rio branco ericson araujo

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE OURO PRETO UNIVERSIDADE ABERTA DO BRASIL PROEX PRÓ-REITORIA DE EXTENSÃO PROGRAMA EDUCAÇÃO PARA A DIVERSIDADE ESPECIALIZAÇÃO EM GESTÃO DE POLÍTICAS PÚBLICAS EM GÊNERO E RAÇA Ericson Araújo da Costa BULLYING NA ESCOLA, UMA AMEAÇA REAL. Ouro Preto 2012

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE OURO PRETO

UNIVERSIDADE ABERTA DO BRASIL

PROEX – PRÓ-REITORIA DE EXTENSÃO

PROGRAMA EDUCAÇÃO PARA A DIVERSIDADE

ESPECIALIZAÇÃO EM GESTÃO DE POLÍTICAS PÚBLICAS EM GÊNERO E

RAÇA

Ericson Araújo da Costa

BULLYING NA ESCOLA, UMA AMEAÇA REAL.

Ouro Preto

2012

Ericson Araújo da Costa

Bullying na Escola, uma ameaça real.

Monografia apresentada ao programa de pós-graduação em educação para a diversidade da universidade federal de ouro preto, como requisito parcial à obtenção do grau de especialista em gestão de políticas públicas. Orientador: Mr. Fernanda Amaral de Oliveira

OURO PRETO

2012

Ao meu pai, eterno ídolo.

Mãe, exemplo de mulher.

E minha esposa pela paciência.

AGRADECIMENTOS

Agradeço a tutora e orientadora Mr. Fernanda Amaral de Oliveira pelo apoio e

encorajamento contínuos na pesquisa.

Aos demais Mestres da casa pelos conhecimentos transmitidos.

A Diretoria da pós-graduação da Universidade Federal de Ouro Preto - UFOP

pelo apoio institucional e pelas facilidades oferecidas.

Há um mundo a ser descoberto dentro de

cada criança e de cada jovem. Só não

consegue descobrir quem está

encarcerado dentro do seu próprio mundo.

(Augusto Cury)

RREESSUUMMOO

A presente pesquisa de revisão de literatura apresenta aspectos relevantes quanto à

questão do Bullying nas instituições educacionais no Brasil. Esses traços de caráter

violentos são resquícios de uma historicidade educacional opressora que se

avolumou juntamente com a própria sociedade, refletindo numa cultura mista e

fragmentada em nossa contemporaneidade. Tivemos como problema a ser

investigado a atuação do profissional de educação frente ao bullying. Como objetivo

geral, mostrar às instituições escolares que elas devem investir nos profissionais da

educação e pedagogia e que o trabalho pode resultar de forma satisfatória a todos

os envolvidos principalmente na prevenção dos problemas, pois o Bullying acarreta

sérias consequências nos alunos e em suas famílias, apontando e analisando, como

o psicopedagogo pode atuar frente este fenômeno, por um conjunto de estratégias

criando a intervenção na escola sobre o problema supracitado. Como objetivos

específicos, investigar os problemas emocionais ocasionados pelo Bullying e o que

leva o agressor a fazê-lo, as consequências na sociedade e na aprendizagem do

educando; elucidar sobre a participação efetiva da educação no âmbito escolar para

auxiliar a família, os professores, enfim todos os envolvidos contra o Bullying;

conscientizar todos os envolvidos neste processo, ou seja, trabalhar de uma forma

preventiva e infelizmente muitas vezes remediativa buscando a conscientização, a

segurança e qualidade de ensino para toda a sociedade, além de enfatizar a

importância do psicopedagogo em cada escola.

Palavras-chave: Docentes, escola, bullying.

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ......................................................................................................... 08

1 VIOLENCIA ESCOLAR ......................................................................................... 11

2 BULLYING ............................................................................................................ 15

2.1 Efeito elástico ............................................................................................... 19

2.2 A Escola como uma micro-sociedade .......................................................... 20

2.3 O Bullying sob o olhar do educador ............................................................. 21

2.4 A escola neste contexto ............................................................................... 22

3 O PAPEL DO PROFISSIONAL DE EDUCAÇÃO FRENTE AO BULLYING ......... 24

3.1 Programas e medidas educativas ................................................................ 27

3.2 Formas de combate ..................................................................................... 30

CONSIDERAÇÕES FINAIS ..................................................................................... 32

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ......................................................................... 36

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IINNTTRROODDUUÇÇÃÃOO

Atualmente a violência é um dos maiores problemas que as escolas

enfrentam. A violência que vem sendo noticiada pela grande mídia, durante anos

silenciados, sempre ocorreu nos pátios e arredores da escola. Para esta violência

existe um nome especifico: Bullying. Tal fenômeno pode ocorrer em qualquer escola,

independente do nível social ou da idade dos alunos, sendo caracterizado por uma

série de atividades agressivas e intencionais, que ocorrem sem motivação evidente,

de forma repetitiva causando dor, angústia e sofrimento, tanto para a vítima, como

ao agressor.

A sociedade esta em constante transformação. Das mudanças observáveis,

as práticas da violência entre jovens, nos seus vários espaços de atuação na família,

na escola e na rua têm obtido um maior espaço na mídia, gerando interesse dos

governantes na busca de resoluções desses conflitos. Não obstante, a violência não

está restrita a determinadas classes sociais, faixas etárias ou a épocas. É utópico

pensar que ela está vinculada apenas a pobreza, aos grandes centros urbanos e

aos dias de hoje.

A violência está entre pares desde os primórdios da civilização, mas é na

escola que ela assume seu aspecto mais preocupante, uma vez que a esta

instituição confiamos o papel de agente de mudanças e a formação dos futuros

cidadãos de nossa sociedade. Acreditamos que é na escola, e em particular na sala

de aula, que há um espaço social repleto de interações sociais e uma grande

diversidade de comportamentos e personalidades distintas.

Para que a violência na escola seja estudada e analisada faz-se necessária à

compreensão do espaço escolar, das práticas de interação nela estabelecida e

saber sobre as culturas e valores que os alunos trazem de suas famílias, pois esses

podem contribuir no aumento das dificuldades de interação e adaptação dos alunos

no estabelecimento educacional.

Ressalva-se que a prática do bullying não é recente e os diversos relatos,

casos, pesquisas que se acompanha em nosso dia, comprova que está longe de se

extinguir. Na verdade, com o passar do tempo, nota-se que as agressões estão

sendo cada vez mais elaboradas. Esta pesquisa não é fruto, apenas de uma

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curiosidade científica, mas é uma tentativa de abrandar tal ascendência de vivências

agressivas, diretas e/ou indiretas, dentro das instituições escolares (sejam elas

públicas ou particulares).

A escolha do tema em questão se deu sobre a atual problemática no meio

educacional e social em virtude do desconhecimento que vem ocorrendo sobre a

fenomenologia Bullying, pois a violência que vemos em nossas comunidades e

escolas refletem a negligência em prover orientações aos pais.

É necessário que haja uma atenção especial não só aos alunos da rede

escolar e sim a todas as crianças, seja ela dentro ou fora do âmbito escolar, pois o

perigo pode estar por perto e o adulto acaba não percebendo os primeiros sinais do

possível Bullying. Surgem então as questões: Quais as consequências do Bullying?

Como podemos prevenir o Bullying na escola? Quais são os tipos de Bullying?

Quem são os agressores e como identificá-los? Quem são os sofredores de

Bullying, como se sentem e as consequências no processo educativo? Qual é o

papel da escola mediante o Bullying? Qual é o papel dos pais e da sociedade

mediante o Bullying?

Para que se tenha uma atuação eficiente e eficaz sob o Bullying é necessário

saber "identificar, distinguir e diagnosticar o fenômeno, bem como conhecer as

respectivas estratégias de intervenção e de prevenção hoje disponíveis." (FANTE,

2005, p.92). Desta forma, esta pesquisa teve como problema a ser investigado a

atuação dos profissionais de educação frente ao Bullying.

O presente trabalho tem como objetivo geral, mostrar às instituições escolares

que elas devem investir nos profissionais de educação e que o trabalho pode

resultar de forma satisfatória a todos os envolvidos principalmente na prevenção dos

problemas, pois o Bullying acarreta sérias consequências nos alunos e em suas

famílias, apontando e analisando, como o psicopedagogo pode atuar frente este

fenômeno, por um conjunto de estratégias criando a intervenção na escola sobre o

problema supracitado.

A escolha do tema deu-se pelo desejo de entender o fenômeno da

agressividade em relação ao Bullying e em relação ao contexto familiar. Visto sob o

enfoque da gestão escolar participativa e da valorização do educador, hoje torna-se

10

muito importante contribuir para o entendimento mais profundo em relação as

mudanças comportamentais nas escolas, nos lares e na sociedade.

No primeiro capítulo serão abordados os aspectos gerais da violência escolar,

No segundo capítulo serão traçadas considerações acerca da ocorrência do

fenômeno bullying, sua repercussão no comportamento e desenvolvimento humano

e consequente reprodução nos meios sociais. E, por último, é abordado como deve

combater a essas práticas de assédio moral e físico dentro do ambiente escolar,

onde foi abordada a importância de práticas educativas de programas antibullying.

11

11.. VVIIOOLLEENNCCIIAA EESSCCOOLLAARR

A existência de relações de autoritarismo e violência entre os seres humanos

são tão antigas quanto à própria concepção de sociedade, tendo se tornado,

atualmente, importante questão de saúde pública, devido as suas grandes

consequências sociais e individuais.

A violência é um dos problemas sociais mais graves que enfrentamos

atualmente. Quando ocorrida no âmbito das relações familiares, o número de vítimas

é alarmante e evidencia a necessidade de efetivação de campanhas nacionais de

alerta e prevenção.

Uma espécie de violência ainda pouco estudada e recentemente conhecida

no Brasil como o bullying -, fenômeno perverso caracterizado por atitudes agressivas

intencionais e repetitivas, adotadas por uma ou mais pessoas contra uma ou mais

vítimas, numa relação desigual de poder e capacidade de defesa.

Para entender a prática dessas relações violentas, é preciso se aprofundar

nas diversas instâncias que interferem e contribuem na formação dos indivíduos,

como a família, a escola, o trabalho e o meio social em que estão inseridos. Afinal,

“é necessário compreender como a organização social estimula, legitima e mantém

diferentes modalidades de violência.” (BOCK, 1999)

A partir da década de 1970, determinadas condutas violentas que ocorriam

dentro do universo escolar e acadêmico atraíram a atenção e se tornaram o foco do

estudo de inúmeros pesquisadores europeus, principalmente na Universidade de

Bergen, Noruega, com o professor e pesquisador Dan Olweus, no período entre

1978 e 1993 (LOPES NETO; SAAVEDRA, 2003). A princípio, esses estudos

visavam traçar a distinção entre brincadeiras saudáveis, naturais na esfera

estudantil, daquelas que cruelmente ultrapassavam os limites de respeito e

educação entre os alunos. Nesses casos, quando o que deveria ser uma brincadeira

passa a ter outras conotações e o sofrimento causado propositalmente em alguns

gera a diversão de outros, transformando-se em verdadeiros atos de violência,

caracteriza-se o bullying, ou seja, “um tipo especial de agressão física e/ou

psicológica, geralmente no ambiente escolar ou nas suas proximidades, com a

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intenção de provocar dor ou desconforto repetido ao longo do tempo e com nítido

desequilíbrio de poder, real ou percebido, entre agressor e vítima” (DAWKINS, 1995;

OLWEUS, 1993 apud ESPERON, 2004).

Com o avanço das pesquisas realizadas, a partir das quais foi constatado que

um em cada sete alunos já havia se envolvido em casos de bullying de alguma

forma, o governo norueguês aprovou a campanha nacional anti bullying, baseada

nos estudos de Olweus, conseguindo reduzir, no ano de 1993, aproximadamente

metade das ocorrências de bullying no país. (FANTE, 2005)

Esse fenômeno, no entanto, não é identificado de forma única em todos os

países. Na Noruega e na Dinamarca é conhecido como “Mobbing”, que significa

tumultuar, na Suécia e Finlândia é utilizado o termo “Mobbning”. Na Espanha é

conceituado como “intimidación”, na Itália como “prepotenza” e no Japão utiliza-se o

termo “yjime”. (FANTE, 2005)

Segundo Ana Beatriz Barbosa Silva:

Se recorrermos ao dicionário, encontraremos as seguintes traduções para a palavra bully: indivíduo valentão, tirano, mandão, brigão. Já a expressão bullying corresponde a um conjunto de atitudes de violência física e/ou psicológica, de caráter intencional e repetitivo, praticado por um bully (agressor) contra uma ou mais vítimas que se encontram impossibilitadas de se defender. Seja por uma questão circunstancial ou por uma desigualdade subjetiva de poder, por trás dessas ações sempre há um bully que domina a maioria dos alunos de uma turma e 'proíbe' qualquer atitude solidária em relação ao agredido. (2010, p. 21)

Conclui, ainda, a mesma autora, que “o abuso de poder, a intimidação e a

prepotência são algumas das estratégias adotadas pelos praticantes de bullying (os

bullies) para impor sua autoridade e manter suas vítimas sob total domínio”.

(BARBOSA SILVA, p. 21)

Cléo Fante define o bullying como:

[...] o desejo consciente e deliberado de maltratar outra pessoa e colocá-la sob tensão; termo que conceitua os comportamentos agressivos e anti-sociais, utilizado pela literatura anglo-saxônica nos estudos sobre o problema da violência escolar (2005, p. 28)

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Segundo Lopes Neto (2005, p. 166), o fenômeno bullying pode ser

classificado em três estilos: o bullying direto, praticado por meio de assédios,

agressões físicas, apelidos, ameaças, ofensas verbais e roubos; o bullying indireto,

caracterizado por atitudes de indiferença, difamação, preconceito, isolamento e, por

fim, o cyberbullying, envolvendo intimidações eletrônicas difamatórias,

ameaçadoras, assediadoras e discriminatórias, feitas por meio de celulares e da

internet.

Apesar de seus desdobramentos e variações, Mark Cleary (2002 apud

BOTELHO, 2007 p. 36) explica que o bullying apresenta, basicamente, cinco

características específicas: o abuso de poder, comportamento repetido e constante,

planejamento dos atos pelo agressor, dificuldade de defesa das vítimas e de

adaptação social para os agressores.

Lélio Braga Calhau, Promotor de Justiça do Ministério Público do Estado de

Minas Gerais, destaca também a possibilidade de o fenômeno bullying ocorrer tanto

entre pessoas que ocupam o mesmo nível social escolar, numa posição horizontal,

como aluno-aluno, bem como entre as relações de autoridade e hierarquia

diferentes, verticalmente, como professor-aluno (2009, p. 49)

Diante de tal preceito, fica evidente a possibilidade de o fenômeno ocorrer

também em outros ambientes além das instituições de ensino, como na esfera

familiar, por exemplo, nas relações de autoridade entre pais e filhos (relação

vertical), ou entre irmãos (relação horizontal).

A fim de traçar um conceito mais amplo do fenômeno, Ana Beatriz Barbosa

Silva (2010, p. 145) afirma que todas as pessoas já foram ou serão vítimas de

bullying em algum momento de suas vidas, e explica:

Isso ocorre em função da própria natureza humana: somos seres essencialmente sociais, e onde há relações interpessoais sempre haverá disputa por liderança e poder. É claro que existem lideranças que se estabelecem de forma positiva e acabam por trazer benefícios a todos. Esse é o poder exercido pelo e para o bem da humanidade. No entanto, o poder almejado e estabelecido pelos bullies nunca tem tais propósitos altruístas. Eles visam ao poder sempre em benefício próprio, seja para se divertir ou simplesmente para maltratar outras pessoas que, de maneira covarde, são transformadas em “presas”. (BARBOSA SILVA, 2010, p. 145)

Assim, o fenômeno bullying pode ser compreendido como uma rejeição a

ordem da sociedade que priva aqueles considerados diferentes e inferiores de seus

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direitos de igualdade. As diferenças encontradas pelo agressor, em indivíduos que

não fazem parte de seu grupo, são apenas pretextos para maltratá-los, e não

verdadeiros motivos (CHALITA, 2008, p. 53).

15

22.. BBUULLLLYYIINNGG

Bullying é um fenômeno bem antigo, embora tal palavra não seja encontrada

nos dicionários da língua portuguesa, pois tornou-se muito falada em todo cenário

brasileiro, principalmente no contexto educacional no final da década de 90.

A construção da palavra Bullying segue-se da seguinte forma: "Bull", que

significa touro em inglês, a mesma dinamizou-se criando um sentido corrompido,

estilo jargão, ou seja, "Bully" ou "Bullie", que ganhou conotação agressiva.

Poderíamos chamar de Bullying, qualquer ato de agressão em repetição a uma ou

mais pessoas dentro de um mesmo cenário, ou não; insultar, zoar, apelidar de forma

pejorativa, bater, empurrar, chutar, tomar sempre da vítima, irritar, humilhar, excluir,

ignorar, desprezar, discriminar, chantagear, perseguir, abusar, assediar, e etc., mas

a industrialização nacionalista adotou da Inglaterra o termo verbalizado Bullying,

talvez por ser linguisticamente mais estético. (MICHAELIS, 1998)

Longe de ser algo a ser copiado por uma suposta beleza, o Bullying é um

fenômeno monstruoso que precisa ser banido da nossa sociedade. O Bullying é um

vilão sem escrúpulos, ao contrário da ideologia "Robinhoodiana", as ações

"Bullyingnianas" visam destruir, esfacelar ás suas vítimas; crianças, adolescentes,

jovens, adultos, independentes de idade, deficiências físicas e cognitivas, quanto

mais frágeis e desprotegidas, melhor.

De acordo com Rebelo Jr. (2007), o Bullying começou a ser pesquisado cerca

de vinte anos atrás na Europa, quando se descobriu o que estava por trás de muitas

tentativas de suicídio entre adolescentes. Sem receber a atenção da escola ou dos

pais, que geralmente achavam as ofensas bobas demais para terem maiores

consequências, o jovem recorria a uma medida desesperada. Porém, descobriu-se

que Bullying é um fenômeno mundial tão antigo quanto a própria escola. Apesar dos

educadores terem consciência da problemática existente entre agressor e vítima,

poucos esforços foram despendidos para o seu estudo sistemático até princípios da

década de 80. Um dado alarmante, é que este mal vem se disseminando largamente

nos últimos anos, atingindo faixas etárias cada vez mais baixas, como crianças dos

primeiros anos de escolarização.

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Para ilustrarmos melhor o fenômeno em discussão citar-se-á Carneiro (2010,

P. 153), em seu livro LDB Fácil, que explica:

Os primeiros estudos do fenômeno surgiram na década de 70, em países nórdicos, especialmente na Suécia e Noruega. Daí, as pesquisas se estenderam a toda a Europa. No fim da década de 90, o Brasil se deu conta de que o problema da violência psicológica e da brutalidade física entre alunos assumia aspectos dramáticos. A escola tinha mais um grave problema a enfrentar cuja configuração se encorpava". (CARNEIRO, 2010, p.153).

Segundo pesquisas, o efeito Bullying avança freneticamente por todos os

ambientes da sociedade, mas principalmente nos Níveis e Modalidades do Ensino.

Como processo embrionário, o Bullying substancia-se cada vez mais, através da

sistematização educacional, não a limites, pelo contrário, o que se percebe é uma

perenidade, tanto para o agredido, caso ele não seja destruído literalmente no

âmbito físico e cognitivo, como para o agressor, que até mesmo pode se tornar uma

futura vítima pela lei do mais forte.

Para Rebelo Jr. (2007), Bullying é diferente de uma brincadeira inocente, sem

intenção de ferir. São atitudes hostis, que violam o direito à integridade física e

psicológica e à dignidade humana. As vítimas se sentem indefesas, vulneráveis,

com medo e vergonha, o que favorece o rebaixamento de sua auto-estima e a

vitimização continuada e crônica. Essa forma de violência, muitas vezes interpretada

como brincadeiras próprias da idade, traz uma série de danos, que se refletem não

apenas no processo de aprendizagem e socialização, mas, sobretudo, na saúde do

individuo.

O fenômeno Bullying consegue contaminar todos os contextos da sociedade,

o que o torna astronomicamente preocupante.

O fenômeno Bullying não escolhe classe social ou econômica, nas escolas públicas ou privadas, ensino fundamental ou médio, área rural ou urbana. Está presente em grupos de crianças e de jovens, em escolas de países e culturas diferentes". (CHALITA, 2008, p.81).

Percebe-se o grau de intensidade do efeito Bullying na sociedade quando o

analisamos dentro da perspectiva em foco. O indivíduo desde a tenra idade passa a

ser agredido, sendo condicionado por toda a fase infantil, até chegar à adolescência

e juventude, levando-o a se tornar um cidadão com sérios traumas, que se não

17

forem tratados o levará a problemas dos mais variados que se possa imaginar,

desde uma pequena cefaleia até a ação suicida. A médica Ana Beatriz Barbosa

Silva (2010) em seu livro, Bullying, Mentes Perigosas na Escola, faz uma relação de onze

doenças geradas também pelo Bullying:

1) Sintomas Psicossomáticos: Os pacientes tendem a apresentar diversos sintomas físicos, entre os quais podemos destacar: cefaleia (dor de cabeça), cansaço crônico, insônia, dificuldades de concentração, náuseas (enjoo), diarreia, boca seca, palpitações, alergias, crise de asma, sudorese, tremores, sensação de "nó" na garganta, tonturas ou desmaios, calafrios, tensão muscular, formigamentos; 2) Transtorno do pânico: O indivíduo é tomado por uma sensação enorme de medo e ansiedade, acompanhada de uma série de sintomas físicos (taquicardia, calafrios, boca seca, dilatação da pupila, suores etc.), sem razão aparente; 3) Fobia escolar: Caracteriza-se pelo medo intenso de frequentar a escola, ocasionando repetências por faltas, problemas de aprendizagem e/ou evasão escolar; 4) Fobia Social (Transtorno de Ansiedade Social - TAS: Quem apresenta fobia social, também conhecida por timidez patológica, sofre de ansiedade excessiva e persistente, com temor exacerbado de se sentir o centro das atenções ou de estar sendo julgado e avaliado negativamente; 5) Transtorno de Ansiedade Generalizada (TAG): É uma sensação de medo e insegurança persistente, que não "larga do pé"; 6) Depressão: Trata-se de uma doença que afeta o humor, os pensamentos, a saúde e o comportamento; 7) Anorexia e Bulimia: Os transtornos alimentares mais relevantes em nosso contexto sociocultural são a anorexia e a bulimia nervosas; 8) Transtornos Obsessivo-Compulsivo (TOC): Popularmente conhecido como "manias", o transtorno obsessivo-compulsivo se caracteriza por pensamentos sempre de natureza ruim, intrusivos e recorrentes (obsessões), causando muita ansiedade e sofrimento; 9) Transtorna do Estresse Pós-Traumático (TEPT): Pessoas que passaram por experiências traumáticas como vivenciar a morte de perto, acidentes, sequestros, catástrofes naturais, que lhes trouxeram medo intenso, podem estar sujeitas a desenvolver o TEPT. Este transtorno se caracteriza por ideias intrusivas e recorrentes do evento traumático, com flashbacks (como se fosse um filme) e lembranças de todo o horror que os abateu; 10) Esquizofrenia: Popularmente conhecida como psicose ou loucura, é uma doença mental que faz com que o indivíduo rompa a barreira da realidade e passe a vivenciar um mundo imaginário, paralelo; 11) Suicídio e homicídio: Ocorrem quando os jovens-alvos não conseguem suportar a coação dos seus algozes. Em total desespero, essas vítimas lançam mão de atitudes extremas como forma de aliviar seu sofrimento. (SILVA, 2010, p. 25-32).

Entende-se que não se esgota os quadros patológicos quanto o efeito bulista,

mas a relação acima sinaliza, de forma bem panorâmica as possíveis sequelas que

podem estigmatizar o indivíduo que de alguma forma sofreu ás práticas bulistas.

Naturalmente que não se propõe aqui afirma que quaisquer uns desses quadros

patológicos são obrigatoriamente por consequências bulistas, mas as probabilidades

existentes de deflagrarem-se esses transtornos durante a vida de um indivíduo-alvo-

bulista são gritantes, pois os mesmos são indivíduos que passam a incorporar à

18

baixa auto-estima, fragilizando-os, tornando-os assim vítimas em potencial aos

praticantes do Bullying.

É de suma importância mencionar que Bullying à semelhança de outros

comportamentos agressivos é identificado pela capacidade de magoar alguém e que

a vitima é alvo do ato agressivo de forma constante.

Três fatores que normalmente o identificam como praticantes do Bullying são:

1. O mal causado a vitima não resultou somente de uma provocação,

mais várias ações que se identificam como provocações.

2. As intimidações e a vitimização de outro são com regularidade.

3. Geralmente os agressores são mais fortes fisicamente, acaba que as

vitimas geralmente não estão em posição de defesa.

Sendo Assim, são classificados cinco tipos de Bullying.

1. Físico - Recurso à violência física.

2. Verbal - Recurso à violência verbal.

3. Relacional/Racial - Exclusão de grupos sociais / Racismo.

4. Sexual - Utilização de comentários sexuais e até mesmo contatos

sexuais.

5. CyberBullying: Difamação pelos recursos eletrônicos. (Orkut, MSN, MY

SPACE...).

O Bullying é uma prática de violência física e psíquica, usamos aqui o

conceito de violência utilizado por Teles e Melo (2002, p.15), que diz.

[...] Violência, em seu significado mais frequente, quer dizer uso da força física, psicológica ou intelectual para obrigar a outra pessoa a fazer algo que não está com vontade; é constranger, é tolher a liberdade, é incomodar, é impedir a outra pessoa de manifestar seu desejo e sua vontade, sob pena de viver gravemente ameaçado ou até mesmo ser espancada, lesionada ou morta. É um meio de coagir, de submeter outrem em seu domínio, é uma violação dos direitos essenciais do ser humano.

19

Vendo por esta ótica, a violência pode ser compreendida como uma forma de

restringir a liberdade de uma pessoa, reprimindo e ofendendo física ou moralmente.

"Violência interpessoal é o termo empregado para indicar a pratica da violência entre

pessoas que se conhecem". (TELES e MELO, 2002, p.22).

A violência é uma das responsáveis pelo Bullying, pois este fenômeno esta

relacionado com as dificuldades emocionais de cada agressor. No quadro familiar

dos agressores há sempre uma história de violência associada, ou seja, a criança

com comportamentos agressivos convive com a violência de perto. (DIOGO e VILA,

2009, p.3).

Pelo constante quadro de violência em casa, ela é a única forma que os

agressores conhecem como dialogo. Estes indivíduos não têm acompanhamento

familiar necessário que agreguem valores para conseguirem lidar com adversidades

e outros tipos de problemas. Geralmente existem três tipos de pessoas envolvidas

nessa situação: O espectador, a vítima e o agressor.

22..11 EEffeeiittoo eelláássttiiccoo

As vítimas do Bullying podem reagir de duas formas as perseguições sofridas:

- Desenvolvendo a Resiliência.

- Desenvolvendo a Baixa Alto-Estima.

Tratar-se-á aqui somente a questão da resiliência, que significa "a capacidade

concreta de retornar ao estado natural de excelência, superando uma situação

critica". (GRAPEIA, 2011).

Silva (2010, p. 91) chama esse processo de "Efeito Elástico", que seria o

indivíduo a comprimir-se pelo efeito de todas as babáreis bulistas até se soltar, com

toda a força, toda energia, como um elástico.

A autora cita personagens famosos como, por exemplo, Michael Phelps,

nadador norte-americano, Kate Winslet, atriz britânica, Tom Cruise, ator norte-

americano, Madonna, cantora norte-americana, David Beckham, Jogador de futebol,

Steven Spielberg, produtor e diretor de cinema norte-americano e Bill Clinton, ex-

20

presidente dos Estados Unidos da América. Todos esses grandes personagens

passaram pelas torturas bulistas, mas conseguiram vencer todas as adversidades

que lhes foram impostas e, se tornaram pessoas de grande destaque internacional.

(SILVA, 2010, p.91).

Percebe-se através dos relatos acima que o ser humano tem condições de

superação estupendas, mas deve-se observar também o contexto social em que,

por exemplo, essas personalidades encontravam-se; a Família, Escola, Governo, os

níveis: Econômico, Político e Social. No Brasil com certeza se procurarmos,

encontraremos indivíduos que venceram todas as formas de Bullying, que possamos

imaginar, mas será que atingiram tal fama dos personagens citados, será que os

personagens em discussão alcançariam tal fama aqui no Brasil? Nunca

descobriremos, mas com certeza isso se tornaria irrelevante, pois acredito que

mesmo o sucesso não consiga apagar ou desistigmatizar as vítimas do Bullying,

prova disto é a própria necessidade de externar suas emoções guardadas. Embora

possa ser um incentivo para alguns que estejam passando por algum processo de

agressão bulista, é bom que o indivíduo vença essas barreiras não pelo que ele

pode ser, mas sim pelo que ele é; um ser humano, que precisa ser respeitado e

amado acima de tudo.

22..22 AA EEssccoollaa ccoommoo uummaa mmiiccrroo--ssoocciieeddaaddee

Se pensarmos na Escola como uma Micro-sociedade, veremos que a

comunidade escolar tende a reproduzir a sociedade como um todo.

A escola representa o olhar da sociedade e seus preconceitos.

No sistema escolar, encontramos outro micromundo, uma subdivisão denominada universo dos estudantes. Infelizmente, em grande parte das escolas, sejam elas públicas ou particulares, deparamo-nos com uma hierarquia que quase reproduz os sistemas de castas das sociedades mais desiguais. (SILVA, 2010, p.79).

Os jovens que frequentam a escola correspondem a grupos sociais que

estabelecem uma visão de mundo diferente uns dos outros e a reprodução da

exclusão se dá por questões que vai desde convicções religiosas como físicas.

21

Segundo Silva (2010), neste micromundo que é a escola existem arquétipos

como "beleza", que se baseia em questões físicas, o que lhes conferem grande

poder de influência sobre a maioria dos estudantes. Os neutros correspondem ás

meninas e meninos, que por temer a estratégia social, tentam se associarem com os

ditos populares, para se manterem perto dos ídolos da escola, mesmo sem fazer

parte da rede de amizade intima com os mesmos, reproduzem assim, o modelo de

exclusão, pois evitam conversar com os ditos excluídos, para não desagradar e

perder uma espécie de vinculo com os populares do micromundo.

Ainda segundo a autora, os excluídos são aqueles que acabam fugindo ao

padrão estabelecido pela comunidade escolar, que se baseia em arquétipos que

padronizam o que é "belo" ou diz o que é "feio", ou seja, são rotulados por serem

"diferentes", mostrando o não respeito pela diversidade cultural. Por conta disso, são

alvos prediletos para o Bullying, quase automaticamente, exercem o papel de

vitimas, nesse cenário que é o universo escolar, ou seja, a sociedade é construtora

de valores, ditando o que devem vestir para ser "legal", estimulam a massificação de

modos de pensar e agir, levando a uma fácil manipulação de costumes, criando ou

recriando coisas que são próprias da sociedade, como o preconceito e intolerância

em relação aos que não se encaixam no perfil dito "diferente", criando uma relação

de etnocentrismo, de um grupo que dita o que se deve fazer.

22..33 OO BBuullllyyiinngg ssoobb oo oollhhaarr ddoo eedduuccaaddoorr

Cada vez mais o problema da violência nas escolas preocupa, tanto

educadores como educandos. As agências de ensino tentam de diversas as formas

se protegerem através de recursos mais variados, inclusive recursos que a

tecnologia nos pode oferecer. Câmeras de vídeo são estaladas em pontos

estratégicos, crachás eletrônicos e até seguranças disfarçados são contratados, na

tentativa de inibir a violência nas escolas particulares, enquanto que as escolas e

universidades públicas buscam através de mecanicidade mais simplistas também

reagir às práticas bulistas. Talvez tais mecanismos possam apresentar alguns

resultados, mas sabe-se que Bullying escolar a muito atravessou as barricadas

escolares e universitárias. Não é nada difícil localizar nas a mediações das

22

instituições educacionais como, por exemplo; lanchonetes, padarias, esquinas, em

fim, estabelecimentos públicos, ações relacionadas à violência estudantil. (REBELO,

2011).

Parecem-nos comum os noticiários televisáveis que apresentam quadros das

mais variadas cenas de violência nas escolas e faculdades no Brasil. Professores

sendo ameaçados e até agredidos por alunos, alunos se atacando nas mais

variadas formas que possamos imaginar.

Dentro desse contexto decadente encontra-se a pessoa do educador. Como o

educador e a escola encaram e se mobilizam diante do problema da violência

escolar?

22..44 AA eessccoollaa nneessttee ccoonntteexxttoo

Stephenson e Smith (1989) descobriram uma variedade de fatores no

ambiente escolar que podem contribuir para o Bullying. A seguir alguns desses

fatores:

- Alta rotatividade de professores.

- Crianças não são tratadas como individuo de valor.

- Professores apontando e gritando.

- Desestimular os alunos a delatar outros.

- Inexistência de política antiBullying.

- Inexistência de procedimentos claros para reportar e lidar com

incidentes relacionados ao Bullying.

- Agressões ignoradas por funcionários da escola.

- Funcionários que humilham alunos diante dos colegas.

23

Ou seja, o clima social da escola e a qualidade da supervisão oferecida pela

mesma são muito importantes.

Um ambiente escolar em que faltam afeto e aceitação para todos os alunos é mais passível de abrigar problemas relacionados ao Bullying e a questão de disciplina. Além do mais, a escola que não tem altas expectativas de comportamento dos alunos e uma política de repreensão eficiente está sujeita a criar um ambiente nos quais os bullies prosperam. (BEANE, 2010, p.55).

A escola precisa decodificar os acontecimentos dentro da sociedade e saber

transferir para os alunos questões mais humanas do que simplesmente do currículo

escolar, pois este tipo de ensino coisifica os alunos, enquanto o ensino que tem um

bom clima social estimula os alunos a reflexões do seu papel dentro do contexto

escolar e social uma educação não só para o mercado de trabalho mais uma

educação critica que desperta para o mundo a partir do respeito ao outro e pela

dignidade humana entender que todos possuem direitos e deveres e quando alguém

comete Bullying esta ferindo o direito do outro, seja o de liberdade de pensamento,

como a liberdade de ir e vir.

Entretanto, quando os pais buscam auxílio na escola e esta não responde adequadamente, a solução será procurar o Conselho Tutelar, que, de acordo com o Estatuto da Criança e do Adolescente em seu artigo 232, prevê pena para quem "submeter criança ou adolescente sob sua autoridade, guarda ou vigilância a vexame ou a constrangimento". No caso de o crime ser cometido por criança menor de 12 anos, o Conselho Tutelar tem a função de chamar a atenção dos pais e da criança. Se o autor for maior de 12 anos, o caso poderá ser levado à justiça, e o juiz determinará se a punição consistirá em advertência ou em prestação de serviço à comunidade. Se, porém, o crime for praticado por um adulto, a pena prevista é de seis meses a dois anos de detenção. (FANTE, 2005, p.78).

Repensar o papel de cidadania é dever da escola, portanto, estimular os pais

e alunos sobre o ato do Bullying é dizer chega a esta pratica que vem durante anos

destruindo e corroendo os alunos, tanto de instituições de educação pública quanto

particular. Pois o regimento Interno Escolar, que serviria de parâmetro para as

normas de convivência dentro da escola, deve dialogar com o Estatuto da Criança e

do Adolescente (ECA), não esquecendo, portanto suas especificidades e demandas

sociais de acordo com a sua realidade.

24

33 OO PPAAPPEELL DDOO PPRROOFFIISSSSIIOONNAALL DDEE EEDDUUCCAAÇÇÃÃOO FFRREENNTTEE AAOO BBUULLLLYYIINNGG

Todos sabem que o docente tem uma enorme influência sobre seus alunos. A

este docente, Middelton-Moz (2007, p. 59), denomina de "cuidador". Ainda com o

autor, a interação da criança com seu principal cuidador na escola, é a maior

proteção contra comportamentos agressivos posteriores. Esse relacionamento é o

alicerce para o desenvolvimento de vínculo e de empatia, regulando e equilibrando

as emoções e a capacidade de aprender.

Porém, uma questão visível em muitas realidades educacionais, que é a de

que apesar de reconhecerem a existência do Bullying, muitos professores e diretores

de escolas públicas e privadas ainda têm dificuldade em lidar com o problema. A

falta de tempo e a grande quantidade de estudantes nas salas de aula não permitem

que esses profissionais façam um acompanhamento individual de cada aluno.

Considera-se, portanto, que cada escola deveria contar com uma equipe de

psicopedagogos que pudesse atuar junto aos estudantes, pois Diretores e

coordenadores muitas vezes não se mostram preparados para agir nesses casos.

Conforme Beauclair (2004, p.1),

[...] o psicopedagogo cuida de questões que transversalizam os diferentes momentos do aprender, que devem envolver as famílias e o meio sociocultural. A psicopedagogia se posiciona em observar o sujeito aprendente como um organismo biológico, afetivo, cognitivo, social e cultural. Com isso, busca conhecer o sujeito como ser transcendente que se constitui como pessoa, a partir do biológico e de suas múltiplas interações com o mundo, com o saber, com o conhecimento.

De acordo com Oliveira, o saber enxergar e aceitar a diversidade do outro,

assim como encontrar tempo para e espaço para escutá-lo, vem a ser condição de

aprendizagem e de desenvolvimento saudável. Neste sentido também, a construção

da própria identidade da Psicopedagogia e do psicopedagogo depende do valor que

é dado à aprendizagem em equipe, sempre aberta às transformações do seu tempo.

Sendo assim, na escola, o profissional de educação deve ter o entendimento

do Projeto Político Pedagógico, do Regimento e de toda a estrutura física e

documental da instituição, intervindo nas diferentes instâncias que veiculam o

25

conhecimento, como este transita, como é apresentado aos alunos, avaliado,

transformado, enfim, analisando os processos e as modalidades de ensinar e de

aprender. Além disso, deve observar como ocorrem as relações de poder, o que

interfere nas relações interpessoais dos diferentes grupos e como estes procuram

dar conta dos conflitos do dia-a-dia.

"A psicopedagogia se envolve no desenvolvimento cognitivo, com o claro objetivo de conhecer como o sujeito aprende, buscando compreender, também, os motivos que fazem com que alguns sujeitos não aprendam." (BEAUCLAIR, 2004, p. 43).

Ainda com Beauclair (2006), a Psicopedagogia por ser um campo do

conhecimento interdisciplinar pode contribuir, seja no sentido de promover a

aprendizagem ou mesmo tratar de distúrbios, nesses processos instalados na

própria instituição, a qual cumpre uma importante função de socializar os

conhecimentos disponíveis, promover o desenvolvimento cognitivo e a construção

de regras de conduta, dentro de um projeto social mais amplo.

Em síntese, a atuação do educador na escola deve ser feita frente aos

educadores e deve visar uma conscientização da problemática existente entre

agressor e vítima, encontrando soluções para prevenção do Bullying e intervenção

deste fenômeno, a fim de conter sua disseminação.

Muitos profissionais da educação se assustam quando "aquela simples

brincadeira" entre grupos é sinalizada como Bullying. Então é papel do educador é

também atuar com intervenções que minimizem este ato de crueldade tais como,

projetos ou miniprojetos na escola sobre valores, respeito mútuo, paz, tolerância, ser

diferente, etc. Oficinas, teatro, ações que permitam aos alunos exporem seus

medos, suas opiniões sobre o assunto, como uma espécie de terapia ocupacional,

ou seja, transformar os alunos em aliados contra esse mal. Monitorar os vários

espaços da escola, mesmo fora dos intervalos entre as aulas. E policiar as formas

de ações, tendo cuidado, por exemplo, com a forma como um professor se dirige a

um aluno, evitando apelidos, termos de menosprezo, etc., pois o educador é quem

está na linha de frente, quem estabelece contato direto com o aluno e, muitas vezes

por falta de cuidado com essa questão, o aluno teme conversar preferindo se calar.

26

O educador deve criar a conscientização sobre o Bullying escolar para ajudar

a identificação dos bullies, cabendo aos profissionais da escola a leitura e pesquisa

sobre tal assunto.

Para a intervenção e prevenção do Bullying a equipe escolar deve, estimular

o diálogo dentro da escola, mudando o ambiente escolar, para que os alunos

percebam que todos devem ajudar no combate a violência na escola, repreender a

violência e participar de forma ativa na cidadania. Implantar um programa de

prevenção e trabalhar sobre o viés de estratégias psicopedagógicas baseadas em

princípios humanos, como tolerância, respeito ás diferenças, e estender a toda a

comunidade escolar incluindo os pais dos alunos. O trabalho do psicopedagogo

deve ser direcionado para a inclusão, a construção da autoestima e pela valorização

das diferenças; a criança não se vê como estigmatizada, mais aceita com

naturalidade que todos possuem igualdade dentro do grupo, apesar das diferenças

étnicas ou religiosas etc.

O educador necessita demonstrar junto à escola, que a violência não ajuda

em nada o ser humano, mais sim, o respeito a valores que irão criar uma sociedade

fraterna e solidaria.

A escola de hoje sofre a consequência dessa decadência de valores que afetou nossa sociedade durante os últimos anos. Não existe uma consciência clara, nem por parte da sociedade nem de muitos professores, sobre o que realmente significa a educação e como deve ser enfocada. (GOMEZ, 2000, p.43).

Os valores podem ser identificados a partir de juízos emitidos pelas decisões

e escolhas em determinadas situações problemáticas. A instrução educativa

seleciona como finalidade diferentes tipos de valores a que convém potencializar

frente a valores sociais como:

- Liberdade, justiça, verdade.

-Coerência e validade pessoal.

-Honestidade e fidelidade.

-Cooperação e solidariedade.

-Responsabilidade.

-Compreensão, amizade e respeito.

27

-Não-violência e paz.

Na programação de atividade é necessário organizar a aplicação de técnicas

de dinâmica para potencializar a cooperação, a convivência, o respeito, a

solidariedade, e a reflexão.

O educador no processo de conscientização de pais, professores e alunos,

devem fazer reuniões para tratar o assunto, também se pode usar como ferramenta

pedagógica o teatro lendo historias que de fundo tenham um conceito moral, para se

compreender o Bullying de outra forma. Para a prevenção do Bullying todos os

profissionais da escola precisam trabalhar em conjunto, o professor precisa estar

atento por ter uma relação diária com os alunos.

Muitas vezes, o aluno que não se adapta sofre dificuldade de relacionamento

com o ambiente, que se traduz em problemas de relacionamento pessoal com os

educadores e colegas, por tal motivo o psicopedagogo é extremamente importante,

pois tem conhecimento para diminuir os conflitos deste aluno.

A escola precisa deixar claro que não se aceita o Bullying naquela instituição,

e sim agregar a todos os alunos a participarem de brincadeiras sem nenhum tipo de

exclusão, neste sentido o psicopedagogo evidencia dentro destas praticas, que toda

a comunidade pertencente a escola deve colaborar na transformação de um

ambiente de paz.

Na escola, a criança necessita encontrar relacionamentos afetivos e a

segurança que lhe permitam conseguir uma autonomia, com isso ela vai adquirindo

conhecimento e interiorizando atitudes de socialização e de relacionamento com

adultos e colegas.

33..11 PPrrooggrraammaass ee mmeeddiiddaass eedduuccaattiivvaass

Os pais, ao deixarem seus filhos em instituições de ensino, confiam e

esperam que esta irá cumprir suas funções de guarda e preservação dos menores,

tutelando sua integridade física e moral. Porém, diante das relações sociais que se

28

estabelecem nos ambientes escolares, é inegável o conhecimento de que todos os

que ali se encontram estão suscetíveis ao bullying, já que tal conduta não se

demonstra uma novidade no meio social. Contudo, de acordo com a teoria do risco

que está presente na responsabilidade objetiva que a escola possui, esta tem a

obrigação de investir todo seu poder de vigilância, de modo que se demonstre

eficaz, pois somente assim conseguiria evitar as ofensas e danos àqueles que estão

sobre sua guarda, durante aquele determinado período.

Não está sendo retirada a responsabilidade dos pais para com os atos dos

filhos menores, estes continuam com todos os deveres e obrigações a eles impostos

como responsáveis legais dos jovens que encontram em sua autoridade e

companhia. De acordo com Gonçalves (2006, p. 158-159), diante da situação em

que é possível elencar mais de um responsável, há, então, uma concorrência de

responsáveis, nesse caso entre os pais e a instituição de ensino. Sendo que à

escola incumbe o dever puro de vigilância, e aos pais, além da vigilância, é imposta

a obrigação de formação educacional. Portanto, pode-se dizer que a

responsabilidade do educador influi uma educação anteriormente transmitida à

criança ou adolescente.

Como prestadora de serviços, uma instituição de ensino tem o dever de

guarda e vigilância, como já dito anteriormente, ficando integralmente responsáveis

por qualquer dano gerado ou sofrido por seus educandos. A prática de bullying

escolar, em razão da relação de consumo existente, além de ser responsabilidade

objetiva para com os danos emergidos de tal situação, também é dever da escola

intervir e prevenir contra tais problemas, com risco de incidir em defeito e/ou vicio da

prestação de serviço.

Fante (2005, p. 91) disserta que

a intolerância, a ausência de parâmetros que orientem a convivência pacífica e a falta de habilidade para resolver os conflitos são algumas das principais dificuldades detectadas no ambiente escolar. Atualmente, a matéria mais difícil da escola não é a matemática ou a biologia; a convivência, para muitos alunos e de todas as séries, talvez seja a matéria mais difícil de ser aprendida.

Porém, antes de desenvolver estratégias de combate e prevenção, a escola

tem que cumprir outra de suas expectativas, sendo esta a conscientização da

existência do problema, e principalmente a informação sobre as consequências para

com todos os personagens envolvidos na conduta do bullying.

29

Sob a ótica de Fante (2005, p. 91), outra questão a ser levada em

consideração é a realidade escolar de cada comunidade, ou seja, não deve-se

ignorar as características culturais daqueles que ali convivem. Por essa razão, a

autora defende a ideia de que todas as medidas educativas e preventivas contra o

bullying devem ser peculiares. O programa antiBullying deverá visar uma melhoria

da competência dos educadores, e, como principal função, o progresso na

“capacidade de interação social nas relações interpessoais”. Sendo que isso partirá

da premissa do incentivo a comportamentos positivos, cooperativos e solidários,

tanto de educadores como de educandos.

Como um programa com medidas educativas, propriamente dito, Fante (2005,

p. 94-95) traz o “Programa Educar para a Paz”, o qual foi elaborado baseando-se em

experiências de magistrados e diversas pesquisas de campo. Este programa tem

como principais objetivos a conscientização dos educandos para com o bullying,

onde seria feita uma análise das situações ocorridas na própria instituição com o

intuito de chegar a conclusão dos motivos causadores de tais condutas; a

explanação dos valores humanos, para que os envolvidos consigam visualizar as

implicações negativas que surgem da prática desta conduta, e, com isso, aprender a

erradicá-las; e, contudo, surja, como iniciativa dos próprios educandos, a

transformação da violência em uma realidade de paz nas escolas.

Calhau (2009, p. 109-110) ainda elenca outra medida a ser tomada pelas

escolas, medida essa essencial para a solução do bullying escolar: a instituição deve

ter o apoio de pedagogos e psicólogos em seu quadro profissional, assim como

contar com a ajuda do Conselho Tutelar. O envolvimento desses profissionais nas

iniciativas do combate ao bullying fornecerá orientações que irão guiar as medidas a

serem tomadas em cada caso. Sendo que, haverão casos excepcionais onde um

nível de gravidade da lesão se mostrará mais acentuado, e, como consequência

disso as medidas aconselhadas não foram o suficiente para controlar a situação.

Diante desse fato deve a escola acionar a polícia e o Ministério Público, porém,

deve-se ter consciência de que o acionamento desses profissionais deverá ocorrer

somente em última instância, diante de situações graves.

30

33..22 FFoorrmmaass ddee ccoommbbaattee

Não há mais de se negar a existência da violência dentro do ambiente

escolar, assim como o uso de meios legais para combater a prática do bullying.

Porém, antes de levar para o judiciário deve-se tentar combater através de outros

meios, talvez até mais eficientes que a própria intervenção do âmbito judicial. Como

trata-se de bullying escolar, Rolim (2010, p.114) disserta que

[…] seria interessante referir que a escola pode oferecer uma contribuição decisiva ao enfrentamento da violência, prevenindo um conjunto importante de suas manifestações, prevenindo um conjunto importante de suas manifestações na vida adulta. Com efeito, as evidencias acumuladas nas ultimas décadas não deixam margem para duvidas a respeito das possibilidades generosas oferecidas pela Escola no que se refere à construção de normas de convivência e respeito e, por decorrência, para a prevenção da violência e do

crime.

Diante disso, Albino e Terêncio (2009) abordam a questão de como que os

profissionais da educação, e todos aqueles que estejam envolvidos com a prática do

bullying escolar, devem fazer para combater essa violência. Em primeiro momento,

as instituições de ensino devem ter conhecimento total desse fenômeno, para

somente então erradicá-lo, e não mais fazer confusão entre atos infracionais e atos

de indisciplina1 .

Porém, pode ser estabelecida uma relação entre o ato de indisciplina e o ato

infracional, uma vez que, se ignorado um ato de indisciplina estar-se-á dando

margem para que condutas mais graves aconteçam, podendo caracterizar a conduta

do bullying e posteriormente o ato infracional. Por isso, Albino e Terêncio (2009)

estabelecem ser objetivo fundamental à questão social e educacional dentro do

ambiente escolar, devendo ser aplicadas políticas públicas que atuem com a

finalidade de prevenção para com os problemas de indisciplina escolar.

Para Albino e Terêncio (2009), é de suma importância que, antes de levar os

conflitos sociais da escola para o âmbito judicial, o estabelecimento desenvolva

normas que tenham intuito de prevenir e combater os excessos dos alunos.

1 Ato de indisciplina é o comportamento que, de alguma forma, compromete a convivência social e a

ordem no ambiente escolar. Este não caracteriza crime ou contravenção penal, e, portanto, divergente do ato infracional.

31

Podendo, e devendo, contar com o auxílio das famílias dos educandos para que o

correto cumprimento das medidas venha a se concretizar.

Albino e Terêncio (2009) concluem que a falta de intervenção da escola e da

família nos conflitos existentes dentro das instituições de ensino são motivadoras de

excessivas ações judiciais desnecessárias. O envolvimento do Poder Judiciário

poderia ser evitado com a adoção de estratégias de esclarecimento, formas de

prevenção e regras comportamentais que devem ser adotadas para uma saudável

convivência social.

Um exemplo do que pode ser realizado meio de ações interdisciplinares,

juntamente com o auxilio dos professores, famílias e da sociedade, seria estabeleer

uma série de objetivos, entre eles estão: instruir os docentes e a equipe pedagógica

para saber lidar com o problema; observar, analisar e identificar os personagens –

vítimas e praticantes – do bullying; desenvolver campanhas educativas, informativas

e de conscientização; integrar a comunidade nas ações multidisciplinares de

combate ao bullying; coibir atos de agressão, discriminação, humilhação e todo

comportamento que estimule a violência; realizar debates e reflexões a respeito do

assunto; a promoção de um ambiente escolar seguro e sadio com incentivo ao

respeito; desenvolver cartazes, gibis, vídeos, entre outros meios de conscientização

sobre o problema. Isso tem o intuito de informar todos aqueles que estejam

envolvidos, assim como as demais pessoas da sociedade, para que em uma ação

em conjunto possam contribuir para o combate e a prevenção do bullying.

Esses exemplo não são únicos no mundo, assim como acentua Fante (2005,

p. 92), são incontáveis as iniciativas contra a conduta do bullying no mundo. Faz-se

um apresentação de um sistema dinâmico e complexo, onde deverá ser analisado

as peculiaridades de cada local e cultura social dos envolvidos diretamente com o

problema. Com isso, nasce na escola o desenvolvimento de estratégias e ações que

devem ser adotadas diariamente e de forma contínua.

32

CCOONNSSIIDDEERRAAÇÇÕÕEESS FFIINNAAIISS

O presente estudo permitiu a partir do referencial teórico selecionado, analisar

as manifestações da agressão escolar configurada no fenômeno Bullying, buscando

compreender as nuances psicológicas acarretadas por ele, assim como, possíveis

programas educacionais, e assim todas as questões puderam ser respondidas.

Este trabalho buscou contribuir para a divulgação do Bullying e possibilitar

que novas propostas de atuação de combate a este fenômeno possam surgir.

Pudemos concluir que muitas escolas ignoram os casos de violência, por

medo de perder seus alunos-clientes. Outro aspecto preocupante é que muitas

instituições de classe, ao sugerir apoio psicopedagógico, tentam reforçar a tese de

que crianças agredidas podem ter uma propensão a isso - como se o problema

estivesse na vítima e não na instituição. É um mecanismo sutil dos colégios se

distanciarem do problema. Temos visto muitos casos onde a escola transfere a

culpa para a família e vice-versa. Não adianta os pais colocarem a culpa nas más

companhias e o colégio dizer que é o aluno que não sabe se defender e que a culpa

é dos pais.

A escola, em seu Projeto Político-Pedagógico, deve prever e aplicar, em sua

prática, uma intenção na construção de um projeto de vida, no qual as relações

interpessoais saudáveis entre professores, alunos e famílias sejam privilegiadas. Às

vezes, investe-se muito no planejamento de conteúdos e objetivos, mas acabam se

esquecendo das relações afetivas, e do acolhimento daquele aluno que chega pela

primeira vez à escola, cheio de sonhos e expectativas. Até então ele estava

acostumado a ser quase o centro das atenções; a partir dali vai ter que dividir isso

com 20 ou 25 ou 40 colegas. Essa criança vai ter que se adaptar ao jeito de ser do

professor e dos colegas, aos comentários, às piadas. Sendo assim, o

psicopedagogo na escola, exerce um papel fundamental na criação e no

aperfeiçoamento do clima relacional entre professores, alunos, funcionários e

famílias, muitas vezes, sendo necessário desmistificar a manifestação de

sentimentos primitivos como a inveja, a competição, que impedem a prática

educativa.

33

Finalizando, enfatiza-se que o Psicopedagogo pode fazer muita diferença

numa instituição, com uma escuta e um olhar mais sensível quanto às demandas de

professores, alunos e famílias. Não esquecendo que, grande parte das crianças e

dos adolescentes, reconhecem a escola como um lugar gostoso de estudo e de

encontros com colegas e professores.

É unânime que a criança que apresenta este problema (Bullying) deve ser

tratada e não punida, pois lidamos com jovens que sofrem, que não encontram

formas de se aproximar de seus iguais, que se percebem tão frágeis que têm de

mostrar o contrário e provar todo o tempo que são destemidos.

Acabar definitivamente com o Bullying, de acordo com Calhau (2009), pode

parecer uma utopia, em uma sociedade capitalista e individualista, onde o ter acaba

tendo mais valor do que o ser, mas é um desafio que nos inspira a lutar por um

mundo melhor, por uma sociedade mais justa, por um mundo melhor para deixarmos

para as gerações futuras e isso só poderá ser conseguido quando mais nenhuma

vítima do Bullying se esconder por trás de suas lágrimas, de seu sofrimento, de seu

silêncio.

Foi fundamental perceber, que a violência e a agressividade estão presentes

não só na escola, mas também no convívio familiar, que a prática parece ser comum

no dia-a-dia dos educandos, ainda que, aos docentes falte clareza sobre este

conceito.

Os fatores que colaboram para esta investigação são mais significativos por

serem apontados por vários autores que são: temperamento da própria criança, os

problemas na relação mãe-filho, isto é, os vínculos afetivos, as condições

socioeconômicas e o biológico.

Os adolescentes e jovens que se destacam pela hostilidade exagerada,

podem ter um histórico de conduta agressivo que remonta na idade precoce, como

no período da pré-escola.

Outro fator que deve ser observado, é que a família influencia através do

vínculo, do contato interacional, que seria a relação entre os seus membros, suas

eventuais psicopatologias e os desajustes dos pais ou do modelo educacional

doméstico e escolar.

34

Outros elementos que favorecem à conduta agressiva, são os ambientes

como: a televisão, os videogames, a escola e a sua situação socioeconômica.

Em contra partida, podemos ressaltar que os modelos citados não atingem

todas as pessoas por igual e nem submetem a mesma situação de risco.

Nos estudos sobre o aumento da violência e agressividade dos adolescentes,

notamos que eles passam por várias nuances que seriam ter pais como modelo e

como educadores, ou não. Em primeiro lugar vem a dissolução das famílias, que

seria a falência da função paterna (ou materno), a busca pelo prazer consumista,

que resulta em um exacerbada número de jovens sem rédeas, que os limitem..

Em segundo lugar, seria a dita liberdade incondicional sobre o falso rótulo do

progresso e do politicamente correto. Esta liberdade incondicional seria para aqueles

que vivem e sobrevivem, e muito bem, do “afã” juvenil em ir, comprar e beber. Hoje

em dia, os que sufocam a juventude não são os educandos ou os diretores da

escola, que lutam para que os jovens tenham uma vida de mais sucesso

profissional. Os que provocam essa a falência da juventude, são empresários da

noite, traficantes, as drogas e os costumes.

Outro fator seria a propaganda da valorização pelo “prazer” como a finalidade

de proporcionar prazer a si mesmo, prazer do consumo, do poder e de não poder

perder um minuto. A transformação de pessoas em falsos ídolos e de modelos de

vir-a-ser, é um dos fatores que estimulam à delinquência.

A falta de habilidades sociais e os traços antissociais dos pais são fatores

importantes para serem considerada uma família de risco. Pais com os traços anti-

sociais de personalidades, além de não serem uma boa transmissão de uma

imagem meritosa aos filhos, poderá ter dificuldades para dar amostras de aprovação

e incentivo para as boas atitudes. Estes pais não iram respeitar a autonomia e

espaço social, dos seus filhos, além de disciplinarem inadequadamente, com

excesso de permissividade quando ser mais fortes e exageradamente agressivos

quando não precisam.

A mãe, no que tange a falta de dever das responsabilidades e limites de seus

filhos, com atitudes superprotetoras, tão ou mais graves que seu oposto, a

negligência materna, resultado em adultos sem nenhuma tolerância às frustrações.

35

Pessoas sem tolerância à frustrações costumam tomar a força o que querem,

quando não conseguem, ficam adultos com alguma psicopatologia.

No caso dos pais separados, pesquisas mostram que o apoio mútuo está

diretamente relacionado à coesão familiar, sendo um elemento importante no bom

relacionamento entre mãe- filho-pai.

Na escola, se percebe que à violência e a agressividade sempre se faz

presente, desde as palmatórias e castigos físicos, que hoje foram abolidos.

Todavia, a prática do Bullying parece ser comum no dia–a-dia dos educandos,

ainda que aos docentes falte clareza sobre este conceito.

Sabemos que atualmente a escola tornou-se uma das preocupações

mundiais é motivo de vários estudos e pesquisas. As reflexões sobre as várias

formas de violência, que ocorrem nas escolas têm se destacado, dando importância,

inclusive, à violência simbólica.

Para que a Escola consiga reduzir a violência, precisamos conquista- la, pois

é na escola que os primeiros sinais de agressividade e de violência se manifestam

(entre os educandos).

Para que os docentes consigam alcançar bons resultados, na redução dos

comportamentos agressivos, eles devem desenvolver ações estratégicas que

envolvam toda a comunidade escolar, desenvolvendo com um grande interesse

entre os participantes: que passam a se sentirem mais responsáveis e

comprometidos com a Escola.

A estratégica da redução do Bullying deve ser um Programa eficaz, com

recursos didáticos e psicopedagógicos.

Só será possível combater a agressividade e a violência, quando houver

conscientização, planejamento, investimento, atitudes de compromisso e de

responsabilidade, cooperação e sobre tudo quando uma nova contracultura de PAZ,

for estabelecida..

Portanto, é preciso dar um basta nesta forma de violência, para que os

agressores juvenis de hoje não se tornem os criminosos de amanhã.

36

RREEFFEERRÊÊNNCCIIAASS BBIIBBLLIIOOGGRRÁÁFFIICCAASS

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