rtg ii, 2010

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REVISTA TRANSDISCIPLINAR DE GERONTOLOGIA Universidade Sénior Contemporânea UNIVERSIDADE SÉNIOR CONTEMPORÂNEA 1 REVISTA TRANSDISCIPLINAR DE GERONTOLOGIA Universidade Sénior Contemporânea Volume III. Número 2 Ano IV volume III. Número 2, 2010

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    UNIVERSIDADE SNIOR CONTEMPORNEA

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    REVISTA TRANSDISCIPLINAR DE GERONTOLOGIA

    Universidade Snior Contempornea

    Volume III. Nmero 2

    Ano IV volume III. Nmero 2, 2010

  • REVISTA TRANSDISCIPLINAR DE GERONTOLOGIA Universidade Snior Contempornea

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    FICHA TCNICA

    REVISTA TRANSDISCIPLINAR DE GERONTOLOGIA

    VOLUME III. NMERO 2 FEVEREIRO/JULHO 2010.

    EDIO Universidade Snior Contempornea

    Departamento de Estudos Sociais

    DIRECO Artur Santos Marta Loureiro Vtor Fragoso

    CONSELHO EDITORIAL/CIENTFICO

    ngela Escada (Psicloga Clnica)

    Artur Santos (Director da USC)

    Irene Arcuri (Psicologia C. / PUC/SP -BR) Isabel Almeida (Enfermeira - UCSP Foz do Douro)

    Jadir Lessa (Psiclogo/SAEP - BR); Liliana Vasconcelos (Psicloga Clnica IPNP) Marlia Alves (Enfermeira) Marta Loureiro (Directora da USC) Olga Pousa (Enfermeira - UCSP Foz do Douro) Ruth Sampaio (Psicloga / ESE Porto) Valria Gomes (Psicloga / ISMAI) Virginia Grnewald (Psicloga,UFSC / NETI - BR) Vtor Fragoso (Psiclogo , IPNP/USC)

    PROPRIEDADE

    Universidade Snior Contempornea

    Todos os direitos reservados

    Universidade Snior Contempornea: Rua Nova do Tronco, 504. 4250 Porto. Telef. 964068452 - 964756736.

    Web: http://usc.no.sapo.pt

    E-mail: [email protected]

    ndice

    Editorial

    Instrues para autores

    Apresentao

    Estudos tericos/ensaios

    Repercusso dos Esteretipos sobre as Pessoas Idosas

    Carlos Magalhes, Adlia Fernandes, Celeste Anto, Eugnia Anes

    Relatos de pesquisa

    A representao das Universidades Seniores, o bem-estar subjetivo e a

    prtica da atividade fsica em idosos

    Priscila Marconcin, Nuno Corte Real

    Percepo do Idoso sobre o seu nvel de Qualidade de Vida

    Ana Cristina Pereira

    A praia como cenrio de destaque para os idosos da cidade de Santos

    Ana Luza Teixeira de Oliveira, Beltrina Crte

    Estratgias de Enfrentamento dos Acadmicos de Fisioterapia frente

    condio de Terminalidade dos Pacientes Sob seus Cuidados

    Janesca Guedes, Marilene Portella

    Arte-terapia no cuidado gerontolgico: reflexes sobre vivncias criativas na

    velhice e na educao

    Marilene Rodrigues Portella, Graciela Ormezzano

    Estimulao da cognio em idosos residentes num Lar de Idosos

    Ana Fernandes, Hlder Fernandes, Diana Teixeira, Helena Ferreira, Ins

    Marques, Snia Pereira

    Comunicaes

    O crebro executivo melhora ou piora com a idade?

    Daniel Serro

    Temas de Educao para a Sade

    Disfuno Erctil e Envelhecimento

    Ana Calafate

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    Editorial

    Na actualidade o processo de envelhecimento e a consequente fase da velhice ainda transportam um conjunto de esteritipos associados. A sociedade contempornea presta culto e estimula a busca da beleza fisca, da jovialidade, da actividade e do sucesso. Tais preceitos exercem uma enorme presso sobre o ser humano que envelhece, pois este, sente e v o seu corpo e os seus papeis sociais se alterarem.

    As transformaes inevitveis e decorrentes do percurso existencial do ser humano que envelhece, entram

    em oposio com os valores preconizados pela nossa sociedade, tal facto originia a caracterizao da velhice como um perodo associado a perdas e limitaes.

    Muitas vezes a palavra velho utilizada como sinnimo de obsoleto, gasto e, neste sentido, representa

    grande parte de esteretipo negativo da velhice. Perante tal preconceito compreensvel que se rejeite o que est associado velhice.

    Simone Beauvoir (1970/1986) defende que a velhice tem uma dimenso existencial modifica a relao do

    indivduo com o tempo e, portanto, a sua relao com o mundo e com a sua prpria histria. Simone Beauvoir, refere ainda que na velhice, a decadncia e a finitude so caractersticas percebidas mais pelos outros que

    convivem com o idoso do que por ele prprio. O sujeito, portanto, v o seu envelhecimento, a sua velhice, pelo olhar do outro ou v-se velho pela

    imagem que o outro lhe devolve.

    Tendo em conta o referido as Universidades Seniores podero assumir-se como um excelente auxilio na

    desconstruo dos esteretipos e dos preconceitos associados a esta fase. Estas estimulam o incremento do bem-estar do snior, atravs da promoo de uma participao activa em actividades como a expresso dramtica e

    artstica, a poesia, a actividade fsica, entre outras. A participao activa e adaptada dos seniores ao seu momento existencial, permitir resgatar o seu sentido

    de identidade e transformar a percepo que estes tm sobre a sua qualidade de vida, possibilitando deste modo

    dar vida aos anos e no apenas anos vida. Estas e outras temticas podero ser descobertas pelos leitores na presente edio.

    Cumpre-nos tambm informar que a RTG dispe de mais uma opo para publicao, intitulada Temas de Educao para a Sade, esta tem o intuito de disponibilizar informao de cariz geral, com foco na Educao para a Sade (abordagem transdisciplinar).

    Para finalizar gostaramos de renovar o convite participao e colaborao de todos, para que dessa forma este projecto transdisciplinar e voluntrio continue a proporcionar contributos para uma melhor compreenso do envelhecimento e da existncia do ser humano.

    A Direco Artur Santos, Marta Loureiro e Vtor Fragoso.

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    Instruo para os autores

    I - INFORMAES GERAIS

    DIRECTRIZES A Revista Transdisciplinar de Gerontologia da USC prope-se publicar artigos que se refiram ao desenvolvimento humano, especificamente ao Envelhecimento/Terceira-idade, estes devem centrar-se na pesquisa, nas prticas

    profissionais e devem espelhar uma reflexo crtica da produo transdisciplinar do conhecimento sobre o envelhecimento humano. II - ORIENTAES EDITORIAIS

    Os artigos sero submetidos a exame pela Comisso Editorial, que poder fazer uso de consultores "ad hoc", a seu critrio, omitida a identidade dos autores. Estes sero notificados da aceitao ou no dos artigos. Caso sejam necessrias pequenas modificaes no texto ser solicitado pela Comisso Editorial aos respectivos autores a sua

    alterao. O editor reserva-se o direito de efectuar alteraes ecebidos para adequ-los s normas da revista, respeitando os contedos e o estilo do autor. Os autores sero notificados da aceitao ou recusa de seus artigos.

    III - APRESENTAO DOS TRABALHOS Os artigos devem ser enviados Revista Transdisciplinar de Gerontologia por e-mail: [email protected]. Deve ser enviado resumo, em Portugus ou Espanhol contendo at 100 palavras, alm de trs ou quatro palavras-chave com

    respectivas "key words". Deve conter o ttulo do trabalho, nome completo do autor, biografia (profissional) e seu respectivo endereo (e-mail). O texto proposto dever ser enviado em formato Word letra Arial Narrow, tamanho 12. O autor pode enviar material de ilustrao como sugesto, este deve ser entregue em arquivos separados do texto, no programa em que foram criados (Excel, CorelDraw, PhotoShop etc.);

    As contribuies dos autores podero ser redigidas em duas lnguas, portugus e/ou espanhol. As opinies e os conceitos emitidos so de inteira responsabilidade do(s) autor(es).

    IV - TIPOS DE TEXTO 1. Estudos tericos/ensaios - anlises de temas e questes fundamentadas teoricamente;

    2. Relatos de pesquisa - investigaes baseadas em dados empricos, recorrendo a metodologia quantitativa e/ou qualitativa. Neste caso, necessrio conter introduo, metodologia, resultados e discusso;

    3. Relatos de experincia - relatos de experincia profissional de interesse para as diferentes prticas transdisciplinares;

    Instruo para Autores

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    4. Comunicaes - relatos breves de pesquisas ou trabalhos apresentados em reunies cientficas/eventos culturais; 5. Ressonncias - comentrios complementares e rplicas a textos publicados em nmeros anteriores da revista.

    6. Artigos de Opinio - reflexes sobre temas relacionados com a gerontologia (de interesse geral) e suas polticas de actuao.

    7. Trabalhos Monogrficos - anlises de temas e questes fundamentadas teoricamente em forma de artigo com base em trabalhos universitrios (monografias de curso, entre outros). 8. Reflexes - temas gerais relacionados com o existir humano.

    9. Temas de Educao para a Sade temas/assuntos gerais, directamente relacionados com o envelhecimento e com foco na educao e promoo da sade.

    V - REFERENCIAS BIBLIOGRFICAS As referncias no texto a outras devem ser indicadas dos seguintes modos: Robinson (1978); (Guilly & Piolat, 1986); (Bronckart, Papandropoulou & Kicher, 1976) ou (Bronckart et al., 1976).

    No final do artigo devem ser listadas alfabeticamente as referncias bibliogrficas (apenas as obras referidas no texto), obedecendo aos seguintes modelos:

    Capitulo de um livro - Bronckart, J.-P., Papandropoulou, J., & Kilcher, H (1976). Les Conduites Smiotiques. In M. Richelle, & R. Droz (Eds.), Introduction la Psychologie (pp. 286-302). Bruxelles: Dessart. Artigo de revista cientfica - Gilly, M., &Piolat, M. (1986). Psicologia da Educao, Estudo da Mudana na

    Interaco Educativa. Anlise Psicolgica, 11 (1), 13-24. Livros - Carneiro, T. (1 983). Famlia: Diagnstico e terapia. Rio de Janeiro: Zahar.

    Tese de dissertao - McCloy, R. A. (1990). A New Model of Job Performance: An Integration of Measurement, Prediction, and Theory. Unpublished doctoral dissertation, University of Minnesota, Minneapolis. Relatrio Tcnico - Birney, A. J., & Hall, M. M. (1981). Early, identification of children with written language disabilties

    (relatrio N 81 - 1502). Washington, DC: National Educational Association. Trabalho apresentado em congresso, mas no publicado - Haidt, J., Dias, M. G., & Koller, S. (1991). Disgust, disrespect and culture: Moral judgement of victimless violation in the USA and Brazil. Trabalho apresentado no

    Annual Meeting of the Society for Cross-Cultural Research, Isla Verde, Puerto Rico.

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    Nota de Apresentao

    Prezados leitores, com enorme satisfao que vos apresentamos o terceiro volume da Revista Transdisciplinar de Gerontologia (RTG), que tal como o referido na edio anterior est dividido em dois nmeros. A presente edio representa o segundo nmero.

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    Estudos Tericos / Ensaios

    Repercusso dos Esteretipos sobre as Pessoas Idosas

    Carlos Magalhes 1

    Adlia Fernandes2

    Celeste Anto3

    Eugnia Anes4

    RESUMO

    Os estudos cientficos que abordaram os esteretipos acerca dos idosos, realizados essencialmente

    desde o final da primeira metade do sculo XX, revelaram maioritariamente durante vrias dcadas o predomnio

    injustificado de uma imagem negativa acerca do envelhecimento e acerca das pessoas idosas, tendncia esta

    destacada e contestada por diversos autores (Lehr, 1977/1980; Palmore, 1988; Laforest, 1989/1991; Moragas,

    1995; Belsky, 1999/2001; Motte e Tortosa, 2002). Tais esteretipos que podem traduzir-se em barreiras

    funcionalidade dos idosos, no passam de falsas concepes, na medida que negam a enorme heterogeneidade

    que caracteriza o processo de envelhecimento e que est presente, mesmo quando nos reportamos a grupos

    etrios de idade avanada. Atendendo que com frequncia os esteretipos negativos levam a atitudes negativas, e

    as atitudes negativas suportam esteretipos negativos, urge implementar estratgias sociais que visem o seu

    combate e impeam a sua manifestao.

    Palavras-Chave: Pessoas Idosas; Imagem Social; Esteretipos; Idadismo.

    1 Doutor em Gerontologia Social

    Prof. Adjunto na Escola Superior de Sade de Bragana (Instituto Politcnico de Bragana) Docente do Curso de Licenciatura em Gerontologia e do Curso de Licenciatura em Enfermagem da Escola Superior de Sade

    de Bragana E-mail: [email protected] 2 Mestre em Psicologia Prof. Adjunto na Escola Superior de Sade de Bragana (Instituto Politcn ico de Bragana) Docente do Curso de Licenciatura em Enfermagem da Escola Superior de Sade de Bragana E-mail: [email protected] 3 Mestre em Promoo/Educao para a Sade Prof. Adjunto na Escola Superior de Sade de Bragana (Instituto Politcnico de Bragana) Docente do Curso de Licenciatura em Gerontologia e do Curso de Licenciatura em Enfermagem da Escola Superior de Sade

    de Bragana E-mail: [email protected] 4 Mestre em Gesto e Economia da Sade Prof. Adjunto na Escola Superior de Sade de Bragana (Instituto Politcnico de Bragana) Docente do Curso de Licenciatura em Enfermagem da Escola Superior de Sade de Bragana E-mail: [email protected]

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    INTRODUO: OPERACIONALIZAO DA INVESTIGAO DA IMAGEM SOCIAL DO IDOSO.

    Allport (1954) considera os esteretipos crenas exageradas que auxiliam as pessoas a simplificar as suas

    categorizaes, possuam ou no um fundo de verdade, so reforados pelos mass media que continuamente os

    relembram e insistem sobre os mesmos. At aos finais da primeira metade do sculo XX no houve praticamente

    produo cientfica, nomeadamente estudos de investigao sobre a percepo da imagem do envelhecimento, da

    velhice e da pessoa idosa, parecendo acompanhar o adormecimento da Psicologia referente idade adulta e

    velhice, contrastado pelo excelente desenvolvimento das Psicologias referentes infncia e adolescncia.

    somente a partir desse perodo, impulsionado pela presso social e demogrfica, bem como pelo crescente nmero

    de trabalhos de investigao acerca do envelhecimento, que surge um aumento do nmero de investigaes no

    mbito do estudo das percepes/esteretipos acerca das pessoas idosas.

    Lehr (1977/1980) consultando diversos estudos relativos imagem acerca das pessoas idosas realizados pelos

    europeus e norte-americanos entre 1950 e 1964, concluiu que:

    - A imagem caracteriza-se fundamentalmente por uma orientao negativa, predominando de forma

    injustificada os esteretipos e as generalizaes;

    - essencialmente entre o grupo dos jovens que esta imagem se acentua negativamente e onde ocorre uma

    maior discrepncia quanto percepo do comportamento real das pessoas idosas. Com o aumento da idade da

    pessoa que julga e avalia, aumenta a percepo de detalhes cada vez mais positivos acerca da imagem da pessoa

    idosa;

    - A metodologia que coloca em maior evidncia a imagem do idoso destaca que esta no depende somente da

    idade do indivduo questionado, mas tambm da sua situao de vida tais como o bem-estar fsico, o estado de

    nimo, a convivncia ou no com idosos, as distintas qualidades da personalidade.

    Marn, Troyano e Vallejo (2001), com base numa consulta das vrias investigaes efectuadas ao longo das

    ltimas dcadas, acerca de como a sociedade percebia a velhice, constataram que:

    - Da dcada 50 se salienta a percepo do envelhecimento como um processo onde prima a decadncia e a

    deteriorao, sendo-lhe atribuda a responsabilidade pela perda de capacidades fsicas e mentais, pelo aumento de

    achaques, pelo isolamento e irresponsabilidade;

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    - No incio dos anos 70 mantm-se a imagem negativa, as pessoas idosas so percebidas como indivduos

    passivos e intolerantes;

    - Depois da dcada 90, surgem investigaes, como por exemplo as realizadas pelo Centro de Investigaes

    da Realidade Social (CIRES) que apontam para uma mudana significativa dos adjectivos acerca das pessoas

    idosas, denotando-se uma maior visibilidade dos traos positivos do colectivo, percebidos como sbios, serenos e

    inteligentes. Contudo persistem, embora em minoria, alguns esteretipos de cariz negativo percebidos como torpes,

    enfermos e inteis.

    A estereotipia negativa foi contestada ao longo dos tempos por vrios autores (Lehr, 1977/1980; Palmore,

    1988; Laforest, 1989/1991; Moragas, 1995; Belsky, 1999/2001; Tortosa & Motte, 2002), pois tais esteretipos no

    passam de falsas concepes que podem traduzir-se em barreiras funcionalidade dos idosos, dado que

    influenciam negativamente o status social do ser-se idoso. Por outro lado estes esteretipos podem resultar em

    idadismo.

    A expresso de preocupao e de contestao para com estas errneas generalizaes tomaria maior

    visibilidade a partir da II Assembleia Mundial para o Envelhecimento, realizada pela ONU na cidade de Madrid

    (Espanha), em Abril de 2002, de onde surgiria um Plano de Aco Internacional (Naes Unidas, 2002) com o

    intuito de se promover uma imagem positiva do envelhecimento, bem como de promover um maior reconhecimento

    pblico da autoridade, da sabedoria, da produtividade e outras contribuies importantes das pessoas idosas.

    CARACTERIZAO DAS FORMAS DE IDADISMO PARA COM OS IDOSOS

    O termo ageism (idadismo) foi introduzido em 1969 por Butler (1969, p.243), definindo-o como um processo de

    esteretipos e discriminao sistemtica contra as pessoas por elas serem idosas , da mesma forma que o racismo

    e o sexismo o fazem com a cor da pele e o gnero.

    Segundo Palmore (1999), o idadismo traduz um preconceito ou uma forma de discriminao, contra ou a favor

    a um grupo etrio. A discriminao pode ocorrer de uma forma pessoal por indivduos ou institucional, traduzido pela

    discriminao para com os idosos, resultante da poltica de uma instituio ou organizao (quadro 1).

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    Quadro 1 Tipos de Idadismo segundo Erdman Palmore

    Negativo Positivo

    Preconceito Esteretipos Atitudes Esteretipos Atitudes

    Discriminao Pessoal Instituio Pessoal Instituio

    Fonte: Ageism: Negative and Positive (p.19), Palmore, E. B. (1999), 2. ed. New York: Springer

    Publishing Company, inc.

    O preconceito contra esse grupo quando se manifesta atravs de um esteretipo negativo ou atravs de uma

    atitude negativa para com o mesmo. A discriminao contra esse grupo manifesta-se atravs de um tratamento

    negativo para com os membros do mesmo. Os esteretipos so essencialmente cognitivos, enquanto as atitudes

    so essencialmente afectivas. Usualmente os esteretipos negativos levam a atitudes negativas e as atitudes

    negativas suportam esteretipos negativos. Para o autor, existem essencialmente nove esteretipos que reflectem o

    preconceito negativo para com as pessoas idosas, so eles: a doena, a impotncia sexual, a fealdade, o declnio

    mental, a doena mental, a inutilidade, o isolamento, a pobreza e a depresso. Os preconceitos usualmente

    resultam em discriminao, que ocorre essencialmente: no emprego, em agncias governamentais, na famlia,

    habitao (em especial, nas residncias para idosos) e ao nvel dos cuidados de sade. Segundo o mesmo autor,

    tem sido dedicada menos ateno ao idadismo positivo dado que este no prejudicial s pessoas idosas. So oito

    os principais esteretipos positivos a ele associado: a amabilidade, a sabedoria, o ser de confiana, a opulncia, o

    poder poltico, a liberdade, a eterna juventude e a felicidade. A maioria das pessoas mistura atitudes negativas com

    algumas positivas, tal como nos cita Palmore (1999) com o seguinte dito popular nos EUA: A velhice no to m

    quando comparada alternativa (p.40), isto porque a alternativa a morte. A discriminao a favor dos idosos pode

    resultar, de esteretipos positivos ou inclusivamente negativos (ex: o acreditar no esteretipo negativo de que a

    maioria dos idosos pobre pode favorecer a atribuio de apoios velhice). O autor destaca cinco reas de

    discriminao positiva para com as pessoas idosas: economia, poltica, famlia, habitao e cuidados de sade.

    Para o autor, as principais consequncias que podem resultar do idadismo so:

    - A discriminao no emprego recusa de contratao e promoo dos trabalhadores mais velhos, em prole da

    aceitao preferencial e promoo dos trabalhadores mais jovens;

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    - A aceitao da imagem negativa as vtimas de preconceitos e discriminao tendem adoptar a imagem

    negativa do grupo dominante, comportando-se de acordo com a mesma. Desta forma, determina-se o que o idoso

    deve ou no fazer, podendo acarretar distintos custos pessoais, levando-os, por exemplo a evitar as relaes

    sexuais, novas ideias, a serem improdutivos, conduzindo-os conformidade social para com os esteretipos

    negativos do idadismo. Por sua vez, esta conformidade pode resultar na reduo da auto-estima, das suas

    habilidades pessoais, bem como induzir a deteriorao da sua sade fsica e mental.

    Palmore (1999) identificou por parte dos idosos, quatro formas bsicas de reaco ao idadismo, so elas: a

    aceitao, a negao, a evitao ou a reforma (p. 109). Todas estas respostas podem acarretar efeitos prejudiciais

    sobre os indivduos. A aceitao pode ser manifestada pelo afastamento voluntrio e pela apatia (traduz uma

    infelicidade do idoso para com o seu papel). A negao visa recorrer a meios para parecer jovem, como por

    exemplo a cirurgia plstica. A evitao pode apresentar vrias formas como a segregao, o isolamento, o

    alcoolismo, a dependncia s drogas, doena mental, ou at mesmo o suicdio. A reforma reconhece o prejuzo e

    a descriminao e procura a sua eliminao, que pode ocorrer ao nvel individual, recorrendo a actividades que no

    se conformam com os esteretipos negativos.

    Os esteretipos minimizam as diferenas individuais e tendem a igualar todas as pessoas idosas, ignorando

    que cada idoso possui as suas prprias caractersticas, personalidade e forma de envelhecimento (Tortosa & Motte,

    2002, p. 103). Para alm disso, os esteretipos podem desencadear um fenmeno de contraco, isto , quando

    qualquer fenmeno que se observa nas pessoas idosas no corresponde ao esteretipo previamente construdo,

    existe uma certa tendncia para recusar o mesmo. Para os autores os esteretipos negativos afectam muitos

    profissionais que trabalham com idosos sem se aperceberem que podem repercutir-se negativamente sobre a auto-

    estima do idoso, bem como sobre o desenvolvimento da sua personalidade.

    Num estudo elaborado por Montorio, Trocniz, Colodrn e Losada (2002), verificou-se uma relao significativa

    entre os esteretipos dos cuidadores acerca das pessoas idosas e as suas atribuies para com o familiar de idade

    avanada que cuidam. A maior intensidade de relao ocorreu ao nvel das atribuies de afecto negativo tolervel,

    verificando-se que quando os cuidadores categorizam os idosos como doentes, dbeis e incapazes de se auto-

    valerem, frequentemente percepcionam estes mesmos termos acerca do idoso que cuidam. Por outro lado,

    verificou-se uma relao significativa entre as imagens dos cuidadores acerca das pessoas idosas e o bem-estar

    dos idosos que cuidam. A partir dos resultados encontrados os autores assumem a existncia de uma relao entre

    os esteretipos negativos da velhice e as condutas de superproteco. Condutas que devido perda de

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    oportunidades (de prtica) vo implicar uma diminuio de capacidade e consequentemente um aumento da

    dependncia, que por sua vez reforam a imagem negativa do cuidador acerca desta.

    Levy, Slade, Kunkel e Kasl (2002), investigadores da Universidade de Yale e de Miami (EUA), constataram num

    estudo que os esteretipos negativos constituem um perigo para a sobrevivncia. Estes autores atravs da

    comparao da taxa de mortalidade de uma amostra de 660 participantes com as respostas fornecidas pelos

    mesmos, 23 anos antes, constataram que as pessoas com percepes mais positivas acerca do envelhecimento

    viveram em mdia mais 7,5 anos. Vantagem que se mantinha mesmo quando se controlavam variveis como a

    idade, gnero, status socioeconmico, solido, e sade funcional.

    AVALIAO E ESTRATGIAS DE COMBATE AO IDADISMO

    Palmore (2001, p. 572) construiu, com base na fundamentao bibliogrfica cientfica, um instrumento de

    avaliao do idadismo, visando responder a trs questes:

    - Qual a prevalncia do idadismo em vrias sociedades?

    - Que tipos de idadismo so mais prevalentes?

    - Que subgrupos de pessoas idosas relatam mais o idadismo?

    O instrumento foi testado numa amostra de 84 pessoas com idades acima dos 60 anos. Os resultados

    revelaram que a maioria da amostra referiu ter j sofrido severos incidentes de idadismo, sendo que os tipos mais

    frequentes reportam-se a formas de desrespeito para com os idosos, que incluiu os seguintes itens mais cotados

    para esta categoria, por ordem decrescente: Contaram-me uma anedota que troa/ridiculariza as pessoas idosas,

    Falaram comigo de forma condescendente ou paternalista por causa da minha idade, Fui ignorado(a) ou no

    tomado(a) a srio por causa da minha idade, Fui tratado(a) com menos dignidade e respeito devido minha

    idade. Outras das formas de idadismo que se seguiram foram as suposies acerca de desordens fsicas ou

    mentais ou fragilidades inerentes idade, que incluiu os seguintes itens mais cotados para esta categoria: algum

    me disse, s demasiado velho para , O mdico(a) ou enfermeiro(a) assumiu que as minhas desordens fsicas

    ou mentais devem-se minha idade, Algum sups que eu no ouvia bem devido minha idade, Algum

    sups que eu no percebia bem devido minha idade.

    Este instrumento foi utilizado em Portugal, por Alves e Novo (2006) numa amostra de 324 indivduos com

    idades superiores a 60 anos, residentes em diversas localidades do distrito de Braga, Porto e Lisboa,

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    institucionalizados em lares ou centros de acolhimento para a terceira idade (24% da amostra) e no

    institucionalizados (76% da amostra). Os resultados revelaram que uma parte significativa da amostra foi vtima de

    idadismo. As ocorrncias mais relatadas reportam-se ao nvel dos cuidados de sade (nas relaes interactivas com

    os profissionais desta rea) e noutros contextos em que os interlocutores pressupem que os idosos possuem

    dificuldade de audio e de compreenso. Quanto discusso relativa elevada discriminao sofrida por parte

    dos profissionais de sade, apesar da formao cientfica, podem revelar igual ou maior quantidade de esteretipos

    que as pessoas comuns. Segundo os autores, uma explicao plausvel assenta no facto destes lidarem muito

    mais com a patologia do que com o envelhecimento normal e, na medida em que quando contactam pessoas idosas

    elas tm patologia, por mecanismos bsicos associam velhice a expectativa de um conjunto de patologias (p. 74).

    Este estudo revelou ainda uma associao positiva entre a percepo da discriminao e a idade (tendo por base

    trs grupos etrios: 60-70; 71-80; 81-90). O grupo etrio mais elevado apresentava uma maior diversidade de tipos

    de discriminao, e a associao com maior fora entre a idade e os itens situava-se ao seguinte nvel: experincia

    de ser ignorado, atribuio de o no ouvir e de o no compreender. De referir que foi tambm encontrada

    associao entre a percepo de discriminao na generalidade dos itens e estar ou no institucionalizado. Os que

    se encontravam institucionalizados em lares referiam em termos relativos, mais tipos de discriminao, as

    diferenas mais significativas reportavam-se aos seguintes itens: ser ignorado, ser tratado com menos dignidade

    ou respeito, e assumir incompreenso.

    Estratgias de combate discriminao esto referenciadas h longa data na literatura cientfica da rea e

    muito antes de surgir propriamente o conceito de idadismo. Nesse sentido, Allport (1954) avanou com uma teoria

    que denominou de hiptese de contacto, isto , medida que as relaes entre os grupos aumentam (contacto

    inter-grupal), ocorre uma melhoria das mesmas, consequentemente a percepo do endogrupo relativamente ao

    exogrupo sofre melhorias significativas. Contudo, segundo o autor, para a melhoria das relaes acontecerem

    teriam que se verificar alguns pressupostos, tais como: a igualdade de status entre os membros; a existncia de

    objectivos comuns; a cooperao intergrupal e uma sustentao institucional (ao nvel de normas e sanes que

    facilitassem o processo). Seguiram-se vrias revises desta teoria, sendo adaptada por vrios autores em distintos

    contextos, alguns deles no mbito dos idosos, tendo sido contestada e verificada por diversas vezes. Neste sentido:

    - Revenson (1989) procurou analisar a hiptese de contacto quanto s atitudes compassivas dos mdicos

    face aos idosos, tendo verificado que os resultados do estudo contradiziam esta hiptese, na medida em que as

    pessoas idosas que apresentavam pior adaptao psicossocial, que eram menos autnomas, correspondiam

    aqueles utentes cujos mdicos tinham dedicado maior tempo de contacto, implicando para o autor que o maior

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    14

    tempo de contacto pode no representar a reduo/eliminao de esteretipos associado idade, mas o contrrio,

    na medida em que so activados esteretipos compassivos;

    - Hale (1998) efectuou um estudo visando examinar a relao entre a idade do indivduo, o tipo de contacto

    que o indivduo possua com as pessoas idosas, o conhecimento do indivduo acerca das pessoas idosas, e a

    extenso de esteretipos que o mesmo possua acerca dos idosos. A amostra em estudo era constituda por 100

    indivduos, divididos em dois grupos etrios (18-25 anos; 64-79 anos), com igual nmero de participantes. Das

    concluses destaca-se que os indivduos que experienciam nveis elevados de contacto com os idosos apresentam

    mais conhecimentos acerca do envelhecimento e menores ndices de esteretipos;

    - Schwartz e Simmons (2001) efectuaram um estudo com o intuito de verificar a hiptese de contacto em

    jovens adultos, os resultados relevaram que em vez da quantidade, a importncia da qualidade da interaco

    inter-geracional que estava relacionada significativamente com as atitudes mais positivas para com as pessoas

    idosas.

    A evoluo das sociedades traduz tambm o respeito tido para com todos os seus membros,

    independentemente da idade que possuam. Neste sentido, evitar e combater a discriminao devido idade deve

    constituir um dever cvico, que pressupe antes de mais combater os esteretipos de orientao negativa que

    teimosa e injustificadamente se mantm na sociedade actual, bem como pela preveno da reactivao dos

    mesmos. Desta forma sugere-se (Magalhes, 2008):

    1 - ao nvel poltico-social, a elaborao e implementao de um Plano Nacional Gerontolgico que

    contemple: a promoo da imagem positiva do ser-se idoso, da velhice; a promoo e a utilizao do elevado

    potencial de contribuio dos idosos como membros de uma sociedade, destacando os seus valores, a sua

    experincia de vida, a sua sabedoria, entre outros; a promoo dos benefcios de uma saudvel relao entre

    geraes; a promoo do esprito de solidariedade entre geraes;

    2 - maior difuso atravs dos mass media de medidas que promovam as imagens positivas acerca do

    envelhecimento, bem como o maior reconhecimento pblico da autoridade, da sabedoria, da produtividade e outras

    contribuies consideradas de extrema importncia acerca das pessoas idosas, como preconizado pelo Plano de

    Aco Internacional, emanado em 2002 pelas Naes Unidas;

    3 - alterao da actual forma de difuso por parte da maioria dos mass media (TV, rdio, internet, jornais,

    entre outros), no sentido de incluir, divulgar e destacar nas suas mensagens a heterogeneidade (variabilidade

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    15

    interindividual) e a multi-direccionalidade prprias de qualquer grupo de idosos, sem utilizar contedos

    discriminatrios;

    4 - envolvncia da comunidade cientfica na abordagem de distintas temticas gerontolgicas/geritricas, quer

    atravs dos mass media, quer atravs da realizao de fruns, jornadas, congressos, entre outros, pois desta forma

    desmistificam-se as concepes errneas e injustificadas e credibiliza-se a veiculao da informao.

    REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS

    Allport, G. (1954). The Nature of Prejudice. Massachusetts: Addison-Wesley Publishing Company.

    Alves, J.F, & Novo, R.F. (2006). Avaliao da discriminao social de pessoas idosas em Portugal. International

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    publicado em 1999)

    Butler, R.N. (1969). Age-ism: Another form of bigotry. The Gerontologist, 9, 243-246.

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    Lehr, U (1980). Psicologa de la Senectude. Barcelona: Editorial Herder. (Trabalho original em francs publicado em

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    Bragana. Tese de Doutoramento em Gerontologia Social, apresentada Universidade de Extremadura. Badajoz.

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    17

    Relatos de Pesquisa

    A representao das Universidades Seniores, o bem-estar subjetivo e a

    prtica da atividade fsica em idosos.

    Priscila Marconcin1

    Nuno Corte Real2

    Cludia Dias3

    Antnio Manuel Fonseca4

    RESUMO

    O envelhecimento pode ser considerado uma experincia subjetiva e dependente da interao de fatores

    internos e do contexto em que se vive. O presente estudo teve como objetivo investigar qual o entendimento de

    idosos, alunos de Universidades Seniores, a respeito do seu bem-estar, da prtica da atividade fsica e da

    participao nas Universidades. A metodologia foi qualitativa com a aplicao de entrevistas. Como resultados

    principais, constatamos que os idosos comumente associam o bem-estar sade e a pratica desportiva, e em

    relao participao nas Universidades acreditam ser o convvio o fator mais representativo, seguido pela busca

    do conhecimento.

    Palavras-Chave: Universidades Seniores, Bem estar, Prtica desportiva, idosos.

    1 Mestre em Actividade Fsica para Terceira Idade da Faculdade de Desporto da Universidade do Porto. E-mail: [email protected] 2 Professor auxiliar da Faculdade de Desporto da Universidade do Porto. E-mail: [email protected] 3 Professor Auxiliar na Faculdade de Desporto da Universidade do Porto. 4 Professor Catedrtico na Faculdade de Desporto da Universidade do Porto.Coordenador do Gabinete e do Laboratrio de Psicologia do Desporto. E-mail: [email protected]

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    18

    INTRODUO

    O envelhecimento foi considerado pela Organizao Mundial da Sade (2002) como sucesso das polticas

    pblicas da sade e do desenvolvimento econmico, mas tambm um desafio para a sociedade ao terem que se

    confrontar com essa nova realidade: uma populao envelhecida.

    Mltiplas reas do conhecimento dedicam-se a estudar formas de proporcionar aos idosos no s mais

    anos de vida, mas tambm, mais qualidade a esses anos a mais. Simes (2006) relata que o envelhecimento para

    alm de ser pessoal (dependente da nossa biologia e dotao gentica) tambm um fenmeno contextual

    (depende de como vivemos, das experincias, do ambiente, da sociedade, da regio geogrfica entre outros

    tantos fatores que interferem na maneira como cada indivduo vivencia o seu envelhecimento). A complexa

    interao entre essas duas ordens de fatores determina a imensa variedade das experincias individuais do

    envelhecer.

    Com isso, atividades que proporcionem aos idosos experincias prazerosas, de sentir-se bem,

    valorizados, respeitados, integrados socialmente, so benficas e caminham no sentido de um envelhecimento

    bem-sucedido. O conceito de envelhecimento bem-sucedido est segundo Neri e Cachionni (1999), associado

    idia de realizao do potencial individual para alcanar o bem-estar fsico, social e psicolgico. Os parmetros

    para tal conquista so oferecidos pelas condies objetivas disponveis, pelo julgamento que indivduos e

    instituies fazem a respeito dessas condies e pelo que julgam como desejvel a realizao do pleno potencial

    pelas pessoas. Isso quer dizer que no basta ter as condies para a realizao necessrio o sujeito ter o

    discernimento e reconhecer essas condies de forma a utiliz-las para seu desenvolvimento potencial, satisfao

    e bem-estar.

    Nesse sentido, faz-se conhecer que so inmeros os esforos, tanto pblicos como privados, para ofertar

    a populao idosa atividades que caminhem no sentido de uma velhice bem-sucedida. A participao em

    Universidades Seniores, bem como a prtica desportiva caminham nesse sentido. Pois podem proporcionar aos

    idosos crescimento pessoal, desenvolvimento de suas capacidades cognitivas, fsicas, sociais e psicolgicas,

    sentimentos de realizao e valorizao de seus trabalhos e esforos, qualidade de vida e bem-estar.

    As Universidades da/para Terceira Idade surgiram na Frana em 1973 e foram trazidas a Portugal em

    1978 pelo engenheiro Herberto Miranda, na cidade de Lisboa. Hoje as Universidades recebem designaes

    diferentes e esto espalhadas por todo o mundo. Na cidade do Porto, local da amostra do presente estudo existe

    11 Universidades, elas possuem caractersticas diferentes, mas buscam os mesmos objetivos: oferecer um

    ambiente de desenvolvimento salutar inter/intra geraes, e incentivar os alunos para novas aprendizagens que

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    19

    possam desenvolver novas e velhas habilidades, bem como proporcionar o crescimento e conhecimento pessoal.

    A educao para idosos, de acordo com Cachionni (1998), tem um carter transformador e pode favorecer o

    envelhecimento bem-sucedido na medida em que promove a flexibilidade cognitiva, o ajustamento pessoal, o bem-

    estar subjetivo e a imagem social dessas pessoas.

    Nesse sentido, so tambm, muitos os benefcios conhecidos para quem pratica regularmente uma

    atividade desportiva, e quando se trata do grupo de pessoas idosas, esses benefcios so ainda mais importantes,

    e muitas vezes tm carter decisivo na manuteno de uma vida ativa e com qualidade. Para Spirduso (2005) as

    atividades desportivas e fsicas permitem ao idoso uma melhor auto-afirmao e segurana. Os jogos ldicos, o

    desporto, as atividades fsicas estimulam o pensamento e libertam o corpo, fazendo com que os gestos, os

    movimentos, sejam elementos expressivos para o desenvolvimento motor e a manuteno ou melhoria da

    capacidade funcional do indivduo. Para Mazo (2004), a atividade fsica para idosos tm muitos benefcios

    conhecidos, a autora cita alguns, tais como: maior longevidade, reduo das taxas de mortalidade, diminuio dos

    medicamentos prescritos, melhoria da capacidade fisiolgica, preveno do declnio cognitivo, diminuio da

    frequncia de quedas e fraturas, manuteno da independncia e autonomia, alm de inmeros benefcios

    psicolgicos, como a melhora na auto-estima, da auto-imagem, do contato social e do prazer pela vida.

    Tendo tomado um breve conhecimento dessas aes, voltamos a refletir o conceito de velhice bem-

    sucedida, de Neri e Cachionni (1999), o qual ressalta que no bastam existir aes e atividades para os idosos,

    mas que fundamental que estes tenham discernimento e reconheam essas condies para seu

    desenvolvimento e bem-estar.

    A idia de que o sujeito o nico capaz de reconhecer suas capacidades e trabalhar para a busca da sua

    felicidade passa pelas reflexes feitas no campo da psicologia positiva acerca do conceito de bem-estar subjetivo

    (BES), pois este conceito diz respeito avaliao do sujeito sobre a sua condio de vida.

    O bem-estar subjetivo nasce num contexto emprico de procura de identificao das caractersticas scio

    demogrficas associadas qualidade de vida e satisfao, e se orienta pela perspectiva da felicidade. Desde os

    anos 60 vem sendo alvo de extensiva investigao, numa tentativa de compreender a felicidade, no a partir do

    que acontece e exterior ao indivduo, mas do modo como ele interpreta e vive, subjetivamente, os

    acontecimentos (Novo 2000). O BES foi definido por alguns autores como: a avaliao que as pessoas fazem da

    sua prpria vida (Kahneman, Diener e Schawarz (1992), o grau de julgamento do indivduo da sua qualidade de

    vida como um todo (Veenhoven, 1984), uma avaliao cognitiva e em certo grau de sentimentos positivos e

    negativos (Diener, 1994).

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    20

    Dessa forma, refletimos acerca de como o envelhecimento pode ser vivido de uma forma positiva, com

    ganhos no desenvolvimento das capacidades fsicas, sociais, cognitivas e psicolgicas. Acreditamos que as

    prticas desportivas e a participao em Universidades Seniores so aes que podem ser decisivas na

    manuteno de uma vida ativa e com qualidade, e podem responder as necessidades dos idosos na busca pelo

    bem-estar.

    Procuramos com isso, investigar o que os idosos entendem por bem-estar e como a prtica desportiva

    poderia influenciar no bem-estar dos mesmos, bem como, perceber o que a participao das Universidades

    Seniores representa para eles.

    METODOLOGIA

    A metodologia utilizada no presente estudo foi de carter qualitativo com a aplicao de uma entrevista

    semi-estruturada, contendo questes relativas aos dados scio-demogrficos, a prtica desportiva, ao bem-estar e

    a participao nas Universidades Seniores.

    Amostra: Fizeram parte da amostra 17 idosos alunos de trs Universidades Seniores do Porto, sendo que

    12 eram mulheres e 5 homens. As idades variavam de 67 at 84 anos, sendo a mdia de idade 75 anos. Em

    relao s habilitaes literrias, grande parte (45%) possua nvel superior, seguido por 30% com nvel

    secundrio, 10% no 2 ciclo e 15% no 1 ciclo. Relativamente prtica da atividade fsica, dos 17 idosos apenas 2

    no eram praticantes de desporto, os outros todos praticavam regularmente.

    Tratamento dos dados: A anlise de contedo foi o instrumento escolhido para analisar as entrevistas, e

    pode ser assim definido por Bardin (2004 pg. 27), como no se tratar de um instrumento, mas de um leque de

    apetrechos; ou, com maior rigor, ser um nico instrumento, mas marcado por uma grande disparidade de formas

    e adaptvel a um campo de aplicao muito vasto.

    Neste estudo, foram utilizadas categorias para a anlise de duas das questes contidas no questionrio: o

    significado do termo bem-estar, e a representao da Universidade Snior na vida dos idosos. Para a primeira foi

    utilizada uma adaptao feita das categorias sugeridas por Stathi, Fox e McKenna (2002), a respeito do significado

    do termo bem-estar. E para a segunda, foi utilizada uma adaptao das categorias relatadas por Neri (1996) e

    investigadas por Cachionni (1998). A partir da determinao de novas categorias, fez-se uma comunicao entre

    os dados retirados do real, das entrevistas, com os obtidos pelo discurso bibliogrfico.

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    21

    RESULTADOS E DISCUSSO

    Significado do bem-estar para os idosos

    Para analisar a questo O que os idosos entendem por bem-estar?, utilizaremos uma adaptao feita

    das categorias sugeridas por Stathi, Fox e McKenna (2002). Dessa forma foram identificadas 4 categorias: bem-

    estar relacionado ao desenvolvimento pessoal, bem-estar fsico, bem-estar mental, espiritual e social (na mesma

    categoria), e por ltimo bem-estar abstrato. Essa ltima categoria foi criada porque haviam trs respostas que no

    se enquadravam em nenhuma outra categoria acima citada, mas possuam semelhanas entre elas, pois definiam

    o bem-estar como algo que no poderia ser alcanado, portanto abstrato. Dentro de cada categoria esto as

    caractersticas estudadas e encontradas para esta classificao, sendo assim explicitada na tabela 1.

    Tabela 1: Categorias do significado do Bem-Estar

    Bem-Estar relacionado ao desenvolvimento pessoal

    Caractersticas da Subcategoria Subcategorias

    Ter autonomia Independncia Sentir-se bem, sentir-se til, a maneira de ser. Valorizao pessoal

    Viver de forma agradvel, valorizar as coisas boas

    da vida, adaptarem-se as mudanas, ter coerncia na vida.

    Posio frente vida

    Bem-Estar fsico

    Estar com sade, ausncia de doenas. Sade Praticar alguma atividade fsico-desportiva. Prtica de exerccios

    Bem-Estar Mental/Espiritual/Social

    Ter F Ter F Manter a mente ocupada, no se sentir sozinho. Manuteno do Psicolgico

    Sentir-se bem, feliz, alegre Sentimento de Felicidade Ter amigos, compartilhar. Convvio

    Bem-estar Abstrato

    Ter tudo na vida

    No ter problema algum

    Ao realizarmos num primeiro momento, uma anlise quantitativa desses dados, podemos observar que a

    categoria que mais representativa a do bem-estar fsico e relacionado sade (11 idosos), e tambm a

    categoria que aparece mais vezes quando combinada com outras categorias, pois aparece 8 vezes relacionada

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    22

    com as outras categorias do estudo. Isso nos indica, num primeiro momento, uma tendncia dos idosos apontarem

    como significado do bem-estar a sade e a prtica de exerccios fsicos.

    Para muitos idosos o bem-estar aparece relacionado diretamente ao fato de se ter sade, como na

    entrevista 1: Bem-estar estar bem e com sade, entrevista 2: ...bem-estar que se tenha sade, entrevista 8:

    ter sade, entrevista 13 ter sade acima de tudo..., entrevista 17 ter sade fundamentalmente.

    Spirduso (2005) afirma que a sade e a capacidade fsica so componentes importantes de uma sensao de

    bem-estar. Aps uma anlise abrangente de 30 anos de pesquisa sobre o assunto, Larson (1978) concluiu que

    entre todos os elementos da situao de vida de uma pessoa idosa, a sade a que est mais fortemente

    relacionada ao bem-estar subjetivo.

    O bem-estar aparece nessa categoria, alm da sade, relacionado com a prtica da atividade desportiva,

    como na entrevista 4: O bem-estar (...) poder fazer diariamente todos os exerccios e a minha vida sem

    problemas. Entrevista 9: (...) alm da ginstica e da dana (...), entrevista 14 fazer ginstica e conviver,

    entrevista 16 (...) procurar distrair o maior possvel, fazer ginstica e tambm a parte da cultura.

    As recomendaes para a promoo da atividade fsica entre idosos de Heidelberg1 (Organizao Mundial

    da Sade, 1997) afirmam que a atividade fsica regular promove, entre outros benefcios, a melhora global do

    bem-estar. A atividade fsica est estritamente ligada aos aspectos psicolgicos e bio mdicos da sade dos

    idosos, proporcionando-lhes melhoras em mltiplos aspetos, como a auto-estima, auto-conceito, aumento das

    relaes sociais, o que gera uma sensao de bem-estar para a vida dos idosos.

    Importncia da atividade fsica para o bem-estar

    Para melhor entendermos essa questo tambm vamos classific-la em 4 categorias, essas no foram

    retiradas de nenhum estudo prvio, mas foram claramente retiradas do prprio processo de anlise da questo.

    Segundo Bardin (2004), esse uma etapa do processo da anlise de contedo chamada de categorizao 2, e

    pode ser feito por meio do prprio contedo do texto. Sendo assim, as categorias encontradas foram as seguintes:

    1. Benefcios fsicos: relacionado com as melhoras fsicas: mais agilidade, mobilidade, fora, equilbrio,

    entre outras; e exemplos de atividades desportivas.

    1 Essas recomendaes foram elaboradas por um comit cientfico no 4 Congresso Internacional do Envelhecimento Saudve l,

    Atividade e Desportes, em agosto de 1996 em Heidelber, Alemanha. 2 Para a autora, as categorias so rubricas ou classes, que renem um grupo de elementos sob um ttulo genrico, agrupamento esse efetuado em razo dos caracteres comuns destes elementos. Nesse caso o critrio foi semntico (categorias temticas).

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    23

    2. Benefcios para a vida: relacionados melhora na realizao de outras atividades, ou em outros

    setores, como a famlia.

    3. Benefcios emocionais: sensao de liberdade, extravasamento e paz espiritual.

    4. Outros: para categorizar aquelas respostas que no tinham concluses sobre o assunto, ou que

    simplesmente concordavam com a questo que era Qual o papel ou a importncia da atividade fsica para

    o bem-estar?

    Para a primeira anlise, quantificar as respostas nas categorias temos as seguintes concluses. A

    categoria com o maior nmero de respostas a primeira, 10 menes atribuam que os principais benefcios da

    prtica estavam a nvel da melhoria fsica, nas condies de sade, ou ento citaram atividades fsicas que

    praticavam e que lhes faziam bem. A segunda categoria com maior nmero foi a 4, com 7 menes, em que os

    idosos s concordaram com a pergunta e/ou reforavam-na, houve apenas um entrevista em que o idoso no

    soube responder a essa questo. E em seguida com o mesmo nmero de respostas vem categoria 2 e 3, com 3

    menes cada.

    Os idosos que praticam atividades fsicas percebem e sentem essas melhoras na sade e na realizao

    das tarefas da vida diria, e, portanto associam o papel da atividade fsica no bem-estar com essas melhoras,

    como na entrevista 2: ...sim, ajuda, ajuda e muito, porque se a gente para depois quer fazer certos movimentos e

    no pode, no tem agilidade, e se fizer aqui hidroginstica mexe-se com mais facilidade, ou na entrevista 5 Uma

    pessoa que faz desporto tem outra agilidade talvez que as outras pessoas no tenham e mexe melhor.

    Representao da Universidade Snior para os idosos

    Para essa questo a anlise foi feita com base numa adaptao as categorias relatadas por Neri (1996) e

    investigadas por Cachionni (1998), que investigaram os motivos dos idosos frequentarem o programa de

    Universidade da Terceira Idade, em uma Universidade Brasileira. As categorias encontradas pela autora foram:

    aumentar conhecimento, investir no aperfeioamento pessoal, aumentar o contacto social e ocupar o tempo livre

    de forma til.

    Como a questo da presente pesquisa no se refere aos motivos, mas sim a representao que a

    Universidade tem para o idoso, foi necessria uma adaptao a essas categorias iniciais. Com um olhar mais

    atento s respostas que obtivemos a essa questo, percebemos que aumentar o conhecimento e investir no

    aperfeioamento pessoal poderia constituir uma nica categoria, denominada aumentar o conhecimento, e alm

    das outras duas categorias (aumentar o contato social e ocupar o tempo livre de forma til) criamos mais uma para

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    24

    atender as respostas apresentadas pelos idosos, a outra categoria criada a voltar ao passado. Dessa forma,

    temos as seguintes categorias:

    Categorias

    Aumentar o conhecimento

    Aumentar o contacto social

    Ocupar o tempo livre de forma til

    Voltar ao passado

    Relativamente anlise quantitativa da frequncia de cada categoria, temos que: aumentar o contacto

    social foi a mais citada (10 menes), em seguida aumentar o conhecimento (7 menes), e em 3 lugar com o

    mesmo nmero de menes, voltar ao passado e ocupar o tempo livre de forma til (ambas com 3 menes).

    O aumento da rede de contatos sociais propicia um aumento do bem-estar subjetivo, potencializa os

    recursos pessoais e colabora para o senso de interdependncia com outros indivduos. Os contatos sociais na

    velhice parecem promover o fortalecimento dos recursos pessoais porque facilitam a comparao social,

    reestruturam o auto-julgamento e o auto-conceito, possibilitando um envelhecimento bem sucedido para os

    participantes dessa experincia. (Silva, 1999).

    Na entrevista 4: Conheci novas pessoas, novos conhecimentos, novos amigos e procuro dar aos meus

    colegas e mesmo aos professores a minha grande atividade enquanto fui e enquanto estive no ativo, fica clara a

    importncia no s de conhecer novas pessoas, mas tambm de trocar conhecimentos, nesse caso de sentir-se

    tambm valorizado por poder contribuir de certa forma para o aumento do conhecimento do outro.

    Como com o envelhecimento as relaes familiares ficam tambm de certa forma mais debilitadas, pois parece ser

    mais uma obrigao e no mais um prazer conviver com aquela pessoa mais velha, e tambm nessa fase que a

    pessoa precisa se confrontar com a morte dos entes mais prximos, como maridos e mulheres, muitos idosos

    buscam em outros locais, como o caso das Universidades, (re) construir relaes que foram perdidas. A

    entrevista 7 apresenta isso: Foi a melhor coisa que me podia ter acontecido depois de ter ficado viva, trabalhei

    43 anos reformei-me, logo em seguida passado 15 dias vi um anuncio da Universidade da Terceira Idade, fui l

    matriculei-me e a partir dai senti-me outra pessoa, gosto, convivo, sou muito dinmica em tudo que h pra fazer,

    gosto muito dos meus colegas, como se fossem a minha famlia, propriamente disto, porque sem eles eu j

    no poderia viver, a entrevista 18 refora ainda essa idia: Olha para mim a Universidade uma segunda casa e

    d muita vida, porque aqui temos um ambiente bom, boas amizades, temos tudo de tudo.

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    25

    CONCLUSES

    Com esse estudo percebemos a importncia dos idosos estarem envolvidos em alguma atividade que lhes

    tenha sentido e lhes proporcione prazer, para o incremento do bem-estar. Dessa forma nos restringimos em

    apresentar os principais benefcios de estarem envolvidos no programa das Universidades Seniores, em que os

    idosos tm a oportunidade de conhecer outras pessoas alm de aumentar seus conhecimentos, como tambm os

    benefcios de se praticar uma atividade desportiva, que para alm das melhoras ao nvel fsico, tambm colabora

    para o sentimento de envolvimento social, e consequentemente para o bem-estar.

    Atravs da anlise das entrevistas, ficou claro que os idosos associam, com mais frequncia, o bem-estar

    as caractersticas a nvel fsico, como melhora na sade e a capacidade de realizao de atividades desportivas.

    Essas concluses devem ser entendidas considerando a caracterstica do grupo entrevistado, pois eram na

    grande maioria idosos que j praticavam desporto, e por isso, tinham o conhecimento, vivenciavam os benefcios

    da prtica desportiva. Se fossem idosos que no praticavam nenhum desporto os resultados poderiam se

    apresentar de forma bem distinta.

    Ao serem questionados sobre as contribuies que o desporto teria para o bem-estar, os idosos tambm

    deixaram claro que as melhoras a nvel fsico seriam os principais benefcios. Mas tambm citaram que o desporto

    ajuda no bem-estar, pois melhora as condies da vida como um todo. Com a prtica desportiva sentem-se mais

    capazes, aptos a realizar atividades que antes no conseguiam.

    E, por fim, a participao nas Universidades Seniores significava para a maior parte dos idosos a

    possibilidade de ampliarem a rede de relaes sociais. Pois, poderiam encontrar novos amigos, trocar

    experincias, sentirem acolhidos, o que tambm proporciona bem-estar.

    Como concluses gerais, podemos ressaltar a importncia de se ofertar cada vez mais atividades

    interessantes que no sejam apenas para ocupar o tempo, mas que o faam de forma til, para promover o

    desenvolvimento contnuo das capacidades, quer fsica, psicolgicas ou sociais, dos idosos. Como tambm,

    podemos refletir sobre a importncia das Universidades Seniores ofertarem em sua grade curricular as atividades

    desportivas, pois dessa forma podem facilitar aos idosos que ingressem e permaneam em uma atividade

    desportiva que proporciona melhores condies de sade global, e maior bem-estar.

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    26

    REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS

    Bardin, L. (2004). Anlise de Contedo. (3 ed). Lisboa: Edies 70.

    Cachioni, M. (1998). Envelhecimento bem-sucedido e a participao numa Universidade para a terceira Idade: a

    experincia dos alunos da Universidade de So Francisco. Campinas: M. Cachioni. Dissertao de mestrado

    apresentada faculdade de educao da Universidade Estadual de Campinas.

    Diener, E. (1994). Assessing Subjective Well-being: progress and Opportunities. Social Indicators Research, 31(2):

    103.

    Kahneman, D.; Diener, E.; Schawarz, N. (1992). Well-being: The foudation of hedonic psychology. New York:

    Russell Sage Foudation.

    Larson, R. (1978). Thirty years of research on the subjective well-being of olders Americans. Journal of Gerontology,

    33: 109-125

    Mazo, G. Z. et al (2004). Actividade fsica e o idoso: Concepo gerontolgica.-2ed.- Porto Alegre: Sulina.

    Neri, A. L.; Cachioni, M. (1999) Velhice bem sucedida e educao. In: Neri, A.; Debert, G. G., Velhice e Sociedade.

    Campinas: Papirus (Coleo Vivaidade).

    Novo, R. F. (2000). Para alm da eudaimonia: o bem-estar psicolgico em mulheres na idade adulta avanada.

    Lisboa: Fundao Clouste Gulbenkian.

    Organizao Mundial da Sade (1997). The Heidelberg guidelines for promoting physical activity among older

    persons. Journal of Aging and Psysical Activity, 5: 2-8.

    Organizao Munidas da Sade. (2002). Active Ageing A policy Framework. Consult em 26 Out 2008 em

    www.who.int/hpr/ageing.

    Silva, F. P. (1999). Crenas em relao a velhice, bem-estar subjectivo e motivos para frequentar Universidade da

    terceira Idade. Campinas: Silva, F. Tese de mestrado apresentada faculdade de educao da Universidade

    estadual de Campinas.

    Simes, A. (2006.) A nova velhice: um novo pblico a educar. Lisboa: mbar.

    Spirduso, W. W. (2005). Dimenses fsicas do Envelhecimento. (traduo Paula Bernardi, reviso cientfica Cssio

    Mascarenhas Robert Pires). Barueri, SP: Manole.

    Stathi, A.; Fox, K. R.; McKenne, J. (2002) Physical Activity and Dimension of Subjective Well-Being in Older Adults.

    Journal of Aging and Physical Activity, v10 (1): 76-92.

    Veenhoven, R. (1984). Conditions of Happiness. D. Reidel: Dordrecht.

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    27

    Percepo do Idoso sobre o seu nvel de Qualidade de vida.

    Ana Cristina Pereira1

    RESUMO

    Perante uma realidade inquestionvel de transformaes demogrficas iniciadas no ltimo sculo e que

    permitem observar uma populao cada vez mais envelhecida, torna-se importante garantir aos idosos no s

    uma expectativa de vida maior, mas tambm uma boa qualidade de vida (QV). Assim, pretendeu-se saber qual a

    percepo que os Idosos tm sobre o seu nvel de QV. Questionaram-se 22 idosos de um centro de dia,

    verificando-se que a maioria destes, tem uma percepo positiva da sua QV e isso se deve maioritariamente sua

    sade fsica. Os idosos que apresentaram uma percepo negativa, apontaram como principais razes os

    recursos financeiros.

    Palavras-chave: Percepo, Idoso, Qualidade de Vida.

    1 Enfermeira na ACES Porto Ocidental UCSP Foz do Douro. Ps-Graduada em Gerontologia E-mail: [email protected]

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    28

    INTRODUO

    O envelhecimento da populao um fenmeno de amplitude mundial, a OMS (Organizao Mundial de

    Sade) prev que, em 2025, existiro 1,2 bilies de pessoas com mais de 60 anos, sendo que os muito idosos

    (com 80 anos ou mais), constituem o grupo etrio de maior crescimento.

    De acordo com os dados colhidos pelo INE (Instituto Nacional de Estatstica), entre 1960 e 2001, o

    fenmeno do envelhecimento demogrfico em Portugal traduziu-se por um decrscimo de cerca de 36% na

    populao jovem e um incremento de 140% da populao idosa. A proporo da populao idosa, que

    representava 8% do total da populao em 1960, mais que duplicou, passando para 16,4% em 12 de Maro de

    2001, data do ltimo Recenseamento da Populao. Em valores absolutos, a populao idosa aumentou quase

    um milho de indivduos, passando de 708570, em 1960, para 1702120, em 2001, dos quais 715073 homens e

    987047 mulheres.

    Perante estes factos, torna-se importante desenvolver meios para melhor atender s dificuldades do

    crescente grupo de idosos. Assim, a obteno de dados que caracterizam a qualidade de vida (QV) dos idosos,

    sob o ponto de vista dos prprios, um dado que pode ser fundamental para dinamizar medidas adequadas a

    essa populao que permitam o alcanar de um envelhecimento bem sucedido (Sousa et al, 2003).

    O conceito de qualidade de vida um conceito subjectivo, dependente do nvel sociocultural, da faixa

    etria e das aspiraes pessoais do indivduo. Apesar de no haver uma nica definio para Qualidade de Vida,

    algumas merecem destaque, como a da OMS (2005) que define qualidade de vida como: A percepo que o

    indivduo tem da sua posio na vida, dentro do contexto da sua cultura e no sistema de valores em que vive, e

    em relao ao seus objectivos, expectativas, padres e preocupaes. um conceito muito amplo que incorpora

    de uma maneira complexa a sade fsica de uma pessoa, o seu estado psicolgico, o seu nvel de dependncia,

    as suas relaes sociais, as suas crenas e a sua relao com caractersticas proeminentes no ambiente (OMS,

    1994).

    Face a tudo isto, torna-se cada vez maior o desafio de avaliar a QV, e to difcil quanto medi-la associ-

    la s condies especiais de doenas ou condies sociodemogrficas especficas. De entre o grande nmero de

    instrumentos idealizados para tal fim, so mais conhecidos e utilizados so o Short Form 36 (SF36) e o Whoqol-

    bref, ambos dividem as questes em subgrupos de assuntos, frequentemente conhecidas como dimenses

    (Souza et al, 2006).

    O principal objectivo deste estudo foi conhecer a percepo que os Idosos tm sobre o seu nvel de

    qualidade de vida e mais especificamente, tentar perceber quais as razes atribudas sua qualidade de vida.

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    29

    METODOLOGIA

    Tendo em conta o objectivo do estudo, j referido anteriormente, optou-se por uma metodologia

    qualitativa, do tipo fenomenolgica, baseado num estudo descritivo.

    A populao estudada, abrangeu os Idosos de um centro de dia do Porto. Para a composio do grupo

    estudado seleccionou-se uma amostra do tipo no aleatria acidental, constituda por 22 idosos do centro de dia.

    Destes, 15 eram mulheres e 7 eram homens, sendo que a mdia de idades foi de 79,4 anos.

    Para a colheita de dados, foi feita uma pergunta fechada, do tipo Likert, com 5 itens de resposta, entre

    m e muito boa, onde se questionavam os idosos sobre como classificavam a sua qualidade de vida. Tendo em

    conta a resposta dada pelos idosos, foi-lhes pedido que justificassem a mesma atravs de uma questo aberta. A

    anlise da questo aberta foi realizada atravs do mtodo de anlise de contedo.

    A anlise de contedo um conjunto de tcnicas de anlise das comunicaes visando obter, por

    procedimentos, sistemticos e objectivos de descrio do contedo das mensagens, indicadores (quantitativos ou

    no) que permitam a inferncia de conhecimentos relativos s condies de produo/recepo (variveis

    inferidas) destas mensagens (Bardin, 1977).

    De acordo com Bardin, a tcnica de anlise de contedo, compe-se de trs grandes etapas:

    1) A pr-anlise;

    2) A explorao do material;

    3) O tratamento dos resultados e interpretao.

    A referida autora, descreve a primeira etapa como a fase de organizao, que pode utilizar vrios

    procedimentos, tais como: leitura flutuante, hipteses, objectivos e elaborao de indicadores que fundamentem a

    interpretao. Na segunda etapa os dados so codificados a partir das unidades de registo. Na ltima etapa faz-se

    a categorizao, que consiste na classificao dos elementos segundo as suas semelhanas e por diferenciao,

    com posterior reagrupamento, em funo de caractersticas comuns. Portanto, a codificao e a categorizao

    fazem parte da anlise de contedo.

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    30

    RESULTADOS

    Aps a anlise das respostas questo 1: Como classifica a sua qualidade de vida, pode constatar-se

    que 3 idosos responderam que a sua qualidade de vida era m, 3 fraca, 9 razovel e 7 responderam que era

    boa, conforme mostra a tabela 1.

    Como classifica a sua

    qualidade de vida

    N total de respostas

    M 3

    Fraca 3

    Razovel 9

    Boa 7

    Muito boa 0

    A partir da questo de resposta aberta, em que se pediu aos idosos para mencionarem as razes

    atribudas sua qualidade de vida, emergiram 4 categorias:

    Razes atribudas M Qualidade de Vida;

    Razes atribudas Fraca Qualidade de Vida;

    Razes atribudas Razovel Qualidade de Vida;

    Razes atribudas Boa Qualidade de Vida.

    Uma vez que nenhum idoso classificou a sua qualidade de vida como sendo muito boa, no foi criada

    nenhuma categoria para este nvel.

    Atravs da anlise da tabela 2, verificou-se que, as razes que os idosos atriburam para a sua m

    qualidade de vida, tm a ver com o domnio psicolgico, ou seja, a sua sade mental, assim como o sentirem -se

    tristes e infelizes; com os recursos financeiros, ou seja, as dificuldades econmicas com que vivem; e as relaes

    interpessoais, que tm a ver com o facto de os idosos viverem sozinhos.

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    31

    Categoria: Razes atribudas M Qualidade de Vida

    Unidade de registo Unidade de contexto Score

    Domnio psicolgico sinto-me triste porque estou a dar trabalho aos

    outros; sinto-me infeliz

    2

    Recursos financeiros no ganho o suficiente para viver; vivo com

    dificuldades econmicas

    2

    Relaes interpessoais vivo sozinho 1

    Tabela 2 Resultado das respostas dadas pelos idosos, quando classificavam a qualidade de vida como m.

    Em relao tabela 3, constatou-se que as razes que levaram os idosos a classificar a sua qualidade de

    vida como fraca, devem-se essencialmente aos recursos financeiros, ou seja, a sua fraca situao econmica; e

    as relaes interpessoais, que mais uma vez tm a ver com a solido em que vivem.

    Categoria: Razes atribudas Fraca Qualidade de Vida

    Unidade de registo Unidade de contexto Score

    Recursos financeiros vivo pobre e sem dinheiro; tenho pouco dinheiro

    para viver

    2

    Relaes interpessoais vivo sozinha 2

    Tabela 3 Resultado das respostas dadas pelos idosos, quando classificavam a qualidade de vida como fraca .

    No que se refere tabela 4, as razes que os idosos atriburam para uma razovel qualidade de vida, so relativas

    ao domnio fsico, ou seja a ausncia de sade e a presena de dor e desconforto; ao domnio psicolgico, ou seja, a sua

    sade mental; aos recursos financeiros, que revelam ser poucos; e s relaes interpessoais, que mais uma vez tem a ver

    com o viverem ou no sozinhos.

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    Categoria: Razes atribudas Razovel Qualidade de Vida

    Unidade de registo Unidade de contexto Score

    Domnio fsico no tenho sade; tenho dores; sinto cansao;

    estou doente; tenho sade; vou tendo sade

    8

    Domnio psicolgico no ando bem da cabea, estive internada no

    Magalhes Lemos

    1

    Recursos financeiros tenho pouco dinheiro 1

    Relaes interpessoais sou vivo e estou sozinho; vivo bem com as

    netas; vivo sozinha; no tenho famlia

    4

    Tabela 4 Resultado das respostas dadas pelos idosos, quando classificavam a qualidade de vida como razovel.

    Relativamente tabela 5, verificou-se que, as razes que levaram os idosos a classificar a sua qualidade

    de vida como boa, tm a ver com o domnio fsico e psicolgico, ou seja, a sade fsica e mental, assim como o

    sentir-se bem com a vida e ser feliz; as relaes interpessoais, que para alm da presena ou ausncia de solido,

    tambm se referem ao tipo de relaes que tm com outras pessoas; e ao nvel de independncia, ou seja, a

    capacidade de ser autnomo e independente.

    Sub-categoria: Razes atribudas Boa Qualidade de Vida

    Unidade de registo Unidade de contexto Score

    Domnio psicolgico sou feliz; tenho andado bem-disposta 2

    Domnio fsico tenho saudinha; tenho algumas dores mas vou

    andando; tenho tido sade; tenho sade

    7

    Relaes interpessoais vivo sozinha; tenho um bom marido; no vivo

    sozinho

    3

    Nvel de independncia tenho capacidade para executar as tarefas sem

    ajuda e sou independente

    1

    Tabela 5 Resultado das respostas dadas pelos idosos, quando classificavam a qualidade de vida como boa

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    CONCLUSO

    Da anlise das respostas dadas pelos 22 idosos estudados, acerca da sua percepo sobre o seu nvel de

    qualidade de vida, concluiu-se que a maioria dos idosos, 72,7%, tem uma percepo positiva acerca da sua

    qualidade de vida, classificando-a como razovel ou boa e apenas 27,3%, a classificou entre m e fraca.

    Em termos gerais, pode constatar-se que as razes atribudas pelos idosos para classificar a sua qualidade

    de vida se devem essencialmente, ao domnio fsico e psicolgico, s relaes interpessoais, aos recursos

    financeiros e ao nvel de independncia.

    No que diz respeito aos idosos que referiram ter uma m qualidade de vida, as razes apontadas

    deveram-se essencialmente aos sentimentos negativos presentes nestes idosos, assim como os baixos recursos

    financeiros e a solido em que vivem.

    Em relao aos idosos que mencionaram ter uma fraca qualidade de vida, verificou-se que as principais

    razes tm a ver com as dificuldades econmicas e o facto de viverem sozinhos.

    Os idosos que referiram ter uma razovel qualidade de vida indicaram como principais razes, o domnio

    fsico, seguindo-se as relaes interpessoais e s depois o domnio psicolgico e os recursos financeiros.

    Relativamente aos idosos que referiram ter uma boa qualidade de vida, as principais razes devem-se

    maioritariamente ao domnio fsico e posteriormente s relaes interpessoais, domnio psicolgico e nvel de

    independncia.

    Tendo em conta estes resultados, pode igualmente concluir-se que os idosos que tm uma percepo

    negativa da sua qualidade de vida, tambm demonstram sentimentos negativos e sentem-se tristes. Os baixos

    recursos financeiros e a solido tambm contribuem para esta viso negativa.

    Os idosos que tem uma percepo positiva da sua qualidade de vida, apesar de tambm terem mencionado

    as relaes interpessoais, o domnio psicolgico e o nvel de independncia, referiram em maior nmero o domnio

    fsico e apenas um idoso se referiu aos recursos econmicos, demonstrando assim, que a percepo positiva que

    tm, se deve em muito sua sade fsica.

    Os resultados obtidos coincidiram com os de outras populaes idosas j estudadas, nomeadamente no

    que respeita aos aspectos considerados importantes pelos idosos para a conquista de uma vida feliz.

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    REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS

    Bardin, L. (1977). Anlise de contedo. Lisboa: Edies 70.

    Fleck, M. et al. (2008). A avaliao de qualidade de vida: Guia para profissionais da sade. Porto Alegre: Artmed.

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    trabalhador. So Paulo. [dissertao de Mestrado - Programa de Ps-Graduao do Departamento de Sade

    Ambiental da Faculdade de Sade Publica da Universidade de So Paulo].

    Sousa, L. et al. (2003). Qualidade de vida e bem-estar dos idosos: um estudo exploratrio na populao portuguesa.

    Rev. Sade Pblica, vol.37 n3, Junho. So Paulo.

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    n3, Setembro. So Paulo.

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    35

    A praia como cenrio de destaque para os idosos da cidade de Santos

    Ana Luza Teixeira de Oliveira1

    Beltrina Crte2

    RESUMO

    Este estudo, realizado na cidade de Santos-SP, objetivou compreender o significado do meio ambiente

    praiano para os idosos que freqentam este espao para realizar atividades fsicas. Considerado um estudo

    qualitativo, a pesquisa, utilizou como recursos metodolgicos a anlise de relatos orais e a observao das

    atividades desenvolvidas pelos idosos. Selecionaram-se sujeitos de ambos os sexos, sendo cinco homens (idade

    mdia: 71,8 anos) e cinco mulheres (idade mdia: 75,4 anos). Colheram-se dados scio-econmicos, atravs de

    um questionrio com perguntas fechadas seguindo-se de uma entrevista de carter dialogal. Os dados referentes

    s informaes do questionrio foram tabelados e as entrevistas foram gravadas.

    Palavras-chaves: Idoso - Atividade fsica Topofilia - Praia

    1 Fisioterapeuta Mestre em Gerontologia (Programa de Estudos ps graduados em Gerontologia da PUC-SP). E-mail: [email protected]

    2 Jornalista Ps-doutora em Cincias Sociais Aplicadas (Universidade de So Paulo - USP) E-mail: [email protected]

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    36

    INTRODUO

    As pesquisas apontam que, atualmente, a populao idosa o grupo social que apresenta as taxas mais

    elevadas de crescimento. Este fenmeno resultado da alta fecundidade predominante no passado, comparada

    com a atual, e reduo da mortalidade em idades avanadas. Tudo isso est resultando no aumento absoluto e

    relativo de idosos; no tempo vivido por eles; no envelhecimento de certos segmentos populacionais, como a

    populao economicamente ativa; no envelhecimento de famlias (crescimento do nmero de famlias nas quais

    existe pelo menos um idoso) e nos arranjos familiares. Torna-se indispensvel, portanto, pensarmos o processo de

    envelhecimento como um fenmeno no somente biolgico, como caracterizado pela maioria das pessoas, mas

    pensarmos este processo de forma mais complexa, levando em conta aspectos psicolgicos e scio-culturais.

    inegvel que no processo de envelhecimento a manuteno do corpo em atividade seja fundamental

    para preservar as funes vitais e o bom funcionamento do corpo. A estimulao a essas atividades e ao prprio

    corpo contribui para um melhor desempenho das atividades rotineiras (as chamadas Atividades da Vida Diria -

    AVDs). Ainda assim, no se pode pensar que a prtica de exerccios, sejam eles esportivos ou no, deva ser lei

    para todos os indivduos. O faz, quem se sentir vontade para tal, sendo algo que seja prazeroso em todos os

    sentidos.

    Escolhida por muitos idosos, como local para a prtica de exerccios fsicos, a praia um espao natural e

    pblico que alm de cumprir suas funes; socializadora e de lazer, passou a se constituir como um espao cuja

    valorizao das dimenses humanas se faz presente. Sendo assim, de certo modo, alguns lugares passam a

    exercer sobre as pessoas uma admirao e carinho especial, carinho este envolvido por muitos significados que a

    praia representa.

    MTODO

    Este estudo foi realizado na cidade de Santos SP e teve como objetivo principal, compreender o

    significado do meio ambiente praiano para os idosos que assiduamente freqentam este espao natural para

    realizar exerccios fsicos. Caracteriza-se como sendo um estudo qualitativo, sustentado na literatura especializada

    (gerontologia), que utilizou como recurso metodolgico a anlise dos relatos orais e observao das atividades

    desenvolvidas pelos sujeitos. Tais participantes foram escolhidos de forma voluntria, sendo cinco homens (mdia

    de idade de 71,8 anos) e cinco mulheres (mdia de idade de 75,4 anos), que foram submetidos inicialmente a

    coleta de dados scio-econmicos (nome, endereo, idade, ocupao, etc), seguindo-se de uma entrevista de

    carter aberta e dialogal; para tanto, utilizou-se um questionrio fechado e um gravador de voz, juntamente a um

    dirio de campo, respectivamente.

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    37

    RESULTADOS

    Revelando os significados, atribudos pelos participantes, ao meio ambiente praiano e a sua relao com o

    indivduo idoso que pratica atividade fsica / corporal, pode-se considerar que a atividade fsica est diretamente

    relacionada ao bem estar, melhora da sade geral e alegria de viver, significados relatados de forma enftica e se

    destacando entre outras falas.

    Para alguns, estes relatos se justificam pelo fato de terem passado por situaes de doena que por

    imposio mdica o fizeram iniciar a prtica de exerccios fsicos. Outros, por sua vez (a maioria), tm uma histria

    de vida relacionada a essas atividades, nas quais foram iniciadas na infncia, juventude e prossegue at os dias

    de hoje.

    O meio ambiente praiano sendo um espao natural e pblico torna-se um espao socializador e de lazer,

    que passou a estabelecer-se, tambm, como opo para a prtica de exerccios, alm disso, este ambiente passa

    a se constituir como um espao onde a valorizao das dimenses humanas se faz presente.

    Observou-se que a participao de idosos nos vrios grupos aumenta o crculo social que os mesmos

    podem freqentar, tornando-os mais independentes. Os idosos entrevistados consideram o momento das

    atividades na praia, propcio para se constituir amizades e aumentar a rede social tomando isso como um dos

    objetivos da prtica de exerccios no local.

    Pde se considerar, portanto, que a prtica de exerccios se relaciona tambm com as diversidades

    culturais, com as tradies pedaggicas, com fatores ambientais climticos e com o pertencimento aos grupos

    sociais. E ainda, que ela no se reduz apenas a aparatos osteo-articulares e cardiovasculares, por exemplo, mas

    tambm s esferas cognitivas, culturais, ticas e sociais levando as pessoas a considerarem a prtica de

    exerccios uma forma de lazer, muito bem expressos nas falas dos idosos.

    Nas entrevistas os participantes revelaram tambm sentimentos de pertencimento e apego ao local,

    concordando com Tuan, quando relata que, de certo modo, o meio ambiente pode no ser a causa direta da

    topofilia, no entanto oferece o estmulo sensorial que ao aparecer como imagem percebida, d forma s alegrias e

    ideais. O que explica porque alguns lugares passam a exercer sobre ns uma admirao e carinho especial,

    carinho este envolvido por muitos significados que a praia representa. Em contrapartida o no lugar tambm foi

    expresso nas falas de alguns poucos idosos entrevistados, nos quais se referiram desta maneira, para com os

    lugares fechados, como clubes, academias e locais afins.

    Indo de encontro a minha hiptese, a vontade de se movimentar, de fazer exerccios e a importncia

    atribuda sade, sem dvida prevaleceram. Sendo assim os idosos no consideram o ambiente da praia o fator

  • REVISTA TRANSDISCIPLINAR DE GERONTOLOGIA Universidade Snior Contempornea

    UNIVERSIDADE SNIOR CONTEMPORNEA

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    determinante para realizarem atividades fsicas, no entanto destacam a importncia e a satisfao de realizar suas

    atividades em um ambiente pblico, natural, ao ar livre e muito bem estruturado para as atividades que so

    oferecidas.

    A socializao se torna mais rica e atraente quando est vinculada a sentidos de liberdade, descontrao,

    prazer, contato com a natureza. O lugar onde se fazem caminhadas, aulas de ginstica, surf ou tamboru, como a

    orla de Santos, constitui para os participantes um lugar repleto de condies para se ter e se dar liberdade, e

    tambm estabelecer vnculos sociais, estimulando contatos mais pessoais.

    Trazendo um pouco este trabalho para a dimenso da sade, mais especificamente para a minha rea de

    atuao, acredito que o profissional fisioterapeuta como reabilitador e educador deve levar em considerao, alm

    da biologia do corpo e das tcnicas; os gestos, comportamentos, atitudes corporais, e o ambiente no qual est

    inserido o indivduo, em especial o idoso, que apresenta uma historicidade e uma srie de particularidades sociais

    e fisiolgicas.

    DISCUSSO

    Corpos em Movimento: ao sabor da Brisa

    No universo da gerontologia, de acordo com Faria Junior (1999), a atividade fsica considerada um

    conjunto de aes corporais capazes de contribuir para a manuteno biolgica e para o funcionamento normal

    fsico e psicolgico das pessoas que envelhecem. Complementa, ainda, que a noo de sade qual aderimos,

    formada por um conjunto de idias destinadas a ir alm da viso funcionalista de sade, reconhecendo-a

    dependente das condies de alimentao, habitao, educao, renda, meio ambiente, trabalho, transporte,

    emprego, lazer, liberdade e acesso aos servios de sade.

    Nesta pesquisa considerou-se imprescindvel buscar nas falas dos idosos, o significado dos exerccios

    fsicos para eles, objetivando extrair uma conceituao diferenciada para tal, a partir de indivduos que o dizem

    praticar. Tomou-se esta deciso depois de analisar e inferir que a maioria dos conceitos sobre atividade

    fsica/exerccios fsicos, esto voltados mais para a propagao da rea no mercado de trabalho, do que

    realmente para os benefcios que os mesmos promovem. Assim sendo, pude extrair depoimentos que nos revelam

    no s a conceituao macia que os livros e artigos atuais expem, mas tambm uma significao especial.

    Questionados quanto ao significado dos exerccios fsicos, todos os entrevistados o relacionou com um

    bem-estar, melhora da sade geral