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Revolta da Vacina: Estado e sociedade na Primeira República Professor Jayme Ribeiro

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Page 1: Revolta da Vacina: Estado e sociedade na Primeira República Professor Jayme Ribeiro

Revolta da Vacina: Estado e sociedade na Primeira

República

Professor Jayme Ribeiro

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“[...] os portugueses de baixa classe, que aqui chegam aos milhares no último grau de miséria, morrem em grande quantidade, ou vítimas de afecções paludosas graves contraídas nas localidades por onde passa a estrada de ferro Pedro Segundo, pontos em que trabalham muitos entre eles, ou então em conseqüência de moléstias agudas e crônicas dos aparelhos respiratório e digestivo, devidas à falta absoluta de cuidados higiênicos”. TORRES HOMEM, João Vicente. Do aclimatamento. Tese apresentada à Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro como primeira prova de concurso ao lugar de lente da Cadeira de Higiene e História da Medicina, Rio de Janeiro, Typographia Thevenet & Cia., 1865.

“Se as regras que a higiene nos ensina fossem exatamente observadas pelos europeus que desejam empregar-se na lavoura do Brasil; se o governo, compreendendo bem a sua missão, consultasse sempre os profissionais nas importantes questões de colonização, a agricultura entre nós estaria tão atrasada como infelizmente a vemos. É preciso que substituam-se por homens livres os escravos que dia em dia escasseiam, depois que cessou o imoral comércio negreiro”.

João Vicente Torres Homem. Idem.

Estado e Imigração

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Estado e Imigração

“O Brasil reúne [...] todos os elementos para grandes destinos e para atrair o concurso de imigrantes de todos os países”. Porém, “[...] acontecia de o país ser preterido nas emigrações européias por outros países que estão longe de competência a todos os respeitos. [...] Isso se deve a injusta argüição de insalubridade contra o nosso clima [...] espalhada para afugentar os imigrantes, incutindo-lhes no ânimo que o Brasil é insalubre, e que a mortalidade é espantosa entre os estrangeiros em virtude das moléstias pestilenciais que nele reinam”.

Barão do Lavradio. Citado em REGO, José Pereira. História e descrição da febre amarela epidêmica que grassou no Rio de Janeiro em 1850. Rio de Janeiro, Typographia de F. de Paula Brito, 1851.

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Visão da cidade por parte do Estado e da imprensa

“[...] cidade primitiva e insalubre”, [...] “malsã”, “selvagem”, “atrasada”, “pestilenta”, “miasmática”.

Termos frequentemente utilizados nos relatórios oficiais e divulgados na imprensa carioca do início do século XX.

O povo

“Indolente, ignorante, egoísta”, [...] “Preguiçoso”. [...] Quanto aos pais, “se furtam a esse dever [vacinação], por não verem seus filhos chorar ao extrair-se-lhes dos braços o benéfico vírus que receberam de outras crianças, as quais também, para lhes comunicar a virtude singular da vacina”.

Arquivo Nacional. Maço IS4-23 (1854-56).

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Importância do Estado no cumprimento do dever

“Em três anos, [...] o governo conseguira desalojar milhares de pessoas de suas habitações e remover para mais de mil estabelecimentos comerciais, demolir, no todo ou parcialmente, cerca de dois mil prédios [...] promovendo, ao mesmo tempo, mil outras [obras] de ordem diversa, tendentes ao saneamento e embelezamento de uma cidade extensíssima, que conta em seu seio cerca de um milhão de habitantes”. (PORTUGAL, Aureliano. Discurso proferido a 24 de fevereiro de 1906 no jardim da Praça da Glória por ocasião de se inaugurar a fonte artística oferecida à cidade do Rio de Janeiro pelos industriais portuenses Srs. Adriano Ramos Pinto & Irmãos. Rio de Janeiro, Typ. Da Gazeta de Notícias, 1906, p. 10).

“destruir, em grande parte, para fazê-la de novo [...] a colossal obra, que tanto nos eleva e engrandece aos olhos do estrangeiro e nos reabilita aos nossos próprios olhos”.

(Idem.)

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Marchantes.Início do

século XX.

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Canal do Mangue – Foto Augusto Malta (18/03/1906)

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Avenida Central – Quarteirão entre as ruas São José e Assembléia. Foto 1906.

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Diligências – primeiros veículos de condução coletiva do Rio de Janeiro – extintas em 1906

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Praça XV de Novembro. Início do século XX.

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Quiosques.

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Rua do Egito; Rua do Piolho; Rua da

Carioca. Foto de 1905.

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Rua 1º de Março, 1905.

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Teatro Municipal – agosto de 1907.

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Pereira Passos posando para Rodolpho Bernadelli. Augusto Malta. Acervo IHGB, Rio de Janeiro.

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“Comecei por impedir a venda pelas ruas de vísceras de reses, expostas de tabuleiros cercados pelo vôo contínuo de insetos, o que constituía espetáculo repugnante. Aboli igualmente a prática de se ordenharem vacas leiteiras na via pública, que iam cobrindo com seus dejetos, cenas estas que ninguém certamente achará dignas de uma cidade civilizada. Mandei, também, desde logo, proceder à apanha e extinção de milhares de cães que vagavam pela cidade, dando-lhe o aspecto repugnante de certas cidades do Oriente [...] etc. Tenho procurado pôr termo à praga dos vendedores ambulantes de bilhetes de loteria, que, por toda parte, perseguiam a população, incomodando-a com infernal grita e dando à cidade o aspecto de uma tavolagem. Muito me preocupei com a extinção da mendicidade pública [...] punindo os falsos mendigos e eximindo os verdadeiros à contingência de exporem pelas ruas sua infelicidade”. Pereira Passos – Boletim da Intendência Municipal da Capital Federal, jul-set de 1903, pp. 32-33.

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Religião e Vacina“Omulú vai pro sertãoBexiga vai espalhá[...]Ele mesmo é nosso paie é quem pode nos ajudá”.

Cântigo registrado por Edílson Carneiro, “O médico dos pobres”, em Religiões negras, negros bantos. 3 ed., Rio de Janeiro, editora Civilização Brasileira, 1991, p. 171.

“[...] fatos mui escandalosos” [...] ocorridos na capital da província de Pernambuco. “O presidente da província permitiu que um preto bucal, escravo, arvorado em grande curador do cólera pela credulidade e ignorância do povo, andasse curando nas cassa, e nos hospitais, acompanhado oficialmente de guardas. [...] O desaforo e a cegueira chegou a ponto de se mandar proibir aos médicos do hospital dessa cidade o curarem nessas casas, e entregando essas ao cuidado e tratamento médico do tal preto curandeiro, exautorando assim a medicina e os médicos legítimos”.

Sessão Geral da Academia Imperial de Medicina, Corte do Império, março de 1856. Depoimento do Dr. Costa.

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Religião e Vacina

“A varíola alastra impiedosamente e espalha o terror entre os negros; e eles, na sua bacteriologia atrasada, divinizam a terrível doença, atribuindo-a a um espírito que adoram e procuram aplacar por práticas pueris. Saponan ou Sapanan, Afoman, Omonulú, Wari-Warú e Abaluaiê (no Rio de Janeiro), são os seus diversos epítetos”.

Étienne Brazil, “O fetichismo dos negros no Brasil”, in Revista do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, Rio de Janeiro, tomo LXXIV, parte II, 1912, pp. 221-2

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Capa da Revista Ilustrada, nº 656, fevereiro de 1893.

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Estalagem da rua do Senado, fotografada por Augusto Malta.

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Favela do morro do Pinto, fotografada por Augusto Malta em 1912.

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Don Quixote, nº 69, 8 de agosto de 1896. O motivo da gravura é a comparação das condições sanitárias do Rio de Janeiro com as de Montevidéu e Buenos Aires, um assunto recorrente na imprensa carioca do período. E, pelo visto, os desentendimentos entre os críticos da porcaria dos porcos e os amantes da carne de porco continuavam no fim do século.

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José Pereira Rego, barão do Lavradio.

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Método de varilolização praticado na China, em ritual secreto, desde pelo menos o século X. As crostas das feridas dos variolosos eram reduzidas a pó e, com a ajuda de um tubo de bambu, sopradas nas narinas das pessoas em busca de proteção.

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Gravura francesa, de cerca de 1800, representando a descoberta do novo método de inoculação antivariólica.

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Obra intitulada “Vacinating the poor”, Solomon Eytinge Jr., 1873. A gravura parece querer sugerir ao público que ele deve submeter-se à vacinação com tranqüilidade, como um procedimento de rotina dos órgãos de saúde pública.

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Gravura inglesa, de James Gillray, 1802, representando o medo de que a vacina pudesse “bestializar” as pessoas – isto é, produzir “feições de boi” nos vacinandos.

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Pedro II visitando doentes durante epidemia de cólera, em 1856. Foto do quadro de Louis Auguste Moreau, existente na seção de iconografia da Biblioteca Nacional.

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Gravura publicada em Harper´s weekly, 23 de abril de 1870, mostrando o tumulto num dia de vacinação na Academia de Medicina de Paris. Um médico aparece extraindo a cowpox do quadrúpede deitado sobre a mesa, enquanto um colega seu aplica a vacina numa mulher de braços desnudos. Após o congresso médico realizado em Lyons no ano de 1864, os franceses passaram a se empenhar para substituir a vacina transmitida de braço a braço pela vacina animal. Não havia mais dúvida de que a a vacinação braço a braço estava propagando a sífilis.

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Gravuras publicadas por George Kirkland, em 1806, a partir de desenhos do Capitão C. Gold, mostrando a evolução mais regularmente observada das lesões causadas pela variolização e vacinação. As gravuras foram republicadas no British Medical Journal em 1896, celebrando o centenário das pesquisas de Jenner. As lesões da variolização e vacinação aparecem aqui no 5º e 7º dias (fig. 1) e nos 9º e 11º dias (fig.2).

Fig.1 Fig. 2

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“O cirurgião negro”, de Debret, Viagem pitoresca e histórica ao Brasil. Nas palavras de Debret, o “cirurgião negro [...] aplica a sua habilidade em se tornar respeitado pelos seus compatriotas, que o veneram como um sábio inspirado, pois ele sabe emprestar a suas receitas um fundo misterioso e, mediante tais sortilégios, disfarça o simples curativo [...]”. Hoje em dia é comum a utilização da palavra “cavalo” para designar o médium - “cavalo do santo” é o médium possuído pelo orixá. Karasch sugere que talvez fosse essa a razão de o cavalo marinho identificar um curandeiro no século XIX.

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Serviço de Profilaxia da Febre Amarela, situado na rua do Lavradio, em cujo pátio concentram-se as turmas encarregadas do expurgo e desinfecção das casas notificadas. Rio de Janeiro, entre 1903 e 1906. Fonte: COC/Fiocruz.

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Preparação das casas para a destruição dos mosquitos por vapores de enxofre, rotina do Serviço de Profilaxia da Febre Amarela do Departamento Geral de Saúde Pública durante os anos de 1903 a 1906, na cidade do Rio de Janeiro.Fonte: COC/Fiocruz.

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Preparação das casas para a destruição dos mosquitos por vapores de enxofre, rotina do Serviço de Profilaxia da Febre Amarela do Departamento Geral de Saúde Pública durante os anos de 1903 a 1906, na cidade do Rio de Janeiro.Fonte: Revista Ilustrada, 18.03.1976, ano 1, nº 12.

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Bonde tombado por populares durante a Revolta da Vacina.Fonte: Revista da Semana, Rio de Janeiro, 27/11/1904.

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Estalagem na rua Senador Pompeu, fotografada pelo historiador Oswaldo Porto Rocha em 1984.