Photographias, vistas instantâneas, desenhos e caricaturas.

REVISTA DA SE MAN AAnno I. — N. 13 DOMINGO, 12 DE AGOSTO Numero: 300 réis

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L'ma'e«Hiollnha para o Theatro Mmiici|.«l!

102 - N, 13 REVISTA DA SEMANA 12 de Agosto de 1900

CORREIO DA SEMANA

Rio, 11 de Agosto.

Terça-feira d'esta semana, quem pela clara manhã-que então fazia, banhada de luz, passasse pelas ruasd esta cidade apreciaria um espectaculo estranhíssimo:a quasi totalidade dos transeuntes estava de nariz parao ar, mirando o céo.Porquê ?Porque uma estrella, lutando com o fulgor do sol, nãoduvidava ainda assim fazer-se admirar em todo o seubrilho...Perdia-se o povo em conjecturas. Seria um astronovo, semelhante aquelle que appareceu aos Reis Ma-

gos, quando o Christo nasceu ?Seria o annunciado cometa de Biela, retardado de

quasi um anuo e que vinha por ahi a fora, brilhantecomo uma estrella ?

Muitos dos que estavam a contemplar o ceu espera-vam por certo de um momento para outro vèr a luzextranhã ir crescendo, crescendo, a indicar d'esse modoá approximação do mysterioso peregrino dos espaços.

No dia seguinte, o Observatório Astronômico tran-quillisou a todos. A rnachina do ceu continua sem des-arranjos sensíveis. Talvez não vá muito bem —e é na-tural, á vista da sua provada vetustez. Não conste,entretanto, que tenha havido nenhuma alteração na suamarcha, boa ou má. Não se tratava de estrella alguma.O astro que nos admirara tanto era Venus, um planetatão bom como nós, mas que, por força talvez do seunome, vive a figurar de estrella, sempre que pôde.Garantiram os sábios do Observatório que o caso nadatinha de anormal e deram d'isso varias explicações.

Fosse' em algum dos séculos passados e a cousa nãoteria ficado nisso. O povo enxergaria ahi algum presa-gio. Nãò se comprehende aliás que um astro arregaleos olhos com maior brilho para nos espiar, se elle nãodescobre na terra alguma cousa que lhe chame a at-tenção.

Quem sabe o que seria?Cada um de nós, do seu canto, pode não descobrir

cousa alguma; falta-nos a sensação de conjuneto. Ummicróbio ignora absolutamente o'que se está passandoa um centímetro de distancia do logar em que elle seencontra. Nós somos como simples micróbios dianteda grandeza do globo, que aliás não é muito grande.Mas os astros, que estão de longe e com os seus olha-res escutadores abrangem de cada miradella meiomundo, devem descobrir melhor qualquer alteraçãogeral na superfície do mundo. E' talvez quando notamisso, que arregalam os olhos e dizem um pouco admi-rados: <<Olé! que se estará passando na Terra?» Fi-cam-se então, debruçados, a nos examinar...

De que será desta vez o presagio?Não rios faltam, de certo, casos graves, casos pre-nunciadores de grandes transformações na face do

mundo.Ha, em primeiro lugar, a China. Que sahirá d'aquelle

embrulho ?Dizem alguns, apavorados, que no dia em que os

quatrocentos milhões de chins se derramarem pelomundo fazendo concurrencia aos operários europeus,teremos uma invasão de bárbaros, peior que a invasãoa que se deveu a destruição de Roma.

Magro, amarello, parecendo a cada instante mal podersustentar o seu rabicho, o operário chinez, alimentan-do-se apenas com o que seria para o branco uma mi-galha, dá conta de um trabalho enorme. A concurren-cia é impossível. Nisso está otantos temem. perigo amarello, que

Outros, porém, pensam que, ao contrario, chamar-mos atrabalhar ao nosso-¦lado toTlosc^^es milhões dê~homens não pode deixar de contribuir para o progressogeral da humanidade. Se sem os recursos de que dis-põe a industria das nossas raças elles conseguem tantacousa maravilhosa, que maravilha não será^quando aoseu engenho natural juntarem as acquisições da nossaeivilisação !

E' evidente que uma grande transformação vae terlogar no mundo. Não creio, porém, que seja por issoque Venus lanto se espantou e quiz, em pleno meio-dia, espiar o que se estava fazendo cá por baixo.

Tel-a-á commovido a morte do Rei Humberto?O caso não dava para tamanho espanto. Humberto

era talvez um bom rei c de certo um homem excel-lente; possuía alem d'isso o mais famoso par de bigo-des entre os monarchas da terra. Mas uma infinidadede reis tão bons e tão bravos como elle tem morrido,assassinados ou não, sem que os astros se abalem. E'verdade que desta vez asseguram os entendidos queessa morte não foi um caso esporádico e sim o começode execução de um plano de extermínio contra todosos monarchas.Historias!Enforcar o ultimo rei nas tripas do ultimo frade — éuma formula revolucionaria muito antiga. Não obstante,os Irades que deviam morrer primeiro para forneceremaquelia extranhã corda, vão passando muito bem. Acho,

portanto, que o susto dos reis é um pouco exaggerado!As noticias da Europa indicam-nos, todavia, um ver-dadeiro estado de pavor em quasi todos os paizes. Porpouco que isso dure, não será mais ao Rei Humbertoque irá a nossa compaixão... Sc o lastimamos, porqueelle nao tinha crime (pie merecesse tal pena, devemoslambem lastimar os tnnoccntes que estão sendo presos,pelo mundo alora, as levas dc trinta, quarenta e cin"ncua*'

*° P°r Va8°8 C CCPlamcnlc 'n«undadas sus-Que suspeitas são essas, se o telegrapho nos diz <iueo regicida não faz nenhuma revelação? (»"<iucA delicada cròsta «Ic civilisação,' que lemos sobre anossa selvagcr a, rompe-se ao 'menor

aba Io O deseiodc vingança, irritado por qualquer pequena cóleraapparcce Pgp.;Já um telegramma nos disse que no*cárceres da Itália a tortura tem sido empresai" p™a

arrancar confissões a Bressi. E o Jornal do Brasil inse-riu este horrível despacho datado do dia 6:

«A condemnação de Bresci a galés perpétuas parecesegura.

O criminoso passará os cinco primeiros annos de suaprisão em uma cella do compartimento de dous metrospor um de largo, onde a luz penetra escassamente.

Passara esses cinco annos a pão e água.Caso elle queira revoltar-se contra o regimen, será

subjugado cm camisola de força e posto a ferros, demaneira que fique obrigado a permanecer deitado.

Se persistir, será mettido em uma cella, de pé, presoá parede, igual á em que esteve o anarchista Passa-váriti.

No caso que insista ainda, será encarcerado no Asylode Santo Stefano, sendo mettido em uma cella tão es-treita e baixa que terá de ficar de cócoras.»

Ha, por força, nessa noticia um excesso de fantasiamórbida. A Itália de hoje não pode ter retrogradado atempos peiores que os da inquisição — a Itália ondetodas as nações vão aprender as normas do direito," aterra de Lombroso, de Fcrri, de Garofalo...

Que pena se reservaria então para um parricida? ummatricida? criminosos muito mais dignos de torturas —sí fosse licito empregar a tortura como castigo.

E seriamos nós, seria a Europa, que se diz civilisada,merecedora desse nome e capaz de emprehender á forçaa civilisação da China, se ella desse tamanho exemplode barbaria? Lá ao menos os chinezes não tem theoriasbonitas sobre direito criminal. Cultivam a tortura, comouma sciencia rara e preciosa.

Quem sabe, se não foi por tal causa que Venus seassombrou ?

Rasâo nâo lhe faltaria...Mas, por isso mesmo, já agora estou certo de que o

motivo deve ter sido futil... Cousas femininas... Nemcom ser planeta, Venus terá deixado de ter uma almade mulher, indifferente ás grandes cousas e esmiuça-dora das pequenas. Seria algum mexerico de amor,alguma nuga insignificante... Quem sabe o que ellapensou do casamento do rei da Servia com uma viuvavelha e bonita? E ao passo que se attribue ao monar-cha italiano a intenção de vingar-se cruelmente do as-sassino de Humberto I, o joven Alexandre, brigado como ex-rei Milão, commemora o novo enlace, perdoandoaos que tentaram matar seu pae!Deixemo-nos porém de conjecturas sobre curiosida-des de astros. Se presagio fôr, o que assim vem doceu, não poderá seguramente ser mudado por forçashumanas. E então, pois que nâo ha remédio senão sub-mettermo-nos, esperemos tranquillos e resignados...

HagXh Hélle.

MYSTERIOSUm escriptor italiano, Pappalardo, publicou um pe-

queno livro sobre os phenomenos telepathicos. Que é,ao justo, a telepathia?

Definc-a um auctor inglez: « a transmissão de pensa-mentos ou sentimentos operada do espirito de um ho-mem para o de outro, sem que se tenha pronunciadouma palavra, escripto uma lettra ou feito um signal».

A definição, nesses termos geraes, abrange um poucomais do que é de uso comprehender por esse termo.A' simples transmissão de palavras ou pensamentos, ádistancia, entre dois indivíduos vivos e sãos, com intuitodeliberado, chamam diversos auetores suggestão mental.Reserva-se ao contrario, o nome de phenomenos tele-pathicos para as transmissões de pensamentos entreum moribundo ou enfermo em perigo de vida e outraspessoas sãs, a distancia. Não obstante, a designaçãode^fepTrffrrà-éija^n.rt^T^epecies.

O caso mais corrente nesse gênero de factos é o deum parente ou amigo que, tanto no momento da morte,como pouco antes ou pouco depois, apparece, de súbito,a amigos ou parentes, que estão muito distantes e déforma alguma suspeitavam d'essa morte.

Discutem os que se entregam a taes estudos si harealmente apparição ou simples allucinação. Queremuns que a figura que ás vezes surge diante dos olhosde quem recebe a impressão seja uma figura real,objectiva. Certo, ella não tem a consistência de umcorpo humano. Parece-lhes, porém, que embora feitade uma matéria mais tênue, mais vaporosa, é, entre-tanto, uma cousa, tendo uma verdadeira existência e,portanto, oecupando logar no espaço.

Outros entendem que as apparições não passam dephenomenos allucinatorios. Dizem elles que o individuoem perigo de vida pensa em pessoas queridas. Seujensamento é bastante forte para impressional-as —>ara impressional-as de tal modo, que cilas tem a ai-ucinação do que assim as recorda em momento tãoangustioso. E' por isso que o julgam vèr.

Ha factos explicáveis dos dois modos. Alguns, porém,nâo são passíveis d'esta ultima comprehensão das cou-sas. Muitas vezes o individuo advertido mysteriosa-mente da morte ou do perigo do que está distante,vé-o com um trajo de que nunca anteriormente tiveraconhecimento. Ora, nâo se tem allucinação sinâo daquilloque já se viu ao menos uma vez.

Seja como fôr não é aqui logar para discutir theoriasdc oceultismo. Pappalardo citou acerca da telepathiamuitos factos. E' difllcil dizer até que ponlo cada umd'cl!es de per si é mais ou menos aulhentico. Nâo sepode, todavia, diante do seu grande numero, aí mittirque todos sejam falsos.

Falso ou verdadeiro, o que damos a seguir é real-mente curioso.Um guardamarinha russo estava cm Pavlovsk com alamilia, quando recebeu ordem de partir immediata-mente. Ao despedir-se dos parentes, recommendou e«-

penalmente a sua irmã que pensasse nelle constante-mente, porque isso, de certo, lhe traria felicidade

Passado um mez, a rapariga, numa noite, teve drepente um desmaio. Quando voltou a si, contou mise tinha visto transportada para o meio de uma tempestade. Lembrava-se nitidamente de haver encontrado irmão que nadava desesperadamente porá uma ilhohrochosa, onde elfectivamente cahio com a cabeça ensanguentada. *

Eramdez horas-.-Julgaram todos que-sc tratasse arjenas dc um máo pesadello. 'No dia seguinte, foram surprehendidos com um lele

gramma do guarda-marinha que dizia somente:« Estou vivo. Agradeço muito a minha irmã. Até breve iQue podia elle agradecer? Ninguém chegou a com!

prehender.Pouco depois, os jornaes noticiavam que o navioem que o moço estava embarcado naufragara perto dasilhas de Aland. Ainda isto, porém, não explicava osagradecimentos.Foi o guarda-marinha, único sobrevivente do desastre, quem veio esclarecer as cousas. Disse elle que aoacha/-se luetando com as ondas, no mais forte do lem-

poral, sentio-se de súbito auxiliado e guiado por umaespécie de fantasma em que reconheceu a irmã. Ella olevava em uma direcção desconhecida. Em certo mo-mento, sentio uma pancada muito forte na cabeça èdesmaiou. %Pescadores, no dia immediato, encontraram-no emuma ilha deserta e soecorrerara-no. Seus agradecimen-

tos dirigiam-se, portanto, á irmã, porque estava segurode que tinha sido ella quem o havia salvado. hSeria? Mais simples é talvez acreditar que no mo-mento do perigo, dirigindo-se inconscientemente parauma ilha que conhecia, mas de que não se lembrava

cahio, ahi chegado, e sem forças, bateu com a cabeça'e teve uma verdadeira allucinação, em que vio a irmã.A irmã por sua vez, sollicitada por esse pensamentoforte e angustioso, vio também ou julgou ver o irmão.

Que valem theorias ? Fosse assim, ou de outro modo— pouco importa. Houve, porém, realmente, o fado?Aqui está, todavia, outra narração do mesmo autor,

que parece mais simples, mas não é menos mysteriosa!Ha entre os animaes, mesmo os mais inferiores, qual-quer meio de communícação independente da palavra,que elles não possuem ?

Casos de aves, de cães, de outros animaes já tem'sido apontados. Como um cão ou um pombo logramorientar-se atravez do espaço e voltar ao logar de quepartiram ? Para o pombo ha ainda a explicação de queelle possa elevar-se nos ares, dominar de muito altouma grande extensão e distinguir o caminho que lheconvém seguir. Em muitos casos, essa explicação nãoserve, porque a distancia é tão excessiva que a melhordas vistas nâo a poderia attingir em caso algum.

Menos ainda qualquer theoria análoga pôde caber nocaso que Pappalardo refere e de que deu conta o pio-fessor Riley. Como elle tivesse conseguido cultivar duasbellas amoreiras, pensou em fazer vir da índia algunsbichos de seda. Ao fim de algum tempo lendo que osmachos d'essa espécie tém uma certa faculdade deorientação, fez diversas experiências nesse sentido,todas com êxito. Uma d'ellas consistio em levar o ani-mal para uma distancia de três kilometros, marcando-o,de modo que fosse possível reconhecel-o.

Pois bem. No dia seguinte, elle tinha transposto todoesse espaço e estava no seu logar!

Ha, evidentemente, uma certa analogia entre essa la-culdade que permitte a um ser inferior reconhecer, adistancia, o ponto para o qual se deve orientar —e afaculdade telepathica que leva um pensamento a pro-curar aquelle a quem se dirige.

Jon de Castro.

GU^AS-EXT^AYAOANIE&E' raro o dia — ou, si não o dia — é raro pelo menos

o mez, em que não apparece algum medicamento novo,apregoado como capaz de curar todas as moléstiasconhecidas e desconhecidas. A lista vae sendo collos-sal. Todos os annos publicam-se verdadeiros volumesso com o nome e a enumeração das virtudes espanto-sos e nfirificas dessas drogas milagrentas. Nem porisso os médicos erram menos ou sentem-se mais fortes.Os mais escrupulosos limitam-se obstinadamente ameia dúzia de princípios velhos, seguros, bem estuda-dos e repellem systematicamente todas as novidades.Os outros atiram-se, soflregos, ás ultimas revistas es-peciaes e o primeiro doente que lhes cae sob as mãosé victima do seu prurido experimentatorio.

Decididamente quem tinha razão era Voltaire affir-mando que toda a therapeutica consistia em metterdrogas desconhecidas dentro de corpos também desço-nhecidos!

Por essa razão, levando longe sua descrença, algunsmédicos se vão decidindo a um recurso enérgico: aboliros medicamentos. Nada de drogas! Guerra á pharmacia!Como então pretendem elles curar as infinitasmazellas desta pobre humanidade ?

De um modo simples: por meios exclusivamentephysicos: calor, frio, hydrotherapia, electricidade, etc...Curarão mais ?

Talvez não; mas terão talvez a vantagem de matarmenos. E' o que allegam os mais sinceros!.. achandoaliás que nâo aspiram a pouco!

Afinal, o corpo humano é-nos ainda táo mysterioso,que nós não sabemos ao justo as reacções que sobreelle provoca nenhum agente, nem physico. nem chi-mico. Como e porque certas applicaçôes da modestis-sima água fria dissipam ás vezes graves moléstias écaso táo profundamente ignorado, como o da acçâo dcqualquer remédio ingerido pelo estômago.

Ha tempos, um physico da Suissa, sábio reputadopelos estudos que tem feito sobre as baixas tempera-turas, instituiu um meio novo dc cura realmente inte-ressante. Chamaram-n'ó' a frigolherapia — a medicaçãopelo frio.

12 de Agosto de 1900 REVISTA DA SEMANA N. 13 — 103

Por bem fazer, mal haver. ......

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ii IV

Fez elle construir o que chamou: o poço frigorífico.-Esae-poço^-cspecie de cylindro feito de metal, tinhao espaço bastante para uma pessoa fr(rariTO~setT-tnte-rior de pé, só com a cabeça inteiramente fora delle,Dentro desse apparelho, graças a uma circulação con-stante de gazes liqüefeitos, a temperatura era de 110 a130 gráos abaixo de zero — o mais que muito bastante,por conseguencia, para reduzir quem lá se mettesseao estado de sorvete... Era pelo menos o que bemlegitimamente se poderia esperar.

Não foi, todavia, o que succedcu.Toma-se um cidadão (ou cidadã) perfeitamente vcs-

tido e enfia-se no canudo.Bruscamente apanhado por esse frio ultra-polar, não

ha quem permaneça resguardado pela roupa que leva,por mais espessa que seja. O cfféito da temperaturado poço faz-se logo sentir.

Fica immediatamente gelado ?Não, senhor! Ao contrario. A temperatura do corpo

passa de 37" a 38°, a 39° e ás vezes a mais. E' o orga-nismo que se defende. Sente que o frio é demais efabrica também calor de mais. Mas comprehende-seque isso nâo pôde durar. Assim, porém, que o cidadãonão resiste e vae começar a sentir baixar o seu calor,tiram-n'o do tal canudo.

Sabem qual é o symptoma quasi inevitável que so-brevem depois de 3 ou 4 minutos? Uma fome desespe-radora. Durante aquelles breves instantes, em que seviu forçado a fabricar uma temperatura superior ánormal, o corpo estava queimando todas as suas re-servas, gastando-se de um modo extraordinário. Assim,portanto, que se apanha fora, reclama imperiosamentealguma cousa que lhe compense os prejuízos.E que proveito se tira disso?

Muito! E' uma reacção considerável, que excita avitalidade do organismo. Dyspepsias e chloroses anli-quissimas foram curadas por tal systema.

Mas, se o frio tanto pode, um professor norte-ame-ricano, o professor Sprague, lembrou-se de recorreraa calor.

Evidentemente, a ideia não é nova. Novo, porem,foi o processo e o apparelho de que elle se serviu.Notando que certas moléstias, aliás muito communs,

como a gotta, o rheumatismo, as dores sciaticas eoutras não cedem quasi nunca á infinita variedade dcmeios pharmaecuticos, pensou no uso de um trata-

mento intensivo pelo calor. Construiu para isso umapparelho a que chamou — o thermoslalo Sprague.

—Imíiginem-uma. espei^fi^tejiLala de grandes dimen-soes, munida de unia tampa movei. A parle faferioré-aquecida por grande numero de bicos de gaz, cujocalor passa atravez dc pequenos orifícios internos datampa, que é toda forrada de espessas lâminas de bor-racha. E! uma estufa, uma grelha, um apparelho paraassar gente!

Raul Pictet parecia ter a pretençâo de fazer sorve-tes humanos. O Dr. Spragne trabalha ifoutro gênero:dir-se-ia que deseja fazer bifes de gente... Calculemque uma pessoa deitada no tal apparelho fica submet-tida a um calorsinho de 200 gráos centígrados!

E supporta-se isso, quando 100 gráos já são bas-tentes para ferver água?

O Dr. Sprague demonstrou, que, resguardada aface e a cabeça, o resto do corpo pode muito bem,sem nenhum

"incommodo serio, aturar esse calorsi-nho... A prova está na experiência que elle fez comMiss Clara Berg. , .

Era uma moça sujeita constantemente a dores rneu-matismaes violentas. Antes de submettél-a ao seu tra-lamento, o Dr. Sprague fez examinar com todo cuidadose ella soffria do coração, o exame deu um resultadonegativo. Decidiu-se, portanto, que a cura pelo calorseria tentada.

No dia marcado, trouxeram-n'a envolvida em umsimples lençol e deitaram-na no apparelho. Um ther-mometro pêrmittia ir seguindo o acerescimo do aque-cimento interno. Aberto c acceso o gaz, o calor subiulogo a 40 gráos. Um minuto depois estava em 60. Atranspiração começou, abundantíssima. Pozeram enlãocomo travesseiro, por baixo da cabeça da enferma,um sacco com gelo pilado.

Miss Clara ia explicando as suas sensações. Ao prm-cipio, ella se queixou de um certo incommodo devidoá extrema seceura do ar. Logo, porém, esse incom-modo cessou. A temperatura chegou a 90 grãos. Ostravesseiros de gelo precisavam ser mudados de dousem dous minutos, porque se derretiam quasi immedia-tamente. Ouando o thermometro marcou 137 grãos —mais 37 do que os precisos para fazer ferver água —ella aceusou uma sèdc intensa. Era natural que tivessenecessidade de beber porque o suor salua do seu corpoem um verdadeiro rio: o apparelho tinha uma dispo-

sicão especial para rccolhèl-o. Deram-lhe água gelada,que, por um phenomeno extraordinário, ella dizia jul-gar excessivamente quente, como se estivesse fervendo.

—O gaz-continiuiixX_aceeso. A 180 giNáos ella aceusouum barulho terrível nos õüviffõsrPáreciã^lTe omirtrm-carrilhão, batendo furiosamente, Era a circulação dosangue que se fazia com extrema violência. D'ahi apouco, cila declarou com algum medo que se sentiaincapaz de mover os dedos das mãos e dos pés. O suorcontinuava a correr. Afinal, quando o thermometromarcou 201, os olhos da doente pareceram empanar-see ella murmurou fracamente: «basta!».

Apagou-se o gaz, deram-lhe a beber água gelada e,no fim de algum tempo, tiraram-na do apparelho, noqual linha estado durante nada menos de quarenta edois minutos. Nesse dia e no immediato queixou-seapenas de alguma fraqueza; mas as forças lhe volta-ram rapidamente e as dores cederam.

Já em França dois médicos notáveis tinham applicadoo calor, mas apenas localmente e n'uma temperaturanão superior a 90 gráos. O systema de Sprague deveser mais cfíicaz. Será. porém, menos perigoso?

Pobre humanidade! Dos que apregoam querer curar-te uns te envenenam, outros te gelam e outros teassam!

DR; Ciiarl HàTIIA.

OS ESPECTACUL0S DA SEMANA

SanfAiuia. — Com o suecesso do costume, conti-nuou em scena a Frou-Frou de Meilhac e Halcvy. Arecita da moda foi feita com a peça de Echegaay Man-cha que limpa. A empreza prepara para beneficio doactor Christiano de Souza a peça de Feydcau Le din-don, que foi traduzida sob o nome de O Arara.

Lucinda. —A companhia que ahi trabalha fechou asérie de espectaculos com a peça de Marccllino dcMesquita Perallas e Secias.

Apollo. — O Apollo deu successivamcntc a Mascotk.o Testamento da Velha, o Hotel do Livre Cambio, os28 dias dc Clarinha e a Mocidade de Ah-Babu.

104 — N. 13 REVISTA DA SEMANA 12 de Agosto de 1900

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Lyrico. —Estreou, no sabbado, passado, como Tan-nhauser de Wagner a companhia Sansone. Deu depoisa Manon de Puccini. A orchestra, regida pelo maestroMascheroni, esteve á altura do grande credito que aprecedera.

Recreio Dramático.— A estróa da companhia diri-

?ida pela actriz Pepa Ruiz fez-se no sabbado com o'im-ttm

por Tim-tim, cuja mise-en-scene foi incumbida-ao. aclojLBra n d ã o.

Hlgh-Life Nacional.— Programmá' novo com a peçade costumes campestres —,Uina festa na roça.

Alcazar-Parquc—As atlracçõcs do costume, que})ara

ahi continuam a levar a tina flor dó monde oii'o/í s'amuse...

UM DIAMANTE

Já se acha em Paris, na Exposição, um grande dia-mante encontrado em Jagersfonlein, perto de Kimber-ley, pouco antes da guerra anglo-boer. E' a maior e amais bella das pedras desse gênero ate hoje desço-bertas. Excede mesmo em brilho o famoso fíegente.Seus proprietários, chamaram-no em homenagem á

-4^ünha—4etom—-o-Jubi/eí/^-Suiupiuiezanão tem abso

RELÂMPAGO GUIMARÃES

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O apparelho cuja reproducção damos, tirada de re-vistas estrangeiras, chama-se Relâmpago Guimarães.E' destinado á photographia em logares obscuros ou ánoite.

Quem tenha visto os retratos tirados em taes cir-cumstancias terá notado que são em geral muito duros,apresentando contrastes brutaes entre partes excessi-vãmente claras e partes excessivamente negras, semmeias tintas. Obter uma claridade análoga á do dia,bastante intensa para permíttir que os retratos sejamtirados rapidemente e bastante diffüsa para que ellesfiquem com toda a suavidade natural de tons —é umproblema que muitos inventores tem procurado resol-ver. Ha, por isso, apparelhos muito engenhosos.

Em geral, a claridade é produzida por um pouco demagnesio, a que, no momento, opporluno, se ateiafogo. O effeito semelha realmente o de um relâmpago:mas tem do elampago os defeitos já apontados, deextrema opposição entre o claro e o escuro. Demais,o magnesio não se queima inteiramente; cinzas sãoprojectadas pelo ar. Ha, além disso, uma grande quan-tidade de raios luminosos ultra-violeta, que são os quemais contribuem para impressionar desagradavelmenteas chapas.

O grande publico não avalia bem como todos essespequeninos obstáculos são irritantes. Elle sente apenasque os retratos feitos em taes condições apparecem-lhe de um modo imperfeito e que afinal o sol é insub-stituivel.

O apparelho Relâmpago Guimarães vem demonstrarjustamente o contrario, porque elle obvia a todos osinconvenientes indicados. A luz produzida por elle éexactamente a necessária para substituir a claridadedo dia, supprindo-a em todo o seu vigor, mas permit-tindo respeitar as nuances do modelo, por mais deli-cadas que sejam.- O acolhimento que foi feito na Europ á invenção donosso compatriota, proprietário da afamada Photogra-phia Guimarães, deve ser muito lisongeiro para osphotographos nacionaes.

lusive o Regente. Perseguidos os ladrões, con-rehavê-lo. Em 1796, empenhado pelo Dircctorio

lutamente rival. A lapidação foi feita com tão grandeperfeição que não tem nenhum erro. Está tão bemacabada que posta a pedra sobre a diminulissima baseda sua ponta truncada, mantem-se de pé, em equilíbrio.

As nossas duas gravuras representam essa pedrapreciosa — a mais preciosa de quantas se conhecematé hoje.

Contra os perigos de elravio, desluirçâo ou furtofoi segurado em diversas companhias por uma sommade dez milhõesde francos. Quatro guardas nãò o per-derão de vista um só momento, durante o dia. A' noite;ficará encerrado, como aliás se 1'az no.Lnuvrecom oRegente, em um subterrâneo especialmente dispostopara esse fim. "¦- ;- ;'

A este propósito, vale talvez a pena lembrar os p.rin.rcipaes diamantes até hoje encontrados. .O mais bello,antes do que agora se arinuncia.é o já. mencionado Re-gente. Foi achado por um inudu, em.Partlat, perto de'Golconda, em 1701 e vendido por 25.000 francos a umnegociante, Jamchund, que o passou a Xhomas Pitt por510.000 francos. Era ainda bruto; linha a -'fôrma e o vo-lume de um limão pequeno. Pitt cedeu-o ao duque deOrleans, .regente de França, em 1717, por 2.000.000 defrancos. Foi o duque quem o mandou lapidar c ficouentão pertencendo ás jóias da coroa de França. Poroceasião da revolução franceza, foram roubadas asjóias, inclusseguiose ,a um banco de-Amsterdam, para lá seguiu. Mas Na-poleão poude mais tarde resgatal-ó e elle ficou per-tencendo de novo ao throno de França. Com a quedado império, foi enviado para as col[ccções do Louvreonde ainda está.

O Koli-noor (montanha dc luz), pertencente á coroade Inglaterra, foi durante muitos séculos jóia dos Prin-cipés Hindus. Em 1850 quando as tropas inglezas entra-ram em Lahore, apoderaram-se delle. A Companhia dasíndias ofl'ereceu-o á Rainha Victoria. Vale 3.500.000francos.

Do Grão-Mogol não se sabe o que é feito. Acredita-seque as tropas inglezas o roubaram por oceasião dosaque de Delki, e foi depois dividido em pequenosdiamantes.

O OrloíT é o maior. E' originário das índias e temuma historia obscura. Constituía um dos olhos de umaimagem de Brahma em Misore. Nos primeiros annosdo século XV11I um soldado francez apoderou-se dellee vendeu-o por 50.000 francos a um capitão inglez. Em1691; o príncipe Orloff comprou-o em Amsterdam paraCatharina II da Rússia. Pertence desde essa época ásjóias do Czar e vale 2.800.000 francos.

O Sancy — dizem que pertenceu a Carlos o Temerário.Sua historia é conhecida desde 1620. Nessa época,Achilles de Harlay de Sancy, trouxe-o do Oriente ecedeu-o á coroa dè Inglaterra. Jacqucs II, quando exi-lado, vendeu-o a Luiz XIV e elle ficou pertencendo ásjóias da coroa franceza. Foi roubado juntamente como Regente. Não havendo sido encontrado quando seachou este ultimo, passou sem se saber como para asmãos de Carlos IV dc Hespanha. José Bonaparte,achou-o e vendeu-o á princeza Demidof, que o possuiuaté 1860. Eslá hoje nas índias, em mãos do maharajahde Guttialah.

O Florentino, ou grão-duque de Toscana. Pertence aoImperador da Áustria. Foi vendido a Ludovico Sforza,duque de Milão e d'ahi passou ás mãos do papa Júlio II.Foi adquirido depois, antes de 1660, pelo grão-duquede Toscana. Pelo casamento do grão-duque Franciscode Lóreriá com'"""Maria Thereza, elle entrou para asjóias da coroa da Áustria.

O Estrella do Sul loi achado no Brazil, Minas, em1653, por uma negra. Comprado por um syndicatopassou depois ao ex-gaikwar de Baroda (índias) nor2.000.000 de francos. l

O Estrella da África do Sul, achado no Cabo, per-tence á condessa de Dudley.A coroa de Saxe possue um diamante verde, que

pesa 40 quilates. O Jubileu pesa 239.

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DEUSES VIVOS

Quando a gente pensa que pelo mundo inteiro, a todaa hora, ha milhares de homens e mulheres, pedindo aosseus deuses, uma infinidade de cousas, as mais ;op-postas e contradictorias, vê-se logo que o offlcio deser deus não é positivamente uma sinecura ... Que tra-balho ! E' certo que, em geral,os deuses são absoluta-mente surdos, ou por velhice, ou por calculo. Mas afinalviver cercado de uma ímporíünãçao tao constante nãopôde ser agradável.

Em todo caso, faltara-nos informações autenticassobre os deuses das nossas religiões oceidentaes. E'difllcil dizer se vivem numa serena e impassível bea-tilude ou se se deixam commover e irritar pelas sup-

José Russo. — Conhecido faccinora.

O retrato, que hoje publicamos, do Rei Humberto,é copiado do jornal norte-americano Puck. Pareceu-nos curioso que, justamente quando o anarchistaBresci partia dos Estados-Unidos para ir executaro seu plano sinistro, jornaes de lá se divertissem apublicar caricaturas do desditoso e illustre monar-cha italiano.

plicas e injustiças dos infiéis. Feliz mente, para suppriressa lacuna, temos ainda no mundo deuses vivos, vivi-nhos da Silva, cujo estado de alma é-nos licito anaíysar.

Os Matabelês, da África, possuem um d'esses deusesvivos. E' um pretão, que passa uma existência folgada,numa caverna, pronunciando oráculos e dando ordens.Acreditam seus crentes que elle commanda o céu e aterra.

Os Mashonalas, visinhos dos Matabelês, não lhes ficamatraz: também têm a sua divindade de carne e osso.fíhámá-sêi Móhdbroy o Béüs-Leão:- Não^é,--todavia, obri-gado a fazer façanhas leoninas, porque todo o seutempo se consome em um logar secreto e retirado,onde só vão os seus crentes e para pedir-lhe oráculos.

Na China, o Tseng-Tin-Sze, chefe da religião taoísta,é também um homem-deus. Possue aos olhos dos seusadoradores uma supremacia indiscutível sobre todosos deuses immateriaes. Seu poder, que é enorme, es-tende-se sobre mais de 1.200 cidades. A família de Tsengtem fornecido essa dynastia divina ha muito mais demil annos. O próprio Confucio referio-se sempre aesses homens-deuses, com o maior respeito.

Na Mongólia, ha oito deuses chamados Gyguens eduas deusas conhecidas por Darichús. Essa despropor-ção em favor do elemento divino-masculino prova bemque, mesmo como deusas, ha sempre que desconfiardas mulheres... Mas, no caso, cumpre notar que setrata de crianças. Os predestinados a esses cargossão recolhidos desde^o momento do nascimento a con-ventos buddhistas. Ahi lhes dão tanta comida e tantabebida, que todos morrem nos primeiros annos devida. Os que teimam em viver por mais tempo, desap-parecem um dia mysteriosamente, talvez assassinadospelos monges.

Nesta enumeração, todos os deuses apontados vivemcom uma relativa felicidade. E' verdade que, para isso,são forçados a um certo isolamento e indeferem amaior parte dos poucos pedidos, que chegam a ouvir.Prefeririam elles viverá solta, livremente? Por esseslonges paizes a reportagem jornalística ê tão atrazada,que não nos fornece dados a esse respeito. Faltouquem os fosse interrogar directamente. Temos, porém,documentos decisivos sobre outros.

Numa região que fica entre o Annam e o Cambodgevive o povo do Chrêêzes, que adoram dois deuses,um chamado do fogo e outro da água. Acredita-se queeram da família dos antigos reis do logar, antes daconquista. Mais tarde, decahidos do poder temporal,foram passando a deuses... o que talvez (vejam comosão as cousas!) não lhes parecesse uma promoçãomuito agradável...

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Im-

12 de Agosto de 1900 REVISTA DA SÈMÀttA N. 13 - 105

Também, é força convir que ainiciação para o officio não é nadaboa !

Assim que morre o deus queestá em .exercício, o successor é-forçado a retirar^epara uma torreisolada, onde, durante um anno, \não pôde vôr absolutamente nin-guem. Ahi tem de cultivar a terra,

Para d'ella tirar sua subsistência.

assado esse anno de prova, seffuépara outra torre, onde, embora sémobrigação de cultivar, permaneceinteiramente isolado, sem commu-flftòaí. com pessoa alguma, receben-do pequenas doses de alimento, detempos a tempos. Isso dura outroanno: Findo elle, tem ainda depassar mais cinco, em cinco outrastorres, sempre no mesmo regimen.Ao todo, portanto, sete annos desolidão.

Comprehende-se bem, que, nes-sàs condições, o officio divino sejaabominado. O único desejo de quemse vê eleito para elle é o de fugir.Não são, por isso, raras as esca-pulas de deuses. Mas os crenteslargam-se atraz das divindades re-calcitrantes e trazem-nas á forçapara as torres.

E tudo isto se passa no fim doséculo 19, em nosso tempo!

E' verdade que se o papa quizes-se sahir do Vaticano e viver, deviagem em viagem, como o Impe-rador da Allemanha, — embora oscardeaes não fossem talvez ao ex-cesso de recrutal-o á força, acha-riam muito inconveniente, que ellesahisse de dentro d'esse palácio,onde está preso, ha mais de vinte annos...

Isto prova qne a psychología dos deuses está aindamuito atrazada e cá e lá más fadas ha.

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cussão o projecto estabelecendo odivorcio.

MWMMMW^VSA

O ministério das Relações Exteriores cm Peklm. — O direito,4nternacional,Nque ahi se açha^_náo-é, afinal de contas, nem melhor nem peior que o daEuropai-

Eu não preciso repetir-lhe agorao que lhe mostra o espelho todo dia:

dizer que o seu olhar fulge e radia,dizer que a sua bocea é côr da aurora..,

E a que viria aqui, Minha Ssnhora,qualquer lisonja, si a lisqnja é fria,ante a sua belleza, que extasiaquem quer que nella o seu olhar demora?Nem busco aos versos imprimir a normados grandes mestres de correcta forma:

não tenho força para aqui domal-os.

Quero somente — e é desmedida gloria —que me guarde num canto da memória,no anonymato humilde dos vassalos.

M. A.

MEMENTO ENCYCLOPED1CO

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Os funeraes do Rei Humberto tem dado logar a innu-meras e imponentissimas manifestações em honra desua memória. Roma está cheia de estrangeiros, quepara alli foram, ás dezenas de milhares, assistir ás ce-remonias fúnebres.

Vários governos europêos cogitam de entrar numaccôrdo que permitta a extineção dos anarchistas. Attri-bue-se ao Imperador da Allemanha a idéia da formaçãode uma policia internacional, regida por leis próprias.Para que um indivíduo podesse ser dado como anar-chista bastaria o depoimento de duas testemunhas. Ojulgamento far-se-ia em 24 horas por um tribunal es-pecial.

Não se sabe até que ponto semelhantes idéias podemrealmente partir do soberano allemão. Em todo caso,é desde já de prever ou talvez nenhum dos governoseuropêos acceite tão perigosas medidas.

Bresci, o assassino do Rei Humberto, tem até hojerecusado tenazmente fazer qualquer declaração. A po-licia italiana busca, entretanto, envolver na conspiraçãoo agitador Malatesta.

Entrevistado em Londres por um redactor do DailyExpress, Malatesta garantiu que era inteiiamente ex-

tranho ao plano do regicidio, confessandoaliás, que si tivesse parte nelie, não duvi-daria proclamal-o,porque acha que é legi-timo o seu direito de rebellião contra aso-ciedade.

que estacionava diante delle.

No correr da semana, noticiasdo Transvaal deram conta de algu-mas victorias dos boers sobre osinglezes. Não obstante, despachosde 8 faliam na intenção do Presi-dente Kruger de pedir a paz, o que,a julgar pelos antecedentes nãoparece verosimil.

Realisou-se na Servia o casa-mento do Rei Alexandre com umaformosa viuva, muito mais velhaqué.efiè. Para commemorar esseacontecimento, o soberano per-doou os dous. criminosos, que, hatempos, tentaram matar o ex-ReiMilão, seu pai, com o qual elleacaba de desavir-se.

Com a assistência dos Srs. Pre-sidente e Vice-Presidente da Repu-bliça, Conde Antonelli, membrosdo Corpo Diplomático e represen-tantes de todas as corporaçõesriacionaes, effectuaram-se, nà quin-ta-feira ultima, na igreja da Can-delaria, solemnes exéquias por alma

^dpj\ei Humberto I. Na ceremonia,que teve uma rara imponência,tomaram parte todos os artistasda companhia lyrica Sansone. Ovasto templo ficou litteralmentecheio, sendo enorme a multidão

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DECLARAÇÃO INTERROMPIDA'

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Ha afinal alguma cousa de- posibre os ministros diplomáticos emO Secretario das RelaçõesExteriores da Inglaterradeclarou no dia 8 perantea Câmara dos Communs,que tinha recebido noticiasauthenticas do ex-embaixa-dor inglez. Desde o dia 16de Julho que as legaçõesdeixaram de ser bombar-deadas. D'alli, porem, atéa data das noticias, que é 3de Agosto, tem havido pe-quenas fuzilarias contra aslegações. Nos vários assai-tos, os europêos tiverâo 60mortos e 102 feridos.

O governo chinez temconvidado os diplomatas adeixarem Pekim. Entende-ram, porém, elles que nãoo deviam fazer, porque se-riam inevitavelmente truci-dados, talvez mesmo pelaspróprias tropas encarrega-das de guarda-los.

Os ministros dos EstadosUnidos e da.Itália transmit-tiram mais ou menos asmesmas noticias. Não ha,pois, duvida que até 3 deAgosto, nenhum diplomata,á excepção do Barão VonKetteler, tinha sido assas-sinado.

tivo so-Pekim.

Ella estava formosa... Elle chegou-see começou, galante, a requestal-a.Cada vez, cada vez era mais docea supplica gentil da sua fala...

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Quiz, porem, mais baixinho, bem no ouvido,lazer-fhe a decisiva confissão...A cadeira rólõíí hb chão polido:deram os dois terrível trambolhão.

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Um momento da folga entre duas cartas ao Dr. Campos Salles...No Senado Brazilciro foi

approvado cm primeira dis-

Um pé de cltlneza. — Este pé vale por um lição, para nos mostrarcomo o conceito de belleza é relativo... Semelhante aleijão conslitueaos olhos dos chinezas o ideal feminino! Como entre nós, quando umpoeta baldo de metaphoras quer elogiar um pé feminino, não se esqucede alludir ao das chinezas, as nossas leitoras (icam habilitadas ajulgar se essa allusão é um louvor ou uma insolencia.

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106 — N. 13 REVISTA DA SEMANA 12 de Agosto de 1900

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fDOCUMENTOS lijlMORMAÇÕES

4 9r.'

A arvore da cruz. — Em uma pequenaaldeia da Allemanha descobriu-se ha pou-cos mezes um quadro que estava relegadono subterrâneo da igreja parochial do lu-gar, representando um dos innumerosIpisodios da famosa lenda da arvore dacruz. E' trabalho de grande valor artis-tico e muito provavelmente de um celebreminiaturista hollandez, de quem ja se co-nheciam 64 outras composições sopre omesmo assumpto.

A legenda afflrma que a arvorede que se fez a cruz é a mesmada sciencia do bem e do mal, emque Adão colheu o fructo, de queproveio a decadência da huma-nidade. . ,

Quando Adão estava quasi amoite, pediu a seu filho Seth quefosse sollicitar ao anjo, que guar-dava o paraizo, o «oleode mise-ricordia», promettido por Deus.Seth foi. Por conselho do anjo,colheu no caminho três sementesde uma arvore, que era precisa-mente a mesma da qual a ser-pente fatiara a Eva. A n te sr de -enterrar seu pae, Seth collocou--lhe na bocca as três sementes.De todas três vieram troncos fron-dosos. Com um delles Moysésfez a vara que permittiu que deum rochedo jorrasse água lim-pida e clara. X' sombra de outroDavid escreveu os seus psalmos.Salomão quiz utilisar a terceirana conslrucção do seu templo,mas não o conseguiu, porque, nomomento exacto em que os ear-pinteiros iam servir-se d'ella, pro-duzia-se sempre algum milagre.Lançado o madeiro no rio Cedon,todos os que tentaram aprovei-tal-o morreram immcdiatamente. Assim,depois de innumeraveis outros episódios,o tronco predestinado veiu a servir paraa cruz — e a cruz, segundo outra lenda,•levou-se justamente por cima do logaronde Adão fora enterrado.

Médicos estrangeiros.'— Um projectode lei, apresentado na Itália, regula oexercício dos médicos estrangeiros noReino.

Queixam-se os italianos do exaggerado

firoteccioriismo de ccrlas legislações es-

rangeiras. Todas as nações exigem queo titulo dos médicos estrangeiros seja re-validado pelas suas faculdades, pagando-se-lhes as respectivas taxas. Até ahi, nadahaveria que onjectar. Mas a Allemanha ea Áustria pedem ainda: não só o cursointeiro feito nas suas universidades, comoainda a naturalisação! A Suissa e a Françaquerem cinco annos de estudos nas suasescolas. Os Estados-Unidos, são os menosexigentes: reclamam, além da revalida-ção, uma residência de pelo menos dousannos.

Extracção de raiz

A vista disto, o projecto de lei italianoestabelece pura e simplesmente a reci-procidade: dar-se-á aos médicos estran-geiros na Itália, o que nos seus paizesfor concedido aos médicos italianos, bforçoso convir que o prineipio não podeser mais justo.

O systema métrico. — O systema me-tricô decimal será, segundo parece, com-pletado muito breve em dois paizes que,até agora, tinham resistido á sua intro-ducção. . ., ,

Por um lado a Allemanha ju decretou aadopção official do thermometro centi-

¦¦*"$.¦¦ <â^?B'ti * ^^BffilBSr^^^í BtKíáBv • âálÉilf

Proporção

O commercio de bananas. — Conta-sedos primitivos colonisadores do Brazil,que, ao encontrarem as primeiras bana-nas, comiam soffregamente as cascas edeitavam fora o fructo, que suppunhamser o caroço. A pilhéria pode ser espiri-tuosa, mas não deve ser verdadeira, por-que naturalmente os indivíduos recém-chegados a um paiz procuram imitar oque fazem os naturaes delle — e é claroque os portuguezes tinham bem quem osguiasse nessa aprendizagem.

Mas a banana é entre nós uma frueta

Noves fora... nada

despi esada industrialmente. De Cuba "ode Porto Rico para os Estados-Unidos eseu commercio vae, entretanto, crescendode um modo extraordinário. O principalaproveitamento é feito para a fabricaçãode pão — e tamanha é ella que em certascidades o consumo e, portanto, o preçoda farinha de trigo tem baixado.

Uma revista norte-americana de agri-cultura, noticiando o facto, demonstra quepoucas lavouras são tão remuneradoras.

OFF1C1NAS DA « REVISTA DA SEMANA»

ANNUNCIOSCOMPANHIA DE

LOTERIAS NAC10HAES DO BRAZIL*mmm *m* mm mw*±. w vm ¦ Wr^t V^B V^^ B"^l V^W I 1Sede: CAPITAL FEDERAL

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lin diamante. — (Vide artigo.)

Prado em substituição dos de Réaumur e

ahrenheit.Por outro lado as câmaras de commer-

cio inglezas dirigiram nova petição aogoverno britannico pedindo-lhe a obriga-toriedade do systema métrico decimal depesos e medidas, em substituição do in-commodo e complexo, que até hoje temahi vigorado. A petição tem muitas pro-habilidades de ser attendida.

Na França, onde tudo isso já está feito,pretende-se ir mais longe. A propagandaem favor da hora decimal vae ganhandoterreno. Consistiria essa reforma, aliás,em tempos, decretada pela ConvençãoFranceza em dividir o dia em dois perio-dos de 10 horas cada um, ficando assimcom 20 e não 24 horas. O desejo dos pro-pugnadoics dessa medida é alcançaremque seja adoptada primeiro pelos sábios,esperando que depois entre no uso com-mum.

Experiências feitas com meninos de 10a 13 annos, alumnos de escolas publicas,demonstraram que a transformação é fácilde ser aprendida.

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Capital Federal

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loso & C, rua Nova do Ouvidor n. 10, endereço telegraphico LUZVEL, caixa aoCorreio n. 817. .

Essas agencias encarregam-se de quaesquer pedidos, rogando a maior clar""nas direcções e só recebem em pagamento e pagam bilhetes premiados das ^v1"1 „da CAPITAL FEDERAL. Aceitam-se agentes no interior e nos Estados, dando-sevantajosa commissão.

12 de Agosto de 1900 REVISTA DA SEMANA Annuncios — 107

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Inauguração das recitas desta Companhia no Theatro Lucinda

in ii m 11'Sf.í

'- **»'*-:' Ia REFRESENTAÇÃO

da nova peça em 3 actos de Georges Feydeau, traducção do Dr. Cunha e Costa

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108P N.-13 REVISTA DA SEMANA 12 de Agosto de 1900

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Vista geral da fabrica