revista mazzaropi

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ano 1 DSO- 09 R$ 22,90 ISSN 1 808-481 8 nº 09 MAZZAROPI • GIRO - AS ÚLTIMAS NOTÍCIAS DO MUNDO • DESTAQUE - TRISTEZA DO JECA • ESPECIAL - MONTEIRO LOBATO E A CRIAÇÃO DO PERSONAGEM JECA TATU • REIS DO RISO - RONALD GOLIAS • CARTAZ EXCLUSIVO O CAIPIRA MAIS FAMOSO DO BRASIL

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Revista Mazzaropi

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Page 1: Revista Mazzaropi

ano 1 DSO- 09R$ 22,90

ISSN 1808-4818

nº 0

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MAZZAROPI• GIRO - AS ÚLTIMAS NOTÍCIAS DO MUNDO

• DESTAQUE - TRISTEZA DO JECA • ESPECIAL - MONTEIROLOBATO E A CRIAÇÃO DO PERSONAGEM JECA TATU

• REIS DO RISO - RONALD GOLIAS • CARTAZ EXCLUSIVO

O CAIPIRA MAIS FAMOSO DO BRASIL

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Eeditorial índice

As opiniões nos art igos ass inados não são necessariamente as da revista, podendo até mesmo ser contrárias à mesma. Cartas à Revista Digital SHOWTIME COMÉDIA ou seus editores supõem-se para publicação total ou parcial.

Dúvidas, reclamações e sugestões: SAC - Serviço de Atendimento

ao ClienteTel: (0**11) 6651-6334

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Site: www.revistashowtime.com.br

DiretorFrancisco Marciano

Editor ResponsávelAlexandre M. Monteiro

Editora ExecutivaRoberta M. Lança

Editor de ArteBelmiro Simões

Produção EditorialAspen Editora Ltda.

Coordenador de ProduçãoLeandro Moran

Editoração EletrônicaAdriano Sales, Anderson Cavalheiro,C a r l o s A m a r a l , C r i s t i a n L a n ç a ,Rodrigo Silva e Wagner Cavalieri

Tratamento de imagensRicardo Canhoto

ColaboradoresBruce Sixx, Carlos Primati, Cíntia Cristina da Silva, Luciana Pelliciari e Sergio Martorelli

Jornalista ResponsávelLaerte Brasil - Mtb 40573

ImpressãoFotofacto - Fone: (0**11) 6919-1817

Distr ibuição exclusiva para todo o país:Fernando Chinaglia Distribuidora S/AR. Teodoro da Silva, 907 - Rio de Janeiro - RJFone: (0**21) 2195-3200.

Revista Digital SHOWTIME COMÉDIA (ISSN 1808-4818) é uma mensal publicação da Aspen Editora Ltda.- Rua Cel. Bento José de Carvalho, 144 - CEP 03516-010 - Vila Matilde - São Paulo - SP. Ano 1 - nº 09 - Janeiro/2006. © Todos os direitos reservados.

expediente

3 EDITORIAL Bate-papo com o leitor

4 GIRO As últimas notícias do mundo

6 DESTAQUE Festival Mazzaropi - Tristeza do Jeca

8 ESPECIAL Monteiro Lobato e a criação do personagem Jeca Tatu

12 REIS DO RISO Ô Cride, fala pra mãe que o Golias era "DO PERU"!

14 CARTAZ

comédiacomédia

M onteiro Lobato entrou para a história da literatura brasileira como o mais infl uente

dos autores infanto-juvenis. O criador do Sítio do Pica-Pau Amarelo e outros grandes livros dedicados aos mais jovens, também assumiu seu papel de intelectual e lutou algumas batalhas ao longo de sua vida.

Polêmico, amado e odiado, Lobato causou espanto ao apresentar aos educados círculos da cidade grande, um perfi l bem pouco lisonjeiro do homem do campo. Em Urupês, Lobato, pinta o caboclo com pinceladas bem marcadas e defi nidas: o compara a um parasita que nada faz além de ver o tempo passar e vive sob o dogma intocável do mínimo esforço. O Jeca Tatu de Lobato expôs um Brasil que todo mundo preferia não ver. Um país assolado pelas doenças miseráveis que só sobrevivem

e m a m b i e n t e s i g u a l m e n t e depauperados. Quando Mazzaropi resolveu encanar o caipira indolente, preguiçoso que vive de acordo com a maré, encontrou um personagem perfeito. E o personagem encontrou o intérprete perfeito. Mazzaropi fazia fi lmes para o povo e só interpretava fi guras simplórias com as quais o grande público podia se identifi car facilmente. Os tempos mudaram, a tecnologia revolucionou a vida no campo, mas num país tão imenso quanto o Brasil ainda existem rincões em que o espírito do Jeca Tatu, ainda insiste em resistir.

Conf i ra a b r i lhante a tuação d e Mazzaropi na pele de um de seus personagens mais célebres. O Festival Mazzaropi! Vol. 1 apresenta Tristeza do Jeca, o encontro de dois grandes homens da cultura nacional: Monteiro Lobato e Mazzaropi. Boa diversão e até a próxima!

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Ggiro

4 SHOWTIME COMÉDIA

fotos: reprodução

NELSON PEREIRA DOS SANTOS ESTÁ

DE VOLTA!Onze anos depois, Nélson Pereira dos Santos está de volta ao cinema de ficção. O veterano diretor brasileiro irá comandar “Brasília 18%”. No elenco já estão confirmadas as presenças de Malu Mader, Carlos Alberto Riccelli e Bruna Lombardi.

Depois de “Cine-Gibi” (2004), a Turma da Mônica volta às telonas com uma história sobre viagem no tempo que deve reunir, pela primeira vez, vários personagens de Maurício de Souza na mesma aventura..

No novo longa, que se chama “Uma Aventura no Tempo”, o cientista Franjinha inventa uma máquina que domina o tempo juntando os quatro elementos da natureza – água, fogo, terra e ar. A confusão começa quando Cebolinha e Cascão entram correndo no laboratório, fugindo da Mônica, que erra a mira e atira o coelhinho Sansão na máquina de Franjinha. O choque faz os quatro elementos irem cada um para uma época diferente, mas sempre no mesmo lugar: o bairro do Limoeiro, onde a turma vive.

Por causa da confusão, o tempo começa a ficar devagar na Terra. Para reverter a catástrofe, só mesmo recuperando os quatro elementos. Franjinha envia então um amigo para cada época. Cebolinha vai para o futuro, procurar o ar, com a ajuda do personagem Astronauta; Magali volta no tempo apenas alguns anos, para encontrar a terra, e encontra seus amigos quando ainda eram bebês; Cascão viaja para a época dos bandeirantes atrás da água (ironia, heim!), onde encontra os personagens Papa-Capim e Cafuné; e Mônica retorna à Idade da Pedra para achar o fogo com a ajuda de Piteco.

”Uma Aventura no Tempo” tem cenários em 3D e personagens em 2D, tudo feito com técnicas de animação digital. O filme, que custou 6 milhões de reais, deve estrear em toda a América Latina em dezembro de 2006, e há planos de lançar a nova aventura em outros países. Um DVD com making of e muitos extras também faz parte do projeto.

TURMA DA MÔNICARETORNA ÀS TELAS

NOVAS AVENTURAS DO TIO MANECO

O Tio Maneco, personagem interpretado por Flávio Migliaccio e de muito sucesso nos anos 70, tanto no cinema (passou até na Itália) quanto numa série de 400 episódios exibida pela TVE, vai retornar às telas. O projeto, atualmente intitulado como “O Resgate de Maneco”, vem sendo conduzido por Lui Farias, que interpretou um dos três sobrinhos do protagonista em “Aventuras com Tio Maneco”, primeiro filme da série. Farias será o diretor do novo filme, cuja trama irá mostrar Maneco envolvido com bandidos que querem roubar um talismã, sendo ajudado por seus sobrinhos. Além de Migliaccio, quem também já está garantido no elenco é Cláudia Rodrigues. O filme será co-produzido pela Globo Filmes e distribuído pela UIP.

OBRA DE JOÃO UBALDO SAI DO TEATRO

PARA AS TELAS”A Casa dos Budas Ditosos”, de João Ubaldo Ribeiro, pode virar filme, possivelmente adaptado pelo diretor Domingos de Oliveira. Domingos dirigiu a adaptação do livro para o teatro e pode contar no cinema com a presença de Fernanda Torres, que também trabalhou na peça.

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Ggiro

SHOWTIME COMÉDIA 5

GLOBO FILMES E EUROPA FILMES LANÇAM TRÊS

LONGAS EM 2006A Globo Filmes fechou um acordo de produção de três longa-metragens com a Europa Filmes. Os filmes escolhidos são “A Grande Família”, de Maurício Farias; “Casseta & Planeta - O Julgamento do Século”, de José Lavigne; e “Hoje é Dia de Maria”, de Luiz Fernando Carvalho. Todos os filmes serão rodados na Central Globo de Produção, contando com o mesmo elenco e equipe técnica de seus respectivos programas na TV. A previsão é que “Hoje é Dia de Maria”, adaptação da série de TV nos mesmos moldes de O Auto da Compadecida, chegue aos cinemas no 1º semestre de 2006, enquanto que os demais estréiem no 2º semestre

CACÁ DIEGUES E JOSÉ WILKER EM FILME DE AMOR

Já devem ter começados as filmagens de “O Maior Amor do Mundo”, próximo longa-metragem do diretor Cacá Diegues (Deus é Brasileiro). A história é sobre um homem de 55 anos, que descobre a verdade i ra ident idade dos seus pais e a história de amor que os uniu. O protagonista é José Wilker, e o elenco conta ainda com Thaís Araújo, Marco Ricca, Hugo Carvana, Lea Garcia. Stepan Nercessian, Débora Evelyn e Sérgio Britto.

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Ddestaque

6 SHOWTIME COMÉDIA

Tristeza do Jecapor Bruce Sixx

M a z z a r o p i j á e r a u m dos grandes cômicos brasileiros quando realizou

Tristeza do Jeca, em 1961, seu primeiro fi lme colorido. O comediante estreou no cinema nove anos antes, em Sai da Frente, e fez outros onze fi lmes até 1961, incluindo Jeca Tatu (1959), quando pela primeira vez encarnou o personagem que o deixaria mais famoso. O Jeca é a personifi cação do homem simples do campo, ingênuo mas honesto, naturalmente engraçado em sua maneira de encarar os assuntos mais diversos. Neste fi lme, Mazzaropi mostra como o povão normalmente encara a política, sempre à sua maneira

simples e sem maiores preocupações. Quando os peões da fazenda falam de política com o Jeca, ele dispara: “Entra prefeito, sai prefeito, cês tão se queixando. Ocês não quer trabaiá, quer viver às custas de governo. Faz que nem eu, trabáia!”.

Tristeza do Jeca conta a história da disputa política entre dois candidatos e suas campanhas para conseguir os votos da população rural. À sua maneira popular, refl etindo o próprio pensamento do povo simples, Jeca não diferencia oposição e situação, esquerda ou direita; para ele, político é

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SHOWTIME COMÉDIA 7

fotos: reprodução

TRISTEZA DO Jeca(1961)

Direção - Amacio Mazzaropi.

Com Mazzaropi, Gení Prado, Roberto Duval, Nicolau Guzzardi, Augusto Cezar, Eugênio Kusnet, Carlos Garcia, Marací Melo, Mário Benvenuto, Francisco de Souza e Edgar Franco.

Tempo - 93 minutos.

tudo igual. Por isso mesmo, ele decide apoiar os dois lados ao mesmo tempo, causando as maiores confusões na campanha. Os candidatos decidem que a influência do Jeca sobre os colegas de campo é decisiva para vencer a eleição, mas nem Felinto e nem Policarpo conseguem entender a psicologia do caboclo…

Entre uma confusão e outra, com m o m e n t o s e n g r a ç a d í s s i m o s , desenrola-se uma trama paralela envolvendo Maria, a vistosa fi lha do Jeca, cobiçada pelos rapazes da roça e também por um rapaz da cidade, fi lho do Coronel Bonifácio, cheio de segundas intenções. Bonifácio é quem está por trás da campanha do Coronel Policarpo e está pronto para assumir o comando assim que seu candidato

vencer a eleição. A confusão está armada, mas nem as maiores intrigas políticas são sufi cientes para tirar o Jeca de sua rotina sossegada. Tristeza do Jeca foi fi lmado nos estúdios da Companhia Vera Cruz, com produção da PAM, empresa criada pelo próprio

astro. Os números musicais trazem o

jovem Agnaldo Rayol interpretando

“Ave Maria do Sertão”, além do próprio

Mazzaropi, que canta a marcha “A

Vida Vae Melhorá”, “Sopro do Vento”

e a canção-título “Tristeza do Jeca”.

O famoso sanfoneiro Mário Zan,

nascido em Veneza e radicado em

São Paulo desde os quatro anos de idade, interpreta o dobrado “Anchieta”. Messias Garcia fecha as atrações musicais com o maxixe “Gostozo”.

O elenco coadjuvante traz nomes de confiança de Mazzaropi, como Gení (ou Geny) Prado, Roberto Duval e Nicolau Guzzardi (Totó), presente

também em diversos outros fi lmes do comediante. Numa carreira que durou quase trinta anos, Mazzaropi estrelou 32 longas-metragens, muitos deles entre as maiores bilheterias do cinema brasileiro em toda a sua história. Sua obra agora é resgatada nesta premiada coleção de DVDs, com todos os grandes sucessos do comediante mais adorado do Brasil. Colecione os fi lmes da série e redescubra o charme do Jeca.

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Eespecial

8 SHOWTIME COMÉDIA

A o e s c r e v e r s o b r e o homem do campo, Lobato criou um personagem tragicamente brasileiro.

Monteiro Lobato é um dos escritores mais importantes da história da literatura brasileira. Mas, mesmo antes de se destacar como escritor, reconhecido por um estilo peculiar e inimitável, ele já era um polemista. Seus primeiros escritos trazem a marca de um nacionalista, sem ser ufanista, profundamente preocupado com a evolução e modernização de seu país. Tanto é assim que ele comprou brigas ao longo de sua carreira, por criticar a estagnação e inércia do governo para lidar com problemas básicos como as questões sanitárias e até se envolveu em disputas mais acirradas que lhe renderam alguns meses de prisão.

José Bento Monteiro Lobato nasceu em Taubaté, interior de São Paulo, em 1882.

Estudou direito na Faculdade do Largo São Francisco, na capital paulista, e assumiu o cargo de promotor na cidade de Areais, no Vale do Paraíba. Cansado da vida na cidadezinha do interior paulista e do cargo mal-remunerado, resolveu deixar o direito

MONTEIRO LOBATO E A CRIAÇÃOpor Cíntia Cristina da Silva

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fotos: reprodução

para se dedicar à fazenda herdada por seu avô em 1911.

A experiência como fazendeiro durou o sufi ciente para que Lobato fi casse chocado com as queimadas praticadas pelos camponeses que só prejudicavam a terra. Indignado com

que o que chamou de “Velha Praga”, Lobato escreveu uma carta indignada, publicada no jornal O Estado de S. Paulo para criticar a prática. O texto criou polêmica por chamar a atenção para os grandes incêndios que produzem estragos na lavoura e, sobretudo, porque o autor chamou o caboclo de “funesto parasita da terra... inadaptável à civilização”.

Ainda assombrado com o comodismo e a inaptidão dos camponeses do Vale do Paraíba, usou o restante de indignação para criar um retrato de uma boa parcela da população brasileira que vivia no campo. No conto Urupês , que também dá nome ao livro publicado em 1918, Lobato traça o perfi l do homem do campo, personifi cado pelo Jeca Tatu,

ÃO DO PERSONAGEM JECA TATU

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apelidado de urupê, uma espécie de fungo parasita. Segundo o autor, o Jeca Tatu é “um sombrio urupê de pau podre a modorrar silencioso no recesso das grotas” que vegeta, não vive, cuja maior preocupação “é espremer as conseqüências da lei do menor esforço”.

É claro, que o livro suscitou uma tremenda polêmica. Os adversários de Lobato viram nessa caracterização do homem do campo, uma vingança pessoal pelo fato dele não ter tido sucesso como fazendeiro. Outros, reconheceram no Jeca Tatu um reflexo do Brasil. Rui Barbosa viu no personagem um “s ímbolo de preguiça e fatalismo, de sonolência e imprevisão, de esterilidade e tristeza, de subserviência e embotamento”.

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SHOWTIME COMÉDIA 11

fotos: reprodução

Mais tarde, Lobato, que já conhecia bem as condições miseráveis em que viviam os camponeses brasileiros, admitiu ter sido injusto na representação do Jeca. O escritor não sabia, que no início do século 20, a população do campo vivia em péssimas condições sanitárias e era o alvo fácil de diversas doenças e verminoses. No prefácio à quarta edição de Urupês o autor fez uma mea-culpa ao escrever: “Eu ignorava que eras assim, meu caro Jeca, por motivo de doenças tremendas. Está provado que tens no sangue e nas tripas todo um jardim zoológico da pior espécie. É essa bicharia cruel que te faz papudo, feio, molenga, inerte.”

Desde então, o escritor empreendeu uma campanha particular para chamar a atenção de autoridades para as doenças a que estavam sujeitos os caipiras, os jecas tatus desse Brasil.

Naquela época, o país de fato era um terreno fértil para as enfermidades que se propagam em condições de pobreza extrema e condições sanitárias precárias.

Lobato fez dessa uma causa pessoal. Não hesitava em se manifestar sobre o tema até mesmo em apresentações de livros. No prefácio de Diretrizes para uma Política Rural e Econômica, de Paulo Pinto de Carvalho, escreveu: “Quem do alto olha para o Brasil vê um complexo sistema de parasitismo em repouso sobre um larguíssimo pedestal de escravos andrajosos e roídos de todas as doenças endêmicas: o homem rural, o que chamamos de caboclo, o negro da roça, os milhões de seres sem voz que na terra mourejam numa agricultura ainda de índio – queimar e plantar, só, só, só. Sobre a miséria infinita desses desgraçados está acocorada a nossa ‘civilização’, isto é, o sistema de

parasitismo que come, veste-se, mora, e traz a cabeça sob a asa para evitar o conhecimento da realidade.”

Escritor prolífi co, dono de uma obra que compreende 30 volumes, dentre os quais 17 dedicados à literatura infantil, criador do Sítio do Pica-Pau Amarelo, Lobato construiu um personagem triste e tipicamente brasileiro. E com a ajuda do Jeca Tatu, infl uenciou escritores e fez política para ajudar a melhorar a vida do pobre caipira. Não fosse o Jeca de Lobato, talvez, não existisse outro clássico da literatura brasileira: Macunaíma, criação tipicamente v e r d e - a m a r e l a d e M á r i o d e Andrade, que traz o memorável lema “muita saúva e pouca saúde, os males do Brasil são”.

E quem melhor para encarnar com perfeição o caipira ignaro que Mazzaropi? O ator se tornou a própria personificação do Jeca e de sua tristeza.

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Rreis do riso

12 SHOWTIME COMÉDIA

Ô CRIDE, FALA PRA MÃE QUE

Indubitavelmente um dos maiores humoristas brasileiros, Golias entrou na televisão pelas mãos de Manoel de Nóbrega,

que o conheceu na Rádio Nacional, em 1940. Mas antes de estrear no

rádio, o humorista, filho do marceneiro Arlindo Golias, fez de tudo um pouco. Foi ajudante de alfaiate, funileiro, fabricante de presépios, agente d e s e g u r o s e a t é aqualouco. Na Rádio N a c i o n a l e l e f o i descoberto por Manoel

de Nóbrega – que, impressionado com seu talento, resolveu contratá-lo para atuar também na TV.

Dinossauro, seu nome completo. Ao lado de Otelo Zeloni, Renata Fronzi, Cidinha Campos, Ricardo Corte Real e Jô Soares, o programa foi ar até 1971 e tornou-se referência na história da TV brasileira. Serviu de fonte para várias comédias de situação que vieram nas décadas seguintes, incluindo o Sai de Baixo, produzido durante cinco anos pela Globo.

F o i G o l i a s q u e m apelidou Silvio Santos, ainda em começo de carreira como animador, de peru. É que Senor Abravanel, um pouco pela timidez, um pouco pela hipersensibilidade à luz, corava diante das colegas de trabalho que o acompanhavam em suas caravanas. Manoel de Nóbrega passou então a anunciá-lo como “O Peru que Fala”.

Com o sucesso na TV, o comediante foi convidado para estrelar no cinema. Golias fez dez filmes – poucos, considerando o tempo e o potencial de carreira: Golias Contra o Homem das Bolinhas (1969), Agnaldo, Perigo à Vista (1968), O Homem Que Roubou a Copa do Mundo (1963), Os Cosmonautas

Ô CRIDE, FALA PRA MÃE QUENascido no dia 4 de maio de 1929 em São Carlos, no interior de São Paulo, Ronald Golias sempre viu em sua profi ssão uma missão. Nas poucas entrevistas que concedeu, ele comparava o bom comediante ao carteiro: “Ambos têm a missão de caprichar na entrega e gostar do que fazem, caso contrário não têm futuro”.

“Ô, Cride, fala pra mãe...”. Com esse bordão o personagem Pacífico foi eternizado pelo humorista na Praça da Alegria, a partir de 1956, na TV Record. O programa foi precursor da Praça é Nossa. Desde então, ele nunca mais saiu do universo televisivo do humor nacional. Mas foi no clássico “Família Trapo” , sucesso da TV Record na década de 60, que Golias eternizou sua melhor performance, a do Bronco – ou Carlos Bronco

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Rreis do riso

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fotos: reprodução

UE O GOLIAS ERA “DO PERU”!UE O GOLIAS ERA “DO PERU”!

(1962), O Dono da Bola (1961), Os Três Cangaceiros (1961), Tudo Legal (Bronco) (1960), Vou Te Contá (1958), Um Marido Barra Limpa (1957).

Desde junho de 1990, Golias, com mais de 50 anos de carreira, integrava o elenco fi xo do SBT. Ele era uma das atrações do humorístico “A Praça é Nossa”, comandado por Carlos Alberto de Nóbrega – fi lho de Manoel.

No programa, ele vivia personagens como Pacífico, Bronco e Professor B a r t o l o m e u , e n t r e o u t r o s . Recentemente trabalhou na “Escolinha do Golias”, ao lado da grande amiga Nair Belo. Nos últimos meses, ele podia ser visto também no seriado

“Meu Cunhado”, ao lado de Moacyr Franco, interpretando Bronco mais uma vez.

Casado com Lúcia Golias, 63, o comediante teve somente uma filha, Paula, 38.

a repórter Niza Souza, do jornal O Estado de S. Paulo, constatou que Golias não era, nos bastidores, o palhaço inconseqüente que exibia diante das câmeras. Perfeccionista, preocupava-se com cada detalhe, perguntando a todo instante se a cena gravada havia fi cado boa, e interferindo no roteiro, sutilmente, se preciso fosse para melhorar o resultado. Max Nunes, o famoso redator de humor que há anos acompanha Jô Soares, já disse q u e s e h á u m personagem que ele gostaria de ter criado este é Bartolomeu Guimarães, “aquele velhinho que Ronald Golias fazia”.

Ronald Golias faleceu aos 76 anos, em 27 de setembro de 2005.

Em 2003, quando acompanhou as gravações de uma segunda versão cômica para o clássico Romeu e Julieta, com Hebe Camargo e Golias,

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Ccartaz

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Tristeza do Jeca conta a história da disputa política entre dois candidatos e suas campanhas para conseguir os votos da população rural

Números musicais com Agnaldo Rayol, Mário Zan e Messias Garcia

Ô Cride, fala pra mãe que o Golias era DO PERU”!

Várias fotos do lme Tristeza do Jeca

EXTRASTrailer original

de cinema, Featurette Instituto

Mazzaropi, Galeria de

fotos, Biogra a e Filmogra a

R$ 22,90

Monteiro Lobato e a criação do Jeca Tatu

ESPECIAL

REIS DO RISO

CARTAZ

ISSN 1808-4818

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