rio pesquisa 15 2011 - faperj · secretaria de estado de ciência e t ecnologia ... de cunho...

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ISSN

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983-1900

1 | Rio Pesquisa - nº 15 - Ano IV SUMÁRIO

EXPEDIENTEEXPEDIENTEEXPEDIENTEEXPEDIENTEEXPEDIENTE

Governo do Estado do Rio de JaneiroGoverno do Estado do Rio de JaneiroGoverno do Estado do Rio de JaneiroGoverno do Estado do Rio de JaneiroGoverno do Estado do Rio de JaneiroGovernador | Sérgio Cabral

Secretaria de Estado de Ciência e TSecretaria de Estado de Ciência e TSecretaria de Estado de Ciência e TSecretaria de Estado de Ciência e TSecretaria de Estado de Ciência e TecnologiaecnologiaecnologiaecnologiaecnologiaSecretário | Alexandre Cardoso

FFFFFundação Carlos Chagas Fundação Carlos Chagas Fundação Carlos Chagas Fundação Carlos Chagas Fundação Carlos Chagas Filho de Amparo àilho de Amparo àilho de Amparo àilho de Amparo àilho de Amparo àPPPPPesquisa do Estado do Rio de Janeiro � Fesquisa do Estado do Rio de Janeiro � Fesquisa do Estado do Rio de Janeiro � Fesquisa do Estado do Rio de Janeiro � Fesquisa do Estado do Rio de Janeiro � FAPERJAPERJAPERJAPERJAPERJPresidente | Ruy Garcia MarquesDiretor Científico | Jerson Lima SilvaDiretor de Tecnologia | Rex Nazaré AlvesDiretor de Administração e Finanças | CláudioFernando Mahler

3 | MÚSICAProjeto na UniRio recupera repertóriopara flauta pouco divulgado deFrancisco Mignone, um dos maisimportantes nomes da música eruditano País

6 | MEIO AMBIENTETecnologia inovadora garanteprodução de biocombustível a partirda reciclagem do óleo de cozinhausado, contribuindo para adespoluição do meio ambiente

11 | NUMISMÁTICAMuseu Histórico Nacional lançacatálogo de moedas gregas e alça anumismática brasileira a fonteimportante de pesquisa paraestudiosos do assunto

14 | SAÚDEUnisuam e Fiperj apostam na carnede rã para ajudar pós-lactantes asuperar erros do metabolismo e aalergia alimentar múltipla, queatingem cerca de 200 mil criançasanualmente, só no Brasil

18 | ESPORTENa Universidade Gama Filho, umgrupo de pesquisadores trabalha paraincrementar o ciclismo de competiçãofluminense e estimular a formação denovos atletas

21 | REPORTAGEM DE CAPAProjeto no Museu Nacional/UFRJajuda a população a reconhecermeteoritos, conhecidos como estrelascadentes

26 | TEATROPrograma de teatro na UniRio, Enfermariado Riso, leva alívio e alegria a criançasinternadas em hospitais do Rio

29 | PERFILMineiro da Zona da Mata, o reitor daUezo, Roberto Soares de Moura, abraçoua Farmacologia e a vida acadêmica e,agora, quer ajudar o País a formartecnólogos

33 | DESENVOLVIMENTOSUSTENTÁVELRio ganha o protótipo do primeiro ônibusdo País com a tecnologia flex GNV+Diesel,capaz de rodar tanto com gás naturalveicular (GNV) como com diesel,minimizando a emissão de poluentes

36 | MEDICINAPesquisadores do Hospital Antônio Pedro(Huap), da UFF, tentam identificar o padrãogenético da endometriose, doença comincidência aumentada resultante damudança de comportamento da populaçãofeminina

39 | ENTREVISTAReitor da UFRJ por oito anos, AloísioTeixeira, que deixa o cargo neste mês dejulho, faz um balanço de sua gestão àfrente da maior universidade públicafederal do País.

43 | ARTIGOEm artigo para a revista Rio Pesquisa, umgrupo de pesquisadores da UFRJ defende aascensão da �química verde� comooportunidade estratégica para o País

46 | REGIÃO METROPOLITANACoordenador do INCT Observatóriodas Metrópoles, Luiz César QueirozRibeiro afirma que a passagem demegaeventos pelo RJ oferece raraoportunidade para a implementaçãode um modelo de desenvolvimentoque promova um crescimentosustentável

51 | EDUCAÇÃOProjeto na UFF mobiliza equipemultidisciplinar, com o objetivo desensibilizar docentes e estudantes sobrea importância da preservação marinha

54 | INOVAÇÃOTECNOLÓGICAEstudo na Uezo aplica processoeletroquímico para remover erecuperar metais pesados contidosnos efluentes gerados pela indústriasiderúrgica

58 | FAPERJIANASÚnica empresa do País voltadaexclusivamente para o desenvolvimentode tecnologias para fabricação dearmas e munições não letais, queteve apoio da FAPERJ, recebe o prêmio�Faz Diferença 2010�.

60 | EDITORAÇÃOO Programa de Auxílio à Editoração(APQ 3), que contempla,aproximadamente, uma centena detítulos por ano, está com o segundoperíodo de inscrições aberto até o dia6 de outubro. A primeira janela deinscrições, encerrada em 26 de maio,recebeu 97 propostas.

Rio Pesquisa. Ano IV. Número 15

Redação | Danielle Kiffer, Débora Motta, PaulJürgens, Vilma Homero, Vinicius Zepeda e ElenaMandarim (estagiária)

Colaborou para esta edição | Flávia Machado

Diagramação | Mirian Dias

Mala direta e distribuição | Élcio Novis e VivianeLacerda

Foto de capa | Lélio Facó/Museu Nacional/UFRJ

Revisão | Ana Bittencourt

Tiragem |15 mil exemplares

Periodicidade |Trimestral

Distribuição gratuita |Proibida a venda

Avenida Erasmo Braga 118/6° andar - CentroRio de Janeiro - RJ - CEP 20020-000Tel.: 2333-2000 | Fax: 2332-6611

[email protected]

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33

Ano IV - nº 15 - Rio Pesquisa | 2EDITORIALEDITORIAL

As profundas e visíveis transfor-mações por que passa atual-mente o Rio de Janeiro vêm

atraindo um crescente número de es-pecialistas, pesquisadores, investidores,consultores e interessados em geral emdecifrar por que a cidade e, por exten-são, o Estado do Rio de Janeiro, trans-formou-se ao longo dos últimos anosem um dos mais dinâmicos polos deinvestimentos do País. Para a FAPERJe a comunidade científica, tal interessepelos processos transformadores da so-ciedade fluminense não representamuma novidade. Ao longo dos anos, aFundação vem apoiando estudos e pes-quisas que oferecem regularmente so-luções muitas vezes inovadoras para osproblemas e desafios que se impõemao Estado e a uma cidade que, histori-camente acostumou-se a ser a caixa deressonância do País.

Como atestam as reportagens que seseguem em mais esta edição de Rio Pes-

quisa, a comunidade científica fluminensecontinua mobilizada em torno das ques-tões relevantes que tocam não só o dia adia do cidadão, como também as pers-

reitor da maior universidade federal doPaís � a UFRJ �, Aloísio Teixeira, quedeixa o cargo neste mês de julho apósoito anos de gestão e dois mandatosconsecutivos. Para o professor e econo-mista, a cobertura oferecida pelo siste-ma educacional ainda é pequena no País.Ele defende que o Reuni � Programa de

Apoio a Planos de Reestruturação e Expan-

são das Universidades Federais � deixe deser um programa de governo para setornar uma política de Estado.

Na área da saúde, um estudo realizadona UFF procura identificar o padrãogenético da endometriose, uma doen-ça decorrente das transformações decomportamento das mulheres ao lon-go de décadas recentes. Em áreacorrelata, uma parceria da Unisuamcom a Fiperj pode oferecer uma alter-nativa àqueles que apresentam errosinatos do metabolismo e alergia alimen-tar múltipla, que, somente no Brasil,atingem cerca de 200 mil crianças anu-almente. Trata-se de uma �papinha�,cuja base é a carne de rã, de fácil diges-tão e com importantes propriedadesnutricionais. Boa leitura!

pectivas futuras para o Estado, com suapulsante e revigorada Região Metropoli-tana. Na Uezo, por exemplo, pesquisa-dores testam um processo eletroquímicodestinado a remover e recuperar metaispesados de efluentes gerados pela indús-tria siderúrgica. Outra iniciativa que levaa marca do pioneirismo e que tambémdiz respeito ao meio ambiente é a apre-sentação do primeiro ônibus flexGNV+diesel no Rio, que terá seus mo-tores testados nos laboratórios da Coppe,na UFRJ.

A Reportagem de Capa mostra como umprojeto desenvolvido no Museu Nacio-nal pode ajudar a população a distinguirmeteoritos que caem em território bra-sileiro de outros elementos encontradosna natureza. O perfil da edição conta atrajetória do farmacologista e pesquisa-dor de renome Roberto Soares deMoura, que trocou Minas pelo Rio naadolescência, passou por vários paísesdurante cursos de especialização e, ago-ra, dirige a Uezo � centro universitáriona Zona Oeste destinado a formar ostecnólogos de amanhã de que tanto pre-cisamos. O entrevistado, desta vez, é o

Foto: Divulgação/Emop

Para o coordenador do INCT Observatório das Metrópoles, LuizCésar Queiroz Ribeiro, a passagem da Copa do Mundo e dasOlimpíadas pelo Rio oferece a oportunidade de implementação

A pesquisa, motor das transformações

de um modelo de desenvolvimento que promova um crescimentosustentável. Obras como as do Complexo do Alemão (foto) devemcontribuir para isso. Confira mais detalhes na pág. 46.

3 | Rio Pesquisa - nº 15 - Ano IV

Uma herança levada aosom da flauta

Projeto na UniRio recuperarepertório pouco divulgado de um

dos mais importantes nomes damúsica erudita no País

Um dos maiores músicos eruditosbrasileiros do século XX, o com-positor Francisco Mignone (1897-

1986) deixou um vasto legado de obras paraorquestra sinfônica, ópera, coral e músicade câmara. O que poucos sabiam é que esseacervo tão diversificado ainda guarda pre-ciosidades inéditas, que vão além da suaprodução para piano solo, mais conhecidapelo público. Uma das facetas pouco ex-plorada pelos discípulos e admiradores deMignone, seu repertório para música decâmara que contempla extensivamente aflauta transversal, não dorme mais em baú,armário ou gaveta. Coordenado pelo flau-tista e professor Sérgio Barrenechea (na foto

ao lado), um projeto de pesquisa na Univer-sidade Federal do Estado Rio de Janeiro(UniRio) contribuiu para enriquecer umpouco mais o universo da música eruditacom a gravação do CD triplo A Música para

Flauta de Francisco Mignone.

�O objetivo do projeto é resgatar obras re-levantes da literatura para flauta na músicade câmara de Francisco Mignone, tentan-do contribuir, assim, para a sua divulgaçãoentre o público e músicos interessados emsua obra�, resume Barrenechea. Em suaavaliação, a contribuição de Mignone aorepertório para flauta transversal mereceatenção especial, não apenas pelo grandenúmero de obras do compositor que inclu-em este instrumento, mas também pela ma-neira inventiva como a flauta é utilizada, fre-quentemente exigindo habilidadesvirtuosísticas do executante. �Entre peçasoriginais e transcrições, Mignone compôsmais de 30 obras para música de câmaraque incluem a flauta transversal�,contextualiza.Flauta em destaque

Débora Motta

MÚSICA3 | Rio Pesquisa - nº 15 - Ano IV

Ano IV - nº 15 - Rio Pesquisa | 4

O repertório de Mignone voltado para a flauta permeiaseu desenvolvimento como um compositor completo, queescreveu para diversos gêneros e formações instrumen-tais � com destaque para obras sinfônicas e as de músicade câmara para fagote, voz, piano e cordas �, mas tam-bém reflete a sua história de vida. �A predileção deMignone pela flauta decorre principalmente do fato deseu pai, Alfério Mignone, ter sido um flautista profissio-nal e tê-lo incentivado a tocar este instrumento na juven-tude�, conta Barrenechea, ressaltando que a figura do paido compositor está presente ao longo de todo seu reper-tório flautístico. Ele dedica a Alfério as obras Três Peças,de cunho nacionalista e com arranjo para piano solo, eSuíte para flauta e cordas, que remete a um italianismoreminiscente. Já na Sonata para flauta e piano, obra atonalde 1962, a referência paterna encontra-se presente nadedicatória ao eminente flautista ítalo-argentino, �paraAlfredo Montanaro, grande amigo de meu saudoso pai�.

Além de revelar a influência paterna, a proximidade deMignone com a flauta também aponta para a proximida-de do compositor com a música popular brasileira. �Parase esquivar do preconceito da época contra os músicosque não se dedicavam à música erudita, ele assinou, quan-do jovem, diversas composições populares com o pseu-dônimo de Chico Bororó�, explica o professor.

Dessa fase dedicada à música popular, quatro peças en-traram no repertório da coletânea: Céo do Rio Claro, Assim

Dança Nhá Cotinha, Saudades de Araraquara e Celeste. �To-das elas foram gravadas com a participação do pai de Fran-cisco Mignone, frequentemente tocando a parte melódi-ca principal na flauta�, conta o pesquisador. Todas as peçasassinadas por Chico Bororó foram gravadas em discosde 78 rotações pelo selo Parlophon, que registrou nesseperíodo 19 composições de Mignone, muitas com a Or-questra Paulistana, dirigida e regida por seu pai.

A coletânea também faz um apanhado das demais fasesda produção do compositor, que foi maestro do TheatroMunicipal do Rio de Janeiro e professor da Escola deMúsica da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ),à época conhecida como Universidade do Brasil. �Pro-curamos apresentar um repertório representativo, quedestacasse todas as fases da produção musical ao longoda sua vida�, diz Barrenechea.

A partir do alto: o ainda jovem Francisco Mignone, estudante demúsica, em Milão, em 1921; à frente da Orquestra do TheatroMunicipal do Rio, em 1955; na foto em família acompanhado porsua mulher, Maria Josephina, e pela única filha do casal, Anete; aopiano, ao lado da mulher, com quem foi casado por 22 anos; e emensaio com a Orquestra Sinfônica Brasileira, em 1982

5 | Rio Pesquisa - nº 15 - Ano IV

O professor explica que as outrasvertentes da obra de Mignone, alémda popular, presentes nas faixas doCD triplo são o eurocentrismo eneoclassicismo sem intenção nacio-nalista explícita; o nacionalismo, in-fluenciado por compositores comoVilla-Lobos, que beberam na fontedas raízes populares brasileiras; ododecafonismo e procedimentosseriais (música atonal, influenciadapelo modernismo); e a fase da matu-ridade do compositor, em que ele fezuma síntese de duas ou mais carac-terísticas das suas fases anteriores.

A escolha do repertório para a cole-tânea deu-se após um longo proces-so de pesquisa, que incluiu busca departituras manuscritas em algumasinstituições, como a Biblioteca Na-cional, que guarda parte do acervoparticular de Mignone doado pelaviúva do compositor, MariaJosephina, além de visitas a músicoseruditos que foram contemporâne-os do maestro. �Entrevistando osmúsicos que conviveram e tocaram

bos, da UniRio. Entre os músicosparticipantes estão, além de SérgioBarrenechea, na flauta em sol e piccolo;os também professores LúciaBarrenechea, ao piano; Hugo Pilger,no violoncelo; Luís Carlos Justi, nooboé; Fernando Silveira, na clarineta;e Elione Medeiros, no fagote; e maisos pós-graduandos José BeneditoViana Gomes e Nilton AntonioMoreira Jr., ambos na flauta; o ex-aluno Carlos Prazeres, no oboé; e obacharelando Felipe Braz da Silva, naflauta. Todas as faixas incluídas nostrês CDs podem ser baixadas peloendereço <duobarrenechea.mus.br/cd_mignone.htm>.

com Mignone, conseguimos recupe-rar alguns manuscritos que estavamem posse de Odette Ernest Dias,que foi professora de flauta da Uni-versidade de Brasília; de CelsoWoltzenlogel, que foi professor deflauta da UFRJ; e também de NoelDevos, que foi professor de fagoteda UFRJ e da UniRio�, revela. Ou-tra parte do material foi dispo-nibilizada pelo pesquisador FlávioSilva, da Coordenação de MúsicaErudita da Fundação Nacional deArtes (Funarte).

Para Barrenechea, a causa do desco-nhecimento dessa parte do acervo deMignone até hoje é a ausência de re-gistros sonoros. �A maior parte dorepertório da coletânea está sendogravado pela primeira vez�, destacao flautista. �Essas obras não forameditadas, por isso caíram no esqueci-mento. A maioria das partituras es-tava apenas no manuscrito deMignone. Só uma minoria havia sidopublicada e comercializada�, relata.Mas o material, ao que parece, aindaestá longe de ser esgotado. �Aindaficou muita coisa de fora, dá paragravar mais três CDs�, dizBarrenechea. Por isso, a ideia do pro-fessor da UniRio é dar continuidadeao projeto. �Essa foi só uma primei-ra produção em áudio. Depois, va-mos tentar publicar as partiturasregistradas no CD triplo e gravar umanova coletânea�, adianta.

Com o apoio da FAPERJ, por meiodo edital para Apoio à produção e divul-

gação das Artes, o projeto contou coma participação de um grupo de mú-sicos de notória excelência artística,além de estudantes da graduação eda pós-graduação em música e depesquisadores � todos ligados, dealguma forma, ao Instituto Villa-Lo-

Pesquisador: Sérgio BarrenecheaInstituição: Universidade Federal doEstado do Rio de Janeiro (UniRio)

Música em família: ao lado da mulher, apianista Lucia, Sergio forma o Duo Barrenechea

Encarte do CD triplo A Música para Flauta de Francisco Mignone: coletânea apresenta

obras raras do compositor para o instrumento

Repertório paraflauta de FranciscoMignone ficoudesconhecido atéhoje pela ausênciade registros sonoros

Fotos: Divulgação

Ano IV - nº 15 - Rio Pesquisa | 6NONONONO

Apesar das campanhas edu-cativas e de legislação es-pecífica que regula o descar-

te de resíduos industriais, o óleo decozinha usado em fritura é ainda lar-gamente despejado no meio ambi-ente, contaminando os rios e o solo,provocando entupimentos em cana-lizações e galerias subterrâneas, e, as-sim, contribuindo com o impactodas enchentes em áreas urbanas. Oconsumo de óleo vegetal alimentí-cio no País é estimado em 16 litros/ano por habitante. Desses, dez sãoabsorvidos pelos diferentes proces-sos de cozimento e fritura, restan-do seis para a reciclagem. A quanti-dade disponível para coleta ebeneficiamento no País fica em tor-no de 300 a 400 mil toneladas ao

Uma alternativa limpa e

ano. Isto representa uma rendadesperdiçada que, de acordo comdiferentes estudos, poderia alcançarcentenas de milhões de reais.

Os danos causados pela destinaçãoinadequada deste tipo de resíduopoderiam ser evitados, em razão doenorme potencial de reapro-veitamento do óleo de fritura, quepode ser integralmente reciclado.Quando processado em usinas debeneficiamento, dele pode ser extraí-do óleo com teor de pureza igual ouabaixo de 25 mg/kg � padrão esta-belecido para o óleo virgem �, pron-to para ser utilizado como bio-combustível. No mesmo processo, asgorduras extraídas podem serreutilizadas na indústria de ração ani-mal. Outras alternativas são o seuemprego na fabricação de sabão,massa de vidraceiro, tintas vernizes

e floculantes (coagulantes), além dediversos outros produtos.

Com o propósito de explorar as di-versas possibilidades de refinamen-to do óleo vegetal residual, a empre-sa Felicíssimo e Ramires Consultoria em

Gestão Empresarial Ltda., com sede noRio de Janeiro, associou-se à Lamers

Project Management (LPM), de Cam-pos, no norte fluminense, para de-

Tecnologiainovadora garante

produção debiocombustível

a partir dareciclagem do óleode cozinha usado,contribuindo paraa despoluição do

meio ambiente

socialmente inclusiva

Lécio Augusto Ramos

Mostra de óleo vegetal já purificada depois de passar por tratamento: comercializadacomo biocombustível, a tecnologia tem o baixo custo como uma de suas vantagens

MEIO AMBIENTE

Foto: Divulgação/Felicíssimo e Ramires

Ano IV - nº 15 - Rio Pesquisa | 6

7 | Rio Pesquisa - nº 15 - Ano IV

senvolver uma tecnologia de baixocusto para o beneficiamento do óleovegetal usado. O projeto, apoiadopela FAPERJ por meio do progra-ma Rio Inovação � Pappe Subvenção e doedital Apoio ao Desenvolvimento de Mo-

delos de Inovação Tecnológica Social, con-siste na fabricação de miniusinas debaixo custo que convertem o óleovegetal usado em biocombustível eseparam os demais resíduos, comoas gorduras, para reciclagem. A ini-ciativa tem também caráter social,econômico e educativo: associações,cooperativas de catadores de lixo,condomínios e escolas da rede pú-blica estão sendo objeto de um tra-balho de capacitação para a coletaseletiva de óleo vegetal queimado �que pode gerar renda complementarde até um salário mínimo por famí-lia � e de conscientização sobre aimportância da destinação adequadadesse resíduo.

A intenção inicial do economista eespecialista em Gestão EmpresarialPedro Paulo Silveira Felicíssimo, só-cio e diretor da Felicíssimo e Ramires, edo engenheiro Peter W. H. Lamers,diretor da LPM, era produzir óleovegetal reciclado com grau de pure-

za adequado à utilização comobiocombustível para motores indus-triais e estacionários (como os usa-dos em grupos geradores, moto-bombas, equipamentos de refrigera-ção, máquinas agrícolas, máquinaspara construção civil e tratores, en-tre outros). O projeto dos dois em-preendedores ganhou forma apósPeter desenvolver duas usinas com-pactas (miniusinas) para beneficiar oóleo vegetal residual: uma que pro-duz um óleo com grau de pureza in-termediário e outra que atinge umgrau de purificação muito próximoao do óleo vegetal virgem.

Um segundo projeto, mais ambicio-so, prevê a utilização do óleo vegetalreciclado diretamente em motoresdiesel automotivos. A ideia surgiuquando Peter Lamers resolveu testarum equipamento desenvolvido pelaempresa alemã Elsbett. �Peter visitoua representação da Elsbett na Holandapara estudar a tecnologia da utiliza-ção do óleo vegetal puro (especial-mente o de canola) em motores die-sel�, conta Pedro Felicíssimo. �Essaempresa realizou, com sucesso, maisde 30 mil conversões em motorespara o uso de óleo vegetal como

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Ano IV - nº 15 - Rio Pesquisa | 8

combustível automotivo. Um kit deconversão da empresa foi trazidopara o Brasil e um técnico fez a adap-tação desta tecnologia, usando ummotor gerador da empresaLocastrom Grupos Geradores�,acrescenta. Segundo o empreende-dor, a inovação do projeto consistena substituição do óleo vegetal vir-gem pelo óleo usado, que é beneficia-do através de processo e de equipa-mentos desenvolvidos por outraempresa de Lamers � Lamers Equipa-

mentos Industriais. �Trata-se de umexperimento que a empresa Elsbett

nunca realizou e pelo qual já demons-trou enorme interesse�, asseguraFelicíssimo.

Biocombustíveis feitoscom óleos vegetais têmvantagens

Os biocombustíveis feitos a partir deóleos vegetais apresentam vantagenssignificativas. Em primeiro lugar, hámais de 2 mil espécies de plantas dis-poníveis � as chamadas �oleagino-sas� �, e muitas delas podem servirde matéria-prima para este tipo com-bustível, além de serem fontesrenováveis, ao contrário dos combus-tíveis fósseis ou do gás natural. Ou-tra vantagem adicional é o fato de o

óleo vegetal não ser tóxico nem ex-plosivo, e não conter metais pesados.Com isso, sua combustão não con-tribui para o efeito estufa, por contada baixa emissão de CO

2.

Felicíssimo estima que, somente noestado do Rio de Janeiro, 1 milhãode litros de óleo de fritura sejamcoletados mensalmente, de formaainda artesanal e desordenada, porcooperativas ou grupos isolados.Esse óleo não é submetido a trata-mento, permitindo que seja adquiri-do a preços baixos pela indústria desabões. Por outro lado, duas ou trêsgrandes empresas do Rio de Janeirojá coletam o mesmo volume � 1 mi-lhão �, mas de forma organizada.Porém, toda essa produção seguepara o estado de São Paulo, que é hojeo maior coletor de óleo vegetal usa-

do do País, com cerca de 50 milhõesde litros por mês.

Por ora, o óleo processado vem sen-do usado como combustível emmotores estacionários. O equipamen-to instalado nas miniusinas, no en-tanto, está sendo aperfeiçoado porLamers para que se consiga chegarao grau de pureza equivalente ao óleovirgem. �Isto irá possibilitar que oóleo beneficiado venha a ser utiliza-do como biocombustível em moto-res automotivos�, explica Felicíssimo.Segundo ele, existe uma normaeuropeia, DIN (sigla para InstitutoAlemão para Normatização, muitodifundida na União Europeia), queestabelece padrões de qualidade parao óleo vegetal puro, de acordo como teor de particulados, teor de água,teor de resíduos de carbono, nível deacidez, viscosidade etc. �No final de2010, enviamos uma amostra de óleoreciclado em nossas miniusinas parao Instituto Nacional de Tecnologia(INT), que o examinou e constatouque o processo de tratamento de óleofoi eficaz na remoção de resíduos decarbono, água e acidez, aproximan-do-se da conformidade com aespecificação DIN�, relata o empre-endedor.

Mesmo sem ter atingido plenamen-te a qualidade necessária para o uso

Óleo coletado pelas comunidades é transportado para miniusinas e despejado em tanques para beneficiamento; em seguida, as impurezas...

Reciclagem do óleovegetal usadoproduz combustíveismenos poluentespara uso emmotores industriaise automotivos

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do óleo reciclado como combustíveldireto em motores diesel auto-motivos, os resultados obtidos peloprocesso da Felicíssimo e Lamers já in-teressaram a algumas empresas dosetor de biocombustível. �Uma em-presa de biodiesel de Volta Redonda(RJ), a Cesbra Química S/A, apro-vou uma amostra beneficiada na Usi-na de São Gonçalo e encomendouum lote inicial de 800 litros para arealização de testes para a produçãode biodiesel automotivo. Os testesforam bem-sucedidos e devemos terum contrato de fornecimento de cer-ca de 500 mil litros de óleo recicladopor mês, o que vai demandar não sóum volume considerável de produ-ção nas miniusinas instaladas peloprojeto em Resende, Rio Bonito,Barra do Piraí, Valença e São Gon-çalo, mas também a produção deoutros beneficiadores que não inte-gram o projeto das miniusinas�, dizFelicíssimo.

O projeto é a porta de entrada parao que os empreendedores denomi-nam de �socialização da energia�. Eleexplica: �Imaginemos, por um mo-mento, que haja coleta e benefi-ciamento efetivos de cerca de 70% a80% do óleo de cozinha de uma ci-dade com 1 milhão de habitantes.Este volume chegaria, por nossa es-

timativa, a cerca de 700 mil a 800 millitros por mês, destinados a substi-tuir, na mesma proporção e volume,o diesel fóssil. Isso representa umaeconomia considerável para prefei-turas e, principalmente, para peque-nas e médias empresas�.

Reciclagem de óleovegetal e preservaçãoambiental

O projeto de Felicíssimo e Lamersnão se limita à inovação tecnológicana área da reciclagem de óleo vege-tal usado em frituras. A preocupaçãocom a questão ambiental é tratadacomo �prioridade�. Apesar do apoiorecebido pelos municípios e órgãospúblicos que encamparam o projeto,de acordo com Felicíssimo, há resis-tências a serem removidas. �O mai-or obstáculo que enfrentamos é, semdúvida, a ausência de conscientizaçãosobre a questão da preservação domeio ambiente e do descarte adequa-do por parte da população. Por estarazão, há a preocupação do projetoem ter um viés educacional, com o

envolvimento da rede de educação,como já acontece de forma mais efe-tiva nas cidades fluminenses deResende, Rio Bonito, Valença, VoltaRedonda e São Gonçalo � esta últi-ma ainda em fase de implantação.Esta é a chave da sustentabilidadefutura do projeto. Se conscientizaçãoexistisse, todos os outros problemasestariam resolvidos, pois o poderpúblico sempre reflete o posi-cionamento da população�, avaliaFelicíssimo.

O projeto de reciclagem teve inícioem Resende, no sul fluminense, coma instalação da primeira miniusina daLamers. De acordo com os empreen-dedores, o município já contava comum projeto de reciclagem de óleo de

...são removidas por aquecimento, filtragem, decantação e destilação; na fase final, produto é testado para avaliar teor de pureza

Educação ambiental: alunos de Valença (RJ)aprendem a importância da coleta e

da reciclagem do óleo vegetal usado

Fotos: Divulgação/Felicíssimo e Ramires

Ano IV - nº 15 - Rio Pesquisa | 10

cozinha, o VivaÓleo, da empresaEcoleta Comércio e Serviços deReciclagem. Tratava-se, porém, de umprojeto de coleta e armazenamento deóleo de fritura, sem a fase de trata-mento para depuração. O óleo cole-tado era vendido para empresas de SãoPaulo ou de outros estados que pos-suíam usinas de beneficiamento. Ainfraestrutura construída em Resendepossibilitou que o óleo coletado emoutros municípios da região sul doEstado � como Volta Redonda,Valença e Barra do Piraí � fosse be-neficiado pelo equipamento desenvol-vido pela Lamers.

Posteriormente, o projeto avançoucom a instalação de novas unidadesde beneficiamento no Estado. Alémde Resende, quatro outros municípi-os ganharam suas respectivas usinas:Barra do Piraí, que recebeu uma usi-na de capacidade média; Valença eRio Bonito, onde foram instaladasuma miniusina em cada município; eSão Gonçalo, o mais recente muni-cípio a ser contemplado com umausina semelhante a de Resende.

dustrial e automotiva representa umaquebra de paradigma sócio-am-biental, econômico e energético im-portante, com a chegada de fontesalternativas, não fósseis, na geraçãode energia�, diz. Para ele, há resis-tência do empresariado brasileiro, emespecial do médio e pequeno indus-trial, em aceitar e implementar mu-danças de caráter tecnológico. �Tra-ta-se de um problema histórico ecultural, que está na essência de nos-sa formação educacional de base,muito carente de elementos deempreendedorismo e de inovaçãocientífica e tecnológica�, avalia. Como aumento da demanda por energialimpa, esse quadro deve mudar aolongo dos próximos anos

O perfil das miniusinas foi conce-bido em função da infraestrutura decada região. Assim, o enorme po-tencial de coleta de São Gonçalo, emvias de se transformar em um polode reciclagem de óleo vegetal, emsincronia com a implantação doComplexo Petroquímico do Rio deJaneiro (Comperj), na cidade vizi-nha de Itaboraí, determinou a ins-talação de uma usina de bene-ficiamento completa em São Gon-çalo, capaz de produzir óleo vegetalcompatível com as especificações danorma DIN para uso como bio-combustível em motores diesel nãoautomotivos, e, futuramente, emmotores automotivos.

Para Felicíssimo, uma mudança namentalidade do empresariado é fun-damental para o desenvolvimento deuma matriz energética baseada nareciclagem do óleo vegetal de usoalimentício. �A utilização do óleovegetal residual como biocom-bustível na geração de energia in-

Empreendedores: Pedro PauloSilveira Felicíssimo e Peter W. H.LamersEmpresas: Felicíssimo e RamiresConsultoria em Gestão EmpresarialLtda. e Lamers Project Management(LPM)

Peter Lamers (esq.) e Pedro Felicíssimo:parceria pelo desenvolvimento sustentável

Linha de produção de geradores da Locastrom: motores convertidos para utilizar óleovegetal com a ajuda de tecnologia da alemã Elsbett, adaptada por Lamers e Felicíssimo

Fotos: Divulgação/Felicíssimo e Ramires

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Moedas que contam históriase trazem prestígioMuseu Histórico Nacional lança catálogode moedas gregas e alça a numismáticabrasileira a fonte importante depesquisa para estudiosos do assunto

Vinicius Zepeda

Com a exceção dos comer-ciantes, que necessitamdelas para troco, as moedas

não gozam de muito prestígio en-tre o restante da população. Os ar-gumentos do time do contra sãovariados: barulhentas, volumosas,pesadas, fáceis de serem perdidas,enfim, não faltam justificativas parafugir à sua adesão. Já as cédulas,essas, não enfrentam problemas, já

NUMISMÁTICA11 | Rio Pesquisa - nº 15 - Ano IV

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que dificilmente são rejeitadas. Maso que poucas pessoas percebem é queas moedas, por serem feitas de ma-terial de difícil deterioração, têm ser-vido ao longo dos séculos de supor-te para estampar símbolos e anotaçõesque ajudam a recontar o passado decivilizações, atuais ou mesmo daque-las já extintas.

Prova disso é o luxuoso e detalhadocatálogo com cerca de 1.750 moe-das cunhadas pela civilização grega� mas também por romanos e ou-tros povos que viveram sob sua in-

fluência �, publicado no mês de maiopelo Museu Histórico Nacional(MHN). As peças, que integram oacervo do museu), foram organiza-das após um minucioso trabalho depesquisa realizado pela especialistaem Epigrafia e Arqueologia greco-romana Maricí Martins Magalhães.

A historiadora do Instituto de His-tória da Universidade Federal do Riode Janeiro (IH-UFRJ) passou qua-tro anos debruçada sobre a impor-tante coleção de numismática greco-romana do museu, cujo acervo, omaior da América do Sul, conta comquase 150 mil peças. Nesse traba-lho, atualizou fichas com as infor-mações das quase 2 mil peçasselecionadas para o catálogo. Valeua pena. A iniciativa ganhou a chan-cela do Conselho Internacional deNumismática, que reconheceu acoleção como uma Sylloge Nummorum

Graecorum (SNG) � expressão em la-tim que significa �coletânea ou co-leção de moedas gregas�. A anu-ência da comissão, criada em 1934,que atesta a relevância das chama-das �Séries Gregas�, alça a coleçãocomo fonte importante de pesquisapara estudiosos no Brasil e no exteri-or. Hoje, pouco mais de 50 coleçõesde museus de todo o mundo contamcom esse reconhecimento.

O material reúne moedas de regiõesde três continentes, que, do fim do

século VII a.C. até o fim do séculoIII d.C, estiveram diretamente sob ainfluência grega ou sob o domínioromano: Europa, Ásia Menor e Cen-tral, e norte da África. �Na Antigui-dade, moedas de ouro, prata e bron-ze começaram a ser usadas no lugarde objetos de escambo. Essas peque-nas chapas de metal tinham diferen-tes padrões e se difundiram desde acosta atlântica europeia até o noro-este da Índia�, explica Maricí.

Em um dos artigos que publicou noboletim da Sociedade NumismáticaBrasileira, sobre a colônia grega deElea, na Magna Grécia, a pesquisado-ra destaca, por exemplo, as informa-ções históricas contidas em moedascunhadas entre 465 e 440 a.C. Nessaépoca, foram fundidas as primeirasmoedas com os tipos Ninfa e Corujaem suas duas faces, e onde a Ninfaaparece com touca nos cabelos. �Adata aproximada anterior ao surgi-mento desse período é a derrota dosetruscos por Hieron I de Siracusa, em474 a.C, o que deve ter dado início aum período de prosperidade e maiorexpansão para Elea e outras cidadesgregas�, avalia a pesquisadora. �Estamaneira de representar divindadesfemininas, no início do século V a.C.,caracterizou as moedas cunhadas nascidades da Magna Grécia e da Sicília�,acrescenta. Ela explica ainda que acoruja, por sua vez, funciona como

Maricí Magalhães: quatro anos de pesquisa e análisedetalhada de 1.916 peças do acervo do MHN

Relíquias de uma época: a partir da esq., moeda da antiga Gália, França; cabeça laureada de Athena, Grécia; touro coroado, de Campania, Itália...

Foto: Paul Jürgens

Foto: Laetitia Le Corre Foto: Oscar Henrique Liberal Foto: Enéas de Loreto

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um pré-anúncio da oficialidade que oculto da deusa Athena assumiria apartir do início do século V a.C.

O trabalho, extremamente minucio-so, incluiu a análise detalhada de cadauma das 1.916 peças classificadascomo �gregas�. �Durante a pesqui-sa, encontramos peças que não per-tenciam ao período estipulado paraa SNG, moedas falsas e outras umtanto desgastadas para serem foto-grafadas para o catálogo. Assim, onúmero final caiu para 1.750 peças�,conta. Ela chama a atenção para al-gumas relíquias encontradas. �Entreelas, estão uma moeda da Ásia Me-nor, cunhada no fim do século VIIa.C; as esplêndidas coleções da Pe-nínsula Itálica, da Sicília e da Grécia;moedas provinciais romanas, comoo busto de Cleópatra VII ou o perfilde Antínoo, favorito do imperadorAdriano, do século II d.C.; e exem-plares de Alexandria, da época doimperador Augusto até Diocleciano,no século III d.C�, lista. �No entan-to, todas elas, sem exceção, têm ines-timável valor histórico e artístico.�

Para cada moeda, foi elaborada umaficha técnica, contendo dados, comodiâmetro mínimo e máximo, peso,denominação e metal utilizado, des-crição detalhada do anverso e rever-so, e da legenda em latim, grego,celtibérico, púnico etc., datação atua-

lizada e ampla bibliografia utilizada.�Quando necessário, ao fim de cadaficha, foram incluídas observaçõessobre os problemas encontrados, assoluções e opiniões fornecidas poralguns dos maiores estudiosos doassunto para justificá-los, principal-mente aqueles relacionados às datas�,lembra Maricí.

O trabalho de coordenação da em-preitada foi do numismata Luiz Ara-nha Correa Lago, professor do De-partamento de Economia daPontifícia Universidade Católica doRio de Janeiro (PUC-Rio) e tambémcurador da exposição permanente demoedas do MHN, que revisou todoo material apresentado no catálogoe auxiliou com o empréstimo de obrasde referência sobre o assunto, nãoexistentes no Brasil para consulta.

Lago observa que as figuras impres-sas na superfície das moedas mos-tram as características socioeco-nômicas daquelas civilizações, emrepresentações bem realistas. Pelasmoedas, é possível observar como aspessoas da época se vestiam e comoeram seus penteados. �Os romanosnão usavam barba até a época doimperados Adriano, no século II d.C.Depois dele, todos os imperadorespassaram a ter barba�, destaca.

O catálogo tem apresentação da di-retora do MHN, Vera Lúcia Bottrel

Tostes, e prefácio de Lago, contan-do a história da produção de moe-das em todo o período compreendi-do na obra. Nas páginas que antece-dem o catálogo propriamente dito,a autora também fala sobre a histó-ria da coleção e a metodologia em-pregada na pesquisa, oferecendo ain-da ampla bibliografia. Ao todo, há3.500 ilustrações relativas ao anver-so e ao reverso de cada moeda.

Segundo Maricí, o apoio da FAPERJfoi decisivo para o desenvolvimen-to da pesquisa no Departamento deNumismática do museu. O catálo-go, desenvolvido de 2006 a 2010 noMuseu Histórico Nacional, contoucom o apoio da FAPERJ, por meiodos programas Pesquisador Visitante eApoio à Infraestrutura de Acervos (APQ

4). O catálogo foi editado com re-cursos do Ibram/Ministério da Cul-tura e apoio da Associação dos Ami-gos do MHN.

Da próxima vez que receber umamoedinha, pense duas vezes antes dereagir negativamente. No futuro,quem sabe, esse pequeno pedaço demetal pode servir para contar tam-bém um pouco da sua história...

...cabeça masculina, também cunhada em Campania; verso de moeda da Sicília, com caranguejo; e cabeça diademada do rei Ptolomeus I, do Egito

Pesquisadora: Maricí MartinsMagalhãesInstituição: Universidade Federal doRio de Janeiro (UFRJ)

Foto: Oscar Henrique LiberalFoto: Laetitia Le Corre Foto: Cleber José das Neves

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Paul Jürgens

Uma papinha que

pode salvar vidas

Carne de rã podeajudar pós-lactantes a

superar erros dometabolismo e aalergia alimentar

múltipla que,somente no

Brasil, atingemcerca de 200 mil

criançasanualmente

Pouco conhecidas do grandepúblico, algumas alteraçõesmetabólicas do organismo e

a chamada �alergia alimentar múlti-pla�, que atingem cerca de 200 milcrianças anualmente, somente noBrasil, vêm mobilizando cientistas epesquisadores que buscam soluçõespara reverter um quadro nada lison-jeiro para o País, já que um númerosignificativo dessas crianças, pós-lactantes, acaba não sobrevivendo.Em muitos casos, os pacientes, quenão raro sofrem com dores e sinto-mas comuns a outras doenças, aindatêm de enfrentar a falta de conheci-mento dos médicos.

Na unidade de pesquisa em ra-nicultura instalada na Estação Expe-rimental de Aquicultura AlmirantePaulo Moreira, em Guaratiba, ZonaOeste da cidade do Rio de Janeiro,que pertence à Fundação Instituto dePesca do Estado do Rio de Janeiro(Fiperj) � vinculada à Secretaria deDesenvolvimento Regional, Abaste-cimento e Pesca �, pesquisadoresinvestigam as possibilidades de seoferecer uma alternativa aos leitesmedicamentosos, indicados no tra-tamento das diversas manifestaçõesdesse �erro inato do metabolismo�e da alergia alimentar, cujos preçosnão cabem no bolso da maioria dasfamílias atingidas. O substitutivo de-senvolvido pelos pesquisadores,neste caso, é um alimento na forma

de uma �papinha�, produzido a par-tir da carne de rã. A iniciativa é umdesdobramento de projetos que jáestavam em andamento anterior-mente e que visam garantir a expan-são da ranicultura no estado do Riode Janeiro.

De acordo com o biólogo, pesquisa-dor da Fiperj e professor do mestra-do do Centro Universitário AugustoMotta (Unisuam), José Teixeira deSeixas Filho, que está à frente do pro-jeto da �papinha�, a carne de rã aju-da a aumentar o sistema imunológico,

SAÚDE

Foto: Stock Photo/Jose Alfredo Gomez Soberano

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por seu arranjo protéico. �Esse ar-ranjo assegura uma excelente absor-ção, nutrindo satisfatoriamente as cri-anças�, diz Seixas Filho.

Pesquisas realizadas anteriormentejá comprovaram que os defeitos ge-néticos que ocorrem durante a for-mação do embrião são responsáveispor um expressivo número de do-enças raras, os �erros inatos do me-tabolismo�, como são descritas naliteratura médica. �No caso da aler-gia, o alimento provoca uma reaçãoimune, mas os conhecimentos so-

bre a patogênese da alergia alimen-tar ainda são incompletos�, ressaltaSeixas Filho.

As manifestações clínicas da alergiaalimentar, de acordo com o pesqui-sador, dependem do órgão afetado,sendo mais comuns os sintomasgastrointestinais, respiratórios ecutâneos. �A carne de rã é de fácildigestão e, por suas propriedadesnutricionais, vem sendo usada comocoadjuvante ao leite para as crian-ças que possuem alergia alimentar�,explica

Em andamento há cerca de dois anos,o estudo que levou à �papinha� estáatualmente na fase de experimentosque visam determinar a melhor for-ma de apresentação do produto, suatextura e ingredientes, de forma queela não contenha substâncias quepossam provocar alergia às crianças,mantendo-se a mais neutra possível.

Com seu valor nutritivo comprovadopor pesquisas realizadas em diferen-tes países, a carne de rã entrou no ra-dar dos pesquisadores da Unisuam em2002, que podem, assim, devolver ao

Alternativa ao leite para crianças alérgicas: alimentação que tem como base a carne de rã ajuda a aumentar a resistência imunológica

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Rio de Janeiro o prestígio de outro-ra, quando o Estado se tornou pio-neiro na criação de rãs em cativeiro,ainda na primeira metade do séculoXX. Estudos realizados no Brasil eno exterior também já comprovarama eficácia de tratamento de herpes ede outras infecções a partir da utili-zação de substâncias secretadas peloanfíbio, e compostos químicos en-contrados nesses animais podem setornar a base de novos antibióticos eantivirais. �Nos anos 1990, aranicultura no Estado, que ainda nãoestava inteiramente consolidada eutilizava procedimentos bastanteartesanais, começou a declinar pormotivos diversos�, lamenta o pesqui-sador. Do total de 92 municípiosfluminenses, era possível encontrarcriatórios comerciais da rã-touro em35 deles.

Depois de identificar os principaisgargalos da cadeia produtiva, os pes-quisadores que trabalham nesse con-vênio da Unisuam com a Fiperj saí-ram em busca de alternativas. Um dosprincipais obstáculos ao desenvolvi-mento da atividade é a falta de ra-ções adequadas, já que aquelas dis-poníveis no mercado são indicadaspara peixes. �Estamos buscando ela-borar uma ração que possua não so-mente um melhor balanceamentonutricional, mas também umagranulometria adequada à boca doanimal. Com a ração que temos hojeno mercado, os girinos são obriga-dos a esperar que ela se dissolva, para,então, capturá-la, o que acaba pro-vocando a perda de nutrientes naágua�, explica Seixas.

Outra dificuldade para os produtoresé a chegada do inverno à Região Su-deste, que paralisa a cadeia produtiva.

Impulso para a agropecuária da Zona Oeste:à esq., exemplar adulto de rã; abaixo,módulo de produção para girinagem, com12 tanques de mil litros cada, pode produzir,por safra, 12 mil filhotes de rã

Estudos mostramque substânciassecretadas pelo

anfíbio podem sereficazes no

tratamento deherpes e outras

infecções

Fotos: Divulgação

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Por conta das baixas temperaturas daágua, não há acasalamento e, comisso, faltam girinos para a fase inici-al, aquática, da criação, que mais tar-de irá se transformar na forma juve-nil da rã. �O sistema em que estamostrabalhando, desenvolvido porDalton Ferreira Silva, aluno domestrado da Unisuam, permiteacoplar um aquecedor solar de bai-xo custo que mantém a temperaturada água em torno de 26ºC�, relataSeixas.

Para conduzir os estudos, Seixas e seugrupo de pesquisa criaram, nas de-pendências da Estação Experimen-tal em Guaratiba, um módulo míni-mo de produção para a girinagem,com 12 tanques, cada um com capa-cidade de mil litros, podendo pro-duzir, por safra, 12 mil filhotes de rã(imagos), prontos para iniciar a faseterrestre da criação, no setor de en-gorda, com capacidade para 4 milimagos, que abatidos, produzem car-ne suficiente para o desenvolvimen-to de todos os projetos. �Os testespermitiram que esse módulo funci-onasse de forma autônoma, com oreuso da água por meio de umafiltragem biológica, capaz de retiraras substâncias tóxicas da água e re-novação do volume de cada tanqueem um período de 12 horas�, pros-segue o biólogo. Ele explica que amaioria dos produtores tinha comoprática de manejo diário renovar ape-nas 50% da água a cada 24 horas.�Nessas condições, os animais en-contram-se sob intenso estresse, jáque os níveis de amônia na água seaproximam, frequentemente, de 3,0mg/ml, quando o valor acima de 1,0mg/ml já é considerado tóxico�, dizSeixas. O pesquisador lembra que,além de reduzir as substâncias tóxi-cas na água e, assim, permitir o reusoda água por meio da filtragem, outravantagem do processo é a economiagerada na conta a ser paga pelo con-sumo de água, de cerca de 30%. �É

preciso lembrar que quem ganha comisso tudo é o meio ambiente�, co-memora.

Outra inovação que está em avalia-ção é um dispensador automáticode ração, idealizado pelo aluno domestrado da Unisuam TorcadoFrancisco Sencadas Moita, que, si-lenciosamente, libera a cada trêshoras, a quantidade adequada de ali-mento para a engorda dos animais.De acordo com o biólogo, váriossistemas de alimentação foram tes-tados ao longo das últimas duas dé-cadas, mas todos eles, em menor oumaior grau, acabavam acarretandoestresse a esses anfíbios pelo baru-lho do motor utilizado para disper-sar a ração. �O nosso sistema fun-ciona por meio de um recipientearmazenador da ração, contendoum �sem-fim�, estrutura semelhan-te a de um saca-rolha, com suasvoltas em hélice. Ele gira ao coman-do de um dispositivo eletrônicoque, ao abrir um fundo falso na basedo dispensador, libera o alimentopor um tempo determinado e de

forma silenciosa, segundo o cálcu-lo da quantidade de ração�, explicaSeixas.

O pesquisador confirma que, com aexpressiva redução do número deranários no Estado, a produção caiusignificativamente ao longo dos últi-mos anos. Na outra ponta, nos su-permercados e nas casas especia-lizadas que trabalham com a carnede rã, o aumento da demanda peloproduto fez os preços subirem rapi-damente. Mas os recentes resultadose as inovações pesquisadas por Seixase sua equipe, cujos estudos contamcom o apoio da FAPERJ, por meiodo programa Prioridade Rio, trazemum novo alento para essa atividadeda agropecuária fluminense, quepode, assim, ganhar novo impulso eampliar a oferta da carne de rã.

Pesquisador: José Teixeira de SeixasFilhoInstituições: Fundação Instituto dePesca do Estado do Rio de Janeiro(Fiperj) / Centro UniversitárioAugusto Motta (Unisuam)

José Teixeira de Seixas Filho: o pesquisador da Fiperj e professor da Unisuam trabalhapara reverter a queda do número de ranários no RJ, que já liderou o setor no século XX

Foto: Divulgação

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Projeto naUniversidade Gama

Filho visa estimular odesenvolvimento

do ciclismo decompetição no RJ

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Pedalando para estarentre os primeiros

Pedalando para estarentre os primeiros

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Com temperaturas amenas amaior parte do ano e belaspaisagens naturais, o Rio de

Janeiro é um palco perfeito para aprática de esportes ao ar livre. Noentanto, ainda é um espaço bastantesubutilizado por diversas modalida-des esportivas, como o ciclismo pro-fissional. Pouco explorado no Esta-do, o ciclismo fluminense não apa-rece entre os melhores do ranking

nacional em nenhuma das categoriasdo esporte, independentemente desexo e idade dos atletas. Para incen-tivar a prática desta modalidade es-portiva no Estado, os professores deEducação Física Tony Meireles dosSantos e Paulo Sergio Chagas Go-mes, da Universidade Gama Filho(UGF), lideram um projeto voltadopara o treinamento dos atletas fun-damentado na fisiologia do exercí-cio � o estudo dos processos físico-químicos que ocorrem nos diversossistemas do corpo humano durantea atividade física � em ciclistas. �Que-remos contribuir para tornar o ciclis-mo profissional um esporte maispopular no Estado, não só em nú-mero de espectadores, mas principal-mente como forma de estimular aformação de novos atletas�, explicaMeireles. �Na categoria �estrada porequipe�, por exemplo, o Rio de Ja-neiro praticamente inexiste.�

A primeira fase do projeto, que pre-tende lançar as bases para a criaçãode um Centro de Excelência para oDesenvolvimento do Ciclismo noEstado, teve início no fim de 2010 e,além de contar com o apoio da em-presa Proximus Tecnologia, gerouuma parceria com a UniversidadeFederal do Rio de Janeiro (UFRJ),com a adesão do professor de Edu-cação Física Fernando Pompeu, etambém do pesquisador italianoFranco Impellizzeri, um dos maisrenomados especialistas na modali-

dade do ciclismo �fora de estrada�.À época, foram selecionados 20 atle-tas, recrutados por Allan Inoue � ex-aluno de mestrado de Meireles �durante a realização de provas de ci-clismo, dos quais 16 permaneceramaté a conclusão do projeto. �Comocada modalidade de ciclismo temuma característica própria, optamospor separar os treinamentos e testespor categorias. Na ocasião, selecio-namos para a primeira bateria de tes-tes o mountain bike�, conta Meireles.Para a realização dos testes, os atle-tas se revezaram entre o centro detreinamento, localizado nas depen-dências da UGF, e o Laboratório deBiometria (Ladebio), da UFRJ. De-pois de uma semana, repetia-se oprocedimento. Todos receberam umkit contendo um monitor defrequência cardíaca e escalas paraavaliação do esforço físico e da re-cuperação.

Durante a fase de testes, foram ava-liados os diversos �potenciais fisio-lógicos� de cada um dos participan-tes. Um dos testes foi o de consumomáximo de oxigênio, que avalia o li-miar metabólico dos que praticamexercícios. Os atletas pedalavam so-bre uma bicicleta especialmenteadaptada, em que eram aumentadas,a intervalos de tempo regulares, as�cargas�, enquanto era medida aquantidade de oxigênio consumida.O teste inclui, ainda, a verificação deoutras variáveis, como os limiaresventilatórios e a cinética das curvasde oxigênio e de gás carbônico.

Durante o período do programa, fo-ram colhidas amostras de sangue doatleta para uma análise de lacta-citemia, que avalia a quantidade delactato, um metabólito marcador de

capacidade de desempenho, associa-do ao limite de esforço máximo.Meireles explica que, nas atividadesfeitas de forma equilibrada, a pessoatem os níveis de lactato controlados.Entretanto, quando é submetida auma atividade muito intensa, essesníveis tendem a subir. �Quando apessoa pratica um exercício muitointensamente e experimenta um des-conforto, por exemplo, ficando coma respiração ofegante, isso pode in-dicar um descompasso metabólico,que pode ser aferido pelas concen-trações sanguíneas de lactato�, ensi-na Gomes. O lactato, esclarece o pes-quisador, é um marcador bioquímicoda estabilidade metabólica utilizadodurante o exercício físico. �A partirdessas informações, podemos ava-liar em que momento ocorre a tran-sição entre a fase estável e instávelde um atleta durante a realização de

Atleta durante treinamento de esforço físicocom o �rolo�: aparelho possui um software

por meio do qual é possível simular diversascompetições, pedalando sem sair do lugar

Danielle Kiffer

Foto: Felipe Corrêa e Castro

ESPORTE

Ano IV - nº 15 - Rio Pesquisa | 20

exercícios. Os indicadores dessa in-tensidade têm forte associação como desempenho, além de serem sen-síveis às adaptações que visam à me-lhora do condicionamento físico.Assim, o lactato é um importantemarcador a ser monitorado regular-mente�, completa.

Um outro teste realizado foi o de�potência anaeróbica máxima�, a queos especialistas também chamam dewingate, uma referência ao InstitutoWingate, em Israel, onde o teste foidesenvolvido pelo pesquisador OdedBar Or. Aqui, o atleta precisa peda-lar, por 30 segundos, o mais rápidopossível, com �carga� corresponden-te a 10% de sua massa corporal. Owingate ganhou uma nova versão pe-las mãos do ex-aluno de Meireles.Pensando na categoria mountain bike,Allan Inoue propôs o �5 x wingate�,no qual o mesmo teste é realizadode forma repetida por cinco vezes,com outros 30 segundos de interva-lo para recuperação. �A sequênciapermite analisarmos a capacidade depotência anaeróbica de cada atleta, oque significa dizer, o limite máximode esforço de curta duração que podeser alcançado, e também a sua po-tência crítica, que é uma variávelaeróbica, definida como �máxima in-tensidade�, que pode ser mantida por

um atleta durante um longo períodode tempo sem a ocorrência daexaustão�, detalha Paulo.

De acordo com Meireles, os treina-mentos permitiram observar a relaçãoexistente entre a potência anaeróbicae o tempo obtido em competições demountain bike, por meio da compara-ção dos resultados dos treinos e daperformance dos competidores�, ex-plica. Além disso, ele também desta-ca que a potência máxima, determi-nada no teste progressivo máximo, éum importante indicador do desem-penho nas competições desta moda-lidade de ciclismo.

Após o período de testes, AllanInoue coletou os dados de cada atle-ta participante da pesquisa e formu-lou uma planilha, que orientoucomo deveria ser o treinamento decada um dos atletas na fase seguin-te. Nesta, dedicada ao treinamentodos atletas e que durou seis sema-nas, com sessões de duas horas pordia, um dos equipamentos utiliza-dos foi o �rolo�. Trata-se de um dis-positivo que possibilita ao atleta trei-nar em um �rolo�, utilizando a suaprópria bicicleta, mas sem sair dolugar. Simples na aparência, o apa-relho possui um software por meiodo qual é possível simular competi-ções, como o Tour de France, comsuas subidas, descidas, obstáculos,e mais que isso: o equipamento écapaz de simular a presença de umoponente com as mesmas caracte-rísticas do próprio competidor. Osoftware utilizado na interface com o�rolo� ainda capta a frequência car-díaca do atleta e sua potência ao lon-go de cada etapa da prova.

Encerrada a fase de treinamentos, osatletas passaram por uma nova bate-ria de testes a fim de conferir o pro-gresso individual. A partir dos resul-tados obtidos, Meireles elaborou umbanco de dados que deverá servir deapoio para futuros programas de trei-namentos e que já foi objeto de es-

tudo, gerando artigos de diversosprofissionais na área de EducaçãoFísica. �Podemos afirmar que foramobservados aumentos significativosdo desempenho e de suas variáveisfisiológicas com os treinamentos ofe-recidos�, destaca Tony.

A fase final do projeto, financiadopela FAPERJ por meio do editalApoio ao Desenvolvimento de Inovações

no Esporte, está prevista para o se-gundo semestre de 2011, e consisti-rá na captação e treinamento de 50profissionais e 10 estagiários deEducação Física. Serão 120 horas deaula, com seis módulos de 20 horascada, focados no ciclismo, que abor-darão a fisiologia do exercício, no-ções de biomecânica, avaliação dedesempenho, prescrição do treina-mento e ajuste do equipamento, es-tratégia de prova e nutrição esporti-va. �Com o treinamento, pretende-mos atualizar os professores deEducação Física, especializados ounão em ciclismo, mas que desejemtrabalhar na área, com os avançosobtidos atualmente pelos estudos ci-entíficos nesta área�, conta Meireles.Após o treinamento dos profissio-nais, o projeto terá uma nova edi-ção, desta vez voltada para a cate-goria de estrada. A iniciativa do pro-jeto deve contribuir para tornar a ci-dade um velódromo a céu aberto.Com o ciclismo em primeiro plano,o Rio de Janeiro tem tudo para setransformar na mais perfeita pas-sarela para os futuros campeões.

Pesquisadores: Tony Meireles dosSantos e Paulo Sergio ChagasGomesInstituição: Universidade GamaFilho (UGF)

A partir da esq., Tony Meireles dos Santos, AllanInoue e Paulo Sergio C. Gomes: trabalho em equipe

Foto: Divulgação

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Uma caça ao tesouro diferente

Projeto no MuseuNacional/UFRJ

ensina apopulação a

identificarmeteoritos que

podem estar aoseu alcance

Uma bola de fogo que descedo céu rapidamente, provo-cando um estrondo no ar, é

o primeiro sinal. Depois, vem a des-coberta de fragmentos de uma pe-dra diferente: na parte externa, ela énegra e com sulcos, pela queima du-rante a passagem atmosférica; e naparte interna, tem aspecto semelhan-te ao concreto, ou um tom prateadopela presença de ferro e níquel. Es-sas são características que indicam aqueda de um meteorito. Trocandoem miúdos, os meteoritos sãometeoroides � fragmentos deasteroides, planetas e até cometas �que giram como os planetas em ór-bita solar nas proximidades da órbi-

ta terrestre, colidindo frequentemen-te com a Terra, quando cruzam umponto da órbita no mesmo instanteque ela. Conhecidos como meteorosou estrelas cadentes, eles penetram aatmosfera terrestre em alta velocida-de, riscando o céu de 11 a 70 quilô-metros por segundo. A resistênciaoferecida pelo ar, que funciona comoum freio, faz com que eles se tornemincandescentes.

Identificar essa pedra extraterrestreé uma tarefa difícil para a maioria dapopulação, que desconhece as prin-cipais características dos meteoritose onde encontrá-los. Por isso, muitasvezes, nem desconfia da eventual pre-sença desse �tesouro astronômico�bem no seu quintal. �Um dado inte-ressante é que a maioria dos me-teoritos é atraída por ímãs porque,com exceção dos acondritos, todospossuem ferro-níquel em menor ou

Débora Motta

O meteorito Quijingue,o único palasitodescoberto até hojeno Brasil: encontradona Bahia, trata-se deum tipo de meteoritoformado por umamistura de cristais deolivinas em umamatriz metálicade ferro e níquel

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REPORTAGEM DE CAPA21 | Rio Pesquisa - nº 15 - Ano IV

Ano IV - nº 15 - Rio Pesquisa | 22

maior quantidade. Eles são quasesempre encontrados no campo ouem áreas pouco povoadas, apesar decaírem aleatoriamente, em qualquerlocal�, explica a astrônoma MariaElizabeth Zucolotto, responsávelpelo Setor de Meteoritos do MuseuNacional, que, além de funcionarcomo o equivalente a um museu deHistória Natural, é também umaunidade de pesquisa e ensino daUniversidade Federal do Rio de Ja-neiro (UFRJ). Para divulgar a impor-tância das pedras que caem do es-paço � que podem ajudar os cien-tistas a compreenderem a origem douniverso �, ela coordena, com oapoio da FAPERJ, por meio do pro-grama Difusão e Popularização da Ci-

ência e Tecnologia, o projeto �Meteo-ritos Brasileiros�.

O projeto tem como prioridade abusca e recuperação de meteoritosem todo o território brasileiro, pormeio de um trabalho de cons-cientização da população. �A colabo-ração da sociedade é muito impor-tante para a descoberta de novosmeteoritos, pois não existe métodocientífico capaz de determinar quan-do e onde eles cairão, ou se já caíramno passado�, afirma a pesquisadora,que, em anos recentes, tem organi-zado uma série de exposiçõesitinerantes para mostrar meteoritosa pessoas que, normalmente, não iri-

am ao museu para vê-los. �A ideia élevar os meteoritos para que as pes-soas possam tocar neles e ver comorealmente são, estabelecendo umcontato direto com as pedras extra-terrestres�, conta.

Entre as exposições já realizadas noescopo do projeto estão �Do outroMundo � Os ET�s invadem o For-te�, em outubro de 2010, no Fortede Copacabana, e o projeto de di-vulgação �Tem um ET em seu quin-tal?�, alguns meses antes, em maio,nas 25 mil escolas de diversos esta-dos brasileiros que participaram dasOlimpíadas Brasileiras de Astrono-mia (OBA).

A partir das informações distribuí-das durante a OBA, moradores dacidade de Varre-Sai, no noroeste

Meteorito �Varre-Sai�: com 4,56 bilhões deanos de existência, a pedra ficou rondandoo Sistema Solar por milhares de anos atécair na cidade homônima do RJ, em 2010

fluminense, desconfiaram que umaestranha pedra que caiu do céu apósum estrondo, em meados de junhode 2010, era um meteorito. Decidi-ram, então, chamar especialistas doClube de Astronomia da cidade deCampos para a identificação. Ao to-mar conhecimento do fato, MariaElizabeth foi ao local e conseguiu re-cuperar uma parte do material para oacervo do Museu Nacional. �A pedrade Varre-Sai tem 4,56 bilhões de anose ficou rondando o Sistema Solar pormilhões de anos até cair nessa cida-de�, explica a pesquisadora.

Nos primeiros 18 meses após o seulançamento, no início dos anos 2000,o projeto conduzido pela astrônomarecuperou vários meteoritos encon-trados por acaso pela população bra-sileira. �Antes do �Varre-Sai�, a últi-ma queda a ser recuperada no Brasilfoi em 1991, do meteorito �CamposSales�, que caiu no Ceará. O �Varre-Sai� é o terceiro registro de meteoritoque caiu no solo fluminense, sendo

Pedaço do �Bendegó�, em exposição no Museu Nacional/UFRJ, na Quinta da Boa Vista:maior meteorito já encontrado em solo brasileiro caiu no sertão da Bahia, em 1784

Foto: Divulgação/Museu Nacional

23 | Rio Pesquisa - nº 15 - Ano IV

No Brasil, o projeto de MariaElizabeth e sua equipe é um passoem direção ao preenchimento dessalacuna. �Há dez anos, quando demosinício ao projeto, o número demeteoritos brasileiros conhecidosnão chegava a 40. Com o aporte derecursos para o projeto, ao longo dosúltimos anos foi possível elevar estenúmero de 55 para 62. E esse núme-ro ainda deve ir a 65, pois temos maistrês meteoritos submetidos à apro-vação do Comitê Meteorítico, daMeteoritical Society, encarregada deaceitar ou rejeitar a proposta de no-mes de meteoritos�, pondera.

Para que um meteorito possa rece-ber a aprovação do comitê, umaamostra de pelo menos 20 g ou 20%precisa ser depositada em uma insti-tuição oficial de pesquisa ou museuque tenha meteoritos � no País, oMuseu Nacional é o local mais tradi-cional de recebimento desses depó-sitos �, além de 10 a 20g extras para

que a última queda registrada no Es-tado tinha ocorrido em Angra dosReis, em 1869", informa MariaElizabeth, que percorre, regularmen-te, diferentes regiões do País em bus-ca de meteoritos, com o intuito deconseguir material para ampliar oacervo do Museu Nacional.

Brasil ignora seusmeteoritos

Com uma extensão territorial de 8,5milhões de quilômetros quadrados,o Brasil tem apenas 62 meteoritosregistrados e catalogados, e estima-se que haja, ainda, em torno de umacentena deles preservada por parti-culares. Apesar de as estatísticas su-gerirem a existência de milhares deexemplares espalhados por seu ter-ritório, são números inexpressivos secomparados ao número de me-teoritos encontrados em outros paí-ses de área muito menor que a brasi-

leira. �Com quase 50% da área daAmérica do Sul, o Brasil possui umaamostragem de meteoritos inferior ado Chile ou da Argentina, com terri-tórios bem menores�, destaca. �Onúmero de meteoritos brasileirosperfaz apenas 5% da quantidade demeteoritos já encontrados nos Esta-dos Unidos, país com dimensõesterritoriais equivalentes às nossas�,completa.

A explicação para essa diferença, deacordo com a astrônoma, reside prin-cipalmente em um trabalho prévio deconscientização da população. �NosEstados Unidos, a grande quantida-de de meteoritos encontradas nãoocorreu por acaso, mas se deveu aoentusiasmo com que o professor deBiologia Harvey Nininger dedicou-se às buscas, desde a década de 1920.Ele promoveu palestras e ofereceurecompensas em troca de meteoritose foi também foi o primeiro negocian-

te nesta área�, explica.

Ano IV - nº 15 - Rio Pesquisa | 24

as análises. O material irá, então, seranalisado quimicamente e ao micros-cópio, comparado aos demaismeteoritos do mesmo tipo, e só de-pois proposto o nome ao ComitêMeteorítico, que se reúne somenteduas vezes ao ano. �Esperamos que,com o desenvolvimento desse pro-jeto, que reúne astrônomos, geólogose leigos, seja possível aumentar sig-

nificativamente o número de meteo-ritos nacionais.�

Outro gargalo a ser superado pelameteorítica � o conjunto de conhe-cimentos sobre meteoros e materi-ais extraterrestres � para ampliar oacervo nacional é a ausência de umalegislação específica no País, já queos meteoritos não se enquadram nacategoria de fósseis e, tampouco, na

de bens minerais. �O Brasil ainda seressente de uma legislação que regu-lamente a propriedade de meteoritos,pois muitas pessoas que possuemexemplares não os exibem por receiode perdê-los�, revela. �Sem informa-ções adequadas, quase sempre con-sideram que cada um desses exem-plares vale alguma fortuna e, por isso,preferem contatar comerciantes es-trangeiros pela Internet para vendê-los pelo que acreditam ser o melhorpreço�, lamenta a astrônoma.

Para a Ciência, o valor de ummeteorito é inestimável. A análisequímica da composição dos elemen-tos presentes nas amostras demeteoritos conta um pouco da histó-ria do universo, ajudando a desven-dar os segredos da formação do Sis-tema Solar. �Por meio da análise dosminerais contidos nos meteoritos,podemos ver as transformações que

Maria Elizabeth Zucolotto: para a astrônoma, é necessário um trabalho prévio deconscientização da população para que esta possa identificar possíveis meteoritos

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Um laboratório para colocar o País na rotados principais telescópios do planeta

Uma parceria entre três unidades depesquisa do Ministério da Ciência eTecnologia (MCT) sediadas no Es-tado do Rio de Janeiro � Observató-rio Nacional (ON), Laboratório Na-cional de Computação Científica(LNCC) e Centro Brasileiro de Pes-quisas Físicas (CBPF) � vem pos-sibilitando que 40 de seus integran-tes, entre estudantes, tecnologistas epesquisadores, participem de algunsdos mais importantes projetos inter-nacionais da astronomia em curso.Trata-se do Laboratório Interinsti-tucional de e-Astronomia (LIneA).Sediado no campus do Observató-rio Nacional, no bairro de São Cris-tóvão, ele foi criado com a finalida-

de de dar suporte à participação bra-sileira em experimentos científicos,utilizando os dados provenientes dedois grandes levantamentos astronô-micos: os projetos Dark Energy Survey

e Sloan Digital Sky Survey III.

Os projetos investigam grandes ques-tões da física fundamental, como aenergia escura, a formação e evolu-ção da galáxia, e a busca de planetasextrassolares. �Essa integração per-mite viabilizar a participação brasi-leira em projetos internacionais devanguarda, em uma relação de custoe benefício bastante vantajosa�, dizo coordenador do LIneA, oastrofísico Luiz Nicolaci da Costa, doON. De acordo com o pesquisador� que é �Cientista do Nosso Esta-

do� e recebeu apoio da FAPERJ pormeio do programa de Apoio a Núcle-

os de Excelência (Pronex) �, essa parce-ria multidisciplinar é um dos poucosexemplos de articulação entre unida-des de pesquisa do MCT.

O LIneA foi concebido paragerenciar toda a infraestrutura dearmazenamento, processamento,análise e distribuição de dados astro-nômicos relacionados com os proje-tos Dark Energy Survey (DES) e Sloan

Digital Sky Survey III (SDSS-III). Oprimeiro tem o objetivo de estudar anatureza da energia escura, que re-presenta cerca de 70% do conteú-do do universo. �O LIneA é um por-tal terciário do projeto DES, distri-buindo esses dados para o Brasil e

Débora Motta

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eles sofreram ao longo de milhões deanos, como choques no espaço,resfriamento e calor�, conta a pesqui-sadora. �É possível relacionar essastransformações e ter um registro daprópria evolução da Terra e da vida.�

Em abril deste ano, Maria Elizabethparticipou do 4º Encontro Internaci-onal de Astronomia e Astronáutica,realizado em Campos dos Goytacazes,que contou com a participação dequatro astronautas, entre eles o únicobrasileiro a ter ido ao espaço, MarcosPontes. �Na ocasião, Charles Duke,que esteve na Lua com a missãoApollo 16, visitou minha exposiçãodois dias seguidos e �andou� em nos-sa falsa Lua�, relembra. Nos primei-ros dias de julho, em evento come-morativo pela passagem de aniversá-rio do museu, a população terá novaoportunidade de saber um pouco maissobre os meteoritos. �Vamos montar

Pesquisadora: Maria ElizabethZucolottoInstituição: Museu Nacional �Universidade Federal do Rio deJaneiro (UFRJ)

outros países�, esclarece Nicolaci,PhD em Física pela Universidade deHarvard. Mais de 120 pesquisado-res participam do projeto, que con-ta com uma câmera de 570 Mpix,acoplada ao telescópio �Blanco�, queintegra as instalações do Cerro Tololo

Inter-American Observatory (CTIO), noChile�, conta.

Já o projeto SDSS-III consiste em le-vantamentos espectroscópicos deextensas regiões do céu, que inclui averificação das condições físicas dosprimórdios do universo, pela distri-buição de galáxias em grande escala;o mapeamento da estrutura, cine-mática e a composição química daspartes mais externas da Via Láctea; eo monitoramento de 11 mil estrelaspara detecção de planetas gigantes.O SDSS-III conta com cerca de 500pesquisadores internacionais. O Bra-sil entrou no projeto em 2008.Criado em 2000, o SDSS já mapeou

um terço do céu e pretende construiro mais completo mapa tridimensionalde cerca de 930 mil galáxias e 120 milquasares. Quando completar seumapa, em 2014, o SDSS terá registra-do 1,5 bilhão de objetos cósmicos.

Em ambos os projetos, a equipe bra-sileira participa tanto das pesquisascientíficas como da distribuição dedados, com sua rede computacionalservida pela Rede Nacional de Ensi-no e Pesquisa (RNP). Além de pes-

quisadores, estudantes e técnicos doON, do CBPF e do LNCC, partici-pam da iniciativa professores da Uni-versidade Federal do Rio de Janeiro(UFRJ), da Universidade EstadualPaulista (Unesp) e da UniversidadeFederal do Rio Grande do Sul(UFRGS). Para mais informaçõessobre o LINeA e os demais projetosaqui citados, consulte www.linea.gov.br, http://des-brazil.linea.gov.br/ e http://bpg.linea.gov.br/

Sede do Laboratório Interinstitucional de e-Astronomia (LIneA), situado no campus doObservatório Nacional (ON), em São Cristóvão: parceria com projetos internacionais

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uma exposição interativa demeteoritos, na qual o visitante poderárealmente tocar em um extraterres-tre�, diz a pesquisadora. Outra atra-ção, adianta, será o �Passeio na Lua�.�É um túnel que reproduz uma cami-nhada na Lua, com crateras no teto,em que o visitante, de capacete, tem asensação de pisar nas crateras lunarespor conta da projeção de um espe-lho�, conta a astrônoma, lembrandoque o visitante poderá tirar uma fotosegurando, em uma das mãos, a re-presentação do que se imagina ser umindivíduo extraterrestre e, em outra,um meteorito, com a pergunta �Qualo verdadeiro ET?�.

Para divulgar na Internet informa-ções sobre os meteoritos e comoreconhecê-los, a professora criou osite www.meteoritos.com.br. Ela pedeaos interessados no assunto que, casoacreditem ter em mãos possíveis

meteoritos, lhe enviem imagens parauma análise prévia do material, aoendereço [email protected].�Não raro, temos informação da pre-sença de artefatos indígenas, comopedras de raio ou corisco, que sãousados como martelos�, diz. Só de-pois de passarem por essa análiseprévia e aprovadas para um examemais detalhado é que as amostrasdeverão, então, ser encaminhadaspara o Departamento de Geologia ePaleontologia do Museu Nacional,Quinta da Boa Vista, São Cristóvão,Rio de Janeiro � CEP 20940-040, aoscuidados da pesquisadora. Nessecaso, são necessários pelo menos 20gdo material encontrado.

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Quando rir é o melhor remédio

Programa deteatro na UniRio,

Enfermaria doRiso, leva alívio ealegria a crianças

internadas emhospitais do Rio

Quem nunca ouviu que rir é o melhor remédio? Um es-tado de ânimo alegre pode

até não ter poderes de cura, mas quepode aliviar as dores dos pacientes,disso ninguém duvida. Pensando nis-so, o programa Enfermaria do Riso, daEscola de Teatro da Universidade Fe-deral do Estado do Rio de Janeiro(UniRio), vem levando a experiênciado humor para as dependênciaspediátricas de três unidades hospita-lares do Rio: Hospital UniversitárioGaffrée Guinle (HUGG/UniRio),Hospital da Lagoa e InstitutoFernandes Figueira (IFF/Fiocruz).

Para a coordenadora do projeto, AnaAchcar, quando se integra ao espaçodo hospital, o palhaço consegueredimensionar ludicamente referên-cias médicas, como jalecos, seringase estetoscópios, contribuindo paraaliviar as tensões emocionais dosprocedimentos médicos e garantin-do atitudes mais positivas das crian-ças com relação à sua doença. �Oenfermeiro-palhaço se dirige ao queainda é saudável em uma criança queestá doente: a sua capacidade debrincar e recriar a realidade a suavolta�, diz Ana, professora e pes-quisadora da UniRio.

Primeiro programa do País de for-mação de estudantes universitários

Elena Mandarim

Alegria contra a doença: palhaços da Enfermaria do Riso visitam pacientes e realizam atividades lúdicas

Ano IV - nº 15 - Rio Pesquisa | 26

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de teatro na linguagem clown (palha-ços) para atuação em ambiente hos-pitalar, o projeto teve início em 1998.A primeira oficina de formação deenfermeiros-palhaços ocorreu noano seguinte e os estudantes come-çaram as atividades em novembro de2000, nas enfermarias do HUGG/UniRio. Em abril de 2006, o traba-lho foi estendido ao IFF/Fiocruz e,em 2009, ao Hospital da Lagoa. Paracomeçar a atuar como enfermeiro-palhaço, os estudantes têm de cursartrês semestres letivos, com discipli-nas específicas. Quando aptos, elescostumam trabalhar em duplas, aolongo do ano, e chegam a registrarum atendimento médio de 800 pes-soas por mês, nos três hospitais.

De acordo com Ana, foram os re-sultados de sua tese de doutoradoque fundamentaram o desenvolvi-mento da metodologia de formaçãodos enfermeiros-palhaços, utilizadano Enfermaria do Riso. �Apesar de terse iniciado como um projeto de ex-tensão, hoje o programa é inter-disciplinar, com integração do ensi-no acadêmico, da extensão social eda pesquisa institucional�, conta.

A formação básica inclui um móduloteórico e outro prático. No primei-ro, o estudante passa por um progra-ma de capacitação, constituído portrês seminários de estudos dirigidos.Cada um enfatiza uma grande áreatemática entre criança, saúde e pa-lhaço, sempre relacionando a lingua-gem clown à prática terapêutica.�Acompanhando os seminários, há oque chamamos de supervisão psico-lógica. Trata-se de sessões de terapiaem grupo, que visam amadureceremocionalmente algumas questõessurgidas durante a experiência nohospital, tais como o óbito de umacriança ou a relação com uma crian-ça sem acompanhante�, acrescenta

Ana, doutora em Teatro pela UniRioe professora do Departamento deInterpretação da Escola de Teatro dauniversidade.

Na parte prática, ministram-se exer-cícios que ativam a percepção do es-paço, do outro e do tempo. Para apesquisadora, as atividades ajudam naformação de um grupo forte e coe-so, capaz de sustentar as variações dasexperiências que se sucederão den-tro do ambiente hospitalar. �Nessafase, buscamos que cada aluno en-contre sua habilidade particular, naintenção de formar uma identidadeartística. Introduz-se, também, o tra-balho de formação das duplas e in-veste-se no exercício de técnicas decomicidade�, explica.

Uma formação complementar incluiminicursos, que enfatizam tanto oconhecimento acerca do crescimen-to da criança como a importânciado brinquedo e do próprio ato debrincar. Há também cursos de ex-tensão ministrados por artistas pro-fissionais convidados, que transmi-tem suas experiências e promovem

Humor alivia as tensões emocionais dosprocedimentos médicos e garante atitudes

mais positivas para a recuperação

Fotos: Flickr/Minsitério da Saúde

TEATRO

Ano IV - nº 15 - Rio Pesquisa | 28

treinamento específico sobre a atua-ção de palhaços em hospitais.

Os três pilares doprograma

Se, por um lado, o Enfermaria do Riso

promove o exercício dos enfermei-ros-palhaços nos hospitais, suas ati-vidades não param por aí. O projetoinclui, por exemplo, cursos eminioficinas direcionados aos profis-sionais de saúde. �O objetivo é es-treitar os laços entre equipe de saú-de e os artistas, facilitando o diálogoe a troca de informações. A ação con-junta propicia um processo de trata-mento mais eficiente e menos trau-mático. Com a atuação do palhaço,as crianças se integram à brincadeirae aceitam, mais facilmente, passar

pelos procedimentos médicos�, diza pesquisadora.

Ana conta que o programa abrangeainda a criação de espetáculos pelosalunos, o que garante que estejamsempre em contato com a prática tea-tral. �Até o momento, já produzimosdois espetáculos. O primeiro,PalhaSOS, ficou em exibição de 2006a 2009 e ganhou dois prêmios demelhor espetáculo: um em Monastir,na Tunísia, considerado o maiorevento internacional de teatro uni-versitário do mundo mediterrâneo, eoutro no XII Fiesta, em Perm, naRússia, onde estivemos graças aoapoio da FAPERJ, por meio do pro-grama destinado a apoiar a partici-pação de pesquisadores em reuniõescientíficas. O segundo espetáculo,

Espera-se, estreou em dezembro de2010 e estamos torcendo para quefaça o mesmo sucesso�, relata.

De acordo com a pesquisadora, oEnfermaria do Riso vem se sobres-saindo pela metodologia usada. �Nosencontros internacionais, sempre so-mos anunciados como o único pro-grama de formação universitária deenfermeiros-palhaços�, ressalta. Elaavalia que o progresso do programaocorreu concomitante ao crescimen-to do próprio mercado de trabalho.�Hoje, podemos afirmar que há umademanda de palhaços para atuar emhospitais, e que nossos alunos se des-tacam nessa nova realidade�, diz.

Apoiado na boa formação dos es-tudantes, na intensa relação com osprofissionais de saúde e na práticados alunos, por meio da criação depeças teatrais, o Enfermaria do Riso

acumula experiências e se consoli-da como uma iniciativa que veiopara ficar. Ana destaca que, a cadaano, o programa ganha mais adep-tos, conseguindo, assim, ampliar oatendimento. Bom para as criançasque, por mais que não possam fugirdaqueles procedimentos hospitala-res, passarão por eles de forma maisdescontraída.

Para a pesquisadora, o apoio daFAPERJ tem sido importante, prin-cipalmente pela sensibilidade comque a Fundação vem diversificandoo apoio aos variados campos do co-nhecimento contemplados por seuseditais e também pelos demais pro-gramas de fluxo contínuo. �Os re-cursos obtidos, por meio do editalApoio a Projetos de Extensão e Pesquisa,de 2010, têm sido importantíssimospara dar continuidade ao projeto�,assegura.

Ana Achcar: à frente do único programa de formação universitária de enfermeiros-palhaços, a pesquisadora da UniRio destaca o aumento da demanda pelo serviço

Pesquisadora: Ana AchcarInstituição: Universidade Federal doEstado do Rio de Janeiro (UniRio)

Integração entrepalhaços e médicos

faz com que ascrianças aceitem

mais facilmente osprocedimentos

Foto: Fernanda Guimarães

29 | Rio Pesquisa - nº 15 - Ano IV

Um cientistade olho nofuturo do PaísMineiro da Zona da Mata,Roberto Soares de Mouraabraçou a Farmacologia ea vida acadêmica, e agoraquer ajudar o País aformar tecnólogos

O entusiasmo com que Roberto Soares de Mourafala de seus projetos e planos poderia ser con-fundido com a empolgação de um cientista ain-

da �verde� que acaba de fazer sua primeira grande desco-berta. Mas isso se o entrevistador não soubesse queestamos diante de um cientista de renome e, agora, gestorna área da Educação. Médico de formação e um apaixo-nado pela Farmacologia, Soares de Moura divide seu tem-po entre as pesquisas com uvas e açaís, a orientação deteses, e a sua mais nova empreitada: levar adiante o proje-to de construção do novo campus do Centro UniversitárioEstadual da Zona Oeste (Uezo) � voltado para a forma-ção tecnológica e destinado a atender à demanda geradapelo crescimento da indústria fluminense.

Aceitar o convite para o cargo de reitor da Uezo não oimpediu, contudo, de continuar lecionando, como pro-fessor-visitante no Departamento de Farmacologia, doInstituto de Biologia Roberto Alcântara Gomes, da Uni-versidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj). Emborajá tenha alcançado a aposentadoria, ele, com sua vastaexperiência na área de Farmacologia, com ênfase em far-macologia cardiovascular e em plantas medicinais, con-tinua orientando alunos em teses de mestrado e douto-rado. Sua produção acadêmica hoje se concentra em ar-tigos sobre hipertensão arterial, plantas ricas empolifenóis e pesquisas que visam à obtenção de novaspatentes, num total de 11 já foram depositadas, no Insti-tuto Nacional de Propriedade Intelectual (INPI).

Flávia Machado

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Ano IV - nº 15 - Rio Pesquisa | 30

A Farmacologia foi uma escolha na-tural de quem, ainda criança, vivia àsvoltas com os remédios recebidoscomo amostras grátis, pelo pai, tam-bém médico. Na cidade em que vivi-am no interior de Minas Gerais, Hei-tor Soares de Moura, o pai, possuíaum armário repleto de remédios querecebia dos laboratórios.

Na pequena cidade de Raul Soares,que leva o nome de seu tio-avô, quegovernou o Estado de 1922 a 1924, efica na Zona da Mata, Soares deMoura teve uma infância daquelas quefazem inveja às crianças das grandescidades: pés descalços, �fruta no pé�e ribeirão para nadar. Os remédios doseu pai, muitas vezes, fizeram as

�Científico�, o equivalente ao ensi-no médio, veio a mudança mais im-portante: a vinda para o Rio de Ja-neiro, cidade em que seu avô já mo-rava. A cidade já fazia parte de seusplanos e sonhos, assim como a Far-macologia. �Desde pequeno, eu sa-bia que um dia moraria no Rio. A ci-dade sempre me fascinou�, conta.Mesmo com apenas 15 anos, morarlonge dos pais não era propriamenteuma dificuldade: a casa de seu avô,em Ipanema, já abrigava outros doisirmãos e também alguns primos.

�O Rio da década de 1950 era umacidade fascinante, onde só havia ca-sas, pouquíssimos carros, as pessoasandavam a pé e de bonde, e não exis-

permanecia no laboratório pes-quisando. Sem participar diretamen-te de grupos ligados à militância po-lítica, as lembranças que tem dos pro-testos de que participava estão liga-das aos aumentos da tarifa do bon-de. �Passávamos azeite no trilho e obonde não conseguia mais andar. Omotorneiro, então, descia da compo-sição e acabava juntando-se a nósnum chope, ali pela área do campus

da Praia Vermelha.�

Sobre o ambiente universitário, eleacredita que não há período mais ricona vida de um jovem que as desco-bertas que se faz na graduação. �Afaculdade é uma porta para um mun-do maravilhoso, na convivência com

lamentações das pobres galinhas doquintal de dona Airam, sua mãe. �Eufazia experiências com as amostras dopapai, misturava remédios e dava àsgalinhas. Vez ou outra, uma morria, eeu fingia que nada sabia�, relembra.

O antigo curso �Primário�, Soares deMoura fez em sua própria casa, comuma professora que vinha dar aulaspara um grupo de crianças. O quar-to filho de uma família de seis irmãos,desde cedo, ele sabia o que queria:seguir os passos do pai, na Medici-na. Assim, cedo saiu de casa para es-tudar fora. O �Ginásio�, cursou emPonte Nova, cidade vizinha, consi-derada mais próspera, onde morouna casa de primos. Ao alcançar o

tia violência�, lembra, nostálgico. �Avida social era simples, mas anima-da. Andávamos muito pela praia deCopacabana e não havia um fim desemana sem baile, os famosos bailesde formatura no Copacabana Palaceou no Hotel Glória.�

A Faculdade de Medicina, ele come-çou a cursar em 1956, obtendo, emseguida, uma bolsa de Iniciação Ci-entífica da Capes, a Coordenação deAperfeiçoamento de Pessoal de Ní-vel Superior (MEC). Seu professorna época era o, já então consagrado,médico, pesquisador e ensaísta CarlosChagas Filho, Patrono da FAPERJ.Passava o dia todo na faculdade e,quando não estava em sala de aula,

pessoas diferentes, experiências ino-vadoras, professores inteligentes. Éuma época de pleno desenvolvimen-to intelectual.�

O início de idas evindas ao exterior

Assim que terminou a Faculdade deMedicina, Moura, admitido comopós-doutorando pela Royal Free Scholl

of Medicine, da Grã-Bretanha, seguiupara Londres, como bolsista da Riker

Foundation. Lá, viveu um ano intensode pesquisas e de novas experiências.Ao contrário da vida acadêmica demuitos bolsistas e pesquisadores,Moura não passou dificuldades fi-nanceiras nem se sentiu isolado em

Soares de Moura aos 18 anos; em viagem pela França, em 1962; ao lado da mulher, Beatriz, e, mais tarde, juntos com os 3 filhos e a mãe, Airam (D)...

Fotos: Arquivo pessoal

31 | Rio Pesquisa - nº 15 - Ano IV

um país estrangeiro. Seu irmão, Hei-tor Soares, era vice-cônsul do Brasilem Londres, e Soares de Moura apro-veitou o convívio e os contatos doirmão com as comunidades brasilei-ra e britânica. Foi na capital britâni-ca que conheceu e se tornou amigodaquele que um dia iria se tornar seucunhado, o então também estudanteSérgio Miranda.

De volta ao Brasil em 1962, foi mo-rar em Florianópolis, convidado aingressar, como professor de Farma-cologia, na recém-criada Faculdadede Medicina de Santa Catarina. Otempo que permaneceu no Sul foicurto, mas suficiente para conhecera irmã do amigo feito em Londres,

dos gatilhos para o desenvolvimen-to de hipertensão arterial seria a in-jeção contínua de dose subpressorade angiotensina, importante molécu-la que atua no controle da pressãoarterial. Os resultados da pesquisaforam tão marcantes em sua vida queele até batizou um pequeno barcoque possuía em Angra dos Reis, naCosta Verde fluminense, com onome de �Angiotensina�. E, claro,tinha que dar explicações o tempotodo sobre o nome do barco!

A �missão� seguinte fora do País le-vou-o a realizar um pós-doutoradona Universidade de Londres. Ele vol-ta ao Brasil em 1972, no momentoem que a Capes reconhece o curso

organização sem fins lucrativos derenome na área de serviços médicose de pesquisas médico-hospitalares.De volta ao Brasil, em 1986, ele in-gressa como professor na Uerj e suaspesquisas ganham um novo rumo: asplantas medicinais brasileiras. Nacontramão das pesquisas realizadasno mundo todo, ele passa a apostarno poder curativo encontrado na ricabiodiversidade brasileira. �Havia umatendência dos pesquisadores brasilei-ros que iam para fora do País conti-nuar os estudos que estavam sendorealizadas no exterior. Eu quis traçarum caminho diferente�, diz.

A primeira planta a ser objeto de pes-quisa foi o Guaco, planta medicinal

Beatriz Miranda, que o acompanhahá 47 anos no casamento, e comquem teve os filhos Anna Tereza,Cristiana e Roberto. �O encontro foipor acaso, em um baile em Flori-anópolis, e eu nem sabia que ela erairmã do Sérgio�, conta.

De Florianópolis, Moura seguiu no-vamente para o exterior, desta vezpara a The Cleveland Clinic Educational

Foundation, nos Estados Unidos, ondeatuou como pesquisador-visitante,trabalhando com Irvine Page � umdos primeiros cientistas a desvendaros mecanismos da hipertensão. Ali,seus estudos, que logo chegariam àspáginas da conceituada revista Science,mostraram, pela primeira vez, que um

de mestrado em Farmacologia e a Fa-culdade de Medicina da Universida-de Federal do Rio de Janeiro (UFRJ)deixa o campus da Praia Vermelha evai para a Ilha do Fundão. Graduadoem Medicina pela UFRJ em 1961,Moura já integrava o corpo docenteda UFRJ há mais de uma década, sen-do, inicialmente, o responsável pelacoordenação do Curso de Especiali-zação em Farmacologia, e, mais tar-de, do Mestrado em Farmacologia.Em 1989, é eleito membro titular daAcademia Nacional de Medicina.

Mas a sede de novos desafios nãopara. Na década de 1980, mais umpós-doutorado, o terceiro, desta veznos Estados Unidos, na Mayo Clinic,

usada para combater bronquites, asma,tosses e resfriados. À época, Mouraparticipou de um projeto ligado aoMinistério da Saúde que tinha por ob-jetivo estudar as propriedades de plan-tas brasileiras a fim de que pudessemser utilizadas nos hospitais públicos.Segundo ele, foram estudadas mais decem plantas, mas somente uma paten-te foi registrada no INPI: a do Guaco.Moura lembra que a falta de interessedos laboratórios em utilizar o medi-camento acabou levando-o à pesqui-sa de outras plantas.

Nos anos 2000, suas atenções se vol-tam para a uva. Como explica o pes-quisador, seu interesse pela frutavem do fato de o vinho tinto ter

...com o barco, em Angra; em sua posse na Academia de Medicina; em Congresso de Cardiologia; e na companhia do prêmio Nobel Robert Furchgott

Ano IV - nº 15 - Rio Pesquisa | 32

propriedades antioxidantes, ser vaso-dilatador, inibir a produção de radi-cais livres e evitar a agregação dasplaquetas. Diversos estudos já evi-denciaram que, em países onde oconsumo da bebida é grande, comoFrança e Itália, o índice de doençascoronárias é bastante reduzido.

�Dediquei meus estudos à casca e aocaroço da uva, pois, além de ser maisbarato que estudar o vinho, eles con-tém alto índice de polifenóis, substân-cia que atua no combate ao colesterolLDL [�colesterol ruim�], à hipertensãoe às doenças coronarianas�, explicaMoura, que é membro titular do Con-selho Superior da FAPERJ desde2006, em vaga nomeada diretamentepelo governo do Estado.

Pesquisa pode resultarem novo medicamento

Depois de muitos anos de estudos eo registro de diversas patentes, Soa-res de Moura conseguiu o aval dolaboratório Aché para a fabricação deum medicamento, que iniciou suafase-piloto em maio deste ano, emuma parceria entre o cientista, o la-boratório e a Uerj. A Agência Nacio-nal de Vigilância Sanitária (Anvisa)autorizou os testes em humanos com�Síndrome Metabólica� � pacientesque apresentam ao mesmo tempodislipidemia, resistência à insulina,obesidade e hipertensão � em seis

centros hospitalares do País. Moura,claro, acompanha de perto o anda-mento dos testes.

A terceira e mais recente planta es-tudada pelo cientista é uma grandeconhecida dos brasileiros, fartamen-te encontrada nas esquinas e lancho-netes do País e muito consumida: oaçaí. Tantas foram as propriedadesdescobertas nessa planta que Mourajá depositou quatro patentes sobre oaçaí. Além de anti-hipertensivo evaso dilatador, ele tem efeitoantioxidante e antiinflamatório. Ricoem polifenóis, o pó do caroço de açaípermitiu a diminuição do colesterole controlou o diabetes dos animaispesquisados. Em outro experimen-to, o extrato do açaí, com rica con-centração da planta, poderá servirpara enxaguatório bucal, prevenindoinflamações; como pomadacicatrizante; e na prevenção dos efei-tos maléficos no pulmão causadopela fumaça do cigarro.

Com todo este fôlego para realizarpesquisas e fazer descobertas,Moura afirma que ainda não estásatisfeito. Acredita que o Brasil estádesperdiçando a ciência que desen-volve nos centros universitários seminvestir na transformação das pesqui-sas em produtos que gerem benefí-cios para a sociedade. �Temos a Ci-ência, mas não temos a Tecnologia.Somos o 12º país em produção cien-tífica e um dos últimos em registros

de patentes de inovações tecno-lógicas�, lamenta. Por isso mesmo,ao ser convidado para assumir o car-go de reitor da Uezo, aceitou semhesitar. �A proposta da Uezo é justa-mente a de ser um centro de forma-ção tecnológica que abrigue não sóos cursos de graduação, mas que ofe-reça também programas de forma-ção de tecnólogos�, diz.

O centro universitário funcionaatualmente no prédio do Instituto deEducação Sarah Kubitschek, emCampo Grande, na Zona Oeste.Depois de empossado no cargo, em2009, e traçar um plano de desen-volvimento da instituição, Soares deMoura realizou, no mesmo ano, con-curso público para garantir a expan-são do corpo docente, que, agora,conta com 122 professores e técni-cos. Se hoje a Uezo conta com cercade 1.900 alunos, Soares de Moura es-tima que, até 2013, quando o novocampus, no Distrito Industrial deCampo Grande, já deverá estar emconstrução, a instituição poderá teraté 6 mil alunos matriculados.

O projeto da primeira fase, que pre-vê a construção de 16 mil metrosquadrados distribuídos entre salas deaula e laboratórios, além da parte ad-ministrativa, está orçado em cerca deR$ 40 milhões. O projeto está agoraem fase de produção da planta exe-cutiva. �A Zona Oeste carioca este-ve, por muito tempo, abandonadaculturalmente, e eu acredito que aUezo terá, também, a função de darum novo impulso à cultura da região,levando música, teatro e artes às pes-soas da região.�

De acadêmico a professor, e agorareitor, são mais de 50 anos dedicadosa estudos, pesquisas e ao desenvolvi-mento da Ciência e da Tecnologia noBrasil. E se Soares de Moura aindatem fôlego de estudante, talvez sejaporque sua trajetória continua intima-mente ligada à vida acadêmica.

Um reitor com vasto currículo em pesquisa: produção acadêmica de Roberto Soaresde Moura tem ênfase em farmacologia cardiovascular e em plantas medicinais

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33 | Rio Pesquisa - nº 15 - Ano IV

Um a favor dasustentabilidade

ônibus

Rio ganha oprotótipo do

primeiro ônibusdo País com

tecnologia flexGNV+Diesel

Uma tecnologia inovadora depropulsão de veículos des-tinada ao transporte público

coloca o Estado do Rio de Janeirona dianteira das políticas para redu-zir a poluição do ar nos grandes cen-tros urbanos. Trata-se do protótipodo primeiro ônibus dotado de ummotor flex GNV+Diesel, capaz derodar tanto com gás natural veicular(GNV) como com diesel, mini-mizando a emissão de poluentes, massem comprometer a sua eficácia. Atecnologia é um desdobramento doprograma Rio Transporte Sustentável,que busca garantir ao Estadofluminense um transporte mais �lim-po� para a Copa do Mundo, em 2014,e os Jogos Olímpicos, em 2016.

O novo sistema proporcionará umaredução significativa de materialparticulado, um dos principais vilõesda poluição do ar nos centros urba-nos, e de 20% menos CO

2, aponta-

do como um dos maiores causadoresdo aquecimento global. A iniciativapartiu do governo do Estado, pormeio da Secretaria de Transportes(Setrans) e da Secretaria de Desenvol-vimento Econômico, Energia, Indús-tria e Serviços (Sedeis). O protótipofoi elaborado em parceria com a ini-ciativa privada, nas filiais brasileiras deduas multinacionais: a MAN LatinAmérica, situada em Resende, na Re-gião do Médio Paraíba, que fabrica oscaminhões e ônibus Volkswagen, e aRobert Bosch América Latina, respon-sável pelo sistema de injeção dos com-bustíveis GNV e diesel no motor doveículo.

O ônibus é o primeiro veículo comtecnologia GNV+Diesel homologa-da pelo Instituto Nacional deMetrologia, Normalização e Quali-dade Industrial (Inmetro). Ele serátestado durante um ano por pesqui-sadores do Instituto Alberto LuizCoimbra de Pós-graduação e Pesqui-sa em Engenharia, da Universidade

Foto: Divulgação/MAN

Débora Motta*

DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL

Ano IV - nº 15 - Rio Pesquisa | 34

Federal do Rio de Janeiro (Coppe/UFRJ), com abastecimento de gásgarantido nesse período pela CEG,do Grupo Gás Natural Fenosa. Acoordenação de monitoramento dostestes ficará a cargo do Jovem Cientista

do Nosso Estado, da FAPERJ, Márciode Almeida D�Agosto, pesquisador eprofessor do Programa de Engenha-ria de Transporte da Coppe/UFRJ. Aetapa de testes do protótipo contacom financiamento da FAPERJ, pormeio da modalidade Apoio ao Desen-

volvimento Tecnológico (ADT 1).

Tecnologiaecologicamente correta

O objetivo do monitoramento doprotótipo GNV+Diesel será avaliara viabilidade do uso da tecnologia nasfrotas de ônibus que circulam noEstado. De acordo com Márcio, oônibus deve começar a circular a par-tir de julho, nas ruas de Resende, emcaráter experimental, isto é, sem re-ceber passageiros. �O desempenhodo veículo será acompanhado pormeio de indicadores, como a medi-ção de sua eficiência energética; a taxade substituição, ou seja, o percentual

de diesel que pode ser substituídopelo gás natural veicular; e a com-provação da viabilidade econômicado protótipo�, afirma o pesquisador,que trabalha no projeto com as pes-quisadoras Cristiane Souza e MariaLívia Almeida, ambas integrantes doLaboratório de Transporte de Cargada Coppe/UFRJ. A iniciativa conta,ainda, com o apoio do Centro dePesquisa e Caracterização de Petró-leo e Combustíveis, o COPPEComb.

De acordo com Márcio, será a pri-meira vez que a tecnologia degerenciamento eletrônico do motorGNV+Diesel, desenvolvida pelaBosch para viabilizar o uso dos doistipos de combustíveis, será testada nomundo. �Se o veículo for abastecidoapenas com diesel, sem gás, funcio-nará normalmente; já se for abaste-cido com gás natural, vai funcionarcom base no sistema de alimentaçãodiesel-gás, utilizando uma grandequantidade de gás e uma pequenaquantidade de diesel, apenas paraprovocar o início da queima, com achama piloto�, explica o engenhei-ro, lembrando que um dos critériosde avaliação do veículo será a utiliza-

ção máxima de gás, que pode chegara 90% de GNV para 10% de diesel.

A versatilidade do sistema GNV+Diesel será um diferencial para a in-serção do produto em diferentes mer-cados, mesmo aqueles carentes deabastecimento de gás natural. �Comoele é movido a GNV e diesel, o ôni-bus não ficará restrito a um únicocombustível. Essa flexibilidade vaipermitir que o frotista revenda o veí-culo mesmo para locais onde a dis-ponibilidade do gás natural veicularou o preço dele não sejamsatisfatórios�, destaca Márcio, lem-brando que o motor GNV+Dieselapresenta alta eficiência em consumode gás natural, semelhante ao motorque funciona apenas com diesel.

O protótipo atende às característi-cas para operação de transporte co-letivo urbano, com motor traseirode seis cilindros e 17 toneladas depeso bruto total. Ele pode se tornaruma tecnologia mais verde ainda seagregar o uso de uma parcela debiodiesel misturada ao diesel. �Osistema GNV+Diesel, sozinho,emite mais gases de efeito estufa queos biocombustíveis. No entanto, éuma tecnologia que pode agregar aoutra, trabalhando de forma com-plementar com o biodiesel�, escla-rece o pesquisador, que é doutor emEngenharia de Transporte pelaCoppe/UFRJ e mestre na mesmaárea de estudo pelo Instituto Mili-tar de Engenharia (IME).

Projeto reúne as esferaspública e privada

O primeiro ônibus com o sistemaGNV+Diesel foi apresentado aopúblico em evento realizado na pri-meira quinzena de maio, no Monu-mento aos Pracinhas, no Aterro doFlamengo. De acordo com o secre-tário estadual de Transportes, JúlioLopes, a expectativa é a de que onovo sistema, a ser adaptado para os

Apresentação do ônibus flex, no Rio: tecnologia busca garantir ao Estado um transportemais �limpo� para a Copa do Mundo, em 2014, e os Jogos Olímpicos, em 2016

Foto: Salvador Scofano/Governo do Estado

35 | Rio Pesquisa - nº 15 - Ano IV

motores originais de fábrica, sejaadotado progressivamente, acompa-nhando a renovação das frotas deônibus. �Se o ônibus for aprovadoem todos os testes, naturalmente, asempresas de ônibus que fazemtransporte de passageiros serão atra-ídas por este modelo, bastantecompensador, e podem ir fazendosuas trocas de frota. O importanteé que possamos chegar a 2016 comuma frota de ônibus limpa, que é onosso objetivo olímpico�, afirmouLopes.

O secretário estadual de Desenvol-vimento Econômico, Energia, Indús-tria e Serviços, Julio Bueno, ressal-tou o esforço conjunto de várias ins-tituições públicas e privadas paraviabilizar o desenvolvimento do ôni-bus GNV+Diesel. Ele acredita queo sistema contribuirá para formaçãode um grande mercado de gás natu-ral no País. �Esta tecnologia, se com-provada a sua eficiência, vai causaruma revolução no mercado, no esta-do do Rio de Janeiro e no Brasil. Issoporque o uso do gás natural reduz ouso do diesel, que é o grande vilãopara o meio ambiente, na área detransportes, pela emissão depoluentes poderosos, como enxofree material particulado, resultados daqueima do diesel�, ponderou Bueno.Outra vantagem do sistema, ainda deacordo com o secretário, será a eco-nomia. �Considerando o fator eco-nômico, o custo do gás natural émenor que o do diesel, compensan-do os investimentos iniciais das em-presas para a adaptação de suas fro-tas�, acrescentou.

O vice-presidente executivo da RobertBosch América Latina, BesalielBotelho, diz que acredita no sucesso

do projeto, da mesma forma quando,há 10 anos, participou do lançamen-to do carro de passeio com motorflex. �O biocombustível revolucio-nou a matriz energética e a indústriaautomobilística brasileiras, ao trazero livre-arbítrio para o consumidor fi-nal. E hoje é outro �golaço� queestamos trazendo para o veículo pe-sado, uma novidade tecnológica de-senvolvida pela engenharia genuina-mente brasileira, como foi o etanol.E com uma novidade: este sistemajá atende às leis de emissões de ga-ses que entrarão em vigor em 2012,ou seja, um sistema eletrônico, mo-derno, tão eficiente quanto o uso dodiesel�, explicou Botelho.

O presidente da CEG, BrunoArmbrust, afirmou, durante o even-

to, que a empresa está preparada parainvestir na construção do sistema deabastecimento e suprir a futura de-manda de veículos com a novatecnologia. O Rio de Janeiro é o Es-tado brasileiro que concentra a maiorfrota de veículos leves comtecnologia GNV � cerca de 748 milveículos � e o maior número de pos-tos de abastecimento deste combus-tível � 421 na Região Metropolitanae 93 no interior. Já para o presidenteda MAN Latin América, RobertoCortes, os impactos ambientais se-rão consideráveis. �O protótipo apre-senta uma alternativa real para o die-sel, reduzindo a utilização do com-bustível e a emissão de poluentes naatmosfera�, defende. Sem dúvida,uma iniciativa que pode beneficiar otransporte urbano e ajudar a fazer adiferença na luta contra as mudan-ças climáticas.

* Com a colaboração da Assessoriade Comunicação do PalácioGuanabara

Márcio D�Agosto: coordenador dos testes domotor flex para avaliar a viabilidade do uso

da tecnologia nas frotas de ônibus quecirculam no RJ

Uma vez aprovado,modelo do motorflex poderá atrair asempresas e garantiruma frota de ônibus�limpa� até 2016

Pesquisador: Márcio de AlmeidaD�AgostoInstituição: Universidade Federal doRio de Janeiro (UFRJ)

Foto: Paul Jürgens/Faperj

Ano IV - nº 15 - Rio Pesquisa | 36

Uma modernidade quetambém tem seu preço

Mudança decomportamento

na populaçãofeminina contribui

para o aumentodos casos deendometriose

A população feminina con-quistou, com a moder-nidade, não só a sua inde-

pendência financeira, mas tambéma sexual. Seguindo o caminho inicial-mente traçado pelos países mais de-senvolvidos no Ocidente, e que aospoucos parece se estender tambémaos demais, a �orientação� que ga-nha terreno mundo afora é: primei-ro investir na carreira; depois, porvolta dos 30 anos, ter família e fi-lhos � estes, em número cada vezmais reduzido, revelam os númerosde censos recentes. Mas, como todaação tem uma reação, a postergaçãoda gravidez e a redução na quanti-dade de gestações também pagamseu preço. Estudos apontam essamudança de comportamento como

uma das responsáveis pelo aumentoda incidência da endometriose. ParaIvan Araujo Penna, professor e mé-dico do Hospital Universitário An-tônio Pedro (Huap), vinculado àUniversidade Federal Fluminense(UFF), embora a doença não tenhacura, o diagnóstico precoce permiteadotar tratamentos que proporcio-nam mais qualidade de vida e, ainda,contribui para diminuir os riscos damulher se tornar infértil.

No Laboratório de Reprodução Hu-mana do Huap, o pesquisador, aolado do também médico RicardoLasmar e da aluna de mestradoRaphaela Souza, trabalha em linha depesquisa voltada para a identificaçãodo padrão genético envolvido naendometriose. �Nossa meta é, pormeio da análise de polimorfismos doDNA, conseguir diagnosticar, aindana infância, mulheres que podemdesenvolver a doença na fase adul-ta�, explica Penna, que recebeu, pormeio do programa Auxílio Instalação

(INST), da FAPERJ, recursos queajudaram a montar a estrutura neces-sária ao andamento do projeto.

De acordo com Penna, alguns estu-dos sugerem que o desenvolvimen-to da endometriose apresenta um

MEDICINA Ano IV - nº 15 - Rio Pesquisa | 36

Elena Mandarim

Adiamento da gravidez pela mulhermoderna, cada vez mais comprometidacom o mercado de trabalho, é um dosfatores que podem contribuir para oaumento da incidência da endometriose

Foto: Stock Photo/Valerij Zhugan

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componente genético, relacionandoa doença a cinco variações de umgene, cujas frequências mudam deacordo com a etnia. �Ou seja, emuma população, o aparecimento daendometriose pode ser determinadopela variação x, enquanto em outrapode ser determinado pela variaçãoy. O que buscamos é, justamente,identificar o padrão, dentro dessasvariações genéticas, para o nosso gru-po étnico�, diz.

O pesquisador conta que já está emandamento a fase do projeto que pre-vê a coleta de material genético, pormeio da saliva, de 100 mulheres comendometriose, diagnosticadas porbiópsia � um método que oferecetotal certeza no resultado � e de 100mulheres que não apresentam adoença. Ele explica que o DNA, detodas, é ampliado e sequenciado, naparte onde se localizam essas varia-ções genéticas. �Acreditamos que, aofinal das análises, poderemos traçaro perfil genético observado no de-senvolvimento da doença em nossaspacientes�, aposta.

Para participarem do estudo, as vo-luntárias precisam preencher um ques-tionário, como explica o pesquisador.�Além de autorizarem o uso do mate-rial genético, o documento serve paradelinear os principais sintomas daendometriose e entender qual o im-pacto que estes provocam em suasvidas�, lembra Penna. As queixas maisrelatadas são: dor durante as relaçõessexuais; cólicas muito fortes antes oudepois do período menstrual; e difi-culdade para engravidar.

Nova ideologiafeminina agrava aendometriose

A endometriose caracteriza-se pelapresença e crescimento de tecidoendometrial fora do útero. Esse te-cido, segundo o pesquisador, servepara revestir a cavidade do útero, pre-parando-o para receber o embrião.Sem fecundação, ele descama e é eli-minado pela menstruação. Penna re-lata que, em 80% das mulheres, ocor-re a �menstruação retrógrada�, quan-do o fluxo sanguíneo volta pelas tu-bas uterinas e é derramado na cavi-dade abdominal. Contudo, em cercade 10% delas, o retorno do sangueprovoca a fixação de endométrio emoutros órgãos, como ovários, liga-mentos pélvicos, intestinos, bexiga,

37 | Rio Pesquisa - nº 15 - Ano IV

Entre os sintomas da doençaestão cólicas muito fortes, dor

durante a relação sexual edificuldade para engravidar

Foto: Foto: Stock Photo/Nihan Aydin

apêndice e vagina. Em casos maisraros, pode ser encontrado em ór-gãos distantes, como pulmão, pleurae sistema nervoso central.

�O endométrio que se fixou forado útero cresce a cada ciclo mens-trual, o que vai agravando aendometriose. Por isso, é conheci-da como a �doença da mulher mo-derna�, visto que a demora em terfilhos e o número reduzido de ges-tações faz com que tenham cercade dez vezes mais menstruações,quando comparado com geraçõesanteriores�, destaca Penna, ressal-tando que o componente genéticopode ser a explicação para o fatode que apenas uma parte das mu-lheres que têm �menstruação retró-grada� desenvolve a doença.

Ano IV - nº 15 - Rio Pesquisa | 38

O médico afirma que há uma de-mora estimada, de quatro a seis anos,entre o início dos sintomas e seu dia-gnóstico final. Tal fato pode ser ex-tremamente prejudicial para as es-truturas reprodutivas femininas, le-vando à infertilidade. �Em torno de60% das mulheres com endo-metriose ficam inférteis, sendo afertilização in vitro a única soluçãopara esses casos�, informa. Para opesquisador, a identificação anteci-

pada das futuras pacientes permiteque essas recebam os cuidados ade-quados. �Mesmo não tendo cura,alguns tratamentos, como o uso depílulas anticoncepcionais, amenizamos sintomas e impedem o avanço dadoença�, diz.

De acordo com o pesquisador, aparte prática da pesquisa deve serconcluída até o fim deste ano, e osresultados devem ser analisados epublicados até meados de 2012. ParaPenna, a participação de outros pro-fessores da UFF e os investimentosdas agências de fomento federais eestaduais têm sido importantes paragarantir o sucesso da iniciativa. �Osprofessores Beni Olégi, José MauroGranjeiro e Priscila Falagan foramfundamentais para o bom desenvol-vimento do projeto. Outro desdo-bramento foi a criação, pelo Minis-tério da Saúde (MS), de uma Unida-de de Pesquisa Clínica no local ondefunciona o nosso laboratório�, diz.Os investimentos federais do MSnesse setor têm como objetivo criarcentros de excelência para o desen-volvimento de trabalhos deintegração entre clínica e laborató-rio, que, neste caso, resultaram emuma parceria que deixou de ser umapromessa e já mostra os primeirosresultados.

Pesquisador: Ivan Araujo PennaInstituição: Universidade FederalFluminense (UFF)

Equipe do Laboratório de ReproduçãoHumana do Huap/UFF (acima, à esq.) e osmédicos Ivan Penna (esq.) e Ricardo Lasmar:objetivo é conseguir identificar, pelagenética, a endometriose ainda na infância

Fotos: Divulgação

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�A universidade brasileira tem sido ummonopólio social e o vestibular é um dos mecanismos queimpede nossa juventude de ter acesso à educação superior�

Aloísio Teixeira:

Oito anos depois de assumira direção da UniversidadeFederal do Rio de Janeiro

(UFRJ) � a maior das universidadesfederais do País �, o economista, pro-fessor titular e pesquisador AloísioTeixeira deixa, neste mês de julho, areitoria dessa que é uma das maisprestigiadas instituições de ensino epesquisa brasileiras. Para Teixeira, queingressou na universidade em 1963,as mudanças foram profundas, des-de então, na estrutura da universida-de: �Algumas foram positivas; outrasnem tanto�. Graduado pela Faculda-de de Ciências Políticas e Econômi-cas da UFRJ, Teixeira obteve o títulode mestre na mesma instituição, an-tes de se tornar doutor pela Universi-dade Estadual de Campinas(Unicamp). Em 1998, ele havia sidoo escolhido da comunidade acadêmi-ca para assumir o cargo de reitor, mas�não levou�, pois o governo federalde então optou por outro nome da�lista tríplice�. Em 2003, após nova

eleição, tendo sido o mais votado, foi,afinal, nomeado reitor, sendo reeleito,em 2007, para um segundo mandato.Sobre a situação do ensino superiorno País, Teixeira avalia que a cober-tura oferecida pelo sistema educacio-nal ainda é pequena, e defende que oReuni � Programa de Apoio a Planos de

Reestruturação e Expansão das Universi-

dades Federais � deixe de ser um pro-grama de governo para se tornar umapolítica de Estado. Ele acredita que auniversidade brasileira deve seguir os�padrões universais de construção dasinstituições universitárias, com corpodocente qualificado e em regime dededicação exclusiva, infraestruturaadequada e liberdade de expressãopara todos os segmentos da comuni-dade universitária�. Confira a entre-vista.

Desde que o senhor ingressou naUFRJ, como estudante, ocorrerammuitas mudanças na universidade.Quais delas o senhor destacariacomo as mais importantes?

Entrei para a Universidade em 1963e o mínimo que posso dizer é que auniversidade brasileira, nesses 48 anos,mudou completamente. Algumas mu-danças foram positivas, outras nemtanto. Entre as primeiras, estão o fimda cátedra vitalícia, a introdução daestrutura departamental, a criação doregime de trabalho docente em tem-po integral e dedicação exclusiva, a im-plantação da pós-graduação e da pes-quisa, a adoção de mecanismos deavaliação e, nos últimos anos, a am-pliação de vagas de graduação e a cria-ção de novas universidades e de no-vos campi, em um movimento deinteriorização sem precedentes; entreos aspectos negativos, a ampliaçãodesmedida do segmento privado, semo devido cuidado com a qualidade ecom a associação entre ensino, pes-quisa e extensão. De modo geral, háuma agenda de problemas que conti-nua a merecer nossa atenção, comdestaque para: 1) os pequenos avan-ços na autonomia universitária; 2) as

ENTREVISTA

Ano IV - nº 15 - Rio Pesquisa | 40

limitações do sistema de financiamen-to; 3) a reorganização sistêmica, bus-cando explorar complementaridades;e 4) a renovação das estruturas admi-nistrativas e acadêmicas das universi-dades, com a substituição da estrutu-ra departamental por outra que faci-lite a integração entre as áreas de co-nhecimento e dê mais agilidade aosprocessos decisórios. Enfrentar essesproblemas é o caminho para superaras marcas constitutivas de nosso sis-tema universitário: fragmentação,patrimonialismo, elitismo e autorrefe-rência, dispersão administrativa e ge-ográfica, e foco na formação profis-sional.

No discurso de sua posse, em 2003,o senhor disse que, pela primeiravez em décadas, o País tinha um go-verno �que não se legitimaria pelaeficiência econômica e administra-tiva, mas exclusivamente no campoda política�. As expectativas foramcorrespondidas? Na sua avaliação,o processo de desmonte da univer-sidade pública no Brasil, a que osenhor se referiu no mesmo discur-so, é coisa do passado?

Aquela frase não era uma previsão, masuma certeza decorrente da análise dascondições políticas da época. E conti-nuo achando que estava certo. Mas�expectativas correspondidas� sãooutra coisa. Algumas expectativas sefrustraram, outras se confirmaram �em particular no que se refere à edu-cação superior e à universidade públi-ca. O processo de desmonte das uni-versidades públicas (federais) foi deti-do, e uma verdadeira revolução está emcurso. É claro que os resultados nãose farão sentir imediatamente, mas le-varão anos para se consolidar. Vale apena destacar: 1) o estabelecimento deum clima de diálogo entre o MEC e asuniversidades: nenhuma propostaapresentada pelo governo deixou deser levada ao conhecimento públicocom antecedência, para que pudesseser discutida; 2) a recuperação dos or-çamentos; 3) a retomada dos concur-sos públicos para docentes e a criaçãode novas universidades e novos campi

nas universidades existentes; 4) oprotagonismo reassumido pelo siste-ma público federal; e 5) o Reuni e asmodificações no sistema de acesso,com o novo Enem e o Sisu.

Ao longo do tempo, o senhor ocu-pou diversas e importantes funçõesna gestão pública. Foi diretor de Pla-nejamento da Finep, secretário dePreços Industriais do ConselhoInterministerial de Preços e superin-tendente da Sunab, durante o PlanoCruzado; secretário de Planejamen-to da Prefeitura do Rio de Janeiro;secretário-geral do Ministério da Pre-vidência e Assistência Social; e ain-da diretor de Administração daEmbratel. Quais desafios o senhornão esperava encontrar ao assumira direção da maior universidade pú-blica federal do País, mas com osquais acabou se confrontando?

São experiências inteiramente diver-sas. Nos postos de governo que ocu-pei � no governo federal ou no mu-nicipal �, mantinha minha posição deprofessor da UFRJ; estava ali tempo-rariamente, para contribuir para a re-construção democrática do País, mascontinuava professor. Foram experi-ências importantes, do ponto de vis-ta administrativo e, principalmente,do ponto de vista intelectual; enrique-ceram meu olhar sobre os problemasdo País e do Estado. A UFRJ, ao con-trário, é a minha casa. Nenhum pro-fessor entra para a universidade paraser reitor ou para ocupar cargos ad-ministrativos, e sim para dar aula, fa-zer pesquisa, desenvolver atividadesde extensão; muitas vezes, os cargosna administração universitária apare-cem como uma cisão em nossa car-reira, um ônus. Mesmo eu, que jápossuía alguma experiência comogestor público, e que me envolvi comos problemas da UFRJ desde que fuicandidato a reitor em 1998 (ocasiãoem que fui o preferido da comunida-de, mas não fui nomeado), não dei-xei de me surpreender com a com-plexidade, a dimensão e a profundi-dade dos problemas com que a Uni-versidade se defrontava. Foi um duro

Aloísio Teixeira: �Montante de recursos destinados à UFRJ aumentou, mas continuainsuficiente, tendo em vista a necessidade de expansão contínua da educação superior�

Muitas vezes, oscargos naadministraçãouniversitáriaaparecem como umacisão em nossacarreira, um ônus

41 | Rio Pesquisa - nº 15 - Ano IV

aprendizado. A UFRJ vivia uma daspiores crises de sua história � os re-cursos orçamentários haviam caído,em termos reais, quase à metade, osconcursos docentes rarearam e a re-posição do quadro técnico-adminis-trativo inexistiu. Tudo isso agravadopela virtual intervenção que sofremosde 1998 a 2002, que reforçou a frag-mentação acadêmica e quase liquidoua nossa autoestima. O maior desafioera reverter esse quadro, o que con-seguimos. Avançamos bastante emdireção à ampliação do número devagas nos cursos de graduação, maiorintegração entre as áreas de conheci-mento, criação de novos itineráriosformativos e ampliação das bolsasconcedidas a estudantes.

Em entrevista concedida em 2010,ao jornal Valor, o senhor afirmouque o grande problema da educa-ção superior no Brasil é que a co-bertura oferecida pelo sistema edu-cacional ainda é �muito pequena�,que apenas 13% dos jovens de 18 a24 anos estavam matriculados eminstituições de ensino superior, e quese o País não investir no ensino uni-versitário e na ampliação de suasvagas, estaremos condenando oBrasil a �não ter futuro�. Como osenhor avalia os programas do go-verno federal para a área, comoReuni, Prouni etc, e como seria a co-bertura ideal?

Em países da Europa e da Américado Norte, o percentual de coberturaé de 60%; a média da América Latinaé de 32%. O Brasil encontra-se emsituação de grande atraso. Creio, noentanto, que demos alguns passosimportantes e o principal foi o Reu-ni. Chamo a atenção para um aspec-to: o Reuni foi o primeiro programade governo que teve como foco a gra-duação. Nos últimos 40 anos, todosos programas do governo federal ti-veram como alvo a pós-graduação ea pesquisa. Mas não basta. É precisoque o Reuni deixe de ser um progra-ma de governo para se tornar umapolítica de Estado. Ou seja, que nãose esgote nas ações implementadasnestes cinco anos, mas se prolongue

no tempo até que as metas de co-bertura da educação superior sejamalcançadas.

Um dos grandes problemas das uni-versidades é a inadequação de seuorçamento, comumente insuficiente.O orçamento destinado à UFRJ co-bre inteiramente as despesas neces-sárias para o seu funcionamentosatisfatório e para investimento emsua modernização?

Acho que nenhum reitor responde-ria afirmativamente a essa pergunta.No nosso caso, com mais razão. Masnão há como desconhecer o que ocor-reu: quando assumi, em 2003, o or-çamento para OCC (outros custeiose capital) era de pouco mais de R$ 40milhões, com praticamente nenhumrecurso destinado a investimento; em

2011, serão mais de 400 milhões, comquase R$ 90 milhões para investimen-to. Naquele ano, metade do orçamen-to era destinada ao pagamento deenergia; agora, mesmo com o aumen-to dos gastos nessa rubrica, eles pas-saram a ser administráveis, o que per-mite à universidade melhorar o seuplanejamento. Mas, certamente, ain-da é insuficiente, tendo em vista a ne-cessidade de expansão contínua daeducação superior.

Ingressar na UFRJ está, há muitasgerações, entre os principais sonhosdos jovens estudantes. Mas, anual-mente, a universidade, embora pú-blica, vem admitindo, em média,70% de estudantes egressos dasescolas particulares do Rio e do restodo País, deixando de fora um gran-de contingente de alunos socialmen-

te menos favorecidos. O que temfeito a universidade para modificaros critérios de acesso à instituição edar oportunidade àqueles que nãotêm como financiar seus estudos emuma instituição privada?

Os indicadores de desigualdade noBrasil são os piores do mundo. Seriadifícil imaginarmos que uma socieda-de com o perfil de distribuição de ren-da e de riqueza que existe entre nós,poderia ter uma universidade (ou umsistema educacional) diferente. A uni-versidade brasileira tem sido um mo-nopólio social e o vestibular é um dosmecanismos que impede nossa juven-tude de ter acesso à educação superi-or. As modificações introduzidas peloMEC no Enem e a criação de um sis-tema unificado de acesso são passosdecisivos para a construção de umauniversidade socialmente mais justa.A UFRJ aderiu parcialmente ao Sisuem seu último processo seletivo eadotou, complementarmente, umapolítica afirmativa para valorizar oensino básico nas redes estadual emunicipais do Rio de Janeiro. Infeliz-mente, o Poder Judiciário des-constituiu essa ação e estamos estu-dando novos caminhos com vistas ademocratizar o acesso à nossa uni-versidade.

A Ilha do Fundão, onde se encontrao principal campus da UFRJ e poronde circulam cerca de 60 mil pes-soas diariamente, sofreu, ao longodas últimas décadas, com o proces-so de degradação de seu entorno.Essa situação acabou levando a umasensação de insegurança paraaqueles que têm de frequentar ocampus, de estudantes a funcioná-rios. A instalação de UPPs e as obrasde infraestrutura na região parecem,aos poucos, propiciar a recuperaçãoda tranquilidade para aqueles quetransitam pela área. Como o senhorvê esta situação?

Temos feito um esforço muito gran-de para melhorar a segurança na Ci-dade Universitária e temos certezaque, atualmente, as condições são me-lhores que há oito anos. Os indica-dores de violência caíram e são hoje

A universidade é umainstituição de grandecomplexidade, quenão podedesenvolver-se senãoem estreito contatocom a sociedade

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menores que em outras regiões da ci-dade. Investimos muito, reequipamosa vigilância, instalamos um sistema demonitoramento por câmaras e passa-mos a controlar entradas e saídas docampus. Mesmo assim, ainda há muitoo que fazer. Algumas ações estão emcurso, mas o mais importante não de-pende de nós e sim do governo fede-ral. Trata-se de reconhecer a especi-ficidade das universidades e permitir areabertura de concursos para a reno-vação do quadro de vigilantes.

A instalação de centros de pesquisade empresas estrangeiras no ParqueTecnológico situado dentro docampus da UFRJ, na Ilha do Fundão,atraídas por oportunidades ofereci-das pelo País, notadamente nas áre-as do pré-sal, de energia e de meioambiente, promete dar novo impul-so à universidade. Qual a importân-cia da parceria empresa-universida-de e que ganhos a presença desseconjunto de centros de pesquisapode propiciar à UFRJ?

A experiência do Parque Tecnológicotem sido muito importante para aUFRJ. A universidade é uma institui-ção de grande complexidade, que nãopode desenvolver-se senão em estrei-to contato com a sociedade. O Par-que Tecnológico permite uma articu-lação orgânica com o sistema produ-tivo, que é imprescindível para algu-mas áreas de Ciência e Tecnologia. Etemos tido o discernimento de, nes-sa articulação, preservar o interessenacional e o interesse da universida-de. O Parque Tecnológico não é umempreendimento imobiliário, mas umprojeto que permite transferência deconhecimentos para a universidade epara o País.

A internacionalização das universi-dades é apontada como um impor-tante caminho para garantir o desen-volvimento científico e tecnológiconecessário aos países que almejamcompetir no mercado global, e, maisque isso, com a própria sobrevivên-cia das instituições. O senhor con-corda com esse diagnóstico?

Quando se fala em internacio-nalização das universidades, pode-se

estar falando de muitas coisas e nemtodas têm o mesmo significado e amesma importância. Mas é forçosoreconhecer que, nas condições domundo de hoje, nenhuma universida-de pode-se desenvolver se não esta-belecer sólidas relações com institui-ções do mundo inteiro.

A UFRJ detém uma produção cien-tífica de destaque no cenário naci-onal, mas vem perdendo posições,especialmente com relação às uni-versidades estaduais paulistas. Equando se compara às universida-des de países desenvolvidos e al-gumas dos BRICs, a UFRJ não estáentre as primeiras 300 ranqueadaspor diferentes institutos internaci-onais. Como vencer o desafio demelhorar a qualidade em nossasinstituições e, particularmente, naUFRJ?

Comparações são sempre perigosas.De qualquer forma, não nos pareceque estejamos perdendo posiçõescom relação às universidades estadu-ais paulistas. Em vários certames,como na distribuição de recursos doCT-Infra, tivemos mais projetosaprovados que elas. Nesses últimosoito anos, aumentou significativa-mente o número de programas depós-graduação da UFRJ com notasmáximas na Capes, melhorou nossainfraestrutura de pesquisa e cresceua quantidade de estudantes matricu-lados em nossos cursos de mestradoe doutorado. E, com relação à gra-duação, estamos mais bem situados

no ranking nacional. Um ponto, en-tretanto, deve ser ressaltado: os or-çamentos das universidades estadu-ais paulistas, mesmo com a recupe-ração dos últimos anos, ainda são su-periores aos nossos � e isso faz todadiferença. Devemos considerar tam-bém que o sistema federal cresceunos últimos anos, em quantidade eem qualidade, o que é muito impor-tante para o País. Temos hoje umarede nacional, integrada por univer-sidades que desenvolvem ensino dequalidade, nos níveis de graduação ede pós-graduação, e que estão envol-vidas em pesquisas de ponta, em to-das as áreas do conhecimento. Maspara que esse processo tenha conti-nuidade, é mais importante a coo-peração entre as universidades que acompetição. A UFRJ está convencidade que pode contribuir para amelhoria da educação superior bra-sileira e entende que isso só será al-cançado se conseguirmos manter: 1)obediência aos padrões universais deconstrução das instituições univer-sitárias: corpo docente qualificado eem regime de dedicação exclusiva;infraestrutura adequada; liberdade deexpressão para todos os segmentosda comunidade universitária; 2)indissociabilidade entre ensino, pes-quisa e extensão; 3) avaliação.Estamos buscando novos modelos� não para atender a nossos anseios,mas para responder às demandas dasociedade brasileira. E nessa busca,alguns princípios são essenciais: amanutenção do caráter público dasatividades universitárias; a preserva-ção e ampliação das grandes conquis-tas como autonomia e forma demo-crática de governo; a fidelidade aospadrões internacionais de produção,cultivo e difusão do saber; o com-promisso com a busca de soluçõespara os problemas sociais e do de-senvolvimento global e autônomo dasociedade nacional; e a liberdade demanifestação e de pensamento paratodos os membros.

Os orçamentos dasuniversidadesestaduais paulistas,mesmo com arecuperação dosúltimos anos, aindasão superiores aosnossos � e isso faztoda diferença

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Uma química diferente paraajudar o País e o planeta

O ano de 2011 foi declarado o Ano Internacional daQuímica pela Organização

das Nações Unidas (ONU), como re-conhecimento do significado globalda Química e de suas contribuiçõespara um mundo melhor. As come-morações ao longo do ano estão sen-do propostas por meio da União In-ternacional de Química Pura e Apli-cada (Iupac), e as metas incluem umaumento no reconhecimento, pelopúblico, do papel da Química no aten-dimento das necessidades do mundo,o estímulo ao interesse dos jovens pelaQuímica e uma celebração das con-tribuições das mulheres à Ciência.

Em nosso País, as associações cien-tíficas, profissionais e empresariais dosetor Químico têm destacado estefato em todos os eventos realizadosao longo do ano. A formatação des-sa nova conceituação com relação aessa área teve início nos anos 1990,principalmente nos Estados Unidos,

Em artigo exclusivo para arevista Rio Pesquisa, umgrupo de pesquisadores

da UFRJ defende aascensão da �química

verde� como oportunidadeestratégica para o País

Peter Rudolf Seidl, SuzanaBorschiver, Estevão Freiree Claudio Araujo Mota*

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A poluição atmosférica causada, so-bretudo, pela emissão dos gases lan-çados por veículos automotores, éoutro aspecto importante da questão,que tem como ápice o aquecimentoglobal, pressionando as indústrias nomundo todo a rever e mudar seushábitos convencionais de produçãoe de desenvolvimento de produtos.

O dinamismo dessas mudanças estáafetando, de forma crescente, omodo como as empresas estabelecemseus planejamentos estratégicos, sejaporque têm de enfrentar novos ris-cos, seja porque vislumbraram opor-tunidades de investimento ou porquevêm sofrendo pressões de consumi-dores e governos. Enfim, as organi-zações não podem mais ignorar aquestão ambiental, que, associadacom a diminuição progressiva dasfontes fósseis de energia e matéria-prima, tem levado à mudança deparadigmas e, como consequência, anovos modelos de negócios.

Conceitos que se referem à produ-ção limpa e a inovações verdes já es-tão relativamente difundidos em apli-cações industriais, particularmenteem países com indústria química bas-tante desenvolvida e que apresentamrigoroso controle na emissão deagentes poluentes. Fundamentam-seno pressuposto de que processosquímicos com potencial de impactarnegativamente o meio ambiente ve-nham a ser substituídos por proces-sos menos poluentes ou não-poluentes. Tecnologia limpa, pre-venção primária, redução na fonte,química ambiental e química verdesão denominações que surgiram eforam cunhadas no decorrer das úl-timas duas décadas para traduziresses novos conceitos. A palavra�verde� se transformou em sinôni-mo de limpo e carrega um signifi-cado político; a �química�, por suavez, foi trazida, para o centro daquestão ambiental; �sustentabilida-de ambiental, social e econômica�

Reino Unido e Itália, com a introdu-ção de novos conceitos e valores paraas diversas atividades fundamentaisda Química, bem como para os di-versos setores correlatos da ativida-de industrial e econômica. A sua in-trodução na agenda de Ciência,Tecnologia e Inovação no Brasil,contudo, é bastante recente.

Praticamente desde a época da revo-lução industrial, a questão ambientaltem chamado a atenção da socieda-de, com os ruídos ensurdecedores de

máquinas e motores e de chaminésdas fábricas que lançavam no ar gran-des quantidades de gases tóxicos,como cloro, amônia, monóxido decarbono e metano. Rios eram conta-minados com a descarga de grandevolume de dejetos, provocando epi-demias de cólera e febre tifoide. Ou-tra questão é o debate em torno daconstrução de novas usinas nuclea-res, e mesmo o fechamento das exis-tentes, por causa dos recentes inci-dentes no Japão.

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traduz o futuro desejado; e �quími-ca verde� reflete a união dessas ideias.

Conscientes de sua importância eurgência, diversos países, como EUA,Reino Unido, Itália, Canadá e Ale-manha, além de outras iniciativas naJapão, Espanha, Suécia, Rússia e Bra-sil, já criaram ações próprias de �quí-mica verde�.

No caso do Brasil, o futuro da �quí-mica verde� � uso de matérias-pri-mas renováveis � pode ser apresen-tado como uma grande oportunida-de estratégica para o País se inserir eaté liderar segmentos relacionados àssuas diversas áreas em âmbito mun-dial. O Brasil encontra-se em umaposição privilegiada para assumir aliderança no aproveitamento integraldas biomassas, pelo fato de possuira maior biodiversidade do planeta,possuir intensa radiação solar, águaem abundância, diversidade de climae pioneirismo na produção debiocombustíveis. São inúmeras asoportunidades para o País im-plementar inovações verdes nos maisdiversos segmentos de mercado, pelaagregação de valor às matérias-pri-mas renováveis, permitindo, assim,que se passe de uma economia deexportação de commodities para umaeconomia de bioprodutos inovado-res e de alto valor agregado �abioeconomia.

De acordo com a empresa deconsultoria Mckinsey&Company, areceita da �química verde� deverá seexpandir de US$ 170 bilhões em2008 para US$ 307 bilhões em 2020� o que deverá corresponder a, pelomenos, 10% no conjunto da ofertade produtos petroquímicos.

De olho nesse mercado, diversasempresas com presença internacio-nal já se mexem nesse novo tabulei-ro, fazendo suas apostas. Algunsexemplos são a parceria entre aAmyris e Procter & Gamble, no usoda molécula de farneseno, derivado

da cana-de-açúcar, para o mercado decosméticos, e da Amyris com a Raízen(resultado da união da Cosan e Shell),para utilização dessa mesma molécu-la para o mercado de combustível. Jáas companhias europeias Royal DSMe Roquette Frères anunciaram paraeste ano de 2011 a construção de umafábrica para a produção de ácidosuccínico (componente químico uti-lizado na fabricação de polímeros, re-sinas, produtos alimentares e farma-cêuticos, entre outros produtos), debase biotecnológica, com capacidadede 10 mil toneladas ao ano.

No Brasil, já se observam iniciativaspor parte de diversas empresas en-volvidas com as novas biorefinarias� estrutura análoga a das refinariasde petróleo, que fabricam diversosprodutos a partir de matérias-primasrenováveis e seus resíduos, comocombustíveis � em grande volume �e também produzindo uma parcelade produtos químicos de alto valoragregado, com o objetivo de ampliara lucratividade �, como é o caso daHC Sucroquimica e da Butamax,ambas fabricantes de biobutanol, apartir da cana-de-açúcar. Enquantoa primeira tem foco na produção deacetato de butila para fabricação detintas, a segunda tem interesse nomercado de combustíveis. Outroexemplo é a PHB, fabricante de plás-tico biodegradável. Os chamados�plásticos verdes� apresentam umasérie de vantagens ambientais comrelação aos produtos feitos a partirde combustível fóssil, pois estudosdemonstram que, em média, paracada tonelada de plástico verde pro-duzido, 2,3 toneladas de CO

2 são

capturadas da atmosfera durante oplantio da cana-de-açúcar.

A estratégia brasileira para aprovei-tar estas vantagens comparativas ébaseada na estruturação de uma redebrasileira de pesquisa, desenvolvi-mento e inovação (P,D&I) em �quí-mica verde� e na criação de uma Es-

cola Brasileira de Química Verde. ARede Brasileira de Química Verdealmeja, de acordo com as primeirasdiscussões reunindo centros de pes-quisas, universidades e associações declasse, �ser referência mundial no de-senvolvimento de produtos e proces-sos limpos, de acordo com os prin-cípios da �química verde�, visandoreduzir o impacto dos atuais proces-sos químicos no meio ambiente na-cional, e contribuindo para que o Paístenha um modelo de desenvolvimen-to industrial sustentável, no médio elongo prazo�.

Considerando a necessidade de ade-quar o País aos novos paradigmas daeconomia da sustentabilidade basea-da no uso de matérias-primasrenováveis, para um horizonte de 20anos, foram delineadas cinco estra-tégias em âmbito nacional: a)institucionalizar um programa nacio-nal em química verde, considerandoseus avanços e desdobramentos naconjuntura político-econômica inter-nacional; b) estruturar a Rede Brasi-leira de PD&I em química verde; c)criar a Escola Brasileira em QuímicaVerde; d) fomentar o desenvolvimen-to da bioeconomia no País; e) criarmarcos regulatórios para permitir ouso ecologicamente correto e soci-almente justo dos seus recursos na-turais, bem como certificar produtose processos referentes a inovaçõesverdes.

Assim, acreditamos que o desafio deconstituir novas bases para um desen-volvimento sustentável aponta na di-reção do emprego de �processos quí-micos verdes�, com suas soluções ino-vadoras e ecologicamente corretas.

* Os pesquisadores Peter R. Seidl,Suzana Borschiver e Estevão Freireintegram a Escola de Química daUniversidade Federal do Rio deJaneiro (UFRJ); Claudio de AraújoMota é pesquisador do Instituto deQuímica da mesma universidade.

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As diferentes facesda metrópole

Pesquisadores doINCT Observatório

das Metrópolesafirmam que a

passagem demegaeventos pelo

RJ oferece raraoportunidade paraa implementaçãode um modelo dedesenvolvimentoque promova um

crescimentosustentável

Os megaeventos esportivosprevistos para o Rio de Ja-neiro � a Copa do Mundo

de 2014 e os Jogos Olímpicos de2016 � impõem um desafio a maispara aqueles que trabalham em umaampla variedade de projetos que vi-sam solucionar problemas comunsàs grandes aglomerações urbanasneste início de milênio. �O momen-

to é particularmente delicado. Te-mos a possibilidade de encarar maisprofundamente os problemas me-tropolitanos, em uma real perspec-tiva de justiça distributiva,sustentabilidade e modernizaçãopara o Rio�, diz o coordenador doInstituto Nacional de Ciência eTecnologia (INCT) Observatório das

Metrópoles, Luiz César Queiroz Ribei-ro. Embora o cenário pareça otimis-ta, ele adverte que os agentes envol-

vidos nessas possíveis transforma-ções precisam compreender a im-portância de se pensar soluções delongo prazo. �Se não houver um realempenho em aproveitar este mo-mento positivo, estaremos perden-do a conjuntura perfeita para em-preender uma mudança radical natrajetória da sociedade fluminensee implementar um modelo de de-senvolvimento que promova umcrescimento sustentável no tempo.�

Vilma Homero

REGIÃO METROPOLITANA

Obras do PAC em uma unidade habitacional na Rocinha: situada entre a Zona Sul e a...

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Nacional de Desenvolvimento Cien-tífico e Tecnológico (CNPq) em par-ceria com agências de fomento nosestados, como a FAPERJ �, o Obser-

vatório das Metrópoles vem destacandoo Rio de Janeiro como liderança na-cional da reflexão acadêmica e estra-tégica sobre desafios metropolitanosdo desenvolvimento do País.

Constituído como um grupo de pes-quisadores de vários campos discipli-nares, sob a coordenação geral do Ins-tituto de Pesquisa e Planejamento Ur-bano e Regional da Universidade Fe-deral do Rio de Janeiro (Ippur/UFRJ),o Observatório das Metrópoles, que desde2009 se transformou em INCT, vemestudando, de forma sistemática, com-parativa e totalizante, as diversas regi-ões metropolitanas do Brasil. �Traba-lhamos em uma rede institucionalconsolidada, que reúne 98 pesquisa-dores principais, integrantes de 50 ins-tituições, sendo 41 delas no campouniversitário (41 programas de pós-graduação), três no campo governa-mental e outras seis instituições não-governamentais.

Organizado na forma de núcleos, oINCT Observatório das Metrópoles estápresente em 15 metrópoles diferen-tes � Rio de Janeiro, São Paulo, BeloHorizonte, Porto Alegre, Curitiba,Santos (SP), Vitória, Salvador, Reci-fe, Fortaleza, Natal, Maringá (PR),Goiânia, Brasília e Belém. Isso per-mite aos pesquisadores estudar a di-versidade das várias realidades me-tropolitanas, resultantes de conheci-das desigualdades regionais e, assim,traçar o retrato mais completo pos-sível do País, como um todo.

Os INCTs foram criados em 2008, apartir de iniciativa do Ministério deCiência e Tecnologia (MCT) � frutode um programa nacional que contacom a participação do CNPq, daFAPERJ e de outras fundações esta-duais de amparo à pesquisa, do Mi-nistério da Educação, do Ministérioda Saúde, do BNDES e da Petrobras.

Nessa fase de tomada de decisões,que garantam, lá na frente, o sucessode um complexo planejamento,César Ribeiro acredita que a pergun-ta a ser feita é: �O quanto essesmegaeventos estão sendo vistoscomo oportunidades reais para resol-ver os problemas metropolitanos doRio de Janeiro?�. Recorrendo a umametáfora, ele mesmo responde: �Odesafio é aproveitar essa chance his-tórica não apenas para reformar o

...Zona Oeste, a comunidade foi beneficiada com investimentos de infraestrutura

Foto: Divulgação/Emop

Maracanã, mas também para refor-mar a sociedade fluminense. Sem isso,corremos o risco de deixar grandeparte da população apenas como es-pectadores e não como os principaisbeneficiários dessa festa�, alerta.

Na verdade, o INCT Observatório das

Metrópoles não se ocupa apenas do Riode Janeiro. Desde 1997, quando ain-da era um dos núcleos do Programade Apoio a Núcleos de Excelência(Pronex) � iniciativa do Conselho

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São 123 INCTs implantados no Paíse o estado do Rio de Janeiro é sedede 19 deles, em um investimento decerca de R$ 72 milhões �R$ 36 mi-lhões via FAPERJ.

�Nossas concepções de pesquisaatravessam várias disciplinas parapensar políticas que não sejamsetorialistas�, explica César Ribeiro.Para isso, seus integrantes � especia-listas em áreas como Urbanismo, Pla-nejamento Urbano e Regional, Eco-nomia, Geografia, Sociologia, Edu-cação, Estatística e Direito � traba-lham sobre quatro linhas de pesqui-sa distintas: uma delas estuda os fe-nômenos metropolitanos em escalanacional, regional e global; uma se-gunda linha analisa como as metró-poles brasileiras estão se organizan-do, seja internamente, seja com rela-ção às desigualdades sociais; a terceiraacompanha o desafio da governançae as instituições capazes de gerenciare planejar essas metrópoles; enquan-to a quarta busca transferir para a so-ciedade e para os atores dessa gestãoo conhecimento e as propostas quesurgem a partir das análises feitas.

Para os pesquisadores, um dos desa-fios sempre presente são as desigual-dades sociais, que se conectam coma forma como o território se organi-za. Nesse sentido, o Observatório das

Metrópoles desenvolveu, com recursosdo edital Pensa Rio, da FAPERJ, estu-dos para diagnosticar os problemasdo Estado do Rio de Janeiro e suge-rir caminhos, em três diferentes ver-tentes: economia e território; popu-lação, sociedade e território; e gover-no e território. Uma das constataçõesdo trabalho é o descompasso entreo potencial de desenvolvimentofluminense e seu real aproveitamen-to. �O Rio de Janeiro é a segundametrópole na hierarquia urbano-me-tropolitana brasileira, concentra 6,4%da população nacional e 9,7% da ren-da, conta com 10,2% da capacidadetecnológica da economia nacional,

mas tem apenas 5,8% do valor detransformação industrial das empre-sas industriais exportadoras e inova-doras. Há, portando, uma expressivadesproporção entre a capacidadetecnológica da metrópole do Rio deJaneiro e sua base produtiva inova-dora. Tal constatação, entre outras,orienta a nossa atividade de pesqui-sa, formação e extensão para estimu-lar o pensamento estratégico sobreo futuro do Rio de Janeiro e alimen-tar a construção de soluções, o quevimos fazendo na forma de apresen-tação de resultados, como cursos efóruns�, diz o pesquisador.

Em uma análise mais detalhada des-se panorama, César Ribeiro procuraexplicar como chegamos ao momen-to atual. �O Rio de Janeiro passoupor uma situação econômica delica-da nas últimas décadas, frente ao ce-nário nacional. A crise econômicados anos 1980, conhecida como a�década perdida�, teve forte impactono Estado, dificultando ainda maisque a economia fluminense encon-trasse uma trajetória de recon-figuração para seu longo e históricoprocesso de arrefecimento da indus-trialização�, avalia. Segundo Ribeiro,a crise econômica acirrou a crise so-cial, fazendo crescer o problema daviolência e desestimulando a instala-ção no Estado dos �circuitos econô-micos�. Hoje, afirma, o momento éoutro. �Os eventos esportivos de2014 e 2016 trouxeram novas pers-pectivas para a cidade. Vivemos ummomento de grandes possibilidades.Há otimismo e recursos dos setores

públicos e privados, harmonia dosgovernos municipal e estadual, o quetorna o momento ideal para resolvergraves problemas da metrópole�,garante.

Um deles, por exemplo, é a questãodos transportes, uma vez que as difi-culdades de mobilidade na cidadeimplicam também outras questões,como o acesso a emprego e renda. �Seo planejamento da oferta de transpor-te for pensado apenas em função dasnecessidades de realização dos gran-des megaeventos, essa mobilidade seráapenas pontual, circunscrita à ZonaSul, Centro, Maracanã e ao início dosbairros de Deodoro e MarechalHermes, na Zona Oeste. Isso deixaráde fora populações de áreas distan-tes, como Campo Grande e Bangu, edos municípios da Baixada Flu-minense�, pondera.

Outro exemplo desse quadro está naárea da Educação. Pode-se dizer queas escolas funcionam de acordo coma região onde estão localizadas. NaZona Sul, o efeito da segregaçãoresidencial � asfalto e favela � ter-mina também determinando umasegmentação entre escolas públicase particulares, com prejuízo de in-vestimentos e qualidade para as pri-meiras. �Nos bairros onde essa seg-mentação não é tão forte, e ondeexiste uma maior integração entremoradores mais e menos abonados,como Méier, Cascadura e Tijuca, asescolas públicas funcionam melhor.Mas em áreas de pobreza generali-zada, como em vários bairros daZona Oeste, isso termina atuandode forma negativa, determinandoum desempenho escolar igualmen-te baixo�, explica.

Esse pode ser um dos motivos pelosquais, embora a cidade do Rio de Ja-neiro apareça com bom desempenhona Educação, o conjunto da RegiãoMetropolitana tenha um Índice deDesenvolvimento da Educação Bá-sica (Ideb) inferior a muitos outros

Projeto avalia aconexão entre asdesigualdadessociais e a formacomo o territóriose organiza

49 | Rio Pesquisa - nº 15 - Ano IV

municípios do interior do Estado do Riode Janeiro. �A média do Ideb do primei-ro segmento do Ensino Fundamental dosmunicípios fora da Região Metropolita-na, por exemplo, tem sido em torno de4,3, enquanto nos municípios metropoli-tanos foi de apenas 3,8�, cita César Ri-beiro.

Se a questão for analisada em um contex-to mais amplo, vemos que a escola de-pende de um universo que engloba famí-lia, território, oferta de serviços básicos.�Em uma área em que as famílias sãoigualmente carentes, onde impera a vio-lência do tráfico de drogas e onde a cir-culação de recursos e de informações élimitada, fica difícil para os alunos seespelharem em modelos de indivíduosmais bem-sucedidos, como aconteceria sehouvesse uma maior mistura social. Issofaz crescer o desinteresse pela escola, quedeixa de ser vista como uma possibilida-de de mobilidade social�, aponta.

Impacto semelhante dessas desigualdadessociais aparece no mercado de trabalho,que na Região Metropolitana é bastantesegmentado. �Como renda e empregoestão fortemente concentrados nas áreascentrais da cidade, restam às zonas deperiferia as piores colocações. Somem-sea isso as dificuldades do sistema de trans-porte, que tornam ainda mais difícil a li-vre e ampla circulação por todo o territó-rio do Estado e que terminam agravandoessa segmentação e gerando uma desi-gualdade a mais.�

Essa dificuldade de circulação, por sinal,segundo o coordenador do INCT, é tam-bém um dos motivos de pressão para ocrescimento das favelas. �Veja, por exem-plo, a Rocinha. Situada na fronteira entredois territórios que concentram renda eemprego, Zona Sul e Zona Oeste, refleteessas desigualdades. Ali, o morador abriumão da possibilidade de uma melhor ha-bitação para garantir o acesso a empregoe renda�. Há também as situações nasquais o indivíduo que mora em áreas dis-tantes das oportunidades de trabalho élevado a aceitar uma colocação mais pró-xima de sua residência, embora aquém de

Teleférico do Complexo do Alemão, na Zona Norte: obra facilita o acesso diário de moradores

Foto: Divulgação/Emop

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seu padrão de educação, para garan-tir qualquer renda, mesmo abaixo doque poderia conseguir se morasse emoutra região da cidade.

Some-se a este cenário que o Estadodo Rio de Janeiro vive um processode expansão de novas frentes de ur-banização. �Uma delas acontece emfunção da extração do petróleo emregiões como Campos dos Goy-tacazes e Macaé, no norte fluminense.A isso se segue uma explosãodemográfica preocupante�, diz o pes-quisador. A preocupação é a de queessa �onda econômica� termine nãolevando ao desenvolvimento daque-las áreas e que a riqueza gerada sejaaplicada fora daqueles territórios.�Quando a atividade do petróleo se-car, pode gerar um grande passivoambiental, social e até político, que,no futuro, cobrará uma conta alta da-quela região e de seus moradores.Neste caso também, a populaçãofluminense pode ficar de fora da fes-ta�, pondera César Ribeiro.

Ele analisa que, em regiões onde im-pera uma tradição política conserva-dora, a modernização que uma deter-minada atividade econômica poderiatrazer também pode terminar alimen-tando o poder das elites locais e suasantigas práticas de clientelismo epatrimonialismo, em vez de soluçõesque realmente abram espaço para umareal modernização. �Termina sendo

uma modernização conservadora, queproduz contradições e acaba impedin-do um avanço real�, analisa.

Outro ponto importante para o pes-quisador é que, em consequência deum processo de fusão mal-planeja-do entre os antigos estados daGuanabara e do Rio de Janeiro, amáquina administrativa fluminenseestá entre as mais fragilizadas e�esclerosadas� do País. �Isso resultana desvalorização do funcionalismoe em pouca presença de uma buro-cracia técnica e moderna, com fun-ções de pensar e propor sugestõespara enfrentar as questões do desen-volvimento do Estado�. César Ribei-ro acredita que, hoje, para se pensaro desenvolvimento metropolitano, épreciso discutir também como en-frentar essas questões no contexto dodesenvolvimento geral do Estado.

Para isso, é preciso aproveitar maisintensamente a estrutura de que oEstado dispõe. Não por acaso, o Riode Janeiro conta com a maior con-centração de universidades públicasdo País, que são centros de excelên-cia. �Temos também uma grandeconcentração de cursos de pós-gra-duação de alto gabarito. Então, é pre-ciso pensar como se poderia apro-

veitar essa estrutura, criando, porexemplo, grandes programas decapacitação para o funcionalismo oucursos de especialização em temasespecíficos. E, principalmente, criarcompetências e um ethos para o fun-cionalismo, erodido pelo mau funcio-namento da máquina pública.�

Segundo o coordenador do INCTObservatório das Metrópoles, não sãopropostas caras nem difíceis deimplementar. E podem significar umgrande benefício para todos os en-volvidos, até mesmo as universida-des, pelo contato com os agentes en-carregados de executar as mudanças.O próprio INCT vem procurandocontribuir com trabalhos específicossobre a preparação do Rio de Janei-ro para os megaeventos esportivos,na expectativa de influenciar os ato-res desse jogo. �Esperamos muitoque o Estado desencadeie o debatemetropolitano e que, aproveitando omomento favorável, crie dinâmicasde transformação que beneficiem apopulação fluminense.�

Pesquisador: Luiz César QueirozRibeiroInstituição: Universidade Federal doRio de Janeiro (UFRJ)

O pesquisador Luiz César Queiroz, da UFRJ, é ocoordenador do INCT Observatório das Metrópoles

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Para difundir os resultados de seuprograma de trabalho, incluindo-seestudos de pesquisadores brasileirose estrangeiros sobre os temas rela-cionados à temática �Metrópoles,Coesão Social e Governança Urba-na�, o INCT publica duas revistas.O Caderno Metrópoles, publicaçãoimpressa já em seu 25º número,procura estimular a reflexão e o in-teresse sobre a questão metropoli-tana. A revista eletrônica @-Metrópolis, lançada em março de 2010e disponibilizada no portal Observa-

tório das Metrópoles, como um meca-nismo de difusão do conhecimento

produzido na instituição, tem o pro-pósito de abrir espaço para a produ-ção de alunos de pós-graduação. Oboletim semanal reafirma o pro-tagonismo da rede no debate públi-co sobre as questões nacionais e suasrelações com os desafios urbano-me-tropolitanos, intensificando, ao mes-mo tempo, a transferência de resul-tados dos trabalhos para a rede depesquisadores, comunidade acadêmi-co-científica e sociedade civil. Paramais informações, consulte os ende-reços: observatoriodasmetropoles.net/e-metropolis e observatoriodasmetropoles.net

Para conhecer melhor o INCT � Observatório das Metrópoles

51 | Rio Pesquisa - nº 15 - Ano IV

As questões relacionadas aomeio ambiente configuramum desafio urgente e crucial

para a sociedade contemporânea.Preocupada com as questõesambientais, a pesquisadora SusannaEleonora Sichel, professora do De-

Por dentro dos oceanosProjeto mobiliza equipe multidisciplinar com oobjetivo de sensibilizar docentes e estudantes sobrea importância da preservação marinha

partamento de Geologia da Univer-sidade Federal Fluminense (UFF),desenvolveu o projeto �Um conviteà Oceanografia: divulgação para asescolas�, visando difundir, entre es-tudantes do ensino médio e funda-mental, conhecimento sobre o fun-cionamento dos oceanos e a suainteração com a atmosfera. Todo um

conteúdo programático foi reunidoem um CD ricamente ilustrado, comaulas e fotos, contando também comtrabalho de campo para treinamen-to. O projeto, bem como todo omaterial didático, foi elaborado emconjunto com uma equipe mul-tidisciplinar de oceanógrafos,geólogos, biólogos, ambientalistas,

Danielle Kiffer

O oceano é azul: projeto procura despertar nas crianças consciência sobre a importância de resguardar o meio ambiente dos mares

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EDUCAÇÃO

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geógrafos e matemáticos, que in-cluiu Thaís Cristina Vargas Garridoe Akihisa Motoki, ambos geólogose professores do Departamento deMineralogia e Petrologia Ígnea daUniversidade do Estado do Rio deJaneiro (Uerj), Davi Canabarro Savi,do Instituto de Estudos do Mar Al-mirante Paulo Moreira (IEAPM), eJanaína Almeida da Costa Silva,geógrafa e professora da rede mu-nicipal de Teresópolis, na RegiãoSerrana. O projeto foi financiadopela FAPERJ, por meio do progra-ma Apoio à Difusão e Popularização da

Ciência e Tecnologia no Estado do Rio de

Janeiro.

No CD, as aulas adaptadas abordamtemas desde a origem dos oceanosaté as suas perspectivas futuras, pas-sando por poluição, mudanças cli-máticas e riquezas do mar. �Nossoprincipal público-alvo está nas es-colas, em professores e estudantes,que são as �duas faces da moeda�para a formação de novas geraçõescapazes de enfrentar e amenizar osdesafios de uma natureza agredida�,afirma Susanna. O CD foi distribuí-do nas escolas públicas e privadasdas cidades do Rio de Janeiro, deNova Friburgo, Cachoeiras deMacacu e Niterói, sendo que os pro-fessores de escolas de Teresópolis,Arraial do Cabo e Cabo Frio que seinteressaram pelo trabalho tambémreceberam treinamento da equipe.

Estudo contou comapoio da Marinha

O estudo contou, ainda, com oapoio da Marinha do Brasil, que ce-deu o espaço do IEAPM, em Arrai-al do Cabo, na Região dos Lagos,para a realização de palestras para40 professores da região, no iníciodo projeto, em 2008. Na ocasião,também houve um trabalho de cam-po em embarcação, que saiu da Praiados Anjos e se dirigiu à Ilha de CaboFrio, durante a qual geólogos e pro-fissionais do IEAPM explicaramcomo se formaram as composiçõesrochosas das praias, sua idade geo-lógica e os tipos de sedimentos nasareias, entre diversos assuntos. Ou-tro trabalho de campo, no naviooceanográfico Antares, levou profes-sores de Teresópolis desde a Baíade Guanabara até a Barra da Tijuca,na Zona Oeste. Durante o trajeto,foram realizados todos os procedi-mentos comuns em um navio ocea-nográfico, como a coleta de águapara avaliação da temperatura emdiversas profundidades e a análiseda areia do fundo do mar. �Nestasexcursões, pudemos perceber oquanto nosso trabalho poderia darcerto, diante da empolgação dosprofessores que participaram dotreinamento�, conta Thaís.

Em Teresópolis, distante pouco me-nos de uma centena de quilômetros

da praia mais próxima, onde as cri-anças e adolescentes comumentetêm pouco ou nenhum contato como mar, o resultado da distribuiçãodo material didático foi melhor queo esperado. �Apresentei o projeto adiversas escolas, em reuniões peda-gógicas com os professores. E elescomeçaram a desenvolver o traba-lho com os alunos de formas dife-rentes�, relata Janaína. Ela contaque, em uma das escolas, foi apre-sentado o vídeo do desenho Es-

panta Tubarões , da DreamWork

Animations, para que alunos do en-sino fundamental, de 6 a 10 anos,pudessem, de maneira lúdica, enten-der a cadeia alimentar no mar. �Fi-camos muito satisfeitos com os re-sultados, pois as crianças viram ovídeo e foram para o laboratório deinformática aprofundar seu conhe-cimento em pesquisas. Com o quedescobriram, fizeram cartazes comdesenhos e pequenas animações emum programa de computador.� Aspesquisas na Internet levaram as cri-anças a um outro tema. �Ao entra-rem no site do projeto Tamar, des-cobriram a reciclagem do lixo dapraia. Os alunos se envolveram detal forma que ficaram estimulados areciclar o lixo na própria escola, emlixeiras de cores diferentes. Assim,o projeto acaba se transformandoem um trabalho interdisciplinar�,explica.

Ilustrações: Júlia e Lylian/Felipe e Kevin/Vitor Hugo

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Projeto incluivisitas a parques

Uma outra experiência, em outra es-cola pública de Teresópolis, tambémfoi surpreendente. Alunos de 8 a 10anos fizeram uma excursão ao Par-que Nacional da Serra dos Órgãos,onde ficam as nascentes dos riosGuapimirim e Paquequer. No pas-seio, eles acompanharam o rioPaquequer até o centro da cidade.�No trajeto, as crianças puderam vera sujeira do rio e, com isso, ter cons-ciência de que toda aquela poluiçãovai direto para suas casas, e que o tra-

jeto inverso, feito pelo rio Gua-pimirim, leva o mesmo tipo de po-luição direto ao mar. Elas, então, par-tiram para uma pesquisa na Internete, com as fotografias tiradas duranteo passeio, montaram uma fotonovela,narrando o que aquele trabalho decampo significou para elas�, detalhaJanaína.

Segundo a professora, o passeio foirico em observações. Ao ver umaaranha, um inseto ou algo diferentena água, por exemplo, eles fotogra-favam, documentando os exempla-res de toda fauna e flora do parque,que, mais tarde, foi reunido e elabo-rado pela turma inteira.

Para Janaína, o resultado não pode-ria ser melhor. �Uma das imagens doCD é a foto de uma tartaruga mari-nha envolvida por um saco plástico.As crianças ficaram muito impres-sionadas em saber que o saco plásti-co que jogam no rio ou fora do lixo

pode ir tão longe e ter um final tãoruim como o que foi visto na foto-grafia. A partir do trabalho, houveum despertar de consciência impres-sionante�, relata.

Iniciativa ajuda aconscientizar alunos

Em conversa com os professores e aturma, a pesquisadora conta que ou-viu comentários como: �Não possojogar lixo no chão nem no rio, poisas consequências são maiores e pio-res do que eu poderia imaginar�, lem-bra Janaína. �Eles viram que, se nãohá mata ciliar, aumenta o perigo deenchentes. Se não há saneamentobásico, além da saúde dos morado-res, a própria moradia pode ficar emrisco�, diz.

O estudo fez tanto sucesso que aca-bou sendo discutido com profissio-nais da terceira idade, que participa-vam de um workshop em uma escolade Teresópolis. �Todos ficaram in-teressados em conhecer as diversascausas de poluição no mar e se inte-ressaram em entender como poderi-am colaborar com a preservação dosoceanos e do meio ambiente, com adivulgação do material�, fala Janaína.

A repercussão do projeto chegou atéa revista inglesa Inter Ridge News, quepublicou artigo sobre a iniciativa. Oselogios e reconhecimento motivaramainda mais os responsáveis pelo pro-jeto. Agora, Susanna pretende darcontinuidade à pesquisa, ampliandoo material, com a inclusão de ummaior número de assuntos, aumen-tando a sua distribuição e também otreinamento de professores. �Nossoobjetivo é formar cidadãos maisconscientes com a questão ambi-ental�, finaliza.

Susanna Sichel: pesquisadora está à frente de equipe multidisciplinar que visa difundirconhecimento sobre o funcionamento dos oceanos e a sua interação com a atmosfera

Alunos do ensino fundamental mostram, pormeio de desenhos, o que aprenderam sobrea fauna marinha, seus hábitos ecaracterísticas

Foto: Arquivo pessoal

Pesquisadora: Susanna EleonoraSichelInstituição: Universidade FederalFluminense (UFF)

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Um aço combrilho diferente

Estudo na Uezo aplica processoeletroquímico para remover erecuperar metais pesadoscontidos nos efluentes geradospela indústria siderúrgica

O uso racional dos recursosnaturais passou a ser umanecessidade para as empre-

sas que buscam se inserir no merca-do com competitividade, mas semdeixar de lado o desenvolvimentosustentável. Não poderia ser diferen-te no caso da siderurgia. Responsá-vel pela fabricação e pelo tratamen-to do aço � matéria-prima que abas-tece diversas indústrias, desde aautomotiva até a de eletrodomésti-cos �, a siderurgia tem pela frenteum enorme desafio: o de reverter acontaminação gerada pelosefluentes industriais. Altamentepoluentes pelo elevado teor de me-tais, os resíduos líquidos produzidospela indústria siderúrgica muitasvezes são despejados em cursosd�água nos arredores das fábricas ounos aterros, sem tratamento adequa-do. Pensando em oferecer uma al-ternativa para minimizar estes danosambientais, o professor de Tec-nologia em Processos Metalúrgicose Engenharia de Produção CarlosRoberto Falcão, do Centro Univer-sitário Estadual da Zona Oeste(Uezo), coordena um projeto que

Débora Motta

55 | Rio Pesquisa - nº 15 - Ano IV INOVAÇÃO TECNOLÓGICA

propõe a remoção e recuperação dosmetais pesados contidos nosefluentes da siderurgia.

A ideia de trabalhar com rejeitos daindústria siderúrgica, especificamen-te, surgiu por conta da proximidadeda Uezo com empresas do ramo. Valelembrar que a região onde a institui-ção está inserida, a Zona Oeste do Rio,é um importante polo metal-mecâ-nico do Estado, ainda carente desoluções ambientais padronizadas,que sejam realmente apropriadas parao tratamento dos rejeitos industriais.�O objetivo principal do projeto édesenvolver uma solução ecológicapara os rejeitos líquidos que atenda àsnecessidades do parque industrial daZona Oeste, colocando o conheci-mento acadêmico a serviço do mer-cado local�, afirma Falcão. Na região,mais precisamente no bairro de Cam-po Grande, deve ser erguido, até mea-dos de 2013, o campus da Uezo, uni-versidade de formação de mão deobra tecnológica especializada de ní-vel superior � os chamados tec-nólogos. Atualmente, a universidadefunciona nas instalações do Institutode Educação Sarah Kubitschek.

O primeiro passo do estudo, contem-plado pela FAPERJ, por meio do

Ano IV - nº 15 - Rio Pesquisa | 56

edital Apoio às Universidades Estadu-

ais do Rio de Janeiro � Uerj, Uenf e

Uezo, foi fazer um levantamento bi-bliográfico dos principais metais pe-sados encontrados nos efluentes dasiderurgia. �Nessa etapa teórica,constatamos que o zinco está pre-sente na maioria dos efluentes, por-que ele é muito usado para agalvanização de chapas metálicas�,afirma Falcão, coordenador acadê-mico dos cursos superiores deTecnologia em Processos Metalúr-gicos e Engenharia de Produção.Levando em conta a participaçãofrequente do zinco na composição

dos efluentes siderúrgicos, o profes-sor decidiu concentrar as análiseslaboratoriais neste metal pesado.

Os testes estão em curso desde 2009no Laboratório de Pesquisa e Pro-cessos Metalúrgicos (LPPM) daUezo, que está sendo montado comrecursos da FAPERJ. A técnica es-colhida para dar suporte à realiza-ção deles é a eletrólise. Este proces-so eletroquímico é capaz de separaro zinco em solução nos efluentes ge-rados pela indústria siderúrgica,transformando o que antes era ummetal pesado disperso no meioaquoso em um material metálicosólido. �Por meio das eletrólises,conseguimos remover os metaispesados da solução. No caso, remo-vemos o zinco e ainda o recupera-mos a partir de mecanismos deeletrodeposição�, explica o pesqui-sador. �No final do ensaio, forma-se uma película sólida e fina, comoum filme de zinco, que se depositasobre o eletrodo�, completa. Para osensaios laboratoriais, o professor esua equipe utilizam, por enquanto,efluentes sintéticos fabricados parafins experimentais, com composiçãosemelhante àqueles descartados pe-las fábricas.

De acordo com Falcão, doutor emEngenharia Metalúrgica e de Mate-riais pela Universidade Federal doRio de Janeiro (UFRJ), os resulta-dos dos experimentos têm sido po-sitivos. �A remoção dos metais pe-sados contidos nos efluentes sinté-ticos por eletrólise apresenta teoresacima de 70%. A remoção de zincocontido no efluente sintético poreletrólise foi em torno de 80%�,destaca. �A concentração inicial dezinco no efluente sintético era iguala 2,69 mg/L, aproximadamente, já

Carlos Roberto Falcão ajusta as condiçõesda corrente na fonte antes de dar início aum experimento de eletrólise na Uezo

Projeto almejadesenvolver uma

solução ecológicapara os resíduos

da siderurgia,que atenda às

necessidades doparque industrial

da Zona Oestedo Rio de Janeiro

57 | Rio Pesquisa - nº 15 - Ano IV

a concentração remanescente dometal em solução foi igual a 0,525mg/L. Essa redução é de extremaimportância visto que o zinco podecausar, nos seres humanos, sensa-ções como paladar adocicado e se-cura na garganta, tosse, fraqueza,dor generalizada, arrepios, febre,náusea e vômito�, afirma.

Outra vantagem da técnica, segundoele, é o fato de ela ser uma tecnologialimpa. �O tratamento de efluentespor meio de processos eletroquí-micos dispensa a adição de reagentesquímicos. Quanto menos química en-volvida no processo, melhor para omeio ambiente�, explica, acrescen-tando que os tempos de eletrólise nãosão elevados, até 30 minutos, e o con-sumo energético é baixo.

Por enquanto, a técnica está restritaaos ensaios em escala laboratorial.�O próximo passo será fechar par-cerias para viabilizar a inserção des-se método de tratamento deefluentes siderúrgicos no mercado�,afirma Falcão. Ao lado dos inegá-veis benefícios que a aplicação datécnica pode gerar ao meio ambi-ente, o emprego dessa tecnologialimpa, no futuro, poderia até resul-tar em lucro para as empresas. Maisque recuperar os efluentes, o méto-do propicia o reaproveitamento dosmetais pesados, que podem ter umdestino econômico mais interessan-te que o descarte puro e simples.�Metais pesados, como o zinco, têmum valor agregado. O interessanteé que o emprego dessa técnica nãoapenas remove o zinco do efluente,mas o recupera em estado sólido�,destaca.

Seria uma oportunidade de gerar lu-cro com o �passivo ambiental�, quepode decorrer de atitudes am-bientalmente responsáveis � apesarde ter frequentemente uma co-notação negativa, relacionada às em-presas que agrediram o meio ambi-ente e, por isso, devem desembolsar

recursos para indenização, multas ourecuperação de áreas degradadas.

Além do ponto de vista econômico, arecuperação dos teores metálicos con-tidos nesses resíduos passou a sermuito importante por causa dos limi-tes impostos pelas legislações am-bientais. �Esperamos que o tratamen-to com eletrólise torne os efluentessiderúrgicos adequados para o descar-te. Para serem liberados no meio am-biente, eles devem ter uma concen-tração de metais pesados reduzida,nos parâmetros exigidos pelo Conama[Conselho Nacional do Meio Ambi-ente] e pela Política Nacional de Re-síduos Sólidos�, pondera.

Com esse trabalho, o professor Fal-cão inaugura na Uezo uma nova li-nha de pesquisa, na área de proces-sos metalúrgicos, chamada de �Tra-tamento de Efluentes�. Para a insti-tuição, a iniciativa oferece aos alu-nos a chance de pôr em prática osconhecimentos teóricos e de con-tribuir com o desenvolvimento deuma solução ecologicamente corre-ta, que pode vir a ser um diferencial

para o setor metalúrgico regional.�O meio ambiente deve ser vistocomo um bem a ser preservado pe-las empresas, até porque é um dosfatores que impulsiona o desenvol-vimento tecnológico. A Uezo, comouma universidade tecnológica, nãopode se furtar ao papel de atender àdemanda do parque industrial lo-cal�, conclui.

Atualmente, estão envolvidos noprojeto, além de Falcão, os técnicosEdinaldo Gouveia e WellingtonFernandes, e a laboratorista JulianeMarin. Os tecnólogos em processosmetalúrgicos Rodrigo de Souza Cas-tro e Carlos Otávio Duarte Torresforam, respectivamente, alunos deiniciação científica e de trabalho deconclusão do curso. Os professoresCarlos Ferreira, Leandro Rosa,Achilles Dutra e Iranildes Santoscolaboraram com seus conhecimen-tos nas pesquisas realizadas.

Pesquisador: Carlos Roberto FalcãoInstituição: Universidade Estadualda Zona Oeste (Uezo)

Parte da equipe no Laboratório de Pesquisa e Processos Metalúrgicos, da Uezo: o técnicoEdinaldo Gouveia, o professor Carlos Roberto Falcão (C) e a laboratorista Juliane Marin

Fotos: Divulgação/Uezo

Ano IV - nº 15 - Rio Pesquisa | 58

Empresa apoiada pela FAPERJganha prêmio �Faz Diferença�

Depois do sucesso das Uni-dades de Polícia Pacificadora (UPPs), a segurança pú-

blica do Rio ganha outra aliada nocombate à violência. Dessa vez, tra-ta-se de uma iniciativa na área da ino-vação tecnológica: as armas não le-

tais. Esse tipo de armamento é o car-ro-chefe da empresa Condor S.A.Indústria Química, que vem desen-volvendo alguns de seus produtoscom o apoio da FAPERJ, por meiodos programas Rio Inovação (em par-ceria com a Financiadora de Estu-

dos e Projetos � Finep), Apoio à ino-vação tecnológica e Prioridade Rio. O tra-balho da única empresa do País vol-tada exclusivamente para o desenvol-vimento de tecnologias para fabrica-ção de armas e munição não letaisfoi coroado, no fim do mês de mar-ço, com o prêmio �Faz Diferença2010�, do jornal O Globo, na catego-ria Economia/Desenvolvimento do Rio.

�Este tipo de armamento representauma importante alternativa ao uso dearmas de fogo�, diz o diretor deTecnologia da Condor, Pedro LuizSchneider. �Em 1990, durante o 8ºCongresso da Organização das Na-ções Unidas (ONU), nos PrincípiosBásicos sobre Uso da Força pelosAgentes da Lei, ficou estabelecidoque governos e entidades devemequipar os responsáveis pela aplica-ção da lei com uma variedade de ti-pos de armas e munições que per-mitam o uso diferenciado da força,incluindo as não letais, para limitar,cada vez mais, a aplicação de meioscapazes de causar a morte ouferimentos de pessoas�, completa.

A ideia é que as armas não letais se-jam utilizadas pelos agentes de segu-rança das próprias UPPs, paraminimizar o uso das armas de fogo

Acima, lançador de arma não letal; ao lado, opresidente da Condor, Carlos Erane de Aguiar,discursa durante a entrega da premiação

Uerj, Uenf e Uezorecebem R$ 17,4milhões

Lançada no início de março, a se-gunda versão do edital Apoio à Im-

plantação, Recuperação e Modernização da

Infraestrutura para Pesquisa nas Univer-

sidades Estaduais do Rio de Janeiro con-templou 30 projetos. O resultado foianunciado na primeira quinzena demaio. Por conta da demanda alta-mente qualificada, os recursos des-tinados ao edital foram ampliados,passando de R$ 15 milhões para R$

Fotos: Divulgação/Condor

17,4 milhões. A Universidade doEstado do Rio de Janeiro (Uerj) foia instituição com o maior númerode projetos aprovados, 15, seguidapela Universidade Estadual do Nor-te Fluminense (Uenf), com dez, epelo Centro Universitário Estadualda Zona Oeste (Uezo), com cincoprojetos selecionados. O edital émais um passo no caminho da re-cuperação da infraestrutura parapesquisa nas três instituições esta-duais. Criado em 2009, o programaé inspirado na chamada CT-Infra, daFinanciadora de Estudos e Projetos

(Finep). Os recursos do programafinanciarão despesas de custeio e decapital, consideradas indispensáveisà execução do projeto. No caso dedespesas de capital, poderão ser fei-tas aquisição de materiais permanen-tes e de equipamentos; e obras deinfraestrutura. Já no caso das des-pesas de custeio, estão relacionadosos custos com instalações de equi-pamentos adquiridos com os recur-sos do edital; a aquisição de com-ponentes ou peças de reposição paraequipamentos; e despesas de impor-tação. O presidente da FAPERJ, Ruy

FAPERJIANAS

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tradicionais. Dessa forma, surge aesperança de que a cultura do fuzilpossa ser substituída, aos poucos,pelo uso racional da força, por meiodas tecnologias não letais, para redu-zir a violência decorrente das açõespoliciais. O prêmio �Faz Diferença2010� é destinado a homenagear ini-ciativas de pessoas físicas e jurídicasque, de alguma forma, contribuempara transformar o Brasil. A entregado prêmio ocorreu em cerimônia rea-lizada no tradicional Hotel Co-pacabana Palace.

Na ocasião, o presidente e fundadorda empresa, Carlos Erane de Aguiar,agradeceu aos amigos e aos funcio-nários da empresa de Nova Iguaçu,na Baixada Fluminense. �Há 26 anos,fizemos uma escolha: fabricar armasque não matam. Esse prêmio nos dáainda mais força para continuar so-nhando�, disse Erane. Na mesmaocasião, também foram contempla-dos com o prêmio �Faz Diferença�o secretário estadual de SegurançaPública, José Mariano Beltrame, nacategoria Personalidade do Ano, e omatemático e presidente da Acade-mia Brasileira de Ciências (ABC),Jacob Palis, na categoria Ciência/His-

tória, entre outras personalidades.

Marques, vê com entusiasmo estaboa perspectiva para a recuperaçãoda infraestrutura para pesquisa nasuniversidades estaduais: �Quandolançamos a primeira versão do pro-grama, a demanda qualificada ser-viu para nos mostrar a importânciade um olhar diferenciado para o fo-mento à pesquisa científica etecnológica nas universidades esta-duais. Mais uma vez, as boas pro-postas apresentadas servirão comojustificativa para que este programaseja novamente oferecido em opor-tunidades futuras�, disse.

Inovação: 81 projetospré-selecionados

Uma ampla variedade de temas foicontemplada nos 81 novos projetospré-selecionados do edital de Apoio à

Inovação Tecnológica 2011. Alguns exem-plos são o estudo de plantas nativaspara a produção de fitoterápicos aodesenvolvimento de um veículo elé-trico de dimensões reduzidas, fabri-cado com materiais reciclados e fibrasnaturais, ou, ainda, a elaboração de umsistema sem fio para monitoramentode encostas ao aproveitamento dedejetos suínos para produção debiogás e fertirrigação. O resultadopreliminar foi anunciado na últimasemana de maio. Com uma alta de-manda � 344 projetos foram subme-tidos �, o edital previa, inicialmente,recursos da ordem de R$ 10 milhões.Pelo mérito das propostas, a Funda-ção decidiu aumentar esse valor paraR$ 14,5 milhões, o que possibilitouque mais projetos fossem contempla-dos. O programa, criado em 2007, ejá na sua terceira edição, destina-se aestimular o desenvolvimento de no-vidade ou de aperfeiçoamento no am-biente produtivo que possa resultarem novos produtos, processos ou ser-viços que incorporem aumento deprodutividade e bem-estar social. Osproponentes devem ser empresas bra-sileiras sediadas no estado do Rio deJaneiro; empresários que exerçam ati-vidades como produtores rurais; so-ciedades cooperativas; inventores in-dependentes; e empreendedores indi-viduais. As propostas devem estarinseridas em uma das áreas de inte-resse previstas no programa, todas deimportância para o desenvolvimentosocioeconômico fluminense. Entreelas, estão: Aeroespacial, Agrope-cuária, Aquicultura, Biocombustíveis,Biodiversidade, Biotecnologia, Design,Energias Alternativas, Energia Nucle-

Dirigentes da FAPERJ estiveram na ZonaOeste para conhecer as instalações da Fiperj

ar, Medicina Regenerativa, Meio Am-biente, Nanotecnologia, Naval, Petró-leo e Gás, Robótica, Rochas Orna-mentais, Saúde, Segurança Pública eDefesa, Siderurgia, Tecnologias daInformação e da Comunicação, Trans-porte e TV Digital.

Ruy Marques visitaEstação da Fiperj

Na segunda quinzena de maio, o pre-sidente da FAPERJ, Ruy Garcia Mar-ques, visitou as instalações da Estaçãode Aquicultura Almirante PauloMoreira (EAAPM). Localizada emGuaratiba, na Zona Oeste, a EAAPMé uma das unidades da Fundação Ins-tituto de Pesca do Estado do Rio deJaneiro (Fiperj), vinculada à Secreta-ria de Estado de DesenvolvimentoRegional, Abastecimento e Pesca(Sedrap). Na ocasião, Marques apro-veitou para conhecer o andamento deprojetos financiados pela FAPERJ (vejamais informações sobre um desses projetos à

pág. 14) e também para apresentar aslinhas de fomento da Fundação quepodem ser utilizadas para ampliar apesquisa sobre pesca e aquicultura noestado do Rio de Janeiro. Estiverampresentes o titular da Sedrap, secretá-rio Felipe Peixoto � que anunciou que,em breve, serão realizados concursospara pesquisadores e técnicos paraaquele órgão �, o presidente da Fiperj,Marco Antonio Barros Botelho, o che-fe de gabinete da FAPERJ, RobertoDória, e também a equipe de pesqui-sadores do Fiperj.

Ano IV - nº 15 - Rio Pesquisa | 60

Se o mercado editorial não vaiaté a Ciência, a Ciência vai aomercado. Assim, a FAPERJ,

por meio de seu programa de Auxí-

lio à Editoração (APQ 3), vem assu-mindo o compromisso de impulsio-nar a divulgação científica e garantirmais visibilidade no mercado editori-al a estudos realizados nas instituiçõesde ensino e pesquisa sediadas no es-

A divulgação científica e o apoio editorial

Clínica cirúrgica do ColégioBrasileiro de Cirurgiões

Este livro dá sequência ao Programa deEducação Continuada em Cirurgia do CBC,cujo objetivo é o de atualizar os cirurgiõespor meio da divulgação e do ensino dosmais modernos e atuais conhecimentos em

Cirurgia Geral. A publicação foi realizada em parceria com aFundação de Amparo à Pesquisa de Minas Gerais (Fapemig)Editor: Andy Petroianu

Editora: Atheneu

Número de páginas: 876

Serviço social, religião emovimentos sociais no BrasilO presente volume fornece ao leitor de lín-gua Portuguesa um conjunto de textos iné-ditos sobre o Renascimento italiano, escritospor historiadores da Arte de Destaque emuniversidades brasileiras. O livro reúne 11ensaios e sete traduções sobre questões cen-

trais relativas ao Renascimento.Organizadora: Maria Berbara

Editora: Nau

Número de páginas: 494

Jovens religiosos e o CatolicismoEscolhas, desafios e subjetividades

Esta publicação se inscreve no quadro teóri-co das Ciências Sociais, mas é demarcada porcerta extemporalidade face ao tema e à con-dição de eleitos enunciados pelos entrevista-dos. Os depoimentos de rapazes e moças quepossuem de si mesmos a representação de�vocacionados� questionam �razões sensí-

veis� e exploram lugares subjetivos que revelam as contradi-ções dos indivíduos.

Autora: Sílvia Regina Alves Fernandes

Editora: Quartet

Número de páginas: 510

EDITORAÇÃO

tado do Rio de Janeiro. Com um fi-nanciamento anual que caminha paraalcançar uma centena de títulos, aFundação possibilita, assim, a divul-gação para a sociedade � por meio deeditoras fluminenses de renome nomercado � de livros, manuais, núme-ros especiais (temáticos) de revistas,vídeos e CDs de inegável valor cien-tífico. O programa conta com dois pe-

ríodos de submissão de propostas aolongo do ano. O primeiro deles, en-cerrado em 26 de maio, recebeu umtotal de 97 propostas. A segunda ja-nela de inscrições tem início em 4 deagosto e vai até 6 de outubro. Confi-ra, a seguir, algumas das obras que re-ceberam apoio da FAPERJ e conhe-ça mais detalhes do regulamentoacessando o site da Fundação.

A Revolta do BatalhãoNaval

O volume trata de um episódiopouco conhecido da nossa Histó-ria. Ocorrida dias depois da Revoltada Chibata, a Revolta do BatalhãoNaval, embora fosse continuidadedaquela, acabou ofuscada e

relegada, quando muito, aos rodapés dos livros aca-dêmicos.

Autor: Henrique Samet

Editora: Garamond

Número de páginas: 332

Economia industrial deempresas farmacêuticas

O leitor, estudante universitário deFarmácia e de outros cursos ou oprofissional, farmacêutico ou não,terá neste livro importantes con-ceitos sobre este segmento docomplexo industrial da saúde, que

são os fármacos e os medicamentos.Organizadoras: Lia Hasenclever, Beatriz Fialho, Helena

Klein, Carla Zaire

Editora: e-papers

Número de páginas: 194

FerrugensDiversidade de Uredinalesdo Parque Nacional doItatiaia, Brasil

Esta obra apresenta as espécies defungos da Ordem Uredinales, co-nhecidas como ferrugens, coletadasno Parque Nacional do Itatiaia.

Autores: Mauricio Salazar Yepes, Aníbal Alves de Carvalho

Júnior

Editora: Technical Books Editora

Número de páginas: 201