rotas de sefarad: valorização da identidade judaica portuguesa … · peças de um património...

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Este suplemento comercial faz parte integrante do Jornal de Notícias e do Diário de Notícias de 31 de janeiro de 2017 e não pode ser vendido separadamente Janeiro 2017 | Edição Nº101 Rotas de Sefarad: Valorização da Identidade Judaica Portuguesa no Diálogo Interculturas Projeto Cofinanciado por:

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Rotas de Sefarad: Valorização da Identidade Judaica Portuguesa no Diálogo InterculturasProjeto Cofinanciado por:

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Valorização da Identidade Judaica Portuguesa no Diálogo Interculturas Rotas de Sefarad

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O projeto Valorização de Identidade Judaica Portuguesa no Diálogo Interculturas tem por missão promover, de forma definitiva, a redescoberta de uma componente da realidade cultural, histórica e social do país.

Portugal liderou internacionalmente o processo de globalização e foi o país que em primeiro lugar contribuiu para o diá-logo entre culturas em todos os continen-tes. Nestes processos de intercâmbio mas também de criação, de desenvolvimento económico, científico e cultural estive-ram sempre presentes personalidades correspondentes à realidade judaica se-fardita portuguesa ou, posteriormente, a uma dissimulada origem cristã-nova de raiz lusitana.A presença em território nacional de pa-trimónio tangível e intangível de enorme valor identitário e relacionado com a componente judaica portuguesa tem agora uma estratégia de levantamento,

Rotas de Sefarad: organizar o passado para o oferecer ao futuro

reabilitação, organização e disponibiliza-ção. A acção da missão prevista na Rede de Judiarias é precisamente a reabilita-ção de peças que neste âmbito irão refa-zer o “puzzle” dessa realidade.Organizar o passado para o oferecer ao futuro é o que este trabalho de investiga-ção e reabilitação irá assim permitir ao povo português, ao povo judeu interna-cional e à sociedade internacional no ge-ral. Um trabalho sobre o passado que irá então abrir novas portas de diálogo e de cooperação entre povos para o futuro.O projeto Rotas de Sefarad, Valorização de Identidade Judaica Portuguesa no Diálogo Interculturas procura contribuir para o diálogo multicultural e de encon-

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Valorização da Identidade Judaica Portuguesa no Diálogo Interculturas Rotas de Sefarad

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tro de tradições, rituais, crenças e valores que colocam o Homem no centro da re-flexão. Procura provar que é, justamente, a diferença e a diversidade de opinião, crença, história e percurso, individual e colectivo, que une a humanidade e lhe confere a universalidade da existência. É uma ponte entre saberes, conhecimentos, experimentações, geografias, afectos, ter-ritórios e gentes com olhar para o futuro reconstruindo, na modernidade e em respeito com a tradição e a história, no-vos territórios amigáveis, relacionais, di-nâmicos e inovadores.A iniciativa aqui apresentada pretende assim preservar os elementos da fortíssi-ma componente que representou a iden-tidade judaica no desenvolvimento do país, primeiro, e no contributo que esta deu para a história do povo judeu no mundo, depois. Pretende-se que consti-tua um exemplo internacional de recons-trução, de reencontro e de dignificação mas também um contributo para a defe-sa dos direitos humanos e da cultura. Sendo o património judaico parte inte-grante da História de Portugal, desen-volve-se pela primeira vez no país um projecto integrado que pretende assentar em três pilares de acção e cujos objecti-vos passam pelo levantamento, investi-gação e sinalização dos vestígios de me-mória sefardita portuguesa, pelo desen-volvimento dos conteúdos inerentes a peças de um património material e ima-terial alusivo à memória judaica nacional e o aproveitamento para a potencializa-ção económica decorrente dos mesmos.A área de incidência no país do projecto é Beira Interior / Serra da Estrela, Trás--os-Montes, Alentejo e, com menos inci-dência, o Douro, o Algarve e o Oeste e as

zonas litorais. O contributo para o desen-volvimento regional e local é expresso na promoção do turismo cultural, na aber-tura de novas portas de colaboração in-ternacional com centros de liderança ju-daica na ciência, na história ou na econo-mia. A revitalização e animação poten-cial dos centros históricos de muitas cidades e vilas portuguesas é igualmente uma consequência objectiva. Com isto, Portugal ficará em pé de igualdade com outros países que há muito apostam nes-ta temática (ex.: República Checa, Espa-nha, Estados Unidos, França, etc.). Ac-tuar de forma conjunta e concertada en-tre todos os municípios do país interes-sados e com referências às vivências sociais judaicas garante e potencia a coe-rência e a uniformidade no seio da diver-sidade. Assim, todos os membros, de acordo com o compromisso de participa-ção na Rede de Judiarias de Portugal se comprometem a actuar de forma conjun-ta em defesa do património urbanístico, arquitectónico, histórico e cultural do le-gado judeu.De igual modo se enquadra, promove e divulga um conjunto de projectos cultu-rais, turísticos e académicos, para além de se promoverem políticas sustentáveis de desenvolvimento em turismo cultural e especializado.Por fim, todos os membros, actuando em rede, promovem conjuntamente o desen-volvimento de estratégias e acções pro-mocionais dirigidas a operadores turísti-cos e outros profissionais com o objecti-vo de difusão da imagem que correspon-da aos interesses das cidades e vilas da Rede. O enfoque de mercado a atingir corresponde estrategicamente a três ti-pologias de interessados: o mercado ibé-rico global, com 50 milhões de popula-ção, o mundo judeu decorrente da diás-pora, com 14 milhões, sendo 15 a 20% destes de origem sefardita, e outros inte-ressados internacionais.Finalmente, este projecto pretende alcan-çar, aglutinando as acções dos judeus portugueses no mundo, a concepção de um roteiro do mundo sefardita lusitano. Este roteiro além-fronteiras valorizará o papel de Portugal ou de portugueses no mundo da economia, ciências, religião, medicina, filosofia, literatura, passando por locais míticos como Amesterdão, Antuérpia, Veneza, Istambul, Nova Ior-que, Recife, Antilhas, Bordéus, Londres, Salónica, Hamburgo, etc.Este roteiro será como que um instru-mento de credibilização internacional de um projecto que, organizando primeiro a temática no território nacional, a projec-tará depois para a realidade internacio-nal efectiva.

Um acervo de notáveis contributos para a identidade cultural portuguesaOs judeus viveram no território que configura Portugal pelo menos desde o Baixo Império Romano (sinagoga na villa de São Cucufate, Vidigueira, séculos IV-V; epí-grafe judaica datada de 482, identificada em Mértola) e os vestígios dessa presença densificam-se desde o reino visigótico, prolongando-se sob domínio islâmico. Embo-ra dispersos e carecidos de recenseamento específico, o património documental por-tuguês conserva, nomeadamente através dos fundos do Arquivo Nacional da Torre do Tombo, inúmeros testemunhos dessa presença, desde o século XII, o século da construção política do reino.Durante a Idade Média, os judeus em Portugal gozaram do estatuto jurídico de po-pulação livre, autónoma no quadro de uma sociedade maioritariamente cristã e por isso directamente dependente do monarca, com estruturas de governação das suas comunidades e representante na corte, o rabino-mor. No século XIII, já com D. Dinis, são outorgadas cartas às comunas de judeus, confirmando-lhes usos, costumes e pri-vilégios, que se traduziam na liberdade religiosa e de tradições, na liberdade de ensi-no e de uso de língua própria, na constituição de cemitério, na livre circulação, no reconhecimento de estatuto jurídico próprio, embora sujeito às ordenações gerais do reino. No século XIV, a partir do reinado de D. Afonso IV, altera-se progressivamente o enquadramento social, com a obrigação da constituição de judiarias apartadas do resto da sociedade e com a imposição do uso de sinais identificadores aos seus mem-bros. O agudizar de tensões sociais e económicas na segunda metade do século XV e a gestão da política peninsular levada a cabo pelo rei D. Manuel I resultaria no decre-to de expulsão firmado em 5 de dezembro de 1496.A resposta ao decreto materializaria duas atitudes completamente distintas, uma ca-racterizada pela Clandestinidade a que se remeteram muitos dos judeus que perma-neceram em Portugal, sob a capa legal de Cristãos-Novos, outra traduzida na Diás-pora, que levaria os judeus portugueses a procurar refúgio na Europa e no Novo Mundo. Neste quadro, o legado cultural dos judeus portugueses acha-se enriquecido sobremaneira por um conjunto muito amplo de testemunhos, materiais e imateriais, que traduzem vivências muito diversificadas no tempo e no espaço, antes de mais humano, e resultam num acervo de notáveis contributos para a construção da iden-tidade cultural portuguesa, no território nacional e no mundo, que importa reconhe-cer, estudar, preservar e tornar acessível aos cidadãos.

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Valorização da Identidade Judaica Portuguesa no Diálogo Interculturas – Direção-Geral do Património CulturalRotas de Sefarad

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A Direção-Geral do Património Cultural (DGPC) é responsável pela gestão do património cultural em Portugal continental. Uma equipa alargada, cobrindo praticamente todos os domínios técnicos e científicos e estruturada funcionalmente em serviços centrais, sediados em Lisboa, e em Museus, Monumentos e Palácios, localizados em diferentes pontos do país, assegura um vasto leque de funções e de serviços.

Relativamente à Rota das Judiarias, creio que devemos enfatizar a existência de um património extremamente importan-te, que se relaciona inclusivamente com uma História europeia pesada que em Portugal se encontrava praticamente ve-tada ao desconhecimento geral. Entendo que esta rota colocará isso em evidência, desvendando essa parte da História ---. Acima de tudo, a Rota das Judiarias per-mitir-nos-á visitar memórias concretas em diversos pontos do país, relevando aqui de forma especial o museu que será edificado em Lisboa e que poderá ser muito atrativo do ponto de vista turísti-co, potenciando a visitação de turistas a outros territórios do país, onde nunca iriam de outra forma. E isso é extrema-mente importante para as políticas patri-moniais, para o turismo e para o desen-volvimento económico do país. E gostava de realçar que, para nós, enquanto Dire-ção-Geral que define a política patrimo-nial nacional, a criação de rotas a nível nacional é um domínio ao qual pretende-mos conferir especial importância. Na prática, isso passa nomeadamente pelos castelos e pelas fortalezas e pelo fortale-cimento do que já existe, como a Rota do

Românico, que tem vindo a alargar as suas fronteiras e a demonstrar a impor-tância que um determinado património pode representar para uma região e para o seu desenvolvimento económico ou a Rota dos Castros do Noroeste Peninsular, com 12 entidades envolvidas em torno de um património identitário europeu que atrai outro tipo de turismo… Estamos também a trabalhar no lançamento da Rota das Catedrais, com um cariz nacio-nal, que envolve as 25 catedrais existen-tes de norte a sul. Em suma, este tipo de trabalho em que se enquadra a Rota das Judiarias é extremamente importante no que concerne à atracção turística e até para que o turismo não se concentre ex-clusivamente em determinados territó-rios, potenciando deste modo o desen-volvimento económico de outros.

Falamos em património associado ao turismo… em suma, estamos perante uma economia da cultura…

Quando falamos em economia da cultura, temos as chamadas receitas directas mas igualmente as indirectas, que se revelam ainda mais importantes. Ou seja, não é o bilhete de entrada no museu mas as contri-buições para as economias locais, que têm a ver com a restauração, com a hotelaria, com o comércio e com a atracção das pes-soas a esses locais e a inerente criação de emprego. É extremamente importante e, seguramente, uma forma de desenvolvi-mento de territórios interiores que estão fragilizados devido à falta de pessoas e de actividade económica. Também por isso friso a importância desta Rota das Judia-rias. Não é apenas importante do ponto de vista cultural ou da tal memória esquecida mas igualmente pela questão económica.

Tendo assumido muito recentemente esta missão, considera que Portugal estará finalmente a encarar de forma séria e pragmática o seu próprio patri-mónio?

Creio que se tem feito um trabalho muito considerável relativamente à questão patri-monial… Ao longo dos últimos 30 anos ou até mais, temos vindo a trabalhar em todo o país mas é preciso não esquecer que a ques-tão do património – edificado, neste caso – exige uma manutenção e conservação per-

Na rota da valorização económica da cultura

manente e este processo de continuidade exi-ge um enorme investimento e que os edifí-cios sejam usados. Um edifício sem uso rapidamente se degrada e entra em ruína, portanto, este reuso também se afigura extre-mamente importante. De uma forma lacta, podemos falar em dois tipos de patrimónios edificados: os monumentos e os núcleos anti-gos das cidades, de uma forma mais geral, que têm construções que se afiguram impor-tantes pelo conjunto. E neste último caso pode dizer-se que temos vindo a testemu-nhar interessantíssimos exemplos que ates-tam uma evolução extremamente positiva de recuperação de casas com princípios pouco intrusivos. Relativamente aos edifícios de maior dimensão, tem havido um grande es-forço de recuperação e reutilização. A ques-tão dos castelos já se afigura diferente, sendo que a sua função original foi perdida e o seu reuso não é fácil. Neste caso, estamos perante uma função cultural, de visita… Temos mui-tos e estamos perante um processo natural-mente lento e que carece de um grande in-vestimento.

Presumo que, dada a sua formação em arquitectura, esta área das políticas patrimoniais lhe seja particularmente cara… Em que medida poderá esta es-colha para o exercício de directora ge-ral do património cultural poderá sig-nificar um reforço do investimento do Estado neste domínio?

Naturalmente, é o que espero… Este pro-cesso de concessão de monumentos histó-ricos, no âmbito do projecto Revive, em que temos vindo a colaborar com o Minis-tério da Economia, do Turismo e com a Di-reção-Geral do Tesouro e Finanças, visa identificar edifícios que poderão ser trans-formados em unidades hoteleiras e conces-sionados, projectando o tal reuso. Temos o exemplo das Pousadas de Portugal, que re-sultaram em exemplos extremamente ino-vadores à época, aproveitando edifícios en-tão desocupados ou em ruína. Estamos agora, dentro de princípios semelhantes aos de então a procurar dar um uso a edifí-cios abandonados e com valor patrimonial. No fundo, identificar os edifícios espalha-dos pelo país capazes de atrair turistas e visitantes, envolvendo aqui uma vertente de investimento privado naturalmente res-peitoso do património.

As suas atribuições passam, entre muitos outros campos de atividade, pelo estu-do, investigação e divulgação do patrimó-nio imóvel, móvel e imaterial, pela gestão do património edificado arquitetónico e ar-queológico no território e nas cidades, pela realização de obras de conservação nos grandes monumentos, pela gestão dos mu-seus nacionais e dos monumentos classifi-cados como Património Mundial, pela coordenação da Rede Portuguesa de Mu-seus, pela documentação e inventário do património imaterial, indo até às interven-ções de conservação e restauro de peças de património móvel e integrado.Paula Araújo da Silva assumiu, no início do ano, a função de Diretora Geral do Patrimó-nio e, em entrevista ao País Positivo, destaca a importância que a criação de rotas temáti-cas subordinadas ao património nacional e a valorização das já existentes deverá assumir, não só pela dimensão cultural mas igual-mente pelo potencial económico que as mes-mas representam para os diferentes territó-rios do país.

Que importância encerra esta Rota das Judiarias para a Direção-Geral do Património Cultural?

Paula Araújo da Silva, Diretora Geral do Património

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Valorização da Identidade Judaica Portuguesa no Diálogo Interculturas – Rede de Judiarias de Portugal Rotas de Sefarad

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Fundada a 17 de março de 2011, a Rede de Judiarias de Portugal, é uma associação com caráter público, de direito privado, que tem por fim uma atuação conjunta, na defesa do património urbanístico, arquitetónico, ambiental, histórico e cultural, relacionado com a herança judaica.Em entrevista ao País Positivo, António Rocha, Presidente da Rede de Judiarias de Portugal, apresenta a associação que tem lutado pela preservação da memória, cultura e património judaico em Portugal: “O Projecto (...) apoiado pelo European Economic Area Grants (EEA GRANTS) resultou da credibilidade e trabalho da rede que permitiu uma ajuda fundamental aos municípios na execução dos seus projetos, não podendo esquecer também o Estado Português, que através da Direção Regional da Cultura do Centro cofinancia este projeto”

Quais foram as motivações que levaram à união dos municípios, com tradição judaica, para criar a Rede de Judiarias de Portugal?

As motivações que os municípios sentiram foram as de conservar, re-qualificar e revitalizar todo um patri-mónio que estava esquecido e que importa preservar de modo a mos-trar ao mundo toda uma história ju-daica de valor cultural importantíssi-ma e que se pretende que seja um marco na promoção turística de Por-tugal.

A preservação da identidade na-cional, da cultura e memória ju-daica são os principais objetivos desta associação?

A Associação Rede de Judiarias de Portugal – Rotas de Sefarad foi cria-da com o objetivo de haver uma atua-ção conjunta dos municípios portu-gueses, na defesa do património ur-banístico, arquitetónico, ambiental, histórico e cultural relacionado com a herança judaica. Assim a Rede pre-

tende conjugar a valorização históri-ca e patrimonial com a promoção tu-rística, ação que ajudará igualmente a descobrir uma forte componente da identidade portuguesa e peninsular.O contributo dos judeus portugueses para a história do mundo foi enorme: desde a ciência náutica, que há mais

Rotas de Sefarad - Valorização da Identidade Judaica Portuguesa no Diálogo Interculturas

de 500 anos deu ao país um avanço decisivo para o início da globaliza-ção, à evolução da economia mundial e da medicina. Muitos foram os seto-res em que o papel dos sefarditas na-cionais se tornou preponderante. Foi essencialmente por tudo isto que Portugal deu novos mundos ao mun-do.

A Rede de Judiarias de Portugal foi criada em 2011. De que forma descreve o percurso durante es-tes seis anos?

Tem sido um percurso muito positivo alicerçado num crescimento susten-tado. Foram sócios fundadores, 9 Municípios, 6 Entidades Regionais de Turismo e a Comunidade Judaica de Belmonte, sendo que hoje fazem parte da Rede 37 Municípios e a Co-munidade Israelita de Lisboa. Por isto pode ver-se o interesse e o esfor-ço feito por todos os associados no sentido de termos uma rede forte e que cuida do seu património com elevados benefícios ao nível cultural e turístico.

A parceria da Rede com a entida-de EEA GRANTS foi o kick-off para alguns municípios avança-rem com os seus projetos?

O Projeto “Rotas de Sefarad – Valori-zação da Identidade Judaica no Diá-logo Interculturas” apoiado pelo Eu-

António Rocha, Presidente da Rede de Judiarias de Portugal

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Valorização da Identidade Judaica Portuguesa no Diálogo Interculturas – Rede de Judiarias de PortugalRotas de Sefarad

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Entrevista Anders Erdal, Embaixador da Noruega em Portugal

ses da União Europeia que enfrentam sé-rios desafios económicos. Os seus objetivos principais são a promoção das relações bi-laterais entre doadores e países beneficiá-rios e a redução das disparidades económi-cas e sociais.

De que forma se processa o apoio a Portugal?

Portugal é um dos 15 países beneficiários do EEA Grants e atualmente está a receber 58 milhões de euros alocados a 8 progra-mas estratégicos. Para o próximo período, até 2021, Portugal irá receber 102,7 milhões de euros do EEA Grants.Atualmente, Portugal está a receber fi-nanciamento para programas nas áreas

de gestão marinha, energias renováveis, adaptação a alterações climáticas, socie-dade civil, saúde pública, igualdade de género, herança cultural e diversidade de cultura e artes.Para cada uma dessas áreas há um opera-dor de programa que gerencia o desenvol-vimento e a implementação de todas as ati-vidades necessárias para realizar o progra-ma. Dentro de cada programa, pode haver pedidos para financiamento de projetos que servirão os propósitos do programa ou podem ser estabelecidos, desde o início, projetos pré-definidos.

A adesão e feedback dos intervenien-tes no programa do EEA Grants tem sido a esperada?

Sim. Neste momento estamos a teminar um período de apoio e a preparar um novo. Em relação ao passado, os progra-mas que estão a fechar revelam resultados muito positivos, na maioria das vezes, ex-cedendo as expectativas. Em termos de fu-turo, salientamos que as pessoas – que ope-ram nos domínios de intervenção destes subsídios - têm aguardado com grande ex-pectativa o lançamento dos novos progra-mas.

A temática do Judaísmo vem de en-contro aos objetivos do EEA Grants?

Embaixada da Noruega em PortugalOs EEA Grants estão empenhados em con-tribuir para a redução das disparidades so-ciais e económicas e para a erradicação de todas as espécies de práticas de racismo e de discriminação. Assim, consideramos pertinente abordar a questão da identidade e presença judaica na Europa através de um programa de património. Aborda os problemas e condicionamentos de um povo que foi muito discriminado e perse-guido, por isso, ensina uma lição sobre o que não deve ser repetido na Europa.

Portugal e Noruega são países com re-lações bilaterais desde 1906. O progra-ma EEA Grants veio ajudar a reforçá--las?

Sim. Os programas do EEA Grants ajudam a juntar as pessoas de ambos os países e dos mais diversos quadrantes – profissio-nais, artistas, investigadores, etc. – para trabalhar em conjunto nestes programas. Este facto relembra-nos das semelhanças e complementaridades que os dois países partilham por mais improváveis e inespe-radas que elas possam parecer.Isto também acontece ao nível governa-mental, das instituições públicas e atores das mais diversificadas áreas de interven-ção do EEA Grants. Há uma elevada troca de conhecimento, mais oportunidades de aprendizagem e a cooperação reforçada.

Noruega é, em conjunto com a Islân-dia e o Liechtenstein, membro funda-dor dos EEA Grants. Quais são os principais objetivos e em que consiste este programa?

Há um envolvimento de longa data entre a Noruega e a União Europeia, apesar de não sermos um estado membro. A Noruega contribui para uma vasta gama de ativida-des que visam promover o crescimento so-cial e económico na União Europeia e par-ticipa nelas. Uma delas é a concessão de subvenções a domínios como a inovação, o desenvolvimento económico, o ambiente, a igualdade entre homens e mulheres e a cul-tura, através dos EEA Grants. Os EEA Grants são um mecanismo finan-ceiro concebido para prestar apoio a áreas críticas de desenvolvimento a alguns paí-

Anders Erdal, Embaixador da Noruega em Portugal

ropean Economic Area Grants (EEA GRANTS), resultou da credibilidade e trabalho da rede que permitiu uma ajuda fundamental aos municípios na execução dos seus projetos, não podendo esquecer também o Estado Português, que através da Direção Regional da Cultura do Centro cofi-nancia este projeto. Mas este Projeto vai mais além da obra material, pois

existe uma série de ações imateriais que lhe dão conteúdo e validam mui-to do trablho que se está a realizar.

A expectativa de aumento do nú-mero de turistas a visitar os mu-nicípios da rede é elevada?

Claramente esse é um dos objetivos e para tal a Rede vem fazendo um es-forço grande com a participação to-dos os anos na IMTM – Feira Interna-cional de Turismo do Mediterrâneo em Telavive, Israel, onde vamos es-tar, mais uma vez, nos próximos dias 7 e 8 de fevereiro e que tem ajudado a captar muitos turistas desses países. Vamos igualmente participar na BTL – Bolsa de Turismo de Lisboa, no pró-ximo mês de março com Stand Pró-prio e na FITUR – Feira Internacional de Turismo no próximo ano. O gran-de objetivo é atingirmos 100.000 visi-tantes, ainda durante este ano.

Após a conclusão desta fase de projeto, de que forma a rede po-derá ser expandida? Haverá a in-clusão de mais municípios ou in-vestimento em novas matérias/projetos?

As nossas equipas técnicas estão já a preparar uma nova candidatura que terá vários parceiros internacionais, ligados a esta temática e com os quais temos ligação forte. Terá uma forte componente imaterial ligada à temá-tica da Inquisição e que contemplará certamente alguns projetos materiais a serem apresentados pelos municí-pios que agora não foram contempla-dos. Estamos também a desenvolver uma parceria com a Rede de Judia-rias de Espanha no sentido de estrei-tar laços e desenvolver esforços con-juntos no âmbito da AEPJ – European Association for the Preservation and Promotion of Jewish Culture and He-ritage, da qual somos membros de

pleno direito, sendo nosso objetivo candidatar a nossa Rota ao Conselho da Europa, o que trará mais mais-va-lias evidentes e é mais uma prova que validará todo o esforço que tem vindo a ser feito.

O EEA GRANTS continuará a ser um parceiro da Rede de Judiarias de Portugal nessas projeções de futuro?

Vamos dentro em breve apresentar ao Sr. Embaixador da Noruega em Portugal em primeira mão, o Projeto detalhado anteriormente enunciado, projeto este que é ambicioso e de caráter internacio-nal e estamos certos que terá o melhor acolhimento do mecanismo financeiro. Até abril estamos empenhados em concluir o projeto atual que estou certo terá nota muito positiva de to-das as entidades envolvidas e será re-conhecido pela qualidade por todos os que nos visitarem.

Sede rede de judiarias

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Valorização da Identidade Judaica Portuguesa no Diálogo Interculturas – Direção Regional de Cultura do Centro Rotas de Sefarad

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Cabe à Direção Regional de Cultura do Centro, como Operadora do programa PT 08 - Conservação e Revitalização do Património Natural e Cultural, financiado pelo EEA Grants fiscalizar o projeto em termos financeiros e também do cumprimento dos objetivos previstos, cujo promotor é a Rede de Judiarias de Portugal, que visa a salvaguarda do património natural e cultural para as gerações futuras, a sua conservação e promoção do acesso público. Neste âmbito, o projecto predefinido é denominado “Rotas de Sefarad – Valorização da Identidade Judaica Portuguesa no Diálogo Interculturas”. País Positivo entrevistou Celeste Amaro, Diretora Regional da Cultura do Centro e uma das figuras que acompanhou, com afinco, o projeto desde o início.

norte a sul do país mantêm vestígios judai-cos, não só aqueles que entram neste proje-to mas muitos mais… A título de exemplo, Coimbra não está neste projeto mas tem muitos vestígios judaicos e pode entrar na Rota, quando fizer parte da Rede de Judia-rias. Portanto, o país vai ter acesso a uma rota que irá divulgar tudo o que diz respei-to a uma temática que é conhecida por pouca gente.

Sendo inquestionável o potencial da rota em termos turísticos, que relevân-cia assume a mesma no domínio cul-tural?

A componente turística da rota é muito sig-nificativa, sobretudo se pensarmos nos ju-deus que deverão visitar o nosso país mas igualmente naqueles que aqui vivem e visi-tarão os locais que integram a rota. Depois, é importante em termos nacionais e locais para as pessoas que vivem nesses territó-rios, que terão acesso ao conhecimento his-tórico relativo a uma cultura que viveu e vive no seio dos seus concelhos. No fundo, vai ser marcante para todos e, mais, vai dis-tinguir a história… falamos mais sobre a expulsão dos judeus de Portugal mas exis-te uma componente da história recente, em

pleno séc. XX, durante a II Guerra Mun-dial, relacionada com o diplomata Aristi-des Sousa Mendes que, com os cerca de 30 mil vistos que passou em Bordéus, no con-sulado português, permitiu salvar muitos judeus, da perseguição nazi. Digamos que são duas áreas que se cruzam, uma das quais ainda muito próxima de nós por se situar no século passado. E até por isso este projeto é interessante, na medida em que contaremos uma história de vida e não de morte que testemunha a história da vida de Aristides Sousa Mendes, que terá um centro interpretativo, financiado pelo EEA Grants, em Vilar Formoso. É muito impor-tante que as faixas mais novas da popula-ção conheçam o que fez e estou certa de que, mesmo os mais velhos, se admirarão com os feitos deste nosso herói…

Em que medida visa este projeto tam-bém reabilitar o património inserido na rota e qualifica-lo com novos usos?

Todos os espaços que têm a ver com vestí-gios judaicos, desde as antigas sinagogas a outros, que entram neste projeto a que ade-riram 16 municípios, vão ser reabilitados e abertos ao público, mesmo que não sejam classificados. Todos eles assumirão o for-mato de centros interpretativos ou museu, como é o caso do Museu Judaico de Lisboa.

Em que medida poderá a região centro em particular sair beneficiada face à adesão de alguns espaços a esta rota?

A região centro ficará tão beneficiada quan-to o resto do país. Estamos perante um pro-jeto nacional e, como tal, todas as regiões, acabam por estar incluídas. A região cen-tro, por especificidades próprias, nomea-damente o facto de estar muito perto da fronteira com Espanha, contribuiu para que, a determinada altura da nossa histó-ria, muitos judeus se concentrassem na zona raiana. No projeto financiado pelo EEA Grants, a região centro tem metade dos municípios aderentes e, logo aí, somos beneficiados por termos mais projetos mas não deixa de ser um projeto nacional, que vai de Bragança a Monsaraz.

Não existindo em Portugal uma tradi-ção para a realização de projetos com esta envergadura que envolvam uma concertação municipal, como sentiu a

“A Rota das Judiarias será importante para todos e distinguirá a História”

adesão dos responsáveis autárquicos?Este projeto iniciou em 2013… Estamos no início de 2017 e ainda temos metade do orçamento total do projeto para gas-tarmos até final de maio… Acho que isto diz tudo… O projeto avançou muito de-vagar numa primeira fase e só se inicia-ram as obras da responsabilidade dos municípios a partir de meados de 2016, tendo-nos sido permitido mais um ano para terminar o projeto. De qualquer for-ma, no seio dos EEA Grants este é uma espécie de projeto piloto. Enquanto os demais têm um ou dois parceiros, neste caso surge a Rede das Judiarias que tem, por sua vez, 16 parceiros, que são os mu-nicípios. Portanto, estamos perante um projeto de grande complexidade mas que, julgo, não encontrará mais dificul-dades uma vez que a maior parte das obras e outras ações imateriais estão em fase de conclusão.

Sendo este projeto financiado pelo fundo EEA Grants, que obetivos fo-ram predefinidos aquando da sua con-cepção?

Neste momento, estou a trabalhar na pros-secução desses objetivos que, se não forem cumpridos, obrigará o Estado português a devolver ao EEA Grants o montante de 4 milhões de euros destinado a este projeto, uma vez que o outro milhão é financiado pelo Estado português e pela Rede de Ju-diarias de Portugal. No que concerne ao número de visitantes, teremos que atingir 100 mil até 31 de dezembro de 2017, em to-dos estes espaços recuperados. Neste mo-mento, já temos perto de 20 mil, para o que contribuíram as obras de Monsaraz, do Porto e Castelo Branco e, a partir de agora, todos os outros espaços que vão abrindo, incluindo o Museu Judaico de Lisboa, cujo cumprimento de abertura aponta para no-vembro deste ano, certamente que torna-rão possível atingirmos essa meta. Outro objetivo prende-se com a realização de nove ações de formação, algumas das quais já foram ministradas e outras estão programadas entre fevereiro e março, com públicos que derivam entre operadores tu-rísticos e guias locais. No que respeita a obras físicas, temos 18 previstas, o que su-pera o objetivo inicialmente definido, que apontava para apenas 14.

O que poderá representar para o país este projeto da Rota das Judiarias?

Trata-se de uma temática presentemente pouco explorada no país… Pouco se sabe sobre a vida dos judeus e isso é extensivo às camadas mais jovens e mais idosas e tão pouco sobre a forma como e porque razão foram expulsos e dos que resolveram ficar como viveram e vivem hoje. E a verdade é que grande parte deles vive muito próxima de nós, sendo que muitos concelhos de

Celeste Amaro, Diretora Regionalda Cultura do Centro

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Valorização da Identidade Judaica Portuguesa no Diálogo Interculturas – Museu Judaico de LisboaRotas de Sefarad

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Lisboa contará com um novo espaço memorial dedicado à História dos judeus em Portugal. Um novo museu irá nascer no Largo de São Miguel, em Alfama, projeto que envolve um investimento de cerca de cinco milhões de euros

ter transversal do projeto e a sua ambição, a CML e a CIL encontraram diversos par-ceiros que pudessem representar mais-va-lias para este programa. A Associação de Turismo de Lisboa colocou a sua experiên-cia ao serviço deste desafio e vai gerir todo o processo de construção do museu e assu-mir a sua gestão. A Fundação Drahi asso-ciou-se para permitir a viabilidade econó-mica do projeto. Para além destas parcerias mais institucionais, o Museu Judaico de Lisboa conta já com uma lista considerável de doadores e emprestadores, que garan-tem a qualidade e relevância dos materiais a expor e a coerência do discurso museoló-gico, que será complementado com equi-pamentos multimédia.

Caracterização do espaço museológicoO projeto de arquitetura foi oferecido pela Arquiteta Graça Bachmann. Pensado de raiz, este edifício vai albergar um conjunto alargado de valências, como espaço para exposições temporárias, cafetaria, serviços administrativos, loja e centro de documen-tação. A exposição permanente foi concebi-da por Esther Mucznik e contará a história da presença judaica em Lisboa (e, em senti-do alargado, em Portugal), a partir de 5 nú-cleos. O primeiro deles diz respeito à cultu-ra religiosa e pretende evidenciar as carac-

terísticas específicas da cultura judaica, numa perspetiva de introdução à história e religião hebraicas. Os restantes núcleos privilegiam um discurso museológico cronológico, que aborda as várias etapas da presença judaica em Portugal, desde a época medieval até à atualidade, pas-sando pela expulsão / conversão de 1496, o fenómeno dos cristãos-novos, a diáspora (que levou os judeus de ori-gem portuguesa a praticamente todas as partes do mundo), as condições para o pleno regresso do Judaísmo ao país, o pa-pel das comunidades judaicas em Portu-gal durante a 2.ª Guerra Mundial e o con-tributo dessas mesmas comunidades na atualidade.

Um espaço transmissor de conhecimento e do passado judaico de LisboaLisboa possuiu quatro judiarias na Ida-de Média e foi grande a relevância que a comunidade judaica alcançou nesse período, tanto na especialização em vá-rias profissões/ofícios como no finan-ciamento de projetos reais. Depois de um período de interdição, ditado pela expulsão de D. Manuel e pelo estabele-cimento da Inquisição, o ressurgimento das comunidades judaicas no século XIX criou novos capítulos da história

Um espaço pedagógico com mil anos de História

O Museu Judaico de Lisboa partiu da Co-munidade Israelita de Lisboa (CIL), que desafiou a Câmara Municipal de Lisboa para criar um equipamento cultural desti-nado a preservar e divulgar a herança ju-daica da cidade e do país. Lisboa é das poucas capitais europeias que não possui ainda um espaço museológico dedicado ao contributo judaico para a sua história, ra-zão pela qual a Autarquia sentiu necessida-de de trabalhar para proporcionar as con-dições necessárias à criação de um museu com esta missão. O local escolhido é o Lar-go de S. Miguel, em Alfama, lugar emble-mático para a comunidade judaica, pois foi nas suas imediações que se estabeleceu uma das mais importantes judiarias me-dievais da cidade. Tendo em conta o carác-

da presença dos Judeus no nosso país, sendo de destacar o papel que tiveram ao longo de todo o século XX. O Museu Judaico de Lisboa pretende contar estas e muitas outras histórias, percorrendo quase 2000 anos de presença judaica em Portugal. Desde a convivência / intole-rância do passado até aos dias de hoje, o Museu tem como objetivo transmitir aos visitantes de todas as faixas etárias um discurso que combata ativamente a intolerância étnica e religiosa, assim como valorize as diferenças culturais como definidoras do património da Humanidade.

Potencialidade económica do projetoEmbora se trate de um projeto de serviço público, este novo equipamento cultural tem um potencial turístico relevante, que contribuirá para a afirmação do “destino” Lisboa no contexto nacional e internacio-nal. Do ponto de vista da gestão da cidade, a sua localização em Alfama permitirá do-tar esta zona de um equipamento museoló-gico de referência, que não só ajudará a re-qualificar aquele bairro identitário de Lis-boa, como também reforçará os corredores de acesso ao Castelo de S. Jorge a partir da zona ribeirinha, criando mais pontos de in-teresse para todos os que visitam Lisboa.

Integração Vista Largo S Miguel - Rua S Miguel

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Valorização da Identidade Judaica Portuguesa no Diálogo Interculturas – Embaixadora do Estado de Israel em Portugal Rotas de Sefarad

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A história, preservação e memória da presença judaica em Portugal.

Representante de todos os judeus de Belmonte, o Rabino Elisha Salas concede uma entrevista ao País Positivo desmitificando o facto de a comunidade judaica ser considerada fechada e pouco recetiva a visitas de pessoas exteriores à comunidade.

te da história de Portugal.Gostaria de saudar as autoridades e or-ganizações que desenvolvem, em vá-rios pontos do país, aqueles centros, fornecendo ao público em geral, e às novas gerações em particular, um me-lhor conhecimento deste capítulo his-tórico”.

A presença da comunidade judaica em Portugal no presente e a sua participação na vida ativa do paísA comunidade judaica em Portugal, nos dias de hoje, é parte integrante re-levante da sociedade portuguesa acti-va, por exemplo no âmbito do diálogo interreligioso e da educação e preser-

judaica. As ações desencadeadas pela Rede de Judiarias de Portugal ajudam o seu trabalho?

A comunidade judaica de Belmonte é um pe-queno organismo que sozinho não consegue disseminar 500 anos de história da presença judaica em Portugal, precisamos de um orga-nismo mais amplo e forte para o fazer e a Rede de Judiarias de Portugal vem desempe-nhar, na perfeição, esse papel. É necessário desenterrar a história judaica, levá-la às pes-soas e expor a riqueza que se encontra escon-dida no território português.

Há, na sua opinião, muito trabalho por efetuar?

Acredito que sim. Todos os organismos traba-lharam para melhorar, preservar e conservar o património local, agora devem-se unir e criar uma rota única de forma a que o turista não perca tempo com as viagens e fique per-dido quando necessita de alguma informação adicional. O trabalho em rede, em comunida-de é fundamental e a Rede de Judiarias de

vação da memória do Holocausto atra-vés de associações como a ME-MOSHOA, entre outras. Neste momen-to, a comunidade judaica está muito envolvida na implementação do Decre-to-Lei de Fevereiro de 2015, que regula-menta a aquisição da nacionalidade portuguesa, por naturalização, de pes-soas que consigam provar a sua des-cendência de judeus perseguidos na Península Ibérica”. Ao mesmo tempo, a direcção e os mem-bros da Comunidade judaica em Portu-gal, à semelhança de outras comunida-des judaicas espalhadas pelo mundo, acompanham com muita atenção tudo o que acontece no Estado de Israel.

Tzipora Rimon,Embaixadora de Israel em Portugal

Portugal está a trabalhar nesse sentido.

Recebe a visitas de muitos turistas ju-deus?

Todos os turistas que visitam Belmonte ficam encantados com a região e querem conhecer mais do país, a sua curiosidade fica aguçada e a Rede de Judiarias desempenha um papel fundamental ao criar rotas devidamente assi-naladas e estruturadas para que estas pessoas satisfaçam a sua curiosidade e regressem.

Criadas as Rotas é necessário criar con-dições para receber os turistas que têm regras diferentes da cultura portuguesa. Nota que Já existe essa sensibilidade?

Já existem alguns restaurantes que servem comida kosher. Desloquei-me ao local para ensinar e me certificar de que a comida é con-fecionada mediante as nossas regras e certifi-quei esses restaurantes. Atualmente já exis-tem queijos, compotas, carnes e bebidas que podem ser cadquiridas e que têm a certifica-ção kosher.

As Memórias Judaicas em Portugal

Rabino de Belmonte500 anos de tradição judaica

Há raízes da presença judaica em Por-tugal desde tempos imemoriais, que deixaram uma marca e uma herança significativas.No presente, presenciamos uma inves-tigação académica crescente de docu-mentos e vestígios dos períodos mais turbulentos, bem como do legado dei-xado pelas comunidades judaicas. É possível encontrar muitas publicações sobre o tema da presença judaica e abrem-se diversos centros e institutos cuja missão é a preservação da memó-ria de uma época passada, que faz par-

Com um poder de oratória notável recebe os convidados dentro da Sinagoga. Começa por explicar a disposição das pessoas: “homens em baixo com a kipá sobre a cabeça e as mu-lheres no piso superior de cabelos cobertos”

É um membro ativo em Belmonte que prima por promover e divulgar a cultura

Tzipora Rimon, Embaixadora do Estado de Israel em Portugal

Rabino de Belmonte, Elisha Salas

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Valorização da Identidade Judaica Portuguesa no Diálogo Interculturas – Comunidade Israelita de LisboaRotas de Sefarad

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A actual comunidade judaica de Lisboa encontra as suas raízes nos grupos de judeus sefarditas que se instalaram em Portugal no início do século XIX. Na sua maioria, eram negociantes provenientes de Gibraltar e Marrocos (Tânger, Tetuão e Mogador) e alguns dos nomes ainda exprimiam uma ligação às suas terras de origem ibérica, antes do período da expulsão. Paralelamente à sua integração rápida e bem sucedida na vida portuguesa, os primeiros grupos de judeus procuraram logo organizar-se como tal, criando salas de oração e adquirindo terrenos para enterrar os mortos segundo o ritual judaico.

de D. Afonso Henriques, na altura das conquistas, testemunham esse legado e presença, como salienta o nosso interlo-cutor, Gabriel Steinhardt, presidente da Comunidade Israelita de Lisboa: “Há que salientar que existem judeus em Portugal mesmo numa época anterior à existência do próprio país… Os judeus ajudaram D. Afonso Henriques nas conquistas… Tive-mos um período negro da nossa história, traduzido em quase 300 anos de inquisi-ção mas também outro período, mais ilu-minado, em que Portugal acolheu refu-giados antes e depois da II Guerra Mun-dial, em fuga das perseguições e do infa-me nazismo, e por isso devemos estar reconhecidos”.Gabriel Steinhardt recebeu-nos num íco-ne judaico de Lisboa, a Sinagoga local, edificada em 1904. Escondida atrás de um alto muro, porque na altura apenas os templos religiosos católicos podiam ser visíveis a partir da via pública, esta magnífica obra, a “Shaaré Tikvá” (Pórti-cos da Esperança), serve de palco para uma visita à própria história de Portugal. Aqui entram diariamente crianças e jo-vens em visitas escolares, turistas e visi-tantes portugueses que procuram satisfa-zer a sede do conhecimento.O Judaísmo é a religião e cultura do povo judeu, que o tem encarado tradicional-mente como uma cultura com a sua pró-pria história, língua (hebraica), pátria an-cestral, liturgia, filosofia, princípios éti-

cos, práticas religiosas, etc. Hoje, a Co-munidade Israelita de Lisboa divide-se mais ou menos equitativamente em dois grupos: os sefarditas, oriundos da Penín-sula Ibérica, e os asquenazes, oriundos da Europa Central. No total, são mais de 300 as famílias associadas à Comunidade.Gabriel Steinhardt relembra que “Em 1912, a comunidade judaica de Lisboa foi a primeira a ser oficialmente reconhecida pelo Governo Republicano, precisamente 416 anos depois do Édito de Expulsão e quase um século depois da extinção da Inquisição.. Diz-se que D. Manuel I, con-cedendo-lhes um período de adaptação e a possibilidade de se tornarem cristãos novos, pretendia na realidade, que os ju-deus permanecessem em Portugal. Ora, não foi propriamente isso que sucedeu e acabaram por sair muitos judeus do país por não poderem praticar livremente a sua religião, enquanto que muitos outros foram torturados e mortos pelos inquisi-dores ou fingindo ser cristãos, se adapta-ram à prática secreta do judaísmo, dando origem ao fenómeno designado hoje por cripto-judaísmo. Somando essa popula-ção judaica da altura aos judeus fugidos de Espanha, onde a inquisição foi ainda mais marcante, e refugiados entre nós, podemos referir que cerca de 10 por cen-to da população portuguesa, cifrada em um milhão de habitantes, eram cripto-ju-deus. E este é um fenómeno que influen-cia a sociedade civil portugues até hoje,

A primeira comunidade judaica do pós inquisição

não havendo na realidade nenhum por-tuguês que, independentemente da reli-gião que tratique, que possa ter a certeza absoluta de que não possui uma costela ancestral judaica…”Como não poderia deixar de ser, a Comu-nidade Israelita é uma das entidades as-sociadas da Rota das Judiarias. De acordo com Gabriel Stenhardt, a instituição da rota, além de preservar um legado, de-volve alguma justiça à difícil história por que passaram os judeus: “Isto é a história de Portugal e, obviamente, o reconheci-mento por parte das autoridades de que os judeus foram uma parte muito impor-tante da história portuguesa está feito. E pode ser explicado às pessoas precisa-mente deste modo: através de museus, da introdução do tema nos manuais esco-lares ou de um exemplo traduzido numa iniciativa que data de 2015, a introdução de um regime especial da lei da naciona-lidade portuguesa que permite a aquisi-ção da mesma por naturalização a des-cendentes de judeus sefarditas que foram expulsos há 500 anos. Trata-se de um re-conhecimento, uma restituição e um acto de justiça”, reitera.Um dos principais ícones a edificar na se-quência da criação da Rede das Judiarias Portuguesas e da Rota das Judiarias é o Museu Judaico de Lisboa, obra que deve-rá estar concluída até perto do final do ano. Uma espécie de dever de memória para com o nosso passado judaico, que contou também com a colaboração da Comunidade Israelita de Lisboa, que ce-lebrou um protocolo e contribuiu para o projecto, nomeadamente através do pro-jeto arquitectónico. “Congratulamo-nos pelo facto de o museu estar preste a tor-nar-se uma realidade, mais ainda quando Lisboa tem uma riquíssima história ju-daica, com várias judiarias, mas pouco tem hoje para mostrar, para além da pe-quena judiaria de Alfama, do monumen-to ao massacre de 1506 na Praça de São Domingos e da nossa Sinagoga, uma vez que tudo foi destruído. Trata-se de uma excelente oportunidade de divulgarmos o judaísmo em si e, a par, a importante contribuição dos judeus para a história de Lisboa e de Portugal”, conclui Gabriel Steinhardt.

Não podendo obter a legalização da co-munidade, os judeus de Lisboa foram criando, sobretudo na segunda metade do século XIX, instituições de beneficên-cia sob a forma de associações autóno-mas, cujos estatutos eram submetidos à aprovação do Governo Civil ou sob a for-ma de fundações privadas, geralmente dirigidas por senhoras. Estas instituições desempenharam um papel decisivo na união e organização do judaísmo portu-guês. A abertura política da pós-revolu-ção de Abril e das fronteiras, com a entra-da de Portugal na União Europeia, fez chegar ao nosso país cidadãos judeus ori-ginários de diversos países, da Europa e do Brasil. Diz-nos a História que a presença de ju-deus em território português é mesmo anterior à própria existência do país. Re-gisto histórico como o contributo, ao lado

Gabriel Steinhardt

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Valorização da Identidade Judaica Portuguesa no Diálogo Interculturas – Município de Alenquer Rotas de Sefarad

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O município de Alenquer faz parte da Rede de Judiarias de Portugal – Rotas de Sefarad, ao qual aderiu ciente da sua inserção no legado histórico judaico e com o propósito de reabilitar o seu património relacionado com essa herança judaica, pretendendo impulsionar o turismo e a cultura. Sobre esse processo, que já deu forma à reabilitação de marcos históricos de Alenquer falamos com o Rui Costa, Vice-presidente da Câmara Municipal de Alenquer, que nos esclareceu sobre os pontos mais importantes do traço de união que ali se estabelece entre a História e os nossos dias.

Pode-nos detalhar esse projeto?Além da Judiaria, há o facto de o historia-dor e humanista Damião de Góis, uma víti-ma da Inquisição, ser um filho de Alen-quer. No âmbito deste projeto, decidimos combinar dois dados: por um lado a efetiva existência de uma judiaria em Alenquer e, por outro a figura de Damião de Góis, que tendo sido uma das personalidades portu-guesas mais ilustres de todas as épocas, que nasceu em Alenquer, onde está igual-mente sepultado. A sua sepultura é monu-mento nacional. Queremos com esta inter-venção cruzar a vida e obra de Damião de Góis, com todo o processo inquisitorial que existiu em Alenquer. Existirão na Torre do Tombo setenta e oito processos da Inquisi-ção de gente relacionada com Alenquer, sendo o processo de Damião de Góis o mais conhecido. Homem notável, porém mordaz e autossuficiente, teve inevitavel-mente dissabores com a Inquisição. O fale-cido professor Mariano Gago, quando de um estudo sobre Damião de Góis e a sua obra, dizia-nos uma vez, sentado na Igreja de Santa Maria da Várzea: “Nem daqui a duzentos anos a humanidade estará prepa-rada para entender Damião de Góis.”

Quais as ligações de Damião de Góis com o património de Alenquer?

Damião de Góis nasceu em 1502 e morreu em 1574. Em 1560 adquiriu para sua sepul-tura a Igreja de Santa Maria da Várzea, onde tinha sido batizado. Foi ali sepultado, tal como sua esposa. A igreja já não era

uma edificação original. Note-se que com o terramoto de 1755 a Igreja da Várzea viria a ter ainda outras alterações. Alenquer so-freu muitíssimo com o terramoto que prati-camente destruiu a vila alta, existindo hoje poucas construções anteriores ao abalo. É o caso do Convento de S. Francisco, de 1216, que conserva o portal manuelino mas teve alterações significativas. A Igreja de Santa Maria da Várzea funcionou com cultos ainda durante vários séculos, sendo encerrada em meados do século XIX, permanecendo em degradação durante cerca de cem anos. No meio de polémica, os restos mortais de Da-mião de Góis foram dali transladados em 1941, para a Igreja de São Pedro, assim como um conjunto de bens patrimoniais que per-mitiram albergar um novo túmulo de Da-mião de Góis. O túmulo é construído com uma abóbada e com pavimento retirado da Igreja de Santa Maria da Várzea. Lá estão o epitáfio, as armas da família de Damião de Góis, a pedra tumular original e os seus res-tos mortais. Ali está também um Ecce Homo, obra que o humanista trouxe da Flandres e ofereceu à Igreja de Santa Maria da Várzea. Condenado pela inquisição, Damião de Góis tinha sido um mecenas que ofereceu muito acervo para igrejas. A igreja de Santa Maria da Várzea foi adquirida pelo município de Alenquer há uma vintena de anos num esta-do de degradação enorme. O município construiu um telhado novo, ficando entre-tanto a procurar uma alternativa de finan-ciamento para a reconstrução.

O que foi feito agora em termos de reabilitação?

Contextualizamos toda esta intervenção com o objetivo de criar o museu de Damião de Góis e das Vítimas da Inquisição. Fize-

Novas formas de ver o património em Alenquer

mos um projeto de recuperação e reabilita-ção da Igreja de Santa Maria da Várzea em que a preocupação principal foi mantê-la com a traça de antes. Num trabalho muito próximo com a Direção-Geral do Patrimó-nio Cultural picamos todas as paredes até chegarmos à parede original. No chão es-cavamos muito pouco, sabendo que se tra-tava de uma igreja cemiterial. Mesmo as-sim encontramos ossadas que foram devi-damente estudadas. Pretendemos fazer uma publicação de cariz arqueológico so-bre este processo das obras levadas a cabo nos últimos três anos. Sendo que já existia trabalho feito por um grande arqueólogo de Alenquer, Hipólito Cabaço, comple-mentaremos os seus estudos com o que se encontrou agora na igreja. Descobrimos pedras tumulares, algumas do século XVI, que decidimos deixar à vista. Por outro lado, num cantinho, construímos um jar-dim de inverno. Também reconstruímos o coro e reformamos a torre sineira. No exte-rior vai surgir um anfiteatro com um pe-queno palco em betão. Será uma obra ino-vadora que permitirá fazer animação cul-tural, principalmente no verão. Estamos também a trabalhar na musealização do espaço, que se desenha de uma forma ino-vadora: no centro da nave vamos colocar um túnel que levará as pessoas da entrada até ao local do altar, passando pelo que foi o carneiro de Damião de Góis, para o qual estamos a fazer uma réplica. Nesse percur-so vamos contar a história desde a Alen-quer medieval, a vida dos judeus na vila e de Damião de Góis. Vamos contar a histó-ria da Igreja de Santa Maria da Várzea com achados arqueológicos e através de méto-dos de ponta, com recursos digitais. Tudo isto poderá ser visto já em março próximo.

Como se enquadra Alenquer na Rede de Judiarias de Portugal?

No século XV, existiu em Alenquer uma ju-diaria de dimensão razoável. Esta judiaria que ocupava uma área bastante significati-va no espaço da vila intramuros, chegou a ter cerca de uma centena de pessoas a viver e onde estavam mesteirais, os artífices da época, que tiveram importância no desen-volvimento económico local. Isso na encos-ta, na zona alta da cidade. Chegaram aos nossos dias algumas marcas da existência da judiaria que era constituída por três ruas grandes que confluem até ao topo da encosta: a rua, a travessa e o beco da Judia-ria com o seu conjunto de habitações. Essas casas, no âmbito da intenção de defesa do património por parte da Rede de Judiarias, vão ser identificadas para que as pessoas possam saber o que efetivamente ali exis-tia. É um projeto a que nos decidimos ten-do em conta as realidades de Alenquer.

Rui Costa, Vice-presidente da Câmara Municipal de Alenquer

Museu de Damião de Góis e das Vítimas da Inquisição antes e depois

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Valorização da Identidade Judaica Portuguesa no Diálogo Interculturas – Município de AlmeidaRotas de Sefarad

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Almeida revela ser o município fronteiriço que historicamente se destacou, em toda a Península Ibérica, na receção de refugiados internacionais no século XV e, mais tarde, durante a II Grande Guerra Mundial no século XX. Foi, durante o século XV, o principal local de passagem dos judeus expulsos de Espanha. Muitos acabaram por se instalar no concelho principalmente junto à fronteira nas localidades próximas de Almeida.Para António Baptista, Presidente do Município de Almeida, estes “dois marcos históricos não cairão no esquecimento devido ao empenho e dedicação do município em querer recuperar a Esnoga de Malhada Sorda e em concluir o pólo museológico Vilar Formoso – Fronteira da Paz, Memorial aos Refugiados e ao Cônsul Aristides de Sousa Mendes.”

Em que consiste o projeto de Malha-da Sorda?

As obras que temos no concelho de Al-meida dizem respeito à mesma temática mas referem-se a dois momentos históri-cos diferentes. A Esnoga (ou Sinagoga) de Malhada Sorda corresponde à época da passagem e vivência dos judeus sefar-ditas em 1492, no período a seguir aos Éditos de Alhambra, com a expulsão dos Judeus pelos Reis Católicos de Espanha. Foram acolhidos em Portugal e segundo o Professor Adriano Vasco Rodrigues - arqueólogo, historiador e etnólogo de descendência judaica - que tem trabalha-do com o município de Almeida, passa-ram por esta região mais de 30 mil ju-deus.Vinham das mais diversas partes de Espanha e fixaram-se junto à frontei-ra. As pessoas eram, na sua maioria, co-merciantes com posses e fixavam-se em

pontos centrais e estratégicos para o de-senvolvimento dos seus negócios. Os vestígios deixados em Malhada Sorda correspondem a uma casa que foi recu-perada através deste projeto. A Esnoga é um edifício com uma dimensão muito reduzida e que acreditamos que possa ter sido uma Sinagoga de prática oculta. Não sabemos exatamente quais as moti-vações que levaram à fixação de algumas famílias em Malhada Sorda, mas acredi-tamos que tenha relação com a atividade industrial dessa época e essencialmente da cerâmica.

Pode descrever alguns dos conteú-dos que estarão disponíveis na casa?

É, como referi, um projeto de pequena dimensão. É uma casa de dois andares que estava em ruína. Tem caraterísticas

Dois projetos, duas épocas

de construção bastante interessantes como um relógio de sol colocado no re-mate de uma das esquinas da casa (séc. XVII)e uma janela de estilo Manuelino (tardio) do século XVI que foram recupe-rados. Neste momento estamos na fase de desenvolvimento de conteúdos e da informação que estará disponível no seu interior. No rés-do-chão terá um tear jun-tamente com informação e imagens so-bre o linho desde a sua origem até ao produto final. No primeiro andar iremos ter conteúdos sobre o Judaísmo, estes es-tão a ser reunidos e trabalhados por uma equipa coordenada pelo Professor Adria-no Vasco Rodrigues.

O projeto de Vilar Formoso remonta ao século XX, mas a história é seme-lhante...

Há também vestígios bem patentes em Vilar Formoso que remontam ao séc. XV e XVI, localizados no “Povo”, Rua da Moreirinha, casas de rés-do-chão e 1º an-dar com Mezuzá, que comprovam a sua utilização por judeus.Mas Vilar Formoso merece um destaque especial no período em que decorreu a II Guerra Mundial por também ter recebi-do milhares de refugiados à perseguição Nazi, entrando por aquela que era a principal fronteira terrestre do país a ní-vel rodoviário e ferroviário. Com esta in-tervenção pretendemos que o visitante, ao entrar neste polo museológico, tenha uma perceção e uma vivência aproxima-da das dificuldades e horrores por que passaram muitos dos refugiados.A historiadora Margarida Magalhães Ra-malho, autora do livro “A Fronteira da Paz”, descreve situações dramáticas como a de um comboio lotado de refu-giados que foi obrigado a voltar para

António Baptista, Presidente do Município de Almeida

Pólo museológico Vilar Formoso – Fronteira da Paz, Memorial aos Refugiados e ao Cônsul Aristides de Sousa Mendes

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Valorização da Identidade Judaica Portuguesa no Diálogo Interculturas – Município de Almeida Rotas de Sefarad

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de Sousa Mendes para que a história não esqueça quem salvou e foi salvo nesta época. Para isso adquirimos e recuperá-mos dois armazéns e o largo da estação de Vilar Formoso (estação que está entre as cinco mais bonitas de Portugal).O me-morial vai ter seis núcleos distintos: Gen-te como Nós, O Início do Pesadelo, A Viagem, Vilar Formoso - Fronteira da Paz, Por Terras de Portugal e A Partida. A ideia é fazer com que o visitante vista a pele de um refugiado no percurso até à liberdade.

O município já realizou algum evento para divulgar a presença ju-daica em Almeida?

Realizámos uma exposição nos Estados Unidos, no JewishCenter, promovido pela American Sephardi Federation, com o apoio da Embaixada de Portugal em

Nova Iorque, da Sousa Mendes Founda-tion, do Portugal NewYork Consulate--General, do Turismo do Centro de Por-tugal, da Luso-American Development Foundation, da American Jewish Histo-rical Society, do Leo Baeck Institute e The International Raoul Wallenberg Founda-tion, onde tive a oportunidade de conhe-cer alguns dos sobreviventes do Holo-causto, nomeadamente a família Winter. Esta família juntamente com outras, seus descendentes e alguns sobreviventes or-ganizaram duas viagens às quais deram o nome “On the road to freedom” de for-ma a recriarem a viagem que os seus an-tepassados fizeram a caminho da liber-dade de Bordéus até Vilar Formoso. Numa dessas viagens fui recebê-los jun-to à fronteira e acompanhei-os na visita às obras do Memorial aos Refugiados e ao Cônsul Aristides de Sousa Mendes.

Pretendemos honrar a memória desses refugiados mas também do Cônsul Aris-tides de Sousa Mendes que salvou mi-lhares de pessoas durante o Holocausto. Creio que vai ser alvo de visita de turis-tas com interesse meramente cultural e religioso como de famílias de origem ju-daica que querem saber mais sobre os seus antepassados.

Há algum fator que diferencia os projetos de Almeida em relação aos outros da Rede de Judiarias de Por-tugal?

Somos o único município que concorreu com dois projetos, que focalizam dois períodos distintos da nossa História, a fuga de Judeus de Espanha para Portu-gal no séc. XV e o acolhimento aos refu-giados na II Guerra Mundial.

França porque os vistos eram falsos. Des-se incidente resultou a morte de um casal que permanece sepultado no cemitério de Vilar Formoso.

O Memorial aos Refugiados e ao Cônsul Aristides de Sousa Mendes terá dimensões e conteúdos distin-tos de Malhada Sorda?

Embora as motivações tenham sido se-melhantes, a fuga dos judeus e o acolhi-mento do lado português, estes são pon-tos que se voltam a tocar passados quase cinco séculos. A intervenção de Aristides de Sousa Mendes, que era Cônsul de Portugal em Bordéus foi um fator deter-minante na vida de milhares de pessoas e não queremos deixar de eternizar a gratidão por tão nobre e humana atitude. O município decidiu construir o Memo-rial aos Refugiados e ao Cônsul Aristides

Antes e depois, Museu Antes e depois, Esnoga

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Valorização da Identidade Judaica Portuguesa no Diálogo Interculturas – Município de BelmonteRotas de Sefarad

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Pouco se sabe sobre a primitiva presença da comunidade judaica em Belmonte, mas é indiscutível o seu peso na sociedade belmontense. A comunidade judaica continua perfeitamente integrada, ajuda a manter a tradição da sua cultura e convive pacificamente com os representantes da religião católica - dominante no nosso país.

ra especial para a diáspora judaica. Isso explica a crescente procura turística desta terra e o crescente número de visitantes ao museu judaico.”

A história da vila de Belmonte sem-pre contou com a presença de Ju-deus?

Ainda hoje não é possível saber exata-mente em que altura começou a haver ju-deus na vila, mas sabemos que não foram os judeus expulsos de Espanha que fun-daram a comunidade judaica de Belmon-te, embora a tivessem vindo reforçar.

Aquando da demolição da Igreja de S. Francisco, em 1910, foi encontrada uma pedra da primeira sinagoga de Belmonte datada de 1297. Por este facto é possível afirmar que a comunidade judaica deve-ria ser grande, uma vez que as sinagogas só existiam em comunidades numerosas. A antiga judiaria de Belmonte, situar-se--ia em torno da atual Rua Direita e Rua Fonte da Rosa (esta primitiva Rua da Ju-diaria). Ao cimo da Rua Direita, a norte, existe ainda uma praça, esta das mais an-tigas de Belmonte, que conserva muito da sua arquitetura primitiva. Nela po-

O município mais judaico de Portugal

A criação do Museu Judaico de Belmonte foi um passo importante na preservação da cultura judaica, retrata a história da presença sefardita em Portugal, usos, costumes e integra um memorial sobre as últimas vítimas da inquisição. Foi o pri-meiro museu português sobre esta temá-tica.António Rocha, Presidente da Câmara Municipal de Belmonte começa por rela-tar a forma como a comunidade judaica de Belmonte está enraizada no municí-pio, “ (...) por ter essa comunidade viva ao longo de séculos, Belmonte é uma ter-

dem observar-se pequenas casas de gra-nito, térreas, com pequenas aberturas para colocar a mezuzá e com cruzes nas ombreiras.

A presença de personalidades judai-cas na história de Portugal, como os descobrimentos, nas áreas da medi-cina, literatura, entre outras, é co-mum. Existe alguma personalidade belmontense que se tenha destaca-do?

Pedro Álvares Cabral nasceu em Belmon-te entre entre 1467-1468 e era filho de Fer-não Cabral e de Isabel de Gouveia e de-sempenhou um papel importante a épo-ca dos descobrimentos. Foi criado como membro da nobreza portuguesa e com cerca de trinta anos de idade teve como missão comandar a mais poderosa arma-da portuguesa do século XV. Descobre o Brasil em abril de 1500. É a personalidade de origem judaica, natural de Belmonte, que mais se destacou no panorama nacio-nal.

O que diferencia Belmonte dos mu-nicípios que integram a Rede de Ju-diarias de Portugal?

As pessoas. Mais que a referência históri-ca ou o testemunho físico deste ou da-quele elemento religioso ou arquitetóni-co. Em Belmonte temos uma comunida-de viva, que durante séculos manteve a sua crença, os seus ritos e que, ainda hoje, se mantém organizada em torno da sua sinagoga e do rabino. Temos o nosso Mu-seu Judaico, os registos da antiga judia-ria, mas é este registo humano que nos orgulha e nos diferencia. Falamos de pes-soas que continuam a manter as suas tra-dições numa terra marcada pela tolerân-cia e sã convivência. Aqui o judaísmo não é só uma referência histórica, é presente!

É indiscutível o peso da comunidade judaica em Belmonte. De que forma esta influencia o segmento turístico que visita o município?

Exatamente, por ter essa comunidade viva ao longo de séculos, Belmonte é uma terra especial para a diáspora judaica. Isso explica a crescente procura turística desta terra e o crescente número de visi-tantes ao museu judaico. Mas Belmonte não é só um polo de atração para israeli-tas, ou para confessos judeus de outras partes do mundo. É também visitado por

António Rocha, Presidente da C. M. Belmonte

Cruz na ombreira de uma casa Fachada Museu Judaico de Belmonte

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têm de estar presentes 10 homens, minian, senão não conseguimos fazer a leitura da Torá, ou recitar kadish, a oração de luto.

As tradições culturais e religiosas mantiveram-se intactas durante qua-se 500 anos de permanência em terri-tório nacional?

Como as cerimónias e cultos eram realiza-dos em casa e em português muitos dos rituais sofreram alterações sem que os pró-

Comunidade Judaica de Belmonte

As pessoas que resistiram a tudo e ficaram em PortugalBelmonte é, de todo o território nacio-nal, onde a presença dos judeus é mais forte, destacando-se por ter a única co-munidade peninsular de permanência da cultura e da tradição hebraicas desde o início do século XVI até aos dias de hoje. É a única herdeira legítima da an-tiga presença histórica dos judeus se-farditas. Durante a inquisição conse-guiu preservar muitos dos ritos, orações e relações sociais, “mas sempre com muita descrição e dentro de portas. As tradições eram passadas oralmente pela matriarca da família. O papel da figura feminina era essencial para passar os ensinamentos de geração em geração.” Afirma Pedro Diogo, Presidente da Co-munidade Judaica de Belmonte.

O reconhecimento da Comunidade Judaica de Belmonte e a construção da sinagoga veio ajudar a cimentar

os laços entre os judeus de Belmon-te?

Mesmo após o fim da inquisição a comuni-dade continuou fechada em si até 1989 quando foi oficialmente reconhecida como Comunidade Judaica de Belmonte. Em 1996 inauguramos a sinagoga “Beit Eliahu” (Filho de Elias) precisamente numa das ruas da antiga judiaria, num ter-reno doado por uma família judia. Quan-do a Comunidade Judaica de Belmonte foi fundada tínhamos cerca de 180 membros, as pessoas rezam em casa, em português, em família; com a construção da Sinagoga foi possível começar a rezar em conjunto com outros judeus.

Há rituais e orações que só podem ser realizadas na sinagoga?

Todas podem ser feitas em casa, desde que existam o número suficiente de pessoas. Por exemplo para fazer uma oração completa

prios se apercebessem das diferenças com as comunidades que originalmente chega-ram a Portugal. Convidámos Rabinos de Israel para nos virem ensinar usos, costu-mes, tradições e reavivar a memória e tra-dições judaicas. Houve um retorno à cul-tura e tradições religiosas tal qual como era vivida pelos nossos antepassados. En-sinaram-nos rituais e orações que desco-nhecíamos e que hoje realizamos com na-turalidade.

MezuzáÉ a palavra hebraica para designar um-bral. Consiste em um pequeno rolo de pergaminho (klaf) que contém duas passagens bíblicas, manuscritas, «She-má» e «Vehaiá». A mezuzá que deve ser afixada no umbral direito da porta de cada dependência de um lar ou estabe-lecimento judaico, obedece ao seguinte mandamento da Torá: «Escreve-las-ás nos umbrais de tua casa, e em teus por-tões» (Deuteronômio VI:9, XI:20)

portugueses de diferentes credos e reli-giões. Agora que os conflitos religiosos alastram pelo mundo, as pessoas estão cada vez mais empenhadas em conhecer melhor as diferentes religiões, entender as diferenças e redescobrir os valores que são comuns. As verdadeiras religiões, possuem valores humanos que são idên-ticos, que lhes permitem convergências e pontos de união. Belmonte foi sempre um exemplo de tolerância religiosa. So-mos um exemplo de que a convivência entre religiões é possível.

O EEA GRANTS em parceria com a Rede de Judiarias de Portugal apoiam o projeto do município de Belmonte. Pode descrevê-lo?

O nosso Museu Judaico é um ex-libris para as visitas a Belmonte. Contudo, o tempo passa e os novos tempos exigem outro tipo de conceito de musealização. Nesse sentido, iremos proceder a uma atualização do museu, acrescentando novos conteúdos e sobretudo, traba-lhando a área da informação e da inte-ratividade, que permita captar e envol-ver um público mais jovem. É esse tra-balho de modernização que está a ser empreendido com o apoio do EEA GRANTS e que deverá estar pronto até final do mês de abril.

As mais-valias da modernização do Museu Judaico de Belmonte pren-dem-se com...

O Museu Judaico de Belmonte tem mais de 10 anos. Entretanto, com as mudanças sociais e tecnológicas, os conceitos de musealização também se alteraram. Tí-nhamos um espaço demasiado expositi-vo, era premente uma modernização que tornasse o seu conteúdo mais interativo,

mais dinâmico. É um museu que tem uma forte vertente educativa, e os mais jovens vivem num tempo em não se pode colocar uma placa a dizer “Não Mexer”, pelo contrário, é preciso que mexam, que interajam, que questionem, que investi-guem… Assim, estamos a atualizar al-guns conteúdos e a torná-los mais atrati-vos para os visitantes!

Este espaço será o ponto central dos turistas que visitam Belmonte?

Creio que Belmonte, como região, já é um ponto de visita obrigatório. Temos criado uma dinâmica para atrair as pessoas, não só pela questão museológica, mas tam-bém organizando e apoiando iniciativas que ajudam a promover e a respeitar a cultura judaica. Celebrámos um protoco-lo com a Universidade da Beira Interior (UBI) para avançar com o Centro de Estu-dos Judaicos e que espero ganhe mais consistência, para além disso temos um festival de cinema judaico. E devo agra-decer a abertura que a comunidade de Belmonte nos tem dado, antes era mais fechada em si mesma, mas hoje tem par-tilhado mais a sua cultura e participado em atividades públicas…

Museu Judaico de Belmonte

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Valorização da Identidade Judaica Portuguesa no Diálogo Interculturas – Município de BragançaRotas de Sefarad

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Cidade do nordeste transmontano transborda história, riqueza natural e património. Na época da expulsão dos judeus de Espanha, no final do século XV, Bragança terá recebido cerca de três mil pessoas que vieram dinamizar o crescimento económico e social da cidade. Hernâni Dias, Presidente da Câmara Municipal de Bragança, afirma que “a rede de Judiarias de Portugal está implementada e deve reforçar a sua relação para as regiões transfronteiriças”

marranismo português. No século XX foi recriada a comunidade judaica em Bra-gança tendo como base os criptojudeus da cidade. Muitas personalidades de ori-gem brigantina ficaram na história na-cional e internacional, como Isaac Orobio de Castro (1620-1687), Jacob de Castro Sarmento (1691-1762) e o pai do célebre pintor impressionista Camille Pissarro, Abraham Gabriel Pissarro.

Em que consiste o projeto do muni-cípio de Bragança?

O projeto financiado pelo EEA Grants, em parceria com a Rede de Judiarias de Portugal, é o Memorial e Centro de Do-cumentação - Bragança Sefardita. Adqui-

rimos o imóvel e a sua reconversão este-ve a cargo da dupla de arquitetos Susana Milão e Eurico Salgado. Pretendemos fa-zer uma abordagem mista entre o mate-rial e o imaterial, através da representa-ção de uma sinagoga e de conteúdos in-terativos. No Memorial vamos colocar conteúdos informativos, bem como in-formações sobre as personalidades bri-gantinas da época. No fundo, haverá um complemento entre este equipamento e o Centro de Interpretação da Cultura Se-fardita no Nordeste Transmontano. O Memorial e Centro de Documentação - Bragança Sefardita tem o objetivo de per-petuar a memória daqueles que habita-ram e contribuíram para o desenvolvi-

Cultura, arte e patrimóniomento de Bragança, enquanto que o Cen-tro de Interpretação da Cultura Sefardita no Nordeste Transmontano se foca na interpretação desta cultura.

Essa memória já estava, de alguma forma, preservada?

Antes de surgir o projeto de candidatura ao EEA Grants, estávamos a finalizar o Centro de Interpretação da Cultura Se-fardita no Nordeste Transmontano, fi-nanciado pela União Europeia, e dese-nhado pelo Arquiteto Eduardo Souto de Moura. Este equipamento pretende dar a conhecer a significativa presença judaica e sefardita na região, numa re-visitação àquilo que a historiografia afirma terem sido as vivências dos ju-deus sefarditas que habitaram o nor-deste Transmontano. Com o surgir da hipótese da criação de outro equipa-mento ligado à mesma temática, optá-mos por complementar estes dois equi-pamentos aumentando a oferta cultural e memorial de Bragança.

Estando estes dois equipamentos em pleno funcionamento, quais são as expectativas do município?

Sabemos que vai aumentar o número de pessoas que quererão vir visitar o nosso território, não só por causa destes dois equipamentos, mas também pela proxi-midade com Espanha, mais concreta-mente com Zamora onde a temática da cultura sefardita é muito trabalhada e está muito desenvolvida e com a qual queremos estabelecer uma relação de parceria além-fronteiras.

As marcas da passagem dos judeus sefarditas abrangem várias áreas de atividade. Quais foram as princi-pais?

Abrangiam quase todas as áreas ligadas ao comércio e indústria da altura. As fá-bricas de seda, o trabalho de curtumes, as diversas atividades artesanais e lojas comerciais foram criados por esta comu-nidade. Com a passagem ao tempo dos cristãos-novos, Bragança tornou-se, du-rante séculos, um dos esteios nacionais de uma realidade de criptojudaísmo: o

Hernâni Dias, Presidente da Câmara Municipal de Bragança

Memorial e Centro de Documentação - Bragança Sefardita atual e projeto

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Valorização da Identidade Judaica Portuguesa no Diálogo Interculturas – Município de Castelo Branco Rotas de Sefarad

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Capital da Beira Baixa, Castelo Branco exibe um vasto legado deixado pelo povo judeu durante o período Quinhentista. Num levantamento concluído recentemente registam-se 291 portados e mais de 100 janelas biseladas somado a um conjunto muito significativo de lintéis de portas e janelas trabalhadas. Para além destes foram encontrados, numa rua da cidade, dois símbolos religiosos claramente judaicos: uma Menorah danificada com sobreposição de cruciforme e um Mesusah.

Luís Correia, Presidente do Município de Castelo Branco, refere que para além do património edificado e dos vários elementos de culto “existiram figuras judias albicastrenses que se destacaram no panorama nacional como Amato Lusitano, Maria Gomes; Afonso de Paiva; Elias e Moisés Mon-talto e Manoel Joaquim Henriques de Paiva. São figuras incontornáveis da história de Castelo Branco e de Portu-gal que queremos manter vivos na nossa memória. Para isso musealizá-mos uma casa dando-lhe o nome Casa da Memória da Presença Judaica em Castelo Branco.”

A adesão do município à Rede de Judiarias alicerçou a construção da Casa da Memória da Presença Judaica em Castelo Branco?

Pertencemos à Rede de Judiarias de Portugal desde a sua origem não só porque temos diversas marcas da pre-sença judaica, mas também porque

existiu uma comunidade muito grande e fortenas áreas ligadas à medicina e literatura. Promovemos a construção da Casa da Memória Judaica de forma perpetuar a memória da ligação judai-ca a Castelo Branco.

A comunidade judaica de Castelo Branco era muito vasta?

Pelos estudos já efetuados crê-se que a comunidade judaica albicastrense era muito vasta ao ponto de haver registos de uma segunda judiaria (dado que a

Um concelho com memóriaprimeira se tornou pequena para al-bergar a comunidade instalada na ci-dade).Expulsos de Espanha em 1492 pelos Reis Católicos, os judeus refugia-ram-se em Portugal eno caso de Caste-lo Branco a população aumentou em quase 60%.Os judeus habitariam em casas construídas em banda, frequen-temente ligadas entre si, pelo interior, criando verdadeiros labirintos que fa-cilitavam a fuga à Inquisição e a práti-ca do culto judaico em segredo.

Dentro da Casa da Memória exis-tem várias temáticas apresentadas. Pode dar-nos uma breve descri-ção?

Este edifício alberga e conta a história de uma comunidade que contribuiu para o desenvolvimento da cidade du-rante o período Quinhentista. Foi inaugurada no final do ano de 2016 pelo Ministro da Cultura e é composta por três pisos. A visita começa com a exposição de elementos ligados ao ci-clo vital, às festividades e aos seus ri-tuais iniciando-se, naturalmente, com um exemplar da Torá, o elemento de culto mais importante para esta comu-nidade. Neste piso contamos a história da comunidade judaica albicastrense, as suas Judiarias e características. Na transição entre os dois pisos, surge o Memorial das Vítimas Albicastrenses da Inquisição, num total de 329 pro-cessos identificados e estudados, onde estão identificadas as 21 vítimas mor-tais da Inquisição em Castelo Branco. No segundo piso optamos por dispo-nibilizar uma zona de estudo e investi-gação para todos os interessados nesta temática. Toda a informação e investi-gação sobre a temática judaica é da responsabilidade do Arquiteto José Afonso, que coordenou a recolha de conteúdos, do Professor Jorge Martins e da Professora Antonieta Garcia.

Amato Lusitano (1511-1568)Natural de Castelo Branco, Amato Lusitano, também conhecido como João Rodrigues de Castelo Branco, nome que adotou quando os pais foram forçados a batizá-lo de cristão-novo. Empenhado estudioso, debruça-se nas áreas da razão, da experiência e da moral hebraica. O seu contributo foi crucial para o avanço da Medicina no Ocidente estabelecendo pontes entre as autoridades antigas, Galeno, Avicena e a tradição escolástica por um lado, e a “nuova scienza” do mundo moderno, com métodos de investigação que hoje não podem deixar de ser conside-rados científicos. A sua obra mais conhecida “Centúrias das Curas Medicinais” resulta da compilação dos trabalhos desenvolvidos entre 1541 e 1561.Morreu em 1568, aos 57 anos, durante uma epidemia de peste, enquanto prestava cuidados aos doentes.

Luís Correia, Presidente do Município de Castelo Branco

Casa da Memória da Presença Judaica em Castelo Branco Casa da Memória da Presença Judaica

em Castelo Branco

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Valorização da Identidade Judaica Portuguesa no Diálogo Interculturas – Município de Castelo de VideRotas de Sefarad

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Município marcado pela presença da comunidade judaica, hoje é um dos principais pontos de interesse dos seus descendentes e dos turistas mais curiosos. A pretensão de tornar as Rotas de Sefarad num destino internacional é um dos objetivos transversais a todos os membros da Rede de Judiarias de Portugal. Castelo de Vide já está a trabalhar esse mercado.Em entrevista ao País Positivo, António Pita, Presidente da Câmara Municipal de Castelo de Vide e Vice-Presidente da Rede de Judiarias de Portugal refere: “a herança judaica é um património que nos distingue. O seu significado, valor e singularidade permitem que nos possamos internacionalizar como destino turístico em novos e longínquos mercados.”

A entrada no projeto do EEA Grants e da Rede de Judiarias de Portugal ajudou a divulgar a herança judaica de Castelo de Vide?

Desde o início que o município viu com muita expectativa o funcionamento des-te projeto do EEA Grants promovido pela Rede de Judiarias de Portugal. Pre-tende-se criar e consolidar, em Portugal, uma rota que tem muito potencial turís-tico e que, com certeza, irá atrair mais tu-ristas nacionais e estrangeiros. A religião, a cultura e o património resultado da

presença da comunidade judaica deixa-ram uma marca indelével no território nacional porém até ao momento não pas-sou de um primeiro recurso. Estou con-victo que este projeto será decisivo trans-formá-lo num produto turístico. A Rede de Judiarias de Portugal perspetiva as-sim poder criar uma rota turística nacio-nal, obrigando que a montante se proce-da à valorização do património judaico e a jusante dinâmicas económicas nos con-celhos envolvidos. No caso de Castelo de Vide sublinha-se como elemento identi-tário uma herança judaica muito vasta, seja do ponto de vista material seja do ponto de vista imaterial. Entendemos, pois, que é estratégico para o desenvolvi-mento do concelho, e em particular para o setor turístico, a valorização e promo-ção deste património. Castelo de Vide foi um dos primeiros municípios a trilhar este caminho mas este projeto vem aju-dar a consolidar e ampliar a oferta cultu-ral e turística.

A partir de que altura decidiu tornar a judiaria e as outras infraestruturas num ponto de atração turística?

A construção de um modelo de valoriza-ção dos recursos e a subsequente trans-formação em produto turístico é um pro-

Turismo e História

cesso contínuo e gradual construído através do tempo. Depois de a Câmara Municipal ter adquirido o edifício da Si-nagoga nos anos 70, na presente década procedemos à musealização do espaço. Espaço este que já é insuficiente face às oportunidades que este segmento ofere-ce. A Sinagoga recebe cerca de 30 mil vi-sitantes/ano, sendo que cerca de metade são estrangeiros. O turista espanhol pela proximidade territorial é o que mais nos visita, seguido do turista francês e logo a seguir do israelita. Visitantes oriundos da Holanda, dos E.U.A. e do Brasil apa-recem nos lugares seguintes e, ano após ano, de forma crescente. A estatística re-vela-nos assim que o trabalho de promo-ção que tem vindo a ser efetuado está correto; porém importa consolidar a oferta com novos projetos que possam qualificar ainda mais a oferta.Nesse sentido a Câmara Municipal está a desenvolver novos projetos que irão ter um papel decisivo não só ao nível da oferta do concelho e da região, como também na oferta nacional.

O município já é uma referência quanto ao legado judaico. De que forma este projeto veio ajudar a con-cretizar as pretensões do municí-pio?

O legado judaico de Castelo de Vide é autêntico e diversificado, impondo ao vi-sitante exercícios de imaginação para co-nhecer e vivenciar o ambiente que o nos-so Bairro Judeu oferece. A comunidade judaica que se instalou no concelho teve um papel preponderante no curso da história da vila. Aquilo que agora impor-ta efetuar é resgatar do esquecimento esse passado único e contara História fascinante que está por detrás deste fac-to. Os judeus que aqui se instalaram tive-ram um papel preponderante no desen-volvimento da região, tal como outros tiveram no desenvolvimento do país contribuindo decisivamente para as ciências, a economia, a cultura e a socie-dade da Idade Moderna. Em 1492, quan-do os Reis Católicos espanhóis expulsa-ram os judeus do seu território, muitos passaram a fronteira em Marvão (há re-latos de terem passado cerca de 4 mil ci-

António Pita, Presidente C. M. de Castelo de Vide

Casas Município

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Valorização da Identidade Judaica Portuguesa no Diálogo Interculturas – Município de Castelo de Vide Rotas de Sefarad

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tava a forma como a Inquisição deveria proceder desde o cárcere ao Auto de Fé. Assim, queremos recriar o mais fiel-mente possível todos estes passos a partir das fontes históricas fidedignas e sob orientação do investigador Jorge Martins.

Em que consiste e onde vai nascer o Centro de Interpretação Garcia de Orta?

As antigas termas da vila vão dar lugar ao Centro de Interpretação Garcia de Orta que terá duas fases: a primeira abri-rá ao público em setembro deste ano e

contemplará a vertente do boticário onde se descreve a vida de uma botica do sé-culo XVI. Decidimos que a história do edifício também deve fazer parte desta obra e reservámos um espaço para a con-tar. A segunda fase, que será inaugurada no último trimestre de 2018, será um Centro de Interpretação com todas as suas valências, contando a história da vida e obra de Garcia de Orta.

Como referiu o legado é vasto e rico. Pode dar-nos uma perspetiva do que o visitante pode encontrar?

Para além da memória do ilustre Gar-cia de Orta que passará a estar glorifi-cada pelo Centro de Interpretação ho-mónimo, temos um bairro judeu com caraterísticas genuínas mantendo a to-ponímia e a matriz urbanística. A Sina-goga medieval situada nessa judiaria mantém, igualmente, a sua traça e di-mensão original. No seu interior existe um memorial onde constam cerca 200 nomes de judeus que habitaram em Castelo de Vide e que constam dos re-gistos do Santo Ofício. A Fonte da Vila também é ponto de visita obrigatória, constituindo um verdadeiro ex-líbris da nossa Terra.

dadãos só nesta fronteira). Nesta vaga de refugiados vieram os pais de Garcia de Orta, que se fixaram na Judiaria de Cas-telo de Vide. Por este facto aqui nasceu esse notável botânico/médico renascen-tista Garcia de Orta que escreveu “Coló-quios dos Simples e Drogas e Cousas Medicinais da Índia, em 1563. O projeto que deu corpo à nossa candidatura as-senta na criação do Centro de Interpreta-ção Garcia de Orta. Nele pretendemos dar uma perspetiva biográfica através da narração da vida dessa personalidade marcante da sociedade do seu tempo, bem como, igualmente e como comple-mento turístico iremos abrir a Casa da Inquisição.

O tema da Inquisição é delicado. De que forma o vão representar?

A Casa da Inquisição vai ser instalada num espaço fabuloso, num solar sete-centista, que pertenceu a uma família de cristãos-novos, localizado no cora-ção do centro histórico. É um edifício singular, classificado, que estamos já a reabilitar. Queremos, com este espaço, contar a história da Inquisição desde a génese até à sua extinção. A Inquisição tinha o seu regimento que regulamen-

Fonte da Vila

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Valorização da Identidade Judaica Portuguesa no Diálogo Interculturas – Município de ElvasRotas de Sefarad

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Elvas, cidade raiana no distrito de Portalegre, com a sua inclusão na Rede de Judiarias de Portugal, reveste-se de novos atrativos. A valorização que ali está a acontecer do património edificado relacionado com o judaísmo e o sobressair do legado histórico e cultural da que foi a muito importante comunidade judaica de Elvas, convidam a que se visite a cidade. Para saber mais sobre esse projeto, tivemos uma esclarecedora conversa com o Rui Jesuíno, Técnico Superior de História e Património Cultural do Município de Elvas.

judiaria nova localizou-se junto ao Cas-telo. Hoje em dia, dessa nova judiaria só existe uma rua, devido à remodelação urbanística de Elvas no século XVII para a construção das muralhas abaluartadas. Mas é na judiaria velha que se situa uma sinagoga que estamos a recuperar e que vai dar lugar à Casa da História Judaica em Elvas. Este tema da presença judaica não tinha sido debatido pelos historiado-res locais dos finais do século XIX, início do século XX. Pelo que, eu e a minha co-lega Tânia Rico, propusemos à Câmara Municipal de Elvas que integrasse a Rede de Judiarias de Portugal. Tivemos na altura uma ajuda na investigação por parte da entretanto já falecida Professora Carmen Ballesteros, da Universidade de Évora. Alguns dos judeus da comunida-de de Elvas trabalharam na corte com o Rei. O cirurgião do início do século XV Rabi Sad, que deixou alguns tratados manuscritos, também contactava direta-mente com o Rei. Vidal foi um poeta de Elvas, autor de cantigas de amigo do sé-culo XIV.

O edifício da sinagoga que está a ser recuperado. O que este irá represen-tar para quem tenha a curiosidade de conhecer a Elvas judaica?

Trata-se de um edifício que depois de ter estado abandonado durante muito tempo foi transformado em matadouro público, abandonado nos finais do século XVIII e usado como armazém da Câmara até há uns dez anos atrás, quando foi requalifica-do para receber as reservas do Museu de Arte Contemporânea de Elvas. Verifica-mos que muito provavelmente a grande sinagoga de Elvas estava ali localizada. Sa-bíamos da existência de uma outra na Ju-diaria Nova mas que foi demolida. Avan-çámos com a candidatura com o objetivo de recuperar a sinagoga medieval e, ao mesmo tempo, explicar a história das co-munidades judaica e cristã-nova de Elvas através da Casa da História Judaica. Que-rendo que seja ponto de partida para que os turistas, circulando pela cidade, possam ver vestígios judaicos, como os crucifor-mes com que os cristãos-novos se queriam mostrar bons cristãos. Temos identificado o edifício (na Praça da República) onde vi-veu Jorge de Orta, irmão de Garcia de Orta. Garcia de Orta viveu durante muito tempo em Elvas na casa do irmão, casa que tem também um cruciforme. Queremos, mais tarde adquirir essa casa para engran-decer este projeto.

Como vai ser recriada a sinagoga?Vamos recriar o ambiente da sinagoga na altura em que ela funcionou, embora sem o serviço religioso. Nas laterais va-mos ter alguns painéis explicativos da história da comunidade judaica de Elvas e algumas peças que se encontraram na pesquisa arqueológica do edifício. Pos-suímos a primeira edição do livro de Garcia de Orta, “Colóquio dos simples, e drogas e coisas medicinais da Índia”, que também poderá ser ali mostrada como peça expositiva. Antes das obras de recuperação (que estão agora a decor-rer) o espaço pareceu-nos ser comum ao de uma capela. Posteriormente vimos um edifício de três naves, com seis colu-nas ao centro e um grande arco ogival no fundo e entretanto descobrimos que o edifício afinal não tinha seis, mas doze

Elvas realça-se ainda mais através do seu legado histórico

colunas identificáveis com as doze tribos de Israel. Elvas tem, neste momento, a maior sinagoga medieval do país!

Como resumiria um percurso pela Elvas judaica?

Pode-se percorrer a Judiaria Velha, cujo traçado é quase o original e situa-se no cen-tro histórico de Elvas, junto à Praça da Re-pública. Há uma rua que desce e leva à si-nagoga, quem nos visita pode apreciar a Rua dos Sapateiros e outras vias ainda com nomes medievais. Na Praça da República pode-se ver a já referida casa de Jorge de Orta. Mesmo fora das judiarias são visíveis sinais relacionados com elas, uma vez que as judiarias abriram-se, a partir de 1496, e os cristãos-novos foram viver noutros es-paços. Existem vinte e nove cruciformes por toda a cidade de Elvas.

Em termos turísticos que impacto esperam ter?

Desde que Elvas foi considerada Patri-mónio da Humanidade aumentamos o número de turistas, tendo nós atualmen-te trezentos mil visitantes anuais. Com este projeto em torno das judiarias e ou-tras obras em curso no âmbito do patri-mónio pretendemos aumentar os moti-vos de interesse na cidade para que o vi-sitante esteja aqui vários dias. Quem vier a Elvas vai encontrar nos postos de turis-mo municipais informações para fazer o percurso judaico. O principal posto de turismo é na Praça da República, temos outro na zona do viaduto e teremos ain-da outro junto ao Castelo. Quem quiser saber mais sobre a presença judaica em Elvas, pode pesquisar na Biblioteca ou no Arquivo Histórico Municipal.

Como se insere Elvas na Rede de Ju-diarias de Portugal?

Elvas teve uma comunidade judaica muito grande e importante, o que acon-tecia já na época islâmica. É anteriormen-te a 1230 que se forma a judiaria velha da cidade que depois haveria de funcionar até ao final do século XV. A comunidade judaica chegou a ser um quarto da popu-lação da então vila de Elvas. Em 1360 é necessária uma nova judiaria pois a co-munidade já não cabia na velha, embora esta se estendesse por dois hectares. Essa

Rui Jesuino, Téc. Sup. História e Património Cultural da C. M. Elvas

Requalificação da Sinagoga

Sabia que...A família Botafogo foi uma família judai-ca de Elvas. Um deles, Luís Gonçalves de Botafogo, também nascido em Elvas (mais precisamente, na Rua do Botafogo) foi perseguido pela Inquisição e fugiu para o Brasil, passando a morar no Rio de Janeiro. Estabeleceu-se, enriqueceu e a sua habitação foi a primeira do bairro que hoje chamamos Botafogo, o principal bairro do Rio de Janeiro.

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Valorização da Identidade Judaica Portuguesa no Diálogo Interculturas – Município de Leiria Rotas de Sefarad

Projeto Cofinanciado por:

Gonçalo Lopes, Vereador da Câmara Municipal de Leiria refere, em entrevista ao País Positivo, as motivações que levaram o município de Leiria a candidatar-se ao projeto de âmbito cultural e turístico denominado “Rotas de Sefarad”.

senta em que objetivos?O principal objetivo foi o de oferecer um espaço de explicação e exposição sobre a presença das três culturas e religiões em Portugal: a Cristã, a Judaica e a Islâmica. Qualquer uma delas tiveram, no contexto nacional, uma forte presença em Portugal atravessando assuntos comuns como o fac-to de todas terem um livro sagrado e os seus rituais, desta forma é possível preser-var, recordar e acompanhar a evolução destas culturas religiosas. A influência eco-nómica destas comunidades será relem-brada nesta infraestrutura, como é o caso da importância do regadio para os Árabes e do desempenho dos Judeus no desenvol-vimento da banca. Por outro lado é um tema de extrema importância, do ponto de vista pedagógico, que deverá e certamente irá ser utilizado em visitas de estudo, como complemento ao currículo ensinado nas es-colas.

A história do edifício será relembra-da?

O Centro de Diálogo Intercultural irá ter uma vertente local que passará por ex-planar a história do edifício abrangendo a evolução do território e do espaço ao longo dos anos. Apesar de já não haver vestígios evidentes ainda há quem afirme que naquele local, no tempo em que os Judeus habitavam esta zona, existia uma Sinagoga. Vamos inspirar-nos nos relatos e na informação histórica recolhida que indica que Leiria terá sido uma das maio-

res judiarias de Portugal, para elaborar essa representação.

O Centro de Diálogo Intercultural será o ponto central da rota turística e cultural?

Paralelamente ao trabalho que está a ser rea-lizado na Igreja da Misericórdia vamos reabi-litar e adaptar a Casa Medieval (que atual-mente se chama Casa dos Pintores), neste lo-cal, no rés-do-chão irá ter a recriação da tipo-grafia Judaica e informação sobre a sua presença nesta região. A presença judaica dispersou pelos mais diversos ofícios como era comum noutras regiões do país. Em Lei-ria estava instalada a família Orta que teve um papel muito importante na componente gráfica, nomeadamente uma tipografia onde foi impresso o “Almanach Perpetuum”, uma obra que terá sido usada pelos navegadores portugueses na altura dos descobrimentos. O Moinho do papel, um edifício do século XIII, foi uma alavanca para o desenvolvi-mento desta tipografia judaica. Hoje é um es-paço museológico ligado à aprendizagem de artes e ofícios tradicionais relacionados com o papel e o cereal.

A inauguração está prevista para que altura?

A inauguração do Centro de Diálogo Inter-cultural está previsto para abril e da Casa Medieval durante o primeiro semestre deste ano (o Moinho do Papel está em pleno fun-cionamento). Tínhamos muito interesse que

“A judiaria de Leiria terá sido das maiores de Portugal”

em maio, na altura que o Papa Francisco visi-ta Fátima, este Centro estivesse em pleno funcionamento. O Pontífice representa, no contexto atual, as preocupações do diálogo entre as mais diversas culturas e religiões e era muito interessante ter este Centro em ple-no funcionamento nessa altura. Pretendemos receber turistas nacionais e estrangeiros, bem como pessoas das diversas culturas e reli-giões que procurem as suas raízes familiares. A reorganização desta rede ajudará as pes-soas a visitarem o nosso país e a torná-lo numa referência no que respeita à Rota de Sefarad e um ponto turístico obrigatório para quem visita o Santuário de Fátima.

O município de Leiria candidatou-se a este projeto propondo a recuperação de um edifício no centro da cidade...

A Igreja da Misericórdia é um edifício que faz parte do património da Santa Casa da Misericórdia de Leiria e que a Câmara Municipal, no âmbito da candi-datura ao EEA GRANTS e elaborado através da Rede de Judiarias, propôs rea-lizar as obras de reabilitação e restauro necessárias para que este edifício passas-se a acolher um Centro de Diálogo Inter-cultural. Este foi considerado um projeto âncora, na candidatura ao EEA GRANTS, e atualmente integra a Rede de Judiarias de Portugal.

A transformação deste edifício num Centro de Diálogo Intercultural as-

Gonçalo Lopes, Vereador da Câmara Municipal de Leiria

Moinho do Papel

Centro de Diálogo InterculturalCasa Medieval

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Valorização da Identidade Judaica Portuguesa no Diálogo Interculturas – Município de PenamacorRotas de Sefarad

Projeto Cofinanciado por:

Penamacor, concelho da Beira Baixa, pertencente ao Distrito de Castelo Branco é limitado a Norte pelo concelho do Sabugal, a Sul pelo concelho de Idanha-a-Nova, a Oeste pelo do Fundão e a Leste pela Estremadura espanhola. Esta localização próxima com a vizinha Espanha levou ao incremento do número de habitantes Judeus após a sua expulsão pelos reis espanhóis. Por ter uma vasta comunidade judaica foi uma das localidades mais martirizadas pela perseguição do Tribunal da Inquisição português na primeira metade do século XVIII. tónio Ribeiro Sanches, judeu natural de

Penamacor levou o nome de Portugal às cortes europeias e disseminou os seus avanços na medicina. Notável médico e cientista hoje dá o nome à casa criada em sua memória: a Casa da Memória da Me-dicina Judaica Ribeiro Sanches. António Luís Beites acrescenta: “(...) dada a rique-za do seu património e da pessoa que foi sentimos a obrigação de avançar com este projeto. Este equipamento está in-corporado na Rede das Judiarias de Por-tugal, do qual o município é associado.

Será uma mais-valia para Penamacor, para a nossa história, património e valo-rização da cultura local.”As marcas judaicas deixadas no urbanis-mo e arquitetura da vila são muitas, mas “...esse levantamento já está feito em li-vro. Os vestígios são, basicamente, os cruciformes e a arquitetura da porta es-treita e da porta larga presentes por toda a vila” afirma Laurinda Gil Mendes, in-vestigadora e escritora do livro “Marcas judaicas no urbanismo e arquitetura de Penamacor”É unânime que “chegou a hora de fazer uma homenagem ao filho da terra que le-vou o nome de Penamacor e de Portugal além-fronteiras” conclui o édil de Pena-macor.

Casa da Memória de Medicina Judaica António Ribeiro SanchesEquipamento cultural, proveniente da recuperação de um edifício, vocacionado para a investigação, com particular enfo-que para o estudo da vida e obra do ju-deu cristão-novo António Nunes Ribeiro Sanches, e nas diversas abordagens (filo-sófica, cientifica, histórica) profundidade da sua ação e importância no dever his-tórico. Será um centro, de homenagem à Medicina e seus atores da história judai-ca portuguesa Amato Lusitano, Garcia de Orta, Jacob Rodrigues Pereira, Jacob Castro Sarmento, Luís Nunes (Antuér-pia), Isaac Cardoso, Benedict (Baruch), Nehamias de Castro, Daniel (Andreas) do Castro e Ezekiel de Castro, entre ou-tros

A Casa de Ribeiro Sanches

“As famílias mais perseguidas foram os Ribeiro Sanches, os Nunes de Paiva, os Ribeiro de Paiva, os Henriques, os Rodri-gues e os Nunes que era, na altura, um grupo entrelaçado por casamentos entre si.” Refere António Luís Beites, Presi-dente da Câmara Municipal de Penama-cor.Médico de imperatrizes e cientistas, An-

António Luís Beites, Presidente da Câmara Municipal de Penamacor

Casa da Memória da Medicina Sefardita Ribeiro Sanches

António Nunes Ribeiro Sanches Nasce em Penamacor a 7 de março de 1699, filho de Simão Nunes, sapateiro e co-merciante, e de Ana Nunes Ribeiro. Era o filho mais velho de uma família de cris-tãos-novos, isto é, descendentes de judeus que tinham sido obrigados a converterem--se e batizarem-se nos finais do século XV.Em 1716 inscreve-se na Universidade de Coimbra, em Direito. Três anos mais tarde transfere-se para Salamanca, onde cursa Medicina e, em 1724, obtém o grau de Doutor. Em 1726 foge do país, por de-núncias da prática de judaísmo, e fixa-se na Holanda, em 1730, onde estuda com o Boerhaave. Sob recomendação deste, parte para a Russia, em1731, onde exer-ce funções de médico militar com assina-lável êxito. Nomeado clínico do Corpo Imperial dos Cadetes de São Petersbur-go, a sua fama torna-o médico da czarina Ana Ivanovna. Em 1739 é nomeado Membro da Academia de Ciências de S. Petersburgo; no mesmo ano recebe igual distinção na de Paris, a “Cidade das Lu-zes”, grande centro da actividade intelec-tual europeia, aonde regressa em 1747. Aí colabora com os maiores vultos do Ilumi-nismo e escreve as suas obras fundamen-tais: “Dissertation sur la Maladie Véné-rienne”; “Tratado da Conservação da Saú-de dos Povos”; “Cartas sobre a Educação da Mocidade”; “ Método para Aprender e Estudar a Medicina”; “Mémoire sur les Ba-ins de Vapeur en Russie”. Até à sua morte, ocorrida em 14 de outubro de 1783, é con-sultado com regularidade pelas personali-dades mais notáveis da Europa culta de então.

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Valorização da Identidade Judaica Portuguesa no Diálogo Interculturas – Rede de Judiarias Rotas de Sefarad

Projeto Cofinanciado por:

A cidade do Porto, que desde o início da nacionalidade possuía várias judiarias, viu D. João I, em 1386, mandar concentrar os judeus no bairro do Olival, dentro das muralhas medievais. A nova judiaria confinava com duas das portas dessa muralha, locais ainda hoje referenciáveis: a do Olival e a das Escadas da Esnoga. A Sinagoga situava-se no local do actual convento de S. Bento da Vitória. Durante a época medieval, o Porto era sede de uma das sete ouvidorias (administração autónoma de justiça) judaicas do país; a de Entre Douro e Minho.

(1544-1620), o médico e parnassim da co-munidade de Hamburgo Samuel da Silva ( 1571-1631 ), autor do Tratado da Imortali-dade da Alma, o rabino, médico e poeta Abraham Pharar ( ?- 1663) e Bento Teixeira, poeta luso-brasileiro (1561-1618), um dos maiores eruditos portugueses da época, autor de Prosopopeia e falecido nas mas-morras da inquisição com 40 anos.O antigo edifício, virado para a Rua de São Miguel, a mais importante do tempo da Ju-diaria do Porto, foi cedido pela autarquia do Porto à paróquia de Nossa Senhora da Vitória, onde funciona actualmente o refei-tório de um lar da terceira idade e se pode visitar o Hejal. O Padre Jardim Moreira, pároco da Vitória, relata-nos algumas curiosidades sobre a descoberta, apontan-do ainda o seu potencial turístico.

O Padre Jardim testemunhou, desde o início, este verdadeiro achado, o Hejal do Porto. Como descreveria este pro-cesso?

Tínhamos adquirido o edifício, sito na rua de São Miguel, nº 9-11, na freguesia por-tuense de Nossa Senhora da Vitória, com a intenção de edificar um lar para idosos e, durante as obras de reconstrução do inte-rior, numa das salas do rés-do-chão, nota-va-se uma acentuada curvatura numa das paredes. Ora, sabendo que estávamos no

local de uma antiga judiaria, suspeitei que aquele muro falso pudesse estar a encobrir algo com relevo histórico. Quando decidi-mos remover o muro, encontrei o Hejal, que se encontrava bastante delapidado na componente de ornamentação à sua volta, bem como nos azulejos verdes que, segun-do me disse um especialista judeu, eram azulejos de Sevilha. Depois, chamei alguns arqueólogos, bem como o meu colega be-neditino, professor na Universidade de Le-

A Sinagoga secreta do Porto

Já no tempo dos cristãos-novos, estes, prin-cipalmente ligados à burguesia mercantil e ao negócio marítimo, são obrigados a fixar--se na R.de S. Miguel, principal eixo do bairro. Há poucos anos, foi aqui descoberta a Sinagoga secreta (nº 9-11) cujo Hejal está agora preservado e visitável. O intelectual e escritor portuense Immanuel Aboab (1555-1628) referiu-se, depois de emigrado, à lembrança de, em criança, ir com os pais orar a esta Sinagoga. Era bisneto do “ últi-mo gaon (autoridade rabínica) de Castela”, Isaac Aboab que, quando da expulsão dos judeus de Espanha, em 1492, negociou com D. João II a vinda para Portugal e para este quarteirão do Porto de 30 notáveis famílias castelhanas acolhidas em condições muito favoráveis pela Câmara Municipal da cida-de. Estas casas patenteavam um P e a co-munidade ficou responsável pelo calceta-mento da R. de S. Miguel onde se haviam instalado.Também ilustres portuenses saídos para a diáspora foram personalidades como o fi-lósofo Uriel da Costa (1590- 1647), o funda-dor e primeiro presidente da Comunidade Sefardita de Amsterdam, Jacob Tirado

Padre Jardim Moreira

Hejal

tras, o Frei Geraldo, que numa visita ao es-paço me disse que era clara a existência de correspondência escrita entre os judeus do Porto e os de Amesterdão. Isto confirmou a minha tese e começou a estudar-se e a en-contrar correspondência em alguma litera-tura nesta matéria. Alguns judeus partilha-ram isto na internet e começaram a estudar o assunto, um deles veio da Universidade de Jerusalém, trazendo um livro em espa-nhol que relatava factos sobre aquela sina-goga clandestina e, deste modo, foi-se dan-do a conhecer este espaço. Actualmente, é ali que funciona o refeitório do lar da ter-ceira idade, estando o achado disponível aos guias turísticos, que nos solicitam visi-tas ao Hejal nas horas em que o refeitório se encontra disponível.

Basicamente, falamos numa antiga si-nagoga do Porto…

Sim, de uma sinagoga clandestina. Na mi-nha opinião, a sinagoga da Judiaria do Por-to deveria estar no local onde existe actual-mente a igreja paroquial, até porque, ainda hoje, quando ali chega um grupo vindo de Israel, colocam uma bússola em frente ao Hejal, verificando se a mesma se encontra dirigida para Jerusalém. Ora, a única hipó-tese viável de ali existir uma sinagoga é precisamente no local onde se encontra a igreja paroquial, que está virada para Oriente. Alguns presumem que seria na igreja dos Beneditinos, hipótese que se afi-gura perfeitamente ilógica, uma vez que essa está virada a Poente.

Como avalia a atracção turística deste achado desde que o mesmo foi torna-do público?

A afluência é muita! Já realizei algumas re-uniões com guias especializados em turis-mo nesta vertente das judiarias e é comum contactarem-me quando têm grupos no sentido de agilizarmos visitas ao local. Te-mos recebido grupos específicos de judeus americanos, canadianos, israelitas e euro-peus em geral. Falamos de cerca de 200 vi-sitas por ano.

Do ponto de vista pessoal, o que lhe parece a criação desta Rota das Judia-rias Portuguesas?

Acho muito bem… Além de fazer parte da História portuguesa, também faz parte da História cristã porque não há cristianismo sem judaísmo.

©EAPN Portugal/Zaclis Veiga

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Valorização da Identidade Judaica Portuguesa no Diálogo Interculturas – Município de Reguengo de MonsarazRotas de Sefarad

Projeto Cofinanciado por:

Vila muralhada com quatro portas, Monsaraz é hoje um dos mais preservados e turísticos centros urbanos de Portugal. Velha, Évora, El-Rei D. Dinis e Traição das quatro portas, sendo que a última permite o acesso direto à antiga judiaria de Monsaraz. A preservação da memória do judeu Abrão Alfarime, o judeu mais rico de Monsaraz e da larga comunidade judaica que outrora habitou esta vila levaram o município e adquirir e restaurar a Casa da Inquisição.Joaquina Margalha, Vereadora da Cultura e do Turismo do Município de Reguengos de Monsaraz revela a importância da aquisição, restauro e posterior musealização da Casa da Inquisição – Centro Interpretativo da História Judaica em Monsaraz.

Os registos da presença do povo judeu em Monsaraz existem desde que altura?

Existem provas documentais da existência da judiaria de Monsaraz no Foral do rei D. Afonso III datado de 1276 até à Inquisição no final do século XIX. Embora não haja evidên-cias documentais existem vestígios que le-vam os investigadores a acreditar que existia uma comunidade judaica em Monsaraz an-terior ao foral Afonsino. Hoje já não é muito evidente a presença desta comunidade devi-do aos processos evolutivos da malha urba-na, mas encontramos uma pedra tumular com uma estrela de David, embora não sai-bamos qual é o seu local original. O municí-pio encarou a Vila de Monsaraz ao longo de toda a sua história, foram estudados todos os povos e as evidências que estes deixaram ao longo da sua história e o povo judeu foi um dos que considerou ter maior importância.

A (denominada pelo povo) “casa da in-quisição” foi um tribunal?

A tradição oral indicava que havia uma casa que poderia ter estado ligada à Inquisição. A Câmara Municipal adquiriu-a e começou a investigar a sua história através da docu-mentação existente (uma vez que já não era possível remexer o solo para procurar vestí-gios). O documento mais antigo a que tive-mos acesso indicava que a casa estaria na posse de um padre ligado à Inquisição, de facto, existia em todas as povoações um “fa-miliar” que prestava serviço de inquisidor observando os usos e costumes da popula-ção. Pelos factos recolhidos continuamos a considerar que não houve nenhum tribunal da Inquisição em Monsaraz, eventualmente terá sido a casa de habitação de alguém liga-do aos inquisidores. Sabemos e está docu-mentado que existiu em tribunal em Évora e não fazia sentido haver outro numa localida-de tão próxima. Surgiu a possibilidade de, através da Rede de Judiarias de Portugal da quais nós somos associados desde 2014, de explorar esta vertente.

A Casa da Inquisição – Centro Interpre-tativo da História Judaica em Monsaraz atravessa várias temáticas...

Queríamos preservar e exibir a memória da passagem do povo judeu até à Inquisição. Para isso o município adquiriu a “casa da In-quisição”, que sofreu uma intervenção na dé-cada de oitenta, com o intuito de ser transfor-mada num imóvel museológico sobre esta temática. A Coordenação científica foi efetua-da pelo Professor Saúl António Gomes, que é professor associado da Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra em articulação com o Dr. Duarte Galhós Arquivista e Histo-riador da C. M. Reguengos de Monsaraz. A Casa da Inquisição – Centro Interpretativo da História Judaica em Monsaraz foi o pri-meiro projeto a ser inaugurado dentro da Rede de Judiarias de Portugal e pretende enaltecer e tornar permanente a memória dos povos que habitaram esta região. Tam-bém queremos evidenciar o multiculturalis-mo dos povos e das três religiões do livro: cristianismo, judaísmo e islamismo numa sala que fala sobre as religiões e os povos que habitaram em Monsaraz. Reservámos um es-paço para revelar os usos e costumes do povo judaico e a terceira sala remete-nos para o passado, através de um mural que procura transmitir uma mensagem de esperança e de paz entre as religiões e fala dos processos da Inquisição.

História e Memória

Joaquina Margalha, Vereadora da Cultura e do Turismo do Município de Reguengos de Monsaraz

Abrão Alfarime (1382)No reinado de D. Fernando, a 19 de ou-tubro de 1382, deparamos com um judeu importante, que as fontes documentais dão como morador em Monsaraz. Esse judeu chamava-se Abrão Alfarime, “mo-rador em Monsaraz” e, numa carta de ar-rendamento dos direitos pertencentes aos almoxarifados de Monsaraz e Mou-rão, expedida de Lisboa pelo Rei D. Fer-nando e dirigida ao almoxarifado e escri-vão de Monsaraz e Mourão, figura ele como arrendatário desses privilégios reais. Pelo contrato de arrendamento o judeu Alfarime, certamente um judeu muito rico, obrigava-se a pagar 5000 li-bras no prazo de 5 anos, à razão de 1000 libras por ano, e a obrigação constituía-se a partir do dia de Todos os Santos de 1382. Os direitos do rendeiro incidiam sobre o trigo e o vinho, as aduanas e por-tagens, o relego e as teças, as dízimas da igreja de Mourão, as coimas das armas, a alcaidaria, a açougagem e o çalaio, o mordomado e, finalmente, as dízimas da defesa de Mourão. A este rol imenso de direitos acrescia ainda o da exploração da barca que efetuava no Guadiana o trá-fego fluvial entre Mourão e Monsaraz, obrigando-se o judeu arrendatário a tra-zer sempre a barca em condições da na-vegação no rio se poder fazer em segu-rança. O apelido deste judeu arrendatá-rio dos direitos reais pertencentes aos al-moxarifados de Monsaraz e Mourão, Alfarime, é de origem muçulmana (árabe ou berbere) e prende-se, muito provavel-mente, a qualquer família judaica que já vivesse em Monsaraz durante o domínio muçulmano e vinculada a qualquer mouro notável do mesmo nome.Duarte Galhós, Arquivista e Historiador da

C. M. Reguengos de Monsaraz

Casa da Inquisição – Centro Interpretativo da História Judaica em Monsaraz

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Valorização da Identidade Judaica Portuguesa no Diálogo Interculturas – Município do Sabugal Rotas de Sefarad

Projeto Cofinanciado por:

Sabugal, cidade fronteiriça banhada pelo rio Côa tem confirmada a presença judaica sefardita desde o século XIII. As marcas que representam a religião judaica persistem no centro histórico e nas imediações do castelo homónimo.António Robalo, Presidente da Câmara Municipal do Sabugal complementa: “...principalmente nas antigas sedes de município, Vilar Maio, Vila do Touro, Sortelha e Alfaiates e no Sabugal encontram-se os vestígios deixados pelo povo judaico.”

Sendo o Sabugal um território de fronteira é comum encontrar vestígios da passagem dos judeus sefarditas?

A temática Sefardita na Península Ibérica é, por ser uma região de fronteira, um lo-cal com inúmeras marcas da cultura e re-ligião judaica. Sabugal, na linha da mais antiga fronteira da Europa foi um local privilegiado de passagem e acabou por se tornar a casa de muitos judeus que ti-nham sido expulsos de Espanha. Encetá-mos, há alguns anos, através do nosso

gabinete de arqueologia, a tentativa de inventariação do espólio judaico sefardi-ta nesta região. Aliás, o território nacio-nal tem a sua história ligada a muitos po-vos e nações, e naturalmente, o povo ju-daico não é exceção. O projeto financiado pelo EEA Grants, em parceria com a Rede de Judiarias de Portugal proporcionou--nos a oportunidade de apresentarmos este trabalho de investigação que temos vindo a desenvolver ao longo destes anos e em consequência, colocarmo-nos no centro da temática com o compromisso de aumentar o conhecimento dessa rela-ção do Sabugal com o judaísmo.

O município adquiriu um imóvel que veio ajudar a expor as marcas deixa-das por este povo...

A descoberta de uma casa, junto ao caste-lo, que terá sido habitada por uma famí-lia judaica, veio dar ainda mais força a este projeto. Esta estava a ser recuperada, pelos seus proprietários, para ser um lo-cal de comércio quando foram encontra-dos alguns elementos que posteriormen-te foram identificados como sendo de ori-gem judaica. A Câmara Municipal adqui-riu o imóvel, conciliámos o espólio residente com as necessidades expositi-vas do projeto concelhio e pretendemos abri-la ao público na segunda quinzena de fevereiro.

Uma fronteira com história

Essa infraestrutura vai ser utilizada de que forma?

Este imóvel irá dar origem à Casa da Me-mória Judaica da Raia Sabugalense. Usu-frui de uma localização privilegiada, mes-mo ao lado do nosso Castelo e estará bem visível para quem a quiser visitar. Terá dois pisos que irão criar um processo de visita-ção recorrendo a elementos físicos e multi-média através de sons e imagens. Esta será uma forma de divulgar a cultura judaica caraterística de uma região de fronteira como o Sabugal e aproveitamos para con-vidar os visitantes a conhecer o nosso con-celho, servindo também de complementa-ridade ao encaminhamento turístico no Concelho e Região. Será com certeza um espaço onde se divulga, promove e estuda a temática, em ligação permanente com a Rede de Judiarias de Portugal.

A Casa da Memória Judaica vai atrair turistas que virão procurar as suas raí-zes familiares. O município disponi-biliza algum tipo de informação adi-cional?

Temos uma equipa técnica composta por antropólogos, arqueólogos e historiadores que ajudar as pessoas que procuram mais informações sobre os seus antepassados e o espólio exposto na Casa da Memória tam-bém remetem a factos históricos e nomes de algumas famílias que viveram nesta re-gião. Pretendemos continuar a construir e atualizar o arquivo e aumentar o espólio disponível neste imóvel.

Quais são as expectativas do municí-pio após a inauguração da Casa da Memória?

Dois planos, dois níveis de expetativas: o de conciliar a oferta e os objetivos da Rede de Judiarias participando ativamente neste processo de construção que o EEAgrants proporcionou; o de assumir o compromis-so de alimentar dinâmicas futuras de de-senvolvimento, estudo e inventariação do património, contribuindo para um melhor conhecimento do nosso lugar na história. Claro que esperamos que o novo espaço seja um centro de atratividade turística, que ajude alavancar a economia do Conce-lho.

António Robalo, Presidente da Câmara Municipal do Sabugal

Casa da Memória Judaica

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Valorização da Identidade Judaica Portuguesa no Diálogo Interculturas – Município de TomarRotas de Sefarad

Projeto Cofinanciado por:

A autarca Anabela Freitas não tem reservas em demonstrar o orgulho que sente no projeto de recuperação daquela que é a Sinagoga mais antiga do país, localizada em pleno centro histórico de Tomar. A iniciativa pretende não só dar a conhecer a história da cidade aos habitantes, mas também servir de “alavanca para o desenvolvimento económico do concelho”.

superior que era uma casa de habitação e que vamos transformar num espaço amplo a poder ser musealizado. Paralelamente, estamos a tratar também da produção de conteúdos em que queremos não só contar a história dos Judeus em Portugal, mas também dar enfoque à importância da co-munidade judaica em Tomar. A nossa Sinagoga encontra-se no centro histórico, pelo que as intervenções têm de ser sempre aprovadas pela Direção Geral do Património Cultural e temos aqui al-gum problema de acessibilidades para ci-dadãos com mobilidade reduzida. Não va-mos conseguir resolver na totalidade as acessibilidades ao edificado, mas nos con-teúdos que estamos a trabalhar pretende-mos que os mesmos sejam adaptáveis, por exemplo, a invisuais. Há uma parte que va-mos recuperar na zona dos banhos que vai ter um passadiço cujo corrimão poderá es-tar em braille. Tomar acaba de receber o selo de Cidade Turística Acessível e nós não queremos que a cidade seja acessível apenas do ponto de vista turístico, mas seja acessível no seu todo.

“A Sinagoga tem sido um dos monumentos mais visitados em Tomar”

Quais são as perspetivas turísticas deste projeto?

AF: A Sinagoga, nos dois últimos anos, tem

sido um dos monumentos mais visitados em Tomar, depois do Convento de Cristo. Temos ido à Feira de Tel Aviv para divulgar a nossa Sinagoga que também foi alvo de uma série de documentários que passaram no Canal 2 da RTP, o que nos deu alguma projeção. Assim sendo, já temos para Abril cerca de quatro mil reservas de estrangei-ros através de operadores turísticos que querem vir visitar a Sinagoga. Nessa altura vamos estar em obra, mas até é bom que as pessoas vejam o antes e depois e possam cá voltar. Estamos também a trabalhar a nossa pre-sença nas redes sociais, pois para quem vi-sita um país a viagem inicia e termina em casa, bem como na sinalética da cidade para que quem entre em Tomar fique a sa-ber que existe aqui uma Sinagoga.As nossas perspetivas são de crescimento.

Há investimento privado?AF: Não. A Sinagoga é propriedade da Direção Geral do Tesouro e Finanças. Quem vai assumir todos os encargos da

“Tão importante como captar turistas é importante que os tomarenses conheçam a sua história”

obra e dos conteúdos é o Município. É óbvio que temos financiamento para isso através do Portugal 2020 e do Programa EEA Grants. Nesta fase é apenas investi-mento público, mas nós temos projetos para o futuro. Existe ao lado da Sinagoga um terreno que a Câmara adquiriu e nós pretendemos transformá-lo num jardim urbano mas com infraestruturas que per-mitam, por exemplo, pequenos concertos de música sefardita, workshops de culi-nária israelita e, aliás, pretendemos cap-tar os restaurantes de Tomar para que pelo menos possam integrar uma entrada ou uma sobremesa israelita nos seus menus. É uma forma, de também pela gastronomia, dar mais qualidade à forma como recebemos.

Enquanto presidente da Câmara, como é que é estar à frente de um pro-jeto destes?

AF: Aquilo que me dá mais satisfação é o facto de durante décadas não ter havido intervenção na Sinagoga nem nunca se ter pensado nela como um recurso que nós temos aqui e agora estarmos a dar a vida a este projeto que, por um lado, dá a conhecer a quem habita em Tomar a sua história (uma dimensão pedagógica e educativa) e tão importante como captar turistas é importante que os tomarenses conheçam a sua história e, por outro lado, a própria Sinagoga poder servir como alavanca para o desenvolvimento económico do concelho.

O Município de Tomar está integrado no projeto da Rede das Judiarias, no âmbito do programa “EEA Grants”, que tem como base o percurso geográ-fico e cultural dos vestígios sefarditas no território português. Como é que encara este projecto?

AF: Encaro com otimismo. Tomar tem a Si-nagoga mais antiga do país, datada do sé-culo XV, que vai ser objeto de intervenção e manutenção. Ainda assim, é um local que está perfeitamente acessível e que, por ve-zes, ainda é utilizado por alguma comuni-dade judaica não tomarense - porque em Tomar não existe uma comunidade judaica organizada e com um número relevante de elementos – como por exemplo, a comuni-dade judaica de Belmonte que faz ali o seu local de culto.Sendo este um recurso que nós temos no concelho, faz todo o sentido que seja trans-formado num produto turístico e, portan-to, a integração numa Rede de Judiarias vem ajudar a dar dimensão à divulgação deste património que nós temos.

Considera que ainda há muito traba-lho a ser desenvolvido?

AF: Sim, a Sinagoga vai ser restaurada e já está a ser lançado o procedimento para a empreitada. Vai incidir sobretudo sobre a conservação não só de uma parte da Sina-goga onde é feito o culto, mas também num anexo onde foram feitas descobertas como sendo os banhos Mitzvah e num piso

Anabela Freitas, presidente da Câmara Municipal de Tomar

Interior da Sinagoga

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Valorização da Identidade Judaica Portuguesa no Diálogo Interculturas – Município de Torres Vedras Rotas de Sefarad

Projeto Cofinanciado por:

Apesar da presença judaica em Torres Vedras aparecer documentada a partir da segunda metade do século XIII coloca-se a hipótese de a comunidade ser anterior a essa data. Certo é o poder económico e a influência política que alcançaram alguns dos seus membros como refere Ana Umbelino, Vereadora do Desenvolvimento Social, Cultura, Património Cultural e Turismo da Câmara Municipal de Torres Vedras: “Salienta-se a família Guedelha ligada, nos séculos XIV e XV, à influente família lisboeta Negro ou IbnYahya, em particular D. Judas Guedelha e D. Guedelha Bem Judah, rabi-mores do rei D. Dinis (1248-1279).

mos criar, o que permitirá uma experiên-cia de imersão no passado. Face às evi-dências da presença judaica em Torres Vedras considerámos que seria pertinen-te criar um espaço museológico que con-tasse uma história que é desconhecida da maioria das pessoas, inclusivamente da comunidade local, sendo parte inextrin-cável do nosso devir histórico.

Os torrienses conhecem bem a heran-ça deixada pelos judeus que habita-ram a cidade?

Não. Têm um conhecimento difuso e par-celar. A nível toponímico temos devida-mente assinalada a Rua da Antiga Judia-ria, quem visita o Museu Municipal Leo-nel Trindade contempla diversas estelas funerárias medievais nas quais se inscre-veu a pentalfa, as quais constituem vestí-gios materiais da presença de judeus em Torres Vedras, mas faltava-nos cerzir to-das estas peças numa narrativa viva, coe-rente e bem fundamentada e é esse o grande desidrato deste Centro de Inter-pretação da Presença Judaica em Torres Vedras.

Onde vai ficar instalado o Centro de Interpretação da Presença Judaica em Torres Vedras?

Vai ficar numa casa antiga, atualmente devoluta, degradada e desfuncionaliza-da, que há muito tempo queríamos re-cuperar seguindo um projeto modelar em matéria de reabilitação que servisse de referência e inspiração a outras in-tervenções no edificado e, contribuin-do, assim, para a regeneração do nosso centro histórico. Situa-se junto ao caste-

lo da cidade, próximo da antiga Rua da Judiaria. Era nossa intenção dotar esse espaço de uma vocação cultural e con-siderámos que este seria o local indica-do para ancorarmos este equipamento. Queremos que os visitantes, ao percor-rerem o centro histórico, façam o circui-to pela Rua da Antiga Judiaria e pas-sem, nessa mesma rua, no local onde agora existe um Paço e se conjetura, com base na documentação, que ante-riormente tenha existido uma sinagoga. Seguindo esse trajeto o visitante rapi-damente encontra o Centro de Interpre-tação da Presença Judaica, desfrutando de um ambiente singular, com pátine, que o Centro Histórico da cidade pro-porciona!

A estrutura do equipamento já está definida?

Sim. Organizámos a exposição em três núcleos temáticos. O primeiro é dedica-do aos judeus em Torres Vedras desde o seu aparecimento até à conversão geral onde iremos dar a conhecer as origens da sua presença através da reprodução de documentos, como a carta da comu-na de Torres Vedras. A segunda área será dedicada às especificidades, car-gos e famílias, procurando traçar um retrato concreto, nada abstrato, da po-pulação judaica de Torres vedras. Serão dados a conhecer aspetos diversos das suas vivências, tais como as actividades sócio-profissionais, bem como particu-laridades do seu quotidiano, para além da elaboração de um mapa de famílias/indivíduos, com os seus apelidos e as suas ligações com a realidade judaica nacional, criando, assim, uma ponte com outras comunas portuguesas. Em concomitância, far-se-á a reconstituição espacial da judiaria de Torres Vedrase o mapeamento da presença de judeus até à conversão geral não só no espaço ur-bano, como em zonas rurais, dando a

Cultura e vivência judaicaconhecer o trajecto da comunidade ju-daica ao longo dos tempos. As práticas religiosas e a produção cultural serão igualmente merecedoras de destaque. Neste particular, tornar-se-á evidente a relação entre Torres Vedras e o movi-mento de tipografia hebraica que flo-resceu em Portugal, no final do séc. XV, com a impressão de obras significativas em centros como Faro, Lisboa ou Leiria, e a produção manuscrita de livros litúr-gicos. O terceiro eixo incidirá sobre os tempos da Inquisição e, concluímos o percurso, com um epílogo dedicado à memória, resistência, permanência, diáspora e à urgência de um diálogo in-tercultural.

Definido o plano alinham-se os objeti-vos...O nosso objetivo é abrir este espaço à comunidade local, tornando-o dinâmi-co e contentor de um programa cultural e projeto educativo regulares. Em para-lelo, na vertente turística, teremos como foco o turista nacional e estran-geiro que acalenta motivações culturais e procuraremos criar complementari-dades entre experiências aproveitando o nosso potencial endógeno. Haverá se-guramente um segmento que nos visi-tará por motivações intrinsecamente pessoais e identitárias. Sabemos que em todo o mundo existe um número muito significativo de turistas que procuram as suas raízes e, para eles, a preserva-ção desta memória e legado eleva-se a outros patamares. A nossa proximidade com Lisboa exponencia a possibilidade de após visitarem a Sinagoga de Lisboa e o futuro Museu Judaico, quererem vir a Torres Vedras apreciar o nosso patri-mónio, e viajar no tempo até à idade média imergindo no quotidiano de uma judiaria, de uma comunidade que se in-tenta humanizar, e seguir a Rota de Se-farad até outros lugares e geografias.

Existem registos da presença judaica desde o século XII, mas especula-se que poderá ter sido anterior a essa data. Foi esta uma das motivações que levou o município a criar um Centro de Interpretação da presença judaica?

Torres Vedras é um dos membros funda-dores da Rede de Judiarias de Portugal e o que nos impulsionou a integrar essa as-sociação foi a intenção de aprofundar o estudo, a divulgação e a valorização da herança judaica de que somos detento-res, resgatando da invisibilidade a prós-pera e fervilhante judiaria que existiu em Torres Vedras, no reinado de D. Afonso IV. A documentação existente vai permi-tir fazer uma reconstituição dessa judia-ria focando-nos em aspetos relacionados com as vivências, as práticas religiosas, o quotidiano, as atividades sociais, cultu-rais e profissionais de quem a habitou. Este será um dos núcleos centrais do Centro de Interpretação que pretende-

Ana Umbelino, Vereadora C. M. Torres Vedras

Centro de Interpretação da presença judaica antes e durante recuperação

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Um novo projeto, Casa do Bandarra, nasce para enriquecer o turismo português de origem judaica. Amílcar Salvador, presidente da Câmara Municipal de Trancoso explica como.

tes conteúdos. A data de abertura é no dia 12 de março.

Onde está localizado e qual será a sua disposição?

Está localizado na Rua Poço do Mestre de frente para o Centro Judaico Isaac Cardoso. E é constituído por 2 pisos. No piso zero, estão inscritas várias frases de autores sobre Bandarra, como por exem-plo: Padre António Vieira, Fernando Pes-soa e Elias Lipiner. Dois vídeos, um é uma recolha (antropológica) de lendas nunca antes publicadas, relativas a Ban-darra e proferidas por pessoas com mais de 75 anos do concelho de Trancoso, e outro com atores profissionais que reflete a vida e obra do profeta à época.No primeiro piso existe um painel des-critivo sobre a vida e obra de Bandarra, uma Fonoteca e um livro áudio com as Trovas (Bandarra foi preso pela Inquisi-ção em 1541, porque alvoroçava os cris-tãos-novos com as suas Trovas e não por ter sido confirmado que fosse judeu). Existe uma aplicação de conteúdos cien-tíficos da temática em iPad e uma Mesa multimédia didática do sapateiro (oficia) com identificação de trovas aos materiais sovela, molde de sapato da altura, agu-lha, martelo, etc., e a relação entre estes e as Trovas. No espaço destinado ao Logradouro há uma surpresa áudio, o poço com uma tro-

va e arranjo musical e quatro trovas aplica-das numa parede em português e inglês que sintetizam a visão de Bandarra.

Quem foi Bandarra e o seu legado?Gonçalo Anes, conhecido pela alcunha “Bandarra”nasceu no início do século XVI e terá falecido em meados do mesmo sécu-lo, em Trancoso. Assistiu à criação da In-quisição da qual foi vítima em 1541, à pro-blemática dos conversos, ao abandono da produção interna, à expansão ultramarina, à guerra contra os mouros no Oriente, aos abusos da administração pública e à deca-dência da nobreza. Este período foi inspi-rador e perturbador para Gonçalo Anes, como transparece nos Sonhos=Trovas. Ti-nha uma posição social reconhecida e era sapateiro de correia. Devido à sua profis-são relacionava-se facilmente com cristãos--velhos e cristãos-novos e muitos conside-ravam-no um exegeta, um líder religioso. A divulgação das obras, Trovas e Sonhos, tornaram-no profeta de Portugal.

Pode referir alguns pontos de inte-resse de Trancoso?

A rua da judiaria em Trancoso pensa-se que não era uma rua fechada, porque eles tinham casas noutras e com alguns elementos arquitetónicos com interesse (marcas cruciformes, candelabros, estre-las, entre outros que apesar de polémicos fazem parte do património de Trancoso), inscritos nos imóveis do Centro Históri-co de Trancoso são cerca de 200. Este le-gado justificou a construção do Centro de Interpretação da Cultura Judaica

Trancoso na Rota do património judaico em Portugal

As marcas das judiarias e da sua cul-tura espalham-se por Trancoso. Pode falar-nos delas e das respeti-vas personalidades trancosanas?

Em Trancoso existiu uma judiaria que, no século XVI, era maior que a da Guar-da. Os judeus de Trancoso eram muitos e muito ricos. Foi nos séculos XV e XVI que população judaica cresceu substan-cialmente em Trancoso e os judeus senti-ram necessidade de ampliarem a sinago-ga, o pedido foi efetuado e aceite por D. João II a 12 de dezembro de 1481. Pensa-mos que já desde a criação da feira de S. Bartolomeu em 1273, os judeus já viviam em Trancoso. Foram eles que nos deram uma dinâmica substancial, uma vez que eram proprietários de várias casas noutras ruas, no entanto pensamos que a Rua da Corredoura terá sido a da Judiaria. Os ju-deus de Trancoso eram sapateiros, tece-lões, alfaiates, emprestavam dinheiro, eram proprietários, viviam também do ar-rendamento de habitações e eram essen-cialmente mercadores e homens de negó-cios. Alguns, após a inquisição, partiram e ajudaram a fundar a sinagoga portuguesa de Amesterdão (séc. XVII), outros expan-diram negócios e mercados na Europa, no Brasil, norte de África e posterior-mente nos EUA. Atualmente são descen-dentes destes cristãos-novos que cada vez visitam mais Trancoso.

Em que consiste o projeto do municí-pio de Trancoso, a Casa do Bandarra?

O projeto da Casa Bandarra é o primeiro, no município de Trancoso, com cariz de interpretação cultural. Será apetrechado de conteúdos e materiais modernos, que apelam a uma visita de miúdos e graú-dos, recorrendo às novas tecnologias, sem nunca descurar a base científica des-

Amílcar Salvador, Presidente CM Trancoso

Isaac Cardoso e a recente Casa Museu Bandarra. A rota inicial percorre todo o Centro Histórico e futuramente quere-mos executar outras, para as aldeias do concelho.

Que expectativas tem para quando a Rota estiver a funcionar em pleno?

O Município de Trancoso foi cofundador da Rede de Judiarias de Portugal, tendo, naturalmente, as melhores expectativas relativamente à Rota e ao trabalho de-senvolvido pela Associação, promoven-do e preservando o património judaico de Portugal. Neste projeto cabe a cada Município desenvolver uma pequena rota. No nosso caso em particular, o pa-trimónio judaico (material e imaterial) fará com que os turistas percorram o Centro Histórico.Os Turistas que chegam a Trancoso para visitar este património são principal-mente descendentes de cristãos novos, naturais e/ou moradores em Trancoso, pelo que não é um turismo só religioso (porque muitos não praticam a religião judaica, apesar de nós termos a primeira réplica de Sinagoga Sefardita de Portu-gal, no Centro Isaac Cardoso), mas es-sencialmente é um turismo “emocional” e cultural, à procura de reminiscências das suas raízes. Veem fundamentalmen-te do Centro da Europa, Israel, norte de África, Estados Unidos e Brasil. Esta Rota ajuda-nos a marcar uma posição na História de Trancoso em Portugal e no Mundo, no que diz respeito à importân-cia do legado judaico.

Fachada Casa do Bandarra

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Valorização da Identidade Judaica Portuguesa no Diálogo Interculturas – Município de Vila Nova de Paiva Rotas de Sefarad

Projeto Cofinanciado por:

José Morgado, Presidente da Câmara Municipal de Vila Nova de Paiva descreve o Centro de Memória Judaica de Vila Cova à Coelheira como um espaço “ (...) vocacionado e concebido para o público em geral, baseando a sua linguagem na interação entre o Território, o Homem e a História.”

história de Portugal?Segundo a tradição de Vila Cova à Coe-lheira partiu para a diáspora a Família Castro, ou Crasto, também conhecida como Castro Chacon. Daqui espalha-ram-se por todo o mundo, sendo possí-vel detetar a sua presença em locais tão díspares como: Bordéus, Brasil, Hambur-go, Estados Unidos, Argentina, Reino Unido, Nova Zelândia e Amesterdão.

O EEA GRANTS em parceria com a Rede de Judiarias de Portugal apoiam o projeto do município de V. N. De Paiva. Quais as motivações da candidatura e descrição do projeto?

Este projeto tem como base o percurso geográfico e cultural dos vestígios sefar-

ditas no território português e insere-se numa estratégia municipal de desenvol-vimento sustentado, criando polos e es-truturas de apoio ao turismo cultural. O espaço foi vocacionado e concebido para o público em geral, baseando a sua lin-guagem na interação entre o Território, o Homem e a História. Criámos uma expo-sição de elevada qualidade, envolvente, muito atrativa e inovadora fazendo dos conteúdos e recursos tecnológicos o meio para fazer chegar uma mensagem credí-vel, cientificamente correta e facilmente entendível pelos visitantes.

O local onde está instalado o Centro de Memória Judaica de Vila Cova à Coelheira era propriedade da Câma-

“O Centro de Memória Judaica de Vila Cova à Coelheira será um marco do circuito turístico do concelho de Vila Nova de Paiva.”

As marcas das judiarias e da sua cul-tura espalham-se pelo município desde que altura?

A presença de uma comunidade judaica assinalável é mais visível na localidade de Vila Cova à Coelheira. É conhecida por ainda hoje haver símbolos visíveis como a cerca da judiaria e as inúmeras casas com simbologia judaica. O mais antigo docu-mento que atesta a sua presença em Vila Cova à Coelheira é de 1663 e refere-se a um processo da Inquisição levantado a um ca-sal, Beatriz Rodrigues e Jerónimo Henri-ques, naturais de Trancoso, mas morado-res em Vila Cova à Coelheira.

Há personalidades Judias naturais de V. N. De Paiva que marcaram a

José Morgado, Presidente C. M. Vila Nova de Paiva

Centro de Memória Judaica de Vila Cova à Coelheira

ra Municipal?Não. O Município adquiriu-o a particu-lares para instalar o Centro. O imóvel, que hoje alberga o Centro de Memória Judaica de Vila Cova à Coelheira é co-nhecido pela população local como “Si-nagoga”. Depois de vários estudos cien-tíficos ficou comprovado que, na realida-de, não se trata de uma sinagoga mas de um local onde os judeus de reuniam para rezar e celebrar as suas cerimónias du-rante a época da inquisição.

Qual a disposição e recursos de me-dia/audiovisuais implementados nes-te espaço?

No âmbito da criação deste núcleo mu-seológico foi necessário a elaboração de uma estratégia museográfica que in-cluem a exibição, o design/museografia e especialidades, conteúdos científicos de qualidade e sistemas audiovisuais. Neste âmbito foi produzido um docu-mentário sobre a história da presença ju-daica em terras de Vila Nova de Paiva, que pode ser observado neste Centro de Interpretação. A nível de acessibilidades, a conceção e montagem da exposição teve particular atenção às normas nacio-nais e internacionais de mobilidade e acessibilidade.

O Centro de Memória Judaica de Vila Cova à Coelheira vai passar a ser uma peça-chave do circuito tu-rístico Sefardita de Vila Nova de Paiva?

Vila Nova de Paiva é um concelho único repleto de história e memória, que apos-ta na valorização do seu património, pro-curando criar riqueza, emprego e futuro. O Centro de Memória Judaica de Vila Cova à Coelheira, cuja inauguração está prevista para março, será um marco do circuito turístico do concelho, não só pela inovação do equipamento, como pelo contributo para a preservação e me-mória de um povo que faz parte da his-tória e cultura nacional. Neste projeto museológico, como no Museu Arqueoló-gico do Alto Paiva os conteúdos preten-dem estimular as emoções e criar opi-niões. Ambos permitem a identificação e interação dos seus visitantes com a His-tória e a Memória de um Território e le-vam o visitante a uma imensa experiên-cia sensorial repleta de conhecimento e de emoções.

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CascaisCiente da importância da herança judaica e do ocorrido du-rante a II Guerra Mundial, a Câmara Municipal de Cascais inaugurou em 1999, o Espaço Memória dos Exílios que pre-serva parte da memória dos judeus exilados trazidos à re-gião pelo conflito. Em 2015, Cascais recebeu a Tora, sinal da importância da comunidade judaica. Celebra-se desde há 3 anos o Hanukah Menorah e, empenhado que está cada vez

mais na defesa dos princípios da boa convivência entre diferentes credos, o Município re-cebeu em 2016 pela primeira vez o Judaica – Mostra de Cinema e Cultura.

Covilhã A comunidade judaica da cidade da Covilhã foi, desde o século XII e até à sua diluição, a maior e mais importante da Região da Serra da Estrela e uma das maiores e mais fortes de Portugal. Existiam, no final do século XV, pelo menos três núcleos hebraicos: um intramuralhas junto às Portas do Sol; o segundo na parte exterior das mesmas confinando com elas e o terceiro corresponderia a bairros de localiza-ção perto da cidade (Refúgio – Meia Légua).

Évora A herança judaica de Évora está hoje patente num vasto conjunto de portais ogivais góticos que se situam bem per-to da Praça do Giraldo local de uma feira anual desde 1275. Durante o séc. XV a judiaria chegou a ter duas sinagogas e todos os serviços inerentes a uma vasta comunidade; esco-la, hospital, estalagem, mikve (local de banhos rituais) e mesmo aí teria existido uma gafaria (leprosaria).

Figueira de Castelo RodrigoA antiga Sinagoga, localizada na esquina das ruas com o mesmo nome e da do Páteo do Castelo terá sido transfor-mada na cisterna que hoje se vê mas mantém as portas e a construção de base. Na igreja da Vermiosa e visível um Pa-rokhet (cortina que cobria o Hejal) oriundo de uma antiga sinagoga. Um dos representantes da comunidade dos ju-deus Sefarditas portugueses na Amesterdão setecentista, Efraim Bueno alias Martin Alvarez, nasce em 1599 na vila de Castelo Rodrigo, no seio de uma família marrana, tenso sido retratado em pintura e gravura por Rembrandt e Jan Lievens.

Fornos de AlgodresÉ comprovadamente um município que integrou muitos cristãos-novos, principalmente artesãos e que se encontra-vam dispersos em freguesias rurais. Esta realidade é confir-mada tanto nos processos da inquisição inerentes ao espa-ço do atual concelho, como nos indícios patenteados por dezenas de marcas cruciformes cujo levantamento foi re-centemente efetuado por parte da Câmara Municipal. A vi-sita pode ser iniciada na atual vila de Fornos como na anti-ga sede de concelho de Algodres.

Freixo de Espada à CintaA Vila repleta de história com inúmeras portadas e janelas de estilo manuelino. Na cidade velha há cerca de 150 por-tais ogivais e janelas de estilo manuelino. Nas moradias quinhentistas existentes, todas com portadas de granito (material nobre e caro), uma porta larga, em arco, comercial para o piso térreo e outra mais estreita de serventia para o piso habitacional, existe uma quantidade imensa de simbo-

logia judaica.

FundãoApós a expulsão dos judeus espanhóis, em 1492, um gran-de número de refugiados veio estabelecer-se na Cova da Beira, onde já haviam algumas comunidades judaicas. Fo-ram estes imigrantes fundando bairros - entre os quais o mais importante se situava em volta da Rua da Cale - que permitiram que o local do Fundão assumisse as dimensões de uma verdadeira cidade. O influxo de mercadores e arte-sãos judeus transformaria a cidade num centro importante para o comércio e a indústria.

Gouveia A judiaria de Gouveia ter-se-á iniciado com uma pequena comuna tendo cerca de cinquenta judeus em meados do século XV. A chegada desta comunidade à Covilhã provo-cou o desenvolvimento da indústria de lanifícios, praticado então de forma muito rudimentar, tendo-se modernizado e intensificado o trabalho dos lanifícios, nomeadamente uti-lizando engenhos movidos a energia hidráulica que provi-nha das ribeiras de caudal generoso da vila.

GuardaA presença de uma comunidade judaica na Guarda, está documentada desde a primeira metade do século XIII. A Judiaria situava-se no interior das muralhas e próxima dos principais eixos viários da cidade o que permitia e favore-cia o desenvolvimento da atividade comercial desta comu-nidade. Embora inicialmente a comunidade judaica da Guarda, se tenha instalado na Rua da Judiaria entre a Porta

d’el Rei e as proximidades do Largo de São Vicente, ao longo da Idade Média o aumento populacional da comunidade levou à ocupação dos espaços mais a norte, o que é testemu-nhado, a partir do século XIV, pela Rua Nova da Judiaria.

Idanha-a-NovaMunicípio da Beira Baixa raiana herdou o território de vá-rios antigos concelhos que foram extintos já no séc. XIX. Apesar de referências a anteriores judiarias então existen-tes em antigas vilas como Monsanto, Medelim ou Proença--a-Velha é no tempo dos cristãos-novos que Idanha-a-Nova vê impactar a presença de importantes núcleos cripto-ju-deus. No entanto, é de referir a existência da rua da Judia-

ria em Medelim bem como a característica existência das casas balconadas desta povoação. Samuel Nunes (Diogo Nunes Ribeiro) (1668–1744) médico, natural desta vila foi um dos primeiros judeus a viver na América do Norte.

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LamegoDesde o séc. XIV que os judeus da então importante cidade de Lamego ocupavam a área entre o castelo e a igreja de Stª. Maria de Almacave. No século seguinte os bairros judeus eram já dois; o mais antigo (judiaria da velha), localizava-se junto à Porta do Sol, o que correspondia à judiaria nova ou do fundo junto do adro da igreja citada. Neste bairro locali-zava-se a sinagoga na antiga Rua da Esnoga. José de Lame-

go, sapateiro judeu, foi quem recebeu de Pêro da Covilhã na cidade do Cairo as informa-ções que de seguida permitiram a D. João II conhecer todos os dados referentes às costas leste africana, arábica e índia que lançou a viagem de Vasco da Gama.

ManteigasA presença judaica integra-se nessa valiosa herança patri-monial que agora quer dar a conhecer e que até então havia passado despercebida e, ao mesmo tempo, despertar olha-res e consciências para a necessidade da sua salvaguarda. Das marcas convencionalmente associadas às comunida-des judaicas, criptojudaicas e de cristãos-novos, detetaram--se na área em estudo, cruciformes, marcas nas mezuzot e

gravações longitudinais. Considerou-se ainda um outro detalhe da arquitetura, os portais com chanfros, também associados a estas comunidades. Contabilizou-se um total de qua-renta e quatro imóveis onde se identificou pelo menos uma das tipologias de marcas.

MêdaForam identificadas 230 marcas de simbologia mágico-reli-giosa, nomeadamente motivos cruciformes distribuídos maioritariamente entre Ranhados, Marialva, Casteição e Mêda, onde 75% dos processos inquisitoriais dizem respei-to a Cristãos-Novos, acusados de práticas judaizantes. Apesar das dúvidas sobre a localização e percursos dos ju-deus e cripto-judeus neste território ao longo da História,

parece evidente a sua presença continuada. A comunidade judaica de Mêda desapareceu, restando os vestígios materiais e culturais que resistiram à passagem do tempo e hoje fa-zem parte do património histórico e cultural deste concelho.

Moimenta da BeiraForjadas entre as mais duras penedias, as terras de Moi-menta da Beira são ancestrais moradas de gente sefardita. A presença de judeus nestas partes da Beira, documentada desde o crepúsculo da Idade Média, foi muito significativa. Tão forte foi que ficou o epíteto de “Judeus” aos habitantes de Leomil, sua maior freguesia. Pelas suas aldeias secula-res, como Cabaços, encontram-se segredos de outros tem-

pos, em casas antigas onde as pedras dos portais estão marcadas pela devoção e pelo medo. Embora os pós já preencham os vazios, os cunhos perpetuados no granito imortali-zam a história das famílias judias e cristãs-novas que as habitaram.

PenedonoA origem do povo judeu, mas em terra tão antiga é natural que a sua presença seja remota. Documentados desde o séc. XV, os primeiros judeus dispersaram-se um pouco por to-das as aldeias, especialmente em Penela da Beira, onde er-gueram uma importante comunidade entre as ruas do Eno-que e do Ló.Envolvidos numa ambiência medieval descubra os antigos

espaços habitacionais dos judeus e cristãos-novos, de misteriosos símbolos mágico-religio-sos, de lendas míticas e quotidianos onde ainda perduram traços da antiga cultura judaica portuguesa, que a sombra protetora de um castelo com mais de mil anos continua a abri-gar.

PinhelA comuna judaica desta antiga cidade fronteiriça deve ter--se desenvolvido no início do século XV devido à emigra-ção dos judeus vindos de Espanha. De facto, as famílias mais comuns correspondiam aos Barzelai, Amiel, Abe-nazum, Ergas, Cid, Adida, Cohen e Castro. Em 1932 consti-tui-se a comunidade Israelita de Pinhel, cuja sinagoga ficou com o nome de “Shaaré Orah” (Portas da Luz).

São João da PesqueiraA presença de judeus Neste concelho datam do século XV. Os vestígios materiais da sua comunidade ficaram grava-dos no urbanismo da vila, na configuração labiríntica e na assimetria das habitações da antiga judiaria. Nas aldeias mais meridionais, como Riodades e Paredes da Beira, ga-nha relevo uma paisagem menos vinhateira, mas onde existem interessantes cruciformes e até singulares inscri-ções hebraicas, esculpidas no granito das habitações, mui-tas de traçado tardo-medieval. Em Trevões, antiga sede de

um concelho medieval, surpreende outra Rua dos Gatos que, à semelhança da primeira, também está associada à herança judaica e cristã-nova.

SeiaDestaca-se historicamente pelo trabalho da indústria da lã que, muito provavelmente foi incentivado pela presença de cristãos-novos presentes no concelho. A existência de mui-tos cruciformes gravados em portais por todo o atual mu-nicípio, não indiciando presença anterior ao decreto de ex-pulsão de D. Manuel, parece confirmar a sediação de cris-tãos-novos. Salienta-se o processo mais antigo conhecido: o de Mestre Rodrigo em 1541, físico (médico) em Seia, filho

de Abraão Benaz e Lediça (ainda com nomes judeus). A sua filha, nascida em 1522 também em Seia, veio a ser acusada em 1572.

Torre de MoncorvoDo vasto legado destaca-se a sinagoga dos judeus, a Casa da Inquisição que ostenta o emblema dos Jesuítas e a Casa dos Navarros, local onde no século XX a comunidade ju-daica se reunia com a finalidade de promover o regresso dos marranos ao judaísmo, assim como a Rua dos Sapatei-ros. O Lagar da Cera de Felgueiras é também um bom exemplo da passagem dos judeus pelo concelho, assim

como algumas marcas de cristianização, nomeadamente cruzes, estrelas de David ou do Signo Saimão, do Leão de Judá ou da mitológica Fénix, nas ombreiras das portas encontra-das em algumas casas das aldeias do concelho.

Vila Nova de Foz CôaA presença de alguns elementos judaicos no concelho con-firma a tese que a comunidade judaica foz-coense se terá constituído ao longo do Séc. XVI. A Capela de Santa Quité-ria é considerada uma antiga sinagoga, dada a planta qua-drangular e o teto em estilo “mudéjar”. Na frontaria da igreja foram identificados os Profetas Maio-res, o Leão de Judá e carateres hebraicos, os quais revelam que os judeus participaram nos trabalhos da nova fachada

da Igreja como sinal de reconversão sincera ao catolicismo, tendo acrescentado outros, como os carateres hebraicos a coroar o edifício “Escuta, Israel: Jeová, nosso Deus, é o teu único Senhor”.

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Valorização da Identidade Judaica Portuguesa no Diálogo Interculturas Rotas de Sefarad

Projeto Cofinanciado por:

ditas “Alberto Benveniste” da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa e a coorde-nação está a cargo do Mestre Paulo Mendes Pinto. Com conceitos que visam centralizar e divul-gar ao público em geral a vivência dos sefar-ditas portugueses e a sua influência para a história e desenvolvimento local e nacional: heranças e identidades; perseguição e con-versão; redes, diáspora e adaptação; quoti-dianos e cultura. Segundo Paulo Mendes Pinto “Não se pretende uma glorificação nem a criação de uma narrativa laudatória, mas apresen-tar, de forma isenta e rigorosa, a História destas comunidades e seus indivíduos que tão importan-tes foram, e são, para a identidade nacional. A ex-posição será organizada em módulos, tendo todos eles um grupo de informação em português e em

inglês, assim como um significativo leque de ima-gens.”A exposição estará aberta ao público durante um mês para que este possa “conhecer mais acerca da história de Portugal, dos seus protago-nistas, heranças que ainda se mantêm, e que mui-tas vezes, desconhecemos a sua origem. A herança judaica deixou nas nossas vivências quotidianas marcas na cultura, no património, na história, nos nossos modos de vida. Muitos, são os hoje, os es-trangeiros que regressam a Portugal à procura das suas origens. Este será o maior legado dos se-farditas portugueses, a diáspora surge como um testemunho de Portugal pelo mundo.” Descreve o coordenador. A exposição, em termos de organização, é um misto; “diacrónica, cronológica e temática. Percorre a história e identidade judaica sefardi-

Exposição Internacional da Torre do Tombo“Heranças e vivências judaicas em portugal”

ta desde da antiguidade até à atualidade.” Ten-ta-se perceber quando os primeiros judeus chegaram ao território que é hoje Portugal, mas em especial, “a própria origem mítica do significado da palavra Sefarad, que é uma pala-vra que corresponde a longo caminho (…) esta palavra aparece na bíblia, num dos livros profé-ticos e desde muito cedo ela é identificada com a península ibérica. (…) A Península Ibérica era miticamente tão importante que eles vão identi-ficar essa Sefarad bíblica com a Península Ibéri-ca no Século I. A exposição tem esta dupla carga com o registo historiográfico mais clássico, apresentar a história, mas também, trabalhar a questão da identidade (…).” Explica o coorde-nador da exposição “Heranças e Vivências Judaicas em Portugal”, Mestre Paulo Men-des Pinto.

PLANO DE FORMAÇÃO DE FEVEREIRO A ABRIL 2017 Decorrerão várias ações de formação so-bre a “História e Cultura Sefardita” com uma componente essencialmente exposi-tiva, visando despertar o interesse pela temática judaica aliada à História e à Cul-tura Portuguesa, fornecendo aos forman-dos os elementos base sobre essa realida-de, assim como os instrumentos para po-der aprofundar e desenvolver esses co-nhecimentos. O público-alvo serão agentes na difusão, promoção, acolhi-mento e empreendedorismo em torno da temática judaica.Fevereiro de 2017 – “As comunidades ju-daicas em Portugal no final da Idade Mé-dia”; Local: BragançaMarço de 2017– “O conhecimento e o pa-pel dos judeus portugueses nos Descobri-mentos”; Local: BelmonteMarço de 2017 – “Grandes vultos nas fi-nanças”; Local: GuardaMarço de 2017 – “Grandes vultos na cul-tura”; Local: AlenquerMarço de 2017 – “Os sefarditas na génese dos EUA”; Local: SabugalAbril de 2017 – “O acolhimento na II Guerra Mundial” Local: Torres VedrasAbril de 2017 – “A memória do Holo-causto”; Local: Lisboa

Feira de Telaviv – IMTMParticipação na IMTM – International Mediterranean Tourism Market (Feira de Turismo de Telaviv) de 5 a 10 de feverei-ro, com Stand próprio, com uma delega-ção de Portugal de cerca de 30 pessoas - composta por Presidentes de Municípios, Vereadores, Técnicos de Turismo, Empre-sários das áreas de Turismo e Serviços e o Rabino de Belmonte - com o objetivo de mostrar o trabalho desenvolvido em Por-tugal no âmbito do Projeto “Rotas de Se-farad” de captar a atenção dos turistas is-raelitas.

BTL – Bolsa de Turismo de LisboaParticipação na BTL – Bolsa de Turismo de Lisboa de 15 a 19 de março, com stand próprio, onde vai ser apresentada a nova brochura promocional das Rotas de Sefa-rad e o Guia Turístico das Rotas de Sefa-rad com informação atualizada. Em março decorrerá também uma forma-ção, em Lisboa, sobre “O Património Ju-daico em Portugal”. Esta visa apresentar uma abordagem geral, na História Sefar-dita portuguesa, como forma de enqua-dramento cultural aos visitantes. O públi-co-alvo serão agentes turísticos. Ainda durante este março decorrerá uma formação, em Castelo de Vide, denomi-nada “Judaísmo: definições e práticas re-ligiosas e identitárias” que visa promover entre os guias turísticos uma cultura de respeito em relação aos aspetos religiosos e culturais do turista judaico, ajudando a criar as condições para o bom acolhimen-to através do conhecimento dos interdi-tos, calendários, códigos e ritos judaicos.

Semana de Relações Bilaterais em Oslo de 5 a 11 de Abril entre a Rede de Judiarias de Espanha e o HL-SENTERET de Oslo (Centro do Holocausto de Oslo)Esta semana marcará o final do progra-ma, pelo vai ser inaugurada uma exposi-ção com os mesmos conteúdos da Torre do Tombo que vai estar patente, durante cerca de seis meses, na sala de exposições do HL-SENTERET de Oslo. Irá ser exibi-do o filme do realizador Francisco Manso “O Cônsul de Bordeús” que conta a histó-ria de Aristides de Sousa Mendes. O fa-moso cantor de fado Nuno da Câmara Pereira irá fechar o programa com um es-petáculo musical tradicionalmente portu-guês.

Mestre Paulo Mendes Pinto, coordenador da exposi-ção “Heranças e Vivências Judaicas em Portugal”

A exposição “Heranças e Vivências Judaicas em Portugal” será inaugurada em meados de Março e estará patente na Torre do Tom-bo, em Lisboa. O promotor do evento é a Rede de Judiarias de Portugal, tendo como direção científica a Cátedra de Estudos Sefar-

Agente Dinamizador e Responsável do Projeto “Rotas de Sefarad – Valorização da Identidade Judaica no Diálogo Interculturas”

O Projeto “Rotas de Sefarad – valorização da identidade Judaica Por-tuguesa no Diálogo Interculturas, é um projeto com uma forte com-ponente material que pretende revitalizar o Património Judaico em Portugal, associando uma componente histórica de inegável interesse para o Mundo.Os judeus tiveram um importante papel na história do Mundo, com contributos para a Ciência, cultura, matemática, medicina entre outras áreas do conhecimento, tendo um papel de enorme relevância na Glo-balização.Portugal é um País que privilegia o Diálogo Interculturas.Este Projeto projeta Portugal para o Mundo, pois ajuda à preservação de um Património esquecido, que foi um ícone da Globalização.Todos os Municípios da Rede estão imbuídos de um espirito critico e construtivo por forma de tornar acessível uma História até pouco re-velada.Assim, o Projeto dá-nos uma ideia muito Real da Nossa Cultura Judai-ca, que permite beber saberes e experiências ancestrais de valor ini-gualável.

Este Projeto não se esgota nas obras materiais, de interesse e valor, pois possui uma componente imaterial que ajuda à compreensão e validação da Nossa História.Para tal, foram concebidos Planos de Formação adequados à realidade da Nossa História, bem como um Projeto prático de qualificação e internacionalização da Nossa Produção Koscher.Isto permite de uma forma muito prática, que as Nossas empresas possam desenvolver novos nichos de merca-do, com uma correta orientação, mas ao mesmo tempo desenvolvam o seu Plano de de Internacionalização.Este Projeto além da componente formativa, tem uma componente cultural assente na divulgação da Rota, com a elaboração de um Guia Turístico que inclui todos os Municípios, Entidades de Turismo, Comunidade Judaica de Belmonte e Comunidade Israelita de Lisboa.Um dos marcos mais importantes deste Projeto será sem dúvida, a Exposição Internacional sobre: “Heranças, Vivências e Património Judaico em Portugal”, a realizar no próximo mês de Março no Arquivo Nacional da Tor-re do Tombo.Mas, uma das mais relevantes acções do Projeto, é a Parceria com o HL-SENTERET de Oslo, que permitiu trazer experiências de grande valor técnico no sentido de aproximar a Escola da Cultura.Este Projeto é sem dúvida um dos marcos importantes que permitem revelar a Nossa História.

Marco Baptista

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