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Revista Querubim revista eletrônica de trabalhos científicos nas áreas de Letras, Ciências UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE FACULDADE DE EDUCAÇÃO 2014 2014 2014 2014 REVISTA QUERUBIM Letras Ciências Humanas Ciências Sociais Ano 10 Número 23 Volume 1 ISSN 1809-3264 REVISTA QUERUBIM NITERÓI RIO DE JANEIRO 2014 N ITERÓI RJ

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  • Revista Querubim revista eletrnica de trabalhos cientficos nas reas de Letras, Cincias

    Humanas e Cincias Sociais Ano 10 N23 v.1 2014 ISSN 1809-3264 Pgina 1 de 179

    UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE FACULDADE DE EDUCAO

    2014 2014

    2014 2014

    REVISTA QUERUBIM

    Letras Cincias Humanas Cincias Sociais

    Ano 10 Nmero 23 Volume 1

    ISSN 1809-3264

    REVISTA QUERUBIM

    NITERI RIO DE JANEIRO

    2014

    N I T E R I R J

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    Revista Querubim 2014 Ano 10 n 23 vol.1 179 p. (junho 2014) Rio de Janeiro: Querubim, 2014 1. Linguagem 2. Cincias Humanas 3. Cincias Sociais Peridicos. I - Titulo: Revista Querubim Digital Conselho Cientfico Alessio Surian (Universidade de Padova - Italia) Carlos Walter Porto-Goncalves (UFF - Brasil) Darcilia Simoes (UERJ Brasil) Evarina Deulofeu (Universidade de Havana Cuba) Madalena Mendes (Universidade de Lisboa - Portugal) Vicente Manzano (Universidade de Sevilla Espanha) Virginia Fontes (UFF Brasil) Conselho Editorial Presidente e Editor Aroldo Magno de Oliveira Consultores Alice Akemi Yamasaki Andre Silva Martins Elanir Frana Carvalho Enas Farias Tavares Guilherme Wyllie Janete Silva dos Santos Joo Carlos de Carvalho Jos Carlos de Freitas Jussara Bittencourt de S Luiza Helena Oliveira da Silva Marcos Pinheiro Barreto Paolo Vittoria Ruth Luz dos Santos Silva Shirley Gomes de Souza Carreira Vanderlei Mendes de Oliveira Vencio da Cunha Fernandes

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    Sumrio 01 As tentativas de suicdio e suas implicaes sociais Alcides Leo Santos Jnior e Caio

    Cesar da Silva Garcia 04

    02 A percepo de pibidianos de ingls sobre a profisso professor: achados de pesquisa narrativa Ana Paula Domingos Baladeli e Aparecida de Jesus Ferreira

    12

    03 Textos folhetinescos do Rio de Janeiro no sculo XIX: diversidade, interatividade e reflexo social Bonfim Queiroz Lima Pereira

    19

    04 Os significados de ser professor na percepo de acadmicos em situao de Estgio Curricular Supervisionado de um curso de Licenciatura em Educao Fsica Carla Prado Kronbauer e Hugo Norberto Krug

    24

    05 Apontamentos sobre o livro didtico de Geografia Carolina Machado Rocha Busch Pereira

    30

    06 Ensino de espanhol/le no curso de Turismo: ampliando possibilidades Deoclides Barros Castelo Branco e Glauber Lima Moreira

    40

    07 Revisitando a problemtica acerca da avaliao da aprendizagem escolar Doris Day Rodrigues Marques

    45

    08 A pedagogia poltico - social de Makarenko Elias Gomes da Silva 50

    09 Afetividade pela tica de Henri Wallon contribuies na formao inicial de professores Fernanda Cruz de Arajo e Wagner dos Santos Mariano

    56

    10 O uso da tecnlogia da informao e comunicao (TIC) na formao escolar Fernando Carlos Alves da Silva

    63

    11 Vozes antagnicas no discurso de graduandos do curso de Letras Francisco Vieira da Silva e Jos Marcos Rosendo de Souza

    70

    12 Abre-te, crebro! O tudo que cabe nas palavras de Arnaldo Antunes Hernany Tafuri 76

    13 Recortes de memrias de alunos e professores de cincias contbeis sobre a contribuio do moodle no processo ensino aprendizagem Janana Borges de Almeida e Jocyleia Santana dos Santos

    83

    14 O discurso da inovao no referencial curricular de lngua portuguesa para o ensino fundamental 1 ao 9 ano: uma anlise semitica Jnatas Gomes Duarte, Jos Amilsom Rodrigues Vieira e Maria Jos de Pinho

    95

    15 Stardust o mistrio da estrela do livro ao filme o narrador entra em cena Jos Padilha Vichinheski e Ricardo Andr Ferreira Martins

    102

    16 As repercusses da violncia escolar no trabalho docente Leila Ferreira da Silva e Rosamlia Otoni Pimenta Campos

    109

    17 A gesto educacional no Estado Novo e seus efeitos de sentido sobre as polticas lingsticas Luciana Vargas Ronsani

    116

    18 E falando em corpo...: uma anlise das memrias referentes ao disciplinamento a partir do paradigma hermenutico de Weber Luciana Fiamoncini

    123

    19 Letramento: origem do termo e conceituao Marcia Cristina Hoppe 130

    20 Ideologia e ethos no discurso poltico Marcio Cotovicz 137

    21 Travessias amaznicas: uma leitura de A voragem, de Jos Eustasio Rivera Marinete Adriano de Melo e Luciana Marino do Nascimento

    143

    22 A dicionarizao brasileira e o ensino de lngua materna Natieli Luiza Branco 148

    23 Gesto escolar ou administrao escolar? Pedro Braga Gomes e Sueli Aparecida Leandro

    155

    24 Gestos, grafismos, caligrafias, delicadezas de Barthes Rodrigo da Costa Araujo 167

    25 Resenha GOLDENBERG, Mirian. A arte de pesquisar: como fazer pesquisa qualitativa em Cincias Sociais Francisco Romrio Paz Carvalho

    175

    26 Resenha A poesia de Manoel de Barros e a educao ambiental. OLIVEIRA, Elizabete. A Educao Ambiental & Manoel de Barros: dilogos poticos. Rodrigo da Costa Araujo

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    AS TENTATIVAS DE SUICDIO E SUAS IMPLICAES SOCIAIS

    Alcides Leo Santos Jnior1 Caio Cesar da Silva Garcia2

    Resumo Descreve-seas relaes existentes entre o suicdio e a sociedade. Na literatura encontra-setraos que diagnostica o suicdio como um dos problemas recorrentes na histria da humanidade e o apontam como sendo o causador de diversos males principalmente quando ele no efetivado. Um dos elementos constituintes do suicdio o fato do indivduo programar sua morte, arquitetando, tambm, o mtodo utilizado. Este estudo tomou como fonte principal de pesquisa a obra O Suicdio, de mile Durkheim, e como fontes secundrias livros e artigos que versam acerca do assunto. Procura-se apontao profissional da enfermagem com papel de suma importncia no auxlio aos indivduos que tentaram o suicdio, por se acreditar no processo humanstico eminente a consulta de enfermagem ou aos procedimentos dessa rea. Verificou-se uma relao intrnseca entre a sociedade e o suicdio, observando, ainda, a necessidade de se dar maior ateno quele que tentou suicdio buscando evitar reincidncia. Palavras-Chave: Suicdio. Sociedade. Enfermagem. Introduo

    O suicdio um assunto que tem gerado intensas discusses acerca das vertentes que potencialmente se estabelecem at que ele chegue ao cabo de sua inteno ltima: a morte. Neste sentido importante notar que nem sempre o indivduo consegue se matar, e sejam quais forem s causas de impedimento de sua morte ele sofrer as consequncias.

    Considerando que uma vez tentando o suicdio provvel que haja reincidncia, o acompanhamento familiar, assim como dos profissionais de sade torna-se necessrio para que a morte prematura e intencional no seja efetivada.

    Ao se constatar que o indivduo no est inserido em um meio isolado das relaes humanas em sociedade, compreende-se que seus atos esto imersos num submundo que emerge em um acontecimento social determinado que, obviamente no inato aos indivduos, isto , no o pertence, no particular, no se origina por si s.

    Tomando como base este pressuposto utiliza-se como fonte principal para esta pesquisa a obra O Suicdio (publicada na sua primeira verso em 1897) de mile Durkheim (1853 1917), onde o socilogo discute a existncia de uma conscincia coletiva desenvolvida no convvio social, o que implicaria em atos tambm sociais, isto , em aes desencadeadas independentes de vontades individuais, contudo este comportamento estabelecido pela sociedade no necessariamente imposto, como se ele j existisse.

    Justifica-se a relevncia do estudo acerca das tentativas de suicdio por se observar como

    este ato intencional tem estado presente em todas as camadas sociais interferindo diretamente na vida em sociedade.

    1 Pedagogo (UCSAL), Mestre em Cincias Sociais (UFRN), Doutor em Educao (UFBA), Professor da rea de Fundamentos da Educao, do curso de Enfermagem, Campus Caic, da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte (UERN). Lder do Grupo de Pesquisa em Educao, Sade e Pensamento Complexo. Contato: [email protected] 2Graduandoem Enfermagem pela Universidade do Estado do Rio Grande do Norte(UERN. Professor do Instituo Brasil de Ensino Superior.Contato: [email protected].

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    Considera-se ainda que ao observar os municpios com populao igual ou superior a 50

    mil habitantes, o municpio de Caic/RN encontra-se em terceiro lugar no ranking brasileiro de suicdios, perdendo apenas para os municpios de Venncio Aires e Lajeado, ambos no estado Rio Grandes do Sul, estando em primeiro e segundo lugar respectivamente na classificao das cidades brasileiras com maiores ndices de suicdio.

    O corrente estudo utilizar como metodologia a pesquisa bibliogrfica, a partir da reviso integrativa de literatura, que corresponder ao referencial utilizado para que se possa ter uma fundamentao terica relevante, se apropriando de fontes de pesquisas seguras e cientficas que garantam um respaldo terico-metodolgico vivel para as anlises e discusses estabelecidas.

    Para tanto, se desenvolve a seguinte problemtica: que relao/relaes h entre o convvio social e as tentativas de suicdio?

    Estabelece-se como objetivo geral: descrever as relaes existentes entre o suicdio e a sociedade; e como objetivos especficos, comentar as sutis diferenas entre Querer Estar Morto, Querer Morrer e Querer se Matar; e estudar a necessidade de acompanhamento do profissional de enfermagem para aqueles que tentaram suicdio.

    Considerando a necessidade de compreenso do papel do enfermeiro no processo sade doena relacionado ao paciente que tentou suicdio, preciso observar a relevncia desse profissional de sade agindo na interveno do pr-suicdio. Alm disso, sero elencados termos relacionais ao suicdio, sejam eles, Querer Estar Morto, Querer Morrer e Querer se Matar. Sero discutidos ainda, os fatores biolgicos envolvidos no organismo do suicida para que se analisem as alteraes geradas no metabolismo de uma pessoa pr-disposta ao suicdio. Segue-se que a intenso dessa discusso deixar claro o papel do enfermeiro frente ao paciente, mencionando os mtodos que podem ser utilizados para o enfretamento ao problema de sade que leva a morte por escolha, isto , o suicdio.

    preciso compreender como se processa o suicdio para que se tenha uma viso apurada da realidade das pessoas que comentaram ou tentaram se matar, dessa forma sero analisadas as origens causas e mtodos mais utilizados para tanto.

    De acordo com Durkheim (2000), dentre os diversos tipos de morte, existe uma de particular especificidade, uma morte que no acontece isoladamente, mas que se processa em decorrncia de um desejo prprio, sendo esta aquela em que o indivduo programa sua existncia, onde tal ato resulta mediata ou imediatamente de um ato positivo ou negativo realizado pela prpria vtima (DURKHEIM, 2000, p. 166).

    Costa (2010) acrescenta que as tentativas so mais frequentes em relao ao suicdio do que o ato consumado, alm disso, existem fatores que podem ser considerados como acrscimos ao ato suicida, isto , pessoas que apresentam determinadas patologias, ou aspectos relacionados a problemas sociais e mentais podem ser mais suscetveis s tentativas e aos atos suicidas concretos.

    Diante dessa questo faz-se necessrio um comentrio sobre o comportamento suicida. Sobre este comportamento importante frisar que do contrrio do que a maioria das pessoas imagina Querer Estar Morto, Querer Morrer e Querer se Matar, no so sinnimos e apesar

    da diferena entre eles ser algo muito sutil interessante saber o significado de cada um desses termos.

    Para que se compreendam melhor tais termos, mister averiguar o que dizem os dados estatsticos que versam acerca de assuntos que se aproximam da temtica em questo, assim segue a seguinte argumentao: o nmero de casos de suicdios no Brasil so alarmantes e de acordo com as pesquisas nessa rea o nmero de tentativas de suicdio ainda maior. Como nosso estudo no

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    possui um recorte temporal e no achamos necessrio atualizar os dados segundo fontes governamentais estaremos trabalhando com os dados presentes na literatura que discorre sobre a temtica.

    Almeida et al (2009) apresenta dados relevantes acerca do suicdio no Brasil. A informao que, no Brasil, em 2002 foram registrados 7719 casos de suicdio, sendo 6025 cometido por homens e 1694 por mulheres. A taxa de mortalidade geral foi de 4,3 por 100 mil habitantes, sendo que a taxa de mortalidade especifica segundo o sexo foi de 6,8 (masculino) e 1,9 (feminino) para 100 mil habitantes.

    Percebe-se o quanto os casos de suicdio sofreram progresso d no decorrer dos acordo com o sexo. Cabe ressaltar que a intencionalidade suicida no completamente definida na analise de Almeida et al (2009, p. 3), j que se por um lado o indivduo trs em si a certeza em querer matar-se, em contrapartida existe dentro dele a intenso de permanecer vivendo.

    At o ato suicida ser consumado existe um ciclo de etapas a serem seguidas e de acordo com Almeida et al (2009) os casos em que o suicida segue este ciclo geralmente o mesmo na maioria dos casos, isto significa que as pessoas que esto dispostas a seguir em frente com o plano suicida geralmente no o faz sem prvio aviso, o que permite impedi-las ou pelo menos dar a chance desses indivduos pensarem numa outra opo de fuga da realidade que no seja a retirada da vida.

    Salienta-se, ainda, que a forma como o propenso suicida busca se matar pode estar relacionado com fatores culturais, de modo que, os objetos utilizados no ato suicida apresentam uma relao necessria entre aquilo que de mais fcil acesso.

    Estudos referem frequncia de objetos utilizados tanto nas tentativas quando nas consumaes do ato suicida, como sendo aqueles que esto em maior acessibilidade e, alm disso, existem fatores correlacionados que se envolvem de forma direta; tais fatores comprovam a cultura como sendo determinante na escolha destes objetos.

    Almeida et al (2009) fazem referncia ao modo como as pessoas cometeram atos suicidas

    em determinados Estados brasileiros, sendo destacados os Estados de Rio Grande do Sul e So Paulo, observando que de fato h uma relao cultural envolvida na forma como os indivduos tentaram ou concretizaram o suicdio.

    De acordo com o Almeida et al (2009) h uma maior incidncia de casos de suicdio por

    enforcamento (36,4%) causados por homens, tal fato pode ser identificado pela intensa produo de cordas em Campinas/SP , como h uma ligao direta do uso do mtodo suicida com os objetos mais propcios ao ato, fica evidenciada a facilidade de se encontrar cordas com acessibilidade, o que intensifica sua utilizao como meio para se chegar ao suicdio.

    Em contrapartida o ndice de morte programada atravs de armas de fogo tambm

    apresenta porcentagem elevada (31,8%); pode-se considerar neste caso, a criminalidade dos grandes centros urbanos que por sua vez viabilizam a compra ou porte ilegal de armas em uso residencial, gerando maior facilidade para encontrar-se com a morte suicida.

    Almeida et al (2009) enfatizam que, as mulheres apresentam maior potencialidade para o mtodo de envenenamento (24,2%), certamente por ser este mtodo o que mais se aproxima de sua realidade, j que o armazenamento desse material comumente feito pelas mulheres, o que torna simples a busca pelos mesmos.

    No que concerne ao enforcamento e as armas de fogo (21,2% cada), so de menor

    incidncia provavelmente por se constiturem em mtodos mais agressivos e de maior complexidade para sua efetivao. Ambos os dados se referem a Campinas/SP.

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    De acordo com os dados estabelecidos por estudo feito na cidade de Ribeiro Preto/SP, no grfico acima, os adolescentes apresentam grande propenso ao suicdio. O ndice chega a ser muito elevado nos casos de envenenamento (93,9%), as circunstncias devem ser as mesmas geradas pelas mulheres, tendo em vista a fragilidade arraigada tanto s mulheres quanto a esse grupo de pessoas, assim como a facilidade em encontrar os locais onde esto guardados.

    Em segundo plano vem ingesto de medicamentos (73,8%) que pode ser explicado em

    decorrncia do uso farmacolgico desenfreado na sociedade moderna, fazendo com que as residncias se tornem uma fonte inesgotvel de medicamentos diversos, e com isso muito simples ingerir grandes quantidades e/ou uma significativa variedade desses medicamentos.

    Na mesma margem est a ingesto de substncias qumicas (73,8%), que pode ser

    explicada, pela crescente utilizao de drogas produzidas por compostos qumicos de alta periculosidade. certo que no via de regra que todos os adolescentes sejam usurios de droga, mas no caso dos que no fazem do submundo das drogas, utilizam as substncias qumicas por ser elas encontradas a plena luz, o que gera maior facilidade para o uso suicida.

    Percebe-se ento, que os dados estabelecidos por tais estudos levam a crer que de fato h

    meios caractersticos para tentar suicdio em decorrncia da localizao geogrfica e consequente cultura regional que possibilita a efetivao de atos determinados por objetos disponveis nesses lugares.

    Diante desses fatos cabe agora entender o que representa Querer Morrer, Querer Estar

    Morto e Querer se Matar. Querer Morrer est relacionado com livrar-se do sofrimento e neste sentido a ideao suicida teria a intenso de desfazer-se de um sofrimento que perturba a alma ao ponto de se tornar difcil aceitar ficar vivo.

    Querer Estar Morto est envolvido com a sensao de angstia que faz o indivduo sentir-

    se intil perante si mesmo, por essa razo surge o desejo de desistir da vida. Querer se Matar implica em um impulso que toma o indivduo de modo que a fora

    emanada do sentimento de morte est envolvida com uma paixo incontrolvel pela morte. As diferenas encontradas entre os termos supracitados so estabelecidas para possibilitar a

    identificao do perfil suicida, sendo elas uma espcie de caminho percorrido por aqueles que pretendem tirar sua vida.

    Esses elementos se constituem enquanto parmetros que conseguem analisar a forma

    como se sente o suicida, j que evidenciam cada estgio do percurso que leva o indivduo a se matar. Primeiro ele pensa em eximir-se do sofrimento (Querer Morrer), em seguida se sente desprezvel ao ponto de sua existncia se tornar algo intil (Querer Estar Morto) e por ltimo vem o ato que o impulsiona para a morte (Querer se Matar), e que, por conseguinte, o leva para o fim, isto , a consumao do suicdio.

    Sob esta tica caracteriza-se o comportamento suicida como todo ato pelo qual o

    indivduo causa leso a si mesmo, qualquer que seja o grau de intenso letal e de conhecimento do verdadeiro motivo que o ocasionou. (RIBEIRO, 2012, p. 27)

    Este ciclo que evolui paulatinamente se d inicialmente com as ameaas de suicdio, em

    seguida vm s tentativas de suicdio e por fim, caso no impedido, passa ao ato consumado, isto , ao suicdio em si; esse conjunto forma a ideao suicida.

    A partir de Werlang e Botega apud Ribeiro (2012, p. 29) pudemos representar a dimenso

    do comportamento suicida. Estes autores acreditam que a Ideao Suicida formada em etapas, que inicia com asAmeaas de Suicdio, em seguida vem as Tentativas de Suicdio, e por ltimo tem-se o ato consumado, isto o Suicdio.

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    Outro fator a se observar so as alteraes metablicas no organismo do suicida. Para

    tanto, os fatores biolgicos, tambm, devem ser considerados ao se discutir o suicdio, pois h indcios de alteraes em determinados elementos no nosso organismo que esto relacionados com a ideao suicida.

    Na viso de Costa (2010) a serotonina, por exemplo, que um neurotransmissor envolvido

    com a comunicao entre os neurnios, apresenta baixos nveis em pessoas que tentaram suicdio, o que implica afirmar que indivduos com fatores de risco sejam eles com depresso, ansiedade, esquizofrenia e patologias afins apresentam nveis baixos de serotonina.

    O mesmo autor destaca ainda a dopamina, uma vez que as pesquisas observaram que o

    nvel de cido Homovalnico tambm decresce, tal composto o principal metabolito da dopamina, que por sua vez est diretamente ligada a questo da felicidade e do bem estar. Pessoas com baixo nvel de dopamina tendem a ser depressivas, angustiadas, tristes, com nimo deficiente.

    Diminuio nos nveis de neurnios noradrenrgicos, de mega-3, colesterol srico,

    tambm foiencontrada em pessoas que tentaram suicdio. A relao entre fatores patolgicos e o suicdio esto prximos, o que implica em cuidados especficos para as pessoas acometidas por tais doenas, pois, como j fora discutido, mesmo considerando os fatores sociais como o principal foco para a tendncia ao suicdio, os demais elementos que se associam a ele apresentam um risco ainda maior para a morte.

    O exerccio de solidariedade juntamente com as condies de adaptao do indivduo ao

    sofrimento um fator relevante ao tratar indivduos com comportamento suicida. (ABREU et al, 2010, p. 197).Estratgias que incluam um relacionamento mais prximo do paciente com o enfermeiro, ainda que no de forma extremamente pessoal, permitem a identificao dos fatores de risco encontrados no suicdio, assim como ajudam a solucionar os problemas relacionados a ele.

    Desta feita o compromisso com o cliente est relacionado a tudo quanto ele pode

    apresentar, e neste sentido o enfermeiro torna-se um profissional de singular importncia no auxlio vida das pessoas que o procuram. Mais uma vez interessante citar que, mesmo no havendo apenas o enfermeiro como um agente de auxlio aos pacientes que tentaram ou podem vir a tentar suicdio, ele pode e deve ser responsvel pela ajuda a essas pessoas que em boa parte dos casos precisam apenas ser ouvidas.

    Enfermagem, cuidado em sade e tentativas de suicdio

    necessrio conhecer aquilo que potencializa o suicdio, para que s ento haja a possibilidade de ajuda ao suicida. Existem diversas caractersticas que refletem no aumento de possibilidades para as tentativas de suicdio, tais atenuantes vo desde os desvios de personalidade at a inexistncia de convices religiosas.

    Nos estudos de Costa (2010) ele identifica os fatores que aumentam o risco do suicdio. Dentre eles so citados: a personalidade impulsiva, histria de migrao, ausncia de convico religiosa, a crena de um destino controlado por um Deus Onipotente e responsvel pelos sucessos e frustraes da vida, o sentimento persistente de desespero e pessimismo, perda de estatuto scio econmico, uso contnuo ou excessivo de drogas e lcool.

    Podemos considerar que estes fatores podem aumentar a chance de risco do suicdio vir a acontecer. V-se que as tentativas de suicdio se constituem enquanto um problema agravante vida podendo se manifestar nos mais diversos tipos de pessoas e em todas as camadas sociais.

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    Considera-se, portanto, como tentativa de suicdio toda ao programada por uma pessoa que seja capaz de culminar em morte, caso no seja impedida. De acordo com Avanciet al (2009), a tentativa de suicdio uma das causas mais frequentes de atendimento em urgncia psiquitricas.

    Ainda segundo Avanciet al (2009), os profissionais da urgncia tem um papel significativo

    no acompanhamento daqueles que do entrada em decorrncia de alguma consequncia gerada pela tentativa de suicdio.

    Neste sentido, os profissionais da enfermagem juntamente com os demais profissionais da

    rea de sade podem e devem aproveitar este momento para estabelecer vnculos interpessoais com o paciente e com a famlia para que seja possvel combater ou lidar o trauma gerado pela tentativa de suicdio, assim como tentar encontrar meios que impeam a efetivao do ato suicida.

    Urge a necessidade de compreenso de que o indivduo carente no apenas de afeto, mas,

    sobretudo de algum que consiga pelo menos ouvi-lo, e certamente neste momento o profissional enfermeiro pode conseguir bons resultados quando destina a devida ateno ao cliente.

    O homem considerado como o nico ser vivo que tem conscincia de si, portanto a

    comunicao um elemento essencial para que se compreenda quem de fato ele , mantendo um certo equilbrio biopsicossocial.

    preciso estar atento, sensvel ao que expresso pelo paciente tendo em vista que cabe

    ao enfermeiro estar atento e se sensibilizar com a mensagem que o paciente transmite, evitando intervenes precoces e desnecessrias, as quais podero funcionar como bloqueio para a comunicao. (AVANCI et al, 2009, p. 9).

    Um dos objetivos do cuidado de enfermagem junto aos pacientes com tendncia suicida

    ajuda-los a exteriorizar sua agressividade, seus sentimentos e a suportar suas experincias. (AVANCI et al, 2009, p. 12). A exteriorizao da agressividade pode ser um sinal de melhora, indicando que o paciente est superando o evento de tentativa suicida.

    Escutar o usurio o primeiro passo para ajuda-lo, contudo tal escuta no pode carregar

    em si um discurso preconceituoso imerso por julgamentos pr-estabelecidos. Alm disso, deve-se considerar que nem sempre o paciente est disposto a apresentar com palavras o que realmente passou ou sente, surgindo assim um novo desafio para o enfermeiro, que se constitui na observao de tudo que gira em torno do cliente.

    De acordo com Goleman apud Marins e Reis, (2010) a leitura corporal de singular

    importncia nesse momento, pois, por meio dela o (a) enfermeiro (a) pode intuir como o usurio se encontra, ainda que ele no expresse perfeitamente seus sentimentos, emoes e angstias por meio de um discurso claro.

    evidente que escutar o cliente durante o dilogo tambm uma forma de lidar com as

    questes que causam temor, dor ou angstia, fazendo com que as mesmas possam se externar durante a conversa e assim aliviar o pesar.

    Ao invs de apresentar uma conduta moralista com o usurio, o (a) enfermeiro (a) deve se

    mostrar emptico, receptivo, apto a ouvir e ver tudo que o paciente relatar ou mostrar por meio de seus atos ainda que as palavras no sejam diretamente comentadas pelo mesmo; tais procedimentos, apesar de simples, causam melhora no paciente, fazendo com que ele possa at mesmo se livrar dos traumas advindos da tentativa de suicdio.

    Pedrosa apud Marins e Reis (2010, p.6) afirmam que saber escutar antes de qualquer coisa

    ser receptivo com o cliente para que s ento seja possvel existir a relao de ajuda enfermeiro-paciente. Considera-se ainda que ouvir o usurio no implica dizer que o enfermeiro no possa

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    falar, mas pelo contrrio, ao passo que se ouve, a estrutura do dilogo vai tomando corpo e ento as orientaes do profissional de sade entram na discusso fazendo com que haja a chance de ajuda.

    Cabe ento ao enfermeiro sua parcela de contribuio para cuidar dos males gerados pelas tentativas de suicdio. Ressalta-se que no se est tentando colocar o enfermeiro como um agente capaz de sozinho ser responsvel pela vida das pessoas que tentaram suicdio, pois, como discutido no decorrer do texto, os fatores sociais implicados em cada sujeito trazem a questo subjetiva de cada pessoa. O que se pretende mencionar a possibilidade de ajuda da enfermagem para esse usurio fragilizado. Consideraes

    As runas causadas pela destruio da vida do prprio indivduo so caractersticas eminentes do ato suicida. Contudo, o que observamos, foi que em boa parte das prticas do suicdio o indivduo que pr determina sua morte no consegue chegar a concluso do ato, o que gera uma preocupao para com o mesmo, no sentido de haver a possibilidade de uma nova tentativa. Desta feita os profissionais de sade terminam por se encontrarem em algum momento com estas pessoas, j que dependendo do mtodo utilizado para suicidar-se necessrio determinados procedimentos.

    Destaca-se que, s vezes os cuidados com os suicidas se referem ao tratamento de

    ferimentos gerados no corpo do prprio indivduo, e em casos especficos a interferncia de outras pessoas ocasiona o enfrentamento do ato suicida, impedindo que a morte chegue cabo, mas ainda assim h a possibilidade da busca por tratamento em Hospitais ou Unidade de Sade.

    De acordo com os elementos discutidos no texto, a sociedade consegue interferir

    diretamente no ato suicida, pois no h como viver sem que haja implicaes sociais geradas constantemente.

    Se o ato suicida fosse isolado no haveriam motivos to intrinsecamente relacionados com

    a sociedade para que ele passasse a existir. Em contrapartida urge a necessidade de acompanhamento dessas pessoas que escaparam da morte. Aqui se comunga com a ideia de que no so somente o psiclogo, o neurologista ou o psiquiatra so responsveis diretos pelo acompanhamento daquele que tentou suicdio, mas antes a pessoa do (a) enfermeiro (a) um elemento indispensvel para o auxlio desses indivduos, j que eles so um dos profissionais responsveis pelo cuidar, ato intensamente discutido na teoria e na prtica que assevera o papel da enfermagem, o que o torna coparticipante assim como responsvel pelo acompanhamento dessas pessoas que constantemente buscam seus servios, sejam na Unidade Bsica de Sade, seja nos Hospitais ou quaisquer ambientes de sade em que o enfermeiro esteja exercendo sua profisso.

    Diante desse repertorio notrio afirmar que apesar de ter sido escrito no sculo XIX, a

    obra O Suicdio de mile Durkheim, ainda se constitui enquanto uma fonte rica de informaes que podem ser analisadas na atualidade, e apesar de haver parte das concluses do autor tendenciosas questo religiosa de sua poca e de fato tais anlises no se aplicar a todas as sociedades, os argumentos levantados pelo autor ao conceituar o suicdio imerso naquilo que denominou fato social, perfeitamente aplicvel e considerado como verdadeiro na realidade do suicida, o que comprova sua tese ao estabelecer as questes sociais como pr requisito para as tentativas ou aes efetivas do suicdio.

    Dessa maneira, imaginamos que os objetivos propostos pelo presente trabalho foram

    alcanados, ao passo que se especificou a maneira como a sociedade interfere no suicdio, assim como foram identificadas as diferenas entre Querer Estar Morto, Querer Morrer e Querer se Matar, e alm disso ficou evidenciado o papel do enfermeiro frente ao indivduo que tentou o suicdio, averiguando portanto a importncia desse profissional no processo de readaptao e convvio no grupo social em que o indivduo est inserido.

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    Os resultados alcanados pela pesquisa demonstram, tambm, a importncia das bases sociais nos Cursos de Enfermagem, especificamente, o estudo do suicdio, sendo este, responsvel por um nmero significativo de mortes prematuras. O estudo por si s no salva as pessoas do suicdio, mas abre um leque de possibilidades para que os profissionais competentes possam compreender como se d o processo de morte encontrado no perfil suicida, e a partir da possibilitar melhorias na sade desses indivduos.

    Referncias ABREU, Kelly Piacheski. Comportamento suicida: fatores de risco e intervenes preventivas. Porto Alegre/RS: UFRGS, 2010. ALMEIDA, S.A; et al. Investigao de risco para tentativa de suicdio em hospital de Joo Pessoa -PB. Rev. EletronEnferm. 2009. AVANCI, Rita de Cssia, et al. Relao de ajuda enfermeiro-paciente ps tentativa de suicdio. So Paulo: USP, 2009. COSTA, Josefa. Tentativas de suicdio. Covilh: FCS, 2010. DURKHEIM, mile. O suicdio: estudo sociolgico. 2 ed. Trad. Mnica Stahel. So Paulo: Martins Fontes, 2000. MARINS, I.A.S; REIS, A.L.B. O enfermeiro e o paciente suicida: o papel a empatia para a sade da relao. So Paulo: USP, 2010. RIBEIRO, Danilo Bertasso. Motivos das tentativas de suicdio expressos por homens e usurios de lcool e outras drogas. Santa Maria/RS: UFSM, 2012. Enviado em 30/04/2014 Avaliado em 15/06/2014

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    A PERCEPO DE PIBIDIANOS DE INGLS SOBRE A PROFISSO PROFESSOR: ACHADOS DE PESQUISA NARRATIVA

    Ana Paula Domingos Baladeli Mestre em Educao Universidade Estadual de Maring UEM

    Mestre e Doutoranda em Letras (Linguagem e Sociedade) Universidade Estadual do Oeste do Paran UNIOESTE

    Prof Assistente Letras Universidade Federal da Fronteira Sul UFFS, campus de Realeza, PR. Aparecida de Jesus Ferreira

    Mestre em Lingustica UNESP Doutora em Educao de Professores University of London

    Desenvolve pesquisa de Ps-Doutorado no Kings College University of London Prof Associada da Universidade Estadual de Ponta Grossa UEPG.

    Resumo A profisso professor construda nas interaes sociais, nos espaos formativos, no interior da profisso e tambm a partir dos discursos. Neste artigo, apresentamos um recorte de pesquisa com futuros professores de ingls com o propsito de compreender suas percepes sobre si e sobre a profisso professor. Os dados revelam que a profisso no Brasil ainda desvalorizada e imersa em sentidos negativos que caracterizam o professor como um profissional. Palavras-chave: profisso professor, Pibid, pesquisa narrativa. Abstract The teacher profession has been built into social interactions, educating courses, within the profession and also through the discourses. In this paper we address the research outline with English future teachers in order to understand their perceptions about themselves and about the teacher profession. The data indicate that in Brazil, teacher profession is still devalued and it is dipped in negative meanings which characterizes the teacher as an unmotivated professional. Key words: teacher profession, Pibid, research narrative. Introduo

    Historicamente, os discursos produzidos sobre a profisso professor oscilaram entre sua comparao ao sacerdcio, ao filantropo ou altrusta, ao intelectual e ao profissional da educao (BRAGANA, 2012; LLIS, 2013). Mas, qual a natureza atual da profisso professor? A resposta para esta pergunta depende antes, da caracterizao do professor, como um sujeito historicamente construdo, inclusive por meio dos discursos veiculados socialmente que atribuem-lhe certas caractersticas e funes (VARGAS e VIAN Jr, 2010; LLIS, 2013).

    Nosso ponto de partida para a discusso acerca do processo de construo identitria de

    futuros professores de Lngua Inglesa, bolsistas do Pibid, perpassa pela considerao da influncia dos discursos construdos e reproduzidos socialmente sobre a pessoa do professor, seu ofcio e tambm sobre a escola pblica.

    A educao formal, realizada institucionalmente, congrega diferentes sujeitos com distintos

    papis sociais, estes que mantm ao longo do tempo uma cultura prpria, com seus ritos e formas particulares de conceber o mundo, fenmeno inclusive que se aplica profisso professor. Os discursos veiculados e reiteradamente reproduzidos pela mdia e mesmo na esfera escolar e acadmica tem incisivo efeito sobre a forma como futuros professores compreendem a si e como caracterizam a docncia, impactando por conseguinte, na forma como se identificam ou no com a profisso (MENDES, 2001; VARGAS e VIAN Jr, 2010).

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    A concepo de identidade profissional adotada neste artigo a de um construto hbrido

    que depende dos discursos sobre a profisso (com ou sem status) para sua caracterizao. Isso significa dizer que, toda profisso desencadeia um conjunto de sentidos socialmente construdos que conforme o momento histrico e as referncias culturais permitem caracteriz-la de certas formas.

    Considerando a formao inicial do professor como lcus nevrlgico na consolidao do

    estado da educao bsica e na construo de sua identidade profissional, trazemos neste artigo alguns discursos de pibidianos, bolsistas do Programa Institucional de Bolsa de Iniciao Docncia PIBID, a fim de compreendermos que sentidos estes atribuem profisso professor e como se percebem como futuros professores de Lngua Inglesa. Para tanto, apresentamos um recorte de dados gerados em narrativas autobiogrficas que compem a pesquisa de doutorado em Letras.

    Este artigo est organizado em trs sees; na primeira apresentamos ao postulado da

    pesquisa narrativa; na segunda, trazemos o Pibid como poltica pblica para a formao de professores; na terceira, analisamos alguns excertos de discursos de pibidianos sobre a profisso professor e na sequncia, apresentamos nossas consideraes finais do artigo.

    Pesquisa narrativa: referencial terico e metodolgico

    A pesquisa narrativa oriunda de estudos antropolgicos pode ser compreendida tanto

    como um arcabouo terico, quanto como metodolgico. Conforme descreve Telles (1999), a pesquisa narrativa alm de ser mais abrangente e flexvel do que outras pesquisas, favorece ainda a participao ativa dos colaboradores uma vez que concede-lhe o poder de dar-se a conhecer. Ao produzirem tais narrativas, os professores tomam a palavra, do voz s suas teorias implcitas sobre suas prticas pedaggicas e se tornam agentes de seu prprio desenvolvimento pessoal e profissional (TELLES, 2002, p. 108). Alm disso, os dados gerados por meio de dirio de campo,

    entrevistas, relatos, memrias, histrias de vida, gravaes entre demais formas discursivas permitem o reconhecimento da realidade profissional do sujeito pesquisado (TELLES, 2002).

    A pesquisa narrativa, segundo destacam Connely e Clandinin (1990); Telles (1999 2002);

    Clandinin e Connely (2011), possibilita que os sujeitos rememorem histrias de vida, reintepretem suas trajetrias por meio da ressignificao, podendo tornar-se mais conscientes das condicionantes histricas, culturais e sociais vivenciadas. Por essa razo, a proposio de uma pesquisa narrativa sobre o itinerrio identitrio do professor, pode promover maior reflexo sobre si e sobre a profisso de forma geral. Os caminhos percorridos pelos professores em suas trajetrias pessoais e profissionais sero, em grande medida, a base do processo de construo de suas identidades (LLIS, 2013).

    As disposies profissionais dos docentes so a sntese viva de um conjunto de experincias ligadas s marcas deixadas pela escolarizao qual eles foram submetidos, aos processos de formao prvia e cultura da organizao escolar em que eles construram a sua prpria maneira de ensinar, pessoal e intransmissvel (LLIS, 2013, p. 65).

    Segundo Telles (2002), a produo de narrativas em que os sujeitos socializam suas

    histrias e possam num processo de reflexo repensar sua prpria condio e suas experincias representa uma fonte rica de informaes para o autoconhecimento e a formao do professor.

    Pibid e a formao do professor de Lngua Inglesa

    Desde 2007, uma das aes do Ministrio da Educao para o incentivo carreira docente

    no Brasil tem sido o Programa Institucional de Iniciao Docncia PIBID. A princpio as reas do conhecimento que mais careciam de formao de novos professores de Fsica, Qumica,

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    Biologia e Matemtica. Somente a partir de 2010, as demais licenciaturas, inclusive Letras foram includas no programa.

    Contando com o financiamento da Capes3 o objetivo do programa melhorar a qualidade

    do ensino na educao bsica por meio da concesso de bolsas para acadmicos das licenciaturas; professores da educao bsica e professores universitrios que atuam na coordenao dos nos subprojetos do Pibid.

    O programa possibilita a insero do acadmico na realidade da escola, favorece o trabalho

    colaborativo entre professores da educao bsica, acadmicos e coordenadores das IES participantes e tem como objetivo [...] incentivar a formao de professores para a educao

    bsica, apoiando os estudantes que optam pela carreira docente; valorizar o magistrio, contribuindo para a elevao da qualidade da escola pblica [...] Portaria, n 72 de 09/04/2010 (BRASIL, 2010).

    Segundo Jordo (2013), os resultados obtidos pelo Pibid-Ingls da UFPR incluem;

    conscientizao sobre a necessidade de conhecer o contexto social dos alunos e da escola; incentivo formao do professor da educao bsica; alteraes nas representaes que pibidianos sobre o ensino de ingls; ressignificao da profisso professor e, aproximao dos futuros professores com a escola pblica.

    Na prxima seo, apresentamos alguns recortes de dados de pesquisa de doutorado em

    andamento realizada com pibidianos de trs universidades pblicas do Paran.

    Discursos sobre a profisso professor

    Conforme abordamos no incio do artigo, adotamos a concepo de identidade como uma produo em constante movimento que, inclusive se vale dos discursos socialmente difundidos como constituintes das identidades tanto sociais quanto profissionais.

    No que se refere ao papel do discurso, Mendes (2001) destaca que [...] as identidades

    constroem-se no e pelo discurso, em lugares histricos e institucionais especficos, em formaes prtico-discursivas especficas e por estratgias enunciativas precisas (MENDES, 2001, p. 491).

    Diante disso, selecionamos alguns excertos de discursos gerados em entrevistas orais com

    os pibidianos com o propsito de compreender as percepes sobre a profisso professor. Na questo 03 da entrevista 05 perguntamos: Como voc avalia a profisso professor no Brasil? uma profisso rentvel?

    Bianca tem 18 anos, acadmica do 2 ano de Letras Portugus-Ingls, estudou maior

    parte do ensino bsico em escolas pblicas e participa h 6 meses do Pibid.

    Primeiramente, tem dois lados eu acho da moeda; o primeiro lado, se o professor tiver conscincia que ele vai ser sempre um pesquisador, que ele tem que ser um educador e um pesquisador e se ele INVESTIR NISSO, e CONTINUAR ESTUDANDO, formao continuada [...] e o outro lado da moeda que TODO MUNDO FALA que professor ganha pouco, que desrespeitado que ningum reconhece a profisso e a gente v isso muitas vezes no governo, [...] por um lado MUITO TRISTE, por um lado tem um desnimo, TEM UM DESNIMO porque a gente v que na maioria dos cursos da graduao os alunos vo fazer estgio, mas com aquele desnimo, - No quero ser professor, no vou seguir por esse caminho! Mas, se por outro lado, voc tiver essa conscincia de que o professor PODE FAZER DIFERENA, pode estudar, pode ir por outro caminho (BIANCA, 14/03/14).

    3 Coordenao de Aperfeioamento do Pessoal do Ensino Superior CAPES.

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    A resposta de Bianca a esta terceira questo da entrevista tomou o sentimento generalizado de frustrao com a profisso, sentimento inclusive presente no ambiente acadmico. Bianca tambm recupera o iderio socialmente construdo de que o professor bem intencionado tem o poder de promover a transformao. Tal discurso proveniente da concepo educao salvacionista que delega somente escola, em especial ao professor, a funo de fazer com que o aluno torne-se um cidado crtico e tenham condies de modificar a realidade social (VARGAS e VIAN Jr, 2010).

    Sabemos contudo, que no contexto de uma sociedade de classes to desigual, competitiva e

    excludente, uma srie de fatores corroboram para que o exerccio da profisso professor seja prejudicado, dentre eles, as pssimas condies de trabalho, a falta de identificao do professor com o ofcio, somados ainda ao baixo reconhecimento social da profisso. Bianca contra-argumenta os trs principais aspectos presentes em sua resposta para caracterizar a profisso professor; baixa remunerao, desrespeito e desnimo e enfatiza a necessidade de o professor dedicar-se profisso. Em sua percepo, o professor precisa reconhecer-se como um eterno pesquisador, carecendo, portanto, de dedicao e de investimento constantes, fatores que segundo Bianca, podem promover a conscientizao do professor sobre o seu papel social.

    Juliano tem 23 anos, acadmico do 1 ano de Letras-Ingls, estudou a maior parte da

    educao bsica em escolas privadas e participa h 5 meses do Pibid.

    Eu particularmente, acho que a profisso mais...digamos... os PROFESSORES SO HERIS na minha opinio, s que eles so muito mal vistos, naquela mxima de quem no sabe ensina, acho isso totalmente errado, porque eles so formadores da sociedade, todo mundo tem os professores pra se formar. No Brasil eles so muito subestimados e pouco valorizados e tambm muitos so professores no gostam de dar aula, eles esto l a contragosto, eu diria uns 80% d aula a contragosto e o gosto de dar aula decisivo na motivao que ele d para o aluno, na inspirao, professores inspiradores so muito poucos (JULIANO, 28/02/14).

    Juliano aborda em seu discurso a questo da identificao do professor com o ofcio

    quando refere-se ao exerccio da atividade a contragosto. Na percepo do pibidiano, mesmo em face s diversidades da profisso reconhece a superao dos professores luz da relevncia de seu papel para a sociedade, os professores so heris, mesmo que no recebam a devida valorizao.

    Por fim, Juliano ainda retoma a perda da credibilidade do profissional professor so mal

    vistos, naquela mxima de quem no sabe ensina e critica a atuao de alguns professores que, exercem a funo, mas no se identificam com ela. Mesmo lamentando a existncia de maus profissionais, dado que corrobora na manuteno do discurso da incompetncia docente, Juliano, destaca a influncia positiva de um professor na motivao e na inspirao do aluno.

    Rbia tem 34 anos, cursa o 4 ano de Letras Ingls, estudou a maior parte da educao

    bsica em escolas pblicas e participa h 6 meses do Pibid.

    Eu estou dando aula particular assim, e voc v quando voc... vai fazer o preo das aulas, - Ah, mas muito caro!. E a voc pensa, puxa vida, eu estudei tanto, tanto, pra pensar que R$13,00 muito caro por minha hora! [...] Eu tive de correr MUITO atrs do meu aprendizado, NO FOI DE GRAA, foi uma faculdade pblica e gratuita, mas no foi de graa, eu precisei pagar por este estudo, eu precisei lutar pra aprender [...] (RBIA, 28/02/14).

    Rbia caracteriza a profisso professor a partir de sua percepo sobre a remunerao. Sua

    experincia como professora particular possibilitou que vivenciasse o que os demais pibidianos verbalizaram a baixa remunerao. O interessante no discurso de Rbia que esta contrape a precariedade da remunerao a partir do investimento pessoal feito na profisso eu tive de correr MUITO atrs do meu aprendizado, NO FOI DE GRAA. Sua crtica repousa na falta de

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    reconhecimento social sobre o valor do conhecimento que, segundo ela, resultou de uma conquista eu precisei lutar pra aprender.

    Na percepo de Rbia sobre a profisso professor h um investimento em termos de

    tempo e dinheiro que acabam no sendo considerados na hora de reconhecer o produto de seu trabalho o conhecimento (LLIS, 2013).

    Laura tem 25 anos, cursa o 4 ano de Letras-Ingls, estudou somente em escolas pblicas e

    participa h 1 ano do Pibid.

    Ento, acho que BEM COMPLICADO, a gente sabe que as condies no so as melhores, n, mas, por outro lado, a gente compara com outras profisses e a gente v que tem muito mercado, principalmente aqui (nome da cidade) tem muita possibilidade de trabalho pra professor de Lngua Inglesa, ento sempre... Todo ano esto me chamando, mesmo antes de ser graduada...mas a gente sabe que no um trabalho assim, FCIL, n, sempre tem muito trabalho pra casa.... mas ao mesmo tempo eu acredito que um trabalho que compensa, PELOS ALUNOS [...] (LAURA, 28/02/14).

    Laura assim como Juliano, destaca as condies de trabalho, caracterizando a docncia

    como uma profisso difcil, mas contra-argumenta essa assertiva destacando a questo da empregabilidade do professor de Lngua Inglesa e da recompensa simblica, esta decorrente do que se consegue em sala de aula, possivelmente referente ao aprendizado do aluno.

    Ao enfatizar que a profisso vale pena por causa dos alunos, Laura parece assumir que

    esta tem sido sua motivao para atuar na rea (VARGAS e VIAN Jr, 2010). Vale notar que, os discursos dos pibidianos se convergem e ao mesmo tempo retroalimentam o iderio de vitimizao do professor. Com exceo de Juliano, que a princpio enaltece os professores, os demais pibidianos reproduzem e parecem no se importar com o estigma do sacrifcio e da incompetncia (LLIS, 2013).

    Rasa tem 21 anos, cursa o 3 ano de Letras-Ingls, estudou a maior parte da educao

    bsica em escolas privadas e participa h 1 ano do Pibid.

    [...] acho que os professores esto desmotivados na escola pblica, e no querem muitas vezes melhorar... quando digo que est perdendo o sentido porque dentro da prpria graduao eles focam em coisas que so importantes lgico, mas muitas vezes eles se esquecem, o meio acadmico se volta para o meio acadmico, se fecha [...] Acho que fazem com que VOC SE SINTA PRESSIONADO E MUITAS VEZES VOC TEM QUE PUBLICAR, TEM QUE ESCREVER, TEM QUE FAZER ISSO E ISSO, em muitas vezes acabam esquecendo da PRINCIPAL FUNO QUE EDUCAR [...] eles esquecem do que precisa ser feito pra mudar l dentro [...] porque a gente v que os professores que esto l dentro esto desmotivados, esto l h muito tempo e vo continuar l [...] porque muitos professores que saem daqui no vo pra l, a maioria que est aqui no quer ir pra l, a gente j cria esta mentalidade aqui dentro, a gente tem medo [...] (RASA, 28/02/14).

    O discurso de Rasa, a princpio segue a mesma linha dos argumentos de Bianca, Juliano e

    Laura, porm atribui certa responsabilidade pela descaracterizao da profisso professor academia. No que se refere desmotivao do professor, acaba sendo um desdobramento da perda de status social obtidos pelo professor. Rasa tambm considera que a academia acaba colaborando para a permanncia de um mal-estar docente medida que o meio acadmico se fecha para o meio acadmico. Rasa critica a dinmica acadmica que segundo ela, prioriza o produtivismo cientfico voc tem que publicar, tem que escrever, em detrimento do que considera a funo precpua da licenciatura a formao do professor.

    O argumento da pibidiana, que perpassa este desvio de propsito que ocorre no interior da

    academia acaba por favorecer a manuteno de discursos negativos sobre a escola e sobre a educao que se realiza l, eles se esquecem do que precisa ser feito para mudar l dentro. Rasa aborda o

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    distanciamento entre a formao inicial e o campo de atuao do futuro professor e critica tal realidade, j que para ela, a formao inicial poderia ser uma forma de colaborar para a melhoria da qualidade do ensino que se pratica na escola. Por fim, no que diz respeito a no atratividade da profisso professor a maioria que est aqui no quer ir pra l, a gente j cria esta mentalidade aqui dentro, a gente tem medo, pode ser reflexo de um conjunto de fatores que no corroboram para que as novas geraes ingressem na educao bsica, sendo portanto, a alternativa encontrada a docncia no ensino superior.

    A percepo de Rasa vlida a medida que observamos nos cursos de licenciatura o

    interesse dos acadmicos de anos iniciais por projetos de extenso, projetos de iniciao cientfica e, mais adiante, temticas de TCC direcionados a docentes vinculados a programas de Ps-Graduao.

    Consideraes finais

    Conforme os discursos dos pibidianos ilustraram ainda corrente uma viso depreciativa da

    profisso e, por conseguinte do professor. Sob o jugo da incompetncia e da m formao, os professores cada vez mais desmotivados assistem sua profisso ser descaracteriza ao longo do tempo por meio de discursos negativos que ora o vitimizam, ora o julgam. Ao socializarem suas percepes sobre a profisso, os pibidianos revelaram que a identidade profissional construto histrico que depende das interaes sociais, dos espaos formativos, que se retroalimentam dos discursos veiculados socialmente, que ilustra o status da profisso ou a falta de dele a partir de cada momento histrico.

    Dessa forma, ao narrarem suas percepes sobre seu futuro campo de atuao os

    pibidianos acionaram um conjunto de significados socialmente atribudos profisso e ao professor, estes que, impactam sua identificao com a profisso.

    Em linhas gerais, os discursos dos pibidianos evidenciaram que a identidade profissional

    resulta de uma negociao constante nos embates de ordem social, poltica, cultural e histrico. Perpassa ainda os discursos de professores e de formadores de professores; as representaes pessoais e as que so adquiridas ao longo da licenciatura; as experincias escolares e profissionais e, sobretudo, as histrias de vida, visto que a dimenso pessoal no se dissocia da profissional, estando portanto, ambas imbricadas.

    Referncias

    BRAGANA, Ins F. S. Histrias de vida e formao de professores: dilogos entre Brasil e Portugal. Rio de Janeiro: EduERJ, 2012. BRASIL. Portaria n 72 de 09 de Abril de 2010. D nova redao a Portaria que dispe sobre o Programa Institucional de Bolsa de Iniciao Docncia PIBID. Disponvel em: http://www.capes.gov.br/images/stories/download/diversos/Portaria72_Pibid.pdf acesso em 24 mar. 2014. CLANDININ, D. Jean; CONNELLY, F. M. Pesquisa narrativa: experincias e histria na pesquisa qualitativa. Traduo Grupo de Pesquisa Narrativa e Educao de Professores ILEEL/UFU. Uberlndia: Edufu, 2011. CONNELLY, F.M.; CLANDININ, D.JEAN. Stories of experience and narratives inquiry. American Educational Research Association, v.19, n.5, jun/jul. 1990. p.02-14. JORDO, Clarissa M. Letramento crtico, ingls como lngua internacional e ensino: as mars do Pibid-Ingls na UFPR. In: MATEUS, E.; KADRI, M.S.; SILVA, K.A.(orgs.). Campinas, SP: Pontes, 2013. p.21-48. LELIS, Leila. A construo social da profisso docente no Brasil: uma rede de histria. . In: TARDIFF, Maurice; LESSARD, Claude (orgs.). O ofcio de professor: histria, perspectivas e desafios internacionais. 5 ed. Petrpolis, RJ: 2013. p.54-66. MENDES, Jos M. O. O desafio das identidades. In: SOUSA SANTOS, B. Globalizao: fatalidade ou utopia? Porto: Ed. Afrontamento, 2001.

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    NVOA, Antnio.Os professores e o novo espao pblico da educao. In: TARDIFF, M.; LESSARD, C. O ofcio de professor: histria, perspectiva e desafios internacionais. Petrpolis, RJ: Vozes, 2013. TELLES, Joo A. A trajetria narrativa: histrias sobre a formao do professor de lnguas e sua prtica pedaggica. Trab. Ling.Aplic. Campinas. n.34, p. 74-92. jul./dez. 1999. TELLES, Joo A. pesquisa, ? Ah! No quero no, bem! Sobre pesquisa acadmica e sua relao com a prtica do professor de lnguas. Linguagem & Ensino. v.5, n.2, p.91-166, 2002. VARGAS, Bruna G.; VIAN JR, Orlando. As representaes de professores de ingls sobre sua identidade: um olhar sistmico-funcional. Revista Letra Viva, UFPB, v. 11, n. 1, p. 19-30. 2012

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    TEXTOS FOLHETINESCOS DO RIO DE JANEIRO NO SCULO XIX: DIVERSIDADE, INTERATIVIDADE E REFLEXO SOCIAL

    Bonfim Queiroz Lima Pereira Mestranda em Ensino de Lngua e Literatura

    UFT Universidade Federal do Tocantins Resumo Este trabalho procura analisar a importncia dos textos folhetinescos para a compreenso da sociedade carioca do sculo XIX. Para tanto, procura traar um perfil do pblico leitor, delinear que tipo de texto era publicado nesta seo, tratando tambm, de em linhas gerais, dos seus autores. Demonstra, ainda, atravs de exemplos de crnicas de Machado de Assis, publicadas no Dirio do Rio de Janeiro entre 12/06/1864 a 16/05/1865, como ocorria a interao entre os leitores e os autores deste texto jornalstico-literrio. Palavras-chave: Folhetim, Rio de Janeiro, Machado de Assis. Abstract This work aims to analyze the importance of the text of feuilletons to the comprehension of the society of Rio de Janeiro of the XIX century. For so much, it tries to draw a profile of the public reader, delineate what type of text was published in this section, also treating, in general lines, of their authors. It demonstrates, still, through examples of chronicles of Machado de Assis, published in the Dirio do Rio de Janeiro between 12/06/1864 to 16/05/1865, how happened the interaction between the readers and the authors of this journalistic-literary text. Keywords: Feuilletons; Rio de Janeiro; Machado de Assis.

    A agitada capital brasileira, no sculo XIX, era uma cidade que passava por grandes transformaes: a eletricidade, o telgrafo, o vapor, os bondes eltricos, foram algumas das novidades que se implantaram no Rio de Janeiro no final do sculo XVIII e na primeira metade do sculo XIX. A modernidade e o glamour eram refletidas nos grandes sales de baile da corte, nos teatros, nos cafs e na pequena, mas suntuosa, Rua do Ouvidor.

    Apesar dos grandes smbolos do progresso e da modernidade, a cidade maravilhosa tambm enfrentava grandes problemas, como afirma Marina H. Ertzogue: em 1886, o Rio de Janeiro era uma cidade febril: habitaes coletivas, sem redes de esgoto; lixo esparramado nas ruas; ratos e insetos proliferando-se pela cidade e o clera dizimando suas vtimas (2011, p. 353). Problemas esses que se estenderam longamente, perpassando para o sculo seguinte.

    Nesse cenrio, outra problemtica apontada por Andra Portolomeos (2013) se refere ao panorama de nossas letras, que chega a ser avaliado por essa autora como desolador; para ela a burguesia carioca daquele perodo no desempenhava o tradicional papel civilizador, uma vez que vrios desses burgueses se originaram de antigas famlias coloniais que investiram suas fortunas e passaram a viver de rendas e ostentao na capital brasileira.

    Portolomeos afirma, ainda que, apesar dos esforos empreendidos para a mudana de posturas, encontrava-se enraizado na burguesia emergente, desse perodo, velhos costumes como as prticas tradicionais de sentido oral e comunitrio que se tornavam obstculo para a criao do hbito de leitura entre eles.

    Umas das estratgias dos intelectuais desde perodo, que visavam a formao e o fortalecimento de uma sociedade leitora, segundo Andra Portolomeos, era a de criar o hbito da leitura como forma prazer, assim um grande aliado do projeto romntico para a seduo do pblico leitor foram os textos folhetinescos veiculados nos inmeros jornais que circulavam nesse perodo.

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    A data do surgimento do folhetim na imprensa carioca matria de divergncia entre

    alguns autores, Jefferson Cano inicia seu artigo Folhetim: literatura, imprensa e a conformao de uma esfera pblica no Rio de Janeiro do Sculo XIX, informando que: Em 5 de outubro de 1836 encontra-se a primeira referncia introduo do folhetim na imprensa brasileira. O jornal era O Chronista, do Rio de Janeiro (2013, p. 01. Grifo do autor).

    Para Marta Scherer no jornal O Chronista, que comeou a circular em 23 de maio de 1836, houve a abertura de um espao jornalstico especfico para o que na frana se chamava fuilleton, o que foi um marco para a imprensa carioca; no entanto, ela informa que esse costume frances foi importado para o Brasil pelo Jornal do Commrcio, em 1830. Sob o ttulo de Variedades, na seo eram publicados contedos diversos, matrias traduzidas, resenhas, histrias, poesias e at piadas (2013, p.51. Grifos da autora).

    Apesar da discrepncia sobre a data do surgimento do folhetim no Brasil, os dois autores informam que foi uma importao que se aclimatou muito bem ao calor e a imprensa carioca e que as pginas dos folhetins so um importante legado da nossa histria, pois atravs delas veem-se refletidas a vida cotidiana do Rio de Janeiro daquele perodo.

    Os cronistas so como bufarinheiros, que levam dentro das suas caixas rosrios e alfinetes, fazendas e botes, sabonetes e sapatos, louas e agulhas, imagens de santos e baralhos de cartas, remdios para a alma e remdios para os calos, breves e pomadas, elixires e dedais. De tudo h de contar um pouco, esta caixa da Crnica: sortimento para gente sria e sortimento para gente ftil, um pouco de poltica para quem s l os resumos dos debates do Congresso, e um pouco de carnaval para quem s acha prazer na leitura das sees carnavalescas. Aqui est a caixa do bufarinheiro, leitor amigo: mete dentro dela a tua mo e serve-te vontade. No fui eu quem a encheu de tantas coisas desencontradas e opostas. Eu sou apenas o retalhista, o varejista dos assuntos. Quem me enche a caixa a Vida, a fornecedora dos cronistas. (BILAC, apud Scherer, 2013, p. 61).

    O que Bilac afirma sobre a crnica pode-se estender a todos os outros gneros textuais que

    rechearam as linhas destinadas aos folhetins, porque apesar de sua predominncia, no era apenas de crnicas viviam estes finais de pginas jornalsticas que vinham separados do restante do jornal por uma linha espessa e negra, encontrvamos neste espao ensaios, crnicas, epistolas e poemas como em 1 de agosto de 1864 em que Machado de Assis encerra com este magnfico poema sua contribuio semanal para o Dirio do Rio de Janeiro:

    HORAS VIVAS Noite: abrem-se as flores... Que esplendores! Cntia sonha amores Pelo cu! Tnues as neblinas s campinas Descem das colunas Como um vu! Mos em mos travadas, E abraadas, Vo aquelas fadas Pelo ar. Soltos os cabelos, Em novelos, Puros, louros, belos, A voar!

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    Homem, nos teus dias Que atonias! Sonhos, utopias, Ambies Vivas e fagueiras As primeiras, Como as derradeiras Iluses. Quantas, quantas vidas Vo perdidas! Pombas mal feridas Pelo mal! Anjos aps anos, To insanos, Vm os desenganos Afinal! Dorme: se os pesares Repousares, Vs? por estes ares Vamos rir. Mortas, no; festivas E lascivas, Somos Horas vivas (ASSIS, 2013, p. 21-22)

    Alm da diversidade de gneros textuais o que se observa que em todos eles os autores buscavam a proximidade com o leitor atravs de uma linguagem que buscava estabelecer uma passagem entre uma cultura predominantemente oral e a cultura escrita, conversando familiarmente com os leitores (PORTOLOMEOS, 2013, p. 2) como pode ser observado em quase todas as crnicas deste perodo, exemplifica-se aqui este fato com outra passagem de Machado de Assis, publicada originalmente no Dirio do Rio de Janeiro em 12 de junho de 1864:

    Prometi domingo passado dizer o que pensasse da nova companhia lrica. Mas o folhetinista pe e a empresa dispe. A semana passou e no houve espetculo algum. Cantou-se ontem, verdade, o Trovador; mas, hora em que escrevo, no posso saber ainda do que irei ouvir. No desanimeis, porm, diletante! Temos assunto lrico e verdadeira novidade. (2013, p. 03)

    interessante ressaltar tambm que em um mesmo folhetim vrios assuntos podiam ser

    tratados ao longo do texto e que a passagem de um assunto ao outro era bem marcada com passagens como Do parlamento geral ao parlamento provincial um passo. Vamos ao Maranho

    (ASSIS, 2013, p. 02) ou E depois deste assunto, mais ou menos incandescente, leitores, passemos a falar do inverno. (ASSIS, 2013, p. 05); Machado em seu dilogo direto firmado com o leitor chega

    ao ponto de avisar-lhes para avanar no texto se no gostarem do assunto: Se o leitor se aborrece dos assuntos da Cruz, salte alguns perodos, e achar outras coisas para ler (ASSIS, 201324. Grifo do autor).

    A utilizao de uma linguagem menos formal, que beirava a coloquialidade, visava proximidade com o leitor, proximidade esta que se justificaria pela tentativa de como j foi comentado no incio deste texto forma um pblico cativo, que no consumisse apenas os textos folhetinescos, que circulavam geralmente uma vez por semana nos jornais, mas o restante da obra de cada folhetinista. Para esses autores os jornais no serviam apenas como fonte intelectual de reconhecimento social, mas tambm como fonte de renda: Os escritores da poca, no tendo condies de viver da literatura, recorriam imprensa como fonte de sustentao. A imprensa

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    pagava mal, mas pagava em dia. E era tambm uma oportunidade para que os homens de letras conquistassem um pblico permanente. (MELO, apud Scherer, 2013, p. 57).

    Apesar do seu carter efmero, por tratar de assuntos do cotidiano social que se destacavam em cada semana, os textos folhetinescos so verdadeiros legados que registram um perodo importante da historia brasileira sob um olhar diferenciado da literatura, criando uma memria do presente a ser mais tarde aberta (MELO, apud Scherer, p. 58). Alguns escritores ao tratarem em seus textos da durao passageira da crnica folhetinesca j discorriam sobre a ambiguidade presente neste tema:

    crnica, pois! Estes comentrios leves, que duram menos ainda do que as estafadssimas rosas de Malherbe, no deitam abaixo as instituies, no fundam na terra o imprio da justia, no levantam nem abaixam o cmbio, no depravam nem regeneram os homens: escrevem-se, lem-se, esquecem-se, tendo apenas servido para encher cinco minutos da montona existncia de todos os dias. Mas, quem sabe, talvez muito tarde, um investigador curioso, remexendo esta poeira tnue da histria, venha achar dentro dela alguma coisa... (BILAC apud SCHERER, 2013, P. 58).

    Nesse registro histrico do cotidiano realizado pelo folhetim pode-se observar inclusive

    como se dava a recepo, circulao e interao do prprio folhetim com seu publico leitor. Machado deixa entrever em algumas passagens de suas crnicas que por vezes havia alterao no dia de publicao de seus folhetins:

    Antes de concluir, devo dar uma explicao aos meus leitores habituais. Apareo algumas vezes segunda-feira, hoje como na semana passada; mas isso no quer dizer que eu tenha mudado o meu dia prprio, que o domingo. (ASSIS, 2013, p. 21)

    A repercusso de seus folhetins tambm pode ser notada a partir de passagens que

    demonstram a resposta do pblico leitor com em: Deste modo o folhetim faz de nimo alegre o seu apostolado. Entra em todo o lugar, por mais grave e srio que seja. Entra no senado [...] (ASSIS, 2013, p. 01) e alm de adentrar no territrio poltico os representantes legislativos daquela poca chegavam a mencionar trechos das crnicas folhetinescas em seus discursos: O ilustre

    senador lamentou tambm que eu lhe profetizasse a ausncia dos poetas na ocasio em que S. Excia. partir desta para a melhor. (ASSIS, 2013, p. 01)

    Alm da repercusso externa, as publicaes dos folhetins tambm deixaram registradas as

    participaes do pblico leitor na redao dos textos, seja por intermdio do autor, que citava as cartas e mensagens que recebia sobre assuntos a serem tratados [...] se uma das musas assanhadas no me houvesse remetido duas linhas para publicar. [...] Descosi os versos da referida musa, e arranjei a obra, de modo que pode ser indistintamente verso ou prosa. Hei de public-la depois. (ASSIS, 2013, p. 02) ou em forma de transcrio direta como ocorreu no Dirio do Rio de Janeiro, em 7 de agosto de 1864, que trouxe, ao final do folhetim, a reproduo de uma epistola de um amigo de Machado de Assis:

    Para que os leitores no deixem de ter desta vez uma pgina de bom quilate, recebi pressuroso a carta que me enviou um amigo e colega, e que vai transcrita mais adiante. [...] Todavia, eu tomo a liberdade de inserir a carta integralmente, porque isso em nada prejudica a modstia natural e verdadeira, que muito diversa da modstia de conveno e de palavra. (ASSIS, 2013, p. 24)

    Outra caracterstica que pode-se perceber nas entrelinha dos textos folhetinesco a

    personificao do mesmo, essa era outra estratgia utilizada pelos autores, para ampliar o grau de intimidade com o pblico leitor, assim encontram-se nos prprios textos folhetinescos referncias a essa seo jornalstica do tipo: Tambm o folhetim tem cargo de almas. (ASSIS, 2013, p. 01) O folhetim aplaude-se com a converso. (ASSIS, 2013, p. 01). Com o mesmo intuito encontra-se passagens em que h promessas de publicao de determinados temas: No vi ainda o volume do

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    novo poeta, mas ouvi louv-lo a autoridades competentes. Se o obtiver esta semana, direi alguma coisa no prximo folhetim (ASSIS, 2013, p. 04), No folhetim seguinte direi algumas palavras

    sobre a noite de anteontem na Campesina (ASSIS, 2013, p. 25).

    Ainda na tentativa de manter um pblico cativo os folhetinistas utilizavam-se de retomadas dessas mesmas promessas: Prometi domingo passado dizer o que pensasse da nova companhia lrica (ASSIS, 2013, p. 03), ou at mesmo, a retomada de trechos completos utilizados em folhetins anteriores: Este no usou da fraude a que eu tive a honra de aludir quando escrevi no meu segundo folhetim: Ser til que a civilizao acabe com este uso de andar de jaqueta diante dos contemporneos e ir de casaca Posteridade. (ASSIS, 2013, p. 19).

    Pelos trechos apresentados observa-se que nessas conversas empreendidas pelos folhetinistas com seu pblico leitor os autores utilizavam-se de promessas, retomadas e suspenses; pode-se, ainda, testemunhar como utilizavam estas estratgias com genialidade e conseguiam adentrar nas residncias, nos comrcios, no parlamento e na vida da sociedade carioca do sculo XIX.

    As anlises realizadas neste esboo so apenas algumas das possibilidades de investigao possveis de se empreender nos estudos dos textos folhetinescos, no entanto j pode-se perceber a importncia deste texto jornalstico-literrio para a compreenso da sociedade carioca do sculo XIX. A histria deste perodo encontra-se impregnada nestes textos to peculiares que demonstram vises de autores e de um pblico leitor atuante no processo de criao dos mesmos. Referncias: CANO, Jefferson. Folhetim: literatura, imprensa e a conformao de uma esfera pblica no Rio de Janeiro do Sculo XIX. Disponvel em: http://ifcs.ufrj.br/~nusc/cano.pdf. Acesso em 22/11/2013. ERTZOQUE, Marina Haisenreder. Solido, Narrativa e Imaginao no Fin-de-Sicle: Histria e Sensibilidade Atravs de Crnicas. Msica e Arte. Projeto Histria n 43. Dezembro de 2011, p. 345-366. ASSIS, Machado de. Obra completa. Crnicas. Ao acaso. Disponvel em: http://machado.mec.gov.br/images/stories/pdf/cronica/macr04.pdf. Acesso em: 24/11/2013. PORTOLOMEOS, Andra. A crnica machadiana na formao da literatura brasileira. Disponvel em: http://www.filologia.org.br/machado_de_assis/A%20cr%C3%B4nica%20machadiana%20na%20forma%C3%A7%C3%A3o%20da%20literatura%20brasileira.pdf. Acesso em 22/11/2013. SCHERER, Marta. A narrativa crnica, entre o perene e o efmero da histria. R. cient. ci. Em curso, Palhoa, v.1, n. 2, jul/dez, 2013, p. 50-63. Enviado em 30/04/2014 Avaliado em 15/0/06/2014

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    OS SIGNIFICADOS DE SER PROFESSOR NA PERCEPO DE ACADMICOS EM SITUAO DE ESTGIO CURRICULAR SUPERVISIONADO DE UM CURSO DE

    LICENCIATURA EM EDUCAO FSICA

    Carla Prado Kronbauer4 Hugo Norberto Krug5

    Resumo Esta investigao objetivou analisar os significados do ser professor na percepo de acadmicos em situao de Estgio Curricular Supervisionado de um curso de Licenciatura em Educao Fsica de uma universidade pblica da regio sul do Brasil. A investigao caracterizou-se pela abordagem qualitativa descritiva sob a forma de estudo de caso. O instrumento de coleta de informaes foi uma entrevista semi-estruturada. A interpretao das informaes foi anlise de contedo. Participaram 18 acadmicos do referido curso. Conclumos que foi possvel identificar cinco diferentes significados de ser professor de Educao Fsica, ocorrendo contradies entre esses, pois foram evidenciadas divergentes concepes de educao. Palavras-chave: Educao Fsica. Estgio Curricular Supervisionado. Ser Professor. THE MEANINGS OF 'TO BE TEACHER' IN PERCEPTION OF STUDENTS IN SITUATION AT SUPERVISED OF A COURSE IN BACHELOR DEGREE IN PHYSICAL EDUCATION Abstract This investigation aimed to analyze the meanings of 'to be teacher' in perception of students at Supervised of a Bachelor Degree course in Physical Education of a public university in southern Brazil. The investigation was characterized by qualitative descriptive approach under the form of case study. The instrument for data collection was a semi-structured interview. The interpretation of information was the content analysis. Participated 18 academics this course. Concluded that it was possible to identify five different meanings of 'to be teacher' of Physical Education, occurring contradictions between these, because were evidenced divergent conceptions of education. Keywords: Physical Education. Supervised. To be teacher. As consideraes iniciais: destacando a temtica

    Atualmente, tendo como finalidade a melhoria da qualidade do ensino na escola, as discusses sobre questes que envolvem a formao inicial de professores, em especial de Educao Fsica, se tornam cada vez mais relevantes e freqentes, quando o objetivo que o futuro professor se insira na educao bsica seguro e detentor de conhecimentos que qualifiquem sua prpria identificao como educador nas suas aes junto aos seus alunos.

    Deste modo, Ferreira e Krug (2001) dizem que o principal objetivo de um curso de

    Licenciatura em Educao Fsica habilitar o futuro professor a ter conscincia de seu papel como educador na docncia na educao bsica.

    4 Mestre em Educao (UFSM); Professora da Rede de Ensino do Estado do Rio Grande do Sul; Pesquisadora Associada do Grupo de Estudos e Pesquisas em Educao Fsica (UFSM). E-mail: [email protected]. 5 Doutor em Educao (UFSM); Doutor em Cincia do Movimento Humano (UFSM); Professor Associado do Departamento de Metodologia do Ensino (MEN/CE/UFSM); Professor do Programa de Ps-Graduao em Educao (PPGE/CE/UFSM); Professor do Programa de Ps-Graduao em Educao Fsica (PPGEF/CEFD/UFSM); Lder do Grupo de Estudos e Pesquisas em Educao Fsica (UFSM). E-mail: [email protected].

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    J Nvoa (1992) expe que estar em formao implica um investimento pessoal com a finalidade de construo de uma identidade, que tambm profissional. Alm disso, o autor destaca que o contexto histrico contemporneo da formao profissional atravessa transformaes nas prticas econmicas, polticas, sociais, culturais, exigindo dos profissionais novos conhecimentos, habilidades, atitudes e valores.

    Portanto, em meio a estas transformaes, Krug (2005a) ressalta que os professores, em

    dias recentes, vivenciam uma crise de identidade desencadeada por fatores como o salrio, a luta pela valorizao profissional, o acmulo de tarefas, a heterogeneidade da clientela escolar, a falta de oportunidade de aperfeioamento e instalaes e materiais sucateados, entre outros. Isso tudo, acaba por se traduzir em questionamentos sobre a escolha profissional e sobre o prprio significado do que ser professor.

    Neste sentido, Silva e Krug (2010) dizem que as significaes sobre a docncia e o

    professor so construdas antes de se entrar numa aula, pois, temos uma representao do que seja um professor com base nos saberes construdos ao longo de nossas histrias de vida, onde nossas experincias refletem comportamentos, valores, posturas profissionais e pessoais, que so os nossos primeiros saberes construdos sobre a docncia.

    Desta forma, a construo da docncia envolve a possibilidade do professor beneficiar-se

    de suas experincias formativas vividas ao longo de sua trajetria escolar, no processo pelo qual pode reviv-las via memria. Desse modo, podem ser revertidas em aprendizagens experienciais, em prol de melhor qualidade para o seu trabalho, na escola, como na vida pessoal. Nesse sentido, encontramos em Nvoa (1992, p.16) a identidade docente como sendo um espao de construo de maneiras de ser e estar na profisso.

    Neste direcionamento de ideias, Pimenta (2008) destaca que o desafio dos cursos de

    formao inicial o de colaborar no processo de passagem do acadmico de se ver como aluno para o se perceber como professor, ou seja, de construir sua identidade docente, onde os saberes da experincia so importantes, mas somente esses no bastam, so insuficientes. A docncia representa um desafio e exige conhecimentos, competncias e preparao especfica para o seu exerccio. Assim, considerando Moita (1995) que diz que ningum se forma no vazio e que formar-se supe trocas, experincias, interaes sociais, aprendizagens, um sem fim de relaes e que por isso o processo de formao dinmico.

    Desta forma, torna-se importante um curso de formao de professores ir ao encontro da

    percepo dos acadmicos sobre o que ser professor para que se possa compreender e projetar uma formao inicial mais qualificada. Diante disso, a questo norteadora e o objetivo geral deste estudo, referiram-se a um curso de Licenciatura em Educao Fsica de uma universidade pblica da regio sul do Brasil.

    Portanto, a partir dessas premissas originou-se a seguinte questo problemtica norteadora

    da investigao: qual o significado do ser professor na percepo de acadmicos em situao de

    Estgio Curricular Supervisionado de um curso de Licenciatura em Educao Fsica de uma universidade pblica da regio sul do Brasil?

    Assim, o objetivo da investigao foi analisar os significados do ser professor na

    percepo de acadmicos em situao de Estgio Curricular Supervisionado de um curso de Licenciatura em Educao Fsica de uma universidade pblica da regio sul do Brasil.

    Justificamos a realizao desta investigao por acreditarmos que a mesma pudesse

    oferecer subsdios para uma melhor compreenso do fenmeno do significado do que ser professor de Educao Fsica e, assim, consequentemente, auxiliar na melhoria da qualidade da

    formao inicial de professores de Educao Fsica.

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    Os procedimentos metodolgicos: destacando o caminho percorrido A metodologia empregada neste estudo caracterizou-se por uma abordagem qualitativa do

    tipo descritiva sob a forma de estudo de caso. Conforme Trivios (1987, p.125), a pesquisa qualitativa surge como forte reao contrria

    ao enfoque positivista nas cincias sociais privilegiando a conscincia do sujeito e entendendo a realidade social como uma construo humana. J para Gil (1999) a pesquisa do tipo descritiva objetiva a descrio das caractersticas de determinada populao ou fenmeno ou o estabelecimento de relaes entre variveis. Ainda segundo Gil (1999, p.72) o estudo de caso caracterizado pelo estudo profundo e exaustivo de um ou de poucos objetos, de maneira a permitir o seu conhecimento amplo e detalhado.

    A coleta das informaes foi realizada em um curso de Licenciatura em Educao Fsica de

    uma universidade pblica da regio sul do Brasil, sendo esse o caso estudado. Neste sentido, a justificativa da escolha da forma de pesquisa qualitativa, descritiva e estudo

    de caso foi devido possibilidade de se analisar um ambiente em particular, um caso em particular, onde se levou em conta o contexto social e sua complexidade para compreender e retratar uma realidade em particular e um fenmeno em especial, o significado de ser professor de Educao Fsica.

    Os participantes do estudo foram dezoito (18) acadmicos em situao de Estgio

    Curricular Supervisionado do referido curso estudado. Destacamos que a escolha dos participantes aconteceu de forma intencional, em que a disponibilidade foi o fator determinante para ser considerado colaborador da pesquisa. Molina Neto (2004) diz que esse tipo de participao influencia positivamente no volume e credibilidade das informaes disponibilizadas pelos informantes.

    Quanto aos aspectos ticos vinculados s pesquisas cientficas destacamos que todos os

    participantes assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) e as suas identidades foram preservadas.

    O instrumento utilizado para coletar as informaes foi uma entrevista semiestruturada

    que, segundo Trivios (1987), parte de certos questionamentos bsicos, apoiados em teorias e hipteses, que interessam pesquisa, e que, em seguida, oferecem amplo campo de interrogativas, fruto de novas hipteses que vo surgindo, medida que se recebem as respostas do informante.

    A interpretao das informaes coletadas foi realizada por meio da anlise de contedo

    que, para Bardin (1977), representa um conjunto de tcnicas para analisar comunicaes, que buscam desvendar atravs de procedimentos sistemticos e objetivos de descrio do contedo das mensagens, indicativos que possibilitem a inferncia de conhecimentos relativos s condies reais das mesmas. A anlise de contedo prev trs etapas: 1) A pr-anlise trata do esquema de trabalho envolvendo os primeiros contatos com os documentos de anlise, a formulao de objetivos, a definio dos procedimentos a serem seguidos e a preparao formal do material; 2) A explorao do material trata do cumprimento das decises anteriormente tomadas, isto, leitura de documentos, categorizao, entre outros; e, 3) O tratamentos dos resultados trata da lapidao dos dados, tornando-os significativos, sendo que a interpretao deve ir alm do manifestado, buscando descobrir o que est por trs do imediatamente apreendido. Os resultados e as discusses: destacando os significados do ser professor

    Discusses sobre o papel dos professores de Educao Fsica no contexto escolar so

    constantemente valorizadas, principalmente nos cursos de formao de professores, abordando, nesse espao formativo, cada vez mais, reflexes acerca das concepes sobre o significado do ser

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    professor e das responsabilidades que permeiam essa profisso. Nesse sentido, Nvoa (1999, p.29), j h algum tempo, destacava que os professores encontram-se numa encruzilhada: os tempos so para refazer identidades. E, consequentemente, isso tambm tem influncia nos cursos de formao, tanto nos de formao inicial quanto nos de formao continuada, que devem se ressignificar constantemente para se adequar s necessidades dos professores nas instituies escolares.

    Segundo Garca (1999), a tomada de conscincia das concepes e significados do ser

    professor devem ser revisitados porque pode haver uma dissonncia cognitiva entre o que pensam os futuros professores e o que o curso de formao inicial preconiza.

    Assim, pela anlise das informaes coletadas, constatamos que onze acadmicos disseram

    que ser professor de Educao Fsica contribuir para a formao corporal e social dos alunos. Sobre esse significado citamos os PCNs (BRASIL, 1997) que dizem que, na Educao Fsica, os

    processos de ensino e aprendizagem devem considerar as caractersticas individuais dos alunos, sejam elas cognitivas, corporais, afetivas, ticas, estticas, de relaes interpessoais e insero social, para que aprendam a discutir regras e estratgias, analisando-as criticamente como forma de conseguirem ressignificar e recriar tais aspectos das atividades propostas. Ainda, para Betti e Zuliani (2002) a Educao Fsica deve responsabilizar-se por formar cidados capazes de posicionarem-se criticamente diante das novas formas da cultura corporal de movimento, podendo, portanto, entender e vivenciar o seu aprendizado, mudando o comportamento e assumindo novas atitudes.

    Outro significado de ser professor de Educao Fsica citados por sete acadmicos foi

    ensinar conhecimentos obtidos no curso de Licenciatura em Educao Fsica. Esse significado encontra sustentao em Nvoa (1995) que coloca que a tarefa bsica do professor ensinar. Assim, o professor de Educao Fsica e a escola devem garantir o direito aos alunos de conhecer mais aprofundadamente os esportes, as danas, as lutas, as ginsticas, enfim, as prticas pertencentes ao universo corporal presentes em seu cotidiano.

    Ainda outro significado de ser professor de Educao Fsica foi promover a sade e a

    realizao de atividades fsicas aos alunos, manifestado por quatro acadmicos. Assim, abordando essa ideia de significado citamos Vieira e Ferreira (2004) que afirmam que devemos ter um tanto de cuidado em no traar uma relao causal entre Educao Fsica e sade, de modo que, essas colocaes empobrecem o papel da Educao Fsica como realidade pedaggica, pois, o professor de Educao Fsica um interventor social que atua no campo da educao e da sade, e que o seu maior compromisso formar cidados, indivduos crticos e reflexivos, a partir de seus contedos que lhe so peculiares.

    Temos ainda que dois acadmicos disseram que o significado de ser professor de

    Educao Fsica caracteriza-se em mudar a prtica das aulas de Educao Fsica. Sobre isso, destacamos que a mudana na prtica educativa implica alterar concepes enraizadas enfrentando o cotidiano j existente. Segundo Borges (2003) para uma mudana nas aulas de Educao Fsica, evidencia-se, ento, a existncia de outros condicionamentos que no sejam apenas a do esporte e da aptido fsica. Portanto, mudar a prtica educativa requer enfrentar grandes transformaes na forma costumeira do desenvolvimento das aulas, pois, cada aluno um ser singular e com um tempo prprio que se encontra, em relao aos demais, em nvel diferente, referente ao processo de construo de seu conhecimento.

    Ter conscincia das relaes professor-aluno, aluno-professor e aluno-aluno foi mais

    um significado de ser professor de Educao Fsica, entr