1872-1945), Claparède (1873-1940), Makarenko (1888-1939), Vygotsky (1896- 1934), Winnicot (1896-1971), Piaget (1896-1980), entre muitos outros, vêm pensando sobre o papel social do jogo e sua importância no desenvolvimento cognitivo dos seres humanos. Muitas dessas teorias confirmam que a brincadeira, apesar de todos os seus benefícios, deve manter sua característica de ser um fim em si mesma.Na primeira metade do século XX, desde a difusão dos “métodos ativos” Jacques-Dalcroze, Willems, Martenot, Orff, Kodály, entre outros já valorizavam a vivência musical de forma lúdic, a partir do corpo, antes da técnica e da teoria. No Brasil, a partir da década de 1940, esse novo pensamento ecoou nas ideias e práticas de Sá Pereira, Liddy Chiaffarelli, Gazzy de Sá.A chamada “segunda geração” de educadores musicais, que inspirados na música de vanguarda do século XX, criaram propostas de trabalho que priorizavam a criação e a improvisação, apesar de ter reverberado em diversos núcleos musicais especializados, não teve oportunidade de influenciar a educação musical na escola pública, a não ser de forma muito eventual e secundária em alguns projetos experimentais de arte educação ou de artes integradas. Como afirma a educadora musical Marisa Fonterrada (2005, p.10):“[…] após tanto tempo de ausência, perdeu-se a tradição; a música não pertence mais à escola e, para que volte, é preciso repensar os modos de implantação de seu ensino e de sua prática”.Temos consciência de que o processo de volta da música às escolas brasileiras é longo, mas é preciso começar e lutar para o êxito desta atuação. Reconhecemos o brincar como uma das possibilidades de aproximação da linguagem musical, lembrando que a música é, por si só, um jogo. O músico e pesquisador francês François Delalande (1995), em

seu livro La musique est un jeu d’enfant (“A música é uma brincadeira de crianças”), relaciona aspectos determinantes da prática musical, mesmo adulta, às formas de atividade lúdica infantil, a partir da referência piagetiana. Resumidamente, o autor destaca que a música tem o lúdico em sua própria essência.O corpo humano é uma fonte muito rica de sons e pode ser considerado nosso primeiro instrumento musical, com extensa exploração dos sentidos. Com a presença do ritmo na batida de nosso coração, em nossa respiração ou ao caminharmos. Reconhecemos inúmeros timbres e melodias na exploração de nossa voz e também na escuta da voz do outro. Não é à toa que no vocabulário musical estão presentes palavras como pulsação e andamento, provenientes do funcionamento biológico do corpo humano.Desde muito cedo, a criança explora de forma curiosa os sons de seu corpo por meio de palmas, de vocalizações, de movimentos da língua e dos lábios e até pelo sapateado. Com o passar do tempo, elas muitas vezes se divertem com jogos de mãos e pés associados a músicas e cantigas. Sentem-se também encantadas pelos desafios de aprender coreografias e danças percussivas, trava-línguas ou para imitarem instrumentos musicais com a voz. Essas brincadeiras e explorações são valiosas para a sua formação e estimulam seus potenciais psicomotores e fonéticos e para as dificuldades nesta área, contamos com o estimulo da “Práxis”, caretas faciais que ajudam na articulação de músculos faciais. Os adultos também usam da música cantarolando, batucando, assobiando e sapateando para entreter-se e fazer música, ou utilizam sons corporais característicos em sua comunicação cotidiana.Observa-se a rica diversidade de formas de canto, de palmas, de estalos de dedo, de estalos de língua, de sapateados, de assobios, além dos sons vocais, fonéticos e onomatopaicos (BUM, TRIM...), que carregam em seu repertório pessoal à língua falada da região o seu sotaque particular. Essa música corporal está presente no dia a dia das comunidades, assim como nas suas danças e festividades e manifestações culturais. Aprender e explorar um som corporal é um processo que envolve curiosidade, prática, concentração e observação tanto de si como do outro.

A MÚSICA E O DESENVOLVIMENTO SOCIAL DA CRIANÇA No campo da maturação social da criança a música traz um efeito muito significativo. Muitas vezes é através do repertório musical que somos integrados a alguns grupos sociais. As cantigas de ninar, parlendas, adivinhas, brincadeiras, cantigas de roda e as músicas que nos rodeiam por toda a vida dizem respeito à nossa realidade e nos insere na formação de nossa própria cultura. Desde o útero materno o feto reage aos estímulos sonoros externos, neste sentido, a mãe bem como o ambiente deve favorecer e ser benéfico a esta fase. Mesmo sem o domínio de instrumentos musicais as pessoas próximas podem tocar, ou mesmo cantarolar músicas e cantigas. Mais tarde, após o nascimento os momentos de socialização inicial dos bebês são de grande significado e prazerosa quando associada a música, cantar no banho, fazer uso de brincadeiras ritmadas durantes as atividades cotidianas, massagear o corpo do bebê com uma boa música ao fundo, favorecem o contato social e desenvolvimento afetivo.Após esta fase, nos primeiros anos de vida e durante a educação infantil, o contato musical desenvolve também a maturação individual, isto é, o aprendizado de regras sociais, como por exemplo, durante a brincadeira de roda a criança tem a oportunidade de vivenciar, de forma lúdica situações de perda, escolhas, decepções, dúvidas e afirmações. Fanny Abramovich, afirma: “quem não se lembra de quando era pequenino, de ter dado as mãos para muitas outras crianças, ter formado uma imensa roda e ter brincado, cantado e dançado por horas?” ou ainda “reunir a turma da rua para cantarolar Terezinha de Jesus... e a briga de quem seria o pai, o irmão e o terceiro que disputa a amada Terezinha... esperando o arrepio gostoso da fala – Sinha eu não fico, nem ei de ficar, por que quero ? para ser meu par – E aí, apontava o eleito e todos riam e se divertiam muito. Quanta inveja e ciúmes passava na cabeça de todos. (1985, p.59). Muitas outras cantigas foram e são transmitidas de inúmeras gerações, por meio dos saberes popular, com linguagem de domínio público, oralmente, com ritmo e trazem saberes que nos preparam para a vida adulta. Trata-se de temas variados, ricos e de tato cotidiano, de expressões de sentimentos, alegres ou tristes, dando a oportunidade de vivenciar, mesmo que de forma “teatral” com a felicidade e a frustação. Trazem experiências de vida que nem um brinquedo, mesmo o de maior sofisticação eletrônica pode proporcionar. Na educação infantil é trabalhado com as linguagens musical e motora, sendo assim a música e dança, fazem parte da rotina diária da unidade escolar, nas brincadeiras musicais, nos eventos e festas, nas cantigas de roda, no processo de aprendizagem infantil com um todo. Sempre com o cuidado para que não seja um trabalho artificial, isolado do planejamento e projeto pedagógico como um todo. Mesmo após esta etapa da vida, já na adolescência, a música tem um papel de destaque, pois traz a inserção social desses jovens, para a preparação da vida adulta, usam a música para serem aceitos em grupos, para filosofia de vida, para vestir uma camisa em prol de alguma causa. A música é uma intensa forma de comunicação oral e corporal. A música e a dança sujeitam ritmo e ajudam na autonomia de escolhas. Muitos compositores e interpretes se expressam através da música com foco nos jovens, abordando temas que permeiam os direitos humanos, estabelecem o diálogo e a consciência da formação cívica, com a intenção de propagar boas práticas sociais.

CONSIDERAÇÕES FINAISMuito se tem perdido da infância pura e inocente nos dias de hoje devido ao aumento da violência, a redução brutal dos espaços de convívio coletivo e a industrialização do brinquedo, com novas tecnologias de jogos eletrônicos, geraram enorme transformação no espaço do brincar. No entanto, o encantamento proveniente das cantigas de roda e músicas infantis são fatos admiráveis em todo ambiente que agrega crianças em fase desenvolvimento. Ao lado dos novos jogos virtuais, muitas brincadeiras cantadas, jogos de mãos ou jogos com regras ainda estão vivos, recriando-se e transformando as crianças em seres felizes e encantados.O brincar na linguagem musical, desenvolve um especial interesse e gosto pelas brincadeiras cantadas tradicionais brasileiras e de outros países, pelos jogos de mãos espontâneos das crianças e pelos diversos tipos de brinquedos sonoros. Na educação musical, que é nosso cenário cotidiano, os jogos corporais, as atividades lúdicas, as brincadeiras cantadas e as canções tradicionais ocupam um espaço de destaque.

O trabalho com música na sala de aula deve buscar possibilidades diversas de realização, integrando o corpo, o lúdico, a criação, o resgate da cultura da infância e um repertório que contemplem as diversas músicas do mundo, tudo isso em uma grande conexão que deve ser construído de forma significativa junto com as crianças, valorizando a sua própria cultura bem como ampliando o seu repertório de músicas, cantigas, ritmos e gêneros musicais.No Brasil existem inúmeros estilos musicais que se utilizam de sapateados e de palmas em suas manifestações, cujas coreografias por si só têm um resultado rítmico. As experiências e relatos deste artigo reforçaram a importância da consciência corporal no aprendizado musical, por meio de trocas sociais por agrupamentos variados. Atualmente existem muitas abordagens educacionais que exploram as relações entre música e movimento, e novas experiências estão em pleno desenvolvimento.Os recursos, técnicas e práticas aqui apresentados são em geral acessíveis a todos e existem diferenças naturais na maneira como cada um os aborda e os vivencia, explorando suas possibilidades e elevando o repertório musical. Um determinado som ou ritmo pode inicialmente ser mais fácil de ser aprendido por uma pessoa do que por outra. Essas diferenças são normais e ligadas à anatomia de cada indivíduo, sua área de interesse musical e não são diferenças definitivas, principalmente à medida que persistimos na prática e encontramos soluções gestuais particulares. É importante valorizarmos a vivência e troca lúdica, os sons que os alunos já possuem, os que eles conquistam mais facilmente e os que eles mais gostam de fazer. É fundamental também estimular as crianças, com paciência e persistência, a conquistar novos conhecimentos musicais e principalmente se divertir com eles.

REFERÊNCIASABRAMOVICH, F. Quem educa quem? 5a. ed. São Paulo: Summus, 1985.BRASIL. Referencial Curricular para a Educação Infantil. Vol. 3. Brasília, 1998. Disponível em: http://portal.mec.gov.br/seb/arquivos/pdf/volume3.pdf. Acesso em: 01/03/2021.

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MUSICALIZAÇÃO INFANTIL CONTEXTOLÚDICO DA LINGUAGEM MUSICALLUANA CRISTINA PEREIRA NASCIMENTO Graduada em Pedagogia pela Universidade Paulista – UNIP SP (2007); Especialista em Educação Especial e Inclusiva pela Pontifícia Universidade Católica – PUC SP (2016); Professora de Educação Infantil e Ensino Fundamen-tal do Município de São Paulo no CEU EMEI Luiza Helena Ferreira.

REVISTA EXATTO EDUCACIONAL | V.3 | N.3 | MARÇO 2021

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RESUMO As Diretrizes Curriculares Nacionais de Educação Infantil e as propostas pedagógicas existentes devem considerar princípios estéticos, voltando-se para diferentes manifestações artísticas e culturais e que considerem a heterogeneidade cultural, étnica, religiosa, social do país. A música como linguagem organiza os signos sonoros no espaço e no tempo, trazendo a possibilidade de trazer reflexão ao ouvinte sobre o mundo. Assim, é fundamental assegurar o ensino da música entre as crianças para que as mesmas possam entender e construir seu cotidiano e parte do seu mundo a partir da linguagem sonora. Por isto, a presente pesquisa discute as implicações da musicalização na Educação Infantil no desenvolvimento das crianças da creche e pré-escola. Os resultados indicaram que o uso da música é de fundamental importância para o desenvolvimento sociocognitivo das mesmas, em interdisciplinaridade com outras áreas de conhecimento.

Palavras-chave: Educação Infantil; Musicalização; Desenvolvimento Infantil.

INTRODUÇÃO

As crianças se envolvem com os sons desde muito pequenas, sendo que alguns pesquisadores discutem que esse contato acontece desde a fase intrauterina. Quando chegam a fase escolar, uma das problemáticas é que determinadas experiências sonoras ficam muitas vezes reduzida a ajudar na organização de atividades relacionadas à ocasião do recreio e do asseio das crianças, ganhando aspectos de disciplinarização da infância. Assim, justifica-se o presente artigo a discussão sobre a importância da música e sua utilização na Educação Infantil, a fim de encontrar sua identidade e de distinguir o ambiente em que vive, utilizando os sons através de suas diferentes propriedades: altura, espaço, grau, timbre, sons; através de brincadeiras, cantaroladas, assobios, risos, gritos, ou seja, emitindo os mais diversos sons. Sabe-se que em relação à criança, a música é criada ao brincar com os sons, transformando ambientes. Outra problemática é a questão de que muitos docentes ainda não compreendem a importância do ensino de música, classificando algumas músicas como musiquinhas, e ainda músicas e sons produzidos pelas próprias crianças, considerando-os barulhos.Desta forma, temos como objetivo geral discutir as implicações da musicalização no processo da Educação Infantil; e como objetivos específicos discutir a legislação pertinente a inserção da música na Educação Infantil, bem como suas contribuições para o ensino da mesma e para o desenvolvimento sociocognitivo das crianças que frequentam essa etapa escolar.

A MÚSICA E A EDUCAÇÃO INFANTIL

Podemos destacar que as atividades desenvolvidas dentro da Educação Infantil são direcionadas entre outros documentos pelas Diretrizes Curriculares Nacionais, como discutido abaixo:

(...) a primeira etapa da educação básica, oferecida em creches e pré-escolas, às quais se caracterizam como espaços institucionais não domésticos que constituem estabelecimentos educacionais públicos ou privados que educam e cuidam de crianças de 0 a 5 anos de idade no período diurno, em jornada integral ou parcial, regulados e supervisionados por órgão competente do sistema de ensino e submetidos a controle social (DCNs, 2010, p.12).

Os docentes da Educação Infantil devem estar sempre atentos cem relação aqueles que classificam algumas músicas ouvidas pelas crianças como musiquinhas, tratando-se de forma revelando como as crianças são concebidas e, além disso, como são pensadas e realizadas as relações entre adultos e crianças em ambientes para a infância igualmente onde se toca músicas e sons que, ao serem realizados pelas próprias crianças, são ouvidos como barulhos, contrariando as regras do silêncio. A canção é essencial como brincadeira, como cultura e como contato com o folclore (GOBBI, 2010).Ainda, não se pode ignorar o contato com outros gêneros musicais, de outras culturas e, principalmente com os sons de todas as partes do mundo, considerando também o que a criança porta advindo de seu contexto social, familiar, cultural. A ideia central da Educação Infantil não é apenas colocar para a criança músicas já prontas, mas sim oferecer momentos de descobertas e construções sonoras, canto e invenção de canções. Ainda, objetos devem ser transformados em instrumentos musicais, enriquecendo o repertório musical através de práticas diferenciadas com as crianças.A sonorização de histórias, a escuta sonora, brincadeiras cantadas, percepção de sons, barulhos, ruídos, compõem a creche e pré-escola, sendo essenciais para estabelecer o tempo das crianças juntamente a outras linguagens e não como aula de música, o que tantas vezes é observado.As funções psicológicas superiores vão sendo desenvolvidas nas crianças de acordo com dois tipos de fenômenos: as transformações psíquicas como o desenvolvimento da fala, da escrita e do desenho, por exemplo; e os processos de desenvolvimento das funções relacionadas à memória, julgamento, concentração e inteligência conceitual (TULESKI e EIDT, 2016).Ou seja, a música, se torna um estimulo primordial para o desenvolvimento cerebral da criança. Culturalmente é comum o hábito de cantar e dançar para os bebês, auxiliando tanto no aprendizado musical, quanto no desenvolvimento da afetividade, da socialização e da aquisição da linguagem.Por fim, a educação é um processo contínuo e evolutivo, e deve ser pautado principalmente na criança, tornando-se necessário evidenciar este processo já na educação infantil, caracterizada por ser uma fase relevante no desenvolvimento humano. Deve-se conceber a criança como um ser social e histórico, sendo que a aprendizagem nessa esfera se dá pelas interações entre a criança e o mundo a sua volta. Observa-se, portanto diferentes orientações didáticas, que presam a utilização dos jogos e brincadeiras, além de atividades que envolvam o reconhecimento do próprio corpo, do corpo do outro, da música, da dança e da imitação gestual.

A LEGISLAÇÃO NA EDUCAÇÃO INFANTIL

A Lei Nacional nº 11.769/2008, trouxe a educação em música como obrigatória, alterando o artigo 26 da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDBEN nº 9394/1996), trazendo o convite de se repensar nas práticas artísticas como as artes visuais, a dança, o teatro e a música. A música foi considerada uma área de competência que requer estudo, prática, reflexão e diversidade, devendo existir no Projeto Político Pedagógico da escola. Além disso, ela deve constar nos planejamentos pedagógicos, ser trabalhada interdisciplinarmente, contribuindo para o desenvolvimento cognitivo e pleno de crianças e adolescentes. Já as Diretrizes Nacionais para a operacionalização do Ensino da Música na Educação Básica (CNE/CEB nº 12/2013 de 04/12/2013) trouxeram a urgência de um currículo que contemplasse uma matriz de saberes para o ensino de música, constituindo-se em uma ferramenta que contribui para o trabalho do docente especialista e não especialista desenvolvendo a Educação Musical na Educação Básica e, especialmente na Educação Infantil.Outra mudança na educação ocorreu com a chegada da Base Nacional Comum Curricular (BNCC), documento orientador para que ocorra a equidade nos sistemas de ensino do Brasil inteiro. No caso da música:

A Música é a expressão artística que se materializa por meio dos sons, que ganham forma, sentido e significado no âmbito tanto da sensibilidade subjetiva quanto das interações sociais, como resultado de saberes e valores diversos estabelecidos no domínio da cultura. A ampliação e a produção dos conhecimentos musicais passam pela percepção, experimentação, reprodução, manipulação e criação de materiais sonoros diversos, dos mais próximos aos mais distantes da cultura musical dos alunos. Esse processo lhes possibilita vivenciar a música inter-relacionada à diversidade e desenvolver saberes musicais fundamentais para a sua inserção e participação crítica e ativa na sociedade (BNCC, 2017, p. 154).

No caso da BNCC voltada para a Educação Infantil, esta ampliou a jornada destinada às experiências, envolvendo a Arte como um todo e suas linguagens, trazendo a música como elemento obrigatório desde a infância. Neste sentido, as discussões do trabalho docente têm ocorrido de forma significativa, a fim de trazer métodos adequados ao trabalho com a primeira infância (BRASIL, 2019).Ainda, de acordo com Mendes (2009), os documentos orientadores da Educação Infantil, trazem a importância do trabalho com a linguagem musical utilizando-se de improvisações, de estudos corporais, da escuta de sons e música, da construção de instrumentos musicais, gerando e pensando em música. É através da música que a criança aprende a se expressar. A escola deve desenvolver potencialidades apresentando sua parte poética, sua composição e sua diversidade. Uma combinação entre os deleites que a música promove demonstram a importância para o desenvolvimento cognitivo e educacional das crianças.Por fim, o Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil traz a expressão corporal como uma das linguagens que devem ser trabalhadas nesse período, permitindo assim a criança a tomar consciência de si mesma, expressando e conhecendo o mundo à sua volta. A música pode contribuir para a exploração de diversas formas de como sentir o corpo proporciona às crianças o conhecimento de suas características, limitações e formas de expressão: “a riqueza de possibilidades da linguagem corporal revela um universo a ser vivenciado, conhecido, desfrutado” (AYOUB, 2001, p. 57), pois, o movimento corporal é a essência das crianças.A criança expressa-se principalmente através da fala e da dança, movimentando-se corporalmente. Assim:

É com o corpo que a criança elabora todas as suas experiências vitais, e organiza toda a sua personalidade. Através dele ela percebe o mundo, e perceber o mundo é aprender (e reaprender) com seu próprio corpo; perceber o mundo, portanto, é perceber o corpo; o corpo é assim, sensação, percepção e ação (STEUCK, 2008, p. 13-14).

MÚSICA E AS CRIANÇAS

A música organiza os signos sonoros no espaço e no tempo; e de acordo com as pesquisas voltadas para a origem da música e a sua importância para as relações sociais, elas vêm sendo aprofundadas desde o século XX, buscando explicações na biologia, na sociologia e na antropologia (MARIANO, 2015).A criança logo cedo costuma ter contato com a música. Inicialmente com sua mãe cantarolando com voz doce e suave, crescendo e percebendo que o mundo ao seu redor é regido pela musicalidade. A música está presente em diversos lugares e momentos, seja nas músicas de embalar, nas brincadeiras, nos brinquedos sonoros, nas danças, entre outras ações, podendo marcar afetivamente determinados momentos. Assim, de acordo com Nogueira (2003), a música está no nosso dia a dia, nos costumes e nas tradições de uma dada sociedade, nas festas e recordações especiais. Ou seja, a música contribui para a fixação de algumas regras, possibilitando diferentes aprendizados.A começar do nascimento entramos em contato com os sons, desde que nascemos estamos predispostos aos sons e composições, iniciando assim o mundo da linguagem. Por isso, essa relação prematura favorece o desenvolvimento de nossas aptidões cognitivas, linguísticas e motoras (SIMIONATO e TOURINHO, 2007). Para Brito (2003), a criança quando escuta música não quer dizer que abraça regras ou nota especificidades, mas sim vive aquele momento de aprendizagem. Por isso, a criança ao ter contato com a música deve determinadas certas capacidades, diferenciando o escutar, os diferentes tipos de sons e as diferenças culturais existentes. Existindo a possiblidade de ampliar as formas de comunicação e expressão, desenvolve-se ainda uma boa comunicação: “A importância do ensino de música na escola reside, então, na possibilidade de despertar habilidades e condutas na criança, levando-a a sentir- se sensibilizada pela música valendo-se da criação e da livre expressão” (LOUREIRO, 2003, p.1).Assim, a utilização da música na Educação Infantil desenvolve as potencialidades das crianças e deve respeitar sua individualidade, seu contexto cultural, étnico, religioso, entre outros aspectos, concebendo a criança como um ser único que apresenta características peculiares e que precisa desenvolver diferentes habilidades e linguagens para interagir com o mundo que a cerca. Sabe-se que a metodologia principal na Educação Infantil é a ludicidade, porém é preciso desenvolver outras aprendizagens e a Arte nesse sentido pode trazer boas contribuições dentro desta proposta. Ainda, nessa etapa de escolaridade, é necessário dispor de ferramentas e práticas que trabalhem a diversidade e o contexto da criança, explorando as suas potencialidades. O ensino da música envolve a construção do sujeito musical, a partir da constituição da linguagem. Esta transforma a criança, no que se refere à percepção, as formas de pensar, agir e interagir com o mundo e com os outros. Por fim, a música enquanto linguagem organiza os signos sonoros no espaço e no tempo, motivo pelo qual constitui-se como possibilidade de trazer reflexão ao ouvinte sobre o mundo, sobre o trabalho docente e principalmente o desenvolvimento das crianças, para que ela cresça plena e feliz, inclusive.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

De acordo com a pesquisa realizada, foi possível perceber que a musicalização na Educação Infantil tem por objetivo estimular o desenvolvimento global da criança, integrando sua individualidade, seu contexto socioeconômico, cultural, étnico, entre outros, concebendo a criança como um ser único que apresenta características peculiares e que interage com outras crianças e adultos.A musicalização, assim como outras formas de arte e a ludicidade, são a base da Educação Infantil. Para que o trabalho com música se torne viável nesta fase escolar, é necessário pensar em ferramentas e práticas trabalhando a diversidade e o contexto da criança, explorando assim suas potencialidades. O ensino da música envolve a construção do indivíduo musical, a partir da constituição da linguagem da música. O uso desse tipo de conceito transforma a criança, no que se referem à percepção, formas de agir e pensar, quanto os aspectos subjetivos. A escola é o primeiro ambiente no qual a criança vem a estabelecer suas relações sociais foram do ciclo familiar, essa situação nova na vida infantil deve ser acompanhada para que ao oferecer à criança um novo mundo diverso, repleto de situações na qual tenha que elaborar novos mecanismos de compreensão de fatos, conceitos e atitudes ela se sinta acolhida e atendida em meio a esse novo desafio, onde a criança que ingressa na vida escolar em meio a essa ampliação de relações possa construir sua concepção social do mundo.Ainda, a música pode contribuir como uma possibilidade de compreender através do embasamento teórico a forma com que as crianças constroem as suas relações sociais do nascimento até o momento da primeira infância, através de meios a princípio físicos e posteriormente através de aspectos mais subjetivos definidos como emoções, desejos e sentimentos.Assim, a música como ferramenta dinâmica na Educação Infantil, auxiliar no trabalho docente e na aprendizagem das crianças, trazendo a oportunidade do docente trabalhar a diversidade em sala de aula e desenvolvendo diferentes habilidades nos pequenos. Mesmo que haja docentes que ainda se espelham em modelos pedagógicos mais tradicionais, seguindo determinadas regras e formas de comportamento, de acordo com a pesquisa a maioria dos docentes ainda acredita que a afetividade, a ludicidade e a utilização da música são as melhores formas de se relacionar com as crianças podendo desenvolver a

comunicação oral e dialética conforme proporcione respeito e liberdade de ideias e conhecimentos prévios das crianças.Além disso, outra contribuição do uso da música durante a Educação Infantil é que esse período é um momento em que a criança experimenta, ajusta e constrói movimentos corporais provenientes da interação com os demais colegas. E a música pode desenvolver isso, por exemplo, através da dança, desenvolvendo a autonomia corporal e de ter contato com diferentes vivências e movimentos corporais provenientes da cultura a seu redor. Assim, na Educação Infantil é necessário desenvolver uma pedagogia que organize o fazer o pedagógico em torno de diferentes linguagens as quais a criança utiliza para expressar e se comunicar com o mundo que a cerca.

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RESUMO O objetivo deste artigo é refletir sobre a importância da Arteterapia como ferramenta para desenvolver a comunicação inter e intrapessoal do adolescente por meio da criatividade. Com os instrumentos da Arteterapia buscou-se auxiliar os adolescentes a desenvolver a comunicação inter e intrapessoal, assim como aflorar suas potencialidades e criatividade por meio de estímulos artísticos. A Arteterapia cria recursos de expressão e criatividade que possibilitam que o adolescente libere suas emoções, seus conflitos e angústias. Possibilita que o adolescente seja capaz de enxergar esses conflitos e assim equalizar sua mente ao seu corpo, melhorando sua qualidade de vida. Através das bibliografias que envolvem o tema foi possível compreender que cada ser humano tem seu potencial individualizado; que a arte é capaz de transformar e resgatar esse potencial criativo e assim possibilitar a expressão e o autoconhecimento.

Palavras-chave: Arteterapia; Adolescente; Comunicação

INTRODUÇÃO

Este artigo propõe discutir a importância da Arteterapia no processo de manifestação da criatividade dos adolescentes. Nesse processo, os potenciais criativos são resgatados através de mediadores, tais como: música (como recurso que restaura a expressão de corpo, mente e alma); mandalas (como orientador no processo criativo); pintura (como facilitador para trazer vivências do inconsciente para o consciente); desenhos (como recurso de exteriorizar medos e angústias por meio de símbolos); dança (como vivência individual ou em grupo, ajudando assim na integração dos conteúdos internos da psique e facilitando a expressão individual); escultura e colagem (como recurso de dar forma a sentimentos e sensações). Além disso, por meio desses recursos, busca-se facilitar a comunicação da expressão emocional e aprofundar o conhecimento interno.A artista plástica polonesa Fayga Ostrower, em seu livro Criatividade e processo de criação, afirma que:O potencial criador elabora-se nos múltiplos níveis do ser sensível-cultural-consciente do homem, e se faz presente nos múltiplos caminhos em que o homem procura captar e configurar as realidades da vida. Os caminhos podem cristalizar-se em formas de comunicação, em ordenações concluídas, mas a criatividade como potência se refaz sempre. A produtividade do homem, em vez de se esgotar, liberando-se, amplia-se. (OSTROWER, 2012, p.27).O criar em Arteterapia através dos recursos que ela apresenta tais como a imaginação e o simbolismo das metáforas, acaba facilitando a comunicação na expressão emocional e aprofunda o conhecimento interno trazendo assim do inconsciente todo seu potencial criativo.Na sociedade contemporânea, a conexão com o sentido simbólico e iniciático do rito de passagem foi perdida. Por isso, se faz importante, principalmente para o adolescente, a reflexão sobre as etapas e passagens que ele enfrenta na vida.Nesse sentido, a Arteterapia pode ajudar a vivenciar esses processos de transformação.[...] no dinamismo de alteridade, que corresponde à época da adolescência, os opostos são relacionados de maneira igualitária e dialética, sendo vivenciados como aspectos diferentes de uma mesma realidade. Essa fase é voltada para o relacionamento com o outro e com a própria contraparte sexual, sendo, portanto, regidos pelos arquétipos da Anima (que corresponde aos aspectos do feminino na alma masculina), do Animus (que corresponde aos aspectos masculinos na alma feminina), e do Coniunctio (que se refere à conjunção de opostos, a reunião dessas duas “metades” num todo que as congrega e abrange como partes de uma única e indivisa realidade), caracterizando-se “por sua capacidade criativa face ao confronto dos opostos” (BYINGTON, 1983, p. 24, apud BERNARDO, 2012, p.38).A autora traz a importância do autoconhecimento para união dos opostos, na verdade sua integração ajuda o adolescente a entrar em contato com seu inconsciente sem perder a consciência no processo. Com isso consegue-se, por meio da arte, avivar no adolescente seus conhecimentos, descobrindo um mundo infinito de possibilidades ao trabalhar suas emoções, e assim levá-los a olhar para si de maneira inteira. Mostrar para eles, por meio dos trabalhos, que não existe feio ou bonito, que nada é rígido, que tudo pode ser transformado pela busca interior.Assim sendo, o objetivo geral deste artigo é desenvolver a comunicação inter e intrapessoal do adolescente por meio da

criatividade.

COMUNICAÇÃO INTER E INTRAPESSOAL

Existem vários tipos de comunicação, e as pessoas podem comunicar-se pelo código Morse, pela escrita, por gestos, pelo telefone, etc.; uma empresa, uma administração, até mesmo um Estado, podem comunicar-se com seus membros por intermédio de circulares, cartazes, mensagens radiofônicas ou televisionadas, etc.Toda comunicação tem por objetivo a transmissão de uma mensagem [...]. (VANOYE, 2011, p.1]A comunicação é um processo de troca de informações entre os seres das mais diversas maneiras. É um processo que envolve uma codificação, isto é, a formação de um código, e a decodificação, a busca do entendimento deste código, em forma de mensagens que permitem a troca de informações entre os indivíduos. Não há só a comunicação verbal, há vários tipos de comunicação e cada um deles tem características que o diferencia e o integra ao todo. (VANOYE, 2011, p.1).Segundo o Dicionário de Comunicação, a palavra comunicação deriva do latim communicare, cujo significado seria: “tornar comum”, “partilhar”, “repartir”, “associar”, “trocar opiniões”, “conferenciar”. Comunicar implica participação [...], em interação, em troca de mensagens, em emissão ou recebimento de informações novas. (RABAÇA & BARBOSA, 1995, p.151).Neste artigo, enfocamos as comunicações inter e intrapessoal. A comunicação interpessoal pode ser definida como aquela que acontece de alguém para alguém. (RABAÇA E BARBOSA, 1995, p.166). Já a comunicação intrapessoal é aquela que ocorre dentro de alguém. Está relacionada com as ideias e desejos do indivíduo; é a sua voz interior. Dessa forma, a comunicação intrapessoal é extremamente importante uma vez que representa o diálogo interno.

ADOLESCÊNCIA

A adolescência é a fase que marca a passagem entre a infância e a idade adulta. Segundo o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), é considerado adolescente aquele que tem entre 12 e 18 anos de idade.[...] o Adolescente passa por desequilíbrios e instabilidade, extremas de acordo com o que conhecemos dele. Em nosso meio cultural, mostra-nos períodos de relação, de introversão, alternando com audácia, timidez, descoordenação, urgência, desinteresse ou apatia. (ABERASTURY, 2011, p.28)Para Aberastury, a adolescência é uma fase muito difícil, pois a pessoa ainda não sabe quem é então ela sai em busca de autoafirmação. É fundamental para todo ser humano sentir-se único para poder seguir seu desenvolvimento. O adolescente também precisa de uma afirmação de si mesmo e que, ao mesmo tempo, é vivenciada no coletivo, do sentimento de pertencer a um grupo e da identificação da “turma”. Alguns adolescentes podem apresentar comportamentos infantis, resultado do medo e da insegurança de deixar a dependência dos pais e assumir suas próprias escolhas e poder caminhar com certa autonomia.Ainda segundo este autor, as mudanças corporais nessa fase ficam muito evidenciadas: essas transformações são acompanhadas da modificação na voz (que fica mais grave), do crescimento ósseo (acompanhado do alargamento do tronco e dos ombros), do enrijecimento muscular, do aumento da oleosidade da pele (o que pode causar o aparecimento de acnes). Todas essas mudanças podem causar perplexidade ao adolescente fazendo com que ele se sinta desajeitado diante desse corpo que é seu, mas que lhe soa estranho.De certa maneira, o adolescente poderá passar por recorrentes crises depressivas e dos estados de luto e de tristeza típicos da preparação da adolescência (morte da infância). Um bom mundo interior surge de uma relação satisfatória com os pais internalizados e da capacidade criativa que eles proporcionam.Segundo a Psicologia Analítica, as transformações ocorrem primeiro na psique: uma mudança nos arquétipos do pai e da mãe que aparecem na infância, depois dão lugar para o arquétipo do herói, e por seu intermédio, oferece segurança para enfrentar situações e desafios novos.[...] Estão presentes em nosso desenvolvimento psíquico, encontrados nos antigos rituais de iniciação e passagem de um ciclo a outro: um mergulho no caos (abertura ao novo), uma morte simbólica (corte com formas cristalizadas e desatualizadas de relacionamento com nossa realidade interno-externa), e um renascimento (ampliação de consciência, inaugurando um novo ciclo). (BERNARDO, 2008, p.115).Essa fase também é marcada pela ativação dos arquétipos de anima (na psique do menino) e deanimus (na psique da menina), arquétipos responsáveis pelo relacionamento com o sexo oposto. É nesse ciclo que o adolescente pode se diferenciar dos pais, que até então eram modelos para ele, para poder ir ao encontro de sua própria identidade, fase essa chamada de alteridade, que vai permitir ao adolescente conhecer o outro, e sua contraparte.

PROCESSO CRIATIVO

O potencial criador elabora-se nos múltiplos níveis do ser sensível-cultural-consciente do homem, e se faz presente nos múltiplos caminhos em que o homem procura captar e configurar as realidades da vida. Os caminhos podem cristalizar-se em formas de comunicação, em ordenações concluídas, mas a criatividade como potência se refaz sempre. A produtividade do homem, em vez de se esgotar, liberando-se, amplia-se. (OSTROWER, 2012, p.27).Segundo Ostrower, se pensarmos no potencial criador num âmbito geral, perceberemos que temos um infinito mundo de possibilidades. Criamos e excluímos realidades e possibilidades o tempo todo, com isso muitas vezes desconstruímos nossas ideias para poder reconstruir novamente e assim seguimos como se estivéssemos sempre montando um quebra

cabeça. Quando unimos os aspectos em oposição surgem novas alternativas e, com elas, a diversificação, fazendo que o processo de transformação crie e recrie o tempo todo.Assim, através das vivências conseguimos unificar os potenciais criativos e integrá-los em nossa maneira de nos comunicarmos.

JUNG E ARTETERAPIA

Carl Gustav Jung nasceu na Suíça, em 26 de julho de 1875, e morreu a 6 de junho de 1961, aos 86 anos. De família religiosa, desde criança se interessou pela filosofia e por questões espirituais. Estudou medicina, dando grande atenção aos fenômenos psíquicos (GUIMARÃES, 1997). Após ter-se formado, dedicou-se a pesquisar o inconsciente e formulou uma nova teoria sobre esse tema: a Psicologia Analítica.Segundo Tonietto (2005), Jung denominou Psicologia Analítica ao conjunto de conhecimentos construídos a partir da sua prática clínica e de suas experiências vividas na pesquisa da psique e seus conteúdos. O maior interesse desse estudioso estava relacionado com o mistério da psique humana, fonte de todas as atividades do homem, às "moléstias da alma”, e às formas de superar e transformar enfermidades em instrumento de desenvolvimento da psique.Em sua teoria, Jung distingue na pessoa vários elementos, dentre eles: a consciência e o inconsciente coletivo, a persona, o ego, eu, o animus, ânimo e a sombra, e considera a personalidade como um ideal irrealizável. Diz que no mesmo indivíduo existem diversos aspectos diferentes e contraditórios.Para Jung, um conteúdo é consciente quando é conhecido ou reconhecido pelo ego e por inconsciente quando ocorre o oposto. De acordo com suas próprias palavras:Por consciência entendo a referência dos conteúdos psíquicos ao eu enquanto assim for entendida pelo eu. Referências ao eu, enquanto não entendidas como tais pelo eu, são inconscientes. (JUNG, O. C. VI, § 796).Outro modo de se entender o significado de consciente, segundo Jung, pode ser encontrado na explicação de Edinger:Parte do fenômeno da consciência diz respeito à discriminação entre sujeito e objeto. Estou ciente de que sou um ser consciente; sou o sujeito dessa consciência. Quando olho para o mundo, vejo objetos e, no processo de me separar da identificação com esses objetos, ocorre uma separação entre sujeito e objeto. Essa é a forma como a consciência se desenvolve, separando sujeito de objeto. (Edinger, 2004)Dentre os vários conceitos próprios da Psicologia Analítica, existe o do “eu”, ou “ego”, que é à base da consciência, isto é, o “centro subjetivo do senso de identidade do indivíduo” (Edinger, 2004), por isso, todo conteúdo da consciência deve se relacionar ao sujeito, ao ego. O ego é o centro da personalidade.Por sua vez, “sombra” é o nome que Jung deu para os aspectos da personalidade que são desconhecidos do indivíduo, isto é, os que não estão em sua consciência. São os traços “obscuros” do caráter ou da personalidade, mas que não significa que sejam unicamente fraquezas e defeitos, são todos os traços ou características que ficam fora do campo da consciência. Conscientizar-se da sombra é fundamental em todo processo de autoconhecimento (Tonietto, 2005).Também é essencial que conheçamos o significado de “persona” para podermos compreender a teoria de Jung. Para ele:A persona é um complicado sistema de relação entre a consciência individual e a sociedade; é uma espécie de máscara destinada, por um lado, a produzir um determinado efeito sobre os outros e por outro lado a ocultar a verdadeira natureza do indivíduo. (JUNG, O. C. VII, § 305).Além dos termos já colocados, há outro de fundamental importância para a Psicologia Analítica: a “anima”. Esse termo abrange as experiências importantes que o homem tem de uma mulher. O arquétipo da anima é formado pelo acúmulo da repressão das tendências femininas presentes no inconsciente do homem. Geralmente, o caráter da anima de um homem é “moldado” pela mãe.Não há homem algum tão exclusivamente masculino que não possua em si algo de feminino. (“...) A repressão das tendências e traços femininos determina um acúmulo dessas pretensões no inconsciente.” (JUNG, O. C. VII, § 297).Ao realizar suas pesquisas, Jung verificou que é por meio de símbolos que o inconsciente se expressa. De acordo com ele, os símbolos religiosos, como a cruz dos cristãos, a estrela de Davi dos judeus, o Dharma dos budistas, são imagens que estão presentes no inconsciente coletivo do ser humano.Enquanto o inconsciente pessoal consiste fundamentalmente de material reprimido e de complexos, o inconsciente coletivo é composto fundamentalmente de uma tendência para sensibilizar-se com certas imagens, ou melhor, símbolos que constelam sentimentos profundos de apelo universal, os arquétipos: da mesma forma que animais e homens parecem possuir atitudes inatas, chamadas de instintos, também é provável que em nosso psiquismo exista um material psíquico com alguma analogia com os instintos. Talvez, as imagens arquetípicas sejam algo como figurações dos próprios instintos, num nível mais sofisticado, psíquico. Assim, não é mais arriscado admitir a hipótese do inconsciente coletivo, comum a toda a humanidade, do que admitir a existência de instintos comuns a todos os seres vivos. (Guimarães, 1997).Posteriormente, estudos realizados sobre os trabalhos de Jung revelaram que a teoria dos símbolos, dos arquétipos do inconsciente coletivo, é de fundamental importância para compreensão dos mistérios da criação artística (aspecto que interessa ao nosso tema, a Arte terapia).Em seu livro “Tipos Psicológicos”, de 1921, Jung define duas disposições típicas da consciência: introvertida e extrovertida. O ser introvertido (metido consigo mesmo) comporta-se de maneira adequada à abstração (devaneios), sua imagem está sempre dirigida à situação não pública, isto é, privar-se de espectadores e dos objetos de desejos, como a impedir a supremacia do objeto, ao contrário do extrovertido, que se comporta positivamente em face do objeto, afirmando a sua significação de tal forma, que orientará sua atração existente no sujeito, ou seja, no individual e relacioná-la para si de modo constante.Outra temática famosa com respeito a Jung é a sua teoria dos "tipos psicológicos". Foi com base na análise da controvérsia entre as personalidades de Freud e outro seu discípulo famoso, e também dissidente, Alfred Adler, que Jung consegue delinear a tipologia do "introvertido" e do "extrovertido". Freud seria o "extrovertido", Adler, o "introvertido". Para o extrovertido, os acontecimentos externos são da máxima importância, ao nível consciente; em compensação, ao nível inconsciente, a atividade psíquica do extrovertido concentra-se no seu próprio eu. De modo inverso, para o introvertido o

que conta é a resposta subjetiva aos acontecimentos externos, ao passo que, a nível inconsciente, o introvertido é compelido para o mundo externo. (Guimarães, 1997)Esses dois tipos de indivíduos são distintos e o contraste é visível em sua existência, inclusive aos leigos. É comum em sociedade depararmo-nos com tais seres, tão diferentes, sendo que os de natureza fechada são difíceis de conhecer, pois sua timidez impede qualquer aproximação, aprofundamento, que por vezes não deixa o sujeito desenvolver suas capacidades; e, os de natureza aberta, são mais acessíveis, se relacionam bem em sociedade, em consequência, conseguem mais oportunidade em seu desenvolvimento.Jung vai mais adiante a sua obra “Tipos Psicológicos” (1921) dando características detalhadas dos introvertidos e extrovertidos, descrevendo-os até nos sentimentos, oferecendo um quadro circular, cuja disposição permite ao leitor observações e visão ampla nos processos da vida humana e de sua gênese.Para Jung (1920), “Arte é a expressão mais pura que há para a demonstração do inconsciente de cada um. É a liberdade de expressão, é sensibilidade, criatividade, é vida". Através deste processo, a energia psíquica consegue transformar-se em imagens e através dos símbolos, colocar seus conteúdos mais internos e profundos.A Arteterapia baseia-se na crença de que o processo criativo envolvido na atividade artística é terapêutico e enriquecedor da qualidade de vida das pessoas. Por meio do criar em arte e do refletir sobre os processos e os trabalhos artísticos resultantes, as pessoas podem ampliar o conhecimento de si e dos outros, aumentar a autoestima, lidar melhor com sintomas, estresse e experiências traumáticas, desenvolver recursos físicos, cognitivos, emocionais e desfrutar do prazer vitalizador do fazer artístico.

O PROCESSO ARTETERAPÊUTICO

O processo arteterapêutico é composto por oficinas, iremos citar apenas uma para exemplificar como a dinâmica acontece. O objetivo é proporcionar aos leitores, uma reflexão sobre sua maneira única de se apresentar ao mundo.O ponto principal da oficina é a atividade “Só eu sou Eu” (ALVAREZ, S.) Atividade de colagem apresentada em sala de aula.Geralmente os encontros iniciam-se com um lanche. É um momento de muita descontração, para que os adolescentes se conheçam. Nesse encontro é importante falar sobre os conceitos e princípios da arteterapia e também sobre o projeto e oficinas de criatividade. Os adolescentes são questionados sobre o significado de seus nomes e quem os nomeou. Neste primeiro encontro, é fornecido a cada um dos participantes uma caixa de madeira para que eles guardem seus trabalhos até a última oficina, ao término podem levá-la para casa. Os adolescentes decoram a caixa com vários materiais que ficam à disposição. A atividade de sensibilização-o totem do nome o que deve ser recortado e colado na caixa.A atividade “Só eu sou Eu” é um trabalho de imaginação do tamanho do universo, do planeta, do continente, do país, do estado e da cidade onde moram. Das 7 bilhões de pessoas que existem no mundo, ninguém é igual a ninguém. Cada participante recebe um boneco para servir de base da colagem e começam a procura pelas imagens. No momento em que eles começam a colagem, são questionados sobre a escolha das mesmas.Segundo Fuão, “a collage permite ver o que se esconde no interior de seu corpo, quando está desapropriado de sua falsa pele, sem sua representação fotográfica de seu narcisismo” (FUÃO, 2011, p.47).A atividade finaliza com os comentários dos adolescentes sobre o que o boneco representa.Segundo Scarpato, “intimidade não no sentido de contato com o conhecido, familiar, mas um espaço singular de abertura protegida pelo vínculo, onde podemos deixar vir o desconhecido em nós, o estranho, o novo”. (SCARPATO, 2011, p.107.)A atividade trabalha a maneira única de se apresentarem ao mundo. Chevalier & Gheerbrant falam sobre esses símbolos:O ar é o meio próprio da luz, do alçar vôo, do perfume, da cor, das vibrações interplanetárias; é a via de comunicação entre o céu e a terra [...], simbolicamente, a terra opõe-se ao céu como o princípio ativo; o aspecto feminino ao aspecto masculino da manifestação; a obscuridade à luz; o yin ao yang [...], a água é o símbolo das energias inconscientes, das virtudes informes da alma, das motivações secretas e desconhecidas [...] o fogo na qualidade de elemento que queima e consome, é também símbolo de purificação e de degenerescência. (CHEVALIER GHEERBRANT, 2007, p.21; 443; 68; 878)

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A proposta deste artigo foi aliar a Arteterapia como ferramenta para promover a possibilidade da comunicação inter e intrapessoal por meio da criatividade. A utilização das atividades criativas funcionam como uma ponte levando os adolescentes a exteriorizar seu mundo interno e dando-lhes liberdade para expressar suas alegrias, angústias e também revisitar seus valores, suas crenças e seus costumes. Avivar a criatividade desses adolescentes por meio da Arteterapia mostrando-lhes novos atributos, novas maneiras de pensar e de agir e de se relacionar consigo e com o outro poderá ajudá-los a proporcionar mudanças significativas para a melhoria do seu bem-estar e do ambiente onde vivem.Concluímos que o processo arteterapêutico, contribuiu para descobertas importantes para estes adolescentes. Faz-se necessário criar um espaço em que os adolescentes possam se expressar, falar de suas angústias, conflitos, medos e alegrias. As oficinas são encontros pontuais, em que os adolescentes podem se expressar através de palavras, sem medo de se expor, de ficar inseguro, e terem medo de que possam magoar alguém se falarem o que sentem.O processo arte terapêutico ajuda os adolescentes a perceberem questões que até então não haviam pensado. Muitos deles sofrem com a separação dos pais, com a perda da bisavó materna, por exemplo. Esses rompimentos incomodam muito. E quando o adolescente é muito sensível consegue perceber de maneira clara que os conflitos existem, principalmente entre seus pais e isso lhes causam chateação por sentir que às vezes as pessoas não são transparentes. Por outro lado, o processo arteterapêutico traz alegria para eles, pois se sentem confiantes nas profissionais que desenvolvem as oficinas, e conseguem compartilhar seus sentimentos.

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RESUMOEste artigo traz a abordagem lúdica da musicalização no contexto da linguagem musical, destacando a etapa da aprendizagem no tempo e espaço adequado com seus benefícios pedagógicos e estratégias de desenvolvimento infantil. Apresenta a música como recurso para o desenvolvimento das demais linguagens, promovendo a comunicação e a expressão no aspecto verbal, oral, artístico, corporal e musical. É uma linguagem universal, que está inserida em toda e qualquer cultura, atrelando suas expansões sociais, nas mais diversas situações como forma de expressão aos mais diversos sentimentos. Usada em várias situações do cotidiano, oportuniza aprendizagem com significado, garantindo o prazer musical auditivo, de ritmo, resgate cultural e um ensino de qualidade, possibilitando a ampliação de repertório oral através da musica e a formação integral da criança em seus aspectos físicos, sociais, cognitivos e culturais. Vamos descobrir a importância da música que é usada em praticamente todas as situações do dia a dia no universo infantil, na hora da entrada, no lanche, nas rodas de histórias, nas rodas de músicas, como instrumento para se expressar e comunicar e até para solicitar silêncio.

Palavras- chave: Linguagem musical; Lúdico; Música; Educação Infantil;

INTRODUÇÃO As crianças se movimentam desde que nascem adquirindo cada vez mais e maior controle sobre seu próprio corpo, se apropriando cada dia mais das possibilidades de interação com o mundo, a cultura em que estão inseridas e assumindo papeis sociais. O movimento é uma importante linguagem da criança, por meio dela, expressam seus desejos, sentimentos, emoções e pensamentos. “As maneiras de andar, correr, arremessar, saltar resultam das interações sociais e da relação dos homens com o meio; são movimentos cujos significados têm sido construídos em função das diferentes necessidades, interesses e possibilidades corporais humanas presentes nas diferentes culturas em diversas épocas da história. Esses movimentos incorporam-se aos comportamentos dos homens, constituindo-se assim numa cultura corporal. Dessa forma, diferentes manifestações dessa linguagem foram surgindo, como a dança, o jogo, as brincadeiras, as práticas esportivas etc., nas quais se faz uso de diferentes gestos, posturas e expressões corporais com intencionalidade”. (MEC 1998, p.15) Já a música é instrumento integrador desenvolve a linguagem, a comunicação e expressão, trabalhando na sua forma verbal, oral, plástica, corporal e musical. A música é uma linguagem universal, que está inserida em toda e qualquer cultura, nas mais diversas situações como forma de expressão aos mais diversos sentimentos. E no universo infantil não pode ser diferente, a música é usada em todas as situações do dia a dia, na hora da entrada, no lanche, nas rodas de histórias, nas rodas de músicas, como instrumento para se expressar e comunicar, para solicitar silêncio, etc. Nesses contextos, as crianças entram em contato com a cultura musical desde muito cedo e assim começam a aprender e manifestar suas tradições musicais e culturais. Podemos afirmar que a música e o movimento são duas linguagens na educação infantil indissociáveis que são muito importantes para o desenvolvimento da expressão e formação das crianças. A linguagem musical é excelente meio para o desenvolvimento da expressão, do equilíbrio, da autoestima e autoconhecimento, além de poderoso meio de integração social. Ao brincar, jogar, imitar e criar ritmos e movimentos, as crianças também se apropriam do repertório da cultura corporal na qual estão inseridas. Assim, o movimento e música na educação infantil deve favorecer que a criança conceba e expresse o mundo por meio das diferentes linguagens que integram arte e ciência no complexo processo de apropriação e construção de conhecimento que envolve curiosidade, observação, atenção, percepção, pensamento, investigação, interpretação, criação de hipóteses, imaginação e elaboração de teorias explicativas daquilo que vivem e observam. Tudo isso resulta em significativas aprendizagens que só acontece pela atitude ativa da criança no meio social quando esta, é tratada como sujeito capaz de realizar tudo isso.” (Currículo Integrador da Infância Paulistana p.17) Sendo assim, os espaços escolares é o local onde as linguagens movimento e a música, ficam atrelados as

diversas aprendizagens que acontecem de forma lúdica e a criança exerce sua cidadania, o seu protagonismo, o seu direito de ser criança, além de contribuir para a qualidade do ensino, inclusão social e a melhoria das relações interpessoais. Destacamos a criança como um ser capaz e competente para promover e construir sua própria aprendizagem, valorizando a área de interesses, questões, desejos e sentimentos próprios, que é um ser em desenvolvimento e que passa por períodos de modificações durante a infância e que é sujeito de direitos, tendo em vista seu pleno desenvolvimento nos aspectos físico, afetivo, cognitivo e social, inserido em uma educação integradora que compreende autonomia, conhecer e reconhecer seu jeito particular de ser e estar no mundo, desenvolvendo a motricidade e a psicomotricidade através da linguagem musical e de atividades lúdicas com utilização de vários tipos de jogos, brincadeiras que garantem o desenvolvimento da lateralidade, discriminação tátil, olfativa, gustativa, o equilíbrio, ritmo, a organização do corpo no espaço e no tempo, a socialização e a formação de valores.A abordagem apresenta também o desenvolvimento e elaboração de estratégias voltadas ao movimento e a música em diversos momentos da rotina escolar, explorando tempos e espaços escolares, compartilhando desta forma com professores as diversas possibilidades pedagógicas da linguagem musical no contexto lúdico.A LINGUAGEM MUSICAL E A CRIANÇA Muitos estudos contribuíram para o aprofundamento da linguagem musical, e o neurocientista Howard Gardner, faz ponderações educacionais quando descreve o desenvolvimento musical em crianças observando que, ―(...) a música é primeiramente uma experiência sinestésica para a criança pequena, e seu uso de instrumentos talvez precise esperar até ela ter uma ampla experiência na imersão física da música. (GARDNER, 1997, p. 204). Na educação infantil o professor exerce o papel de representante da comunicação e mediador na construção das diversas linguagens da criança, sendo a música uma de suas principais ferramentas para garantir desenvolvimento pleno da criança, tratada como instrumento para construção da linguagem e meio de expressão verbal e não verbal da socialização e entendimento de regras sociais, favorecendo a potencialização de habilidades e competências motoras, mobilizando processos físicos, cognitivos, afetivos e sociais, sem preocupações técnicas ou de estéticas predefinidas, aumentando o repertório de gêneros musicais, de literatura e ritmo. A música assume papeis sociais que ultrapassam fronteiras, considerados inalcançáveis ao contexto real da criança, devido ao rico repertório literário, variações rítmicas e de gêneros, possibilitando a introdução de mais um objeto que deve ser brincado e explorado para as descobertas das sonoridades, promoção de situações interativas, favorecimento da construção de novos conceitos e expansão da vivência verbal da criança, a música como experimentação através de brincadeiras sem a necessidade do domínio da técnica musical, ritmo ou gênero. Segundo ARANTES, a criança, ao fazer suas descobertas na primeira infância e começar a falar, faz uso de aptidões intelectuais e sociais, que por sua vez, são modificadas constantemente pelo uso da linguagem. Nesse processo a criança é um sujeito ativo e a linguagem é uma atividade interpretativa que acontece na interação e mediação com o outro, pois ganha significação, forma e sentido (1994, p. 26). O RCN’s – Referenciais Curriculares Nacionais da Educação Infantil (MEC, 1988, p. 138), preconiza, ou seja, recomenda a atenção à construção conjunta das falas das crianças auxiliando para torná-las mais completas e complexas. No entanto, destacamos a música como recurso sonoro e auditivo capaz de aumentar repertório de palavras e sons, através deste recurso pedagógico garante-se o resgate de raiz cultural como as cantigas, parlendas e brincadeiras cantadas passadas de geração em geração, aproximando-as das vivências culturais de seus descendentes. Barreto e Chiarelli (2005, p. 3) afirmam que as experiências rítmico-musicais permitem uma participação ativa e favorece o desenvolvimento apurado dos sentidos da criança, assim como, as atividades musicais coletivas beneficiam o desenvolvimento da socialização, estimulando a compreensão, participação e cooperação. Suas pesquisas revelam, ainda, que as atividades de musicalização podem contribuir efetivamente e de maneira indelével, ou seja, o tempo não apaga, no desenvolvimento cognitivo, linguístico, psicomotor e sócio afetivo da criança. Carvalho e Rojas (2006, p. 5) concordam com os benefícios da música no desenvolvimento infantil, destacando sua contribuição em fazer a criança compreender a importância das relações e da socialização, vivenciando o contato e participação em diferentes grupos sociais, além do respeito ao próximo, desenvolvendo a autonomia e o senso crítico. Relacionam também como fatores relevantes à compreensão de novas linguagens, a percepção e respeito dos limites, socialização, fazendo crescer o senso rítmico, construindo a dicção, a linguagem e a comunicação verbal e não verbal. Gomes e Simões (2007, p. 140) consideram a música e toda a linguagem musical um excelente meio de comunicação verbal e não verbal, que desenvolve os aspectos cognitivos, afetivos e motores da criança, por se tratar de ritmos, sons e danças entrelaçados e ao mesmo tempo em que promove a interação e o autoconhecimento. As autoras concluem que a música tem em si um valor próprio e que devido a todas as suas características deve estar presente no currículo escolar e ser explorado em suas variadas possibilidades.É importante diferenciar a música como recurso didático e lúdico, tal qual é proposta neste estudo, da música como produto, como é normalmente ofertada nas escolas. Cabe ao o professor estabelecer objetivos ao seu plano de trabalho com metas de curto, médio e longo prazo, não caindo somente na armadilha das datas comemorativas e os famosos “tapa buraco”. Ao utilizar a música como experiência sonora é possível observar o ritmo e maneira que cada criança realiza suas descobertas, Jean Piaget descreveu tais aprendizados em sua teoria da fase de desenvolvimento motor através da utilização de jogos como: Jogo sensório-motor – vinculado á exploração do som e do gesto;Jogo simbólico – vinculado ao valor expressivo e à significação mesmado discurso musical;Jogo com regras – vinculado à organização e à construção dalinguagem musical; (BRITO, 2003, p.31).

Com base nos estudos apresentados podemos destacar pontos em comum entre eles, o que diz respeito ao rico benefício ao desenvolvimento infantil em todos os aspectos físicos, cognitivos e sociais, e que o ambiente escolar na educação infantil, deve ser lúdico promovendo o encantamento, através do brincar com a música é que a criança aprende e adquire novos aprendizados com significado e garantia de direitos que cabe a esta etapa de desenvolvimento. A

utilização da música como ferramenta didática, dentro de um planejamento bem focado no desenvolvimento integral da criança pode proporcionar aprendizagem espontânea, divertida focada na expressividade preparando o desenvolvimento cognitivo para anos escolares futuros, lembrando que estamos falando da música como estímulo para aprendizagem e não como ensino técnico musical. No âmbito pedagógico, quando destacamos a música como estímulo a aprendizagem surge à dúvida de que tipo de música utilizar? Qual o repertório musical pertinente à ocasião, e faixa etária? No entanto, não existe uma receita a ser própria para conduzir o trabalho com a música, pelo contrário existem muitos caminhos a serem seguidos, devemos criar métodos como indicadores de percurso utilizando a ação como sentir e pensar a música como criança e para a criança.De acordo com Gardner (1997), em relação às formas musicais, gêneros e conteúdos, é preciso entender que inicialmente a música deve ser uma atividade de execução, isto é, a criança imita, reproduz e produz com base em suas possibilidades motoras e no que herdou de seu sistema cultural, para depois, com maior habilidade e domínio dos códigos musicais de sua cultura lançarem-se às apreciações e execuções mais rebuscadas. As indicações musicais que podem ser trabalhadas, devem sempre lembrar que não existe receita e é importante fazer um levantamento do perfil do grupo de crianças a ser trabalhado, estabelecer o objetivo a ser alcançado e se estará de acordo com a faixa etária e área de abrangência pedagógica. Cada grupo é único e imprevisível em suas reações com a música, o que interfere diretamente no resultado final.Estudiosos das áreas musicais, em sua maioria, recomendam a utilização de canções do folclore brasileiro, que carrega uma carga de cultura imensurável, além de ser de espontânea manifestação por trazer a bagagem de letramento musical transmitida de geração para geração, dando destaque ao conhecimento prévio de cada criança, porém a criança também tem contato com a cultura de massa, acesso as informações e possivelmente trará conhecimentos de canções das quais tem acesso que nem sempre são voltadas a essa ótica cultural folclórica. As educadoras musicais Cristina Lemos e Solange Gomes defendem que:As crianças devem ter contato com canções de ninar, de brincar, de brincadeiras de roda, que fazem parte da diversidade cultural impressa por tantos povos que formaram nosso país. (LEMOS e MARANHO, 2005, p. 18).Para qualidade e sucesso, existem indicações de procedimentos indiretamente recomendado para se trabalhar música com as crianças. E existem muitos caminhos para este êxito, contudo, cabe ao educador identificar o melhor método que garantirá a eficácia de sua ação. Sem esquecer, que é através da linguagem que a criança tem acesso à cultura de sua comunidade, a música e a linguagem, podem ser consideradas duas formas de comunicação interligadas após muitos estudos e tornando-se uma das mais apreciadas pelas crianças a “linguagem musical”. Sendo assim, além de reproduzir, imitar, improvisar e criar, a experiência com a música permite viver situações de aprendizagem, explorando novas e significativas possibilidades, de identificação cultural, de liberação e identificação de sentimentos, e o uso da canção, ritmo e som, na construção de significações por meio da música.O LÚDICO DESPERTANDO NOVAS EXPERIÊNCIAS O trabalho lúdico tem sido cada vez mais valorizado como importante e eficiente forma de se colocar novas descobertas de aprendizagem e conteúdo, além de lidar com a vida de maneira criativa, crítica e expressiva. Sabemos que a brincadeira é a linguagem mais apreciada pela criança, teorias sobre a importância do jogo vêm ocupando cada vez mais espaço tanto em discussões informais, quanto em debates educacionais e pesquisas acadêmicas.(...) A sagacidade e a perspicácia delas também são as mesmas, em quaisquer condições. Crianças obrigadas a trabalhar se viram para brincar, crianças sentadas na carteira da escola desesperadas para sair dali estão brincando na imaginação. (Friedmann, [s.d.]).A conexão entre as brincadeiras e jogos com a educação vêm sendo, há muito tempo, objeto de interesse de educadores, que passam a integrar a ludicidade musical a este contexto. Segundo Tizuko Kishimoto (2008, p.61), desde a Antiguidade greco-romana, a importância do jogo já era assunto de debates: Muitos educadores reconheceram a importância educativa do jogo.O filosofo grego Platão em sua obra “As Leis”, destaca a importância do “aprender brincando” em contrapartida à utilização da violência e da repressão. O interesse pelo jogo aparece nos escritos de Horácio e Quintiliano, que se referem às pequenas guloseimas em forma de letras, produzidas pelas doceiras de Roma destinadas ao aprendizado das letras. A prática de aliar o jogo aos primeiros estudos parece justificar o nome de ludus atribuído às escolas responsáveis pela instrução elementar, semelhante aos locais destinados a espetáculos e à prática de exercícios de fortalecimento do corpo e do espírito.Ao longo da história, por meio de muitos estudos e teorias, autores como Rabelais (1494-1553), Montaigne (1533- 1592), Comenius (1592-1670), Rousseau (1712-1778), Froebel (1782-1852), Pestalozzi (1746-1827), Dewey (1859-1952), Montessori (1870-1952), Decroly (1871-1932), Hui - zinga (1872-1945), Claparède (1873-1940), Makarenko (1888-1939), Vygotsky (1896- 1934), Winnicot (1896-1971), Piaget (1896-1980), entre muitos outros, vêm pensando sobre o papel social do jogo e sua importância no desenvolvimento cognitivo dos seres humanos. Muitas dessas teorias confirmam que a brincadeira, apesar de todos os seus benefícios, deve manter sua característica de ser um fim em si mesma.Na primeira metade do século XX, desde a difusão dos “métodos ativos” Jacques-Dalcroze, Willems, Martenot, Orff, Kodály, entre outros já valorizavam a vivência musical de forma lúdic, a partir do corpo, antes da técnica e da teoria. No Brasil, a partir da década de 1940, esse novo pensamento ecoou nas ideias e práticas de Sá Pereira, Liddy Chiaffarelli, Gazzy de Sá.A chamada “segunda geração” de educadores musicais, que inspirados na música de vanguarda do século XX, criaram propostas de trabalho que priorizavam a criação e a improvisação, apesar de ter reverberado em diversos núcleos musicais especializados, não teve oportunidade de influenciar a educação musical na escola pública, a não ser de forma muito eventual e secundária em alguns projetos experimentais de arte educação ou de artes integradas. Como afirma a educadora musical Marisa Fonterrada (2005, p.10):“[…] após tanto tempo de ausência, perdeu-se a tradição; a música não pertence mais à escola e, para que volte, é preciso repensar os modos de implantação de seu ensino e de sua prática”.Temos consciência de que o processo de volta da música às escolas brasileiras é longo, mas é preciso começar e lutar para o êxito desta atuação. Reconhecemos o brincar como uma das possibilidades de aproximação da linguagem musical, lembrando que a música é, por si só, um jogo. O músico e pesquisador francês François Delalande (1995), em

seu livro La musique est un jeu d’enfant (“A música é uma brincadeira de crianças”), relaciona aspectos determinantes da prática musical, mesmo adulta, às formas de atividade lúdica infantil, a partir da referência piagetiana. Resumidamente, o autor destaca que a música tem o lúdico em sua própria essência.O corpo humano é uma fonte muito rica de sons e pode ser considerado nosso primeiro instrumento musical, com extensa exploração dos sentidos. Com a presença do ritmo na batida de nosso coração, em nossa respiração ou ao caminharmos. Reconhecemos inúmeros timbres e melodias na exploração de nossa voz e também na escuta da voz do outro. Não é à toa que no vocabulário musical estão presentes palavras como pulsação e andamento, provenientes do funcionamento biológico do corpo humano.Desde muito cedo, a criança explora de forma curiosa os sons de seu corpo por meio de palmas, de vocalizações, de movimentos da língua e dos lábios e até pelo sapateado. Com o passar do tempo, elas muitas vezes se divertem com jogos de mãos e pés associados a músicas e cantigas. Sentem-se também encantadas pelos desafios de aprender coreografias e danças percussivas, trava-línguas ou para imitarem instrumentos musicais com a voz. Essas brincadeiras e explorações são valiosas para a sua formação e estimulam seus potenciais psicomotores e fonéticos e para as dificuldades nesta área, contamos com o estimulo da “Práxis”, caretas faciais que ajudam na articulação de músculos faciais. Os adultos também usam da música cantarolando, batucando, assobiando e sapateando para entreter-se e fazer música, ou utilizam sons corporais característicos em sua comunicação cotidiana.Observa-se a rica diversidade de formas de canto, de palmas, de estalos de dedo, de estalos de língua, de sapateados, de assobios, além dos sons vocais, fonéticos e onomatopaicos (BUM, TRIM...), que carregam em seu repertório pessoal à língua falada da região o seu sotaque particular. Essa música corporal está presente no dia a dia das comunidades, assim como nas suas danças e festividades e manifestações culturais. Aprender e explorar um som corporal é um processo que envolve curiosidade, prática, concentração e observação tanto de si como do outro.

A MÚSICA E O DESENVOLVIMENTO SOCIAL DA CRIANÇA No campo da maturação social da criança a música traz um efeito muito significativo. Muitas vezes é através do repertório musical que somos integrados a alguns grupos sociais. As cantigas de ninar, parlendas, adivinhas, brincadeiras, cantigas de roda e as músicas que nos rodeiam por toda a vida dizem respeito à nossa realidade e nos insere na formação de nossa própria cultura. Desde o útero materno o feto reage aos estímulos sonoros externos, neste sentido, a mãe bem como o ambiente deve favorecer e ser benéfico a esta fase. Mesmo sem o domínio de instrumentos musicais as pessoas próximas podem tocar, ou mesmo cantarolar músicas e cantigas. Mais tarde, após o nascimento os momentos de socialização inicial dos bebês são de grande significado e prazerosa quando associada a música, cantar no banho, fazer uso de brincadeiras ritmadas durantes as atividades cotidianas, massagear o corpo do bebê com uma boa música ao fundo, favorecem o contato social e desenvolvimento afetivo.Após esta fase, nos primeiros anos de vida e durante a educação infantil, o contato musical desenvolve também a maturação individual, isto é, o aprendizado de regras sociais, como por exemplo, durante a brincadeira de roda a criança tem a oportunidade de vivenciar, de forma lúdica situações de perda, escolhas, decepções, dúvidas e afirmações. Fanny Abramovich, afirma: “quem não se lembra de quando era pequenino, de ter dado as mãos para muitas outras crianças, ter formado uma imensa roda e ter brincado, cantado e dançado por horas?” ou ainda “reunir a turma da rua para cantarolar Terezinha de Jesus... e a briga de quem seria o pai, o irmão e o terceiro que disputa a amada Terezinha... esperando o arrepio gostoso da fala – Sinha eu não fico, nem ei de ficar, por que quero ? para ser meu par – E aí, apontava o eleito e todos riam e se divertiam muito. Quanta inveja e ciúmes passava na cabeça de todos. (1985, p.59). Muitas outras cantigas foram e são transmitidas de inúmeras gerações, por meio dos saberes popular, com linguagem de domínio público, oralmente, com ritmo e trazem saberes que nos preparam para a vida adulta. Trata-se de temas variados, ricos e de tato cotidiano, de expressões de sentimentos, alegres ou tristes, dando a oportunidade de vivenciar, mesmo que de forma “teatral” com a felicidade e a frustação. Trazem experiências de vida que nem um brinquedo, mesmo o de maior sofisticação eletrônica pode proporcionar. Na educação infantil é trabalhado com as linguagens musical e motora, sendo assim a música e dança, fazem parte da rotina diária da unidade escolar, nas brincadeiras musicais, nos eventos e festas, nas cantigas de roda, no processo de aprendizagem infantil com um todo. Sempre com o cuidado para que não seja um trabalho artificial, isolado do planejamento e projeto pedagógico como um todo. Mesmo após esta etapa da vida, já na adolescência, a música tem um papel de destaque, pois traz a inserção social desses jovens, para a preparação da vida adulta, usam a música para serem aceitos em grupos, para filosofia de vida, para vestir uma camisa em prol de alguma causa. A música é uma intensa forma de comunicação oral e corporal. A música e a dança sujeitam ritmo e ajudam na autonomia de escolhas. Muitos compositores e interpretes se expressam através da música com foco nos jovens, abordando temas que permeiam os direitos humanos, estabelecem o diálogo e a consciência da formação cívica, com a intenção de propagar boas práticas sociais.

CONSIDERAÇÕES FINAISMuito se tem perdido da infância pura e inocente nos dias de hoje devido ao aumento da violência, a redução brutal dos espaços de convívio coletivo e a industrialização do brinquedo, com novas tecnologias de jogos eletrônicos, geraram enorme transformação no espaço do brincar. No entanto, o encantamento proveniente das cantigas de roda e músicas infantis são fatos admiráveis em todo ambiente que agrega crianças em fase desenvolvimento. Ao lado dos novos jogos virtuais, muitas brincadeiras cantadas, jogos de mãos ou jogos com regras ainda estão vivos, recriando-se e transformando as crianças em seres felizes e encantados.O brincar na linguagem musical, desenvolve um especial interesse e gosto pelas brincadeiras cantadas tradicionais brasileiras e de outros países, pelos jogos de mãos espontâneos das crianças e pelos diversos tipos de brinquedos sonoros. Na educação musical, que é nosso cenário cotidiano, os jogos corporais, as atividades lúdicas, as brincadeiras cantadas e as canções tradicionais ocupam um espaço de destaque.

O trabalho com música na sala de aula deve buscar possibilidades diversas de realização, integrando o corpo, o lúdico, a criação, o resgate da cultura da infância e um repertório que contemplem as diversas músicas do mundo, tudo isso em uma grande conexão que deve ser construído de forma significativa junto com as crianças, valorizando a sua própria cultura bem como ampliando o seu repertório de músicas, cantigas, ritmos e gêneros musicais.No Brasil existem inúmeros estilos musicais que se utilizam de sapateados e de palmas em suas manifestações, cujas coreografias por si só têm um resultado rítmico. As experiências e relatos deste artigo reforçaram a importância da consciência corporal no aprendizado musical, por meio de trocas sociais por agrupamentos variados. Atualmente existem muitas abordagens educacionais que exploram as relações entre música e movimento, e novas experiências estão em pleno desenvolvimento.Os recursos, técnicas e práticas aqui apresentados são em geral acessíveis a todos e existem diferenças naturais na maneira como cada um os aborda e os vivencia, explorando suas possibilidades e elevando o repertório musical. Um determinado som ou ritmo pode inicialmente ser mais fácil de ser aprendido por uma pessoa do que por outra. Essas diferenças são normais e ligadas à anatomia de cada indivíduo, sua área de interesse musical e não são diferenças definitivas, principalmente à medida que persistimos na prática e encontramos soluções gestuais particulares. É importante valorizarmos a vivência e troca lúdica, os sons que os alunos já possuem, os que eles conquistam mais facilmente e os que eles mais gostam de fazer. É fundamental também estimular as crianças, com paciência e persistência, a conquistar novos conhecimentos musicais e principalmente se divertir com eles.

REFERÊNCIASABRAMOVICH, F. Quem educa quem? 5a. ed. São Paulo: Summus, 1985.BRASIL. Referencial Curricular para a Educação Infantil. Vol. 3. Brasília, 1998. Disponível em: http://portal.mec.gov.br/seb/arquivos/pdf/volume3.pdf. Acesso em: 01/03/2021.

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RESUMO As Diretrizes Curriculares Nacionais de Educação Infantil e as propostas pedagógicas existentes devem considerar princípios estéticos, voltando-se para diferentes manifestações artísticas e culturais e que considerem a heterogeneidade cultural, étnica, religiosa, social do país. A música como linguagem organiza os signos sonoros no espaço e no tempo, trazendo a possibilidade de trazer reflexão ao ouvinte sobre o mundo. Assim, é fundamental assegurar o ensino da música entre as crianças para que as mesmas possam entender e construir seu cotidiano e parte do seu mundo a partir da linguagem sonora. Por isto, a presente pesquisa discute as implicações da musicalização na Educação Infantil no desenvolvimento das crianças da creche e pré-escola. Os resultados indicaram que o uso da música é de fundamental importância para o desenvolvimento sociocognitivo das mesmas, em interdisciplinaridade com outras áreas de conhecimento.

Palavras-chave: Educação Infantil; Musicalização; Desenvolvimento Infantil.

INTRODUÇÃO

As crianças se envolvem com os sons desde muito pequenas, sendo que alguns pesquisadores discutem que esse contato acontece desde a fase intrauterina. Quando chegam a fase escolar, uma das problemáticas é que determinadas experiências sonoras ficam muitas vezes reduzida a ajudar na organização de atividades relacionadas à ocasião do recreio e do asseio das crianças, ganhando aspectos de disciplinarização da infância. Assim, justifica-se o presente artigo a discussão sobre a importância da música e sua utilização na Educação Infantil, a fim de encontrar sua identidade e de distinguir o ambiente em que vive, utilizando os sons através de suas diferentes propriedades: altura, espaço, grau, timbre, sons; através de brincadeiras, cantaroladas, assobios, risos, gritos, ou seja, emitindo os mais diversos sons. Sabe-se que em relação à criança, a música é criada ao brincar com os sons, transformando ambientes. Outra problemática é a questão de que muitos docentes ainda não compreendem a importância do ensino de música, classificando algumas músicas como musiquinhas, e ainda músicas e sons produzidos pelas próprias crianças, considerando-os barulhos.Desta forma, temos como objetivo geral discutir as implicações da musicalização no processo da Educação Infantil; e como objetivos específicos discutir a legislação pertinente a inserção da música na Educação Infantil, bem como suas contribuições para o ensino da mesma e para o desenvolvimento sociocognitivo das crianças que frequentam essa etapa escolar.

A MÚSICA E A EDUCAÇÃO INFANTIL

Podemos destacar que as atividades desenvolvidas dentro da Educação Infantil são direcionadas entre outros documentos pelas Diretrizes Curriculares Nacionais, como discutido abaixo:

(...) a primeira etapa da educação básica, oferecida em creches e pré-escolas, às quais se caracterizam como espaços institucionais não domésticos que constituem estabelecimentos educacionais públicos ou privados que educam e cuidam de crianças de 0 a 5 anos de idade no período diurno, em jornada integral ou parcial, regulados e supervisionados por órgão competente do sistema de ensino e submetidos a controle social (DCNs, 2010, p.12).

Os docentes da Educação Infantil devem estar sempre atentos cem relação aqueles que classificam algumas músicas ouvidas pelas crianças como musiquinhas, tratando-se de forma revelando como as crianças são concebidas e, além disso, como são pensadas e realizadas as relações entre adultos e crianças em ambientes para a infância igualmente onde se toca músicas e sons que, ao serem realizados pelas próprias crianças, são ouvidos como barulhos, contrariando as regras do silêncio. A canção é essencial como brincadeira, como cultura e como contato com o folclore (GOBBI, 2010).Ainda, não se pode ignorar o contato com outros gêneros musicais, de outras culturas e, principalmente com os sons de todas as partes do mundo, considerando também o que a criança porta advindo de seu contexto social, familiar, cultural. A ideia central da Educação Infantil não é apenas colocar para a criança músicas já prontas, mas sim oferecer momentos de descobertas e construções sonoras, canto e invenção de canções. Ainda, objetos devem ser transformados em instrumentos musicais, enriquecendo o repertório musical através de práticas diferenciadas com as crianças.A sonorização de histórias, a escuta sonora, brincadeiras cantadas, percepção de sons, barulhos, ruídos, compõem a creche e pré-escola, sendo essenciais para estabelecer o tempo das crianças juntamente a outras linguagens e não como aula de música, o que tantas vezes é observado.As funções psicológicas superiores vão sendo desenvolvidas nas crianças de acordo com dois tipos de fenômenos: as transformações psíquicas como o desenvolvimento da fala, da escrita e do desenho, por exemplo; e os processos de desenvolvimento das funções relacionadas à memória, julgamento, concentração e inteligência conceitual (TULESKI e EIDT, 2016).Ou seja, a música, se torna um estimulo primordial para o desenvolvimento cerebral da criança. Culturalmente é comum o hábito de cantar e dançar para os bebês, auxiliando tanto no aprendizado musical, quanto no desenvolvimento da afetividade, da socialização e da aquisição da linguagem.Por fim, a educação é um processo contínuo e evolutivo, e deve ser pautado principalmente na criança, tornando-se necessário evidenciar este processo já na educação infantil, caracterizada por ser uma fase relevante no desenvolvimento humano. Deve-se conceber a criança como um ser social e histórico, sendo que a aprendizagem nessa esfera se dá pelas interações entre a criança e o mundo a sua volta. Observa-se, portanto diferentes orientações didáticas, que presam a utilização dos jogos e brincadeiras, além de atividades que envolvam o reconhecimento do próprio corpo, do corpo do outro, da música, da dança e da imitação gestual.

A LEGISLAÇÃO NA EDUCAÇÃO INFANTIL

A Lei Nacional nº 11.769/2008, trouxe a educação em música como obrigatória, alterando o artigo 26 da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDBEN nº 9394/1996), trazendo o convite de se repensar nas práticas artísticas como as artes visuais, a dança, o teatro e a música. A música foi considerada uma área de competência que requer estudo, prática, reflexão e diversidade, devendo existir no Projeto Político Pedagógico da escola. Além disso, ela deve constar nos planejamentos pedagógicos, ser trabalhada interdisciplinarmente, contribuindo para o desenvolvimento cognitivo e pleno de crianças e adolescentes. Já as Diretrizes Nacionais para a operacionalização do Ensino da Música na Educação Básica (CNE/CEB nº 12/2013 de 04/12/2013) trouxeram a urgência de um currículo que contemplasse uma matriz de saberes para o ensino de música, constituindo-se em uma ferramenta que contribui para o trabalho do docente especialista e não especialista desenvolvendo a Educação Musical na Educação Básica e, especialmente na Educação Infantil.Outra mudança na educação ocorreu com a chegada da Base Nacional Comum Curricular (BNCC), documento orientador para que ocorra a equidade nos sistemas de ensino do Brasil inteiro. No caso da música:

A Música é a expressão artística que se materializa por meio dos sons, que ganham forma, sentido e significado no âmbito tanto da sensibilidade subjetiva quanto das interações sociais, como resultado de saberes e valores diversos estabelecidos no domínio da cultura. A ampliação e a produção dos conhecimentos musicais passam pela percepção, experimentação, reprodução, manipulação e criação de materiais sonoros diversos, dos mais próximos aos mais distantes da cultura musical dos alunos. Esse processo lhes possibilita vivenciar a música inter-relacionada à diversidade e desenvolver saberes musicais fundamentais para a sua inserção e participação crítica e ativa na sociedade (BNCC, 2017, p. 154).

No caso da BNCC voltada para a Educação Infantil, esta ampliou a jornada destinada às experiências, envolvendo a Arte como um todo e suas linguagens, trazendo a música como elemento obrigatório desde a infância. Neste sentido, as discussões do trabalho docente têm ocorrido de forma significativa, a fim de trazer métodos adequados ao trabalho com a primeira infância (BRASIL, 2019).Ainda, de acordo com Mendes (2009), os documentos orientadores da Educação Infantil, trazem a importância do trabalho com a linguagem musical utilizando-se de improvisações, de estudos corporais, da escuta de sons e música, da construção de instrumentos musicais, gerando e pensando em música. É através da música que a criança aprende a se expressar. A escola deve desenvolver potencialidades apresentando sua parte poética, sua composição e sua diversidade. Uma combinação entre os deleites que a música promove demonstram a importância para o desenvolvimento cognitivo e educacional das crianças.Por fim, o Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil traz a expressão corporal como uma das linguagens que devem ser trabalhadas nesse período, permitindo assim a criança a tomar consciência de si mesma, expressando e conhecendo o mundo à sua volta. A música pode contribuir para a exploração de diversas formas de como sentir o corpo proporciona às crianças o conhecimento de suas características, limitações e formas de expressão: “a riqueza de possibilidades da linguagem corporal revela um universo a ser vivenciado, conhecido, desfrutado” (AYOUB, 2001, p. 57), pois, o movimento corporal é a essência das crianças.A criança expressa-se principalmente através da fala e da dança, movimentando-se corporalmente. Assim:

É com o corpo que a criança elabora todas as suas experiências vitais, e organiza toda a sua personalidade. Através dele ela percebe o mundo, e perceber o mundo é aprender (e reaprender) com seu próprio corpo; perceber o mundo, portanto, é perceber o corpo; o corpo é assim, sensação, percepção e ação (STEUCK, 2008, p. 13-14).

MÚSICA E AS CRIANÇAS

A música organiza os signos sonoros no espaço e no tempo; e de acordo com as pesquisas voltadas para a origem da música e a sua importância para as relações sociais, elas vêm sendo aprofundadas desde o século XX, buscando explicações na biologia, na sociologia e na antropologia (MARIANO, 2015).A criança logo cedo costuma ter contato com a música. Inicialmente com sua mãe cantarolando com voz doce e suave, crescendo e percebendo que o mundo ao seu redor é regido pela musicalidade. A música está presente em diversos lugares e momentos, seja nas músicas de embalar, nas brincadeiras, nos brinquedos sonoros, nas danças, entre outras ações, podendo marcar afetivamente determinados momentos. Assim, de acordo com Nogueira (2003), a música está no nosso dia a dia, nos costumes e nas tradições de uma dada sociedade, nas festas e recordações especiais. Ou seja, a música contribui para a fixação de algumas regras, possibilitando diferentes aprendizados.A começar do nascimento entramos em contato com os sons, desde que nascemos estamos predispostos aos sons e composições, iniciando assim o mundo da linguagem. Por isso, essa relação prematura favorece o desenvolvimento de nossas aptidões cognitivas, linguísticas e motoras (SIMIONATO e TOURINHO, 2007). Para Brito (2003), a criança quando escuta música não quer dizer que abraça regras ou nota especificidades, mas sim vive aquele momento de aprendizagem. Por isso, a criança ao ter contato com a música deve determinadas certas capacidades, diferenciando o escutar, os diferentes tipos de sons e as diferenças culturais existentes. Existindo a possiblidade de ampliar as formas de comunicação e expressão, desenvolve-se ainda uma boa comunicação: “A importância do ensino de música na escola reside, então, na possibilidade de despertar habilidades e condutas na criança, levando-a a sentir- se sensibilizada pela música valendo-se da criação e da livre expressão” (LOUREIRO, 2003, p.1).Assim, a utilização da música na Educação Infantil desenvolve as potencialidades das crianças e deve respeitar sua individualidade, seu contexto cultural, étnico, religioso, entre outros aspectos, concebendo a criança como um ser único que apresenta características peculiares e que precisa desenvolver diferentes habilidades e linguagens para interagir com o mundo que a cerca. Sabe-se que a metodologia principal na Educação Infantil é a ludicidade, porém é preciso desenvolver outras aprendizagens e a Arte nesse sentido pode trazer boas contribuições dentro desta proposta. Ainda, nessa etapa de escolaridade, é necessário dispor de ferramentas e práticas que trabalhem a diversidade e o contexto da criança, explorando as suas potencialidades. O ensino da música envolve a construção do sujeito musical, a partir da constituição da linguagem. Esta transforma a criança, no que se refere à percepção, as formas de pensar, agir e interagir com o mundo e com os outros. Por fim, a música enquanto linguagem organiza os signos sonoros no espaço e no tempo, motivo pelo qual constitui-se como possibilidade de trazer reflexão ao ouvinte sobre o mundo, sobre o trabalho docente e principalmente o desenvolvimento das crianças, para que ela cresça plena e feliz, inclusive.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

De acordo com a pesquisa realizada, foi possível perceber que a musicalização na Educação Infantil tem por objetivo estimular o desenvolvimento global da criança, integrando sua individualidade, seu contexto socioeconômico, cultural, étnico, entre outros, concebendo a criança como um ser único que apresenta características peculiares e que interage com outras crianças e adultos.A musicalização, assim como outras formas de arte e a ludicidade, são a base da Educação Infantil. Para que o trabalho com música se torne viável nesta fase escolar, é necessário pensar em ferramentas e práticas trabalhando a diversidade e o contexto da criança, explorando assim suas potencialidades. O ensino da música envolve a construção do indivíduo musical, a partir da constituição da linguagem da música. O uso desse tipo de conceito transforma a criança, no que se referem à percepção, formas de agir e pensar, quanto os aspectos subjetivos. A escola é o primeiro ambiente no qual a criança vem a estabelecer suas relações sociais foram do ciclo familiar, essa situação nova na vida infantil deve ser acompanhada para que ao oferecer à criança um novo mundo diverso, repleto de situações na qual tenha que elaborar novos mecanismos de compreensão de fatos, conceitos e atitudes ela se sinta acolhida e atendida em meio a esse novo desafio, onde a criança que ingressa na vida escolar em meio a essa ampliação de relações possa construir sua concepção social do mundo.Ainda, a música pode contribuir como uma possibilidade de compreender através do embasamento teórico a forma com que as crianças constroem as suas relações sociais do nascimento até o momento da primeira infância, através de meios a princípio físicos e posteriormente através de aspectos mais subjetivos definidos como emoções, desejos e sentimentos.Assim, a música como ferramenta dinâmica na Educação Infantil, auxiliar no trabalho docente e na aprendizagem das crianças, trazendo a oportunidade do docente trabalhar a diversidade em sala de aula e desenvolvendo diferentes habilidades nos pequenos. Mesmo que haja docentes que ainda se espelham em modelos pedagógicos mais tradicionais, seguindo determinadas regras e formas de comportamento, de acordo com a pesquisa a maioria dos docentes ainda acredita que a afetividade, a ludicidade e a utilização da música são as melhores formas de se relacionar com as crianças podendo desenvolver a

comunicação oral e dialética conforme proporcione respeito e liberdade de ideias e conhecimentos prévios das crianças.Além disso, outra contribuição do uso da música durante a Educação Infantil é que esse período é um momento em que a criança experimenta, ajusta e constrói movimentos corporais provenientes da interação com os demais colegas. E a música pode desenvolver isso, por exemplo, através da dança, desenvolvendo a autonomia corporal e de ter contato com diferentes vivências e movimentos corporais provenientes da cultura a seu redor. Assim, na Educação Infantil é necessário desenvolver uma pedagogia que organize o fazer o pedagógico em torno de diferentes linguagens as quais a criança utiliza para expressar e se comunicar com o mundo que a cerca.

REFERÊNCIAS

AYUOB, E. Reflexões sobre a Educação Física na Educação Infantil. Revista Paulista de Educação Física, São Paulo, vol. 4, n. 4, p. 53-60, 2001.

BRASIL. Base Nacional Comum Curricular (BNCC). Educação é a Base. Brasília, MEC/CONSED/UNDIME, 2019. Disponível em: <http://basenacionalcomum.mec.gov.br/abase/. Acesso em: 01 mar. 2021.

BRASIL. Base Nacional Comum Curricular. Proposta preliminar. Ministério da Educação. Segunda versão revista. Brasília: MEC, 2016. Disponível em: .... Acesso em: 04 mar. 2021.

BRASIL. Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil. Ministério da Educação e do Desporto. Secretaria de Educação Fundamental. Brasília, v. 3. Conhecimento de Mundo. MEC/SEF, 1998.

BRITO, Teca Alencar de. Música na educação infantil. São Paulo: Peirópolis, 2003.

GOBBI, Márcia. Múltiplas linguagens de meninos e meninas e a Educação Infantil. Anais do I Seminário Nacional: Currículo em Movimento – Perspectivas Atuais, Belo Horizonte, novembro de 2010.

Godoi, L. R. (2011). A importância da música na educação infantil. Trabalho de conclusão de curso. Universidade Estadual de Londrina, Londrina, PR, Brasil. Recuperado de: http://www.uel.br/ceca/pedagogia/pages/arquivos/LUIS%20RODRIGO%20GODOI.pdf. Acesso em: 02 mar.2021.

Ilari, B. A música e o cérebro: algumas implicações do neurodesenvolvimento para a educação musical. Revista da Abem, 2003, 9, 7-16. Recuperado de: https://pdfs.semanticscholar.org/495b/19b4c8892f11bfeec193c8ffa46f22a5fcaf.pdf . Acesso em: 01 mar. 2021.

LOUREIRO, Alícia Maria Almeida. O ensino de música na escola fundamental. Campinas, SP: Papirus, 2003.

MARIANO, Fabiana Leite Rabello. Música no berçário: formação de professores e a teoria da aprendizagem musical de Edwin Gordon. São Paulo: Universidade de São Paulo / Faculdade de Educação, 2015.

NOGUEIRA, Monique Andries. A música e o desenvolvimento da criança. Revista da UFG, Vol. 5, No. 2, dez 2003. Disponível em: www.proec.ufg.br. Acesso em: 09 mar. 2021.

SIMIONATO, L. Cristina; TOURINHO, Cristina. Contribuição do aprendizado de canções no desenvolvimento da linguagem verbal. In ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE COGNIÇÃO E ARTES MUSICAIS. 2007. Anais do 3º Simpósio de Cognição e Artes Musicais. Bahia UFBH 2007 p. 371-377.

STEUCK, C.D. Corporeidade e educação: um olhar a partir da epistemologia social. 2008. Dissertação (Mestrado em Educação). Blumenau: Programa de Pós Graduação em Educação, Universidade Regional de Blumenau – FURB, 2008.

TULESKI, S. G., EIDTt, N. M. A periodização do desenvolvimento psíquico: atividade dominante e a formação das funções psíquicas superiores. In Martins, L. M., Abrantes, A. A., & Facci, M. G (Org.), Periodização histórico-cultural do desenvolvimento psíquico: do nascimento à velhice (pp.35-62). Campinas, SP, 2016: Autores Associados

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RESUMO O objetivo deste artigo é refletir sobre a importância da Arteterapia como ferramenta para desenvolver a comunicação inter e intrapessoal do adolescente por meio da criatividade. Com os instrumentos da Arteterapia buscou-se auxiliar os adolescentes a desenvolver a comunicação inter e intrapessoal, assim como aflorar suas potencialidades e criatividade por meio de estímulos artísticos. A Arteterapia cria recursos de expressão e criatividade que possibilitam que o adolescente libere suas emoções, seus conflitos e angústias. Possibilita que o adolescente seja capaz de enxergar esses conflitos e assim equalizar sua mente ao seu corpo, melhorando sua qualidade de vida. Através das bibliografias que envolvem o tema foi possível compreender que cada ser humano tem seu potencial individualizado; que a arte é capaz de transformar e resgatar esse potencial criativo e assim possibilitar a expressão e o autoconhecimento.

Palavras-chave: Arteterapia; Adolescente; Comunicação

INTRODUÇÃO

Este artigo propõe discutir a importância da Arteterapia no processo de manifestação da criatividade dos adolescentes. Nesse processo, os potenciais criativos são resgatados através de mediadores, tais como: música (como recurso que restaura a expressão de corpo, mente e alma); mandalas (como orientador no processo criativo); pintura (como facilitador para trazer vivências do inconsciente para o consciente); desenhos (como recurso de exteriorizar medos e angústias por meio de símbolos); dança (como vivência individual ou em grupo, ajudando assim na integração dos conteúdos internos da psique e facilitando a expressão individual); escultura e colagem (como recurso de dar forma a sentimentos e sensações). Além disso, por meio desses recursos, busca-se facilitar a comunicação da expressão emocional e aprofundar o conhecimento interno.A artista plástica polonesa Fayga Ostrower, em seu livro Criatividade e processo de criação, afirma que:O potencial criador elabora-se nos múltiplos níveis do ser sensível-cultural-consciente do homem, e se faz presente nos múltiplos caminhos em que o homem procura captar e configurar as realidades da vida. Os caminhos podem cristalizar-se em formas de comunicação, em ordenações concluídas, mas a criatividade como potência se refaz sempre. A produtividade do homem, em vez de se esgotar, liberando-se, amplia-se. (OSTROWER, 2012, p.27).O criar em Arteterapia através dos recursos que ela apresenta tais como a imaginação e o simbolismo das metáforas, acaba facilitando a comunicação na expressão emocional e aprofunda o conhecimento interno trazendo assim do inconsciente todo seu potencial criativo.Na sociedade contemporânea, a conexão com o sentido simbólico e iniciático do rito de passagem foi perdida. Por isso, se faz importante, principalmente para o adolescente, a reflexão sobre as etapas e passagens que ele enfrenta na vida.Nesse sentido, a Arteterapia pode ajudar a vivenciar esses processos de transformação.[...] no dinamismo de alteridade, que corresponde à época da adolescência, os opostos são relacionados de maneira igualitária e dialética, sendo vivenciados como aspectos diferentes de uma mesma realidade. Essa fase é voltada para o relacionamento com o outro e com a própria contraparte sexual, sendo, portanto, regidos pelos arquétipos da Anima (que corresponde aos aspectos do feminino na alma masculina), do Animus (que corresponde aos aspectos masculinos na alma feminina), e do Coniunctio (que se refere à conjunção de opostos, a reunião dessas duas “metades” num todo que as congrega e abrange como partes de uma única e indivisa realidade), caracterizando-se “por sua capacidade criativa face ao confronto dos opostos” (BYINGTON, 1983, p. 24, apud BERNARDO, 2012, p.38).A autora traz a importância do autoconhecimento para união dos opostos, na verdade sua integração ajuda o adolescente a entrar em contato com seu inconsciente sem perder a consciência no processo. Com isso consegue-se, por meio da arte, avivar no adolescente seus conhecimentos, descobrindo um mundo infinito de possibilidades ao trabalhar suas emoções, e assim levá-los a olhar para si de maneira inteira. Mostrar para eles, por meio dos trabalhos, que não existe feio ou bonito, que nada é rígido, que tudo pode ser transformado pela busca interior.Assim sendo, o objetivo geral deste artigo é desenvolver a comunicação inter e intrapessoal do adolescente por meio da

criatividade.

COMUNICAÇÃO INTER E INTRAPESSOAL

Existem vários tipos de comunicação, e as pessoas podem comunicar-se pelo código Morse, pela escrita, por gestos, pelo telefone, etc.; uma empresa, uma administração, até mesmo um Estado, podem comunicar-se com seus membros por intermédio de circulares, cartazes, mensagens radiofônicas ou televisionadas, etc.Toda comunicação tem por objetivo a transmissão de uma mensagem [...]. (VANOYE, 2011, p.1]A comunicação é um processo de troca de informações entre os seres das mais diversas maneiras. É um processo que envolve uma codificação, isto é, a formação de um código, e a decodificação, a busca do entendimento deste código, em forma de mensagens que permitem a troca de informações entre os indivíduos. Não há só a comunicação verbal, há vários tipos de comunicação e cada um deles tem características que o diferencia e o integra ao todo. (VANOYE, 2011, p.1).Segundo o Dicionário de Comunicação, a palavra comunicação deriva do latim communicare, cujo significado seria: “tornar comum”, “partilhar”, “repartir”, “associar”, “trocar opiniões”, “conferenciar”. Comunicar implica participação [...], em interação, em troca de mensagens, em emissão ou recebimento de informações novas. (RABAÇA & BARBOSA, 1995, p.151).Neste artigo, enfocamos as comunicações inter e intrapessoal. A comunicação interpessoal pode ser definida como aquela que acontece de alguém para alguém. (RABAÇA E BARBOSA, 1995, p.166). Já a comunicação intrapessoal é aquela que ocorre dentro de alguém. Está relacionada com as ideias e desejos do indivíduo; é a sua voz interior. Dessa forma, a comunicação intrapessoal é extremamente importante uma vez que representa o diálogo interno.

ADOLESCÊNCIA

A adolescência é a fase que marca a passagem entre a infância e a idade adulta. Segundo o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), é considerado adolescente aquele que tem entre 12 e 18 anos de idade.[...] o Adolescente passa por desequilíbrios e instabilidade, extremas de acordo com o que conhecemos dele. Em nosso meio cultural, mostra-nos períodos de relação, de introversão, alternando com audácia, timidez, descoordenação, urgência, desinteresse ou apatia. (ABERASTURY, 2011, p.28)Para Aberastury, a adolescência é uma fase muito difícil, pois a pessoa ainda não sabe quem é então ela sai em busca de autoafirmação. É fundamental para todo ser humano sentir-se único para poder seguir seu desenvolvimento. O adolescente também precisa de uma afirmação de si mesmo e que, ao mesmo tempo, é vivenciada no coletivo, do sentimento de pertencer a um grupo e da identificação da “turma”. Alguns adolescentes podem apresentar comportamentos infantis, resultado do medo e da insegurança de deixar a dependência dos pais e assumir suas próprias escolhas e poder caminhar com certa autonomia.Ainda segundo este autor, as mudanças corporais nessa fase ficam muito evidenciadas: essas transformações são acompanhadas da modificação na voz (que fica mais grave), do crescimento ósseo (acompanhado do alargamento do tronco e dos ombros), do enrijecimento muscular, do aumento da oleosidade da pele (o que pode causar o aparecimento de acnes). Todas essas mudanças podem causar perplexidade ao adolescente fazendo com que ele se sinta desajeitado diante desse corpo que é seu, mas que lhe soa estranho.De certa maneira, o adolescente poderá passar por recorrentes crises depressivas e dos estados de luto e de tristeza típicos da preparação da adolescência (morte da infância). Um bom mundo interior surge de uma relação satisfatória com os pais internalizados e da capacidade criativa que eles proporcionam.Segundo a Psicologia Analítica, as transformações ocorrem primeiro na psique: uma mudança nos arquétipos do pai e da mãe que aparecem na infância, depois dão lugar para o arquétipo do herói, e por seu intermédio, oferece segurança para enfrentar situações e desafios novos.[...] Estão presentes em nosso desenvolvimento psíquico, encontrados nos antigos rituais de iniciação e passagem de um ciclo a outro: um mergulho no caos (abertura ao novo), uma morte simbólica (corte com formas cristalizadas e desatualizadas de relacionamento com nossa realidade interno-externa), e um renascimento (ampliação de consciência, inaugurando um novo ciclo). (BERNARDO, 2008, p.115).Essa fase também é marcada pela ativação dos arquétipos de anima (na psique do menino) e deanimus (na psique da menina), arquétipos responsáveis pelo relacionamento com o sexo oposto. É nesse ciclo que o adolescente pode se diferenciar dos pais, que até então eram modelos para ele, para poder ir ao encontro de sua própria identidade, fase essa chamada de alteridade, que vai permitir ao adolescente conhecer o outro, e sua contraparte.

PROCESSO CRIATIVO

O potencial criador elabora-se nos múltiplos níveis do ser sensível-cultural-consciente do homem, e se faz presente nos múltiplos caminhos em que o homem procura captar e configurar as realidades da vida. Os caminhos podem cristalizar-se em formas de comunicação, em ordenações concluídas, mas a criatividade como potência se refaz sempre. A produtividade do homem, em vez de se esgotar, liberando-se, amplia-se. (OSTROWER, 2012, p.27).Segundo Ostrower, se pensarmos no potencial criador num âmbito geral, perceberemos que temos um infinito mundo de possibilidades. Criamos e excluímos realidades e possibilidades o tempo todo, com isso muitas vezes desconstruímos nossas ideias para poder reconstruir novamente e assim seguimos como se estivéssemos sempre montando um quebra

cabeça. Quando unimos os aspectos em oposição surgem novas alternativas e, com elas, a diversificação, fazendo que o processo de transformação crie e recrie o tempo todo.Assim, através das vivências conseguimos unificar os potenciais criativos e integrá-los em nossa maneira de nos comunicarmos.

JUNG E ARTETERAPIA

Carl Gustav Jung nasceu na Suíça, em 26 de julho de 1875, e morreu a 6 de junho de 1961, aos 86 anos. De família religiosa, desde criança se interessou pela filosofia e por questões espirituais. Estudou medicina, dando grande atenção aos fenômenos psíquicos (GUIMARÃES, 1997). Após ter-se formado, dedicou-se a pesquisar o inconsciente e formulou uma nova teoria sobre esse tema: a Psicologia Analítica.Segundo Tonietto (2005), Jung denominou Psicologia Analítica ao conjunto de conhecimentos construídos a partir da sua prática clínica e de suas experiências vividas na pesquisa da psique e seus conteúdos. O maior interesse desse estudioso estava relacionado com o mistério da psique humana, fonte de todas as atividades do homem, às "moléstias da alma”, e às formas de superar e transformar enfermidades em instrumento de desenvolvimento da psique.Em sua teoria, Jung distingue na pessoa vários elementos, dentre eles: a consciência e o inconsciente coletivo, a persona, o ego, eu, o animus, ânimo e a sombra, e considera a personalidade como um ideal irrealizável. Diz que no mesmo indivíduo existem diversos aspectos diferentes e contraditórios.Para Jung, um conteúdo é consciente quando é conhecido ou reconhecido pelo ego e por inconsciente quando ocorre o oposto. De acordo com suas próprias palavras:Por consciência entendo a referência dos conteúdos psíquicos ao eu enquanto assim for entendida pelo eu. Referências ao eu, enquanto não entendidas como tais pelo eu, são inconscientes. (JUNG, O. C. VI, § 796).Outro modo de se entender o significado de consciente, segundo Jung, pode ser encontrado na explicação de Edinger:Parte do fenômeno da consciência diz respeito à discriminação entre sujeito e objeto. Estou ciente de que sou um ser consciente; sou o sujeito dessa consciência. Quando olho para o mundo, vejo objetos e, no processo de me separar da identificação com esses objetos, ocorre uma separação entre sujeito e objeto. Essa é a forma como a consciência se desenvolve, separando sujeito de objeto. (Edinger, 2004)Dentre os vários conceitos próprios da Psicologia Analítica, existe o do “eu”, ou “ego”, que é à base da consciência, isto é, o “centro subjetivo do senso de identidade do indivíduo” (Edinger, 2004), por isso, todo conteúdo da consciência deve se relacionar ao sujeito, ao ego. O ego é o centro da personalidade.Por sua vez, “sombra” é o nome que Jung deu para os aspectos da personalidade que são desconhecidos do indivíduo, isto é, os que não estão em sua consciência. São os traços “obscuros” do caráter ou da personalidade, mas que não significa que sejam unicamente fraquezas e defeitos, são todos os traços ou características que ficam fora do campo da consciência. Conscientizar-se da sombra é fundamental em todo processo de autoconhecimento (Tonietto, 2005).Também é essencial que conheçamos o significado de “persona” para podermos compreender a teoria de Jung. Para ele:A persona é um complicado sistema de relação entre a consciência individual e a sociedade; é uma espécie de máscara destinada, por um lado, a produzir um determinado efeito sobre os outros e por outro lado a ocultar a verdadeira natureza do indivíduo. (JUNG, O. C. VII, § 305).Além dos termos já colocados, há outro de fundamental importância para a Psicologia Analítica: a “anima”. Esse termo abrange as experiências importantes que o homem tem de uma mulher. O arquétipo da anima é formado pelo acúmulo da repressão das tendências femininas presentes no inconsciente do homem. Geralmente, o caráter da anima de um homem é “moldado” pela mãe.Não há homem algum tão exclusivamente masculino que não possua em si algo de feminino. (“...) A repressão das tendências e traços femininos determina um acúmulo dessas pretensões no inconsciente.” (JUNG, O. C. VII, § 297).Ao realizar suas pesquisas, Jung verificou que é por meio de símbolos que o inconsciente se expressa. De acordo com ele, os símbolos religiosos, como a cruz dos cristãos, a estrela de Davi dos judeus, o Dharma dos budistas, são imagens que estão presentes no inconsciente coletivo do ser humano.Enquanto o inconsciente pessoal consiste fundamentalmente de material reprimido e de complexos, o inconsciente coletivo é composto fundamentalmente de uma tendência para sensibilizar-se com certas imagens, ou melhor, símbolos que constelam sentimentos profundos de apelo universal, os arquétipos: da mesma forma que animais e homens parecem possuir atitudes inatas, chamadas de instintos, também é provável que em nosso psiquismo exista um material psíquico com alguma analogia com os instintos. Talvez, as imagens arquetípicas sejam algo como figurações dos próprios instintos, num nível mais sofisticado, psíquico. Assim, não é mais arriscado admitir a hipótese do inconsciente coletivo, comum a toda a humanidade, do que admitir a existência de instintos comuns a todos os seres vivos. (Guimarães, 1997).Posteriormente, estudos realizados sobre os trabalhos de Jung revelaram que a teoria dos símbolos, dos arquétipos do inconsciente coletivo, é de fundamental importância para compreensão dos mistérios da criação artística (aspecto que interessa ao nosso tema, a Arte terapia).Em seu livro “Tipos Psicológicos”, de 1921, Jung define duas disposições típicas da consciência: introvertida e extrovertida. O ser introvertido (metido consigo mesmo) comporta-se de maneira adequada à abstração (devaneios), sua imagem está sempre dirigida à situação não pública, isto é, privar-se de espectadores e dos objetos de desejos, como a impedir a supremacia do objeto, ao contrário do extrovertido, que se comporta positivamente em face do objeto, afirmando a sua significação de tal forma, que orientará sua atração existente no sujeito, ou seja, no individual e relacioná-la para si de modo constante.Outra temática famosa com respeito a Jung é a sua teoria dos "tipos psicológicos". Foi com base na análise da controvérsia entre as personalidades de Freud e outro seu discípulo famoso, e também dissidente, Alfred Adler, que Jung consegue delinear a tipologia do "introvertido" e do "extrovertido". Freud seria o "extrovertido", Adler, o "introvertido". Para o extrovertido, os acontecimentos externos são da máxima importância, ao nível consciente; em compensação, ao nível inconsciente, a atividade psíquica do extrovertido concentra-se no seu próprio eu. De modo inverso, para o introvertido o

que conta é a resposta subjetiva aos acontecimentos externos, ao passo que, a nível inconsciente, o introvertido é compelido para o mundo externo. (Guimarães, 1997)Esses dois tipos de indivíduos são distintos e o contraste é visível em sua existência, inclusive aos leigos. É comum em sociedade depararmo-nos com tais seres, tão diferentes, sendo que os de natureza fechada são difíceis de conhecer, pois sua timidez impede qualquer aproximação, aprofundamento, que por vezes não deixa o sujeito desenvolver suas capacidades; e, os de natureza aberta, são mais acessíveis, se relacionam bem em sociedade, em consequência, conseguem mais oportunidade em seu desenvolvimento.Jung vai mais adiante a sua obra “Tipos Psicológicos” (1921) dando características detalhadas dos introvertidos e extrovertidos, descrevendo-os até nos sentimentos, oferecendo um quadro circular, cuja disposição permite ao leitor observações e visão ampla nos processos da vida humana e de sua gênese.Para Jung (1920), “Arte é a expressão mais pura que há para a demonstração do inconsciente de cada um. É a liberdade de expressão, é sensibilidade, criatividade, é vida". Através deste processo, a energia psíquica consegue transformar-se em imagens e através dos símbolos, colocar seus conteúdos mais internos e profundos.A Arteterapia baseia-se na crença de que o processo criativo envolvido na atividade artística é terapêutico e enriquecedor da qualidade de vida das pessoas. Por meio do criar em arte e do refletir sobre os processos e os trabalhos artísticos resultantes, as pessoas podem ampliar o conhecimento de si e dos outros, aumentar a autoestima, lidar melhor com sintomas, estresse e experiências traumáticas, desenvolver recursos físicos, cognitivos, emocionais e desfrutar do prazer vitalizador do fazer artístico.

O PROCESSO ARTETERAPÊUTICO

O processo arteterapêutico é composto por oficinas, iremos citar apenas uma para exemplificar como a dinâmica acontece. O objetivo é proporcionar aos leitores, uma reflexão sobre sua maneira única de se apresentar ao mundo.O ponto principal da oficina é a atividade “Só eu sou Eu” (ALVAREZ, S.) Atividade de colagem apresentada em sala de aula.Geralmente os encontros iniciam-se com um lanche. É um momento de muita descontração, para que os adolescentes se conheçam. Nesse encontro é importante falar sobre os conceitos e princípios da arteterapia e também sobre o projeto e oficinas de criatividade. Os adolescentes são questionados sobre o significado de seus nomes e quem os nomeou. Neste primeiro encontro, é fornecido a cada um dos participantes uma caixa de madeira para que eles guardem seus trabalhos até a última oficina, ao término podem levá-la para casa. Os adolescentes decoram a caixa com vários materiais que ficam à disposição. A atividade de sensibilização-o totem do nome o que deve ser recortado e colado na caixa.A atividade “Só eu sou Eu” é um trabalho de imaginação do tamanho do universo, do planeta, do continente, do país, do estado e da cidade onde moram. Das 7 bilhões de pessoas que existem no mundo, ninguém é igual a ninguém. Cada participante recebe um boneco para servir de base da colagem e começam a procura pelas imagens. No momento em que eles começam a colagem, são questionados sobre a escolha das mesmas.Segundo Fuão, “a collage permite ver o que se esconde no interior de seu corpo, quando está desapropriado de sua falsa pele, sem sua representação fotográfica de seu narcisismo” (FUÃO, 2011, p.47).A atividade finaliza com os comentários dos adolescentes sobre o que o boneco representa.Segundo Scarpato, “intimidade não no sentido de contato com o conhecido, familiar, mas um espaço singular de abertura protegida pelo vínculo, onde podemos deixar vir o desconhecido em nós, o estranho, o novo”. (SCARPATO, 2011, p.107.)A atividade trabalha a maneira única de se apresentarem ao mundo. Chevalier & Gheerbrant falam sobre esses símbolos:O ar é o meio próprio da luz, do alçar vôo, do perfume, da cor, das vibrações interplanetárias; é a via de comunicação entre o céu e a terra [...], simbolicamente, a terra opõe-se ao céu como o princípio ativo; o aspecto feminino ao aspecto masculino da manifestação; a obscuridade à luz; o yin ao yang [...], a água é o símbolo das energias inconscientes, das virtudes informes da alma, das motivações secretas e desconhecidas [...] o fogo na qualidade de elemento que queima e consome, é também símbolo de purificação e de degenerescência. (CHEVALIER GHEERBRANT, 2007, p.21; 443; 68; 878)

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A proposta deste artigo foi aliar a Arteterapia como ferramenta para promover a possibilidade da comunicação inter e intrapessoal por meio da criatividade. A utilização das atividades criativas funcionam como uma ponte levando os adolescentes a exteriorizar seu mundo interno e dando-lhes liberdade para expressar suas alegrias, angústias e também revisitar seus valores, suas crenças e seus costumes. Avivar a criatividade desses adolescentes por meio da Arteterapia mostrando-lhes novos atributos, novas maneiras de pensar e de agir e de se relacionar consigo e com o outro poderá ajudá-los a proporcionar mudanças significativas para a melhoria do seu bem-estar e do ambiente onde vivem.Concluímos que o processo arteterapêutico, contribuiu para descobertas importantes para estes adolescentes. Faz-se necessário criar um espaço em que os adolescentes possam se expressar, falar de suas angústias, conflitos, medos e alegrias. As oficinas são encontros pontuais, em que os adolescentes podem se expressar através de palavras, sem medo de se expor, de ficar inseguro, e terem medo de que possam magoar alguém se falarem o que sentem.O processo arte terapêutico ajuda os adolescentes a perceberem questões que até então não haviam pensado. Muitos deles sofrem com a separação dos pais, com a perda da bisavó materna, por exemplo. Esses rompimentos incomodam muito. E quando o adolescente é muito sensível consegue perceber de maneira clara que os conflitos existem, principalmente entre seus pais e isso lhes causam chateação por sentir que às vezes as pessoas não são transparentes. Por outro lado, o processo arteterapêutico traz alegria para eles, pois se sentem confiantes nas profissionais que desenvolvem as oficinas, e conseguem compartilhar seus sentimentos.

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RESUMOEste artigo traz a abordagem lúdica da musicalização no contexto da linguagem musical, destacando a etapa da aprendizagem no tempo e espaço adequado com seus benefícios pedagógicos e estratégias de desenvolvimento infantil. Apresenta a música como recurso para o desenvolvimento das demais linguagens, promovendo a comunicação e a expressão no aspecto verbal, oral, artístico, corporal e musical. É uma linguagem universal, que está inserida em toda e qualquer cultura, atrelando suas expansões sociais, nas mais diversas situações como forma de expressão aos mais diversos sentimentos. Usada em várias situações do cotidiano, oportuniza aprendizagem com significado, garantindo o prazer musical auditivo, de ritmo, resgate cultural e um ensino de qualidade, possibilitando a ampliação de repertório oral através da musica e a formação integral da criança em seus aspectos físicos, sociais, cognitivos e culturais. Vamos descobrir a importância da música que é usada em praticamente todas as situações do dia a dia no universo infantil, na hora da entrada, no lanche, nas rodas de histórias, nas rodas de músicas, como instrumento para se expressar e comunicar e até para solicitar silêncio.

Palavras- chave: Linguagem musical; Lúdico; Música; Educação Infantil;

INTRODUÇÃO As crianças se movimentam desde que nascem adquirindo cada vez mais e maior controle sobre seu próprio corpo, se apropriando cada dia mais das possibilidades de interação com o mundo, a cultura em que estão inseridas e assumindo papeis sociais. O movimento é uma importante linguagem da criança, por meio dela, expressam seus desejos, sentimentos, emoções e pensamentos. “As maneiras de andar, correr, arremessar, saltar resultam das interações sociais e da relação dos homens com o meio; são movimentos cujos significados têm sido construídos em função das diferentes necessidades, interesses e possibilidades corporais humanas presentes nas diferentes culturas em diversas épocas da história. Esses movimentos incorporam-se aos comportamentos dos homens, constituindo-se assim numa cultura corporal. Dessa forma, diferentes manifestações dessa linguagem foram surgindo, como a dança, o jogo, as brincadeiras, as práticas esportivas etc., nas quais se faz uso de diferentes gestos, posturas e expressões corporais com intencionalidade”. (MEC 1998, p.15) Já a música é instrumento integrador desenvolve a linguagem, a comunicação e expressão, trabalhando na sua forma verbal, oral, plástica, corporal e musical. A música é uma linguagem universal, que está inserida em toda e qualquer cultura, nas mais diversas situações como forma de expressão aos mais diversos sentimentos. E no universo infantil não pode ser diferente, a música é usada em todas as situações do dia a dia, na hora da entrada, no lanche, nas rodas de histórias, nas rodas de músicas, como instrumento para se expressar e comunicar, para solicitar silêncio, etc. Nesses contextos, as crianças entram em contato com a cultura musical desde muito cedo e assim começam a aprender e manifestar suas tradições musicais e culturais. Podemos afirmar que a música e o movimento são duas linguagens na educação infantil indissociáveis que são muito importantes para o desenvolvimento da expressão e formação das crianças. A linguagem musical é excelente meio para o desenvolvimento da expressão, do equilíbrio, da autoestima e autoconhecimento, além de poderoso meio de integração social. Ao brincar, jogar, imitar e criar ritmos e movimentos, as crianças também se apropriam do repertório da cultura corporal na qual estão inseridas. Assim, o movimento e música na educação infantil deve favorecer que a criança conceba e expresse o mundo por meio das diferentes linguagens que integram arte e ciência no complexo processo de apropriação e construção de conhecimento que envolve curiosidade, observação, atenção, percepção, pensamento, investigação, interpretação, criação de hipóteses, imaginação e elaboração de teorias explicativas daquilo que vivem e observam. Tudo isso resulta em significativas aprendizagens que só acontece pela atitude ativa da criança no meio social quando esta, é tratada como sujeito capaz de realizar tudo isso.” (Currículo Integrador da Infância Paulistana p.17) Sendo assim, os espaços escolares é o local onde as linguagens movimento e a música, ficam atrelados as

diversas aprendizagens que acontecem de forma lúdica e a criança exerce sua cidadania, o seu protagonismo, o seu direito de ser criança, além de contribuir para a qualidade do ensino, inclusão social e a melhoria das relações interpessoais. Destacamos a criança como um ser capaz e competente para promover e construir sua própria aprendizagem, valorizando a área de interesses, questões, desejos e sentimentos próprios, que é um ser em desenvolvimento e que passa por períodos de modificações durante a infância e que é sujeito de direitos, tendo em vista seu pleno desenvolvimento nos aspectos físico, afetivo, cognitivo e social, inserido em uma educação integradora que compreende autonomia, conhecer e reconhecer seu jeito particular de ser e estar no mundo, desenvolvendo a motricidade e a psicomotricidade através da linguagem musical e de atividades lúdicas com utilização de vários tipos de jogos, brincadeiras que garantem o desenvolvimento da lateralidade, discriminação tátil, olfativa, gustativa, o equilíbrio, ritmo, a organização do corpo no espaço e no tempo, a socialização e a formação de valores.A abordagem apresenta também o desenvolvimento e elaboração de estratégias voltadas ao movimento e a música em diversos momentos da rotina escolar, explorando tempos e espaços escolares, compartilhando desta forma com professores as diversas possibilidades pedagógicas da linguagem musical no contexto lúdico.A LINGUAGEM MUSICAL E A CRIANÇA Muitos estudos contribuíram para o aprofundamento da linguagem musical, e o neurocientista Howard Gardner, faz ponderações educacionais quando descreve o desenvolvimento musical em crianças observando que, ―(...) a música é primeiramente uma experiência sinestésica para a criança pequena, e seu uso de instrumentos talvez precise esperar até ela ter uma ampla experiência na imersão física da música. (GARDNER, 1997, p. 204). Na educação infantil o professor exerce o papel de representante da comunicação e mediador na construção das diversas linguagens da criança, sendo a música uma de suas principais ferramentas para garantir desenvolvimento pleno da criança, tratada como instrumento para construção da linguagem e meio de expressão verbal e não verbal da socialização e entendimento de regras sociais, favorecendo a potencialização de habilidades e competências motoras, mobilizando processos físicos, cognitivos, afetivos e sociais, sem preocupações técnicas ou de estéticas predefinidas, aumentando o repertório de gêneros musicais, de literatura e ritmo. A música assume papeis sociais que ultrapassam fronteiras, considerados inalcançáveis ao contexto real da criança, devido ao rico repertório literário, variações rítmicas e de gêneros, possibilitando a introdução de mais um objeto que deve ser brincado e explorado para as descobertas das sonoridades, promoção de situações interativas, favorecimento da construção de novos conceitos e expansão da vivência verbal da criança, a música como experimentação através de brincadeiras sem a necessidade do domínio da técnica musical, ritmo ou gênero. Segundo ARANTES, a criança, ao fazer suas descobertas na primeira infância e começar a falar, faz uso de aptidões intelectuais e sociais, que por sua vez, são modificadas constantemente pelo uso da linguagem. Nesse processo a criança é um sujeito ativo e a linguagem é uma atividade interpretativa que acontece na interação e mediação com o outro, pois ganha significação, forma e sentido (1994, p. 26). O RCN’s – Referenciais Curriculares Nacionais da Educação Infantil (MEC, 1988, p. 138), preconiza, ou seja, recomenda a atenção à construção conjunta das falas das crianças auxiliando para torná-las mais completas e complexas. No entanto, destacamos a música como recurso sonoro e auditivo capaz de aumentar repertório de palavras e sons, através deste recurso pedagógico garante-se o resgate de raiz cultural como as cantigas, parlendas e brincadeiras cantadas passadas de geração em geração, aproximando-as das vivências culturais de seus descendentes. Barreto e Chiarelli (2005, p. 3) afirmam que as experiências rítmico-musicais permitem uma participação ativa e favorece o desenvolvimento apurado dos sentidos da criança, assim como, as atividades musicais coletivas beneficiam o desenvolvimento da socialização, estimulando a compreensão, participação e cooperação. Suas pesquisas revelam, ainda, que as atividades de musicalização podem contribuir efetivamente e de maneira indelével, ou seja, o tempo não apaga, no desenvolvimento cognitivo, linguístico, psicomotor e sócio afetivo da criança. Carvalho e Rojas (2006, p. 5) concordam com os benefícios da música no desenvolvimento infantil, destacando sua contribuição em fazer a criança compreender a importância das relações e da socialização, vivenciando o contato e participação em diferentes grupos sociais, além do respeito ao próximo, desenvolvendo a autonomia e o senso crítico. Relacionam também como fatores relevantes à compreensão de novas linguagens, a percepção e respeito dos limites, socialização, fazendo crescer o senso rítmico, construindo a dicção, a linguagem e a comunicação verbal e não verbal. Gomes e Simões (2007, p. 140) consideram a música e toda a linguagem musical um excelente meio de comunicação verbal e não verbal, que desenvolve os aspectos cognitivos, afetivos e motores da criança, por se tratar de ritmos, sons e danças entrelaçados e ao mesmo tempo em que promove a interação e o autoconhecimento. As autoras concluem que a música tem em si um valor próprio e que devido a todas as suas características deve estar presente no currículo escolar e ser explorado em suas variadas possibilidades.É importante diferenciar a música como recurso didático e lúdico, tal qual é proposta neste estudo, da música como produto, como é normalmente ofertada nas escolas. Cabe ao o professor estabelecer objetivos ao seu plano de trabalho com metas de curto, médio e longo prazo, não caindo somente na armadilha das datas comemorativas e os famosos “tapa buraco”. Ao utilizar a música como experiência sonora é possível observar o ritmo e maneira que cada criança realiza suas descobertas, Jean Piaget descreveu tais aprendizados em sua teoria da fase de desenvolvimento motor através da utilização de jogos como: Jogo sensório-motor – vinculado á exploração do som e do gesto;Jogo simbólico – vinculado ao valor expressivo e à significação mesmado discurso musical;Jogo com regras – vinculado à organização e à construção dalinguagem musical; (BRITO, 2003, p.31).

Com base nos estudos apresentados podemos destacar pontos em comum entre eles, o que diz respeito ao rico benefício ao desenvolvimento infantil em todos os aspectos físicos, cognitivos e sociais, e que o ambiente escolar na educação infantil, deve ser lúdico promovendo o encantamento, através do brincar com a música é que a criança aprende e adquire novos aprendizados com significado e garantia de direitos que cabe a esta etapa de desenvolvimento. A

utilização da música como ferramenta didática, dentro de um planejamento bem focado no desenvolvimento integral da criança pode proporcionar aprendizagem espontânea, divertida focada na expressividade preparando o desenvolvimento cognitivo para anos escolares futuros, lembrando que estamos falando da música como estímulo para aprendizagem e não como ensino técnico musical. No âmbito pedagógico, quando destacamos a música como estímulo a aprendizagem surge à dúvida de que tipo de música utilizar? Qual o repertório musical pertinente à ocasião, e faixa etária? No entanto, não existe uma receita a ser própria para conduzir o trabalho com a música, pelo contrário existem muitos caminhos a serem seguidos, devemos criar métodos como indicadores de percurso utilizando a ação como sentir e pensar a música como criança e para a criança.De acordo com Gardner (1997), em relação às formas musicais, gêneros e conteúdos, é preciso entender que inicialmente a música deve ser uma atividade de execução, isto é, a criança imita, reproduz e produz com base em suas possibilidades motoras e no que herdou de seu sistema cultural, para depois, com maior habilidade e domínio dos códigos musicais de sua cultura lançarem-se às apreciações e execuções mais rebuscadas. As indicações musicais que podem ser trabalhadas, devem sempre lembrar que não existe receita e é importante fazer um levantamento do perfil do grupo de crianças a ser trabalhado, estabelecer o objetivo a ser alcançado e se estará de acordo com a faixa etária e área de abrangência pedagógica. Cada grupo é único e imprevisível em suas reações com a música, o que interfere diretamente no resultado final.Estudiosos das áreas musicais, em sua maioria, recomendam a utilização de canções do folclore brasileiro, que carrega uma carga de cultura imensurável, além de ser de espontânea manifestação por trazer a bagagem de letramento musical transmitida de geração para geração, dando destaque ao conhecimento prévio de cada criança, porém a criança também tem contato com a cultura de massa, acesso as informações e possivelmente trará conhecimentos de canções das quais tem acesso que nem sempre são voltadas a essa ótica cultural folclórica. As educadoras musicais Cristina Lemos e Solange Gomes defendem que:As crianças devem ter contato com canções de ninar, de brincar, de brincadeiras de roda, que fazem parte da diversidade cultural impressa por tantos povos que formaram nosso país. (LEMOS e MARANHO, 2005, p. 18).Para qualidade e sucesso, existem indicações de procedimentos indiretamente recomendado para se trabalhar música com as crianças. E existem muitos caminhos para este êxito, contudo, cabe ao educador identificar o melhor método que garantirá a eficácia de sua ação. Sem esquecer, que é através da linguagem que a criança tem acesso à cultura de sua comunidade, a música e a linguagem, podem ser consideradas duas formas de comunicação interligadas após muitos estudos e tornando-se uma das mais apreciadas pelas crianças a “linguagem musical”. Sendo assim, além de reproduzir, imitar, improvisar e criar, a experiência com a música permite viver situações de aprendizagem, explorando novas e significativas possibilidades, de identificação cultural, de liberação e identificação de sentimentos, e o uso da canção, ritmo e som, na construção de significações por meio da música.O LÚDICO DESPERTANDO NOVAS EXPERIÊNCIAS O trabalho lúdico tem sido cada vez mais valorizado como importante e eficiente forma de se colocar novas descobertas de aprendizagem e conteúdo, além de lidar com a vida de maneira criativa, crítica e expressiva. Sabemos que a brincadeira é a linguagem mais apreciada pela criança, teorias sobre a importância do jogo vêm ocupando cada vez mais espaço tanto em discussões informais, quanto em debates educacionais e pesquisas acadêmicas.(...) A sagacidade e a perspicácia delas também são as mesmas, em quaisquer condições. Crianças obrigadas a trabalhar se viram para brincar, crianças sentadas na carteira da escola desesperadas para sair dali estão brincando na imaginação. (Friedmann, [s.d.]).A conexão entre as brincadeiras e jogos com a educação vêm sendo, há muito tempo, objeto de interesse de educadores, que passam a integrar a ludicidade musical a este contexto. Segundo Tizuko Kishimoto (2008, p.61), desde a Antiguidade greco-romana, a importância do jogo já era assunto de debates: Muitos educadores reconheceram a importância educativa do jogo.O filosofo grego Platão em sua obra “As Leis”, destaca a importância do “aprender brincando” em contrapartida à utilização da violência e da repressão. O interesse pelo jogo aparece nos escritos de Horácio e Quintiliano, que se referem às pequenas guloseimas em forma de letras, produzidas pelas doceiras de Roma destinadas ao aprendizado das letras. A prática de aliar o jogo aos primeiros estudos parece justificar o nome de ludus atribuído às escolas responsáveis pela instrução elementar, semelhante aos locais destinados a espetáculos e à prática de exercícios de fortalecimento do corpo e do espírito.Ao longo da história, por meio de muitos estudos e teorias, autores como Rabelais (1494-1553), Montaigne (1533- 1592), Comenius (1592-1670), Rousseau (1712-1778), Froebel (1782-1852), Pestalozzi (1746-1827), Dewey (1859-1952), Montessori (1870-1952), Decroly (1871-1932), Hui - zinga (1872-1945), Claparède (1873-1940), Makarenko (1888-1939), Vygotsky (1896- 1934), Winnicot (1896-1971), Piaget (1896-1980), entre muitos outros, vêm pensando sobre o papel social do jogo e sua importância no desenvolvimento cognitivo dos seres humanos. Muitas dessas teorias confirmam que a brincadeira, apesar de todos os seus benefícios, deve manter sua característica de ser um fim em si mesma.Na primeira metade do século XX, desde a difusão dos “métodos ativos” Jacques-Dalcroze, Willems, Martenot, Orff, Kodály, entre outros já valorizavam a vivência musical de forma lúdic, a partir do corpo, antes da técnica e da teoria. No Brasil, a partir da década de 1940, esse novo pensamento ecoou nas ideias e práticas de Sá Pereira, Liddy Chiaffarelli, Gazzy de Sá.A chamada “segunda geração” de educadores musicais, que inspirados na música de vanguarda do século XX, criaram propostas de trabalho que priorizavam a criação e a improvisação, apesar de ter reverberado em diversos núcleos musicais especializados, não teve oportunidade de influenciar a educação musical na escola pública, a não ser de forma muito eventual e secundária em alguns projetos experimentais de arte educação ou de artes integradas. Como afirma a educadora musical Marisa Fonterrada (2005, p.10):“[…] após tanto tempo de ausência, perdeu-se a tradição; a música não pertence mais à escola e, para que volte, é preciso repensar os modos de implantação de seu ensino e de sua prática”.Temos consciência de que o processo de volta da música às escolas brasileiras é longo, mas é preciso começar e lutar para o êxito desta atuação. Reconhecemos o brincar como uma das possibilidades de aproximação da linguagem musical, lembrando que a música é, por si só, um jogo. O músico e pesquisador francês François Delalande (1995), em

seu livro La musique est un jeu d’enfant (“A música é uma brincadeira de crianças”), relaciona aspectos determinantes da prática musical, mesmo adulta, às formas de atividade lúdica infantil, a partir da referência piagetiana. Resumidamente, o autor destaca que a música tem o lúdico em sua própria essência.O corpo humano é uma fonte muito rica de sons e pode ser considerado nosso primeiro instrumento musical, com extensa exploração dos sentidos. Com a presença do ritmo na batida de nosso coração, em nossa respiração ou ao caminharmos. Reconhecemos inúmeros timbres e melodias na exploração de nossa voz e também na escuta da voz do outro. Não é à toa que no vocabulário musical estão presentes palavras como pulsação e andamento, provenientes do funcionamento biológico do corpo humano.Desde muito cedo, a criança explora de forma curiosa os sons de seu corpo por meio de palmas, de vocalizações, de movimentos da língua e dos lábios e até pelo sapateado. Com o passar do tempo, elas muitas vezes se divertem com jogos de mãos e pés associados a músicas e cantigas. Sentem-se também encantadas pelos desafios de aprender coreografias e danças percussivas, trava-línguas ou para imitarem instrumentos musicais com a voz. Essas brincadeiras e explorações são valiosas para a sua formação e estimulam seus potenciais psicomotores e fonéticos e para as dificuldades nesta área, contamos com o estimulo da “Práxis”, caretas faciais que ajudam na articulação de músculos faciais. Os adultos também usam da música cantarolando, batucando, assobiando e sapateando para entreter-se e fazer música, ou utilizam sons corporais característicos em sua comunicação cotidiana.Observa-se a rica diversidade de formas de canto, de palmas, de estalos de dedo, de estalos de língua, de sapateados, de assobios, além dos sons vocais, fonéticos e onomatopaicos (BUM, TRIM...), que carregam em seu repertório pessoal à língua falada da região o seu sotaque particular. Essa música corporal está presente no dia a dia das comunidades, assim como nas suas danças e festividades e manifestações culturais. Aprender e explorar um som corporal é um processo que envolve curiosidade, prática, concentração e observação tanto de si como do outro.

A MÚSICA E O DESENVOLVIMENTO SOCIAL DA CRIANÇA No campo da maturação social da criança a música traz um efeito muito significativo. Muitas vezes é através do repertório musical que somos integrados a alguns grupos sociais. As cantigas de ninar, parlendas, adivinhas, brincadeiras, cantigas de roda e as músicas que nos rodeiam por toda a vida dizem respeito à nossa realidade e nos insere na formação de nossa própria cultura. Desde o útero materno o feto reage aos estímulos sonoros externos, neste sentido, a mãe bem como o ambiente deve favorecer e ser benéfico a esta fase. Mesmo sem o domínio de instrumentos musicais as pessoas próximas podem tocar, ou mesmo cantarolar músicas e cantigas. Mais tarde, após o nascimento os momentos de socialização inicial dos bebês são de grande significado e prazerosa quando associada a música, cantar no banho, fazer uso de brincadeiras ritmadas durantes as atividades cotidianas, massagear o corpo do bebê com uma boa música ao fundo, favorecem o contato social e desenvolvimento afetivo.Após esta fase, nos primeiros anos de vida e durante a educação infantil, o contato musical desenvolve também a maturação individual, isto é, o aprendizado de regras sociais, como por exemplo, durante a brincadeira de roda a criança tem a oportunidade de vivenciar, de forma lúdica situações de perda, escolhas, decepções, dúvidas e afirmações. Fanny Abramovich, afirma: “quem não se lembra de quando era pequenino, de ter dado as mãos para muitas outras crianças, ter formado uma imensa roda e ter brincado, cantado e dançado por horas?” ou ainda “reunir a turma da rua para cantarolar Terezinha de Jesus... e a briga de quem seria o pai, o irmão e o terceiro que disputa a amada Terezinha... esperando o arrepio gostoso da fala – Sinha eu não fico, nem ei de ficar, por que quero ? para ser meu par – E aí, apontava o eleito e todos riam e se divertiam muito. Quanta inveja e ciúmes passava na cabeça de todos. (1985, p.59). Muitas outras cantigas foram e são transmitidas de inúmeras gerações, por meio dos saberes popular, com linguagem de domínio público, oralmente, com ritmo e trazem saberes que nos preparam para a vida adulta. Trata-se de temas variados, ricos e de tato cotidiano, de expressões de sentimentos, alegres ou tristes, dando a oportunidade de vivenciar, mesmo que de forma “teatral” com a felicidade e a frustação. Trazem experiências de vida que nem um brinquedo, mesmo o de maior sofisticação eletrônica pode proporcionar. Na educação infantil é trabalhado com as linguagens musical e motora, sendo assim a música e dança, fazem parte da rotina diária da unidade escolar, nas brincadeiras musicais, nos eventos e festas, nas cantigas de roda, no processo de aprendizagem infantil com um todo. Sempre com o cuidado para que não seja um trabalho artificial, isolado do planejamento e projeto pedagógico como um todo. Mesmo após esta etapa da vida, já na adolescência, a música tem um papel de destaque, pois traz a inserção social desses jovens, para a preparação da vida adulta, usam a música para serem aceitos em grupos, para filosofia de vida, para vestir uma camisa em prol de alguma causa. A música é uma intensa forma de comunicação oral e corporal. A música e a dança sujeitam ritmo e ajudam na autonomia de escolhas. Muitos compositores e interpretes se expressam através da música com foco nos jovens, abordando temas que permeiam os direitos humanos, estabelecem o diálogo e a consciência da formação cívica, com a intenção de propagar boas práticas sociais.

CONSIDERAÇÕES FINAISMuito se tem perdido da infância pura e inocente nos dias de hoje devido ao aumento da violência, a redução brutal dos espaços de convívio coletivo e a industrialização do brinquedo, com novas tecnologias de jogos eletrônicos, geraram enorme transformação no espaço do brincar. No entanto, o encantamento proveniente das cantigas de roda e músicas infantis são fatos admiráveis em todo ambiente que agrega crianças em fase desenvolvimento. Ao lado dos novos jogos virtuais, muitas brincadeiras cantadas, jogos de mãos ou jogos com regras ainda estão vivos, recriando-se e transformando as crianças em seres felizes e encantados.O brincar na linguagem musical, desenvolve um especial interesse e gosto pelas brincadeiras cantadas tradicionais brasileiras e de outros países, pelos jogos de mãos espontâneos das crianças e pelos diversos tipos de brinquedos sonoros. Na educação musical, que é nosso cenário cotidiano, os jogos corporais, as atividades lúdicas, as brincadeiras cantadas e as canções tradicionais ocupam um espaço de destaque.

O trabalho com música na sala de aula deve buscar possibilidades diversas de realização, integrando o corpo, o lúdico, a criação, o resgate da cultura da infância e um repertório que contemplem as diversas músicas do mundo, tudo isso em uma grande conexão que deve ser construído de forma significativa junto com as crianças, valorizando a sua própria cultura bem como ampliando o seu repertório de músicas, cantigas, ritmos e gêneros musicais.No Brasil existem inúmeros estilos musicais que se utilizam de sapateados e de palmas em suas manifestações, cujas coreografias por si só têm um resultado rítmico. As experiências e relatos deste artigo reforçaram a importância da consciência corporal no aprendizado musical, por meio de trocas sociais por agrupamentos variados. Atualmente existem muitas abordagens educacionais que exploram as relações entre música e movimento, e novas experiências estão em pleno desenvolvimento.Os recursos, técnicas e práticas aqui apresentados são em geral acessíveis a todos e existem diferenças naturais na maneira como cada um os aborda e os vivencia, explorando suas possibilidades e elevando o repertório musical. Um determinado som ou ritmo pode inicialmente ser mais fácil de ser aprendido por uma pessoa do que por outra. Essas diferenças são normais e ligadas à anatomia de cada indivíduo, sua área de interesse musical e não são diferenças definitivas, principalmente à medida que persistimos na prática e encontramos soluções gestuais particulares. É importante valorizarmos a vivência e troca lúdica, os sons que os alunos já possuem, os que eles conquistam mais facilmente e os que eles mais gostam de fazer. É fundamental também estimular as crianças, com paciência e persistência, a conquistar novos conhecimentos musicais e principalmente se divertir com eles.

REFERÊNCIASABRAMOVICH, F. Quem educa quem? 5a. ed. São Paulo: Summus, 1985.BRASIL. Referencial Curricular para a Educação Infantil. Vol. 3. Brasília, 1998. Disponível em: http://portal.mec.gov.br/seb/arquivos/pdf/volume3.pdf. Acesso em: 01/03/2021.

CAVALCANTE, R Música na cabeça. In: www.habro.com.br, acesso em 10 de março de 2021.CIAVATTA, L. O Passo: música e educação. Rio de Janeiro, 2012. Edição do autor.FRIEDMANN, A. O direito de brincar. São Paulo: Scritta; Abrinq, 1992.GRANJA, C. E. de S. C. Musicalizando a escola: música, conhecimento e educação. São Paulo: Escrituras Editora, 2006.OSTRANDER, L e SCHOEDER, L. Super - aprendizagem pela sugestologia. Rio de Janeiro: Record, 1978.___________. Referencial curricular nacional para a Educação Infantil. Brasília: MEC/SEF, 1998, p.18. ___________. Referencial curricular nacional para a Educação Infantil. Brasília: MEC/SEF, 1998, p.138.BRITO, T. A. de. Música na educação infantil. São Paulo: Petrópolis, 2003.______. O humano como objetivo da educação musical. São Paulo: Petrópolis, 2001.SME – São Paulo (SP). Secretaria Municipal de Educação. Diretoria de Orientação Técnica. Currículo integrador da infância paulistana. São Paulo: SME/DOT, 2015.SNYDERS, G. A escola pode ensinar as alegrias da música? São Paulo: Cortez, 1992.TECA ALENCAR DE BRITO. Música na educação infantil São Paulo: Peirópolis, 2003TECA ALENCAR DE BRITO. Koellreutter educador – o humano como objetivo na educação musical 2 ª Ed – São Paulo: Peirópolis, 2011.

Page 13: REVISTA EXATTO MARÇO

RESUMO As Diretrizes Curriculares Nacionais de Educação Infantil e as propostas pedagógicas existentes devem considerar princípios estéticos, voltando-se para diferentes manifestações artísticas e culturais e que considerem a heterogeneidade cultural, étnica, religiosa, social do país. A música como linguagem organiza os signos sonoros no espaço e no tempo, trazendo a possibilidade de trazer reflexão ao ouvinte sobre o mundo. Assim, é fundamental assegurar o ensino da música entre as crianças para que as mesmas possam entender e construir seu cotidiano e parte do seu mundo a partir da linguagem sonora. Por isto, a presente pesquisa discute as implicações da musicalização na Educação Infantil no desenvolvimento das crianças da creche e pré-escola. Os resultados indicaram que o uso da música é de fundamental importância para o desenvolvimento sociocognitivo das mesmas, em interdisciplinaridade com outras áreas de conhecimento.

Palavras-chave: Educação Infantil; Musicalização; Desenvolvimento Infantil.

INTRODUÇÃO

As crianças se envolvem com os sons desde muito pequenas, sendo que alguns pesquisadores discutem que esse contato acontece desde a fase intrauterina. Quando chegam a fase escolar, uma das problemáticas é que determinadas experiências sonoras ficam muitas vezes reduzida a ajudar na organização de atividades relacionadas à ocasião do recreio e do asseio das crianças, ganhando aspectos de disciplinarização da infância. Assim, justifica-se o presente artigo a discussão sobre a importância da música e sua utilização na Educação Infantil, a fim de encontrar sua identidade e de distinguir o ambiente em que vive, utilizando os sons através de suas diferentes propriedades: altura, espaço, grau, timbre, sons; através de brincadeiras, cantaroladas, assobios, risos, gritos, ou seja, emitindo os mais diversos sons. Sabe-se que em relação à criança, a música é criada ao brincar com os sons, transformando ambientes. Outra problemática é a questão de que muitos docentes ainda não compreendem a importância do ensino de música, classificando algumas músicas como musiquinhas, e ainda músicas e sons produzidos pelas próprias crianças, considerando-os barulhos.Desta forma, temos como objetivo geral discutir as implicações da musicalização no processo da Educação Infantil; e como objetivos específicos discutir a legislação pertinente a inserção da música na Educação Infantil, bem como suas contribuições para o ensino da mesma e para o desenvolvimento sociocognitivo das crianças que frequentam essa etapa escolar.

A MÚSICA E A EDUCAÇÃO INFANTIL

Podemos destacar que as atividades desenvolvidas dentro da Educação Infantil são direcionadas entre outros documentos pelas Diretrizes Curriculares Nacionais, como discutido abaixo:

(...) a primeira etapa da educação básica, oferecida em creches e pré-escolas, às quais se caracterizam como espaços institucionais não domésticos que constituem estabelecimentos educacionais públicos ou privados que educam e cuidam de crianças de 0 a 5 anos de idade no período diurno, em jornada integral ou parcial, regulados e supervisionados por órgão competente do sistema de ensino e submetidos a controle social (DCNs, 2010, p.12).

Os docentes da Educação Infantil devem estar sempre atentos cem relação aqueles que classificam algumas músicas ouvidas pelas crianças como musiquinhas, tratando-se de forma revelando como as crianças são concebidas e, além disso, como são pensadas e realizadas as relações entre adultos e crianças em ambientes para a infância igualmente onde se toca músicas e sons que, ao serem realizados pelas próprias crianças, são ouvidos como barulhos, contrariando as regras do silêncio. A canção é essencial como brincadeira, como cultura e como contato com o folclore (GOBBI, 2010).Ainda, não se pode ignorar o contato com outros gêneros musicais, de outras culturas e, principalmente com os sons de todas as partes do mundo, considerando também o que a criança porta advindo de seu contexto social, familiar, cultural. A ideia central da Educação Infantil não é apenas colocar para a criança músicas já prontas, mas sim oferecer momentos de descobertas e construções sonoras, canto e invenção de canções. Ainda, objetos devem ser transformados em instrumentos musicais, enriquecendo o repertório musical através de práticas diferenciadas com as crianças.A sonorização de histórias, a escuta sonora, brincadeiras cantadas, percepção de sons, barulhos, ruídos, compõem a creche e pré-escola, sendo essenciais para estabelecer o tempo das crianças juntamente a outras linguagens e não como aula de música, o que tantas vezes é observado.As funções psicológicas superiores vão sendo desenvolvidas nas crianças de acordo com dois tipos de fenômenos: as transformações psíquicas como o desenvolvimento da fala, da escrita e do desenho, por exemplo; e os processos de desenvolvimento das funções relacionadas à memória, julgamento, concentração e inteligência conceitual (TULESKI e EIDT, 2016).Ou seja, a música, se torna um estimulo primordial para o desenvolvimento cerebral da criança. Culturalmente é comum o hábito de cantar e dançar para os bebês, auxiliando tanto no aprendizado musical, quanto no desenvolvimento da afetividade, da socialização e da aquisição da linguagem.Por fim, a educação é um processo contínuo e evolutivo, e deve ser pautado principalmente na criança, tornando-se necessário evidenciar este processo já na educação infantil, caracterizada por ser uma fase relevante no desenvolvimento humano. Deve-se conceber a criança como um ser social e histórico, sendo que a aprendizagem nessa esfera se dá pelas interações entre a criança e o mundo a sua volta. Observa-se, portanto diferentes orientações didáticas, que presam a utilização dos jogos e brincadeiras, além de atividades que envolvam o reconhecimento do próprio corpo, do corpo do outro, da música, da dança e da imitação gestual.

A LEGISLAÇÃO NA EDUCAÇÃO INFANTIL

A Lei Nacional nº 11.769/2008, trouxe a educação em música como obrigatória, alterando o artigo 26 da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDBEN nº 9394/1996), trazendo o convite de se repensar nas práticas artísticas como as artes visuais, a dança, o teatro e a música. A música foi considerada uma área de competência que requer estudo, prática, reflexão e diversidade, devendo existir no Projeto Político Pedagógico da escola. Além disso, ela deve constar nos planejamentos pedagógicos, ser trabalhada interdisciplinarmente, contribuindo para o desenvolvimento cognitivo e pleno de crianças e adolescentes. Já as Diretrizes Nacionais para a operacionalização do Ensino da Música na Educação Básica (CNE/CEB nº 12/2013 de 04/12/2013) trouxeram a urgência de um currículo que contemplasse uma matriz de saberes para o ensino de música, constituindo-se em uma ferramenta que contribui para o trabalho do docente especialista e não especialista desenvolvendo a Educação Musical na Educação Básica e, especialmente na Educação Infantil.Outra mudança na educação ocorreu com a chegada da Base Nacional Comum Curricular (BNCC), documento orientador para que ocorra a equidade nos sistemas de ensino do Brasil inteiro. No caso da música:

A Música é a expressão artística que se materializa por meio dos sons, que ganham forma, sentido e significado no âmbito tanto da sensibilidade subjetiva quanto das interações sociais, como resultado de saberes e valores diversos estabelecidos no domínio da cultura. A ampliação e a produção dos conhecimentos musicais passam pela percepção, experimentação, reprodução, manipulação e criação de materiais sonoros diversos, dos mais próximos aos mais distantes da cultura musical dos alunos. Esse processo lhes possibilita vivenciar a música inter-relacionada à diversidade e desenvolver saberes musicais fundamentais para a sua inserção e participação crítica e ativa na sociedade (BNCC, 2017, p. 154).

No caso da BNCC voltada para a Educação Infantil, esta ampliou a jornada destinada às experiências, envolvendo a Arte como um todo e suas linguagens, trazendo a música como elemento obrigatório desde a infância. Neste sentido, as discussões do trabalho docente têm ocorrido de forma significativa, a fim de trazer métodos adequados ao trabalho com a primeira infância (BRASIL, 2019).Ainda, de acordo com Mendes (2009), os documentos orientadores da Educação Infantil, trazem a importância do trabalho com a linguagem musical utilizando-se de improvisações, de estudos corporais, da escuta de sons e música, da construção de instrumentos musicais, gerando e pensando em música. É através da música que a criança aprende a se expressar. A escola deve desenvolver potencialidades apresentando sua parte poética, sua composição e sua diversidade. Uma combinação entre os deleites que a música promove demonstram a importância para o desenvolvimento cognitivo e educacional das crianças.Por fim, o Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil traz a expressão corporal como uma das linguagens que devem ser trabalhadas nesse período, permitindo assim a criança a tomar consciência de si mesma, expressando e conhecendo o mundo à sua volta. A música pode contribuir para a exploração de diversas formas de como sentir o corpo proporciona às crianças o conhecimento de suas características, limitações e formas de expressão: “a riqueza de possibilidades da linguagem corporal revela um universo a ser vivenciado, conhecido, desfrutado” (AYOUB, 2001, p. 57), pois, o movimento corporal é a essência das crianças.A criança expressa-se principalmente através da fala e da dança, movimentando-se corporalmente. Assim:

É com o corpo que a criança elabora todas as suas experiências vitais, e organiza toda a sua personalidade. Através dele ela percebe o mundo, e perceber o mundo é aprender (e reaprender) com seu próprio corpo; perceber o mundo, portanto, é perceber o corpo; o corpo é assim, sensação, percepção e ação (STEUCK, 2008, p. 13-14).

MÚSICA E AS CRIANÇAS

A música organiza os signos sonoros no espaço e no tempo; e de acordo com as pesquisas voltadas para a origem da música e a sua importância para as relações sociais, elas vêm sendo aprofundadas desde o século XX, buscando explicações na biologia, na sociologia e na antropologia (MARIANO, 2015).A criança logo cedo costuma ter contato com a música. Inicialmente com sua mãe cantarolando com voz doce e suave, crescendo e percebendo que o mundo ao seu redor é regido pela musicalidade. A música está presente em diversos lugares e momentos, seja nas músicas de embalar, nas brincadeiras, nos brinquedos sonoros, nas danças, entre outras ações, podendo marcar afetivamente determinados momentos. Assim, de acordo com Nogueira (2003), a música está no nosso dia a dia, nos costumes e nas tradições de uma dada sociedade, nas festas e recordações especiais. Ou seja, a música contribui para a fixação de algumas regras, possibilitando diferentes aprendizados.A começar do nascimento entramos em contato com os sons, desde que nascemos estamos predispostos aos sons e composições, iniciando assim o mundo da linguagem. Por isso, essa relação prematura favorece o desenvolvimento de nossas aptidões cognitivas, linguísticas e motoras (SIMIONATO e TOURINHO, 2007). Para Brito (2003), a criança quando escuta música não quer dizer que abraça regras ou nota especificidades, mas sim vive aquele momento de aprendizagem. Por isso, a criança ao ter contato com a música deve determinadas certas capacidades, diferenciando o escutar, os diferentes tipos de sons e as diferenças culturais existentes. Existindo a possiblidade de ampliar as formas de comunicação e expressão, desenvolve-se ainda uma boa comunicação: “A importância do ensino de música na escola reside, então, na possibilidade de despertar habilidades e condutas na criança, levando-a a sentir- se sensibilizada pela música valendo-se da criação e da livre expressão” (LOUREIRO, 2003, p.1).Assim, a utilização da música na Educação Infantil desenvolve as potencialidades das crianças e deve respeitar sua individualidade, seu contexto cultural, étnico, religioso, entre outros aspectos, concebendo a criança como um ser único que apresenta características peculiares e que precisa desenvolver diferentes habilidades e linguagens para interagir com o mundo que a cerca. Sabe-se que a metodologia principal na Educação Infantil é a ludicidade, porém é preciso desenvolver outras aprendizagens e a Arte nesse sentido pode trazer boas contribuições dentro desta proposta. Ainda, nessa etapa de escolaridade, é necessário dispor de ferramentas e práticas que trabalhem a diversidade e o contexto da criança, explorando as suas potencialidades. O ensino da música envolve a construção do sujeito musical, a partir da constituição da linguagem. Esta transforma a criança, no que se refere à percepção, as formas de pensar, agir e interagir com o mundo e com os outros. Por fim, a música enquanto linguagem organiza os signos sonoros no espaço e no tempo, motivo pelo qual constitui-se como possibilidade de trazer reflexão ao ouvinte sobre o mundo, sobre o trabalho docente e principalmente o desenvolvimento das crianças, para que ela cresça plena e feliz, inclusive.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

De acordo com a pesquisa realizada, foi possível perceber que a musicalização na Educação Infantil tem por objetivo estimular o desenvolvimento global da criança, integrando sua individualidade, seu contexto socioeconômico, cultural, étnico, entre outros, concebendo a criança como um ser único que apresenta características peculiares e que interage com outras crianças e adultos.A musicalização, assim como outras formas de arte e a ludicidade, são a base da Educação Infantil. Para que o trabalho com música se torne viável nesta fase escolar, é necessário pensar em ferramentas e práticas trabalhando a diversidade e o contexto da criança, explorando assim suas potencialidades. O ensino da música envolve a construção do indivíduo musical, a partir da constituição da linguagem da música. O uso desse tipo de conceito transforma a criança, no que se referem à percepção, formas de agir e pensar, quanto os aspectos subjetivos. A escola é o primeiro ambiente no qual a criança vem a estabelecer suas relações sociais foram do ciclo familiar, essa situação nova na vida infantil deve ser acompanhada para que ao oferecer à criança um novo mundo diverso, repleto de situações na qual tenha que elaborar novos mecanismos de compreensão de fatos, conceitos e atitudes ela se sinta acolhida e atendida em meio a esse novo desafio, onde a criança que ingressa na vida escolar em meio a essa ampliação de relações possa construir sua concepção social do mundo.Ainda, a música pode contribuir como uma possibilidade de compreender através do embasamento teórico a forma com que as crianças constroem as suas relações sociais do nascimento até o momento da primeira infância, através de meios a princípio físicos e posteriormente através de aspectos mais subjetivos definidos como emoções, desejos e sentimentos.Assim, a música como ferramenta dinâmica na Educação Infantil, auxiliar no trabalho docente e na aprendizagem das crianças, trazendo a oportunidade do docente trabalhar a diversidade em sala de aula e desenvolvendo diferentes habilidades nos pequenos. Mesmo que haja docentes que ainda se espelham em modelos pedagógicos mais tradicionais, seguindo determinadas regras e formas de comportamento, de acordo com a pesquisa a maioria dos docentes ainda acredita que a afetividade, a ludicidade e a utilização da música são as melhores formas de se relacionar com as crianças podendo desenvolver a

comunicação oral e dialética conforme proporcione respeito e liberdade de ideias e conhecimentos prévios das crianças.Além disso, outra contribuição do uso da música durante a Educação Infantil é que esse período é um momento em que a criança experimenta, ajusta e constrói movimentos corporais provenientes da interação com os demais colegas. E a música pode desenvolver isso, por exemplo, através da dança, desenvolvendo a autonomia corporal e de ter contato com diferentes vivências e movimentos corporais provenientes da cultura a seu redor. Assim, na Educação Infantil é necessário desenvolver uma pedagogia que organize o fazer o pedagógico em torno de diferentes linguagens as quais a criança utiliza para expressar e se comunicar com o mundo que a cerca.

REFERÊNCIAS

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BRASIL. Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil. Ministério da Educação e do Desporto. Secretaria de Educação Fundamental. Brasília, v. 3. Conhecimento de Mundo. MEC/SEF, 1998.

BRITO, Teca Alencar de. Música na educação infantil. São Paulo: Peirópolis, 2003.

GOBBI, Márcia. Múltiplas linguagens de meninos e meninas e a Educação Infantil. Anais do I Seminário Nacional: Currículo em Movimento – Perspectivas Atuais, Belo Horizonte, novembro de 2010.

Godoi, L. R. (2011). A importância da música na educação infantil. Trabalho de conclusão de curso. Universidade Estadual de Londrina, Londrina, PR, Brasil. Recuperado de: http://www.uel.br/ceca/pedagogia/pages/arquivos/LUIS%20RODRIGO%20GODOI.pdf. Acesso em: 02 mar.2021.

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LOUREIRO, Alícia Maria Almeida. O ensino de música na escola fundamental. Campinas, SP: Papirus, 2003.

MARIANO, Fabiana Leite Rabello. Música no berçário: formação de professores e a teoria da aprendizagem musical de Edwin Gordon. São Paulo: Universidade de São Paulo / Faculdade de Educação, 2015.

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SIMIONATO, L. Cristina; TOURINHO, Cristina. Contribuição do aprendizado de canções no desenvolvimento da linguagem verbal. In ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE COGNIÇÃO E ARTES MUSICAIS. 2007. Anais do 3º Simpósio de Cognição e Artes Musicais. Bahia UFBH 2007 p. 371-377.

STEUCK, C.D. Corporeidade e educação: um olhar a partir da epistemologia social. 2008. Dissertação (Mestrado em Educação). Blumenau: Programa de Pós Graduação em Educação, Universidade Regional de Blumenau – FURB, 2008.

TULESKI, S. G., EIDTt, N. M. A periodização do desenvolvimento psíquico: atividade dominante e a formação das funções psíquicas superiores. In Martins, L. M., Abrantes, A. A., & Facci, M. G (Org.), Periodização histórico-cultural do desenvolvimento psíquico: do nascimento à velhice (pp.35-62). Campinas, SP, 2016: Autores Associados

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RESUMO O objetivo deste artigo é refletir sobre a importância da Arteterapia como ferramenta para desenvolver a comunicação inter e intrapessoal do adolescente por meio da criatividade. Com os instrumentos da Arteterapia buscou-se auxiliar os adolescentes a desenvolver a comunicação inter e intrapessoal, assim como aflorar suas potencialidades e criatividade por meio de estímulos artísticos. A Arteterapia cria recursos de expressão e criatividade que possibilitam que o adolescente libere suas emoções, seus conflitos e angústias. Possibilita que o adolescente seja capaz de enxergar esses conflitos e assim equalizar sua mente ao seu corpo, melhorando sua qualidade de vida. Através das bibliografias que envolvem o tema foi possível compreender que cada ser humano tem seu potencial individualizado; que a arte é capaz de transformar e resgatar esse potencial criativo e assim possibilitar a expressão e o autoconhecimento.

Palavras-chave: Arteterapia; Adolescente; Comunicação

INTRODUÇÃO

Este artigo propõe discutir a importância da Arteterapia no processo de manifestação da criatividade dos adolescentes. Nesse processo, os potenciais criativos são resgatados através de mediadores, tais como: música (como recurso que restaura a expressão de corpo, mente e alma); mandalas (como orientador no processo criativo); pintura (como facilitador para trazer vivências do inconsciente para o consciente); desenhos (como recurso de exteriorizar medos e angústias por meio de símbolos); dança (como vivência individual ou em grupo, ajudando assim na integração dos conteúdos internos da psique e facilitando a expressão individual); escultura e colagem (como recurso de dar forma a sentimentos e sensações). Além disso, por meio desses recursos, busca-se facilitar a comunicação da expressão emocional e aprofundar o conhecimento interno.A artista plástica polonesa Fayga Ostrower, em seu livro Criatividade e processo de criação, afirma que:O potencial criador elabora-se nos múltiplos níveis do ser sensível-cultural-consciente do homem, e se faz presente nos múltiplos caminhos em que o homem procura captar e configurar as realidades da vida. Os caminhos podem cristalizar-se em formas de comunicação, em ordenações concluídas, mas a criatividade como potência se refaz sempre. A produtividade do homem, em vez de se esgotar, liberando-se, amplia-se. (OSTROWER, 2012, p.27).O criar em Arteterapia através dos recursos que ela apresenta tais como a imaginação e o simbolismo das metáforas, acaba facilitando a comunicação na expressão emocional e aprofunda o conhecimento interno trazendo assim do inconsciente todo seu potencial criativo.Na sociedade contemporânea, a conexão com o sentido simbólico e iniciático do rito de passagem foi perdida. Por isso, se faz importante, principalmente para o adolescente, a reflexão sobre as etapas e passagens que ele enfrenta na vida.Nesse sentido, a Arteterapia pode ajudar a vivenciar esses processos de transformação.[...] no dinamismo de alteridade, que corresponde à época da adolescência, os opostos são relacionados de maneira igualitária e dialética, sendo vivenciados como aspectos diferentes de uma mesma realidade. Essa fase é voltada para o relacionamento com o outro e com a própria contraparte sexual, sendo, portanto, regidos pelos arquétipos da Anima (que corresponde aos aspectos do feminino na alma masculina), do Animus (que corresponde aos aspectos masculinos na alma feminina), e do Coniunctio (que se refere à conjunção de opostos, a reunião dessas duas “metades” num todo que as congrega e abrange como partes de uma única e indivisa realidade), caracterizando-se “por sua capacidade criativa face ao confronto dos opostos” (BYINGTON, 1983, p. 24, apud BERNARDO, 2012, p.38).A autora traz a importância do autoconhecimento para união dos opostos, na verdade sua integração ajuda o adolescente a entrar em contato com seu inconsciente sem perder a consciência no processo. Com isso consegue-se, por meio da arte, avivar no adolescente seus conhecimentos, descobrindo um mundo infinito de possibilidades ao trabalhar suas emoções, e assim levá-los a olhar para si de maneira inteira. Mostrar para eles, por meio dos trabalhos, que não existe feio ou bonito, que nada é rígido, que tudo pode ser transformado pela busca interior.Assim sendo, o objetivo geral deste artigo é desenvolver a comunicação inter e intrapessoal do adolescente por meio da

criatividade.

COMUNICAÇÃO INTER E INTRAPESSOAL

Existem vários tipos de comunicação, e as pessoas podem comunicar-se pelo código Morse, pela escrita, por gestos, pelo telefone, etc.; uma empresa, uma administração, até mesmo um Estado, podem comunicar-se com seus membros por intermédio de circulares, cartazes, mensagens radiofônicas ou televisionadas, etc.Toda comunicação tem por objetivo a transmissão de uma mensagem [...]. (VANOYE, 2011, p.1]A comunicação é um processo de troca de informações entre os seres das mais diversas maneiras. É um processo que envolve uma codificação, isto é, a formação de um código, e a decodificação, a busca do entendimento deste código, em forma de mensagens que permitem a troca de informações entre os indivíduos. Não há só a comunicação verbal, há vários tipos de comunicação e cada um deles tem características que o diferencia e o integra ao todo. (VANOYE, 2011, p.1).Segundo o Dicionário de Comunicação, a palavra comunicação deriva do latim communicare, cujo significado seria: “tornar comum”, “partilhar”, “repartir”, “associar”, “trocar opiniões”, “conferenciar”. Comunicar implica participação [...], em interação, em troca de mensagens, em emissão ou recebimento de informações novas. (RABAÇA & BARBOSA, 1995, p.151).Neste artigo, enfocamos as comunicações inter e intrapessoal. A comunicação interpessoal pode ser definida como aquela que acontece de alguém para alguém. (RABAÇA E BARBOSA, 1995, p.166). Já a comunicação intrapessoal é aquela que ocorre dentro de alguém. Está relacionada com as ideias e desejos do indivíduo; é a sua voz interior. Dessa forma, a comunicação intrapessoal é extremamente importante uma vez que representa o diálogo interno.

ADOLESCÊNCIA

A adolescência é a fase que marca a passagem entre a infância e a idade adulta. Segundo o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), é considerado adolescente aquele que tem entre 12 e 18 anos de idade.[...] o Adolescente passa por desequilíbrios e instabilidade, extremas de acordo com o que conhecemos dele. Em nosso meio cultural, mostra-nos períodos de relação, de introversão, alternando com audácia, timidez, descoordenação, urgência, desinteresse ou apatia. (ABERASTURY, 2011, p.28)Para Aberastury, a adolescência é uma fase muito difícil, pois a pessoa ainda não sabe quem é então ela sai em busca de autoafirmação. É fundamental para todo ser humano sentir-se único para poder seguir seu desenvolvimento. O adolescente também precisa de uma afirmação de si mesmo e que, ao mesmo tempo, é vivenciada no coletivo, do sentimento de pertencer a um grupo e da identificação da “turma”. Alguns adolescentes podem apresentar comportamentos infantis, resultado do medo e da insegurança de deixar a dependência dos pais e assumir suas próprias escolhas e poder caminhar com certa autonomia.Ainda segundo este autor, as mudanças corporais nessa fase ficam muito evidenciadas: essas transformações são acompanhadas da modificação na voz (que fica mais grave), do crescimento ósseo (acompanhado do alargamento do tronco e dos ombros), do enrijecimento muscular, do aumento da oleosidade da pele (o que pode causar o aparecimento de acnes). Todas essas mudanças podem causar perplexidade ao adolescente fazendo com que ele se sinta desajeitado diante desse corpo que é seu, mas que lhe soa estranho.De certa maneira, o adolescente poderá passar por recorrentes crises depressivas e dos estados de luto e de tristeza típicos da preparação da adolescência (morte da infância). Um bom mundo interior surge de uma relação satisfatória com os pais internalizados e da capacidade criativa que eles proporcionam.Segundo a Psicologia Analítica, as transformações ocorrem primeiro na psique: uma mudança nos arquétipos do pai e da mãe que aparecem na infância, depois dão lugar para o arquétipo do herói, e por seu intermédio, oferece segurança para enfrentar situações e desafios novos.[...] Estão presentes em nosso desenvolvimento psíquico, encontrados nos antigos rituais de iniciação e passagem de um ciclo a outro: um mergulho no caos (abertura ao novo), uma morte simbólica (corte com formas cristalizadas e desatualizadas de relacionamento com nossa realidade interno-externa), e um renascimento (ampliação de consciência, inaugurando um novo ciclo). (BERNARDO, 2008, p.115).Essa fase também é marcada pela ativação dos arquétipos de anima (na psique do menino) e deanimus (na psique da menina), arquétipos responsáveis pelo relacionamento com o sexo oposto. É nesse ciclo que o adolescente pode se diferenciar dos pais, que até então eram modelos para ele, para poder ir ao encontro de sua própria identidade, fase essa chamada de alteridade, que vai permitir ao adolescente conhecer o outro, e sua contraparte.

PROCESSO CRIATIVO

O potencial criador elabora-se nos múltiplos níveis do ser sensível-cultural-consciente do homem, e se faz presente nos múltiplos caminhos em que o homem procura captar e configurar as realidades da vida. Os caminhos podem cristalizar-se em formas de comunicação, em ordenações concluídas, mas a criatividade como potência se refaz sempre. A produtividade do homem, em vez de se esgotar, liberando-se, amplia-se. (OSTROWER, 2012, p.27).Segundo Ostrower, se pensarmos no potencial criador num âmbito geral, perceberemos que temos um infinito mundo de possibilidades. Criamos e excluímos realidades e possibilidades o tempo todo, com isso muitas vezes desconstruímos nossas ideias para poder reconstruir novamente e assim seguimos como se estivéssemos sempre montando um quebra

cabeça. Quando unimos os aspectos em oposição surgem novas alternativas e, com elas, a diversificação, fazendo que o processo de transformação crie e recrie o tempo todo.Assim, através das vivências conseguimos unificar os potenciais criativos e integrá-los em nossa maneira de nos comunicarmos.

JUNG E ARTETERAPIA

Carl Gustav Jung nasceu na Suíça, em 26 de julho de 1875, e morreu a 6 de junho de 1961, aos 86 anos. De família religiosa, desde criança se interessou pela filosofia e por questões espirituais. Estudou medicina, dando grande atenção aos fenômenos psíquicos (GUIMARÃES, 1997). Após ter-se formado, dedicou-se a pesquisar o inconsciente e formulou uma nova teoria sobre esse tema: a Psicologia Analítica.Segundo Tonietto (2005), Jung denominou Psicologia Analítica ao conjunto de conhecimentos construídos a partir da sua prática clínica e de suas experiências vividas na pesquisa da psique e seus conteúdos. O maior interesse desse estudioso estava relacionado com o mistério da psique humana, fonte de todas as atividades do homem, às "moléstias da alma”, e às formas de superar e transformar enfermidades em instrumento de desenvolvimento da psique.Em sua teoria, Jung distingue na pessoa vários elementos, dentre eles: a consciência e o inconsciente coletivo, a persona, o ego, eu, o animus, ânimo e a sombra, e considera a personalidade como um ideal irrealizável. Diz que no mesmo indivíduo existem diversos aspectos diferentes e contraditórios.Para Jung, um conteúdo é consciente quando é conhecido ou reconhecido pelo ego e por inconsciente quando ocorre o oposto. De acordo com suas próprias palavras:Por consciência entendo a referência dos conteúdos psíquicos ao eu enquanto assim for entendida pelo eu. Referências ao eu, enquanto não entendidas como tais pelo eu, são inconscientes. (JUNG, O. C. VI, § 796).Outro modo de se entender o significado de consciente, segundo Jung, pode ser encontrado na explicação de Edinger:Parte do fenômeno da consciência diz respeito à discriminação entre sujeito e objeto. Estou ciente de que sou um ser consciente; sou o sujeito dessa consciência. Quando olho para o mundo, vejo objetos e, no processo de me separar da identificação com esses objetos, ocorre uma separação entre sujeito e objeto. Essa é a forma como a consciência se desenvolve, separando sujeito de objeto. (Edinger, 2004)Dentre os vários conceitos próprios da Psicologia Analítica, existe o do “eu”, ou “ego”, que é à base da consciência, isto é, o “centro subjetivo do senso de identidade do indivíduo” (Edinger, 2004), por isso, todo conteúdo da consciência deve se relacionar ao sujeito, ao ego. O ego é o centro da personalidade.Por sua vez, “sombra” é o nome que Jung deu para os aspectos da personalidade que são desconhecidos do indivíduo, isto é, os que não estão em sua consciência. São os traços “obscuros” do caráter ou da personalidade, mas que não significa que sejam unicamente fraquezas e defeitos, são todos os traços ou características que ficam fora do campo da consciência. Conscientizar-se da sombra é fundamental em todo processo de autoconhecimento (Tonietto, 2005).Também é essencial que conheçamos o significado de “persona” para podermos compreender a teoria de Jung. Para ele:A persona é um complicado sistema de relação entre a consciência individual e a sociedade; é uma espécie de máscara destinada, por um lado, a produzir um determinado efeito sobre os outros e por outro lado a ocultar a verdadeira natureza do indivíduo. (JUNG, O. C. VII, § 305).Além dos termos já colocados, há outro de fundamental importância para a Psicologia Analítica: a “anima”. Esse termo abrange as experiências importantes que o homem tem de uma mulher. O arquétipo da anima é formado pelo acúmulo da repressão das tendências femininas presentes no inconsciente do homem. Geralmente, o caráter da anima de um homem é “moldado” pela mãe.Não há homem algum tão exclusivamente masculino que não possua em si algo de feminino. (“...) A repressão das tendências e traços femininos determina um acúmulo dessas pretensões no inconsciente.” (JUNG, O. C. VII, § 297).Ao realizar suas pesquisas, Jung verificou que é por meio de símbolos que o inconsciente se expressa. De acordo com ele, os símbolos religiosos, como a cruz dos cristãos, a estrela de Davi dos judeus, o Dharma dos budistas, são imagens que estão presentes no inconsciente coletivo do ser humano.Enquanto o inconsciente pessoal consiste fundamentalmente de material reprimido e de complexos, o inconsciente coletivo é composto fundamentalmente de uma tendência para sensibilizar-se com certas imagens, ou melhor, símbolos que constelam sentimentos profundos de apelo universal, os arquétipos: da mesma forma que animais e homens parecem possuir atitudes inatas, chamadas de instintos, também é provável que em nosso psiquismo exista um material psíquico com alguma analogia com os instintos. Talvez, as imagens arquetípicas sejam algo como figurações dos próprios instintos, num nível mais sofisticado, psíquico. Assim, não é mais arriscado admitir a hipótese do inconsciente coletivo, comum a toda a humanidade, do que admitir a existência de instintos comuns a todos os seres vivos. (Guimarães, 1997).Posteriormente, estudos realizados sobre os trabalhos de Jung revelaram que a teoria dos símbolos, dos arquétipos do inconsciente coletivo, é de fundamental importância para compreensão dos mistérios da criação artística (aspecto que interessa ao nosso tema, a Arte terapia).Em seu livro “Tipos Psicológicos”, de 1921, Jung define duas disposições típicas da consciência: introvertida e extrovertida. O ser introvertido (metido consigo mesmo) comporta-se de maneira adequada à abstração (devaneios), sua imagem está sempre dirigida à situação não pública, isto é, privar-se de espectadores e dos objetos de desejos, como a impedir a supremacia do objeto, ao contrário do extrovertido, que se comporta positivamente em face do objeto, afirmando a sua significação de tal forma, que orientará sua atração existente no sujeito, ou seja, no individual e relacioná-la para si de modo constante.Outra temática famosa com respeito a Jung é a sua teoria dos "tipos psicológicos". Foi com base na análise da controvérsia entre as personalidades de Freud e outro seu discípulo famoso, e também dissidente, Alfred Adler, que Jung consegue delinear a tipologia do "introvertido" e do "extrovertido". Freud seria o "extrovertido", Adler, o "introvertido". Para o extrovertido, os acontecimentos externos são da máxima importância, ao nível consciente; em compensação, ao nível inconsciente, a atividade psíquica do extrovertido concentra-se no seu próprio eu. De modo inverso, para o introvertido o

que conta é a resposta subjetiva aos acontecimentos externos, ao passo que, a nível inconsciente, o introvertido é compelido para o mundo externo. (Guimarães, 1997)Esses dois tipos de indivíduos são distintos e o contraste é visível em sua existência, inclusive aos leigos. É comum em sociedade depararmo-nos com tais seres, tão diferentes, sendo que os de natureza fechada são difíceis de conhecer, pois sua timidez impede qualquer aproximação, aprofundamento, que por vezes não deixa o sujeito desenvolver suas capacidades; e, os de natureza aberta, são mais acessíveis, se relacionam bem em sociedade, em consequência, conseguem mais oportunidade em seu desenvolvimento.Jung vai mais adiante a sua obra “Tipos Psicológicos” (1921) dando características detalhadas dos introvertidos e extrovertidos, descrevendo-os até nos sentimentos, oferecendo um quadro circular, cuja disposição permite ao leitor observações e visão ampla nos processos da vida humana e de sua gênese.Para Jung (1920), “Arte é a expressão mais pura que há para a demonstração do inconsciente de cada um. É a liberdade de expressão, é sensibilidade, criatividade, é vida". Através deste processo, a energia psíquica consegue transformar-se em imagens e através dos símbolos, colocar seus conteúdos mais internos e profundos.A Arteterapia baseia-se na crença de que o processo criativo envolvido na atividade artística é terapêutico e enriquecedor da qualidade de vida das pessoas. Por meio do criar em arte e do refletir sobre os processos e os trabalhos artísticos resultantes, as pessoas podem ampliar o conhecimento de si e dos outros, aumentar a autoestima, lidar melhor com sintomas, estresse e experiências traumáticas, desenvolver recursos físicos, cognitivos, emocionais e desfrutar do prazer vitalizador do fazer artístico.

O PROCESSO ARTETERAPÊUTICO

O processo arteterapêutico é composto por oficinas, iremos citar apenas uma para exemplificar como a dinâmica acontece. O objetivo é proporcionar aos leitores, uma reflexão sobre sua maneira única de se apresentar ao mundo.O ponto principal da oficina é a atividade “Só eu sou Eu” (ALVAREZ, S.) Atividade de colagem apresentada em sala de aula.Geralmente os encontros iniciam-se com um lanche. É um momento de muita descontração, para que os adolescentes se conheçam. Nesse encontro é importante falar sobre os conceitos e princípios da arteterapia e também sobre o projeto e oficinas de criatividade. Os adolescentes são questionados sobre o significado de seus nomes e quem os nomeou. Neste primeiro encontro, é fornecido a cada um dos participantes uma caixa de madeira para que eles guardem seus trabalhos até a última oficina, ao término podem levá-la para casa. Os adolescentes decoram a caixa com vários materiais que ficam à disposição. A atividade de sensibilização-o totem do nome o que deve ser recortado e colado na caixa.A atividade “Só eu sou Eu” é um trabalho de imaginação do tamanho do universo, do planeta, do continente, do país, do estado e da cidade onde moram. Das 7 bilhões de pessoas que existem no mundo, ninguém é igual a ninguém. Cada participante recebe um boneco para servir de base da colagem e começam a procura pelas imagens. No momento em que eles começam a colagem, são questionados sobre a escolha das mesmas.Segundo Fuão, “a collage permite ver o que se esconde no interior de seu corpo, quando está desapropriado de sua falsa pele, sem sua representação fotográfica de seu narcisismo” (FUÃO, 2011, p.47).A atividade finaliza com os comentários dos adolescentes sobre o que o boneco representa.Segundo Scarpato, “intimidade não no sentido de contato com o conhecido, familiar, mas um espaço singular de abertura protegida pelo vínculo, onde podemos deixar vir o desconhecido em nós, o estranho, o novo”. (SCARPATO, 2011, p.107.)A atividade trabalha a maneira única de se apresentarem ao mundo. Chevalier & Gheerbrant falam sobre esses símbolos:O ar é o meio próprio da luz, do alçar vôo, do perfume, da cor, das vibrações interplanetárias; é a via de comunicação entre o céu e a terra [...], simbolicamente, a terra opõe-se ao céu como o princípio ativo; o aspecto feminino ao aspecto masculino da manifestação; a obscuridade à luz; o yin ao yang [...], a água é o símbolo das energias inconscientes, das virtudes informes da alma, das motivações secretas e desconhecidas [...] o fogo na qualidade de elemento que queima e consome, é também símbolo de purificação e de degenerescência. (CHEVALIER GHEERBRANT, 2007, p.21; 443; 68; 878)

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A proposta deste artigo foi aliar a Arteterapia como ferramenta para promover a possibilidade da comunicação inter e intrapessoal por meio da criatividade. A utilização das atividades criativas funcionam como uma ponte levando os adolescentes a exteriorizar seu mundo interno e dando-lhes liberdade para expressar suas alegrias, angústias e também revisitar seus valores, suas crenças e seus costumes. Avivar a criatividade desses adolescentes por meio da Arteterapia mostrando-lhes novos atributos, novas maneiras de pensar e de agir e de se relacionar consigo e com o outro poderá ajudá-los a proporcionar mudanças significativas para a melhoria do seu bem-estar e do ambiente onde vivem.Concluímos que o processo arteterapêutico, contribuiu para descobertas importantes para estes adolescentes. Faz-se necessário criar um espaço em que os adolescentes possam se expressar, falar de suas angústias, conflitos, medos e alegrias. As oficinas são encontros pontuais, em que os adolescentes podem se expressar através de palavras, sem medo de se expor, de ficar inseguro, e terem medo de que possam magoar alguém se falarem o que sentem.O processo arte terapêutico ajuda os adolescentes a perceberem questões que até então não haviam pensado. Muitos deles sofrem com a separação dos pais, com a perda da bisavó materna, por exemplo. Esses rompimentos incomodam muito. E quando o adolescente é muito sensível consegue perceber de maneira clara que os conflitos existem, principalmente entre seus pais e isso lhes causam chateação por sentir que às vezes as pessoas não são transparentes. Por outro lado, o processo arteterapêutico traz alegria para eles, pois se sentem confiantes nas profissionais que desenvolvem as oficinas, e conseguem compartilhar seus sentimentos.

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RESUMOEste artigo traz a abordagem lúdica da musicalização no contexto da linguagem musical, destacando a etapa da aprendizagem no tempo e espaço adequado com seus benefícios pedagógicos e estratégias de desenvolvimento infantil. Apresenta a música como recurso para o desenvolvimento das demais linguagens, promovendo a comunicação e a expressão no aspecto verbal, oral, artístico, corporal e musical. É uma linguagem universal, que está inserida em toda e qualquer cultura, atrelando suas expansões sociais, nas mais diversas situações como forma de expressão aos mais diversos sentimentos. Usada em várias situações do cotidiano, oportuniza aprendizagem com significado, garantindo o prazer musical auditivo, de ritmo, resgate cultural e um ensino de qualidade, possibilitando a ampliação de repertório oral através da musica e a formação integral da criança em seus aspectos físicos, sociais, cognitivos e culturais. Vamos descobrir a importância da música que é usada em praticamente todas as situações do dia a dia no universo infantil, na hora da entrada, no lanche, nas rodas de histórias, nas rodas de músicas, como instrumento para se expressar e comunicar e até para solicitar silêncio.

Palavras- chave: Linguagem musical; Lúdico; Música; Educação Infantil;

INTRODUÇÃO As crianças se movimentam desde que nascem adquirindo cada vez mais e maior controle sobre seu próprio corpo, se apropriando cada dia mais das possibilidades de interação com o mundo, a cultura em que estão inseridas e assumindo papeis sociais. O movimento é uma importante linguagem da criança, por meio dela, expressam seus desejos, sentimentos, emoções e pensamentos. “As maneiras de andar, correr, arremessar, saltar resultam das interações sociais e da relação dos homens com o meio; são movimentos cujos significados têm sido construídos em função das diferentes necessidades, interesses e possibilidades corporais humanas presentes nas diferentes culturas em diversas épocas da história. Esses movimentos incorporam-se aos comportamentos dos homens, constituindo-se assim numa cultura corporal. Dessa forma, diferentes manifestações dessa linguagem foram surgindo, como a dança, o jogo, as brincadeiras, as práticas esportivas etc., nas quais se faz uso de diferentes gestos, posturas e expressões corporais com intencionalidade”. (MEC 1998, p.15) Já a música é instrumento integrador desenvolve a linguagem, a comunicação e expressão, trabalhando na sua forma verbal, oral, plástica, corporal e musical. A música é uma linguagem universal, que está inserida em toda e qualquer cultura, nas mais diversas situações como forma de expressão aos mais diversos sentimentos. E no universo infantil não pode ser diferente, a música é usada em todas as situações do dia a dia, na hora da entrada, no lanche, nas rodas de histórias, nas rodas de músicas, como instrumento para se expressar e comunicar, para solicitar silêncio, etc. Nesses contextos, as crianças entram em contato com a cultura musical desde muito cedo e assim começam a aprender e manifestar suas tradições musicais e culturais. Podemos afirmar que a música e o movimento são duas linguagens na educação infantil indissociáveis que são muito importantes para o desenvolvimento da expressão e formação das crianças. A linguagem musical é excelente meio para o desenvolvimento da expressão, do equilíbrio, da autoestima e autoconhecimento, além de poderoso meio de integração social. Ao brincar, jogar, imitar e criar ritmos e movimentos, as crianças também se apropriam do repertório da cultura corporal na qual estão inseridas. Assim, o movimento e música na educação infantil deve favorecer que a criança conceba e expresse o mundo por meio das diferentes linguagens que integram arte e ciência no complexo processo de apropriação e construção de conhecimento que envolve curiosidade, observação, atenção, percepção, pensamento, investigação, interpretação, criação de hipóteses, imaginação e elaboração de teorias explicativas daquilo que vivem e observam. Tudo isso resulta em significativas aprendizagens que só acontece pela atitude ativa da criança no meio social quando esta, é tratada como sujeito capaz de realizar tudo isso.” (Currículo Integrador da Infância Paulistana p.17) Sendo assim, os espaços escolares é o local onde as linguagens movimento e a música, ficam atrelados as

diversas aprendizagens que acontecem de forma lúdica e a criança exerce sua cidadania, o seu protagonismo, o seu direito de ser criança, além de contribuir para a qualidade do ensino, inclusão social e a melhoria das relações interpessoais. Destacamos a criança como um ser capaz e competente para promover e construir sua própria aprendizagem, valorizando a área de interesses, questões, desejos e sentimentos próprios, que é um ser em desenvolvimento e que passa por períodos de modificações durante a infância e que é sujeito de direitos, tendo em vista seu pleno desenvolvimento nos aspectos físico, afetivo, cognitivo e social, inserido em uma educação integradora que compreende autonomia, conhecer e reconhecer seu jeito particular de ser e estar no mundo, desenvolvendo a motricidade e a psicomotricidade através da linguagem musical e de atividades lúdicas com utilização de vários tipos de jogos, brincadeiras que garantem o desenvolvimento da lateralidade, discriminação tátil, olfativa, gustativa, o equilíbrio, ritmo, a organização do corpo no espaço e no tempo, a socialização e a formação de valores.A abordagem apresenta também o desenvolvimento e elaboração de estratégias voltadas ao movimento e a música em diversos momentos da rotina escolar, explorando tempos e espaços escolares, compartilhando desta forma com professores as diversas possibilidades pedagógicas da linguagem musical no contexto lúdico.A LINGUAGEM MUSICAL E A CRIANÇA Muitos estudos contribuíram para o aprofundamento da linguagem musical, e o neurocientista Howard Gardner, faz ponderações educacionais quando descreve o desenvolvimento musical em crianças observando que, ―(...) a música é primeiramente uma experiência sinestésica para a criança pequena, e seu uso de instrumentos talvez precise esperar até ela ter uma ampla experiência na imersão física da música. (GARDNER, 1997, p. 204). Na educação infantil o professor exerce o papel de representante da comunicação e mediador na construção das diversas linguagens da criança, sendo a música uma de suas principais ferramentas para garantir desenvolvimento pleno da criança, tratada como instrumento para construção da linguagem e meio de expressão verbal e não verbal da socialização e entendimento de regras sociais, favorecendo a potencialização de habilidades e competências motoras, mobilizando processos físicos, cognitivos, afetivos e sociais, sem preocupações técnicas ou de estéticas predefinidas, aumentando o repertório de gêneros musicais, de literatura e ritmo. A música assume papeis sociais que ultrapassam fronteiras, considerados inalcançáveis ao contexto real da criança, devido ao rico repertório literário, variações rítmicas e de gêneros, possibilitando a introdução de mais um objeto que deve ser brincado e explorado para as descobertas das sonoridades, promoção de situações interativas, favorecimento da construção de novos conceitos e expansão da vivência verbal da criança, a música como experimentação através de brincadeiras sem a necessidade do domínio da técnica musical, ritmo ou gênero. Segundo ARANTES, a criança, ao fazer suas descobertas na primeira infância e começar a falar, faz uso de aptidões intelectuais e sociais, que por sua vez, são modificadas constantemente pelo uso da linguagem. Nesse processo a criança é um sujeito ativo e a linguagem é uma atividade interpretativa que acontece na interação e mediação com o outro, pois ganha significação, forma e sentido (1994, p. 26). O RCN’s – Referenciais Curriculares Nacionais da Educação Infantil (MEC, 1988, p. 138), preconiza, ou seja, recomenda a atenção à construção conjunta das falas das crianças auxiliando para torná-las mais completas e complexas. No entanto, destacamos a música como recurso sonoro e auditivo capaz de aumentar repertório de palavras e sons, através deste recurso pedagógico garante-se o resgate de raiz cultural como as cantigas, parlendas e brincadeiras cantadas passadas de geração em geração, aproximando-as das vivências culturais de seus descendentes. Barreto e Chiarelli (2005, p. 3) afirmam que as experiências rítmico-musicais permitem uma participação ativa e favorece o desenvolvimento apurado dos sentidos da criança, assim como, as atividades musicais coletivas beneficiam o desenvolvimento da socialização, estimulando a compreensão, participação e cooperação. Suas pesquisas revelam, ainda, que as atividades de musicalização podem contribuir efetivamente e de maneira indelével, ou seja, o tempo não apaga, no desenvolvimento cognitivo, linguístico, psicomotor e sócio afetivo da criança. Carvalho e Rojas (2006, p. 5) concordam com os benefícios da música no desenvolvimento infantil, destacando sua contribuição em fazer a criança compreender a importância das relações e da socialização, vivenciando o contato e participação em diferentes grupos sociais, além do respeito ao próximo, desenvolvendo a autonomia e o senso crítico. Relacionam também como fatores relevantes à compreensão de novas linguagens, a percepção e respeito dos limites, socialização, fazendo crescer o senso rítmico, construindo a dicção, a linguagem e a comunicação verbal e não verbal. Gomes e Simões (2007, p. 140) consideram a música e toda a linguagem musical um excelente meio de comunicação verbal e não verbal, que desenvolve os aspectos cognitivos, afetivos e motores da criança, por se tratar de ritmos, sons e danças entrelaçados e ao mesmo tempo em que promove a interação e o autoconhecimento. As autoras concluem que a música tem em si um valor próprio e que devido a todas as suas características deve estar presente no currículo escolar e ser explorado em suas variadas possibilidades.É importante diferenciar a música como recurso didático e lúdico, tal qual é proposta neste estudo, da música como produto, como é normalmente ofertada nas escolas. Cabe ao o professor estabelecer objetivos ao seu plano de trabalho com metas de curto, médio e longo prazo, não caindo somente na armadilha das datas comemorativas e os famosos “tapa buraco”. Ao utilizar a música como experiência sonora é possível observar o ritmo e maneira que cada criança realiza suas descobertas, Jean Piaget descreveu tais aprendizados em sua teoria da fase de desenvolvimento motor através da utilização de jogos como: Jogo sensório-motor – vinculado á exploração do som e do gesto;Jogo simbólico – vinculado ao valor expressivo e à significação mesmado discurso musical;Jogo com regras – vinculado à organização e à construção dalinguagem musical; (BRITO, 2003, p.31).

Com base nos estudos apresentados podemos destacar pontos em comum entre eles, o que diz respeito ao rico benefício ao desenvolvimento infantil em todos os aspectos físicos, cognitivos e sociais, e que o ambiente escolar na educação infantil, deve ser lúdico promovendo o encantamento, através do brincar com a música é que a criança aprende e adquire novos aprendizados com significado e garantia de direitos que cabe a esta etapa de desenvolvimento. A

utilização da música como ferramenta didática, dentro de um planejamento bem focado no desenvolvimento integral da criança pode proporcionar aprendizagem espontânea, divertida focada na expressividade preparando o desenvolvimento cognitivo para anos escolares futuros, lembrando que estamos falando da música como estímulo para aprendizagem e não como ensino técnico musical. No âmbito pedagógico, quando destacamos a música como estímulo a aprendizagem surge à dúvida de que tipo de música utilizar? Qual o repertório musical pertinente à ocasião, e faixa etária? No entanto, não existe uma receita a ser própria para conduzir o trabalho com a música, pelo contrário existem muitos caminhos a serem seguidos, devemos criar métodos como indicadores de percurso utilizando a ação como sentir e pensar a música como criança e para a criança.De acordo com Gardner (1997), em relação às formas musicais, gêneros e conteúdos, é preciso entender que inicialmente a música deve ser uma atividade de execução, isto é, a criança imita, reproduz e produz com base em suas possibilidades motoras e no que herdou de seu sistema cultural, para depois, com maior habilidade e domínio dos códigos musicais de sua cultura lançarem-se às apreciações e execuções mais rebuscadas. As indicações musicais que podem ser trabalhadas, devem sempre lembrar que não existe receita e é importante fazer um levantamento do perfil do grupo de crianças a ser trabalhado, estabelecer o objetivo a ser alcançado e se estará de acordo com a faixa etária e área de abrangência pedagógica. Cada grupo é único e imprevisível em suas reações com a música, o que interfere diretamente no resultado final.Estudiosos das áreas musicais, em sua maioria, recomendam a utilização de canções do folclore brasileiro, que carrega uma carga de cultura imensurável, além de ser de espontânea manifestação por trazer a bagagem de letramento musical transmitida de geração para geração, dando destaque ao conhecimento prévio de cada criança, porém a criança também tem contato com a cultura de massa, acesso as informações e possivelmente trará conhecimentos de canções das quais tem acesso que nem sempre são voltadas a essa ótica cultural folclórica. As educadoras musicais Cristina Lemos e Solange Gomes defendem que:As crianças devem ter contato com canções de ninar, de brincar, de brincadeiras de roda, que fazem parte da diversidade cultural impressa por tantos povos que formaram nosso país. (LEMOS e MARANHO, 2005, p. 18).Para qualidade e sucesso, existem indicações de procedimentos indiretamente recomendado para se trabalhar música com as crianças. E existem muitos caminhos para este êxito, contudo, cabe ao educador identificar o melhor método que garantirá a eficácia de sua ação. Sem esquecer, que é através da linguagem que a criança tem acesso à cultura de sua comunidade, a música e a linguagem, podem ser consideradas duas formas de comunicação interligadas após muitos estudos e tornando-se uma das mais apreciadas pelas crianças a “linguagem musical”. Sendo assim, além de reproduzir, imitar, improvisar e criar, a experiência com a música permite viver situações de aprendizagem, explorando novas e significativas possibilidades, de identificação cultural, de liberação e identificação de sentimentos, e o uso da canção, ritmo e som, na construção de significações por meio da música.O LÚDICO DESPERTANDO NOVAS EXPERIÊNCIAS O trabalho lúdico tem sido cada vez mais valorizado como importante e eficiente forma de se colocar novas descobertas de aprendizagem e conteúdo, além de lidar com a vida de maneira criativa, crítica e expressiva. Sabemos que a brincadeira é a linguagem mais apreciada pela criança, teorias sobre a importância do jogo vêm ocupando cada vez mais espaço tanto em discussões informais, quanto em debates educacionais e pesquisas acadêmicas.(...) A sagacidade e a perspicácia delas também são as mesmas, em quaisquer condições. Crianças obrigadas a trabalhar se viram para brincar, crianças sentadas na carteira da escola desesperadas para sair dali estão brincando na imaginação. (Friedmann, [s.d.]).A conexão entre as brincadeiras e jogos com a educação vêm sendo, há muito tempo, objeto de interesse de educadores, que passam a integrar a ludicidade musical a este contexto. Segundo Tizuko Kishimoto (2008, p.61), desde a Antiguidade greco-romana, a importância do jogo já era assunto de debates: Muitos educadores reconheceram a importância educativa do jogo.O filosofo grego Platão em sua obra “As Leis”, destaca a importância do “aprender brincando” em contrapartida à utilização da violência e da repressão. O interesse pelo jogo aparece nos escritos de Horácio e Quintiliano, que se referem às pequenas guloseimas em forma de letras, produzidas pelas doceiras de Roma destinadas ao aprendizado das letras. A prática de aliar o jogo aos primeiros estudos parece justificar o nome de ludus atribuído às escolas responsáveis pela instrução elementar, semelhante aos locais destinados a espetáculos e à prática de exercícios de fortalecimento do corpo e do espírito.Ao longo da história, por meio de muitos estudos e teorias, autores como Rabelais (1494-1553), Montaigne (1533- 1592), Comenius (1592-1670), Rousseau (1712-1778), Froebel (1782-1852), Pestalozzi (1746-1827), Dewey (1859-1952), Montessori (1870-1952), Decroly (1871-1932), Hui - zinga (1872-1945), Claparède (1873-1940), Makarenko (1888-1939), Vygotsky (1896- 1934), Winnicot (1896-1971), Piaget (1896-1980), entre muitos outros, vêm pensando sobre o papel social do jogo e sua importância no desenvolvimento cognitivo dos seres humanos. Muitas dessas teorias confirmam que a brincadeira, apesar de todos os seus benefícios, deve manter sua característica de ser um fim em si mesma.Na primeira metade do século XX, desde a difusão dos “métodos ativos” Jacques-Dalcroze, Willems, Martenot, Orff, Kodály, entre outros já valorizavam a vivência musical de forma lúdic, a partir do corpo, antes da técnica e da teoria. No Brasil, a partir da década de 1940, esse novo pensamento ecoou nas ideias e práticas de Sá Pereira, Liddy Chiaffarelli, Gazzy de Sá.A chamada “segunda geração” de educadores musicais, que inspirados na música de vanguarda do século XX, criaram propostas de trabalho que priorizavam a criação e a improvisação, apesar de ter reverberado em diversos núcleos musicais especializados, não teve oportunidade de influenciar a educação musical na escola pública, a não ser de forma muito eventual e secundária em alguns projetos experimentais de arte educação ou de artes integradas. Como afirma a educadora musical Marisa Fonterrada (2005, p.10):“[…] após tanto tempo de ausência, perdeu-se a tradição; a música não pertence mais à escola e, para que volte, é preciso repensar os modos de implantação de seu ensino e de sua prática”.Temos consciência de que o processo de volta da música às escolas brasileiras é longo, mas é preciso começar e lutar para o êxito desta atuação. Reconhecemos o brincar como uma das possibilidades de aproximação da linguagem musical, lembrando que a música é, por si só, um jogo. O músico e pesquisador francês François Delalande (1995), em

seu livro La musique est un jeu d’enfant (“A música é uma brincadeira de crianças”), relaciona aspectos determinantes da prática musical, mesmo adulta, às formas de atividade lúdica infantil, a partir da referência piagetiana. Resumidamente, o autor destaca que a música tem o lúdico em sua própria essência.O corpo humano é uma fonte muito rica de sons e pode ser considerado nosso primeiro instrumento musical, com extensa exploração dos sentidos. Com a presença do ritmo na batida de nosso coração, em nossa respiração ou ao caminharmos. Reconhecemos inúmeros timbres e melodias na exploração de nossa voz e também na escuta da voz do outro. Não é à toa que no vocabulário musical estão presentes palavras como pulsação e andamento, provenientes do funcionamento biológico do corpo humano.Desde muito cedo, a criança explora de forma curiosa os sons de seu corpo por meio de palmas, de vocalizações, de movimentos da língua e dos lábios e até pelo sapateado. Com o passar do tempo, elas muitas vezes se divertem com jogos de mãos e pés associados a músicas e cantigas. Sentem-se também encantadas pelos desafios de aprender coreografias e danças percussivas, trava-línguas ou para imitarem instrumentos musicais com a voz. Essas brincadeiras e explorações são valiosas para a sua formação e estimulam seus potenciais psicomotores e fonéticos e para as dificuldades nesta área, contamos com o estimulo da “Práxis”, caretas faciais que ajudam na articulação de músculos faciais. Os adultos também usam da música cantarolando, batucando, assobiando e sapateando para entreter-se e fazer música, ou utilizam sons corporais característicos em sua comunicação cotidiana.Observa-se a rica diversidade de formas de canto, de palmas, de estalos de dedo, de estalos de língua, de sapateados, de assobios, além dos sons vocais, fonéticos e onomatopaicos (BUM, TRIM...), que carregam em seu repertório pessoal à língua falada da região o seu sotaque particular. Essa música corporal está presente no dia a dia das comunidades, assim como nas suas danças e festividades e manifestações culturais. Aprender e explorar um som corporal é um processo que envolve curiosidade, prática, concentração e observação tanto de si como do outro.

A MÚSICA E O DESENVOLVIMENTO SOCIAL DA CRIANÇA No campo da maturação social da criança a música traz um efeito muito significativo. Muitas vezes é através do repertório musical que somos integrados a alguns grupos sociais. As cantigas de ninar, parlendas, adivinhas, brincadeiras, cantigas de roda e as músicas que nos rodeiam por toda a vida dizem respeito à nossa realidade e nos insere na formação de nossa própria cultura. Desde o útero materno o feto reage aos estímulos sonoros externos, neste sentido, a mãe bem como o ambiente deve favorecer e ser benéfico a esta fase. Mesmo sem o domínio de instrumentos musicais as pessoas próximas podem tocar, ou mesmo cantarolar músicas e cantigas. Mais tarde, após o nascimento os momentos de socialização inicial dos bebês são de grande significado e prazerosa quando associada a música, cantar no banho, fazer uso de brincadeiras ritmadas durantes as atividades cotidianas, massagear o corpo do bebê com uma boa música ao fundo, favorecem o contato social e desenvolvimento afetivo.Após esta fase, nos primeiros anos de vida e durante a educação infantil, o contato musical desenvolve também a maturação individual, isto é, o aprendizado de regras sociais, como por exemplo, durante a brincadeira de roda a criança tem a oportunidade de vivenciar, de forma lúdica situações de perda, escolhas, decepções, dúvidas e afirmações. Fanny Abramovich, afirma: “quem não se lembra de quando era pequenino, de ter dado as mãos para muitas outras crianças, ter formado uma imensa roda e ter brincado, cantado e dançado por horas?” ou ainda “reunir a turma da rua para cantarolar Terezinha de Jesus... e a briga de quem seria o pai, o irmão e o terceiro que disputa a amada Terezinha... esperando o arrepio gostoso da fala – Sinha eu não fico, nem ei de ficar, por que quero ? para ser meu par – E aí, apontava o eleito e todos riam e se divertiam muito. Quanta inveja e ciúmes passava na cabeça de todos. (1985, p.59). Muitas outras cantigas foram e são transmitidas de inúmeras gerações, por meio dos saberes popular, com linguagem de domínio público, oralmente, com ritmo e trazem saberes que nos preparam para a vida adulta. Trata-se de temas variados, ricos e de tato cotidiano, de expressões de sentimentos, alegres ou tristes, dando a oportunidade de vivenciar, mesmo que de forma “teatral” com a felicidade e a frustação. Trazem experiências de vida que nem um brinquedo, mesmo o de maior sofisticação eletrônica pode proporcionar. Na educação infantil é trabalhado com as linguagens musical e motora, sendo assim a música e dança, fazem parte da rotina diária da unidade escolar, nas brincadeiras musicais, nos eventos e festas, nas cantigas de roda, no processo de aprendizagem infantil com um todo. Sempre com o cuidado para que não seja um trabalho artificial, isolado do planejamento e projeto pedagógico como um todo. Mesmo após esta etapa da vida, já na adolescência, a música tem um papel de destaque, pois traz a inserção social desses jovens, para a preparação da vida adulta, usam a música para serem aceitos em grupos, para filosofia de vida, para vestir uma camisa em prol de alguma causa. A música é uma intensa forma de comunicação oral e corporal. A música e a dança sujeitam ritmo e ajudam na autonomia de escolhas. Muitos compositores e interpretes se expressam através da música com foco nos jovens, abordando temas que permeiam os direitos humanos, estabelecem o diálogo e a consciência da formação cívica, com a intenção de propagar boas práticas sociais.

CONSIDERAÇÕES FINAISMuito se tem perdido da infância pura e inocente nos dias de hoje devido ao aumento da violência, a redução brutal dos espaços de convívio coletivo e a industrialização do brinquedo, com novas tecnologias de jogos eletrônicos, geraram enorme transformação no espaço do brincar. No entanto, o encantamento proveniente das cantigas de roda e músicas infantis são fatos admiráveis em todo ambiente que agrega crianças em fase desenvolvimento. Ao lado dos novos jogos virtuais, muitas brincadeiras cantadas, jogos de mãos ou jogos com regras ainda estão vivos, recriando-se e transformando as crianças em seres felizes e encantados.O brincar na linguagem musical, desenvolve um especial interesse e gosto pelas brincadeiras cantadas tradicionais brasileiras e de outros países, pelos jogos de mãos espontâneos das crianças e pelos diversos tipos de brinquedos sonoros. Na educação musical, que é nosso cenário cotidiano, os jogos corporais, as atividades lúdicas, as brincadeiras cantadas e as canções tradicionais ocupam um espaço de destaque.

O trabalho com música na sala de aula deve buscar possibilidades diversas de realização, integrando o corpo, o lúdico, a criação, o resgate da cultura da infância e um repertório que contemplem as diversas músicas do mundo, tudo isso em uma grande conexão que deve ser construído de forma significativa junto com as crianças, valorizando a sua própria cultura bem como ampliando o seu repertório de músicas, cantigas, ritmos e gêneros musicais.No Brasil existem inúmeros estilos musicais que se utilizam de sapateados e de palmas em suas manifestações, cujas coreografias por si só têm um resultado rítmico. As experiências e relatos deste artigo reforçaram a importância da consciência corporal no aprendizado musical, por meio de trocas sociais por agrupamentos variados. Atualmente existem muitas abordagens educacionais que exploram as relações entre música e movimento, e novas experiências estão em pleno desenvolvimento.Os recursos, técnicas e práticas aqui apresentados são em geral acessíveis a todos e existem diferenças naturais na maneira como cada um os aborda e os vivencia, explorando suas possibilidades e elevando o repertório musical. Um determinado som ou ritmo pode inicialmente ser mais fácil de ser aprendido por uma pessoa do que por outra. Essas diferenças são normais e ligadas à anatomia de cada indivíduo, sua área de interesse musical e não são diferenças definitivas, principalmente à medida que persistimos na prática e encontramos soluções gestuais particulares. É importante valorizarmos a vivência e troca lúdica, os sons que os alunos já possuem, os que eles conquistam mais facilmente e os que eles mais gostam de fazer. É fundamental também estimular as crianças, com paciência e persistência, a conquistar novos conhecimentos musicais e principalmente se divertir com eles.

REFERÊNCIASABRAMOVICH, F. Quem educa quem? 5a. ed. São Paulo: Summus, 1985.BRASIL. Referencial Curricular para a Educação Infantil. Vol. 3. Brasília, 1998. Disponível em: http://portal.mec.gov.br/seb/arquivos/pdf/volume3.pdf. Acesso em: 01/03/2021.

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Page 14: REVISTA EXATTO MARÇO

RESUMO As Diretrizes Curriculares Nacionais de Educação Infantil e as propostas pedagógicas existentes devem considerar princípios estéticos, voltando-se para diferentes manifestações artísticas e culturais e que considerem a heterogeneidade cultural, étnica, religiosa, social do país. A música como linguagem organiza os signos sonoros no espaço e no tempo, trazendo a possibilidade de trazer reflexão ao ouvinte sobre o mundo. Assim, é fundamental assegurar o ensino da música entre as crianças para que as mesmas possam entender e construir seu cotidiano e parte do seu mundo a partir da linguagem sonora. Por isto, a presente pesquisa discute as implicações da musicalização na Educação Infantil no desenvolvimento das crianças da creche e pré-escola. Os resultados indicaram que o uso da música é de fundamental importância para o desenvolvimento sociocognitivo das mesmas, em interdisciplinaridade com outras áreas de conhecimento.

Palavras-chave: Educação Infantil; Musicalização; Desenvolvimento Infantil.

INTRODUÇÃO

As crianças se envolvem com os sons desde muito pequenas, sendo que alguns pesquisadores discutem que esse contato acontece desde a fase intrauterina. Quando chegam a fase escolar, uma das problemáticas é que determinadas experiências sonoras ficam muitas vezes reduzida a ajudar na organização de atividades relacionadas à ocasião do recreio e do asseio das crianças, ganhando aspectos de disciplinarização da infância. Assim, justifica-se o presente artigo a discussão sobre a importância da música e sua utilização na Educação Infantil, a fim de encontrar sua identidade e de distinguir o ambiente em que vive, utilizando os sons através de suas diferentes propriedades: altura, espaço, grau, timbre, sons; através de brincadeiras, cantaroladas, assobios, risos, gritos, ou seja, emitindo os mais diversos sons. Sabe-se que em relação à criança, a música é criada ao brincar com os sons, transformando ambientes. Outra problemática é a questão de que muitos docentes ainda não compreendem a importância do ensino de música, classificando algumas músicas como musiquinhas, e ainda músicas e sons produzidos pelas próprias crianças, considerando-os barulhos.Desta forma, temos como objetivo geral discutir as implicações da musicalização no processo da Educação Infantil; e como objetivos específicos discutir a legislação pertinente a inserção da música na Educação Infantil, bem como suas contribuições para o ensino da mesma e para o desenvolvimento sociocognitivo das crianças que frequentam essa etapa escolar.

A MÚSICA E A EDUCAÇÃO INFANTIL

Podemos destacar que as atividades desenvolvidas dentro da Educação Infantil são direcionadas entre outros documentos pelas Diretrizes Curriculares Nacionais, como discutido abaixo:

(...) a primeira etapa da educação básica, oferecida em creches e pré-escolas, às quais se caracterizam como espaços institucionais não domésticos que constituem estabelecimentos educacionais públicos ou privados que educam e cuidam de crianças de 0 a 5 anos de idade no período diurno, em jornada integral ou parcial, regulados e supervisionados por órgão competente do sistema de ensino e submetidos a controle social (DCNs, 2010, p.12).

Os docentes da Educação Infantil devem estar sempre atentos cem relação aqueles que classificam algumas músicas ouvidas pelas crianças como musiquinhas, tratando-se de forma revelando como as crianças são concebidas e, além disso, como são pensadas e realizadas as relações entre adultos e crianças em ambientes para a infância igualmente onde se toca músicas e sons que, ao serem realizados pelas próprias crianças, são ouvidos como barulhos, contrariando as regras do silêncio. A canção é essencial como brincadeira, como cultura e como contato com o folclore (GOBBI, 2010).Ainda, não se pode ignorar o contato com outros gêneros musicais, de outras culturas e, principalmente com os sons de todas as partes do mundo, considerando também o que a criança porta advindo de seu contexto social, familiar, cultural. A ideia central da Educação Infantil não é apenas colocar para a criança músicas já prontas, mas sim oferecer momentos de descobertas e construções sonoras, canto e invenção de canções. Ainda, objetos devem ser transformados em instrumentos musicais, enriquecendo o repertório musical através de práticas diferenciadas com as crianças.A sonorização de histórias, a escuta sonora, brincadeiras cantadas, percepção de sons, barulhos, ruídos, compõem a creche e pré-escola, sendo essenciais para estabelecer o tempo das crianças juntamente a outras linguagens e não como aula de música, o que tantas vezes é observado.As funções psicológicas superiores vão sendo desenvolvidas nas crianças de acordo com dois tipos de fenômenos: as transformações psíquicas como o desenvolvimento da fala, da escrita e do desenho, por exemplo; e os processos de desenvolvimento das funções relacionadas à memória, julgamento, concentração e inteligência conceitual (TULESKI e EIDT, 2016).Ou seja, a música, se torna um estimulo primordial para o desenvolvimento cerebral da criança. Culturalmente é comum o hábito de cantar e dançar para os bebês, auxiliando tanto no aprendizado musical, quanto no desenvolvimento da afetividade, da socialização e da aquisição da linguagem.Por fim, a educação é um processo contínuo e evolutivo, e deve ser pautado principalmente na criança, tornando-se necessário evidenciar este processo já na educação infantil, caracterizada por ser uma fase relevante no desenvolvimento humano. Deve-se conceber a criança como um ser social e histórico, sendo que a aprendizagem nessa esfera se dá pelas interações entre a criança e o mundo a sua volta. Observa-se, portanto diferentes orientações didáticas, que presam a utilização dos jogos e brincadeiras, além de atividades que envolvam o reconhecimento do próprio corpo, do corpo do outro, da música, da dança e da imitação gestual.

A LEGISLAÇÃO NA EDUCAÇÃO INFANTIL

A Lei Nacional nº 11.769/2008, trouxe a educação em música como obrigatória, alterando o artigo 26 da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDBEN nº 9394/1996), trazendo o convite de se repensar nas práticas artísticas como as artes visuais, a dança, o teatro e a música. A música foi considerada uma área de competência que requer estudo, prática, reflexão e diversidade, devendo existir no Projeto Político Pedagógico da escola. Além disso, ela deve constar nos planejamentos pedagógicos, ser trabalhada interdisciplinarmente, contribuindo para o desenvolvimento cognitivo e pleno de crianças e adolescentes. Já as Diretrizes Nacionais para a operacionalização do Ensino da Música na Educação Básica (CNE/CEB nº 12/2013 de 04/12/2013) trouxeram a urgência de um currículo que contemplasse uma matriz de saberes para o ensino de música, constituindo-se em uma ferramenta que contribui para o trabalho do docente especialista e não especialista desenvolvendo a Educação Musical na Educação Básica e, especialmente na Educação Infantil.Outra mudança na educação ocorreu com a chegada da Base Nacional Comum Curricular (BNCC), documento orientador para que ocorra a equidade nos sistemas de ensino do Brasil inteiro. No caso da música:

A Música é a expressão artística que se materializa por meio dos sons, que ganham forma, sentido e significado no âmbito tanto da sensibilidade subjetiva quanto das interações sociais, como resultado de saberes e valores diversos estabelecidos no domínio da cultura. A ampliação e a produção dos conhecimentos musicais passam pela percepção, experimentação, reprodução, manipulação e criação de materiais sonoros diversos, dos mais próximos aos mais distantes da cultura musical dos alunos. Esse processo lhes possibilita vivenciar a música inter-relacionada à diversidade e desenvolver saberes musicais fundamentais para a sua inserção e participação crítica e ativa na sociedade (BNCC, 2017, p. 154).

No caso da BNCC voltada para a Educação Infantil, esta ampliou a jornada destinada às experiências, envolvendo a Arte como um todo e suas linguagens, trazendo a música como elemento obrigatório desde a infância. Neste sentido, as discussões do trabalho docente têm ocorrido de forma significativa, a fim de trazer métodos adequados ao trabalho com a primeira infância (BRASIL, 2019).Ainda, de acordo com Mendes (2009), os documentos orientadores da Educação Infantil, trazem a importância do trabalho com a linguagem musical utilizando-se de improvisações, de estudos corporais, da escuta de sons e música, da construção de instrumentos musicais, gerando e pensando em música. É através da música que a criança aprende a se expressar. A escola deve desenvolver potencialidades apresentando sua parte poética, sua composição e sua diversidade. Uma combinação entre os deleites que a música promove demonstram a importância para o desenvolvimento cognitivo e educacional das crianças.Por fim, o Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil traz a expressão corporal como uma das linguagens que devem ser trabalhadas nesse período, permitindo assim a criança a tomar consciência de si mesma, expressando e conhecendo o mundo à sua volta. A música pode contribuir para a exploração de diversas formas de como sentir o corpo proporciona às crianças o conhecimento de suas características, limitações e formas de expressão: “a riqueza de possibilidades da linguagem corporal revela um universo a ser vivenciado, conhecido, desfrutado” (AYOUB, 2001, p. 57), pois, o movimento corporal é a essência das crianças.A criança expressa-se principalmente através da fala e da dança, movimentando-se corporalmente. Assim:

É com o corpo que a criança elabora todas as suas experiências vitais, e organiza toda a sua personalidade. Através dele ela percebe o mundo, e perceber o mundo é aprender (e reaprender) com seu próprio corpo; perceber o mundo, portanto, é perceber o corpo; o corpo é assim, sensação, percepção e ação (STEUCK, 2008, p. 13-14).

MÚSICA E AS CRIANÇAS

A música organiza os signos sonoros no espaço e no tempo; e de acordo com as pesquisas voltadas para a origem da música e a sua importância para as relações sociais, elas vêm sendo aprofundadas desde o século XX, buscando explicações na biologia, na sociologia e na antropologia (MARIANO, 2015).A criança logo cedo costuma ter contato com a música. Inicialmente com sua mãe cantarolando com voz doce e suave, crescendo e percebendo que o mundo ao seu redor é regido pela musicalidade. A música está presente em diversos lugares e momentos, seja nas músicas de embalar, nas brincadeiras, nos brinquedos sonoros, nas danças, entre outras ações, podendo marcar afetivamente determinados momentos. Assim, de acordo com Nogueira (2003), a música está no nosso dia a dia, nos costumes e nas tradições de uma dada sociedade, nas festas e recordações especiais. Ou seja, a música contribui para a fixação de algumas regras, possibilitando diferentes aprendizados.A começar do nascimento entramos em contato com os sons, desde que nascemos estamos predispostos aos sons e composições, iniciando assim o mundo da linguagem. Por isso, essa relação prematura favorece o desenvolvimento de nossas aptidões cognitivas, linguísticas e motoras (SIMIONATO e TOURINHO, 2007). Para Brito (2003), a criança quando escuta música não quer dizer que abraça regras ou nota especificidades, mas sim vive aquele momento de aprendizagem. Por isso, a criança ao ter contato com a música deve determinadas certas capacidades, diferenciando o escutar, os diferentes tipos de sons e as diferenças culturais existentes. Existindo a possiblidade de ampliar as formas de comunicação e expressão, desenvolve-se ainda uma boa comunicação: “A importância do ensino de música na escola reside, então, na possibilidade de despertar habilidades e condutas na criança, levando-a a sentir- se sensibilizada pela música valendo-se da criação e da livre expressão” (LOUREIRO, 2003, p.1).Assim, a utilização da música na Educação Infantil desenvolve as potencialidades das crianças e deve respeitar sua individualidade, seu contexto cultural, étnico, religioso, entre outros aspectos, concebendo a criança como um ser único que apresenta características peculiares e que precisa desenvolver diferentes habilidades e linguagens para interagir com o mundo que a cerca. Sabe-se que a metodologia principal na Educação Infantil é a ludicidade, porém é preciso desenvolver outras aprendizagens e a Arte nesse sentido pode trazer boas contribuições dentro desta proposta. Ainda, nessa etapa de escolaridade, é necessário dispor de ferramentas e práticas que trabalhem a diversidade e o contexto da criança, explorando as suas potencialidades. O ensino da música envolve a construção do sujeito musical, a partir da constituição da linguagem. Esta transforma a criança, no que se refere à percepção, as formas de pensar, agir e interagir com o mundo e com os outros. Por fim, a música enquanto linguagem organiza os signos sonoros no espaço e no tempo, motivo pelo qual constitui-se como possibilidade de trazer reflexão ao ouvinte sobre o mundo, sobre o trabalho docente e principalmente o desenvolvimento das crianças, para que ela cresça plena e feliz, inclusive.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

De acordo com a pesquisa realizada, foi possível perceber que a musicalização na Educação Infantil tem por objetivo estimular o desenvolvimento global da criança, integrando sua individualidade, seu contexto socioeconômico, cultural, étnico, entre outros, concebendo a criança como um ser único que apresenta características peculiares e que interage com outras crianças e adultos.A musicalização, assim como outras formas de arte e a ludicidade, são a base da Educação Infantil. Para que o trabalho com música se torne viável nesta fase escolar, é necessário pensar em ferramentas e práticas trabalhando a diversidade e o contexto da criança, explorando assim suas potencialidades. O ensino da música envolve a construção do indivíduo musical, a partir da constituição da linguagem da música. O uso desse tipo de conceito transforma a criança, no que se referem à percepção, formas de agir e pensar, quanto os aspectos subjetivos. A escola é o primeiro ambiente no qual a criança vem a estabelecer suas relações sociais foram do ciclo familiar, essa situação nova na vida infantil deve ser acompanhada para que ao oferecer à criança um novo mundo diverso, repleto de situações na qual tenha que elaborar novos mecanismos de compreensão de fatos, conceitos e atitudes ela se sinta acolhida e atendida em meio a esse novo desafio, onde a criança que ingressa na vida escolar em meio a essa ampliação de relações possa construir sua concepção social do mundo.Ainda, a música pode contribuir como uma possibilidade de compreender através do embasamento teórico a forma com que as crianças constroem as suas relações sociais do nascimento até o momento da primeira infância, através de meios a princípio físicos e posteriormente através de aspectos mais subjetivos definidos como emoções, desejos e sentimentos.Assim, a música como ferramenta dinâmica na Educação Infantil, auxiliar no trabalho docente e na aprendizagem das crianças, trazendo a oportunidade do docente trabalhar a diversidade em sala de aula e desenvolvendo diferentes habilidades nos pequenos. Mesmo que haja docentes que ainda se espelham em modelos pedagógicos mais tradicionais, seguindo determinadas regras e formas de comportamento, de acordo com a pesquisa a maioria dos docentes ainda acredita que a afetividade, a ludicidade e a utilização da música são as melhores formas de se relacionar com as crianças podendo desenvolver a

comunicação oral e dialética conforme proporcione respeito e liberdade de ideias e conhecimentos prévios das crianças.Além disso, outra contribuição do uso da música durante a Educação Infantil é que esse período é um momento em que a criança experimenta, ajusta e constrói movimentos corporais provenientes da interação com os demais colegas. E a música pode desenvolver isso, por exemplo, através da dança, desenvolvendo a autonomia corporal e de ter contato com diferentes vivências e movimentos corporais provenientes da cultura a seu redor. Assim, na Educação Infantil é necessário desenvolver uma pedagogia que organize o fazer o pedagógico em torno de diferentes linguagens as quais a criança utiliza para expressar e se comunicar com o mundo que a cerca.

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RESUMO O objetivo deste artigo é refletir sobre a importância da Arteterapia como ferramenta para desenvolver a comunicação inter e intrapessoal do adolescente por meio da criatividade. Com os instrumentos da Arteterapia buscou-se auxiliar os adolescentes a desenvolver a comunicação inter e intrapessoal, assim como aflorar suas potencialidades e criatividade por meio de estímulos artísticos. A Arteterapia cria recursos de expressão e criatividade que possibilitam que o adolescente libere suas emoções, seus conflitos e angústias. Possibilita que o adolescente seja capaz de enxergar esses conflitos e assim equalizar sua mente ao seu corpo, melhorando sua qualidade de vida. Através das bibliografias que envolvem o tema foi possível compreender que cada ser humano tem seu potencial individualizado; que a arte é capaz de transformar e resgatar esse potencial criativo e assim possibilitar a expressão e o autoconhecimento.

Palavras-chave: Arteterapia; Adolescente; Comunicação

INTRODUÇÃO

Este artigo propõe discutir a importância da Arteterapia no processo de manifestação da criatividade dos adolescentes. Nesse processo, os potenciais criativos são resgatados através de mediadores, tais como: música (como recurso que restaura a expressão de corpo, mente e alma); mandalas (como orientador no processo criativo); pintura (como facilitador para trazer vivências do inconsciente para o consciente); desenhos (como recurso de exteriorizar medos e angústias por meio de símbolos); dança (como vivência individual ou em grupo, ajudando assim na integração dos conteúdos internos da psique e facilitando a expressão individual); escultura e colagem (como recurso de dar forma a sentimentos e sensações). Além disso, por meio desses recursos, busca-se facilitar a comunicação da expressão emocional e aprofundar o conhecimento interno.A artista plástica polonesa Fayga Ostrower, em seu livro Criatividade e processo de criação, afirma que:O potencial criador elabora-se nos múltiplos níveis do ser sensível-cultural-consciente do homem, e se faz presente nos múltiplos caminhos em que o homem procura captar e configurar as realidades da vida. Os caminhos podem cristalizar-se em formas de comunicação, em ordenações concluídas, mas a criatividade como potência se refaz sempre. A produtividade do homem, em vez de se esgotar, liberando-se, amplia-se. (OSTROWER, 2012, p.27).O criar em Arteterapia através dos recursos que ela apresenta tais como a imaginação e o simbolismo das metáforas, acaba facilitando a comunicação na expressão emocional e aprofunda o conhecimento interno trazendo assim do inconsciente todo seu potencial criativo.Na sociedade contemporânea, a conexão com o sentido simbólico e iniciático do rito de passagem foi perdida. Por isso, se faz importante, principalmente para o adolescente, a reflexão sobre as etapas e passagens que ele enfrenta na vida.Nesse sentido, a Arteterapia pode ajudar a vivenciar esses processos de transformação.[...] no dinamismo de alteridade, que corresponde à época da adolescência, os opostos são relacionados de maneira igualitária e dialética, sendo vivenciados como aspectos diferentes de uma mesma realidade. Essa fase é voltada para o relacionamento com o outro e com a própria contraparte sexual, sendo, portanto, regidos pelos arquétipos da Anima (que corresponde aos aspectos do feminino na alma masculina), do Animus (que corresponde aos aspectos masculinos na alma feminina), e do Coniunctio (que se refere à conjunção de opostos, a reunião dessas duas “metades” num todo que as congrega e abrange como partes de uma única e indivisa realidade), caracterizando-se “por sua capacidade criativa face ao confronto dos opostos” (BYINGTON, 1983, p. 24, apud BERNARDO, 2012, p.38).A autora traz a importância do autoconhecimento para união dos opostos, na verdade sua integração ajuda o adolescente a entrar em contato com seu inconsciente sem perder a consciência no processo. Com isso consegue-se, por meio da arte, avivar no adolescente seus conhecimentos, descobrindo um mundo infinito de possibilidades ao trabalhar suas emoções, e assim levá-los a olhar para si de maneira inteira. Mostrar para eles, por meio dos trabalhos, que não existe feio ou bonito, que nada é rígido, que tudo pode ser transformado pela busca interior.Assim sendo, o objetivo geral deste artigo é desenvolver a comunicação inter e intrapessoal do adolescente por meio da

criatividade.

COMUNICAÇÃO INTER E INTRAPESSOAL

Existem vários tipos de comunicação, e as pessoas podem comunicar-se pelo código Morse, pela escrita, por gestos, pelo telefone, etc.; uma empresa, uma administração, até mesmo um Estado, podem comunicar-se com seus membros por intermédio de circulares, cartazes, mensagens radiofônicas ou televisionadas, etc.Toda comunicação tem por objetivo a transmissão de uma mensagem [...]. (VANOYE, 2011, p.1]A comunicação é um processo de troca de informações entre os seres das mais diversas maneiras. É um processo que envolve uma codificação, isto é, a formação de um código, e a decodificação, a busca do entendimento deste código, em forma de mensagens que permitem a troca de informações entre os indivíduos. Não há só a comunicação verbal, há vários tipos de comunicação e cada um deles tem características que o diferencia e o integra ao todo. (VANOYE, 2011, p.1).Segundo o Dicionário de Comunicação, a palavra comunicação deriva do latim communicare, cujo significado seria: “tornar comum”, “partilhar”, “repartir”, “associar”, “trocar opiniões”, “conferenciar”. Comunicar implica participação [...], em interação, em troca de mensagens, em emissão ou recebimento de informações novas. (RABAÇA & BARBOSA, 1995, p.151).Neste artigo, enfocamos as comunicações inter e intrapessoal. A comunicação interpessoal pode ser definida como aquela que acontece de alguém para alguém. (RABAÇA E BARBOSA, 1995, p.166). Já a comunicação intrapessoal é aquela que ocorre dentro de alguém. Está relacionada com as ideias e desejos do indivíduo; é a sua voz interior. Dessa forma, a comunicação intrapessoal é extremamente importante uma vez que representa o diálogo interno.

ADOLESCÊNCIA

A adolescência é a fase que marca a passagem entre a infância e a idade adulta. Segundo o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), é considerado adolescente aquele que tem entre 12 e 18 anos de idade.[...] o Adolescente passa por desequilíbrios e instabilidade, extremas de acordo com o que conhecemos dele. Em nosso meio cultural, mostra-nos períodos de relação, de introversão, alternando com audácia, timidez, descoordenação, urgência, desinteresse ou apatia. (ABERASTURY, 2011, p.28)Para Aberastury, a adolescência é uma fase muito difícil, pois a pessoa ainda não sabe quem é então ela sai em busca de autoafirmação. É fundamental para todo ser humano sentir-se único para poder seguir seu desenvolvimento. O adolescente também precisa de uma afirmação de si mesmo e que, ao mesmo tempo, é vivenciada no coletivo, do sentimento de pertencer a um grupo e da identificação da “turma”. Alguns adolescentes podem apresentar comportamentos infantis, resultado do medo e da insegurança de deixar a dependência dos pais e assumir suas próprias escolhas e poder caminhar com certa autonomia.Ainda segundo este autor, as mudanças corporais nessa fase ficam muito evidenciadas: essas transformações são acompanhadas da modificação na voz (que fica mais grave), do crescimento ósseo (acompanhado do alargamento do tronco e dos ombros), do enrijecimento muscular, do aumento da oleosidade da pele (o que pode causar o aparecimento de acnes). Todas essas mudanças podem causar perplexidade ao adolescente fazendo com que ele se sinta desajeitado diante desse corpo que é seu, mas que lhe soa estranho.De certa maneira, o adolescente poderá passar por recorrentes crises depressivas e dos estados de luto e de tristeza típicos da preparação da adolescência (morte da infância). Um bom mundo interior surge de uma relação satisfatória com os pais internalizados e da capacidade criativa que eles proporcionam.Segundo a Psicologia Analítica, as transformações ocorrem primeiro na psique: uma mudança nos arquétipos do pai e da mãe que aparecem na infância, depois dão lugar para o arquétipo do herói, e por seu intermédio, oferece segurança para enfrentar situações e desafios novos.[...] Estão presentes em nosso desenvolvimento psíquico, encontrados nos antigos rituais de iniciação e passagem de um ciclo a outro: um mergulho no caos (abertura ao novo), uma morte simbólica (corte com formas cristalizadas e desatualizadas de relacionamento com nossa realidade interno-externa), e um renascimento (ampliação de consciência, inaugurando um novo ciclo). (BERNARDO, 2008, p.115).Essa fase também é marcada pela ativação dos arquétipos de anima (na psique do menino) e deanimus (na psique da menina), arquétipos responsáveis pelo relacionamento com o sexo oposto. É nesse ciclo que o adolescente pode se diferenciar dos pais, que até então eram modelos para ele, para poder ir ao encontro de sua própria identidade, fase essa chamada de alteridade, que vai permitir ao adolescente conhecer o outro, e sua contraparte.

PROCESSO CRIATIVO

O potencial criador elabora-se nos múltiplos níveis do ser sensível-cultural-consciente do homem, e se faz presente nos múltiplos caminhos em que o homem procura captar e configurar as realidades da vida. Os caminhos podem cristalizar-se em formas de comunicação, em ordenações concluídas, mas a criatividade como potência se refaz sempre. A produtividade do homem, em vez de se esgotar, liberando-se, amplia-se. (OSTROWER, 2012, p.27).Segundo Ostrower, se pensarmos no potencial criador num âmbito geral, perceberemos que temos um infinito mundo de possibilidades. Criamos e excluímos realidades e possibilidades o tempo todo, com isso muitas vezes desconstruímos nossas ideias para poder reconstruir novamente e assim seguimos como se estivéssemos sempre montando um quebra

cabeça. Quando unimos os aspectos em oposição surgem novas alternativas e, com elas, a diversificação, fazendo que o processo de transformação crie e recrie o tempo todo.Assim, através das vivências conseguimos unificar os potenciais criativos e integrá-los em nossa maneira de nos comunicarmos.

JUNG E ARTETERAPIA

Carl Gustav Jung nasceu na Suíça, em 26 de julho de 1875, e morreu a 6 de junho de 1961, aos 86 anos. De família religiosa, desde criança se interessou pela filosofia e por questões espirituais. Estudou medicina, dando grande atenção aos fenômenos psíquicos (GUIMARÃES, 1997). Após ter-se formado, dedicou-se a pesquisar o inconsciente e formulou uma nova teoria sobre esse tema: a Psicologia Analítica.Segundo Tonietto (2005), Jung denominou Psicologia Analítica ao conjunto de conhecimentos construídos a partir da sua prática clínica e de suas experiências vividas na pesquisa da psique e seus conteúdos. O maior interesse desse estudioso estava relacionado com o mistério da psique humana, fonte de todas as atividades do homem, às "moléstias da alma”, e às formas de superar e transformar enfermidades em instrumento de desenvolvimento da psique.Em sua teoria, Jung distingue na pessoa vários elementos, dentre eles: a consciência e o inconsciente coletivo, a persona, o ego, eu, o animus, ânimo e a sombra, e considera a personalidade como um ideal irrealizável. Diz que no mesmo indivíduo existem diversos aspectos diferentes e contraditórios.Para Jung, um conteúdo é consciente quando é conhecido ou reconhecido pelo ego e por inconsciente quando ocorre o oposto. De acordo com suas próprias palavras:Por consciência entendo a referência dos conteúdos psíquicos ao eu enquanto assim for entendida pelo eu. Referências ao eu, enquanto não entendidas como tais pelo eu, são inconscientes. (JUNG, O. C. VI, § 796).Outro modo de se entender o significado de consciente, segundo Jung, pode ser encontrado na explicação de Edinger:Parte do fenômeno da consciência diz respeito à discriminação entre sujeito e objeto. Estou ciente de que sou um ser consciente; sou o sujeito dessa consciência. Quando olho para o mundo, vejo objetos e, no processo de me separar da identificação com esses objetos, ocorre uma separação entre sujeito e objeto. Essa é a forma como a consciência se desenvolve, separando sujeito de objeto. (Edinger, 2004)Dentre os vários conceitos próprios da Psicologia Analítica, existe o do “eu”, ou “ego”, que é à base da consciência, isto é, o “centro subjetivo do senso de identidade do indivíduo” (Edinger, 2004), por isso, todo conteúdo da consciência deve se relacionar ao sujeito, ao ego. O ego é o centro da personalidade.Por sua vez, “sombra” é o nome que Jung deu para os aspectos da personalidade que são desconhecidos do indivíduo, isto é, os que não estão em sua consciência. São os traços “obscuros” do caráter ou da personalidade, mas que não significa que sejam unicamente fraquezas e defeitos, são todos os traços ou características que ficam fora do campo da consciência. Conscientizar-se da sombra é fundamental em todo processo de autoconhecimento (Tonietto, 2005).Também é essencial que conheçamos o significado de “persona” para podermos compreender a teoria de Jung. Para ele:A persona é um complicado sistema de relação entre a consciência individual e a sociedade; é uma espécie de máscara destinada, por um lado, a produzir um determinado efeito sobre os outros e por outro lado a ocultar a verdadeira natureza do indivíduo. (JUNG, O. C. VII, § 305).Além dos termos já colocados, há outro de fundamental importância para a Psicologia Analítica: a “anima”. Esse termo abrange as experiências importantes que o homem tem de uma mulher. O arquétipo da anima é formado pelo acúmulo da repressão das tendências femininas presentes no inconsciente do homem. Geralmente, o caráter da anima de um homem é “moldado” pela mãe.Não há homem algum tão exclusivamente masculino que não possua em si algo de feminino. (“...) A repressão das tendências e traços femininos determina um acúmulo dessas pretensões no inconsciente.” (JUNG, O. C. VII, § 297).Ao realizar suas pesquisas, Jung verificou que é por meio de símbolos que o inconsciente se expressa. De acordo com ele, os símbolos religiosos, como a cruz dos cristãos, a estrela de Davi dos judeus, o Dharma dos budistas, são imagens que estão presentes no inconsciente coletivo do ser humano.Enquanto o inconsciente pessoal consiste fundamentalmente de material reprimido e de complexos, o inconsciente coletivo é composto fundamentalmente de uma tendência para sensibilizar-se com certas imagens, ou melhor, símbolos que constelam sentimentos profundos de apelo universal, os arquétipos: da mesma forma que animais e homens parecem possuir atitudes inatas, chamadas de instintos, também é provável que em nosso psiquismo exista um material psíquico com alguma analogia com os instintos. Talvez, as imagens arquetípicas sejam algo como figurações dos próprios instintos, num nível mais sofisticado, psíquico. Assim, não é mais arriscado admitir a hipótese do inconsciente coletivo, comum a toda a humanidade, do que admitir a existência de instintos comuns a todos os seres vivos. (Guimarães, 1997).Posteriormente, estudos realizados sobre os trabalhos de Jung revelaram que a teoria dos símbolos, dos arquétipos do inconsciente coletivo, é de fundamental importância para compreensão dos mistérios da criação artística (aspecto que interessa ao nosso tema, a Arte terapia).Em seu livro “Tipos Psicológicos”, de 1921, Jung define duas disposições típicas da consciência: introvertida e extrovertida. O ser introvertido (metido consigo mesmo) comporta-se de maneira adequada à abstração (devaneios), sua imagem está sempre dirigida à situação não pública, isto é, privar-se de espectadores e dos objetos de desejos, como a impedir a supremacia do objeto, ao contrário do extrovertido, que se comporta positivamente em face do objeto, afirmando a sua significação de tal forma, que orientará sua atração existente no sujeito, ou seja, no individual e relacioná-la para si de modo constante.Outra temática famosa com respeito a Jung é a sua teoria dos "tipos psicológicos". Foi com base na análise da controvérsia entre as personalidades de Freud e outro seu discípulo famoso, e também dissidente, Alfred Adler, que Jung consegue delinear a tipologia do "introvertido" e do "extrovertido". Freud seria o "extrovertido", Adler, o "introvertido". Para o extrovertido, os acontecimentos externos são da máxima importância, ao nível consciente; em compensação, ao nível inconsciente, a atividade psíquica do extrovertido concentra-se no seu próprio eu. De modo inverso, para o introvertido o

que conta é a resposta subjetiva aos acontecimentos externos, ao passo que, a nível inconsciente, o introvertido é compelido para o mundo externo. (Guimarães, 1997)Esses dois tipos de indivíduos são distintos e o contraste é visível em sua existência, inclusive aos leigos. É comum em sociedade depararmo-nos com tais seres, tão diferentes, sendo que os de natureza fechada são difíceis de conhecer, pois sua timidez impede qualquer aproximação, aprofundamento, que por vezes não deixa o sujeito desenvolver suas capacidades; e, os de natureza aberta, são mais acessíveis, se relacionam bem em sociedade, em consequência, conseguem mais oportunidade em seu desenvolvimento.Jung vai mais adiante a sua obra “Tipos Psicológicos” (1921) dando características detalhadas dos introvertidos e extrovertidos, descrevendo-os até nos sentimentos, oferecendo um quadro circular, cuja disposição permite ao leitor observações e visão ampla nos processos da vida humana e de sua gênese.Para Jung (1920), “Arte é a expressão mais pura que há para a demonstração do inconsciente de cada um. É a liberdade de expressão, é sensibilidade, criatividade, é vida". Através deste processo, a energia psíquica consegue transformar-se em imagens e através dos símbolos, colocar seus conteúdos mais internos e profundos.A Arteterapia baseia-se na crença de que o processo criativo envolvido na atividade artística é terapêutico e enriquecedor da qualidade de vida das pessoas. Por meio do criar em arte e do refletir sobre os processos e os trabalhos artísticos resultantes, as pessoas podem ampliar o conhecimento de si e dos outros, aumentar a autoestima, lidar melhor com sintomas, estresse e experiências traumáticas, desenvolver recursos físicos, cognitivos, emocionais e desfrutar do prazer vitalizador do fazer artístico.

O PROCESSO ARTETERAPÊUTICO

O processo arteterapêutico é composto por oficinas, iremos citar apenas uma para exemplificar como a dinâmica acontece. O objetivo é proporcionar aos leitores, uma reflexão sobre sua maneira única de se apresentar ao mundo.O ponto principal da oficina é a atividade “Só eu sou Eu” (ALVAREZ, S.) Atividade de colagem apresentada em sala de aula.Geralmente os encontros iniciam-se com um lanche. É um momento de muita descontração, para que os adolescentes se conheçam. Nesse encontro é importante falar sobre os conceitos e princípios da arteterapia e também sobre o projeto e oficinas de criatividade. Os adolescentes são questionados sobre o significado de seus nomes e quem os nomeou. Neste primeiro encontro, é fornecido a cada um dos participantes uma caixa de madeira para que eles guardem seus trabalhos até a última oficina, ao término podem levá-la para casa. Os adolescentes decoram a caixa com vários materiais que ficam à disposição. A atividade de sensibilização-o totem do nome o que deve ser recortado e colado na caixa.A atividade “Só eu sou Eu” é um trabalho de imaginação do tamanho do universo, do planeta, do continente, do país, do estado e da cidade onde moram. Das 7 bilhões de pessoas que existem no mundo, ninguém é igual a ninguém. Cada participante recebe um boneco para servir de base da colagem e começam a procura pelas imagens. No momento em que eles começam a colagem, são questionados sobre a escolha das mesmas.Segundo Fuão, “a collage permite ver o que se esconde no interior de seu corpo, quando está desapropriado de sua falsa pele, sem sua representação fotográfica de seu narcisismo” (FUÃO, 2011, p.47).A atividade finaliza com os comentários dos adolescentes sobre o que o boneco representa.Segundo Scarpato, “intimidade não no sentido de contato com o conhecido, familiar, mas um espaço singular de abertura protegida pelo vínculo, onde podemos deixar vir o desconhecido em nós, o estranho, o novo”. (SCARPATO, 2011, p.107.)A atividade trabalha a maneira única de se apresentarem ao mundo. Chevalier & Gheerbrant falam sobre esses símbolos:O ar é o meio próprio da luz, do alçar vôo, do perfume, da cor, das vibrações interplanetárias; é a via de comunicação entre o céu e a terra [...], simbolicamente, a terra opõe-se ao céu como o princípio ativo; o aspecto feminino ao aspecto masculino da manifestação; a obscuridade à luz; o yin ao yang [...], a água é o símbolo das energias inconscientes, das virtudes informes da alma, das motivações secretas e desconhecidas [...] o fogo na qualidade de elemento que queima e consome, é também símbolo de purificação e de degenerescência. (CHEVALIER GHEERBRANT, 2007, p.21; 443; 68; 878)

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A proposta deste artigo foi aliar a Arteterapia como ferramenta para promover a possibilidade da comunicação inter e intrapessoal por meio da criatividade. A utilização das atividades criativas funcionam como uma ponte levando os adolescentes a exteriorizar seu mundo interno e dando-lhes liberdade para expressar suas alegrias, angústias e também revisitar seus valores, suas crenças e seus costumes. Avivar a criatividade desses adolescentes por meio da Arteterapia mostrando-lhes novos atributos, novas maneiras de pensar e de agir e de se relacionar consigo e com o outro poderá ajudá-los a proporcionar mudanças significativas para a melhoria do seu bem-estar e do ambiente onde vivem.Concluímos que o processo arteterapêutico, contribuiu para descobertas importantes para estes adolescentes. Faz-se necessário criar um espaço em que os adolescentes possam se expressar, falar de suas angústias, conflitos, medos e alegrias. As oficinas são encontros pontuais, em que os adolescentes podem se expressar através de palavras, sem medo de se expor, de ficar inseguro, e terem medo de que possam magoar alguém se falarem o que sentem.O processo arte terapêutico ajuda os adolescentes a perceberem questões que até então não haviam pensado. Muitos deles sofrem com a separação dos pais, com a perda da bisavó materna, por exemplo. Esses rompimentos incomodam muito. E quando o adolescente é muito sensível consegue perceber de maneira clara que os conflitos existem, principalmente entre seus pais e isso lhes causam chateação por sentir que às vezes as pessoas não são transparentes. Por outro lado, o processo arteterapêutico traz alegria para eles, pois se sentem confiantes nas profissionais que desenvolvem as oficinas, e conseguem compartilhar seus sentimentos.

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RESUMOEste artigo traz a abordagem lúdica da musicalização no contexto da linguagem musical, destacando a etapa da aprendizagem no tempo e espaço adequado com seus benefícios pedagógicos e estratégias de desenvolvimento infantil. Apresenta a música como recurso para o desenvolvimento das demais linguagens, promovendo a comunicação e a expressão no aspecto verbal, oral, artístico, corporal e musical. É uma linguagem universal, que está inserida em toda e qualquer cultura, atrelando suas expansões sociais, nas mais diversas situações como forma de expressão aos mais diversos sentimentos. Usada em várias situações do cotidiano, oportuniza aprendizagem com significado, garantindo o prazer musical auditivo, de ritmo, resgate cultural e um ensino de qualidade, possibilitando a ampliação de repertório oral através da musica e a formação integral da criança em seus aspectos físicos, sociais, cognitivos e culturais. Vamos descobrir a importância da música que é usada em praticamente todas as situações do dia a dia no universo infantil, na hora da entrada, no lanche, nas rodas de histórias, nas rodas de músicas, como instrumento para se expressar e comunicar e até para solicitar silêncio.

Palavras- chave: Linguagem musical; Lúdico; Música; Educação Infantil;

INTRODUÇÃO As crianças se movimentam desde que nascem adquirindo cada vez mais e maior controle sobre seu próprio corpo, se apropriando cada dia mais das possibilidades de interação com o mundo, a cultura em que estão inseridas e assumindo papeis sociais. O movimento é uma importante linguagem da criança, por meio dela, expressam seus desejos, sentimentos, emoções e pensamentos. “As maneiras de andar, correr, arremessar, saltar resultam das interações sociais e da relação dos homens com o meio; são movimentos cujos significados têm sido construídos em função das diferentes necessidades, interesses e possibilidades corporais humanas presentes nas diferentes culturas em diversas épocas da história. Esses movimentos incorporam-se aos comportamentos dos homens, constituindo-se assim numa cultura corporal. Dessa forma, diferentes manifestações dessa linguagem foram surgindo, como a dança, o jogo, as brincadeiras, as práticas esportivas etc., nas quais se faz uso de diferentes gestos, posturas e expressões corporais com intencionalidade”. (MEC 1998, p.15) Já a música é instrumento integrador desenvolve a linguagem, a comunicação e expressão, trabalhando na sua forma verbal, oral, plástica, corporal e musical. A música é uma linguagem universal, que está inserida em toda e qualquer cultura, nas mais diversas situações como forma de expressão aos mais diversos sentimentos. E no universo infantil não pode ser diferente, a música é usada em todas as situações do dia a dia, na hora da entrada, no lanche, nas rodas de histórias, nas rodas de músicas, como instrumento para se expressar e comunicar, para solicitar silêncio, etc. Nesses contextos, as crianças entram em contato com a cultura musical desde muito cedo e assim começam a aprender e manifestar suas tradições musicais e culturais. Podemos afirmar que a música e o movimento são duas linguagens na educação infantil indissociáveis que são muito importantes para o desenvolvimento da expressão e formação das crianças. A linguagem musical é excelente meio para o desenvolvimento da expressão, do equilíbrio, da autoestima e autoconhecimento, além de poderoso meio de integração social. Ao brincar, jogar, imitar e criar ritmos e movimentos, as crianças também se apropriam do repertório da cultura corporal na qual estão inseridas. Assim, o movimento e música na educação infantil deve favorecer que a criança conceba e expresse o mundo por meio das diferentes linguagens que integram arte e ciência no complexo processo de apropriação e construção de conhecimento que envolve curiosidade, observação, atenção, percepção, pensamento, investigação, interpretação, criação de hipóteses, imaginação e elaboração de teorias explicativas daquilo que vivem e observam. Tudo isso resulta em significativas aprendizagens que só acontece pela atitude ativa da criança no meio social quando esta, é tratada como sujeito capaz de realizar tudo isso.” (Currículo Integrador da Infância Paulistana p.17) Sendo assim, os espaços escolares é o local onde as linguagens movimento e a música, ficam atrelados as

diversas aprendizagens que acontecem de forma lúdica e a criança exerce sua cidadania, o seu protagonismo, o seu direito de ser criança, além de contribuir para a qualidade do ensino, inclusão social e a melhoria das relações interpessoais. Destacamos a criança como um ser capaz e competente para promover e construir sua própria aprendizagem, valorizando a área de interesses, questões, desejos e sentimentos próprios, que é um ser em desenvolvimento e que passa por períodos de modificações durante a infância e que é sujeito de direitos, tendo em vista seu pleno desenvolvimento nos aspectos físico, afetivo, cognitivo e social, inserido em uma educação integradora que compreende autonomia, conhecer e reconhecer seu jeito particular de ser e estar no mundo, desenvolvendo a motricidade e a psicomotricidade através da linguagem musical e de atividades lúdicas com utilização de vários tipos de jogos, brincadeiras que garantem o desenvolvimento da lateralidade, discriminação tátil, olfativa, gustativa, o equilíbrio, ritmo, a organização do corpo no espaço e no tempo, a socialização e a formação de valores.A abordagem apresenta também o desenvolvimento e elaboração de estratégias voltadas ao movimento e a música em diversos momentos da rotina escolar, explorando tempos e espaços escolares, compartilhando desta forma com professores as diversas possibilidades pedagógicas da linguagem musical no contexto lúdico.A LINGUAGEM MUSICAL E A CRIANÇA Muitos estudos contribuíram para o aprofundamento da linguagem musical, e o neurocientista Howard Gardner, faz ponderações educacionais quando descreve o desenvolvimento musical em crianças observando que, ―(...) a música é primeiramente uma experiência sinestésica para a criança pequena, e seu uso de instrumentos talvez precise esperar até ela ter uma ampla experiência na imersão física da música. (GARDNER, 1997, p. 204). Na educação infantil o professor exerce o papel de representante da comunicação e mediador na construção das diversas linguagens da criança, sendo a música uma de suas principais ferramentas para garantir desenvolvimento pleno da criança, tratada como instrumento para construção da linguagem e meio de expressão verbal e não verbal da socialização e entendimento de regras sociais, favorecendo a potencialização de habilidades e competências motoras, mobilizando processos físicos, cognitivos, afetivos e sociais, sem preocupações técnicas ou de estéticas predefinidas, aumentando o repertório de gêneros musicais, de literatura e ritmo. A música assume papeis sociais que ultrapassam fronteiras, considerados inalcançáveis ao contexto real da criança, devido ao rico repertório literário, variações rítmicas e de gêneros, possibilitando a introdução de mais um objeto que deve ser brincado e explorado para as descobertas das sonoridades, promoção de situações interativas, favorecimento da construção de novos conceitos e expansão da vivência verbal da criança, a música como experimentação através de brincadeiras sem a necessidade do domínio da técnica musical, ritmo ou gênero. Segundo ARANTES, a criança, ao fazer suas descobertas na primeira infância e começar a falar, faz uso de aptidões intelectuais e sociais, que por sua vez, são modificadas constantemente pelo uso da linguagem. Nesse processo a criança é um sujeito ativo e a linguagem é uma atividade interpretativa que acontece na interação e mediação com o outro, pois ganha significação, forma e sentido (1994, p. 26). O RCN’s – Referenciais Curriculares Nacionais da Educação Infantil (MEC, 1988, p. 138), preconiza, ou seja, recomenda a atenção à construção conjunta das falas das crianças auxiliando para torná-las mais completas e complexas. No entanto, destacamos a música como recurso sonoro e auditivo capaz de aumentar repertório de palavras e sons, através deste recurso pedagógico garante-se o resgate de raiz cultural como as cantigas, parlendas e brincadeiras cantadas passadas de geração em geração, aproximando-as das vivências culturais de seus descendentes. Barreto e Chiarelli (2005, p. 3) afirmam que as experiências rítmico-musicais permitem uma participação ativa e favorece o desenvolvimento apurado dos sentidos da criança, assim como, as atividades musicais coletivas beneficiam o desenvolvimento da socialização, estimulando a compreensão, participação e cooperação. Suas pesquisas revelam, ainda, que as atividades de musicalização podem contribuir efetivamente e de maneira indelével, ou seja, o tempo não apaga, no desenvolvimento cognitivo, linguístico, psicomotor e sócio afetivo da criança. Carvalho e Rojas (2006, p. 5) concordam com os benefícios da música no desenvolvimento infantil, destacando sua contribuição em fazer a criança compreender a importância das relações e da socialização, vivenciando o contato e participação em diferentes grupos sociais, além do respeito ao próximo, desenvolvendo a autonomia e o senso crítico. Relacionam também como fatores relevantes à compreensão de novas linguagens, a percepção e respeito dos limites, socialização, fazendo crescer o senso rítmico, construindo a dicção, a linguagem e a comunicação verbal e não verbal. Gomes e Simões (2007, p. 140) consideram a música e toda a linguagem musical um excelente meio de comunicação verbal e não verbal, que desenvolve os aspectos cognitivos, afetivos e motores da criança, por se tratar de ritmos, sons e danças entrelaçados e ao mesmo tempo em que promove a interação e o autoconhecimento. As autoras concluem que a música tem em si um valor próprio e que devido a todas as suas características deve estar presente no currículo escolar e ser explorado em suas variadas possibilidades.É importante diferenciar a música como recurso didático e lúdico, tal qual é proposta neste estudo, da música como produto, como é normalmente ofertada nas escolas. Cabe ao o professor estabelecer objetivos ao seu plano de trabalho com metas de curto, médio e longo prazo, não caindo somente na armadilha das datas comemorativas e os famosos “tapa buraco”. Ao utilizar a música como experiência sonora é possível observar o ritmo e maneira que cada criança realiza suas descobertas, Jean Piaget descreveu tais aprendizados em sua teoria da fase de desenvolvimento motor através da utilização de jogos como: Jogo sensório-motor – vinculado á exploração do som e do gesto;Jogo simbólico – vinculado ao valor expressivo e à significação mesmado discurso musical;Jogo com regras – vinculado à organização e à construção dalinguagem musical; (BRITO, 2003, p.31).

Com base nos estudos apresentados podemos destacar pontos em comum entre eles, o que diz respeito ao rico benefício ao desenvolvimento infantil em todos os aspectos físicos, cognitivos e sociais, e que o ambiente escolar na educação infantil, deve ser lúdico promovendo o encantamento, através do brincar com a música é que a criança aprende e adquire novos aprendizados com significado e garantia de direitos que cabe a esta etapa de desenvolvimento. A

utilização da música como ferramenta didática, dentro de um planejamento bem focado no desenvolvimento integral da criança pode proporcionar aprendizagem espontânea, divertida focada na expressividade preparando o desenvolvimento cognitivo para anos escolares futuros, lembrando que estamos falando da música como estímulo para aprendizagem e não como ensino técnico musical. No âmbito pedagógico, quando destacamos a música como estímulo a aprendizagem surge à dúvida de que tipo de música utilizar? Qual o repertório musical pertinente à ocasião, e faixa etária? No entanto, não existe uma receita a ser própria para conduzir o trabalho com a música, pelo contrário existem muitos caminhos a serem seguidos, devemos criar métodos como indicadores de percurso utilizando a ação como sentir e pensar a música como criança e para a criança.De acordo com Gardner (1997), em relação às formas musicais, gêneros e conteúdos, é preciso entender que inicialmente a música deve ser uma atividade de execução, isto é, a criança imita, reproduz e produz com base em suas possibilidades motoras e no que herdou de seu sistema cultural, para depois, com maior habilidade e domínio dos códigos musicais de sua cultura lançarem-se às apreciações e execuções mais rebuscadas. As indicações musicais que podem ser trabalhadas, devem sempre lembrar que não existe receita e é importante fazer um levantamento do perfil do grupo de crianças a ser trabalhado, estabelecer o objetivo a ser alcançado e se estará de acordo com a faixa etária e área de abrangência pedagógica. Cada grupo é único e imprevisível em suas reações com a música, o que interfere diretamente no resultado final.Estudiosos das áreas musicais, em sua maioria, recomendam a utilização de canções do folclore brasileiro, que carrega uma carga de cultura imensurável, além de ser de espontânea manifestação por trazer a bagagem de letramento musical transmitida de geração para geração, dando destaque ao conhecimento prévio de cada criança, porém a criança também tem contato com a cultura de massa, acesso as informações e possivelmente trará conhecimentos de canções das quais tem acesso que nem sempre são voltadas a essa ótica cultural folclórica. As educadoras musicais Cristina Lemos e Solange Gomes defendem que:As crianças devem ter contato com canções de ninar, de brincar, de brincadeiras de roda, que fazem parte da diversidade cultural impressa por tantos povos que formaram nosso país. (LEMOS e MARANHO, 2005, p. 18).Para qualidade e sucesso, existem indicações de procedimentos indiretamente recomendado para se trabalhar música com as crianças. E existem muitos caminhos para este êxito, contudo, cabe ao educador identificar o melhor método que garantirá a eficácia de sua ação. Sem esquecer, que é através da linguagem que a criança tem acesso à cultura de sua comunidade, a música e a linguagem, podem ser consideradas duas formas de comunicação interligadas após muitos estudos e tornando-se uma das mais apreciadas pelas crianças a “linguagem musical”. Sendo assim, além de reproduzir, imitar, improvisar e criar, a experiência com a música permite viver situações de aprendizagem, explorando novas e significativas possibilidades, de identificação cultural, de liberação e identificação de sentimentos, e o uso da canção, ritmo e som, na construção de significações por meio da música.O LÚDICO DESPERTANDO NOVAS EXPERIÊNCIAS O trabalho lúdico tem sido cada vez mais valorizado como importante e eficiente forma de se colocar novas descobertas de aprendizagem e conteúdo, além de lidar com a vida de maneira criativa, crítica e expressiva. Sabemos que a brincadeira é a linguagem mais apreciada pela criança, teorias sobre a importância do jogo vêm ocupando cada vez mais espaço tanto em discussões informais, quanto em debates educacionais e pesquisas acadêmicas.(...) A sagacidade e a perspicácia delas também são as mesmas, em quaisquer condições. Crianças obrigadas a trabalhar se viram para brincar, crianças sentadas na carteira da escola desesperadas para sair dali estão brincando na imaginação. (Friedmann, [s.d.]).A conexão entre as brincadeiras e jogos com a educação vêm sendo, há muito tempo, objeto de interesse de educadores, que passam a integrar a ludicidade musical a este contexto. Segundo Tizuko Kishimoto (2008, p.61), desde a Antiguidade greco-romana, a importância do jogo já era assunto de debates: Muitos educadores reconheceram a importância educativa do jogo.O filosofo grego Platão em sua obra “As Leis”, destaca a importância do “aprender brincando” em contrapartida à utilização da violência e da repressão. O interesse pelo jogo aparece nos escritos de Horácio e Quintiliano, que se referem às pequenas guloseimas em forma de letras, produzidas pelas doceiras de Roma destinadas ao aprendizado das letras. A prática de aliar o jogo aos primeiros estudos parece justificar o nome de ludus atribuído às escolas responsáveis pela instrução elementar, semelhante aos locais destinados a espetáculos e à prática de exercícios de fortalecimento do corpo e do espírito.Ao longo da história, por meio de muitos estudos e teorias, autores como Rabelais (1494-1553), Montaigne (1533- 1592), Comenius (1592-1670), Rousseau (1712-1778), Froebel (1782-1852), Pestalozzi (1746-1827), Dewey (1859-1952), Montessori (1870-1952), Decroly (1871-1932), Hui - zinga (1872-1945), Claparède (1873-1940), Makarenko (1888-1939), Vygotsky (1896- 1934), Winnicot (1896-1971), Piaget (1896-1980), entre muitos outros, vêm pensando sobre o papel social do jogo e sua importância no desenvolvimento cognitivo dos seres humanos. Muitas dessas teorias confirmam que a brincadeira, apesar de todos os seus benefícios, deve manter sua característica de ser um fim em si mesma.Na primeira metade do século XX, desde a difusão dos “métodos ativos” Jacques-Dalcroze, Willems, Martenot, Orff, Kodály, entre outros já valorizavam a vivência musical de forma lúdic, a partir do corpo, antes da técnica e da teoria. No Brasil, a partir da década de 1940, esse novo pensamento ecoou nas ideias e práticas de Sá Pereira, Liddy Chiaffarelli, Gazzy de Sá.A chamada “segunda geração” de educadores musicais, que inspirados na música de vanguarda do século XX, criaram propostas de trabalho que priorizavam a criação e a improvisação, apesar de ter reverberado em diversos núcleos musicais especializados, não teve oportunidade de influenciar a educação musical na escola pública, a não ser de forma muito eventual e secundária em alguns projetos experimentais de arte educação ou de artes integradas. Como afirma a educadora musical Marisa Fonterrada (2005, p.10):“[…] após tanto tempo de ausência, perdeu-se a tradição; a música não pertence mais à escola e, para que volte, é preciso repensar os modos de implantação de seu ensino e de sua prática”.Temos consciência de que o processo de volta da música às escolas brasileiras é longo, mas é preciso começar e lutar para o êxito desta atuação. Reconhecemos o brincar como uma das possibilidades de aproximação da linguagem musical, lembrando que a música é, por si só, um jogo. O músico e pesquisador francês François Delalande (1995), em

seu livro La musique est un jeu d’enfant (“A música é uma brincadeira de crianças”), relaciona aspectos determinantes da prática musical, mesmo adulta, às formas de atividade lúdica infantil, a partir da referência piagetiana. Resumidamente, o autor destaca que a música tem o lúdico em sua própria essência.O corpo humano é uma fonte muito rica de sons e pode ser considerado nosso primeiro instrumento musical, com extensa exploração dos sentidos. Com a presença do ritmo na batida de nosso coração, em nossa respiração ou ao caminharmos. Reconhecemos inúmeros timbres e melodias na exploração de nossa voz e também na escuta da voz do outro. Não é à toa que no vocabulário musical estão presentes palavras como pulsação e andamento, provenientes do funcionamento biológico do corpo humano.Desde muito cedo, a criança explora de forma curiosa os sons de seu corpo por meio de palmas, de vocalizações, de movimentos da língua e dos lábios e até pelo sapateado. Com o passar do tempo, elas muitas vezes se divertem com jogos de mãos e pés associados a músicas e cantigas. Sentem-se também encantadas pelos desafios de aprender coreografias e danças percussivas, trava-línguas ou para imitarem instrumentos musicais com a voz. Essas brincadeiras e explorações são valiosas para a sua formação e estimulam seus potenciais psicomotores e fonéticos e para as dificuldades nesta área, contamos com o estimulo da “Práxis”, caretas faciais que ajudam na articulação de músculos faciais. Os adultos também usam da música cantarolando, batucando, assobiando e sapateando para entreter-se e fazer música, ou utilizam sons corporais característicos em sua comunicação cotidiana.Observa-se a rica diversidade de formas de canto, de palmas, de estalos de dedo, de estalos de língua, de sapateados, de assobios, além dos sons vocais, fonéticos e onomatopaicos (BUM, TRIM...), que carregam em seu repertório pessoal à língua falada da região o seu sotaque particular. Essa música corporal está presente no dia a dia das comunidades, assim como nas suas danças e festividades e manifestações culturais. Aprender e explorar um som corporal é um processo que envolve curiosidade, prática, concentração e observação tanto de si como do outro.

A MÚSICA E O DESENVOLVIMENTO SOCIAL DA CRIANÇA No campo da maturação social da criança a música traz um efeito muito significativo. Muitas vezes é através do repertório musical que somos integrados a alguns grupos sociais. As cantigas de ninar, parlendas, adivinhas, brincadeiras, cantigas de roda e as músicas que nos rodeiam por toda a vida dizem respeito à nossa realidade e nos insere na formação de nossa própria cultura. Desde o útero materno o feto reage aos estímulos sonoros externos, neste sentido, a mãe bem como o ambiente deve favorecer e ser benéfico a esta fase. Mesmo sem o domínio de instrumentos musicais as pessoas próximas podem tocar, ou mesmo cantarolar músicas e cantigas. Mais tarde, após o nascimento os momentos de socialização inicial dos bebês são de grande significado e prazerosa quando associada a música, cantar no banho, fazer uso de brincadeiras ritmadas durantes as atividades cotidianas, massagear o corpo do bebê com uma boa música ao fundo, favorecem o contato social e desenvolvimento afetivo.Após esta fase, nos primeiros anos de vida e durante a educação infantil, o contato musical desenvolve também a maturação individual, isto é, o aprendizado de regras sociais, como por exemplo, durante a brincadeira de roda a criança tem a oportunidade de vivenciar, de forma lúdica situações de perda, escolhas, decepções, dúvidas e afirmações. Fanny Abramovich, afirma: “quem não se lembra de quando era pequenino, de ter dado as mãos para muitas outras crianças, ter formado uma imensa roda e ter brincado, cantado e dançado por horas?” ou ainda “reunir a turma da rua para cantarolar Terezinha de Jesus... e a briga de quem seria o pai, o irmão e o terceiro que disputa a amada Terezinha... esperando o arrepio gostoso da fala – Sinha eu não fico, nem ei de ficar, por que quero ? para ser meu par – E aí, apontava o eleito e todos riam e se divertiam muito. Quanta inveja e ciúmes passava na cabeça de todos. (1985, p.59). Muitas outras cantigas foram e são transmitidas de inúmeras gerações, por meio dos saberes popular, com linguagem de domínio público, oralmente, com ritmo e trazem saberes que nos preparam para a vida adulta. Trata-se de temas variados, ricos e de tato cotidiano, de expressões de sentimentos, alegres ou tristes, dando a oportunidade de vivenciar, mesmo que de forma “teatral” com a felicidade e a frustação. Trazem experiências de vida que nem um brinquedo, mesmo o de maior sofisticação eletrônica pode proporcionar. Na educação infantil é trabalhado com as linguagens musical e motora, sendo assim a música e dança, fazem parte da rotina diária da unidade escolar, nas brincadeiras musicais, nos eventos e festas, nas cantigas de roda, no processo de aprendizagem infantil com um todo. Sempre com o cuidado para que não seja um trabalho artificial, isolado do planejamento e projeto pedagógico como um todo. Mesmo após esta etapa da vida, já na adolescência, a música tem um papel de destaque, pois traz a inserção social desses jovens, para a preparação da vida adulta, usam a música para serem aceitos em grupos, para filosofia de vida, para vestir uma camisa em prol de alguma causa. A música é uma intensa forma de comunicação oral e corporal. A música e a dança sujeitam ritmo e ajudam na autonomia de escolhas. Muitos compositores e interpretes se expressam através da música com foco nos jovens, abordando temas que permeiam os direitos humanos, estabelecem o diálogo e a consciência da formação cívica, com a intenção de propagar boas práticas sociais.

CONSIDERAÇÕES FINAISMuito se tem perdido da infância pura e inocente nos dias de hoje devido ao aumento da violência, a redução brutal dos espaços de convívio coletivo e a industrialização do brinquedo, com novas tecnologias de jogos eletrônicos, geraram enorme transformação no espaço do brincar. No entanto, o encantamento proveniente das cantigas de roda e músicas infantis são fatos admiráveis em todo ambiente que agrega crianças em fase desenvolvimento. Ao lado dos novos jogos virtuais, muitas brincadeiras cantadas, jogos de mãos ou jogos com regras ainda estão vivos, recriando-se e transformando as crianças em seres felizes e encantados.O brincar na linguagem musical, desenvolve um especial interesse e gosto pelas brincadeiras cantadas tradicionais brasileiras e de outros países, pelos jogos de mãos espontâneos das crianças e pelos diversos tipos de brinquedos sonoros. Na educação musical, que é nosso cenário cotidiano, os jogos corporais, as atividades lúdicas, as brincadeiras cantadas e as canções tradicionais ocupam um espaço de destaque.

O trabalho com música na sala de aula deve buscar possibilidades diversas de realização, integrando o corpo, o lúdico, a criação, o resgate da cultura da infância e um repertório que contemplem as diversas músicas do mundo, tudo isso em uma grande conexão que deve ser construído de forma significativa junto com as crianças, valorizando a sua própria cultura bem como ampliando o seu repertório de músicas, cantigas, ritmos e gêneros musicais.No Brasil existem inúmeros estilos musicais que se utilizam de sapateados e de palmas em suas manifestações, cujas coreografias por si só têm um resultado rítmico. As experiências e relatos deste artigo reforçaram a importância da consciência corporal no aprendizado musical, por meio de trocas sociais por agrupamentos variados. Atualmente existem muitas abordagens educacionais que exploram as relações entre música e movimento, e novas experiências estão em pleno desenvolvimento.Os recursos, técnicas e práticas aqui apresentados são em geral acessíveis a todos e existem diferenças naturais na maneira como cada um os aborda e os vivencia, explorando suas possibilidades e elevando o repertório musical. Um determinado som ou ritmo pode inicialmente ser mais fácil de ser aprendido por uma pessoa do que por outra. Essas diferenças são normais e ligadas à anatomia de cada indivíduo, sua área de interesse musical e não são diferenças definitivas, principalmente à medida que persistimos na prática e encontramos soluções gestuais particulares. É importante valorizarmos a vivência e troca lúdica, os sons que os alunos já possuem, os que eles conquistam mais facilmente e os que eles mais gostam de fazer. É fundamental também estimular as crianças, com paciência e persistência, a conquistar novos conhecimentos musicais e principalmente se divertir com eles.

REFERÊNCIASABRAMOVICH, F. Quem educa quem? 5a. ed. São Paulo: Summus, 1985.BRASIL. Referencial Curricular para a Educação Infantil. Vol. 3. Brasília, 1998. Disponível em: http://portal.mec.gov.br/seb/arquivos/pdf/volume3.pdf. Acesso em: 01/03/2021.

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MÚSICA, EDUCAÇÃO INFANTIL E SEUSDIFERENTES CONTEXTOS

RESUMO As Diretrizes Curriculares Nacionais de Educação Infantil e as propostas pedagógicas existentes devem considerar princípios estéticos, voltando-se para diferentes manifestações artísticas e culturais e que considerem a heterogeneidade cultural, étnica, religiosa, social do país. A música como linguagem organiza os signos sonoros no espaço e no tempo, trazendo a possibilidade de trazer reflexão ao ouvinte sobre o mundo. Assim, é fundamental assegurar o ensino da música entre as crianças para que as mesmas possam entender e construir seu cotidiano e parte do seu mundo a partir da linguagem sonora. Por isto, a presente pesquisa discute as implicações da musicalização na Educação Infantil no desenvolvimento das crianças da creche e pré-escola. Os resultados indicaram que o uso da música é de fundamental importância para o desenvolvimento sociocognitivo das mesmas, em interdisciplinaridade com outras áreas de conhecimento.

Palavras-chave: Educação Infantil; Musicalização; Desenvolvimento Infantil.

INTRODUÇÃO

As crianças se envolvem com os sons desde muito pequenas, sendo que alguns pesquisadores discutem que esse contato acontece desde a fase intrauterina. Quando chegam a fase escolar, uma das problemáticas é que determinadas experiências sonoras ficam muitas vezes reduzida a ajudar na organização de atividades relacionadas à ocasião do recreio e do asseio das crianças, ganhando aspectos de disciplinarização da infância. Assim, justifica-se o presente artigo a discussão sobre a importância da música e sua utilização na Educação Infantil, a fim de encontrar sua identidade e de distinguir o ambiente em que vive, utilizando os sons através de suas diferentes propriedades: altura, espaço, grau, timbre, sons; através de brincadeiras, cantaroladas, assobios, risos, gritos, ou seja, emitindo os mais diversos sons. Sabe-se que em relação à criança, a música é criada ao brincar com os sons, transformando ambientes. Outra problemática é a questão de que muitos docentes ainda não compreendem a importância do ensino de música, classificando algumas músicas como musiquinhas, e ainda músicas e sons produzidos pelas próprias crianças, considerando-os barulhos.Desta forma, temos como objetivo geral discutir as implicações da musicalização no processo da Educação Infantil; e como objetivos específicos discutir a legislação pertinente a inserção da música na Educação Infantil, bem como suas contribuições para o ensino da mesma e para o desenvolvimento sociocognitivo das crianças que frequentam essa etapa escolar.

A MÚSICA E A EDUCAÇÃO INFANTIL

Podemos destacar que as atividades desenvolvidas dentro da Educação Infantil são direcionadas entre outros documentos pelas Diretrizes Curriculares Nacionais, como discutido abaixo:

(...) a primeira etapa da educação básica, oferecida em creches e pré-escolas, às quais se caracterizam como espaços institucionais não domésticos que constituem estabelecimentos educacionais públicos ou privados que educam e cuidam de crianças de 0 a 5 anos de idade no período diurno, em jornada integral ou parcial, regulados e supervisionados por órgão competente do sistema de ensino e submetidos a controle social (DCNs, 2010, p.12).

RENATA DOS SANTOS IOKOIAMA RAMALHO Graduação em Pedagogia pela Centro Univer-sitário de Araras Dr Edmundo Ulson (2009); Professora de Educação Infantil e Ensino Funda-mental I - na EMEI Francisca Julia da Silva.

REVISTA EXATTO EDUCACIONAL | V.3 | N.3 | MARÇO 2021

Os docentes da Educação Infantil devem estar sempre atentos cem relação aqueles que classificam algumas músicas ouvidas pelas crianças como musiquinhas, tratando-se de forma revelando como as crianças são concebidas e, além disso, como são pensadas e realizadas as relações entre adultos e crianças em ambientes para a infância igualmente onde se toca músicas e sons que, ao serem realizados pelas próprias crianças, são ouvidos como barulhos, contrariando as regras do silêncio. A canção é essencial como brincadeira, como cultura e como contato com o folclore (GOBBI, 2010).Ainda, não se pode ignorar o contato com outros gêneros musicais, de outras culturas e, principalmente com os sons de todas as partes do mundo, considerando também o que a criança porta advindo de seu contexto social, familiar, cultural. A ideia central da Educação Infantil não é apenas colocar para a criança músicas já prontas, mas sim oferecer momentos de descobertas e construções sonoras, canto e invenção de canções. Ainda, objetos devem ser transformados em instrumentos musicais, enriquecendo o repertório musical através de práticas diferenciadas com as crianças.A sonorização de histórias, a escuta sonora, brincadeiras cantadas, percepção de sons, barulhos, ruídos, compõem a creche e pré-escola, sendo essenciais para estabelecer o tempo das crianças juntamente a outras linguagens e não como aula de música, o que tantas vezes é observado.As funções psicológicas superiores vão sendo desenvolvidas nas crianças de acordo com dois tipos de fenômenos: as transformações psíquicas como o desenvolvimento da fala, da escrita e do desenho, por exemplo; e os processos de desenvolvimento das funções relacionadas à memória, julgamento, concentração e inteligência conceitual (TULESKI e EIDT, 2016).Ou seja, a música, se torna um estimulo primordial para o desenvolvimento cerebral da criança. Culturalmente é comum o hábito de cantar e dançar para os bebês, auxiliando tanto no aprendizado musical, quanto no desenvolvimento da afetividade, da socialização e da aquisição da linguagem.Por fim, a educação é um processo contínuo e evolutivo, e deve ser pautado principalmente na criança, tornando-se necessário evidenciar este processo já na educação infantil, caracterizada por ser uma fase relevante no desenvolvimento humano. Deve-se conceber a criança como um ser social e histórico, sendo que a aprendizagem nessa esfera se dá pelas interações entre a criança e o mundo a sua volta. Observa-se, portanto diferentes orientações didáticas, que presam a utilização dos jogos e brincadeiras, além de atividades que envolvam o reconhecimento do próprio corpo, do corpo do outro, da música, da dança e da imitação gestual.

A LEGISLAÇÃO NA EDUCAÇÃO INFANTIL

A Lei Nacional nº 11.769/2008, trouxe a educação em música como obrigatória, alterando o artigo 26 da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDBEN nº 9394/1996), trazendo o convite de se repensar nas práticas artísticas como as artes visuais, a dança, o teatro e a música. A música foi considerada uma área de competência que requer estudo, prática, reflexão e diversidade, devendo existir no Projeto Político Pedagógico da escola. Além disso, ela deve constar nos planejamentos pedagógicos, ser trabalhada interdisciplinarmente, contribuindo para o desenvolvimento cognitivo e pleno de crianças e adolescentes. Já as Diretrizes Nacionais para a operacionalização do Ensino da Música na Educação Básica (CNE/CEB nº 12/2013 de 04/12/2013) trouxeram a urgência de um currículo que contemplasse uma matriz de saberes para o ensino de música, constituindo-se em uma ferramenta que contribui para o trabalho do docente especialista e não especialista desenvolvendo a Educação Musical na Educação Básica e, especialmente na Educação Infantil.Outra mudança na educação ocorreu com a chegada da Base Nacional Comum Curricular (BNCC), documento orientador para que ocorra a equidade nos sistemas de ensino do Brasil inteiro. No caso da música:

A Música é a expressão artística que se materializa por meio dos sons, que ganham forma, sentido e significado no âmbito tanto da sensibilidade subjetiva quanto das interações sociais, como resultado de saberes e valores diversos estabelecidos no domínio da cultura. A ampliação e a produção dos conhecimentos musicais passam pela percepção, experimentação, reprodução, manipulação e criação de materiais sonoros diversos, dos mais próximos aos mais distantes da cultura musical dos alunos. Esse processo lhes possibilita vivenciar a música inter-relacionada à diversidade e desenvolver saberes musicais fundamentais para a sua inserção e participação crítica e ativa na sociedade (BNCC, 2017, p. 154).

No caso da BNCC voltada para a Educação Infantil, esta ampliou a jornada destinada às experiências, envolvendo a Arte como um todo e suas linguagens, trazendo a música como elemento obrigatório desde a infância. Neste sentido, as discussões do trabalho docente têm ocorrido de forma significativa, a fim de trazer métodos adequados ao trabalho com a primeira infância (BRASIL, 2019).Ainda, de acordo com Mendes (2009), os documentos orientadores da Educação Infantil, trazem a importância do trabalho com a linguagem musical utilizando-se de improvisações, de estudos corporais, da escuta de sons e música, da construção de instrumentos musicais, gerando e pensando em música. É através da música que a criança aprende a se expressar. A escola deve desenvolver potencialidades apresentando sua parte poética, sua composição e sua diversidade. Uma combinação entre os deleites que a música promove demonstram a importância para o desenvolvimento cognitivo e educacional das crianças.Por fim, o Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil traz a expressão corporal como uma das linguagens que devem ser trabalhadas nesse período, permitindo assim a criança a tomar consciência de si mesma, expressando e conhecendo o mundo à sua volta. A música pode contribuir para a exploração de diversas formas de como sentir o corpo proporciona às crianças o conhecimento de suas características, limitações e formas de expressão: “a riqueza de possibilidades da linguagem corporal revela um universo a ser vivenciado, conhecido, desfrutado” (AYOUB, 2001, p. 57), pois, o movimento corporal é a essência das crianças.A criança expressa-se principalmente através da fala e da dança, movimentando-se corporalmente. Assim:

É com o corpo que a criança elabora todas as suas experiências vitais, e organiza toda a sua personalidade. Através dele ela percebe o mundo, e perceber o mundo é aprender (e reaprender) com seu próprio corpo; perceber o mundo, portanto, é perceber o corpo; o corpo é assim, sensação, percepção e ação (STEUCK, 2008, p. 13-14).

MÚSICA E AS CRIANÇAS

A música organiza os signos sonoros no espaço e no tempo; e de acordo com as pesquisas voltadas para a origem da música e a sua importância para as relações sociais, elas vêm sendo aprofundadas desde o século XX, buscando explicações na biologia, na sociologia e na antropologia (MARIANO, 2015).A criança logo cedo costuma ter contato com a música. Inicialmente com sua mãe cantarolando com voz doce e suave, crescendo e percebendo que o mundo ao seu redor é regido pela musicalidade. A música está presente em diversos lugares e momentos, seja nas músicas de embalar, nas brincadeiras, nos brinquedos sonoros, nas danças, entre outras ações, podendo marcar afetivamente determinados momentos. Assim, de acordo com Nogueira (2003), a música está no nosso dia a dia, nos costumes e nas tradições de uma dada sociedade, nas festas e recordações especiais. Ou seja, a música contribui para a fixação de algumas regras, possibilitando diferentes aprendizados.A começar do nascimento entramos em contato com os sons, desde que nascemos estamos predispostos aos sons e composições, iniciando assim o mundo da linguagem. Por isso, essa relação prematura favorece o desenvolvimento de nossas aptidões cognitivas, linguísticas e motoras (SIMIONATO e TOURINHO, 2007). Para Brito (2003), a criança quando escuta música não quer dizer que abraça regras ou nota especificidades, mas sim vive aquele momento de aprendizagem. Por isso, a criança ao ter contato com a música deve determinadas certas capacidades, diferenciando o escutar, os diferentes tipos de sons e as diferenças culturais existentes. Existindo a possiblidade de ampliar as formas de comunicação e expressão, desenvolve-se ainda uma boa comunicação: “A importância do ensino de música na escola reside, então, na possibilidade de despertar habilidades e condutas na criança, levando-a a sentir- se sensibilizada pela música valendo-se da criação e da livre expressão” (LOUREIRO, 2003, p.1).Assim, a utilização da música na Educação Infantil desenvolve as potencialidades das crianças e deve respeitar sua individualidade, seu contexto cultural, étnico, religioso, entre outros aspectos, concebendo a criança como um ser único que apresenta características peculiares e que precisa desenvolver diferentes habilidades e linguagens para interagir com o mundo que a cerca. Sabe-se que a metodologia principal na Educação Infantil é a ludicidade, porém é preciso desenvolver outras aprendizagens e a Arte nesse sentido pode trazer boas contribuições dentro desta proposta. Ainda, nessa etapa de escolaridade, é necessário dispor de ferramentas e práticas que trabalhem a diversidade e o contexto da criança, explorando as suas potencialidades. O ensino da música envolve a construção do sujeito musical, a partir da constituição da linguagem. Esta transforma a criança, no que se refere à percepção, as formas de pensar, agir e interagir com o mundo e com os outros. Por fim, a música enquanto linguagem organiza os signos sonoros no espaço e no tempo, motivo pelo qual constitui-se como possibilidade de trazer reflexão ao ouvinte sobre o mundo, sobre o trabalho docente e principalmente o desenvolvimento das crianças, para que ela cresça plena e feliz, inclusive.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

De acordo com a pesquisa realizada, foi possível perceber que a musicalização na Educação Infantil tem por objetivo estimular o desenvolvimento global da criança, integrando sua individualidade, seu contexto socioeconômico, cultural, étnico, entre outros, concebendo a criança como um ser único que apresenta características peculiares e que interage com outras crianças e adultos.A musicalização, assim como outras formas de arte e a ludicidade, são a base da Educação Infantil. Para que o trabalho com música se torne viável nesta fase escolar, é necessário pensar em ferramentas e práticas trabalhando a diversidade e o contexto da criança, explorando assim suas potencialidades. O ensino da música envolve a construção do indivíduo musical, a partir da constituição da linguagem da música. O uso desse tipo de conceito transforma a criança, no que se referem à percepção, formas de agir e pensar, quanto os aspectos subjetivos. A escola é o primeiro ambiente no qual a criança vem a estabelecer suas relações sociais foram do ciclo familiar, essa situação nova na vida infantil deve ser acompanhada para que ao oferecer à criança um novo mundo diverso, repleto de situações na qual tenha que elaborar novos mecanismos de compreensão de fatos, conceitos e atitudes ela se sinta acolhida e atendida em meio a esse novo desafio, onde a criança que ingressa na vida escolar em meio a essa ampliação de relações possa construir sua concepção social do mundo.Ainda, a música pode contribuir como uma possibilidade de compreender através do embasamento teórico a forma com que as crianças constroem as suas relações sociais do nascimento até o momento da primeira infância, através de meios a princípio físicos e posteriormente através de aspectos mais subjetivos definidos como emoções, desejos e sentimentos.Assim, a música como ferramenta dinâmica na Educação Infantil, auxiliar no trabalho docente e na aprendizagem das crianças, trazendo a oportunidade do docente trabalhar a diversidade em sala de aula e desenvolvendo diferentes habilidades nos pequenos. Mesmo que haja docentes que ainda se espelham em modelos pedagógicos mais tradicionais, seguindo determinadas regras e formas de comportamento, de acordo com a pesquisa a maioria dos docentes ainda acredita que a afetividade, a ludicidade e a utilização da música são as melhores formas de se relacionar com as crianças podendo desenvolver a

comunicação oral e dialética conforme proporcione respeito e liberdade de ideias e conhecimentos prévios das crianças.Além disso, outra contribuição do uso da música durante a Educação Infantil é que esse período é um momento em que a criança experimenta, ajusta e constrói movimentos corporais provenientes da interação com os demais colegas. E a música pode desenvolver isso, por exemplo, através da dança, desenvolvendo a autonomia corporal e de ter contato com diferentes vivências e movimentos corporais provenientes da cultura a seu redor. Assim, na Educação Infantil é necessário desenvolver uma pedagogia que organize o fazer o pedagógico em torno de diferentes linguagens as quais a criança utiliza para expressar e se comunicar com o mundo que a cerca.

REFERÊNCIAS

AYUOB, E. Reflexões sobre a Educação Física na Educação Infantil. Revista Paulista de Educação Física, São Paulo, vol. 4, n. 4, p. 53-60, 2001.

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BRITO, Teca Alencar de. Música na educação infantil. São Paulo: Peirópolis, 2003.

GOBBI, Márcia. Múltiplas linguagens de meninos e meninas e a Educação Infantil. Anais do I Seminário Nacional: Currículo em Movimento – Perspectivas Atuais, Belo Horizonte, novembro de 2010.

Godoi, L. R. (2011). A importância da música na educação infantil. Trabalho de conclusão de curso. Universidade Estadual de Londrina, Londrina, PR, Brasil. Recuperado de: http://www.uel.br/ceca/pedagogia/pages/arquivos/LUIS%20RODRIGO%20GODOI.pdf. Acesso em: 02 mar.2021.

Ilari, B. A música e o cérebro: algumas implicações do neurodesenvolvimento para a educação musical. Revista da Abem, 2003, 9, 7-16. Recuperado de: https://pdfs.semanticscholar.org/495b/19b4c8892f11bfeec193c8ffa46f22a5fcaf.pdf . Acesso em: 01 mar. 2021.

LOUREIRO, Alícia Maria Almeida. O ensino de música na escola fundamental. Campinas, SP: Papirus, 2003.

MARIANO, Fabiana Leite Rabello. Música no berçário: formação de professores e a teoria da aprendizagem musical de Edwin Gordon. São Paulo: Universidade de São Paulo / Faculdade de Educação, 2015.

NOGUEIRA, Monique Andries. A música e o desenvolvimento da criança. Revista da UFG, Vol. 5, No. 2, dez 2003. Disponível em: www.proec.ufg.br. Acesso em: 09 mar. 2021.

SIMIONATO, L. Cristina; TOURINHO, Cristina. Contribuição do aprendizado de canções no desenvolvimento da linguagem verbal. In ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE COGNIÇÃO E ARTES MUSICAIS. 2007. Anais do 3º Simpósio de Cognição e Artes Musicais. Bahia UFBH 2007 p. 371-377.

STEUCK, C.D. Corporeidade e educação: um olhar a partir da epistemologia social. 2008. Dissertação (Mestrado em Educação). Blumenau: Programa de Pós Graduação em Educação, Universidade Regional de Blumenau – FURB, 2008.

TULESKI, S. G., EIDTt, N. M. A periodização do desenvolvimento psíquico: atividade dominante e a formação das funções psíquicas superiores. In Martins, L. M., Abrantes, A. A., & Facci, M. G (Org.), Periodização histórico-cultural do desenvolvimento psíquico: do nascimento à velhice (pp.35-62). Campinas, SP, 2016: Autores Associados

RESUMO O objetivo deste artigo é refletir sobre a importância da Arteterapia como ferramenta para desenvolver a comunicação inter e intrapessoal do adolescente por meio da criatividade. Com os instrumentos da Arteterapia buscou-se auxiliar os adolescentes a desenvolver a comunicação inter e intrapessoal, assim como aflorar suas potencialidades e criatividade por meio de estímulos artísticos. A Arteterapia cria recursos de expressão e criatividade que possibilitam que o adolescente libere suas emoções, seus conflitos e angústias. Possibilita que o adolescente seja capaz de enxergar esses conflitos e assim equalizar sua mente ao seu corpo, melhorando sua qualidade de vida. Através das bibliografias que envolvem o tema foi possível compreender que cada ser humano tem seu potencial individualizado; que a arte é capaz de transformar e resgatar esse potencial criativo e assim possibilitar a expressão e o autoconhecimento.

Palavras-chave: Arteterapia; Adolescente; Comunicação

INTRODUÇÃO

Este artigo propõe discutir a importância da Arteterapia no processo de manifestação da criatividade dos adolescentes. Nesse processo, os potenciais criativos são resgatados através de mediadores, tais como: música (como recurso que restaura a expressão de corpo, mente e alma); mandalas (como orientador no processo criativo); pintura (como facilitador para trazer vivências do inconsciente para o consciente); desenhos (como recurso de exteriorizar medos e angústias por meio de símbolos); dança (como vivência individual ou em grupo, ajudando assim na integração dos conteúdos internos da psique e facilitando a expressão individual); escultura e colagem (como recurso de dar forma a sentimentos e sensações). Além disso, por meio desses recursos, busca-se facilitar a comunicação da expressão emocional e aprofundar o conhecimento interno.A artista plástica polonesa Fayga Ostrower, em seu livro Criatividade e processo de criação, afirma que:O potencial criador elabora-se nos múltiplos níveis do ser sensível-cultural-consciente do homem, e se faz presente nos múltiplos caminhos em que o homem procura captar e configurar as realidades da vida. Os caminhos podem cristalizar-se em formas de comunicação, em ordenações concluídas, mas a criatividade como potência se refaz sempre. A produtividade do homem, em vez de se esgotar, liberando-se, amplia-se. (OSTROWER, 2012, p.27).O criar em Arteterapia através dos recursos que ela apresenta tais como a imaginação e o simbolismo das metáforas, acaba facilitando a comunicação na expressão emocional e aprofunda o conhecimento interno trazendo assim do inconsciente todo seu potencial criativo.Na sociedade contemporânea, a conexão com o sentido simbólico e iniciático do rito de passagem foi perdida. Por isso, se faz importante, principalmente para o adolescente, a reflexão sobre as etapas e passagens que ele enfrenta na vida.Nesse sentido, a Arteterapia pode ajudar a vivenciar esses processos de transformação.[...] no dinamismo de alteridade, que corresponde à época da adolescência, os opostos são relacionados de maneira igualitária e dialética, sendo vivenciados como aspectos diferentes de uma mesma realidade. Essa fase é voltada para o relacionamento com o outro e com a própria contraparte sexual, sendo, portanto, regidos pelos arquétipos da Anima (que corresponde aos aspectos do feminino na alma masculina), do Animus (que corresponde aos aspectos masculinos na alma feminina), e do Coniunctio (que se refere à conjunção de opostos, a reunião dessas duas “metades” num todo que as congrega e abrange como partes de uma única e indivisa realidade), caracterizando-se “por sua capacidade criativa face ao confronto dos opostos” (BYINGTON, 1983, p. 24, apud BERNARDO, 2012, p.38).A autora traz a importância do autoconhecimento para união dos opostos, na verdade sua integração ajuda o adolescente a entrar em contato com seu inconsciente sem perder a consciência no processo. Com isso consegue-se, por meio da arte, avivar no adolescente seus conhecimentos, descobrindo um mundo infinito de possibilidades ao trabalhar suas emoções, e assim levá-los a olhar para si de maneira inteira. Mostrar para eles, por meio dos trabalhos, que não existe feio ou bonito, que nada é rígido, que tudo pode ser transformado pela busca interior.Assim sendo, o objetivo geral deste artigo é desenvolver a comunicação inter e intrapessoal do adolescente por meio da

criatividade.

COMUNICAÇÃO INTER E INTRAPESSOAL

Existem vários tipos de comunicação, e as pessoas podem comunicar-se pelo código Morse, pela escrita, por gestos, pelo telefone, etc.; uma empresa, uma administração, até mesmo um Estado, podem comunicar-se com seus membros por intermédio de circulares, cartazes, mensagens radiofônicas ou televisionadas, etc.Toda comunicação tem por objetivo a transmissão de uma mensagem [...]. (VANOYE, 2011, p.1]A comunicação é um processo de troca de informações entre os seres das mais diversas maneiras. É um processo que envolve uma codificação, isto é, a formação de um código, e a decodificação, a busca do entendimento deste código, em forma de mensagens que permitem a troca de informações entre os indivíduos. Não há só a comunicação verbal, há vários tipos de comunicação e cada um deles tem características que o diferencia e o integra ao todo. (VANOYE, 2011, p.1).Segundo o Dicionário de Comunicação, a palavra comunicação deriva do latim communicare, cujo significado seria: “tornar comum”, “partilhar”, “repartir”, “associar”, “trocar opiniões”, “conferenciar”. Comunicar implica participação [...], em interação, em troca de mensagens, em emissão ou recebimento de informações novas. (RABAÇA & BARBOSA, 1995, p.151).Neste artigo, enfocamos as comunicações inter e intrapessoal. A comunicação interpessoal pode ser definida como aquela que acontece de alguém para alguém. (RABAÇA E BARBOSA, 1995, p.166). Já a comunicação intrapessoal é aquela que ocorre dentro de alguém. Está relacionada com as ideias e desejos do indivíduo; é a sua voz interior. Dessa forma, a comunicação intrapessoal é extremamente importante uma vez que representa o diálogo interno.

ADOLESCÊNCIA

A adolescência é a fase que marca a passagem entre a infância e a idade adulta. Segundo o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), é considerado adolescente aquele que tem entre 12 e 18 anos de idade.[...] o Adolescente passa por desequilíbrios e instabilidade, extremas de acordo com o que conhecemos dele. Em nosso meio cultural, mostra-nos períodos de relação, de introversão, alternando com audácia, timidez, descoordenação, urgência, desinteresse ou apatia. (ABERASTURY, 2011, p.28)Para Aberastury, a adolescência é uma fase muito difícil, pois a pessoa ainda não sabe quem é então ela sai em busca de autoafirmação. É fundamental para todo ser humano sentir-se único para poder seguir seu desenvolvimento. O adolescente também precisa de uma afirmação de si mesmo e que, ao mesmo tempo, é vivenciada no coletivo, do sentimento de pertencer a um grupo e da identificação da “turma”. Alguns adolescentes podem apresentar comportamentos infantis, resultado do medo e da insegurança de deixar a dependência dos pais e assumir suas próprias escolhas e poder caminhar com certa autonomia.Ainda segundo este autor, as mudanças corporais nessa fase ficam muito evidenciadas: essas transformações são acompanhadas da modificação na voz (que fica mais grave), do crescimento ósseo (acompanhado do alargamento do tronco e dos ombros), do enrijecimento muscular, do aumento da oleosidade da pele (o que pode causar o aparecimento de acnes). Todas essas mudanças podem causar perplexidade ao adolescente fazendo com que ele se sinta desajeitado diante desse corpo que é seu, mas que lhe soa estranho.De certa maneira, o adolescente poderá passar por recorrentes crises depressivas e dos estados de luto e de tristeza típicos da preparação da adolescência (morte da infância). Um bom mundo interior surge de uma relação satisfatória com os pais internalizados e da capacidade criativa que eles proporcionam.Segundo a Psicologia Analítica, as transformações ocorrem primeiro na psique: uma mudança nos arquétipos do pai e da mãe que aparecem na infância, depois dão lugar para o arquétipo do herói, e por seu intermédio, oferece segurança para enfrentar situações e desafios novos.[...] Estão presentes em nosso desenvolvimento psíquico, encontrados nos antigos rituais de iniciação e passagem de um ciclo a outro: um mergulho no caos (abertura ao novo), uma morte simbólica (corte com formas cristalizadas e desatualizadas de relacionamento com nossa realidade interno-externa), e um renascimento (ampliação de consciência, inaugurando um novo ciclo). (BERNARDO, 2008, p.115).Essa fase também é marcada pela ativação dos arquétipos de anima (na psique do menino) e deanimus (na psique da menina), arquétipos responsáveis pelo relacionamento com o sexo oposto. É nesse ciclo que o adolescente pode se diferenciar dos pais, que até então eram modelos para ele, para poder ir ao encontro de sua própria identidade, fase essa chamada de alteridade, que vai permitir ao adolescente conhecer o outro, e sua contraparte.

PROCESSO CRIATIVO

O potencial criador elabora-se nos múltiplos níveis do ser sensível-cultural-consciente do homem, e se faz presente nos múltiplos caminhos em que o homem procura captar e configurar as realidades da vida. Os caminhos podem cristalizar-se em formas de comunicação, em ordenações concluídas, mas a criatividade como potência se refaz sempre. A produtividade do homem, em vez de se esgotar, liberando-se, amplia-se. (OSTROWER, 2012, p.27).Segundo Ostrower, se pensarmos no potencial criador num âmbito geral, perceberemos que temos um infinito mundo de possibilidades. Criamos e excluímos realidades e possibilidades o tempo todo, com isso muitas vezes desconstruímos nossas ideias para poder reconstruir novamente e assim seguimos como se estivéssemos sempre montando um quebra

cabeça. Quando unimos os aspectos em oposição surgem novas alternativas e, com elas, a diversificação, fazendo que o processo de transformação crie e recrie o tempo todo.Assim, através das vivências conseguimos unificar os potenciais criativos e integrá-los em nossa maneira de nos comunicarmos.

JUNG E ARTETERAPIA

Carl Gustav Jung nasceu na Suíça, em 26 de julho de 1875, e morreu a 6 de junho de 1961, aos 86 anos. De família religiosa, desde criança se interessou pela filosofia e por questões espirituais. Estudou medicina, dando grande atenção aos fenômenos psíquicos (GUIMARÃES, 1997). Após ter-se formado, dedicou-se a pesquisar o inconsciente e formulou uma nova teoria sobre esse tema: a Psicologia Analítica.Segundo Tonietto (2005), Jung denominou Psicologia Analítica ao conjunto de conhecimentos construídos a partir da sua prática clínica e de suas experiências vividas na pesquisa da psique e seus conteúdos. O maior interesse desse estudioso estava relacionado com o mistério da psique humana, fonte de todas as atividades do homem, às "moléstias da alma”, e às formas de superar e transformar enfermidades em instrumento de desenvolvimento da psique.Em sua teoria, Jung distingue na pessoa vários elementos, dentre eles: a consciência e o inconsciente coletivo, a persona, o ego, eu, o animus, ânimo e a sombra, e considera a personalidade como um ideal irrealizável. Diz que no mesmo indivíduo existem diversos aspectos diferentes e contraditórios.Para Jung, um conteúdo é consciente quando é conhecido ou reconhecido pelo ego e por inconsciente quando ocorre o oposto. De acordo com suas próprias palavras:Por consciência entendo a referência dos conteúdos psíquicos ao eu enquanto assim for entendida pelo eu. Referências ao eu, enquanto não entendidas como tais pelo eu, são inconscientes. (JUNG, O. C. VI, § 796).Outro modo de se entender o significado de consciente, segundo Jung, pode ser encontrado na explicação de Edinger:Parte do fenômeno da consciência diz respeito à discriminação entre sujeito e objeto. Estou ciente de que sou um ser consciente; sou o sujeito dessa consciência. Quando olho para o mundo, vejo objetos e, no processo de me separar da identificação com esses objetos, ocorre uma separação entre sujeito e objeto. Essa é a forma como a consciência se desenvolve, separando sujeito de objeto. (Edinger, 2004)Dentre os vários conceitos próprios da Psicologia Analítica, existe o do “eu”, ou “ego”, que é à base da consciência, isto é, o “centro subjetivo do senso de identidade do indivíduo” (Edinger, 2004), por isso, todo conteúdo da consciência deve se relacionar ao sujeito, ao ego. O ego é o centro da personalidade.Por sua vez, “sombra” é o nome que Jung deu para os aspectos da personalidade que são desconhecidos do indivíduo, isto é, os que não estão em sua consciência. São os traços “obscuros” do caráter ou da personalidade, mas que não significa que sejam unicamente fraquezas e defeitos, são todos os traços ou características que ficam fora do campo da consciência. Conscientizar-se da sombra é fundamental em todo processo de autoconhecimento (Tonietto, 2005).Também é essencial que conheçamos o significado de “persona” para podermos compreender a teoria de Jung. Para ele:A persona é um complicado sistema de relação entre a consciência individual e a sociedade; é uma espécie de máscara destinada, por um lado, a produzir um determinado efeito sobre os outros e por outro lado a ocultar a verdadeira natureza do indivíduo. (JUNG, O. C. VII, § 305).Além dos termos já colocados, há outro de fundamental importância para a Psicologia Analítica: a “anima”. Esse termo abrange as experiências importantes que o homem tem de uma mulher. O arquétipo da anima é formado pelo acúmulo da repressão das tendências femininas presentes no inconsciente do homem. Geralmente, o caráter da anima de um homem é “moldado” pela mãe.Não há homem algum tão exclusivamente masculino que não possua em si algo de feminino. (“...) A repressão das tendências e traços femininos determina um acúmulo dessas pretensões no inconsciente.” (JUNG, O. C. VII, § 297).Ao realizar suas pesquisas, Jung verificou que é por meio de símbolos que o inconsciente se expressa. De acordo com ele, os símbolos religiosos, como a cruz dos cristãos, a estrela de Davi dos judeus, o Dharma dos budistas, são imagens que estão presentes no inconsciente coletivo do ser humano.Enquanto o inconsciente pessoal consiste fundamentalmente de material reprimido e de complexos, o inconsciente coletivo é composto fundamentalmente de uma tendência para sensibilizar-se com certas imagens, ou melhor, símbolos que constelam sentimentos profundos de apelo universal, os arquétipos: da mesma forma que animais e homens parecem possuir atitudes inatas, chamadas de instintos, também é provável que em nosso psiquismo exista um material psíquico com alguma analogia com os instintos. Talvez, as imagens arquetípicas sejam algo como figurações dos próprios instintos, num nível mais sofisticado, psíquico. Assim, não é mais arriscado admitir a hipótese do inconsciente coletivo, comum a toda a humanidade, do que admitir a existência de instintos comuns a todos os seres vivos. (Guimarães, 1997).Posteriormente, estudos realizados sobre os trabalhos de Jung revelaram que a teoria dos símbolos, dos arquétipos do inconsciente coletivo, é de fundamental importância para compreensão dos mistérios da criação artística (aspecto que interessa ao nosso tema, a Arte terapia).Em seu livro “Tipos Psicológicos”, de 1921, Jung define duas disposições típicas da consciência: introvertida e extrovertida. O ser introvertido (metido consigo mesmo) comporta-se de maneira adequada à abstração (devaneios), sua imagem está sempre dirigida à situação não pública, isto é, privar-se de espectadores e dos objetos de desejos, como a impedir a supremacia do objeto, ao contrário do extrovertido, que se comporta positivamente em face do objeto, afirmando a sua significação de tal forma, que orientará sua atração existente no sujeito, ou seja, no individual e relacioná-la para si de modo constante.Outra temática famosa com respeito a Jung é a sua teoria dos "tipos psicológicos". Foi com base na análise da controvérsia entre as personalidades de Freud e outro seu discípulo famoso, e também dissidente, Alfred Adler, que Jung consegue delinear a tipologia do "introvertido" e do "extrovertido". Freud seria o "extrovertido", Adler, o "introvertido". Para o extrovertido, os acontecimentos externos são da máxima importância, ao nível consciente; em compensação, ao nível inconsciente, a atividade psíquica do extrovertido concentra-se no seu próprio eu. De modo inverso, para o introvertido o

que conta é a resposta subjetiva aos acontecimentos externos, ao passo que, a nível inconsciente, o introvertido é compelido para o mundo externo. (Guimarães, 1997)Esses dois tipos de indivíduos são distintos e o contraste é visível em sua existência, inclusive aos leigos. É comum em sociedade depararmo-nos com tais seres, tão diferentes, sendo que os de natureza fechada são difíceis de conhecer, pois sua timidez impede qualquer aproximação, aprofundamento, que por vezes não deixa o sujeito desenvolver suas capacidades; e, os de natureza aberta, são mais acessíveis, se relacionam bem em sociedade, em consequência, conseguem mais oportunidade em seu desenvolvimento.Jung vai mais adiante a sua obra “Tipos Psicológicos” (1921) dando características detalhadas dos introvertidos e extrovertidos, descrevendo-os até nos sentimentos, oferecendo um quadro circular, cuja disposição permite ao leitor observações e visão ampla nos processos da vida humana e de sua gênese.Para Jung (1920), “Arte é a expressão mais pura que há para a demonstração do inconsciente de cada um. É a liberdade de expressão, é sensibilidade, criatividade, é vida". Através deste processo, a energia psíquica consegue transformar-se em imagens e através dos símbolos, colocar seus conteúdos mais internos e profundos.A Arteterapia baseia-se na crença de que o processo criativo envolvido na atividade artística é terapêutico e enriquecedor da qualidade de vida das pessoas. Por meio do criar em arte e do refletir sobre os processos e os trabalhos artísticos resultantes, as pessoas podem ampliar o conhecimento de si e dos outros, aumentar a autoestima, lidar melhor com sintomas, estresse e experiências traumáticas, desenvolver recursos físicos, cognitivos, emocionais e desfrutar do prazer vitalizador do fazer artístico.

O PROCESSO ARTETERAPÊUTICO

O processo arteterapêutico é composto por oficinas, iremos citar apenas uma para exemplificar como a dinâmica acontece. O objetivo é proporcionar aos leitores, uma reflexão sobre sua maneira única de se apresentar ao mundo.O ponto principal da oficina é a atividade “Só eu sou Eu” (ALVAREZ, S.) Atividade de colagem apresentada em sala de aula.Geralmente os encontros iniciam-se com um lanche. É um momento de muita descontração, para que os adolescentes se conheçam. Nesse encontro é importante falar sobre os conceitos e princípios da arteterapia e também sobre o projeto e oficinas de criatividade. Os adolescentes são questionados sobre o significado de seus nomes e quem os nomeou. Neste primeiro encontro, é fornecido a cada um dos participantes uma caixa de madeira para que eles guardem seus trabalhos até a última oficina, ao término podem levá-la para casa. Os adolescentes decoram a caixa com vários materiais que ficam à disposição. A atividade de sensibilização-o totem do nome o que deve ser recortado e colado na caixa.A atividade “Só eu sou Eu” é um trabalho de imaginação do tamanho do universo, do planeta, do continente, do país, do estado e da cidade onde moram. Das 7 bilhões de pessoas que existem no mundo, ninguém é igual a ninguém. Cada participante recebe um boneco para servir de base da colagem e começam a procura pelas imagens. No momento em que eles começam a colagem, são questionados sobre a escolha das mesmas.Segundo Fuão, “a collage permite ver o que se esconde no interior de seu corpo, quando está desapropriado de sua falsa pele, sem sua representação fotográfica de seu narcisismo” (FUÃO, 2011, p.47).A atividade finaliza com os comentários dos adolescentes sobre o que o boneco representa.Segundo Scarpato, “intimidade não no sentido de contato com o conhecido, familiar, mas um espaço singular de abertura protegida pelo vínculo, onde podemos deixar vir o desconhecido em nós, o estranho, o novo”. (SCARPATO, 2011, p.107.)A atividade trabalha a maneira única de se apresentarem ao mundo. Chevalier & Gheerbrant falam sobre esses símbolos:O ar é o meio próprio da luz, do alçar vôo, do perfume, da cor, das vibrações interplanetárias; é a via de comunicação entre o céu e a terra [...], simbolicamente, a terra opõe-se ao céu como o princípio ativo; o aspecto feminino ao aspecto masculino da manifestação; a obscuridade à luz; o yin ao yang [...], a água é o símbolo das energias inconscientes, das virtudes informes da alma, das motivações secretas e desconhecidas [...] o fogo na qualidade de elemento que queima e consome, é também símbolo de purificação e de degenerescência. (CHEVALIER GHEERBRANT, 2007, p.21; 443; 68; 878)

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A proposta deste artigo foi aliar a Arteterapia como ferramenta para promover a possibilidade da comunicação inter e intrapessoal por meio da criatividade. A utilização das atividades criativas funcionam como uma ponte levando os adolescentes a exteriorizar seu mundo interno e dando-lhes liberdade para expressar suas alegrias, angústias e também revisitar seus valores, suas crenças e seus costumes. Avivar a criatividade desses adolescentes por meio da Arteterapia mostrando-lhes novos atributos, novas maneiras de pensar e de agir e de se relacionar consigo e com o outro poderá ajudá-los a proporcionar mudanças significativas para a melhoria do seu bem-estar e do ambiente onde vivem.Concluímos que o processo arteterapêutico, contribuiu para descobertas importantes para estes adolescentes. Faz-se necessário criar um espaço em que os adolescentes possam se expressar, falar de suas angústias, conflitos, medos e alegrias. As oficinas são encontros pontuais, em que os adolescentes podem se expressar através de palavras, sem medo de se expor, de ficar inseguro, e terem medo de que possam magoar alguém se falarem o que sentem.O processo arte terapêutico ajuda os adolescentes a perceberem questões que até então não haviam pensado. Muitos deles sofrem com a separação dos pais, com a perda da bisavó materna, por exemplo. Esses rompimentos incomodam muito. E quando o adolescente é muito sensível consegue perceber de maneira clara que os conflitos existem, principalmente entre seus pais e isso lhes causam chateação por sentir que às vezes as pessoas não são transparentes. Por outro lado, o processo arteterapêutico traz alegria para eles, pois se sentem confiantes nas profissionais que desenvolvem as oficinas, e conseguem compartilhar seus sentimentos.

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Page 16: REVISTA EXATTO MARÇO

RESUMO As Diretrizes Curriculares Nacionais de Educação Infantil e as propostas pedagógicas existentes devem considerar princípios estéticos, voltando-se para diferentes manifestações artísticas e culturais e que considerem a heterogeneidade cultural, étnica, religiosa, social do país. A música como linguagem organiza os signos sonoros no espaço e no tempo, trazendo a possibilidade de trazer reflexão ao ouvinte sobre o mundo. Assim, é fundamental assegurar o ensino da música entre as crianças para que as mesmas possam entender e construir seu cotidiano e parte do seu mundo a partir da linguagem sonora. Por isto, a presente pesquisa discute as implicações da musicalização na Educação Infantil no desenvolvimento das crianças da creche e pré-escola. Os resultados indicaram que o uso da música é de fundamental importância para o desenvolvimento sociocognitivo das mesmas, em interdisciplinaridade com outras áreas de conhecimento.

Palavras-chave: Educação Infantil; Musicalização; Desenvolvimento Infantil.

INTRODUÇÃO

As crianças se envolvem com os sons desde muito pequenas, sendo que alguns pesquisadores discutem que esse contato acontece desde a fase intrauterina. Quando chegam a fase escolar, uma das problemáticas é que determinadas experiências sonoras ficam muitas vezes reduzida a ajudar na organização de atividades relacionadas à ocasião do recreio e do asseio das crianças, ganhando aspectos de disciplinarização da infância. Assim, justifica-se o presente artigo a discussão sobre a importância da música e sua utilização na Educação Infantil, a fim de encontrar sua identidade e de distinguir o ambiente em que vive, utilizando os sons através de suas diferentes propriedades: altura, espaço, grau, timbre, sons; através de brincadeiras, cantaroladas, assobios, risos, gritos, ou seja, emitindo os mais diversos sons. Sabe-se que em relação à criança, a música é criada ao brincar com os sons, transformando ambientes. Outra problemática é a questão de que muitos docentes ainda não compreendem a importância do ensino de música, classificando algumas músicas como musiquinhas, e ainda músicas e sons produzidos pelas próprias crianças, considerando-os barulhos.Desta forma, temos como objetivo geral discutir as implicações da musicalização no processo da Educação Infantil; e como objetivos específicos discutir a legislação pertinente a inserção da música na Educação Infantil, bem como suas contribuições para o ensino da mesma e para o desenvolvimento sociocognitivo das crianças que frequentam essa etapa escolar.

A MÚSICA E A EDUCAÇÃO INFANTIL

Podemos destacar que as atividades desenvolvidas dentro da Educação Infantil são direcionadas entre outros documentos pelas Diretrizes Curriculares Nacionais, como discutido abaixo:

(...) a primeira etapa da educação básica, oferecida em creches e pré-escolas, às quais se caracterizam como espaços institucionais não domésticos que constituem estabelecimentos educacionais públicos ou privados que educam e cuidam de crianças de 0 a 5 anos de idade no período diurno, em jornada integral ou parcial, regulados e supervisionados por órgão competente do sistema de ensino e submetidos a controle social (DCNs, 2010, p.12).

Os docentes da Educação Infantil devem estar sempre atentos cem relação aqueles que classificam algumas músicas ouvidas pelas crianças como musiquinhas, tratando-se de forma revelando como as crianças são concebidas e, além disso, como são pensadas e realizadas as relações entre adultos e crianças em ambientes para a infância igualmente onde se toca músicas e sons que, ao serem realizados pelas próprias crianças, são ouvidos como barulhos, contrariando as regras do silêncio. A canção é essencial como brincadeira, como cultura e como contato com o folclore (GOBBI, 2010).Ainda, não se pode ignorar o contato com outros gêneros musicais, de outras culturas e, principalmente com os sons de todas as partes do mundo, considerando também o que a criança porta advindo de seu contexto social, familiar, cultural. A ideia central da Educação Infantil não é apenas colocar para a criança músicas já prontas, mas sim oferecer momentos de descobertas e construções sonoras, canto e invenção de canções. Ainda, objetos devem ser transformados em instrumentos musicais, enriquecendo o repertório musical através de práticas diferenciadas com as crianças.A sonorização de histórias, a escuta sonora, brincadeiras cantadas, percepção de sons, barulhos, ruídos, compõem a creche e pré-escola, sendo essenciais para estabelecer o tempo das crianças juntamente a outras linguagens e não como aula de música, o que tantas vezes é observado.As funções psicológicas superiores vão sendo desenvolvidas nas crianças de acordo com dois tipos de fenômenos: as transformações psíquicas como o desenvolvimento da fala, da escrita e do desenho, por exemplo; e os processos de desenvolvimento das funções relacionadas à memória, julgamento, concentração e inteligência conceitual (TULESKI e EIDT, 2016).Ou seja, a música, se torna um estimulo primordial para o desenvolvimento cerebral da criança. Culturalmente é comum o hábito de cantar e dançar para os bebês, auxiliando tanto no aprendizado musical, quanto no desenvolvimento da afetividade, da socialização e da aquisição da linguagem.Por fim, a educação é um processo contínuo e evolutivo, e deve ser pautado principalmente na criança, tornando-se necessário evidenciar este processo já na educação infantil, caracterizada por ser uma fase relevante no desenvolvimento humano. Deve-se conceber a criança como um ser social e histórico, sendo que a aprendizagem nessa esfera se dá pelas interações entre a criança e o mundo a sua volta. Observa-se, portanto diferentes orientações didáticas, que presam a utilização dos jogos e brincadeiras, além de atividades que envolvam o reconhecimento do próprio corpo, do corpo do outro, da música, da dança e da imitação gestual.

A LEGISLAÇÃO NA EDUCAÇÃO INFANTIL

A Lei Nacional nº 11.769/2008, trouxe a educação em música como obrigatória, alterando o artigo 26 da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDBEN nº 9394/1996), trazendo o convite de se repensar nas práticas artísticas como as artes visuais, a dança, o teatro e a música. A música foi considerada uma área de competência que requer estudo, prática, reflexão e diversidade, devendo existir no Projeto Político Pedagógico da escola. Além disso, ela deve constar nos planejamentos pedagógicos, ser trabalhada interdisciplinarmente, contribuindo para o desenvolvimento cognitivo e pleno de crianças e adolescentes. Já as Diretrizes Nacionais para a operacionalização do Ensino da Música na Educação Básica (CNE/CEB nº 12/2013 de 04/12/2013) trouxeram a urgência de um currículo que contemplasse uma matriz de saberes para o ensino de música, constituindo-se em uma ferramenta que contribui para o trabalho do docente especialista e não especialista desenvolvendo a Educação Musical na Educação Básica e, especialmente na Educação Infantil.Outra mudança na educação ocorreu com a chegada da Base Nacional Comum Curricular (BNCC), documento orientador para que ocorra a equidade nos sistemas de ensino do Brasil inteiro. No caso da música:

A Música é a expressão artística que se materializa por meio dos sons, que ganham forma, sentido e significado no âmbito tanto da sensibilidade subjetiva quanto das interações sociais, como resultado de saberes e valores diversos estabelecidos no domínio da cultura. A ampliação e a produção dos conhecimentos musicais passam pela percepção, experimentação, reprodução, manipulação e criação de materiais sonoros diversos, dos mais próximos aos mais distantes da cultura musical dos alunos. Esse processo lhes possibilita vivenciar a música inter-relacionada à diversidade e desenvolver saberes musicais fundamentais para a sua inserção e participação crítica e ativa na sociedade (BNCC, 2017, p. 154).

No caso da BNCC voltada para a Educação Infantil, esta ampliou a jornada destinada às experiências, envolvendo a Arte como um todo e suas linguagens, trazendo a música como elemento obrigatório desde a infância. Neste sentido, as discussões do trabalho docente têm ocorrido de forma significativa, a fim de trazer métodos adequados ao trabalho com a primeira infância (BRASIL, 2019).Ainda, de acordo com Mendes (2009), os documentos orientadores da Educação Infantil, trazem a importância do trabalho com a linguagem musical utilizando-se de improvisações, de estudos corporais, da escuta de sons e música, da construção de instrumentos musicais, gerando e pensando em música. É através da música que a criança aprende a se expressar. A escola deve desenvolver potencialidades apresentando sua parte poética, sua composição e sua diversidade. Uma combinação entre os deleites que a música promove demonstram a importância para o desenvolvimento cognitivo e educacional das crianças.Por fim, o Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil traz a expressão corporal como uma das linguagens que devem ser trabalhadas nesse período, permitindo assim a criança a tomar consciência de si mesma, expressando e conhecendo o mundo à sua volta. A música pode contribuir para a exploração de diversas formas de como sentir o corpo proporciona às crianças o conhecimento de suas características, limitações e formas de expressão: “a riqueza de possibilidades da linguagem corporal revela um universo a ser vivenciado, conhecido, desfrutado” (AYOUB, 2001, p. 57), pois, o movimento corporal é a essência das crianças.A criança expressa-se principalmente através da fala e da dança, movimentando-se corporalmente. Assim:

É com o corpo que a criança elabora todas as suas experiências vitais, e organiza toda a sua personalidade. Através dele ela percebe o mundo, e perceber o mundo é aprender (e reaprender) com seu próprio corpo; perceber o mundo, portanto, é perceber o corpo; o corpo é assim, sensação, percepção e ação (STEUCK, 2008, p. 13-14).

MÚSICA E AS CRIANÇAS

A música organiza os signos sonoros no espaço e no tempo; e de acordo com as pesquisas voltadas para a origem da música e a sua importância para as relações sociais, elas vêm sendo aprofundadas desde o século XX, buscando explicações na biologia, na sociologia e na antropologia (MARIANO, 2015).A criança logo cedo costuma ter contato com a música. Inicialmente com sua mãe cantarolando com voz doce e suave, crescendo e percebendo que o mundo ao seu redor é regido pela musicalidade. A música está presente em diversos lugares e momentos, seja nas músicas de embalar, nas brincadeiras, nos brinquedos sonoros, nas danças, entre outras ações, podendo marcar afetivamente determinados momentos. Assim, de acordo com Nogueira (2003), a música está no nosso dia a dia, nos costumes e nas tradições de uma dada sociedade, nas festas e recordações especiais. Ou seja, a música contribui para a fixação de algumas regras, possibilitando diferentes aprendizados.A começar do nascimento entramos em contato com os sons, desde que nascemos estamos predispostos aos sons e composições, iniciando assim o mundo da linguagem. Por isso, essa relação prematura favorece o desenvolvimento de nossas aptidões cognitivas, linguísticas e motoras (SIMIONATO e TOURINHO, 2007). Para Brito (2003), a criança quando escuta música não quer dizer que abraça regras ou nota especificidades, mas sim vive aquele momento de aprendizagem. Por isso, a criança ao ter contato com a música deve determinadas certas capacidades, diferenciando o escutar, os diferentes tipos de sons e as diferenças culturais existentes. Existindo a possiblidade de ampliar as formas de comunicação e expressão, desenvolve-se ainda uma boa comunicação: “A importância do ensino de música na escola reside, então, na possibilidade de despertar habilidades e condutas na criança, levando-a a sentir- se sensibilizada pela música valendo-se da criação e da livre expressão” (LOUREIRO, 2003, p.1).Assim, a utilização da música na Educação Infantil desenvolve as potencialidades das crianças e deve respeitar sua individualidade, seu contexto cultural, étnico, religioso, entre outros aspectos, concebendo a criança como um ser único que apresenta características peculiares e que precisa desenvolver diferentes habilidades e linguagens para interagir com o mundo que a cerca. Sabe-se que a metodologia principal na Educação Infantil é a ludicidade, porém é preciso desenvolver outras aprendizagens e a Arte nesse sentido pode trazer boas contribuições dentro desta proposta. Ainda, nessa etapa de escolaridade, é necessário dispor de ferramentas e práticas que trabalhem a diversidade e o contexto da criança, explorando as suas potencialidades. O ensino da música envolve a construção do sujeito musical, a partir da constituição da linguagem. Esta transforma a criança, no que se refere à percepção, as formas de pensar, agir e interagir com o mundo e com os outros. Por fim, a música enquanto linguagem organiza os signos sonoros no espaço e no tempo, motivo pelo qual constitui-se como possibilidade de trazer reflexão ao ouvinte sobre o mundo, sobre o trabalho docente e principalmente o desenvolvimento das crianças, para que ela cresça plena e feliz, inclusive.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

De acordo com a pesquisa realizada, foi possível perceber que a musicalização na Educação Infantil tem por objetivo estimular o desenvolvimento global da criança, integrando sua individualidade, seu contexto socioeconômico, cultural, étnico, entre outros, concebendo a criança como um ser único que apresenta características peculiares e que interage com outras crianças e adultos.A musicalização, assim como outras formas de arte e a ludicidade, são a base da Educação Infantil. Para que o trabalho com música se torne viável nesta fase escolar, é necessário pensar em ferramentas e práticas trabalhando a diversidade e o contexto da criança, explorando assim suas potencialidades. O ensino da música envolve a construção do indivíduo musical, a partir da constituição da linguagem da música. O uso desse tipo de conceito transforma a criança, no que se referem à percepção, formas de agir e pensar, quanto os aspectos subjetivos. A escola é o primeiro ambiente no qual a criança vem a estabelecer suas relações sociais foram do ciclo familiar, essa situação nova na vida infantil deve ser acompanhada para que ao oferecer à criança um novo mundo diverso, repleto de situações na qual tenha que elaborar novos mecanismos de compreensão de fatos, conceitos e atitudes ela se sinta acolhida e atendida em meio a esse novo desafio, onde a criança que ingressa na vida escolar em meio a essa ampliação de relações possa construir sua concepção social do mundo.Ainda, a música pode contribuir como uma possibilidade de compreender através do embasamento teórico a forma com que as crianças constroem as suas relações sociais do nascimento até o momento da primeira infância, através de meios a princípio físicos e posteriormente através de aspectos mais subjetivos definidos como emoções, desejos e sentimentos.Assim, a música como ferramenta dinâmica na Educação Infantil, auxiliar no trabalho docente e na aprendizagem das crianças, trazendo a oportunidade do docente trabalhar a diversidade em sala de aula e desenvolvendo diferentes habilidades nos pequenos. Mesmo que haja docentes que ainda se espelham em modelos pedagógicos mais tradicionais, seguindo determinadas regras e formas de comportamento, de acordo com a pesquisa a maioria dos docentes ainda acredita que a afetividade, a ludicidade e a utilização da música são as melhores formas de se relacionar com as crianças podendo desenvolver a

comunicação oral e dialética conforme proporcione respeito e liberdade de ideias e conhecimentos prévios das crianças.Além disso, outra contribuição do uso da música durante a Educação Infantil é que esse período é um momento em que a criança experimenta, ajusta e constrói movimentos corporais provenientes da interação com os demais colegas. E a música pode desenvolver isso, por exemplo, através da dança, desenvolvendo a autonomia corporal e de ter contato com diferentes vivências e movimentos corporais provenientes da cultura a seu redor. Assim, na Educação Infantil é necessário desenvolver uma pedagogia que organize o fazer o pedagógico em torno de diferentes linguagens as quais a criança utiliza para expressar e se comunicar com o mundo que a cerca.

REFERÊNCIAS

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RESUMO O objetivo deste artigo é refletir sobre a importância da Arteterapia como ferramenta para desenvolver a comunicação inter e intrapessoal do adolescente por meio da criatividade. Com os instrumentos da Arteterapia buscou-se auxiliar os adolescentes a desenvolver a comunicação inter e intrapessoal, assim como aflorar suas potencialidades e criatividade por meio de estímulos artísticos. A Arteterapia cria recursos de expressão e criatividade que possibilitam que o adolescente libere suas emoções, seus conflitos e angústias. Possibilita que o adolescente seja capaz de enxergar esses conflitos e assim equalizar sua mente ao seu corpo, melhorando sua qualidade de vida. Através das bibliografias que envolvem o tema foi possível compreender que cada ser humano tem seu potencial individualizado; que a arte é capaz de transformar e resgatar esse potencial criativo e assim possibilitar a expressão e o autoconhecimento.

Palavras-chave: Arteterapia; Adolescente; Comunicação

INTRODUÇÃO

Este artigo propõe discutir a importância da Arteterapia no processo de manifestação da criatividade dos adolescentes. Nesse processo, os potenciais criativos são resgatados através de mediadores, tais como: música (como recurso que restaura a expressão de corpo, mente e alma); mandalas (como orientador no processo criativo); pintura (como facilitador para trazer vivências do inconsciente para o consciente); desenhos (como recurso de exteriorizar medos e angústias por meio de símbolos); dança (como vivência individual ou em grupo, ajudando assim na integração dos conteúdos internos da psique e facilitando a expressão individual); escultura e colagem (como recurso de dar forma a sentimentos e sensações). Além disso, por meio desses recursos, busca-se facilitar a comunicação da expressão emocional e aprofundar o conhecimento interno.A artista plástica polonesa Fayga Ostrower, em seu livro Criatividade e processo de criação, afirma que:O potencial criador elabora-se nos múltiplos níveis do ser sensível-cultural-consciente do homem, e se faz presente nos múltiplos caminhos em que o homem procura captar e configurar as realidades da vida. Os caminhos podem cristalizar-se em formas de comunicação, em ordenações concluídas, mas a criatividade como potência se refaz sempre. A produtividade do homem, em vez de se esgotar, liberando-se, amplia-se. (OSTROWER, 2012, p.27).O criar em Arteterapia através dos recursos que ela apresenta tais como a imaginação e o simbolismo das metáforas, acaba facilitando a comunicação na expressão emocional e aprofunda o conhecimento interno trazendo assim do inconsciente todo seu potencial criativo.Na sociedade contemporânea, a conexão com o sentido simbólico e iniciático do rito de passagem foi perdida. Por isso, se faz importante, principalmente para o adolescente, a reflexão sobre as etapas e passagens que ele enfrenta na vida.Nesse sentido, a Arteterapia pode ajudar a vivenciar esses processos de transformação.[...] no dinamismo de alteridade, que corresponde à época da adolescência, os opostos são relacionados de maneira igualitária e dialética, sendo vivenciados como aspectos diferentes de uma mesma realidade. Essa fase é voltada para o relacionamento com o outro e com a própria contraparte sexual, sendo, portanto, regidos pelos arquétipos da Anima (que corresponde aos aspectos do feminino na alma masculina), do Animus (que corresponde aos aspectos masculinos na alma feminina), e do Coniunctio (que se refere à conjunção de opostos, a reunião dessas duas “metades” num todo que as congrega e abrange como partes de uma única e indivisa realidade), caracterizando-se “por sua capacidade criativa face ao confronto dos opostos” (BYINGTON, 1983, p. 24, apud BERNARDO, 2012, p.38).A autora traz a importância do autoconhecimento para união dos opostos, na verdade sua integração ajuda o adolescente a entrar em contato com seu inconsciente sem perder a consciência no processo. Com isso consegue-se, por meio da arte, avivar no adolescente seus conhecimentos, descobrindo um mundo infinito de possibilidades ao trabalhar suas emoções, e assim levá-los a olhar para si de maneira inteira. Mostrar para eles, por meio dos trabalhos, que não existe feio ou bonito, que nada é rígido, que tudo pode ser transformado pela busca interior.Assim sendo, o objetivo geral deste artigo é desenvolver a comunicação inter e intrapessoal do adolescente por meio da

criatividade.

COMUNICAÇÃO INTER E INTRAPESSOAL

Existem vários tipos de comunicação, e as pessoas podem comunicar-se pelo código Morse, pela escrita, por gestos, pelo telefone, etc.; uma empresa, uma administração, até mesmo um Estado, podem comunicar-se com seus membros por intermédio de circulares, cartazes, mensagens radiofônicas ou televisionadas, etc.Toda comunicação tem por objetivo a transmissão de uma mensagem [...]. (VANOYE, 2011, p.1]A comunicação é um processo de troca de informações entre os seres das mais diversas maneiras. É um processo que envolve uma codificação, isto é, a formação de um código, e a decodificação, a busca do entendimento deste código, em forma de mensagens que permitem a troca de informações entre os indivíduos. Não há só a comunicação verbal, há vários tipos de comunicação e cada um deles tem características que o diferencia e o integra ao todo. (VANOYE, 2011, p.1).Segundo o Dicionário de Comunicação, a palavra comunicação deriva do latim communicare, cujo significado seria: “tornar comum”, “partilhar”, “repartir”, “associar”, “trocar opiniões”, “conferenciar”. Comunicar implica participação [...], em interação, em troca de mensagens, em emissão ou recebimento de informações novas. (RABAÇA & BARBOSA, 1995, p.151).Neste artigo, enfocamos as comunicações inter e intrapessoal. A comunicação interpessoal pode ser definida como aquela que acontece de alguém para alguém. (RABAÇA E BARBOSA, 1995, p.166). Já a comunicação intrapessoal é aquela que ocorre dentro de alguém. Está relacionada com as ideias e desejos do indivíduo; é a sua voz interior. Dessa forma, a comunicação intrapessoal é extremamente importante uma vez que representa o diálogo interno.

ADOLESCÊNCIA

A adolescência é a fase que marca a passagem entre a infância e a idade adulta. Segundo o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), é considerado adolescente aquele que tem entre 12 e 18 anos de idade.[...] o Adolescente passa por desequilíbrios e instabilidade, extremas de acordo com o que conhecemos dele. Em nosso meio cultural, mostra-nos períodos de relação, de introversão, alternando com audácia, timidez, descoordenação, urgência, desinteresse ou apatia. (ABERASTURY, 2011, p.28)Para Aberastury, a adolescência é uma fase muito difícil, pois a pessoa ainda não sabe quem é então ela sai em busca de autoafirmação. É fundamental para todo ser humano sentir-se único para poder seguir seu desenvolvimento. O adolescente também precisa de uma afirmação de si mesmo e que, ao mesmo tempo, é vivenciada no coletivo, do sentimento de pertencer a um grupo e da identificação da “turma”. Alguns adolescentes podem apresentar comportamentos infantis, resultado do medo e da insegurança de deixar a dependência dos pais e assumir suas próprias escolhas e poder caminhar com certa autonomia.Ainda segundo este autor, as mudanças corporais nessa fase ficam muito evidenciadas: essas transformações são acompanhadas da modificação na voz (que fica mais grave), do crescimento ósseo (acompanhado do alargamento do tronco e dos ombros), do enrijecimento muscular, do aumento da oleosidade da pele (o que pode causar o aparecimento de acnes). Todas essas mudanças podem causar perplexidade ao adolescente fazendo com que ele se sinta desajeitado diante desse corpo que é seu, mas que lhe soa estranho.De certa maneira, o adolescente poderá passar por recorrentes crises depressivas e dos estados de luto e de tristeza típicos da preparação da adolescência (morte da infância). Um bom mundo interior surge de uma relação satisfatória com os pais internalizados e da capacidade criativa que eles proporcionam.Segundo a Psicologia Analítica, as transformações ocorrem primeiro na psique: uma mudança nos arquétipos do pai e da mãe que aparecem na infância, depois dão lugar para o arquétipo do herói, e por seu intermédio, oferece segurança para enfrentar situações e desafios novos.[...] Estão presentes em nosso desenvolvimento psíquico, encontrados nos antigos rituais de iniciação e passagem de um ciclo a outro: um mergulho no caos (abertura ao novo), uma morte simbólica (corte com formas cristalizadas e desatualizadas de relacionamento com nossa realidade interno-externa), e um renascimento (ampliação de consciência, inaugurando um novo ciclo). (BERNARDO, 2008, p.115).Essa fase também é marcada pela ativação dos arquétipos de anima (na psique do menino) e deanimus (na psique da menina), arquétipos responsáveis pelo relacionamento com o sexo oposto. É nesse ciclo que o adolescente pode se diferenciar dos pais, que até então eram modelos para ele, para poder ir ao encontro de sua própria identidade, fase essa chamada de alteridade, que vai permitir ao adolescente conhecer o outro, e sua contraparte.

PROCESSO CRIATIVO

O potencial criador elabora-se nos múltiplos níveis do ser sensível-cultural-consciente do homem, e se faz presente nos múltiplos caminhos em que o homem procura captar e configurar as realidades da vida. Os caminhos podem cristalizar-se em formas de comunicação, em ordenações concluídas, mas a criatividade como potência se refaz sempre. A produtividade do homem, em vez de se esgotar, liberando-se, amplia-se. (OSTROWER, 2012, p.27).Segundo Ostrower, se pensarmos no potencial criador num âmbito geral, perceberemos que temos um infinito mundo de possibilidades. Criamos e excluímos realidades e possibilidades o tempo todo, com isso muitas vezes desconstruímos nossas ideias para poder reconstruir novamente e assim seguimos como se estivéssemos sempre montando um quebra

cabeça. Quando unimos os aspectos em oposição surgem novas alternativas e, com elas, a diversificação, fazendo que o processo de transformação crie e recrie o tempo todo.Assim, através das vivências conseguimos unificar os potenciais criativos e integrá-los em nossa maneira de nos comunicarmos.

JUNG E ARTETERAPIA

Carl Gustav Jung nasceu na Suíça, em 26 de julho de 1875, e morreu a 6 de junho de 1961, aos 86 anos. De família religiosa, desde criança se interessou pela filosofia e por questões espirituais. Estudou medicina, dando grande atenção aos fenômenos psíquicos (GUIMARÃES, 1997). Após ter-se formado, dedicou-se a pesquisar o inconsciente e formulou uma nova teoria sobre esse tema: a Psicologia Analítica.Segundo Tonietto (2005), Jung denominou Psicologia Analítica ao conjunto de conhecimentos construídos a partir da sua prática clínica e de suas experiências vividas na pesquisa da psique e seus conteúdos. O maior interesse desse estudioso estava relacionado com o mistério da psique humana, fonte de todas as atividades do homem, às "moléstias da alma”, e às formas de superar e transformar enfermidades em instrumento de desenvolvimento da psique.Em sua teoria, Jung distingue na pessoa vários elementos, dentre eles: a consciência e o inconsciente coletivo, a persona, o ego, eu, o animus, ânimo e a sombra, e considera a personalidade como um ideal irrealizável. Diz que no mesmo indivíduo existem diversos aspectos diferentes e contraditórios.Para Jung, um conteúdo é consciente quando é conhecido ou reconhecido pelo ego e por inconsciente quando ocorre o oposto. De acordo com suas próprias palavras:Por consciência entendo a referência dos conteúdos psíquicos ao eu enquanto assim for entendida pelo eu. Referências ao eu, enquanto não entendidas como tais pelo eu, são inconscientes. (JUNG, O. C. VI, § 796).Outro modo de se entender o significado de consciente, segundo Jung, pode ser encontrado na explicação de Edinger:Parte do fenômeno da consciência diz respeito à discriminação entre sujeito e objeto. Estou ciente de que sou um ser consciente; sou o sujeito dessa consciência. Quando olho para o mundo, vejo objetos e, no processo de me separar da identificação com esses objetos, ocorre uma separação entre sujeito e objeto. Essa é a forma como a consciência se desenvolve, separando sujeito de objeto. (Edinger, 2004)Dentre os vários conceitos próprios da Psicologia Analítica, existe o do “eu”, ou “ego”, que é à base da consciência, isto é, o “centro subjetivo do senso de identidade do indivíduo” (Edinger, 2004), por isso, todo conteúdo da consciência deve se relacionar ao sujeito, ao ego. O ego é o centro da personalidade.Por sua vez, “sombra” é o nome que Jung deu para os aspectos da personalidade que são desconhecidos do indivíduo, isto é, os que não estão em sua consciência. São os traços “obscuros” do caráter ou da personalidade, mas que não significa que sejam unicamente fraquezas e defeitos, são todos os traços ou características que ficam fora do campo da consciência. Conscientizar-se da sombra é fundamental em todo processo de autoconhecimento (Tonietto, 2005).Também é essencial que conheçamos o significado de “persona” para podermos compreender a teoria de Jung. Para ele:A persona é um complicado sistema de relação entre a consciência individual e a sociedade; é uma espécie de máscara destinada, por um lado, a produzir um determinado efeito sobre os outros e por outro lado a ocultar a verdadeira natureza do indivíduo. (JUNG, O. C. VII, § 305).Além dos termos já colocados, há outro de fundamental importância para a Psicologia Analítica: a “anima”. Esse termo abrange as experiências importantes que o homem tem de uma mulher. O arquétipo da anima é formado pelo acúmulo da repressão das tendências femininas presentes no inconsciente do homem. Geralmente, o caráter da anima de um homem é “moldado” pela mãe.Não há homem algum tão exclusivamente masculino que não possua em si algo de feminino. (“...) A repressão das tendências e traços femininos determina um acúmulo dessas pretensões no inconsciente.” (JUNG, O. C. VII, § 297).Ao realizar suas pesquisas, Jung verificou que é por meio de símbolos que o inconsciente se expressa. De acordo com ele, os símbolos religiosos, como a cruz dos cristãos, a estrela de Davi dos judeus, o Dharma dos budistas, são imagens que estão presentes no inconsciente coletivo do ser humano.Enquanto o inconsciente pessoal consiste fundamentalmente de material reprimido e de complexos, o inconsciente coletivo é composto fundamentalmente de uma tendência para sensibilizar-se com certas imagens, ou melhor, símbolos que constelam sentimentos profundos de apelo universal, os arquétipos: da mesma forma que animais e homens parecem possuir atitudes inatas, chamadas de instintos, também é provável que em nosso psiquismo exista um material psíquico com alguma analogia com os instintos. Talvez, as imagens arquetípicas sejam algo como figurações dos próprios instintos, num nível mais sofisticado, psíquico. Assim, não é mais arriscado admitir a hipótese do inconsciente coletivo, comum a toda a humanidade, do que admitir a existência de instintos comuns a todos os seres vivos. (Guimarães, 1997).Posteriormente, estudos realizados sobre os trabalhos de Jung revelaram que a teoria dos símbolos, dos arquétipos do inconsciente coletivo, é de fundamental importância para compreensão dos mistérios da criação artística (aspecto que interessa ao nosso tema, a Arte terapia).Em seu livro “Tipos Psicológicos”, de 1921, Jung define duas disposições típicas da consciência: introvertida e extrovertida. O ser introvertido (metido consigo mesmo) comporta-se de maneira adequada à abstração (devaneios), sua imagem está sempre dirigida à situação não pública, isto é, privar-se de espectadores e dos objetos de desejos, como a impedir a supremacia do objeto, ao contrário do extrovertido, que se comporta positivamente em face do objeto, afirmando a sua significação de tal forma, que orientará sua atração existente no sujeito, ou seja, no individual e relacioná-la para si de modo constante.Outra temática famosa com respeito a Jung é a sua teoria dos "tipos psicológicos". Foi com base na análise da controvérsia entre as personalidades de Freud e outro seu discípulo famoso, e também dissidente, Alfred Adler, que Jung consegue delinear a tipologia do "introvertido" e do "extrovertido". Freud seria o "extrovertido", Adler, o "introvertido". Para o extrovertido, os acontecimentos externos são da máxima importância, ao nível consciente; em compensação, ao nível inconsciente, a atividade psíquica do extrovertido concentra-se no seu próprio eu. De modo inverso, para o introvertido o

que conta é a resposta subjetiva aos acontecimentos externos, ao passo que, a nível inconsciente, o introvertido é compelido para o mundo externo. (Guimarães, 1997)Esses dois tipos de indivíduos são distintos e o contraste é visível em sua existência, inclusive aos leigos. É comum em sociedade depararmo-nos com tais seres, tão diferentes, sendo que os de natureza fechada são difíceis de conhecer, pois sua timidez impede qualquer aproximação, aprofundamento, que por vezes não deixa o sujeito desenvolver suas capacidades; e, os de natureza aberta, são mais acessíveis, se relacionam bem em sociedade, em consequência, conseguem mais oportunidade em seu desenvolvimento.Jung vai mais adiante a sua obra “Tipos Psicológicos” (1921) dando características detalhadas dos introvertidos e extrovertidos, descrevendo-os até nos sentimentos, oferecendo um quadro circular, cuja disposição permite ao leitor observações e visão ampla nos processos da vida humana e de sua gênese.Para Jung (1920), “Arte é a expressão mais pura que há para a demonstração do inconsciente de cada um. É a liberdade de expressão, é sensibilidade, criatividade, é vida". Através deste processo, a energia psíquica consegue transformar-se em imagens e através dos símbolos, colocar seus conteúdos mais internos e profundos.A Arteterapia baseia-se na crença de que o processo criativo envolvido na atividade artística é terapêutico e enriquecedor da qualidade de vida das pessoas. Por meio do criar em arte e do refletir sobre os processos e os trabalhos artísticos resultantes, as pessoas podem ampliar o conhecimento de si e dos outros, aumentar a autoestima, lidar melhor com sintomas, estresse e experiências traumáticas, desenvolver recursos físicos, cognitivos, emocionais e desfrutar do prazer vitalizador do fazer artístico.

O PROCESSO ARTETERAPÊUTICO

O processo arteterapêutico é composto por oficinas, iremos citar apenas uma para exemplificar como a dinâmica acontece. O objetivo é proporcionar aos leitores, uma reflexão sobre sua maneira única de se apresentar ao mundo.O ponto principal da oficina é a atividade “Só eu sou Eu” (ALVAREZ, S.) Atividade de colagem apresentada em sala de aula.Geralmente os encontros iniciam-se com um lanche. É um momento de muita descontração, para que os adolescentes se conheçam. Nesse encontro é importante falar sobre os conceitos e princípios da arteterapia e também sobre o projeto e oficinas de criatividade. Os adolescentes são questionados sobre o significado de seus nomes e quem os nomeou. Neste primeiro encontro, é fornecido a cada um dos participantes uma caixa de madeira para que eles guardem seus trabalhos até a última oficina, ao término podem levá-la para casa. Os adolescentes decoram a caixa com vários materiais que ficam à disposição. A atividade de sensibilização-o totem do nome o que deve ser recortado e colado na caixa.A atividade “Só eu sou Eu” é um trabalho de imaginação do tamanho do universo, do planeta, do continente, do país, do estado e da cidade onde moram. Das 7 bilhões de pessoas que existem no mundo, ninguém é igual a ninguém. Cada participante recebe um boneco para servir de base da colagem e começam a procura pelas imagens. No momento em que eles começam a colagem, são questionados sobre a escolha das mesmas.Segundo Fuão, “a collage permite ver o que se esconde no interior de seu corpo, quando está desapropriado de sua falsa pele, sem sua representação fotográfica de seu narcisismo” (FUÃO, 2011, p.47).A atividade finaliza com os comentários dos adolescentes sobre o que o boneco representa.Segundo Scarpato, “intimidade não no sentido de contato com o conhecido, familiar, mas um espaço singular de abertura protegida pelo vínculo, onde podemos deixar vir o desconhecido em nós, o estranho, o novo”. (SCARPATO, 2011, p.107.)A atividade trabalha a maneira única de se apresentarem ao mundo. Chevalier & Gheerbrant falam sobre esses símbolos:O ar é o meio próprio da luz, do alçar vôo, do perfume, da cor, das vibrações interplanetárias; é a via de comunicação entre o céu e a terra [...], simbolicamente, a terra opõe-se ao céu como o princípio ativo; o aspecto feminino ao aspecto masculino da manifestação; a obscuridade à luz; o yin ao yang [...], a água é o símbolo das energias inconscientes, das virtudes informes da alma, das motivações secretas e desconhecidas [...] o fogo na qualidade de elemento que queima e consome, é também símbolo de purificação e de degenerescência. (CHEVALIER GHEERBRANT, 2007, p.21; 443; 68; 878)

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A proposta deste artigo foi aliar a Arteterapia como ferramenta para promover a possibilidade da comunicação inter e intrapessoal por meio da criatividade. A utilização das atividades criativas funcionam como uma ponte levando os adolescentes a exteriorizar seu mundo interno e dando-lhes liberdade para expressar suas alegrias, angústias e também revisitar seus valores, suas crenças e seus costumes. Avivar a criatividade desses adolescentes por meio da Arteterapia mostrando-lhes novos atributos, novas maneiras de pensar e de agir e de se relacionar consigo e com o outro poderá ajudá-los a proporcionar mudanças significativas para a melhoria do seu bem-estar e do ambiente onde vivem.Concluímos que o processo arteterapêutico, contribuiu para descobertas importantes para estes adolescentes. Faz-se necessário criar um espaço em que os adolescentes possam se expressar, falar de suas angústias, conflitos, medos e alegrias. As oficinas são encontros pontuais, em que os adolescentes podem se expressar através de palavras, sem medo de se expor, de ficar inseguro, e terem medo de que possam magoar alguém se falarem o que sentem.O processo arte terapêutico ajuda os adolescentes a perceberem questões que até então não haviam pensado. Muitos deles sofrem com a separação dos pais, com a perda da bisavó materna, por exemplo. Esses rompimentos incomodam muito. E quando o adolescente é muito sensível consegue perceber de maneira clara que os conflitos existem, principalmente entre seus pais e isso lhes causam chateação por sentir que às vezes as pessoas não são transparentes. Por outro lado, o processo arteterapêutico traz alegria para eles, pois se sentem confiantes nas profissionais que desenvolvem as oficinas, e conseguem compartilhar seus sentimentos.

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Page 17: REVISTA EXATTO MARÇO

RESUMO As Diretrizes Curriculares Nacionais de Educação Infantil e as propostas pedagógicas existentes devem considerar princípios estéticos, voltando-se para diferentes manifestações artísticas e culturais e que considerem a heterogeneidade cultural, étnica, religiosa, social do país. A música como linguagem organiza os signos sonoros no espaço e no tempo, trazendo a possibilidade de trazer reflexão ao ouvinte sobre o mundo. Assim, é fundamental assegurar o ensino da música entre as crianças para que as mesmas possam entender e construir seu cotidiano e parte do seu mundo a partir da linguagem sonora. Por isto, a presente pesquisa discute as implicações da musicalização na Educação Infantil no desenvolvimento das crianças da creche e pré-escola. Os resultados indicaram que o uso da música é de fundamental importância para o desenvolvimento sociocognitivo das mesmas, em interdisciplinaridade com outras áreas de conhecimento.

Palavras-chave: Educação Infantil; Musicalização; Desenvolvimento Infantil.

INTRODUÇÃO

As crianças se envolvem com os sons desde muito pequenas, sendo que alguns pesquisadores discutem que esse contato acontece desde a fase intrauterina. Quando chegam a fase escolar, uma das problemáticas é que determinadas experiências sonoras ficam muitas vezes reduzida a ajudar na organização de atividades relacionadas à ocasião do recreio e do asseio das crianças, ganhando aspectos de disciplinarização da infância. Assim, justifica-se o presente artigo a discussão sobre a importância da música e sua utilização na Educação Infantil, a fim de encontrar sua identidade e de distinguir o ambiente em que vive, utilizando os sons através de suas diferentes propriedades: altura, espaço, grau, timbre, sons; através de brincadeiras, cantaroladas, assobios, risos, gritos, ou seja, emitindo os mais diversos sons. Sabe-se que em relação à criança, a música é criada ao brincar com os sons, transformando ambientes. Outra problemática é a questão de que muitos docentes ainda não compreendem a importância do ensino de música, classificando algumas músicas como musiquinhas, e ainda músicas e sons produzidos pelas próprias crianças, considerando-os barulhos.Desta forma, temos como objetivo geral discutir as implicações da musicalização no processo da Educação Infantil; e como objetivos específicos discutir a legislação pertinente a inserção da música na Educação Infantil, bem como suas contribuições para o ensino da mesma e para o desenvolvimento sociocognitivo das crianças que frequentam essa etapa escolar.

A MÚSICA E A EDUCAÇÃO INFANTIL

Podemos destacar que as atividades desenvolvidas dentro da Educação Infantil são direcionadas entre outros documentos pelas Diretrizes Curriculares Nacionais, como discutido abaixo:

(...) a primeira etapa da educação básica, oferecida em creches e pré-escolas, às quais se caracterizam como espaços institucionais não domésticos que constituem estabelecimentos educacionais públicos ou privados que educam e cuidam de crianças de 0 a 5 anos de idade no período diurno, em jornada integral ou parcial, regulados e supervisionados por órgão competente do sistema de ensino e submetidos a controle social (DCNs, 2010, p.12).

Os docentes da Educação Infantil devem estar sempre atentos cem relação aqueles que classificam algumas músicas ouvidas pelas crianças como musiquinhas, tratando-se de forma revelando como as crianças são concebidas e, além disso, como são pensadas e realizadas as relações entre adultos e crianças em ambientes para a infância igualmente onde se toca músicas e sons que, ao serem realizados pelas próprias crianças, são ouvidos como barulhos, contrariando as regras do silêncio. A canção é essencial como brincadeira, como cultura e como contato com o folclore (GOBBI, 2010).Ainda, não se pode ignorar o contato com outros gêneros musicais, de outras culturas e, principalmente com os sons de todas as partes do mundo, considerando também o que a criança porta advindo de seu contexto social, familiar, cultural. A ideia central da Educação Infantil não é apenas colocar para a criança músicas já prontas, mas sim oferecer momentos de descobertas e construções sonoras, canto e invenção de canções. Ainda, objetos devem ser transformados em instrumentos musicais, enriquecendo o repertório musical através de práticas diferenciadas com as crianças.A sonorização de histórias, a escuta sonora, brincadeiras cantadas, percepção de sons, barulhos, ruídos, compõem a creche e pré-escola, sendo essenciais para estabelecer o tempo das crianças juntamente a outras linguagens e não como aula de música, o que tantas vezes é observado.As funções psicológicas superiores vão sendo desenvolvidas nas crianças de acordo com dois tipos de fenômenos: as transformações psíquicas como o desenvolvimento da fala, da escrita e do desenho, por exemplo; e os processos de desenvolvimento das funções relacionadas à memória, julgamento, concentração e inteligência conceitual (TULESKI e EIDT, 2016).Ou seja, a música, se torna um estimulo primordial para o desenvolvimento cerebral da criança. Culturalmente é comum o hábito de cantar e dançar para os bebês, auxiliando tanto no aprendizado musical, quanto no desenvolvimento da afetividade, da socialização e da aquisição da linguagem.Por fim, a educação é um processo contínuo e evolutivo, e deve ser pautado principalmente na criança, tornando-se necessário evidenciar este processo já na educação infantil, caracterizada por ser uma fase relevante no desenvolvimento humano. Deve-se conceber a criança como um ser social e histórico, sendo que a aprendizagem nessa esfera se dá pelas interações entre a criança e o mundo a sua volta. Observa-se, portanto diferentes orientações didáticas, que presam a utilização dos jogos e brincadeiras, além de atividades que envolvam o reconhecimento do próprio corpo, do corpo do outro, da música, da dança e da imitação gestual.

A LEGISLAÇÃO NA EDUCAÇÃO INFANTIL

A Lei Nacional nº 11.769/2008, trouxe a educação em música como obrigatória, alterando o artigo 26 da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDBEN nº 9394/1996), trazendo o convite de se repensar nas práticas artísticas como as artes visuais, a dança, o teatro e a música. A música foi considerada uma área de competência que requer estudo, prática, reflexão e diversidade, devendo existir no Projeto Político Pedagógico da escola. Além disso, ela deve constar nos planejamentos pedagógicos, ser trabalhada interdisciplinarmente, contribuindo para o desenvolvimento cognitivo e pleno de crianças e adolescentes. Já as Diretrizes Nacionais para a operacionalização do Ensino da Música na Educação Básica (CNE/CEB nº 12/2013 de 04/12/2013) trouxeram a urgência de um currículo que contemplasse uma matriz de saberes para o ensino de música, constituindo-se em uma ferramenta que contribui para o trabalho do docente especialista e não especialista desenvolvendo a Educação Musical na Educação Básica e, especialmente na Educação Infantil.Outra mudança na educação ocorreu com a chegada da Base Nacional Comum Curricular (BNCC), documento orientador para que ocorra a equidade nos sistemas de ensino do Brasil inteiro. No caso da música:

A Música é a expressão artística que se materializa por meio dos sons, que ganham forma, sentido e significado no âmbito tanto da sensibilidade subjetiva quanto das interações sociais, como resultado de saberes e valores diversos estabelecidos no domínio da cultura. A ampliação e a produção dos conhecimentos musicais passam pela percepção, experimentação, reprodução, manipulação e criação de materiais sonoros diversos, dos mais próximos aos mais distantes da cultura musical dos alunos. Esse processo lhes possibilita vivenciar a música inter-relacionada à diversidade e desenvolver saberes musicais fundamentais para a sua inserção e participação crítica e ativa na sociedade (BNCC, 2017, p. 154).

No caso da BNCC voltada para a Educação Infantil, esta ampliou a jornada destinada às experiências, envolvendo a Arte como um todo e suas linguagens, trazendo a música como elemento obrigatório desde a infância. Neste sentido, as discussões do trabalho docente têm ocorrido de forma significativa, a fim de trazer métodos adequados ao trabalho com a primeira infância (BRASIL, 2019).Ainda, de acordo com Mendes (2009), os documentos orientadores da Educação Infantil, trazem a importância do trabalho com a linguagem musical utilizando-se de improvisações, de estudos corporais, da escuta de sons e música, da construção de instrumentos musicais, gerando e pensando em música. É através da música que a criança aprende a se expressar. A escola deve desenvolver potencialidades apresentando sua parte poética, sua composição e sua diversidade. Uma combinação entre os deleites que a música promove demonstram a importância para o desenvolvimento cognitivo e educacional das crianças.Por fim, o Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil traz a expressão corporal como uma das linguagens que devem ser trabalhadas nesse período, permitindo assim a criança a tomar consciência de si mesma, expressando e conhecendo o mundo à sua volta. A música pode contribuir para a exploração de diversas formas de como sentir o corpo proporciona às crianças o conhecimento de suas características, limitações e formas de expressão: “a riqueza de possibilidades da linguagem corporal revela um universo a ser vivenciado, conhecido, desfrutado” (AYOUB, 2001, p. 57), pois, o movimento corporal é a essência das crianças.A criança expressa-se principalmente através da fala e da dança, movimentando-se corporalmente. Assim:

É com o corpo que a criança elabora todas as suas experiências vitais, e organiza toda a sua personalidade. Através dele ela percebe o mundo, e perceber o mundo é aprender (e reaprender) com seu próprio corpo; perceber o mundo, portanto, é perceber o corpo; o corpo é assim, sensação, percepção e ação (STEUCK, 2008, p. 13-14).

MÚSICA E AS CRIANÇAS

A música organiza os signos sonoros no espaço e no tempo; e de acordo com as pesquisas voltadas para a origem da música e a sua importância para as relações sociais, elas vêm sendo aprofundadas desde o século XX, buscando explicações na biologia, na sociologia e na antropologia (MARIANO, 2015).A criança logo cedo costuma ter contato com a música. Inicialmente com sua mãe cantarolando com voz doce e suave, crescendo e percebendo que o mundo ao seu redor é regido pela musicalidade. A música está presente em diversos lugares e momentos, seja nas músicas de embalar, nas brincadeiras, nos brinquedos sonoros, nas danças, entre outras ações, podendo marcar afetivamente determinados momentos. Assim, de acordo com Nogueira (2003), a música está no nosso dia a dia, nos costumes e nas tradições de uma dada sociedade, nas festas e recordações especiais. Ou seja, a música contribui para a fixação de algumas regras, possibilitando diferentes aprendizados.A começar do nascimento entramos em contato com os sons, desde que nascemos estamos predispostos aos sons e composições, iniciando assim o mundo da linguagem. Por isso, essa relação prematura favorece o desenvolvimento de nossas aptidões cognitivas, linguísticas e motoras (SIMIONATO e TOURINHO, 2007). Para Brito (2003), a criança quando escuta música não quer dizer que abraça regras ou nota especificidades, mas sim vive aquele momento de aprendizagem. Por isso, a criança ao ter contato com a música deve determinadas certas capacidades, diferenciando o escutar, os diferentes tipos de sons e as diferenças culturais existentes. Existindo a possiblidade de ampliar as formas de comunicação e expressão, desenvolve-se ainda uma boa comunicação: “A importância do ensino de música na escola reside, então, na possibilidade de despertar habilidades e condutas na criança, levando-a a sentir- se sensibilizada pela música valendo-se da criação e da livre expressão” (LOUREIRO, 2003, p.1).Assim, a utilização da música na Educação Infantil desenvolve as potencialidades das crianças e deve respeitar sua individualidade, seu contexto cultural, étnico, religioso, entre outros aspectos, concebendo a criança como um ser único que apresenta características peculiares e que precisa desenvolver diferentes habilidades e linguagens para interagir com o mundo que a cerca. Sabe-se que a metodologia principal na Educação Infantil é a ludicidade, porém é preciso desenvolver outras aprendizagens e a Arte nesse sentido pode trazer boas contribuições dentro desta proposta. Ainda, nessa etapa de escolaridade, é necessário dispor de ferramentas e práticas que trabalhem a diversidade e o contexto da criança, explorando as suas potencialidades. O ensino da música envolve a construção do sujeito musical, a partir da constituição da linguagem. Esta transforma a criança, no que se refere à percepção, as formas de pensar, agir e interagir com o mundo e com os outros. Por fim, a música enquanto linguagem organiza os signos sonoros no espaço e no tempo, motivo pelo qual constitui-se como possibilidade de trazer reflexão ao ouvinte sobre o mundo, sobre o trabalho docente e principalmente o desenvolvimento das crianças, para que ela cresça plena e feliz, inclusive.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

De acordo com a pesquisa realizada, foi possível perceber que a musicalização na Educação Infantil tem por objetivo estimular o desenvolvimento global da criança, integrando sua individualidade, seu contexto socioeconômico, cultural, étnico, entre outros, concebendo a criança como um ser único que apresenta características peculiares e que interage com outras crianças e adultos.A musicalização, assim como outras formas de arte e a ludicidade, são a base da Educação Infantil. Para que o trabalho com música se torne viável nesta fase escolar, é necessário pensar em ferramentas e práticas trabalhando a diversidade e o contexto da criança, explorando assim suas potencialidades. O ensino da música envolve a construção do indivíduo musical, a partir da constituição da linguagem da música. O uso desse tipo de conceito transforma a criança, no que se referem à percepção, formas de agir e pensar, quanto os aspectos subjetivos. A escola é o primeiro ambiente no qual a criança vem a estabelecer suas relações sociais foram do ciclo familiar, essa situação nova na vida infantil deve ser acompanhada para que ao oferecer à criança um novo mundo diverso, repleto de situações na qual tenha que elaborar novos mecanismos de compreensão de fatos, conceitos e atitudes ela se sinta acolhida e atendida em meio a esse novo desafio, onde a criança que ingressa na vida escolar em meio a essa ampliação de relações possa construir sua concepção social do mundo.Ainda, a música pode contribuir como uma possibilidade de compreender através do embasamento teórico a forma com que as crianças constroem as suas relações sociais do nascimento até o momento da primeira infância, através de meios a princípio físicos e posteriormente através de aspectos mais subjetivos definidos como emoções, desejos e sentimentos.Assim, a música como ferramenta dinâmica na Educação Infantil, auxiliar no trabalho docente e na aprendizagem das crianças, trazendo a oportunidade do docente trabalhar a diversidade em sala de aula e desenvolvendo diferentes habilidades nos pequenos. Mesmo que haja docentes que ainda se espelham em modelos pedagógicos mais tradicionais, seguindo determinadas regras e formas de comportamento, de acordo com a pesquisa a maioria dos docentes ainda acredita que a afetividade, a ludicidade e a utilização da música são as melhores formas de se relacionar com as crianças podendo desenvolver a

comunicação oral e dialética conforme proporcione respeito e liberdade de ideias e conhecimentos prévios das crianças.Além disso, outra contribuição do uso da música durante a Educação Infantil é que esse período é um momento em que a criança experimenta, ajusta e constrói movimentos corporais provenientes da interação com os demais colegas. E a música pode desenvolver isso, por exemplo, através da dança, desenvolvendo a autonomia corporal e de ter contato com diferentes vivências e movimentos corporais provenientes da cultura a seu redor. Assim, na Educação Infantil é necessário desenvolver uma pedagogia que organize o fazer o pedagógico em torno de diferentes linguagens as quais a criança utiliza para expressar e se comunicar com o mundo que a cerca.

REFERÊNCIAS

AYUOB, E. Reflexões sobre a Educação Física na Educação Infantil. Revista Paulista de Educação Física, São Paulo, vol. 4, n. 4, p. 53-60, 2001.

BRASIL. Base Nacional Comum Curricular (BNCC). Educação é a Base. Brasília, MEC/CONSED/UNDIME, 2019. Disponível em: <http://basenacionalcomum.mec.gov.br/abase/. Acesso em: 01 mar. 2021.

BRASIL. Base Nacional Comum Curricular. Proposta preliminar. Ministério da Educação. Segunda versão revista. Brasília: MEC, 2016. Disponível em: .... Acesso em: 04 mar. 2021.

BRASIL. Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil. Ministério da Educação e do Desporto. Secretaria de Educação Fundamental. Brasília, v. 3. Conhecimento de Mundo. MEC/SEF, 1998.

BRITO, Teca Alencar de. Música na educação infantil. São Paulo: Peirópolis, 2003.

GOBBI, Márcia. Múltiplas linguagens de meninos e meninas e a Educação Infantil. Anais do I Seminário Nacional: Currículo em Movimento – Perspectivas Atuais, Belo Horizonte, novembro de 2010.

Godoi, L. R. (2011). A importância da música na educação infantil. Trabalho de conclusão de curso. Universidade Estadual de Londrina, Londrina, PR, Brasil. Recuperado de: http://www.uel.br/ceca/pedagogia/pages/arquivos/LUIS%20RODRIGO%20GODOI.pdf. Acesso em: 02 mar.2021.

Ilari, B. A música e o cérebro: algumas implicações do neurodesenvolvimento para a educação musical. Revista da Abem, 2003, 9, 7-16. Recuperado de: https://pdfs.semanticscholar.org/495b/19b4c8892f11bfeec193c8ffa46f22a5fcaf.pdf . Acesso em: 01 mar. 2021.

LOUREIRO, Alícia Maria Almeida. O ensino de música na escola fundamental. Campinas, SP: Papirus, 2003.

MARIANO, Fabiana Leite Rabello. Música no berçário: formação de professores e a teoria da aprendizagem musical de Edwin Gordon. São Paulo: Universidade de São Paulo / Faculdade de Educação, 2015.

NOGUEIRA, Monique Andries. A música e o desenvolvimento da criança. Revista da UFG, Vol. 5, No. 2, dez 2003. Disponível em: www.proec.ufg.br. Acesso em: 09 mar. 2021.

SIMIONATO, L. Cristina; TOURINHO, Cristina. Contribuição do aprendizado de canções no desenvolvimento da linguagem verbal. In ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE COGNIÇÃO E ARTES MUSICAIS. 2007. Anais do 3º Simpósio de Cognição e Artes Musicais. Bahia UFBH 2007 p. 371-377.

STEUCK, C.D. Corporeidade e educação: um olhar a partir da epistemologia social. 2008. Dissertação (Mestrado em Educação). Blumenau: Programa de Pós Graduação em Educação, Universidade Regional de Blumenau – FURB, 2008.

TULESKI, S. G., EIDTt, N. M. A periodização do desenvolvimento psíquico: atividade dominante e a formação das funções psíquicas superiores. In Martins, L. M., Abrantes, A. A., & Facci, M. G (Org.), Periodização histórico-cultural do desenvolvimento psíquico: do nascimento à velhice (pp.35-62). Campinas, SP, 2016: Autores Associados

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Page 18: REVISTA EXATTO MARÇO

RESUMO As Diretrizes Curriculares Nacionais de Educação Infantil e as propostas pedagógicas existentes devem considerar princípios estéticos, voltando-se para diferentes manifestações artísticas e culturais e que considerem a heterogeneidade cultural, étnica, religiosa, social do país. A música como linguagem organiza os signos sonoros no espaço e no tempo, trazendo a possibilidade de trazer reflexão ao ouvinte sobre o mundo. Assim, é fundamental assegurar o ensino da música entre as crianças para que as mesmas possam entender e construir seu cotidiano e parte do seu mundo a partir da linguagem sonora. Por isto, a presente pesquisa discute as implicações da musicalização na Educação Infantil no desenvolvimento das crianças da creche e pré-escola. Os resultados indicaram que o uso da música é de fundamental importância para o desenvolvimento sociocognitivo das mesmas, em interdisciplinaridade com outras áreas de conhecimento.

Palavras-chave: Educação Infantil; Musicalização; Desenvolvimento Infantil.

INTRODUÇÃO

As crianças se envolvem com os sons desde muito pequenas, sendo que alguns pesquisadores discutem que esse contato acontece desde a fase intrauterina. Quando chegam a fase escolar, uma das problemáticas é que determinadas experiências sonoras ficam muitas vezes reduzida a ajudar na organização de atividades relacionadas à ocasião do recreio e do asseio das crianças, ganhando aspectos de disciplinarização da infância. Assim, justifica-se o presente artigo a discussão sobre a importância da música e sua utilização na Educação Infantil, a fim de encontrar sua identidade e de distinguir o ambiente em que vive, utilizando os sons através de suas diferentes propriedades: altura, espaço, grau, timbre, sons; através de brincadeiras, cantaroladas, assobios, risos, gritos, ou seja, emitindo os mais diversos sons. Sabe-se que em relação à criança, a música é criada ao brincar com os sons, transformando ambientes. Outra problemática é a questão de que muitos docentes ainda não compreendem a importância do ensino de música, classificando algumas músicas como musiquinhas, e ainda músicas e sons produzidos pelas próprias crianças, considerando-os barulhos.Desta forma, temos como objetivo geral discutir as implicações da musicalização no processo da Educação Infantil; e como objetivos específicos discutir a legislação pertinente a inserção da música na Educação Infantil, bem como suas contribuições para o ensino da mesma e para o desenvolvimento sociocognitivo das crianças que frequentam essa etapa escolar.

A MÚSICA E A EDUCAÇÃO INFANTIL

Podemos destacar que as atividades desenvolvidas dentro da Educação Infantil são direcionadas entre outros documentos pelas Diretrizes Curriculares Nacionais, como discutido abaixo:

(...) a primeira etapa da educação básica, oferecida em creches e pré-escolas, às quais se caracterizam como espaços institucionais não domésticos que constituem estabelecimentos educacionais públicos ou privados que educam e cuidam de crianças de 0 a 5 anos de idade no período diurno, em jornada integral ou parcial, regulados e supervisionados por órgão competente do sistema de ensino e submetidos a controle social (DCNs, 2010, p.12).

Os docentes da Educação Infantil devem estar sempre atentos cem relação aqueles que classificam algumas músicas ouvidas pelas crianças como musiquinhas, tratando-se de forma revelando como as crianças são concebidas e, além disso, como são pensadas e realizadas as relações entre adultos e crianças em ambientes para a infância igualmente onde se toca músicas e sons que, ao serem realizados pelas próprias crianças, são ouvidos como barulhos, contrariando as regras do silêncio. A canção é essencial como brincadeira, como cultura e como contato com o folclore (GOBBI, 2010).Ainda, não se pode ignorar o contato com outros gêneros musicais, de outras culturas e, principalmente com os sons de todas as partes do mundo, considerando também o que a criança porta advindo de seu contexto social, familiar, cultural. A ideia central da Educação Infantil não é apenas colocar para a criança músicas já prontas, mas sim oferecer momentos de descobertas e construções sonoras, canto e invenção de canções. Ainda, objetos devem ser transformados em instrumentos musicais, enriquecendo o repertório musical através de práticas diferenciadas com as crianças.A sonorização de histórias, a escuta sonora, brincadeiras cantadas, percepção de sons, barulhos, ruídos, compõem a creche e pré-escola, sendo essenciais para estabelecer o tempo das crianças juntamente a outras linguagens e não como aula de música, o que tantas vezes é observado.As funções psicológicas superiores vão sendo desenvolvidas nas crianças de acordo com dois tipos de fenômenos: as transformações psíquicas como o desenvolvimento da fala, da escrita e do desenho, por exemplo; e os processos de desenvolvimento das funções relacionadas à memória, julgamento, concentração e inteligência conceitual (TULESKI e EIDT, 2016).Ou seja, a música, se torna um estimulo primordial para o desenvolvimento cerebral da criança. Culturalmente é comum o hábito de cantar e dançar para os bebês, auxiliando tanto no aprendizado musical, quanto no desenvolvimento da afetividade, da socialização e da aquisição da linguagem.Por fim, a educação é um processo contínuo e evolutivo, e deve ser pautado principalmente na criança, tornando-se necessário evidenciar este processo já na educação infantil, caracterizada por ser uma fase relevante no desenvolvimento humano. Deve-se conceber a criança como um ser social e histórico, sendo que a aprendizagem nessa esfera se dá pelas interações entre a criança e o mundo a sua volta. Observa-se, portanto diferentes orientações didáticas, que presam a utilização dos jogos e brincadeiras, além de atividades que envolvam o reconhecimento do próprio corpo, do corpo do outro, da música, da dança e da imitação gestual.

A LEGISLAÇÃO NA EDUCAÇÃO INFANTIL

A Lei Nacional nº 11.769/2008, trouxe a educação em música como obrigatória, alterando o artigo 26 da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDBEN nº 9394/1996), trazendo o convite de se repensar nas práticas artísticas como as artes visuais, a dança, o teatro e a música. A música foi considerada uma área de competência que requer estudo, prática, reflexão e diversidade, devendo existir no Projeto Político Pedagógico da escola. Além disso, ela deve constar nos planejamentos pedagógicos, ser trabalhada interdisciplinarmente, contribuindo para o desenvolvimento cognitivo e pleno de crianças e adolescentes. Já as Diretrizes Nacionais para a operacionalização do Ensino da Música na Educação Básica (CNE/CEB nº 12/2013 de 04/12/2013) trouxeram a urgência de um currículo que contemplasse uma matriz de saberes para o ensino de música, constituindo-se em uma ferramenta que contribui para o trabalho do docente especialista e não especialista desenvolvendo a Educação Musical na Educação Básica e, especialmente na Educação Infantil.Outra mudança na educação ocorreu com a chegada da Base Nacional Comum Curricular (BNCC), documento orientador para que ocorra a equidade nos sistemas de ensino do Brasil inteiro. No caso da música:

A Música é a expressão artística que se materializa por meio dos sons, que ganham forma, sentido e significado no âmbito tanto da sensibilidade subjetiva quanto das interações sociais, como resultado de saberes e valores diversos estabelecidos no domínio da cultura. A ampliação e a produção dos conhecimentos musicais passam pela percepção, experimentação, reprodução, manipulação e criação de materiais sonoros diversos, dos mais próximos aos mais distantes da cultura musical dos alunos. Esse processo lhes possibilita vivenciar a música inter-relacionada à diversidade e desenvolver saberes musicais fundamentais para a sua inserção e participação crítica e ativa na sociedade (BNCC, 2017, p. 154).

No caso da BNCC voltada para a Educação Infantil, esta ampliou a jornada destinada às experiências, envolvendo a Arte como um todo e suas linguagens, trazendo a música como elemento obrigatório desde a infância. Neste sentido, as discussões do trabalho docente têm ocorrido de forma significativa, a fim de trazer métodos adequados ao trabalho com a primeira infância (BRASIL, 2019).Ainda, de acordo com Mendes (2009), os documentos orientadores da Educação Infantil, trazem a importância do trabalho com a linguagem musical utilizando-se de improvisações, de estudos corporais, da escuta de sons e música, da construção de instrumentos musicais, gerando e pensando em música. É através da música que a criança aprende a se expressar. A escola deve desenvolver potencialidades apresentando sua parte poética, sua composição e sua diversidade. Uma combinação entre os deleites que a música promove demonstram a importância para o desenvolvimento cognitivo e educacional das crianças.Por fim, o Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil traz a expressão corporal como uma das linguagens que devem ser trabalhadas nesse período, permitindo assim a criança a tomar consciência de si mesma, expressando e conhecendo o mundo à sua volta. A música pode contribuir para a exploração de diversas formas de como sentir o corpo proporciona às crianças o conhecimento de suas características, limitações e formas de expressão: “a riqueza de possibilidades da linguagem corporal revela um universo a ser vivenciado, conhecido, desfrutado” (AYOUB, 2001, p. 57), pois, o movimento corporal é a essência das crianças.A criança expressa-se principalmente através da fala e da dança, movimentando-se corporalmente. Assim:

É com o corpo que a criança elabora todas as suas experiências vitais, e organiza toda a sua personalidade. Através dele ela percebe o mundo, e perceber o mundo é aprender (e reaprender) com seu próprio corpo; perceber o mundo, portanto, é perceber o corpo; o corpo é assim, sensação, percepção e ação (STEUCK, 2008, p. 13-14).

MÚSICA E AS CRIANÇAS

A música organiza os signos sonoros no espaço e no tempo; e de acordo com as pesquisas voltadas para a origem da música e a sua importância para as relações sociais, elas vêm sendo aprofundadas desde o século XX, buscando explicações na biologia, na sociologia e na antropologia (MARIANO, 2015).A criança logo cedo costuma ter contato com a música. Inicialmente com sua mãe cantarolando com voz doce e suave, crescendo e percebendo que o mundo ao seu redor é regido pela musicalidade. A música está presente em diversos lugares e momentos, seja nas músicas de embalar, nas brincadeiras, nos brinquedos sonoros, nas danças, entre outras ações, podendo marcar afetivamente determinados momentos. Assim, de acordo com Nogueira (2003), a música está no nosso dia a dia, nos costumes e nas tradições de uma dada sociedade, nas festas e recordações especiais. Ou seja, a música contribui para a fixação de algumas regras, possibilitando diferentes aprendizados.A começar do nascimento entramos em contato com os sons, desde que nascemos estamos predispostos aos sons e composições, iniciando assim o mundo da linguagem. Por isso, essa relação prematura favorece o desenvolvimento de nossas aptidões cognitivas, linguísticas e motoras (SIMIONATO e TOURINHO, 2007). Para Brito (2003), a criança quando escuta música não quer dizer que abraça regras ou nota especificidades, mas sim vive aquele momento de aprendizagem. Por isso, a criança ao ter contato com a música deve determinadas certas capacidades, diferenciando o escutar, os diferentes tipos de sons e as diferenças culturais existentes. Existindo a possiblidade de ampliar as formas de comunicação e expressão, desenvolve-se ainda uma boa comunicação: “A importância do ensino de música na escola reside, então, na possibilidade de despertar habilidades e condutas na criança, levando-a a sentir- se sensibilizada pela música valendo-se da criação e da livre expressão” (LOUREIRO, 2003, p.1).Assim, a utilização da música na Educação Infantil desenvolve as potencialidades das crianças e deve respeitar sua individualidade, seu contexto cultural, étnico, religioso, entre outros aspectos, concebendo a criança como um ser único que apresenta características peculiares e que precisa desenvolver diferentes habilidades e linguagens para interagir com o mundo que a cerca. Sabe-se que a metodologia principal na Educação Infantil é a ludicidade, porém é preciso desenvolver outras aprendizagens e a Arte nesse sentido pode trazer boas contribuições dentro desta proposta. Ainda, nessa etapa de escolaridade, é necessário dispor de ferramentas e práticas que trabalhem a diversidade e o contexto da criança, explorando as suas potencialidades. O ensino da música envolve a construção do sujeito musical, a partir da constituição da linguagem. Esta transforma a criança, no que se refere à percepção, as formas de pensar, agir e interagir com o mundo e com os outros. Por fim, a música enquanto linguagem organiza os signos sonoros no espaço e no tempo, motivo pelo qual constitui-se como possibilidade de trazer reflexão ao ouvinte sobre o mundo, sobre o trabalho docente e principalmente o desenvolvimento das crianças, para que ela cresça plena e feliz, inclusive.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

De acordo com a pesquisa realizada, foi possível perceber que a musicalização na Educação Infantil tem por objetivo estimular o desenvolvimento global da criança, integrando sua individualidade, seu contexto socioeconômico, cultural, étnico, entre outros, concebendo a criança como um ser único que apresenta características peculiares e que interage com outras crianças e adultos.A musicalização, assim como outras formas de arte e a ludicidade, são a base da Educação Infantil. Para que o trabalho com música se torne viável nesta fase escolar, é necessário pensar em ferramentas e práticas trabalhando a diversidade e o contexto da criança, explorando assim suas potencialidades. O ensino da música envolve a construção do indivíduo musical, a partir da constituição da linguagem da música. O uso desse tipo de conceito transforma a criança, no que se referem à percepção, formas de agir e pensar, quanto os aspectos subjetivos. A escola é o primeiro ambiente no qual a criança vem a estabelecer suas relações sociais foram do ciclo familiar, essa situação nova na vida infantil deve ser acompanhada para que ao oferecer à criança um novo mundo diverso, repleto de situações na qual tenha que elaborar novos mecanismos de compreensão de fatos, conceitos e atitudes ela se sinta acolhida e atendida em meio a esse novo desafio, onde a criança que ingressa na vida escolar em meio a essa ampliação de relações possa construir sua concepção social do mundo.Ainda, a música pode contribuir como uma possibilidade de compreender através do embasamento teórico a forma com que as crianças constroem as suas relações sociais do nascimento até o momento da primeira infância, através de meios a princípio físicos e posteriormente através de aspectos mais subjetivos definidos como emoções, desejos e sentimentos.Assim, a música como ferramenta dinâmica na Educação Infantil, auxiliar no trabalho docente e na aprendizagem das crianças, trazendo a oportunidade do docente trabalhar a diversidade em sala de aula e desenvolvendo diferentes habilidades nos pequenos. Mesmo que haja docentes que ainda se espelham em modelos pedagógicos mais tradicionais, seguindo determinadas regras e formas de comportamento, de acordo com a pesquisa a maioria dos docentes ainda acredita que a afetividade, a ludicidade e a utilização da música são as melhores formas de se relacionar com as crianças podendo desenvolver a

comunicação oral e dialética conforme proporcione respeito e liberdade de ideias e conhecimentos prévios das crianças.Além disso, outra contribuição do uso da música durante a Educação Infantil é que esse período é um momento em que a criança experimenta, ajusta e constrói movimentos corporais provenientes da interação com os demais colegas. E a música pode desenvolver isso, por exemplo, através da dança, desenvolvendo a autonomia corporal e de ter contato com diferentes vivências e movimentos corporais provenientes da cultura a seu redor. Assim, na Educação Infantil é necessário desenvolver uma pedagogia que organize o fazer o pedagógico em torno de diferentes linguagens as quais a criança utiliza para expressar e se comunicar com o mundo que a cerca.

REFERÊNCIAS

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BRASIL. Base Nacional Comum Curricular. Proposta preliminar. Ministério da Educação. Segunda versão revista. Brasília: MEC, 2016. Disponível em: .... Acesso em: 04 mar. 2021.

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GOBBI, Márcia. Múltiplas linguagens de meninos e meninas e a Educação Infantil. Anais do I Seminário Nacional: Currículo em Movimento – Perspectivas Atuais, Belo Horizonte, novembro de 2010.

Godoi, L. R. (2011). A importância da música na educação infantil. Trabalho de conclusão de curso. Universidade Estadual de Londrina, Londrina, PR, Brasil. Recuperado de: http://www.uel.br/ceca/pedagogia/pages/arquivos/LUIS%20RODRIGO%20GODOI.pdf. Acesso em: 02 mar.2021.

Ilari, B. A música e o cérebro: algumas implicações do neurodesenvolvimento para a educação musical. Revista da Abem, 2003, 9, 7-16. Recuperado de: https://pdfs.semanticscholar.org/495b/19b4c8892f11bfeec193c8ffa46f22a5fcaf.pdf . Acesso em: 01 mar. 2021.

LOUREIRO, Alícia Maria Almeida. O ensino de música na escola fundamental. Campinas, SP: Papirus, 2003.

MARIANO, Fabiana Leite Rabello. Música no berçário: formação de professores e a teoria da aprendizagem musical de Edwin Gordon. São Paulo: Universidade de São Paulo / Faculdade de Educação, 2015.

NOGUEIRA, Monique Andries. A música e o desenvolvimento da criança. Revista da UFG, Vol. 5, No. 2, dez 2003. Disponível em: www.proec.ufg.br. Acesso em: 09 mar. 2021.

SIMIONATO, L. Cristina; TOURINHO, Cristina. Contribuição do aprendizado de canções no desenvolvimento da linguagem verbal. In ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE COGNIÇÃO E ARTES MUSICAIS. 2007. Anais do 3º Simpósio de Cognição e Artes Musicais. Bahia UFBH 2007 p. 371-377.

STEUCK, C.D. Corporeidade e educação: um olhar a partir da epistemologia social. 2008. Dissertação (Mestrado em Educação). Blumenau: Programa de Pós Graduação em Educação, Universidade Regional de Blumenau – FURB, 2008.

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Page 19: REVISTA EXATTO MARÇO

RESUMO As Diretrizes Curriculares Nacionais de Educação Infantil e as propostas pedagógicas existentes devem considerar princípios estéticos, voltando-se para diferentes manifestações artísticas e culturais e que considerem a heterogeneidade cultural, étnica, religiosa, social do país. A música como linguagem organiza os signos sonoros no espaço e no tempo, trazendo a possibilidade de trazer reflexão ao ouvinte sobre o mundo. Assim, é fundamental assegurar o ensino da música entre as crianças para que as mesmas possam entender e construir seu cotidiano e parte do seu mundo a partir da linguagem sonora. Por isto, a presente pesquisa discute as implicações da musicalização na Educação Infantil no desenvolvimento das crianças da creche e pré-escola. Os resultados indicaram que o uso da música é de fundamental importância para o desenvolvimento sociocognitivo das mesmas, em interdisciplinaridade com outras áreas de conhecimento.

Palavras-chave: Educação Infantil; Musicalização; Desenvolvimento Infantil.

INTRODUÇÃO

As crianças se envolvem com os sons desde muito pequenas, sendo que alguns pesquisadores discutem que esse contato acontece desde a fase intrauterina. Quando chegam a fase escolar, uma das problemáticas é que determinadas experiências sonoras ficam muitas vezes reduzida a ajudar na organização de atividades relacionadas à ocasião do recreio e do asseio das crianças, ganhando aspectos de disciplinarização da infância. Assim, justifica-se o presente artigo a discussão sobre a importância da música e sua utilização na Educação Infantil, a fim de encontrar sua identidade e de distinguir o ambiente em que vive, utilizando os sons através de suas diferentes propriedades: altura, espaço, grau, timbre, sons; através de brincadeiras, cantaroladas, assobios, risos, gritos, ou seja, emitindo os mais diversos sons. Sabe-se que em relação à criança, a música é criada ao brincar com os sons, transformando ambientes. Outra problemática é a questão de que muitos docentes ainda não compreendem a importância do ensino de música, classificando algumas músicas como musiquinhas, e ainda músicas e sons produzidos pelas próprias crianças, considerando-os barulhos.Desta forma, temos como objetivo geral discutir as implicações da musicalização no processo da Educação Infantil; e como objetivos específicos discutir a legislação pertinente a inserção da música na Educação Infantil, bem como suas contribuições para o ensino da mesma e para o desenvolvimento sociocognitivo das crianças que frequentam essa etapa escolar.

A MÚSICA E A EDUCAÇÃO INFANTIL

Podemos destacar que as atividades desenvolvidas dentro da Educação Infantil são direcionadas entre outros documentos pelas Diretrizes Curriculares Nacionais, como discutido abaixo:

(...) a primeira etapa da educação básica, oferecida em creches e pré-escolas, às quais se caracterizam como espaços institucionais não domésticos que constituem estabelecimentos educacionais públicos ou privados que educam e cuidam de crianças de 0 a 5 anos de idade no período diurno, em jornada integral ou parcial, regulados e supervisionados por órgão competente do sistema de ensino e submetidos a controle social (DCNs, 2010, p.12).

Os docentes da Educação Infantil devem estar sempre atentos cem relação aqueles que classificam algumas músicas ouvidas pelas crianças como musiquinhas, tratando-se de forma revelando como as crianças são concebidas e, além disso, como são pensadas e realizadas as relações entre adultos e crianças em ambientes para a infância igualmente onde se toca músicas e sons que, ao serem realizados pelas próprias crianças, são ouvidos como barulhos, contrariando as regras do silêncio. A canção é essencial como brincadeira, como cultura e como contato com o folclore (GOBBI, 2010).Ainda, não se pode ignorar o contato com outros gêneros musicais, de outras culturas e, principalmente com os sons de todas as partes do mundo, considerando também o que a criança porta advindo de seu contexto social, familiar, cultural. A ideia central da Educação Infantil não é apenas colocar para a criança músicas já prontas, mas sim oferecer momentos de descobertas e construções sonoras, canto e invenção de canções. Ainda, objetos devem ser transformados em instrumentos musicais, enriquecendo o repertório musical através de práticas diferenciadas com as crianças.A sonorização de histórias, a escuta sonora, brincadeiras cantadas, percepção de sons, barulhos, ruídos, compõem a creche e pré-escola, sendo essenciais para estabelecer o tempo das crianças juntamente a outras linguagens e não como aula de música, o que tantas vezes é observado.As funções psicológicas superiores vão sendo desenvolvidas nas crianças de acordo com dois tipos de fenômenos: as transformações psíquicas como o desenvolvimento da fala, da escrita e do desenho, por exemplo; e os processos de desenvolvimento das funções relacionadas à memória, julgamento, concentração e inteligência conceitual (TULESKI e EIDT, 2016).Ou seja, a música, se torna um estimulo primordial para o desenvolvimento cerebral da criança. Culturalmente é comum o hábito de cantar e dançar para os bebês, auxiliando tanto no aprendizado musical, quanto no desenvolvimento da afetividade, da socialização e da aquisição da linguagem.Por fim, a educação é um processo contínuo e evolutivo, e deve ser pautado principalmente na criança, tornando-se necessário evidenciar este processo já na educação infantil, caracterizada por ser uma fase relevante no desenvolvimento humano. Deve-se conceber a criança como um ser social e histórico, sendo que a aprendizagem nessa esfera se dá pelas interações entre a criança e o mundo a sua volta. Observa-se, portanto diferentes orientações didáticas, que presam a utilização dos jogos e brincadeiras, além de atividades que envolvam o reconhecimento do próprio corpo, do corpo do outro, da música, da dança e da imitação gestual.

A LEGISLAÇÃO NA EDUCAÇÃO INFANTIL

A Lei Nacional nº 11.769/2008, trouxe a educação em música como obrigatória, alterando o artigo 26 da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDBEN nº 9394/1996), trazendo o convite de se repensar nas práticas artísticas como as artes visuais, a dança, o teatro e a música. A música foi considerada uma área de competência que requer estudo, prática, reflexão e diversidade, devendo existir no Projeto Político Pedagógico da escola. Além disso, ela deve constar nos planejamentos pedagógicos, ser trabalhada interdisciplinarmente, contribuindo para o desenvolvimento cognitivo e pleno de crianças e adolescentes. Já as Diretrizes Nacionais para a operacionalização do Ensino da Música na Educação Básica (CNE/CEB nº 12/2013 de 04/12/2013) trouxeram a urgência de um currículo que contemplasse uma matriz de saberes para o ensino de música, constituindo-se em uma ferramenta que contribui para o trabalho do docente especialista e não especialista desenvolvendo a Educação Musical na Educação Básica e, especialmente na Educação Infantil.Outra mudança na educação ocorreu com a chegada da Base Nacional Comum Curricular (BNCC), documento orientador para que ocorra a equidade nos sistemas de ensino do Brasil inteiro. No caso da música:

A Música é a expressão artística que se materializa por meio dos sons, que ganham forma, sentido e significado no âmbito tanto da sensibilidade subjetiva quanto das interações sociais, como resultado de saberes e valores diversos estabelecidos no domínio da cultura. A ampliação e a produção dos conhecimentos musicais passam pela percepção, experimentação, reprodução, manipulação e criação de materiais sonoros diversos, dos mais próximos aos mais distantes da cultura musical dos alunos. Esse processo lhes possibilita vivenciar a música inter-relacionada à diversidade e desenvolver saberes musicais fundamentais para a sua inserção e participação crítica e ativa na sociedade (BNCC, 2017, p. 154).

No caso da BNCC voltada para a Educação Infantil, esta ampliou a jornada destinada às experiências, envolvendo a Arte como um todo e suas linguagens, trazendo a música como elemento obrigatório desde a infância. Neste sentido, as discussões do trabalho docente têm ocorrido de forma significativa, a fim de trazer métodos adequados ao trabalho com a primeira infância (BRASIL, 2019).Ainda, de acordo com Mendes (2009), os documentos orientadores da Educação Infantil, trazem a importância do trabalho com a linguagem musical utilizando-se de improvisações, de estudos corporais, da escuta de sons e música, da construção de instrumentos musicais, gerando e pensando em música. É através da música que a criança aprende a se expressar. A escola deve desenvolver potencialidades apresentando sua parte poética, sua composição e sua diversidade. Uma combinação entre os deleites que a música promove demonstram a importância para o desenvolvimento cognitivo e educacional das crianças.Por fim, o Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil traz a expressão corporal como uma das linguagens que devem ser trabalhadas nesse período, permitindo assim a criança a tomar consciência de si mesma, expressando e conhecendo o mundo à sua volta. A música pode contribuir para a exploração de diversas formas de como sentir o corpo proporciona às crianças o conhecimento de suas características, limitações e formas de expressão: “a riqueza de possibilidades da linguagem corporal revela um universo a ser vivenciado, conhecido, desfrutado” (AYOUB, 2001, p. 57), pois, o movimento corporal é a essência das crianças.A criança expressa-se principalmente através da fala e da dança, movimentando-se corporalmente. Assim:

É com o corpo que a criança elabora todas as suas experiências vitais, e organiza toda a sua personalidade. Através dele ela percebe o mundo, e perceber o mundo é aprender (e reaprender) com seu próprio corpo; perceber o mundo, portanto, é perceber o corpo; o corpo é assim, sensação, percepção e ação (STEUCK, 2008, p. 13-14).

MÚSICA E AS CRIANÇAS

A música organiza os signos sonoros no espaço e no tempo; e de acordo com as pesquisas voltadas para a origem da música e a sua importância para as relações sociais, elas vêm sendo aprofundadas desde o século XX, buscando explicações na biologia, na sociologia e na antropologia (MARIANO, 2015).A criança logo cedo costuma ter contato com a música. Inicialmente com sua mãe cantarolando com voz doce e suave, crescendo e percebendo que o mundo ao seu redor é regido pela musicalidade. A música está presente em diversos lugares e momentos, seja nas músicas de embalar, nas brincadeiras, nos brinquedos sonoros, nas danças, entre outras ações, podendo marcar afetivamente determinados momentos. Assim, de acordo com Nogueira (2003), a música está no nosso dia a dia, nos costumes e nas tradições de uma dada sociedade, nas festas e recordações especiais. Ou seja, a música contribui para a fixação de algumas regras, possibilitando diferentes aprendizados.A começar do nascimento entramos em contato com os sons, desde que nascemos estamos predispostos aos sons e composições, iniciando assim o mundo da linguagem. Por isso, essa relação prematura favorece o desenvolvimento de nossas aptidões cognitivas, linguísticas e motoras (SIMIONATO e TOURINHO, 2007). Para Brito (2003), a criança quando escuta música não quer dizer que abraça regras ou nota especificidades, mas sim vive aquele momento de aprendizagem. Por isso, a criança ao ter contato com a música deve determinadas certas capacidades, diferenciando o escutar, os diferentes tipos de sons e as diferenças culturais existentes. Existindo a possiblidade de ampliar as formas de comunicação e expressão, desenvolve-se ainda uma boa comunicação: “A importância do ensino de música na escola reside, então, na possibilidade de despertar habilidades e condutas na criança, levando-a a sentir- se sensibilizada pela música valendo-se da criação e da livre expressão” (LOUREIRO, 2003, p.1).Assim, a utilização da música na Educação Infantil desenvolve as potencialidades das crianças e deve respeitar sua individualidade, seu contexto cultural, étnico, religioso, entre outros aspectos, concebendo a criança como um ser único que apresenta características peculiares e que precisa desenvolver diferentes habilidades e linguagens para interagir com o mundo que a cerca. Sabe-se que a metodologia principal na Educação Infantil é a ludicidade, porém é preciso desenvolver outras aprendizagens e a Arte nesse sentido pode trazer boas contribuições dentro desta proposta. Ainda, nessa etapa de escolaridade, é necessário dispor de ferramentas e práticas que trabalhem a diversidade e o contexto da criança, explorando as suas potencialidades. O ensino da música envolve a construção do sujeito musical, a partir da constituição da linguagem. Esta transforma a criança, no que se refere à percepção, as formas de pensar, agir e interagir com o mundo e com os outros. Por fim, a música enquanto linguagem organiza os signos sonoros no espaço e no tempo, motivo pelo qual constitui-se como possibilidade de trazer reflexão ao ouvinte sobre o mundo, sobre o trabalho docente e principalmente o desenvolvimento das crianças, para que ela cresça plena e feliz, inclusive.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

De acordo com a pesquisa realizada, foi possível perceber que a musicalização na Educação Infantil tem por objetivo estimular o desenvolvimento global da criança, integrando sua individualidade, seu contexto socioeconômico, cultural, étnico, entre outros, concebendo a criança como um ser único que apresenta características peculiares e que interage com outras crianças e adultos.A musicalização, assim como outras formas de arte e a ludicidade, são a base da Educação Infantil. Para que o trabalho com música se torne viável nesta fase escolar, é necessário pensar em ferramentas e práticas trabalhando a diversidade e o contexto da criança, explorando assim suas potencialidades. O ensino da música envolve a construção do indivíduo musical, a partir da constituição da linguagem da música. O uso desse tipo de conceito transforma a criança, no que se referem à percepção, formas de agir e pensar, quanto os aspectos subjetivos. A escola é o primeiro ambiente no qual a criança vem a estabelecer suas relações sociais foram do ciclo familiar, essa situação nova na vida infantil deve ser acompanhada para que ao oferecer à criança um novo mundo diverso, repleto de situações na qual tenha que elaborar novos mecanismos de compreensão de fatos, conceitos e atitudes ela se sinta acolhida e atendida em meio a esse novo desafio, onde a criança que ingressa na vida escolar em meio a essa ampliação de relações possa construir sua concepção social do mundo.Ainda, a música pode contribuir como uma possibilidade de compreender através do embasamento teórico a forma com que as crianças constroem as suas relações sociais do nascimento até o momento da primeira infância, através de meios a princípio físicos e posteriormente através de aspectos mais subjetivos definidos como emoções, desejos e sentimentos.Assim, a música como ferramenta dinâmica na Educação Infantil, auxiliar no trabalho docente e na aprendizagem das crianças, trazendo a oportunidade do docente trabalhar a diversidade em sala de aula e desenvolvendo diferentes habilidades nos pequenos. Mesmo que haja docentes que ainda se espelham em modelos pedagógicos mais tradicionais, seguindo determinadas regras e formas de comportamento, de acordo com a pesquisa a maioria dos docentes ainda acredita que a afetividade, a ludicidade e a utilização da música são as melhores formas de se relacionar com as crianças podendo desenvolver a

comunicação oral e dialética conforme proporcione respeito e liberdade de ideias e conhecimentos prévios das crianças.Além disso, outra contribuição do uso da música durante a Educação Infantil é que esse período é um momento em que a criança experimenta, ajusta e constrói movimentos corporais provenientes da interação com os demais colegas. E a música pode desenvolver isso, por exemplo, através da dança, desenvolvendo a autonomia corporal e de ter contato com diferentes vivências e movimentos corporais provenientes da cultura a seu redor. Assim, na Educação Infantil é necessário desenvolver uma pedagogia que organize o fazer o pedagógico em torno de diferentes linguagens as quais a criança utiliza para expressar e se comunicar com o mundo que a cerca.

REFERÊNCIAS

AYUOB, E. Reflexões sobre a Educação Física na Educação Infantil. Revista Paulista de Educação Física, São Paulo, vol. 4, n. 4, p. 53-60, 2001.

BRASIL. Base Nacional Comum Curricular (BNCC). Educação é a Base. Brasília, MEC/CONSED/UNDIME, 2019. Disponível em: <http://basenacionalcomum.mec.gov.br/abase/. Acesso em: 01 mar. 2021.

BRASIL. Base Nacional Comum Curricular. Proposta preliminar. Ministério da Educação. Segunda versão revista. Brasília: MEC, 2016. Disponível em: .... Acesso em: 04 mar. 2021.

BRASIL. Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil. Ministério da Educação e do Desporto. Secretaria de Educação Fundamental. Brasília, v. 3. Conhecimento de Mundo. MEC/SEF, 1998.

BRITO, Teca Alencar de. Música na educação infantil. São Paulo: Peirópolis, 2003.

GOBBI, Márcia. Múltiplas linguagens de meninos e meninas e a Educação Infantil. Anais do I Seminário Nacional: Currículo em Movimento – Perspectivas Atuais, Belo Horizonte, novembro de 2010.

Godoi, L. R. (2011). A importância da música na educação infantil. Trabalho de conclusão de curso. Universidade Estadual de Londrina, Londrina, PR, Brasil. Recuperado de: http://www.uel.br/ceca/pedagogia/pages/arquivos/LUIS%20RODRIGO%20GODOI.pdf. Acesso em: 02 mar.2021.

Ilari, B. A música e o cérebro: algumas implicações do neurodesenvolvimento para a educação musical. Revista da Abem, 2003, 9, 7-16. Recuperado de: https://pdfs.semanticscholar.org/495b/19b4c8892f11bfeec193c8ffa46f22a5fcaf.pdf . Acesso em: 01 mar. 2021.

LOUREIRO, Alícia Maria Almeida. O ensino de música na escola fundamental. Campinas, SP: Papirus, 2003.

MARIANO, Fabiana Leite Rabello. Música no berçário: formação de professores e a teoria da aprendizagem musical de Edwin Gordon. São Paulo: Universidade de São Paulo / Faculdade de Educação, 2015.

NOGUEIRA, Monique Andries. A música e o desenvolvimento da criança. Revista da UFG, Vol. 5, No. 2, dez 2003. Disponível em: www.proec.ufg.br. Acesso em: 09 mar. 2021.

SIMIONATO, L. Cristina; TOURINHO, Cristina. Contribuição do aprendizado de canções no desenvolvimento da linguagem verbal. In ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE COGNIÇÃO E ARTES MUSICAIS. 2007. Anais do 3º Simpósio de Cognição e Artes Musicais. Bahia UFBH 2007 p. 371-377.

STEUCK, C.D. Corporeidade e educação: um olhar a partir da epistemologia social. 2008. Dissertação (Mestrado em Educação). Blumenau: Programa de Pós Graduação em Educação, Universidade Regional de Blumenau – FURB, 2008.

TULESKI, S. G., EIDTt, N. M. A periodização do desenvolvimento psíquico: atividade dominante e a formação das funções psíquicas superiores. In Martins, L. M., Abrantes, A. A., & Facci, M. G (Org.), Periodização histórico-cultural do desenvolvimento psíquico: do nascimento à velhice (pp.35-62). Campinas, SP, 2016: Autores Associados

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RESUMO

Com o avanço da tecnologia e agitação do mundo moderno, torna-se um desafio cada vez maior despertar nas crianças o prazer pela leitura e a busca por livros como forma de entretenimento, apesar de hoje haver inúmeros exemplares com os mais variados recursos e formatos: ilustrações coloridas, em alto relevo, interativos, só com imagens, que podem ser levados para a piscina ou banheiro, livro CD, sonoro, de pano, de colorir, 3D, com fantoche, gigante, cartonado, etc. O trabalho a seguir tem como objetivo mostrar a importância da contação de história como recurso pedagógico, fazendo com que o aluno desenvolva aspectos cognitivos, afetivos e sociais, podendo ainda desenvolver na criança valores fundamentais como ética, respeito e moral. É fundamental transformar o contato com as histórias em um momento de grande diversão, quando a criança pode expor seus sentimentos e criatividade, possibilitar que ela viaje através do imaginário e vivencie outras realidades diferentes do seu cotidiano. Usamos como referencial autores consagrados nesta área, que nos dão a certeza de que o assunto abordado é de fundamental importância para professores que atuam na Educação Infantil e no Ensino Fundamental, porque é nesta fase da vida que as crianças internalizam conhecimentos e valores que se refletem ao longo de suas vidas..Palavras-chave: Contação de história; Criança; Conhecimento

INTRODUÇÃO

Sabe-se que, na Antiguidade as notícias, lendas, histórias e poemas eram transmitidos ao público através de canções e não escritos em papel. Ao contador de histórias, que também era chamado de bardo, incumbia-se a missão de trazer e levar acontecimentos dos lugares desconhecidos aos povoados, vilarejos e reinos por onde passava, já que ele era um ser nômade. Nas narrativas realizadas por estes trovadores, era indispensável à audiência, as vozes que o corpo expressava através dos movimentos e a relação que o narrador criava com o público.Assim, os cidadãos reuniam-se perto de fogueiras, em baixo de árvores, para se envolverem com os ‘causos’ contados. Diante da reação do público, o menestrel recorria a fatos da memória ou a riqueza de sua imaginação 32 para agradar, surpreender ou apavorar aos seus ouvintes. Desta maneira, as mensagens eram repassadas para outras pessoas gerando novos saberes.Vivemos um período em que a mídia e as tecnologias estão cada vez mais acessíveis às crianças; as informações chegam pelos meios de comunicação. Os livros estão sendo deixados de lado, as histórias estão sendo esquecidas, o que torna um desafio para o educador levar as crianças em idade escolar a apreciar a leitura. Acredita-se que esta seja uma atividade necessária e imprescindível no processo de desenvolvimento da criança, pois a contação de histórias auxilia na formação humana e, por isso, deve ser valorizada e desenvolvida no meio escolar a fim de potencializar a imaginação, a linguagem, a atenção, a memória, o gosto pela leitura e outras habilidades humanas, além de contribuir no processo de aprendizagem e socialização da criança instiga a criatividade, a oralidade, incentiva o gosto pela leitura, contribui na formação da personalidade e no desenvolvimento o social e afetivo. A contação de história nas escolas era uma forma de distrair as crianças e hoje vem ressurgindo na figura do contador de histórias. De acordo com vários estudiosos, a contação de histórias é um precioso auxílio à prática pedagógica de professores na Educação Infantil e nos anos iniciais do Ensino Fundamental.

A ARTE DE CONTAR HISTÓRIAS

A leitura é uma atividade inerente à condição humana. Freire (2005) afirma que a leitura de mundo antecede à da palavra, ou seja, desde que nascemos somos leitores do mundo e nossas ações decorrem dessa leitura. Ela é muito importante

para inspirar sentimentos, valores, condutas e a celebração da própria vida. Por isso, a leitura exerce um importante papel no crescimento intelectual, crítico e criativo do aluno, desenvolvendo as suas potencialidades e, consequentemente, o seu rendimento escolar, tanto como estudantes, como também no aperfeiçoamento de sua personalidadeNa antiguidade a contação oral de histórias era vista sob um olhar inferior à escrita, apesar disso os povos se reuniam ao redor da fogueira e contavam suas lendas e contos, espalhando a sua cultura e os seus costumes. Essas lendas e contos eram histórias do imaginário popular pertencentes à memória coletiva, destinadas, a ouvintes, adultos e crianças, que não sabiam ler. Segundo Malba Tahan (1966, p.24) “até os nossos dias, todos os povos civilizados ou não, tem usado a história como veículo de verdades eternas, como meio de conservação de suas tradições, ou da difusão de ideias novas.”. O homem descobriu que a história além de entreter, causava a admiração e conquistava a aprovação dos ouvintes. O contador de histórias tornou-se o centro da atenção popular pelo prazer que suas narrativas proporcionavam.Atualmente, é comum afirmar que o ouvir e o contar histórias perderam-se no tempo e que os espaços ocupados pelos seus contadores foram sendo preenchidos por outros interesses. Relembram-se as ideias de Benjamin (1994), que reconhece o ato de contar histórias como um fato importante nas relações humanas e que tal prática é significativa na manutenção dessas relações, bem como acredita que o narrador é um homem que sabe dar conselhos, porém, prenuncia a morte da narrativa. Segundo o autor, “a arte de narrar está definhando, porque a sabedoria – o lado épico – está em extinção.” (BENJAMIN, 1994, p. 200-201). De acordo com o autor, um dos fatores que contribuíram para a possível extinção da narrativa oral e de seus narradores foi a difusão o romance pelos meios de comunicação, que criaram formas individualistas de comunicação.

O referido teórico afirma que:

Já passou o tempo que o tempo não contava. O homem de hoje não cultiva o que não pode ser abreviado. Com efeito, o homem conseguiu abreviar até a narrativa. Assistimos em nossos dias ao nascimento da short story, que se emancipou da tradição oral e não mais permite essa lenta superposição de camadas finas e translúcidas, que representa a melhor imagem do processo pelo qual a narrativa vem à luz do dia, como coroamento das várias camadas constituídas pelas narrações sucessivas. (BENJAMIN, 1994, p. 206).

A CONTAÇÃO DE HISTÓRIAS COMO PRÁTICA EDUCATIVA A contação de histórias é uma prática muito antiga e de grande relevância para a história da humanidade. Documenta-se que, antes mesmo da escrita ser inventada, já havia o costume de utilizar o conto oral como instrumento de transmissão de conhecimento. Através dessa tradição oral muitas sociedades conseguiram preservar a sua cultura, e, consequentemente, deixaram um rico legado de saberes, crenças e tradições, pois cada geração tinha o dever de contar as histórias para as gerações seguintes (BUSSATO, 2003; PATRINI, 2005). O conto oral é uma das mais antigas formas de expressão. E a voz constitui o mais antigo meio de transmissão. Graças à voz, o conto é difundido no mundo inteiro, preenche diferentes funções, dando conselhos, estabelecendo normas e valores, atentando os desejos sonhados e imaginados, levando às regiões mais longínquas a sabedoria dos homens experimentados (PATRINI, 2005, p.118). Pode-se dizer que a contação de histórias configura-se como um ato de resistência e de preservação identitária, pois, mesmo com o advento de novas tecnologias de informação e comunicação, é um processo que perdura até os dias atuais e que ocorre em diversos ambientes de socialização, especialmente no núcleo familiar e na escola.A família é a primeira e principal fonte de histórias. No ambiente familiar, ouvimos nossas primeiras histórias, visto que as pessoas constituintes dessa instituição social são as primeiras a intermediar o contato da criança com o texto oral. É, através desse texto, que se tem uma das mais ricas formas de apresentar outros contextos e o passo inicial para a “leitura de mundo” (FREIRE, 1989). Afinal, as crianças não precisam ouvir histórias apenas quando já adquiriram o sistema de representação da língua escrita. “[…] como é importante para a formação de qualquer criança ouvir muitas, muitas histórias… escutá-las é o início da aprendizagem para ser leitor, e ser leitor é ter um caminho absolutamente infinito de descoberta e de compreensão do mundo […]”. (ABRAMOVICH, 1997, p.16). No chão da escola, essa prática tem um significativo papel no processo de ensino-aprendizagem, podendo ser trabalhada de diversas formas. A contação de história apresenta as crianças ao universo da narrativa e, por isso, pode ser um poderoso instrumento para promover o gosto e hábito à leitura, a ampliação das experiências sociais, o desenvolvimento da imaginação, a capacidade de escutar e dar sequência lógica aos fatos, a ampliação do vocabulário e a potencialização da importância da linguagem oral.Com o intuito de propiciar o conhecimento e o encanto dessa arte que atravessou os tempos, o(a) professor(a) precisa planejar o momento da contação de histórias, sendo importante conhecer previamente o que será narrado para as crianças, durante o momento educativo, para que não perca o que tem de lúdico e belo da contação de histórias. […] para a criança, não se pode fazer isso de qualquer jeito, pegando o primeiro volume que se vê na estante… E aí, no decorrer da leitura, demonstrar que não está familiarizado com uma ou outra palavra (ou com várias), empacar ao pronunciar o nome dum determinado personagem ou lugar, mostrar que não percebeu o jeito que o autor construiu suas frases e dando as pausas nos lugares errados, […] Por isso, ler o livro antes, bem lido, sentir como nos pega, nos emociona ou nos irrita… Assim quando chegar o momento de narrar a história, que se passe emoção verdadeira, aquela que vem lá de dentro, lá do fundinho, e que por isso, chega no ouvinte… (ABRAMOVICH, 1997, p. 18-20) A contação de histórias deve fazer parte do acolhimento das crianças e deve ser feita sem improvisos, para ser uma experiência contagiante e de muita troca de experiências entre os participantes, permitindo que a ludicidade passe a fazer

parte do cotidiano da escola.

O lúdico é importante no acolhimento da diversidade cultural, pois desperta a vontade de aprender sobre e compreender o outro, mas também é mais um elemento que modifica a história e o contexto. Quando adicionamos brincadeiras e estimulamos as crianças a interagir com a história contada, ela se apropria do conteúdo, faz relações com as suas vivências e imprime a sua própria marca. (BRAGA, GONÇALVES & SOARES, 2014, p.7) Assim, cada conto narrado pode despertar o desejo de ensinar e aprender novos conhecimentos, através de diferentes reações e significados atribuídos por cada criança com seu jeito único de perceber o mundo, pois as mesmas vivenciam ambientes e situações diversas fora da escola e terão muitas contribuições a oferecer durante a interpretação da história narrada, através de desenhos, brincadeiras, jogos, entre outros.Por fim, a atividade de contar histórias é uma forma potente de combate à rotinização do trabalho docente. Essa prática pode trazer novos elementos para a sala de aula, colaborando, assim, para a promoção de uma educação saudável, rica em descobertas e aprendizados e marcada pela nossa sábia tradição de ouvir e contar histórias.

METODOLOGIAS PARA CONTAR HISTÓRIAS

Existem diversos métodos de narrar uma história, mas quando se trata do ambiente escolar, de crianças e docentes narradores de histórias, é importante destacar que, contar uma história para crianças, vai muito além disto, pois, se trata de uma atividade de suma importância. Contudo, Oliveira cita que existem diferenças entre ler e contar.

As histórias contadas oralmente têm uma força de transmissão oral, isto é: a voz, o olhar e o gesto vivo do contador de histórias, que alegra ou entristece a sua platéia. Na “contação” usam-se as próprias palavras, há variações nas versões de cada história, permite-se o uso de recursos e está mais próxima da oralidade. A criança aprende mais sobre a língua que se fala, amplia seu repertório e seu universo imaginário, percebe que as histórias podem ser mudadas e começa a criar suas próprias histórias. Ao ler o professor apresenta aos alunos o universo letrado, instigam a curiosidade pelos livros e seus conteúdos. Neste caso a história é sempre a mesma, independente de quem a lê. Podemos modificar a entonação, a altura ou o timbre da voz, mas o texto é sempre o mesmo. A leitura traz consigo marcas específicas da língua escrita e que não utilizamos cotidianamente ao falar. (OLIVEIRA, 2006, p. 04).

Segundo Cavalcanti (2009) um excelente narrador de histórias é aquele que contém o dom natural para fazer da sua história um conto mágico de narrativas. Sendo assim, podemos então dizer que uma história conduz a criança para um mundo mágico, quando escuta uma história ela pode desenvolver e atingir vários objetivos. Tahan cita que, através da contação de historias serão desenvolvidas várias habilidades no indivíduo, primeiro a expansão da língua infantil, o enriquecimento do vocabulário facilitando a expressão e a articulação das palavras, segundo será estimulada a inteligência e a criatividade, terceiro será a aquisição de conhecimentos e ampliação das experiências, quarta habilidade desenvolvida será à socialização, onde a crianças estará se identificando com o grupo e o ambiente, estabelecendo associações por analogia, quinta habilidade será a revelação das diferenças individuais, onde a professora facilitará o conhecimento de características predominantes em seus alunos, evidenciadas através das reações provocadas pelas narrativas, sexta habilidade será a formação de hábitos e atitudes sociais e morais, através da imitação de bons exemplos, estimulando bons sentimentos na criança e incitando-a na vida moral, Por fim. Sétima e ultima habilidade será a do interesse pela leitura, familiarizando a criança com os livros e histórias, despertando, para o futuro, esse interesse tão necessário. É notável o diferencial nos olhos de quem narra uma história, conseguimos notar a sua habilidade sobre os livros, tanto para transferir informações, quanto para montagem de repertório, de figurino... por fim “é exatamente do fascínio de ler que nasce o fascínio de contar. E contar histórias hoje significa salvar o mundo imaginário” (SISTO, 2005, p.28). Para ter um bom aproveitamento em um contação de histórias, deve conter imagens verbais, sonoras e corporais. Há algum tempo atrás, para se contar uma história não era utilizado nenhum método para prender a atenção dos ouvintes, ou seja, a história era contada oralmente, se usava apenas basicamente a voz, alguns gestos e o olhar. No decorrer dos tempos e com as novas atualizações e novos recursos as histórias passaram a ser narradas de maneiras diferentes de forma mais lúdicas e criativas. No momento atual o docente encontra vários recursos lúdico/pedagógicos para assim proporcionar ao aluno um excelente momento de contação de histórias, basta um pouco de criatividade e então, podemos confeccionar: dedoches, flanelógrafo, cineminhas, peças teatrais, fantoches.... Também temos livros de tecido, feitos com EVA, de plásticos e também específicos para a hora do banho. Esses recursos auxiliam o contador na apresentação da história, pois além de conseguir prender a atenção da criança para que escute atentamente também conseguem fazer com que o momento da história possa ser de imaginação.

Utilizam-se outras linguagens: a música, a mímica, a dança, as artes plásticas... tudo é bem-vindo quando desperta o sabor de um passeio com o qual se sonhou há muito tempo, com o qual se restituiu o tempo do jogo do faz-de-conta. (SISTO, 2005, p. 32).

Para se contar uma história sem o apoio de um livro o docente deve utilizar algumas estratégias, como mudanças no tom de voz, gestos corporais, além de conhecer toda a história que será contada, pois assim o momento da contação ocorrerá sem interrupções e com bastante satisfação.

Abramovich propõe que

Para contar histórias – seja qual for – é bom saber como se faz. Afinal, nela se descobrem palavras novas, se entra em contato com a música e com a sonoridade das frases, dos nomes... Se capta o ritmo, a cadência do conto, fluindo como uma canção ... Ou se brinca com a melodia dos versos, com o acerto das rimas, com o jogo das palavras... Contar

histórias é uma arte. (2001, p. 18). Com isso, quando uma criança houve uma história ela é capaz de expressar suas opiniões, fazer descobertas, ter dúvidas ou argumentar questões relacionadas e exercer a relação verbal que favorece a fala.

Com isso, quando uma criança houve uma história ela é capaz de expressar suas opiniões, fazer descobertas, ter dúvidas ou argumentar questões relacionadas e exercer a relação verbal que favorece a fala.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A contação de histórias é uma atividade fundamental que transmite conhecimentos e valores, sua atuação é decisiva na formação e no desenvolvimento do processo ensino-aprendizagem, utilizá-la em sala de aula permite que todos saiam ganhando, tanto os alunos, que serão instigados a imaginar e criar muito mais, quanto os professores, que podem ministrar uma aula muito mais agradável e produtiva. Além de alcançar o objetivo pretendido: uma aprendizagem verdadeiramente significativa.O professor pode alcançar muitos objetivos por meio dela, pois ler histórias para criança é uma atividade prazerosa, com a qual poderá fazê-la expressar suas próprias percepções de mundo, é preciso tornar as crianças familiarizadas com os livros, orientando-as quanto ao manuseio e à sua conservação, já que com as histórias elas aprendem brincando a respeitar regras, se divertirem, seja através da imitação, socialização, interação ou dificuldade a ser superada.A leitura dever ser cultivada desde a primeira infância, pois mesmo sem interagir ou entender, a criança vai se sentindo confortável até o momento em que passa a ter entendimento do contexto criando prazer e admiração pelas histórias.Mesmo antes de aprender a ler, as crianças devem ser colocadas em contato com a literatura. Ao ver um adulto lendo, ao ouvir uma história contada por ele, os pequenos começam a se interessar pelo mundo das palavras. Contar histórias para crianças deve ser um ato constante, não só porque executá-lo é o início da aprendizagem para ser leitor, mas para provocar a imaginação. Deve dar prazer a quem conta e ao ouvinte. Constitui fonte de prazer e encantamento pela vida.É ouvindo histórias que se pode descobrir o mundo imenso de conflitos e soluções, que se podem sentir novas e diferentes emoções, conhecerem lugares novos, começar a formar opiniões, critérios, conceitos e novos valores. A história contada através da oralidade permite a interação entre contador e ouvintes, já que o corpo e a voz propiciam vivências comunitárias, perdidas na aceleração da vida moderna.O principal objetivo de contar uma história é divertir, estimulando a imaginação, mas uma história bem contada pode aumentar o interesse pela aula ou permitir a auto-identificação, favorecendo a compreensão de situações desagradáveis e ajudando a resolver conflitos, sendo assim, é importante que a criança tenha acesso a diferentes tipos de textos, onde ela construirá sua aprendizagem.Até mesmo, as crianças não alfabetizadas podem usufruir desta proposta, pois, inicialmente com a leitura de imagens e observação da direção de escrita estarão desenvolvendo habilidades na oralidade, interpretação e assim se apropriarão dos componentes para a aprendizagem da leitura e escrita.

REFERÊNCIAS

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____________, Fanny. Literatura infantil: gostosuras e bobices. São Paulo: Scipione, 1997.

____________, Fanny. Literatura infantil: gostosuras e bobices. 5 ed. São Paulo: Scipione, 2001.

BENJAMIN, Walter. Magia técnica arte e política: ensaios sobre literatura e história da cultura. 7.ed. São Paulo: Brasiliense, 1994. (Obras escolhidas, v.1).

BRAGA, Clarissa Bittencourt de Pinho e & GONÇALVES, Rosselini Brasileira Rosa Muniz & SOARES, Dielma, Castro. O canto do conto como ferramenta de disseminação da diversidade étnica nas histórias infantis. Congresso luso-brasileiro de história da educação, 2014.

BUSATTO, Cléo. Contar e encantar: pequenos grandes segredos da narrativa. Petrópolis, RJ: Vozes, 2003.

CAVALCANTI, Joana. Caminhos da leitura infantil e juvenil: dinâmicas e vivencias na ação pedagógica. 3. Ed. São Paulo: Paulu, 2009.

FREIRE, Paulo. A importância do ato de ler: em três artigos que se completam. São Paulo: Autores Associados: Cortez, 1989.

FREIRE, Paulo. A importância do ato de ler. São Paulo: Cortez, 2005.

OLIVEIRA, Cristiane Madanêlo de. Livros e infância. [online]. Disponível em: http://www.graudez.com.br/litinf/livros.htm. Acesso em 25 de setembro de 2018).

PATRINI, Maria de Lourdes. A renovação do conto: emergência de uma pratica oral. São Paulo: Cortez, 2005.

SISTO, Celso. Textos e pretextos sobre a arte de contar histórias. Positivo. 2ª Ed. Curitiba Série: Práticas educativas, 2005.

TAHAN, Malba. A arte de ler e contar histórias. 2. ed. Rio de Janeiro: Conquista, 1961

A CONTAÇÃO DE HISTÓRIA COMOPRÁTICA EDUCATIVAVIVIANE NASCIMENTO DE ALMEIDA Graduação em Pedagogia pelo Centro Universitário Ítalo Brasileiro (2014); Professora de Educação Infantil (PEI) e Educação Infantil Ensino Funda-mental I (PEIF), na Prefeitura Municipal de São Paulo.

REVISTA EXATTO EDUCACIONAL | V.3 | N.3 | MARÇO 2021

Page 20: REVISTA EXATTO MARÇO

RESUMO As Diretrizes Curriculares Nacionais de Educação Infantil e as propostas pedagógicas existentes devem considerar princípios estéticos, voltando-se para diferentes manifestações artísticas e culturais e que considerem a heterogeneidade cultural, étnica, religiosa, social do país. A música como linguagem organiza os signos sonoros no espaço e no tempo, trazendo a possibilidade de trazer reflexão ao ouvinte sobre o mundo. Assim, é fundamental assegurar o ensino da música entre as crianças para que as mesmas possam entender e construir seu cotidiano e parte do seu mundo a partir da linguagem sonora. Por isto, a presente pesquisa discute as implicações da musicalização na Educação Infantil no desenvolvimento das crianças da creche e pré-escola. Os resultados indicaram que o uso da música é de fundamental importância para o desenvolvimento sociocognitivo das mesmas, em interdisciplinaridade com outras áreas de conhecimento.

Palavras-chave: Educação Infantil; Musicalização; Desenvolvimento Infantil.

INTRODUÇÃO

As crianças se envolvem com os sons desde muito pequenas, sendo que alguns pesquisadores discutem que esse contato acontece desde a fase intrauterina. Quando chegam a fase escolar, uma das problemáticas é que determinadas experiências sonoras ficam muitas vezes reduzida a ajudar na organização de atividades relacionadas à ocasião do recreio e do asseio das crianças, ganhando aspectos de disciplinarização da infância. Assim, justifica-se o presente artigo a discussão sobre a importância da música e sua utilização na Educação Infantil, a fim de encontrar sua identidade e de distinguir o ambiente em que vive, utilizando os sons através de suas diferentes propriedades: altura, espaço, grau, timbre, sons; através de brincadeiras, cantaroladas, assobios, risos, gritos, ou seja, emitindo os mais diversos sons. Sabe-se que em relação à criança, a música é criada ao brincar com os sons, transformando ambientes. Outra problemática é a questão de que muitos docentes ainda não compreendem a importância do ensino de música, classificando algumas músicas como musiquinhas, e ainda músicas e sons produzidos pelas próprias crianças, considerando-os barulhos.Desta forma, temos como objetivo geral discutir as implicações da musicalização no processo da Educação Infantil; e como objetivos específicos discutir a legislação pertinente a inserção da música na Educação Infantil, bem como suas contribuições para o ensino da mesma e para o desenvolvimento sociocognitivo das crianças que frequentam essa etapa escolar.

A MÚSICA E A EDUCAÇÃO INFANTIL

Podemos destacar que as atividades desenvolvidas dentro da Educação Infantil são direcionadas entre outros documentos pelas Diretrizes Curriculares Nacionais, como discutido abaixo:

(...) a primeira etapa da educação básica, oferecida em creches e pré-escolas, às quais se caracterizam como espaços institucionais não domésticos que constituem estabelecimentos educacionais públicos ou privados que educam e cuidam de crianças de 0 a 5 anos de idade no período diurno, em jornada integral ou parcial, regulados e supervisionados por órgão competente do sistema de ensino e submetidos a controle social (DCNs, 2010, p.12).

Os docentes da Educação Infantil devem estar sempre atentos cem relação aqueles que classificam algumas músicas ouvidas pelas crianças como musiquinhas, tratando-se de forma revelando como as crianças são concebidas e, além disso, como são pensadas e realizadas as relações entre adultos e crianças em ambientes para a infância igualmente onde se toca músicas e sons que, ao serem realizados pelas próprias crianças, são ouvidos como barulhos, contrariando as regras do silêncio. A canção é essencial como brincadeira, como cultura e como contato com o folclore (GOBBI, 2010).Ainda, não se pode ignorar o contato com outros gêneros musicais, de outras culturas e, principalmente com os sons de todas as partes do mundo, considerando também o que a criança porta advindo de seu contexto social, familiar, cultural. A ideia central da Educação Infantil não é apenas colocar para a criança músicas já prontas, mas sim oferecer momentos de descobertas e construções sonoras, canto e invenção de canções. Ainda, objetos devem ser transformados em instrumentos musicais, enriquecendo o repertório musical através de práticas diferenciadas com as crianças.A sonorização de histórias, a escuta sonora, brincadeiras cantadas, percepção de sons, barulhos, ruídos, compõem a creche e pré-escola, sendo essenciais para estabelecer o tempo das crianças juntamente a outras linguagens e não como aula de música, o que tantas vezes é observado.As funções psicológicas superiores vão sendo desenvolvidas nas crianças de acordo com dois tipos de fenômenos: as transformações psíquicas como o desenvolvimento da fala, da escrita e do desenho, por exemplo; e os processos de desenvolvimento das funções relacionadas à memória, julgamento, concentração e inteligência conceitual (TULESKI e EIDT, 2016).Ou seja, a música, se torna um estimulo primordial para o desenvolvimento cerebral da criança. Culturalmente é comum o hábito de cantar e dançar para os bebês, auxiliando tanto no aprendizado musical, quanto no desenvolvimento da afetividade, da socialização e da aquisição da linguagem.Por fim, a educação é um processo contínuo e evolutivo, e deve ser pautado principalmente na criança, tornando-se necessário evidenciar este processo já na educação infantil, caracterizada por ser uma fase relevante no desenvolvimento humano. Deve-se conceber a criança como um ser social e histórico, sendo que a aprendizagem nessa esfera se dá pelas interações entre a criança e o mundo a sua volta. Observa-se, portanto diferentes orientações didáticas, que presam a utilização dos jogos e brincadeiras, além de atividades que envolvam o reconhecimento do próprio corpo, do corpo do outro, da música, da dança e da imitação gestual.

A LEGISLAÇÃO NA EDUCAÇÃO INFANTIL

A Lei Nacional nº 11.769/2008, trouxe a educação em música como obrigatória, alterando o artigo 26 da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDBEN nº 9394/1996), trazendo o convite de se repensar nas práticas artísticas como as artes visuais, a dança, o teatro e a música. A música foi considerada uma área de competência que requer estudo, prática, reflexão e diversidade, devendo existir no Projeto Político Pedagógico da escola. Além disso, ela deve constar nos planejamentos pedagógicos, ser trabalhada interdisciplinarmente, contribuindo para o desenvolvimento cognitivo e pleno de crianças e adolescentes. Já as Diretrizes Nacionais para a operacionalização do Ensino da Música na Educação Básica (CNE/CEB nº 12/2013 de 04/12/2013) trouxeram a urgência de um currículo que contemplasse uma matriz de saberes para o ensino de música, constituindo-se em uma ferramenta que contribui para o trabalho do docente especialista e não especialista desenvolvendo a Educação Musical na Educação Básica e, especialmente na Educação Infantil.Outra mudança na educação ocorreu com a chegada da Base Nacional Comum Curricular (BNCC), documento orientador para que ocorra a equidade nos sistemas de ensino do Brasil inteiro. No caso da música:

A Música é a expressão artística que se materializa por meio dos sons, que ganham forma, sentido e significado no âmbito tanto da sensibilidade subjetiva quanto das interações sociais, como resultado de saberes e valores diversos estabelecidos no domínio da cultura. A ampliação e a produção dos conhecimentos musicais passam pela percepção, experimentação, reprodução, manipulação e criação de materiais sonoros diversos, dos mais próximos aos mais distantes da cultura musical dos alunos. Esse processo lhes possibilita vivenciar a música inter-relacionada à diversidade e desenvolver saberes musicais fundamentais para a sua inserção e participação crítica e ativa na sociedade (BNCC, 2017, p. 154).

No caso da BNCC voltada para a Educação Infantil, esta ampliou a jornada destinada às experiências, envolvendo a Arte como um todo e suas linguagens, trazendo a música como elemento obrigatório desde a infância. Neste sentido, as discussões do trabalho docente têm ocorrido de forma significativa, a fim de trazer métodos adequados ao trabalho com a primeira infância (BRASIL, 2019).Ainda, de acordo com Mendes (2009), os documentos orientadores da Educação Infantil, trazem a importância do trabalho com a linguagem musical utilizando-se de improvisações, de estudos corporais, da escuta de sons e música, da construção de instrumentos musicais, gerando e pensando em música. É através da música que a criança aprende a se expressar. A escola deve desenvolver potencialidades apresentando sua parte poética, sua composição e sua diversidade. Uma combinação entre os deleites que a música promove demonstram a importância para o desenvolvimento cognitivo e educacional das crianças.Por fim, o Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil traz a expressão corporal como uma das linguagens que devem ser trabalhadas nesse período, permitindo assim a criança a tomar consciência de si mesma, expressando e conhecendo o mundo à sua volta. A música pode contribuir para a exploração de diversas formas de como sentir o corpo proporciona às crianças o conhecimento de suas características, limitações e formas de expressão: “a riqueza de possibilidades da linguagem corporal revela um universo a ser vivenciado, conhecido, desfrutado” (AYOUB, 2001, p. 57), pois, o movimento corporal é a essência das crianças.A criança expressa-se principalmente através da fala e da dança, movimentando-se corporalmente. Assim:

É com o corpo que a criança elabora todas as suas experiências vitais, e organiza toda a sua personalidade. Através dele ela percebe o mundo, e perceber o mundo é aprender (e reaprender) com seu próprio corpo; perceber o mundo, portanto, é perceber o corpo; o corpo é assim, sensação, percepção e ação (STEUCK, 2008, p. 13-14).

MÚSICA E AS CRIANÇAS

A música organiza os signos sonoros no espaço e no tempo; e de acordo com as pesquisas voltadas para a origem da música e a sua importância para as relações sociais, elas vêm sendo aprofundadas desde o século XX, buscando explicações na biologia, na sociologia e na antropologia (MARIANO, 2015).A criança logo cedo costuma ter contato com a música. Inicialmente com sua mãe cantarolando com voz doce e suave, crescendo e percebendo que o mundo ao seu redor é regido pela musicalidade. A música está presente em diversos lugares e momentos, seja nas músicas de embalar, nas brincadeiras, nos brinquedos sonoros, nas danças, entre outras ações, podendo marcar afetivamente determinados momentos. Assim, de acordo com Nogueira (2003), a música está no nosso dia a dia, nos costumes e nas tradições de uma dada sociedade, nas festas e recordações especiais. Ou seja, a música contribui para a fixação de algumas regras, possibilitando diferentes aprendizados.A começar do nascimento entramos em contato com os sons, desde que nascemos estamos predispostos aos sons e composições, iniciando assim o mundo da linguagem. Por isso, essa relação prematura favorece o desenvolvimento de nossas aptidões cognitivas, linguísticas e motoras (SIMIONATO e TOURINHO, 2007). Para Brito (2003), a criança quando escuta música não quer dizer que abraça regras ou nota especificidades, mas sim vive aquele momento de aprendizagem. Por isso, a criança ao ter contato com a música deve determinadas certas capacidades, diferenciando o escutar, os diferentes tipos de sons e as diferenças culturais existentes. Existindo a possiblidade de ampliar as formas de comunicação e expressão, desenvolve-se ainda uma boa comunicação: “A importância do ensino de música na escola reside, então, na possibilidade de despertar habilidades e condutas na criança, levando-a a sentir- se sensibilizada pela música valendo-se da criação e da livre expressão” (LOUREIRO, 2003, p.1).Assim, a utilização da música na Educação Infantil desenvolve as potencialidades das crianças e deve respeitar sua individualidade, seu contexto cultural, étnico, religioso, entre outros aspectos, concebendo a criança como um ser único que apresenta características peculiares e que precisa desenvolver diferentes habilidades e linguagens para interagir com o mundo que a cerca. Sabe-se que a metodologia principal na Educação Infantil é a ludicidade, porém é preciso desenvolver outras aprendizagens e a Arte nesse sentido pode trazer boas contribuições dentro desta proposta. Ainda, nessa etapa de escolaridade, é necessário dispor de ferramentas e práticas que trabalhem a diversidade e o contexto da criança, explorando as suas potencialidades. O ensino da música envolve a construção do sujeito musical, a partir da constituição da linguagem. Esta transforma a criança, no que se refere à percepção, as formas de pensar, agir e interagir com o mundo e com os outros. Por fim, a música enquanto linguagem organiza os signos sonoros no espaço e no tempo, motivo pelo qual constitui-se como possibilidade de trazer reflexão ao ouvinte sobre o mundo, sobre o trabalho docente e principalmente o desenvolvimento das crianças, para que ela cresça plena e feliz, inclusive.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

De acordo com a pesquisa realizada, foi possível perceber que a musicalização na Educação Infantil tem por objetivo estimular o desenvolvimento global da criança, integrando sua individualidade, seu contexto socioeconômico, cultural, étnico, entre outros, concebendo a criança como um ser único que apresenta características peculiares e que interage com outras crianças e adultos.A musicalização, assim como outras formas de arte e a ludicidade, são a base da Educação Infantil. Para que o trabalho com música se torne viável nesta fase escolar, é necessário pensar em ferramentas e práticas trabalhando a diversidade e o contexto da criança, explorando assim suas potencialidades. O ensino da música envolve a construção do indivíduo musical, a partir da constituição da linguagem da música. O uso desse tipo de conceito transforma a criança, no que se referem à percepção, formas de agir e pensar, quanto os aspectos subjetivos. A escola é o primeiro ambiente no qual a criança vem a estabelecer suas relações sociais foram do ciclo familiar, essa situação nova na vida infantil deve ser acompanhada para que ao oferecer à criança um novo mundo diverso, repleto de situações na qual tenha que elaborar novos mecanismos de compreensão de fatos, conceitos e atitudes ela se sinta acolhida e atendida em meio a esse novo desafio, onde a criança que ingressa na vida escolar em meio a essa ampliação de relações possa construir sua concepção social do mundo.Ainda, a música pode contribuir como uma possibilidade de compreender através do embasamento teórico a forma com que as crianças constroem as suas relações sociais do nascimento até o momento da primeira infância, através de meios a princípio físicos e posteriormente através de aspectos mais subjetivos definidos como emoções, desejos e sentimentos.Assim, a música como ferramenta dinâmica na Educação Infantil, auxiliar no trabalho docente e na aprendizagem das crianças, trazendo a oportunidade do docente trabalhar a diversidade em sala de aula e desenvolvendo diferentes habilidades nos pequenos. Mesmo que haja docentes que ainda se espelham em modelos pedagógicos mais tradicionais, seguindo determinadas regras e formas de comportamento, de acordo com a pesquisa a maioria dos docentes ainda acredita que a afetividade, a ludicidade e a utilização da música são as melhores formas de se relacionar com as crianças podendo desenvolver a

comunicação oral e dialética conforme proporcione respeito e liberdade de ideias e conhecimentos prévios das crianças.Além disso, outra contribuição do uso da música durante a Educação Infantil é que esse período é um momento em que a criança experimenta, ajusta e constrói movimentos corporais provenientes da interação com os demais colegas. E a música pode desenvolver isso, por exemplo, através da dança, desenvolvendo a autonomia corporal e de ter contato com diferentes vivências e movimentos corporais provenientes da cultura a seu redor. Assim, na Educação Infantil é necessário desenvolver uma pedagogia que organize o fazer o pedagógico em torno de diferentes linguagens as quais a criança utiliza para expressar e se comunicar com o mundo que a cerca.

REFERÊNCIAS

AYUOB, E. Reflexões sobre a Educação Física na Educação Infantil. Revista Paulista de Educação Física, São Paulo, vol. 4, n. 4, p. 53-60, 2001.

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Godoi, L. R. (2011). A importância da música na educação infantil. Trabalho de conclusão de curso. Universidade Estadual de Londrina, Londrina, PR, Brasil. Recuperado de: http://www.uel.br/ceca/pedagogia/pages/arquivos/LUIS%20RODRIGO%20GODOI.pdf. Acesso em: 02 mar.2021.

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LOUREIRO, Alícia Maria Almeida. O ensino de música na escola fundamental. Campinas, SP: Papirus, 2003.

MARIANO, Fabiana Leite Rabello. Música no berçário: formação de professores e a teoria da aprendizagem musical de Edwin Gordon. São Paulo: Universidade de São Paulo / Faculdade de Educação, 2015.

NOGUEIRA, Monique Andries. A música e o desenvolvimento da criança. Revista da UFG, Vol. 5, No. 2, dez 2003. Disponível em: www.proec.ufg.br. Acesso em: 09 mar. 2021.

SIMIONATO, L. Cristina; TOURINHO, Cristina. Contribuição do aprendizado de canções no desenvolvimento da linguagem verbal. In ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE COGNIÇÃO E ARTES MUSICAIS. 2007. Anais do 3º Simpósio de Cognição e Artes Musicais. Bahia UFBH 2007 p. 371-377.

STEUCK, C.D. Corporeidade e educação: um olhar a partir da epistemologia social. 2008. Dissertação (Mestrado em Educação). Blumenau: Programa de Pós Graduação em Educação, Universidade Regional de Blumenau – FURB, 2008.

TULESKI, S. G., EIDTt, N. M. A periodização do desenvolvimento psíquico: atividade dominante e a formação das funções psíquicas superiores. In Martins, L. M., Abrantes, A. A., & Facci, M. G (Org.), Periodização histórico-cultural do desenvolvimento psíquico: do nascimento à velhice (pp.35-62). Campinas, SP, 2016: Autores Associados

RESUMO

Com o avanço da tecnologia e agitação do mundo moderno, torna-se um desafio cada vez maior despertar nas crianças o prazer pela leitura e a busca por livros como forma de entretenimento, apesar de hoje haver inúmeros exemplares com os mais variados recursos e formatos: ilustrações coloridas, em alto relevo, interativos, só com imagens, que podem ser levados para a piscina ou banheiro, livro CD, sonoro, de pano, de colorir, 3D, com fantoche, gigante, cartonado, etc. O trabalho a seguir tem como objetivo mostrar a importância da contação de história como recurso pedagógico, fazendo com que o aluno desenvolva aspectos cognitivos, afetivos e sociais, podendo ainda desenvolver na criança valores fundamentais como ética, respeito e moral. É fundamental transformar o contato com as histórias em um momento de grande diversão, quando a criança pode expor seus sentimentos e criatividade, possibilitar que ela viaje através do imaginário e vivencie outras realidades diferentes do seu cotidiano. Usamos como referencial autores consagrados nesta área, que nos dão a certeza de que o assunto abordado é de fundamental importância para professores que atuam na Educação Infantil e no Ensino Fundamental, porque é nesta fase da vida que as crianças internalizam conhecimentos e valores que se refletem ao longo de suas vidas..Palavras-chave: Contação de história; Criança; Conhecimento

INTRODUÇÃO

Sabe-se que, na Antiguidade as notícias, lendas, histórias e poemas eram transmitidos ao público através de canções e não escritos em papel. Ao contador de histórias, que também era chamado de bardo, incumbia-se a missão de trazer e levar acontecimentos dos lugares desconhecidos aos povoados, vilarejos e reinos por onde passava, já que ele era um ser nômade. Nas narrativas realizadas por estes trovadores, era indispensável à audiência, as vozes que o corpo expressava através dos movimentos e a relação que o narrador criava com o público.Assim, os cidadãos reuniam-se perto de fogueiras, em baixo de árvores, para se envolverem com os ‘causos’ contados. Diante da reação do público, o menestrel recorria a fatos da memória ou a riqueza de sua imaginação 32 para agradar, surpreender ou apavorar aos seus ouvintes. Desta maneira, as mensagens eram repassadas para outras pessoas gerando novos saberes.Vivemos um período em que a mídia e as tecnologias estão cada vez mais acessíveis às crianças; as informações chegam pelos meios de comunicação. Os livros estão sendo deixados de lado, as histórias estão sendo esquecidas, o que torna um desafio para o educador levar as crianças em idade escolar a apreciar a leitura. Acredita-se que esta seja uma atividade necessária e imprescindível no processo de desenvolvimento da criança, pois a contação de histórias auxilia na formação humana e, por isso, deve ser valorizada e desenvolvida no meio escolar a fim de potencializar a imaginação, a linguagem, a atenção, a memória, o gosto pela leitura e outras habilidades humanas, além de contribuir no processo de aprendizagem e socialização da criança instiga a criatividade, a oralidade, incentiva o gosto pela leitura, contribui na formação da personalidade e no desenvolvimento o social e afetivo. A contação de história nas escolas era uma forma de distrair as crianças e hoje vem ressurgindo na figura do contador de histórias. De acordo com vários estudiosos, a contação de histórias é um precioso auxílio à prática pedagógica de professores na Educação Infantil e nos anos iniciais do Ensino Fundamental.

A ARTE DE CONTAR HISTÓRIAS

A leitura é uma atividade inerente à condição humana. Freire (2005) afirma que a leitura de mundo antecede à da palavra, ou seja, desde que nascemos somos leitores do mundo e nossas ações decorrem dessa leitura. Ela é muito importante

para inspirar sentimentos, valores, condutas e a celebração da própria vida. Por isso, a leitura exerce um importante papel no crescimento intelectual, crítico e criativo do aluno, desenvolvendo as suas potencialidades e, consequentemente, o seu rendimento escolar, tanto como estudantes, como também no aperfeiçoamento de sua personalidadeNa antiguidade a contação oral de histórias era vista sob um olhar inferior à escrita, apesar disso os povos se reuniam ao redor da fogueira e contavam suas lendas e contos, espalhando a sua cultura e os seus costumes. Essas lendas e contos eram histórias do imaginário popular pertencentes à memória coletiva, destinadas, a ouvintes, adultos e crianças, que não sabiam ler. Segundo Malba Tahan (1966, p.24) “até os nossos dias, todos os povos civilizados ou não, tem usado a história como veículo de verdades eternas, como meio de conservação de suas tradições, ou da difusão de ideias novas.”. O homem descobriu que a história além de entreter, causava a admiração e conquistava a aprovação dos ouvintes. O contador de histórias tornou-se o centro da atenção popular pelo prazer que suas narrativas proporcionavam.Atualmente, é comum afirmar que o ouvir e o contar histórias perderam-se no tempo e que os espaços ocupados pelos seus contadores foram sendo preenchidos por outros interesses. Relembram-se as ideias de Benjamin (1994), que reconhece o ato de contar histórias como um fato importante nas relações humanas e que tal prática é significativa na manutenção dessas relações, bem como acredita que o narrador é um homem que sabe dar conselhos, porém, prenuncia a morte da narrativa. Segundo o autor, “a arte de narrar está definhando, porque a sabedoria – o lado épico – está em extinção.” (BENJAMIN, 1994, p. 200-201). De acordo com o autor, um dos fatores que contribuíram para a possível extinção da narrativa oral e de seus narradores foi a difusão o romance pelos meios de comunicação, que criaram formas individualistas de comunicação.

O referido teórico afirma que:

Já passou o tempo que o tempo não contava. O homem de hoje não cultiva o que não pode ser abreviado. Com efeito, o homem conseguiu abreviar até a narrativa. Assistimos em nossos dias ao nascimento da short story, que se emancipou da tradição oral e não mais permite essa lenta superposição de camadas finas e translúcidas, que representa a melhor imagem do processo pelo qual a narrativa vem à luz do dia, como coroamento das várias camadas constituídas pelas narrações sucessivas. (BENJAMIN, 1994, p. 206).

A CONTAÇÃO DE HISTÓRIAS COMO PRÁTICA EDUCATIVA A contação de histórias é uma prática muito antiga e de grande relevância para a história da humanidade. Documenta-se que, antes mesmo da escrita ser inventada, já havia o costume de utilizar o conto oral como instrumento de transmissão de conhecimento. Através dessa tradição oral muitas sociedades conseguiram preservar a sua cultura, e, consequentemente, deixaram um rico legado de saberes, crenças e tradições, pois cada geração tinha o dever de contar as histórias para as gerações seguintes (BUSSATO, 2003; PATRINI, 2005). O conto oral é uma das mais antigas formas de expressão. E a voz constitui o mais antigo meio de transmissão. Graças à voz, o conto é difundido no mundo inteiro, preenche diferentes funções, dando conselhos, estabelecendo normas e valores, atentando os desejos sonhados e imaginados, levando às regiões mais longínquas a sabedoria dos homens experimentados (PATRINI, 2005, p.118). Pode-se dizer que a contação de histórias configura-se como um ato de resistência e de preservação identitária, pois, mesmo com o advento de novas tecnologias de informação e comunicação, é um processo que perdura até os dias atuais e que ocorre em diversos ambientes de socialização, especialmente no núcleo familiar e na escola.A família é a primeira e principal fonte de histórias. No ambiente familiar, ouvimos nossas primeiras histórias, visto que as pessoas constituintes dessa instituição social são as primeiras a intermediar o contato da criança com o texto oral. É, através desse texto, que se tem uma das mais ricas formas de apresentar outros contextos e o passo inicial para a “leitura de mundo” (FREIRE, 1989). Afinal, as crianças não precisam ouvir histórias apenas quando já adquiriram o sistema de representação da língua escrita. “[…] como é importante para a formação de qualquer criança ouvir muitas, muitas histórias… escutá-las é o início da aprendizagem para ser leitor, e ser leitor é ter um caminho absolutamente infinito de descoberta e de compreensão do mundo […]”. (ABRAMOVICH, 1997, p.16). No chão da escola, essa prática tem um significativo papel no processo de ensino-aprendizagem, podendo ser trabalhada de diversas formas. A contação de história apresenta as crianças ao universo da narrativa e, por isso, pode ser um poderoso instrumento para promover o gosto e hábito à leitura, a ampliação das experiências sociais, o desenvolvimento da imaginação, a capacidade de escutar e dar sequência lógica aos fatos, a ampliação do vocabulário e a potencialização da importância da linguagem oral.Com o intuito de propiciar o conhecimento e o encanto dessa arte que atravessou os tempos, o(a) professor(a) precisa planejar o momento da contação de histórias, sendo importante conhecer previamente o que será narrado para as crianças, durante o momento educativo, para que não perca o que tem de lúdico e belo da contação de histórias. […] para a criança, não se pode fazer isso de qualquer jeito, pegando o primeiro volume que se vê na estante… E aí, no decorrer da leitura, demonstrar que não está familiarizado com uma ou outra palavra (ou com várias), empacar ao pronunciar o nome dum determinado personagem ou lugar, mostrar que não percebeu o jeito que o autor construiu suas frases e dando as pausas nos lugares errados, […] Por isso, ler o livro antes, bem lido, sentir como nos pega, nos emociona ou nos irrita… Assim quando chegar o momento de narrar a história, que se passe emoção verdadeira, aquela que vem lá de dentro, lá do fundinho, e que por isso, chega no ouvinte… (ABRAMOVICH, 1997, p. 18-20) A contação de histórias deve fazer parte do acolhimento das crianças e deve ser feita sem improvisos, para ser uma experiência contagiante e de muita troca de experiências entre os participantes, permitindo que a ludicidade passe a fazer

parte do cotidiano da escola.

O lúdico é importante no acolhimento da diversidade cultural, pois desperta a vontade de aprender sobre e compreender o outro, mas também é mais um elemento que modifica a história e o contexto. Quando adicionamos brincadeiras e estimulamos as crianças a interagir com a história contada, ela se apropria do conteúdo, faz relações com as suas vivências e imprime a sua própria marca. (BRAGA, GONÇALVES & SOARES, 2014, p.7) Assim, cada conto narrado pode despertar o desejo de ensinar e aprender novos conhecimentos, através de diferentes reações e significados atribuídos por cada criança com seu jeito único de perceber o mundo, pois as mesmas vivenciam ambientes e situações diversas fora da escola e terão muitas contribuições a oferecer durante a interpretação da história narrada, através de desenhos, brincadeiras, jogos, entre outros.Por fim, a atividade de contar histórias é uma forma potente de combate à rotinização do trabalho docente. Essa prática pode trazer novos elementos para a sala de aula, colaborando, assim, para a promoção de uma educação saudável, rica em descobertas e aprendizados e marcada pela nossa sábia tradição de ouvir e contar histórias.

METODOLOGIAS PARA CONTAR HISTÓRIAS

Existem diversos métodos de narrar uma história, mas quando se trata do ambiente escolar, de crianças e docentes narradores de histórias, é importante destacar que, contar uma história para crianças, vai muito além disto, pois, se trata de uma atividade de suma importância. Contudo, Oliveira cita que existem diferenças entre ler e contar.

As histórias contadas oralmente têm uma força de transmissão oral, isto é: a voz, o olhar e o gesto vivo do contador de histórias, que alegra ou entristece a sua platéia. Na “contação” usam-se as próprias palavras, há variações nas versões de cada história, permite-se o uso de recursos e está mais próxima da oralidade. A criança aprende mais sobre a língua que se fala, amplia seu repertório e seu universo imaginário, percebe que as histórias podem ser mudadas e começa a criar suas próprias histórias. Ao ler o professor apresenta aos alunos o universo letrado, instigam a curiosidade pelos livros e seus conteúdos. Neste caso a história é sempre a mesma, independente de quem a lê. Podemos modificar a entonação, a altura ou o timbre da voz, mas o texto é sempre o mesmo. A leitura traz consigo marcas específicas da língua escrita e que não utilizamos cotidianamente ao falar. (OLIVEIRA, 2006, p. 04).

Segundo Cavalcanti (2009) um excelente narrador de histórias é aquele que contém o dom natural para fazer da sua história um conto mágico de narrativas. Sendo assim, podemos então dizer que uma história conduz a criança para um mundo mágico, quando escuta uma história ela pode desenvolver e atingir vários objetivos. Tahan cita que, através da contação de historias serão desenvolvidas várias habilidades no indivíduo, primeiro a expansão da língua infantil, o enriquecimento do vocabulário facilitando a expressão e a articulação das palavras, segundo será estimulada a inteligência e a criatividade, terceiro será a aquisição de conhecimentos e ampliação das experiências, quarta habilidade desenvolvida será à socialização, onde a crianças estará se identificando com o grupo e o ambiente, estabelecendo associações por analogia, quinta habilidade será a revelação das diferenças individuais, onde a professora facilitará o conhecimento de características predominantes em seus alunos, evidenciadas através das reações provocadas pelas narrativas, sexta habilidade será a formação de hábitos e atitudes sociais e morais, através da imitação de bons exemplos, estimulando bons sentimentos na criança e incitando-a na vida moral, Por fim. Sétima e ultima habilidade será a do interesse pela leitura, familiarizando a criança com os livros e histórias, despertando, para o futuro, esse interesse tão necessário. É notável o diferencial nos olhos de quem narra uma história, conseguimos notar a sua habilidade sobre os livros, tanto para transferir informações, quanto para montagem de repertório, de figurino... por fim “é exatamente do fascínio de ler que nasce o fascínio de contar. E contar histórias hoje significa salvar o mundo imaginário” (SISTO, 2005, p.28). Para ter um bom aproveitamento em um contação de histórias, deve conter imagens verbais, sonoras e corporais. Há algum tempo atrás, para se contar uma história não era utilizado nenhum método para prender a atenção dos ouvintes, ou seja, a história era contada oralmente, se usava apenas basicamente a voz, alguns gestos e o olhar. No decorrer dos tempos e com as novas atualizações e novos recursos as histórias passaram a ser narradas de maneiras diferentes de forma mais lúdicas e criativas. No momento atual o docente encontra vários recursos lúdico/pedagógicos para assim proporcionar ao aluno um excelente momento de contação de histórias, basta um pouco de criatividade e então, podemos confeccionar: dedoches, flanelógrafo, cineminhas, peças teatrais, fantoches.... Também temos livros de tecido, feitos com EVA, de plásticos e também específicos para a hora do banho. Esses recursos auxiliam o contador na apresentação da história, pois além de conseguir prender a atenção da criança para que escute atentamente também conseguem fazer com que o momento da história possa ser de imaginação.

Utilizam-se outras linguagens: a música, a mímica, a dança, as artes plásticas... tudo é bem-vindo quando desperta o sabor de um passeio com o qual se sonhou há muito tempo, com o qual se restituiu o tempo do jogo do faz-de-conta. (SISTO, 2005, p. 32).

Para se contar uma história sem o apoio de um livro o docente deve utilizar algumas estratégias, como mudanças no tom de voz, gestos corporais, além de conhecer toda a história que será contada, pois assim o momento da contação ocorrerá sem interrupções e com bastante satisfação.

Abramovich propõe que

Para contar histórias – seja qual for – é bom saber como se faz. Afinal, nela se descobrem palavras novas, se entra em contato com a música e com a sonoridade das frases, dos nomes... Se capta o ritmo, a cadência do conto, fluindo como uma canção ... Ou se brinca com a melodia dos versos, com o acerto das rimas, com o jogo das palavras... Contar

histórias é uma arte. (2001, p. 18). Com isso, quando uma criança houve uma história ela é capaz de expressar suas opiniões, fazer descobertas, ter dúvidas ou argumentar questões relacionadas e exercer a relação verbal que favorece a fala.

Com isso, quando uma criança houve uma história ela é capaz de expressar suas opiniões, fazer descobertas, ter dúvidas ou argumentar questões relacionadas e exercer a relação verbal que favorece a fala.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A contação de histórias é uma atividade fundamental que transmite conhecimentos e valores, sua atuação é decisiva na formação e no desenvolvimento do processo ensino-aprendizagem, utilizá-la em sala de aula permite que todos saiam ganhando, tanto os alunos, que serão instigados a imaginar e criar muito mais, quanto os professores, que podem ministrar uma aula muito mais agradável e produtiva. Além de alcançar o objetivo pretendido: uma aprendizagem verdadeiramente significativa.O professor pode alcançar muitos objetivos por meio dela, pois ler histórias para criança é uma atividade prazerosa, com a qual poderá fazê-la expressar suas próprias percepções de mundo, é preciso tornar as crianças familiarizadas com os livros, orientando-as quanto ao manuseio e à sua conservação, já que com as histórias elas aprendem brincando a respeitar regras, se divertirem, seja através da imitação, socialização, interação ou dificuldade a ser superada.A leitura dever ser cultivada desde a primeira infância, pois mesmo sem interagir ou entender, a criança vai se sentindo confortável até o momento em que passa a ter entendimento do contexto criando prazer e admiração pelas histórias.Mesmo antes de aprender a ler, as crianças devem ser colocadas em contato com a literatura. Ao ver um adulto lendo, ao ouvir uma história contada por ele, os pequenos começam a se interessar pelo mundo das palavras. Contar histórias para crianças deve ser um ato constante, não só porque executá-lo é o início da aprendizagem para ser leitor, mas para provocar a imaginação. Deve dar prazer a quem conta e ao ouvinte. Constitui fonte de prazer e encantamento pela vida.É ouvindo histórias que se pode descobrir o mundo imenso de conflitos e soluções, que se podem sentir novas e diferentes emoções, conhecerem lugares novos, começar a formar opiniões, critérios, conceitos e novos valores. A história contada através da oralidade permite a interação entre contador e ouvintes, já que o corpo e a voz propiciam vivências comunitárias, perdidas na aceleração da vida moderna.O principal objetivo de contar uma história é divertir, estimulando a imaginação, mas uma história bem contada pode aumentar o interesse pela aula ou permitir a auto-identificação, favorecendo a compreensão de situações desagradáveis e ajudando a resolver conflitos, sendo assim, é importante que a criança tenha acesso a diferentes tipos de textos, onde ela construirá sua aprendizagem.Até mesmo, as crianças não alfabetizadas podem usufruir desta proposta, pois, inicialmente com a leitura de imagens e observação da direção de escrita estarão desenvolvendo habilidades na oralidade, interpretação e assim se apropriarão dos componentes para a aprendizagem da leitura e escrita.

REFERÊNCIAS

ABRAMOVICH, Fanny. Literatura Infantil: gostosuras e bobices. São Paulo: Scipione,1993.

____________, Fanny. Literatura infantil: gostosuras e bobices. São Paulo: Scipione, 1997.

____________, Fanny. Literatura infantil: gostosuras e bobices. 5 ed. São Paulo: Scipione, 2001.

BENJAMIN, Walter. Magia técnica arte e política: ensaios sobre literatura e história da cultura. 7.ed. São Paulo: Brasiliense, 1994. (Obras escolhidas, v.1).

BRAGA, Clarissa Bittencourt de Pinho e & GONÇALVES, Rosselini Brasileira Rosa Muniz & SOARES, Dielma, Castro. O canto do conto como ferramenta de disseminação da diversidade étnica nas histórias infantis. Congresso luso-brasileiro de história da educação, 2014.

BUSATTO, Cléo. Contar e encantar: pequenos grandes segredos da narrativa. Petrópolis, RJ: Vozes, 2003.

CAVALCANTI, Joana. Caminhos da leitura infantil e juvenil: dinâmicas e vivencias na ação pedagógica. 3. Ed. São Paulo: Paulu, 2009.

FREIRE, Paulo. A importância do ato de ler: em três artigos que se completam. São Paulo: Autores Associados: Cortez, 1989.

FREIRE, Paulo. A importância do ato de ler. São Paulo: Cortez, 2005.

OLIVEIRA, Cristiane Madanêlo de. Livros e infância. [online]. Disponível em: http://www.graudez.com.br/litinf/livros.htm. Acesso em 25 de setembro de 2018).

PATRINI, Maria de Lourdes. A renovação do conto: emergência de uma pratica oral. São Paulo: Cortez, 2005.

SISTO, Celso. Textos e pretextos sobre a arte de contar histórias. Positivo. 2ª Ed. Curitiba Série: Práticas educativas, 2005.

TAHAN, Malba. A arte de ler e contar histórias. 2. ed. Rio de Janeiro: Conquista, 1961

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Page 21: REVISTA EXATTO MARÇO

RESUMO As Diretrizes Curriculares Nacionais de Educação Infantil e as propostas pedagógicas existentes devem considerar princípios estéticos, voltando-se para diferentes manifestações artísticas e culturais e que considerem a heterogeneidade cultural, étnica, religiosa, social do país. A música como linguagem organiza os signos sonoros no espaço e no tempo, trazendo a possibilidade de trazer reflexão ao ouvinte sobre o mundo. Assim, é fundamental assegurar o ensino da música entre as crianças para que as mesmas possam entender e construir seu cotidiano e parte do seu mundo a partir da linguagem sonora. Por isto, a presente pesquisa discute as implicações da musicalização na Educação Infantil no desenvolvimento das crianças da creche e pré-escola. Os resultados indicaram que o uso da música é de fundamental importância para o desenvolvimento sociocognitivo das mesmas, em interdisciplinaridade com outras áreas de conhecimento.

Palavras-chave: Educação Infantil; Musicalização; Desenvolvimento Infantil.

INTRODUÇÃO

As crianças se envolvem com os sons desde muito pequenas, sendo que alguns pesquisadores discutem que esse contato acontece desde a fase intrauterina. Quando chegam a fase escolar, uma das problemáticas é que determinadas experiências sonoras ficam muitas vezes reduzida a ajudar na organização de atividades relacionadas à ocasião do recreio e do asseio das crianças, ganhando aspectos de disciplinarização da infância. Assim, justifica-se o presente artigo a discussão sobre a importância da música e sua utilização na Educação Infantil, a fim de encontrar sua identidade e de distinguir o ambiente em que vive, utilizando os sons através de suas diferentes propriedades: altura, espaço, grau, timbre, sons; através de brincadeiras, cantaroladas, assobios, risos, gritos, ou seja, emitindo os mais diversos sons. Sabe-se que em relação à criança, a música é criada ao brincar com os sons, transformando ambientes. Outra problemática é a questão de que muitos docentes ainda não compreendem a importância do ensino de música, classificando algumas músicas como musiquinhas, e ainda músicas e sons produzidos pelas próprias crianças, considerando-os barulhos.Desta forma, temos como objetivo geral discutir as implicações da musicalização no processo da Educação Infantil; e como objetivos específicos discutir a legislação pertinente a inserção da música na Educação Infantil, bem como suas contribuições para o ensino da mesma e para o desenvolvimento sociocognitivo das crianças que frequentam essa etapa escolar.

A MÚSICA E A EDUCAÇÃO INFANTIL

Podemos destacar que as atividades desenvolvidas dentro da Educação Infantil são direcionadas entre outros documentos pelas Diretrizes Curriculares Nacionais, como discutido abaixo:

(...) a primeira etapa da educação básica, oferecida em creches e pré-escolas, às quais se caracterizam como espaços institucionais não domésticos que constituem estabelecimentos educacionais públicos ou privados que educam e cuidam de crianças de 0 a 5 anos de idade no período diurno, em jornada integral ou parcial, regulados e supervisionados por órgão competente do sistema de ensino e submetidos a controle social (DCNs, 2010, p.12).

Os docentes da Educação Infantil devem estar sempre atentos cem relação aqueles que classificam algumas músicas ouvidas pelas crianças como musiquinhas, tratando-se de forma revelando como as crianças são concebidas e, além disso, como são pensadas e realizadas as relações entre adultos e crianças em ambientes para a infância igualmente onde se toca músicas e sons que, ao serem realizados pelas próprias crianças, são ouvidos como barulhos, contrariando as regras do silêncio. A canção é essencial como brincadeira, como cultura e como contato com o folclore (GOBBI, 2010).Ainda, não se pode ignorar o contato com outros gêneros musicais, de outras culturas e, principalmente com os sons de todas as partes do mundo, considerando também o que a criança porta advindo de seu contexto social, familiar, cultural. A ideia central da Educação Infantil não é apenas colocar para a criança músicas já prontas, mas sim oferecer momentos de descobertas e construções sonoras, canto e invenção de canções. Ainda, objetos devem ser transformados em instrumentos musicais, enriquecendo o repertório musical através de práticas diferenciadas com as crianças.A sonorização de histórias, a escuta sonora, brincadeiras cantadas, percepção de sons, barulhos, ruídos, compõem a creche e pré-escola, sendo essenciais para estabelecer o tempo das crianças juntamente a outras linguagens e não como aula de música, o que tantas vezes é observado.As funções psicológicas superiores vão sendo desenvolvidas nas crianças de acordo com dois tipos de fenômenos: as transformações psíquicas como o desenvolvimento da fala, da escrita e do desenho, por exemplo; e os processos de desenvolvimento das funções relacionadas à memória, julgamento, concentração e inteligência conceitual (TULESKI e EIDT, 2016).Ou seja, a música, se torna um estimulo primordial para o desenvolvimento cerebral da criança. Culturalmente é comum o hábito de cantar e dançar para os bebês, auxiliando tanto no aprendizado musical, quanto no desenvolvimento da afetividade, da socialização e da aquisição da linguagem.Por fim, a educação é um processo contínuo e evolutivo, e deve ser pautado principalmente na criança, tornando-se necessário evidenciar este processo já na educação infantil, caracterizada por ser uma fase relevante no desenvolvimento humano. Deve-se conceber a criança como um ser social e histórico, sendo que a aprendizagem nessa esfera se dá pelas interações entre a criança e o mundo a sua volta. Observa-se, portanto diferentes orientações didáticas, que presam a utilização dos jogos e brincadeiras, além de atividades que envolvam o reconhecimento do próprio corpo, do corpo do outro, da música, da dança e da imitação gestual.

A LEGISLAÇÃO NA EDUCAÇÃO INFANTIL

A Lei Nacional nº 11.769/2008, trouxe a educação em música como obrigatória, alterando o artigo 26 da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDBEN nº 9394/1996), trazendo o convite de se repensar nas práticas artísticas como as artes visuais, a dança, o teatro e a música. A música foi considerada uma área de competência que requer estudo, prática, reflexão e diversidade, devendo existir no Projeto Político Pedagógico da escola. Além disso, ela deve constar nos planejamentos pedagógicos, ser trabalhada interdisciplinarmente, contribuindo para o desenvolvimento cognitivo e pleno de crianças e adolescentes. Já as Diretrizes Nacionais para a operacionalização do Ensino da Música na Educação Básica (CNE/CEB nº 12/2013 de 04/12/2013) trouxeram a urgência de um currículo que contemplasse uma matriz de saberes para o ensino de música, constituindo-se em uma ferramenta que contribui para o trabalho do docente especialista e não especialista desenvolvendo a Educação Musical na Educação Básica e, especialmente na Educação Infantil.Outra mudança na educação ocorreu com a chegada da Base Nacional Comum Curricular (BNCC), documento orientador para que ocorra a equidade nos sistemas de ensino do Brasil inteiro. No caso da música:

A Música é a expressão artística que se materializa por meio dos sons, que ganham forma, sentido e significado no âmbito tanto da sensibilidade subjetiva quanto das interações sociais, como resultado de saberes e valores diversos estabelecidos no domínio da cultura. A ampliação e a produção dos conhecimentos musicais passam pela percepção, experimentação, reprodução, manipulação e criação de materiais sonoros diversos, dos mais próximos aos mais distantes da cultura musical dos alunos. Esse processo lhes possibilita vivenciar a música inter-relacionada à diversidade e desenvolver saberes musicais fundamentais para a sua inserção e participação crítica e ativa na sociedade (BNCC, 2017, p. 154).

No caso da BNCC voltada para a Educação Infantil, esta ampliou a jornada destinada às experiências, envolvendo a Arte como um todo e suas linguagens, trazendo a música como elemento obrigatório desde a infância. Neste sentido, as discussões do trabalho docente têm ocorrido de forma significativa, a fim de trazer métodos adequados ao trabalho com a primeira infância (BRASIL, 2019).Ainda, de acordo com Mendes (2009), os documentos orientadores da Educação Infantil, trazem a importância do trabalho com a linguagem musical utilizando-se de improvisações, de estudos corporais, da escuta de sons e música, da construção de instrumentos musicais, gerando e pensando em música. É através da música que a criança aprende a se expressar. A escola deve desenvolver potencialidades apresentando sua parte poética, sua composição e sua diversidade. Uma combinação entre os deleites que a música promove demonstram a importância para o desenvolvimento cognitivo e educacional das crianças.Por fim, o Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil traz a expressão corporal como uma das linguagens que devem ser trabalhadas nesse período, permitindo assim a criança a tomar consciência de si mesma, expressando e conhecendo o mundo à sua volta. A música pode contribuir para a exploração de diversas formas de como sentir o corpo proporciona às crianças o conhecimento de suas características, limitações e formas de expressão: “a riqueza de possibilidades da linguagem corporal revela um universo a ser vivenciado, conhecido, desfrutado” (AYOUB, 2001, p. 57), pois, o movimento corporal é a essência das crianças.A criança expressa-se principalmente através da fala e da dança, movimentando-se corporalmente. Assim:

É com o corpo que a criança elabora todas as suas experiências vitais, e organiza toda a sua personalidade. Através dele ela percebe o mundo, e perceber o mundo é aprender (e reaprender) com seu próprio corpo; perceber o mundo, portanto, é perceber o corpo; o corpo é assim, sensação, percepção e ação (STEUCK, 2008, p. 13-14).

MÚSICA E AS CRIANÇAS

A música organiza os signos sonoros no espaço e no tempo; e de acordo com as pesquisas voltadas para a origem da música e a sua importância para as relações sociais, elas vêm sendo aprofundadas desde o século XX, buscando explicações na biologia, na sociologia e na antropologia (MARIANO, 2015).A criança logo cedo costuma ter contato com a música. Inicialmente com sua mãe cantarolando com voz doce e suave, crescendo e percebendo que o mundo ao seu redor é regido pela musicalidade. A música está presente em diversos lugares e momentos, seja nas músicas de embalar, nas brincadeiras, nos brinquedos sonoros, nas danças, entre outras ações, podendo marcar afetivamente determinados momentos. Assim, de acordo com Nogueira (2003), a música está no nosso dia a dia, nos costumes e nas tradições de uma dada sociedade, nas festas e recordações especiais. Ou seja, a música contribui para a fixação de algumas regras, possibilitando diferentes aprendizados.A começar do nascimento entramos em contato com os sons, desde que nascemos estamos predispostos aos sons e composições, iniciando assim o mundo da linguagem. Por isso, essa relação prematura favorece o desenvolvimento de nossas aptidões cognitivas, linguísticas e motoras (SIMIONATO e TOURINHO, 2007). Para Brito (2003), a criança quando escuta música não quer dizer que abraça regras ou nota especificidades, mas sim vive aquele momento de aprendizagem. Por isso, a criança ao ter contato com a música deve determinadas certas capacidades, diferenciando o escutar, os diferentes tipos de sons e as diferenças culturais existentes. Existindo a possiblidade de ampliar as formas de comunicação e expressão, desenvolve-se ainda uma boa comunicação: “A importância do ensino de música na escola reside, então, na possibilidade de despertar habilidades e condutas na criança, levando-a a sentir- se sensibilizada pela música valendo-se da criação e da livre expressão” (LOUREIRO, 2003, p.1).Assim, a utilização da música na Educação Infantil desenvolve as potencialidades das crianças e deve respeitar sua individualidade, seu contexto cultural, étnico, religioso, entre outros aspectos, concebendo a criança como um ser único que apresenta características peculiares e que precisa desenvolver diferentes habilidades e linguagens para interagir com o mundo que a cerca. Sabe-se que a metodologia principal na Educação Infantil é a ludicidade, porém é preciso desenvolver outras aprendizagens e a Arte nesse sentido pode trazer boas contribuições dentro desta proposta. Ainda, nessa etapa de escolaridade, é necessário dispor de ferramentas e práticas que trabalhem a diversidade e o contexto da criança, explorando as suas potencialidades. O ensino da música envolve a construção do sujeito musical, a partir da constituição da linguagem. Esta transforma a criança, no que se refere à percepção, as formas de pensar, agir e interagir com o mundo e com os outros. Por fim, a música enquanto linguagem organiza os signos sonoros no espaço e no tempo, motivo pelo qual constitui-se como possibilidade de trazer reflexão ao ouvinte sobre o mundo, sobre o trabalho docente e principalmente o desenvolvimento das crianças, para que ela cresça plena e feliz, inclusive.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

De acordo com a pesquisa realizada, foi possível perceber que a musicalização na Educação Infantil tem por objetivo estimular o desenvolvimento global da criança, integrando sua individualidade, seu contexto socioeconômico, cultural, étnico, entre outros, concebendo a criança como um ser único que apresenta características peculiares e que interage com outras crianças e adultos.A musicalização, assim como outras formas de arte e a ludicidade, são a base da Educação Infantil. Para que o trabalho com música se torne viável nesta fase escolar, é necessário pensar em ferramentas e práticas trabalhando a diversidade e o contexto da criança, explorando assim suas potencialidades. O ensino da música envolve a construção do indivíduo musical, a partir da constituição da linguagem da música. O uso desse tipo de conceito transforma a criança, no que se referem à percepção, formas de agir e pensar, quanto os aspectos subjetivos. A escola é o primeiro ambiente no qual a criança vem a estabelecer suas relações sociais foram do ciclo familiar, essa situação nova na vida infantil deve ser acompanhada para que ao oferecer à criança um novo mundo diverso, repleto de situações na qual tenha que elaborar novos mecanismos de compreensão de fatos, conceitos e atitudes ela se sinta acolhida e atendida em meio a esse novo desafio, onde a criança que ingressa na vida escolar em meio a essa ampliação de relações possa construir sua concepção social do mundo.Ainda, a música pode contribuir como uma possibilidade de compreender através do embasamento teórico a forma com que as crianças constroem as suas relações sociais do nascimento até o momento da primeira infância, através de meios a princípio físicos e posteriormente através de aspectos mais subjetivos definidos como emoções, desejos e sentimentos.Assim, a música como ferramenta dinâmica na Educação Infantil, auxiliar no trabalho docente e na aprendizagem das crianças, trazendo a oportunidade do docente trabalhar a diversidade em sala de aula e desenvolvendo diferentes habilidades nos pequenos. Mesmo que haja docentes que ainda se espelham em modelos pedagógicos mais tradicionais, seguindo determinadas regras e formas de comportamento, de acordo com a pesquisa a maioria dos docentes ainda acredita que a afetividade, a ludicidade e a utilização da música são as melhores formas de se relacionar com as crianças podendo desenvolver a

comunicação oral e dialética conforme proporcione respeito e liberdade de ideias e conhecimentos prévios das crianças.Além disso, outra contribuição do uso da música durante a Educação Infantil é que esse período é um momento em que a criança experimenta, ajusta e constrói movimentos corporais provenientes da interação com os demais colegas. E a música pode desenvolver isso, por exemplo, através da dança, desenvolvendo a autonomia corporal e de ter contato com diferentes vivências e movimentos corporais provenientes da cultura a seu redor. Assim, na Educação Infantil é necessário desenvolver uma pedagogia que organize o fazer o pedagógico em torno de diferentes linguagens as quais a criança utiliza para expressar e se comunicar com o mundo que a cerca.

REFERÊNCIAS

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BRITO, Teca Alencar de. Música na educação infantil. São Paulo: Peirópolis, 2003.

GOBBI, Márcia. Múltiplas linguagens de meninos e meninas e a Educação Infantil. Anais do I Seminário Nacional: Currículo em Movimento – Perspectivas Atuais, Belo Horizonte, novembro de 2010.

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LOUREIRO, Alícia Maria Almeida. O ensino de música na escola fundamental. Campinas, SP: Papirus, 2003.

MARIANO, Fabiana Leite Rabello. Música no berçário: formação de professores e a teoria da aprendizagem musical de Edwin Gordon. São Paulo: Universidade de São Paulo / Faculdade de Educação, 2015.

NOGUEIRA, Monique Andries. A música e o desenvolvimento da criança. Revista da UFG, Vol. 5, No. 2, dez 2003. Disponível em: www.proec.ufg.br. Acesso em: 09 mar. 2021.

SIMIONATO, L. Cristina; TOURINHO, Cristina. Contribuição do aprendizado de canções no desenvolvimento da linguagem verbal. In ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE COGNIÇÃO E ARTES MUSICAIS. 2007. Anais do 3º Simpósio de Cognição e Artes Musicais. Bahia UFBH 2007 p. 371-377.

STEUCK, C.D. Corporeidade e educação: um olhar a partir da epistemologia social. 2008. Dissertação (Mestrado em Educação). Blumenau: Programa de Pós Graduação em Educação, Universidade Regional de Blumenau – FURB, 2008.

TULESKI, S. G., EIDTt, N. M. A periodização do desenvolvimento psíquico: atividade dominante e a formação das funções psíquicas superiores. In Martins, L. M., Abrantes, A. A., & Facci, M. G (Org.), Periodização histórico-cultural do desenvolvimento psíquico: do nascimento à velhice (pp.35-62). Campinas, SP, 2016: Autores Associados

RESUMO

Com o avanço da tecnologia e agitação do mundo moderno, torna-se um desafio cada vez maior despertar nas crianças o prazer pela leitura e a busca por livros como forma de entretenimento, apesar de hoje haver inúmeros exemplares com os mais variados recursos e formatos: ilustrações coloridas, em alto relevo, interativos, só com imagens, que podem ser levados para a piscina ou banheiro, livro CD, sonoro, de pano, de colorir, 3D, com fantoche, gigante, cartonado, etc. O trabalho a seguir tem como objetivo mostrar a importância da contação de história como recurso pedagógico, fazendo com que o aluno desenvolva aspectos cognitivos, afetivos e sociais, podendo ainda desenvolver na criança valores fundamentais como ética, respeito e moral. É fundamental transformar o contato com as histórias em um momento de grande diversão, quando a criança pode expor seus sentimentos e criatividade, possibilitar que ela viaje através do imaginário e vivencie outras realidades diferentes do seu cotidiano. Usamos como referencial autores consagrados nesta área, que nos dão a certeza de que o assunto abordado é de fundamental importância para professores que atuam na Educação Infantil e no Ensino Fundamental, porque é nesta fase da vida que as crianças internalizam conhecimentos e valores que se refletem ao longo de suas vidas..Palavras-chave: Contação de história; Criança; Conhecimento

INTRODUÇÃO

Sabe-se que, na Antiguidade as notícias, lendas, histórias e poemas eram transmitidos ao público através de canções e não escritos em papel. Ao contador de histórias, que também era chamado de bardo, incumbia-se a missão de trazer e levar acontecimentos dos lugares desconhecidos aos povoados, vilarejos e reinos por onde passava, já que ele era um ser nômade. Nas narrativas realizadas por estes trovadores, era indispensável à audiência, as vozes que o corpo expressava através dos movimentos e a relação que o narrador criava com o público.Assim, os cidadãos reuniam-se perto de fogueiras, em baixo de árvores, para se envolverem com os ‘causos’ contados. Diante da reação do público, o menestrel recorria a fatos da memória ou a riqueza de sua imaginação 32 para agradar, surpreender ou apavorar aos seus ouvintes. Desta maneira, as mensagens eram repassadas para outras pessoas gerando novos saberes.Vivemos um período em que a mídia e as tecnologias estão cada vez mais acessíveis às crianças; as informações chegam pelos meios de comunicação. Os livros estão sendo deixados de lado, as histórias estão sendo esquecidas, o que torna um desafio para o educador levar as crianças em idade escolar a apreciar a leitura. Acredita-se que esta seja uma atividade necessária e imprescindível no processo de desenvolvimento da criança, pois a contação de histórias auxilia na formação humana e, por isso, deve ser valorizada e desenvolvida no meio escolar a fim de potencializar a imaginação, a linguagem, a atenção, a memória, o gosto pela leitura e outras habilidades humanas, além de contribuir no processo de aprendizagem e socialização da criança instiga a criatividade, a oralidade, incentiva o gosto pela leitura, contribui na formação da personalidade e no desenvolvimento o social e afetivo. A contação de história nas escolas era uma forma de distrair as crianças e hoje vem ressurgindo na figura do contador de histórias. De acordo com vários estudiosos, a contação de histórias é um precioso auxílio à prática pedagógica de professores na Educação Infantil e nos anos iniciais do Ensino Fundamental.

A ARTE DE CONTAR HISTÓRIAS

A leitura é uma atividade inerente à condição humana. Freire (2005) afirma que a leitura de mundo antecede à da palavra, ou seja, desde que nascemos somos leitores do mundo e nossas ações decorrem dessa leitura. Ela é muito importante

para inspirar sentimentos, valores, condutas e a celebração da própria vida. Por isso, a leitura exerce um importante papel no crescimento intelectual, crítico e criativo do aluno, desenvolvendo as suas potencialidades e, consequentemente, o seu rendimento escolar, tanto como estudantes, como também no aperfeiçoamento de sua personalidadeNa antiguidade a contação oral de histórias era vista sob um olhar inferior à escrita, apesar disso os povos se reuniam ao redor da fogueira e contavam suas lendas e contos, espalhando a sua cultura e os seus costumes. Essas lendas e contos eram histórias do imaginário popular pertencentes à memória coletiva, destinadas, a ouvintes, adultos e crianças, que não sabiam ler. Segundo Malba Tahan (1966, p.24) “até os nossos dias, todos os povos civilizados ou não, tem usado a história como veículo de verdades eternas, como meio de conservação de suas tradições, ou da difusão de ideias novas.”. O homem descobriu que a história além de entreter, causava a admiração e conquistava a aprovação dos ouvintes. O contador de histórias tornou-se o centro da atenção popular pelo prazer que suas narrativas proporcionavam.Atualmente, é comum afirmar que o ouvir e o contar histórias perderam-se no tempo e que os espaços ocupados pelos seus contadores foram sendo preenchidos por outros interesses. Relembram-se as ideias de Benjamin (1994), que reconhece o ato de contar histórias como um fato importante nas relações humanas e que tal prática é significativa na manutenção dessas relações, bem como acredita que o narrador é um homem que sabe dar conselhos, porém, prenuncia a morte da narrativa. Segundo o autor, “a arte de narrar está definhando, porque a sabedoria – o lado épico – está em extinção.” (BENJAMIN, 1994, p. 200-201). De acordo com o autor, um dos fatores que contribuíram para a possível extinção da narrativa oral e de seus narradores foi a difusão o romance pelos meios de comunicação, que criaram formas individualistas de comunicação.

O referido teórico afirma que:

Já passou o tempo que o tempo não contava. O homem de hoje não cultiva o que não pode ser abreviado. Com efeito, o homem conseguiu abreviar até a narrativa. Assistimos em nossos dias ao nascimento da short story, que se emancipou da tradição oral e não mais permite essa lenta superposição de camadas finas e translúcidas, que representa a melhor imagem do processo pelo qual a narrativa vem à luz do dia, como coroamento das várias camadas constituídas pelas narrações sucessivas. (BENJAMIN, 1994, p. 206).

A CONTAÇÃO DE HISTÓRIAS COMO PRÁTICA EDUCATIVA A contação de histórias é uma prática muito antiga e de grande relevância para a história da humanidade. Documenta-se que, antes mesmo da escrita ser inventada, já havia o costume de utilizar o conto oral como instrumento de transmissão de conhecimento. Através dessa tradição oral muitas sociedades conseguiram preservar a sua cultura, e, consequentemente, deixaram um rico legado de saberes, crenças e tradições, pois cada geração tinha o dever de contar as histórias para as gerações seguintes (BUSSATO, 2003; PATRINI, 2005). O conto oral é uma das mais antigas formas de expressão. E a voz constitui o mais antigo meio de transmissão. Graças à voz, o conto é difundido no mundo inteiro, preenche diferentes funções, dando conselhos, estabelecendo normas e valores, atentando os desejos sonhados e imaginados, levando às regiões mais longínquas a sabedoria dos homens experimentados (PATRINI, 2005, p.118). Pode-se dizer que a contação de histórias configura-se como um ato de resistência e de preservação identitária, pois, mesmo com o advento de novas tecnologias de informação e comunicação, é um processo que perdura até os dias atuais e que ocorre em diversos ambientes de socialização, especialmente no núcleo familiar e na escola.A família é a primeira e principal fonte de histórias. No ambiente familiar, ouvimos nossas primeiras histórias, visto que as pessoas constituintes dessa instituição social são as primeiras a intermediar o contato da criança com o texto oral. É, através desse texto, que se tem uma das mais ricas formas de apresentar outros contextos e o passo inicial para a “leitura de mundo” (FREIRE, 1989). Afinal, as crianças não precisam ouvir histórias apenas quando já adquiriram o sistema de representação da língua escrita. “[…] como é importante para a formação de qualquer criança ouvir muitas, muitas histórias… escutá-las é o início da aprendizagem para ser leitor, e ser leitor é ter um caminho absolutamente infinito de descoberta e de compreensão do mundo […]”. (ABRAMOVICH, 1997, p.16). No chão da escola, essa prática tem um significativo papel no processo de ensino-aprendizagem, podendo ser trabalhada de diversas formas. A contação de história apresenta as crianças ao universo da narrativa e, por isso, pode ser um poderoso instrumento para promover o gosto e hábito à leitura, a ampliação das experiências sociais, o desenvolvimento da imaginação, a capacidade de escutar e dar sequência lógica aos fatos, a ampliação do vocabulário e a potencialização da importância da linguagem oral.Com o intuito de propiciar o conhecimento e o encanto dessa arte que atravessou os tempos, o(a) professor(a) precisa planejar o momento da contação de histórias, sendo importante conhecer previamente o que será narrado para as crianças, durante o momento educativo, para que não perca o que tem de lúdico e belo da contação de histórias. […] para a criança, não se pode fazer isso de qualquer jeito, pegando o primeiro volume que se vê na estante… E aí, no decorrer da leitura, demonstrar que não está familiarizado com uma ou outra palavra (ou com várias), empacar ao pronunciar o nome dum determinado personagem ou lugar, mostrar que não percebeu o jeito que o autor construiu suas frases e dando as pausas nos lugares errados, […] Por isso, ler o livro antes, bem lido, sentir como nos pega, nos emociona ou nos irrita… Assim quando chegar o momento de narrar a história, que se passe emoção verdadeira, aquela que vem lá de dentro, lá do fundinho, e que por isso, chega no ouvinte… (ABRAMOVICH, 1997, p. 18-20) A contação de histórias deve fazer parte do acolhimento das crianças e deve ser feita sem improvisos, para ser uma experiência contagiante e de muita troca de experiências entre os participantes, permitindo que a ludicidade passe a fazer

parte do cotidiano da escola.

O lúdico é importante no acolhimento da diversidade cultural, pois desperta a vontade de aprender sobre e compreender o outro, mas também é mais um elemento que modifica a história e o contexto. Quando adicionamos brincadeiras e estimulamos as crianças a interagir com a história contada, ela se apropria do conteúdo, faz relações com as suas vivências e imprime a sua própria marca. (BRAGA, GONÇALVES & SOARES, 2014, p.7) Assim, cada conto narrado pode despertar o desejo de ensinar e aprender novos conhecimentos, através de diferentes reações e significados atribuídos por cada criança com seu jeito único de perceber o mundo, pois as mesmas vivenciam ambientes e situações diversas fora da escola e terão muitas contribuições a oferecer durante a interpretação da história narrada, através de desenhos, brincadeiras, jogos, entre outros.Por fim, a atividade de contar histórias é uma forma potente de combate à rotinização do trabalho docente. Essa prática pode trazer novos elementos para a sala de aula, colaborando, assim, para a promoção de uma educação saudável, rica em descobertas e aprendizados e marcada pela nossa sábia tradição de ouvir e contar histórias.

METODOLOGIAS PARA CONTAR HISTÓRIAS

Existem diversos métodos de narrar uma história, mas quando se trata do ambiente escolar, de crianças e docentes narradores de histórias, é importante destacar que, contar uma história para crianças, vai muito além disto, pois, se trata de uma atividade de suma importância. Contudo, Oliveira cita que existem diferenças entre ler e contar.

As histórias contadas oralmente têm uma força de transmissão oral, isto é: a voz, o olhar e o gesto vivo do contador de histórias, que alegra ou entristece a sua platéia. Na “contação” usam-se as próprias palavras, há variações nas versões de cada história, permite-se o uso de recursos e está mais próxima da oralidade. A criança aprende mais sobre a língua que se fala, amplia seu repertório e seu universo imaginário, percebe que as histórias podem ser mudadas e começa a criar suas próprias histórias. Ao ler o professor apresenta aos alunos o universo letrado, instigam a curiosidade pelos livros e seus conteúdos. Neste caso a história é sempre a mesma, independente de quem a lê. Podemos modificar a entonação, a altura ou o timbre da voz, mas o texto é sempre o mesmo. A leitura traz consigo marcas específicas da língua escrita e que não utilizamos cotidianamente ao falar. (OLIVEIRA, 2006, p. 04).

Segundo Cavalcanti (2009) um excelente narrador de histórias é aquele que contém o dom natural para fazer da sua história um conto mágico de narrativas. Sendo assim, podemos então dizer que uma história conduz a criança para um mundo mágico, quando escuta uma história ela pode desenvolver e atingir vários objetivos. Tahan cita que, através da contação de historias serão desenvolvidas várias habilidades no indivíduo, primeiro a expansão da língua infantil, o enriquecimento do vocabulário facilitando a expressão e a articulação das palavras, segundo será estimulada a inteligência e a criatividade, terceiro será a aquisição de conhecimentos e ampliação das experiências, quarta habilidade desenvolvida será à socialização, onde a crianças estará se identificando com o grupo e o ambiente, estabelecendo associações por analogia, quinta habilidade será a revelação das diferenças individuais, onde a professora facilitará o conhecimento de características predominantes em seus alunos, evidenciadas através das reações provocadas pelas narrativas, sexta habilidade será a formação de hábitos e atitudes sociais e morais, através da imitação de bons exemplos, estimulando bons sentimentos na criança e incitando-a na vida moral, Por fim. Sétima e ultima habilidade será a do interesse pela leitura, familiarizando a criança com os livros e histórias, despertando, para o futuro, esse interesse tão necessário. É notável o diferencial nos olhos de quem narra uma história, conseguimos notar a sua habilidade sobre os livros, tanto para transferir informações, quanto para montagem de repertório, de figurino... por fim “é exatamente do fascínio de ler que nasce o fascínio de contar. E contar histórias hoje significa salvar o mundo imaginário” (SISTO, 2005, p.28). Para ter um bom aproveitamento em um contação de histórias, deve conter imagens verbais, sonoras e corporais. Há algum tempo atrás, para se contar uma história não era utilizado nenhum método para prender a atenção dos ouvintes, ou seja, a história era contada oralmente, se usava apenas basicamente a voz, alguns gestos e o olhar. No decorrer dos tempos e com as novas atualizações e novos recursos as histórias passaram a ser narradas de maneiras diferentes de forma mais lúdicas e criativas. No momento atual o docente encontra vários recursos lúdico/pedagógicos para assim proporcionar ao aluno um excelente momento de contação de histórias, basta um pouco de criatividade e então, podemos confeccionar: dedoches, flanelógrafo, cineminhas, peças teatrais, fantoches.... Também temos livros de tecido, feitos com EVA, de plásticos e também específicos para a hora do banho. Esses recursos auxiliam o contador na apresentação da história, pois além de conseguir prender a atenção da criança para que escute atentamente também conseguem fazer com que o momento da história possa ser de imaginação.

Utilizam-se outras linguagens: a música, a mímica, a dança, as artes plásticas... tudo é bem-vindo quando desperta o sabor de um passeio com o qual se sonhou há muito tempo, com o qual se restituiu o tempo do jogo do faz-de-conta. (SISTO, 2005, p. 32).

Para se contar uma história sem o apoio de um livro o docente deve utilizar algumas estratégias, como mudanças no tom de voz, gestos corporais, além de conhecer toda a história que será contada, pois assim o momento da contação ocorrerá sem interrupções e com bastante satisfação.

Abramovich propõe que

Para contar histórias – seja qual for – é bom saber como se faz. Afinal, nela se descobrem palavras novas, se entra em contato com a música e com a sonoridade das frases, dos nomes... Se capta o ritmo, a cadência do conto, fluindo como uma canção ... Ou se brinca com a melodia dos versos, com o acerto das rimas, com o jogo das palavras... Contar

histórias é uma arte. (2001, p. 18). Com isso, quando uma criança houve uma história ela é capaz de expressar suas opiniões, fazer descobertas, ter dúvidas ou argumentar questões relacionadas e exercer a relação verbal que favorece a fala.

Com isso, quando uma criança houve uma história ela é capaz de expressar suas opiniões, fazer descobertas, ter dúvidas ou argumentar questões relacionadas e exercer a relação verbal que favorece a fala.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A contação de histórias é uma atividade fundamental que transmite conhecimentos e valores, sua atuação é decisiva na formação e no desenvolvimento do processo ensino-aprendizagem, utilizá-la em sala de aula permite que todos saiam ganhando, tanto os alunos, que serão instigados a imaginar e criar muito mais, quanto os professores, que podem ministrar uma aula muito mais agradável e produtiva. Além de alcançar o objetivo pretendido: uma aprendizagem verdadeiramente significativa.O professor pode alcançar muitos objetivos por meio dela, pois ler histórias para criança é uma atividade prazerosa, com a qual poderá fazê-la expressar suas próprias percepções de mundo, é preciso tornar as crianças familiarizadas com os livros, orientando-as quanto ao manuseio e à sua conservação, já que com as histórias elas aprendem brincando a respeitar regras, se divertirem, seja através da imitação, socialização, interação ou dificuldade a ser superada.A leitura dever ser cultivada desde a primeira infância, pois mesmo sem interagir ou entender, a criança vai se sentindo confortável até o momento em que passa a ter entendimento do contexto criando prazer e admiração pelas histórias.Mesmo antes de aprender a ler, as crianças devem ser colocadas em contato com a literatura. Ao ver um adulto lendo, ao ouvir uma história contada por ele, os pequenos começam a se interessar pelo mundo das palavras. Contar histórias para crianças deve ser um ato constante, não só porque executá-lo é o início da aprendizagem para ser leitor, mas para provocar a imaginação. Deve dar prazer a quem conta e ao ouvinte. Constitui fonte de prazer e encantamento pela vida.É ouvindo histórias que se pode descobrir o mundo imenso de conflitos e soluções, que se podem sentir novas e diferentes emoções, conhecerem lugares novos, começar a formar opiniões, critérios, conceitos e novos valores. A história contada através da oralidade permite a interação entre contador e ouvintes, já que o corpo e a voz propiciam vivências comunitárias, perdidas na aceleração da vida moderna.O principal objetivo de contar uma história é divertir, estimulando a imaginação, mas uma história bem contada pode aumentar o interesse pela aula ou permitir a auto-identificação, favorecendo a compreensão de situações desagradáveis e ajudando a resolver conflitos, sendo assim, é importante que a criança tenha acesso a diferentes tipos de textos, onde ela construirá sua aprendizagem.Até mesmo, as crianças não alfabetizadas podem usufruir desta proposta, pois, inicialmente com a leitura de imagens e observação da direção de escrita estarão desenvolvendo habilidades na oralidade, interpretação e assim se apropriarão dos componentes para a aprendizagem da leitura e escrita.

REFERÊNCIAS

ABRAMOVICH, Fanny. Literatura Infantil: gostosuras e bobices. São Paulo: Scipione,1993.

____________, Fanny. Literatura infantil: gostosuras e bobices. São Paulo: Scipione, 1997.

____________, Fanny. Literatura infantil: gostosuras e bobices. 5 ed. São Paulo: Scipione, 2001.

BENJAMIN, Walter. Magia técnica arte e política: ensaios sobre literatura e história da cultura. 7.ed. São Paulo: Brasiliense, 1994. (Obras escolhidas, v.1).

BRAGA, Clarissa Bittencourt de Pinho e & GONÇALVES, Rosselini Brasileira Rosa Muniz & SOARES, Dielma, Castro. O canto do conto como ferramenta de disseminação da diversidade étnica nas histórias infantis. Congresso luso-brasileiro de história da educação, 2014.

BUSATTO, Cléo. Contar e encantar: pequenos grandes segredos da narrativa. Petrópolis, RJ: Vozes, 2003.

CAVALCANTI, Joana. Caminhos da leitura infantil e juvenil: dinâmicas e vivencias na ação pedagógica. 3. Ed. São Paulo: Paulu, 2009.

FREIRE, Paulo. A importância do ato de ler: em três artigos que se completam. São Paulo: Autores Associados: Cortez, 1989.

FREIRE, Paulo. A importância do ato de ler. São Paulo: Cortez, 2005.

OLIVEIRA, Cristiane Madanêlo de. Livros e infância. [online]. Disponível em: http://www.graudez.com.br/litinf/livros.htm. Acesso em 25 de setembro de 2018).

PATRINI, Maria de Lourdes. A renovação do conto: emergência de uma pratica oral. São Paulo: Cortez, 2005.

SISTO, Celso. Textos e pretextos sobre a arte de contar histórias. Positivo. 2ª Ed. Curitiba Série: Práticas educativas, 2005.

TAHAN, Malba. A arte de ler e contar histórias. 2. ed. Rio de Janeiro: Conquista, 1961

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Page 22: REVISTA EXATTO MARÇO

RESUMO As Diretrizes Curriculares Nacionais de Educação Infantil e as propostas pedagógicas existentes devem considerar princípios estéticos, voltando-se para diferentes manifestações artísticas e culturais e que considerem a heterogeneidade cultural, étnica, religiosa, social do país. A música como linguagem organiza os signos sonoros no espaço e no tempo, trazendo a possibilidade de trazer reflexão ao ouvinte sobre o mundo. Assim, é fundamental assegurar o ensino da música entre as crianças para que as mesmas possam entender e construir seu cotidiano e parte do seu mundo a partir da linguagem sonora. Por isto, a presente pesquisa discute as implicações da musicalização na Educação Infantil no desenvolvimento das crianças da creche e pré-escola. Os resultados indicaram que o uso da música é de fundamental importância para o desenvolvimento sociocognitivo das mesmas, em interdisciplinaridade com outras áreas de conhecimento.

Palavras-chave: Educação Infantil; Musicalização; Desenvolvimento Infantil.

INTRODUÇÃO

As crianças se envolvem com os sons desde muito pequenas, sendo que alguns pesquisadores discutem que esse contato acontece desde a fase intrauterina. Quando chegam a fase escolar, uma das problemáticas é que determinadas experiências sonoras ficam muitas vezes reduzida a ajudar na organização de atividades relacionadas à ocasião do recreio e do asseio das crianças, ganhando aspectos de disciplinarização da infância. Assim, justifica-se o presente artigo a discussão sobre a importância da música e sua utilização na Educação Infantil, a fim de encontrar sua identidade e de distinguir o ambiente em que vive, utilizando os sons através de suas diferentes propriedades: altura, espaço, grau, timbre, sons; através de brincadeiras, cantaroladas, assobios, risos, gritos, ou seja, emitindo os mais diversos sons. Sabe-se que em relação à criança, a música é criada ao brincar com os sons, transformando ambientes. Outra problemática é a questão de que muitos docentes ainda não compreendem a importância do ensino de música, classificando algumas músicas como musiquinhas, e ainda músicas e sons produzidos pelas próprias crianças, considerando-os barulhos.Desta forma, temos como objetivo geral discutir as implicações da musicalização no processo da Educação Infantil; e como objetivos específicos discutir a legislação pertinente a inserção da música na Educação Infantil, bem como suas contribuições para o ensino da mesma e para o desenvolvimento sociocognitivo das crianças que frequentam essa etapa escolar.

A MÚSICA E A EDUCAÇÃO INFANTIL

Podemos destacar que as atividades desenvolvidas dentro da Educação Infantil são direcionadas entre outros documentos pelas Diretrizes Curriculares Nacionais, como discutido abaixo:

(...) a primeira etapa da educação básica, oferecida em creches e pré-escolas, às quais se caracterizam como espaços institucionais não domésticos que constituem estabelecimentos educacionais públicos ou privados que educam e cuidam de crianças de 0 a 5 anos de idade no período diurno, em jornada integral ou parcial, regulados e supervisionados por órgão competente do sistema de ensino e submetidos a controle social (DCNs, 2010, p.12).

Os docentes da Educação Infantil devem estar sempre atentos cem relação aqueles que classificam algumas músicas ouvidas pelas crianças como musiquinhas, tratando-se de forma revelando como as crianças são concebidas e, além disso, como são pensadas e realizadas as relações entre adultos e crianças em ambientes para a infância igualmente onde se toca músicas e sons que, ao serem realizados pelas próprias crianças, são ouvidos como barulhos, contrariando as regras do silêncio. A canção é essencial como brincadeira, como cultura e como contato com o folclore (GOBBI, 2010).Ainda, não se pode ignorar o contato com outros gêneros musicais, de outras culturas e, principalmente com os sons de todas as partes do mundo, considerando também o que a criança porta advindo de seu contexto social, familiar, cultural. A ideia central da Educação Infantil não é apenas colocar para a criança músicas já prontas, mas sim oferecer momentos de descobertas e construções sonoras, canto e invenção de canções. Ainda, objetos devem ser transformados em instrumentos musicais, enriquecendo o repertório musical através de práticas diferenciadas com as crianças.A sonorização de histórias, a escuta sonora, brincadeiras cantadas, percepção de sons, barulhos, ruídos, compõem a creche e pré-escola, sendo essenciais para estabelecer o tempo das crianças juntamente a outras linguagens e não como aula de música, o que tantas vezes é observado.As funções psicológicas superiores vão sendo desenvolvidas nas crianças de acordo com dois tipos de fenômenos: as transformações psíquicas como o desenvolvimento da fala, da escrita e do desenho, por exemplo; e os processos de desenvolvimento das funções relacionadas à memória, julgamento, concentração e inteligência conceitual (TULESKI e EIDT, 2016).Ou seja, a música, se torna um estimulo primordial para o desenvolvimento cerebral da criança. Culturalmente é comum o hábito de cantar e dançar para os bebês, auxiliando tanto no aprendizado musical, quanto no desenvolvimento da afetividade, da socialização e da aquisição da linguagem.Por fim, a educação é um processo contínuo e evolutivo, e deve ser pautado principalmente na criança, tornando-se necessário evidenciar este processo já na educação infantil, caracterizada por ser uma fase relevante no desenvolvimento humano. Deve-se conceber a criança como um ser social e histórico, sendo que a aprendizagem nessa esfera se dá pelas interações entre a criança e o mundo a sua volta. Observa-se, portanto diferentes orientações didáticas, que presam a utilização dos jogos e brincadeiras, além de atividades que envolvam o reconhecimento do próprio corpo, do corpo do outro, da música, da dança e da imitação gestual.

A LEGISLAÇÃO NA EDUCAÇÃO INFANTIL

A Lei Nacional nº 11.769/2008, trouxe a educação em música como obrigatória, alterando o artigo 26 da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDBEN nº 9394/1996), trazendo o convite de se repensar nas práticas artísticas como as artes visuais, a dança, o teatro e a música. A música foi considerada uma área de competência que requer estudo, prática, reflexão e diversidade, devendo existir no Projeto Político Pedagógico da escola. Além disso, ela deve constar nos planejamentos pedagógicos, ser trabalhada interdisciplinarmente, contribuindo para o desenvolvimento cognitivo e pleno de crianças e adolescentes. Já as Diretrizes Nacionais para a operacionalização do Ensino da Música na Educação Básica (CNE/CEB nº 12/2013 de 04/12/2013) trouxeram a urgência de um currículo que contemplasse uma matriz de saberes para o ensino de música, constituindo-se em uma ferramenta que contribui para o trabalho do docente especialista e não especialista desenvolvendo a Educação Musical na Educação Básica e, especialmente na Educação Infantil.Outra mudança na educação ocorreu com a chegada da Base Nacional Comum Curricular (BNCC), documento orientador para que ocorra a equidade nos sistemas de ensino do Brasil inteiro. No caso da música:

A Música é a expressão artística que se materializa por meio dos sons, que ganham forma, sentido e significado no âmbito tanto da sensibilidade subjetiva quanto das interações sociais, como resultado de saberes e valores diversos estabelecidos no domínio da cultura. A ampliação e a produção dos conhecimentos musicais passam pela percepção, experimentação, reprodução, manipulação e criação de materiais sonoros diversos, dos mais próximos aos mais distantes da cultura musical dos alunos. Esse processo lhes possibilita vivenciar a música inter-relacionada à diversidade e desenvolver saberes musicais fundamentais para a sua inserção e participação crítica e ativa na sociedade (BNCC, 2017, p. 154).

No caso da BNCC voltada para a Educação Infantil, esta ampliou a jornada destinada às experiências, envolvendo a Arte como um todo e suas linguagens, trazendo a música como elemento obrigatório desde a infância. Neste sentido, as discussões do trabalho docente têm ocorrido de forma significativa, a fim de trazer métodos adequados ao trabalho com a primeira infância (BRASIL, 2019).Ainda, de acordo com Mendes (2009), os documentos orientadores da Educação Infantil, trazem a importância do trabalho com a linguagem musical utilizando-se de improvisações, de estudos corporais, da escuta de sons e música, da construção de instrumentos musicais, gerando e pensando em música. É através da música que a criança aprende a se expressar. A escola deve desenvolver potencialidades apresentando sua parte poética, sua composição e sua diversidade. Uma combinação entre os deleites que a música promove demonstram a importância para o desenvolvimento cognitivo e educacional das crianças.Por fim, o Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil traz a expressão corporal como uma das linguagens que devem ser trabalhadas nesse período, permitindo assim a criança a tomar consciência de si mesma, expressando e conhecendo o mundo à sua volta. A música pode contribuir para a exploração de diversas formas de como sentir o corpo proporciona às crianças o conhecimento de suas características, limitações e formas de expressão: “a riqueza de possibilidades da linguagem corporal revela um universo a ser vivenciado, conhecido, desfrutado” (AYOUB, 2001, p. 57), pois, o movimento corporal é a essência das crianças.A criança expressa-se principalmente através da fala e da dança, movimentando-se corporalmente. Assim:

É com o corpo que a criança elabora todas as suas experiências vitais, e organiza toda a sua personalidade. Através dele ela percebe o mundo, e perceber o mundo é aprender (e reaprender) com seu próprio corpo; perceber o mundo, portanto, é perceber o corpo; o corpo é assim, sensação, percepção e ação (STEUCK, 2008, p. 13-14).

MÚSICA E AS CRIANÇAS

A música organiza os signos sonoros no espaço e no tempo; e de acordo com as pesquisas voltadas para a origem da música e a sua importância para as relações sociais, elas vêm sendo aprofundadas desde o século XX, buscando explicações na biologia, na sociologia e na antropologia (MARIANO, 2015).A criança logo cedo costuma ter contato com a música. Inicialmente com sua mãe cantarolando com voz doce e suave, crescendo e percebendo que o mundo ao seu redor é regido pela musicalidade. A música está presente em diversos lugares e momentos, seja nas músicas de embalar, nas brincadeiras, nos brinquedos sonoros, nas danças, entre outras ações, podendo marcar afetivamente determinados momentos. Assim, de acordo com Nogueira (2003), a música está no nosso dia a dia, nos costumes e nas tradições de uma dada sociedade, nas festas e recordações especiais. Ou seja, a música contribui para a fixação de algumas regras, possibilitando diferentes aprendizados.A começar do nascimento entramos em contato com os sons, desde que nascemos estamos predispostos aos sons e composições, iniciando assim o mundo da linguagem. Por isso, essa relação prematura favorece o desenvolvimento de nossas aptidões cognitivas, linguísticas e motoras (SIMIONATO e TOURINHO, 2007). Para Brito (2003), a criança quando escuta música não quer dizer que abraça regras ou nota especificidades, mas sim vive aquele momento de aprendizagem. Por isso, a criança ao ter contato com a música deve determinadas certas capacidades, diferenciando o escutar, os diferentes tipos de sons e as diferenças culturais existentes. Existindo a possiblidade de ampliar as formas de comunicação e expressão, desenvolve-se ainda uma boa comunicação: “A importância do ensino de música na escola reside, então, na possibilidade de despertar habilidades e condutas na criança, levando-a a sentir- se sensibilizada pela música valendo-se da criação e da livre expressão” (LOUREIRO, 2003, p.1).Assim, a utilização da música na Educação Infantil desenvolve as potencialidades das crianças e deve respeitar sua individualidade, seu contexto cultural, étnico, religioso, entre outros aspectos, concebendo a criança como um ser único que apresenta características peculiares e que precisa desenvolver diferentes habilidades e linguagens para interagir com o mundo que a cerca. Sabe-se que a metodologia principal na Educação Infantil é a ludicidade, porém é preciso desenvolver outras aprendizagens e a Arte nesse sentido pode trazer boas contribuições dentro desta proposta. Ainda, nessa etapa de escolaridade, é necessário dispor de ferramentas e práticas que trabalhem a diversidade e o contexto da criança, explorando as suas potencialidades. O ensino da música envolve a construção do sujeito musical, a partir da constituição da linguagem. Esta transforma a criança, no que se refere à percepção, as formas de pensar, agir e interagir com o mundo e com os outros. Por fim, a música enquanto linguagem organiza os signos sonoros no espaço e no tempo, motivo pelo qual constitui-se como possibilidade de trazer reflexão ao ouvinte sobre o mundo, sobre o trabalho docente e principalmente o desenvolvimento das crianças, para que ela cresça plena e feliz, inclusive.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

De acordo com a pesquisa realizada, foi possível perceber que a musicalização na Educação Infantil tem por objetivo estimular o desenvolvimento global da criança, integrando sua individualidade, seu contexto socioeconômico, cultural, étnico, entre outros, concebendo a criança como um ser único que apresenta características peculiares e que interage com outras crianças e adultos.A musicalização, assim como outras formas de arte e a ludicidade, são a base da Educação Infantil. Para que o trabalho com música se torne viável nesta fase escolar, é necessário pensar em ferramentas e práticas trabalhando a diversidade e o contexto da criança, explorando assim suas potencialidades. O ensino da música envolve a construção do indivíduo musical, a partir da constituição da linguagem da música. O uso desse tipo de conceito transforma a criança, no que se referem à percepção, formas de agir e pensar, quanto os aspectos subjetivos. A escola é o primeiro ambiente no qual a criança vem a estabelecer suas relações sociais foram do ciclo familiar, essa situação nova na vida infantil deve ser acompanhada para que ao oferecer à criança um novo mundo diverso, repleto de situações na qual tenha que elaborar novos mecanismos de compreensão de fatos, conceitos e atitudes ela se sinta acolhida e atendida em meio a esse novo desafio, onde a criança que ingressa na vida escolar em meio a essa ampliação de relações possa construir sua concepção social do mundo.Ainda, a música pode contribuir como uma possibilidade de compreender através do embasamento teórico a forma com que as crianças constroem as suas relações sociais do nascimento até o momento da primeira infância, através de meios a princípio físicos e posteriormente através de aspectos mais subjetivos definidos como emoções, desejos e sentimentos.Assim, a música como ferramenta dinâmica na Educação Infantil, auxiliar no trabalho docente e na aprendizagem das crianças, trazendo a oportunidade do docente trabalhar a diversidade em sala de aula e desenvolvendo diferentes habilidades nos pequenos. Mesmo que haja docentes que ainda se espelham em modelos pedagógicos mais tradicionais, seguindo determinadas regras e formas de comportamento, de acordo com a pesquisa a maioria dos docentes ainda acredita que a afetividade, a ludicidade e a utilização da música são as melhores formas de se relacionar com as crianças podendo desenvolver a

comunicação oral e dialética conforme proporcione respeito e liberdade de ideias e conhecimentos prévios das crianças.Além disso, outra contribuição do uso da música durante a Educação Infantil é que esse período é um momento em que a criança experimenta, ajusta e constrói movimentos corporais provenientes da interação com os demais colegas. E a música pode desenvolver isso, por exemplo, através da dança, desenvolvendo a autonomia corporal e de ter contato com diferentes vivências e movimentos corporais provenientes da cultura a seu redor. Assim, na Educação Infantil é necessário desenvolver uma pedagogia que organize o fazer o pedagógico em torno de diferentes linguagens as quais a criança utiliza para expressar e se comunicar com o mundo que a cerca.

REFERÊNCIAS

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MARIANO, Fabiana Leite Rabello. Música no berçário: formação de professores e a teoria da aprendizagem musical de Edwin Gordon. São Paulo: Universidade de São Paulo / Faculdade de Educação, 2015.

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SIMIONATO, L. Cristina; TOURINHO, Cristina. Contribuição do aprendizado de canções no desenvolvimento da linguagem verbal. In ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE COGNIÇÃO E ARTES MUSICAIS. 2007. Anais do 3º Simpósio de Cognição e Artes Musicais. Bahia UFBH 2007 p. 371-377.

STEUCK, C.D. Corporeidade e educação: um olhar a partir da epistemologia social. 2008. Dissertação (Mestrado em Educação). Blumenau: Programa de Pós Graduação em Educação, Universidade Regional de Blumenau – FURB, 2008.

TULESKI, S. G., EIDTt, N. M. A periodização do desenvolvimento psíquico: atividade dominante e a formação das funções psíquicas superiores. In Martins, L. M., Abrantes, A. A., & Facci, M. G (Org.), Periodização histórico-cultural do desenvolvimento psíquico: do nascimento à velhice (pp.35-62). Campinas, SP, 2016: Autores Associados

RESUMO

Com o avanço da tecnologia e agitação do mundo moderno, torna-se um desafio cada vez maior despertar nas crianças o prazer pela leitura e a busca por livros como forma de entretenimento, apesar de hoje haver inúmeros exemplares com os mais variados recursos e formatos: ilustrações coloridas, em alto relevo, interativos, só com imagens, que podem ser levados para a piscina ou banheiro, livro CD, sonoro, de pano, de colorir, 3D, com fantoche, gigante, cartonado, etc. O trabalho a seguir tem como objetivo mostrar a importância da contação de história como recurso pedagógico, fazendo com que o aluno desenvolva aspectos cognitivos, afetivos e sociais, podendo ainda desenvolver na criança valores fundamentais como ética, respeito e moral. É fundamental transformar o contato com as histórias em um momento de grande diversão, quando a criança pode expor seus sentimentos e criatividade, possibilitar que ela viaje através do imaginário e vivencie outras realidades diferentes do seu cotidiano. Usamos como referencial autores consagrados nesta área, que nos dão a certeza de que o assunto abordado é de fundamental importância para professores que atuam na Educação Infantil e no Ensino Fundamental, porque é nesta fase da vida que as crianças internalizam conhecimentos e valores que se refletem ao longo de suas vidas..Palavras-chave: Contação de história; Criança; Conhecimento

INTRODUÇÃO

Sabe-se que, na Antiguidade as notícias, lendas, histórias e poemas eram transmitidos ao público através de canções e não escritos em papel. Ao contador de histórias, que também era chamado de bardo, incumbia-se a missão de trazer e levar acontecimentos dos lugares desconhecidos aos povoados, vilarejos e reinos por onde passava, já que ele era um ser nômade. Nas narrativas realizadas por estes trovadores, era indispensável à audiência, as vozes que o corpo expressava através dos movimentos e a relação que o narrador criava com o público.Assim, os cidadãos reuniam-se perto de fogueiras, em baixo de árvores, para se envolverem com os ‘causos’ contados. Diante da reação do público, o menestrel recorria a fatos da memória ou a riqueza de sua imaginação 32 para agradar, surpreender ou apavorar aos seus ouvintes. Desta maneira, as mensagens eram repassadas para outras pessoas gerando novos saberes.Vivemos um período em que a mídia e as tecnologias estão cada vez mais acessíveis às crianças; as informações chegam pelos meios de comunicação. Os livros estão sendo deixados de lado, as histórias estão sendo esquecidas, o que torna um desafio para o educador levar as crianças em idade escolar a apreciar a leitura. Acredita-se que esta seja uma atividade necessária e imprescindível no processo de desenvolvimento da criança, pois a contação de histórias auxilia na formação humana e, por isso, deve ser valorizada e desenvolvida no meio escolar a fim de potencializar a imaginação, a linguagem, a atenção, a memória, o gosto pela leitura e outras habilidades humanas, além de contribuir no processo de aprendizagem e socialização da criança instiga a criatividade, a oralidade, incentiva o gosto pela leitura, contribui na formação da personalidade e no desenvolvimento o social e afetivo. A contação de história nas escolas era uma forma de distrair as crianças e hoje vem ressurgindo na figura do contador de histórias. De acordo com vários estudiosos, a contação de histórias é um precioso auxílio à prática pedagógica de professores na Educação Infantil e nos anos iniciais do Ensino Fundamental.

A ARTE DE CONTAR HISTÓRIAS

A leitura é uma atividade inerente à condição humana. Freire (2005) afirma que a leitura de mundo antecede à da palavra, ou seja, desde que nascemos somos leitores do mundo e nossas ações decorrem dessa leitura. Ela é muito importante

para inspirar sentimentos, valores, condutas e a celebração da própria vida. Por isso, a leitura exerce um importante papel no crescimento intelectual, crítico e criativo do aluno, desenvolvendo as suas potencialidades e, consequentemente, o seu rendimento escolar, tanto como estudantes, como também no aperfeiçoamento de sua personalidadeNa antiguidade a contação oral de histórias era vista sob um olhar inferior à escrita, apesar disso os povos se reuniam ao redor da fogueira e contavam suas lendas e contos, espalhando a sua cultura e os seus costumes. Essas lendas e contos eram histórias do imaginário popular pertencentes à memória coletiva, destinadas, a ouvintes, adultos e crianças, que não sabiam ler. Segundo Malba Tahan (1966, p.24) “até os nossos dias, todos os povos civilizados ou não, tem usado a história como veículo de verdades eternas, como meio de conservação de suas tradições, ou da difusão de ideias novas.”. O homem descobriu que a história além de entreter, causava a admiração e conquistava a aprovação dos ouvintes. O contador de histórias tornou-se o centro da atenção popular pelo prazer que suas narrativas proporcionavam.Atualmente, é comum afirmar que o ouvir e o contar histórias perderam-se no tempo e que os espaços ocupados pelos seus contadores foram sendo preenchidos por outros interesses. Relembram-se as ideias de Benjamin (1994), que reconhece o ato de contar histórias como um fato importante nas relações humanas e que tal prática é significativa na manutenção dessas relações, bem como acredita que o narrador é um homem que sabe dar conselhos, porém, prenuncia a morte da narrativa. Segundo o autor, “a arte de narrar está definhando, porque a sabedoria – o lado épico – está em extinção.” (BENJAMIN, 1994, p. 200-201). De acordo com o autor, um dos fatores que contribuíram para a possível extinção da narrativa oral e de seus narradores foi a difusão o romance pelos meios de comunicação, que criaram formas individualistas de comunicação.

O referido teórico afirma que:

Já passou o tempo que o tempo não contava. O homem de hoje não cultiva o que não pode ser abreviado. Com efeito, o homem conseguiu abreviar até a narrativa. Assistimos em nossos dias ao nascimento da short story, que se emancipou da tradição oral e não mais permite essa lenta superposição de camadas finas e translúcidas, que representa a melhor imagem do processo pelo qual a narrativa vem à luz do dia, como coroamento das várias camadas constituídas pelas narrações sucessivas. (BENJAMIN, 1994, p. 206).

A CONTAÇÃO DE HISTÓRIAS COMO PRÁTICA EDUCATIVA A contação de histórias é uma prática muito antiga e de grande relevância para a história da humanidade. Documenta-se que, antes mesmo da escrita ser inventada, já havia o costume de utilizar o conto oral como instrumento de transmissão de conhecimento. Através dessa tradição oral muitas sociedades conseguiram preservar a sua cultura, e, consequentemente, deixaram um rico legado de saberes, crenças e tradições, pois cada geração tinha o dever de contar as histórias para as gerações seguintes (BUSSATO, 2003; PATRINI, 2005). O conto oral é uma das mais antigas formas de expressão. E a voz constitui o mais antigo meio de transmissão. Graças à voz, o conto é difundido no mundo inteiro, preenche diferentes funções, dando conselhos, estabelecendo normas e valores, atentando os desejos sonhados e imaginados, levando às regiões mais longínquas a sabedoria dos homens experimentados (PATRINI, 2005, p.118). Pode-se dizer que a contação de histórias configura-se como um ato de resistência e de preservação identitária, pois, mesmo com o advento de novas tecnologias de informação e comunicação, é um processo que perdura até os dias atuais e que ocorre em diversos ambientes de socialização, especialmente no núcleo familiar e na escola.A família é a primeira e principal fonte de histórias. No ambiente familiar, ouvimos nossas primeiras histórias, visto que as pessoas constituintes dessa instituição social são as primeiras a intermediar o contato da criança com o texto oral. É, através desse texto, que se tem uma das mais ricas formas de apresentar outros contextos e o passo inicial para a “leitura de mundo” (FREIRE, 1989). Afinal, as crianças não precisam ouvir histórias apenas quando já adquiriram o sistema de representação da língua escrita. “[…] como é importante para a formação de qualquer criança ouvir muitas, muitas histórias… escutá-las é o início da aprendizagem para ser leitor, e ser leitor é ter um caminho absolutamente infinito de descoberta e de compreensão do mundo […]”. (ABRAMOVICH, 1997, p.16). No chão da escola, essa prática tem um significativo papel no processo de ensino-aprendizagem, podendo ser trabalhada de diversas formas. A contação de história apresenta as crianças ao universo da narrativa e, por isso, pode ser um poderoso instrumento para promover o gosto e hábito à leitura, a ampliação das experiências sociais, o desenvolvimento da imaginação, a capacidade de escutar e dar sequência lógica aos fatos, a ampliação do vocabulário e a potencialização da importância da linguagem oral.Com o intuito de propiciar o conhecimento e o encanto dessa arte que atravessou os tempos, o(a) professor(a) precisa planejar o momento da contação de histórias, sendo importante conhecer previamente o que será narrado para as crianças, durante o momento educativo, para que não perca o que tem de lúdico e belo da contação de histórias. […] para a criança, não se pode fazer isso de qualquer jeito, pegando o primeiro volume que se vê na estante… E aí, no decorrer da leitura, demonstrar que não está familiarizado com uma ou outra palavra (ou com várias), empacar ao pronunciar o nome dum determinado personagem ou lugar, mostrar que não percebeu o jeito que o autor construiu suas frases e dando as pausas nos lugares errados, […] Por isso, ler o livro antes, bem lido, sentir como nos pega, nos emociona ou nos irrita… Assim quando chegar o momento de narrar a história, que se passe emoção verdadeira, aquela que vem lá de dentro, lá do fundinho, e que por isso, chega no ouvinte… (ABRAMOVICH, 1997, p. 18-20) A contação de histórias deve fazer parte do acolhimento das crianças e deve ser feita sem improvisos, para ser uma experiência contagiante e de muita troca de experiências entre os participantes, permitindo que a ludicidade passe a fazer

parte do cotidiano da escola.

O lúdico é importante no acolhimento da diversidade cultural, pois desperta a vontade de aprender sobre e compreender o outro, mas também é mais um elemento que modifica a história e o contexto. Quando adicionamos brincadeiras e estimulamos as crianças a interagir com a história contada, ela se apropria do conteúdo, faz relações com as suas vivências e imprime a sua própria marca. (BRAGA, GONÇALVES & SOARES, 2014, p.7) Assim, cada conto narrado pode despertar o desejo de ensinar e aprender novos conhecimentos, através de diferentes reações e significados atribuídos por cada criança com seu jeito único de perceber o mundo, pois as mesmas vivenciam ambientes e situações diversas fora da escola e terão muitas contribuições a oferecer durante a interpretação da história narrada, através de desenhos, brincadeiras, jogos, entre outros.Por fim, a atividade de contar histórias é uma forma potente de combate à rotinização do trabalho docente. Essa prática pode trazer novos elementos para a sala de aula, colaborando, assim, para a promoção de uma educação saudável, rica em descobertas e aprendizados e marcada pela nossa sábia tradição de ouvir e contar histórias.

METODOLOGIAS PARA CONTAR HISTÓRIAS

Existem diversos métodos de narrar uma história, mas quando se trata do ambiente escolar, de crianças e docentes narradores de histórias, é importante destacar que, contar uma história para crianças, vai muito além disto, pois, se trata de uma atividade de suma importância. Contudo, Oliveira cita que existem diferenças entre ler e contar.

As histórias contadas oralmente têm uma força de transmissão oral, isto é: a voz, o olhar e o gesto vivo do contador de histórias, que alegra ou entristece a sua platéia. Na “contação” usam-se as próprias palavras, há variações nas versões de cada história, permite-se o uso de recursos e está mais próxima da oralidade. A criança aprende mais sobre a língua que se fala, amplia seu repertório e seu universo imaginário, percebe que as histórias podem ser mudadas e começa a criar suas próprias histórias. Ao ler o professor apresenta aos alunos o universo letrado, instigam a curiosidade pelos livros e seus conteúdos. Neste caso a história é sempre a mesma, independente de quem a lê. Podemos modificar a entonação, a altura ou o timbre da voz, mas o texto é sempre o mesmo. A leitura traz consigo marcas específicas da língua escrita e que não utilizamos cotidianamente ao falar. (OLIVEIRA, 2006, p. 04).

Segundo Cavalcanti (2009) um excelente narrador de histórias é aquele que contém o dom natural para fazer da sua história um conto mágico de narrativas. Sendo assim, podemos então dizer que uma história conduz a criança para um mundo mágico, quando escuta uma história ela pode desenvolver e atingir vários objetivos. Tahan cita que, através da contação de historias serão desenvolvidas várias habilidades no indivíduo, primeiro a expansão da língua infantil, o enriquecimento do vocabulário facilitando a expressão e a articulação das palavras, segundo será estimulada a inteligência e a criatividade, terceiro será a aquisição de conhecimentos e ampliação das experiências, quarta habilidade desenvolvida será à socialização, onde a crianças estará se identificando com o grupo e o ambiente, estabelecendo associações por analogia, quinta habilidade será a revelação das diferenças individuais, onde a professora facilitará o conhecimento de características predominantes em seus alunos, evidenciadas através das reações provocadas pelas narrativas, sexta habilidade será a formação de hábitos e atitudes sociais e morais, através da imitação de bons exemplos, estimulando bons sentimentos na criança e incitando-a na vida moral, Por fim. Sétima e ultima habilidade será a do interesse pela leitura, familiarizando a criança com os livros e histórias, despertando, para o futuro, esse interesse tão necessário. É notável o diferencial nos olhos de quem narra uma história, conseguimos notar a sua habilidade sobre os livros, tanto para transferir informações, quanto para montagem de repertório, de figurino... por fim “é exatamente do fascínio de ler que nasce o fascínio de contar. E contar histórias hoje significa salvar o mundo imaginário” (SISTO, 2005, p.28). Para ter um bom aproveitamento em um contação de histórias, deve conter imagens verbais, sonoras e corporais. Há algum tempo atrás, para se contar uma história não era utilizado nenhum método para prender a atenção dos ouvintes, ou seja, a história era contada oralmente, se usava apenas basicamente a voz, alguns gestos e o olhar. No decorrer dos tempos e com as novas atualizações e novos recursos as histórias passaram a ser narradas de maneiras diferentes de forma mais lúdicas e criativas. No momento atual o docente encontra vários recursos lúdico/pedagógicos para assim proporcionar ao aluno um excelente momento de contação de histórias, basta um pouco de criatividade e então, podemos confeccionar: dedoches, flanelógrafo, cineminhas, peças teatrais, fantoches.... Também temos livros de tecido, feitos com EVA, de plásticos e também específicos para a hora do banho. Esses recursos auxiliam o contador na apresentação da história, pois além de conseguir prender a atenção da criança para que escute atentamente também conseguem fazer com que o momento da história possa ser de imaginação.

Utilizam-se outras linguagens: a música, a mímica, a dança, as artes plásticas... tudo é bem-vindo quando desperta o sabor de um passeio com o qual se sonhou há muito tempo, com o qual se restituiu o tempo do jogo do faz-de-conta. (SISTO, 2005, p. 32).

Para se contar uma história sem o apoio de um livro o docente deve utilizar algumas estratégias, como mudanças no tom de voz, gestos corporais, além de conhecer toda a história que será contada, pois assim o momento da contação ocorrerá sem interrupções e com bastante satisfação.

Abramovich propõe que

Para contar histórias – seja qual for – é bom saber como se faz. Afinal, nela se descobrem palavras novas, se entra em contato com a música e com a sonoridade das frases, dos nomes... Se capta o ritmo, a cadência do conto, fluindo como uma canção ... Ou se brinca com a melodia dos versos, com o acerto das rimas, com o jogo das palavras... Contar

histórias é uma arte. (2001, p. 18). Com isso, quando uma criança houve uma história ela é capaz de expressar suas opiniões, fazer descobertas, ter dúvidas ou argumentar questões relacionadas e exercer a relação verbal que favorece a fala.

Com isso, quando uma criança houve uma história ela é capaz de expressar suas opiniões, fazer descobertas, ter dúvidas ou argumentar questões relacionadas e exercer a relação verbal que favorece a fala.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A contação de histórias é uma atividade fundamental que transmite conhecimentos e valores, sua atuação é decisiva na formação e no desenvolvimento do processo ensino-aprendizagem, utilizá-la em sala de aula permite que todos saiam ganhando, tanto os alunos, que serão instigados a imaginar e criar muito mais, quanto os professores, que podem ministrar uma aula muito mais agradável e produtiva. Além de alcançar o objetivo pretendido: uma aprendizagem verdadeiramente significativa.O professor pode alcançar muitos objetivos por meio dela, pois ler histórias para criança é uma atividade prazerosa, com a qual poderá fazê-la expressar suas próprias percepções de mundo, é preciso tornar as crianças familiarizadas com os livros, orientando-as quanto ao manuseio e à sua conservação, já que com as histórias elas aprendem brincando a respeitar regras, se divertirem, seja através da imitação, socialização, interação ou dificuldade a ser superada.A leitura dever ser cultivada desde a primeira infância, pois mesmo sem interagir ou entender, a criança vai se sentindo confortável até o momento em que passa a ter entendimento do contexto criando prazer e admiração pelas histórias.Mesmo antes de aprender a ler, as crianças devem ser colocadas em contato com a literatura. Ao ver um adulto lendo, ao ouvir uma história contada por ele, os pequenos começam a se interessar pelo mundo das palavras. Contar histórias para crianças deve ser um ato constante, não só porque executá-lo é o início da aprendizagem para ser leitor, mas para provocar a imaginação. Deve dar prazer a quem conta e ao ouvinte. Constitui fonte de prazer e encantamento pela vida.É ouvindo histórias que se pode descobrir o mundo imenso de conflitos e soluções, que se podem sentir novas e diferentes emoções, conhecerem lugares novos, começar a formar opiniões, critérios, conceitos e novos valores. A história contada através da oralidade permite a interação entre contador e ouvintes, já que o corpo e a voz propiciam vivências comunitárias, perdidas na aceleração da vida moderna.O principal objetivo de contar uma história é divertir, estimulando a imaginação, mas uma história bem contada pode aumentar o interesse pela aula ou permitir a auto-identificação, favorecendo a compreensão de situações desagradáveis e ajudando a resolver conflitos, sendo assim, é importante que a criança tenha acesso a diferentes tipos de textos, onde ela construirá sua aprendizagem.Até mesmo, as crianças não alfabetizadas podem usufruir desta proposta, pois, inicialmente com a leitura de imagens e observação da direção de escrita estarão desenvolvendo habilidades na oralidade, interpretação e assim se apropriarão dos componentes para a aprendizagem da leitura e escrita.

REFERÊNCIAS

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____________, Fanny. Literatura infantil: gostosuras e bobices. São Paulo: Scipione, 1997.

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FREIRE, Paulo. A importância do ato de ler: em três artigos que se completam. São Paulo: Autores Associados: Cortez, 1989.

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TAHAN, Malba. A arte de ler e contar histórias. 2. ed. Rio de Janeiro: Conquista, 1961

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Page 23: REVISTA EXATTO MARÇO

RESUMO As Diretrizes Curriculares Nacionais de Educação Infantil e as propostas pedagógicas existentes devem considerar princípios estéticos, voltando-se para diferentes manifestações artísticas e culturais e que considerem a heterogeneidade cultural, étnica, religiosa, social do país. A música como linguagem organiza os signos sonoros no espaço e no tempo, trazendo a possibilidade de trazer reflexão ao ouvinte sobre o mundo. Assim, é fundamental assegurar o ensino da música entre as crianças para que as mesmas possam entender e construir seu cotidiano e parte do seu mundo a partir da linguagem sonora. Por isto, a presente pesquisa discute as implicações da musicalização na Educação Infantil no desenvolvimento das crianças da creche e pré-escola. Os resultados indicaram que o uso da música é de fundamental importância para o desenvolvimento sociocognitivo das mesmas, em interdisciplinaridade com outras áreas de conhecimento.

Palavras-chave: Educação Infantil; Musicalização; Desenvolvimento Infantil.

INTRODUÇÃO

As crianças se envolvem com os sons desde muito pequenas, sendo que alguns pesquisadores discutem que esse contato acontece desde a fase intrauterina. Quando chegam a fase escolar, uma das problemáticas é que determinadas experiências sonoras ficam muitas vezes reduzida a ajudar na organização de atividades relacionadas à ocasião do recreio e do asseio das crianças, ganhando aspectos de disciplinarização da infância. Assim, justifica-se o presente artigo a discussão sobre a importância da música e sua utilização na Educação Infantil, a fim de encontrar sua identidade e de distinguir o ambiente em que vive, utilizando os sons através de suas diferentes propriedades: altura, espaço, grau, timbre, sons; através de brincadeiras, cantaroladas, assobios, risos, gritos, ou seja, emitindo os mais diversos sons. Sabe-se que em relação à criança, a música é criada ao brincar com os sons, transformando ambientes. Outra problemática é a questão de que muitos docentes ainda não compreendem a importância do ensino de música, classificando algumas músicas como musiquinhas, e ainda músicas e sons produzidos pelas próprias crianças, considerando-os barulhos.Desta forma, temos como objetivo geral discutir as implicações da musicalização no processo da Educação Infantil; e como objetivos específicos discutir a legislação pertinente a inserção da música na Educação Infantil, bem como suas contribuições para o ensino da mesma e para o desenvolvimento sociocognitivo das crianças que frequentam essa etapa escolar.

A MÚSICA E A EDUCAÇÃO INFANTIL

Podemos destacar que as atividades desenvolvidas dentro da Educação Infantil são direcionadas entre outros documentos pelas Diretrizes Curriculares Nacionais, como discutido abaixo:

(...) a primeira etapa da educação básica, oferecida em creches e pré-escolas, às quais se caracterizam como espaços institucionais não domésticos que constituem estabelecimentos educacionais públicos ou privados que educam e cuidam de crianças de 0 a 5 anos de idade no período diurno, em jornada integral ou parcial, regulados e supervisionados por órgão competente do sistema de ensino e submetidos a controle social (DCNs, 2010, p.12).

Os docentes da Educação Infantil devem estar sempre atentos cem relação aqueles que classificam algumas músicas ouvidas pelas crianças como musiquinhas, tratando-se de forma revelando como as crianças são concebidas e, além disso, como são pensadas e realizadas as relações entre adultos e crianças em ambientes para a infância igualmente onde se toca músicas e sons que, ao serem realizados pelas próprias crianças, são ouvidos como barulhos, contrariando as regras do silêncio. A canção é essencial como brincadeira, como cultura e como contato com o folclore (GOBBI, 2010).Ainda, não se pode ignorar o contato com outros gêneros musicais, de outras culturas e, principalmente com os sons de todas as partes do mundo, considerando também o que a criança porta advindo de seu contexto social, familiar, cultural. A ideia central da Educação Infantil não é apenas colocar para a criança músicas já prontas, mas sim oferecer momentos de descobertas e construções sonoras, canto e invenção de canções. Ainda, objetos devem ser transformados em instrumentos musicais, enriquecendo o repertório musical através de práticas diferenciadas com as crianças.A sonorização de histórias, a escuta sonora, brincadeiras cantadas, percepção de sons, barulhos, ruídos, compõem a creche e pré-escola, sendo essenciais para estabelecer o tempo das crianças juntamente a outras linguagens e não como aula de música, o que tantas vezes é observado.As funções psicológicas superiores vão sendo desenvolvidas nas crianças de acordo com dois tipos de fenômenos: as transformações psíquicas como o desenvolvimento da fala, da escrita e do desenho, por exemplo; e os processos de desenvolvimento das funções relacionadas à memória, julgamento, concentração e inteligência conceitual (TULESKI e EIDT, 2016).Ou seja, a música, se torna um estimulo primordial para o desenvolvimento cerebral da criança. Culturalmente é comum o hábito de cantar e dançar para os bebês, auxiliando tanto no aprendizado musical, quanto no desenvolvimento da afetividade, da socialização e da aquisição da linguagem.Por fim, a educação é um processo contínuo e evolutivo, e deve ser pautado principalmente na criança, tornando-se necessário evidenciar este processo já na educação infantil, caracterizada por ser uma fase relevante no desenvolvimento humano. Deve-se conceber a criança como um ser social e histórico, sendo que a aprendizagem nessa esfera se dá pelas interações entre a criança e o mundo a sua volta. Observa-se, portanto diferentes orientações didáticas, que presam a utilização dos jogos e brincadeiras, além de atividades que envolvam o reconhecimento do próprio corpo, do corpo do outro, da música, da dança e da imitação gestual.

A LEGISLAÇÃO NA EDUCAÇÃO INFANTIL

A Lei Nacional nº 11.769/2008, trouxe a educação em música como obrigatória, alterando o artigo 26 da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDBEN nº 9394/1996), trazendo o convite de se repensar nas práticas artísticas como as artes visuais, a dança, o teatro e a música. A música foi considerada uma área de competência que requer estudo, prática, reflexão e diversidade, devendo existir no Projeto Político Pedagógico da escola. Além disso, ela deve constar nos planejamentos pedagógicos, ser trabalhada interdisciplinarmente, contribuindo para o desenvolvimento cognitivo e pleno de crianças e adolescentes. Já as Diretrizes Nacionais para a operacionalização do Ensino da Música na Educação Básica (CNE/CEB nº 12/2013 de 04/12/2013) trouxeram a urgência de um currículo que contemplasse uma matriz de saberes para o ensino de música, constituindo-se em uma ferramenta que contribui para o trabalho do docente especialista e não especialista desenvolvendo a Educação Musical na Educação Básica e, especialmente na Educação Infantil.Outra mudança na educação ocorreu com a chegada da Base Nacional Comum Curricular (BNCC), documento orientador para que ocorra a equidade nos sistemas de ensino do Brasil inteiro. No caso da música:

A Música é a expressão artística que se materializa por meio dos sons, que ganham forma, sentido e significado no âmbito tanto da sensibilidade subjetiva quanto das interações sociais, como resultado de saberes e valores diversos estabelecidos no domínio da cultura. A ampliação e a produção dos conhecimentos musicais passam pela percepção, experimentação, reprodução, manipulação e criação de materiais sonoros diversos, dos mais próximos aos mais distantes da cultura musical dos alunos. Esse processo lhes possibilita vivenciar a música inter-relacionada à diversidade e desenvolver saberes musicais fundamentais para a sua inserção e participação crítica e ativa na sociedade (BNCC, 2017, p. 154).

No caso da BNCC voltada para a Educação Infantil, esta ampliou a jornada destinada às experiências, envolvendo a Arte como um todo e suas linguagens, trazendo a música como elemento obrigatório desde a infância. Neste sentido, as discussões do trabalho docente têm ocorrido de forma significativa, a fim de trazer métodos adequados ao trabalho com a primeira infância (BRASIL, 2019).Ainda, de acordo com Mendes (2009), os documentos orientadores da Educação Infantil, trazem a importância do trabalho com a linguagem musical utilizando-se de improvisações, de estudos corporais, da escuta de sons e música, da construção de instrumentos musicais, gerando e pensando em música. É através da música que a criança aprende a se expressar. A escola deve desenvolver potencialidades apresentando sua parte poética, sua composição e sua diversidade. Uma combinação entre os deleites que a música promove demonstram a importância para o desenvolvimento cognitivo e educacional das crianças.Por fim, o Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil traz a expressão corporal como uma das linguagens que devem ser trabalhadas nesse período, permitindo assim a criança a tomar consciência de si mesma, expressando e conhecendo o mundo à sua volta. A música pode contribuir para a exploração de diversas formas de como sentir o corpo proporciona às crianças o conhecimento de suas características, limitações e formas de expressão: “a riqueza de possibilidades da linguagem corporal revela um universo a ser vivenciado, conhecido, desfrutado” (AYOUB, 2001, p. 57), pois, o movimento corporal é a essência das crianças.A criança expressa-se principalmente através da fala e da dança, movimentando-se corporalmente. Assim:

É com o corpo que a criança elabora todas as suas experiências vitais, e organiza toda a sua personalidade. Através dele ela percebe o mundo, e perceber o mundo é aprender (e reaprender) com seu próprio corpo; perceber o mundo, portanto, é perceber o corpo; o corpo é assim, sensação, percepção e ação (STEUCK, 2008, p. 13-14).

MÚSICA E AS CRIANÇAS

A música organiza os signos sonoros no espaço e no tempo; e de acordo com as pesquisas voltadas para a origem da música e a sua importância para as relações sociais, elas vêm sendo aprofundadas desde o século XX, buscando explicações na biologia, na sociologia e na antropologia (MARIANO, 2015).A criança logo cedo costuma ter contato com a música. Inicialmente com sua mãe cantarolando com voz doce e suave, crescendo e percebendo que o mundo ao seu redor é regido pela musicalidade. A música está presente em diversos lugares e momentos, seja nas músicas de embalar, nas brincadeiras, nos brinquedos sonoros, nas danças, entre outras ações, podendo marcar afetivamente determinados momentos. Assim, de acordo com Nogueira (2003), a música está no nosso dia a dia, nos costumes e nas tradições de uma dada sociedade, nas festas e recordações especiais. Ou seja, a música contribui para a fixação de algumas regras, possibilitando diferentes aprendizados.A começar do nascimento entramos em contato com os sons, desde que nascemos estamos predispostos aos sons e composições, iniciando assim o mundo da linguagem. Por isso, essa relação prematura favorece o desenvolvimento de nossas aptidões cognitivas, linguísticas e motoras (SIMIONATO e TOURINHO, 2007). Para Brito (2003), a criança quando escuta música não quer dizer que abraça regras ou nota especificidades, mas sim vive aquele momento de aprendizagem. Por isso, a criança ao ter contato com a música deve determinadas certas capacidades, diferenciando o escutar, os diferentes tipos de sons e as diferenças culturais existentes. Existindo a possiblidade de ampliar as formas de comunicação e expressão, desenvolve-se ainda uma boa comunicação: “A importância do ensino de música na escola reside, então, na possibilidade de despertar habilidades e condutas na criança, levando-a a sentir- se sensibilizada pela música valendo-se da criação e da livre expressão” (LOUREIRO, 2003, p.1).Assim, a utilização da música na Educação Infantil desenvolve as potencialidades das crianças e deve respeitar sua individualidade, seu contexto cultural, étnico, religioso, entre outros aspectos, concebendo a criança como um ser único que apresenta características peculiares e que precisa desenvolver diferentes habilidades e linguagens para interagir com o mundo que a cerca. Sabe-se que a metodologia principal na Educação Infantil é a ludicidade, porém é preciso desenvolver outras aprendizagens e a Arte nesse sentido pode trazer boas contribuições dentro desta proposta. Ainda, nessa etapa de escolaridade, é necessário dispor de ferramentas e práticas que trabalhem a diversidade e o contexto da criança, explorando as suas potencialidades. O ensino da música envolve a construção do sujeito musical, a partir da constituição da linguagem. Esta transforma a criança, no que se refere à percepção, as formas de pensar, agir e interagir com o mundo e com os outros. Por fim, a música enquanto linguagem organiza os signos sonoros no espaço e no tempo, motivo pelo qual constitui-se como possibilidade de trazer reflexão ao ouvinte sobre o mundo, sobre o trabalho docente e principalmente o desenvolvimento das crianças, para que ela cresça plena e feliz, inclusive.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

De acordo com a pesquisa realizada, foi possível perceber que a musicalização na Educação Infantil tem por objetivo estimular o desenvolvimento global da criança, integrando sua individualidade, seu contexto socioeconômico, cultural, étnico, entre outros, concebendo a criança como um ser único que apresenta características peculiares e que interage com outras crianças e adultos.A musicalização, assim como outras formas de arte e a ludicidade, são a base da Educação Infantil. Para que o trabalho com música se torne viável nesta fase escolar, é necessário pensar em ferramentas e práticas trabalhando a diversidade e o contexto da criança, explorando assim suas potencialidades. O ensino da música envolve a construção do indivíduo musical, a partir da constituição da linguagem da música. O uso desse tipo de conceito transforma a criança, no que se referem à percepção, formas de agir e pensar, quanto os aspectos subjetivos. A escola é o primeiro ambiente no qual a criança vem a estabelecer suas relações sociais foram do ciclo familiar, essa situação nova na vida infantil deve ser acompanhada para que ao oferecer à criança um novo mundo diverso, repleto de situações na qual tenha que elaborar novos mecanismos de compreensão de fatos, conceitos e atitudes ela se sinta acolhida e atendida em meio a esse novo desafio, onde a criança que ingressa na vida escolar em meio a essa ampliação de relações possa construir sua concepção social do mundo.Ainda, a música pode contribuir como uma possibilidade de compreender através do embasamento teórico a forma com que as crianças constroem as suas relações sociais do nascimento até o momento da primeira infância, através de meios a princípio físicos e posteriormente através de aspectos mais subjetivos definidos como emoções, desejos e sentimentos.Assim, a música como ferramenta dinâmica na Educação Infantil, auxiliar no trabalho docente e na aprendizagem das crianças, trazendo a oportunidade do docente trabalhar a diversidade em sala de aula e desenvolvendo diferentes habilidades nos pequenos. Mesmo que haja docentes que ainda se espelham em modelos pedagógicos mais tradicionais, seguindo determinadas regras e formas de comportamento, de acordo com a pesquisa a maioria dos docentes ainda acredita que a afetividade, a ludicidade e a utilização da música são as melhores formas de se relacionar com as crianças podendo desenvolver a

comunicação oral e dialética conforme proporcione respeito e liberdade de ideias e conhecimentos prévios das crianças.Além disso, outra contribuição do uso da música durante a Educação Infantil é que esse período é um momento em que a criança experimenta, ajusta e constrói movimentos corporais provenientes da interação com os demais colegas. E a música pode desenvolver isso, por exemplo, através da dança, desenvolvendo a autonomia corporal e de ter contato com diferentes vivências e movimentos corporais provenientes da cultura a seu redor. Assim, na Educação Infantil é necessário desenvolver uma pedagogia que organize o fazer o pedagógico em torno de diferentes linguagens as quais a criança utiliza para expressar e se comunicar com o mundo que a cerca.

REFERÊNCIAS

AYUOB, E. Reflexões sobre a Educação Física na Educação Infantil. Revista Paulista de Educação Física, São Paulo, vol. 4, n. 4, p. 53-60, 2001.

BRASIL. Base Nacional Comum Curricular (BNCC). Educação é a Base. Brasília, MEC/CONSED/UNDIME, 2019. Disponível em: <http://basenacionalcomum.mec.gov.br/abase/. Acesso em: 01 mar. 2021.

BRASIL. Base Nacional Comum Curricular. Proposta preliminar. Ministério da Educação. Segunda versão revista. Brasília: MEC, 2016. Disponível em: .... Acesso em: 04 mar. 2021.

BRASIL. Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil. Ministério da Educação e do Desporto. Secretaria de Educação Fundamental. Brasília, v. 3. Conhecimento de Mundo. MEC/SEF, 1998.

BRITO, Teca Alencar de. Música na educação infantil. São Paulo: Peirópolis, 2003.

GOBBI, Márcia. Múltiplas linguagens de meninos e meninas e a Educação Infantil. Anais do I Seminário Nacional: Currículo em Movimento – Perspectivas Atuais, Belo Horizonte, novembro de 2010.

Godoi, L. R. (2011). A importância da música na educação infantil. Trabalho de conclusão de curso. Universidade Estadual de Londrina, Londrina, PR, Brasil. Recuperado de: http://www.uel.br/ceca/pedagogia/pages/arquivos/LUIS%20RODRIGO%20GODOI.pdf. Acesso em: 02 mar.2021.

Ilari, B. A música e o cérebro: algumas implicações do neurodesenvolvimento para a educação musical. Revista da Abem, 2003, 9, 7-16. Recuperado de: https://pdfs.semanticscholar.org/495b/19b4c8892f11bfeec193c8ffa46f22a5fcaf.pdf . Acesso em: 01 mar. 2021.

LOUREIRO, Alícia Maria Almeida. O ensino de música na escola fundamental. Campinas, SP: Papirus, 2003.

MARIANO, Fabiana Leite Rabello. Música no berçário: formação de professores e a teoria da aprendizagem musical de Edwin Gordon. São Paulo: Universidade de São Paulo / Faculdade de Educação, 2015.

NOGUEIRA, Monique Andries. A música e o desenvolvimento da criança. Revista da UFG, Vol. 5, No. 2, dez 2003. Disponível em: www.proec.ufg.br. Acesso em: 09 mar. 2021.

SIMIONATO, L. Cristina; TOURINHO, Cristina. Contribuição do aprendizado de canções no desenvolvimento da linguagem verbal. In ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE COGNIÇÃO E ARTES MUSICAIS. 2007. Anais do 3º Simpósio de Cognição e Artes Musicais. Bahia UFBH 2007 p. 371-377.

STEUCK, C.D. Corporeidade e educação: um olhar a partir da epistemologia social. 2008. Dissertação (Mestrado em Educação). Blumenau: Programa de Pós Graduação em Educação, Universidade Regional de Blumenau – FURB, 2008.

TULESKI, S. G., EIDTt, N. M. A periodização do desenvolvimento psíquico: atividade dominante e a formação das funções psíquicas superiores. In Martins, L. M., Abrantes, A. A., & Facci, M. G (Org.), Periodização histórico-cultural do desenvolvimento psíquico: do nascimento à velhice (pp.35-62). Campinas, SP, 2016: Autores Associados

RESUMO

Com o avanço da tecnologia e agitação do mundo moderno, torna-se um desafio cada vez maior despertar nas crianças o prazer pela leitura e a busca por livros como forma de entretenimento, apesar de hoje haver inúmeros exemplares com os mais variados recursos e formatos: ilustrações coloridas, em alto relevo, interativos, só com imagens, que podem ser levados para a piscina ou banheiro, livro CD, sonoro, de pano, de colorir, 3D, com fantoche, gigante, cartonado, etc. O trabalho a seguir tem como objetivo mostrar a importância da contação de história como recurso pedagógico, fazendo com que o aluno desenvolva aspectos cognitivos, afetivos e sociais, podendo ainda desenvolver na criança valores fundamentais como ética, respeito e moral. É fundamental transformar o contato com as histórias em um momento de grande diversão, quando a criança pode expor seus sentimentos e criatividade, possibilitar que ela viaje através do imaginário e vivencie outras realidades diferentes do seu cotidiano. Usamos como referencial autores consagrados nesta área, que nos dão a certeza de que o assunto abordado é de fundamental importância para professores que atuam na Educação Infantil e no Ensino Fundamental, porque é nesta fase da vida que as crianças internalizam conhecimentos e valores que se refletem ao longo de suas vidas..Palavras-chave: Contação de história; Criança; Conhecimento

INTRODUÇÃO

Sabe-se que, na Antiguidade as notícias, lendas, histórias e poemas eram transmitidos ao público através de canções e não escritos em papel. Ao contador de histórias, que também era chamado de bardo, incumbia-se a missão de trazer e levar acontecimentos dos lugares desconhecidos aos povoados, vilarejos e reinos por onde passava, já que ele era um ser nômade. Nas narrativas realizadas por estes trovadores, era indispensável à audiência, as vozes que o corpo expressava através dos movimentos e a relação que o narrador criava com o público.Assim, os cidadãos reuniam-se perto de fogueiras, em baixo de árvores, para se envolverem com os ‘causos’ contados. Diante da reação do público, o menestrel recorria a fatos da memória ou a riqueza de sua imaginação 32 para agradar, surpreender ou apavorar aos seus ouvintes. Desta maneira, as mensagens eram repassadas para outras pessoas gerando novos saberes.Vivemos um período em que a mídia e as tecnologias estão cada vez mais acessíveis às crianças; as informações chegam pelos meios de comunicação. Os livros estão sendo deixados de lado, as histórias estão sendo esquecidas, o que torna um desafio para o educador levar as crianças em idade escolar a apreciar a leitura. Acredita-se que esta seja uma atividade necessária e imprescindível no processo de desenvolvimento da criança, pois a contação de histórias auxilia na formação humana e, por isso, deve ser valorizada e desenvolvida no meio escolar a fim de potencializar a imaginação, a linguagem, a atenção, a memória, o gosto pela leitura e outras habilidades humanas, além de contribuir no processo de aprendizagem e socialização da criança instiga a criatividade, a oralidade, incentiva o gosto pela leitura, contribui na formação da personalidade e no desenvolvimento o social e afetivo. A contação de história nas escolas era uma forma de distrair as crianças e hoje vem ressurgindo na figura do contador de histórias. De acordo com vários estudiosos, a contação de histórias é um precioso auxílio à prática pedagógica de professores na Educação Infantil e nos anos iniciais do Ensino Fundamental.

A ARTE DE CONTAR HISTÓRIAS

A leitura é uma atividade inerente à condição humana. Freire (2005) afirma que a leitura de mundo antecede à da palavra, ou seja, desde que nascemos somos leitores do mundo e nossas ações decorrem dessa leitura. Ela é muito importante

para inspirar sentimentos, valores, condutas e a celebração da própria vida. Por isso, a leitura exerce um importante papel no crescimento intelectual, crítico e criativo do aluno, desenvolvendo as suas potencialidades e, consequentemente, o seu rendimento escolar, tanto como estudantes, como também no aperfeiçoamento de sua personalidadeNa antiguidade a contação oral de histórias era vista sob um olhar inferior à escrita, apesar disso os povos se reuniam ao redor da fogueira e contavam suas lendas e contos, espalhando a sua cultura e os seus costumes. Essas lendas e contos eram histórias do imaginário popular pertencentes à memória coletiva, destinadas, a ouvintes, adultos e crianças, que não sabiam ler. Segundo Malba Tahan (1966, p.24) “até os nossos dias, todos os povos civilizados ou não, tem usado a história como veículo de verdades eternas, como meio de conservação de suas tradições, ou da difusão de ideias novas.”. O homem descobriu que a história além de entreter, causava a admiração e conquistava a aprovação dos ouvintes. O contador de histórias tornou-se o centro da atenção popular pelo prazer que suas narrativas proporcionavam.Atualmente, é comum afirmar que o ouvir e o contar histórias perderam-se no tempo e que os espaços ocupados pelos seus contadores foram sendo preenchidos por outros interesses. Relembram-se as ideias de Benjamin (1994), que reconhece o ato de contar histórias como um fato importante nas relações humanas e que tal prática é significativa na manutenção dessas relações, bem como acredita que o narrador é um homem que sabe dar conselhos, porém, prenuncia a morte da narrativa. Segundo o autor, “a arte de narrar está definhando, porque a sabedoria – o lado épico – está em extinção.” (BENJAMIN, 1994, p. 200-201). De acordo com o autor, um dos fatores que contribuíram para a possível extinção da narrativa oral e de seus narradores foi a difusão o romance pelos meios de comunicação, que criaram formas individualistas de comunicação.

O referido teórico afirma que:

Já passou o tempo que o tempo não contava. O homem de hoje não cultiva o que não pode ser abreviado. Com efeito, o homem conseguiu abreviar até a narrativa. Assistimos em nossos dias ao nascimento da short story, que se emancipou da tradição oral e não mais permite essa lenta superposição de camadas finas e translúcidas, que representa a melhor imagem do processo pelo qual a narrativa vem à luz do dia, como coroamento das várias camadas constituídas pelas narrações sucessivas. (BENJAMIN, 1994, p. 206).

A CONTAÇÃO DE HISTÓRIAS COMO PRÁTICA EDUCATIVA A contação de histórias é uma prática muito antiga e de grande relevância para a história da humanidade. Documenta-se que, antes mesmo da escrita ser inventada, já havia o costume de utilizar o conto oral como instrumento de transmissão de conhecimento. Através dessa tradição oral muitas sociedades conseguiram preservar a sua cultura, e, consequentemente, deixaram um rico legado de saberes, crenças e tradições, pois cada geração tinha o dever de contar as histórias para as gerações seguintes (BUSSATO, 2003; PATRINI, 2005). O conto oral é uma das mais antigas formas de expressão. E a voz constitui o mais antigo meio de transmissão. Graças à voz, o conto é difundido no mundo inteiro, preenche diferentes funções, dando conselhos, estabelecendo normas e valores, atentando os desejos sonhados e imaginados, levando às regiões mais longínquas a sabedoria dos homens experimentados (PATRINI, 2005, p.118). Pode-se dizer que a contação de histórias configura-se como um ato de resistência e de preservação identitária, pois, mesmo com o advento de novas tecnologias de informação e comunicação, é um processo que perdura até os dias atuais e que ocorre em diversos ambientes de socialização, especialmente no núcleo familiar e na escola.A família é a primeira e principal fonte de histórias. No ambiente familiar, ouvimos nossas primeiras histórias, visto que as pessoas constituintes dessa instituição social são as primeiras a intermediar o contato da criança com o texto oral. É, através desse texto, que se tem uma das mais ricas formas de apresentar outros contextos e o passo inicial para a “leitura de mundo” (FREIRE, 1989). Afinal, as crianças não precisam ouvir histórias apenas quando já adquiriram o sistema de representação da língua escrita. “[…] como é importante para a formação de qualquer criança ouvir muitas, muitas histórias… escutá-las é o início da aprendizagem para ser leitor, e ser leitor é ter um caminho absolutamente infinito de descoberta e de compreensão do mundo […]”. (ABRAMOVICH, 1997, p.16). No chão da escola, essa prática tem um significativo papel no processo de ensino-aprendizagem, podendo ser trabalhada de diversas formas. A contação de história apresenta as crianças ao universo da narrativa e, por isso, pode ser um poderoso instrumento para promover o gosto e hábito à leitura, a ampliação das experiências sociais, o desenvolvimento da imaginação, a capacidade de escutar e dar sequência lógica aos fatos, a ampliação do vocabulário e a potencialização da importância da linguagem oral.Com o intuito de propiciar o conhecimento e o encanto dessa arte que atravessou os tempos, o(a) professor(a) precisa planejar o momento da contação de histórias, sendo importante conhecer previamente o que será narrado para as crianças, durante o momento educativo, para que não perca o que tem de lúdico e belo da contação de histórias. […] para a criança, não se pode fazer isso de qualquer jeito, pegando o primeiro volume que se vê na estante… E aí, no decorrer da leitura, demonstrar que não está familiarizado com uma ou outra palavra (ou com várias), empacar ao pronunciar o nome dum determinado personagem ou lugar, mostrar que não percebeu o jeito que o autor construiu suas frases e dando as pausas nos lugares errados, […] Por isso, ler o livro antes, bem lido, sentir como nos pega, nos emociona ou nos irrita… Assim quando chegar o momento de narrar a história, que se passe emoção verdadeira, aquela que vem lá de dentro, lá do fundinho, e que por isso, chega no ouvinte… (ABRAMOVICH, 1997, p. 18-20) A contação de histórias deve fazer parte do acolhimento das crianças e deve ser feita sem improvisos, para ser uma experiência contagiante e de muita troca de experiências entre os participantes, permitindo que a ludicidade passe a fazer

parte do cotidiano da escola.

O lúdico é importante no acolhimento da diversidade cultural, pois desperta a vontade de aprender sobre e compreender o outro, mas também é mais um elemento que modifica a história e o contexto. Quando adicionamos brincadeiras e estimulamos as crianças a interagir com a história contada, ela se apropria do conteúdo, faz relações com as suas vivências e imprime a sua própria marca. (BRAGA, GONÇALVES & SOARES, 2014, p.7) Assim, cada conto narrado pode despertar o desejo de ensinar e aprender novos conhecimentos, através de diferentes reações e significados atribuídos por cada criança com seu jeito único de perceber o mundo, pois as mesmas vivenciam ambientes e situações diversas fora da escola e terão muitas contribuições a oferecer durante a interpretação da história narrada, através de desenhos, brincadeiras, jogos, entre outros.Por fim, a atividade de contar histórias é uma forma potente de combate à rotinização do trabalho docente. Essa prática pode trazer novos elementos para a sala de aula, colaborando, assim, para a promoção de uma educação saudável, rica em descobertas e aprendizados e marcada pela nossa sábia tradição de ouvir e contar histórias.

METODOLOGIAS PARA CONTAR HISTÓRIAS

Existem diversos métodos de narrar uma história, mas quando se trata do ambiente escolar, de crianças e docentes narradores de histórias, é importante destacar que, contar uma história para crianças, vai muito além disto, pois, se trata de uma atividade de suma importância. Contudo, Oliveira cita que existem diferenças entre ler e contar.

As histórias contadas oralmente têm uma força de transmissão oral, isto é: a voz, o olhar e o gesto vivo do contador de histórias, que alegra ou entristece a sua platéia. Na “contação” usam-se as próprias palavras, há variações nas versões de cada história, permite-se o uso de recursos e está mais próxima da oralidade. A criança aprende mais sobre a língua que se fala, amplia seu repertório e seu universo imaginário, percebe que as histórias podem ser mudadas e começa a criar suas próprias histórias. Ao ler o professor apresenta aos alunos o universo letrado, instigam a curiosidade pelos livros e seus conteúdos. Neste caso a história é sempre a mesma, independente de quem a lê. Podemos modificar a entonação, a altura ou o timbre da voz, mas o texto é sempre o mesmo. A leitura traz consigo marcas específicas da língua escrita e que não utilizamos cotidianamente ao falar. (OLIVEIRA, 2006, p. 04).

Segundo Cavalcanti (2009) um excelente narrador de histórias é aquele que contém o dom natural para fazer da sua história um conto mágico de narrativas. Sendo assim, podemos então dizer que uma história conduz a criança para um mundo mágico, quando escuta uma história ela pode desenvolver e atingir vários objetivos. Tahan cita que, através da contação de historias serão desenvolvidas várias habilidades no indivíduo, primeiro a expansão da língua infantil, o enriquecimento do vocabulário facilitando a expressão e a articulação das palavras, segundo será estimulada a inteligência e a criatividade, terceiro será a aquisição de conhecimentos e ampliação das experiências, quarta habilidade desenvolvida será à socialização, onde a crianças estará se identificando com o grupo e o ambiente, estabelecendo associações por analogia, quinta habilidade será a revelação das diferenças individuais, onde a professora facilitará o conhecimento de características predominantes em seus alunos, evidenciadas através das reações provocadas pelas narrativas, sexta habilidade será a formação de hábitos e atitudes sociais e morais, através da imitação de bons exemplos, estimulando bons sentimentos na criança e incitando-a na vida moral, Por fim. Sétima e ultima habilidade será a do interesse pela leitura, familiarizando a criança com os livros e histórias, despertando, para o futuro, esse interesse tão necessário. É notável o diferencial nos olhos de quem narra uma história, conseguimos notar a sua habilidade sobre os livros, tanto para transferir informações, quanto para montagem de repertório, de figurino... por fim “é exatamente do fascínio de ler que nasce o fascínio de contar. E contar histórias hoje significa salvar o mundo imaginário” (SISTO, 2005, p.28). Para ter um bom aproveitamento em um contação de histórias, deve conter imagens verbais, sonoras e corporais. Há algum tempo atrás, para se contar uma história não era utilizado nenhum método para prender a atenção dos ouvintes, ou seja, a história era contada oralmente, se usava apenas basicamente a voz, alguns gestos e o olhar. No decorrer dos tempos e com as novas atualizações e novos recursos as histórias passaram a ser narradas de maneiras diferentes de forma mais lúdicas e criativas. No momento atual o docente encontra vários recursos lúdico/pedagógicos para assim proporcionar ao aluno um excelente momento de contação de histórias, basta um pouco de criatividade e então, podemos confeccionar: dedoches, flanelógrafo, cineminhas, peças teatrais, fantoches.... Também temos livros de tecido, feitos com EVA, de plásticos e também específicos para a hora do banho. Esses recursos auxiliam o contador na apresentação da história, pois além de conseguir prender a atenção da criança para que escute atentamente também conseguem fazer com que o momento da história possa ser de imaginação.

Utilizam-se outras linguagens: a música, a mímica, a dança, as artes plásticas... tudo é bem-vindo quando desperta o sabor de um passeio com o qual se sonhou há muito tempo, com o qual se restituiu o tempo do jogo do faz-de-conta. (SISTO, 2005, p. 32).

Para se contar uma história sem o apoio de um livro o docente deve utilizar algumas estratégias, como mudanças no tom de voz, gestos corporais, além de conhecer toda a história que será contada, pois assim o momento da contação ocorrerá sem interrupções e com bastante satisfação.

Abramovich propõe que

Para contar histórias – seja qual for – é bom saber como se faz. Afinal, nela se descobrem palavras novas, se entra em contato com a música e com a sonoridade das frases, dos nomes... Se capta o ritmo, a cadência do conto, fluindo como uma canção ... Ou se brinca com a melodia dos versos, com o acerto das rimas, com o jogo das palavras... Contar

histórias é uma arte. (2001, p. 18). Com isso, quando uma criança houve uma história ela é capaz de expressar suas opiniões, fazer descobertas, ter dúvidas ou argumentar questões relacionadas e exercer a relação verbal que favorece a fala.

Com isso, quando uma criança houve uma história ela é capaz de expressar suas opiniões, fazer descobertas, ter dúvidas ou argumentar questões relacionadas e exercer a relação verbal que favorece a fala.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A contação de histórias é uma atividade fundamental que transmite conhecimentos e valores, sua atuação é decisiva na formação e no desenvolvimento do processo ensino-aprendizagem, utilizá-la em sala de aula permite que todos saiam ganhando, tanto os alunos, que serão instigados a imaginar e criar muito mais, quanto os professores, que podem ministrar uma aula muito mais agradável e produtiva. Além de alcançar o objetivo pretendido: uma aprendizagem verdadeiramente significativa.O professor pode alcançar muitos objetivos por meio dela, pois ler histórias para criança é uma atividade prazerosa, com a qual poderá fazê-la expressar suas próprias percepções de mundo, é preciso tornar as crianças familiarizadas com os livros, orientando-as quanto ao manuseio e à sua conservação, já que com as histórias elas aprendem brincando a respeitar regras, se divertirem, seja através da imitação, socialização, interação ou dificuldade a ser superada.A leitura dever ser cultivada desde a primeira infância, pois mesmo sem interagir ou entender, a criança vai se sentindo confortável até o momento em que passa a ter entendimento do contexto criando prazer e admiração pelas histórias.Mesmo antes de aprender a ler, as crianças devem ser colocadas em contato com a literatura. Ao ver um adulto lendo, ao ouvir uma história contada por ele, os pequenos começam a se interessar pelo mundo das palavras. Contar histórias para crianças deve ser um ato constante, não só porque executá-lo é o início da aprendizagem para ser leitor, mas para provocar a imaginação. Deve dar prazer a quem conta e ao ouvinte. Constitui fonte de prazer e encantamento pela vida.É ouvindo histórias que se pode descobrir o mundo imenso de conflitos e soluções, que se podem sentir novas e diferentes emoções, conhecerem lugares novos, começar a formar opiniões, critérios, conceitos e novos valores. A história contada através da oralidade permite a interação entre contador e ouvintes, já que o corpo e a voz propiciam vivências comunitárias, perdidas na aceleração da vida moderna.O principal objetivo de contar uma história é divertir, estimulando a imaginação, mas uma história bem contada pode aumentar o interesse pela aula ou permitir a auto-identificação, favorecendo a compreensão de situações desagradáveis e ajudando a resolver conflitos, sendo assim, é importante que a criança tenha acesso a diferentes tipos de textos, onde ela construirá sua aprendizagem.Até mesmo, as crianças não alfabetizadas podem usufruir desta proposta, pois, inicialmente com a leitura de imagens e observação da direção de escrita estarão desenvolvendo habilidades na oralidade, interpretação e assim se apropriarão dos componentes para a aprendizagem da leitura e escrita.

REFERÊNCIAS

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RESUMO As Diretrizes Curriculares Nacionais de Educação Infantil e as propostas pedagógicas existentes devem considerar princípios estéticos, voltando-se para diferentes manifestações artísticas e culturais e que considerem a heterogeneidade cultural, étnica, religiosa, social do país. A música como linguagem organiza os signos sonoros no espaço e no tempo, trazendo a possibilidade de trazer reflexão ao ouvinte sobre o mundo. Assim, é fundamental assegurar o ensino da música entre as crianças para que as mesmas possam entender e construir seu cotidiano e parte do seu mundo a partir da linguagem sonora. Por isto, a presente pesquisa discute as implicações da musicalização na Educação Infantil no desenvolvimento das crianças da creche e pré-escola. Os resultados indicaram que o uso da música é de fundamental importância para o desenvolvimento sociocognitivo das mesmas, em interdisciplinaridade com outras áreas de conhecimento.

Palavras-chave: Educação Infantil; Musicalização; Desenvolvimento Infantil.

INTRODUÇÃO

As crianças se envolvem com os sons desde muito pequenas, sendo que alguns pesquisadores discutem que esse contato acontece desde a fase intrauterina. Quando chegam a fase escolar, uma das problemáticas é que determinadas experiências sonoras ficam muitas vezes reduzida a ajudar na organização de atividades relacionadas à ocasião do recreio e do asseio das crianças, ganhando aspectos de disciplinarização da infância. Assim, justifica-se o presente artigo a discussão sobre a importância da música e sua utilização na Educação Infantil, a fim de encontrar sua identidade e de distinguir o ambiente em que vive, utilizando os sons através de suas diferentes propriedades: altura, espaço, grau, timbre, sons; através de brincadeiras, cantaroladas, assobios, risos, gritos, ou seja, emitindo os mais diversos sons. Sabe-se que em relação à criança, a música é criada ao brincar com os sons, transformando ambientes. Outra problemática é a questão de que muitos docentes ainda não compreendem a importância do ensino de música, classificando algumas músicas como musiquinhas, e ainda músicas e sons produzidos pelas próprias crianças, considerando-os barulhos.Desta forma, temos como objetivo geral discutir as implicações da musicalização no processo da Educação Infantil; e como objetivos específicos discutir a legislação pertinente a inserção da música na Educação Infantil, bem como suas contribuições para o ensino da mesma e para o desenvolvimento sociocognitivo das crianças que frequentam essa etapa escolar.

A MÚSICA E A EDUCAÇÃO INFANTIL

Podemos destacar que as atividades desenvolvidas dentro da Educação Infantil são direcionadas entre outros documentos pelas Diretrizes Curriculares Nacionais, como discutido abaixo:

(...) a primeira etapa da educação básica, oferecida em creches e pré-escolas, às quais se caracterizam como espaços institucionais não domésticos que constituem estabelecimentos educacionais públicos ou privados que educam e cuidam de crianças de 0 a 5 anos de idade no período diurno, em jornada integral ou parcial, regulados e supervisionados por órgão competente do sistema de ensino e submetidos a controle social (DCNs, 2010, p.12).

Os docentes da Educação Infantil devem estar sempre atentos cem relação aqueles que classificam algumas músicas ouvidas pelas crianças como musiquinhas, tratando-se de forma revelando como as crianças são concebidas e, além disso, como são pensadas e realizadas as relações entre adultos e crianças em ambientes para a infância igualmente onde se toca músicas e sons que, ao serem realizados pelas próprias crianças, são ouvidos como barulhos, contrariando as regras do silêncio. A canção é essencial como brincadeira, como cultura e como contato com o folclore (GOBBI, 2010).Ainda, não se pode ignorar o contato com outros gêneros musicais, de outras culturas e, principalmente com os sons de todas as partes do mundo, considerando também o que a criança porta advindo de seu contexto social, familiar, cultural. A ideia central da Educação Infantil não é apenas colocar para a criança músicas já prontas, mas sim oferecer momentos de descobertas e construções sonoras, canto e invenção de canções. Ainda, objetos devem ser transformados em instrumentos musicais, enriquecendo o repertório musical através de práticas diferenciadas com as crianças.A sonorização de histórias, a escuta sonora, brincadeiras cantadas, percepção de sons, barulhos, ruídos, compõem a creche e pré-escola, sendo essenciais para estabelecer o tempo das crianças juntamente a outras linguagens e não como aula de música, o que tantas vezes é observado.As funções psicológicas superiores vão sendo desenvolvidas nas crianças de acordo com dois tipos de fenômenos: as transformações psíquicas como o desenvolvimento da fala, da escrita e do desenho, por exemplo; e os processos de desenvolvimento das funções relacionadas à memória, julgamento, concentração e inteligência conceitual (TULESKI e EIDT, 2016).Ou seja, a música, se torna um estimulo primordial para o desenvolvimento cerebral da criança. Culturalmente é comum o hábito de cantar e dançar para os bebês, auxiliando tanto no aprendizado musical, quanto no desenvolvimento da afetividade, da socialização e da aquisição da linguagem.Por fim, a educação é um processo contínuo e evolutivo, e deve ser pautado principalmente na criança, tornando-se necessário evidenciar este processo já na educação infantil, caracterizada por ser uma fase relevante no desenvolvimento humano. Deve-se conceber a criança como um ser social e histórico, sendo que a aprendizagem nessa esfera se dá pelas interações entre a criança e o mundo a sua volta. Observa-se, portanto diferentes orientações didáticas, que presam a utilização dos jogos e brincadeiras, além de atividades que envolvam o reconhecimento do próprio corpo, do corpo do outro, da música, da dança e da imitação gestual.

A LEGISLAÇÃO NA EDUCAÇÃO INFANTIL

A Lei Nacional nº 11.769/2008, trouxe a educação em música como obrigatória, alterando o artigo 26 da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDBEN nº 9394/1996), trazendo o convite de se repensar nas práticas artísticas como as artes visuais, a dança, o teatro e a música. A música foi considerada uma área de competência que requer estudo, prática, reflexão e diversidade, devendo existir no Projeto Político Pedagógico da escola. Além disso, ela deve constar nos planejamentos pedagógicos, ser trabalhada interdisciplinarmente, contribuindo para o desenvolvimento cognitivo e pleno de crianças e adolescentes. Já as Diretrizes Nacionais para a operacionalização do Ensino da Música na Educação Básica (CNE/CEB nº 12/2013 de 04/12/2013) trouxeram a urgência de um currículo que contemplasse uma matriz de saberes para o ensino de música, constituindo-se em uma ferramenta que contribui para o trabalho do docente especialista e não especialista desenvolvendo a Educação Musical na Educação Básica e, especialmente na Educação Infantil.Outra mudança na educação ocorreu com a chegada da Base Nacional Comum Curricular (BNCC), documento orientador para que ocorra a equidade nos sistemas de ensino do Brasil inteiro. No caso da música:

A Música é a expressão artística que se materializa por meio dos sons, que ganham forma, sentido e significado no âmbito tanto da sensibilidade subjetiva quanto das interações sociais, como resultado de saberes e valores diversos estabelecidos no domínio da cultura. A ampliação e a produção dos conhecimentos musicais passam pela percepção, experimentação, reprodução, manipulação e criação de materiais sonoros diversos, dos mais próximos aos mais distantes da cultura musical dos alunos. Esse processo lhes possibilita vivenciar a música inter-relacionada à diversidade e desenvolver saberes musicais fundamentais para a sua inserção e participação crítica e ativa na sociedade (BNCC, 2017, p. 154).

No caso da BNCC voltada para a Educação Infantil, esta ampliou a jornada destinada às experiências, envolvendo a Arte como um todo e suas linguagens, trazendo a música como elemento obrigatório desde a infância. Neste sentido, as discussões do trabalho docente têm ocorrido de forma significativa, a fim de trazer métodos adequados ao trabalho com a primeira infância (BRASIL, 2019).Ainda, de acordo com Mendes (2009), os documentos orientadores da Educação Infantil, trazem a importância do trabalho com a linguagem musical utilizando-se de improvisações, de estudos corporais, da escuta de sons e música, da construção de instrumentos musicais, gerando e pensando em música. É através da música que a criança aprende a se expressar. A escola deve desenvolver potencialidades apresentando sua parte poética, sua composição e sua diversidade. Uma combinação entre os deleites que a música promove demonstram a importância para o desenvolvimento cognitivo e educacional das crianças.Por fim, o Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil traz a expressão corporal como uma das linguagens que devem ser trabalhadas nesse período, permitindo assim a criança a tomar consciência de si mesma, expressando e conhecendo o mundo à sua volta. A música pode contribuir para a exploração de diversas formas de como sentir o corpo proporciona às crianças o conhecimento de suas características, limitações e formas de expressão: “a riqueza de possibilidades da linguagem corporal revela um universo a ser vivenciado, conhecido, desfrutado” (AYOUB, 2001, p. 57), pois, o movimento corporal é a essência das crianças.A criança expressa-se principalmente através da fala e da dança, movimentando-se corporalmente. Assim:

É com o corpo que a criança elabora todas as suas experiências vitais, e organiza toda a sua personalidade. Através dele ela percebe o mundo, e perceber o mundo é aprender (e reaprender) com seu próprio corpo; perceber o mundo, portanto, é perceber o corpo; o corpo é assim, sensação, percepção e ação (STEUCK, 2008, p. 13-14).

MÚSICA E AS CRIANÇAS

A música organiza os signos sonoros no espaço e no tempo; e de acordo com as pesquisas voltadas para a origem da música e a sua importância para as relações sociais, elas vêm sendo aprofundadas desde o século XX, buscando explicações na biologia, na sociologia e na antropologia (MARIANO, 2015).A criança logo cedo costuma ter contato com a música. Inicialmente com sua mãe cantarolando com voz doce e suave, crescendo e percebendo que o mundo ao seu redor é regido pela musicalidade. A música está presente em diversos lugares e momentos, seja nas músicas de embalar, nas brincadeiras, nos brinquedos sonoros, nas danças, entre outras ações, podendo marcar afetivamente determinados momentos. Assim, de acordo com Nogueira (2003), a música está no nosso dia a dia, nos costumes e nas tradições de uma dada sociedade, nas festas e recordações especiais. Ou seja, a música contribui para a fixação de algumas regras, possibilitando diferentes aprendizados.A começar do nascimento entramos em contato com os sons, desde que nascemos estamos predispostos aos sons e composições, iniciando assim o mundo da linguagem. Por isso, essa relação prematura favorece o desenvolvimento de nossas aptidões cognitivas, linguísticas e motoras (SIMIONATO e TOURINHO, 2007). Para Brito (2003), a criança quando escuta música não quer dizer que abraça regras ou nota especificidades, mas sim vive aquele momento de aprendizagem. Por isso, a criança ao ter contato com a música deve determinadas certas capacidades, diferenciando o escutar, os diferentes tipos de sons e as diferenças culturais existentes. Existindo a possiblidade de ampliar as formas de comunicação e expressão, desenvolve-se ainda uma boa comunicação: “A importância do ensino de música na escola reside, então, na possibilidade de despertar habilidades e condutas na criança, levando-a a sentir- se sensibilizada pela música valendo-se da criação e da livre expressão” (LOUREIRO, 2003, p.1).Assim, a utilização da música na Educação Infantil desenvolve as potencialidades das crianças e deve respeitar sua individualidade, seu contexto cultural, étnico, religioso, entre outros aspectos, concebendo a criança como um ser único que apresenta características peculiares e que precisa desenvolver diferentes habilidades e linguagens para interagir com o mundo que a cerca. Sabe-se que a metodologia principal na Educação Infantil é a ludicidade, porém é preciso desenvolver outras aprendizagens e a Arte nesse sentido pode trazer boas contribuições dentro desta proposta. Ainda, nessa etapa de escolaridade, é necessário dispor de ferramentas e práticas que trabalhem a diversidade e o contexto da criança, explorando as suas potencialidades. O ensino da música envolve a construção do sujeito musical, a partir da constituição da linguagem. Esta transforma a criança, no que se refere à percepção, as formas de pensar, agir e interagir com o mundo e com os outros. Por fim, a música enquanto linguagem organiza os signos sonoros no espaço e no tempo, motivo pelo qual constitui-se como possibilidade de trazer reflexão ao ouvinte sobre o mundo, sobre o trabalho docente e principalmente o desenvolvimento das crianças, para que ela cresça plena e feliz, inclusive.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

De acordo com a pesquisa realizada, foi possível perceber que a musicalização na Educação Infantil tem por objetivo estimular o desenvolvimento global da criança, integrando sua individualidade, seu contexto socioeconômico, cultural, étnico, entre outros, concebendo a criança como um ser único que apresenta características peculiares e que interage com outras crianças e adultos.A musicalização, assim como outras formas de arte e a ludicidade, são a base da Educação Infantil. Para que o trabalho com música se torne viável nesta fase escolar, é necessário pensar em ferramentas e práticas trabalhando a diversidade e o contexto da criança, explorando assim suas potencialidades. O ensino da música envolve a construção do indivíduo musical, a partir da constituição da linguagem da música. O uso desse tipo de conceito transforma a criança, no que se referem à percepção, formas de agir e pensar, quanto os aspectos subjetivos. A escola é o primeiro ambiente no qual a criança vem a estabelecer suas relações sociais foram do ciclo familiar, essa situação nova na vida infantil deve ser acompanhada para que ao oferecer à criança um novo mundo diverso, repleto de situações na qual tenha que elaborar novos mecanismos de compreensão de fatos, conceitos e atitudes ela se sinta acolhida e atendida em meio a esse novo desafio, onde a criança que ingressa na vida escolar em meio a essa ampliação de relações possa construir sua concepção social do mundo.Ainda, a música pode contribuir como uma possibilidade de compreender através do embasamento teórico a forma com que as crianças constroem as suas relações sociais do nascimento até o momento da primeira infância, através de meios a princípio físicos e posteriormente através de aspectos mais subjetivos definidos como emoções, desejos e sentimentos.Assim, a música como ferramenta dinâmica na Educação Infantil, auxiliar no trabalho docente e na aprendizagem das crianças, trazendo a oportunidade do docente trabalhar a diversidade em sala de aula e desenvolvendo diferentes habilidades nos pequenos. Mesmo que haja docentes que ainda se espelham em modelos pedagógicos mais tradicionais, seguindo determinadas regras e formas de comportamento, de acordo com a pesquisa a maioria dos docentes ainda acredita que a afetividade, a ludicidade e a utilização da música são as melhores formas de se relacionar com as crianças podendo desenvolver a

comunicação oral e dialética conforme proporcione respeito e liberdade de ideias e conhecimentos prévios das crianças.Além disso, outra contribuição do uso da música durante a Educação Infantil é que esse período é um momento em que a criança experimenta, ajusta e constrói movimentos corporais provenientes da interação com os demais colegas. E a música pode desenvolver isso, por exemplo, através da dança, desenvolvendo a autonomia corporal e de ter contato com diferentes vivências e movimentos corporais provenientes da cultura a seu redor. Assim, na Educação Infantil é necessário desenvolver uma pedagogia que organize o fazer o pedagógico em torno de diferentes linguagens as quais a criança utiliza para expressar e se comunicar com o mundo que a cerca.

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