rodolfo abrantes

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Uma vez me disseram que a maneira de medir a escuridão é a falta de luz, também a maneira de se medir o frio é pela falta de calor. Eu não sei como que eu faria para medir o cansaço da minha vida, se pela falta de força ou se pelo aumento da frustração. E se existe uma fonte de luz, se existe uma fonte calor, se existe uma fonte de luz, talvez a maneira certa de medir isso tudo era pela distância que eu estava dessa fonte. Meu nome é Rodolfo Abrantes, nasci em 1972 em Brasília, filho de pais nordestinos que foram para Brasília tentar a vida e muito batalhadores conseguiram me dar uma condição para viver uma vida legal. Meus pais eram médicos, e Brasília naquele tempo era uma cidade em ascensão, tudo que ouvia falar de quem era de fora, era que era uma cidade que só tinha político, filho de papai, playboy, de gente que não precisava batalhar por nada. Aquilo meio que feria a galera da cidade. Era uma cidade projetada e parecia que todo o meu futuro era projetado, como todo e qualquer jovem a sede por liberdade, me levava a buscar um referencial, um modelo, que me desse um futuro diferente daquele que estava desenhado para mim, Naturalmente cara, eu comecei a buscar esses modelos, e acabei encontrando isso no rock, eu olhava para os clipes na TV, olhava para aqueles caras cabeludos, com cigarros na boca, com calça rasgada, e aquilo para mim era liberdade expressa, era do jeito que eu queria viver, não ter patrão, não ter hora pra chegar, poder fazer o que eu quisesse. Nos anos 80 a minha cidade ficou conhecida como a capital do rock, as pessoas olhavam para Brasília e viam aquele estilo de vida, e procuravam saber o que estava acontecendo em Brasília para gerar tantas bandas legais como Legião Urbana, Capital Inicial, Aborto Elétrico, Paralamas do Sucesso, Plebe Rude. Pra minha geração aquilo foi muita massa, porque (poxa) me mostrou um modelo que eu não conhecia, tentei me inserir nessa cultura de todas as formas, descobri que as baladas que eles curtiam era do lado da minha casa, e comecei ir nessas festas para ver essas pessoas de perto, para tentar me inseris nessa cultura, isso com12 anos de idade, quando eu vi eu estava fazendo parte mas meio como um outside, como alguém que fica de longe, eu era um mero espectador. Até que comecei a andar com o pessoal das bandas, comecei a ir pros lugares, ir pros shows e infelizmente comecei a usar drogas. Eu me

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Uma vez me disseram que a maneira de medir a escuridão é a falta de luz, também a maneira de se medir o frio é pela falta de calor. Eu não sei como que eu faria para medir o cansaço da minha vida, se pela falta de força ou se pelo aumento da frustração. E se existe uma fonte de luz, se existe uma fonte calor, se existe uma fonte de luz, talvez a maneira certa de medir isso tudo era pela distância que eu estava dessa fonte. Meu nome é Rodolfo Abrantes, nasci em 1972 em Brasília, filho de pais nordestinos que foram para Brasília tentar a vida e muito batalhadores conseguiram me dar uma condição para viver uma vida legal. Meus pais eram médicos, e Brasília naquele tempo era uma cidade em ascensão, tudo que ouvia falar de quem era de fora, era que era uma cidade que só tinha político, filho de papai, playboy, de gente que não precisava batalhar por nada. Aquilo meio que feria a galera da cidade. Era uma cidade projetada e parecia que todo o meu futuro era projetado, como todo e qualquer jovem a sede por liberdade, me levava a buscar um referencial, um modelo, que me desse um futuro diferente daquele que estava desenhado para mim, Naturalmente cara, eu comecei a buscar esses modelos, e acabei encontrando isso no rock, eu olhava para os clipes na TV, olhava para aqueles caras cabeludos, com cigarros na boca, com calça rasgada, e aquilo para mim era liberdade expressa, era do jeito que eu queria viver, não ter patrão, não ter hora pra chegar, poder fazer o que eu quisesse. Nos anos 80 a minha cidade ficou conhecida como a capital do rock, as pessoas olhavam para Brasília e viam aquele estilo de vida, e procuravam saber o que estava acontecendo em Brasília para gerar tantas bandas legais como Legião Urbana, Capital Inicial, Aborto Elétrico, Paralamas do Sucesso, Plebe Rude. Pra minha geração aquilo foi muita massa, porque (poxa) me mostrou um modelo que eu não conhecia, tentei me inserir nessa cultura de todas as formas, descobri que as baladas que eles curtiam era do lado da minha casa, e comecei ir nessas festas para ver essas pessoas de perto, para tentar me inseris nessa cultura, isso com12 anos de idade, quando eu vi eu estava fazendo parte mas meio como um outside, como alguém que fica de longe, eu era um mero espectador. Até que comecei a andar com o pessoal das bandas, comecei a ir pros lugares, ir pros shows e infelizmente comecei a usar drogas. Eu me lembro a primeira vez que botei um cigarro de maconha na boca, foi (meu) simplesmente para fazer parte daquela galera, tinha uma menina que eu achava ela linda, ela botou um baseado na roda, eu não sabia o que fazer e acabei fumando. O problema foi que eu gostei, pior que eu perdi o medo, poxa tudo que tinham me falado a respeito drogas era mentira, porque eu tava usando e não tinha nada de errado comigo, eu tava me sentindo bem, tava me sentindo saudável, então aquela precaução que tinham me ensinado, que aquilo iria fazer mal pra mim, pra eu ficar longe daquilo, eu meio que perdi o medo porque tava usando e estava me sentindo bem. Fui crescendo nessa cultura comecei a montar bandas com os amigos da rua e lá pelo ano de 88 o Raimundos aconteceu, foi uma banda que a gente montou para tocar numa festa de réveillon só de cover de algumas bandas, e de repente a galera gostou e começamos a tocar no cenário de Brasília. Agora eu era o cara de uma banda, eu era um daqueles caras que um dia eu fiquei de longe olhando e não via perigo nenhum naquilo, eu tinha aquela mentalidade: “meu parece que a vida é pra sempre, parece que nada vai me abalar”. De certa forma, o futuro que eu tinha ansiado para mim, aquele ideal de liberdade tava acontecendo, eu tinha me inserido na cultura que eu queria de uma forma pequena. Mas o nível foi aumentando até que mais ou menos 94, quando o Raimundos lançou o primeiro cd, a cena da música em Brasília tava completamente diferente, as bandas estavam muito diferentes, era a época que o grunge tinha estourado nos EUA, as pessoas estavam curtindo tipos misturados de música, elementos de heavy metal, de punk, tinha um cenário propício a bandas loucas, a bandas que ninguém nunca viu, e nesse cenário a gente apareceu. Pareceu um sonho, parecia que uma coisa surreal, de

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repente eu tava vivendo o sonho da minha adolescência: estar num palco com cd gravado, viajando pelo Brasil. Inevitavelmente o nível da cultura que eu tinha me inserido: o sexo, drogas acompanhou essa exposição. E agora eu estava vivendo tudo isso num nível mais perigoso. Mas ainda assim eu não via perigo, pois eu não estava colhendo as conseqüências, eu tava só vivendo o dia após dia, me entupia de drogas o dia inteiro, as mulheres vinham atrás porque agora você era uma cara de banda, não tinha limite pra nada e comecei a ganhar dinheiro com isso. As pessoas tem algo na mente que se ta dando dinheiro ta tudo certo, se ta dando dinheiro e numa ta roubando, matando ninguém ta tudo certo. Eu não tinha olhos para ver a influência que eu tava gerando nas pessoas. Minhas vida seguiu dessa maneira, só me afundando mais, até que no ano de 2000, que as coisas chegaram a um nível crítico. No inicio da minha carreira eu fui tocar com uma banda que era meu referencial e acabei conhecendo a minha esposa que era intérprete da banda. Ela era diferente de todas as mulheres que eu estava acostumado a me relacionar, foi mó jogo duro não queria muita coisa comigo, era uma menina pura e aquilo chamou a minha atenção. Então ficamos um tempo sem nos encontrar, até que no ano de 2000 eu a reencontrei, ela tava totalmente diferente, ela tava que nem eu, drogadassa, totalmente envolvida com música eletrônica com Rave. Só que eu tava pior, tava totalmente sem limite, e agora meu corpo começava a demonstrar debilidade, eu já tava ficando (meu) com a aparência de uma pessoa doente. E ela foi morar comigo em SP. Eu tava no auge da minha carreira, eu era conhecido no Brasil todo, ia em todos os programas de TV, os Raimundos eram referencial, parecia que aquele meu sonho de adolescente, que aquele meu ideal eu já tinha conquistado tudo. Ela foi morar comigo ai (cara) que os problemas começaram a aparecer. Não que eles nunca tivessem estado ali. Começamos a viver uma crise de relacionamento, super chata, porque não tinha sabedoria para lidar um com o outro, eu acho que quando você não tem amor próprio você não tem amor para dar pro outro. A gente começou a maltratar um ao outro, brigas que não resolviam nada por motivos idiotas. Aquilo ia desgastando muito. Ao mesmo tempo eu olhava para a minha carreira, para tudo aquilo que eu tinha conquistado e olhava para dentro de mim (cara) , tinha um vazio terrível, uma falta de satisfação, que chegava a me assustar, porque quando você não tem nada do que sonhou é fácil você colocar a culpa na sua frustração, mas quando você alcançou tudo que você sempre quis, você ta num lugar onde as pessoas falam “meu você é abençoado, você é 1 em 1 milhão, o que aconteceu com você não acontece todo dia”, e você fala meu nem com isso tudo eu to feliz (cara), to com a mulher que eu sempre sonhei e não to feliz, to com a carreira que eu sempre quis ter e não to feliz, tenho dinheiro e não sou feliz, o que está acontecendo comigo? Nessa época para piorar, um belo dia eu encontrei um caroço no meu corpo debaixo do braço, era uma caroço pequeno que doía muito, e eu pensava “é só uma íngua, isso vai passar”, na minha viagem eu falava “isso deve ser viagem da minha cabeça, (cara) eu vo fumar um, que daqui a pouco isso passa”. Aquele caroço não diminuía, passou um tempo apareceu outro, depois apareceu mais outro, eu comecei a me sentir envergonhado, eu tinha medo de que as pessoas pudessem notar que eu não só parecia doente mas que eu estivesse doente de verdade. Como filhos de médicos eu nunca tive o hábito de ir a médicos pra me consultar, eu sempre perguntava dentro de casa o que será que eu tenho, e meus pais mesmos me medicavam, mas algo dizia pra mim “meu, você tem alguma coisa muito séria”, eu olhava para tudo que eu estava vivendo aquele tempo e eu falava “cara, e se eu tiver morrendo? E se for o momento de colher tudo que eu plantei?” Os caroços iam só aumentando, no braço apareceram também, apareceram alguns na virilha, e eu comecei a perder peso comecei a ficar magro e as pessoas começaram a perguntar “meu, você tá doente?” muitas pessoas chegaram a perguntar se eu tava com AIDS se

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eu tinha alguma coisa mais séria, e eu comecei a tentar fugir da realidade, eu não queria entrar em contato com aquilo, eu não via saída pra aquilo. Aliado a tudo isso, um monte de briga dentro de casa, falta de satisfação com quem eu era, eu comecei a ver que eu era um personagem, que eu virei um cara que tinha que aparentar uma alegria que eu não tinha, aparentar uma liberdade que eu não tinha, alimentar uma saúde que eu já não tinha, e virei um personagem e pior virei a coisa que eu detestava, um cara que foi criado na cena punk, num cenário underground, de repente virei a coisa pop mais detestável que na minha cabeça podia existir. Perdi a esperança completamente. Eu creio, milagres acontecem, quando só um milagre resolveu minha situação. Eu digo que é impossível eu lembrar do melhor copo d água que eu já bebi na minha vida, eu teria que lembrar do dia que eu tive a maior sede, eu teria que lembrar do maior desespero que eu já senti, eu posso ilustrar dessa forma: eu estava vivendo no deserto, cheio de coisas ao meu redor que não matavam a minha sede, morrendo de sede com dinheiro, com fama, com uma aparência que tava indo tudo bem, era desesperador. E nesse cenário foi quando as coisas começaram a mudar. A gente entende que nada muda, enquanto a gente não muda, as coisas têm que fluir de dentro para fora, a nossa vida vai refletir no mundo ao nosso redor, e por mais que o mundo esteja corrompido eu não preciso ser assim, por mais que eu esteja em um lugar onde está tudo bagunçado eu não preciso ser assim. A minha esposa, que naquela época tava vivendo uma vida totalmente bagunçada sem ordem, começou a se tocar que ela tava triste por conta das decisões que ela tinha feito, dos caminhos que ela tinha escolhido, então ela começou a pedir socorro pra Deus, ela se lembro do Deus que os pais delas serviam, se lembro dos momentos de refrigério que ela tinha quando orava, e quando ela prestava atenção nos céus, então ela começou a buscar a Deus mais uma vez, eu achei aquilo tudo estranho eu falei “poxa meu, talvez ela esteja querendo se fazer de santa pra mim” ou sei lá que desespero ela estava, porque pra mim os cristãos são um ovo desesperado, um povo que já não tinha mais pra onde correr e então começavam a chorar pedir pra Deus socorro. Ela começou a buscar e de um maneira ingênua ela começava a tentar fala do amor de Cristo pra mim, tentava falar pra mim de que ele ia dar um jeito naquilo e eu não conseguia enxergar o que ela tava dizendo pra mim, eu simplesmente já tinha me entregado, (cara) pra mim já não tem mais jeito, to desse jeito e simplesmente uma hora tudo isso vai acabar, eu não quero nem saber do que eu tenho de doença, vo simplesmente viver até o ultimo dia com isso, e uma hora isso vai acabar, eu tinha me entregado completamente. Ela começou a orar e começou a andar com um pessoal que tava orando por ela, umas mulheres de Deus que estavam ajudando ela em oração, dando uma cobertura, um suporte espiritual, encorajando ela a continuar, a não desistir. Eu tava ali só de canto, até que esse pessoal começou a fazer umas orações ali em casa. Então eu falei “perigo neh?O que esses crentes querem aqui dentro de casa? Essa galera vai querer tomar meu dinheiro” eu tinha uma mentalidade meio louca, quando a gente tá de fora não vê a coisa como realmente acontece. Eu fugi das primeiras reuniões que teve lá em casa. Eu era muito maconheiro na época, e quem fuma maconha acaba se esquecendo das coisas, e eu acabei me esquecendo de uma dessas reuniões e acabei ficando em casa. E chegaram aquelas mulheres de Deus, um povo (meu) super simples, eu tava acostumado a ver nas ruas, nos pontos de ônibus, mas eu nunca tinha prestado atenção, mulheres muito simples, chegaram lá em casa e começaram a orar e eu fiquei meio assustado a principio com elas, eram meio barulhentas, oravam em línguas, eu não entendia nada daquilo, eu sei que eu fiquei quieto no meu canto, estranhei elas, e eu tenho certeza que elas me estranharam também, cara todo tatuado, cabelo colorido, usava alargador. Eu sei que uma delas parou na minha frente e perguntou se eu já tinha aceitado Jesus, eu assustei e falei que já, e ai a minha mulher perguntou “quando que você aceitou?” e

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ficou aquele rolo, e uma delas perguntou se eu queria aceitar Jesus, e eu falei “na tora? quero”, mas eu queria mas que elas fosse embora, eu queria mais era fumar um, eu não tava agüentando mais aquela oração toda, aquele povo cantando dentro de casa, eu tava mais era revoltado com aquilo. Eu entreguei a minha vida pra Jesus, tipo sem um pingo de entendimento, sem esperar nada eu achei que nada fosse acontecer. E quando elas foram embora eu achei que não ia acontecer nada, tipo eu tava louco para fumar um, e fui lá e fumei. Fiz um monte de piada, imitei elas cantando. Mas ai passou algumas semanas e elas voltaram. Cara foi o dia, em que tive uma experiência com Deus muito forte, no meio das orações delas, uma delas parou na minha frente começou a orar por mim, colocou a mão na minha cabeça, de repente ela colocou a mão na minha barriga, e ficou orando por mim ali. Até que ela parou abriu os olhos e me disse “irmão Rodolfo, Jesus manda te dizer que nessa tarde Ele ta te curando de um câncer no estomago, pra você saber que Ele é Deus e que te ama muito e tem uma obra para fazer na tua vida”. Cara naquela hora parece que fiquei sem ouvir mais nada, minhas pernas amoleceram, eu perguntei “como é que é cara?”, parece que a ficha foi caindo aos poucos, eu comecei a me tocar que eu tinha uma dor de estômago a mais de 2 anos, que eu meio que nem me lembrava que ela existia de tanto que ela doía, já tava acostumado, comecei a prestar atenção que eu estava emagrecendo a muito tempo e comecei a lembrar daquele monte de caroço espalhado pelo meu corpo, me lembrei dos meus pais médicos, falando de pessoas com câncer e eu vendo que aqueles eram alguns sintomas, que faziam sentido com aquilo que ela estava me falando. Pra piorar comecei a lembrar que meu avô e dois tios morreram de câncer no estômago. Eu falei “cara o que ta acontecendo? Que Deus é esse?” na hora me deu uma faisquinha de alegria com aquela notícia, um sei se eu tinha fé mas me deu uma faisquinha de alegria, acho que foi o fato de ouvir que Deus me amava. A vida inteira cresci achando que Deus me odiava, achando que Deus era uma deus que castiga “cuidado que Deus castiga, num faz isso” e a minha imagem de Deus na minha cabeça era de um deus bravo, que não me queria por perto. E de repente eu ouvi aquilo, que Ele tava me curando pra eu saber o quanto Ele me ama, pra eu saber que Ele tem uma obra na minha vida. Naquela tarde depois que elas terminaram de orar, eu percebi que meu estômago não doía mais. Três dias depois fui passar desodorante com muito cuidado por causa dos caroços, e (cara) não tinha mais caroço nenhum, eu fui mostrar pra Alexandra “olha isso, olha isso” eu apertava fundo e não tinha mais caroço, e eu me lembro de ficar correndo pela casa, chorando e rindo ao mesmo tempo. A nossa mente não é treinada para aceitar um milagre para aceitar uma coisa que não tem explicação. Eu não tinha explicação pra aquilo, tudo que eu tinha eram os elementos que eu já tinha perdido a esperança de viver, cheio de caroço, esperando só a hora da morte chegar, de repente aparece uma mulher de Deus na minha frente dizendo que Jesus tava me curando, porque Ele me ama. Então eu tava curado, passei a engordar, e (cara) seria impossível eu não prestar atenção, que talvez Deus me amasse de verdade, que Ele tivesse querendo me chamar a atenção, e comecei a buscar a Deus. Aonde eu ia encontrar? A única informação que eu tinha era aquele povo que vivia em função de Deus, colei com elas, “cara me fala mais desse Jesus, me fala mais dessa vida que eu não conheço” de uma hora pra outra de uma maneira simples e tremenda uma vida mudou completamente, simplesmente pelo fato de eu atentar pra um modo que eu não conhecia. Comecei a acompanhar aquelas irmãs, comecei a acompanhar a Alexandra, e ver que ela não tava louca com aquela história de Bíblia, de Deus. Sem conhecer religião, eu conheci um Deus real um Deus vivo, poderoso e amoroso demais. Eu falei “eu preciso conhecer mais esse cara, eu preciso conhecer Jesus, eu preciso (meu) me interar mais a respeito dessa pessoa e sem eu pedir Ele deu um toque na minha vida” agora eu tenho esperança, agora eu tenho futuro,

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agora eu posso reconstruir a pessoa que eu sou, a sensação era de ser uma pessoa dentro do caixão e de repente alguém te arranca dali e fala “meu, tenho uma vida nova para você agora, começa a viver tudo de novo, aprende tudo de novo”. Eu comecei a experimentar uma alegria que eu nunca tinha experimentado na minha vida, na simplicidade, a alegria não tava mais nas coisas, não tava mais no dinheiro, na vaidade, comecei a experimentar a alegria de simplesmente saber que sou aceito por Deus, de que eu sou amado por Deus, e de eu posso fazer as coisas diferentes, não interessa o nível de tristeza de desespero, nível de fraqueza que eu me encontro, sempre vo ter a chance de fazer diferente de decidir diferente. A partir dali cara tudo começou a mudar, porque eu fui conhecendo uma cultura completamente diferente daquilo que eu já tinha vivido, pessoas completamente diferentes daquelas que eu estava acostumado a andar, um relacionamento completamente diferente, as pessoas ali, não tinha o menor problema em dizer “ei eu te amo cara” e era estranho ouvir isso de uma pessoa que você mal conhece, e não simplesmente ouvir, mas sentir esse amor, ver o cuidado, fui conhecendo a vida daquelas mulheres que oraram por mim lá em casa, aquelas mulheres que eu achava que tinham algum interesse, e de repente fui na casa delas e vi que eram casas simples, as vezes elas tinham o básico para sobreviver, mesmo assim pegavam um dinherinho e iam de ônibus, de metrô até a minha casa para orar, aquilo mexeu comigo. Fui conhecendo uma simplicidade e uma transparência, que eu achava que nunca pudesse existir nesse mundo. Comecei a buscar Cristo, comecei a tentar ler a Bíblia, comecei a tentar ouvir a Palavra de Deus pregada por alguém. Comecei a me relacionar com Deus, comecei a entender que para me relacionar com Ele bastava que eu abrisse a boca, e ter a consciência de que Ele é real e ta me ouvindo, ser sincero e abrir meu coração porque Ele me conhece. Eu senti que pela primeira vez na vida eu podia ser eu, eu não precisava tentar parecer ninguém, ser um personagem, eu não tinha que buscar afirmação em nada, porque Ele me aceitava do jeito que eu era. E nesse processo de começar a olhar pra Deus, ter a consciência de que Ele tava comigo, a minha vida começou a mudar. Eu parei de fumar maconha no meio de um baseado, eu tava felizão com Jesus, os caroços tinha sumido, eu tinha acabado de noivar. E eu me lembro que uma noite eu tava tentando fumar, quer dizer e tava fumando um e tentando ler a Bíblia, e eu não tava entendendo nada da Bíblia, e tava preocupado porque era meu último baseado,. Quando o baseado foi acabando eu ficava mais preocupado ainda, eu dizia “poxa é o último que eu tenho, o que vou fazer agora, é o ultimo que eu tenho” e de uma maneira simples aquilo começou a mudar de tom no meu coração, eu comecei falar “cara esse é o último “, olhava para Bíblia em uma mão o baseado na outra, eu via ali duas vidas, uma que tinha acabado de se abrir e a outra que eu tinha vivido a vida inteira, era como se fosse dois deuses: o verdadeiro e o falso. Eu tinha vivido a minha vida em função de uma cultura, em função de um estilo que quase tinha me matado, e naquele momento quando terminou aquele baseado (cara) eu não sei o que me deu, eu peguei o telefone e liguei pra agora minha noiva Alexandra, e falei “amor tenho uma notícia boa pra ter falar: parei de fumar maconha”, ela ficou em silêncio uns cinco segundos, tipo eu era o cara mais maconheiro que ela conhecia, ela falou “amém”, no outro dia encontrei uma galera que tinha, até enrolei pra eles, e na hora que acendeu me deu nojo, meu deu vontade de vomitar, eu achei aquilo muito estranho, porque passei metade da minha vida fumando esse negócio, como é que de uma hora para outra me dá nojo? Foi dia 04/02/2001, nunca mais botei um baseado na boca, num tive que passar por clínica, num tive crise de abstinência, eu simplesmente aceitei uma vida nova que estava sendo exposta pra mim. E essa foi só uma das grandes coisas que aconteceram comigo, eu olhava para aqueles meses que eu estava caminhando com o Senhor ...