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R[VOlutão nCNOlÓGICA NA AGRICUlIURA
DRASll[IRA JOSt: FRANCISCO DE MOURA CAVALCANTI MINISTRO DA AGRICULTURA
!!)EMBRAPA EMPRESA BRASILEIRA DE PESQUISA AGROPECUÁRIA
MINISTRO DA AGRICULTURA José Franc isco de Moura Cavalca nt i
DI R ETOR I.l'I.
José Irin eu Cabral - Presidente Eliseu Roberto de Andrade A! ves - Diretor
Edmundo da Fontoura Gastai - Diretor Roberto Meire ll es de Miranda - Diretor
!!)EMBRAPA EMPRESA BRASILEIRA DE PESQUISA AGROPECUÁRIA
VINCULADA AO MINISTERIO DA AGRICULTURA
Série Perspectivas N.o 3
REVOLUÇÃO TECNOLÓ(iICA NA A (iRICULTURA BRASILEIRA JOSÉ FRANCISCO DE MOURA CAVALCANTI
MINISTRO DA AGRICULTURA
PALESTRA PROFERIDA PELO EXCELENTíSSIMO SR. MINISTRO DA AGRICULTURA, DR . JOSÉ FRANCISCO DE MOURA CAVALCANTI, POR OCASIÃO DO SEMINÁRIO NACIONAL DE POLiTICA CIENTíFICA E TECNOLOGICA , REALIZADO NO PERíODO DE 10 A 15 DE SETEMBRO DE 1973.
BRAsrLlA - D . F .
SUMAR IO
1. INTRODUÇAO
2 . A TECNOLOGIA E O PLANO BASICO DE DESENVOLVI MENTO CIENTIFI CO E TECNOLOGICO
2 1. Considerações Gerais
2 .2 . O Pl ano Básico de Desenvo lvi mento Científico e Tecnológico e o Se tor Primário
2 . 3 . Aspectos Instituciona is e Funcionais da Empresa Bras il ei ra de Pesquisa A gropecuári a - EMBRAPA.
2 .4. Considerações Finais
1 . INTRODUÇÃO
A realidade vivida no setor prlmarlo bras iIRiro se mpre se ressentiu de um a ausê ncia fund amental no des fecho da ativ idade agrico la: a indi spe nsáve l segu rança qu e cerque a se meadura. a co lh eita e a comerci alização contra o imprev isivel humor da natureza . a presença suti l e daninha das pragas e. aind a. a estreiteza dos canais que levem a produção ao consumidor.
Notadalll ente. essa constat ação compeliu o setor público - hoj e mais atuante e mais presente - a olhar a agricu ltura num pl ano de Illerec id a prioridade. dentro do modelo brasileiro de desenvolvimento. cujas bases estão fincadas no cresc illl ento setor ial nivel ado. dad a a interdependência e o inter-relacionamento existentes.
E. desejando-se que os indices de cresc illl ento do setor primário rompessem com as fronteiras da timidez . a fim de aco mpanharem os números do nosso desenvolvimento. - que desmente os incrédulos e estarrece o mundo -teri a o governo que compor o quadro de uma Pol ítica Agrico la Nac ional. no qual ficassem. c laramente definidos. três pontos fundamentais :
Primeiro:
Segundo:
A definição dos objetivos de política agríco la. tendo-se presente a situação atua l das duas grandes variáveis que condicionam a produção: a demanda interna e a delllanda externa por matérias-primas agrícolas e alimentos;
A identifi cação de subsetores em que se apoiam as diretrizes de política agrícola, quais sejam: a produção e a comercialização. o abastec imento e a exportação dos excedentes agrícolas;
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Terceiro: A con cepção de Ulll <t es tr<t teg iJ rJc ion,tI e " el equ ada , de modo a in terf erir nJ estrutur ,l de produ ção e modifi ca- Ia pelo uso ::1propr iado dos fato res eco nômi cos, ::1ssegurondo-se, assim , substancial elevaç:io dos nlveis el e produ çã o e dos Indi ces de produti vidode,
Tendo-se em conta qu e ::1 produ ção ::1gr icola é a fonte de onde se originam o ca rd Cl pio cotidi ano do homem brasileiro e ate mesmo a protelna qu e b lt Cl ,1 di et::1 do es tr ::1 ngeiro, infere-se que o subseto r da produ çC\o , pe l ::1 sua f l ~ gra nte importãncia, direciona e com and Cl as coordenadas das po liticas subsetoriais e, destCl maneira, para ele se proj eta uma estratégi a específ ica,
Com efeito, quando se in co rporam terras novas e vazias à exploração ag rí co la, as quais, de tão vast il s, parecem chocar-se continu amen te com o longínquo hori zonte ; quando são ofe rec idos o crédito barato no pla ntio, o preço mínimo na colheita, para neu tralizar a imprev isibilid ade do mercado, a renuncia do imposto na compra do insumo ou na venda do produto; quando se altera o como pl antar ou mes mo ao se pl antar a magia de uma semente melhorada, o gove rno está manejando o arsenal de t áti cas de que di spõe para transform ar , não só o panorama da ag ri cu ltura, - emp iri ca e atrasada - mas também o espírito do ag ricultor, impregnando-o com O dinami smo empresarial e garantindo- lhe, na condução dos negócios , uma tranqüilizadora margem de segurança,
Mas, vejo latente o esgotamento das terras que , em contraste com as necessidades humanas, t êm dimensões limitadas e que , por isto, mais cedo ou mais tarde , capitularão ante a presença multiplicadora do arado e da colhedeira ,
Vejo, t ambém, limitado o es timulo financeiro à produção, seja do lado do crédito , seja do lado do preço , pelas conheCidas e justificadas razões da pol ítica econõmica que, atualmente , no país, corrige distorções e faz crescer, saudável, o sistema econõmico brasileiro _
Encontro, todavia, na paciência obstinada do pesquisador, na criatividade e na inteligência incomensuráveis do cientista, o instrumento capaz de dobrar o inacreditável, porque realiza façanhas tidas como impossíveis, quando dos solos desérticos de Israel faz nascer rosas que adornam a vaidade da velha e elegante Europa _
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f., po is, no dese nvo lv imento c ien tifi co e tec nológico, qu e teve pr incipi o , mas do qual não se conh ece o fim, ond e se concentram as altern at ivas mais numerosas , vari adas e, a longo prazo, inesgo táve is, qu e hão de man ter em es tado de ace leração o c resc imento do setor prim ári o , ora pela rentabilid ade qu e proporciona, ora pelo poder que conf ere ao ag ri cultor, no sent ido de lutar contra as c il adas da natureza.
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2. A TECNOLOGIA AGRíCOLA E O PLANO BÁSICO DE DESENVOLVIMENTO CIENTíFICO E TECNOLÓGICO
2 . 1 . Considerações Gerais
A história da humanidade registra que as grandes transformações sociais, econõmicas e culturais -marcando com profundidade épocas e fases da evolução universal - resultaram basicamente das metamorfoses que sofreram as forças, os métodos e os sistemas de produção.
Da força humana à tração animal; da força hidráulica à potência do vapor ; do combustível à energia elétrica mediaram séculos, com tal lentidão que, permitindo uma razoável estabilidade às inovações, possibilitavam um ajustamento das estruturas de produção às expectativas da demanda e à existência de um mercado, onde a tecnologia atuava como moderado fator de competição.
Porém, da energia elétrica à desintegração do átomo; da energia nuclear à computação eletrõnica, o tempo passou com rapidez quase imperceptível, aniqui lando pelo obsoletismo e desuso as inovações precocemente envelhecidas; transformando a tecnologia em fator decisivo na competição do mercado; e exigindo dos homens de direção e comando a consciência de que o progresso econõmico e social está cada vez mais condicionado ao engajamento da sociedade à trepidante e - por paradoxal que pareça - à permanente revolução tecnológica dos nossos tempos.
Efetivamente, essas circunstâncias que produzem um matiz definidor dos dias atuais não passaram despercebidas pelo Governo do Presidente Médici que, empenhado em dotar o país de uma economia sólida e dinâmica, compreendia sê-lo impossível, mantidas as dimensões acanhadas do desenvolvimento tecnológico.
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Na verdade. uma fraternal intimidade une o subdesenvolvimento econômico ao subdesenvolvimento tecnológico. sendo inconcebivel romper as amarras do primeiro sem que as soluções da inteligência e da criatividade - sob a forma de ciência e tecnologia - apontem constantemente os rumos certos.
Colocar. ass im. a tecnologia a serviço dos grandes objetivos. a qu e se propôe alcançar o Governo brasileiro. foi a primeira e a mais importante font e de inspiração do plano básico de desenvolvimento cientifico e tecnológico. para onde são carreados. em programas globais. de L rma concentrada e coordenada. recursos humanos e financeiros. até então diluidos em projetos especificos.
2 . 2 . O Plano Básico de Desenvolvimento Científico e Tecnológico e o Setor Primário
O Plano Básico de Desenvolvimento Cientifico e Tecnológico contempla o setor primário. dentre os programas setoriais prioritários, com recursos da ordem de 438 milhões de cruzeiros, montante que representa pouco mais de 10 % da disponibilidade do plano para o biênio 73 /74.
Não obstante o positivo desempenho da economia brasileira nos últimos anos. constata-se um descompasso do crescimento da agricultura em relação a outros setores. o qual. perdurando. a longo prazo. prejudicará fatalmente os saltos que vêm sendo dados em direção ao progresso.
E no contexto econômico atual. a participação do setor primário na condição de supridor de alimentos a uma população crescente, fornecedor de matérias-primas a parque industrial cada dia maior, produtor de excedentes agricolas para um mundo cada vez mais ávido, cresce em relevo e importãncia para o eficiente andamento da economia como um todo .
Esse estado de coisas justifica inteiramente a destinação dos recursos ao desenvolvimento da tecnologia agrícola .
No entanto, peculiaridades e o próprio estágio de crescimento setorial indicam uma gama de fatores que demonstra a inadiável necessidade de incorporar, ao processo de produção. novos métodos e técnicas. Entre os fatores destacam-se:
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a. A Baixa Produtividade do Setor
Tendo em vista os res ultados alcançados em outras reg iões do mundo, os níveis de produtividade das principais culturas brasileiras podem ser consici erados baixos. As razõ es concorrentes para tal fato siío, basi ca mente:
A es trutura ag rári a prevalecente O desgaste dos solos O níve l educac ion <J 1 da popul ação rural A ausêncía de tecnologia adequada
b . O Desenvolvimento Urbano
O fenômeno do desenvolv ímento importa no crescimento das popul ações urban8s, se ja pela migração voluntária dos contingentes hum anos, se ja pela liberação de mão-de-obra em deco rrênci a da mod ernização da ag ricultura. Isto s ignifica que um número menor terá que produzir para um número maior de pessoas, circunstância que forços amente conduzirá a um rem anejamento na utili zação dos fatores de produção pelo uso mais intensivo de tecnologi a.
c. O Aumento da Demanda Interna
As altas t ax<J s de crescimento econômico, verificadas em nosso país, nos últimos anos, refletem-se na magnitude e na composição da demanda. Na verdade, o consumidor brasileiro , além de comprar mais, torna-se cada vez mais ex igente, fato que implica necessariamente num comportamento adequado do setor agrícola, a fim de atender às expectativas de um consumo amplo e diversificado.
d . Aumento da Demanda Externa
O crescimento brusco da demanda mundial por produtos primários, - face à entrada de países populosos no mercado e à retr<lção da oferta , motivada pela frustração das sa fras de tradicionais produtores - se bem que não chegue a fixar os contornos da tragédia de um a fom e universal, dá um colorido de apreensão ao quadro de escassez eventual, do qual pode o Brasil tirar efetivo proveito. Porém o proveito transitório, decorrente de uma lucratividade efêmera, visto como meramente conjuntural, indica que, passado o delírio dos preços e cessado o comportamento anômalo do mer-
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cado, somente preços competitivos pela diferenciada estrutura de produção , em virtude da componente tecnológica, podem manter o setor, catalisando divisas para financiar o desenvolvimento .
2 .3 . Aspectos Institucionais e Funcionais da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária - EMBRAPA
A conjugação dos fatores enumerados induziu o setor público a atuar com maior eficiência e intensidade, no sentido de alterar basicamente os moldes tradicionais em que se desenvolvem as atividades rurais, utilizando-sp. , racionalmente, os recursos tecnológicos .
Ao lado dessa constatação, resultava imperioso, para não frustrar esforços, remover os obstáculos que, através dos tempos, se acumularam e se antepuseram à viabilidade de uma ação estatal, que se voltasse prioritariamente para promover a revolução tecnológica no campo . E numa análise, mesmo superficial, seria fácil identificar no elenco dos óbices:
Primeiro:
Segundo:
Terceiro:
Quarto:
Quinto:
Sexto:
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A ausência de uma política cientifica e tecnológica bem definida para a agricultura;
A deficiente coordenação no processo de planejamento e execução das atividades de pesquisa, agravada pela pluralidade de projetos e órgãos pesquisadores paralelos e, até mesmo, conflitantes;
A debilidade institucional, dificultando o emprego eficiente de recursos financeiros, materiais e humanos;
A inexistência de um plano integrado de pesquisa agropecuária;
A escassez acentuada de elementos com capacidade gerencial, para administração da pesquisa;
A inexistência de uma politica salarial que permita a utilização do técnico em caráter exclusivo no campo da pesquisa, evitando, assim , as naturais derivações, prejudiciais ao comportamento e ao desempenho do pesquisador.
Corn efeito. a concepção de um plano nacional que defini sse a politica cientifica e tecnológi ca . ernborJ afeita a princípios bás icos el e organicidade e coordenação. haveria de conternplar. setorialmentc. rn eca ni srnos operativos especializados. capazes de prornoverern a 8xecu ção. a nível de considerável eficiência. dos planos. prograrnas e projetos de pesquisas que criern inovações tecnológicas.
Não há dúvida de que esse foi o principio orientador da deci são qu e dotou o setor agrícola de urn a ernpresa pública - a Ernpresa Bras ileira de Pesquisa Agropecuária - EMBRAPA - à qual forarn conferidas - a par da flexibilidade institucional e técnico-adrninistrativa - atribuições tendentes a caracterizá-Ia corno instrurnento operativo. de rnodo a:
prornover. estirnular. coordenar e executar atividades de pesquisa. corn o objetivo de produzir conhecirnentos e tecnologia a serern ernpregados no desenvolvirnento agrícola nacional :
dar apoio técni co e adrninistrativo a órgãos do poder executivo corn atribuições de forrnulação. orientação e coordenação da política de ciência e tecnologia no setor agrícola.
Contudo. a visão de conjunto do setor de pesquisa agrícola revela que ainda perdurarn paraleli s rnos funcionais ern escalões adrninistrativos diferenciados e urna conseqüente dispersão de recursos adrninistrativos. financeiros e hurnanos, fatos estes que aconselharn e recornendarn a criação de urn sisterna nacional de pesquisas agrícolas. conforrne proposição deste Ministério. cornpatibilizando as linhas rnestras do plano setorial corn urna operatividade eficiente.
A despeito do exíguo ternpo de funcionarnen to. a Ernpresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária EMBRAPA. atuando ern conexão corn o esquerna traçado pelo Plano Básico de Desenvolvirnento Científico e Tecnológico . jó firrnou urna série de convênios corn entidades públicas . pri vadas e paraestatais . objetivando atender aos seus fins institucionais. ao lado de prograrnas e projetos. já apreciados e considerados prioritários. tais corno:
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Programa de treinamento e formação de pessoal para a pesquisa agropecuária.
Inventário da tecnologia existente para uma série de produtos selecionados.
Programas de pesquisa em trigo, soja, milho, sorgo, arroz, feijão e bovinos.
Programa de pesquisa para a região dos Cerrados.
Programa de apoio tecnológico à cana-deaçúcar.
Plano Nacional Integrado de Tecnologia de Alimentos.
Plano de pesquisa sobre a cultura do cajueiro.
Programa de pesquisa sobre alternativa de produção em regiões de agricultura deprimida.
2.4. Considerações Finais
O que muito me preocupa - entendo propício o momento para revelar - é que a revolução tecnológica, que todos nós nos propomos a fazer, não se estiole na prisão dos laboratórios, tampouco se enigmatize na linguagem esotérica e intrincada do tecnicismo.
E se assim me manifesto é porque conheço o campo e o seu homem nas exatas dimensões sociológicas.
O homem do campo - por essência mais iloegado às tradições, aos valores antigos e às técnicas herdadas - parece-me, por isto, mais refratário à mudança de padrões de comportamento e às inovações dos métodos de produção.
A empresarialização do campo, a que me referi. possui uma indisfarçável conotação comportamental, porquanto a qualidade de empresário não se projeta tão-somente na escala da produção ou na dimensão do empreendimento, mas também na sintonia com a real idade cultural, científica e tecnológica, e na visão aguda do como, quando, onde e para quem produzir, e na permeabilidade às inovações.
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Como. naturalmente. diante da nov id ade . o comportamento se bifurca. - ace itar ou reag ir - é de todo indi spensáve l traduzir. dos compênd ios do técnico para o abecedário do lavrador . em linguagem si mpl es. inteligível e até mesmo persuasiva. cada conqui sta alcançada pela ciência e pela tec nol og ia. fazendo o ag ri cu ltor cap itul ar consci entemente perante o melhor e o mais produtivo.
Assim sendo. ganha realce incomum a utili zação rac ional da informação no seu sentido mais amp lo . que permitirá transformá-Ia em age nte de mudança - pedagógico e convincente - capaz de. através de diálogos ed ucativos a nível de produtor. substituir o primarismo dos métodos arca icos de produção. sem contudo proceder a uma indesejável invasão nos valores culturais do ag ri cultor .
Ali ás. nessa área . conta o Ministér io com Subs istema Agrícol a de Informação Ci entífica e Tecnológica -parte integ rante de um Sistema Nac ional de Informações Científicas e Tecnológicas - que assume as altas responsabilidades de serv ir como intérpret e da mensagem do desenvol vimento. junto ao homem do campo.
Dentro desse quadro. acredito em uma tecnologia que não crie apenas " robots" e computadores. transfo rmando. assim. o mundo numa gigantesca máquina e o homem . numa insignificante peça: mas creio na tecnologia. como uma serviçal do homem na busca de um desenvolvimento integral . que se traduz no acesso igual aos benefícios do progresso e na atmosfera de uma sociedade mais justa e mais humana.
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